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1 CAPÍTULO 27 A entrevista suburbana do MPF gera um histérico fato político e desencadeia a CPI do PT

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CAPÍTULO 27

A entrevista suburbana do MPF gera um histérico fato político e

desencadeia a CPI do PT

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O dia em que seis Procuradores do Ministério Público Federal ajudaram a Oposição a criar a CPI do PT e o pedido de impeachment.

Os idos de agosto de 2009 não prenunciavam nada de bom para o Governo, porque o Eixo do Mal já tinha perdido todos os pudores depois de quase dois anos de continuados ataques ao Piratini e denotava crescentes demonstrações de impaciência, deixando claro que atropelaria qualquer tipo de escrúpulos para apear a Governadora Yeda Crusius do Poder.

Um ano antes, o PSOL funcionou como ponta de lança da Oposição, ao protocolar um prematuro pedido de impeachment na Assembléia Legislativa, mas a Deputada Luciana Genro, filha do então Ministro da Justiça, Tarso Genro, do PT, acabou recolhendo os despojos da sua vã tentativa, ao receber um rotundo “não” do então Presidente, o Deputado Alceu Moreira, do PMDB. A deputada do PSOL, que não se reelegeria no ano seguinte em função das suas tropelias políticas, não se continha nos cascos, como também não se continha a oposição, que conseguiu emplacar uma prematura CPI, a CPI do Detran, encerrada sem produzir o terremoto institucional que queriam PT e seus satélites do PCdoB, PSOL e PSB.

Acontece que desta vez seria diferente, porque desde o início de fevereiro de 2009, o PT estava pela primeira vez na Presidência da Assembleia, e o Deputado Ivar Pavan apenas aguardava que o requerimento de nova CPI e de novo pedido de impeachment obtivessem encaminhamento regimental para despachá-los favoravelmente, consumando o golpe iniciado um ano antes pela Deputada Luciana Genro, do PSOL.

O requerimento assinado em maio de 2009 por Deputados do PT, PSB, PDT e PCdoB, um documento curto e grosso de apenas quatro laudas, 17 assinaturas, abaixo do número necessário de 20 nomes, aguardava mais assinaturas – e elas não vinham, mas ameaçavam vir. O PDT, que integrava o bloco da Oposição, não tinha aderido por inteiro ao requerimento, que julgava apenas uma jogada política e eleitoral que só beneficiaria o PT,como aconteceu nas eleições do ano seguinte. Com sete Deputados, o PDT não tinha aderido por inteiro ao pedido. Com boas relações no Governo, negaram-se a assinar os Deputados Kalil Sehjbe, Giovani Cherino e Gerson Burmann. Eles mudariam de posição depois da entrevista coletiva dos Procuradores.

A oposição vinha elevando não apenas o conteúdo e o tom dos seus discursos e acusações, como os aparelhos sindicais do PT, do PSOL e do PSTU já não vacilavam em partir para ações públicas de hostilidade, inclusive violência física. Poucos dias antes da entrevista dos Procuradores, a Governadora Yeda

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Crusius foi encurralada pelo Cpers, o poderoso sindicato dos professores públicos estaduais, filiado à CUT e presidida por uma filiada do PT, dentro da própria casa. Ela e os netos foram mantidos em cárcere privado.

Naquela manhã do dia 5 de agosto de 2009, Yeda Crusius tinha voltado de São Paulo e viajou diretamente para Canela, hospedando-se no Palácio das Hortênsias, de onde pretendia acompanhar a votação da chamada Consulta Popular, mas ela já tinha notícia de que o Ministério Público Federal tinha decidido embretá-la de maneira definitiva.

Era preciso que um terremoto político acontecesse para completar o início do golpe.

E o golpe veio a cavalo. No mesmo batido estilo usado pelo PT e pelo PSOL desde o início do Governo, seis Procuradores do Ministério Público Federal reuniram-se numa entrevista coletiva inédita para desfechar ataques políticos contra Yeda Crusius.

Tudo aconteceu no dia 5 de agosto de 2009, uma quarta-feira de temperatura opressiva em Porto Alegre, céu totalmente nublado, coberto de nuvens cinzas e ameaçadoras – um dia típico do inverno gaúcho. A semana toda foi chuvosa, mas naquele dia o tempo estabilizou e a temperatura subiu para sufocantes 25 graus.

