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Sayonara Piano Sonata 1 | Light Novel Project Capítulo 1: O Verdadeiro Nome — Como se pronuncia o seu nome? Em uma certa segunda-feira depois da escola, no final do semestre, Mafuyu me fez essa pergunta. Logo após isso, a porta da classe se abriu, revelando o pátio da escola do lado de fora. O barulho das cigarras emanava de algum lugar desconhecido, nas sombras das árvores. Era bem irritante. Eu pressionava meu rosto contra o chão, tentando apertar os parafusos da parte de baixo da porta com uma chave de fenda. Pensei ter escutado errado, por isso me levantei. — O quê? Você disse alguma coisa? Mafuyu estava sentada na longa mesa que fica ao lado da bateria, do lado esquerdo da estreita sala de aula. Ela pressionava a garrafa gelada de Oolong que eu tinha acabado de comprar para ela contra seu rosto. Pelo visto, ela não deve lidar muito bem com o calor. Não era só o seu rosto que estava mais vermelho do que de costume, até sua nuca - escondida sob seus cabelos castanhos - e seus braços - escondidos sob as mangas curtas de seu uniforme de verão - estavam tingidos por um vermelho pálido. Contudo, ela não suava uma gota sequer. Seus olhos azuis pareciam um tanto atordoados. — Seu nome. Ainda não sei como se pronuncia o seu nome. Como se pronuncia o meu nome? Nós somos da mesma sala, sentamos perto um do outro e até participamos do mesmo clube, e mesmo assim ela ainda não sabe? Mas... pensando bem, não tinha como ela saber. Não faz muito tempo que voltou do exterior, por isso ela não deve ser muito boa com kanjis. — Todo mundo chama você de “Nao isso, Nao aquilo”... Eu não faço a menor ideia de como se pronuncia o resto do seu nome. Naoki?

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Sayonara Piano Sonata

1 | Light Novel Project

Capítulo 1: O Verdadeiro Nome

— Como se pronuncia o seu nome?

Em uma certa segunda-feira depois da escola, no final do semestre, Mafuyu me fez essa

pergunta. Logo após isso, a porta da classe se abriu, revelando o pátio da escola do lado de fora.

O barulho das cigarras emanava de algum lugar desconhecido, nas sombras das árvores. Era

bem irritante. Eu pressionava meu rosto contra o chão, tentando apertar os parafusos da parte

de baixo da porta com uma chave de fenda. Pensei ter escutado errado, por isso me levantei.

— O quê? Você disse alguma coisa?

Mafuyu estava sentada na longa mesa que fica ao lado da bateria, do lado esquerdo da

estreita sala de aula. Ela pressionava a garrafa gelada de Oolong que eu tinha acabado de

comprar para ela contra seu rosto. Pelo visto, ela não deve lidar muito bem com o calor. Não

era só o seu rosto que estava mais vermelho do que de costume, até sua nuca - escondida sob

seus cabelos castanhos - e seus braços - escondidos sob as mangas curtas de seu uniforme de

verão - estavam tingidos por um vermelho pálido. Contudo, ela não suava uma gota sequer. Seus

olhos azuis pareciam um tanto atordoados.

— Seu nome. Ainda não sei como se pronuncia o seu nome.

Como se pronuncia o meu nome? Nós somos da mesma sala, sentamos perto um do

outro e até participamos do mesmo clube, e mesmo assim ela ainda não sabe? Mas... pensando

bem, não tinha como ela saber. Não faz muito tempo que voltou do exterior, por isso ela não

deve ser muito boa com kanjis.

— Todo mundo chama você de “Nao isso, Nao aquilo”... Eu não faço a menor ideia de

como se pronuncia o resto do seu nome. Naoki?

Capítulo 01

2 | Light Novel Project

— Não, não é assim. — Ela deve ter lido errado. — Err... por que você está perguntando

isso assim, do nada?

— Porque você sempre me chama pelo nome! É injusto.

Injusto, é? Devido à situação atual, eu não podia simplesmente mudar o jeito que a

chamo - de "Mafuyu" para "Ebisawa-san" - mesmo se ela quisesse (além do mais, ela ficaria

brava se eu fizesse isso). Provavelmente vai haver ainda mais mal-entendidos se ela me chamar

diretamente pelo nome, não é? Mas não é como se já não houvesse mal-entendidos, de

qualquer forma.

