capÍtulo 22 · 2018-02-23 · ... (jogando) - quer ser de verdade uma primeira-dama ... ser...

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C Á L I C E D E S A N G U E = = = = = = = = = = = = = = CAPÍTULO 22 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS) “Aqui se faz, aqui se paga” ORIGINAL de: Carlos Lira e João Sane Malagutti Escrita Por: Carlos Lira E João Sane Malagutti PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 1. LEOFÁ (José de Abreu) 2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda) 3. SALVADOR (Antônio Fagundes) 4. ÚRSULA (Bianca Bin) 5. JÚLIO (Chay Suede) 6. GORETE (Bia Seidl) 7. EURICO (Alexandre Nero) 8. BRIANE (Daniele Winitz) 9. VALDIR (Paulo Rocha) 10. MANFRED (Matheus Nachtergaele) 11. GUTEMBERG (Humberto Carrão) 12. EPITÁCIO (Tony Ramos) 13. LEOPOLDINA (Regina Duarte) 14. PETRÔNIO (Sidney Sampaio) 15. DIONE (Sophie Charlotte) 16. FILIPA (Totia Meireles) 17. QUITÉRIA (Nívea Maria) 18. PÂMELA (Adriana Birolli) 19. PILAR (Malú Galli) 20. PABLO (Luiz Felipe Melo) 21. INVESTIGADOR (Carlos Machado) 22. CARCEREIRO (figurante) Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

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C Á L I C E D E S A N G U E

= = = = = = = = = = = = = =

CAPÍTULO 22 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS)

“Aqui se faz, aqui se paga”

ORIGINAL de: Carlos Lira e

João Sane Malagutti

Escrita Por: Carlos Lira E

João Sane Malagutti

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

1. LEOFÁ (José de Abreu)

2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda)

3. SALVADOR (Antônio Fagundes)

4. ÚRSULA (Bianca Bin)

5. JÚLIO (Chay Suede)

6. GORETE (Bia Seidl)

7. EURICO (Alexandre Nero)

8. BRIANE (Daniele Winitz)

9. VALDIR (Paulo Rocha)

10. MANFRED (Matheus Nachtergaele)

11. GUTEMBERG (Humberto Carrão)

12. EPITÁCIO (Tony Ramos)

13. LEOPOLDINA (Regina Duarte)

14. PETRÔNIO (Sidney Sampaio)

15. DIONE (Sophie Charlotte)

16. FILIPA (Totia Meireles)

17. QUITÉRIA (Nívea Maria)

18. PÂMELA (Adriana Birolli)

19. PILAR (Malú Galli)

20. PABLO (Luiz Felipe Melo)

21. INVESTIGADOR (Carlos Machado)

22. CARCEREIRO (figurante)

Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

CENA 01. CASARÃO BIANCHINI: ESCRITÓRIO/SALA. INTERNA. DIA

Escritório. Retoma de onde parou. Clima de suspense

FILIPA: - Agora, vais pagar tudo o que fez a

mim. Minha vez de lhe ver na pior, Salvador!

Ela sai e fecha a porta. A câmera se fecha na gaveta.

Corta para:

SALA:

Pilar escorada na porta. Filipa volta.

PILAR: - Agora que voltou, podemos dar por

encerrada a sua visita. Pra mim, você é

‘persona non grata’ nesta casa. (aponta a

saída) E, se quiser falar com Salvador, vá à

prefeitura.

FILIPA: (sorri) - Vou sim, mas em outra

ocasião. Minha quota de ócio por hoje já deu.

(saindo) Não sei se você sabe, mas, trabalhar

levanta a autoestima. Devia tentar!

Close: Pilar sorri ironicamente e fecha a porta na cara de

Filipa.

Corta para:

CENA 02. CASA DE EURICO: SALA. INTERNA. DIA

Eurico no sofá beberica café atento em papéis. Briane entra

passa por ele e termina de passar batom olhando em espelho

de bolso.

BRIANE: - Perfeito!

EURICO: - Posso saber onde diabos pretende ir

vestida assim como uma mulher da vida?

BRIANE: - Passear, ver algumas coisas. Ficar

aqui sozinha é ruim demais; preciso de algo,

senão enlouqueço. E, outra não posso ser uma

primeira-dama maltrapilha.

Eurico se aproxima por trás e a beija.

EURICO: (jogando) - Quer ser de verdade uma

primeira-dama?

BRIANE: (entregue) – Ai, Euriquinho. Estava

com saudade de você assim!

EURICO: (na onda) – Estava, é?

Briane se vira e o abraça de frente.

BRIANE: - As compras podem esperar!

Ela o ameaça beijar. Eurico tranca a cara e a segura firme

pelo cabelo. A cena muda pra suspense.

(Cont’d) Eurico! Com menos força, Eurico! Não

gosto assim! Está me machucando!

EURICO: (sádico) - Acha que sou homem de ficar

bancando vadia? Ou que vai sair na rua para

ser humilhado e chamado de corno? Está para

nascer uma mulher que vai desmoralizar em

público.

BRIANE: (com dor) – Solta, por favor. Solta!

EURICO: - Você vai saber o peso da traição!

A joga no sofá com força e tira a cinta.

BRIANE: (assustada) – O que vai fazer?

EURICO: - O que deveria ter feito faz tempo!

Ergue o braço para golpeá-la. Close: Briane com medo.

Corta para:

CENA 03. SERRA. EXTERNA. DIA.

Panorâmica do alto. ‘HUMAN’ (Christina Perry). A câmera

acompanha o conversível de Keila. De um lado uma estrada

deserta, do outro, o mar. Efeito sobreposição. Close. Keila

com echarpe enrolada na cabeça e trançada pelo pescoço. Pelos

óculos de sol, lágrimas. A viagem é triste. DETALHE:

motorista a observa pelo retrovisor. Ela ajeita o decote e

revelando o par de seios. Ele sorri.

KEILA: (engasgada) - A liberdade dói! Mas, se

quisermos viver, temos que ser assim!

Câmera revela o cenário paradisíaco.

(Cont’d) Um dia vão entender que não se trata

de ingratidão.

Motorista sorri para ela.

Corta para:

CENA 4. CASA DE EURICO: SALA. INTERNA. DIA

Briane de bruços. Olho roxo. Nariz sangrando. Ela chora em

silêncio. Desfoque. Eurico coloca a cinta. A cena conota

violência sexual.

EURICO: (imponente) - Estamos entendidos?!

Abra a boca, e nunca mais verá seu filho.

Traia-me e nunca mais verá seu filho. Não sabe

ainda do que sou capaz. Posso mais que isso!

Ele sai. Ela chora alto. Encosta no sofá. Música triste.

Corta para:

CENA 05. ESCRITÓRIO DE LEOFÁ. INTERNA. DIA

Leofá e Júlio em discussão acalorada.

