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CAPITALISMO BRASILEIRO EM CRISE Eduardo Costa Pinto Professor do Instituto de Economia da UFRJ Salvador, 2016

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CAPITALISMO BRASILEIRO EM CRISE

Eduardo Costa Pinto

Professor do Instituto de Economia da UFRJ

Salvador, 2016

Estrutura

•Parte I – Fatos econômicos, políticos e institucionais do momento atual: CRISE, CRISE...

•Parte II – Crise econômica (de acumulação)

•Parte III – Crise Política e Institucional: ruptura da relação entre o Privado e o Público

•Parte IV – Perspectivas de curto e longo prazo?

1. Fatos econômicos, políticos e institucionais do momento atual: CRISE, CRISE, ....

Desaceleração econômica com manutenção do emprego e renda ao longo do 1º governo Dilma;

Em 2015, forte queda do PIB, dos investimentos e do consumo das famílias, do emprego e dos rendimentos reais;

Variação anual do PIB e de seus componentes (%)

Fonte: IBGE

4,0 6,1 5,1 -0,1 7,5 3,91,9

3,0 0,1 -3,8

6,7

12,0 12,3

-2,1

17,9

6,7

0,8

5,8

-4,5

-14,1-15,0

-10,0

-5,0

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

PIB FBCF

Variação do PIB e de seus componentes (%)

Fonte: IBGE

4,0 6,1 5,1 -0,1 7,5 3,9 1,9 3,00,1 -3,8

5,3

6,4 6,5

4,5

6,2

4,7

3,5 3,5

1,3

-4,0

3,64,1

2,02,9

3,9

2,2 2,31,5

1,2

-1,0

-5,0

-3,0

-1,0

1,0

3,0

5,0

7,0

9,0

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

PIB Consumo das familias Consumo do governo

Rendimento médio real efetivo, salário real médio

(indústria/SP) e salário mínimo real – 2007 a 2015

(2006=100).

Fonte: Ipeadata

104108

111 115

119

124127

131

126

102 102105 106 105 106

110107

104

106109

117

123 124

134137 138 138

90

95

100

105

110

115

120

125

130

135

140

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Rendimento médio real efetivo - pessoas ocupadas

Salário real - médio - indústria - SP

Salário mínimo real

1. Fatos econômicos, políticos e institucionais do momento atual: CRISE,

CRISE, ....

Desaceleração da lucratividade das empresas entre 2011 e 2014, exceto do setor financeiro, e forte queda em 2015

Fim da bonança internacional (com forte reversão dos termos de troca)

Rentabilidade sobre o patrimônio líquido/ROE (%) – 500

maiores empresas, setor bancário-financeiro, indústria

de transformação e 6 maiores construtoras – 2007 a 2014

Fonte: Pinto et. al. (2016)

Rentabilidade sobre o patrimônio líquido/ROE

(%) – 2007 a 2014; média anual

Fonte: Base de dados própria, a partir das informações da Revista

Exame (Maiores e Melhores)

