capítulo 1 pesquisa científica e inovação tecnológica ... · mas a medida desse crescimento...

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Capítulo 1 Pesquisa Científica e Inovação Tecnológica: Avanços e Desafios

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Capítulo 1

Pesquisa Científica e Inovação Tecnológica:Avanços e Desafios

Sumário

Introdução ................................................................................. 1-3

1. Ciência, Tecnologia e Inovação: uma Síntese do ContextoBrasileiro ............................................................................... 1-3

2. O Cenário Internacional das Atividades de Ciência, Tecnologiae Inovação ............................................................................. 1-5

3. Indicadores de P&D e C&T – Estado de São Paulo e Brasil .....1-73.1. Indicadores de insumo ............................................................... 1-7

3.1.1. Educação básica ............................................................. 1-73.1.2. Educação superior .......................................................... 1-83.1.3. Recursos humanos alocados à P&D .............................. 1-93.1.4. Dispêndio em P&D ........................................................ 1-10

3.2. Indicadores de resultado .......................................................... 1-113.2.1. Produção científica ........................................................ 1-113.2.2. Balanço de pagamentos tecnológico e indicadores de

patentes .........................................................................1-123.2.3. Inovação tecnológica .................................................... 1-13

3.3. Indicadores de impacto ........................................................... 1-153.3.1. Impactos econômicos da C&T ...................................... 1-153.3.2. Impactos sociais da C&T em saúde ............................. 1-163.3.3. Presença da C&T na mídia impressa ........................... 1-17

4. Conclusões ..........................................................................1-18

Referências Bibliográficas .......................................................1-20

1 - 3

E ste volume apresenta e comenta indicadores de ciência, tecnologia e inovação(CT&I) no estado de São Paulo, cobrindo preferencialmente o período de1989 a 19981. Os temas, tratados com a profundidade necessária a um trabalho

cuja intenção é contribuir para o debate e subsidiar a política científica e tecnológica,foram redigidos numa linguagem acessível a todos os pesquisadores da comunidadecientífica brasileira e aos responsáveis pela formulação e implementação de políticasno setor. É a eles que, primordialmente, o trabalho se destina.

Na primeira seção deste capítulo faz-se um esforço para extrair a síntese dosindicadores de CT&I do estado de São Paulo, situando-os no quadro nacional eapresentando algumas das relações mais evidentes entre eles. As seções seguintesoferecem ao leitor uma visão panorâmica do livro e destacam os indicadores demaior significado, inserindo-os nos contextos nacional e internacional.

O segundo tópico mostra os desafios que hoje enfrentam os paísesindustrializados e de industrialização recente, na tentativa de fortalecer seus sistemasnacionais ou regionais de ciência, tecnologia e inovação e de aproveitar as oportunidadesgeradas pelo conhecimento científico e tecnológico para o desenvolvimento econômicoe a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos. A seção seguinte destaca osprincipais indicadores apresentados e analisados neste volume. Ela está organizadasegundo o critério adotado para a própria estrutura do livro.

Assim, a terceira seção está subdividida em três partes. Na primeira, sãointroduzidos os indicadores de insumo, isto é, os referentes às várias dimensõesdo esforço realizado no estado de São Paulo para viabilizar a estrutura do sistemade CT&I e suas condições gerais de funcionamento. A seção inicia-se com osindicadores relativos à Educação Básica e à Educação Superior, incluindo o Ensinode Pós-Graduação, para, em seguida, destacar os indicadores de RecursosHumanos e de Recursos Financeiros empregados nas atividades de CT&I noestado. Na segunda parte desta seção, enfatizam-se os mais significativos indicadoresde resultado das atividades de CT&I, compreendendo as informações referentesà produção científica paulista e os resultados tecnológicos alcançados. Taisresultados são tratados de forma ampla, incluindo o exame da atividade depatenteamento, o balanço de pagamentos tecnológico e o desempenho inovadordas empresas industriais no estado. Finalmente, o conceito de resultados daatividade de CT&I foi estendido de maneira a incorporar um exercício inovadorde entendimento de seus impactos econômicos e sociais. Os indicadores de impactode CT&I apresentados na última parte desta seção incluem uma reflexão sobre osimpactos econômicos da C&T, os impactos sociais da C&T em saúde e o exame dotratamento dado pela mídia impressa aos temas de C&T, que fecha esta seção.Algumas das implicações mais evidentes para a política científica e tecnológicasão apresentadas, a título de conclusão, na quarta e última seção.

1. Ciência, Tecnologia e Inovação: Uma Síntese doContexto Brasileiro

O Brasil tem uma posição intermediária no conjunto das nações que seesforçam para colocar a produção de conhecimento no centro do desenvolvimentoeconômico e social. Considerando o padrão definido pela maior parte dos organismosinternacionais para comparações entre países, o qual enfatiza o gasto em pesquisa edesenvolvimento (P&D) dividido pelo produto interno bruto (PIB), a posição1 Não obstante, a cobertura intertemporal dos indicadores apresentados nos diversos capítulos varia em função dadisponibilidade de informações.

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brasileira (0,87%, em 1999; capítulo 5, tabela 5.1) seaproxima da de outros países intermediários como aEspanha (0,9%) e a Hungria (0,7%). Está, porém, bemdistante das posições alcançadas pelos paísesindustrializados líderes, como os EUA (2,7%), aAlemanha (2,3%) e o Japão (3%), e de nações deindustrialização mais recente que fizeram esforçonotável na área, como a Coréia do Sul (2,5%) e aFinlândia (2,9%)2.

Embora tenha havido, na década passada,algum crescimento no dispêndio agregado, oinvestimento brasileiro em ciência, tecnologia einovação encontra-se bastante aquém, como seobserva, do marco dos países mais industrializados,ainda que em uma posição favorável, quandocomparado com países em desenvolvimento. Oquadro sugere que o esforço nacional nesse setorainda se encontra em patamar inferior ao que serequer das nações que se propõem a ter algum papelrelevante na economia do conhecimento.

O exame da estrutura de gasto por fonte derecursos é ainda mais revelador da distância entre oBrasil e os países mais desenvolvidos. Nesses, osegmento empresarial responde por 60% ou mais doesforço nacional em P&D e os recursos gover-namentais complementam a diferença. Essa é umasituação que contrasta com a do Brasil e a de outrospaíses com sistemas de CT&I menos desenvolvidos,como México e Portugal, em que o governo assumemais de 65% dos dispêndios no setor. Isso reflete adebilidade do esforço de realização de P&D nasempresas brasileiras ou nas estrangeiras em territórionacional, o que, por sua vez, traduz o fato de que éainda rara a inclusão dessas atividades como elementocentral em suas estratégias de negócios no Brasil3.

As informações organizadas neste volume deindicadores sugerem que, no quadro brasileiro, oestado de São Paulo responde pela parcela maisexpressiva, seja pelo critério dos insumos empregadosem P&D, seja pela contabilização dos seus resultados.A relação gasto em P&D/Produto Interno Bruto(PIB), no estado de São Paulo, foi em média de 1%,no período de 1995 a 1998 (capítulo 5, tabela 5.2),portanto ligeiramente superior ao indicador corres-pondente para o país, visto anteriormente.

Em que pesem pequenas diferenças nas metodo-logias adotadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia(MCT) e pela FAPESP, a média do dispêndio estadualpaulista em P&D (US$ 2,5 bilhões), entre 1995 e 1998,correspondeu a cerca de 38% do total do dispêndionacional realizado em 1999 (capítulo 5, tabelas 5.1 e 5.2),superando a participação do produto estadual no produtonacional. Os dados disponíveis da Associação Nacionalde Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia dasEmpresas Inovadoras (Anpei) para o dispêndio dasempresas apontam para uma participação ainda maiordas empresas do estado de São Paulo no total de gastosem P&D das empresas no país.

Também nos recursos humanos alocados ematividades de P&D, a participação do estado tem sidosignificativa: em 1999, cerca de 31% dos pesquisadoresdo setor público do país estavam no estado de São Paulo(capítulo 4, tabela 4.1 e tabela anexa 4.1). Essa proporçãoaumenta se a esses números se somar a distribuiçãodos pesquisadores do setor privado, cuja concentraçãoem São Paulo assume participação ainda maior.

Quando vista pelo lado dos resultados, a presençado estado de São Paulo é ainda mais significativa. Aprodução científica brasileira cresceu substancialmentena última década, devido ao grande apoio à pesquisa porparte das agências nacionais e das universidades públicascom nível de excelência e ao Programa Nacional de Pós-Graduação (PNPG). Aproximadamente 52% daspublicações científicas brasileiras registradas nas basesindexadas no Institute for Scientific Information (ISI)provinham de instituições localizadas no estado, em 1998(capítulo 6, tabela 6.2). No total de patentes depositadaspor organizações brasileiras no escritório de patentesnorte-americano (United States Patents and TrademarkOffice � USPTO), as empresas do estado respondiampor 42%. Em 1999, as indústrias paulistas realizaram 62%das exportações de manufaturados intensivos em P&D,destacando-se aí o desempenho da indústria aeronáutica.A taxa de inovação das empresas paulistas, entre 1994 e1996, foi a mais elevada entre os estados brasileiros. Emsuma, o substancial investimento em CT&I efetuado noestado de São Paulo, fruto da combinação dos esforçosdos governos federal e estadual e das empresas, temgerado resultados expressivos.

No entanto, esses indicadores também revelamo ponto frágil do sistema de ciência, tecnologia einovação do estado, o qual traduz uma questão que,na verdade, tem dimensão nacional. De uma maneirasimplificada, pode-se dizer que a produção tecnológicadesse sistema não tem acompanhado o crescimento e

2 Os indicadores para os demais países referem-se a 1998 (OCDE, 2000).3 O esforço do setor empresarial e sua participação no total do dispêndionacional em P&D cresceram de forma consistente ao longo da década de 90,mas a medida desse crescimento não tem representatividade estatística.Atualmente, o IBGE propõe-se fazer o levantamento desse dispêndio nasempresas.

Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo - 2001 1 - 5

a evolução da produção científica, ampliando o fossoexistente entre as competências científicas e acapacitação tecnológica do estado (e do país). Acomparação com indicadores internacionais deresultados tecnológicos justifica esse entendimento.

O desempenho inovador da indústria paulista,medido pela porcentagem das empresas industriaisinovadoras no total de empresas industriais, está próximodo de outras economias intermediárias, como a Espanhae a Austrália. Mas ainda se encontra bem distante dodesempenho das economias mais dinâmicas da Europae da Ásia. Enquanto o número de patentes por 100.000habitantes no estado de São Paulo era de 3,7 em 1997, oque representava mais do dobro do indicador equivalentepara o Brasil como um todo, a densidade da atividade depatenteamento nos países mais industrializados e emdeterminados países intermediários era significativamentesuperior: 273 no Japão, 149 na Coréia do Sul, 54 naAlemanha, 44 nos Estados Unidos e 6 na Espanha(capítulo 7, tabela anexa 7.25).

Quando se considera que o crescimento daspatentes, no plano mundial, tem se concentrado nossetores intensivos em ciência � particularmente naindústria farmacêutica e no complexo eletrônico �,evidencia-se uma fragilidade ainda maior da produçãotecnológica brasileira nesses setores, nos quais aparticipação de patentes registradas por brasileiros émais baixa. Isso também se reflete no comércio, jáque as balanças comerciais brasileira e paulista emprodutos de alta tecnologia têm apresentado déficitsubstancial e sistemático. Enquanto as exportaçõesbrasileiras desses produtos representam 5% do totalexportado pelo Brasil (graças à indústria aeronáuticalocalizada em São Paulo), países de industrializaçãorecente que adotaram políticas tecnológicas maisagressivas, como a Coréia do Sul e Taiwan, apre-sentam cerca de 15% a 20% de suas pautas deexportação em produtos desse tipo, ainda que tenhamsido beneficiados também por sua localizaçãogeográfica e pela política japonesa de aliançaestratégica para conquista de mercados. Em poucaspalavras, isso significa que a economia paulista, adespeito do avanço em produtos aeronáuticos, temapresentado um desempenho tímido nos setores queoferecem as maiores oportunidades tecnológicas.

Evidentemente, as considerações feitas acimanão dizem tudo sobre a capacitação tecnológicaalcançada no estado de São Paulo. Como se verá nestevolume, nos setores tecnologicamente intermediários� como a indústria de equipamentos mecânicos, de

transportes e vários segmentos produtores de bensintermediários � as posições brasileira e paulista sãomais competitivas, seja em termos de exportações, sejana atividade de patenteamento, seja ainda em relaçãoao desempenho inovador. No entanto, mesmo nessessetores, evidencia-se uma relativa fraqueza da atividadede geração interna de conhecimento nas empresas,especialmente no que se refere ao conhecimentogerado pela pesquisa tecnológica.

2. O Cenário Internacional dasAtividades de Ciência, Tecnologiae Inovação

A consciência de que CT&I têm valor econô-mico e social vem crescendo no Brasil, abrindo espaçopara que a sociedade compreenda que o investimentofeito nessa área traz retorno, na forma de mais emelhores empregos e melhoria da qualidade de vida.Dessa forma, tende a se ampliar a importância dapolítica de ciência, tecnologia e inovação. Aumenta,portanto, a percepção de que os esforços feitos nessesetor podem contribuir substancialmente para odesenvolvimento econômico sustentado do país.

Nas economias modernas, o aumento daprodutividade e as novas oportunidades de investimentoe crescimento são determinados principalmente pelasinovações. Essas compreendem a introdução e aexploração de novos produtos, processos, insumos,mercados e formas de organização. Desde o séculopassado, uma característica central da inovaçãotecnológica nas economias industrializadas é suacrescente incorporação de conhecimento científico cadavez mais complexo.

Uma boa ilustração do crescimento do valor daprodução, difusão e utilização do conhecimento é oseu reflexo nas mudanças estruturais das economiasda Organização para a Cooperação e o Desenvol-vimento Econômico (OCDE) na última década. Váriosindicadores demonstram a transição dessas economiaspara o que a literatura tem chamado de economiabaseada no conhecimento (OCDE, 2000). Em 1997, aparticipação dos setores baseados no conhecimento4

no valor adicionado total dos Estados Unidos, da UniãoEuropéia e da Austrália era de cerca de 50%, tendo

4 Na definição adotada pela OCDE, os setores baseados no conhecimentosão aqueles intensivos no uso de tecnologia e/ou recursos humanosqualificados. Eles compreendem os setores da indústria de transformaçãoque produzem bens de alta e média-alta tecnologia e também os serviçosintensivos em conhecimento, tais como comunicações, financeiro e de seguros,os serviços especializados prestados a empresas e os serviços sociais.

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crescido consideravelmente em relação à sua parti-cipação em 1985. Nos países da OCDE, o in-vestimento em ativos intangíveis, isto é, a soma dosgastos públicos em educação, dos dispêndios em P&De o investimento em software, esteve entre 6% e 12%do PIB nacional, em 1995. Na França e na Suécia,eles alcançam o ponto mais elevado. Mais da metadedos investimentos em intangíveis refere-se à educação.A força de trabalho desses países tem ampliado o seugrau de escolaridade de maneira significativa, porquea elevação da qualificação da população é crucial numaeconomia baseada no conhecimento. No intervalo deuma geração, a parcela da população total da OCDEcom nível de educação superior cresceu de 22% para41%. O investimento em tecnologias da informaçãoe comunicações (TIC) foi de 4% do PIB para esseconjunto de países, em 1995. Desde então, a incor-poração dessas tecnologias foi acelerada pelaemergência da Internet (OCDE, 2000).

A maior parte das economias industrializadastem aumentado os recursos públicos e privadosdedicados à geração e difusão do conhecimento. Issoinclui uma parcela substancial de gastos, não apenascom P&D, mas também com outras despesas rela-cionadas com a inovação, como design, marketing,treinamento e mudança organizacional. No entanto, oinvestimento desses países em P&D varia bastante.Certamente, quanto mais rico o país, maior a intensidadede dispêndio em P&D, medida pela relação gasto/rendaper capita. A correlação entre dispêndios em P&D e rendatem crescido nos últimos anos. Isso se deve ao fato deque os países de alta renda têm estruturas econômicasmais focadas em bens e serviços de alta tecnologia, quedemandam maior gasto em P&D, mas também gerammaior renda por unidade de investimento.

A dinâmica da inovação e difusão das TICtransformou as atividades das empresas e dasinstituições de pesquisa, no sentido da criação de redese do fortalecimento da cooperação. As novastecnologias favorecem uma maior codificação edifusão dos conhecimentos. Assim, as empresasinclinam-se a contratar mais � de outras empresas oude instituições de pesquisa � atividades e conheci-mento que não constituem parte de seu negócioprincipal, mas mantendo o foco na manutenção deseu conhecimento tácito e das competências essenciais.A capacidade de inovação das empresas não é umfenômeno exclusivamente endógeno, mas decorre desua integração em redes de inovação, nas quais seusfornecedores, clientes e por vezes os próprios

concorrentes estão articulados. Isso se reflete emindicadores que evidenciam a crescente participaçãode redes de instituições de pesquisa e empresas,freqüentemente de âmbito internacional, na atividadede patenteamento.

Os resultados econômicos do investimento naprodução e difusão do conhecimento também sãosignificativos para justificar a crescente importânciaatribuída pelos países da OCDE às políticas de CT&I.Em alguns deles, o crescimento da produtividade geralda economia está associado à sua maior taxa deinovação. Os países com maior dispêndio em P&D,em relação a seu PIB, são os que controlam a maiorparcela do comércio internacional de produtos de altatecnologia e, além disso, são os que apresentam maiorcrescimento no fluxo de comércio. A posição deliderança tecnológica dos Estados Unidos e aconsolidação internacional dos regimes de proprie-dade intelectual têm rendido a esse país a posição delíder isolado na exportação de serviços tecnológicos,sendo o único que apresenta superávit substancial nobalanço de pagamentos tecnológico (US$ 25 bilhões).

Enfim, as evidências internacionais são amplas,no sentido de que o conhecimento científico-tecnológico tem ajudado a sustentar ou incrementaro crescimento econômico nos países mais industria-lizados. O progresso das nações da OCDE expõe umdesafio para países de industrialização recente, comoo Brasil. No terreno da competição baseada nacapacidade de inovação tecnológica, a fronteiraestabelecida pelos líderes se move cada vez maisdepressa. Para o Brasil, não se trata apenas deincrementar seu dispêndio em CT&I, ou de garantirque as empresas assumam maior responsabilidade noesforço ampliado. Reduzir a distância que separa opaís da fronteira tecnológica mundial é requisitoindispensável da sustentação do desenvolvimento.

As nações em desenvolvimento têm tidograndes dificuldades para enfrentar os desafiosrepresentados pelo aprofundamento da internacio-nalização do capital e pelo crescimento da importânciaeconômica da CT&I, tendo em vista que as mudançasnão afetam apenas o ambiente das empresas, masexigem uma transformação institucional que atingetoda a estrutura social e cultural, dentro da qual sedestaca o sistema educacional.

Não é por outro motivo que este volume seinicia por uma revisão da situação do sistema deeducação básica no país e do sistema de ensinosuperior. Mais do que nunca, o nível de educação

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formal tem um peso decisivo sobre a forma deinserção dos países em desenvolvimento nadinâmica econômica mundial. O próximo itemdeste capítulo vai tratar especificamente doscondicionantes desse processo.

3. Indicadores de P&D e C&T –Estado de São Paulo e Brasil

3.1. Indicadores de insumo

3.1.1. Educação básicaA seleção de variáveis capazes de representar o

conjunto de insumos necessários à produção científicae tecnológica inicia-se pelos indicadores de educaçãoformal, que incluem a educação básica (níveisfundamental e médio) e a educação superior, tratadosrespectivamente nos capítulos 2 e 3.

