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Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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CAPÍTULO 4 – TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DE REVESTIMENTOS
FINOS
4.1 Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM)
4.1.1 Introdução
O grande impulso na caracterização de materiais com recurso à microscópia
electrónica ocorreu na década de 50, tendo-se comercializado o primeiro SEM -
Cambridge em 1965. No ano de 1982 foi instalado o primeiro Microscópico Electrónico
de Varrimento em Portugal, no então Centro de Metalurgia e Ciência de Materiais da
Universidade do Porto [4.1].
O SEM é um poderoso instrumento utilizado no apoio à investigação científica,
bem como no desenvolvimento e controlo da qualidade de materiais. Os domínios de
aplicação desta técnica estendem-se da caracterização microestrutural de amostras
(metais, cerâmicos, compósitos, biomateriais, revestimentos) até às aplicações em
geologia, medicina e biologia, caracterização de pós, etc.
A aplicação desta técnica à área dos filmes finos permite determinar a espessura,
analisar a microestrutura, identificar defeitos e impurezas, realizar estudos de adesão,
corrosão e fractura.
A microscopia electrónica de varrimento permite obter imagens semelhantes às
que se podem obter por microscopia óptica de reflexão, mas numa gama de ampliação
extraordinariamente superior (desde 10x até 18000x), com uma profundidade de campo
de 30µm. A esta técnica está geralmente associada a técnica de espectroscopia
dispersiva de Raios-X (EDS), que permite uma análise semi-quantitativa dos elementos
químicos na superfície dos materiais.
4.1.2 Princípio de funcionamento
O princípio de funcionamento baseia-se na incidência de um feixe de electrões
num ponto da superfície da amostra-alvo, e a subsequente recolha dos sinais
electrónicos emitidos pelo material-alvo. As amostras são percorridas sequencialmente
por um feixe de electrões acelerado por uma tensão que varia entre 0 e 40KV, finamente
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focado através de um sistema de lentes electromagnéticas. Da interacção do feixe
electrónico com a amostra resulta a emissão de diversos tipos de radiação e electrões,
entre os quais os electrões secundários (ES) utilizados na formulação da imagem da
amostra (com energias inferiores a 50eV). Os electrões secundários são electrões da
amostra que sofrem excitação e “escapando-se” da superfície. Os electrões retro-
difundidos (ER) permitem a distinção, na amostra em análise, de regiões de átomos
leves e pesados.
Figura 4.1: Tipos de radiação emitida por uma amostra quando submetida
a um feixe de electrões
Os electrões secundários têm origem nos processos de interacção não elástica
dos electrões primários e retro-difundidos com os electrões de maior energia de ligação.
A profundidade dos electrões não ultrapassa algumas dezenas de nanometros. A
observação de imagens obtidas através da detecção de ES tem forte contraste
topográfico, sendo o contraste uma consequência da emissão dos electrões retro -
difundidos, cuja intensidade é crescente com o número atómico. O facto de os ES
provirem de um volume de interacção pequeno torna possível a obtenção de excelentes
imagens, possibilitando a observação do contraste topográfico.
Os electrões retro-difundidos identificam os electrões da superfície da amostra
com energia elevada. A emissão de ER resulta de interacção elástica ou de perdas de
energia. A utilização dos electrões retro-difundidos permite a observação clara da
rugosidade das amostras em estudo, devido ao efeito de sombra. Os ER não são
afectados por efeitos locais de má condutividade dos materiais. Na análise destes
electrões é necessário ter especial atenção à localização amostra/detector, pois deste
posicionamento depende grande parte da qualidade referente ao contraste topográfico.
Feixe de Electrões
Raios-x Electrões Secundários
Electrões Rectrodifundidos
Catoluminescência Electrões Auger
electrões absorvidos
Electrões Transmitidos Electrões Difractados
Amostra
Feixe de Electrões
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Devido ao facto de os ER serem provenientes de camadas profundas do material, a
resolução das imagens obtidas tem grande dependência do feixe incidente e do número
atómico médio local do material.
A resolução lateral desta técnica tem um valor mínimo que está relacionado com
o diâmetro da sonda electrónica, no entanto o seu valor é determinado pela extensão do
volume de interacção do feixe electrónico primário – condicionado pela energia e o
número atómico da amostra.
As amostras para poderem ser caracterizadas por microscopia electrónica têm de
satisfazer as seguintes condições: apresentar boa condutividade eléctrica superficial, a
não existência de condutividade superficial leva à necessidade de metalização, através
da aplicação de um revestimento ultra-fino, de Au ou C; suportar o vácuo, a técnica
SEM utiliza um feixe de electrões (em vez da luz – utilizada na microscópia óptica), o
que torna necessário a utilização de vácuo; estabilidade física e química, nas condições
de observação / interacção com o feixe electromagnético.
A análise simultânea dos sinais recolhidos pelos detectores permite caracterizar
cada ponto da amostra em termos de [4.2]: topografia (ES e ER); número atómico (ER);
propriedades cristalinas (ER); composição química elementar (ER); campos magnéticos
(ER); orientação cristalina local da amostra (ER).
A conjugação das técnicas SEM/EDS permite obter imagens tridimensionais da
amostra, e mapas de composição dos elementos à superfície da amostra.
4.1.3 Procedimento experimental
Realizaram-se análises de SEM a amostras de vidro revestidas com W, ITO,
WO3 e ITO/WO3, com o objectivo de estudar a secção transversal, o tipo de crescimento
e a morfologia dos revestimentos. O recurso a esta técnica permitiu estimar a espessura
dos diferentes revestimentos obtidos por pulverização.
Os estudos foram realizados no Laboratório de Materiais – LabMat do Instituto
de Materiais – IMAT da Universidade do Minho – UM. O equipamento utilizado foi um
microscópio modelo LEICA S360. As amostras foram revestidos com uma fina película
de ouro, de forma a tornar a superfície condutora, possibilitando desta forma o estudo
por microscopia electrónica.
