caracterização dos sistemas deposicionais da formação ... fambrini.pdf · a caracterização...

16
Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/209 Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-65 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação Barbalha, bacia do Araripe, nordeste do Brasil Characterization of the depositional systems of the Barbalha formation, Araripe basin, northeastern Brazil G. L. Fambrini 1* , J. A. B. de Menezes-Filho 2 , P. C. L. Jesuíno 3 , D. da Cunha Silvestre 3 , D. R. de Lemos 4 , V. H. M. Lopes Neumann 1** Recebido em 06/06/2016 / Aceite em 28/03/2017 Disponível online em junho de 2017 / Publicado em dezembro de 2017 © 2016 LNEG Laboratório Nacional de Energia e Geologia IP Resumo: A Formação Barbalha (Aptiano) caracteriza o registro sedimentar inicial da fase Pós-Rifte da Bacia do Araripe, sendo constituída predominantemente por facies arenosas com intercalações de argilitos avermelhados e amarelados com níveis delgados de conglomerados e folhelhos pretos pirobetuminosos. Este trabalho objetiva a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies e de sistemas deposicionais, com destaque para a porção superior da unidade. O estudo propiciou a identificação de duas sequências sedimentares principais: a primeira, representada por associação fluvial de estilo entrançado, constituída por arenitos friáveis, micáceos, alaranjados, com intercalações de folhelhos; a superior, organizada em associação fluvial de facies com contribuição disseminada de pelitos, em estilo anastomosado, como sugerido aqui, formada por arenitos finos de coloração amarelada a cinza e folhelhos acinzentados a pretos lacustres; na base a ocorrência de conglomerados de nova associação fluvial, denotando discordância erosiva. Nesta sequência, ocorrem ainda arenitos finos com feições de deformação e fluidização por carga sedimentar pela progradação deltaica sobre depósitos lacustres. O topo da associação de facies da sequência superior da Formação Barbalha marca a entrada de corpos arenosos em lagos formado deltas lacustres, de ocorrência subordinada, limitando-se apenas à porção superior da segunda sequência, próximo ao limite com a Formação Crato, sobreposta. Na parte superior da primeira sequência ocorre uma camada lutítico-carbonática lacustre denominada de Camadas Batateira, marco estratigráfico de correlação regional. Tal camada compreende folhelhos pretos ricos em matéria orgânica apresentando conteúdo fóssil palinológico atribuído à biozona P-270 do Andar Alagoas. Para o topo da segunda sequência, há a passagem concordante para a Formação Crato, demarcada pela presença de folhelhos esverdeados calcíferos recobertos por folhelhos e calcários laminados lacustres de idade neoaptiana. Palavras-Chave: Bacia do Araripe, Formação Barbalha, facies deposicionais, sistemas fluviais, folhelhos pretos lacustres Abstract: The Aptian Barbalha Formation characterizes the initial sedimentary record of the Post-Rift stage of the Araripe Basin. The formation consists predominantly of sandy facies with reddish and yellowish mudstones intercalated with thin levels of bituminous black shales and lag conglomerates. This work aims the depositional characterization of the unit using the detailed study of facies associations and depositional systems, with emphasis on the upper portion of the unit. The study allowed the identification of two main sedimentary sequences. The lower sequence is represented by a braided fluvial facies association, consisting of micaceous sandstones, crispy, orange coloration, with interbedding shales. The upper sequence is represented by a fluvial association with widespread contribution of pelithic facies, presumably in anastomosed fluvial style, as suggested here, consisting of thin yellowish sandstones and lacustrine ash grey to black shales; at the base there is the occurrence of lag conglomerates of a new fluvial association, denoting erosive unconformity. The top of the facies association of Barbalha Formation upper sequence marks the entrance of sand bodies in lakes (lacustrine deltas), of subordinate occurrence, by limiting only the upper portion of the second sequence, near the boundary with the superimposed Crato Formation. In the upper part of the first sequence occurs a lacustrine pelithic-carbonatic layer deposited under anoxic conditions called Batateira Beds, a stratigraphic mark of regional correlation. This layer comprises rich-organic matter black shales showing palynological fossil content assigned to the P-270 biozona of Alagoas stage. To the top of the second sequence there is a concordant transition to the Crato Formation, demarcated by the presence of greenish shales calciferous that are covered with lacustrine laminated limestones and shales of Neoaptian age. Keywords: Araripe Basin, Barbalha Formation, depositional facies, fluvial systems, lacustrine black shales 1 Departamento de Geologia, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Avenida Acadêmico Hélio Ramos s/n, Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil. 2 ITEP - Pernambuco, Av. Prof Luiz Freire, 700, Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil. 3 Pós-Graduação em Geociências PPGEO-UFPE, Avenida Acadêmico Hélio Ramos s/n, Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil. 4 Mineração Caraíba S/A, Fazenda Caraíba s/n, Distrito de Pilar, Jaguarari, BA, Brasil. ** Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq * Autor correspondente/Corresponding author: [email protected] 1. Introdução A Bacia do Araripe constitui-se na mais completa e complexa das bacias interiores do NE do Brasil (e.g. Brito-Neves, 1990; Assine, 2007). A origem e a evolução geológica da Bacia do Araripe relacionam-se com os eventos tectônicos que resultaram na ruptura e fragmentação do Supercontinente Gondwana e na Artigo original Original article

Upload: trankien

Post on 28-Jan-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/209 Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-65 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X

Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação

Barbalha, bacia do Araripe, nordeste do Brasil

Characterization of the depositional systems of the Barbalha

formation, Araripe basin, northeastern Brazil

G. L. Fambrini

1*, J. A. B. de Menezes-Filho

2, P. C. L. Jesuíno

3, D. da Cunha Silvestre

3,

D. R. de Lemos4, V. H. M. Lopes Neumann

1**

Recebido em 06/06/2016 / Aceite em 28/03/2017

Disponível online em junho de 2017 / Publicado em dezembro de 2017

© 2016 LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia IP

Resumo: A Formação Barbalha (Aptiano) caracteriza o registro

sedimentar inicial da fase Pós-Rifte da Bacia do Araripe, sendo

constituída predominantemente por facies arenosas com intercalações de

argilitos avermelhados e amarelados com níveis delgados de

conglomerados e folhelhos pretos pirobetuminosos. Este trabalho objetiva

a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo

detalhado de associações de facies e de sistemas deposicionais, com

destaque para a porção superior da unidade. O estudo propiciou a

identificação de duas sequências sedimentares principais: a primeira,

representada por associação fluvial de estilo entrançado, constituída por

arenitos friáveis, micáceos, alaranjados, com intercalações de folhelhos; a

superior, organizada em associação fluvial de facies com contribuição

disseminada de pelitos, em estilo anastomosado, como sugerido aqui,

formada por arenitos finos de coloração amarelada a cinza e folhelhos

acinzentados a pretos lacustres; na base há a ocorrência de

conglomerados de nova associação fluvial, denotando discordância

erosiva. Nesta sequência, ocorrem ainda arenitos finos com feições de

deformação e fluidização por carga sedimentar pela progradação deltaica

sobre depósitos lacustres. O topo da associação de facies da sequência

superior da Formação Barbalha marca a entrada de corpos arenosos em

lagos formado deltas lacustres, de ocorrência subordinada, limitando-se

apenas à porção superior da segunda sequência, próximo ao limite com a

Formação Crato, sobreposta. Na parte superior da primeira sequência

ocorre uma camada lutítico-carbonática lacustre denominada de Camadas

Batateira, marco estratigráfico de correlação regional. Tal camada

compreende folhelhos pretos ricos em matéria orgânica apresentando

conteúdo fóssil palinológico atribuído à biozona P-270 do Andar

Alagoas. Para o topo da segunda sequência, há a passagem concordante

para a Formação Crato, demarcada pela presença de folhelhos

esverdeados calcíferos recobertos por folhelhos e calcários laminados

lacustres de idade neoaptiana.

Palavras-Chave: Bacia do Araripe, Formação Barbalha, facies

deposicionais, sistemas fluviais, folhelhos pretos lacustres

Abstract: The Aptian Barbalha Formation characterizes the initial

sedimentary record of the Post-Rift stage of the Araripe Basin. The

formation consists predominantly of sandy facies with reddish and

yellowish mudstones intercalated with thin levels of bituminous black

shales and lag conglomerates. This work aims the depositional

characterization of the unit using the detailed study of facies associations

and depositional systems, with emphasis on the upper portion of the unit.

The study allowed the identification of two main sedimentary sequences.

The lower sequence is represented by a braided fluvial facies association,

consisting of micaceous sandstones, crispy, orange coloration, with

interbedding shales. The upper sequence is represented by a fluvial

association with widespread contribution of pelithic facies, presumably in

anastomosed fluvial style, as suggested here, consisting of thin yellowish

sandstones and lacustrine ash grey to black shales; at the base there is the

occurrence of lag conglomerates of a new fluvial association, denoting

erosive unconformity. The top of the facies association of Barbalha

Formation upper sequence marks the entrance of sand bodies in lakes

(lacustrine deltas), of subordinate occurrence, by limiting only the upper

portion of the second sequence, near the boundary with the superimposed

Crato Formation. In the upper part of the first sequence occurs a

lacustrine pelithic-carbonatic layer deposited under anoxic conditions

called Batateira Beds, a stratigraphic mark of regional correlation. This

layer comprises rich-organic matter black shales showing palynological

fossil content assigned to the P-270 biozona of Alagoas stage. To the top

of the second sequence there is a concordant transition to the Crato

Formation, demarcated by the presence of greenish shales calciferous that

are covered with lacustrine laminated limestones and shales of Neoaptian

age.

Keywords: Araripe Basin, Barbalha Formation, depositional facies,

fluvial systems, lacustrine black shales

1Departamento de Geologia, Centro de Tecnologia e Geociências,

Universidade Federal de Pernambuco, Avenida Acadêmico Hélio Ramos s/n,

Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil. 2ITEP - Pernambuco, Av. Prof Luiz Freire, 700, Cidade Universitária, Recife,

PE, Brasil. 3Pós-Graduação em Geociências PPGEO-UFPE, Avenida Acadêmico Hélio

Ramos s/n, Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil. 4Mineração Caraíba S/A, Fazenda Caraíba s/n, Distrito de Pilar, Jaguarari, BA,

Brasil. **Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq

*Autor correspondente/Corresponding author: [email protected]

1. Introdução

A Bacia do Araripe constitui-se na mais completa e complexa das bacias interiores do NE do Brasil (e.g. Brito-Neves, 1990; Assine, 2007). A origem e a evolução geológica da Bacia do

Araripe relacionam-se com os eventos tectônicos que resultaram na ruptura e fragmentação do Supercontinente Gondwana e na

Artigo original Original article

Page 2: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

52 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

abertura do Oceano Atlântico Sul (Asmus e Ponte, 1973; Ponte e Asmus, 1976, 1978; Ponte e Ponte-Filho, 1996a,b; Matos, 1992, 1999; Garcia et al., 2005; Assine, 2007; Fambrini et al., 2007,

2008, 2009, 2010a, b, c, 2011, 2012, 2013a, b; Scherer et al., 2014, 2015). A Bacia do Araripe apresenta estruturação segundo as direções NE-SW (predominantemente falhas normais) a E-W (predominantemente falhas transcorrentes) e, subordinadamente, NW-SE (falhas transcorrentes e normais), coincidentes com descontinuidades do embasamento pré-cambriano, reaproveitadas para a instalação da bacia (Matos, 1992). O empilhamento sedimentar comporta cinco tectono-sequências deposicionais

redefinidas por Assine (2007) e reformuladas por Fambrini et al. (2010a, 2011) com base nos estudos de bacias rifte de Morley et al. (1992), Morley (1999) e comparações com o modelo de Prosser (1993) e de Almeida et al. (2009) (Fig. 1): (i) Sequência sinéclise, constituída pela Formação Cariri representada por arenitos grosseiros a médios e conglomerados (Fambrini et al., 2010a, b; Batista et al., 2012); (ii) Sequência de início de rifte a clímax de rifte inicial, de idade jurássica superior (Fambrini et

al., 2010a, 2011; Barros et al., 2011), composta pela Formação Brejo Santo e porção inferior da Formação Missão Velha, dispõe-se em horstes e grabens em duas sub-bacias principais separadas pelo alto de Dom Leme: Cariri a leste e Serrolândia a oeste; (iii) Sequência de Clímax de rifte intermédio a clímax de rifte tardio, constituída pela porção superior da Formação Missão Velha e pela Formação Abaiara, com idade neocomiana; (iv) Sequência pós- rifte, separada em duas (Assine, 2007), pós-rifte inferior, de

idade aptiano-albiana, constituída pelas formações Barbalha, Crato, Ipubi e Romualdo, e pós-rifte superior, de idade albo-cenomaniana, caracterizada por sedimentos aluviais e transicionais das formações Araripina e Exu.

