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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA MAYSA MARIA TORRES SANJUAN CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA EFETIVAÇÃO DA MUNICIPALIZAÇÃO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Salvador, BA – Brasil 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA

MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA

MAYSA MARIA TORRES SANJUAN

CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA EFETIVAÇÃO DA MUNICIPALIZAÇÃO DO

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Salvador, BA – Brasil

2007

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MAYSA MARIA TORRES SANJUAN

CARACTERIZAÇAO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA A EFETIVAÇÃO DA MUNICIPALIZAÇÃO DO

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana, Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do titulo de mestre em Engenharia Ambiental Urbana.

Orientador: Prof. Dr. Severino Soares Agra Filho UFBA)

Salvador, BA - Brasil

2007

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Biblioteca Central Reitor Macêdo Costa - UFBA

S227 Sanjuan, Maysa Maria Torres. Caracterização dos elementos fundamentais para a efetivação da municipalização

do licenciamento ambiental / Maysa Maria Torres Sanjuan. - 2008. 158 f.

Orientador : Prof. Dr. Severino Soares Agra Filho.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Escola Politécnica, 2007.

1. Licenças ambientais - Bahia - Municípios. 2. Gestão ambiental - Bahia - Municípios. 3. Impacto ambiental. 4. Desenvolvimento sustentável. 5. Política ambiental. I. Agra Filho, Severino Soares. II. Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica. III. Título.

CDU 364 25(813 8)

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Maysa Maria Torres Sanjuan

CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA EFETIVAÇÃO DA MUNICIPALIZAÇÃO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Ambiental Urbana.

Salvador, 29 de novembro de 2007

Banca Examinadora: _______________________________________ Prof. Dr. Severino Soares Agra Filho Universidade Federal da Bahia – UFBA ________________________________ Profa. PhD. Márcia Mara de Oliveira Marinho Universidade Federal da Bahia – UFBA ___________________________________ Prof. Dr. Silvio Roberto Magalhães Orrico Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS

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Dedico este trabalho a minha mãe, Maria Auxiliadora;ao meu esposo, Luiz

Berti e aos meus queridos filhos: Victor , Luciano, Luiz Vicente e Mário Luiz, que

para sempre serão a minha vida.

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" A visão cristã da criação comporta um juízo positivo sobre a liceiedade das intervenções do homem na

natureza, aí inclusos também os outros seres vivos, e , ao mesmo tempo , uma forte chamada ao senso de

responsabilidade. De fato, a natureza não é uma realidade sacra ou divina, subtraída à ação humana. É, antes, um

dom oferecido pelo criador à comunidade humana, cinfiado à inteligência e à responsabilidade moral do homem. Por isso ele não comete ato ilícito quando,

respeitando a ordem, a beleza e a utilidade de cada ser vivente e da sua função no ecossistema, intervém

modificando-lhe algumas características e propriedades. São deploráveis as intervenções do homem quando

danificam os seres viventes ou o ambiente natural, ao passo que são louváveis quando se traduzem no seu

melhoramento."

(Compêndio da Doutrina Social da Igreja)

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AGRADECIMENTOS Ao Professor Severino Agra Filho, por compartilhar dos conhecimentos construídos

sobre as questões ambientais.

A professora Márcia Marinho, pelo apoio e exemplo de grandeza no seu exercício

de docência.

A professora Patrícia Borja, pela sua contribuição em meu primeiro artigo

publicado.

A FAPESB, pelo investimento para a realização desta pesquisa.

A Prefeitura Municipal de Sobradinho, por colocar-me à disposição do curso de

mestrado.

A todos aqueles a quem entrevistei – Dra. Gravina Ogata, Marcelo Cerqueira, Allan

Jonnes. Dailson Ramalho, Daine Maltez e Edumundo Pereira - pela boa vontade e

disponibilidade de prestarem seus depoimentos que tanto contribuíram na

construção desse estudo.

A Welton Filho e a Rosa Alencar S. de Almeida, pela importante contribuição que

deram para a finalização deste trabalho.

A Celito Kestering, por ter sido um estímulo na busca de conhecimentos.

A Ducilene e Eduardo, por me fazerem acreditar que sou capaz.

A Joselita, Nara e Ebezion, pelo carinho e companheirismo em todas as horas.

A Tânia, Mônica, Mônica e Nazira, pelo carinho e estímulo na caminhada.

A Josué, Vanda e Deca, pela dedicação à minha família ao longo dessa jornada.

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Aos amigos de Sobradinho, por terem sido sementes fecundas neste meu projeto

de vida.

A minha mãe, irmãs (especialmente Lídia), irmão e sobrinhos, pelo apoio e

admiração e pelo amor que nos fortalece a andarmos unidos por caminhos

adversos.

Ao meu Velho pai (in memória), que nunca desistiu dos seus sonhos, deixando

para todos nós esse legado.

Aos sobrinhos Gustavo, Lívia, Tais e Carla Araujo pelo e apoio e carinho.

Aos meus filhos, Mário, Luiz Vicente, Luciano e Victor, que me asseguraram a

honra da maternidade, pelos verdadeiros homens que são, porque são guerreiros

pelo amor, honradez e companheirismo.

Ao meu grande companheiro Luiz Berti, pelo exemplo de força interior,

determinação e humildade na conquista dos seus sonhos. E por me ensinar que

sempre após um tropeço tornamos-nos mais firmes para prosseguir na caminhada

e, essencialmente por elevar ao topo os meus mais simples potenciais.

A Deus, pela dádiva e permissão de ter alçado este grande sonho: Ser Mestre em

Engenharia Ambiental Urbana.

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SUMÁRIO

Capitulo 1 1. INTRODUÇÃO 1

1.1. OBJETIVO DA PESQUISA 5

1.1.1 Objetivo Geral 5 1.1.2 Objetivos Específicos 5

Capítulo 2 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 7

Capítulo 3 3 REFERENCIAL TEÓRICO 18 3.1 A QUESTÃO DA SUSTENTABIDADE 18

3.2 POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL 22

3.3 A GESTÃO AMBIENTAL 25

3.4 O LICENCIAMENTO AMBIENTAL 27

3.4.1 Fundamentação Legal do Licenciamento ambiental 30 3.4.2 Competência para o Licenciamento Ambiental 32 3.4.3 Procedimentos Básicos 34 3.4.4 A Descentralização do Licenciamento Ambiental 36 3.4.5 A Participação Pública 41 3.4.6 A Interface do Licenciamento e os Demais Instrumentos Gestão ambiental 45 3.4.7 Alguns Aspectos do Licenciamento Ambiental em Outros Países 50

Capítulo 4

4 O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL 54

3.5.1 PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA ESFERA

FEDERAL 54

4.1.1 Analise do Licenciamento Ambiental na Esfera Federal 58

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4.1.2 O Sistema Nacional de Meio Ambiente 60 4.2 O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO ESTADO

DA BAHIA 61 4.2.1 Fluxo do Processo de Licenciamento Ambiental no Estado da

Bahia 68

Capítulo 4 4 PARÂMETROS DE ANÁLISE PARA A EFETIVIDADE DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA ESFERA DOS MUNICÍPIOS 70 4.1 PROCESSO DE LICENCIAMENTO 71

4.2 ASPECTOS INSTITUCIONAIS 73

4.3 ASPECTOS GERENCIAIS 75

4.4 PARTICIPAÇÃO PÚBLICA 76

Capítulo 5 5 ESTUDOS DE CASOS DOS PROCESSOS DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL NOS MUNICÍPIOS 81 5.1 ESTUDO DE CASO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM

ALAGOINHAS 82

5.1.1 O Contexto Sócio-Ambiental 82 5.1.2 O Processo de Licenciamento Ambiental 83 5.1.3 Aspectos Operacionais do Licenciamento Ambiental 84 5.1.4 Contexto Institucional 92 5.1.5 Aspectos Gerenciais 98 5.1.6 Participação Pública 105 5.2 ESTUDO DE CASO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM LAURO

DE FREITAS 107 5.2.1 O Contexto Sócio-Ambiental 107 5.2.2 O Processo do Licenciamento Ambiental 109 5.2.3 Aspectos Operacionais do Licenciamento Ambiental 110 5.2.4 O Contexto Institucional 117

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5.2.5 Aspectos Gerenciais 121 5.2.6 Participação Pública 126 5.3 O ESTUDO DE CASO DA QUESTÃO AMBIENTAL

EM SOBRADINHO 129

5.3.1 O Contexto Sócio – Ambiental 129 5.3.2 O contexto Institucional 132 5.3.3 Aspectos Gerenciais 135 5.3.4 Participação Pública 138 5.3.5 SÍNTESE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DO SISTEMA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DOS MUNICÍPIOS 140

Capítulo 6 6 DISCUSSÕES 145

Capítulo 7 7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 151 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 158

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LISTA DE QUADROS QUADRO1 – FATORES RELEVANTES PARA A EFETIVIDADE DO

LICENCIAMENTO AMBIENTAL 78

QUADRO 2 - ASPECTOS OPERACIONAIS 140

QUADRO 3 - ASPECTOS INSTITUCIONAIS 141

QUADRO 4 - ASPECTOS GERENCIAIS 143

QUADRO 5 - PARTICIPAÇÃO PÚBLICA 144

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LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Fluxograma de Metodologia da Pesquisa 07

Figura 02 – Ciclo do Licenciamento Ambiental 28

Figura 03 – Fluxograma Simplificado Licenciamento Ambiental 69

Figura 04 – Caracterização dos municípios 149

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAE – Avaliação de Impacto Ambiental

APA – Área de Preservação Ambiental

CBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral

CEPRAM – Conselho Estadual de Meio Ambiente (BAHIA)

COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente

COMMAMDAS – Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Auto

Sustentável

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

CRA – Centro de Recursos Ambientais

DSA – Departamento de Saneamento Ambiental

DGA – Departamento de Gestão Ambiental

DGU – Departamento de Gestão Urbana

DNPM – Departamento Nacional de Pesquisa Mineral

EIA – Estudo de Impactos Ambientais

EC – Estatuto da Cidade

EIV – Estudo de Impacto de Vizinhança

FADS – Fórum Alagoinhense de Desenvolvimento Sustentável

FEMMA – Fundo Municipal de Meio Ambiente

FMMANDAS – Fundo Municipal de Meio ambiente e Desenvolvimento Auto

Sustentável

GAM – Municipalização da Gestão Ambiental

GT – Grupo de Trabalho

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

LA – Licença Ambiental

LA – Licença de Ampliação

LI – Licença de Instalação

LL – Licença de Localização

LO – Licença de Operação

LP – Licença Prévia

LS – Licença Simplificada

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MMA – Ministério de Meio Ambiente

MP – Ministério Público

NEAMA – Núcleo de Estudos Avançados do Meio Ambiente

NPDS – National Pollutant Discharge Elimination System Permit Program – NPDES

ONG – Organização Não Governamental

PDDU – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

PMSA – Plano Municipal de Saneamento Ambiental

PPP – Políticas, Planos e Programas

PRAD – Plano de Recuperação de Áreas Degradas

RIMA – Relatório de Impactos ao Meio Ambiente

SEARA – Sistema Estadual de Administração dos Recursos Ambientais

SEMARH – Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

SEFAZ - Secretaria da Fazenda

SEIA – Serviço Estadual de Informações Ambientais

SEPLANTUR – Secretaria Municipal de Planejamento, Turismo e Meio Ambiente

SISMUMA – Sistema Municipal de Meio Ambiente

SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente

SRH – Superintendência de Recursos Hídricos

TCU – Tribunal de Contas da União

TR – Termo de Referência

UNEB – Universidade do Estado da Bahia

ZEE – Zoneamento Ecológico Econômico

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RESUMO

A pesquisa analisa os fatores institucionais, gerenciais, procedimentais

e políticos que atuam na municipalização do Licenciamento Ambiental. A

perspectiva da municipalização do Licenciamento prescinde de mecanismos de

controle capazes de conciliar o desenvolvimento com a proteção ambiental na

esfera local. A licença ambiental traduz-se em um mecanismo de permissão do

órgão competente, baseada em estudos ambientais, concedida ao empreendedor

para a realização de intervenções utilizadoras de recursos naturais, desde que

atendidas às precauções requeridas, a fim de resguardar o direito coletivo ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado.

O procedimento metodológico adotado neste trabalho consiste em

estudos de casos realizados mediante entrevistas e análises documentais, nos

municípios de Alagoinhas e Lauro de Freitas, que desempenham a gestão

ambiental. A pesquisa também analisou Sobradinho, que não pratica o

Licenciamento Ambiental, como uma controvérsia, para contribuir com a discussão

do papel e capacidade da efetividade do processo na esfera local.

O presente estudo indica que o Licenciamento Ambiental em Alagoinhas

e Lauro de Freitas retrata o compromisso do poder público em estabelecer a

capacidade de gerir o desenvolvimento local, internalizando procedimentos

institucionais, processuais, estruturais, gerenciais e de participação pública, que

contribuem com a efetividade do processo. Entretanto, Sobradinho retrata uma

lacuna em relação à atuação do Poder Local nas questões ambientais, resultando

na total dependência ao órgão estadual. Logo, para transpor essa problemática é

necessário um órgão ambiental organizado, politicamente, institucionalmente,

tecnicamente e estruturalmente para exercer a sua competência na defesa do

meio ambiente.

PALAVRAS-CHAVES: Instrumentos de gestão ambiental; municipalização do

Licenciamento ambiental; impactos ambientais; Licenciamento Ambiental.

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ABSTRACT

This research analyses the institutional, managerial, procedural and

political factors involved in the process of municipalization of environmental

licensing program. The municipalization of environmental licensing engenders the

possibility of control mechanisms that are able to reconcile economic development

with environmental protection at the local level. The environmental license program

translates into permissions granted by the responsible public agency based on

environmental studies, to the entrepreneur for developments that use or affect

natural resources. These licenses are given provided that the required precautions

are taken, in order to protect the right to our collective ecologically balanced

environment.

The methodological procedures adopted consist on case studies

developed through interviews and documental analysis on Alagoinhas and Lauro

de Freitas, municipalities that develop environmental management. The research

has also analyzed Sobradinho, which doesn’t execute environmental licensing

programs as a controversy, to contribute with the debate about the role and

potentialities of the effectiveness of the process at the local level.

The research indicates that Alagoinhas’ and Lauro de Freitas’

environmental licensing shows the compromise of the public power on establishing

the capacity of managing local development, internalizing institutional, procedural,

structural, managerial and public participation procedures, which contribute with the

process effectiveness. On the other hand, Sobradinho presents no local government

action concerning environmental issues, resulting on a total dependency of the

environmental managing agency in the state level. Therefore in order to solve this

problem, it is necessary an environmental agency politically, institutionally,

technically and structurally organized to exert its duties regarding the defense of the

environment.

KEYWORDS: Instruments of environmental management; municipalization of

Environmental Licensing; environmental impacts; Environmental Licensing.

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Capitulo 1 1.1 INTRODUÇÃO A adoção de políticas públicas buscando a sustentabilidade implica

em pensar o modelo de desenvolvimento, repensar as relações sociais e

econômicas dos indivíduos com a natureza, para o atendimento das

necessidades e satisfação humana, bem como assegurar a vida para as

demais espécies A gestão sustentável dos recursos ambientais depende da

efetivação de instrumentos e mecanismos das políticas públicas ambientais

como elementos propulsores do direito ao meio ambiente sustentável. O

Licenciamento Ambiental na esfera do município constitui-se em um

instrumento que poderá viabilizar o uso racional dos recursos naturais e a

eqüidade do seu acesso a partir do espaço local.

Os municípios, usando das prerrogativas e poder legal para

proteger o meio ambiente, devem organizar-se para exercerem suas

atribuições, pois, de acordo com o sistema legal brasileiro, essa função

preventiva do poder público não é uma faculdade, mas, sim, um dever

(ALONSO Jr. 2002).

O município é a célula da nação onde ocorrem os eventos

econômicos e sociais. É o local em que a sociedade sofre diretamente as

conseqüências das intervenções. Decidir por licenciar questões de interesse

local é tarefa arriscada para o Estado e para a União. Entretanto, os

municípios devem organizar-se para assumir esta responsabilidade.

A proximidade com as áreas onde ocorrem as intervenções

possibilita uma maior facilidade ao poder público local de avaliar a evolução

dos impactos ambientais ocasionadas pelas atividades e serviços. A

concessão das licenças em âmbito local reduz os custos de

acompanhamento e fiscalização para a verificação do cumprimento das

medidas de mitigação, reparação e compensação dos referidos impactos.

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Entretanto, a grande maioria dos municípios ainda não tem caminhado no

sentido de se capacitarem no processo de gestão ambiental em virtude de

não buscarem exercer suas funções na proteção do meio ambiente.

O fortalecimento da municipalização do Licenciamento Ambiental

será um fator preponderante para fazer com que o município exerça

efetivamente o seu papel. A prática do Licenciamento Ambiental na esfera

local deverá estar pautada em um nível satisfatório de organização que possa

permitir uma maior efetividade dos processos de Licenciamento,

considerando que cada município deverá instrumentalizar-se e capacitar-se

para responder pelos eventos que ocorrerem em sua esfera.

As pendências de licenças ambientais em todo território brasileiro,

ocasionadas principalmente pelo acúmulo da demanda, vêm acarretando

vários problemas aos setores econômicos, suscitando diversas críticas às

agências licenciadoras, no sentido de responsabilizá-las pelo emperramento

do desenvolvimento do país e por cercearem as oportunidades de geração de

trabalho e renda. A ausência ou morosidade dos processos de Licenciamento

Ambiental pode implicar em prejuízos ambientais, sociais e econômicos.

A perspectiva da municipalização do Licenciamento Ambiental

engendra um novo horizonte de mecanismos de controle na esfera local no

sentido de conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção efetiva dos

recursos naturais e a busca da justiça social. A licença ambiental traduz-se em

uma permissão do órgão público competente, baseada em estudos ambientais,

concedida ao empreendedor para que exerça o seu direito à livre iniciativa,

desde que atendidas às precauções requeridas, a fim de resguardar o direito

coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

A pesquisa trata de um tema relevante tanto para a comunidade

acadêmica pela contribuição teórica construída, como para o poder público

pelas informações processadas no contexto das políticas públicas ambientais.

Para tanto fortalece a descentralização da gestão ambiental, como mais um

componente para a efetivação do pacto federativo.

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Os municípios de Lauro de Freitas e Alagoinhas foram escolhidos

como municípios âncoras para os estudos de caso dos processos de

Licenciamento, pelo fato de serem pioneiros na realização da gestão

ambiental no Estado da Bahia e mostrarem-se mais organizados na

efetivação do processo de Licenciamento Ambiental.

A inclusão do município de Sobradinho no estudo se deu em face

da riqueza de informações existentes em relação aos problemas ambientais

gerados, e especialmente por ser um município que possui várias leis

voltadas para a questão ambiental e, no entanto, essas leis não apresentam

eficácia em virtude da ausência de capacidades institucionais para proceder

ao Licenciamento Ambiental.

Dessa forma a pesquisa analisa o município de Sobradinho que

não realiza o Licenciamento Ambiental, sob a égide de uma emblemática

controvérsia, para contribuir com a discussão do papel e capacidade da

efetividade do processo na esfera municipal.

Diante deste quadro, busca-se analisar como esses fatores podem

influenciar para a implantação do Licenciamento Ambiental, considerando o

contexto em que o Licenciamento ocorre nos municípios de Lauro de Freitas e

Alagoinhas. Ou seja, a pesquisa avalia a ambigüidade existente entre os

municípios em relação ao papel e a capacidade de efetividade da

institucionalidade do Licenciamento Ambiental, à medida que esses municípios

cumprem com o seu papel na defesa ambiental, e em contraponto o município

de Sobradinho não atua no referido sistema.

O presente estudo constata que a prática do Licenciamento

Ambiental no âmbito dos municípios prescinde essencialmente do

comprometimento da sociedade civil, do setor privado, dos governantes, para

que se estabeleça um processo proativo em que as informações, as normas, e

as praticas estejam entrelaçadas formando um novo paradigma, e que o órgão

ambiental local esteja suficientemente aparelhado, politicamente,

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institucionalmente, tecnicamente e estruturalmente para exercer a sua

competência na defesa do meio ambiente.

A pesquisa apresentada neste documento encontra-se distribuída

em oito capítulos, da seguinte forma: O primeiro capítulo apresenta por meio

da introdução o contexto do trabalho, ao tempo em que enfoca os objetivos

justificando a relevância da investigação científica. O segundo capítulo

detalha a metodologia aplicada em todas as etapas da pesquisa.

O terceiro capítulo retrata os aspectos teóricos da Questão da

Sustentabilidade e comenta sobre os processos de construção do conceito de

desenvolvimento sustentável. Esse capítulo apresenta uma abordagem do

papel das políticas públicas no contexto das questões ambientais e discute

sua aplicação dentro da noção da gestão ambiental e sua atuação mediante

os instrumentos de gestão.

O capítulo III, traz também o enfoque do Licenciamento Ambiental,

discorrendo sobre o seu papel como instrumento de regulação preventiva dos

impactos ambientais, dando destaque à importância do Licenciamento como

instrumento que contribui para a promoção do desenvolvimento sustentável.

O terceiro capítulo ainda relata os aspectos legais do processo de

Licenciamento Ambiental discutindo a competência dos diversos entes

federados para realizarem esse procedimento e apresenta uma abordagem

da participação da sociedade na definição das políticas públicas ambientais.

Já o capítulo IV traz a discussão do processo de descentralização e

municipalização do Licenciamento Ambiental, ao tempo em que contextualiza

os procedimentos adotados em relação ao Licenciamento Ambiental em

alguns paises, na esfera federal e no estado da Bahia.

O capítulo V apresenta os parâmetros de análise do processo do

Licenciamento no contexto da política pública no âmbito dos municípios, e

delimita os critérios para o processo de análise com base no referencial teórico

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construído na pesquisa, para o Licenciamento Ambiental nos municípios

estudados.

O capítulo VI apresenta o estudo de caso do processo de

Licenciamento Ambiental nos municípios de Lauro de Freitas e Alagoinhas.

Descreve a implantação do sistema de gestão ambiental, critérios e

procedimentos do Licenciamento nessas localidades. Esse capítulo retrata o

perfil da questão ambiental em Sobradinho analisando sua estrutura

institucional, estrutural e política. No capítulo VII são apresentadas as

discussões sobre os dados dos municípios analisados e são também

explicitadas algumas contribuições para o aprimoramento do sistema de

Licenciamento Ambiental municipal. No capítulo VIII estão conclusões e as

recomendações apresentadas pela pesquisa. Nesse capítulo destacam-se as

principais evidências reveladas pelas análises e as sugestões delas

decorrentes.

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA 1.2.1 Objetivo Geral

Analisar os fatores institucionais, gerenciais, procedimentais e

políticos que auxiliam ou dificultam o processo de Licenciamento Ambiental

nos municípios e a sua interação com os aspectos da gestão ambiental. 1.2.2 Objetivos Específicos

Este trabalho apresenta os seguintes objetivos específicos:

Avaliar os instrumentos legais, os mecanismos e os

procedimentos que potencializam ou dificultam o processo de

Licenciamento Ambiental nos municípios de Alagoinhas e Lauro de

Freitas.

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Avaliar a questão ambiental do município de Sobradinho, que

não realiza o Licenciamento Ambiental, sob a égide de uma

emblemática controvérsia, para contribuir com a discussão do

papel e capacidade da efetividade do Licenciamento Ambiental na

esfera municipal.

Propor elementos indicativos, inerentes aos aspectos

institucionais, organizacionais, gerenciais e operacionais, voltados

ao aperfeiçoamento do sistema de Licenciamento Ambiental nos

municípios.

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Capítulo 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A reflexão metodológica é uma etapa fundamental na pesquisa e,

portanto, necessária para criar uma atitude consciente e crítica por parte do

pesquisador em relação às operações científicas que são realizadas na

investigação (LOPES, 2001). Lopes (2001) afirma que a metodologia aclara o

campo de ação da ciência, seus procedimentos, o valor de seus resultados e o

âmbito de suas possibilidades.

A metodologia aplicada nesta pesquisa foi a qualitativa em face de

permitir uma análise mais detalhadas sobre as investigações, comportamentos

e tendências, dentre outros aspectos. Segundo Lakatos e Marconi (2004), a

metodologia qualitativa busca analisar e interpretar os aspectos mais profundos

de uma pesquisa. Esses autores relatam que diferentemente dos métodos

quantitativos, na abordagem qualitativa as amostras são reduzidas, os dados

são analisados em seu conteúdo psicossocial e os instrumentos de coleta não

são rigorosamente estruturados.

A metodologia qualitativa teve sua origem nos trabalhos

desenvolvidos pela antropologia. Posteriormente foi empregado pela sociologia

e psicologia, e em seguida inicia-se sua aplicação em educação, saúde,

geografia humana, dentre outras ciências (LAKATOS e MARCONI, 2004).

Richardson (1999) apud Lakatos e Marconi (2004) afirma que a

pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como tentativa de uma

compreensão detalhada dos significados e características situacionais

apresentadas pelos entrevistados, em lugar de produção de medidas

quantitativas de características ou comportamentos.

A metodologia adotada para a realização do presente trabalho é

fundamentada em uma análise qualitativa dos mecanismos que compõem o

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Licenciamento Ambiental como instrumento de proteção do meio ambiente, em

face das intervenções realizadas, avaliando assim, os fatores que atuam na

sua implementação nos municípios. Esta pesquisa foi realizada conforme

fluxograma abaixo, seguindo um processo metodológico de construção, de

forma que os diversos métodos se entrelaçam em busca de objetivos comuns.

FLUXOGRAMA DA METODOLOGIA DA PESQUISA

METODOLOGIA DA PESQUISA

Pesquisa teórica

Pesquisa bibliográfica Pesquisa documental

Figura 01

Dessa forma, para a realização do marco teórico foi desenvolvida

inicialmente uma pesquisa exploratória na qual foi feita a caracterização do

objeto através de levantamento de dados obtidos por meio de pesquisa

bibliográfica e documental, no sentido de aprofundar conhecimentos e

consolidar as informações a respeito do Licenciamento Ambiental.

Barros e Lehfeld (1990) afirmam que a pesquisa bibliográfica é de

fundamental importância porque permite obter conhecimentos já catalogados

em bibliotecas, editoras, internet dentre outros meios. Segundo Gil (2006) a

principal vantagem da pesquisa bibliográfica consiste no fato de permitir a

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cobertura de uma gama de informações que seria impossível obter-se se

pesquisadas diretamente, quando o problema da pesquisa requer dados

dispersos pelo espaço.

A pesquisa bibliográfica foi realizada com base em documentos já

elaborados tais como livros, dicionários, jornais e revistas, além de

publicações como artigos científicos, comunicações e ensaios críticos. Essa

parte da pesquisa consta das seguintes etapas: identificação, localização,

reunião dos materiais para construção do referencial teórico.

Ao desenvolver os componentes do Projeto de Pesquisa, o

pesquisador deve construir uma teoria inicial relativa ao estudo a ser realizado.

Esta teoria deve ser formulada antes do início da coleta de dados e ajudará a

complementar de forma consubstanciada as questões, as proposições ou o

propósito do estudo e as unidades de análise possibilitarão a ligação dos dados

às proposições e fornecerão os critérios para a análise dos dados. (YIN, 2006).

A discussão conceitual foi também realizada a partir da análise de

outros instrumentos, a exemplo de leis, artigos e documentos diversos

gerados por órgãos governamentais ou acadêmicos, inerentes ao contexto

institucional, estrutural e político, que possibilitaram uma análise mais

sistemática da questão em estudo.

Segundo Santos (2003), a conceituação da pesquisa não constitui

tarefa fácil, uma vez que cada cientista a define focalizando o aspecto que lhe

é mais factível. Os conceitos expostos permitem desvelar os caminhos e as

formas que devem ser seguidos para alcançar respostas sobre os problemas

e fatos que se busca desvendar. A pesquisa deve ser vista sempre como

uma expectativa de acumulação de saber organizado para o desenvolvimento

de uma consciência crítica.

Para Carvalho (1997), o texto teórico é a expressão humana através

da palavra articulada - a linguagem. A autora relata que a linguagem molda a

visão do homem a seu pensamento e simultaneamente à concepção que ele

tem de si mesmo e do mundo. Segundo Yin (2006) a revisão de literatura é um

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meio para se atingir uma finalidade, e não uma finalidade em si, como muitos

imaginam, afinal determinar as questões mais significativas para um

determinado tema e obter precisão na formulação dessas questões requer uma

fundamentação.

A sistematização, organização e a metodização de saberes

expressos nos textos teóricos resultam de um processo de construção ao

longo da história definindo os caminhos sempre na busca do eixo possível do

esgotamento de explicação do real (CARVALHO, 1997).

Santos (2003) considera que a pesquisa documental é trabalhada

com base em documentos que não receberam tratamento de análise e

síntese. Esses documentos geralmente pertencem a autores que os deram

como prontos e acabados. O autor considera que a vantagem desse tipo de

pesquisa está no fato da confiança estabelecida nas fontes documentais, no

baixo custo, e no contato do pesquisador com documentos originais. Como

desvantagem pode apresentar a ausência de objetividade, a falta de

representatividade e a subjetividade.

O delineamento da pesquisa foi realizado a partir da definição dos

principais fatores que incidem no sistema de Licenciamento Ambiental. Gil

(2006, pg. 64) menciona que “o delineamento da pesquisa ocupa-se

precisamente do contraste entre a teoria e os fatos, e sua forma é a de uma

estratégia ou plano geral que determine as operações necessárias para fazê-

lo”. O planejamento dos trabalhos foi feito envolvendo as previsões de análises

e interpretação de dados, considerando-se o ambiente em que seriam

coletados esses dados, bem como a necessidade de variáveis envolvidas.

A pesquisa analisa a forma em que os municípios estão organizados

para alcançar os objetivos propostos pelo Licenciamento Ambiental. Isso

porque para a consecução desses objetivos é preciso estabelecer uma decisão

político-administrativa de promover a defesa do meio ambiente, pautada em

diversos fatores relacionados à implementação e à execução do Licenciamento

Ambiental nos municípios. Para analisar essas questões foi necessário se

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confrontar a visão teórica do problema com dados relacionados à realidade

ambiental dos municípios estudados.

Lopes (2001) considera que o campo da pesquisa é o lugar da

prática e da elaboração dos objetos do conhecimento científico, de sua

construção sistemática e da fundamentação empírica dos fatos com que se

lida. Logo os municípios de Lauro de Freitas, Alagoinhas e Sobradinho foram

definidas como o campo dessa pesquisa, com o intuito de se buscar as

respostas que estão sendo investigadas.

A análise da gestão ambiental de Lauro de Freitas e Alagoinhas

serve de parâmetro para fortalecer a proposta de efetivação da

municipalização do Licenciamento Ambiental, uma vez que no Estado da

Bahia, essas localidades estabeleceram um nível de organização para

procederem ao Licenciamento Ambiental.

Tomou-se o município de Sobradinho como unidade de análise

que se diferencia das outras unidades consideradas pela pesquisa, pelo fato

desse, a exemplo da grande maioria dos municípios brasileiros, ainda não

realizar a gestão ambiental, apesar de possuir um arcabouço legal que

determine essa competência.

Esse município foi escolhido em função do potencial de

intervenções ocorridas em sua área de abrangência, e a insuficiência de

políticas governamentais do poder local nas questões voltadas para o meio

ambiente. Além do mais, a pesquisadora possui informações voltadas à

questão ambiental deste local em face de fazer parte do quadro de servidores

públicos do Poder Executivo e ter participado de algumas iniciativas nesta

área.

O procedimento metodológico central adotado por esta pesquisa

consiste em estudos de casos. Esse procedimento não é considerado uma

generalização estatística, uma vez que os casos em estudo não se

constituem em uma amostra no sentido estatístico, haja vista que seria

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impossível analisar uma amostragem significativa de municípios, para efetivar

um estudo dessa complexidade.

Considera-se que um número restrito de indivíduos seja capaz de

representar uma população, uma vez que venha a se adequar à análise

aprofundada dos fenômenos associados ao contexto em que se insere. E

assim contribuir para o entendimento dos fenômenos em situações

semelhantes.

O estudo de caso constitui-se em um meio para se coletar as

informações sobre o objeto de pesquisa a ser estudado, preservando o caráter

unitário do mesmo. É um método que se caracteriza pelo estudo profundo de

um ou de poucos objetos de forma que venha possibilitar o seu conhecimento

amplo e detalhado (GIL, 2006). Deve-se ter a clareza de que a totalidade de

qualquer objeto de estudo, quer físico, biológico ou social é uma construção

intelectual, uma vez que não existem meios concretos para definir

precisamente estes limites.

Yin (2006) afirma que o estudo de caso permite uma investigação de

fenômenos contemporâneos, e preserva as características holísticas e

significativas dos acontecimentos da vida real, tais como processos

organizacionais e administrativos; dentre outros, principalmente quando os

limites entre os fenômenos e o contexto não se encontram definidos

claramente.

Carvalho (1997) considera que o estudo de caso não pode ser um

recurso metodológico em que se realiza a análise do objeto da pesquisa em

toda sua unicidade, consiste em uma tentativa de abranger as características

mais importantes do tema que se está pesquisando.

De acordo com YIN (2006), a preferência pelo método estudo de

caso deve ocorrer para estudo de eventos contemporâneos em situações em

que os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas permitem

fazer observações diretas e entrevistas sistemáticas. Apesar de ter pontos em

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comum com o método histórico, o estudo de caso se caracteriza pela

capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências - documentos,

artefatos, entrevistas e observações (YIN, 2006, p.27).

O estudo de caso, como uma análise qualitativa, pode complementar

a coleta de dados nos trabalhos acadêmicos e constitui-se em uma técnica, em

que a exemplo de outras, há intervenção direta do pesquisador, incorrendo no

risco de distorção dos dados apresentados. Esse risco aumenta na medida em

que o pesquisador se aprofunda no processo ou ‘conhece bem’ a pessoa

estudada. Logo, resulta algumas vezes em um envolvimento indesejável. Como

conseqüência, pode haver um afastamento do plano original da pesquisa e dos

dados coletados, com tendência a serem baseados na ‘intuição’ do

pesquisador (CARVALHO, 1997).

YIN (2006) afirma que o estudo de caso não exige a definição de

procedimentos metodológicos rígidos, portanto é necessário um maior cuidado

tanto no planejamento quanto na coleta e análise dos dados. Esse método

apresenta em determinadas circunstâncias uma base frágil para as

generalizações. Entretanto, esta pesquisa não tem o propósito de apresentar

as características levantadas inerentes do Licenciamento Ambiental nos

municípios, como padrões existentes nessas localidades, mas sim, de fazer

uma contextualização de cada situação.

O método de estudo de caso, de acordo com TULL e HAWKINS

(1976), não deve ser usado com outros objetivos além da geração de idéias

para testes posteriores, considerando que determinados fatores como: o

pequeno tamanho da amostra, a seleção não randômica, a falta de similaridade

em alguns aspectos da situação problema, e a natureza subjetiva do processo

de medida combinam-se para limitar a acuracidade do estudo de caso.