Em Canela, diante do computador, pelo qual acompanhava a votação da Consulta Popular pela Internet, a Governadora recebeu um bilhete curto e grosso que lhe entregou a Jornalista Ana Jung:

- O MPF convocou uma entrevista coletiva para denúncias sobre a Operação Rodin. Os Procuradores exigem que a senhora seja retirada do cargo.

O cenário para acontecimentos políticos típicos para idos de agosto não poderia ser mais adequado.

Foi nesse dia que seis Procuradores do Ministério Público Federal, cinco dos quais, os homens, paramentados com ternos comprados prontos e gravatas sem grife, surgiram empertigados diante de 83 perplexos jornalistas, como verdadeiros cavaleiros do Apocalipse. Todos aboletaram-se na estreita escrivaninha de madeira do auditório do Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul, 14º andar do prédio da Praça Rui Barbosa 54. Ladeados pelas bandeiras de Porto Alegre, do Estado, do Brasil e do próprio Ministério Público, e diante de 83 jornalistas e curiosos, os Procuradores Jerusa Burmann, a única mulher do grupo, Ivan Marx, Fredo Wagner, Adriando Raldi, Alexandre Schneider e Enrico de Freitas, todos de terno e gravata, menos Jerusa, que usava blusa com gola rulê, dispararam a senha que conduziria à mais grave crise

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política do Governo Yeda Crusius. Eles constituíam a força-tarefa montada exclusivamente por Procuradores do interior do Rio Grande do Sul. O Procurador Ivan Marx sintetizou numa frase de efeito o que pretendia o grupo:

- O povo tem o direito á verdade e o que esperamos é que, divulgada essa verdade, a impressão seja o estímulo pela busca de um Estado melhor, não de desamparo.

Qual era a verdade?

O Procurador Adriano Raldi, o mais experiente e combativo do grupo, que buscou seu assento na zona mais central da mesa e que passou toda a entrevista coletiva de cabeça baixa, respondendo as perguntas de maneira hesitante, apesar disto foi direto ao ponto, ao revelar que o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul já tinha até julgado todos os investigados pelos Procuradores e pela Polícia Federal:

- Não haverá moleza para estes réus.

O que chocou não foi apenas a linguagem chula, mas a inapropriada qualificação que concedeu aos acusados, já que apenas à Juiza Simone Barbisan Fortes caberia acolher a denúncia e transformar, aí sim, todos os nove listados, em réus.

O que interessa é que para os entrevistados os nove acusados já tinham sido investigados, denunciados e julgado todos os “réus”, mesmo sem defesa de tipo algum, porque não haveria “moleza”, ou seja, nenhum deles escaparia - seria absolvido.

As declarações dos Procuradores Federais também foram interpretadas como um arrogante recado a integrantes do Ministério Público Estadual, porque o MPF considerou que ali os acusados foram tratados com “moleza”. O caso mais reverberado entre os Procuradores Federais foi o arquivamento da denúncia feita contra as condições de compra da casa de Yeda Crusius. É que o arquivamento repercutiu muito mal entre os Procuradores Federais. Eles não gostaram da posição do Chefe do Ministério Público Estadual, o Procurador Mauro Renner. O recado foi despropositado, porque no expediente assinado por Mauro Renner houve um arquivamento amplamente fundamentado e responsável – um ato de independência funcional – ao passo que na ação de improbidade administrativa, o que se viu, ao contrário, foi uma peça repleta de cola recorta, de afirmações desconexas e sem provas.

Embora não admitam, não são poucos os integrantes do Ministério Público Federal que sofrem de um sentimento peculiar de superioridade em relação a integrantes do Ministério Público Estadual. Não se sabe ao certo a origem desse

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sentimento. A ideia aceita é de que a União paga maiores salários e também ações movidas pelo MPF recebem maior cobertura nacional da mídia.