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4.2 Difracção de Raios-x (DRX)
4.2.1 Introdução
Os raios-x, descobertos em 1895 por W. Rontgon, são radiações
electromagnéticas com comprimentos de onda muito reduzidos – 0,1-10Å, quase
inferiores aos diâmetros atómicos. Esta radiação surge basicamente de um feixe de
electrões acelerados, a partir de uma diferença de potencial da ordem de 35KV, entre
um cátodo e um alvo metálico (geralmente de cobre) que funciona como ânodo, em que
todo o processo é mantido em vácuo.
A difracção de raios-x é uma técnica experimental, não destrutiva, muito
importante na caracterização cristalográfica de sólidos.
A análise estrutural de filmes finos com recurso a esta técnica permite identificar
as fases presentes no material, obter informação acerca da orientação, tensões e estado
policristalino dos materiais [4.3]. No entanto, na utilização desta técnica para
caracterização de revestimentos é necessário ter em atenção o elevado poder de
penetração desta radiação. No estudo de filmes finos pouco espessos a influência do
substrato pode ser dominante em relação à da película.
4.2.2 Princípio de funcionamento
Os raios-x são difractados pelos átomos de diferentes planos de átomos de um
cristal, separados pela distância d (ver figura 4.2). Parte da radiação incidente é
reflectida pelo primeiro plano de átomos, mas a restante radiação penetra na estrutura,
sendo reflectida pelos restantes planos de átomos interiores. Os percursos percorridos
pelos raios reflectidos pelos planos dos átomos interiores são superiores aos dos planos
dos átomos exteriores. Sempre que a diferença de percurso entre os raios difractados
(2dsenӨ) se igualar a um múltiplo inteiro (n) do comprimento de onda (λ) da radiação
incidente ocorre interferência construtiva, verificando-se a lei de Bragg:
nλ = 2dsenө Eq. 4.2.1
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Figura 4.2: Esquema bidimensional da difracção dos raios-x por dois planos paralelos de um cristal separados pela distância d
Um espectro de difracção de raios-x típico consiste em uma sequência de picos
caracterizados pelas suas posições, intensidades, larguras, etc.
Existem factores que promovem o alargamento dos padrões de difracção,
nomeadamente: o tamanho de grão e as tensões uniformes e não uniformes.
A largura do pico de difracção é influenciada pelo número de átomos, ou seja,
pelo volume do cristal. Quanto menor é o tamanho do grão maior é o alargamento do
pico de difracção.
As tensões não uniformes, num cristal, originam deformações não homogéneas
que variam ao longo do volume do material, originando o alargamento dos picos de
difracção.
Tensões de compressão uniformes, na direcção paralela à superfície, originam
uma diminuição do espaçamento d entre os planos, ocorrendo uma contracção da célula
unitária, e um deslocamento dos picos de difracção.
4.2.3 Procedimento experimental
Realizaram-se análises de XRD a revestimentos de tungsténio, de óxido de índio
dopado com óxido de estanho, de óxido de tungsténio e de óxido de tungsténio
depositado em ITO. O recurso a esta técnica teve por objectivo a caracterização das
fases presentes nos revestimentos produzidos.
As análises foram realizadas num aparelho de difracção de raios-x existente do
Departamento de Ciências da Terra – DCT da Universidade do Minho – UM. Tendo-se
utilizado um difractómetro de raios-x modelo Phillips PW1710. Este aparelho têm
acopolado um sistema Ө/2Ө, onde a amostra roda de um ângulo Ө e o detector roda
d
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simultaneamente de um ângulo 2Ө. A tensão aplicada foi de 40KV e a intensidade de
corrente de 30mA. As radiações de raios-x incidentes na amostra são de cobre
Kα1=1,54056 e cobre Kα2=1,54439, em que a razão α2/α1 é de 0,5. O espessamento entre
cada duas leituras (2Ө) foi de 0,020 e o tempo de leitura foi de 2,5 segundos em cada
passo.
A identificação dos picos de difracção foi realizada por comparação com
padrões conhecidos que se encontram na base de dados Joint Committee on Powder
Diffraction Standards – JCPDS.
4.3 Microscópio de Força Atómica (AFM)
4.3.1 Introdução
O Microscópio de Força Atómica é uma invenção recente. Este novo
microscópio pertence à família dos Microscópios de Varrimento por Sonda (SPM) e foi
desenvolvido em 1986 por G. Binnig, Gerber e Quate [4.4].
A técnica AFM apresenta um elevado poder de resolução, as amostras não
necessitam de qualquer tratamento, nem mesmo de serem condutoras de corrente
eléctrica. Outra grande vantagem é o facto das amostras poderem ser observadas no seu
ambiente. Esta técnica não necessita de corrente entre a superfície da amostra e a ponta,
o que permite efectuar estudos em regiões potenciais inacessíveis para o Microscópio de
Efeito de Túnel (STM).
Esta técnica de microscopia permite efectuar estudos topográficos e mecânicos
de superfícies tais como atrito, rugosidade, dureza, rigidez, elasticidade e resistência.
Propriedades essas de importância extrema para o desenvolvimento tecnológico actual.
4.3.2 Princípio de funcionamento
O Microscópio de Força Atómica varre sequencialmente a superfície da amostra
registando as forças inter-atómicas entre a sonda e a amostra (como por exemplo:
covalente, Van der Waals, iónicas, de adesão, etc.). Este princípio simples permite
registar forças que variam de 10-6 a 10-9N, reproduzindo imagens com resolução
atómica.
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O funcionamento básico do AFM baseia-se numa ponta muito fina que sonda a
superfície da amostra. A sonda, de SiO2 ou NiO4, com diâmetro inferior a 10nm, está
colocada na extremidade de uma viga de suporte flexível.
O sinal que é detectado pelo foto-sensor de posição resulta do encurvamento do
“cantilever”, o qual é medido pela deflecção de um feixe laser, ou pela variação do
valor de uma resistência piezoeléctrica, a qual é incorporada no próprio “cantilever”. A
deflecção do “cantilever” é o resultado das forças interatómicas entre a amostra e a
ponta [4.5].
