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Jornal do Sindjus Setembro de 2004 • Nº 172

ANÚNCIO

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stá passando da hora de o País conhecer o seu Poder Judiciário. A sociedade temo direito de conhecer as entranhas de sua Justiça, seus custos, sua eficácia, suaeficiência. Até mais do que os outros poderes, a Justiça tem de se abrir, sertransparente. Infelizmente, ao tentar atender a essa legítima demanda repu-blicana, a Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça apenas

provocou polêmica e deixou a impressão de que são fortes os setores que pretendemcontrolar o Judiciário, não para democratizá-lo, mas para que seja um instrumento aserviço de interesses econômicos.

O diagnóstico divulgado pela Secretaria está repleto de erros factuais, resultado de umametodologia que não reflete a realidade do País. Mais graves ainda são as conclusões retira-das desses dados distorcidos e a principal delas é que a Justiça brasileira é cara. Essa conclu-são, baseada em parâmetros estabelecidos peloBanco Mundial, induz à idéia de que é preciso en-contrar-se alternativas, evidentemente privadas, paraa solução dos conflitos.

Em nota de esclarecimento, a Secretaria defen-deu-se, alegando que os dados publicados foramobtidos a partir da resposta a questionários envia-dos aos Tribunais, bem como de consultas ao BancoNacional de Dados do Poder Judiciário (na páginaeletrônica do STF ) e às páginas eletrônicas oficiaisdo Conselho de Justiça federal e dos Tribunais. Masa desconfiança aumentou quando se revelou que apesquisa, encomendada à Fundação Getúlio Vargas,foi financiada pelo Banco Mundial, que, sabidamen-te, é a instituição que mais trabalha para que o Bra-sil adote uma reforma do Judiciário para facilitar astransações do capital financeiro no País.

A própria Secretaria, aliás, anunciou que os da-dos sobre as despesas do Judiciário foram obtidos junto ao Banco Mundial.

Entre os erros mais clamorosos do diagnóstico está a exclusão dos dados sobreos processos e sentenças dos Juizados Especiais, que “altera os índices de produti-vidade dos juízes, custos dos processos judiciais e estoque anual de processos”,como reconheceu a própria Secretaria.

O documento cita de maneira incorreta o número das novas varas criadas pela Lei 10.772/2003 (500 em vez das 183 efetivamente criadas, mas nem todas ainda instaladas, desconsi-dera os dados sobre a movimentação processual no âmbito da Justiça do Trabalho, e distorceos dados sobre a produtividade dos servidores do Judiciário.

Diante da repercussão do diagnóstico feito pelo Ministério da Justiça, os presidentes dosprincipais tribunais do País se comprometeram a elaborar o seu próprio diagnóstico. Emboratardia, a iniciativa deve ser saudada com entusiasmo.

Tomara que este diagnóstico seja suficientemente abrangente e transparente, a começarpor sua metodologia, para que se afaste a idéia de que esse Poder é uma caixa-preta, avessaao sistema republicano dos freios e contrapesos.

Um diagnóstico completo, fidedigno, servirá também para nortear o debate de uma verda-deira reforma do Judiciário, que o democratize e o torne mais próximo do povo brasileiro.

EDITORIAL

O Poder Judiciário precisa se

republicanizarCoordenadores gerais

Ana Paula Barbosa Cusinato (MPDFT)

Roberto Policarpo Fagundes (TRT)

Wilson Batista de Araújo (TRE)

Coordenadores de

Administração e Finanças

Beliro Jóse Leão Neto (STJ)

Cledo de Oliveira Vieira (TRT)

Edilson Franklin Medeiros (TST)

Coordenadores de Assuntos

Jurídicos e Trabalhistas

Antônio Francisco Machado Costa (MPM)

Jailton Mangueira Assis (TJDFT)

Sheila Tinoco Oliveira Fonseca (TJDFT)

Coordenadores de Formação

e Relações Sindicais

Ademário Oliveira Nogueira Filho (TJDFT)

Nilton José Cordeiro Monteiro (TJDFT)

Thayanne Fonseca Pirangi Soares (TSE)

Coordenadores de

Comunicação, Cultura e Lazer

Eliane do Socorro Alves da Silva (TRF)

Valdir Nunes Ferreira (MPF)

Welton Ferreira Damasceno (TJDFT)

Redator e editor responsável

Antônio Carlos Queiroz

Reg. Prof. DF 00645 JP

Colaboradora

Cynthia de Lacerda Borges

Projeto Gráfico

Extrema Comunicação - 3033-5255

Impressão

ArtGraf

Tiragem

10.000 exemplares

EXPEDIENTE

E

SDS Ed. Venâncio V BI. RSalas 108 a 114CEP 70393-900 – Brasília – DFPABX (61) 224 9394www.sindjusdf.org.br

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oucos assuntos tive-ram tanta repercus-são nos meios de co-municação quanto ainiciativa de criação

de um Conselho Federal de Jor-nalismo. Impressionam, sobretu-do, os editoriais dos grandes ve-ículos de comunicação - televi-sões e jornais - refratários à pro-posta, sob o argumento de queela viola o princípio da liberdade

de imprensa e afeta o controleda atividade do jornalismo.

Já por aí soa paradoxal osgrandes proprietários dos meiosde comunicação saírem em de-fesa da liberdade de imprensaquando o que se põe em causa,acertada ou desastradamente, éa questão da organização da pro-fissão, da defesa de suas prerro-gativas e da auto-fiscalização daatividade jornalística.

Entretanto, ao debate acudi-ram também importantes e alti-vas vozes da tradição jornalísti-ca liberal, entre eles Alberto Di-nes, Jânio de Freitas, Élio Gaspa-ri; e representantes da vetustaABI , a Associação Brasileira deImprensa, apontando para umaimprópria associação entre o gover-no e a Federação Nacional dos Jor-nalistas (Fenaj), tornando, em con-seqüência ilegítima a iniciativa.

As coisas estariam se pas-sando, para lembrar conhecidacrítica de Marx (Debates sobrea Liberdade de Imprensa e Co-municação, em A Liberdade deImprensa, L&PM Editores, PortoAlegre, 1980), num crescendo derestrições à liberdade como pro-va irrefutável de que os gover-nantes foram convencidos de quea liberdade deve ser restringida.

Alguns comentários até sepreocuparam com o desfoca-mento da questão, mostrando omaniqueísmo que acabou resul-tando do acirramento de posi-ções (Luiz Gonzaga Motta, Alémdo Maniqueísmo, http://www.unb.br/acs/artigos/at0804-

04.htm , acesso em 17/8/2004),a ponto de se perder de vista adimensão republicana do deba-te, uma vez que “o jornalismo éum espaço público, não perten-ce a governos nem deve ter do-nos. Pertence à sociedade”.

Se é assim, é importanteamplificar o debate público, va-lorizando o espaço representati-vo e parlamentar. Com a promul-gação da Constituição de 1988,o Congresso se tornou um lugarforte de discussão. Atualmente,aliás, com a incorporação ao pro-cesso legislativo de instrumen-tos de participação popular, esteespaço qualificou-se como efeti-va esfera pública ganhando con-tornos mais democráticos. Masé importante também manter adiscussão no território plural dasociedade civil, de onde têm sur-gido formas criativas de organi-zação social para salvaguardarestratégias coletivas de atuaçãoe de protagonismo associativo.

Conselhos, associações, sin-dicatos, para lembrar outro co-mentário (Luiz Martins, PontoCrítico/Você é a Favor da Cria-ção do Conselho Federal de Jor-nalismo?, Correio Braziliense, 15/8/2004, pág. 2) se formam emtodo o mundo e não tem sido omodo de organização o determi-nante do caráter mais livre oumais restringido de atuação pro-fissional. Os advogados, porexemplo, vivem experiência cen-tenária, primeiro no Instituto dosAdvogados do Brasil (IAB), em1843, e depois no Conselho Fe-

Atividade jornalística e

liberdade de imprensa

ARTIGO

deral da Ordem dos Advogadosdo Brasil, 1930, de irrepreensí-vel e autônoma salvaguarda deatuação profissional e promoção,com exclusividade, da represen-tação, da defesa e da seleção edisciplina dos advogados em todaa República Federativa do Brasil.Nem suas contas são fiscalizadaspelo poder público, apesar dos es-forços atuais que o Tribunal de Con-tas da União vem fazendo para sub-meter a entidade a esse controle.

Controles sociais não sãoestranhos em um mundo impul-sionado por acelerados proces-sos de globalização, com racio-nalidades afetadas por deman-das regulatórias inéditas e porcomplexas formas de interação,no plano dos valores, da produ-ção, dos processos democráticose de garantia dos direitos espe-cíficos dos profissionais de comu-nicação (Edílson Farias, Liberda-de de Expressão e Comunicação,Editora Revista dos Tribunais, SãoPaulo, 2004; Noemi Mendes Si-queira Ferrigolo, Liberdade deExpressão e Direito na Socieda-de de Informação: Mídia, Globa-lização e Regulação, Editora Pi-llares, São Paulo, 2004).

O problema é colocar o de-bate em foco. Sem perder de vis-ta a pré-condição de sua reali-zação: a definição, em esferapública, de políticas democráti-cas para o controle da proprie-dade dos meios de comunicaçãosocial, seus efeitos no exercícioprofissional e seus impactos nodireito à informação.

