capitulo4

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Page 1: capitulo4

4. Introdução à termodinâmica

4.1. Energia interna

O estabelecimento do princípio da conservação da energia tornou-se possível

quando se conseguiu demonstrar que junto com a energia mecânica, os corpos

macroscópicos possuem ainda uma energia interna, a qual se encontra no interior desses

corpos, e que essa energia contribui nos processos de transformações de energia que

ocorrem na natureza. Podemos então definir a energia interna como sendo a soma das

energias cinéticas do movimento caótico das partículas, e das energias potenciais de

interações dessas partículas entre si.

Observamos, no entanto que a energia interna não está relacionada com o

movimento do corpo como um todo, ou com a sua posição em relação a um dado

referencial. Para um gás monoatômico a Teoria cinética molecular nos diz que podemos

determinar a energia deste gás através da seguinte equação

nRTU23

= (1)

onde U (J/kg) é a energia interna, n o número de mols, R (J/mol K) a constante

universal dos gases e T a temperatura absoluta (K).

Esta expressão traduz, para os gases perfeitos monoatômicos, a denominada Lei de

Joule:

A energia interna de dada massa de um gás perfeito é função exclusiva da

temperatura do gás.

Em conseqüência, podemos estabelecer que:

aumento na temperatura (∆T > 0) ⇒ aumento de energia interna (∆U > 0)

diminuição na temperatura (∆T < 0) ⇒ diminuição de energia interna (∆U < 0)

temperatura constante (∆T = 0) ⇒ energia interna constante (∆U = 0)

Na exposição acima, consideramos um gás perfeito monoatômico porque, somente

nesse caso, podemos estabelecer uma relação simples para a energia interna. Para

atomicidade maior, a interação entre os átomos na molécula faz com que surjam outras

parcelas energéticas que se incluem na energia interna do gás, tornando mais complicada

Page 2: capitulo4

sua determinação. No entanto, a Lei de Joule e as conclusões dela tiradas são válidas para

gases de qualquer atomicidade.

4.2. Trabalho numa transformação gasosa

Certa massa de um gás perfeito está no interior de um cilindro cujo êmbolo se

movimenta livremente sem atrito e sobre o qual é mantido um peso, de modo que a pressão

sobre ele se mantenha constante. Ao colocar esse sistema em presença de uma fonte

térmica (Error! Reference source not found.), o gás recebendo calor, desloca lentamente

o êmbolo para cima de uma distância h. Ao fim desse deslocamento, retira-se a fonte.

W

Q

Fig. 1– Trabalho em uma transformação gasosa a pressão constante

No processo, o gás agiu sobre o êmbolo com uma força F produzindo o

deslocamento de módulo h, na direção da ação da força. Houve, portanto, a realização de

um trabalho dado por:

h FW = (2)

Sendo S a área do êmbolo sobre o qual a força age, a fórmula anterior não se

modifica, se escrevermos

S h SF

W = (3)

Como F/S é a pressão exercida pelo gás, que neste caso se mantém constante e h S é

a variação de volume sofrida pelo gás na transformação. Assim:

Page 3: capitulo4

∀= ∆ pW [ ] JmNmmN

=×=

3

2 (4)

A equação (4) é válida apenas para transformações isobáricas, ou seja, a pressão

constante.

O trabalho realizado no processo isobárico tem o sinal da variação do volume ∆∀,

visto que p é uma grandeza sempre positiva.

Na expansão isobárica, isto é, quando o volume aumenta, temos:

00 >⇒>∀ W∆ (5)

Neste caso, dizemos que o gás realizou trabalho, o que representa uma perda de

energia para o ambiente.

Se o gás sofrer uma compressão isobárica, isto é, se o volume diminuir, teremos

00 <⇒<∀ W∆ (6)

Portanto o ambiente é que realizou trabalho sobre o gás, o que representa para o gás

um ganho de energia do ambiente.

Podemos representar esta transformação em um sistema de eixos cartesianos, em

que se representa em ordenadas a pressão e em abscissas o volume (diagrama de

Clapeyron), a transformação isobárica é representada por uma reta paralela ao eixo dos

volumes (Fig. 2a). Este gráfico tem uma importante propriedade: a área da figura

compreendida entre a reta representativa e o eixo dos volumes mede numericamente o

módulo do trabalho realizado na transformação. Sendo a área do retângulo individualizado

na Fig. 2a o trabalho realizado no processo:

Page 4: capitulo4

(a)

(b)

Fig. 2– Determinação do trabalho através de um diagrama P-∀

Embora a propriedade acima tenha sido estabelecida para a transformação isobárica,

ela pode ser generalizada. Assim, qualquer que seja a transformação gasosa ocorrida, a área

A entre a curva representativa no gráfico e o eixo dos volumes (Fig. 2b) mede

numericamente o módulo do trabalho realizado no processo.

