capacitasuas. proteção de assistência social - segurança de acesso a benefícios e serviços de...

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    PROTEO DE ASSISTNCIA SOCIAL:

    segurana de acesso a benefcios eservios de qualidade

    CAPACITAsuasSISTEMA NICO DE ASSISTNCIA SOCIAL

    CADERNO2

    Dezembro de 2013

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    EXPEDIENTE

    Presidenta da Repblica Federativa do BrasilDilma Rousseff

    Vice-Presidente da Repblica Federativa do BrasilMichel Temer

    Ministra do Desenvolvimento Social e Combate FomeTereza Campello

    Secretrio ExecutivoMarcelo Cardona Rocha

    Secretria Nacional de Assistncia SocialDenise Ratmann Arruda Colin

    Secretria Nacional de Segurana Alimentar e NutricionalArnoldo Anacleto de Campos

    Secretrio Nacional de Renda e CidadaniaLuis Henrique da Silva de Paiva

    Secretrio Nacional de Avaliao e Gesto da Informao

    Paulo de Martino Jannuzzi

    Secretrio Extraordinrio de Superao da Extrema PobrezaTiago Falco Silva

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    SECRETARIA NACIONALDE ASSISTNCIA SOCIAL

    Secretria AdjuntaValria Maria de Massarani Gonelli

    Diretora de Gesto do Sistema nico de Assistncia SocialSimone Aparecida Albuquerque

    Diretora de Proteo Social BsicaLa Lucia Ceclio Braga

    Diretora de Proteo Social EspecialTelma Maranho Gomes

    Diretora de Benefcios AssistenciaisMaria Jos de Freitas

    Diretora de Rede Socioassistencial Privada do SUASCarolina Gabas Stuchi

    Diretor Executivo do Fundo Nacional de Assistncia SocialAntonio Jos Gonalves Henriques

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    Esta uma publicao da Secretaria Nacional de Assistncia Social SNAS. O presentecaderno foi produzido como objeto do contrato n BRA10-20776/2012 ProjetoPNUD BRA/04/046 Fortalecimento Institucional para a Avaliao e Gesto daInformao do MDS, celebrado com a Fundao So Paulo FUNDASP.

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    FICHA TCNICA

    Fundao So Paulo FUNDASPPontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC-SPReitora: Anna Maria Marques Cintra

    Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de ProjetosEspeciais CEDEPE/PUCSP

    Coordenadora:Maringela Belfiore WanderleyCoordenao tcnica:Raquel Raichelis

    Equipe de pesquisa e elaborao: Neiri Bruno Chiachio,

    Rosangela Dias Oliveira da Paz e Aldaza Sposati

    COLABORAO TCNICA

    Antnio Santos Barbosa de CastroDenise Ratmann Arruda Colin

    Jos Ferreira da Crus

    Luciana de Barros JaccoudLuis Otvio Pires FariasSimone Aparecida Albuquerque

    REVISO

    Denise Ratmann Arruda ColinJos Ferreira da Crus

    Luis Otvio Pires FariasSimone Aparecida Albuquerque

    PROJETO GRFICO E DIAGRAMAO

    Hugo Pereira - ASCOM/MDSTiragem: 5.000

    Impresso: Grfica Brasil

    Todos os direitos reservados.Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, deste que citada a fonte.

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    PROTEO DE ASSISTNCIA SOCIAL:

    segurana de acesso a benefcios eservios de qualidade

    CAPACITAsuasSISTEMA NICO DE ASSISTNCIA SOCIAL

    CADERNO2

    Dezembro de 2013

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    2013 Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome.

    BRASIL, CapacitaSUAS Caderno 2 (2013)

    Proteo de Assistncia Social: Segurana de Acesso a Benefciose Servios de Qualidade / Ministrio do Desenvolvimento Social e Com-bate Fome,

    Centro de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais daPontifcia Universidade Catlica de So Paulo 1 ed. Braslia: MDS,2013,

    108 p. : il.

    Secretaria Nacional de Assistncia Social SNASEdifcio mega, SEPN W3, Bloco B, 2 Andar, Sala 229 CEP:70.770-502 Braslia DF.Telefone: (61) 2030-3119/3124www.mds.gov.brFale com o MDS: 0800 707-2003

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    SUMRIO

    APRESENTAO 11

    INTRODUO 15

    I. PROTEO SOCIAL DE ASSISTNCIA SOCIAL 24

    1. Materializao da proteo social de assistncia social:

    benefcios e servios socioassistenciais 37 1.2. A relao entre o pblico e o privado na prestao

    de servios socioassistenciais 46

    II. A QUALIDADE DOS SERVIOS SOCIOASSISTENCIAIS:UMA ABORDAGEM CONCEITUAL 50

    2.1. Tipificao Nacional dos Servios Socioassistenciaiscomo referncia de unidade e qualidade 53

    2.2. O direito qualidade dos servios socioassistenciais:construindo algumas dimenses 59

    2.2.1. A dimenso da qualidade como resultado para os sujeitos 75 2.2.2. A dimenso da qualidade orientada para a gesto pblica 79 2.3. A Rede de servios socioassistenciais 86

    III. DESAFIOS PARA OS DIREITOS AATENO DE QUALIDADE 91

    3.1. Consolidar o carter pblico dos servios socioassistenciais 91 3.2. Qualidade da rede socioassistencial 92 3.3. Articulaes intersetoriais 93 3.4. Articulaes com redes sociais 99

    REFERNCIAS 100

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    APRESENTAO

    Aps 25 anos da Constituio Federal, de 1988, e 20 anos de Lei Orgnicada Assistncia Social (LOAS) atingimos avanos significativos na compreen-so e na efetivao das aes desta poltica. Com a Poltica Nacional de As-sistncia Social (PNAS), de 2004, que estabeleceu os eixos estruturantes paraa implantao do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) e a NormaOperacional Bsica do SUAS (NOB/SUAS), de 2005, institui-se no pas umnovo modelo de gesto na Assistncia Social, baseado em seu reconhecimen-

    to como poltica pblica de responsabilidade do Estado e direito do cidado proteo social.

    Em oito anos de implantao, o SUAS j alcanou resultados importantes.So cerca de 10.000 equipamentos pblicos estatais (Centros de Refernciada Assistncia Social CRAS, Centros de Referncia Especializado da Assis-tncia Social CREAS e Centros de Referncia para a Populao em Situa-o de Rua Centro POP) com a oferta de servios socioassistenciais apoia-da pelo Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS).Nesse perodo, o Sistema atingiu uma capilaridade importante, sendo que aquase a totalidade dos municpios brasileiros j conta com pelo menos umCRAS com oferta de servios ao cidado apoiada pelo Ministrio. Avan-amos na convergncia entre demandas da populao e oferta de servios,programas, projetos e benefcios, com ampliao do acesso e da cobertura deatendimento, desde os territrios intraurbanos dos municpios com maior

    concentrao populacional at quelas populaes que vivem nas localidadesmais isoladas do pas, com disperso populacional.

    Todos esses avanos foram atingidos graas ao compromisso compartilhadodos entes, ampliao do financiamento da Unio e evoluo nas normati-vas que regulamentam, orientam e organizam a poltica em mbito nacional,dentre as quais se destacam a PNAS, a NOBSUAS, de 2005 e 2012, a Nor-ma Operacional Bsica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS),a Tipificao Nacional dos Servios Socioassistenciais e a Poltica Nacionalde Educao Permanente do SUAS.

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    Na ltima dcada, a assistncia social foi priorizada na agenda pblica e al-canou visibilidade enquanto rea com especificidades, conhecimentos e ob-

    jetivos prprios, que, integrada s demais polticas pblicas e sociais, visa proteo, ao acesso a direitos, melhoria da qualidade de vida e dignidadeda populao.

    As aes socioassistenciais, previstas na LOAS, materializam o SUAS e seusobjetivos e esto baseadas na compreenso de que qualquer processo detransformao social s pode se dar mediante uma atuao contnua, estvel

    e comprometida, que considere a autonomia e a participao dos usurios.O direito sociassistencial, pressuposto desse novo paradigma de assistnciasocial, viabilizado por meio do acesso a servios, benefcios, programas eprojetos socioassistenciais, voltados ao atendimento s demandas de prote-o social de assistncia social da populao brasileira.

    Este caderno vem dar relevo e promover reflexo sobre os servios e bene-fcios socioassistenciais. Busca subsidiar e fomentar a discusso a partir daarticulao entre qualidade e direito, apresentando o cenrio atual, os con-ceitos e as relaes entre o campo privado e pblico. Seu contedo partedo reconhecimento da importncia, do comprometimento e da primazia daresponsabilidade estatal com a gesto, a consolidao e o aprimoramento doSUAS, alm de apontar alguns dos desafios atuais.

    A Secretaria Nacional de Assistncia Social (SNAS), do MDS vem empre-

    endendo todos os esforos no sentido de fortalecer e aprimorar o SUAS,desenvolvendo aes de capacitao, propondo e elaborando estudos, pes-quisas e cadernos de orientaes com vistas a qualificar a poltica pblica de

    Assistncia Social. Assim, reafirmamos nosso compromisso em contribuir noavano do Sistema, compreendendo que este processo s se torna possvel apartir de construes coletivas e participativas para a qualificao dos servi-os e benefcios socioassistenciais, elementos fundamentais na construo deuma sociedade mais justa e igualitria. Nesse sentido, no podemos deixarde mencionar que estes avanos tm sido possveis graas interlocuo, aocompromisso e participao dos entes federativos, dos trabalhadores do

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    SUAS, dos conselhos de assistncia social, da sociedade civil, dos usurios eda academia, dentre outros atores.

    Nesse momento em que apresentamos esta publicao, gostaramos de agra-decer, em especial, parceria da equipe do CEDEPE/PUC-SP e ProfessoraDoutora Neiri Bruno Chiachio, que nos deixou recentemente, e participouativamente da construo da poltica ao longo destes 20 anos de promul-gao da Loas, dos 10 anos do Programa Bolsa Famlia e dos oito anos deimplantao do SUAS no Brasil.