LEOFÁ: - Não! Já disse que não será nada! Não

terá meu apoio de forma alguma se candidatar.

Agora é a minha hora e dessa vez, nem você e

nem Eurico ficarão à minha!

JÚLIO: (joga) - Porque agora depois de tantos

anos de omissão?

LEOFÁ: (sem resposta) – Porque... Porque...

JÚLIO: - Porque poder é importante, não é

verdade? (T) Poder por poder não ajuda em nada.

Eu quero ser prefeito porque eu acho que tenho

um plano de mudanças. Mas, o senhor?! Não! Só

poder, dinheiro e poder!

LEOFÁ: - Acha que dinheiro dá em árvore? Acha

que pode ser melhor que eu?

JÚLIO: - Não se trata de ‘melhor ou pior’. Só

acho que...

LEOFÁ: - Acha nada! Nada, Júlio! Por sua causa,

aquela puta está me levando muito dinheiro. O

que tinha naquela mala dava para alimentar

todos os colonos miseráveis pelo menos por uns

10 anos. E, você, o que fez? (sussurra) Entrega

a sua arma de bandeja para uma puta. Agora ela

vai fugir daqui com toda aquela dinheirama!

(T) E, se for esperta, volta para nos extorquir

e cai na estrada de novo e some sem vestígios

por um tempo.

JÚLIO: - Você pode não acreditar em mim e na

minha capacidade, mas, ela não vai mais nos

incomodar. Tenho certeza!

Leofá desconfiado.

Corta para:

CENA 06. SERRA. EXTERNA. DIA.

Trecho vazio. Música. Keila tira a echarpe da cabeça e deixa

no pescoço. Senta sobre a traseira do carro abre os braços,

ri e sente o vento no rosto. Abaixa e abre a mala.

KEILA: - Chega de tristeza! Aqui tem muito

dinheiro! Vai ser sua corrida mais bem paga.

MOTORISTA: (sorri) – Que bom!

KEILA: - Pode me chamar de louca, mas meu sonho

sempre foi fazer isso... (pega um bolo de

dinheiro) Sacou?

MOTORISTA: - Eu não faria se fosse meu, mas se

for tua vontade... (canta) Você é linda e com

essa dinheirama pode ter qualquer homem a seus

pés, sabia?

KEILA: (charminho) - Será?!

MOTORISTA: - Claro que sim!

KEILA: - Olhe.

Joga o dinheiro que cobre o caminho no ar. Curva. Cortes

descontínuos do acidente. SLOW-MOTION: Keila sorri. Ritmo

normal: PANCADA. Caminhão os pega na curva e os arrasta para

a ribanceira. SLOW-MOTION: Carro caindo nas pedras ate cair

no mar. Corpo de Keila na pedra em meio a poça de sangue. A

câmera passeia daí para o alto acompanhando o movimento do

dinheiro esparramado no asfalto. A echarpe de Keila voa entre

o dinheiro.

Fusão com:

CENA 07. COZINHA BOTECO. INTERNA. DIA

Pâmela, Manfred e Quitéria na cozinha. Abre a cena com xícara

de vidro estourando. DESFOQUE revela os atores.

QUITÉRIA: (assustada) – Tragédia anunciada!

PÂMELA: - Crendices! Apenas calor.

MANFRED: - Que seja! (sinal da cruz) Por aqui,

mamãe sempre falava que vidro que se quebra do

nada anuncia tragédia. (preocupado) Só espero

que não venha mais nada!

Quitéria preocupada.

PÂMELA: (desconversa) – Eu vou limpar isso e

a cabeça de vocês. (se abaixa pra pegar os

cacos) Falando em limpar, preciso começar a

procurar um escritório limpo para começar a

trabalhar.

MANFRED: - Vamos ver isso. Deixe assentarmos

as coisas nessa semana. Acho que aqui no centro

Eurico tem um prédio para conceder.

Quitéria cutuca Manfred.

(Cont’d) (corrige) Alugar! Isso! Alugar!

Pâmela sem entender.

Corta para:

CENA 08. COZINHA DOS PIMENTA. INTERNA. DIA

Suméria enxuga louças e Gorete mexe panelas. Léo sentada.

SUMÉRIA: - O dinheiro é maldito, Dona Léo.

Minha avó falava isso. Na época, não, mas,

hoje, eu entendo o que ela quis dizer.

GORETE: - Meu pai dizia o mesmo, mas... (cai

a ficha) Me vendeu ao seu pai, Léo!

LÉO: - Pobre, Gorete! Podiam ter lhe vendido

pelo menos para uma pessoa mais normal. Justo

à Leofá! Cada dia que passa, parece mais louco!

SUMÉRIA: - E, a senhora ainda quer mexer nesse

dinheiro dele? Por isso que falo que o dinheiro

é maldito. Ele até mata as pessoas.

LÉO: - Quem mata? O dinheiro ou Leofá?

Suméria sem resposta a olha.

(cont’d) O dinheiro é meu também, Suméria. Por

direito! E, outra, eu tenho um acerto de contas

com Leofá. Não é sódinheiro! A cada dia que

passa, mais acho que a culpa de tudo foi dele

ao denunciar a santinha. Nada teria acontecido

se ele não tivesse entregado a gente para o

papai...

Suméria para de enxugar louça de susto. Retoma e disfarça.

SUMÉRIA: - Deixo que eu mexa o caldeirão Dona

Gorete, vá descansar.

GORETE: - Essa história de vocês com a

santinha, me intriga, Lepoldina. Desculpa lhe

falar isso, mas, tudo é tão exagerado, não

pareceu-me algo comum. Posso ser sem estudo,

mas eu vivi bastante entre gente rude. O que

vocês passaram parece tocaia. Foi encomenda!

Suméria incomodada.

LÉO: (pensativa) – É o que sempre carreguei

comigo Gorete.

Suméria joga o pano de prato e sai apressada.

(Cont’d) Ouxe! O que deu nela.

GORETE: - Ela evita esses assuntos desde

sempre. Diz que às vezes vê os fantasmas pela

casa. Deve estar impressionada.

Ventania. Algumas panelas caem.

LÉO: (assustada) – Melhor pararmos de falar!

Ventania estranha.

Gorete assustada.

Corta para:

CENA 09.LOJA FILIPA/ESCRITÓRIOS:LEOFÁ/EURICO. INTERNA. DIA

Efeito transição em cada fala para cada locação respectiva.

Toda fala em tom soturno e de suspense. INTERCUT: Conversa

telefônica.

FILIPA: (ao fone) – É isso!

EURICO: - Só posso dizer isso no momento!

LEOFÁ: - Perfeito!

Eurico ansioso desliga o Telefone. Filipa sorrindo desliga

o telefone.