Observe que só haverá realização de trabalho na transformação, quando houver

variação de volume.

Exemplo 1: Numa transformação sob pressão constante de 800 N/m2, o volume de

um gás ideal se altera de 0.02m³ para 0.06m³. Determine o trabalho realizado durante a

expansão do gás.

∆∀ = ∀f - ∀i

∆∀ = 0.06m³ - 0.02m³

∆∀ = 0.04m³

W = p × ∆V = 800 N/m² × 0.04m³

W = 32 J

4.3. Calor trocado em uma transformação gasosa

Evidentemente, um gás pode sofrer inúmeras transformações e, em cada uma, trocar

uma quantidade de calor diferente. Mesmo que a variação de temperatura seja a mesma,

Page 5: capitulo4

verifica-se que o calor específico do gás é diferente para cada processo. Podemos então

dizer que cada gás possui infinitos calores específicos. Desses, dois apresentam particular

importância: o calor específico a pressão constante (Cp) e o calor específico a volume

constante (Cp).

Então, sendo m a massa de gás e ∆T a variação de temperatura sofrida num processo

isobárico, a quantidade de calor trocada pode ser dada por:

T C mQ pp ∆= (7)

Do mesmo modo, num processo isocórico, para a mesma massa m e para a mesma

variação de temperatura ∆T, a quantidade de calor trocada é dada por:

T C mQ VV ∆= (8)

É importante observar que sempre

Vp C C > (9)

Essa diferença se explica tendo em vista que, para uma mesma variação de

temperatura ∆T, o gás tem que receber maior quantidade de calor na transformação

isobárica, pois uma parte da energia recebida deve ser utilizada na realização do trabalho de

expansão.

A Tabela 1 fornece valores de calores específicos para alguns gases.

Tabela 1 – Calores específicos de alguns gases

Gás Cp (cal/g K) CV (cal/g K)

Argônio 0.125 0.075

Hélio 1.25 0.75

Oxigênio 0.218 0.155

Nitrogênio 0.244 0.174

Hidrogênio 3.399 2.411

Monóxido de

carbono

0.25 0.178

Dióxido de carbono 0.202 0.149

Amônia 052 0.396

Page 6: capitulo4

A relação entre o calor específico a pressão constante e o calor específico a volume

constante constitui o denominado expoente de Poisson do gás:

C

C

V

p=γ (10)

Essa grandeza é adimensional, sempre maior que a unidade, e seu valor é constante

para gases de mesma atomicidade. Assim temos:

gases monoatômicos: 35

gases diatômicos: 57

A diferença entre o calor específico a pressão constante e o calor específico a

volume constante é igual a constante universal dos gases R. Assim

RCC Vp =− (11)

A equação (11) é conhecida como relação de Mayer.

Exemplo 2: Sabendo-se que o calor específico a pressão constante e o coeficiente

de Poisson do Hélio são Cp = 1.25 cal/g °C e 5/3, respectivamente, e que 5g de Hélio são

aquecidas de 0°C até 20°C. Determine:

a quantidade de calor envolvida na transformação para o caso de uma transformação

sob pressão constante;

a quantidade de calor envolvida na transformação para o caso de uma transformação

a volume constante.

Qp = m Cp ∆T = 5g × 1.25 cal/g °C × (20 – 0)°C

Qp = 125 cal

da equação (10) temos que:

75035

./

C g cal/ 1.25

CC p

V =°

==γ

cal/g °C

QV = m CV ∆T = 5g × 0.75 cal/g °C × (20 – 0)°C

Qp = 75 cal

Page 7: capitulo4

4.4. Primeiro princípio da Termodinâmica

Durante uma transformação, o gás pode trocar energia com o meio ambiente sob

duas formas: calor e trabalho. Como resultado dessas trocas energéticas, a energia interna

do gás pode aumentar, diminuir ou permanecer constante.

O primeiro princípio da Termodinâmica é, então, uma Lei de Conservação da

Energia, podendo ser enunciado:

A variação da energia interna ∆U de um sistema é expressa por meio da diferença

entre a quantidade de calor Q trocada com o meio ambiente e o trabalho W realizado

durante a transformação.

