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Economia de Empresas Capítulo 1 – A natureza do problema econômico 1/29 Capítulo 1 A NATUREZA DO PROBLEMA ECONÔMICO OBJETIVO Entender os “mistérios” da economia é compreender de que maneira as necessidades de bens materiais e serviços que todos os seres humanos apresentam serão satisfeitas. Os agentes econômicos se valem de recursos escassos para atender estas necessidades. Este tema é voltado para a compreensão da natureza do problema econômico, ou seja, qual é a essência da atividade econômica e de que maneira ela se manifesta no conjunto da sociedade. INTRODUÇÃO A economia, enquanto ciência que trata das relações do ser humano com um mundo dotado de recursos escassos, apresenta-se de forma extremamente simples: cada um de nós participa do sistema econômico do país e também do resto do mundo consumindo produtos e serviços básicos, tais como alimentos e bebidas, roupas, pagando aluguel ou prestação de um imóvel. Também participamos do sistema econômico quando poupamos parte de nossos rendimentos para consumo futuro ou como precaução frente a um futuro incerto. Ou mesmo como forma de aplicação em outras atividades reais ― uma sociedade em um empreendimento imobiliário, por exemplo, que apresenta grandes possibilidades de valorização ao longo de determinado tempo ou em ativos financeiros ― uma aplicação em ações de empresas com projeção de crescimento, dentre tantas outras possibilidades ―, com o objetivo específico de ganhar mais dinheiro com o dinheiro poupado. Na arte da sobrevivência no mundo dos negócios vencem aqueles que aprenderam a economizar certos fatores utilizados na produção, melhorando sua competitividade e usufruindo dos benefícios do aumento da produtividade. É assim que se obtém maior produção com o uso de quantidades menores de fatores, como o tempo de trabalho, a quantidade de matéria-prima, o consumo de materiais auxiliares no processo produtivo, dentre outros. Para explicar estes fenômenos, nós, economistas devotamos especial predileção por métodos quantitativos em que predominam equações diferenciais e modelos algébricos, explorando os aspectos considerados exatos neste particular campo do conhecimento, ou seja, aqueles que podem ser quantificados e explicados pelos números envolvidos em certas séries históricas e, por isto, figurar em um modelo matemático. Efetivamente, grande parte da atividade humana consiste, sim, de atividades mensuráveis: a jornada diária de trabalho, o Produtividade significa a utilização cada vez mais racional dos diversos fatores de produção, em prol do aumento da quantidade produzida. Custos são como as unhas: é preciso cortar sistematicamente, de tempos em tempos, sob o risco de, se isto não for feito, impedir o uso eficiente dos dedos. Na organização, o risco pode representar a ineficiência no uso dos fatores de produção. Os insumos de produção compreendem a mão-de- obra direta e indireta, os materiais auxiliares, a matéria-prima, energia elétrica, combustíveis e lubrificantes, dentre outros.

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Economia de Empresas Capítulo 1 – A natureza do problema econômico 1/29

Capítulo 1 – A NATUREZA DO PROBLEMA ECONÔMICO

OBJETIVO

Entender os “mistérios” da economia é compreender de que maneira as necessidades de bens materiais e serviços que todos os seres humanos apresentam serão satisfeitas. Os agentes econômicos se valem de recursos escassos para atender estas necessidades. Este tema é voltado para a compreensão da natureza do problema econômico, ou seja, qual é a essência da atividade econômica e de que maneira ela se manifesta no conjunto da sociedade.

INTRODUÇÃO

A economia, enquanto ciência que trata das relações do ser humano com um mundo dotado de recursos escassos, apresenta-se de forma extremamente simples: cada um de nós participa do sistema econômico do país – e também do resto do mundo – consumindo produtos e serviços básicos, tais como alimentos e bebidas, roupas, pagando aluguel ou prestação de um imóvel. Também participamos do sistema econômico quando poupamos parte de nossos rendimentos para consumo futuro ou como precaução frente a um futuro incerto. Ou mesmo como forma de aplicação em

outras atividades reais ― uma sociedade em um empreendimento imobiliário, por exemplo, que apresenta grandes possibilidades de valorização ao longo de determinado tempo ― ou em ativos financeiros ― uma aplicação em ações de

empresas com projeção de crescimento, dentre tantas outras possibilidades ―, com o objetivo específico de ganhar mais dinheiro com o dinheiro poupado.

Na arte da sobrevivência no mundo dos negócios vencem aqueles que aprenderam a economizar certos fatores utilizados na produção, melhorando sua competitividade e usufruindo dos benefícios do aumento da produtividade. É assim que se obtém

maior produção com o uso de quantidades menores de fatores, como o tempo de trabalho, a quantidade de matéria-prima, o consumo de materiais auxiliares no processo produtivo, dentre outros.

Para explicar estes fenômenos, nós, economistas devotamos especial predileção por métodos quantitativos em que predominam equações diferenciais e modelos algébricos, explorando os aspectos considerados exatos neste particular campo do conhecimento, ou seja, aqueles que podem ser quantificados e explicados pelos números envolvidos em certas séries históricas e, por isto, figurar em um modelo matemático. Efetivamente, grande parte da atividade humana consiste, sim, de atividades mensuráveis: a jornada diária de trabalho, o

Produtividade significa a utilização cada vez mais racional dos diversos fatores de produção, em prol do aumento da quantidade produzida.

Custos são como as unhas: é preciso cortar sistematicamente, de tempos em tempos, sob o risco de, se isto não for feito, impedir o uso eficiente dos dedos. Na organização, o risco pode representar a ineficiência no uso dos fatores de produção.

Os insumos de produção compreendem a mão-de-obra direta e indireta, os materiais auxiliares, a matéria-prima, energia elétrica, combustíveis e lubrificantes, dentre outros.

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tempo de execução de determinada tarefa, a quantificação e a representação monetária do bem ou serviço, quer seja insumo ou produto final.

Mas, de forma geral, os problemas econômicos não podem ser reduzidos a fórmulas matemáticas. Envolvem questões relacionadas à sociedade, às instituições, à história, à cultura no seu sentido mais amplo. Dizem respeito à própria ideologia dos agentes econômicos e, portanto, referem-se ao povo, conceito que compreende o conjunto das classes e grupos sociais ― os patrões, os empregados, os profissionais liberais, os assalariados ― empenhados na solução objetiva das tarefas de crescimento da atividade econômica e desenvolvimento sustentável da condição de vida dos habitantes da nação. Uma tarefa que compete a todos, sem distinção de raça, credo, cor, religião, etnia e, principalmente, partido político.

É aí que se integra o progresso tecnológico (que inclui a educação) e é também denominado “fator humano”. O interesse pelo fator humano tem contribuído para o surgimento e avanço de novas áreas de estudo, como a “Economia da Educação”, a “Economia do Trabalho”, a “Economia da Saúde”, a “Economia dos Recursos Humanos” etc.

De forma geral, pode-se afirmar que a Economia é a ciência que trata da administração eficiente de recursos escassos com vistas à satisfação dos ilimitados desejos e necessidades humanas. Este conceito compreende três partes: os recursos escassos, desejos e necessidades humanas ilimitadas e congregando-os, a administração eficiente.