José Geraldo de Souza JúniorProfessor e ex-diretor da Faculdade de Direito da UnB,coordena o Projeto “O Direito Achado da Rua”

Controles sociaisnão são estranhosem um mundoimpulsionado poraceleradosprocessos deglobalização, comracionalidadesafetadas pordemandasregulatóriasinéditas e porcomplexas formasde interação, noplano dos valores,da produção, dosprocessosdemocráticos e degarantia dosdireitos específicosdos profissionais decomunicação

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PLANO DE CARREIRA

Balanço do trabalho da

Comissão Interdisciplinardo Judiciário

s reuniões da Comis-são foram iniciadasem maio e deverãoser encerradas no dia17 de setembro, de-

finindo a proposta para o novoPlano de Carreira a ser encami-nhada ao Congresso Nacional

As discussões realizadas pelaComissão Interdisciplinar sobre onovo Plano de Cargos e Saláriosdos servidores do Judiciário es-tão chegando ao fim, mas aindahá muito o que ser definido atéo dia 17 de setembro, prazo paraa finalização dos trabalhos.

Como a comissão é formadapor representantes de todos ostribunais superiores e do TJDF, doConselho de Justiça Federal, doSindjus e da Fenajufe, uma dasdificuldades consiste na obten-ção de consenso em torno depontos muito polêmicos do an-teprojeto. Por isso é comum queum mesmo tema seja debatidovárias reuniões devido às diferen-tes realidades de cada órgão.

A instalação da ComissãoInterdisciplinar do Judiciário sófoi possível graças às reivindica-

ções do Sindjus que, após reali-zar diversas mobilizações e as-sembléias setoriais com os ser-vidores, constatou a necessida-de da formação de um grupocomposto por representantesde todos os órgãos do Judici-ário para definir o novo Pla-no de Carreira.

“Temos participado das reu-niões e procurado mostrar aosrepresentantes dos tribunais aimportância de se fechar umaminuta que atenda às reivindi-cações dos servidores do Judici-ário, tanto com relação à estru-turação da carreira quanto emrelação à remuneração. Quere-mos atribuir à nossa categoriasalários iguais aos de carreirasdos outros poderes, que têm omesmo nível de complexidade eresponsabilidade”, afirma o re-presentante do Sindjus na Co-missão, Roberto Policarpo.

As sugestões apresentadaspelo sindicato à Comissão foramcolhidas durante um amplo pro-cesso de consulta à categoria.Houve debates com o Conselhode Delegados Sindicais e com os

servidores, em 20 assembléiassetoriais. Muitas contribuiçõeschegaram através de enquetesanunciadas na página eletrôni-ca da entidade, pelo correio ele-trônico e por carta.

A Fenajufe também criou umgrupo de trabalho que recebeusugestões de servidores de todoo País. Na avaliação do represen-tante da Fenajufe, na comissão,Ramiro López, essa comissãoconseguiu diversos avanços emrelação ao Plano de Carreira an-terior: “Entre eles, a exclusivida-de das funções comissionadaspara os servidores (100% dasfunções para os servidores dacarreira judiciária) e a garantia deque 80% dessas funções serãopara servidores do órgão”, des-taca Ramiro.

Até o momento, os membrosda Comissão se reuniram 32 ve-zes. Isso demonstra que o que fordecidido terá sido resultado demuita discussão. As reuniões sãorealizadas duas vezes por sema-na e contam com a presença derepresentantes do STF, TSE, STJ,CJF, STM, TST, TJDF, Sindjus e da

Fenajufe.Embora o prazo para o en-

cerramento dos trabalhos estejamarcado para o dia 17 de setem-bro, muitas mudanças ainda po-derão ser incorporadas no ante-projeto. Na reestruturação feitaem 2000, uma comissão discu-tiu e apresentou a proposta aodiretor geral do STF, que, depoisde discutida no Poder Judiciário,sofreu pequenas modificações. Adotação orçamentária específicada proposta foi analisada peloExecutivo. Posteriormente, al-guns artigos do projeto foramalterados pelo Legislativo. “ As-sim como as administrações dostribunais, as autoridades do Mi-nistério do Planejamento, a CasaCivil e os parlamentares poderãotentar modificar o que foi apro-vado pela Comissão, tambémestaremos atentos para melho-rar alguns itens. Para isso fare-mos o acompanhamento damatéria por onde ela tramitar,a fim de evitar que possíveismudanças possam trazer retro-cessos para os servidores”, afir-ma Policarpo.

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João Botelho, CJFConsidero como avanços a exigência de habilida-des gerenciais para o exercício de cargos em co-missão e funções comissionadas de natureza ge-rencial (direção e chefia) e a valorização do servi-dor na carreira com a instituição do adicional dequalificação para os possuidores de cursos de pós-graduação. A maior dificuldade foi a classificação

e definição dos cargos na carreira, tendo em vista a sua complexida-de e as peculiaridades de cada órgão.

Amarildo Oliveira, STFOs maiores avanços foram a previsão do adicionalde qualificação e a disponibilização de instrumen-tos que facilitarão a capacitação permanente dosservidores. É importante ressaltar que estamos ten-tando uniformizar o tratamento que hoje é dispen-sado aos oficiais de Justiça, além de oferecer me-canismos para a revitalização da área de seguran-ça judiciária. As maiores dificuldades dizem res-

peito ao desafio de encontrar alternativas que contemplem as múlti-plas realidades existentes no Poder Judiciário, adequando nossas pro-postas à realidade orçamentária dos vários órgãos.

Jean Carlo Oliveira, STJA criação do adicional de qualificação, bem comoa exigência de qualificação para os gerentes (cur-so superior e cursos de desenvolvimento gerenci-al). Como dificuldades eu cito, além da limitaçãoorçamentária, um obstáculo imposto a todas asdiscussões de plano de carreira, a disparidade derealidades dos diversos ramos e níveis do Poder

Judiciário. Esse é um elemento complicador, que termina por exigirum grande esforço para conciliar e unificar a proposta, sem deixar deperceber e considerar as diferenças entre os órgãos.

Simone Martinazzo Bottin, TSTOO estímulo e o reconhecimento da necessidade decapacitação dos servidores foram os maioresavanços. A cada dia procuramos ajustar o pla-no, preocupados com o aprimoramento contí-nuo dos servidores do Judiciário. A maior difi-culdade foi encontrar a uniformidade para a pro-posta. Os tribunais superiores têm uma realida-

de, os de 1ª instância têm outra, mas isso é um ponto que estásendo trabalhado.

Ana Cristina Pimentel, STMO maior avanço é que a proposta não está voltadatão-somente, para a questão financeira, mas pre-ocupada também com o desenvolvimento do ser-vidor na carreira, estimulando sua qualificação pro-fissional. Inúmeras dificuldades foram e estão sen-do enfrentadas pela Comissão Interdisciplinar, es-pecialmente no tocante às situações relacionadas

com as peculiaridades de cada órgão. As atribuições dos cargos seri-am um dos pontos que julgamos mais polêmicos.

Charleston Coutinho, TJDFO fato de os tribunais estarem reunidos para de-bater o desenvolvimento da carreira, o que nãoocorreu no outro plano, é o maior avanço. Isso pro-va a instituição de uma nova política de recursoshumanos. A maior dificuldade foi a falta de um di-agnóstico da situação dos servidores do Judiciário

em todo País, que seria muito importante para a definição da carreira.

Marco André, TSEA busca e a preocupação da Comissão com a carrei-ra, com a valorização do servidor. A grande dificul-dade foi justamente selecionar, dentre tantos meios,formas e possibilidades, os mais adequados.

PLANO DE CARREIRA

O Jornal do Sindjus perguntou aos representantes dos tribunais naComissão o que é que eles consideram como avanços na proposta equais os temas que apresentaram maior dificuldade em sua elaboração

Avanços e dificuldades

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Gratificação por atividade de riscoO Sindjus defende a criação de uma gratificação (ou adicional) porefetiva atividade de risco para os oficiais de Justiça e para os agentesde segurança. Até o momento, a maioria dos membros da Comissãoconcordou com a criação dessa gratificação para os oficiais de Justiça.

Adicional de qualificaçãoDecisão de interesse de todos os servidores do Judiciário foi a criaçãode um Adicional de Qualificação (AQ) para ocupantes dos cargos deanalista e técnico que tenham diplomas, títulos ou certificados decursos de pós-graduação, em sentido amplo ou estrito, em áreas deinteresse dos órgãos. Além disso, poderá ser concedida a licença, deaté quatro anos, aos servidores que precisarem fazer esses cursos emoutros Estados, sem prejuízo da remuneração do seu cargo efetivo.Apesar da insistência do Sindjus e da Fenajufe, infelizmente a Comis-são decidiu, pela diferença de apenas um voto, que os aposentadosnão deverão receber o AQ.

AtribuiçõesApós muitos debates, a Comissão decidiu propor a inclusão na leidas atribuições dos cargos de analista e de técnico judiciário. Tam-bém foi mantida a descrição das especialidades. “A idéia da unifor-midade é criar algo padronizado, ainda que haja atribuições diferen-tes em cada órgão”, defendeu o diretor do Sindjus. No fim, a Comis-são concordou que as especialidades comuns devem constar da lei,não limitando a possibilidade de serem criadas novas especialidadesconforme as necessidades e peculiaridades de cada órgão.

PLANO DE CARREIRA

Posição da Comissão em relação

a três propostas do Sindjus

um

dois

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ENTREVISTA

José Jeronymo Bezerra de Souza

“Temos nos aberto para o povo”

Jornal do Sindjus – Qualé a situação do Judiciário no Dis-trito Federal? Gostaríamos que osenhor falasse sobre os problemase sobre as soluções que a Justiçabrasiliense tem encontrado paraatender a população do DF.

