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Capítulo 11 Ao proteger um bioma Muito se faz, na verdade Não se congela em redoma Sua biodiversidade. Frutos, sementes ou goma Dali se pode extrair Com o cuidado que se toma Para nada destruir. Geovane Alves de Andrade

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Capítulo 11Ao proteger um bioma

Muito se faz, na verdadeNão se congela em redoma

Sua biodiversidade.

Frutos, sementes ou gomaDali se pode extrair

Com o cuidado que se tomaPara nada destruir.

Geovane Alves de Andrade

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Usos Múltiplos da Biodiversidade noBioma Cerrado: estratégia sustentávelpara a sociedade, o agronegócio e osrecursos naturais

José Felipe Ribeiro

Maria Cristina de Oliveira

Ana Paula Soares Machado Gulias

Jeanine Maria Felfili Fagg

Fabiana de Gois Aquino

AbstractAn intricate mosaic of different types of plant communities in the Cerrado biome coexistunder the same climate, adjacent to each other, being mostly determined by soil features,water regime and frequent disturbances such as fire and frost. Within the Cerrado biomeover 12,000 vascular species have been identified, and some of these species presentdifferent potential uses, such as: food for human consumption, forage, ornamental plants, oilsand fats, timber, phytochemicals, among others. Successful perspectives for such utilizationare available for different Cerrado areas. However, immediate importance of in situconservation of Cerrado Flora goes beyond extractive utilization of some species but reliesalso on the environmental services presented for such communities. Current challenges forpreservation and sustainable use of natural areas must consider the pattern of highheterogeneity both at the landscape and species diversity levels associated to governmentalpublic policies such as environmental education and research, rural credit andenvironmental laws.

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Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais338

Introdução

Em termos globais, vivemos um momento de grande valorização do capital

ambiental, em que cada vez mais cresce a importância da responsabilidade do uso adequado

dos recursos naturais bióticos e abióticos. O Bioma Cerrado ainda apresenta um intrincado

mosaico de diferentes paisagens naturais determinadas por características do solo, do

regime hídrico e mesmo das perturbações freqüentes, como fogo ou geada, e que coexistem

adjacentes umas às outras. Nessas paisagens, estão descritas mais de 12 mil espécies

(MENDONÇA et al., 2008), distribuídas em ambientes florestais, savânicos e campestres.

Várias dessas vêm sendo utilizadas com expressivo retorno econômico, mostrando boas

perspectivas de sucesso tanto com uso extrativo quanto em sistemas agroflorestais.

Entretanto, para alcançar o uso sustentável das diferentes espécies e paisagens do Bioma

Cerrado, é necessário melhorar o ordenamento e a gestão do território, valorizar e manejar

apropriadamente esses recursos e recuperar áreas alteradas e degradadas.

Este capítulo discute alguns dos principais desafios para a preservação e o uso

sustentável em ambientes do Bioma Cerrado, ressaltando a importância dos múltiplos

usos da biodiversidade local e regional.

Caracterização, Ordenamento e Gestão do Território

O complexo vegetacional do Bioma Cerrado apresenta relações ecológicas e

fisionômicas com outras savanas da América tropical e de continentes como a África e a

Austrália, além do sudoeste da Ásia. Ocorre em altitudes que variam de cerca de 300 m, a

exemplo da Baixada Cuiabana, MT, a mais de 1.600 m, na Chapada dos Veadeiros, GO. No

Brasil, está localizado essencialmente no Planalto Central e é o segundo maior bioma do

País em área, apenas superado pela Floresta Amazônica (RIBEIRO; WALTER, 2008).

A vegetação desse bioma apresenta 11 fitofisionomias, que englobam formações

florestais, savânicas e campestres, sendo que a floresta representa áreas com

predominância de espécies arbóreas com formação de dossel, contínuo ou descontínuo;

as savanas compreendem as áreas com árvores e arbustos entremeados em um estrato

graminoso, sem a formação de dossel contínuo; e os campos compreendem as áreas com

predomínio de espécies herbáceas e algumas arbustivas, faltando árvores na paisagem

(RIBEIRO; WALTER, 2008).

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Usos Múltiplos da Biodiversidade no Bioma Cerrado:... 339

O conhecimento das informações ambientais do bioma deveria caber na estratégia

de governo no Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), reforçando o papel de articulador

do diagnóstico de uso ambiental em diferentes escalas e definindo-o como gerador de

cenários e de possibilidades de prognóstico do uso consciente da terra. Conceitualmente,

o ZEE indica, de maneira prévia, todas as melhores alternativas de localização e gestão ao

contemplar os fatores ambientais diante da capacidade de suporte do meio em relação a

uma determinada atividade, além de ser mais adequado para delimitar a área de

influência e/ou conflitos.

Na escala local, o mesmo tipo de enfoque deveria ser aplicado na propriedade

rural. Em termos da legislação ambiental, essas propriedades são divididas em três tipos

de áreas: Preservação Permanente (APP), Reserva Legal (ARL) e de Uso Alternativo

(AUA) (Fig. 1) (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006). Essa divisão depende da realidade ambiental de

cada propriedade e deveria assim ser considerada pelo produtor rural. A importância

imediata da preservação in situ da biodiversidade do Cerrado nas APPs e nas ARLs está

nos serviços ambientais prestados. Eles são fundamentais para o bem-estar humano,

pois processos, como a polinização de grandes culturas, dependem do vento, da água e,

principalmente, da fauna nativa, que, por sua vez, é mantida pela vegetação nativa. O

serviço ambiental prestado por esses polinizadores alicerça a produtividade de espécies

cultivadas implicando vantagens econômicas que, muitas vezes, não são contabilizadas

pelos produtores beneficiados. Outro serviço ambiental muito importante oferecido pela

natureza é a manutenção da qualidade da água.