SÍNTESE DO CAPÍTULO

Ao final deste capítulo, você deverá estar familiarizado com alguns conceitos fundamentais da economia, com o significado do problema econômico enquanto agente das iniciativas de transformação da sociedade econômica e as formas de organização da sociedade para a solução das questões relacionadas à produção e distribuição dos bens que são destinados à satisfação das necessidades humanas.

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Tema 1

RECURSOS ESCASSOS

A natureza do problema econômico reside na constatação de que os recursos que a coletividade dispõe para a produção dos bens e serviços que irão satisfazer as necessidades dos seus membros são limitados em relação ao volume destas exigências. Os indivíduos necessitam de certos bens – roupas, alimentos, um lugar para morar, um veículo para se locomover – e também de serviços – educação, lazer, saúde – que são escassos, isto é, existem em quantidades limitadas. Em contrapartida, as aspirações humanas são relativamente ilimitadas, superando o volume de bens e serviços disponíveis para a satisfação destes desejos. Caracteriza-se, dessa forma, o problema fundamental da Economia: a escassez. Se não podemos ter tudo o que desejamos, já que os recursos ou os fatores de produção ― capital, terra, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial – são escassos, é preciso escolher entre os bens que serão produzidos e oferecidos à coletividade. Esta, portanto, é uma das primeiras decisões por parte dos empreendedores.

Vejamos, a seguir, cada um dos fatores de produção, para melhor compreensão do processo de geração de riqueza por que passou a humanidade.

O capital

Todo bem destinado à produção de outro bem é considerado um recurso de capital. Por capital entende-se, portanto, a infra-estrutura produtiva ― por exemplo, os edifícios industriais ― as máquinas e equipamentos ― tornos, furadeiras, fresas etc. ―, as ferramentas ― chaves, alicates, moldes industriais ―, os computadores ― quer sejam aplicados à administração ou à linha de produção.

O capital compreende o próprio fluxo de remuneração (os salários, por exemplo) e os pagamentos (de bens e serviços adquiridos das empresas). Incorpora, portanto, a renda que é empregada para gerar algum lucro. O conceito prevalecente nos dias de

hoje é aquele que define o capital como um conjunto de recursos de natureza econômica, distintos e

passíveis de reprodução, que possibilita a obtenção de um rendimento em períodos determinados. Várias ramificações dão origem à classificação do capital como capital técnico, capital jurídico, capital contábil. Mais recentemente, o conceito de capital humano toma conta das organizações, no particular aspecto da gestão dos recursos ― ou talentos ― humanos da empresa. O capital técnico refere-se ao conjunto de bens materiais utilizados no processo de produção; o capital jurídico tem a ver com a sua relação com os titulares de direito ― capital privado e capital público, por exemplo. O capital contábil compreende o capital de giro, o capital de empréstimo, o capital de participação, capital nacional, capital estrangeiro etc..

A formação de capital decorre da acumulação de riqueza destinada à obtenção de novas riquezas. É esta capacidade de geração de riqueza, consubstanciada nos investimentos, isto é, na capacidade de aumentar os meios de produção, que irá determinar o ritmo de desenvolvimento econômico de uma nação. Isto porque o emprego eficiente de bens de capital possibilita a elevação do rendimento do trabalho humano e da produtividade real do sistema econômico.

O lucro é definido como a diferença entre a receita total e os custos totais da firma.

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Os recursos necessários à formação de capital podem ser de origem interna ou externa, isto é, procedentes de outros países. Os recursos internos compreendem a poupança, que nada mais é do que a parcela da renda que não é destinada ao consumo imediato. Esta poupança nem sempre é espontânea, ou seja, nem sempre é resultado do desejo das pessoas. Em sistemas econômicos afetados por uma inflação persistente, tem-se, por vezes, a formação de poupança compulsória ― ou obrigatória, forçada ― para fazer frente à necessidade tanto de investimento como de redução da demanda e, portanto, como elemento de combate à inflação.

A poupança pode ser proveniente de indivíduos, das empresas e do setor público. Os recursos externos a que nos referimos anteriormente vêm suprir uma carência de recursos internos: se a poupança interna não é suficiente para atender às necessidades de investimento, são contraídos empréstimos ou atraídos investimentos estrangeiros, ajudas governamentais de outros países e demais formas de ingresso de capitais estrangeiros.

O fator terra ― ou recursos naturais

Do ponto de vista econômico, os recursos naturais compreendem a base de um sistema sobre a qual se assentará o capital técnico. São os recursos naturais, tanto os renováveis (de natureza biológica, quer sejam vegetais ou animais), como os não renováveis (caso de certas riquezas minerais, como o petróleo) que proporcionarão a obtenção dos bens materiais destinados à satisfação de certas necessidades do ser humano, transformados e/ou in natura.

Durante muito tempo prevaleceu a idéia, entre os precursores da análise econômica, de que a verdadeira riqueza de uma nação seria aquela resultante da utilização indireta do fator terra: a produção agrícola. Os outros bens seriam derivados de uma transformação dos produtos primários, não acrescentando, portanto, mais riqueza. Este conceito modificou-se substancialmente com o avanço das tecnologias de processo e de produto, que serão objeto de nossa análise um pouco mais à frente.

O fator trabalho

O trabalho humano, quando aplicado aos instrumentos – o fator capital –, num dado espaço físico – o fator terra –, promove a transformação do meio e a produção de bens segundo suas próprias necessidades. O sistema econômico depende fundamentalmente da qualidade do trabalho humano, que é eminentemente criador. O ser humano procura criar, desenvolver e enriquecer novos meios de produção,

Para uma idéia do que sejam meios de produção, considere que sejam os meios de trabalho e os objetos de trabalho. Os meios de trabalho compreendem os instrumentos de produção (máquinas, ferramentas), as instalações (edifícios, armazéns, silos etc.), as fontes de energia utilizadas na produção (elétrica, eólica, nuclear, hidráulica etc.) e os meios de transporte. Os objetos de trabalho são os elementos sobre os quais ocorre o trabalho humano (matérias-primas, solo etc.).

Em uma construção civil, por exemplo, os materiais intermediários compreendem o ferro, o aço, a cal, o cimento, o alumínio, dentre outros.

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com vistas ao progresso e evolução da técnica. Para os economistas da escola clássica, o trabalho é o determinante do valor econômico. Segundo esta linha de pensamento, todos os fatores de produção, em última análise se resumem num só: o trabalho, fonte única de todo o progresso humano. No entanto, para outros economistas clássicos, menos radicais, o valor advém da colaboração entre o capital e o trabalho.

A tecnologia

Tecnologia significa o estudo das técnicas. Por técnica, entende-se a maneira correta de executar qualquer tarefa. É o que se conhece em inglês por know-how, que significa “saber como”, definindo formas, instrumentos, equipamentos, métodos, características físicas de materiais intermediários e outros insumos para a obtenção de um bem econômico.