José Jeronymo – De acor-do com o diagnóstico do Minis-tério da Justiça, o Judiciário doDistrito Federal está em situação

boa. Das ações que deram en-trada no ano passado, 89%foram julgadas. É um índicede aproveitamento muitogrande. Outra coisa favorávelà Justiça do Distrito Federal,é que ela é a mais informati-zada do País. Temos um com-putador para cada funcioná-rio e o nosso parque informá-tico tem se mantido atualiza-do. São dados que favorecema agilização da prestação ju-risdicional. Outro dado é quetemos o projeto de vídeo con-ferência, pelo qual o juiz davara de execuções criminaisouve os presos à distância,evitando os deslocamentos,as escoltas, com economia dedespesas. Outra de nossaspreocupações é levar a Justi-ça para junto da população.A nossa meta é colocar umFórum em cada região admi-nistrativa. A experiência quetemos é de que o Fórum ele-va o grau, o nível de cidada-nia da população, que deixade se sentir marginalizada. Achegada do Fórum traz con-

sigo o juiz, o promotor, o defen-sor público, a Ordem dos Advo-gados, os cartórios extra-judici-ais. Tudo isso leva o cidadão anão se sentir tão marginalizado.O Estado está presente, se faz ár-bitro dos conflitos, está ali paradizer: “Estou presente, se preci-sar de mim, me procurem”.

Jornal do Sindjus – Quan-tos juízes tem o TJDFT?

José Jeronymo – Temos300 magistrados de primeiro esegundo grau para uma popula-ção de 2,2 milhões. Um juiz paracada 7.300 pessoas. É um índice bom.

Jornal do Sindjus – Masos juízes têm que julgar muitosprocessos por ano.

José Jeronymo – A carga épesada, mas é suportável. Ape-sar de trabalharmos muito, onosso índice de aproveitamentoé de 89%, é um índice bom. NoBrasil, somos suplantados sópela Paraíba, que um Estado pe-queno. Em termos de recursoshumanos e materiais, estamosnuma situação boa. Para não vê-la deteriorada, até a curto prazo,mandamos para o Congresso umprojeto de lei propondo umanova organização judiciária doDistrito Federal. Sem nenhumexagero, propomos, para nãoonerarmos as contas públicas daUnião, um planejamento estraté-gico de 10 anos. São projeçõespara que a nossa Justiça atendabem a população do DF, ao lon-go de 10 anos, com a implanta-

ção de uma série de medidas:construção de fóruns, aumentodo número de varas, contrataçãode servidores com os respectivosconcursos etc.

Jornal do Sindjus – O se-nhor acha que até o final do seumandato esses fóruns serão im-plementados?

José Jeronymo – Eu espe-ro que até o final do meu man-dato, nós consigamos. Antes dis-so, temos que aprovar o projetoda nova lei de organização judi-ciária. Se o projeto for aprovadoainda este ano, no final do anojá poderíamos instalar uma sé-rie de novas varas e uma série deserviços que estão dependendode recursos materiais e humanos.

Jornal do Sindjus – Umadas críticas que a gente faz aodiagnóstico da Secretaria de Re-forma do Judiciário foi a tentati-va de considerar negativo o au-mento das demandas. Em nossaavaliação, parte desse aumentofoi devida à abertura democráti-ca, à possibilidade de as pesso-as reclamarem seus direitos deconsumidor etc.

José Jeronymo – Vocêstêm razão. O aumento da de-manda tem uma leitura positivaque o diagnóstico não fez. Esseaumento significa que o cidadãobrasileiro está mais conscientedos seus direitos e está lutandopor eles. É um indício de que acidadania está crescendo. O dado

Presidente explica os motivos que levaram o TJDFT a ser classificadocomo o segundo melhor do País

Nesta entrevista exclusiva aoJornal do Sindjus, o presiden-te do TJDFT, desembargadorJosé Jeronymo Bezerra deSouza, discorre sobre a boaposição que o Tribunal teveno diagnóstico do Judiciárioelaborado pelo Ministério daJustiça, e sobre as iniciativasque o TJDFT tem tomadopara se aproximar da popu-lação do Distrito Federal.Paulista, 68 anos, José Je-ronymo conhece bem os pro-blemas da capital federal.Desde que foi nomeado, em1975, como juiz de Direitosubstituto da Justiça do DF,ele já foi titular da 6ª VaraCível, integrante da 1ª VaraCível, titular da Vara de Exe-cuções Criminais, e titular da4ª Vara Cível. Nomeado de-sembargador em 1991, foicorregedor do TJDFT e tam-bém presidente do TribunalRegional Eleitoral do DF.

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negativo é que esse aumento,pegando um judiciário desapa-relhado, provoca a demora nosjulgamentos, a frustração dasexpectativas da população. Ou-tro dado frustrante é que, comoo diagnóstico deixa claro, 59%dos demandantes em todas asinstâncias é o Estado, em nívelfederal, estadual e municipal. Porquê? Porque o Estado não estácumprindo a Constituição, nãoestá cumprindo a lei, não estácumprindo os seus contratos.Não está dando cabo, de manei-ra eficiente, a sua missão. O Es-tado existe com a finalidade deassegurar a segurança, educa-ção, saneamento, infraestrutura,estabilidade jurídica. Quando oEstado falha, ele acaba sendo umdemandante da Justiça.

Jornal do Sindjus – E comoé que se resolve isso?

José Jeronymo – Tinha quehaver uma mudança radical dapostura daqueles que detêm opoder Estatal no sentido de di-zerem o seguinte: “Eu cobro, exi-jo do cidadão o cumprimento dassuas obrigações fiscais, tributá-rias e contratuais. Em compensa-ção, o cidadão tem o direito de exi-gir que eu faça a mesma coisa”. Éo princípio da isonomia. O Estado,mais do que o cidadão, tem a obri-gação de dar o bom exemplo.

Jornal do Sindjus – O Es-tado age, muitas vezes, para pro-telar as decisões judiciais. Nãoseria necessário, também porparte do Judiciário, adotar umanova postura contra esses recur-sos meramente protelatórios?

José Jeronymo - Com cer-teza, mas há um obstáculo mui-to grande. É que esses recursossão resultado de leis processu-ais. E o Estado tem uma série deprivilégios, prazos dilatados emdobro, quádruplo, vista pessoaldos autos, proibição de se con-ceder liminares etc. Uma série deprivilégios processuais que o par-

ticular não tem. O cidadão já en-tra em disputa com o Estado emsituação de desvantagem proces-sual muito grande.

Jornal do Sindjus – A so-ciedade conhece muito pouco oJudiciário, seu funcionamento esuas limitações. Mas tambémexiste, por parte do Judiciário, umdistanciamento. Como é que oTJDFT poderia contribuir paraque a sociedade conheça melhoro Judiciário?

José Jeronymo – Durantemuitas décadas, o Judiciário es-teve muito distanciado do povo,enclausurado, encastelado, ma-jestático. Mas isso acabou. O Ju-diciário moderno, principalmen-te de uns 15, 10 anos para cá,mudou totalmente a sua postu-ra no sentido de abrir-se para opovo. Nós temos nos aberto parao povo por meio de muitas inici-ativas. Aqui no Distrito Federal,temos um projeto muito bonito:“Justiça e Cidadania também seaprende na Escola”. Este ano, emparceria com a Secretaria de Edu-cação, a Ordem dos Advogadose o Ministério Público, pretende-mos levar noções básicas e fun-damentais de cidadania e de jus-tiça para 34 mil crianças do 1º e2º graus. Temos a Justiça Comu-nitária, um projeto que pratica-mente nasceu no Distrito Fede-ral, e que, em parceria com oMinistério da Justiça, estamostentando estender para outrascidades satélites. A idéia é queos conflitos em determinada co-munidade sejam solucionados,em princípio, por agentes comu-nitários, pessoas do povo quemoram ali, instruídas por nós.Esse projeto é tão interessanteque já foi exposto na Inglaterra,no México, no Afeganistão e noPaquistão, com o apoio da ONU.Os juízes modernos estão cien-tes de que precisam se aproximardo povo, sem demagogia, sem nosmetermos em política. O Judiciá-rio moderno está ciente de que ao

se aproximar do povo, co-meça a compreender osproblemas do povo.

Jornal do Sindjus –Exatamente por esse mo-tivo, o sindicato defendeo fortalecimento das pri-meiras instâncias porqueesse contato do magistra-do com as partes é fun-damental para que o jul-gamento seja próximo aoque deseja a sociedade.

José Jeronymo – Exata-mente. Aí, outro instrumento for-midável são os juizados especi-ais, que foram implantados prin-cipalmente devido à luta, insis-tência e determinação do Judici-ário brasileiro, que sensibilizou oExecutivo e o Legislativo. Nós éque estivemos à frente disso. Ofato é que o Judiciário está avan-çando. Mais não avança porquefaltam-lhe recursos. Aí vem o di-agnóstico e diz: “Puxa, mas aJustiça brasileira gasta muito, éineficiente, o juiz brasileiro só ga-nha menos do que o juiz do Ca-nadá”. Isso não é verdade. Euposso lhes assegurar, baseado noque constatei nas inúmeras via-gens internacionais que fiz, queisso não é verdade.

Jornal do Sindjus – A me-todologia que o senhor citou, decomparação dos salários dos ju-ízes por país, é do Banco Mundi-al. Que interesses haveriam portrás desse diagnóstico?

