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I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
Capital familiar e gênero: uma abordagem comparativa do recrutamento político
Mariana Mesquita1
Beatriz Vilela2
Resumo[MM1]
Na eleição de 2014 para a Câmara Legislativa do Distrito Federal observamos que entre o
conjunto de eleitas uma parcela considerável apresentava algum parentesco com indivíduos que já
ocuparam ou ainda ocupam cargos na esfera decisória, enquanto entre os homens eleitos, essa
parcela, ainda que relevante, não é tão expressiva quanto entre as mulheres eleitas. O artigo aborda
a variável ‘capital familiar’ para ilustrar de que modo operam tais desigualdades e que reflexos
produzem, levando em conta suas implicações para o desenvolvimento de uma ‘rede’ e da obtenção
de recursos decorrente desse aspecto. A partir das análises concluímos que o vínculo familiar influi
na carreira política com maior peso a depender do sexo do/a candidata/o, uma vez que a
socialização de homens e mulheres é notadamente distinta – como aponta a literatura.
Palavras-chave
carreira política; capital familiar; gênero; recrutamento político; Câmara Legislativa do Distrito
Federal.
1 Graduanda em Ciência Política da Universidade de Brasília e membro do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e
Desigualdades (Demodê – IPOL/UnB). [email protected] 2 Graduanda em Ciência Política da Universidade de Brasília. [email protected]
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Introdução 3
Na disputa pela sétima legislatura da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF)
observou-se que entre o conjunto de eleitas uma parcela considerável apresenta algum parentesco
com indivíduos que já ocuparam ou ainda ocupam cargos na esfera decisória do Distrito Federal, ou
mesmo apresenta vinculação direta com clãs tradicionais da região. Enquanto por parte dos eleitos
essa vinculação não se fez tão presente. Vale ressaltar que, apesar de citarmos acima, pelo recorte
da pesquisa, não exploramos a dinâmica dos clãs nesse trabalho.
Tomamos como necessário entender a diferença entre as construções das carreiras políticas
masculinas e femininas na etapa da seleção de candidaturas, pois, a esfera política formal não é
constituída de forma desconexa dos demais espaços sociais, e esses são permeados por
desigualdades estruturais. Isto é, o campo político não está restrito às esferas institucionais de decisão, as
desigualdades encontradas aqui são ramificações de um sistema de opressão e desigualdade que opera
tanto no público quanto no privado (MIGUEL; BIROLI, 2010. p. 103-111). Acredita-se na validade da
variável ‘capital familiar’ para entendimento da forma como operam tais desigualdades e que
reflexos produzem. Esses, como a própria literatura aponta, são distinções fundamentais para se
trabalhar a área de carreiras políticas para além da engenharia institucional.
O trabalho está divido em quatro seções teóricas, ainda que tenhamos inserido parte dos
dados coletados para ilustrar correspondências entre a pesquisa e o aporte teórico escolhido, uma
parte dedicada à apresentação e análises de dados e por fim um espaço para as conclusões e novas
hipóteses que podem dar continuidade a uma agenda de pesquisa.
A primeira discussão teórica corresponde a algumas considerações sobre o uso da categoria
gênero e questões ligadas à desigualdade política relacionada ao gênero, a sub-representação
feminina e os constrangimentos da esfera pública, bem como a dicotomia entre público e privado.
Num segundo momento apresentamos a noção de carreira política, vista a partir do conceito de
campo político, da Sociologia de Bourdieu, que nos auxilia a situar a dimensão institucional da
representação no espaço social. Em seguida, esclarecemos brevemente alguns entendimentos a
respeito do capital familiar, trazendo fragmentos das entrevistas realizadas para relacionar com o
que as autoras pertinentes postulam. Na última das seções, dentre as quais levantamos o corpus
3 Agradecemos especialmente à professora Danusa Marques e ao professor Carlos Machado, ambos do IPOL-UnB, pelo
apoio acadêmico e Beatriz Franco, Viviane Golçalves e Pedro Paulo de Assis pela leitura atenta durante o
desenvolvimento desse trabalho.
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teórico usado como referência para a pesquisa, tratamos das dinâmicas de recrutamento político,
relacionando-as com as estruturas de poder nos partidos políticos.
Para a execução deste trabalho foram coletados dados sobre as carreiras políticas das/os
eleitas/os para a sétima legislatura da Câmara Legislativa do Distrito Federal, fazendo das eleições
de 2014 o marco temporal desse estudo. Uma vez identificadas/os as/os 24 eleitas/os, construimos
um perfil de cada parlamentar com base nas informações levantadas de cada um(a) em fichas
estruturadas4. Entre as variáveis a serem coletadas sobre cada indivíduo pesquisado, estavam blocos
relacionados às fontes de capital político, à experiência e trajetória política e aos familiares
envolvidos em disputas eleitorais – em suma, um levantamento de background de cada eleita/o. As
variáveis e respostas foram incorporadas e analisadas a partir de software estatístico Sphinx.
De modo a complementar o escopo do banco de dados e compreender como se dá a
percepção que os próprios agentes do campo político têm do fenômeno observado – a incidência do
capital familiar na escolha e candidaturas à deputada/o distrital –, foram realizadas entrevistas
presenciais e semiestruturadas com parte dos/as parlamentares eleitos/as no pleito em 2014. Vale
ressaltar que as entrevistas ocorreram durante o mês de novembro do mesmo ano, o que significa
que nesse período os entrevistados ainda não tinham sido propriamente empossados - esclarecendo
novamente que o intuito do presente estudo não esbarra em um aprofundamento da atividade
legislativa das parlamentares, este se caracteriza pela tentativa de mapear um dos passos no
caminho da inserção de indivíduos no campo político.
