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USO EFICIENTE DE FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS NA AGRICULTURA BRASILEIRA: UMA VISÃO DO FUTURO 1 Eng o Agr o , PhD, Professor Emérito da UFLA, Lavras, MG, Consultor Técnico da ANDA, São Paulo, SP; email: [email protected] 2 Eng a Agr a , Dra. em Solos e Nutrição Mineral de Plantas, UFLA, MG, Bolsista DTI/CNPQ; email: [email protected] 3 Economista e Administrador de Empresas, Diretor Executivo da ANDA, São Paulo, SP; email: [email protected] Capítulo 5 Alfredo Scheid Lopes 1 Ana Rosa Ribeiro Bastos 2 Eduardo Daher 3 ABSTRACT EFFICIENT USE OF NITROGEN AND SULFUR FERTILIZERS IN THE BRAZILIAN AGRICULTURE: A VIEW OF THE FUTURE Today 99% of the production of mineral nitrogen fertilizers is obtained from NH 3 . The N is obtained from N 2 that constitute 78% of the atmospheric air and is considered an almost inexhaustible source and 75% of H 2 is obtained of natural gas. The world reserves of natural gas reach 6.112 trillion cubic feet and at current rates of consumption they can be enough for 91 years. Brazil, with reserves of 11,5 trillion cubic feet, occupies the 29 th position in the world. The world reserves of elementary sulfur reach 5 billion t of S that is enough for 90 years at today‘s consumption rate. In relation to other possible S resources those are almost limitless. The con-

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161Uso Eficiente de Fertilizantes Nitrogenados e Sulfatados...

USO EFICIENTE DE

FERTILIZANTES

NITROGENADOS E

SULFATADOS NA

AGRICULTURA

BRASILEIRA: UMA

VISÃO DO FUTURO

1 Engo Agro, PhD, Professor Emérito da UFLA, Lavras, MG, Consultor Técnico da ANDA, SãoPaulo, SP; email: [email protected]

2 Enga Agra, Dra. em Solos e Nutrição Mineral de Plantas, UFLA, MG, Bolsista DTI/CNPQ;email: [email protected]

3 Economista e Administrador de Empresas, Diretor Executivo da ANDA, São Paulo, SP;email: [email protected]

Capítulo

5 Alfredo Scheid Lopes1

Ana Rosa Ribeiro Bastos2

Eduardo Daher3

ABSTRACT

EFFICIENT USE OF NITROGEN AND SULFUR FERTILIZERS IN

THE BRAZILIAN AGRICULTURE: A VIEW OF THE FUTURE

Today 99% of the production of mineral nitrogen fertilizers isobtained from NH3. The N is obtained from N2 that constitute 78% of theatmospheric air and is considered an almost inexhaustible source and 75%of H2 is obtained of natural gas. The world reserves of natural gas reach6.112 trillion cubic feet and at current rates of consumption they can beenough for 91 years. Brazil, with reserves of 11,5 trillion cubic feet, occupiesthe 29th position in the world. The world reserves of elementary sulfur reach5 billion t of S that is enough for 90 years at today‘s consumption rate. Inrelation to other possible S resources those are almost limitless. The con-

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sumption of N in Brazil increased from 1,17 million t in 1994 to 2,25 million tin 2004 occupying now, the 7th place in the world. The current consumptionratio for N:P2O5:K2O of 0,65:1,00:1,12 in Brazil, compared with the ratio of2,82:1,00:1,00 for countries with advanced agriculture, reflects a low rate ofnitrogen consumption in comparison with the phosphorus and the potassiumconsumption, mainly for food crops. Brazil occupies the 22nd place in theworld production of ammonia (939 thousand t per annum), 7th in the worldproduction of sulfuric acid (5,8 million t – 3,4% of the world production) andpractically all the elementary sulfur is imported. In 2004 the main mineralnitrogen fertilizers consumed in Brazil were the urea and ammonium sulphateand for sulphur fertilizers, simple superphosphate and ammonium sulphate.The future tendencies are: a. In the short period any increase in the demandof N should be attended by the increase in the importation; b. In the mediumperiod, to reduce the current dependence of the importations, the fertilizersector must apply great investments to increase the national productioncapacity; c. there is a need to increase the consumption of nitrogen in relationto sulfur, mainly for the common food crops (cassava, beans, rice and corn);d. Since urea will continue to be the main nitrogen fertilizer consumed inBrazil industrial and application technologies that can minimize volatilizationlosses of NH3 (gas) should have research priority; e. the fertilizer industryshould prioritize the production of fertilizers that can minimize the environ-mental impacts, with smaller costs and larger economical return; f. The littleknowledge of the capacity of the soils in supplying nitrogen for the plantsstill constitute a severe constraint to make progress in this specific area;g. The increase of the areas under no till and the integration beef cattle/grainproduction demands deeper knowledge of nitrogen and sulphur dynamics toreach maximum economic yields; h. The million tons of agricultural gypsumaccumulated in Brazil as a result of the phosphoric acid production have stilla great challenge to implement their economical and technical use in brazilianagriculture.