Considerando essa situação, o ordenamento e a gestão do território da

propriedade rural vão depender do conhecimento sobre a oferta ambiental e os serviços

ambientais que determinada propriedade apresenta e devem ser levados em conta na

tomada de decisão e nas estratégias para o uso sustentável da propriedade. No caso da

AUA, muitas vezes o produtor sabe a maneira correta da sua localização e utilização. Por

outro lado, no caso da Área de Reserva legal (ARL) e da de Proteção Permanente (APP),

isso ainda não está muito claro.

Ademais, se todas as propriedades tivessem a mesma proporção nessas três

categorias, os problemas poderiam ser menores, pois cada propriedade seria responsável

pelas mesmas implicações das oportunidades e dos custos e benefícios da conservação

ambiental.

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Fig. 1. Caracterização dos três tipos de áreas da legislação ambiental emuma propriedade rural: preservação permanente (APP), reserva legal (ARL)e de uso alternativo (AUA). Critério para enquadramento preliminar deáreas e usos permitidos a partir dos diagnósticos ambientais.

Fonte: Adaptada de Ferro et al. (2004).

No entanto, não é isso que acontece. Em muitas propriedades, a presença de

certas condições de vegetação e de topografia faz com que a APP ocupe mais de 50 % da

propriedade rural, implicando que o produtor assuma que ele está sendo impossibilitado

de produzir num local que está dentro da propriedade dele, diminuindo, assim, suas

chances de gerar lucro naquele local, além de ainda ser responsabilizado pela manutenção

ecologicamente funcional daquela área. Esse entendimento do valor e da importância das

ARLs e APPs somente vai mudar no momento em que a sociedade perceber e assumir,

compartilhadamente, a responsabilidade pela sua manutenção.

Manejo e Valorização de Espécies e Ambientes

As atuais formas de aproveitamento das espécies nativas e o uso dos ambientes

do Bioma Cerrado na agricultura são extremamente precários e muitas vezes não levam

em consideração a enorme complexidade desses ambientes. Pelo menos 11

Área de Reserva Legal (ARL)

APP

(AUA)ÁreaUso Alternativo

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Usos Múltiplos da Biodiversidade no Bioma Cerrado:... 341

fitofisionomias principais estão descritas para o bioma, variando de paisagens dominadas

completamente por espécies campestres, como o Campo Limpo, até paisagensessencialmente florestais, como as Matas Secas ou as de Galeria.

O estabelecimento de grandes monoculturas, como soja, algodão ou mesmopastagem cultivada, no bioma, apresenta desafios para a sustentabilidade ambiental esocial. Isso ocorre, por exemplo, em função do intenso uso de agrotóxicos e damecanização exigida por essas lavouras. O uso de agrotóxicos acaba influenciandotambém a vegetação nativa adjacente e a mecanização em menor capacidade de geração

de emprego no campo e a necessidade de mudanças no setor de transportes visandofacilitar o escoamento da produção para o mercado externo, sendo que já apontam danosirreversíveis aos cursos d’água e à ecologia aquática (RIBEIRO; BARROS, 2002).

Dessa maneira, um dos aspectos para o manejo sustentável do Cerrado deveráacontecer a partir de um conjunto de ações de pesquisa e de políticas públicas no sentidode aumentar a área protegida nesse bioma, de incorporar áreas anteriormente malmanejadas e degradadas no sistema produtivo e de utilizar técnicas menos impactantes(RATTER et al., 1997).

A implementação de estratégias que integrem áreas protegidas e agrícolas deve

acontecer com o compromisso do produtor com a legislação vigente. Novos modelos deuso da terra devem considerar não apenas os mercados já estabelecidos, mas tambémas novas tendências. Inovar é atender às demandas descobrindo e divulgando as ofertasespecíficas do enorme capital ambiental que o Bioma Cerrado apresenta. O desafio para apreservação, a conservação e o uso sustentável do bioma não pode ser dissociado dopadrão de alta heterogeneidade tanto na paisagem quanto na diversidade de espécies.

Das mais de 12 mil espécies vasculares descritas para o bioma (MENDONÇA

et al., 2008), várias delas já foram identificadas com algum uso: alimentação, forragem,ornamentação, medicina, óleos, madeira, entre outros. Fruteiras, como o baru (Dipteryxalata Vog.), o araticum (Annona crassiflora Mart.), a mangaba (Hancornia speciosa Gomes),o pequi (Caryocar brasiliense Camb) e a cagaita (Eugenia dysenterica Mart. ex. D.C.), têmsido comercializadas regionalmente com razoável sucesso. Ademais, várias outrasespécies de potencial econômico da fisionomia Cerrado sentido restrito são amplamente

distribuídas no bioma (RATTER et al., 2003). Exemplos destacados são: a sucupira preta(Bowdichia virgilioides), a faveira (Dimorphandra mollis), o pacari (Lafoensia pacari), o

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pequi (Caryocar brasiliense), a mama-cadela (Brosimum gaudichaudii), a pimenta-de-

macaco (Xylopia aromatica), o gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium), a mangaba

(Hancornia speciosa) e o murici (Byrsonima verbascifolia).

Sobre essas espécies, a ciência tem mostrado que muito conhecimento já está

disponível sobre a importância econômica e sobre os possíveis modelos de plantio a ser

utilizados. Alguns estudos têm demonstrado que os custos financeiros da recuperação

podem ultrapassar em muito os lucros obtidos com a utilização errônea daquela área.

Dados sobre esses custos podem ser encontrados nos estudos de Rodrigues e Leitão

Filho (2000), Felfili et al. (2000) e Fonseca et al. (2001).

