capital erótico

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www.epoca.com.br Beleza no trabalho 26 SETEMBRO 2011 I Nº 697 I R$ 9,90 VOCÊ ENTREVISTOU “O povo tem direito de saber o voto dos parlamentares”, diz Romário aos leitores de ÉPOCA PROTECIONISMO O sonho do livre-comércio acabou? FELICIDADE Por que ela é maior nos países onde os casais têm mais ilhos Novos estudos revelam que a aparência é um dos principais segredos do sucesso – e não há nada de errado em usá-la

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Bourdieu

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  • www.epoca.com.br

    Belezano trabalho

    26SE

    TEMBRO20

    11IN697

    IR$9,90

    VOCENTREVISTOUO povo tem direito de sabero voto dos parlamentares, dizRomrio aos leitores de POCA

    PROTECIONISMOO sonho dolivre-comrcioacabou?

    FELICIDADEPor que ela maiornos pases onde oscasais tmmais filhos

    Novos estudos revelamque a aparncia

    um dos principaissegredos

    do sucesso e no h nadade errado em us-la

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  • Novos estudosmostramque a aparncia fator determinante n

    A beleza c

    Fernanda

    Marques

    Filha de uma famlia deindustriais, Fernanda estudouem excelentes escolas de SoPaulo e comeou a carreiranum grande escritrio.Hoje, toca trs negciossimultaneamente. Diz que abeleza abre portas, mas s ocontedo as mantm abertas

    46 anos,arquiteta e empresria

    Capital econmico

    Capital social

    Capital humano

    CapitalErtiCo

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    soCiedade Capital ertiCo

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  • e no sucessoprofissional e quenohnada errado emus-la

    a compensa

    Alex

    Atala

    Nasceu numa famliade classe mdia, saiu da escolaaos 14 anos e estudou culinriana Europa, enquantopintava paredes. Charmoso,bonito e cheio depersonalidade, seu D.O.M.est na lista dos melhoresrestaurantes do mundo

    43 anos,chef

    Capital econmico

    Capital social

    Capital humano

    CapitalErtiCo

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    Fotos:Filip

    eRed

    ondo/POCAeMrcioSc

    avone/Ed

    .Globo

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  • 94 > poca , 26 de setembro de 2011

    Num planeta de quase 7 bilhes de ha-bitantes, nosso planeta, h uma elite deaproximadamente 200milhes de pessoasque no se destaca pela fortuna, pelo po-der ou pela inteligncia mas que cons-titui, ainda assim, um grupo privilegiado,cuja vida mais fcil e mais promissora.Eles recebemmais ateno quando crian-as, tendem a ser mais populares na ado-lescncia, conseguem amor e sexo maisfcil quando se tornam adultos e, segundoas pesquisas, ganham melhor na carreiraprossional e tm facilidade para se casarcom gente rica. Contra os privilgios dessegrupo, presente em todas as sociedades eclasses sociais, no hmobilizao polticaou denncias. Sua inuncia to antigacomo a existncia do homem e, nos l-timos sculos, s fez crescer. Em vez decombat-la, a maioria tenta, desesperada-mente, integrar-se minoria formada por2% dos homens e 3% dasmulheres a daspessoas extraordinariamente bonitas.Dois livros publicadosno exterior nas l-

    timas semanas capturamna exatamedidaosprivilgios que cercam esse grupo restrito:Beauty pays: why atractive people are moresuccessful (A beleza rende, por que as pessoasatraentes tm mais sucesso), do economistaamericano Daniel Hamermesh, e Honeymoney: the power of erotic capital (Dinheirodoce, o poder do capital ertico),da socilogainglesa Catherine Hakim. Amparadas emdezenas depesquisas e cuidadosamente em-baladas para causar impacto, as duas obrassustentam, com abordagens diferentes, amesma tese: tantona vidapessoal quantonavida prossional, as pessoas bonitas obtmvantagens econmicas quanticveis.Sempre se soube que os seres humanosexcepcionalmente bonitos gozavam algunsprivilgios em relao aos demais. Agora,o senso comum tornou-se mensurvel.