A inserção de dados relativos à educação básicadeve-se à crescente influência que a educação formalreconhecidamente tem sobre o desempenho profissio-nal nas atividades produtivas, mesmo no �chão defábrica� das empresas, em decorrência do aumentoda complexidade das funções ditado pela introduçãodas novas tecnologias. Novas práticas gerenciais mo-dificaram radicalmente a concepção do trabalhosimples, que passou a ser executado por operadoresque fazem rodízio de tarefas. A qualificação dotrabalhador coloca-se como demanda dirigida ao setoreducacional para possibilitar a elevação da autonomiano desempenho de suas funções, associada aoacréscimo de responsabilidade e à redução do númerode níveis hierárquicos.

As crescentes pressões sobre o ensino formal,em um mundo em que a educação e o conhecimentoadquirido na escola são a base das qualificaçõesprofissionais e também da cidadania, representam umdesafio para o setor educacional, principalmente empaíses onde ainda existem níveis elevados deanalfabetismo. Essa situação contrasta com asexigências de conhecimentos de informática e delíngua inglesa para o desempenho das novas funçõese também das antigas, num mercado de trabalhoconformado pelas novas técnicas de produção e degestão. Sob pena de ver crescentes parcelas dapopulação marginalizadas, países como o Brasil devempreocupar-se com a extensão e a qualidade da rede deeducação básica, para responder aos desafios das novastecnologias, o que explica a presença de informaçõessobre sua situação neste volume.

O setor educacional brasileiro, que representa20,1% dos gastos sociais, está distribuído nas trêsesferas governamentais. A esfera federal respondeprincipalmente pelo nível superior; os governosestaduais, até hoje a principal fonte de recursos parao nível fundamental, devem passar progressi-vamente a responsabilizar-se pelo nível médio enquanto os governos municipais, que até agora sãopraticamente os únicos a fornecerem educação atéos seis anos de idade, devem assumir o encargo doensino fundamental.

A divisão de gastos por nível de ensino no paísfoi a seguinte, em 1995: 18,9% para o ensino superior(sendo que o governo federal respondeu por 60% dototal, e os governos estaduais, por 19%), 10,6% para onível médio (dois terços do total por conta dosgovernos estaduais, e 20,3% do governo federal) e54,5% para o ensino fundamental (60% dos gastosfinanciados pelos governos estaduais, e 30%, pelosgovernos municipais)5. Cabe, também, ao governofederal, a coordenação da política nacional de educação,de controle e avaliação das instituições públicas eprivadas. O Ministério da Educação (MEC) exercetambém um papel redistributivo e supletivo em relaçãoaos demais níveis de governo, uma das principais açõesno plano federal com decisivo impacto sobre aabrangência e alguma influência sobre a qualidade doensino básico no país.

Os indicadores da educação básica revelam umquadro bastante complexo, em que a vontade políticade superar a situação de atraso relativo no setor,mesmo se comparada à dos demais países da AméricaLatina, é confrontada com um panorama econômicodifícil. Na década de 90, apesar da persistência dedificuldades econômicas, houve queda na taxa deanalfabetismo, aumento nas taxas de escolaridademédia da população e crescimento nas matrículas,principalmente no ensino médio. No Sudeste e noestado de São Paulo, respectivamente, as taxas deescolarização líquida no ensino fundamental situaram-se em torno de 97,4% e 98,2% (capítulo 2, tabela anexa2.8) e as taxas de promoção aumentaram, com impacto

5 Segundo dados do Ipea para 1995, apud Abrahão e Fernandes, 1999. Em1997, dados do Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos (Nesur), da Unicamp(outra fonte, portanto os dados não são exatamente comparáveis), revelamuma composição dos gastos por nível de ensino um pouco diferente: 16,8%para o ensino superior, 4,8% para o nível médio e 44,8% para o ensinofundamental (nesses dados os estados respondem por 49,8% do total de gastosnesse nível de ensino e os governos municipais já teriam atingido 44,4% dototal). Os dados não somam 100% porque há várias outras rubricas,principalmente as atividades administrativas e a assistência ao educando,além da educação física e educação de crianças de 0 a 6 anos.

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positivo sobre o fluxo. O alto índice de repetência,devido a problemas vividos pelas crianças princi-palmente fora da escola, resultava em grandesdefasagens entre idade e séries cursadas pelos alunos.Essas diminuíram, assim como os desníveis regionais.

Entretanto, as políticas de ajuste econômicopressionaram o governo no sentido da contenção dogasto público, reduzindo a disponibilidade de recursospara executar o projeto de desenvolvimento social. Osistema educacional no Brasil � e mesmo em São Paulo� ainda não acolhe todos os que o demandam,principalmente no ensino médio, e tem de enfrentar odesafio de obter ganhos de qualidade para a populaçãoescolarizada. Em decorrência, apenas pequena parteda população tem acesso e participa dos avançoscientíficos e tecnológicos no estado e no país.

Em resumo, ainda que se possam registrarprogressos na década de 90, esses não foramsuficientes para reverter o imenso atraso na educaçãobásica, herança histórica das que mais pesam sobre arealidade social brasileira. Na verdade, é preciso umaverdadeira revolução educacional para elevar o padrãodo ensino público no Brasil e no estado de São Pauloaos patamares desejáveis para a transformação socialque o país precisa enfrentar.

3.1.2. Educação superiorA presença de informações relativas ao ensino

superior no conjunto dos indicadores de ciência,tecnologia e inovação explica-se por pelo menos doismotivos. Em primeiro lugar, o preparo de profissionaisde nível superior para o exercício das novas funçõesdecorrentes da introdução de novas tecnologias é deresponsabilidade das instituições voltadas à formaçãode terceiro grau. Em segundo lugar, as universidades� principalmente a pública, no caso do Brasil � são o�lugar geométrico� da formação de pesquisadores eda produção científica, incluindo aquela comperspectiva de geração de tecnologias apropriáveispelo setor produtivo.

Desde a implantação do sistema de ensinosuperior no país, a graduação esteve ligada ao objetivoprofissionalizante. Inicialmente, tratava-se de fornecerquadros para a gestão política do país, e depois parasuprir os postos da administração pública e tambémdo setor privado, durante o processo de industria-lização. É isso que explica o surgimento da univer-sidade brasileira em São Paulo, onde a indústriasubstituiu a cafeicultura como atividade principal.

A partir de meados dos anos 60, a atividade de

pesquisa passou a ter um peso importante no conjuntoda atividade acadêmica. Paralelamente, foi implementadoum Programa Nacional de Pós-Graduação (PNPG),ligado ao desenvolvimento da pesquisa científica, com oobjetivo de também formar pesquisadores e professoresqualificados para a expansão do ensino superior. Aindaque, na definição das atividades acadêmicas, o ensinoseja indissociável da pesquisa, a pós-graduação nasceudesvinculada da graduação e o sistema acabou realizandoas duas funções de forma separada. Elas só foramintegradas formalmente com a Reforma Universitáriade 1968, que ofereceu as condições propícias para tal.

A expansão do sistema de ensino superior deu-se pelo credenciamento, mais ou menos indiscri-minado, de instituições criadas pela iniciativa privadapara atender à demanda surgida na esteira docrescimento econômico ocorrido até o final da décadade 70. Essa tendência reverteu-se nos anos 80, quandose reduziu o ritmo de aumento das matrículas no nívelsuperior, em conseqüência da crise econômica.

Os indicadores coletados mostram que, na décadade 1989 a 1998, o estado de São Paulo continuou a manterposição hegemônica no ensino superior, concentrandoos mesmos porcentuais de matrículas, cursos einstituições observados na grande expansão dos anos70. A partir de meados da década de 90, o ensino superiorno Brasil em geral, e no estado de São Paulo em particular,voltou a crescer. De 1980 a 1989, o aumento total dasmatrículas foi de 10,2%, e na década seguinte, de 1989 a1998, atingiu 40% no Brasil e 38,8% no estado de SãoPaulo (capítulo 3, tabela anexa 3.1). Com cerca de 23%da população de 18 a 24 anos do país, São Paulo absorveuaproximadamente 32% das matrículas em escolassuperiores e formou 36% dos concluintes (capítulo 3,tabelas anexas 3.4 e 3.9).

As universidades públicas localizadas no estado� três estaduais e duas federais � representaram e aindarepresentam papel fundamental no ProgramaNacional de Pós-Graduação que, inicialmente, seconcentrou em São Paulo. Nesse Programa, segundodados de 1998, estavam matriculados 41,4% dosalunos de mestrado do país. Titularam-se no estado39,2% dos mestres. São Paulo absorveu também58,4% das matrículas no doutorado em todo o país etitulou dois terços (65,7%) dos doutores brasileiros(capítulo 3, tabelas anexas 3.23 e 3.24). Essesporcentuais já foram maiores e sua queda reflete oprocesso de difusão dos cursos de pós-graduação paraoutras regiões do país. A participação significativa dosetor público, nacional e paulista, no âmbito do ensino

Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo - 2001 1 - 9

de pós-graduação contrasta com sua reduzida presençano nível da graduação (em termos quantitativos, nãoqualitativos).

Acrescente-se que houve forte apoio para a pós-graduação por parte de um generoso programa dedistribuição de bolsas que, no início, concentrou-seprincipalmente no mestrado e depois no doutorado.As bolsas foram absorvidas, em sua quase totalidade,pelo sistema público. Esse programa destina-se nãoapenas à qualificação dos docentes de ensino superior� objetivo da Coordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (Capes) �, mas também aproduzir impacto sobre o desenvolvimento científicoe tecnológico do país � propósito do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-lógico (CNPq) e da FAPESP.