    Denise ColinSecretria Nacional de Assistncia Social

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    LISTA DE SIGLAS

    BPC Benefcio de Prestao ContinuadaCad. nico Cadastro nicoCF-88- Constituio Federal de 1988CNAS Conselho Nacional de Assistncia SocialCRAS Centro de Referncia de Assistncia SocialCREAS Centro de Referncia Especializado de Assistncia SocialEOAS Entidades e organizaes de assistncia social

    LOAS Lei Orgnica da Assistncia SocialMDS - Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate FomeNOB SUAS Norma Operacional Bsica do Sistema nico de AssistnciaSocialPAIF Servio de Proteo e Atendimento Integral FamliaPAEFI Servio de Proteo e Atendimento Especializado Famlias eIndivduosPBF Programa Bolsa FamliaPNAS - Poltica Nacional de Assistncia SocialPSB Proteo Social BsicaPSE Proteo Social EspecialSNAS Secretaria Nacional de Assistncia SocialSUAS Sistema nico de Assistncia SocialSUS Sistema nico de Sade

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    INTRODUO

    Este caderno da srie Capacita Suas se ocupa da proteo social brasilei-ra no mbito da Poltica de Assistncia Social a partir do disposto pelaConstituio Federal de 1988 que vinculou a assistncia social SeguridadeSocial. At ento, como se sabe, seu formato era o da diversidade de prti-cas em cada ente federativo.

    A CF-88no s reconheceu a assistncia social como poltica pblica e como

    dever de Estado, como vinculou-a a um campo de ao do Estado brasileiroresponsvel em garantir proteo social na condio de direito de cidada-nia. Esse duplo entendimento, reconhecimento no campo pblico estatal, eresponsabilidade por constituir, na ao que promove, direitos de cidadaniatrouxe a exigncia em imprimir forte alterao no que era executado e nomodo como eram executadas as aes sob a chancela de assistncia social,inclusive no oramento pblico.

    Tal exigncia fez com que uma das primeiras determinaes, estendida atodos os entes federativos, pela regulao da Lei Orgnica de Assistnciasocial de 1993, a LOAS, fosse a constituio em lei de um conselhocriando em lei a relao colegiada e horizontal de gesto dessa poltica,um fundo pblico cujo carter o de possibilitar maior transparnciano uso dos recursos financeiros, e um plano de ao provocando a que-bra do personalismo e a tradio de aes emergenciais marcadas pelo

    pragmatismo do imediato.

    de se lembrar que a ao governamental na assistncia social tinha portrao curtas permanncias de suas atividades, pois sua continuidade quandomuito se encerrava em cada perodo de governo ou de cada gestor. Pode- seafirmar que operava como uma poltica sazonal que decorria da permaneciade cada grupo poltico no governo ou no rgo gestor. Nessa condio, aassistncia social se configurava mais um programa social de um governo doque uma poltica pblica de direitos do cidado.

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    A reflexo deste caderno tem por centro a proteo social pblica de respon-sabilidade da poltica de assistncia social, marcada pela salvaguarda da con-dio de sujeito de direitos dos usurios nas atenes que executa. A partirdessa condio intrnseca que ela pode projetar seu alcance em fortalecero reconhecimento da cidadania, da universalizao dos direitos socioassis-tenciais, de sua defesa e extenso, e da sedimentao de um espao pblicoalargado, sob controle da sociedade. Como ponto de partida demarca o sig-nificado da proteo social na assistncia social e os paradigmas que orientamsua construo presente, concepes que esto desenvolvidas no Caderno 11.

    Ao afirmar que a assistncia social expande a proteo social preciso enten-der que desde 1923, no Brasil, j se dispunha de proteo social na forma deseguro pblico destinado a repor em valor aproximado ao salrio, benefciosmensais ou por dado perodo de tempo para situao de doena e de apo-sentadoria. Embora abrangente na quantidade, esse seguro no incorporoutodos os adultos em idade de trabalho ativo. Durante 90 anos de sua vignciaele foi incluindo segmentos de trabalhadores e chega a segunda dcada doterceiro milnio com 60,2% de trabalhadores formalizados junto ao segurosocial pblico (PNAD-2013).

    Em carter complementar ao benefcio do seguro para reposio do valordo salrio, foram introduzidos mais dois benefcios, o salrio famlia, criadoem 1963, pela lei 4266, do ento presidente Jango Goulart, cujo valor eraequivalente a 5% do salrio mnimo local e alcanava todos os trabalhadores.

    Em 1998, dez anos aps a CF-88, que o convalidou, e por meio de EmendaConstitucional, ele foi restringido aos trabalhadores de menor salrio. Aos25 anos da promulgao da CF-88 ele registra valor, pouca coisa maior doque 33 reais, correspondendo a 5% do salrio mnimo de 646 reais. Todavia,se o trabalhador receber mais do que o salrio mnimo nacional e at o tetode RS$ 971,78, equivalente a 1 e SM, o valor do salrio famlia fica redu-zido para 23 reais ou a 2/3 do valor cheio de 33 reais. Pouco existe de dados

    1 O Caderno 1 discute direitos sociais no campo da poltica pblica de assistncia social, como campoespecco de proteo social no contributiva e direito de cidadania no mbito da Seguridade Social.

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    sobre quem so as crianas com pais de menor renda que recebem salriofamlia. Sabe-se somente que as crianas para serem includas por seus paisno salrio famlia h que ser mostrada sua matricula, se estiver em idadeescolar, ou sua carteira de vacinao, se com menos de 6 anos. Como sepercebe h traos similares ao Bolsa Famlia que em 2004- aps 40 anos daefetivao do salrio famlia - estendeu um benefcio similar a todas crianas,cujos pais tem baixa renda advinda de seu trabalho. Todavia no se dispe denmeros que permitam comparar quantas crianas so abrangidas por um eoutro benefcio sendo ambos do mbito da seguridade social.

    O outro benefcio criado por lei em 1974 (lei federal 6179/74) a RendaMensal Vitalcia foi destinada aos trabalhadores que, acima de 70 anos oucom deficincia, no obtinham aposentadoria por no ter o tempo completode pagamento do seguro ou contribuio previdenciria. Pela CF-88 ela foisubstituda por outro benefcio, no valor de 1 salrio mnimo, nominadopela LOAS em 1993 de Benefcio de Prestao Continuada BPC masque s foi implantado em janeiro de1996. Os beneficirios que j estavamrecebendo a RMV mantem-se nesse benefcio que passou a ser financiadocom recursos da assistncia social. Se em 1996 ele acolhia mais de 400 miltrabalhadores, em pouco mais de 15 anos esse contingente foi reduzido metade por falecimento dos beneficirios.

    O campo da assistncia social incorporou a ao estatal aps a PrimeiraGuerra Mundial, ao final da Primeira Repblica brasileira e na passagem

    para ditadura do Estado Novo. O primeiro ato regulatrio foi destinado asubvenes cujos fundos procediam de impostos sobre bebidas importadase sobre jogos de apostas dos cassinos. Nasce, portanto, na condio de libimoral para prticas contestadas quanto a seu carter de decncia pblica.

    Registra trajetria de 75 anos cujas dcadas se distinguem em: os primeiros50 anos, que tm por marco de viragem a CF-88, e nos quais a assistnciasocial sempre fez de tudo um pouco, caracterizando-se pela ajuda ao pobre,sem especificidade ou continuidade.

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    Nos 25 anos ps CF-88, apesar de inscrita constitucionalmente como pro-teo social, a marca de lento caminhar permaneceu impregnando-a at quea Poltica Nacional de Assistncia Social de 2004 conferiu a essa poltica ongulo de sua responsabilidade como proteo social.

    O reconhecimento da Assistncia Social como direito de cidadania e deverdo Estado coloca a possibilidade de extenso do ingresso dos cidados aosistema de proteo social pblica, sob o marco conceitual do direito a pre-veno, cuidado, ateno e proviso social, apontando para um horizonte de

    rupturas nas configuraes com que foi plasmada historicamente, ou seja,sob a noo da benesse, filantropia e subsidiariedade.

    A noo de cidadania2que informa essa perspectiva a do usufruto individuale coletivo de direitos humanos e sociais e no apenas compensao de privaesem situaes de pobreza e do no acesso ou acesso precrio ao mercado de tra-balho. Nessa viso superam-se os limites da viso liberal, de direitos e deveresindividuais, incorporando-se as subjetividades e coletividades, a ampliao dosespaos de escuta, dilogo e debate e a importncia da organizao e participaocidad para a transformao cultural e construo democrtica.

    A garantia de direitos sociais constitui funo primordial do Estado pelaoferta de polticas sociais que, a depender de seu grau de amplitude, podemprojetar um novo patamar no alcance desses direitos e na consolidao dacidadania. Os objetivos dos sistemas de proteo social no se dissociam da

    promoo, afirmao, defesa e extenso de direitos sociais.

    Nesse sentido, o Poder Pblico se constitui como agente da distribuioconcertada de servios caracterizados por sua utilidade coletiva, em contra-

    2 A professora Ilse Scherer-Warren observa que vrias correntes ideolgicas e polticas denem o con-ceito de cidadania: Do liberalismo vem a ideia dos direitos individuais, do laissez-faire, laissez-passere da conscincia de liberdade como valor primordial para a vida tanto individual quanto em sociedade.Da democracia vem a nfase na igualdade dos direitos polticos, de participao na escolha dos go-

    vernantes e na vida poltica de uma regio do Pas, em sntese, dela decorre o enfoque de cidadaniapoltica. No socialismo, o princpio fundamental na construo cidad encontra-se na conquista daigualdade social e econmica. Movimentos sociais combinaram, muitas vezes, elementos dessas dife-rentes correntes, ainda que comportando tenses internas. (Scherer- Warren,1999, p.60).

