carmo. as contribuições de e.p. thompson para a educação

20
7/25/2019 CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação http://slidepdf.com/reader/full/carmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1/20 Revista HISTEDBR On-line Artigo  Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.27, p.9 –28, set. 2007 - ISSN: 1676-2584 9 POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DE EDWARD PALMER THOMPSON PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Jefferson Carriello do Carmo Universidade de Sorocaba  [email protected]  [email protected] RESUMO: O objetivo desse trabalho é discutir, sumariamente, as categorias Classe operária, educação, experiência e história em alguns dos escritos de Edward Palmer Thompson enquanto possível contribuição para a história da educação. Essa preocupação não esta limitada numa análise exegética sobre esses conceitos, mas apropriar-se, também, de autores que trouxeram contribuições interpretativas desses temas nas variadas áreas das ciências humanas. Entendo que a relevância desse historiador está na compreensão em como promoveu o exame marxista da classe operária e outros assuntos, na complexa relação do desenvolvimento capitalista. E como as incluiu em sua apreciação da sociedade capitalista enquanto elementos inseparáveis das transformações econômicas e sociais.  Palavras chaves: Classe operária, educação, experiência, história, história da educação POSSIBLE CONTRIBUTIONS OF E.P. THOMPSON FOR THE HISTORY OF THE EDUCATION ABSTRACT: The objective of this work is to argue, sumariamente, the categories laboring Classroom, education, experience and history in some of the writings of Edward Palmer Thompson while possible contribution for the history of the education. This concern not this limited in a exegética analysis on these concepts, but to assume itself, also, of authors who had brought interpretativas contributions of these subjects in the varied areas of sciences human beings. I understand that the relevance of this historian is in the understanding in as it promoted the examination of the laboring classroom and other subjects marxist, in the complex relation of the capitalist development. E as it included them in its appreciation of the capitalist society while non-separable elements of the economic and social transformations. Words keys:  Laboring classroom, education, experience, history, history of the education CONSIDERAÇÕES INICIAIS O objetivo desse trabalho é discutir, sumariamente, as categorias classe operária, educação, experiência e história em alguns dos escritos de Edward Palmer Thompson enquanto possibilidades contributivas à história da educação. Essa preocupação não esta limitada numa análise exegética sobre esses conceitos discutidos pelo historiador, mas apropriar-se, também, de autores que trouxeram contribuições interpretativas desses temas nas variadas áreas das ciências humanas. Entendo que a relevância de Thompson está na

Upload: ana-laura-lopes-carvalho

Post on 28-Feb-2018

227 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 9

POSSIacuteVEIS CONTRIBUICcedilOtildeES DE EDWARD PALMER THOMPSONPARA A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO

Jefferson Carriello do Carmo

Universidade de Sorocaba jeffccuolcombr jeffccprofgmailcom

RESUMOO objetivo desse trabalho eacute discutir sumariamente as categorias Classe operaacuteria

educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria em alguns dos escritos de Edward Palmer Thompsonenquanto possiacutevel contribuiccedilatildeo para a histoacuteria da educaccedilatildeo Essa preocupaccedilatildeo natildeo estalimitada numa anaacutelise exegeacutetica sobre esses conceitos mas apropriar-se tambeacutem deautores que trouxeram contribuiccedilotildees interpretativas desses temas nas variadas aacutereas dasciecircncias humanas Entendo que a relevacircncia desse historiador estaacute na compreensatildeo em

como promoveu o exame marxista da classe operaacuteria e outros assuntos na complexarelaccedilatildeo do desenvolvimento capitalista E como as incluiu em sua apreciaccedilatildeo da sociedadecapitalista enquanto elementos inseparaacuteveis das transformaccedilotildees econocircmicas e sociais

Palavras chaves Classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia histoacuteria histoacuteria da educaccedilatildeo

POSSIBLE CONTRIBUTIONS OF EP THOMPSON FOR THEHISTORY OF THE EDUCATION

ABSTRACTThe objective of this work is to argue sumariamente the categories laboring Classroomeducation experience and history in some of the writings of Edward Palmer Thompsonwhile possible contribution for the history of the education This concern not this limited ina exegeacutetica analysis on these concepts but to assume itself also of authors who hadbrought interpretativas contributions of these subjects in the varied areas of scienceshuman beings I understand that the relevance of this historian is in the understanding in asit promoted the examination of the laboring classroom and other subjects marxist in thecomplex relation of the capitalist development E as it included them in its appreciation ofthe capitalist society while non-separable elements of the economic and socialtransformations

Words keys Laboring classroom education experience history history of the education

CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

O objetivo desse trabalho eacute discutir sumariamente as categorias classe operaacuteria

educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria em alguns dos escritos de Edward Palmer Thompsonenquanto possibilidades contributivas agrave histoacuteria da educaccedilatildeo Essa preocupaccedilatildeo natildeo estalimitada numa anaacutelise exegeacutetica sobre esses conceitos discutidos pelo historiador masapropriar-se tambeacutem de autores que trouxeram contribuiccedilotildees interpretativas desses temasnas variadas aacutereas das ciecircncias humanas Entendo que a relevacircncia de Thompson estaacute na

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 10

compreensatildeo em como promoveu o exame marxista da classe operaacuteria na complexarelaccedilatildeo do desenvolvimento capitalista E como os inclui em sua apreciaccedilatildeo da sociedadecapitalista enquanto elementos inseparaacuteveis das transformaccedilotildees econocircmicas e sociaisPensar as categorias acima elaboradas por Thompson nesse contexto natildeo eacute tarefa faacutecilpelo rigor eloquumlente com que trabalha tais conceitos natildeo somente pela oacutetica histoacutericacomo tambeacutem pelo seu engajamento poliacutetico que perpassa toda construccedilatildeo teoacutericaanaliacutetica dos seus trabalhos Por outro lado percebo ser tambeacutem uma oportunidade deprosseguir em caminhos que jaacute foram indicados por educadores brasileiros (FARIAFILHO 2005 MORAES MUumlLLER 2003 OLIVEIRA 2002 dentre outros)

Em um primeiro momento satildeo feitas algumas consideraccedilotildees sobre os aspectos

biograacuteficos de Thompson que procuram situar o historiador inglecircs no debate entremarxistas e historiadores sociais Entendo que isso pode ajudar em como constroacutei taiscategorias Em a formaccedilatildeo de classe operaacuteria procurou-se compreender por meio da suafamosa obra ldquoA formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesardquo a sua anaacutelise em que salienta a classecomo fenocircmeno histoacuterico cuja existecircncia ocorre somente no tempo e consequumlentemente soacutepode ser conhecida historicamente Verificou-se que para Thompson as transformaccedilotildees dasformas econocircmicas somente tem sentido quando passam a incorporar as experiecircnciasculturais vividas pela classe operaacuteria O exame em educaccedilatildeo e experiecircncia corresponde aum processo vivido pela classe trabalhadora que juntamente com o processo educacionalmodifica efetivamente a consciecircncia social Assim sendo a relaccedilatildeo entre experiecircncia eeducaccedilatildeo corresponde a dinacircmica do processo histoacuterico Por fim em histoacuteria e processo constatou-se que a histoacuteria eacute feita pelo homem em suas proacuteprias condiccedilotildees materiais

especiacuteficas e que isso implica em contradiccedilotildees oriundas dos limites dados pela sociedadeou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacuterico

ASPECTOS BIOGRAacuteFICOS DE THOMPSON 1

Thompson nasceu na Inglaterra no ano de 1924 ingressou no Partido ComunistaInglecircs aos 17 anos de idade Pouco depois lutou na II Grande Guerra e posteriormenteparticipou da recuperaccedilatildeo de ferrovias e construccedilotildees em geral Entrou para a academiatardiamente pois em princiacutepio natildeo se dedicou ao ensino universitaacuterio Foi professor deescola noturna onde trabalhou com a ldquoeducaccedilatildeo lsquopopularrsquo (ou de adultos) num ramo

universitaacuterio classificada como lsquoextramurosrsquo lsquoextracurricularrsquo porque era dirigido a umpuacuteblico natildeo acadecircmico e o Partido Comunista da Gratilde-Bretanha ndash PCGBrdquo (FORTESNEGRO FONTES 2001 23)

Nos anos 50 a esquerda inglesa vivia uma eacutepoca de inquietaccedilatildeo sob influecircncia deMaurice Dobb Reuniam-se em torno de publicaccedilotildees pessoas como Christopher Hill JohnSaville Raphael Samuel Raymond Williams Eric Hobsbawm e Edward Thompsondentre outros que veio dar origem aos chamados ldquomarxistas humanistasrdquo

1 Para a apresentaccedilatildeo desse toacutepico foi consultado os seguintes autores (Cf

DESAN 2001 BATALHA 2000 FORTES NEGRO FONTES 2001 HUNT 2006dentre outros)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 11

Com a publicaccedilatildeo sobre William Morris tambeacutem nos anos 50 consideradaprimeiro trabalho de focirclego Thompson comeccedilou a se interessar mais pela ideacuteia de serldquohistoriadorrdquo e jaacute se definia como ldquomarxista humanistardquo

No ano de 1956 foi fundada por Thompson e Saville a revista Reasoner umapublicaccedilatildeo comunista com certo caraacuteter independente No entanto sua publicaccedilatildeo foiproibida por criticar a invasatildeo huacutengara defendida pelo Comitecirc Central Comunista Aofecharem a revista e serem suspensos Thompson e Saville abandonaram imediatamente opartido e fundaram posteriormente o New Reasoner Com estudantes ingleses de Oxfordcriaram no mesmo ano a revista Universities and Left Review que fundada em 1959deram origem agrave New Left Review Dentre outros participavam dessa revista RalphMilliband Raymond Williams Peter Worsley Doris Lessing Raphael Samuel Dorothy eEdward Thompson e Stuart Hall Desde o iniacutecio New Left Review foi um espaccedilo dediscussatildeo para a mudanccedila radical da consciecircncia poliacutetica do movimento operaacuterio inglecircsEssa nova esquerda em sua maioria engajou como ativista em movimentos como o anti-colonialismo e na Campanha pelo Desarmamento Nuclear (CND)

Nos primeiros anos de 1960 Thompson publicou artigos discutindo a questatildeo darevoluccedilatildeo e da transiccedilatildeo para o socialismo na Gratilde-Bretanha Em funccedilatildeo destes artigosrecebeu severas criacuteticas as quais futuramente desembocaram no conflito com Ton Nairn ePerry Anderson Em marccedilo de 1963 Anderson assumiu a direccedilatildeo da revista alterando aorientaccedilatildeo editorial e privilegiando publicaccedilotildees de Louis Althusser Etienne Balibar eErnet Mandel dentre outros

Em 1963 Thompson publicou ndash A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa - queefetivamente consagrou-o como um grande historiador A criacutetica publicada por Nairn2 aumentou o fosso em relaccedilatildeo ao grupo que havia assumido a nova esquerda Este textorepresentou para muitos historiadores um novo marco na historiografia contemporacircneaAo ldquorefazerrdquo a histoacuteria do proletariado inglecircs Thompson desenvolveu um caminho proacuteprioem que adentra por aberturas que denominou o ldquofazer-serdquo da classe operaacuteria inglesa Paratanto suas fontes de pesquisa natildeo foram convencionais ou seja natildeo se restringiam asindicatos e organizaccedilotildees socialistas mas compreendia outros campos da poliacutetica populartradiccedilotildees religiosas rituais conspiraccedilotildees baladas pregaccedilotildees milenaristas ameaccedilasanocircnimas cartas hinos metodistas festivais danccedilas listas de subscriccedilotildees bandeiras etcUtilizou-se nesse texto de uma narrativa atraveacutes da qual estabeleceu o caraacuteter coletivo daexperiecircncia de exploraccedilatildeo e opressatildeo dos trabalhadores ingleses mas constantemente abriuespaccedilo para que aflorassem as experiecircncias individuais de artesatildeos e trabalhadores natildeo-qualificados Desta forma seu texto possui um movimento de contraccedilatildeo e expansatildeo ondea fala individual exemplifica a experiecircncia coletiva esta funda-se na percepccedilatildeo deidentidades A noccedilatildeo de experiecircncia eacute fator fundante do trabalho de Thompson

2 983109983155983155983137 983139983154983145983156983145983139983137 983142983151983145 983152983157983138983148983145983139983137983140983137 983150983151 983106983154983137983155983145983148 983141983149 983118983105983113983122983118 983124983151983149 983105 983139983148983137983155983155983141 983156983154983137983138983137983148983144983137983140983151983154983137 983150983137 983113983150983143983148983137983156983141983154983154983137 983113983150 983106983116983105983107983115983106983125983122983118

983122983151983138983145983150 (983119983154983143) 983113983140983141983151983148983151983143983145983137 983150983137 983139983145983274983150983139983145983137 983155983151983139983145983137983148 983141983150983155983137983145983151 983139983154983277983156983145983139983151983155 983155983151983138983154983141 983137 983156983141983151983154983145983137 983155983151983139983145983137983148 983122983145983151 983140983141 983114983137983150983141983145983154983151 983120983137983162 983141 9831249831419831549831549831371982 983152171983085189

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 12

Nos anos 60 ocorreu um debate no interior da esquerda inglesa Anderson publicouOrigins of the present crises Thompson respondeu com As peculiaridades dos ingleses (2001) As relaccedilotildees entre ambos pioraram Neste debate as diferenccedilas iniciaram-se naanaacutelise do caraacuteter da Revoluccedilatildeo Inglesa e sua heranccedila radical na formaccedilatildeo do proletariadoinglecircs nos modelos que ambos usariam para analisar a sociedade inglesa e apresentarpropostas de accedilatildeo para os socialistas (um centrado na anaacutelise estrutural e o outro napossibilidade da accedilatildeo humana como agente transformador da sociedade) O debate dasdiferenccedilas de interpretaccedilatildeo histoacuterica entre Anderson e Thompson implicou em estrateacutegiasde accedilatildeo distintas para os socialistas ingleses da deacutecada de 60 Para Anderson o que estavaem foco era a anaacutelise da revoluccedilatildeo inglesa do seacuteculo XVII que havia transformo asestruturas mas natildeo as superestruturas da sociedade Uma aristocracia agraacuteria sustentadapor um grupo mercantilista tornou-se a classe dominante na Gratilde-Bretanha Odesenvolvimento do capitalismo agraacuterio destruiu o campesinato e a burguesia industrial

(que natildeo teria assumido parte de sua tarefa histoacuterica) formaria um bloco com a aristocraciaagraacuteria Neste processo a classe operaacuteria em formaccedilatildeo foi derrotada e se desenvolveu deforma subalterna mostrando-se incapaz de transformar a sociedade e tendendo aocorporativismo A resposta de Thompson para Anderson foi que a aristocracia agraacuteriahavia sido componente fundamental do capitalismo inglecircs desde seu iniacutecio e seuprolongamento constituiu-se em classe dominante Na anaacutelise de Anderson do proletariadoinglecircs respondeu Thompson haacute uma simplificaccedilatildeo do processo desconsiderando-se atradiccedilatildeo radical e a sua experiecircncia histoacuterica especiacutefica Eacute esse radicalismo que em grandeparte a obra de Thompson procura resgatar

A FORMACcedilAtildeO DE CLASSE OPERAacuteRIA

No prefaacutecio da obra do historiador Inglecircs Thompson A formaccedilatildeo da classe

operaacuteria inglesa escrita originalmente em 1963 haacute vaacuterias passagens que salientam a classecomo fenocircmeno histoacuterico cuja existecircncia ocorre somente no tempo e consequumlentemente soacutepode ser conhecida historicamente Essa assertiva trouxe algumas dissonacircncias no acircmbitomarxista como tambeacutem entre os historiadores sociais (BATALHA 2000 ANDERSON1985 SEWELL 1990 KAYE MCCLELLAND 1990 dentre outros)

Ridenti (2001) ao discutir Classes sociais e representaccedilatildeo acena para uma leitura

que no meu entender ajuda a compreender a noccedilatildeo de classe em Thompson conceito queainda traacutes muitas inquietaccedilotildees nas ciecircncias humanas (Cf BOITO JR TOLEDO 2003) Acompreensatildeo que Hirano (2002) faz de Marx sobre o conceito de ldquoclasserdquo eacute que nemsempre indica o mesmo sentido ldquoMarx empregou tanto no sentido lsquogeneacuterico abstratorsquoquanto num sentido lsquoespeciacutefico particularrsquo No primeiro satildeo realccediladas as determinaccedilotildeescomuns e gerais pertencentes a todas as eacutepocas no segundo o fenocircmeno especiacuteficolsquodeterminado pela produccedilatildeo capitalista modernarsquordquo (apud RIDENTI 2001 13)

Continua

() num sentido amplo o termo classe identifica os grandes gruposhumanos que se relacionam e lutam entre si para produzir o proacuteprio

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 13

sustento criando relaccedilotildees de dominaccedilatildeo para apropriarem-se doexcedente gerado aleacutem do miacutenimo necessaacuterio agrave subsistecircncia Assim asldquoclassesrdquo estariam presentes tanto nas sociedades estruturadas em castasou estamantos quanto nas sociedades de classes modernas nesse sentidofoi formulada a conhecida frase do Manifesto comunista segundo a qualldquoa histoacuteria de todas as sociedades ateacute nossos dias tem sido a histoacuteria daslutas de classesrdquo (RIDENTI 2001 13-14)

Essa compreensatildeo abre uma seacuterie de leituras que no miacutenimo colocam em evidecircnciapelo menos dois aspectos relevantes de interpretaccedilatildeo quanto o sentido histoacuterico de classee de consciecircncia de classes

No prefaacutecio da formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa assinala classe comoessencialmente fenocircmeno histoacuterico

Por classe entendo um fenocircmeno histoacuterico que unifica uma seacuterie deacontecimentos diacutespares e aparentemente desconectados tanto namateacuteria-prima da experiecircncia como na consciecircncia Ressalto que eacute umfenocircmeno histoacuterico Natildeo vejo a classe como uma ldquoestruturardquo nemmesmo como uma categoria mas como algo que ocorre efetivamente (ecuja ocorrecircncia pode ser demonstrada) nas relaccedilotildees humanas(THOMPSON 1987 p 9)

