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Em janEiro dE 1989 foi publicado, mimeografado, o primeiro número de “O TAPIRI”. Naquela ocasião escrevíamos assim no Editorial:

“Tapiri é uma pequena habitação dos seringueiros. É o lugar do repouso de-pois de uma longa jornada, da refle-xão sobre os acontecimentos do dia, de planejamento para o dia de ama-nhã. Tem características de proviso-riedade mas nele se encontram as fer-ramentas e o alimento indispensáveis para continuar o trabalho. O Tapiri su-põe a garantia de uma casa grande, do barraco mais folgado, na cidade ou no sítio. A pastoral da Amazônia en-contra a fonte do aviamento na casa grande das grandes etapas da forma-ção. Mas durante o nosso trabalho, enquanto estamos embrenhados na mata da nossa atuação pastoral, pre-cisamos de um pouso, ferramentas úteis e práticas, de uso imediato, ali-mento que ajude a fazer mais leve o “peso da jornada e o calor”.

Este TAPIRI, que outrora iniciou como um folheto e, hoje, volta a ser editado, inclusi-ve em versão digital (www.isssu.com/isds), quer ser uma ajuda bimestral para os sale-sianos e leigos que labutam na Amazônia tentando extrair o leite do Reino de Deus das seringueiras espalhadas pela mata. Todos podem colaborar. Vamos partilhar experiên-cias e subsídios, além de reflexões pastorais, para sermos mais eficientes na nossa fideli-dade à missão que nos foi confiada.Ao retomarmos essa nova fase do nosso instrumento de comunicação pastoral e de formação permanente, queremos estimular seriamente a participação de todos e o bom uso das reflexões e subsídios que irão apare-cendo no TAPIRI. Muita riqueza existe entre nós e muita sede de aprender e de acertar, também. Por isso, citando Santo Agostinho: “Canta e caminha!”

Boa LEiTUra

Pe. joão Sucarrats Font, sdb.Secretário Inspetorial

UNIVERSIDADE INDÍGENA: Um sonho dospovos indígenas do alto Rio Negro - - - Pg. 05

Caminhar junto com a geração internet - - - Pg. 10

Dom Bosco e a saúde - - - Pg.13

Faculdade Salesiana Dom Bosco • 10 anos - - - Pg. 20

A rede das “necessidades” juvenis - - - Pg. 22

SUMÁRIO

SinToniZandoEstimados amigos e estimados irmãos

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iniciando a convErSa

CCaríssimos irmãos salesianos e membros da Família Salesiana nós já construímos uma longa história na Amazônia. No ano de 2015 estaremos completando 100 anos de presença na região do Rio

Negro. A recente história dos povos indígenas em Pensar a Universida-de Indígena tem estreita relação com as nossas histórias, principalmente com a educação escolar. A construção das escolas no Rio Negro passou por muitas fases históricas. Agora estamos acompanhando histórias construídas pelos próprios indígenas no campo da educação escolar e dentro desse con-texto a universidade indígena. É um campo aberto para discussões, estu-dos, dúvidas, medos, desconfianças. Partilho com vocês aquilo que vêm se falando nessas últimas décadas.

1. QUEm PEnSa a UnivErSidadE indígEna Os povos indígenas formam as riquezas da região do Rio Negro, com diversidade de povos, culturas, línguas, práticas culturais, saberes, conheci-mentos, políticas, economias etc.Os pesquisadores afirmam que os habitantes destas terras pertencem a quatro famílias linguísticas: TUKANO2 , ARUAK3 , MAKU4 e YANOMAMI. Essas e outras escolas estavam presentes nas discussões à respeito da universidade indígena: Assunção do Içana, Cucui, Taracuá, Escola Ba’sebo, Campinas e Anamuim, Escola Pamáali, Tumbira, Escola Inês Penha, Kurika, Escola Tiradentes Whepaka, Dom Marchesi, Comunidade Ucuqui, Aeitym, Caruru Cachoeira – Alto Waupés, Colégio São Gabriel, Maturacá, Baré – Alto Rio Negro, Querari – alto Uaupés, Cachoeira de Ipanoré, Comunidades e

1 Resultados de dois encontros: I Workshop Internacional dos Povos Indígenas do Rio Negro – “Construindo uma Universidade

Indígena no alto Rio Negro” [4-7/12/2010]; I Simpósio Internacional: Diálogos Interculturais na Fronteira Panamazônica [12-

15/09/2011], ambos realizados na cidade de São Gabriel da Cachoeira. 2Tukano, Desana, Kubeu, Wanana, Tuyuka, Piratapuia, Mirititapuia, Arapaso, Karapanã, Bará, Siriano, Makuna, Tatuyo,

Barasana (Panenoá), Taiwuano (Edúria). 3Baniwa, Kuripaco, Baré, Werekena e Tariana. 4Hupda, Yuhupde, Dow, Nadöb, Kakwa e Nukak.

Pe. Justino Sarmento Rezende, sdb | Indígena do povo Tuyuka e trabalha no Alto Rio Negro

escolas do baixo Rio Negro, Escola indígena es-tadual Tunuí, Colégio São Gabriel, Dom Pedro Massa e outras escolas.

2. como a UnivErSidadE indígEna ajU-dará aoS oS PovoS do rio nEgro? Os povos indígenas acreditam que a universidade indígena ajudará na aquisição de conhecimentos dos saberes tradicionais indíge-nas; ensinará os valores culturais e tradicionais étnicos, com isso seus filhos tornar-se-ão pro-fessores de seus conhecimentos; recuperação de valores culturais, no respeito às crenças, die-tas alimentares, conselhos dos velhos; oferece-rá um futuro melhor para os jovens; habilitará profissionalmente as pessoas para o mundo e mercado de trabalho, dentro e fora das co-munidades indígenas; facilitará o ingresso dos jovens no ensino superior; ajudará na constru-ção da autonomia econômica, cultural, social e política dos povos; minimizará os problemas existentes na área da saúde, manejo ambien-tal; fortalecerá identidade nacional dos povos e promoverá as identidades culturais de diversos povos; favorecerá a convivência inter-racial e intercultural dos povos; promoverá o encontro de culturas e sabedorias; respeitará o sincretis-mo, a mestiçagem: índio, negro, “branco”. Espera-se que na universidade as pes-soas adquiram conhecimentos ocidentais e os articulem com ciências, pesquisas e co-nhecimentos indígenas; que seja um espaço de sustentação de conhecimentos; garanta a construção de uma educação fundamentada nos valores indígenas e valores da identidade nacional; valorizem-se os conhecimentos, prá-ticas pedagógicas indígenas e não indígenas; haja interação de saberes diversos; que os co-nhecimentos indígenas sejam fontes de mu-

danças significativas para histórias indígenas e não indígenas; promova-se a sistematização e universalização dos conhecimentos dos povos indígenas do Rio Negro; trabalhem-se juntos: lideranças, pais, alunos, professores e demais parceiros; fortaleça-se a união das comunida-des; que as comunidades tornem-se autôno-mas e sustentáveis econômica, cultural, social e politicamente; universidade esteja a serviço do bem das comunidades e de portas abertas para as comunidades e que com ela se assegure a permanência dos jovens em suas comunida-des. As línguas indígenas teriam com ela lugar privilegiado no ensino, aprendizagem e no uso cotidiano, em casa e na própria universidade; fortaleça-se a revitalização das línguas, tradições e culturas esquecidas; promovam-se os estudos lin-guísticos dos povos do alto Rio Negro; elaborem material literário, audiovisual sobre os conheci-mentos dos povos da região; esses materiais sir-vam para as escolas indígenas e não indígenas. A universidade deverá ajudar no desenvol-vimento de metodologias educacionais e tecnolo-gias próprias; a construir conhecimentos baseados numa concepção indígena, própria da América do Sul; a fortalecer a pedagogia da oralidade dos povos indígenas; a respeitar os ensinamentos dos mais velhos; a promover intercâmbios de expe-riências com outras universidades, institutos de pesquisa etc., nacionais e internacionais; trazer qualidade de ensino profissionalizante em diver-sas áreas; deverá estar atenta para as necessi-dades dos povos do Rio Negro, buscando solu-ções para os problemas da região; desenvolver conhecimentos específicos; garantir o desen-volvimento sustentável nas áreas de conheci-mento indígena tradicional; qualificar as pes-soas para o desenvolvimento de projetos de

UNIVERSIDADE INDÍGENA: Um SoNho DoS PoVoS INDÍGENAS Do Alto RIo NEGRo1

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capa 2sustentabilidade; promover a pesquisa-ação na organização e construção de saberes; or-ganizar novas teorias relacionadas aos sabe-res indígenas; promover a exploração da ci-ência tradicional dos ancestrais indígenas e o reconhecimento da cultura tradicional como ciência; garantir formação de qualidade aos jovens indígenas, junto aos órgãos governa-mentais e outras instituições; favorecer o co-nhecimento aprofundado sobre a legislação indígena e defender a comunidade em ter-mos políticos, econômicos, sociais, promo-vendo a defesa dos direitos indígenas.