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RESUMO

Atualmente, 99% da fabricação de fertilizantes nitrogenados ocorre apartir do NH3. O nitrogênio (N) é obtido do N2, que constitui 78% do ar atmos-férico, uma fonte quase inesgotável, e 75% do H2 provém do gás natural. Asreservas mundiais de gás natural atingem 6.112 trilhões de pés cúbicos e têmuma vida útil esperada, nas taxas atuais de consumo, de 91 anos. O Brasil, comreservas de 11,5 trilhões, ocupa a 29a posição mundial. As reservas mundiais deenxofre (S) elementar atingem 5 bilhões t, suficientes para 90 anos. Em relaçãoa outros possíveis recursos, esses são quase ilimitados. O consumo de N noBrasil passou de 1,18 milhões t em 1994 para 2,25 milhões t em 2004 ocupando,atualmente, o 7o lugar no mundo. A atual relação de consumo N:P2O5:K2O de0,65:1,00:1,12, comparada à relação de 2,82:1,00:1,00 para países de agricultu-ra tecnificada, reflete ainda um subconsumo de N, em comparação com ofósforo (P) e o potássio (K), principalmente para culturas alimentícias. OBrasil ocupa o 22o lugar na produção mundial de amônia (939 mil t anuais) e o7o lugar na produção mundial de ácido sulfúrico (5,8 milhões de t – 3,4% daprodução mundial), sendo que praticamente todo o S elementar é importado.Em 2004, os principais fertilizantes nitrogenados consumidos no Brasil foram auréia e o sulfato de amônio, e os sulfatados foram o superfosfato simples e osulfato de amônio. As tendências futuras são: a. A curto prazo, qualquer aumen-to na demanda de N deverá ser atendida com o aumento nas importações; b. Amédio prazo, para reduzir a atual dependência das importações, o setor de fer-tilizantes necessitará de grandes investimentos para aumentar a sua capacidadede produção; c. É necessário incrementar o consumo de N em relação ao de S,principalmente nas culturas que produzem alimentos da cesta básica; d. Comoa uréia deverá continuar sendo o carro-chefe dos fertilizantes nitrogenados con-sumidos no Brasil, tecnologias industriais e de aplicação que reduzam as possí-veis perdas por volatilização deverão ter prioridade de pesquisa; e. A indústriade fertilizantes deve priorizar a produção de fertilizantes que minimizem impac-tos ambientais, com menores custos e maior retorno econômico; f. O poucoentendimento da capacidade dos solos em suprir N para as plantas ainda seconstitui em grande gargalo dos avanços nessa área; g. O aumento das áreassob plantio direto e a integração lavoura-pecuária exigem aprofundamento noconhecimento da dinâmica do N e do S para que seja atingida a máxima eficiên-cia técnica e econômica das adubações; h. A utilização das milhões de tonela-das de gesso agrícola, uma excelente fonte de S, decorrentes da fabricação doácido fosfórico, ainda constitui um grande desafio.

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1. INTRODUÇÃO

Aevolução do processo produtivo na agricultura brasileiranos últimos anos exige um aumento no uso eficiente dosfertilizantes minerais, principalmente em decorrência do

aumento da produtividade e da produção das mais diferentes culturas.

Com exceção da soja, que praticamente não utiliza o nitrogênio(N) dos fertilizantes minerais, para todas as demais culturas o N e o enxofre(S), dois dos principais macronutrientes essenciais, ocupam, cada vez mais,lugar de destaque, principalmente porque a grande maioria dos solos brasi-leiros apresenta baixos teores de matéria orgânica, fontes naturais dessesnutrientes.

Diferentemente do fósforo (P) e do potássio (K), cujos fertilizan-tes são fabricados a partir de recursos minerais finitos, o N, per se comomatéria-prima para a fabricação de fertilizantes nitrogenados, é obtido, qua-se na sua totalidade, do gás inerte N2, que forma 78% da atmosfera, sendo,portanto, uma fonte praticamente inesgotável desse nutriente.

Entretanto, o hidrogênio, a outra matéria-prima para a fabricaçãodos fertilizantes nitrogenados minerais, é 75% obtido do gás natural, e cons-titui um recurso finito. As reservas brasileiras de gás natural representamapenas 0,2% das reservas mundiais.

Em relação às reservas brasileiras de S, em todas as formas doelemento, estas são também reduzidas, representando 1,2% das reservasmundiais, mas os recursos são bem mais elevados.

Em 1950, a produção nacional de N foi de 700 t e a de P2O5 de6.000 t, que representavam, respectivamente, 7,1% e 11,8% do consumoaparente. Em decorrência do Plano Nacional de Fertilizantes e CalcárioAgrícola e do Funfertil, foram feitos grandes investimentos que permitiramque, em 1986, a produção brasileira de N atingisse 712,4 mil t de N (82,9%do consumo aparente) e 1,42 milhões de toneladas de P2O5 (90,5% do con-sumo aparente). Neste ano, ainda, o K2O era totalmente importado.