Foram realizadas 5 entrevistas por duplas de entrevistadoras/es num universo de 24
deputadas/os eleitas/os – correspondendo à aproximadamente 20% da população analisada, faz-se
relevante expor que a coleta dos dados, tanto as pesquisas de background e capital simbólico quanto
as entrevistas, foi motivada por uma atividade desenvolvida na disciplina “Elites Políticas”,
ministrada pela professora Danusa Marques, do Instituto de Ciência Política – UnB durante o
segundo semestre de 20145. Por conflitos de agenda e contatos sem resposta por parte de alguns dos
potenciais entrevistados, não conseguimos apresentar um conjunto maior de dados de entrevistas,
4 A ficha completa é apresentada como anexo 1 do presente trabalho.
5 Por isso, gostaríamos de prestar nossos agradecimentos às/aos estudantes que coletaram dados para esse banco dados
colaborativo: Beatriz Bazzi, Alyne Lumikoski, Ana Luísa Torres, Brenda Prado, Fernanda Medeiros, Marcello Lira, Illa
Marinho e Evellin Silva.
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no entanto, pela pluralidade de perfis analisados, acreditamos que nossa amostra seja suficiente para
embasar os apontamentos e observações apresentadas neste trabalho.
Faz-se necessário explicar como chegamos à variável “Capital Familiar”. Esta não constava
no questionário do desenho original da coleta dos dados, fizemos a opção metodológica de
acrescentá-la para condensar as informações observadas em 12 variáveis distintas do questionário,
eram elas: “Cargos exercidos pelo pai”; “Cargos exercidos pela mãe”; “Cargos exercidos pelo
irmão”; “Cargos exercidos pela irmã”; “Cargos exercidos por cônjuge ou ex-conjuge”; “Cargos
exercidos pelo filho”; “Cargos exercidos pela filha”; “Cargos exercidos pelo neto”; “Cargos
exercidos pela neta”; “Cargos exercidos por sogra ou sogro”; “Cargos exercidos por avó ou avô”;
“Cargos exercidos por tio ou tia”. Respostas diferentes de “nenhum” [cargo exercido] para qualquer
das perguntas acima foram computadas como “Sim” para Capital familiar. Para as fichas em que a
resposta para todas as 12 perguntas foi “nenhum” [cargo exercito], foi atribuída a resposta “Sem
Capital Familiar” para a nossa variável de análise.
Por fim, em relação à variável “gênero”, destacamos a importância de tratá-la como
categoria relacional, por isso, partimos de uma abordagem comparativa de perfis de homens e
mulheres. Nos debruçamos brevemente sobre a discussão de gênero na seção a seguir.
Gênero e desigualdade política
A forma como o presente trabalho trata ‘gênero’ tende à dicotomia e corresponde apenas ao
tratamento relacional dos indivíduos contidos nas categorias gerais “homem” e “mulher”. Sabemos
que se faz necessário evidenciar a discussão de “gênero” para além do binarismo (SCOTT, 2013; e
LAMAS, 2013). Preferimos trabalhar com essa categoria ainda assim, não somente para dar
continuidade ao que a literatura conserva, mas por entendermos ‘gênero’ enquanto a politização da
diferenciação sexual (SCOTT, 2013), nos possibilitanto observar as desigualdades intrínsecas às
diversas construções sociais, entre elas aquelas a que dedicamos nossa pesquisa: a representação
política (BOURDIEU, 2007; PHILLIPS, 2011).
Derivada dessa colocação, podemos verificar na abordagem de Fox e Lawless em seu estudo
sobre ambição política tratando grupos de candidatas/os em potenciais de ambos os sexos com
características pessoais e profissionais semelhantes e com nívels equiparáveis de ambição política
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no período inicial da escolha de candidaturas “concluímos que, em nível agregado, as mulheres,
mesmo na camada superior das realizações profissionais, têm menos probabilidades de cogitar
concorrer a um cargo político do que seus equivalentes masculinos, sugerindo que os custos de
entrar na arena política são diferentes para homens e mulheres.” (FOX; LAWLESS, 2012. p. 132),
para as autoras, devemos olhar ainda antes da decisão das candidaturas, o “despertar” da ambição
política está intrinsecamente ligado à socialização de gênero.
No âmbito da carreira política, além de todas as considerações possíveis a serem feitas sobre
as desigualdades impostas para as mulheres, como para diversos grupos sistematicamente
excluídos, durante a disputa por cargos eletivos e também no ambiente intrapartidário, a etapa que
precede a institucionalização (filiação partidária), a ambição política, isso é “considerar disputar
um cargo público”, já contém desigualdades. Vale resgatar as considerações que Richard Fox e
Jennifer Lawless (2012) fazem sobre as colocações que alguns estudos faziam sobre eleições,
tentando sustentar a inferência de que a estrutura social e a esfera política seriam neutras quanto ao
gênero e que homens e mulheres teriam as mesmas oportunidades de construir suas carreiras sem
sofrer reflexos de desigualdade de gênero. As autoras realizam um estudo de fôlego buscando
refutar essa inferência e concluem, com base seus resultados empíricos, que “pode ser errôneo
concluir que temos um processo eleitoral ‘neutro em termos de gênero’ simplesmente porque
avaliações feitas na “etapa final indicam que mulheres e homens têm desempenhos iguais em
eleições” (FOX; LAWLESS, 2012. p. 131-132). Vale ressaltar que no contexto brasileiro, diferente
do que as autoras constatam nos Estados Unidos, as candidaturas femininas tem uma taxa de
sucesso inferior à dos homens. (ARAUJO, 2007; SACCHET, 2012). Podemos ainda relacionar a
conclusão das autoras com o pensamento de Will Kymlicka: “O que determina se a neutralidade
quanto ao sexo gera ou não igualdade sexual é o fato do sexo ter sido anteriormente levado em
conta ou não” (KYMLICKA, 2006. p. 308).
