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10 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO CARINE MAGALHÃES MALLOSTO INTERPRETAÇÃO EM ÁREAS NATURAIS: PROPOSTAS DE NOVOS USOS PARA A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL GUAPIMIRIM NITERÓI 2008

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10

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO

DEPARTAMENTO DE TURISMO

CARINE MAGALHÃES MALLOSTO

INTERPRETAÇÃO EM ÁREAS NATURAIS:

PROPOSTAS DE NOVOS USOS PARA A ÁREA DE PROTEÇÃO

AMBIENTAL GUAPIMIRIM

NITERÓI

2008

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CARINE MAGALHÃES MALLOSTO

INTERPRETAÇÃO EM ÁREAS NATURAIS:

PROPOSTAS DE NOVOS USOS PARA A ÁREA DE PROTEÇÃO

AMBIENTAL GUAPIMIRIM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito final para a obtenção do grau de Bacharel

Orientadora: Profª Msc Fábia Trentin

NITERÓI

2008

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INTERPRETAÇÃO EM ÁREAS NATURAIS: PROPOSTAS DE NOVOS USOS PARA A ÁREA DE PROTEÇÃO

AMBIENTAL GUAPIMIRIM

Por

CARINE MAGALHÃES MALLOSTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito final para a obtenção do grau de

Mallosto, Carine Magalhães

Interpretação em Áreas Naturais: propostas de novos usos para a Área de proteção ambiental Guapimirim. /Carine Magalhães Mallosto – Niterói 2008.78f.

Dissertação ( Graduação em Turismo ) – Universidade Federal Fluminense, 2008.

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Bacharel

BANCA EXAMINADORA

Prof ª Msc. Fábia Trentin – Orientadora - UFF

Prof Esp. Frederico Cascardo Alexandre e Silva

Prof ª Msc. Vanina Heidy Matos Silva

Niterói, 2 de julho de 2008

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Dedico este trabalho a Deus e a minha família.

AGRADECIMENTOS

Às Professoras Fábia Trentin e Erly Maria de Carvalho e Silva.

Aos meus pais.

À Secretaria Municipal de Meio Ambiente e da APA Guapimirim.

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RESUMO

A interpretação em áreas naturais teve seu início na primeira unidade de

conservação criada para a proteção desses bens. Seus objetivos são o

ordenamento da visita, a transmissão de uma mensagem sobre a importância da

proteção das áreas naturais, e a busca da conscientização ambiental. No presente

trabalho, foi feita uma análise situacional com a finalidade de propor o uso da

interpretação do patrimônio natural na Área de Proteção Ambiental (APA) de

Guapimirim. Foram realizadas visitas à cidade e à APA, com objetivo de obter dados

sobre o local e de fazer uma análise sobre como o turismo pode ser trabalhado,

tendo como método de investigação o Inventário da Oferta Turística e a Análise

Macroambiental. Foi identificada a inexistência de infra-estrutura de apoio ao turista

que permita a sua permanência por mais de um dia no atrativo e na cidade. Além

disso, o tipo de solo foi um item definidor para a escolha dos meios e técnicas

interpretativos propostos para realizar a visitação na APA. Como resultado, pode-se

definir o visitante com perfil do turista para o atrativo. Com relação aos meios

interpretativos, são meios personalizados, à medida que a interpretação pode ser

realizada através de passeios de barco pelos rios que cortam a APA. Assim, espera-

se que o desenvolvimento do Turismo na APA Guapimirim seja feito em

consonância com os princípios de sustentabilidade e proteção à que se destina uma

unidade de conservação.

Palavras chave: Áreas naturais. Guapimirim. Interpretação. Turismo

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ABSTRACT

The interpretation in natural areas has began in the first unit created to protect

those heritage. The interpretation objectives are the visit commanding, the messages

about the importance of protect national areas and the searching for the

environmental conscience. An analysis was made to propose the interpretation in the

APA Guapimirim national heritage as a new use. Visits were made to the city and to

the APA, to obtain data about the local and to make an analysis how tourism can be

development, using as a method the Tourist Offer Inventory and the environmental

analysis. It was identified a lack in the supporting tourist infrastructure that do not

permit him to stay more than one day in the city and in the attractive. Besides, the

item soil type defined the techniques and interpretative ways that will be proposals to

make the visits. As a result, the type of tourist chosen was the visitor, will be used the

interpretative ways in the boat tours through the rivers that cut APA. It is expected

that the tourist development in APA Guapimirim be done in line with the sustentability

principles and to keep the protection it intends.

Key words: Guapimirim. Interpretation. Natural areas. Tourism

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LISTA DE ABREVIATURAS

APA – Área de Proteção Ambiental

CIDE – Centro de Informações e dados do Rio de Janeiro

DIREC – Diretoria de ecossistemas

ESEC – Estação Ecológica

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IEF – Instituto Estadual de Florestas

IGB – Instituto Baía da Guanabara

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MON – Monumento Natural

ONG – Organização não governamental

PARNA – Parque Nacional

REBIO – Reserva Biológica

RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural

SEMA – Secretaria de Estado do Meio Ambiente

SISBIO – Sistema de autorização e informação em Biodiversidade

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SUPES – Superintendência de Estudos e Pesquisas

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................10

2. INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL .................................. 13

2.1 HISTÓRICO.................................................................................................. 14

2.2 CONCEITO................................................................................................... 16

2.3 PLANO INTERPRETATIVO......................................................................... 19

2.4 TEMA............................................................................................................ 22

2.5 MEIOS E TÉCNICAS INTERPRETATIVOS................................................. 23

2.6 INTERPRETAÇÃO E A COMUNIDADE....................................................... 27

3. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL GUAPIMIRIM ................................... 28

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE GUAPIMIRIM............................. 28

3.2 APA GUAPIMIRIM........................................................................................ 35

4. ANÁLISE SITUACIONAL E PROPOSTAS DE INTERPRETAÇÃ O DO

PATRIMONIO AMBIENTAL ................................................................... 39

4.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................... 39

4.2 ANÁLISE SITUACIONAL............................................................................... 42

4.3 PROPOSTAS PARA INTERPRETAÇÃO...................................................... 51

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 57

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 58

APÊNDICE.................................................................................................... 61

ANEXOS........................................................................................................ 62

A – Formulário de informações básicas do município................................... 63

B – Meios de acesso ao município................................................................ 69

C – Atrativos naturais..................................................................................... 74

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1. INTRODUÇÃO

A interpretação do patrimônio é a arte de revelar os significados do local

visitado, através de meios e técnicas selecionados de acordo com suas

características. A interpretação surgiu nas áreas naturais, com o objetivo de orientar

a visitação e de levar uma mensagem ao visitante, visando à proteção daquele bem

e de conscientizar sobre a importância dos resquícios históricos e naturais. Para

exemplificar o tema em estudo, elegeu-se a Área de Proteção Ambiental (APA)

Guapimirim, localizada as margens da Baía de Guanabara, para fazer um estudo

sobre como pode ser desenvolvida a interpretação. A escolha da APA Guapimirim

reside no fato de esta área ser o último reduto da vegetação de mangue preservado

no Estado. Tal área é fruto de uma luta a favor da preservação da fauna e da flora

daquele ecossistema, por parte de moradores, estudiosos e ecologistas. Por lei,

área de proteção ambiental está entre as unidades de conservação de uso

sustentável, ou seja, que permitem visitação, de acordo com as restrições legais

relativas a cada lugar. Isto significa que a atividade turística pode ali ser concebida,

respeitando as exigências do Plano de Manejo da unidade e assegurando a

sustentabilidade do uso dos recursos. Este trabalho se destina propor novos usos à

Área de Proteção Ambiental Guapimirim, utilizando os recursos naturais de forma

controlada e observando as determinações nela contidas.

A importância deste tema se deve aos movimentos ocorridos nos últimos

tempos relativos à aceleração do efeito estufa. A preocupação com os recursos

naturais e hídricos se acentuou, motivando a procura por locais em que as áreas

verdes estejam preservadas, preenchendo assim a necessidade de escapismo

gerada pela concentração de área urbana e a diminuição de áreas naturais.

A interpretação é proposta como forma de organizar e trazer novos

significados a visitação da unidade de conservação, no entanto, a visitação gera

algum tipo de impacto. Tal contraposição leva a um problema: a visitação e toda

estrutura criada para acolher o visitante potencializa algum tipo de impacto. Então,

como fazer um bom aproveitamento turístico dos bens naturais da APA a partir da

implantação da interpretação?

A primeira fase desse processo é analisar a teoria que pode ser aplicada, com

o interesse em desenvolver ações que culminem na melhor utilização dos bens

naturais da unidade. A Interpretação em áreas naturais preconiza que durante a

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visitação, deve ser mostrada informações importantes sobre o local e que ao final o

visitante se sinta sensibilizado com o que foi dito, refletindo sobre a proteção e o uso

dos bens naturais. Esta teoria está em consonância com os objetivos do trabalho, o

de contribuir para a conscientização dos visitantes de obter o uso racional dos

recursos naturais. Para o alcance deste objetivo, foi necessário analisar como a

interpretação pode ser implantada, qual perfil de turista se deseja atrair, investigar

que tipos de meios interpretativos podem ser utilizados, as ações de infra-estrutura

que precisam ser tomadas, além de temas que melhor retratem o local.

A metodologia utilizada para elaborar o trabalho foi dividida em pesquisa

documental e pesquisa de campo. A pesquisa documental utilizou informações em

homepages oficiais e em bibliografia referente ao tema. A pesquisa de campo

utilizou o Inventário da Oferta turística para coletar dados da APA e do município de

Guapimirim, além da análise macroambiental, que tem como objetivo fazer um

diagnóstico da área estudada.

Este Trabalho de Conclusão de Curso - TCC está estruturado em quatro

capítulos: O primeiro é a introdução que apresenta o TCC. O segundo capítulo,

aborda a interpretação do patrimônio ambiental, o terceiro capítulo caracteriza a

Área de Proteção Ambiental Guapimirim e o quarto capítulo faz uma Análise

situacional e propostas de interpretação do patrimônio ambiental. Para a construção

do capítulo sobre interpretação, foi utilizado como referência o Manual de

Ecoturismo de Base Comunitária, por ser um material bibliográfico voltado para a

interpretação em áreas naturais. Foram consultadas ainda outras fontes, como a

homepage da Associación Del patrimonio a fim de obter as teorias sobre a

interpretação, o histórico, surgido em áreas naturais, sua migração para as áreas

urbanas e sua utilização no patrimônio histórico e artístico.

O terceiro capítulo caracteriza a cidade de Guapimirim e a APA teve como

fontes a pesquisa de campo, que utilizou o inventário da oferta turística e alguns

documentos importantes para a cidade, como a Lei de Criação do Município e o

Plano Diretor. As informações referentes à APA foram obtidas junto ao Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que

disponibiliza em seu endereço eletrônico informações referentes as unidades de

conservação sob sua administração.

A análise situacional, presente no capítulo seguinte, utilizou as informações

contidas nos capítulos anteriores para fazer uma reflexão sobre a situação do

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turismo na APA Guapimirim e no município, apontando fatores que podem ser

benéficos e outros que não são favoráveis.

Por fim, foram feitas propostas à APA sobre qual seria a melhor forma do uso

dos bens naturais, e de como integrar a comunidade do entorno no processo de

implantação da atividade turística no local, com a finalidade de desenvolver o

turismo na região e de capacitar os moradores para uma segunda atividade

econômica.

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2. INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL

O Patrimônio, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN) é entendido como o conjunto de todos os bens, materiais e imateriais que

apresentam características de interesse relevante para a permanência da cultura e

identidade de um povo. O patrimônio pode ser classificado, como material e

imaterial. Patrimônio Imaterial é aquele que reúne as "as práticas, representações,

expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos,

artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os

grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu

patrimônio cultural" (IPHAN). Por sua vez, o Patrimônio Material é o “conjunto de

bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo1:

arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas”

(IPHAN).

Os bens, materiais e imateriais têm sido mencionados como forma de

preservar uma parte da história, pelo que representam. O incentivo para adquirir

conhecimento e cultura tem estimulado as pessoas a visitar locais os quais é

possível encontrar estes ‘testemunhos’ da história e reconstituir a época e os

costumes daquele bem. Tem sido cada vez mais constante a revitalização de

museus, o incentivo à manutenção de costumes, como alguns pratos culinários,

danças, músicas e artesanatos e da preservação de áreas naturais.

Os bens materiais e imateriais também estão incluídos no conceito de

Patrimônio Cultural, que é entendido como o conjunto de bens naturais, históricos e

artísticos com relevante valor local, regional, nacional ou internacional e que por

essa razão merecem proteção e classificação de mérito em listas especiais de ampla

divulgação. O Patrimônio Cultural, segundo o IPHAN, não se restringe apenas aos

imóveis oficiais, sendo atualmente utilizado para designar imóveis privados, trechos

urbanos, mobiliário, utensílios e ambientes naturais. Por este motivo, ainda segundo

o IPHAN, o Patrimônio Cultural apresenta interfaces com outras áreas da economia,

entre elas a construção civil e o turismo, fator que pode atrair investimentos para

estes locais.