    N

    Barack

    Obama

    Criado pela me e pelosavs, estudou num bomcolgio e se destacou naUniversidade Harvard.Alm de alto e elegante,seduz pela inteligncia epela oratria. Tem grandemagnetismo pessoal

    51 anos, presidentedos Estados Unidos

    Capital econmico

    Capital social

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    IvanMartins e Teresa Perosa

    soCiedade Capital ertiCo

    Do que feito o c

    1. BelezaOs estudos mostram quetraos convencionais esimetria facial contribuempara tornar uma pessoaatraente, assim como o tomde pele. A beleza extrema escassa e reconhecidauniversalmente

    2. SensualidadePode ser separada dabeleza. A beleza tem a vercom o rosto, enquanto asensualidade deriva deum corpo atraente e daforma como a pessoa semove, fala e se comporta.Envolve personalidade

    4.VivacidadePessoas cheias devida podem ser muitoatraentes. Elas misturamboa forma fsica, energiae humor. Costumam sera alma das festas

    3.Habilidades sociaisIncluem charme, graa,capacidade de interagire se fazer gostar. Quemtem esses talentos deixaas pessoas vontade emais felizes. Costumamser mais desejadas queas pessoas normais

    Seis elementos

    Fotos: Peter Yang/August/Latinstock e Denis Rouvre/Corbis Outline

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    Para captar esse fenmeno,Hakim,pro-fessora da London School of Economics,criou o conceito de capital ertico, queenvolve, alm da beleza fsica, virtudescomo charme, desenvoltura, elegnciae sensualidade (leia o quadro abaixo). uma adio atrevida s trs formas decapital consagradas pelo socilogo fran-cs Pierre Bourdieu: o capital econmico(o que temos), o capital humano (o quesabemos) e o capital social (quem co-nhecemos). Hakim diz que as pesquisasrealizadas nos Estados Unidos e no Cana-d demonstram claramente que homensatraentes (quer dizer, com mais capitalertico) ganham entre 14% e 27% maisque os homens no atraentes consi-derando que tudo o mais entre eles sejaequivalente. Para as mulheres, a diferenavaria entre 12% e 20%. uma coisa tre-menda, disse ela a POCA.Como fatorabsoluto, apenas a inteligncia, medidapor testes de Q.I., tem uma inunciato direta na renda.Hamermesh, um respeitado especialista

    em salrios da Universidade do Texas, mais comedido. Ele estuda apenas os efei-tos da beleza facial, semmistur-la a outrosfatores. Sua principal preocupao, comoeconomista, demonstrar que a belezatem valor de mercado. Primeiro, por seruniversalmente reconhecvel. Ela parecesubjetiva, mas no , diz ele. Tendemosa concordar espantosamente em relaos pessoas que so realmente bonitas. Ooutro pilar na sustentao terica do valorda beleza est na escassez. Os 2% ou 3%de pessoas bonitas na populao so raroso suciente para que haja mais demandado que oferta por elas. Logo, criam-se ummercado e um valor mensurvel para abeleza humana. Hamermesh calcula que,namdia, ao longo de uma vida inteira detrabalho, um prossional de tima apa-rncia receba, nos Estados Unidos, cercade US$ 230 mil (algo como R$ 400 mil) amais que algum dem aparncia. umpoucomenos do que a vantagem conferi-da por uma boa educao universitria,disse ele a POCA. No tudo, mas fazuma grande diferena.A histria sugere que o fascnio causado

    pela beleza antigo, assim como o favore-cimento que ele atrai.OAntigo Testamen-to relata que Jac serviu Labo por vriosanos pelo direito de casar-se com Raquel,por quem se apaixonara instantaneamen-te. Plato conta que o lsofo Aristte-les, tendo se encontrado com o jovem s

    Carla

    Bruni

    De uma famlia italianamilionriae influente, Carla nasceu nomundo das artes. Linda eelegante, largou a faculdadepara tornar-semodelo, namorouartistas famosos e tornou-se cantora. Hoje mulherdo presidente da Frana

    43 anos, cantora,atriz e primeira-dama

    Capital econmico

    Capital social

    Capital humano

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    eito o capital erticoOs capitais de cadaum, definidos porPierre Bourdieu

    5.apresentaoEsse item inclui modode vestir, maquiagem,corte de cabelo e uso deperfume, joias e acessrios.As pessoas que se vestembem tornam-se maisatraentes que as outras

    6. SexualidadeVem em ltimo porque,ao contrrio dos demaisfatores, s percebidona intimidade. Incluiatributos de um bomparceiro ou parceira sexual:competncia na cama,energia e imaginao

    capital econmico o que temos. Bens edinheiro. Quem nasceuem famlia rica tem mais

    capitalhumano o que sabemos. Muitovalorizado na sociedadetecnolgica. Quemestuda tem mais

    capital social quem conhecemos.Pode ser fruto de contatosfamiliares ou de conexespessoais. Sempre foi econtinua sendo importante