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    posio a lgica mercantil. Intervm como redutor da insegurana social, daimprevisibilidade e da ameaa coeso social (Castel, 2010).

    Como poltica setorial especfica, sua organizao vem sendo traada des-de a sano da Lei Orgnica de Assistncia Social LOAS, pela fixao deseus objetivos, preceitos organizativos e de seu campo de responsabilidades.Materializa-se pela realizao de direitos por meio de benefcios e serviosque devem resultar em graus crescentes de segurana social aos cidados,diante de desprotees sociais. Trata-se de assegurar prestaes sociais devi-

    das pelo poder pblico em padres compatveis de cobertura e de ateno ede prevenir coletivamente os riscos sociais.

    Os debates e aes desencadeados desde ento possibilitaram a introduo denovos aportes e especificaes na LOAS de 1993, pela Poltica Nacional de2004, pela NOB-Suas em 2005, e pela lei federal 12.435 /2011, conhecidacomo a Lei do SUAS que, por sua vez, implicou na edio de nova NormaOperacional Bsica do SUAS3ao final de 2012.

    O amplo marco regulatrio da Poltica de Assistncia Social desencadeadoa partir da CF-88 e da LOAS vem introduzindo importantes mudanas eexigncias na rea induzindo reordenamentos ou ordenamentos institucio-nais e condies para a expanso e qualificao da gesto e do atendimentoprestado populao.

    A PNAS/04 alerta para a necessidade de conhecer quem, quantos e quais soos cidados que necessitam de suas prestaes sociais pautando esse conhe-cimento pela dimenso tica de incluir os invisveis, parte de uma situaosocial coletiva. Prope conhecer os riscos, as vulnerabilidades sociais a que

    3 Lei N 8.742, de 07.12.1993, alterada e expandida pela Lei N 12.435, de 06.07.2011.Poltica Nacional de Assistncia Social PNAS/2004 - aprovada por Resoluo no 145 de 15.10.2004(DOU 28/10/2004) do Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS).

    Norma Operacional Bsica - NOB/SUAS-2005 - aprovada por Resoluo n 130, de 15.07.2005 doCNAS.Norma Operacional Bsica do Sistema nico de Assistncia Social aprovada pela Resoluo N 33de 12.12.2012 do CNAS que revoga a NOB de 2005.

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    esto sujeitos, bem como os recursos com que contam para enfrentar taissituaes com o menor dano pessoal e social possvel. (PNAS, 2004, p.15).Conhecer necessidades, riscos e vulnerabilidades faz parte da funo deVigilncia Socioassistencial desenvolvidas no Caderno 3.

    Embora a deciso quanto ao contedo da PNAS-04 seja resultado de inme-ras discusses em plenrias descentralizadas do CNAS, a disperso de enten-dimento e de prticas dessa poltica, a tradio em dificultar seu reconheci-mento como ao pblica estatal foram ao longo das dcadas construindo em

    seu interior, mltiplas formas de fragmentao e quase inexistente unidadede propsitos. So mltiplos os exemplos de personalismos, subjetivismos,ausncia de comando nico, isolamento de prticas, prevalncia de projetosa servios, persistncia de projetos experimentais ou pilotos sem extensode seus resultados, relao com entidade sociais baseada na prtica de usopolticoeleitoral e no apoio individualizado.

    Fazer transitar essa Torre de Babel para uma condio de reconhecimentomtuo pautada na unidade de concepo e ao, em todo o territrio na-cional, de modo a produzir atenes de proteo social, um duplo desafioque termina por afirmar que implementar o SUAS como sistema de gesto egarantir a unidade de escopo na proteo social da assistncia social em todoo territrio nacional, so dois desafios mutuamente interdependentes.

    Em texto de 2008, Yazbek apontava o processo contraditrio que se desen-

    cadeia na concretizao da Assistncia Social direcionada realizao dosdireitos,

    Trata-se, pois, de um processo contraditrio, um momentoonde mais uma vez, na histria brasileira esto em disputa ossentidos dessa poltica. Os rumos (...) permitiro que o Suas secoloque (ou no) na perspectiva de forjar formas de resistnciae defesa da cidadania dos excludos, ou apenas reiterar prticasconservadoras e assistencialistas(YAZBEK, 2008, p.97).

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    A concepo orientadora da proteo social pblica incide evidentementeem outras polticas sociais. No entanto, so vrias as concepes que atra-vessam esse debate, inclusive aquelas que ameaam e restringem sistemasde proteo que, no plano internacional, outrora tiveram amplitude e secolocaram na esteira dos chamados Estados de Bem Estar Social.

    Demarcado significativamente pela Poltica Nacional de Assistncia Social(PNAS/2004) instituiu-se o Sistema nico de Assistncia Social (SUAS)regulado por Norma Operacional que estabeleceu as bases conceituais do

    sistema, os compromissos dos trs entes federativos, as funes da assistnciasocial e as seguranas sociais que deve assegurar.

    A implantao do SUAS se d no contexto desse debate. Embora commuitos avanos e com intensa discusso e pactuao nacional, apresenta emseu desenvolvimento tenses polticas, tcnicas e metodolgicas e se insta-la sob relao conflituosa entre diferentes atores, com trajetrias e valoresdiferenciados. Ele acaba por reter experincias e valores acumulados que sereapresentam no presente e podem indicar necessrias mudanas ancoradasna garantia de direitos

    A Assistncia Social avanou enormemente desde 2004. Conquistou reco-nhecimento, inimaginvel h 15 anos atrs, tornando-se poltica pblica queimplica na organizao da ao pblica unificada entre os entes federativos,de orientao descentralizada, com marcos regulatrio4, equipamentos, finan-

    ciamento estvel, sistema de informao regular e de abrangncia nacional,equipes de trabalho padronizadas, espaos de participao e controle social.

    Esse avano precisa se expressar com maior vigor em suas aes perante ocidado e a sociedade na defesa de direitos humanos e sociais.

    Nessa direo o contedo deste caderno retoma a atual regulao dos servi-os socioassistenciais e traz indicaes para que se afiance sua qualidade. Essa

    4 Ao longo do texto inserimos algumas chamadas ou notas para remisso a essas normativas.

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    busca em contribuir com a construo da qualidade e respectivos padres dequalidade5dos benefcios e dos servios socioassistenciais, remetem questocentral: qualidade pra quem?

    Sem dvida a direo ser para os cidados sujeitos de direito, com deman-das e necessidades de proteo social advindas do poder pblico enquantodireitos dos usurios dos servios socioassitenciais e dos benefcios.

    Nesse sentido, a qualidade dos servios relaciona-se com a satisfao de

    determinadas necessidades de proteo social dos cidados que lhes asse-gure acolhida, relaes de pertencimento pela convivncia e condies desobrevivncia asseguradoras da dignidade humana. No sentido de respeitara dignidade humana que se coloca a proteo social tambm no mbitoda qualidade de vida. Este termo abrange muitos significados, individuais ecoletivos, que so resultantes histricos de cada sociedade em determinadotempo e espao.

    O desenvolvimento social e econmico e as lutas sociais levam construode referncias, que podemos denominar de parmetros de qualidade de vida,que so muito diferentes de uma poca para outra, em sociedades concre-tas, pois so conquistas civilizatrias socialmente construdas. Soma-se aessa temporalidade, que relativiza a noo de qualidade de vida, os fatorese caractersticas culturais dos diferentes povos, com suas tradies e valores,e ainda as estruturas das classes sociais que, imersas em contextos desiguais,

    desenvolvem noes diversas de bem estar social e de qualidade de vida.

    A qualidade nas atenes executadas e prestadas pela poltica de assistnciasocial se revela no quanto, no como, e em que grau ela proporciona proteoao cidado. A qualidade dos servios socioassistenciais e seus padres vin-

    5 A palavra qualidade remete a ideia de excelncia e de satisfao, algo positivo; a palavra padro dequalidade est associada a referncias ou parmetros.

    A partir da estratgia de grupo focal este texto buscou adensar reexes a partir da escuta de pros-sionais engajados na prtica cotidiana da poltica. Sob diversas aproximaes buscou-se identicarseu modo de ver em relao qualidade dos servios socioassistenciais e os desaos para a suaconcretizao.

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    culam-se diretamente aos compromissos estatais na gesto da poltica e dosservios que devem garantir direitos de proteo social no contributiva aserem assumidos pelos diferentes agentes sociais que operam polticas sociaispblicas, enquanto construes scio histricas, imersas em relaes de con-flito entre o econmico, o social e o poltico. A ao do agente institucional, portanto, uma expresso do contedo da poltica pblica e dos direitossociais a ela inerentes, no horizonte de maior equidade e justia social.

    Este caderno aponta desafios na construo e consolidao do Sistema nico

    de Assistncia Social SUAS configurando-se como uma agenda de posiese encaminhamentos quanto a resolutividade de suas respostas na proteosocial brasileira.

    Ao final, a par dos dilemas e desafios colocados ao longo do texto, nomeiaalguns deles presentes na construo do carter pblico das prestaes socio-assistenciais, de sua cobertura em termos de quantidade e qualidade e de suaarticulao com foras sociais e com as demais polticas pblicas.

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    I. PROTEO SOCIAL DE ASSISTNCIA SOCIAL

    preciso entender que a anlise deste caderno centrada na proteo social nombito da assistncia implica em que se tenha bastante claro um antecedente:reconhecer que essa funo no se limita a uma poltica social ou poltica deassistncia social. Um segundo cuidado a ressaltar diz respeito ao estreito vnculoentre o contedo das polticas de proteo social com o que a sociedade entendepor proteo social, responsabilidade estatal de proteo social pblica e ainda,sobre o alcance dessa proteo social perante o cidado e suas desprotees.

    Esse conjunto de elementos se constri na relao histrica de foras, inter-ferncias de projetos polticos mais, ou menos, abrangentes em estabelecera responsabilidade coletiva pela proviso de apoio s desprotees que seexpressam na vida dos cidados. Portanto o mbito do que includo, comouma ateno de proteo na assistncia social, convoca a que se tenha presen-te qual o pacto social que a sustenta.