1 Livro do tombo: do Direito Português, tombar tem o sentido de registrar, inventariar, inscritos em

livro próprio guardado na Torre do Tombo, em Lisboa (Portugal). (Coordenadoria do patrimônio cultural do

Estado do Paraná)

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O Patrimônio Natural, segundo a coordenadoria do Patrimônio Cultural do

Estado do Paraná, compreende áreas de importância preservacionista e beleza

cênica, que transmitem à população a relevância do ambiente natural, com o

objetivo de possibilitar as pessoas oportunidades de conscientização do que são e

de como melhorar a forma como vivem. Dessa forma, o patrimônio adquiri novo uso,

conciliando o primeiro objetivo, o de preservar um determinado marco histórico ou

cultural, e ao mesmo tempo, cumpre uma função social, dando novas opções de

renda a comunidades por meio do turismo. Neste trabalho, esta opção está entre as

propostas de novos usos da APA, integrando turismo e proteção.

As áreas naturais sobre as quais irá tratar especificamente este trabalho

estão incluídas no conceito de Patrimônio Natural e abordará a interpretação em

áreas naturais, com o objetivo de gerar uma demanda de visitação e aplicar os

conceitos da interpretação, que serão expostos no decorrer do trabalho.

2.1 HISTÓRICO

A interpretação e sinalização em locais turísticos constituem importante

ferramenta na estruturação de atrativos turísticos. A interpretação e sinalização são

técnicas para transmitir mensagens acerca do local visitado, diferentemente da

sinalização indicativa, que apenas serve para indicar caminhos pelo local visitado.

Surgida nos anos 50, à época em que começaram a delimitar os Parques Nacionais,

a interpretação tinha o interesse de alertar os visitantes sobre a preservação dos

bens naturais. Tilden (1957, apud MURTA; GOODEY, 2002), precursor da idéia e

autor do primeiro livro sobre interpretação, buscou nos visitantes dos Parques

Yosemite e Grand Canyon suas investidas sobre essa nova forma de pensar.

Mackintosh, assim descreve o início da implantação da interpretação no

National Park, EUA:

Embora o serviço do National Park não tenha inventado a interpretação, aquela organização foi largamente responsável pela transmissão e reconhecimento do público acerca dos valores em desenvolvimento, entendendo e apreciando a natureza e sua história. (MACKINTOSH, 1986, p.1)2

2 MACKINTOSH, Barry. 1986 Tradução livre da autora. Original disponível em:

http://www.nps.gov/history/history/online_books/mackintosh2/index.htm

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Os primeiros indícios de utilização da interpretação começaram timidamente

no Yosemite Park, área natural no Estado do Wyoming, Estados Unidos. Na

segunda metade do século XIX, John Muir, que morava próximo ao parque,

começou a tentar entender a natureza ao seu redor. Em um de seus escritos foi

utilizado pela primeira vez o termo “interpretar”, com o objetivo de entender, mais do

que comunicar. No início do século XX, foram feitas as publicações contendo

informações básicas como acessibilidade e acomodações. As publicações seguintes

continham estudos sobre assuntos específicos referentes ao parque, como um

estudo sobre o segredo das sequóias, a origem das geleiras e dos fósseis

encontrados no parque. Em 1915, começou um movimento dentro do Departamento

do Interior dos EUA para fazer publicidade em jornais, despertando a atenção de

viajantes experientes, a fim de encorajá-los passar seu tempo livre nos parques.

(MACKINTOSH, 1986)

Na década de 1920, os trabalhos sobre interpretação despertaram o interesse

de universidades, que começaram a utilizar seu conhecimento, de forma que seus

alunos passaram a atuar como guias para os visitantes, mediante cobrança de uma

taxa. Naquele tempo, já se falava que o guia deveria conseguir manter a cortesia e o

entusiasmo, ou facilmente o visitante poderia achar monótoma a visita e buscar

outra forma de lazer para a qual se sentisse atraído, como apresentações de música

ou teatro. Para tanto, ao invés de detalhar os assuntos, bastaria colocá-los em uma

única trama, em que os tópicos abordados ao longo do percurso fariam parte de um

todo interligado, sem cortes de assuntos ou muitos detalhes. No entanto, o discurso

não pode deixar tudo muito bem explicado, ou seja, durante o trajeto, é preciso fazer

com que o turista reflita sobre o que está sendo dito, assim, espera-se que a

caminhada seja mais interessante. (MACKINTOSH, 1986)

A partir de 1970, a interpretação extrapola as áreas naturais e evolui para os

sítios históricos, como monumentos, edifícios, vilas e cidades, chegando a áreas

urbanas. Este movimento foi mais intenso na Inglaterra, onde várias regiões, das

mais conhecidas aos pequenos vilarejos, foram beneficiadas com a interpretação.

Neste período, a comunidade ganhou importância no processo da implantação da

interpretação, sendo convidada a participar do processo de concepção e

implantação, aliando o conhecimento empírico da comunidade ao conhecimento

científico dos pesquisadores, com o intuito de aumentar as opções de lazer e

estimular o investimento privado em museus, centros de visitantes e de informações.

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2.2 CONCEITO

A interpretação do patrimônio pode ser definida, segundo Morales, como “a

arte de revelar in situ o significado do legado natural, cultural ou histórico, ao público

que visita esses lugares em seu tempo livre” (MORALES, 1998, p.95). Para a

interpretação acontecer é preciso que seja realizada no local visitado, internalizando

no visitante as idéias transmitidas pela vivência, pelo simples fato de estar presente

no local, pois a interpretação utiliza os sentidos para tentar sensibilizar o visitante

acerca de um determinado tema. Portanto, meios como a internet, servem apenas

para aguçar a curiosidade sobre o local, fornecendo dados como localização e

acesso, mas não constituem um tipo de interpretação exatamente por não haver a

interação do visitante com o objeto alvo da interpretação.

A interpretação possui alguns formatos que, segundo os princípios definidos

por Tilden (1957, apud VASCONCELOS, 2002) ajudam no melhor desenvolvimento

da interpretação. Segundo Tilden, a interpretação deve relacionar-se com o objeto a

partir de quem o observa, ou seja, deve se adaptar ao público alvo que o visita; os

dados transmitidos devem ser trabalhados com seus significados, pois dessa forma,

as informações passam a ser interpretadas; a interpretação pode utilizar outras

artes, produzindo conceitos e estimulando a reflexão dos visitantes acerca dos

tópicos abordados.

A organização de um modelo de interpretação é baseada em princípios,

surgidos pouco tempo depois que os primeiros visitantes passaram a fazer suas

caminhadas com o apoio da interpretação. A partir disso, os meios interpretativos e

as técnicas foram sendo elaborados. Estabelecidos por Tilden (1957 apud MURTA;

GOODEY, 2002, p.18), os princípios foram assim definidos:

1. Sempre focalizar os sentidos do visitante, de forma a estabelecer a conscientização pessoal sobre determinadas características do ambiente;

2. Revelar sentidos com base na informação e não apenas informar; 3. Utilizar muitas artes visuais e de animação, seja o material apresentado

científico, histórico ou arquitetônico; 4. Não apenas instruir, mas provocar, estimulando a curiosidade do

visitante, encorajando a exploração mais aprofundada do que está sendo interpretado;

5. Apresentar a história completa, em vez de parte desta; dirigir-se à pessoa inteira;

6. Ser acessível a um público o mais amplo possível, levando em consideração necessidades especiais.

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Os princípios de Tilden são largamente utilizados por vários autores, e alguns

se permitiram interpretações e extensões desses princípios, como sugerem Murta e

Goodey (2002, p.18):

• Iniciar a interpretação em parceria com a comunidade, estimulando a troca de conhecimentos e recursos;

• Adotar uma abordagem abrangente, ligando os temas do passado, do presente e do futuro, realçando a dimensão socioeconômica, ao lado das dimensões histórica, ecológica e arquitetônica;

• Não tentar vender uma verdade universal, mas destacar a diversidade e a pluralidade culturais. Sua interpretação deve fomentar a aceitação e a tolerância como valores democráticos;

• Levar sempre em consideração o atendimento ao cliente, indicando ou provendo instalações básicas, como sanitários, segurança, pontos de descanso e estacionamento, elementos essenciais a uma experiência prazerosa do lugar.

Outra visão sobre os princípios de Tilden está presente no Manual de

Ecoturismo de Base Comunitária (VASCONCELOS, 2003, p.262), que faz uma

adaptação para áreas ambientais:

• A interpretação deve relacionar os objetos de divulgação ou interpretação com a personalidade ou experiência das pessoas a que se dirige.

• A informação, como tal, não é interpretação. A interpretação é uma forma de comunicação que vai além da informação, tratando dos significados, inter-relações e questionamentos. Porém, toda interpretação inclui informação.

• A interpretação é uma arte que combina muitas artes (sejam científicas, históricas, arquitetônicas) para explicar os temas, utilizando todos os sentidos para construir conceitos e provocar reações no indivíduo.

• O objetivo fundamental da interpretação não é a instrução mas a provocação; deve despertar curiosidade, ressaltando o que parece, a princípio, insignificante.

• A interpretação deve tratar do todo em conjunto e não de partes isoladas; os temas devem estar inter-relacionados.

• A interpretação deve ser dirigida para públicos de escolas, adultos em férias, etc.

• A linguagem interpretativa adota os componentes fundamentais da comunicação: emissor, meio, mensagem, resposta e receptor.

Com as diversas experiências em diferentes lugares e épocas, a interpretação

ganhou contornos mais delineados, definições adequadas para cada tipo de atrativo

e para com as motivações que ele gera nos visitantes. Dessa forma, os conceitos da

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interpretação surgiram e foram sendo utilizados nos lugares ao qual se pretendia

atrair visitantes.

Os princípios interpretativos, apesar de contundentes e aplicáveis, nem

sempre conseguem fazer com que o visitante estabeleça um vínculo com o local

visitado, muitas vezes devido ao curto tempo da visita, que pode não ser suficiente

para que este vínculo seja estabelecido. Para conseguir solidificar as mensagens,

Morales (1998, p.97) sugere que a interpretação tenha os seguintes objetivos:

“gerais: políticas de gestão ou metas; secundários: identificam ou conduzem a temas

e conceitos; específicos: ou seja, o efeito que queremos produzir no público”.

Morales (1998) sugere que a interpretação somente alcança seu objetivo se

contiver conhecimento, afetividade e gerar mudança de comportamento. O

conhecimento é alcançado quando o visitante entende aquilo que a interpretação

quer que ele saiba; é afetivo quando instiga sentimentos como pertencimento,

surpresa, indignação. Gera mudança de comportamento quando o conhecimento

adquirido tem efeito duradouro. Esses objetivos visam realizar uma visitação

abordando os tópicos da forma geral para o particular, introduzindo-o

paulatinamente ao visitante. Assim, é apresentada uma idéia, que no decorrer do

local a ser interpretado, alcança seu objetivo pelo seu afunilamento.

Os objetivos da interpretação relacionam-se com alguns itens: a preservação

do objeto apreciado pela orientação do fluxo de visitantes, evitando que esses se

dispersem; a abordagem de um tema a ser explicado durante a visita e que tenha a

intenção de produzir momentos que permitam ao visitante repensar sobre hábitos

cotidianos e de como melhorar a relação entre o ser humano e o meio ambiente

dentro e fora das unidades de conservação; e de organizar uma visita de caráter

contemplativo, mas que contenha dados informativos comunicados em linguagem de

fácil compreensão, a fim de tornar a atividade ao mesmo tempo recreativa e com

conteúdo.

O plano interpretativo é o momento em que são reunidos os dados sobre o

local pesquisado, examinadas as opções que são possíveis de ser aplicadas para

então estipular os objetivos, as ações a serem tomadas, prazos de execução de

cada tarefa, o tipo de linguagem a ser utilizada, assim como os temas abordados.

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2.3. PLANO INTERPRETATIVO

O Plano interpretativo busca reunir todas as características da região, dar

espaço à comunidade para participar do processo de elaboração dos conceitos a

serem utilizados, avaliar qual será o público alvo, que informações a comunidade

gostaria de transmitir ao visitante, como será ordenada a visitação, enfim, de como

será organizada a interpretação antes de colocar - lá em prática.

O planejamento interpretativo tem como objetivo a valorização de áreas no

qual exista grande identificação da comunidade. São marcos na paisagem, valores,

histórias que fazem daquela localidade singular, adaptando-se para uma linguagem

de fácil absorção do visitante. O planejamento interpretativo tem sido utilizado como

estratégia de desenvolvimento local em turismo em vários países, estimulando o

envolvimento local nas atividades econômicas. Como exemplo, algumas cidades na

Inglaterra como Wirksworth, em Derbyshire, teve ampla participação da comunidade

no processo de recuperar e revitalizar áreas comerciais e de lazer. Na Espanha, as

áreas naturais na Galícia têm atraído voluntários que desejam atuar na interpretação

nas áreas protegidas.