Fox e Lawless observam a partir das “evidências encontradas em nosso estudo revelam que
as diferenças de gênero fundamentais estão situadas na fase do processo eleitoral em que ocorre o
surgimento dos candidatos. As mulheres têm muito menos probabilidade do que os homens de
surgir do pool de candidatos potenciais e concorrer a cargos eletivos.” (FOX; LAWLESS, 2012. p.
151).
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Carreira política e Campo político
Optamos por explicar a constituição da carreira política a partir de uma aplicação da teoria
social desenvolvida por Pierre Bourdieu. Em trabalho que tem por título “Capital político e carreira
eleitoral: algumas variáveis na eleição para o Congresso brasileiro”, Luis Felipe Miguel relaciona os
dois conceitos e nos ajuda a entender porque tratá-los de forma complementar e relacional pode ser
vantajoso: “capital político e carreira política estabelecem entre si uma relação dialética. É
necessário capital para avançar na carreira, ao mesmo tempo em que a ocupação de cargos mais
elevados na hierarquia do campo político representa uma ampliação do capital.” (MIGUEL, 2003,
p. 115).
Na obra de Bourdieu, o conceito de campo assume posição central. Para o autor, a dinâmica
da vida social é ‘essencialmente prática’ e está estruturada em campos. Cada campo é o espaço
onde se dão as relações entre indivíduos ou agentes sociais ou entre esses agentes e objetos ou
instituições. Faz-se importante ressaltar que o campo é uma estrutura que edifica o espaço social,
assim como é constante e dinamicamente edificada pela ação de seus agentes (MIGUEL, 2001. p.
110), os campos se apresentam como estruturas objetivas, impondo seu ‘proceder’ ou seus ‘códigos
de ação’ aos agentes inseridos nestes. O objetivo do campo é se fechar em si mesmo – se
autonomizar – e reproduzir suas normas. Tratando mais especificamente do campo político, diz-se
que a partir deste, a política deve ser encarada como algo muito mais amplo do que apenas a esfera
institucional, é importante ressaltar que este se configura como um campo hierarquizado, pois
dentro do campo, o capital político é distribuído de forma desigual entre os agentes, evidenciando
que uns tem sua voz mais reconhecida do que outros, ou seja, alguns ocupam a centralidade do
campo enquanto outros estão à sua margem, além de priorizar determinadas posições, estabelecendo
barreiras ao ingresso de grupos estranhos ao habitus (BOURDIEU, 2007, 2011; MIGUEL, 2014;
MIGUEL; BIROLI, 2010).
A cada campo, corresponde um habitus e um capital específico. O habitus diz respeito às
normas e ao modus operandi internalizados pelos agentes inseridos no campo, e ainda que não
explícito, é a partir do seu entendimento e aplicação (a adaptação) que o indivíduo se relaciona. A
noção de capital indica reconhecimento do/no campo, e só se caracteriza como um ‘valor’ se os
demais atores do campo considerá-lo como válido. Essas duas noções permitem que a ação dos
agentes sociais seja identificada enquanto característica do campo em questão (BOURDIEU, 2011).
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Miguel sintetiza a relação entre esses conceitos em seu artigo sobre as contribuições da
sociologia de Bourdieu para a ciência política: “O habitus é o campo interiorizado, ao mesmo
tempo em que são as práticas dos agentes, conformadas pelo habitus, que propiciam a reprodução
das estruturas do campo. Justamente por isso, o efeito de doxa é possível” (MIGUEL, 2001. p. 110).
A manifestação do efeito de doxa6 de que deriva nosso problema de pesquisa é a naturalização do
fenômeno de que ‘a política é um espaço masculino’ e as consequências desse engodo (MIGUEL,
2011; MIGUEL 2014. p. 204).
Em seus estudos, Miguel diferencia os tipos de capital político de Bourdieu em delegado e
convertido. O primeiro diz respeito ao que a instituição – no caso os partidos, que têm o monopólio
das candidaturas – detém e delega à/ao candidata/o, no início da carreira, a/o política/o estreante,
que ainda se encontra na margem do campo e vai acumulando esse capital – faz isso ao, por
exemplo, aspirar a novos cargos na carreira política –, ganhando centralidade. Já o capital
convertido faz referência aos capitais advindos de outros campos, mas que por meio de um processo
de conversão, se transformaram em capital político. A conclusão dos autores a esse respeito é que a
carreira política não se constitui apenas com a obtenção de um dos tipos de capital citado,
observam-se convergências dessas categorias para o desenvolvimento das carreiras das
parlamentares observadas (MARQUES; MACHADO; MIGUEL, 2012), (MIGUEL, 2001, 2003).
Capital Familiar
O capital familiar é uma espécie de capital político e pode ser entendido a partir da
abordagem de Miguel (2003):
Familiares de líderes políticos costumam herdar não apenas o savoir-faire da política como uma
rede de vínculos, compromissos e lealdades; isto é, possuem uma espécie particular, especialmente
propícia à conversão em capital político, de capital social. Uso o termo, aqui, não no sentido
tornado corrente por Putnam e outros, mas no sentido que Bourdieu dá-lhe, significando os
“recursos que podem ser reunidos, por procuração, através das redes de ‘relações’ menos ou mais
numerosas, menos ou mais ricas” (BOURDIEU, 2000, apud MIGUEL, 2003. p. 130).