FILIPA: (doentia) – Perfeito. Agora você não

me escapa!

Fusão com:

CENA 10. ESCRITÓRIO DE LEOFÁ/SALA DOS PIMENTA. INTERNA. DIA

Leofá desliga o telefone.

LEOFÁ: - Agora, só esperar!

Telefone toca. Leofá o observa com desconfiança.

(Cont’d) (atende) Pronto!

ÚRSULA: (in off) – Olá, é da casa do Guto?

LEOFÁ: - Não! Não é, mas ele reside aqui. Posso

ajudar?

ÚRSULA: (in off) – Se pudesse, gostaria de

falar com ele.

LEOFÁ: (mente) – Não pode. Não está!

GUTEMBERG: (in off) - Alô!

LEOFÁ: (maldoso) - E, não é que ele estava?

Enganei-me. Vou desligar a extensão.

Leofá finge que desliga a extensão e fica ouvindo.

ÚRSULA: (in off) - Oi, sou eu. Queria falar

contigo, pode ser na praça, daqui à uma hora?

GUTEMBERG: (in off) – Pode! Estarei lá!

ÚRSULA: (in off/hesitante) - Venha mesmo! É

muito importante!

Leofá desliga.

LEOFÁ: - Voz entojada. Deve ser namoradinha. O

que será que esses filhos de Leopoldina nos

reservam? (irritado) Mais uma para tomar a

nossa fortuna. Só faltava aparecer grávida!

Corta para:

CENA 11. CLIP. EXTERNA. DIA

Cantoria popular. Takes rurais. Efeito passagem de tempo.

Peões comem marmitas. Outros cochilam. Mulheres com peneiras

na catação de café. Peões batem palmas no ritmo da cantiga.

Fusão com:

CENA 12. FACHADA CASARÃO BIANCHINI. EXTERNA. DIA

Palmas. Pilar sai pela porta da frente apreensiva.

PILAR: (assustada) - Pois não?!

Abre a cena e revela muitos carros de polícia. Suspense.

INVESTIGADOR: - Boa tarde. Aqui reside o Sr.

Salvador Bianchini?

PILAR: (apreensiva) – Sim... Aconteceu algo?

INVESTIGADOR: - O que a senhora é dele?

PILAR: (tremendo) - Esposa! Há algo de errado

com ele?

INVESTIGADOR: - Acalme-se. Não aconteceu nada

com ele. (abre um papel) Temos um mandado

judicial de busca e apreensão de uma possível

arma usada em um crime nesta cidade.

Vai até ela e entrega o papel. Ela lê.

PILAR: (incrédula) - Absurdo! (T) Entrem, não

encontrarão nada porque Salvador não é um

criminoso. (aponta a porta) Fiquem à vontade.

Os policiais entram.

Corta para:

CENA 13. CASARÃO PIMENTA: SALA. INTERNA. DIA

Gutemberg pega a chave do carro para sair. Desfoque Leofá ao

fundo.

LEOFÁ: - Vai a algum lugar, sobrinho!

GUTEMBERG: - Vou ver Úrsula!

LEOFÁ: (joga) - Cuidado! Não queremos uma

gravidez inesperada na família.

Close: Guto sem reação.

PETRÔNIO: (aparece) – Que papo! Já inventaram

a camisinha. É uma espécie e capa peniana que

talvez o senhor não tenha ouvido falar.

LEOFÁ: - Que seja! Essa casa já e está cheia

demais. Depois que tiver o lugar dele, que

pense nisso. Mas, não debaixo do meu teto.

PETRÕNIO: (enfrenta) – Nosso teto! (T) Essa

casa também é nossa!

GUTEMBERG: (ameniza) – Deixem disso. A mamãe

já está sofrendo e essa postura de ambos não

ajuda em nada.

LEOFÁ: (provoca) – Ouça o seu irmãozinho.

Petrônio vira as costas e sai. Gutemberg bufa e sai. Leofá

sorri doentiamente.

Corta para:

CENA 14. CASARÃO BIANCHINI:SALA. INTERNA. DIA

Pilar ao fone. Som de chamada. Pessoas ao fundo à procura de

algo.

PILAR: (sussurra) – Vamos... (nervosa) Atende

isso pelo amor de Deus!

INSERT- POV: punhal sendo retirado da gaveta do escritório.

Retorna à cena: Pilar no fone. Investigador aparecendo com

o punhal em um pano.

INVESTIGADOR: - Bem no lugar descrito! (T) E,

então; onde encontramos seu marido?

Suspense. Close: Pilar desesperada.

Fusão com:

CENA 15. SETOR RURAL. EXTERNA. DIA

Vista de cima: carros de polícia correm na estrada de terra

e fazem poeira. Som de sirenes com suspense musical.

Corta para:

CENA 16. PRAÇA/FACHADA PREFEITURA. EXTERNA. DIA

Gutemberg estaciona. Da janela do Boteco, Pâmela o vê e sai.

Manfred espia e entende a intensão da moça. Guto desce da

caminhonete e avista Úrsula abrindo sorriso. Acena e retribui

o sorriso indo a sua direção. Pâmela o segura.

PÂMELA: - Que bom que voltou! Precisava falar

mesmo contigo. É urgente.

Úrsula muda a feição para choro e sai andando.

GUTEMBERG: - Não! Pâmela, agora, não! Depois

lhe procuro.

Pâmela tenta dar justificativa. Ele a deixa e sai acelerado

na direção de Úrsula. Manfred se aproxima.

MANFRED: - O que houve aqui?

PÂMELA: (chateada) - Não entendi bem, só queria

dizer a ele que a confusão passou.

Carros da polícia passam em alta velocidade.

MANFRED: - Que coisa! Espero que não tenha

estragado o namoro deles.

Pâmela preocupada.

Fusão com:

FACHADA DA PREFEITURA:

Úrsula na calçada da praça para atravessar. Gutemberg a

segura pelo braço. A polícia estaciona frente à prefeitura.

GUTEMBERG: - Aonde vai? Me espera!

ÚRSULA: – Fica com ela! Está sempre no meio de

nós. (T) Me deixa, vou à prefeitura.

GUTEMBERG: - Não pode me deixar depois que me

fez vir aqui.

Úrsula estende a mão com um papel.

ÚRSULA: - Um exame médico. Leia! (lacrimeja)

Quando estiver pronto me procure. Vou ver o

que acontece aqui com a chegada da polícia.

Gutemberg lê e fica abalado. Úrsula atravessa a rua até perto

do carro da polícia. Salvador algemado e escoltado sai da

prefeitura.

ÚRSULA: (surpresa) – Pai!!! (grita) Não podem

prendê-lo! O que ele fez para isso?

Ninguém responde. Parte para cima.

(Cont’d) Pai! O que estão fazendo?! (aos

policiais) Soltem-no! Isso é um engano!

