capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

154
Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais Aplicadas Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras Flavio L. Richieri São Paulo 2007

Upload: vanngoc

Post on 07-Jan-2017

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais Aplicadas

Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas

Capital intelectual e a criação de valor nas empresas

brasileiras

Flavio L. Richieri

São Paulo 2007

Page 2: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

Flavio L. Richieri

CAPITAL INTELECTUAL E A CRIAÇÃO DE VALOR NAS EMPRESAS BRASILEIRAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Fernando Cruz Basso

São Paulo 2007

Page 3: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

FICHA CATALOGRÁFICA

Richieri, Flavio L.

Capital Intelectual e a criação de valor nas empresas Brasileiras / Flavio Luiz Richieri -- São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007.

Nnn f.; 30 cm. Dissertação – Mestrado Bibliografia 1. Administração de empresas 2. Capital intelectual 3. Ativos intangíveis 4.

Gestão do conhecimento 5. Geração de valor. I. Título.

CDD – 658

Page 4: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor Dr. Manasses Claudino Fontelis

Coordenadora Geral da Pós-Graduação

Professora Dra. Sandra Maria Dotto Stump

Diretor da Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Professor Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes

Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Administração

de Empresas Prof. Dra. Eliane Pereira Zamith Brito

Page 5: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

Dedico esta dissertação à minha esposa, cúmplice

e eterna companheira Kátia e às minhas amadas

filhas, Bheatriz e Júlia. Vocês são meu porto

seguro e minha maior fonte de força e

inspiração.

Page 6: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

AGRADECIMENTOS

“Sinto que da vida, eu sempre recebi muito mais do que sonhei !”

Esta frase, que ouvi há pouco tempo, quando um amigo recebia uma homenagem,

reflete exatamente como me sinto neste momento. Não creio que haja no mundo pessoa com

mais a agradecer do que eu !

Portanto, quero aqui, de coração, agradecer:

A Deus por uma vida cheia de paz, saúde, amor, realizações, desafios e,

aprendizagem.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Leonardo F. C. Basso por seu irrestrito apoio,

conhecimento, entusiasmo, paciência e confiança.

Aos professores Dr. Diógenes L. Martin e Dr. Rubens Famá, cujas recomendações

durante o processo de qualificação foram fundamentais ao desenvolvimento desta pesquisa, e

o apoio durante a fase de análise dos dados foi inestimável.

A toda equipe do Mackenzie pelo suporte e pelos ensinamentos, em especial, aos

professores Dr. Wilson T. Nakamura, Dr. Eduardo K. Kayo e Dra. Eliane P. Z. Brito.

A todos os colegas de curso com que tive a honra de conviver, dividindo alegrias,

angústias e realizações. Dentre eles, minha admiração e um obrigado muito especial para:

Eduardo, Rogério, Celso, Cardoso, Alexandre, Necésio e Kerr.

Aos amigos: Élcio, Sidney, Regina, Rodolpho, Richard, e ao meu irmão Fernando. As

várias conversas com cada um de vocês, o incentivo que recebi de vocês, além das suas

críticas e sugestões, foram vitais para a realização deste trabalho.

Aos senseis Ono Shihan, Lila e Ricardo, que através do caminho do budo, nesses mais

de 16 anos de treinamento, tem me ensinado sempre o valor do refinamento, da disciplina e da

persistência.

Aos meus pais Sérgio e Teresa, aos meus padrinhos Tizano e Lizete e aos meus avós

Lauro e Custódia, que se constituem na base da minha formação como indivíduo, que sempre

me apoiaram, e, desde cedo, me ensinaram através de seu exemplo, o valor da educação, da

integridade e da responsabilidade.

Em especial, à minha esposa Kátia e às minhas filhas, Bheatriz e Júlia, por entenderem

a minha ausência e as limitações que esse processo impôs à família, e por estarem sempre ao

meu lado me aceitando, incentivando e amando.

Page 7: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

“A sabedoria tem início na

curiosidade”

Sócrates

Page 8: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

RESUMO

As evidências apontam para uma participação crescente do capital intelectual e dos

ativos intangíveis na economia. Esse fato torna crítico encontrar formas para medir o capital

intelectual das empresas e entender a relação deste com a criação de valor das mesmas.

Afetando assim, não apenas os gestores, que possuem um acesso diferenciado e abrangente

aos diversos aspectos operacionais das empresas, mas principalmente, os investidores e

demais partes interessadas externas às empresas. Para os últimos, a construção de índices

capazes de medir capital intelectual da empresa, desenvolvidos com base em informações

financeiras e contábeis disponíveis, e o estudo da associação desses índices, com a geração de

valor das empresas, podem fornecer uma perspectiva nova e fundamental para a análise de

investimentos em empresas intensivas em capital intelectual. Esta dissertação faz uso do CIV

(Calculated Intangible Value) e do ICE (Intelectual Capital Efficiency), como medidas de

estoque e fluxo de capital intelectual respectivamente. Através de tratamento estatístico por

regressões multivariadas, e do uso de modelos estáticos de dados em painel (panel data),

efetua-se a análise da influência desses índices de capital intelectual, na geração de valor das

empresas, aqui medida através dos índices de: ROE (retorno sobre patrimônio líquido); ROA

(retorno sobre ativos) e ROS (retorno sobre vendas). O estudo é feito com base numa amostra

não probabilística, utilizando dados secundários provenientes da base de dados do anuário

“Maiores e Melhores” da revista Exame e contendo 628 observações relativas a 237 empresas

no período entre 2000 e 2005. Responde-se assim à questão: Qual é a relação entre o estoque

e o fluxo do capital intelectual e a geração de valor da empresa ? Os resultados da pesquisa

mostram a existência de relação positiva em relação ao CIV e ao ICE e as variáveis

dependentes ROE, ROA e ROS. Mostram ainda que o capital intelectual parece ser um

direcionador mais relevante do que o estoque de ativos físicos e financeiros para a geração de

valor das empresas.

Palavras-chave: Capital intelectual, Ativos Intangíveis, Ativos de conhecimento Geração de

valor, Avaliação de empresas, Gestão do conhecimento, Dados em Painel.

Linha de pesquisa: Valoração de empresas.

Page 9: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

ABSTRACT

There are evidences suggesting a growing importance of the intellectual capital (IC)

and the intangible assets in the economy. Therefore, it is critical to find ways to measure the

companies IC, and to understand the relationship between it and their value generation. The

pressure for it, affects not only managers, who have a broad and differentiated access to all

the operational aspects of their companies, but specially, investors and other stakeholders that

are external to these companies. For the former, the formulation of indexes, capable to

measure the stock and the flows of companies IC, based on the financial information

available, and the analysis of the association, between these indexes and companies value

generation, can bring a completely new perspective, fundamental for supporting their

investment decisions in intellectual capital intensive companies. This dissertation makes

usage of CIV (Calculated Intangible Value) and ICE (Intellectual Capital Efficiency) to

measure IC stock and flows respectively. Through the usage of multivariate regressions and

application of static panel data models, the influence of IC indexes on companies value

generation is analyzed. The value generation perspective is captured by using: ROE (Return-

on-Equity), ROA (Return-on-Assets) and ROS (Return-on-Sales) ratios. The research utilizes

a non-probabilistic sample, built with secondary data coming from the Exame magazine

“Maiores e Melhores” annual survey database, which contains 628 observations from 237

companies in the period between years 2000 and 2005. The following question is addressed:

What is the relationship between the stock and flow of IC and company’s value generation ?

Results found, suggest the existence of a positive relation between both CIV and ICE and the

dependent variables ROE, ROA and ROS. It also shows that IC seems to be a more relevant

indicator of value generation than the stock of financial and physical assets.

Key-words: Intellectual capital (IC), Intangible assets, Knowledge assets, Value generation,

Valuation, Knowledge management (KM), Panel data.

Page 10: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Capital intelectual e geração de valor – Mapa Sistêmico ........................................23

Figura 2 - Capital Intelectual e geração de valor – Diagrama de Estoque e Fluxo...................24

Figura 3 - Capital Intelectual e geração de valor – Problema de pesquisa ...............................25

Figura 4 - Demonstrativos financeiros padronizados – Balanço Patrimonial...........................29

Figura 5 - Demonstrativos financeiros padronizados – Demonstração do Resultado ..............30

Figura 6 - Demonstrativos financeiros padronizados – DVA...................................................30

Figura 7 - Raízes conceituais do Capital Intelectual.................................................................43

Figura 8 - Capital intelectual e valor de mercado.....................................................................53

Figura 9 - Classificações do Capital Intelectual .......................................................................57

Figura 10 - Taxonomia dos Ativos Intangíveis ........................................................................58

Figura 11 - A transformação da vantagem competitiva na era da tecnologia de informação e

dos mercados ubíquos. ..............................................................................................................74

Figura 12 - Cálculo do CIV para a empresa Petrobrás. ............................................................88

Figura 13 - Processo de escolha de estimadores em painéis de dados estáticos.....................116

Figura 14 - Relações e impacto do Capital Humano na geração de valor das empresas........139

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Evolução do estudo sobre capital intelectual..........................................................41

Quadro 2 - Análise de índices usando medidas contábeis simples de desempenho .................71

Quadro 3 - Etapas para o cálculo do CIV .................................................................................85

Quadro 4 - Descrição dos parâmetros utilizados ....................................................................106

Quadro 5 - Descrição das variáveis utilizadas ........................................................................107

Quadro 6 - Modelos de Regressão..........................................................................................108

Page 11: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1 - Cálculo ROE.........................................................................................................31

Equação 2 - Cálculo ROA ........................................................................................................31

Equação 3 - Cálculo ROS .........................................................................................................32

Equação 4 - Cálculo CE...........................................................................................................33

Equação 5 - Cálculo END_GERAL .........................................................................................34

Equação 6 - Cálculo CRESC_VENDAS ..................................................................................34

Equação 7 - Cálculo VAICTM ...................................................................................................96

Equação 8 - Cálculo ICE ..........................................................................................................97

Equação 9 - Cálculo de VA – Método 1 ...................................................................................98

Equação 10 - Cálculo de VA – Método 2 .................................................................................98

Equação 11 - Cálculo de VA – Método 3 .................................................................................99

Equação 12 - Cálculo VACA....................................................................................................99

Equação 13 - Cálculo VAHU .................................................................................................100

Equação 14 - Cálculo ST ........................................................................................................101

Equação 15 - Cálculo STVA...................................................................................................101

Equação 16 - Termo erro composto – Heterogeneidade e Erro Ideosincrático ......................112

Equação 17 - Transformação em primeira diferença..............................................................112

Equação 18 - Estimador de Efeitos Aleatórios .......................................................................115

Equação 19 - Termo erro auto-regressivo de Baltagi e Wu....................................................127

Equação 20 - Cálculo de ρ com base na estatística DW........................................................128

Equação 21 - Cálculo do ICE através do VAHU....................................................................137

Page 12: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Amostra : Número de observações por ano e por setor ..........................................105

Tabela 2: Estatística descritiva das variáveis estudadas .........................................................118

Tabela 3: Evolução das variáveis ao longo do período analisado. .........................................119

Tabela 4: Análise das variáveis por setor da economia ..........................................................124

Tabela 5: Análise de correlação entre as variáveis .................................................................125

Tabela 6: Retorno sobre PL (ROE) - Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel

................................................................................................................................................126

Tabela 7: ROE – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel .........128

Tabela 8: Retorno sobre Ativos (ROA) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em

Painel ......................................................................................................................................130

Tabela 9: ROA – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel .........130

Tabela 10: Retorno sobre Vendas (ROS) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em

Painel ......................................................................................................................................133

Tabela 11: ROS – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ........133

Page 13: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

LISTA DE ABREVIAÇÕES

AFTF Accounting for the Future

CE Capital Employed

CFROI Cash Flow Return on Investment

CIV Calculated Intangible Value

CVA Cash flow value added

CWP Citation Weighted Patents

DRE Demonstrativo de Resultados do Exercício

DVA Demonstrativo de Valor Adicionado

DW Durbin-Watson

EBIT Earns Before Interest and Taxes

EBITDA Earns Before Interest Taxes Depreciation and Amortization

EVA Economic Value Added

FASB Financial Accounting Standards Board

GLS Generalized Least Squares

GMM Generalized Method of Moments

HRCA Human Resource Costing

HU Human Capital

IAM Intangibles Asset Monitor

IASB International Accounting Standards Board

ICE Intellectual Capital Efficiency

IDE Intangible Driven Earnings

KCE Knowledge Capital Earnings

KCV Knowledge Capital Value

KSC Knowledge Capital Scorecard

LSDV Least Squares Dummy Variable

M/B Market-to-Book

ML Maximum Likelihood

MQG Mínimos Quadrados Generalizados

MQO Mínimos Quadrados Ordinários

MVA Market Value Added

NOPAT Net Operating Profit After Taxes

Page 14: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

OLS Ordinary Least Squares

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

RBV Resource Based View

ROA Return-on-Assets

ROE Return-on-Equity

ROI Return-on-Investment

RONA Return on Net Assets

ROS Return-on-Sales

ST Structure Capital

STVA Structure Capital Value Added

TSR Total Shareholder Return

TVC Total Value Creation

VA Value Added

VAHU Value Added Human Capital

VAIC Value Added Intellectual Coefficient

VBA Value Based Accounting

VCF Valor de Crescimento Futuro

VIF Variance Inflation Factor

VRIO Value, Rare, Imitable, Organization

Page 15: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................17

1.1 Problema de pesquisa................................................................................................22

1.2 Objetivo ....................................................................................................................26

1.3 Hipóteses de pesquisa ...............................................................................................27

1.3.1 Estoque de capital intelectual...................................................................................27

1.3.2 Eficiência no uso do capital intelectual....................................................................27

1.4 Variáveis da Pesquisa ...............................................................................................28

1.4.1 Descrição das Variáveis Utilizadas..........................................................................29

1.5 Estrutura do trabalho.................................................................................................35

2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................36

2.1 Capital Intelectual - Visão geral ...............................................................................36

2.1.1 Ativos Intangíveis......................................................................................................36

2.1.2 Evolução histórica e o crescimento da importância do capital intelectual .............40

2.1.3 O Capital Intelectual e a Teoria da Firma ...............................................................46

2.1.4 Efeitos do Capital Intelectual no cenário econômico...............................................52

2.2 Classificação e constituintes do capital intelectual...................................................56

2.2.1 Capital humano.........................................................................................................58

2.2.2 Capital estrutural......................................................................................................60

2.3 Atributos econômicos particulares dos intangíveis ..................................................62

2.4 A influência dos ativos intangíveis na geração de valor...........................................67

2.4.1 Métricas de criação de valor ....................................................................................68

2.4.2 Capital intelectual, vantagem competitiva e criação de valor .................................73

2.5 Medidas de estoque de capital intelectual.................................................................76

2.6 CIV como um direcionador de valor da empresa .....................................................83

2.7 Medidas de fluxo de capital intelectual ....................................................................89

2.8 VAICTM como um direcionador de valor da empresa ..............................................96

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................102

3.1 Tipo e Método de Pesquisa .....................................................................................102

3.2 População e Amostra ..............................................................................................102

3.3 Composição da Amostra .........................................................................................103

3.4 Tipos de Dados e Instrumentos de Coleta...............................................................104

Page 16: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

3.5 Operacionalização das Variáveis Utilizadas...........................................................107

3.6 Tratamento Estatístico dos Dados...........................................................................108

3.6.1 Pooled cross sections..............................................................................................111

3.6.2 Primeira Diferença .................................................................................................111

3.6.3 Efeitos Fixos ...........................................................................................................113

3.6.4 Efeitos Aleatórios....................................................................................................115

3.6.5 Critérios de comparação de modelos de dados em painel .....................................116

4. RESULTADOS DA PESQUISA..........................................................................118

4.1 Estatística Descritiva...............................................................................................118

4.2 Análise de Correlação.............................................................................................125

4.3 Modelos Estáticos de Dados em Painel .................................................................126

4.3.1 Retorno sobre Patrimônio Líquido .........................................................................126

4.3.2 Retorno sobre Ativos...............................................................................................130

4.3.3 Retorno sobre Vendas.............................................................................................132

4.4 Modelos de Dados em Painel Dinâmicos ...............................................................135

4.5 Análise dos Resultados ...........................................................................................136

4.6 Limitações do Estudo..............................................................................................140

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................142

6. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................145

7. APÊNDICES .........................................................................................................150

Apêndice A – Modelos de regressão, relação das variáveis e fórmulas de cálculo................151

Apêndice B – Heterogeneidade observada em relação aos estimadores de efeito fixo para o

ROE das empresas ..................................................................................................................152

Apêndice C – Resultados das análises dos modelos dinâmicos de dados em painel..............153

Page 17: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

17

1. Introdução

Embora os estudos sobre capital intelectual tenham se tornado mais freqüentes apenas

nos últimos 10 anos, o termo “capital intelectual” já conta com quase 50 anos e, o primeiro

estudo a constatar de forma empírica a relevância do capital intelectual e dos ativos

intangíveis no desempenho das organizações remonta ao século XVII (STEWART, 1998

:XVI; STEWART, 2001: XIV).

A importância do tema atinge hoje tamanha proporção, que para alguns autores

(TEECE, 2000: 29; NONAKA e TAKEUCHI, 1997 :37-40; GRANT, 1996 :122), a própria

“Teoria da Firma” necessita ser revista.

Quando falamos de capital intelectual, nos deparamos com diversas definições, sendo

que, cada uma delas possui particularidades que, em alguns casos são bastante sutis, e em

outros, nem tanto.

Cabe ressaltar que, ainda que alguns atribuam significados distintos aos termos capital

intelectual, ativos intangíveis e ativos de conhecimento, no âmbito desta dissertação, de

forma consistente com Stewart (1998 e 2001), Lev (2001 e 2003) e Andriensen (2004) entre

outros, esses três termos serão utilizados como possuindo o mesmo significado.

Nos últimos 200 anos, trabalho e capital tem sido considerados os principais fatores de

produção a determinar a riqueza das corporações, porém, as economias mais desenvolvidas

passaram, no último século, por uma grande transformação e estão atualmente, calcadas em

capital intelectual e em ativos omitidos dos demonstrativos contábeis, pois extraem seu valor

de atividades ligadas ao processamento de informações, ao desenvolvimento e à transferência

e aplicação de conhecimento (TEECE, 1998 :75 ; FIRER e WILLIANS, 2003 :348).

Page 18: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

18

Nessa economia centrada nos intangíveis, os serviços são tão importantes quanto os

produtos, e o conhecimento embarcado em ambos cresce rapidamente (ANDRIENSEN, 2004

:5).

De forma geral, a natureza da vantagem competitiva e a capacidade de gerar valor das

empresas, mudou do físico para o intangível.

A geração de valor das empresas, se apóia hoje sobre padrões e metodologias

proprietárias, direitos autorais, patentes, relacionamento com clientes, fornecedores e

parceiros, marca e reputação, entre outros fatores associados ao capital intelectual da empresa

(EDVINSON, 2003 :19).

Em síntese, encontramos na economia atual, uma série de evidências de que:

a) a indústria está se “desmaterializando“ com o aumento do componente intelectual e

a redução do físico;

b) os ativos físicos e financeiros apresentam cada vez mais características de

“commodities” e não conseguem proporcionar uma posição competitiva favorável e

sustentável para as empresa e;

c) é crescente o afastamento entre os fluxos de informação e os fluxos de produtos e

serviços.

Segundo Stewart (2001 :12), as empresas nos EUA utilizam atualmente 20% menos

capital físico que há 25 anos atrás para gerar suas receitas e quando observamos o valor de

mercado de empresas como: Google, eBay e YouTube, para mencionar apenas algumas em

maior evidência no momento, encontramos um claro exemplo de que a informação passou a

possuir “valor próprio”, dissociado das noções normais da economia tradicional de produtos e

serviços. (TEECE, 1998 :59; STEWART, 1998 :11-13).

Page 19: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

19

Face às evidências da crescente importância dos ativos intangíveis e considerando a

hipótese de mercado eficiente, é natural observarmos o contínuo afastamento entre o valor de

mercado e o valor patrimonial das empresas.

Edivinson (2003 :30) exemplifica esse afastamento ao mostrar que no final do ano

2000, 74% do valor de mercado da BP (British Petroleum), 82% da 3M e 85% da ABB

estavam associados com ativos intangíveis.

Mesmo considerando que essa distância entre o valor de mercado e o valor patrimonial

das empresas, é, na média, menor hoje do que durante o auge da euforia das empresas “ponto-

com”, ela ainda permanece significativa e retomou uma trajetória de crescimento nos últimos

anos, pois os principais recursos responsáveis pela geração de caixa futuro, não são mais

refletidos nos relatórios contábeis das empresas.

Dessa forma, por não fornecerem uma visão clara da totalidade dos ativos que as

empresas dispõem para gerar valor, os relatórios contábeis na sua forma atual, mostram-se

cada vez menos relevantes e as avaliações dos investidores, em relação às empresas intensivas

em capital intelectual, parecem inadequadas causando um erro sistemático no preço dos

papéis dessas empresas e conduzindo o mercado de ações a uma volatilidade excessiva

(HAND e LEV, 2003 :2; EDIVINSON, 2003 :62-79).

A necessidade de mudanças fica evidente ao lembrarmos que um dos principais

objetivos das demonstrações contábeis das empresas (aquele por trás da criação da própria

contabilidade como hoje a conhecemos) é dar visibilidade sobre o que cada empresa possui e

sobre o quão eficiente ela é ao utilizar seus ativos para gerar valor (ROSS et. Al. 2002;

BREALEY e MYERS, 2003).

Page 20: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

20

Essa visibilidade, bem como a possibilidade de comparar as empresas, são

fundamentais para que investidores e gestores possam ter subsídios para tomar suas decisões.

No entanto, com esse afastamento entre valor de mercado e valor contábil das empresas

verificado, as informações e relatórios financeiros convencionais passaram a apresentar sérias

limitações (CHEN et. Al., 2005; STEWART, 1998; ROOS et. Al.; 1997; LEV, 2001).

Essas limitações do sistema contábil e das avaliações fundamentalistas, feitas somente

com base em índices e indicadores financeiros, se mostram ainda mais sérias quando

penetramos no campo da inovação.

Como apontam Deng, Lev e Narin (1999 :20-21), a dificuldade de conseguir

informações confiáveis e adequadas, que dêem suporte às decisões de investimento, é ainda

maior, já que as empresas raramente divulgam dados sobre o volume e a natureza de suas

atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Fica claro, portanto, que uma grande questão hoje em dia é: como medir e quantificar

adequadamente o impacto dos intangíveis a fim de determinar o valor real das empresas

(ROSS et. Al., 2002; BREALEY e MYERS, 2003).

Ou ainda, são as empresas que apresentam um maior estoque ou fluxo de capital

intelectual aquelas que geram maior valor para os seus acionistas e proprietários ?

Com base no estudo de Kujansivu e Lönqvst (2005) sobre métricas de estoque e fluxo

de capital intelectual, e construindo sobre as bases de um conjunto de trabalhos recentes

realizados internacionalmente (FIRER e WILLIAMS, 2003; VAN DER ZAHN, 2004; CHEN

et Al., 2005), esta dissertação tem o intuito de contribuir para elucidar a questão da influência

do capital intelectual na geração de valor das empresas brasileiras.

Page 21: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

21

Para alcançar esse objetivo, este trabalho inicialmente procurará definir e conceituar,

sob a óptica dos principais estudiosos do tema, o capital intelectual, seus componentes e sua

relevância para a criação de valor nas empresas; serão também descritas as principais métricas

propostas na literatura para se avaliar o capital intelectual.

Na seqüência, fazendo uso do CIV (Calculated Intangible Value) e o ICE (Intelectual

Capital Efficiency) como medidas de estoque e fluxo de capital intelectual respectivamente,

através de através de tratamento estatístico por regressões multivariadas, usando modelos

estáticos de dados em painel, efetuar-se-á a análise de uma amostra não probabilística,

constituída a partir de dados secundários de empresas brasileiras provenientes de diversos

setores.

Através dessa análise procuraremos testar a validade do ICE e do CIV como

direcionadores do desempenho financeiro e da capacidade de geração de valor das empresas

da amostra.

Page 22: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

22

1.1 Problema de pesquisa

Nos últimos anos, o capital intelectual como área de estudo têm se desenvolvido

consideravelmente, e ainda que hoje não existam mais dúvidas sobre o papel central do capital

intelectual na geração de riqueza das empresas e na economia como um todo, ou no fato de

que o sistema contábil tradicional, cada vez é menos efetivo em capturar e refletir o valor

correto das empresas, muito ainda há por ser feito antes que tenhamos todas as respostas

apropriadas para lidar com essa nova realidade.

Como é possível identificar e medir quantitativa e qualitativamente, sob a óptica de

um investidor ou uma parte interessada externa à empresa, o capital intelectual da mesma, e

com base nisso, estimar a capacidade dessa empresa gerar valor são as questões que este

projeto de dissertação pretende ajudar a esclarecer.

Essas questões são ainda mais relevantes no contexto atual haja visto que, nos últimos

3 anos, temos verificado mudanças significativas no mercado de capitais brasileiro.

Por um lado temos um número cada vez maior de investidores individuais, negociando

títulos no mercado de ações, por outro, observamos cada vez um número maior de empresas

cujo maior ativo é seu capital intelectual.

Alguns exemplos (e sua área de atuação) são: Submarino (varejo por Internet), TOTVs

e Datasul (Tecnologia da Informação e Sistemas de Gestão), Anhangüera Educacional

(Educação Superior), DASA (Diagnósticos Laboratoriais), CSU (Administração de meios

eletrônicos de pagamentos).

Comum a todas essas empresas é o fato que os seus demonstrativos contábeis falam

muito pouco sobre a sua capacidade de gerar valor, de forma que, o ágio (ou deságio) que o

mercado atribui às mesmas é impossível de ser explicado de forma racional e objetiva.

Page 23: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

23

Tendo demonstrado a relevância das questões propostas, é importante ressaltar que, de

forma a investigá-las adequadamente, em função das intrincadas e obscuras relações entre o

estoque total de recursos tangíveis e intangíveis com que conta uma dada firma, e entre esse

estoque de recursos disponíveis e a efetiva utilização dos mesmos no processo de geração de

valor, devemos considerar uma abordagem que procure verificar simultaneamente a influência

dos estoques e dos fluxos relativos ao capital intelectual.

As figuras Figura 1 e Figura 2 abaixo procuram mostrar, sob a ótica dos sistemas

dinâmicos, esse amplo contexto onde se insere o problema de pesquisa a ser desenvolvido

nesse estudo.

Estoque deCapital Intelectual

Estoque de Ativosfísicos e financeiros

+

Eficiência no uso doCapital Intelectual

disponível+

+

+ Eficiência no uso dosAtivos físicos e

financeiros existentes

+

+

+

Capacidade degerar valor

+

+

+

+

Figura 1 - Capital intelectual e geração de valor – Mapa Sistêmico

Fonte: elaborada pelo autor

Page 24: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

24

Estoque de Ativosfísicos efinanceirosdisponíveis

Estoque deCapital Intelectual

Investindo emAtivos tangíveis

Ampliando oCapital intelectual

Reduzindo estoque deAtivos físicos efinanceiros

Perdendo Capitalintelectual

Valor total geradopela empresa

Gerando valor Distribuindo valor

Figura 2 - Capital Intelectual e geração de valor – Diagrama de Estoque e Fluxo

Fonte: elaborada pelo autor

Como pode ser deduzido através dessas figuras, a questão do capital intelectual e a

geração de valor nas empresas, possui diversos aspectos relevantes passíveis de análise, sendo

que há supostamente, uma série de inter-relações entre os diversos constructos pertinentes ao

tema.

No entanto, dada a natureza investigativa desse estudo, e o estado seminal dessa área

de pesquisa, que ainda carece de referencial teórico detalhado sobre vários desses constructos

e inter-relações, esta dissertação procurou estudar o tema através do modelo de causalidade

unilateral representado na Figura 3 a seguir.

Page 25: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

25

Capital intelectual e geração de valor

Nível de endividamento da empresa

Indicador: END_GERAL

Estoque de ativos físicos e financeiros

Indicador: VAICTM CE

Estoque de Capital Intelectual

Indicador: CIV

Eficiência no uso do Capital Intelectual

Indicador: VAICTM ICE (VAHU+STVA)

Geração de valor

Indicadores: ROE, ROS, ROA

Crescimento das vendas

Indicador: CRESC_VENDAS

Controle

Figura 3 - Capital Intelectual e geração de valor – Problema de pesquisa

Fonte: elaborada pelo autor

Como podemos observar na referida figura, a inexistência de um modelo conceitual

amplamente aceito, determinou cautela adicional, que se reflete na adoção das 3 variáveis de

controle, acima representadas, no modelo de pesquisa.

Dessa forma, o presente estudo pode ser descrito nos seguintes termos:

Geração de valor da empresa = f (estoque de capital intelectual, eficiência no uso do capital

intelectual, estoque de ativos físicos e financeiros, nível de endividamento da empresa,

crescimento das vendas da empresa)

Page 26: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

26

1.2 Objetivo

O objetivo geral dessa pesquisa será: analisar o impacto do capital intelectual na

capacidade das empresas brasileiras de gerar valor.

Os objetivos específicos são as etapas que devem ser cumpridas para que o

pesquisador possa alcançar o objetivo geral (RICHARDSON et al, 1999).

Os objetivos específicos permitem que uma pesquisa atinja o objetivo geral

(LAKATOS et al, 1995).

Dessa forma, são objetivos específicos a serem mencionados:

• Fazer uma revisão bibliográfica das principais métricas para capital intelectual

encontradas na literatura.

• Fazer uma revisão bibliográfica das principais métricas para mensurar criação de valor

• Verificar o efeito do estoque de capital intelectual das empresas na sua capacidade de

gerar valor.

• Verificar o efeito da eficiência (fluxo) das empresas no uso dos seus ativos intangíveis

na sua capacidade de gerar valor.

• Verificar o efeito do estoque de ativos físicos e financeiros das empresas na sua

capacidade de gerar valor.

• Verificar o efeito do nível de endividamento das empresas na sua capacidade de gerar

valor.

• Verificar o efeito do crescimento das vendas das empresas na sua capacidade de gerar

valor.

Page 27: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

27

1.3 Hipóteses de pesquisa

A formulação das hipóteses tomou por base o referencial teórico desenvolvido no

capítulo 2, além dos estudos empíricos já realizados para testar as teorias existentes.

As hipóteses foram construídas ao redor dos dois indicadores de capital intelectual

escolhidos, e que, potencialmente, explicam a capacidade das empresas gerarem valor.