Lucro de empresas de capital aberto brasileiras 2014 e 2015

Fonte: Economatica. Disponível em https://economatica.com/

Valor %

25 Bancos 54,94 70,52 15,58 28

14 Alimentos e bebidas 16,36 20,24 3,89 24

10 Química 2,08 4,05 1,97 95

4 Seguradora 4,92 5,99 1,07 22

5 Software e dados 3,56 3,79 0,22 6

5 Máquinas Industriais 0,89 1,01 0,13 15

3 Agropecuária e Pesca -0,21 -0,16 0,05 -25

3 Minerais não metálicos 0,2 0,09 -0,11 -55

17 Têxtil 1,45 1,29 -0,17 -11

6 Educação 1,85 1,5 -0,35 -19

4 Eletroeletrônicos 1,01 0,32 -0,69 -69

5 Água, esgoto e outros sistemas 1,74 0,91 -0,83 -48

12 Veículos e peças 0,96 -0,31 -1,27 -133

6 Telecomunicações 1,62 0,03 -1,59 -98

9 Locadora de imóveis 1,65 -0,35 -2 -121

5 Papel e Celulose 0,71 -1,92 -2,63 -368

Continuação

Quantidade de

empresasSetor

Lucro Líquidos R$ bilhões

2014 2015Variação

Lucro de empresas de capital aberto brasileiras 2014 e 2015

Fonte: Economatica. Disponível em https://economatica.com/

Valor %

17 Construção 0,9 -1,76 -2,66 -295

17 Comércio 3,29 0,46 -2,83 -86

54 Outros 3,74 0,78 -2,97 -79

13 Transporte e serviços 1 -3,57 -4,57 -456

18 Siderurgia e Metalurgia 0,99 -6,5 -7,49 -756

34 Energia Elétrica 9,31 -2,58 -11,88 -128

7 Petróleo e Gás -1,7 -34,64 -32,94 1935

4 Mineração -1,39 -45,19 -43,8 3151

297 Total Geral 109,88 14,01 -95,87 -87

25 Bancos 54,94 70,52 15,58 28

272 Total geral sem bancos 54,94 -56,52 -111,45 -203

Vale Mineração 0,95 -44,21 1,97 -4733

Petrobras Petróleo e Gás -21,59 -34,84 -32,94 1935

Eletrobras Energia Elétrica -3,03 -14,44 0,22 376

3 Total Geral Vale, Petro e Eletrobras -23,66 -23,82 3,27 1

269Total Geral sem Vale, Petro,

Eletrobras e bancos78,6 -32,7 -114,72 -142

Continuação

Quantidade de

empresasSetor

Lucro Líquidos R$ bilhões

2014 2015Variação

Variação de preços das commodities (energia,

mineral e cereais) mercado: 2000-2015

Fuente: FMI

1. Fatos econômicos e políticos estilizados do momento atual: CRISE, CRISE, ....

Desarticulação governamental na cena política

Fim da frente política desenvolvimentista instável (jogo de ganha-ganha)

“Operação Lava Jato”

1. Fatos econômicos e políticos estilizados do momento atual: CRISE, CRISE, ....

Completa descoordenação e guerras fratricidas (judiciário, supremo, MPF, República do Paraná)

Dificuldade em apresentar rumos (governo e oposição) para a Nação;

Impeachment da presidenta Dilma

Instabilidade do governo Temer

A crise se tornou maior do que os atuais instrumentos econômicos e políticos de geri-la.

2. Crise econômica (de acumulação)

O menor dinamismo entre 2011 e 2014 e a crise de 2015 podem ser explicados por dois fatores:

Pelos efeitos da crise internacional (“novo normal”);

Por duas apostas ariscadas na gestão macroeconômica:

1) priorização do investimento privado em detrimento do investimento da administração pública no 1º governo Dilma;

2) o ajuste fiscal em 2015

Efeito do “novo normal” da economia mundial

Reversão dos termos de troca do Brasil (queda de 10,9% entre 2011 e 2014);

Ônus macroeconômico direto sobre o balanço de pagamento e sobre a renda agregada;

Ônus macroeconômico indireto sobre o investimento da indústria de commodities intensivos em capital (Petróleo e Gás, Siderurgia, Papel e Celulose, Mineração, etc.)

Primeira aposta equivocada: priorização do investimento privado em detrimento do investimento público

• A redução das taxas de juros Selic (de 12,5% em agosto de 2011 para 7,25% em abril de 2013)

• Gestão cambial com bandas não explicitas, buscando desvalorizar nominalmente o real

• Desonerações e de subsídios (que saltou de 0,2% do PIB em 2009 para 1% do PIB em 2014) para as grandes empresas industrias

Primeira aposta equivocada: priorização do investimento privado em detrimento do investimento público

• Reformas no setor elétrico com o objetivo de reduzir o preço da energia;

• Ampliação de concessões públicas de serviços de transporte (portos, rodovias, ferrovias, aeroportos, etc) com reduções nas taxas de rentabilidades.

Variação real da Formação Bruta de Capital Fixo e seus componentes (variação média anual %)

Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE e de Orair (2015)

2011.4 2012.1 2012.2 2012.3 2012.4 2013.1 2013.2 2013.3 2013.4 2014.1 2014.2 2014.3 2014.4 2015.1 2015.2 2015.3 2015.4

NUCI -0,1% -1,1% -1,3% -1,7% -1,4% -0,6% 0,0% 0,6% 0,4% -0,1% -0,9% -1,3% -1,5% -1,7% -1,4% -2,2% -2,9%

FBCF 6,7% 5,5% 3,8% 1,9% 0,8% 0,8% 2,6% 4,9% 5,8% 6,1% 2,2% -1,7% -4,5% -7,8% -9,3% -11,2% -14,1%

Consumo das Famílias 4,7% 3,9% 2,9% 2,9% 3,5% 3,8% 4,3% 4,2% 3,5% 3,2% 2,3% 1,5% 1,3% 0,3% -0,6% -1,8% -4,0%

Importações 9,4% 8,1% 5,2% 2,0% 0,7% 1,0% 2,2% 6,8% 7,2% 5,8% 3,3% 0,9% -1,0% -2,5% -4,6% -10,4% -14,3%

