carf - reorganização societária

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  • 7/24/2019 CARF - Reorganizao Societria

    1/25

    t

    7; -

    Fls 1

    MINISTRIO DA FAZENDA

    PR IMEIR O C ON SELHO D E C ON TR IBU IN TES

    OITAVA CMARA

    ..

    Processo n

    1080.009670/2004-05

    Recurso n

    49.40 3 Voluntrio

    Matria

    RPJ E OUTRO - Ex: 2000

    Acrdo n

    08-09.507

    Sesso

    5 de dezembro de 2007

    Recorrente

    W ADMINISTRAO E PARTICIPAES LTDA.

    Recorrida

    TURMA/DRJ-PORTO AL EGRE/RS

    Assunto: IRPJ e CSL L

    Exerccio. 199 9

    REORGANIZAO SOCIETRIA -

    VERDADEIRA ALIEN O DE PARTICIPAO

    COM GANHO DE CAPITAL Se os atos

    formalmente praticados analisados pelo seu todo

    dem onstram no terem as partes outro objetivo que

    no se livrar de uma tributao especfica, e seus

    substratos esto alheios s finalidades dos institutos

    utilizados ou no correspondem a uma verdadeira

    vivncia dos riscos envolvidos no negcio escolhido,

    tais atos no so oponveis ao fisco, devendo m erecer

    o tratamento tributrio que o verdadeiro ato

    dissim ulado produz.

    SUJEI O PASSIVA. ERRO. INEX ISTNCIA

    Se verificada a gravidade, preciso e concordncia

    nas concluses da autoridade fiscal sobre a ex istncia

    de atos dissimulados, todos devem ser

    desconsiderados para efeito de constituio do fato

    jurdico, elegendo-se por sujeito passivo o real

    contribuinte/responsvel.

    DECADN CIA. PENALIDADE Q UALIFICADA -

    Configurado o evidente intuito de fraude com o

    emprego de simulao, mediante procedimentos de

    efmera reorganizao societria, que ali

    -

    1m resultou

    to som ente em alienao de participao societria

    sem a apurao e pagamento dos tributos devidos

    sobre o ganho de capital, mantm-se a multa

    qualificada de 15 0 , com repercusso na contagem

    o prazo decadencial que se desborda a regra do art.

    1

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    9

    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo n. 108 09.507

    Fls. 2

    150, 4 , para regra do art. 173, do Cdigo Tributrio

    Nacional .

    Recurso Vo luntrio Negado.

    Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto por BW

    ADMINISTRAO E PARTICIPAES LTDA.

    ACORDAM os Membros da OITAVA CMARA do PRIMEIRO CONSELHO

    DE CONTRIBUINTES, por unanimidade de votos, REJEITAR a preliminar de ilegalidade de

    provas. Por maioria de votos, REJEITAR a preliminar de erro de sujeio passiva, vencidos os

    Conselheiros Margil Mouro Gil Nunes e Orlando Jos Gonalves Bueno e, no mrito, por

    maioria de votos, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do relatrio e voto que passam a

    integrar o presente julgado. Vencidos os Conselheiros Karem Jureidini Dias (Relatora), Margil

    Mouro Gil Nunes e Orlando Jos Gonalves Bueno que desqualificavam a penalidade e, por

    conseguinte, acolhiam a decadncia. Designada a Conselheira Mariam Seif para redigir o voto

    vencedor .

    MRIO SRGIO FERNANDES BARROSO

    Presidente

    P

    CA N

    DRI CODn

    Redator Designado A d Hoc

    s i s .

    vl . 4_..N

    FORMALIZADO EM:

    f 7 O U 2

    Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros: JOS CARLOS TEIXEIRA DA

    FONSECA e CNDIDO RODRIGUES NEUBER. Ausente, justificadamente, o Co selheiro

    NELSON LOSS FILHO.

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    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo C 108 09 .507

    ls. 3

    Relatrio

    Cuida-se de Auto de Infrao lavrado em 01/06/2005, e notificado em

    07/06/2005, para formalizar lanamento de oficio de Imposto de Renda da Pessoa Jurdica -

    IRPJ e de Contribuio Social sobre o Lucro Lquido C SLL (fls. 221/231)), ambos relativos a

    operao de alienao de participao societria realizada com ganho de capital, no ano-base

    1999.

    O valor total lanado foi de R 6.763.116,92 (seis milhes, setecentos e sessenta

    e trs mil, cento e dezesseis reais e noventa e dois centavos), sendo R 1.978.618,81 (hum

    milho, novecentos e setenta e oito mil, seiscentos e dezoito reais e oitenta e um centavos)

    referente ao principal, R 1.816.569,91 (hum milho, oitocentos e dezesseis mil, quinhentos e

    sessenta e nove reais e noventa e um centavos) relativos a juros de mora (calculados at

    31/05/05), e R 2.967.928,20 (dois milhes, novecentos e sessenta e sete mil, novecentos e

    vinte e oito reais e vinte centavos) de multa, imputada no montante de 150%.

    De acordo com o Relatrio de Atividade Fiscal (fls.232/286), atravs de uma

    srie de operaes societrias ocorreu a transferncia do controle societrio das empresas

    Elevadores &Ir S/A Indstria e Comrcio (ELEVADORES SR) e Astel Manuteno e

    Assistncia Tcnica de Elevadores Ltda. (ASTEL), para o Grupo Thyssenlcrupp.

    Antes de passarmos descrio das operaes e para um melhor entendimento

    da questo que se enfrente, faz-se necessrio identificar quais eram os acionistas/quotistas de

    cada uma das empresas cuja alienao teria gerado o ganho de capital ora sob anlise. So eles:

    Acionistas/Quotistas

    LEVADORES SR ASTEL

    Ewen Ltd.

    0,3677

    Epart Administrao e Participaes Ltda.

    1,8696

    Ewen Administrao e Participaes Ltda.

    ,3923

    Adroaldo Carlos Aumonde

    ,3500%

    Paulo Ronei Reali

    ,2430

    BW Administrao e Participaes Ltda.

    ,0512 00

    Alceu Paz de Albuquerque

    ,0136

    Aldo da Silva Leal

    ,7194%

    Jos Carlos Bisognin Panzenhagen

    ,4264

    Relantino Fioravante Aumonde ,3911

    il 1 d

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    Processo n.11080.009670/2004-05

    Acrdo rt.

    108-09.507

    ls, 4

    oAugustoWber

    ,0695

    Olimro Sergio Scheidt

    ,0301

    Fabio Luis Zanon

    ,0284

    Paulo Nascimento Rocha

    ,0251

    Siegried Alexandre Ellwanger

    ,0121

    Luiz Ribeiro dos Santos

    ,0074

    Sebastio Lopes Machado

    ,0032

    Apresentadas as participaes societrias nas empresas que foram objeto das

    operaes analisadas, passemos descrio dos fatos, nos termos verificados pela fiscalizao

    (Relatrio de Atividade Fiscal).

    - Em 04/08/99 os ALIENANTES (pessoas fisicas ou jurdicas que detinham participao

    societria na ELEVADORES SCIR e/ou na ASTEL) ingressaram no quadro societrio da 5246

    PARTICIPAES, que segundo observaes da autoridade fiscal seda uma empresa de

    fachada , utilizada pelos ALIENANTES para concretizar seus objetivos de venda de suas

    respectivas participaes societrias. Ainda, segundo a fiscalizao, a subscrio do aumento

    do capital da empresa (no valor de R 700,00, com reserva de capital de R 1.400,00, mediante

    a emisso de 7.000.000 aes) se deu de tal forma que foi mantida, aproximadamente, a mesma

    participao que os acionistas detinham em ELEVADORES SUR. A empresa totalizava

    17.000.000 aes

    ALIENANTES

    246

    (PF e PJ)

    ARTICIPAES

    Subscrio

    de capital

    - Ato contnuo, os antigos diretores da 5246 PARTICIPAES (Eduardo Duarte e Maria

    Lcia Coelho dos Santos) no s renunciam aos cargos de diretores, como tambm alienam as

    10.000.000 aes que possuam da 5246 PARTICIPAES, para a prpria empresa, que

    passou a ter, portanto, 10 mil aes em tesouraria. A alienao das aes se deu pelo valor de

    R 1.400,00.