A Formação Barbalha tem sido interpretada como sendo produto de duas sequências deposicionais: sistemas fluviais entrançados (entrançados) que passam para lacustre no topo da sequência inferior (folhelhos das Camadas Batateira), tendo-se nova sequência denotada por discordância erosiva acima dos

folhelhos, seguida de sedimentação fluvial e, superiormente, por sedimentação lacustre e deltaica (Ponte e Appi, 1990; Ponte, 1992; Assine, 1992; Neumann, 1999; Neumann e Cabrera, 1999; Castro et al., 2006; Chagas, 2006; Chagas et al., 2007; Assine, 2007; Scherer et al., 2015; Fambrini et al., 2015a, b). A despeito da concordância geral com tal modelo, o sistema fluvial de topo ainda é pouco conhecido e compreendido. No trabalho de Chagas et al. (2007), mais completo até o momento sobre a Formação

Barbalha, os autores não detalharam o estilo fluvial da parte superior da unidade, limitando-se a compará-lo com o da sequência inferior. De outra forma, Scherer et al. (2015) interpretaram a sequência superior como originada por sistemas lacustres e fluviais anastomosados. Como forma de contribuir para a elucidação dessa lacuna, este trabalho pretende discutir o estilo fluvial da Sequência Superior utilizando-se do estudo detalhado das facies e associações de facies, tanto em

afloramentos selecionados, como da descrição das sondagens do Projeto Santana II (Scheid et al., 1978) guardados no DNPM de Recife. A interpretação dos sistemas deposicionais teve como premissa a análise de elementos arquitetônicos em exposições propícias.

A sequência superior da Formação Barbalha, organizada em associação fluvial com contribuição disseminada de facies pelíticas, interpretada como em estilo anastomosado, como

discutido neste trabalho, encerra arenitos finos de coloração amarelada a cinza com diversas estratificações entrecruzadas e feições de deformação e fluidização por carga sedimentar, geradas durante a progradação deltaica de depósitos arenosos sobre substrato lutítico inconsolidado lacustre, além de folhelhos

acinzentados a avermelhados; na base há a ocorrência de conglomerados de nova associação fluvial, denotando discordância erosiva. Deste modo, este trabalho propõe a

reinterpretação e detalhamento da Formação Barbalha, com ênfase na Sequência Superior.

2. Materiais e métodos utilizados

A presente análise dos depósitos aflorantes da Formação Barbalha teve como base o mapeamento geológico 1:50.000 na região do Vale do Cariri, fundamentada na descrição detalhada de mais de 50 afloramentos em seis etapas de trabalhos de campo, além da interpretação geológica de imagens de satélite da EMBRAPA (TM-Landsat 5) e de fotografias aéreas da CPRM (escalas 1:65 000 e 1:40 000), e da descrição e interpretação de

sondagens do Projeto Santana II (Scheid et al., 1978) (Fig. 1). Os trabalhos de mapeamento geológico foram acompanhados

por (i) levantamentos estratigráficos de detalhe, como aferição e confecção de seções colunares segundo método de Selley (2000); (ii) análises de facies sedimentares, de acordo com os conceitos propostos por Walker e James (1992) e Reading (1996); (iii) estabelecimento de litofacies sedimentares segundo a proposição de Miall (1977, 1978, 1996), (iv) análises de elementos

arquitetônicos conforme os conceitos de Miall (1985, 1996, 2000, 2010) e de Miall e Tyler (1991). Também foram utilizados os conceitos sobre modelos de facies para sistemas lacustres de Cohen (1989), Anadon et al. (1991), Talbot e Allen (1996), Bohacs et al. (2000), Cavinato et al. (2002) e Saes e Cabrera (2002), e sistemas fluvio-lacustres de Malka et al. (1999, 2003), Bordy e Catuneanu (2001), Jones et al. (2001) e Scherer et al. (2007). Nesta etapa da pesquisa foram elaborados painéis

fotográficos (fotomosaicos) de acordo com Wisevic (1991) para auxílio na interpretação dos elementos arquitetônicos. A separação em sequências obedeceu aos critérios de Catuneanu (2006).

Figura 1. Mapa geológico simplificado da Bacia do Araripe com a coluna estratigráfica

e a localização dos sítios descritos neste trabalho.

Figure 1. Simplified geological map of the Araripe Basin with the stratigraphic column

and the location of the sites described in this work.

A interpretação dos sistemas deposicionais seguiu a

concepção original de Fisher e McGowen (1967) e foi feita com base no estudo sobre associações de facies de Walker (1992),

Schanley e McCabe (1994), Reading (1996), Selley (2000), Walker (2006) e James e Dalrymple (2010).

A partir da união de todas as informações foi possível realizar o reconhecimento dos padrões de empilhamento e a caracterização das principais associações faciológicas, o que permitiu tecer interpretação a respeito dos sistemas deposicionais

Page 3: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Sistemas deposicionais da Formação Barbalha, Bacia Araripe, NE Brasil 53

e das sequências que contribuíram para a evolução estratigráfica da Formação Barbalha.

3. Formação Barbalha

A Formação Barbalha caracteriza o registro sedimentar inicial da

Sequência Pós-Rifte sendo constituída predominantemente por facies arenosas de coloração amarelo-alaranjada com intercalações de pelitos avermelhados a arroxeados com níveis delgados de conglomerados.

A Formação Barbalha aflora nas encostas da escarpa da Chapada do Araripe, nomeadamente nos arredores da cidade de Crato, em extensa área no entorno da cidade de Barbalha em que recebeu esta denominação por um dos autores que pesquisam a região (Formação Barbalha de Assine, 1992, 2007), a sul e em

volta da Serra da Mãozinha e em pequenas exposições isoladas em ravinas e bancos de cursos d´água nas proximidades da Chapada do Araripe (Fig. 1). A Formação Barbalha faz contato discordante com a Formação Abaiara sotoposta (Fambrini et al., 2015 a, b). O contato superior com a Formação Crato é uma passagem gradual entre litologias pelíticas de ambas unidades, marcada pela presença de calcários laminados típicos da mencionada unidade (Fig. 2).

Duas sequências sedimentares principais constituem a unidade (Ponte e Appi, 1990; Assine, 1992, 2007; Hashimoto et al., 1987; Neumann, 1999; Chagas, 2006; Chagas et al., 2007; Menezes-Filho et al., 2011; Fambrini et al., 2015a, b). Uma sequência basal, representada por associação fluvial, constituída por arenitos friáveis, micáceos, alaranjados, com intercalações de folhelhos, e outra sequência superior, notabilizada por associação fluvio-lacustre-deltaica, constituída por arenitos finos de

coloração amarelada a cinza e folhelhos acinzentados. Na porção intermédia ocorre uma sequência lutítico-carbonática que Hashimoto et al. (1987) denominaram de Camadas Batateira.

A Formação Barbalha compõe-se predominantemente de arenitos com intercalações de folhelhos sílticos avermelhados e amarelados, e de níveis finos de conglomerados. Os arenitos são médios a finos, subarredondados a subangulosos, mal selecionados, argilosos e micáceos, de coloração vermelho-

alaranjada, sobretudo na base, friáveis, por vezes seixosos e/ou contendo feldspatos caulinizados e abundantes bolas de argila (clay-balls) de coloração vermelha a marrom (Ponte e Appi, 1990, Assine, 1992). De entre as estruturas sedimentares presentes destacam-se estratificação entrecruzada, de médio a pequeno porte, tabular ou tangencial na base, feições de corte e preenchimento, bem como crostas ferruginosas (Ponte e Appi,

1990). A seção exibe nítida tendência granodecrescente com níveis pelíticos no topo, cuja assinatura em perfil de raios-gama pode ser observada no intervalo 480 a 722 m do poço 2-AP-l-CE

(Figs. 2 e 3) (Assine, 1992). Tal tendência foi notada por Hashimoto et al. (1987), Ponte (1992), Assine (1992) e, mais recentemente, por Chagas et al. (2007). Estes autores identificaram duas sequências estratigráficas granodecrescentes, cuja inferior finaliza com uma camada de folhelhos pretos pirobetuminosos, a denominada Camadas Batateira (Hashimoto et al., 1987).

Estes sedimentos caracterizam-se como flúvio-lacustres pelas

litologias e estruturas sedimentares, bem como pela ocorrência de fósseis continentais. Em afloramentos no sopé das escarpas da Chapada do Araripe viradas para o Vale do Cariri, ocorrem sequências que constantemente se encerram com intervalo de folhelhos pirobetuminosos pretos, com copiosas laminações carbonáticas algálicas, coprólitos, ostracodes, restos de peixes (Dastilbe elongatus) e fragmentos vegetais carbonizados (Assine, 1992, 2007; Neumann, 1999). A idade obtida a partir da análise

de palinomorfos resultou aptiana superior, Andar Alagoas biozona P-270 (Lima, 1978; Lima e Perinotto, 1984, Hashimoto et al., 1987; Arai et al., 1989; Rios-Netto et al., 2012). Este intervalo, na qual se acha uma camada decimétrica de calcário peloidal e mineralizada em sulfetos, foi denominado de "seqüência plumbífera do Araripe" (Farina, 1974) e de "Camadas Batateira" (Hashimoto et al.,1987).

4. Associações de facies sedimentares

As análises de facies sedimentares e de arquitetura deposicional permitiram o entendimento da distribuição e da evolução dos

litotipos sedimentares da Formação Barbalha, tendo sido realizado o detalhamento dos conjuntos previamente identificados em associações de facies, o reconhecimento de alguns sistemas deposicionais de menor abrangência anteriormente não observados e uma correlação mais clara das transições laterais dos sistemas deposicionais. A tabela 1 sintetiza as principais facies sedimentares encontradas na unidade, aqui separadas em duas sequências deposicionais. A análise de facies

implementada para a Formação Barbalha foi descrita minuciosamente e interpretada em Fambrini et al. (2015a, b). Sob o ponto de vista paleodeposicional a Formação Barbalha exibe diversas facies e associações de facies que representam os respectivos processos sedimentares, complementados pelo conteúdo paleontológico.

Figura 2. Correlação entre os perfis

estratigráficos verticais das sondagens

estratigráficas 2-AP-1-CE (Araripe

Estratigráfico) e 4-BO-1-PE (Bodocó).

Notar perfis de raios-gama, limites

discordantes entre unidades e sequências e

a presença de datum nas Camadas

Batateira. Modificado de Fambrini et al.

(2013b).

Figure 2. Correlation between the vertical

stratigraphic logs of the stratigraphic wells

2-AP-1-CE (Araripe Stratigraphic) and 4-

BO-1-PE (Bodocó). Notice gamma-ray

logs, unconformity boundaries between

units and sequences and the presence of a

datum in the Batateira Layers. Modified

after Fambrini et al. (2013b).

Page 4: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

54 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

4.1. Associação de facies de sistema fluvial entrançado

4.1.1. Descrição A sucessão inferior da Formação Barbalha compõe-se

predominantemente de arenitos grosseiros a médios com intercalações de folhelhos sílticos avermelhados e amarelados, e de níveis finos de conglomerados. Na porção basal da sucessão predominam corpos de arenitos muito grosseiros a grosseiros, frequentemente com base dos estratos conglomerática e erosiva, com grãos subarredondados a subangulosos, mal selecionados, argilosos e micáceos, de coloração vermelho-alaranjada a amarelada, sobretudo na base, friáveis, por vezes com seixos e/ou

contendo feldspatos caulinizados e abundantes bolas de argila (clay-balls) de coloração vermelha a marrom, por vezes cinza, normalmente arredondadas a bem arredondadas (Fig. 3). Estes conglomerados estão incluídos nas facies Ca (Conglomerados com Estratificação Cruzada Acanalada), Ci (conglomerado de intraclastos de argilito), Cm (Conglomerados Maciços), Ce (Conglomerados estratificados) e Acg (Arenitos conglomeráticos) (Tab. 1). Estas facies acham-se expostas na

porção inferior da Formação Barbalha, geralmente associada às facies Aa e At e demais facies arenosas. Os pacotes de arenitos são decimétricos, às vezes métricos (40-70 cm a 1,5 m de espessura), e de boa extensão lateral (2-5 m). A geometria é lenticular quando os corpos são canalizados, e mais tabularizada quando a estrutura predominantes seja estratificação plano-paralela (Facies Ap, Alp). Para o topo da sucessão inferior os pacotes de arenitos tornam-se médios a finos, de espessura

menor, com algumas intercalações de argilitos vermelhos e siltitos cinza-esverdeados, laminados a maciços, a despeito das sequências menores se iniciarem sempre com arenitos grosseiros a conglomeráticos. Para o topo os arenitos mostram-se mosqueados e manchados devido à intensa bioturbação que se

processou, evidenciada por vários icnofósseis presentes (Paula-Freitas e Borghi, 2011).