José Jeronymo – Esse es-tudo, como disse o ministro Nel-son Jobim, deveria ter sido feitopelo Judiciário, porque nós é quetemos esses dados. Nós é quesabemos onde o sapato apertao calo. Mas isso não foi feito, nósnão fomos ouvidos. O ministroJobim disse que vai fazer essediagnóstico. Já está fazendo reu-niões com os presidentes dos tri-bunais da União, e no dia 13 desetembro se reunirá com todosos presidentes dos tribunais de

Justiça dos Estados e do DistritoFederal. O diagnóstico do Judici-ário será feito por quem sabe oque está acontecendo. Evidente-mente que, para fazermos isso,vamos solicitar a ajuda de enti-dades especializadas. Mas nóstemos condições de fazer e de-vemos fazer. O diagnóstico doMinistério da Justiça foi feito ànossa revelia, ignorando a nos-sa realidade. Foi feito por umainstituição estrangeira, em par-ceria com a Fundação GetúlioVargas, por encomenda do Mi-nistério da Justiça. Então, deu noque deu.

A idéia daJustiçaComunitária éque os conflitosem determinadacomunidadesejamsolucionados, emprincípio, poragentescomunitários,pessoas do povoque moram ali,instruídas pornós.

Focu

s

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Cristina Lima

irou clichê dizer que,no Brasil, só os pre-tos e os pobres é quevão para a cadeia. Éessa a realidade do

sistema penitenciário, superlota-do em todas as unidades da Fe-deração. Por trás de cada crimecometido, há histórias de vidamanchadas pelas desigualdadessociais às quais o cidadão foisubmetido pela falta de cumpri-mento das obrigações do Esta-do. Quando um ladrão de gali-nhas pobre e desempregado épreso, a Justiça julga o crime defurto, sem ter como resolver oproblema social que está vincu-lado a ele. O Ministério Público,autor da ação penal, tambémnão oferece tal solução. Nesse, eem outros casos, cabe ao Estadotentar mudar o criminoso. Mas oque se vê, e está constatado empesquisas, é que as cadeias sãofábricas de marginais, e não lu-gares onde o preso possa setransformar.

Isso vale para Brasília e parao resto do País. Documentário dacineasta brasiliense Maria Au-

PRESOS NO DF

Justiça para quem?

gusta Ramos, “Justiça” retratoua realidade com que vivem ospresos e os familiares deles, re-velando a falência do Estado, quedeveria resguardar a integridadefísica e moral do detento. O fil-me foi feito com base na reali-dade do Rio de Janeiro, e é ven-cedor do Grand Prix do FestivalInternacional de Cinema Visionsdu Réel de Nyon, na Suíça. Exi-bido no início de julho no auditóriodo Superior Tribunal de Justiça, odocumentário chocou até mesmoministros que estão acostumados ajulgar criminosos de acordo com oque diz a lei, rigorosamente.

Ainda em setembro, o Sind-jus fará uma apresentação espe-cial do filme para os seus filia-dos. Os espectadores que já oassistiram, viram depoimentos dealguns acusados nas salas de umtribunal e de celas de um presí-dio no Rio. Fica claro que no Po-der Judiciário não se resolvem osconflitos advindos das desigual-dades econômicas e sociais. Asleis parecem conceder maioresbenefícios às classes dominantes,enquanto os excluídos (como osladrões de galinha) são subme-tidos a um jogo de poder desi-

gual, tornando-se esquecidos dosistema prisional. No Brasil, decada dez pessoas que cumprempena em regime fechado, seis ousete voltam a cometer crimesquando saem da cadeia.

No DF, pesquisa da Vara deExecuções Criminais apontouque 90% da massa carcerária éformada por homens e que 60%deles têm entre 20 e 35 anos. Afaixa de renda média é baixa.Cerca de 70% admitem ganharaté três salários mínimos.

No Distrito Federal, tambémé desigual o tratamento dado aopreso rico e ao pobre. Os maisabastados conseguem contratarbons e influentes advogados. Ospobres precisam contar com abenevolência de defensores pú-blicos, que estão cada vez maissobrecarregados de processos.Em comparação com a realida-de de outras unidades da Fede-ração, a Defensoria Pública do DFé elogiada, mas carece de recur-sos para contratar defensorescapazes de atender a demanda.A verba é repassada pelo Gover-no do DF e pela União. Há recla-mações e críticas de que a políciaestá mais preocupada com os pe-

quenos criminosos do que com osmandantes e “cabeças” do crime.A população de baixa renda nãoconhece os direitos que tem.

A diferença é que no Tribu-nal de Justiça do DF a celeridadenos julgamentos é consideradaa segunda melhor do País, sóperdendo para o da Paraíba, combem menos ações. No ano pas-sado, de cada 100 das ações quederam entrada no tribunal, 89foram julgadas. O índice é consi-derado alto. Em todo o DF, são300 magistrados para uma po-pulação de 2 milhões e 200 milhabitantes.

O presidente do Tribunal deJustiça do DF, desembargadorJosé Jeronymo Bezerra de Sou-za, aponta que um dos motivosda agilidade nos julgamentos éa informatização. Todos os fun-cionários do Tribunal dispõem deum computador atualizado. Ou-tro ponto favorável é o sistemade teleconferência. O juiz da Varade Execuções Criminais faz asaudiências sem precisar estarcom o detento na frente dele,evitando as escoltas e os deslo-camentos.

O desembargador diz que

PRESOS POR REGIME DE CONDENAÇÃO

DISTRITO FEDERAL

Situação Processual Sistema Polícia Total

Provisório 1.006 47 1.053Fechado 3.558 0 3.558Semi-Aberto 1.890 0 1.890Medida de Segurança 65 0 65

0 0 0Total de Presos 6.519 47 6.566

V

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uma preocupação do TJDF é le-var a Justiça para perto do povo.“A nossa meta é colocar um fó-rum em cada região administra-tiva. O fórum eleva o grau de ci-dadania daquela população, quedeixa de se sentir marginaliza-da”, afirmou. Em todo o DF, sãonove fóruns para atender 22 ci-dades. Para conseguir ampliar oatendimento, Jeronymo diz queo TJDF encaminhou ao Congres-so Nacional um projeto de leipara uma nova organizaçãojudiciária no DF, com mais va-ras, juízes e servidores. A in-tenção é começar colocá-loem prát ica até o f ina l de2005, caso a proposição sejaaprovada ainda este ano.

Enquanto não amplia a atu-ação, o TJDF tenta aproximar-semais da comunidade por meio deprojetos como o “Justiça e Cida-dania também se aprende naescola”, que pretende levar no-ções básicas de cidadania a 34mil crianças de 1º e 2º graus. A“Justiça Comunitária” é outroprojeto que está sendo desenvol-vido nas cidades do DF. O objeti-vo é que agentes comunitários,depois de receber treinamentoadequado, consigam resolver osconflitos da comunidade paraevitar que cheguem ao Tribunal.São casos simples, como o do ca-chorro que late a noite inteira,incomodando os vizinhos.

No DF, 6.823 homens e mu-

lheres cumprem penas confina-dos em celas que estão longe deoferecer as mínimas condiçõesde sobrevivência. No RJ, são16.200 no total. O desembarga-dor Jeronymo é taxativo quandoaponta a responsabilidade pelopreso. No documentário “Justi-ça”, a cineasta Maria Augustamostra que alguns presos no Riode Janeiro preferem deixar derecorrer de uma sentença paraevitar permanecer numa cela su-perlotada de algum presídio.Depois da condenação, o reúdeve ser levado para o sistemaprisional e não fica mais em ca-deias nas delegacias.

“Quem administra o sistemapenitenciário não é o Judiciário,é o Poder

Recuperação - O Executi-vo deveria ter investido na cons-trução de presídios e de prisõesdecentes, onde o preso tivessea sua custódia de maneira cor-reta, humana e não desumana,e que tivesse uma chance de serecuperar”, comentou o presi-dente do TJDF. Ele destaca queum dia, quando terminar apena, esse preso volta a convi-ver na comunidade, e é de in-teresse social que ele esteja re-cuperado, “que volte um pou-co melhor do que quando en-trou na prisão.”

A sociedade é rígida naconvivência com o ex-preso,

que carrega a pecha de ter sidoencarcerado. Além disso, exis-te a obsessão para que o cri-minoso seja condenado e ter-mine seus dias atrás das gra-des. Por isso a população pres-siona o Ministério Público parapedir a condenação mais alta.É a figura do “promotor de acu-sação” que tem prevalecido,como mostrou o documentárioda cineasta brasil iense. Aspenas alternat ivas, que jáprovaram ser mais eficientesque os regimes convencio-nais, nem sempre são vistascom bons olhos.

O procurador geral do Mi-nistério Público do DF, RogérioSchietti, explica que os promo-tores se dividem em relação àobstinação de se condenar oréu. “Os promotores do DF, namaioria, são mais flexíveis doque os de outras unidades daFederação”, afirmou. SegundoSchietti, alguns até recorrem afavor dos réus, quando perce-bem que não há fundamentopara a ação penal. “Algunsprocessos chegam até o STJsem necessidade, como foi ocaso de um homem que foi pre-so por ter furtado 15 centa-vos”, comentou. O procuradorlembra de ter atuado em umcaso que um homem furtou deum supermercado quatro litrosde leite. O acusado ficou presoaté que o juiz mandasse soltar.

