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CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
LUCAS DE MENEZES PEREIRA
NATAL, 2016
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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LUCAS DE MENEZES PEREIRA
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
Trabalho Final de Graduação apresentado
à banca examinadora do curso de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, sob a
orientação do Prof. Dr. Marcelo Bezerra
de Melo Tinôco, como exigência para
obtenção de grau de Arquiteto e
Urbanista.
NATAL, 2016
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LUCAS DE MENEZES PEREIRA
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do grau em Arquiteto e Urbanista.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco
Orientador
_________________________________________________
Avaliador interno – UFRN
_________________________________________________
Avaliador externo – Arquiteto e Urbanista
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AGRADECIMENTOS
“ (...)fazei tudo para a glória de Deus. ” (1 Coríntios 10:31b)
Acima de tudo e todos, gostaria de agradecer a Deus, por acreditar que Ele, antes de eu
ainda existir, planejou cada dia da minha vida e me conduziu para que um dia eu escolhesse ser
arquiteto. Não apenas isso, me deu capacidade de finalizar o curso. À Ele toda a glória.
Agradeço ao meu pai, Dancleiton, por me ensinar disciplina e à minha mãe, Jeanice, minha
primeira inspiração na área criativa. Espero de alguma forma estar realizando um pouco de seu
sonho.
Aos meus irmãos, Felipe e Davi, agradeço por serem para mim um exemplo em tudo que
fazem, como estudantes, profissionais e como pessoas.
Aos meus avós, José e Liliam e Luiz e Nair, que sempre me deram apoio e oram por mim,
para que eu possa obter êxito em tudo que faço. Amo vocês.
A todos os meus tios e primos, que são muitos, agradeço por ter vocês como família.
Agradeço também a todos os professores da UFRN que me ensinaram durante minha
graduação, e aos professores do IIT por terem mudado totalmente minha visão sobre arquitetura.
Aos meus colegas de curso (por medo de esquecer de alguém não citarei nomes) obrigado
pela troca de conhecimento e por me ajudar no meu crescimento profissional.
Aos amigos que fiz em todas as partes do mundo, obrigado por me fazer sentir especial.
Considero este trabalho como final de um ciclo e o começo de um outro ainda
desconhecido, mas já escrito.
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RESUMO
Os avanços tecnológicos no decorrer da história proporcionaram aos arquitetos a
possibilidade de explorar novas soluções à problemáticas comuns em seu processo de criação. É
sabido que as tecnologias CAD (computer aided design) tiveram grande influência na relação do
arquiteto com o computador. Os avanços no desenvolvimento de softwares permitiram que o
pensamento algoritmo alcançasse os arquitetos, possibilitando a criação de uma lógica em seus
modelos virtuais, através das relações entre parâmetros do projeto. O projeto paramétrico, como
é chamado, sugere uma nova maneira de se conceber um projeto, possível através da modelagem
paramétrica e o pensamento computacional. Pelo fato de no Brasil ainda ser um assunto pouco
difundido nas escolas de arquitetura, este Trabalho tem por objetivo torna-lo tangível a alunos e
profissionais através do estudo do conceito de Design Paramétrico com a elaboração do projeto
de um pavilhão cultural na cidade de Natal, destacando de forma prática, as nuances deste
processo de projeto.
Palavras-Chave: CAD; Projeto Paramétrico; Modelagem paramétrica; Softwares; Pavilhão
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ABSTRACT
The technological advances throughout the history allowed the architects to explore new
solutions to usual problematics in their Design process. It’s Known that the CAD technologies
(Computer aided design) had a great influence in the relationship between the architect and the
computer. The advances in the software’s development allowed the algorithm thinking to reach
architects, letting the creation of a new logic in their virtual models through the relationship among
the parameters of a project. The Parametric Design suggest a new way to design a building that is
possible only with parametric modeling and computational thinking. This thesis aims to make this
subject more tangible to students and professionals by studying the concept of Parametric Design
together with the design of a cultural pavilion to the city of Natal, Brazil, highlighting in a practical
way the nuances of its design process.
Keywords: CAD; Parametric Design; Parametric modeling; Software; Pavilion
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Gráfico e equação para achar um ponto em uma circunferência. ................................ 21
Figura 2 - Algoritmo do Café ................................................................................................... 23
Figura 3 - Configuração criada a partir de análise topológica. .................................................... 25
Figura 4 - O Modulor, de Le Corbusier, é um tipo de parâmetro. ............................................... 26
Figura 5 – SketchPAD sendo usado.......................................................................................... 28
Figura 6 - DAC-1 System ......................................................................................................... 29
Figura 7 - PC da Apple, lançado em 1984 ................................................................................. 30
Figura 8 - London City Hall, projetado pelo escritório Foster + Partners ..................................... 31
Figura 9 - Interface do Rhinoceros, com tela do Script à esquerda ............................................. 33
Figura 10 - Interface do Grasshopper à direita e Rhinoceros à esquerda. ................................... 34
Figura 11 - Ponto de ônibus desenvolvido a partir da abordagem paramétrica. .......................... 34
Figura 12 - As três fases de experimentação realizadas pelos alunos. ......................................... 35
Figura 13- Possibilidades encontradas pelos alunos. ................................................................. 36
Figura 14 - Nuvem de tags de um artigo, com as palavras mais usadas em maior tamanho. ........ 39
Figura 15 - imagem externa do edifício St Mary Axe ................................................................. 40
Figura 16 - Croqui justificando o formato do edifício a partir do parâmetro da ventilação. .......... 41
Figura 17 - Planta baixa tipo. .................................................................................................. 41
Figura 18 - Parametrização da altura e formato vertical do edifício a partir do programa usado. .. 42
Figura 19 - Parametrização da planta baixa a partir do programa usado. .................................... 42
Figura 20 - Parametrização do projeto no Grasshopper. ........................................................... 43
Figura 21 - Parametrização da estrutura e fachada. .................................................................. 44
Figura 22 - Perspectiva externa da arena. ................................................................................ 44
Figura 23 - Diagrama da parametrização das pétalas. ............................................................... 45
Figura 24 - Variações possíveis com as pétalas. ........................................................................ 46
Figura 25 - Estrutura da arena. ............................................................................................... 47
Figura 26 - Revestimento de alumínio. .................................................................................... 47
Figura 27 - Logotipo do Rhinoceros e Grasshopper, respectivamente. ....................................... 50
Figura 28 - imagem demonstrativa de uma superfície criada com a lógica NURBS....................... 51
Figura 29- Tela inicial com opções de templates....................................................................... 52
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Figura 30 - interface do Rhinoceros com destaque para a barra superior. .................................. 53
Figura 31 - interface do Rhinoceros com destaque para a barra de comandos. ........................... 53
Figura 32 - interface do Rhinoceros com destaque para a barra de ícones. ................................ 54
Figura 33 - interface do Rhinoceros com destaque para aba de propriedades de Tela. ................ 54
Figura 34 - Interface do Rhinoceros com destaque para as quatro telas de visualização. ............ 55
Figura 35 - Ponto, Linha, Poli linha e curva no Rhinoceros. ....................................................... 56
Figura 36 - Definindo o eixo da helicoidal no Rhinoceros.......................................................... 56
Figura 37 - Helicoidal desenhada no Rhinoceros ...................................................................... 57
Figura 38 - Curva sendo movimentada por pontos................................................................... 57
Figura 39 - Superfíce e Poli superfície no Rhinoceros. .............................................................. 58
Figura 40 - Sólido em Mesh thiangular e NURB........................................................................ 59
Figura 41 - Superfíce sendo criada a partir do EdgeSurface. ..................................................... 59
Figura 42 - Superfície criada com o comando Loft.................................................................... 60
Figura 43 - Programação no Pynthon e no Grasshopper, respectivamente. ............................... 61
Figura 44 - Exemplo de Função na programação padrão. ......................................................... 63
Figura 45 - Tela de trabalho do Grasshopper. .......................................................................... 64
Figura 46 - Representações de Parâmetros, Componentes e Conexões no Grasshopper,
respectivamente. .................................................................................................................. 65
Figura 47 - Ilustração da lógica esquerda-direita do Grasshopper. ............................................ 65
Figura 48 - Componente cinza. ............................................................................................... 66
Figura 49 - Componente Cinza escuro. .................................................................................... 66
Figura 50 - Componente verde. .............................................................................................. 67
Figura 51 - Componente Cinza Claro. ...................................................................................... 67
Figura 52 - Componente Laranja. ............................................................................................ 68
Figura 53 - Componente Vermelho. ........................................................................................ 68
Figura 54 - Exemplo de Lista no Grasshopper. ......................................................................... 69
Figura 55 - Elementos da lista................................................................................................. 69
Figura 56 - Exemplo da lógica de correspondência de dados no Grasshopper. ........................... 70
Figura 57 - Imagem esquemática explicando a lógica do Data Tree Structure. ........................... 71
Figura 58 - Lista com destaque para a indicação do data tree path. .......................................... 72
Figura 59 - "Paths" no Grasshopper. ....................................................................................... 72
Figura 60 - Serpentine Gallery Pavillion. .................................................................................. 76
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Figura 61 - Imagem interna do pavilhão. ................................................................................. 76
Figura 62 - Estruturas metálicas esguias e efeito interno. ......................................................... 77
Figura 63 - Pavilhào do Brasil na EXPO de Milão de 2015. ........................................................ 77