— …A pronúncia é Naomi. Soa bem feminino, por isso todo mundo me chama de Nao.

— Entendi. Naomi.

— Sim?

— Só estou testando. Você não gosta dele?

Não é que eu o odeie, mas... dá um pouco de vergonha.

Desviei meus olhos de Mafuyu e voltei a agachar perto da porta.

— Naomi.

Sayonara Piano Sonata

3 | Light Novel Project

— Dá para parar de ficar falando o meu nome sem motivo?

— Não, dessa vez eu tenho motivo.

Levantei minha cabeça e vi Mafuyu balançando gentilmente a garrafa em sua mão.

— Isso é fácil, abra você mesma.

Quando eu estava prestes a dizer isso, lembrei que seus dedos estavam imóveis.

Coloquei a chave de fenda no chão e fui até seu lado para abrir a tampa. Ela pegou a garrafa de

mim sem nem me agradecer e deu um grande gole. Sua expressão mudou imediatamente e sua

língua saltou para fora em sinal de repulsa.

— O que foi?

— É amargo demais! Não tem açúcar nesse chá Oolong. Idiota, por que comprou desse

tipo?

Não, normalmente não se coloca açúcar no chá Oolong, certo? Ah, espera um pouco...

— É a primeira vez que você toma chá Oolong do Japão?

Bom, ela morava fora desde que era pequena. E eu me lembro que, embora o chá

Oolong gelado seja originário do Japão, a China se tornou o maior exportador do chá. Também

ouvi dizer que chá Oolong com açúcar se tornou popular em outros países.

— O que eu tomei na turnê da China era bem doce! Não, não dá para beber isso.

Capítulo 01

4 | Light Novel Project

Mafuyu levantou da mesa e colocou a garrafa do meu lado, no chão.

— Toma, pode ficar com o resto.

Não pude evitar olhar para a boca da garrafa na qual Mafuyu havia bebido, e então olhar

para seus lábios, molhados pelo chá que ela havia tomado. Depois de estarmos no mesmo clube

por cerca de duas semanas, acabei conhecendo mais sobre ela, e uma das coisas que descobri

foi o fato de como ela era insensível em relação a coisas como essa.

— Mas o chá Oolong que eu comprei nos Estados Unidos era doce...

Murmurou para si mesma enquanto se dirigia até o canto da sala. Ela abriu habilmente

a capa da guitarra com sua mão esquerda e tirou sua Stratocaster favorita. Seu jeito de afinar

era único - ela usava apenas a mão esquerda. Seu dedo indicador gentilmente pressionava os

pontos nodais, enquanto o mindinho puxava as cordas. Tudo que sua mão direita fazia era

segurar o corpo da guitarra; ela não usava nenhum dedo daquela mão.

No fim, acabou que os três dedos da mão direita de Mafuyu, com exceção do polegar e

do indicador, estavam completamente imóveis. De acordo com o diagnóstico inicial de um

especialista americano, eles provavelmente precisariam de um bom tempo até conseguirem

voltar ao normal. Talvez algum dia ela tenha que ir ao exterior para tratá-los.

Ainda assim... De qualquer forma, Mafuyu voltou dos Estados Unidos.

De volta para o colégio que eu estudava.

Sayonara Piano Sonata

5 | Light Novel Project

Foi bem assustador o quão rápido as fofocas das revistas se espalharam. Um mês antes

dela ir para os Estados Unidos, várias revistas já haviam publicado fotos coloridas de Mafuyu em

suas capas. Os passos da garota prodígio do piano, que havia desaparecido dos palcos

internacionais há dois anos, eram do conhecimento de todos, provavelmente devido ao fato de

que seu pai - o "mundialmente renomado Ebisawa" - estava viajando com ela. Para completar,

todos sabiam sobre seus dedos.

Disseram que, quando Mafuyu voltou para o Japão com seu pai no começo do mês, um

monte de repórteres se amontou no aeroporto. Contudo, enquanto seu pai pegava as malas,

Mafuyu desapareceu. O boato é que ela foi levada por três adolescentes desconhecidos, e

depois de alguma investigação, os suspeitos foram identificados como sendo membros de um

certo Clube de Pesquisa de Música Popular que mantinha atividades secretas.

