caracterÍsticas gerais dos escorregamentos … et al (2009 vicosa... · caracterÍsticas gerais...

CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ESCORREGAMENTOS OCORRIDOS EM NOVEMBRO DE 2008 NOS MUNICÍPIOS DE BRUSQUE, RIO DOS CEDROS E

TIMBÓ – SC

Roberto Fabris Goerl1 – Bolsista CNPQ Dr. Masato Kobiyama2

Leonardo Leal Lourenço3 Ângela Grando4

1Programa de pós-graduação em Geografia - Universidade Federal de Santa Catarina 2Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - Universidade Federal de Santa Catarina

3Departamento de Geografia - Universidade Federal de Santa Catarina 4Programa de pós-graduação em Engenharia Civil - Universidade Federal de Santa Catarina

[email protected]

RESUMO Em novembro de 2008, o estado de Santa Catarina sofreu inúmeros prejuízos em virtude dos desastres hidrológicos causados pelas precipitações anômalas ocorridas sobre o estado. Segundo a Defesa Civil de Santa Catarina, houveram 2.637 desabrigados, 9.390 desalojados, 135 pessoas perderam suas vidas e ainda há 2 desaparecidos. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina foram, portanto, requisitados pela Defesa Civil para realizar uma avaliação nos municípios atingidos. Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo descrever, as principais características dos escorregamentos ocorridos nos municípios de Brusque, Rio dos Cedros e Timbó, associando-as com as características da paisagem de cada município. Tratou-se também da percepção dos moradores sobre o evento que os mesmos presenciaram. Em Brusque, o tipo de escorregamento mais comum observado foi do tipo planar. Neste município ocorreram inúmeros cortes indevidos nas encostas, que associados a baixa coesão do solo na área urbana (solos arenoso) ocasionaram os movimentos de massa. Desta maneira, neste município, os escorregamentos ocorreram em virtude da ação antrópica sobre a paisagem, podendo ser considerados desastres tecnológicos ou mistos, do que propriamente naturais. Em Timbó, foram encontrados dois sistemas distintos. Tendo como direção a jusante, ao lado esquerdo da bacia foram encontrados escorregamentos rotacionais, tanto profundos como mais rasos, associados principalmente a reativação de depósitos coluviais, que estão evoluindo de forma lenta. No lado direto da bacia, o tipo mais comum encontrado foi do tipo fluxo de detritos, tendo em seu inicio (alto da vertente) associado a movimentos rotacionais ou colapsos. Em Rio dos Cedros, ocorreram fluxos de detritos, variando entre 700 m a 2 km de extensão, em virtude da combinação de grande comprimento e alta declividade das encostas. Palavras Chave: Escorregamentos, Fluxo de Detritos, Santa Catarina ABSTRACT In November 2008, the state of Santa Catarina suffered from many losses due to hydrological disasters caused by anomalous rainfall. According to the Civil Defense of Santa Catarina, there were 2,637 unsheltered, 9,390 homeless, and 135 deaths. Still now 2 persons have been missed. Some researchers of Federal University of Santa Catarina were, then, asked by the Civil Defense to make a damages assessment in the affected municipalities. In this context, the objective of the present study was to describe the main characteristics of the landslides occurred in the municipalities of Brusque, Rio dos Cedros and Timbó and to associate them with the landscape characteristics of each municipality. The perception of residents about the events that they witnessed was also analyzed. In Brusque, the most common type of landslide was observed planar. There were many unwarranted cuts on hillslopes associated with low soil cohesion in the urban area (sandy soil), which caused mass movements. It is therefore thought that, in this city, the landslides occurred because of human action on the landscape. In this case, they are considered mixed or technological disasters rather than natural ones. In Timbó, two distinct systems were observed. Rotational landslides characterized with the shallower and deeper slip planes, colluvial deposits reactivation, and very slowly movement, occurred on the left side of the basin. On the right side, the most common type was debris flow whose initial head movement was associated with rotational movements or collapses. In Rio dos Cedros, debris flows whose extension varied from 700 m to 2 km occurred because of the combination of large length and high slope of the hillslopes Key-words: Landslides, Debri-flow, Santa Catarina state.