Modos de operação AFM
O AFM pode operar em três modos, o Modo Contacto, o Modo “Tapping” e o
Modo Não Contacto (figura 4.3). No Modo Contacto forças iónicas repulsivas permitem
a obtenção de imagens. No Modo “Tapping” a ponta toca a amostra instantaneamente,
afastando-se imediatamente da amostra. Esre processo consiste num varrimento com
base na repetição sistemática do processo referido anteriormente. No Modo não
contacto, para distâncias entre a ponta e a superfície da amostra superior a 100nm,
forças Van der Waals, electrostáticas, magnéticas ou capilares, produzem imagens
topográficas.
Figura 4.3: O AFM pode operar em três regimes: Modo Contacto, Modo Não Contacto e o Modo “Tapping”.
Forças atractivas
Forças repulsivas
Contacto
Não contacto
“Tapping”
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AFM Modo Contacto
O AFM Modo Contacto trabalha por varrimento da superfície de uma amostra
com uma ponta presa à extremidade de um “cantilever”. A superfície da amostra é
monitorizada através das alterações na deflecção do “cantilever”, usando-se para o
efeito um detector foto-díodo.
No Modo de Contacto a interacção entre a sonda e a amostra é feita a nível
atómico, podendo medir forças de fricção, adesão, metálicas, etc. A ponta entra em
contacto com a superfície através da absorção da camada de fluído na superfície da
amostra.
O contacto com a amostra leva a que as forças predominantes sejam repulsivas.
As forças de repulsão podem variar de zero até ao valor típico de 10-7 a 10-6N. No
entanto, pode-se trabalhar com forças atractivas que podem atingir 10-8N. Este facto
deve-se à camada de água que geralmente existe sobre a superfície.
O “feedback” mantém constante a deflecção entre o “cantilever” e a amostra por
movimentação vertical do “scanner” a cada (X,Y), de forma a manter a deflecção
“setpoint”. Mantendo-se a deflecção do “cantilever” constante, a força entre a ponta e a
amostra permanece constante.
A força é calculada a partir da lei de Hooke’s:
F = -kx Eq. 4.3.1
onde F= Força, k = constante da mola, x = deflecção do “cantilever”. Tipicamente, a
força constante varia entre 0,01 e 1,0 N/m, resultando em uma força de variação de nN a
µN, em um ambiente atmosférico.
A distância em que o “scanner” se move verticalmente para cada (X,Y) é
armazenada pelo computador, para formar uma imagem topográfica da superfície da
amostra.
Operacionalmente pode-se utilizar esta técnica no meio ambiente ou em meio
líquido. O AFM modo contacto é utilizado para muito altas resoluções.
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AFM Modo “Tapping”
O modo “Tapping” trabalha por varrimento da superfície da amostra com uma
ponta ligada à extremidade de um “cantilever” oscilante. O “cantilever” oscila com a
frequência de ressonância, ou próximo dela, com uma amplitude que varia tipicamente
de 20nm a 100nm. Neste modo a ponta toca a superfície da amostra, perfurando a
camada de água. É de salientar que as forças têm de ser suficientes para permitir que a
agulha se solte da superfície.
A amplitude de oscilação é mantida constante mantendo uma rugosidade média
quadrática (RMS) constante. A posição vertical do “scanner” para cada (X,Y) é
armazenada por um computador para formar uma imagem topográfica da superfície da
amostra.
As análises neste modo podem ser realizadas em meio ambiente ou em meio
líquido, permitindo realizar estudos em amostras frágeis, macias, com superfícies
adesivas, sem as danificar. AFM Modo Não Contacto
No AFM Modo Não Contacto opera-se segundo forças atractivas de baixo valor,
aproximadamente de 10-12N. O baixo valor das forças atractivas tem importância pois
permite a não deformação de amostras suaves.
Quando se analisa a superfície da amostra em Modo Contacto, a imagem obtida
corresponde efectivamente à superfície da amostra, pois a água que se encontra à sua
superfície é perfurada pela ponta. O Modo Não Contacto permite obter imagens da
superfície da água ou de outras impurezas que sejam arrastadas pela ponta.
No Modo Não Contacto o “cantilever” oscila com uma frequência que é próxima
da ressonância do “cantilever”.
A distância a que o “scanner” se move verticalmente em cada (X,Y) é
armazenada por um computador, permitindo a formação de uma imagem topográfica
das superfície da amostra.
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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4.3.3 Procedimento experimental
Realizaram-se análises de AFM a amostras de vidro revestidas com tungsténio,
WO3 e ITO/WO3 com o objectivo estudar o estado superficial das amostras e a
rugosidade. O modo de varrimento utilizado em todas as análises foi o Não Contacto.
Os estudos foram realizados no Laboratório de Materiais – LabMat do Instituto
de Materiais – IMAT da Universidade do Minho – UM. O equipamento utilizado foi um
microscópio MultiMode SPM controlado por um sistema NanoScope IIIa da Digital
Intruments, equipado com um “cantilever” ultra leve com comprimento 125µm e
largura 30µm. A ponta apresenta uma altura de apenas alguns microns e um raio de
curvatura entre 5 e 10nm. As pontas são do tipo NHC de silício, apresentando uma
frequência de ressonância na gama de 280 – 365KHz.
4.4 Espectroscopia de Foto-electrões de Raios-x (XPS)
4.4.1 Introdução
Quando uma superfície é excitada por fotões, os electrões emitidos são
designados por foto-electrões, sendo a energia de estes electrões característica do
elemento de onde foram emitidos. Neste processo, o fotão incidente transfere toda a sua
energia para o electrão ligado e o elemento de identificação é fornecido pela medida de
cada electrão que escapa da amostra sem perda de energia, sendo a energia de cada
electrão ejectado igual à energia do fotão incidente menos a energia de ligação desse
electrão no átomo alvo. Ou seja, na técnica de XPS a identificação dos elementos é
realizada directamente a partir das energias cinéticas dos foto-electrões ejectados, após a
amostra ter sido bombardeada com raios-x, dado que esta energia se relaciona
directamente com a energia de ligação do elemento ejectado.