    5246 PARTICIPAES

    17.000.000 aes --- 10.000.000

    aes em tesouraria + 7.000.000

    aes de ALIENANTES

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    ls.

    m 15/08/99 os ALIENANTES subscrevem um aumento de capital na 5246

    PARTICIPAES, no valor de R 36.653.340,00, o qual foi integralizado atravs da

    conferncia de aes que os ALIENANTES possuam na ELE VAD ORES S R E N A A STEL

    5246

    ALIENANTES

    ARTICIPAES

    Aumento de capital - R

    36.653.340,00 Aes

    ELEVADORES SR e ASTEL

    - Em 27/08/99 a Thyssen Industries S/A (THYSSEN INDUSTRIES), juntamente com a

    Thyssen Eletec Ltda. , const i turam no Brasi l a empresa Thyssen Krupp Part icipaes Ltda.

    (THYSSEN ICRU PP PARTICIPA ES), com capital social subscri to no valor de R 100 ,00 a

    ser integralizado no prazo de 0 1 ano.

    THYSSEN

    HYSSEN ELETEC

    INDUSTRIES

    TDA

    I

    THYSSEN KRUPP j

    ARTICIPAES

    (Capital R 100 ,00)

    - Em 05/0 9/99 Eduardo Duar te e Simone Brk Silva , a t en to detentores de 100 % das aes

    de emisso da 5256 PARTICIPAES (outra empresa que, segundo a fiscalizao, foi

    consti tuda somente p ara concretizar a reorganizao societria sob anlise) , renunciam aos

    cargos de diretores da empresa e transferem suas aes para Adroaldo Carlos Aumonde

    (ADROALDO AUMONDE), principal acionista das empresas ELEVADORES SR e

    ASTEL, exercendo o controle sobre elas atravs de outras pessoas jurdicas (Epart

    Administrao e Participaes Ltda,; BW Administrao e Participaes Ltda.; Ewen

    ir

    Adm inistrao e Participaes Ltda. e Ew en Ltd.(esta com sede no ext

    r .

    (IP T

    i I

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    ls. 6

    5256

    ADROALDO

    ARTICIPAES

    AUMONDE

    1 0 0 % d o

    capital social

    - Em 08/09/99 os ALIENANTES PESSOAS FSICAS e o ALIENANTE EWEN LTD.

    Transferem as aes que possuam em 5246 PARTICIPAES, para a 5256

    PARTICIPAES, integralizando capital nesta ltima no valor de R 25.032.000,09.

    ALIENANTES PESSOAS

    256

    FSICAS e o ALIENANTE

    ARTICIPAES

    EWEN LTD

    Integralizao de capital com

    aes 5246 Participaes, no

    valor de R 25.032.000,09.

    L o g o :

    ADROALDO

    LIENANTES PF's e

    AUMONDE

    WEN LTD

    256

    i

    LIENANTES

    PARTICIPAES

    ESSOAS

    JURDICAS

    246

    PARTICIPAES

    - Na mesma data 5246 PARTICIPAES vende para THYSSEN INDUSTRIES suas

    10.000.000 aes que estavam em tesouraria. Tais aes, adquiridas de seus antigos diretores

    pelo valor de R 1.400,00, foram vendidas pelo valor de R 202. 7.000,00. O pagamento por

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    Processo n.

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    ls. 7

    tais aes foi feito mediante crdito em conta corrente (Banco Pactual S/A), sendo dada ampla,

    geral e irrestrita quitao pelo recebimento da totalidade do preo. Ademais, a THYSSEN

    INDUSTRIES foi inscrita no Livro de Registro de Aes Nominativas da 5246

    PARTICIPAES.

    ALIENANTES

    HYSSEN

    256

    RI s

    NDUSTRIES

    ARTICIPAES

    _I

    24 6

    PARTICIPAES

    - Neste momento participavam do capital social da 5246 PARTICIPAES:

    (i) a THYSSEN INDUSTRIES (10.000.000 aes);

    (II) a 5256 PARTICIPAES (que recebeu

    s

    aes da 5246 PARTICIPAES, dos

    ALIEN ANTES pessoas fsicas e EWEN LTD.) e;

    (iii) as ALIENANTES pessoas jurdicas (EPART, EWEN PARTICIPAES e BW

    PARTICIPAES), que ainda mantinham a participao na empresa (no alienada para 5256

    PARTICIPAES).

    - O capital da 5246 PARTICIPAES, por sua vez, havia sido integralizado em parte com

    aes da ELEVADORES SR (R 36.653.340,00), e em parte com valores pagos pela

    THYSSEN INDUSTRIES (R 202.337.000,00).

    - Ato continuo a THYSSEN INDUSTRIES subscreveu um aumento de capital da empresa

    THYSSEN ICRUPP PARTICIPAES no valor de R 226.919.901,00, integralizando-o da

    seguinte forma:

    a)

    R 202.337.000,00 com as 10.000.000 aes da 5246 PARTICIPAES;

    b) R 3.782.000,00 em dinheiro;

    c) saldo remanescente a ser integralizado em dinheiro ou bens em 24 eses.

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    .

    Processo

    n 11080.009670/2004 05

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    ls. 8

    ALIENANTES

    HYSSEN

    256

    PJ's

    RUPP

    ARTICIPAES

    L 1

    24 6

    i

    ARTICIPAES

    - Em seguida, no mesmo dia (08/09/99), a THYSSEN 1CRUPP PARTICIPAES permuta

    com a 5246 PARTICIPAES, as 10.000.000 que possua, da prpria 5246

    PARTICIPAES. Em troca a THYSSEN KRUPP PARTICIPAES recebe a titularidade

    das aes da ELEVADORES SR e da ASTEL que a 5246 PARTICIPAES possua. Como

    todas as aes da ELEVADORES SR e da ASTEL eram de titularidade da 5246

    PARTICIPAES, o controle societrio de ELEVADORES SR e ASTEL passou para

    THYSSEN KRUPP PARTICIPAES.

    THYSSEN

    KRUPP

    10.000.000 aes da

    es

    prpria 5246

    I'

    LEVADORES

    eT I

    Participaes

    5246

    PARTICIPAES

    - Em 09/09/99 a 5246 PARTICIPAES remeteu para o exterior uma considervel parcela

    dos valores recebidos na venda das aes de ELEVADORES SR e ASTEL, a ttulo de

    investimento direto em sua subsidiria (GRANITE HOLDINGS CORPORATION), com sede

    em Nassau.

    - E finalmente em 30/12/99 os quotistas de THYSSEN ICRUPP PARTICIPAES resolvem

    aprovar a incorporao da empresa pela THYSSEN SR ELEVADORES.

    O relatrio da fiscalizao conclui pela venda do controle societrio da

    ELEVADORES SR e ASTEL para o GRUPO THYSSENKRUPP, pelo valor de R

    202.337.000,00, atravs da complexa seqncia de atos societrios que teriam por objetivo

    k

    m ascarar a operao de con tra e vend a, acarretando a falta de reco lhim ento dos tributos

    devidos pelos A L IEN A N T ES sobre o ganho auferido na operao .

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    Processo n. 11080.009670/2004-05

    Acrdo n. 108-09.507

    Fls. 9

    A fiscalizao discorre, ainda, sobre a utilizao de interpostas pessoas jurdicas,

    domiciliadas no exterior, pelo Sr. Adroaldo Aumonde, e que, portanto, as operaes que

    gerassem ganhos econmicos deveriam ser tributadas no nas pessoas jurdicas, mas sim na

    pessoa fisica do Sr. Adroaldo Aumonde.

    A autoridade fiscal analisa, ainda, elementos das operaes que caracterizariam

    simulao realizada por BW PARTICIPAES e demais alienantes das participaes

    mantidas em ELEVADORES SR e ASTEL.