3. o QUE a UnivErSidadE indígEna dEvE EnSinar aoS SEUS acadêmicoS? A universidade indígena deverá atentar para as riquezas dos povos indígenas. Deverá ensinar a cultura material e imaterial; valori-zar e respeitar os lugares sagrados; valorizar as histórias de origens indígenas; aprofundar sobre políticas sociais, culturais e econômicas dos povos indígenas; ensinar sobre sistemas de consideração de parentesco; ensinar as tradições culturais, danças, músicas e conheci-mentos tradicionais; aprender sobre os tabus conservacionistas: mitos; o espírito e prática da coletividade; os benzimentos: benzer, curar, plantas medicinais; ensinar a trabalhar com as artes, pinturas indígenas, comidas típicas, a agricultura, cultivo de plantas, a medicina tradi-cional, objetos da caça e pesca, artesanatos (tipiti, peneira...), roça, instrumentos musicais, canoas, bongos; além de oferecer cursos que garantam a sustentabilidade da comunidade. Deve ensinar a valorizar e praticar a me-dicina indígena e medicina ocidental; construir um Projeto Educativo Institucional Intercultural; promover a medicina tradicional utilizando os re-

cursos tecnológicos (teoria e prática); ensinar as teorias sobre a origem do mundo e a transforma-ção da humanidade tanto do conhecimento indí-gena e não indígenas; respeitar os encontros das culturas e das sabedorias; fortalecer a identidade nacional; e incentivar a produção de remédios, cosméticos. Promover curso de linguística (indí-genas); ensinar as línguas co-oficializadas (Tukano, Nheegatu e Baniwa); ensinar a Legislação dentro da Constituição Federal sobre a Educação, Organização Indíge-na, Saúde indígena; Legislação Indígena Nacional e Internacional; Legislações: direito, ética, lutas e movimentos indí-genas; administração das Organizações Indígenas; administração e gestão esco-lar; Advocacia; Agronomia; Antropologia Indígena, Antropologia; Artes, educação física; Direito; Ecologia; Engenharia flo-restal, agro-florestal; manejo ambiental e florestal; Física; Geografia (Etnogeogra-fia), Etnobiologia, Ciências, História; Ges-tão pública: gestão de projetos sociais, culturais, sustentáveis e educacionais; Matemática, Administração, Contabilida-de; Medicina; Nutrição, Veterinária; Quí-mica; Zootecnia...

4. QUaiS TEmaS dEvEm SEr PESQUiSa-doS? A universidade indígena deverá pro-mover pesquisas sobre a origem das conste-lações, a ciência tradicional e a orientação do tempo; sobre o calendário ecológico (conste-lações); astronomia indígena e não indígena; a origem dos pajés; origem dos povos e os clãs; vida dos antepassados; parentescos; Antropologia; Benzimentos indígenas; Bio-

diversidade natural, mineral e agro-flores-tal; Cosmologia; Culinária; Cultura material e imaterial; Doenças Tropicais: Parasitas, agressores (alguns mortais que infectam pessoas), animais e plantas; exploração de fósseis; línguas, costumes; medicina tradicional indígena, ecologia; remédios caseiros; plantas venenosas; Mitos: surgi-mento da humanidade, lugares sagrados; Músicas, artes, pinturas indígenas; Lugares sagrados (ecológico); Pedagogia indígena; plantas medicinais; Rituais, cerimônias tradicionais; Solos; surgimento das co-munidades; surgimento dos seres vivos: plantas, peixes; territorialidades.

5. QUEm SErão oS ProFESSorES, aLUnoS E EdUcadorES? Segundo os participantes dessas discussões devem ser pessoas compro-metidas com suas comunidades, com ca-pacidade e responsabilidade para com a gestão da Universidade; conhecer e ter sensibilidade com a cultura dos povos in-dígenas; respeitar a ética e a diversida-de cultural; devem ser indígenas gradu-ados no mestrado e doutorado na área da educação; aliar-se com assessoria das instituições universitárias públicas e par-ticulares e institutos de pesquisas. Os professores não-indígenas de-vem ser pessoas comprometidas com as causas dos povos indígenas no alto Rio Negro; comprometidas com as questões indígenas e que entendam e tenham pensamentos voltados a defender os in-teresses indígenas. Os alunos devem ser indígenas que moram nas suas comuni-dades de origem, ou os que vivem na ci-

dade além de não-indígenas que tenham interesse. 6. como E QUEm SErão oS gESTorES ? Serão indígenas com formação para a Gestão; sábios intelectuais indí-genas como orientadores de indígenas mais novos, também de mestres e dou-tores indígenas; pessoas conhecedoras de saberes tradicionais e convencio-nais; intelectuais pajés; equipe de co-ordenadores indígenas comprometidos com a essência do ensino e a qualidade do corpo docente; indígenas formados em Antropologia; Lideranças com ex-periência e conhecimento das políticas de educação, com ensino diferenciado indígena; pessoas indígenas capacita-das, experientes e de confiança de to-dos os indígenas e não indígenas; que tenham desejo de lutar pela melhoria da qualidade de vida dos povos indíge-nas; pessoas que acompanham o movi-mento indígena do Rio Negro e lutam pela Educação Escolar Indígena; pessoas que procuram parcerias com as outras Universidades; pessoas qualificadas que tenham conhecimento científico, mas es-colhidos com eleição secreta com parti-cipação de toda a população indígena e mestiço do alto Rio Negro; pessoas que saibam fazer intercâmbio com os estados nacional e internacional; pessoas que te-nham estudos avançados podendo ser índio e não índio; professores qualifica-dos e comprometidos com os trabalhos e conhecimentos específicos das ciências e cursos demandados; profissionais na área da educação, com conhecimento da didá-tica, pedagogia e administração escolar.