De maneira geral os arenitos desta sucessão apresentam

feições e estruturas sedimentares indicativas de ambiente fluvial (Fig. 4), tais como: camadas amalgamadas sem interface pelítica, sobretudo na porção inferior da sucessão, granulação grosseira; má seleção dos sedimentos; pequenas sequências granodecrescentes; presença de camadas pouco espessas grosseiras com base conglomerática; ocorrência de seixos dispersos subangulosos; truncamentos (diastemas) entre camadas com feixes entrecruzados; bases erosivas e presença de diversas

bolas de argila (clay-balls). De entre as estruturas sedimentares alusivas do sistema fluvial destacam-se estratificações entrecruzadas tabulares, de base reta ou tangencial (Facies At) e estratificações entrecruzadas acanaladas (Facies Aa), truncadas por arenitos médios portando estratificação plano-paralela (Facies Ap) normalmente apresentando bolas de argila arredondadas de coloração cinza distribuídas em meio aos estratos sedimentares (Figs. 5 e 6), sendo sugestivo de ingressões

de canais em pequenas planícies de inundação nas quais a energia de fluxo proporcionaria a remoção de fragmentos pelíticos (Fig. 4). Muitas das litofacies areníticas apresentam intensa bioturbação (alto índice de icnotrama) (Facies Ab). Esta facies é formada pela intensa bioturbação de depósitos arenosos por invertebrados (insetos?). Ocorre disseminada por todo o intervalo e associada às facies areníticas estratificadas (facies At, Ap, Aa), cuja intensidade da bioturbação mascarou as estruturas

hidrodinâmicas.

4.1.2. Interpretação

Os arenitos com estratificação entrecruzada acanalada (Facies Aa) representam depósitos de dunas subaquáticas de crista sinuosa em leitos de canais fluviais de alta energia em regime de fluxo inferior, ao passo que os arenitos com estratificação entrecruzada tabular (Facies At) representam depósitos de barras transversais ou linguóides fluviais, invariavelmente associados com a litofacies Aa.

Conglomerados estratificados (Facies Ce) também caracterizam barras fluviais, mas predominam nos depósitos basais de enchimento de canal. Os conglomerados da Facies Ct são interpretados como depósitos de enchimento de canais fluviais de rios entrançados de alta energia. A Facies Aga, formada por arenitos médios a finos com abundantes feições de preenchimento de superfícies de, desgaste ou corte (cut and fill) por material argiloso, como galhas de argila

(mudstone drapes), clastos argilosos e clastos rip-up (mudstone rip-up clasts), possui abundantes superfícies de desgaste (scour surfaces), e algumas destas superfícies erosivas são delineadas por clastos argilosos (vide Fambrini et al., 2015a b) e por galhas de argila (mudstone drapes), que provavelmente representam a deposição da carga suspensa durante a fase terminal de um evento de sedimentação (Blair, 1987). A presença de galhas e clastos de argila indica que estas feições erosivas não estavam

sempre preenchidas por sedimentos durante o mesmo evento em que foram originadas (Blair, 1987). A preservação de galhas de argila (mudstone drapes) originou-se provavelmente por sedimentação rápida durante evento deposicional subseqüente. A presença localizada de abundantes clastos de argila rip-up (mudstone rip-up clasts) na base de muitos preenchimentos de superfícies de desgaste (scour surfaces) demonstra que a deposição de sedimentos em suspensão era comum, mas que

estes sedimentos (material argiloso) tipicamente foram retrabalhados. Entretanto, as principais litofacies destes depósitos de sistema fluvial entrançado (braided) são os arenitos com estratificação entrecruzada tabular (Facies At) e os arenitos

Figura 3. Exemplo de facies conglomeráticas e arenosas da Formação Barbalha. A)

conglomerado de intraclastos de argilito cinza esverdeado (facies Ci) (ver setas),

sobreposto por arenitos estratificados da facies At; B) facies de Conglomerados

Maciços (Cm) composta por conglomerados de seixos e grânulos de quartzo (ver

setas) demarcando contato entre camadas da facies At; C) facies de arenitos

cascalhentos (Acg) e de arenitos com estratificação entrecruzada tabular da facies At;

D) facies de arenitos com estratificação plano paralela (facies Ap) com seixos

dispersos e clastos rip-up de argila (setas vermelhas), e conglomerados de bolas de

argila cinza-avermelhada de tamanho entre 8-20 cm (facies Cm).

Figure 3. Example of conglomeratic and sandy facies of Barbalha Formation. A)

conglomerate of mudstone greenish grey intraclasts (facies Ci) (see arrows), overlaid

by stratified sandstones of At facies; B) facies of Massive Conglomerates (Cm) made

up of conglomerates of pebbles and granules of quartz (see arrows) establishing

contact between layers of the facies At; C) facies of gravelly sandstones (Acg) and

sandstones with planar cross-stratification of At facies; D) facies of sandstones with

horizontal lamination (Ap facies) with dispersed pebbles and rip-up clasts of clay (red

arrows), and conglomerates of reddish-grey clay balls of size between 8-20 cm (Cm

facies).

Page 5: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Sistemas deposicionais da Formação Barbalha, Bacia Araripe, NE Brasil 55

Figura 5. Vários estratos com diversos tipos de estratificações no arenito do afloramento 04 que fica situado na margem esquerda do Riacho São Francisco. Modificada de

Menezes-Filho (2012).

Figure 5. Several strata with different types of stratifications in the sandstone of outcrop 04 which is situated on the left bank of the San Francisco Stream. Modified after

Menezes-Filho (2012).

Figura 4. Perfis sedimentológicos da Formação Barbalha

levantados nos rios Salamanca e São Francisco. A) seção

colunar composta (adaptada de Chagas, 2006, e deste

trabalho); B e C) seções colunares de detalhe das porções

inferiores da unidade mostrando os depósitos fluviais

entrançados; D) foto que exibe arenitos mal selecionados

com vários sets de estratificações entrecruzadas tabulares e

acanaladas de pequeno e médio porte.

Figure 4. Sedimentologic logs of Barbalha Formation made

in Salamanca and São Francisco rivers. A) composite

columnar section (adapted from Chagas, 2006, and of this

work); B and C) detailed columnar sections of the lower

portions of the unit showing the fluvial braided deposits; D)

photo displaying poorly-sorted with several sets of

sandstones with planar and trough cross-stratifications of

small and medium size.

Page 6: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

56 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

grosseiros a médios com estratificação entrecruzada acanalada de médio e pequeno porte (Facies Aa), com clastos dispondo-se nos estratos frontais das mesmas, realçando-as (Facies Aga) (Figs. 6 e

7). Ocorrem bolsões de concentração de clastos na base das camadas, chegando a conglomerados (depósitos de pavimento - lag). Em todo o pacote dessa unidade predominam amplamente depósitos de dunas subaquáticas sobrepostas, compreendendo as facies Aa e At em camadas lenticulares a tabulares. Uma das particularidades da litofacies Aa destes depósitos é a presença de raros bolsões conglomeráticos. As principais formas de leito

correspondem às dunas com cristas sinuosas (Facies Aa) de pequeno porte (Fig. 7).

Assim, sugere-se para a sequência inferior da Formação Barbalha deposição em canais e barras fluviais mais rasos e, possivelmente, perenes, lateralmente extensos, com menor proporção de planície de inundação, cujo processo de

sedimentação se deu por caráter episódico em claro padrão de rápida diminuição de velocidade dos fluxos. A preservação de galhas de argila (mudstone drapes) originou-se provavelmente

por sedimentação rápida durante evento deposicional subseqüente. O clima deveria ser mais úmido, tendo em vista a abundância de galhas de argila e de estratificações cruzadas, que indicam regime de descarga relativamente constante, além da presença de argila nos arenitos.

4.2 Associação de facies de sistema lacustre

4.2.1. Descrição A análise deposicional implementada para a Formação

Barbalha neste trabalho averiguou a presença de sedimentos pelíticos compostos por argilitos (Facies Arm e Arl) e folhelhos siltosos

Tabela 1. Resumo das litofacies encontradas na Formação Barbalha. Código de litofacies a partir de Miall (1978, 1996) com modificações.

Table 1. Summary of lithofacies found in the Barbalha Formation. Lithofacies codes from Miall (1978, 1996) with modifications.

Código Litofacies Estruturas Sedimentares

Cm conglomerados maciços ou grosseiramente acamadados,polimíticos

maciça, por vezes raro acamadamento horizontal

Ca conglomerados oligomíticos finos, sustentados por clastos, estratificados

estratificação cruzada do tipo acanalado de pequeno porte, camadas decimétricas

Ce conglomerados estratificados, localmente com diversas bolas de argila

estratificação plano-paralela incipiente, ou por vezes com seixos imbricados

Ci conglomerado composto por intraclastos arredondados de argilito vermelho e cinza esverdeados, raramente angulosos

comumente maciços, por vezes raro acamadamento horizontal

Acg arenitos grosseiros a médios, conglomeráticos estratificações cruzadas acanaladas, estratificação plano-paralela, maciços

At arenitos médios a muito grosseiros, por vezes com seixos

estratificações cruzadas tabulares de pequeno e médio porte

Aa arenitos grossos a finos, micáceos, argilosos estratificações cruzadas acanaladas de médio e pequeno porte, solitárias ou agrupadas

Al arenitos muito finos a finos, bem selecionados, muito micáceos

laminações cruzadas, marcas de ondulação assimétrica

Ap (Alp)

arenitos finos a muito finos a muito grosseiros, podendo conter seixos pequenos e bolas de argila

estratificação plano-paralela (Ap), por vezes laminação horizontal (Alp)

Am arenitos médios a finos, esporadicamente grossos, com seixos esparsos, mal selecionados, com intraclastos de argila

estrutura maciça

Ac

arenitos finos a muito finos, sílticos, tabulares, bem estratificados, intercalados com horizontes pelíticos

laminações cruzadas cavalgantes e com laminação plano-paralela

Ab arenitos médios a finos, coloração cinza, bioturbados, micáceos, mosqueados

alto índice de icnotrama que mascara as estruturas, deixando aparentemente maciço

Ad

arenitos médios a finos, com estruturas de fluidização e de carga, associadas a dobras convolutas

estruturas de deformação como laminações convolutas, laminações contorcidas e estruturas de escape de fluido

Ao arenitos ondulados ondulações nas camadas de arenito Aga Arenitos com abundantes galhas e clastos de argila

(mudstonedrapes) presença de galhas e clastos de argila nos arenitos

Sl Siltitos argilosos finamente laminados laminação muito evidente

Arl argilitos vermelhos a castanho-avermelhados laminados laminação plano-paralela evidente

Arm argilitos cinza-amarronzados estrutura maciça

Fn folhelho nodular em camadas muito finas a finas de nódulos carbonáticos amalgamados e de folhelho papiráceo de cor preta

acamadamento nodular

Fl folhelhos verdes calcíferos laminação muito evidente

Fp folhelho muito físsil (papiráceo), de coloração cinza escura a preta, abundante presença de ostracodes, tornando-o

calcífero.

laminação muito evidente a estrutura maciça

Fo folhelhos sílticos vermelhos laminação fina, ondulações de pequena amplitude, nódulos de argila e manganês

Cp

Calcário peloidal de coloração cinza clara, formada por peloides submilimétricos a milimétricos, irregulares entre lâminas orgânicas

laminação fina denotada pelos peloides interlaminados com filmes orgânicos

Cal calcário laminado de coloração creme, por vezes cinza laminação horizontal, filmes orgânicos e interestratificação com folhelhos cinza escuro a pretos

Page 7: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Sistemas deposicionais da Formação Barbalha, Bacia Araripe, NE Brasil 57

Figura 6. Detalhe dos arenitos com estratificações entrecruzadas tabulares com clastos

argilosos nos estratos frontais e matéria orgânica na base dos estratos. Afloramento 05

situado na margem direita do Riacho São Francisco.