O aumento da demanda por fertilizantes reverteu a confortávelsituação de 1986 de modo que, em 2005, a produção nacional correspondeua 40% do consumo aparente de N, 50% do consumo aparente de P2O5 e10% do consumo aparente de K2O.

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Em face da importância do N e do S para o processo produtivo daagricultura brasileira, são necessárias informações sobre as reservas mun-diais e brasileiras das matérias-primas básicas e intermediárias utilizadas naprodução de fertilizantes contendo esses nutrientes. É importante tambémmostrar a evolução, o perfil atual, as tendências de produção e o consumodesses fertilizantes no Brasil e, finalmente, apresentar alguns pontos parareflexão. Esses tópicos constituem o objetivo deste capítulo.

2. RESERVAS E RECURSOS

Atualmente, dos fertilizantes nitrogenados produzidos no mundo,99% são fabricados com base na amônia (NH3), obtida da reação do nitro-gênio (N2) – um gás inerte que forma 78% da atmosfera e, portanto, umrecurso praticamente inesgotável – com o hidrogênio (H2) – 75% obtido dogás natural. Um esquema da fabricação dos principais fertilizantes nitro-genados é mostrado na Figura 1 (LOPES, 1998).

Figura 1. Esquema de fabricação de alguns fertilizantes nitrogenados a partir daamônia.

Fonte: LOPES (1998).

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De acordo com dados do Oil & Gas Journal, de janeiro de 2006, asreservas mundiais de gás natural atingiram 6.112 trilhões de pés cúbicosque, a uma taxa de consumo anual de 95 trilhões de pés cúbicos para o anode 2003, seriam suficientes para os próximos 64 anos (EIA, 2006). Entre-tanto, as projeções de consumo mundial para 2030 são de 182 trilhões depés cúbicos, o que representaria uma sensível diminuição da vida média útilesperada das reservas de gás natural hoje conhecidas.

Um resumo das principais reservas de gás natural no mundo éapresentado na Figura 2. Para efeito de comparação, as reservas da Bolíviasão da ordem de 24,0 trilhões de pés cúbicos e as do Brasil de 11,5 trilhõesde pés cúbicos.

Figura 2. Reservas de gás natural no mundo em 2006, totalizando 6.112 trilhões depés cúbicos.

Fonte: EIA (2006).

Em relação ao S, 70,2% da produção mundial é obtida do enxofreelementar, 6,1% da pirita e 23,7% de outras fontes.

As reservas mundiais de S representam o elemento associado aogás natural; ao petróleo; a sulfetos metálicos de cobre, chumbo, zinco,molibdênio e ferro; na forma de S nativo em depósitos de rochas sedimentaresdeformadas e vizinhas a domos salinos; em depósitos vulcânicos (resultan-tes da sublimação de vapores sulfurosos de origem magmática) e em arenitos

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betuminosos. Essas reservas foram estimadas, em 2004, como da ordem de4,04 bilhões de toneladas. A uma taxa atual de consumo de 63 milhões detoneladas, essas reservas seriam suficientes para 64 anos de exploração.As principais reservas mundiais de S são mostradas na Figura 3.

Figura 3. Reservas de enxofre no mundo em 2005, totalizando 4,04 bilhões de tone-ladas.

Fonte: TEIXEIRA (2005).

Os recursos na forma de sulfatos (gipsita e anidrita) são conside-rados praticamente ilimitados, podendo ser obtidos através de processo in-dustrial. Existem, ainda, no mundo, cerca de 600 bilhões de toneladasquantificadas no carvão, folhelhos pirobetuminosos e xistos ricos em maté-ria orgânica, mas ainda são antieconômicos, à exceção do Brasil. Estesrecursos seriam suficientes para 9.500 anos de exploração, nas taxas atuaisde consumo.

3. PRODUÇÃO MUNDIAL DE MATÉRIAS-PRIMAS

Um resumo sobre a produção mundial de amônia, que, como men-cionado anteriormente, é responsável por 99% da fabricação dos fertilizan-tes minerais nitrogenados no mundo, pode ser visto na Figura 4.

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Figura 4. Produção de amônia no mundo em 2003, totalizando 108,8 milhões detoneladas.

Fonte: ANDA (2005).

Do total de 108,8 milhões de toneladas de amônia produzidas noano de 2003, a China, com 30,2 milhões de toneladas (27,8% da produçãomundial), ocupa o primeiro lugar, seguindo-se, pela ordem: Índia, Rússia eEstados Unidos. O Brasil, com uma produção anual de 938 mil toneladas deamônia, ocupa o 22º lugar entre os países produtores.