A tecnologia pode ser definida como o conhecimento humano aplicado à produção. Neste sentido, alguns autores consideram a tecnologia como uma mercadoria, com todas as suas características: tem um preço, pode ser adquirida e também se torna obsoleta, isto é, pode se tornar ultrapassada com o advento de outra tecnologia. As nações em desenvolvimento são potencialmente compradoras de tecnologia originária de nações desenvolvidas. Neste contexto, as empresas estrangeiras assumem papel preponderante na transferência de tecnologia, como resultado de uma licença de produção por firmas nacionais, por exemplo, mediante o pagamento de royalties.

Quer seja por meio de descoberta de novas matérias-primas, por uma mudança nos métodos de produção, pela criação de novos produtos ou pela substituição de equipamentos, uma inovação técnica termina por modificar a própria divisão social do trabalho e as técnicas de produção, elevando a produtividade do trabalho. As inovações, geralmente de grande impacto na economia, se manifestam como inovação de processo (tecnologia de processo) e inovação de produto (tecnologia de produto). Uma tecnologia de produto caracteriza uma inovação que leva a um produto novo, isto é,

que apresentará certas peculiaridades que qualificarão um produto diferente daquele anteriormente oferecido. Já a evolução tecnológica de processo atinge tão somente o processo de fabricação, sem mudanças nas características do produto. Refere-se, neste caso, a diminuições no tempo de obtenção do produto, a reduções no número de operações, à racionalização no uso de matérias-primas etc..

A capacidade empresarial

A função empresarial é vital para a condução da ordem capitalista. Nas economias onde a livre iniciativa impera, compete aos empresários explorar uma invenção ou introduzir uma inovação de produto ou de processo. Também serão os empreendedores que abrirão nova frente de oferta de bens e serviços, novos usos para produtos conhecidos, reativação e reorganização de indústrias etc..

Os royalties compreendem um determinado montante de

dinheiro a título de licença para utilização do design do produto,

de moldes de fabricação, de especificação de materiais

utilizados e outras especificações que caracterizam o produto.

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O tipo empresarial é definido pela reunião de aptidões presentes em uma pequena parcela da população, que levam à descoberta de oportunidades de investimento, ao financiamento da operação idealizada, à obtenção e utilização adequada dos fatores de produção cuja natureza acaba de ser vista e à organização e coordenação das operações de forma eficiente. Trata-se, portanto, de uma aglutinação de um conjunto de fatores e funções, ou seja, da obtenção e da ação conjunta de capital, terra, trabalho e tecnologia. Estes fatores, organizados em funções industriais, comerciais, administrativas, financeiras e de pesquisa & desenvolvimento, serão vitais para a execução física de um projeto e sua transformação em uma realidade duradoura, em prol da geração de bens e serviços que satisfaçam alguma necessidade humana.

A capacidade empresarial se resume, portanto, em conseguir que as coisas sejam feitas.

SUMÁRIO DO TEMA

Capital, terra e trabalho, ao lado do conhecimento tecnológico e capacidade empresarial constituem recursos de produção escassos. Deles resultam os bens e serviços que são oferecidos à sociedade para a solução de suas necessidades e desejos ilimitados.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Você pretende iniciar um empreendimento na área de prestação de serviços de manutenção de implementos agrícolas. Quais os recursos de produção você necessitará?

2. As economias primitivas apresentavam maior ou menor escassez do que as de agora? Justifique sua resposta.

3. De quantos e quais tipos de capital podemos falar, quando pensamos neste importante fator de produção?

4. Como se origina o capital? Qualquer nação tem possibilidade de incrementar o seu estoque de capital?

5. Quais as diferenças fundamentais entre meios de trabalho e objetos de trabalho?

6. A poupança interna, no caso brasileiro, é suficiente para atender às necessidades de investimento do país? Se não é considerada suficiente, quais são as alternativas para a ampliação dos recursos destinados ao investimento nas atividades produtivas geradoras de emprego?

7. Dê um exemplo de recursos naturais não renováveis. Em seguida, imagine um produto para a sua substituição e explique as razões de serem considerados recursos não renováveis e recurso renovável.

8. Qual era o conceito inicial de riqueza de uma nação, entre os primeiros pensadores da atividade econômica?

9. Qual, dentre os fatores de produção, aquele que constitui a fonte única de todo o progresso humano na visão de alguns pensadores?

10. Qual a origem do valor, na concepção dos economistas clássicos menos radicais?

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11. O que diferencia tecnologia de produto e tecnologia de processo?

12. Quais as características do tipo empresarial?

13. “Conseguir que as coisas sejam feitas” resume um predicado do fator trabalho, de forma genérica? Justifique sua resposta.

14. Qual a contribuição da empresa estrangeira no que se refere à transferência de tecnologia? Cite um exemplo conhecido.

15. O capital, um dos fatores de produção, representa a. a técnica de aumentar a produtividade dentro da economia; b. a força produtiva representada pelos operários na indústria; c. a quantidade de dinheiro à disposição do sistema econômico; d. a infra-estrutura produtiva representada pelas máquinas, ferramentas,

edifícios, equipamentos etc.; e. as alternativas (a) e (c) estão corretas.

Resposta correta: alternativa d. Isto porque a alternativa a diz respeito à tecnologia, ou seja, o como produzir. Por sua vez, a alternativa b se refere ao fator de produção trabalho. A alternativa c aborda tão somente o capital financeiro. Assim sendo, a alternativa e também está errada, porque cita duas alternativas que não são as corretas.

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Tema 2

NECESSIDADES ILIMITADAS

Este aspecto requer uma análise igualmente detalhada e sistematizada, dada a sua importância e vinculação com o equacionamento do problema econômico.

Uma primeira questão a responder diz respeito ao volume de necessidades que possamos ter. Evidentemente, um ser humano que vive numa comunidade moderna tem necessidades diversas e em maior quantidade do que alguém que vivia na Idade Média. Uma volta por uma das alas comerciais de um shopping center das grandes metrópoles ou meia hora de televisão comprovam facilmente esta afirmação. Além deste aspecto temporal – hoje o mundo é completamente diferente do que em tempos passados – há que se considerar que, somado ao volume, também a composição das necessidades varia entre habitantes de uma metrópole e de uma pequena cidade do interior do Estado.

Em que pese a diversidade entre volume e composição das necessidades humanas, é possível detectar várias características comuns: elas podem ser coletivas ou individuais e, dentre estas, absolutas ou relativas. Vejamos cada uma destas características com mais detalhes:

a) necessidades coletivas

Aí estão enquadradas as necessidades que todo grupo sente, tais como a necessidade de segurança, de defesa, necessidade de educação, de saneamento básico, do cuidado com a saúde etc.. Estas necessidades são supridas em parte ou totalmente pela ação do Estado.

b) necessidades individuais

Compreendem basicamente dois grupos: o das necessidades absolutas do ser humano, isto é, relacionadas às exigências de natureza biológica, tais como dormir, respirar, comer, habitar, procriar, vestir etc.. Veja que estas necessidades absolutas – ou também chamadas de necessidades biológicas – nem sempre têm sua satisfação associada imediatamente a uma solução econômica. É o caso da necessidade de respirar, por exemplo. Em muitas comunidades, a preservação das áreas verdes e o controle da poluição do ar podem requerer grandes esforços econômicos.