Eacute bom destacar que Thompson valorizava e compreendia classe na dimensatildeohistoacuterica cuja abordagem recaia na livre acomodaccedilatildeo dos homens para agir numadeterminada situaccedilatildeo histoacuterica

Se determos a histoacuteria num determinado ponto natildeo haacute classes massimplesmente uma multidatildeo de indiviacuteduos com um amontoado deexperiecircncias Mas se examinar-mos esses homens durante um periacuteodoadequado de mudanccedilas sociais observamos padrotildees em suas relaccedilotildeessuas ideacuteias e instituiccedilotildees A classe eacute definida pelos homens enquantovivem sua proacutepria histoacuteria e ao final estaacute eacute sua uacutenica definiccedilatildeo(THOMPSON 1978 11-12)

Batalha (2000) ao compreender e sustentar o termo classe enquanto uma categoriahistoacuterica e natildeo soacute socioloacutegica estaacutetica argumentou que classe tem uma relaccedilatildeo de lugar notempo e soacute numa dimensatildeo temporal eacute inteligiacutevel Isso eacute possiacutevel verificar no processo deFormaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa em que demonstrou que a consciecircncia de classe seforma natildeo soacute no local de produccedilatildeo mas tambeacutem a partir da vivecircncia na comunidadeSustenta ainda (BATALHA 2000 195) a ideacuteia de que a classe em Thompson eacute umconceito eminentemente histoacuterico ao chamar agrave atenccedilatildeo para o historiador inglecircs que propotildeeldquona praacutetica uma releitura da noccedilatildeo de lsquoclasse em sirsquo e lsquoclasse para sirsquo em Marx poisestabeleceu a distinccedilatildeo entre a classe como fenocircmeno heuriacutestico e a classe como realidadehistoacuterica ldquo() a classe como fenocircmeno histoacuterico soacute existe quando se pensa como classe epossui consciecircncia de classe quando torna-se lsquoclasse para sirsquordquoTanto para Batalha (2000)como para Wood (2003) essa eacute uma discussatildeo que estaacute posta de forma central jaacute em A

formaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa e foi retomada de forma esboccedilada colocada em Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo(2001)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 14

Ao referir-se a definiccedilatildeo de classe em Thompson e ao seu debate com os criacuteticos dohistoriador Wood (2003) acentuou que na compreensatildeo de Thompson natildeo eacute possiacutevel adiferenciaccedilatildeo que Marx faz entre ldquoclasse em sirdquo e ldquoclasse para sirdquo em que uma existeldquoobjetividaderdquo e outra existe como sujeito histoacuterico Admite a existecircncia de classe mas aidentifica com a segunda ldquoAntes de existir nessa forma natildeo existe classerdquo (WOOD200375)

() a grande forccedila da concepccedilatildeo de classe de Thompson eacute ser capaz dereconhecer e explicar as operaccedilotildees de classe na ausecircncia da consciecircnciade classe e os que adotam o tipo de definiccedilatildeo estrutural que seus criacuteticosparecem ter em mente natildeo tecircm meios de demonstrar a eficaacutecia da classena ausecircncia de formaccedilotildees conscientes de classe claramente visiacuteveis nemde oferecer uma resposta efetiva agrave alegaccedilatildeo de que classe eacute nada mais queum constructo teoacuterico ideologicamente motivado e imposto sobre aevidecircncia histoacuterica (WOOD 200375)

Essa formaccedilatildeo jaacute estava presente nas relaccedilotildees de produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo depessoas em situaccedilotildees de classe nos antagonismos e conflitos de interesses que criamcondiccedilotildees de luta

As formaccedilotildees de classe e a descoberta da consciecircncia de classe sedesenvolvem a partir do processo de luta agrave medida que as pessoasldquovivemrdquo e ldquotrabalhamrdquo suas situaccedilotildees de classe Eacute nesse sentido que aluta de classes precede a classe Dizer que a exploraccedilatildeo eacute ldquovivida nasformas de classe e soacute entatildeo gera formaccedilotildees de classerdquo eacute dizer exatamenteque as condiccedilotildees de exploraccedilatildeo as relaccedilotildees de produccedilatildeo existem

objetivamente para serem vividas (WOOD 200376)

Esse posicionamento corrobora para compreendermos que em Thompson asdeterminaccedilotildees objetivas natildeo se impotildeem sobre mateacuteria-prima vazia e passiva mas sobreseres histoacutericos ativos e conscientes que Classe eacute uma ldquocategoria histoacutericardquo e decorre deldquoprocessos sociais atraveacutes do tempordquo conhecidos e evidenciados empiricamenteldquoconhecemos as classes porque repetitivamente as pessoas se comportam de modoclassistardquo (THOMPSON 2001270)

Ao acentuar classe como categoria histoacuterica Thompson (1978) estava em

conformidade com o proacuteprio Marx nos seus escritos histoacutericosExiste atualmente uma tentaccedilatildeo generalizada em se supor que a classe eacuteuma coisa Natildeo era esse o significado em Marx em seus escritoshistoacutericos mas o erro deturpa muitos textos ldquomarxistasrdquo contemporacircneosldquoElardquo a classe operaacuteria eacute tomada como tendo uma existecircncia real capazde ser definida quase matematicamente - uma quantidade de homens quese encontra numa certa proporccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo Uma vezisso assumido torna-se possiacutevel deduzir a consciecircncia de classe que ldquoelardquodeveria ter (mas raramente tem) se estivesse adequadamente conscientede sua proacutepria posiccedilatildeo e interesses reais Haacute uma superestrutura culturalpor onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes Essas

ldquodefasagensrdquo e distorccedilotildees culturais constituem um incocircmodo de modoque eacute mais faacutecil passar para alguma teoria substitutiva o partido a seita

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 15

ou o teoacuterico que desvenda a consciecircncia de classe natildeo como ela eacute mascomo deveria ser (THOMPSON 1978 10)

Essa noccedilatildeo de classe como categoria histoacuterica foi retomada e reforccedilada em

Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo no qual dizia poderem oshistoriadores tomar essa noccedilatildeo em dois sentidos ldquoa) com referecircncia ao conteuacutedo histoacutericocorrespondente empiricamente observaacutevel e b) como categoria heuriacutestica ou analiacuteticarecurso para organizar uma evidecircncia histoacuterica cuja correspondecircncia direta eacute muito maisescassardquo (THOMPSON 2001 272)

A evidecircncia colocada por Thompson nessa nota quanto ao uso da noccedilatildeo de classepelos historiadores eacute acompanhada por esclarecimentos e advertecircncias

No primeiro caso eacute oacutebvio que classe no seu uso moderno guarda

relaccedilatildeo com a sociedade capitalista industrial do seacuteculo XIX Isto eacute

somente no seu uso moderno a classe se torna utilizaacutevel para umsistema de conhecimento da sociedade que vive nesse periacuteodo Por

isso o conceito natildeo soacute nos permite organizar e analisar a evidecircncia

mas estaacute tambeacutem presente com um novo sentido na evidecircncia

mesma () No outro caso a especificidade histoacuterica anacrocircnica

deve ser levada em conta quando lanccedilamos matildeo do conceito na

anaacutelise de sociedades anteriores agrave Revoluccedilatildeo Industrial De fato a

correspondecircncia da categoria com a evidecircncia histoacuterica torna-se

entatildeo muito menos direta Se a classe natildeo eacute admitida no sistema de

conhecimento das proacuteprias pessoas e se elas se nomeiam e levam

adiante suas batalhas histoacutericas em termos de ldquoestadosrdquo de ldquoordensrdquo

etc entatildeo ao descrevermos tais conflitos em termos de classe

devemos nos esquivar de toda tendecircncia a interpretaacute-los segundo

concepccedilotildees de classe posteriores O fato de se manter o uso da

categoria heuriacutestica de classe natildeo obstante as dificuldades

indicadas natildeo deriva da perfeiccedilatildeo do conceito mas da carecircncia de

categorias alternativas adequadas agrave anaacutelise do processo histoacuterico

evidente e universal (THOMPSON 2001272-273)

Como eacute possiacutevel de verificaccedilatildeo Thompson depositava ecircnfase na concepccedilatildeo declasse enquanto categoria heuriacutestica e analiacutetica argumentando e fazendo prevalecer agrave luta ea consciecircncia de classe

() as classes natildeo existem como entidades separadas que olham ao redoracham um inimigo de classe e partem para a batalha Ao contraacuterio

para mim as pessoas se vecircem numa sociedade estruturada de um

certo modo (por meio de relaccedilotildees de produccedilatildeo fundamentalmente)

suportam a exploraccedilatildeo (ou buscam manter poder sobre os

explorados) identificam os noacutes dos interesses antagocircnicos debatem-

se em torno desses mesmos noacutes e no curso de tal processo de luta

descobrem a si mesmas como uma classe vindo pois a fazer a

descoberta da sua consciecircncia de classe Classe e consciecircncia de

classe satildeo sempre o uacuteltimo e natildeo o primeiro degrau de um processo

histoacuterico real (THOMPSON 2001274)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 2: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 10

compreensatildeo em como promoveu o exame marxista da classe operaacuteria na complexarelaccedilatildeo do desenvolvimento capitalista E como os inclui em sua apreciaccedilatildeo da sociedadecapitalista enquanto elementos inseparaacuteveis das transformaccedilotildees econocircmicas e sociaisPensar as categorias acima elaboradas por Thompson nesse contexto natildeo eacute tarefa faacutecilpelo rigor eloquumlente com que trabalha tais conceitos natildeo somente pela oacutetica histoacutericacomo tambeacutem pelo seu engajamento poliacutetico que perpassa toda construccedilatildeo teoacutericaanaliacutetica dos seus trabalhos Por outro lado percebo ser tambeacutem uma oportunidade deprosseguir em caminhos que jaacute foram indicados por educadores brasileiros (FARIAFILHO 2005 MORAES MUumlLLER 2003 OLIVEIRA 2002 dentre outros)

Em um primeiro momento satildeo feitas algumas consideraccedilotildees sobre os aspectos

biograacuteficos de Thompson que procuram situar o historiador inglecircs no debate entremarxistas e historiadores sociais Entendo que isso pode ajudar em como constroacutei taiscategorias Em a formaccedilatildeo de classe operaacuteria procurou-se compreender por meio da suafamosa obra ldquoA formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesardquo a sua anaacutelise em que salienta a classecomo fenocircmeno histoacuterico cuja existecircncia ocorre somente no tempo e consequumlentemente soacutepode ser conhecida historicamente Verificou-se que para Thompson as transformaccedilotildees dasformas econocircmicas somente tem sentido quando passam a incorporar as experiecircnciasculturais vividas pela classe operaacuteria O exame em educaccedilatildeo e experiecircncia corresponde aum processo vivido pela classe trabalhadora que juntamente com o processo educacionalmodifica efetivamente a consciecircncia social Assim sendo a relaccedilatildeo entre experiecircncia eeducaccedilatildeo corresponde a dinacircmica do processo histoacuterico Por fim em histoacuteria e processo constatou-se que a histoacuteria eacute feita pelo homem em suas proacuteprias condiccedilotildees materiais

especiacuteficas e que isso implica em contradiccedilotildees oriundas dos limites dados pela sociedadeou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacuterico

ASPECTOS BIOGRAacuteFICOS DE THOMPSON 1

Thompson nasceu na Inglaterra no ano de 1924 ingressou no Partido ComunistaInglecircs aos 17 anos de idade Pouco depois lutou na II Grande Guerra e posteriormenteparticipou da recuperaccedilatildeo de ferrovias e construccedilotildees em geral Entrou para a academiatardiamente pois em princiacutepio natildeo se dedicou ao ensino universitaacuterio Foi professor deescola noturna onde trabalhou com a ldquoeducaccedilatildeo lsquopopularrsquo (ou de adultos) num ramo

universitaacuterio classificada como lsquoextramurosrsquo lsquoextracurricularrsquo porque era dirigido a umpuacuteblico natildeo acadecircmico e o Partido Comunista da Gratilde-Bretanha ndash PCGBrdquo (FORTESNEGRO FONTES 2001 23)

Nos anos 50 a esquerda inglesa vivia uma eacutepoca de inquietaccedilatildeo sob influecircncia deMaurice Dobb Reuniam-se em torno de publicaccedilotildees pessoas como Christopher Hill JohnSaville Raphael Samuel Raymond Williams Eric Hobsbawm e Edward Thompsondentre outros que veio dar origem aos chamados ldquomarxistas humanistasrdquo

1 Para a apresentaccedilatildeo desse toacutepico foi consultado os seguintes autores (Cf

DESAN 2001 BATALHA 2000 FORTES NEGRO FONTES 2001 HUNT 2006dentre outros)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 11

Com a publicaccedilatildeo sobre William Morris tambeacutem nos anos 50 consideradaprimeiro trabalho de focirclego Thompson comeccedilou a se interessar mais pela ideacuteia de serldquohistoriadorrdquo e jaacute se definia como ldquomarxista humanistardquo

No ano de 1956 foi fundada por Thompson e Saville a revista Reasoner umapublicaccedilatildeo comunista com certo caraacuteter independente No entanto sua publicaccedilatildeo foiproibida por criticar a invasatildeo huacutengara defendida pelo Comitecirc Central Comunista Aofecharem a revista e serem suspensos Thompson e Saville abandonaram imediatamente opartido e fundaram posteriormente o New Reasoner Com estudantes ingleses de Oxfordcriaram no mesmo ano a revista Universities and Left Review que fundada em 1959deram origem agrave New Left Review Dentre outros participavam dessa revista RalphMilliband Raymond Williams Peter Worsley Doris Lessing Raphael Samuel Dorothy eEdward Thompson e Stuart Hall Desde o iniacutecio New Left Review foi um espaccedilo dediscussatildeo para a mudanccedila radical da consciecircncia poliacutetica do movimento operaacuterio inglecircsEssa nova esquerda em sua maioria engajou como ativista em movimentos como o anti-colonialismo e na Campanha pelo Desarmamento Nuclear (CND)

Nos primeiros anos de 1960 Thompson publicou artigos discutindo a questatildeo darevoluccedilatildeo e da transiccedilatildeo para o socialismo na Gratilde-Bretanha Em funccedilatildeo destes artigosrecebeu severas criacuteticas as quais futuramente desembocaram no conflito com Ton Nairn ePerry Anderson Em marccedilo de 1963 Anderson assumiu a direccedilatildeo da revista alterando aorientaccedilatildeo editorial e privilegiando publicaccedilotildees de Louis Althusser Etienne Balibar eErnet Mandel dentre outros

Em 1963 Thompson publicou ndash A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa - queefetivamente consagrou-o como um grande historiador A criacutetica publicada por Nairn2 aumentou o fosso em relaccedilatildeo ao grupo que havia assumido a nova esquerda Este textorepresentou para muitos historiadores um novo marco na historiografia contemporacircneaAo ldquorefazerrdquo a histoacuteria do proletariado inglecircs Thompson desenvolveu um caminho proacuteprioem que adentra por aberturas que denominou o ldquofazer-serdquo da classe operaacuteria inglesa Paratanto suas fontes de pesquisa natildeo foram convencionais ou seja natildeo se restringiam asindicatos e organizaccedilotildees socialistas mas compreendia outros campos da poliacutetica populartradiccedilotildees religiosas rituais conspiraccedilotildees baladas pregaccedilotildees milenaristas ameaccedilasanocircnimas cartas hinos metodistas festivais danccedilas listas de subscriccedilotildees bandeiras etcUtilizou-se nesse texto de uma narrativa atraveacutes da qual estabeleceu o caraacuteter coletivo daexperiecircncia de exploraccedilatildeo e opressatildeo dos trabalhadores ingleses mas constantemente abriuespaccedilo para que aflorassem as experiecircncias individuais de artesatildeos e trabalhadores natildeo-qualificados Desta forma seu texto possui um movimento de contraccedilatildeo e expansatildeo ondea fala individual exemplifica a experiecircncia coletiva esta funda-se na percepccedilatildeo deidentidades A noccedilatildeo de experiecircncia eacute fator fundante do trabalho de Thompson

2 983109983155983155983137 983139983154983145983156983145983139983137 983142983151983145 983152983157983138983148983145983139983137983140983137 983150983151 983106983154983137983155983145983148 983141983149 983118983105983113983122983118 983124983151983149 983105 983139983148983137983155983155983141 983156983154983137983138983137983148983144983137983140983151983154983137 983150983137 983113983150983143983148983137983156983141983154983154983137 983113983150 983106983116983105983107983115983106983125983122983118

983122983151983138983145983150 (983119983154983143) 983113983140983141983151983148983151983143983145983137 983150983137 983139983145983274983150983139983145983137 983155983151983139983145983137983148 983141983150983155983137983145983151 983139983154983277983156983145983139983151983155 983155983151983138983154983141 983137 983156983141983151983154983145983137 983155983151983139983145983137983148 983122983145983151 983140983141 983114983137983150983141983145983154983151 983120983137983162 983141 9831249831419831549831549831371982 983152171983085189

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 12

Nos anos 60 ocorreu um debate no interior da esquerda inglesa Anderson publicouOrigins of the present crises Thompson respondeu com As peculiaridades dos ingleses (2001) As relaccedilotildees entre ambos pioraram Neste debate as diferenccedilas iniciaram-se naanaacutelise do caraacuteter da Revoluccedilatildeo Inglesa e sua heranccedila radical na formaccedilatildeo do proletariadoinglecircs nos modelos que ambos usariam para analisar a sociedade inglesa e apresentarpropostas de accedilatildeo para os socialistas (um centrado na anaacutelise estrutural e o outro napossibilidade da accedilatildeo humana como agente transformador da sociedade) O debate dasdiferenccedilas de interpretaccedilatildeo histoacuterica entre Anderson e Thompson implicou em estrateacutegiasde accedilatildeo distintas para os socialistas ingleses da deacutecada de 60 Para Anderson o que estavaem foco era a anaacutelise da revoluccedilatildeo inglesa do seacuteculo XVII que havia transformo asestruturas mas natildeo as superestruturas da sociedade Uma aristocracia agraacuteria sustentadapor um grupo mercantilista tornou-se a classe dominante na Gratilde-Bretanha Odesenvolvimento do capitalismo agraacuterio destruiu o campesinato e a burguesia industrial