    OS OutrOS

    CApitAiS

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    Charmides, famoso por sua beleza, couto perturbado que se viu forado a com-bater a besta selvagem dentro dele paraconversar com o rapaz de forma civiliza-da. So duas entre centenas de histrias.Ohistoriador ingls ArthurMarwick,mortoem 2006, autor de dois volumes sobre ahistria da beleza, diz que, a despeito de pe-quenas variaes, a percepo sobre quem belo no Ocidente mudou muito poucodesde aAntiguidade e a beleza sempre foivalorizada.Comparadas a outrasmudan-as histricas, asmudanas nos padres debeleza so praticamente insignicantes,diz ele. Ele acredita que a camponesa Ra-quel e o jovem ateniense Charmides, assimcomo a cortes Kitty Fisher, uma chapelei-ra pobretona e deslumbrante que causoufuror na Londres do sculo XVIII, seriamconsiderados atraentes tambmnos dias dehoje e tirariamproveito disso, comoze-ram no passado. Os ricos e os poderosossempre escolheram parceiros bonitos, dizMarwick. Logo, os excepcionalmente be-los sempre tiveram privilgios.A grande novidade que emerge dos li-

    vros de Hakim e Hamermesh a consta-tao de que o favorecimento beleza nosdias atuais no ocorre apenas em ativida-des nas quais ela oferece um diferencialevidente, como ocorria no passado. Asjovens pobres e bonitas trabalhavam naslojas chiques de Londres por volta de 1600para encontrar amantes oumaridos abas-tados, aomesmo tempo que sua aparnciaatraa bons clientes para as lojas. Era bomnegcio para todos. Hoje em dia, no hdvida de que a beleza da modelo GiseleBndchen ou a do ator Wagner Mouratm valor demercado.Mas surpreenden-te constatar que a aparncia pode inuen-ciar a renda de professores universitriosou atletas, que deveriam ser avaliados porcritrios totalmente diferentes.Hamermesh conta que, na provncia de

    Ontrio, no Canad, uma pesquisa com400 professores de economia constatouque aqueles que os alunos consideravammais atraentes ganhavam, por ano, pelomenos 6% a mais que os outros professo-res.Coincidncia? Outra pesquisa feita nosEstadosUnidos, entre jogadores de futebolamericano, concluiu que os armadores quetinham facemais simtrica (um dos par-metros de beleza) recebiam12%amais queos demais,mesmo quando davam amesmaquantidade de passes corretos ao longo dosanos.Hamermesh diz que o favorecimentoaos belos perceptvel na renda de advoga-

    dos, publicitrios e atmesmo criminosos.Ladres com uma aparncia assustadora,diz ele, so mais frequentes nos arquivospoliciais que aqueles com boa aparncia.No impossvel que a rejeio pela feiuratenha contribudo para empurr-los a esseramo de atividade.Osresultadosdosestudosacadmicos so-

    bre a beleza so reforados pelos sinais quechegam do mercado. Uma pesquisa reali-zada no ano passado pela revistaNewswe-ek com 202 prossionais de recursos hu-manos nos Estados Unidos (que falaramsem ser identicados) deixou claro que,apesar do discurso politicamente correto,na vida real a aparncia vem logo atrs daexperincia e da autoconana como cri-trio de contratao frente da escolari-dade. Para 57% dos recrutadores ouvidos

    David

    Beckham

    A famlia simples o orientoupara o futebol. Bonito, atlticoe descolado, tornou-seum smbolo sexual e umacelebridade com apelopublicitrio. Sem jogar tanto,lidera o ranking dos jogadoresmais bem pagos do mundo

    36 anos,jogador de futebol

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    soCiedade Capital ertiCo