O maior produtor mundial de S elementar são os Estados Unidos,responsável por uma produção de 8,9 milhões de toneladas, 20,1% do totalmundial de 44,5 milhões de toneladas produzidas em 2003. Segue-se o Ca-nadá, a Rússia e a Arábia Saudita. A produção brasileira é extremamentebaixa, ao redor de 114 mil toneladas de S (Figura 5).

Já em relação à produção de ácido sulfúrico, o Brasil ocupa osétimo lugar, com 5,8 milhões de toneladas, 3,4% da produção mundial de172,7 milhões de toneladas em 2003. Os maiores produtores mundiais são,pela ordem: China, Estados Unidos, Marrocos, Rússia, Japão e Índia (Fi-gura 6).

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Figura 5. Produção de enxofre elementar no mundo em 2003, totalizando 44,5 mi-lhões de toneladas.

Fonte: ANDA (2005).

Figura 6. Produção de ácido sulfúrico no mundo em 2003, totalizando 172,7 milhõesde toneladas.

Fonte: ANDA (2005).

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4. EVOLUÇÃO NO CONSUMO

Mesmo se tratando de um tópico sobre produção e demanda defertilizantes nitrogenados e sulfatados no Brasil, seria interessante, para efeitocomparativo, iniciá-lo mostrando a evolução do mercado brasileiro de ferti-lizantes em relação ao mercado mundial. Os dados da Figura 7 sugeremque, para o período de 1990 a 2004, o crescimento médio anual de consumoaparente no Brasil, de 7,6%, foi muito maior que o observado para o merca-do mundial.

Figura 7. Evolução do consumo de fertilizantes no Brasil e no mundo de 1990 a2004.

Fonte: BARBOSA NETO (2004).

Nos últimos dois anos, entretanto, face às crises da agriculturabrasileira, houve uma considerável retração no mercado brasileiro de ferti-lizantes, provocada inicialmente pela seca no Rio Grande do Sul e agravadasobretudo pelo problema cambial (desvalorização do Dólar americano fren-te ao Real), além do aumento da incidência da ferrugem asiática na culturada soja, principal consumidora de fertilizantes (37% da demanda de fertili-zantes em 2005).

Tais fatores, aliados a uma dramática redução da renda agrícola e,por conseguinte, aos problemas de crédito e renegociação das dívidas dasculturas de grãos, fizeram com que houvesse uma redução de 11,2% nasentregas nacionais de fertilizantes em 2005, e prenunciam uma reduçãoadicional de outros 5% para o ano de 2006. Infere-se com esses dados que,

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em 2006, os níveis de consumo aparente de fertilizantes corresponderão aosdo ano de 2002, quando o País consumiu cerca de 19,2 milhões de tonela-das. A retomada se fará mais lentamente, estimada em 4% ao ano pelaAssociação Nacional para Difusão de Adubos-ANDA e seus consultores, emormente focada no segmento da agroenergia, com ênfase nas culturasprodutoras de etanol e biodiesel.

A evolução do consumo mundial de N para o período de 1970 a2002, como pode ser vista na Figura 8, mostra uma diferença de comporta-mento quando se comparam as médias dos países desenvolvidos e em de-senvolvimento. Embora a evolução mundial do consumo de N tenha mos-trado um crescimento quase linear de 1970 a 1988, houve uma queda signi-ficativa a partir desse último ano citado, voltando a crescer no ano de 1993.

Figura 8. Evolução no consumo de nitrogênio no mundo, nos países desenvolvi-dos e em desenvolvimento, no período de 1970 a 2002.

Fonte: IFA (2004).

Esse acentuado decréscimo em nível mundial foi mais conseqüên-cia de uma acentuada diminuição do consumo de adubos nitrogenados noperíodo de 1988 a 1993, nos países desenvolvidos, do que da taxa de cresci-mento mais ou menos estável observada nos países em desenvolvimento. Eisso se deve, principalmente, ao aumento das restrições ambientais ao uso,muitas vezes abusivo, de fertilizantes nitrogenados nesses países. Um des-dobramento atual do consumo de fertilizantes nitrogenados, por países, émostrado na Figura 9.

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Especificamente em relação aos fertilizantes nitrogenados no Brasil,embora tenha havido um aumento significativo no período de 1996 a 2004,passando de 1,18 milhões de toneladas de N para 2,24 milhões (aumento de1,9 vezes), esse aumento relativo foi bem menor do que o observado para Pe K no mesmo período (Figura 10).

Isso pode ser melhor observado nos dados da Figura 11, que mos-tram a evolução das relações de consumo N/P2O5/K2O na agricultura bra-sileira nas décadas de 50 e 60 e de 1970 até 2004. Nas décadas de 50 e 60essas relações foram, respectivamente, 0,33/1,00/0,50 e 0,50/1,00/0,65. Em1970 era de 0,67/1,00/0,80 e em 1976 atingiu o valor mais baixo da história,em relação a um subconsumo de N: 0,37/1,00/0,52.