A saída para corrigir distor-ções como essa é garantir umaDefensoria Pública mais forte,segundo Rogério Schietti. Oprocurador lembra que a Justi-ça já tenta agilizar os proces-sos mais simples com os juiza-dos especiais. Os autores decrimes como agressões e desa-catos recebem a pena rapida-mente, evitando o desgastede longos processos. A maioriadas penas é revertida em em pres-tação de serviço à comunidade oupagamento de cestas básicas.

Schietti diz que o Ministé-rio Público está ciente da res-ponsabilidade social que temcomo instituição. “O MP nãoatua só na área criminal. Fize-mos o Estatuto do Idoso, cria-mos as promotorias de Defesada Mulher, dos Cidadãos, daCriança, e do Deficiente Físi-co”, apontou. A idéia é evitaras ações penais. Em muito ca-sos, o promotor atua como umaespécie de conciliador entre aspartes, propondo soluções ecriando responsabilidades. Se-gundo Schietti, não existe mo-delo como o do MPDF em ou-tra parte do mundo, quando opromotor é apenas criminal.“Somos os fiscais da Constitui-ção Federal e não só das leis. Setemos que atuar nessas outrasáreas, é porque ninguém faz”,ressaltou, referindo-se ao Esta-do e à sociedade organizada.

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PRESOS POR REGIME DE CONDENAÇÃO

RIO DE JANEIRO

Situação Processual Sistema Polícia Total

Provisório 2.795 0 2.795Fechado 11.361 0 11.361Semi-Aberto 1.954 0 1.954Medida de Segurança 340 0 340Aberto 177 0 177Total de Presos 16.627 0 16.627

Fonte: Ministério da Justiça

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Uni-du-ni-tê, eu quero

ouvir... você!

FESTA

Rita LeeO sucesso do último CD, Balacobaco,

se repete igualmente na turnê homônimaque Rita vem realizando pelo Brasil, Portu-gal, Peru e Paraguai. No show, a ex-inte-grante dos Mutantes apresenta as novasmúsicas de seu 31º CD, lançado no final doano passado, e sucessos de 37 anos de carreira, dos quais 27 emparceria com seu marido, o músico e compositor Roberto de Carva-lho (presença garantida ao lado de Rita Lee no palco). Numa român-tica declaração de amor, a roqueira afirmou que esse álbum é dedi-cado ao maridão. Famosa por frases provocantes, afirmou em suapágina eletrônica: “Os críticos ladram e meus cachorros cantam. Digaao povo que nunca fui tão feliz na vida. Este disco é dedicado aoamor que sinto por Roberto”. Tantas boas vibrações fizeram Balaco-baco gerar hits que estouraram nas rádios como Amor e Sexo, AsMeninas de Sampa e Balacobaco. Para os saudosistas, a cantora decabelos vermelhos também irá cantar canções mais antigas comoEsse tal de Roquenrou, Orra meu e Ando Jururu.

Cidade NegraA fim de curtir um show em primeira

mão? O lançamento oficial do show de Per-to de Deus, último CD da banda, está pre-visto para o começo de dezembro, quandoocorrerá a nossa festa de fim de ano. O gru-po está de volta com um novo trabalho re-cém saído do forno, ou melhor, do calor daJamaica. O décimo CD da banda foi totalmente feito na terra de BobMarley. Além de trazer músicas inéditas, o novo álbum presta umahomenagem ao rei do reggae, apresentando um de seus maioressucessos, Concrete Jungle, em versão em português (Selva de Pedra).E é na onda do reggae de raiz que Perto de Deus tem semelhançascom a primeiríssima fase da banda, seguindo um formato mais clás-sico do gênero jamaicano. Essa mudança já vinha sendo assinaladano disco Acústico MTV, produzido em 2002 e que rendeu milhares decópias vendidas e 320 shows pelo Brasil. Cidade Negra retoma, en-fim, suas origens bem marcadas no ritmo e nas batidas jamaicanas,com alguns toques de espiritualidade.

O Sindjus quer que você escolha, mais uma vez, qual artista ou bandaconvidaremos para animar a grande festa de fim de ano

Marina Medleg Simon

stá chegando a tãoesperada festa de fimde ano que o Sindjuspromove com exclu-sividade para seus fi-

liados. Será a quarta edição deum super evento que já virou tra-dição em Brasília. O sucesso dasedições anteriores foi garantidopela presença massiva dos ser-vidores do Judiciário e MPU,embalados por feras da MPBcomo Alceu Valença (2001),Gilberto Gil (2002) e a duplaZeca Baleiro e Raimundo Fag-ner (2003).

De acordo com um levanta-

mento realizado pelo Sindjus em2002, 90% dos filiados compa-receram ao show daquele anopara curtir o som de um dos cri-adores do tropicalismo. Em2003, cerca de 15 mil pessoasforam conferir a mistura de ge-rações e estilos nas vozes domaranhense Zeca Baleiro e docearense Fagner.

Desta vez, a expectativa é dereunir mais de 18 mil pessoas.Para isso, haverá um grande es-quema de segurança e de esta-cionamento, além de uma amplaestrutura de bares, onde os co-mes e bebes serão vendidos porpreços módicos. O show será re-alizado, como de costume, no Pa-

vilhão de Exposições do Parqueda Cidade, no dia 11 de dezem-bro, às 22h. Cada associado terádireito a dois ingressos gratuitos,a serem distribuídos nos locaisde trabalho.

Será mais uma oportunida-de para o Sindjus celebrar comseus associados um ano particu-larmente fértil de lutas e, sobre-tudo, de conquistas. Além disso,o sindicato faz questão de aten-der aos pedidos dos servidorespor eventos de grande porte,como esses que foram realizados.Uma outra reivindicação da ca-tegoria, segundo pesquisa enco-mendada pelo Sindjus em 2002é justamente assistir a shows de

artistas nacionalmente conheci-dos nas festas de fim de ano.

Repetindo o êxito do anopassado, o Sindjus está realizan-do uma enquete (disponível napágina www.sindjusdf.org.br, desde o dia 1º de setembro,para saber qual show, você, ser-vidor filiado ao Sindjus, desejaassistir. Você poderá escolher en-tre: Cidade Negra, Rita Lee, anova parceria entre Ney Mato-grosso e o grupo Pedro Luís e AParede, Skank ou Zeca Pagodi-nho. Faça já a sua escolha! Masantes disso, leia os resumos aquipara ter uma idéia de como de-verá ser o show de cada artistaou banda.

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SkankO sétimo e último CD, Cosmotron

(2003), rendeu à banda mineira um Discode Ouro para celebrar as mais de 100 milcópias vendidas. O prêmio foi entregue emdezembro de 2003, quando hits como VouDeixar e Dois Rios já faziam o maior suces-so. Em setembro de 2003, Cosmotrom também se torna um show,batizando o início da turnê pelo Brasil. Os dez anos de experiênciamusical, aliados ao super arrojado cenário do show, rendeu à banda otroféu de Melhor Show na 11ª edição do já consagrado Prêmio Multishowde Música Brasileira. No palco, a banda comandada pelo vocalista e guitar-rista Samuel Rosa, também promete tocar um repertório afinado que incluiBalada do amor inabalável, Três lados, Canção noturna, Rebelião, É umapartida de futebol e o clássico Jackie Tequila.

Ney Matogrosso ePedro Luís e A Parede

A parceria entre Ney Matogrosso e abanda carioca Pedro Luís e A Parede (Plap)gerou Vagabundo. O CD, lançado no come-ço de 2004, também dá nome ao show queos cantores vêm realizando desde abril des-se ano. “Sessentão” mas impecavelmente em forma, Ney Matogros-so dispensa apresentações. Já Pedro Luís, 43 anos, e sua A Paredesão menos conhecidos do grande público, apesar de compartilharemcom o ex-líder dos Secos & Molhados talento igualmente ímpar. Gra-vadoras grandes como a Universal e a Som Livre (da Globo) banca-ram a aposta. Coube a elas divulgar e distribuir o disco, que teveuma de suas músicas, A Ordem É Samba, incorporada à trilha danovela global Celebridade. Em suma, o que o público poderá ouvirda voz aveludada de Ney e da batucada energética de Plap são com-posições refinadas de Itamar Assunção, Alzira Espíndola, André Abuja-mra e Martinho da Vila, entre outros. A exemplo do que aconteceu comZeca Baleiro e Fagner, barreiras de estilo e geração foram transpostaspara dar lugar ao mais perfeito sincretismo da música brasileira.

Zeca PagodinhoQuando Zeca Pagodinho decidiu gravar

um CD em parceria com a MTV, uma emisso-ra pop e de público jovem, ele sabia que seriaum projeto ousado. Mas a empreitada reve-lou-se um enorme sucesso. Acústico MTV –Zeca Pagodinho, lançado no final de 2003, jáultrapassou os 500 mil CDs e 120 mil DVDs vendidos. O álbum misturaas canções inéditas Penetra, Lá Vai Marola, Comunidade Carente e PagoPra Ver às já consagradas Jura, Quando eu contar, Deixa a vida me levare Caviar. O músico também apresenta no CD os sucessos Vai Vadiar eCoração em Desalinho, com a participação mais que especial da VelhaGuarda da Portela. Todas as músicas devidamente registradas no formatoacústico. Nos seus 18 anos de carreira e ao longo de 15 discos gravados, osambista desfruta hoje o rótulo privilegiado de unanimidade nacional.