    Fotos: Kirk McKoy/Contour by Getty Images e Marcel Maia

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    pela pesquisa, um candidatoqualicado,mas feioteria problemas para se empregar.Metade deles aconselhou as pessoas quebuscam trabalho a gastar tanto tempo cui-dando da aparncia quanto do currculo.No existe neutralidade diante da beleza,diz o psiquiatra brasileiro Frederico Porto,que trabalha na consultoria DBM, especia-lizada em gesto e recursos humanos. um reexo automtico ter boa impressoem relao aos belos.Em tese, a lgica domercado e os efeitos

    punitivos da competio deveriam inibir adiscriminao em favordas pessoas bonitas,mas no isso que acontece. Mesmo notopo da pirmide empresarial, aparncia eboasmaneiras fazemdiferena,dizHakim.Existe um adicional de beleza que pagopor toda parte, indiscriminadamente. Por

    qu? Ningum consegue explicar ao certo,mas as pessoas parecem sentir-se melhorna presena de seres humanos bonitos.Elescriamuma sensao de bem-estar ao redorque pode afetar positivamente a produtivi-dade.Mas isso apenas teoria.Hamermeshdiz que ningum conseguiu aferir se o in-vestimento em beleza realmente ecaz mas isso, como a pesquisa da Newsweekconstatou, no impede as empresas de se-guir contratando e pagandomais s pessoasbonitas. Talvez por puro prazer.H dois tipos de explicao convergentes

    para essa boa vontade universal em relaoaos mais belos. A primeira vem da psica-nlise e, naturalmente, tem a ver com sexo.O prazer de olhar, diz Freud, um prazercorrespondente ao de tocar e est ligadodiretamente a nossos impulsos erticosessenciais. o tipo de coisa que podemoscontrolar,mas no suprimir.A outra parteda explicao vemda psicologia evolutiva.Ela sustenta que a beleza, em algum mo-mento damarcha humana, foi um indica-dor de sade gentica. Por isso, nossos an-cestrais foram sexualmente programadospara deixar-se atrair por ela. Hoje, belezae sade no tm necessariamente rela-o, mas o apelo gentico ainda estaria l,criando atrao (e boa vontade) na direodosmais bonitos.A explicao engenho-sa,mas parece ter uma falha, captada comironia por Marwick, o historiador ingls:Se a beleza uma caracterstica humanafavorecida geneticamente pela evoluode forma to sistemtica, por que no hmais gente bonita no mundo?.Mais do que apenas seduzir as pessoas,

    a beleza tem o poder de iludi-las e issotambm ajuda a explicar seu sucesso sociale corporativo. Por meio de um fenme-no que os cientistas batizaram de efeitoaura, a beleza associada, inconsciente-mente, a caractersticas positivas comointeligncia, carter e liderana. Issoacontece com crianas na creche e comadultos no trabalho. Um estudo feito em1970 pelas universidades de Minnesotae Wisconsin demonstrou por meio deexperimentos com fotos que os maisbonitos so considerados mais sociveis,mais capazes, mais bem-sucedidos e atmelhores maridos ou mulheres que oresto da populao. Sem abrir a boca. Oefeito aura cria a expectativa de perfei-o em torno da beleza fsica e favoreceespontaneamente (e injustamente) quemnasceu bonito um tipo de percepoque tambm lana razes na histria. s

    pola

    Olaixarac

    A contradio entre a prosaspera e a linda figura femininada escritora argentinaconstituem uma fontepermanente de interesse doscrticos e damdia. Isso garantea publicidade que seu trabalhono conseguiria sozinho

    34 anos,escritora

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    Os lsofos gregos acreditavam, quatrosculos antes de Cristo, que a beleza estavaligada a qualidades como justia e simetria.Um corpo, para ser realmente belo, deve-ria estar recheado de aspiraes elevadas eimperecveis. Na Idade Mdia, essa noofoi banalizada e passou a prevalecer a ideiamais simples de que a aparncia reetia ocarter. Os belos eram bons, os feios erammaus. Parte dessa superstio se inltrouna cultura moderna e inuencia nossacompreenso do mundo ainda hoje. Aausncia da beleza nos causa cada vezmaisestranhamento.Vivemos uma cultura ero-tizada, que espirra em todos os mbitos davida, dos relacionamentos ao mundo cor-porativo, arma a psicloga JoanaVilhena,da PUC do Rio de Janeiro, coordenadorado Laboratrio de Doenas da Beleza. Avalorizao do capital ertico est na con-tramo da aceitao das diferenas.Os estudiosos separamos efeitos da bele-