Figure 6. Detail of sandstones with planar cross-stratifications with clay clasts in forests

and organic matter on the basis of strata. Outcrop 05 situated on the right bank of the

San Francisco stream.

Figura 7. Estratos com diversos tipos de estratificações entrecruzadas dos tipos tabular

e acanalado nos arenitos da Sequência Inferior da Formação Barbalha. Afloramento 05

situado na margem direita do Riacho São Francisco.

Figure 7. Strata with different types of planar and trough cross-stratifications in the

Lower String in sandstones of the Lower Sequence of Barbalha Formation. Outcrop 05

situated on the right bank of the San Francisco stream.

vermelhos (Facies Fo), que representam depósitos de ambiente

lacustre oxidado, provavelmente em nível raso, enquanto que folhelhos verdes e cinza escuros a pretos pirobetuminosos (Facies Fp, Fn, Fl) e calcários peloidais (Facies Cp) e laminados (Facies Cal) representam deposição em ambiente lacustre mais profundo, com condições redutoras (Fig. 8). Estas facies possuem como mecanismo de deposição principal suspensão em ambiente subaquoso calmo. A facies de folhelhos cinza escuros a pretos pirobetuminosos (Fp) apresenta considerável quantidade de

ostracodes, o que a torna calcífera. Esta foi interpretada como resultante da decantação de argila em ambiente subaquoso redutor, com eventos de precipitação de carbonato e bioturbação. Esta facies é inserida nas Camadas Batateira (Fig. 8). A Facies de Folhelhos Nodulares (Fn) sobressai-se pela interlaminação de nódulos carbonáticos coalescentes/amalgamados e de folhelho papiráceo de cor preta (rico em matéria orgânica e em valvas de ostracodes), pirobetuminoso, em acamadamento nodular. O processo deposicional interpretado para esta facies foi a

acumulação autóctone/parautóctone de ostracodes sobre esteiras microbianas, micritizadas ou recristalizadas, ainda sob influência microbiana (microbialitos), associados a coprólitos. O calcário peloidal (Facies Cp) foi denominado de "Seqüência Plumbífera do Araripe" (Farina, 1974) e de "Camadas Batateira" (Hashimoto et al.,1987). A Facies de Calcário Peloidal (Cp) (Fig. 9) apresenta peloides submilimétricos a milimétricos de coloração clara subesféricos a prolatos, irregulares, por vezes amalgamados,

internamente compostos por cianobactérias cocoides calcificadas, separadas por lâminas e filmes orgânicos (Paula-Freitas, 2010). Interpretou-se como processo deposicional a precipitação de

carbonato de cálcio em esteiras microbianas (cianobacterianas), definindo-os como microbialitos carbonáticos. Esta facies representa a facies típica das “Camadas Batateira” de Hashimoto et al. (1987), importante marcador estratigráfico da bacia, inserido na Formação Barbalha.

Figura 8. Facies de folhelhos cinza escuros argilosos das Camadas Batateira associados

a depósitos lacustres ricos em matéria orgânica. Afloramento 17 situado no trecho

intermédio do Rio da Batateira.

Figure 8. Dark grey clay shales facies of the Batateira Layers associated with lacustrine

deposits rich in organic matter. Outcrop 17 situated in the intermediate stretch of the

Batateira river.

4.2.2. Interpretação

Este sistema lacustre pode ser definido como uma relação de facies essencialmente pelítica rasa representada por camadas de folhelhos siltosos vermelhos e argilitos (Facies Fo, Arm e Arl), e outra relação de facies lacustre mais profunda com atividade

biológica microbiana associada à formação de peloides e nódulos carbonáticos (Facies Fp, Fn, Fl e Cp). Conforme Paula-Freitas (2010) as relações de facies estão associadas com variações climáticas de alta frequência, no caso, representada por eventos de aridização, sem evidências de exposição subaérea.

O paleoambiente deposicional desta associação de facies ocorreu em ambiente continental (lacustre), sob condições predominantemente de anoxia, pela presença de folhelhos pretos

betuminosos (Fig. 8). Essa afirmação é avigorada pelo conteúdo fossilífero observado nos folhelhos, onde se verificou a presença de coprólitos, restos de peixes de ambiente fluvio-lacustre (Dastilbe elongatus), fragmentos de vegetais carbonizados e palinomorfos (Assine, 2007; Chagas et al., 2007), além de ostracodes não marinhos (Tomé, 2011). Segundo a classificação de Bohacs et al. (2000) esta associação de facies representaria os tipos de lagos fechado (facies profundas) e intermitente (facies

rasas) (underfilled e balanced-fill). Lima e Perinotto (1984) verificaram através de estudos

palinológicos nos sedimentos coletados nas Camadas Batateira que o clima era quente e seco (semi-árido) no período de sua deposição. Tal conclusão foi tirada com base nos grupos vegetais descritos nas amostras investigadas nas quais os seguintes fósseis estavam contidos, bons indicadores climáticos: Cheirolepidiaceae, Cycadaseae, Schizeaceae e Ephedraceae e

Araucariaceae. A presença do sistema lacustre na porção intermédia da

Formação Barbalha traduz importante marcador estratigráfico de correlação regional para a Bacia do Araripe, quiçá para as demais relacionadas (e.g. bacias de Tucano e de Jatobá), como sugerido por Varejão et al. (2016).

4.3. Associação de Facies de Sistema Fluvial Anastomosado

4.3.1. Descrição

A associação de facies da sucessão superior da Formação Barbalha registra a presença de outra sucessão fluvial. Esta

Page 8: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

58 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

Figura 9. Facies das Camadas Batateira nas sondagens do Projeto Santana II. A e B)

Facies Sl, poço IPS-02-CE, caixa 05; C) Facies Fn, poço IPS-10-CE, caixa 09; D)

Facies Fn, poço IPS-14-CE, caixa 09; E) Facies Fn, e facies Bcal, poço IPS-14-CE, F)

Folhelho cinza escuro com níveis de sulfetos esverdeados poço IPS-10-CE, caixa 15.

Figure 9. Facies of the Batateira Layers in the wells of Santana II Project. A and B) Sl

Facies, well IPS-02-CE, box 05; C) Fn Facies, well IPS-10-CE box 09; D) Fn Facies,

well IPS-14-CE box 09; E) Fn and Bcal facies, well IPS-14-CE, F) dark grey shale

with greenish sulfides levels, well IPS-10-CE, box 15.

associação é constituída na base por camada de conglomerado em discordância erosiva sobre os folhelhos pretos pirobetuminosos das Camadas Batateira. Estes conglomerados (Facies Cm) são polimíticos, com clastos de rochas ígneas e metamórficas

(quartzitos), além de quartzo branco, cinza e de veio, com espessura decimétrica (0,4-1 m), frequentemente maciços, e passam gradativamente para arenitos cascalhentos da Facies Acg bem como para arenitos com estratificação entrecruzada acanalada (Facies Aa) e tabular (Facies At). Os arenitos conglomeráticos (Facies Acg) são grosseiros, com fragmentos da granulometria seixo, também polimíticos mas com composição mais quartzosa, maciços a estratificados (estratificação

entrecruzada acanalada). A facies At de arenitos argilosos grosseiros, mal selecionados, localmente níveis conglomeráticos

de espessura decimétrica com seixos de quartzo e quartzito, bem arredondados, apresentando todo o conjunto estratificação entrecruzada tabular decimétrica e espessura métrica, gradua na

base para a facies anterior de conglomerados maciços, representando prováveis depósitos de barras.

Os arenitos passam, então, para médios a finos, argilosos, mal selecionados, com estratificações entrecruzadas acanaladas centimétricas a decimétricas (pequeno porte), gradam lateralmente para as facies Cm, Aa, Ac e At do conjunto anterior, constituindo-se nos depósitos de dunas subaquosas de cristas sinuosas em canal fluvial. Este conjunto de arenitos médios a

finos apresentam intercalações de pelitos (siltitos, argilitos e folhelhos) que se tornam cada vez mais pronunciadas em direção ao topo da sucessão. Os pelitos são formados por litofacies de siltitos argilosos finamente laminados (Facies Sl), argilitos laminados (Facies Arl) e argilitos maciços da Facies Arm. As litofacies de Siltitos argilosos finamente laminados e Arenitos finos laminados são compostas por interestratificações de arenitos finos a muito finos bem laminados e siltitos, de

coloração cinza, de espessura métrica (Fig. 10). O conjunto de camadas é de espessura métrica. Laminações com detritos vegetais, mica, bem como bioturbações dispersas ocorrem. Estas bioturbações estão englobadas na Facies Ab de arenitos finos a médios, bioturbados, mosqueados (alto índice de icnotrama), micáceos, com intraclastos milimétricos e coloração cinza. Esta facies é formada pela intensa bioturbação de depósitos arenosos por invertebrados (insetos?).

A Facies Sl constitui depósitos distais de planície de inundação provocados pela ação de correntes subaquáticas predominantemente em regime de fluxo inferior. Os argilitos laminados (Facies Arl) e os argilitos maciços da Facies Arm possuem espessuras decimétricas e relativa extensão lateral. Apresentam gretas de contração. Geralmente estes argilitos são síltíticos, vermelhos a vermelho-acastanhados (Fig. 10), maciços ou finamente laminados. Por vezes, horizontes de calcrete esbranquiçado podem aparecer intercalados acompanhando a

laminação da rocha (Fig. 10). Outra facies presente nesta associação fluvial é a facies de arenitos conglomeráticos, com abundante matriz argilosa, granodecrescentes para siltitos e argilitos, em camadas de espessura métrica dispostas segundo estratificações sigmoidais métricas, com laminações entrecruzadas cavalgantes na porção distal destas. A facies de arenitos de granulação média a grosseira, graduando para o topo para sedimentos progressivamente mais finos, até siltitos e

argilitos, com estruturas gradacionais normais, rítmicas, estratificações plano-paralelas de espessura centimétrica a decimétrica e grande persistência lateral, contendo ainda nas porções arenosas de granulação fina e estruturas do tipo laminações entrecruzadas cavalgantes (climbing ripples), representariam prováveis depósitos de crevasse splay.

Figura 10. Facies fluviais de rios anastomosados. Argilitos da facies Arl entremeados

com arenitos. Rio da Batateira.

Figure 10. Fluvial facies of anastomosing rivers. Mudstones of the Arl facies

interspersed with sandstone. Rio da Batateira section.

Page 9: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Sistemas deposicionais da Formação Barbalha, Bacia Araripe, NE Brasil 59

4.3.2. Interpretação

As litofacies descritas acima acham-se organizadas em sequências granodecrescentes, com preponderância das facies Aa

e At, atribuídas à migração de formas de leito com cristas sinuosas e retas, respectivamente, além de conglomerados da facies Cm, que registraria a presença de depósitos de pavimento (lag) no fundo dos canais. Em afloramento esta geometria acrecionária é visível sob a forma de superfícies de acamadamento em grande escala, suavemente inclinadas (Miall, 2010). Esta associação está sendo reinterpretada como originária da atividade de rios anastomosados.

A facies de conglomerados (Cm) ocupa posição basal no sistema e representa a fase de instalação de novo canal fluvial, inicialmente em condições de energia alta a moderada. A facies (Facies At) de arenitos argilosos grosseiros, localmente cascalhentos, apresentando todo o conjunto estratificação entrecruzada tabular decimétrica e espessura métrica, graduada na base da facies anterior de conglomerados maciços, representa prováveis depósitos de barras de canais. A facies de arenitos

médios a finos, argilosos, portando estratificações entrecruzadas acanaladas de pequeno porte, associados com as facies Cm, Aa e At do conjunto anterior, constituem-se em depósitos de dunas subaquosas de cristas sinuosas em canal fluvial (depósitos de canais). A facies de siltitos, ora maciços, ora estratificados ou laminados, apresentando no conjunto espessura métrica, pode significar a presença de depósitos de abandono de canal fluvial e/ou transbordamento. A facies de arenitos conglomeráticos, com

abundante matriz argilosa, granodecrescentes para siltitos e argilitos, em camadas de espessura métrica dispostas segundo estratificações sigmoidais métricas, com estruturas como climbing ripples na porção distal destas, estão ligados ao rompimento de diques marginais (crevasse splay), com a brusca colocação de massas consideráveis de sedimentos arenosos em águas mais calmas e rasas de planícies de inundação fluvial (overbank deposits) (Miall, 1996, 2010). A forma desses corpos lembraria a das ondas-de-areia (sandwaves), ao passo que as

estruturas sigmóides internas representariam o perfil de equilíbrio da massa de sedimentos com a abrupta quebra da energia de transporte. A facies de arenitos de granulação média a grosseira, graduando para o topo para sedimentos progressivamente mais finos, até siltitos e argilitos, caracteriza prováveis depósitos de rompimento de diques marginais (crevasse splay) (Fig. 12).