    Indica, ainda, como se deu a apurao do ganho de capital e correspondente

    IRPJ (constitudo por meio da lavratura do auto de infrao objeto do presente processo

    administrativo), esclarecendo que, por no encontrar na contabilidade da BW

    PARTICIPAES o valor de aquisio da participao societria na ELEVADORES SR,

    promoveu os clculos a custo zero.

    E, finalmente, determina que o Sr. Adroaldo Aumonde, por ser controlador de

    fato da BW PARTICIPAES, seria responsvel solidrio pelo crdito tributrio ora em

    anlise razo pela qual foi lavrado Termo d e Sujeio P assiva Solidria fls .288/2 89).

    Em 07/06/05 foram intimados BW PARTICIPAES e Sr. Adroaldo Aumonde

    da autuao promovida e em 03/07/05 e 07/07/05 apresentaram suas impugnaes,

    respect ivamente.

    A BW PARTICIPAES alega em sua impugnao (fls. 309/410) ser nulo o

    auto de infrao. A primeira hiptese de nulidade seria o vcio no lanamento provocado pela

    utilizao da norma inaplicvel, pois no regulamentada, qual seja, a norma anti-eliso (art.

    116 do CTN, com redao alterada pela Lei Complementar n 104/01). A segunda seria a

    ilegitimidade passiva da empresa no presente caso, pois a operao que gerou o ganho de

    capital objeto da presente autuao no foi por ela realizada (tampouco os valores foram por

    elas recebidos), mas sim pela empresa 5246 PARTICIPAES (empresa que realizou a

    permuta das aes da ELEVADORES SR e da ASTEL .

    No mrito a BW PARTICIPAES requer seja cancelado o auto de infrao

    com base, em sntese, nos seguintes argumentos:

    i)

    A lavratura do auto de infrao foi promovida com base em provas que no

    poderiam ser admitidas no processo administrativo fiscal, vez que colhidas por

    particular ou por autoridade policial, sempre em desacordo com objetivos e

    mtodos da fiscalizao tributria, o que inviabiliza sua utilizao. Algumas das

    provas, inclusive, tiveram sua falsidade atestada, seja em razo de existirem

    declaraes posteriormente desmentidas, seja porque a veracidade e validade

    das me smas n o foram averiguadas pela fiscal izao.

    ii)

    Ocorrncia de assertivas exageradas e adjetivao impertinente por parte da

    autoridade fiscal que promoveu a elaborao do Relatrio da Atividade Fiscal, o

    que indica que a autoridade estaria contaminada pelo material enviado pela

    Ciacorp. Tal fato, por sua vez, comprometeri a validade e a tica na produo

    de tais pro vas, sob tais c ircunstncias.

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    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo n. 108 09.507

    ls. 10

    iii)

    O parecer da Ernst & Young se constitui atestado de que a operao foi

    realizada da maneira usualmente utilizada, a qual, por sua vez, no afronta

    qualquer norma tributria ou com ercial.

    iv)

    No houve simulao dos fatos apresentados, ou dissonncia entre o objeto

    contratado e os interesses da sociedade.

    v)

    As operaes de venda de aes em tesouraria e permuta, realizadas pela

    empresa 5246 PARTICIPAOES no podem ser consideradas para gerar

    exigibilidade de tributos para a BW PA RTICIPA E S.

    vi)

    As operaes realizadas pela 5246 PARTICIPAES no encontravam

    qualquer impedimento legal, ocorrendo, inclusive a publicidade de todos os atos.

    vii)

    No houve dolo, falsidade ou simulao uma vez que todos os atos foram

    efetivamente realizados, documentados, informados s autoridades competentes,

    e dotados de legalidade.

    viii)

    A elaborao de planejamento fiscal lcito no se confunde com evaso fiscal na

    medida em que ningum obrigado a realizar seus negcios por meio mais

    oneroso, quando a legislao permite que sejam realizados por outros meios.

    ix)

    Somente aps a introduo do pargrafo nico do art. 116 do CNT que a

    Administrao possui competncia para desconsiderar negcios jurdicos

    realizados, antes disso somente por meio de ao judicial, com pedido

    fundamentado.

    x)

    O prprio auto de infrao comprova no ter ocorrido qualquer simulao, na

    medida em que sua fundamentao comprova a existncia de pessoas jurdicas e

    operaes reais. Da decorre sua nulidade por ausncia de fundamentao e falta

    de comprovao da ocorrncia do fato gerador tributrio.

    xi )

    Ausncia de comprovao da simulao, cujo nus da autoridade fiscal.

    xii)

    As empresas 5246 PARTICIPAES e 5256 PARTICIPAES no so

    empresas de fachada como alegado pelo Fisco, pois j existiam mesmo antes

    das operaes sob anlise, sendo seu objeto licito e permitido pela Lei das S/A

    qual seja, a participao em outras sociedades.

    xiii)

    A lei permite s companhias negociarem com suas prprias aes exatamente

    o que ocorreu com a manuteno e negociaes das aes mantidas em

    tesouraria.

    xiv)

    Uma vez afastada a premissa do Fisco de que houvera simulao

    especialmente porque dolo, fraude ou simulao no podem ser presumidos - o

    prazo decadencial de 05 anos para constituir crdito tributrio j havia

    decorrido, especialmente considerando que o fato gerador ocorreu em

    setembro/99 e a lavratura do auto em 01/06/2005.

    xv)

    Inaplicvel ao caso a multa de 150 , pois no houve comprovada simulao.

  • 7/24/2019 CARF - Reorganizao Societria

    11/25

    Proces so n. 11080.009670/20 04 05

    Acrd o n. 108 09 .507

    ls. 11

    A impugnao apresentada pelo Sr. Adroaldo Aumonde fls. 464/564), alm de

    trazer as mesmas alegaes da impugnao apresentada por BW PARTICIPAES alega,

    tambm, que i) o impugnante no seria responsvel solidrio pelos dbitos da empresa, visto

    que ele no era poca dos fatos como no era na data da apresentao da impugnao)

    administrador da empresa autuada e que ii) h no relatrio da ao fiscal uma srie de

    afirmaes levianas e injuriosas a respeito de sua pessoa, solicitando sejam as mesmas riscadas

    art. 16, 2e do Decreto n70.235/72).

    s fls. 626/710 a DRJ de Porto Alegre/RS entendeu pela procedncia do

    lanamento em julgamento assim ementado:

    Ementa: Imposto sobre a renda e proventos de qualquer

    natureza (IRPJ), contribuio social sobre o lucro das pessoas

    jurdicas (CSL)

    PRELIMIN A RES DE N U LID A D E. IMPRO C ED N C IA.

    No se configurando nenhuma das hipteses arroladas no art. 59

    do Decreto n 70.235/72 que rege o processo administrativo fiscal,

    no h falar em nulidade.

    PODER-DEVER EM CONSTITUIR O CRDITO TRIBUT RIO.

    DECADNCI A . I NEX I ST NCI A .

    1 .

    o presente caso, no se operou a decadncia do poder-

    dever do Fisco em constituir o crdito tributrio

    a

    quer por existir evidente intuito de simulao, o que, segundo

    determinados critrios, impe a regra do art. 173,1 do CTIV para

    chegar-se ao termo inicial do prazo decadencial,

    b

    quer por haver entendimentos administrativos de o prazo

    decadencial ter seu termo inicial na data de entrega da declarao

    de rendimentos,

    c

    quer por existir lei expressa prevendo ser de dez anos o prazo

    decadencial das contribuies para a seguridade social, gnero do

    qual a contribuio social sobre o lucro das pessoas jurdicas

    (CSLL) espcie (art. 45, Ida Lei n 8.212/91) e

    d

    quer, ademais, e suficientemente, em ateno firme posio do

    Superior Tribunal de Justia por meio das mais recentes decises

    de sua Primeira Seo e ambas as Turmas no sentido do termo

    inicial do prazo decadencial somente iniciar aps o prazo

    homologatrio de 05 (cinco) anos.

    2. A vigncia do art. 45 da Lei n 8.212/91 pode ser analisada

    em face do princpio da legalidade ou da impossibilidade de ser

    realizado controle repressivo de constitucionalidade por qualquer

    rgo do Poder Exec utivo.