Figura 64 - Ftografias internas do pavilhão. ............................................................................. 78
Figura 65 - Localização do terreno escolhido. .......................................................................... 79
Figura 66 - Imagens do local. .................................................................................................. 80
Figura 67 - Diagrama de Fluxo de carros ao redor do terreno. .................................................. 81
Figura 68 - Diagrama de entorno. ........................................................................................... 82
Figura 69 - Diagrama conceitual. ............................................................................................ 83
Figura 70 - Diagrama de estudo do terreno. ............................................................................ 84
Figura 71 - Millenium Park, fotografias em diferentes situações. .............................................. 85
Figura 72 - Croqui da ideia inicial do programa. ....................................................................... 86
Figura 73 - Diagrama de disposição dos programas, tendo como base um gradiente. ................ 87
Figura 74 - Diagrama das primeiras operações volumétricas. ................................................... 88
Figura 75 - Diagrama de funcionamento do palco, com as três possibilidades. .......................... 89
Figura 76 - Ideia do módulo. .................................................................................................. 90
Figura 77 - Diagrama das variáveis definidas. .......................................................................... 91
Figura 78 - Definição do Algoritmo. ........................................................................................ 92
Figura 79 - Passo 1................................................................................................................. 92
Figura 80 - Passo 2................................................................................................................. 93
Figura 81 - Passo 3................................................................................................................. 93
Figura 82 - Passo 4................................................................................................................. 94
Figura 83 - Passo 5................................................................................................................. 94
Figura 84 - Passo 6................................................................................................................. 95
Figura 85 - Passo 7................................................................................................................. 95
Figura 86 - Passo 8................................................................................................................. 96
Figura 87 - Passo 9................................................................................................................. 96
Figura 88 - Passo 10. .............................................................................................................. 97
Figura 89 - Definição Final no Grasshopper. ............................................................................ 97
Figura 90. - Testes com os módulos, mudando os valores das varáveis. .................................... 98
Figura 91 - Algoritmo utilizado para gerar a análise de sombreamento no Ladybug. .................. 99
Figura 92 - Estudo de sombreamento dos módulos no edifício. ................................................ 99
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Figura 93 - Definição final da fachada. .................................................................................. 100
Figura 94 - Perspectiva com a disposição final dos módulos. .................................................. 101
Figura 95 - Perspectiva com o palco e os módulos. ................................................................ 101
Figura 96 - Perspectiva dos mósdulos no espaço Canvas. ....................................................... 102
Figura 97 - Diagrama de usos possíveis do espaço canvas. ..................................................... 103
Figura 98 - Diagrama de funcionamento do palco. ................................................................. 104
Figura 99 - Diagrama estrutural. ........................................................................................... 105
Figuras 100 e 101 - Diagrama de desempenho térmico e ftotgrafia de sua aplicação,
respectivamente. ................................................................................................................ 106
Figura 102 e Figura 103 - revestimento de fibrocimento. ....................................................... 107
Figura 104 - Exemplo de telha termo isolante. ...................................................................... 107
Figura 105 - Exemplo de placas cimentícias ........................................................................... 108
Figura 106 - Implantação Final ............................................................................................. 109
Figura 107 - Planta baixa - Térreo ......................................................................................... 110
Figura 108 - Planta baixa - Primeiro andar............................................................................. 110
Figura 109 - Corte Longitudinal ............................................................................................ 111
Figura 110 - Corte Transversal .............................................................................................. 111
Figura 111 - Detalhe Construtivo .......................................................................................... 112
Figura 112 - Render Externo, Cinema aberto. ........................................................................ 113
Figura 113 - Render Externo, Festival de música. ................................................................... 113
Figura 114 - Render interno, Cafeteria. ................................................................................. 114
Figura 115 - Render Interno, Mezanino, vista para exposição de arte. .................................... 114
Figura 116 - Render interno, Espaço Canvas com feira de frutas. ............................................ 115
Figura 117 - Render Interno, Auditório. ................................................................................ 115
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Parâmetros dos algoritmos. ......................................................................................................... 36
Tabela 2 - Pré-dimensionamento. .................................................................................................................. 86
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CAD - Computer Aided Design
MP - Modelagem paramétrica
NURBS - Non-Uniform Rational B-Splines
PC - Personal Computer
RHINO - Rhinoceros
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SUMÁRIO
1.0 – INTRODUÇÃO 18
2.0 – PROJETO PARAMÉTRICO: SIGNIFICADOS E APLICAÇÕES 21 2.1 - O que é um Projeto paramétrico? 21
2.1.1 - O pensamento algorítmico. 22
2.2 - A taxonomia dos parâmetros 24
2.2.1 - Parâmetros matemáticos 24
2.2.2 - Parâmetros geométricos 24
2.2.3 - Parâmetros topológicos 25 2.2.4 - Parâmetros representativos 25
2.2.5 - Parâmetros materiais 25
2.2.6 - Parâmetros ambientais 26
2.2.7 - Parâmetros ambientais 26
2.3 - Modelagem Paramétrica e o processo de projeto. 27
2.3.1 - Do surgimento da tecnologia CAD à Modelagem paramétrica: um breve histórico.
28
2.3.2 – Modelagem paramétrica: novas técnicas e implicações no processo de projeto.
32
2.3.3 – Além das ferramentas: a abordagem paramétrica como uma nova maneira de pensar.
38
2.4 - Estudos de referência 40
2.4.1 – St Mary Axe, Fosters + Partners 40
2.4.1 – The Hangzhou Tennis Center, NBBJ 44
3.0 – AS FERRAMENTAS: RHINOCEROS E GRASSHOPPER 50
3.1 – Rhinoceros 51
3.1.1 – Interface 52
3.1.2 – Criando e editando – geometria 2D 55 3.1.3 – Criando e editando – geometria 3D 58
3.2 – Grasshopper 60
3.2.1 – O que é um programa? 62
3.2.2– Variáveis. 62
3.2.3 – Funções. 63
3.2.4 – Depuração (Debugging). 63
3.2.5 – Grasshopper - Interface 64
3.2.6 – Grasshopper – sistema de cores 66
3.2.7 – Listas e correspondência de dados. 68
3.2.8 – Data Tree strucutre. 70
3.2.9 – Novos softwares, novos aprendizados. 73
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4.0 – CANVAS: O PROJETO PARAMÉTRICO DE UM PAVILHÃO.
4.1 – Pavilhão: uma estrutura flexível. 75
4.2 – O projeto 78
4.2.1 – O Local: Análise do entorno. 79
4.2.2 – Canvas: conceito 83 4.2.3 – A ideia: desenvolvimento 83
4.2.4 – A parametrização 90
4.2.5 – Desenvolvimento final – Aplicando o algoritmo na fachada 98
4.2.6 - O Espaço Canvas e o Palco: possibilidades de usos e funcionamento 102
4.2.7 - Materiais e Estruturas 105
4.2.8 – Apresentação do projeto. 108 5.0 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 116
6.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 118
7.0 – APÊNDICES 120
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“To be creative you
have to resist taking
the easy path”
Daniel Libeskind
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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1.0 – INTRODUÇÃO.
A abordagem paramétrica apresenta-se como uma nova maneira de desenvolver um projeto
dentre um universo de possibilidades já existentes. Tendo por base conceitos matemáticos, como
variáveis e algoritmos, e possuindo uma forte relação com o computador, este tipo de pensamento
tem sido explorado há algum tempo. Contudo, somente nos últimos anos, com rápido
desenvolvimento da indústria de softwares, que ela se tornou mais tangível e, portanto, mais
utilizada pelos profissionais e estudantes de arquitetura e urbanismo.
Apesar disso, a grande maioria das faculdades de arquitetura no Brasil ainda não consideram
esta nova abordagem em seu ensino de projeto, com poucas produções teóricas e práticas no
cenário nacional. Em conversas com colegas e profissionais, percebe-se que a grande maioria
relaciona o nome “Design Paramétrico” a um certo tipo arquitetônico, referenciando muitas vezes
as produções de arquitetos como Zaha Hadid.
De fato, existem arquitetos que propõem uma tipologia vanguarda possível com a
parametrização como arquiteto Patrik Schumacher1, que em seu artigo Parametricism as Style -
Parametricist Manifesto (2008) propõe um novo estilo de arquitetura o qual o nomeia de
Parametricismo. Em seu manifesto, apesar de identificar como características deste tipo a
diferenciação e correlação entre as várias partes de um sistema arquitetônico, evitando sempre as
formas rígidas e comuns, o próprio ressalta que um projeto desenvolvido parametricamente não
necessariamente é parametricista.
Portanto, é primordial o entendimento de que Design paramétrico (ou projeto paramétrico)
está relacionado ao processo de projeto e não ao resultado desse .
Esta monografia tem como objetivo geral explorar o conceito de Design Paramétrico de forma
teórica e prática. Têm-se como objetivos específicos o entendimento do que o projeto paramétrico
significa na arquitetura, o aprofundamento de softwares que permitem a modelagem paramétrica
e por fim, a prática da modelagem paramétrica em um processo de concepção de projeto.
Tendo os objetivos acima como base, este trabalho divide-se essencialmente em três partes:
a primeira é destinada à teoria, onde será apresentado de forma didática a definição do termo
1 É arquiteto diretor do escritório Zaha Hadid Architects desde 1988.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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“projeto paramétrico”, analisando suas nuances e discutindo os novos conceitos que esta
abordagem traz consigo; segunda destina-se ao software Rhinoceros e o plug-in Grasshopper ( o
qual permite a modelagem paramétrica) tendo por objetivo principal apresentar a lógica de
funcionamento desses, tendo por objetivo principal apresentar a lógica de funcionamento desses,
para que aqueles que não tem nenhum contato com eles possam adquirir um conhecimento
básico; Por fim, a terceira parte destina-se a uma experiência prática da abordagem paramétrica
através do desenvolvimento do projeto de um pavilhão cultural.