O planejamento da interpretação é um processo contínuo de elencar o que é

importante para o lugar, como tratá-lo na interpretação, como mostrá-lo ao público

alvo, qual será a resposta do mesmo. De acordo com Vasconcelos (2003, p.266), é

preciso seguir sete passos para uma boa elaboração do plano:

1. Identificação das questões específicas a serem tratadas em cada local (Por quê?)

2. Identificação do público alvo e suas necessidades (Para quem?) 3. Identificações dos objetivos ou resultados esperados para cada público-

alvo (Para quê?) 4. Elaboração das mensagens a serem transmitidas para o público-alvo (O

quê?) 5. Seleção das atividades, recursos, meios e métodos a serem utilizados

na transmissão de cada mensagem. (Como? Quem? Onde? Quando?) 6. Decisão sobre a possível integração de algumas atividades e prazos de

execução; (Quando?) 7. Avaliação dos recursos humanos e financeiros necessários

distribuição de responsabilidades. (Quem? Quanto?)

De acordo com o preconizado no Manual de Ecoturismo de Base Comunitária

(VASCONCELOS, 2003, p. 266) o planejamento deve contar com uma equipe

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representativa de vários setores, como a Associação de moradores, educadores,

ONGs, a fim de obter informações, tecer críticas, dividir responsabilidades e buscar

apoio financeiro. Assim, o planejamento, construído por diferentes formas de pensar

deve conseguir se aproximar de um bom resultado.

O primeiro passo do plano interpretativo, “Por quê”, trata das questões chave

que determinarão as próximas etapas do projeto: o público, os métodos e os critérios

de avaliação. Para que as escolhas sejam acertadas, será preciso coletar dados que

proporcionem embasamento científico, como o inventário dos atrativos,

levantamento das características geográficas, dados sócio-econômicos, lei orgânica

da cidade, presença de um plano de manejo, dentre outros aspectos. Após a

escolha dos dados e junto com a comunidade, é preciso fazer uma análise sobre o

que é considerado mais importante e que a comunidade quer compartilhar com o

público, quais atividades poderão ser realizadas, o que faria os visitantes se

sentirem envolvidos com o tema, quais os principais obstáculos à conservação dos

atrativos; quais os principais problemas da região, o que causa esses problemas,

quais soluções são viáveis, quais são os comportamentos impactantes dos visitantes

e visitados. Respondidas estas questões, a importância da interpretação naquele

local será bem fundamentada, tendo o efeito de conscientização, por meio da

diminuição da degradação ambiental.

O próximo passo, “Para quem”, define o público alvo. Para responder a esta

pergunta, é preciso identificar a distância do atrativo dos grandes centros urbanos; a

infra-estrutura turística da região; o acesso à área e quais as características do

público que já visita o local.

Para tal, é interessante realizar uma pesquisa para determinar qual é o

público-alvo para aquele tipo de atrativo. No caso de atrair públicos muito

específicos seria interessante enviar convites, estar presente em eventos

direcionados a este tipo de público, procurar agências de turismo especializadas

naquele segmento, dentre outros. Para vender determinado produto turístico é

importante o contato com operadoras externas e locais para que ela coloque o

produto nos destinos emissores e os locais possam comercializá-lo no núcleo

receptor.

O terceiro passo, “Para quê,” estabelece quais são os resultados esperados

para o programa interpretativo. Para tanto, é preciso que os objetivos estejam bem

delineados e que tenham seu efeito alcançado. Um programa educativo necessita

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gerar reflexão e mudança de comportamento/ hábitos. Esses dados são de difícil

mensuração, mas se o público estiver interagindo, debatendo e argumentando, os

resultados já se encontram dentro do esperado, ao menos na unidade de

conservação. A equipe gestora saberá se os objetivos com a interpretação foram

cumpridos por meio de algum instrumento de avaliação que possa captar uma

possível sensibilização do visitante em relação à experiência no local.

O quarto passo, “o quê”, depende da escolha do público alvo. É a partir das

características desse público e dos resultados esperados que serão decididas as

mensagens a serem incluídas nos meios interpretativos, a fim de que a linguagem

esteja de acordo com o interesse e entendimento do mesmo. Para tanto, é

recomendado fazer uma pesquisa com o tipo de público escolhido, para obter

informações sobre suas preferências. Pode-se ainda buscar informações em

bibliotecas, com os moradores, ONGs e outras fontes para definir como serão

formatadas as mensagens.

A quinta etapa visa à seleção das estratégias interpretativas. Nesta fase são

escolhidos os meios, técnicas e métodos mais adequados para se comunicar com o

público alvo escolhido. Também é preciso considerar os tipos de mensagens a

serem transmitidas, o lugar em que a interpretação será utilizada, as limitações de

interesse e tempo do visitante e os níveis de capacidade de cada um. Deverão ser

desenvolvidos mecanismos para que o visitante visualize e retenha a informação.

O sexto passo, “Quando”, visa estabelecer os prazos de execução de cada

etapa, organizando um cronograma, fazendo ajustes, a fim de definir, por exemplo,

se as atividades podem ser condensadas por serem direcionadas em públicos

parecidos ou de separar atividades por se tratarem de públicos muito específicos.

O sétimo passo, “Quem e Quanto”, determinam quais são os recursos

utilizados, a previsão orçamentária, os recursos humanos e os responsáveis por

cada parte do projeto. Estão contidos nessa etapa o treinamento de pessoal e a

implantação dos meios interpretativos.

O Plano interpretativo faz o arranjo dos princípios com as características do

local visitado, escolhendo qual seria a melhor técnica de interpretação a ser

utilizada, organizando assim a visita de forma ordenada, através de temas que o

lugar suscite, deixando uma mensagem sobre o tema do local visitado.

A união de alguns fatores, como as características da linguagem, os

princípios da interpretação, a escolha dos meios, técnicas e temas ocorrem na fase

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estratégica, ou seja, quando começa o planejamento da área em questão. O

planejamento precede as ações. É nesta fase que é definida qual a diretriz o local

deseja seguir, quais ações devem ser tomadas para que isto ocorra, que áreas,

aspectos e situações serão mais valorizadas e que meios seriam mais adequados

para expô-los.

2.4. TEMA

A utilização da interpretação prima pela organização de atividades por meio

de temas. O tema é a escolha de um aspecto que esteja relacionado ao local, que

pode ser uma cidade, um museu ou uma unidade de conservação e pode abordar

aspectos como a história do local, arquitetura e modo de vida, por exemplo, que é

trabalhado com o uso do meio interpretativo escolhido, seja ele placas, painéis,

guias de turismo ou centro de visitantes. O tema é pesquisado e após a obtenção de

informações suficientemente relevantes o tema é trabalhado de forma a transmitir

uma mensagem. Para que a mensagem consiga alcançar seu objetivo, ela deve

responder a seguinte pergunta: “o que o público alvo precisa saber, compreender e

acreditar para mudar seu comportamento?” O desenvolvimento do tema pode utilizar

comparações, analogias e metáforas, com o intuito de facilitar o entendimento e

evitar “pré-conceitos” sobre a abordagem do tema. Assim, as idéias são registradas

e formuladas.

Tilden (1957 apud MURTA; GOODEY, 2002, p.14) define que a interpretação

traz consigo um encadeamento, pois, “Através da interpretação, a compreensão;

através da compreensão, a apreciação; através da apreciação, a proteção.” Para

alcançar a compreensão, a apreciação e por fim a proteção Vasconcelos (2003, p.

263) sugere que a linguagem utilizada possua quatro características: ser amena,

pertinente, organizada e temática.

A linguagem precisa ser amena, pois, em um momento de lazer, o público

voltará sua atenção ao que for apresentado de forma interativa, informal e dinâmica.

Se o tema for apresentado com uma linguagem técnica e tutorial, o visitante pode

rapidamente desviar sua atenção para outro objeto. A linguagem tem que mostrar

significado, principalmente se esta consegue se relacionar com algo conhecido pelo

visitante. Tornar o tema familiar por meio de analogias e comparações faz da

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informação pertinente, pois o visitante se sente envolvido, tendo transformado

aqueles dados em algo interessante e pessoal.

A organização da linguagem é importante uma vez que não deve exigir do

público grande esforço para captar e memorizar as informações transmitidas. A

tematização da informação ocorre para que o público entenda a mensagem que se

deseja expressar e para que consiga criar ao final, uma idéia sobre o que foi dito.

A interpretação destaca as singularidades do local e organiza a demanda, por

meio de meios e técnicas que façam o visitante conhecer com certa profundidade o

assunto ali exposto, a fim de que seja seguido um roteiro, contando uma história que

o visitante entenda, culminando com a transmissão de uma mensagem que

possibilite ao visitante uma compreensão do significado do local e acervo visitado.

Posteriormente, a escolha de um tema, algumas informações serão

escolhidas, trabalhadas e adequadas aos meios e técnicas interpretativos.

2.5. MEIOS E TÉCNICAS INTERPRETATIVOS

Os meios interpretativos utilizados para abordar o tema apresentam ao

visitante os significados do lugar, que visam ao mesmo tempo entreter e informar,

trazendo uma mensagem que provoque mudança nos modos de agir

cotidianamente, buscando a conservação. A importância de informar e ao mesmo

tempo entreter deve-se ao fato de que o visitante dirige-se espontaneamente e em

seu tempo livre para praticar uma atividade de lazer. Portanto, os meios

interpretativos devem ser interessantes para quem os recebe, sendo aperfeiçoado

com a elaboração do roteiro instalado no local.

A interpretação também propicia ao visitante realizar a visita, obtendo muitas

informações a partir do centro de visitantes. Sendo o primeiro contato do visitante

com o atrativo, ali ele poderá ter uma primeira impressão sobre o que acontecerá

durante a visita. O centro de visitantes pode ser visitado de forma independente.

Algumas técnicas interpretativas são pensadas para serem utilizadas pelo turista

sem a presença de um guia de turismo ou folheto, oferecendo-lhe a oportunidade de

conhecer o local de forma organizada por caminhos e temas, sem necessitar

exclusivamente de um guia para realizar suas atividades.

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A escolha dos meios e técnicas deve acontecer com base em alguns critérios,

como o tipo de terreno, o perfil do visitante, a mão de obra disponível, e do

documento (plano de manejo, lei de uso do solo) que discrimine a forma de

utilização daquele espaço. A apresentação e implantação nos atrativos dependem

do alcance pretendido com a mensagem, ou seja, de como os visitantes reagem às

informações transmitidas, e se eles geram uma reflexão sobre o tema, visando à

proteção daquele bem. Para que esta finalidade seja alcançada, a interpretação é

regida por alguns princípios, que visam orientar o planejamento e construção da

interpretação.

De acordo com o Manual de Ecoturismo de Base Comunitária

(VASCONCELOS, 2003, p.272) os meios interpretativos podem ser divididos em

personalizados e não personalizados.

Personalizados • Trilhas guiadas- passeios conduzidos por um guia ou intérprete, em caminhos

preestabelecidos. • Audiovisuais com atendimento pessoal- filmes, projeções, amplificação de

sons em que o intérprete está presente para explicar e responder perguntas, ou é o palestrante.

• Palestra ou conferências- em diversos estilos, onde o especialista traduz seus conhecimentos em linguagem compreensível para o público.

• Animação passiva- representação em forma teatral, sem contar com a participação direta do público: pode passar uma mensagem complexa, criando um clima de realismo, que torna a visita memorável e facilita a apreciação e a conscientização; os animadores precisam ser bons para conquistar o interesse do público; reconstruir cenários, roupas e objetos podem ser caros.

• Animação ativa- simulações, jogos, representações teatrais, utilização de instrumentos em que o público participa utilizando conhecimentos prévios ou adquiridos durante a visita à área: aprender fazendo é mais efetivo, é provocativo, estimula a exploração de várias facetas individuais, permite que o intérprete esclareça conceitos; o êxito depende, em grande parte, da reação das pessoas e requer tempo e pessoal treinado, sendo aplicável somente a grupos reduzidos.

Não personalizados

• Trilhas auto-guiadas- caminhos preestabelecidos onde se utilizam folhetos, placas, painéis e gravações sonoras.

• Audiovisuais automáticos- podem fornecer informação de alta qualidade, criam uma atmosfera especial, com aumento da receptividade; são geralmente caros, requerem fonte de energia e controle permanente.

• Exposições- objetos ou coleções que ilustram ou explicam um tema, tanto em interiores, em centro de visitantes, como em exteriores.

Os meios personalizados são dirigidos a um público, normalmente através de

um guia, sendo realizada com adaptações na linguagem e abordagem de acordo

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com critérios como faixa etária, motivação, dentre outros. Os meios não

personalizados, ao contrário, se utilizam de objetos como placas e painéis para

realizar a interpretação e não são direcionados a um público específico.

A metodologia adotada por Murta e Goodey (2002, p.24) estabelece que os

meios de interpretação são divididos em três categorias: “interpretação ao vivo,

textos e publicações e interpretação com base no design”.

A interpretação ao vivo requer basicamente uma pessoa, exercendo as

funções de guia ou ator, utilizando recursos como o canto e demonstrações para

explicar o tema aos visitantes. A visita pode apresentar uma variedade de formas e

contextos, incluindo representações e performances, através de excursões a pé, ou

utilizando algum tipo de veículo. O intérprete deve atuar de acordo com um roteiro

elaborado, que inclua pesquisas sobre o local a fim de conferir veracidade sobre o

assunto. O mesmo deve ganhar o respeito do visitante, aceitar o papel de guia,

desempenhar a função de especialista em segurança e cuidar de harmonizar sua

apresentação com a interpretação geral da área.