SALVADOR: (humilhado) – Calma, filha! Vai se

esclarecer tudo!

Úrsula começa a bater num dos policiais gritando: “solta

ele” sequencialmente. Ele a joga ao chão com força ela bate

no carro da polícia com a cabeça e desfalece.

GUTEMBERG: (grita) – Não!!!

SLOW-MOTION: Salvador de desvencilha e empurra o policial

agressor com o corpo. Guto avança para cima do policial

empurrado-os. O restante da polícia forma tumulto para

separá-los. Gutemberg e Salvador são contidos. O ritmo retoma

ano normal. Os policiais acodem Úrsula. Roda de curiosos se

formando. As figurinhas de Tetembau em volta.

GUTEMBERG: (chorando) – Ela está grávida! Não

podiam ter feito isso com ela.

Close: Salvador emocionado. Ele é levado para o camburão.

SALVADOR: - Cuida dela, Guto! Até eu voltar!

Empurram Salvador para dentro do camburão e sai. Guardas

ajudam a socorrer Úrsula. Close nos personagens da área em

volta. Do meio dos curiosos Dione se afasta sorrateira.

Fusão com:

CENA 17. LOJA DE FILIPA. INTERNA. DIA

Dione entra como furacão. Debruça no balcão e chora. Filipa

se aproxima. Dione ergue a cabeça com ódio.

DIONE: – Você conseguiu o que queria. Ela

conseguiu o que queria! (irada) Satisfeita?

Todos conseguiram o desejado, menos eu. Menos

eu!

FILIPA: (sem entender) – Filha! O seu pai foi

preso, agora estamos a um passo dessa herança.

Você vai poder ter o que quiser!

DIONE: - Nunca quis ver o meu pai preso! Só

queria ele ao meu lado e me cuidando como a

filha dele. Mas não! (grita) A outra tomou isso

de mim. Ela ficou com o pai, com os carinhos,

com a fortuna e ainda, conseguiu dar ao

prefeito o que ele mais queria: um neto!

FILIPA: (perplexa) - A sonsinha está grávida?

DIONE: - Sim! De um Pimenta! Ela leva no ventre

a criança que pode acabar com toda a diferença

das famílias. Tudo o que meu pai no fundo

sempre sonhou com a Leopoldina.

Filipa senta boquiaberta.

(Cont’d) (ressentida) Depois disso, jamais o

meu pai me olhará com carinho!

FILIPA: (pensativa) - Filha de uma potranca! A

desgraçada é mais esperta que todos!

Precisamos, URGENTEMENTE, dar um jeito nisso!

Isso não pode ficar assim. Temos que pegar a

sua herança antes dessa criança nascer senão

entra mais um no rateio da herança. Não podemos

tolerar isso.

Dione encara a mãe com perplexidade.

DIONE: (desanimada) - Você não ouviu nada do

que falei? Trata-se de emoções, não de grana!

Dinheiro, dinheiro! Estou farta! Chega desse

jogo. (enfrenta) Há muito perdi o contato com

o meu pai e sei que tudo foi porque escolhi

ficar do seu lado, mas, agora... Não! Acabou,

mãe. Eu ando com as minhas próprias pernas.

Deixe meu pai apodrecer na prisão em paz! Já

conseguiu o que queria. Chega de maldades!

Close: Empáfia de Filipa. Dione sai.

FILIPA: (desabafa) – Ingratidão! É o que se

recebe dos filhos, mas quando estiver mais

velha, vai ver que a minha luta foi legítima!

Close: Pensativa.

Corta para:

CENA 18. FACHADA CASARÃO PIMENTA. EXTERNA. DIA.

Léo com a chave da caminhonete na mão. Petrônio atrás.

PETRÔNIO: - Aonde vai feito uma louca?

LEOPOLDINA: - À cidade. (cuidadosa) O seu pai

precisa de ajuda. Está na delegacia. Você é um

advogado, quem sabe pode ajuda-lo.

Petrônio assustado.

Corta para:

CENA 19. PORÃO. INTERNA. DIA

Suméria joga peças de roupas numa mala e o cálice por cima.

Leofá entra.

LEOFÁ: - Vi que saiu apressada desde a notícia

da prisão do prefeitinho. (olha a mala)

Pretende sair viajem (irônico) sem mim?

SUMÉRIA: - Está ficando perigoso, Leofá. Dona

Léo vai descobrir tudo! Já está desconfiada e

o assunto não sai da boca! Quero estar longe

quando descobrir. Vai ser melhor para todos.

E, se quer um conselho, divide essas terras

logo e se afastem.

LEOFÁ: - Acha que tenho medo? Leopoldina não

pode nada contra mim. Não tem como descobrir

nada! Só se você der com a língua nos dentes.

SUMÉRIA: (com medo) – Não dei, não! Mas, eu

não consigo mais conviver com isso. E, por isso

mesmo pretendo ir embora.

Volta a arrumar as malas. Leofá a segura.

LEOFÁ: - Não! Não vai!

SUMÉRIA: (educada) – Leofá, por favor!

Ele continua a segurando e sem responder.

(Cont’d) Me solta! Não pode me prender a vida

toda. Já fiquei demais. Não sou sua escrava.

LEOFÁ: - Mas é minha prisioneira. Vai padecer

aqui pelo crime de envenenar a minha irmã.

SUMÉRIA: (acuada) – Você me obrigou a isso.

Não estou sozinha nessa! Se tentar me forçar

a algo novamente eu conto tudo!

GORETE: (interrompe) – Conta o que?

Leofá tranca a cara.

(Cont’d) Do que estavam falando Leofá?

LEOFÁ: (vira os olhos) - Mulher se mete em

tudo! (à Gorete) Saia, o que acontece aqui não

lhe diz respeito!

GORETE: - Dessa vez não. Eu fico! (T) Não pode

me tratar como uma qualquer, Leofá!

Leofá a pega pelo o braço, a ergue do chão, a joga para fora

do porão. Tranca a porta. Suméria assustada. Leofá se

aproxima irado.

SUMÉRIA: - Nunca mais...

Empurra Leofá sobre a cama. Corre para a porta e antes que

chegue ouve risadas. Para e se vira. Leofá sentado com o

cálice na mão. Batidas à porta.

GORETE: (in off) – Leofá! Abra! Leofá!

LEOFÁ: - Achei que deixaria a prova comigo.

Suméria engole a fala. Leofá gesticula com o indicador para

que ela se aproxime.

(Cont’d) Agora, volte e fique boazinha.

Ele se aproxima dela, puxa uns fios de cabelos de forma

carinhosa.

(Cont’d) Há tanto tempo que não me aproximo

desses cabelos ruins e fétidos! (cheira o

pescoço dela) Cheiro de sabão de côco. Coisa

rústica!