O segundo grupo das necessidades individuais compreende as necessidades relativas ou sociais. São relativas porque não são idênticas para todos os indivíduos. Compreendem o conjunto de hábitos, normas, costumes e valores (uso de talheres e pratos, cama para dormir, o hábito da leitura, audiência de uma sinfonia e outros).

Quadro 1

TIPOS DE NECESSIDADES

COLETIVAS INDIVIDUAIS

Absolutas Relativas

Segurança, defesa,

educação, saneamento

básico, saúde etc.

Dormir, respirar, comer,

habitar, procriar, vestir

etc.

Hábitos, normas,

costumes e valores

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As necessidades dos indivíduos modificam-se a cada novo dia, quer sejam absolutas ou relativas. Alguns estudos a esse respeito, em especial o de Abraham Maslow, um psicólogo norte-americano que viveu entre 1908 e 1970, revelam que as necessidades são hierarquizadas, isto é, um indivíduo procura satisfazer suas necessidades em certo momento ou período de sua vida, por etapas consecutivas, uma após outra. Imaginemos uma escada, para dispor tal hierarquização. O primeiro degrau é reservado para as necessidades biológicas ou básicas. Satisfeitas estas necessidades, o indivíduo busca a segurança, em seu mais amplo sentido: segurança no lar, na comunidade, segurança no emprego. A etapa seguinte refere-se à necessidade que o indivíduo sente de viver em comunidade, de ser aceito pelo grupo, de relacionar-se. Na próxima etapa, quer satisfazer seu ego: busca reconhecimento, status, poder. E, nesta evolução motivacional, a última etapa refere-se à auto-realização: o indivíduo abre-se a novos desafios, procura a experimentação de forma decidida, tal como alguns cientistas que injetam certo tipo de vírus em seu próprio organismo, para testarem, em seguida, determinada teoria ou vacina por ele desenvolvida.

Segundo estes estudos, uma necessidade superior não poderá ser suprida sem a satisfação da necessidade imediatamente anterior. Outro aspecto revela que a posição do indivíduo na sua hierarquia de necessidades é mutável ao longo do tempo, ou seja, o indivíduo terá projetadas novas hierarquias introduzidas pelas transformações do meio, principalmente.

Necessidades biológicas ou básicas

Segurança

Associação

Auto-estima

Auto-realização

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Tendo visto os recursos ― escassos ― de produção e as necessidades humanas ― ilimitadas ― vamos organizar nosso aprendizado com relação ao conhecimento das diversas formas de satisfação das necessidades humanas: os bens.

SUMÁRIO DO TEMA

Identificadas como necessidades coletivas e necessidades individuais, este tema investigou a classificação da contrapartida à existência de recursos escassos: as necessidades humanas.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Explique sucintamente o entendimento do conceito de necessidades coletivas. Cite um exemplo.

2. Explique o conceito de necessidades individuais e cite um exemplo.

3. Imagine-se no deserto do Saara. Quais as necessidades imediatas que necessitam ser supridas para a sua sobrevivência? Quais os fatores de produção envolvidos para a solução destas necessidades?

4. Imagine-se num shopping center. Quais as necessidades que você verá despertadas em si mesmo? E numa criança?

5. Explique o conceito relacionado à hierarquia de necessidades do ser humano, segundo Maslow.

6. Cite uma das necessidades hierarquizadas por Maslow, explicando-a e localizando-a em sua própria vida.

7. O que indica uma necessidade biológica?

8. Qual o significado de uma necessidade como “segurança”? Como se materializa a satisfação dessa necessidade?

9. Cite um exemplo de necessidade de associação e forma de satisfação dessa necessidade, aí em sua região.

10. O indivíduo pode suprir uma necessidade superior na hierarquia apresentada por Maslow, sem ter cumprido com a solução a uma necessidade imediatamente inferior? Por quê?

11. Como se dividem as necessidades individuais?

12. Cite um exemplo de necessidade absoluta que não consta das atividades listadas no Quadro 1 – Tipos de Necessidades.

13. Qual a definição de “necessidades relativas”? Dê um exemplo diferente daquelas que constam do Quadro 1 – Tipos de Necessidades.

14. No melhor dos entendimentos, o cumprimento das leis por todos os cidadãos é, por si só, uma forma de suprimento de necessidades individuais? Por quê?

15. Uma necessidade de associação com base na hierarquia das necessidades de Maslow reflete uma situação em que

a. o indivíduo se sente atraído por um desejo de se associar a um empresário para abrir um negócio.

b. o indivíduo carece de sentimentos por si mesmo.

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c. Nenhuma outra necessidade pode ser suprida se esta não for satisfeita. d. Todas as demais necessidades já foram supridas pelo indivíduo. e. O indivíduo já satisfez suas necessidades fisiológicas e de segurança e

agora sente necessidade de ser aceito pelo grupo.

Resposta correta: alternativa e. Isto porque, no caso da alternativa a, a referência a uma associação em um empreendimento foge aos conceitos de Maslow no caso particular da necessidade de associação. Também o fato de sentir necessidade de associação não quer dizer que o indivíduo não gosta de si mesmo e, portanto, a alternativa b também não se aplica. Quanto à alternativa c, é fato que existe uma hierarquia nas necessidades, mas a necessidade de associação está no meio desta hierarquia. Assim sendo, outras necessidades foram, sim, supridas, antes de se chegar a esta. Mas, nem todas as outras necessidades foram supridas, o que também implica em que a alternativa d está incorreta. Então, a alternativa e complementa adequadamente a assertiva.

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Tema 3

BENS

A satisfação de uma necessidade, no sentido aqui tratado, requer a existência de um bem. Mesmo as mais elementares necessidades são satisfeitas por certo tipo de bem. O ar, por exemplo, é o bem que satisfaz a necessidade de respirar. Em circunstâncias normais, quando se caracteriza a abundância, este e outros bens, como a água do mar e a luz do sol, são considerados bens livres. Não constituem, portanto, um problema cuja solução esteja no âmbito da análise econômica. Ocorre, no entanto, que a maioria das necessidades dos indivíduos será satisfeita por bens escassos, cuja obtenção irá requerer certa quantidade de trabalho e, muito provavelmente, também de outros fatores de produção. Estes bens são denominados bens econômicos e compreendem duas categorias de bens: os bens tangíveis, isto é, que se pode apalpar, sendo, portanto, materiais, e os bens intangíveis, que não são de natureza física, onde se enquadram os serviços.

Na tentativa de melhor compreensão do fato econômico, a classificação dos bens completa-se com o enquadramento dos bens econômicos tangíveis nas seguintes categorias:

a) bens finais

Aqui são abrigados os bens de consumo, que compreendem os produtos que se destinam ao consumo. Subdividem-se em bens de consumo não-duráveis ― porque possuem existência muito limitada no tempo e geralmente desaparecem ao satisfazer a necessidade, como é o caso dos alimentos ― e bens de consumo duráveis ― cuja utilização é substancialmente prolongada, como, por exemplo, eletrodomésticos, automóveis etc.. São estes produtos que, como regra geral, promovem a atividade econômica, porque na sua produção são utilizados produtos intermediários, máquinas, fornecimentos de terceiros e um contingente considerável de pessoas direta ou indiretamente ocupadas que, auferindo rendimento, poderão adquirir bens econômicos, realimentando o processo de produção agregada de toda a sociedade.