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Uma nova geração está mudando o modo de se relacionar e de viver, usando para isso as novas tecno-

logias digitais, as redes sociais e o univer-so virtual. Eles são os nativos da internet. Vivem em um ambiente digital no qual as novas tecnologias são como o ar que res-piram. Dia e noite, estão em um universo virtual onde se encontram para conversar por meio da internet, dos celulares, do MSN. A geração internet está mudando e amadurecendo. Ela está influenciando o modo de agir dos pais, transformando a educação nas escolas e o relacionamen-to nas empresas, e se envolvendo em um novo compromisso social e político. Essa geração está crescendo e cada vez mais apresenta desafios para os pais e educa-dores: como compreender, dialogar e ca-minhar com a geração internet? De acordo com a mais recente pes-quisa realizada no Brasil pelo Ibope/Niel-sen, o país tinha até final de 2009 o total de 67,5 milhões internautas, ocupando o quinto lugar no ranking mundial. Atual-mente, o país é líder mundial de acessos à internet, com 48 horas e 26 minutos men-sais, superando até os Estados Unidos. O uso do microblog, o twiter, entre os bra-sileiros, é de 15%, colocando o Brasil mais uma vez na frente dos Estados Unidos (10,69%). Em relação aos acessos às redes

CAmINhAR JUNto Com A GERAção INtERNEt

Pe. Gildasio mendes, sdb | Inspetoria Santo Afonso Maria de Ligório (BCG)

sociais, nosso país está em quinto lugar, com um salto de crescimento em número de usuários de 23 milhões e 966 mil, em 2009, para 35 milhões e 221mil, em 2010. Para muitos, termos como "Geração Y" e "Geração Z" são novos. Eles fazem parte de uma grande mudança cultural pela qual as sociedades estão passando nesse momento da história. Estes novos tempos têm sido profundamente influen-ciados pela chamada cultura midiática, um conceito que está relacionado com a ideia de que as pessoas, por meio das novas mí-dias, criam outros tipos de relacionamen-to, estabelecem novos meios de produção e de acesso ao conhecimento e constro-em redes de interatividade para promover mudanças socioculturais na sociedade em geral. As gerações Y e Z são os filhos nati-vos e imersos na cultura midiática.

7. como PodErá SEr a SELEção dE candidaToS ?Alguns critérios são: interesse da própria pessoa; que tenha disponibilidade de tempo para estudar, sem distinção de raça, cor, lín-guas ou religião; prova de redação dissertativa, com dois ou três temas de livre escolha, escrita com uma das línguas co-oficiais do município de São Gabriel da Cachoeira; saber a cultura e saber falar as línguas indígenas e não indígenas; entrevista; indicação das comunidades, confor-me a demanda comunitária e priorizar o in-teresse do próprio indivíduo; não indígenas farão um “provão”; prova de conhecimen-tos gerais, nas áreas humanas e científicas; ingressar pelo índice de aproveitamento de ensino do aluno no ensino médio; processo seletivo sem vestibular de forma transparen-te, honesta, sem favorecimento e privilégios; reservar vagas para os municípios e distritos.

8. como a UnivErSidadE indígEna PEnSa SoBrE aS ParcEriaS com oU-TraS inSTiTUiçõES? A universidade indígena buscará o apoio de outras instituições para que a aju-dem na construção de sua estrutura física; na publicação de livros; apoio financeiro para que cada aluno possa alcançar seus objetivos; bus-car parcerias com universidades públicas e par-ticulares; buscar melhores cursos para atender a demanda da universidade indígena; conse-guir vagas nas universidades públicas e parti-culares; contribuir na formação específica dos alunos; criação de sala de extensão Universitá-ria para comunidades em pontos estratégicos no alto Rio Negro; favorecer o intercâmbio de conhecimentos e especialização para os gradu-andos; garantir subsídios (livros, equipamentos,

aparelhos) para a universidade indígena; mate-riais de recursos tecnológicos; suporte técnico nas atividades de pesquisas; intercâmbio de conheci-mentos culturais, políticos, econômicos e sociais; conseguir bolsas de estudos para os estudantes; publicação das pesquisas dos alunos.

FEcHando a convErSa As histórias indígenas são construídas continuamente. As discussões, os estudos e aprofundamentos sobre a universidade in-dígena visam fortalecer o protagonismo dos povos indígenas: professores, acadêmicos, reitores, coordenadores, gestores, adminis-tradores, acadêmicos, pesquisadores, cien-tistas, profissionais. Aquilo que os povos indígenas desejam é que a construção da uni-versidade indígena tenha um perfil indígena na sua ideologia, filosofia, política e práticas pedagógicas. Não significa isolar de outras universi-dades, mas que seja uma universidade que levante as bandeiras dos saberes e conhe-cimentos dos povos indígenas, uma univer-sidade que contribua para a construção de história diferente para os mundos indígenas e para o mundo global. Que nessa universi-dade tremulem elegantemente e maravilho-samente coloridas as bandeiras dos conheci-mentos dos povos indígenas e bandeiras dos conhecimentos ocidentais, orientais e de outras civilizações.

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capa 2gEração Y, gEração Z Embora a definição e a caracteriza-ção de uma geração sejam difíceis de se determinar com exatidão, alguns estudio-sos do fenômeno da comunicação suge-rem que a cultura midiática é uma reali-dade marcante no mundo globalizado. E dentre os fatores de maior incidência na mudança de comportamento e de atitu-des das novas gerações estão, sem dúvida, a internet, o celular e o vídeo game. Segundo estudos recentes do Ins-tituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), com o uso contínuo do computador e a imersão nos ambientes virtuais, a «ge-ração internet» pode estar expandindo suas capacidades mentais, sugerindo que o cérebro dessa geração processa informa-ções diferentemente da geração que cres-ceu escutando rádio e vendo televisão. Es-ses estudos ainda são embrionários, mas apresentam algumas evidências de que a internet tem um efeito psicológico e social profundo. A Geração Y foi a primeira a viven-ciar essas transformações. O estudioso Tapscott denomina de Geração Y, ou Ge-ração Internet, as pessoas nascidas de 1977 a 1990. Entre as características rela-cionadas a essa geração e ao modo como se comunica percebe-se que esta deixa de ser o receptor passivo de um progra-ma de televisão para acessar um universo incontrolável de portais na internet. Passa do uso da linguagem formal e linear para a linguagem do hiperlink. Deixa de ler os jornais impressos para navegar nos sites e comparar notícias, criar, remodelar, mon-tar, editar, socializar em rede.

estaria no grupo daqueles que creem no potencial e no dinamismo das novas gerações. Educar é acreditar e caminhar com eles!

comPrEEndEr E diaLogar com aS novaS gEraçõES Como educar os filhos e filhas da internet? Como falar de valores cristãos e estabele-cer novas relações e atitudes para as Ge-rações Y e Z? Sugiro algumas orientações aos pais e educadores: • Favorecer o relacionamento e interativi-dade. A interatividade que eles aprendem nos vídeogames, nas conversas online, é um convite para o educador entrar no pro-cesso de diálogo; um convite para intera-gir e se relacionar.• Reconciliar o Evangelho com a cultura midiática. Saber inculturar o Evangelho no tecido e no coração da comunicação, da linguagem e da interatividade da cultura midiática.• Comunicar os valores intangíveis. Estabe-lecer um diálogo que os leve a abrirem-se para as expressões intersubjetivas, à ca-pacidade de redescobrirem as dimensões imaginárias da vida individual e coletiva e a busca dos valores intangíveis (o amor, o perdão, a solidariedade e a felicidade).• Reinventar os apelos para o compromis-so social. Saber despertar, dentro do ce-nário da cultura midiática, o compromisso com o coletivo e com a solidariedade. • Promover os valores percebidos e a expe-riência vital. Favorecer experiências artísti-cas, sociais, celebrativas, que levem à expe-riência e fortaleçam o senso de pertença e relacionamento autêntico e realizador.

Essa é uma geração que tem difi-culdade de pensar e agir de modo lógi-co, que desenvolve ideias e pensamentos com pouca profundidade e que age com certa ambiguidade. Isso porque eles vivem imersos em um grande universo de infor-mações. Mas é também uma geração que está preocupada com o planeta e com o sentido de tolerância religiosa e ética, que cria grupos de interesse e que se compro-mete com causas sociais e planetárias. É uma geração que prima pela com-petência, pelos resultados, pela qualidade de vida e pelo respeito às diferenças. Defi-nida como a geração das grandes mudan-ças de comportamento cultural e social, a Geração Z compreende os nascidos desde 1998 até o presente. Com pais e mães que nasceram na Era da Internet, encontram agora algo mais avançado: o You-Tube e as redes sociais, como Orkut e Facebook. Os membros da Geração Z querem ser au-tores, interagem, perguntam, respondem, querem dar opinião sobre tudo. Tapscott, na pesquisa que fez com dez mil jovens so-bre a nova geração digital, classificou a Ge-ração Z como aquela em que seus mem-bros querem liberdade em tudo o que fazem. Quem souber dialogar com as ge-rações Y e Z vai compreender seu futuro. Quem entender o seu futuro vai acre-ditar nessas novas gerações. É verdade que essas gerações enfrentam grandes desafios, entre os quais a segurança e a privacidade online. Mas as grandes mudanças do futuro também estão nas mãos das gerações Y e Z. Dom Bosco, apaixonado pelos jovens, com certeza

• Confirmar, reconhecer e valorizar expe-riências. Saber confirmar as experiências das pessoas (na vida de oração, no traba-lho profissional, nos trabalhos pastorais, na vivência do amor, na família). • Celebrar o mistério. Propor a Pessoa de Jesus Cristo e seu projeto de amor com novas linguagens e favorecer a experiên-cia do Cristo Ressuscitado no campo indi-vidual e em grupos.