A escolha do desenvolvimento do pavilhão deu-se principalmente pela liberdade que esta
tipologia oferece de formas e programas, sendo perfeito para explorar a parametrização no
processo criativo. Destaca-se também que a parte destinada ao projeto é focado principalmente
no processo criativo, e principalmente, na parametrização. As especificações técnicas, apesar de
abordadas, não são o foco principal.
Por fim, a conclusão serve como um apanhado geral de tudo o que foi abordado, analisando a
aplicação da teoria na prática, assim como identificando os desafios encontrados no processo de
projeto, além de apontar para futuras possibilidades de aprofundamento deste tema.
Espera-se que este trabalho possa ser proveitoso àqueles que ainda não conhecem o Design
paramétrico e pretendem aprofundar-se no assunto.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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2.0 – PROJETO PARAMÉTRICO: SIGNIFICADOS E APLICAÇÕES.
2.2 - O que é um Projeto paramétrico?
A fim de entender por completo o que é um projeto paramétrico, é necessário inicialmente
uma análise sobre o termo “paramétrico”, investigando a etimologia da palavra assim como o seu
significado em diversas áreas de conhecimento.
O termo “Paramétrico” origina-se da palavra parâmetro, derivada do grego para (o qual
significa ao lado, antes ou ao invés de) e metron (significando medida). Tendo isso por base, pode-
se afirmar que parâmetro significa um termo que representa ou determina uma medida. No
dicionário online Michaelis da Língua Portuguesa também é encontrado que ele pode significar
“todo elemento cuja variação de valor altera a solução de um problema sem alterar-lhe a natureza”
(MICHAELIS,2009).
Na matemática, entretanto, é onde encontra-se um uso maior deste termo. Nesta área de
conhecimento, parâmetro é dado pela variável que funcionando como constante arbitrária, faz
depender dos seus valores o conjunto das soluções. Analisando uma simples equação de como
achar um ponto em uma circunferência qualquer em coordenadas polares (x, y) pode-se entender
melhor sua aplicabilidade (figura 1).
Figura 1 - Gráfico e equação para achar um ponto em uma circunferência.
Fonte: algosobre.com.br
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Como observado nas equações acima, os pontos deste círculo possuem a constante r, que
no caso seria o raio do círculo, e as variáveis x e y, que são as coordenadas de um ponto qualquer.
Neste exemplo, o valor das coordenadas seriam o parâmetro da equação, pois a medida que o
valor de x é modificado, o valor de y também muda, permitindo assim encontrar qualquer ponto
em uma determinada circunferência. Em suma, um parâmetro pode ser considerado como
qualquer fator mensurável que define um sistema ou determina seus limites. (HUDSON, 2010)
Em relação ao termo “projeto”, geralmente entende-se como um produto final de uma
solução para um determinado problema. Na arquitetura, contudo, projeto é mais do que o
resultado apresentado, mas sim todo o processo que ocorre para chegar à solução. Roland Hudson,
em sua tese Strategies for parametric design in architecture (2010) afirma que projeto é uma
“atividade que envolve a definição de um problema, para assim gerar e pesquisar entre alternativas
a fim de encontrar a solução que satisfaz o problema” (HUDSON,2010, pg 21)2.
Sabendo então os significados dos termos “projeto” e “parâmetro” pode-se chegar à
definição de Projeto paramétrico. Um projeto paramétrico seria então um processo onde um
problema é reconhecido e definido e uma ou mais variáveis são escolhidas como parâmetro para a
busca de soluções.
2.2.1 – O pensamento algorítmico.
Ao invés de confiar em uma procura intuitiva para uma solução, o design paramétrico
constantemente envolve precisão e técnicas passo-a-passo que produzem um resultado (JABI,
2011, pg 21). Esse tipo de raciocínio tem como base o pensamento algorítmico, utilizado com mais
frequência na matemática e na programação.
Um algoritmo pode ser definido como um sistema de regras as quais precisamente definem
uma sequência de operações a fim de produzir um resultado final. Sabe-se que “(...) o pensamento
algoritmo sempre foi uma marca de um arquiteto, certamente pelo menos nos tempos do antigo
Egito e da Grécia. ” (JABI,2011, pg 21).
2 Do original: “In summary “design” in this thesis is a task that involves defining a description of a problem,
then generating and searching amongst alternatives to find a solution that satisfies the problem.”
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Certamente os arquitetos e designers que desejam aplicar os conceitos de projeto
paramétrico na arquitetura encontram-se desafiados a aprender conceitos matemáticos, mais
especificamente a lógica algorítmica, conceitos esses mais familiares a programadores de
softwares. Entretanto, apesar da complexidade matemática, o conceito de algoritmo é mais
simples e mais presente no nosso dia-dia do que parece. Isso porque, pode-se afirmar que um
algoritmo é basicamente uma receita, ou qualquer sistema de regras, ações passo-a-passo que
fazemos para obtermos algum resultado.
Como exemplo, podemos ilustrar a experiência de preparar um simples café (Figura 2). Para
que possamos chegar ao resultado final (o café propriamente), temos que ter os grãos (ou café em
pó), a água fervida e o açúcar. A mistura destes três ingredientes produz o café que bebemos. Sem
seguir esse passo-a-passo, não chegaremos ao resultado final. A quantidade de água, os grãos e o
açúcar, contudo, podem variar em quantidade o que faz com esses sejam considerados variáveis
da função.
Figura 2 - Algoritmo do Café
Fonte: Autoria própria
Algoritmos também são a base de qualquer software. “Atrás de qualquer parte do software
está um a gama de instruções precisas e técnicas que interagem com o usuário, responde a
eventos, e lê, manipula e exibe informações” (JABI,2011, pg 21).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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2.3 - A taxonomia dos parâmetros.
O processo de projeto paramétrico baseado no pensamento algorítmico consiste em um
conjunto de regras e parâmetros que “definem, codificam e clarificam a relação entre a intenção
de projeto e a resposta desse. ” (JABI, 2011, PG 196)
É sabido que os programas de computador que permitem a realização da modelagem
paramétrica (MP) focam na geometria e na topologia. Logicamente isso acontece pelo fato desses
softwares estarem atrelados à programas de modelagem tradicionais. Apesar de ser um bom
começo usá-los para estudar e alcançar novas formas e geometrias, existem outros parâmetros a
serem considerados.
Poucos especialistas da abordagem paramétrica classificam tipos de parâmetros. Por julgar
necessário, será apresentado abaixo uma classificação de tipos de parâmetros tendo como base a
classificação realizada pelo arquiteto Wassim Jabi em seu livro Parametric Design for architecture
(2011).
2.3.1 – Parâmetros matemáticos
É o tipo de parâmetro mais básico e conhecido pelos softwares de modelagem 3D.
São basicamente números, valores lógicos e sequências de caracteres.
2.3.2 – Parâmetros geométricos
São entidades de nível superior que são construídos a partir de parâmetros
matemáticos de nível mais baixo. Por exemplo, os pontos, as linhas, superfícies e sólidos. A
maioria dos softwares de modelagem 3D podem representar e modificar
parametricamente construções geométricas de tipos variados.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
25 | P á g i n a
2.3.3 – Parâmetros topológicos
São relações que podem ocorrer entre duas ou mais as entidades. Por exemplo:
conectado, acima, abaixo, perto de, dentro de, fora de, etc. Por exemplo, um padrão de
um grid é a topologia que divide uma superfície em uma maneira coerente
independentemente da geometria exata da superfície matriz.
Figura 3 - Configuração criada a partir de análise topológica.
Fonte: generativelandscapes.wordpress.com
2.3.4 – Parâmetros representativos
Descreve e abstrai entidades fora de si. Exemplos incluem representação em
computador de paredes, janelas e estrutura. Softwares BIM (Building information
modeling) como o Revit, foram criados justamente para responder a essa necessidade de
representar objetos reais.
2.3.5 – Parâmetros materiais
Essa classe de parâmetros está mais relacionada à materialidade. São parâmetros
como tensão, peso, fricção, elasticidade e força estrutural que permitem o estudo da
performance de um material. Sistemas paramétricos devem futuramente abordar mais
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
26 | P á g i n a
essa área a fim de possibilitar estudos avançados de por exemplo, o efeito ao longo do
tempo em uma estrutura exposta ao fogo.
2.3.6 – Parâmetros ambientais
São as forças invisíveis do nosso entorno. Tempo, vento, mudança de temperatura,
vistas, movimento da luz e sombra, crescimento e erosão são exemplos de parâmetros
ambientais.
2.3.7 – Parâmetros humanos
É o mais desafiador de todos os parâmetros, afinal é para quem a
arquitetura é criada. A atividade de se trabalhar com o parâmetro humano vai além de
considerar uma escala humana, mas de olhar profundamente em suas atividades, além de
dar atenção a questões ergonômicas e psicológicas.
Figura 4 - O Modulor, de Le Corbusier, é um tipo de parâmetro.
Fonte: www.neermanfernand.com
Considerar todas essas classes citadas acima em um sistema de projeto paramétrico pode
ser um grande desafio. Mas é de responsabilidade do arquiteto saber trabalhar com esses, saber
abstraí-los a partir dos problemas dados e da intenção do design proposto.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
27 | P á g i n a
O processo de estudo e de utilização desses parâmetros em um processo de projeto
paramétrico permite uma experiência rica e diferenciada de criação, sendo possível através das
ferramentas computacionais que permitem a realização da modelagem paramétrica.