Em relação à fauna, o Bioma Cerrado apresenta cerca de 90 mil espécies de

insetos e 2.500 de vertebrados (DIAS, 1994; SILVA, 1995; CAMARGO, 2001; COLLI, et al.,

2002; BRANDÃO et al., 2000; MITTERMEIER et al., 1999; MYERS et al., 2000; KLINK;

MACHADO, 2005). A produção de animais silvestres em cativeiro vem acontecendo no

Cerrado e depende da autorização do órgão ambiental responsável (Ibama). Espécies

como a paca, o cateto e a ema fazem parte de uma rica fauna existente no bioma que vem

desaparecendo em conseqüência do desmatamento. Portanto, a criação de animais em

cativeiro, além de assegurar um ganho econômico também poderá garantir a preservação

de tais espécies. Possibilidades de criação da fauna local em RPPNs ou mesmo em

cativeiro estão disponíveis na literatura, como aquelas encontradas no site do Centro de

Publicações Técnicas (CPT) (http://www.cpt.com.br/produtos/27_092.php). Entre os

assuntos disponíveis, estão espécies já avaliadas pelo Ibama como a ema (Fig. 2) e a

capivara, as quais são espécies potenciais para criação no Cerrado e, se bem manejadas,

irão possibilitar geração de renda. Outras espécies disponíveis para utilização nesse

contexto são: cateto, queixada, entre outras de serpentes, psitacídeos e passeriformes.

A disponibilidade do capital ambiental oriundo da biodiversidade do bioma

representa significativa soma de recurso financeiro para diversas famílias de

comunidades tradicionais da região e também para empresas, como a Sabores do

Cerrado - Rede Milka, em Goiânia, GO (http://www.frutosdocerrado.com.br); a Sorbê, em

Brasília, DF (http://www.sorbe.com.br), e a Santuário de Vida Silvestre Vagafogo, em

Pirenópolis, GO (http://www.vagafogo.com.br), entre outras. Para mais exemplos, confira:

http://cerradobrasil.cpac.embrapa.br/.

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Fig. 2. Criação de emas (Rhea americana) em cativeiro aprovado peloIbama na Agrovila Mambaí, em Mambaí, GO. No detalhe, tipos deinformações disponíveis no site do Centro de Produções Técnicas(CPT).

Entretanto, se por um lado algumas dessas atividades podem contribuir paradivulgar a importância das espécies silvestres do bioma, vários desses recursos sãocomercializados sem qualquer preocupação de produção racional e técnicas deconservação. Extrativismo e caça predatórios são tão ou mais prejudiciais quantoqualquer atividade agropecuária mal manejada. A criação de animais silvestres, adomesticação de algumas espécies nativas, o extrativismo sustentável e o manejo do“Cerrado em pé” são formas de diversificar as atividades nas propriedades rurais e dealcançar formas mais sustentáveis de exploração dos recursos naturais.

Se o conhecimento do plantio consorciado para várias dessas espécies ainda nãoé completamente conhecido, o uso do “Cerrado em pé” (RIBEIRO et al., 2003) se justifica,pois, além das espécies nativas já crescerem juntas nessa paisagem, elas podemapresentar densidade e produção suficientes para justificar um ganho econômico para opequeno agricultor desde que fosse agregado valor a essa produção. O tema agriculturaecológica deveria ser ampliado e mais bem desenvolvido nas disciplinas dos cursos deecologia e engenharias florestal e agronômica no Brasil, no sentido de entender que asregras que regulam o comportamento em um plantio agrícola são essencialmente as

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mesmas da natureza, adicionadas àquelas do mercado financeiro e social. Sendo assim,

essas normas deveriam ser compatibilizadas e associadas com as “leis econômicas e

sociais” para que pudéssemos estabelecer o tripé do desenvolvimento sustentável: a

regra ambiental, a financeira e a ética social.

Produção Florestal Sustentável em Áreas Alteradas

Até meados de 1960, as atividades agrícolas no bioma eram direcionadas

principalmente para a criação extensiva de gado em virtude dos solos de baixa fertilidade

para a produção agrícola. Por outro lado, atualmente a região chega a ser responsável por

quase 60 % da produção nacional de soja, 48 % da de café, 26 % da de milho, e 18% da de

arroz, graças a técnicas de irrigação e correção dos solos. No entanto, se por um lado a

região é responsável por 70 % da produção de carne bovina, falhas no planejamento e na

condução das técnicas adotadas resultaram na degradação de muitas áreas. A técnica do

plantio direto surgiu inicialmente para minimizar a erosão resultante do efeito da chuva em

áreas descobertas, ajudando na conservação do solo. Entretanto, a integração dessa técnica

com a pecuária (integração lavoura-pecuária) ou mesmo com a floresta tem mostrado que é

possível recuperar as áreas de pastagem degradada, com a rotação com culturas anuais e o

plantio de espécies florestais, sem a necessidade de abertura de novas áreas, mantendo as

ARLs e as APPs e ainda promovendo a produção de grãos, carne e leite.

Por outro lado, se experiências diretas de manejo florestal e agroflorestal nessas

áreas degradadas ainda são incipientes no bioma, resultados preliminares de manejo em

plantios consorciados de espécies da vegetação nativa de Cerrado sentido amplo com

espécies como o baru, o pequi, a mangaba e a gueroba são animadores. A valorização de tais

espécies tem sido conseguida por orientações técnicas de propagação e manejo em plantios

com ações comunitárias dispersas pelos estados de Goiás (Alto Paraíso, Damianópolis,

Cavalcante, Colinas do Sul, Pirenópolis e Diorama) e Minas Gerais (Montes Claros e Japonvar).