Sem listar pontualmente qualquer acusação, alegando segredo de justiça, o que demonstrou o caráter apenas midiático da entrevista coletiva, os seis Procuradores anunciaram o ajuizamento de ação de improbidade administrativa contra a Governadora Yeda Crusius e também contra os Deputados José Otávio Germano, Luiz Fernando Zachia e Frederico Antunes, mais o Ex-Secretário Delson Martini, a Assessora Walna Meneses, o Diretor do Banrisul, Rubens Bordini, Carlos Crusius, e o Presidente do Tribunal de Contas do Estado, João Luiz Vargas.

Ficou um cheiro indisfarçável de Processos de Moscou no ar.

O Ministério Público Federal não mostrou uma só prova. A sociedade gaúcha, perplexa, soube que o Ministério Público Federal pediu o inacreditável afastamento imediato da Governadora do Estado, o bloqueio dos seus bens, a cassação dos seus direitos políticos e a indenização de R$ 44 milhões, sem conhecer o teor das acusações feitas contra ela – sem que ela pudesse sequer se defender perante a opinião pública, depois de severa e genericamente acusada por seis irados Procuradores da República. O mesmo se deu em relação aos outros oito indiciados.

Os Procuradores deixaram claro em que momento a Governadora Yeda Crusius teria acesso ao inteiro teor das acusações e quando poderia defender-se:

“Depois ela vai lá (Santa Maria) no processo (na Justiça Federal) e se defende (15 dias depois de ajuizada a ação)”

Ao partir de quem partiu o diktakt aterrador, considerando-se o cenário político corrosivo estadual, a mídia, os políticos e sobretudo o conjunto da sociedade gaúcha, viu-se na contingência de apoiar cegamente um dos dois lados. É claro que todos ficaram do lado dos seis Procuradores, que jamais baixaram os severos e duros dedos acusadores, erguidos em riste no dia 5 de agosto de 2009.

Quem poderia duvidar da palavra do Ministério Público Federal ?

O Ministério Público Federal pediu o afastamento imediato da Governadora, dos Deputados, do Diretor do Banrisul e do Presidente do Tribunal de Contas, além do bloqueio dos bens de todo mundo. Estava tudo ligado aos resultados do relatório paralelo que o PT ofereceu no ano anterior durante a CPI do Detran e mais as investigações das chamadas Operação Rodin (Detran) e Solidária, mas sobretudo a Operação Rodin, porque o valor arbitrado pelos Procuradores, R$ 44 milhões, referiam-se aos supostos prejuízos sofridos pela autarquia. Sempre bem informada, a Jornalsita Vivian Eichler, de Zero Hora,

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lembrou no dia seguinte: “A ação civil que os procuradores ajuizaram na Justiça Federal, ontem, teve origem no voto em separado do PT da CPI do Detran”. Esta era a digital principal – mas não a única e nem a mais decisiva.

Ao pedir o bloqueio dos bens dos nove indiciados, os Procuradores queriam garantir a devolução do dinheiro que foi estimado pela Operação Rodin, da Polícia Federal, que deu origem a outras duas ações de improbidade e uma penal, instauradas na Justiça Federal de Santa Maria contra ex-Dirigentes do Detran e da Universidade Federal de Santa Maria.

Foi uma “bomba”, como fez questão de “prever” um dia antes o Jornal Zero Hora, nau capitânea do grupo midiático RBS, o mais poderoso do Sul do Brasil, que desde o ano anterior estava em campanha aberta para desestabilizar o Governo do Estado, aliando-se aos seus piores inimigos e adversários, inclusive ao Governo Federal, que trabalhava abertamente para criar embaraços sucessivos para a Governadora Yeda Crusius. Embora o inquérito dos Procuradores estivesse protegido por completo segredo de justiça, o jornal da RBS, no dia anterior ao da entrevista mais uma vez desconsiderou os obstáculos jurídicos, vazou tudo e adiantou o que aconteceria:

“ É uma bomba. A ação que os Procuradores da República estão prestes a anunciar, envolverá estes nove nomes. Trata-se de uma ação civil de improbidade administrativa, com base na análise de documentos da Operação Rodin e de escutas de outras investigações, entre elas a Operação Solidária. São 20mil áudios e 30 volumes. Avaliação preliminar do anúncio que será feito daqui a pouco é uma bomba com poder para estremecer as bases da política gaúcha. Vai além do que imaginavam os mais pessimistas aliados do governo”.