(que natildeo teria assumido parte de sua tarefa histoacuterica) formaria um bloco com a aristocraciaagraacuteria Neste processo a classe operaacuteria em formaccedilatildeo foi derrotada e se desenvolveu deforma subalterna mostrando-se incapaz de transformar a sociedade e tendendo aocorporativismo A resposta de Thompson para Anderson foi que a aristocracia agraacuteriahavia sido componente fundamental do capitalismo inglecircs desde seu iniacutecio e seuprolongamento constituiu-se em classe dominante Na anaacutelise de Anderson do proletariadoinglecircs respondeu Thompson haacute uma simplificaccedilatildeo do processo desconsiderando-se atradiccedilatildeo radical e a sua experiecircncia histoacuterica especiacutefica Eacute esse radicalismo que em grandeparte a obra de Thompson procura resgatar

A FORMACcedilAtildeO DE CLASSE OPERAacuteRIA

No prefaacutecio da obra do historiador Inglecircs Thompson A formaccedilatildeo da classe

operaacuteria inglesa escrita originalmente em 1963 haacute vaacuterias passagens que salientam a classecomo fenocircmeno histoacuterico cuja existecircncia ocorre somente no tempo e consequumlentemente soacutepode ser conhecida historicamente Essa assertiva trouxe algumas dissonacircncias no acircmbitomarxista como tambeacutem entre os historiadores sociais (BATALHA 2000 ANDERSON1985 SEWELL 1990 KAYE MCCLELLAND 1990 dentre outros)

Ridenti (2001) ao discutir Classes sociais e representaccedilatildeo acena para uma leitura

que no meu entender ajuda a compreender a noccedilatildeo de classe em Thompson conceito queainda traacutes muitas inquietaccedilotildees nas ciecircncias humanas (Cf BOITO JR TOLEDO 2003) Acompreensatildeo que Hirano (2002) faz de Marx sobre o conceito de ldquoclasserdquo eacute que nemsempre indica o mesmo sentido ldquoMarx empregou tanto no sentido lsquogeneacuterico abstratorsquoquanto num sentido lsquoespeciacutefico particularrsquo No primeiro satildeo realccediladas as determinaccedilotildeescomuns e gerais pertencentes a todas as eacutepocas no segundo o fenocircmeno especiacuteficolsquodeterminado pela produccedilatildeo capitalista modernarsquordquo (apud RIDENTI 2001 13)

Continua

() num sentido amplo o termo classe identifica os grandes gruposhumanos que se relacionam e lutam entre si para produzir o proacuteprio

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 13

sustento criando relaccedilotildees de dominaccedilatildeo para apropriarem-se doexcedente gerado aleacutem do miacutenimo necessaacuterio agrave subsistecircncia Assim asldquoclassesrdquo estariam presentes tanto nas sociedades estruturadas em castasou estamantos quanto nas sociedades de classes modernas nesse sentidofoi formulada a conhecida frase do Manifesto comunista segundo a qualldquoa histoacuteria de todas as sociedades ateacute nossos dias tem sido a histoacuteria daslutas de classesrdquo (RIDENTI 2001 13-14)

Essa compreensatildeo abre uma seacuterie de leituras que no miacutenimo colocam em evidecircnciapelo menos dois aspectos relevantes de interpretaccedilatildeo quanto o sentido histoacuterico de classee de consciecircncia de classes

No prefaacutecio da formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa assinala classe comoessencialmente fenocircmeno histoacuterico

Por classe entendo um fenocircmeno histoacuterico que unifica uma seacuterie deacontecimentos diacutespares e aparentemente desconectados tanto namateacuteria-prima da experiecircncia como na consciecircncia Ressalto que eacute umfenocircmeno histoacuterico Natildeo vejo a classe como uma ldquoestruturardquo nemmesmo como uma categoria mas como algo que ocorre efetivamente (ecuja ocorrecircncia pode ser demonstrada) nas relaccedilotildees humanas(THOMPSON 1987 p 9)

Eacute bom destacar que Thompson valorizava e compreendia classe na dimensatildeohistoacuterica cuja abordagem recaia na livre acomodaccedilatildeo dos homens para agir numadeterminada situaccedilatildeo histoacuterica

Se determos a histoacuteria num determinado ponto natildeo haacute classes massimplesmente uma multidatildeo de indiviacuteduos com um amontoado deexperiecircncias Mas se examinar-mos esses homens durante um periacuteodoadequado de mudanccedilas sociais observamos padrotildees em suas relaccedilotildeessuas ideacuteias e instituiccedilotildees A classe eacute definida pelos homens enquantovivem sua proacutepria histoacuteria e ao final estaacute eacute sua uacutenica definiccedilatildeo(THOMPSON 1978 11-12)

Batalha (2000) ao compreender e sustentar o termo classe enquanto uma categoriahistoacuterica e natildeo soacute socioloacutegica estaacutetica argumentou que classe tem uma relaccedilatildeo de lugar notempo e soacute numa dimensatildeo temporal eacute inteligiacutevel Isso eacute possiacutevel verificar no processo deFormaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa em que demonstrou que a consciecircncia de classe seforma natildeo soacute no local de produccedilatildeo mas tambeacutem a partir da vivecircncia na comunidadeSustenta ainda (BATALHA 2000 195) a ideacuteia de que a classe em Thompson eacute umconceito eminentemente histoacuterico ao chamar agrave atenccedilatildeo para o historiador inglecircs que propotildeeldquona praacutetica uma releitura da noccedilatildeo de lsquoclasse em sirsquo e lsquoclasse para sirsquo em Marx poisestabeleceu a distinccedilatildeo entre a classe como fenocircmeno heuriacutestico e a classe como realidadehistoacuterica ldquo() a classe como fenocircmeno histoacuterico soacute existe quando se pensa como classe epossui consciecircncia de classe quando torna-se lsquoclasse para sirsquordquoTanto para Batalha (2000)como para Wood (2003) essa eacute uma discussatildeo que estaacute posta de forma central jaacute em A

formaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa e foi retomada de forma esboccedilada colocada em Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo(2001)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 14

Ao referir-se a definiccedilatildeo de classe em Thompson e ao seu debate com os criacuteticos dohistoriador Wood (2003) acentuou que na compreensatildeo de Thompson natildeo eacute possiacutevel adiferenciaccedilatildeo que Marx faz entre ldquoclasse em sirdquo e ldquoclasse para sirdquo em que uma existeldquoobjetividaderdquo e outra existe como sujeito histoacuterico Admite a existecircncia de classe mas aidentifica com a segunda ldquoAntes de existir nessa forma natildeo existe classerdquo (WOOD200375)

() a grande forccedila da concepccedilatildeo de classe de Thompson eacute ser capaz dereconhecer e explicar as operaccedilotildees de classe na ausecircncia da consciecircnciade classe e os que adotam o tipo de definiccedilatildeo estrutural que seus criacuteticosparecem ter em mente natildeo tecircm meios de demonstrar a eficaacutecia da classena ausecircncia de formaccedilotildees conscientes de classe claramente visiacuteveis nemde oferecer uma resposta efetiva agrave alegaccedilatildeo de que classe eacute nada mais queum constructo teoacuterico ideologicamente motivado e imposto sobre aevidecircncia histoacuterica (WOOD 200375)

Essa formaccedilatildeo jaacute estava presente nas relaccedilotildees de produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo depessoas em situaccedilotildees de classe nos antagonismos e conflitos de interesses que criamcondiccedilotildees de luta

As formaccedilotildees de classe e a descoberta da consciecircncia de classe sedesenvolvem a partir do processo de luta agrave medida que as pessoasldquovivemrdquo e ldquotrabalhamrdquo suas situaccedilotildees de classe Eacute nesse sentido que aluta de classes precede a classe Dizer que a exploraccedilatildeo eacute ldquovivida nasformas de classe e soacute entatildeo gera formaccedilotildees de classerdquo eacute dizer exatamenteque as condiccedilotildees de exploraccedilatildeo as relaccedilotildees de produccedilatildeo existem

objetivamente para serem vividas (WOOD 200376)

Esse posicionamento corrobora para compreendermos que em Thompson asdeterminaccedilotildees objetivas natildeo se impotildeem sobre mateacuteria-prima vazia e passiva mas sobreseres histoacutericos ativos e conscientes que Classe eacute uma ldquocategoria histoacutericardquo e decorre deldquoprocessos sociais atraveacutes do tempordquo conhecidos e evidenciados empiricamenteldquoconhecemos as classes porque repetitivamente as pessoas se comportam de modoclassistardquo (THOMPSON 2001270)

Ao acentuar classe como categoria histoacuterica Thompson (1978) estava em

conformidade com o proacuteprio Marx nos seus escritos histoacutericosExiste atualmente uma tentaccedilatildeo generalizada em se supor que a classe eacuteuma coisa Natildeo era esse o significado em Marx em seus escritoshistoacutericos mas o erro deturpa muitos textos ldquomarxistasrdquo contemporacircneosldquoElardquo a classe operaacuteria eacute tomada como tendo uma existecircncia real capazde ser definida quase matematicamente - uma quantidade de homens quese encontra numa certa proporccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo Uma vezisso assumido torna-se possiacutevel deduzir a consciecircncia de classe que ldquoelardquodeveria ter (mas raramente tem) se estivesse adequadamente conscientede sua proacutepria posiccedilatildeo e interesses reais Haacute uma superestrutura culturalpor onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes Essas

ldquodefasagensrdquo e distorccedilotildees culturais constituem um incocircmodo de modoque eacute mais faacutecil passar para alguma teoria substitutiva o partido a seita

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 15

ou o teoacuterico que desvenda a consciecircncia de classe natildeo como ela eacute mascomo deveria ser (THOMPSON 1978 10)

Essa noccedilatildeo de classe como categoria histoacuterica foi retomada e reforccedilada em

Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo no qual dizia poderem oshistoriadores tomar essa noccedilatildeo em dois sentidos ldquoa) com referecircncia ao conteuacutedo histoacutericocorrespondente empiricamente observaacutevel e b) como categoria heuriacutestica ou analiacuteticarecurso para organizar uma evidecircncia histoacuterica cuja correspondecircncia direta eacute muito maisescassardquo (THOMPSON 2001 272)

A evidecircncia colocada por Thompson nessa nota quanto ao uso da noccedilatildeo de classepelos historiadores eacute acompanhada por esclarecimentos e advertecircncias

No primeiro caso eacute oacutebvio que classe no seu uso moderno guarda

relaccedilatildeo com a sociedade capitalista industrial do seacuteculo XIX Isto eacute

somente no seu uso moderno a classe se torna utilizaacutevel para umsistema de conhecimento da sociedade que vive nesse periacuteodo Por

isso o conceito natildeo soacute nos permite organizar e analisar a evidecircncia

mas estaacute tambeacutem presente com um novo sentido na evidecircncia

mesma () No outro caso a especificidade histoacuterica anacrocircnica

deve ser levada em conta quando lanccedilamos matildeo do conceito na

anaacutelise de sociedades anteriores agrave Revoluccedilatildeo Industrial De fato a

correspondecircncia da categoria com a evidecircncia histoacuterica torna-se

entatildeo muito menos direta Se a classe natildeo eacute admitida no sistema de

conhecimento das proacuteprias pessoas e se elas se nomeiam e levam

adiante suas batalhas histoacutericas em termos de ldquoestadosrdquo de ldquoordensrdquo

etc entatildeo ao descrevermos tais conflitos em termos de classe

devemos nos esquivar de toda tendecircncia a interpretaacute-los segundo

concepccedilotildees de classe posteriores O fato de se manter o uso da

categoria heuriacutestica de classe natildeo obstante as dificuldades

indicadas natildeo deriva da perfeiccedilatildeo do conceito mas da carecircncia de

categorias alternativas adequadas agrave anaacutelise do processo histoacuterico

evidente e universal (THOMPSON 2001272-273)

Como eacute possiacutevel de verificaccedilatildeo Thompson depositava ecircnfase na concepccedilatildeo declasse enquanto categoria heuriacutestica e analiacutetica argumentando e fazendo prevalecer agrave luta ea consciecircncia de classe

() as classes natildeo existem como entidades separadas que olham ao redoracham um inimigo de classe e partem para a batalha Ao contraacuterio

para mim as pessoas se vecircem numa sociedade estruturada de um

certo modo (por meio de relaccedilotildees de produccedilatildeo fundamentalmente)

suportam a exploraccedilatildeo (ou buscam manter poder sobre os

explorados) identificam os noacutes dos interesses antagocircnicos debatem-

se em torno desses mesmos noacutes e no curso de tal processo de luta

descobrem a si mesmas como uma classe vindo pois a fazer a

descoberta da sua consciecircncia de classe Classe e consciecircncia de

classe satildeo sempre o uacuteltimo e natildeo o primeiro degrau de um processo

histoacuterico real (THOMPSON 2001274)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 3: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 11

Com a publicaccedilatildeo sobre William Morris tambeacutem nos anos 50 consideradaprimeiro trabalho de focirclego Thompson comeccedilou a se interessar mais pela ideacuteia de serldquohistoriadorrdquo e jaacute se definia como ldquomarxista humanistardquo

No ano de 1956 foi fundada por Thompson e Saville a revista Reasoner umapublicaccedilatildeo comunista com certo caraacuteter independente No entanto sua publicaccedilatildeo foiproibida por criticar a invasatildeo huacutengara defendida pelo Comitecirc Central Comunista Aofecharem a revista e serem suspensos Thompson e Saville abandonaram imediatamente opartido e fundaram posteriormente o New Reasoner Com estudantes ingleses de Oxfordcriaram no mesmo ano a revista Universities and Left Review que fundada em 1959deram origem agrave New Left Review Dentre outros participavam dessa revista RalphMilliband Raymond Williams Peter Worsley Doris Lessing Raphael Samuel Dorothy eEdward Thompson e Stuart Hall Desde o iniacutecio New Left Review foi um espaccedilo dediscussatildeo para a mudanccedila radical da consciecircncia poliacutetica do movimento operaacuterio inglecircsEssa nova esquerda em sua maioria engajou como ativista em movimentos como o anti-colonialismo e na Campanha pelo Desarmamento Nuclear (CND)

Nos primeiros anos de 1960 Thompson publicou artigos discutindo a questatildeo darevoluccedilatildeo e da transiccedilatildeo para o socialismo na Gratilde-Bretanha Em funccedilatildeo destes artigosrecebeu severas criacuteticas as quais futuramente desembocaram no conflito com Ton Nairn ePerry Anderson Em marccedilo de 1963 Anderson assumiu a direccedilatildeo da revista alterando aorientaccedilatildeo editorial e privilegiando publicaccedilotildees de Louis Althusser Etienne Balibar eErnet Mandel dentre outros

Em 1963 Thompson publicou ndash A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa - queefetivamente consagrou-o como um grande historiador A criacutetica publicada por Nairn2 aumentou o fosso em relaccedilatildeo ao grupo que havia assumido a nova esquerda Este textorepresentou para muitos historiadores um novo marco na historiografia contemporacircneaAo ldquorefazerrdquo a histoacuteria do proletariado inglecircs Thompson desenvolveu um caminho proacuteprioem que adentra por aberturas que denominou o ldquofazer-serdquo da classe operaacuteria inglesa Paratanto suas fontes de pesquisa natildeo foram convencionais ou seja natildeo se restringiam asindicatos e organizaccedilotildees socialistas mas compreendia outros campos da poliacutetica populartradiccedilotildees religiosas rituais conspiraccedilotildees baladas pregaccedilotildees milenaristas ameaccedilasanocircnimas cartas hinos metodistas festivais danccedilas listas de subscriccedilotildees bandeiras etcUtilizou-se nesse texto de uma narrativa atraveacutes da qual estabeleceu o caraacuteter coletivo daexperiecircncia de exploraccedilatildeo e opressatildeo dos trabalhadores ingleses mas constantemente abriuespaccedilo para que aflorassem as experiecircncias individuais de artesatildeos e trabalhadores natildeo-qualificados Desta forma seu texto possui um movimento de contraccedilatildeo e expansatildeo ondea fala individual exemplifica a experiecircncia coletiva esta funda-se na percepccedilatildeo deidentidades A noccedilatildeo de experiecircncia eacute fator fundante do trabalho de Thompson

2 983109983155983155983137 983139983154983145983156983145983139983137 983142983151983145 983152983157983138983148983145983139983137983140983137 983150983151 983106983154983137983155983145983148 983141983149 983118983105983113983122983118 983124983151983149 983105 983139983148983137983155983155983141 983156983154983137983138983137983148983144983137983140983151983154983137 983150983137 983113983150983143983148983137983156983141983154983154983137 983113983150 983106983116983105983107983115983106983125983122983118

983122983151983138983145983150 (983119983154983143) 983113983140983141983151983148983151983143983145983137 983150983137 983139983145983274983150983139983145983137 983155983151983139983145983137983148 983141983150983155983137983145983151 983139983154983277983156983145983139983151983155 983155983151983138983154983141 983137 983156983141983151983154983145983137 983155983151983139983145983137983148 983122983145983151 983140983141 983114983137983150983141983145983154983151 983120983137983162 983141 9831249831419831549831549831371982 983152171983085189

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 12

Nos anos 60 ocorreu um debate no interior da esquerda inglesa Anderson publicouOrigins of the present crises Thompson respondeu com As peculiaridades dos ingleses (2001) As relaccedilotildees entre ambos pioraram Neste debate as diferenccedilas iniciaram-se naanaacutelise do caraacuteter da Revoluccedilatildeo Inglesa e sua heranccedila radical na formaccedilatildeo do proletariadoinglecircs nos modelos que ambos usariam para analisar a sociedade inglesa e apresentarpropostas de accedilatildeo para os socialistas (um centrado na anaacutelise estrutural e o outro napossibilidade da accedilatildeo humana como agente transformador da sociedade) O debate dasdiferenccedilas de interpretaccedilatildeo histoacuterica entre Anderson e Thompson implicou em estrateacutegiasde accedilatildeo distintas para os socialistas ingleses da deacutecada de 60 Para Anderson o que estavaem foco era a anaacutelise da revoluccedilatildeo inglesa do seacuteculo XVII que havia transformo asestruturas mas natildeo as superestruturas da sociedade Uma aristocracia agraacuteria sustentadapor um grupo mercantilista tornou-se a classe dominante na Gratilde-Bretanha Odesenvolvimento do capitalismo agraacuterio destruiu o campesinato e a burguesia industrial