Analiticamente

WQU −=∆ (12)

A convenção de sinais para a quantidade de calor trocada Q e o trabalho realizado W

é a seguinte:

calor recebido pelo gás: Q > 0

calor cedido pelo gás: Q < 0

trabalho realizado pelo gás

expansão: W > 0

compressão: W < 0

O primeiro princípio da Termodinâmica foi estabelecido considerando-se as

transformações gasosas. No entanto, esse princípio é válido em qualquer processo natural

no qual ocorram trocas de energia.

Exemplo 3: Um gás recebe 50 J de calor de um fonte térmica e se expande,

realizando um trabalho de 5 J

Q = 50 J e W = 5 J

A variação da energia térmica sofrida pelo gás é igual a:

∆U = Q – W = 50 J – 5 J = 45 J

Page 8: capitulo4

Fig. 3– Primeira lei da Termodinâmica

Transformações gasosas

Quando um gás perfeito sofre uma transformação aberta, isto é, uma transformação

em que o estado final é diferente do estado inicial, podemos estabelecer, em termos das

energias envolvidas no processo duas regras:

Só há realização de trabalho na transformação quando houver variação de volume;

Só há variação de energia interna quando houver variação da temperatura (Lei de

Joule).

Vimos que o trabalho realizado e a quantidade de calor trocada em uma

transformação isobárica são dados por:

∀= ∆ pW 13)

T C mQ pp ∆= (14)

O trabalho realizado tem seu módulo dado numericamente pela área individualizada

no diagrama de Clapeyron (Fig. 4a). Como, nessa transformação, o volume e a temperatura

absoluta variam numa proporcionalidade direta, podemos garantir que a energia interna do

gás varia, isto é, ∆U ≠ 0. Portanto, em vista do Primeiro Princípio da Termodinâmica, a

quantidade de calor trocada Qp e o trabalho realizado W são necessariamente diferentes,

pois como

∆U = Q – W, onde ∆U ≠ 0 e, portanto Q ≠ 0

Na transformação isocórica, em que o volume permanece Constante, não há

Page 9: capitulo4

realização de trabalho, sendo W = 0.

No diagrama de Clapeyron, essa transformação é representada por uma reta paralela

ao eixo das pressões (Fig. 4b).

(a)

(b)

Fig. 4– Trabalho realizado em: (a) uma transformação isobárica; (b) uma

transformação isocórica

A quantidade de calor trocada QV é dada pela Eq. (8). Tendo-se em vista o primeiro

princípio da termodinâmica, para a transformação isocórica (W = 0), teremos:

VQU =∆ (15)

Portanto, na transformação isocórica, a variação da energia interna é igual à

quantidade de calor trocada pelo gás.

Exemplo 4: Num dado processo termodinâmico, certa massa de um gás ideal recebe

calor de uma fonte térmica cuja potência é 20 J/min durante 13 min. Verifica-se que nesse

processo o gás sofre uma expansão, tendo sido realizado um trabalho de 60 joules.

Determine a variação de energia interna sofrida pelo gás.

t

QP

∆= assim T PQ ∆= = 20 J/min × 13 min = 260 J

O trabalho realizado pelo gás é portanto positivo, visto que ocorre uma

expansão

W = 60 J

W = p ∆∀

Q = m Cp

∆T

W = 0

Q = m Cp

∆T

Page 10: capitulo4

A variação da energia interna é determinada por

∆U = Q – W = 260 J – 60 J

∆∆U = 200J

Exemplo 5: Sob pressão constante de 20 N/m², um gás ideal evolui do estado A

para o estado B, cedendo, durante o processo 750 J de calor para o ambiente. Determine o

trabalho realizado sobre o gás no processo e a variação de energia interna sofrida pelo gás.

20

15

10

B

400300200100

A

T (K)

V (m )3

0

5

O gás perde no processo AB 750 J de calor, isto é, Q = - 750J.

O trabalho realizado sobre o gás no processo, já que esse gás sofre uma

compressão,, pode ser calculado por

W = P ∆∀ = 20 N/m² × (5 – 20)m³

W = - 300 J

Com a Primeira Lei da Termodinâmica podemos calcular a variação da energia

interna:

∆U = Q – W = -750 J – (-300J)

∆U = - 450 J

Portanto a energia interna no processo diminui.