Sustentabilidade como Ferramenta de Avaliação daEstratégia Usos Múltiplos do Cerrado

Sustentabilidade é a tendência dos ecossistemas à estabilidade, ao equilíbrio

dinâmico, à homeostase, baseada na interdependência e na complementaridade de

formas vivas que ali estão presentes. Infelizmente, a análise econômica de muitas ações

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Usos Múltiplos da Biodiversidade no Bioma Cerrado:... 345

humanas deixou de considerar esse contexto. As dimensões da sustentabilidadedefinidas por Unesco (2000) - a social (uma civilização com eqüidade na distribuição dosbens), a econômica (gestão eficiente dos recursos e fluxo regular de investimento públicoe privado), a ecológica (utilização dos recursos potenciais com o mínimo de danos aossistemas, limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros produtos esgotáveisou ambientalmente prejudiciais), a espacial (voltada para o equilíbrio urbano-rural) e acultural (respeito às especificidades sistêmicas e culturais locais) - precisamurgentemente de ser consideradas no processo de desenvolvimento das áreas rurais.

A partir dos anos 1960, por não considerar todas as dimensões no caso das áreasrurais, a espécie humana tem levado, direta e indiretamente, em todo o planeta, umasérie de ambientes naturais ao desaparecimento. A intitulada “revolução verde” propunhaaumentar a produção e a produtividade agrícola com: uso intensivo de insumos químicos,expansão de sistemas de irrigação, mecanização do plantio e da colheita e uso devariedades geneticamente melhoradas para alto rendimento, ou seja, o pacotetecnológico da agricultura contemporânea. O cenário da época previa uma crise de ofertano mercado de cereais e essas mudanças atingiriam plenamente a conjuntura.

Porém, se no início essas iniciativas foram muito bem sucedidas, logocomeçaram a surgir evidências de problemas ambientais, como perda de solo arável epoluição da água, ou mesmo sociais, pois produtores menos favorecidos não tinhamacesso a insumos caros e a grandes áreas de terra.

Ecologicamente, entretanto, parece ser a ineficiência energética o parâmetrotecnológico mais vulnerável e problemático nessa atividade. Altieri (1988) apontou quevários estudos têm confirmado o enorme custo energético externo, fundamental para ocultivo desses produtos agrícolas, fazendo com que sejam menos eficientes quanto aoretorno (quilocalorias/hectare) por unidade de energia dispendida. Nos ambientesagrícolas, esse parâmetro tem chamado a atenção, pois seria a maneira mensurável demostrar a insustentabilidade ambiental afora da avaliação econômica.

Todavia, se por um lado ponderamos que a espécie humana está “destruindoambientes naturais”, por outro é essa mesma espécie que poderá agir como nucleadora,sendo agente de facilitação da recuperação de ambientes, recriando as oportunidadespara o restabelecimento de espécies arbóreas perdidas dos ambientes naturais, tantopela produção e plantio das mudas quanto pela “dispersão” das sementes, conforme

descrito em Reis et al. (2003).

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Ademais, pode-se também agir com a aplicação de modelos agroflorestais

adaptados aos diferentes ambientes do Bioma Cerrado a fim de facilitar a ocorrência de

espécies nativas nas ARLs e na divulgação dessas técnicas, apoiadas com financiamento

e incentivos econômicos específicos para que os próprios produtores possam entender,

participar e ajudar nessa recuperação. Essas ações são fundamentais, pois a tendência é

que a ocupação humana na Região Centro-Oeste continuará a acontecer e o nível de

impacto deverá aumentar. Dessa maneira, o entendimento do papel do agricultor e o seu

comprometimento no processo de facilitador da recuperação são essenciais.

O sucesso de estratégias de recuperação/conservação deve considerar: a análise

das propriedades rurais; a percepção dos proprietários de que qualidade e rendimento na

produção agrícola da Área de Uso Alternativo (AUA) da propriedade dependem da APP e

da ARL; e, finalmente, que os agricultores são, na verdade, os verdadeiros gerentes dos

recursos naturais da propriedade (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006).

Usos Múltiplos do Cerrado

Em geral, o aproveitamento da biodiversidade do Cerrado se dá por extrativismo.

Nesse caso, extrativismo significa qualquer atividade de coleta e extração de produtos

naturais, sejam esses de origem animal, vegetal ou mineral, na qual os recursos úteis

para a espécie humana são retirados diretamente da sua área natural de ocorrência para

produzir bens (DRUMMOND, 1996). Porém, há diferenças ambientais grandes entre o

impacto do extrativismo de baixa tecnologia praticado tipicamente por populações rurais

de áreas “remotas” e o impacto extrativismo de alta tecnologia, no qual se enquadram a

extração mineral (inclusive de água), o corte de árvores em grande escala ou mesmo a

pastagem nativa extensiva.

Extrativismo Predatório versus ExtrativismoSustentável

Na coleta extrativa, quando a velocidade da extração for igual à velocidade de

recuperação, o ambiente permanecerá em equilíbrio. Se mal conduzida, o extrativismo

pode ser tão negativo para a manutenção da biodiversidade quanto qualquer outro manejo

agrícola ou pecuário mal conduzido, pois, se a extração ocorre apenas com os melhores

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Usos Múltiplos da Biodiversidade no Bioma Cerrado:... 347

exemplares das espécies, há risco de prejudicar a riqueza biológica do ecossistema. A

coleta extrativa é negativa quando não se deixa no ambiente a quantidade e a qualidade

necessárias para a reprodução da própria espécie ou mesmo dela como parte da cadeia

alimentar de animais nativos, como pássaros e mamíferos (FELFILI et al., 2004).

Basicamente, o extrativismo sustentável diferencia-se do extrativismo predatório porque

o primeiro não destrói as fontes de renovação do recurso natural explorado, mantendo,

assim, os processos ecológicos, enquanto o extrativismo predatório motiva prejuízo

severo ao recurso natural explorado reduzindo sua capacidade de retornar a sua produção

anterior.

Quando os frutos de uma determinada espécie são fortemente explorados, sobram

poucos frutos sadios para que ela possa se perpetuar na natureza. Dessa maneira, na

utilização de qualquer recurso natural, é necessário considerar a capacidade de carga do

ambiente. De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

(SNUC) (Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, e Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002),

o uso sustentável é “a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos

recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e

os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável”. O

uso sustentável do “Cerrado em pé” (RIBEIRO et al., 2003) é altamente recomendável,

pois prevê o planejamento das operações em determinada área, garantindo a perenidade

dos recursos naturais e validando a importância do desenvolvimento de técnicas e

procedimentos que permitam a exploração programada da espécie considerada.