(que natildeo teria assumido parte de sua tarefa histoacuterica) formaria um bloco com a aristocraciaagraacuteria Neste processo a classe operaacuteria em formaccedilatildeo foi derrotada e se desenvolveu deforma subalterna mostrando-se incapaz de transformar a sociedade e tendendo aocorporativismo A resposta de Thompson para Anderson foi que a aristocracia agraacuteriahavia sido componente fundamental do capitalismo inglecircs desde seu iniacutecio e seuprolongamento constituiu-se em classe dominante Na anaacutelise de Anderson do proletariadoinglecircs respondeu Thompson haacute uma simplificaccedilatildeo do processo desconsiderando-se atradiccedilatildeo radical e a sua experiecircncia histoacuterica especiacutefica Eacute esse radicalismo que em grandeparte a obra de Thompson procura resgatar

A FORMACcedilAtildeO DE CLASSE OPERAacuteRIA

No prefaacutecio da obra do historiador Inglecircs Thompson A formaccedilatildeo da classe

operaacuteria inglesa escrita originalmente em 1963 haacute vaacuterias passagens que salientam a classecomo fenocircmeno histoacuterico cuja existecircncia ocorre somente no tempo e consequumlentemente soacutepode ser conhecida historicamente Essa assertiva trouxe algumas dissonacircncias no acircmbitomarxista como tambeacutem entre os historiadores sociais (BATALHA 2000 ANDERSON1985 SEWELL 1990 KAYE MCCLELLAND 1990 dentre outros)

Ridenti (2001) ao discutir Classes sociais e representaccedilatildeo acena para uma leitura

que no meu entender ajuda a compreender a noccedilatildeo de classe em Thompson conceito queainda traacutes muitas inquietaccedilotildees nas ciecircncias humanas (Cf BOITO JR TOLEDO 2003) Acompreensatildeo que Hirano (2002) faz de Marx sobre o conceito de ldquoclasserdquo eacute que nemsempre indica o mesmo sentido ldquoMarx empregou tanto no sentido lsquogeneacuterico abstratorsquoquanto num sentido lsquoespeciacutefico particularrsquo No primeiro satildeo realccediladas as determinaccedilotildeescomuns e gerais pertencentes a todas as eacutepocas no segundo o fenocircmeno especiacuteficolsquodeterminado pela produccedilatildeo capitalista modernarsquordquo (apud RIDENTI 2001 13)

Continua

() num sentido amplo o termo classe identifica os grandes gruposhumanos que se relacionam e lutam entre si para produzir o proacuteprio

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 13

sustento criando relaccedilotildees de dominaccedilatildeo para apropriarem-se doexcedente gerado aleacutem do miacutenimo necessaacuterio agrave subsistecircncia Assim asldquoclassesrdquo estariam presentes tanto nas sociedades estruturadas em castasou estamantos quanto nas sociedades de classes modernas nesse sentidofoi formulada a conhecida frase do Manifesto comunista segundo a qualldquoa histoacuteria de todas as sociedades ateacute nossos dias tem sido a histoacuteria daslutas de classesrdquo (RIDENTI 2001 13-14)

Essa compreensatildeo abre uma seacuterie de leituras que no miacutenimo colocam em evidecircnciapelo menos dois aspectos relevantes de interpretaccedilatildeo quanto o sentido histoacuterico de classee de consciecircncia de classes

No prefaacutecio da formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa assinala classe comoessencialmente fenocircmeno histoacuterico

Por classe entendo um fenocircmeno histoacuterico que unifica uma seacuterie deacontecimentos diacutespares e aparentemente desconectados tanto namateacuteria-prima da experiecircncia como na consciecircncia Ressalto que eacute umfenocircmeno histoacuterico Natildeo vejo a classe como uma ldquoestruturardquo nemmesmo como uma categoria mas como algo que ocorre efetivamente (ecuja ocorrecircncia pode ser demonstrada) nas relaccedilotildees humanas(THOMPSON 1987 p 9)

Eacute bom destacar que Thompson valorizava e compreendia classe na dimensatildeohistoacuterica cuja abordagem recaia na livre acomodaccedilatildeo dos homens para agir numadeterminada situaccedilatildeo histoacuterica

Se determos a histoacuteria num determinado ponto natildeo haacute classes massimplesmente uma multidatildeo de indiviacuteduos com um amontoado deexperiecircncias Mas se examinar-mos esses homens durante um periacuteodoadequado de mudanccedilas sociais observamos padrotildees em suas relaccedilotildeessuas ideacuteias e instituiccedilotildees A classe eacute definida pelos homens enquantovivem sua proacutepria histoacuteria e ao final estaacute eacute sua uacutenica definiccedilatildeo(THOMPSON 1978 11-12)

Batalha (2000) ao compreender e sustentar o termo classe enquanto uma categoriahistoacuterica e natildeo soacute socioloacutegica estaacutetica argumentou que classe tem uma relaccedilatildeo de lugar notempo e soacute numa dimensatildeo temporal eacute inteligiacutevel Isso eacute possiacutevel verificar no processo deFormaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa em que demonstrou que a consciecircncia de classe seforma natildeo soacute no local de produccedilatildeo mas tambeacutem a partir da vivecircncia na comunidadeSustenta ainda (BATALHA 2000 195) a ideacuteia de que a classe em Thompson eacute umconceito eminentemente histoacuterico ao chamar agrave atenccedilatildeo para o historiador inglecircs que propotildeeldquona praacutetica uma releitura da noccedilatildeo de lsquoclasse em sirsquo e lsquoclasse para sirsquo em Marx poisestabeleceu a distinccedilatildeo entre a classe como fenocircmeno heuriacutestico e a classe como realidadehistoacuterica ldquo() a classe como fenocircmeno histoacuterico soacute existe quando se pensa como classe epossui consciecircncia de classe quando torna-se lsquoclasse para sirsquordquoTanto para Batalha (2000)como para Wood (2003) essa eacute uma discussatildeo que estaacute posta de forma central jaacute em A

formaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa e foi retomada de forma esboccedilada colocada em Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo(2001)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 14

Ao referir-se a definiccedilatildeo de classe em Thompson e ao seu debate com os criacuteticos dohistoriador Wood (2003) acentuou que na compreensatildeo de Thompson natildeo eacute possiacutevel adiferenciaccedilatildeo que Marx faz entre ldquoclasse em sirdquo e ldquoclasse para sirdquo em que uma existeldquoobjetividaderdquo e outra existe como sujeito histoacuterico Admite a existecircncia de classe mas aidentifica com a segunda ldquoAntes de existir nessa forma natildeo existe classerdquo (WOOD200375)

() a grande forccedila da concepccedilatildeo de classe de Thompson eacute ser capaz dereconhecer e explicar as operaccedilotildees de classe na ausecircncia da consciecircnciade classe e os que adotam o tipo de definiccedilatildeo estrutural que seus criacuteticosparecem ter em mente natildeo tecircm meios de demonstrar a eficaacutecia da classena ausecircncia de formaccedilotildees conscientes de classe claramente visiacuteveis nemde oferecer uma resposta efetiva agrave alegaccedilatildeo de que classe eacute nada mais queum constructo teoacuterico ideologicamente motivado e imposto sobre aevidecircncia histoacuterica (WOOD 200375)

Essa formaccedilatildeo jaacute estava presente nas relaccedilotildees de produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo depessoas em situaccedilotildees de classe nos antagonismos e conflitos de interesses que criamcondiccedilotildees de luta

As formaccedilotildees de classe e a descoberta da consciecircncia de classe sedesenvolvem a partir do processo de luta agrave medida que as pessoasldquovivemrdquo e ldquotrabalhamrdquo suas situaccedilotildees de classe Eacute nesse sentido que aluta de classes precede a classe Dizer que a exploraccedilatildeo eacute ldquovivida nasformas de classe e soacute entatildeo gera formaccedilotildees de classerdquo eacute dizer exatamenteque as condiccedilotildees de exploraccedilatildeo as relaccedilotildees de produccedilatildeo existem

objetivamente para serem vividas (WOOD 200376)

Esse posicionamento corrobora para compreendermos que em Thompson asdeterminaccedilotildees objetivas natildeo se impotildeem sobre mateacuteria-prima vazia e passiva mas sobreseres histoacutericos ativos e conscientes que Classe eacute uma ldquocategoria histoacutericardquo e decorre deldquoprocessos sociais atraveacutes do tempordquo conhecidos e evidenciados empiricamenteldquoconhecemos as classes porque repetitivamente as pessoas se comportam de modoclassistardquo (THOMPSON 2001270)

Ao acentuar classe como categoria histoacuterica Thompson (1978) estava em

conformidade com o proacuteprio Marx nos seus escritos histoacutericosExiste atualmente uma tentaccedilatildeo generalizada em se supor que a classe eacuteuma coisa Natildeo era esse o significado em Marx em seus escritoshistoacutericos mas o erro deturpa muitos textos ldquomarxistasrdquo contemporacircneosldquoElardquo a classe operaacuteria eacute tomada como tendo uma existecircncia real capazde ser definida quase matematicamente - uma quantidade de homens quese encontra numa certa proporccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo Uma vezisso assumido torna-se possiacutevel deduzir a consciecircncia de classe que ldquoelardquodeveria ter (mas raramente tem) se estivesse adequadamente conscientede sua proacutepria posiccedilatildeo e interesses reais Haacute uma superestrutura culturalpor onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes Essas

ldquodefasagensrdquo e distorccedilotildees culturais constituem um incocircmodo de modoque eacute mais faacutecil passar para alguma teoria substitutiva o partido a seita

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 15

ou o teoacuterico que desvenda a consciecircncia de classe natildeo como ela eacute mascomo deveria ser (THOMPSON 1978 10)

Essa noccedilatildeo de classe como categoria histoacuterica foi retomada e reforccedilada em

Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo no qual dizia poderem oshistoriadores tomar essa noccedilatildeo em dois sentidos ldquoa) com referecircncia ao conteuacutedo histoacutericocorrespondente empiricamente observaacutevel e b) como categoria heuriacutestica ou analiacuteticarecurso para organizar uma evidecircncia histoacuterica cuja correspondecircncia direta eacute muito maisescassardquo (THOMPSON 2001 272)

A evidecircncia colocada por Thompson nessa nota quanto ao uso da noccedilatildeo de classepelos historiadores eacute acompanhada por esclarecimentos e advertecircncias

No primeiro caso eacute oacutebvio que classe no seu uso moderno guarda

relaccedilatildeo com a sociedade capitalista industrial do seacuteculo XIX Isto eacute

somente no seu uso moderno a classe se torna utilizaacutevel para umsistema de conhecimento da sociedade que vive nesse periacuteodo Por

isso o conceito natildeo soacute nos permite organizar e analisar a evidecircncia

mas estaacute tambeacutem presente com um novo sentido na evidecircncia

mesma () No outro caso a especificidade histoacuterica anacrocircnica

deve ser levada em conta quando lanccedilamos matildeo do conceito na

anaacutelise de sociedades anteriores agrave Revoluccedilatildeo Industrial De fato a

correspondecircncia da categoria com a evidecircncia histoacuterica torna-se

entatildeo muito menos direta Se a classe natildeo eacute admitida no sistema de

conhecimento das proacuteprias pessoas e se elas se nomeiam e levam

adiante suas batalhas histoacutericas em termos de ldquoestadosrdquo de ldquoordensrdquo

etc entatildeo ao descrevermos tais conflitos em termos de classe

devemos nos esquivar de toda tendecircncia a interpretaacute-los segundo

concepccedilotildees de classe posteriores O fato de se manter o uso da

categoria heuriacutestica de classe natildeo obstante as dificuldades

indicadas natildeo deriva da perfeiccedilatildeo do conceito mas da carecircncia de

categorias alternativas adequadas agrave anaacutelise do processo histoacuterico

evidente e universal (THOMPSON 2001272-273)

Como eacute possiacutevel de verificaccedilatildeo Thompson depositava ecircnfase na concepccedilatildeo declasse enquanto categoria heuriacutestica e analiacutetica argumentando e fazendo prevalecer agrave luta ea consciecircncia de classe

() as classes natildeo existem como entidades separadas que olham ao redoracham um inimigo de classe e partem para a batalha Ao contraacuterio

para mim as pessoas se vecircem numa sociedade estruturada de um

certo modo (por meio de relaccedilotildees de produccedilatildeo fundamentalmente)

suportam a exploraccedilatildeo (ou buscam manter poder sobre os

explorados) identificam os noacutes dos interesses antagocircnicos debatem-

se em torno desses mesmos noacutes e no curso de tal processo de luta

descobrem a si mesmas como uma classe vindo pois a fazer a

descoberta da sua consciecircncia de classe Classe e consciecircncia de

classe satildeo sempre o uacuteltimo e natildeo o primeiro degrau de um processo

histoacuterico real (THOMPSON 2001274)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 4: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 12

Nos anos 60 ocorreu um debate no interior da esquerda inglesa Anderson publicouOrigins of the present crises Thompson respondeu com As peculiaridades dos ingleses (2001) As relaccedilotildees entre ambos pioraram Neste debate as diferenccedilas iniciaram-se naanaacutelise do caraacuteter da Revoluccedilatildeo Inglesa e sua heranccedila radical na formaccedilatildeo do proletariadoinglecircs nos modelos que ambos usariam para analisar a sociedade inglesa e apresentarpropostas de accedilatildeo para os socialistas (um centrado na anaacutelise estrutural e o outro napossibilidade da accedilatildeo humana como agente transformador da sociedade) O debate dasdiferenccedilas de interpretaccedilatildeo histoacuterica entre Anderson e Thompson implicou em estrateacutegiasde accedilatildeo distintas para os socialistas ingleses da deacutecada de 60 Para Anderson o que estavaem foco era a anaacutelise da revoluccedilatildeo inglesa do seacuteculo XVII que havia transformo asestruturas mas natildeo as superestruturas da sociedade Uma aristocracia agraacuteria sustentadapor um grupo mercantilista tornou-se a classe dominante na Gratilde-Bretanha Odesenvolvimento do capitalismo agraacuterio destruiu o campesinato e a burguesia industrial

(que natildeo teria assumido parte de sua tarefa histoacuterica) formaria um bloco com a aristocraciaagraacuteria Neste processo a classe operaacuteria em formaccedilatildeo foi derrotada e se desenvolveu deforma subalterna mostrando-se incapaz de transformar a sociedade e tendendo aocorporativismo A resposta de Thompson para Anderson foi que a aristocracia agraacuteriahavia sido componente fundamental do capitalismo inglecircs desde seu iniacutecio e seuprolongamento constituiu-se em classe dominante Na anaacutelise de Anderson do proletariadoinglecircs respondeu Thompson haacute uma simplificaccedilatildeo do processo desconsiderando-se atradiccedilatildeo radical e a sua experiecircncia histoacuterica especiacutefica Eacute esse radicalismo que em grandeparte a obra de Thompson procura resgatar

A FORMACcedilAtildeO DE CLASSE OPERAacuteRIA

No prefaacutecio da obra do historiador Inglecircs Thompson A formaccedilatildeo da classe

operaacuteria inglesa escrita originalmente em 1963 haacute vaacuterias passagens que salientam a classecomo fenocircmeno histoacuterico cuja existecircncia ocorre somente no tempo e consequumlentemente soacutepode ser conhecida historicamente Essa assertiva trouxe algumas dissonacircncias no acircmbitomarxista como tambeacutem entre os historiadores sociais (BATALHA 2000 ANDERSON1985 SEWELL 1990 KAYE MCCLELLAND 1990 dentre outros)

Ridenti (2001) ao discutir Classes sociais e representaccedilatildeo acena para uma leitura

que no meu entender ajuda a compreender a noccedilatildeo de classe em Thompson conceito queainda traacutes muitas inquietaccedilotildees nas ciecircncias humanas (Cf BOITO JR TOLEDO 2003) Acompreensatildeo que Hirano (2002) faz de Marx sobre o conceito de ldquoclasserdquo eacute que nemsempre indica o mesmo sentido ldquoMarx empregou tanto no sentido lsquogeneacuterico abstratorsquoquanto num sentido lsquoespeciacutefico particularrsquo No primeiro satildeo realccediladas as determinaccedilotildeescomuns e gerais pertencentes a todas as eacutepocas no segundo o fenocircmeno especiacuteficolsquodeterminado pela produccedilatildeo capitalista modernarsquordquo (apud RIDENTI 2001 13)

Continua

() num sentido amplo o termo classe identifica os grandes gruposhumanos que se relacionam e lutam entre si para produzir o proacuteprio

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 13

sustento criando relaccedilotildees de dominaccedilatildeo para apropriarem-se doexcedente gerado aleacutem do miacutenimo necessaacuterio agrave subsistecircncia Assim asldquoclassesrdquo estariam presentes tanto nas sociedades estruturadas em castasou estamantos quanto nas sociedades de classes modernas nesse sentidofoi formulada a conhecida frase do Manifesto comunista segundo a qualldquoa histoacuteria de todas as sociedades ateacute nossos dias tem sido a histoacuteria daslutas de classesrdquo (RIDENTI 2001 13-14)

Essa compreensatildeo abre uma seacuterie de leituras que no miacutenimo colocam em evidecircnciapelo menos dois aspectos relevantes de interpretaccedilatildeo quanto o sentido histoacuterico de classee de consciecircncia de classes

No prefaacutecio da formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa assinala classe comoessencialmente fenocircmeno histoacuterico

Por classe entendo um fenocircmeno histoacuterico que unifica uma seacuterie deacontecimentos diacutespares e aparentemente desconectados tanto namateacuteria-prima da experiecircncia como na consciecircncia Ressalto que eacute umfenocircmeno histoacuterico Natildeo vejo a classe como uma ldquoestruturardquo nemmesmo como uma categoria mas como algo que ocorre efetivamente (ecuja ocorrecircncia pode ser demonstrada) nas relaccedilotildees humanas(THOMPSON 1987 p 9)