Conforme já relatado neste trabalho, este estudo foi realizado com

mais profundidade, nos três municípios nos quais foram realizadas

entrevistas semi-estruturadas com representantes chaves dos órgãos

ambientais do poder público local. A entrevista trata-se de uma conversação

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realizada face a face entre entrevistador e entrevistado de forma metódica e,

permite tratar de temas complexos que dificilmente proporcionam resultados

satisfatórios em outras circunstâncias.

Segundo Lakatos e Marcone (2004), na entrevista o papel do

pesquisador e do entrevistado pode variar com o objetivo da entrevista,

embora todas elas tenham o objetivo de obter informações importantes e de

compreender as perspectivas das pessoas entrevistadas.

Durante as entrevistas a pesquisadora registrou as informações

repassadas tanto através de anotações como também por meio de

gravações. Os métodos utilizados foram combinados antecipadamente com

os entrevistados como forma de promover uma maior interação entre o

investigador e entrevistados.

As entrevistas foram transcritas em relatórios em face dos

questionamentos terem se processado de forma semi-estruturada, sem a

elaboração de um questionário pré-definido. Durante a pesquisa de campo

foram realizadas conversas informais com representantes e dirigentes dos

órgãos ambientais municipais, como também com atores especialistas

envolvidos na formulação de políticas públicas na esfera estadual (conforme

quadro em anexo), para assim imprimir maior consistência e credibilidade às

informações levantadas.

No sentido de expandir a visão sobre o Licenciamento Ambiental, ou

seja, para a complementação do entendimento mais detalhado da sistemática

das questões ambientais no âmbito dos municípios, foram feitas algumas

observações de modo aleatório, voltadas à contextualização ambiental em

outras cidades. Uma de médio porte (Juazeiro da Bahia), e outra de pequeno

porte (Sento-Sé) que ainda possuem todo o sistema de Licenciamento ligado

ao órgão estadual.

Na busca de novas informações foi inserida também a participação

em eventos voltados a debates relacionados ao Licenciamento Ambiental a

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exemplo de seminários e cursos realizados pelo Centro de Recursos

Ambientais - CRA sobre o tema, bem como, participação no treinamento

oferecido aos municípios pela SEMARH, por meio do Núcleo de Estudos

Avançados do Meio Ambiente - NEAMA, para a implantação do Programa de

Gestão Ambiental Municipal - GAM. As entrevistas, contatos e participações

em eventos ocorreram conforme estão apresentados nos anexos.

A pesquisadora participou da primeira etapa de consolidação do

GAM, que ocorreu em Juazeiro e em Sento-Sé, a qual se deu por meio da

realização de um fórum para a assinatura do pacto entre os setores

governamentais, empresariais e sociais, para a implantação do Sistema

Municipal de Meio Ambiente - SISMUMA nesses municípios, como forma de

institucionalizar a municipalização da gestão ambiental.

Mediante o exposto, no transcorrer do estudo foram realizados

múltiplos métodos e procedimentos conforme apresentado neste processo

metodológico, os quais se referem à forma de atuação da pesquisa nas

diversas etapas do trabalho e não apenas sobre o plano como um todo.

As informações para fundamentação do processo foram

construídas com base no referencial teórico, dados levantados pela pesquisa

de campo e demais aparatos disponíveis para consolidação do conhecimento

do assunto. Mediante essas informações, foram definidos os principais

parâmetro de análise necessários para avaliar a efetividade do licenciamento

na esfera dos municípios.

Os parâmetros foram determinados com base nos fatores

procedimentais, institucionais, gerenciais e a participação pública. Para analisar

os referidos fatores foi criado um quadro referencial com a caracterização dos

mecanismos essenciais no processo, apresentados como aspectos favoráveis

para efetivação do Licenciamento Ambiental na esfera local. O quadro delineou

as principais funções a serem desempenhadas pelos referidos fatores.

.

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Os dados levantados em cada localidade levaram em

consideração os seguintes aspectos: a) Procedimentais, o qual dizem

respeito ao conhecimento da realidade, critérios de exigibilidade e padrões de

qualidade específicos de cada município, procedimentos utilizados para

emissão da licença, tipologia das licenças emitidas, monitoramento e

avaliação e o cumprimento dos prazos; b) Institucionais, que retratam as

questões relacionadas à base legal e o sistema ambiental criado, como o

órgão ambiental, conselho, órgãos setoriais e fundo municipal; c) Gerenciais,

inerentes aos aspectos estruturais, capacidade técnica, intersetorialidade e

interação entre os instrumentos de gestão; d) Participação pública,

considerando implementação de mecanismos de participação como reuniões,

audiências públicas, conferências; a implantação de programas de Educação

Ambiental, bem como o sistema de publicidade implantado.

Para a realização da presente pesquisa buscou-se informações

inerentes aos números de licenças e a tipologia das referidas licenças

emitidas pelos órgãos ambientais dos municípios. Foram realizados também

contatos com o CRA no intuito de obter-se dados que inferissem a atuação

do órgão estadual na gestão ambiental de Lauro de Freitas, Alagoinhas e

Sobradinho, entretanto, a referida informação foi disponibilizada apenas pelo

município de Alagoinhas.

A pesquisa realizada em Lauro de Freitas não conseguiu constatar

no órgão ambiental, um estudo da realidade ambiental local, ou um instrumento

de planejamento, a exemplo da Agenda 21, ou outras informações que

contribuíssem com o conhecimento da realidade local, para tanto foi necessário

a busca dessas informações por meio eletrônico.

A partir das informações traçadas, foram realizados os estudos de

casos e as constatações apresentadas em um quadro síntese, o qual retrata

a forma como o Licenciamento Ambiental ocorre nos municípios de Lauro de

Freitas e Alagoinhas, bem como os fatores que ocasionam a sua ausência

em Sobradinho.

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Dessa forma o quadro síntese traz uma abordagem dos principais

aspectos recorrentes, e assim, verificou-se a presença de cada fator,

analisando sua função e a forma como eles atuam em cada localidade,

permitindo então, a realização da análise dos aspectos que interferem na

efetividade do Licenciamento Ambiental na esfera municipal.

Finalmente, baseado no referencial teórico elaborado mediante a

pesquisa bibliográfica e documental, nas informações levantadas por meio

dos estudos de casos, e nas análises realizados com base nos parâmetros

delineados pelo estudo, foram construídas as principais conclusões

constatadas no presente trabalho. Este estudo não se esgota aqui, é preciso,

portanto, que ele amplie a perspectiva para outras respostas que estarão

sendo perseguidas com o passar do tempo pela comunidade científica.

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Capítulo 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

A problemática ambiental vem projetando seus reflexos ao longo do

tempo, em espaços indefinidos representando uma ameaça a todos os seres

vivos da biosfera. Fenômenos como poluição e degradação, resultantes das

intervenções humanas no meio ambiente, não se encontram isolados, por isso,

tomam dimensões alarmantes e a natureza clama por providências.

Diante dessa realidade, o grande desafio dessa nova relação

homem com a natureza é perceber o homem como parte integrante dessa, e

não mais como algo que lhe domina e que, como detentor dos seus recursos,

dispõe deles da melhor forma que venha satisfazer seus desejos ilimitados de

acumular riquezas. O fato de já ter realizado muitas conquistas deu ao homem

a ilusão de poderes ilimitados e de um domínio permanente sobre a natureza,

ocasionando-lhe tantos prejuízos (SCHUMACHER, 1983).

O mundo nessas últimas décadas tem sido cenário de muitas

controvérsias relacionadas à questão ambiental e tem suscitado bastante

preocupação diante da problemática criada. A humanidade passou a enxergar

sua própria sobrevivência ameaçada em função das grandes transformações

que o planeta tem enfrentado em seu ambiente natural (físico-biótico) e social,

em face do modelo de desenvolvimento adotado na busca desenfreada pelo

crescimento econômico.

A interação desses fatores fez despertar uma nova consciência

ecológica que teve origem nos movimentos ambientalistas e estendeu-se para

os diversos segmentos governamentais e não-governamentais.

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Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento – CMMAD, também denominada de Comissão de

Brundland o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às

necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações

futuras de atenderem as suas próprias necessidades, ou seja, o planeta deve

manter sua capacidade para sustentar o desenvolvimento ao tempo que esse

deve considerar a capacidade dos ecossistemas e as necessidades das

futuras gerações (CMMAD, 1991)

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento - Rio 92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, constituiu-se

em uma das maiores mobilizações de cunho ambientalista no mundo e reuniu

178 paises preocupados com a questão ambiental do planeta. Essa

Conferência trouxe em seu bojo uma reflexão sobre o modelo de

desenvolvimento predominante, baseado na lógica do crescimento

econômico exacerbado, o qual tem deixado conseqüências dramáticas

provenientes das formas devastadoras de utilização dos recursos ambientais.

Entretanto o fato de ainda não se ter encontrado respostas para os

questionamentos e os acordos proclamados durante as diversas reuniões

mundiais, a exemplo da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente

e Desenvolvimento, tem suscitado inquietações na humanidade. Se por um

lado muitos problemas não foram resolvidos, por outro foram criados muitos

mecanismos, regimes, instrumentos legais e aparatos técnico-científicos como

formas de prevenir e resolver os problemas ambientais.

A Rio-92 estabeleceu o marco em torno do desenvolvimento

sustentável, que conquistou dimensões globais, e vem se tornando o principal

referencial nas mudanças das relações sociais e econômicas ou ainda, nas

relações de produção.

O conceito de sustentabilidade ambiental tem demonstrado um

sentido ambíguo, e tem provocado diversos entendimentos. Esse conceito

vem sendo construído mediante a interação do homem com a natureza, nos

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processos de desenvolvimento. A sustentabilidade está relacionada,

sobretudo com as formas sociais de apropriação e uso dos recursos naturais.

O modelo de exploração dos recursos naturais tal como vem ocorrendo até

os dias atuais, é a causa do agravamento dos problemas que se alastram no

mundo, onde se aprofundam as desigualdades sociais e a degradação

ambiental.

Barbieri (2005, p.28) explica que “a palavra desenvolvimento,

evoca as idéias de crescimento econômico, mudança do padrão de vida da

população e da base do sistema produtivo”. Sustentabilidade sugere um

legado permanente de uma geração à outra, para que todos possam prover

suas necessidades.

Segundo Barbieri (2005) o termo sustentabilidade incorpora o

significado de manutenção e conservação. O termo desenvolvimento

sustentável indica a melhoria da qualidade de vida respeitando os limites da

capacidade de suporte dos ecossistemas, e o uso sustentável indica a

utilização de recursos renováveis de acordo com sua capacidade de

regeneração.

Na visão de Acselrad (1999), a noção de sustentabilidade remete a

uma lógica da prática na qual os efeitos considerados desejados são levados

a acontecer. Sendo esse conceito apresentado sob a ótica de diversas

matrizes discursivas, dentre elas: a da eficiência, que combate ao desperdício

por meio da racionalidade econômica; a do limite quantitativo ao crescimento

econômico; a da eqüidade baseada nos princípios da justiça e a da auto-

suficiência que combate à globalização e valoriza a auto-regulação.

Segundo Agra Filho (1994), a perspectiva da sustentabilidade

exigirá mudanças profundas nos processos de apropriação dos recursos

ambientais bem como nas estratégias de implementação. Assim sendo, este

autor considera que este novo conceito impõe inúmeros desafios às agências

e organizações responsáveis pela materialização da eqüidade social,

cabendo ao poder público o aporte de novos instrumentos e/ou

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aprimoramentos, de modo a promover a inserção da perspectiva ambiental

no sistema do planejamento das políticas públicas (AGRA FILHO 1994).

Nessa nova era em que predominam mudanças de paradigmas, as

atenções se voltam para as tomadas de providências no sentido de se

estabelecer um novo modelo de desenvolvimento onde se busca um

crescimento econômico pautado nos pilares do equilíbrio ambiental e da

eqüidade social, em que haja uma justa distribuição das riquezas extraídas

da base de sustentação da terra. Amplia-se assim a perspectiva de

introdução de novos princípios, parâmetros, tecnologias e fundamentos para

o surgimento de uma sustentabilidade ambiental.

Essa é a proposta do desenvolvimento sustentável que vem sendo

fortalecida e implementada por meio de leis, regulamentos e normas que

regulam e definem os diversos mecanismos, formas, limites e possibilidades

de uso dos recursos renováveis e não renováveis. Jacobi (2002) relata que a

preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade

de garantir mudanças sócio-políticas que não comprometam os sistemas

ecológicos e sociais que sustentam as comunidades.

A Constituição Federal Brasileira, quando prevê o direito a um

meio ambiente equilibrado enfatizando a necessidade de preservá-lo para às

presentes e futuras gerações, acolhe o princípio do desenvolvimento

sustentável.

Essa abordagem enfatiza a necessidade de formulação de

Políticas públicas que sejam capazes de traduzir o desenvolvimento

sustentável do plano conceitual para o operacional e de inverter a tendência

autodestrutiva dos processos de desenvolvimento. Isto inclui a análise dos

determinantes do processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as

formas de organizações sociais e institucionais que aumentam o poder das

ações alternativas para um novo modo de gerar o desenvolvimento.

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A sustentabilidade busca compatibilizar o desenvolvimento

econômico-social e os cuidados com o meio ambiente como forma de

assegurar uma sadia qualidade de vida para todos. Acredita-se que é

possível manter os ambientes protegidos e ao mesmo tempo desenvolver

atividades de controláveis impactos ambientais, sem comprometer a dinâmica

natural do ecossistema.

3.2 POLÍTICA PÚBLICA AMBIENTAL

As políticas públicas caracterizam-se como diretrizes; princípios

norteadores da ação do poder público; regras e procedimentos para as

relações de poder entre o Estado e a sociedade. Essas políticas originam-se

e são fortalecidas por meio de negociações, mobilizações e coalizões de

interesses, resultantes de articulações entre atores da sociedade e do Estado

(TEIXEIRA, 1998).

As políticas públicas encontram-se formuladas ou explicitadas

mediante leis, planos, programas e financiamentos que orientam um conjunto

integrado de ações e decisões articuladas. Elas implicam em recursos

públicos que afetam positiva ou negativamente a população em alguns

setores sociais (TEIXEIRA, 1998).

Segundo Habermas (1995), a política tem a função de agregar e

impor os interesses sociais privados perante um aparato estatal especializado

no emprego administrativo do poder político para garantir fins coletivos.

Dando seqüência ao seu pensamento, Habermas coloca o viés republicano

em um contexto mais abrangente quando define a política como um processo

de formação da sociedade como um todo, dentro de um complexo de vida

ético.

Habermas (1995) afirma ainda que, segundo a concepção liberal, o

processo democrático cumpre a tarefa de programar o Estado no interesse

da sociedade, entendendo-se o Estado como o aparato da administração

pública, e a sociedade como o sistema estruturado em termos de uma

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economia de mercado, de relações entre pessoas privadas e do seu trabalho

social.

Essas relações têm provocado uma busca desenfreada por

padrões insustentáveis de desenvolvimento e suscitam lutas políticas que

emanam das desigualdades na utilização e distribuição dos recursos

ambientais. A recrudescente preocupação e tomada de consciência da

sociedade em relação à evolução da problemática ambiental tem sido um

elemento de tensão no enfrentamento dessas questões por parte do poder

público (SANJUAN, 2005).

Segundo Bustamante e Torres (1990) os problemas ambientais

apresentam aspectos bastante complexos em função dos conhecimentos

produzidos serem ainda escassos. Contudo esses problemas prescindem de

soluções que devem ser alavancadas por meio de políticas reguladoras,

fiscalizadoras e de controle da poluição, que nascem do aumento da

conscientização da sociedade, aliada à ampliação dos conhecimentos

científicos e tecnológicos e do acesso às informações.

As políticas públicas ambientais devem estar inseridas em um

arranjo institucional, com mecanismos capazes de romper com os problemas

ambientais. A implementação de uma política pública pressupõe a existência

de um arranjo institucional – conjunto de inter-relações de entidades e de

normas legislativas que tem a finalidade de organizar (elaborar e implementar)

planos ou ações, cujos objetivos são de interesse público (SOUTO-MAIOR,

1996 apud SAMPAIO, 2000).

Vislumbrando aprofundar as questões relacionadas à efetividade das

políticas públicas, Braga (2001) afirma que: i) a formulação de uma política

envolve o debate sobre as causas e os problemas, a formulação de metas e

diretrizes e a consideração das opiniões dos agentes afetados pela política,

dentre outros fatores; ii) a legitimação compreende a autorização da política

escolhida e apoio político e público para a mesma; iii) a implementação

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consiste em transformá-la em programas operacionais e colocar tais programas

em andamento.

Braga (2001) afirma que essa etapa é crucial, considerando que o

impacto efetivo das políticas sobre os problemas depende da forma como elas

são implementadas em face da estrutura burocrática e institucional disponível.

iv) a avaliação consiste em pesar os resultados dos programas e políticas,

determinar seus avanços ou falhas, a revisão dos objetivos e o curso da ação.

Considera-se que é nessa etapa que se Identifica os impactos da política

implementada sobre os estilos de vida e hábitos de consumo individuais e

coletivos, as tecnologias utilizadas, os processos institucionais e a qualidade

ambiental.

Um aspecto importante a ser considerado diz respeito às

controvérsias que marcam os objetivos e as prioridades das políticas e

diretrizes, tanto entre os setores como entre instituições. Normalmente esse

quadro é marcado pelo paralelismo e fragmentações de ações que têm como

conseqüência uma grande dificuldade para o planejamento e avaliação dessas

políticas.

Outro fator também presente no contexto de uma política pública diz

respeito às divergências existentes entre os órgãos, a exemplo do que

normalmente ocorre entre o poderes executivo, legislativo e judiciário,

culminando em alguns casos em projetos de leis de interesse do executivo sem

a aprovação do legislativo, ou leis aprovadas pelo legislativo sem relevância

para as ações que estão sendo executas pelo executivo.

Braga (2001) menciona que esse aspecto é marcante nas relações

institucionais, quando se refere às exigências geradas no âmbito do poder

judiciário em desacordo com a capacidade de implementação das ações pelo

poder executivo, ou até mesmo a frustração de determinadas legislações

aprovados no âmbito legislativo.

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Braga, (2001) cita algumas limitações relacionadas ao corpo técnico,

como também a falta de dotações orçamentárias nas instituições, por serem

importantes entraves à etapa de implementação das políticas. Fatores que

implicam em instituições mal aparelhadas sem recursos para implementar as

ações, e com reduzida expressão política.

Portanto, para que uma política pública venha contrapor aos

problemas impostos pelos diversos interesses existentes, essas questões

devem estar fortemente articuladas. Neste sentido, Nicolaidis (2005) menciona

Bezerra (1996) ao se referir a um traço importante da Política Nacional de Meio

Ambiente - PNMA, quando a mesma preconiza princípios, objetivos e

instrumentos de planejamento, gestão e controle como forma de promover um

enfoque sistêmico no tratamento da questão ambiental.

É nessa interação de fatores que devem se alicerçar as políticas

ambientais, as quais requerem um processo contínuo de aprendizado pautado

em erros e acertos, e exige um sistema de fatores, que no interior do qual, se

desenvolva, e que seja capaz de detectar os erros e agir sobre eles.

3.3 A GESTÃO AMBIENTAL

Um dos entendimentos de gestão ambiental passa pela noção de

administração das ações e atividades concernentes aos aspectos ambientais,

desenvolvidas processualmente, envolvendo a participação dos agentes

institucionais e sociais, visando à obtenção de resultados desejados, em

relação à qualidade ambiental.

Visando promover o uso racional dos recursos de forma a não

comprometer sua base de sustentação, bem como controlar as

conseqüências dos problemas ocasionados pelo mau uso desses recursos,

torna-se necessária a existência de parâmetros para a condução dessas

intervenções.

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Nesse sentido, cabe ao poder público e à sociedade buscar

alternativas compatíveis com a capacidade de suporte dos recursos

ambientais, embasadas em ações integradas e sistêmicas para o

disciplinamento e uso desse patrimônio de forma racional, as quais se

constituem na gestão ambiental.

Philippi Jr. et al (2004, p.17) define a gestão ambiental como uma

área de conhecimento que tem a finalidade de “administrar e coordenar a

complexidade de fenômenos ecológicos que interagem com os processos

humanos social, econômico e cultural.” Ou ainda como um conjunto de

princípios, diretrizes e estratégias de ação e procedimentos determinados

pelos agentes econômicos públicos e privados, que interage no processo de

apropriação dos recursos naturais, o qual possui o objetivo de manter a

integridade dos ecossistemas bem como dos grupos sociais que dele

dependem.

A gestão ambiental é considerada como um fator de integração

das ações setoriais que visam otimizar a relação do meio ambiente e

sociedade, com objetivos definidos para alcançarem o desenvolvimento

sustentável. Neste contexto a gestão ambiental deve atuar na busca de um

modelo de desenvolvimento que seja compatível com a finitude dos recursos

naturais, elaborando e executando processos de intervenções,

Segundo Agra Filho (2004) para que ocorra a efetivação da gestão

ambiental visando a sustentabilidade, é necessário que exista a interação

harmoniosa entre os processos, determinada pela forma de produção e

consumo e pelo modelo de desenvolvimento adotado. O autor afirma que os

objetivos de consumo da sociedade serão determinados em função dos

padrões de produção e consumo de cada uma delas e estes padrões estão

vinculados aos produtos consumidos e/ou produzidos por esta sociedade, os

quais refletem suas demandas pelos recursos naturais e as conseqüentes

intervenções (AGRA FILHO, 2004).

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A gestão ambiental requer um esforço coordenado do poder público

nas diversas esferas governamentais buscando uma forte integração das

ações ambientais, no sentido de construir um arranjo institucional e

mecanismos que fortaleçam o elo e sejam capazes de romper com a

fragmentação da administração pública causada por interesses econômicos e

políticos adversos que tanto têm prejudicado o avanço das questões

ambientais.

Em face da natureza múltipla das questões ambientais e do

desenvolvimento, são essenciais iniciativas inter-setoriais e pró-ativas na

busca de soluções para a problemática ambiental. Não existem mais espaços

para políticas setoriais, fragmentadas e reativas para tratar de questões tão

complexas e interligadas resultantes de alterações ecológicas cumulativas.

Logo, a gestão ambiental deve caracterizar-se como uma forma de

atuação articulada sobre os fatores, processo e sistemas que integram o tecido

natural, o tecido construído e o tecido social, em busca da melhor relação custo

- beneficio dessa interação, tomando a qualidade de vida, o equilíbrio ecológico

e a justiça social como valores referenciais dessa mensuração.

O modelo de gestão ambiental deve ser pautado na

descentralização do poder de decisão, na participação dos setores sociais, na

intersetorialização das demais políticas públicas e na interação das ações

públicas com a iniciativa privada para a condução da administração do meio

ambiente (PHILIPPI Jr. ET AL, 2004).

3.4 O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O Licenciamento Ambiental é um instrumento da política ambiental

que surgiu da necessidade de se avaliar de forma preventiva as intervenções

utilizadoras dos recursos naturais, com vistas a promover a compatibilização

dos impactos ocasionados por essas ações ou atividade, com a capacidade

de suporte do meio no qual elas se inserem.

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Compreendendo um mecanismo de busca da sustentabilidade o

Licenciamento Ambiental deve contribuir com o processo de desenvolvimento

considerando a perspectiva de um planejamento ético, prevendo a proteção

ambiental, com o fortalecimento da cidadania, prezando por condições de

vida digna para todos. O Licenciamento Ambiental tem por princípio, a

conciliação do desenvolvimento econômico com o uso dos recursos naturais,

de modo a assegurar a sustentabilidade dos ecossistemas em suas variáveis

físicas, bióticas, sócio-culturais e econômicas.

Os sistemas de Licenciamento como instrumentos de Políticas

públicas Ambientais são formas de universalização do acesso aos meios de

produção, mediante regulamentações que permitem o uso ponderado dos

recursos, e podem garantir a sustentabilidade por meio de medidas de

proteção contínua, bem como por meio de ações que assegurem a

preservação e a renovação desses bens naturais.

Sendo um instrumento da política ambiental, o Licenciamento

ambiental tem o objetivo de fortalecer a operacionalização, estabelecer

condições de sustentabilidade, normalizar os procedimentos e promover a

realização das atividades geradoras do desenvolvimento econômico de forma

equilibrada com as potencialidades desses recursos naturais, dentro dos

limites de intervenção humana toleráveis aos ecossistemas e em

consonância com distribuição eqüitativa das riquezas geradas.

Agra Filho (2004) afirma que o Licenciamento Ambiental é um

procedimento de sistematização de avaliação preventiva, que incide desde a

fase do planejamento, quando são definidos os seus aspectos locacionais,

pressupondo-se o conhecimento de sua realidade e as suas concepções

tecnológicas, que se estende até a fase de desenvolvimento e instalação das

ações. Logo, o Licenciamento Ambiental é considerado um processo complexo

de avaliação contínua.

O Licenciamento de atividades que degradam os recursos naturais

é um dos instrumentos capazes de fazer frente às pressões do conflituoso

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desenvolvimento sustentável (FINK e MACEDO, 2002). Ele deve garantir às

presentes e futuras gerações a perspectiva da disponibilidade contínua e

efetiva dos recursos naturais por meio de mecanismos que assegurem a

utilização racional da base de sustentação dos recursos renováveis e não

renováveis da terra.

Para que o Licenciamento Ambiental seja um instrumento eficaz é

necessário que contribua para uma tomada de decisão quanto às formas de

intervenção em um determinado território, ambientalmente e socialmente

correta em que os objetivos sejam alcançados.

O Licenciamento Ambiental deve cumprir efetivamente com o seu

papel de proteção ambiental, a partir da formulação do projeto, propiciando

ajustes e aprimoramentos permanentes ao longo da existência do

empreendimento. Logo é necessário que seja um processo contínuo de

aprimoramento do gerenciamento ambiental. Neste sentido, Agra Filho (2004)

assegura que, o Licenciamento Ambiental configura-se como um ciclo

abrangente de planejamento, execução e de permanentes ajustes de

gerenciamento ambiental, conforme representação na figura abaixo.

Fonte:Agra Filho 2004.

Nesse contexto, o Licenciamento Ambiental, como instrumento da

política ambiental, deve ser realizado em todas as suas etapas de forma

democrática e eficiente, constituindo-se em uma importante ferramenta de

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planejamento, acompanhamento, monitoramento e avaliação das

intervenções no meio ambiente para a busca da sustentabilidade.

Conclui-se que o Licenciamento Ambiental como um dos principais

instrumentos da política ambiental, deve ser colocado em um horizonte de

institucionalidade capaz de fazer frente aos problemas associados às

limitações que ora impedem a boa prática e a modernização da gestão

ambiental por parte dos órgãos de meio ambiente, principalmente em relação

às deficiências inerentes à implementação dos demais instrumentos de apoio

(monitoramento, fiscalização, auditoria, gestão de risco e o ordenamento

ambiental dentre outros).

3.4.1 Fundamentação Legal do Licenciamento Ambiental

A figura do Licenciamento Ambiental surgiu no Brasil com a edição

da Lei Estadual n°. 997, de 31 de maio de 1976, no Estado de São Paulo,

(FINK; ALONSO JR.; DAWALI, 2002). Entretanto, as questões ambientais

passaram a fazer parte do topo da agenda em escala nacional, em torno dos

anos 80, com o advento da Lei nº 6 938 de 1981.

A Lei Estadual nº 997/76, instituiu a Política Nacional do Meio

Ambiente e se constitui em um marco na proteção do meio ambiente. Essa lei

encontra-se fundamentada em princípios e regras indispensáveis à defesa do

patrimônio ambiental natural, artificial e cultural, consagrando o Licenciamento

Ambiental como um instrumento de gestão ambiental no Brasil, ao lado do

Zoneamento Ambiental, da Avaliação de Impacto Ambientais, entre outros,

visando prevenir eventuais danos ao meio ambiente, fortalecendo princípios

como o da prevenção e do desenvolvimento sustentável (HENKES e KOHL,

2006).

O Licenciamento Ambiental não se encontra explicito na

Constituição da República, mas esta determina no inciso IV do parágrafo único

do artigo 225, que ao poder público cabe “o dever de exigir e dar publicidade

ao estudo prévio de impactos ambientais, para a instalação de obra ou

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atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio

ambiente”.

O instrumento normativo que regula o Licenciamento Ambiental no

Brasil é a Resolução nº. 237, de 19 de dezembro de 1997. Ela traz o conceito

de Licenciamento Ambiental no inciso I, do seu art. 1°, afirmando se tratar de:

Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (BRASIL, 1997).

A resolução do CONAMA define licença ambiental como:

Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. (CONAMA no 237/97)

Segundo Fink e Macedo (2002), o Licenciamento Ambiental trata-se

de um procedimento que compreende vários atos encadeados, visando o seu

fim. Logo não é um ato administrativo conforme é admitido por alguns

doutrinadores. Os autores afirmam ainda que por se tratar de uma função

constitucionalmente definida para o Estado, de conservar o meio ambiente

ecologicamente equilibrado, o Licenciamento Ambiental constitui-se em um

instrumento de prevenção, ou seja, visa à preservação do meio ambiente.

Esse procedimento deverá ser conduzido pelo Poder Executivo,

através do órgão ambiental competente, ou seja, o órgão instituído por lei ou

decreto, que exercerá seu poder de polícia,1 tutelando de forma preventiva os

1 O poder de polícia é definido legalmente no art. 78 do código Tributário Nacional: “considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.

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recursos ambientais em busca da preservação do meio ambiente (FINK;

ALONSO JR; DAWALI, 2004).

Para Granziera (2001) o Licenciamento Ambiental deriva do:

Exercício do poder de polícia, fundamentado nos princípios da legalidade e da prevenção de supremacia do interesse público sobre o particular. Se a atividade estiver em desacordo com as normas, critérios, padrões e princípios da legislação ambiental, presume-se que a mesma esteja contrária ao interesse público e que, portanto, não deverá ser licenciada (GRANZIERA 2001, p. 204-205).

Alonso Junior (2002), baseado na análise do sistema legal brasileiro,

relata que a função preventiva do poder público através do Licenciamento

Ambiental não se restringe em uma faculdade, mas em um dever que se

enquadra no Princípio da Precaução que obriga o Estado a exercer seu poder

de polícia administrativo para evitar ou minimizar os impactos ambientais e

desta forma, “regular a prática do ato ou abstenção do fato na defesa do

interesse público”, visando à tutela do bem coletivo, de forma preventiva por

meio do Licenciamento Ambiental (ALONSO JUNIOR 2002, p.40).

A política ambiental não deve se limitar à eliminação ou redução da

poluição já existente ou iminente (proteção contra o perigo), mas requer que a

poluição seja combatida desde o início (proteção contra o simples risco).

Quando a legislação proíbe ações perigosas, mas possibilita a redução do

risco, aplica-se o Princípio da Precaução, o qual requer a redução da

freqüência ou da incerteza do dano. “O Princípio da Precaução visa à

durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à

continuidade da natureza existente no planeta terra” (MACHADO, 2002, p. 56).

3.4.2 Competência para o Licenciamento Ambiental

Outro aspecto importante a ser tratado diz respeito à repartição de

competências dos entes federativos para o Licenciamento Ambiental, o qual

tem revelado importantes discussões doutrinárias, em razão da insegurança

que o tema vem gerando principalmente pela ausência de leis próprias que

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deveriam delimitar a forma como estes entes deveriam exercer suas

competências constitucionais.

Para que a proteção ambiental ocorra de forma efetiva e concreta é

necessário que se realize, nos limites da ordem jurídica democrática, uma

adequada repartição de competências (ANTUNES, 2006).

A distribuição das competências constitucionais administrativas dos

entes federados em matéria ambiental encontra-se nos incisos III, VI, VII, do

art. 23 da Constituição Federal, bem como no seu art. 225.

O art. 23 da CF afirma que é poder-dever da União, dos Estados e

dos municípios proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer

de suas formas. O parágrafo único desse artigo remete a Lei Complementar o

papel de fixar normas para cooperação entre os entes administrativos.

Entretanto, essa Lei ainda não foi criada, estando em fase de discussão no

Congresso Nacional, sendo esse o maior problema no que se refere à matéria

da repartição de competências.

Nesse sentido Fink, Alonso Jr. e Dawalibi (2002,) demonstram que

da interpretação do art. 23 da CF, a União, os Estados, o Distrito Federal e os

municípios devem tutelar o meio ambiente e combater a poluição, utilizando-se

dos instrumentos legais colocados as suas disposições, sem que haja

superposição ou hierarquia administrativa entre eles. Contudo, a questão mais

importante é saber o que cada pessoa de direito público deve licenciar. Em

outras palavras, de quais empreendimentos ou atividade os órgãos ambientais

municipal, estadual e federal devem realizar o Licenciamento.

O critério utilizado para a fixação da competência administrativa do

Licenciamento Ambiental é o mesmo utilizado para fixação da competência

legislativa. Ou seja, o critério da predominância dos interesses, onde caberá à

União as matérias e atribuições de caráter geral, aos Estados as matérias e

assuntos de interesse regional e aos municípios as matérias de interesse local

(SILVA, 2003).

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Fink (2002) afirma que não é por que um empreendimento está

materialmente localizado nos limites geográficos de um município que ele deve

ser licenciado pelo órgão local de gestão ambiental. Deve-se verificar o raio de

influência ambiental da atividade ou empreendimento, para daí fixar qual será o

órgão competente para elaboração do Licenciamento.

A Resolução no. 237/97 do CONAMA é a norma geral que disciplina

o Licenciamento Ambiental no Brasil. Através dela, o CONAMA fixou a forma

como os órgãos ambientais devem repartir o exercício das atribuições

referentes ao Licenciamento. Utilizou nesta distribuição, o critério da

predominância dos interesses em alguns casos, e em outros, afastou-se desse

critério.

Nos casos em que a Resolução afasta-se do critério da

predominância dos interesses, a exemplo do critério de fixação de competência

pela dominialidade do bem (inciso I, do art. 4o, da Resolução no. 237/97),

devem ser desconsiderados ou declarados inconstitucionais, pois afrontam o

texto constitucional ao darem competência para licenciar a órgãos que não a

possuem (FINK; ALONSO JR; DAWALIBI, 2002, 48).

Portanto, na repartição das competências administrativas entre os

mais diversos órgãos pertencentes aos entes políticos, deve ser aplicado,

sempre, o princípio da preponderância do interesse, onde o raio de impacto

ambiental positivo e negativo é quem vai determinar qual órgão vai ter

atribuição para a realização do procedimento administrativo denominado

Licenciamento Ambiental.