1. INTRODUÇÃO Em novembro de 2008, o estado de Santa Catarina foi cenário de uma tragédia noticiada

exaustivamente pela mídia local e nacional. Segundo a Defesa Civil de Santa Catarina, este evento

provocou a morte de 135 pessoas, duas pessoas ainda estão desaparecidas, deixando aproximadamente

80.000 pessoas desabrigadas e desalojadas em todo o estado. Diversos municípios decretaram situação

de emergência ou estado de calamidade publica, sendo que os mais atingidos foram os localizados no

Vale do Itajaí, principalmente no médio e baixo vale. Dentro destes municípios, destacam-se Itajaí

com 4.369 desabrigados e desalojados e 02 óbitos; Blumenau com 23.535 desabrigados e desalojados,

18.150 residências danificadas e 24 óbitos; Ilhota com 3550 desabrigados e desalojados e 47 óbitos;

Gaspar com 2550 desabrigados e desalojados e 21 óbitos, conforme dados da Defesa Civil Estadual de

Santa Catarina.

Em virtude da magnitude do evento, a Defesa Civil de Santa Catarina através do Centro de

Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED) da Universidade Federal de Santa Catarina convocou

pesquisadores desta universidade para realizar o diagnóstico das áreas mais afetadas dos municípios do

Vale do Itajaí. Dessa maneira, diversas equipes foram mobilizadas para os municípios atingidos. Os

autores do presente trabalho foram mobilizados para os municípios de Brusque, Rio dos Cedros e

Timbó. Estes municípios tiveram 460, 121 e 2000 pessoas desabrigadas e desalojadas respectivamente,

além de danos na infra-estrutura pública como serviços de água, luz e esgoto. Neste contexto, o

presente trabalho teve por objetivo apresentar o resultado do diagnóstico destes três municípios com

base nas observações e medições de campo.

Em Blumenau, a estação meteorológica da Epagri/FURB localizada em Blumenau, registrou do

dia 1º até o dia 30 de novembro de 2008, um total de 1002 mm, sendo que o recorde anterior obtido

nesta estação era de 167,2 mm, e pela estação da Agência Nacional de Águas (ANA) era de 281,8 mm,

registrados em 2006 e 1961, respectivamente (Figura 1a) (EPAGRI, 2009). Quando incluídos outros

meses na análise, os totais acumulados de chuva de novembro de 2008 persistem como os de maior

registro histórico, inclusive, na comparação com o marcante evento ocorrido em julho de 1983 (Figura

1b). Como exemplo, Joinville detinha o recorde de 831,9 mm, obtido em fevereiro de 1995, sendo

superado pelos 968,8 mm registrados em novembro. Em Blumenau, os 1002 mm registrados em

novembro de 2008 superaram os recordes de mais de 500 mm registrados em janeiro de 1989 e julho

de 1983 (EPAGRI, 2009).

Figura 1 – Precipitações anômalas em Santa Catarina a) média e acumulado mensal; b) máxima diária.

2. PROCEDIMENTOS

Para avaliar a magnitude dos danos e prejuízos dos municípios atingidos, o CEPED, criou 3

tipos de questionários. O primeiro visava reconhecer as características sociais das comunidades

atingida (formulário social), o segundo avaliar os danos estruturais nas residências (formulário civil), e

o terceiro determinar as características geológicas-geomorfológicas dos escorregamentos. As Figuras 2

e 3 apresentam as principais observações a serem feitas nos formulários civil e social, respectivamente.

No presente trabalho, foram abordados apenas os aspectos geológicos e geomorfológicos das

localidades visitadas em cada um dos três municípios, visto que a equipe e conseqüentemente os

autores deste trabalho eram responsáveis apenas por estes aspectos.

Figura 2 – Principais características avaliadas nas residências danificadas pelos escorregamentos.