Esse aumento relativo no consumo de P2O5, em relação ao de Naté 1976, foi resultado da explosão de ocupação dos solos da região doscerrados, através de incentivos governamentais. Como esses solos sãoextremamente deficientes em P, o aumento no consumo desse nutrientefoi plenamente justificável. De 1976 até mais recentemente, essa relaçãovoltou a se estreitar, na maioria dos anos, atingindo em 2004 a relação0,79/1,00/1,2 para todo o N/P2O5/K2O consumido na agricultura brasileira(Figura 11).

Figura 9. Consumo de fertilizantes nitrogenados no mundo em 2003, totalizando85,9 milhões de toneladas de N.

Fonte: ANDA (2005).

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Figura 10. Evolução no consumo de nitrogênio no Brasil e no período de 1950 a2004.

Fonte: DIAS (2005).

Figura 11. Evolução das relações de consumo de fertilizantes (N + P2O

5 + K

2O) na

agricultura brasileira nas décadas de 50 e 60 e de 1970 a 2004.Fonte: ANDA (2005).

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Figura 12. Relações de consumo de fertilizantes (N/P2O

5/K

2O) no Brasil (total e sem

soja, em 2003) e países com agricultura tecnificada, em 2002.Fonte: LOPES et al. (2003).

Comparando-se essas relações com a do ano de 2003 para todasas culturas, incluindo soja, obtém-se 0,65/1,00/1,12. Se a soja for excluídadesse cálculo, pois essa cultura praticamente não consome N dos fertilizan-tes minerais, essa relação ficaria 1,19/1,00/1,23. Se essa relação for compa-rada com a de países que apresentam agricultura tecnificada para obtençãode altas produtividades, qual seja, 2,82/1,00/1,00, pode-se concluir que, mes-mo com os aumentos do consumo de N na agricultura brasileira mostradosna Figura 10, a subutilização de N ainda é um dos fatores mais limitantespara o aumento da produtividade de muitas culturas em condições brasilei-ras (Figura 12).

O baixo consumo de N que ainda prevalece em relação ao de P ede K pode ser confirmado por um estudo de Yamada e Lopes (1999). Assu-mindo-se uma eficiência média de 60% para o N, 30% para o P e 70% parao K e uma exportação (remoção das áreas cultivadas pela produção) esti-mada para as 16 principais culturas, chegou-se a um déficit anual, tomando-se por bases dados médios do período de 1993-1996, de: a. 888 mil tonela-das de N, mesmo considerando-se todo o N da soja e do feijão como prove-nientes da fixação biológica; b. 414 mil toneladas de P2O5 e c. 416 miltoneladas de K2O. Dados mais recentes estimam esses déficits para 2004

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Figura 13. Consumo de fertilizantes (N+ P2O

5 + K

2O) em algumas culturas no Brasil

em 1998 (números dentro das colunas) e 2004 (números acima das colu-nas).

Fonte: ANDA (2005).

em 859 mil toneladas, 514 mil toneladas e 325 mil toneladas de N, P2O5 eK2O, respectivamente (FAO, 2004).

Outro ponto importante a ser considerado é que o subconsumo defertilizantes, inclusive o de N na agricultura brasileira, é também decorrentedo tipo de cultura. Como regra geral, nas culturas chamadas de exportação(citros, soja, cana e café), nas quais se utilizam mais intensamente as tecno-logias disponíveis para obtenção de níveis mais próximos da produtividademáxima econômica, observa-se um maior consumo de nutrientes. Culturasque formam o grupo dos alimentos básicos (mandioca, feijão, arroz e milho)consomem significativamente menos fertilizantes por hectare, inclusive fer-tilizantes nitrogenados (Figura 13).

O perfil de consumo aparente de fertilizantes nitrogenados no Brasilem 1994 e 2004 é mostrado nas Figuras 14 e 15. Pode-se observar que,nesses anos, os fertilizantes nitrogenados de maior consumo aparente fo-ram, pela ordem: uréia, sulfato de amônio, MAP, complexos, nitrato de amônio,

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Figura 15. Evolução do perfil de consumo aparente de outros fertilizantes nitro-genados no Brasil (1994 e 2004).

Fonte: ANDA (1995, 2005).

Figura 14. Evolução do perfil de consumo aparente de sulfato de amônio no Brasil(1994 e 2004).

Fonte: ANDA (1995, 2005).

DAP e nitrato de cálcio, que alcançaram, em 2004, 49,7%, 15,3%, 14,2%,10,9%, 7,4%, 2,2% e 0,3%, respectivamente, de todo o N consumido noBrasil.

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Um aspecto que chama a atenção, quando se observam os dadosdas Figuras 14 e 15, é que houve um aumento considerável de consumoaparente de N, quando se comparam os dados de 1,18 milhões de toneladasem 1994 e 2,24 milhões de toneladas em 2004, mas a produção nacional foipraticamente a mesma nestes anos, ou seja, quase todo o aumento no con-sumo aparente de N teve que ser suprido por importações.