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No contexto da CF 2012, Fraternidade e saúde pública, recorrer à historia de Dom Bosco para refletir sobre este dom é mais que importante. O padre Pas-cual Chávez nos alerta:

“Dom Bosco é uma figura poliédrica, que não pode ser reduzida a simples fórmulas ou a títulos jornalísticos; é uma personalidade complexa, feita de realidades ordiná-rias e excepcionais, de projetos concretos ideais e hipotéticos, de um estilo cotidiano de vida e ação, e ao mesmo tempo de especiais relacionamentos com o sobrenatural. Uma figura desse quilate não pode ser compreendida adequadamente a não ser na sua multiplicidade de facetas e de dimensões; do contrário, a apresentação parcial de um ou de alguns aspectos, quem sabe confundidos conscientes ou inconscientemente com um perfil completo, corre o risco de falsificar a sua fisionomia” 1.

Pensando nisso é que resolvi escrever algo sobre o tema Dom Bosco e a saúde. Começo citando uma carta enviada ao padre Dalmazzo, diretor de Valsalice em 1875, na qual Dom Bosco recomendava a saúde como uma dimensão importante da vida do salesia-no e dos jovens2. Mas, o que é a saúde? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é “o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doenças”3. Portanto, o ser humano, ao interagir com todo o seu ambiente social, politico, religioso, social, econômico, desenvolve este bem-estar físico e mental. Ora, Dom Bosco foi um homem de inserção profunda na realidade do seu tempo e nos dá testemunho de um bem-estar que transcende o simples fato de não ter problemas físicos. O padre Juan Vecchi, durante sua enfermidade, escreveu uma belíssima carta que precisamos retomar no atual contexto, intitulada a enfermidade e ancianidade na expe-riência salesiana4, a reflexão nos orienta a considerar que “o sofrimento e a cruz inserem--se na vida”5. Lembra-nos ainda que a doença renova o espirito comunitário e a oferta do mesmo pelos jovens, isto à luz das nossas Constituições: “Prestando o serviço de que são capazes e aceitando a própria condição, eles (os doentes) são fonte de bênçãos para a co-

Dom BoSCo E A SAúDE

1CHAVEZ, Pascual, Conhecendo e imitando Dom Bosco, façamos dos jovens a missão da nossa vida, Estréia 2012, Brasília: Ed. Dom Bosco, 2012, p. 14.2BRAIDO, Pietro, Dom Bosco pai dos jovens no século da liberdade, Vol. 2, São Paulo: Ed. Salesiana, 2003, p. 222.3HANSEN HENRIQUE, João, Como entender a saúde na comunicação? São Paulo: Paulus, 2004, p. 7.4VECCHI, Juan, Enfermidade e ancianidade na experiência salesiana, Atos do Conselho Geral, n. 377, out/dez 2001.5Ibid., p. 8

munidade, enriquecem-lhe o espirito de fa-mília e tornam mais profunda a sua unida-de” (C 53). Tudo isso nos ajuda a entender que o bem-estar físico e mental também passa pela cruz. Numa sociedade que foge do sofrimento essa realidade torna-se um testemunho eloquente.

dom BoSco, SamariTano da SaúdE Às vezes, temos a impressão de que na vida pessoal de Dom Bosco não é claro o cuidado pela saúde. Morre aos 72 anos “como um pano velho”, dizia o médico que o acompanhava. Hoje, na era do culto ao deus CORPO, o cuidado com a saúde virou vício; muita gente se estressa malhando nas academias e seguindo receitas e dietas para adquirir o corpo perfeito, evitando o enve-lhecimento. Certamente Dom Bosco não pe-dia isso aos salesianos. Ele queria uma saúde física que fosse capaz de mover a todos, sobretudo os sa-lesianos, em direção aos jovens e não para dentro de si mesmo, para o narcisismo; que-rer-se bem e cuidar-se, realiza-se em duas atitudes, como as Novas Diretrizes da CNBB nos recordam, a exemplo do próprio Jesus Cristo: alteridade e gratuidade6. Nesse sen-tido, Jesus cura da hemorragia (Lc 8,43), en-demoniados (Mc 1,32), gagueira (Mc 7,32). A Bíblia considera o dom da saúde como shalom e salvação. Não podemos assim des-cuidar da nossa saúde. Tenhamos na mente

e no coração que vale mais gastar o dom que Deus nos deu no trabalho digno do que nos vícios ou numa vida acomodada, sem brio e sem sentido. Portanto, a justa compreensão e o cuidado da saúde, em todas as fases da vida, ajuda-nos a ser mais feliz. Na vida de Dom Bosco os sonhos ti-veram um papel de saúde psíquica e física. Jung, um dos grandes psicólogos estudioso dos sonhos, afirmava que a vida psíquica de uma pessoa é um jogo que nasce de diversos instintos de conservação e os sonhos equili-bram a busca consciente e inconsciente des-ses instintos. Ora, Dom Bosco sonhava com formas arquétipas7 que revelam sua saúde psíquica: desejos, projetos, metas. Para Jung o “sonho não é de modo algum uma mistura confusa de associações casuais e desprovi-das de sentido. É um produto autônomo e muito importante da atividade psíquica”8. A qualidade do sonho não é uma dissimu-lação da realidade, mas um ensinamento, portanto, saúde. Evidentemente, nos alerta prudentemente padre Antônio Ferreira, não podemos ser ingênuos ao lidar com os so-nhos9. A ascese e a vida de oração de Dom Bosco foram também expressão de sua saú-de psíquica e física. Seu mestre espiritual, padre José Cafasso, dizia claramente que na vida de um padre [religioso] a solidão é fundamental. Dom Bosco assimilou essa tradição de vida espiritual nos 31 anos que

Pe. joão mendonça, sdb | Pároco da Paróquia São José Operário - Zona Leste de Manaus

6 CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, São Paulo: Paulinas, 2011, n.8-9.

7 Animais de grande força: tigres, elefantes, serpentes, monstros do gênero apocalíptico, etc.

8 JUNG GUSTAV, Carl, A análise dos sonhos: In Freud e a psicanálise. Obras completas de Carl Gustav Jung. Vol 4. Petrópolis: Vozes, 1989.

9 FERREIRA DA SILVA, Antônio, A presença de Nossa Senhora nos sonhos de Dom Bosco, In. Cadernos salesianos, ano 2, n. 3,jan/jun 2011, p. 58.