Figura 3 – Principais variáveis analisadas no formulário social das famílias atingidas.

O formulário geotécnico (geológico-geomorfológico) foi dividido em 6 itens (Figura 4). Para

localizar os escorregamento, item 2, foram tomadas coordenadas nas extremidades da área que

abrangia o plano de escorregamento bem como todas as casas atingidas, formando um polígono

georreferênciado ao redor de toda área afetada. As informações dos itens 3 e 4 foram obtidas através

de observações de campo, e entrevista com os moradores locais. Com base nas características do

escorregamento, presença de material instável no topo do escorregamento, e demais condicionantes

físicos, eram sugeridas medidas estruturais ou não-estruturais que permitiam o retorno do morador,

caso interditado, ou que o morador continuasse no local, sendo a residência liberada com restrições.

Além disto, também eram observadas características pedológicas (textura do solo e espessura

do solo e seus horizontes), características geológico-geomorfológicas (tipo de rocha, direção

preferencial dos acamadamentos, falhas, grau de intemperismo), e características de uso e ocupação do

solo. O procedimento de campo consistiu em, com base nas descrições acima, avaliar liberação ou não

das casas, além de sugerir medidas estruturais ou não-estruturais que devem ser tomadas pelos

moradores ou prefeitura para assegurar o bem estar e segurança dos moradores.

Data: 13/01/2009Controle:

Relatório de Vistoria Técnica - Avaliação Geotécnica Equipe: 06

1. CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL

Município: Bairro/Local.:

Área:

Endereço e/ou Referências: FOTOS:

2. LOCALIZAÇÃO - Coordenadas UTM FOTOS:

Ponto A:Ponto B:Ponto C:Ponto D:Ponto E:Ponto F:

3. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS: FOTOS:

3.1 Siutação em Loco:

3.2 Tipo de Vegetação:

3.3 Relevo:

3.4 Condições Drenagem:

4. EVIDÊNCIAS DE MOVIMENTAÇÃO FOTOS:

4.1 Tipo e Situação do Material

4.2 Tipologia do Movimento

4.3 Superfície de deslizamento

Descrição:

4.4 Condições de Saturação do Terreno

5. PROCEDIMENTO

6. PARECER TÉCNICO E RECOMENDAÇÕES

Projeto: Resposta ao Desastre em Santa Catarina no Ano de 2008

Rua Francisco Severino, 56

A B

C

DE

F

URBANA RURAL

Arbórea RasteiraArbustiva Nenhuma

Possibilidade de movimento InundaçãoMovimento ocorrido

Escarpado OnduladoMontanhoso Suave

Plano Côncavo Côncavo - ConvexoConvexo

Retilíneo Encosta natural Talude de aterroTalude de corte

Talvegue Extração mineral Planície de Inundação

Naturall

Inexistente

Construída Satisfatória Insuficiente

Obstruída Danificada

ROCHA:

SOLO: Com trincas Com degraus Sem degrausSem trincas Com blocos

Com blocosSem fraturasFraturada

Seco Com SurgenciasSaturadoÚmido

Queda de blocos Fluxo de detrítosDeslizamento Fluxo de lama

Subsidência Colapso Complexo

Rocha - Rocha

Rotacional

Complexo LentoPlanar

Solo - Solo Solo - Rocha

Rápido

Não identificada (descrever)

NÃO OCUPADA

ÁREA LIBERADA LIBERADA COM RESTRIÇÕES INTERDITADA

Figura 4 – Formulário geológico-geomorfológico utilizado para levantamento de campo.

Ressalta-se que as análises dos escorregamentos sempre se deram em escala municipal, não

sendo levadas em conta as características fisiográficas da principal bacia hidrográfica do município.

Dessa maneira, nos Modelos Digitais de Terreno, onde são demonstrados os principais

escorregamentos visitados em cada município, foram recortados tendo como base o limite municipal, e

não as bacias.