Esse é um aspecto no mínimo preocupante, por questões estratégicasa médio e longo prazos, e merece uma discussão mais detalhada no que dizrespeito à capacidade instalada de produção de matérias-primas para a fabrica-ção de fertilizantes nitrogenados e sulfatados e dos respectivos fertilizantes.

Em relação à amônia e ao ácido sulfúrico, embora a capacidadeinstalada de produção seja superior à demanda de 2004, em 38% e 5%,respectivamente, as importações alcançaram nesse ano 12,8% e 10,0% dessademanda. Já em relação ao S, a capacidade instalada de produção, mesmooperando a 100%, não atendeu mais que 6% da demanda de 2004 (Tabela 1).

Tabela 1. Oferta de matérias-primas para fertilizantes nitrogenados e sulfatados em2004.

Produção Capacidade Balançonacional instalada capacidade/oferta- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (t) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Amônia 910.626 194.762 1.105.338 1.523.000 138

Enxofre 114.000 1.797.972 1.911.972 114.000 8

Ácido sulfúrico 4.206.165 494.839 4.701.004 4.950.000 105

Fonte: ANDA (2005).

Produto Importação Total

Considerando especificamente os fertilizantes nitrogenados con-sumidos no Brasil, é interessante notar que a capacidade instalada equivalepraticamente à produção de 2004, com exceção apenas da uréia, cuja pro-dução efetiva atingiu não mais que 50% da capacidade instalada de produ-ção nesse período (Tabela 2).

As implicações práticas desses dados são que, a curto prazo, nãohá espaço para aumento da capacidade nacional de produção, considerandoque essa capacidade já está operando no limite de produção para sulfato deamônio, nitrato de amônio, MAP, DAP e fertilizantes complexos.

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Mesmo no caso da uréia, cuja produção atual é de 50% dacapacidade instalada, as limitações operacionais e as necessidades defreqüentes paralisações das plantas para “revamp” e manutenção nãopermitem antever, a curto prazo, uma mudança de cenário nesse senti-do. Esse quadro se torna mais nebuloso se consideramos possíveis au-mentos da demanda a médio e longo prazos, a menos que grandes inves-timentos sejam feitos para aumentar a produção nacional desses fertili-zantes.

Os dados apresentados na Figura 16 para o S indicam um au-mento significativo do consumo aparente nos últimos 10 anos, passandode 581 mil toneladas em 1994 para 1,16 milhões de toneladas em 2004.Deve-se levar em conta que essas estimativas de evolução de consumode S no Brasil são subestimadas, pois as únicas fontes consideradaspara a elaboração dos dados da Figura 16 foram o sulfato de amônio e osuperfosfato simples, não incluindo o significativo aumento do consumodo gesso agrícola, observado nos últimos anos. Em 2005, a Fosfertil, emUberaba e Cubatão, comercializou aproximadamente 1 milhão de tone-ladas de gesso agrícola. Incluíndo a comercialização pela Copebrás, emCatalão, o total para o Brasil, neste ano, deve ter alcançado 1,5 a 2 milhõesde toneladas, o que corresponderia a aproximadamente 225 a 300 miltoneladas de S. Estima-se que a quantidade de gesso agrícola acumula-da nesses três locais, resultante da fabricação do ácido fosfórico para a

Tabela 2. Oferta de matérias-primas para fertilizantes nitrogenados e sulfatados em2004.

Produção Capacidade Balançonacional instalada capacidade/oferta

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (t de N) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Sulfato de amônio 50.388 319.600 369.988 50.400 13,6

Uréia 390.957 801.523 1.192.480 790.740 66,3

Nitrato de amônio 105.315 73.811 179.126 138.040 77,1

MAP 103.213 237.352 340.565 102.050 30,0

DAP 1.273 51.370 52.643 1.440 2,7

Complexos 87.787 175.081 262.868 87.787 33,3

Fonte: ANDA (2005).

Produto Importação Total

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fabricação do superfosfato triplo, atinja um total de 57 milhões de tone-ladas (MAMPRIN, 2005)2.

Uma comparação do perfil de consumo do sulfato de amônio e dosuperfosfato simples, como fontes de S, em 1994 e 2004, pode ser vista naFigura 17.

Os dados da Tabela 3 mostram que, do total de consumo aparentede S em 2004, a capacidade instalada de produção de sulfato de amônio noBrasil, operando em sua capacidade plena, foi capaz de atender apenas13,3% da demanda nacional de S via fornecimento desse fertilizante. Já emrelação ao superfosfato simples, a capacidade instalada é superior à de-manda em 6%.