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capa 2passou frequentando os famosos exercícios espirituais no Santuário de Santo Inácio, perto de Lanzo, 1842-1873, organizados por grandes figuras do clero turinense, sobretu-do Cafasso. Ali Dom Bosco rezava, pregava, escutava e silenciava e encontrava forças para seu apostolado. Por isso ele insistia tan-to com os jovens e os salesianos sobre o valor do silêncio durante os exercícios espirituais10. Silenciar para ele era o mesmo que abastecer a mente, o coração e a vontade para estar mais atento aos jovens e suas necessidades. Um sa-lesiano ativista e que vive zoando sem silenciar não pode ter saúde mental, muito menos físi-ca, pois apenas assim terá equilíbrio para saber ouvir os jovens e estar com eles. Outro elemento importante da saúde mental e física de Dom Bosco revela-se na sua capacidade de fazer amigos. Na casa Moglia o adolescente Bosco se fez amigo de todos. Dos 16 aos 26 anos vividos em Chieri (1831-1835) o jovem Bosco desenvolveu verdadeiras amiza-des espirituais com professores e companhei-ros (João Pianta11, Elias12, Pe. José Gazzani13, Pe. Jacinto dos Condes Giusiana14, Guilherme Garigliano15, João Giacomelli16, Paulo Victor Braia17, Pe. Pedro Banaudi18, Jonas19). A amiza-de nasce entre os bons e gera caridade. O padre Caviglia atesta isso ao comentar a vida de Comollo20 escrita por Dom Bosco e afirma claramente que aquela amizade foi tão forte e sadia que é possível ver na vida de Comollo o próprio Dom Bosco.

Embora, não tenhamos textos de Dom Bosco falando de si mesmo, na vida de Bessuco, Comollo, Domingos Sávio, Mago-ne, Francisco Giacomelli sim temos o retrato do próprio Dom Bosco21. Ele propõe ideais de vida, descreve amigos, que na verdade são sua imagem pintada, poderíamos dizer em 3D. Durante o seminário, mesmo com a rígida disciplina22 da época o seminarista Bosco conquistou a amizade dos professo-res e ao terminar os estudos sentiram tre-mendamente sua partida23. Para sintetizar: A própria Sociedade da Alegria, fundada por ele aos 16 anos, foi a expressão de sua rica saúde mental e física24. De 1844 a 1846, Dom Bosco foi cape-lão da Marquesa Julieta Colbert de Barolo, uma mulher de grande espiritualidade, fun-dadora de comunidade religiosa, educadora e defensora da mulher abandonada. A obra do Refúgio e no Pequeno Hospital de Santa Filomena, com 60 leitos, para terapia e aco-lhida de meninas aleijadas de 3 a 13 anos, foram campos de ação de Dom Bosco, pri-meiro capelão da obra da Marquesa. Assim temos nosso pai inserido nas problemáticas das mulheres, inclusive prostitutas, em con-dição de pobreza e dificuldade psicológicas. Dom Bosco não descreveu esta experiência de forma sistemática, mas em 1862, numa boa noite aos salesianos falou sobre o aten-dimento de uma jovem que se confessou e morreu serenamente. No seu texto do Mês

10 BUCCELLATO, Giuseppe, Dom Bosco: notas para uma história espiritual de sua vida, São Paulo: Salesiana, 2009, p. 78-91.11 Dom Bosco, Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, São Paulo: Salesiana, 3ª ed., 2005, p. 67.12 Ibid., p. 7813 Ibid., p. 6014 Ibid., p. 6115 Ibid., p. 64

22 Ibid., 9323 DA SILVA MENDONçA FILHO, João. A corda bamba e a certeza, o santo Dom Bosco, São Paulo: Palavra e prece, 2ª ed, 2010, p. 52 - 5324 BUCCELLATO, Giuseppe, Dom Bosco: notas para uma história espiritual de sua vida, São Paulo: Salesiana, 2009, p. 22.25BRAIDO, Pietro, Dom Bosco pai dos jovens no século da liberdade, vol. 1, São Paulo: Salesiana, 2008, p. 173-175.26Dom Bosco, Memórias do Oratório, Op. Cit., p. 129. 27Ibid., p. 262-263. Memorias do Oratório, Op. Cit., 129.

de maggio de 1858 ele apresenta uma jovem como protagonista que, gravemente enferma se reconcilia com Deus antes de morrer. Os textos relativos à devoção ao anjo da guarda e ao livrinho Exercícios de devoção à misericórdia de Deus de 1847, editado depois que ele saiu do Refúgio e doado à Marquesa, revelam também sua experiência neste campo da saúde das jovens e o desejo de salvá-las25. Temos também dados nas Memórias do Oratório que atestam a atenção de Dom Bosco com a saúde pública na assistência ao Hospital da Caridade, no Asilo das Virtudes, nas prisões, no Colégio de São Francisco de Paula, lugares que acolhiam jovens pobres e davam educação, alojamento, cuidado sanitário e assistência religiosa26. É Dom Bosco que expressa na vida as palavras do Evangelho:

“O samaritano chegou junto dele, viu-o, moveu-se de compaixão, apro-ximou-se, cuidou de suas chagas der-ramando óleo e vinho, colocou-o em seu animal, conduziu-o à hospedaria, dispensou-lhe cuidados, tirou dos de-nários, deu-os ao hospedeiro, dizen-do: cuida dele”.

Outra importante atuação de Dom Bosco no campo da saúde foi na cólera de 1854. A falta de alimentos, moradia e assis-tência médica agravaram a situação em todo o Piemonte e na cidade de Turim. O bairro Dora, de maior pobreza foi o mais atacado pela cólera. Foram 1.438 mortos. Os jovens da Companhia de São Luís, mais maduros e disponíveis, foram diretamente envolvidos no atendimento dos doentes. Muitos me-ninos órfãos foram recolhidos no oratório, entre eles, Pietro Enria, que mais tarde se tornou enfermeiro de Dom Bosco até sua morte. O jornal L‘Armonia comentava aber-

tamente da obra ação de Dom Bosco e de seus jovens, entre eles Domingos Sávio27. É preciso esclarecer que a relação en-tre Dom Bosco e o padre José Agostinho Be-nedito Cottolengo (1786 a 1842), fundador da Pequena Casa da Divina Providência no dia 27 de julho de 1832, tem muito mais len-da que verdade. Ele morreu em Chieri no dia 30 de abril de 1842, portanto, um ano de-pois da ordenação de Dom Bosco. Enquanto o seminarista Bosco está recém-ordenado, o padre Cottolengo que já atuava desde 1811, estava na casa de um padre, parente seu, muito doente.Certamente Dom Bosco sabia da obra e teve contato com ela durante sua vida em Turim, mas com o Cottolengo não teve contato pessoal, pelo menos não temos dados concretos. Entretanto, a obra do Cot-tolengo era um referencial em Turim para os doentes e rejeitados. Com certeza Dom Bos-co foi sensível a esta obra, mesmo porque Valdocco está muito próximo do quarteirão

16Ibid., p. 9417 Ibid., p. 6118 Ibid., p. 6519 Ibid., p. 6720 Ibid., p. 94s21 Ibid., p. 34-

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capa 2da “pequena providência”. Outro elemento importante a ser considerado na saúde men-tal e psíquica de Dom Bosco são os milagres. Sua fama de taumaturgo se projetou, so-bretudo durante a construção da Basílica de Maria Auxiliadora (1862-1868). Foram seis anos de muita luta. Dom Bosco se tornou um verdadeiro esmoleiro. Pedia sem parar. Propagava e prometia graças a quem fizes-se doações para a construção da Igreja. Nas inúmeras cartas desse período encontramos promessas de bençãos e milagres abundan-tes. Em 1867 escrevia a senhora Giuseppina que residia em Chieri:

“Se Maria Auxiliadora continuar a conceder seus celestes favores a quem ajuda neste sagrado edifício, acredito que neste ano poderemos utilizá-lo para as funções sagradas”28.