O quadro revelado pelos indicadores referentesà pós-graduação foi de expansão de cursos e de alunosmatriculados e titulados. Esse fato não deixa desurpreender, no contexto das mudanças que ocorre-ram nas últimas décadas na estrutura de apoio àpesquisa e à pós-graduação no país, quando o declínionos recursos do Fundo Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (FNDCT) foi seguido de umainstabilidade econômica que levou a oscilações nosrecursos destinados à ciência e tecnologia no inícioda década de 90.

O Programa Nacional de Pós-Graduaçãobrasileiro não encontra paralelo na maior parte dospaíses em desenvolvimento e seus resultados sãomensuráveis pelo aumento da produção científica oupela elevação da capacidade de formar pesquisadores.Ainda assim, o país titula 14 vezes menos doutoresque os EUA, que formam 4,8 vezes mais pessoas denível superior que o Brasil, com uma população 70%maior que a brasileira e um PIB aproximadamentedez vezes maior. A grande dificuldade do Programa éa incapacidade de absorção dos mestres e doutoresbrasileiros pelas empresas industriais, por motivos queescapam em boa medida do seu controle e que serãodiscutidos em outras seções deste trabalho.

3.1.3. Recursos humanos alocados à P&DA institucionalização da pós-graduação no

interior do sistema de ensino superior brasileiro criouum ambiente adequado para a internalização daatividade de pesquisa na universidade. De lá para cá,nesses escassos trinta e poucos anos, pode-se afirmarque foi estabelecida uma comunidade científica nopaís, a qual conta com massa crítica em praticamente

todas as disciplinas acadêmicas e já registra umaprodução razoável nas revistas internacionais.

Como mostra o capítulo 4, existem algumasdificuldades metodológicas para a avaliação do númerode pesquisadores de um país, que refletem, de um lado,o conceito que se está utilizando para definir aatividade de pesquisa e, de outro, a própria estruturainstitucional de organização do trabalho de investi-gação científica. Levando em consideração ascaracterísticas próprias da pesquisa no Brasil, o MCTestimou o número total de pesquisadores no setorpúblico no país em pouco mais de 45 mil pessoas em1998. Cerca de 35% desse total (quase 16 milpesquisadores) localizavam-se no estado de São Paulo(capítulo 4, tabela 4.1).

Mais do que quaisquer outros profissionais, ospesquisadores das Engenharias eram os que se encon-travam mais dispersos entre todas as instituições depesquisa e também nas empresas industriais. A áreaonde houve maior crescimento do número depesquisadores foi a de Ciências Biológicas. Entre 1996e 1999, a participação de São Paulo cresceu na área deCiências Exatas, pois a contratação de novospesquisadores foi mais intensa do que no resto doBrasil. Elevou-se também na área de Ciências da Saúde,porque essa comunidade experimentou um decréscimomais lento do que no resto do país. Assim, em 1999,os pesquisadores de São Paulo na área de CiênciasExatas representavam 39,4% e na área de Ciências daSaúde somavam 60,7% do total brasileiro (capítulo 4,tabela anexa 4.4).

Pode-se afirmar que a pesquisa paulista é bastanteconcentrada em Ciências da Saúde, a qual reúne a maiorproporção de pesquisadores. Nessa área encontravam-se, em 1999, 22% de todo o conjunto de pesquisadoresdo estado de São Paulo e 25% dos pesquisadoresacadêmicos (capítulo 4, gráfico 4.2 e tabela anexa 4.2).Nas universidades estaduais localizavam-se 67% dospesquisadores paulistas da Saúde; os demais distribuíam-se entre os institutos de pesquisa estaduais (14,5%), osetor acadêmico federal (12%) e o setor privado (6,5%)(capítulo 4, gráfico 4.3).

A composição por área da pós-graduação, quecontrasta com a da graduação (em que mais da metadedos alunos são de ciências humanas e sociais), refleteas necessidades do sistema produtor de ciência eorientador da concessão de bolsas, centradas nas áreasde Exatas e Biológicas.

Há diferenças consideráveis na vocação dosinstitutos de pesquisa públicos localizados em São

Capítulo 1 - Pesquisa Científica e Inovação Tecnológica: Avanços e Desafios1 - 10

Paulo de acordo com sua dependência administrativa,pois os institutos estaduais vinculam-se princi-palmente às áreas de Saúde, Agricultura e PesquisaTecnológica, voltadas para o atendimento dasnecessidades econômicas e sociais do estado. Já osinstitutos de pesquisa federais relacionam-se a áreasestratégicas. Mas é o segmento acadêmico o locusprincipal de concentração da atividade de pesquisapública, empregando quase 80% dos pesquisadoresdo setor público do estado, ao contrário do queocorria no início da organização da pesquisa no país,no final do século XIX.

As dificuldades de coleta e organização dedados sobre a pesquisa realizada nas empresasindustriais são maiores, tanto pela carência deinformação organizada como pela dificuldade dedefinição clara do que consiste a pesquisa edesenvolvimento dentro dos muros da empresa. Osdados mais recentes levantados para o estado deSão Paulo referem-se à Pesquisa da AtividadeEconômica Paulista (Paep) realizada pela FundaçãoSistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Deacordo com essa pesquisa, as atividades de P&Dintramuros na indústria paulista relativas ao ano de1996 empregavam um conjunto expressivo deprofissionais, envolvendo cerca de nove milfuncionários de nível superior.

Os dados da Paep revelam forte concentraçãodessas atividades, pois 37,7% dos funcionários deP&D de nível superior nas empresas industriaislocalizam-se na capital do estado, e 74,1%, naRegião Metropolitana de São Paulo (RMSP)(capítulo 4, gráfico 4.12). Um resultado interessantedessa pesquisa mostra que a média de profissionaisde P&D de nível superior por empresa nos demaismunicípios da RMSP (8,3 funcionários) é bemsuperior às médias encontradas na Capital (5,5) enos municípios do interior (4,5) (capítulo 4, tabelaanexa 4.8). Isto se explica pela concentraçãoexpressiva, nos demais municípios da RMSP, deempresas de grande porte de setores com subs-tancial atividade de P&D (automobilístico, químicoe de máquinas e equipamentos mecânicos).

A concentração de pessoal alocado em P&Dna indústria do estado de São Paulo em setores demédia intensidade tecnológica (automobilístico, ede equipamentos mecânicos e elétricos) revela queo padrão de especialização tecnológica guardacorrelação com as características da estrutura doparque industrial paulista (e brasileiro). Esse perfil

de distribuição entre setores industriais é consi-deravelmente distinto do padrão de países maisindustrializados, em que os setores industriais science-based (baseados no conhecimento), como equi-pamentos de informática, material eletrônico e decomunicações, química fina e farmacêutica einstrumentação, óptica e produtos de precisão,correspondem à parcela mais expressiva de pessoalalocado em P&D. Pode-se afirmar, portanto, que,em boa medida, a carência de demanda industrialpara os pesquisadores brasileiros deve-se à compo-sição da estrutura produtiva do país.

3.1.4. Dispêndio em P&DO dispêndio em P&D sobre o PIB é o

indicador mais universal do esforço científico etecnológico de um país. Já foi vista, na primeira seçãodeste capítulo, a dimensão do dispêndio brasileiroem P&D e a participação paulista nesse esforço.Neste tópico, que trata do capítulo 5 deste volume,são enfatizados outros indicadores dos recursospúblicos e privados despendidos em atividades deP&D no estado de São Paulo. Consideraram-se, paraa contabilização dos gastos públicos em P&D noestado, tanto os dispêndios das instituições estaduais(universidades estaduais, institutos de pesquisaestaduais e FAPESP) como os realizados porinstituições federais no estado de São Paulo(universidades federais, institutos de pesquisa federaise agências de fomento federais).

No contexto brasileiro, os dispêndios emP&D realizados no estado de São Paulo respondempela parcela mais expressiva do esforço nacional.Em termos absolutos, o gasto agregado em P&Dno estado manteve-se num patamar relativamenteestável, entre US$ 2,3 e 2,8 bilhões entre 1995 e1998. Houve redução significativa (12%) dosrecursos do governo federal aplicados em P&D noestado nesse período, aparentemente compensadapor substancial crescimento das despesas realizadaspelas empresas em P&D (31% de aumento)6

(capítulo 5, tabela 5.3). Somente os esforçosrealizados pelo governo estadual mantiveram-seestáveis. O governo federal foi responsável, emmédia, por 29% dos recursos investidos em P&D,

6 Como tal, contabilizou-se apenas o valor monetário dos gastos em P&D(sentido estrito) realizados pelo conjunto das empresas associadas à Anpei,que não constituem amostra representativa da indústria paulista. Essatendência crescente deve ser, por esse motivo, analisada com cautela, aindaque seja plausível no contexto da reestruturação produtiva efetivamenterealizada na indústria paulista na década de 90.

Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo - 2001 1 - 11

no estado de São Paulo, entre 1995 e 1998, enquantoo governo estadual teve uma participação de 35%(no plano nacional, os componentes equivalentessão 40% e 23%, respectivamente para o governofederal e o conjunto dos governos estaduais). Aparticipação média do setor privado industrial, noestado, foi de 36%, com tendência ascendente noperíodo.

Os dispêndios em P&D no estado de São Pauloultrapassam os valores da Argentina, para umapopulação e PIB bastante semelhantes. Já com relaçãoà Espanha, para uma mesma população, os gastosespanhóis em P&D são o triplo dos gastos paulistas,para um PIB duas vezes maior.

Em termos de composição dos gastos porinstituição, para o ano de 1998, compõem o grupo deinstituições com maior dispêndio orçamentário emP&D no estado de São Paulo as universidadesestaduais, com 27,7 % do total dos dispêndios, osinstitutos de pesquisa federais (18,3%), a FAPESP(16,3 %) e os institutos estaduais (13,7%). Seguem-seos dispêndios do CNPq (7,5%), da Financiadora deEstudos e Projetos (Finep) (6,9%), da Capes (4,9%) edas universidades federais (4,6%). De uma maneirageral, essa distribuição manteve-se inalterada entre1995 e 1998, com exceção de um substancial declíniode 42% dos gastos do CNPq no estado e umcrescimento de cerca de 25% dos recursos da Finep.No entanto, como a base inicial da primeira agência(US$ 194,5 milhões, em 1995) era bem superior à baseda segunda (US$ 83,9 milhões, no mesmo ano), oacréscimo dos gastos da Finep não foi suficiente paraevitar a expressiva queda dos recursos federaisaplicados em C&T no estado de São Paulo no período(capítulo 5, tabela anexa 5.1).