1.3.1 Estoque de capital intelectual

Esperava-se encontrar uma relação positiva entre o estoque de capital intelectual e a

geração de valor da empresa permitindo a rejeição da hipótese 0,1 abaixo:

Hipótese 0,1: O estoque de capital intelectual das empresas não afeta a sua

capacidade de geração de valor.

1.3.2 Eficiência no uso do capital intelectual

Da mesma forma, esperava-se rejeitar a hipótese 0,2 conforme definida a seguir:

Hipótese 0,2: Não existe diferença na capacidade de gerar valor entre as empresas

com maior e menor eficiência no uso do capital intelectual.

Page 28: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

28

1.4 Variáveis da Pesquisa

Variáveis são aspectos observáveis de um fenômeno e, devem apresentar variações em

relação aos fenômenos estudados (RICHARDSON et al., 1999:117).

São denominadas variáveis independentes aquelas que “influenciam, determinam ou

afetam outra variável; são fatores determinantes, condições ou causas para determinado

resultado”. Assim sendo, variáveis dependentes são aqueles “valores (fenômenos, fatores) a

serem explicados ou descobertos, em virtude de serem influenciados, determinados ou

afetados pela variável independente” (LAKATOS e MARCONI, 1991 :138).

Conforme definido por Richardson et al. (1999 :121), nesta dissertação buscou-se

explorar as associações entre as variáveis dependentes (ROE, ROS e ROA), escolhidas para

mensurar a geração de valor das empresas e, as variáveis independentes:

• Estoque de capital intelectual (CIV)

• Eficiência no uso do capital intelectual (ICE)

Foram também utilizadas as seguintes variáveis de controle:

• Estoque de físicos e financeiros (CE)

• Nível de endividamento (END_GERAL)

• Crescimento das vendas (CESC_VENDAS)

A seção 1.4.1 detalha cada uma destas variáveis.

Page 29: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

29

1.4.1 Descrição das Variáveis Utilizadas

Com o intuito de facilitar a homogeneização dos termos empregados nessa dissertação

e, esclarecer cada um dos componentes que serão utilizados na definição operacional das

variáveis, são apresentados a seguir nas figuras : Figura 4, Figura 5 e Figura 6, exemplos de

demonstrativos financeiros padronizados conforme definidos pela CVM (Comissão de

Valores Mobiliários).

Ativo Passivo(1) Circulante Circulante (4)

Disponibilidades Empréstimos e financiamentos

Contas a receber de clientes Contas a pagar a fornecedores e empreiteiros

Estoques Salários e encargos sociais

Outros Tributos e contribuições

(2) Total Ativo Circulante Outros

Realizável a longo prazo Total Passivo Circulante (5)

Imobilizado

Diferido Exigível a longo prazo

Total Passivo (6)

Patrimônio líquidoCapital social

Reservas de lucros

(3) Total Ativo Total Patrimônio Líquido (7)

1- BALANÇO PATRIMONIAL

Figura 4 - Demonstrativos financeiros padronizados – Balanço Patrimonial

Page 30: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

30

(1) Vendas totais

(-) Impostos e contribuições sobre vendas e serviços

(2) (=) Receita operacional líquida

(-) Custos dos produtos e serviços

(3) (=) Lucro bruto

(-) Despesas operacionais

(4) (=) Lucro operacional (EBIT)

(+) Resultado financeiro líquido

(5) (=) Lucro antes do imposto de renda e da contribuição social (LAIR)

(-) Imposto de renda e contribuição social

(6) (=) Lucro líquido do exercício

2- DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

Figura 5 - Demonstrativos financeiros padronizados – Demonstração do Resultado

Geração do valor adicionado Distribuição do valor adicionado

(1) Receita brutaTotal de gastos com salários e benefícios dos empregados (4)

(b) (-) Aquisição de produtos para revenda (+) Impostos e tributos (5)

(b) (-) Serviços contratados (+) Juros (6)

(b) (-) Materiais & Insumos adquiridos (+) Dividendos (7)

(=) Valor adicionado bruto (+) Lucros Retidos (8)

(2) (-) Depreciação, amortização e exaustão

(=) Valor adicionado líquido

(+) Recebido de terceiros

(3) (=) Valor adicionado total a distribuir (=) Valor adicionado total distribuído (9)

3- DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

Figura 6 - Demonstrativos financeiros padronizados – DVA

1.4.2.a Geração de Valor

Conforme descrito detalhadamente na seção 2.4 deste trabalho, na busca de medidas

objetivas não dependentes de ajustes contábeis controvertidos, definiremos geração de valor

em termos da lucratividade das empresas utilizando índices construídos através de medidas

contábeis simples.

Page 31: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

31

A perspectiva de geração de valor que este estudo procurou captar foi a geração de

valor para os acionistas e proprietários das empresas analisadas. Porém, cabe ressaltar que a

amostra tomou em conta empresas privadas de capital aberto, empresas privadas de capital

fechado e empresas públicas, atuando em diversos setores da economia.

Em virtude dessa heterogeneidade, e do fato de várias das empresas não possuírem um

valor de mercado claramente definido e identificável, tornou-se impossível a utilização de

algumas métricas mais específicas como o retorno total ao acionista (TSR – Total Shareholder

Return).

Dessa forma, optou-se neste estudo por medir-se “Geração de valor” através dos

índices1:

• “ROE – Retorno sobre patrimônio líquido” (Return on equity)

ROE = Lucro líquido do exercício (Figura 5: ítem 6) /

Patrimônio líquido total (Figura 4: ítem 7)

Equação 1 - Cálculo ROE

• “ROA – Retorno sobre ativos (Return on assets)

ROA = Lucro líquido do exercício (Figura 5: ítem 6) /

Ativo total (Figura 4: ítem 3)

Equação 2 - Cálculo ROA

1 A seção 2.4.1 na pág. 68 descreve todas as métricas de geração de valor consideradas e descreve em

detalhes os fatores que justificaram a escolha dos 3 índices definidos.

Page 32: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

32

• “ROS – Retorno sobre vendas” (Return on sales)

ROS = Lucro líquido do exercício (Figura 5: ítem 6) /

Vendas totais (Figura 5: ítem 6)

Equação 3 - Cálculo ROS

Cada um desses índices buscará captar um aspecto da geração de valor das empresas,

porém, sob a ótica dos proprietários e acionistas, o ROE será o principal índice considerado.

1.4.2.b Estoque de capital intelectual

Como pode ser verificado na seção 2.5 dessa dissertação, muitas são as propostas

encontradas na literatura para medir e atribuir valor ao estoque de capital intelectual de uma

empresa. No entanto, se por um lado o número de alternativas é grande, por outro, estamos

longe de um modelo de aceitação ampla.

Nesta dissertação, a variável independente “Estoque de capital intelectual” será

medida através do Valor Intangível Calculado – CIV(Calculated Intangible Value).

O cálculo do CIV encontra-se descrito em detalhes na seção 2.6 deste documento.

Estoque de capital intelectual = CIV

Page 33: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

33

1.4.2.c Eficiência no uso do capital intelectual

A variável independente “Eficiência no uso do capital intelectual” busca analisar a

capacidade da firma em converter o capital intelectual empregado no negócio em valor, já

que, segundo Pulic (2000 :706), “o objetivo de qualquer negócio é claro: gerar o máximo de

valor adicionado possível, a partir de uma dada quantidade de capital (físico, financeiro e

intelectual)”.

Seguindo o modelo utilizado por Kujansivu e Lönnqvist (2005 :4) e Van der Zahn (et

al. 2004 :13), para mensurar essa variável, foi utilizado o índice Eficiência do Capital

Intelectual – ICE (Intellectual Capital Efficiency) cuja forma de cálculo detalhada encontra-se

descrita na seção 2.8 (pág. 108) desse documento.

Eficiência no uso do capital intelectual = ICE

1.4.2.d Estoque de ativos físicos e financeiros

A variável independente “Estoque de ativos físicos e financeiros” representa a

totalidade de recursos tangíveis utilizados pela empresa.

Conforme definido por Pulic (2000 :706) ela é definida pela soma de “tudo que foi

aplicado na empresa” e, para efeitos desta dissertação, esse estoque é medido através do

“Capital empregado” (CE) da empresa, aqui definido como:

Estoque de ativos físicos e financeiros = CE

= Ativo total (Figura 4: ítem 3) – Passivo circulante (Figura 4: ítem 5)

Equação 4 - Cálculo CE

Page 34: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

34

1.4.2.e Nível de endividamento geral

Capon et Al. (1990 :1149) ao efetuarem a análise de 320 estudos empíricos, apontam a

existência de relacionamento entre o nível de endividamento das empresas e o desempenho

financeiro das mesmas.

Dessa forma, foi definido para esse estudo, uma variável cujo objetivo é mensurar esse

nível de endividamento das empresas, e controlar a sua influência nas variáveis dependentes

analisadas.

A Equação 5 a seguir descreve o cálculo dessa variável.

END_GERAL = Passivo total (Figura 4: ítem 6) / Ativo total (Figura 4: ítem 3)

Equação 5 - Cálculo END_GERAL

1.4.2.f Crescimento em vendas

Evidências empíricas apontam para a existência de um relacionamento positivo entre o

desempenho financeiro e o crescimento em vendas das empresas (LEV et Al.,2003 :171;

CAPON et Al.,1990 :1149).

Para medir e controlar essa possível influência, foi inserido no modelo de estudo desta

dissertação a variável de controle definida conforme a Equação 6 abaixo.

CRESC_VENDAS = ((Vendas totais no ano atual (Figura 5: ítem 6) / Vendas totais no ano

anterior (Figura 5: ítem 6)) – 1) * 100

Equação 6 - Cálculo CRESC_VENDAS

Page 35: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

35

1.5 Estrutura do trabalho

A presente dissertação encontra-se dividida em cinco capítulos.

No primeiro capítulo foi apresentada uma introdução ao objeto de estudo, a

justificativa da sua escolha, os objetivos propostos e as hipóteses que se busca comprovar e as

métricas a serem utilizadas.

No segundo capítulo será apresentado o referencial teórico que embasa os principais

estudos sobre o capital intelectual das empresas e sua influência na capacidade da empresa

gerar valor para os seus proprietários.

No terceiro capítulo será apresentada uma descrição sobre a metodologia de pesquisa

empregada nesta dissertação.

No quarto capítulo serão apresentados os resultado empíricos obtidos.

Finalmente, no quinto capítulo são apresentadas as conclusões e considerações finais.

Page 36: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

36

2. Referencial teórico

2.1 Capital Intelectual - Visão geral

O capital intelectual, enquanto área de estudo atravessa domínios funcionais, sendo

objeto de pesquisa nas áreas de economia, administração, psicologia e ciências da computação

para mencionar apenas algumas.

No entanto, na área de administração de empresas, sob ótica de finanças e valoração

empresarial, qualquer tentativa de definir e contextualizar o tema deve partir da visão contábil

e, dos ativos intangíveis.

2.1.1 Ativos Intangíveis

Se por um lado os ativos intangíveis têm sido estudados no Brasil desde o início da

década de 70 (MARTINS, 1972), estamos longe de se haver chegado a um consenso sobre a

medida exata de sua relevância. Em verdade, não temos hoje sequer uma definição para os

ativos intangíveis que seja aceita de forma universal.

Do ponto de vista contábil, podemos tomar como ponto de partida a definição aceita

com base nas normas contábeis norte americanas (FASB – Financial Accounting Standards

Board) que, como mostrado por Hand e Lev (2003: 305), é: todo o custo de desenvolvimento

ou aquisição de direitos ou benefícios econômicos que são “não físicos” mas, que podem ser

reconhecidos no balanço das empresas.

Outra importante definição é a proposta nas normas do IASB (International

Accounting Standards Board) que classifica como intangíveis todos os ativos não monetários,

identificáveis, porém, sem substância física, mantidos para uso na produção ou fornecimento

de bens ou serviços, alugados para outros ou, para fins administrativos (ANDRIENSEN,

2004: 62).

Page 37: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

37

Ainda em relação a essa mesma definição, considera-se um ativo qualquer recurso

controlado pela empresa, decorrente de eventos passados e sobre os quais, um fluxo de

benefícios econômicos futuros é esperado.

Quando combinamos estas duas definições percebemos que, sob o aspecto contábil,

um ativo intangível necessita atender a três requisitos:

• precisa ser identificável;

• a empresa deve ter controle sobre ele e;

• o mesmo deve ser capaz de gerar benefícios econômicos futuros.

Roos et Al. (2002 :592) chamam a atenção para as divergências entre as definições

propostas pelos dois principais sistemas contábeis e apontam que a definição do FASB é mais

restrita pois, se foca nas regras de reconhecimento contábil vigentes e dessa forma, não

contempla os ativos intangíveis gerados internamente (self-generated).

Reilly e Schweis (1998 apud KAYO, 2002) expandem o conjunto de requisitos

necessários para qualificação de um ativo intangível sob o aspecto contábil e, mencionam seis

atributos:

• estar sujeito a uma identificação específica e descrição reconhecível;

• estar sujeito à existência e proteção legal;

• estar sujeito ao direito de propriedade privada e esse direito deve ser legalmente

transferível;

• existir alguma evidência tangível ou manifestação da existência do ativo intangível

(como contratos, licença de uso, documento de registro, lista de clientes,

demonstrativos financeiros, etc.);

• ter sido criado em um momento ou evento identificável;

• estar sujeito a ser destruído ou eliminado em um momento ou evento identificável.

Page 38: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

38

Enquanto sob a óptica contábil, encontramos definições bastante restritivas, quando

buscamos uma definição para os ativos intangíveis (ou ativos de conhecimento) sob a óptica

da literatura econômica, encontramos um conceito muito mais abrangente.

Podemos dizer que: “ativos intangíveis são quaisquer itens não físicos que tenham a

habilidade ou potencial de fornecer benefício econômico futuro para e firma”(HAND e LEV,

2003 :305).

Hand e Lev (2003 :7), em consonância com a definição econômica apresentada,

definem como ativos intangíveis “todos os recursos não físicos que sejam fontes de valor

(concedendo direito a benefícios futuros) gerados pela inovação (descoberta), desenhos

organizacionais únicos, ou práticas de recursos humanos”.

Ao compararmos as definições contábil e econômica, verificamos que a primeira

acaba por contemplar unicamente uma parcela da parte “estrutural” do capital intelectual,

desconsiderando assim, todos os demais componentes como, por exemplo, o capital humano.

Esse fato é justificado pela impossibilidade de se estabelecer controle suficiente e da

incerteza sobre o retorno futuro decorrente da ação das pessoas que compõem a organização

(ANDRIENSEN, 2004 : 63).

Para Andriensen (2004 :63) a única categoria de intangíveis que atende à característica

de controle por parte da firma é a “propriedade intelectual” que, de acordo com Stallworth e

DiGregorio (2004), se constitui no capital intelectual protegido legalmente, incluindo assim

patentes e marcas registradas, software e licenças de uso.

Dessa maneira, sob a óptica contábil, até o momento, os ativos intangíveis foram

sempre definidos em termos de propriedade intelectual ou goodwill (STALLWOTH e

DIGREGORIO, 2004 :10).

Page 39: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

39

O termo goodwill enseja a diferença entre o valor total pago por uma empresa num

processo de aquisição e, o valor de mercado dos ativos tangíveis dessa empresa adquirida. Ele

ocorre todas as vezes em que empresas são adquiridas por preços superiores ao valor justo de

mercado de todos os ativos contábeis da empresa adquirida, descontados os respectivos

passivos (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :207).

Dessa forma, o goodwill se mostra muito mais abrangente que as próprias definições

contábeis de ativo intangível apresentadas, pois inclui uma série de recursos intangíveis (tais

como reputação da empresa, carteira de clientes, localização física privilegiada, etc.) que,

mesmo não se enquadrando na definição contábil, tornam-se passíveis de reconhecimento

quando da ocorrência de uma operação de compra e venda de empresas (ANDRIENSEN,

2005 :64 ; KAYO, 2002: 10).

Essa diferença no tratamento entre goodwill e demais ativos intangíveis se explica

pelo fato de todo o sistema contábil ser baseado em transações e em medidas identificáveis.

Portanto, o mesmo se concentra apenas nos intangíveis adquiridos, naqueles passíveis de

reconhecimento e no goodwill (ANDRIENSEN, 2005: 64).

De qualquer forma o tratamento contábil para o goodwill varia de país para país, sendo

que, em alguns deles como Holanda e Inglaterra, é permitida a baixa imediata do goodwill

contra a conta de reservas sem passar pelo demonstrativo de resultados. No caso da maioria

dos países, inclusive Estados Unidos e Brasil, o goodwill deve ser capitalizado e amortizado

ao longo do tempo (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :207- 215).

Page 40: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

40

Sob a óptica da geração de valor, qualquer que seja o tratamento contábil dado ao

goodwill, ele pode gerar distorções nos cálculos. A questão essencial, por trás do tratamento

do goodwill, está relacionado com a natureza intrínseca do mesmo, ou seja, trata-se de um

ativo com vida útil finita (wasting asset), devendo ser depreciado; de um ativo que não se

valoriza nem desvaloriza, ou de um ativo que se valoriza e que deve ser reconhecido através

de gastos negativos de amortização (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :211).

Essa é apenas uma das questões ainda não plenamente respondidas em relação ao

tratamento contábil dos intangíveis adquiridos.

No entanto ainda que os ativos intangíveis conforme definidos contabilmente sejam

importantes, sob a óptica de geração de riqueza e vantagem competitiva para a empresa, eles

representam apenas a “ponta do iceberg” (STEWART, 2001 : X).

2.1.2 Evolução histórica e o crescimento da importância

do capital intelectual

Tendo oferecido uma definição inicial do capital intelectual, sob a ótica contábil,

através da exposição das principais características e desafios impostos pelos ativos

intangíveis, cabe agora avançar na discussão do tema, demonstrando como o capital

intelectual, vêm, ao longo do tempo, suscitando reflexões importantes juntos aos mais

diversos estudiosos na medida em que transforma o panorama dos negócios.

Quando Drucker (1993) definiu a sua “sociedade do conhecimento” (sociedade pós-

capitalista) destacando a transformação, iniciada em 1945, pela qual passa a economia e que

está convertendo os ativos intangíveis (conhecimento) no principal recurso produtivo das

empresas, os primeiros passos de pesquisadores na área do capital intelectual já contavam

com mais de 20 anos.

Page 41: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

41

Kannan e Aulbur (2004 :395) apontam Penrose (1959) como primeira pesquisadora a

definir as organizações como “repositórios de conhecimento”. Os mesmos autores, após

pesquisas feitas com base em mais de 100 artigos sobre teorias e modelos de mensuração do

capital intelectual, selecionaram com base no número de citações e discussão com experts,

uma série de autores e achados de grande relevância ao estudo do capital intelectual.

O Quadro 1 abaixo apresenta em ordem cronológica uma síntese desse trabalho.

Autor: Ano: Contribuição:Penrose 1959 A organização como um repositório de conhecimento

Machlup1962

Modelo da Função produção de conhecimento (Knowledge production function )

1986Necessidade de adicionar-se uma perspectiva comportamental para monitorar os ativos intangíveis

1988 Criação do "Monitor de ativos intangíveis" (Intangible asset monitor ).Kaplan e Norton 1992 Criação do modelo de "Balanced scorecad".

Davemport1994

Gerir o conhecimento não uma questão meramente de tecnologia mas também uma questão de gerenciar relações sociais.

Nonaka e Takeuchi1995

Conhecimento (idéias, habilidades e experiência) pode ser capturado e compartilhado

DiMattia e Oder1997

Organizações tem perdido uma quantidade significativa de informação e experiência através da saída de pessoas.

Philips 1997 Existe retorno sobre os investimentos em ativos de conhecimento.

Edvinson e Mallone1998

Definição teórica do capital intelectual e a primeira aplicação em uma organização através do "Navegador Skandia" (Skandia navigator).

Tobin

1998

A organização habilitada pelo conhecimento utiliza as habilidades e o conhecimentos de todos os seus funcionários, independente da função dos mesmos. Organizações utilizam apenas 10% do conhecimento dos seus profissionais - sistemas mais eficientes são necessários.

Harvey e Lusch1999

Tentativa de avaliar lado do passivo dos ativos intangíveis. Pesquisa sobre a questão do impacto de uma atividade/pessoa em particular na criação futura de valor para a empresa.

Carley2000

Medidas de performance e da arquitetura organizacional baseadas em análise de redes sociais.

Lev 2000 Criação do Knowledge capital scorecard.

Karl Sveiby

Quadro 1 - Evolução do estudo sobre capital intelectual

Fonte: adaptado pelo autor de KANNAN e ALBUR (2004 :393-399)

Page 42: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

42

De acordo com Stewart (2001 :XIV), o termo capital intelectual foi utilizado pela

primeira vez em 1958, por analistas financeiros que avaliavam o mercado de ações de

empresas muito pequenas e focadas em ciência (science-based companies).

Na segunda metade da década de 1980, se iniciou um período de intensa atividade

onde os principais conceitos relativos ao capital intelectual começaram a ser cunhados e, sob a

liderança de Karl Sveiby em 1989, aconteceram as primeiras iniciativas visando medir e

divulgar os ativos intangíveis das empresas (ANDRIESEN, 2004).

Seguindo-se às iniciativas embrionárias de Sveiby, tivemos na década de 1990, a

publicação de diversos trabalhos e livros sobre o tema que acabaram por compor a base

conceitual que dá suporte ao estudo do capital intelectual até os dias de hoje.

Roos et Al. (1997 :15) nos mostram que as rotas teóricas que hoje dão suporte ao

conceito de capital intelectual derivam de duas escolas de pensamento: a corrente da

estratégia e a corrente da medição.

A Figura 7 mostra a evolução e o relacionamento dessas correntes de pensamento.

Page 43: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

43

Organizações que aprendem

Gestão de conversação (Conversation management )

InovaçãoDesenvolvimento de conhecimento

Gestão do conhecimentoEstratégia

Competências Essenciais (Core competencies)

Alavancagem de conhecimento

Capital IntelectualAtivos invisíveis (Invisible assets )

Contabilidade de recursos humanos

Medição Balanceado (Balanced)Painéis de controle (Scorecards)

Financeiro

Figura 7 - Raízes conceituais do Capital Intelectual

Fonte: ROOS et al. (1997 :15)

As contribuições da corrente da estratégia se concentram na análise de dois pontos

principais: as formas como o conhecimento é criado, e como ele pode ser melhor aproveitado.

No caso da corrente da medição, suas raízes remontam aos anos 70 com o

desenvolvimento da contabilidade de recursos humanos (ROOS et. Al., 1997 :15-19).

A convergência dessas escolas de pensamento e o aumento da atividade de pesquisa ao

redor do tema capital intelectual têm se intensificado, na medida em que cresce a importância

do mesmo, para a criação de valor das empresas.

Page 44: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

44

Stewart (2001 :8) aponta que, em 1999, os ativos intangíveis se tornaram o artigo de

maior valor a ser exportado pelos EUA.

No ano seguinte, o investimento das corporações norte-americanas em ativos

intangíveis, praticamente se igualou ao investimento em ativos convencionais, atingindo o

patamar de US$ 1 trilhão (HAND e LEV, 2003 :4).

Esses exemplos nos dão noção da importância atual do capital intelectual.

Como veremos na próxima sessão, a realidade atual das empresas, cada vez mais

apoiadas no uso de capital intelectual, faz com que a própria definição da “firma”, até então

vista como: “um conjunto de ativos que pertence aos acionistas, mas que é administrado para

eles por gestores contratados”, precise ser revista (STEWART, 2001: 22-23).

Esses crescentes investimentos em intangíveis podem, em parte, ser explicados pela

“comoditização” dos ativos financeiros e físicos, que, cada vez mais, estão disponíveis

também aos competidores e conseguem no máximo, gerar um retorno sobre investimento

competitivo (HAND e LEV, 2003 :1).

Em virtude disso, segundo Stewart (2001 :23-25), a busca de vantagem competitiva

apenas através do uso mais eficiente dos ativos tangíveis (work-the-assets) por parte da

empresa, trata-se de uma estratégia que todos os concorrentes podem e acabam por seguir, e

que em algumas indústrias, chegou ao seu limite.

A conseqüência disso é que não há mais como gerar vantagem competitiva através de

trabalho “não especializado”, ou de uma máquina a ser adquirida, pois qualquer competidor

pode fazer o mesmo (STEWART, 2001 :25).

Page 45: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

45

Andriensen (2004 :7) sugere que essa importância dos intangíveis decorre da

combinação de 3 fatores, que levam à uma “descontinuidade” na economia. Os fatores são:

• Globalização;

• Desregulamentação de setores chaves da economia;

• Crescimento exponencial do ritmo da mudança tecnológica.

Dentre estes três fatores, é o impacto da globalização do comércio aquele mais

comentado na literatura de negócios (científica ou não).

As enormes transformações provocadas pela globalização, decorrem da drástica

intensificação da concorrência (LEV, 2001 :9).

Essa “hipercompetição” têm progressivamente forçado a redução de barreiras

comerciais (como proteções e subsídios) e o aumento do fluxo de informações, criando assim

mercados completamente novos através da ampliação do que é negociável (TEECE, 1998 :56-

57).

A realidade é que, no cenário econômico globalizado, não há como impedir os

concorrentes de copiar ou aperfeiçoar rapidamente produtos e processos produtivos, num

contexto que é marcado pela mobilidade (de pessoas, produtos e informação), pela

“engenharia reversa” e por tecnologias amplamente disponíveis (DAVENPORT e PRUSAK,

1998 :19).

Com respeito à desregulamentação da economia, segundo aspecto crítico para que

possamos entender a crescente importância do capital intelectual, a abertura de setores chaves

nos mais diversos países, quer seja na área de “utilities” (energia, telecomunicações,

transportes, etc.) ou de serviços financeiros, é outra importante força determinando a

eliminação de monopólios e a intensificação da concorrência, nos mais diversos setores da

economia (ANDRIENSEN, 2004:7).

Page 46: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

46

O terceiro fator crítico é a mudança tecnológica cada vez mais rápida e dramática.

Para, Deng, Lev e Narin (1999 :20), a inovação e a mudança tecnológica são os maiores

direcionadores do crescimento e da produtividade das empresas.

No caso específico das tecnologias de informação e comunicação, seu rápido

desenvolvimento resultou no declínio do custo de processamento de informações e na criação

de redes globais de informação, oferecendo assim, acesso global à informação e ao

conhecimento (ANDRIENSEN, 2004:7).

E é exatamente através do aumento da velocidade da transferência do conhecimento, e

da extensão do acesso desse conhecimento às pessoas e grupos, que o desenvolvimento

tecnológico tem potencializado o crescimento do capital intelectual das empresas

(DAVENPORT e PRUSAK, 1998 :149-172).

Em decorrências dessas transformações no cenário de negócios, cada vez mais fica

improvável que qualquer empresa possa controlar o fornecimento de um recurso natural ou

produto básico e as oportunidades para o estabelecimento de diferenciais competitivos, só

podem vir de conhecimento “proprietário”, competências únicas, uma marca forte, ou de

outros componentes do capital intelectual (STEWART, 2001 :23; ANDRIENSEN, 2004 :7).

2.1.3 O Capital Intelectual e a Teoria da Firma

De acordo com o que foi exposto até agora, fica claro que, na medida em que o capital

intelectual passa a se constituir no mais importante motor do desempenho das empresas e do

crescimento econômico, é necessário que se pondere os efeitos deste na própria “Teoria da

Firma”.

As “Teorias da Firma” se constituem em modelos conceituais, abstrações das

organizações do mundo real, que buscam prever e explicar a estrutura e os comportamentos

das empresas. Na realidade, cada uma delas foi concebida tendo em vista um conjunto

particular de comportamentos e estruturas a serem explicados (GRANT, 1996 :109).

Page 47: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

47

Qualquer teoria da firma deve ser capaz de lidar efetivamente com duas questões

(HOLMSTROM e TIROLE, 1989 apud. CONNER, 1991: 123):

a) Qual é a razão de existir da firma ?

b) O que determina seus limites em termos de escala e escopo ?

Dentre as principais proposições para a teoria da firma, numa seqüência cronológica,

podemos identificar cinco escolas principais (CONNER, 1991 :123).

• Teoria da escola neoclássica de competição perfeita

• Teoria da escola da Organização Industrial (conforme proposta por Bain)

• Teoria da escola de Schumpeter

• Teoria da escola de Chicago

• Teoria dos Custos de Transação

Mesmo que, em essência, todas essas escolas coincidam em que o objetivo máximo da firma é

a maximização dos lucros, cada uma delas, apresenta importantes diferenças em relação aos

meios pelos quais as empresas buscam realizar esse objetivo (CONNER, 1991 :123).

Iniciando pela visão dos neoclássicos (Marshall, Jevons, Menjers, Walras, entre

outros), herdeiros da tradição de Adam Smith, o objetivo da firma é combinar recursos de

forma a produzir um produto acabado.

A alocação de recursos se dá com base nas regras de oferta e demanda de um mercado

constituído por consumidores racionais e totalmente informados.

Ao longo do tempo, cada empresa (consideradas de forma homogênea), ao buscar

maximizar seus lucros, gera um equilíbrio de mercado que resulta em ausência de retorno

econômico para todas as firmas, já que todas são igualmente capazes de combinar os insumos

e recursos produtivos.

Page 48: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

48

Os limites de escala são definidos por fatores tecnológicos e gerenciais, enquanto as

empresas são vistas como entidades de um único produto (MOSS, 2001 :51; CONNER, 1991

:123-124).

Construída para endereçar questões relativas às grandes corporações, surgidas nos

EUA à partir do final do século IXX, a visão da escola da organização industrial (Bain, Weiss,

Scherer, Tirole e outros) considera que, as firmas existem para restringir o fluxo produtivo (e

a oferta de produtos) através do exercício de seu poder de monopólio e/ou através de conluios

com outras empresas.

Controlando a oferta, é possível inflar os preços “artificialmente”, ampliando as

margens e o lucro da empresa.

Em relação à escala e escopo, a intervenção governamental é vista como a única

limitação capaz de limitar o crescimento contínuo das firmas em busca de suas posições

monopolísticas.

A escola da organização organizacional confere um peso muito maior às

características particulares de cada empresa, e aceita a possibilidade de que existam

diferenciais de desempenho que possam ser mantidos ao longo do tempo (CONNER, 1991

:124-125).

Mesmo não fazendo menção específica, é a visão de Schumpeter sobre a teoria da

firma, que primeiro insere aspectos do capital intelectual em seu contexto.

Sob essa ótica, o propósito das firmas é gerar oportunidades competitivas através da

criação e adoção de inovações tecnológicas, que tornem obsoletas as posições competitivas

dos rivais.

É a capacidade de gerar e aplicar inovações radicais (uma das facetas do uso do capital

intelectual) em busca da conquista de poder de monopólio, que define os limites da firma em

termos de escala e escopo (CONNER, 1991 :127-128).