    A reflexo sobre proteo social parte desse entendimento apontando que acondio de poltica pblica atribuda a assistncia social como a qualqueroutra poltica, realiza dois movimentos, amplia e restringe a ao. Por maisparadoxal que possa parecer a um ou outro, torna-se necessrio concordarque, instituir a assistncia social na condio de poltica social pblica signi-fica elevar e alargar o estatuto da proteo social brasileira tornando-a aces-svel a novas situaes e a mais cidados. Essa expanso, no sentido coletivo

    da ateno, exige construir a visibilidade de demandas o que dimensiona seugrau de universalidade ou cobertura6.

    Ao mesmo tempo ela exige a delimitao do contedo de responsabilidadedessa poltica na proteo social, o que por bvio no significa que possa

    6 preciso relembrar que essa perspectiva se coloca em confronto com a pratica queatende situaes como casos individuais, o que desconecta a ateno prestada com a

    condio de direito do cidado e mesmo da condio estrutural de expresso da questosocial portanto, universalizvel na mesma sociedade para os cidados que so submeti-dos a processos similares de espoliao.

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    ter condies de suportar todas as desprotees de diferentes cidados. Essanecessria delimitao que define o ngulo da proteo social sobre o qualela exerce responsabilidade pblica.

    Os sistemas de seguridade social respondem s demandas de proteosocial que se deslocam para alm da responsabilidade familiar e que, nasociedade brasileira, so agravadas por sua desigualdade social, pelasdimenses de seu territrio e contingente populacional e pelo surgi-mento de novas e desafiantes expresses da questo social que atingem a

    populao e se expressam mais severamente nas classes subalternizadasda sociedade.

    Buscam reduzir o impacto de violaes, agresses, negligncias que provo-cam vitimizaes em indivduos e famlias que passam a demandar a apli-cao de medidas e cuidados de reparao, indenizao, restaurao pormeio de dispositivos em grande parte regulados no campo da Justia e queabarcam indistintamente todos os cidados com impossibilidade de enfren-tar por meios e recursos individuais e familiares situaes de fragilidade deautomanuteno e de cuidados por : velhice, acidente, doena, invalidez,desemprego, recluso, alm de desprotees por privaes socioeconmicas,raa, gnero, etnia, cultura, etc. So situaes que demandam a intervenodo Estado, pela sua responsabilidade com a preservao da vida e a dignida-de humana. (FLEURY, 1994, p.153; VIANA e LEVCOVITZ, 2005, p.17,

    JACCOUD, 2009).

    Ainda que identificada no mbito individual ou familiar, a vitimizao face vivencia de risco no decorre de mera responsabilidade individual, masde um conjunto de determinantes estruturais e conjunturais entre as quais aausncia de protees sociaispblicas. Entre as situaes determinantes davitimizao deve-se incluir as rupturas ou fragilizao de vnculos familiares esociais e a fragilizao das relaes de pertencimento, ao reduzido acesso aosbens socialmente construdos, ocasionando restrio aos direitos e ofensas dignidade humana.

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    Para a sua expanso e completude, os cidados devem contar com uma redede proteo social que inclua benefcios e servios sociais pblicos de nature-za no mercantil e de acesso comum a todos. O horizonte da universalidadede suas respostas supe o conhecimento e o reconhecimento de desproteessociais que incidem sobre a coletividade, independentemente da posioocupacional e dos rendimentos dos indivduos, embora considerando quesuas demandas possuem intrnseca relao com os nveis de privao e desi-gualdade socioeconmica.

    Afirmar a Assistncia Social como proteo social significa olhar para o cida-do, usurio dos servios, com outros olhos, como nos ensina Sposati,

    [...] estar protegido significa ter foras prprias ou de terceiros,que impeam que alguma agresso/precarizao/privao venha aocorrer deteriorando uma dada condio. Porm, estar protegidono uma condio nata, ela adquirida no como mera merca-doria, mas pelo desenvolvimento de capacidades e possibilidades.No caso, ter proteo e/ou estar protegido no significa meramente

    portar algo, mas ter uma capacidade de enfrentamento e resistn-cia (SPOSATI, 2009, p.17).

    A concepo orientadora da proteo social pblica incide evidentementena organizao das polticas sociais, na alocao de recursos e no alcance dasprestaes sociais. No entanto, so vrias as concepes que atravessam esse

    debate, inclusive aquelas que ameaam e restringem sistemas de proteoque, no plano internacional, outrora tiveram amplitude e se colocaram naesteira dos chamados Estados de Bem Estar Social.

    Adentrando ao plano das prestaes socioassistenciais, assiste-se a um debateque, alis,no novo e que tambm se aplica aos sistemas de seguridadesocial mais amplamente concebidos. Vinculado categoria da autonomiacomo horizonte dessas prestaes, aponta-se a ativao de capacidades paraa autonomia, diante do imperativo de liberar a populao de determinadasprotees sociais. Dessa forma, se valorizam as intervenes sociais para

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    tornar os indivduos e famlias responsveis pelo manejo de suas decises ede sua vida, reforando uma viso conservadora.

    Autores que estudam o desenvolvimento de polticas sociais na Europa dia-logam com os crticos do Estado de Bem Estar Social considerado passivo,em decorrncia de prestaes e benefcios sociais que estimulariam a acomo-dao das pessoas. Em contraponto se colocaria um Estado Social ativo,que responsabiliza o prprio cidado e sua famlia pelo enfrentamento eequacionamento de suas demandas sociais

    Castel (2010), ao analisar as tendncias das polticas sociais contempornease do trabalho social nelas desenvolvido explicita essa crtica:

    Desde o comeo dos anos oitenta se multiplicaram as crticas aocarter burocrtico deste Estado social que opera como um distri-buidor automtico de recursos e que desresponsabiliza os usurios,reduzidos ao papel de consumidores passivos (...) existindo umamplo consenso para apelar a um Estado que por sua vez seja mais

    flexvel ou ativo (2010, p.38).

    Dialogando com essa posio, o autor analisa que pode haver um desvio emtransferir ao indivduo uma responsabilidade exagerada no desenvolvimentodas polticas pblicas, ao mesmo tempo em que reafirma o direito a proteosocial como garantia social e pblica, pois, (...) somente uma referncia ao

    direito e a certa incondicionalidade do direito pode ser a garantia da presenade um Estado social digno de tal nome (2010, p.40).

    Avanando nessa anlise admite que o Estado pode ter o objetivo de realizarsua interveno o mais prximo possvel do indivduo para reforar as suascapacidades,

    Mas com a condio de trat-lo tambm como um sujeito de direi-to. (...) de ser socorrido, ainda que no possa dar nada em troca.(...) pedir muito a aqueles que tem pouco exigir-lhes que cum-

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    pram um contrato ou montem um projeto para mudar sua vida,quando vivem na precariedade. (2010, p.40).

    Na continuidade de sua anlise sobre os sistemas de proteo social, Castel(2010) coloca a tenso que permeia o trabalho social no interior de umapoltica pblica, entre o modo de abordagem individual e a finalidade socio-poltica da poltica pblica:

    (...) a reinscrio em coletivos constitui o melhor remdio para

    indivduos desestabilizados cujo drama a maioria das vezes precisamente estar desconectado de sistemas de pertencimento e deprotees coletivas ou no poder inscrever-se nelas, A referncia aocoletivo constitui o antdoto necessrio s dinmicas de individu-alizao, tanto no campo das intervenes sociais como em outros.(ibid. 2010, p.185).

    Este conjunto de elementos sobre a extenso do campo da proteo social,para alm dos dispositivos do seguro pblico adstrito a situao formal detrabalho, permitem indicar que a poltica de Assistncia Social deve suprirdeterminadas necessidades de proteo social e garantir prestaes sociaispblicas.

    H uma esfera pblica em sua consolidao quese constitui como um cam-po de fora social, que demanda processos poltico-institucionais, tomada de

    decises, medidas e estratgias de gesto e de sua democratizao e, sobre-tudo, dilogos e disputas entre concepes, alocao de recursos e definiode prioridades.

    No contexto de relaes societrias mais amplas, o fortalecimento do SUASexige de seus profissionais intervenes fincadas em bases conceituais se-gundo postulados ticos, qualificados aportes tericos e manejo de novas ecriativas estratgias, procedimentos e ferramentas de trabalho, condizentescom os requisitos da polticapblica.

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    Os desafios presentes na efetivao da Assistncia Social como direito docidado e dever do Estado so particulares ao seu campo, sua emergncia eseu desenvolvimento, mas no se dissociam dos processos constitutivos dasdemais polticas sociais. Junto s demais, o seu processo institucional podeintroduzir na agenda pblica, novas demandas e induzir maior e melhoracesso.

    [...] estar protegido significa ter foras prprias ou de terceiros,que impeam que alguma agresso/precarizao/privao venha a

    ocorrer deteriorando uma dada condio. Porm, estar protegidono uma condio nata, ela adquirida no como mera merca-doria, mas pelo desenvolvimento de capacidades e possibilidades.No caso, ter proteo e/ou estar protegido no significa meramente

    portar algo, mas ter uma capacidade de enfrentamento e resistn-cia (SPOSATI, 2009, p.17).

    Uma das formas em analisar as respostas que devem estar contidas na prote-o social de assistncia social supe elencar expresses que essas desprote-es assumem. No Caderno1 foi construdo referencial similar com objetivode situar o campo de direitos socioassistenciais.

    O quadro a seguir procura identificar expresses de desprotees sociais apartir de trs grandes eixos: o ciclo de vida, a dignidade humana e a con-vivncia familiar. No se tem ele por acabado e sim como indicativo, para

    que se pense de forma articulada as manifestaes de desproteo social quechegam at os servios de assistncia social.