Essa distribuição vertical das camadas de arenitos estratificados horizontalmente para arenitos com laminações

entrecruzadas cavalgantes (climbing ripples) representa o desenvolvimento de um evento deposicional único, assinalado por progressiva diminuição da velocidade do fluxo de corrente (fluxo minguante). Os argilitos laminados (Facies Arl) e os argilitos maciços da Facies Arm compreendem os depósitos da planície de inundação do sistema fluvial com exposição sub-aérea prlongada, atestada pelos desenvolvimento de calcretes.

Esta associação de fácies está aqui sendo reintepretrada como

sistema fluvial anastomosado. Os canais anastomosados desta associação são dominados por

estruturas formadas sob regime de fluxo inferior, indicando que os canais fluviais originaram-se a partir de fluxos perenes (Miall, 1981, 1996, 2010; Allen et al., 2013). Quando a energia do sistema diminui, perdendo a competência de transporte de sedimentos, a sequência mostra pacotes arenosos ligeiramente mais finos, graduando para sequências com mais influência de

lama (silte e argila) que se tornam dominantes (espessos) no topo da Formação Barbalha. A esta configuração entende-se como um sistema fluvial anastomosado onde vastas planícies de inundação são afogadas por eventos de cheia no leito do rio construindo pequenos lagos onde se depositaram os pacotes lamosos

(depósitos de crevasse splay). A presença de gretas de contração sugere períodos de não-deposição e dessecação entre eventos sucessivos de inundação. Os depósitos de conglomerados

residuais na base (lags) são representados por facies areno-conglomeráticas portando estratificações entrecruzadas acanaladas de médio a grande porte; nesses depósitos são freqüentes a presença de clastos de argila. Neste sistema fluvial os depósitos de extravasamento (crevasse-splay) são caracterizados por extensos e espessos pacotes de siltitos e argilitos, além de folhelhos, com a marcante presença de marcas de raízes e gretas de contração (Cant e Walker, 1978; Miall,

1977, 1996, 2010). Esta associação de fácies foi interpretada anteriormente como

gerada por canais fluviais meandrantes por Rojas (2009), Paula-Freitas (2010) e Paula-Freitas e Borghi (2011), além de Fambrini et al. (2015a). No entanto, estes autores não caracterizaram deposicionalmente este sistema. A ausência de superfícies de acreção lateral associada com depósitos de barras em pontal, e o domínio de formas de leito agradacionais que encheram os

corpos de areia, sugerem a presença de canais fixos, ao invés de migração lateral de rios meandrantes sinuosos.

4.4. Associação de facies de sistema deltaico

4.4.1. Descrição

Esta associação é muito subordinada, estando presente apenas na porção superior da segunda sequência, próximo ao limite com a Formação Crato, sobreposta. A associação de facies compreende as litofacies As (Ss - arenitos com estratificações entrecruzadas

estruturas de deformação como laminações convolutas e sigmoidais) e Ad (Sd) composta por arenitos médios a finos com estruturas de fluidização e de sobrecarga (Fig. 13A, B e C), como laminações contorcidas, estruturas de escape de fluidos (flame) e dobras convolutas. Nesta ocorrem também frequentes intraclastos de argila em forma de lascas centimétricas, por vezes alinhadas. Completam o conjunto deltaico as litofacies At (Sp - arenitos com estratificações entrecruzadas tabulares) (Fig. 13D) e Fl (Fl - folhelhos cinza com laminação plano-paralela) de planície de

inundação (elemento FF) (Fig. 13E, F).

4.4.2. Interpretação

A facies Ad (Sd) é formada pela deformação e fluidização por carga sedimentar de depósitos arenosos sobre substrato lutítico inconsolidado das litofacies Fl (Fl - folhelhos cinza com laminação plano-paralela) e Arm de argilitos maciços (Fig. 13). A litofacies As de arenitos com estratificações entrecruzadas deltaicos gerando estruturas de sobrecarga da facies Ad. O

conjunto é interpretado como originado por canais anastomosados (CH) cortando finos de planície de inundação (FF) gerando estruturas de sobrecarga e perfazendo lobos deltaicos. É interpretada como decorrente da ação de correntes subaquáticas densas que provocaram sobrecarga e deformação nas camadas não consolidadas de leito fluvial. O topo da associação de facies da sucessão superior da Formação Barbalha marca a entrada de corpos arenosos em lagos formado deltas

lacustres.

5. Modelos deposicionais e discussão

As sequências Inferior e Superior da Formação Barbalha são separadas por superfície de discordância erosiva, rastreável em toda a área investigada, comprovando período de rebaixamento do nível de base estratigráfico. Essa superfície marca uma mudança no estilo deposicional, de sistema flúvio-lacustre da

Page 10: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

60 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

Figura 11. Facies fluviais da porção superior da Formação Barbalha no perfil do Rio da Batateira. A) facies de argilitos castanho-avermelhados com intercalações de siltitos

esbranquiçados de planície de inundação (elemento FF); B) arenitos intercalados com folhelhos das litofacies Ad (Sd - arenitos com estruturas de deformação como laminações

convolutas), At (Sp - arenitos com estratificações entrecruzadas tabulares), Ao (Sr - arenitos ondulados), Ac (Sc - arenitos finos com laminações entrecruzadas cavalgantes (climbing-

ripples)) e Fl (Fl - folhelhos com laminação plano-paralela). Estas litofacies são interpretadas como canais anastomosados (CH) cortando finos de planície de inundação (elemento

FF). Observar o limite brusco entre os arenitos e os pelitos.

Figure 11. Fluvial facies of the upper portion of the Barbalha Formation in the Rio da Batateira section. A) facies of reddish-brown mudstones with intercalations of whitish siltitos of

floodplain (FF architectural element); B) sandstones intercalated with shales of Ad lithofacies (Sd - sandstones with deformation structures as convolute laminations), At (Sp -

sandstones with planar cross-stratifications), Ao (Sr - wavy sandstones), Ac (Sc - fine sandstones with climbing-ripples cross-laminations, and Fl (Fl - shales with horizontal

lamination). These lithofacies are interpreted as anastomosing channels (CH) cutting floodplain fines (FF element). Observe the sharp limit between sandstones and pelithes.

Figura 12. Facies fluviais anastomosadas e lacustres da

porção superior da Formação Barbalha no perfil do Rio da

Batateira. A) Facies de arenitos intercalados com folhelhos

das facies Ad (Ad - arenitos com estruturas de deformação

como laminações convolutas e contorcidas) e Fl (Fl -

folhelhos cinza com laminação plano-paralela) de planície

de inundação; B) arenitos da Facies At (Sp - arenitos com

estratificações entrecruzadas tabulares); C) detalhe dos

arenitos intercalados com folhelhos das facies Ad (Sd -

arenitos com estruturas de deformação) e Fl (Fl - folhelhos

cinza com laminação plano-paralela); D) detalhe das facies

As At (Ss - arenitos com estratificações entrecruzadas

sigmoidais) e At interpretadas como canais de lobos

deltaicos gerando estruturas de sobrecarga; E) facies de

argilitos vermelhos a castanho-avermelhados laminados

dispostos em camadas centimétricas típicos de depósitos de

planície de inundação de rios anastomosados; F) facies de

folhelhos papiráceos cinza (Facies Fp) escuros lacustres.

Figure 12. Anastomosing and lacustrine facies of the upper

portion of the Barbalha Formation in the Rio da Batateira

section. A) sandstones intercalated with shales of Ad Facies

(Ad - sandstones with deformation structures as convolute

and contorted laminations) and Fl (Fl - grey shales with

horizontal lamination) of floodplain; B) sandstones of the

At Facies (Sp - sandstones with planar cross-

stratifications); C) detail of the sandstones intercalated with

shales of Ad facies (Sd - sandstones with deformation

structures) and Fl (Fl - grey shale with horizontal

lamination); D) detail of As facies (Ss - sandstones with

sigmoidal cross-stratifications) and At facies interpreted as

deltaic channels lobes generating load structures; E) facies

of red to reddish-brown laminated mudstones arranged in

centimetric layers typical of floodplain deposits of

anastomosing rivers; F: facies of lacustrine papyraceous

dark grey shales (Fp Facies).

Page 11: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Sistemas deposicionais da Formação Barbalha, Bacia Araripe, NE Brasil 61

Sequência Inferior, para uma sedimentação eminentemente fluvial-deltaica da Sequência Superior.

Esta mudança no estilo deposicional é acompanhada por

diminuição granulométrica e por mudança no regime fluvial, sugerindo uma reestruturação no sistema de drenagem, associada a movimentações tectônicas na bacia bem como a variações climáticas. Além da reestruturação da bacia de drenagem, houve alteração nas características de descarga do sistema fluvial, associado provavelmente a condições climáticas mais úmidas reinantes na Sequência Superior. A deposição fluvial na Sequência Inferior está associada a sistemas fluviais mais

perenes, enquanto a arquitetura de fácies dos depósitos fluviaisda Sequência Superior sugere sistema fluvial anastomosado com contribuição deltaica para o topo. A Sequência Inferior da Formação Barbalha apresenta corpos lenticulares de arenitos grosseiros a médios, cascalhentos, por vezes conglomerados finos, com estratificações entrecruzadas acanaladas (Facies St) e estratificações entrecruzadas tabulares (Facies Sp), ou ainda com estratificação plano-paralela (Facies Sh) (Fig. 14). Estes arenitos

grosseiros estão em sua maioria posicionados na porção basal da formação, e comumente apresentam intercalações de camadas de conglomerado composto por intraclastos arredondados de argilito vermelho e cinza esverdeados, raramente angulosos, arenitos finos, siltitos e argilitos, o que pode indicar sedimentação em planícies de inundação nos períodos em que os caudais nos rios excediam o limite dos canais (Chagas, 2006). A geometria lenticular a acunhada e finas camadas de Cm e Aa associados

com superfícies escavadas indicam deposição de lag (Allen, 1983). Para o topo da Sequência Inferior ocorrem arenitos médios a finos das Facies Sp e St, subarredondados a subangulares, em geral bastante friáveis, argilosos e micáceos, às vezes com seixos e/ou portadores de feldspatos caulinizados e bolas de argila. É característica comum destas facies a presença de clastos e bolas de argila de diversos tamanhos (até seixo) dispersos na matriz e granodecrescência. Estas facies arenosas intercalam-se a camadas de folhelhos e argilitos sílticos

vermelhos (Facies Fl), de espessura decicentimétrica. O conjunto é interpretado como formado por depósitos fluviais entrançados de alta energia originados provavelmente em clima úmido. Tais depósitos se concentram agrupam-se na calha sedimentar correspondente à Sub-Bacia Cariri, estrutura em forma de gráben de direção NW-SE, mais profundo a SW (Castro e Castelo Branco, 1999). Essa concentração de fácies fluviais grosseiras entrançadas de alta energia implica na presença de sistema fluvial

principal de sentido SE, axial à Sub-Bacia Cariri, o que é confirmado por medidas de paleocorrentes (Assine, 1994; Chagas, 2006, Chagas et al., 2007; Scherer et al., 2015). Desta feita, sugere-se para a Sequência Inferior da Formação Barbalha sedimentação fluvial em canais perenes e barras rasos, lateralmente extensos, com pequena proporção de planície de inundação, cujo processo de sedimentação se deu com caráter episódico em claro padrão de rápida diminuição de velocidade

dos fluxos. A Sequência Inferior encerra-se com a denominada “Camadas Batateira”, intervalo de folhelhos pirobetuminosos pretos, papiráceos, que alcançam valores de carbono orgânico total (COT) de até 25 % (Neumann, 1999; Chagas et al., 2007).

Recentemente, estudos apontaram que a matéria orgânica presente nos folhelhos escuros é do tipo I, cujo conteúdo de carbono orgânico total (COT) atinge valores de 28,5 % nos intervalos mais ricos (Assine et al., 2014; Spigolon et al., 2015).