A conversão do capital familiar se apresenta como uma forma de ingresso de significativa
importância tanto para homens quanto para mulheres, no entanto, nas candidaturas femininas, esse
6 “coincidência entre as visões de mundo e as experiências de mundo” (MIGUEL, 2011, p. 233).
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desempenha um papel mais relevante, pois, como listado acima, as desigualdades ligadas ao gênero
são determinantes nas carreiras femininas, o que faz com que o capital familiar seja considerado
uma das principais rotas de acesso de mulheres a cargos eletivos (PINHEIRO, 2007).
Para observar o efeito do “gênero” no momento do recrutamento, partimos da abordagem de
Fox e Lawless (2012):
“a diferença de gênero na ambição política entre o pool de candidatos potenciais pode ser
atribuída a dois aspectos centrais do processo de seleção de candidatos. Em primeiro lugar, as
mulheres têm probabilidade muito menor do que os homens de receber incentivos a concorrer
provenientes de uma fonte política” (FOX; LAWLESS, 2012. p. 151).
No entanto, o Capital familiar “ameniza” esse efeito, já que o indivíduo se desenvolve num
ambiente em que a política não é vista como um fenômeno distante, esse indivíduo está muito mais
propício a considerar a carreira política como algo comtemplado no seu horizonte de expectativas.
Percebemos que esses indivíduos, por vezes, acabam naturalizando a ambição política. As
entrevistas que realizamos demonstram esse fenômeno, ao entrevistarmos políticas/os com capital
familiar, a pergunta sobre o surgimento do interesse pela carreira política frequentemente nos
respondiam com expressões como “está no sangue” e ter uma “veia política”, “já se nasce com isso”
– rementendo a um entendimento associa à carreira política a algum tipo de “aptidão natural” que
alguns possuíram e outros não e que essa ‘aptidão’ seria passada por via hereditária.
Ainda que dentro de “famílias políticas”, o incentivo que se pretende dar para o
desenvolvimento de carreiras também apresente uma tendência a privilegiar o elemento masculino
(MIGUEL; BIROLI, 2010), dispor do Capital Familiar corrobora para um desenvolvimento
diferenciado de ambição política.
Ademais, nota-se, que frequentemente as mulheres ingressam na política com a intenção de
dar prosseguimento a pautas defendidas pelos demais políticos de sua família (MARQUES;
MACHADO; MIGUEL, 2012). Nas entrevistas que realizamos, pudemos verificar esse fenômeno,
o fragmento abaixo foi retirado de uma de nossas entrevistas:
Pergunta: A senhora recebeu apoio de alguém ao tomar a decisão de seguir a carreira política (pode
ter sido na família ou em outra esfera)?
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Entrevistada: “Sim, na família. A gente desenvolve esses projetos [sociais na área da segurança
pública – citados em perguntas anteriores] em família há muitos anos”.
Pergunta: Seu interesse por esse engajamento político sucitou ou foi sucitada pela iniciativa de
algum desses irmãos em seguir essa carreira [citados em respostas anteriores]?
Entrevistada: “Eu tenho um irmão que é uma liderança bem expressiva em Brasília, que é um
mentor meu. E com certeza houve toda essa motivação. Minha família é muito unida nesse aspecto,
então, a gente trabalha junto há muitos anos. Há mais de vinte anos, há mais de... Desde que eu me
entendo por gente eu trabalho com eles. Então, na hora que a gente desenvolve os projetos,
desenvolve juntos. Junto tomamos a decisão de que deveríamos trabalhar por políticas públicas”.
Esse trecho nos remete à pesquisa desenvolvida por Fox e Lawless, o Citizen Political
Ambition Study, em que o apoio para seguir carreira política advindo dos familiares e o ciclo
próximos dos indivíduos influencia a noção de autopercepção. Para as autoras, ainda podemos
sentir alguns resquícios dos padrões de socialização tradicional de gênero que podem influenciar a
decisão de vir a se lançar numa campanha, dentre eles temos as qualificações autopercebidas, que
correspondem a como a/o candidata/o em potencial enxerga suas chances na política institucional,
se ela/ela vê sua candidatura como competitiva ou não (FOX; LAWLESS, 2012, p. 140-141).
Recrutamento político – a seleção de candidaturas
Usaremos a abordagem de Pippa Norris para tratar o recrutamento político, que conceitua o
termo como o processo seleção por meio do qual se indicam as pretensões de ocupar cargos
representativos, ou simplesmente o processo de escolha de candidaturas. Descata que todo
recrutamento, também chamado de ‘presseleção’ e ‘nomeação’, envolve, em tese, uma oferta
(alguém precisa se propor a concorrer) e uma demanda (alguém tem que acolher a proposta).