Esta técnica de caracterização permite a identificação dos elementos presentes
numa dada amostra em análise, bem como do seu estado químico, partindo de pequenas
variações nas energias de ligações. A energia de ligação dos elementos está relacionada
com o meio em que estão inseridos, podendo-se extrair informação acerca do estado
electrónico do próprio átomo.
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O limite de detecção na técnica de XPS não é, usualmente, superior a 1% em
percentagem atómica, sendo a espessura de análise de 100 a 300nm.
Esta é uma técnica muito importante quando se tem por objectivo obter análises
quantitativas, bem como, informações sobre ligações química dos elementos à
superfície. A estimativa das concentrações de elementos é feita a partir do número de
foto-electrões emitidos.
O espectro de foto-electrões obtido através da técnica de XPS permite obter uma
distribuição electrónica dos átomos superficiais do sólido em análise, permitindo a
obtenção de energias características de todos os átomos, através do recurso a tabelas.
Análise quantitativa
Quando se procede à análise quantitativa é necessário ter em atenção as
intensidades dos picos de foto-electrões. A intensidade depende de alguns factores,
como sejam, a secção eficaz de efeito fotoeléctrico, a profundidade de escape dos
electrões, a transmissão do espectrómetro que é utilizado para detectar e medir a energia
dos electrões, e a rugosidade superficial.
A sensibilidade de detecção de elementos depende da secção eficaz desse
elemento e do ruído de fundo produzido pelos outros elementos.
A energia cinética Ec de um foto-electrão detectado pelo analisador para uma
dada amostra resulta do processo da conservação de energia que envolve o fotão de
raios-x incidente (hν), do electrão com uma energia de ligação EB, e da barreira de
potencial da superfície (função de trabalho φ).
EC = hυ – EB - ΦSp Eq. 4.4.1
Figura. 4.4: Relação fundamental de energias em XPS [4.6].
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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EB mede a diferença de energia entre o nível de Fermi do material e o estado
energético particular do electrão. A equação indicada acima, na prática, é um indicador
do estado energético em que o foto-electrão detectado se encontra.
As energias dos electrões dos átomos são características para cada elemento e
reflectem o ambiente electrónico de curto alcance circundante, permitindo a
identificação da composição química dos materiais.
Vantagens na utilização da técnica de XPS
Quando se pretende distinguir elementos adjacentes na tabela periódica, esta
técnica apresenta relativa vantagem, comparativamente com técnicas concorrentes. A
técnica XPS é igualmente eficaz quando se procura identificar elementos muito leves,
tais como C, O, N e F.
A utilização desta técnica permite ainda a obtenção de informações sobre
películas superficiais, devido ao facto de o livre percurso médio destes foto-eletrões ser
muito pequeno (<10nm).
Resolução e intensidade do espectro de XPS
A largura espacial intrínseca de um XPS é tipicamente da ordem de 0.05eV a 0.5
eV. O aparecimento de riscas mais largas e eventualmente assimétricas está relacionado
com desdobramentos dos níveis de energia e a dispersão de energia.
A intensidade das riscas do espectro XPS depende da composição da amostra, da
eficiência de geração de electrões e de factores de natureza instrumental.
Factores a ter em atenção quando se utiliza a técnica de XPS
Correcção do efeito de carga eléctrica
A técnica de XPS é muito sensível ao estado da superfície das amostras, a qual
quando exposta à atmosfera laboratorial, adquire uma película fina superficial
constituída, essencialmente, por hidrocarbonetos. Ou seja, de facto vamos analisar uma
amostra não condutora. Esta película fina afecta as energias de ligação determinadas
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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experimentalmente, pelo que existe a necessidade de corrigir esse desvio. A correcção é
conseguida atribuindo o valor de 285.0eV à energia de ligação do estado 2s do carbono.
Recalculando-se, de seguida, as energias de ligação determinadas para outras espécies,
em função da diferença entre o valor medido.
Utilização de factores de sensibilidade e análise com amostras padrão
Os factores de sensibilidade são obtidos experimentalmente com base num
conjunto extenso de medidas sobre amostras de referência, ou calculados com base na
secção eficaz de ionização, no percurso de atenuação dos electrões no material e na
transmissão do analisador.
A análise com base em padrões fundamenta-se em uma comparação entre as
intensidades de emissão da mesma risca característica, medida sobre a amostra e um
padrão de referência, mantendo-se as mesmas condições de registo do espectro.
4.4.2 Procedimento experimental
As análises de XPS foram realizadas no Instituto de Materiais de Madrid em
Espanha. O equipamento de análise possui uma ante-câmara, permitindo desta forma
realizar análises de uma forma mais expedita. A câmara de caracterização atinge ultra-
alto-vácuo durante a análise.
O equipamento possui um sistema de bombardeamento das amostras em análise,
permitindo desta forma remover contaminações superficiais, bem como realizar análises
em profundidade.
A técnica de espectroscopia de foto-electrões de raios-x foi utilizada para estudar
algumas amostras de óxido de tungsténio, de forma a averiguar a existência de
tungsténio metálico em amostras depositadas com elevada pressão de oxigénio.
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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4.5 Espectroscopia de Reflexão e Transmissão – R (%) e T (%)
4.5.1 Introdução
A luz apresenta dois comportamentos demonstrados através dos modelos onda e
partícula. Normalmente, a quantidade de energia é de tal forma elevada que a luz
comporta-se como se fosse uma onda ideal (ou seja, uma onda com comportamentos
eléctricos e magnéticos interdependentes). Por outro lado, quando a luz é emitida ou
absorvida por átomos de um material, os processos ocorrem como se a luz fosse um
feixe de partículas.
Quando a luz penetra num meio opticamente mais denso perde energia como
resultado da atenuação da velocidade de propagação, ocorrendo simultaneamente uma
mudança de direcção.