Se por um lado vários estudos divulgam o uso das espécies nativas buscando

minimizar os impactos na ocupação do Cerrado e propor alternativas para o

aproveitamento sustentável na região (RIBEIRO et al., 1986; RIBEIRO et al., 1987; RIBEIRO

et al., 1994; ALMEIDA et al., 1998; SANTOS; SILVA, 1998; BRANDÃO; LACA-BUENDIA,

1991; CARVALHO, 2007), a disponibilidade de técnicas para tal finalidade ainda é escassa.

Diversas espécies silvestres do Cerrado possuem importância econômica reconhecida

tanto pelas populações tradicionais quanto pela pesquisa e muitas delas se enquadram

em mais de um tipo de utilização, o que as torna conhecidas como espécies de uso

múltiplo (RIBEIRO et al., 1994).

Ações de manejo e uso desses recursos naturais na comunidade devem prever no

planejamento estratégico: a definição do local a ser trabalhado, a duração da colheita, a

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Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais348

oferta de produtos, a localização e os preços de mercado, o custo da matéria-prima e,

principalmente, a quantidade de pessoas que vai poder explorar aquela mesma área. A

carência de informações e de ações sobre o manejo sustentável da biodiversidade do

Cerrado pode gerar impactos negativos se a coleta e a caça forem indiscriminadas. São

poucos os estudos abordando a utilização e o impacto do extrativismo nas espécies

nativas de Cerrado.

Espécies de Uso Múltiplo

Espécies nativas de uso múltiplo são aquelas que oferecem ao produtor recursos

diversos ao longo do seu ciclo de vida, como folhas, frutos, flores, resinas, madeiras,

cascas. Uma árvore de baru, por exemplo, aos 60 anos, oferecerá toras de madeira de lei

para serraria que podem ser até mesmo usadas para confecção de dormentes de estrada

de ferro. Mas, desde os 5 anos de idade, produz frutos, cuja polpa alimenta o gado na seca

e sua semente constitui amêndoa de excelente qualidade nutritiva e energética. O

consórcio dessa espécie com outras de atributos similares agrega renda à propriedade

rural, trazendo recursos financeiros desde os primeiros anos de plantio, enquanto um

capital de reserva está sendo acumulado para o futuro, como uma poupança verde. Os

desbastes podem também contribuir para renda adicional. A Fig. 3 mostra várias

espécies nativas de uso múltiplo encontradas tanto nas formações savânicas do Bioma

Cerrado, como a cagaita (Eugenia dysenterica) (medicinal e fruto), a mangaba (Hancornia

speciosa) (seiva e fruto) e o pequi (Caryocar brasiliense) (madeira e fruto), quanto em

formações florestais associadas, como o baru (Dypterix alata) (madeira e fruto), o jatobá-

da-mata (Hymenaea courbaril), o jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa) (seiva,

madeira e fruto), a copaíba (Copaifera langsdorffii) (óleo e madeira), os angicos

(Anadenanthera spp. e Acacia spp.) (melíferas e energéticas).

O uso dessas espécies em consórcio propiciará ao pequeno agricultor a

perspectiva de produção para consumo próprio e renda adicional em períodos distintos do

ano, com início de produção em tempos diferenciados, desde os 3 ou 4 anos, como o

angico-monjolo (Acacia polyphyla, Leguminosae-Mimosoideae) para produção de lenha,

até décadas para colheita de madeira, como é o caso da aroeira (Astronium urundeuva,

Anacardiaceae) (FELFILI et al., 2005).

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Usos Múltiplos da Biodiversidade no Bioma Cerrado:... 349

Fig. 3. Espécies nativas de uso múltiplo do Bioma Cerrado: Eugeniadysenterica (cagaita) (a), Annona crassiflora (araticum) (b), Hancorniaspeciosa (mangaba) (c), Mauritia flexuosa (buriti) (d), Caryocarbrasiliense (pequi) (e), Dipterix alata (baru) (f), Dimorphandra mollis(faveira) (g), Hymenaea stigonocarpa (jatobá) (h).

A seguir serão destacadas algumas ações disponíveis nesse sentido.

Estudo de caso: Pequi Benfruc

Umas das principais espécies de uso múltiplo que vem gerando renda para

comunidades tradicionais é o pequi. Um estudo realizado na região de Damianópolis,

pequeno município de 4 mil habitantes no nordeste de Goiás, avaliou a conservação e o

manejo sustentável da coleta do pequi. A Associação dos Produtores e Beneficiadores de

Frutas do Cerrado (Benfruc), fundada por dez pessoas, em 2004, em Damianópolis, coleta

e processa 30 toneladas por ano, com a expectativa de atingir 100 toneladas com a nova

unidade de processamento a ser inaugurada em 2008.

Em termos econômicos, considerando o preço de R$ 5,00 o quilograma de polpa

processada de pequi, a produção de 30 toneladas geraria o significativo valor de

R$ 150.000,00/ano. Mas esse valor inclui qual área de produção e envolve quantas

pessoas? Quem são os proprietários dessas áreas? Como se daria o processo de coleta

desses frutos na natureza? Estaria sendo respeitada a porcentagem de frutos a ser

A

B

C

D E

F

G

H

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deixada na planta-mãe para a conservação da fauna e da própria espécie? Qual a demandado mercado para esse produto?