Consideramos fundamental expor aqui o conceito de “gatekeeper”, indivíduos que atuam do
lado da “demanda”, como comentamos acima, e exercem influência determinante na tomada de
decisão; candidatas/os em potencial devem obter a aceitação desses “guardiões da porta” da carreira
política. Mostra-se relevante, portanto, entender o papel desses agentes dentro das estruturas
partidárias, como a autora observa, essas estruturas apresentam graus de institucionalização
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variados, não raros associados à burocratização do processo – como discutiremos posteriormente –
o nível de institucionalização é pode ser encarado como um dos fatores de influência na agência dos
gatekeepers. Norris propõe um questionamento que devemos ter em menrdrdte ao mapear os
componentes “informais” do processo de recrutamento, “o que os gatekeepers levam em conta ao
escolher uma candidatura (em detrimento de outra)?” (NORRIS, 1993. p. 329 [tradução nossa])
Norris nos chama atenção para a multicausalidade nomomento do recrutamento, pois esse
processo ocorre situado numa estrutura específica do partido, que envolve a forma como está
organizado, seu regimento interno, suas normas e tradições, o espectro ideológico e filtros
extrapartidários que também podem influenciar a definição de candidaturas, como financiadoras/es,
por exemplo. Situando ainda mais, precisamos levar em conta que os partidos estão inseridos em
um sistema político, que por sua vez se destrincha em sistema legal, que define regras de
elegibilidade, influenciando o processo da presseleção, limitando possíveis escolhas, a depender do
ornamento jurídico, o Estato pode estabelecer normas que regulem diretamente o recrutamento.
Além disso, a ciência política desenvolve diversas pesquisas sobre sistemas eleitorais e sistemas
partidários, que são, para a autora, dimensões a serem consideradas no hall de circunstâncias que
exercem influência sobre o recrutamento.
Pippa Norris resgata o pensamento de Schattschneider, que entende que a nomeação de
candidaturas é o processo mais importante dentro do partido. E como os partidos detem o
monopólio das candidaturas, configurando-se como filtro de todas/os representantes e aspirantes a
representantes, entender o processo de recrutamento tem destacada relevância (NORRIS, 1997. p.
15q – 153).
Os estudos sobre recrutamentos se dividem entre aqueles que se dedicam a compreender as
vias institucionais pelas quais o processo ocorre dentro da organização partidária, esperando assim,
mapear a estrutura de pode interna do partido; e os estudos que se se debruçam sobre as motivações
que condicionam o indivíduo a se dispor a concorrer. Entender a pluralidade de possíveis cenários
em que o recrutamento ocorre é fundamental para pensarmos mudanças no processo de escolha de
candidaturas que visem à inclusão de mulheres, bem como de outras minorias, pois determinadas
medidas seriam mais eficientes para um cenário do que outras – ou, em outras palavras, entender ‘as
regras do jogo’ pode otimizar o uso de algumas ferramentas. A literatura aponta três formas de ação
de inclusão de mulheres usadas pelos partidos políticos em diferentes contextos: as estratégias
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retóricas, os programas de ação positiva e a discriminação positiva (LOVENDUSKI, 1997;
NORRIS, 1997).
Para a autora, o processo de recrutamento dentro dos partidos pode ser entendido a partir
sobreposição/interseção de dois eixos, a institucionalização e a centralização. O primeiro eixo pode
ser dividido em partidos de sistemas formais (com alto grau de institucionalização) e informais
(com baixo grau) e o segundo, em centrais, regionais e locais (NORRIS, 1997).
Passemos às divisões da institucionalização, os sistemas formais tem por características a
definição de regras preestabelecidas detalhadas e explícitas de organização dos processos de tomada
de decisão internos, nesse sistema reconhece-se a transparência e o cumprimento das normas e essas
partidos contam com instâncias de apelação, por seu alto grau de burocratização. Já os sistemas
informais se caracterizam pela baixa institucionalização e por um processo de apresentação de
candidatas/os em potencial relativamente fechado – obscuro –, desse cenário não vemos o
cumprimento de regimentos ou normas, ou, nas palavras da autora: “Las directrices de la normativa
oficial del partido o los estatutos sulean tener poder de derecho y no de hecho” (NORRIS. 1997. p.
168). Por se tratar de um processo desburocratizado, a escolha de candidaturas aqui abre um largo
espaço para o protagonismo pessoal e as redes de influência. (NORRIS, 1997).
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Ao tratar da centralização, Norris oberva que os sistemas centralizados tomam decisões de
recrutamento de candidaturas a partir de indivíduos que ocupam posições de autoridade dentro da
estrutura partidária nacional, como membros da executiva nacional do partido. No caso dos
sistemas localizados, o processo de decisão de candidaturas fica a cargo da estrutura partidária
situadas na circunscrição eleitoral na qual a candidatura será apresentada; além disso, Norris
apresenta os sistemas regionais, em que o processo do recrutamento se concentra numa instância
intermediária entre as citadas anteriormente, como convenções e executivas regionais
intrapartidárias. Ao cruzarmos esses eixos, chegamos às seguintes classificações de sistemas de
recrutamento:
Tabela 1: Instâncias de decisão7
Recrutamento informal-centralizado – em que se nota a ausência de uma democracia
intrapartidária fortalecida e que a negociação entre líderes nacionais é componente crucial para a
presseleção de candidaturas; e os militantes das bases do partidos exercem influência irreleventa
nessa decisão. A dinâmica do recrutamento informal-localizado pode ser ilustrado com o caso
estadunidense, onde o poder dos líderes nacionais do partido não pode ser tido como irrelevante,
contudo perdeu muito de sua força após a instituição das primárias pelo sistema legal, permitindo
que qualquer candidata/o possa se apresentar para participar das prévias, se autofinanciar e
organizar suas próprias campanhas, de maneira a diminuir o potencial dos gatekeepers (NORRIS,
1997. p.167-177).
Pode-se entender a partir de Norris (1997) que nos partidos com dinâmica de recrutamento
formal-localizado as normas e as tradições formais estabelecidas são explícitas para todos os
diretórios partidários e o processo de seleção de candidaturas fica concentrado nas instâncias locais
7 Tabela retirada de NORRIS, Pippa. Procesos de reclutamiento legislativo: una perspectiva comparada. In: Edurne
Uriarte y Arantxa Elizondo (coord). Mujeres en política. p.168. Barcelona: Editorial Ariel. 1997.