Page 49: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

49

Rejeitando o foco em inovação, a visão da escola de Chicago (Stigler, Demsetz,

McGee, entre outros), novamente traz para o cerne da questão a teoria de formação de preços

da escola neoclássica.

Ao fazer isso, de acordo com os seus proponentes, a razão de existir da firma passa a

ser melhorar continuamente sua eficiência na produção e distribuição de bens e serviços.

A posição monopolista desejada para maximizar lucros se torna então, decorrente de

um nível de eficiência superior aos dos concorrentes.

Ao mesmo tempo, o nível de integração vertical, o escopo e tamanho da empresa, são

definidos em função do ponto onde ela deixa de ter ganhos de eficiência (CONNER, 1991

:129-130).

Finalmente, de acordo com a escola dos custos de transação (Coase e Williamson),

existem dois métodos alternativos para a coordenação da produção: o mercado de fatores, ou a

firma.

Sendo assim, a existência da firma (bem como a extensão dos seus limites horizontais

e verticais) se explica na medida em que ela se constitua numa forma mais efetiva, do ponto

de vista dos custos, de alocar os recursos e insumos necessários à produção e distribuição dos

bens e serviços (CONNER, 1991 :130-131).

No entanto, de acordo com a visão dessa escola, a alocação via firma deve ser vista

como a última das opções, já que a organização interna apresenta sempre um maior custo

burocrático e um menor nível de intensidade de incentivos, quando comparada com a

alocação híbrida ou via mercado (WILLIAMSON, 1991 :83).

No entanto, todo o racional construído por essa escola, considera a existência de

direitos de propriedade claramente definidos e passíveis de serem impostos por força de leis

(WILLIAMSON, 1991 :83).

Page 50: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

50

Essa premissa básica, claramente não é valida em se tratando de capital intelectual.

Milgrom e Roberts (1992 :321) apontam, por exemplo, algumas complicações

decorrente da aplicação dos preceitos da escola de custos de transação, na alocação do capital

humano.

Por ser, de forma geral, não negociável e freqüentemente, ser “coespecializado”

(cospecialized) com o capital humano de outras pessoas, são necessários arranjos

organizacionais complexos para proteger os investimentos em capital humano. Arranjos esses

que parecem ir contra a minimização dos custos de transação.

Para lidar com esta e com outras particularidades do capital intelectual, Grant (1996

:112), propõe a construção de uma nova teoria da firma.

Na visão do autor, “a existência da firma representa uma resposta à assimetria

fundamental na economia do conhecimento: a aquisição do conhecimento requer uma maior

especialização do que é necessário para o seu uso”.

Também Teece (2000 :29), questiona a capacidade das teorias da firma vigentes em

lidar com o capital intelectual e afirma que: “a essência da firma é a sua habilidade em criar,

transferir, empacotar, proteger e explorar ativos de conhecimento”.

Dessa forma, para o mesmo autor, a abrangência da firma em termos de integração

vertical e horizontal, não seria apenas determinada apenas por custos de transação, mas

sofreria forte influência de questões como imitabilidade/replicabilidade e da natureza tácita do

conhecimento.

Enfatizando a aplicação do conhecimento (no lugar da sua geração), Grant (1996 :112)

propõe que as firmas existam como instituições, porque criam condições para que os

indivíduos integrem seus conhecimentos especialistas, de forma a produzir bens e serviços.

Page 51: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

51

Essa nova razão de ser da firma, que num primeiro momento pode parecer somente

um caso particular da teoria dos custos de transação, possui aspectos próprios bastante

relevantes.

De acordo com essa nova visão, a vantagem da alocação via firma no processo

produtivo, não é a eliminação de custos de transação, decorrente de processos burocráticos

verticais impostos, mas a criação de um modelo de governança que permita a integração do

conhecimento de vários indivíduos no processo produtivo (GRANT, 1996 :113).

A grande questão a ser observada é a interdependência entre os ativos do

conhecimento.

Se dois pesquisadores, de áreas diferentes, querem escrever um artigo juntos, a

eficiência não será maximizada se um tentar aprender tudo o que o outro sabe, mas sim,

estabelecendo um modo de interação que permita a integração do conhecimento dos dois,

minimizando o tempo gasto transferindo conhecimento entre eles.

Para lidar de forma apropriada com a interdependência, a perspectiva do capital

intelectual nos faz dar ênfase no aspecto empreendedor da governança corporativa, e não no

seu aspecto administrativo (TEECE, 2000 :29).

Dessa forma, os princípios de desenho e definição organizacional, sob a ótica do

capital intelectual, acabam sendo conflitantes com as teorias da firma anteriormente definidas

(GRANT, 1996 :120).

Sendo assim, considerando que a firma exista para integrar o conhecimento

especializado de diversos indivíduos, pois essa integração não é passível de ser feita de forma

eficiente através do mercado, as fronteiras verticais e horizontais, devem ser avaliadas com

respeito ao seu nível de eficiência na utilização do conhecimento (GRANT, 1996 :119).

Page 52: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

52

Portanto, a integração vertical na mesma firma, deve ser buscada nos casos onde existe

interdependência de conhecimento entre os processos produtivos, pois ainda que o mercado

transfira produtos de forma eficiente, a transferência de informação não se dá da mesma

maneira (DEMSETZ, 1991 apud. GRANT, 1996 :119).

No caso da diversificação, como o conhecimento é, em grande grau, não específico a

um produto, a utilização efetiva do mesmo exige empresas com diversos produtos. Ao mesmo

tempo, como o processo de aquisição e integração dos diversos tipos de conhecimento

necessários para a criação de um produto, é difícil e custoso para ser executado, é de se

esperar uma prevalência das empresas de produto único (GRANT, 1996 :120).

Ou seja, fica evidente que para responder a essa questão, temos que observar a

congruência entre os domínios de produtos e de conhecimentos da firma, de forma a buscar o

nível de diversificação que maximize o uso do seu capital intelectual.

Uma vez tendo considerado a natureza e dimensão dos impactos do capital intelectual

na teoria da firma fica aparente, que os mesmos devem também, ser considerados num

contexto mais amplo.

2.1.4 Efeitos do Capital Intelectual no cenário econômico

Um dos efeitos mais visíveis da crescente importância do capital intelectual para o

resultado das empresas, é o afastamento do valor de mercado e do valor contábil das empresas

verificado nos últimos anos.

A Figura 8 representa essa relação entre capital intelectual e valor de mercado das

empresas.

Page 53: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

53

Modelo do Capital Intelectual

Ativostangíveis

Ativosintangíveis

-Capital Humano

-Capital Estrutural

-Capital Relacional

Valor total de mercado

Figura 8 - Capital intelectual e valor de mercado

Fonte: STEWART (2001 :13)

No período compreendido entre 1982 e 2002, o valor médio da razão “valor contábil

sobre valor de mercado” (M/B) das empresas que compõe o índice S&P500 da bolsa de

valores norte-americana, cresceu 400% (HAND e LEV, 2003 :4).

Ainda para ilustrar o papel preponderante do capital intelectual, cabe mencionar que,

quando em 1996 foi feita a oferta pública inicial das ações da empresa Sabre, criada a partir

da divisão da American Airlines que operava o sistema de reservas “online” da companhia, o

mercado atribuiu à empresa recém criada, cujo único ativo era a infra-estrutura computacional

necessária para operar o sistema, um valor igual ao da segunda maior empresa aérea do

mundo com mais de 650 aviões, além de um extenso conjunto de ativos físicos (LEV,

2001:24).

Page 54: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

54

A capacidade de analistas e investidores estimarem o valor de empresas, cada vez

mais intensivas em ativos intangíveis, com base nas informações públicas disponíveis mostra-

se limitada. Lev (2000 :2) chama a atenção para uma “contínua deterioração da associação

estatística entre o preço das ações e as variáveis financeiras chaves, tais como lucros, valor

contábil ou fluxos de caixa”.

Da mesma forma, Stewart (1998 :55), afirma que o mercado normalmente atribui um

valor equivocado aos ativos intelectuais.

Em termos gerais, a importância das informações públicas contábeis para os

investidores e mesmo para os gestores, tem diminuído de forma rápida (LEV, 2000 :2-3).

Essa perda de relevância decorre, em grande parte, do tratamento contábil distinto

dado aos ativos físicos e aos intangíveis. Enquanto os ativos físicos e financeiros são

reportados no balanço contábil, os intangíveis, de forma geral, desaparecem ao serem

lançados juntamente com despesas regulares no demonstrativo de resultados (LEV, 2001 :79).

O tratamento de ativos intangíveis como despesas, conforme determinam as práticas

contábeis vigentes, leva no caso das empresas intensivas em capital intelectual, a uma

avaliação inferior ao valor real das mesmas. O inverso ocorre com as empresas (geralmente

companhias maduras) menos dependentes dos intangíveis que obtêm do mercado uma

supervalorização com base na sua lucratividade histórica (LEV, 2000 :18).

Para Lev (2001 :83) a raiz do tratamento contábil diferenciado dos ativos intangíveis

decorre, sobretudo, da grande incerteza sobre o retorno futuro dos investimentos em

intangíveis, e se por um lado existe uma premente necessidade de melhoria do tratamento

contábil dado ao capital intelectual, por outro o sistema atual serve a interesses de gestores e

investidores informados.

Page 55: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

55

De forma geral, o sistema atual infla os resultados futuros de lucratividade e

crescimento, já que o custo associado ao retorno trazido pelos intangíveis normalmente foi

lançado em períodos contábeis anteriores causando assim, problemas de assimetria de

informações (LEV, 2001 :85-90).

A assimetria de informações é definida como uma situação onde existem diferenças

em relação à quantidade e qualidade da informação disponível entre as distintas partes

interessadas, e essa assimetria gera problemas sociais e privados, já que alguns indivíduos ou

grupos, ao estarem melhor informados sobre as perspectivas futuras da empresa, podem

auferir ganhos anormais às custas das partes menos informadas (LEV, 2001 :93).

De acordo com Aboody e Lev (2000 :2749), todo investimento corporativo gera

assimetrias de informação, pois os gestores acompanham continuamente os resultados desses

investimentos e contam com informação detalhada permitindo uma análise “ativo por ativo”,

enquanto os “outsiders” dispõem apenas de informação agregada e disponível em momentos

específicos. Além disso, em função dos investimentos na criação de ativos intangíveis

possuírem características únicas, que não permitem a sua comparação com outras empresas ou

projetos, os efeitos das assimetrias no caso do capital intelectual são ainda maiores.

Como o ganho dos investidores informados cresce com a variabilidade do valor da

firma, e sabendo-se que essa volatilidade é maior nas empresas mais intensivas em capital

intelectual, as conseqüências sociais da assimetria de informações se potencializam.

Isso torna ainda mais crítico encontrar formas de melhorar o processo de divulgação

de informações associadas aos intangíveis, ao mesmo tempo em que se adotam regras estritas

em relação às operações de “inside trading” (LEV, 2001 :94-95; ABOODY e LEV, 2000

:2751).

Page 56: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

56

Finalmente, alguns outros efeitos dessas sérias deficiências de informação em relação

ao capital intelectual das empresas são (LEV, 2001 :95-96):

• geração de um custo excessivo de capital;

• problemas em relação aos sistemas de compensação dos empregados;

• a criação de oportunidades para aquisições hostis de empresas que se

encontrem com seu valor de mercado sub-avaliado.

Em face a essas questões, se torna fundamental ampliar a compreensão sobre como se

compõe o capital intelectual das empresas, como podemos mensurá-lo e qual o seu real efeito

na capacidade de geração de valor das empresas.

2.2 Classificação e constituintes do capital intelectual

Da mesma forma que não encontramos consenso nem ao menos em relação à

definição contábil de ativos intangíveis, muitas são as visões em relação aos constituintes do

capital intelectual (ANDRIENSEN, 2004 :60).

Porém, mesmo que a existência desses diversos modelos e classificações para o capital

intelectual possa parecer indesejável, ela é uma conseqüência natural da pouca maturidade

dessa área de estudo (BONTIS, 2001 :59).

As gravuras Figura 9 e Figura 10 abaixo mostram algumas das diversas classificações

utilizadas pelos estudiosos na área de capital intelectual.

Na seqüência, detalharemos os componentes da classificação que será adotada neste

trabalho.

Page 57: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

57

Figura 9 - Classificações do Capital Intelectual

Fonte: adaptado pelo autor de ANDRIENSEN (2004 :61)

Capital Intelectual

Capital Humano

Capital Organizacional

Capital Relacional(Relational Capital)

• Holistic value approach (ROOS)• Inclusive value methodology (M’PHERSON)

Capital Intelectual

Capital Humano

Capital Organizacional

Capital Relacional(Relational Capital)

Capital Intelectual

Capital Humano

Capital Organizacional

Capital Relacional(Relational Capital)

• Holistic value approach (ROOS)• Inclusive value methodology (M’PHERSON)

• Intellectual capital dynamic value (BOUNFOUR)

CapitalIntelectual

Capital Estrutural

CapitalHumano

Capital deMercado

Capital deInovação

• Intellectual capital dynamic value (BOUNFOUR)

CapitalIntelectual

Capital Estrutural

CapitalHumano

Capital deMercado

Capital deInovação

CapitalIntelectual

Capital Estrutural

CapitalHumano

Capital deMercado

Capital deInovação

• Intellectual capital audit (BROOKING)

CapitalIntelectual

Ativos deMercado

AtivosCentradosem Pessoas

Ativos deInfrra-estrutura

Ativos dePropriedadeIntelectual

• Intellectual capital audit (BROOKING)

CapitalIntelectual

Ativos deMercado

AtivosCentradosem Pessoas

Ativos deInfrra-estrutura

Ativos dePropriedadeIntelectual

CapitalIntelectual

Ativos deMercado

AtivosCentradosem Pessoas

Ativos deInfrra-estrutura

Ativos dePropriedadeIntelectual

• Intellectual capital statement (MOURITSEN et al.)

Conhecimento

Empregados Clientes Processos Tecnologia

• Intellectual capital statement (MOURITSEN et al.)

Conhecimento

Empregados Clientes Processos Tecnologia

Conhecimento

Empregados Clientes Processos Tecnologia

• Intellectual capital index (ROOS et al.)

CapitalIntelectual

CapitalHumano

CapitalEstrutural

Competên-cia

AtitudeAgilidadeIntelectual

Relaciona-mentos

Organi-zação

Renovaçãoe Desen-volvimento

• Intellectual capital index (ROOS et al.)

CapitalIntelectual

CapitalHumano

CapitalEstrutural

Competên-cia

AtitudeAgilidadeIntelectual

Relaciona-mentos

Organi-zação

Renovaçãoe Desen-volvimento

CapitalIntelectual

CapitalHumano

CapitalEstrutural

Competên-cia

AtitudeAgilidadeIntelectual

Relaciona-mentos

Organi-zação

Renovaçãoe Desen-volvimento

• Konrad Group

Capitalde

Know-how

CapitalIndividual

CapitalEstrutural

Educaçãoformal

Experiênciae habilidadesadquiridas

Competênciasocial

Atitude dopessoal

Abilidadede solucionarde problemas

Capital“Clientes”

• Konrad Group

Capitalde

Know-how

CapitalIndividual

CapitalEstrutural

Educaçãoformal

Experiênciae habilidadesadquiridas

Competênciasocial

Atitude dopessoal

Abilidadede solucionarde problemas

Capital“Clientes”

Capitalde

Know-how

CapitalIndividual

CapitalEstrutural

Educaçãoformal

Experiênciae habilidadesadquiridas

Competênciasocial

Atitude dopessoal

Abilidadede solucionarde problemas

Capital“Clientes”

AtivosIntangíveis

Competênciados

empregados

Estruturainterna

Estruturaexterna

• Intangible asset monitor (SVEIBY)

AtivosIntangíveis

Competênciados

empregados

Estruturainterna

Estruturaexterna

AtivosIntangíveis

Competênciados

empregados

Estruturainterna

Estruturaexterna

• Intangible asset monitor (SVEIBY)

Capital Intelectual

Capital Humano

Capital Estrutural

Capital“Clientes”

CapitalOrganizacional

Capital deInovação

Capital deProcessos

• Skandia novigator (EDVINSSON)• VAICTM (PULIC)

Capital Intelectual

Capital Humano

Capital Estrutural

Capital“Clientes”

CapitalOrganizacional

Capital deInovação

Capital deProcessos

Capital Intelectual

Capital Humano

Capital Estrutural

Capital“Clientes”

CapitalOrganizacional

Capital deInovação

Capital deProcessos

• Skandia novigator (EDVINSSON)• VAICTM (PULIC)

Visão Geral das Classificações do Capital Intelectual

Page 58: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

58

• Taxonomia dos Ativos Intangíveis(KAYO)

AtivosIntangíveis

AtivosHumanos

Ativosde

Inovação

AtivosEstruturais

Ativos deRelaciona-Mento

(com públicosestratégicos)

• Taxonomia dos Ativos Intangíveis(KAYO)

AtivosIntangíveis

AtivosHumanos

Ativosde

Inovação

AtivosEstruturais

Ativos deRelaciona-Mento

(com públicosestratégicos)

AtivosIntangíveis

AtivosHumanos

Ativosde

Inovação

AtivosEstruturais

Ativos deRelaciona-Mento

(com públicosestratégicos)

Figura 10 - Taxonomia dos Ativos Intangíveis

Fonte: KAYO (2002 :19)

2.2.1 Capital humano

Um componente comum a todas as classificações de capital intelectual apresentadas é

o capital humano.

Esse componente possui suas raízes no campo de estudo da economia e nos efeitos

produtivos da qualidade e da competência dos trabalhadores.

Em sua obra “A riqueza das nações”, Adam Smith já alertava para os efeitos da

divisão do trabalho (SMITH, 2003), e ao analisar os determinantes dos salários, propunha

que a educação e a aprendizagem deveriam ser considerados investimentos nos seres humanos

(NERDRUM e ERIKSON, 2001 :128).

Mesmo sem utilizar o termo capital humano, Alfred Marshall foi o primeiro a

relacionar a educação com o fator de produção homem e propor que os investimentos nas

pessoas devessem ser analisados como capazes de aumentar a capacidade produtiva de um

país (MARSHALL, 2003).

Page 59: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

59

Para Marshal (1890 :496 apud NERDRUM e ERIKSON, 2001 :128), o mais valioso

tipo de capital é aquele investido nos seres humanos, dessa forma, a hipótese central de sua

teoria é que, para as economias sub-desenvolvidas, a escassez de capital humano qualificado

se constitui num desafio ainda maior que a escassez de capital físico.

As bases da teoria econômica moderna do capital humano surgiram no início do

século XX com Irving Fisher. O autor postulava que qualquer estoque de riqueza (material ou

não), capaz de elevar os fluxos de “income”, deveria ser classificada como capital

(NERDRUM e ERIKSON, 2001 :128-129).

Partindo dessa proposição, Theodore W. Schultz (sob uma óptica “macro-econômica)

e, Jacob Mincer (sob a óptica “micro-econômica”) elaboraram, de forma independente, a

“Teoria do Capital Humano”, à partir da final da década de 1950 (NERDRUM e ERIKSON,

2001 :128-129).

A teoria considera o capital humano como análogo às formas convencionais de capital,

aplicando assim o modelo teórico neoclássico para análise.

Dessa forma, o acúmulo de capital humano pode ser medido a partir dos gastos com

educação formal, e com o acúmulo de conhecimento e informação produtivas que o indivíduo

realiza ao longo de sua existência, com objetivo de melhorar a sua condição econômica de

vida (BECKER, 1964).

A “Teoria do Capital Humano” representa assim, uma proposta alternativa de

desenvolvimento econômico, e segundo Becker (1964), a produtividade nas sociedades

modernas depende antes de tudo, dos investimentos feitos na aquisição de conhecimento e na

especialização profissional.

Page 60: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

60

Sob a óptica do capital intelectual, o capital humano é um constituinte que se refere ao

valor que os indivíduos podem produzir (KANNAN e AULBUR, 2004 :389), e ainda que

Malhotra (2003 :3) afirme que ele abrange todos os recursos humanos da empresa, assim

como os de seus clientes e fornecedores, para a maioria dos autores, apenas os recursos dos

empregados e gestores da empresa (visão interna) são considerados (KUJANSIVU, 2003 :3;

EDVINSON e MALONE, 1997 :34-35).

Esse valor representado pelo capital humano das organizações decorre, segundo Roos

et. Al. (1997 :34-41), da competência adquirida dos profissionais, ou seja, dos conhecimentos

e aptidões dos mesmos, de características comportamentais das pessoas que compõem a

organização (“atitude”), e da capacidade dessas em inovar e aplicar seu conhecimento em

situações novas e diferentes (“agilidade intelectual”).

Se por um lado o capital humano apresenta uma grande complexidade na sua gestão,

fazendo com que um dos objetivos da empresa ao gerir seu capital intelectual seja buscar

continuamente converter capital humano em capital estrutural (LEV, 2001 :35-36), por outro,

Teece (1998 :66) aponta que a natureza tácita do capital humano dificulta a sua imitação,

tornando mais sustentável a vantagem competitiva dele decorrente.

Também Stewart (1998 :76) chama a atenção para a importância do capital humano,

apontando que o “valor marginal do investimento em capital humano é cerca de três vezes

maior do que o valor do investimento em equipamentos”.

2.2.2 Capital estrutural

Além do capital humano, parcela do capital intelectual associada aos indivíduos que

compõem a organização, de forma geral, todas as taxonomias reconhecem também uma outra

parcela, que está diretamente ligada à empresa, seus sistemas, processos e conteúdo

proprietário e, sobre a qual a organização consegue ter “controle” efetivo.

Page 61: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

61

Para Roos et. Al. (1997 :42) essa parcela do capital intelectual associado à organização

é chamada de capital estrutural.

O capital estrutural inclui todos os sistemas computacionais e bases de dados,

organogramas e descritivos de processos, bem como, toda a propriedade intelectual e

quaisquer outros itens cujo valor para empresa seja superior ao valor material do mesmo

(ROOS et. Al., 1997 :42).

Esse capital estrutural, normalmente de propriedade da empresa, é definido por três

importantes constituintes: ativos de relacionamento, ativos de “organização” e ativos de

renovação e desenvolvimento (inovação).

Kayo (2002 :19) ao propor uma taxonomia que torne mais uniforme as classificações

do capital intelectual, classifica como ativos de relacionamento, todas as marcas, direitos

autorais, contratos com clientes, fornecedores, distribuidores, licenciados e “franquiados” que

a empresa possui.

Na visão de Roos et. Al. (1997 :44) também fazem parte do capital de relacionamento

da empresa, a reputação e lealdade conquistadas junto a todos os seus “stakeholders”.

Um aspecto interessante dos ativos de relacionamento é a sua relativa capacidade de

“auto-renovação” (self-renewal), haja visto que, novos relacionamentos podem se originar

daqueles já existentes, ainda que nenhum esforço consciente seja feito nesse sentido (ROOS

et. Al., 1997 :46).

O capital organizacional, segundo componente do capital estrutural, inclui todas as

manifestações do capital intelectual associadas à estrutura interna e às operações da empresa.

Trata-se de capital cuja propriedade integral é da empresa, e que em alguns casos, é

passível de comercialização ou licenciamento por parte desta.

Essa característica lhe confere um “valor de mercado” permitindo, eventualmente, a

sua avaliação e seu reconhecimento contábil.

Page 62: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

62

É necessário que a empresa continuamente desenvolva e “alimente” seu capital

organizacional. Esse objetivo é atingido, normalmente, através de iniciativas com o objetivo

de converter capital humano em capital organizacional (ROSS et. Al., 1997 :46-47).

O terceiro e último componente do capital estrutural são os ativos de renovação e

desenvolvimento. Esses incluem o resultado de investimentos em pesquisa e

desenvolvimento, patentes, fórmulas secretas, know-how tecnológico entre outros (KAYO,

2002 :19).

Roos et. Al. (1997 :51-52) descrevem esse componente como, compostos por “todos

os itens que foram construídos ou criados e que irão ter um impacto no valor futuro da

empresa”.

No contexto desse estudo, a preocupação com a natureza e o efeito dos componentes

do capital intelectual será deixada em segundo plano, já que o estudo busca verificar o efeito

do capital intelectual (como um todo) na capacidade da empresa em gerar valor.

Assim sendo, adotaremos aqui uma taxonomia equivalente às proposições de

Edvinson (1997) e Roos (1997) no seu primeiro nível, considerando assim que o capital

intelectual é composto por: capital humano e capital estrutural.

Tendo concluído, com a definição da classificação de capital intelectual a ser utilizada,

a parte do referencial teórico que buscou caracterizar, de forma ampla, o capital intelectual,

para melhor compreender os efeitos do mesmo na geração de valor das empresas, passamos

agora a analisar algumas características econômicas particulares dos ativos do conhecimento.

2.3 Atributos econômicos particulares dos intangíveis

O potencial do capital intelectual em gerar valor para as empresas está diretamente

relacionado a um conjunto de características econômicas particulares que afetam os ativos

intangíveis.

Page 63: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

63

Lev (2001 :21) menciona que as leis econômicas fundamentais de balanceamento de

custos e benefícios, se aplicam aos ativos intangíveis da mesma forma que aos ativos físicos e

financeiros.

Porém, se na visão tradicional sobre o funcionamento dos mercados, derivada de

Marshall e Chanberlain, as premissas são a existência de retornos decrescentes e o uso de

funções produção idênticas para todos os participantes, no caso das empresas intensivas em

conhecimento, freqüentemente verificamos a existência de retornos crescentes.

Esses retornos crescentes decorrem de fatores como: a) padrões e efeito de redes, b)

custos de troca amplificados pelo investimento prévio dos clientes, c) existência de grandes

investimentos iniciais e custos marginais de produção reduzidos e, e) ganhos de eficiência

através da experiência e aprendizagem (TEECE, 2000 :7-8).

Sendo assim, podemos considerar que os principais benefícios associados ao capital

intelectual decorrem das características de “não-rivalidade” (nonrivalry/nonscarcity) e dos

“efeitos de rede” (network effects) desfrutados por esses.

Cabe aqui ressaltar que nesse contexto o termo “não-rivalidade”

(nonrivalry/nonscarcity), conforme definido por Lev (2001 :22), diz respeito à característica

presente na maior parte dos ativos intangíveis de possuir usos alternativos que não concorrem

entre si (nonrivalry) de forma que, em um mesmo momento, podem estar sendo empregados

em múltiplos usos sem que o uso de uma determinada forma, prejudique ou elimine a

possibilidade do mesmo intangível ser empregado de outra forma.

Ao mesmo tempo, o controle de propriedade apenas parcial (partial excludability), o

risco inerente dos investimentos nesses ativos, e o fato dos mesmos serem, via de regra, “não

negociáveis” (non-tradability), constituem-se nos três principais direcionadores de custo que

afetam os ativos intangíveis, restringindo o seu potencial de geração de valor (LEV, 2001

:21).

Page 64: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

64

De forma geral, o efeito positivo dos ativos intangíveis na lucratividade e no valor de

mercado das empresas, decorre fundamentalmente da combinação das economias de escala no

lado da oferta, e dos “efeitos de rede” no lado da demanda (HAND e LEV, 2003 :306;

ANDRIENSEN, 2004 :4).

Ao contrário dos ativos físicos e financeiros, os ativos intangíveis em função de serem

“não-escassos”, possuem um custo de oportunidade, além do investimento inicial, que é

insignificante. Esses ativos se caracterizam assim por apresentar um grande “sunk cost” e um

custo marginal próximo de zero (LEV, 2001 :22-23).

Essa característica faz com que a “escalabilidade” desses ativos não encontre outro

limite que não, o tamanho do mercado. Dessa forma, os ativos intangíveis, no lugar de

apresentarem “retornos por escala” decrescente como os ativos físicos, freqüentemente,

apresentam um “retorno por escala” crescente, beneficiando-se cada vez mais com a

ampliação do volume (HAND e LEV, 2003 :327).

Segundo Lev (2001 :25-26), um dos efeitos da escalabilidade ilimitada dos intangíveis

pode ser observado na parcela de mercado detida pelos líderes de um dado setor. Enquanto

em setores intensivos em ativos tradicionais, as empresas líderes, tipicamente, detém fatias

inferiores a 25% do mercado total, em setores intensivos em capital intelectual, é freqüente

encontrarmos empresas com mais de 70% de market share.

Outro fator que contribui para a criação desses quase monopólios em alguns setores

são os “efeitos de rede” (network effects). O mimetismo organizacional e a busca pelo

compartilhamento de uma mesma plataforma operacional favorecendo ações colaborativas,

acabam por criar um processo de reforço que faz com que os clientes existentes atraiam novos

clientes, ainda que a empresa fornecedora não faça esforço algum nesse sentido.

Page 65: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

65

O resultado final desse processo é a rápida aquisição de um monopólio por parte da

empresa. Além disso, em função dos altos custos de mudança, esse monopólio tende a se

perpetuar (HAND e LEV, 2003 :327).

Ainda que as características econômicas anteriormente mencionadas façam dos

intangíveis fontes importantes de geração de valor para as empresas, vários aspectos

relacionados à complexidade da sua gestão, impõem limites para a sua utilização. Lev (2001

:32) chama esse fatores de “deseconomias” gerenciais (managerial diseconomies), e se por

um lado essas “deseconomias” são a maior restrição ao crescimento e uso dos intangíveis, a

superação destas, através do uso de sistemas de informação e processos gerenciais mais

adequados, promete grandes recompensas.

Uma das maiores fontes de complexidade na gestão dos ativos intangíveis, é o fato dos

mesmos possuírem um perfil de “risco-retorno” incomum em relação aos investimentos

(HAND e LEV, 2003 :326).

Considerando um cenário de monopólio, a possibilidade de um retorno sobre

investimento (ROI – Return on Investment) muito alto com ativos intangíveis existe, sendo

maior e mais provável do que no caso de um investimento em ativos tangíveis.

Esse fato se explica pela ausência de produtos substitutos próximos para os ativos

intangíveis em questão.

Por outro lado, em se tratando de investimentos em ativos intangíveis, a hipótese mais

provável é sempre a de perda total do investimento, o que é pouco provável de acontecer no

caso de um investimento em ativos tradicionais.

Estudos empíricos demonstram que existe viés nos processos de inovação, já que

apenas uns poucos produtos são bem sucedidos, enquanto a grande maioria, não obtém êxito

(LEV, 2001 :39).

Page 66: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

66

Outro motivo para o perfil de risco enviesado dos intangíveis, segundo Andriensen

(2004 :5), é que os investimentos em capital intelectual, tais como: P&D (pesquisa e

desenvolvimento), treinamento e aquisição de tecnologias, são mais concentrados nos estágios

iniciais do desenvolvimento de um novo produto, quando o nível de incertezas é muito maior

do que em estágios mais avançados desse processo de desenvolvimento de produtos.