O uso de material impresso como mapas, guias, folhetos e cartões postais

constituem elementos presentes em qualquer esquema de interpretação. Servem

para complementar as informações, melhorando a percepção do público, e também

como guia pessoal do visitante. As publicações devem considerar as necessidades

específicas de cada público para que sejam informativas e interessantes a fim de

provocar a curiosidade do visitante sobre o lugar e revelar detalhes que despertem

sua atenção.

A interpretação com base no design é utilizada tanto no patrimônio natural

quanto no cultural, abrangendo desde placas a vídeos, tornando a visitação mais

agradável ao público. São divididos em meios estáticos e meios animados.

Os meios estáticos de exibição utilizam textos, ilustrações e representações

para sensibilizar, informar e direcionar os visitantes. Não incluem participação do

visitante, limitando o mesmo a apreciar. Neste tipo de mídia estão incluídos placas,

painéis, letreiros, objetos e documentos fixos e protegidos, modelos e reconstruções

e reconstrução do passado para apreciação passiva.

Placas, painéis e letreiros devem ter um texto curto, simples equilibrado com

mapas e ilustrações para facilitar a compreensão do visitante. O material escolhido

para fazer as placas deve ser resistente ao clima e também ao vandalismo. A

apresentação da grafia e do estilo deve ser legível, evitando termos técnicos. Deve

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conter ilustrações que estejam harmonizadas com o texto e fotos de como era o

lugar antes de uma restauração e depois da mesma.

A exposição de objetos e documentos era feita em caixas de vidro ou em

paredes nuas. Atualmente, são recriados os ambientes ao qual pertence um objeto

que faz parte da interpretação, a fim de contextualizá-lo no tempo e espaço.

A utilização de modelos, em miniatura ou em tamanho natural, a reconstrução

de aposentos, aliados a fotografias originais, de dioramas3 e maquetes, além de

atrair mais a atenção do visitante, ajudam o mesmo a entender o ambiente

interpretado.

A reconstrução de uma atmosfera histórica, com cenários de época e

modelos, exige uma equipe de profissionais de várias áreas, pesquisa meticulosa e

a utilização de diversos meios interpretativos.

Os meios animados de exibição compreendem instrumentos mecânicos e

eletro-eletrônicos. São eles o som, a luz e imagem e o movimento.

O som é utilizado em guias portáteis sonorizados, em veículos, pontos

específicos para audições associados a trilhas e roteiros, como uma alternativa ao

manuseio de folhetos e mapas. Em alguns guias são incluídos sons do cotidiano,

como barulho da rua, de animais, de fábricas, dentre outros.

A iluminação e a produção de imagens têm sido utilizadas para conferir

dinamismo à visita. Existem painéis iluminados, que combinam imagens e texto,

apresentação de slides combinados a comentários e com vários recursos de

imagem. Esses recursos também estimulam a interação do visitante com o objeto

em exposição, pois, em alguns casos, basta acionar um botão para “dar vida” à

obra.

O uso de movimento em exposições tem como objetivo mostrar como era

uma forma de trabalho no passado. Esse recurso é normalmente utilizado para

recriar processos industriais, exibindo os métodos e processos de outras épocas e

não apenas mostrando os objetos que faziam parte do maquinário.

Os meios são definidos pelo público alvo, pelo tipo de atrativo, espaço

disponível e pelo orçamento. Os mais utilizados na América Latina, segundo Morales

(1992) são: centros de interpretação, palestras, painéis, exposições, mirantes,

excursões com guias, trilhas auto-guiadas e audiovisuais.

3 Quadro iluminado na parte superior por luz móvel, e que produz ilusão óptica.

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2.6. A INTERPRETAÇÃO E A COMUNIDADE

O processo de criação da interpretação requer algumas fontes de pesquisa

em sua maioria encontradas no próprio local onde a interpretação ocorrerá.

Diagnósticos, inventários e observação são métodos bastante utilizados para iniciar

um trabalho de pesquisa. Mas o que geralmente diferencia as formas de

interpretação de diferentes locais está na cultura e costumes de seus moradores.

A comunidade constitui uma fonte de pesquisa grande e inestimável, à

medida que traduz pela sua história, quais são os hábitos e costumes desenvolvidos

pelos habitantes da região, sua adaptação ao ambiente, como se dá a utilização dos

recursos provenientes da natureza e principalmente, como eles enxergam o local

onde vivem. Neste contexto, o pesquisador consegue perceber os anseios e

necessidades da população que ali habita, como também como aconteceu o

desenvolvimento econômico atrelado a preservação daquele ambiente. A

comunidade tem a oportunidade de descrever sua história e o pesquisador de captar

esta versão e utilizá-la na interpretação.

A importância de inserir a comunidade neste processo está baseada nos

seguintes ideais: descrever o local de acordo com a visão das pessoas que moram

nele; inseri-las no processo de implantação da interpretação para que se sintam

envolvidas com o projeto, tornando-se parte integrante do mesmo; mostrar a cultura

da comunidade como forma de valorização da mesma, dar um diferencial do atrativo

interpretado e oferecer como alternativa econômica a participação na atividade

turística. Ter a participação da comunidade neste processo faz dela colaboradora e

evita a competição dentro daquele espaço entre atividade turística e moradores.

Esses se sentem parte integrante, ajudando na manutenção dos bens do atrativo e

fiscalizando a continuidade das atividades realizadas (VASCONCELOS, 2003).

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3. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE GUAPIMIRIM

A Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, escolhida como estudo de caso

do presente trabalho, tem sua sede localizada na cidade de Guapimirim, que será

caracterizada a seguir:

3.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE GUAPIMIRIM

Com área de 361 km² e distante do centro do Rio de Janeiro cerca de 80 km,

Guapimirim limita-se com a Baía de Guanabara e com Itaboraí (ao sul), com Magé (a

oeste), com Petrópolis e Teresópolis (ao norte), e com Cachoeiras de Macacu (a

leste). Seu principal núcleo urbano está a 48m acima do nível do mar, nas

coordenadas 22º 32’ 14”, à latitude sul e 42º 58’ 55” à longitude oeste, em uma

região compreendida pela Baixada da Guanabara, no sopé da Serra do Mar, em

trecho conhecido como Serra dos Órgãos. O mapa abaixo destaca a cidade de

Guapimirim, em amarelo, no fundo da Baía de Guanabara.

Figura 1 – Mapa de Divisa de Municípios, no Estado do Rio de Janeiro Fonte: CIDE – Centro de informações e dados do Rio de Janeiro

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Guapimirim caracteriza-se por ter sua divisão político-administrativa

coincidindo, em parte, com a própria separação de alguns complexos ecológicos. Ao

norte, do ponto da linha cumeada que fica entre o Morro do Açu e a Pedra do Sino,

onde se divide com Petrópolis, encontra-se também a divisão entre suas bacias

hidrográficas com outras que são contribuintes do Rio Paraíba do Sul (DA SILVA,

2006).

A população está estimada em 37.857 habitantes (CENSO 2000), estando

distribuída pelos seguintes bairros: Vale das Pedrinhas, Vila Olímpia, Citrolândia,

Parada Ideal, Parque Santa Eugênia, Parada Modelo, Paraíso, Monte Olivete,

Barreira, Caneca Fina, Centro, Garrafão, Limoeiro e Iconha, além das áreas de

Preservação Ambiental e a região onde está situada a Sub-sede do Parque Nacional

da Serra dos Órgãos.

A cidade tem seu abastecimento de água feito por meio de uma

concessionária privada, mas que atende somente a 40% do município. A rede de

esgoto é inexistente, sendo o mesmo escoado por redes de águas pluviais, ou seja,

o esgoto é despejado in natura nos rios da região. A coleta de lixo, ao contrário,

atende a 95% dos domicílios, mas também não possui tratamento e reciclagem

destes resíduos.

Os acessos à cidade e à APA Guapimirim são a BR 116, BR101 e BR 493. A

BR 116, que faz a ligação entre as cidades do Rio de Janeiro e Teresópolis, constitui

o principal acesso à cidade. A BR 116 apresenta pavimentação em asfalto de boa

qualidade e sinalização geral em bom estado, mantido por um pedágio no valor de

R$6,80 para carros, com a presença, em alguns pontos de sinalização turística. A

BR 101, no trecho que liga a cidade de Niterói à Manilha, não apresenta pedágio,

sua sinalização geral é boa, assim como a pavimentação em asfalto, porém a

sinalização turística é diminuta. A BR 493, conhecida como Estrada do Contorno,

pois contorna a Baía de Guanabara e Magé-Manilha, pois liga as duas cidades,

apresenta situação diferente. Assim como as outras duas estradas, a sinalização

turística é pouca, no entanto as condições da estrada são regulares. O asfalto

precisa de reparos, o acostamento não é contínuo em toda a sua extensão, e na

confluência dessa estrada com a BR 116, existe um pedágio no valor de R$ 4,80

para carros. Essa estrada é o principal acesso a APA Guapimirim.

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De acordo com Da Silva (2006, p. 68-71) a história de Guapimirim pode ser

assim descrita:

Guapimirim era distrito da cidade de Magé até 1990, quando ocorreu sua

emancipação. As primeiras eleições foram realizadas, e sua autonomia plena

ocorreu somente a partir de 1993.

A principal atividade econômica até o fim do século XVIII foi o escoamento de

café do Vale do Paraíba, mas com a construção de linhas férreas e a conseqüente

mudança de rota do escoamento do café, fizeram com que algumas dessas vilas

sofressem com o esvaziamento, e ficaram em ruínas.

No início do século XIX, com a descoberta de minérios em Minas Gerais,

novos caminhos foram abertos, e alguns deles cortavam o território em que hoje fica

a cidade, ligando o Rio de Janeiro ao estado vizinho. Assim, novas vilas foram

organizadas na região, como as vilas de Santana do Bananal e da Barreira, que

depois ganharam importância com a construção de uma linha férrea que passava

próximo as vilas.

A quantidade de áreas naturais atualmente na cidade de Guapimirim talvez

tenha relação com as atividades econômicas inicialmente desenvolvidas que não

tiveram continuidade. De uma forma geral, a cidade era passagem para viajantes ou

via de escoamento, ou seja, a renda era gerada mais por serviços do que pela

produção de produtos. Com a queda do ciclo da mineração, a rota que passava por

Guapimirim caiu em desuso, o que pode ter desestimulado o crescimento

populacional e preservado as áreas verdes que hoje compõem as unidades de

conservação da cidade.

A criação do município de Guapimirim teve como uma das justificativas o fato

do então distrito possuir recursos financeiros para se manter independente do

município de Magé. Dentre as atividades econômicas mencionadas, o turismo é

citado com freqüência como atividade que pode ser desenvolvida a partir das

unidades de conservação localizadas no município, de acordo com os princípios de

sustentabilidade e preservação a que cada uma das áreas se destina.

O Plano Diretor da cidade de Guapimirim, publicado em 2003, tem como

objetivos promover o desenvolvimento urbano com a proteção ao meio ambiente,

criar condições para a preservação dos sítios históricos, propiciar melhores

condições de trabalho, ordenar o crescimento, promover a distribuição justa da infra-

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estrutura e dos serviços urbanos, estabelecer mecanismos de participação da

comunidade no planejamento urbano e da fiscalização de sua execução.

No plano, são citadas como atividades econômicas a serem incentivadas ou

melhoradas no município a agricultura, a pesca, a indústria, o comércio e o turismo.

Essas atividades estão incluídas em planos de desenvolvimento, conforme Seção 5

Art. 40, parágrafos §1º, §2º e §3º. Segundo o Plano, estas atividades devem estar

em consonância com a preservação do meio ambiente, não sendo poluentes. A

figura 2 apresenta as atividades econômicas que mais empregam na cidade de

Guapimirim.

Tipo de atividade Pessoal Ocupado

Nº absolutos

Comércio; reparação de veículos, objetos pessoais e domésticos

1758

Indústrias de transformação 822

Imobiliárias, aluguéis e serviços prestados 372

Outros 548

Alojamento e alimentação 223

Construção civil 78

Agropecuária, silvicultura e exploração vegetal 83

Transporte, armazenagem e comunicações 81

Indústrias extrativas 21

Pesca S/informação

Total 3.557

Figura 2 – Estrutura empresarial 2005 - Pessoal ocupado total. Fonte: Adaptado a partir do site www.ibge.gov.br/cidades 4

O Plano Diretor menciona o turismo com freqüência, porém os números da

figura 2 mostram, em números absolutos, que as atividades relacionadas ao turismo

possuem pouca expressividade. O número de pessoas que estão envolvidas no

setor, sejam donos de meios de hospedagem de pequeno porte ou alguns

estabelecimentos que vendem produtos alimentícios próximos a locais que recebem

visitação são pequenos se comparados aos dados referentes à indústria e ao

comércio em geral.

4 IBGE, Cadastro Central de Empresas 2005 Disponível em:

http://www.ibge.com.br/cidadesat/default.php Acesso em: 19 de Junho de 2008

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41

O turismo é citado no Plano sendo relacionado ao Patrimônio Cultural, como

as fazendas e casas históricas, e principalmente as áreas naturais existentes no

município. Há uma preocupação com a preservação dos mananciais dos rios e com

a proteção do meio ambiente, utilizando o termo “turismo não predatório” para

designar a atividade turística que está em consonância com os objetivos do Plano.

