carcinoma adenóide cístico de conduto auditivo externo_relato de caso

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9/3/2014 Carcinoma Adenóide Cístico de Conduto Auditivo externo:Relato de Caso.. http://www.rborl.org.br/39cbo/DA.asp?f=4937 1/6 Palavras-Chave Ceruminoma,Carcinoma adenóide cístico,conduto auditivo externo,otalgia.. Resumo Apresentamos um caso raro de tumor maligno de conduto auditivo externo.A.G.O.,com 35 anos de idade,sexo masculino,referia otalgia recorrente e otorréia intermitente em ouvido direito há 2 anos.Recebeu vários tratamentos clínicos com antibioticoterapia local e sistêmica,sem melhora efetiva.Procurou nosso serviço com queixa de hipoacusia associada,parestesia em hemiface direita e trismo.Ao exame físico encontramos uma lesão em conduto auditivo externo,endurecida,dolorosa à palpação,ocluindo o canal.Foram realizadas 2 tomografias de ossos temporais,mostrando uma tumoração de densidade de partes moles com discreta rarefação óssea na última TC realizada.Foi realizada biópsia da lesão,com o primeiro resultado concluindo ser adenoma.Optou-se por nova biópsia,revelando ser um carcinoma adenóide cístico.O paciente foi encaminhado para o Instituto Nacional do Câncer(INCA) para radioterapia e ressecção cirúrgica.Os autores concluem que torna-se importante pensarmos em lesão maligna no caso de indivíduos com otite externa sem melhora clínica... Keywords Ceruminoma,adenoid cystic carcinoma,external auditory canal,ear pain.. Abstract We present a rare case of malignant tumor of the external auditory canal.A.G.O.,35 year-old man,with recurrent ear pain and intermittent otorrhea in right ear for the past two years.He had received several treatments with otological drops and oral antibiotics without clinical improvement.He looked our service with associated hearing loss,right hemiface paresthesia and trismus.At the fisical examination, we found an injury in the E.A.C.,hardened,painful to the examination,obliterating the canal.Two computed tomography(CT) scan of the temporal bone had been made,demonstrating a tumor with soft tissues density with slight bone erosion in the last CT scan.A biopsy was taken and the first result concluded that was an adenoma.A new biposy was performed,disclosing to be an adenoid-cystic carcinoma.The patient was directed to the NICA(National Institute of Cancer) for radioterapy and surgery ressection.The authors conclude that becomes important to think about malignant injury in the case of individuals with external otitis without clinical improvement... Relato de Caso (39 CBO) Carcinoma Adenóide Cístico de Conduto Auditivo externo:Relato de Caso.. Adenoid cystic carcinoma of the external auditory canal:case report.. Autores: Ivan Carlos Orensztajn.. (Médico Otorrinolaringologista..) Francisco Javier Gonzalez Poceiro.. (Residência Médica em Otorrinolaringologia Pós-Graduação em Medicina do Trabalho Pós-Graduação em Medicina Hiperbárica..) Adriana Esteves Rabello.. (Médica Residente do 3o ano do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital do Andaraí..) Jorge Alberto Trigueiro Filho.. (Médico Residente-R2..) Instituição: Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital do Andaraí Suporte Financeiro: Introdução O carcinoma adenóide cístico (CAC) é uma variante específica do adenocarcinoma das glândulas mucosas e salivares.Os CACs da cabeça e pescoço são mais comumente encontrados nas glândulas salivares,cavidade oral,palato,cavidade nasal ou nasofaringe 1 .Os tumores malignos do conduto auditivo externo(CAE) são muito raros,excluindo aqueles do pavilhão auricular que se estendem ao conduto 2 ,3 . O tecido celular subcutâneo do CAE é escasso,com glândulas sebáceas,ceruminosas e folículos pilosos;este é o local mais comum de origem tumoral.A drenagem linfática segue para os linfonodos auriculares anterior,posterior e inferior, sendo este último drenado para o linfonodo subparotídeo e subdigástrico.Na porção inferior e posterior

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relato de caso de carcinoma adenoide

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9/3/2014 Carcinoma Adenóide Cístico de Conduto Auditivo externo:Relato de Caso..

http://www.rborl.org.br/39cbo/DA.asp?f=4937 1/6

Palavras-ChaveCeruminoma,Carcinoma adenóide cístico,condutoauditivo externo,otalgia..