Suméria chora calada.

(Cont’d) Não precisa chorar minha negra feia!

Agora você está velha. Caída! Já não mais me

apetece e, nem minha virilidade existe como

antes. O que eu quero de você, é o silêncio.

GORETE: (in off) – Por favor, abra a porta!

LEOFÁ: (à Gorete) - Cale-se! (á Suméria) À

partir de agora, essa é sua ala particular.

Aliás, senzala. Mando lacrar ainda hoje as

janelas e a porta tranco na chave. Se você

sumir, eu te acho. (ameaça) Faço a mesma que

assistiu nas margens do riacho naqueles anos.

Entendeu?

Suméria com medo. Abre o armário velho e pega uns grilhões

dentro.

(Cont’d) (debocha) Pensei que fosse esperta,

mas, não! É inferior! Podia ter sumido com isso

daqui há anos, mas prefere sofrer.

Suméria chora.

Fusão com:

CENA 20. FACHADA DO CASARÃO PIMENTA. EXTERNA. DIA

A cena começa na lateral da casa pelo porão e segue até a

escadaria. Leofá sai tranca a porta com a chave e põe no

bolso.

GORETE: - Porque está a trancando?

LEOFÁ: (andando) – Não é da sua conta!

GORETE: - Não pode fazer isso com a pobre!

LEOFÁ: - Não te mete!

GORETE: - Não pode me tratar assim, Leofá! Sou

a sua esposa!

Ele dá de ombros e continua andando.

(Cont’d) Leofá! Exijo respeito, por favor!

Continua andando e dá as costas.

(Cont’d) Depois de anos! (Grita) Leofá!

Ele vira um murro. Ela cai. Close: lacrimejando. Gorete se

levanta irada e parte para cima dele.

GORETE: - Chega! Desgraçado! Foram anos de

humilhação. Não vou mais passar por isso. Terá

que me ouvir Leofá. Tudo o que está engasgado

por aqui.

Leofá lhe dá um safanão.

LEOFÁ: (grosso) - Quer conversar sobre esse

relacionamento? Então será do meu jeito!

GORETE: - Não! Não terá mais seu jeito!

Leofá a pega pelo cabelo e a leva arrastando pelo cabelo e

sobe as escadas enquanto fala. Ela deve pedir para soltá-la

e reclamar de dores em meio às falas.

LEOFÁ: - Ser ouvida? Deveria ser o de menos.

Pedra não fala. Um bibelô mora na estante. Não

tem serventia. É um peso morto! Algo tão

insignificante para quem quer mais da vida! É

isso o que você é! Um bibelô barato daqueles

que se ganha nas barracas de parque. (T) Meu

pai pagou até caro demais por você e, eu?

Continuo pagando até hoje!

No alto da escada.

GORETE: (irada) – Você é um monstro, Leofá!

Se debate. Leofá a solta e ela rola a escada e bate com a

cabeça. Leofá desce devagar com ass mãos nos bolsos. A olha

com sarcasmo e riso. Coloca os dedos em sua jugular.

LEOFÁ: (para si) – Pena que não morreu. Seria

um peso a menos. (grita) Júlio! Acuda, sua mãe

caiu da escada. (para ela) Traste! Resta-nos a

subir essas escadas com esse monte de carne

imprestável!

Suspense.

Corta para:

CENA 21. FACHADA DA LOJA DE FILIPA. EXTERNA. ENTARDECER

Filipa está encostada na porta. Eurico aproxima.

EURICO: (segurando o riso) – Não poderia ter

sido melhor!

Filipa olha para todos os lados.

FILIPA: (segreda) – O que me contenta foi saber

da cara de criança perdida.

EURICO: - Completamente vulnerável!

FILIPA: (sorri) - A primeira vez que o vi

assim. Não sabe o quão significante isso se

tornou para mim.

EURICO: - Estou a um passo da prefeitura, minha

querida! Graças a você! Agora é só pressionar

o vice.

FILIPA: - Isso será o de menos. Aquilo é um

bundão de mão cheia. (cínica) Agora tem um

pequeno porém...

EURICO: (ansioso) – Qual?!

FILIPA: (ansioso) – Quero um cargo de alto

nível e destaque quando assumir a prefeitura.

Quero esfregar a minha ascensão na cara do

‘falecido’.

EURICO: - Cuidado! O que pede é um pouco

demais, D. Filipa! Cuidado para não chutar

cachorro achando que está morto sem ter certeza

pode levar mordida no pé.

FILIPA: - Esse cachorro está morto. De lá, não

sai mais. Tenho certeza do que fiz. Com

licença! Por hoje o dia rendeu!

Filipa se vira e sai. Eurico preocupado.

Corta para:

CENA 22. CENAS URBANAS. EXTERNA. ANOITECER

Clipe dos moradores da cidade encerrando a rotina do dia e

outras pessoas passeando.

Fusão com:

CENA 23. DELEGACIA:CELA/RECEPÇÃO. INTERNA. NOITE

Abre a cena com Léo e Salvador de mãos dadas. Frente a

frente, separados pela grade. Léo chora. Salvador com medo.

SALVADOR: - Pela primeira vez, em anos, me

sinto indefeso e desprotegido, Léo. Não é uma

dor igual perder alguém, mas é bem próxima. É

como se tirassem de mim a própria vida e me

deixassem vagando no oco. Ficar nesse lugar

lúgubre e insalubre é demais para mim. Me

coloca abaixo do que eu sempre lutei para ser.

(chora) Eu não sou um bandido, Léo. Não consigo

entender como vim parar aqui!

LÉO: (amiga) – Calma. Você vai provar a sua

inocência. Faz anos que lhe deixei, mas eu

sinto no meu coração que você não precisaria

ter acabado com Epitácio. Meu coração já era

teu; sempre foi teu, e você sempre soube disso.

Eu sempre soube, só não admitíamos. O fato de

você saber que Epitácio e eu estávamos nos

separando já atesta muito a sua inocência. Ao

menos para mim. (T) Se eu tiver que assumir

esse amor e batalhar pela sua inocência. Eu

vou fazer isso!

SALVADOR: - Depois de tantos anos; quando achei

que íamos ser livres para viver esse amor, vem

o destino e muda tudo novamente. (T) Será que

vai valer a pena Léo. Vai querer passar por

isso comigo.

LÉO: (apaixonada) – Sou tua, meu amor. Sou tua!

Sempre serei e estou disposta a enfrentar tudo

do seu lado. Vim para viver esse amor e vou

seguir adiante ao seu lado, como era para

sempre ter sido.

OS dois aproximam os rostos e através das barras se beijam.

Fusão com:

RECEPÇÃO:

Petrônio sentado preocupado. Pilar entra. Ele se levanta.