Se a gente for procurar o valor maiorda nossa organização, a gente vaiencontrar a atitude que mais noslegitima: a solidariedade.

Está na própria raiz de ser um sindicato partici-pativo as tarefas conciliadoras do coletivo organiza-do e o individual valorizado como pessoa. Mantemoso compromisso de congregar questões técnicas e re-levantes no espaço coletivo de afirmação e identida-de política, sem descuidar do nosso valor como pre-sença humana na liberdade de expressão, da arte, dacultura e, principalmente, da convivência.

Está na origem da palavra companheiro o “com-partilhar o mesmo pão”. Temos a vocação para a tro-ca, a celebração da vida e a busca do melhor paratodos em exaltação permanente do bem comum. Porisso buscamos uma festa de final de ano que simbo-lize nossa história de solidário convívio.

Queremos uma festa onde todos se sintam úni-cos e exclusivos naquilo que mais definiu nosso ca-minho durante o ano: o estar juntos para comemorara vitória do agir coletivo. Reconhecer em cada alian-ça algo além da eventual consciência corporativa oupertinente das lutas de uma categoria. Queremos nosreconhecer, ao vivo, no contato humano de uma fes-ta, a confirmação de que o nosso poder se alimenta doenvolvimento de cada um em realizações para todos.

A festa, a música, a dança, o que vamos beber ecomer, a conversa, o riso, o toque do olho no olhosão os nossos momentos de celebração coletiva para di-zer o quanto cada um é importante em uma construçãosolidária. Em uma festa todos são premiados. Não há pre-ço para os laços eternos de um companheirismo fundadona amizade e na identificação de uma luta comum.

O sentido da festa está na raiz sindical perma-nente para encontrar forças renovadas no combatede todo dia. Nem sempre vencemos todas, mas sabe-mos o quanto crescemos ao não perder nossos laços.Celebrar encontros é um ato maior dos que lutam. Éisso o que nos distingue e nos torna diferentes, comcapacidade de mudar realidades, por dentro e por fora.

A festa celebra a arte do encontro. Nossa vidanos pertence e fica maior quando é compartilhada.

O sentido da festa

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VENEZUELA

Chávez ganha de

novo e fortalece a

“revoluçãobolivariana”

Renato Rovai

Centro Carter e a Or-ganização dos Esta-dos Americanos(OEA), representadapelo seu secretário

geral, o ex-presidente da Colôm-bia César Gaviria, sabidamenteum antichavista, defenderam queas dúvidas fossem esclarecidas.A Comissão Nacional Eleitoral daVenezeula (CNE) aceitou. Emtodo o país, uma amostra foi sor-teada, num total de 160 mil vo-tos. Recontados, houve discre-pância de 0,02% no resultadoeletrônico – nada, comparadoaos 1,75 milhão de votos de di-ferença entre as opções. Os quevotaram pela continuidade deHugo Chávez na presidênciada Venezuela somaram 5,62milhões, contra 3,87 milhõesdos que desejavam sua saída.Em porcentagem re lat iva,59,3% a 40,7%.

A eleição de 15 de agostonaquele país foi uma das maisfiscalizadas, zeladas e participa-tivas da história recente dasAméricas e muito provavelmen-te do mundo. Votaram 68% doseleitores registrados, sendo ovoto facultativo. Nos EUA tam-bém é assim, mas na questiona-da disputa em que George Bushganhou de Al Gore – uma dasque mais atraíram os norte-ame-ricanos às urnas nos últimos tem-pos – houve 48% de abstenção.

Os mecanismos que garanti-ram a transparência e impediramas fraudes no processo que refe-rendou o mandato de Hugo Chá-vez vão além. Para votar, cadavenezuelano passava primeiropor uma máquina eletrônica deidentificação pela impressão di-gital. Após o registro, que evita-va o voto com identidade falsa,a pessoa ia até a urna eletrônicapara escolher sim ou não. O simsignificava que o eleitor queria

que o mandato do presidentefosse interrompido. O não garan-tia o mandato de Chávez. Paraconfirmar o que havia sido digi-tado, o aparelho imprimia umcomprovante do voto. Após veri-ficar se ele estava correto, o elei-tor o depositava numa urna tra-dicional. Por conta de todos essesmecanismos de segurança, a vota-ção foi lenta. Boa parte dos votan-tes ficou de 10 a 15 horas nas filas.

O enigma Chávez - Aindahá grande desconfiança em re-lação a Chávez. Ela se deve mui-to ao fato de ele ter tentado, em1992, tentado derrubar o gover-no de Carlos Andrés Pérez pormeio de um golpe militar. Masessa desconfiança não justificaentendê-lo como outro populis-ta latino de coturnos. Chávez jáé o maior fenômeno político dahistória moderna do seu país.

Isso se deve ao fato de eleter entendido que na Venezuela

havia um racha social profundo,e que os setores populares nãose sentiam representados e nemtinham protagonismo político.Chávez começou a canalizar essainsatisfação ainda naquele epi-sódio do golpe em 1992. Após aderrota, numa entrevista de trêsminutos, disse que tinha tenta-do derrubar uma casta políticaque não respeitava o povo e queassumia suas responsabilidades,mas que pedia àqueles que es-tavam com ele naquela luta querecuassem... “por ahora”. Essepor ahora se tornou simbólico edesde aquele momento os seto-res populares começaram a seorganizar, contando que haveriauma nova disputa no futuro.

Chavéz conseguiu a liberda-de e disputou a eleição de 1998,ganhando-a. Desde aquela vitó-ria até a do domingo 15 de agos-to, foram oito disputas eleitorais,todas com Chávez vencedor. En-tre elas, uma para aprovar a

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Constituição da República Boli-variana da Venezuela e outrapara a presidência da República,já que a Constituição previa no-vas eleições. É nessa nova Cons-tituição que está prevista apossibilidade de revogação dosmandatos de prefeitos, governado-res, deputados e presidente por meiode plebiscitos. De maneira direta, apopulação que elege também revo-ga os mandatos que concedeu.

Para isso é necessário que20% dos eleitores registradosassinem a solicitação, e que naeleição os que querem afastar opolítico em questão consigam termaioria ou superar a votação queele teve quando se elegeu (o per-centual mais elevado). Pouco sefala disso, mas os chavistas tam-bém solicitaram um plebiscitopara julgar o mandato de oitodeputados, que ocorrerá no pró-ximo mês. Tudo indica que serãoderrotados e que Chávez ampli-ará sua base parlamentar.

Chávez ganhou a eleição nas

classes populares. Sua votação,na grande maioria das cidadesmais pobres e rurais e nos bair-ros populares das metrópoles, foiacima de 70%. Isso não se deveapenas ao seu carisma nem aprogramas sociais de últimahora, como afirmaram algunsespecialistas em política interna-cional. A organização dos seto-res populares tem sido decisivonessas vitórias de Chávez.

No domingo do plebiscito,havia um chamamento para queos chavistas acordassem às 3hda manhã. Estávamos de pé nes-te horário e no maior bairro po-pular de Caracas, o 23 de Janei-ro. A idéia era acompanhar todaa movimentação eleitoral. Antesde 4h, centenas de pessoas es-tavam nas ruas fazendo filas noscolégios eleitorais, organizandoos motoristas de peruas e mi-croônibus e os motoboys, que seapresentavam para ajudar a bus-car eleitores nos altos dos cerros(morros). Também já se organi-zavam dezenas de senhoras que fi-

caram responsáveis pela produçãoe distribuição de lanches e refeiçõespara os fiscais eleitorais. Equipa-mentos de som convocaram a po-pulação com músicas e discursos.Tudo antes do dia amanhecer.

A revolução – “Revoluçãoé mudar a perspectiva de vidadas pessoas. Que elas possamestudar, planejar sua família, tra-balhar, ir a um médico... e pos-sam exigir que as instituiçõescumpram seu papel, que façamo que devem”, respondeu JanetteDías, quando indagada sobre o queera a revolução bolivariana.

Janette Días é diretora doCentro da Paróquia San Juan,que congrega 42 bairros e tem110 mil habitantes. Como a mai-or parte das zonas populares deCaracas, fica no Oeste. E comotantas outras regiões carentes dopaís, a Paróquia San Juan temsentido de forma mais forte osefeitos da inversão de priorida-des do governo que, nos últimosdois anos, passou a direcionaruma grande parcela dos seus re-

VENEZUELA

cursos para programas sociais,que transformam a perspectivade vida de milhões de cidadãos.

Entre esses programas, des-tacam-se a Missão Robinson,programa de alfabetização quejá atingiu 1 milhão de pessoas;a Missão Sucre, que visa garantiro acesso a universidade para se-tores de baixa renda, e que resul-tou na criação de diversas unida-des da Universidade Bolivariana; aMissão Bairro Adentro, que garanteo primeiro atendimento médico àspopulações carentes, envolvendo13 mil médicos cubanos que vi-vem no país e moram nas comu-nidades onde atuam.

“Mas a missão mais popu-lar que temos é a Mercal”, ga-rante Elio Hernandez, cientistasocial que atua na assessoriada presidência da Câmara. Éum programa simples, mas quequebra a lógica do atravessa-dor para a venda de produtosda cesta básica.

Todos essas ações têm bas-tante resistência da oposiçãovenezuelana. Há todo tipo de crí-tica, mas os setores que constro-

A eleição de 15de agostonaquele país foiuma das maisfiscalizadas,zeladas eparticipativas dahistória recentedas Américas emuitoprovavelmentedo mundo.Votaram 68% doseleitoresregistrados,sendo o votofacultativo.