No tocante ao consumo atual de N e S no Brasil, outro fato quemerece uma reflexão refere-se à relação N:S. Considerando-se todo oconsumo aparente desses nutrientes em 2004, via aplicação dos mesmos(Tabelas 1, 2 e 3), seria alcançada uma relação N:S de 2:1, sem levar emconta a contribuição da fixação biológica de N, e de 4,3:1 levando-se em

Figura 16. Evolução no consumo de enxofre no Brasil no período de 1985 a 2004.Fonte: COMITÊ DE ESTATÍSTICA (2205)1.

1 COMITÊ DE ESTATÍSTICA, ANDA, São Paulo, comunicação pessoal, 2005.2 MANPRIN NETO, J., Fosfertil, Cubatão, comunicação pessoal, 2005.

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conta essa contribuição. Se considerarmos que a relação N:S na proteínaé, em geral, da ordem de 10:1 a 12:1, isso reforçaria que o atual consumode N no Brasil está consideravelmente abaixo dos níveis consideradosadequados.

5. TENDÊNCIAS

De acordo com Food and Agriculture Organization of the UnitedNations - FAO, a projeção de aumento absoluto na produção mundial dasculturas no período de 1995/97 até 2030, isto é, 34 anos, é estimada em57%. Essa taxa de crescimento será maior nos países em desenvolvimento,

Tabela 3. Oferta de matérias-primas para fertilizantes sulfatados em 2004.

Produção Capacidade Balançonacional instalada capacidade/ferta

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - (t de S) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Sulfato de amônio 57.798 374.165 431.963 57.600 13,3

Superfosfato simples 582.849 42.767 605.616 642.700 106,1

Fonte: ANDA (2005).

Produto Importação Total

Figura 17. Evolução do perfil de consumo aparente de fertilizantes com enxofre noBrasil (1994 e 2004).

Fonte: ANDA (1995, 2005).

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os quais deverão responder por 72% da produção mundial em 2030, emcomparação com 53% em 1961/63 (FAO, 2000).

Para alcançar as produções e as produtividades previstas pelaFAO para o ano 2030, estima-se que o consumo mundial de fertilizantesterá que aumentar das 138 milhões de toneladas de N + P2O5 + K2O consu-midas no ano 2000, para algo entre 167 a 199 milhões de toneladas em 2030.Isto representa um crescimento anual entre 1,3% ao ano (mantendo-se ocenário da linha básica anterior) e 0,7% (com aumento da eficiência dosfertilizantes e das tecnologias de aplicação), em comparação com a taxamédia anual de crescimento de 2,3% ao ano, observada entre 1970 e 2000(Figura 18) (FAO, 2000).

Figura 18. Perspectivas da evolução do consumo aparente de fertilizantes(N + P

2O

5 + K

2O) no mundo até 2030.

Fonte: FAO (2000).

Especificamente em relação ao Brasil, a atual crise da agricultu-ra que fez o consumo de fertilizantes cair de 22,8 milhões de toneladas deN + P2O5 + K2O em 2004 para 20,2 milhões em 2005, irá, certamente, fazerdiminuir no futuro próximo a taxa de crescimento de 8,5% ao ano observadaentre 2000 e 2004, e que apenas em 2010 o patamar atingido em 2004voltará a ser alcançado (Figura 19).

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183Uso Eficiente de Fertilizantes Nitrogenados e Sulfatados...

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A curto prazo, quaisquer possíveis aumentos na demanda de Nna agricultura brasileira deverão ser supridos pelo aumento das importa-ções de fertilizantes nitrogenados, a menos que se façam investimentossubstanciais para ampliar a produção efetiva das plantas de uréia já exis-tentes no Brasil.

A médio e longo prazos, essa necessidade de investimentos paraaumento da produção nacional é ainda mais crítica, face aos possíveis au-mentos do consumo aparente de N, principalmente a longo prazo.

Especificamente em relação às culturas que produzem alimentosque formam a cesta básica, há uma necessidade premente de ações quelevem a um incremento substancial no uso eficiente de N mas, principal-mente, de ações que permitam maior implementação de tecnologias queaumentem a eficiência das adubações nitrogenadas. Isto é de fundamentalimportância se forem almejados aumentos de produtividade com susten-tabilidade e para que a vocação agrícola brasileira possa ser exercida emsua plenitude.

Figura 19. Perspectivas da evolução do consumo aparente de fertilizantes(N + P

2O

5 + K

2O) no Brasil até 2010.

Fonte: DAHER (2006).

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184 Nitrogênio e Enxofre na Agricultura Brasileira

Dada a importância que representa a reciclagem de resíduos or-gânicos na dinâmica de N e S no solo e nas plantas, há necessidade deampliar a base de conhecimentos sobre o assunto e a divulgação mais efi-caz das vantagens dessa reciclagem.

Como a uréia é a fonte que representa quase 50% do N utilizadono Brasil, e a tendência que essa percentagem até possa vir a aumentar,seria de fundamental importância uma maior divulgação das tecnologias deuso desse fertilizante que minimizem as possíveis perdas por volatilização etambém um esforço da indústria no desenvolvimento de processos de fabri-cação que possam diminuir essas possíveis perdas.