ResumoApresentamos um caso raro de tumor maligno deconduto auditivo externo.A.G.O.,com 35 anos deidade,sexo masculino,referia otalgia recorrente eotorréia intermitente em ouvido direito há 2anos.Recebeu vários tratamentos clínicos comantibioticoterapia local e sistêmica,sem melhoraefetiva.Procurou nosso serviço com queixa dehipoacusia associada,parestesia em hemiface direita etrismo.Ao exame físico encontramos uma lesão emconduto auditivo externo,endurecida,dolorosa àpalpação,ocluindo o canal.Foram realizadas 2tomografias de ossos temporais,mostrando umatumoração de densidade de partes moles com discretararefação óssea na última TC realizada.Foi realizadabiópsia da lesão,com o primeiro resultado concluindoser adenoma.Optou-se por nova biópsia,revelando serum carcinoma adenóide cístico.O paciente foiencaminhado para o Instituto Nacional doCâncer(INCA) para radioterapia e ressecçãocirúrgica.Os autores concluem que torna-se importantepensarmos em lesão maligna no caso de indivíduoscom otite externa sem melhora clínica...

KeywordsCeruminoma,adenoid cystic carcinoma,externalauditory canal,ear pain..

AbstractWe present a rare case of malignant tumor of theexternal auditory canal.A.G.O.,35 year-old man,withrecurrent ear pain and intermittent otorrhea in right earfor the past two years.He had received severaltreatments with otological drops and oral antibioticswithout clinical improvement.He looked our service withassociated hearing loss,right hemiface paresthesia andtrismus.At the fisical examination, we found an injury inthe E.A.C.,hardened,painful to theexamination,obliterating the canal.Two computedtomography(CT) scan of the temporal bone had beenmade,demonstrating a tumor with soft tissues densitywith slight bone erosion in the last CT scan.A biopsywas taken and the first result concluded that was anadenoma.A new biposy was performed,disclosing to bean adenoid-cystic carcinoma.The patient was directedto the NICA(National Institute of Cancer) forradioterapy and surgery ressection.The authorsconclude that becomes important to think aboutmalignant injury in the case of individuals with externalotitis without clinical improvement...

Relato de Caso (39 CBO)

Carcinoma Adenóide Cístico de Conduto Auditivo externo:Relato de Caso..Adenoid cystic carcinoma of the external auditory canal:case report..

Autores:

Ivan Carlos Orensztajn.. (Médico Otorrinolaringologista..)

Francisco Javier Gonzalez Poceiro.. (Residência Médica em Otorrinolaringologia Pós-Graduação emMedicina do Trabalho Pós-Graduação em Medicina Hiperbárica..)

Adriana Esteves Rabello.. (Médica Residente do 3o ano do serviço de Otorrinolaringologia do Hospitaldo Andaraí..)

Jorge Alberto Trigueiro Filho.. (Médico Residente-R2..)

Instituição: Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital do Andaraí

Suporte Financeiro:

Introdução

O carcinoma adenóide cístico (CAC) é uma variante específica do adenocarcinoma das glândulas mucosas esalivares.Os CACs da cabeça e pescoço são mais comumente encontrados nas glândulas salivares,cavidade

oral,palato,cavidade nasal ou nasofaringe1 .Os tumores malignos do conduto auditivo externo(CAE) são muito

raros,excluindo aqueles do pavilhão auricular que se estendem ao conduto2,3 .