Transformação isotérmica

Consideremos que, isotermicamente, um gás passe de um estado inicial 1,

caracterizado por p1 e ∀1, para um estado final 2, com p2 e ∀2. Com já vimos, essas

grandezas podem ser relacionadas por

Page 11: capitulo4

2211 ∀=∀ pp (16)

No diagrama de Clapeyron, a representação gráfica é uma hipérbole eqüilátera e o

módulo do trabalho realizado é dado, numericamente, pela área indicada na Fig. 5.

Fig. 5– Transformação isotérmica

De acordo com a Lei de Joule dos gases perfeitos, como a temperatura permanece

constante, a energia interna não varia, isto é:

∆T = 0 ⇒ ∆U = 0

Com o primeiro princípio da Termodinâmica (Eq. (12)), podemos concluir que em

uma transformação isotérmica

QW = (17)

Portanto, na transformação isotérmica, o trabalho realizado no processo é igual à

quantidade de calor trocada com o meio ambiente.

Por exemplo, se o gás recebe 20 J de calor do meio exterior, mantendo-se constante

a temperatura, ele se expande de modo a realizar um trabalho igual a 30J.

Observe que, para a transformação isotérmica de um gás, embora a temperatura

permaneça constante, ocorre troca de calor com o ambiente.

As considerações energéticas acima são válidas sempre que a temperatura final do

gás é igual à inicial, mesmo que ela tenha variado no decorrer do processo.

Observação:

Consideremos dois estado A e B de uma dada massa de gás perfeito monoatômico.

A passagem do estado inicial A para o estado final B pode realizar-se por uma infinidade de

Page 12: capitulo4

“caminhos”, dos quais indicamos três na Fig. 6

Fig. 6– Estado final e inicial de uma transformação

No entanto, sabemos que a variação de energia interna ∆U do gás pode ser

determinada pela expressão:

TnRU ∆∆23

= (18)

Em qualquer dos conjuntos de transformações indicados entre A e B, a variação de

temperatura ∆T é sempre a mesma, uma vez que os estados inicial e final são sempre os

mesmos. Concluímos, então, que a variação de energia interna é sempre a mesma. Assim:

A variação de energia interna sofrida por um gás perfeito só depende dos estados

inicial e final da massa gasosa; não depende do conjunto de transformações que o gás

sofreu, ao ser levado do estado inicial ao estado final.

Por outro lado, tendo em vista o primeiro princípio da Termodinâmica, ∆U = Q – W,

o trabalho realizado W e a quantidade de calor traçada com o ambiente Q, dependem do

caminho entre os estados inicial e final.

Realmente, pela Fig. 6, percebe-ser que o trabalho W, cujo módulo é medido

numericamente pela área entre a curva representativa e o eixo dos volumes, varia de

caminho para caminho. Como a variação de energia interna é sempre a mesma, a

quantidade calor trocada Q tem que ser diferente para cada caminho considerado.

Exemplo 6: Um gás recebe 80J de calor durante uma transformação isotérmica.

Qual a variação de energia interna e o trabalho realizado pelo processo.

Como o processo é isotérmico: ∆T = 0. Como a energia interna é função

Page 13: capitulo4

apenas da variação de temperatura temos que:

∆U = 0

Aplicando a Primeira lei da termodinâmica

∆U = Q – W,

W = Q - ∆U = 80J – 0J

W = 80J

Transformações adiabáticas

Chama-se adiabática a transformação gasosa em que o gás não troca calor com o

meio ambiente, seja porque o gás está termicamente isolado, seja porque o processo é

suficientemente rápido para que qualquer troca de calor possa ser considerada desprezível.

Assim:

0=Q (19)

Verifica-se que as três variáveis de estado (pressão, volume e temperatura) se

modificam num processo adiabático. Consideremos um estado inicial 1, caracterizado pelas

variáveis P1, ∀1 e T1, e um estado final 2, caracterizado pelas variáveis P2, ∀2 e T2. De

acordo com a Lei Geral dos Gases Perfeitos, vale escrever:

2

22

1

11

TP

TP ∀

=∀

(20)

Vale ainda, na transformação adiabática, a Lei de Poisson, expressa analiticamente

por:

γγ2211 ∀=∀ PP onde

V

p

C

C=γ (21)

Page 14: capitulo4

Fig. 7– Transformação adiabática

Graficamente, a transformação adiabática é representada, no diagrama de

Clapeyron, pela curva indicada na Fig. 7. Observe que essa curva vai da isoterma

correspondente à temperatura inicial (T1) à isoterma da temperatura final (T2). Como nas

outras transformações, a área indicada no diagrama mede numericamente o módulo do

trabalho realizado na transformação adiabática.