Á época da criação do Município, dentre os argumentos utilizados para

realizar a emancipação, estava o desenvolvimento da atividade turística na nova

cidade, como uma alternativa econômica as já existentes. Como consta no Art. 40

do Plano Diretor da cidade: “Trata do desenvolvimento econômico do município, com

referência à qualidade de vida da população, o aumento da oferta de empregos, ao

incremento do potencial industrial, agrícola e turístico, conjugados com uma justa

distribuição de renda” (PLANO DIRETOR, 2003).

Ainda no mesmo Plano, o Turismo é citado como uma forma de incentivo ao

lazer, no Art.41 “IV- Incentivar o turismo não-predatório, em áreas de preservação

ambiental, como atividade que compatibilize o lazer, protegendo a fauna e a flora e

gerando recursos para mantê-la.”

O Plano Diretor, na verdade, destina o Programa de número 4 como de

Estímulo ao turismo. Nele estão previstos a organização de roteiros históricos e

culturais, um calendário de eventos, equipamentos de apoio aos usuários, linhas de

transporte coletivo que façam os itinerários turísticos, o mapeamento das trilhas

ecológicas e a implantação do serviço de atendimento ao turista.

O Art. 23 do Plano Diretor da cidade ainda ressalta o papel das Unidades de

Conservação, ao especificar: “a execução de projetos turísticos e ambientais

vinculados aos planos de recuperação e proteção destas unidades” (de

conservação) (PLANO DIRETOR, 2003).

Dentre as ações propostas no Plano está também o atendimento ao turista,

com a implantação de uma estrutura de apoio ao usuário, como sanitários,

bebedouros, linha de transporte que liguem os lugares de interesse turístico e um

posto de informações turísticas. No entanto, a maioria dessas propostas não foram

postas em prática. O posto de informações turísticas construído na cidade, mostrado

na figura 3, por exemplo, encontra-se sem funcionamento.

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Figura 3 - Centro de Informações Turísticas e de Meio Ambiente, não inaugurado Fonte : DA SILVA, 2006

Guapimirim está inserida na região turística Serra Verde Imperial, que

também é constituída pelas cidades de Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo,

Cachoeiras de Macacu, São José do Vale do Rio Preto, Areal, Três Rios, Levy

Gasparian e Magé. A cidade conta com uma secretaria de turismo, porém ainda não

existe um produto turístico consolidado no município. Também não possui um

conselho de turismo, apesar de terem ocorrido em 2002 algumas oficinas do

Programa Nacional de Municipalização do Turismo. Embora Guapimirim não

apresente produto turístico elaborado, existem alguns recursos que se destacam

pela beleza natural e têm potencial para se tornarem atrativos turísticos vinculados a

produtos locais. Entre estes recursos estão o Dedo de Deus, localizado dentro do

Parque Nacional da Serra dos Órgãos, a Caneca Fina, o Rio Soberbo, e a Barreira,

dentro da área de proteção ambiental Guapi-Guapiaçu. Todos esses atrativos, sem

exceção, se encontram em áreas naturais, devido à cidade de Guapimirim possuir

cinco unidades de conservação: Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Parque

Estadual dos Três Picos, Estação Ecológica do Paraíso, Área de Proteção ambiental

Guapi-Guapiaçu e a Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, objeto de estudo

deste trabalho como mostrado na figura 4. Esse dado confere à cidade uma

ambiência, já que existe uma continuidade da faixa verde no município.

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FONTE – SARAIVA, 2006

Área de Proteção Ambiental Guapimirim (APA Guapimirim)

Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO)

Parque Estadual dos Três Picos

Estação Ecológica do Paraíso (EEP)

Área de Proteção Ambiental Guapi-Guapiaçu (Nova APA)

Figura 4 – Unidades de Conservação, em Guapimirim Fonte: DA SILVA, 2006 A unidade em estudo, a APA Guapimirim, se encontra ao sul, em todo o litoral

do município, que está no fundo da Baía de Guanabara. O relevo da APA é de

planície, mas a cidade tem uma grande diferença de altitude, pois onde se encontra

o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO), a Estação Ecológica do

Paraíso e o Parque Estadual dos Três Picos é uma região de serra. A área em

vermelho delimita a área que não está protegida por uma unidade de conservação,

onde se encontra a população do município.

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3.2. APA GUAPIMIRIM

O surgimento das áreas naturais protegidas tem como objetivo valorizar o

que de mais representativo existe naquele local. O poder público federal publicou, no

ano 2000, a lei nº 9.985, que define e regulamenta as unidades de conservação. O

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC, 2000) define as unidades

de proteção integral e as unidades de uso sustentável. As unidades de uso integral

permitem apenas a visitação para pesquisa científica, com prévia autorização. As

unidades de uso sustentável, como a APA, permitem a visitação para fins científicos

e turísticos. Segue a definição de Área de Proteção Ambiental:

Art 15 A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. (BRASIL, 2000)

Administrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Renováveis (IBAMA) e criada pelo Decreto Federal número 90.225 de 25 de

setembro de 1984, a APA Guapimirim abrange os manguezais da orla oriental da

Baía de Guanabara, nos municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo.

Possui cerca de 140 km², perfazendo uma área de 14.340 ha. É limitada, ao norte,

pela área urbana do município de Magé, ao sul, pela Serra de Itaúna e a Ilha de

Itaóca, a leste pelo ramal ferroviário de Itambi-Campos, e, a oeste, pela Baía de

Guanabara.

A criação da APA foi fruto de uma articulação bem sucedida entre os setores

acadêmico e social, deflagrando em uma participação política mais ampla. É a

primeira unidade de conservação brasileira destinada à proteção de manguezais.

Como pode ser visualizado na figura 5, parte da área da APA está na Baía de

Guanabara, pois aquela área é integrante do ecossistema que caracteriza a APA.

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Figura 5: Localização da APA Guapimirim Fonte: APA Guapimirim, IBAMA5 Dentre os atrativos turísticos existentes no interior da APA Guapimirim,

destacam-se os sambaquis situados na proximidade da Baía de Guanabara, que

nos últimos 30 anos foram pesquisados pela UFRJ/Museu Nacional, mas que

atualmente encontram-se abandonados e em péssimas condições de conservação,

sendo submetidos inclusive a pisoteio de gado. Outros atrativos são o passeio de

barco e a pesca esportiva, ambos praticados no interior da APA Guapimirim, quase

sem controle.

A APA Guapimirim é descrita como a primeira unidade de conservação criada

para proteger a vegetação de manguezal. A fim de caracterizar este tipo de

vegetação, foram extraídas algumas informações baseadas no texto do Instituto

Baía da Guanabara a respeito dos manguezais:

O manguezal funciona como um filtro ecológico, retendo a terra e outros

materiais de áreas erodidas, como sedimentos e matéria orgânica em

decomposição. Estes sedimentos se aglutinam ao se aproximar da foz do rio,

resultando em um material conhecido como lodo, que serve de abrigo para espécies

de crustáceos, moluscos e animais unicelulares. A decomposição destes materiais

também cria um caldo nutritivo que serve de alimento para várias espécies

5 Foto demarcando a APA Guapimirim. Disponível em:

http://www.ibama.gov.br/apaguapimirim/?id_menu=12 Acesso em 15 de Junho de 2008

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marinhas, que procuram os mangues para se reproduzir exatamente pela

quantidade de alimento. Por isso os manguezais são considerados importantes para

a manutenção de várias espécies, pois é nesse ecossistema que muitas delas se

reproduzem.

A APA é cortada por diversos rios e canais: Suruí, Irirí, Magé, Guapimirim,

Roncador, Guapi, Caceribu, Guaraí, Macacu, Guaximdiba. Os rios que banham os

manguezais são típicos por formarem curvas sinuosas, onde as águas vão perdendo

velocidade e depositando sedimento que trazem da terra firme. Os canais de seus

leitos adentram cerca de um quilômetro na Baía de Guanabara.

O solo é constituído por silte e argila fina, sendo rica em matéria orgânica e

bactérias, periodicamente inundado pela maré. Quanto à vegetação, os manguezais

da APA de Guapimirim apresentam três espécies típicas: o mangue vermelho,

encontrado nas áreas mais próximas a APA; o mangue preto, localizado em locais

mais interiores e o mangue branco, encontrado em locais com muitas variações dos

níveis de água.

Quanto ao meio antrópico, a APA compreende regiões ocupadas por

pescadores, agricultores e catadores de caranguejos dos municípios de São

Gonçalo, Itaboraí e Magé. Além das atividades de pesca artesanal, cata de

caranguejo e agricultura, a APA tem, em seus limites, atividade industrial. À exceção

da área limítrofe ao município de São Gonçalo, é baixa a densidade demográfica

nessa região.

A sede da APA Guapimirim encontra-se no km 12,8 da BR 493, a 8 km do

centro da cidade de Magé, que é a localidade mais próxima. Formada por 14 mil

hectares, 8 mil hectares, ou seja, mais da metade de sua área total, é formada por

manguezais. Esta é a primeira unidade de conservação criada com o intuito de

preservar este tipo de ecossistema. Á época de sua criação, também houve uma

mobilização de vários setores da sociedade, caracterizando um movimento político

em favor da criação da mesma. (reportagem “Vale do Rio Doce promete recuperar

APA Guapimirim”, 2005)

A APA faz parte do Mosaico Central Fluminense, que é também constituído

pelas seguintes unidades de conservação: APA Petrópolis, ESEC Guanabara,

PARNA Serra dos Órgãos e REBIO Tinguá, de administração federal; APA Macacu,

APA Macaé de Cima, Estação Ecológica Paraíso, unidades de conservação

estaduais (IEF), Parque Estadual dos Três Picos, Reserva Biológica Araras, de

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administração estadual; APA Guapi-guapiaçu (Guapimirim), APA Maravilha,

Monumento Natural Pedra das Flores, P. Nat. Mun. Araras, de administração

municipal; CEC Tinguá, El Nagual, Graziela Barroso, Mata dos Pilões, Pedra

Amarílis, Querência, que são de administração particular ou RPPNs.

A APA é administrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), além de possuir um conselho consultivo

formado por representantes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), das

Prefeituras de Guapimirim, São Gonçalo, Itaboraí, Magé, da Universidade Federal

Fluminense e Universidade Federal do Rio de Janeiro, um representante do Instituto

Baía de Guanabara (IGB), do Grupo Mundo da lama, da comunidade de pescadores

da colônia zona 8 (z8), de moradores de Itambí (comunidade dentro da APA) e de

proprietários rurais e comerciantes na APA. A unidade conta com um Batalhão

Florestal da Polícia Militar, que realiza o monitoramento e fiscalização da área.

Em entrevista pessoal com uma funcionária da APA, existe um fluxo turístico

não mensurado, formado basicamente por estudantes de escolas oriundas das

cidades que fazem divisa com a APA. As visitas acontecem às terças e quintas-

feiras, a pedido da administração da própria APA. Apesar disso, nenhuma estrutura

voltada para o turismo foi detectada, como um centro de visitantes ou sinalização.

Pela entrevista, tomou-se conhecimento que a ONG Innatus e uma turismóloga

estão realizando um estudo para estruturar o turismo na APA, utilizando os

manguezais.

A APA Guapimirim está contemplada no plano da coordenação geral de

educação ambiental, do exercício de 2007, do Ministério do Meio Ambiente. Neste

ano estão programadas 11 linhas temáticas de competência institucional do IBAMA.

Na unidade em estudo, o eixo temático abordado é de educação ambiental na

gestão de unidades de conservação (responsabilidade da Diretoria de ecossistemas

- DIREC). Foi proposto o Projeto de Gestão participativa da APA Guapimirim, tendo

como finalidade a capacitação e fortalecimento do conselho da APA. Foi

disponibilizado um orçamento de R$ 19.900,00 para a implantação deste projeto sob

núcleo da Superintendência do IBAMA no Rio de Janeiro (SUPES) (PLANO DE

AÇÃO DA COORDENAÇÃO-GERAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2007). Foram

realizadas algumas reuniões com o conselho consultivo desde maio de 2007 e

alguns cursos com a comunidade estão sendo realizados, como o curso de

condutores de embarcações. (IBAMA, 2007)

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4. ANÁLISE SITUACIONAL E PROPOSTAS DE INTERPRETAÇÃO DO

PATRIMÔNIO AMBIENTAL

4.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A investigação a respeito da cidade de Guapimirim e da unidade de

conservação Área de Proteção Guapimirim, deu-se por meio de metodologia do tipo

exploratória. Esta metodologia tem como objetivo desenvolver, esclarecer e

modificar conceitos e idéias, com vistas a formulação de problemas mais precisos ou

hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores, ou seja, ela é aplicada a temas

genéricos, tendo uma abordagem a princípio assistemática, e que pode constituir

como primeira etapa para uma investigação mais ampla.

O primeiro passo foi fazer uma recapitulação do referencial teórico sobre o

tema que tem como foco a interpretação e sinalização em áreas naturais. Foram

consultados alguns autores, dentre eles, Morales, Goodey e Murta, a fim de obter

conhecimento específico sobre o tema.