3.2. Indicadores de resultado

3.2.1. Produção científicaUm dos resultados mais palpáveis dos esforços

de capacitação levados a efeito no Brasil nas últimas trêsdécadas foi a grande elevação da produção científicanacional, analisada no capítulo 6. Ainda que osindicadores construídos a partir das publicaçõesindexadas nas bases de dados do Institute for ScientificInformation (ISI) tenham um caráter limitado para aanálise da produção científica dos países não anglófonos,a participação das publicações brasileiras nessas basesaumentou consideravelmente no período analisado nestevolume. Em 1981, o Brasil situava-se abaixo da Argentina,

com pouco mais de 0,2% das publicações indexadas noISI. Na média do período 1995-1997, esse porcentual jáera de 0,7%, superando todos os países da América Latinae quase alcançando a Coréia do Sul (capítulo 6, tabela6.1). Na atualidade, as publicações do país atingem 1%da produção científica internacional e a tendência decrescimento persiste. Em termos absolutos, a produçãocientífica brasileira passou de 3.204 publicações em todasas áreas do conhecimento, em 1985, para 12.168publicações, em 1999 (capítulo 6, tabela anexa 6.1). Asáreas de Física, Biologia, Matemática e CiênciasBiomédicas foram aquelas em que o país mais sedestacou, superando a média nacional.

Localiza-se no Sudeste a maior parte dasinstituições de ensino superior, dos programas depós-graduação e de pesquisadores, o que favorecea concentração da produção científica nessa região.É importante ressaltar que tal fenômeno de concen-tração da pesquisa não é exclusivamente brasileiro:nos EUA, por exemplo, cerca de 36% da produçãocientífica indexada nas bases do ISI, em 1998,originaram-se em apenas quatro dos 50 estadosnorte-americanos: Califórnia, Nova Iorque, NovaJersey e Massachusetts.

Em relação aos estados brasileiros, a análiseindividual mostra que todos aumentaram quantitati-vamente seus respectivos números de artigoscientíficos nas bases do ISI, principalmente a partirde 1990. A comparação do perfil de distribuição daspublicações com o perfil do total de líderes de pesquisapor estado indica uma boa correlação entre esses doisfatores, principalmente quando se compara com operfil de distribuição dos líderes doutores. Três estadosdo Sudeste � São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais� respondiam por cerca de 75% das publicaçõescientíficas indexadas em 1997, abrigando em suasinstituições em torno de 62% do total dos pesquisa-dores brasileiros, ou 66% daqueles com doutorado(capítulo 6, tabela 6.2).

Em 1989, São Paulo era responsável por75,9% das titulações de doutores no país, proporçãoque caiu para 65,7%, em 1998 (capítulo 3, tabela3.7). Assim, o processo de descentralização daformação de pessoal qualificado para as atividadescientíficas, resultante do amadurecimento dosprogramas de pós-graduação, pode ter sido o fatorpreponderante para explicar o porcentual estávelda produção científica de São Paulo, de cerca de 50%do total nacional. Nesse caso, o acréscimo derecursos para pesquisa, proporcionado pela FAPESP,

Capítulo 1 - Pesquisa Científica e Inovação Tecnológica: Avanços e Desafios1 - 12

deve ter impedido a queda do porcentual de produçãocientífica do estado, que poderia ter ocorrido devidoà redução do porcentual de pesquisadores e de alunostitulados na pós-graduação em São Paulo em relaçãoao total do país, no período.

Dentre as instituições do estado de São Paulo,além da Universidade de São Paulo (USP), a UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp) e a UniversidadeEstadual Paulista �Julio de Mesquita Filho� (Unesp)aparecem com grandes contribuições para a produçãocientífica nacional: em 1999, cada uma delas publicou ototal de 3.033, 1.238 e 767 artigos indexados, respec-tivamente, o que representa 24,9%, 10,2% e 6,3% dototal brasileiro nesse ano (capítulo 6, tabela anexa 6.8).

A USP é a universidade que mais tem contri-buído, mas nota-se que o porcentual de publicaçõesda Unicamp e da Unesp na base Science Citation Index(SCI) � a maior das três bases indexadas no ISI � vemcrescendo significativamente ao longo dos anos.

A soma das publicações das cinco univer-sidades públicas do estado de São Paulo, nas áreasde ciências �duras� (base Science), foi 1.335 em 1985e 5.876 em 1999, representando 80% e 93%, nosrespectivos anos, dos totais do estado, e 42% e 48%,nos respectivos anos, dos totais do país. Essas cifrasrevelam a continuidade do processo de concentraçãoda produção científica em poucas instituições dentrodo estado e no âmbito nacional. Por outro lado,apontam para a necessidade da descentralização daprodução de conhecimento e capacitação dospesquisadores, processo que, de certa forma, já vemsendo estimulado pelas instituições de fomento àpesquisa federais, por meio da distribuição de bolsasde pós-graduação e da criação de novos programasde pós-graduação em outros estados.

3.2.2. Balanço de pagamentos tecnológico eindicadores de patentesDo ponto de vista dos resultados tecnológicos

dos esforços paulista e brasileiro empregados emP&D, um conjunto de indicadores, apresentados nocapítulo 7, trata dos fluxos comerciais de produtos eserviços com conteúdo tecnológico, além da atividadede patenteamento.

O conceito de balanço de pagamentos tecno-lógico utilizado compreendeu uma análise da balançacomercial de manufaturados, partindo da avaliaçãode seu conteúdo de tecnologia incorporada. Aprincipal estratégia, nesse sentido, foi calcular o valormédio dos fluxos de produtos, a partir do pressuposto

de que esse indicador guarda correlação positiva como conteúdo tecnológico dos mesmos. As exportaçõesbrasileiras possuíam valor médio de 21 centavos dedólar por quilograma, em 1999, enquanto as impor-tações alcançaram um valor médio de 58 centavos,mas ambas apresentaram elevadas dispersões. Nolongo prazo, no entanto, a distância entre valorimportado e exportado acentuou-se: entre o iníciodos anos 70 e o final dos anos 90, o valor médio dascompras sextuplicou, enquanto o valor médio dasvendas triplicou.

A compra de produtos dos países desenvol-vidos excedeu consideravelmente as vendas brasileiraspara esses países no final dos anos 90, resultando emsaldos negativos para todas as categorias deintensidade tecnológica. Em 1989, havia um déficitcom esses países apenas para os produtos de altatecnologia, o que era insuficiente para comprometero saldo superavitário do conjunto.

No que concerne à economia paulista, no anode 1999 o déficit para os produtos de elevadaintensidade tecnológica foi nada menos que 66 vezesmaior do que o de 1989. Aliado aos déficits das demaiscategorias, o saldo com os países desenvolvidos ficounegativo em US$ 7 bilhões, bem maior do que osuperávit com os países em desenvolvimento, que foide US$ 2,2 bilhões.

Este conjunto de resultados é revelador doaumento do fosso tecnológico existente entre aeconomia brasileira e as economias mais desenvolvidas,responsáveis pela parcela majoritária do comérciomundial. À medida que a estrutura do comércio mundialaprofundou sua mudança, nos últimos dez anos, como crescimento substancial de produtos de alto conteúdotecnológico � em particular aqueles relacionados comas novas tecnologias de informação e comunicação �,a debilidade da estrutura produtiva do Brasil nos setoresintensivos em tecnologia cobrou seu preço nodesequilíbrio do comércio. Uma importante exceção éo caso da indústria aeronáutica, concentrada no estadode São Paulo, que tem sido responsável pelo únicocomponente positivo do país no comércio demanufaturados intensivos em tecnologia.

Além dos fluxos comerciais de produtos comconteúdo tecnológico, a análise desenvolvida nocapítulo 7 compreende os ingressos e saídas derecursos relativos aos contratos que envolvem serviçostecnológicos, ou seja, operações de transferência detecnologia (e direitos assemelhados) entre o país e oexterior. Tais fluxos são parte dos registros necessários

Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo - 2001 1 - 13

ao cálculo do Balanço de Pagamentos, efetuados peloBanco Central. Eles compreendem um amplo espectrode situações, desde o comércio de técnicas protegidaspela propriedade intelectual (patentes, marcas edesigns) até a prestação de serviços especializados(como serviços de engenharia)7.

Os indicadores dos fluxos de serviços tecnoló-gicos apresentados apontam uma evolução aceleradatanto de remessas como de ingressos, a partir de 1993e com maior intensidade nos últimos anos. Emboraesse movimento esteja em parte relacionado com aretomada do crescimento da economia nos anos 90,sua intensidade está mais vinculada às mudançasinstitucionais que liberalizaram a realização doscontratos de transferência de tecnologia. Em termosnacionais, em 1993, os montantes enviados alcançaramUS$ 186 milhões, ao passo que os ingressos perfaziamapenas cerca de US$ 119 milhões. Em contraste, em1998, as remessas alcançaram o patamar anual deaproximadamente US$ 2 bilhões, enquanto osingressos, na mesma data, montaram a pouco maisde US$ 1 bilhão. O desempenho foi expressivo, tantopara as remessas quanto para os ingressos, tendo asprimeiras crescido à taxa de 60,5% ao ano, e os últimos,a 53,8% ao ano, entre 1993 e 1998.

O estado de São Paulo, no período considerado,foi responsável pela maior parcela dos fluxos deserviços tecnológicos, o que decorre evidentementedo peso de sua atividade industrial e de serviços noconjunto da economia brasileira. Isoladamente, oestado respondeu por mais de US$ 1 bilhão dasremessas em 1998, ou seja, o correspondente a 53%do montante total do país. Também foi responsávelpor US$ 615,5 milhões de ingressos, ou 60% do totalnacional (capítulo 7, tabela anexa 7.5).