Em termos energéticos, ao sofrer uma transformação adiabática, o gás não troca

calor com o meio exterior, mas ocorre realização de trabalho durante o processo, uma vez

que há variação volumétrica. Aplicando a Primeira Lei da Termodinâmica, temos:

WQU −=∆ onde 0=Q (22)

WU −=∆ (23)

Portanto, numa transformação adiabática, a variação de energia interna ∆U é igual

em módulo ao trabalho realizado W, mas de sinal contrário.

Observe que, na expansão adiabática, o volume do gás aumenta, a pressão diminui e

a temperatura diminui, assim, se numa expansão adiabática o gás realiza um trabalho de 10

joules, energia interna do gás diminui de 10 joules.

W = 10 J ⇒ ∆U = - 10J (24)

Na compressão adiabática, o volume diminui, a pressão aumenta e a temperatura

aumenta, assim, se ocorrer uma compressão adiabática, na qual o ambiente realiza um

trabalho de 10 joules sobre o gás, a energia interna do gás aumenta 10 joules:

Page 15: capitulo4

W = -10 J ⇒ ∆U = 10J (25)

Exemplo 7: Um gás perfeito ocupa o volume de 8 litros sob pressão de 2 atm. Após

uam transformação adiabática, o volume do gás passou a 2 litros. Sendo o expoente de

Poisson γ = 1.5 (γ = Cp/Cv), determine a nova pressão do gás.

Lembrando que para uma transformação adiabática podemos escrever

γγ2211 ∀=∀ PP

podemos isolar P2 tal que

( )

( ) 51

51

2

112

2

82.

.PP

×=

∀∀

= γ

γ

P2 = 16 atm

Transformações cíclicas

Um gás sofre uma transformação cíclica ou realiza um ciclo quando a pressão, o

volume e a temperatura retornam aos seus valores iniciais, após uma seqüência de

transformações. Portanto, o estado final coincide com o estado inicial.

Consideremos o ciclo MNM realizado pelo gás, conforme indicado na Fig. 8a.

Como o gás parte do estado M e a ele retorna, a variação de energia interna ∆U sofrida pelo

gás é nula:

∆U = 0 (26)

Em vista da Primeira Lei da Termodinâmica:

∆U = Q – W (27)

0 = Q – W ⇒ W = Q (28)

Na transformação cíclica, há equivalência entre o trabalho realizado e a quantidade

de calor trocada com o ambiente.

Por exemplo, se o gás recebe 50 joules de calor do ambiente durante o ciclo, esse

gás realiza sobre o ambiente um trabalho igual a 50 joules. A recíproca é verdadeira: se o

gás perde, durante o ciclo, 50 joules de calor para o ambiente, este realiza sobre o gás um

Page 16: capitulo4

trabalho de 50 joules.

O módulo do trabalho realizado (e, portanto, da quantidade de calor trocado) é dado,

no diagrama de Clapeyron, pela área do ciclo, indicado na Fig. 8a.

Quando o ciclo é realizado no sentido horário, o trabalho realizado na expansão

(MN) tem módulo maior que o realizado na compressão (NM). Nesse caso, o trabalho total

W é positivo e, portanto, realizado pelo gás. Para tanto, o gás está recebendo uma

quantidade de calor Q equivalente do ambiente.

Portanto, ao realizar um ciclo em sentido horário (no diagrama de Clapeyron) o gás

converte calor em trabalho.

0

M

V

W

P

N

(a)

0

M

V

W

P

N

(b)

Fig. 8– Transformações cíclicas: a) trabalho positivo b) trabalho negativo

Se a transformação cíclica for realizada em sentido anti-horário, no diagrama de

Clapeyron (Fig. 8b), o módulo do trabalho realizado na expansão é menor que o módulo do

trabalho realizado na compressão. O trabalho total realizado W é negativo, representando

um trabalho realizado pelo ambiente sobre o gás. Como a quantidade de calor trocada é

equivalente, o gás perde calor para o ambiente.

Assim, ao realizar um ciclo em sentido anti-horário (no diagrama de clapeyron), o

gás converte trabalho em calor.

Exemplo 8: Um gás ideal sofre a transformação cíclica indicada no diagrama P-∀

abaixo. Qual o trabalho em joules realizado no ciclo.