Está tudo bem mesmo em sermos descritos desse jeito...?

Depois disso, liguei para Ebichiri, pedindo ajuda para que ele explicasse tudo para a

mídia. Ele ficou furioso.

Demorou duas semanas até que as coisas ao redor de Mafuyu finalmente se acalmassem.

A pianista Ebisawa Mafuyu sempre foi bem quieta, mas agora ela tem sua guitarra. Para

ela, sua guitarra provavelmente não era algo que usava para fugir, mas sim um outro caminho

pelo qual trilhar.

Depois que terminei de arrumar a porta, fechei a garrafa do chá Oolong. Então eu me

levantei, fui até o lado de Mafuyu e peguei meu baixo.

Capítulo 01

6 | Light Novel Project

— O que aconteceu? Por que a Ebisawa está te chamando de Naomi?

Chiaki, que estava atrasada, fez essa pergunta de um jeito desgostoso, então se sentou

no banco da bateria e bebeu o que restou do chá Oolong da Mafuyu. Como esperado de uma

faixa preta de judô - embora o tamanho de seu corpo fosse parecido com o da Mafuyu, quando

ela me encarou com aqueles olhos arregalados, parecia que iria me agarrar pela nuca a qualquer

momento, apesar de estar a uma distância considerável de mim. Depois de muito trabalho,

finalmente consegui selar o vão debaixo da porta, o que significava que finalmente iríamos

poder ligar o ar-condicionado - apesar que já entra uma brisa fresca aqui, por isso não acho que

o ar-condicionado seja realmente necessário.

O problema começou com o chá Oolong. Chiaki notou a garrafa assim que entrou na

sala. "Isso é do Nao, né? Então eu vou beber!" E dizendo isso, se preparou para dar uma grande

golada na garrafa. Nessa hora, Mafuyu disse com uma voz estranhamente irritada, "Fui eu quem

dei isso pro Naomi!"

Por que vocês estão fazendo isso? Vão lá pra fora se querem brigar!

— Olha só! Desde quando o Nao era criança, tiram sarro dele por causa do seu nome

feminino, o que acabou levando a um trauma psicológico. Quando ele escuta alguém o chamar

pelo nome, fica com tanto medo que acaba fazendo xixi na cama de noite! — Mentira! Para de

inventar história! — É por isso que fiz com que todo mundo chamasse ele de Nao, então por que

você está chamando ele pelo primeiro nome?

— Vai saber... — Mafuyu respondeu sem dar muita importância. — Chamo ele do jeito

que eu quiser.

Sayonara Piano Sonata

7 | Light Novel Project

— Ótimo! Então vou te chamar de Mafuyu!

— Já faz um bom tempo que pedi pra vocês me chamarem assim.

— Ah, é.

Mafuyu continua não gostando de ser chamada pelo sobrenome. Parecia que ela ainda

não havia se reconciliado com o seu pai completamente.

— Assim não dá. Tem que ter um apelido mais vergonhoso pra você. Ebi-chan já

pegaram... Hum, já o que o seu nome é Mafuyu... o que acha de Mafu-Mafu?

— Ficou bem estranho. Com certeza as pessoas vão achar que você entendeu o meu

nome errado.

— Até parece.

Usando o surdo como mesa, Chiaki e Mafuyu continuaram a tirar sarro uma da outra.

Achei tudo aquilo bem bobo, por isso me foquei em afinar meu baixo. Quando terminei de afinar

e estava prestes a ligá-lo no amplificador, parecia que Mafuyu já havia se cansado de discutir

com Chiaki, que ficava falando "Mafu-Mafu" sempre que tinha chance. Mafuyu dirigiu a atenção

de volta para sua guitarra.

Com a palheta nos lábios, ela enfiou os dedos - que mal tinham força - dentro dos anéis

da palheta e, no instante seguinte, agitou a mão para baixo com força. Uma série de sons graves

saiu do amplificador Marshall como uma poderosa onda; o impacto fez com que eu sentisse

como se uma broca tivesse atingido as minhas costas. Meu corpo tremia descontroladamente -

apertei novamente meu baixo com as mãos suadas.