De uma forma sintética, pode-se afirmar que osalto quantitativo nos fluxos de transferência detecnologia está relacionado com o conjunto de reformasinstitucionais referentes à regulação dos mercados e àparticipação do estado na economia: liberalização doinvestimento e das remessas referentes a serviçostecnológicos por parte de subsidiárias de empresasestrangeiras, privatização de estatais e concessão deserviços públicos, liberalização no comércio exterior enos fluxos de capitais. Todos esses elementos contri-buíram para o expressivo movimento de remessas e

ingressos. Em decorrência, o déficit em serviços tecnoló-gicos, que era historicamente de pequena monta, alcançouo valor aproximado de US$ 1 bilhão no final dos anos90 e passou a pesar significativamente no balanço depagamentos. Para agravar o quadro, os indicadoresreferentes à composição setorial e por modalidade decontrato de serviços tecnológicos sugerem que o ganhoem termos de transferência efetiva de tecnologia nãocresceu na mesma proporção.

Os indicadores referentes aos fluxos de tecnologiatambém compreendem a atividade patentária brasileirae paulista, realizada no Brasil e no exterior, já que estaencontra-se fortemente relacionada com os fluxos depagamentos de serviços. Examinaram-se indicadoresconhecidos, como o índice de inovatividade, que revelaramaspectos alarmantes sobre os padrões brasileiro e paulistade produção tecnológica. No caso brasileiro, as patentesconcedidas no país a não residentes (em geral, empresastransnacionais) correspondem à esmagadora maioria detodas as concessões (85%). Os residentes contrastamnão apenas por serem minoritários, mas também porserem, majoritariamente, pessoas físicas.

Esse padrão é um reflexo da debilidade dasatividades de P&D e da produção de conhecimentopatenteável no interior das empresas brasileiras, conformecomentado no início deste capítulo. Por um lado, élimitado o número de empresas controladas por capitaisnacionais que focalizam sua estratégia de negócios naprodução de conhecimento tecnológico. As grandesempresas estatais são as que, praticamente, ainda investemum pouco em P&D; o dispêndio das privatizadas foi,em geral, reduzido. Por outro lado, as empresastransnacionais realizam fora do Brasil a maior parte dassuas atividades de pesquisa tecnológica8, mas têmnecessidade de proteger esse conhecimento no país.

3.2.3. Inovação tecnológicaO estado de São Paulo, responsável por cerca

de 49% do valor de transformação industrial brasileiro,de acordo com informações da Pesquisa IndustrialAnual do IBGE (1999)9, concentra a maior parte dosnúcleos industriais mais intensivos em tecnologia.Portanto, é fundamental para o desenvolvimento daeconomia paulista avaliar o desempenho das empresasem termos de inovação tecnológica, observar comoesse desempenho se associa às atividades tecnológicas

7 Há um conjunto de limitações, indicadas detalhadamente no capítulo, quesugerem que as informações contabilizadas pelo Banco Central permitemobter uma idéia aproximada da direção e intensidade dos fluxos, sem, noentanto, permitir a compreensão do conteúdo tecnológico dessas transações.

8 Não obstante realizem atividades de desenvolvimento experimental, comose verá adiante.9PIA - Pesquisa Industrial Anual disponível em: http://www.ibge.gov.br/economia/industria/pia

Capítulo 1 - Pesquisa Científica e Inovação Tecnológica: Avanços e Desafios1 - 14

por elas realizadas, bem como examinar as relaçõesque as empresas estabelecem com o sistema públicode C&T. Esses são os objetivos principais da análisedos indicadores de inovação das empresas industriaispaulistas, feita no capítulo 8.

O principal indicador, nesse aspecto, é a taxa deinovação tecnológica, que representa a porcentagemdo número de empresas inovadoras, no total da indústriade transformação ou em um setor industrial. Considera-se como inovadora a empresa que introduziu umproduto ou processo tecnologicamente novo ouaperfeiçoado � embora não necessariamente desen-volvido por ela � no período considerado. Esse conceitobaseia-se nas diretrizes para surveys de inovaçãoestabelecidas pelo Manual de Oslo (OCDE, 1993). Nocaso paulista, os dados basearam-se no bloco deinformações sobre inovação tecnológica da Paep/Seade, referente ao período 1994-1996.

A taxa de inovação da indústria paulista (24,8%)não se distanciou das taxas calculadas com base empesquisas de inovação implementadas em países queadotaram os mesmos procedimentos metodológicosde mensuração e apresentam uma estrutura produtivacom nível de desenvolvimento e complexidadetecnológica semelhantes à do estado de São Paulo, comoé o caso da Espanha e da Austrália. No entanto, a taxaencontrada esteve substancialmente aquém dasexistentes em economias mais desenvolvidas, como asda França e Alemanha. Portanto, embora haja um longocaminho a percorrer no incremento ao desempenhoinovador da economia paulista, este apresenta resultadosconsideráveis, que se explicam em grande medida pelaintensidade de renovação de produtos e processos queocorreu no período em questão.

Os indicadores revelam que o tamanho daempresa (medido pela receita líquida) é a principalvariável determinante da capacidade de inovação.Dessa forma, a propensão a inovar das grandesempresas industriais paulistas (de 70%) é mais de trêsvezes maior do que a das pequenas empresas (21%)(capítulo 8, tabela 8.1).

O balanço da distribuição das firmas inovadoraspor setores industriais sugere que a taxa de inovaçãoé bastante influenciada pelos padrões setoriaisdiferenciados de concorrência e oportunidadestecnológicas, sendo possível identificar três agrupa-mentos a partir dessa característica, segundo seu graude oportunidades tecnológicas. É interessanteobservar como a distribuição setorial das taxas deinovação guarda, no geral, considerável simetria com

a variação do grau de oportunidades tecnológicas.O primeiro grupo é composto pelos chamados

setores intensivos em ciência, com taxas de inovaçãovariando entre 43% e 64% do número total deempresas do setor, como o de computadores,instrumentação e automação industrial e equipa-mentos de telecomunicações. O segundo grupo, emque a participação de empresas inovadoras oscilaentre 25% e 40%, é composto pelos setores que sepoderia denominar de "intensivos em escala"(petroquímica, siderurgia) e pelos fornecedores deequipamentos mecânicos e elétricos, com nívelintermediário de oportunidades tecnológicas. Porfim, o terceiro grupo apresenta taxas de inovaçãocom variação entre 7% e 23%, compreendendo ossetores mais dependentes de fornecedores de bensde capital para inovar, como o têxtil e de couro ecalçados, com menores oportunidades tecnológicas(capítulo 8, gráfico 8.2).

O significado econômico da inovação paraas empresas não pode ser subestimado. Asinformações da Paep deixam clara a relação positivaexistente entre taxa de inovação, de um lado, e aprodutividade média da empresa e a propensão aexportar, de outro. Pode-se concluir daí que odesempenho inovador relativamente bom daindústria paulista no triênio 1994-1996 contribuiupara o incremento da produtividade industrial noperíodo. Esse ponto é reforçado pela participaçãoproporcionalmente mais elevada das empresasinovadoras no valor agregado industrial.

No entanto, os indicadores de inovaçãotambém revelam as fragilidades da indústria paulista,algumas das quais já foram levantadas nas seçõesanteriores. Chama a atenção o fato de que o esforçoendógeno às empresas (P&D) como fonte da inovaçãoé, de uma maneira geral, secundário em relação aoutras fontes. Quando se associa isso ao esforçocomparativamente pequeno das empresas paulistasrealizado em P&D (seja em gasto, seja em pessoalocupado), conclui-se que o processo de inovação naindústria de São Paulo é caracterizado por um razoávelgrau de inovação, mas com escassa produção deconhecimento tecnológico. Essa tendência estáassociada aos pontos levantados na seção anterior,segundo os quais a economia paulista tem sidocrescentemente deficitária no balanço das importaçõese exportações de serviços tecnológicos, além de sertímida a performance do estado (e do país) em termosde patenteamento de novas tecnologias.

Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo - 2001 1 - 15

3.3. Indicadores de impacto

3.3.1. Impactos econômicos da C&TA avaliação dos impactos econômicos e sociais

da P&D tem ganho destaque na agenda da políticade ciência, tecnologia e inovação, à medida em que asociedade torna-se mais exigente em relação aoretorno social do gasto público. Do ponto de vistaestratégico, a busca dos atores centrais do sistemade inovação pela ampliação e estabilização dasdotações públicas para CT&I requer, em contrapar-tida, uma capacidade de demonstrar os benefíciosdesse esforço para além da comunidade científico-tecnológica. Para tanto, é fundamental contar nãosó com indicadores específicos do setor, mas tambémcom outros tipos de indicadores de resultados. Issotem provocado, em vários países e em organizaçõesinternacionais multilaterais, o desenvolvimento demetodologias para elaboração de indicadores e paraavaliação dos impactos econômicos e sociais da P&D.No entanto, como em toda área incipiente, adiscussão metodológica ainda não se traduziu emprodução contínua de informações e na consolidaçãode bases sólidas de indicadores.

A abordagem adotada para os capítulos 9 e 10deste volume reflete essas limitações. Face à ausênciade informações sistemáticas e levando em conta opouco amadurecimento dos indicadores dos impactoseconômicos (capítulo 9) e sociais (capítulo 10) da P&D,procurou-se realizar, primeiramente, uma discussãoconceitual e metodológica sobre o que significa medirtais impactos. Além disso, foi necessário valer-se deinformações secundárias existentes, sobretudo deestudos já realizados, para ilustrar tal discussão.