Também fazem parte do grupo de bens finais os chamados bens de capital, que compreendem os bens destinados à produção de novos bens e, por isso mesmo, também conhecidos por “bens de produção”. São as máquinas industriais, ferramentas etc..

É de se notar, ademais, que um mesmo bem pode ser classificado em grupo distinto, segundo a categoria uso. Assim sendo, um automóvel pode ser um bem de consumo durável e, para aquele que o utiliza como forma de prestação de um serviço – táxi, por exemplo ― este bem é considerado um bem de capital ou bem de produção.

b) bens intermediários

Certos bens, como o aço, o cimento, a cal e uma infinidade de outras mercadorias, requerem transformações antes de se converterem num bem de consumo ou bem de capital. São, portanto, considerados bens intermediários.

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SUMÁRIO DO TEMA

As necessidades coletivas e necessidades individuais são supridas pelos bens ou serviços. Este tema tratou da identificação dos bens livres e dos bens econômicos.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Como estão classificados os bens, de maneira geral?

2. O que caracteriza a natureza do bem livre?

3. O ser humano poderia viver unicamente de bens livres? Ele seria feliz se pudesse fazê-lo? Neste caso, como ficaria a Economia, enquanto ciência?

4. Como se classificam os bens econômicos, de maneira geral?

5. Cite um exemplo de bem intangível? Você se dedica a este tipo de atividade, conseguindo com o rendimento obtido a cada mês suprir todas as suas necessidades?

Quadro 2

CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS BENS

Bens Econômicos Bens

Livres

(água do

mar, luz do

sol etc.)

Bens Tangíveis Bens

Intangíveis

(serviços) Bens Finais Bens

Intermediários

(a cal, o cimento, o

ferro, o aço,

alumínio etc.)

Bens de Consumo

Bens de

Capital

(máquinas,

ferramentas

etc.)

Bens de

Consumo

Não-

duráveis

(alimentos,

artigos de

vestuário etc.)

Bens de

Consumo

Duráveis

(eletrodomésticos,

automóveis etc.)

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6. O que representam os bens finais? Esta denominação é apropriada para a maioria dos bens que você consome no seu dia-a-dia?

7. Quando foi sua última aquisição de um bem intermediário? O que você fez com ele?

8. Se você classificou corretamente o bem identificado na questão anterior, informe qual foi este bem e o resultado da sua incorporação no produto final, identificando este produto final na sua resposta.

9. Você está utilizando um bem de consumo durável neste exato momento? Qual é ele?

10. Qual ou quais os tipos de bens finais que podem ser considerados aqueles que dão mais impulso à atividade econômica? Por quê?

11. O que são “bens de capital”? Como também são conhecidos estes bens? Cite um exemplo.

12. O seu automóvel particular é um bem de consumo durável ou um bem de capital? O que o leva a cada uma destas classificações neste particular tipo de bem econômico?

13. Quando você utiliza o seu computador pessoal para uma atividade de aprimoramento de suas competências e habilidades, a qual categoria de bem econômico ele pertence? E se você o utilizasse para a elaboração de um balanço patrimonial de um cliente?

14. O trator que o agricultor utiliza na sua lavoura é um bem de capital? E quando ele o utiliza para levar a família à cidade?

15. Apenas uma das alternativas abaixo pode ser considerada correta, à luz da teoria abordada no presente tema:

a. Bem de capital representa a soma dos recursos financeiros de que o indivíduo dispõe para a satisfação de suas necessidades.

b. Bem intermediário significa aquele que é adquirido no comércio em geral, porque o comerciante é um intermediário entre a indústria e o consumidor.

c. Bens finais são aqueles que chegam ao consumidor final, ou seja, uma empresa ou um indivíduo que os utilizará para satisfação de uma necessidade.

d. Os bens de consumo duráveis constituem aqueles produtos que a indústria utiliza para a produção de eletrodomésticos em geral.

e. Os bens de consumo não duráveis são bens intermediários utilizados para a produção dos bens assalariados.

Resposta correta: alternativa c. A alternativa a se refere ao capital financeiro tão somente. Por sua vez, a alternativa b confunde a classificação do bem com a relação envolvida na sua comercialização. A alternativa d mescla a classificação do bem, levando à falsa idéia de que se trata de um bem intermediário, o mesmo acontecendo com a alternativa e. A alternativa c indica o conceito correto de um bem final.

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Tema 4

FLUXOS FUNDAMENTAIS

O funcionamento do sistema econômico caracteriza-se, de um lado, pela atividade de obtenção de recursos – ou fatores – de produção em si e, de outro, pela obtenção de meios financeiros e sua utilização. Caracterizam-se, portanto, dois mercados: o primeiro, de fatores de produção; o segundo, de bens e serviços finais.

A obtenção dos fatores de produção e a produção e distribuição dos bens e serviços constituem a atividade real da economia. Os indivíduos – que são os proprietários dos fatores de produção – fornecem às empresas – que são as produtoras de bens e serviços finais – os recursos de que elas necessitam para a produção de bens e serviços finais que irão satisfazer suas necessidades. Como contrapartida, as empresas remuneram os indivíduos, sob a forma de salários (quando o fator fornecido é a mão-de-obra), juros (quando se fornece capital de empréstimo para as empresas), lucros (quando o capital é cedido sob a forma de participação no empreendimento) e aluguéis (quando se cede imóvel, terreno ou mesmo máquinas para o exercício da atividade empresarial). Com estes recursos, os indivíduos pagam às empresas pelos bens e serviços finais adquiridos. Este processo de remuneração e pagamento caracteriza o lado monetário da economia.

Combinamos, na Figura 1, os fluxos real e monetário; pode-se nela visualizar a sua interdependência e a caracterização dos dois grandes mercados em que se fundamenta a organização econômica: o mercado de fatores – ou recursos – de produção e o mercado de bens e serviços, nas partes superior e inferior dos fluxos, respectivamente.

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Figura 3

Os fluxos real e monetário e os mercados de fatores de produção e de bens e serviços finais

A linha cheia, indicando o fornecimento de fatores de produção e o suprimento de bens e serviços finais, identifica o fluxo real. A linha pontilhada, por onde se dá a passagem da remuneração pelos fatores e o pagamento dos bens e serviços adquiridos, constitui o fluxo monetário.