Para avaliar a sustentabilidade da atividade nesse local, precisaríamos considerara área total de origem dos frutos, a produção por pé e o número de pés por hectare. Dadosdo relatório (inédito) do Projeto Conservação e Manejo da Biodiversidade do BiomaCerrado (CMBBC/CNPq - Fase III) ressaltam que, em experimento utilizando 15pequizeiros, a média de polpa produzida por pé foi de 32 kg, com um total de 480 kg.Assumindo, a partir de trabalhos fitossociológicos realizados na região do Cerrado, que onúmero de pequizeiros por hectare é em média dez, a produção por hectare atingiria entãoa soma de 320 kg, o que, a R$ 5,00/kg, geraria a soma de R$ 1.600,00/ano.

Em termos sociais, a atividade envolve coletores, roletadores (equipe que separa acasca do caroço com a polpa), despolpadores e embaladores. Esses grupos diferenciam-sepelas potencialidades e restrições associadas à capacitação e ao aprendizado adquiridos,assim como grupos de interesse particulares. Com a crescente valorização da atividade emDamianópolis, GO, foram identificados no local dois grupos de linha de produção: os coletores/processadores autônomos não-organizados (aqueles que coletam frutos nas propriedadessem conhecimento dos fazendeiros) e os associados da Benfruc.

Os coletores autônomos são pessoas do município que coletam o fruto naspropriedades, de preferência no início da madrugada (horários em que não existemovimento de pessoas que possa os deter), utilizando como meio de transporte carroças.Em geral, contam com a ajuda de uma ou duas crianças para trabalhar na roleta e vigiar aaproximação de pessoas. Para otimizar espaço e tempo, o fruto é roletado no próprio localde coleta, o que não é permitido pelas normas da Vigilância Sanitária por comprometer ahigiene do produto, pois a polpa fica completamente exposta ao ambiente. O caroço com apolpa é acondicionado em baldes e transportado em carroças. Essa etapa da cadeiaprodutiva caracteriza-se pela “linha de produção” com mão-de-obra familiar. Todas asatividades são distribuídas entre parentes ou amigos próximos.

Apesar do compromisso firmado entre fazendeiros e associados da Benfruc, é muitofreqüente encontrar frutos já abertos sem a polpa (roletados) nos locais de coleta. Esse fatodenuncia o acesso dos coletores/processadores não-organizados aos locais. Segundo DonaGiovanda, presidente da Benfruc, além de favorecer a coleta dos frutos, o controle do acesso

às fazendas garante a permanência dos pequizeiros nos pastos e o amadurecimento dos

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frutos na árvore, o que dá melhor sabor à polpa. Infelizmente, nem sempre isso acontece,

pois, na região, é muito freqüente a derrubada dos frutos de pequi sem terem completado seuciclo de amadurecimento. Dessa forma, muitos caminhoneiros (atravessadores) compram osfrutos de pequi ainda verdes e o deixam amadurecer na própria carreta do caminhão,atendendo ao mercado informal de Brasília, DF. Esse processo colabora para diminuir a

sustentabilidade ambiental e econômica da cadeia produtiva do pequi na região.

Estudo de caso: sorvetes Frutos do Cerrado e Sorbê

O uso de frutas nativas na fabricação de sorvetes, sucos e doces funciona parapopularizar o sabor das espécies do Cerrado. A atividade agrega valor, gera empregos e

valoriza e divulga a importância da conservação do bioma, embora ainda seja insuficientepara conter o desmatamento. Se hoje muitas pessoas consomem diariamente picolés,com mais de 12 sabores de espécies nativas do bioma, das marcas Frutos do Cerrado -Milka (http://www.frutosdocerrado.com.br) e Sorbê (http://www.sorbe.com.br), issoacontece principalmente porque esses frutos ainda podem ser coletados via extrativismoem áreas nativas não desmatadas do bioma.

Quando chegam à fábrica, os frutos são lavados e a polpa é retirada. Depois debatida em um liquidificador, a polpa transforma-se em uma calda, que, a partir de receitas

caseiras, sem gordura vegetal nem conservantes, vai para as formas para resfriar. Aúltima etapa é a embalagem. A empresa Frutos do Cerrado emprega mais de 200 pessoasna fábrica, enquanto a Sorbê tem 11 funcionários diretos. A empresa Frutos do Cerradotem fábrica e quatro lojas em Goiânia, além de fábrica em Uberlândia e outras lojasespalhadas pelo Triângulo Mineiro. Com intenção de franquias, estão sendo analisados20 mil contatos de cadastros nacionais e 312 internacionais.

Ambos os proprietários dessas empresas procuram preservar e valorizar a

biodiversidade do Cerrado buscando comprar polpa de origem certificada, criticando airracionalidade do desmatamento das Áreas de Reserva Legal (ARL) e de PreservaçãoPermanente (APP) para usar essas terras com fins agrícolas. A expansão desse negócionão está limitada pela falta de demanda, mas sim pela dificuldade em conseguir matéria-prima (polpa) de qualidade. Para atender a demanda em anos pouco produtivos (seca ou

incêndios nos Cerrados de Goiás, Tocantins e Minas Gerais), a empresa Frutos do Cerrado

já foi buscar matéria-prima até no Piauí.

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Estudo de Caso: outras espécies

Entre outras pesquisas realizadas neste tema, destacam-se a coleta do capim-

dourado (Syngonanthus nitens) na região do Jalapão, TO (SCHMIDT, 2005); e o extrativismo da

casca de barbatimão (Sthryphnodedron adstringens), uma espécie medicinal e produtora de

tanino, em unidades de conservação do Distrito Federal (BORGES FILHO; FELFILI, 2003).

Nos últimos anos, a comercialização do capim-dourado como artesanato para a

confecção de quadros, chapéus, bolsas, gargantilhas e brincos passa por produções de luxo

(http://www.houseofnativecultures.com/capimdourado/capimdourado.htm) é e encontrada na

Internet como também em lojas temáticas (http://www.capimdouradojalapao.com) ou

populares. O artesanato produzido em Ponte Alta do Tocantins, o portal do Jalapão, demonstra

todo o valor do capital natural e social da região, onde a riqueza cultural e as belezas naturais

fazem parte do patrimônio local. A fonte de renda das famílias vem, principalmente, do

artesanato e do turismo e a comunidade procura preservar o meio ambiente trabalhando

dentro das leis e normas ambientais do Estado do Tocantins.