Sistemas Centrais Regionais Locais
Informais
Formais
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e regionais, ressaltando que os contextos de dinâmica ‘formal-regional’ operam sobre características
semelhantes às descritas acima – da mesma forma, partidos com recrutamentos ‘informais-
regionais’ apresentam características semelhantes às atribuídas aos partidos de sistemas informais-
locais. Por fim, dinâmicas de recrutamento formal-centralizado são frequentemente atribuídas à
partidos de quadro, se caracterizam por contextos em que os líderes nacionais tem autoridade
formal reconhecida formalmente para selecionar candidaturas que julgarem ser mais competitivas.
Apresentação e análise dos dados
Assim como parte da literatura sobre carreira política aponta, a presente análise parte do
pressuposto de que existe uma variação de fatores que edificam a carreira política dos
representantes eleitos, a depender do sexo das/os candidatas/os. Para entender especificamente o
recrutamento, as entrevistas nos foram mais úteis do que os dados levantados em fichas de perfis,
tendo em vista que o recrutamento apresenta uma dimensão ‘formal’ e uma ‘informal’ (NORRIS,
1997), e que essa dificilmente pode ser captada em questionários e agrupada em tipos ideias, como
o desenvolvido por Pippa Norris, pois como a própria autora observa, as estruturas partidárias são
diversas e as dinâmicas de recrutamento se dão por diferentes combinações dessas dimensões.
Devemos esclarecer que a autora nos adverte que as categorias descritas em seu trabalho são
idealizações e que não esgotam todas as facetas possíveis de dinâmicas de presseleção de
candidaturas nas organizações partidárias existentes. No entanto, a partir dos resultados eleitorais -
um degrau após o recrutamento – pudemos analisar a relevância do capital familiar para esse
estágio da carreira política a partir dos dados ‘fichados.
Tabela 2: Distribuição do capital familiar por sexo da/o candidata/o eleita/o
SEXO/CapFam Capital Familiar Sem Capital Familiar TOTAL
Feminino 60,0% (3) 10,5% (2) 20,8% (5)
Masculino 40,0% (2) 89,5% (17) 79,2% (19)
TOTAL 100% (5) 100% (19) 100% (24)
Fonte: Elites políticas (2014).
Observando a tabela 2, podemos perceber que o número total de eleitas que detêm capital
familiar é maior do que o percentual encontrado entre os eleitos. Tal suposição vai de acordo com o
que Pinheiro (2007) afirma: o capital familiar tem sido tradicionalmente uma das principais formas
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para as mulheres entrarem na política. Verifica-se que para os homens esse também é um
componente relevante para o despontar de candidaturas – e, nosso objeto de estudo, a seleção dessas
candidaturas, no entanto, no caso específico da sétima legislatura da CLDF fica evidente o quanto o
capital familiar é significativo entre as eleitas, podendo até ser interpretado como elemento
preponderante.
Tabela 3: Distribuição das eleitas/os de acordo com o estado civil
ESTADO CIVIL/SEXO feminino masculino TOTAL
Solteira/o 0,0% (0) 5,3% (1) 4,2% (1)
Casada/o8 80,0% (4) 89,5% (17) 87,5% (21)
Divorciada/o 20,0% (1) 5,3% (1) 8,3% (2)
TOTAL 100% (5) 100% (19) 100% (24)
Fonte: Elites políticas (2014).
A partir da tabela 3, é possível apontar que entre os eleitos a proporção de casados é
consideravelmente maior do que a de solteiros e divorciados. Podemos considerar como irrelevante
a diferença entre eleitos e eleitas nesse ponto, visto que ambos apresentam porcentagens próximas a
80%. Assim, os dados observados convergem com a abordagem de Araújo (2007) de que casadas/os
possuem chances maiores de se elegerem do que não casadas/os (ARAÚJO, 2007. p. 547). Portanto,
ainda que a diferença entre os sexos em relação ao estado civil não apresente relevância estatísitica,
a o estado civil é mais uma variável relevante para se entender a construção da carreira política.
Tabela 4: Proporção de candidatas/os eleitas/os que ocuparam cargo de secretaria/o
estadual/distrital antes de sua eleição, por sexo
Secretária/o
Eestadual/Distrital
Nenhum
mandato
Um
mandato
Dois
mandatos
TOTAL
Feminino 80,0% (4) 20,0% (1) 0,0% (0) 100% (5)
Masculino 52,6% (10) 42,1% (8) 5,3% (1) 100% (19)
TOTAL 58,3% (14) 37,5% (9) 4,2% (1) 100% (24)
Fonte: Elites políticas (2014).
Diante da tabela 4, nota-se que o número de eleitas que já ocuparam cargos não eletivos de
âmbito distrital é bastante reduzido, enquanto entre os eleitos este número se encontra mais diluído.
8 Na computação de dados da variável “Casada/o”, na Tabela 2, incluímos também candidatas/os em uniões estáveis
judicialmente reconhecidas.
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Tabela 5: Relação entre o grau de escolaridade por sexo das eleitas/os
ESCOLARIDADE/SEXO feminino masculino TOTAL
Sem superior 0,0% (0) 15,8% (3) 12,5% (3)
Superior incompleto 0,0% (0) 5,3% ( 1) 4,2% ( 1)
Superior completo 100% (5) 78,9% (15) 83,3% (20)
TOTAL 100% (5) 100% (19) 100% (24)
Fonte: Elites políticas (2014).