Eacute bom destacar que Thompson valorizava e compreendia classe na dimensatildeohistoacuterica cuja abordagem recaia na livre acomodaccedilatildeo dos homens para agir numadeterminada situaccedilatildeo histoacuterica

Se determos a histoacuteria num determinado ponto natildeo haacute classes massimplesmente uma multidatildeo de indiviacuteduos com um amontoado deexperiecircncias Mas se examinar-mos esses homens durante um periacuteodoadequado de mudanccedilas sociais observamos padrotildees em suas relaccedilotildeessuas ideacuteias e instituiccedilotildees A classe eacute definida pelos homens enquantovivem sua proacutepria histoacuteria e ao final estaacute eacute sua uacutenica definiccedilatildeo(THOMPSON 1978 11-12)

Batalha (2000) ao compreender e sustentar o termo classe enquanto uma categoriahistoacuterica e natildeo soacute socioloacutegica estaacutetica argumentou que classe tem uma relaccedilatildeo de lugar notempo e soacute numa dimensatildeo temporal eacute inteligiacutevel Isso eacute possiacutevel verificar no processo deFormaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa em que demonstrou que a consciecircncia de classe seforma natildeo soacute no local de produccedilatildeo mas tambeacutem a partir da vivecircncia na comunidadeSustenta ainda (BATALHA 2000 195) a ideacuteia de que a classe em Thompson eacute umconceito eminentemente histoacuterico ao chamar agrave atenccedilatildeo para o historiador inglecircs que propotildeeldquona praacutetica uma releitura da noccedilatildeo de lsquoclasse em sirsquo e lsquoclasse para sirsquo em Marx poisestabeleceu a distinccedilatildeo entre a classe como fenocircmeno heuriacutestico e a classe como realidadehistoacuterica ldquo() a classe como fenocircmeno histoacuterico soacute existe quando se pensa como classe epossui consciecircncia de classe quando torna-se lsquoclasse para sirsquordquoTanto para Batalha (2000)como para Wood (2003) essa eacute uma discussatildeo que estaacute posta de forma central jaacute em A

formaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa e foi retomada de forma esboccedilada colocada em Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo(2001)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 14

Ao referir-se a definiccedilatildeo de classe em Thompson e ao seu debate com os criacuteticos dohistoriador Wood (2003) acentuou que na compreensatildeo de Thompson natildeo eacute possiacutevel adiferenciaccedilatildeo que Marx faz entre ldquoclasse em sirdquo e ldquoclasse para sirdquo em que uma existeldquoobjetividaderdquo e outra existe como sujeito histoacuterico Admite a existecircncia de classe mas aidentifica com a segunda ldquoAntes de existir nessa forma natildeo existe classerdquo (WOOD200375)

() a grande forccedila da concepccedilatildeo de classe de Thompson eacute ser capaz dereconhecer e explicar as operaccedilotildees de classe na ausecircncia da consciecircnciade classe e os que adotam o tipo de definiccedilatildeo estrutural que seus criacuteticosparecem ter em mente natildeo tecircm meios de demonstrar a eficaacutecia da classena ausecircncia de formaccedilotildees conscientes de classe claramente visiacuteveis nemde oferecer uma resposta efetiva agrave alegaccedilatildeo de que classe eacute nada mais queum constructo teoacuterico ideologicamente motivado e imposto sobre aevidecircncia histoacuterica (WOOD 200375)

Essa formaccedilatildeo jaacute estava presente nas relaccedilotildees de produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo depessoas em situaccedilotildees de classe nos antagonismos e conflitos de interesses que criamcondiccedilotildees de luta

As formaccedilotildees de classe e a descoberta da consciecircncia de classe sedesenvolvem a partir do processo de luta agrave medida que as pessoasldquovivemrdquo e ldquotrabalhamrdquo suas situaccedilotildees de classe Eacute nesse sentido que aluta de classes precede a classe Dizer que a exploraccedilatildeo eacute ldquovivida nasformas de classe e soacute entatildeo gera formaccedilotildees de classerdquo eacute dizer exatamenteque as condiccedilotildees de exploraccedilatildeo as relaccedilotildees de produccedilatildeo existem

objetivamente para serem vividas (WOOD 200376)

Esse posicionamento corrobora para compreendermos que em Thompson asdeterminaccedilotildees objetivas natildeo se impotildeem sobre mateacuteria-prima vazia e passiva mas sobreseres histoacutericos ativos e conscientes que Classe eacute uma ldquocategoria histoacutericardquo e decorre deldquoprocessos sociais atraveacutes do tempordquo conhecidos e evidenciados empiricamenteldquoconhecemos as classes porque repetitivamente as pessoas se comportam de modoclassistardquo (THOMPSON 2001270)

Ao acentuar classe como categoria histoacuterica Thompson (1978) estava em

conformidade com o proacuteprio Marx nos seus escritos histoacutericosExiste atualmente uma tentaccedilatildeo generalizada em se supor que a classe eacuteuma coisa Natildeo era esse o significado em Marx em seus escritoshistoacutericos mas o erro deturpa muitos textos ldquomarxistasrdquo contemporacircneosldquoElardquo a classe operaacuteria eacute tomada como tendo uma existecircncia real capazde ser definida quase matematicamente - uma quantidade de homens quese encontra numa certa proporccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo Uma vezisso assumido torna-se possiacutevel deduzir a consciecircncia de classe que ldquoelardquodeveria ter (mas raramente tem) se estivesse adequadamente conscientede sua proacutepria posiccedilatildeo e interesses reais Haacute uma superestrutura culturalpor onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes Essas

ldquodefasagensrdquo e distorccedilotildees culturais constituem um incocircmodo de modoque eacute mais faacutecil passar para alguma teoria substitutiva o partido a seita

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 15

ou o teoacuterico que desvenda a consciecircncia de classe natildeo como ela eacute mascomo deveria ser (THOMPSON 1978 10)

Essa noccedilatildeo de classe como categoria histoacuterica foi retomada e reforccedilada em

Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo no qual dizia poderem oshistoriadores tomar essa noccedilatildeo em dois sentidos ldquoa) com referecircncia ao conteuacutedo histoacutericocorrespondente empiricamente observaacutevel e b) como categoria heuriacutestica ou analiacuteticarecurso para organizar uma evidecircncia histoacuterica cuja correspondecircncia direta eacute muito maisescassardquo (THOMPSON 2001 272)

A evidecircncia colocada por Thompson nessa nota quanto ao uso da noccedilatildeo de classepelos historiadores eacute acompanhada por esclarecimentos e advertecircncias

No primeiro caso eacute oacutebvio que classe no seu uso moderno guarda

relaccedilatildeo com a sociedade capitalista industrial do seacuteculo XIX Isto eacute

somente no seu uso moderno a classe se torna utilizaacutevel para umsistema de conhecimento da sociedade que vive nesse periacuteodo Por

isso o conceito natildeo soacute nos permite organizar e analisar a evidecircncia

mas estaacute tambeacutem presente com um novo sentido na evidecircncia

mesma () No outro caso a especificidade histoacuterica anacrocircnica

deve ser levada em conta quando lanccedilamos matildeo do conceito na

anaacutelise de sociedades anteriores agrave Revoluccedilatildeo Industrial De fato a

correspondecircncia da categoria com a evidecircncia histoacuterica torna-se

entatildeo muito menos direta Se a classe natildeo eacute admitida no sistema de

conhecimento das proacuteprias pessoas e se elas se nomeiam e levam

adiante suas batalhas histoacutericas em termos de ldquoestadosrdquo de ldquoordensrdquo

etc entatildeo ao descrevermos tais conflitos em termos de classe

devemos nos esquivar de toda tendecircncia a interpretaacute-los segundo

concepccedilotildees de classe posteriores O fato de se manter o uso da

categoria heuriacutestica de classe natildeo obstante as dificuldades

indicadas natildeo deriva da perfeiccedilatildeo do conceito mas da carecircncia de

categorias alternativas adequadas agrave anaacutelise do processo histoacuterico

evidente e universal (THOMPSON 2001272-273)

Como eacute possiacutevel de verificaccedilatildeo Thompson depositava ecircnfase na concepccedilatildeo declasse enquanto categoria heuriacutestica e analiacutetica argumentando e fazendo prevalecer agrave luta ea consciecircncia de classe

() as classes natildeo existem como entidades separadas que olham ao redoracham um inimigo de classe e partem para a batalha Ao contraacuterio

para mim as pessoas se vecircem numa sociedade estruturada de um

certo modo (por meio de relaccedilotildees de produccedilatildeo fundamentalmente)

suportam a exploraccedilatildeo (ou buscam manter poder sobre os

explorados) identificam os noacutes dos interesses antagocircnicos debatem-

se em torno desses mesmos noacutes e no curso de tal processo de luta

descobrem a si mesmas como uma classe vindo pois a fazer a

descoberta da sua consciecircncia de classe Classe e consciecircncia de

classe satildeo sempre o uacuteltimo e natildeo o primeiro degrau de um processo

histoacuterico real (THOMPSON 2001274)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 5: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 13

sustento criando relaccedilotildees de dominaccedilatildeo para apropriarem-se doexcedente gerado aleacutem do miacutenimo necessaacuterio agrave subsistecircncia Assim asldquoclassesrdquo estariam presentes tanto nas sociedades estruturadas em castasou estamantos quanto nas sociedades de classes modernas nesse sentidofoi formulada a conhecida frase do Manifesto comunista segundo a qualldquoa histoacuteria de todas as sociedades ateacute nossos dias tem sido a histoacuteria daslutas de classesrdquo (RIDENTI 2001 13-14)

Essa compreensatildeo abre uma seacuterie de leituras que no miacutenimo colocam em evidecircnciapelo menos dois aspectos relevantes de interpretaccedilatildeo quanto o sentido histoacuterico de classee de consciecircncia de classes

No prefaacutecio da formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa assinala classe comoessencialmente fenocircmeno histoacuterico

Por classe entendo um fenocircmeno histoacuterico que unifica uma seacuterie deacontecimentos diacutespares e aparentemente desconectados tanto namateacuteria-prima da experiecircncia como na consciecircncia Ressalto que eacute umfenocircmeno histoacuterico Natildeo vejo a classe como uma ldquoestruturardquo nemmesmo como uma categoria mas como algo que ocorre efetivamente (ecuja ocorrecircncia pode ser demonstrada) nas relaccedilotildees humanas(THOMPSON 1987 p 9)

Eacute bom destacar que Thompson valorizava e compreendia classe na dimensatildeohistoacuterica cuja abordagem recaia na livre acomodaccedilatildeo dos homens para agir numadeterminada situaccedilatildeo histoacuterica

Se determos a histoacuteria num determinado ponto natildeo haacute classes massimplesmente uma multidatildeo de indiviacuteduos com um amontoado deexperiecircncias Mas se examinar-mos esses homens durante um periacuteodoadequado de mudanccedilas sociais observamos padrotildees em suas relaccedilotildeessuas ideacuteias e instituiccedilotildees A classe eacute definida pelos homens enquantovivem sua proacutepria histoacuteria e ao final estaacute eacute sua uacutenica definiccedilatildeo(THOMPSON 1978 11-12)

Batalha (2000) ao compreender e sustentar o termo classe enquanto uma categoriahistoacuterica e natildeo soacute socioloacutegica estaacutetica argumentou que classe tem uma relaccedilatildeo de lugar notempo e soacute numa dimensatildeo temporal eacute inteligiacutevel Isso eacute possiacutevel verificar no processo deFormaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa em que demonstrou que a consciecircncia de classe seforma natildeo soacute no local de produccedilatildeo mas tambeacutem a partir da vivecircncia na comunidadeSustenta ainda (BATALHA 2000 195) a ideacuteia de que a classe em Thompson eacute umconceito eminentemente histoacuterico ao chamar agrave atenccedilatildeo para o historiador inglecircs que propotildeeldquona praacutetica uma releitura da noccedilatildeo de lsquoclasse em sirsquo e lsquoclasse para sirsquo em Marx poisestabeleceu a distinccedilatildeo entre a classe como fenocircmeno heuriacutestico e a classe como realidadehistoacuterica ldquo() a classe como fenocircmeno histoacuterico soacute existe quando se pensa como classe epossui consciecircncia de classe quando torna-se lsquoclasse para sirsquordquoTanto para Batalha (2000)como para Wood (2003) essa eacute uma discussatildeo que estaacute posta de forma central jaacute em A

formaccedilatildeo da Classe Operaacuteria Inglesa e foi retomada de forma esboccedilada colocada em Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo(2001)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 14

Ao referir-se a definiccedilatildeo de classe em Thompson e ao seu debate com os criacuteticos dohistoriador Wood (2003) acentuou que na compreensatildeo de Thompson natildeo eacute possiacutevel adiferenciaccedilatildeo que Marx faz entre ldquoclasse em sirdquo e ldquoclasse para sirdquo em que uma existeldquoobjetividaderdquo e outra existe como sujeito histoacuterico Admite a existecircncia de classe mas aidentifica com a segunda ldquoAntes de existir nessa forma natildeo existe classerdquo (WOOD200375)

() a grande forccedila da concepccedilatildeo de classe de Thompson eacute ser capaz dereconhecer e explicar as operaccedilotildees de classe na ausecircncia da consciecircnciade classe e os que adotam o tipo de definiccedilatildeo estrutural que seus criacuteticosparecem ter em mente natildeo tecircm meios de demonstrar a eficaacutecia da classena ausecircncia de formaccedilotildees conscientes de classe claramente visiacuteveis nemde oferecer uma resposta efetiva agrave alegaccedilatildeo de que classe eacute nada mais queum constructo teoacuterico ideologicamente motivado e imposto sobre aevidecircncia histoacuterica (WOOD 200375)

Essa formaccedilatildeo jaacute estava presente nas relaccedilotildees de produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo depessoas em situaccedilotildees de classe nos antagonismos e conflitos de interesses que criamcondiccedilotildees de luta

As formaccedilotildees de classe e a descoberta da consciecircncia de classe sedesenvolvem a partir do processo de luta agrave medida que as pessoasldquovivemrdquo e ldquotrabalhamrdquo suas situaccedilotildees de classe Eacute nesse sentido que aluta de classes precede a classe Dizer que a exploraccedilatildeo eacute ldquovivida nasformas de classe e soacute entatildeo gera formaccedilotildees de classerdquo eacute dizer exatamenteque as condiccedilotildees de exploraccedilatildeo as relaccedilotildees de produccedilatildeo existem

objetivamente para serem vividas (WOOD 200376)

Esse posicionamento corrobora para compreendermos que em Thompson asdeterminaccedilotildees objetivas natildeo se impotildeem sobre mateacuteria-prima vazia e passiva mas sobreseres histoacutericos ativos e conscientes que Classe eacute uma ldquocategoria histoacutericardquo e decorre deldquoprocessos sociais atraveacutes do tempordquo conhecidos e evidenciados empiricamenteldquoconhecemos as classes porque repetitivamente as pessoas se comportam de modoclassistardquo (THOMPSON 2001270)

Ao acentuar classe como categoria histoacuterica Thompson (1978) estava em

conformidade com o proacuteprio Marx nos seus escritos histoacutericosExiste atualmente uma tentaccedilatildeo generalizada em se supor que a classe eacuteuma coisa Natildeo era esse o significado em Marx em seus escritoshistoacutericos mas o erro deturpa muitos textos ldquomarxistasrdquo contemporacircneosldquoElardquo a classe operaacuteria eacute tomada como tendo uma existecircncia real capazde ser definida quase matematicamente - uma quantidade de homens quese encontra numa certa proporccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo Uma vezisso assumido torna-se possiacutevel deduzir a consciecircncia de classe que ldquoelardquodeveria ter (mas raramente tem) se estivesse adequadamente conscientede sua proacutepria posiccedilatildeo e interesses reais Haacute uma superestrutura culturalpor onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes Essas

ldquodefasagensrdquo e distorccedilotildees culturais constituem um incocircmodo de modoque eacute mais faacutecil passar para alguma teoria substitutiva o partido a seita

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 15

ou o teoacuterico que desvenda a consciecircncia de classe natildeo como ela eacute mascomo deveria ser (THOMPSON 1978 10)

Essa noccedilatildeo de classe como categoria histoacuterica foi retomada e reforccedilada em

Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo no qual dizia poderem oshistoriadores tomar essa noccedilatildeo em dois sentidos ldquoa) com referecircncia ao conteuacutedo histoacutericocorrespondente empiricamente observaacutevel e b) como categoria heuriacutestica ou analiacuteticarecurso para organizar uma evidecircncia histoacuterica cuja correspondecircncia direta eacute muito maisescassardquo (THOMPSON 2001 272)

A evidecircncia colocada por Thompson nessa nota quanto ao uso da noccedilatildeo de classepelos historiadores eacute acompanhada por esclarecimentos e advertecircncias

No primeiro caso eacute oacutebvio que classe no seu uso moderno guarda

relaccedilatildeo com a sociedade capitalista industrial do seacuteculo XIX Isto eacute

somente no seu uso moderno a classe se torna utilizaacutevel para umsistema de conhecimento da sociedade que vive nesse periacuteodo Por

isso o conceito natildeo soacute nos permite organizar e analisar a evidecircncia

mas estaacute tambeacutem presente com um novo sentido na evidecircncia

mesma () No outro caso a especificidade histoacuterica anacrocircnica

deve ser levada em conta quando lanccedilamos matildeo do conceito na

anaacutelise de sociedades anteriores agrave Revoluccedilatildeo Industrial De fato a

correspondecircncia da categoria com a evidecircncia histoacuterica torna-se

entatildeo muito menos direta Se a classe natildeo eacute admitida no sistema de

conhecimento das proacuteprias pessoas e se elas se nomeiam e levam

adiante suas batalhas histoacutericas em termos de ldquoestadosrdquo de ldquoordensrdquo

etc entatildeo ao descrevermos tais conflitos em termos de classe

devemos nos esquivar de toda tendecircncia a interpretaacute-los segundo

concepccedilotildees de classe posteriores O fato de se manter o uso da

categoria heuriacutestica de classe natildeo obstante as dificuldades

indicadas natildeo deriva da perfeiccedilatildeo do conceito mas da carecircncia de

categorias alternativas adequadas agrave anaacutelise do processo histoacuterico

evidente e universal (THOMPSON 2001272-273)