Nota-se pela Figura 4, que era necessário classificar os escorregamentos quanto ao tipo. Para

isto, tomou-se como base duas classificações, a proposta por Augusto-Filho (1994) que divide em:

rastejos, escorregamentos (rotacional e translacional), as corridas (fluxos de detritos) e as quedas de

blocos, bem como a proposta por Carson e Kirkby (1975), demonstrado na Figura 5. De maneira

prática, na maioria dos casos não foi possível classificar os movimentos em apenas um tipo, visto que,

muitas vezes, o movimento iniciava como um tipo e evoluía para outro, ou ocorria em diversas etapas,

cada qual com características diferentes, ou ainda ocorriam diferentes movimentos na mesma vertente.

Assim, a maioria dos casos acabou sendo classificado com complexo.

Figura 5 – Classificações dos movimentos de massa (Fonte: Carson e Kirkby, 1975).

3. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ESCORREGAMENTOS

3.1. BRUSQUE

Em Brusque, os seguintes bairros foram visitados durante as avaliações de campo: São Pedro,

Limeira Baixa, Nova Brasília, Águas Claras, Azambuja, Cedrinho, Poço Fundo, 1º Maio, Steffen e

Bateas. A Figura 6 apresenta o MDT do município de Brusque e as localidades visitadas mencionadas

anteriormente. Nas avaliações nestes bairros, 53% dos casos foram avaliados como interditados, e os

outros 47% liberados com restrição, não havendo nenhum caso liberado completamente (Figura 7).

Figura 6 – MDT com os escorregamentos visitados em Brusque.

a b

Figura 7 – Resultado dos casos avaliados em Brusque – SC a) Tipo de escorregamento; b) Liberação

ou Interdição das residências.

De maneira geral, nos locais visitados neste município, as condicionantes que propiciaram a

ocorrência dos escorregamentos tiveram grande influência da ação antrópica, além de uma

susceptibilidade natural das variáveis físicas. Como exemplo, no bairro Limeira Baixa, a gestão

municipal foi conivente com a ocupação desordenada e sem planejamento. Para a construção das

residências foram feitos cortes na encosta nos quais não foi preservada a vegetação. Também a

declividade dos cortes é acima do limite de estabilidade natural do talude. (Figura 8). Além disso,

acima desta encosta foi feito um sistema de drenagem (Figura 9) que condicionou a concentração de

águas pluviais, contribuindo para aumentar o peso da encosta, reduzindo o nível de coesão e atrito,

lubrificando ainda mais a superfície do escorregamento, e conseqüentemente diminuindo o valor de

fator de segurança do talude.

Figura 8 – Encosta antropizada no bairro Limeira Baixa Figura 9 – Sistema de drenagem inadequado.

Na Tabela 1, observa-se a altitude média do local onde ocorreram os escorregamentos bem

como a declividade. Nota-se que todos os escorregamentos visitados ocorreram abaixo da altitude de

150 m e a declividade média máxima de 27º. Brusque, semelhantemente as outras cidades do Vale do

Itajaí, desenvolveu-se ao longo da planície de inundação. Com a expansão urbana, e buscando fugir

das inundações, ocorreu também à ocupação das encostas, ou seja, modificando o foco do problema.

Tabela 1 – Altitude e declividade média das vertentes onde ocorreram os escorregamentos avaliados em campo.

Localidade Altitude (metros) Declividade

1º Maio 71 23º

1º Maio 137 27º

Águas Claras 95 15º

Azambuja 90 17º

Bateas 80 35º

Cedrinho 90 15º

Limeira Baixa 94 24º

Nova Brasília 96 17º

Poço Fundo 100 14º

São Pedro 100 26º

Steffen_1 60 22º

Steffen_2 86 28º

Tem-se neste município um desastre que pode ser classificado como misto. Pois com base nas

evidencias de campo não se pode atribuir causas unicamente naturais a ocorrência dos desastres. A

ocupação das encostas de forma indevida, cortes com declividade acentuada, a falta de medidas de

estabilização tanto dos cortes como de aterros, e a falta de um sistema de drenagem adequando foram

as principais causas destes escorregamentos.