Ao nos repararmos com os cruzamento das variáveis “escolaridade” e “sexo” na tabela 5,
podemos notar como a escolaridade é importante, mas para além dessa constatação, fica evidente
que as mulheres cujas campanhas eleitorais obtem êxito devem ser mais “qualificadas” formalmente
do que os homens. É possível fazer um paralelo com o que Fox e Lawless (2012) encontram em
seu Citizen Political Ambition Study sobre a autopercepção de mulheres e sua posição social,
intrinsecamente ligado à escolaridade (FOX; LAWLESS, 2012).
Conclusões e contribuições para uma agenda de pesquisa – hipóteses
Entendemos que há mais homens do que mulheres – isto é, do geral de 24 eleitos, 19 são
homens – porque o ambiente de recrutamento não raramente é mais favorável para os homens, cabe
considerar que a presença de capital familiar se mostra como um diferencial ‘positivo’ na definição
de uma candidatura, especialmente em um contexto social, o campo político, em que o sexo
feminino se vê desprivilegiado (MARQUES; MACHADO; MIGUEL, 2012. p. 12-13).
Desse modo, é aceitável interpretar que as mulheres estão estruturalmente em desvantagem
na construção de uma carreira política de sucesso, já que se veem desprivilegiadas na ocupação
prévia de cargos. (MARQUES; MACHADO; MIGUEL, 2012. p. 11-13). Contudo, é importante
ressaltar que os partidos buscam candidatos que maximizem seus votos e que algumas
características serão consideradas mais atraentes pelos partidos no momento de seleção de
candidatas/os, como o capital familiar, que tende a “compensar” parte da desvantagem que
mulheres candidatas em potencial enfrentam dentro do ambiente partidário (LOVENDUSKI, 1997).
Assim, o elevado número de eleitas que não possuem nenhum mandato anterior em cargos não
eletivos estaduais quando combinado à análise de demais componentes pode se justificar por um
vínculo familiar que determinou a sua candidatura.
Em futuras pesquisas, pretendemos discutir a hipótese que deriva do questionamento:
“Como as mulheres detentoras de mandato percebem os constrangimentos da estrutura partidária?”
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Em algumas entrevistas, pudemos notar que mulheres inseridas em partidos interpretam as cotas
para candidatura como “privilégio” concedido às mulheres. Em uma entrevista em partilucar, ao
perguntarmos à entrevistada sobre os componentes informais do processo de recrutamento a
resposta que obtivemos foi “Dentro dos partidos existem os prediletos. Isso sempre existiu e acho
difícil deixar de existir. Mulher, por exemplo, existe uma cota a ser cumprida, os 30%, então,
mulher é ouro dentro de partido”. Precisamos repensar as dinâmicas de recrutamento político afim
de transformar a estrutura dos partidos para que o espaço das mulheres nos ambientes partidários
não seja mais visto como o espaço que se confere ao “outro”.
Referências bibliográficas
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Anexo 1
Ficha Completa
1 Responsável pelo preenchimento: Beatriz Bazzi ; Alyne ; Ana Luísa ; Brenda ; Fernanda ; Marcello
; Beatriz Vilela ; Daniel ; Ila ; Evellin ; Mariana ;
2 Grupo G1 ; G2 ; G3 ; G4 ; G5 ;
3 Nome
4 Sexo feminino ; masculino ;
5 Raça/Cor preta ; parda ; branca ; amarela ; indígena ;
6 Ano de nascimento
7 Estado civil solteiro ; casado/união estável ; divorciado ; viúvo ;
8 Escolaridade lê e escreve ; fundamental incompleto ; fundamental completo ;
médio incompleto ; médio completo ; superior incompleto ;
superior completo ;
9 Profissão real
1
0
Profissão declarada
1
1
Formação acadêmica
1
2
Quais são os partidos da coligação? PMDB (sem coligação) ; PRB/PTC ; PRP/PV ; PT/PP ;
PCdoB/PPL/PTN ; PSB/PDT/SD ; PRTB/PMN ; PSDB/PSDC ;
PEN/PSL ; PR/PTB ; PTdoB/PHS ;
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1
3
Partido pelo qual concorreu PSDB ; PMDB ; SD ; DEM ; PR ; PP ; PRTB ; PRB ; PRP ; PSC
; PSDC ; PSD ; PTB ; PTC ; PTdoB ; PTN ; PCB ; PCdoB ; PCO
; PMN ; PDT ; PT ; PEN ; PHS ; PPL ; PPS ; PROS ; PSL ;
PSOL ; PSB ; PSTU ; PV ; outro ;
1
4
Se outro, qual partido?
1
5
Foi secretário nacional,
estadual/distrital ou municipal do
partido?
secretário nacional ; secretário estadual/distrital ; secretário
municipal ; não ;
1
6
Já ocupou algum outro cargo
partidário (no atual partido)?
sim ; não ;
1
7
Qual cargo?
1
8
Partidos aos quais foi filiado
anteriormente
PSDB ; PMDB ; SD ; PFL/DEM ; PL/PR ; PP/PPB/PPR ; PRTB
; PRB ; PRP ; PSC ; PSDC ; PSD ; PTB ; PTC ; PTdoB ; PTN ;
PCB ; PCdoB ; PCO ; PMN ; PDT ; PT ; PEN ; PHS ; PPL ;
PPS/PCB ; PROS ; PSL ; PSOL ; PSB ; PSTU ; PV ; nenhum ;
outro ;
1
9
Se outro, qual ex-partido?