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    QUADRO 1- Desprotees sociais que demandam proteo da polticade assistncia social

    EIXOS INSEGURANAS SITUAES DETECTADAS

    CICLOS DEVIDA

    Fragilidades evulnerabilidades

    peculiares aosprocessos de cresci-

    mento,

    desenvolvimento eenvelhecimento:

    1.Infncia2.Adolescente3.Juventude

    4.Adulto5.Idoso

    Proteo Bsica

    1) Razo de de-pendncia

    - razo de dependncia da famlia marcada pormaior nmero de dependentes por provedorassociada a baixa remunerao e inconstnciado trabalho do provedor

    2) Demanda decuidados especiaisde dependentes

    - presena de idoso na famlia que demandamcuidados sem acesso a apoios de servios decuidadores ofertados pela poltica pblica

    3) Presena nafamlia de maisde um membrocom deficincia oudoena crnica

    - ausncia de cobertura de dispositivo deproteo a ateno a segunda pessoa com defi-cincia na famlia independente de idade- ausncia de cobertura de qualquer programade proteo social a pessoas com doenascrnicas;- ausncia de cobertura de qualquer programa

    de proteo social a pessoas cuja deficinciatenha sido avaliada como de curta permann-cia

    4) Pessoas idosasna famlia comdemanda de BPCsem aceitao peloINSS

    - ausncia de cobertura de qualquer programade proteo social a pessoas sem idade paraaposentadoria ou BPC

    5) Demandas de

    benefcios eventuaispara superar umasituao familiarface a morte, nasci-mento de membrosda famlia

    - ausncia de concesso de benefcios eventuaispela inexistncia de regulao municipal emconformidade com as normas nacionais- vivncia de situaes de alterao na razode dependncia da famlia em provedor oudependente

    6) Demandas deapoio para com-plementao de

    renda familiar pelonmero e idade dosfilhos

    - demora ou ausncia de incluso em programade transferncia de renda face a ausncia dedescentralizao para autonomia dos CRAS

    para insero de famlias Encaminhamentopar cadastro fica vinculado a burocracia semmaterializar a proteo social

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    EIXOS INSEGURANAS SITUAES DETECTADAS

    CICLOS DEVIDA

    Fragilidades evulnerabilidadespeculiares aos

    processos de cresci-mento,

    desenvolvimento eenvelhecimento:

    1.Infncia2.Adolescente

    3.Juventude4.Adulto5.Idoso

    Proteo Especial

    7) Vivncia deabandono

    - crianas em situao de rua e abandono- adultos em situao de rua- Idosos e deficientes em situao de rua eabandono- Idosos vivendo ss sem servio de cuidadose apoio- egressos de medidas de segurana- egressos do sistema prisional sem refernciafamiliar

    8) Vivncia deviolncia fsica,psquica e sexual

    - crianas e adolescentes sob violncia fsicafamiliar- crianas e adolescentes vtimas de violncia,abuso, explorao sexual, do exerccio de pros-tituio e do trfico humano- crianas e adolescentes em situao de tra-balho

    9) Vivncia deviolao de direitos

    de pessoas idosas,mulheres e pessoascom deficincias

    - mulheres, idosos e pessoas com deficincia

    em situao de violncia (psicolgica, domsti-ca, sexual, entre outras)

    10) Vivncia decrianas e adoles-centes em famliascom vulnerabil-idade socioeco-nmica

    - crianas e adolescentes em situao de pobre-za e indigncia- crianas e adolescentes com deficincia evivncia de situao de pobreza e indigncia- crianas e adolescentes migrantes em situaode pobreza e miserabilidade

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    EIXOS INSEGURANAS SITUAES DETECTADAS

    CICLOS DEVIDA

    Fragilidades evulnerabilidades

    peculiares aosprocessos de cresci-

    mento,desenvolvimento eenvelhecimento:

    1.Infncia

    2.Adolescente3.Juventude

    4.Adulto5.Idoso

    11) Vivncia decrianas e adoles-centes em institu-ies

    - crianas e adolescentes impedidos de con-struo de projetos pessoal de vida pela con-tnua vida institucionalizada- crianas e adolescentes impedidos de vivnciaem famlia substituta, guardi ou acolhedora e/ou adoo por ausncia de oportunidades- adolescentes abrigadas grvidas ou com filhospequenos

    12) Ausncia detrabalho socioedu-

    cativo para adoles-centes e jovens emconflito com a lei,em cumprimentoda medida socioed-ucativa em meioaberto

    - adolescentes e jovens em cumprimento dasmedidas socioeducativas impedidos da fre-quncia ao trabalho socioeducativo qualificadopara sua reorganizao de projetos de vida esua acolhida na convivncia familiar

    13) Ausncia deconvvio familiar e

    comunitrio a cri-anas, adolescentese jovens em conflitocom a lei

    - crianas e adolescentes apartados do convviofamiliar e comunitrio

    14) Vivncia depessoas idosas e pes-soas com deficinciasem condies deprover seu prpriosustento e nem t-loprovido pela suafamlia

    - pessoas idosas sem condies de prover seuprprio sustento e nem t-lo provido pelafamlia-pessoas com deficincia incapaz para a vidaindependente e para o trabalho, sem condies

    de prover seu prprio sustento e nem t-loprovido pela famlia

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    EIXOS INSEGURANAS SITUAES DETECTADAS

    CONVIVNCIA

    FAMILIAR

    15) Ausncia

    prolongada doprovedor(s) narelao cotidianacom membros dafamlia face a ex-igncias de trabalhoe locomoo

    16) Localizao

    isolada de moradiada famlia semoferta de trabalhoe demais recursosde apoio e proteosocial

    17) Famlias comum ou mais re-sponsvel desapare-

    cido (s), falecido(s),interno(s) ouegresso(s) do siste-ma prisional, comespecial ateno sgestantes e nutrizes

    18) Vivnciade ruptura dosvnculos familiares

    pela ausncia decondies do suste-nto e seus membros

    - esgaramento das relaes entre os membrosda famlia demandando o apoio para fortalecerrelaes de pertencimento e de referncia- necessidade de ampliar vivencia de pertenci-mento que fortaleam os vnculos entre osmembros da famlia ampliando suas refern-

    cias- necessidade de estruturas de apoio a famliascom ausncia de convvio entre seus membros- necessidade de apoio a famlias cujo cotidi-ano de sobrevivncia exige a antecipao deresponsabilidades de crianas perante seusirmos- necessidade de apoio a famlias com gestan-tes e nutrizes- necessidade de apoio a famlias com adoles-

    centes grvidas- famlias vulnerveis pela constituio uni-pa-rental- famlias com vnculo afetivo pais/filho poucodesenvolvido- famlias com dificuldades no cumprimen-to de condicionalidades do Programa BolsaFamlia e do Programa de Erradicao do Tra-balho Infantil PETI

    Proteo Especial

    19) Vivncia emterritrios degra-dados

    - ausncia de aproximao entre as inter-venes urbanas realizadas pelo municpio eas condies de moradia das famlias

    20) Excluso socio-cultural

    - famlias e indivduos residentes em contex-

    tos/territrios com incidncia de trfico, prti-cas transgressoras, entre outras situaes deextrema violncia

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    EIXOS INSEGURANAS SITUAES DETECTADAS

    CONVIVNCIAFA

    MILIAR

    - coletivos tnicos como indgenas e qui-lombolas, com necessidades especiais-populaes ribeirinhas; zonas de fronteira; e,incidncia de migrao (ciganos)

    - famlias vulnerveis pelo uso, abuso e de-pendncia de substncias psicoativas- famlias vulnerveis pela vivncia do cumpri-mento de pena de alguns de seus membros- famlias vulnerveis pela vivncia de crianas,adolescentes e jovens em instituies

    - famlias que tm ou teve criana/adolescenteem abrigo, casa-lar ou famlia acolhedora, sub-stituta ou guardi- famlia que entregou criana ou adolescenteem adoo- famlias com episdios atuais ou pregressosde violncia contra criana, adolescente ou jo-vem, idosos e pessoas com deficincia- famlias em situao de extrema pobreza noinseridas em Programas Sociais- famlias com gestantes ou mulheres comfilhos recm-nascidos internas do sistema pri-sional e em unidades de internao (medidassocioeducativas)

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    EIXOS INSEGURANAS SITUAES DETECTADAS

    SOBREVIVENCIA

    Proteo Bsica

    21) Vivncia emagregado familiarsem condio deeducar os filhos

    - famlias que enfrentam o desemprego semrenda ou renda precria com fragilidade paramanter e educar os filhos- famlias com crianas e adolescentes comdeficincia e vivendo em situao de pobrezae indigncia- famlias com crianas e adolescentes mi-grantes em situao de pobreza e miserabili-dade- egressos de medidas de segurana e do siste-ma prisional pertencente famlia em situaode pobreza

    Proteo Especial

    22) Construo demeios de sobre-vivncia parindivduos egressos

    de processos deinternao , prisoe outros quemolestaram suaintegridade fsica epsicolgica

    - famlias e indivduos em situao de rua-egressos de situao de trfico de seres hu-manos- egressos do trabalho escravo ou/em situaode pobreza submetidas a condies de trabalhoprecarizados que constituam risco sua integ-ridade fsica e psicolgica

    23) Vivncia decalamidade pblicarelacionada agresses ambien-tais e climticas

    - pessoas e famlias vivendo em rea de riscosujeitados a deslizamentos- pessoas e famlias vtimas de enchentes- pessoas e famlias vtimas de incndio- pessoas e famlias vivendo ao desabrigo embaixas temperaturas-famlia e indivduos vtimas de epidemias

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    As situaes de desproteo social exigem respostas articuladas do Estadoatravs de suas diversas polticas, sendo que aqui nos interessa, em particular,as respostas da proteo social de assistncia social que, conforme definidopelo SUAS se constitui e deve se consolidar mediante a corresponsabilidadedos trs entes federativos em prover, articular e co-financiar benefcios e ser-vios socioassistenciais, em relao pactuada e colaborativa, respeitando-se aautonomiados entes e o comando nico em cada esfera.