Contudo, foi no cólera de 1865 e 1867, que afetou muitos países e varias regiões da Itália, que Dom Bosco mais prometeu mila-gres. Escrevia a condensa Anna Bentivoglio: “Nem a senhora tema nada da cólera. De to-dos os que auxiliam na construção da Igreja de Maria Santíssima Auxiliadora, ninguém será atingido por doenças mortais” 29. Ao padre Raffaello Cianetti, pároco de São Leo-nardo em Lucca, promete: “Note que Maria é uma generosa pagante e os que fizerem oferta terão antídoto contra a cólera e para outras desgraças”30. Na famosa viagem a Pa-ris de 1883, Dom Bosco foi aclamado como

taumaturgo:” Iam até ele para que rezasse e abençoasse, intermediário junto da Virgem Auxiliadora mediadora de graças materiais e espirituais, de curas e de soluções de proble-mas pessoais, familiares e profissionais” 31. Contudo, durante o processo de ca-nonização de Dom Bosco, as controvérsias sobre os milagres atribuídos a eles pela in-tercessão de Maria Auxiliadora, foram abun-dantes. O bispo Battista Bertagna (1828-1905), deu seu testemunho no processo:

”Muitas vezes escutei que o servo de Deus proferiu profecias, que lia os co-rações das pessoas, que revelava coi-sas ocultas. Eu nunca vi pessoalmente estas coisas. Creio, porém, que Dom Bosco tivesse o dom sobrenatural de curar enfermos. Ele mesmo me falou sobre isto. Dizia que abençoava os do-entes com a imagem de Maria Auxi-liadora e de Jesus”32.

Enfim, entre 1927e 1929 dois mila-gres foram atribuídos a Dom Bosco que o le-varam a ser beatificado. Um relativo à irmã Provina Negro, FMA, curada de uma úlcera. Outro ocorreu com a jovem Teresa Callega-ri, curada instantaneamente de uma artrite crônica e de uma complexidade de doen-ças33. A questão é complexa, temo em sinte-tizar demais, porém, as curas realizadas pela intercessão de Maria Auxiliadora não foram contestadas. Eis, então, uma harmonia entre bem-estar físico, psíquico, social e religioso.

a ExPEriência da EnFErmidadE Em dom BoSco: Nas Memórias do Oratório, escritas entre 1873 e 1875, elaboradas por ordem expressa de Pio IX e depois de uma grave doença sofrida por Dom Bosco em Varazze que quase o matou em 1871 com duração de cinquenta dias, temos relatos de enfer-midades que resultam de seus constantes trabalhos. Quando morreu o padre Calosso em 1830, Joãozinho Bosco quase morreu também. Ele mesmo narra nas Memórias do Oratório que,

“a morte do padre Calosso foi para mim um desastre irreparável. Chora-va sem consolo pelo benfeitor faleci-do. Quando estava acordado pensava nele; sonhava com ele quando dor-mia; tão forte foram as coisas, que mi-nha mãe, temendo pela minha saúde, me mandou por algum tempo morar com o meu avô em Capriglio”34.

Tempos depois, quando ainda semi-narista caiu gravemente doente depois da visão de Comolo (1839) e quem o curou foi a mãe Margarida que trouxe uma garrafa do bom vinho e um pão de milho35. Em 1846 ele atendia uma série de atividades, era o começo da obra em Valdocco, um dia ficou gravemente doente com bronquite, quase morreu. Até o viático recebeu. Os meninos fizeram novenas e promessas. Dom Bosco se recuperou, mas ficaram sequelas. Depois

de algumas semanas em Murialdo, na casa materna, retornou a Valdocco e teve vinte e sete anos de bem-estar físico (1872)36. Exa-tamente um ano antes da grave doença de Varazze. Os dias com a mãe Margarida cer-tamente foram de cura afetiva, física e men-tal. Tanto é assim que a trouxe consigo para Valdocco. Podemos imaginar quantos chás e curas alternativas Mamãe Margarida pro-porcionou aos jovens do Oratório, muitos deles oriundos das prisões com enfermida-des graves. Interessante é que a vulnerabilidade do bem-estar físico e mental dos frequen-tadores do Oratório deixou marcas na nos-sa mística. Domingos Sávio, por exemplo, morreu prematuramente com complicações de saúde, alguns salesianos também morre-ram vitimados por doenças precoces devi-do ao estresse e a uma alimentação precá-ria, como também, várias FMA. O príncipe Augusto Czartoryski, nobre, inteligente e piedoso que pede para ser salesiano e usa até de meios poderosos, sucumbe vitimado pela frágil saúde, mas fiel a Dom Bosco. A pergunta é: de onde esses jovens e salesianos conseguiram forças para viver o calor e frio, a sede e a fome fiéis ao projeto de Dom Bosco? Certamente na sua mística e no seu testemunho de apóstolo ousado e empreendedor. Assim como Jesus, Dom Bosco era movido pela compaixão pelos jo-vens doentes:

28 BRAIDO, Pietro, Dom Bosco pai dos jovens no século da liberdade, vol.1, São Paulo: Salesiana, 2008, p. 509.29 Ibid., p. 51230 Ibid., p. 51431 BRAIDO, Pietro, Dom Bosco pai dos jovens no século da liberdade, vol. 2, p. 51532O bispo nem nega e nem afirma categoricamente porque ouviu do próprio Dom Bosco tais narrativas. Cfr. STELLA, Pietro, Don Bosco nella storia dela

religiosità cattolica, vol. III, La canonizzazione (1888-1934), Roma: LAS, 1988, p. 90.

33Ibid., p. 205-210.34Memórias do Oratório, Op. Cit., p. 43. DA SILVA MENDONCA FILHO, João, A corda bamba e a certeza, Op. Cit., p. 38-39.35Memorias Biográficas, vol. 1, p. 482.36Memorias do Oratório, Op. Cit., p. 188-189. VECCHI, Juan, Enfermidade e ancianidade, Op. Cit., 12-13.

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“Traziam-lhe todos os que eram aco-metidos por doenças diversas e ator-mentados por enfermidades, bem como endemoniados, lunáticos e pa-ralíticos. E ele os curava”(Mt 4,24).

Este gigante da saúde física e mental foi também aos poucos deixando sua marca entre nós. A partir de 1884 se multiplicaram suas enfermidades: “anemia, disfunções he-páticas, infecção bronquiais, distúrbios cir-culatórios, enfraquecimento da visão, incha-ço das pernas”37. Contudo, ele continuará ativo até me-ados de 1887 quando passou a viver mais em Valsálice e o Colégio de Lanzo. As náu-seas e a dificuldade de respirar eram con-tinuas38. Depois de um período de longa e dolorosa enfermidade, suas últimas palavras foram: “Dizei aos jovens que eu os espero no paraíso [...] Seja feita em tudo a vontade de Deus”39. Exatamente às 04h45 do dia 31/01, “com extrema doçura, elevou o braço pater-no e pronunciou as palavras de benção”40. Depois seu braço paralisou e não falou mais.

FEcHando a convErSa Concluo estas breves reflexões sobre Dom Bosco e a saúde com a recita do Salmo 29, 1-13(30) que nos falada libertação:“Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, e não deixastes rir de mim meus inimigos.Senhor, clamei por vós, pedindo ajuda, e vós, meu Deus, me devolvestes a saúde.

Vós tirastes minha alma dos abismos e me salvastes, quando estava já morrendo. Cantai salmos ao Senhor, povo fiel, dai-lhe graças e invocai seu santo nome. Pois sua ira dura apenas um momento, mas sua bonda-de permanece a vida inteira. Se à tarde vem o pranto visitar-nos, de manhã nos vem saudar a alegria. Nos momentos mais felizes eu dizia: Jamais hei de sofrer qualquer desgraça! Honra e poder me concedia a vossa graça, mas escon-destes vossa face e perturbei-me. Por vós, ó meu Senhor, agora eu clamo, e imploro a piedade do meu Deus: Que vanta-gem haverá com minha morte, e que lucro, se eu descer à sepultura? Por acaso, pode o pó agradecer-vos e anunciar vossa leal fidelidade? Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade! Sede, Senhor, o meu abrigo e protetor! Transformas-tes o meu pranto em uma festa, meus farra-pos, em adornos de alegria, para minh’alma vos louvar ao som da harpa e ao invés de se calar, agradecer-vos: Senhor meu Deus, eter-namente hei de louvar-vos!”