Vazamentos e injeções no fluxo circular da renda a dois pólos

Nem todo o rendimento auferido pelos indivíduos ao fornecerem fatores de produção constitui base para o pagamento pelos bens e serviços adquiridos. Uma parte destes rendimentos pode ficar retida sob a forma de poupança — identificada pela letra S, do inglês saving, na maioria dos trabalhos acadêmicos que focalizam esta importante variável econômica. Este ato representa um vazamento de recursos

Unidades

Produtoras

(ou Empresas)

Unidades

Consumidoras

(ou Indivíduos)

Fornecimento de Fatores de Produção (capital, terra, trabalho, tecnologia, capacidade empresarial)

Suprimento de Bens e Serviços Finais

Remuneração pelos Fatores de Produção (salários, juros, lucros, aluguéis)

Pagamento pelos Bens e Serviços

MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO

MERCADO DE BENS E SERVIÇOS FINAIS

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financeiros do sistema, já que haverá produção que não será adquirida. Neste fluxo circular da renda a dois pólos — empresas e indivíduos —, as empresas também são poupadoras, na medida em que não utilizam todo o seu lucro para a aquisição de novos fatores de produção, juntando-se aos indivíduos poupadores.

Por outro lado, nem toda a produção de bens e serviços finais é destinada aos indivíduos. Uma parcela considerável dos bens e serviços produzidos é adquirida pelas próprias empresas, para constituírem seu ativo permanente, ou seja, a parcela dos ativos totais da empresa que compreendem o ativo imobilizado e os investimentos sob diversas formas, dentre outras rubricas. Estes dispêndios das empresas com aquisição de bens e serviços finais que irão ampliar seus ativos são considerados genericamente como investimentos no sentido econômico e não financeiro do termo, caracterizando, portanto, uma injeção, ou seja, uma entrada de recursos no fluxo circular da renda.

Diz-se que o sistema econômico está equilibrado quando os vazamentos são de mesma magnitude que as injeções, ou seja, quando a poupança S é igual ao investimento I, tal que

I = S

Reproduzimos a Figura 3, incorporando os vazamentos e a injeção, isto é, a poupança dos indivíduos e das empresas e os seus investimentos em ativos, conforme apontado na Figura 4.

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Figura 4

Os fluxos real e monetário e os mercados de fatores de produção e de bens e serviços finais, com incorporação da poupança (S) e dos investimentos (I)

SUMÁRIO DO TEMA

Este tema abordou o fluxo circular da renda em sua mais simples versão: a de dois pólos, onde se situam as empresas e os indivíduos, como agentes econômicos que interagem na produção e distribuição de fatores de produção e bens e serviços finais.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. O que caracteriza um mercado de fatores de produção, no entendimento do fluxo circular da renda?

Unidades

Consumidoras

(ou Indivíduos)

Fornecimento de Fatores de Produção (capital, terra, trabalho, tecnologia, capacidade empresarial)

Suprimento de Bens e Serviços Finais

Remuneração pelos Fatores de Produção (salários, juros, lucros, aluguéis)

Pagamento pelos Bens e Serviços

MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO

MERCADO DE BENS E SERVIÇOS FINAIS

S Unidades

Produtoras

(ou Empresas)

I

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2. Quais as características de um mercado de bens e serviços finais na interpretação do fluxo circular da renda?

3. O fornecimento de fatores de produção pelos seus proprietários e a aquisição dos mesmos pelas empresas caracteriza uma oferta de produtos e serviços? Justifique sua resposta.

4. E quando a empresa fornece bens e serviços aos indivíduos, este também constitui um ato de oferta? Por quê?

5. O que se convencionou chamar de “atividade real da economia”?

6. O que é fluxo real, no contexto do fluxo circular da renda?

7. Os movimentos de moeda são caracterizados por qual dos fluxos? Explique-os.

8. Segundo os conceitos compreendidos no fluxo circular da renda, o que é fluxo monetário?

9. Quando um capitalista injeta capital financeiro numa empresa, ele está agindo em qual dos dois tipos de mercados: de fatores ou de bens e serviços finais? Por quê?

10. As empresas também adquirem bens e serviços finais. Como se chama este processo, no contexto do fluxo circular da renda?

11. O que mantém o sistema econômico em equilíbrio, na abordagem do fluxo real e monetário?

12. Qual a contrapartida em termos monetários ao fornecimento de mão-de-obra direta?

13. Como se denomina a renda auferida por um indivíduo que aportou capital financeiro — e somente capital financeiro — numa determinada empresa, sob a forma de empréstimo a longo prazo?

14. E o que representa a remuneração para um sócio do empreendimento, ao final do período contábil da empresa?

15. No tocante ao funcionamento do sistema econômico, o fluxo real descreve: a. a quantidade de fatores de produção que são vitais para o suprimento de

bens e serviços de que a sociedade necessita; b. a entrada de fatores e a saída de materiais do estoque das empresas; c. as relações entre os proprietários de recursos e as unidades mobilizadoras

destes recursos; d. os movimentos de moeda e sua destinação e uso; e. o fornecimento de fatores de produção e sua remuneração.

Resposta correta: alternativa c. Vejamos por que: a alternativa a fala em quantidade de fatores. Ora. O fluxo real não aponta quantidade de fatores, mas, sim, a entrada e saída de recursos, independentemente de sua quantidade. A alternativa b se refere ao estoque das empresas e não ao fluxo. Por sua vez, a alternativa d tem a ver com o fluxo monetário, que também está envolvido na alternativa e. A alternativa c aborda as relações daqueles que detém a propriedade dos fatores de produção (capital, terra, trabalho, tecnologia, capacidade empresarial), que são as famílias ou indivíduos, e, no outro pólo, aqueles que demandam estes fatores, transformando-os em bens e serviços, que são as empresas.

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Tema 5

QUESTÕES CENTRAIS DA ECONOMIA

O dilema traduzido pelo confronto entre recursos de produção escassos e necessidades humanas ilimitadas implica a existência de três questões fundamentais que a economia trata de responder, enquanto ciência:

Quê e quanto produzir?

Como produzir?

Para quem produzir?

Compete à ciência econômica, como sua mais importante função, reunir um máximo de informações que possibilite completo diagnóstico da relevância de cada um destes problemas e suas diversas formas de solução. Esta é, na realidade, a própria razão de ser deste ramo de conhecimento.

Mas, se à Economia compete a elucidação ou equacionamento dos problemas, a aplicação das recomendações para a solução compete à comunidade, dado que, na maioria das vezes, intervêm fatores de natureza social, política, histórica, física, tecnológica etc., de influência decisiva sobre o resultado.

Examinemos mais detalhadamente cada uma das questões:

Quê e quanto produzir?

Dada a escassez dos fatores de produção, a resposta a esta indagação deve considerar que, ao mesmo tempo em que se decide pela produção de determinado bem, se estará decidindo pela não-produção de outro bem. Assim, a terra destinada ao plantio da cana-de-açúcar não poderá ser utilizada para a produção de alimentos. Então, a produção de álcool derivada da cana-de-açúcar implica a não-produção de alimentos naquela porção de terra utilizada para o cultivo da cana-de-açúcar. A contribuição da análise econômica à questão “quê e quanto produzir” localiza-se no conhecimento das máximas possibilidades econômicas de produção estabelecidas pelas “curvas de possibilidades de produção”. Vejamos este conceito mais de perto.

Imagine que, em dada região ou país, a utilização dos recursos disponíveis – capital, terra, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial – para a produção de dois bens, que chamaremos de alfa e beta, possibilitaria as seguintes quantidades:

Tabela 1

Possibilidades de Produção, conhecidos os fatores.