4.5: Transmissão da luz através de uma dioptria
(superfície de separação entre dois materiais)
A relação entre a velocidade da luz no vazio (c) e a velocidade da luz no material
(υ) em análise é definida como o índice de refracção, de acordo com a seguinte
expressão:
Feixe incidente
Feixe refractado
Ө1
Ө2Ө1 > Ө2
n = 1
n > 1
νcn = Eq. 4.5.1
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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4.5.2 Absorção, transmissão e reflexão da luz
A quantidade de luz transmitida por um determinado material depende da
quantidade de luz reflectida e absorvida, como resultado da interacção dos fotões de luz
com a estrutura electrónica e de ligação dos átomos, iões e moléculas.
Para um determinado comprimento de onda (λ) é valida a seguinte expressão:
Fracção Reflectida λ+Fracção Absorvida λ+ Fracção Transmitida λ=1 Eq. 4.5.2
O índice de reflexão do meio óptico reflector (ne) e o ângulo de incidência da luz
são os principais factores de que depende a reflexão de luz na superfície de um vidro.
Para luz com incidência normal (Φi = 90º) a fracção de luz reflectida (Reflectividade) é
dada pela seguinte expressão: 2
)11(
+−
=nnR
A incidência de luz num vidro provoca uma diminuição da intensidade, a qual é
proporcional ao caminho percorrido. A fracção de luz perdida por absorção pode ser
calculada a partir da seguinte expressão:
teII α−= 0
em que α é uma constante relacionada com o coeficiente de absorção linear e t a
espessura do vidro.
Num vidro a transmissão de luz resulta do equilíbrio de luz reflectida pelas
superfícies limitadoras e pela quantidade absorvida no interior do material. A
percentagem de luz transmitida pela maioria dos vidros transparentes é de
aproximadamente 90% na gama visível do espectro electromagnético.
Eq. 4.5.3
Eq. 4.5.4
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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4.6: Transmissão da luz através de uma placa de vidro
4.5.3 Reflectância e transmitância de um filme fino
O revestimento das superfícies de um vidro permite reduzir as perdas por
reflexão. A deposição de filmes finos de um material com ne inferior ao do material –
substrato deve permitir produzir uma interferência entre os raios luminosos reflectidos
pelo vidro e os reflectidos pelo revestimento, diminuindo desta forma a reflexão do
conjunto (neste estudo ter de se ter em atenção a espessura do revestimento).
A reflexão mínima é atingida quando a intensidade da luz reflectida nas
superfícies limites da película for igual:
v
p
p nn
nn
=0
em que n0 é o índice de reflexão do ar, np o índice de reflexão do revestimento e nv o
índice de reflexão do vidro.
Considerando o índice de reflexão igual a 1 e a espessura do filme fino (ep) igual
a:
4λ
=pe
obtém-se:
vp nn =
t (espessura)
1ª Reflexão
2ª Reflexão
0)1( IR−
t
eIRα−
− 0)1(
teIRR α−− 0)1)((
teIRI α−−= 02)1(
RI 0
Eq. 4.5.5
Eq. 4.5.7
Eq. 4.5.6
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
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Na prática, estes revestimentos podem ser depositados em vácuo através da
aplicação de filmes finos de MgF2, CaF2, SiO2, etc. [4.7].
Caso particular de deposição de um filme fino transparente (desprezando a
absorção) num substrato transparente
Em um sistema constituído por um filme fino transparente depositado em um
substrato transparente ocorre reflexão nas duas superfícies de separação (entre os meios
com diferentes índices de reflexão).
Ө1 Ө1
Ө2 t
n0 – ar
n1 – filme fino
n2 – substrato
n0 – ar
T0 T2
Como se pode observar na figura 4.7 parte do feixe incidente F0, proveniente do
meio com índice de refracção n0, é reflectido na superfície exterior do revestimento,
enquanto que a outra parte é reflectida na interface revestimento – substrato. T0 e T2
representam os feixes transmitidos, Ө1 o ângulo de incidência da luz monocromática. Os
índices n0, n1 e n2 representam, respectivamente, os índices de refracção do ar, do filme
fino e do substrato.
A diferença entre o percurso óptico entre os feixes F01 e F02 é obtida através da
seguinte equação:
21 cos2 θtn=∆
Figura 4.7: Diagrama
esquemático da transmissão de
luz através de um filme
transparente [4.8]
F0 F01 F12
Eq. 4.5.8
Ө2
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
43
Quando a reflexão ocorre num meio de elevado índice de reflexão (por exemplo:
reflexão interna) a fase muda π, caso contrario a fase não altera. Ou seja, a equação da
diferença de percurso óptica pode ser escrita da seguinte forma:
2cos2
2 21λθλ
−=−∆=∆ tnef
ou, em termos de diferença de fase, δ:
πθλπδ +
−= 21 cos22 tn
A reflectância e a transmitância podem ser determinadas a partir dos coeficientes
de reflexão (r) e de transmissão (t) de Fresnel. Podem-se considerar os coeficientes de
reflexão r1 e r2, os quais correspondem às fracções das ondas reflectidas nas interfaces
n0/n1 e n1/n2, respectivamente. Os coeficientes de transmissão t1 e t2 para as duas
interfaces podem ser definidos de forma análoga ao coeficiente de reflexão.
Segundo J. C. Manificier et all [4.9] para luz polarizada, com o vector campo
eléctrico paralelo ao plano de incidência, os coeficientes são dados pelas seguintes
expressões:
201
20111 cos1cos
coscosθθθθ
nnnn
r+−
= 1021
10212 coscos
coscosθθθθ
nnnn
r+−
=
2011
211 coscos
cos2θθ
θnn
nt
+=
1021
212 coscos
cos2θθ
θnn
nt
+=
Os valores da Reflectância (R) e de Transmitância (T) correspondem ao
somatório dos múltiplos feixes reflectidos e transmitidos (tendo em consideração a
diferença de percursos ópticos). Para um filme isotrópico, em que o ne não depende da
direcção, obtêm-se as seguintes expressões:
δδ
cos21cos2
212
22
1
212
22
1
rrrrrrrrR
++++
= δcos21 21
22
21
22
21
0
2
rrrrtt
nnT
++=
Eq. 4.5.11
Eq. 4.5.12
Eq. 4.5.13
Eq. 4.5.14
Eq. 4.5.15
Eq. 4.5.16
Eq. 4.5.9
Eq. 4.5.10
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
44
4.5.4 Procedimento experimental
Obtiveram-se espectros de transmissão (de filmes finos de WO3, ITO e
ITO/WO3) e de reflexão (de revestimentos de W) na região espectral compreendida
entre 300 e 2300nm, com recurso a um espectrofetometro Zhimadzu de duplo feixe, este
aparelho permite a aquisição automática de dados.