2.4 – Modelagem Paramétrica e o processo de projeto.
“O surgimento de um evento ou de uma inovação em qualquer campo do conhecimento é
geralmente creditado a um cenário propício, no qual se configuram as condições necessárias para
seu princípio” (POLONINI, 2014, pg 31). Com a modelagem paramétrica não é diferente. É sabido
que uma das principais características do processo de projeto paramétrico é a nova abordagem da
relação do arquiteto com o computador, mais precisamente com os softwares de modelagem.
Contudo, antes de adentrarmos nas nuances práticas da modelagem paramétrica é importante
contextualizar os avanços tecnológicos no âmbito da computação gráfica que precederam seu
surgimento.
2.4.1 – Do surgimento da tecnologia CAD à Modelagem paramétrica: um breve histórico.
Até meados do século XX as técnicas de projeto e as ferramentas de criação confiavam-se
basicamente no papel e os modelos físicos. Na década de 50, a mudança deste cenário teve o seu
início com o surgimento do Projeto Auxiliado por Computador (Computer Aided Design - CAD) que
trouxe conhecimentos de geometria codificados nas linguagens de programação através de
técnicas de Modelagem Geométrica (HOWARD, 2006). O CAD é, de forma resumida, a ut ilização
de tecnologias computacionais no processo de projeto (BESANT; LUI apud POLONINI, 2014, pg 25).
O objetivo desta área de conhecimento consiste na ideia de representar um produto virtualmente
fazendo-o uma “modalidade de representação e um instrumento mediador do processo de
projeto” (POLONINI,2014, pg 25).
A década de 50, porém, foi o tempo da descoberta da modelagem geométrica no mundo
da computação. Sua criação se deu pela necessidade de interação visual entre o homem e
máquina, pois antes os sistemas CAD eram pouco visuais e consistiam basicamente em produzir
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
28 | P á g i n a
uma definição do produto a ser fabricado na forma de um banco de dados geométricos, ou um
desenho derivado dessa base de dados, que estabelecesse a configuração física desse objeto.
Desta forma, as primeiras aplicações de CAD realizavam principalmente cálculos matemáticos ou
gerenciamento de dados de forma textual de programação.
Em 1963, em sua tese de doutorado no MIT, Ivan E. Sutherland criou o SKETCHPAD: a Man-
Machine Graphical Communication System”(figura 5). Com uma caneta óptica desenvolvida para
tal fim, ele desenha um trapézio disforme e em seguida, ele obscurece a tela, apertando um botão
para à sua esquerda. Quando Johnson se senta novamente, ele revela, com um toque de mágica,
que o trapézio se transformou em um retângulo. ” (DAVIS, 2013, Pg1). Esse “toque de mágico”
pode ser traduzido como informações geométricas conectadas que possuem uma relação entre
eles de modo que se tornam modificáveis. Esse sistema estabeleceu os pré-requisitos básicos para
um sistema CAD: a interface gráfica para comunicação visual entre homem e máquina mediante
dispositivos e/ou equipamentos de entrada e saída gráfica, e a representação visual do objeto
através da implementação em modelo geométrico (POLONINI, 2014).
Figura 5 – SketchPAD sendo usado.
Fonte: POLONINI,2014, pg 33
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
29 | P á g i n a
Como essa tecnologia tinha potencial de atingir diversas áreas de conhecimento, entre elas
a arquitetura, o decorrer das décadas de 1960 e 1970 foi marcado pelo avanço em pesquisas e
experiências sobre essa tecnologia CAD a fim de explorar seus possíveis usos e aplicações.
As indústrias que tinham interesse na utilização do CAD para a execução de seus produtos
realizaram pesquisas internas que resultaram no primeiro sistema de CAD comercial: o DAC -1
(Figura 6), criado pela IBM para a General Motors e propulsor de outras tecnologias na área
automobilística e aeronáutica (MITCHELL apud POLONINI,2014).
Figura 6 - DAC-1 System
Fonte: POLONINI,2014, pg 34
A década de 1980 foi o período de aproximação dos sistemas CAD com várias áreas de
projeto, dentre elas, a Arquitetura e propagação de seu uso. (POLONINI, 2014, pg36). Isso se deu
principalmente pela popularização dos computadores pessoais (personal computer – PC) e a
consequente queda de preços do hardware propiciada pelo avanço da microeletrônica, que trouxe
a crescente miniaturização dos equipamentos eletrônicos (AMORIM apud POLONINI, 2014). Esses
microcomputadores possuíam uma interface amigável com o uso de ícones e janelas. Um exemplo
é o PC desenvolvido pela Apple, em 1984 (Figura 7). A boa aceitação desses computadores
possibilitou uma abertura no mercado em massa para a tecnologia CAD.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
30 | P á g i n a
Figura 7 - PC da Apple, lançado em 1984
Fonte:whatsupfamecos.wordpress.com
Apenas no final da década de 1980 para o começo da década de 1990, houve uma difusão
destes programas em escritórios de arquitetura. Esses programas. Eram, principalmente, editores
de desenho que ofereciam um modo de produção diferente dos desenhos manuais executados
em pranchetas, pois esses programas CAD possuíam operações de compor, combinar e
transformar elementos gráficos presente nas telas que eram muitos difíceis de executar
manualmente (LAWSON apud POLONINI, 2014, pg 38). Isso possibilitou uma melhor precisão e
maior rapidez na produção dos desenhos técnicos. O AutoCAD, software produzido pela Autodesk,
(o mais conhecido e usado por profissionais de arquitetura) surgiu nessa época, tendo sua primeira
versão lançada em 1982.
A medida que os sistemas de desenho assistidos no computador foram se aprimorando,
surgiram as ferramentas de modelagem geométrica tridimensional. Isso permitiu ao CAD ser uma
alternativa de produção de maquetes eletrônicas, fazendo com que esses programas
funcionassem como uma ferramenta de visualização da proposta arquitetônica (EASTMAN, 1989,
p. 10).
Nesse contexto, houve a inserção da informática no programa de formação das escolas de
Arquitetura fora do país (POLONINI, 2014, pg 40). Contudo, essas novas ferramentas de desenho
não atingiram drasticamente o processo criativo do arquiteto, pois eles eram utilizados para o fim
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
31 | P á g i n a
de representação, quando o projeto estava definido. Houve apenas uma transferência do papel
para o computador.
Durante os anos 90, o CAD se tornou uma necessidade, um padrão em escritórios de
arquitetura tornando-se sinônimo de produtividade. A introdução da modelagem 3D, renderização
e capacidades comunicativas foi possível pelo aumento da potência dos microprocessadores nos
computadores (CELANI,2002, PG 35).
Outras áreas além da arquitetura começaram a desenvolver programas que atendessem
suas necessidades, como a cartografia e a geografia, o que despertou os arquitetos a explorarem
o potencial de aplicação desses novos programas, provenientes de outras áreas, na Arquitetura.
(POLONINI, 2014, pg 43).
Segundo Flavia Biccas (2014), na década de 2000 vê-se um aumento no interesse das
possibilidades de aplicações de CAD na Arquitetura, com pesquisas experimentais da década
passada, dando continuidade a elas e produzindo uma gama de publicações divulgadas por revistas
especializadas, como a International Journal of Architectural Computing, criado em 2001. Esse
cenário também propagou-se em concursos de arquitetura através de escritórios como Foster and
Parterns e Zaha Hadid que exploraram em suas produções arquitetônicas o uso de softwares de
modelagem geométrica. Entre inúmeras obras realizadas que podem ser citadas, destaca-se o
London City Hall (2002) do Foster and Partners (Figura 8).
Figura 8 - London City Hall, projetado pelo escritório Foster + Partners
Fonte: majorprojectemmamartin.wordpress.com
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
32 | P á g i n a
Nessa mesma década a Modelagem paramétrica (MP) entra em evidência. Isso deve-se
deve-se ao surgimento de programas que permitiam tal processo. Esse destaque foi impulsionado
pelo emprego de MP por um dos precursores de adoção de ferramentas de outras disciplinas na
arquitetura: Frank Gehry (POLONINI, 2014. Pg 56).
A capacidade de maior controle de interação com configurações geométricas se tornou um estímulo para o emprego de ferramentas de MP, atingindo um limite a ser aplicado em formas de alto nível de complexidade, uma
vez que essas formas geram grandes quantidades de relações entre esses elementos. (POLONINI, 2014, Pg 56)
Pode-se afirmar então, que a modelagem paramétrica como ferramenta de projeto na
arquitetura teve sua ascensão na década passada e surge como consequência do momento de alta
tecnologia e desenvolvimento da computação, que diretamente atinge os softwares de desenho
gráfico. Vemos que nos tempos atuais, a modelagem paramétrica está se aprimorando e tornando-
se mais tangível aos estudantes e profissionais de arquitetura. O desafio para o futuro não é apenas
difundir os aspectos técnicos de um software que permitam a eventual modelagem paramétrica,
mas sim a mudança da postura do arquiteto e de sua mente criativa no processo criativo, pois
como será visto no próximo tópico, a modelagem paramétrica interfere direta e indiretamente em
vários estágios do processo de projeto arquitetônico.
2.4.2 – Modelagem paramétrica: novas técnicas e implicações no processo de projeto.