Sobre o extrativismo do barbatimão, foi verificado que, independente do porte da

planta, os indivíduos apresentaram sinais de extração excessiva e anelamento (retirada

total da casca ao redor do tronco) causando a morte das plantas, indicando uma forma

irracional de extrativismo (BORGES FILHO; FELFILI, 2003). Isso, no processo de exploração

essencialmente extrativista, mostra a necessidade de investir mais em conhecimento

sobre como manejar a espécie. Fefili e Borges Filho (2003) sugerem métodos de seleção

de árvores para extrativismo, formas de extração e beneficiamento, de modo a manter a

produção sem depredar as fontes do produto, que são as árvores.

Várias outras espécies de uso múltiplo estão sendo valorizadas comercialmente

no Cerrado, entre elas, o baru ou cumbaru (Dipterix alata), a cagaita (Eugenia dysenterica),

o jatobá (Hymeneae courbaril), a gueroba (Syagrus oleraceae) e a mangaba (Hancornia

speciosa). O baru está presente em áreas de transição entre o Cerrado e as Matas Secas,

em solos relativamente mais férteis, como a região de Pirenópolis. Em Goiás,

principalmente na região de Pirenópolis e Alto Paraíso, suas castanhas vêm sendo

torradas e usadas na alimentação humana de várias formas. A semente e polpa têm alto

consumo e valor econômico, sendo que o quilo da semente chega a atingir mais de

R$ 60,00. Nessa região, árvores da espécie são deixadas no pasto, pois os frutos caídos

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constituem, no período seco, rica fonte de alimento para o gado. A frutificação é

abundante, mas irregular de ano para ano. Quando ela acontece, poucas árvores podem

suprir a grande demanda. Na natureza, apesar da amplitude de variação anual, a produção

média por árvore pode chegar a 15 mil frutos (RIBEIRO et al., 2000).

Os Modelos Demonstrativos de Recuperação de ÁreasDegradadas com Espécies Nativas de Uso Múltiplo(MDRs)

Em propriedades com áreas degradadas, outra forma de incluir espécies de uso

múltiplo na gestão da propriedade rural como fonte adicional de renda é adotar modelos

de recuperação que incluam espécies nativas de uso múltiplo adaptadas para as

características do Bioma Cerrado. Esses modelos (FELFILI et al., 2005) partem de bases

fitogeográficas - uma vez que o bioma é coberto de vegetação florestal, savânica e

campestre - e ecológicas - já que algumas das fisionomias presentes no bioma podem ser

encontradas em diferentes estágios sucessionais em função de perturbações. Tais

paisagens podem estar mais abertas ou fechadas em virtude da proteção contra o fogo.

Essa paisagem natural é considerada como um mosaico de diferentes fisionomias

contendo espécies de floresta e de Savana que oferecem suporte, na forma de alimento e

abrigo, para uma fauna generalista que circula nos diferentes ambientes, integrando-os. O

fluxo de pólen e de propágulos em geral é aberto, permeando os diversos ambientes onde

aporta, transportado pelo vento e pelos animais.

O modelo sugerido em Felfili et al. (2005) parte do pressuposto de que espécies

nativas do bioma apresentam capacidade de adaptação às condições bióticas e abióticas

regionais, sendo que, uma vez superada a barreira do estabelecimento, convivem sob o

mesmo domínio climático e, atingindo sua maturidade, irão contribuir para o fluxo gênico.

Esse modelo está sendo proposto para as áreas degradadas no bioma, visto que Matas de

Galeria já vêm sendo recuperadas por modelos similares aos adotados nas demais

florestas tropicais úmidas, considerando-se os estágios sucessionais, além dos

gradientes de umidade e luz (FONSECA et al., 2001). Com base nesses modelos, já têm

sido implantados, por meio da parceria UnB/Embrapa Cerrados/MMA-Biodiversidade eFlorestas/Rede de Sementes do Cerrado, vários módulos demonstrativos de recuperação deáreas degradadas com espécies nativas do bioma e de uso múltiplo (MDRs) em locais como

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o Assentamento de Reforma Agrária Papa Mel, localizado em Unaí, GO; a Escola AgrotécnicaFederal de Ceres, em Ceres, GO; o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), no DistritoFederal, e várias escolas e propriedades rurais. Na recuperação de áreas degradadas emARLs, o produtor, ao adotar o modelo, cumpre a legislação, recupera a função ecológica doambiente, além de obter renda adicional. Essa renda pode vir de produtos da biodiversidade,inclusive da madeira, que pode ser extraída em função de planos de manejo.

Considerações Finais

O uso múltiplo das espécies do Bioma Cerrado, via extrativismo, domesticação,criação de animais silvestres ou sistemas agroflorestais e recuperação de ARLs, é umamaneira de incentivar o uso da biodiversidade e promover a valorização e, de certa forma,a conservação desses recursos naturais.

A partir do momento em que os recursos naturais são aproveitados e geramrenda, a população passa a valorizar mais o Bioma Cerrado como um todo. Para autilização das plantas nativas, incentiva-se o uso do “Cerrado em pé”, ou mesmo arecuperação das áreas desmatadas ou em processo de degradação ambiental,convertendo-as para o ciclo da produção agroextrativista. A proposta do uso racional do“Cerrado em pé”, discutida em Ribeiro et al. (2003), poderia ser enquadrada como umsistema de produção pouco ou muito pouco diferenciado (florística e estruturalmente) doecossistema natural. Essa categoria ampliaria a dimensão da sustentabilidade para alémde apenas espécies de uso múltiplo, implicando a utilização de “ambientes de usomúltiplo” (Fig. 4), nos quais cada uma das fitofisionomias conservadas/utilizadassustentavelmente apresentaria uma série de espécies nativas com uso econômico.Ademais, os serviços ambientais disponibilizados nessa estratégia pelos ecossistemasnaturais é uma realidade concreta na utilização da reserva legal. Com isso, espera-se reduzira pressão para abertura de novas áreas no Cerrado e, ao mesmo tempo, gerar renda.