Como eacute possiacutevel de verificaccedilatildeo Thompson depositava ecircnfase na concepccedilatildeo declasse enquanto categoria heuriacutestica e analiacutetica argumentando e fazendo prevalecer agrave luta ea consciecircncia de classe

() as classes natildeo existem como entidades separadas que olham ao redoracham um inimigo de classe e partem para a batalha Ao contraacuterio

para mim as pessoas se vecircem numa sociedade estruturada de um

certo modo (por meio de relaccedilotildees de produccedilatildeo fundamentalmente)

suportam a exploraccedilatildeo (ou buscam manter poder sobre os

explorados) identificam os noacutes dos interesses antagocircnicos debatem-

se em torno desses mesmos noacutes e no curso de tal processo de luta

descobrem a si mesmas como uma classe vindo pois a fazer a

descoberta da sua consciecircncia de classe Classe e consciecircncia de

classe satildeo sempre o uacuteltimo e natildeo o primeiro degrau de um processo

histoacuterico real (THOMPSON 2001274)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 6: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 14

Ao referir-se a definiccedilatildeo de classe em Thompson e ao seu debate com os criacuteticos dohistoriador Wood (2003) acentuou que na compreensatildeo de Thompson natildeo eacute possiacutevel adiferenciaccedilatildeo que Marx faz entre ldquoclasse em sirdquo e ldquoclasse para sirdquo em que uma existeldquoobjetividaderdquo e outra existe como sujeito histoacuterico Admite a existecircncia de classe mas aidentifica com a segunda ldquoAntes de existir nessa forma natildeo existe classerdquo (WOOD200375)

() a grande forccedila da concepccedilatildeo de classe de Thompson eacute ser capaz dereconhecer e explicar as operaccedilotildees de classe na ausecircncia da consciecircnciade classe e os que adotam o tipo de definiccedilatildeo estrutural que seus criacuteticosparecem ter em mente natildeo tecircm meios de demonstrar a eficaacutecia da classena ausecircncia de formaccedilotildees conscientes de classe claramente visiacuteveis nemde oferecer uma resposta efetiva agrave alegaccedilatildeo de que classe eacute nada mais queum constructo teoacuterico ideologicamente motivado e imposto sobre aevidecircncia histoacuterica (WOOD 200375)

Essa formaccedilatildeo jaacute estava presente nas relaccedilotildees de produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo depessoas em situaccedilotildees de classe nos antagonismos e conflitos de interesses que criamcondiccedilotildees de luta

As formaccedilotildees de classe e a descoberta da consciecircncia de classe sedesenvolvem a partir do processo de luta agrave medida que as pessoasldquovivemrdquo e ldquotrabalhamrdquo suas situaccedilotildees de classe Eacute nesse sentido que aluta de classes precede a classe Dizer que a exploraccedilatildeo eacute ldquovivida nasformas de classe e soacute entatildeo gera formaccedilotildees de classerdquo eacute dizer exatamenteque as condiccedilotildees de exploraccedilatildeo as relaccedilotildees de produccedilatildeo existem

objetivamente para serem vividas (WOOD 200376)

Esse posicionamento corrobora para compreendermos que em Thompson asdeterminaccedilotildees objetivas natildeo se impotildeem sobre mateacuteria-prima vazia e passiva mas sobreseres histoacutericos ativos e conscientes que Classe eacute uma ldquocategoria histoacutericardquo e decorre deldquoprocessos sociais atraveacutes do tempordquo conhecidos e evidenciados empiricamenteldquoconhecemos as classes porque repetitivamente as pessoas se comportam de modoclassistardquo (THOMPSON 2001270)

Ao acentuar classe como categoria histoacuterica Thompson (1978) estava em

conformidade com o proacuteprio Marx nos seus escritos histoacutericosExiste atualmente uma tentaccedilatildeo generalizada em se supor que a classe eacuteuma coisa Natildeo era esse o significado em Marx em seus escritoshistoacutericos mas o erro deturpa muitos textos ldquomarxistasrdquo contemporacircneosldquoElardquo a classe operaacuteria eacute tomada como tendo uma existecircncia real capazde ser definida quase matematicamente - uma quantidade de homens quese encontra numa certa proporccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo Uma vezisso assumido torna-se possiacutevel deduzir a consciecircncia de classe que ldquoelardquodeveria ter (mas raramente tem) se estivesse adequadamente conscientede sua proacutepria posiccedilatildeo e interesses reais Haacute uma superestrutura culturalpor onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes Essas

ldquodefasagensrdquo e distorccedilotildees culturais constituem um incocircmodo de modoque eacute mais faacutecil passar para alguma teoria substitutiva o partido a seita

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 15

ou o teoacuterico que desvenda a consciecircncia de classe natildeo como ela eacute mascomo deveria ser (THOMPSON 1978 10)

Essa noccedilatildeo de classe como categoria histoacuterica foi retomada e reforccedilada em

Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo no qual dizia poderem oshistoriadores tomar essa noccedilatildeo em dois sentidos ldquoa) com referecircncia ao conteuacutedo histoacutericocorrespondente empiricamente observaacutevel e b) como categoria heuriacutestica ou analiacuteticarecurso para organizar uma evidecircncia histoacuterica cuja correspondecircncia direta eacute muito maisescassardquo (THOMPSON 2001 272)

A evidecircncia colocada por Thompson nessa nota quanto ao uso da noccedilatildeo de classepelos historiadores eacute acompanhada por esclarecimentos e advertecircncias

No primeiro caso eacute oacutebvio que classe no seu uso moderno guarda

relaccedilatildeo com a sociedade capitalista industrial do seacuteculo XIX Isto eacute

somente no seu uso moderno a classe se torna utilizaacutevel para umsistema de conhecimento da sociedade que vive nesse periacuteodo Por

isso o conceito natildeo soacute nos permite organizar e analisar a evidecircncia

mas estaacute tambeacutem presente com um novo sentido na evidecircncia

mesma () No outro caso a especificidade histoacuterica anacrocircnica

deve ser levada em conta quando lanccedilamos matildeo do conceito na

anaacutelise de sociedades anteriores agrave Revoluccedilatildeo Industrial De fato a

correspondecircncia da categoria com a evidecircncia histoacuterica torna-se

entatildeo muito menos direta Se a classe natildeo eacute admitida no sistema de

conhecimento das proacuteprias pessoas e se elas se nomeiam e levam

adiante suas batalhas histoacutericas em termos de ldquoestadosrdquo de ldquoordensrdquo

etc entatildeo ao descrevermos tais conflitos em termos de classe

devemos nos esquivar de toda tendecircncia a interpretaacute-los segundo

concepccedilotildees de classe posteriores O fato de se manter o uso da

categoria heuriacutestica de classe natildeo obstante as dificuldades

indicadas natildeo deriva da perfeiccedilatildeo do conceito mas da carecircncia de

categorias alternativas adequadas agrave anaacutelise do processo histoacuterico

evidente e universal (THOMPSON 2001272-273)

Como eacute possiacutevel de verificaccedilatildeo Thompson depositava ecircnfase na concepccedilatildeo declasse enquanto categoria heuriacutestica e analiacutetica argumentando e fazendo prevalecer agrave luta ea consciecircncia de classe

() as classes natildeo existem como entidades separadas que olham ao redoracham um inimigo de classe e partem para a batalha Ao contraacuterio

para mim as pessoas se vecircem numa sociedade estruturada de um

certo modo (por meio de relaccedilotildees de produccedilatildeo fundamentalmente)

suportam a exploraccedilatildeo (ou buscam manter poder sobre os

explorados) identificam os noacutes dos interesses antagocircnicos debatem-

se em torno desses mesmos noacutes e no curso de tal processo de luta

descobrem a si mesmas como uma classe vindo pois a fazer a

descoberta da sua consciecircncia de classe Classe e consciecircncia de

classe satildeo sempre o uacuteltimo e natildeo o primeiro degrau de um processo

histoacuterico real (THOMPSON 2001274)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 7: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 15

ou o teoacuterico que desvenda a consciecircncia de classe natildeo como ela eacute mascomo deveria ser (THOMPSON 1978 10)

Essa noccedilatildeo de classe como categoria histoacuterica foi retomada e reforccedilada em

Algumas observaccedilotildees sobre classe e ldquofalsa consciecircnciardquo no qual dizia poderem oshistoriadores tomar essa noccedilatildeo em dois sentidos ldquoa) com referecircncia ao conteuacutedo histoacutericocorrespondente empiricamente observaacutevel e b) como categoria heuriacutestica ou analiacuteticarecurso para organizar uma evidecircncia histoacuterica cuja correspondecircncia direta eacute muito maisescassardquo (THOMPSON 2001 272)

A evidecircncia colocada por Thompson nessa nota quanto ao uso da noccedilatildeo de classepelos historiadores eacute acompanhada por esclarecimentos e advertecircncias

No primeiro caso eacute oacutebvio que classe no seu uso moderno guarda

relaccedilatildeo com a sociedade capitalista industrial do seacuteculo XIX Isto eacute

somente no seu uso moderno a classe se torna utilizaacutevel para umsistema de conhecimento da sociedade que vive nesse periacuteodo Por

isso o conceito natildeo soacute nos permite organizar e analisar a evidecircncia

mas estaacute tambeacutem presente com um novo sentido na evidecircncia

mesma () No outro caso a especificidade histoacuterica anacrocircnica

deve ser levada em conta quando lanccedilamos matildeo do conceito na

anaacutelise de sociedades anteriores agrave Revoluccedilatildeo Industrial De fato a

correspondecircncia da categoria com a evidecircncia histoacuterica torna-se

entatildeo muito menos direta Se a classe natildeo eacute admitida no sistema de

conhecimento das proacuteprias pessoas e se elas se nomeiam e levam

adiante suas batalhas histoacutericas em termos de ldquoestadosrdquo de ldquoordensrdquo

etc entatildeo ao descrevermos tais conflitos em termos de classe

devemos nos esquivar de toda tendecircncia a interpretaacute-los segundo

concepccedilotildees de classe posteriores O fato de se manter o uso da

categoria heuriacutestica de classe natildeo obstante as dificuldades

indicadas natildeo deriva da perfeiccedilatildeo do conceito mas da carecircncia de

categorias alternativas adequadas agrave anaacutelise do processo histoacuterico

evidente e universal (THOMPSON 2001272-273)

Como eacute possiacutevel de verificaccedilatildeo Thompson depositava ecircnfase na concepccedilatildeo declasse enquanto categoria heuriacutestica e analiacutetica argumentando e fazendo prevalecer agrave luta ea consciecircncia de classe

() as classes natildeo existem como entidades separadas que olham ao redoracham um inimigo de classe e partem para a batalha Ao contraacuterio

para mim as pessoas se vecircem numa sociedade estruturada de um

certo modo (por meio de relaccedilotildees de produccedilatildeo fundamentalmente)

suportam a exploraccedilatildeo (ou buscam manter poder sobre os

explorados) identificam os noacutes dos interesses antagocircnicos debatem-

se em torno desses mesmos noacutes e no curso de tal processo de luta

descobrem a si mesmas como uma classe vindo pois a fazer a

descoberta da sua consciecircncia de classe Classe e consciecircncia de

classe satildeo sempre o uacuteltimo e natildeo o primeiro degrau de um processo

histoacuterico real (THOMPSON 2001274)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 8: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 16

Por fim eacute possiacutevel verificar pelos argumentos e definiccedilotildees de Thompson que a

formaccedilatildeo de classe eacute constituiacuteda por um conjunto de relaccedilotildees entre homens e mulheres eas condiccedilotildees materiais de existecircncia e de exploraccedilatildeo em que se inserem por relaccedilotildees deidentidade estabelecidas entre os membros de uma mesma classe e por relaccedilotildees de alianccedilaou de conflito com as outras classes (THOMPSON 2001)

Isso certamente quer dizer que nenhuma definiccedilatildeo estrutural de classe pode por sisoacute resolver o problema da formaccedilatildeo de classe e que ldquonenhum modelo pode dar o quedeveria ser a lsquoverdadeirarsquo formaccedilatildeo de classe para um certo lsquoestaacutegiorsquo do processordquo E queas formaccedilotildees de classe satildeo geradas pelo ldquoviverrdquo e pela ldquoexperiecircnciardquo no interior de umatotalidade complexa de relaccedilotildees sociais e legados histoacutericos pressupostos no que eacute vivido eexperimentado nas relaccedilotildees de produccedilatildeo e nas situaccedilotildees determinadas ldquoem que os homensnascem ou nas quais entram involuntariamenterdquo Para experimentar as coisas ldquonas formasde classerdquo as pessoas devem ser ldquoobjetivamente distribuiacutedasrdquo em situaccedilotildees de classe masisso eacute o iniacutecio natildeo o final da formaccedilatildeo de classe (THOMPSON 2001)

Resumindo as consideraccedilotildees sobre a teoria da formaccedilatildeo de classe em Thompson eacutepossiacutevel destacar

a) que as ldquoformas de classerdquo realmente afetam as relaccedilotildees sociais e os processoshistoacutericos A questatildeo entatildeo eacute ter uma concepccedilatildeo de classe que convide a descobrir como assituaccedilotildees objetivas de classe formam a realidade e natildeo simplesmente afirmar e reafirmar aproposiccedilatildeo tautoloacutegica de que ldquoclasse eacute igual a relaccedilatildeo com os meios de produccedilatildeo(THOMPSON 2001)

b) que a concepccedilatildeo de classe pode ser pensada como relaccedilatildeo e processo

enfatizando as relaccedilotildees objetivas de classe com os meios de produccedilatildeo e os significativosantagonismos que geram conflitos e lutas que formam a experiecircncia social em ldquoformas declasserdquo mesmo quando natildeo se expressam como consciecircncia de classe ou em formaccedilotildeesclaramente visiacuteveis e que ao longo do tempo discernimos como essas relaccedilotildees impotildeem sualoacutegica e seu padratildeo sobre os processos sociais

A leitura de Wood (2003 78) sobre Thompson eacute

() a luta de classes portanto precede classe tanto no sentido de que

formaccedilotildees de classe pressupotildeem uma experiecircncia de conflito e de lutaque surge das relaccedilotildees de produccedilatildeo quanto no sentido de que haacute conflitose lutas estruturados nas ldquoformas de classerdquo mesmo nas sociedades em quesuas formaccedilotildees ainda natildeo satildeo conscientes

c) que em Thompson as classes surgem ou acontecem porque pessoas em ldquorelaccedilotildeesprodutivas determinativasrdquo compartilham uma experiecircncia comum identificam seusinteresses comuns e passam a pensar e atribuir valor conforme as ldquoformas de classerdquo masisso natildeo quer dizer que classes em qualquer sentido significativo natildeo existam para elecomo realidades objetivas antes da consciecircncia de classe

EDUCACcedilAtildeO E EXPERIEcircNCIA

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 9: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 17

Em nenhum texto Thompson discorreu especificamente sobre a questatildeo daeducaccedilatildeo Nem por isso eacute possiacutevel descartar a hipoacutetese da inexistecircncia dessa discussatildeo emseus escritos

Em seu texto Costumes em comum estudos sobre a cultura popular tradicional(2005) Thompson discutiu o tema costumes e como estes se manifestaram na cultura dostrabalhadores no seacuteculo XVIII Defendeu a tese ldquode que a consciecircncia e os usoscostumeiros eram particularmente fortes nos seacuteculo XVIIIrdquo ldquo() alguns desses lsquocostumesrsquoeram de criaccedilatildeo recente e representavam as reivindicaccedilotildees de novos ldquodireitosrdquo(THOMPSON 200513)

Uma das questotildees colocadas por Thompson se referia ao aprendizado dos costumese quais suas consequumlecircncias para cultura dos trabalhadores Embora Thompson tenhaconhecimento que os historiadores mais preocupados com os seacuteculos XVI e XVII tinham

a tendecircncia de ver os costumes desses seacuteculos em decliacutenio ele chamou a atenccedilatildeo para ofato abaixo relatado

O povo estava sujeito a pressotildees para lsquoreformarrsquo sua cultura segundonormas vindas de cima a alfabetizaccedilatildeo suplantava a transmissatildeo oral e oesclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores ndash pelosmenos era o que se supunha (THOMPSON 200513)

Na pressatildeo em favor da lsquoreformarsquo no seacuteculo XVII havia uma teimosa resistecircnciaque abre uma lacuna ldquouma profunda alienaccedilatildeo entre cultura patriacutecia e a da plebe(THOMPSON 200513) Ao analisar os traccedilos caracteriacutesticos da cultura plebeacuteia nas

sociedades rurais como tambeacutem nas aacutereas manufatureiras e mineiras densamentepovoadas identificava que ela trazia em siacute atribuiccedilotildees da cultura lsquotradicionalrsquo Identificavana heranccedila trazida pela plebe relevantes definiccedilotildees marcadas pelo costume Mencionou oaprendizado natildeo soacute como iniciaccedilatildeo das habilidades dos adultos mas tambeacutem comomecanismo de transmissatildeo entre as geraccedilotildees Quando se referia ao aprendizado dascrianccedilas identificava sua ocorrecircncia primeiramente nas tarefas caseiras junto agrave matildee e avoacuteno trabalho domestico domeacutestico e agriacutecola Na criaccedilatildeo dos filhos as jovens matildeesaprendiam com as matronas da comunidade Os ofiacutecios natildeo tinham um aprendizadoformal Acompanhava a transmissatildeo das teacutecnicas as experiecircncias sociais ou ditas

sabedoria comum da coletividade Reconhece que o seacuteculo XVIII estava em profundalsquoreformarsquo e a vida social estava em permanente mudanccedila embora a mobilidade fosse fatoconsideraacutevel identifica que essas mudanccedilas natildeo atingiram o ponto em que se admite quecada geraccedilatildeo sucessiva teraacute um horizonte diferente mas considera ldquoA educaccedilatildeo formalesse motor da aceleraccedilatildeo (e do distanciamento) cultural ainda natildeo se interpocircs de formasignificativa nesse processo de transmissatildeo de geraccedilatildeo para geraccedilatildeordquo (THOMPSON200518) Asseverava que as normas e as praacuteticas reproduzidas ao longo do tempo entre asgeraccedilotildees estavam lentamente diversificando os costumes pela perpetuaccedilatildeo da transmissatildeooral Observa a respeito