Ela sorri cortesmente.

PETRÔNIO: - Veio visitar seu esposo. Vou chamar

a minha mãe. Ela está consolando meu pai. Ele

está muito abalado.

PILAR:– Creio que sim. (T) Deixe-os um pouco

mais, acho que depois desses anos todos, vocês

devem ter muitas coisas para acertarem.

Vai ao filtro. Pega água.

PETRÔNIO: - A senhora tem um grande coração.

Aceita água?

Pilar nega simpaticamente.

(Cont’d) Outra mulher, no lugar da senhora,

estaria preocupada ou dando um jeito de impedir

esse encontro. Admiro o seu equilíbrio.

PILAR: - Tenho que ter. Salvador e eu já não

temos mais nada. Para que mentir e fingirmos

que está tudo bem. Somos amigos. Agora, aquela

pontada da perda fica aqui no peito, apertada.!

Porque, no fim de tudo, amar é posse. Ninguém

quer perder o que tem. Estou aprendendo a

superar.

PETRÔNIO: (admirado) – Meu pai teve a sorte de

lhe ter encontrado. A senhora é um exemplar

único.

PILAR: (amiga) – Para de me chamar de senhora,

menino! Isso me deixa muito velha. Eu só estou

um pouco madura para isso.

PETRÔNIO: - Perdão. Você! De agora em diante...

Mas, como dizia, você é uma mulher excepcional.

Carismática, bonita, e cheia de si. Segura!

São atrativos perfeitos para um homem decente.

O homem que perde uma mulher como a senhora,

está primeiramente perdido dentro de si.

Silêncio. Pilar o olha com curiosidade. Por um instante ele

retribui e cai em si.

(Cont’d) Perdão! Me desculpe pelos dizeres. É

a esposa de meu pai e isso soou um tanto

exagerado e grosseiro.

PILAR: - Tudo bem! Não precisa se desculpar.

Foi bom ter ouvido isso. Ajuda a auto estima.

Pilar se levanta.

(Cont’d) Preciso interrompê-los. Tenho que dar

notícias de Úrsula. Ele deve estar preocupado.

Como marido, Salvador falhou um pouco, mas como

pai. Isso não podemos dizer de forma alguma.

Você vai perceber isso ao se aproximar dele de

agora em diante.

Petrônio sorri.

(Cont’d) Pode chama-los para mim? Não gostaria

de chegar do nada.

PETRÔNIO: - Tudo bem!

Som de portão de ferro se abrindo com eco.

FUSÃO COM:

CELA:

Petrônio se aproxima.

PETRÔNIO: - Desculpa interrompê-los. Dona

Pilar chegou.

LÉO: - É melhor que me vá. Vocês tem muitas

coisas para acertarem. (ao filho) Petrônio,

estive falando para seu pai que você é

advogado. Não quer conduzir esses trabalhos

para auxiliá-lo a sair daqui quanto antes?

PETRÔNIO: (inseguro) – É uma responsabilidade

grande, mãe. Eu nunca atuei de verdade. Desde

que formei e tirei a carteira, jamais peguei

um caso. Pode ser que eu falhe e falhar nesse

caso com meu pai, não será bom para ninguém.

SALVADOR: (acolhedor) - Petrônio! Agora só

posso contar com as pessoas que me são

próximas. Tenho certeza que isso é um mal

entendido ou sou vítima de um golpe. Pense

nisso! Ter você por perto, até mesmo nessa

hora, me deixaria muito feliz, meu filho! (com

carinho) Dê-me o prazer de estar ao seu lado,

já que Deus possibilitou esse presente.

PETRÔNIO: (emocionado) – Está certo. Eu vou

fazer coordenar isso, pai. Conta comigo!

Os dois se abraçam pela grade. Léo chora.

Fusão com:

RECEPÇÃO:

Léo e Petrônio saindo dão de cara com Pilar. As duas trocam

olhares. Suspense.

Corta para:

CENA 24. QUARTO DE HOSPITAL. INTERNA. NOITE.

Úrsula dorme. Ao lado numa cadeira, Gutemberg apreensivo.

Úrsula se mexe e ele se aproxima. Ela abre os olhos.

GUTEMBERG: - Está melhor, meu amor.

Ela faz que sim.

(Cont’d)(aliviado) Fico mais contente. Não sei

o que seria de mim se te perdesse.

ÚRSULA: - Foi só uma pancada, Guto. Tá tudo

bem.

GUTEMBERG: - Não. Não está! Você poderia ter

perdido o nosso filho. Seria uma tragédia.

Ela olha para ele com surpresa.

(Cont’d) Eu sei que fui um idiota aquele dia

na pedreira, mas foi coisa momentânea. Eu estou

aprendendo muitas coisas novas aqui, Úrsula,

inclusive o amor. É a primeira vez que amo

alguém na vida. Foi amor desde que te vi

naquela cerca.

ÚRSULA: (ciumenta) – Mas e aquela moça que não

sai do seu pé?

GUTEMBERG: - É apenas uma amiga. Certo que ela

confundiu um pouco as coisas.

ÚRSULA: - Confusão? Você deu flores a ela!

GUTERMBERG: - Foi o mínimo que pude fazer. Ela

esteve presente naquele momento de dor e de

perda do meu pai. Ela é uma pessoa fantástica!

Merece carinho e respeito, mas o meu amor, não!

Ele é seu, Úrsula. E sempre vai ser!

ÚRSULA: - Então, prove que me ama!

Gutemberg a beija na testa.

GUTEMBERG: (brinca) - Sou capaz de pegar o mais

selvagem dos cavalos da fazenda, me vestir como

príncipe pra lhe salvar dessa.../

Úrsula o interrompe com um beijo. Música tema.

ÚRSULA: (apaixonada) – A tua presença pra mim

já é o suficiente!

Retoma o beijo.

Corta para:

CENA 25. DELEGACIA: RECEPÇÃO. INTERNA. NOITE

Pilar e Léo frente a frente. Pilar estende a mão.

PILAR: - Devemos saber a hora certa...

Apreensiva, Léo segura a sua mão.

(Cont’d) A sua hora é agora, Leopoldina. Aliás,

devo lhe parabenizar por esse amor tão lindo

que lhe foi guardado.

LÉO: - Não faça isso. Fica difícil para mim

ouvir isso de sua boca.

PILAR: - Não se acanhe. As palavras que digo

são de coração. Uma mulher deve reconhecer o

sucesso da outra. Amor é algo que deve ser dado

espontaneamente e até respeitado. Não posso

lhe culpar ou culpar Salvador pelo o que

sentem. Assim, como você, eu tenho uma filha

com ele e isso não finda a relação que agora

será de amizade. Creio que, nesse momento,

devemos nos unir forças para ajuda-lo. Por

nossas histórias e nossos filhos.