O abundante conteúdo fossilífero desses folhelhos inclui ostracodes, laminações carbonáticas algálicas, níveis com nódulos e coprólitos, restos de peixes (Dastilbe elongatus) e fragmentos vegetais carbonizados (Assine, 1992, 2007; Chagas, 2006). A análise de palinomorfos (Lima, 1978; Hashimoto et al., 1987; Rios Netto et al., 2012) presente na camada de folhelhos

pirobetuminosos permitiu consider uma idade aptiana superior (P-270). Neste intervalo, em sua parte superior, ocorre de forma constante nos perfis uma camada decimétrica de calcário peloidal

e mineralizada em sulfetos (galena, pirita, esfalerita) presentes no cimento da rocha, denominada de "Camadas Batateira" por Hashimoto et al. (1987).

Esses depósitos lacustres do topo da Sequência Inferior são individualizados por folhelhos orgânicos, sem evidência de exposição subaérea, sinalizando para uma natureza perene desses

Figura 13. Facies fluvio-deltaicas da porção superior da Formação Barbalha no perfil

do Rio da Batateira, ponto 18. A) Facies de arenitos intercalados com folhelhos das

facies Ad (Sd - arenitos com estruturas de deformação como laminações convolutas e

contorcidas), At (Sp - arenitos com estratificações entrecruzadas tabulares)e Fl (Fl -

folhelhos cinza com laminação plano-paralela) de planície de inundação (elemento FF);

B) detalhe dos arenitos intercalados com folhelhos das facies Ad (Sd - arenitos com

estruturas de deformação) e Fl (Fl - folhelhos cinza com laminação plano-paralela) de

planície de inundação (elemento FF)/ C) detalhe das facies As (Ss- arenitos com

estratificações entrecruzadas sigmoidais) e At interpretadas como canais de lobos

deltaicos gerando estruturas de sobrecarga. Estas litofacies são interpretadas como

depósitos de canais anastomosados (CH) cortando finos de planície de inundação (FF)

gerando estruturas de sobrecarga.

Figure 13. Fluvial-deltaic facies of the upper portion of the upper portion of the

Barbalha Formation in the Rio da Batateira section, outcrop 18. A) Facies of

sandstones intercalated with shales of Ad facies (Sd - sandstones with deformation

structures as convolute and contorted laminations), At (Sp - sandstones with planar

cross-stratifications) and Fl (Fl - grey shales with horizontal lamination) of floodplain

deposits (FF); B) detail of the sandstones intercalated with shales of Ad facies (Sd -

sandstones with deformation structures) and Fl (Fl - grey shale with horizontal

lamination) of floodplain (FF element); C) detail of As facies (Ss - sandstones with

sigmoidal cross-stratifications) and At facies interpreted as deltaic channels lobes

generating load structures. These litofacies are interpreted as deposits of anastomosing

channels (CH) cutting floodplain fines (FF element) generating load structures.

Page 12: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

62 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

Figura 14. Seção estratigráfica da Formação Barbalha no Rio da Batateira que mostra a

transição concordante entre as formações Barbalha e Crato, sobreposta, e a

discordância erosiva separando em duas sequências.

Figure 14. Stratigraphic log of Barbalha Formation in the Rio da Batateira section that

shows the concordant transition between Barbalha Formation and superimposed Crato

Formation, and the erosive unconformity separating into two sequences.

lagos. Não obstante, a presença de calcário peloidal de lâminas microbiais e assembleias fossilíferas de baixa diversidade do gênero Ostracoda intercaladas com folhelhos/lamitos indica a ocorrência de ambientes estressantes e/ou períodos, possivelmente associados com alta frequência variações na temperatura, e/ou grau de oxigenação da água. As condições

tectônicas eram de calmaria, pausa na atividade. Esta sequência finaliza com uma discordância erosiva no

topo sobreposta por conglomerados (Facies Cm) e de arenitos cascalhentos (Facies Acg, At e Aa) através do truncamento erosivo dos folhelhos pirobetuminosos pretos das Camadas Batateira. Tal discordância implica em re-activação tectónica menos intensa e formação de drenagem em estilo anastomosado, como discutido a seguir.

A Sequência Superior inicia-se com conglomerados

polimíticos da Facies Cm e arenitos conglomeráticos da Facies Acg. Além dessas facies grosseiras compõem a sequência arenitos médios a finos das litofacies At, Aa e,

subordinadamente, Ap, dispostas em camadas de médio e pequeno portes, de perfil granodecrescente. Os pelitos (folhelhos, siltitos e argilitos) são mais numerosos e de maior espessura, com

colorações mais variegadas. O conjunto compõe sucessão granodecrescente, assim como a primeira sequência, só que mais pronunciada. Os pelitos das litofacies Sl (siltitos e arenitos finos laminados, Arl (argilitos laminados) e Arm (argilitos maciços), em parte intercalados com arenitos finos a médios, na porção superior dos ciclos, representam depósitos de transbordo de canal (overbank facies) (Fig. 15).

Corrobora a interpretação a presença de horizontes de

calcretes esbranquiçados intercalados nos argilitos acompanhando a laminação da rocha (Fig. 10). Tais características aliadas à distribuição no sentido do padrão de paleocorrentes assinalam para a Sequência Superior da Formação Barbalha um sistema fluvial anastomosado com variação em sinuosidade do canal e/ou carga de fundo. As facies pelíticas são mais abundantes e espessas na parte superior dos perfis.Nesta sequência surgem arenitos deformados (Facies Ad), arenitos com

estratificação entrecruzada sigmoidal (Facies As) e corpos arenosos lenticulares imersos nos pelitos. O topo desta sequência é marcado pela presença de folhelhos esverdeados calcíferos (Facies Fl) que se acham sobrepostos de forma concordante por calcários laminados e folhelhos relacionados à Formação Crato (Neumann, 1999; Neumann e Cabrera, 2000; Neumann et al., 2003; Durval et al., 2011) (Fig. 14). O topo da Sequência Superior da Formação Barbalha marca a entrada de corpos

arenosos em lagos, formando deltas lacustres, de ocorrência subordinada, limitando-se apenas à porção superior da segunda sequência, próximo ao limite com a Formação Crato, sobreposta.

A acumulação da Sequência Superior está integrada a nova subida do nível de base da bacia, ainda que menos intensa. Esta unidade é caracterizada por uma ampla planície aluvial, com cinturões de canais entrançados que, conforme os dados de paleocorrentes, fluíam SW, W e NW a partir de altos estruturais localizados a E e SE, com progressiva diminuição da

granulometria dos depósitos fluviais em sentido a jusante. A Sequência Superior não possui variações na arquitetura deposicional do sistema fluvial, indicando uma manutenção das taxas de criação de espaço de acomodação ao longo do intervalo estratigráfico (Miall, 1996). Os canais anastomosados da Sequência Superior são dominados por estruturas formadas sob regimes de fluxo inferior, sugerindo que os canais fluviais foram geradas por meio de fluxo perene (Miall, 1996; Allen et al.,

2013). No entanto, depósitos de overbank intercalados com corpos arenosos dentro de canais fluviais evidenciam variações frequentes na descarga do rio. A intercalação de depósitos de planície de inundação mal e bem drenados sugere variações na lâmina d’ água na área de várzea. A abundante presença de depósitos de extravasamento (crevasse-splay) constituídos por vários episódios de cheias, associado com a ocorrência de exposição subaérea característica (mudcracks e paleossolos),

sugere a presença de eventos frequentes de transbordamento do canal fluvial e afogamento das áreas de overbank, acompanhadas por períodos de diminuição da descarga do rio e desenvolvimento de planícies aluviais bem drenadas (Scherer et al., 2015). A pouca dominância de corpos arenosos de cinturões de canais fluviais em relação a estratos finos de planície de inundação indica um contexto de alta taxa de criação de espaço de acomodação. Segundo diferentes autores (e.g. Schanley e

McCabe, 1994; Miall, 1996, 2010) em contextos de alta taxa de criação de espaço de acomodação, a acumulação vertical dos depósitos de planície de inundação é vasta, formando pacotes espessos de pelitos que se depositam. Esta dinâmica deposicional resulta em uma arquitetura estratigráfica caracterizada por corpos

Page 13: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Sistemas deposicionais da Formação Barbalha, Bacia Araripe, NE Brasil 63

Figura 15. Seção estratigráfica da Formação Barbalha no poço PS.10 do Projeto

Santana II que exibe sucessão granodecrescente de facies, cujos pelitos em parte

intercalados com arenitos finos a médios, na porção superior dos ciclos, idealizam

depósitos de transbordo de canal (overbank facies) de rios anastomosados.

Figure 15. Stratigraphic log of Barbalha Formation in the PS.10 well from Santana II

project that displays fining-upward succession of facies, whose pelithes partly

intercalated with fine to medium sandstones in the upper portion of the cycles, idealize

overflow channel deposits (overbank facies) of anastomosing rivers.

de arenitos em lençol, formados em episódicos únicos e de pouca

variação lateral, onde a preservação de depósitos finos de planície de inundação é bastante alta. Paleodrenagens de menor energia concentram-se na região quando a taxa de subsidência supera a taxa de sedimentação permitindo a expansão do sistema fluvial de padrão anastomosado.

6. Considerações finais

A Formação Barbalha pode ser separada em duas sequências limitadas por camada de folhelhos pretos pirobetuminosos (Camadas Batateiras) que marca o final da primeira sequência.

A Sequência Inferior da Formação Barbalha compreende

principalmente depósitos de arenitos e, subordinadamente, pelitos e conglomerados. As litofacies acham-se organizadas com

tendência granodecrescente com predomínio das facies Aa e At, atribuídas à migração de formas de leito com cristas sinuosas e retas, respectivamente, e à acreção lateral de arenitos, além de

conglomerados da facies Cm, representando depósitos de lag no fundo dos canais. Este sistema fluvial foi interpretado como fluvial entrançado de caráter perene.

O arcabouço estratigráfico da Formação Barbalha na Bacia do Araripe mostrar que a sedimentação sucedeu-se sob condições de quiescência tectônica pós-rifte. Entretanto, a coincidência da distribuição espacial da Formação Barbalha com as áreas das duas sub-bacias rifte, sugere certo controle tectônico da

subsidência, provavelmente por reativação pós-rifte das falhas geradas na fase rifte (Assine et al., 2014).

A Sequência Inferior termina com as “Camadas Batateira”, intervalo de folhelhos pirobetuminosos pretos, orgânicos, depositados em sistema lacustre perene.

A Sequência Superior, organizada em associação fluvial com contribuição disseminada de facies pelíticas, interpretada como em estilo anastomosado, como sugerido aqui, encerra arenitos

finos de coloração amarelada a cinza com diversas estratificações entrecruzadas tabulares de médio e pequeno porte, além de folhelhos acinzentados a avermelhados. Na base há a ocorrência de conglomerados de nova associação fluvial, denotando discordância erosiva (Fig. 14). Ainda nesta sequência despontam arenitos finos com feições de deformação e fluidização por carga sedimentar pela progradação deltaica de depósitos arenosos sobre substrato lutítico inconsolidado lacustre.

A baixa proporção de facies pelíticas, na parte inferior da Sequência Superior, deve-se: 1) a gradiente fluvial intermédio prevenindo maior acumulação de sedimentos finos; 2) presença de depósitos fluviais entrançados de alta energia originados provavelmente em clima úmido, sustentados por fluxos perenes de correntes, desfavorecendo a geração e deposição de finos.

O topo da associação de facies da Sequência Superior da Formação Barbalha, próximo ao limite com a Formação Crato, sobreposta, marca a entrada de corpos arenosos em lagos

formado deltas lacustres, de ocorrência subordinada. A presença de fauna idêntica de ostracodes do Aptiano na

África (Camarões) e no Brasil (Colin e Depeche, 1997) sugere uma relação da Formação Barbalha com unidades do continente africano, ainda no Cretáceo Inferior.