Alternativa Quando a produção do bem alfa é... ...a produção do bem beta é...

A 0 20

B 1 19

C 2 17

D 3 13

E 4 8

F 5 0

A ciência econômica, como tantas outras, lança mão de técnicas desenvolvidas por outras áreas do conhecimento científico para auxiliar na demonstração de certos

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fatos econômicos. Assim, a representação gráfica em duas dimensões – um eixo dos x, considerada a primeira variável, e um eixo dos y, a segunda variável – , utilizando dados econômicos observados ou idealizados, será um instrumento de apoio de fundamental importância na apresentação das questões econômicas. Assim sendo, se dispusermos os dados da Tabela 1 numa representação gráfica de duas dimensões, tal que as quantidades do bem beta estejam demonstradas no eixo dos y e as quantidades do bem alfa no eixo dos x.

Vamos, portanto, juntar as informações desta tabela num gráfico composto por uma abscissa — o eixo dos x — e uma ordenada — o eixo dos y —, ou seja, as quantidades do bem alfa no eixo horizontal (abscissa) e quantidades do bem beta no eixo vertical (ordenada). Desta forma, utilizando este sistema de coordenadas cartesianas1, poderemos posicionar as alternativas A, B, C, D, E e F num plano.

Gráfico 1

Disposição dos dados

Unindo-se os pontos A a F, que representam as alternativas constantes da Tabela 1, tem-se a Curva de Possibilidades de Produção (CPP). Trata-se de uma construção extremamente simples, que revela as escolhas que são oferecidas à sociedade em função da limitação dos recursos. O exame atento dos pontos A a F no gráfico permite a constatação de um decréscimo na produção do bem beta, na medida em que aumenta a produção do bem alfa. No ponto A, todos os fatores são utilizados para a produção do bem beta. No outro extremo, quando todos os fatores são alocados para a produção do bem alfa, nenhuma unidade de beta pode ser produzida. Entre estes dois extremos existem pontos intermediários que revelam a

1 Descartes, filósofo e matemático francês (1596-1650) imaginou um sistema de eixos onde se pudessem localizar pontos do plano, através de dois números (as coordenadas) ou, dado um ponto, fazer-lhe corresponder um par de números. Normalmente usa-se um sistema de eixos perpendiculares e que utilizam a mesma escala (sistema ortonormado). Assim teremos o par (3, 2) onde 3 representa a abscissa e 2 a ordenada. O par diz-se ordenado por sempre estar escrito na forma (abscissa, ordenada).

Bem beta

Bem alfa

5

0

10

15

20

1 2 3 4 5

A B

C

F

D

E

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Economia de Empresas Capítulo 1 – A natureza do problema econômico 22/29

escassez dos recursos e, como conseqüência, a imperiosidade de sacrifício de unidades de produção de um bem quando se aumenta a produção de outro bem.

Gráfico 2

Traçado da curva de possibilidades de produção

A CPP é uma demonstração dos limites máximos de produção possível de dois bens. Na realidade, a produção pode ficar aquém desta fronteira. É o caso demonstrado no ponto U do Gráfico 3. Neste ponto, não estão sendo empregados todos os recursos disponíveis, havendo, portanto, desemprego de fatores. Por conseguinte, o pleno-emprego se dá sobre a CPP, que indica a fronteira das possibilidades de produção, com os recursos conhecidos. Assim, os pontos localizados “dentro” da curva representam situações em que os recursos não estão sendo administrados de forma eficiente. Observa-se, no Gráfico 3, que, se a economia estiver operando no ponto U – e, portanto, com ociosidade de fatores, ou seja, com fatores que não estão devidamente aproveitados – é possível expandir a produção do bem beta, ou do bem alfa ou, ainda, uma combinação de ambos, até os limites das possibilidades de produção, indicado pela CPP.

Bem beta

Bem alfa

5

0

10

15

20

1 2 3 4 5

A B

C

F

D

E

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Gráfico 3

Curva de possibilidades de produção e o desemprego de fatores

Sendo a CPP uma indicação das fronteiras, isto é, da produção máxima de dois bens com dado volume de recursos, não é possível admitir pontos “fora” da curva. Mas, o que se observa na realidade é um deslocamento da CPP para cima e para a direita, denotando crescimento da produção decorrente de alterações positivas na composição e no volume dos fatores de produção. Estas alterações geralmente acontecem como decorrência de um aumento na quantidade do fator capital, uma melhoria qualitativa na força de trabalho, e, ainda, do progresso tecnológico, responsável por novos métodos de produção. Este deslocamento é demonstrado no Gráfico 4. Evidentemente, uma diminuição de fatores de produção pode levar a um deslocamento da CPP para a esquerda, o que constitui uma anormalidade no funcionamento de todo o sistema econômico. Uma guerra ou uma epidemia, por exemplo, podem causar grande redução na quantidade e qualidade do fator mão-de-obra, por exemplo.

Bem beta

Bem alfa

5

0

10

15

20

1 2 3 4 5

A B

C

F

D

E

U

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Gráfico 4

Deslocamento da CPP em função de alterações nos fatores de produção

A análise da CPP conduz a duas importantes constatações: a primeira delas diz respeito ao custo de oportunidade, isto é, à renúncia ou sacrifício de um bem em prol da obtenção de outro. Assim, o custo de oportunidade para a obtenção da primeira unidade do bem alfa é uma unidade do bem beta, conforme se pode deduzir da Tabela 2. A obtenção da segunda unidade de alfa leva ao sacrifício de mais duas unidades de beta; a terceira unidade de alfa exige um custo de oportunidade de mais quatro unidades de beta, e assim por diante. Ao final, para a

produção da quinta unidade de alfa, deverão ser sacrificadas mais oito unidades de beta. Este custo de oportunidade no caso específico de opções entre cada alternativa de produção de alfa e beta está demonstrado no Gráfico 5.

Bem beta

Bem alfa

5

0

10

15

20

1 2 3 4 5

O custo de oportunidade é um importante conceito em economia. Também é conhecido por “custo do economista”. Significa que, em dadas circunstâncias, como, por exemplo, ao montar um escritório de representação em um imóvel próprio, existirá um custo de oportunidade

retratado pela possibilidade de alugar o imóvel. Assim sendo, a renda que deverá ser auferida pelo empreendimento deverá considerar o que se receberia como aluguel como determinante do retorno mínimo idealizado pelo negócio. Voltaremos a este conceito quanto tratarmos dos custos de produção e/ou comercialização.

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Tabela 2

Custo de oportunidade

Alternativa Quando a produção do

bem alfa é...

...a produção do bem

beta é...

... e o custo de

oportunidade (em

unidades de beta) é...