    za em dois campos: omercado de trabalhoe omercadomatrimonial, com diferenasmarcantes entre homens e mulheres. Nomercado de trabalho, a beleza do homem mais valorizada que a da mulher. Aocontrrio do que se imagina, um homembonito pode obter uma diferena maiorde renda em relao aos outros homensdo que uma mulher bonita em relao sdemais mulheres. Hamermesh, que estu-dou o assunto, no tem uma explicaoconvincente para essa diferena. Talvezas mulheres muito feias evitem trabalharfora, diz ele. Outra possibilidade quehaja alguma espcie de discriminao con-tra as mulheres bonitas que no afeta oshomens.Asmulheres em todo omundo sequeixam doefeito gostosa(bimbo effect) a diculdade que as garotas bonitas tmem ser levadas a srio prossionalmente,at mesmo por outras mulheres. Mas osespecialistas no esto de acordo sobre aexistncia dessa barreira.Hakim, a socilo-ga inglesa, cita estudos que, segundo ela,detectam esse tipo de discriminao. E dizque ela afeta negativamente a contrataoe o incio da carreira das jovens atraen-tes. O professor Hamermesh discorda.As mulheres reclamam demais sobre oefeito gostosa,mas no h evidncia esta-tstica de que ele exista, diz ele. Quandoas mulheres insistem em falar sobre isso,pergunto: se voc pudesse escolher, prefe-riria no ser bonita?Quando se trata do mercado matrimo-

    nial, a participao da beleza menos con-troversa e mais convencional. Os homens

    procuram nas parceiras um rosto bonito eapelo sexual, enquanto a avaliao conjugaldasmulheres dos possveis parceiros incluifatores como educao, renda e status so-cial. Nos estudos de laboratrio, mesmoquando os pesquisadores insistem que asmulheres se concentrem apenas na apa-rncia fsica dos homens, elas continuamprocurando na fala e na linguagem corpo-ral pistas que ajudem a avaliar socialmenteo sujeito. Para elas, at (o septuagenriomagnata das comunicaes australiano)Ru-pert Murdoch pode parecer atraente, dizHakim. Isso parece ser universal.Uma pes-quisa realizada no nal dos anos 1980 em37 pasesmostrou quemesmo asmulheresmodernas e instrudas preferem parceirosque sejamfortes economicamente en-quanto os homens parecem estar sempreatrs de mulheres atraentes. O efeito dabeleza nesse mercado , previsivelmente,devastador. Uma pesquisa citada no livrodeHakimmostra que as garotas considera-das bonitas no colgio tmmaior probabi-lidade de casar, tendem a se casarmais cedoe 15 anos mais tarde tm renda maiorque suas antigas colegas menos favoreci-das. No h nenhuma evidncia de queas mulheres modernas estejam rejeitandoos benefcios do capital ertico, escreve ela.Aquelas que tm aspiraes sociais eleva-das continuam se produzindo para obtero mximo com a sua aparncia.

    Apenas a intelignciae a autoconfiana somais importantes paradeterminar a renda

    ABelezA

    peSA

    O IMPacTO relaTIvO sObre a rendaPesquisa realizada nos Estados Unidos, em 1997

    Fonte: Harper (2000)Os pesquisadores usaram um ndice de 0,0 a 1,0

    Inteligncia

    Diretos Indiretos Total

    Autoconfiana

    Educao

    Atrao fsica

    0,520,41 0,11

    0,230,23

    0,210,080,13

    0,180,18

    Efeitos

    emporcentagemdonmerototal depessoasque receberamcadanota

    Notas de belezadadas a 1.495mulheres e 1.279homens nos EUA,em 1970

    ABelezA

    eSCASSA

    Bonita/bonito acimadamdia

    Sematrativos

    Aparncia comum

    Extremamente bonita/bonito

    Feios

    Mulheres

    Homens

    MerCado?cena de uma baladaem so Paulo. O capitalertico o principalpatrimnio dos jovens

    A esta altura da discusso, o leitor ouleitora deve estar se perguntando qual, anal, seu capital ertico e o que podeser feito para elev-lo. A primeira parte fcil: pea a um observador neutro paraavali-la (ou avali-lo) com nota de 1 a 5(leia os critrios no quadro na pgina 94).Hamermesh diz que as avaliaes exter-

    soCiedade Capital ertiCo

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    o mercado de trabalho. No existe gentefeia, diz ela.Todomundo pode carmaisatraente.Mesmo uma pessoa pobre podeinvestir num corpo bonito.Essas armaes podem fazer sentido,