O tecido celular subcutâneo do CAE é escasso,com glândulas sebáceas,ceruminosas e folículos pilosos;este é olocal mais comum de origem tumoral.A drenagem linfática segue para os linfonodos auriculares anterior,posteriore inferior, sendo este último drenado para o linfonodo subparotídeo e subdigástrico.Na porção inferior e posterior

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do conduto, a inervação é dada pelo X par craniano e a porção anterior e superior é inervada pelo auriculo

temporal,ramo do mandibular(oriundo do V par).4

As relações anatômicas do CAE são: anteriormente, com a articulação temporo-mandibular(ATM);posteriormentecom a mastóide e inferiormente com a glândula parótida.

Relato de Caso

A.G.O.,45 anos, masculino, casado,procurou o serviço de Otorrinolaringologia do Hospital doAndaraí em agosto de 2005,referindo otalgia à direita associada à otorréia intermitente.À otoscopiaverificamos hiperemia de CAE,sugerindo Otite Externa Aguda,sendo prescrito antibioticoterapiatópica e sistêmica.Após este atendimento, o paciente não retornou para uma nova consulta atémeados de 2006,quando novamente procurou o serviço.

Relata que não observando melhora com o tratamento preconizado,optou por procurar umotorrinolaringologista próximo à sua residência no ano anterior.Foi submetido a uma tomografiacomputadorizada de ossos temporais,que revelou uma massa com densidade de partes moles emCAE direito,ocupando a parte externa do mesmo,sem ocluir por completo o canal,sem erosão ósseaou invasão de tecidos adjacentes.Nesta nova consulta no nosso serviço, além da persistência dossintomas anteriores,referiu parestesia em hemiface direita e diminuição da audição.Ao exame físico,foi localizada lesão endurecida e dolorosa à palpação,ocluindo o condutocompletamente.Apresentava também dor irradiada para a mandíbula e trismo associado.Parótidasde tamanho normal.

Foi solicitada nova TC que revelou um aumento significativo da massa em conduto auditivoexterno,com ouvido médio livre,membrana timpânica íntegra mas com rarefação óssea em paredeanterior de conduto.

A biópsia realizada revelou tratar-se de adenoma, porém com inúmeros artefatos, com a patologiado hospital sugerindo um novo exame.Foi então realizada uma nova biópsia, revelando tratar-se decarcinoma adenóide cístico.

Após este resultado o paciente em questão foi medicado com analgésico opiáceo(Tramadol 50mgVO de 8 em 8 horas) para alívio da dor e encaminhado ao INCA para radioterapia e ressecçãocirúrgica do tumor.

Até novembro de 2007 o paciente não fez contato com o serviço.

Discussão

A origem verdadeira das neoplasias glandulares do conduto auditivo externo é controversa. Foiproposto que estes tumores são oriundos das glândulas ceruminosas, as quais são modificadas deglândulas apócrinas com algumas funções écrinas.Alguns autores têm sugerido que estes tumores

têm origem de glândulas salivares ectópicas do conduto, mas nada foi comprovado.5,6

O carcinoma adenóide cístico também costuma ser chamado de ceruminoma,com seu primeirorelato em 1894 por Haug.Porém, de acordo com diversos autores, esta terminologia deve serabolida,em favor de classificação baseada nos achados histológicos.Wetli et al.,em 1972,apósrevisão da literatura, propuseram uma classificação dividindo os tumores do meato acústico externoem quatro categorias: os benignos- adenoma e adenoma pleomórfico;os malignos- adenocarcinoma

e carcinoma adenóide cístico.1-6

Os pacientes usualmente apresentam-se com otalgia,podendo esta ser crônica, massa no CAE e

hipoacusia.2O CAC tem a característica de crescimento lento e, por sua escassez de sintomas, o

diagnóstico é frequentemente tardio,quando o tumor já atingiu tamanho considerável.1-6