4.6 Método Swanepoel
O processo sugerido por Swanepoel baseia-se no uso dos extremos máximos e
mínimos das frangas de interferência obtidas através de um espectro de transmissão.
Este método tem sido aplicado como meio para determinar as partes reais e imaginárias
do índice de refracção, a banda proibida e determinação da espessura de revestimentos
finos [4.10-4.11].
4.6.1 Teoria
A modulação do espectro interferêncial do espectro de transmissão foi obtida na
região espectral compreendida entre 300nm e 2300nm. Os filmes foram depositados em
substratos transparentes, apresentando uma espessura d e um índice de refracção
complexo:
nc = n – ik Eq. 4.6.1
onde n é o índice de refracção complexo e k o coeficiente de extinção, que pode ser
expresso em termos de coeficiente de absorção α, pela equação:
A espessura do substrato é superior à espessura do filme fino, d, em varias
ordens de grandeza, e o índice de refracção do substrato é representado por s.
παλ4
=k Eq. 4.6.2
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
45
Os efeitos de interferência apresentam um comportamento semelhante ao
apresentado na figura 4.8. As frangas de interferência são usadas para determinar as
constantes ópticas dos filmes estudados.
A transição óptica T(λ,s,n,d,α) é uma função bastante complexa [4.9], podendo
ser simplificada quando se despreza o coeficiente de extinção, k, ou seja quando k=0,86
a expressão apresenta-se da seguinte forma:
em que:
A=16n2s
B=(n+1)3(n+s)2
C=2(n2-1)(n2-s3)
λπφ nd4
=
x=exp(-αd)=absorvância
Os valores da transmissão no extremo das franjas de interferência podem ser
obtidos a partir da equação 4.6.3, fixando-se as condições de interferência cosφ = 1 e
cosφ = -1 para o máximo e para o mínimo, respectivamente. Os valores da transmissão
dos extremos das frangas de interferência podem ser escritos da seguinte forma:
em que TM e Tm são os máximos e os mínimos do espectro de transmissão, (figura 4.8).
2cos),,,,(
DxCxBAxkdnsT
+−=
φλ Eq. 4.6.3
2DxCxBAxTM +−
= Eq. 4.6.9
2DxCxBxAxTm ++
= Eq. 4.6.10
Eq. 4.6.4 – 4.6.8
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
46
Figura.4.8: Espectro de transmitância de um revestimento de WO3
Segundo o método Swanapoel pode-se calcular o valor aproximado do índice de
refracção, n1, na região de fraca e média absorção, através da seguinte expressão:
em que:
O índice de reflexão do substrato é obtido através da medição da transmissão do
substrato, usando a seguinte equação:
21
)11(1−+=
TsTsS
através da equação:
é possível melhorar a determinação inicial do índice de refracção, após o cálculo da d,
em que m é inteiro para o máximo e meio inteiro para o mínimo.
O valor aproximado da espessura da camada é dado pela expressão:
21
21
22111 )( ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡−+= SNNn
212
2
1+
+−
=S
TTTTSNmM
mM Eq. 4.6.12
λmnd =2
020406080
100
300 800 1300 1800 2300
Comprimento de onda (nm)T
(%)
Eq. 4.6.14
Eq. 4.6.11
Eq. 4.6.13
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
47
)(2 2211
211 λλ
λλ
cc nnd
−= Eq. 4.6.15
onde nc1 e nc2 são os índices de refracção de dois máximos adjacentes (ou mínimos)
para comprimentos de onda λ1 e λ2, respectivamente.
Através do uso complementar de um método gráfico pode-se obter o valor de m
e d, recorrendo às equações das frangas de interferência. A equação (9) pode ser rescrita
como:
122
nndl−=
λ Eq. 4.6.16
em que l= 0, 1, 2,…., onde n1 corresponde ao número de ordem do primeiro extremo da
franja de interferência do espectro de transmissão. Fazendo o gráfico l/2 versos n/λ
determina-se o número de ordem e a espessura do filme.
Após a obtenção dos valores do índice de refracção, através da equação de
dispersão de Cauchy, é possível determinar a absorvância χa(λ) recorrendo à curva de
interferência Tα.
Na região espectral com franjas de interferência, Tα é a média geométrica das
franjas de interferência de TM e Tm , ou seja:
21
)(T MM TT=α Eq. 4.6.17
Na região de forte absorção as franjas de interferência desaparecem, ou seja,
para uma grande α as TM, Tα e Tm convergem para uma única curva.
[ ]Q
RRQTPPa
21
)322 1(2 −+
= αχ Eq. 4.6.18
em que:
)1)(1)(1( 321 −−−= RRRP Eq. 4.6.19
e )2(2 3213121 RRRRRRRTQ −+= α Eq. 4.6.20
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
48
R1, R2 e R3 são as reflexões das interfaces ar - filme, filme - substrato e substrato
- ar: 2
1 11
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
+−
=nnR Eq. 4.6.21
2
2 ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
+−
=snsnR Eq. 4.6.22
2
3 11⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
+−
=ssR Eq. 4.6.23
Para α ≤ 105cm-1, a parte imaginária do índice de refracção é muito menor que n,
ou seja, a expressão anterior para o cálculo da reflexão é válido.
A partir do momento em que d seja conhecida, a relação
)exp( da αχ −= Eq. 4.6.24
pode ser resolvida para α,
ad
χα ln1−= Eq. 4.6.25
De forma a completar o cálculo dos coeficientes ópticos, o coeficiente de
extinção é estimado a partir dos valores de α e λ através do uso da formula (2).
Finalmente, a banda óptica proibida pode ser estimada através do cálculo de α.