Os processos de projeto nas suas mais variadas metodologias, possuem algo em comum:
na maioria das fases o arquiteto se depara com a necessidade de modificação. Os arquitetos
constantemente oscilam entre diferentes alternativas em um mundo de possíveis resultados,
trabalhando em soluções especificas em um determinado momento, ou olhando para o projeto
como todo a fim de sintetizá-lo. Isso acontece com o intuito de melhorar ou adaptar o projeto de
acordo com possíveis limitantes ou adições que podem aparecer no decorrer do processo criativo.
A interatividade e flexibilidade requerida aos softwares de modelagem 3D para executar essas
modificações é pouco presente na modelagem geométrica convencional. Geralmente ao se
modificar algum elemento em um modelo comum, é necessário também a modificação de outras
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
33 | P á g i n a
partes do projeto, sendo isso motivo de consumo de tempo e perda de produtividade no processo
de projeto.Os arquitetos podem encontrar na modelagem paramétrica (MP) a solução para tal
problema.
Um modelo paramétrico, consiste na representação computacional de um objeto construído com entidades, cujos atributos podem ser fixos ou variáveis. Os atributos variáveis podem ser representados por parâmetros e
regras, de forma a permitir que objetos sejam automaticamente ajustados de acordo com o controle do usuário e a mudança de contexto (ANDRADE;
RUSCHEL,2009).
Tal modelagem pode ser feita em softwares que permitem a utilização do método script,
que são “ ‘roteiros’ seguidos por sistemas computacionais e trazem informações que são
processadas e transformadas em ações efetuadas por um programa principal” (PEREIRA, 2012). Os
softwares Rhinoceros e o 3D max possuem plataformas para a criação de scripts (Figura 9).
Figura 9 - Interface do Rhinoceros, com tela do Script à esquerda
Fonte: www.behance.net/gallery/10272949/Digital-Fabrication-workshop
Muitos arquitetos, porém, não tem interesse ou acham complicado aprender a linguage m
da programação. Para isso existem alguns plug-ins, como o Grasshopper e o Paneling Tools, que
possuem uma interface mais visual, tornando a realização de modelos paramétricos mais acessível
aos leigos em programação (Figura 10). Uma explanação mais profunda sobre o funcionamento do
Rhinoceros e do Grashopper estarão disponíveis no capítulo 2 deste trabalho.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
34 | P á g i n a
Figura 10 - Interface do Grasshopper à direita e Rhinoceros à esquerda.
Fonte: www.youtube.com/watch?v=8TFrz2eWyB0
Para ilustrar como funciona uma abordagem paramétrica, abaixo está o desenho de uma
parada de ônibus juntamente com a definição do Grasshopper. Para este projeto3, escolheu-se
como variáveis a frequência das ondulações do banco assim como o da cobertura e a altura da
cobertura em relação ao piso. O resultado é a possibilidade de inúmeras configurações de assento
e cobertura, que podem ser modificados dependendo do critério escolhido (Figura 11).
Figura 11 - Ponto de ônibus desenvolvido a partir da abordagem paramétrica.
Fonte: autoria própria
3 Projeto desenvolvido como avaliação final da matéria Advanced Modeling, cursada na Illinois Institute of
Technology (IIT).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
35 | P á g i n a
Uma experiência realizada por Wilson Florio – professor da faculdade de arquitetura e
urbanismo da Mackenzie - publicada no artigo “Modelagem paramétrica, criatividade e projeto:
duas experiências com estudantes de arquitetura” também ilustra a aplicabilidade do processo de
modelagem paramétrica no processo de projeto de arquitetura. Em uma das experiências
realizadas, alunos utilizaram o Grasshopper para a criação de alternativas de coberturas formadas
por dobraduras. Um dos grupos teve como solução arquitetônica a criação de módulos gerados a
partir da manipulação de pontos no espaço, de modo a favorecer diferentes pórticos
(FLORIO,2011, pg 57). Primeiro, foram estabelecidos parâmetros para o comprimento, a largura e
a altura dos módulos. Para cada variável, estabeleceu-se um número de variação como por
exemplo, o comprimento dos módulos – correspondente ao vão entre os pilares – poderia variar
entre 6 e 20 metros. Para definir as dobraduras do módulo criaram-se quatro parâmetros
relacionados à altura em quatro pontos (dois nos pilares e dois no centro do módulo). Por fim,
criou-se repetições destes módulos no eixo y, que poderia variar de 3 a 20 (Figura 12).
Figura 12 - As três fases de experimentação realizadas pelos alunos.
Fonte: artigo “Modelagem paramétrica, criatividade e projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura” (FLORIO,2011)
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Todos os parâmetros utilizados são mostrados na tabela abaixo (Tabela 1).
Tabela 1 - Parâmetros dos algoritmos.
Fonte: artigo “Modelagem paramétrica, criatividade e projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura” (FLORIO,2011)
O resultado foram inúmeras soluções de configurações para a cobertura, como mostrado
abaixo.
Figura 13- Possibilidades encontradas pelos alunos .
Fonte: artigo “Modelagem paramétrica, criatividade e projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura” (FLORIO,2011)
O artigo Reflexões sobre a introdução da abordagem paramétrica no ensino de projeto
(2015) escrito por Neliza Romcy, Marcelo Tinoco e Daniel Cardoso cita uma lista feita por Robert
Woodbury (2010) onde mostra uma série de habilidades que os projetistas devem desenvolver
para aplicar a modelagem paramétrica de maneira efetiva. Essas consistem em:
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
37 | P á g i n a
a) Conceber fluxos de dados: o modo como os dados fluem através de um modelo
paramétrico afetam profundamente as possibilidades do projeto e como o projetista
interage com elas. Conceber, organizar e editar dependências são as chaves da
atividade paramétrica.
b) Dividir para conquistar: consiste em dividir o projeto em partes, projetar as partes e
combiná-las em um projeto único, enquanto garante a interação entre elas durante
todo o processo. Nesse caso, é necessário tanto um conhecimento sobre a área de
projeto, quanto sobre como estruturar projetos paramétricos de modo que os dados
possam fluir entre as diferentes partes de uma maneira clara e compreensível.
c) Nomear: partes devem ser nomeadas para facilitar a comunicação. Na modelagem
paramétrica, elaborar e refinar nomes adequados para as partes do modelo permitem
um menor esforço para a sua compreensão posterior.
d) Pensamento abstrato: uma abstração descreve um conceito geral ao invés de um
exemplo específico. O uso da abstração em um modelo paramétrico significa torna-lo
ajustável a novas situações, deixa-lo dependente apenas de dados de entrada (inputs)
essenciais e remover referências ou usos de termos demasiadamente específicos.
Por fim é citado os pensamentos matemático e algorítmico, temas já abordados neste
trabalho.
Para além de todas as ferramentas e habilidades que um projetista deve aprender ou
adquirir, há uma nova postura de pensamento geral requerida ao projetista no momento que ele
decide desenvolver seu projeto com os conceitos da parametrização.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
38 | P á g i n a
2.4.3 – Além das ferramentas: a abordagem paramétrica como uma nova maneira de pensar.
Design paramétrico é mais sobre uma atitude de espírito do que
qualquer aplicação de software particular. Tem suas raízes na concepção mecânica, e como tal, empresta aos arquitetos pensamento e tecnologia. É uma maneira de pensar que alguns designers podem achar estranho, mas
o primeiro requisito é uma atitude de espírito que busca expressar e explorar as relações (WOODBURY,2010).
Como bem citado por Robert Woodbury, a essência do projeto paramétrico não
está na habilidade de manipular as ferramentas de modelagem paramétrica. É necessário adquirir
o pensamento computacional para extrair de um software paramétrico seu máximo potencial e
assim obter êxito nesse processo.
Pensamento computacional envolve os conhecimentos fundamentais da
computação como abstração, interação, e estrutura de dados. Além disso, inclui as habilidades de
desmembrar um problema ou atividade em termos de passos computacionais, a fim de testar
soluções e refina-los baseado na experiência, e usando-os para estudar e resolver problemas.
(SENSKE,2011)
Nicholas Senske, arquiteto especializado na área de Design computacional, ilustra
um exemplo deste pensamento usando o Microsoft Word, software utilizado pela maioria dos
profissionais para fins de digitação, formatação e impressão de documentos. Nesse cenário, ele
afirma que o potencial do software não é totalmente explorado. “O software não muda
substancialmente a forma como se aborda as atividades em comparação a uma máquina de
escrever” (SENSKE,2011).
Entretanto, aplicando o pensamento computacional pode-se reconhecer que o
documento é mais que uma mera simulação de papel, mas uma estrutura de dados. Por exemplo,
ao invés de editar a formatação individualmente, em uma abordagem paramétrica pode-se
desenvolver e associar “estilos” com elementos no documento. Funções como essa salvam tempo
e reduzem erros.
Ainda no exemplo do Word, Senske mostra como Malcolm McCullough (arquiteto
e professor do curso de arquitetura e urbanismo na Universidade de Michigan) o revelou o modo
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
39 | P á g i n a
com que ele utiliza o software como uma ferramenta de pesquisa, contando o número de vezes
que um autor usou palavras ou frases importantes. Essa análise de frequência ajuda-o a encontrar
padrões em argumentos e citações. Agora, levando essa análise um passo adiante, cria-se um script
simples que associa frequência para o tamanho da fonte produz uma tag ou nuvem de palavras,
uma maneira rápida para resumir um corpo de texto4 (Figura 14).
Figura 14 - Nuvem de tags de um artigo, com as palavras mais usadas em maior tamanho.