A RBS tinha razão.

O grupo de mídia da Família Sirotsky sempre soube de tudo muito antes.

O governo tinha sido acuado de maneira irremediável.

Os aliados ainda não sabiam exatamente do que se tratava, porque o Ministério Público Federal não abriu informações pontuais sobre as acusações elaboradas contra cada um dos nove indiciados, mas o espetáculo midiático e a força moral das declarações dos seis Procuradores, amplificaram dramaticamente o rol de acusações, denúncias e investigações que a RBS, a Oposição e o Governo Federal, via Polícia Federal – inclusive com a colaboração de ex-membros do próprio Governo Yeda Crusius - subordinada ao Ministro Tarso Genro, vinham promovendo desde o ano anterior.

A CPI do PT, que a Oposição queria chamar de CPI da Corrupção, e o pedido de impeachment, não só tinham ganho um aliado decisivo, como

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ofereciam, agora, reais condições de emplacar e oferecer resultados devastadores para o Governo.

Em Canela, onde se refugiou antes mesmo da entrevista coletiva dos seis Procuradores do Ministério Público Federal, isolada,  perplexa e atônita com o rumo precipitado dos acontecimentos e a ousadia dos adversários e inimigos, a Governadora Yeda Crusius buscou forças próprias para suportar e reagir melhor ao golpe.

Acompanhada apenas de uma Assessora de confiança e de um Ajudante de Ordens, ela procurou a pequena escrivaninha localizada aos fundos da sala de estar do casarão do Palácio das Hortênsias, de onde emitiu os primeiros sinais de reação, depois de avaliar o tamanho do estrago causado ao seu Governo e medir o que lhe restava de apoio político e parlamentar.

A segurança no Palácio das Hortênsias não chegou a ser reforçada. Apenas uma viatura do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar e três policiais estavam no local.

Em Porto Alegre, no Palácio Piratini, Secretários de Estado e aliados do Governo, promoveram uma reunião de emergência para avaliar a extensão da ação civil pública anunciada pelo Ministério Público Federal.

Durante toda aquela quarta-feira que precedeu a entrevista coletiva dos Procuradores, Yeda Crusius tentou demonstrar tranqüilidade e confiança, promoveu despachos nas áreas de Habitação, Meio Ambiente, Administração e Agricultura, concedeu uma entrevista para a TV do Estado, a TV Piratini, mas não quis conversar com os jornalistas de Porto Alegre. Seu celular estava desligado. Nem mesmo Secretários mais próximos conseguiram falar com ela sem intermediação. Ela aproveitou a manhã para votar pela Internet na nova rodada da Consulta Popular, uma espécie de Orçamento Participativo, o OP, que as administrações do PT implementaram em Porto Alegre e que depois tentaram reeditar sem sucesso no Governo Olívio Dutra.

Yeda parecia à vontade no abrigo de cor cinza que vestiu naquele dia. Na foto distribuída pelo Palácio Piratini, ela apareceu com semblante tranqüilo, despachando com o Subchefe da casa civil, Cesar Marsillac, que as 15h deixou o Palácio das Hortênsias e foi para o Aeroporto de Canela, localizado ali perto, onde apanhou um helicóptero que o trouxe a Porto Alegre. A idéia era resistir ao golpe. Ela convocou uma reunião do secretariado e naquela mesma noite contratou os serviços do Advogado Fábio Medina Osório. Suas instruções ao Advogado foram muito simples:

- A partir de agora, quem tem que falar é a Justiça.

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O Advogado Fábio Medina Osório acompanhou os processos movidos contra Yeda Crusius até o final do seu mandato. Ele encerrou 2010 com um elenco de sucessivas vitórias. A Governadora encerrou o mandato sem constar como ré em nenhum processo.

Em Porto Alegre, pouco antes da entrevista coletiva no Ministério Público Federal, era sombrio o ambiente no Palácio Piratini e na Assembléia. Ninguém queria conversa. Os celulares estavam desligados. Um dos poucos Deputados que concordou em falar com os jornalistas foi Pedro Westphalen, do PP, que foi logo avisando o que esperava da entrevista coletiva programada para aquela tarde:

“Sou cirurgião. Quando tem um tumor para abrir, tem de ver o que é’.