Sempre que a tradiccedilatildeo oral eacute suplementada pela alfabetizaccedilatildeo crescenteos produtos impressos de maior circulaccedilatildeo ndash brochuras como baladas

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 10: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 18

populares almanaque panfletos coletacircneas de ldquouacuteltimas palavrasrsquo erelatos anedoacuteticos de crimes ndash tendem a se sujeitar a expectativas dacultura oral em vez de desafiaacute-los com novas opccedilotildees (THOMPSON200518)

Reconhecia nessa cultura formas conservadoras identificando que a alfabetizaccedilatildeosuplantava a transmissatildeo oral ainda que houvesse a existecircncia dentre outras coisasformas de protesto natildeo racionais ou seja ldquoque natildeo apelam para a ldquorazatildeordquo por meio dopanfleto do sermatildeo ou do palanque do oradorrdquo mas que impunham variedades depuniccedilotildees pela forccedila pelo ridiacuteculo pela vergonha e pela intimidaccedilatildeo Este desacordo natildeoeliminava a ocorrecircncia presente nas mudanccedilas sociais mostrava as transformaccedilotildees que vecircmocorrendo no trabalho sua liberaccedilatildeo dos controles senhoriais paternais da paroacutequia e dacorporaccedilatildeo possibilitando o afastamento da dependecircncia direta a que estavam sujeitos aplebe dos gentry Este distanciamento identifica contradiccedilotildees que natildeo estavam limitadas agrave

substituiccedilatildeo dos costumes e da cultura mas como mostrou em seus artigos A economiamoral da multidatildeo inglesa no seacuteculo XVII Economia moral revisitada ldquotemos uma culturacostumeira que natildeo estaacute sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domiacutenio ideoloacutegico dosgovernantes A hegemonia suprema dos gentry pode definir os limites dentro dos quais acultura plebeacuteia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia eacute laica e natildeoreligiosa ou maacutegica pouco pode fazer para determinar o caraacuteter dessa cultura plebeacuteiardquo(THOMPSON 200519) Assegura uma contradiccedilatildeo presente no seacuteculo XVIII quanto acultura tradicional da plebe que ldquoao mesmo tempo eacute rebelde em nome do costume agravesracionalizaccedilotildees e inovaccedilotildees da economia (tais como os cercamentos a disciplina de

trabalho os ldquolivresrdquo mercados natildeo regulamentados de cereais) que os governantes oscomerciantes ou os empregadores querem imporrdquo (THOMPSON 200519)

Continua

A inovaccedilatildeo eacute mais evidente na camada superior da sociedade mas comoela natildeo eacute um processo tecnoloacutegicosocial neutro e sem normas(ldquomodernizaccedilatildeordquo ldquoracionalizaccedilatildeordquo) mas sim a inovaccedilatildeo do processocapitalista eacute quase sempre experimentada pela plebe como umaexploraccedilatildeo a expropriaccedilatildeo de direitos de uso costumeiros ou a destruiccedilatildeoviolenta de padrotildees valorizados de trabalho e lazer (THOMPSON200519)

O autor acentua que ao analisar os aspectos culturais em mudanccedilas suapreocupaccedilatildeo estava centrada natildeo soacute no econocircmico mas no exame do comportamento dasclasses trabalhadoras no seacuteculo XVIII Quanto a decodificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo de suasformas de expressatildeo simboacutelica revelada nas regras invisiacuteveis

Quando atentamos para o simbolismo do protesto ou quandodecodificamos a rough music ou a venda de esposas () Em outrosentido os problemas satildeo diferentes e possivelmente mais agudosporque o processo do capitalismo e a conduta natildeo econocircmica baseada noscostumes estatildeo em conflito um conflito consciente e ativo como que

numa resistecircncia aos novos padrotildees de consumo (ldquonecessidadesrdquo) agravesinovaccedilotildees teacutecnicas ou agrave racionalizaccedilatildeo do trabalho que ameaccedilam

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 11: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1120

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 19

desintegrar os costumes e algumas vezes tambeacutem a organizaccedilatildeo familiardos papeacuteis produtivos Por isso podemos entender boa parte da histoacuteriasocial do seacuteculo XVIII como uma seacuterie de confrontos entre umaeconomia de mercado inovadora e a economia moral da plebe baseada nocostume (THOMPSON 200521)

O confronto anunciado demonstra os traccedilos jaacute postos da formaccedilatildeo de classe comotambeacutem o da consciecircncia de classe os fragmentos residuais das antigas estruturas satildeorevividos e reintegrados no acircmbito dessa consciecircncia de classe emergente ldquoEm um certosentido a cultura plebeacuteia eacute do povo uma defesa contra as intrusotildees da gentry e do cleroconsolida aqueles costumes que servem aos interesses do povo as tavernas satildeo suas asfeiras satildeo suas a rough music estaacute entre seus meios de auto-regulaccedilatildeordquo (THOMPSON200521)

O retorno ao texto A formaccedilatildeo da classe operaacuteria inglesa em seu prefaacutecio eacute

possiacutevel jaacute identificar no gerir da classe inglesa um processo de aprendizado do fazer-se classe trabalhadora posto no tiacutetulo original da obra ldquoa classe operaacuteria natildeo surgiu como osol numa hora determinada Ela estava presente ao seu proacuteprio fazer-serdquo (THOMPSON19879) Adiante o complemento ldquoA classe eacute definida pelos homens enquanto vivem suaproacutepria histoacuteria e ao final esta eacute sua uacutenica definiccedilatildeordquo (p 12) Embora a preocupaccedilatildeo dohistoriador inglecircs natildeo fosse explicitamente discutir o processo de educaccedilatildeo entendo quehaacute uma relaccedilatildeo posta como elemento central do aprendizado da classe trabalhadora comocondiccedilatildeo de construccedilatildeo de identidades individuais e coletivas da cultura e mesmo dasinstituiccedilotildees

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres

vivem suas relaccedilotildees de produccedilatildeo e segundo a experiecircncia de suas

situaccedilotildees determinadas no interior do ldquoconjunto de suas relaccedilotildees

sociaisrdquo com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com

base no modo pelo qual se valeram dessas experiecircncias em niacutevel

cultural (THOMPSON 2001227)

Nessa nota eacute posto por Thompson o conceito de experiecircncia que provocou em seuscomentadores enormes dificuldades de interpretaccedilotildees e criacuteticas e embora em sua obra enoccedilatildeo central esteja inerentemente ligada a formaccedilatildeo de classe consciecircncia de classe

cultura e a histoacuteria (MORAES MUumlLLER 2003 MOacuteNICA 1982 WOOD 2003 e outros)

Em particular a noccedilatildeo central de experiecircncia ndash que tem peso fundamentalem sua obra e eacute inseparaacutevel da visatildeo que tem da consciecircncia de classe ndashfoi por diversas vezes apontada como sendo demasiadamente vaga eimprecisa () Na sua formulaccedilatildeo inicial a experiecircncia serve de elementomediador entre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e a consciecircncia de classe ou entreo ser social e a consciecircncia social (BATALHA 2000 196-197)

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 12: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1220

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 20

Em seu artigo educaccedilatildeo e experiecircncia3 publicado em Os romacircnticos A Inglaterra

na era revolucionaacuteria (2002) haacute provavelmente algumas elucidaccedilotildees mais pertinentes dosobre a educaccedilatildeo no caso de estudante adulto e a sua experiecircncia faz a seguinteconsideraccedilatildeo sobre forma e o conteuacutedo dessa educaccedilatildeo

A experiecircncia modifica agraves vezes de maneira sutil eacute agraves vezes maisradicalmente todo o processo educacional influencia os meacutetodos deensino a seleccedilatildeo e o aperfeiccediloamento dos mestres e o curriacuteculospodendo ateacute mesmo revelar pontos fracos ou omissotildees nas disciplinasacadecircmicas tradicionais e levar agrave elaboraccedilatildeo de novas aacutereas de estudo(THOMPSON 2002 13)

Dentre outras coisas possiacuteveis de verificar na nota acima o que mais interessa eacute aideacuteia de experiecircncia que corresponde a um processo realmente vivido pelos seres sociais eque modifica efetivamente a consciecircncia social e processo educacional Pela experiecircncia epela educaccedilatildeo haacute uma relaccedilatildeo profunda e dinacircmica entre os seres sociais e a consciecircnciasocial que altera a todo o momento o que eacute pensado e sentido na vida social Essa dinacircmicacorresponde ao processo histoacuterico Essa ideacuteia permite dentre outras coisas compreenderque no processo histoacuterico a experiecircncia e o processo educacional que permitem apreenderpelas transformaccedilotildees materiais e culturais simultaneamente que segundo Thompson em

Miseacuteria da Teoria (1981) natildeo existe um real exterior separado de um pensamento interiorambos se concretizam nos agentes

Pensamento e ser habitam um uacutenico espaccedilo que somos noacutes mesmosMesmo quando pensamos tambeacutem temos fome e oacutedio adoecemos ouamamos e a consciecircncia estaacute misturada ao ser mesmo ao contemplarmoso ldquorealrdquo sentimos a nossa proacutepria realidade palpaacutevel De tal modo que osproblemas que as ldquomateacuterias-primasrdquo apresentam ao pensamentoconsistem com frequumlecircncia exatamente em suas qualidades muito ativasindicativas e invasoras Porque o diaacutelogo entre a consciecircncia e o sertorna-se cada vez mais complexo - inclusive atinge imediatamente umaordem diferente de complexidade que apresenta uma ordem diferente deproblemas epistemoloacutegicos - quando a consciecircncia criacutetica estaacute atuandosobre uma mateacuteria-prima feita de seu proacuteprio material artefatosintelectuais relaccedilotildees sociais o fato histoacuterico (THOMPSON 198127)

A citaccedilatildeo mostra a insistecircncia de Thompson na existecircncia simultacircnea da produccedilatildeomaterial e cultural em que o processo educativo estaacute presente nos agentes sociais Eacute essaexistecircncia que o historiador estaacute discutindo em educaccedilatildeo e experiecircncia (2002) Em umprimeiro momento mostrou que havia o ldquodesejo de dominar e de moldar odesenvolvimento intelectual e cultural do povo na direccedilatildeo de objetivos predeterminados eseguros permanece extremamente forte durante a eacutepoca vitoriana e continua vivo ateacute hojerdquo(THOMPSON 200231) Num segundo momento apontou para a sua tese central

3

983120983137983148983141983155983156983154983137 983152983154983151983142983141983154983145983140983137 983141983149 983116983141983141983140983155 983141983149 1968 983150983137 983153983157983145983150983156983137 983139983151983150983142983141983154983274983150983139983145983137 983137983150983157983137983148 983140983151 983105983148983138983141983154983156 983117983137983150983155983138983154983145983140983143983141 983117983141983149983151983154983145983137983148 983141983149983153983157983141 983124983144983151983149983152983155983151983150 983157983156983145983148983145983162983137 983151 983139983151983150983139983141983145983156983151 983140983141 991260983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137991261 983150983137 983144983145983155983156983283983154983145983137 983148983145983156983141983154983137983156983157983154983137 983141 983141983140983157983139983137983271983267983151

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 13: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1320

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 21

As atitudes em relaccedilatildeo agrave classe social agrave cultura popular e agrave educaccedilatildeotornaram-se ldquoestabelecidasrdquo no periacuteodo que se seguiu agrave RevoluccedilatildeoFrancesa Durante um seacuteculo ou mais a maior parte dos educadores daclasse meacutedia natildeo conseguia distinguir o trabalho educacional do controlesocial e isso impunha com demasiada frequumlecircncia uma repressatildeo agravevalidade da experiecircncia da vida dos alunos ou sua proacutepria negaccedilatildeo talcomo a que se expressava em dialetos incultos ou nas formas culturaistradicionais O resultado foi que a educaccedilatildeo e a experiecircncia herdadas seopunham uma agrave outra E os trabalhadores que por seus proacutepriosesforccedilos conseguiam penetrar na cultura letrada viam-se imediatamenteno mesmo lugar de tensatildeo onde a educaccedilatildeo trazia consigo o perigo darejeiccedilatildeo por parte de seus camaradas e a auto desconfianccedila Essa tensatildeoainda permanece (THOMPSON 200236)

A existecircncia dessa tensatildeo reforccedila a necessidade de uma dialeacutetica entre a educaccedilatildeo eexperiecircncia cuja essecircncia esteja na complexa dinacircmica entre o educativo e o social que

deve ser entendido como histoacuterico em suas articulaccedilotildees diversidade e funccedilotildees Eacute nisso queestaacute posto o segundo momento de discussatildeo que Thompson faz em educaccedilatildeo e

experiecircncia

Esse movimento entre a educaccedilatildeo e a experiecircncia natildeo deve ser entendido como oproacuteprio Thompson adverte como uma ldquorejeiccedilatildeo da abstraccedilatildeo dos valores intelectuais docontexto no qual eles devem ser vividos e uma afirmaccedilatildeo de que aqueles que realmente osvivem devem se ater aos valores intelectuais se natildeo quiserem ser acachapados pelalsquodesonestidade costume e medorsquordquo (THOMPSON 200241) Na sua anaacutelise preocupou-secom o desaparecimento da cultura popular ldquosubstituiacutedardquo pela cultura do trabalhador mais

articulada politicamente mas que nos grandes centros industriais vem perdendo a suavitalidade Na compreensatildeo de Thompson essas perdas comeccedilaram a ocorrer por vaacuteriosmotivos os ldquoeducadores tecircm com sucesso resistido e repelido ndash especialmente na educaccedilatildeoelementar ndash as manifestaccedilotildees de pior qualidade para a dominaccedilatildeo cultural e o controlesocialrdquo (THOMPSON 200242) O impulso do igualitarismo cultural oriundo dasnecessidades de uma sociedade industrial em que as pressotildees obstinada do movimento poliacuteticotrabalhista tecircm ampliado muito as oportunidades educacionais do povo

() a educaccedilatildeo passou a ser vista em grande escala e por muita gente daproacutepria classe trabalhadora simplesmente como um instrumento de

mobilidade social seletiva Aleacutem do mais seja qual for o meacutetodo deseleccedilatildeo todo o sistema trabalha de modo a confundir certos tipos decapacidade (ou facilidade) intelectual com realizaccedilatildeo humana () Aaprovaccedilatildeo social do sucesso educacional eacute assinalada de uma centena demodos o sucesso traz recompensa financeira um estilo de vidaprofissional prestiacutegio social Ela se apoacuteia numa apologia completa damodernizaccedilatildeo necessidade tecnoloacutegica igualdade de oportunidades(THOMPSON 200242)

Esse processo de modernizaccedilatildeo segundo Thompson aponta para alguns perigosque encerram em alguns fatores como o isolamento da cultura do povo agrave maneira antiga de

diferenccedila de classes em detrimento a cultura letrada Ao se referir a universidade e arelaccedilatildeo educaccedilatildeo e experiecircncia adverte que

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 14: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1420

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 22

Na boa aula de adultos a criacutetica da vida eacute aplicada sobre o trabalho ouassunto que estaacute sendo estudado Do mesmo modo isso eacute menos comumquando se trata de estudantes e grande parte do trabalho de um professoruniversitaacuterio eacute do tipo de um merceeiro intelectual pesando e avaliandocurriacuteculos de cursos listas de livros para leitura temas para ensaios deacordo com determinado treinamento profissional (THOMPSON200243)

Continua

O perigo eacute que esse tipo de tecnologia profissional necessaacuteria sejaconfundida com autoridade intelectual e que as universidades -apresentando-se como um sindicato de todos os ldquoperitosrdquo em cada ramodo conhecimento - expropriem as pessoas de sua identidade intelectual(THOMPSON 200243)

Para Thompson a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e experiecircncia vem sendo diluiacuteda em umacultura igualitaacuteria comum e cada vez mais vem se perdendo a convicccedilatildeo do desafiopoliacutetica de classes para classe A universidade tem colaborado para que isso ocorra pois aolongo de sua histoacuteria estaacute perdendo o seu lugar nessa relaccedilatildeo dialeacutetica em que deveriahaver ldquouma porta de saiacuteda para o conhecimento e as competecircncias uma porta de entradapara a experiecircncia e a criacuteticardquo Thompson reconhece as ldquograndes mudanccedilas nos tipos depuacuteblico () mas natildeo deveria haver mudanccedilas na mutualidade desse relacionamentoEmbora reconheccedila a profissionalizaccedilatildeo da universidade adverte ldquonatildeo deve ceder facilmenteante a tentaccedilatildeo de alcanccedilar grandes massas que os novos meios de comunicaccedilatildeo - a estaccedilatildeode raacutedio local ou a ldquoUniversidade do Arrdquo - podem fornecerrdquo o que acarretar colisatildeo com areciprocidade essencial da aula de adultos ldquo() Natildeo haacute correlaccedilatildeo automaacutetica entre olsquosentimento real e a razatildeo justarsquo e as conquistas educacionais mas as pressotildees de nossaeacutepoca estatildeo nos levando a confundir as duas coisasrdquo (THOMPSON 200245-46)

HISTOacuteRIA COMO PROCESSO

As peculiaridades dos ingleses (2001) Thompson faz uma menccedilatildeo sobre suacompreensatildeo de histoacuteria e do que deve inquirir o historiador referecircncia para as proacuteximasconsideraccedilotildees

() a histoacuteria natildeo pode ser comparada a um tuacutenel por onde um tremexpresso corre ateacute levar sua carga de passageiros em direccedilatildeo a planiacuteciesensolaradas Ou entatildeo caso o seja geraccedilatildeo apoacutes geraccedilatildeo de passageirosnasceram vivem na escuridatildeo e enquanto o trem ainda estaacute no interiordo tuacutenel aiacute tambeacutem morreram Um historiador deve estar decididamenteinteressado muito aleacutem do permitido pelos teleologistas na qualidade devida nos sofrimentos e satisfaccedilotildees daqueles que vivem e morrem emtempo natildeo redimido (Cf THOMPSON 2001)

Para Thompson a histoacuteria eacute arquitetada com a praacutetica humana mas natildeo totalmentedeterminada pelo processo histoacuterico Isso significa que neste processo natildeo haacute

regularidades ou que os homens fazem a histoacuteria como queiram

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 15: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1520