Fonte: A Discussion on the implications of parametric thinking on the Design
process and the Designer (MOHAMMAD, 2012, pg 9).
A abordagem paramétrica na arquitetura segue essa mesma lógica. Ela instiga o
arquiteto a pensar seu projeto, não apenas como uma composição formal e funcional, mas como
um conjunto de informações conectadas entre si. A partir dos estudos dessas informações, chega-
se a uma solução final dentro de uma infinidade de alternativas fornecidas por esse processo.
Trata-se de uma postura que trabalha com o entendimento de que
a concepção de projeto seja de objetos, edifícios ou até fragmentos urbanos, só se torna passível de realização através do entendimento das
interações entre as partes que constituem o sistema. Considera também que a tecnologia deve ser trabalhada em conjunto com a criatividade humana. (TRAMONTANO, M., SOARES, J.P.,2012).
4 Visitar site www.wordle.net para criar a nuvem de tags.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
40 | P á g i n a
Assim, esse processo exige do arquiteto um novo comportamento, que consiste no papel
não apenas de agentes criativos, mas também de gerenciadores na escolha de elementos que
servirão como parâmetros para o projeto.
2.5 - Estudos de referência.
A seguir serão analisados dois edifícios que usaram a lógica da parametrização no processo
de projeto.
2.5.1 – St Mary Axe, Fosters + Partners
O edifício St Mary Axe, produzido pelo escritório Fosters + Partners, finalizado em 2004,
localiza-se na cidade de Londres, no Reino Unido. Segundo o próprio escritório, é considerado o
primeiro edifício alto ecológico de Londres, possuindo 41 andares, 46400 metros quadrados de
área de escritório e espaços com lojas e cafeterias acessadas pela nova praça criada. No pico do
edifício está um clube que oferece uma vista panorâmica de 360 graus.
Figura 15 - imagem externa do edifício St Mary Axe
Fonte: Site oficial do Fosters + Partners.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
41 | P á g i n a
Uma das principais características do projeto é o trabalho com a geometria da planta e da
volumetria em geral a fim de tirar vantagem da ventilação natural, assim como considerar a
insolação para a criação de um bioclima natural dentro dos espaços de escritório..
Figura 16 - Croqui justificando o formato do edifício a partir do parâmetro da ventilação.
Fonte: buildingthegherkin.com
A planta possui forma circular com seis lacunas ao longo de seu perímetro, que serve como
eixo para a circulação do vento natural no edifício. Esses canais de ventilação são retorcidos a um
ângulo fixo ao longo de sua altura. Percebe-se que à medida que a altura atinge seu ápice a área
da planta diminui fazendo com que o volume se afile gradativamente.
Figura 17 - Planta baixa tipo.
Fonte: buildingthegherkin.com
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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O resultado final da geometria do edifício foi resultado de inúmeras investigações que
foram possíveis através do método de projeto paramétrico. No começo dos anos 2000 o
grasshopper ainda não havia aparecido fazendo com que a modelagem paramétrica fosse feita
apenas através de scripts, pouco utilizado por escritórios de arquitetura. A modelagem deste
edifício, entretanto, se deu por um software criado pela Bentley Systems. A parametrização
permitiu os responsáveis pelo projeto de testar inúmeras soluções de escala, de rotação e altura
assim como prever sua performance ambiental (Figuras 18 e 19).
Figura 18 - Parametrização da altura e formato vertical do edifício a partir do programa usado.
Fonte: Site oficial do Fosters + Partners.
Figura 19 - Parametrização da planta baixa a partir do programa usado.
Fonte: Site oficial do Fosters + Partners.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
43 | P á g i n a
Graças à utilização da modelagem paramétrica, os projetistas conseguiram transformar os
elementos curvos de vidro que compõem a fachada em painéis planos. Essa técnica permitiu que
o visual curvo se mantivesse, mas fazendo com que o custo da construção caísse
consideravelmente.
Em seu artigo Parametric Design for Ecological Purposes – Case Studies and Algorithm
Examples (2015), Marcin Giedrowicz ao analisar este edifício, mostra como a modelagem pode ser
feita no software grasshopper.
O primeiro passo da construção do modelo é a combinação de três círculos com um centro
em comum: O primeiro é responsável pelo invólucro externo do edifício, o segundo para a
profundidade dos canais de ventilação e a última para a largura do núcleo de comunicação (Figura
20).
Figura 20 - Parametrização do projeto no Grasshopper.
Fonte: Artigo Parametric Design for Ecological Purposes – Case Studies and Algorithm Examples (2015)
A próxima fase da modelagem seria a duplicação para cima e a rotação da planta
previamente modelada em um ângulo fixo, executadas ao mesmo tempo. Esta ação tem como
resultado a espiral dos canais de ventilação no sentido do topo do edifício. A partir daí, os pisos
terão que ser escalados – individualmente através da curva bézier5 – mais largos na parte de baixo
e reduzidos à medida que sobe. Por fim, a última fase envolve a determinação da espessura de
cada piso, e a criação da estrutura do invólucro (Figura 21).
5 “A curva Bézier é uma curva polinomial expressa como a interpolação linear entre alguns pontos
representativos , chamados de pontos de controle (wikipedia,2016).”
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 21 - Parametrização da estrutura e fachada.
Fonte: Artigo Parametric Design for Ecological Purposes – Case Studies and Algorithm Examples (2015)
Ao construir esse algoritmo, o modelo torna-se completamente flexível e passível de
modificações em qualquer elemento do edifício, sem que se requeira a modificação de outros
elementos, uma vez que os dados estão conectados entre si. Assim, pode-se realizar estudos
variados para chegar à melhor solução possível.
2.5.1 – The Hangzhou Tennis Center, NBBJ
O centro de Tenis Hangzhou, localizado na cidade de Hangzhou, na China, foi
projetado pelo escritório NBBJ e está previsto para ser concluído em 2017. Este centro possui
10.000 assentos e é parte de um plano diretor que envolve áreas para esportes e recreação além
de espaços para desenvolvimento comercial. Tendo em vista o desenvolvimento do projeto deste
estádio, foram utilizados os softwares Rhinoceros 3D e Grasshopper como ferramentas de projeto
e documentação.
Figura 22 - Perspectiva externa da arena.
Fonte: Site oficial do NBBJ.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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O processo de projeto paramétrico foi implementado neste caso. Segundo eles, um
algoritmo foi desenvolvido no Grasshopper sendo esse utilizado para estudar a geometria do
estádio e ao mesmo tempo coordenar informações com o time de colaboradores.
O exterior do envelope do estádio é composto por vinte e quatro estruturas modulares que
são dispostas ao redor o círculo onde ficam os assentos e o campo. Referidos como pétalas – pela
sua característica formal – elas não somente contribuem no aspecto estético, mas também servem
como sombra e proteção das chuvas na área dos assentos, além de comportar os equipamentos
técnicos necessários para a iluminação interna.
Um sistema modular foi definido parametricamente, estabelecendo-se primeiramente um
sistema de nuvem de pontos que servirá como controles na definição dos limites das curvas que
formam a superfície (Figura 23).
Figura 23 - Diagrama da parametrização das pétalas.
Fonte: Site oficial do NBBJ.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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A definição paramétrica do exterior da geometria permitiu à equipe de design a explorar
alternativas e variações dentro de limitantes conceituais. A nuvem de pontos paramétrica
primeiramente foi pensada a fim de controlar a forma. Alguns parâmetros de manipulação dos
pontos permitiram que os projetistas testassem e estudassem diferentes configurações (Figura
24).
Figura 24 - Variações possíveis com as pétalas.
Fonte: Site oficial do NBBJ.
A maior parte da avaliação dos módulos foram baseadas em sua maioria na estética, porém
parâmetros como sombra, drenagem, performance estrutural e sistemas técnicos de esportes
também foram considerados para se chegar à forma final.
A forte relação da forma com a estrutura induziu o time de projetistas a entrarem em
diálogo com engenheiros estruturais. O escritório NBBJ trabalhou com o t ime de engenheiros
estruturais da CCDI na elaboração do modelo 3D da estrutura metálica. A treliça foi
parametricamente desenvolvida a partir da geometria da superfície controlável. Os parâmetros
foram estabelecidos para permitir o controle sobre o espaçamento do membro estrutural assim
como a profundidade da treliça. Assim, o algoritmo criado permitiu os engenheiros analisarem a
performance da estrutura e fazer os ajustes necessários. O modelo paramétrico permitiu que isso
fosse feito de forma prática e rápida.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 25 - Estrutura da arena.
Fonte: Site oficial do NBBJ.
Análises na superfície também ocorreram de forma integrada ao algoritmo paramétrico
com o objetivo de visualizar e quantificar as áreas de curvatura na geometria. A superfície da pétala
foi dividida em painéis usando coordenadas UV. O revestimento de alumínio também foi
parametricamente modelado a fim de estudar com mais precisão o efeito visual e a proporção das
perfurações.
Figura 26 - Revestimento de alumínio.
Fonte: Site oficial do NBBJ.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Para a fase de desenvolvimento do centro de tênis, a geometria do estádio precisava ser
documentada. Além de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento do projeto
estrutural, o algoritmo do Grasshopper também facilitou a coordenação de outras ferramentas de
documentação. Os scripts desenvolvidos permitiram que os elementos pudessem ser exportados
em arquivos 3D no formato DWG a fim de usa-los futuramente no Revit.