3.2 TIMBÓ

Situada quase que em sua totalidade na planície de inundação, Timbó possui ao seu lado

esquerdo e direito dois maciços, com elevação máxima de aproximadamente 750 m. Neste município,

diferente de Brusque, a ocupação das encostas ainda não é tão intensa. Além disso, o tipo de

escorregamento mais recorrente foi o rotacional (Figura 10a), em virtude dos solos serem muito

profundos. Além disso, também constatou-se que a maioria destes rotacionais ocorreram em antigos

depósitos coluviais, sendo que o inicio do movimento ocorria freqüentemente no topo do depósito,

quando ocorria uma mudança relativamente brusca de declividade. A Figura 10b mostra que na

maioria dos casos, as residências puderam ser liberadas com alguma restrição, que geralmente era o

compromisso de monitorar a evolução do movimento. Como os escorregamentos rotacionais tendem a

evoluir lentamente, foi sugerido ao morador que realizasse o monitoramento, bem como observasse o

surgimento de trincas e rachaduras nas paredes da casa, ou outras alterações estruturais.

Figura 10 – Resultado dos casos avaliados em Timbó – SC a) Tipo de escorregamento; b) Liberação

ou Interdição das residências

Na Figura 11 observa-se que os escorregamentos severos que foram avaliados ocorreram em

localidades próximas entre si. Sendo que ao leste do município ocorreram em quase sua totalidade

escorregamentos rotacionais, e ao Oeste, ocorram fluxos de detritos. Com base no mapa geológico de

Santa Catarina elaborado por DNPM (1986), observa-se que não há diferença litológica quanto às duas

localidades, pois ambas fazem parte do Complexo Granulítico de Santa Catarina, e a rocha encontrada

nos escorregamentos foi gnaisse. Contudo, em campo é possível notar que ao leste, as vertentes são

mais suaves e menos extensas, e ao oeste mais íngremes e mais extensas. Assim, esta diferença entre

os movimentos pode estar associada às diferenças topográficas e geomorfológicas.

Figura 11 – Localização dos escorregamentos severos visitados em Timbó - SC

A Tabela 2 apresenta o nome das localidades visitadas bem como a altitude em que os

escorregamentos ocorreram, tendo como referencial o topo do movimento e apresenta também

declividade geral da vertente. As localidades visitadas foram Mulde Central, Mulde Alta, Tifa Colley,

Quintino, Bairro do Estado, Araponguinhas, Rio Fortuna e Travessão. O escorregamento com maior

declividade foi na localidade de Araponguinhas (Figura 12), com 33º, sendo que nenhum

escorregamento visitado ocorreu acima da cota 380 m.

Entre todas as avaliações realizadas, apenas dois tiveram como causa a ação antópica. No

Bairro do Estado (Figura 13), nos dois pontos visitados houve o corte indevido da encosta, sem a

devida contenção, condicionando a ocorrência do movimento. Nos demais escorregamentos, torna-se

difícil atribuir qualquer intervenção humana a ocorrência dos mesmos.



Mulde Central 1 110 17º



Mulde Alta 1 330 21º






Tifa Colley 1 229 20º



Quintino 125 25º

Bairro do Estado 75 11º

Bairro do Estado 1 90 15º

Araponguinhas 320 33º

Rio Fortuna 300 21º

Rio Fortuna 1 380 25º

Travessão 345 23º

Figura 12 – Escorregamento em Araponguinhas Figura 13 – Escorregamento no Bairro do Estado