Capítulo 01

8 | Light Novel Project

Mafuyu não usava nenhum tipo de efeito, por isso o som estava como ele é de verdade:

a guitarra e o amplificador - a mais pura forma de energia produzida pela combinação das

tecnologias das companhias Fender e Marshall. Hanon <O Pianista Virtuoso - Exercício 43> -

embora ele devesse ter um tom bem monótono - normalmente usado para praticar técnicas de

dedilhado - as notas emitidas pela guitarra de Mafuyu nunca falhavam em acelerar o coração

palpitante que há dentro de mim.

Quando voltei meu olhar para o baixo, de repente ouvi o som dos pratos. Ele se misturou

com a guitarra da Mafuyu enquanto tocava semicolcheias, produzindo um forte som metálico.

O bumbo entrou com tudo, como se conduzisse a todos. As baquetas nas mãos de Chiaki se

moviam ritmicamente à grande velocidade, pareciam até as asas de uma libélula dançando no

ar.

Mafuyu olhou para cima de repente e interrompeu a performance abruptamente.

Pensei que Chiaki tivesse parado de tocar ao mesmo tempo, mas na realidade ela estava

observando a respiração da Mafuyu e conseguiu pegar o seu tempo perfeitamente quando esta

terminou de tocar. Então elas estavam tendo uma discussão com seus instrumentos depois da

briga de antes? Bom, ultimamente os ensaios sempre tem começado mais ou menos assim... e

tudo graças à presidente que está sempre atrasada! Prendi a respiração e gentilmente toquei as

cordas do meu baixo. Mergulhei em minhas próprias notas na melodia de metralhadora e

procurei pelo meu próprio espaço.

De repente, as portas se abriram e um jato de ar quente entrou na sala, interrompendo

a jam session.

— Bom dia, camaradas! Vocês já estão com a corda toda, é? Estou gostando de ver!

Sayonara Piano Sonata

9 | Light Novel Project

Havia uma silhueta alta e esbelta na entrada. Seus olhos eram penetrantes, como os da

Rainha dos animais. Seus longos cabelos negros estavam presos devido ao calor, fazendo com

que ela parecesse ainda mais impressionante. Ela era a presidente do nosso Clube de Pesquisa

de Música Popular: Kagurazaka Kyouko-senpai.

Senpai não estava usando gravata, e as primeiras casas de sua camisa estavam

desabotoadas, de um jeito que eu não sabia para onde deveria olhar. Ela carregava uma guitarra

nos ombros. Considerando o quanto estava suando, ela deve ter acabado de chegar na escola

com sua bicicleta (se tivesse chegado de manhã, teria deixado a guitarra na sala como eu e a

Mafuyu fizemos). Essa menina é sempre assim, como é que ela não repetiu de ano? E para piorar,

nem mensalidade ela paga. Esse mistério provavelmente era estranho o bastante para entrar na

lista dos Sete Mistérios Inconcebíveis da nossa escola.

— A Camarada Ebisawa também não parece muito feliz hoje - mas que bela visão! —

Senpai elogiou Mafuyu enquanto passava por mim para se aproximar dela. Mafuyu não tinha

para onde fugir, tudo que ela podia fazer era esperar enquanto a Senpai a abraçava e esfregava

as bochechas contra as suas. Em vez de sentir nojo, Mafuyu parecia estar apenas com vergonha.

Ela me olhou com uma expressão que implorava por ajuda, fazendo com que eu também me

sentisse incomodado.

— Ah, fica tranquila que eu não me esqueci de você, Camarada Aihara! Seu cabelo está

um pouco mais curto? Hum, continua fofa mesmo assim.

Com isso, Senpai abraçou a cabeça da Chiaki e afagou seus cabelos. Chiaki parecia bem

feliz, e até enterrou a ponta do nariz no peito da Senpai. Eu estava quase pedindo desculpas por

estar atrapalhando antes de sair da sala.

— Jovem, foi você quem arrumou a porta? — Senpai voltou a conversa para mim de

repente.

Capítulo 01

10 | Light Novel Project

— Quê? Ah. F-foi.

Já que a porta não fechava direito, o barulho podia vazar. Além disso, o vão não deixava

o ar-condicionado funcionar direito.

— Bom, é ótimo que o som não vai mais vazar — Senpai olhou para a porta e falou

suavemente — Mas isso também significa que o ar-condicionado vai ficar bem mais forte.

Mas isso não é bom? A melhor parte sobre os clubes de música é que podemos usar o

ar-condicionado durante o verão, não é? Nessa hora, Senpai soltou Chiaki e se inclinou na minha

direção.