Um segundo aspecto importante que torna complexa a gestão dos ativos intangíveis, é

a impossibilidade de restringir o seu uso.

Isso ocorre não apenas em função de violações de patentes e marcas registradas, ou da

cópia não autorizada de conhecimento explicito, mas também, da transferência de

conhecimento tácito para um concorrente que contrata profissionais chave da empresa (LEV,

2001 :33-37).

Para Andriensen (2004 :5), a última característica dos ativos intangíveis que dificulta a

sua administração é a inexistência de mercado para a negociação dos mesmos.

A falta de mercados dificulta a real avaliação desses ativos e impede a alocação ótima

de recursos e investimentos.

A inexistência de mercados organizados para a comercialização dos intangíveis, que

para alguns é decorrente da falta de “contratos completos” (LEV, 2001 :43), torna ainda mais

importante a efetiva avaliação do capital intelectual das empresas e a compreensão de seu

efeito na geração de valor das mesmas.

Com base na série de características econômicas apresentadas, nos concentramos

agora em verificar como, de acordo com os principais autores, o capital intelectual se constitui

num recurso estratégico capaz de gerar valor.

Page 67: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

67

2.4 A influência dos ativos intangíveis na geração de valor

A geração de valor constitui-se no objetivo central de qualquer empresa.

Estudos conduzidos nos últimos 200 anos na área de economia demonstram que é

somente através da busca sustentável e contínua da maximização dos seus lucros, que a

empresa pode atender aos objetivos, não apenas de seus acionistas, mas de todas os demais

“stakeholders”. (JENSEN, 2001 :299-304).

Para Barney (2002 :26-33), a definição de criação de valor está associada à capacidade

da empresa de gerar lucro econômico, ou seja, de através do uso de seus recursos gerar valor

econômico superior ao esperado pelos donos desses recursos.

São as empresas que obtém lucro econômico acima do normal do setor, que desfrutam

de vantagem competitiva nesse setor ou mercado.

Em função do alto grau de mobilidade, e da vasta gama de alternativas de

investimento, as empresas necessitam tornarem-se competitivas não apenas nos mercados

comerciais, mas também, nos mercados de capitais (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :20-23).

Com base nos atributos econômicos dos ativos intangíveis descritos na seção 2.3, é

possível observar o potencial em termos de geração de valor que estes apresentam.

Através do constante desenvolvimento e efetiva utilização do seu capital intelectual, as

empresas criam inúmeras oportunidades para aumentar sua produtividade, quer seja

ampliando a eficiência dos ativos tangíveis existentes, ou reduzindo a necessidade destes.

Além disso, através da inovação e do relacionamento estreito com clientes e fornecedores, é

possível a introdução de produtos e serviços diferenciados de alta margem, bem como a

criação de mercados completamente novos (LEV, 2001 :51-77).

Page 68: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

68

Para prosseguir no estudo da influência do capital intelectual na geração de valor, faz-

se necessário agora, definir de forma mais clara geração de valor, tanto de forma ampla com,

principalmente, dentro do contexto deste trabalho.

2.4.1 Métricas de criação de valor

Se por um lado parece haver pouca discordância sobre o fato da geração de valor ser a

mais importante e objetiva medida de desempenho de uma empresa, existem diversas formas

de definir e mensurar geração de valor.

O “MVA - Valor de mercado agregado”(Market value added), o “EVA – Valor

econômico adicionado” (Economic value added) e o “CFROI – Retorno sobre o investimento

em termos de fluxos de caixa” (Cash-flow return on investment), são apenas algumas das

métricas de geração de valor que têm recebido maior destaque nos últimos anos (YOUNG e

O’BYRNE, 2003 : 331-367).

Para melhor compreenção das características das diversas métricas de geração de

valor, Young e O’Byrne (2003 :369-372) propõem uma classificação das métricas por

categoria de análise. Dessa forma, definem cinco grupos de métricas: medidas de lucro

residual, componentes de lucro residual, medidas baseadas no mercado, medidas de fluxo de

caixa, medidas de lucro.

Fazem parte do primeiro grupo o EVA, o lucro econômico (definido como EVA não

ajustado), e o valor adicionado em caixa (CVA).

Essas métricas são obtidas através da subtração dos custos de capital do lucro

operacional, independente do mesmo ser medido através de regime de competência de caixa

(YOUNG e O’BYRNE, 2003 :369).

No segundo grupo estão as medidas de lucratividade, utilizadas no cálculo das

métricas do primeiro grupo, porém que não consideram os custos de capital.

Page 69: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

69

São representantes dessa classe de medidas: o lucro antes de despesas financeiras e do

imposto de renda (EBIT), lucro antes de despesas financeiras e do imposto de renda acrescido

de depreciações e amortizações (EBITDA), NOPAT (Net Operating Profit After Taxes) e

RONA (Return On Net Assets), entre outras.

O grupo “Medidas baseadas no mercado” englobal medidas como: retorno total do

acionista (TSR- Total Shareholder Return), MVA (Market Value Added), o retorno em

excesso e o valor de crescimento futuro (VCF).

Tais medidas são bastante interessantes em função de serem as únicas a refletir

espectativas do valor futuro dos investimentos, no entanto, não podem sem calculadas nos

níveis divisionais e apenas são passíveis de aplicação em empresas de capital aberto.

As medidas de fluxo de caixa, criadas para contornar os efeitos da contabilidade em

regime de competência, incluem o fluxo de caixa das operações, fluxo de caixa livre e CFROI

entre outras métricas.

Finalmente, Young e O’Byrne (2003 :370) mencionam as métricas que

tradicionalmente tem sido empregadas há décadas por executivos e analistas tais como: lucro

líquido e lucro por ação.

Na busca de medidas objetivas de performance, Barney (2002 :32-73) pesquisou e

agrupou diversos indicadores em três grupos: medidas contábeis simples de desempenho

histórico, medidas contábeis ajustadas de desempenho histórico e, outras medidas.

Page 70: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

70

Dentre essas três classes de medidas propostas por Barney (2002 :32-33), as medidas

contábeis simples de desempenho histórico, ainda que apresentem limitações em função das

variações e aplicações das práticas contábeis geralmente aceitas (GAAP), do foco no curto-

prazo, e da dificuldade de avaliar recursos e ativos intangíveis, são aquelas que apresentam

maior popularidade e aceitação como indicadores de desempenho, e a despeito das

deficiências apontadas, são capazes de oferecer uma grande quantidade de informações

relevantes sobre a operação das firmas.

A composição de índices com base nessas medidas contábeis simples é a forma mais

usual de se aferir o desempenho das empresas (BARNEY, 2002 :32).

Alguns desses índices, com a sua respectiva fórmula de cálculo e interpretação, podem

ser encontrados no Quadro 2 mostrado a seguir.

Page 71: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

71

Índice Fórmula de cálculo InterpretaçãoRetorno sobre os ativos(ROA)

ROA=lucro depois de impostos / ativo total Mede o retorno total dos investimentos da firma.

Retrono sobre opatrimônio (ROE)

ROE=lucro depois de impostos / total do patrimôniolíquido

Mede o retorno total dos investimentos em patrimônio dafirma.

Margem bruta MB=vendas-CPV / vendas Valor residual para cobertura de despesas e impostos,visando geração de lucro.

Lucro por Ação (EPS)(Lucro após impostos - pgto. de dividendos sobre as ações preferenciais) / Número de ações ordinárias

Mede o lucro disponível para os proprietários de ações ordinárias.

Relação Preço e Lucro (p/e)

(Preço de mercado / número de ações) / (Lucro após impostos / número de ações)

Mede a expectativa sobre o desempenho da empresa - uma alta relação p/e indica que o mercado espera um alto nível de performance no futuro.

Fluxo de Caixa por ação(Lucro após impostos + depreciação) / Número de ações ordinárias

Mede a disponibilidade de recursos para financiar atividades acima do nível de custos atuais.

Índice de liquidez corrente Ativo circulante / Passivo de curto prazo

Mede a capacidade da firma de pagar as suas dívidas de curto prazo usando seu ativo circulante.

Índice rápido (quick ratio ) (Ativo circulante - estoques) / Passivo de curto prazo

Mede a capacidade da firma de pagar as suas dívidas de curto prazo usando seu ativo circulante, sem vender o seu estoque.

Endividamento sobre ativo Passivo total / Ativo total

Medida do nível de endividamento usado para financiar as operações da empresa.

Endividamento sobre patrimônio líquido Passivo total / Patrimônio líquido

Mede a relação entre capital de terceiros e capital próprio na empresa.

Índice de cobertura de juros (Times interest

earned )Lucro antes de despesas financeiras e impostos / Total das despesas financeiras

Medida de quanto os lucros da empresa podem cair sem comprometer o pagamento das obrigações financeiras.

Giro de estoque Custo de mercadorias vendidas / Estoque médioMede a velocidade com que a empresa está girando o seu estoque.

Giro de contas a receber Vendas a prazo no ano / contas a receberMede o tempo médio que a empresa leva para receber as suas vendas a prazo.

Tempo médio de cobrança Contas a receber / Média diária de vendas

Mede o tempo médio que a empresa leva para receber após efetuar uma venda.

Índices de

Lucratividade

Índices de

Atividade

Índices de

liquidez

Índices de

alavancagem

Quadro 2 - Análise de índices usando medidas contábeis simples de desempenho

Fonte: BARNEY (2002 :33-34)

O emprego de índices no lugar de medidas de lucro residual expressas em valores

como o EBIT, é justificado pelo fato dos mesmos permitirem que sejam considerados

aspectos relativos à eficiência na utilização do capital e dos ativos (YOUNG e O’BYRNE,

2003 :391).

Page 72: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

72

Dessa forma, sem penetrar mais profundamente no âmbito da discussão sobre qual das

métricas de desempenho existentes é a melhor, ou menos ainda, qual é o melhor conjunto de

métricas já que “diferentes métricas servem a diferentes propósitos” (YOUNG e O’BYRNE,

2003 :390), discussão essa que foge ao escopo dessa dissertação, para efeitos desse trabalho,

em consonância com Barney (2002 :32-37), e buscando medidas objetivas, definiremos

“geração de valor” para os proprietários e acionistas, em termos do “ROE – Retorno sobre

Patrimônio Líquido”(Return on Equity).

Além deste, utilizaremos também dois outros índices de lucratividade: “ROA –

Retorno sobre ativos (Return on assets) e “ROS – Retorno sobre vendas” (Return on sales).

Através da utilização desses índices de lucratividade, esperamos conseguir capturar a

capacidade de geração de valor da empresa, da forma mais ampla possível, independente do

seu porte, setor de atuação, ou ainda, de ser uma empresa com ações na bolsa ou não.

As fórmulas de cálculo adotadas nesta pesquisa, já foram previamente definidas e

encontram-se descritas na seção 0 desta dissertação.

Uma vez concluída a definição de geração de valor no âmbito deste trabalho,

passamos agora a explorar a relação entre capital intelectual e vantagem competitiva.

Page 73: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

73

2.4.2 Capital intelectual, vantagem competitiva e criação

de valor

Se por um lado, para ser viável, a empresa necessita obter vantagem competitiva em

seu mercado, criando maior valor econômico que suas rivais (BESANKO et Al., 2006 :372),

por outro, no contexto econômico atual, a redução do custo de informação, o aumento do

número de mercados disponíveis, a liberalização dos mercados de produtos e de trabalho,

além da desregulamentação dos fluxos financeiros internacionais, estão transformando as

bases da competição no nível das firmas e erodindo a maioria das fontes tradicionais de

vantagem competitiva (TEECE, 2000 :4).

Para Bessanko et Al. (2006 :370-371), as baixas barreiras de entrada e uma oferta

homogênea por parte de todos os concorrentes, cria um ambiente competitivo, que

progressivamente, dissipa a rentabilidade até que o lucro econômico de todos os produtores

passe a ser nulo.

O processo de liberalização de mercados e de redução de barreiras (tarifárias ou não),

que presenciamos desde os anos 60, faz com que produtos acabados, serviços e demais fatores

de produção, fluam de forma muito mais livre que no passado.

Se aliarmos a isso a redução dos custos de transporte de produtos e de informação,

notamos que as tradicionais barreiras comerciais e uma posição privilegiada num mercado

local, já não são mais efetivas para garantir uma posição competitiva privilegiada para as

empresas (TEECE, 2000 :5).

Esse processo de transformação das fontes de vantagem competitiva pode ser

verificado no digrama da Figura 11.

Page 74: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

74

Redução de custos e aumento da velocidade do fluxo de informações

Expansão do mercado de produtos intermediários

Lucros “Supernormais”(Supernormal Profits)

“Competências dinâmicas”refletem a capacidade da firma de explorar seus ativos intangíveis

Maior acesso a ativos complementares

Eliminando as fontes tradicionais de vantagem competitiva Conhecimento tácito e

outros intangíveis são as únicas fontes de vantagem competitiva remanescentes

Redução de custos e aumento da velocidade do fluxo de informações

Expansão do mercado de produtos intermediários

Lucros “Supernormais”(Supernormal Profits)

“Competências dinâmicas”refletem a capacidade da firma de explorar seus ativos intangíveis

Maior acesso a ativos complementares

Eliminando as fontes tradicionais de vantagem competitiva Conhecimento tácito e

outros intangíveis são as únicas fontes de vantagem competitiva remanescentes

Figura 11 - A transformação da vantagem competitiva na era da tecnologia de informação e dos mercados

ubíquos.

Fonte: TEECE (2000 :4)

As novas bases para a diferenciação e para a criação de valor são, segundo Teece

(2000 :4), o desenvolvimento e a aplicação inteligente de ativos intangíveis.

Dentro de uma visão da “teoria baseada em recursos” (RBV - Resource based view),

essa afirmação decorre do fato de que a vantagem competitiva no nível da firma, só pode ser

obtida através da posse da propriedade e uso de ativos “não negociáveis” (non-tradable

assets) (TEECE, 2000 :11).

Construindo sobre os princípios da economia “Ricardiana”, de que os possuidores de

fatores de produção de qualidade superior e oferta inelástica obtém lucro econômico

(economic rents), e do princípio da “heterogeneidade dos recursos” de Penrose, os

proponentes da RBV atribuem figura chave à posse e à exploração de recursos financeiros,

físicos, humanos e organizacionais, no estabelecimento de uma posição de vantagem

competitiva por parte das firmas (BARNEY, 2002 :152-158).

Page 75: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

75

De uma forma mais concreta, Barney (2002 :159-161), propõe que as premissas de

heterogeneidade e imobilidade, necessárias para que um recurso possa se tornar fonte de

vantagem competitiva para a empresa, possam ser traduzidas através do modelo VRIO

(“VRIO framework”).

O modelo propõe uma análise das atividades da firma, em busca de recursos utilizados

que sejam: valiosos, permitindo que a empresa responda adequadamente às ameaças e

oportunidades do ambiente; raros, de forma que as demais firmas não possuam esse recurso

ou competência valiosa; imperfeitamente imitável, fazendo com que as empresas que ainda

não possuem o recurso contem como uma desvantagem de custo para obtê-lo e; organizados,

que a firma esteja organizada para explorar plenamente o potencial competitivo do recurso

(BARNEY, 2002 :159-172).

Tendo por base o modelo VRIO, podemos analisar uma importante dicotomia em

relação ao capital intelectual descrita por Teece (2000 :13-22).

De um lado temos que, quanto maior a codificação do conhecimento mais eficiente

economicamente é a sua transferência por toda a organização, ou seja, os custos de

transferência do conhecimento aumentam quando cresce a parcela do conhecimento tácito no

capital intelectual.

Ao mesmo tempo, a maior facilidade de transferência de um dado conhecimento acaba

por reduzir o controle da firma sobre o mesmo. Isso se explica pela maior facilidade de

replicação por um concorrente, que o conhecimento codificado apresenta.

Os mecanismos de proteção contra a apropriação não autorizada restringem-se, nesse

caso, aos mecanismos legais de eficiência altamente variável dependendo da situação, setor

industrial e país envolvido.

Page 76: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

76

Da mesma forma, o capital intelectual sob a forma de tecnologia de processos é mais

efetivo, sob o aspecto de proteção intelectual, do que aquele sob a forma de tecnologia de

produtos (TEECE, 2000 :14).

É crítico, portanto, para a capacidade de geração de valor da firma (e para o seu

sucesso), a sua habilidade em criar, transferir, proteger e explorar os seus ativos de

conhecimento.

No entanto, a maneira como a empresa identifica ameaças e oportunidades no

mercado, e responde a esses estímulos re-configurando seus ativos (tangíveis ou não), sua

estrutura organizacional e suas competências, de forma a gerar valor, é ainda mais relevante

do que a simples posse de um conjunto qualquer de recursos (TEECE, 2000 :26-31).

Tendo revisado as principais relações descritas na literatura entre capital intelectual e

geração de valor, e tendo também definido os aspectos da geração de valor que serão medidos

e analisados nesta dissertação, devemos agora verificar os mecanismos disponíveis para que

possamos medir e capturar o estoque e o fluxo de capital intelectual das empresas do estudo.

2.5 Medidas de estoque de capital intelectual

De forma geral em se tratando de modelos de avaliação do capital intelectual, quer

seja aqueles que utilizam as informações financeiras disponíveis, ou os que observam e

analisam atividades internas das empresas, tais como nível de gastos como P&D (pesquisa e

desenvolvimento) e quantidade de patentes produzidas entre outros, a grande maioria têm se

focado na tentativa de quantificar o estoque de conhecimento ou de capital intelectual que a

empresa possui num dado momento (STEWART, 1998; MALHOTRA, 2002).

Dessa forma, existe na literatura, um grande número de mecanismos propostos para se

avaliar o estoque de capital intelectual de uma empresa.

Page 77: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

77

Mesmo não sendo objetivo desse estudo analisá-los extensivamente, há alguns que, em

função de sua relevância e de forma a justificar a escolha do sistema de mensuração que será

aplicado neste estudo, merecem ser brevemente comentados.

Dentre os modelos existentes, a diferença entre valor de mercado e valor contábil, é

sem dúvida, a forma mais comum (e talvez a mais controvertida) para mensurar o estoque de

capital intelectual de uma empresa.

Para calcular esse valor basta subtrair o valor contábil da empresa, do seu valor de

mercado, encontrando assim, o valor atribuído pelo mercado ao capital intelectual na empresa.

Se na simplicidade do cálculo e na disponibilidade de informações (ao menos no caso

das companhias negociadas em bolsa) estão as maiores vantagens desse modelo de avaliação,

o valor do capital intelectual dessa forma definido, poderá apresentar indesejáveis e grandes

oscilações, dependendo da fase na qual se encontra o mercado acionário como um todo e de

outros fatores, como a inflação por exemplo, que não têm qualquer relação com o capital

intelectual e seus componentes (ANDRIENSEN, 2004 :340-343).

Bastante similar à razão valor de mercado/valor contábil (M/B) é o coeficiente q de

Tobin, desenvolvido pelo ganhador do prêmio Nobel de economia em 1981, James Tobin.

No caso deste, consideramos os custos de reposição dos ativos tangíveis da empresa

(no lugar de seu valor contábil). Dessa maneira, o “q de Tobin” acaba sendo mais eficiente

que a relação M/B, pois permite a execução de importantes ajustes no valor dos ativos físicos,

proporcionando assim uma avaliação mais coerente desses.

Porém, esse método também sofre o impacto das oscilações do mercado, que alteram o

valor do quociente sem que tenham qualquer relação com o aumento ou redução do capital

intelectual da empresa (MALHOTRA, 2002).

Page 78: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

78

A relação valor de mercado e valor contábil, da mesma forma que o “Q de Tobim” são

exemplos de métricas que buscam avaliar o estoque de capital intelectual, a partir do valor de

mercado da empresa (market capitalization).

Dessa forma, não contém informação sobre os componentes por trás do capital

intelectual da empresa, são aplicáveis somente às empresas de capital aberto com ações em

bolsa, e se prestam somente para ilustrar o valor financeiro do capital intelectual ou como

parâmetro de comparação entre empresas de um mesmo setor (MALHOTRA,2003 :11-12;

BOUTEILLER, 2002 :5-6).

Uma abordagem distinta para atribuir valor financeiro ao estoque de capital intelectual

é a da avaliação “ativo-por-ativo”.

O método Criação de Valor Total – TVC (Total Value Creation) foi concebido pelo

instituto Canadense de contadores (Canadian Institute of Chartered Accountants). Fazendo

uso do cálculo do fluxo de caixa descontado, o TVC analisa cada ativo intangível

identificado, como um projeto com fluxo de caixa próprio, e projeta a partir do impacto futuro

desses, o retorno total dos acionistas (TSR – Total Shareholders Return) esperado.

O fato do modelo ter sido concebido com uma “orientação futura” (“foward-looking

approach”), concentrando-se somente nos fluxos de caixa futuros é uma das principais fontes

de crítica do mesmo já que, os “sunk costs” associados aos ativos intangíveis não são

considerados nos cálculos (BOUTEILLER, 2003 :7).

Também fazendo uso da abordagem “ativo-por-ativo”, o método das Citações de

Patentes Ponderadas – CWP (Citation-Weighted Patents), busca medir o valor econômico do

processo de inovação da empresa, como forma de explicar o valor de mercado da mesma

(ANDRIENSEN, 2004 :291-292).

Page 79: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

79

Através do método, o valor de um portfólio de patentes pode ser calculado através de

uma série de índices tais como: número de patentes sobre vendas, custo de patentes sobre

vendas, etc.

Dessa forma, as empresas podem comparar-se com seus concorrentes (benchmark) e

suportar melhor suas decisões de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D)

(MALHOTRA, 2003 :10).

Um aspecto interessante do método é a constatação de que, o número de citações de

uma patente, é um direcionador mais eficiente do valor de mercado da empresa do que o

número de patentes por ela possuído (BERG, 2002 :27).

No entanto, segundo Andriensen (2004 :292-293), o índice apresenta como

importantes pontos falhos, o fato de ser limitado a patentes, não considerando assim outros

recursos intangíveis.

Além disso, em função do longo tempo necessário para registrar uma patente, e do

tempo normalmente transcorrido entre a criação da patente e sua citação, os índices

associados ao CWP de uma empresa podem estar refletindo uma realidade da empresarial de

15 anos atrás.

Além dos modelos já citados, Malhotra (2003 :9), descreve uma classe de modelos de

avaliação baseados em painéis de controle (scorecards).

Dentre esses, o “Monitor de Ativos Intangíveis” – IAM (Intangibles Asset Monitor),

concebido por Karl Erik Sveiby, merece destaque em função de ter sido criado com a intenção

de complementar os sistemas contábeis e fornecer aos stakeholders uma visão mais

abrangente da firma, da qualidade de sua gestão e de seu grau de confiabilidade

(ANDRIENSEN, 2004 :318-320).

Page 80: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

80

O método considera que o valor de mercado de uma empresa é decorrente do seu

patrimônio visível, em conjunto com três classes de ativos intangíveis: estrutura externa,

estrutura interna e competências individuais.

Dessa forma, um conjunto extenso de indicadores financeiros e “não-financeiros” é

definido para permitir o acompanhamento e a gestão de cada uma dessas classes de

intangíveis (BERG, 2002 :21-25).

Ainda que se constitua num framework bastante abrangente, que se propõe a

representar cada um desses três componentes do capital intelectual sob as perspectivas de

crescimento, eficiência e estabilidade, trata-se de um modelo que recebe ajustes em cada

empresa, não permitindo a comparação entre elas (ANDRIENSEN, 2004 :320-321).

Uma sexta forma proposta para calcular o valor dos ativos intangíveis, também

regularmente mencionada na literatura, e que é considerada bastante robusta na sua

capacidade de predição, é o “Valor do Capital Conhecimento” (KCV - Knowledge Capital

Value), desenvolvida por Baruch Lev como parte do seu “Painel de controle do capital

conhecimento” (KCS - “Knowledge Capital Scorecard”) (KANNAN e AULBUR, 2004

:406).

Lev (1999), ao definir a metodologia, partiu do conceito de ganhos normalizados

(“normalized earnings”) anuais da empresa, ou seja, o lucro líquido ajustado para eventos

extraordinários ou únicos.

Esses ganhos normalizados devem ser definidos para os últimos três exercícios da

empresa, depois, é feita também uma projeção dos ganhos normalizados para os próximos 3

anos.

Com base no resultado desses seis períodos, é calculada uma média aritmética

ponderada dos ganhos normalizados, dando maior peso aos períodos futuros.

Page 81: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

81

O passo seguinte, consiste no cálculo dos ganhos decorrentes dos ativos físicos e

financeiros.

Para efetuar esses cálculos Lev (1999; GU e LEV, 2002), considera um taxa de

retorno após impostos de 7% para os ativos físicos e 4,5% para os ativos financeiros.

A diferença entre os ganhos normalizados e os ganhos provenientes dos ativos físicos

e financeiros, resulta nos “Ganhos do capital conhecimento” - KCE (“Knowledge Capital

Earnings”) ou “Ganhos direcionados por intangíveis” - IDE (“Intangible Driven Earnings”).

O valor do IDE da empresa é então, através de um modelo de avaliação de três

estágios, projetado para três períodos futuros: os próximos 5 anos, de 5 a 10 anos e de 11 anos

à perpetuidade.

Os fluxos dessas projeções do IDE, trazidos a valor presente com uma taxa de

desconto do capital do conhecimento (knowledge capital discount rate), definida como

sendo a lucratividade média (lucro após impostos) dos setores de software e biotecnologia

(estimada em 10,5%), define o valor do capital intelectual da empresa.

Se por um lado o método tem muitos méritos por outro, seu direcionamento

futurístico, sua relativa complexidade de cálculo, a consideração que a taxa de retorno sobre

os ativos físicos e financeiros é igual à contribuição desses para os ganhos da empresa, e a

possibilidade de geração de resultados incoerentes entre empresas que encontram-se em

momentos diferentes nos seus ciclos de investimento, são motivos freqüentes de críticas ao

método (KANNAN e AULBUR, 2004 :406; ANDRIENSEN, 2004 :325; BOUTEILLER,

2002 :7).

A última métrica do estoque de capital intelectual a ser descrita nesta dissertação é o

“Valor Intangível Calculado” - CIV (Calculated Intangible Value).

Page 82: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

82

Utilizando uma metodologia adaptada do cálculo de valor de marcas, o CIV busca

medir o impacto econômico dos intangíveis através do calculo da diferença entre o retorno

que a empresa obtém sobre os seus ativos tangíveis, e um concorrente médio com ativos

semelhantes (STEWART, 1998).

Apesar de ter surgido primeiro, e mesmo compartilhando com o KCV de Lev (1999)

as virtudes e problemas de um método baseado em retorno excedente (Excess Earnings), o

método não conquistou, até o momento, grande popularidade e existem poucas evidências

empíricas sobre o seu uso (LONNQVIST e KUJANSIVU, 2005 :4).

A premissa de que o prêmio de performance é decorrente apenas do capital

intelectual, o fato de que os ativos intangíveis que contribuem para o retorno normal (normal

earnings) não são medidos, e a impossibilidade de aplicar-se o método às empresas com

retornos abaixo da média da indústria, são as principais fontes de críticas ao CIV

(ANDRIENSEN, 2004 :290-291; BOUTEILLER, 2002 :7).

A despeito disso, o método apresenta características únicas que são bastante desejáveis

(LONNQVIST e KUJANSIVU, 2005 :3).

No contexto deste estudo, essas características são:

• Dependência única de informações contábeis e financeiras básicas;

• Passível de aplicação a um grande número de empresas;

• Sólida base contábil

Em função dessas características mencionadas, o CIV é a metodologia mais adequada,

dentre todas analisadas, para, no contexto desse estudo, medir o estoque de capital intelectual

das empresas da amostra.

Dessa forma, é conveniente nos aprofundarmos mais no estudo do funcionamento e

dos detalhes envolvidos com o cálculo do CIV.

Page 83: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

83

2.6 CIV como um direcionador de valor da empresa

Segundo Stewart (1997), o CIV foi desenvolvido pela NCI Research, em associação

com a Kellogg School of Business na Northwestern University. O objetivo da NCI era

encontrar uma forma de avaliar os ativos intangíveis de forma a facilitar a obtenção de crédito

bancário para as empresas intensivas em capital intelectual.

Da mesma forma que o KCE (Knowledge Capital Earnings), descrito na seção

anterior, o EVA (Economic Value Added) e o VAICTM(Value Added Intellectual Capital), que

serão apresentados na seção 2.7, o CIV faz parte de uma classe de modelos baseados em

“retorno sobre ativos”.

Esses modelos são de especial relevância em função de apoiarem-se em regras e

métricas contábeis tradicionais, permitindo assim a comparação (benchmarking) entre

empresas e facilitando a comunicação e aceitação junto à comunidade financeira

(MALHOTRA, 2003: 12).

A base conceitual para o cálculo do CIV foi extraída das metodologias usadas para

cálculo de valor de marcas.

Considera-se nessas metodologias, genericamente designadas como retorno excedente

(Excess Earnings), que o retorno obtido por uma empresa, que é superior ao de um

concorrente de similar porte, advém do valor econômico das marcas que essa empresa possui

(STEWART, 1997).

Page 84: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

84

No caso de CIV, o mesmo princípio é aplicado e o prêmio de performance da

empresa, é atribuído não apenas à marca, mas ao conjunto completo dos seus ativos

intangíveis.

Sendo assim, o valor presente do lucro líquido adicional obtido pela empresa, é igual

ao valor monetário do seu capital intelectual (STEWART, 1997; ANDRIENSEN, 2004;

LUTHY, 1998).

Um dos motivos da preferência, pela comunidade financeira, de métodos baseados em

retorno excedente, como metodologia de avaliação de ativos intangíveis, é a sua proximidade

com o procedimento, aceito pela receita federal norte-americana desde 1920, para cálculo do

valor justo (fair value) de goodwill e outros ativos intangíveis.

Esse procedimento, estabelecido inicialmente com o objetivo de calcular o valor da

perda das companhias produtoras de bebidas alcoólicas durante a vigência da “Lei seca” nos

EUA, numa versão revisada, é atualmente descrito na regra IRS 68-609, e continua vigente

(LUTHY, 1998).

As etapas envolvidas no cálculo do CIV, conforme descritas por Stewart (1997)

podem ser vistas na Quadro 3 .

Page 85: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

85

Etapa 1 Tomar o lucro antes dos impostos (pg. 30, Figura

5: item 5) da empresa para um período de 3 anos

(LAIRano1, LAIRano2, LAIRano3) (a). Calcular a

média dos lucros antes dos impostos

(LAIRmed. = (LAIRano1 + LAIRano2 +

LAIRano3 )/3).(b)

Etapa 2 Tomar o valor médio dos ativos tangíveis (pg.