Agradecimentos

Este trabalho contou com auxílio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisas do Brasil - CNPq (Processo 476232/2006-6 concedido em nome de Gelson L. Fambrini) a quem

agradecemos o apoio e também as bolsas concedidas (bolsa de produtividade em pesquisa de V.H.M.L. Neumann e de mestrado de Patrícia Celeste Lopes Jesuíno e Diego da Cunha Silvestre). Ao Programa de Recursos Humanos da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (PRH-26/ANP/FINEP/UFPE) pelas bolsas de Diógenes Ribeiro de Lemos e José Acioli B. Menezes Filho (PRH-26/ANP) e pelo auxílio nos trabalhos de campo. Ao Prof. Dr. Wellington F. da Silva Filho (DGEO-UFC) pela assistência nos trabalhos de

campo. Agradecemos também à CPRM (Superintendências de Recife e de Fortaleza) pela disponibilização de fotografias aéreas e mapas, e ao 4o Distrito do DNPM (Recife, PE) por facilitar o acesso aos testemunhos do Projeto Santana na pessoa do Superintendente Paulo Jaime Alheiros. Ao LAGESE/DGEO/UFPE pelo apoio logístico e material. Aos revisores do manuscrito, Prof. Nuno Pimentel da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e um outro anónimo, que

muito acrescentaram ao texto original, assim como aos editores.

Page 14: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

64 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

Referências

Allen, J. R. 1983. Studies in fluviatile sedimentation: bars, bar-

complexes, and sandstone sheets (low sinosity braided streems) is the

Brownsones (L. Devonian), Welsh Borders. Sediment. Geol., 33: 237-

293.

Allen, J. P., Fielding, C. R., Rygel, M. C., Gibling, M. R., 2013.

Deconvolving signals of tectonic and climatic controls from

continental basins: an example from the Late Paleozoic Cumberland

Basin, Atlantic Canada. Journal of Sedimentary Research, 83: 847–

872.

Almeida, R. P., Janikian, L., Fragoso-Cesar, A. R. S., Marconato, A.

2009. Evolution of a rift basin dominated by subaerial deposits: The

Guaritas Rift, Early Cambrian, Southern Brazil. Sedimentary Geology,

217: 30-51.

Anadon, P., Cabrera, L., Kelts, K. (Eds.), 1991. Lacustrine facies

analysis. Spec. Publ. International Association of Sedimentologists

(IAS), Blackwell Scientific Publication, 13: 319.

Arai, M., Hashimoto, A. T., Uesugui, N., 1989. Significado

cronoestratigráfico da associação microflorística do Cretáceo Inferior

do Brasil. Boletim de Geociências da Petrobrás, 3(l/2): 87-103.

Asmus, H. E., Ponte, F. C., 1973. The Brazilian Marginal Basins. In:

Nairn A. E. M. e Stehili F. G. (Eds.), The Ocean Basins and Margins,

v.1 - The South Atlantic, Plenum Press, New York, 87-133.

Assine, M. L., 1992. Análise estratigráfica da Bacia do Araripe, Nordeste

do Brasil. Revista Brasileira de Geociências, 22(3), 289-300.

Assine, M. L., 2007. Bacia do Araripe. Boletim de Geociências da

Petrobrás, 15(2): 371- 389.

Assine, M. L., Perinotto, J. A. J., Custódio, M. A., Neumann, V. H. M.

L., Varejao, F. G., Mescolotti, P. C., 2014. Sequências deposicionais

do Andar Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Boletim de

Geociências da Petrobrás, 22(1): 3-28.

Barros, C. L., Fambrini, G. L., Galm, P. C., Agostinho S., 2011.

Ostracodes da Formação Brejo Santo (Neojúrassico?), Bacia do

Araripe, Nordeste do Brasil: implicações paleoambientais e

sistemática paleontológica. Estudos Geológicos UFPE, 21(1): 105-

122.

Batista, Z. V., Valença, L. M. M., Silva, S. M. A., Neumann, V. H. M. L.,

Fambrini, G. L., Santos, C. A., Barros, C. L., 2012. Análise de facies

da Formação Cariri, Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Estudos

Geológicos UFPE, 22(1): 3-20.

Blair, T. C., 1987. Tectonic and hydrologic controls on cyclic alluvial

fan, fluvial and lacustrine rift-basin sedimentation, Jurassic-lowermost

Cretaceous Todos Santos Formation, Chiapas, Mexico. Journal of

Sedimentary Petrology, 57: 845-862.

Bohacs, K. M., Caroll, A. R., Neal, J. E., Mankiewicz, P. J., 2000. Lake-

basin type, source potential, and hidrocarbon character: an integrated

sequence-stratigraphic-geochemical framework. In: Gierlowski

Kordesch, E. H., Kelts, K. R. (Eds.) Lake basins through space and

time, Tulsa: Studies in Geology, AAPG, 46: 3-34.

Bordy, E. M., Catuneanu, O., 2001. Sedimentology of the upper Karoo

fluvial strata in the Tuli Basin, South Africa. Journal of African Earth

Sciences, 33: 605-629.

Brito Neves, B. B., 1990. A Bacia do Araripe no contexto geotectônico

regional. In: Simpósio sobre a Bacia do Araripe e bacias interiores do

Nordeste. Crato. Atas. Grato, DNPM, 1: 21-33.

Cant, D. J., Walker, R. G., 1978. Fluvial process and facies sequences in

the sandy braided South Saskatchewan River, Canada. Sedimentology,

25(5): 625-648.

Castro, J. C., Valença, L. M. M., Neumann, V. H., 2006. Ciclos e

sequências deposicionais das formações Rio da Batateira e Santana

(Andar Alagoas), Bacia do Araripe, Brasil. Geociências, 25: 289-296.

Catuneau, O., 2006. Sequence Stratigraphy – Principles and

Applications. Elsevier Science, 336.

Cavinato, G. P., Carusi, C., Dall'Asta, M., Miccadei, E., Piacentini, T.,

2002. Sedimentary and tectonic evolution of Plio–Pleistocene alluvial

and lacustrine deposits of Fucino Basin (central Italy). Sedimentary

Geology, 148(1-2): 29-59.

Chagas, D. B., 2006. Litoestratigrafia da Bacia do Araripe: reavaliação

e propostas para revisão. Dissertação de Mestrado, Instituto de

Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio

Claro, 127.

Chagas, D. B., Assine, M. L., Freitas, F. I., 2007. Facies sedimentares e

ambientes deposicionais da Formação Barbalha no Vale do Cariri,

Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. São Paulo, UNESP.

Geociências, 26(4): 313-322.

Cohen, A. S., 1989. Facies relationships and sedimentation in large rift

lakes and implications for hydrocarbon exploration: examples from

Lakes Turkana and Tanganyika. In: Talbot, M. R., Kelts, K. (Eds.),

The Phanerozoic Record of Lacustrine Basins and their

Environmental Signals, Palaeogeography, Palaeoclimatology,

Palaeoecology, 70: 65-80.

Colin, J. P., Depeche, F., 1997. Faunes d’ostracodes lacustres dês bassins

intra-cratoniques d’âge Albo-Aptian en Afrique de l’Ouest

(Cameroun, Tchad) et au Brésil: Considérations d’ordre

paléoécologiques et paléobiogéographiques. African Geoscience

Review, 4(2/3): 431-450.

Durval, L. G. L., Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Menezes-Filho,

J. A. B., Bontempo, E., 2011. Análise de facies sedimentares da

Formação Crato, Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil: resultados

preliminares. Anais do XXIV Simpósio de Geologia do Nordeste,

Aracaju – SE, 266-266.

Fambrini, G. L, Batista, Z. V., Neumann, V. H. M. L., Valença, L. M. M.,

Agostinho, S. M., Menezes-Filho, J. A. B., 2013a. Sedimentary facies

analysis of Cariri Formation, Sineclysis stage, Araripe Basin,

Northeast Brazil. Abstracts of 6th Latin American Congress of

Sedimentology, São Paulo SP.

Fambrini, G. L., Lemos, D. R., Tesser Jr., S., Araújo J. T., Silva Filho, W.

F., Souza, B. Y. C., Neumann, V. H. M. L., 2011. Estratigrafia,

Arquitetura Deposicional e Faciologia da Formação Missão Velha

(Neojurássico-Eocretáceo) na Área-Tipo, Bacia do Araripe, Nordeste

do Brasil: Exemplo de Sedimentação de Estágio de Início de Rift a

Clímax de Rifte. Geologia USP: Série Científica, 11(2): 55-87.

Fambrini, G. L., Menezes-Filho, J. A. B., Jesuíno, P. C. L., Araújo, J. T.,

Durval, L. G. L., Neumann, V. H. M. L., 2015a. Sucessão faciológica

da Formação Barbalha (Aptiano), Bacia do Araripe, Nordeste do

Brasil. Estudos Geológicos UFPE, 25: 139-166.

Fambrini, G. L., Menezes-Filho, J. A. B., Silvestre, D. C., Neumann, V.

H. M. L., 2015b. Architectural and faciological characterization of

fluvial Barbalha Formation, Araripe Basin, Northeastern Brazil.In:

Talks of Rain Rivers Reservoirs Symposia, 2015, São Paulo. Meio

eletrônico em http://www.hw.ac.uk/news/1st-rain-rivers-and-

reservoirs-workshop.htm.

Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Barros, C. L., Galm, P. C.,

Agostinho, S. M., Menezes-Filho, J. A. B., 2013b. Análise

estratigráfica da Formação Brejo Santo, Bacia do Araripe, Nordeste do

Brasil: implicações paleogeográicas. Geol. USP, Sér. cient., 13(4): 3-

28. DOI: 10.5327/Z1519-874X201300040001.

Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Barros, C. L., Galm, P. C.,

Agostinho, S. M., Araújo, J. T., Menezes Filho, J. A. B., 2012. Análise

de facies da Formação Brejo Santo, Bacia do Araripe, Nordeste do

Brasil: implicações paleogeográficas. Estudos Geológicos (UFPE), 22:

131-155.

Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Lemos, D. R., Araújo, J.T.,

Lima-Filho, M. F., Tesser Jr., S., 2010a. Stratigraphy and

sedimentology of Rift Initiation to Rift Climax stages of the Araripe

Basin, Northeastern Brazil: new considerations. In: Abstracts Volume

do 18th International Sedimentological Congress, Mendoza,

Argentina, Mendoza: IAS/PETROBRAS, 104.

Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Lemos, D. R., Araújo, J. T.,

Lima-Filho, M. F., Tesser Jr., S., 2010b. Facies and architectural

elements of Missão Velha Formation (Upper Jurassic-Eocretaceous),

Araripe Basin, Northeastern Brazil. In: Abstracts Volume de 18th

International Sedimentological Congress, Mendoza, Argentina,

Mendoza: IAS/PETROBRAS, 332.

Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Silva-Filho, W. F., Valença, L. M.

M., Lima-Filho, M. F., Barbosa, J. A., Tesser Jr., S., Souza, B. Y. C.,

2007. Sistemas lacustres da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil:

resposta à subsidência e tectônica de bacias rifte. In: Atas doSimp.

Geologia do Nordeste, XXII, Natal, RN, 101.

Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Silva Filho, W. F., Tesser Jr., S.,

Valença, L. M. M., Lima-Filho, M. F., Araújo, J. T., Souza, B. Y. C.,

Lemos, D. R., 2008. Eventos de subsidência e instalação de sistemas

lacustres na Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. In: Anais do

Congresso Brasileiro de Geologia, Curitiba, PR, 44, 118.

Fambrini, G. L., Tesser Jr., S., Neumann, V. H. M. L., Souza, B. Y. C.,

Silva Filho, W. F., 2009. Facies e Sistemas Deposicionais na área-tipo

Page 15: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

Sistemas deposicionais da Formação Barbalha, Bacia Araripe, NE Brasil 65

da Formação Missão Velha, Bacia do Araripe, CE. Estudos

Geológicos (UFPE), 19(1): 163-191.

Fambrini, G. L., Tesser Jr., S., Neumann V. H. M. L., Souza, B. Y. C.,

Silva Filho, W. F., Araújo, J. T., Lemos, D. R., 2010c. Sedimentary

facies analysis and depositional systems of Missão Velha Formation in

the type-area, Araripe Basin, northeastern Brazil: reservoir

implications. Rio Oil e Gas Expo and Conference 2010, Rio de

Janeiro, RJ. Anais. (CD-ROM), 10.

Farina, M., 1974. Sequência plumbífera do Araripe. Mineralização

singenética sulfatada no Cretáceo sedimentar brasileiro. Recife,

CPRM, 37.

Fisher W. L., McGowen, J. H., 1967. Depositional systems in the Wilcox

Group of Texas and their relationship to occurence of oil and gas. Gulf

Coast Assoc. Geol. Soc., Transactions, 17: 105-125.

Garcia, A. J. V., Da Rosa, A. A. S., Goldberg, K., 2005.

Paleoenvironmental and paleoclimatic control on early diagenetic

processes and fossil record in Cretaceous continental sandstones of

Brazil. Journal of South American Earth Sciences, 19: 243-258.