2
0
Votação recebida
2
1
Vezes em que foi eleito Presidente
da República
2 Vezes em que foi eleito vice-
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2 presidente
2
3
Assumiu definitivamente o
mandato?
sim ; não ;
2
4
Vezes em que foi eleito governador
2
5
Vezes em que foi eleito vice-
governador
2
6
Assumiu definitivamente o
mandato?
sim ; não ;
2
7
Vezes em que foi eleito ou
indicado prefeito
2
8
Vezes em que foi eleito ou
indicado vice-prefeito
2
9
Assumiu definitivamente o
mandato?
sim ; não ;
3
0
Vezes em que foi eleito senador
3
1
Vezes em que foi eleito deputado
federal
3
2
Vezes em que foi eleito deputado
distrital
3
3
Vezes em que foi eleito vereador
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3
4
Mandatos em que, tendo sido eleito
suplente de senador, exerceu o
cargo
3
5
Mandatos em que, tendo sido eleito
suplente de deputado federal,
exerceu o cargo
3
6
Mandatos em que, tendo sido eleito
suplente de deputado estadual ou
distrital, exerceu o cargo
3
7
Mandatos em que, tendo sido eleito
suplente de vereador, exerceu o
cargo
3
8
No momento da eleição, exercia
(ou desincompatibilizou-se de)
qual cargo?
presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; nenhum deles ;
3
9
Nas eleições municipais
imediatamente anteriores:
elegeu-se prefeito ; concorreu a prefeito e perdeu ; elegeu-se
vice-prefeito ; concorreu a vice-prefeito e perdeu ; elegeu-se
vereador ; concorreu a vereador e perdeu ; nenhuma das opções ;
4
0
Nas eleições gerais imediatamente
anteriores
elegeu-se presidente ; concorreu a presidente e perdeu ; elegeu-se
vice-presidente ; concorreu a vice-presidente e perdeu ; elegeu-se
governador ; concorreu a governadore perdeu ; elegeu-se vice-
governador ; concorreu a vice-governador e perdeu ; elegeu-se
senador ; concorreu a senador e perdeu ; elegeu-se suplente de
senador ; concorreu a suplente de senador e perdeu ; elegeu-se
deputado federal ; concorreu a deputado federal e perdeu ;
elegeu-se deputado estadual ou distrital ; concorreu a deputado
estadual ou distrial e perdeu ; nenhuma das opções ;
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4
1
Mandatos em que exerceu o cargo
de ministro de Estado ou similar
4
2
Mandatos em que exerceu o cargo
de secretário estadual, distrital ou
similar
4
3
Mandatos em que exerceu o cargo
de secretário municipal ou similar
4
4
No momento da eleição,
desincompatibilizou-se de qual
cargo?
ministro de Estado ; secretário estadual ; secretário municipal ;
nenhum deles ;
4
5
Cargos exercidos pelo pai presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
4
6
Cargos exercidos pela mãe presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
4
7
Cargos exercidos por irmão presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
4
8
Cargos exercidos por irmã presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
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4
9
Cargos exercidos por cônjuge ou
ex cônjuge
presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
5
0
Cargos exercidos por filho presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
5
1
Cargos exercidos por filha presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
5
2
Cargos exercidos por neto presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
5
3
Cargos exercidos por neta presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
5
4
Cargos exercidos por sogra ou
sogro
presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
5
5
Cargos exercidos por avó ou avô presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
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secretário municipal ; nenhum ;
5
6
Cargos exercidos por tio ou tia presidente ; vice-presidente ; governador ; vice-governador ;
prefeito ; vice-prefeito ; senador ; deputado federal ; deputado
estadual ou distrital ; vereador ; ministro ; secretário estadual ;
secretário municipal ; nenhum ;
5
7
Dono de empresa sim ; microempresário ; não ; sem informação ;
5
8
Diretor de empresa sim ; não ; sem informação ;
5
9
Dono de empresa de mídia emissora de TV ; emissora de rádio ; jornal ; outro ; não ; sem
informação ;
6
0
Profissional de rádio locutor ; apresentador de programa ; repórter ;
especialista/conselheiro ; artista de entretenimento ; outro ; não ;
6
1
Profissional de TV locutor ; apresentador de programa ; repórter ;
especialista/conselheiro ; artista de entretenimento ; outro ; não ;
6
2
Outro cantor ; esportista ; ator ; não ;
6
3
Sindicato, federação, confederação
ou central de trabalhadores
foi presidente ; foi da diretoria (exceto presidência) ; não ;
6
4
Se sim, qual ou quais?
6 Sindicato, federação ou foi presidente ; foi da diretoria (exceto presidência) ; não ;
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5 confederação patronal:
6
6
Se sim, qual ou quais?
6
7
Ocupou posição de liderança em
movimento social ou associação da
sociedade civil?
sim ; não ;
6
8
Se sim, qual ou quais?
6
9
Vinculado a religião organizada? sim ; não ;
7
0
Se sim, qual?
7
1
Se sim, qual o vínculo? pastor ou similar ; leigo ;
7
2
Integrou conselho gestor
(municipal, estadual ou federal)?
sim ; não ;
7
3
Sem sim, qual ou quais?
7
4
Observações (qualquer informação
relevante, como vínculo a clãs
tradicionais, escândalos políticos,
etc).
7
5
Capital Familiar* Capital Familiar ; Sem Capital Familiar ;
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*A variável “Capital familiar” não constava na ficha original, a escolha metodológica de
acrescenta-la é explicada nas páginas 2 e 3 que tratam da metodologia desse trabalho.