29, Figura 4: item 3) para um período de 3 anos

(ATano1, ATano2, ATano3) (c). Calcular o valor

médio dos ativos tangíveis da empresa.(d)

Etapa 3 Calcular o valor do ROA (ROA= b/d). (e)

Etapa 4 Identificar o valor médio de ROA no setor. (f)

Etapa 5 Calcular o “retorno excedente” bruto da

empresa (REBe= b-(d * f)). (g)

Etapa 6 Calcular o “retorno excedente” líquido

aplicando a taxa média de impostos (RELe=g

* Aliq. Impostos). (h)

Etapa 7 Trazer à valor presente o “prêmio de retorno”

aplicando a taxa de retorno apropriada (CIV =

h / Taxa Desconto).

Quadro 3 - Etapas para o cálculo do CIV

Fonte: preparado pelo autor com base em LUTHY (1998 :9-10)

Page 86: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

86

Da mesma forma que qualquer um dos métodos de avaliação de ativos intangíveis

existentes, o CIV conta com uma série de defensores e um significativo contingente de

críticos.

Assim sendo, ainda que a validade do CIV como uma importante metodologia para

demonstrar o valor financeiro do capital intelectual (MALHOTRA, 2003), e calcular, usando

informação pública disponível, o valor do prêmio de performance dos ativos intangíveis

(ANDRIENSEN, 2004), não seja passível de questionamento, Bouteiller (2002), advogando

em favor da abordagem de “opções reais” para avaliação do capital intelectual das empresas,

nos alerta para o fato de que se atribuir o prêmio de performance de uma empresa, apenas aos

ativos intangíveis, pode ser abusivo.

Outra ressalva, é o fato de que os intangíveis que contribuíram para o retorno não

excedente (normal earnings) não são considerados, e em função disso, nem todo o valor do

capital intelectual é capturado pelo CIV (ANDRIENSEN, 2004).

Gu e Lev (2001) apontam que, calcular o valor de retorno justo (fair return) sobre os

recursos tangíveis e financeiros utilizados, não é o mesmo que medir a contribuição destes

para os lucros.

A geração de valor depende da sinergia entre ativos tangíveis, financeiros e

intangíveis, assim sendo, não é possível separar claramente os lucros decorrentes de cada um

desses recursos.

De qualquer forma, todas as metodologias que visam permitir a avaliação do capital

intelectual, dentro de uma abordagem positivista, considerando que valor é algo objetivo e

passível de medição, e que se dedicam a medir esse valor, através de uma visão “de fora para

dentro” da empresa, ao serem forçadas a utilizar informação contábil pública como ponto de

partida, acabam por compartilhar entre si as mesmas limitações (KANNAN e AULBUR,

2004).

Page 87: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

87

A despeito disso Sveiby (2002), Luthy (1998) e Andriensen (2004) apontam esses

métodos como superiores aos demais, e recomendáveis em situações onde o objetivo da

avaliação é melhorar os mecanismos de divulgação externa e análise preço justo de uma

empresa intensiva em capital intelectual.

Kujansivu e Lonnqvist (2005 :3-4), argumentam que, ainda que existam poucas

evidências empíricas sobre a utilização do CIV, o método em função de sua relativa

facilidade de aplicação, possibilidade de avaliação em empresas de capital aberto públicas e

privadas, além de não depender de projeções de estimativas futuras de lucro, é o único método

passível de aplicação em estudos da natureza deste, onde é necessário o cálculo do estoque de

capital intelectual de um número significativo de empresas ao longo de diversos anos.

Mesmo sendo mais objetivo e direto que outros métodos baseados em retorno sobre

ativos, o CIV depende de valores nem sempre fáceis de definir e obter no contexto brasileiro.

Para efeitos desse estudo, serão utilizados os seguintes valores para o cálculo do CIV

das empresas da amostra:

• Cálculo de retorno sobre ativos do setor: Média aritmética entre o valor médio do

setor na amostra utilizada e o valor apontado na relação das “500 Maiores” da revista

Exame.

• Taxa média de impostos: 35 %

• Taxa de desconto: rendimento da caderneta de poupança (T.R. + 6% a.a.)

Page 88: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

88

De acordo com os critérios propostos, apresentamos a título de exemplo, na Figura 12

a seguir, o cálculo do CIV para a Petrobrás S.A. considerando as informações financeiras para

os exercícios de 2003, 2004 e 2005, e o valores hipotéticos de: retorno do setor, taxa média de

impostos e custo de capital, conforme descritos.

2005 2004 2003 Valor Médio

Resultado Antes Tributação/Participações 33.299.964 25.305.625 25.267.832 27.957.807

Ativo Total 154.013.146 137.635.945 119.822.653 137.157.248

ROA Petrobras 20,38%

ROA Setor 15%

Retorno Normal Petrobras 20.573.587,20

REBPetrobras 7.384.219,80

Aliquota Média de Impostos 35%

RELPetrobras 4.799.742,87

Custo de Capital 9,176%

CIV Petrobras 52.308.712,81

Valor de Mercado Petrobras 161.016.000,00

Figura 12 - Cálculo do CIV para a empresa Petrobrás.

Fonte: elaborado pelo autor com base nos relatórios anuais divulgados pela empresa.

Page 89: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

89

2.7 Medidas de fluxo de capital intelectual

Sem questionar a importância do estoque de capital intelectual na geração de valor, e a

necessidade de mensurá-lo, devemos também considerar que, o fluxo de capital intelectual,

ainda que menos discutido na literatura sobre o tema, possui também relevância.

Ross et al. (1997 :52-53) definem uma interessante analogia, ao compararem o uso

apenas de medidas de estoque para compreender o capital intelectual de uma empresa, com o

uso do balanço contábil como único instrumento financeiro de apoio para gerir a mesma.

Sem questionar a importância do balanço contábil como uma representação do

estoque de ativos tangíveis da empresa num dado momento, ele não nos esclarece de onde

vem a alteração ocorrida nesse estoque, entre dois períodos contábeis.

Seguindo ainda essa mesma analogia, é também fundamental considerar o fluxo

decorrente desse estoque de ativos, que no caso dos relatórios contábeis, pode ser visto no

demonstrativo de resultados do exercício (DRE).

Da mesmo forma, para poder efetivamente estudar o efeito do capital intelectual de

uma empresa na sua capacidade de gerar valor, devemos nos preocupar em medir não apenas

o estoque de capital intelectual da mesma mas também, os fluxos decorrentes desse capital.

Em função disso, metodologias que concentram seu foco na mensuração dos fluxos do

capital intelectual e seu efeito na geração de valor da organização, tem começado a receber

merecido destaque na literatura (CHATZKEL, 2002 :108-113).

Mesmo não sendo uma medida específica do capital intelectual, o “Valor Econômico

Agregado – EVATM” (Economic value added), criado pela Stern Stewart &Co., tem recebido

grande destaque específica sobre o tema (KANNAN e ALBUR, 2004 :404-405;

ANDRIENSEN, 2004 :234; SVEIBY, 2002 :4; MALHOTRA, 2003 :12).

Page 90: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

90

Na sua forma básica, o EVA é o resultado obtido quando descontamos o custo do

capital do “Lucro operacional líquido após imposto de renda – NOPAT” (Net operating profit

after taxes). Dessa forma, trata-se de um indicador de desempenho baseado em lucro

econômico, e portanto, uma medida de fluxo (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :43-45).

Dessa forma, o EVA cresce na medida em que o custo médio de capital é inferior ao

retorno líquido sobre os ativos. Assim sendo, considerando o argumento implícito de que o

capital intelectual contribui para a maximização do retorno sobre os ativos tangíveis, o EVA

se prestaria como um indicador capaz de medir a performance de uma empresa ao gerir os

seus ativos de conhecimento (ANDRIENSEN, 2004 :294).

Se por um lado o EVA apresenta a desejável característica de ser aplicável tanto à

empresa inteira quanto a uma divisão ou departamento, muitas são as críticas em relação à sua

eficácia como medida de capital intelectual (ANDRIENSEN, 2004 295-297).

Para Kannan e Albur (2004 :405), o EVA não contribui para a compreensão dos

recursos intangíveis da empresa, ou como cada um colabora com a eficiência da organização.

Os autores criticam ainda a falta de homogeneidade das variáveis de cálculo e os ajustes

necessários para o cálculo do EVA, o que torna complexo o seu uso para efeitos de

comparação.

Com proposta semelhante à do EVA, porém, com metodologia de cálculo baseada em

fluxos de caixa descontados, a “Contabilidade para o futuro – AFTF” (Accounting for the

future), é uma outra medida de fluxo que figura, no trabalho de diversos autores, como

apropriada para a mensuração do capital intelectual (SVEIBY, 2002 :4; MALHOTRA, 2003

:11).

Page 91: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

91

A metodologia foi originalmente proposta por Humphney Nash em 1998, como um

modelo de “contabilidade baseada em valor” (VBA - Value based accounting), que tem por

base a contabilização, com base no valor econômico, dos itens contábeis e não no seu custo de

aquisição ou “valor justo de mercado” (fair market value) (NASH, 1998).

O AFTF compara o valor no início e no final de um período, e calcula assim, o valor

adicionado no período como a diferença entre os dois.

Dessa maneira o AFTF, mesmo sendo mais direto e objetivo no cálculo, apresenta sob

a óptica da avaliação do capital intelectual, as mesmas características positivas e negativas

observadas em relação ao EVATM.

A terceira metodologia a utilizar fluxos, que figura na literatura como uma das

existentes para mensuração do capital intelectual (MALHOTRA, 2003 :12; SVEIBY, 2002

:4), é a “Contabilidade e custeio de recursos humanos – HRCA” (Human resource costing

and accounting).

Na realidade, a HRCA trata-se de uma área de estudos extremamente ampla, que

inclui uma grande variedade de métodos e, que conta com mais de 35 anos de história

(ANDRIENSEN, 2004 :304-307).

Sob a óptica de avaliação de capital intelectual, o HRCA pode ser classificado como

mais um modelo de medição baseado em retorno sobre ativos. De acordo com o método, o

capital intelectual da empresa é o resultado da divisão da contribuição dos ativos humanos,

controlados pela empresa, e dos gastos com salários capitalizados (MALHOTRA, 2003:12).

Page 92: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

92

Se por um lado, existe um grande número de estudos produzidos com base no HRCA

sendo que, vários deles, se focaram nos efeitos produzidos pela aplicação da metodologia

(algo praticamente inexistente em relação ao capital intelectual), por outro, o foco único da

metodologia no capital humano, deixando fora do cálculo os demais componentes do capital

intelectual, fazem do HRCA uma métrica de eficiência questionável quando o objetivo é

estimar o total de capital intelectual com que conta uma empresa.

Além das métricas já descritas, ao mencionarmos metodologias para mensuração do

capital intelectual, não podemos jamais deixar de nomear o Skandia NavigatorTM , já que esta

é a única metodologia a figurar na quase totalidade da literatura sobre o capital intelectual.

Criado na gigante empresa sueca de serviços financeiros Skandia, por uma equipe

liderada por Leif Edvinsson e em uso pela mesma desde 1993 como ferramenta de reporte de

resultados e comunicação com o mercado, o modelo foi concebido considerando-se que todos

os ativos invisíveis de uma empresa são intelectuais por natureza, de forma que, a totalidade

da diferença entre valor contábil e valor de mercado da empresa representa o capital

intelectual da mesma (ADRIENSEN, 2004 :346).

O navegador é composto por mais de 160 indicadores, compreendendo unidades,

valores monetários e percentuais relacionados com 5 grandes áreas de atenção na a empresa:

foco financeiro, clientes, processos, pessoas e renovação e desenvolvimento (EDVINSON e

MALONE, 1997).

Dentre esses indicadores, 112 foram selecionados como sendo recomendados e

aplicáveis a qualquer empresa, na divulgação ao mercado de seus ativos intangíveis.

Para calcular o valor monetário do capital intelectual, 9 indicadores são combinados

utilizando pesos pré-definidos, para compor o valor geral do capital intelectual (C), e essa

parcela é multiplicada então, pelo coeficiente de eficiência do capital intelectual (i), que se

constitui assim, numa medida do fluxo de capital intelectual da empresa (BONTIS,2001 :46).

Page 93: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

93

A relevância do Skandia Navigator ao estudo do capital intelectual das empresas é

bastante clara, porém, da mesma forma que os demais métodos baseados em scorecards, o

método se presta mais como ferramenta para o diagnóstico e acompanhamento do capital

intelectual no âmbito de uma empresa, do que como método para avaliação e comparação

entre empresas (ANDRIENSEN, 2004 :350-351; MALHOTRA, 2003 :9).

Além desse, temos o IC-IndexTM como um outro importante modelo de avaliação do

capital intelectual presente na literatura. Sendo também baseado em “scorecards”, seu foco

principal é monitorar a dinâmica dos vários componentes do capital intelectual e correlacionar

as mudanças no valor do capital intelectual, com as mudanças no valor de mercado das

empresas (MALHOTRA, 2003 :10).

Bontis (2001 :47-48) considera que o IC-IndexTM é um “exemplo de modelo de

segunda geração”, que busca consolidar uma série de indicadores individuais num índice

único refletindo o valor do capital intelectual da empresa.

Esses diversos indicadores individuais, de forma semelhante ao que ocorre no caso do

Skandia NavigatorTM, são agrupados em 4 sub-índices: capital de relacionamento, capital

humano, capital de infra-estrutura e capital de inovação (MALHOTRA, 2003 :9).

Da forma como proposto por Ross et al. (1997), o modelo do IC-IndexTM é muito mais

descritivo do que prescritivo.

O conjunto exato de indicadores a serem selecionados não é definido, e a proposta é

que esses indicadores devam ser específicos para cada firma, sendo selecionados com base na

estratégia da empresa.

O modelo também não propõe de forma objetiva, como atribuir pesos e agrupar os

indicadores de maneira a compor o índice final.

Page 94: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

94

Andriensen (2004 :311-314) aponta como maior problema do modelo IC-IndexTM,

conforme proposto, reside na consolidação dos indicadores, já que a falta de normalização dos

mesmos, e a consolidação através de adição, podem ser inapropriadas na maioria dos casos.

No contexto desse estudo, a necessidade de aplicar-se o modelo de forma consistente a

um universo representativo de empresas, torna o IC-IndexTM também um modelo inadequado,

haja vista que os indicadores base são específicos para cada empresa analisada.

O último dos modelos de mensuração do capital intelectual baseado em fluxos, a ser

comentado nesse trabalho, e que também se baseia em metodologia de adição de valor, porém

possui um foco específico no capital intelectual, é o “Coeficiente Intelectual de Valor

Adicionado” (VAICTM – Value Added Intellectual Coeficient).

Desenvolvido por Ante Pulic e outros colaboradores, no Centro Austríaco de

Pesquisas de Capital Intelectual, a metodologia têm merecido a atenção de diversos

pesquisadores, tendo sido empregada em estudos recentes conduzidos na Europa, África e

Ásia (KUJANSIVU e LÖNNQVIST, 2005; FIRER e WILLIANS, 2003; CHEN e CHENG,

2005; PULIC, 2000b).

As evidências empíricas trazidas por esses estudos, têm demonstrado uma relação

próxima entre o VAICTM, sobretudo no caso de alguns de seus componentes, e o valor de

mercado e diversos aspectos de desempenho das empresas pesquisadas.

Mesmo assim, Andriensen (2004 :364-371), critica algumas das premissas centrais

sobre as quais o VAICTM é construído, tais como o cálculo do capital estrutural com base na

diferença entre os valores do capital financeiro e o capital humano da empresa.

Page 95: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

95

Além disso, ainda que o argumento de que gastos com funcionários não devam ser

tratados meramente como despesas, mas sim como investimentos, e que dessa forma, os

mesmos se constituem numa “proxy” válida do capital humano, seja coerente e consistente

com os estudos econômicos na área, Andriensen (2004 :368) defende o ponto de vista de que,

apenas uma parcela desses gastos possa receber tratamento de investimento gerando

expectativa de benefícios futuros.

A despeito das críticas, o fato do método utilizar apenas informação contábil auditada,

em conjunto com sua aplicabilidade a diversos níveis de análise (empresa, setor/indústria e

nacional), e a capacidade de utilização do método com grandes amostras, fruto da

objetividade e consistência dos seus cálculos, fazem do VAICTM um método relevante para

estudos como o presente.

Além disso, no contexto nacional, os resultados promissores obtidos em estudos

exploratórios anteriormente realizados, também contribuem favoravelmente para a escolha do

VAICTM como medida de fluxo a ser usada nessa dissertação (BASSO, MARTIN e

RICHIERI, 2006).

Da mesma forma fizemos em relação ao CIV, iremos agora detalhar mais o método do

VAICTM, sua fórmula de cálculo e seus constituintes.

Page 96: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

96

2.8 VAICTM como um direcionador de valor da empresa

Construído sobre os modelos conceituais do “Navegador Skandia” (Skandia

Navigator) e da rentabilidade dos ativos, o VAICTM analisa a performance atual da empresa,

definida como a sua capacidade de gerar valor, em relação às classes de capital por ela

utilizados: capital financeiro, capital humano e capital estrutural (PULIC, 2000a).

A premissa básica é que, quanto maior o VAICTM de uma dada empresa, melhor os

seus gestores estão utilizando os recursos disponíveis, tangíveis ou não, de forma a gerar valor

(VAN DER ZAHN et al., 2004 :13).

O índice é composto de três sub-índices principais: VACA, VAHU e STVA, que

relacionam o valor adicionado total (VA) da empresa, com cada uma das classes de capital

empregado.

Como pode ser verificado abaixo, a soma algébrica desses três coeficientes, resulta no

VAICTM da empresa, que, dessa forma, se converte num indicador do nível de eficiência da

empresa como um todo.

VAICTM = VACA + VAHU +STVA

Equação 7 - Cálculo VAICTM

Page 97: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

97

Em se tratando especificamente do capital intelectual, a soma algébrica do capital

humano e do capital estrutural, denominada “Eficiência do Capital Intelectual – ICE”

(Intellectual Capital Efficiency), define a participação do capital intelectual na eficiência total

da empresa (VAN DER ZAHN et al., 2004 :13).

ICE = VAHU + STVA

Equação 8 - Cálculo ICE

Considerando basicamente informações contábeis e financeiras, o VAICTM e seus

componentes, são capazes de produzir medidas objetivas sobre a capacidade de geração de

valor da empresa e revelar as origens dessa (PULIC, 2000a.).

Além disso, nos paises onde o Demonstrativo de Valor Adicionado (DVA) é um

relatório contábil obrigatório (ou amplamente aceito e voluntariamente utilizado), as

informações necessárias para compor os indicadores estão facilmente ao alcance de

investidores, gestores e demais partes interessadas.

O método proposto por Pulic (2000a), considera que a empresa gera valor, ou seja, a

diferença entre suas saídas (através dos produtos e serviços vendidos), e suas entradas (seus

gastos com a produção e comercialização desses produtos e serviços), utilizando-se de

recursos financeiros (capital tangível); humanos e estruturais (capital intelectual).

Mesmo se tratando de uma proposta clara e pragmática de mensuração, a exata

constituição e as fórmulas de cálculo de seus componentes, não são definidas de forma tão

concreta e detalhada.

Page 98: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

98

Em Pulic (2000b), o autor apresenta os resultados cálculo do VAICTM para 250

empresas públicas na Europa, associando-o com o “valor de mercado adicionado” (MVA -

Market Value Added) das mesmas empresas.

Ao confrontar as informações financeiras originais dessas empresas, com os valores

utilizados no estudo, verificamos que o autor considerou a seguinte fórmula para calcular o

valor adicionado (VA) das empresas:

VA = Lucro operacional (pg. 30, Figura 5: item 4)+ Depreciação (pg. 30, Figura 6: item 2) + Total de

gastos com salários e benefícios dos empregados (pg. 30, Figura 6: item 4)

Equação 9 - Cálculo de VA – Método 1

Também em relação ao cálculo do VA, Andriensen (2004 :365), afirma que o mesmo

pode ser calculado através da seguinte fórmula:

VA = Lucro bruto (pg. 30, Figura 5: item 3) – Despesas administrativas e vendas + Total de

gastos com salários e benefícios dos empregados (pg. 30, Figura 6: item 4)

Equação 10 - Cálculo de VA – Método 2

Por outro lado, Firer e Willians (2003), Chen e Cheng (2005), Kujansivu e Lönqvist

(2005), ao efetuarem os seus estudos, optaram por calcular o valor adicionado (VA) nos

moldes propostos por Riahi-Belkaoui (2003) e, pela visão do stakeholder.

Page 99: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

99

Dessa forma esses autores consideraram a seguinte equação para o cálculo do valor

adicionado:

VA (pg. 30, Figura 6: item 3) =

= Vendas (pg. 30, Figura 6: item14 – Produtos e serviços adquiridos de 3os. (pg. 30, Figura 6: itens b)

- Depreciação (pg. 30, Figura 6: item 2)

= Salários (pg. 30, Figura 6: item 4) + Juros (pg. 30, Figura 6: item 6) + Impostos (pg. 30, Figura 6: item 5) +

Dividendos (pg. 30, Figura 6: item 7) + Lucros Retidos (pg. 30, Figura 6: item 8)

Equação 11 - Cálculo de VA – Método 3

Considerando esta última fórmula de cálculo mais robusta, e visando assegurar a

comparação dos resultados deste com os demais estudos efetuados, utilizaremos neste

trabalho a definição e a fórmula de cálculo do valor adicionado (VA) consistente com Riahi-

Belkaoui (2003).

A identificação do valor total gerado pela empresa (VA) é o ponto de partida para o

cálculo do VAICTM.

O primeiro componente do índice (VACA), é obtido através da divisão entre o valor

total gerado (VA), cuja fórmula de cálculo pode ser vista em “Equação 11”, e o capital

físico/financeiro total empregado pela empresa (CE), conforme definido na “Equação 4” na

página 33 desta dissertação (PULIC, 2000a).

VACA = VA / CE

Equação 12 - Cálculo VACA

Page 100: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

100

Como pode ser observado através da forma de cálculo do ICE, o VAICTM considera

que o capital intelectual da empresa se compõe de dois componentes: capital humano e capital

estrutural.

Essa classificação utilizada, adotada no “Navegador Skandia” desde 1996, é até hoje

defendida por diversos autores ( ROOS et al.,, 1997; STEWART, 1998 e LEV, 2001).

Pulic (2000a.) propõe que uma medida objetiva do capital humano de uma empresa é

o volume total que organização depende, através de salários e demais benefícios, com os seus

profissionais, já que trata-se da compensação oferecida por toda a competência, criatividade e

motivação destes.

Dessa maneira, o segundo componente do VAICTM (VAHU), é obtido através da

divisão entre o valor total gerado pela empresa (VA) e o total de gastos com salários e

benefícios dos empregados (HU).

VAHU = VA/HU

Equação 13 - Cálculo VAHU

Em se tratando do capital estrutural, a literatura define o mesmo como sendo

inversamente proporcional ao capital humano.

Partindo dessa premissa, Pulic (2000a), afirma que seu valor pode ser obtido através

da diferença entre o “capital intelectual total” e o “capital humano”.

Page 101: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

101

Expandindo essa definição, o VAICTM propõe o cálculo do valor do capital estrutural

da empresa (ST) através da diferença entre o “valor adicionado total” (VA) e o “capital

humano” (PULIC, 2000a).

ST = VA - HU

Equação 14 - Cálculo ST

Havendo calculado o valor do capital estrutural da empresa (ST), Pulic (2000a)

prossegue no cálculo do terceiro componente do VAICTM (STVA), que é o quociente da

divisão entre o valor do capital estrutural da empresa (ST) e o valor total gerado pela empresa

(VA).

STVA = ST / VA

Equação 15 - Cálculo STVA

Podemos perceber que o VAICTM não apresenta, ao final do processo, um valor

monetário para o capital intelectual da empresa, mas sim um conjunto de direcionadores

capazes de representar: o nível de eficiência total da empresa (VAIC), das classes de recursos

por ela utilizados (VACA, VAHU e STVA) e, do capital intelectual da mesma (ICE).

Dessa forma, através do uso do ICE, em conjunto com o CIV, esperamos ser capazes

de capturar e medir não apenas o valor do capital intelectual das empresas da amostra, mas

também, de poder colocar em perspectiva o nível de eficiência que cada empresa está

apresentando ao utilizar o seu capital intelectual (capital humano + capital estrutural) para

gerar valor.

Page 102: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

102

3. Procedimentos Metodológicos

3.1 Tipo e Método de Pesquisa

Considerando a forma de classificação proposta (KÖCHE 1997 :122-125), a presente

dissertação utiliza o tipo de pesquisa descritivo, não experimental.

As relações entre as variáveis envolvidas foram estudadas através de constatação a

posteriori não havendo manipulação a priori das mesmas.

Em relação ao método de pesquisa, conforme a classificação proposta por Richardson

(et Al., 1999), foi utilizado o método quantitativo de pesquisa.

Segundo o mesmo autor (1999 :70) trata-se este de um método amplamente utilizado

em estudos descritivos que procuram descobrir e classificar a relação entre variáveis ou a

relação de causalidade entre fenômenos (RICHARDSON et Al., 1999 :70).

Dessa forma, o capital intelectual e seus componentes foram quantificados através de

índices específicos criados com base nas informações financeiras das empresas e, utilizaram-

se técnicas estatísticas como base do processo de análise desses índices na criação de valor

das empresas que compuseram a amostra.

3.2 População e Amostra

Em função de aspectos como custo, tempo e quantidade elevada de elementos,

freqüentemente, se torna impossível obter informações de todos os indivíduos, empresas ou

elementos que formam parte de um grupo que se deseja estudar. Assim sendo, o pesquisador é

obrigado a trabalhar apenas com uma parte dos elementos que compõe o grupo e, as técnicas

de amostragem são fundamentais para permitir a seleção de amostras apropriadas à pesquisa

em questão (RICHARDSON et Al., 1999 :157).

Segundo Lakatos e Marconi (1991 :163) : “A amostra é uma parcela convenientemente

selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo”.

Page 103: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

103

O objetivo básico do uso efetivo das técnicas de amostragem é permitir a escolha de

uma parcela da população estudada para que, à partir dessa amostra, possamos obter

resultados que possam ser generalizados, como se toda a população tivesse sido verificada

(LAKATOS e MARCONI, 1991 :223).

No caso da presente dissertação, a população escolhida para a pesquisa é aquela

constituída pelas 1000 maiores empresas brasileiras selecionadas de acordo com os critérios

da 33ª. edição do anuário “Maiores e Melhores” da revista Exame, elaborado pela Editora

Abril em conjunto com a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras

(Fipecafi).

3.3 Composição da Amostra

Para Lakatos e Marconi (1991 :223) dois são os métodos para composição de uma

amostra: o método probabilístico e o método não probabilístico.

Em se tratando de amostras não-probabilísticas, Richardson (et al., 1999 :160-161)

descrevem duas formas: amostra acidental e, amostra intencional (ou seleção racional).

No caso da amostra acidental, trata-se essa de um subconjunto qualquer da população

formado pelos elementos cuja obtenção foi possível. Mesmo que os resultados obtidos não

possam ser generalizados para a população, esse tipo de amostragem pode ser “de grande

utilidade em um primeiro contato com o problema de investigação, quando o pesquisador

ainda não tem suficiente clareza sobre as variáveis a considerar” (RICHARDSON et al., 1999

:161).

No caso desta dissertação, o número de empresas com informações válidas registradas

na base de dados com as informações do anuário “Maiores e Melhores”, para os anos

estudados, definiu o tamanho máximo da amostra.

Page 104: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

104

Dentre essas, foi aplicado um processo de amostragem não-probabilística acidental, ou

por conveniência, considerando a disponibilidade de informações financeiras, necessárias para

o cálculo dos índices (CIV e VAICTM) e das variáveis dependentes a serem utilizadas.

3.4 Tipos de Dados e Instrumentos de Coleta

No trabalho de pesquisa os pesquisadores podem fazer uso de dois tipos básicos de

dados: dados primários e dados secundários.

Dados primários são aqueles coletados com o objetivo de solucionar um problema

específico de pesquisa. Enquanto isso, os dados secundários são quaisquer dados que foram

anteriormente coletados para outros propósitos que não a solução do problema em questão

(MALHOTRA al. 2000 :71).

Dessa forma, a análise dos dados secundários disponíveis deve ser sempre a primeira

ação na busca pela solução de um problema de pesquisa em função dos inegáveis benefícios

de tempo e custo oferecido já que a composição de uma amostra significativa através de coleta

primária de dados freqüentemente se mostra inviável.

Nesta dissertação, a preocupação com a avaliação do capital intelectual sob a óptica de

um elemento externo à empresa que, conte apenas com informações contábeis e financeiras

divulgadas pelas empresas para suportar as suas análises, constitui-se num incentivo adicional

ao uso de dados secundários na pesquisa.

Assim sendo, foram utilizados basicamente dados secundários, e as hipóteses foram

testadas com base em dados coletados pela Editora Abril em conjunto com a Fipecafi, dados

estes, disponíveis na base de dados do anuário “Maiores e Melhores” da revista Exame.

A amostra foi composta pelo maior número possível de empresas com dados válidos e

disponíveis para o período compreendido entre 1998 e 2005.

Page 105: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

105

Em função da metodologia de cálculo do CIV (ver Quadro 3 pág. 85), as observações

relativas aos anos de 1998 e 1999 não puderam ser utilizadas na amostra e, pela mesma razão,

as observações onde as empresas apresentam retorno inferior ao retorno médio do mercado

para o mesmo período, não foram consideradas.

Também foram excluídas da amostra, as empresas classificadas como pertencentes aos

setores: bancos, e clubes e confederações, em função da particularidade de suas operações, e

de seus relatórios contábeis.

Dessa forma, partindo de um universo de 935 empresas, perfazendo um total de 2981

observações, foi selecionada uma amostra contendo 628 observações relativas a 237 empresas

no período entre 2000 e 2005.

A Tabela 1 abaixo mostra como as observações da amostra final utilizada se

distribuem em termos de setores econômicos.