LÉO: (surpresa) – Sim... Pode contar comigo e

com a minha compreensão, respeito e até mesmo

discrição com os rumos de tudo.

PILAR: - Então, devemos fazer um pacto, nós

três, em nome da liberdade de Salvador. Ele

não é um assassino. Eu confio nisso!

Os três seguram as mãos.

PETRÔNIO: - Fico feliz por essa união.

LÉO: (à Pilar) – Vai vê-lo. Ele precisa de ti.

Sei que você merece confiança e respeito da

nossa parte. Entre e o ajude.

Pilar sorri amavelmente e entra. Petrônio fica atraído.

PETRÔNIO: - Que mulher admirável!

LÉO: (chateada) - A gentileza dela só serve

para fazer com que me sinta culpada. (T) Mas,

com certeza, é uma mulher de respeito!

Corta para:

CENA 26. SALA DA CASA DE EURICO. INTERNA. NOITE

Eurico entra sorrindo. Briane no sofá com Pablo.

PABLO: - Pai; viu que a mamãe se machucou? Caiu

no banheiro e bateu o olho na pia.

EURICO: (falso) – Que acidente horrível

querido! Mas, a mamãe já está bem? (encara

Briane) Vai melhorar?

PABLO: - Vai sim. A mamãe procurou um médico!

Eurico a ‘cozinha’ com o olhar. Ela se levanta.

BRIANE: - Vai escovar os dentes, amor. Mamãe

já vai ajeitar o seu pijaminha. Vai!

O menino sai. Briane se aproxima de Eurico.

BRIANE: (tom baixo) – Prometi a mim mesma que

essa seria a última vez que me tocaria. Não

estou brincando quando digo que é a última vez,

Eurico. Sou capaz de destruir esse sonho de

ser primeira-dama. Mas, nunca, nunca mais você

aprontará comigo de novo!

EURICO: - Você é insana. Jamais lhe darão

ouvidos. E se derem, são os ignorantes que como

ti, não sabem nada da vida. (T) Esses não me

afetam. (duro) Agora, sobre o Boteco, abre a

sua boca para você ver!

BRIANE: (enfrenta) - É uma ameaça?!

EURICO: - Não. Uma promessa. (sádico) Mas, não

tenho com o que me preocupar. Você não vai

durar muito tempo. Já estou em busca de uma

primeira-dama de classe, de requinte e com

cultura. Vou achar uma substituta para você,

dessa vez à minha altura.

Briane enche os olhos de lágrima e sai.

EURICO: (para si) – A beleza na mulher é um

item que encanta ao homem, mas o faz perecer

na infidelidade. (pensativo) Chega dessa

história de beleza! Preciso de um cérebro ao

meu lado.

Corta para:

CENA 27. CELA. INTERNA. NOITE

NOCTURNE(Chopin). Pilar se aproxima da cela. Salvador a vê

e os olhos se enchem de lágrimas. Ela se emociona. Estendem

as mãos e as tocam. Ele puxa a mão dela e acaricia em seu

rosto e depois beija. Ela sorri e uma lágrima escorre.

SALVADOR: - Me perdoa?

PILAR: (sorri) – E, tem outro jeito? O que

sinto por você é muito carinho. Não consigo

ficar ressentida com você.

SALVADOR: (carinhoso) - Jamais quis trair OS

seus sentimentos, Pilar. Você é uma mulher

excepcional.

PILAR: - Mas, não mereço o seu amor. Eu entendi

Salvador. E não culpo o seu coração. Amor não

se escolhe. Eu sei bem porque vivi isso lá

atrás quando me encantei por você e você era

recém-divorciado.

SALVADOR: (sorri amável) – Eu parecia um potro

perdido e sem a mãe. Você me deu paz e os

momentos mais felizes de minha vida.

Os dois acariciam as mãos e se olham com carinho.

PILAR: - O que foi que armaram pra você estar

preso aqui, como um pássaro na gaiola?

SALVADOR: - Não sei Pilar! Em definitivo, não

sei. (respira fundo) Mas, se aqui continuar,

eu morro! Não sei viver sem liberdade. Sou como

um cavalo indomável. Minha força está nas

minhas pernas e na minha inquietude. Ficar

trancafiado aqui vai me matar aos poucos!

Preciso muito descobrir o que houve e como me

colocaram nisso. (triste) Preciso sair daqui o

quanto antes. O quanto antes!

PILAR: (com carinho) – Vou lhe ajudar. Todos

vamos! Já falei com Léo e Petrônio. Estaremos

empenhados em te libertar seremos um grupo sem

ressentimentos e mágoas; é o que importa!

SALVADOR: - E, Úrsula?

PILAR: - Está bem, mas está sob observação.

Guto está com ela no hospital. Está grávida,

mesmo!

SALVADOR: (emocionado) – Um neto! Eis outro

motivo para sair daqui. (T) Meu Deus. Estou

desesperado. Isso está me matando por dentro!

PILAR: - Acalme-se Salvador. Tu já enfrentou

coisa pior e de mais risco. Você é inocente e

tudo vai se esclarecer. (T) Só descobrir como

aquela arma foi parar em casa e estará livre.

SALVADOR: - Que absurdo! Quem esteve em casa?

Só pode ter sido levada por alguém quando não

estávamos.

Cai a ficha. Pilar abaixa a cabeça preocupada.

PILAR: - Se eu lhe disser que Filipa...

Salvador a olha com perplexidade.

(Cont’d) Esteve em casa hoje, mais cedo!

SALVADOR: (traído) – Não! Filipa! Não poderia

fazer isso comigo. É a mãe de minha... filha!

Porque ia querer meu mal? (T) Tá certo que fui

um pai ausente á Dione, mas esse é um motivo

torpe para tamanha crueldade.

PILAR: (culpada) – A recebi mal. (pensando)

Não sei se foi ela. Não posso acusar. Ela

entrou, debateu algo comigo, foi no banheiro e

saiu prometendo lhe procurar na prefeitura.

Foi tudo muito breve.

CARCEREIRO: (in off) – Acabou a mamata. Turno

vencido. Vamos sair!

Pilar se afasta e se despede.

PILAR: (amiga) - Fica bem. Amanhã eu volto; e

voltarei enquanto permitirem a minha presença

ao seu lado. Não vou lhe abandonar, Salvador.

SALVADOR: (grato) – Eu sei. Você é especial

demais para mim; obrigado por tudo, Pilar!

Ela vai saindo e ele senta no colchão em lágrimas.

(Cont’d) (pensativo) Filipa... Você não seria

capaz! (T) Ou seria?

Corta para:

CENA 28. LOJA DE FILIPA. INTERNA. NOITE.

L’AURORA (Eros Ramazotti) Loja fechada. Abre na garrafa de

champanhe sobre a mesa, uma taça cheia e Filipa chorando

olhando pro nada.