  • 7/24/2019 CARF - Reorganizao Societria

    12/25

    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo n. 108 09.507

    ls. 12

    3. N a seara do princpio da legalidade, o con flito resolve-se

    por aplicao do disposto no art. 2

    1

    do D ecreto-lei n4.657, de

    04 d e setem bro de 1 942 , ou seja, lei posterior derroga a anterior

    no que for com ela incompatvel.

    4.

    Sob outro aspecto, a questo, para ser conhecida,

    demandaria a possibilidade de ser realizado controle repressivo de

    constitucionalidade por rgo da A dm inistrao Pblica. Um a vez

    que a legislao que prev o prazo dilatado de decadncia

    posterior ao CT1V , para afast-la seria necessrio entend-la

    inaplicvel face necessidade de lei co m plem entar para regular a

    matria, decorrente do art. 146, III, b da Constituio, que

    qu esto atinente ao controle repressivo d e con stitucionalidade, o

    qual no pode ser realiz ado por rgo da A dm inistrao Pblica.

    SIMULAO. CARA CTERISTICAS. MEIO DE PROVA,

    E X I S T E NC 1 A D E G A N H O D E C A PIT A L .

    I. A simulao se caracteriza pela divergncia entre a

    exteriorizao e a volio, isto , pela prtica formal de

    determ inados atos, enquanto subjetivamen te os qu e se perfazem

    so outros.

    2.

    Portanto, para fins de caracterizar, ou no, simulao

    irrelev ante terem as partes m anifestado publicam ente v ontade de

    form aliz ar determ inados atos, por natureza lcitos, pois tal fato em

    nada influi sobe a simulao, que a divergncia entre

    ex teriorizao e vontade.

    3. Para no se configurar simulao, necessrio que as

    partes queiram efetivamente praticar esses atos, no apenas no

    aspecto formal, mas tamb m , em sua m aterialidade.

    4.

    Por se tratar da sim ulao de div ergncia entre realidade e

    subjetividade, difcil, quando no impossvel, comprova-la

    diretam ente, pelo que se adm ite seja provada por todos os m eios

    admitidos em direito, inclusive indcios e presune s.

    5.

    Os principais indcios so (a) a existncia de motivo srio,

    b) a falta de execuo material da vontade exteriorizada, c) a

    discrepncia entre esses atos e a conduta das partes e (d) a

    divergncia entre a naturez a e a quantidade dos bens e d ireitos e o

    preo pelo q ual so negoc iados.

    6.

    Na apurao do ganho de capital, considerada a

    operao que importe alienao a qualquer ttulo de bens ou

    direito, ou cesso, ou promessa de cesso de direitos sua

    aquisio.

    7.

    N o caso concreto, a contribuinte confessa que o interesse

    sempre foi a viabilizao da operao de contra e v- tu : 'e a

    (I,

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    .

    Processo n.

    11080.009670/2004-05

    Acrdo n. 108 09.507

    ls. 13

    real vontade das partes sempre foi uma s: viabilizar a operao

    de venda , o que caracteriza, juntamente com os demais elementos

    de prova a divergncia entre exteriorizao e vontade.

    Caracterizadora de simulao.

    M U L T A Q U A L I FI CA D A E X I G IB I L ID A D E

    Mantm-se a multa qualificada de 150%, estando configurado o

    intuito de fraude utilizada a simulao, com a conseqente reduo

    dos tributos dev idos

    Lanamento procedente.

    A DRJ entendeu, ainda, ser incabvel o comparecimento do Sr. Adroaldo

    Aumonde ao processo, tendo em vista que sua notificao a respeito da existncia de

    lanamento contra a BW PARTICIPAOES se deu somente em razo de sua possvel

    responsabilizao pelos crditos tributrios lanados. Assim, no sendo parte no processo,

    tampouco sujeito passivo no auto de infrao, suas razes foram desconsideradas.

    Notificada em 19/12/05) a BW PARTICIPAES apresentou,

    tempestivam ente em 18/01/06, Recurso Voluntrio fls.811/935 ) contra a deciso proferida

    pela DRJ. No Recurso foram reapresentadas as razoes trazidas pela contribuinte em sede de

    impugnao, mormente por entender que a D RJ no se manifestou pontualmente por qualquer

    dos argumentos apresentados na mencionada impugnao. Discorre, ainda, sobre o conceito de

    planejamento tributrio, sobre os conceitos de dolo, fraude e simulao e nulidades do auto de

    infrao erro na identificao do sujeito passivo, ausncia de simulao e/ou dissimulao,

    no obstante alegadas indistintamente, sem prova).

    Alega, ainda, que em relao alegao trazida pela fiscalizao, de que ha veria

    a figura de interposta pessoa nas operaes em comento, porque no houve qualquer

    manifestao da D RJ a respeito da questo, comprova-se o equivoco da autuao procedida

    pela fiscalizao. E, finalmente, requer o reconhecime nto da decadncia de 05 anos contados a

    partir do fato gerador, que neste caso teria ocorrido em setembro/04, data das operaes art.

    150, 4 do C TN ) e o cancelamento da multa qualificada, tendo em vista no restar provado o

    elemento intencional necessrio aplicao de tal penalidade, sendo impossvel mant-la

    somente com base em indcios.

    E, por fim, vale notar que a Recorrente promoveu o arrolamento de bens fls.

    714/810).

    o Relatrio.

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    .

    Processo n.11080.009670/2004-05

    Acrdo n. 108 09.507

    Fls. 14

    Voto Vencido

    Conselheira KAR EM JUREIDIN I DIAS, Relatora

    O R ecurso Voluntrio tempest ivo e preenche os dema is requisi tos legais de

    admissibilidade, pelo que dele conheo.

    Inicialmente esclareo que deixo de me manifestar a respeito do direito do Sr .

    Adroaldo A umonde em comparecer neste processo, tendo em vista que o mesmo no interps

    Recurso.

    No tocante ao tema da sujeio passiva, analisarei juntamente com as questes

    de mrito.

    Vale notar que a operao descri ta pela fiscalizao com o fundame nto para

    lavratura do auto de infrao sob anlise, j foi apreciada por esta mesma 8 C mara, na sesso

    de 28/02/2007, quando do julgamento do Recurso Voluntrio n 149.392, interposto por Epart

    Administrao e P articipaes Ltda..

    Na quela ocasio, decidiu-se, por unanimidade de vo tos, acolher a preliminar de

    nulidade do lana mento por erro de sujeio passiva, especialmente por se en tender que na

    operao em comento, objeto tambm destes autos, o ganho de capital no fora auferido pela

    ento Recorrente Epart), mas sim, pela empresa que efetuou a alienao das aes da

    ELEVAD ORES S R dire tamente para a empresa in tegrante do GRU PO THY SSENICR UPP,

    qual seja, a empresa 5246 PARTIC IPA ES.

    Na da obstante, no caso presente, aps detida anlise dos Autos, entendo que a

    questo merece o utra interpretao, de forma que necessria a anlise do mrito para, ento,

    concluir acerca da sujeio passiva.

    Ne ste particular, quanto aos argumen tos no sentido de que a lavratura dos autos

    se deu com b ase em pro vas que no pode riam ser admitidas, posto que colhidas por particular

    ou autoridade policial , e de que houve a ssert ivas exage radas e a djet ivao impert inente por

    parte das A utoridades Fazendrias, quer me parecer no devem prevalecer.

    Cristalino que as operae s sob anlise decorrem de atos jurdicos devidamente

    registrados em rgo pblico, cuja publicidade atributo inerente. Tam bm indiscutvel a

    ocorrncia e os valores da operao, atestados em parecer de auditoria independente, juntado

    pela prpria Recorrente . D esta fei ta , realmente de no se levar em considerao eventuais

    adjet ivaes que em nada contribuem para o desl inde da questo, tendo-se em mente que a

    hiptese tratada nos autos de planejamento fiscal.