Para sistemas não cristalinos a absorção pode ser expressa através da seguinte
expressão:
υυ
υαhEh
khnopt
g )()(
−= Eq. 4.6.26
em que hν, Egopt e k, representam a energia do fotão, a banda óptica proibida e uma
constante, respectivamente, e n pode tomar o valor 1, 2 ou 3.
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
49
4.6.2 Procedimento experimental
O método de Swanepoel foi utilizado para determinar a espessura, o índice de
refracção, densidade e a banda proibida dos filmes monocamada de óxido de tungsténio
depositados em lamelas de vidro.
Obtiveram-se espectros de transmissão dos filmes finos de WO3, na região
espectral compreendida entre 300 e 2300nm, com recurso a um espectrofetometro
Zhimadzu de duplo feixe, este aparelho permite a aquisição automática de dados.
Os dados obtidos foram posteriormente transferidos para uma folha de cálculo
onde se procedeu ao tratamento da informação de acordo com o Método de Swanepoel.
Os cálculos foram efectuados com base em todos os máximos e mínimos do espectro de
transmissão.
4.7 Sistema de medição da resistividade de Quatro Pontas – 4PP
4.7.1 Introdução
Existem diferentes sistemas de medição da resistividade eléctrica de filmes
finos, nomeadamente o sistema de Duas Pontas e o de Quatro pontas.
O método de medição da resistividade baseado numa combinação de duas pontas
é mais difícil de interpretar. Neste método cada ponta de prova serve de prova de
corrente e de voltagem, sendo a resistência total entre as duas pontas de proba dada pela
seguinte equação:
sspCT RRRIVR ++== 22 Eq. 4.7.1
onde RC é a resistência de contacto de cada ponta de prova / superfície de revestimento,
RSP é a resistência de dispersão debaixo de cada ponta de proba e RS a resistência do
material. No entanto, nem o Rc nem o RSP podem ser calculados exactamente, portanto
RS não pode ser calculado com rigor a partir do valor de resistência medido
experimentalmente [4.12].
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
50
I IV
RC
RSP
Figura 4.9: Sistema de medição da resistividade de Duas Pontas [4.7]
Uma forma de ultrapassar este problema é o uso do sistema de Quatro Pontas.
Este é um dos métodos mais utilizados para medição da resistividade eléctrica de filmes
finos. Neste método duas pontas de prova medem a passagem de corrente, enquanto que
as restantes medem a tensão. Este método foi utilizado pela primeira vez em 1916 por
Wenner para medir a resistividade da terra [4.12].
Existem diversos tipos de configurações para a disposição das pontas de prova,
sendo a mais usual a em linha, em que a distância entre as pontas de prova são iguais.
Apesar de as duas pontas de prova transportadoras de corrente ainda possuírem
resistência de contacto e de dispersão, o mesmo não é verdade para as duas provas de
voltagem, pois a voltagem é medida por um potênciometro em que não passa corrente
ou com um voltímetro de alta impedância.
O potencial V e a distância r de um eléctrodo carregado com uma corrente I num
material de resistividade ρ é dada pela relação:
rIV.2π
ρ= Eq. 4.7.2
Os aparelhos de medida de resistência de filmes finos possuem uma ponta de
prova constituída por quatro pontas que são pressionadas contra a superfície do
revestimento. As duas pontas exteriores estão ligadas a uma fonte de corrente eléctrica
(I) e as duas pontas interiores medir a tensão (V).
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
51
Figura 4.10: Esquema da ponta de prova com Quatro Pontas em linha
Considerando o caso mais simples e comum de uma amostra de área
suficientemente grande (semi-infinita), relativamente à distância entre provas, r1, r2 e r3,
e cujo valor da espessura, d, é menor que essa distância. A resistividade do material é
dada pela expressão:
d
rrrrrrIV
322131
11112
+−
+−+
=πρ Eq. 4.7.3
em que V é a tensão aplicada e I a intensidade de corrente eléctrica medida.
Se se considerar que a distância entre pontas de prova é igual, r1=r2=r3, obtém-se
a seguinte equação reduzida:
drIV .2πρ = Eq. 4.7.4
Existem outras expressões que entram em considerações com outros efeitos para
além da igualdade entre distâncias entre pontas de prova e volume semi-infinito de
amostra, diferindo apenas no factor de correcção 2πr. Quando se efectua uma medição da resistência de filmes finos com uma ponta de
prova de quatro pontas é aplicado um Factor de Correcção - F.C. De acordo com a
bibliografia [4.13], utilizando pontas de prova com Quatro Pontas igualmente
espaçadas, em linha e considerando um volume infinito, o factor a aplicar é:
A
V
r1 r3 r2
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
52
532,42ln
.. ==πCF Eq. 4.7.5
Para uma amostra com geometria rectangular o F.C. indicado anteriormente
aplica-se, de acordo com a referência 4.8, em amostras que respeitam as seguintes
dimensões:
40>rg ; 1=
ge ; 5,0<
rd Eq. 4.7.6-8
Figura 4.11: Esquema de uma amostra em que se indicam as dimensões que determinam a escolha do Factor de Correcção
4.7.2 Procedimento experimental
Efectuaram-se medidas de resistividade a amostras de tungsténio e de óxido de
índio dopado com óxido de estanho.
As medições foram realizadas à temperatura ambiente, tendo-se utilizado um
aparelho construído para o efeito.
Aplicou-se uma tensão de 5V, a partir de uma fonte de tensão Kikusvi
Electronics Corp. Japan. Os valores da corrente e da tensão foram medidos com recurso
a dois multímetros HP/34401A. Os valores foram posteriormente introduzidos numa
folha de cálculo de forma a obter a resistividade eléctrica dos filmes de acordo com as
expressões enunciadas atrás.
amostra
r
e
g
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
53
4.8 Transdutor laser para determinação de tensões residuais
4.8.1 Introdução
Ao processo de deposição por pulverização está associada a existência de
tensões residuais, as quais têm a sua génese no processo de crescimento do revestimento
e em alterações estruturais e químicas.
As tensões podem ser diferenciadas como tensões térmicas e tensões intrínsecas.