A contextualização do objeto de estudo, ou seja, da APA Guapimirim, se deu

de duas formas: pesquisa documental e pesquisa de campo. Foram realizadas

visitas à cidade e a APA para confeccionar o diagnóstico da área.

A pesquisa documental foi feita por meio de levantamento de informações

referentes à cidade e a APA como um contato inicial para as pesquisas, com

objetivo de identificar a localização, fazer um levantamento cartográfico e obter

dados em homepages oficiais, como IBAMA, Ministério do Meio Ambiente (MMA), e

da Prefeitura de Guapimirim.

Para a pesquisa de campo foi utilizada a metodologia do inventário da oferta

turística do Ministério do Turismo. A utilização deste instrumento seguiu a

recomendação do Ministério do Turismo, a fim de padronizar os métodos de

pesquisa e obter dados a partir de uma metodologia oficial. Os formulários utilizados

tiveram o objetivo de inventariar a oferta turística da cidade, estruturando os dados

que serão utilizados no Plano interpretativo. Para esta pesquisa foram utilizados os

formulários de informações básicas do município, formulário de acesso ao município

e formulário de atrativos naturais.

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O formulário de informações básicas do município tem como objetivo mapear

as informações que caracterizam o município, como Lei orgânica, abastecimento de

água, coleta de lixo, municípios limítrofes, a existência de algum conselho de

turismo, dentre outros. Este formulário foi respondido por um funcionário da

secretaria de meio ambiente de Guapimirim a fim de obter informações referentes ao

município a partir de um órgão oficial. Ele também foi responsável por fornecer

dados referentes ao Plano diretor de turismo da cidade e a Lei de Emancipação do

Município de Guapimirim e por responder o segundo formulário, de meios de acesso

ao município.

O formulário de meios de acesso ao município tem o intuito de verificar quais

são os acessos ao município estudado, seja através de estradas, ferrovias e

aeroportos; das condições de conservação, sinalização indicativa e turística e se

está adaptada para a recepção de turistas.

O formulário de atrativos naturais caracteriza a unidade de conservação em

estudo, verificando acessibilidade, órgão gestor, sinalização, leis protetoras, tipos de

transporte, equipamentos de apoio e acolhida ao turista, fluxo de visitantes, dentre

outros. Este formulário foi respondido por uma funcionária administrativa do IBAMA

na APA.

Foi realizada uma entrevista com o representante dos pescadores da zona 8

(Z8), que têm assento no Conselho Consultivo da APA. Além disso, houve a

participação, como observadora, da reunião do Conselho Consultivo da APA,

realizado no dia 4 de Março de 2008. Estas visitas tiveram o objetivo de conhecer o

local, realizar um diagnóstico e obter dados com a finalidade de subsidiar as

propostas para o uso da interpretação do patrimônio na APA.

Para analisar a potencialidade da APA e o que pode ser um entrave para o

turismo foi utilizada a metodologia de Análise Macroambiental sugerida por Petrocchi

(2002, p.66) com análise interna e externa do atrativo. A análise interna é composta

dos pontos fortes e dos pontos fracos, ou seja, analisar as características internas

do lugar, o que há de interessante para o turismo e o que pode ser um empecilho

para o mesmo. A análise externa é formada por oportunidades e ameaças, ou seja,

os fatores que contribuem direta e indiretamente ao lugar, mas que não são

controlados por ele. Esta análise teve como objetivo caracterizar o que de melhor e

pior tem o local, além de avaliar seu entorno, a fim de verificar o que pode ajudar ou

atrapalhar o seu desenvolvimento.

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Por último, a participação como ouvinte na reunião do Conselho Consultivo da

APA, e a entrevista com um de seus membros, permitiram captar percepções sobre

o objeto em estudo e obter informações úteis para a construção do Plano

Interpretativo na APA.

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4.2. ANÁLISE SITUACIONAL

A Área de Proteção Ambiental Guapimirim, criada em 1984, tem sua sede a

12.8 km do centro de Magé, centro urbano mais próximo e tem como atribuições as

funções administrativas do IBAMA, da base dos guardas ambientais que fiscalizam a

APA, e onde se realizam as reuniões do Conselho consultivo da APA. Este é um

espaço que trabalha basicamente em função das necessidades organizacionais

desta unidade.

Durante uma das reuniões do Conselho Consultivo surgiu uma discussão de

como utilizar o turismo como forma alternativa de renda para as comunidades que

estão no entorno da APA e que vivem basicamente da pesca. O espaço da sede da

APA foi então aberto para que a ONG INNATUS iniciasse um trabalho de

conscientização da comunidade sobre esta nova atividade, bem como ministrar

cursos, entre os quais de viveirismo, condutor de ecoturismo e artesanato. A ONG

prevê também um projeto de interpretação na APA utilizando o projeto de

condutores e a criação de um Museu em homenagem à pesca.

A APA até o momento não possui infra-estrutura voltada para o turismo,

conseqüentemente, há necessidade de estrutura receptiva como centro de

visitantes, banheiros exclusivamente dos visitantes, área para alimentação, espaço

para venda de objetos que caracterizem o local, panfletos voltados para o turismo,

um espaço para a acolhida do visitante e descrição da área. Ainda assim, existe

uma visitação, não mensurada pela administração da APA, de escolas da região,

interessadas em oferecer aulas ao ar livre com o intuito de instigar o interesse sobre

preservação do meio-ambiente. Os alunos visitam a APA em forma de excursão,

tendo à frente uma professora e um funcionário da APA. A descrição do local, sua

importância e sua diversidade são explicadas tanto pelos professores como pelo

funcionário da APA que acompanha o grupo.

Na participação da reunião do conselho consultivo, como observadora, a

autora do presente trabalho pode conhecer quais são as necessidades da APA e

que tópicos são considerados importantes para os membros do conselho. Também

houve a oportunidade de conversar com alguns dos membros do conselho, que

representam uma das zonas de pesca incluídas dentro da APA.

Os tópicos abordados na reunião trataram da informatização do Sistema de

Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), da enumeração de projetos

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científicos realizados na APA Guapimirim e na Estação Ecológica da Guanabara, do

trabalho realizado pela ONG INNATUS, da criação da Cooperativa do Manguezal

Fluminense; a votação para indicação de um Conselheiro na reunião das unidades

de conservação do Mosaico Central Fluminense e a votação das prioridades para o

ano de 2008 da APA.

Foi informado que a APA está em um processo de adaptação, pois o IBAMA

deixou de ser responsável pelas áreas de proteção ambiental federais, que passarão

a ser de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (ICMBio). A APA deixou de ser responsabilidade do IBAMA, o que

pode acarretar uma mudança de diretriz na gestão das unidades de conservação.

Na reunião explanou-se sobre as licenças ambientais concedidas, trabalhos

científicos desenvolvidos na APA, ações que terão prioridade para o ano de 2008 e

a escolha de representantes para participar de reuniões. No entanto, a menção ao

turismo ocorreu somente quando foi comentado sobre o trabalho da ONG INNATUS.

A APA Guapimirim possui um projeto em parceria com a ONG INNATUS com

a finalidade de desenvolver o turismo na APA. Entre os projetos propostos pela ONG

estão o circuito de ecoturismo e desenvolvimento sustentável, a capacitação de

viveirismo, com mudas e arranjos de plantas, o curso de condutor de ecoturismo e o

estímulo à produção de artesanato.

É possível observar também como trabalho da ONG a criação da cooperativa

CONAGUAPI. Constituída por moradores que vivem nas comunidades ao redor da

APA tem como uma das atividades promover ações para angariar fundos para o

desenvolvimento de atividade que complemente a renda desses moradores. A

participação em feiras teria a finalidade de divulgar os produtos oriundos do

viveirismo e artesanato, tendo em vista o desenvolvimento local dos atores inseridos

na APA.

O último assunto a ser discutido na reunião foi à escolha das prioridades para

o ano de 2008, como descrito na figura abaixo:

Campos Prioritários Ações Manejo Prevenção do assoreamento Fiscalização Combate à poluição industrial Desenvolvimento e sustentabilidade Implantação do turismo sustentável Gestão Participativa Fortalecimento e articulação das

organizações comunitárias Figura 6: Campos prioritários para o exercício de 2008 na APA Guapimirim

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A observação realizada junto ao Conselho Consultivo da APA revelou que há

muitas divergências de opiniões em relação a alguns assuntos importantes para os

moradores locais, como a pesca. Pôde-se perceber que no início da implantação da

APA os pescadores incomodavam-se com a fiscalização da pesca realizada pelo

IBAMA, já que em unidades de conservação a pesca passou a ser controlada e a

caça proibida. Atualmente os pescadores concordam que se não houvesse ocorrido

este tipo de controle, os recursos pesqueiros poderiam ter sido mais comprometidos

ao longo dos anos. Mesmo com esta convergência de opinião, alguns atritos ainda

persistem entre os pescadores e os funcionários da APA, principalmente na época

de reprodução, no qual os pescadores cadastrados pelo Ministério do Trabalho

recebem um salário mínimo para não pescar, mas alguns infringem esta

determinação, tendo ocorrido detenções de pescadores.

Os pescadores argumentam que a diminuição da quantidade de peixes se

deve à atividade industrial presente às margens da Baía de Guanabara, ao despejo

de esgoto doméstico sem tratamento, à pressão antrópica causada pelo crescimento

populacional, ao aumento do desenvolvimento dos transportes, seja pelo movimento

de navios nos dois maiores portos da Baía de Guanabara, o Porto do Rio de Janeiro

e o Porto de Niterói, e pelas estradas com grande movimento de veículos pesados.

Os pescadores argumentam sofrer com a fiscalização do IBAMA - apesar de

algumas vezes terem infringido a lei de proibição à pesca na época de reprodução -

apontando os fatores externos e a pesca de arraste como causadores da paulatina

diminuição do volume de peixes na região. O turismo é visto como alternativa de

renda, mas há certa cautela, pois existe a preocupação de que o mesmo venha a

ser feito de forma desordenada, causando assim impactos ambientais. Para os

pescadores, se as atividades turísticas realizadas dentro da APA buscarem o menor

impacto, com embarcações não poluentes, tendo a comunidade como parceira nas

atividades, o turismo será aceito e bem-vindo como alternativa de renda.

A proposta de trazer para a comunidade novas opções de renda, como o

turismo, cursos de artesanato, bijuterias ou outro tipo de atividade é pertinente pois a

atividade econômica original em alguns casos não preenche as necessidades

financeiras daquelas pessoas. Os motivos são variados, como por exemplo, a

atividade estar em processo de obsolescência, alguma restrição legal ter sido

imposta, e no caso de práticas extrativistas, da natureza não conseguir se reproduzir

com a mesma rapidez que aquela prática exige. Logo, é gerada a necessidade de

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buscar outras formas de complemento da renda, com atividades informais ou por

meio de organizações que propõem cursos para dinamizar a economia daquele

lugar. No entanto, as atividades normalmente realizadas pela comunidade atuam

concomitantemente com as novas, sem que estas substituam aquelas. Assim, o

turismo, ao tentar ser implantado num local, não pode ter a pretensão de substituir a

as atividades existentes, devendo atuar como complemento, pois em muitos casos,

o valor turístico contido nos atrativos está atrelado à atividade econômica nele

exercida.

Durante as pesquisa em documentos oficiais, como o Plano Diretor da cidade

de Guapimirim e do Plano de Manejo da APA Guapimirim, observou-se que o

turismo é enfatizado em ambos os documentos, seja pela ligação de atrativos

através de um ônibus, como sugere o primeiro documento, seja por passeios de

barco nos rios da região, como sugere o segundo.

No entanto, as ações propostas tanto para a cidade, como para a APA, não

foram colocadas em prática, encontrando-se ainda como propostas. Uma das razões

para isso seria o fato de que o turismo foi utilizado como retórica para conseguir se

emancipar da cidade de Magé. A emancipação do Município de Guapimirim de

Magé seria possível, pois a nova cidade poderia gerar recursos próprios por meio de

atividades econômicas já existentes e de outras potencialmente bem sucedidas,

como o turismo.

O Plano de Manejo da APA de Guapimirim propõe o uso turístico da APA no

item que aborda as potenciais atividades de uso público e apresenta a “Pesca

esportiva, passeios de barco ao fundo da Baía de Guanabara e nos rios, observação

de aves, visitação aos monumentos históricos da região”. (PLANO DE MANEJO,

2001)

O Plano de Manejo cita o Decreto Federal N° 99.274/ 90, que em seu artigo 31

retrata que: ‘a entidade supervisora e fiscalizadora da APA deverá orientar os

proprietários, a fim de que os objetivos da legislação pertinente sejam atingidos. E

no parágrafo único estabelece que:

Os proprietários de terras abrangidas pelas Áreas de Proteção Ambiental poderão mencionar os nomes destas nas placas indicadoras de propriedade, na promoção de atividades turísticas, bem assim na indicação de produtos nela originados (BRASIL, 1990)

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Estes tópicos do Plano de Manejo deixam evidente que a atividade turística

está contemplada no plano, sendo sugeridas algumas ações que podem ser

realizadas, como a utilização de placas nos locais por onde pode ocorrer as visitas,

e de passeios de barco e da pesca esportiva, autorizados para serem feitos na APA.