Concluindo, O Centro de esportes de Hangzhou é um exemplo de um processo onde novas
ferramentas de design foram inventadas, desenvolvidas, integradas, coordenadas, modificadas e
compartilhadas com o propósito de entregar um projeto com um valor cívico especial para a China
(Miller, 2011, pg 148).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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3.0 – AS FERRAMENTAS: RHINOCEROS E GRASSHOPPER
A indústria de softwares vem crescendo exponencialmente nas últimas décadas.
Nesse passo, os programas de desenho 2D e 3D tem evoluído consideravelmente em quantidade
e qualidade, permitindo aos profissionais de Design e Arquitetura aprimorarem a apresentação
(com modelos tridimensionais renderizações foto-realísticas) e representação técnica de seus
projetos, além de se tornarem ferramentas eficientes no processo criativo.
Apesar de haver uma imensa lista de softwares de modelagem para arquitetura, a
abordagem paramétrica requer características específicas de um software para a realização de um
projeto paramétrico o que restringe essa lista a poucos programas. Isso deve-se pelo fato de
poucos permitirem a modelagem algorítmica.
A seguir será abordado elementos técnicos do software Rhinoceros e em seguida o plug-in
Grasshopper, o mais utilizado entre os arquitetos para a elaboração de modelos paramétricos. Vale
ressaltar que o propósito deste capítulo é dar uma visão geral dos softwares e explicar como eles
desempenham a parametrização.
Figura 27 - Logotipo do Rhinoceros e Grasshopper, respectivamente.
Fonte: home.fa.ulisboa.pt
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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3.1 – Rhinoceros
O Rhinoceros 3D (geralmente abreviado Rhino ou Rhino3D) é um software
desenvolvido pela Robert McNeel & Associates (empresa de desenvolvimento de softwares) para
o sistema operacional Windows, sendo inicialmenteum plug-in para o AutoCAD. Posteriormente
tornou-se um aplicativo independente, podendo ser encontrado também para a plataforma MAC.
O Rhino é focado na modelagem de superfície em 3D mas pode ser usado em uma variedade de
formas e para fins diversos. Hoje, é mais utilizado nos ramos de design, arquitetura e engenharia
mecânica.
O Rhinoceros trabalha com curvas NURBS (Non-Uniform Rational B-Splines),
modelos com base matemática, que são utilizados para representar curvas e superfícies,
oferecendo flexibilidade e precisão para a manipulação de formas (Figura 31).
Essencialmente o Rhino não trabalha com parametrização, porém, ele possui o sistema de
algoritmo, o RhinoScript, que permite a criação de volumes paramétricos através da linguagem
textual da programação.
Todo o assunto abordado a seguir tem como base aulas ministradas pela plataforma online
think parametric. Para este trabalho especificamente, serão focados apenas aspectos gerais destes
softwares, explicando seu funcionamento e lógica.
Figura 28 - imagem demonstrativa de uma superfície criada com a lógica NURBS.
Fonte: Wikipedia
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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3.1.1 - Interface
Logo ao iniciar, o usuário pode escolher diferentes tipos de templates para trabalhar.
Dependendo da área de conhecimento e do sistema de medidas pode-se escolher o métrico ou de
polegadas e também se especifica o objeto a ser criado como grande ou pequeno. No caso da
arquitetura, é considerado um objeto grande. A tela de trabalho assemelha-se com o a maioria dos
softwares de modelagem. É bastante intuitivo e oferece inúmeras ferramentas para atingir
qualquer resultado desejado.
Figura 29- Tela inicial com opções de templates.
Fonte: Acervo próprio.
Existem várias formas de se iniciar um comando no Rhinoceros. Uma é pela barra superior,
onde contém todas as abas necessárias com comandos para desenhar, editar, transformar além
de configurações gerais. Para ativar o comando, é necessário somente clicar no desejado (Figura
30).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 30 - interface do Rhinoceros com destaque para a barra superior.
Fonte: Acervo próprio.
Outra forma, e uma das mais utilizadas, é a partir da tela de comandos. Essa área serve
para digitar os comandos desejados no processo de desenho. Além disso, mostra o histórico de
comandos realizados durante o processo. Os usuários podem achar esse meio bastante
semelhante com a lógica do software AutoCAD (Figura 31).
Figura 31 - interface do Rhinoceros com destaque para a barra de comandos.
Fonte: Acervo próprio.
A forma mais intuitiva é pelos ícones. Como o Rhinoceros possui uma variedade
considerável de ferramentas, os ícones à esquerda da tela mudam a partir das abas que se
encontram logo abaixo à tela de comando. Se o usuário quiser encontrar ferramentas destinadas
a modelagem de um sólido por exemplo, é só clicar na aba de sólidos, que todos os ícones
aparecerão à esquerda(Figura 32).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 32 - interface do Rhinoceros com destaque para a barra de ícones.
Fonte: Acervo próprio
No lado direito da tela encontram-se (na configuração padrão) abas de propriedades, Tela,
ajuda e camadas, já que o Rhinoceros também trabalha com o sistema de camadas (Figura 33).
Figura 33 - interface do Rhinoceros com destaque para aba de propriedades de Tela.
Fonte: Acervo próprio
O Rhinoceros 3D trabalha inicialmente com quatro Viewports (janelas de visualização), e
permite diferentes visualizações ao mesmo tempo. Por exemplo, ao modelar um objeto na janela
3D, o usuário pode visualizar suas vistas de topo, lateral direita e lateral esquerda na mesma
interface (Figura 34).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 34 - Interface do Rhinoceros com destaque para as quatro telas de visualização.
Fonte: Acervo próprio
3.1.2 – Criando e editando – geometria 2D
O Rhinoceros 3D é um software que permite a criação de qualquer elemento de
uma forma. A seguir serão mostrados os elementos 2D que se estendem de um ponto a uma
superfície.
a) Ponto: é a geometria mais básica do Rhino. É alocado em um espaço 3D, através das
coordenadas X, Y, Z. Sua função é basicamente servir como ponto de referência para a
inserção de outra geometria.
b) Linha: É a geometria 2D mais básica. É simplesmente a conexão entre dois pontos.
c) Polylines (Poli linhas): É uma sequência de linhas. É geralmente usado como uma
geometria de referência, como por exemplo, a base de um modelo 3D.
d) Curvas: quando falamos de curvas, é necessário considerar a noção de grau. Uma poli
linha possui grau zero entre as quinas. Para dar continuidade à curva, pode-se modificar
o grau adicionando mais pontos de controle (control points). Uma curva ou poli linha
pode ser aberta ou fechada.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 35 - Ponto, Linha, Poli linha e curva no Rhinoceros.
Fonte: Acervo próprio
Para criar qualquer geometria 2D é necessário somente escolher uma das formas de ativar
um comando (citadas acima) e seguir as orientações do próprio software. Como exemplo, na
criação de uma curva helicoidal pode-se usar o comando Helix. Após ativar o comando, o programa
pede para especificar um eixo no qual a curva irá girar em volta (Figura 36). Se quisermos desenhar
uma escada por exemplo, o eixo será na vertical; para isso coloca-se na viewport de vista frontal e
desenha-se a linha.
Figura 36 - Definindo o eixo da helicoidal no Rhinoceros.
Fonte: Acervo próprio
Após definir eixo, aparece automaticamente a helicoidal, e à medida que o mouse é movido
pode-se definir o diâmetro dessa (Figura 37). É possível também escolher a quantidade de voltas
Ponto Linha Poli linha Curva
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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que esse helicoidal dará em volta do eixo. Para se editar uma geometria 2D usam-se comandos
semelhantes aos do AutoCad, como Fillet, Join, Trim, Offset e Extend.
Figura 37 - Helicoidal desenhada no Rhinoceros
Fonte: Acervo próprio
Uma característica do Rhino no que se diz respeito à edição de curvas são os Control Points
(pontos de controle). Ativando a visualização (comando F10) pode-se mover esses pontos e
modelar a curva a partir desses.
Figura 38 - Curva sendo movimentada por pontos.
Fonte: Acervo próprio
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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3.1.3 – Criando e editando – geometria 3D
Assim como a geometria 2D, o Rhinoceros 3D é um software que permite a criação
de qualquer elemento de uma forma bastante eficiente para a modelagem de geometrias
tridimensionais. Ele trabalha com uma organização retangular, característico do sistema NURBS,
que possui duas coordenadas: U e V. A seguir será mostrado os elementos 3D.
a) Superfícies: uma superfície pode ser imaginada como uma folha de borracha elástica.
Eles podem representar formas simples, como um plano, uma esfera ou um cilindro,
ou formas complexas. Podem ser abertas ou fechadas, cortada ou não.
b) Polysurface (Poli superfície): São duas ou mais superfícies juntas. Uma Polysurface
pode ser fechada ou sólida, como uma esfera. No Rhino já existe comandos que
automaticamente criam sólidos básicos.
Figura 39 - Superfíce e Poli superfície no Rhinoceros.
Fonte: Acervo próprio
Como já foi citado, a lógica do Rhino na criação de geometrias 3D é baseada no sistema
NURB. É importante explicar a diferença entre NURB e MESH. O Rhino possibilita também a criação
de uma geometria a partir de um Mesh (malha) como por exemplo, uma forma complexa pode ser
criada a partir de vários triângulos. Para ilustrar melhor essa diferença, geralmente relaciona-se
com o desenho em pixels e em vetor (Photoshop e Illustrator). Em um desenho feito em pixels, à
Superfície
Poli superfície
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
59 | P á g i n a
medida que se dá zoom na imagem a qualidade se perde e é fácil de se identificar a malha de cores
que compõe a imagem. Transferindo para linguagem da modelagem 3D, isso seria um modelo em
mesh. Já em uma imagem vetorizada, pode-se modificar a imagem e aumenta-la e mesmo assim
sua qualidade não se perde. No caso, esse seria um modelo baseado no sistema NURB.