    Ne ste passo, adianto que, em determinada s partes do relatrio da ao fiscal, a

    autoridade refere-se somente transferncia de aes da E LEV AD ORE S S R (atos realizados

    em 15/08/99, por exemplo), sem, contudo, fazer qualquer meno s aes da ASTEL.

    Toda via, na concluso da parte do relatrio que dispe sobre os fatos ocorridos, afirma ter

    havido a transferncia do controle societrio de amba s a

    resas, alm de incluir tambm1,,

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    Processo n. 11080.009670/2004-05

    Acrdo n. 108-09.507

    Fls. 5

    clculos e razes relacionadas alienao da participao na ASTEL razo pela qual se

    considera, neste voto, a ocorrncia da alienao da participao societria mantida em ambas

    as emp resas.

    Retomando questo do planejamento fiscal valho-me dos fundamentos

    expendidos no PAT : 11040.001473/96-07, Recurso n: 124.045, Acrdo n: 103-21.047, de

    16/10/ 2002, e dos mesmos fundamentos expedidos no Acordo 108-09.037, na parte em que

    foi vencedora a I. R elatora Ivete Malaqu ias Pessoa M onteiro, aos quais peo

    vnia

    para, a meu

    modo, ab ordar as razes

    de

    decidir, cujas concluses, tam bm no tocante exasperao da

    multa, alinho-me, por bem definirem a m atria.

    Isto porque a discusso se fez no sentido de verificar se os procedimentos

    utilizados pelo contribuinte, seus p ropsitos e os resultados alcanados, se o conjunto de a tos e

    fatos jurdicos implementados constituram infrao legislao fiscal e se estaria

    caracterizado o evidente intuitivo de fraude, tal como preceituado nos artigos 71, 72 e 73 da

    Lei n 4502/64.

    Responder a este questionam ento implica em anlise das correntes doutrinrias

    sobre eliso e evaso fiscal. Renomados tributaristas discordam conceitualmente, ap oiados em

    slidos fundam entos tericos. Mas esta incurso visa apenas a busca da verdade material.

    Saltam dos autos o interesse da Recorrente de realizar um ato jurdico perfeito

    sem incidncia tributria. Buscou o manto da legalidade, tentando se albergar nas frestas que a

    prpria lei oferece. Trata-se de alienao de participao societria, com ganh o de capital sem

    que hou vesse a tributao por parte dos alienantes, utilizando-se do instrumento da v enda de

    aes em tesouraria.

    Linhas gerais a no tributao se deu em razo de terem os alienantes se

    utilizado de instrumentos jurdicos da seara societria comercial e fiscal no interregno

    comp reendido entre agosto de 1999 e setemb ro do mesm o ano. Houve o ingresso em qua dro

    societrio de uma emp resa, por meio da integralizao de seu capital com o b em ob jeto da

    venda e, em mom ento subseqente, foi aceita a entrada de novo scio, o qual adquire aes em

    tesouraria por va lor significativam ente superior ao dos livros e, ato contnuo, h a dissoluo

    da sociedade ento constituda por meio da entrega do bem objeto da venda ao ltimo

    acionista ingressante.

    D a, concluo que, i no houve simulao absoluta frente aos fatos apresentados;

    ii os atos foram forma lmente docum entados; iii verifica-se dissonncia entre os atos volitivos

    assim documentados e o objetivo real que permeava a operao.

    Referida dissonncia fica evidente quando se verifica tratar-se de operao que,

    apesar de comu m entre aqueles que se valem deste tipo de planejamento fiscal, no usual.

    Isto porque, a anlise dos fatos orienta no sentido de efetiva com pra e venda de bem e no para

    um a unio com o fim de desenvolvimento conjunta de atividades emp resariais, seja pelo curto

    espao de temp o seja pelo fato final alcanado.

    Assim, no se trata de sim ulao com enfoq ue fraudulento, mas de evidente

    vcio de vontade incutido nos atos formalmente legais com intuito exclusivo de evitar a

    tributao, o que alguns denominam de simu lao relativa ou abuso de forma, o q ue, adianto, a

    meu v er no se confunde com a fraude fiscal.

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    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo n. 108-09.507

    ls. 16

    Na simulao relativa, o ato jurdico que se pretende realizar diverso daquele

    que se apresentou legal e formalmente perfeito. No caso dos autos, depreende-se ter ocorrido

    compra e venda de participao societria, bem identificado pela Autoridade autuante,

    enquanto a Recorrente pretendeu se albergar em reorganizao societria com

    permuta/devoluo de capital .

    Washington de Barros Monteiro (in Curso de Direito Civil, Vol. I, Ed. Saraiva,

    1993, pg. 210) leciona:

    Passemos agora aos casos de simulao relativa, principiando pelo

    da ocultao do carter jurdico do ato. Vislumbram-se, nesse caso, dois aspectos distintos, o

    do ato que se aparentou fazer e do ato que na realidade foi feito, o fingido e o real o

    invlucro e o contedo. Desfeito o ato aparente, roto o invlucro, cumpre examinar a validade

    do que restou do contedo .

    Nos autos, os autuantes instruiram o processo com uma srie de dados e fatos

    mais do que suficientes para a caracterizao de procedimento dissimulatrio, para evitar a

    situao que se tipificou como alienao com apurao de ganho de capital.

    Se assim , no h que se exigir a atuao das Autoridades Fazendria sob o

    manto de regulamentao do pargrafo nico do artigo 116 do Cdigo Tributrio Nacional.

    No houve, portanto, no lanamento, desrespeito ao princpio da legalidade ou tipicidade

    fechada. Ora, se existe na convico da Autoridade autuante, como existe para esta Relatora,

    gravidade, preciso e concordncia acerca dos fatos efetivamente ocorridos: Alienao com

    ganho de capital ento estes fatos subsumem-se hiptese legal que contempla sua tributao.

    Vale dizer, a discricionariedade somente existe na interpretao do evento

    jurdico, constituio do fato jurdico, e no na subsuno deste ao antecedente da norma de

    incidncia tributria. Tal discricionariedade na construo do fato jurdico inerente

    atividade do operador do direito e prpria condio humana. O que se exige, que esta

    construo esteja suportada por provas ou indcios no passveis de refutao, do que se

    verifica com preciso nos presentes autos.

    Destas premissas, concluo que no houve erro de sujeio passiva, porquanto a

    necessria concordncia e preciso na construo do fato jurdico demonstram que a empresa

    5246 Participaes de fato recebeu como scios os alienantes pessoas jurdicas, a 5256

    Participaes e a Thyssen Industries, com o fim exclusivo de aquisio da participao

    societria pela ltima e venda pelas primeiras. Portanto, reputo correto o lanamento quando

    indicou como sujeito passivo a alienante BW participaes, uma vez que esta auferiu o

    beneficio do no pagamento do imposto pelo ganho de capital na venda da sua participao na

    Elevadores S'r e Astel. Ora, se devem ser desconsiderados os atos dissimulatrios, estes

    devem ser em sua integralidade.

    Por outro lado, no tocante penalidade imposta, esta foi aquela aplicvel aos

    casos de evidente intuito de fraude, definidos nos arts. 71, 72 e 73 da Le n 4502, de 30 de

    novembro de 1964 , os quais, contemplam as hipteses de inteno dolosa, quais sejam : Art.

    71 - Sonegao toda ao ou omisso dolosa ; Art. 72- Fraude toda ao ou omisso

    dolosa ; e Art. 73 - Conluio o ajuste doloso . O dispositivo cuja base legal so os arts. 71,

    72 e 73 da Lei n 4502/64, deixa claro que a aplicao da multa qualificada cabe nos casos

    onde o evidente intuito de fraude seja patente. A evidncia preconizada na lei exige a certeza

    desta inteno.

    I

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    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo ri. 108-09.507

    ls. 17

    A fraude tem que ser patente de tal sorte que no se duvide da m f dos atos

    praticados, com o firme propsito de burlar a lei, o que no consegui enxergar no caso dos

    autos. Entendo que a matria sob exame compreendeu uma simulao relativa ou

    dissimulao , e a doutrina e jurisprudncia, inclusive deste Tribunal, entendiam que a eliso

    fiscal no poderia ser contestada pelo Fisco, sendo questo a ser debatida no mbito cvel.