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em uma reflexão um pouco maiselaborada, reclamam do fato deChávez estar atrelando os pro-gramas à máquina partidária.Alguns salientam que isso só temsido possível porque nesse mo-mento o preço do barril de pe-tróleo está alto, mas que emmédio prazo essa proteção soci-al será insustentável. Na verda-de, porém, existe um grande pre-conceito ideológico. E nesse que-sito o que mais incomoda é ofato de alguns programas esta-rem sendo realizados por profis-sionais cubanos.

“A verdade é que aqui naVenezuela não temos médicos enem dentistas em quantidadeque tenham interesse em traba-lhar nos bairros mais pobres.Nossas universidades formaramprofissionais para atuar com aclasse média. Para cobrar muito

caro pela consulta. Não para traba-lhar em hospitais públicos. Essa énossa vergonha”, desabafa ElioMejías, enquanto nos apresenta di-versas unidades do Bairro Adentroespalhadas pelo Oeste de Caracas.

Um pouco de história -Tratar Chávez como um “cuca-racha abilolado” talvez tenhasido o grande equívoco da mídiavenezuelana e também interna-cional. No Brasil, quando acon-teceu o golpe de 11 de abril de2002, a revista Veja comemorouo evento na edição daquela se-mana com uma manchete decapa que não deixava dúvidas: “Aqueda do presidente fanfarrão”.

A TV Globo, no dia 12 deabril, foi ainda mais celebrativa.Dedicou praticamente toda aedição do Jornal Nacional à aná-lise do episódio e à desqualifica-

O plebiscito de 15 de agosto mostrou uma profunda divisão de classes na Venezuela

ção da esquerda no continente,incluindo o então candidato à pre-sidência, Luiz Inácio Lula da Silva.

O ápice foi o comentário deArnaldo Jabor, que, segurandouma banana, se deleitou coma queda de Chávez e a nomea-ção de um “civil” para a presi-dência, o golpista Pedro Carmo-na, como a “desbananização” daAmérica Latina.

A vitória de Hugo Chávezcom ampla margem de votosno referendo do dia 15 deagosto deveria ser estudada deforma muito criteriosa porquem se interessa e defende defato o processo democrático. Amaioria do povo venezuelanoquer mudanças. Chávez tem ten-tado realizá-las. Mas a lógica dademocracia que vale tem feito detudo para impedir que a maioriapossa prevalecer.

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TT Catalão

staremos sempre namira da tragédia do11 de setembro emNY. Por muitos anosa onda de choque

das duas torres repercutirá sobreos endividados do mundo, osbanidos da festança banhada apetrodólares e consumo extre-mado, enquanto mais fragiliza-da ficou a tal “nova ordem soci-al”; o trauma da fortaleza venci-da diminuiu as liberdades indi-viduais do cidadão; cresceu a fa-migerada polarização entre “mo-cinhos e bandidos” que matamem nome de “deuses”; tudo soba perversa manipulação de mí-dia para ocultar farsas que levamao crescimento bélico e guerras– como todas, estúpidas. Porémum olho crítico, parcial, talento-so, apaixonado, decidiu fazer doseu ofício um sinal de provoca-ção e alerta que já lhe deu doisprêmios máximos no mundo: Ti-ros em Columbine levou oOscar e o recente Fahrenheit 9/11 venceu em Cannes. MichaelMoore assume a ponta do docu-mentário com rumos de ficção –

ARTIGO

O WTC ainda levanta poeira

na lente de Michael Moorepelo absurdo – e, se há ressal-vas ao seu “jornalismo engaja-do”, ele ironiza a mídia submis-sa (de governos, políticos empre-sários e patrocinadores) que“apenas faz as perguntas quevocês (jornalistas) não fazem”.

O boné “made in Canadá”esconde a cabeleira ruiva (sem-pre comprimida em pasta de suorexatamente pelo uso constanteda peça), 1,87m, 115 quilos docinquentão com um jeito matrei-ro de se fazer verde-bobo paracolher maduro como poucos, aíestá o cineasta - e quase padredepois de anos em um seminá-rio jesuíta - Michael Moore.

Dos apertos econômicos fa-miliares (filho e sobrinho de ope-rários da General Motors de Flint,Michigan), Moore extraiu a dosenecessária de indignação para oseu filme de estréia Roger & Eu,1988, com US$ 250 mil, depoiscomprado pela Warner por US$3 milhões. O cineasta faturoucerca de US$ 7 milhões de bilhe-teria e o filme volta e meia pas-sa no canal 51 da GNT, Sky-Net.Moore cria constrangimentos econfrontos contra a decisão dodiretor da empresa, Roger Smi-th, que desejava fechar a fábricana região, tratando o tema pelo

prejuízo social em desvantagemcom a frieza do lucro.

Do jornalismo engajado,Moore, aos 22 anos, editou o al-ternativo The Flint Voice, que pu-blicava resultados do centro co-munitário local. Foi editor da re-vista de esquerda Mother Jonese autor da Moore’s Weekly, umaespécie de blog (quando isso ain-da não existia) impresso, que cri-ticava a mídia e era em parte fi-nanciada por Ralph Nader (guruverde e titânico defensor dos di-reitos do consumidor).

Excelente atirador, membroda famigerada Associação Naci-onal do Rifle, não racionou aper-tos sobre a pessoa do decano dabala, o ator Charlton Heston, nofilme Tiros em Columbine.Moore tenta “personalizar” umavítima de “acidente com armasde fogo” quando mostra a fotoda menina morta por um cole-guinha da escola e Heston fogeda imagem no melhor estilo daalienação dos carrascos: a nar-cose do poder e do emprego desucesso nunca quer saber o pre-ço deste status. O filme começacom a relação promíscua dosnorte-americanos com armas,onde Moore mostra que bastaabrir uma conta em um bancopara ganhar um rifle de brinde.

Moore fez a comédia de fic-ção, Operação Canadá, comJohn Candy, mas voltou logo apolêmica política com o TV Na-tion. Em 1997, lança The BigOne, uma ironia pesada sobre oimpério das grandes corporaçõese a hipocrisia da “criação deempregos” com subsídios públi-cos e esmagamento da indivi-dualidade do trabalhador (estefilme estará na caixa de DVDs aser lançada até o final do ano).

Sobre o seu caráter durão,largado, e o jeito displicente delidar com o dinheiro, embora fi-que a cada filme mais rico, eleescreveu: “Eu só fui ter o que sechama de sucesso quando tinha35 anos com Roger & Eu. An-tes disso, eu nunca ganhara maisdo que US$ 15 mil por ano.Quando você passa os primeiros17 anos – em outras palavras,metade – da sua vida adulta ga-nhando US$ 15 mil ou menos,realmente não importa que tipode sucesso você tem depois dis-so. É algo que fica impregnadoem você”.

Tiros no tédio - Seu dis-curso para uma audiência de 1bilhão de telespectadores, ao re-ceber o Oscar por Tiros em Co-lumbine, ecoou muito mais quemil bombas no Iraque: “Gosta-mos de não-ficção e vivemos emum tempo de ficção. Um tempoem que resultados fictícios de

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uma eleição proclamam um pre-sidente fictício. Vivemos em umtempo em que esse homem nosleva a uma guerra por razões fic-tícias, enquanto nos oferece a fic-ção do alerta laranja. Somos con-tra essa guerra, Sr. Bush. Tomevergonha”. O filme é especial-mente ácido com a idiotizaçãogeral da classe média que acua-da pela política sistemática decriação de ameaças, inseguran-ça e medo crê na defesa pelasarmas e idolatra a violência mes-mo que tente demonstrar oposi-ção às matanças. Moore provo-ca autoridades e a permissivida-de que culmina no ato dos garo-tos que assassinaram 12 colegase um professor em uma escolasecundária de Littleton, Colorado.

Seus livros Uma nação deidiotas e Cara, cadê o meupaís? atingiram a estratosfera devendas e criaram garra para orecente Fahrenheit 9/11 queliga a estratégia do medo, a par-tir da desgraça em NY e no Pen-tágono, e centra baterias pesa-das sobre Bush. Quentin Taranti-no chamou Fahrenheit de “oprimeiro filme já feito para justi-ficar um discurso”.

Como toda ação provoca re-ações, Moore está na mira eaguarda um livro a ser lançadoem outubro cujo título é mais oumenos MM é um grande egordo branco estúpido, e deum documentário, nada sutil,lançado no mês passado, MModeia a América. Sem hipocri-sia ou “subsídios velados” a im-prensa norte-americana alimen-ta a tradição de adotar claramen-te candidatos. Moore foi explíci-to e lançou o filme em 25 de ju-nho, exatamente para “influen-ciar na eleição e mandar Bushpara casa”. Bom exemplo paraquem mascara opções e fingeimparcialidade pelas vias damanipulação, que beira a farsaou prima pela omissão (técnicado jornalismo político atual, di-gamos, “vendido”, que não no-

ticia e finge não ver, ou quandodá, esvazia o tempo e o espaçosem análise ou contexto).

Moore toca na discutível vo-tação da Flórida de 2000 e adecisão da Suprema Corte dedeclarar Bush presidente. Piso-teia até o escárnio o sumiço dos“temíveis arsenais químicos” doIraque, a satanização do ex-alia-do Saddam, as ligações íntimascom a parentada do saudita Osa-ma e os lucros da “reconstruçãoda guerra”, objetivos empresari-ais e estratégicos pelo petróleo.