As tensões intrínsecas estão relacionadas com o processo atomístico de crescimento do
revestimento. As tensões térmicas resultam da diferença nos coeficientes de expansão
térmica entre o revestimento e o substrato.
Os revestimentos obtidos a partir do processo de pulverização apresentam
frequentemente tensões de tracção ou de compressão, dependendo dos parâmetros de
deposição. A possibilidade de depositar revestimentos com tensões de tracção ou
compressão permite “projectar” os parâmetros de deposição em função da aplicação
pretendida.
A existência de tensões pode originar a ocorrência de falhas durante o processo
de deposição, ou posteriormente. As falhas podem manifestar-se através da fractura,
enrugamento ou delaminação.
As tensões mecânicas de um revestimento podem ser calculadas a partir da
medição da deflexão do conjunto substrato – revestimento. A estimativa das tensões
residuais podem ser efectuadas “in situ” ou após o processo de deposição. A existência
de tensões leva existência de um momento deflector sobre o substrato.
Pode-se deduzir uma fórmula que permita relacionar a existência de tensão
biaxial num filme fino com uma deflexão. No entanto, é necessário ter em atenção
algumas considerações, nomeadamente: a espessura do filme fino que terá de ser muito
inferior à do substrato; admitir que a tensão no revestimento é uniforme, desprezando-se
os bordos; existência de tensão apenas nas componentes paralelas à superfície do
substrato; substrato inicialmente plano; a deformação do conjunto substrato –
revestimento é elástica [4.12].
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
54
Segundo a lei de Hooke:
σ = Eε
em que σ é a tensão mecânica, E o módulo de Young e ε a deflexão relativa.
A tensão mecânica de um substrato pode ser estimada partindo da equação
seguinte:
SS
SS
E εν
σ−
=1
em que σS é a tensão mecânica do substrato, ES o módulo de Young do substrato, εS a
deflexão relativa do substrato e υS o módulo de Poisson.
A tensão mecânica de um revestimento depositado num substrato pode ser
calculada a partir da seguinte equação:
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
−=
iff
S
S
sf RRt
tR
E 11)1(6
2
νσ
em que ts é a espessura do substrato e tf a espessura do revestimento.
A equação apresentada anteriormente permite determinar a tensão de um filme
fino com base no raio de curvatura de um substrato inicialmente plano (Ri = infinito).
As tensões intrínsecas devem-se ao processo de crescimento do revestimento, o
qual é o reflexo dos parâmetros de deposição. Existem diversos processos que podem
levar à ocorrência de tensões intrínsecas, tais como: processos de recristalização,
incorporação de átomos (gases residuais ou reacções químicas), transformações de fase,
crescimento epitaxial, etc.
O aumento da temperatura de deposição leva a uma diminuição das tensões
intrínsecas, o que resulta do aumento da mobilidade dos átomos. No entanto, o aumento
da temperatura de deposição pode levar a um aumento da componente de tensões
térmicas.
O processo de deposição consiste num jogo entre tensões intrínsecas e térmicas.
Quando se revestem materiais com elevado ponto de fusão a componente intrínseca
prevalece, pois estes materiais são depositados a temperaturas próximas da ambiente.
Eq. 4.8.2
Eq. 4.8.3
Eq. 4.8.2
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
55
4.8.2 Procedimento experimental
Efectuaram-se medições dos raios de curvatura de conjuntos revestimento –
substrato de W – vidro e WO3 – vidro.
Utilizou-se um equipamento Laser Displacement Meter LC-2100 da Keyence,
existente no Departamento de Física da Universidade do Minho. O equipamento é
constituído por um laser semicondutor que apresenta uma radiação visível, com o
comprimento de onda vermelho 670nm, acoplado a um sistema que permite a aquisição
de informação referente à distância entre o conjunto revestimento – substrato e o
detector. O laser com luz vermelha facilita o posicionamento aumentando a
performance. A resolução do equipamento é de 0,2µm.
Figura 4.12: Esquema do equipamento utilizado para efectuar a medição da curvatura dos conjuntos substrato – revestimento.
revestimento
substrato
laser
Capítulo 4 – Técnicas de Caracterização de Revestimentos
56
Referências
[4.1] Carlos Sá, “ A microscopia electrónica de varrimento e a micro-análise por raios-
x, CEMUP, Porto.
[4.2] Carlos Sá, “Digital analyses of SEM images for materials characterization and
interface/surface studies of biological materials”, CEMUP, Porto.
[4.3] S. Ejiri, T. Sasaki, Y. Hirose, Thin Solid Films (1997) 187.
[4.4] B. Almeida, A Microscopia por Varrimento de Sensor (SPM) - Edição CrioLab.
[4.5] M. R Gonçalves, J. H. Ribeiro, P.L. Vieira, R. F. M. Lobo, Gazeta de Física, vol.
18, fasc.4 (1995).
[4.6] C. Sá, “Análise de superfícies e interfaces por espectroscopia de electrões”,
CEMUP – Centro de Materiais da Universidade do Porto (2001).
[4.7] J. Navarro, El vidrio, C.S.I.C., Espanha (1985).
[4.8] V. Teixeira, Técnicas de determinação da espessura de filmes finos, Universidade
do Minho (1993).
[4.9] J. C. Manificier, J. Gasiot, J. P. Fillard, J. Phys. E : Sci, Instrum., 9 (1976) 1002.
[4.10] E Marquez, J. Ramirez-Maio, P. Villares,R. Jiménes-Garay, P. J. S. Ewen, A. E.
Owen, J. Phys., 25 (1992) 535.
[4.11] R. Swanepoel, J. Phys. E: Sci. Instrum, Vl. 16 (1993) 1214.
[4.12] D. K. Schroder, Semiconductor material and device characterization, Tempe,
Arizona, (1990).
[4.8] M. Logan, An AC bridge for semiconductor resistivity measurements using a four-
point probe, The Bell System Technical Journal, 1909 (1961).
[4.13] R. W. Hoffman, -Physics of nanometallic thin films, Plenum Press, New York
(1976).