3.4.3 Procedimentos Básicos O processo de Licenciamento Ambiental deverá estar em

conformidade com a Resolução do CONAMA 237/97, considerando que essa

estabelece os procedimentos básicos para a realização das licenças, quando

dispõem que o Licenciamento Ambiental obedecerá às seguintes etapas:

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I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do

empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao

início do processo de Licenciamento correspondente à licença a ser requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor,

acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes,

dando-se a devida publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do

SISNAMA, dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a

realização de vistorias técnicas, quando necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão

ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência

da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados,

quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação, caso os

esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a

regulamentação pertinente;

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão

ambiental competente, decorrente de audiências públicas, quando couber,

podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e

complementações não tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber,

parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a

devida publicidade.

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No procedimento de Licenciamento Ambiental deverá constar,

obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o

tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação

aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para

supressão de vegetação e outorga, para o uso da água, emitidas pelos órgãos

competentes.

§ 2º - No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo

de impacto ambiental - EIA, se verificada a necessidade de nova

complementação em decorrência de esclarecimentos já prestados, conforme

incisos IV e VI, o órgão ambiental competente, mediante decisão motivada e

com a participação do empreendedor, poderá formular novo pedido de

complementação.

Os estudos necessários ao processo de Licenciamento deverão ser

realizados por profissionais legalmente habilitados, a expensas do

empreendedor.

O empreendedor e os profissionais que subscrevem os estudos

previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas informações

apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais.

O órgão ambiental competente definirá, se necessário,

procedimentos específicos para as licenças ambientais, observadas a natureza,

características e peculiaridades da atividade ou empreendimento e, ainda, a

compatibilização do processo de Licenciamento com as etapas de

planejamento, implantação e operação.

3.4.4 A Descentralização do Licenciamento Ambiental

Em face da primazia das questões globais o Estado entrou em

profunda redefinição do seu papel. A cidade surge como alternativa para uma

profunda reformulação política. Dowbor (1996), ao apresentar essa

perspectiva, não quis afirmar que o nível de organização política local

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substitua transformações nas formas de gestão política que têm de ser

levadas a efeito nos níveis do Estado-nação e mundial. O autor afirma,

entretanto que as comunidades fortemente estruturadas podem constituir a

base de uma sociedade organizada capaz de viabilizar as transformações

necessárias nas demais esferas.

Diante da emergência da nova ordem social o Estado terá que

reforçar a sua atuação principalmente na dimensão sócio-ambiental, através

de um processo endógeno de transformações em que as capacidades e

potencialidades locais venham se fortalecer como fatores preponderantes para

uma nova organização institucional capaz de promover a efetividade das

Políticas públicas por meio do processo de descentralização.

Buarque (2002, p. 42) define descentralização como “transferência

de autoridade e de poder decisório de instâncias agregadas para unidades

espacialmente menores, dentre as quais o município e as comunidades”. É um

processo que vai além da desconcentração e permite essa transferência de

poder político-institucional em escala bem menor. O processo de

descentralização no Brasil avançou por força constitucional a partir de 1988,

com a promulgação da Constituição Federal. O município ganha autonomia

para resolver os problemas em sua esfera de competência.

No momento atual os governos estaduais respondem pela execução

da maior parte das demandas ambientais, lógica que está sendo ampliada para

as esferas locais. É notória a emergência de ações para o fortalecimento da

descentralização da administração pública, e a questão ambiental está sendo

inserida nesse contexto.

Os Estados, esfera onde está concentrada a maioria das ações

relacionadas principalmente ao Licenciamento Ambiental e à fiscalização das

atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, têm-se empenhado em

repassar para as prefeituras esse papel que a elas foi atribuído pela própria

Constituição, bem como por meio da Lei nº 6 938/81, que define a Política

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Nacional de Meio Ambiente, quando estabelece o dever do município de

defender o meio ambiente no âmbito local.

A política ambiental Urbana estabelece diretrizes que reforçam o

direito do cidadão à cidade sustentável, entendido como direito à terra urbana,

à moradia, ao saneamento ambiental dentre outros. Esses direitos por se

constituírem de interesse local são de competência do município.

O município tem as prerrogativas de estabelecer as leis específicas

que regem as questões ambientais nas áreas urbanas e rurais por se tratarem

de questões eminentemente locais, a exemplo do Plano Diretor Urbano, o

Código de Postura, o Código de Edificações e demais leis que versam sobre a

poluição sonora, impactos visuais, definições de loteamentos, localização de

empreendimentos que podem ocasionar insalubridades, bem como a proteção

do patrimônio histórico.

Essas especificidades atribuem ao município certas vantagens no

processo de avaliação e acompanhamento às intervenções potencialmente ou

efetivamente poluidoras em seu território para realização do Licenciamento

Ambiental.

A riqueza de informações locais surge também a partir do saber

ambiental construído no seio da comunidade, de forma sistêmica e integrado

com outros conhecimentos da realidade local e constitui-se em uma valiosa

ferramenta no processo de avaliação dos aspectos físicos, bióticos,

econômicos, sociais e culturais.

Essa prerrogativa permite ao município um nível de informações

impossível de ser alcançado pelas outras esferas governamentais. Entretanto,

a gestão dos problemas ambientais ainda é incipiente na grande maioria dos

municípios brasileiros em função da fragilidade peculiar destes entes federados

no que diz respeito às questões estruturais, funcionais e operacionais (Ferreira,

1998).

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Ainda predomina a prática, em que a maioria dos critérios

desenvolvidos dentro da política ambiental é voltada à realidade dos órgãos

ambientais estaduais e federais. O próprio Sistema Nacional de Meio Ambiente

– SISNAMA, apesar de ter a figura do município em sua estrutura desde o

início da sua criação e reconhecer a competência desse ente na defesa do

meio ambiente, não vem permitido essa participação de forma efetiva. Essa

questão constituiu-se em um tema bastante debatido na Conferência Nacional

do Meio Ambiente, realizado em 2003, e deu origem ao processo de

fortalecimento da descentralização da gestão para os municípios ( COUTINHO

e ROCCO, 2004).

A perspectiva da descentralização do Licenciamento Ambiental para

os municípios se dá principalmente em função da proximidade com as

intervenções, possibilitando uma gestão mais eficaz das diversas etapas de

planejamento, acompanhamento e fiscalização para a liberação das sucessivas

licenças. Aliado a estes fatores, também vem à redução dos gastos públicos

que é um dos fatores prementes na consecução dessa finalidade.

Entretanto, Braga (2001) afirma que foi comprovada por reflexão

conceitual, a hipótese de que a internalização da dimensão ambiental nas

políticas urbanas no plano local, traz importantes constrangimentos políticos,

econômicos e institucionais, em face de uma série de conflitos de interesse

entre as diversas forças econômicas e políticas locais. Braga ( 2001) refere-se,

no entanto, que as dificuldades de implementação de políticas de melhoria da

qualidade ambiental urbana podem ser reduzidas por duas séries de fatores:

Uma primeira referente às possibilidades de ampliação do grau de autonomia política, institucional e econômica local (local aqui entendido como a totalidade das forças políticas e sociais do município, e não apenas ao governo); uma segunda referente às possibilidades de integração das políticas ambientais às demais Políticas públicas locais (BRAGA, 2001 p.2).

Braga ( 2001) ressalta que as práticas sociais que engendram os

conflitos geradores dos limites estruturais, políticos e institucionais são

indissociáveis, de forma que, a formulação e implementação das políticas

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ambientais urbanas se sobrepõem, se confundem e se complementam, logo,

sua análise não deve ser dissociada.

O desafio colocado para a municipalização do Licenciamento

Ambiental é estabelecer parâmetros e critérios capazes de romper com ciclo

vicioso, tão marcante nos municípios brasileiros em especial os de pequeno

porte, em função principalmente da relação de proximidade dos agentes

políticos com forças políticas locais.

Entretanto essas questões podem ser rompidas, desde que o

município se prepare para isso. Philippi Jr et al (2004) abordam sobre a

necessidade de se criar elementos que subsidiem os municípios na gestão

ambiental de forma a possibilitar um enfoque sistêmico e integrado na

promoção do desenvolvimento local, proporcionando uma maior eficácia na

aplicação dos recursos, por meio de um processo continuado de

planejamento, implementação e avaliação de projetos que resultem na

melhoria da qualidade ambiental e de vida.

Philippi Jr et al (2004) afirmam que em face dos municípios

revelarem, na sua maioria, certa fragilidade na capacidade organizacional,

bem como de articulação política interna e com as demais esferas de

governo, é de grande importância a necessidade de alocação de recursos

científicos, tecnológicos, organizacionais e institucionais, por isso demandam

governantes com visão ampla da questão, para o estabelecimento de

estratégias eficazes de planejamento e execução.

No processo de descentralização do Licenciamento Ambiental

devem ser adotadas ações que levem em conta os aspectos ambientais, a

participação social e a análise do impacto ambiental resultante das atividades

de forma integrada, impedindo fragmentação dos procedimentos em nível

institucional, científico e ambiental, considerando também, o conhecimento

tradicional, que muitas vezes são fatores determinantes para a consolidação

das informações.

40

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Outra vertente a ser observada na esteira da municipalização do

Licenciamento Ambiental está relacionada às indefinições dos níveis de

impactos ambientais ocorridos por meio das intervenções que possam ser

consideradas de extensão local. Essa questão constitui-se em grande desafio

a ser elucidado pela ciência. É imprescindível a formatação de uma matriz

que venha delinear parâmetros capazes de expressar o potencial dos

referidos impactos, para que dessa maneira torne possível a definição, de

forma mais concreta, dos impactos de nível local.

Finalmente conclui-se que o grande desafio colocado para a

municipalização do Licenciamento Ambiental é a definição de diretrizes

norteadoras do processo, de modo a estabelecer no âmbito local, um nível de

organização institucional, considerando os aspectos legais, estruturais,

funcionais, e de controle social para a atuação efetiva da prática do

Licenciamento.

A lógica do compartilhamento das responsabilidades entre as outras

esferas governamentais e a sociedade, no trato das questões ambientais é de

suma importância, afinal a proteção e defesa do meio ambiente como um bem

essencial à sadia qualidade de vida, é competência solidária de todos os entes

federados e da sociedade.

3.4.5 A Participação Pública

O esvaziamento da capacidade regulatória do Estado e os novos

fenômenos de dimensão global têm suscitado o surgimento de novos arranjos

institucionais originados especialmente da pressão exercida por entidades não

governamentais de alcance transnacional para a busca de solução dos

problemas ambientais. Leite (2003) assegura que somente através de

“mudanças para a responsabilização solidária e participativa dos Estados e dos

cidadãos com os ideais de preservação ecológica é que se achará uma luz no

fundo do túnel” (LEITE, 2003 p.26).

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As lutas ambientais desenvolvidas no território brasileiro a partir dos

anos 80 foram fatores decisivos para as conquistas sociais e tiveram

implicações na construção da cidadania ambiental. Estas questões estão

relacionadas ao fato que o meio ambiente se configura como um direito difuso,

logo, é objeto do interesse de todos. Segundo Machado (2004, p. 51), o

interesse difuso “é sempre um bem coletivo, insuscetível de divisão, a

satisfação de um interesse implica na satisfação de todos”.

Moraes (2003) afirma que o estado moderno traz diversas formas de

organização com atuação nas funções políticas, compostas por um novo

circuito de corporações, autarquias e organizações não-governamentais. Essas

organizações caracterizam-se como entidades de direito privado ou semi-

privado que recebem delegação de poder público, ordenando relações sociais,

produzindo normas e propondo leis, atuando na fiscalização administrativa,

assumindo a execução de políticas públicas como conectores de instituições

privadas e movimentos sociais, dentre outras.

Essas organizações da vida política trazem à tona a questão da

redefinição da forma do Estado ou dos vínculos entre instituições sociais e

instâncias políticas de representação e decisão. Suas regras de atuação não

estão, em geral, previstas na constituição federal da mesma forma específica

como está prevista para o poder público. Contudo, elas têm uma relação

decisiva com o universo do direito e das regras formais produzidas pela

deliberação (MORAES, 2003).

As ONGs, mesmo dispondo de limitados instrumentos

sistematizados de controle, salvo em algumas exceções, desempenham um

papel importante na consecução das políticas, pois possibilitam a ampliação da

transparência das negociações, denunciam fatos ocorridos e fiscalizam as

atividades do Estado.

Na esteira dessas organizações estão os conselhos, órgãos

colegiados autônomos, de natureza institucional, vinculados ao poder

executivo. Esses conselhos devem apresentar caráter consultivo, deliberativo e

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fiscalizador das Políticas públicas. Constituem-se em um canal de participação

que possibilita a sociedade decidir, por meio de seus representantes, em face

das melhores condições que sejam convenientes para o bem comum e deve

estar sempre articulado com os demais conselhos setoriais.

O conselho é deliberativo quando trata das normas e por isso tem

uma ação estruturadora das questões ambientais. É pró-ativo quando define

seu próprio funcionamento e estrutura suas ações. Apresenta características

reativas quando é apenas consultivo, ou quando delibera apenas sobre

respostas a processos prontos.

A participação dos membros de um conselho pode ser legal e, no

entanto, nem sempre retrata sua legitimidade, considerando que os

participantes podem não representar efetivamente os interesses dos seus

segmentos. Outra questão a ser discutida é que nem sempre existe uma

confiança consolidada entre os setores governamentais e sociedade.

Considerando que a eficácia do Licenciamento está também

relacionada à co-responsabilização do poder público e sociedade, evidencia-se

como premissa importante para o referido processo, a constituição e

institucionalização da participação, que deve ocorrer principalmente por meio

da atuação dos conselhos, audiências públicas, ação popular, denúncias e

pressões. Atualmente os principais mecanismos de atuação da sociedade na

definição dos problemas ambientais, além dos citados, são comitês, fóruns,

conferências nacionais, estaduais e municipais, dentre outros.

No Brasil os procedimentos de concessão de licença possuem maior

transparência e participação pública, quando em seu bojo se desenvolve o

Estudo de Impacto Ambiental com a elaboração do respectivo relatório. Dessa

maneira o público tem oportunidade de participar do desenrolar do processo

em interface com a equipe responsável pelo EIA (ALONSO JR., 2002).

O autor afirma que apesar da existência de normas garantidoras da

acessibilidade popular, conforme exige a Constituição, em muitos processos de

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Licenciamento dos quais não houve EIA/RIMA, “a participação popular é muito

deficiente, na verdade insuficiente” (ALONSO JR., 2002, p. 63), embora o

art.10, §1º, da Lei nº 6.938/81 estabeleça as formas de publicação das

licenças.

Alonso Jr. (2002) cita o excelente trabalho de Augusto Castellanos

Pfeiffer, intitulado de “A publicidade e o Direito de Acesso a Informação no

Licenciamento Ambiental”, quando este relaciona o princípio da participação

popular no Licenciamento Ambiental com a seguinte citação:

o ordenamento brasileiro exige que a publicidade permeie todo o processo licenciatório, desde o pedido até a sua outorga, rejeição ou revogação. Tal publicidade não pode se limitar ao Diário Oficial do Estado, mas deve ser realizada em jornal de circulação na região envolvida (revista de Direito Ambiental RT, v, 8, p. 28 apud ALONSO JR., 2002 .p. 64)

Verocai (2004) propõe como uma boa prática para o Licenciamento,

processos transparentes e meios eficazes de informação e participação social

desde o início e em todas suas fases e não apenas o acesso a documentos

técnicos; mas sim a participação em duas vias (diálogo entre o empreendedor

e o público) e a mediação de conflitos antes da tomada de decisão.

Para Sanches (1991) apud Milaré (2000, p. 311) “a possibilidade de

haver um efetivo controle por parte do público depende de sua capacidade de

organização e mobilização”. A Declaração da ECO-92, em seu art. 10,

estabelece que: “O melhor modo de tratar as questões do meio ambiente é

assegurando a participação de todos os interessados, no nível pertinente”.

Contudo essa participação deve ser indissociável da informação.

A Educação Ambiental destaca-se como um importante mecanismo

de informação no contexto da Política ambiental, que tem como objetivo

precípuo fomentar a ampliação do conhecimento sobre as questões ambientais

através de enfoques interdisciplinares, de modo que os indivíduos e a

comunidade despertem novos valores e habilidades, tornando-se aptos e

responsáveis em participar ativamente na busca de soluções dos problemas

ambientais.

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A Constituição Federal de 1988 reconhece a importância da

Educação Ambiental em seu artigo 225, §1º Inciso VI, que incumbe ao poder

público o dever de “promover a educação ambiental em todos os níveis de

ensino e a consciência pública para a preservação do meio ambiente”. A Lei

9.795/99 institui a Política Nacional de Educação ambiental e apresenta o

seguinte conceito: “Entende-se por educação ambiental os processos por meio

dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a

conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia

qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

Os atores envolvidos direta ou indiretamente no espaço territorial e

geográfico no qual ocorrem as influências das intervenções devem ser

detentores de informações que possam embasar as deliberações dos

respectivos processos, ou seja, devem tomar parte nas decisões sobre as

questões relativas a seu meio. A participação é um pressuposto para assegurar

o Estado Democrático de Direito, onde haja o acesso a uma vida socialmente

justa em um meio ambientalmente equilibrado.

3.4.6 A Interface do Licenciamento e os Demais Instrumentos da Gestão Ambiental

O Licenciamento Ambiental de forma isolada, não se constitui em

uma panacéia para as soluções dos problemas ambientais. É necessária a

efetiva implementação dos diversos instrumentos criados para que se possa

viabilizar uma boa prática de gestão ambiental que seja capaz de vincular a

questão ambiental com a questão da qualidade de vida.

Os problemas ambientais são resultantes de um conjunto sinérgico

de ações que se agregam e se potencializam e, na maioria das vezes, tomam

dimensões alarmantes. Edis Milaré (2001) afirma que em uma visão holística, a

totalidade compreende as partes, e cada parte tem os elementos do todo e

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acrescenta que o Licenciamento Ambiental em sua simplicidade adquire um

sentido transcendental.

O fortalecimento institucional e a eficácia do Licenciamento

Ambiental perpassam pela capilaridade e transversalidade entre os diversos

instrumentos e mecanismos da política de proteção ambiental. O

Licenciamento de forma isolada torna-se incapaz de estabelecer a defesa do

meio ambiente considerando que prescinde de um arranjo de mecanismos

que ocorre por meio de um processo sistêmico e interdependente.

A Política Nacional de Meio Ambiente, instituída pela a Lei n°.

6.938/81, preconiza princípios, objetivos e instrumentos de planejamento,

gestão e controle como forma de promover um enfoque sistêmico no

tratamento das questões ambientais. Para cumprir esses objetivos foram

previstos os seguintes instrumentos: estabelecimento de padrões de

qualidade, Zoneamento ambiental, avaliação de impactos ambientais,

Licenciamento Ambiental e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente

poluidoras (BEZERRA, 1996).

Nesse sentido, o Licenciamento Ambiental constitui-se em um dos

mais importantes instrumentos da política ambiental que articulado com os

demais, a exemplo do Plano Diretor Urbano; o Zoneamento Ecológico

Econômico; a Política de Educação Ambiental; Avaliação Ambiental

Estratégica; dentre outros, fortalece as formas e as normas, para uma melhor

eficácia e efetividade desses instrumentos para a promoção do

Desenvolvimento sustentável.

A prévia Avaliação de Impacto Ambiental para a implantação de

atividades e obras que afetem o meio ambiente se constitui em importante

aliado para emissão da licença ambiental, que surgiu no Brasil, com o avanço

do arcabouço jurídico institucional, o qual se deu em especial na década de 90.

Nesse período alguns marcos jurídicos reforçaram a base legal da gestão

ambiental, bem como os princípios e objetivos da Política Nacional de Meio

Ambiente, estabelecida em 1981.

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A Avaliação Ambiental Estratégica é um procedimento sistemático

de avaliação da qualidade do meio ambiente e das conseqüências ambientais

decorrentes das alternativas de desenvolvimento, constantes na formulação de

políticas, planos e programas (PPP), de modo a assegurar a integração efetiva

dos aspectos biofísicos, econômicos, sociais e políticos aos processos públicos

de planejamento e tomada de decisão (MMA, b, 2002a).

A interface da AAE com a Avaliação de Impacto Ambiental é

fundamental para o processo de Licenciamento Ambiental, considerando que

ambos são instrumentos de gestão ambiental que se complementam para a

fundamentação do Licenciamento como mecanismo de planejamento.

O Estudo de Impactos Ambientais e o Licenciamento Ambiental se

encontram em consonância, uma vez que compreendem um conjunto de

atividades, pesquisas e tarefas técnicas realizadas com a finalidade de elucidar

as principais conseqüências ambientais de um projeto. Foi pensado como uma

forma de atender as exigências das regulamentações ambientais de proteção

do meio ambiente e auxiliar a decisão sobre a implantação do projeto. A

depender do nível da intervenção, o Estudo de Impactos Ambientais constitui-

se em uma importante ferramenta para a consagração do processo de

Licenciamento Ambiental.

Essas questões nos remetem à análise de outros instrumentos

relevantes da política ambiental que fortalecem o sistema de Licenciamento

Ambiental, a exemplo dos instrumentos de Planejamento territorial - o Plano

Diretor Urbano bem como o Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV, que são

importantes instrumentos de ordenamento da Política Urbana, os quais devem

dar suporte à defesa ambiental nas áreas de influencia, de forma a evitar e

corrigir distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio

ambiente.

O Estatuto da Cidade – EC, Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001,

estabelece a obrigatoriedade do Plano Diretor Urbano e Estudo de Impacto de

Vizinhança – EIV, como importantes instrumentos da Política Urbana que dará

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suporte à defesa ambiental nas áreas de influência, de forma a evitar e corrigir

distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio

ambiente. O EC demonstra ampla compatibilidade com o Licenciamento

Ambiental, tendo além de outras diretrizes, a proteção, preservação e

recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural,

histórico, artístico, paisagístico e arqueológico (MACHADO, 2004).

O Zoneamento “é uma medida de ordem pública cujo objetivo é

arbitrar e definir os usos possíveis, estabelecendo regras aptas a definir como

e quando serão admitidas determinadas intervenções sobre o espaço”

(ANTUNES, 2006, P.177). O autor relata que esse mecanismo surgiu para

contrapor os conflitos a respeito da repartição do território e do uso

concomitante dos espaços geográficos, sejam eles o solo, o espaço aéreo e

as águas na ausência de regras claras.

Conjuntamente com o Licenciamento Ambiental, o Zoneamento, o

qual organiza a relação espaço-produção, é um dos mais importantes

instrumentos institucionais de prevenção aos danos ambientais e de controle

das atividades potencialmente poluidoras. Contudo são mecanismos que

ainda padecem das vicissitudes do país (ANTUNES, 2006).

Dando continuidade à contextualização dos instrumentos legais que

se inter-relacionam para fundamentar as análises requeridas pelos processos

de Licenciamento Ambiental, é de grande importância citar ainda a Agenda 21

Local, destacando-se a sua pluralidade, diversidade, multiplicidade e

heterogeneidade para o planejamento, implantação e operação de cada projeto

ou atividade.

A Agenda 21 é um importante instrumento que retrata claramente a

interlocução existente entre a questão ambiental e a questão urbana, através

da implementação dos programas, estratégias e políticas para a promoção

desenvolvimento sustentável do município. É também um mecanismo de

apropriação do conhecimento da realidade local, em face da riqueza de

informações construídas para o planejamento, implantação e operação de cada

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Page 66: CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA … · Salvador, BA – Brasil . 2007 . MAYSA MARIA TORRES SANJUAN . CARACTERIZAÇAO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA A EFETIVAÇÃO

projeto ou atividade. Constitui-se em uma variável balizadora das políticas

públicas que quando tem legitimidade social, reflete o grau de organização da

sociedade,

A Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que institui a Política

Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento

de Recursos Hídricos, estabelecendo as responsabilidades institucionais e os

instrumentos de gestão de bacias hidrográficas e proteção da qualidade e

uso sustentável da água, também é um importante instrumento da Política

Nacional.

A Lei n.°9.605, de 13 de fevereiro de 1998, de Crimes Ambientais,

por sua vez, propicia o entendimento sobre os crimes ambientais e

estabelece penalidades, como detenção e multa às pessoas físicas e

jurídicas que deixarem de cumprir o dever legal ou que venham ter conduta

abusiva em relação a questões ambientais.

Surgiram ainda outros instrumentos que servem de base legal para

alicerçar o Licenciamento Ambiental em face do disciplinamento e consecução

dos objetivos da política ambiental, criados por meio de leis e regulamentos,

destinados a proteção dos ecossistemas, a conservação da biodiversidade, o

disciplinamento do meio ambiente urbano, o ordenamento ambiental e a

proteção das comunidades indígenas. Além de uma série de resoluções do

Conama e dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, como também dos

órgãos executores da política ambiental.

No âmbito do município a interface entre os diversos instrumentos

criados pela política urbana local permitirá resultados mais concretos para o

alcance dos objetivos perseguidos pela gestão ambiental em virtude das

especificidades territoriais, das intervenções ocorridas em função dessas

especificidades, e das manifestações inferidas pela sociedade no seu contexto

de vida e conseqüentemente dos instrumentos de regulamentações

estabelecidos para fazer frente a essas questões locais.

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A criação dos diversos instrumentos legais de aprimoramento da

política ambiental tem influenciado de modo positivo nas questões ambientais,

haja vista ter ampliado os resultados em face da complementaridade existente

nos objetivos por eles traçados. A interação entre os instrumentos imprime ao

processo de Licenciamento Ambiental, uma maior eficácia nos mecanismos de

defesa e proteção do meio ambiente; fortalece o processo considerando que

para se emitir a licença ambiental para uma determinada intervenção é

imprescindível que se lance mão de todo um aparato legal que fundamente o

ato.

3.4.7 Alguns Aspectos do Licenciamento Ambiental em outros Países

O quadro das questões ambientais globais nos remete a elaborar

um breve estudo dos sistemas de avaliação e instrumentos de controle dos

impactos ambientais realizados em especial pelos países que tanto

contribuíram com a aceleração dos problemas ambientais do mundo,

avaliando de que forma eles têm buscado resolver essas questões no âmbito

dos seus territórios.

Segundo Verocai (2004), o Licenciamento Ambiental originou-se

da legislação de controle da poluição do ar, da água e do manejo de resíduos

sólidos dos EUA (a autora exemplifica com o Clean Air Act e o National

Pollutant Discharge Elimination System Permit Program – NPDES, ambos

pertencentes ao EPA) e de outros países da Europa.

Verocai (2004) afirma que embora divulguem bastante os modelos

de análise e avaliação ambiental de projetos e outros tipos de tomada de

decisão, a literatura técnica em relação às formas dos países procederem ao

Licenciamento Ambiental é ainda limitada.

Os moldes do Licenciamento Ambiental do Brasil, considerando as

três etapas de análise dos empreendimentos (planejamento, implantação e

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Page 68: CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA … · Salvador, BA – Brasil . 2007 . MAYSA MARIA TORRES SANJUAN . CARACTERIZAÇAO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA A EFETIVAÇÃO

operação), bem como seu elevado nível de detalhamento e de instrumentos

de defesa, são bastante exigentes (VEROCAI, 2004). Alguns autores

atribuem essa particularidade a algumas situações características do país, à

cultura institucional e aos princípios legais.

Esse fato ocorre em função de que no Brasil determinadas leis

ainda não têm sido eficientes para implementar efetivamente os seus

ditames, a exemplo das leis de ocupação e uso do solo que não se têm

mostrado eficazes na prática. Ou seja, essas leis ainda não foram

incorporadas o suficiente na dinâmica social. A lei de Zoneamento ambiental

também não tem desempenhado papel significativo na gestão do meio

ambiente (GIUNCHETTI, 2004).

Aliado a esses fatores pode-se destacar o fato de que o Brasil,

diferentemente da maioria dos outros países, em face do seu extenso

território, apresenta-se com vastas fronteiras para implantação de grandes

empreendimentos. Portanto, é realmente necessário um instrumento,

suficientemente forte, capaz de romper com os entraves que marcam a

situação ambiental brasileira.

Segundo Giunchetti (2004), essa realidade apresenta-se de forma

diferente nos outros países, em especial na Europa, onde as transformações

no território já se encontram estabilizadas em função das dimensões

territoriais e da grande densidade demográfica, conseqüentemente, as

grandes intervenções raramente acontecem. Nos Estados Unidos, que são

um país de extensão maior que o Brasil, as intervenções são controladas por

meio de severas leis de Zoneamento.

Outro diferencial marcante entre essas legislações é a questão da

transparência da informação, que ainda é bastante limitada no Brasil

considerando-se que existe uma “demanda reprimida pelos anos de ditadura

militar” (GIUCHETTI, 2004). A autora afirma que nos países com tradição

democrática, ninguém executará uma obra sem o conhecimento da

população local, fato que comumente não ocorre no Brasil.

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Para normatizar o processo de controle de impactos ambientais, a

União Européia instituiu a partir de 1985, uma diretriz, ainda vigente, com o

objetivo de harmonizar os procedimentos e critérios para análise dos

impactos ambientais pelos Estados-membros para o processo de concessão

de licença (VEROCAI, 2004). Essa diretriz teve a finalidade de resolver os

problemas inerentes à competitividade, em virtude de que alguns países

tiravam proveito em face das divergências das exigências de controle.

Segundo Verocai, (2004) a referida diretriz instituiu uma lista de

atividades para as quais é necessária uma avaliação criteriosa dos impactos

ambientais, observando os aspectos ambientais e sociais que o estudo deve

considerar, bem como os procedimentos básicos (alternativas, definições de

conteúdos, participação pública, revisão, mitigação e monitoramento, etc).

A diretriz também obriga os Estados-membros a levarem em

consideração as informações e objeções originadas nas audiências públicas.

Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos, determinadas leis de

Licenciamento Ambiental para setores específicos permitem a revisão dos

processos por instâncias administrativas, desde que sejam acionadas por

pessoas que tenham participado do processo de Licenciamento ou que

tenham presenciado a audiência pública que serve de referência para revisão

da decisão de concessão da licença. Esse procedimento reduz a intervenção

do setor judiciário no processo.

Outro aspecto a ser considerado na legislação norte-americana,

segundo Giuchetti, (2004), é que a licença somente pode ser concedida

depois de respondidos e encaminhados todos os questionamentos feitos pela

sociedade. Além disso, ocorrem casos em que as informações devem ser

divulgadas por anúncios pagos nos meios de comunicação (rádios e

televisões).

As questões inerentes ao Licenciamento Ambiental são

amplamente debatidas por meio de reuniões públicas e formação de grupos

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de discussões para temas específicos (GIUCHETTI, 2004). Observa-se que

diferentemente do Brasil, os órgãos ambientais norte americanos dispõem de

diversos mecanismos mais democráticos do que técnicos para tomar as

decisões sobre a concessão das licenças ambientais.

Atualmente, dos países da América Central e do Sul, apenas o

Suriname ainda não constituiu algum tipo de avaliação ambiental de projetos

e na Argentina não existe lei de âmbito nacional para avaliação ambiental. As

regulamentações vigentes são de abrangência territorial regional ou local. Na

Bolívia a lei ambiental é abrangente no que diz respeito aos instrumentos

estabelecidos pela política ambiental, embora necessite de diversas

regulamentações.

A licença para as atividades impactantes é obrigatória, com

validade de dez anos e o prazo para a revisão é extenso demais (30 anos)

para garantir a qualidade dos processos. No Chile, os regulamentos para o

Licenciamento Ambiental apresentam uma forma simplificada de realizar o

processo, facilitando a aprovação dos projetos.

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Capítulo 4 O PROCESSO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

4.1 PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA ESFERA

FEDERAL

A resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - Conama nº.

237 estabeleceu em seu artigo 4º que compete ao IBAMA o Licenciamento

Ambiental de empreendimentos e atividades com significativo impacto

ambiental de âmbito nacional ou regional, conforme os critérios definidos no

artigo 10 da Lei nº 6.938/81.

Segundo Antunes (2006) o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, órgão federal responsável pela

execução da política ambiental nível nacional, exerce funções de caráter

supletivo na atividade de Licenciamento Ambiental, visto ser essa uma

atividade fundamentalmente desempenhada pelos órgãos estaduais

integrantes do SISNAMA.

O processo de Licenciamento Ambiental na esfera federal é

composto por três etapas de análise, ou seja, ocorre por meio da emissão de

três licenças sucessivas. É um processo administrativo sistemático que requer

um acompanhamento com inspeções periódicas em cada procedimento para

que seja emitida a respectiva licença. Constitui-se em uma importante

ferramenta de planejamento das diversas etapas e operações do

empreendimento. O IBAMA adotou as licenças, obedecendo aos critérios

definidos pela resolução do Conama nº 237 (MMA, 2002).

Para se dar início ao processo de Licenciamento do

empreendimento ou atividade potencialmente poluidora, faz-se necessário que

o empreendedor encaminhe ao órgão licenciador competente, uma solicitação

da licença, que deverá ser requerida ainda na fase de planejamento e

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concepção do empreendimento. O órgão encaminha ao empreendedor, a

relação da documentação necessária para posterior análise dos documentos,

projetos, e a depender, estudos ambientais.

Após a solicitação da licença pelo empreendedor, o IBAMA realiza a

inspeção no local e fornece os termos de referência para os estudos

ambientais, esclarecendo os documentos complementares necessários à

solicitação da LP, com detalhamento do conteúdo e o acompanhamento dos

estudos necessários. A licença prévia - LP aprova a localização e a proposta

inicial e atesta a viabilidade ambiental do empreendimento ou atividade. O

Brasil, TCU (2004) destaca que a licença prévia funciona como chancela do

órgão ambiental ao início do planejamento do empreendimento.

De acordo com o MMA (2002) a resolução no 237/97, ressalta de

forma detalhada que caberá ao órgão ambiental competente definir os critérios

de exigibilidade, o detalhamento e a complementação do anexo I, levando em

consideração as especificidades, os riscos ambientais, o porte e outras

características do empreendimento ou atividade.

Ressalta-se que o procedimento de Licenciamento Ambiental

realizado pelo IBAMA deverá constar do parecer considerando o exame técnico

feito pelos órgãos estaduais e municipais nos quais se localiza o

empreendimento, conforme estabelecido no §1º, do art. 4º da Resolução

CONAMA nº 237/97. É exigida também a certidão das municipalidades

declarando a conformidade da localização e do tipo da atividade com a

legislação de uso e ocupação do solo.

A Resolução Conama, nº. 237/97, em seu art. 10, §1º estabelece

que: no procedimento de Licenciamento Ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de atividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização de supressão de vegetação e a outorga para uso da água, emitidas pelos órgãos competentes. (CONAMA, 1997).

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A depender do porte das intervenções, são realizadas as audiências

públicas, que ocorrerão durante a análise dos estudos ambientais. Para

projetos de significativo impacto ambiental deverá ser exigido o Estudo de

Impactos Ambientais – EIA e o respectivo Relatório de Impactos ao Meio

Ambiente – RIMA. Nesta ocasião a comunidade é chamada a avaliar os

impactos ambientais e sociais do empreendimento e as medidas mitigadoras

que devem ser realizadas.