    Haveria, ento, no mnimo que se atribuir Recorrente o beneficio do erro de proibio. No

    poderia a Recorrente, poca dos fatos, estar segura de que este tipo de negcio no seria

    acatado p elas autoridades adm inistrativas.

    Tambm no h como atribuir Recorrente a mesma penalidade aplicvel a

    casos como de utilizao de conta de interposta pessoa, nota fiscal inidnea, entre outros. Os

    atos foram registrados e estavam disponveis para anlise das Autoridades. O vcio de vontade

    no pode ser equiparado fraude. A simulao relativa ou dissimulao, vincula-se, via de

    regra, a indcios e presunes para a constituio do fato jurdico, no correspondendo

    materialidade dos artigos 71 a 73 da Lei n 4.502/69.

    Como ensina Marco Aurlio Greco

    nos casos de fraude Lei, os quais no se

    confundem com a fraude criminal, no h como constatar o evidente intuito de enganar j que,

    pelo contrrio, o contribuinte age de forma clara, deixando explcitos seus atos e negcios, de

    modo a permitir a ampla fiscalizao pela autoridade fazendria. Vale registrar que a prpria

    Medida Provisria n 66/2002, nos artigos 13 a 19, exigia apenas a penalidade moratria aps a

    requalificao dos fatos nos casos de identificao de dissimulao com fins de planejamento

    fiscal.

    Como bem lembrou o acrdo que tomei por suporte em minhas presentes

    razes, comum recomendao de cautela, por parte do intrprete e aplicador da lei, pelas

    dificuldades prticas de se concluir por hiptese de evaso ou eliso, pois insuficiente o

    elemento temporal (antes ou depois de ocorrncia do fato gerador), especialmente em casos de

    simulao relativa, cuja determinao vincula-se, via de regra, a fatos, indcios e presunes,

    por isso que cada situao deve ser analisada isoladamente. Sobre este aspecto, o artigo 112

    do Cdigo Tributrio Nacional dispe que :

    A lei tributria que def ine infraces ou lhe com ina

    penalidades interpreta-se da m aneira m ais f avorvel ao acusado em caso de d vida quanto:

    capitulao legal do fato: natureza ou s circuns tncias materiais do fato ou naturez a ou

    ex tenso dos seus efeitos is autoria im putabilidade ou punibilidade

    naturez a da penalidade

    aplicve l ou sua graduaco.

    Em face das diretrizes estabelecidas pelo art. 112 do CTN, acima transcrito, e

    ante as circunstncias apontadas, entendo no estar configurada a evidncia do intuito de

    fraude, exigncia legal para a qualificao da penalidade, pelo que entendo que a mesma deve

    ser reduzida para o patamar normal de 75% (setenta e cinco por cento). Este tambm tem sido

    o entendimento demonstrado no acrdo n 108-09.037 e acrdo n 101 -95.537:

    PENALIDADE QUALIFICADA - INOCORRNCIA DE

    VERDA DEIRO INTUITO DE FRA UDE - ERRO DE

    PROIBIO - ARTIGO

    112 DO CTN - SIMULA O

    R E L A T IV A - FR A U D E

    L EI - Independentemente da patologia

    presente no negcio jurdico analisado em um planejamento

    tributrio se simulao relativa ou fraude lei a existncia de

    In

    Planejamento Tributrio, Dialtica, So Paulo, p. 230

  • 7/24/2019 CARF - Reorganizao Societria

    18/25

    Proces so n. 11080.009670 /2004 05

    Acrdo n.

    108 09.507

    ls. 18

    conf inantes e respeitveis co rrentes dou trinrias, bem com o de

    precedentes jurisprudncias contrrios nova interpretao dos

    fatos pelo seu verdadeiro contedo, e no pelo aspecto meramente

    formal, implica em escusvel desconhecimento da ilicitude do

    conjunto de atos praticados, ocorrendo na espcie o erro de

    proibio. Pelo mesm o m otivo, bem com o por ter o contribuinte

    registrado todos os atos formais em sua escriturao, cumprindo

    todas as obrigaes acessrias cabveis, inclusive a entrega de

    declaraes quando da ciso, e assim pe rmitindo ao f isco plena

    possibilidade de fiscalizao e qualificao dos fatos, aplicveis as

    determinaes do artigo 112 do C T N . Fraude lei no se conf unde

    com f raude crim inal. (A crdo

    n101

    95.537 - Relator Mrio

    Junqueira Franco Junior - Sesso de 24/05/06

    Uma vez reduzida penalidade para que seja afastada a aplicao da multa

    qualificada, deve ser analisado o prazo decadencial,

    sem o deslocamento da regra para o artigo

    173, inciso

    1

    do Cdigo Tributrio Nacional. Os tributos em apreo so sujeitos ao regime de

    apurao por homologao

    autolanarnento),

    cuja regra decadencial

    a

    constante do artigo

    150, 4

    0 do Cdigo Tributrio Nacional, o qual prescreve o prazo

    decadencial

    de 5 cinco)

    anos para a autoridade fiscal promover o lanamento de oficio.

    O prazo decadencial do artigo 150, 4 do Cdigo Tributrio Nacional

    aplicvel a todos os tributos objeto do lanamento impugnado conforme

    entendimento firmado

    pela Cmara Superior de Recursos Fiscais:

    IRPJ. DECADNCIA. AUSNCIA DE RECOLHIMENTO.

    LANAMENTO POR HOMOLOGAO. A classcao do

    lanamento, se por homologao e portanto com o prazo de

    decadncia fixado pelo art. 150, pargrafo 4, do CTN, no

    depende do recolhimento do tributo. Tributo sujeito por

    hom ologao aquele em que a lei estabelece ao contribuinte o

    dever de apurar e recolher o tributo independentemente de ato

    administrativo prvio. CSL/COFINS - DECADNCIA -

    Considerando que a Contribuio Social Sobre o Lucro e a

    CO FIN S so lanam entos do tipo por hom ologao, o prazo para

    o fisco ef etuar lanamento de 5 anos a contar da ocorrncia do

    fato gerador, sob pena de decadncia nos termos do art. 150 , 4,

    do

    CTN.

    Recurso especial negado. (Acrdo n CSRF /01-05.273 -

    Relator Jos Henrique Longo - Recurso n 103 119758- Primeira Turma

    da Cmara Sup erior de Recursos Fiscais)

    No que tange ao prazo

    decadencial aplicvel

    CSLL do ano-calendrio de 1999,

    a reflexo necessria para o deslinde

    da questo foi muito bem exposta no voto da saudosa

    Conselheira Tnia Koetz Moreira, por ocasio da prolao do Acrdo n 108-06.992, cujo

    trecho abaixo transcrito demonstra se u raciocnio:

    A regra geral de decadncia, no sistem a tributrio

    brasileiro, est definida no artigo 173 do Cdt o Tributrio

    Nacional, da seguinte forma:

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    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo ri. 108 09.507

    ls 19

    Art. 173. O direito de a Fazenda Pblica constituir o

    crdito tributrio extingue-se aps 5 (cinco) anos, contados:

    I - do primeiro dia do exerccio seguinte quele em que o

    lanamento poderia ter sido efetuado;

    II - da data em que se tornar definitiva a deciso que houver

    anulado, por vcio formal, o lanamento anteriormente

    efetuado .

    A Lei n 8.212/91, tratando especificamente da Seguridade

    Social, introduziu prazo maior de decadncia, mantendo

    termo a quo idntico ao do CTN (primeiro dia do exerccio

    seguinte quele em que poderia ter sido feito o lanamento

    ou a data da deciso anulatria, quando presente vcio

    formal).

    Poder-se-ia argumentar que lei ordinria no caberia

    introduzir ou modificar regra de decadncia tributria,

    matria reservada lei complementar, nos termos do artigo

    146, inciso III, alnea b, da Constituio Federal. Todavia, a

    discusso acerca da constitucionalidade de lei extrapola a

    competncia atribuda aos rgos administrativos, e no

    cabe aqui examin-la.