Que Dom Bosco nos ajude a viver saudáveis de mente, coração e vontade. Amém.

FACUlDADE SAlESIANA Dom BoSCo • 10 ANoS

A Faculdade Salesiana Dom Bosco Manaus (FSDB), de Manaus, pre-para-se para comemorar dez anos

de credenciamento no próximo dia 17 de abril. A Instituição espera comemorar essa data inaugurando uma nova sede na Zona Leste da cidade de Manaus, o que possibi-litará expandir suas atividades no campo do Ensino, da Pesquisa, da Extensão e das Ações Comunitárias. A Assembleia Legis-lativa e a Câmara Municipal já sinalizaram homenagens públicas à FSDB, como é co-nhecida, que foi fundada nos princípios éticos, cristãos e salesianos e tem por mis-são promover o desenvolvimento integral da pessoa humana e do patrimônio cultu-ral da sociedade através da produção e di-fusão do conhecimento e do compromisso ético e político com a Região Amazônica. Observadas as finalidades da educa-ção superior, definidas no art. 43 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), tem ainda por finalidade enriquecer a sociedade com um núme-ro crescente de cidadãos comprometidos com a sua transformação estrutural para que se construa maior igualdade de parti-lha e de justiça dentro de uma dimensão cristã, busque uma sociedade livre, demo-crática e participativa e superem as discri-minações na construção de uma convivên-cia pluralista.

A Faculdade Salesiana Dom Bosco tem como visão ser referência de ensino supe-rior em ciências humanas e sociais aplica-das a partir da Pedagogia Salesiana. Nesses dez anos de credenciamento, com todos os cursos autorizados e com re-novação de reconhecimento, a Instituição, através de seus colaboradores, professo-res e técnico administrativos, tem empre-endido esforços para formar pessoas em níveis de graduação e pós-graduação, com espírito científico e pensamento reflexivo, aptas à inserção profissional, comprome-tidas com o desenvolvimento regional. As atividades cotidianas são pensadas e im-plementadas para que se promova o de-senvolvimento e a difusão de conhecimen-tos científicos, culturais e técnicos, através

Profª meire Botelho | Diretora Executiva da Faculdade Salesiana D. Bosco – FSDB/Manaus

37BRAIDO, Pietro, Dom Bosco pai dos jovens, Op. Cit., p. 54438DESRAMAUT, Francis, Vida do padre Miguel Rua, primeiro sucessor de

Dom Bosco (1837-1910), São Paulo: Salesiana, 2010, p. 118. BRAIDO,

Pietro, Dom Bosco pai dos jovens, Op. Cit, p. 649.

39DESRAMAUT, Francis, Vida do padre Miguel Rua, Op. Cit, p. 119.40Ibid., p. 120. DA SILVA MENDONCA FILHO, João, A corda bamba e a

certeza, Op. Cit., p, 98.

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do ensino, da pesquisa e da extensão confor-me as áreas de sua atuação. O corpo docente, com titulação e expe-riência adequada, procura estimular o conhecimento dos problemas do mun-do presente, em particular os nacionais e regionais, envolvendo os acadêmicos em atividades de voluntariado e de respon-sabilidade sócio ambiental para prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de re-ciprocidade, incentivando ainda as várias formas de manifestações culturais e reli-giosas que propiciem o pleno desenvolvi-mento humano. A FSDB surgiu a partir da reconheci-da tradição dos salesianos, que estão pre-sentes na Amazônia desde 1921 atuando na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Profissionalizante e Missões Indígenas. Os salesianos da Amazônia credenciaram a FSDB em 2002 e, um ano depois a mes-ma começou a funcionar com três cursos de graduação: Normal Superior (que depois foi transformado em Pedagogia), Filosofia e Serviço Social. A partir de 2005 começou a ofertar bacharelado em Administração e em Ciências Contábeis. Atualmente, além desses cinco cursos de Graduação a FSDB espera a aprovação para a oferta de novos cursos, inclusive Cur-sos Superiores Tecnológicos. Já possui, em sua sede atual nas dependências do Colégio Dom Bosco Centro, um elenco de mais de vinte Cursos de Especialização Lato Sensu, além de Cursos de Extensão, dentre os quais os de Língua estrangeira, especificamente in-glês e espanhol.

A trajetória da FSDB é marcada por desafios, mas também por vitórias, pois a mesma tem se dest acado nas avaliações do Ministério da Educação. Essas avalia-ções contam do Exame Nacional de De-sempenho dos Estudantes; Avaliação de Cursos de Graduação e Avaliação Institu-cional. O ENADE tem a finalidade de avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências. O exame consiste de provas aplicadas a alunos ingressantes e concluintes dos cursos de graduação, normalmente no mês de novembro de cada ano. Para a reali-zação do ENADE, os cursos são divididos pelo MEC em três grandes grupos, e cada um deles passa por avaliação uma vez a cada três anos. Ano passado, o Curso de Serviço Social da FSDB fez ENADE e, em uma escala de 1 a 5 pontos, o grupo da FSDB tirou a nota quatro. O ENADE produz dois resultados princi-pais: (1) o Conceito do ENADE, que é um nú-mero de 1 até 5 representando o desempenho dos alunos de um certo curso, e (2) o IDD, índi-ce de diferença entre os desempenhos obser-vados e esperados. O IDD representa a diferen-ça entre o desempenho dos alunos concluintes e dos alunos ingressantes de um curso. Ele é expresso também por uma escala de inteiros de 1 a 5. de maneira geral, a avaliação dos cur-sos da FSDB tem sido satisfatória. Os ava-liadores constatam “in loco” aquilo que é colocado no formulário eletrônico. Temos a responsabilidade de continuar a tradição, atualizada, da credibilidade construída por salesianos e leigos da amazônia no âmbito da educação.

A REDE DAS “NECESSIDADES” JUVENIS

Vivemos na era das necessidades, onde, de repente, tudo passa a ser indispensável por uma vida mais cô-

moda e confortável, e quanto mais, melhor. Nesse contexto, inseriram-se nos últimos anos os mecanismos e ferramentas disponí-veis na internet, começando pelos bate-pa-pos, muito populares já no fim da década de 90, quase ao mesmo tempo surgiram tam-bém os sites de relacionamentos, que eram, a princípio, ferramentas especificas para en-contrar a “cara-metade”, parceiros ou ami-zades, agora vemos ascender, por cima de todas essas ferramentas, as Redes Sociais, que em pouco tempo ganharam espaço, destaque e bastante força, gerando uma re-volução pouco silenciosa da internet.Um olhar mais atencioso sobre essa nova re-alidade nos ajuda a compreender um pouco do que torna mecanismos como esses tão atrativos e frequentados. As estatísticas da comScore, empresa ame-ricana especializada em métricas, apontam que em 2011 os números de internautas brasileiros alcançou cerca de 46,7 milhões, e desse número cerca de 44,9 milhões, 99% do total, acessam as redes sociais pelo me-nos uma vez ao mês. Outra pesquisa recen-temente divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) indica que cerca de 85% dos internautas estão na faixa dos 16 aos 24 anos. Ninguém pode negar que a

juventude é a primeira responsável pelo mo-vimento que acontece hoje na internet. A grande questão que surge é o que leva tantos jovens a penetrarem com tanta avidez nos espaços virtuais, e muitas vezes se fazer presença muito maior dentro da rede do que fora dela. A questão não é ne-nhuma novidade, na verdade, é um tema que vem sendo discutido por psicólogos e educadores desde o começo da febre dos relacionamentos virtuais. Tudo bem que as redes sociais hoje abrem espaço para quem deseja divulgar o próprio trabalho, fazer contatos profissionais e em muitos lugares já são utilizadas como instrumentos de trabalho. Existem também órgãos e empresas, e até congregações reli-giosas que tem um trabalho voltado para a