Machado (2004) explica que a legislação brasileira apresentou uma

lista de empreendimentos considerados potencialmente causadores de

significativo impacto ambiental, que devem ser submetidos ao EIA/RIMA, na

tentativa de eliminar a subjetividade do conceito de Licenciamento Ambiental.

Sendo que esta lista pode ser ampliada de acordo com as especificidades de

cada região, não podendo, portanto ser restritiva.

Em casos da dispensa do estudo em face do impacto gerado não

ser significativo, o órgão ambiental deverá justificar por meio de manifestação

técnica e/ou jurídica. Contudo, Nicolaides (2005) comenta que a dispensa de

EIA/RIMA no Brasil, sem a devida justificativa é bastante comum.

A definição da necessidade de audiência pública é feita a critério do

órgão ambiental, ou por solicitação de entidade civil, ou do Ministério Público,

ou por abaixo-assinado de pelo menos 50 (cinqüenta) cidadãos (ANTUNES,

2006).

A licença prévia estuda a viabilidade do empreendimento por meio

de análise dos prováveis impactos, avaliando a localização, magnitude e,

abrangência dos mesmos, define as condicionantes como medidas de

mitigação ou atenuação dos impactos negativos e maximização dos impactos

positivos (BRASIL, TCU, 2004).

A Licença de Instalação – LI analisa as especificações do projeto

executivo do empreendimento ou atividade, autoriza a instalação com a

respectiva aprovação dos detalhamentos e cronogramas de implementação

56

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dos planos e programas de controle ambiental e valida a estratégia proposta

para o trato com as questões ambientais durante a fase de construção.

Nessa fase deve ser apresentado o atendimento das condicionantes

da LP assim como os procedimentos de monitoramento ambiental. O prazo de

validade da licença de instalação será, no mínimo, igual ao estabelecido pelo

cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser

superior a seis anos, de acordo com o artigo 18, inciso II, da Resolução

Conama nº. 237, de 1997.

A Licença de Operação - LO é expedida para autorizar o início da

operação de um empreendimento ou atividade, observada a proposta de

funcionamento dos equipamentos de controle da poluição, os quais servirão de

parâmetros para a permanência do empreendimento. Nesta etapa é verificado

o atendimento das condicionantes constantes nas licenças anteriores.

A LO tem por finalidade aprovar a proposta de controle ambiental

para a operação do empreendimento e será suspensa caso não sejam

obedecidas às exigências fixadas nas respectivas licenças.

A Resolução CONAMA 279/01 estabelece critérios e os prazos

específicos para o Licenciamento simplificado, dirigidos aos empreendimentos

necessários ao incremento de energia e considerados de pequeno porte de

impactos ambientais, determinados pela Câmara de Gestão da Crise.

Quanto ao prazo para emissão da licença prévia e da licença de

instalação, deverá ser de até sessenta dias contados a partir da data da

entrada da solicitação da licença no órgão ambiental, para os casos em que

não sejam necessários os estudos ambientais complementares.

A licença de operação deverá ser emitida pelo órgão licenciador até

sessenta dias da entrada do seu requerimento no referido órgão. O Brasil, TCU

(2004) esclarece que o prazo deve terminar quando terminarem os programas

de controle ambiental, possibilitando dessa forma uma melhor avaliação de

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seus resultados, inclusive considerando-os como mérito para a renovação da

licença.

As licenças ambientais deverão ser publicadas em diários oficiais ou

em jornais de grande circulação, ou mesmo por outro meio de comunicação

amplamente utilizados na região na qual será instalado o empreendimento,

devendo constar das devidas informações que identifiquem a intervenção.

4.1.1 Analise do Licenciamento Ambiental na Esfera Federal

O sistema brasileiro de Licenciamento vem se deparando com

muitas barreiras para cumprir os objetivos a que se propõe. Instituído há mais

de duas décadas, o Licenciamento Ambiental ainda traz no seu bojo alguns

aspectos que o afasta de um padrão ideal de funcionamento, isso, em grande

medida, pela falta de regulamentações mais específicas.

A insuficiência de estudos, a participação pública desmotivada, a

desarticulação com os demais instrumentos da política ambiental e entre os

diversos setores e a falta de informação adequada pela maioria dos

interessados quanto aos procedimentos e trâmites requeridos para a sua

concessão, ainda são características que marcam a prática do Licenciamento

no país.

Oliveira (2004), representante do setor empresarial brasileiro, relata

que os processos e os procedimentos de Licenciamento Ambiental precisam

ser automatizados, transparentes, e devem reduzir drasticamente os prazos

para obtenção das licenças e assim, atender a demanda de forma a enfrentar

a dinâmica do setor.

Oliveira (2004) afirma que é necessário aprimorar os procedimentos

com estabelecimento de processos reconhecidos, devendo-se estabelecer

uma política de comunicação e informação sobre os Licenciamentos

Ambientais realizados, facilitando assim comunicação entre todos os atores,

públicos e privados, e o judiciário. Ou seja, propõem uma articulação do

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Sistema Nacional de Meio Ambiente entre todas as esferas, não apenas do

empresariado e do executivo, mas também do judiciário, no sentido de

minimizar os embargos tão presentes nos projetos do país.

Segundo Monosowski (1993) há uma premente necessidade de

ampliar o nível de considerações feitas nas avaliações dos projetos a serem

implantados. Neste sentido Monosowski afirma que ao invés de se contrapor a

determinados projetos, deve-se pensar que os melhores propostas para

obtenção de benefícios sociais podem ser encontradas a partir de alternativas

que se encontram um pouco mais à montante dentro do ciclo do projeto.

Giuchett (2004) afirma que apesar da procedência das críticas

realizadas tanto por representantes do setor empresarial como também por

determinados segmentos governamentais e não governamentais, no que diz

respeito aos entraves gerados pelo Licenciamento ao desenvolvimento

econômico do país, pode ser constatada certa resistência desses setores em

englobar em seus orçamentos os custos das externalidades ambientais e

sociais ocasionadas pelas intervenções por eles realizadas.

Contrapondo o olhar do setor empresarial, determinadas facções

ambientalistas consideram o Licenciamento Ambiental no Brasil como um

“paradigma da adequação ambiental”, no qual o empreendimento é prioritário,

não podendo ser questionado na prática. Rodrigues, (2002) afirma que a obra

deve ser construída, entretanto sua sustentabilidade sócio-ambiental não deve

ser discutida.

Rodrigues, (2002), relata que os processos de Licenciamento

Ambiental não enxergam as pessoas e comunidades atingidas pelo

empreendimento. “Faltam instrumentos de análise que possam estudar o peso

e o significado para o meio ambiente, bem como para o desenvolvimento da

população que vai ser atingida” (RODRIGUES, 2002, p. 02).

Segundo Rodrigues, (2002), é necessária a construção de

mecanismos capazes de avaliarem a sustentabilidade ambiental e social dos

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empreendimentos, do ponto de vista da biodiversidade, da qualidade das

águas, da contaminação dos solos, da empregabilidade das pessoas, dos

aspectos da territorialidade, enfim, das externalidades sócio-ambientais

geradas.

O Licenciamento Ambiental no Brasil tem se dado de forma morosa,

demonstrando fragilidade tanto no que se refere aos recursos humanos

técnico-administrativos, como na infra-estrutura logística. Essa realidade

caracteriza a ineficiência de alguns órgãos governamentais que tem

apresentado para os demandantes um serviço com resultados insatisfatórios

ocasionando em alguns casos a transferência de determinados

empreendimentos para outros territórios onde o referido processo ocorre com

maior eficácia (OLIVEIRA, 2004).

4.1.2 O Sistema Nacional de Meio Ambiente

A política ambiental na esfera federal nas últimas décadas teve um

declínio de prioridade, quando comparada às demais políticas publicas,

evidenciando uma acentuada desvinculação entre as referidas políticas. A

história brasileira tem comprovado que acontecimentos relevantes voltados

às questões ambientais tem se dado com maior freqüência junto ao poder

local.

Contudo, alguns fatos mais recentes têm demonstrado uma

reorientação com o objetivo de reascender a importância da política

ambiental no país, tanto pela vontade política da atual ministra de Meio

Ambiente como também por iniciativas pontuais de alguns órgãos estaduais,

além de iniciativas tomadas por equipes técnicas e científicas em

determinadas instituições.

Apesar da fragilidade existente em relação à Intersetorialidade da

política ambiental com as demais políticas públicas é notório o esforço que

vem sendo empreendido pelo Ministério do Meio Ambiente em imputar a

devida relevância às questões ambientais na agenda governamental, a

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exemplo da realização das Conferências de meio ambiente ocorridas em todo

território brasileiro iniciadas em 2003, as quais trouxeram como principal foco

o fortalecimento do SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente.

A Política Nacional de Meio Ambiente, criou o SISNAMA através

da lei 6.938 /81, que estabelece e estrutura a composição de entidades e

órgãos públicos com competência na área de meio ambiente nos três níveis

administrativos. O SISNAMA representa a articulação dos órgãos ambientais

existentes em todas as esferas da Administração pública (COUTINHO E

ROCCO, 2004).

Entretanto o SISNAMA tem demonstrado falta de capilaridade e de

interação entre os entes federados, retratando também certa fragilidade

inerente às capacidades técnicas e profissionais de viabilizar a política de

defesa ambiental no país, além de evidenciar a ausência de articulação com

as instâncias municipais dentro do sistema da política ambiental Nacional.

Surge uma nova preocupação, tanto na União quanto nos Estados

federativos, de estabelecer um novo arranjo que traga em seu bojo o

fortalecimento institucional da base dos municípios no sentido de torná-los

capazes de estabelecer e implementar no nível local as políticas de proteção

ambiental.

Nesse sentido, o processo de Licenciamento no país prescinde de

um arranjo que seja capaz de assegurar a compatibilidade de valores e

interesses complementares ou contraditórios de forma a buscar a otimização

dos recursos naturais, e que esses venham a ser utilizados de forma justa e

igualitária, garantindo assim, que o desenvolvimento sustentável seja

efetivamente implementado no país.

4.2 O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO ESTADO

DA BAHIA

61

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A Legislação Ambiental da Bahia foi implementada desde a década

de 70 e se constituiu em um grande avanço na área ambiental. Foi instituída

por meio da Lei nº. 3.163/ de 04 de outubro de 1973, que criou o Conselho

Estadual de Proteção Ambiental – CEPRAM, órgão consultivo; normativo e

deliberativo e formulou a política estadual de controle da poluição.

A Lei nº. 3.858, de 1980, instituiu o Sistema Estadual de

Administração dos Recursos Ambientais – SEARA, e criou mecanismos para

a implementação da política ambiental do Estado. Definiu como órgão

superior do sistema o CEPRAM, como órgão executor o CRA, e como órgãos

seccionais os demais órgãos do poder público estadual. A referida lei

antecedeu a Política Nacional de Meio Ambiente, por isso a importância da

Bahia no contexto da política ambiental Brasileira (BAHIA, 2001).

A nova Constituição do Estado da Bahia, promulgada em 1989

dispôs sobre a instituição de "um sistema de administração de qualidade

ambiental, proteção, controle e desenvolvimento do meio ambiente e uso

adequado dos recursos naturais para organizar, coordenar e integrar as ações

da administração pública e da iniciativa privada, assegurada à participação da

coletividade" (BAHIA, 2001).

O CEPRAM então recebeu a nova denominação de Conselho

Estadual de Meio Ambiente e passou a ter uma representação tripartite e

paritária do poder público, das entidades ambientalistas e demais

representações da sociedade civil, totalizando 15 (quinze) membros

constituídos através da Lei nº. 6.529 (BAHIA, 2001).

A nova Lei Ambiental do Estado, Lei nº. 7.799 de 07 de fevereiro de

2001, regulamentada através do Decreto Estadual nº. 7.967 de 05 de junho de

2001, foi promulgada com o objetivo de fortalecer os instrumentos de gestão e

defesa do meio ambiente, em face da necessidade de uma revisão e

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atualização, buscando-se uma maior eficácia e agilidade, como também uma

melhor adequação aos novos paradigmas da gestão dos recursos ambientais2.

A referida lei disciplinou o Sistema Estadual de Administração dos

Recursos Ambientais - SEARA, que foi reorganizado no sentido de redefinir as

competências dos vários órgãos que o compõem, incorporar os municípios e as

organizações não governamentais e promover a articulação entre os órgãos

setoriais e locais, ao tempo que simplificou os procedimentos do Licenciamento

Ambiental no Estado da Bahia.

A Lei Estadual nº 8.538 de dezembro de 2002, criou a Secretaria de

Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMARH, que tem a finalidade formular

e executar a política estadual de ordenamento ambiental, de desenvolvimento

florestal e de recursos hídricos, assegurando a promoção do desenvolvimento

sustentável do Estado da Bahia. A SEMARH é Constituída pelos órgãos

responsáveis por: agenda marrom (controle da poluição) - o CRA, que se

encontra vinculado à Superintendência de Políticas ambientais; agenda verde

(proteção das florestas) - Superintendência de Desenvolvimento Florestal e

Unidades de Conservação e a agenda azul (proteção dos rios) -

Superintendência de Recursos Hídricos – SRH (SOUZA, 2003).

O Estado da Bahia tem avançado nos debates sobre as questões

ambientais. Com o advento da Resolução CONAMA nº 237, a Bahia iniciou o

disciplinamento do Licenciamento por parte dos municípios a partir de outubro

de 1999, aprovando a Resolução CEPRAM nº 2.150 /1999 (SOUZA, 2003).

O Estado iniciou o Programa de Municipalização da Gestão

Ambiental, coordenado pelo CRA, no qual foram estabelecidas as diretrizes

para a cooperação técnica e administrativa com os órgãos municipais de meio

ambiente, visando à descentralização da gestão ambiental, o Licenciamento e

à fiscalização das atividades de impacto ambiental local.

2 Depoimento de Maria Gravina Ogata Diretora de Políticas Ambientais – SEMARH, em entrevista com a pesquisadora no dia 29 de janeiro de 2006.

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A gestão ambiental realizada pelos municípios nesta ocasião, se

dava por meio de convênios de cooperação, que eram caracterizados como

autorização ou credenciamento para que eles exercessem suas prerrogativas

legais de realizarem o Licenciamento Ambiental para atividades de impactos

locais.

A Resolução CEPRAM N.º 2.965 dispõe que:

a fiscalização e o Licenciamento Ambiental das atividades e empreendimentos cujos impactos ambientais ocorrerem dentro dos limites territoriais do município, assim classificadas como de impacto local, poderão ser delegados aos respectivos municípios, mediante celebração de convênio, observada a existência obrigatória dos instrumentos abaixo relacionados:

I – política municipal de meio ambiente prevista em lei orgânica ou legislação específica, devidamente regulamentada;

II – Conselho Municipal do Meio Ambiente – instância normativa, colegiada, consultiva e deliberativa de gestão ambiental, devidamente empossado e regimentado;

III – órgão ou instância técnico-administrativo na estrutura do Poder Executivo Municipal, com atribuições específicas na área de meio ambiente, dotado de corpo técnico multidisciplinar, com experiência na área ambiental;

IV – sistema de Licenciamento Ambiental municipal que preveja:

a) análise técnica e concessão das licenças ambientais pelo órgão Municipal de Meio Ambiente;

b) concessão das licenças ambientais pela instância colegiada;

c) remuneração dos custos de análise das licenças Conselho Municipal de Meio Ambiente;

V – sistema de fiscalização ambiental legalmente estabelecido que preveja penalidades para os infratores à legislação ambiental (SOUZA, 2003, P.49).

Posteriormente, decidiu-se que os convênios vencidos não seriam

renovados e que não deveriam ser celebrados novos convênios, uma vez que

o município, como ente federado, possui autonomia para a efetivação desde

que esteja capacitado para isso.

A Legislação Ambiental Estadual nº 8.538/2002, encontra-se mais

uma vez sob discussões para novas reformulações, considerando que os

diversos instrumentos criados, seus regulamentos e demais normas

administrativas pertinentes nem sempre estão em consonância entre si, uma

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vez que são aplicados por três secretarias distintas e que normalmente

particularizam as ações inerentes a cada uma delas. Por sua vez a célere

atualização das normas federais foi também um fator preponderante para a

necessidade de reformulação da atual legislação do Estado da Bahia3.

Os trabalhos de atualização da legislação estão sendo realizados a

partir do esforço empreendido pela ação integrada dos órgãos que compõem

a SEMARH por meio da formação de um grupo de trabalho instituído pela

portaria nº 021 de maio de 2003. O GT adotou como estratégia, o

envolvimento de representantes da sociedade, do setor privado, de

universidades e dos diversos níveis governamentais4.

A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e o CRA

iniciaram um trabalho para implementação da descentralização da gestão

ambiental pelos diversos municípios do Estado. A implantação da

Municipalização da Gestão Ambiental – GAM, tem-se dado paulatinamente,

por se tratar de um processo complexo, extremamente relacionado às

competências técnicas e institucionais dos municípios. Apesar da mobilização

no sentido de dotar as esferas locais de instrumentos legais, os órgãos

municipais ainda prescindem de capacitações suficientes e estruturas

necessárias para que se tornem aptos para viabilizar a política ambiental5.

Atualmente aproximadamente 56 municípios6 do Estado da Bahia

realizam, na medida do possível e com diversas limitações, a gestão

ambiental. O avanço do processo de Licenciamento Ambiental no Estado da

Bahia é marcado por algumas especificidades resultantes de um estudo

minucioso realizado por expertos dos órgãos públicos ambientais, das

3 Depoimento de Maria Gravina Ogata Diretora de Políticas ambietais – SEMARH, em entrevista com a pesquisadora no dia 29 de janeiro de 2006. 4 Depoimento de Mario Luiz Berti Torres Sanjuan – SEMAHR, em entrevista com a pesquisadora, no dia 26 de abril de 2006. 5 Depoimento de Edmundo Ramos Pereira, Coordenador de Núcleo de gestão Ambiental - SEMARH, em entrevista com a pesquisadora, no dia 26 de abril de 2006. 6 Informações apresentadas por Ney Galvão – Diretor do CRA - durante treinamento de capacitação do GAM – abril de 2006.

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universidades, por membros do CEPRAM e outros segmentos envolvidos

com as questões ambientais.

O CRA buscou padronizar todos os procedimentos de modo a

unificar as formas de tratamento dos diversos processos, com roteiros,

formulários e ofícios uniformizados, eliminando a subjetividade dos

procedimentos. As condicionantes eram apresentadas de formas diferentes

para os mesmo tipos de atividades. Nem sempre as exigências eram colocadas

de forma clara, dificultando a compreensão por parte dos empreendedores.

Até o ano de 2001 todas as licenças passavam pelo crivo do

CEPRAM, entretanto em função do aumento da demanda de licenças no

Estado, atualmente, apenas as primeiras licenças para empreendimento de

médio a grande porte devem ter sua primeira licença analisada por esse

órgão.

O fortalecimento da gestão ambiental estabelecido pelo CRA

(Bahia) está pautado em três fatores fundamentais7: a) capacitação técnica

que vem sendo realizada através da promoção de cursos e treinamentos para

os órgãos parceiros pelo Núcleo de Estudos Avançados do Meio Ambiente –

NEAMA; b) transparência das ações – as informações geradas pelo CRA

encontram-se disponíveis no site do SEIA, a exemplo de processos de

Licenciamento em andamento, atas de reuniões do conselho, dentre outros.

As licenças expedidas são publicadas no Diário Oficial do Estado; c)

participação – o CEPRAM é um conselho tripartite, traz em sua composição,

representantes dos três segmentos: público, privado e sociedade civil.

Segundo Ney Galvão8, o processo de gestão ambiental no Estado da Bahia é

pautado em diversos mecanismos que fundamentam o sistema:

7 Informações apresentadas por Ney Galvão – Diretor do CRA - durante treinamento de capacitação do GAM – abril de 2006. 8 Informações apresentadas por Ney Galvão – Diretor do CRA - durante treinamento de capacitação do GAM – abril de 2006.

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- A Responsabilidade Ambiental consiste na responsabilidade

objetiva do empreendedor sobre aquilo que ele vai fazer. Ou seja, responder

pelo dano ocasionado pela atividade por ele desenvolvida. O empreendedor

deve ter plena consciência dos riscos que corre e de que forma deve ser

evitado. No entanto o órgão ambiental é co-responsável em determinadas

situações.

- A Auto–Responsabilidade da empresa é um procedimento

obrigatório para empreendimentos de médio a grande porte. Deve ser

implementada por meio da constituição de uma Comissão ambiental. Para

isso cria-se um pequeno órgão ambiental dentro da estrutura do

estabelecimento, formado por pessoas responsáveis pela gestão ambiental

daquela empresa. Já realidade dos pequenos empresários não permite que

eles tenham essa estrutura.

- A Auto-Avaliação ambiental é um relatório que a empresa faz

avaliando as atividades por ela desenvolvidas. A empresa avalia os possíveis

impactos, publica sua política ambiental e os resultados por ela alcançados

através da incorporação de medidas preventivas são divulgados. O

empreendedor declara ser conhecedor das conseqüências ambientais do seu

empreendimento e assume a responsabilidade, das mesmas por meio de um

responsável técnico.

- A fiscalização deve ser feita passo a passo com o

Licenciamento. No Licenciamento são estabelecidas condicionantes que

devem ser sistematicamente fiscalizadas, identificando se estão sendo

cumpridas.

A Fiscalização preventiva é baseada no planejamento e

acompanhamento das ações, enquanto que a fiscalização repressiva baseia-

se em denúncias, para que sejam tomadas as providências. O processo

como um todo se constitui em inspeção, notificação, advertência, e multa. As

etapas são realizadas de forma sistemática resultando em um processo

continuo de retro-alimentação.

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- Termo de Responsabilidade Ambiental é um termo em que o

empreendedor declara conhecer a legislação ambiental, estar ciente dos

impactos causados e se responsabiliza sobre os resultados assinando um

termo em que declara sua responsabilidade sobre a intervenção. Na maioria

das vezes o empreendedor assina sem ter uma visão da questão, apenas

porque precisa da licença para ter acesso a financiamentos, dentre outros

interesses.

- Atendimento ao Público – o atendimento ao público ocorre por

meio de uma equipe técnica que passa as orientações prévias ao

empreendedor no sentido de informá-lo para a formação do seu processo,

por meio de um check-list, que contém todos os trâmites necessários.

- A Capacitação constitui-se em elemento principal para

fundamentar os pareceres de forma embasada nos procedimentos

adequados, no sentido de prover o corpo técnico dos elementos necessários

para realizar as análises, desde uma licença simplificada para um posto de

gasolina a uma licença bem mais complexa de uma indústria petroquímica.

Entretanto, existem casos excepcionais em que nem sempre se

dispõe de conhecimentos mais específicos no corpo técnico. Para esses

procedimentos é necessário buscar, por meio de consultorias, outros

elementos que dêem à sustentação necessária à análise9.

4.2.1 Fluxo do Processo de Licenciamento Ambiental no Estado da Bahia

O Fluxo do Licenciamento no Estado da Bahia segue os trâmites

normais do processo, da forma como é definida pelo CONAMA. As diferenças

nas denominações das licenças ambientais ocorrem em função de que essas

9 Notas do Treinamento para Gestores Municipais em Gestão Ambiental – GAM, NEAMA, out. 2006 disponível no site do SEIA/CRA-BA.

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licenças nesse Estado precederam às criadas no âmbito nacional. Embora

tenha as suas peculiaridades, o conteúdo é bastante semelhante. As licenças

ambientais na Bahia recebem as seguintes denominações: licença de

Localização, licença de implantação e de operação (BAHIA, 2003).

O Sistema de Licenciamento Ambiental da Bahia é

composto das seguintes licenças:

I - licença de Localização: concedida pelo CEPRAM na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidas nas próximas fases de sua implementação; II - licença de Implantação: concedida pelo CRA para instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes; III - licença de Operação: concedida pelo CRA para a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do cumprimento das exigências constantes das licenças anteriores e estabelecimento das medidas de controle ambiental e condicionantes a serem observadas para essa operação; IV - licença de Alteração: concedida pelo CRA para a ampliação, diversificação, alteração ou modificação de empreendimento ou atividade ou processo regularmente existente; V - licença Simplificada: concedida pelo CRA para a localização, implantação e operação de empreendimentos e atividades de micro ou pequeno porte (SOUZA, 2002, p. 22).

69

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FLUXOGRAMA SIMPLIFICADO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

REQUERIMENTO DE LICENÇA

ELABORAÇÃO DO EIA/RIMA PELO INTERESSADO

APROVAÇÃO DO TR PELO CEPRAM

ELABORAÇÃO DO TERMO

REFERÊNCIA (TR)

AUDIÊNCIA PÚBLICA

LICENÇA DE LOCALIZAÇAO

INSPEÇÃO TÉCNICA

PARECER TÉCNICO

CONCLUSIVO

PARECER JURÍDICO

PASSÍVEL DE EIA / RIMA

APRESENTAÇÃO DO EIA/RIMA AO

CRA

AUDIENCIA PÚBLICA

NÃO

SIMSIM

ETAPA II ETAPA I ANÁLISE TÉCNICA E JURÍDICA

NÃO

DELIBERAÇÃO PELO CRA OU PELO CEPRAM

PUBLICAÇÃO DA LICENÇA

EMISSÃO DO CERTIFICADO DE LICENÇA

CEPRAM: LL E LI/LO ETAPA III DE EMPREENDIMENTOS IRREGULARES

ETAPA IV

ETAPA V

CRA: LS E LL/LO/LA/LOA DE EMPREENDIMENTOS REGULARES

Figura 3 FONTE: SOUZA, 2002

70

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Por meio do requerimento da licença, o empreendedor apresenta

ao CRA o que quer fazer. Com a orientação prévia da documentação

necessária para ser encaminhada para análise técnica, o órgão ambiental

indica o que deve ser feito. Realiza-se então uma inspeção e, à luz do que

está apresentado no processo pelo empreendedor, avalia-se se estar em

conformidade com as exigências do Licenciamento. O técnico responsável

verifica inicialmente se a licença é de localização ou se é passível de EIA-

RIMA. Depois da inspeção técnica pode ser solicitada uma complementação

das informações (Souza, 2002).

Toda licença deve ter o parecer jurídico. O parecer conclusivo é

encaminhado ao CEPRAM ou ao CRA. Para o CEPRAM vão as primeiras

licenças de empreendimentos irregulares ou daquelas atividades que já

estejam em funcionamento de forma irregular e que foram notificadas para

que sejam regularizadas. A licença é publicada por meio de portaria no portal

ou via extrato da licença no diário oficial do Estado.

O CRA criou e patenteou o sistema CERBERUS que realiza o

gerenciamento dos processos de Licenciamento desde a sua formação até a

sua conclusão. O CERBERUS possibilita a padronização dos modelos dos

documentos, e por meio de extrato diário fornece uma visão geral de como

está o quadro dos processos existentes no CRA.

O Licenciamento Ambiental no Estado da Bahia é fundamento em

normas técnicas voltadas a subsidiar o processo, as quais são utilizadas nas

análises e devem estar de acordo com as peculiaridades dos investimentos,

considerando a tipologia das atividades. O técnico deve ter a clareza do que

deve ser analisado tomando por base um roteiro de caracterização do

empreendimento. O roteiro de caracterização integra a norma técnica. Além

desse, existe ainda um manual que explica ao empreendedor, de forma mais

didática, como ele deve proceder para viabilizar o Licenciamento. O órgão

ambiental não produz o estudo, mas avalia o processo apresentado pelo

empreendedor.

71

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Capítulo 5

PARÂMETROS DE ANÁLISE PARA A EFETIVIDADE DO

LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA ESFERA DOS MUNICÍPIOS O Licenciamento Ambiental ocorre por meio de um conjunto de

princípios, diretrizes e estratégias de ação e procedimentos determinados pelos

agentes econômicos, públicos e privados, que interagem no processo de

apropriação dos recursos de natureza múltipla das questões ambientais e do

desenvolvimento.

A pesquisa traz uma análise da efetivação do processo de

Licenciamento Ambiental e seus aspectos institucionais e gerenciais e

procedimentais. A análise dos dados apresentados requer um referencial para

a inferência dos fatores no sentido de perceber o Licenciamento que está

sendo praticado nos municípios, considerando que o impacto efetivo das

políticas sobre os problemas depende da forma como elas são implementadas.

No presente capítulo foram construídos alguns parâmetros a serem

ponderados pelo estudo, a partir do referencial teórico apresentado pela

pesquisa e considerando as recomendações da bibliografia consultada, no

sentido de se delinearem como aspectos favoráveis para efetivação do

Licenciamento Ambiental na esfera local:

5.1 O PROCESSO DE LICENCIAMENTO

O Licenciamento Ambiental de um empreendimento ou atividade a

ser realizado em uma determinada localidade, deve considerar em seu

processo de realização, os seguintes aspectos, como fatores favoráveis à sua

efetividade:

Conhecimento da Realidade - o órgão ambiental deve ter um

diagnóstico da situação para definir os critérios de exigibilidade

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observando as especificidades, os riscos ambientais, o porte e outras

características do empreendimento ou atividade dentro do contexto em

que se encontra inserido, para que possa avaliar o significado da

intervenção para o meio ambiente, bem como para os diversos atores que

serão atingidos pela ação. Assim o Licenciamento Ambiental perpassa

pela fase de planejamento da intervenção, quando são definidos os seus

aspectos locacionais, pressupondo-se o conhecimento da realidade.

Nesse contexto, inserem-se diversos instrumentos, a exemplo de

Agenda 21, planejamentos territoriais, planejamentos estratégicos, elementos

de geo-referenciamentos, além de outros diagnósticos pré-existentes,

somadas às documentações exigidas na análise prévia e inspeções em loco.

Aliados a esses fatores devem constar outros mecanismos de participação

pública, elaborados por meio de processos de construção coletiva das

informações.

A emissão da certidão das municipalidades a órgãos estaduais ou

federais, declarando a conformidade do empreendimento ou atividade, deve

ser fundamentada na legislação de uso e ocupação do solo, como também

no diagnóstico ambiental.

Operacionalização – O fluxo dos procedimentos e as normas técnicas

utilizadas nas análises voltadas a subsidiar o Licenciamento Ambiental

devem estar de acordo com as regulamentações do CONAMA ou em

função de regulamentações próprias, desde que não contraponha a

hierarquia das normas.

Deve-se observar as peculiaridades dos investimentos, considerando a

tipologia das atividades e a realidade local. O técnico deve ter a clareza do

que vai ser analisado tomando por base um roteiro de caracterização do

empreendimento. Observando o que vai ser feito, como vai ser feito, como

pode ser feito e quais os impactos associados que devem ser evitados, de

acordo com as exigências das sucessivas etapas do processo de

Licenciamento.

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As licenças ambientais deverão ser publicadas em diários oficiais do

município ou em jornais de grande circulação, ou mesmo por outro meio de

comunicação amplamente utilizado, principalmente na área em que será

instalado o empreendimento, devendo constar das devidas informações que

identifiquem a intervenção.

Monitoramento e Avaliação - É necessária a construção de mecanismos

capazes de avaliarem a sustentabilidade ambiental e social dos

empreendimentos, referendando os padrões de qualidade ambiente,

considerando os aspectos da biodiversidade, da qualidade das águas, da

contaminação dos solos, da empregabilidade das pessoas, dos aspectos da

territorialidade, enfim, das externalidades sócio-ambientais geradas pelas

ações e/ou atividades.

4.2 ASPECTOS INSTITUCIONAIS

Para que o Licenciamento se realize com base em um patamar

essencial de institucionalidade, a pesquisa propõe alguns parâmetros

considerados importantes para que as ações sejam mais efetivas, não

significando, entretanto, que estas sejam condições indispensáveis para a

ocorrência do processo.

Base Legal – o município deve dispor de uma legislação que preveja o

Licenciamento Ambiental, de modo que permita aplicar o referido

instrumento e, que defina as bases, padrões e diretrizes, bem como os

mecanismos de condução da política ambiental local. Deve, portanto, criar

um sistema de gestão ambiental, com instrumentos de regulação definidos,

para proceder ao Licenciamento Ambiental.

Assim sendo, o Licenciamento Ambiental terá função legalmente

constituída e regulamentada em leis existentes nos entes federados, para que

se constituam em instrumentos de tensão, com poder de obrigar o poder

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público em cada esfera, bem como a sociedade exercerem a sua função de

executar a política de defesa e proteção ambiental.

Sistema Municipal de Meio Ambiente – tem o papel de gerir de forma

compartilhada a qualidade ambiental, proteger e controlar a utilização dos

recursos naturais, coordenando, organizando e integrando as ações entre

os atores e assegurando a participação da sociedade. Neste sentido,

representa a articulação entre os órgãos responsáveis pela política

ambiental na esfera do município, e deve ser pautado em um nível de

interação entre os diversos setores, definindo o papel de cada um na

condução da Política de Meio Ambiente.

O Sistema deve ser formado pela atuação dos seguintes órgãos:

órgão ambiental – responsável pela coordenação da execução da política

ambiental, por meio da implementação das ações de fiscalização,

monitoramento, auditoria, gestão de risco e o ordenamento ambiental dentre

outros, visando à consolidação e melhoria contínua da qualidade de vida.

O conselho – órgão colegiado autônomo, de natureza institucional, vinculado

ao poder executivo, deve apresentar caráter normativo, consultivo, deliberativo

e fiscalizador das Políticas públicas. Deve ter uma representatividade ampla

que legitime o anseio da população, ou seja, deve ser um canal pro-ativo de

participação da sociedade que decida por meio de seus representantes, pelas

melhores condições para os processos de Licenciamento Ambiental.

órgãos Setoriais – formado pelos demais setores de apoio à consolidação da

rede de proteção, defesa e revitalização do meio ambiente na esfera dos

municípios. O envolvimento de vários órgãos e outros segmentos no sistema

estabelece a co-responsabilidade entre os diversos atores para com a política

ambiental no âmbito local.

Fundo Municipal de Meio Ambiente – mecanismo de financiamento da

política ambiental que atribui ao órgão ambiental maior autonomia financeira

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para a implementação das Políticas Ambientais em face da perspectiva da

disponibilidade de recursos bem como em função da possibilidade dos atores

envolvidos no processo exercerem a competência de deliberar sobre a

prioridade das ações a serem realizadas a partir da aplicação dos recursos. A

falta de dotações orçamentárias para as políticas ambientais locais constituem-

se em importantes entraves à etapa de implementação dessas políticas,

resultando em órgãos mal aparelhados sem recursos para implementar as

ações e com reduzida expressão.

5.3 ASPECTOS GERENCIAIS

Os aspectos relacionados às questões gerenciais estão circunscritos

em alguns mecanismos que se traduzem em essência, na coordenação e

supervisão de execução de ações inerentes ao processo de Licenciamento

Ambiental. Essas questões encontram-se pré-definidas através de sistemas de

planejamento e gerenciamento, visando cumprimento de metas e prazos,

otimização de implantação, tendo por finalidade o alcance dos objetivos. Para

tanto, os fatores abaixo considerados, devem interagir no sentido de

fundamentarem o processo à medida que a ausência deles pode ocasionar

uma fragilidade no sistema de Licenciamento Ambiental

Infra-Estrutura Logística – O órgão ambiental deve possuir uma estrutura

física adequada e estar suficientemente aparelhado com equipamentos,

transporte e informatizado para atender as demandas e assegurar a

implantação e a efetividade de sistemas próprios de inspeção,

monitoramento, acompanhamento e avaliação dos processos ocorridos em

sua área de abrangência.