    Portanto, abstraindo-se a questo da constitucionalidade do

    artigo 45 da Lei n8.212/91, deve-se concluir que, para as

    contribuies submetidas regra nele estipulada, aquele

    prazo que, pelo artigo 173 do CTN de cinco anos, passa a

    ser de dez anos. O artigo 45 da Lei n 8.212/91 trata do

    mesmo instituto tratado no artigo 173 do CTN, impondo-lhe

    prazo mais dilatado.

    Todavia, ponto j pacificado, tanto na jurisprudncia

    administrativa quanto na judicial, que, para os tributos

    sujeitos ao lanamento por homologao, prevalece o

    preceito contido no artigo 150 do mesmo Cdigo Tributrio

    Nacional, cujo pargrafo 4

    .

    estabelece que se considera

    homologado o lanamento e definitivamente extinto o crdito

    tributrio no prazo de cinco anos a contar da ocorrncia do

    fato gerador, salvo se comprovada a ocorrncia de dolo,

    fraude ou simulao.

    tambm unnime o entendimento de que a Contribuio

    Social sobre o Lucro inclui-se entre as exaes cujo

    lanamento se d por homologao. Assim sendo, na data da

    ocorrncia do fato gerador (antes, portanto, de iniciar-se a

    contagem do prazo de que tratam o artigo 173 do CTN ou o

    artigo 45 da Lei n8.212/91), iniciou-se o prazo do artigo

    150 s 4

    .

    , do CTN. Transcorridos da cinco an , sem que a

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    20/25

    I

    Proces so n. 11080.009670 /2004 05

    Acrd o n. 108 09.50 7

    ls 20

    Fazenda Pblica se manifeste, homologado est o

    lanamento e definitivamente extinto o crdito.

    Da mesma forma como no se pode ler o artigo 173 do CTN

    isoladamente, sem atentar-se para a regra excepcional do

    artigo 150, tambm o artigo 45 da Lei n8.212/91 no pode

    ser lido ou aplicado abstraindo-se as demais regras do

    sistema tributrio. Ao contrrio, sua interpretao h que

    ser sistemtica, nica forma de torn-la coerente e

    harmoniosa com a lei que lhe hierarquicamente superior.

    Note-se que a homologao do lanamento, nos termos do

    art. 150, 4

    , do CTN, se d em cinco anos contados do fato

    gerador, se a lei no fixar prazo diverso. Ora, a Lei n

    8.212/91 no fixa qualquer prazo para homologao de

    lanamento, no caso das contribuies para a Seguridade

    Social. Deve prevalecer, portanto, aquele do artigo 150 do

    CTN, salvo na ocorrncia de dolo, fraude ou simulao,

    hiptese expressamente excepcionada na parte final de seu

    pargrafo 4. Ocorrida essa hiptese, volta-se regra geral

    do instituto da decadncia, ou seja, a do artigo 173 do

    Cdigo Tributrio Nacional, para os tributos em geral, e a

    do artigo 45 da Lei n 8.212/91, para as contribuies a

    abrangidas.

    Em assim sendo, o lanamento sob exame, alcanando o

    perodo de dezembro de 1991 a dezembro de 1994, foi

    efetuado quando j transcorrido o prazo de cinco anos

    estabelecido no artigo 150, 4, do Cdigo Tributrio

    Nacional, de vez que o auto de infrao foi lavrado apenas

    em 19/12/2000.

    Ainda, corroborando a argumentao acima exposta, frise-se o entendimento da

    Cmara Superior de Recursos Fiscais, do Primeiro Conselho de Contribuintes do Ministrio da

    Fazenda, na sesso de 17.04.2001 (Acrdo CSRF/1-3,348), alm de em outras oportunidades

    (v.g. CSRF/1-3906), no sentido de que, tanto para a CSLL como para a COFINS, o prazo

    aplicado para contagem do prazo decadencial aquele previsto no artigo 150, 4, do Cdigo

    Tributrio Nacional, isto ,

    cinco anos, conforme dem onstra a ementa abaixo transcrita:

    Decadncia CSL L e COF1NS A s referidas con tribu ies , por

    suas naturezas tributrias, f icam sujei tas ao p razo decad ncia de 5

    anos (Recurso n 108-122604, P Turma da

    Cmara Superior de

    Recu rsos Fiscais

    Dessa forma, tendo a Recorrente sido intimada em 07/06/2005 a respeito da

    lavratura do Auto de Infrao sob anlise, entendo que houve a decadncia do direito da

    autoridade fiscal promover o lanamento de oficio dos valores relativos ao ano-calendrio de

    1999, tanto em relao ao IRPJ, como em relao CSLL.

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    4

    Processo n.

    11080.009670i2004-05

    Acrdo n.

    108-09.507

    ls. 21

    An te o exposto voto por rejei tar as prel iminares de i legalidade de provas e erro

    de suje io pass iva e no mr ito DOU PROV IMENTO AO RECURSO VOLUNT RIO para

    desqualif icar a penal idade apl icada e por conseqncia acolher a decadnc ia.

    Sala das Sesses-DF em 05 de dezembro de 2007.

    r

    IC REM JUREID DL

    i

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    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo n. 108 09.507

    Fls. 22

    oto encedor

    Conselheiro CN DIDO RODR IGUES NEUBE R Redator Designado Ad Hoc

    Designado relator

    ad hoc

    em virtude de a ilustre Conselheira Mariam Seif ento

    designada para redigir o voto vencedor, no mais integrar este Colegiado, expenderei o

    entendimento adotado pela corrente vencedora com base nos debates havidos em plenrio por

    ocasio do julgamento do recurso voluntrio.

    Desde j deixo consignado que os limites deste voto vencedor e, por

    conseguinte, da correspondente ementa, sob a responsabilidade deste relator

    ad hoc,

    circunscreve-se questo da contagem do prazo decadencial, se pela regra do art. 150, 4, ou

    se pela regra do art. 173 do Cdigo Tributrio Nacional CTN, em funo da perlenga sobre

    de ter ou no ocorrido a situao agravante que justificasse a cominao da penalidade

    exasperada

    Em que pese a bem articulada fundamentao declinada pela ilustre Conselheira

    por sorteio, D? Karem Jureidini Dias, a maioria dos membros do Colegiado chegou a

    concluso diversa.

    A corrente vencida, acompanhando o voto proferido pela ilustre Conselheira

    Relatora, concluiu que a hiptese dos autos era de simulao relativa, no caracterizadora do

    evidente intuito de fraude, tica sobre a qual no se justificaria a penalidade exasperada, tendo

    como conseqncia a reduo da multa de lanamento

    ex off icio

    agravada, de 150%, para a

    multa normal de 75%, hiptese em que, se afastada a situao agravante, a contagem do prazo

    decadencial ocorreria pelas regras do art. 150, 4 , do CTN, circunstncia em que teria se

    operado a decadncia do direito de o fisco constituir o crdito tributrio, em virtude de o

    lanamento tributrio ter sido realizado aps cinco anos constados da data da ocorrncia do

    fato gerador. J a corrente vencedora, em sentido contrrio, entendeu que os fatos consignados

    nos autos caracterizaram o evidente intuito de fraude a justificar o deslocamento da contagem

    do prazo decadencial da regra do art. 150, 4 , para a do art. 173 do CTN, situao em que no

    caducou o direito de o fisco efetuar o lanamento tributrio.

    Com efeito, segundo noticiam os autos, a contribuinte e as outras pessoas fsicas

    e jurdicas referenciadas no relatrio, desejavam a venda do controle societrio da

    ELEVADORES SR e ASTEL para o GRUPO THYSSENICRUPP.

    A operao usual e corriqueira na praxe comercial e societria, neste caso, seria

    de alienao de participao societria, mas que resultaria em ganho de capital sujeito

    incidncia tributria.