O turismo está entre as atividades permitidas, de acordo com o artigo 15 do

Plano de Manejo: “1- Pesquisa científica e visitação pública” (art. 15 §§3° e 4º, e 32

da Lei 9.985/00). Ainda no mesmo documento, é reiterada a idéia disposta no artigo

31 da lei 99.274/90: “5- Mencionar o nome da APA nas placas das propriedades,

atividades turísticas e seus produtos”. Estes artigos mostram que a atividade

turística é permitida, seguindo as normas nela contidas.

São atividades facultadas na APA, os Corredores ecológicos e as zonas de

amortecimento, o que significa que pode haver a manutenção de populações no

entorno da área, assim como podem existir as atividades humanas. Contudo, é

preciso prévia autorização, como descrito no artigo 33 do SNUC, que é citado no

Plano de Manejo:

A exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir de recursos naturais biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem da unidade de conservação, exceto APA, dependerá de prévia autorização e sujeitará pagamento. Para que seja feita qualquer atividade dentro da área, é preciso autorização prévia. (BRASIL, 2000)

Os documentos citados mostram que o turismo pode ser implantado, pois há

o respaldo legal. Porém, a cidade de Guapimirim e os municípios vizinhos não

possuem grandes estruturas voltadas para o turismo, o que de certa forma, dificulta

a acolhida do turista ao local e sua permanência por mais de um dia. Dessa forma, a

opção seria a visitação de um dia, com o passeio de barco pela APA, uma vez que

nem a APA, nem os municípios ao redor oferecem equipamentos e serviços

turísticos, impossibilitando a estada do turista por um tempo superior.

Devido ao solo ser de origem pantanosa, apresentando pouca firmeza, o

recomendado é utilizar a interpretação ao vivo, por meio dos condutores de barcos,

em pequenas embarcações, a fim de fazer o menor barulho possível. Dessa forma,

irá se trabalhar a paisagem de acordo com o olhar do pescador-guia, que com seu

conhecimento sobre a área pode buscar as peculiaridades e as curiosidades da

paisagem, e explicar a importância do meio-ambiente e do manguezal para a vida

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marinha. O cuidado a ser tomado é de que o turismo deve vir como alternativa de

renda para a população local, e não como substituição, atuando nos momentos de

proibição da pesca, ou como complemento da renda daquelas famílias durante o

ano.

A partir das informações obtidas pelo inventário da oferta turística, o primeiro

formulário de Informações Básicas do Município, pode-se constatar que a maioria da

população do município reside em área urbana, e que o núcleo mais próximo da

APA Guapimirim é o distrito de Vale das Pedrinhas. Os municípios limítrofes à

cidade, Teresópolis, Cachoeiras de Macacu, Itaboraí, Magé e Petrópolis contribuem

para uma ambiência devido à existência de unidades de conservação também

nestas cidades.

Quanto ao acesso ao atrativo, presente no segundo formulário, o formulário

de Meios de Acesso ao Município, verificou-se que a estrada que dá acesso direto a

APA, a BR 493, está pavimentada, porém possui pouca sinalização turística e

condições regulares de conservação, pois o asfalto não apresenta boa qualidade, o

acostamento não é contínuo e a sinalização de trânsito precisa de reparos. As

outras duas estradas que dão acesso à BR 493, que são a BR101 e a BR 116,

apresentam boas condições, sendo bem sinalizadas, com boa pavimentação, mas

com reduzida sinalização turística.

No entanto, a sede da APA está mais próxima da cidade de Magé, como

mostra o formulário de Atrativos Naturais, estando a apenas oito quilômetros.

Situada na altura do km 12,8 da BR 493, a sede da APA constitui um posto de

trabalho do IBAMA. Não existe infra-estrutura voltada para o turismo, como um

centro de visitantes, ou sinalização. A população de Guapimirim está concentrada

em uma estreita faixa de terra, não muito próxima da APA. Na estrada se encontra

apenas uma placa sinalizando a sede da APA, como apresentado na figura 7.

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Figura 7: Placa em frente à sede da APA Guapimirim Foto: autoria própria, 2008

A APA é composta por vários rios, dentre eles os rios Suruí, Irirí, Magé e

Guapimirim. O solo é do tipo pantanoso, o que seria um fator limitante para a

implantação de trilhas terrestres, já que existe a possibilidade de os visitantes de

acidentarem ao afundar em alguma parte pouco firme do solo. A vegetação é

constituída basicamente por três tipos de mangue: o mangue vermelho, o mangue

branco e o mangue preto. Os tipos de mangue ocorrem de acordo com a quantidade

de água presente, assim, o mangue vermelho ocorre nas faixas mais próximas a

água, o mangue preto ocorre na faixa intermediária, e o mangue branco ocorre em

solos arenosos, com alguma distância da água. Os tipos de mangue constituem um

dos principais temas a serem adotados, devido à singularidade deste tipo de

vegetação no estado. A figura 8 mostra o mangue às margens do rio.

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Figura 8 : foto da vegetação de mangue próximo ao rio Fonte : APA Guapimirim, IBAMA Finalizado os dados com o inventário, a próxima fase utilizou a análise

macroambiental, sugerida por Petrocchi (2001). Nessa analise foi possível identificar

que a APA possui alguns pontos fortes considerados relevantes para o turismo.

Entre eles pode-se citar a singularidade da vegetação de mangue no Estado do Rio

de Janeiro, pois somente na área da APA Guapimirim existe ainda este tipo de

vegetação circundando a Baía de Guanabara. Cita-se ainda a presença da Estação

Ecológica da Guanabara, dentro da APA Guapimirim. Como a Estação ecológica é

definida por lei como unidade de proteção integral (BRASIL, n°9.985, 18/06/2000),

esta área não será utilizada para visitação turística, mas certamente é um fator

contribuinte para a preservação do meio-ambiente local, preservando a ambiência

do entorno. Por último a existência de um Conselho consultivo, demonstra que a

APA dispõe de uma organização que envolve os representantes das entidades que

nela atuam, ou seja, que a APA recebe opiniões de quem vive dos seus recursos e

de quem tem o interesse de preservá-la.

Em contra partida, os pontos fracos, aqueles que não são favoráveis ao local

são: o pouco efetivo do Batalhão Florestal, que é insuficiente para fiscalizar a área

da APA Guapimirim, a pesca e caça predatória, a poluição dos manguezais e o

despejo do esgoto in natura proveniente da cidade. Além disso, a existência de

fazendas de gado e de comunidades dentro da APA também preocupa. Como a

APA é classificada como área de uso sustentável, não há a obrigação de

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desapropriação das propriedades existentes. Segundo o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (2000, p.2), a APA, por se tratar de área de uso

sustentável permite a permanência de propriedade privada existente antes da

criação da mesma, ou seja, neste caso não há desapropriações, fazendo com que a

APA sofra uma pressão anátropa.

As oportunidades, os fatores externos e não controlados pelo local em estudo,

mas que contribuem de forma direta para o desenvolvimento do local e indireta para

o desenvolvimento do entorno, são: a proximidade da cidade do Rio de Janeiro, a

uma distância de aproximadamente 40 minutos, principal portão de entrada de

turistas estrangeiros do país, torna viável a captação de turistas para a APA de

Guapimirim e a existência de unidades de conservação próximas, o que garante

uma continuidade da área verde.

As ameaças, os fatores externos que podem ser desfavoráveis ao turismo e

que exercem influência na APA são: a implantação da refinaria de petróleo na

cidade vizinha de Itaboraí e o escoamento de produtos pela Baía de Guanabara. No

ano 2000, aconteceu um derramamento de óleo oriundo de uma refinaria de petróleo

no Município de Duque de Caxias, que contaminou a Baía de Guanabara, atingindo,

dentre outros a APA Guapimirim. Em 2005, houve outro derramamento de óleo,

desta vez de um trem da Ferrovia Centro Atlântica, cuja maior acionista é a

companhia Vale do Rio Doce, linha férrea que corta a APA Guapimirim. Outra

ameaça está na representada pela pesca. Foi proibida a pesca pelo Ministério do

Meio Ambiente, pela portaria n°115, de 28 de Abril de 2005, devido aos resíduos

tóxicos encontrados na água. À época, as empresas responsáveis realizaram as

ações de limpeza dos resíduos e o pagamento de multas pelos danos causados. A

empresa Vale do Rio Doce inclusive informou que faria investimentos na APA

Guapimirim para fins turísticos, mas até o momento não houve ação nesse sentido.

A degradação ambiental causada por acidentes com produtos químicos e a

presença de pressão antrópica por parte das fazendas de gado e da população dos

bairros que margeiam a APA pode ser atenuada com o estímulo a colaboração entre

as partes no sentido de divulgar o conhecimento sobre a importância da preservação

do ecossistema dos manguezais e das ações para alcançá-las.

O intuito da interpretação é fazer as visitas de forma a minimizar qualquer

alteração que possa ser gerada pelos visitantes, uma vez que o impacto ambiental é

o efeito causado por qualquer alteração benéfica ou adversa gerado pelas atividades

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humanas ou naturais no meio ambiente. Portanto o objetivo é diminuir os impactos

ambientais gerados pelos visitantes.

4.3. PROPOSTAS PARA INTERPRETAÇÃO

As propostas de interpretação sugeridas para a APA Guapimirim foram

embasadas na metodologia apresentada no Manual de Ecoturismo de Base

Comunitária (VASCONCELOS, 2003).

A primeira proposta é a identificação das questões a serem tratadas no local

visitado, pois a visitação da APA Guapimirim tem sua importância considerando um

dos motivos de sua criação, que é a preservação do manguezal. O ciclo de vida de

muitas espécies aquáticas depende do mangue para se reproduzir, logo a

conservação desta área constitui-se como vital para a manutenção destas espécies.

Esta área é a que ainda preserva a vegetação de pântano ao redor da Baía de

Guanabara, o que demonstra um diferencial em relação a outras unidades de

conservação do Estado.

A escolha dos temas é de grande importância para a obtenção de alguns dos

objetivos, pois é através do efeito gerado pelos temas abordados que o visitante se

sentirá sensibilizado, e irá refletir sobre hábitos e comportamentos. Os temas devem

refletir as características do local e a importância de determinados aspectos para a

preservação do meio ambiente.

A caracterização da APA sinaliza para a discussão de temas que são

importantes: a vegetação de mangue, com seus três tipos, valorizando a

singularidade da mesma no estado; a preservação dos rios que compõem

importante parte do ciclo de vida das espécies marinhas, constituindo um berçário

para as mesmas; a preservação do meio ambiente como despertar para uma

mudança de hábitos na vida cotidiana do visitante. Dentre os temas possíveis na

APA Guapimirim estão:

1. A importância do manguezal para a preservação da vida marinha;

2. A singularidade da vegetação de manguezal no Estado do Rio de Janeiro;

3. As ações do cotidiano que influenciam negativa e positivamente o meio

ambiente.

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Esses temas foram escolhidos porque caracterizam a APA, denotam sua

singularidade na paisagem do Estado, indicam uma reflexão sobre a preservação,

na APA e no cotidiano.

A importância da preservação do manguezal está no fato de que ele funciona

como um filtro, retendo matéria erodida e outros materiais, evitando que estes

resíduos sejam escoados para o mar. Além disso, o mangue é o habitat de várias

espécies de animais, seja para se reproduzirem, se alimentarem ou para se

desenvolver. Por isso os visitantes devem ser conscientizados sobre como funciona

o mangue e sua importância para o meio ambiente.

O ecossistema de manguezal cobria o entorno da Baía de Guanabara antes

da ocupação da população nas suas margens. O crescimento urbano gerou o

desmatamento dos manguezais em grande parte do entorno da Baía. A criação da

APA se deu exatamente para a preservação desse ecossistema, logo, o manguezal

nas margens da Baía é encontrado praticamente na região da APA Guapimirim.

Além da interpretação do mangue propõe-se ainda, que a observação das

espécies da flora e da fauna existentes no local, e da existência de sambaquis em

seu interior sejam trabalhadas com público com a finalidade despertar o respeito e

admiração pela biodiversidade local.

Uma outra proposta é a realização de visitas com o uso de embarcações de

pequeno porte, com a presença de um condutor, que será o intérprete entre os

visitantes e o conteúdo e paisagem a serem interpretados durante o trajeto. Sugere-

se que a embarcação faça algumas paradas em lugares considerados relevantes

para a interpretação do ambiente. Para atrair a atenção dos visitantes acerca do

conteúdo interpretativo, será explicada a importância do manguezal para a vida

marinha, a diversidade das espécies da fauna e da flora ali presentes e da

preservação dos bens naturais com o intuito de manter o equilíbrio ambiental na

região.

Um tema relevante para a interpretação da APA Guapimirim diz respeito aos

problemas decorrentes da poluição da Baía da Guanabara que têm reflexos no

ecossistema da APA, pois será uma forma de alertar os visitantes sobre a presença

de indústrias ao redor da Baía de Guanabara e que lançam resíduos não tratados

em suas águas, assim como o lançamento de esgoto in natura nos rios da região por

falta de coleta e tratamento de resíduos.