Capacitação Técnica – assinala não apenas o nível de treinamento dos

profissionais, mas também, diz respeito à quantidade de profissionais

disponíveis, bem como a diversidade de formações técnicas adequadas

para desenvolver os trabalhos, que demandam características

interdisciplinares para que o município possa atender com competência a

diversidade de problemas existentes no âmbito local.

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Interface entre os instrumentos de gestão – Fortalece o processo de

Licenciamento Ambiental, à medida que perpassa pela capilaridade entre os

diversos instrumentos e mecanismos da política de proteção ambiental que

dão suporte ao referido processo. Para tanto, deve-se utilizar dos diversos

mecanismos: Leis Orçamentárias, Planos Plurianuais, Planos Estratégicos,

Agenda 21; Leis, Decretos e resoluções; Planejamento Territorial - Plano

Diretor Urbano, Zoneamento Ambiental, Zoneamento Ecológico Econômico;

Política de Educação Ambiental; Avaliação Ambiental Estratégica; Avaliação

de Impactos Ambientais, dentre outros instrumentos.

Intersetorialidade - a eficácia do Licenciamento Ambiental perpassa pela

capilaridade e transversalidade entre as Políticas públicas no nível do

município, bem como entre as demais esferas governamentais de forma

suplementar, mediante a interação entre os diversos setores e

complementaridade das informações, para assim fortalecer as decisões

inerentes ao processo de Licenciamento Ambiental por meio da co-

responsabilidade dos órgãos setoriais.

5.4 PARTICIPAÇÃO PÚBLICA

Constitui-se em um requisito indispensável para o Licenciamento,

considerando que os segmentos sociais desempenham um papel importante

na deliberação e consecução das políticas, permitem a ampliação da

transparência das negociações, denunciam fatos ocorridos, fiscalizam as

atividades do Estado e são os legítimos protagonistas que sofrem as

interferências das intervenções, logo devem ser os detentores de informações

que podem definir os rumos dos processos.

Mecanismos de Participação – a participação pública envolve todo o

processo de Licenciamento Ambiental, uma vez que se traduz em um

mecanismo de ingerência social em todas as suas etapas, tanto por meio

da formação dos conselhos que devem ter a participação da sociedade civil

em pelo menos a metade de sua composição; a publicização das licenças;

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os EIA – RIMA; as audiências públicas; como também por meio de outros

mecanismos, a exemplo da construção da agenda 21 além de planos

estratégicos que envolvem a participação da sociedade.

Publicidade - O órgão ambiental deve estruturar um sistema de informação

adequada para que os interessados tenham acesso às informações

necessárias quanto aos procedimentos e trâmites requeridos para a

concessão das licenças Ambientais.

A publicidade está vinculada ao objetivo da licença viabilizar o

controle social na definição do processo. A democratização da informação

ambiental é fundamental para o exercício pleno da cidadania crítica e

participava, pois quando as pessoas ou as organizações não dispõem de

informação de qualidade, compromete a capacidade de se fazer escolhas entre

as diferentes alternativas e caminhos.

Educação Ambiental - mecanismo de grande importância para a promoção

da participação pública e mobilização da sociedade no sentido construir a

cidadania ambiental, uma vez que permite a ampliação dos conhecimentos

sobre as questões ambientais de forma interdisciplinar, possibilitando aos

indivíduos e a toda sociedade, despertar novos valores e habilidades, para

adquirir o entendimento e a responsabilidade para tomar atitudes e atuar na

busca de soluções dos problemas ambientais.

No quadro a seguir busca-se demonstrar uma síntese dos principais

fatores que devem ser considerados para viabilizar o Licenciamento Ambiental,

levando-se em conta a caracterização dos elementos que devem compor o

processo como fatores necessários, bem como os atributos que os mesmo

exercem para a efetividade do Licenciamento Ambiental.

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QUADRO 1 – Fatores relevantes para a efetividade do Licenciamento Ambiental

Referenciais do Processo de Licenciamento Ambiental

Caracterização dos mecanismos

Função no processo

I - Processo de Licenciamento Ambiental - Aspectos Operacionais

Conhecimento da realidade Diagnóstico Ambiental - instrumentos de ordenamento territorial, instrumentos de planejamentos estratégicos implantados definição das intervenções a serem licenciadas, documentação apresentada na análise prévia. Critérios de exigibilidade próprios e Padrões de qualidade específicos; Procedimentos padronizados estruturação do passo a passo; Tipologia do Licenciamento licencia plenamente; Monitoramento e avaliação Cumprimento dos prazos em função da modalidade;

Clareza no significado da intervenção em função das especificidades locais - redução dos riscos ambientais; Clareza dos critérios de exigibilidade - melhoria contínua da qualidade ambiental Parâmetros definidos – aprimoramento do desempenho ambiental - credibilidade do processo; Autonomia de gestão; Controle das externalidades sócio- ambientais -reorientação das ações, melhores resultados, controle dos impactos e da qualidade ambiental. Efetividade dos processos – capacidade de resolução do órgão Ambiental.

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I I - Aspectos Institucionais

BASE LEGAL

Legislação Ambiental inerentes à realidade local, com as devidas regulamentações; Instrumentos construídos com a participação pública – Agenda 21, PDDU, ZEE, Plano de Saneamento, etc.

SISTEMA MUNICIPAL AMBIENTAL órgão ambiental instituído e implementado; Conselho com representatividade ampla, com caráter, normativo, consultivo e deliberativo; órgãos setoriais atuantes. Fundo Municipal regulamentado com disponibilidade de recursos;

Autonomia Política - legitimidade das normas, Estratégias de desenvolvimento traçadas, ordenamento territorial definido, consistência das informações;

Coordenação e gerenciamento das ações; Democratização do processo, legitimidade nas decisões; Consolidação da co-responsabilidade da rede de proteção ambiental; Autonomia financeira;

III - Aspectos Gerenciais Capacidade Técnica Gerencial Equipe multidisciplinar, suficiente e capacitada; órgão estruturado, informatizado e com transportes; Intersetorialidade – interação entre os órgãos, articulação entre as políticas;

Interação entre Instrumentos de gestão - instrumentos implementados.

Atendimento com competência - demanda bem atendida e processos bem elaborados; efetividade das ações; Transversalidade das políticas fortalecimento das ações; Processos bem fundamentados - Consistência de informações e decisões fundamentadas nas estratégias de desenvolvimento;

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IV – Participação Pública

Implementação de mecanismos de participação – reuniões, audiências públicas, conferências, etc.

Implantação de programas de Educação Ambiental – mobilização e sensibilização; Sistema de Publicidade implantado;

Promoção do controle social das políticas pública. Amplia a participação - Comunidade informada e mais atuante. Viabiliza o controle social - Processos transparentes, ampliação da participação;

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Capítulo 6 ESTUDOS DE CASOS DOS PROCESSOS DE

LICENCIAMENTO AMBIENTAL NOS MUNICÍPIOS

O presente capítulo relata os principais aspectos relacionados aos

pontos-chaves circunscritos às questões institucionais legais, gerenciais

operacionais e políticas, dos municípios baianos de Lauro de Freitas e

Alagoinhas, inerentes ao sistema de Licenciamento Ambiental, por serem

considerados pioneiros no Estado da Bahia.

Foram realizadas simultaneamente à apresentação dos dados, a

análise e as principais discussões relacionadas ao processo de Licenciamento

Ambiental nesses municípios, considerando-se os parâmetros extraídos da

pesquisa. Observou-se especificamente as questões relevantes, inerentes às

limitações e avanços do processo de Licenciamento Ambiental, sem, contudo,

aprofundar nas análises propriamente dita das licenças ambientais em virtude

da escassez de informações disponibilizadas pelos órgãos ambientais

componentes do estudo.

A pesquisa também foi realizada no município de Sobradinho, que

tem o Licenciamento Ambiental instituído, mas não pratica, sendo assim

considerado como um contraponto emblemático para discutir o

papel e a capacidade de efetividade da institucionalidade do Licenciamento

Ambiental na esfera municipal.

Neste sentido, foram apresentadas as características geo-

ambientais, econômicas, sociais, e institucionais desse município,

considerando-se que a análise dos fatores também pode contribuir para

implementação do Licenciamento Ambiental, observando-se quais mecanismos

poderão ser fatores de tensão na potencialização e implantação do processo, e

assim o Poder Local possa cumprir efetivamente com o papel de proteger o

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meio ambiente. A pesquisa complementa-se com a contextualização das

diferentes realidades, por serem marcantes no sistema ambiental brasileiro.

6.1 ESTUDO DE CASO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM

ALAGOINHAS

6.1.1 O Contexto Sócio-Ambiental

O município de Alagoinhas está localizado no nordeste do Estado da

Bahia a 107 km de Salvador. Possui uma extensão territorial de 736,8 km² e

limita-se geograficamente ao norte com a cidade de Inhambupe, ao sul com

cidade de Catú e Araçás, a oeste com as cidades de Teodoro Sampaio e

Aramarí, e ao leste com Entre Rios. Possui uma população de

aproximadamente 130 mil habitantes.

O clima predominante é úmido a sub-úmido, com período chuvoso

nos meses de novembro a julho, com pluviosidade média anual de 1.469 mm

(máxima de 3.125mm a mínima de 675 mm). A temperatura média anual é de

23,8ºC. O tipo de solo é argiloso e com predominância de solo arenoso (areias

quartizozailicas e latossolos amarelo) que possui alta porosidade.

Dentre as potencialidades ambientais existentes no município de

Alagoinhas destacam-se os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. O

sistema hídrico superficial é composto pelas bacias hidrográficas dos rios

Pojuca, Subauma e Sauipe. O município dispõe também de importantes

riachos a exemplo do Bom Sucesso, Godinho, Papagaios, dentre outros, além

de algumas lagoas como a Lagoa Mato, localizada no rio Catu; a Lagoa do

Riacho do Mel; a Lagoa Escura e a Fonte dos Padres.

O sistema hídrico subterrâneo que integra o aqüífero do recôncavo é

constituído pela Formação Marizal e pela Formação São Sebastião,

conhecidos pela exuberância da reserva e qualidade que representam. O

abastecimento de água de Alagoinhas e outras localidades da região, bem

como o atendimento de indústrias de cervejarias e indústrias do Pólo

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Petroquímico de Camaçari são provenientes desses aqüíferos (PREFEITURA

MUNICIPAL DE ALAGOINHAS, PMAS, 2005).

O município tem expandido sua economia tanto no setor primário,

quanto no setor secundário e terciário, a qual vem sendo fortalecida por

Projetos de reflorestamentos de Eucaliptos, gás de perfuração, poços de

petróleo, postos de gasolina, atividades minerais, atividade agropecuárias,

cervejaria, indústria de couro/curtume, serralherias, fundição /

usinagem/esquadrias, oficinas mecânicas, torrefação de café, dentre outras

atividades (PREFEITURA MUNICIPAL ALAGOINHAS, 2005).

Segundo O Diretor de Meio Ambiente10, a produção de cerâmica

está sendo uma atividade emergente no município, com a implantação de

aproximadamente 15 fabricas: 12 Cerâmicas de micro e pequeno porte e 03

Cerâmicas de médio porte. Para atender essa demanda foram instaladas 24

lavras de argilas situadas em áreas rurais.

6.1.2 O Processo de Licenciamento Ambiental

A expansão das atividades econômicas aliadas à vontade política do

gestor em implementar políticas ambientais, fortalecida pela proposta de

Municipalização da Gestão Ambiental desenvolvida pelo CRA, suscitou a

iniciativa de se estabelecer um Sistema de Licenciamento Ambiental para as

atividades potencialmente poluidoras. Assim, teve inicio em Alagoinhas o

processo de Municipalização do Licenciamento Ambiental em 2001, a partir de

algumas discussões preparatórias para implantação do sistema de gestão

ambiental, pelo órgão de planejamento11.

Entretanto apenas em abril de 2002, esse processo foi concretizado

oficialmente por meio do convênio 001/2002 celebrado entre o CRA e a

10 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente - entrevista com pesquisadora em 27 de abril de 2006 11 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 27 de abril de 2006

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Prefeitura Municipal de Alagoinhas. Mas, o poder público municipal começou a

operacionalizar o Licenciamento Ambiental de fato, somente a partir do ano de

2003 por considerar que era necessária uma fase preparatória para se tornar

conhecedor das leis, regulamentos, normas e outros mecanismos necessários

para realizar um procedimento tão complexo12.

O referido convênio determinou que o município deveria licenciar

“empreendimentos e atividades declaradas pelo CRA como sendo de sua

competência, e as delegadas pelo Estado conforme legislação ambiental

municipal, levando em conta as normas estaduais e federais. O prazo de

vigência desse convênio encontra-se expirado.

Esse modelo de implantação do Licenciamento caracteriza a forte

influencia do órgão público estadual na definição das políticas ambientais

implementadas na esfera local. As limitações presentes nos municípios de criar

seus próprios mecanismos têm os atrelado aos padrões definidos pelo Estado

e dificultado a autonomia do ente federado. Por outro lado o Estado tem

estimulado a iniciativa da descentralização da política em muitos municípios

que não alcançaram, por si somente, a visão do seu papel no processo de

defesa ambiental.

6.1.3 Aspectos Operacionais do Licenciamento Ambiental

São apresentados neste item alguns aspectos relacionados ao

procedimento do Licenciamento Ambiental nesse município.

Conhecimento da Realidade

Em face da necessidade da complementação e fortalecimento das

políticas públicas ambientais para disciplinar a expansão econômica, e com a

finalidade de inserir uma nova abordagem no contexto da organização da

12 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – dado de entrevista com pesquisadora em 27 de abril de 2006

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administração municipal de Alagoinhas, foi delineada uma estruturação do

Sistema Municipal de Licenciamento Ambiental, como parte do Plano Municipal

de Saneamento Ambiental, PMAS, em relação a uma atuação sistemática da

gestão ambiental, (PREFEITURA MUNICPAL DE ALAGOINHAS , 2005).

Esse trabalho realizado sob a coordenação de pesquisadores da

UFBA, com a participação da sociedade, foi dirigido à questão ambiental do

município, no qual foram identificadas as atividades prioritárias para o

Licenciamento Ambiental, como também as questões essenciais que devem

ser consideradas nas diretrizes e critérios do Licenciamento Ambiental:

• Os riscos de contaminação das águas subterrâneas utilizadas no

abastecimento público, por hidrocarbonetos gerados pelos postos de

gasolina, oficinas mecânicas, garagens de ônibus e

estabelecimentos de lavagens de veículos;

• As ameaças dos esgotos domésticos aos poços de captação de

água subterrânea utilizada no abastecimento público;

• Os riscos de comprometimento de áreas de preservação, sobretudo

de lagoas e fontes de importância para o município;

• As precárias condições do sistema de drenagem de águas pluviais

urbanas;

• O provável agravamento das péssimas condições dos rios Aramari e

Catu, sobretudo, no trecho que atravessa a área urbana de

Alagoinhas;

• Os riscos de comprometimento da recarga do aqüifero no entorno da

área urbana do município, sobretudo na sua parte oriental do

município, pela extensa área de atividade de reflorestamento com

florestas homogêneas para fins comerciais;

• As dificuldades e limitações da gestão dos resíduos sólidos urbanos,

incluindo as precárias condições do aterro sanitário (PREFEITURA

MUNICIPAL DE ALAGOINHAS, PMAS, 2005, p.7).

Alem dessas informações delineadas no PMSA, existem também

em Alagoinhas como componentes relevantes de um diagnóstico ambiental, as

informações levantadas na Agenda 21 do município, a qual foi construída com

uma massiva participação da sociedade, mas que ainda não foi implantada. O

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Plano Diretor Urbano do município atualizado recentemente também se constitui

em um importante mecanismo de ordenamento territorial que traz em seu bojo

um conhecimento da realidade local que muito pode contribuir com o

embasamento do Licenciamento Ambiental das atividades utilizadoras dos

recursos naturais.

Entretanto os critérios de análise praticados no Licenciamento

Ambiental não se baseiam em estudos existentes inerentes à realidade local,

nem tampouco se utiliza os indicadores construídos a partir do Plano de

Saneamento Ambiental. Assim os critérios de exigibilidade para realizar o

Licenciamento Ambiental limitam-se aos definidos nos anexos da Resolução

Conama 237/97 e nas normas estabelecidas pelo CEPRAM. Os parâmetros de

análise das intervenções são baseados nas documentações exigidas nas

análises prévias, a exemplo dos planos e projetos que devem ser

apresentados, e nas inspeções realizadas pela equipe no local da intervenção.

Avaliando-se, portanto, a utilização de parâmetros para o

conhecimento da realidade, nota-se a ausência do uso de sistemas de

informações ambientais para proceder ao diagnostico e apoiar à tomada de

decisões, bem como para subsidiar o órgão ambiental. É necessária a

utilização dos mecanismos existentes, como o PDDU, agenda 21, PMAS ou a

construção de outros mecanismos de informações para a elaboração de

diagnósticos ambientais que fortaleçam o embasamento das licenças

Ambientais realizadas.

Procedimentos adotados

Conforme comentários apresentados anteriormente, o processo de

Licenciamento Ambiental implementado pelo órgão ambiental de Alagoinhas

compreende basicamente o modelo e os critérios de procedimentos adotados

pelo CRA. Foram feitas, entretanto, algumas adequações dos formulários à

realidade local.

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Para a avaliação dos empreendimentos, análise dos processos de

Licenciamento Ambiental e conseqüentemente para as definições das

condicionantes das licenças são utilizadas as leis, resoluções e normas

técnicas do CEPRAM e ou do CONAMA.

Considerando que os procedimentos são realizados em

conformidade com os padrões estabelecidos pelo CRA e, que o município

ainda não instituiu em lei própria o Licenciamento Ambiente, o órgão ambiental

Municipal estabeleceu a tipologia das licenças de acordo com a determinação

da Lei Estadual, por isso, as licenças realizadas no município de Alagoinhas

compreendem:

Licença Simplificada – concedida para implantação de

empreendimentos de micro e pequeno porte;

Licença de Localização – fase preliminar do planejamento para os

demais empreendimentos;

Licença de Implantação – na fase de instalação dos

empreendimentos;

Licença de Operação – concedida para a operação das atividades;

Licença de Alteração – para alteração ou ampliação do

empreendimento.

Para realizar o Licenciamento de um empreendimento, as

solicitações das licenças são encaminhadas ao órgão ambiental local por meio

de requerimento, dando-se entrada no protocolo geral da prefeitura. O órgão

ambiental encaminha o formulário de requerimento, acompanhado da análise

previa que consta da lista de documentos que devem ser anexados ao

processo.

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O processo então é formado e encaminhado à Secretaria de Meio

Ambiente do município. Observam-se as peculiaridades dos investimentos, a

tipologia das atividades e a realidade local em conformidade com as resoluções

do CONAMA e do CEPRAM. O processo é analisado pela analista de serviços

e obras públicas. Posteriormente é feita a inspeção em campo na qual

comparece, além do técnico do órgão ambiental, um representante do

empreendimento13.

A partir daí são elaborados o relatório e parecer técnico, indicando

os impactos, condicionantes e conclusões. Posteriormente é feita uma minuta

da licença e o processo é enviado para Procuradoria Jurídica da Prefeitura,

para análise e parecer jurídico. Sendo favoráveis, os pareceres técnicos e

jurídicos, a licença é emitida, assinada pelo Diretor de Agropecuária e Meio

Ambiente, Secretário de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente,

Procurador do município e pelo Prefeito. Após a assinatura da licença pelas

agentes públicos a mesma é publicada em jornal de circulação no município.

As atividades prioritárias para o Licenciamento Ambiental em

Alagoinhas, identificadas no processo de elaboração do Plano de Saneamento

Ambiental, como também as questões essenciais que devem ser consideradas

nas diretrizes e critérios do Licenciamento Ambiental, conforme mencionados

anteriormente, ainda não são aplicados no processo vigente, por falta de

aprovação do PMSA pela câmara de Vereadores, como também pela escassez

de tempo em face da demanda de trabalhos da secretaria14.

A ausência da utilização de informações disponíveis no município, a

exemplo da Agenda 21 Local, PDDU, dentre outros documentos que deveriam

ser utilizados para o embasamento do processo, pode fragilizar o nível de

fundamentação para as deliberações sobre as licenças.

13 Notas encaminhadas por Daiane Maltez – Analista de Serviços e Obras Públicas – através de e-mail no dia 10-05-2007 14 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – em contato telefônico com a pesquisadora em 06 de Julho de 2007

88

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Considerando-se que esse referencial constitui-se em uma

importante ferramenta de conhecimento da realidade ambiental podendo ser

inclusive, um relevante indicativo para se estabelecer os critérios de

exigibilidade para o Licenciamento, fica, portanto caracterizado que esse é um

fator limitante, uma vez que não está sendo aproveitado como um referencial

para as tomadas de decisões do processo de Licenciamento.

O Licenciamento das cerâmicas tem sido feito em conformidade com

o código mineral e as normas estabelecidas pelo Departamento Nacional de

Pesquisa Mineral - DNPM para explorações minerais. As lavras de argilas

situadas no município funcionam em conformidade com o que exige a

legislação. Para que seja emitida a licença ambiental é necessária uma

autorização do DNPM.

No Licenciamento Ambiental das cerâmicas, o processo é feito com

base em um aparato de requisitos, a exemplo da exigência de um responsável

técnico devidamente credenciado por meio de ART; do Plano de Recuperação

de Áreas Degradas – PRAD; dentre outros critérios. Todos os procedimentos

são realizados tendo-se como base as resoluções do CONAMA, CEPRAM,

código de mineração, normas técnicas e portarias do DNPM e do CRA, dentre

outras exigências15.

As licenças para empreendimentos minerais têm obedecido ao

fluxo dos procedimentos e as normas técnicas determinadas pelo DNPM e

pelo CRA, imprimindo dessa forma, credibilidade ao processo em função dos

critérios legítimos de análise.

A maior demanda de Licenciamento Ambiental em Alagoinhas é de

Postos de Combustíveis e de atividades de exploração de arenosos. Durante o

15 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 27 de abril de 2006

89

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ano de 2005 e o ano de 2006 foram licenciados 08 postos de combustível, 08

empreendimentos de extração de Areia, 06 poços de petróleo perfurados, 05

fábricas de cerâmica, dentre outras licenças para construção de estruturas

públicas. O órgão ambiental do município emitiu um total de 29 licenças

Simplificadas, 01 licença de localização, 01 licença de iImplantação e 01

licença de operação16.

As licenças para empreendimentos de grande porte que exigem um

nível de estudo mais acurado, com análises mais complexas, mesmo que

sejam consideradas de impacto local, ainda são emitidas pelo CRA, a exemplo

das licenças ambientais para os projetos de reflorestamento17.

Esse quadro evidencia que apesar do município ter avançado no

processo, tendo inclusive realizado ultimamente 01 LL, 01 LI e 01 LO para

empreendimentos de médio porte, ainda não conseguiu implementar

efetivamente o Licenciamento Ambiental. Caracterizando dessa forma a

dependência em relação ao órgão Estadual no que diz respeito à realização

dos procedimentos mais complexos, refletindo uma autonomia ainda limitada

para proceder a Licenciamentos de grande e excepcional porte.

Houve um processo de Licenciamento Ambiental para uma atividade

de exploração em grande porte de eucapilipto, os quais seriam utilizados como

material energético na industrialização do aço em um empreendimento de

produção de minério de ferro, para o qual o CRA solicitou da Prefeitura a

certidão de conformidade com as exigências legais, para a formalização do

processo.

Entretanto, em face desse tipo de exploração ir de encontro a Lei

Orgânica, no seu capítulo sobre as questões ambientais, os munícipes

juntamente com o órgão ambiental decidiram que essa licença não deveria ser 16 Notas encaminhadas por Daiane Maltez – Analista de Serviços e Obras Públicas – através de e-mail no dia 10-05-2007 17 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 27 de abril de 2006

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expedida. Foram realizadas nove reuniões e três audiências públicas e

concluiu-se que o pedido deveria ser indeferido. A atividade foi embargada e a

empresa que havia iniciado o empreendimento antes da emissão da licença,

paralisou as atividades e está recorrendo na justiça18.

Para proceder ao Licenciamento Ambiental de empreendimentos no

nível local, o órgão Estadual solicita do município uma certidão de

conformidade do empreendimento com as leis de disciplinamento territorial,

com a Lei Orgânica do município, dentre outras. Para a emissão da certidão é

exigida do empreendedor a documentação necessária, como plantas, projetos,

dentre outras informações para que sejam realizadas as análises. Nesse

contexto o município torna-se co-responsável pela emissão da licença.

A demanda de licenças ambientais, atualmente tem ampliado

bastante, ocasionando às vezes alguns atrasos na finalização dos processos.

As maiores dificuldades presentes nos Licenciamentos, inerentes ao

cumprimento de prazos, os quais não devem ultrapassar ao período de 01

ano19, são oriundas principalmente da morosidade por parte do empreendedor

na entrega da documentação e solução das pendências.

Essas lacunas atrapalham os trâmites dos processos ao tempo que

aparentam ineficiência do órgão local para com a efetividade do Licenciamento

Ambiental em função do não cumprimento dos prazos.

O monitoramento das intervenções é ainda eventual, mas já existem

algumas iniciativas da equipe no sentido de fazer um acompanhamento nos

empreendimentos para verificação do cumprimento das condicionantes. Na

maioria das vezes a fiscalização tem ocorrido por força de denúncias. Está em

18 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 27 de abril de 2006 19 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 27 de abril de 2006

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fase de elaboração e planejamento um programa de monitoramento com a

ajuda do CRA para o acompanhamento das intervenções20.

6.1.4 Contexto Institucional O contexto institucional traz uma síntese dos principais instrumentos

legais criados e os respectivos objetivos definidos para legitimar o processo de

Licenciamento, ao tempo em que apresenta o esboço do sistema, de forma a

retratar o desenho institucional construído para balizar os propósitos do

Licenciamento Ambiental.

Base Legal Alagoinhas não possui uma Lei específica que contemple e reúna

todos os aspectos da política ambiental. O arcabouço legal ambiental ainda

não consta das regulamentações próprias necessárias para estabelecer o

Licenciamento Ambiental. Para realizar a gestão ambiental, o órgão ambiental

municipal tem se referenciado nas legislações federais e estaduais21. Para

realizar os procedimentos, na maioria das vezes são utilizadas as resoluções e

norma técnicas do CEPRAM, os quais são complementados pelas seguintes

legislações municipais:

Lei 1.269/99, que “Autoriza o poder executivo a criar o Conselho

Municipal de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA”. Esta lei institui O

COMDEMA, define sua composição e finalidade de assessoramento, suas

competências de estabelecer diretrizes para uma política municipal do meio

ambiente e para elaborar normas e padrões de qualidade, bem como

estabelece medidas sobre a cassação de alvarás e penalidades.

Lei 1.416/01, que “Autoriza o executivo a observar no município de

Alagoinhas, a legislação federal e estadual concernentes às ações de vigilância

20 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 16 de outubro de 2006 21 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com a pesquisadora em 27 de abril de 2006.

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e fiscalização exercidas na promoção, proteção e recuperação da saúde e

preservação do meio ambiente, e dá outras providências”. Esta lei estabelece

as ações de fiscalização e as infrações aplicáveis e especifica a

responsabilidades das autoridades sanitárias.

Lei 1.423/01, que “Estabelece como áreas de proteção ambiental

as lagoas, fontes e riachos do município de Alagoinhas” e cria as áreas de

proteção ambiental (APA) - nas lagoas do Mato, da Cavada, da Feiticeira, do

Ingá, do Jeremias, a Fonte dos Padres e o Riacho do Mel ao tempo que prevê

o Zoneamento ecológico-econômico como o instrumento de gestão dessas

áreas.

Lei 1.436/01, que “proíbe o uso de madeira nativa nas atividades

econômicas do município de Alagoinhas”. A referida lei destina-se à eliminação

do uso de madeira nativa como fonte de energia em fornos de padarias, olarias

e similares, indicando a substituição por eucalipto e pinhos cultivados no

município.

Lei 1.438/01, que “dispõe sobre normas para coibir a poluição

sonora, controle e fiscalização das atividades, impõe penalidades”. Esta lei

define as normas para controle de fontes de poluição sonora e incumbe a então

Secretaria de Obras, Urbanismo e Serviços Públicos a autorização prévia e a

fiscalização dessas normas.

Lei 1.460/01, que “dispõe sobre a Política Municipal de

Saneamento Ambiental de Alagoinhas, seus instrumentos, e dá outras

providências”. Esta lei determina os princípios e diretrizes desta Política e

institui como instrumentos de sua aplicação:

- o Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas;

- o Conselho Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas;

- a Conferência Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas;

- o Fundo Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas;

- o Sistema Municipal de Informações em Saneamento;

93

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Lei Complementar 006/03 que “dispõe sobre a organização e

reestrutura da administração pública do município”. Instituiu a Secretaria

Municipal de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente,

como órgão competente para formular e fomentar a política ambiental do

município.

Lei Orgânica do município (2004) estabelece as atribuições ao

poder público municipal em relação ao meio ambiente, incluindo as atribuições

do Conselho Municipal de Meio Ambiente e a exigência da prévia avaliação

ambiental das atividades potencialmente causadoras de significativa

degradação ambiental.

Além das leis apresentadas, o município também construiu a

Agenda 21 Local e atualizou o Plano diretor de Desenvolvimento Urbano como

importantes instrumentos de participação pública para o planejamento de

Políticas públicas e ordenamento territorial, entretanto, não estão sendo

utilizadas para as análises do Licenciamento Ambiental.

Apesar da ausência da Lei específica sobre a Política Municipal

Ambiental, existem algumas leis que dispõem sobre alguns aspectos

relacionados a essa questões de modo pontual. Contudo, esse quadro não tem

impedido que o Licenciamento Ambiental ocorra normalmente no município

embora essa variável reflita algumas limitações inerentes ao poder de polícia

do órgão ambiental.

Para analisar as intervenções ambientais, a equipe técnica vem se

apoiando na Lei Orgânica, no que se refere ao capítulo sobre meio ambiente;

na Lei Estadual que estabelece a Política Ambiental em Lei Nacional da

Política Ambiental; além das resoluções do CONAMA e do CEPRAM. O órgão

ambiental tem demonstrado capacidade de contrapor às limitações

institucionais e vem desempenhado o seu papel de realizar o Licenciamento

Ambiental, apoiando-se em outras normas que conferem a legalidade do ato22.

22 Daiane Maltez – Analista de Serviços e Obras Públicas – em entrevista com a pesquisadora em 16/10/2006

94

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Entretanto, é necessária a criação de Leis próprias para a

fundamentação das análises de processos de Licenciamento. É ainda

imperativo a concepção de determinadas regulamentações sobre o Poder de

Polícia da administração pública, dentre outras fatores, para que seja

consolidada a efetivação do sistema de gestão ambiental. Somente dessa

forma o município tem o poder de fortalecer a sua autonomia política na

resolução de problemas endógenos.

O poder público em Alagoinhas tem se destacado em relação à sua

sensibilidade para com as questões ambientais considerando seu esforço em

buscar implementar na estrutura municipal o suporte institucional necessário

para desempenhar o seu papel na gestão ambiental. Para tanto já se encontra

em elaboração a Lei que estabelece a Política Municipal de Meio Ambiente.

Órgão Ambiental

No inicio da implantação do sistema de gestão ambiental, as

questões ambientais, eram desenvolvidas pelo o órgão ambiental locado na

Secretaria de Planejamento, representado pela Diretoria de Meio Ambiente

com uma Coordenação Ambiental. Inicialmente o secretário desempenhava o

tríplice papel de secretário de planejamento, diretor de meio ambiente e fiscal

Ambiental. Segundo o diretor de meio ambiente, nesse período as questões

ambientais não tinham a devida prioridade em função das demais atribuições

da referida secretaria.

Para adequar o órgão à demanda ambiental do município, o Poder

Executivo promoveu uma reforma administrativa a qual criou a Secretaria de

Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente. A reforma administrativa criou

também três diretorias: a Diretoria de Indústria, Comércio e Serviços, a

Diretoria Administrativa e Financeira e a Diretoria de Agropecuária e Meio

Ambiente que é composta pela Coordenação de Agropecuária e a

Coordenação de Meio Ambiente

95

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A estrutura organizacional construída é suficiente para atender a

demanda do Licenciamento Ambiental, uma vez que as funções estabelecidas

para esse órgão de coordenar a execução da política ambiental vêm sendo

desenvolvidas de modo a atender a demanda dos processos encaminhados ao

órgão ambiental.

O arranjo institucional vigente a partir desse período até os dias

atuais (2005 a 2007) compreende a Secretaria de Desenvolvimento Econômico

e Meio Ambiente e o COMDEMA.

Conselho Municipal O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA é

formado por 06 representantes de instituições governamentais e 07

representantes de organizações não governamentais. Possui caráter

consultivo, deliberativo e fiscalizador na condução da política ambiental.

Entretanto, o conselho tem apresentado certa desmotivação,

caracterizada pela falta de participação de alguns membros representantes dos

segmentos que o constitui. Observou-se que a dificuldade de participação não

está limitada aos representantes da sociedade civil, mas se estende também

aos representantes de outros órgãos públicos. Comumente determinados

representantes de alguns segmentos não detêm a verdadeira legitimidade para

representar os interesses de sua categoria.

Durante o ano de 2005 foram realizadas 12 reuniões de janeiro a

dezembro (1/mês) e no ano de 2006 foram realizadas 6 reuniões de janeiro a

junho. Entretanto a participação efetiva dos conselheiros limitou-se a uma

média de 05 representantes por reunião. Esse quadro tem dificultado a

aprovação do regimento interno, no qual está sendo definidos os mecanismos

de normatização para a participação dos conselheiros na análise dos

processos de Licenciamento Ambiental 23.

23 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 10 de maio de 2007

96

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Observa-se a preocupação do poder público em estabelecer uma

regularidade na freqüência das reuniões ordinárias, para cumprir com o que

estabelece o regimento vigente do conselho. Entretanto a ausência de parte

dos conselheiros caracteriza a fragilidade no nível de organização do conselho,

ocasionada pela falta de participação desses nas deliberações das licenças

ambientais.

A falta de empenho por parte de alguns conselheiros no exercício de

suas atribuições retrata que esses podem ter sido escolhidos sem a

observância dos critérios de legitimidade para representar suas respectivas

instituições, a exemplo de disponibilidade e compromisso para assumir o papel

de conselheiro24.