-15,0%

-10,0%

-5,0%

0,0%

5,0%

10,0%

Fonte: IBGE

Variação do PIB e seus componentes trimestre contra trimestre do ano anterior (acumulado em 4 trimestre; %)

Segunda aposta equivocada: ajuste fiscal de 2015

Forte ajuste fiscal em 2015 (redução dos

gastos e investimentos)

Redução dos investimentos da Petrobras

Fonte: IBGE

Variação real da Formação Bruta de Capital Fixo e seus

componentes (valores em média anual %)

Crise de acumulação

Aumento do conflito entre capital e

trabalho;

Problemas na realização (demanda

efetiva) em decorrência da redução dos

componentes autônomos da demanda

(gastos e investimentos públicos) num

contexto de desaceleração cíclica

3. Crise Política e Institucional: ruptura da relação entre o Privado e Público

A condução da gestão política da presidenta Dilma (weberianismo tacanho)

Desarticulação governamental na cena política

A crise é do presidencialismo de coalização?

3. Crise Política e Institucional: ruptura da relação entre o Privado e Público

O PT deixou de ser funcional a ordem:

Impossibilidade de manter o lulismo (jogo de

ganha-ganha) num contexto de piora externa

e aumento do conflito distributivo (aumento do

salários e queda dos lucros)

Dificuldade do PT em controlar as ruas após

as manifestações de 2013

3. Crise Política e Institucional: ruptura da relação entre o Privado e Público

“Operação lava jato” (MPF, “República do

Paraná”, Judiciário) e a relação entre

público e privado;

Sempre existe uma área cinzenta/relação

contraditória entre o público (Estado e sua

burocracia) e o privado (grandes

corporações)

3. Crise Política e Institucional: ruptura da relação entre o Privado e Público

A Operação lava jato expôs a relação entre o Estado (e sua burocracia), o sistema partidários (cena política) e as frações do capital (grandes corporações) do capitalismo brasileiro, marcado historicamente pelas relações não republicanas entre financiamento de campanha partidária, obras públicas e mudanças regulatórias em prol dos interesses privados.

3. Crise Política e Institucional: ruptura da relação entre o Privado e Público

A Operação lava jato desestruturou o tipo de relação histórica entre o privado (grandes empresas nacionais e estrangeiras – bloco no poder) e o público (Estado) no capitalismo brasileiro

Não há sinais do restabelecimento da relação entre o público e o privado

3. Ruptura da relação entre o Privado e Público: O 18 Brumário tupiniquim

Ao expor a relação entre o público e o

privado a lava jato abriu a "caixa de

pandora“ do capitalismo brasileiro

Vivemos uma período de completa

descoordenação e de guerras fratricidas

(judiciários, supremo, MPF, República do

Paraná, grande meios de comunicação, bloco no poder e a cena política)

3. Ruptura da relação entre o Privado e Público: O 18 Brumário tupiniquim

Lava Jato: MPF e a “República do Paraná”

(weberianismo messiânico)

O Papel da meios de comunicação

(vazamentos e poder)

Supremo e o seu coronel: Gilmar o

intimidador

3. Ruptura da relação entre o Privado e Público: O 18 Brumário tupiniquim

Desarticulação da cena política: cada

partido ou agente político querendo se

salvar da lava jato

Desarticulação do bloco no poder (frações

empresariais)

Reconfiguração do capitalismo brasileiro

3. Ruptura da relação entre o Privado e Público: O 18 Brumário tupiniquim

A lava jato virou o rubicão. Isso implica:

pegar vários partidos (cena política) e

também de parte dos capitalistas brasileiro.

criar uma situação de instabilidade recorrente

e trava o que o Temer prometeu ao bloco no

poder: reduzir o custo da força de trabalho e

a atuação do estado (via reformas

constitucionais do trabalho, da previdência,

da terceirização…)

em manter travado o processo de

acumulação

3. Ruptura da relação entre o Privado e Público: O 18 Brumário tupiniquim

Enquanto a lava jato estiver em operação as

relações entre o privado e o público não serão

estabelecidas

A incerteza atual é muito mais jurídica e

institucional do que econômica (estimativa da

rentabilidade futura);

Os empresários estão preocupados se

determinada forma de atuação (investimentos,

relação com o Estado, etc.) pode gerar anos de

cadeia.

Perspectivas

Cenários de curto prazo:

Impeachment, letargia governamental e

instabilidade do governo Temer

Cenários de médio e longo prazo:

novas rodadas de reformas neoliberais e

reestruturação do capitalismo brasileira

Dificuldades econômicas e políticas para

destravar a acumulação

Quais pontes serão construídas?