Após sua exibição em Can-nes, o filme foi aplaudido entre15 e 25 minutos – consideradaa maior ovação em toda a histó-ria do Festival. Foi o segundodocumentário a ganhar o Festi-val, depois de Le Monde duSilence (1956). Uma prova deque o filme atingiu o alvo foi abrincadeira no programa de en-trevistas do Letterman, que co-locou na sua célebre lista das“10 principais razões” algunsdos motivos para a contrarieda-de de Bush: “o ator que repre-sentou o presidente não era nadaconvincente; o filme simplificoudemais a maneira com que rou-

bei a eleição; excesso de pala-vras difíceis; apenas 97% dasacusações são verdadeiras”.

O curioso é que o escritorRay Bradbury, autor do livroFahrenheit 451, inspirador donome do filme de Moore, recla-mou do uso sem o seu consenti-mento. O livro de Bradbury, de1953, também virou filme cultu-ado nos anos 60, com direção deFrançois Truffaut, por ser um li-belo contra a censura, que cita atemperatura com que os livros ar-dem para demonstrar o controledo Estado na estratégia do ter-ror totalitário contra a ousadia dainteligência e do pensamentoveiculados pela palavra escrita.No século 24, o corpo de bom-beiros não apaga mais incêndi-os - as casas são à prova de fogo-, queima livros. Um bombeiro é

questionado por uma guerrilhei-ra que tem um grupo na monta-nha onde memorizam as obraspara jamais perdê-las, ela per-gunta: “Você lê os livros quequeima?”. O bombeiro escondeum no casaco, David Copper-field, de Charles Dickens. Ele olê, não pára mais, vira um rebel-de e se junta ao grupo.

Guerra de araque – Sobrea tragédia do Iraque (primeirocom o bloqueio brutal responsá-vel por vítimas jamais computa-das e agora com a guerra), Moo-re não poupa a passividade dosjornalistas ao se submeterem aosgrandes empresários da “notícia

como negócio” ou “es-petáculo” (circo, comoclassifica o jornalista Al-berto Dines): “Foi ummomento de grandeembaraço para a nossamídia, que atuou ape-nas como animadora detorcida. Isso é absoluta-mente chocante em umpaís onde você tem o di-reito de fazer qualquerpergunta, de criticarabertamente qualquerpessoa. Ninguém pode

ser preso neste país por fazer per-guntas. Alguém que tenta fazeras perguntas na hora certa, co-bra provas, tem certeza de que écidadão”. Assim ele faz a suaprofissão de fé ao revelar suasrazões de documentarista: “Que-ro tirar as pessoas do sofá. Can-samos de dizer que os EUA sãoum país dividido ao meio entredemocratas e republicanos. Mashá outros 50% que nem sequervotam”.

Continua Moore: “A maiorianeste país não tem câmera, mi-crofones ou acesso à Casa Bran-ca. Os jornalistas que têm essesmeios não fizeram as perguntasque deveriam ter sido feitas an-tes da guerra. Ao contrário, pre-garam pequenas bandeiras emestúdios de TV, se enrolaram nabandeira americana e deram car-

Bush: catatônico depois de receber anotícia dos atentados

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ta-branca. Centenas de nossosjovens morrem no Iraque comoresultado do fato de a mídia ameri-cana não ter feito o seu trabalho”.

Para os que acusam Moorede irresponsável em busca doestrelato a qualquer custo, depõea seu favor o fato de não usarno filme uma entrevista com Ni-cholas Berg, depois seqüestradoe morto no Iraque, em respeito àfamília de Berg. Muito jornalistanão perderia a chance desse, di-gamos, “material promocional”de impacto. Moore tinha, e nãousou, também fotos apavorantesdos suicidas caindo do WTC, cor-pos mutilados do 11 de setem-bro e imagens aterradoras dasbarbáries realizadas por soldadosnorte-americanos em tortura(muito antes das fotos de AbuGhraib), termo repugnado pelasautoridades com o eufemismo:“investigação de pressão máxi-ma”. Um requinte de hipocrisia.

Moore só não dispensa osdepoimentos de soldados queconfirmam a alienação da “mis-são” quando confessam que co-locam um “som maneiro no CD-player do tanque” e atiram “emtudo o que se move”. Alvo inte-ligente? Quanto mais civis atin-gidos tanto mais alimento paraódio e guerrilha interna.

Contradições em xeque –Um frio na espinha de Fahrenheit9/11 ocorre quando o chefe daassessoria de Bush, Andrew Card,cochicha em seu ouvido: “AAmérica está sob ataque”. Card,na época, disse que o presidentesaiu da sala de aula “poucos se-gundos depois”. Moore mostraum Bush perplexo, em choque,que permanece na sala de aulapor terríveis sete minutos de im-potência folheando o livro, MyPet Goat, para alunos de umaescola de primeiro grau da Flóri-da. Depois da cena a versão ofi-cial foi refeita: “O presidente sen-tiu que deveria transmitir força ecalma até entender melhor o que

estava acontecendo”.O filme é criticado pela acu-

sação de que nos dias após o 11de Setembro, com espaço aéreointerditado, a Casa Branca apro-vou vôos especiais retirando dopaís sauditas da família Osamasem interrogá-los. No entanto,relatório recente confirma queseis aviões fretados levaram 142pessoas somente a partir de 14de setembro, já com o espaçoaéreo liberado. O relatório con-firma que 22 das 26 pessoas novôo com familiares de Bin Ladenforam entrevistadas sem indica-ções de ligações terroristas.

Para retrucar críticos queclassificam seu filme como um“amontoado de mentiras”, Mo-ore criou o que chama “sala deguerra” para respostas supervi-sionadas pelos ex-assessores deClinton na Casa Branca, ChrisLehane e Mark Fabiani. Incluiu naequipe de 12 pessoas e três equi-pes de advogados, o ex-chefe dechecagem da revista New Yorkerpara esmiuçar as possíveis impre-cisões no filme.

Moore reconhece a discor-dância em relação a sua análisedos fatos, mas diz que apenasexerce o direito de opinião. “Nãohá um único erro factual no meufilme. Estou pensando em ofere-cer recompensa de US$ 10 mil aqualquer pessoa que consigaachar um único fato que estejaerrado”, desafia.

É a velha questão do panfle-to. As feridas aguçadas por Mo-ore irão persuadir alguém que jánão esteja convencido? Se umlado fica extremamente identifi-cado, o outro reage em repulsaimediata. Moore joga no meio datal maioria silenciosa que podepender para um ou outro lado. Eisto ele vem conseguindo pelosrecordes de públicos em regiõesconsideradas redutos inexpugná-veis de Bush. Moore fica na fron-teira da realidade-ficção comuma mescla de jornalismo inves-tigativo, dramatização da hipo-

crisia, farsa burlesca da morte,delírio de poder, comentáriospartidários e teorias da conspi-ração. E muito talento para con-tar uma história.

Fora do sofá - Vale mais umpouco da profissão de fé do ci-neasta em um mundo em que“ser neutro”, geralmente é es-perteza e covardia com a omis-são na pauta do silêncio estraté-gico cúmplice da injustiça. “Façofilmes para que mais gente sesinta um pouco mais encorajadaa fazer com que suas vozes se-jam ouvidas em qualquer opor-tunidade que lhes seja concedi-da. Mas isso não é o que a mídiaquer que vocês acreditem. Porque isso? Porque não há nadamais importante agora do quemanter quietas as vozes diver-gentes, as que ousam perguntar”.

Moore é adepto da “políti-ca sou eu” para dar ao indiví-duo o poder decisório de pres-são quando pensa, organiza ereivindica. Comenta a pressão dagrande mídia (que tem listas deindesejáveis e demitem jornalis-tas independentes) para “gelar”ou tirar do ar celebridades incô-modas: “Tentam tirar da praçaalguns artistas com um pacotede mentiras para que o José e aMaria normais captem a mensa-gem de modo alto e claro: ´Uau,se eles podem fazer isso com asDixie Chicks ou com o MichaelMoore, o que fariam com euzi-nho aqui?´ Em outras palavras,cale a maldita boca”.

Como exercício sagrado daliberdade, Moore destaca o pa-pel da opinião (material ralo naimprensa brasileira de entreteni-mento e à revelia do declarató-rio e dos releases). “As opiniõesno filme são minhas, e qualquerpessoa por certo tem o direito dediscordar delas. As questões quecoloco, com base nesses fatosirrefutáveis, também são minhas.Tenho direito de colocá-las. Econtinuarei cobrando essas coi-

sas até que sejam esclarecidas”.No livro Cara, cadê o meu

país?, lançado no Brasil pela W/11 Editores, traz mensagem es-pecial aos brasileiros onde eleescreve: “A coisa mais assustado-ra a nosso respeito é que não sa-bemos nada a respeito de vocês”.

Quem sabe alguém se indig-ne, por aqui, no mesmo grau deconsciência crítica e cidadã, semmedo do Estado e do poder eco-nômico e assim também faça asperguntas certas. Mesmo queconstranja, incomode ou viva sobo risco da insegurança de ser li-vre. Quem sabe?

Moore toca nadiscutívelvotação daFlórida de 2000 ea decisão daSuprema Cortede declarar Bushpresidente.Pisoteia até oescárnio osumiço dos“temíveisarsenaisquímicos” doIraque, asatanização doex-aliadoSaddam, asligações íntimascom a parentadado sauditaOsama e oslucros da“reconstrução daguerra”,objetivosempresariais eestratégicos pelopetróleo.

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