É preciso fortalecer o Conselho de Meio Ambiente, pois a

participação é um fator preponderante na conquista dos direitos ambientais por

meio da deliberação e fiscalização das políticas. A ausência do conselho

provoca um distanciamento da comunidade nas decisões sobre as questões

ambientais e fragiliza os sistemas institucionais, podendo torná-los incapazes

de resolver os problemas ambientais ao longo do tempo.

Fundo Municipal de Meio Ambiente No inicio do ano de 2006 foi instituída a Lei que cria o Fundo

Municipal de Meio Ambiente – FEMMA, nos mesmos moldes do Fundo

Estadual de Meio Ambiente. Os recursos financeiros destinados ao fundo são

ainda insuficientes, limitando-se aos recursos provenientes de multas e taxas

das licenças ambientais.

A ausência de recursos no Fundo fragiliza a autonomia financeira e

gerencial do sistema, uma vez que a disponibilidade de recursos favorece a

deliberação democrática de aplicação dos mesmos, ao tempo em que permite

24 Daiane Maltez – Analista de Serviços e Obras Públicas – em entrevista por telefone no dia 11-06-2007

97

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que os referidos recursos sejam aplicados devidamente em ações voltadas a

cumprir com o\s objetivos específicos da política ambiental. Assim sendo,

assegura-se também a realização de ações compensatórias voltadas a

minimizar os danos ambientais.

órgãos Setoriais Existem no município algumas ONGs com uma atuação nas

questões ambientais a exemplo do Fórum Alagoinhense de Desenvolvimento

Sustentável – FADS. Essas instituições participam do CODEMA, e atuam nas

questões ambientais, buscando desempenhar o papel na defesa e proteção do

meio ambiente. Essas organizações vêm atuando como parceiras nesta área,

ainda que não façam parte de maneira institucionalizada do Sistema Municipal

de Meio Ambiente.

É importante a institucionalização do sistema de gestão ambiental

nas esferas dos municípios, com a participação de outros setores, uma vez que

se atribui de forma inter-setorial a co-responsabilidade com as questões

ambientais a diversos organismos, ampliando-se dessa forma o horizonte de

atuação na busca de soluções dos problemas ambientais.

6.1.5 Aspectos Gerenciais

Neste item estão contextualizados os principais mecanismos do

sistema de gestão ambiental que dão suporte à realização do Licenciamento

Ambiental, no que se refere às etapas de execução, acompanhamento e

monitoramento das ações, evidenciando assim, alguns fatores que têm

contribuído ou dificultado a efetividade do referido processo em Alagoinhas.

Infra-estrutura Logística No início da implantação da gestão ambiental no município, a

prefeitura encontrava dificuldades inerentes à infra-estrutura para a realização

das ações, a exemplo de transportes e equipamentos de apoio logístico. Para

98

Page 117: CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA … · Salvador, BA – Brasil . 2007 . MAYSA MARIA TORRES SANJUAN . CARACTERIZAÇAO DOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA A EFETIVAÇÃO

solucionar esse problema foram adquiridos equipamentos de informática,

mobiliários e transporte para assegurar o desenvolvimento dos trabalhos de

Licenciamento e fiscalização.

Atualmente o órgão ambiental apresenta uma estrutura física

organizada, com uma logística de transporte, informática e outros

equipamentos, para atender a demanda dos processos de Licenciamento

Ambiental, uma vez que os trabalhos vêm sendo realizados, ao contrário de

outros municípios no Estado da Bahia, que apesar de serem considerados pelo

órgão ambiental do Estado, “habilitados”, não licenciam por não estarem

organizados para isso.

O município tem se destacado pela sensibilidade com as questões

ambientais que se expressam no empenho de prover a estrutura municipal com

o suporte institucional necessário para sua atuação na gestão ambiental. O

compromisso do poder público em Alagoinhas em relação às questões

ambientais evidencia-se pela organização do órgão ambiental.

Capacitação Técnica A capacitação técnica abrange não apenas as questões inerentes

aos treinamentos, mas diz respeito aos aspectos relacionados à estrutura

funcional, bem como a multidisciplinaridade técnica disponível para dar

suporte à demanda das ações e assegurar a efetividade do processo.

Nesse sentido, a pesquisa observou que a coordenação da gestão

ambiental em Alagoinhas é exercida pela Diretoria de Agropecuária e Meio

Ambiente. Para atender as ações da municipalização da gestão, o órgão

ambiental passou por uma ampla reestruturação. O poder público buscou

resolver parte das questões funcionais que vinham dificultando o processo de

Licenciamento Ambiental em Alagoinhas, através do concurso público para

preenchimento dos cargos necessários para execução dos trabalhos.

99

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Durante esse período (2005 a 2007), a equipe existente na Diretoria

de Agropecuária e Meio Ambiente, vem sendo composta por um Diretor de

Agropecuária e Meio Ambiente (01 Engenheiro Agrônomo), um Coordenador

de Agropecuária (01 Técnico Agrícola), um Coordenador de Meio Ambiente (01

Bióloga), Analista de Serviços e Obras Públicas (01 Engenheiro Agrônomo), 02

Fiscais de Meio Ambiente (técnicos de nível médio), e 02 Técnicos Agrícola.

A atual estrutura organizacional que define o quadro de cargos e

funções contribui para que os trabalhos sejam realizados de acordo com as

demandas. Observa-se ainda que existe um comprometimento da equipe

envolvida na gestão ambiental com o aprimoramento do processo de

Licenciamento ambiental.

Para dar inicio ao processo de Licenciamento foi realizada uma

capacitação pelo CRA, com um treinamento de três dias para três servidores.

Esse procedimento era dado pelo órgão Estadual a todos os municípios que

iniciassem a municipalização da gestão. A equipe de Alagoinhas definida para

participar inicialmente do curso, não era a mais indicada para as

especificidades do trabalho a ser realizado, haja vista que parte dessa equipe

não se encontrava envolvida nas atividades do órgão ambiental.

O processo de preparação pelo CRA, para os municípios iniciarem a

gestão ambiental nos moldes em que era ministrado, em apenas três dias, não

atendia a demanda de conhecimentos necessários para se estabelecer a

gestão de problemas tão complexos como os relacionados à questão

ambiental. A implantação do Programa de Municipalização da Gestão

Ambiental - GAM amplia mais o nível de entendimento das equipes treinadas.

O diretor de meio ambiente participou do I Curso de Pós Graduação

em Gestão Ambiental Municipal realizado pelo CRA e pelo NEAMA, e

implantado pela UNEB para os municípios que se encontravam no processo de

municipalização da gestão. Mesmo diante do quadro apresentado em relação

aos treinamentos e capacitações oferecidas às equipes técnicas, observa-se a

100

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necessidade de serem ampliados em função da complexidade dos processos

de análises das intervenções para a emissão das licenças ambientais.

É importante salientar, contudo, que houve um avanço nas questões

ambientais em Alagoinhas, em face do panorama apresentado pela pesquisa.

Neste sentido, essa realidade tem se modificado a partir do esforço

empreendido pela equipe e pela vontade política dos gestores na busca de

informações e na realização das ações que têm fortalecido a gestão ambiental

no município.

Interação entre os Instrumentos de Gestão

Alagoinhas possui o Plano Diretor Urbano, o qual foi atualizado

recentemente, bem como a Agenda 21 que foi construída com ampla

participação da comunidade, além do Plano Municipal de Saneamento

Ambiente, entre outros instrumentos. Entretanto esses instrumentos ainda

não estão sendo aplicados na análise dos processos de Licenciamento

Ambiental.

O Licenciamento Ambiental prescinde da inserção dos instrumentos

criados, para a análise dos processos. Entretanto essa situação não vem

ocorrendo pela falta de tempo da equipe em utilizar esses instrumentos,

ocasionada pelo acúmulo da demanda de atividades. Portanto, é indispensável

um planejamento de trabalho para um melhor aproveitamento do quadro

existente, em função do tempo disponível, no sentido de desenvolver em sua

plenitude as ações para consolidação das atividades necessárias para

efetividade do Licenciamento.

No Plano Municipal de Saneamento Ambiental foi realizada a

caracterização da realidade ambiental do município com a finalidade de se

proceder a constituição do cenário ambiental como suporte para as discussões.

Nesse plano consta a identificação das atividades impactantes e atividades

prioritárias a serem submetidas ao Licenciamento Ambiental. A utilização das

informações levantadas por esse documento, não está sendo realizada em

101

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face das dificuldades encontradas pela equipe em relação à disponibilidade de

tempo.25

É premente a aplicação dos instrumentos acima citados para a

prática do Licenciamento Ambiental. A riqueza de informações construídas a

partir da elaboração desses mecanismos e a importância da

complementaridade por eles gerada em função do papel exercido por cada um

na fundamentação do processo, reforça a relevância da implementação dos

referidos instrumentos de planejamento para o desenvolvimento do município.

A ausência da interface desses instrumentos minimiza a riqueza de

informações, simplifica demasiadamente o processo, ao tempo que fragiliza a

base de fundamentação de análise do Licenciamento Ambiental.

Inter-setorialidade

As licenças ambientais são realizadas exclusivamente por técnicos

do órgão ambiental. Portanto ainda não existe uma interface entre o órgão

ambiental e os outros setores da prefeitura para a avaliação das licenças. Essa

variável atribui um caráter linear ao processo, dificultando a transversalidade

das diversas políticas no processo de Licenciamento Ambiental.

Entretanto, foi implantado um importante procedimento entre o órgão

ambiental e a Secretaria de Obras onde são estabelecidos alguns mecanismos

que condicionam a emissão de alvarás de construção à existência da licença

de localização, como também estão sendo articuladas outras formas de

integração do setor ambiental com Secretaria de Saúde no que diz respeito às

fiscalizações realizadas pela vigilância sanitária.

O Plano Municipal de Saneamento Ambiental (2004) consta de uma

proposta de articulação, com a criação de um comitê técnico com poder de

25 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente. Em entrevista com a pesquisadora no dia 04 de julho de 2007

102

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decisão para deliberar sobre o Licenciamento Ambiental, com o objetivo de

resolver os problemas ocasionados pela falta de Inter-setorialidade que tanto

prejudica o avanço das Políticas públicas.

Esse projeto ainda está em tramitação na Câmara de Vereadores,

por isso ainda não foi institucionalizada a intersetorialidade das políticas

públicas, mas estão se delineando algumas iniciativas no sentido de

estabelecer a articulação entre alguns setores, a exemplo de reuniões

realizadas entre os secretários do Poder Executivo com representantes da

Petrobras, em busca de alternativas para melhores soluções dos problemas

ambientais26.

Outro aspecto relevante que vem ocorrendo no município, a ser

referendado, é a articulação interinstitucional existente entre o órgão ambiental

e o Ministério Público no que se refere ao nivelamento das informações e a

parceria na busca de soluções dos problemas ambientais.

Essa interação contribuiu para aumentar a credibilidade do órgão

perante a sociedade, ao tempo em que fortalece a credibilidade das licenças,

denotando uma fluência de informações no âmbito do município. Dessa forma

as licenças encaminhadas não são fragilizadas por meio de ações públicas,

considerando que essa articulação fortalece a confiabilidade dos atos, com

formulação de processos mais democráticos, legítimos e transparentes.

É importante que os órgãos ambientais estabeleçam um nível

razoável de integração com o ministério público para que sejam minimizados

os conflitos existentes entre as instituições, ocasionados principalmente pela

falta de transparência e interação durante a realização dos processos.

A comunidade de Alagoinhas vem demonstrando um novo olhar no

que diz respeito às denúncias de irregularidades ocorridas no âmbito

26 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente. Em entrevista com a pesquisadora no dia 04 de julho de 2007

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ambiental. Anteriormente essas denúncias eram encaminhadas ao Ministério

Público e atualmente esta demanda é dirigida ao Departamento de Meio

Ambiente27. Aspecto que denota uma ampliação na credibilidade da população

pelo órgão ambiental.

Apesar de não haver ainda a articulação entre os setores para

análise das licenças, o quadro apresentado denota que vêm surgindo novas

iniciativas do órgão ambiental no sentido de promover a integração entre os

setores da administração pública e entre outras instituições. O esforço

empreendido objetiva transpor os interesses específicos de cada órgão, para

que se sobreponha de modo transversal, os interesses da coletividade.

6.1.6 Participação Pública Os principais mecanismos de participação pública presentes em

Alagoinhas são as conferências, os conselhos, comitês, fóruns e audiências

públicas. Em 2001 a gestão municipal implantou o Orçamento Participativo

buscando a descentralização nas decisões de interesse comum. Nesse mesmo

ano realizou-se a I ª Conferência Municipal de Saneamento Ambiental, da qual

participaram mais de 5.000 pessoas durante um período de 03 meses.

Segundo Reis (2005), a I ª Conferência Municipal de Saneamento foi

a mais ampla discussão do Saneamento Ambiental já vista na região do Estado

da Bahia. A partir dessas discussões, foi construída a Lei 1.460/01, a primeira

lei de Saneamento Ambiental do Brasil oriunda de Conferência Municipal.

O Plano de Saneamento ressalta a legitimidade social do processo e

visão democrática das medidas criadas, uma vez que resultaram de uma ampla

participação pública. Ao longo dos trabalhos foram realizadas 10 (dez) oficinas

e seus resultados foram apresentados nas reuniões públicas do Comitê

27 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente. Em entrevista com a pesquisadora no dia 04 de julho de 2007

104

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Consultivo. A referida proposta foi apresentada em audiência pública, com

participação aberta à sociedade.

Em Alagoinhas, em determinados momentos a participação da

comunidade foi marcante, a exemplo do processo participativo mencionados

acima. Entretanto, a participação da sociedade vem sendo marcada por fluxos

e refluxos. Essa intensidade está muitas vezes relacionada ao momento

político em que a sociedade vive como também a interesses por determinados

temas recorrentes. Observa-se uma participação mais atuante em

determinados momentos e uma apatia em outros.

Atualmente, conforme comentado anteriormente, o conselho não

vem cumprindo com seu papel de acompanhar os processos de Licenciamento

Ambiental, fiscalizar e propor políticas ambientais. A participação do Conselho

de Meio Ambiente encontra-se fragilizada.

Uma dos motivos que tem dificultado a efetividade da participação

dos conselheiros é a sobreposição dos mesmos membros no diversos

conselhos existentes no município, ocasionando um acúmulo de

responsabilidades, com reuniões que acontecem algumas vezes em horários

coincidentes. Para resolver essas questões o órgão ambiental, juntamente com

alguns membros do conselho, está viabilizando a mudança de alguns

conselheiros 28.

Apesar da importante participação da sociedade na definição das

Políticas públicas nesta ultima década, está sendo necessário atualmente, um

fortalecimento da participação do conselho de meio ambiente, para que os

processos de Licenciamento Ambiental consolidem mais a sua legitimidade, de

forma que o conselho volte a participar com efetividade das decisões.

Para resolver esse problema foi proposto promover a fusão dos

conselhos municipais para a formação de um grande conselho que tenha o

28 Dailson Ramalho Lima – Diretor de Meio Ambiente – entrevista com pesquisadora em 10 de maio de 2007

105

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objetivo de deliberar sobre as diversas políticas públicas do município. Sendo

que as questões específicas deverão ser dirigidas por meio da criação de

câmaras técnicas.

A fragilidade dos conselhos enfraquece a atuação dos órgãos

governamentais na condução das políticas públicas, que comumente não

retratam os anseios da coletividade e são marcadas pela falta de articulação e

pelo corporativismo na defesa de interesses. Outro aspecto observado em

alguns conselheiros de determinados segmentos é a ausência do sentimento

de pertencimento dos seus representantes, em relação às questões ambientais

do meio no qual interagem.

Educação Ambiental A disseminação da informação ambiental através de ações efetivas

de esclarecimentos à sociedade é um importante veículo de incentivo à

participação. Em Alagoinhas as ações inerentes à educação ambiental

constituem-se ainda em iniciativas pontuais realizadas de forma não

institucionalizada.

Atualmente está sendo realizado um projeto de iniciativa do órgão

ambiental em parceria com a Petrobrás, voltado para a recuperação de áreas

degradadas que engloba a vertente da educação ambiental. São realizadas

pontualmente palestras nas escolas e faculdades sobre essas questões.

Portanto, não existe um programa sistematizado com outros setores

para promoção efetiva da educação ambiental. É patente a ausência de

estratégias de articulação que mobilizem a sociedade para o envolvimento nas

decisões sobre os problemas ambientais, a partir de uma maior compreensão e

entendimento das conseqüências advindas das intervenções. Dessa forma, é

necessário a criação de um sistema de educação, que seja capaz de gerar

uma compreensão das questões ambientais, para que a sociedade entenda o

106

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seu papel como sujeito de transformação e assim garanta a conquista do meio

ambiente saudável para todos.

6.2 ESTUDO DE CASO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM LAURO DE FREITAS

6.2.1 O Contexto Sócio-Ambiental

Lauro de Freitas localiza-se na Região Metropolitana do Estado da

Bahia e está situado no início da Estrada do Coco, a uma distancia 22 km da

capital, sendo considerado o portal de entrada do Litoral Norte Baiano, o qual

vem ocupando o 3° lugar entre os municípios mais industrializados da Bahia,

segundo a Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado (SEFAZ,

2006).

O município possui uma área 59 km², com população de

aproximadamente 136.258 habitantes (IBGE, 2004). Limita-se com Camaçari,

Simões Filho, Salvador e o Oceano Atlântico e apresenta um clima quente e

úmido com temperatura média anual em torno de 25,4°. Os rios principais do

município são o Rio Joanes, que desagua no Oceano Atlântico e separa Lauro

de Camaçari, e o Rio Ipitanga, que corta a cidade desaguando no Joanes. Há

também vários córregos e outros dois rios, Sapato e Goro, entretanto ambos

estão em acelerado processo de deterioração (WIKIPÉDIA, 2007)

A cidade se divide em sete zonas bem distribuídas. Essas Zonas

distritais caracterizam-se e dividem-se em zonas de ocupação homogênea ou

em função da tipificação da expansão urbana. Essa territorialização não foi

institucionalizadas pelo poder público, mas já se encontra consolidada

administrativamente no município29.

O Censo Empresarial revela uma mudança gradual na economia de

Lauro de Freitas, antes uma cidade essencialmente comercial, passou a ser

29 Edmundo Ramos Pereira – Ex-Secretário da SEPLANTUR em Lauro de Freitas em 26 de abril de 2006

107

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uma cidade com vocações industrial e serviços, com ênfase no ensino

universitário. O quadro apresentado impulsionou a aliança do capital fundiário

com o capital imobiliário e vem potencializando uma nova união, formada entre

o capital imobiliário e o capital industrial (SEBRAE; PLF, 2006).

A ascensão do setor secundário no município vem ocorrendo de

forma acentuada pela expansão do setor industrial com o fortalecimento de

arranjos produtivos locais, que muito têm contribuído para o desenvolvimento

econômico, dentro da região da Costa dos Coqueiros. Entretanto, são os

empreendimentos comerciais e prestadores de serviços empresariais,

financeiros, de saúde, educação, alimentação, segurança transporte e

entretenimento que respondem por 54,2% do PIB do município (SEBRAE; PLF,

2006;).

Lauro de Freitas é um município que possui uma área urbana

reduzida com intensa expansão urbana e um grande adensamento de

empreendimentos imobiliários, caracterizado por vários loteamentos e

condomínios e novos parcelamentos. O poder público enfrentou muitas

dificuldades em disciplinar a instalação de pequenas e médias indústrias de

transformação fora da área urbana, ou seja, no pólo industrial, principalmente

pela ausência, até então, do Plano Diretor Urbano.

O poder público Local ainda enfrenta dificuldades em relação às

questões ambientais, principalmente no que diz respeito ao sistema de

esgotamento sanitário. A maioria das residências e estabelecimentos não está

ligada a uma rede de esgotamento sanitário, exceto no Bairro de Itinga. As

residências são dotadas apenas de fossas com sumidouros, ou fazem ligações

clandestinas à rede de drenagem de águas pluviais (SEBRAE; PLF, 2006).

O esgotamento sanitário existente atende atualmente, apenas 65%

do total das empresas sediadas no município. As demais empresas recorrem à

utilização de fossas, dentre outras providências para atender suas

necessidades, gerando graves problemas de ordem ambiental e de saúde

pública (SEBRAE; PLF 2006). Para solucionar parte dessa problemática o

108

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órgão ambiental orienta que os novos empreendimentos sejam dotados de

filtros anaeróbicos para minimizar os efeitos nocivos dos efluentes no meio

ambiente.

Segundo o ex-secretário de Planejamento, Turismo e Meio

Ambiente, Edmundo Pereira, inicialmente havia muitas dificuldades inerentes à

conduta ambiental do município em relação às questões ambientais. A

secretaria de obras utilizava areia, arenoso, cascalho e terra vegetal de jazidas

não licenciadas, até mesmo a prefeitura possuía jazidas em áreas impróprias.

Foi realizado um trabalho sistemático de convencimento para uma maior

compreensão dos diversos setores em relação às questões ambientais

6.2.2 O Processo do Licenciamento Ambiental

Com a expansão das atividades econômicas e conseqüentemente

com a ampliação dos níveis de intervenções no meio ambiente tornou-se

necessário o estabelecimento de mecanismos de gestão ambiental no esfera

do município. O início do Licenciamento Ambiental em Lauro de Freitas ocorreu

por meio de uma aproximação técnica com o CRA, que naquele momento tinha

o propósito de começar a descentralização da gestão ambiental no Estado por

esse município.

Entretanto, em face da compreensão de que era necessário todo um

aparato organizacional estrutural e técnico para a implementação das ações,

houve um período prévio para a estruturação do órgão municipal. Por isso a

descentralização da Gestão Ambiental na Bahia não ocorreu a partir de Lauro

de Freitas.

A implantação do processo de Licenciamento Ambiental em Lauro

de Freitas, a exemplo do que ocorreu em outros municípios, se deu através de

um convênio de cooperação técnica formalizado entre o município e o CRA, no

ano de 2001. O referido convênio delegava ao poder público Local proceder ao

Licenciamento Ambiental de todas as atividades realizadas dentro dos limites

do município, independente do porte do empreendimento. O município foi o

109

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único da Bahia que recebeu autorização do órgão Estadual para proceder à

gestão plena, ou seja, fazer Licenciamento de atividades, inclusive com

impactos não locais30.

6.2.3 Aspectos Operacionais do Licenciamento Ambiental Esse item apresenta uma síntese dos procedimentos circunscritos

no Licenciamento do município de Lauro de Freitas evidenciando os aspectos

principais a serem considerados, para que condução do processo atenda aos

requisitos básicos necessários para contribuir com a efetividade do

Licenciamento Ambiental na esfera local.

Conhecimento da Realidade O conhecimento da realidade permite a caracterização territorial

local inerente aos aspectos físicos, biológicos, estruturais, e sociais, dentre

outros, para que as informações construídas possam fundamentar os critérios

de exigibilidade dos processos de Licenciamento ambiental.

A pesquisa realizada em Lauro de Freitas não conseguiu constatar

no órgão ambiental, um estudo da realidade ambiental local, ou um instrumento

de planejamento, a exemplo da Agenda 21, ou outras informações consistentes

que definam as principais fragilidades ambientais do município ou os fatores

específicos que devam ser preservados por meio do Licenciamento, para

contribuir com mais clareza com a definição dos critérios de exigibilidade.

Segundo o ex-secretário de Meio Ambiente, Edmundo Pereira,

existia no órgão ambiental um sistema de geo-processamento do território de

Lauro de Freitas que foi construído pelo setor de informações, o qual

viabilizava a caracterização territorial do município e ampliava a eficiência das

30 Edmundo Ramos Pereira – Ex-Secretário da SEPLANTUR em Lauro de Freitas em entrevista com pesquisadora - 31 de janeiro de 2006.

110

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ações realizadas, inclusive em termo de racionalização dos custos. O órgão

encontrava-se bem aparelhado em relação à gestão territorial.

Entretanto no período de transição de governos, (ano 2004/ 2005),

houve algumas mudanças no processo da gestão ambiental. O arcabouço de

informações construída ao longo do tempo desapareceu do órgão. Essas

informações são consideradas de certa forma voláteis, em função de que,

durante as fases de transição dos gestores, comumente elas não são

repassadas, acarretando perdas irreparáveis de recursos financeiros e

tecnológicos, gerando uma lacuna intransponível para a continuidade dos

trabalhos.

Para definir os critérios de exigibilidade, bem como para proceder a

análise prévia das intervenções, o órgão ambiental toma como referência os

requisitos definidos pelo CRA e as orientações do CONAMA ou do CEPRAM, a

exemplo de projetos e demais informações exigidas para análise do

processo.31

Essas informações contribuem para se ter um panorama geral da

situação, contudo não permite um nível de conhecimento da realidade que seja

capaz de nortear uma avaliação mais aprofundada das conseqüências

ambientais de determinadas intervenções em face das especificidades

inerentes a cada espaço.

Para a fundamentação das análises dos processos de

Licenciamento é recomendável a formulação de critérios concretos, embasados

em informações mais abrangentes, considerando os debates sobre as causas

e os problemas, a formulação de metas e diretrizes e as opiniões dos agentes

afetados pela política, dentre outros fatores, como componentes que

enriquecem as tomadas de decisões.

31 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006

111

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A ausência de parâmetros baseados nas características locais para

o estabelecimento de indicadores ambientais pode resultar em uma lacuna que

ofusque a definição de critérios mais específicos para analisar o Licenciamento

Ambiental. Para a avaliação dos impactos locais é preciso que cada situação

seja objeto de análise, buscando-se estabelecer critérios fundamentados nas

questões endógenas do município, considerando suas vulnerabilidades e

potencialidades para o processo de desenvolvimento. É importante definir

quais os fatores ou processos e as atividades e intervenções são capazes de

ameaçar a qualidade ambiental do município.

Procedimento de Licenciamento Ambiental

O Licenciamento Ambiental em Lauro de Freitas passa por diversos

procedimentos. Inicialmente é feita a solicitação da licença ambiental pelo

empreendedor no balcão de atendimento da SEPLANTUR ou no Protocolo

Geral do município. O requerente recebe um conjunto de quatro formulários

que contém o requerimento padrão o qual trata das informações básicas da

empresa, com a descrição simplificada sobre o empreendimento; a lista de

documentos para enquadramento, a qual consta da lista de documentos

necessários para dar entrada ao processo de Licenciamento Ambiental; o

modelo do roteiro de caracterização do empreendimento e o termo de

responsabilidade ambiental.

O órgão ambiental define os documentos, projetos e estudos

ambientais necessários ao processo de Licenciamento Ambiental. O

requerimento da licença ambiental é acompanhado da documentação

pertinente. De acordo com as características do empreendimento ou atividade,

o DGA realiza inspeções e vistorias e define os elementos necessários para

complementar as informações inerentes à instrução do processo, quando

couber. Cabe ao empreendedor arcar com as despesas dos estudos

realizados.

A licença consta do parecer técnico conclusivo deferindo ou

indeferindo o pedido, e quando for o caso, do parecer jurídico. A licença,

112

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quando deferida, é encaminhada para a assinatura do Diretor do Departamento

de Gestão Ambiental. A lei Municipal estabelece quatro tipos de licença:

1- licença ambiental Fase 1 – que analisa a etapa de

concepção ou localização da atividade ou empreendimento observando

os requisitos básicos a serem atendidos na etapa de implantação.

2- licença ambiental Fase 2 – exige para a implantação da

proposta, que seja cumprido o estabelecido na licença anterior.

3- licença Simplificada – é expedida uma única licença que

considera de modo simplificado, as fases de localização, implantação e

operação. É utilizada em intervenções de micro e pequeno porte.

4- licença de Modificação – nesta etapa observa-se a

mudança de enquadramento da atividade de acordo com a reforma ou

ampliação realizada no empreendimento.

Normalmente tem-se referendado como condicionante relevante nas

licenças ambientais para empreendimentos imobiliários, campanhas

educativas, bem como, a recuperação de manguezais para intervenções que

influenciam sobre esses ecossistemas32.

Os empreendimentos potencialmente poluidores que estejam

irregulares ou sem Licenciamento e que foram implantados no município antes

da promulgação da Lei que estabelece a política ambiental, são fiscalizados e

notificados para que procedam a regularização da licença ambiental. Da

mesma forma, os empreendedores que não tomam a iniciativa de providenciar

o Licenciamento Ambiental, para eventos que se faça necessário, são

notificados no máximo por duas vezes e, sendo necessário, aplica-se o auto de

infração, a advertência ou a multa33.

32Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006 33 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006

113

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O Departamento de Gestão Ambiental em Lauro de Freitas enfrenta

alguns problemas em relação ao Licenciamento Ambiental. Esses problemas

são oriundos de questões inerentes às características do município. A ausência

do PDDM até bem pouco tempo, favoreceu a ocupação desordenada da

cidade, dificultando a avaliação dos empreendimentos a serem licenciados em

face da falta de um instrumento com força de Lei que determinasse as formas

de uso e ocupação dos espaços urbanos.

A falta do sistema de esgotamento sanitário em grande parte do

município tem acelerado de forma acentuada o nível de degradação dos corpos

d’água, principalmente em face do número de indústrias que vêm se instalando

no município. Essa questão tem sido fator limitante para a definição das

condicionantes da licença, em face de não permitir uma destinação adequada

dos efluentes. Para minimizar o problema, o órgão ambiental tem recomendado

a colocação de filtros nos sistemas de esgotamento individuais das indústrias.

Os entraves ocasionados pela a ausência de Políticas públicas

enfraquecem o poder de polícia do órgão ambiental ao tempo que fragiliza o

cumprimento das condicionantes estabelecidas.

A autorização ambiental é um procedimento realizado pelo DGA

para eventos mais simples ou temporários e menos impactantes, como em

casos de supressão vegetal que podem ocorrer em domicílios privados ou

logradouros públicos e que necessitam de autorização para sua retirada. Para

tanto é realizada uma inspeção pelo biólogo do departamento para que seja

concedida a referida autorização34.

A Autorização Ambiental para o Transporte - AAT é exigida tanto

para o transporte de resíduos e materiais do ramo da construção civil, bem

como para transportes de cargas pesadas e materiais perigosos35.

34 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006 35 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006

114

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As licenças de micro, pequeno, médio e grande porte são emitidas

pelo DGA. Para os processos de maiores impactos significativos a prefeitura

tem atuado em parceria com o CRA, recebendo deste órgão o apoio técnico e

logístico necessário para proceder determinadas ações na busca de soluções

para Licenciamentos de excepcional porte que requerem análises mais

acuradas em função do potencial da intervenção. Contudo, até o presente

momento não foi necessária a realização de EIA-RIMA nos Licenciamentos

efetivados pelo município de Lauro de Freitas36.

Apesar da ausência de informações relacionadas ao número e a

tipologia das licenças realizadas pelo órgão do município, bem como pelo CRA,

o contexto apresentado acima, sugere um avanço no município em relação à

sua autonomia para realizar as licenças.

O prazo médio para a tramitação e o deferimento da licença

ambiental ocorre em torno de 30 (trinta) a 150 (cento e cinqüenta) dias em caso

de projetos que exigem um estudo mais detalhado. O DGA expede em média

160 licenças por ano, sendo a maior demanda originada de empreendimentos

urbanísticos, estando em segundo lugar as das indústrias de beneficiamento e

em terceiro as demandas oriundas das obras civis, tais como pavimentação,

construção e recuperação de vias públicas e de equipamentos públicos37.

Para a publicidade das licenças ambientais expedidas são utilizados

os murais da SEPLANTUR ou do gabinete do executivo. Todas as licenças

ambientais são publicadas no Diário Oficial do município. Os processos são

arquivados no Departamento de Gestão Ambiental38. Esse quadro imprime um

maior nível de transparência ao processo ao tempo que fortalece os

mecanismos de participação.

36 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006 37 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006 38 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006

115

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Monitoramento e Avaliação A Lei Ambiental Municipal nº. 993/2001 estabelece o auto-

monitoramento compulsório como mecanismo de responsabilidade do

empreendedor, visando o acompanhamento permanente dos indicadores, no

controle dos impactos ambientais.

Para resolver os problemas ambientais o DGA estabelece o

acompanhamento por meio de um fluxo de despachos, pareceres técnicos e

jurídicos e notificações, no sentido de organizar e institucionalizar as tomadas

de decisões. A busca de soluções dos problemas normalmente é articulada

pelo DGA em parceria com os demais departamentos da SEPLANTUR, a

exemplo do DGU, e outros setores.

O fluxo de processo e notificações realizadas pelo órgão ambiental

de Lauro de Freitas denota um nível de organização em relação à forma como

a equipe vem realizando o monitoramento das ações mediante despachos e

pareceres. Percebe-se, entretanto, que os métodos e fluxos de determinados

procedimentos são inerentes a cada gestão. Sendo assim, esses

procedimentos podem acarretar a desestruturação do curso do sistema de

Licenciamento Ambiental nas mudanças de gestores.

6.2.4 O Contexto Institucional Base Legal O processo de habilitação do município para realização da gestão

ambiental se deu por meio da criação da Lei Municipal nº. 993 de 17 de

dezembro de 2001, que instituiu a Política Municipal de Meio Ambiente, criou o

Fundo Municipal de Meio ambiente e Desenvolvimento Auto Sustentável -

FMMANDAS, bem como o Conselho Municipal de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Auto Sustentável - COMMAMDAS.

116

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A legislação ambiental de Lauro de Freitas, de nº 993/2001

contempla uma série de mecanismos voltados para as questões ambientais no

que diz respeito às finalidades, princípios e objetivos por ela estabelecidos e

definiu os critérios adequados à realidade local para proceder ao

Licenciamento no âmbito do município. A existência da lei munucupal contribui

para ampliar autonomia do município em relação à implementação das

Políticas ambientais.

A Política de Meio Ambiente em Lauro de Freitas institui em linhas

gerais, o Poder de Polícia ao Departamento de Gestão Ambiental, permitindo

não apenas a fiscalização, mas também, a aplicação de multas e ou apreensão

como forma de coibir ações abusivas que venham de encontro à proteção

ambiental.

O DGA adota a listagem das atividades potencialmente poluidoras

definidas no anexo V do Decreto Estadual n° 7967/2001, podendo, contudo,

redefinir outras atividades mais restritivas, próprias do município. Entretanto até

o momento as regulamentações da lei ambiental do município de Lauro de

Freitas não foram criadas. As regulamentações das questões ambientais que

não se encontram expressas na lei municipal seguem as determinações

pertinentes, estabelecidas pela Política Ambiental Estadual e pelas normas

federais.

Além da Lei nº 993/2001, que estabelece a política ambiental, o

município possui outras leis de ordenamento urbano a exemplo da Lei nº.

702/91 que institui o Código de Obras de Lauro de Freitas e dá outras

providências; a Lei nº 928/99 que institui o zoneamento de uso do solo no

loteamento Vilas do Atlântico e do Condomínio Eco Vilas e dá outras

providências, dentre outras leis.

O Plano Diretor de Desenvolvimento do município - PDDM de Lauro

de Freitas teve inicio em maio de 2005 e foi construído com a participação

117

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expressiva da sociedade, por meio de diversas audiências públicas. O mesmo

teve sua aprovação pela Câmara de Vereadores39.