Portanto, no capítulo 9, devido às limitaçõesmencionadas, optou-se por arrolar alguns resultadosde impacto econômico baseados em fontes secun-dárias. Assim, são examinados estudos do impactoeconômico da pesquisa agrícola e do programa decapacitação tecnológica para exploração de petróleoem águas profundas (Procap), da Petrobras. Taisresultados e estudos foram complementados cominformações secundárias sobre a relação universidade-empresa. A constituição de empresas de basetecnológica (com forte atuação na pesquisa) em tornode universidades e institutos públicos representa umaforma relevante de transferência do conhecimentogerado nessas instituições para o ambiente econômico.De forma ilustrativa, são apresentadas informaçõessobre os programas Parceria para a Inovação

Tecnológica (Pite), Programa de Inovação Tecnológicaem Pequenas Empresas (Pipe), e Consórcios Setoriaisde Inovação Tecnológica (ConSITec) da FAPESP.

Um estudo pioneiro de avaliação de impactoseconômicos de um grande programa tecnológicoliderado pela Petrobras, maior empresa industrialdo país, possibilitou uma percepção mais aguda dosfortes efeitos gerados pela pesquisa industrial nopaís. A Petrobras é hoje uma empresa líder mundialem tecnologias de águas profundas. Embora partedessas tecnologias seja obtida por meio defornecedores estrangeiros, parcela significativa dosresultados é tributada aos esforços realizadosinternamente ou em cooperação com parceirosnacionais, principalmente universidades e institutospúblicos de pesquisa. A Petrobras tem o maiorlaboratório de pesquisa industrial da América Latinae, apoiando-se na sua base tecnológica, desenvolveuimportantes programas, entre os quais se destaca ojá mencionado de águas profundas. O estudo citadoanalisou o Procap 1000, o primeiro programa dessetipo desenvolvido pela Petrobras e que foiexecutado entre 1986 e 1992.

A razão desse esforço apoiava-se no fato deque na época não estava disponível, em âmbitointernacional, tecnologia para operar em grandesprofundidades. A estratégia da Petrobras baseou-sefundamentalmente em inovações incrementais e naadaptação de conceitos tecnológicos existentes,corroborando, de certo modo, as peculiaridades dosdesenvolvimentos tecnológicos realizados em paísesperiféricos industrializados.

Até 1997, esses projetos haviam gerado umaumento de valor adicionado, para a Petrobras edemais participantes, correspondente a doze vezes ovalor do Programa.

Já o estudo da taxa de retorno da pesquisaagrícola, incluído no capítulo, utilizou metodologianeoclássica para chegar a um conjunto de resultados.Dentre os analisados, a produtividade da terra foiconsiderada variável proxy10 da produtividade total dosfatores. Isso porque as taxas internas de retorno dosprodutos selecionados (algodão, café, laranja, cana-de-açúcar e soja) são baseadas predominantementeem inovações biológicas, poupadoras do fator terra.A produtividade parcial da terra cresceu à expressivataxa de 1,85% ao ano nos últimos 50 anos no estadode São Paulo.10 Proxy é uma variável tomada como medida aproximada de uma outravariável para a qual não se têm informações.

Capítulo 1 - Pesquisa Científica e Inovação Tecnológica: Avanços e Desafios1 - 16

Esses ganhos de produtividade traduziram-seem significativo benefício para o consumidor. Aredução dos preços reais dos alimentos, decorrenteda expansão da oferta, possibilitou o aumento dopoder de compra do salário. Os resultados sugeremque, entre 1980 e 1998, os trabalhadores da construçãocivil teriam obtido um aumento de 3,5 vezes no seupoder de compra de alimentos. Estes resultadospermitem avaliar, indiretamente, o ritmo de incorpo-ração das novas tecnologias na agricultura. Osdiferentes estudos do retorno econômico da pesquisapública, realizados para a agricultura paulista, revelamos benefícios alcançados.

Outra modalidade de impacto estudado referiu-se à interação entre universidade e empresa, por meioda análise desse processo em duas universidadespúblicas no estado. Resultado de estudos de caso e delevantamento de estatísticas institucionais, essaspesquisas revelaram o caráter incipiente e instável detal relacionamento, em decorrência tanto da criseeconômica como da inexistência de uma política clarapara a área tecnológica, ao longo do período.

Na interação da Unicamp com as empresas daregião, ocorreu um crescimento significativo donúmero de empresas privadas que desenvolveramprojetos conjuntos com esta instituição (de 6% dovalor total de recursos extra-orçamentários parapesquisa na média do período, entre 1986 e 1995, essesprojetos passam a representar em torno de 13% noseu final)(capítulo 9, tabela 9.10). Por outro lado, aprivatização de empresas como a Telebrás retirou domercado antigos parceiros da universidade em projetosde prazo mais longo e valores médios maiores, emdecorrência da mudança de estratégia do Centro dePesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da antiga estatal.

Já a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),cuja atuação em parceria com empresas é mais recente,mostrou nos anos 90 uma tendência de crescimentodos valores envolvidos nessa interação, com pequenaqueda no final do período, que se relacionou,provavelmente, com a crise ocorrida em 1998.

Estudos sobre a iniciativa de formação deparques e pólos tecnológicos em São Carlos e em SãoJosé dos Campos e sobre a presença de empresas debase tecnológica (EBTs) nessas regiões, revelam aconcentração de algumas delas ao redor de univer-sidades nesses municípios, bem como em Campinase Ribeirão Preto. Isso indica o claro potencialrepresentado pelas universidades públicas comocentralizadoras da atividade científica com possi-

bilidade de ter algum impacto tecnológico sobre aatividade econômica local.

Segundo mostram esses estudos, a participaçãode São José dos Campos aumentou muito no conjuntodas empresas de base tecnológica, no período 1994-1997.Tal dinamismo pode refletir o processo de reestruturaçãoda Embraer desde sua privatização, já que a indústria deequipamentos eletrônicos e de comunicações está entreos dois setores mais representativos das EBTs de SãoJosé dos Campos, e a idade média das empresas da regiãofoi a menor entre as empresas da amostra (6,9anos)(capítulo 9, tabela anexa 9.4).

No que se refere ao desempenho, pode-se dizerque as EBTs exibem capacidade de inovação e deacumulação tecnológica relativamente limitadas,embora em condições bem superiores àquelasverificadas para a média da economia paulista. Poressa razão e por serem predominantemente depequeno porte, as EBTs paulistas operam em nichosde mercado em que prevalecem inovações incre-mentais (em vez de inovações significativas) e nos quaisa grande empresa não tenciona competir.

Finalmente, o último aspecto considerado naelaboração desse estudo de impacto da C&T refere-sea uma variável econômica fundamental: o nível deemprego. Parte-se da constatação de que o desenvol-vimento econômico, ao promover a consolidação dasestruturas produtivas, desarticula padrões técnico-organizacionais existentes e viabiliza o surgimento deoutros, resultando em um movimento com efeitosimportantes sobre as condições de geração de empregoe organização do trabalho. Destrói segmentos ocupa-cionais associados a padrões técnico-organizacionaisjá amadurecidos, induzindo a constituição de outros,vinculados aos novos padrões emergentes. O vigordesse processo depende da intensidade do crescimentoe das condições de distribuição do maior excedentecriado pelos maiores níveis de produção e produti-vidade. As novas condições de organização da atividadenos diversos setores econômicos foram caracterizadaspor elevações ponderáveis da produtividade. Em seuconjunto, essas mudanças tiveram conseqüências muitodesfavoráveis sobre o nível de emprego.

3.3.2. Impactos sociais da C&T em saúdeA importância da pesquisa em saúde no estado

de São Paulo levou à inclusão, neste volume, de umcapítulo relativo ao seu impacto social. Em razão daausência de estudos mais abrangentes, tambémutilizaram-se fontes secundárias. Foram usadas

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informações coletadas a partir da base de dados doDiretório de Pesquisas do CNPq, o que permitiuidentificar os problemas de saúde mais relevantes everificar se havia grupos de pesquisa preocupadosem investigá-los (capítulo 10, tabela 10.1).

O capítulo 10 apresenta conclusões de estudosque oferecem uma abordagem combinada em quese definem, ao mesmo tempo, políticas públicas paraa saúde, por um lado, e para ciência e tecnologia naárea da saúde, por outro. Propõe-se empreenderiniciativas específicas para cada problema de saúde,no primeiro caso. No segundo, a proposta é articularC&T ao contexto de sua aplicação, por exemplo, naavaliação dos sistemas e das políticas de saúde.

Pesquisa sobre a base indexada no ISI(Pellegrini-Filho et al., 1997) mostra que o númerode publicações quase triplicou nos períodos 1973-1977 e 1988-1992, tendo mudado o perfil da P&Dem saúde no Brasil: a produção, predominantementede tipo clínico (característica de países periféricos)no primeiro período, é suplantada pela pesquisabiomédica, no último período (56,5% da produçãocientífica brasileira). A saúde pública aparece deforma demasiado discreta para o tamanho dosproblemas sócio-sanitários do país, traduzindo,possivelmente, apenas o aumento do número depesquisadores nacionais.

Verifica-se, nos casos apontados, que ocrescimento da pesquisa científica no setor não ésuficiente para assegurar o impacto positivonecessário sobre as condições de saúde da população,devido à não correspondência entre os objetos depesquisa e os temas relevantes para enfrentar osproblemas nacionais. Destaca-se, em conseqüência,a clara necessidade de promover a interação entre apesquisa básica, o desenvolvimento de tecnologiasvoltadas para a saúde e o desenvolvimento eco-nômico e social.

Os resultados da pesquisa permitem afirmarque os conhecimentos produzidos por estudosepidemiológicos acerca da influência dos estilos devida sobre a saúde das populações possibilitamsubstancial aprimoramento das políticas públicaspara o setor. A redução do hábito de fumar e asalterações nos hábitos alimentares, a partir dos novosconhecimentos epidemiológicos, vêm provocandomodificações expressivas no padrão de morbidade emortalidade provocado pelas doenças cardio-vasculares, em todas as regiões, incluindo o estadode São Paulo.