De acordo com Castro e colaboradores, deve-se ter cautela com o material obtido na biópsia, poispode não ser representativo do todo, tendo em vista que alguns tumores apresentam uma

variedade de características em diferentes partes.7

O tratamento dos CACs envolvem uma ressecção cirúrgica completa com margens cirúrgicas livres,o que pode ser dificultado pois o envolvimento perineural é comumente encontrado nessas

neoplasias8.A cirurgia pode requerer a colaboração de diferentes especialistas, pois sua extensãopode variar de uma simples exérese local até uma ressecção sub-total ou total do osso temporal,

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com ou sem retirada da articulação têmporo-mandibular.1,7,9

A radioterapia isolada tem pouco a oferecer, entretanto, pode ser útil no alívio da dor e nasmetástases,quando associada à cirurgia.a quimioterapia ainda não foi avaliada de maneira

apropriada10.O acompanhamento dos pacientes acometidos por essa neoplasia deve ser regular eprolongado, tendo em vista o alto índice de recorrência, especialmente se já invadiram o tecido

cartilaginoso ou ósseo.9,10

Segundo ONeil e Parker, todos os tumores de células ceruminosas são de mau prognóstico,

principalmente por serem detectados tardiamente.10

Conclusão

Concluimos que não podemos descartar uma neoplasia maligna em pacientes com história de otalgiacrônica e otorréia, sem melhora com os tratamentos clínicos disponíveis, devendo portanto sempreinvestigar melhor esses casos.O paciente em questão apresentava sintomas compatíveis com osdescritos na literatura, porém somente quando a lesão de tornou visível macroscopicamente, foipossível pensar em uma patologia maligna.Concluimos que todo paciente com lesão tumoral em CAEdeve ser submetido à biópsia,mesmo sendo jovem.

Referências Bibliográficas:

1.Aikawa H, Tomonari K, Okino Y et al. Adenoid cystic carcinoma of the external auditory canal:correlation between histological features an MRI appearances. Brit J Radiol 70:530-2, 1997

2.Millman B, Giddings N. Pathologic quiz: case 2. Arch Otoralyngol Head and Neck Surg1994;120:770-773

3.Arora YR.Ceruminoma of the external auditory matus. J Laryngol Otol 1964;78:569-572

4.Rapoport PB, Cruz CHG e cols.Carcinoma Adenóide Cístico de conduto auditivo externo:Relato deCaso.Rev Bras ORL1999,65 vol4 365-368

5.Mansour J,George MK,Pahor AL. Ceruminous gland tumors: a reappraisal.J Laryngol Otol.1992;106: 727-732

6.Wetli CV,Pardo V e cols. Tumors of ceruminous glands. Cancer. 1972;29:1169-1178

7.Castro MCM, Fagundes-Pereyra WJ e cols. Tumor de glândula ceruminosa com invasãointracraniana:Relato de Caso.Arq. Neuropsiquiatr;58(2A):324-9, Jun. 2000

8.Conlin PA, Mira JL e cols. Ceruminous gland adenoid cystic carcinoma with contralateralmetastasis to the brain. Arch Pathol Lab Med-vol 126,jan 2002;126:87-89

9.Iqbal A, Newman P.Ceruminous gland neoplasia:case report. Br J Plast Surg 1998;51:317-320

10.Mills RG,Douglas-Jones T, Willians RG. Ceruminoma. J Laryngol Otol 1995;109:180-188

Orelha direita

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Estenose de Conduto Auditivo Externo com lesÆo infiltrante

Tomografia de mastóide

Exame realizado em 2005.LesÆo ocupando C.A.E. direito,sem erosÆo ¢ssea.

Tomografia de mastóide-2006

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Nova tomografia realizada em 2006,evidenciando lesÆo com densidade de partes moles,ocupando todoC.A.E..Sem erosÆo ¢ssea.Ouvido m‚dio ¡ntegro.

Tomografia de mastóide-2006

Corte demonstrando rarefa‡Æo ¢ssea e lesÆo com densidade de partes moles em orelha direita,ocupando todo oC.A.E.

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Orelha direita

Estenose de C.A.E.

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