Sistema Municipal de Meio Ambiente

Órgão Ambiental

Para a implementação da gestão ambiental e conseqüentemente do

Licenciamento, o poder público local criou o Departamento de Gestão

Ambiental – DGA vinculado à Secretaria de Planejamento, Turismo e Meio

Ambiente, que tem por objetivo zelar pelo patrimônio natural e cultural, para a

consolidação das políticas ambientais. O DGA executa o Licenciamento

Ambiental, a fiscalização e monitoramento dos empreendimentos e atividades

passíveis de serem licenciadas, bem como a educação ambiental.

Para coordenar a política urbana foi criada a Secretaria de

Planejamento, Turismo e Meio Ambiente - SEPLANTUR, órgão responsável

pela gestão ambiental, formado pelo Departamento de Saneamento Ambiental

- DAS, o Departamento de Gestão Urbana - DGU e Departamento de Gestão

Ambiental – DGA, o qual possui em sua estrutura uma Divisão de Mar e Rios

que atua na proteção ambiental desses ecossistemas.

Conselho de Meio Ambiente

O conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Auto-

sustentável – COMMAMDAS tem caráter consultivo e deliberativo. Para o seu

processo de formação, convocou-se as comunidades por meio do Diário

Oficial, as quais foram representadas pelas lideranças das sete zonas distritais

que compõem o município.

39 Marcelo Cerqueira – Diretor do Departamento de Gestão Ambiental – entrevista com a pesquisadora em 22 de outubro de 2006.

118

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Segundo o ex-secretário 40 a estruturação do conselho ocorreu a

partir da realização de reuniões com os diversos segmentos da sociedade

representada pelos três setores da economia: primário (pesca e mineração),

secundário (representantes da indústria) e terciário (comercio e serviços). Os

clubes de serviços e as ONGs também participaram dessa composição. Os

conselheiros foram escolhidos pelos próprios segmentos por meio da eleição

dos seus respectivos pares.

O COMMAMDAS é um conselho de atuação pró-ativa que tem

participado plenamente na avaliação das questões ambientais do município,

em parceria com o órgão ambiental. Dessa forma, possui um caráter consultivo

quando é informado sobre os processos de licenças simplificadas realizadas

pela equipe técnica, e apresenta um caráter deliberativo quando participa

ativamente na condução das demais licenças. Também é um conselho

normativo, em face de já ter expedido três resoluções inerentes à política

ambiental41.

Órgãos Setoriais A lei que estabelece a política ambiental define a composição do

Sistema, apenas com o órgão ambiental e o COMMAMDAS. Entretanto, as

questões ambientais têm ocorrido com a participação de algumas organizações

não governamentais existentes no município. Durante o ano de 2006 a

Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMARH desenvolveu um

trabalho para a formação do sistema de meio ambiente nos municípios,

contudo essa proposta ainda não foi consolidada em Lauro de Freitas.

Fundo Municipal de Meio Ambiente O Fundo Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Auto-

Sustentável – FEMMAMDAS foi instituído mediante a Lei n. 993/2001, com o 40 Edmundo Ramos Pereira – Ex-Secretário da SEPLANTUR em Lauro de Freitas em entrevista com pesquisadora - 31 de janeiro de 2006. 41 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com pesquisadora no dia 02 de agosto de 2007.

119

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objetivo de garantir financeiramente, a execução da política ambiental

Municipal.

A lei estabelece que o referido fundo seja constituído por recursos

provenientes de dotações orçamentárias, multas, remunerações de licenças,

dentre outras receitas. Entretanto, esses recursos não têm sido dirigidos ao

FEMMAMDAS. Os recursos provenientes de multas, taxas, dentre outras

receitas são destinados ao orçamento geral do município. As ações realizadas

para a implementação da política ambiental são financiadas pelos recursos

orçamentários destinados à SEPLANTUR42.

A indisponibilidade de recursos no fundo, e conseqüentemente, a

ausência da gestão desses recursos pelo o órgão responsável pela

coordenação da política ambiental, gera algumas lacunas em relação às

prioridades das ações. Essas dificuldades reduzem o grau de autonomia dos

gestores do sistema de gestão ambiental e a transparência na aplicação dos

recursos, ao tempo que contribui para o desvio de objetivos dos recursos

provenientes de compensação ambiental para o reparo dos danos ocasionados

pelas intervenções.

6.2.5 Aspectos Gerenciais

Refere-se ao aparato da administração pública de Lauro de Freitas

que se encontram inseridos no arranjo institucional do órgão ambiental,

disponibilizado para cumprir com os objetivos a serem alcançados pelo

Licenciamento Ambiental.

Infra-Estrutura Para realizar a gestão ambiental, o poder público Local organizou a

secretaria com uma estrutura dotada de apoio logístico de informatização, 42 Marcelo Cerqueira – Diretor do Departamento de Gestão Ambiental – entrevista com a pesquisadora em 22 de outubro de 2006.

120

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transporte e outros aparatos, necessários para a viabilização das atividades de

Licenciamento e fiscalização.

Para a implantação do sistema de Licenciamento no município,

criou-se um departamento de dados e referência o qual dispunha de uma base

de dados cartográficos, contendo todas as informações técnicas territoriais,

com imagens de satélites, mapoteca, dentre outras fontes de informações com

todo um referencial geoambiental para a fundamentação do diagnóstico local.

Entretanto, conforme citado anteriormente, durante o período de

transição entre os governos, esse aparato de informações cartográficas e geo-

referenciadas desapareceram do órgão ambiental, restando apenas algumas

imagens ou fotos aéreas de algumas áreas do município.

Observa-se que a estrutura física e logística existente atende à

demanda dos trabalhos inerentes ao Licenciamento Ambiental, considerando

que o município se destaca em relação à grande maioria dos demais

municípios do estado, e também em relação ao suporte destinado à

estruturação do órgão ambiental.

Capacitação Técnica

O município de Lauro de Freitas estruturou seu organograma de

forma a atender as exigências da Lei que estabelece a política ambiental. Os

cargos e funções criados para coordenar e executar a demandas das questões

ambientais vem cumprindo com os objetivos traçados pela referida política. O

DGA, órgão responsável pela coordenação da política ambiental Municipal é

constituído por uma equipe multidisciplinar formada por 01 diretor de meio

ambiente, 03 fiscais de nível médio, 01 biólogo e 01 geólogo e 01 educador

Ambiental.

Para a implementação do Licenciamento Ambiental em Lauro de

Freitas houve um consistente apoio do CRA referente ao acompanhamento

técnico e logístico. Foram realizados treinamentos com a equipe técnica sob a

121

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orientação do CRA, como também aconteceu um curso de avaliação de

impactos ambientais realizado pelo SENAR para os fiscais ambientais43.

Entretanto, a realização desses eventos de capacitação, oferecidos

à equipe do órgão ambiental, ocorreram em um curto período e não vêm sendo

realimentados com efetividade como deveriam ser, conforme exige a

complexidade das ações desenvolvidas no processo do Licenciamento

Ambiental.

A equipe técnica tem atendido as exigências dos critérios

estabelecidos pelo órgão ambiental estadual quanto à realização dos

procedimentos. Foi constatada nos diversos órgãos que compõem a

SEPLANTUR a ocorrência de um número razoável de profissionais com

qualificação diversificada para realização dos trabalhos, inclusive do

Licenciamento, o qual acontece com a parceria desses órgãos.

Esse é um traço bastante importante no município, considerando

que a visão interdisciplinar na avaliação das questões ambientais contribui com

o aprofundamento e consistência da análise, principalmente em um município

que tem enfrentado sérios problemas para disciplinar as distorções geradas

pela expansão acelerada tanto de investimentos imobiliários como do setor

industrial.

Entretanto, a equipe necessita de treinamentos mais específicos e

com maior intensidade em face da complexidade do processo de

Licenciamento, visto que, as análises desses processos exigem em alguns

casos, um nível especializado de conhecimentos tecnológicos.

Outro aspecto observado diz respeito à rotatividade do quadro de

técnicos nos períodos de alternância de governos, ocasionando uma

interrupção na fluência das informações construídas ao longo de cada gestão

administrativa. Neste sentido, o Licenciamento Ambiental tem sido marcado por

43 Allan Jones – Fiscal Ambiental, em entrevista com a pesquisadora em 16 de abril de 2006

122

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a vulnerabilidade do município quanto à efetividade do sistema, fator que

dificulta bastante a continuidade dos processos e que emperra os propósitos do

desenvolvimento sustentável em face de que esse depende da efetividade das

ações.

Inter-setorialidade Em Lauro de Freitas as licenças ambientais que em seu processo de

análise necessitam do parecer de outros profissionais que não façam parte do

quadro de pessoal do DGA, são encaminhadas para uma análise conjunta com

os demais setores da SEPLANTUR, como o Departamento de Saneamento

Ambiental - DAS e/ou Departamento de Gestão Urbana - DGU.

Esses departamentos atuam interagindo em diversos processos

inerentes à suas atividades. As análises dos projetos encaminhados são feitas

por comissões especificas para facilitar os processos e dividir as

responsabilidades. Este modelo foi implantado e instituído por lei.

O Licenciamento Ambiental em Lauro de Freitas ocorre normalmente

com a parceria do DGA com outros órgãos responsáveis pela execução da

Política Urbana no município. O DGA tem desenvolvido diversas atividades em

interação com os demais órgãos da Administração Pública Local, a exemplo de

fiscalização em hospitais e clínicas; emissão de alvarás condicionados à

liberação da licença ambiental, quando couber; apuração de denúncias

realizadas pela vigilância sanitária; acompanhamento e fiscalização em

parceria com o órgão responsável em realizar podas e retiradas de árvores em

logradouros públicas ou em propriedades particulares, dentre outras ações44.

Como critério indispensável para o deferimento dos alvarás de

localização e funcionamento de empreendimentos, salvaguardando os casos

em que seja dispensada a licença, o DGU exige a apresentação da licença

ambiental (observando inclusive o cumprimento das condicionantes), Ou seja,

44 Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 16 de abril de 2006

123

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às licenças urbanas expedidas pelos diversos setores, a exemplo de alvarás,

autorizações, dentre outras, ocorre com a compatibilização dos processos de

emissão de licenças ambientais, de modo que a regulação dos

empreendimentos ocorra de maneira simplificada, integrada e de forma fluente,

respeitando, contudo, a independência de cada licença.

O condicionamento estabelecido pelo poder público entre alvarás e

as licenças ambientais, no sentido de interligar a liberação de um, à emissão

da outra ou vice-versa, constitui-se em um aspecto positivo do processo em

face de obrigar o empreendedor a cumprir com as condicionantes

estabelecidas, ao tempo em que proporciona um maior controle das

intervenções.

As análises dos processos de Licenciamento Ambiental, realizadas

por meio da articulação do órgão ambiental com os demais setores

responsáveis pela Política Urbana, resultam em licenças ambientais mais

consistentes, uma vez que são fundamentadas em pareceres

multidisciplinares, mais consolidados. Esse viés fortalece e enriquece as

análises para a emissão da licença,

A articulação inter-setorial, na maioria das vezes está relacionada à

vontade política dos dirigentes, conseqüentemente está condicionada ao perfil

do gestor municipal, bem como à compreensão, compromisso e interesse dos

responsáveis pelos órgãos setoriais em estabelecer o sentido da

transversalidade nas Políticas públicas.

O município atua em parceria com o CRA em áreas de preservação

ambiental, na busca de resoluções de problemas ambientais em que os

impactos se estendam para outros municípios, a exemplo de alguns eventos

que ocasionaram poluição no Rio Joanes e atingiram as localidades

circunvizinhas. Esse fator reforça a importância da interação interinstitucional e

a complementaridade das ações, mesmo porque, segundo o entrevistado, o

CRA dispõe de alguns recursos que ainda não existem no órgão local.

124

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Segundo o representante do DGA,45 o órgão ambiental vem atuando

em alguns procedimentos, em áreas de APAs situadas no território do

município, a exemplo de emissão de alvarás e outras licenças, sendo,

entretanto necessário um aval da SEMARH para confirmar o processo.

Durante a coleta de dados pôde-se constatar algumas ingerências

cometidas pelo o órgão Estadual, caracterizando conflito de competência,

quando o mesmo emite cartas de dispensas, publicadas pelo SEIA, dirigidas a

intervenções realizadas no município, que segundo o representante do DGA,

poderia ser emitida pelo o órgão local. Essas medidas tendem a ofuscar a

autonomia desse órgão em relação ao sistema de Licenciamento Ambiental

municipal, denotando certa dependência do referido órgão local, para com o

Estado.

Interface entre os instrumentos de gestão

A Lei Ambiental do município estabelece vários instrumentos,

destacando-se O Zoneamento Ambiental, Normas e Padrões de Qualidade

Ambiental, Avaliação de Impactos Ambientais dentre outros. O poder Público

ainda não criou ou regulamentou parte desses instrumentos, assim como o

órgão ambiental não utiliza desses instrumentos para fundamentar o processo

de Licenciamento Ambiental.

A ausência de outras normas não se caracterizou em entraves para

o andamento dos processos de Licenciamento Ambiental realizados, exceto em

relação ao PDDM. Contudo, é importante reforçar a importância da interação

dos diversos instrumentos na fundamentação das análises, uma vez que esses

fatores enriquecem o conteúdo do processo de Licenciamento.

A ausência do PDDM até períodos bem recentes, por ser um

instrumento que regula o disciplinamento do solo, dificultou bastante a análise

das licenças e definição de condicionantes, em virtude da rápida expansão de

45Allan Jones – Fiscal de Meio Ambiente em entrevista com a pesquisadora 02 de agosto de 2007

125

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empreendimentos no município sem que houvesse um instrumento com poder

suficiente de regular as formas de ocupação dos solos urbanos.

As licenças estão ainda emitidas sem a observância no PDDM, bem

como de outros instrumentos que contribuem com o sentido da

complementaridade ao processo. Segundo o técnico de Meio Ambiente, Allan

Jones, até o momento o órgão ambiental não necessitou de proceder algum

tipo de Estudo de Impacto Ambiental para as intervenções ocorridas em sua

esfera, em face do porte das intervenções realizadas no município.

6.2.6 Participação Pública O Processo de participação pública em Lauro de Freitas consiste de

uma forma geral, na participação de membros da sociedade em entidades não

governamentais, na participação ativa em conselhos municipais, em audiências

públicas, a exemplo das audiências realizadas para a construção participativa

do PDDM e em debates.

Com o objetivo de deliberar ou de obter conhecimento das licenças

expedidas pelo DGA, o COMMANDAS reúne-se sistematicamente em caráter

ordinário uma vez por mês e participa ativamente das decisões em relação ao

Licenciamento Ambiental. Comumente são repassadas as informações gerais

das decisões ocorridas no DGA sobre as questões ambientais do município.46

Nestas ocasiões o poder público dá conhecimento das licenças simplificadas

realizadas, como também discute os processos em andamento e

condicionantes a serem exigidas.

O COMMAMDAS construiu seu regimento estabelecendo seu nível

de participação no Licenciamento. Definiu que não seria necessária sua

participação na análise de processos de Licenciamento Ambiental simplificado,

deixando sua deliberação a cargo do próprio órgão ambiental. Por essa razão,

46 Marcelo Cerqueira – Diretor do Departamento de Gestão Ambiental – entrevista com a pesquisadora em 22 de outubro de 2006.

126

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a participação do conselho na deliberação das licenças ocorre apenas nas

análises de processos de intervenções que ocasionem significativos impactos

ambientais.

Os fatos relacionados às questões ambientais, a exemplo de

notificações, pareceres dentre outros, são normalmente apresentados ao

COMMANDAS por meio de dossiê ou relatórios elaborados pela equipe

técnica, os quais constam dos encaminhamentos realizados pelo o órgão

ambiental referentes a um dado período47.

A participação do Conselho de Meio Ambiente em Lauro de Freitas,

no acompanhamento das questões ambientais, demonstrou um fator positivo

considerando que há um compartilhamento de responsabilidades nos

processos que necessitam de uma análise mais acurada da situação, no

sentido de definir quais decisões devem ser tomadas.

A apresentação mensal desses dossiês ou relatórios sobre as

ocorrências das questões ambientais, pelo poder público aos conselheiros,

atribui um caráter mais democrático nas Políticas públicas. O conselho é

considerado um dos mais importantes mecanismos de participação pública

nesse município, possui características deliberativas, consultivas e normativas.

O conselho foi criado com o maior número de representantes do

poder público. A maior representatividade dos segmentos sociais em sua

constituição atribuiria também um caráter mais democrático em sua

composição.

A participação do conselho nas decisões das questões ambientais

denota a harmonia existente entre o órgão ambiental e o COMMAMDAS para a

deliberação da política ambiental. O processo participativo fortalece a

legitimidade do Licenciamento das intervenções no meio ambiente.

47Marcelo Cerqueira – Diretor do Departamento de Gestão Ambiental – entrevista com a pesquisadora em 22 de outubro de 2006.

127

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Educação Ambiental

Em relação à educação ambiental, em Lauro de Freitas foram

realizadas varias ações, a exemplo da implantação do programa de Jovem

Guarda Ambiental que surgiu a partir de condicionantes de licença ambiental.

Entretanto observa-se a ausência de programas estruturantes que instituam a

realização de projetos de educação ambiental com diretrizes definidas e com

dotação orçamentária própria.

O Programa Jovem Guarda Ambiental ocorre por meio da parceria

com as escolas municipais, com o corpo de bombeiro e outros órgãos

municipais. Para a realização do programa são desenvolvidas noções de meio

ambiente, tipificação de flora e da fauna, primeiros socorros e orientação para

as praticas de turismo ecológico48.

O órgão ambiental tem promovido campanhas de esclarecimentos

dos problemas ambientais e suas alternativas de enfrentamento, através da

distribuição de materiais gráficos educativos, informativos e de divulgação a

exemplo de cartazes, folders e revistas.

Apesar de realização de programas pontuais de Educação

Ambiental, observa-se a ausência de um programa mais amplo,

institucionalizado, em que haja um envolvimento do setor educacional bem

como dos diversos segmentos da sociedade, permitindo assim o acesso e

apropriação de informações que incentivem a participação proativa da

comunidade nas deliberações sobre os problemas ambientais.

É preciso que seja estabelecida uma política de educação que seja

capaz de despertar em tempo uma nova consciência na sociedade, pautada

nos princípios da eco-cidadania, para estabelecer um novo comportamento em

48 Marcelo Cerqueira – Diretor do Departamento de Gestão Ambiental – entrevista com a pesquisadora em 22 de outubro de 2006.

128

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que os indivíduos tenham um olhar voltado para o ambiente em que vivem,

sentindo-se co-responsáveis pela preservação do meio ambiente.

6.3 O ESTUDO DE CASO DA QUESTÃO AMBIENTAL EM SOBRADINHO.

6.3.1 O Contexto Sócio - Ambiental

A sede de Sobradinho foi construída no espaço territorial

pertencente ao município de Juazeiro da Bahia a qual foi emancipada em 1988.

Seu núcleo urbano teve sua origem a partir da construção da Barragem de

Sobradinho, que deu origem ao maior lago artificial do mundo, em espelho

d’água. Sua população foi formada pelo intenso fluxo migratório que ocorreu

nesta ocasião, chegando a abrigar aproximadamente 39.000 pessoas naquela

época. Atualmente a população total do município é de 21.325 habitantes,

sendo 19.610 residentes na zona urbana e 1.715 na zona rural, com densidade

demográfica de 16,05 hab/km2 (IBGE, 2002).

O município localiza-se na região de planejamento do Baixo Médio

São Francisco no Estado da Bahia, na margem direita do Rio São Francisco,

limitando-se a leste com Juazeiro, a sul com Campo Formoso, a oeste com

Sento Sé, e a norte com Casa Nova e o Estado de Pernambuco. Sua área total

é de 1.324 km².

A cidade foi implantada com base em um planejamento urbano, em

meados dos anos setenta, pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco –

CHESF, por isso apresenta características atípicas das diversas cidades que

possuem outros fatores de formação em seus processos de origem.

A construção da Barragem de Sobradinho ocasionou um grande

passivo ambiental e social em toda região do baixo-médio São Francisco.

Submergiu cinco municípios que tiveram suas populações relocadas para

outras áreas, sem contar com os impactos em grande escala ocasionados à

fauna, flora e ao patrimônio arqueológico dessa região.

129

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A população é formada em quase sua totalidade por barrageiros que

vieram de diversas regiões do país. Apresentando, portanto, uma diversidade

de culturas e costumes. Diversas organizações não governamentais foram

criadas no município para captação de recursos ”a fundo perdido”, à medida

que as dificuldades aumentavam em função das ações de desmobilizações do

canteiro de obras. A partir dos anos 80 instalou-se nesse local um alto nível de

desemprego com escassas alternativas de sobrevivência.

Nos últimos anos foi realizada outra grande intervenção no município

- a construção do canal de irrigação Serra da Batateira, com o objetivo de

irrigar uma vasta área de caatinga, o qual foi considerado como a grande

redenção para a sobrevivência dos agricultores.

A construção do canal com aproximadamente 18 km de extensão

também ocasionou um passivo ambiental, apesar de trazer também os

impactos positivos à economia local, como alternativa de sobrevivência para

alguns pequenos produtores que se localizam à sua margem. O referido canal

apresenta sérias pendências em relação ao processo de Licenciamento

Ambiental, em virtude do Poder Público Local não ter conseguido viabilizar o

cumprimento das condicionantes exigidas pelo IBAMA.

O município possui uma área considerável situada em uma APA

criada recentemente pelo Governo do Estado da Bahia. O poder público

municipal também criou outras unidades de conservação, por meio da Lei №

142/95, em face da presença de importantes sítios arqueológicos no entorno

desta região, a exemplo do Parque Municipal do Olho D’água, onde se

encontra situados a maioria desses sítios arqueológicos.

As referidas unidades de conservação permanecem sem as

regulamentações necessárias, sem um comitê formado e sem o plano de

manejo, conforme é exigido pela a lei que cria o SNUC. Diante do quadro

apresentado o município enfrenta graves problemas ambientais.

130

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A economia do município é basicamente a agropecuária,

caracterizada por explorações voltadas à agricultura familiar. Existem

atualmente algumas iniciativas de projetos de pequeno porte de fruticultura

irrigada. A caprino–ovinocultura é uma atividade importante para os pequenos

produtores.

O comercio local sofre grave influência do comercio do pólo

Juazeiro/Petrolina em face da proximidade. Esse fator favorece as pessoas

realizarem suas compras nas cidades vizinhas, fragilizando a economia do

município.

Vem surgindo em Sobradinho algumas iniciativas de micro e

pequenos empresários bem como cooperativas, com a instalação de alguns

empreendimentos a exemplo de postos de combustíveis, além da introdução

recente de projetos comunitários de piscicultura em tanques redes implantados

na área do lago de Sobradinho.

6.3.2 O Contexto Institucional Base Legal Os aspectos mais importantes observados no sistema legal do

município relacionados às questões ambientais em Sobradinho encontram-se

circunscritos na seguinte legislação:

Lei 36/90 Código de Postura – Contém as medidas de postura em

matéria de higiene, segurança e costumes públicos, disciplina e funcionamento

dos estabelecimentos e relacionamento desses com o poder público local, bem

como com os munícipes.

Lei Nº. 076/92 – Dispõe sobre o código de posturas urbanas –

ambientais de Sobradinho. Foram criados por meio dessa lei os instrumentos

da política ambiental Local. Instituiu o Licenciamento, a fiscalização, o estudo

de impacto ambiental, dentre outras disposições.

131

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Lei Nº. 133/94 – Cria o fundo municipal de meio ambiente. Institui as

fontes de recursos para programas e projetos de preservação e restauração

dos processos ecológicos no município.

Lei Nº. 142/95 – Cria o parque municipal de preservação

permanente da fauna ecológica do Rio São Francisco.

Lei Nº. 196/97 – Reconstitui o conselho municipal de meio ambiente

e redefine sua competência.

Lei Nº. 281/2001 – Redefine o Conselho Municipal de Defesa do

Meio Ambiente – CODEMA no sentido de fazer uma nova adequação da

composição do conselho dentro da nova estrutura organizacional da Prefeitura.

Lei Nº. 282/2001 – cria novamente o Fundo Municipal do Meio

Ambiente.

Lei Nº. 301/2001 – Reconstitui o conselho e redefine sua

composição e competência.

Lei Nº. 036/2003 – Redefine composição do Conselho de Meio

Ambiente.

Em 1995 o poder público Municipal Instituiu em seu território um

parque ambiental onde se encontra importantes sítios arqueológicos.

Posteriormente foi criado o Conselho de Meio Ambiente e houve uma

reformulação na Lei Orgânica ampliando as disposições específicas da questão

ambiental.

O Poder Executivo coordenou os trabalhos de construção do PDDU,

formulou o Projeto do Plano Diretor Urbano por meio de intensas discussões

com a sociedade durante o ano de 2004 e fez os devidos encaminhamentos

132

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para Câmara de Vereadores. Entretanto, o processo de aprovação do referido

projeto encontra-se paralisado há mais três anos.

A avaliação das questões institucionais do município de Sobradinho

aponta para a leitura de que esse é um município estruturado em matéria de

legislação ambiental, pela existência de várias Leis que tratam das referidas

questões. As leis de modo geral foram bem elaboradas, entretanto tem sido

desconsideradas e negligenciadas pelo poder público local.

As leis apresentam um conteúdo legal com características bastante

abrangentes, disciplinam as questões sociais, econômicas e de ocupação dos

espaços urbanos, ou seja, normatiza as relações estabelecidas entre poder

público, iniciativa privada e a sociedade na relação espaço-produção,

entretanto não apresentam eficácia.

Esse arcabouço legal existente evidencia um avanço em

comparação tanto em relação aos demais municípios estudados, como

também em relação à maioria dos municípios baianos, uma vez que traz em

sua essência a criação de instrumentos tão importantes para a política

ambiental. Desde a década de 90 instituiu o Licenciamento Ambiental, a

fiscalização, o estudo de impacto ambiental, criou unidades de conservação

para proteger o patrimônio ambiental, dentre outros instrumentos.

É notória a ausência da aplicação das leis não somente em função

da ausência do Licenciamento Ambiental, mas também no que se refere ao

disciplinamento das questões urbanas, a exemplo da destinação de entulhos e

resíduos de podas de árvores domiciliares, que são colocadas ao longo das

ruas da cidade, sendo a sua coleta de inteira responsabilidade do poder

público, contrapondo os preceitos da Lei de Código e Postura e Meio Ambiente.

Observa-se, uma realidade bastante contraditória no que diz respeito

à aplicabilidade dessas leis e a efetividade das políticas públicas ambientais. O

que a lei define como direito, o poder público Local contrapõe, em função de

não materializar e não assegurar à sociedade aquilo que a lei dispõe.

133

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Órgão Ambiental

Em 1997 foi criado em sua estrutura organizacional, a Assessoria de

Meio Ambiente com o objetivo de fortalecer a política ambiental local, a qual

funcionou parcialmente (não realizava o Licenciamento Ambiental) até o ano de

2004. A partir do ano de 2005, com o início de uma nova gestão administrativa

no município, a Assessoria Especial de Meio Ambiente vinculada ao Gabinete

do Prefeito não foi implantada de fato, caracterizando a inexistência do

organismo.

Essa lacuna ocasionada pela inexistência do órgão ambiental

provoca um vazio institucional no que se refere à coordenação e execução da

gestão ambiental. A ausência de políticas e ações efetivas no âmbito do

município, voltadas às questões ambientais denota a falta de prioridade com as

mesmas, em um local que já apresenta tantos problemas ocasionados por

intervenções tão marcantes.

Conselho/ Fundo

O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - COMDEMA, o

qual foi regulado por ultimo, através da Lei n. 301/ 2001, que criou mais uma

vez o Fundo Municipal de Meio Ambiente, tem caráter consultivo e deliberativo,

com composição paritária.

Foi constituído por representantes do poder público Municipal,

representantes de Instituições Estaduais com atuação no município, e com

representações da sociedade civil organizada, no ano de 1993 e

posteriormente, no ano de 2003, contudo, desde 2005 não houve iniciativa de

Poder Executivo em recompor o COMDEMA, que nesta ocasião já se

encontrava desatualizado e até o presente momento permanece sem

conselheiros empossados.

134

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O Fundo Municipal de Meio Ambiente, criado paralelamente ao

conselho, nunca foi regulamentado, assim sendo, jamais foi destinado recursos

no referido Fundo para o financiamento da Política de Meio Ambiente no

município.

6.3.3 Aspectos Gerenciais Em Sobradinho as políticas ambientais encontram-se fragilizadas

pela ausência de um órgão que coordene e execute as ações que assegurem a

efetividade da gestão ambiental, e consequentemente do Licenciamento,

monitoramento e fiscalização para as intervenções realizadas na esfera do

município.

A falta de arrecadação tributária ou aplicação de multas que possam

contribuir com o disciplinamento e potencialização de programas de proteção

ambiental também são traços marcantes nesse município. As licenças

ambientais são expedidas em sua totalidade pelo O CRA ou pelo IBAMA,

quando couber, deixando o município a mercê da atuação de outras esferas

governamentais.

Em face de algumas notificações emitidas pelo CRA à Prefeitura e,

após a participação do Secretário de Planejamento em um curso de

capacitação da SEMAHR / CRA para a implementação do GAM, surgiu a

iniciativa no sentido de regulamentar as licenças pendentes, que estão sendo

exigidas pelo órgão estadual, a exemplo da licença do sistema de esgotamento

sanitário e do sistema de abastecimento de água implantado pela Empresa

Municipal de Serviço de Água e Esgoto – EMSAE. Entretanto até o momento

não foram tomada as providências necessárias.

As notificações dos órgãos ambientais estaduais e federais dirigidas

ao município são encaminhadas para a Secretaria de Planejamento. Segundo

o secretario de planejamento, o qual participou da capacitação ministrada no

ano de 2006, pela SEMAHR, para a implantação do Programa de Gestão

135

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Ambiental Municipal – GAM, essa secretaria deve ser reestruturada para uma

ação voltada à gestão ambiental, por orientação da SEMARH.

Entretanto o município permanece sem um órgão ambiental e não

faz parte dos municípios da região do Baixo Médio São Francisco que

compõem o PNC – Programa Nacional de Capacitação para Gestores

Ambientais, que está sendo implementado por meio da parceria do Governo

Federal com o Governo Estadual, para o fortalecimento da municipalização da

Gestão Ambiental.

Os micros e pequenos empreendedores locais, comumente se deparam

com muitas dificuldades de ordem técnica, financeira e de temporalidade para

viabilizarem as licenças dos seus empreendimentos. O Projeto de Piscicultura

em Tanques redes e a Unidade Produtiva de Produtos Defumados são

exemplos de empreendimentos de pequeno porte que sofreram muitas

dificuldades para atenderem aos requisitos exigidos no processo do

Licenciamento Ambiental simplificado, devido à dificuldade de recursos e a

ausência de um responsável técnico para conduzir os trâmites necessários à

instrução do processo.

Os empreendedores do município se defrontam com muitas dificuldades

em resolver os problemas de licenças ambientais, de modo geral, nas

intervenções de pequeno porte, por falta de orientações geradas no âmbito do

município. Os processos de Licenciamento são marcados por morosidade e

aumento nas despesas por perdas de prazos e deslocamentos para Juazeiro

ou Salvador, além de ocasionar outros impedimentos para os

empreendimentos a exemplo de acesso a créditos financeiros.

Capacidade técnica O Quadro de Pessoal da Prefeitura Municipal de Sobradinho, além

de alguns servidores contratados temporariamente, é composto por servidores

de quadro de carreira e possui profissionais com diversas formações. Com

136

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perfil para atender a demanda ambiental, o setor público municipal possui em

seu quadro 03 técnicos agrícolas, 01 técnico em zootecnia, biólogos, O1

engenheira agrônoma, mestranda em engenharia ambiental urbana (autora do

trabalho), além de profissionais na área de educação ambiental. Contudo, os

referidos profissionais encontram-se lotadas em outros setores.

A limitação da capacidade institucional do poder público em

implementar a política ambiental, além da falta de vontade política, ocorre em

primeira instância pela inexistência de um órgão que coordene e execute a

política ambiental. Conseqüentemente não existe uma equipe definida para

desempenhar as funções relacionadas a gestão ambiental, apesar de ter no

quadro de carreira, técnicos com formação voltada para esta área.

Em face da disponibilidade técnica e a busca por informações na

área ambiental, considera-se que existe em setores diferenciados, uma equipe

adequada e suficiente para realizar os trabalhos inerentes á gestão ambiental.

Entretanto seria necessário um processo de organização capacitação para o

aprofundamento das especificidades em relação ao processo de Licenciamento

Ambiental, para a implantação da proposta de municipalização da gestão

Ambiental.

Estrutura Física e Intersetorialidade Em face de não existir um órgão responsável pela execução da

política ambiental, o município não realiza a gestão ambiental,

conseqüentemente não possui estrutura física para realizar os trabalhos como

também inexiste uma articulação entre os diversos órgãos em relação políticas

setoriais, ou seja, não ocorre transversalidade da questão ambiental com as

demais políticas.

6.3.4 Participação Pública

A participação da sociedade nas questões ambientais no município

tem sido caracterizada por uma intensa apatia. A iniciativa das organizações

137

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não governamentais em relação às causas ambientalistas também tem sido

bastante incipiente.

No ano 2000 chegou-se a formatar uma proposta com projeto de lei

para construção de um Conselho de Desenvolvimento Integrado, com um

amplo objetivo, que viesse a integrar e definir as políticas de desenvolvimento

do município. Essa proposta deparou com muitas rejeições em face da

ausência de uma compreensão mais aprofundada da importância da

transversalidade nas Políticas públicas, por parte de alguns gestores setoriais.

Existe atualmente uma fundação de cunho ambientalista que deu

inicio a um trabalho de articulação e sensibilização para formação de uma rede

de proteção ambiental, no sentido e promover pequenas ações voltadas à

defesa ambiental. Mas essa proposta tem se deparado com várias dificuldades

de caráter político e institucional.

Educação Ambiental Ocorrem eventualmente algumas iniciativas isoladas do setor

educacional em relação à educação ambiental, a exemplo da promoção de

atividades na semana do meio ambiente, apesar das escolas já virem

desenvolvendo algumas ações voltadas à questão ambiental, de forma

interdisciplinar e considerando os temas transversais.

A partir desse ano de 2007, foi instituída na matriz curricular das

escolas públicas estaduais no âmbito local, a disciplina Educação Sócio

Ambiental – ESA, voltada ao debate ambiental. Entretanto essa atividade ainda

prescinde de muitas pesquisas e informação para ampliar os conteúdos

programáticos.

Essas questões retratam um interesse desse público em relação aos

temas ambientais, contudo ainda não foi despertado nessa parcela da

sociedade, o poder que ela detém de ser um mecanismo de tensão para

pressionar o poder público a exercer suas obrigações, uma vez que, sua

138

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139

função de proteger o meio ambiente “não é uma faculdade, mas sim um dever”.