Hashimoto, A. T., Appi, C. J., Soldan, A. L., Cerqueira, J. R., 1987. O

neo-alagoas nas bacias do Ceará. Araripe e Potiguar (Brasil):

caracterização estratigráfica e paleoambiental. Revista Brasileira de

Geociências, 17: 118-122.

Lima, M. R., 1978. Estudo palinológico preliminar de um folhelho

betuminoso da Formação Missão Velha, Chapada do Araripe. Boletim

IG-USP, 9: 136-139.

Lima, M. R., Perinotto, J. A. J., 1984. Palinologia de sedimentos da parte

superior da Formação Missão Velha, Bacia do Araripe. Geociências

(UNESP), 3: 67-76.

James, N. P., Dalrymple, R. W. (eds.), 2010. Facies models 4. Geological

Association of Canada, Geotext, 6, 586.

Jones, J., Frostick, L. E., Aston, T. R., 2001. Braided stream and flood

plain architecture: the Rio Vero Formation, Spanish Pyrenees.

Sedimentary Geology, 139(3-4): 229-260.

Malka, M., Olsen, P. E., Christie-Blick, N., 2003. Lacustrine facies

typology in the triassic-jurassic rifts of eastern North America and

Greenland compared to that of the Eocene Green River Formation of

Wyoming. Northeastern Section. 38th Annual Meeting. The

Geological Society of America (GSA), Session No. 6-Booth 35.

Matos, R. M. D., 1999. History of the northeast Brazilian rift system:

kinematic implications for the break-up between Brazil and West

Africa. In: Cameron, N. R., Bate, R. H., Clure V.S. (Eds.), The Oil and

Gas Habitats of the South Atlantic, Geological Society of London,

Special Publication, 153: 55-73.

Matos, R. M. D., 1992. The Northeast Brazilian rift system. Tectonics,

11: 766-791.

Menezes-Filho, J. A. B., 2012. Mapeamento geológico da área

localizada a sudoeste da cidade de Barbalha-CE com ênfase na

análise de facies da Formação Barbalha, Bacia do Araripe, Nordeste

do Brasil. Monografia de Graduação, Curso de Graduação em

Geologia da UFPE, Recife, 98 (inédito).

Menezes-Filho, J. A. B., Fambrini, G. L., Neumann, V. H. M. L., Rocha,

D. E. G. A., Barbosa, J. A., Buarque, B. V., 2011. Análise de facies

sedimentares aplicada a estudos de reservatórios em depósitos fluviais

da Formação Rio da Batateira e carbonáticos da Formação Crato,

Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil: resultados preliminares In:

Anais do 6o. Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em

Petróleo e Gás - PDPETRO, Florianópolis - SC., 8.

Miall, A. D., 1977. A review of the braided-rivers depositional

environment. Earth Science Reviews, 13(1): 1-62.

Miall, A. D., 1978. Lithofacies types and vertical profile models in

braided-rivers deposits: a summary. In: Miall, A. D. (Ed.) Fluvial

Sedimentology. Canadian Society of Petroleum Geologists Memoir, 5,

Calgary, Canadian Society of Petroleum Geologists, 597-604.

Miall, A. D., 1985. Architectural-element analysis: a new method of

facies analysis applied to fluvial deposits. Earth Science Reviews, 22:

261-308.

Miall, A. D., 1996. The geology of fluvial deposits: sedimentary facies,

basin analysis and petroleum geology. Berlin, Springer, 582.

Miall, A. D., 2000. Principles of sedimentary basin analysis. 3rd

ed., New

York, Springer-Verlag, 616.

Miall, A. D., 2010. Aluvial Deposits. In: James, N. P., Dalrymple, R. W.

(Eds.), Facies models 4. Geological Association of Canada, Geotext 6:

105-138.

Miall, A. D., Tyler, N., 1991. The three-dimensional facies architecture of

terrigenous clastic sediments and its implications for hydrocarbon

discovery and recovery. Society of Economic Paleontologists and

Mineralogists (SEPM), Conceps in Sedimentology and Paleontology,

Tulsa, 3: 309.

Morley, C. K., (Ed.), 1999. Geoscience of Rift Systems—Evolution of

East Africa. American Association of Petroleum Geologists, Studies in

Geology 44: 250, ISBN: 978-1-58861-507-7.

Morley, C. K., Wescott, W. A., Stone, D. M., Harper, R. M., Wigger, S.

T., Karanja, F. M., 1992. Tectonic evolution of the northern Kenyan

Rift. Journal of the Geological Society, 149: 333-348.

Neumann, V. H. M. L., 1999. Estratigrafía, sedimentologia, geoquímica

y diagénesis de los sistemas lacustres Aptienses-Albienses de la

Cuenca de Araripe (Noreste de Brasil). Tesis (Doctorado),

Universidad de Barcelona, Barcelona, 244.

Neumann, V. H., Borrego, A. G., Cabrera, L., Dino, R., 2003. Organic

matter composition and distribution through the Aptian-Albian

lacustrine sequences of the Araripe Basin, northeastern Brazil. Int. J.

Coal Geol., 54: 21-40.

Neumann, V. H., Cabrera, L., 1999. Una Nueva Propuesta Estratigráfica

para laTectono secuencia post-rifte de la Cuenca de Araripe, Noreste

de Brasil. In: Bol. 5º Simpósio Sobre o Cretáceo do Brasil e 1º

Simpósio Sobre El Cretácico de América Del Sur. Serra Negra-SP.

UNESP, Rio Claro, 279-285.

Neumann, V. H. M. L., Cabrera, L., 2000. Significance and genetic

interpretation of the sequential organization of the aptian-albian

lacustrine system of the Araripe basin. Anais Academia Brasileira

Ciências, 72(4): 607-608.

Paula-Freitas, A. B. L., 2010. Análise estratigráfica do intervalo

siliciclástico aptiano da Bacia do Araripe (Formação Rio da

Batateira). Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em

Geologia, UFRJ, 66.

Paula-Freitas, A. B. L., Borghi, L., 2011. Estratigrafia de alta resolução

do intervalo siliciclástico aptiano da Bacia do Araripe. Geociências,

30(4): 529-543.

Ponte, F. C., 1992. Sequências deposicionais na Bacia do Araripe,

Nordeste do Brasil. In: Simpósio sobre as Bacias Cretácicas

Brasileiras, Rio Claro, 2: 81-84.

Ponte, F. C., Appi, C. J., 1990. Proposta de revisão da coluna

litoestratigráfica da Bacia do Araripe. In: SBG, Congr. Bras. Geol., 36.

Anais, Natal, l: 211-226.

Ponte, F. C., Asmus, H. E., 1976. The brazilian marginal basins: current

state of knowledge. Anais da Academia Brasileira de Ciências,

(Supl.), São Paulo, 48: 215-239.

Ponte, F. C., Asmus, H. E., 1978. Geological framework of the Brazilian

continental margin. Geologische Rundschau, 67: 201-235.

Ponte, F. C., Ponte-Filho, F. C., 1996a. Estrutura geológica e evolução

tectônica da Bacia do Araripe. Recife: Departamento Nacional da

Produção Mineral, 4º e 10º Distritos Regionais, Delegacias do

Ministério das Minas e Energia em Pernambuco e Ceará, 68.

Ponte, F. C., Ponte-Filho, F. C., 1996b. Evolução tectônica e classificação

da Bacia do Araripe. In: Boletim do Simpósio sobre o Cretáceo do

Brasil, Águas de São Pedro, Rio Claro: UNESP, 4: 123-133.

Prosser, S., 1993. Rift-related Linked Depositional Systems and Their

Seismic Expression. Geological Society of London, Special

Publication, 71: 35-66.

Reading, H. G., 1996. Sedimentary environments: processes, facies and

stratigraphy. Blackwell Science, 668.

Rios-Netto, A. M.. Regali, M. P. S., Carvalho, I. S., Freitas, F. I., 2012.

Palinoestratigrafia do intervalo Alagoas da Bacia do Araripe, Nordeste

do Brasil. Revista Brasileira de Geociências, 42(2): 331-342.

Rojas, F. E. M., 2009. Estratigrafia de Sequências do intervalo aptiano

ao albiano na Bacia do Araripe, NE do Brasil. Dissertação de

Mestrado, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, 102.

Sáez, A., Cabrera, L., 2002. Sedimentological and palaeohydrological

responses to tectonics and climate in a small, closed, lacustrine

system: Oligocene As Pontes Basin (Spain). Sedimentology, 49(5):

1073–1094.

Scheid, C., Munis, M. B., Paulino, J., 1978. Projeto Santana. Relatório

Final Etapa II, DNPM/CPRM, Recife, 136.

Schanley, K. W., McCabe, P. J., 1994. Perspectives on the sequence

stratigraphy of continental strata. AAPG Bull, 78: 544-568.

Page 16: Caracterização dos sistemas deposicionais da Formação ... Fambrini.pdf · a caracterização deposicional da unidade, empregando-se o estudo detalhado de associações de facies

66 Fambrini et al. / Comunicações Geológicas (2016) 103, 1, 51-66

Scherer, C. M. S., Lavina, E. L. C., Dias-Filho, D. C., Oliveira, F. M.,

Bongiolo, D. E., Aguiar, E. S., 2007. Stratigraphy and facies

architecture of the fluvial–aeolian–lacustrine Sergi Formation (Upper

Jurassic), Recôncavo Basin, Brazil. Sedimentary Geology, 194: 169-

193.

Scherer, C. M. S., Goldberg, K., Bardola, T., 2015. Facies architecture

and sequence stratigraphy of an early post-rift fluvial succession,

Aptian Barbalha Formation, Araripe Basin, northeastern Brazil.

Sedimentary Geology, 322: 43-62.

Scherer, C. M. S., Jardim de Sá, E. F., Córdoba, V. C., Sousa, D. C.,

Aquino, M. M., Cardoso, F. M. C., 2014. Tectono-stratigraphic

evolution of the Upper Jurassic–Neocomian rift succession, Araripe

Basin, Northeast Brazil. Journal of South American Earth Sciences,

49: 106-122.

Selley, R. C., 2000. Applied sedimentology. 2nd

ed. London, Academic

Press, 523.

Talbot, M. R., Allen, P. A., 1996. Lakes. In: Reading H. G. (Ed.),

Sedimentary environments: processes, facies and stratigraphy.

Blackwell Science, 83-124.

Spigolon, A. L. D., Lewan, M. D., Penteado, H. L. B., Coutinho, L. F. C.,

Mendonça Filho, J. G., 2015. Evaluation of the petroleum composition

and quality with increasing thermal maturity as simulated by hydrous

pyrolysis: A case study using a Brazilian source rock with Type I

kerogen. Organic Geochemistry, Oxford, 83/84: 27-53.

Tomé, M. E. R., 2011. Estudo dos ostracodes não-marinhos do Andar

Alagoas, nas bacias do Araripe, Cedro, Jatobá e Sergipe/Alagoas,

Nordeste do Brasil. Tese de Doutorado em Geociências, Centro de

Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco. 162.

Varejão, F. G., Warren, L. V., Perinotto, J. A. J., Neumann, V. H. M. L.,

Freitas, B. T., Almeida R. P., Assine, M. L., 2016. Upper Aptian

mixed carbonate-siliciclastic sequences from Tucano Basin,

Northeastern Brazil: implications for paleogeographic reconstructions

following Gondwana break-up. Cretaceous Research, 67: 44-58.

Walker, R. G., 2006. Facies Models revisited: Introduction. In:

Posamentier, H. W., Walker, R. G. (Eds.), Facies Models revisited,

Society of Economic Paleontologists and Mineralogists (SEPM), Spec.

Publ., Tulsa, 84: 532.

Walker, R. G., 1992. Facies, facies models and modern stratigraphic

concepts. In: Walker, R. G., James, N. P. (Eds.), Facies Models -

Response to Sea-level Change, Geological Association of Canada

Geotext, 1, Waterloo, Ontario, 1-14.

Walker, R. G., James, N. P., 1992. Facies models.Response to sea level

changes. Geological Association of Canada, 212.

Wizevic, M. C., 1991. Photomosaics of outcrops: useful photographic

techniques. In: Miall, A. D., Tyler, N. (Eds.), The three-dimensional

facies architecture of terrigenous clastic sediments and its

implications for hydrocarbon discovery and recovery, Society of

Economic Pleontologists and Mineralogists, Conceps in

Sedimentology and Paleontology, 3: 22-24.