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Para a solução de tais problemas propõe-se que se faça uso do planejamento

urbano das cidades no entorno da APA levando saneamento básico para estas

construções. E, também, uma parceria entre poder público e setor privado para o

tratamento dos resíduos despejados na Baía. Dessa forma, a poluição poderá ser

minimizada nos rios da região.

Durante a visita recomenda-se o silêncio, a fim de que não afaste os peixes e

de que os temas a que a interpretação se destina consigam ser entendidos por

todos no barco, a utilização de passeios de barco para que o solo não seja

impactado, a distribuição de sacolas para colocar o lixo e ao fim ser depositado em

um coletor, a orientação e sensibilização a respeito da retirada de mudas da

unidade.

Para elaboração de um plano interpretativo é necessário ainda, que se faça

um estudo acerca do público-alvo com a finalidade de selecionar temas, meios e

técnicas de interpretação e linguagem adequada para cada público.

A partir do formulário de atrativos naturais foi possível identificar que há uma

certa dificuldade de acesso ao local por meio de transporte coletivo. Há somente três

linhas de ônibus regulares que transitam pela BR493, que dá acesso a APA. São

elas a Magé – Alcântara, a Magé – Niterói e a Teresópolis – Niterói. Devido a esta

dificuldade de acesso por transporte coletivo, e também ao fato de que a estrada

que dá acesso à unidade possuir apenas sinalização indicativa de trânsito, e não

apresentar sinalização turística, a proposta de público alvo, em um primeiro

momento, seria os moradores do entorno da APA. Assim, propõe-se que o sistema

de transporte seja planejado e viabilize a visitação na APA.

A integração entre a população e a APA tem um fim preservacionista, e está

baseada no fomento a um sentimento de pertencimento das pessoas com a

unidade, ou seja, que as populações que cercam a APA, possam ser integradas ao

processo de implantação da atividade turística. Esta integração dar-se-á na

participação do planejamento e implantação do turismo na APA, sendo a

comunidade convidada dar sugestões sobre como desenvolver a interpretação,

revelar hábitos e costumes da região que possam ser utilizados para exemplificar

algumas etapas da interpretação, assim como capacitá-los para trabalhar como

condutores de barcos e para receber o turista no centro de visitantes. Incentivar a

população para participar da atividade turística a partir da interação dos mesmos

com o público, conferindo um processo de inclusão e aumentando o sentimento de

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pertencimento da comunidade com este bem natural. Conscientizar sobre a

irregularidade da pesca na época da reprodução das espécies aquáticas e da

degradação ao meio ambiente, à medida que influencia no ciclo de vida e renovação

das espécies.

Esta integração também pode dar continuidade a uma demanda já existente:

a do turismo educacional. Entende-se por turismo educacional as viagens de estudo

do meio, como ferramenta de auxílio ao estudo da percepção da realidade por parte

dos alunos (CUNHA, et al). Com o incentivo da visitação das escolas à APA, a

propagação das idéias difundidas pela interpretação nas famílias dos alunos, tende

a se transformar em estímulo para que mais pessoas visitem a unidade.

A diversificação do público-alvo pode acontecer em médio prazo, buscando

junto às agências que trabalham com turismo receptivo e ecoturismo, turistas que

procurem por atrativos naturais ou que estejam à procura de locais de visitação

diferentes no Estado do Rio de Janeiro.

Em longo prazo pode-se cogitar a inserção de turistas estrangeiros que

visitam a cidade do Rio de Janeiro. O grande chamariz é a proximidade, pois a

apenas uma hora de distância, encontra-se um ecossistema singular no Estado, que

por suas peculiaridades, poderia atrair parte dos turistas estrangeiros que visitam a

capital.

Os principais impactos causados pelos visitantes no atrativo seriam a poluição

sonora, o lixo gerado com produtos alimentícios e algum impacto causado pelas

caminhadas dos visitantes. Tais impactos podem ser minimizados com a adoção de

técnicas e meios interpretativos adequados ao lugar sem que este sofra com a

visitação.

As etapas abordadas anteriormente, as questões a serem tratadas na APA, o

público alvo, os temas escolhidos alcançam o público se houver uma boa estratégia

para que as etapas sejam implantadas com eficácia. Para tanto, a seleção dos

meios, métodos e técnicas ocorre em consonância com as etapas anteriores.

Para implantação da estratégia de interpretação na APA Guapimirim sugere-

se os meios personalizados, ou seja, aqueles destinados a um público específico. A

escolha desses meios se deve as características do terreno, que dificultam a

implantação de trilhas terrestres. Também almeja-se a menor poluição sonora

durante as visitas, para não afastar os peixes.

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Nos meios personalizados foram escolhidos as trilhas guiadas, a animação

ativa e os recursos audiovisuais, pois o Plano de Manejo da APA permite os

passeios a barco, o que seria feito com condutores e a criação de uma área na sede

da APA para o atendimento ao visitante, onde poderia existir um espaço reservado à

utilização da animação ativa e dos recursos audiovisuais. Portanto, para promover a

familiarização do visitante com o tipo de ambiente que ele irá visitar no passeio de

barco com os condutores, a utilização dos recursos audiovisuais será feita e para os

estudantes, acrescentar-se-á a animação ativa.

A organização das visitas a APA Guapimirim terá como primeiro meio

interpretativo um centro de visitantes, que além de contar com banheiros e local para

alimentação, terá uma exposição sobre a fauna e a flora da região, projeções sobre

as paisagens, a importância da preservação e um espaço para a realização de

representações teatrais e jogos, que façam o público interagir com este tipo de

interpretação. Após a ida ao centro de visitantes a interpretação continua com a

presença de um guia.

As trilhas guiadas serão passeios de barco ao longo dos rios da região, com

alguns moradores previamente instruídos para atuar como condutores, exercendo a

interpretação para pequenos grupos dentro do barco. Desta forma, os condutores

irão se expressar sem o uso de microfones, diminuindo a incidência de barulho. A

importância dos condutores serem moradores está no fato de que a comunidade

está incluída na atividade turística e ao mesmo tempo tem a oportunidade de

desenvolver o sentimento de pertencimento com o local.

Após a escolha dos meios interpretativos, a próxima etapa é organizar um

cronograma de atividades para o desenvolvimento do programa interpretativo. A

primeira atividade proposta é a criação de cursos voltados para capacitar a

comunidade, neste caso, relacionados ao turismo, como cursos de condutores de

barcos, curso para operar os recursos audiovisuais, e para a plantação de mudas

que serão vendidas como lembranças.

O segundo passo é a construção do centro de visitantes, a abertura de

licitação para a compra dos barcos que serão utilizados nos passeios, e dos

equipamentos que realizarão as atividades audiovisuais.

Os prazos para a execução do plano interpretativo serão divididos para cada

setor. A preparação do espaço e captação dos profissionais será em um prazo de

seis meses. Serão convidadas agências de turismo receptivo para conhecer o local,

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assim como agências que tenham foco em turistas motivados a fazer ecoturismo,

além de jornais e revistas especializados em turismo. Cursos e palestras com a

comunidade terão duração de um ano. A implantação do Plano interpretativo terá

previsão de um ano para aprovação e liberação de orçamento. As obras

demandarão seis meses de construção.

Cronograma Prazo Preparação do espaço Seis meses Captação de profissionais Seis meses Cursos e palestras para a comunidade Um ano Aprovação e liberação de orçamento Um ano

Figura 9: Cronograma de ações para a execução do Plano Interpretativo

Após a conclusão das obras de implantação dos meios interpretativos e dos

cursos ministrados à comunidade, a APA Guapimirim encontrar-se-á pronta para o

início dos trabalhos com o público. Nesta fase, os moradores que participaram dos

cursos serão chamados a atuar efetivamente na interpretação. Também serão

convidados os representantes do Conselho Consultivo da APA para contribuir no

andamento da interpretação na área, fiscalizando os grupos sobre seus

comportamentos e regulando as atividades dentro da APA.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Área de Proteção Ambiental Guapimirim pode abrigar as atividades de

interpretação, a fim de adquirir um novo uso e de oferecer uma alternativa de renda

à comunidade que vive em seu entorno. A interpretação utilizando os meios

personalizados se adapta aos locais de interesse turístico na APA e soluciona como

a visitação pode ser feita, uma vez que algumas das características da APA, como o

tipo de solo, são fatores limitantes para implantação de meios não personalizados. O

tipo de público que se deseja atrair, em um primeiro momento seria a população do

entorno, com o objetivo de integrá-la no processo de desenvolvimento e execução

da atividade turística. Gradualmente, outros perfis de visitante seriam agregados,

diversificando a demanda e buscando uma maior divulgação do atrativo. A narração

dos temas relaciona-se com alguns tipos de turismo, como o ecoturismo e o turismo

educacional, visando explanar os recursos naturais existentes, sua importância para

o equilíbrio ecológico e estimular a preservação não apenas da unidade de

conservação, mas do meio ambiente em geral.

A proteção dos recursos naturais tem sido um tema cada vez mais debatido, e

a utilização da interpretação para orientar a visitação das unidades de conservação

vem corroborar a idéia da preservação dos bens naturais, assim como diminuir o

impacto gerado pelos visitantes.

A inserção da comunidade no processo de construção e prática do plano

interpretativo tem como objetivo a tradução do conhecimento dos moradores do

entorno da APA nos temas abordados durante a visita e da harmonia entre a

atividade turística e os habitantes, oferecendo uma alternativa de renda a existente.

No entanto, sua implantação será bem sucedida se observar, dentre outros

assuntos, que o turismo deve vir como segunda atividade econômica aos moradores

e respeitar os limites a que a própria configuração da APA demonstra, ou seja,

utilizar os meios e técnicas interpretativos que causem o menor impacto desejado.

Dessa forma, os objetivos primeiramente firmados, o da melhor utilização dos bens

naturais da APA, podem ser alcançados.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL, Portaria nº 115, 28 de Abril de 2005. Disponível em: www.ibama.gov.br/cepsul/legislacao.php?id_arq=339 Acesso em 19 de Junho de 2008 CLIMA e vegetação. Disponível em: http://www.protetoresdavida.org.br/guapimirim/clima.htm Acesso em: 07de outubro de 2007. CONCEITO de patrimônio material e imaterial. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=12297&retorno=paginaIphan Acesso em: 31 de maio de 2008. CUNHA, Maria Carolina da Silva et al. Turismo educacional: que viagem essa? Revista Eletrônica de Turismo. Disponível em: http://www.unibero.edu.br/download/revistaeletronica/Set03_Artigos/Turismo%20Educacional.pdf Acesso em: 31 de maio de 2008. DA SILVA, Luiz Fernando Saraiva, Programa de municipalização do turismo: sustentabilidade e descentralização das políticas de turismo do recém criado município de Guapimirim. Niterói. UFF, 2006 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, Lei de criação do município, Lei nº 1772, 21 de Dezembro de 1990. PREFEITURA MUNICIPAL DE GUAPIMIRIM, Plano diretor, Lei complementar nº 001, 29 de Dezembro de 2003. Guapimirim. Voz da Serra. 28 de Junho de 2004. IBAMA, Plano de manejo. 2001 381p. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/siucweb/listaUcCategoria.php?abrev=APA Acesso em: 21 de maio de 2008.

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PATRIMONIO NATURAL. Disponível em: http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=21 Acesso: 07 de Junho de 2007 PETROCCHI, Mario. Gestão de Pólos Turísticos. São Paulo, Roca. 2001. 453p. VALE DO RIO DOCE PROMETE RECUPERAR APA GUAPIMIRIM/RJ Disponível em: http://www.ecoviagem.com.br/fique-por-dentro/noticias/ambiente/vale-do-rio-doce-promete-recuperar-apa-de-guapimirim-rj-5484.asp Acesso em: 07/06/08 VASCONCELOS, Jane Maria de Oliveira. Interpretação ambiental. IN: (Org.) Sylvia Mitraud Manual de ecoturismo de base comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. Brasília. WWF Brasil. 2003. Cap.7 p. 61-284.

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APÊNDICE

Segue exemplos de como os temas podem ser trabalhados na APA:

A vegetação de pântano é vista em poucos lugares. Alguém sabe de algum

lugar pantanoso? Onde nós estamos agora é um lugar assim, vocês sabiam? E este

é o único lugar no estado do Rio que ainda é assim. E é aqui que os peixes têm

seus filhotes. Por isso este lugar é tão importante, porque se aqui não fosse

protegido, haveria poucos peixes na água.

Vocês sabiam que o mangue tem cores diferentes? Existe o mangue branco,

o mangue vermelho e o mangue preto. Alguém sabe o porquê de eles terem cores

diferentes? E assim a explicação sobre os tipos de mangue é desenvolvida.

Nós que moramos por aqui temos que cuidar bem das matas, para ver ainda

esta bela paisagem. Não é bonito ver tanto verde pela janela? Por isso, temos que

cuidar para manter este lugar tão bonito assim.

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ANEXOS

Os anexos a seguir fazem parte do Inventário da Oferta Turística, metodologia

sugerida pelo Ministério do Turismo como forma de padronizar os dados referentes

ao turismo no país.

Os formulários utilizados foram: Informações Básicas do município, Acesso ao

município e Atrativos Naturais.