Considerando que o município apresenta um contexto onde as

questões legais encontram-se instituídas de modo propício para implantação

do processo e, que o quadro técnico existente é adequado à capacidade

técnica necessária para a condução do processo, torna-se evidente que

Sobradinho prescinde de atitudes políticas que pressionem o Poder público a

priorizar as Políticas Ambientais como forma de garantir uma melhor qualidade

de vida para a sua população.

Nesse sentido, as questões apresentadas evidenciam a necessidade

da implementação de uma estrutura com força política e poder de articulação

intersetorial, que seja dotada do mínimo de condições estruturais e técnicas,

organizada de forma que possa transpor o vácuo deixado pela ausência das

ações e assim, assegurar a implantação da gestão ambiental e

conseqüentemente romper com esta marcante ambigüidade presente no

município em relação à responsabilização que o mesmo deverá ter para

assegurar a prática do Licenciamento Ambiental.

6.4 SÍNTESE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DO SISTEMA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DOS MUNICÍPIOS

Baseado nos parâmetros levantados no capítulo anterior buscou-se

construir uma matriz de dados, para analisar o Licenciamento Ambiental nos

municípios estudados, apresentando-se a síntese dos elementos relevantes

demonstrados no estudo de caso. Neste sentido o quadro-matriz a seguir,

caracteriza a forma como estes fatores institucionais legais, estruturais,

gerenciais e procedimentais tem se apresentado nos referidos municípios, com

a finalidade de fundamentar a análise de como o processo de Licenciamento

Ambiental vem ocorrendo.

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QUADRO 2 - ASPECTOS OPERACIONAIS

DADOS PESQUISADOS

ALAGOINHAS

LAURO DE FREITAS

SOBRADINHO

Conhecimento da Realidade Diagnóstico ambiental -(Instrumentos criados) Critérios de exigibilidade -(intervenções que deverão ser licenciadas no âmbito local). Padrões de qualidade ambiental Procedimentos (passo a passo do Licenciamento)

Possui Plano Municipal de Saneamento Ambiental (PMSA), Agenda 21 (ainda sem aplicação no LA), PDDU em fase de atualização. Utiliza apenas a documentação apresentada pelo empreendedor para a análise prévia Critérios definidos no Plano Ambiental, mas ainda não são considerados na prática do LA. Segue as exigências das regulamentações do CEPRAM e do CONAMA. Adota os padrões definidos nas regulamentações do CEPRAM e do CONAMA. Cumpre com os procedimentos estabelecidos pela resolução CONAMA nº 237/97 e orientações do CRA - Solicitação do empreendedor, definição pelo o órgão da documentação e informações necessárias à análise prévia, requerimento (empreendedor), apresentação da documentação, análise técnica, vistoria, inspeção e complementação de informações (quando couber), elaboração de parecer técnico e assinatura da licença (diretor e

Carência de documentações específicas voltada ao conhecimento da realidade ambiental local. PDDU em fase de implementação. Utiliza apenas a documentação apresentada para a análise prévia. Baseia-se nas normas federais e estaduais (regulamentações do CEPRAM e do CONAMA). Não existem padrões próprios, adota os padrões definidos nas regulamentações do CEPRAM e do CONAMA. Cumpre com os procedimentos estabelecidos pela resolução CONAMA n° 237/97 e orientações do CRA – Solicitação do empreendedor, definição pelo o órgão de documentação e informações necessárias ao LA, requerimento pelo empreendedor, análise técnica, vistoria e inspeção e complementação de informações (quando couber), elaboração de parecer técnica, assinatura da licença (diretor).

Existência de estudos realizados por outras instituições, diagnósticos de diversos projetos elaborados. Inexistentes Inexistentes Não pratica o LA

140

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TIPOLOGIA- Licenciamentos realizados Monitoramento e avaliação dos processos de Licenciamento Prazos para a licença

Prefeito). De micro, pequeno, médio e grande porte, mas ainda ocorre a atuação do CRA em alguns LA. Monitoramento ocorre ainda em função de denúncias. Proposta de monitoramento em elaboração com o CRA Processos concluídos até 01 ano em caso de licenças mais complexas

Licencia plenamente Procede a acompanhamento e monitoramento das intervenções por meio de relatórios, notificações e despachos. Média de 30 dias para LS e até 180 dias para os processos mais complexos

Não pratica nenhum tipo de licença Não atua na fiscalização e no monitoramento e avaliação de atividades causadoras de impactos ambientais. Não atua no LA. As licenças são encaminhadas ao órgão Estadual.

QUADRO 3 - ASPECTOS INSTITUCIONAIS

DADOS

PESQUISADOS

ALAGOINHAS

LAURO DE FREITAS

SOBRADINHO

Base Legal: Código Ambiental, Lei Orgânica, outras leis, Resoluções Municipais estabelecendo padrões de qualidade, Poder de Polícia, outras normas próprias. Outros instrumentos criados - PDDU, Agenda 21 Local, ZEE, PMAS, etc.

Não possui lei específica que estabeleça a política ambiental e as diretrizes do LA; possui Lei Orgânica - capítulo sobre a questão ambiental; possui outras leis - Código de Postura; criou APAs; criou Conselho; etc.

Possui PMAS; PDDU; Agenda 21 (elaborada e não é aplicada no LA).

Possui Lei Ambiental que estabelece diretrizes do LA; Lei Orgânica - capítulo sobre a questão ambiental; Código de Postura; Resoluções recentes do COMMANDAS

Possui PDDU em fase de implantação.

Possui Lei Orgânica com capítulo sobre a questão ambiental, Código de postura e ambiental, criou conselho, Fundo e definiu o LA, Criou APAS - mas não aplica esses instrumentos. PDDU – Projeto de Lei elaborado em 2004 (sem aprovação).

141

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Sistema Municipal de Meio Ambiente: órgão ambiental Conselho 2.2.4 órgãos Setoriais Fundo Municipal de Meio Ambiente

O município criou a Diretoria de Agropecuária e Meio Ambiente, órgão responsável pela coordenação e execução da política ambiental, ligado á Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente. O COMDEMA tem caráter consultivo, deliberativo, fiscalizador e paritário, Reuni-se ordinariamente 01 vez por mês. Encontra-se em fase de reestruturação Não participa dos LA. Organização fragilizada no momento Existem algumas ONGs que atuam informalmente em parceria com o órgão ambiental na defesa ambiental. Fundo instituído e regulamentado. Recebe apenas os recursos de taxas e multas.

O DGA é o órgão responsável pela coordenação e execução da política ambiental, e está ligado diretamente à SEPLANTUR. O COMMAMDAS tem caráter normativo, consultivo, deliberativo, fiscalizador e não paritário – maioria do poder público. Participa na deliberação de licenças de grande e de excepcional porte. Reuni-se ordinariamente 01 vez por mês. Participa ativamente. Existem algumas ONGs que atuam informalmente em parceria com o órgão ambiental na defesa ambiental. Fundo instituído, mas os recursos destinados à política ambiental são embutidos no orçamento geral do município.

Não possui órgão ambiental. Existe conselho em lei, mas não está empossado. Possui caráter consultivo, deliberativo e paritário de acordo com a Lei. Existem poucas organizações ambientalistas e a atuação ainda é incipiente. Existe o Fundo instituído em lei, mas nunca foi implementado.

142

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QUADRO 4 – ASPECTOS GERENCIAIS

DADOS

PESQUISADOS

ALAGOINHAS

LAURO DE FREITAS

SOBRADINHO

Capacidade técnica da equipe Caracterização da equipe Capacitação Estrutura Física do órgão ambiental Intersetorialidade –articulaçao dos setores na análise do Licenciamento Interação entre os Instrumentos de gestão.

Equipe técnica habilitada, Multidisciplinar e atuante - Diretor de Agropecuária e Meio Ambiente, 02 Engenheiros Agrônomos, 01 Coordenador de Meio ambiente, 02 Fiscais de Meio Ambiente, Biólogo. Não existe um programa de capacitações e treinamentos, restrito aos ministrados pelos órgãos estaduais. Dotado de boa estrutura física, equipada com mobiliários e equipamento de informática e transporte. licenças realizadas apenas pelo órgão ambiental. Existem outras articulações – Alvarás de construção e funcionamentos de empreendimentos condicionados a licenças ambientais (quando couber), parceria com a vigilância sanitária e inspeções em unidades hospitalares. Ainda não ocorre uma articulação na utilização efetiva dos instrumentos criados a exemplo da agenda 21, PMAS e PDDU na fundamentação do processo de Licenciamento.

Corpo técnico habilitado, Multidisciplinar e atuante - 01 diretor de Meio Ambiente, 03 fiscais de nível médio, 01 biólogo e 01 geólogo. 01 técnico de Educação Ambiental. Não existe um programa de capacitação e treinamentos, restrito aos ministrados pelos órgãos estaduais. Dotado de boa estrutura física, equipada com mobiliários e equipamento de informática e transporte. licenças ambientais realizadas conjuntamente com outros setores e de forma interdisciplinar e institucionalizada. Outras articulações – Alvarás de construção e funcionamentos de empreendimentos condicionados a licenças ambientais (quando couber), parceria com a vigilância sanitária e inspeções em unidades hospitalares. Não foi possível constatar utilização do PDDU na fundamentação do LA. O município ainda não possui outros instrumentos de planejamento como Zoneamento, Agenda 21, dentre outros.

O Secretário de Planejamento, 01 técnica agrícola respondem os contatos do CRA ou de outras instituições. Existem, entretanto, no quadro técnico da Prefeitura Engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas, técnico em zootecnia e agentes da vigilância sanitária. Inexiste atuação técnica na área ambiental. O município dispõe de um quadro técnico suficiente para realizar o Licenciamento Ambiental. Prescinde de capacitações. Não ocorre a Intersetorialidade das questões ambientais com as demais políticas públicas uma vez que não existe um órgão para articular esse mecanismo. Não ocorre aplicação dos instrumentos de ordenamento territorial no município. Não existem outros instrumentos de Planejamento Estratégico de Desenvolvimento.

143

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144

QUADRO 5 - PARTICIPAÇÃO PÚBLICA

DADOS PESQUISADOS

ALAGOINHAS LAURO DE FREITAS SOBRADINHO

Mecanismos de participaçao Educação Ambiental Publicidade dos atos

ONGs ambientalistas, Conselhos, Fóruns de debates, audiências Públicas, Conferências, etc. Ações pontuais – palestras e seminários em unidades escolares. Jornais de circulação no município, murais. Não ficaram evidentes outras de publicidade.

ONGs ambientalistas, Conselho, Fóruns de debates, audiências Públicas, Conferências, etc. Pequenas iniciativas em parceria com outros órgãos – projeto de educação ambiental. Diário Oficial Municipal, murais. As licenças ambientais são publicadas no Diário Oficial do município. Observou-se a distribuição de material educativo dos programas implantados no município.

ONG ambientalista, Conferências Municipais e fóruns de debates e sem conselho constituído. Foi instituída na matriz curricular das escolas públicas estaduais no âmbito local, a disciplina Educação Sócio Ambiental – ESA. Não existem instrumentos formais de divulgação das questões ambientais.

.

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Capítulo 7 DISCUSSÕES

De acordo com os pressupostos adotados na pesquisa, o

Licenciamento Ambiental, da forma como vem ocorrendo nos municípios de

Alagoinhas e Lauro de Freitas caracteriza o compromisso do poder público

para torná-los capazes de gerir o desenvolvimento local. Uma vez que, esses

municípios vêm implementando o Licenciamento Ambiental, internalizando

procedimentos institucionais, processuais, estruturais, gerenciais e de

participação pública, contribuindo assim, para o controle dos impactos

ambientais.

A análise dos aspectos que atuam no Licenciamento Ambiental leva

às seguintes considerações: os documentos construídos nos municípios

contribuem para a sistematização do diagnóstico ambiental. A não aplicação

desses diagnósticos na prática do Licenciamento Ambiental dificulta o

entendimento do significado da intervenção para a definição dos critérios de

exigibilidade. A ausência de critérios próprios de exigibilidade limita a melhoria

da qualidade ambiental e o combate aos riscos ambientais.

Os parâmetros padronizados, a organização do processo e o

empenho dos órgãos ambientais resultam no aprimoramento do desempenho

ambiental, e em decorrência disso, os processos de Licenciamento Ambiental

realizados têm mais credibilidade.

A ausência do Licenciamento caracteriza a dependência plena do

município ao órgão ambiental estadual nas ações voltadas à defesa ambiental.

Ou seja, deixa o município a mercê da atuação dos demais entes federados

para solução dos problemas ambientais locais, caracterizando a dependência

de gestão. O número e a tipologia de licenças emitidas pelo órgão local

demonstram a autonomia de gestão ou a dependência para com o órgão

estadual.

145

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A carência do monitoramento fragiliza o controle dos impactos e

compromete os resultados e o controle da qualidade ambiental. A efetividade no

acompanhamento permite a reorientação das ações, controla os impactos e

melhora os resultados e a qualidade ambiental.

O monitoramento e avaliação ainda são etapas do processo que

apresentam diversas limitações. A insuficiência de mecanismos de

acompanhamento, monitoramento e avaliação das ações, leva a uma forte

tendência do processo de Licenciamento Ambiental se limitar a ser um

procedimento cartorial que não apresenta resultados.

A dilatação dos prazos de emissão das licenças contribui para

reduzir a efetividade dos processos e pode comprometer a capacidade de

resolução do órgão ambiental. Já o curto prazo na emissão das licenças atribui

uma boa capacidade de resolução dos processos pelo órgão ambiental e

permite maior efetividade ao Licenciamento. As licenças solicitadas aos órgãos

estaduais podem sofrer atrasos em função da distancia e das dificuldades para

os pequenos empreendedores cumprirem com as exigências no município que

não realiza esses procedimentos.

Quanto aos aspectos institucionais, a carência de instrumentos legais

próprios, fragiliza a análise das licenças, compromete a legitimidade do

processo e a autonomia política, mas não impede a prática do Licenciamento

Ambiental. A Legislação Ambiental local associado às regulamentações

federais e estaduais ampliam a legitimidade do processo e autonomia política.

É premente a necessidade de complementaridade das leis existentes

com regulamentações específicas que definam com detalhes as formas de

arbitrar sobre as questões ambientais, considerando que a ausência dessas

regulamentações limita a atuação do órgão ambiental para exercer o poder de

policia, bem como disciplinar as ações ambientais no âmbito local.

146

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A insuficiência de instrumentos estratégicos de desenvolvimento que

contribuem com o Licenciamento Ambiental, tem ocasionado dentre outros

problemas, o desordenamento na forma de ocupação do solo urbano. A falta

de aplicação desses instrumentos no Licenciamento fragiliza as estratégias de

desenvolvimento local e de ordenamento territorial.

Os órgãos ambientais cumprem com seu papel na coordenação e

gerenciamento da política ambiental. A ausência desse organismo de

coordenação e gerenciamento atribui ao município um vazio institucional na

condução e resolução das questões ambientais.

A insuficiência de mecanismos de pressão que assegure a formação

do conselho, e a falta da participação desses, no Licenciamento Ambiental,

reduz a democratização do processo e a legitimidade das decisões. Neste

sentido, a ausência da sociedade organizada em uma rede de proteção

ambiental contribui para a omissão do Poder público na defesa das questões

ambientais, da mesma forma que a falta de atuação dos órgãos setoriais nos

processos de Licenciamento reforça a centralidade de atuação do poder

público.

Quanto à disponibilidade de recursos financeiros, observou-se que, a

escassez desses enfraquece a autonomia financeira do sistema de gestão na

definição das ações, uma vez que os gestores não definem as prioridades da

sua aplicação nas questões ambientais. A implementação do Fundo poderá ser

mais um passo importante para estruturação do sistema do Licenciamento

Ambiental, em relação à autonomia financeira do órgão gestor.

De um modo geral, a pesquisa retratou que é imprescindível uma

maior preocupação por parte do poder público em relação aos diversos fatores

que contribuem para efetividade do Licenciamento Ambiental nos municípios,

dentre eles a formação de equipes técnicas, com visões em um horizonte plural,

não compatível com visões reducionistas, buscando um nível de capacitação

que satisfaça a demanda da diversidade de processos inerentes às variadas

formas de intervenções.

147

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Obviamente, é condição necessária, a formação de profissionais com

uma visão voltada a temas e conceitos amplos sobre as questões ambientais,

considerando a realidade local, legislação ambiental, estudos e relatórios de

impacto ambiental, planejamento e gerenciamento ambiental, além de controle

de poluição atmosférica, hídrica, sonora e do solo, recuperação e manejo de

recursos naturais, e outros assuntos correlatos. Sem permitir, entretanto, que

essas questões sejam tratadas com uma visão fragmentada e limitada, mas

com uma dinâmica própria dos processos interativos que ocorrem no meio

ambiente.

A organização da estrutura física e logística facilita o atendimento

dos trabalhos e oferece boa capacidade de atendimento a demanda, como

também a carência de estruturas físicas reflete a falta de atuação na gestão

ambiental, consequentemente impossibilita a viabilização da prática do

Licenciamento Ambiental.

A integração entre alguns setores potencializa a Intersetorialidade e

conseqüentemente estimula a transversalidade. Entretanto, observa-se uma

forte tendência a setorialização e fragmentação na condução das ações pelos

diversos setores da administração pública, considerando que a visão unilateral

na análise da licença fragiliza as conclusões.

O controle social, que ocorre por meio da participação pública, é

fortalecido mediante a mobilização e sensibilização dos atores através de

programas efetivos de educação ambiental, os quais encontram-se em

construção e ampliam o processo de informação. Porém as formas de

publicizaçao dos fatos relacionados às questões ambientais ainda são

insuficientes para ampliar a participação publica. E a ausência dessas, ocasiona

a falta de participação da sociedade nas questões ambientais.

O Licenciamento das atividades desenvolvidas nos municípios deve

ser realizado com o conhecimento e validação dos conselhos em face destes

representarem com legitimidade os interesses da maioria, uma vez que devem

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ser formados com representantes dos diversos segmentos envolvidos na

questão ambiental.

Portanto tanto os usuários dos recursos ambientais, no que diz

respeito a sua exploração econômica, quanto aqueles que defendem sua

preservação, representados pelas organizações ambientalistas, como também

o poder público, têm o dever de protegê-lo como um bem difuso e assim

assegurar uma saudável qualidade de vida para todos.

Para a consolidação do Licenciamento Ambiental e o fortalecimento

da participação deve ser construído nos municípios um comitê de caráter

permanente, o qual funcionará como um arquivo vivo de todo o processo, para

que os trabalhos não sofram descontinuidade e as ações possam ser

reimplantadas de forma que as informações sobrevivam mesmo após a troca de

gestões administrativas ou substituições de técnicos e conselheiros.

Para tanto, é preciso disseminar mais, a consciência ético-cidadã na

sociedade, que desperte o seu papel de co-responsabilidade no controle das

ações. Por essa razão, é necessário implantar mecanismos de informações

suficientes, que possam proporcionar um nível de conhecimento no que diz

respeito ao aparato legal, institucional e político, para que a sociedade participe

ativamente das políticas ambientais.

O Licenciamento Ambiental prescinde da observância positiva das

Leis, normas e regulamentos estabelecidos pelas diversas instancias de poder.

De forma a estabelecer uma retro-alimentação dos fatores institucionais,

procedimentais, gerenciais e de participação pública no processo, para que os

resultados sejam garantidos.

A figura apresentada abaixo reflete a forma como o Licenciamento

Ambiental tem ocorrido no campo de atuação do estudo, ao tempo que

caracteriza que a medida que os fatores interagem entre si, amplia a

perspectiva da efetividade do Licenciamento nos municípios.

149

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CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS EM FUNÇÃO DA INTERAÇAO DOS ASPECTOS

PESQUISADOS

L F

AL

SOB

AL: Alagoinhas

SOB: Sobradinho

LF: Lauro de Freitas

Figura 04

È necessário, portanto, o comprometimento dos dirigentes a partir

da vontade política, para que se estabeleça um processo proativo em que as

informações, as normas, e as praticas estejam entrelaçadas formando um novo

paradigma.

O processo de municipalização do Licenciamento Ambiental deve

cumprir com o dever de combater a lógica da habilitação e da hierarquização de

competência dos entes federados na defesa e proteção do meio ambiente.

Esse processo deve ocorrer de forma integrada e sistêmica, compatibilizando a

capacidade de cada um, para que de modo horizontal todos cumpram com o

seu papel. Reforçar a necessidade de efetiva descentralização do

Licenciamento para a verdadeira implementação do pacto federativo por meio

da regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal, ainda é o grande

desafio.

150

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Capítulo 8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As análises apresentadas neste trabalho sobre o processo de

Licenciamento Ambiental nos municípios de Alagoinhas e Lauro de Freitas,

como também, a avaliação das questões ambientais de Sobradinho levam as

seguintes conclusões:

O processo de Licenciamento Ambiental em Alagoinhas e Lauro de

Freitas retrata o compromisso do poder público em estabelecer a capacidade

de gerir o desenvolvimento local. Para tanto, esses municípios vêm

internalizando procedimentos institucionais, procedimentais, estruturais,

gerenciais e de participação pública, que contribuem com a efetividade do

processo, para a proteção e controle dos impactos ambientais. Entretanto

algumas questões precisam ser solucionadas.

Os resultados da avaliação dos aspectos procedimentais revelaram

que ausência de mecanismos voltados à caracterização da realidade ambiental

local nos dois municípios dificulta a análise do processo. Alagoinhas avançou

mais na construção de planos estratégicos de desenvolvimento que podem

contribuir para o conhecimento da realidade local, mas ainda não os aplicam

no Licenciamento Ambiental.

O roteiro dos procedimentos utilizados por esses municípios,

padronizados pelo CRA caracteriza limitação na definição de sistemas

próprios, que considerem suas especificidades locais. Por outro lado, essa

padronização do roteiro adotada, denota um nível de organização do órgão

local e a busca do aprimoramento do desempenho ambiental.

Lauro de Freitas, por ser um município que licencia plenamente,

apresenta um nível de autonomia maior em relação à Alagoinhas quanto à

tipologia das licenças ambientais realizadas. Pois o órgão ambiental de

151

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Alagoinhas ainda depende do órgão estadual para licenciar atividades mais

complexas.

Quanto ao acompanhamento e monitoramento dos processos, pôde-

se observar que Lauro de Freitas está mais avançado na definição dos

procedimentos de monitoramento em relação à Alagoinhas que ainda aguarda a

contribuição do órgão estadual para a definição dos seus parâmetros.

Em relação aos aspectos institucionais, em Alagoinhas existe uma

lacuna no sistema legal, considerando que o município prescinde de leis e

outras regulamentações próprias, enquanto que Lauro de Freitas atingiu maior

autonomia no trato das questões legais. Entretanto essas leis também carecem

de algumas regulamentações. Pois essa ausência fragiliza o poder de policia do

órgão ambiental.

O sistema Municipal de Meio Ambiente nos dois municípios

analisados apresenta um razoável nível de organização para o gerenciamento e

coordenação das ações mediante a criação e estruturação dos órgãos

ambientais, os quais vêm cumprindo com o papel dentro das atribuições

estabelecidas.

O Conselho Municipal de Meio Ambiente de Alagoinhas evidencia

uma fragilidade em seu nível participação no Licenciamento Ambiental,

enquanto que a participação do Conselho de Meio Ambiente de Lauro de

Freitas tem sido mais efetiva nos processos de Licenciamento Ambiental,

atribuindo um caráter mais democrático e maior legitimidade das decisões.

A escassez de recursos financeiros destinados ao Fundo de Meio

Ambiente nos dois municípios denota a fragilidade financeira dos órgãos

Ambientais e os gestores não possuem autonomia na definição das prioridades

para a aplicação dos recursos. Entretanto Alagoinhas tem avançado iniciando a

destinação dos recursos de taxas e multas no fundo.

152

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Em relação aos aspectos gerenciais, os municípios de Lauro de

Freitas e Alagoinhas possuem equipes técnicas multidisciplinares que atendem

satisfatoriamente as demandas, necessitando, no entanto, de um programa

efetivo de capacitação técnica. Entretanto, o compromisso, o desempenho da

equipe técnica e a busca por informações que fundamentem os processos

retratam a responsabilidade com o trabalho nos dois municípios.

Em Lauro de Freitas as licenças ambientais são realizadas de forma

intersetorial entre os diversos órgãos da SEPLANTUR. Entretanto em

Alagoinhas não foi implantado ainda a intersetorialidade no processo de análise

das licenças.

Por outro lado, a articulação entre os setores nos dois municípios,

para estabelecer o condicionamento entre as licenças ambientais e alvarás de

construção e funcionamento é um fator favorável à implementação e

fortalecimento da transversalidade nas políticas públicas.

Quanto à participação pública em Alagoinhas, verificou-se que foram

estabelecidos importantes mecanismos de controle social em outros processos

de mobilização da sociedade, com restrições, entretanto, em relação à

participação nos procedimentos das licenças ambientais. Já em Lauro de

Freitas, esse aspecto caracterizou-se como um ponto positivo do

Licenciamento.

A implantação de programas de educação ambiental encontra-se

ainda fragilizada nos dois municípios, pois se restringe a ações pontuais que

ainda não se traduzem em ações que assegurem concretamente a ampliação

no nível de conhecimento da sociedade para a atuação efetiva nas questões

ambientais.

Os dados apresentados pela pesquisa retratam em alguns

aspectos, uma maior organização do Licenciamento Ambiental em Lauro de

Freitas. Esse fato ocorre em função de Lauro de Freitas já vir atuando a mais

tempo na gestão ambiental. Ficou caracterizado também que houve maior

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acompanhamento por parte do CRA a esse município, além do direcionamento

de maior capital técnico e político no período da implantação do órgão

ambiental.

No entanto, de um modo geral, existe no contexto do Licenciamento

Ambiental dos dois municípios um somatório de fatores que direcionam

favoravelmente o processo, e de forma integrada contribuem para a efetividade

do Licenciamento Ambiental nessas localidades

Em relação a Sobradinho, a pesquisa retrata uma grande

controvérsia quanto ao papel do poder público na condução das questões

ambientais, com características bastante diferenciadas quando comparado à

Alagoinhas e Lauro de Freitas.

Diferentemente de Lauro de Freitas e Alagoinhas, o município não

realiza o processo de Licenciamento Ambiental - Inexistem critérios de

exigibilidade e padrões de qualidade ambiental em função da ausência da

gestão ambiental.

A ausência da prática do Licenciamento Ambiental em Sobradinho

atribui ao município uma imensurável lacuna em relação à atuação do Poder

Local, ocasionando uma total dependência ao órgão estadual para o

Licenciamento de ações e atividades causadoras de impacto ambiental.

Em relação aos aspectos institucionais, constatou-se que apesar do

município possuir um rico acervo de leis ambientais caracterizado por

importantes determinações legais, a existência desses instrumentos não foi

determinante para fazer com que o poder público viesse a cumprir com o seu

papel de proteção e defesa do meio ambiente, e dessa forma exercer o

Licenciamento Ambiental.

Verificou-se também que a inexistência do órgão Ambiental em

Sobradinho constitui-se em um dos principais fatores que acarretam o

impedimento da prática do Licenciamento Ambiental. A ausência marcante de

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um organismo de coordenação e gerenciamento gera um vazio institucional na

condução e resolução das questões ambientais. Uma vez que mesmo sendo

um local com limitados investimentos em sua economia, a falta do

Licenciamento acarreta dificuldades para os pequenos empreendedores, ao

tempo em que as questões que demandam a atuação da gestão ambiental

ficam a revelia do poder público.

Apesar da Prefeitura Municipal de Sobradinho ser dotada de uma

razoável equipe técnica, é fortemente caracterizado a ausência da atuação

técnica na área ambiental. Esse aspecto tem dificultado o direcionamento do

município para o desenvolvimento sustentável local.

A inexistência do Conselho Municipal de Meio Ambiente, muito tem

contribuído para falta de atuação do poder público, visto que a sociedade

organizada exerce uma forte influência sobre as instituições governamentais

para que essas venham cumprir com as suas obrigações de assegurar á

sociedade o direito ao meio ambiente equilibrado.

As ações desintegradas entre os diversos setores caracterizam a

falta de Intersetorialidade das questões ambientais com as diversas políticas

públicas, uma vez que não existe um órgão articulador desse mecanismo.

Observa-se uma forte tendência à setorialização e fragmentação na condução

das ações pelos diversos setores da administração pública.

Nesse sentido, Sobradinho, diferentemente de Alagoinhas e Lauro de

Freitas, caracteriza-se pela ausência do poder público nas ações em defesa e

proteção ao meio ambiente em sua esfera de atuação. Ou seja, os diversos

aspectos do Licenciamento Ambiental analisados pela pesquisa evidenciaram

realidades antagônicas entre Sobradinho e os dois outros municípios

estudados.

Considerando todo aparato legal, o quadro de técnicos e a realidade

ambiental dos demais municípios estudados, o sistema de Licenciamento

Ambiental nesse município seria muito bem viabilizado a partir da capacidade

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de mobilização da sociedade e da iniciativa privada, aliados à atuação do

ministério público para atuarem como mecanismos de tensão e fazer com que o

Poder público exerça seu papel na defesa do meio ambiente.

Em face da ineficácia das Leis municipais, em detrimento ao

cumprimento das determinações estabelecidas pela Constituição Federal,

impõe-se à coletividade, os prejuízos ocasionados pela falta de aplicação do

Licenciamento Ambiental.

A partir da análise conjunta do resultado da verificação do

processo de Licenciamento e baseado nos pressupostos que norteiam a

efetividade do Licenciamento Ambiental na esfera municipal, conclui-se que os

fundamentos do processo de Licenciamento Ambiental perpassam por um nível

de organização do órgão ambiental, que considere a consolidação dos

seguintes parâmetros:

• Criação de uma base legal fundamentada em uma lei municipal

que defina claramente a política ambiental do município, bem como as

diretrizes para a implantação e execução do Licenciamento Ambiental, que

considere as características intrínsecas a cada territorialidade.

• Regulamentação das Leis ambientais considerando as

especificidades locais.

• Instituição do Fundo Municipal de Meio Ambiente com

regulamentação clara e transparente para a alocação e aplicação de

recursos suficientes para a implementação de políticas de promoção da

defesa ambiental.

• Instituição de conselhos consultivos, deliberativos e normativos,

estabelecendo-se por meio de regimentos, a forma de participação na

deliberação dos processos de Licenciamentos, definindo-se inclusive os

instrumentos que assegurem a sua legitimidade.

• Institucionalização de uma estrutura gerencial e operacional com

atribuições específicas para coordenar a execução do Licenciamento.

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• Formação de equipes técnica - gerenciais efetivas capazes de

atender as demandas da gestão ambiental.

• Definição de procedimentos padronizados, de modo a facilitar os

trâmites no processo de Licenciamento das atividades com potencial de

provocar impactos ambientais.

• Construção de um sistema de informações capaz de viabilizar o

fluxo dessas informações para subsidiar os processos de Licenciamento e

assegurar um nível satisfatório de conhecimento dos fatos ocorridos em

relação às questões ambientais.

• Definição por meio de pesquisas, de uma matriz que defina os

critérios para delimitação dos impactos de âmbito local.

• Retro-alimentação de uma consciência ambiental nos setores

público, privado e social envolvidos no processo.

• Definição e articulação com os parceiros governamentais para

facilitar os fluxos dos procedimentos nos diversos setores envolvidos.

• Criação de um sistema de monitoramento e avaliação eficaz das

atividades submetidas ao Licenciamento Ambiental nas esferas dos

municípios.

Esses fatores deverão atuar como parâmetros referenciais para

implantação e efetividade do Licenciamento Ambiental na esfera municipal. Os

órgãos ambientais locais devem estar aparelhados, politicamente,

institucionalmente, tecnicamente e estruturalmente para exercerem a

competência na defesa do meio ambiente e alcançar os objetivos propostos

pelo desenvolvimento sustentável, tendo-se o Licenciamento Ambiental como

uma bússola deste rumo.

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ANEXOS

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QUADRO DEMONSTRATIVO DE ENTREVISTAS

TECNICO ENTREVISTADO

ÓRGÃO Cargo/ Função MUNICÍPIO DATA

Allan Jones Prefeitura – Secretaria de Planejamento/DGA

Fiscal de Meio Ambiente

Lauro de Freitas

16/04/2006 22/10/2006

Dailson Ramalho Lima

Prefeitura – Secretaria de Agropecuária e Meio Ambiente

Diretor de Meio Ambiente – Eng. Agrônomo / Especialização em gestão Ambiental

Alagoinhas 27/04/2006 16/10/2006 10/05/2007 06/07/2007

Daiane Maltez Prefeitura – Secretaria de Agropecuária e Meio Ambiente

Engª. Agrônoma Alagoinhas 16/102006 10/05/2007 11/06/2007 04/07/2007

Edmundo Ramos Pereira

SEMARH – Superintendência de Políticas e Desenvolvimento Sustentável

Coordenador de Políticas e Desenvolvimento Sustentável

Salvador 31/01/2006 26/04/2006.

Josane Calina Prefeitura – Secretaria de Planejamento/DGA

Bióloga Lauro de Freitas

22/10/206

Maria Gravina Ogata

SEMARH – Diretoria de Políticas Ambientais

Diretora de Políticas Ambientais / Doutora em Direito Ambiental

Salvador 29/01/2006 18/04/2007

Marcelo Cerqueira

Prefeitura – Secretaria de Planejamento/DGA

Diretor do DGA. 16/07/2006 22/10/2006 05/07/2007

Mário Luiz Berti Torres Sanjuan

SEMARH – Diretoria de Políticas Ambientais

Advogado 26/04/2006 11/10/2006

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QUADRO DEMONSTRATIVO DE PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS

EVENTO ORGÃOS ENVOLVIDOS

REALIZAÇÃO TEMA LOCAL

Curso Sobre Licenciamento Ambiental

CRA e CAR CRA / NEAMA Licenciamento para intervenções em áreas rurais

SALVADOR

Treinamento para Gestores Municipais em Gestão Ambiental

SEMARH, CRA e Prefeituras Municipais

SEMARH / CRA / NEAMA

Municipalização da gestão ambiental

SALVADOR

Seminário de Implantação da Gestão Ambiental em Camaçarí

Conselho Gestor da APA do Litoral Norte, Prefeituras

Prefeitura municipal de Camaçarí, Conselho gestor da APA

Gestão Ambiental e avaliação do Plano de Manejo da APA.

Camaçarí

Reunião de Pactuação da Gestão Ambiental municipal- GAM

Prefeitura Municipal de Juazeiro, Organizações Sociais, Setor Privado

SEMARH, Instituto Manoel Novais

Gestão ambiental e institucionalização do SISMUNA

Juazeiro

Reunião de Pactuação da Gestão Ambiental – GAM

Prefeitura Municipal de Sento-Sé, Conselho, Organizações Sociais, Setor Privado

SEMARH, Instituto Manoel Novais

Gestão ambiental e institucionalização do SISMUNA

Sento-Sé