Tabela 1: Amostra : Número de observações por ano e por setor

SETOR 2000 2001 2002 2003 2004 2005 TotalALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO 8 7 6 8 6 4 39ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR 9 11 13 11 10 8 62AUTOMOTIVO 5 4 4 2 3 3 21COMÉRCIO VAREJISTA 10 7 9 10 13 12 61COMUNICAÇÕES 1 2 1 1 1 1 7CONFECÇÕES E TÊXTEIS 3 1 1 1 6CONSTRUÇÃO 3 2 3 1 2 2 13ELETROELETRÔNICO 9 9 7 6 8 3 42FARMACÊUTICO, HIGIENE E COSMÉTICOS 1 1 1 1 1 1 6MATERIAL DE CONSTRUÇÃO 3 3 2 3 1 1 13MECÂNICA 1 2 2 1 1 1 8MINERAÇÃO 2 1 2 4 5 6 20PAPEL E CELULOSE 5 2 3 4 5 3 22PLÁSTICOS E BORRACHA 1 1 1 1 2 2 8QUÍMICA E PETROQUÍMICA 12 12 8 7 9 4 52SERVIÇOS DE TRANSPORTE 4 4 1 2 3 5 19SERVIÇOS DIVERSOS 2 2 2 3 9SERVIÇOS PÚBLICOS 14 18 14 22 28 27 123SIDERURGIA E METALURGIA 6 9 10 13 11 7 56TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO 3 1 1 1 2 2 10TELECOMUNICAÇÕES 2 4 5 7 7 6 31Total 102 103 96 105 120 102 628

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 106: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

106

Na execução da pesquisa, foram considerados os parâmetros disponíveis na base de

dados do anuário “Maiores e Melhores” da revista Exame, descritos no Quadro 4 abaixo :

Parâmetro Unidade Descrição Variável

Ativo total ajustado US$ Milhões

Total de recursos à disposição da empresa. Inclui o valor das duplicatas descontadas (reclassificadas no passivo circulante). Valores ajustados para efeitos inflacionários (IGP-M) e convertidos pelo dólar PTAX de 31/12/2005. AT

Crescimento das vendas %Calculado com base na evolução da receita bruta de vendas em R$ (corrigido pela variação do IGP-M) de uma ano para o outro. CRESC_VENDAS

Endividamento geral %Soma do passivo circulante com o exigível a longo prazo em relação ao ativo total ajustado. END_GERAL

Lucro líquido ajustado US$ Milhões

Lucro líquido apurado depois de reconhecidos os efeitos da inflação nas demonstrações contábeis. Estão ajustados os juros sobre capital próprio, considerados como despesas financeiras. LL

Nome da Empresa - NOME_EMPPassivo circulante US$ Milhões PCPatrimônio líquido ajustado US$ Milhões Patrimônio líquido legal atualizado pelos efeitos da inflação. PLRiqueza criada US$ Milhões Representa a contribuição da empresa VASalários US$ Milhões SALARIOSSetor - SETOR

Base de dados maioresemelhores.com.br

Quadro 4 - Descrição dos parâmetros utilizados

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 107: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

107

3.5 Operacionalização das Variáveis Utilizadas

O modelo econométrico utilizado neste estudo fez uso de oito variáveis métricas que

se encontram relacionadas no

Quadro 5 abaixo.

Um maior detalhamento dessas variáveis pode ser encontrado na seção “1.4.1 -

Descrição das Variáveis Utilizadas” desta dissertação.

Tipo Variável Descrição Fórmula de Cálculo Unidade

Métrica - Regressando ROE Retorno sobre patrimônio líquido” (Return on

equity)

Equação 1, pg. 31. Unidade

Métrica - Regressando ROS Retorno sobre vendas” (Return on sales) Equação 3, pg. 32. Unidade

Métrica - Regressando ROA Retorno sobre ativos (Return on assets) Equação 2, pg. 31. Unidade

Métrica - Regressor CIV Valor intangível Calculado (Calculated

Intangible Value) - Mede o estoque de

capital intelectual da empresa.

Quadro 3, pg. 85. Bilhões US$

Métrica – Regressor ICE Eficiência do Capital Intelectual – ICE

(Intellectual Capital Efficiency) – Mede a

capacidade da empresa em utilizar o seu

capital intelectual para criar valor

econômico.

Equação 8, pg.97 Unidade

Métrica – Regressor CE Capital empregado (CE) - Representa a

totalidade de recursos tangíveis utilizados

pela empresa.

Equação 4, pg. 33. Bilhões US$

Métrica – Regressor END_GERAL Nível de endividamento geral da empresa. Equação 5, pg. 34. Unidade

Métrica - Regressor CRESC_VENDAS Crescimento em vendas da empresa. Equação 6, pg. 34. Unidade

Quadro 5 - Descrição das variáveis utilizadas

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 108: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

108

3.6 Tratamento Estatístico dos Dados

Para permitir a análise dos dados, as variáveis descritas na seção 3.5 foram então

combinadas de forma a compor os três modelos de regressão apresentados no “Quadro 6”

mostrado à seguir.

ROE = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β4END_GERALit + β5CRESC_VENDASit + εit (1)

ROA = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β4END_GERALit + β5CRESC_VENDASit + εit (2)

ROS = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β4END_GERALit + β5CRESC_VENDASit + εit (3)

Quadro 6 - Modelos de Regressão

Fonte: Elaborado pelo autor.

O processo de estimação aplicado às regressões definidas fez uso do modelo de dados

em painel (Panel Data Model), como ferramental econométrico de forma a estudar a

influência das variáveis independentes na geração de valor das empresas.

Essa escolha se justifica pelo estado inicial do capital intelectual como área de estudo,

em conjunto com grande número de fatores que podem, potencialmente, influenciar as

variáveis dependentes estudadas.

Nesse contexto, o problema de viés decorrente de variáveis omitidas torna-se crítico.

Dessa forma, a utilização de dados em painel surge como uma alternativa para, mesmo sem

que possamos observar diretamente (ou mesmo identificar) essas variáveis omitidas, lidar com

os problemas de correlação decorrentes da heterogeneidade (entre empresas ou grupos de

empresas) de forma a obter estimadores consistentes (WOOLDRIDGE, 2002 :247-251;

ARELLANO, 2003 :7-8; STOCK e WATSON, 2004 :188; MARTIN et Al., 2005 :11).

Page 109: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

109

No entanto, cabe ressaltar que em se tratando de dados em painel, podemos assumir

que as observações sejam distribuídas de forma independente ao longo do tempo já que,

procuramos seguir os mesmos indivíduos ao longo do tempo. Sendo assim, modelos e

métodos especiais se fazem necessários para a análise desses dados (WOOLDRIDGE, 2003

:426-427).

De forma geral, podemos identificar na literatura duas grandes classes de modelos de

análise de dados em painel: os modelos estáticos, e os modelos dinâmicos.

Enquanto os modelos estáticos de dados em painel consideram que os regressores são

estritamente exógenos, os modelos dinâmicos, por sua vez, incluem entre as variáveis

explanatórias, defasagens da variável dependente. Dessa forma, com os modelos dinâmicos,

torna-se possível medir o efeito ao longo do tempo, das variáveis explanatórias na variável

dependente, observando assim a velocidade de ajuste do modelo através dos coeficientes das

variáveis defasadas inseridas no modelo (ARELLANO, 2003 :129).

Na presente dissertação, o trabalho de análise foi executado com base nos modelos

estáticos de dados em painel. Ainda que tenhamos verificado a existência de autocorrelação

em alguns dos modelos analisados, a proposta de que a geração de valor de uma empresa num

dado período esteja relacionada com a sua geração de valor em qualquer outro período, não

encontra suporte teórico sólido.

Page 110: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

110

Inicialmente, foram analisados e comparados os seguintes modelos de regressão:

a) Dados de corte agrupados e mínimos quadrados ordinários (OLS

Pooled);

b) Transformação em primeira diferença e mínimos quadrados ordinários

(OLS Pooled Differeneces);

c) Modelo com efeitos fixos “Within”

d) Modelo com efeitos fixos “Between”

e) Modelo de efeitos aleatórios - Mínimos quadrados generalizados com

transformação Whitin/Between (GLS w/b);

f) Modelo de efeitos aleatórios - Mínimos quadrados generalizados

utilizando resíduos (GLS Residuals);

g) Modelo de efeitos aleatórios - Maximum-Likelihood (ML)

Na seqüência, a despeito da falta de suporte teórico que aponte na direção dos modelos

dinâmicos, dado o caráter exploratório deste trabalho, foi também efetuada a

estimação, para efeitos de comparação, através do modelo dinâmico de dados em

painel, com uso de instrumento do tipo GMM (Generalized Method of Moments) e

estimação em 1 estágio.

Os modelos estáticos de dados em painel utilizados neste trabalho estão descritos a

seguir2.

2 Para referências sobre o modelo dinâmico utilizado ver: ARELLANO e BOND, 1991.

Page 111: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

111

3.6.1 Pooled cross sections

O uso de amostragem aleatória de uma mesma população, obtida em diferentes

momentos, permite um processo de estimação mais preciso e, testes estatísticos mais

confiáveis já que torna possível o uso de um número maior de observações. (WOOLDRIDGE,

2003 :427).

Esse processo de agrupamento de observações de períodos diferentes (pool) permite

ainda, que sejam observadas as mudanças nas variáveis explicativas ao longo do tempo

possibilitando assim, que seja estudado o efeito de mudanças de políticas e ou alterações

conjunturais, ocorridas num dado momento (WOOLDRIDGE, 2003 : 432-438).

Quando não existem mudanças estruturais ao longo do tempo, as observações dos

diversos períodos podem ser reunidas num único pool e, estimadores podem ser obtidos

através de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) (MARTIN et Al., 2005 :11).

Ainda que os estimadores obtidos através de pooled cross-setions sejam o tipo mais

simples de estimadores para modelos de dados em painel e, provavelmente não sejam os

adequados na maioria das situações, eles possibilitam uma base de comparação vital com

outros modelos mais complexos (COTTRELL e LUCCHETTI, 2006 :69).

3.6.2 Primeira Diferença

Se considerarmos que cada uma das unidades seccionais possa apresentar

características particulares não consideradas no modelo estudado (heterogeneidade não

observada), freqüentemente, no uso do modelo de pooled cross-sections, com problemas de

correlação entre os regressores e o termo erro (εεεε).

Page 112: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

112

Para lidarmos com esse problema, podemos considerar que o termo de erro (εεεεit) da

equação é composto, sendo constituído por dois componentes: a heterogeneidade não

observada (ααααi), que se supõe fixa ao longo do tempo, e o erro ideosincrático (υυυυit) que

representa os fatores não observados, que variam ao longo do tempo e afetam a variável

dependente.

Dessa forma, podemos representar genericamente esse erro composto, num modelo

genérico com uma única variável explicativa como apresentado na “Equação 16” abaixo :

yit=ββββ0 + ββββ1xit + εεεεit

yit = ββββ0 + ββββ1xit + ααααi + υυυυit

Equação 16 - Termo erro composto – Heterogeneidade e Erro Ideosincrático

Porém, mesmo que o erro ideosincrático (υυυυit) não esteja correlacionado com a variável

explicativa xit , os estimadores obtidos por MQO serão enviesados e inconsistentes no caso de

existir correlação entre ααααi e xit (WOOLDRIDGE, 2003 :439).

A estimação por primeira diferença lida com esse problema de correlação

considerando apenas a variação da variável dependente e dos regressores, entre dois períodos

observados.

Essa transformação (primeira diferença), descrita na “Equação 17” abaixo, elimina a

heterogeneidade não observada (αααα), permitindo que estimadores eficientes sejam obtidos

através de MQO (STOCK e WATSON, 2004 :189; WOOLDRIDGE, 2003 :441).

∆∆∆∆yi = δδδδ0 + β∆ β∆ β∆ β∆ xi + ∆ υ∆ υ∆ υ∆ υi

Equação 17 - Transformação em primeira diferença.

Page 113: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

113

Para permitir inferência estatística é fundamental garantir homocedasticidade na

equação de primeira diferença. Dessa forma a eventual presença de heterocedasticidade deve

ser testada e, caso necessário, corrigida (WOOLDRIDGE, 2003 :441).

Se por um lado a, transformação por primeira diferença se constitui num mecanismo

simples e efetivo para lidar os efeitos da heterogeneidade não observada, por outro ela não

oferece condições de se estudar o efeito de αααα na variável dependente.

Além disso, é importante mencionar que a transformação em primeira diferença reduz

significativamente a variação nas variáveis explicativas, podendo assim se converter num

problema já que, para a obtenção de estimadores através de MQO é fundamental garantir que

os regressores apresentem um mínimo de variação ao longo das observações

(WOOLDRIDGE, 2003: 440).

3.6.3 Efeitos Fixos

A transformação em primeira diferença é apenas uma das formas de tratamento do

efeito fixo (heterogeneidade não observada) (WOOLDRIDGE, 2003: 461).

Um segundo classe de estimadores que, considera que a heterogeneidade (αααα) se

constitui num efeito específico de cada unidade seccional e, que permanece fixo ao longo do

tempo, são os estimadores de efeitos fixos.

Para lidar com os efeitos desse efeito fixo, podemos considerá-lo no intercepto da

equação. Ou seja, permitimos n interceptos distintos, através da adição de uma variável

dummy para cada empresa (STOCK e WATSON, 2004 :190).

Esse método chamado de regressão de variáveis dummy (LSDV – Least Squares

Dummy Variable regression), ainda que geralmente apresente um R2 bastante elevado, não é

um método muito prático em se tratando de painéis com um número grande de observações

seccionais distintas (WOOLDRIDGE, 2003: 466).

Page 114: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

114

Outra alternativa ao método LSDV, que permite a obtenção dos mesmos estimadores, é

a transformação pela “subtração da média da entidade” (transformação within). Nesse método,

inicialmente se calcula a média de cada unidade seccional para depois, calcular a diferença

entre cada observação e o valor médio das unidades seccionais (STOCK e WATSON, 2004

:191-192; GREENE, 2000 :560-561).

Essa transformação, que considera a diferença entre uma média ao longo do tempo e

um fator não observável específico para cada unidade seccional, produz um tipo de

informação designada por Wooldridge (2003 :462) como “normalizada no tempo” (time de-

meaning), eliminando assim a heterogeneidade não observada (ααααi) e permitindo o emprego de

MQO para cálculo dos estimadores.

Uma terceira forma de se obter estimadores usando MQO em painéis de efeito fixo é

através do uso da transformação “between”.

Nesse caso, considera-se como base para a transformação a diferença entre cada

observação e os valores médios entre as unidades seccionais (e não, dentro das observações

de cada unidade seccional).

No entanto, de acordo com Wooldridge (2003 :462) os estimadores para efeitos fixos,

obtidos através da transformação between, possuem aplicação bastante restrita já que ignoram

informações importantes sobre como as variáveis mudam ao longo do tempo. Além disso, são

ainda viesados caso (ααααi) esteja correlacionado com os regressores e, mesmo que não exista tal

correlação, o uso dos modelos de efeitos aleatórios é uma alternativa mais recomendável.

Page 115: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

115

3.6.4 Efeitos Aleatórios

O modelo de efeitos fixos é uma abordagem adequada no caso de estarmos seguros de

que as diferenças entre as unidades seccionais podem ser vistas como mudanças nos

parâmetros da função de regressão (GREENE, 2000 :567).

No entanto, o uso de efeito fixo ou transformação por primeira diferença tem como

objetivo eliminar ααααi que, se supõe correlacionado com os regressores. Caso não exista tal

correlação, a eliminação de ααααi resultará em estimadores ineficientes (WOOLDRIDGE, 2003

:469).

Nesses casos, se recomenda o uso dos modelos de efeitos aleatórios, que além das

premissas consideradas no modelo de efeito fixo, assumem que ααααi é independente de todas as

variáveis explicativas, em todos os períodos de análise (WOOLDRIDGE, 2003 :469).

Dessa forma o intercepto passa a ser uma variável aleatória (υυυυi), definida com base

numa fração (λλλλ) do valor médio ao longo do tempo e um termo erro aleatório (GREENE,

2000 :567-568).

A equação transformada por efeito aleatório é apresentada à seguir na “Equação 18”:

yit – λλλλ yi(méd.) = ββββ(1 – λλλλ) + ββββ1(xit1 – λλλλ xi1(méd.)) + ... + ββββk(xitk – λλλλ xik(méd.)) + (υυυυit – λλλλ υυυυi(méd))

Equação 18 - Estimador de Efeitos Aleatórios

O estimador de efeitos aleatórios pode ser assim obtido através do método de Mínimos

Quadrados Generalizados (GLS – Generalized Least Squares) e/ou Máxima Verossimilhança

(ML – Maximum Likelihood), utilizando a equação acima descrita porém, substituindo-se o

parâmetro λ (que nunca é conhecido na prática) por λestimado. (WOOLDRIDGE, 2003 :471).

Page 116: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

116

3.6.5 Critérios de comparação de modelos de dados em

painel

Em se tratando de modelos estáticos de dados em painel, o processo de escolha do

modelo mais apropriado envolve a comparação de três modelos básicos: Modelo de Pooled

Cross-Sections, Modelo de Efeitos Fixos e, Modelos de Efeitos Aleatórios. Esse processo

encontra-se representado na “Figura 13” apresentada a seguir:

Escolha de estimadores em painéis de dados estáticos

Teste FH0: Todas as unidades seccionais possuem o mesmo intercepto.

rejeita

Modelo de

Efeitos Fixos

Teste Breush-PaganH0: Variância de υυυυi = 0

Pooled Cross-SectionX

Efeitos Fixos

Pooled Cross-SectionX

Efeitos Aleatórios

Modelo Pooled

Cross-Sections

aceita

aceita

rejeita

Modelo de

Efeitos

Aleatórios

Teste de HausmanH0: As estimativas obtidas por MQG são consistentes.

rejeita

aceita

Figura 13 - Processo de escolha de estimadores em painéis de dados estáticos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A existência de heterogeneidade entre unidades seccionais é um dos critérios que faz

com que o modelo de pooled cross-section seja ineficiente para a análise dos dados. A

significância dessa heterogeneidade não observada (efeito de grupo) pode ser testada através

de um teste F para a hipótese nula (H0) de que todas as unidades seccionais possuem um

mesmo intercepto. A não rejeição dessa hipótese se constitui em evidência a favor do modelo

de pooled cross-sections (GREENE, 2000 :562; WOOLDRIDGE, 2003 :431-432).

Page 117: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

117

Da mesma forma, a comparação entre o modelo de pooled cross-sections e o modelo

de efeitos aleatórios, pode ser efetuada através do teste LM proposto por Breush-Pagan. O

teste é feito contra a hipótese nula (H0) de que a variância do intercepto υυυυi é igual a 0.

A não rejeição desta hipótese vai contra a premissa central do modelo de efeitos

dinâmicos, que propõe que o intercepto se constitui numa variável aleatória a ser estimada

(COTTRELL e LUCCHETTI, 2006 :72).

Finalmente, a decisão entre o modelo de efeitos fixos e o modelo de efeitos aleatórios,

depende de se considerar que a heterogeneidade entre os elementos seccionais é um parâmetro

a ser estimado ou, o resultado de uma variável aleatória.

Quando as observações não podem ser consideradas como tendo sido extraídas

aleatoriamente de uma população maior, Wooldridge (2003 :473) recomenda que

consideremos a heterogeneidade (ααααi) como um parâmetro a estimar, utilizando assim o

modelo de efeitos fixos.

A existência de correlação entre ααααi e alguma variável explicativa, também determina o

uso do modelo de efeitos fixos (ou transformação por primeira diferença).

Dessa forma, o teste de Hausman pode ser utilizado contra a hipótese nula (H0) de que

não existe correlação, e que os estimadores de efeitos aleatórios são consistentes

(WOOLDRIDGE, 2003 : 473).

Page 118: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

118

4. Resultados da Pesquisa

4.1 Estatística Descritiva

A Tabela 2 apresentada abaixo mostra os valores mínimos e máximos das variáveis

estudas, suas médias e o desvio-padrão (σ) das mesmas.

Tabela 2: Estatística descritiva das variáveis estudadas

Variável N Média σσσσ Min. Max.

ROE 628 0.201435 0.1903346 -1.181949 1.518851ROA 628 0.089112 0.0706538 -0.086614 0.486052ROS 628 0.092293 0.0958392 -0.216999 0.577178CIV 628 1.314858 4.373081 0.001213 60.65433ICE 628 10.48996 22.69514 -1.687405 382.8307CE 628 1.346371 3.946137 0.010611 45.66183END_GERAL 628 0.514499 0.1851649 0.077 0.9803CRESC_VENDAS 628 6.436502 16.86214 -72.72 127.51

Geral

Fonte: Elaborada pelo autor.

Ao analisar os dados da tabela acima podemos verificar que os retornos médios sobre

patrimônio líquido (ROE), ativos (ROA) e vendas (ROS) foram de: 20,14%, 8,91% e 9,23%

respectivamente; todos apresentando alta variabilidade.

O nível médio de endividamento da amostra foi de 51,14% do total do ativo e as

vendas apresentaram um crescimento anual médio de 6,4%.

Podemos ainda notar que o valor médio do estoque de capital intelectual das empresas,

medido através do CIV, foi de R$ 1.314 milhões. Esse valor foi ligeiramente inferior ao

estoque médio de ativos físicos e financeiros (CE) de R$ 1.346 milhões verificado.

Page 119: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

119

Também chama a atenção o valor da eficiência do capital intelectual (ICE)

encontrado. Esse valor é bastante superior aos valores encontrados em estudos anteriores

realizados em outros países (FIRER e WILLIANS, 2003 : 355; CHEN et Al., 2005 :168;

VAN DER ZAHN, 2004 :21; KUJANSIVU e LONNQVIST, 2005 :8), sendo ainda superior

ao valor médio encontrado por Basso, Martin e Richieri (2006 :14).

Esse valor pode indicar a possível presença na amostra (haja vista que a base reflete

algumas das “maiores e melhores” empresas em operação no Brasil), de um número

significativo de organizações com altos níveis de eficiência no uso de seu capital intelectual.

Podemos verificar, através da Tabela 3 a evolução dos valores dessas variáveis ao

longo do período de seis anos analisado.

Tabela 3: Evolução das variáveis ao longo do período analisado.

Variável N Média σσσσ Min. Max. N Média σσσσ Min. Max.

ROE 102 0.152947 0.1122811 -0.001558 0.641269 103 0.158138 0.177677 -0.267241 1.333655ROA 102 0.073774 0.0488897 -0.00109 0.230306 103 0.0721 0.065276 -0.086614 0.362644ROS 102 0.086674 0.0951154 -0.000995 0.504409 103 0.06883 0.077457 -0.216999 0.325834CIV 102 1.502925 6.137028 0.006618 60.65433 103 1.262479 4.683729 0.004376 45.52853ICE 102 7.105401 6.02311 1.649081 38.41206 103 7.137647 4.981846 -1.687405 27.85557CE 102 1.29745 3.46604 0.021887 27.86469 103 1.312996 3.449991 0.02946 27.77959END_GERAL 102 0.469091 0.1847298 0.1426 0.875 103 0.496629 0.19419 0.1307 0.9544CRESC_VENDAS 102 0.073062 0.1851772 -0.2776 0.8736 103 0.087263 0.190642 -0.2552 127.51

Variável N Média σσσσ Min. Max. N Média σσσσ Min. Max.

ROE 103 0.168338 0.2047501 -1.181949 1.080432 105 0.205098 0.148004 -0.265803 0.659032ROA 103 0.07808 0.0631679 -0.067135 0.313729 105 0.092899 0.066688 -0.070013 0.327395ROS 103 0.078669 0.090153 -0.051288 0.480805 105 0.105533 0.096086 -0.057033 0.362414CIV 103 0.851516 1.563487 0.011292 7.814053 105 1.49489 5.044844 0.004555 50.15329ICE 103 11.13655 22.5307 1.550315 227.406 105 8.813527 5.777437 1.739056 26.83999CE 103 1.27985 3.65785 0.011758 29.16832 105 1.340363 3.688417 0.015561 33.39368END_GERAL 103 0.521238 0.1919337 0.077 0.9432 105 0.526275 0.179066 0.1326 0.872CRESC_VENDAS 103 5.289721 15.74696 -44.09875 74.36 105 -0.031917 0.139889 -0.7272 0.2709

Variável N Média σσσσ Min. Max. N Média σσσσ Min. Max.

ROE 120 0.228814 0.1742294 -0.078351 0.876149 120 0.276444 0.24393 0.042218 1.518851ROA 120 0.099157 0.0741476 -0.043524 0.341499 120 0.11755 0.084872 0.020039 0.486052ROS 120 0.099039 0.0996522 -0.03097 0.508631 120 0.118132 0.109065 0.008547 0.577178CIV 120 1.198906 3.203541 0.011902 30.84159 120 1.55908 4.005262 0.001213 38.32557ICE 120 9.595323 9.932403 1.94519 89.16899 120 17.83441 45.02629 1.835542 382.8307CE 120 1.2311 3.864729 0.010611 35.71241 120 1.686902 5.148543 0.017287 45.66183END_GERAL 120 0.530843 0.1847557 0.1191 0.9803 120 0.515077 0.172668 0.1414 0.9127CRESC_VENDAS 120 0.121627 0.1407223 -0.1485 0.6632 120 0.086232 0.154582 -0.484 0.4791

2004 2005

2000 2001

2002 2003

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 120: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

120

Enquanto o ROA e o ROS cresceram de forma discreta no período, notamos um

acentuado crescimento do ROE médio na amostra a partir de 2002.

Em relação às variáveis independentes CIV e ICE, é interessante observar que ambos

apresentaram uma forte expansão em 2005, porém considerando todo o período analisado,

verificamos que enquanto o CIV apresentou um comportamento bastante irregular, o ICE

demonstrou uma trajetória de crescimento continuado, indicando assim que as empresas

analisadas têm se tornado, progressivamente, mais eficientes em aplicar o seu capital

intelectual de forma a gerar valor econômico.

Podemos também perceber que o nível de endividamento das empresas cresceu pouco

menos de 5 pontos percentuais no período, que o crescimento das vendas teve o seu pior

resultado em 2003 com uma retração de mais de 3%, e que o estoque de ativos físicos e

financeiros das empresas da amostra cresceu mais de 37% em 2005.

Page 121: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

121

Os gráficos “Gráfico 1”, “Gráfico 2” e, “Gráfico 3” apresentados a seguir, ilustram

de forma mais clara como se comportaram cada uma das variáveis estudadas ao longo do

tempo.

0.2764444

0.2288137

0.205098

0.1683381

0.1581378

0.1529474

0.1175499

0.09915660.0928991

0.0780801

0.0720996

0.0737741

0.1181324

0.09903860.1055333

0.0786688

0.0688303

0.0866737

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

2000 2001 2002 2003 2004 2005

ROE

ROA

ROS

Gráfico 1: Evolução das variáveis dependentes

Fonte: Elaborada pelo autor.

0.851516

1.49489

1.198906

1.559081.502925

1.262479

7.105401 7.137647

11.13655

8.8135279.595323

17.83441

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2000 2001 2002 2003 2004 2005

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

CIV

ICE

Gráfico 2: Evolução do capital intelectual das empresas da amostra

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 122: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

122

0.05289721

0.51507670.53084250.52627520.52123790.4966291

0.4690912

0.08623179

0.1216274

-0.03191684

0.087263020.07306176

1.686902

1.2311

1.3403631.27985

1.3129961.29745

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

2000 2001 2002 2003 2004 2005

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

END_GERAL

CRESC_VENDAS

CE

Gráfico 3: Evolução das variáveis de controle

Fonte: Elaborada pelo autor.

Podemos ainda observar, através da “Tabela 4” na pág. 105, como os valores médios

das variáveis estudas se modificam em relação aos diversos setores econômicos representados

na amostra.

Os setores que apresentaram maior nível de geração de valor foram: Serviços Diversos

(maior ROE), Farmacêutico, Higiene e Cosméticos (maior ROA) e, Mineração (maior ROS).

Em relação ao estoque de capital intelectual das empresas, é curioso observar que os

três setores com maior valor médio de CIV são: Química e Petroquímica; Telecomunicações e

Mineração. Vemos também que, o setor de Tecnologia e Computação, ocupa apenas a 16ª

posição em relação a esse parâmetro.

Page 123: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

123

No quesito eficiência no uso do capital intelectual (ICE), os setores: Mineração,

Construção e Telecomunicações, ocupam respectivamente, as 3 primeiras posições e

Tecnologia e Computação, é o 19º colocado.

Esses resultados, aparentemente contraditórios, se explicam possivelmente, pela

característica particular da amostra que, após análise criteriosa, evidencia que, em alguns

setores, estão concentradas apenas um pequeno número de empresas com alto nível de

eficiência e posição de grande destaque mundial no seu setor.

Dessa forma, cabe ressaltar que, a descrição dos valores por setores está aqui colocada

apenas para caracterizar melhor a amostra utilizada e não se presta, conforme já mencionado

no tópico “População e Amostra” na página 17, a qualquer tipo de inferência.