3.3 RIO DOS CEDROS

Dentre os três municípios visitados, Rio dos Cedros foi onde os escorregamentos tiveram

maior intensidade. A área urbana do município se encontra sobre a planície de inundação, não sendo

muito afetada. No interior, onde ocorreram os escorregamentos de maior magnitude, as vertentes são

longas e declivosas, e os vales bem encaixados, havendo mais energia potencial gravitacional,

potencializando os movimentos de massa. Devido a tal característica do relevo, ocorreram em sua

maioria fluxo de detritos. Além disso, observou-se que no inicio do escorregamento havia pouco

material instável, permitindo que mais casas fossem liberadas com ou sem restrição (Figura 00). Por

outro lado, as casas que estavam na linha de fluxo ou na área de deposição foram, em sua maioria,

destruídas completamente, aumentando os prejuízos individuais. Ocorreu o oposto do que em Timbó,

onde os moradores, devido ao movimento ser mais lento, puderam retirar seus pertences, reduzindo os

prejuizos. Os escorregamentos rotacionais avaliados ocorreram em depósitos coluvias, podendo estar

associados à reativação do mesmo.

Figura 14 – Resultado dos casos avaliados em Rio dos Cedros – SC: a) Tipo de escorregamento; b)

Liberação ou Interdição das residências

Em Rio dos Cedros, observam-se depósitos coluviais na base das encostas. Além disso, notam-

se nos canais inúmeros blocos de diversas simetrias. Isto evidencia que nesta região freqüentemente já

ocorreram escorregamentos, principalmente fluxo de detritos. Nos locais analisados, não se observou

variação litológica, ocorrendo os movimentos de massa na formação Complexo Granulítico de Santa

Catarina, sendo observado em campo apenas a ocorrência de gnaisse.

Na Figura 15, observam-se os locais onde ocorreram os escorregamentos mais severos. Nota-se

que a maioria ocorreu ao Sudoeste do município, abaixo da cota 600 m. Nota-se também pela Figura

00 que Rio dos Cedros pode ser divido em duas regiões topográficas distintas. Uma abaixo da cota

600, onde os vales são bem encaixados, em forma típica de “V”, e acima da cota 600 m, onde os vales

e o relevo é mais ondulado e as vertentes menos extensas. Devido a esta característica geomorfológica,

houveram escorregamentos com extensões quilométricas, como o de Tiroleses, com aproximadamente

2 km do topo a sua área de deposição. Nas regiões acima da cota 600 m é que ocorreram com mais

freqüência os escorregamentos.

Figura 15 – Localização dos escorregamentos severos visitados em Rio dos Cedros - SC

As localidades visitadas durante o trabalho de campo foram: Tiroleses, São Bernardo, Rio

Cunha, Alto Rio Cunha, Rio Ada, Rio Bonito, Rio Esperança, Alto São Bernardo, Cedro Alto. A

Tabela 3 apresenta a altitude e a declividade médias das vertentes onde foram realizadas as avaliações,

sendo o mais declivoso o escorregamento ocorrido em Alto Rio Cunha, com 34º. Nota-se também que

as declividades deste município são maiores do que as de Timbó e Brusque. Em nenhuma localidade

foi observada ação antrópica que condicionasse a ocorrência do escorregamento, ou seja, têm-se em

Rio dos Cedros somente desastres puramente naturais, associados à susceptibilidade da paisagem e

somados à precipitação anômala ocorrida em 2008.

A Figura 16 apresenta dois escorregamentos ocorridos na localidade de Rio Cunha, em lados

opostos do mesmo vale. O da Figura 16a possui aproximadamente 1 km de extensão longitudinal e 125

m de extensão lateral no plano de escorregamento e cerca de 300m da deposição. Já o da Figura 16b

alcançou cerca de 1,7 km, mas ficou confinado no vale, sendo a maior extensão lateral encontrada na

deposição, com 60 m.