— Uma das cenas mais belas do Japão durante o verão são as camisas brancas de jovens

garotas ficando transparentes e molhadas devido ao suor de seus corpos. Porém, devido ao uso

cada vez mais frequente de ares-condicionados, essas belas cenas estão aos poucos

desaparecendo de nossas vistas. O que você acha, jovem? Se praticarmos sem ar-condicionado...

— Por favor, me poupe disso! Estamos em quatro nessa sala toda fechada, certo!?

Uma das coisas que descobri só depois de entrar no clube, que consistia em três garotas

e um garoto... era o fato de que... a Kagurazaka-senpai gostava mesmo de garotas. No começo

eu achava que era só brincadeira, mas essa menina fala sério mesmo.

— E se jogarmos água em nós mesmos antes de começarmos? — Chiaki sugeriu.

— Nem pensar! Assim você vai estragar os instrumentos — Mafuyu fez uma objeção

surpreendentemente séria.

Sayonara Piano Sonata

11 | Light Novel Project

— Camarada Aihara, você não entende. Suor não é apenas água com sal, mas também

é o sangue dos proletários, tudo em prol da revolução!

Chiaki inclinou a cabeça - ela provavelmente não fazia ideia do que a Senpai estava

falando. Bom, eu também não.

— E se praticarmos num lugar mais fresco, então? Eu quero ir pra praia!

— Como se desse pra praticar na praia...

— Dá pra praticar, sim! Na verdade, eu já consegui uma casa emprestada.

Senpai disse isso de repente, fazendo com que eu virasse a cabeça em sua direção com

o choque.

Uma casa?

— Um acampamento de verão pra ensaiarmos! Vamos no dia 28 de julho, e vai durar

três dias e duas noites. Como eu peguei a casa de um amigo meu, vai ser tudo de graça - além

disso, a casa fica do lado da praia!

Com isso, Senpai pegou uns folhetos de tamanho A4 - que ela mesma havia feito, sem o

nosso conhecimento - da capa de sua guitarra. Neles estava escrito "Detalhes do Acampamento

de Verão do Clube de Pesquisa de Música Popular". Eu estava sem reação devido à rapidez com

que tudo estava acontecendo.

— Uau, que incrível! Nao, olha isso, rápido!

Capítulo 01

12 | Light Novel Project

Chiaki saiu de trás da bateria e me passou uma folha. Eu não tinha a menor ideia do por

que os folhetos tinham sido impressos em cores, mas a imagem da casa branca sozinha ao lado

da praia, com o céu noturno de pano de fundo, era realmente convidativa.

— Não, bom... espera, essa é a primeira vez que escuto falar sobre esse acampamento.

A Senpai conseguiu permissão da professora?

— Não! Na teoria, só estamos indo nos divertir na praia.

Está tudo bem em fazer isso... Tudo bem mesmo?

— Se tivéssemos obtido permissão da escola pra organizarmos um acampamento oficial,

a professora encarregada teria que ir também, não é? Se fosse assim, as coisas seriam bem mais

complicadas. A senhorita Maki é linda e eu tenho vontade de ver ela usando biquíni; mas

ultimamente eu não tenho me interessado muito por pessoas mais velhas do que eu.

— Quê? Ah, err, o que eu falo - não, espera!

Bati com a minha mão no prato próximo a mim sem pensar duas vezes. O que diabos

essa menina está falando?!

— Por que você decidiu a data por conta própria?

— Fica tranquilo. As aulas de natação da Camarada Aihara são de segunda e sexta e eu

evitei os dias que a Mafuyu tem médico. O jovem não deve ter nenhum plano para as férias de

verão, certo?

Sayonara Piano Sonata

13 | Light Novel Project

— O que você disse?

— Você tem alguma coisa marcada?

Não, não tenho. Desculpa por isso. Mas então, como essa menina conseguiu descobrir

os nossos horários nas férias de uma forma tão detalhada?

— Você não quer ir, Nao? Vai ser na praia, sabe? Na praia!

Chiaki disse isso de forma entusiasmada enquanto pisava nos pedais do bumbo

repetidamente. Dei outra olhada na foto da casa. Um acampamento, hein... Nada de adultos por

perto e poderíamos fazer o que quiséssemos desde manhã até de noite - poderíamos ensaiar,

improvisar com os instrumentos e até brincar com fogos de artifício de noite. Parece bem

interessante... Não, espera um pouco!