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 23

() a histoacuteria eacute uma disciplina do contexto e do processo todosignificado eacute um significado-dentro-de-um-contexto e enquanto asestruturas mudam velhas formas podem expressar funccedilotildees novas efunccedilotildees velhas podem achar sua expressatildeo em novas formas(THOMPSON 2001 243)

Portanto a histoacuteria eacute feita pelo seu contexto e processo atraveacutes dos homens em suasproacuteprias condiccedilotildees materiais especiacuteficas Essa realizaccedilatildeo implica em contradiccedilotildees oriundaspelos limites dados pela sociedade ou seja pelas ldquoleisrdquo do proacuteprio processo histoacutericoLembra Thompson que natildeo existem leis que imponham um sentido necessaacuterio ao processohistoacuterico por duas razotildees a) as determinaccedilotildees estruturais direcionam e modelam ateacute certoponto a accedilatildeo humana b) os homens organizados principalmente como classe ultrapassame transformam as estruturas a partir sobretudo da luta de classes (Cf THOMPSON1987) Acrescenta que os homens satildeo sujeitos que agem de forma coletiva em situaccedilotildees

materiais a partir de interesses comuns e de uma consciecircncia de grupo em oposiccedilatildeo aoutros Os homens elaboram essa consciecircncia tendo como referecircncia as experiecircncias davida A classe eacute constituiacuteda com base nas experiecircncias vividas por pessoas de carne e ossoem situaccedilotildees reais Uma vez constituiacuteda passa a fazer parte dessa experiecircncia de vida

Classe eacute uma formaccedilatildeo social e cultural (frequumlentemente adquirindo

expressatildeo institucional) que natildeo pode ser definida abstrata ou

isoladamente mas apenas em termos de relaccedilatildeo com outras classes

e em uacuteltima anaacutelise a definiccedilatildeo soacute pode ser feita atraveacutes do tempo

isto eacute accedilatildeo e reaccedilatildeo mudanccedila e conflito Quando falamos de uma

classe estamos pensando em um corpo de pessoas definido sem

grande precisatildeo compartilhando as mesmas categorias de interessesexperiecircncias sociais tradiccedilatildeo e sistema de valores que tem

disposiccedilatildeo para se comportar como classe para definir a si proacuteprio

em suas accedilotildees e em sua consciecircncia em relaccedilatildeo a outros grupos de

pessoas em termos classistas Mas classe mesmo natildeo eacute uma coisa

eacute um acontecimento (THOMPSON 2001 169)

Por fim verifica-se em Thompson que as condiccedilotildees materiais de vida aodeterminarem as experiecircncias dos homens condicionam a consciecircncia e a cultura natildeo asdeterminam diretamente A forte ecircnfase nas classes como sujeitas e no fato da consciecircnciae da cultura natildeo serem derivadas mecanicamente das condiccedilotildees materiais (Cf

THOMPSON 1998) abre a possibilidade dos sujeitos passarem por cima dasdeterminaccedilotildees estruturais conferindo desta maneira ao processo histoacuterico certo grau deindeterminaccedilatildeo Essa forma de conceber a histoacuteria eacute explicada por Thompson em A miseacuteria

da teoria ou um planetaacuterio de erros uma critica ao pensamento de Althusser atraveacutes deoito argumentos em Intervalo a loacutegica histoacuterica (THOMPSON198147-62) Aquiapresentada de forma resumida

Primeiro ldquoO objeto imediato do conhecimento histoacuterico () compreende lsquofatosrsquo ouevidecircncias certamente dotados de existecircncia real mas soacute se tornam cognosciacuteveis segundoprocedimentos que satildeo e devem ser a preocupaccedilatildeo dos vigilantes meacutetodos histoacutericosrdquo

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 16: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1620

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 24

Segundo ldquoo conhecimento histoacuterico eacute pela sua natureza (a) provisoacuterio e incompleto(mas natildeo por isso inveriacutedico) (b) seletivo (mas nem por isso inveriacutedico) limitado edefinido pelas perguntas dirigidas agrave evidecircncia (e os conceitos que informam tais perguntas)e portanto soacute eacute ldquoverdadeirordquo no interior do campo assim definidordquo

Terceiro ldquoa evidecircncia histoacuterica tem determinadas propriedades Embora lhepossam ser formuladas quaisquer perguntas apenas algumas seratildeo adequadas Emboraqualquer teoria do processo histoacuterico possa ser proposta satildeo falsas todas as teorias que natildeoestiverem em conformidade com as determinaccedilotildees da evidecircnciardquo (THOMPSON 1981 49-50) Em outro momento em que estaacute discutindo os pressupostos filosoacuteficos deAlthusserianos faz a seguinte especificaccedilatildeo quanto as evidecircncias histoacutericas

() se isolamos a evidecircncia singular para um exame agrave parte ela natildeopermanece submissa como a mesa ao interrogatoacuterio agita-se nesse

meio tempo ante nossos olhos Essa agitaccedilatildeo esses acontecimentos seestatildeo dentro do ldquoser socialrdquo com frequumlecircncia parecem chocar-se lanccedilar-sesobre romper-se contra a consciecircncia social existente Propotildeem novosproblemas e acima de tudo datildeo origem continuadamente agrave experiecircncia(THOMPSON 198115)

Quarto ldquosegue-se dessas proposiccedilotildees que a relaccedilatildeo entre o conhecimento histoacutericoe seu objeto natildeo pode ser compreendida em quaisquer termos que suponham ser um delesfunccedilatildeo (inferecircncia de revelaccedilatildeo abstraccedilatildeo atribuiccedilatildeo ou ldquoilustraccedilatildeordquo) do outro Ainterrogaccedilatildeo e a resposta satildeo mutuamente determinantes e a relaccedilatildeo soacute pode sercompreendida como um diaacutelogordquo () Quinto ldquoo objeto do conhecimento histoacuterico eacute ahistoacuteria ldquorealrdquo cujas evidecircncias seratildeo necessariamente sempre incompletas e imperfeitasSupor que um ldquopresenterdquo por se transformar em ldquopassadordquo modifica com isto seu status

ontoloacutegico eacute compreender mal tanto o passado como o presenterdquo Embora reconheccedila quesempre haveraacute novas formas de interrogar as evidecircncias ou de trazer agrave luz alguns ou muitosde seus aspectos desconhecidos e nesse sentido o produto da investigaccedilatildeo histoacuterica estaraacutesempre sujeito a modificaccedilotildees com as preocupaccedilotildees de diferentes geraccedilotildees ou naccedilotildees decada sexo cada classe social Isso natildeo significa no entanto que os acontecimentospassados se modifiquem ao sabor de cada interrogaccedilatildeo investigativa ou que a evidecircnciaseja indeterminada (THOMPSON 1981)

() historiadores possam tomar a decisatildeo de selecionar essas evidecircncias() o objeto real continua unitaacuterio () Os processos acabados demudanccedila histoacuterica com sua complicada causaccedilatildeo realmente ocorreram ea historiografia pode falsificar ou natildeo entender mas natildeo pode modificarem nenhum grau o status ontoloacutegico do passado O objetivo da disciplinahistoacuterica eacute a consecuccedilatildeo dessa verdade da histoacuteria (THOMPSON198150-51)

Sexto quanto ldquoa investigaccedilatildeo da histoacuteria como processo sucessatildeo deacontecimentos ou ldquodesordem racionalrdquo acarreta noccedilotildees de causaccedilatildeo de contradiccedilatildeo de

mediaccedilatildeo e de organizaccedilatildeo (por vezes de estruturaccedilatildeo) sistemaacutetica da vida social poliacuteticaeconocircmica e intelectualrdquo Continua () ldquoessas elaboradas noccedilotildees ldquopertencemrdquo agrave teoria

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 17: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1720

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 25

histoacuterica satildeo refinadas dentro dos procedimentos dessa teoria satildeo pensadas dentro dopensamento Mas natildeo eacute verdade que a teoria pertenccedila apenas agrave esfera da teoriardquo e osprocedimentos empiacutericos cumprem importante papel no processo Assevera Thompson quetodos os elementos da pesquisa devem ser decodificados pela teoria apropriada e sujeitosagraves propriedades determinadas da evidecircncia

Continua

Na medida em que uma tese (o conceito ou hipoacutetese) eacute posta em relaccedilatildeocom suas antiacuteteses (determinaccedilatildeo objetiva natildeo-teoacuterica) e disso resultauma siacutentese (conhecimento histoacuterico) temos o poderiacuteamos chamar dedialeacutetica do conhecimento histoacutericordquo (THOMPSON 198154)

Fica pois evidente para Thompson que uma hipoacutetese testada pelas evidecircncias e natildeotendo sido negada por nenhuma contraprova emerge como conhecimento verdadeiro O

diaacutelogo entre hipoacutetese e evidecircncia eacute a base da pesquisa histoacuterica

Seacutetimo ldquoo materialismo histoacuterico natildeo difere de outras ordenaccedilotildees interpretativasdas evidecircncias histoacutericas (ou natildeo difere necessariamente) por quaisquer premissasepistemoloacutegicas mas por suas categorias suas hipoacuteteses caracteriacutesticas e procedimentosconsequumlentes e no reconhecido pararentesco conceptual entre estas e os conceitosdesenvolvidos pelos praticantes marxistas em outras disciplinasrdquo Aqui acentua sua criacuteticaa Althusser e ressalta que a historiografia marxista natildeo depende de uma ldquoTeoriardquolocalizada em uma parte qualquer mas pelo contraacuterio () ldquoa paacutetria da teoria marxistacontinua onde sempre esteve no objeto humano real em todas as suas manifestaccedilotildeesrdquo

((THOMPSON 198155) Nesse sentido para Thompson eacute tarefa do pesquisador explicarum evento em como e por que ele se moveu em uma determinada direccedilatildeo e os princiacutepios etendecircncias fundamentais do processo Mais adiante argumenta

Essa totalidade natildeo eacute uma ldquoverdaderdquo teoacuterica acabada (ou Teoria) mastambeacutem natildeo eacute um ldquomodelordquo fictiacutecio eacute um conhecimento emdesenvolvimento muito embora provisoacuterio e aproximado com muitossilecircncios e impurezas O desenvolvimento desse conhecimento se daacutetanto na teoria quanto na praacutetica surge de um diaacutelogo e seu discurso dedemonstraccedilatildeo eacute conduzido nos termos da loacutegica histoacuterica (THOMPSON1981 61)

Por fim seu uacuteltimo argumento em resposta aos estruturalistas e aos funcionalistasacentua a sua compreensatildeo de pesquisa e da loacutegica histoacuterica Dizendo ldquolsquohistoacuteriarsquo em si eacute ouacutenico laboratoacuterio possiacutevel de experimentaccedilatildeo e nosso uacutenico equipamento experimental eacute aloacutegica histoacutericardquo (THOMPSON 198158) () ou ldquoO materialismo histoacuterico empregaconceitos de igual generalidade e elasticidade () ldquomais como expectativas do que comoregrasrdquo ou ldquoA histoacuteria natildeo conhece verbos regularesrdquo (THOMPSON 198157) ldquoVivemosnum mesmo elemento (um presente tornando-se passado) um elemento humano dehaacutebitos necessidades razotildees vontades ilusotildees desejos e deveriacuteamos saber que ele eacuteconstituiacutedo de um material resistenterdquo (THOMPSON 198159)

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 18: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1820

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 26

A partir das consideraccedilotildees acima pode-se dizer que as contribuiccedilotildees de

Thompson para a histoacuteria da educaccedilatildeo estejam na anaacutelise dessas categorias enquanto

loacutecus onde foram construiacutedas e a relaccedilatildeo histoacuterica que elas tecircm com o objeto de

anaacutelise no caso classe operaacuteria educaccedilatildeo experiecircncia e histoacuteria

Quanto a classe trabalhadora inglesa sua contribuiccedilatildeo se verifica quando

submetida ao exame da vivecircncia e as sua condiccedilotildees dessa classe sua formaccedilatildeo sua

consciecircncia de classe seu trabalho e sua cultura etc O que permite olhar para a

classe trabalhadora enquanto presenccedila e sujeito histoacuterico atuante no processo de sua

formaccedilatildeo entendida como algo natildeo estanque a instituiccedilatildeo escolar mas manifestada numuniverso de saberes e fazeres transmitido de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo num complexo criativo

de produccedilatildeo de accedilotildees movimentos instituiccedilotildees valores siacutembolos e cultura em que a

categoria de experiecircncia eacute a chave Ao eleger essa categoria como chave Thompson

traz agrave tona outro imperativo significativo em sua anaacutelise o de considerar a

heterogeneidade interna das classes trabalhadoras Isso significa pensar a classe

trabalhadora natildeo como homogecircnea mas com suas diferenccedilas internas sejam elas

pelas formas ocupacionais ou pelas variaccedilotildees da organizaccedilatildeo do processo de

trabalho ou por fatores de ordem etaacuteria sexual racial regional e cultural O que

pode estar referenciando outras possibilidades educacionais que natildeo estejam

previstas pela ordem vigente ou pelas instituiccedilotildees de ensino tradicionais

Outro aspecto satildeo as sendas deixadas por Thompson quanto a ldquoauto-

atividaderdquo das classes no processo de sua formaccedilatildeo histoacuterica em que rejeita a ideacuteia

histoacuterica que os resultados das accedilotildees das classes possam estar de antematildeo inscritos

ou determinados por qualquer estrutura que preexista a essa accedilatildeo Reafirma que as

relaccedilotildees produtivas satildeo o fundamento das relaccedilotildees de classe e nessas haacute uma

complexidade dos mecanismos mediante os quais daacute origem agraves classes Em sua

definiccedilatildeo histoacuterica de classe acentua o favorecimento e natildeo a exclusatildeo da investigaccedilatildeo

do processo de produccedilatildeo e a formaccedilatildeo de classe

Por fim outra contribuiccedilatildeo passa pelo possiacutevel reconhecimento das formas de

relaccedilotildees de produccedilatildeo e como essas operam realmente na constituiccedilatildeo e nos

movimentos de classes e como historicamente o processo educativo seja ele

institucional ou natildeo aparece nessas relaccedilotildees Estas questotildees em Thompson acenam

tambeacutem para a formaccedilatildeo cultural e da identidade de classe em que ocorre uma interaccedilatildeodialeacutetica entre os elementos materiais e culturais da existecircncia dos indiviacuteduos

BIBLIOGRAFIA

ANDERSON Perry Teoria Politica e Historia un debate con EP Thompson MadriSiglo XXI 1985

BATALHA Claudio H M Thompson diante de Marx In BOITO Jr Armando et al Aobra teoacuterica de Marx atualidades problemas e interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 19: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 1920

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 27

BLACKBURN Robin (Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoriasocial Rio de Janeiro Paz e Terra 1982

BOITO JR Armando TOLEDO Caio Navarro de Marxismo e as ciecircncias

sociais Satildeo Paulo Xamatilde 2003BOITO Jr Armandoet al A obra teoacuterica de Marx atualidades problemas e

interpretaccedilotildees Satildeo Paulo Xamatilde 2000

DESAN Suzanne Massas comunidade e ritual na obra de E P Thompson eNatalie Davis In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo MartinsFontes 2006

FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) Pensadores sociais e historia daeducaccedilatildeo Satildeo Paulo Autecircntica 2005

HIRANO Sedi Castas estamentos e classes sociais Introduccedilatildeo ao pensamentosocioloacutegico de Marx e Weber 3ordf Ed Revista Campinas SP Ed Unicamp 2002

HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

____ Histoacuteria cultura e texto In HUNT Lynn A nova histoacuteria cultural 2 ed SatildeoPaulo Martins Fontes 2006

KAYE H MCCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

MOacuteNICA Maria Filomena A formaccedilatildeo da classe operaacuteria portuguesa antologia daimprensa operaacuteria (185-1934) Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1982

MORAES MCM MUumlLLER Ricardo Gaspar Histoacuteria e experiecircnciacontribuiccedilotildees de E P Thompson agrave pesquisa em educaccedilatildeo Perspectiva Florianoacutepolis v21 nordm 2 p 329-346 juldez 2003

NAIRN Tom A classe trabalhadora na Inglaterra In BLACKBURN Robin(Org) Ideologia na ciecircncia social ensaio criacuteticos sobre a teoria social Rio de JaneiroPaz e Terra 1982 p171-189

NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outrosartigos Campinas Sp Ed Unicamp 2001

OLIVEIRA MA Taborda de O pensamento de Edward Palmer Thompson comoprograma para a pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo In II Congresso Brasileiro de Histoacuteria daEducaccedilatildeo Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo Brasileira NatalRN Technomedia2002p 1-11

RIDENTI Marcelo Classes sociais e representaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2001

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007

Page 20: CARMO. as Contribuições de E.P. Thompson Para a Educação

7252019 CARMO as Contribuiccedilotildees de EP Thompson Para a Educaccedilatildeo

httpslidepdfcomreaderfullcarmo-as-contribuicoes-de-ep-thompson-para-a-educacao 2020

Revista HISTEDBR On-line Artigo

Revista HISTEDBR On-line Campinas n27 p9 ndash28 set 2007 - ISSN 1676-2584 28

SEWELL Jr William How classes are made critical reflexions on E P Thompson theoryof working-class formation In KAYE H McCLELLAND K (Ed) E P Thompson Critical Perspectives Cambridge Polite Press 1990

SILVA Sergio Thompson Marx os marxistas e os outros In NEGRO Luigi AntonioSILVA Sergio (Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SPEd Unicamp 2001

THOMPSON E P A miseacuteria da teoria ou um planetaacuterio de erros uma criticaao pensamento de Althusser Rio de Janeiro Zahar 1981

____ Os romacircnticos A Inglaterra na era revolucionaacuteria Rio de JaneiroCivilizaccedilatildeo Brasileira 2002

____ Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional Satildeo

Paulo Companhia das Letras 2005____ Formaccedilatildeo da classe inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Vol 1

____Folclore antropologia e histoacuteria social In NEGRO Luigi Antonio SILVA Sergio(Orgs) As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas SP Ed Unicamp2001

WOOD Ellen Meiksins Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo domaterialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

Recebido em agosto2007Aprovado em setembro2007