    Entretanto, ao invs de utilizar-se da operao usual e corriqueira neste tipo de

    negcio e apurar e pagar os tributos devidos sobre o ganho de capital que viesse a auferir, a

    contribuinte valeu-se de efmera custosa e complexa seqncia de atos societrios que tiveram

    por objetivo

    mascarar a operao de contra e venda, acarretando a falta de recolhimento

    dos tributos devidos pelos ALIENANTES sobre o ganho auferido na operao

    conforme

    consignado nos levantamentos elaborados pelas autoridades fiscais adoras, que instruram

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    Processo n. 11080.009670/2004 05

    Acrdo n. 108 09.507

    ls. 23

    o processo com uma srie de dados e fatos mais do que suficientes para a caracterizao de

    procedimento simulatrio, para evitar a situao que se tipificou como alienao com apurao

    de ganho de capital.

    Esmiuados os fatos, dessume-se no remanescer dvidas sobre os objetivos

    vislumbrados com os procedimentos impugnados pelo fisco, como se v dos seguintes excertos

    do voto vencido:

    Isto porque, a anlise dos fatos orienta no sentido de efetiva compra e venda

    de bem e no para uma unio com o f im de desenv olvim ento conjunta de atividades

    empresariais, seja pelo curto espao de tempo seja pelo fato final alcanado. .

    E

    mais: Ora, se existe na convico da Autoridade autuante, como existe para

    esta Relatora, gravidade, preciso e concordncia acerca dos fatos efetivamente ocorridos:

    alienao com ganho de capital, ento, estes fatos subsumem-se hiptese legal que

    contempla sua tributao. .

    Ento os procedimentos da efmera reorganizao societria no tinham

    nenhum nimo societrio objetivando a convivncia e desenvolvimento de algum

    empreendimento, mas ao contrrio, foram engendrados com o fito no declarado, porm

    desejado e obtido de escamotear a tributao do ganho de capital.

    Vale dizer, de todos os procedimentos reorganizao societria adotados, alfim

    o resultado perseguido e consumado foi a alienao da participao societria sem a tributao

    do ganho de capital.

    A propsito deste tema, por contribuir compreenso e soluo do litgio, neste

    particular, rogo vnia para transcrever excerto do voto vencedor que proferi nos autos do

    processo administrativo fiscal n 11080.010888/00-08, acrdo n 103-21.226, na assentada de

    13/05/2003, no mbito da Egrgia Terceira Cmara deste Conselho de Contribuintes, ocasio

    em que foi analisada questo semelhante

    in v erbis

    A penalidade cominada no presente caso, de 150 , est prevista no art. 44,

    inciso 11, da Lei n9.430, de 1996, aplicvel 'nos casos de evidente intuito de fraude, definido

    nos arts. 71, 72 e 73, da Lei n4.502, de 30 de novembro de 1964'. Referido dispositivo utiliza

    os arts. 71,72 e 73, para definir o 'intuito de fraude'.

    Conforme amplamente analisado, neste voto, a corrente vencedora firmou o

    convencimento de que os elementos de provas constantes nos autos caracterizaram a ocorrncia

    de simulao nos atos jurdicos praticados e considerando que o efeito da simulao ocultar a

    verdadeira natureza daqueles atos, possvel vislumbrar a ocorrncia do evidente intuito de

    fraude definido no art. 71, da Lei n4.502, de 1964:

    Art. 71 Sonegao toda ao ou om isso dolosa tendente a impedir

    ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da

    autoridade fazendria:

    1 da ocorrncia do fato gerador da obrigao tributria principal, sua

    natureza ou circunstncias m ateriais;

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    Acrdo n. 108 09.507

    ls. 24

    II

    das condies pessoais do contribuinte, suscetveis de afetar a

    obrigao tributria principal ou o crdito tributrio correspondente.

    Neste

    passo, valho-me do seguinte excerto dos fiindamentos da deciso de

    primeira instncia, no sentido de embasar a manuteno da exasperadora qualificada, a saber:

    t

    Aceita a simulao, necessariamente ser aceita a caracterizao de

    ao visando a toldar o conhecimento por parte do fisco de elementos

    essenciais apurao do crdito tributrio, como previsto na norma.

    Enquadram-se no inciso 1 as duas simulaes anteriormente

    ressaltadas: tanto a simulao envolvendo o momento do pagamento

    do preo como a que buscou ocultar o real negcio jurdico praticado

    tenderam a 'impedir ou retardar, total ou parcialmente, o

    conhecimento por parte da autoridade fazendria, da ocorrncia do

    fato gerador da obrigao tributria principal, sua natureza ou

    circunstncias materiais'.

    O texto legal estabelece ainda que tal ao ou omisso deve ser dolosa,

    o que cria um problema, decorrente da impreciso de sentido de

    'doloso'. Dolo significa 'm-f, logro, fraude, astcia, maquinao'

    Novo dicionrio Aurlio da lngua portuguesa,

    2 ei rev. e amp., Rio

    de Janeiro: Nova Fronteira, p. 606). Esse significado, que contm uma

    carga implcita de intencionalidade, o empregado no direito civil,

    sendo tratado nos arts. 92 a 97 do Cdigo Civil. J no direito penal

    est ligado apenas intencionalidade, sendo irrelevante, neste campo,

    ter havido astcia, m-f, ou outra figura assemelhada. Essa

    intencionalidade pode ser relativa pratica do ato ou obteno do

    resultado, dependendo da teoria que se adote.

    Ora, o que ressalta da estruturao negociai como um todo que ela

    foi muito bem articulada, muito analisada. Dela participaram grandes

    empresas. No crvel que em tal contato no esteja presente a

    inteno de simular, e com isso externar declaraes contrrias

    realidade. Contrrias realidade material, no caso da declarao

    falsa sobre o momento do pagamento do preo de subscrio.

    Contrrias a uma realidade psicolgica, no que tange ao efetivo

    negcio que desejavam praticar. E essas simulaes, intencionais, no

    podiam ter outro alvo que no a administrao tributria, pois s com

    relao a ela produziu efeitos. Fica com isso estabelecida a

    intencionalidade, o intuito.

    Por outro lado, toda simulao envolve ardil, de forma que torna-se

    irrelevante, no caso, o sentido do termo 'doloso'. Quer seja o de ardil,

    quer seja o de intencionalidade, est ele presente nos atos praticados.

    Ressalte-se: no h como afastar o agravamento ainda que se limite o

    fundamento da autuao ao fato de no ter ocorrido a integralizao

    do capital subscrito previamente ciso, conforme descrito no item

    3.1.1, porque a autuada prestou declarao falsa a esse respeito, como

    restou esclarecido no item 3.2.1.6. Em qualquer dos casos, acrescentou

    infrao tributria o ingrediente da simulao, incorrendo

    inequivocamente na multa agravada. Como se v, present a simulao

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    ls. 25

    independen tem ente da tica adotada a mu lta agravada s poderia ser

    afastada caso se conclusse pelo cancelamento do crdito. Mantido

    esse adequada ser aquela.

    r

    Mantenho a exigncia da multa de lanamento

    ex offi io

    qualificada de 150%.

    Assim, na esteira dessas razes formei convencimento de que os procedimentos

    de reorganizao societria adotados, noticiados nestes autos, tratam-se de simulao, no de

    mero vcio de vontade, restando caracterizo o evidente intuito de fraude, praticados com o

    propsito de burlar a lei tributria, suficiente para a aplicao da multa de oficio qualificada de

    150 .

    Destarte, tendo prevalecido o entendimento da ocorrncia da circunstncia

    agravante da penalidade, em fase das disposies da pare final do art. 150, 4

    , do CTN, o

    evidente intuito de fraude, a contagem do prazo decadencial, no presente caso, desloca-se para

    a regra do artigo 173, inciso I, do Cdigo Tributrio Nacional, situao em que no consumou

    a decadncia, considerando que o fato gerador ocorreu em 31/12/1999 e o lanamento foi

    notificado contribuinte em 07/06/2005.

    como voto, expressando o desejo da maioria dos membros deste Colegiado,

    no sentido de manter a exigncia da exasperadora qualificada e, em conseqncia, considerar

    no decado o direito de o fisco constituir o crdito tributrio.

    Sala das Sesses-DF em 05 de dezembro de 2007.

    C ODRI

    : R, Redator Designado