Tão logo terminou a entrevista dos Procuradores, alguns poucos manifestantes do PSOL postaram-se para protestar diante do Palácio Piratini, mas a segurança reforçada da Brigada Militar impediu a aproximação. Ninguém mais do Eixo do Mal saiu ás ruas. Os Deputados do PT preferiram aproveitar o clima de comoção política que lhes era favorável e ir atrás das assinaturas que faltavam para protocolar o pedido de CPI contra o Governo Yeda, enquanto comemorava a vitória intramuros, evitando demonstrar qualquer tipo de orquestração.

A adesão ao requerimento redigido pela Deputada Stela Farias, que mofava desde maio no gabinete da bancada do PT com apenas 17 assinaturas, foi avassaladora. A pressão da mídia e da opinião pública era irresistível. Seria politicamente impossível impedir a convocação de uma CPI capaz de demonstrar ao povo gaúcho tudo aquilo que o Ministério Público Federal denunciou no dia 5 de agosto, mas não quis ou não pode provar.

No mesmo dia da coletiva dos Procuradores, aderiram os Deputados do PDT, Gerson Burmann, Kalil Sehbe e Giovani Cherini. No dia seguinte, dia 6, quinta-feira, o PMDB também resolveram encorpar o requerimento, muito embora a lista já tivesse emplacado o número mínimo necessário. Decidiu assinar até o Deputado Luiz Fernando Zachia, líder da bancada, um dos nove denunciados pelos Procuradores.

O calendário marcou 5 de agosto de 2009, quando a base aliada do Governo Yeda resultou desbaratada pelo episódio. Os 30 Deputados governistas não puderam conter o avanço dos 25 Deputados da Oposição, muito embora os governistas comemorassem naquele dia o aniversário de oito meses da conquista do déficit zero. Deputados da base – PMDB, PTB e PP – assinaram o requerimento, mesmo sabendo que a CPI tinha sido articulada para cortar também suas próprias cabeças.

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Os governistas somente voltariam a atuar em bloco na última fase da CPI do PT, mas até lá, cada um fez o que bem entendeu – e boa parte fez o jogo do PT, achando que ia se safar.

Inexperiente, pequeno, desarticulado, o PSDB e seus cinco Deputados mantiveram a unidade em torno do Governo, contando com a aliança integral da bancada do PPS, também ela pequena, de apenas três Deputados, e de mais sete deputados do PMDB, PP e PTB.

O PSDB foi obrigado a assumir a liderança da batalha política em defesa do Governo Yeda Crusius. Este papel coube a um jovem Deputado, um principiante, mas o combativo e corajoso Deputado de Canoas, Coffy Rodrigues, que poucos meses antes tinha migrado do PDT para o PSDB. No dia seguinte ao da entrevista dos Procuradores, o Partido reuniu a Executiva e depois o Diretório de 110 membros, fazendo a leitura correta da crise política, já que atribuiu-a ao então Ministro Tarso Genro, candidato declarado ao Governo do Estado e adversário eleitoral de Yeda Crusius. Afinal de contas, o candidato do PT ao Piratini era o Chefe da Polícia Federal do Rio Grande do Sul, já que ocupava o Ministério da Justiça. Dali saíram todas as ferramentas brandidas pelo Ministério Público Federal e pelo PT na convocação da CPI do PT na Assembléia. Além disto, a Chefe do PSOL no Estado, a Deputada Luciana Genro, filha do Ministro Tarso Genro, foi quem produziu escandalosas e jamais comprovadas denúncias contra Yeda.

Só a Oposição no Rio Grande do Sul – Tarso Genro e Dilma Rousseff – tinham a ganhar com o que estava acontecendo no Estado. O governo estadual nunca duvidou do golpe político intentando contra ela, todo ele baseado em multiplicadas e programadas ações espetaculosas de mídia, decorrentes de apresentações de fitas com gravações editadas e jamais periciadas, acusações sem prova, dossiês falsos, testemunhas instrumentalizadas – e tudo isto sob a presença intimidadora da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

E ganharam.