A 0 20

B 1 19 1

C 2 17 2

D 3 13 4

E 4 8 5

F 5 0 8

Gráfico 5 Custo de oportunidade

Bem beta

Bem alfa

5

0

10

15

20

1 2 3 4 5

1

2

5

4

8

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A segunda constatação leva à lei dos rendimentos decrescentes. Conforme foi visto, uma expansão dos fatores de produção leva a deslocamentos positivos da CPP. Se, no entanto, se mantiver constante um ou mais recursos físicos, os aumentos nas possibilidades de produção serão menos que proporcionais, tornando-se decrescentes ou mesmo nulos a partir de certo nível. Em outras palavras, a lei dos rendimentos decrescentes baseia-se na impossibilidade de uma expansão de todos os fatores de produção na mesma intensidade. Se apenas um dos fatores permanecer constante, aumentando-se os demais, a produção apresentará menor taxa de crescimento a cada estágio. Suponhamos, num primeiro momento, que, como resultado da utilização de

100 unidades do fator terra

300 unidades do fator capital

50 unidades do fator trabalho

obtém-se

30 unidades do bem alfa e

40 unidades do bem beta.

Num segundo momento, mantendo-se constante a quantidade do fator terra e incrementando-se o capital e a mão-de-obra para 360 e 60 unidades, respectivamente, a possibilidade de produção passa para 35 e 45 unidades de alfa e beta. Observa-se que, para um aumento de 20% nos fatores, a possibilidade de produção cresce aproximadamente 17%. Num terceiro momento, utilizando-se

100 unidades do fator terra

430 unidades do fator capital

70 unidades do fator trabalho

a possibilidade de produção atinge

38 unidades do bem alfa e

48 unidades do bem beta.

Nesta simulação, a um novo aumento de 20% nos fatores capital e trabalho, mantendo constante o fator terra, as possibilidades de produção aumentam em menos de 9%.

Vejamos, a seguir, a segunda das questões centrais da economia:

Como produzir?

Trata-se, aqui, de uma questão relacionada às possibilidades tecnológicas de produção. Competirá à sociedade como um todo a adoção de técnicas de produção que procurem combinar, da forma mais adequada possível, seus recursos humanos e patrimoniais. Atenção especial deve ser dedicada à absorção da tecnologia, tal que a penetração da técnica no aparelho produtivo não implique desperdício do potencial humano e, por outro lado, a sociedade não deverá recusar o emprego de técnicas que possam significar aumento da eficiência produtiva.

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Para quem produzir?

A terceira questão fundamental que a economia busca responder é a que merece maior atenção por parte da política econômica. Consiste em decidir de que forma será distribuída, por toda a sociedade, a produção obtida. Em termos atualmente mais corriqueiros, esta questão visa solucionar o problema da distribuição da renda. A participação da sociedade na determinação do produto deve estender-se igualmente à determinação da distribuição mais justa dos bens, superando o desnível que se verifica em muitas regiões do planeta, quando uma grande escassez de bens contrasta com a acumulação evidente em outros setores. É importante destacar que foi este desnível a causa que promoveu as lutas de classes sociais consubstanciadas nos acontecimentos mais importantes dos últimos tempos.

Tem-se, portanto, que, do ponto de vista da economia, o ideal seria a adequada combinação entre uma estrutura produtiva eficiente – obtida por meio de uma solução ótima às questões “quê e quanto produzir” e “como produzir” – e a justa e efetiva distribuição da produção, solucionando, de forma eficaz, o problema “para quem produzir”. A Figura 2 ilustra esta visão.

A economia de mercado e as questões centrais da economia

Numa economia de mercado impera a propriedade privada dos meios de produção, ao lado de decisões sobre “quê e quanto produzir” fundamentadas no mercado e nos preços. As empresas estariam dispostas a oferecer seus produtos à medida que houvesse possibilidades efetivas de obtenção de lucros, um dos grandes determinantes de uma filosofia liberal.

A perspectiva de lucro resume-se, portanto, à oferta de bens no mercado. Essa oferta seria orientada pela demanda de bens que suprissem as necessidades dos indivíduos. É de se supor, então, que o livre jogo da oferta e da procura, em que imperasse a livre concorrência, seria fundamental para a operação da atividade econômica. Nestas circunstâncias, a intervenção do Estado seria perturbadora e prejudicial. Ao Estado competiria zelar pelo livre funcionamento do mecanismo dos preços e do mercado, sem interferir em nenhum aspecto da produção.

Neste sistema, a decisão sobre “quê e quanto produzir” seria tomada pelos consumidores e produtores; a decisão sobre o “como produzir” seria determinada pela competição entre os produtores, em busca de maior produtividade e redução dos custos; a questão sobre “para quem produzir” seria solucionada pela capacidade de aquisição dos bens produzidos, isto é, cada indivíduo irá apossar-se da quantidade de bens e serviços conforme sua disponibilidade de recursos financeiros.

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Figura 2

Combinação ideal entre produção e distribuição

SUMÁRIO DO TEMA

O tema focalizou as questões centrais da economia “quê e quanto produzir”, “como produzir” e “para quem produzir” e a forma como a economia de mercado responde cada uma destas questões. De passagem, abordou a curva de possibilidades de produção e a lei dos rendimentos decrescentes, dois conceitos de importância fundamental no estabelecimento e compreensão de uma política econômica.

QUESTÕES PARA REVISÃO

1. Quais as questões fundamentais que a economia, enquanto ciência, procura responder?

2. O que se pode entender pela questão “quê e quanto produzir”?

3. Qual o significado da questão “como produzir”?

4. Explique o conceito que envolve a questão fundamental da economia “para quem produzir”?

5. O que se entende por “conhecimento das máximas possibilidades de produção”?

6. O que é um sistema de coordenadas cartesianas, na compreensão da curva de possibilidades de produção (CPP)?

7. Quantas variáveis estão compreendidas na CPP? Dê um exemplo destas variáveis.

8. Qual o significado da CPP?

9. O que se entende por uma economia operando com ociosidade de fatores?

10. De que maneira uma economia pode aumentar suas possibilidades de produção?

Estrutura

produtiva eficiente

Justa e efetiva distribuição da

produção

Solução ótima às questões “quê e quanto produzir”,

“como produzir” e “para quem produzir”

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11. As possibilidades de produção de uma economia podem ser reduzidas em algum momento? Como se demonstra este fenômeno graficamente?

12. Como se explica uma redução das possibilidades de produção? Cite um exemplo.

13. O que é custo de oportunidade?

14. Em seu dia-a-dia você consegue identificar um custo de oportunidade em sua profissão?

15. As curvas de possibilidades de produção mostram a. a quantidade total de bens existentes na economia. b. quanto se pode produzir de bens utilizando as quantidades de trabalho. c. quanto se pode produzir de bens utilizando todos os recursos da

economia dada uma tecnologia. d. se há desemprego de recursos. e. a ociosidade dos fatores de produção.

Resposta correta: alternativa d. A alternativa a aponta para uma indicação de que a curva de possibilidades de produção já indicaria qual a quantidade total de bens da economia, ao invés da possibilidade de produção. A alternativa b relaciona a quantidade de bens com a quantidade de um único fator, o trabalho. A alternativa d fala em desemprego de recursos, o que se dá no espaço interno determinado pela fronteira das possibilidades de produção, no limite da curva de possibilidades de produção. E, finalmente, a alternativa e também se refere a um ponto no interior da curva. A alternativa c indica corretamente a relação entre os fatores de produção e os limites das possibilidades de produção da economia.