Page 124: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

124

Tabela 4: Análise das variáveis por setor da economia

Setor N Variável Média σσσσ Min. Max. Setor N Variável Média σσσσ Min. Max.ROE 0.211723 0.110127 0.065285 0.5439453 ROE 0.493148 0.342659 0.159298 1.518851ROA 0.086671 0.054205 0.022064 0.2303064 ROA 0.229536 0.100478 0.090454 0.421616ROS 0.062721 0.04825 0.009735 0.2213641 ROS 0.31507 0.129329 0.056333 0.577178CIV 0.971894 1.546797 0.011377 7.091692 CIV 2.734736 3.226859 0.148435 12.09942ICE 8.041316 6.532133 2.276223 31.02348 ICE 38.51104 62.61885 9.081522 217.8684CE 0.728258 0.861466 0.044912 4.927184 CE 4.015187 7.696694 0.070195 25.49667END_GERAL 0.572756 0.182706 0.1307 0.8271 END_GERAL 0.469295 0.131662 0.2167 0.7671CRESC_VENDAS 2.848205 11.28004 -16.64 29.39 CRESC_VENDAS 18.03 19.69139 -8.13 71.17ROE 0.169042 0.086952 0.020366 0.5182323 ROE 0.207274 0.097065 0.054266 0.39657ROA 0.073012 0.03939 0.01514 0.1808524 ROA 0.121573 0.049436 0.035941 0.25852ROS 0.028004 0.028378 0.004009 0.193678 ROS 0.226994 0.111731 0.048759 0.504409CIV 0.354005 0.635082 0.012284 3.676863 CIV 1.008457 0.910932 0.06492 3.085892ICE 11.14849 19.59191 -1.687405 155.1231 ICE 9.112727 3.402414 3.863647 15.86537CE 0.311564 0.486799 0.011758 2.814749 CE 1.046284 0.790406 0.249652 3.209053END_GERAL 0.544258 0.157261 0.1983 0.9057 END_GERAL 0.381946 0.13725 0.1585 0.6681CRESC_VENDAS 4.080484 16.77482 -72.72 31.62 CRESC_VENDAS 0.635455 12.30295 -25.52 24.04ROE 0.161628 0.105748 0.029242 0.4014576 ROE 0.164483 0.061938 0.075396 0.252157ROA 0.063942 0.040068 0.013387 0.1536001 ROA 0.067776 0.022239 0.033642 0.093651ROS 0.051658 0.039882 0.005159 0.1460461 ROS 0.045032 0.01329 0.022947 0.057105CIV 1.460154 2.27435 0.004376 7.925255 CIV 0.291377 0.221067 0.045503 0.596613ICE 4.344988 2.656294 1.835542 11.21885 ICE 4.605667 0.639286 4.056808 5.867051CE 1.018243 1.315083 0.045526 4.05087 CE 0.38071 0.13407 0.153493 0.504321END_GERAL 0.5863 0.097792 0.4004 0.7017 END_GERAL 0.58025 0.034015 0.5407 0.6286CRESC_VENDAS 10.50762 22.18111 -29.94 64.21 CRESC_VENDAS 8.805 8.611101 -0.1 26.47ROE 0.143145 0.096002 -0.033039 0.3977031 ROE 0.266007 0.150848 0.070608 0.846485ROA 0.046304 0.032521 -0.005504 0.1383209 ROA 0.146566 0.08237 0.056586 0.486052ROS 0.017713 0.013085 -0.00217 0.0602394 ROS 0.111305 0.063281 0.025656 0.283742CIV 0.145543 0.155235 0.004829 0.7591383 CIV 4.641025 13.70271 0.009709 60.65433ICE 4.394797 1.661074 2.409968 9.907274 ICE 11.01406 5.874568 3.243856 26.82585CE 0.145918 0.363225 0.015369 2.837613 CE 4.075231 10.86085 0.070346 45.66183END_GERAL 0.643156 0.170523 0.261 0.9127 END_GERAL 0.425402 0.12404 0.1934 0.7122CRESC_VENDAS 7.28459 14.38847 -20.78 57.52 CRESC_VENDAS 7.900769 13.75839 -20.12 44.27ROE -0.003028 0.20085 -0.267241 0.2717391 ROE 0.248632 0.172952 -0.019723 0.674968ROA 0.01273 0.049898 -0.070013 0.0871467 ROA 0.076204 0.055555 -0.015562 0.210388ROS 0.009865 0.041841 -0.057033 0.07583 ROS 0.060675 0.0868 -0.216999 0.21514CIV 0.206258 0.094413 0.024285 0.2930171 CIV 0.692215 0.701604 0.034918 2.253529ICE 3.06552 0.82724 2.077461 4.692082 ICE 4.435414 2.367344 0.352478 11.66574CE 0.202607 0.138146 0.111163 0.5102397 CE 0.65768 1.031426 0.010611 4.613413END_GERAL 0.708886 0.12229 0.5953 0.9544 END_GERAL 0.642616 0.175804 0.211 0.8725CRESC_VENDAS -4.68 13.20185 -23.02 12.24 CRESC_VENDAS 18.63211 33.81413 -12.91 127.51ROE 0.101905 0.053512 0.06338 0.207247 ROE 0.749 0.306475 0.385193 1.333655ROA 0.063462 0.032194 0.039245 0.1270424 ROA 0.166453 0.051235 0.119362 0.262319ROS 0.060108 0.023782 0.036214 0.1018116 ROS 0.091567 0.049581 0.031389 0.154731CIV 0.306957 0.131943 0.166571 0.5477453 CIV 0.421806 0.463529 0.049666 1.508429ICE 3.419386 0.56865 2.863448 4.330062 ICE 4.92698 2.422916 2.127298 8.209253CE 0.27707 0.07637 0.205746 0.3932321 CE 0.128875 0.127119 0.024607 0.356928END_GERAL 0.37165 0.051879 0.2752 0.4229 END_GERAL 0.742622 0.119569 0.5157 0.9105CRESC_VENDAS -0.398333 10.24846 -13.7 15.35 CRESC_VENDAS 8.787579 11.15551 -14.17 20.41ROE 0.094094 0.045756 0.020388 0.1712844 ROE 0.182853 0.164992 0.015931 1.176358ROA 0.077135 0.039054 0.01586 0.1470648 ROA 0.066283 0.039972 0.006849 0.223626ROS 0.1068 0.060061 0.006457 0.2117726 ROS 0.123304 0.099213 0.001701 0.480805CIV 0.800525 0.709052 0.007083 2.290214 CIV 1.482961 1.715369 0.001213 7.047474ICE 20.24226 62.2465 2.128803 227.406 ICE 13.70152 34.32607 1.550315 382.8307CE 0.821802 0.95898 0.070492 3.884042 CE 2.057836 2.891862 0.031573 13.41605END_GERAL 0.179731 0.082853 0.077 0.4244 END_GERAL 0.557037 0.165742 0.1851 0.875CRESC_VENDAS 6.304616 20.60618 -28.46 48.95 CRESC_VENDAS 5.455414 16.09222 -62.49 76.59ROE 0.052947 0.243687 -1.181949 0.6590323 ROE 0.246803 0.154921 0.037438 0.688961ROA 0.02984 0.059811 -0.086614 0.1579423 ROA 0.130478 0.064359 0.022676 0.307261ROS 0.025136 0.054256 -0.072408 0.1681949 ROS 0.141191 0.094364 0.013599 0.417806CIV 0.525651 0.479892 0.041789 2.206907 CIV 1.157764 2.247057 0.011497 11.92018ICE 7.90701 7.033851 1.94519 26.48935 ICE 8.359868 5.485149 2.825448 38.42352CE 0.243513 0.238775 0.045573 1.006102 CE 0.816929 1.305509 0.049463 7.703044END_GERAL 0.504705 0.23051 0.1478 0.9803 END_GERAL 0.411066 0.167835 0.1326 0.7627CRESC_VENDAS 4.133311 18.52676 -27.76 61.51907 CRESC_VENDAS 9.66375 18.50504 -17.36 74.36ROE 0.557349 0.301515 0.279192 1.137551 ROE 0.301477 0.188236 0.063708 0.641269ROA 0.276934 0.090701 0.106763 0.3455879 ROA 0.106041 0.053793 0.030695 0.179373ROS 0.081317 0.030329 0.051812 0.139829 ROS 0.057922 0.024445 0.030889 0.094531CIV 0.742616 0.373511 0.087693 1.065716 CIV 0.312382 0.172518 0.03468 0.482067ICE 5.97981 1.392372 3.253522 7.126355 ICE 4.088623 3.024586 2.06758 9.61369CE 0.134343 0.050617 0.070329 0.1870909 CE 0.195408 0.126129 0.04005 0.402816END_GERAL 0.46545 0.15237 0.3325 0.6962 END_GERAL 0.59082 0.130368 0.4731 0.8635CRESC_VENDAS -1.258333 8.862208 -13.32 7.73 CRESC_VENDAS 11.33 25.21573 -16.27 66.32ROE 0.142568 0.08563 0.074741 0.3976697 ROE 0.124674 0.064228 0.011768 0.264606ROA 0.088413 0.028562 0.063462 0.1711173 ROA 0.071214 0.042186 0.006142 0.1789ROS 0.109625 0.055864 0.056746 0.2138912 ROS 0.092554 0.05525 0.010143 0.232567CIV 0.255409 0.217418 0.030194 0.7283906 CIV 2.863258 3.535257 0.0076 11.69813ICE 8.362284 4.076951 4.378096 14.91489 ICE 0.442581 0.102435 0.2044 0.6264CE 0.421005 0.074933 0.348819 0.6443242 CE 16.29585 4.858343 6.698229 25.17793END_GERAL 0.318431 0.132184 0.1509 0.5697 END_GERAL 3.272884 3.363836 0.170144 10.72689CRESC_VENDAS 5.116154 8.132156 -8.36 18.3 CRESC_VENDAS 1.929355 8.308041 -15.78 18.12ROE 0.271867 0.102283 0.114273 0.4412023ROA 0.156049 0.046356 0.086676 0.2230277ROS 0.110464 0.02009 0.08333 0.1463288CIV 0.771768 0.28255 0.250846 1.077361ICE 4.168901 0.822788 3.319862 6.058434CE 0.379512 0.083881 0.269526 0.5476294END_GERAL 0.401525 0.102053 0.2415 0.5241CRESC_VENDAS 7.42625 8.857409 -11.27 17.11

AUTOMOTIVO

COMÉRCIO VAREJISTA

FARMACÊUTICO, HIGIENE E COSMÉTICOS

MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

MINERAÇÃO

PAPEL E CELULOSE

COMUNICAÇÕES

CONFECÇÕES E TÊXTEIS

CONSTRUÇÃO

ELETROELETRÔNICO

ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO

ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR

SIDERURGIA E METALURGIA

TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO

TELECOMUNICAÇÕES

PLÁSTICOS E BORRACHA

QUÍMICA E PETROQUÍMICA

SERVIÇOS DE TRANSPORTE

SERVIÇOS DIVERSOS

20

7

6

13

39

62

21

61

SERVIÇOS PÚBLICOS

22

8

52

19

31

MECÂNICA

9

123

56

106

13

8

42

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 125: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

125

4.2 Análise de Correlação

Na Tabela 5 abaixo são apresentados os coeficientes de correlação, que medem a

intensidade ou grau de associação linear entre as variáveis empregadas no modelo de estudo.

Com exceção das três variáveis dependentes, que por medirem diferentes aspectos da

capacidade da empresar gerar valor, devem, portanto, apresentar um nível de associação linear

considerável entre si, é esperado que as demais variáveis possuam coeficientes Pearson com

valores baixos.

No entanto, percebemos que existe um nível de correlação elevado entre as variáveis

CIV e CE, o que poderia recomendar a supressão de uma delas do modelo.

Porém, ao investigarmos mais detalhadamente a tolerância e o fator inflação de

variância (VIF – Variance Inflation Factor), buscando um eventual problema de

multicolinearidade, não encontramos indícios que sugerissem a existência de qualquer viés de

especificação no modelo, ou a necessidade de eliminação de alguma variável (GUJARATI,

2000 :317-344).

Tabela 5: Análise de correlação entre as variáveis

ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERALCRESC_ VENDAS

ROE 1.000 ROA 0.762 1.000 ROS 0.359 0.543 1.000 CIV 0.089 0.127 0.238 1.000 ICE 0.237 0.187 0.131 0.060 1.000 CE (0.033) (0.004) 0.256 0.813 0.056 1.000 END_GERAL 0.247 (0.193) (0.263) (0.024) 0.010 (0.067) 1.000 CRESC_VENDAS 0.149 0.152 0.049 0.054 0.138 0.011 0.047 1.000

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 126: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

126

4.3 Modelos Estáticos de Dados em Painel

4.3.1 Retorno sobre Patrimônio Líquido

Quanto ao efeito do capital intelectual em relação à variável dependente ROE

(Retorno sobre o Patrimônio Líquido), a Tabela 6 abaixo, consolida os resultados obtidos

através da análise dos modelos estáticos de dados em painel.

A seqüência de investigação seguiu o modelo sugerido por Wooldridge (2003 :426-

483) e utilizada também por Martin et Al. (2005 :11-15).

Tabela 6: Retorno sobre PL (ROE) - Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel

OLS (pooled) OLS (Pooled Diff) OLS Within OLS Between GLS (w/b) GLS (residuals) MLCIV 0.0130954 *** 0.00607660 ** 0.00697238 * 0.0277662 * 0.00820038 * 0.00837616 * 0.00824436 *ICE 0.00183917 *** 0.000202886 0.000793054 0.00178251 * 0.0011147 * 0.00116583 * 0.0011414 *CE -0.0133267 *** -0.006657 *** -0.00394542 -0.0258466 * -0.00772283 ** -0.00801699 ** -0.00783615 **END_GERAL 0.235455 * 0.161383 0.248724 0.290954 * 0.284186 * 0.272271 * 0.272722 *CRESC_VENDAS 0.00107506 ** 0.000563178 0.000628349 0.00149623 0.000795213 ** 0.000812354 ** 0.00080013 **Constant. 0.0548052 *** 0.0192082 * - 0.0322631 0.0481758 * 0.0518555 *** 0.052066 *R2 0.1587989 0.03558401 0.05921003 0.2359898 0.1420436 0.1354525 0.1320704W(j) * - * * * * *AR(1) * - *** n.d. - - -AR(2) * - * n.d. - - -Breusch-Pagan LM = 106.692 *F(236, 386) 4.11934 *Hausman test H = 16.0054 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

Efeito AleatórioEfeito Fixo

ROE

Fonte: Elaborada pelo autor.

Podemos observar que as evidências são contrárias ao modelo de Pooled Cross-

Sections, já que rejeitamos as hipóteses de que todas as unidades seccionais possuam o

mesmo intercepto (teste F) e que a variância de υi seja igual a 0 (teste Breush-Pagan).

Na comparação entre os estimadores de efeito fixo e efeito aleatório, em função do

teste de Hausman, somos forçados a rejeitar a hipótese de que as estimativas obtidas por

MQG (efeitos aleatórios) sejam consistentes.

Page 127: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

127

Dessa forma, concluímos que as evidências são favoráveis aos estimadores de efeito

fixo; porém, observamos a presença de autocorrelação nos modelos.

Essa autocorrelação encontrada poderia ser considerada como um indício favorável ao

uso dos modelos dinâmicos de dados em painel (MARTIN et Al. 2005 :12).

No entanto, conforme já descrito na seção 3.6 (pág. 108) desta dissertação, não

encontramos fundamento teórico que justifique a aplicação dos modelos dinâmicos.

Além disso, considerando que utilizamos um painel com um número relativamente

pequeno de períodos (micropanel), a correção da autocorrelação e a posterior adoção dos

estimadores de efeitos fixos ou efeitos aleatórios ao painel corrigido, aparece com uma

alternativa mais recomendável (JUDSON e OWEN, 1996 :1-3 ; YAFFE, 2003: 8).

Dessa forma, foi utilizado o procedimento de correção proposto por Baltagi e Wu

(1999 :814-818), apropriado a painéis de dados “não balanceados” como o que foi utilizado

neste estudo.

O método em questão, considera que a parcela υυυυ do termo erro composto descrito na

Equação 16 (pág. 112), pode ser dividido conforme representado na equação abaixo.

υυυυit = ρρρρ * υυυυi(t-1) + zit (onde | ρ ρ ρ ρ | < 1 e zit é IID3(0, σσσσ2u)

Equação 19 - Termo erro auto-regressivo de Baltagi e Wu

3 Independente e Identicamente Distribuída ( Independently and Identically Distributed)

Page 128: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

128

A partir da Equação 19, ρρρρ foi definido com base no valor da estatística de Durbin-

Watson (DW) de forma que:

ρρρρ = 1 – (DW /2)

Equação 20 - Cálculo de ρρρρ com base na estatística DW

Com base no valor de ρρρρ estimado, todos os dados do painel foram ajustados. Nesse

processo, um período de observação é perdido por empresa.

Os novos coeficientes obtidos através dos estimadores de efeito fixo (within) e efeito

aleatório (GLS – w/b) corrigidos para autocorrelação, se encontram na

Tabela 7, em conjunto com os novos valores calculados para os testes F e Hausman.

Tabela 7: ROE – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel

Efeito Fixo Efeito Aleatório

CIV 0.0058599 * 0.0084889 *ICE 0.0044583 * 0.0013067 *CE -0.0040687 -0.0089737END_GERAL 0.3283249 * 0.2805713 *CRESC_VENDAS 0.000434 0.000895Constant. -0.0107349 0.042255R2 0.1235 0.1492W(j) * *F(158, 227) 4.19 *Hausman test H = 13.78 *** significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

ROE

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observamos que os indícios são favoráveis ao modelo de efeito fixo, e que os

coeficientes dos regressores CIV e ICE, após a correção, mantiveram-se positivos, porém,

passaram a ser altamente significativos.

Page 129: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

129

Percebemos também que o coeficiente de determinação dos modelos (R2) aumentou

indicando um melhor grau de ajuste do modelo.

A opção pelos estimadores de efeito fixo permitiu também que fosse calculado o valor

da heterogeneidade por empresa em relação ao ROE.

Os valores estimados, à título de referência, encontrada-se no: Apêndice B –

Heterogeneidade observada em relação aos estimadores de efeito fixo para o ROE das

empresas.

Com base nos valores encontrados podemos com segurança rejeitar a hipótese 0,1 e

hipótese 0,2, e confirmar, conforme o esperado com base no referencial teórico, a existência de

uma relação positiva entre o capital intelectual e o retorno sobre o PL das empresas.

De acordo com os resultados encontrados, ceteris paribus, é sugerido que uma

ampliação de US$ 17 milhões no estoque de capital intelectual da empresa (medido através do

CIV) traria um incremento de 0,01 ponto percentual do seu ROE.

Da mesma forma, em relação à eficiência no uso do capital intelectual, estima-se que

um aumento de 2,243 unidades (ou 21,35% considerando o valor médio da amostra) no valor

do ICE, traria ao ROE da empresa, um crescimento de 1 ponto percentual.

Em relação às variáveis de controle, o único coeficiente que se mostrou

estatisticamente significativo foi o da variável END_GERAL, sugerindo que as empresas que

utilizam mais o capital de terceiros para conduzir os seus negócios, são capazes de

proporcionar um maior nível de retorno sobre o capital dos seus donos ou acionistas.

Page 130: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

130

4.3.2 Retorno sobre Ativos

Em relação à variável Retorno sobre Ativos (ROA), conforme podemos observar na

Tabela 8 abaixo, uma vez mais encontramos evidências em favor do modelos de efeitos fixos

e novamente, identificamos a presença de autocorrelação.

Tabela 8: Retorno sobre Ativos (ROA) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel

OLS (pooled) OLS (Pooled Diff) OLS Within OLS Between GLS (w/b) GLS (residuals) MLCIV 0.00612273 *** 0.00259679 ** 0.00309869 *** 0.0130646 * 0.0034572 * 0.00346208 * 0.0034203 *ICE 0.000524951 *** 0.000117525 0.000334732 0.000587971 ** 0.000409009 * 0.000413853 * 0.000408087 *CE -0.00603610 *** -0.00219297 -0.000920077 -0.0119417 * -0.00283631 ** -0.00288077 ** -0.00279424 **END_GERAL -0.0817171 * -0.127321 * -0.0434351 -0.0914054 * -0.0656794* -0.067255 * -0.0661339 *CRESC_VENDAS 0.000513416 * 0.000349786 ** 0.000356527 ** 0.000857921 ** 0.000421707 * 0.000421868 * 0.000416999 *Constant. 0.122420 * 0.00788569 * - 0.125889 * 0.117555 * 0.118217 * 0.117689 *R2 0.1409577 0.1198649 0.086911 0.2199896 0.1347262 0.1297873 0.1273017W(j) * * * * * * *AR(1) * ** * n.d. * * *AR(2) * - * n.d. - - -Breusch-Pagan LM = 393.69 *F(236, 386) 6.63419 *Hausman test H = 35.1091 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

Efeito Fixo

ROAEfeito Aleatório

Fonte: Elaborada pelo autor.

Efetuada a correção através do procedimento de Baltagi e Wu, foi possível obter os

novos estimadores de efeitos fixos e efeitos aleatórios apresentados na

Tabela 9 à seguir.

Tabela 9: ROA – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel

Efeito Fixo Efeito Aleatório

CIV 0.0026993 * 0.0034491 *ICE 0.0010188 ** 0.0003346 *CE -0.0015919 -0.0032958 *END_GERAL -0.0780824 ** -0.0643359 *CRESC_VENDAS 0.0002915 ** 0.000422 *Constant. 0.1222539 * 0.1159608 *R2 0.1177 0.1376W(j) * *F(158, 227) 4.61 *Hausman test H = 7.21* significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

ROA

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 131: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

131

Podemos observar através no novo valor do teste de Hausman, que após a correção, no

caso da variável ROA, as evidências passaram a ser favoráveis ao modelo de efeitos

aleatórios.

Tomando então os valores estimados para os coeficientes, obtidos através dos

estimadores de efeitos aleatórios, percebemos que, quando medimos a geração de valor da

empresa através do uso do ROA, podemos também rejeitar a hipótese 0,1 e hipótese 0,2

propostas.

Assim sendo, confirmamos também a existência de uma relação positiva entre o

capital intelectual e o retorno sobre os ativos das empresas.

Notamos ainda que, no caso do ROA, o valor dos coeficientes é inferior que aqueles

estimados para o modelo econométrico do ROE, indicando assim que, na amostra analisada, o

impacto do capital intelectual foi maior na capacidade das empresas gerarem valor para os

seus donos e acionistas do que na eficiência total do uso dos seus ativos.

Considerando os resultados encontrados, ceteris paribus, é necessária uma variação de

US$ 29 milhões no estoque de capital intelectual da empresa (medido através do CIV), para

se verifique uma mudança de 0,01 ponto percentual do seu ROA.

Em relação à eficiência no uso do capital intelectual, considerando o valor médio da

amostra, é necessário um aumento de 28,6% (equivalente a 3 unidades no valor do ICE) para

cada 0,1 ponto percentual de variação no ROA, ceteris paribus.

Podemos também perceber que no caso do modelo do ROA, os coeficientes de todos

os demais regressores são significantes ao nível de 1%.

Dessa forma, verificamos que, ao contrário do modelo do ROE, o coeficiente da

variável explicativa END_GERAL, apresenta sinal negativo indicando que as empresas da

amostra, com maior percentual de capital de terceiros na sua estrutura, apresentaram um

menor nível de retorno sobre os seus ativos.

Page 132: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

132

Notamos ainda, que o coeficiente do regressor CE também apresentou sinal negativo,

indicando um efeito negativo do aumento de recursos físicos e financeiros na capacidade da

empresa gerar valor sob a óptica do ROA, ceteris paribus.

Finalmente, da mesma forma, podemos observar que na amostra estudada,

identificamos uma relação positiva entre o nível anual de crescimento das vendas da empresa

(CRESC_VENDAS) e o seu ROA.

4.3.3 Retorno sobre Vendas

O terceiro índice de geração de valor analisado foi o retorno sobre as vendas (ROS). A

inclusão desse índice no estudo, se explica pela presença de empresas de serviços na amostra.

Essas empresas apresentam, tipicamente, um nível mais baixo de ativos físicos e financeiros,

quando confrontadas com as empresas de atividade industrial, fazendo com que os seus

índices de ROA que não sejam comparáveis.

Apesar disso, observamos através das medidas de dispersão apresentadas na Tabela 2

(pág. 118), que na amostra avaliada, os valores médios e os desvios padrão obtidos para os

índices de ROA e ROS tem valores bastante próximos.

A despeito dessa proximidade, os coeficientes obtidos mostraram algumas

particularidades relevantes a serem destacadas, justificando assim, a sua manutenção no

estudo.

Na Tabela 10 abaixo, podemos encontrar os resultados das análises usando os diversos

estimadores de efeitos fixos e efeitos aleatórios disponíveis.

Nesse caso, podemos observar que o teste de Hausman sugere a utilização da

estimação através do método de efeitos aleatórios.

Page 133: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

133

Notamos ainda, como nos casos anteriores, a presença de autocorrelação, que a

exemplo do que foi feito em relação às análises anteriores, foi corrigida através do método

proposto por Baltagi e Wu.

Tabela 10: Retorno sobre Vendas (ROS) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel

OLS (pooled) OLS (Pooled Diff) OLS Within OLS Between GLS (w/b) GLS (residuals) MLCIV 0.00223869 0.00317101 *** 0.00441385 0.00137897 0.00426163 * 0.00424072 * 0.0042444 *ICE 0.000478079 *** 0.0000807848 0.000177265 0.000405443 0.000211329 *** 0.000212448 *** 0.000211669 ***CE 0.00361494 0.00867946 0.00430594 0.0056757 0.00372648 * 0.00367474 * 0.0036826 *END_GERAL -0.130998 * -0.107701 * -0.0450746 *** -0.146989 * -0.0810629 * -0.0817089 * -0.081098 *CRESC_VENDAS 0.000218772 -0.000029299 -0.00000447941 0.000507006 0.0000208159 0.0000216622 0.0000210218 Constant. 0.145457 * 0.00316759 *** - 0.152027 * 0.12236 * 0.122788 * 0.122471 *R2 0.145481 0.1379129 0.1118376 0.1755903 0.127125 0.1260984 0.1257955W(j) * * - * * * *AR(1) * * ** n.d. * * *AR(2) * - * n.d. - - -Breusch-Pagan LM = 683.352 *F(236, 386) 13.9059 *Hausman test H = 8.18922 * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

Efeito Aleatório

ROSEfeito Fixo

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observando os valores dos coeficientes após a correção, apresentados na Tabela 11,

verificamos que persistem as evidências em favor do modelo de efeitos aleatórios.

Tabela 11: ROS – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel

Efeito Fixo Efeito Aleatório

CIV 0.0035167 * 0.0041653 *ICE 0.0008757 *** 0.0002572 **CE 0.0049732 ** 0.004209 *END_GERAL -0.0848954 ** -0.0858131 *CRESC_VENDAS -0.0001256 0.0000416Constant. 0.119421 * 0.1218816 *R2 0.1095 0.1258W(j) * *F(158, 227) 7.92 *Hausman test H = 3.85* significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

ROS

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 134: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

134

Novamente, analisando os coeficientes encontrados para as variáveis CIV e ICE,

podemos rejeitar a hipótese 0,1 (p-value < 1%) e hipótese 0,2 (p-value < 2 %) propostas.

Confirmamos assim, a existência de uma relação positiva entre o capital intelectual e

o retorno sobre as vendas nas empresas analisadas.

Também foram significantes os coeficientes de todos os demais regressores, à exceção

da variável CRESC_VENDAS.

Da mesma forma que no caso do ROA, os resultados indicam que a uma variação de

US$ 28,5 milhões no estoque de capital intelectual da empresa (CIV), ceteris paribus,

corresponde uma mudança de 0,01 ponto percentual no ROS da empresa.

No caso da variável ICE (eficiência no uso do capital intelectual), a análise do

impacto no ROS, se mostrou mais sensível que no caso do ROA. Considerando o valor médio

da variável, podemos verificar que um aumento de 11% no ICE ( 1,15 unidades) seria capaz

de elevar em 0,1 ponto percentual o ROS, ceteris paribus.

Também observamos que, novamente, o coeficiente da variável explicativa

END_GERAL apresentou sinal negativo, indicando que as empresas da amostra que

privilegiaram o capital próprio na sua estrutura de capital, apresentam um maior retorno sobre

suas vendas.

O coeficiente do regressor CE também se apresentou significativo, apontando para a

existência de uma relação positiva entre o nível de recursos físicos e financeiros e a

capacidade da empresa gerar valor (sob a óptica do ROS), ceteris paribus.

Page 135: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

135

4.4 Modelos de Dados em Painel Dinâmicos

Conforme exposto na seção 3.6 (pág. 108), o presente estudo se concentrou na análise

dos dados obtidos através do uso de modelos estáticos de dados em painel.

No entanto, em linha com a natureza exploratória desta dissertação e em função da

autocorrelação verificada nos modelos, foram também calculados os estimadores para os

modelos dinâmicos de dados em painel, utilizando GMM (Generalized Method of Moments)

como instrumento, nos moldes propostos por Arellano e Bond (1991).

De forma geral, os valores encontrados foram consistentes com aqueles descritos nas

seções anteriores, suportando as análises efetuadas com base nas técnicas de dados em painel

com efeitos fixos e efeitos aleatórios corrigidos para autocorrelação já apresentadas.

De qualquer forma, todos os valores dos coeficientes estimados pelo método GMM e

os valores dos testes estatísticos pertinentes, encontram-se disponíveis para referência no

Apêndice C.

Uma vez mais, cabe ressaltar que a escolha dos modelos estáticos aqui empregados foi

decorrente de:

• Ausência de suporte teórico sobre a existência de relação entre a capacidade de

geração de valor da empresa, com a geração de valor da mesma, apresentada

em períodos anteriores;

• O estudo ter sido conduzido com base num “micro-painel” de dados,

apresentando um grande número de unidades seccionais observadas ao longo

de número pequeno de períodos.

Page 136: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

136

4.5 Análise dos Resultados

Como pudemos constatar três nas seções anteriores, os dados analisados, de forma

geral, confirmam a maioria das proposições do referencial teórico.

Em linha com os objetivos traçados para este estudo, foi possível comprovar o

impacto do capital intelectual na geração de valor das empresas (medido sob as perspectivas

do ROE, ROA e ROS), através da rejeição das hipóteses:

• Hipótese 0,1: O estoque de capital intelectual das empresas não afeta a sua

capacidade de geração de valor.

• Hipótese 0,2: Não existe diferença na capacidade de gerar valor entre as

empresas com maior e menor eficiência no uso do capital intelectual.

Ainda que trabalhos anteriores tenham avançado na direção da comprovação

financeira da relevância do capital intelectual nas empresas brasileiras (KAIO, 2002; OMAKI,

2005; PEREZ e FAMÁ, 2006), esta dissertação buscou ampliar a profundidade de estudo do

tema ao mensurar quantitativamente o nível deste impacto.

Na comparação entre os efeitos do capital intelectual e dos ativos tangíveis na geração

de valor, com base nos resultados encontrados, parece interessante ressaltar o fato da

influência negativa do estoque de ativos físicos e financeiros das empresas no ROA das

mesmas.

Sob essa mesma ótica, é também interessante notar o fato de que o coeficiente da

variável CE, na equação do ROE, não pode ser considerado estatisticamente diferente de zero.

Esse resultado, a ser confirmado em estudos futuros, indicaria que, frente ao capital

intelectual, o nível de capital empregado físico e financeiro não é relevante para a geração de

valor para os sócios e proprietários.

Page 137: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

137

Dessa maneira, analisando os resultados obtidos para as equações do ROA e do ROS,

conforme indicado pelos dados da amostra estudada, não apenas o impacto da variável CIV é

mais relevante do que o da variável CE como também, o aumento do nível de ativos físicos e

financeiros parece reduzir (ao menos em relação a um aspecto) o desempenho das empresas,

contrariando a lógica de negócios vigente na maioria das organizações.

Em se tratando do retorno sobre vendas (ROS), encontramos uma relação positiva

entre as variáveis CE e ROS; relação essa, praticamente igual àquela entre CIV e ROS.

Esses achados parecem demonstrar de forma clara, a importância do estoque de capital

e das ações tomadas para a ampliação do mesmo nas empresas.

Quando concentramos nossa atenção na eficiência da utilização do capital intelectual,

novamente comprovamos a sua relevância em relação às três medidas de geração de valor

utilizadas.