— Olha, Senpai. Você disse que já conseguiu a casa, e isso significa que só vai ter nós

quatro lá, certo?

— É! Nada de adultos. Nada de aluguel. Apesar que vamos ter que limpar a casa em

troca.

— E isso significa que também vamos ter que cozinhar?

— Mas é claro.

Embora, no fundo, eu já soubesse que não fazia sentido perguntar, tentei mesmo assim.

Capítulo 01

14 | Light Novel Project

— ...Senpai, você sabe cozinhar?

Senpai balançou a cabeça enquanto me lançava um sorrisinho. Soltei um suspiro. Chiaki

era uma negação só cozinhando, e com os dedos da Mafuyu naquele estado...

— Pelo que ouvi da Camarada Aihara, parece que você é bem habilidoso na cozinha, já

que mora só com o seu pai há um bom tempo. Mal posso esperar por isso.

Ah, tanto faz. Sou eu quem prepara todas as refeições quando fico em casa nas férias,

de qualquer jeito. Embora o número de pessoas tenha aumentado, o tempo e o esforço gastos

para cozinhar serão os mesmos. Além do mais, até algo simples vai parecer delicioso na praia.

Oh, nós vamos nadar? Elas vão usar trajes de banho? Eu só vi a Chiaki usando o maiô da

escola. A Senpai tem um corpo bem bonito, será que ela vai levar algo bem chamativo, então?

Quanto à Mafuyu, ela nem participa das aulas de natação... Não, espera. Aguenta aí, Nao!

Estamos indo lá para praticar, não para nadar e pegar um bronze!

Então, percebi uma coisa - Mafuyu não havia dado um piu. Ela estava sentada na mesa,

olhando para o folheto do acampamento e apertando-o firmemente com as mãos. A expressão

em seu rosto sugeria que ela estava incomodada com alguma coisa. Sua guitarra estava prestes

a escorregar pelos joelhos.

— ...Camarada Ebisawa? O que foi? A data é ruim pra você?

Mafuyu balançou a cabeça em resposta à pergunta da Senpai.

— Se for ruim pra você, me avisa.

Sayonara Piano Sonata

15 | Light Novel Project

— Não é nada. Vamos continuar treinando.

Após murmurar essa resposta, ela enfiou o folheto no bolso da sua capa e agarrou o

braço da guitarra. Então havia mesmo alguma coisa a incomodando? Será que ela não quer ir

treinar na praia?

Kagurazaka-senpai não insistiu mais no assunto e também pegou sua guitarra.

Eu me lembrei daquele dia - as coisas que aconteceram no dia em que Mafuyu voltou

dos Estados Unidos. Os procedimentos para Mafuyu se juntar ao clube foram realizados no

banheiro feminino do aeroporto de Narita.

Nessa hora eu estava do lado de fora, vigiando. Que tipo de expressão Mafuyu esboçava

quando assinou o formulário de inscrição do clube? Sobre o que elas conversaram? Eu não tinha

ideia.

Após voltar para a classe, Mafuyu continuava com a mesma cara emburrada de antes;

e, em se tratando de interagir com o resto dos colegas, ela estava mais defensiva do que nunca.

Esses colegas, apesar de saberem sobre seus dedos, continuavam a tratá-la da mesma forma

que antes, provocando-a como se ela fosse um animal selvagem que não confia nas pessoas.

Tudo que acontecera antes parecia uma ilusão. Nada havia mudado. A única diferença

era que a Mafuyu tinha começado a participar nas atividades do clube com a gente.

— Naomi, tem sincopação demais. Fica desconfortável de ouvir.

— Naomi, para de se deixar levar pelo meu ritmo. Toca essas colcheias direito.

Capítulo 01

16 | Light Novel Project

Durante o ensaio, Mafuyu só reclamou de mim - embora parte do motivo fosse porque

eu era a pessoa com menos técnica da banda.

Durante essas duas semanas, o número de conversas entre mim e Mafuyu aumentou,

embora a maioria delas fosse sobre coisas relacionadas a música, por isso eu continuava a não

ter a mínima ideia do que a Mafuyu pensava quando ela estava com a banda.