Cabe também à indústria esforços no sentido de desenvolvimentode produtos menos agressivos ao ambiente, com redução dos custos para oconsumidor final e que permitam maior retorno econômico das adubações.

O desenvolvimento de pesquisas que permitam avaliar a capaci-dade do solo em suprir N para as plantas, fato que ainda se constitui umgargalo para uma adubação nitrogenada mais eficiente, deve merecer aten-ção especial.

Face ao desenvolvimento do sistema plantio direto e da integraçãolavoura-pecuária, além das alterações que sistemas podem causar na dinâ-mica de N e S no solo e na planta, caberia um esforço extra de pesquisasnesse sentido.

No caso específico do S, torna-se de grande importância a procu-ra de soluções tecnológicas e econômicas que permitam uma maior utiliza-ção das milhões de toneladas de gesso agrícola acumuladas em Cubatão,Uberaba e Catalão, principalmente nas áreas de pastagens no Brasil.

Cabe, finalmente, no momento em que o IPNI (POTAFOS) pro-move a edição do livro sobre Nitrogênio e Enxofre na Agricultura Brasilei-ra, que veio se somar aos anteriores, que envolveram Fósforo na Agricultu-ra Brasileira e Potássio na Agricultura Brasileira, além de dezenas de publi-cações e ações de difusão de tecnologia, que contribuíram para o desenvol-vimento da agricultura brasileira, fazer alguns comentários sobre três pon-tos de particular relevância:

a) Em termos ambientais: o aumento da produção de 49,6 milhõesde toneladas, das 16 principais culturas no Brasil, base seca, em 1970/1971,

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para 190,7 milhões de toneladas em 2003/2004 (aumento de 3,8 vezes), foiconseqüência muito mais do aumento da produtividade de 1,4 toneladas porhectare para 3,3 toneladas por hectare (aumento de 2,4 vezes) que do au-mento da área cultivada de 38 milhões de hectares para 57,6 milhões dehectares (aumento de 1,5 vezes). Com isso, deixou-se de desmatar o equi-valente a 80 milhões de hectares para alcançar os índices atuais de produ-ção (Figura 20);

Figura 20. Evolução da área plantada, produção das 16 principais culturas (basematéria seca) e produtividade no Brasil no período de 1970/71 a 2003/4.

Fonte: Adaptada de LOPES et al. (2003); IBGE (2005).

b) Em termos econômicos: o agronegócio brasileiro, que alcançou,em 2004, R$ 534 bilhões, o que equivale a 33% do Produto Interno Bruto deR$ 2.776 bilhões, representou cerca de 37% dos empregos e 40% das ex-portações. Se não fosse o desenvolvimento alcançado “dentro da porteira”esses índices não seriam atingidos.

c) Em termos sociais: em janeiro de 2000, o índice de preços reaisdos produtos da cesta básica caiu para 1/3 daquele de setembro de 1975,mostrando uma queda ímpar nesse período. Essa foi, talvez, a maior con-tribuição que o desenvolvimento da agricultura proporcionou ao Brasil eaos brasileiros, principalmente ao segmento de baixa renda da população(Figura 21).

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186 Nitrogênio e Enxofre na Agricultura Brasileira

7. REFERÊNCIAS

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ANDA. Associação Nacional para Difusão de Adubos. Anuário estatísti-co do setor de fertilizantes para 2004. São Paulo: Comitê de Estatística,2005. 162 p.

BARBOSA NETO, M. A.Panorama e pespectivas do mercado brasileirode fertilizantes. In: FÓRUM BRASILEIRO DE FERTILIZANTES, SãoPaulo, 2004. Palestra... São Paulo: IPT, 2004.

DAHER, E. Short - to medium - term fertilizer demand prospects in Brazil.In: IFA ANNUAL CONFERENCE, 74., 2006, Cape Town, África do Sul.Palestra... Paris: IFA, 2006.

DIAS, J. C. Raízes da fertilidade. São Paulo: Calandra Editorial, 2005. 132 p.

Figura 21. “Involução” dos índices de preços reais dos produtos da cesta básicade Setembro de 1975 a Janeiro de 2000.

Fonte: PORTUGAL (2002).

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FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Fertilizeruse by crop in Brazil. Roma, 2004. 52 p.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTI-CA. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, 2005. Disponí-vel em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/default.shtm>

IFA. International Fertilizer Industry Association. Nitrogen, phosphateand potash statistics. 2004. Disponível em: <http://www.fertilizer.org/ifa/statistics/ifadata/dataline.asp#consumption%20statistics>

LOPES, A. S. Manual internacional de fertilidade do solo. Tradução eadaptação do original em inglês. Piracicaba: POTAFOS-PPI-PPIC, 1998.177 p.

LOPES, A. S.; GUILHERME, L. R. G.; SILVA, C. A. P. da. Vocação daterra. São Paulo: ANDA, 2003. 23 p.

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