Alto São Bernardo 381 23º

Alto São Bernardo 1 548 27º

Alto Rio Cunha 476 34º

Alto Rio Cunha 1 479 18º

Cedro Alto 393 29º

Cedro Alto 1 170 21º

Cedro Alto 2 473 32º

Cedro Alto3 212 23º

Rio Ada 446 20º

Rio Bonito 684 19º

Rio Esperança 660 14º

Rio Esperança 1 324 27º

São Bernardo 270 25º

São Bernardo 1 271 18º

Tiroleses 498 32º

a b

Figura 16 – Escorregamentos ocorridos em Rio Cunha, a) margem esquerda; b) margem direita.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho demonstrou as principais características dos escorregamentos ocorridos em

Brusque, Timbó e Rio dos Cedros – SC, em virtude das chuvas anômalas de novembro de 2008. Em

Brusque, a principal causa dos movimentos foi a intervenção antrópica na paisagem. Corte e aterros

mau estabilizados, drenagem inadequada, mau planejamento podem ser atribuídos como as principais

causas deste desastre. A má administração publica, negligente e muitas vezes ausente permitiu que a

urbanização se desenvolvesse de maneira não adequada, transladando o problema do município. Por

ter se instalado sobre a planície de inundação, Brusque, como muitos outros municípios do Vale do

Itajaí, sofre constantemente com as inundações. Agora, com a ocupação das encostas, o foco do

problema foi modificado, ou aumentado, porque a planície continua ocupada, e agora a encosta

também está.

Nos municípios de Timbó e Rio dos Cedros, as causas dos escorregamentos foram

condicionantes naturais, como as formas das vertentes e dos vales. Em Timbó a maioria dos

escorregamentos foi do tipo rotacional, ocorridos principalmente em depósitos coluviais na base das

encostas. A Leste do município ocorreram movimentos rotacionais, e a Oeste, movimentos planares e

fluxo de detritos. Contudo, não foi possível com base nas observações de campo detectar a causa desta

diferença. Em Rio dos Cedros, o principal tipo foi o fluxo de detritos, associado à topografia, com

encostas declivosas, longas e vales encaixados. Analisando a paisagem, notam-se diversas evidências

que neste município os fluxos de detritos são freqüentes, e também os principais modeladores da

paisagem.

Nas avaliações de campo, entrevistando os moradores, notou-se que, apensar de a paisagem

apresentar diversas evidencia de escorregamentos pretéritos, todos estavam perplexos pelo ocorrido,

ou inicialmente comentavam que nunca havia ocorrido nenhum escorregamento. Após o inicio do

levantamento de campo, acabam comentando sobre escorregamentos mais antigos. Além disso, muitos

moradores não estavam preparados, não sabendo como agir durante o evento, se escondendo no meio

do mato, e abandonando as suas casas, sem mesmo saber se o local em que se encontravam eram

seguros ou não.

Assim, além de mapeamentos, é necessário preparar a população para enfrentar os desastres.

Não se pode apenas se apoiar em órgãos públicos, pois em nenhum município a Defesa Civil estava

realmente preparada para atuar neste episódio. A Defesa Civil Municipal ainda está condicionada ao

ciclo da administração municipal, ou seja, a cada mudança de prefeito, também pode haver mudanças

na defesa civil. Assim, a sociedade deve se preparar independente dos órgãos públicos.

5. AGRADECIMENTOS.

Os autores do presente projeto agradecem a Defesa Civil do Estado de Santa Catarina e ao

Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres pelo apoio no presente estudo. Também agradecem aos

moradores e a Defesa Civil Municipal que acompanharam os levantamentos de campo.

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

AUGUSTO FILHO, O. Cartas de risco de escorregamentos: uma proposta metodológica e sua aplicação no município de Ilhabela, SP. São Paulo. 162p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Escola Politécnica - Universidade de São Paulo, 1994. CARSON, M. A.; KIRKBY, M. J. Hillslope form and process. London: Cambridge University Press, 1975. 475 p

DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL (Brasil). Coordenadoria de Recursos Minerais. Mapa geológico do Estado de Santa Catarina: escala 1:500.000. Florianópolis, 1986 EPAGRI. Novembro com recordes de chuva em Santa Catarina: 1000 mm em Blumenau. 2009. 3p.

caracterÍsticas gerais dos escorregamentos … et al (2009 vicosa... · caracterÍsticas gerais...

Documents