W W

Page 17: capitulo4

P (atm)

4

4321 V ( )l0

2

O trabalho em um diagrama P-∀ é dado pela área interna ao ciclo. Assim

W = (4 – 1)l × (4 – 2)/2 atm = 3 atm l

em Joules, temos

m N 97.303l1m10

atmmN

101325latm 3W

332

=×××=−

W = 303.97 J

4.5. Segunda Lei da termodinâmica

No item anterior, vimos ser possível a interconversão entre calor e trabalho. A

Segunda Lei da Termodinâmica, tal como foi enunciada pelo físico francês Sadi Carnot,

estabelece restrições para essa conversão, realizada pelas chamadas máquinas térmicas.

Para haver conversão contínua de calor em trabalho, um sistema deve realizar

continuamente ciclos entre uma fonte quente e uma fonte fria, que permanecem em

temperaturas constantes. Em cada ciclo, é retirada uma certa quantidade de calor (Q1) da

fonte quente, que é parcialmente convertida em trabalho (W), sendo o restante (Q2)

rejeitado para a fonte fria.

A Fig. 9 representa, esquematicamente, uma máquina térmica, que pode ser uma

máquina a vapor, um motor a explosão de automóvel, etc.

Page 18: capitulo4

T 2

W

T 1

Fonte quente

Q1

Q2

Fig. 9– Máquina térmica de Carnot

Por exemplo, numa locomotiva a vapor, a fonte quente é a caldeira de onde é

retirada a quantidade de calor Q1 em cada ciclo. Parte dessa energia térmica é convertida

em trabalho mecânico W, que é a energia útil. A parcela de calor não aproveitada Q2 é

rejeitada para a atmosfera, que faz as vezes da fonte fria.

O rendimento de uma m´quina térmica é dado pela relação entre o trabalho W

obtido dela (energia útil) e a quantidade de calor Q1 retirada da fonte quente (energia total).

Assim:

1QW

=η (29)

Considerando em módulo as quantidade energética envolvidas, o trabalho obtido é a

diferença entre as quantidades de calor Q1 e Q2.

21 QQW −= (30)

Substituindo a Eq. (30) na Eq. (29), obtemos

2

1

1

21 1QQ

QQQ

−=−

=η (31)

Ciclo de Carnot

Carnot demonstrou que o maior rendimento possível para uma máquina térmica

entre duas temperaturas T1 (fonte quente) e T2 (fonte fria) seria o de uma máquina que

realizasse um ciclo teórico, constituído de duas transformações isotérmicas e duas

Page 19: capitulo4

transformações adiabáticas alternadas. Esse ciclo, conhecido como ciclo de Carnot, está

esquematizado na Fig. 10: AB é uma expansão isotérmica, BC é uma expansão adiabática,

CD é uma compressão isotérmica e DA é uma compressão adiabática.

0

Q T

V

2C

W

P

T1

D

A

2

B

Q1

Isotermas

Adiabáticas

Fig. 10– Ciclo de Carnot

No ciclo de Carnot, as quantidade de calor trocadas com as fontes quente e fria (Q1

e Q2) são proporcionais às respectivas temperaturas absolutas (T1 e T2):

2

2

1

1

TQ

TQ

= ou 2

1

2

1

TT

QQ

= (32)

Substituindo a Eq. (32) na Eq. (31), obtemos a expressão que fornece o máximo

rendimento entre as duas temperaturas das fontes quente e fria:

1

2

1

2máx T

T1

QQ

1 −=−=η (33)

Observe que o rendimento de uma máquina que realiza o ciclo teórico de Carnot

não depende da substancia de trabalho, sendo função exclusiva das temperaturas absolutas

das fontes fria e quente. Obviamente, essa máquina é ideal, uma vez que o ciclo de Carnot é

irrealizável na prática.

Exemplo 9: Uma máquina térmica, em cada ciclo, rejeita para a fonte fria 240

joules dos 300 joules que retirou da fonte quente. Determine o trabalho obtido por ciclo

nessa máquina e o seu rendimento

A quantidade de calor retirada por ciclo da fonte térmica quente é Q1 = 300 J

Page 20: capitulo4

e a rejeitada para a fonte térmica fria é Q2 240J. A energia útil, que é o trabalho obtido pro

ciclo na máquina é:

W = Q1 – Q2 = 200 – 240

W = 60J

O rendimento da máquina pode ser calculado por:

300240

1QQ

11

2 −=−=η

η = 0.2 (20%)