É interessante observar que, considerando a fórmula de cálculo da variável ICE ( ver

Equação 8 na pág. 31), podemos perceber a importância da relação entre o valor adicionado

da empresa e o total de gastos e salários da mesma. Se re-escrevermos a equação de cálculo

para o ICE, com base na nesta relação, obtemos a fórmula apresentada na Equação 21 abaixo:

ICE = 1 + (VAHU – 1/VAHU)

Equação 21 - Cálculo do ICE através do VAHU

Page 138: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

138

Percebemos assim uma nova perspectiva do índice ICE, que em conjunto com a

análise dos coeficientes para esta variável obtidos na pesquisa, fornece indicativos que

confirmam a importância atribuída por alguns autores (STEWART, 1998 :97-114; LEV, 2001

:35; EDVINSON e MALONE, 1997 :35) das empresas buscarem continuamente a conversão

de capital humano em capital estrutural (de forma a ampliar a relação VAHU gerando o

mesmo VA usando menos HU).

Ao mesmo tempo, essa relação também fornece respaldo a uma segunda abordagem (e

complementar à primeira) ao desenvolvimento do capital intelectual, que propõe a aplicação

do seu capital humano em atividades que proporcionem lucros “supra normais”, conforme

proposto por Teece (2000 :12-13) (ampliando a relação VAHU gerando mais VA com um

mesmo nível de HU).

No esquema gráfico apresentado na Figura 14 procuramos demonstrar, com mais

clareza, a importância dessas duas estratégias em relação ao capital humano das empresas e o

seu impacto esperado, de acordo com os resultados encontrados, na geração de valor das

empresas.

Page 139: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

139

Uso mais efetivo deCapital Estrutural (ST)

Pessoas maisprodutivas

Menor necessidade de CapitalHumano (HU) para gerar umdado nível de Valor Adicionado

(VA)

Capital Humano (HU)qualitativamente

superior

Inovação e criação devantagem competitiva

Maior geração de ValorAdicionado (VA) para um

dado nível de Capital Humano(HU)

Maior VAHU(VA/HU)

Maior ICEMaior Geração deValor (ROE, ROA,

ROS)

Figura 14 - Relações e impacto do Capital Humano na geração de valor das empresas

Fonte: Elaborada pelo autor.

Um terceiro aspecto importante, diz respeito ao nível de endividamento das empresas.

Foi possível observar uma forte influência do nível de endividamento das empresas nas

variáveis dependentes, sobretudo no caso do ROE, que se mostrou positivamente influenciado

por um maior nível de endividamento.

Na medida em que se considera que as empresas, de forma geral, se tornam cada vez

mais intensivas em capital intelectual, esse resultado parece contrariar a expectativa de

crescimento da participação do capital próprio na estrutura de capital das empresas,

decorrente dos resultados encontrados por Kaio (2002 :117-119).

Page 140: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

140

Ainda que os resultados, relativos ao nível de endividamento das empresas,

encontrados possam ser considerados contraditórios, já que, no caso das variáveis ROA e

ROS, a relação encontrada entre endividamento e geração de valor tenha sido negativa (em

linha com a expectativa inicial do trabalho), considerando que o ROE é, dentre os índices

analisados, aquele que melhor capta a geração de valor sob a óptica dos acionistas e

proprietários, o resultado é digno de destaque, sugerindo a necessidade de maior investigação

sobre o tema estrutura de capital e geração de valor em empresas intensivas em capital

intelectual.

Finalmente, é também curioso observar que o regressor CRESC_VENDAS, índice tão

valorizado por gestores e analistas de mercado, mostrou-se não significante em relação às

variáveis ROE e ROS; e no caso da variável ROA, apesar de significante, sua influência é

muito inferior que a das demais variáveis estudadas.

4.6 Limitações do Estudo

O tamanho e a natureza da amostra, decorrente da falta de informações financeiras e

abrangentes sobre as empresas no Brasil, se constitui na primeira limitação deste estudo.

O problema da falta de informações disponíveis e confiáveis é particularmente

relevante em se tratando daquelas necessárias para compor alguns dos índices usados no

trabalho (como é o caso do total anual dos gastos com salários e benefícios).

Em estudos similares, realizados em países que adotam o DVA como um relatório

contábil obrigatório, os pesquisadores puderam sempre contar um número de observações

muito superior ao que foi utilizado nesta dissertação.

Um segundo fator limitante é a falta de instrumentos de avaliação do capital

intelectual que tenham sido extensivamente provados e que sejam passíveis de aplicação em

grandes amostras.

Page 141: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

141

De forma a minimizar essa limitação, todo o cuidado foi tomado na revisão do

referencial teórico, em busca dos instrumentos mais adequados à realidade e à necessidade do

estudo.

Ao final desse processo de revisão, consideramos que o CIV e o ICE se constituem em

indicadores capazes de capturar e medir (ao menos em parte), o estoque e o fluxo de capital

intelectual de cada empresa.

Porém, nenhum dos dois está isento de críticas, sobretudo sabendo que ambos utilizam

apenas informações financeiras básicas na sua composição.

Finalmente, ainda que, nos últimos 10 anos, muito tenha sido escrito e pesquisado

sobre o capital intelectual e seu impacto no desempenho das organizações, ainda são bastante

incipientes as pesquisas que buscaram quantificar, de forma mais ampla, esse impacto.

Dessa forma, os resultados aqui obtidos devem ser considerados dentro do contexto de

um trabalho exploratório, que procurou construir sobre os achados dos principais estudos

disponíveis sobre o tema, mas que ao mesmo tempo, optou pelo risco da inovação e fez uso de

constructos e de um modelo de pesquisas inédito ainda carentes de validação.

Page 142: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

142

5. Considerações Finais

A crescente dependência das empresas, nos mais diversos setores, do seu capital

intelectual para a condução de seus negócios, cria novos desafios para gestores, acadêmicos e

investidores.

Por não estarem refletidos nos demonstrativos contábeis e financeiros das empresas,

esses ativos intangíveis, não podem ser avaliados e adequadamente considerados, de forma da

fornecer o apropriado suporte às decisões de investimento dessas (/nessas) empresas.

Várias alternativas têm sido testadas, ao longo dos anos, na busca de se encontrar uma

forma apropriada para: a) mensurar o capital intelectual das empresas; e b) estudar o efeito

deste na geração de valor das mesmas.

No entanto, com raras exceções, os estudos conduzidos têm se concentrado em apenas

um desses dois objetivos. Ou buscam formas de aferir o capital intelectual, normalmente de

forma específica para cada empresa, sem se importar com o resultado deste no desempenho

financeiro das empresas; ou então, procuram pesquisar, de forma pontual em pequenos grupos

de empresas, o impacto dos ativos do conhecimento nos resultados dessas, porém utilizando

proxies e critérios pouco objetivos para capturar o valor do capital intelectual das mesmas.

Ao mesmo tempo, alguns estudiosos do capital intelectual, especialmente na Europa,

começam a estudar a relação entre o estoque de capital intelectual e os fluxos que o compõe,

tornando assim ainda mais complexa a mensuração e verificação do impacto do capital

intelectual.

A motivação para esses estudos, que se apresenta como bastante coerente, é entender a

relação entre o valor do capital intelectual de uma empresa num dado momento, e a eficiência

que as empresas demonstram ao utilizar esse capital intelectual disponível para gerar valor.

Page 143: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

143

Essa diferenciação é de grande importância sob a ótica da valoração empresarial, haja

visto que, em se tratando de empresas intensivas em capital intelectual, o valor dessas

depende fundamentalmente da expectativa de seus fluxos de caixa futuros, da sua capacidade

de gerar valor.

Sendo assim, objetivo geral desta dissertação é demonstrar evidências de que tanto o

estoque de capital intelectual quanto, a eficiência das empresas no seu uso, possuem

influência significativa na capacidade da empresa geral valor. Para perseguir esse objetivo,

foram pesquisadas 237 empresas no Brasil no período entre 2000 e 2005.

O teste da primeira hipótese nula mostrou evidências de que o estoque de capital

intelectual afeta positivamente a geração de valor, influenciando o ROE, o ROA e o ROS das

empresas pesquisadas.

A segunda hipótese testada também confirmou as expectativas baseadas no referencial

teórico, apontando uma relação positiva entre o nível de eficiência das empresas no uso de seu

capital intelectual e as variáveis financeiras: ROE, ROA e ROS.

O estudo dos coeficientes das variáveis mostrou que o estoque de capital intelectual

parece possuir um maior impacto, do que seus fluxos, nos índices financeiros analisados;

porém do ponto de vista de gestão, é na eficiência no uso do capital intelectual que se

encontra o ponto de maior alavancagem da geração de valor.

Em relação às diversas perspectivas da geração de valor estudadas, os resultados

mostram que a perspectiva dos sócios e proprietários (ROE), é aquela que é positivamente

mais afetada pelo capital intelectual.

Foram ainda encontradas evidências de que, sob a ótica do ROE, os regressores

associados ao capital intelectual, são direcionadores mais efetivos da geração de valor que o

nível de capital físico e financeiro empregado na empresa.

Page 144: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

144

Os resultados encontrados também suportam as proposições do referencial teórico de

que a aplicação efetiva do capital humano na geração contínua de inovação, e a busca da

conversão de capital humano em capital estrutural, são estratégias com grande potencial de

influenciar positivamente o desempenho da empresa.

O estudo confirmou ainda, um crescimento do valor do estoque de capital intelectual

das empresas no período analisado, conforme é sugerido na literatura. No entanto, para o

período analisado, não encontramos evidências de crescimento na eficiência no uso do capital

intelectual.

Em termos gerais os resultados obtidos contribuem para elucidar a questão de pesquisa

proposta. Também oferecem evidências empíricas adicionais sobre relação entre estoque e

fluxos de capital intelectual, e sobre a influência do capital intelectual e o desempenho

financeiro das empresas no Brasil.

Os modelos econométricos construídos oferecem ainda, um apoio prático adicional,

em termos de estimação e valoração, com o qual podem contar todos aqueles interessados na

avaliação de empresas e negócios intensivos em ativos intangíveis.

A continuidade deste estudo, com a utilização de uma base ainda mais representativa e

um horizonte de tempo maior, a análise detalhada dos efeitos do capital intelectual em

diferentes industrias, a criação e posterior comparação entre um grupo de empresas intensivas

em capital intelectual e outro não, e a análise de defasagens dos regressores associados ao

capital intelectual, são algumas das recomendações para estudos futuros.

Além destas recomendações, é fundamental prosseguir, através de outros estudos, na

validação das metodologias utilizadas para a mensuração do capital intelectual, e na contínua

busca de alternativas, até que se tenha chegado num modelo, que nos permita ter certeza sobre

a nossa capacidade de captar e mensurar esses ativos intangíveis, cada vez mais vitais.

Page 145: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

145

6. Bibliografia

ABOODY, D.; LEV, B. Information asymmetry, R&D and insider gains. The Journal of

Finance, Vol. LV, No. 6, 2000.

ANDRIESSEN, D. Making sense of intellectual capital: Designing a method for the

valuation of intangibles. Butterworth-Heinemann, 2004.

ARELLANO, M. Panel data econometrics. Oxford University Press, 2003.

ARELLANO, M.; BOND, S. Some tests of specification for panel data: Monte Carlo

evidence and an application to employment equations. The Review of Economic Studies,

Vol. 58, 1991.

BALTAGI, B. H.; WU, P. X. Unequally spaced panel data regressions with AR(1)

disturbances. Econometric Theory. 1999.

BARNEY, J. B. Gaining and sustaining competitive advantage. Prentice Hall, 2ª. Ed.,

2002.

BASSO, L.; MARTIN, D.; RICHIERI, F.L. O impacto do capital intelectual no

desempenho das empresas brasileiras. 6º. Congresso USP de controladoria e contabilidade,

2006.

BECKER, G. Human Capital: Theoretical and Empirical Analysis – Special Reference to

Education. Columbia University Press, USA, 1964.

BREALEY, R. A.; MYERS, S. C. Principles of Corporate Finance 7 ed. Boston: McGraw-

Hill, 2003.

BERG, H. A. Models of intellectual capital valuation: A comparative evaluation.

Knowledge Summit Doctoral Consortium, 2002.

BESSANKO, D. et al. A economia da estratégia. Bookman, 3ª. ed. 2006.

BONTIS, N. Assessing knowledge assets: a review of the models used to measure

intellectual capital. International Journal of Management Reviews, Vol.3, No. 1, 2001.

BOUTEILLER, C. The evaluation of intangibles: Advocating for an option based

approach. 6th. APFA – Alternative Perspectives on Finance and Accounting, 2002.

CAPON, N.; FARLEY, J. U.; HOENING, S. Determinants of financial performance: a

meta-analysis. Management Science, Vol. 36, No. 10, 1990.

CHATZKEL, J. A conversation with Göran Roos. Journal of Intellectual Capital, Vol. 3,

No. 2, pgs. 96-117, 2002.

Page 146: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

146

CHEN, M.C.; CHENG, S.J.; HWANG, Y.; An empirical investigation of the relationship

between intellectual capital and firm’s market value and financial performance. Journal

of intellectual capital. Vol.6, No. 2, pgs. 159-176, 2005.

CONNER, K. R. A historical comparison of Resource-Based-Theory and five scholls of

thought within industrial organization economics: Do we have a new theory of the firm

?. Journal of Management, 1991.

COTTRELL, A.; LUCCHETTI, R. Gretl User’s Guide: GNU Regression, Econometrics

and Time-Series. Free Software Foundation, 2006.

DAMODARAN, A. Finanças Corporativas: Teoria e Prática. Bookman, 2a. ed. 2004.

DAVENPORT, T.H.; PRUSAK, L.Conhecimento empresarial: Como as organizações

gerencial seu capital intelectual. Campus, 6ª. Ed. 1998.

DENG, Z.; LEV, B.; NARIN, F. Science and technology as predictors of stock

performance. Financial Analysts Journal, Maio/Junho, 1999.

DRUCKER, P. Post-capitalist society. Harper, 1993.

EDVINSON, L. Longitude corporativa: Navegando pela economia do

conhecimento.M.Books, 2003.

EDVINSON, L.; MALONE, M. S. Intellectual Capital: Realizing your company’s true

value by finding its hidden brainpower. Harper Business, 1997.

FIRER, S.; WILLIAMS, S.M. Intellectual capital and traditional measures of corporate

performance. Journal of intellectual capital, Vol.4, No. 3, pgs. 348-360, 2003.

GRANT, M. R. Toward a knowledge-based theory of the firm. Strategic Management

Journal, 1996.

GREENE, W. H. Econometric analysis. Prentice-Hall, 4a. ed., 2000.

GU, F; LEV, B. Intangible assets: Measurements, drivers and usefulness. Disponível no

site : http://pages.stern.nyu.edu/~blev/intangible-assets.doc (acessado em 05/07/2006), 2001.

GUJARATI, D.; Econometria Básica. Pearson Makron Books, 3 ed., 2000.

HAND, J. (Ed.); LEV, B. (Ed.). Intangible Assets (Oxford Management Readers): Values,

measures and risks. Oxford University Press, 2003.

JENSEN, M.C. Value maximization, stakeholder theory, and the corporate objective

function. European Financial Management, Vol. 7, No. 3, pgs. 297-317, 2001.

JOHANSON, U. Increasing the Transparency of Investments in Intangibles. Disponível

em: <http://www.sveiby.com/Portals/0/articles/OECDartUlfjoh.htm>. Acesso em

05/07/2006. 1996.

Page 147: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

147

JUDSON, R. A.; OWEN, A. L. Estimating dynamic panel data models : A practical guide

for macroeconmists. Federal Reserve Board of Governors. Disponível em: <

http://pages.stern.nyu.edu/~wgreene/Econometrics/dynamic-panel-data-models.pdf> . Acesso

em: 13/12/2006. 1996

KANNAN, G.; AULBUR, W.G. Intellectual capital: Measurement effectiveness. Journal

of intellectual capital, Vol.5, No. 3, pgs. 389-413, 2004.

KAYO, E. K. A estrutura de capital e o risco das empresas tangível e intangível-

intensivas: uma contribuição ao estudo da valoração de empresas. Tese (Doutorado em

Administração) – Faculdade de Economia Administração e Contabilidade, Universidade de

São Paulo, 2002.

KÖCHE, José C., Fundamentos de metodologia científica, Rio de Janeiro, Vozes, 1997.

KUJANSIVU, P.; LÖNNQVIST, A. The value and efficiency of intellectual capital in

Finnish companies 1st. Workshop on visualizing, measuring and managing intangibles and

intellectual capital. Italy, 2005.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A.. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. Sao

Paulo: Atlas, 1991.

LUTHY, D.H. : Intellectual capital and its measurement. disponível no site: http://www3.bus.osaka-

cu.ac.jp/apira98/archives/htmls/25.htm (acessado em 05/07/2006), 1998.

LEV, B. Intangibles: Management, measurement and reporting. Brookings Institution

Press, 2001.

MALHOTRA, N. et al. Pesquisa de Marketing. Porto Alegre: Bookman, 2000.

MALHOTRA, Y. Measuring knowledge assets of a nation: knowledge systems for

development. UNDESA – United Nations Advisory Meeting of the Department of Economic

and Social Affairs, 2002.

MARSHALL, A. Princípios de Economia. Vol. L. SP, Abril Cultura, 2003

MARTIN, D. M. L.; NAKAMURA, W. T.; FORTE, D.; CARVALHO FILHO, A. F.;

COSTA, A. C. F.; AMARAL, A. C. Determinantes de estrutura de capital no mercado

brasileiro: Análise de regressão com painel de dados no período 1999-2003. Anais do V

Encontro Brasileiro de Finanças, São Paulo, 2005.

MARTINS, E. Contribuição à avaliação do ativo intangível. Tese (Doutorado em

Contabilidade) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de

São Paulo, 1972.

Page 148: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

148

MILGROM, P.; ROBERTS, J. Economics, organization, and management. Prentice-Hall,

1992.

NASH, H. Accounting for the future: a disciplined approach to value-added accounting,

disponível no site: http://home.sprintmail.com/~humphreynash/Draft_Proposal.htm (acessado

em 05/07/2006), 1998.

NERDRUM, L.; ERIKSON, T. Intellectual capital: a human capital perspective. Journal

of intellectual capital, Vol.2, No. 2, pgs. 127-135, 2001.

OLIVEIRA, S. L. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisas, tgi, tcc,

monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 1997.

OMAKI, E. T. Recursos intangíveis e desempenho em grandes empresas brasileiras:

Avaliações dos recursos intangíveis como estimador de medidas de desempenho financeiras.

Anais do XXIX ENANPAD, 2005.

PEREZ, M. M.; FAMÁ, R. Ativos intangíveis e o desempenho empresarial. Revista de Contabilidade e Finanças da USP, N. 40, Jan./Abr. 2006 PULIC, A. VAICTM an accounting tool for IC management. International journal of

technology management, vol. 20., Nos.5/6/7/8, pgs. 702-714, 2000a.

PULIC, A. MVA and VAICTM analysis of randomly selected companies from FTSE250,

disponível no site: http://www.measuring-ip.at/Papers/ham99txt.htm (acessado em

29/11/2005), 2000b.

RAMANATHAN, R. Introductory econometrics with applications. Harcourt, 4a. ed. 1998.

RIAHI-BELKAOUI, A. Intellectual capital and firm performance of US multinational

firms: A study of the resource-based and stakeholder views. Journal of intellectual capital,

Vol. 4, No.2, pgs.215-226, 2003.

RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa social : métodos e técnicas. 3. ed. rev. e ampl. São

Paulo: Atlas, 1999.

ROOS, J.; ROOS, G.; DRAGONETTI, N.C.; EDVINSON, L.; Intellectual capital:

Navigating the new business landscape. Macmillan Press, 1997.

ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração Financeira: Corporate

Finance 2 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

Page 149: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

149

ROSS, G.; BURGMAN, R. J.; BALLOW, J. J.; THOMAS, R. J.; No longer “out of sight,

out of mind”: Intellectual capital approach in AssetEconomics LLP and Accenture Inc.

Journal of intellectual capital, 2005.

STALLWORTH, H. L.; DIGREGORIO, D. W. Developing scorecards to track intangibles.

Journal of accounting and finance research, 2004.

SMITH, A. A Riqueza das Nações. SP, Brasil, Martins Fontes, 2003

SVEIBY, K.E. Methods for measuring intangible assets

http://www.sveiby.com/Portals/0/articles/IntangibleMethods.htm (10/04/06).

STEWART, T. A. Capital intelectual: A nova vantagem competitiva das empresas. Ed.

Campus, 8ª. Ed., 1998.

STEWART, T. A. The Wealth of Knowledge : Intellectual Capital and the Twenty-first

Century Organization. Currency, 2001.

STOCK, J. H.; WATSON, M. W. Econometria. Pearson Education do Brasil, 2004.

TEECE, D.J. Capturing value from knowledge assets: The new economy, markets for

know-how, and intangible assets. California management review, Vol. 40, No. 3, pgs. 55-

79, 1998.

TEECE, D.J. Managing Intellectual Capital: organizational, strategic and policy

dimensions. Oxford University Press, 2000.

VAN DER ZAHN, M.; TOWER, G.; NEILSON, J. Intellectual capital and the efficiency of

value added: Trends in the Singapore capital market 2000 – 2002. Australia: Poseidon

Books, 2004.

WILLIAMSON, O. E. Strategizing, economizing, and economic organization. Strategic

Management Journal, 1991.

WOOLDRIDGE, J. M. Econometric analysis of cross section and panel data. MIT, 2002.

WOOLDRIDGE, J. M. Introductory econometrics: A modern approach. Thomson, 2ª. ed.,

2003.

YAFFE, R. A primer for panel analysis: artigo científico. Disponível em:

http://www.nyu.edu/its/statistics/Docs/pda.pdf . Acesso em: 06/01/2007.

YOUNG, S.D.; O’BYRNE, S.F. EVA e gestão baseada em valor: guia prático para

implementação. Bookman, 2003.

Page 150: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

150

7. Apêndices

Page 151: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

151

Apêndice A – Modelos de regressão, relação das variáveis e

fórmulas de cálculo

ROE = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β4END_GERALit + β5CRESC_VENDASit + εit (1)

ROA = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β4END_GERALit + β5CRESC_VENDASit + εit (2)

ROS = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β4END_GERALit + β5CRESC_VENDASit + εit (3)

Variável Equação(ões) Pág.

ROE Equação 1 31

ROA Equação 2 31

ROS Equação 3 31

CIV Quadro 1 85

ICE Equação 11, Equação 4, Equação 13, 99, 33, 100, 101,

Equação 14, Equação 15 e Equação 8 97

CE Equação 4 33

END_GERAL Equação 5 34

CRESC_VENDAS Equação 6 34

Page 152: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

152

Apêndice B – Heterogeneidade observada em relação aos

estimadores de efeito fixo para o ROE das empresas

Cód.

Companhia Setor ααααCód.

Companhia Setor αααα2 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.1025 464 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.0720 3 ELETROELETRÔNICO (0.3348) 467 COMÉRCIO VAREJISTA (0.0653) 11 SIDERURGIA E METALURGIA 0.4426 470 SERVIÇOS DIVERSOS 0.3208 15 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1278) 472 PAPEL E CELULOSE 0.1332 17 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.5955 479 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.0478) 26 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0529 514 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.1278) 28 SIDERURGIA E METALURGIA (0.1472) 519 ELETROELETRÔNICO 0.3198 31 SERVIÇOS DE TRANSPORTE 0.0106 520 TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO (0.0511) 48 COMÉRCIO VAREJISTA 0.0107 524 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.0743 59 ELETROELETRÔNICO (0.1031) 527 COMÉRCIO VAREJISTA 0.0581 73 FARMACÊUTICO, HIGIENE E COSMÉTICOS 0.3139 529 COMÉRCIO VAREJISTA (0.2464) 74 CONFECÇÕES E TÊXTEIS (0.0523) 532 COMÉRCIO VAREJISTA (0.1334) 76 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1456) 537 ELETROELETRÔNICO (0.0432) 90 SIDERURGIA E METALURGIA 0.1524 540 COMÉRCIO VAREJISTA (0.1451) 98 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0846 542 AUTOMOTIVO (0.0024) 99 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO (0.0651) 543 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.0251) 110 TELECOMUNICAÇÕES (0.2045) 548 AUTOMOTIVO (0.0814) 123 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.1300) 555 MINERAÇÃO 0.4329 130 CONSTRUÇÃO 0.0785 558 SERVIÇOS DIVERSOS 0.4940 138 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO (0.0236) 573 AUTOMOTIVO (0.0559) 139 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.4690 581 MINERAÇÃO 0.1938 145 COMÉRCIO VAREJISTA (0.1149) 584 ELETROELETRÔNICO (0.2246) 148 SIDERURGIA E METALURGIA (0.0058) 592 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO (0.0449) 156 MATERIAL DE CONSTRUÇÃO (0.0176) 594 MINERAÇÃO (0.0797) 158 ELETROELETRÔNICO (0.2531) 619 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.0078 161 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1256) 631 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO (0.0340) 166 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0076) 632 QUÍMICA E PETROQUÍMICA (0.0415) 167 SERVIÇOS PÚBLICOS (2.1097) 633 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.0446) 172 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.2074) 635 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR 0.0470 177 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0935) 636 QUÍMICA E PETROQUÍMICA (0.1122) 178 PAPEL E CELULOSE 0.0452 644 PLÁSTICOS E BORRACHA (0.0408) 189 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0888) 653 QUÍMICA E PETROQUÍMICA (0.0573) 201 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR 0.2042 664 SERVIÇOS DE TRANSPORTE (0.1615) 204 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.0609 678 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.1500 206 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0974 683 COMÉRCIO VAREJISTA (0.0643) 207 SIDERURGIA E METALURGIA 0.2982 688 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1970) 208 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR 0.0037 690 PAPEL E CELULOSE 0.0397 217 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.0255 707 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0770) 218 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1349) 710 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1614) 226 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0139) 711 MATERIAL DE CONSTRUÇÃO 0.0133 227 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.0181) 713 MINERAÇÃO 0.4642 240 CONSTRUÇÃO 0.0508 719 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0015) 243 COMÉRCIO VAREJISTA (0.1923) 738 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0943 245 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.0725) 739 COMUNICAÇÕES (0.1932) 247 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.0491) 751 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO (0.0595) 252 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR (0.1564) 753 ELETROELETRÔNICO (0.0373) 254 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.0927 758 TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO (0.0179) 256 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0339) 771 QUÍMICA E PETROQUÍMICA (0.0500) 269 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0612) 773 COMÉRCIO VAREJISTA 0.0829 272 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1337) 775 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO 0.1286 283 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.3646 779 ELETROELETRÔNICO (0.1352) 289 SERVIÇOS DIVERSOS 0.7013 795 SERVIÇOS DE TRANSPORTE (0.2445) 298 TELECOMUNICAÇÕES (0.1643) 805 TELECOMUNICAÇÕES (0.0729) 300 AUTOMOTIVO (0.2987) 808 TELECOMUNICAÇÕES (0.1497) 313 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.0653 812 TELECOMUNICAÇÕES 0.0198 329 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.0461 823 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0359 331 COMÉRCIO VAREJISTA (0.0108) 830 MATERIAL DE CONSTRUÇÃO 0.0023 332 COMÉRCIO VAREJISTA 0.0677 839 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0186) 333 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR 0.0725 842 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.0163 334 COMÉRCIO VAREJISTA (0.0758) 843 SERVIÇOS DE TRANSPORTE 0.0480 336 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.1078) 853 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.0890 340 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.0199 854 SERVIÇOS PÚBLICOS 0.0160 351 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0532) 872 SIDERURGIA E METALURGIA 0.1406 355 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0852) 885 SIDERURGIA E METALURGIA 0.3623 361 MECÂNICA 0.1026 886 MINERAÇÃO 0.0607 362 AUTOMOTIVO (0.0326) 887 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0532 366 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0726) 892 PAPEL E CELULOSE 0.0148 382 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO 0.0519 903 SIDERURGIA E METALURGIA 0.1357 384 COMÉRCIO VAREJISTA (0.2614) 905 PLÁSTICOS E BORRACHA (0.0614) 388 COMÉRCIO VAREJISTA (0.0656) 907 SERVIÇOS DIVERSOS 0.4983 394 ELETROELETRÔNICO (0.2975) 911 TELECOMUNICAÇÕES 0.0279 401 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 0.0076 914 TELECOMUNICAÇÕES (0.0577) 402 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO (0.0650) 915 TELECOMUNICAÇÕES (0.0962) 408 SERVIÇOS PÚBLICOS (0.0631) 919 TELECOMUNICAÇÕES (0.0659) 409 ELETROELETRÔNICO (0.1396) 923 ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO 0.0071 419 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0378 927 MECÂNICA 0.1884 456 TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO 0.1337 932 SIDERURGIA E METALURGIA 0.0495

ROE - Heterogeneidade (Efeito Fixo) ROE - Heterogeneidade (Efeito Fixo)

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 153: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

153

Apêndice C – Resultados das análises dos modelos dinâmicos de

dados em painel

DROE(-1) -0.104361 ***DCIV_K 0.00515923 **DICE 0.00285846 ***DCE_K -0.00472685DEND_GERAL 0.188471 **DCRESC_VENDAS 0.000472881DCIV_K(-1) 0.00184772 ***DICE(-1) 0.00361605 DCE_K(-1) -0.00263859DEND_GERAL(-1) 0.404539 *DCRESC_VENDAS(-1) -0.0000999701 Constant -0.0149858T2003 0.0229491T2004 0.00383329T2005 0.0722662 *W(j) 799.4 *m2 -1.765Sargan 209.5 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

Modelo Dinâmico

ROE

GMM (Arellano-Bond)

Fonte: Elaborada pelo autor.

DROE(-1) -0.00861332 DCIV_K 0.00211823 ***DICE 0.00137455 *DCE_K -0.00131534DEND_GERAL -0.128959 *DCRESC_VENDAS 0.000463621 **DCIV_K(-1) 0.000775662 ***DICE(-1) -0.000336078DCE_K(-1) -0.00075827DEND_GERAL(-1) 0.181583 *DCRESC_VENDAS(-1) 0.0002278430Constant -0.00635427T2003 0.0229194 *T2004 -0.00119199T2005 0.0249527 *W(j) 154.2 *m2 -0.9012Sargan 202.5 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

ROAModelo Dinâmico

GMM (Arellano-Bond)

Fonte: Elaborada pelo autor.

Page 154: Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras

154

DROE(-1) -0.0946173DCIV_K 0.00344599DICE 0.000460571DCE_K 0.0108179 *DEND_GERAL -0.14973 *DCRESC_VENDAS 8.59275E-05DCIV_K(-1) 0.00214098 **DICE(-1) 0.00128969DCE_K(-1) -0.0117639 *DEND_GERAL(-1) 0.202139 *DCRESC_VENDAS(-1) 0.0001130360Constant 0.00144252T2003 0.0123693T2004 -0.0147925 ***T2005 0.00468478W(j) 177.4 *m2 0.5711Sargan 204.0 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10%

ROSModelo Dinâmico

GMM (Arellano-Bond)

Fonte: Elaborada pelo autor.