Wellington gonçalves, sdb | Pós-noviço

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juventude e que tomaram como empenho prático a participação e o envolvimento di-reto dentro destas redes como uma forma de se aproximar do seu público-alvo, de seus destinatários. Por outro lado, é notável que desde que na internet surgiram espaços de relacionamento social e virtual, a grande busca da juventude dentro desses mecanis-mos foi por um espaço onde pudessem ma-nifestar a própria opinião e mais do que isso, encontrar aceitação. Procuremos analisar a presença den-tro das redes sociais, nessa era das necessi-dades: acessar o Facebook, ao menos uma vez por dia, por exemplo, tornou-se uma grande necessidade para muitos jovens. É necessário receber uma mensagem nova, ser curtido, ter aquela sua frase ou pensa-mento compartilhado e ser notado. Até por que pela internet muita gente consegue ser mais espontânea do que na convivência real do dia a dia. Um jovem que quase não tem vida social, dentro do mundo virtual esbanja po-pularidade, manifesta a própria opinião e se revela. E não é de hoje que começamos a presenciar um espetáculo onde vale tudo por uma dose de atenção, para somar rela-ções e marcar presença na novidade do mo-mento. sem todos estes mecanismos virtuais estas relações talvez não existissem. O fato é que muitos destes “amigos virtuais” não tro-cam ao menos um “bom dia” fora da rede. É a partir desse momento que se revela a fragilidade e superficialidade das relações virtuais, e é também onde entra o trabalho dos educadores. O objetivo não é minar os recursos existentes, mas neutralizar o efeito nocivo provocado por eles não só no cam-

po das relações, mas também da identidade dos jovens, cada vez mais difícil de definir e amadurecer graças ao bombardeio cultural e midiático dos grandes meios de difusão.A indústria do entretenimento tem sido uma das grandes, senão a maior, responsável pela construção da identidade cada vez mais indefinida das massas, do grande público. A juventude é a principal consumido-ra de todo produto e propaganda ofertados por essa indústria nas últimas décadas. Tudo isso é fato e ao mesmo tempo não escapa da obviedade, está disponível para quem quiser ver. Portanto, voltemos para nós mesmos e o nosso contato direto com essa realidade tão abrangente. Muitos de nós já estamos inseri-dos nesse meio, sobretudo através das redes sociais. Somos capazes de perceber a incidên-cia e os efeitos delas sobre nós? A grande necessidade da década tal-vez seja essa mesmo: estar online na maior parte do tempo possível. Isso por que a inter-net já está oferecendo tantas possibilidades novas que não é preciso sair do lugar para resolver problemas de banco, pagar contas, falar com amigos distantes, ter aulas e até conhecer lugares novos. Os próprios desen-volvedores do Facebook já apresentaram o projeto que a rede tem de reunir o maior número de ferramentas e possibilidades dentro do site, ou seja, juntar o máximo de coisas necessárias e básicas para uma pes-soa para que ela possa ter acesso sem sair do site. Voltando para o nosso foco que é a internet e a juventude, dentro da Congrega-ção Salesiana, já estamos falando dos “no-vos pátios” onde a nossa ação possa alcan-çar as novas gerações de jovens, cada vez

mais difíceis de encontrar nos pátios físicos das nossas paróquias, escolas e obras sociais. O novo desafio é justamente encontrar uma forma adequada de acessar esses novos pátios, vis-to que a corrida atual é tão veloz que quando chegamos a acessar, de fato, a um mecanismo, ele já se tornou obsoleto. Portanto, o desafio não é apenas o acesso, mas conseguir acompanhar a mudança, e falar de mudança não é fácil.Estamos mesmo na era das “necessidades”, tanto para os jovens, como para crianças, adolescen-tes, adultos, idosos, padres, freiras, advogados, arquitetos, médicos, agricultores, políticos. Essas necessidades não são apenas conveniências, também existem neste meio as necessidades real-mente válidas e a mudança é uma delas. Para atingir os novos pátios, para que os novos acessos sejam possíveis demanda de nós interesse e empenho em um processo de mudança que já começou: o Documento de Aparecida

nos fala à respeito das comunidades missioná-rias, que estas devem “entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ul-trapassadas estruturas que já não favorecem a transmissão da fé” (DAp 365) e em outra pas-sagem nos recorda que é “urgente a criação de novas estruturas pastorais, visto que muitas de-las [existentes hoje] nasceram em outras épo-cas” (DAp 173) para atender às necessidades de uma realidade específica. Creio que isso seja vá-lido também para a nossa missão urbana com a juventude inserida em novas estruturas. O “produto” que nós ofertamos à juven-tude é a pessoa de Jesus Cristo e, na linguagem salesiana, a salvação das almas. Se quisermos “co-locar” o nosso produto no mercado atual precisa-mos ser mais do que nunca criativos, o que não implica em uma “concorrência” de nossa parte, o que seria ridículo, e nem uma luta equiparada, ou seja, utilizando as mesmas armas de outras deno-minações. A igreja tem suas próprias “armas”: a profe-cia, a santidade de vida, a solidariedade cristã. Mas o nosso anúncio do evangelho hoje continua a exi-gir de nós conhecermos e participarmos dos novos meios de forma ativa e significativa.

Nem tudo é novidade, os jovens de hoje continuam buscando a Deus. Contudo, uma parte expressiva dos jovens internautas tem re-velado que a forma com que esses instrumen-tos virtuais vêm sendo empregados nos últimos tempos precisa ser reavaliada. A ideia inicial e as possibilidades ofereci-das pelos mecanismos de redes sociais têm to-das as condições de oferecer ainda muito mais do que relações superficiais e já oferece, basta agora que possamos superar esse nível de ne-cessidades puramente atávicas e avançar para um nível maior de relevância educativa. E dom Bosco nos recomenda ainda hoje que para conquistar os jovens é preciso se aproxi-mar deles, se interessar por aquilo que a eles inte-ressa, pelas suas coisas, “amar o que eles amam”, para que depois eles também se interessem por aquilo que queremos transmitir a eles: o amor que deus tem por eles.

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capa 2EXPEDIENtE

TAPIRI • COMUNICAçõES PASTORAIS DA INSPETORIA SãO DOMINGOS SáVIO ANO 1989, N° 163 • ABRIL/MAIO DE 2012.

TAPIRI é uma publicação bimestral e gratuita da Inspetoria São Domingos Sávio, iniciada em janeiro de 1989 , dirigida aos Salesianos de Dom Bosco e aos colaboradores leigos e edu-cadores nas inúmeras casas salesianas perten-centes à região amazônica brasileira que com-põem a inspetoria, com o objetivo de ser um instrumento de reflexão sobre temas diversos alinhados à ação pastoral do carisma salesiano.

O TAPIRI reserva-se o direito de condensar/editar as matérias enviadas como colabora-ção. Os artigos assinados não refletem neces-sariamente a opinião do instrumento pastoral, sendo de total responsabilidade de seus auto-res.

Organização: CIP/CICDelegado da Comissão Inspetorial de Comunicação: Pe. Daniel CunhaEquipe editorial: Pe. Daniel Cunha, Pe. João Men-donça, Pe. João Benedito, Felipe Cumaru,Adriano Santos, José Luis (Zeca), S Wellington Gonçalves.Projeto Gráfico: Felipe CumaruRevisão: Sirlene DuarteDistribuição: Josely Moura

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(Pe. Gennaro)

ORAÇÃO A DOM BOSCO PELAS VOCAÇÕES SALESIANAS

Ó São João Bosco, Pai e Mestre da juventude, que tanto trabalhaste para a salvação das pessoas, sê nosso guia em nossa própria santificação e na salvação dos jovens a quem somos enviados.

Desperta o coração de muitos jovens, inclusive os de nossa própria comunidade, para o seguimento do Senhor, seja como sacerdote, como religioso, como religiosa ou como leigo comprometido.

Ensina-nos a amar a Deus e aos jovens com o mesmo fervor com que os amaste e entregaste tua vida por eles. AMÉM.

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