    Como j registrado no caderno Capacita SUAS n1, pode-se afirmar que

    de forma genrica, o mbito singular da proteo social de assistncia socialpode ser sintetizado em:

    ampliar a capacidade protetiva da famliae de seus membros, o quesupe construir respostas desde a ausncia dessa proteo, a presena deabandono, de agresses, produzindo aes de fortalecimento de laose de capacidade de exerccio dessa proteo que insere quer benefcioscomo servios;

    ampliar a densidade das relaes de convvio e sociabilidade dosci-dados desde a esfera do cotidiano at atingir os diversos momentos dociclo de vida do cidado e cidad em que ocorrem fragilidades que ostornam mais sujeitos a riscos sociais e a violao de sua dignidade;

    instalar condies de acolhida e processos de acolhimento comoparte do trabalho de ateno e cuidados;

    reduzir as fragilidades da vivncia e da sobrevivncia,atravs de meios

    capacitadores da autonomia, das condies de dignidade humana, pro-vocados inclusive pela ausncia de renda em uma sociedade de mercado;

    reduzir e restaurar os danos de riscos sociais e de vitimizaescausa-das por violncia, agresses, discriminaes, preconceitos.

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    1.1. Materializao da proteo social de assistncia social: benefciose servios socioassistenciais

    Para a sua expanso, o sistema de seguridade social e nele, a Assistncia Social,deve contar com uma rede de proteo social que inclua benefcios e serviossocioassistenciais realizados por profissionais, bens e dispositivos institucionais,de natureza no mercantil e acesso qualificado e franqueado a todos.

    Os benefcios e servios constituem garantias da proteo social na condio

    de direitos a serem assegurados pela Poltica de Assistncia Social, para a pre-servao, segurana e respeito dignidade de todos os cidados (SPOSATI,2009, p.22).

    Conforme definido na LOAS e na PNAS, a Proteo Social Bsica tem carterpreventivo e objetiva a antecipao de situaes de risco por meio do conhe-cimento prvio do territrio e das famlias, das demandas sociais e dos nveisde desproteo social a que esto expostas7, do desenvolvimento de potencia-lidades e aquisies e o fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios,prevendo o desenvolvimento de servios, programas e projetos locais de acolhi-mento, convivncia e socializao de famlias e de indivduos, para responderas situaes de vulnerabilidade social. Destacam-se os Centros de Refernciade Assistncia Social (CRAS)e a rede de servios socioeducativos direcionadospara grupos especficos, dentre eles, os Centros de Convivncia para crianas,

    jovens e idosos, que ganham fora e efetividade ao se materializarem nos ter-

    ritrios. Compem tambm a Proteo Social Bsica os Benefcios Eventuais,o Benefcio de Prestao Continuada (BPC) e as transferncias de renda doPrograma Bolsa Famlia.

    A Proteo Social Especial (PSE) est direcionada a situaes de desproteoagravadas. So famlias e indivduos em situao de risco pessoal ou social,cujos direitos tenham sido violados ou ameaados, em particular devido aocorrncia de violncia fsica ou psicolgica, abuso ou explorao sexual,

    7 Vide Caderno 3.

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    abandono, rompimento ou fragilizao de vnculos ou afastamento do con-vvio familiar em funo da aplicao de medidas socioeducativas.

    O Centro de Referncia Especializada em Assistncia Social (CREAS) aunidade pblica estatal responsvel pela oferta de servios da PSE e tem opapel de coordenar e fortalecer a articulao dos servios com a rede de assis-tncia social e as demais polticas pblicas. Os servios da Proteo Especialso diferenciados para responder a situao vivenciada pelo indivduo oufamlia de acordo com nveis de complexidade (mdia ou alta) e devem

    estar articulados diretamente com o sistema de garantia de direito, o queexige uma gesto mais complexa e compartilhada com o Poder Judicirio, oMinistrio Pblico e com outros rgos e aes do Executivo8.

    a. Integrao servios e benefcios

    A LOAS dispe que os benefcios e servios socioassistenciais devem se orga-nizar por nveis de proteo social bsica e especial e pela complexidadedas atenes requeridas e respostas organizadas. (Artigo 6 A). Sua realizaopode ocorrer por servios prestados nos Centros de Referncia de AssistnciaSocial (CRAS) e Centros de Referncia Especializados de Assistncia Social(CREAS) - unidades estatais de referncia dessas protees - e pela participa-o das entidades e organizaes de Assistncia Social (Artigo 6 C).

    Art. 6-C. As protees sociais, bsica e especial, sero ofer-

    tadas precipuamente no Centro de Referncia de AssistnciaSocial (Cras) e no Centro de Referncia Especializado de

    Assistncia Social (Creas), respectivamente, e pelas entidadessem fins lucrativos de assistncia social de que trata o art. 3desta Lei. 1 O Cras a unidade pblica municipal, de base territorial,localizada em reas com maiores ndices de vulnerabilidade e ris-co social, destinada articulao dos servios socioassistenciais no

    8 Vide Caderno 1.

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    seu territrio de abrangncia e prestao de servios, programase projetos socioassistenciais de proteo social bsica s famlias.2 O Creas a unidade pblica de abrangncia e gesto mu-nicipal, estadual ou regional, destinada prestao de servios aindivduos e famlias que se encontram em situao de risco pessoalou social, por violao de direitos ou contingncia, que demandamintervenes especializadas da proteo social especial. 3 Os Cras e os Creas so unidades pblicas estatais institudasno mbito do Suas, que possuem interface com as demais polticas

    pblicas e articulam, coordenam e ofertam os servios, programas,projetos e benefcios da assistncia social.Art. 6-D. As instalaes dos Cras e dos Creas devem ser compatveiscom os servios neles ofertados, com espaos para trabalhos em grupoe ambientes especficos para recepo e atendimento reservado das

    famlias e indivduos, assegurada a acessibilidade s pessoas idosas ecom deficincia. (Lei n 12.435, de 6 de julho de 2011.)

    Na realizao dos benefcios e servios socioassistenciais as funes da AssistnciaSocial se interpenetram e operam integradamente. No se constituem (ou nose constituem exclusivamente) em instncias operadoras, mas em processos detrabalho com resultados para a efetiva realizao da proteo social9.

    Ao operar na proteo aos riscos e vulnerabilidades, a assistncia social ad-quiriu maior visibilidade pela oferta de provises materiais e, sobretudo, por

    se ocupar de respostas emergenciais diante de contingncias sociais, o queprecisa ser revertido quando o que est em questo na proteo social bsica a sua dimenso de antecipao que previna possveis ocorrncias.

    Os benefcios, continuados ou eventuais, constituem a forma pela qual aassistncia social reconhecida, sem dvida, pela extenso de sua coberturae por terem promovido determinado patamar de mudanas em condies de

    9 Para recorrncia a uma discusso mais aprofundada acerca da Proteo Social e a defesa dos direitossocioassistenciais, ver Caderno 1 e, em relao a funo da Vigilncia Social, ver Caderno 3.

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    vida da populao10. Integram organicamente as garantias do SUAS, comodireito dos cidados e famlias.

    Os benefcios e servios socioassistenciais compem o Sistema de ProteoSocial brasileiro. Alm de provises materiais, a Assistncia Social deve ofe-recer meios para o desenvolvimento ou (re)construo da cidadania e da au-tonomia, ou seja, necessidades que vo alm da reproduo material da vida.

    O benefcios e servios pblicos de assistncia social materializam os direitos

    socioassistenciais parcela de responsabilidade da proteo social que cabe poltica de assistncia social garantir , e ganham visibilidade e legitimidadesocial medida que disponham de estruturas slidas e meios institucionais(operadores especializados, financiamento compatvel, espaos fsicos ade-quados, infraestrutura material, etc.) e sejam acessados de modo previsvel,continuado, com cobertura e qualidade compatveis com as condies queos justificam e com resolutividade em suas respostas.

    Os benefcios constituem provises da Proteo Social Bsica do SUAS ecompem a rede socioassistencial. A articulao entre servios e benefcios necessria, de modo a integrar o seu acesso a cuidados e atenes prestadas pelotrabalho profissional nos servios socioassistenciais. competncia comum dosentes federativos gerir, de forma integrada, os servios, benefcios e programasde transferncia de renda de sua competncia (NOB/SUAS, 2012)11.

    10 Sobre impactos do Programa Bolsa Famlia nas condies de vida das famlias vide Maria Ozanirada Silva e outros. A Poltica Social Brasileira no Sculo XXI, 2008; Pnad/IBGE 2009; e Bolsa Famlia2003-2010: avanos e desaos. Jorge Abraho de Castro, Lucia Modesto (orgs). (2 v), IPEA, 2010.

    11 A determinao legal da garantia um salrio mnimo na CF de 88, que na LOAS recebeu a denominao deBenefcio de Prestao Continuada (BPC) concretizou a luta dos movimentos sociais que se articularam paragarantir a proteo de renda para as pessoas com decincia e pessoas idosas. O Benefcio de PrestaoContinuada (BPC) a garantia de um salrio mnimo mensal pessoa com decincia e ao idoso com 65(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno nem

    t-la provida por sua famlia (LOAS, art.20).Os Benefcios Eventuais so provises suplementares e provisrias que integram organicamente as garan-tias do SUAS e so prestadas aos cidados e s famlias em virtude de nascimento, morte, situaes devulnerabilidade temporria e de calamidade pblica. (LOAS, art.22, redao dada pela Lei n 12.435/2011).

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    b. Servios socioassistenciais: referncias normativas

    A prestao dos servios socioassistenciais envolve a organizao de respostasdiante das privaes econmicas e sociais e da difcil interveno em relaoaos impactos que a desigualdade social produz, cuja superao foge da rbitado trabalho profissional e de uma nica poltica pblica, embora cada umadelas tenha o seu campo de interveno e de possibilidades.