Além disso, a introdução da computação e denovos programas informatizados de análise ediagnóstico vêm favorecendo a produção deconhecimentos, seja promovendo um maior volumede publicações em menor espaço de tempo, sejapermitindo a elucidação, de modo mais preciso, defenômenos complexos e multivariados de ocorrênciade doenças. As modernas técnicas cirúrgicas ouprocessos diagnósticos não invasivos têm permitidomelhor utilização dos leitos hospitalares, comdecréscimo do tempo de internação. O rastreamento(screening) de doenças vem experimentando, atravésde técnicas simplificadas, constante aprimoramento,facilitando a detecção precoce de enfermidades comodiabetes e cânceres.

Por outro lado, as desigualdades sociais no paísse refletem na diferença da qualidade da assistência,que no Brasil não responde de forma apropriada àquelassituações de risco para a mortalidade peri e neonatal.Ainda que não tenha sido capaz de reduzir fatores derisco importantes (como o baixo peso e as gestaçõesprecoces), o desenvolvimento científico-tecnológicorecente na área parece ter sido eficiente para produzirimpactos positivos na diminuição de seqüelas e damortalidade, como tem sido observado nos paísesdesenvolvidos. Os demais fatores sociais associados àsituação de um país em desenvolvimento, prin-cipalmente a má distribuição de renda e a inexistênciade uma política de pesquisa que priorize os temas demaior relevância para a melhoria das condições de saúdeda população, refletem-se, entretanto, na redução dopotencial de impacto da C&T na área biomédica paraque esse objetivo seja atingido.

3.3.3. Presença da C&T na mídia impressaOs indicadores da presença da ciência e tecnologia

na mídia impressa, tratados no capítulo 11, revelam aconsciência da sociedade quanto à importância dasatividades científicas. Por outro lado, a agenda de notíciassobre C&T publicada nos meios de comunicação demassa influencia a discussão, a aprovação ou oredirecionamento dado à pesquisa no país.

O fenômeno de uma sociedade reconhecerque a atividade científica tem direito à existência, eseparar recursos especialmente para mantê-la,corresponde à legitimação social da ciência, e é oque permite sua institucionalização, ou seja, suaorganização em instituições específicas, regidas porseus próprios ritos e mecanismos de validação. Paraque a produção científica e tecnológica de um país

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seja reconhecida pela sociedade, é preciso que hajadivulgação de suas atividades. Nesse sentido, amedida da presença da C&T na mídia impressa éum dos indicadores que, ao lado da imagem que apopulação tem do setor, permite visualizar o esforçode divulgação, o grau de interesse e conhecimentodo público em relação a essas atividades e suaconsciência do potencial que elas representam parao resgate, a custo mais baixo, do déficit social.

O Jornalismo Científico só ganhou corpo noBrasil a partir dos anos 70, quando todos os grandesjornais criaram editorias de ciência e tecnologia. Nosanos 80, foram realizados os primeiros congressos daAssociação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC),e o CNPq encomendou a primeira (e única até hoje)pesquisa sobre o que o brasileiro pensa da ciência e datecnologia. Os números surpreenderam a comunidadecientífica e também o governo e empresários do setorde comunicação: 52% da população consideraram opaís atrasado em termos de C&T e 71% revelaramque se interessam por assuntos de ciência. Destaca-senesse sentido a iniciativa da FAPESP que, em 1999,lançou o Programa José Reis de Incentivo aoJornalismo Científico, ou Mídia Ciência, visando apoiara formação dos profissionais da imprensa e alunos dejornalismo, interessados em divulgação científica parapúblico leigo.

O objetivo dos indicadores da presença da C&Tna mídia impressa foi analisar as informaçõesapresentadas à opinião pública pelos meios decomunicação de massa na última década e verificar setais dados refletiram a produção da comunidadecientífica estadual. Buscou-se identificar quais tópicosde ciência e tecnologia foram noticiados e como seefetivou essa difusão, avaliando se houve ênfase nadivulgação da produção nacional. Foram tambéminvestigadas as áreas do conhecimento que sedestacaram na mídia, as fontes geradoras dasinformações e os principais protagonistas das notícias.

O estudo cobriu a veiculação de cinco jornaisdiários produzidos no estado de São Paulo, na últimadécada, incluindo: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo,Gazeta Mercantil, Correio Popular (região de Campinas)e ValeParaibano (região do Vale do Paraíba).

Entre os resultados obtidos, a pesquisamostrou que há uma tendência dominante deconcentrar as matérias sobre C&T em editoriasespecíficas (Educação, Ciência e Cultura). Reveloutambém que a presença do noticiário científico naprimeira página dos jornais foi pequena e geralmente

privilegiou aspectos curiosos de pesquisas científicas,ou questões relacionadas à área da saúde.

Os jornais realmente se interessam por assuntosde ciência e tecnologia, ao contrário do que seconstatou em outros levantamentos, feitos nos anos80. A ciência nacional ocupa mais espaço na mídia doque a produzida fora do país. Na Gazeta Mercantil, 90%das notícias originam-se de fonte nacional e nos jornaisregionais esse porcentual pode chegar a 94% (CorreioPopular) e até a 99% (ValeParaibano). Estatísticassemelhantes levantadas na Austrália mostram que asmatérias relativas ao desenvolvimento científico-tecnológico australiano correspondem a 67% dasnotícias relativas ao setor publicadas na mídia escritanaquele país11.

A pesquisa indica algumas preferências da mídia.Os temas em destaque são geralmente os de naturezamais prática, com algum poder de intervenção narealidade local, regional e até nacional, o que se vê pelapredominância das engenharias, das ciências agrárias, dasquestões ambientais e das ciências da saúde.

Como os artigos de divulgação científica nãopesam na avaliação acadêmica, não são poucos oscientistas que deixam de utilizar a mídia comoinstrumento de legitimação social, além de terem umavisão negativa da popularização da ciência. Issoresulta num quadro pouco favorável ao diálogo entrea comunidade científica e os jornalistas. Assim, é fácilentender, por um lado, porque a ciência e tecnologiaocupam menos de 3% do total de textos publicadospelos grandes jornais, e, de outro, fica evidente anecessidade de capacitação de recursos humanospara atender a demanda da mídia por informaçõesde natureza científica e tecnológica.

4. Conclusões

A elaboração de indicadores de insumo, deresultado e de impacto das atividades de CT&Iconstitui subsídio indispensável à formulação depolíticas para o setor. Evidentemente, está fora doescopo deste volume o exercício de proposiçãoarticulada de políticas de CT&I para o estado de SãoPaulo. No entanto, uma boa conclusão para estecapítulo introdutório, que resume os principaisachados da publicação, parece ser a indicação dasprioridades mais evidentes apontadas pelos indica-

11 O survey australiano incluiu o estudo de mais de 15 periódicos, revelandoaumento da participação da C&T em todos os principais jornais naquelepaís (Commonwealth of Austrália, 2000).

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dores, ilustrando assim sua contribuição potencial paraos responsáveis pela política científica e tecnológica.

De maneira sintética, pode-se dizer que oaspecto que ressalta com maior clareza é osignificativo contraste entre o avanço da capacidadede produção científica no estado de São Paulo e arelativa estagnação da capacidade de geração eaperfeiçoamento de inovações tecnológicas. Essaconclusão merece ser desdobrada em reflexõesespecíficas sobre os dois termos.

O incontestável salto da produção científicabrasileira no cenário internacional recomenda acontinuidade da bem-sucedida política de sustentação eexpansão de uma pós-graduação de qualidade, baseadaem centros de excelência que concentram a parcela maisexpressiva da produção acadêmica do país. Da mesmaforma, recomenda os programas de apoio à pesquisatemática organizada em rede, como os da FAPESP e doCNPq. No entanto, é bastante preocupante a percepçãoda fragilidade da infra-estrutura básica de produção derecursos humanos para CT&I, evidenciada pelosindicadores do ensino fundamental e médio. Ainda queeles apresentem melhora relativa nos últimos anos, estãomuito aquém do que necessita a construção de umasociedade que quer edificar o bem-estar econômico esocial da população com base no conhecimento. Aurgência de um salto educacional é uma das prioridadesapontadas neste volume.

Além da questão da educação, o ponto maiscrítico no sistema de inovação brasileiro é o elorepresentado pela produção tecnológica nas empresas.Não que as empresas paulistas e brasileiras tenhamficado estagnadas em termos de capacitação paraenfrentar a concorrência externa e interna. Os

indicadores de inovação tecnológica mostram que adifusão e absorção de novas tecnologias por parte das(grandes) empresas foi considerável no períodocoberto por este volume (para as pequenas empresaseste é um obstáculo adicional). Mas os indicadorestambém revelam importantes fragilidades no setorempresarial. Em primeiro lugar, de uma maneira geral,as empresas investem pouco na geração de novastecnologias ou no aperfeiçoamento de tecnologiasimportadas. Isso se reflete claramente na débil atividadede patenteamento das empresas e no déficit crescenteno balanço de pagamentos tecnológico. Em segundolugar, a limitada capacidade de geração de tecnologiasé ainda mais pronunciada nos chamados setoresintensivos em conhecimento, como os que produzembens e serviços relacionados com tecnologias dainformação e comunicação. Isso, por sua vez, se refleteem um estrangulamento econômico que tem ganhadoatenção crescente no Brasil: a incapacidade demodificar a pauta de comércio do país no sentido damaior exportação e menor importação de bensintensivos em tecnologia e conhecimento.

É claro que estes desafios � a superação dofosso educacional e a elevação da limitada capacidadede inovação empresarial � traduzem problemasestruturais profundos da sociedade e da economiabrasileira, os quais requerem respostas (políticas)duradouras e de longo alcance. Embora as atividadesde CT&I no Brasil, e em particular no estado de SãoPaulo, tenham realizado progresso notável nas duasúltimas décadas, a constituição de um sistema deinovação robusto exigirá muito mais do que aacumulação de competências institucional ousetorialmente isoladas.

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