FILIPA: (para si) - Vingança feita, mas esse

buraco não fecha. Achei que estaria mais

feliz...

DIONE: (aparece/dura) – Vou me retirar. Estou

cansada de lhe esperar.

FILIPA: (disfarça) – Vou mais tarde. Vou

terminar a minha comemoração.

DIONE: - Não me parece feliz.

FILIPA: - Mas, estou!

DIONE: - A vingança só machuca. A vítima e o

vingador. Li num livro. (T) Deveria ler mais...

FILIPA: (sorri tolerante) - Farei!

Dione sai.

(Cont’d) (para si) O que está feito, feito

está. Não tem volta. (se motivando) Agora, é

bola para frente!

Corta para:

CENA 29. QUARTO DE ÚRSULA. INTERNA. NOITE.

Úrsula entra puxando Gutemberg.

ÚRSULA: - Achei que não ia sair mais daquele

hospital! Mas, graças a Deus estou livre.

Amanhã, a primeira coisa a fazer é visitar meu

pai. (triste) Ele deve estar muito chateado!

GUTEMBERG: - Seu pai é forte, Úrsula. Ele vai

aguentar, mas eu vou com você. Não vou deixar

minha mulher sozinha numa cadeia carregando

meu filho.

ÚRSULA: (brinca) - Quanto machismo!

GUTEMBERG: (sorri) – Chamo de cavalheirismo.

PILAR: (entrando) – Ou ciúme!

ÚRSULA: (ansiosa) - Mãe! Como o papai está?

Não me esconda nada!

PILAR: - Chateado demais! Armaram para ele,

óbvio. Mas, ficará bem, já estamos cuidando

para tirá-lo de lá. O ruim, não é a cadeia em

si, mas a degradação pública que virá. As

pessoas não o tratarão mais com o respeito de

antes.

ÚRSULA: (irritada) – Hipócritas! Depois de tudo

o que meu pai fez por esse povo!

GUTEMBERG: - Acalme-se, Úrsula. Não pode

brigar com as pessoas. Elas apenas compram o

que veem. Devagar seu pai vai reverter esse

jogo. Ele é bom nisso!

ÚRSULA: (pensando) – Pode ser! Mas, sofrerá,

eu sei. Ele tem um bom coração!

GUTEMBERG: – Amor, está tarde; preciso ir. Vou

deixar vocês e o bebê descansar

ÚRSULA: (carente) - Fique, por favor. Sem papai

em casa, me sinto desprotegida.

Gutemberg olha para Pilar.

PILAR: (de ombros) – Por mim tudo bem. Uma

figura masculina acalma os medos. E outra,

vocês já esperam um filho, são como marido e

mulher. Não sei de sua família, mas, para mim

é natural dormirem juntos.

Úrsula abraça Pilar.

ÚRUSULA: - Você é a melhor mãe do mundo!

GUTEMBERG: (brinca) – E sogra também.

Pilar e Úrsula riem.

Corta para:

CENA 30. QUARTO DE LEOFÁ/SALA. INTERNA. NOITE

Abre com Gorete deitada chorando. Léo do lado.

GORETE: (choro) – Estava sem equilíbrio. Ele

sabia que eu cairia e mesmo assim me soltou

naquela escadaria, Leopoldina. Ele é um

monstro! Ele queria que eu morresse! Eu senti

isso!

LÉO: (taxativa) - Acalme-se, Gorete. Ele não

vai mais fazer isso enquanto eu estiver por

aqui!

GORETE: (desabafa) – Léo. Ele tem problemas

mentais, não é possível um ser humano ser tão

descontrolado como ele. Já acordei sufocada

muitas vezes á noite. Só Deus sabe do meu medo

de fechar os olhos para dormir e nunca mais

acordar.

LÉO: (promete) - Vou resolver isso. Acabou a

farra para Leofá! Onde está Suméria?

GORETE: - Trancafiada no porão. Tudo começou

quando interrompi a conversa deles no intuito

de defendê-la. Tinha medo que a machucasse com

as pancadas; como das outras vezes.

LÉO: (horrorizada) – Ele não pode fazer isso.

Ela não é uma escrava. É... apenas... depois

de tantos anos, como alguém da família.

GORETE: - Isso não importa para ele.

Léo ameaça sair rapidamente.

(Cont’d) (com medo) Espere! Cuidado com o que

fala, a ira dele pode se voltar contra nós.

(frágil) E, eu, não tenho essa fortaleza que

você tem para se defender.

LÉO: - Fique tranquila. (dura) Eu sei como

domar Leofá!

Fusão com:

SALA:

Meia luz de abajures. Léo entra espumando. Leofá no sofá com

um livro.

LÉO: (direta) – Onde está a chave do porão?

LEOFÁ: (irônico) – Quer assumir o cargo de

doméstica.

LÉO: - A chave, Leofá! (espumando) Vamos! Me

dê essa chave!

Leofá caminha até ela com calma.

LEOFÁ: - De repente, eu a perdi. (irônico)

Acredita nisso? Que má sorte!

LÉO: - Você está mentindo! Como em tudo o que

faz. Tudo tem mentira, obscuridade e maldade.

LEOFÁ: (provoca) – Quanta ira! Quanto ódio!

Muitos sentimentos negativos num só coração,

Leopoldina.

LÉO: (se controla) – Não estou para deboche,

Leofá! Dê-me essa chave; vou soltar Suméria.

LEOFÁ: - Então, a sonsa lhe contou? Imagino

que deve ter inventado um monte de mentiras

sobre mim.

LÉO: - Só verdades, Leofá. (joga) Um fracasso

como marido, amante, político e por último e

não menos importante, administrador. Um homem

embotado e sem afetos. Ou seja, um nada. Um

parasita que precisa viver através do

sofrimento alheio.

LEOFÁ: (debocha) – Nossa, como estou tão

atacado e ofendido!

LÉO: - Chega de palhaçada! É a última vez que

vai atacar ou ferir alguém nessa casa senão.../

LEOFÁ: (rude) – Senão, o quê? Você não tem

força para me deter Leopoldina!

LÉO: - Experimenta para ver.

Leofá com uma mão, a pega pelo pescoço.

LEOFÁ: (tom baixo) - Se quisesse, poderia

acabar com você agora, tão rápido e em silêncio

que ninguém ia notar. Seria tão fácil tirar

você do meu caminho.

Começa a apertar. Léo vai ficando vermelha e, com as duas

mãos, tenta se soltar dele. Vai com as unhas em seu rosto e

com a outra mão ele segura.

(Cont’d) Dessa vez não! Saio desse confronto

ileso e sem nenhum arranhão.

Suspense.

Corta para o:

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P R Ó X I M O C A P Í T U L O

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