    O trabalho social operado na Assistncia Social complexo, justamente por

    lidar com graves dimenses e expresses da questo social, como a despro-teo e fragilizao de vnculos e solidariedades familiares e sociais, almde acessos precrios a bens, recursos e polticas pblicas. Sua realizaoadequada se projeta a partir de compatvel financiamento pblico, decisespolticas e recursos profissionais para que determinadas condies possam sercompreendidas e alteradas.

    Na atual conjuntura, aos servios historicamente estruturados se colocamnovas exigncias diante de graves situaes, sobretudo em face das trans-formaes do mundo do trabalho, de mudanas sociais, demogrficas e fa-miliares que exigem novas respostas das polticas pblicas, principalmente,quando afetam coletivos mais vulnerveis e que constituem os detentores dedireitos proteo social de Assistncia Social.

    Os servios de assistncia social devem propiciar um campo de seguranas

    e certezas pela sua oferta em quantidade e qualidade para assegurar direitoshumanos e sociais exigveis ao Estado que, se no prest-los diretamente,deve regulamentar a sua delegao. Suas respostas devem impactar positi-vamente as condies sociais daqueles que deles se utilizam, requerem ouvenham deles a necessitar.

    Constituem um campo de atenes, apoios e cuidados s pessoas, famlias eaos grupos que demandam proteo social do Estado, independentemente

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    de sua condio de renda12. Cumprem a funo de proteger, reduzir danos,monitorar riscos e prevenir a incidncia de agravos ao ciclo de vida, digni-dade humana e fragilidade das famlias.

    Sua realizao de forma gratuita, continuada e planejada remete s respon-sabilidades a serem operadas pelos entes federados e a sua organizao comcontinuidade, regularidade e permanncia implica em meios e condiesadequadas para a sua gesto. Para o desenvolvimento dos seus processos detrabalho exige qualificao e valorizao profissional, quadro de pessoal com-

    patvel e ambientes adequados. O seu funcionamento requer planejamento,fluxos constitudos e gesto formalizada.

    A realizao dos servios de responsabilidade precpua do ente municipal,cabendo ao Estado prestar os servios assistenciais cujos custos ou ausnciade demanda municipal justifiquem uma rede regional de servios, descon-centrada, no mbito do respectivo Estado (Artigo 13).

    preciso levar em conta na organizao dos servios e na sua oferta e funcio-namento em rede, as especificidades, iniquidades e desigualdades regionais emunicipais, bem como as diversidades culturais, tnicas, religiosas, socioeco-nmicas, polticas e territoriais.

    A concepo que orienta a realizao dos servios socioassistenciais,bem como o prprio modo de conceber as privaes humanas e sociais

    incide sobre a sua extenso e qualidade. As condies que levam a suaexistncia so socialmente constitudas e decorrem de situaes e ex-presses que emergem das relaes sociais, com variaes no tempo eno espao.

    12 A PNAS/04 dene como pblico usurio da assistncia social: cidados e grupos que se encontramem situaes de vulnerabilidade e riscos, tais como: famlias e indivduos com perda ou fragilidadede vnculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadasem termos tnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de decincias; excluso pela

    pobreza e, ou, no acesso s demais polticas pblicas; uso de substncias psicoativas; diferentesformas de violncia advinda do ncleo familiar, grupos e indivduos; insero precria ou no inserono mercado de trabalho formal e informal; estratgias e alternativas diferenciadas de sobrevivncia quepodem representar risco pessoal e social.

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    Na produo dos servios coloca-se a possibilidade de trazer a luz o con-junto de situaes que demandam proteo ao Estado, ao qual se impe aoferta de respostas adequadas s necessidades da vida social, da dignidadehumana e do enfrentamento da pobreza e das desigualdades sociais, con-forme dispe a CF-88.

    Em seu artigo 23, a LOAS dispe sobre a natureza continuada dosservios e a sua finalidade na melhoria das condies de vida da popu-lao segundo suas necessidades. Portanto, uma primeira definio de

    servios deve considerar o seu valor, a sua utilidade social em respostas necessidades humanas.

    A trajetria da Poltica de Assistncia Social, em particular nos ltimos 10anos, tem avanado na construo e definio de marcos legais e regulat-rios que estabelecem balizas, referncias e radares para a proteo social ede seus servios com qualidade.

    Os movimentos para articular as aes entre as trs esferas de governo,entre governo e sociedade civil, entre servios e benefcios e com a redesocioassistencial, so componentes essenciais de uma dimenso a ser pla-nejada, desenvolvida e avaliada considerando a unidade de propsitosque preside o SUAS e o alcance de direitos pelos usurios.

    Na realizao dos servios socioassistenciais assumem-se como di-

    menses orientadoras do trabalho social o fortalecimento de poten-cialidades e capacidades dos cidados e o seu empoderamento13 eprotagonismo social14. Fortalecer potencialidades e capacidades nosignifica que o prprio indivduo tem que buscar a soluo dos seus

    13 Numa perspectiva emancipatria, empoderar o processo pelo qual indivduos, organizaes e co-munidades angariam recursos que lhes permitam ter voz, visibilidade, inuncia e capacidade de aoe deciso. Nesse sentido, equivale aos sujeitos terem poder de agenda nos temas que afetam suas

    vidas. (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007, p.486)14 De acordo com COSTA (1998), a palavra protagonismo formada por duas razes gregas, proto, quesignica o primeiro, principal, e agon, que signica luta. Agonistes, signica lutador. Protagonismo querdizer lutador principal, personagem principal, ator principal.

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    problemas15, desonerando o Estado de suas responsabilidades.

    Especialmente no trabalho social realizado no mbito da Proteo Social Bsicade Assistncia Social, coloca-se a expectativa de que o mesmo possa contribuirpara o desenvolvimento de projetos coletivos e a conquista do protagonismo eda autonomia de cada um dos membros das famlias do territrio (PAIF, 2012).

    Na esteira desse debate cabe salientar o mbito de uma poltica social e dotrabalho social nela realizado. Ao posicionar esse trabalho preciso consi-

    derar a singularidade das trajetrias dos cidados, sem perder de vista queo trabalho social se constri na relao com usurios de servios pblicos,detentores de direitos como cidados.

    necessrio considerar tambm a particularidade dos sujeitos profissionaisresponsveis pelo trabalho social no mbito do SUAS. A prestao de serviose benefcios de assistncia social envolve um conjunto amplo e diversificado decategorias profissionais e as condies objetivas e subjetivas de que dispem,sejam as relacionadas aos conhecimentos e saberes acumulados em cada umadas reas, sejam as relacionadas aos meios, estruturas e gesto institucional exi-gidos para a materializao do trabalho socialmente necessrio - qualificado,complexo e cooperado - que devem realizar, em um contexto de ampliao dedemandas e precarizao das relaes de trabalho. (RAICHELIS, 2010).

    15 Vide Caderno de Orientaes Tcnicas sobre o PAIF: Trabalho social com famlias do Servio deProteo e Atendimento Integral Famlia PAIF, 1. Ed., Braslia, 2012.Nessa produo conceitua-se trabalho social como: Conjunto de procedimentos efetuados a partirde pressupostos ticos, conhecimento terico-metodolgico e tcnico-operativo, com a nalidade decontribuir para a convivncia, reconhecimento de direitos e possibilidades de interveno na vida socialde um conjunto de pessoas, unidas por laos consanguneos, afetivos e/ou de solidariedade que seconstitui em um espao privilegiado e insubstituvel de proteo e socializao primrias, com o obje-tivo de proteger seus direitos, apoi-las no desempenho da sua funo de proteo e socializao deseus membros, bem como assegurar o convvio familiar e comunitrio, a partir do reconhecimento dopapel do Estado na proteo s famlias e aos seus membros mais vulnerveis. Tal objetivo materializa-se a partir do desenvolvimento de aes de carter preventivo, protetivo e proativo (...).

    Salienta-se quanto a adoo de metodologias do trabalho social que as mesmas devem estimular aparticipao das famlias e contribuir para a reexo crtica sobre as condies de vida e do territrio efortalecer suas capacidades para construir alternativas de ao e auxiliar no processo de conquistada cidadania (PAIF, 2012).

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    Depreende-se dessa lgica, o imperativo do acompanhamento social efetivo dossujeitos em sua trajetria encontrando respostas para necessidades singulares e cole-tivas e mobilizando apoios, recursos e suportes pblicos e no buscando no prprioindivduo, tanto as razes de sua situao, como todos os recursos para super-la.

    Duas grandes direes esto postas para a proteo social na assistncia social:a construo da autonomia e o fortalecimento de vnculos/laos de perten-cimento. A autonomia conforme aqui brevemente se coloca, uma necessi-dade humana bsica e condio para viver em sociedade de forma ativa. No

    Caderno de Orientaes do Servio de Proteo e Atendimento Integral aFamlias (PAIF, 2011) essa formulao apoiada no conceito desenvolvidopor DOYAL e GOUGH e discutido por Pereira (2000) concebendo-se en-to como a capacidade das pessoas de elegerem objetivos e crenas, valor-loscom discernimento e coloca-los em prtica sem opresso.

    A autora incita a trazer para o campo da assistncia social a necessidade deautonomia. Se vincularmos essa categoria ao alcance da cidadania, teramosa prpria proteo social materializada em formas de segurana social bens,servios, atividades, tanto do ponto de vista fsico, como econmico e dosvnculos sociais. (Pereira, 2000, p. 75 a 86).

    Os vnculos sociais constituem elementos de sustentao da proteo social.

    Enquanto o isolamento, a desfiliao, as rupturas sociais so in-

    dicadores de reduo da sustentao da proteo social, os vnculose o reconhecimento social so uma expresso de seu fortalecimento(Caderno 1, 2013).Nessa tica, os direitos ultrapassam a atenoa cada indivduo ou grupo conforme a especificidade de cada servio,e se formulam em trs grupos: os gerais; os especficos em cada mo-dalidade de servio; os direcionados restaurao e sustentabilidadedo reconhecimento e vnculo de cidadania, como ultrapassagem dasaquisies imediatas e materiais a que tem direito de obter em cadaum dos servios (Caderno 1, 2013).