Assim, observa-se a necessidade de estudos sobre o manejo de espécies nativasdo Cerrado, bem como de estudos que avaliem os impactos ecológicos do extrativismo.Os principais problemas ligados ao uso da plantas nativas do Cerrado são:

• Colheita essencialmente extrativista.

• Manejo inadequado em decorrência do processo de exploração extrativista predatório

intenso.

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• Falta de conhecimento científico na domesticação das espécies vegetaisconsideradas.

• Flutuação sazonal da produção vegetal.

• Desconhecimento do mercado e da flutuação sazonal nos preços.

• Dificuldade de inserção dos produtos no mercado.

• Carência de políticas públicas que favoreçam projetos agroextrativistas.

• Desconhecimento da qualidade de produtos do Cerrado comercializados in natura e deseus derivados.

• Pressões de desmatamento das áreas nativas, reduzindo a fonte de matéria-prima.

• Erosão da variabilidade genética existente.

Fig. 4. Fitofisionomias de uso múltiplo. Em suas diferentes fitofisionomias, o BiomaCerrado apresenta diferentes espécies de uso econômico, como: Copaifera langsdorffii(pau-de-óleo), Hymenae courbaril (jatobá), Mauritia flexuosa (buriti) nas formaçõesflorestais; Eugenia dysenterica (cagaita), Anacardium ocidentalis (cajuí), Hancorniaspeciosa (mangaba), Caryocar brasiliense (pequi), Annona crassiflora (araticum) eDypterix alata (baru) nas formações savânicas; e Paepalanthus speciosus (pali-palan) e Syngonathus nitens (capim-dourado) nas formações campestres. São maisde 200 espécies com potencial econômico conhecido no bioma.

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Diante da realidade da enorme pressão que o Cerrado vem suportando, propostas

de utilização sustentável para essa região são primordiais visando ao desenvolvimento

regional e à manutenção da biodiversidade (LAIRD; KATE, 1999). Como já discutido

anteriormente em Felfili et al. (2004), considerações urgentes para promover esse uso

sustentável e a conservação do Cerrado são:

• Construir capacidades científicas em áreas relacionadas com o manejo da

biodiversidade, incluindo inventários nacionais, regionais e locais, estudos

taxonômicos, ecológicos e etnobotânicos.

• Construir capacidades para estocagem e manejo de informação sobre biodiversidade,

incluindo bancos de dados, redes de informação, programas específicos de

computador, herbários, xilotecas, carpotecas, arboretos e outras facilidades ex situ.

• Construir capacidades científicas em áreas relacionadas com o conhecimento de

produção agroecológica valorizando a agrobiodiversidade e o capital social e

ambiental hoje encontrado no Bioma Cerrado.

• Interromper a abertura de novas áreas ilegais no Bioma Cerrado para uso como carvão

de espécies nativas para a siderurgia.

• Capacitar e apoiar financeiramente alternativas para a recuperação de áreas

degradadas por pastagem mal manejada por meio do estímulo à integração lavoura-

pecuária.

• Estabelecer programas de exploração econômica racional dos recursos naturais,

detectando o seu potencial econômico com o estudo e a viabilidade de criação de

mercados capazes agregar valor a esses produtos.

• Estabelecer reservas extrativistas (Resex) disciplinadas por manejo que levem em

conta a capacidade de suporte das espécies presentes.

• Disciplinar a concessão de créditos agrícolas para atividades que impliquem a

destruição da vegetação natural em áreas cuja representatividade fitogeográfica

esteja ameaçada, como é o caso dos locais onde o solo predominante é o de areias

quartzosas.

• Aplicar políticas de proteção à biodiversidade, acompanhadas por estudos de

valoração de produtos com potencial econômico.

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• Implantar linhas de crédito voltadas ao financiamento de sistemas produtivos

baseados na preservação e valorização da biodiversidade, com a instituição do ICMS

ecológico nos estados que fazem parte da região do Cerrado.

• Apoiar organizações de comunidades locais para implantação de sistemas de

produção, processamento local e distribuição, baseados na preservação da

biodiversidade e geração de renda.

• Estimular a implantação de unidades de conservação em quantidade e extensão

adequadas no bioma.

O desafio atual inclui a demonstração de que a preservação dos recursos naturais

não pode prescindir da compatibilização das iniciativas públicas (políticas públicas) e

privadas (produtores) e dos consumidores. No entanto, para atingir a sustentabilidade de

atividades extrativas, deve-se construir um modelo que inclua a domesticação da espécie

e também o manejo de populações selvagens.

Nesse processo, torna-se fundamental uma política de investimento intensivo napesquisa e no setor extrativo, instituindo e avaliando diferentes formas de

comercialização, preços mínimos para o produtor e divulgação para atrair consumidores.

A importância desse tema agroecológico está baseada na premissa de que essa atividade

agride menos o ambiente, reforçando o argumento a favor do extrativismo e da

domesticação das espécies (CLAY; SAMPAIO, 2000).

É preciso salientar que os recursos vegetais do Cerrado, uma vez extintos, estarão

indisponíveis às futuras gerações. Por essas características, o bioma deveria ser

considerado área prioritária de pesquisas como fonte de plantas com potencial econômico

e conservação dos recursos naturais. As plantas nativas do Cerrado representam, em

algumas áreas, a base do sustento de diversas famílias.

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Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais360

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