    mas suscitam dois tipos de objeo. Aprimeira de ordem prtica: Hamermeshdiz que no h nada que algum possafazer que altere a percepo que os outrostm de sua beleza. Cortes de cabelo, rou-pas e maquiagens no mudam ningumde categoria esttica, ele sustenta, combase em pesquisas. As pessoas podemprovocar atrao, mas no vo mudara percepo de beleza, diz. Pode-se ar-gumentar, contra isso, que em 90% doscasos provocar atrao exatamente oefeito desejado.A outra objeo luta pela beleza de

    ordem tica.A advogada Deborah Rhode,professora da Universidade Stanford, uma entre tantas feministas que achamabjetos o favorecimento das pessoas bo-nitas e o culto generalizado aparncia,sobretudo entre as mulheres. A culturada beleza viola a cultura do mrito, dizela. Autora de um livro de combate cha-mado Beauty bias (O preconceito da bele-za), lanado no ano passado, ela prega acriao de leis especcas contra a discri-minao pela aparncia algo que mui-tos diriam ser impossvel, por ir contra anatureza e os costumes.Reconhecer que

    h uma base biolgica e sociolgica paranosso comportamento no signica queno possamos mud-lo, arma.O debate tico em torno da beleza su-

    biu vrios decibis desde o lanamentodo livro de Catherine Hakim.Nele, almde explicar a existncia do capital ertico,a sociloga defende seu uso indiscrimi-nado como meio de ascenso social. In-clusive nas corporaes. No vejo pro-blema algum em que uma jovem atraenteuse sua beleza e sua inteligncia para serpromovida, diz ela. O que me incomo-da ver homens poderosos seduzindojovens subordinadas sem dar nada emretorno. Esse tipo de linguagem causoufuror na academia britnica e atraiu crti-cas ferozes contra o livro.Mas Hakim novoltou atrs. Na entrevista a POCA, elasugeriu que existe uma conspirao in-formal do patriarcado e das feministasde elite para impedir que jovens pobrese sem instruo sobretudo mulheresjovens e sem instruo usem seu capi-tal ertico abertamente, exigindo o justovalor de mercado por ele. Tal como elao apresenta, o capital ertico teria umcomponente anrquico e igualitrio, querompe barreiras de origem e subverte aordem social. Para os crticos mais irri-tados, sua proposta apenas outro passoem direo barbrie da comercializaode atributos humanos.Talvez.Mas, ao defender abertamente o

    uso do capital ertico, Hakim pode estarapenas reconhecendo algo que aconte-ce todos os dias ao nosso redor e queescolhemos ignorar. No adianta dizers pessoas que elas no devem usar algoque lhes d vantagem comparativa so-bre as outras, diz Hamermesh.Elas vousar de qualquer jeito. justo? No ,mas tampouco justo que alguns sejammais inteligentes do que os outros, dizele. Pode-se argumentar, claro, que inte-ligncia e competncia produzem resul-tados quanticveis, enquanto a beleza,supostamente, no.Mas isso signica quebeleza deveria ser restrita ou regulada,enquanto os privilgios de bero ou edu-cao poderiam ser usados sem restriona luta pela vida? Ao falar do mais for-midvel intelecto, do mais sublime gnioartstico ou de uma grande beleza, temosde ter clara uma coisa, diz Marwick, ohistoriador ingls. Cada um desses dons,no limite, um presente gentico. u

    Com Isabel Clemente eMartha Mendona

    Mulheres

    Homens

    +20%

    auMenTOOuqueda de renda devIdO aParncIaPesquisa realizada na Gr-Bretanha, em 1991

    Forade trabalho total em%

    Se a pessoa for atraente+13%

    +23%+26%

    13%16%

    Se a pessoa for alta

    Se a pessoa for obesa

    0%

    1

    2

    3

    4

    5

    ApeNAS

    3% DAS

    MulhereS

    e 2% DOS

    hOMeNS SO

    CONSiDerADOS

    MuitO BONitOS

    Notas

    3%

    31%

    51%

    13%

    2%

    2%

    27%

    59%

    11%

    1%

    nas costumam ser mais generosas que asautoavaliaes, mas impossvel ter cer-teza at perguntar. Quanto a aumentarseu capital ertico, h controvrsia entreos estudiosos. De acordo com CatherineHakim, roupas, cortes de cabelo e dietaajudam a tornar as pessoasmais sedutorase, consequentemente,mais desejveis para

    Foto: Rogrio Cassimiro/POCA

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