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    1.2 A relao entre o pblico e o privado na prestao de serviossocioassistenciais

    Os servios desenvolvidos por organizaes no governamentais, com ousem subsdio do Estado, se organizaram a partir de iniciativas de grupos e deorganizaes, sob diversas referncias.

    No seu desenvolvimento, o campo assistencial foi presidido pelo princpioda subsidiariedade. Derivado da Doutrina da Igreja Catlica e formulado em

    fins do sculo XIX e comeo do sculo XX assume importncia no momentoatual no qual esto presentes polmicas que envolvem a definio do papeldo Estado e a transferncia de suas responsabilidades pblicas para indivdu-os, famlias ou organizaes privadas da sociedade civil.

    Vrios estudos demonstram os elementos constitutivos do campo assisten-cial que plasmaram a sua identidade, como forma de interveno de carterprivado, derivada de prticas de auxlio e socorro, no raro visvel pelo seucarter emergencial e at hoje assim compreendida, no como proteosocial de carter universal, a ser provida por meio de benefcios e servioscontinuados, segundo necessidades de seus demandantes, na condio daefetivao de um direito que cabe ao Estado regular e prover.

    As formas pretritas de desenvolvimento do campo assistencial tem signifi-cncia na configurao atual dos servios socioassistenciais, repercusses em

    seu contedo e na construo do dever de Estado na sua proviso e regulao.

    A oferta privada de aes sociais configura um campo difuso que, necessaria-mente, no se organiza pela regncia de direitos sociais e pela sua vinculao poltica pblica, demandando um importante movimento a ser institudo,quando inseridas na rbita da poltica pblica.

    No caso da Assistncia Social h um transito que sugere transformaesno modo de conceber e realizar os servios e em medidas efetivas do Poder

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    Pblico para tornar visveis as necessidades sociais, as respostas organizadas eo seu alcance. Demanda operaes que integrem organicamente a prestaoestatal e a prestao privada e que constituam e consolidem novas bases paraas relaes de cooperao estabelecidas ou que venham a se estabelecer.

    Grande parte dos servios de assistncia social se constituiu anteriormente eexteriormente a proviso e a regulao social estatal, pois ficaram historica-mente a cargo da proteo solidria que se desenvolveu vinculada s orga-nizaes privadas sem fins lucrativos. O insuficiente conhecimento que se

    produziu acerca de sua prestao e de seus efeitos pode ser uma das razesde seu baixo reconhecimento como direito. Comumente, so identificadoscomo outorga e caridade e no como dever de Estado.

    As iniciativas desenvolvidas pela solidariedade civil constituem um lequeamplo de aes, projetos e programas sociais, como so mais frequentementedenominados. As entidades e organizaes de Assistncia Social, junto sdemais organizaes sem fins lucrativos, integram um universo amplo e hete-rogneo de vinculaes e motivaes e, frequentemente, sua misso atuar apartir de necessidades e problemas especficos da populao, cujas finalidadesso genericamente definidas como fim pblico ou promoo do bem-estarde grupos e pessoas. Orientadas pelo valor comum da solidariedade, suasintervenes so diversificadas, conforme o iderio religioso ou laico queas orienta. Suas prticas passaram por alianas que condicionaram e aindacondicionam sua atuao.

    H percursos e debates para a superao do conservadorismo contido narelao tradicional entre o Estado e a filantropia, mas tambm presente naburocracia estatal.

    Conforme salienta Sposati,

    No h naturalidade em si entre associar filantropia e favor. Seuentendimento como solidariedade com a dignidade do ser humano

    permite a construo de uma relao no campo dos direitos sociais e

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    a universalidade da proteo social da seguridade social. Isto exige,porm, libertar a filantropia do campo de um dever moral e al-laa condio de manifestao de solidariedade, o que supe a luta pelosvalores de igualdade e equidade na sociedade. (SPOSATI, 1994: 90)

    A formalidade da relao, quando estabelecida pelo Estado ocorreu histori-camente, pelo reconhecimento da utilidade pblica da organizao respon-svel e pelo financiamento na forma de subvenes e auxlios.

    Parcela do conjunto das organizaes sem fins lucrativos constituda pe-las entidades beneficentes de Assistncia Social, designao que inclui asorganizaes de sade, educao e assistncia social e se distinguem dasorganizaes mercantis, ao prestar servios sociais, por delegao ou con-vite do poder pblico.

    No Brasil, o Estado estimulou ao longo da histria a criao das entidadese uma formalizao dessa relao ocorreu pelo reconhecimento pblico dasmesmas, pelo instituto da matrcula em rgos pblicos e pela Certificaoconferida pelo CNAS at a edio da Lei N 12.101/1999 que atribuiu essaresponsabilidade aos Ministrios correspondentes.

    Em seu artigo 1o, a Loas define que a Assistncia Social poltica de seguri-dade social no contributiva que se realiza atravs de um conjunto integradode aes da iniciativa pblica e da sociedade. E estabelece em seu artigo

    3o que as entidades e organizaes de assistncia social so aquelas queprestam, sem fins lucrativos, atendimento e assessoramento aos beneficiriosabrangidos por esta Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de seusdireitos (1993). A vinculao dos servios socioassistenciais prestados pelasEntidades e Organizaes de Assistncia Social ao SUAS um movimentoem construo e em diferentes estgios de realizao.

    A relao pblico-privado encontrou avanos pelo estabelecimento de pactoscentrados na ateno populao. Entretanto, esta uma questo onde osentendimentos so diferenciados e, por vezes, dissonantes com os dispositi-

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    vos normativos, sendo um campo de tenso no desenvolvimento do SUAS.

    Expressa, evidentemente, as prprias diferenas que se constituem no seioda sociedade e que representam as formas de conceber o campo de garan-tias ao direito social, dentre outras dimenses que no caberiam no mbitodesta reflexo.

    A regulao proposta pela LOAS em sua modificao recente (Lei do SUASn 12435/11) impulsionou uma srie de medidas, cujos desdobramentos

    tendem a conferir legitimidade s provises socioassistenciais e a sua qualifi-cao para a expanso dos direitos.

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    II. A QUALIDADE DOS SERVIOSSOCIOASSISTENCIAIS: UMA ABORDAGEMCONCEITUAL

    A classificao dos servios comporta aqueles que se destinam ao atendimentoindividual e coletivo, neste ltimo, encontrando-se os servios sociais pblicos,categoria que inclui os servios socioassistenciais, prestados diretamente pela

    Administrao Pblica ou por terceiros, quando delegada a sua execuo man-tendo-se, contudo, a responsabilizao pblica pela definio das diretrizes e

    padres de ateno, coordenao, acompanhamento, controle e avaliao.

    Zarifian (2001), ao discutir o valor do servio est interessado na sua vali-dade social e, portanto, como os servios se situam no desenvolvimento dasociedade. Constri uma definio de servios, como

    [...] o processo que transforma as condies de existnciade um indivduo ou de um grupo de indivduos. O serviodeve, portanto, agir sobre as condies de uso ou sobre ascondies de vida do destinatrio (um cliente, um usurio),de maneira que responda s necessidades e expectativas des-te ltimo(p. 69).

    A realizao dos servios socioassistenciais, assim como dos servios sociaisde modo geral caracteriza-se pelo uso intensivo de recursos humanos e exige

    uma qualificao profissional para realizar efetivamente a mudana, a trans-formao esperada na condio que gerou a sua demanda.

    Ao tratar dos servios socioassistenciais, sobretudo, preciso considerar quea qualificao neles investida constitui mecanismo de expresso, transmissoe absoro de valores e concepes aliceradas no marco legal da seguridadesocial e na configurao de uma rede de segurana social pblica. Em quepese a necessria e devida apropriao de meios tecnolgicos na sua opera-o, nenhum ser substitutivo do trabalho humano e de seus aportes ticose terico-metodolgicos.

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    O Captulo IV da LOAS trata dos benefcios, servios, programas e projetos deAssistncia Social, comumente tomados de forma similar. Isso ocorre, especial-mente, nas relaes que se estabelecem entre o Poder Pblico e as organizaes nogovernamentais, sob a lgica do financiamento pblico e de outras organizaesfinanciadoras, quando se demanda o planejamento e a apresentao de projetos.

    Os benefcios e servios socioassistenciais possuem natureza continuada emsua prestao. Do ponto de vista da lgica da organizao da gesto pode seoperar por programas e projetos que esto aqui compreendidos como unida-

    des de planejamento e qualificao, a exemplo de um programa que constituiuma unidade gerencial de um conjunto de servios articulados entre si.

    Projeto tambm pode ser uma unidade de ateno ao cidado, como iniciati-va experimental, qualificadora e necessariamente complementar.

    A LOAS define programa como aes integradas e complementares, comobjetivos, tempo e rea de abrangncia definidos, para qualificar, incentivare melhorar os benefcios e servios socioassistenciais (Art. 24).

    No mesmo sentido, o projeto pode ser definido como um conjunto de aesestratgicas para articular benefcios e servios socioassistenciais ou polticaspblicas na dimenso da intersetorialidade e de pactos de governo e socieda-de para o estabelecimento de prioridades sociais.

    Os projetos, conforme dispe a LOAS, compreendem a instituio deinvestimento econmico-social nos grupos populares, buscando subsidiar,financeira e tecnicamente, iniciativas que lhes garantam meios, capacidadeprodutiva e de gesto para a melhoria das condies gerais de subsistncia,elevao do padro de qualidade de vida, a preservao do meio ambiente esua organizao social (Art. 25).

    Os projetos contem prazos determinados para o cumprimento de objetivose podem responder a uma situao ou especificidade territorial ou qualificarmetas de programas e servios.

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