Figura 40 - Sólido em Mesh thiangular e NURB
Fonte: Imagem de autoria própria a partir de um modelo 3D fornecido pelo thinkparametric.com
Existem várias formas de criar uma forma tridimensional. Para se criar uma superfície por
exemplo, pode-se utilizar o comando Edge Surface. Este comando cria uma superfície a partir de
no máximo quatro curvas, que servirão como os limites da superfície. Para executar esse comando
basta selecionar as quatro curvas desejadas, e uma superfície será formada.
Figura 41 - Superfíce sendo criada a partir do EdgeSurface.
Fonte: Imagem de autoria própria a partir de um modelo 3D fornecido pelo thinkparametric.com
MESH
triangular
NURB
Curvas base Após o Edge
Surface
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Outro comando bastante usado para a criação de superfície é o Loft. Esse comando cria
uma superfície a partir de uma série de curvas dispostas em sequência.
Figura 42 - Superfície criada com o comando Loft.
Fonte: Imagem de autoria própria a partir de um modelo 3D fornecido pelo thinkparametric.com
Existem inúmeras outras formas de se conceber uma superfície. Por isso, não serão
abordados os outros métodos, mas aconselha-se buscar em tutoriais.
Para editar superfícies ou sólidos segue-se a mesma lógica da geometria 2D. Pode-se usar
os comandos Trim, fillet , etc; assim como outros comandos específicos.
O Rhinoceros 3D possui inúmeros outros comandos e incríveis diferentes formas de
modelagem que não serão abordados neste trabalho, por não ser o foco principal. Entretanto
pode-se afirmar que o Rhinoceros 3D se apresenta como um software completo que permite a
modelagem desde formas simples a formas com um alto grau de complexidade.
3.2 – Grasshopper
O grasshopper é um editor de programação visual desenvolvido por David Rutten da Robert
McNeel & Associates, mesma empresa que desenvolveu o Rhinoceros 3D. Ele funciona como um
plug-in para o Rhino e é utilizado por profissionais criativos em diversas áreas de atuação, incluindo
arquitetura, Design e engenharia. O fluxo de trabalho entre o Grasshopper e o Rhino oferece a
Após o Loft
Curvas base
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
61 | P á g i n a
oportunidade de explorar a parametrização de forma dinâmica em modelos geométricos. Ele
funciona como uma plataforma para desenvolver a lógica da programação de alto nível em uma
interface intuitiva e gráfica.
A programação visual consiste na manipulação de elementos lógicos de forma gráfica ao
invés de textual. O Python e o RhinoScript são conhecidos para a produção da parametrização no
Rhino 3D, mas requerem ao usuário o conhecimento de trabalhar com códigos, escrevendo-os de
forma vinculada a uma sintaxe específica de uma linguagem. Em contraste, a programação visual
(com a qual o Grasshopper trabalha) permite conectar blocos funcionais em uma sequência de
ações onde a sintaxe necessária são as entradas (inputs) dos blocos que recebem os dados de um
tipo adequado, e é organizado de acordo com o resultado desejado. O que é interessante nesse
tipo de modelagem paramétrica, é que ela te força a ser consciente de como você gera o seu
design.
Figura 43 - Programação no Pynthon e no Grasshopper, respectivamente.
Fonte: Grasshopper3d.com
Como a linguagem de programação não é familiar aos estudantes e profissionais de
arquitetura, a seguir serão mostrados de forma objetiva elementos e expressões necessárias para
o entendimento básico deste tipo de linguagem. Todas as definições foram retiradas de uma aula
expositiva na plataforma online Think Parametric.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
62 | P á g i n a
3.2.1 – O que é um programa?
Programa é uma sequência de instruções especificas, alguma solução que resolve um
problema ou uma operação. Em qualquer programa você vai achar cinco aspectos básicos:
a) Inputs (entradas): dado inicial que um programa precisa para operar
b) Output (saída): o retorno ou resultado uma vez que o programa é executado.
c) Matemática: performance da operação matemática.
d) Execução condicional: verifica uma certa condição a atender e a partir daí executa o código
dependendo disso.
e) Repetição: proforma uma ação repetidamente, normalmente com alguma variação.
3.2.2– Variáveis.
Uma das características mais poderosas de uma linguagem de programação é a habilidade para
manipular variáveis. Uma variável é um nome que se refere a um valor. O tipo de variável é o tipo
de valor que esse se refere.
a) Números Inteiros e duplos: Esses são os tipos de variáveis que mexem com números. Os
inteiros (Integers) são usados para armazenar os números inteiros e são usados
principalmente para contagem. Os duplos (Doubles) pelo contrário, relaciona-se aos
números decimais e são usados para cálculos mais precisos.
b) Booleanos (Boolean): Enquanto valores numéricos são bons para contagem e cálculo há
momentos que precisamos avaliar condições, por exemplo “o copo precisa ser cheio mais
da metade”. Nessa frase, “mais da metade” é uma condição e, portanto, precisamos de um
tipo de variável para nos dizer se esta condição é verdadeira ou falsa. Esses são os
booleanos.
c) Cadeia de caracteres (Strings): São as variáveis usadas para guardar texto.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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d) Operadores (Operators): São símbolos especiais que representam computações como
adição e multiplicação. Os valores dele são aplicados no que são chamados de operandos.
Por exemplo, os operadores +, -, *, / e ** fazem adição, subtração, multiplicação, divisão e
exponencial respectivamente.
3.2.3 – Funções.
No contexto da programação, uma função é uma sequência de declarações que desempenha
um cálculo. Quando se define uma função, você especifica o nome e a sequência das declarações.
Figura 44 - Exemplo de Função na programação padrão.
Fonte: thinkparametric.com (Curso de Grasshopper)
3.2.4 – Depuração (Debugging).
É o processo de rastrear erros em uma função. Existem três tipos de erros:
a) Erros de sintaxe: se refere à estrutura de um programa e as regras sobre essa estrutura.
Por exemplo, parênteses tem que vir em pares, então (1+2) é permitido, porém 8) é um
erro de sintaxe.
b) Erros de execução: esses erros não aparecem até o programa começar a rodar. Eles são
chamados de exceções porque geralmente indicam que algo excepcional e ruim aconteceu.
c) Erro de semântica: Se há algum problema de semântica no programa, ele vai funcionar com
sucesso no fato de que o computador não vai gerar nenhuma mensagem de erro, mas não
fara a coisa certa, fara algo diferente.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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3.2.5 – Grasshopper – Interface
A tela de trabalho do Grasshopper é bastante simples. É composto por quatro partes principais:
A barra de menu, localizado no topo da tela; a barra de componentes, a barra da área de trabalho
e a por fim, a própria área de trabalho.
Figura 45 - Tela de trabalho do Grasshopper.
Fonte: Acervo próprio
Existem três diferentes tipos de objetos no Grasshopper :
a) Parâmetros (variáveis): São usados para guardar as diferentes variáveis que se pode
trabalhar dentro do Grashooper;
b) Componentes (Funções): basicamente servem para realizar ações, compostos de entradas
(inputs) e saídas (outputs).
c) Conexões (Fluxo): são as ligações entre os parâmetros e componentes e dita a lógica das
relações no algoritmo.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 46 - Representações de Parâmetros, Componentes e Conexões no Grasshopper, respectivamente.
Fonte: Imagem de autoria própria com base retirada do Thinkparametric.com
Outra importante característica do software, é que ele trabalha em uma lógica esquerda-
direita o que significa que os componentes sempre receberão informações do lado esquerdo e
produzirão os resultados ao lado direito.
Figura 47 - Ilustração da lógica esquerda-direita do Grasshopper.
Fonte: Imagem de autoria própria com base retirada do Thinkparametric.com
Parâmetro
Componente
Conexão
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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3.2.6 – Grasshopper – sistema de cores
O Grasshopper também trabalha com um sistema de cores. Cada cor abaixo citada tem um
significado específico.
a) Cinza – a cor cinza indica que o componente já tem a informação necessária para trabalhar
corretamente e está em bom estado para funcionar (Figura 48).
Figura 48 - Componente cinza.
Fonte: Thinkparametric.com
b) Cinza escuro – quando o componente está nesta cor, significa que essa geometria ou
informação contida no componente está escondida e não aparece na tela de trabalho do
Rhinoceros 3D (Figura 49).
Figura 49 - Componente Cinza escuro.
Fonte: Thinkparametric.com
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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c) Verde – o componente fica desta cor quando o selecionamos (Figura 50).
Figura 50 - Componente verde.
Fonte: Thinkparametric.com
d) Cinza claro – significa que o componente está desabilitado, a diferença é que ao invés de
esconder a informação da área de trabalho, geralmente desliga-se os componentes para
que este pare de receber Ou enviar informações (Figura 51).
Figura 51 - Componente Cinza Claro.
Fonte: Thinkparametric.com
e) Laranja – é o estado padrão de qualquer componente quando esse é trazido para a área de
trabalho. Essa cor significa que não existe nada referenciado ou que ainda falta alguma
coisa para funcionar (Figura 52).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 52 - Componente Laranja.
Fonte: Thinkparametric.com
f) Vermelho – significa que há alguma coisa errada com o componente, muitas vezes significa
que o tipo de informação na entrada não é o correto para realizar a função (Figura 53).
Figura 53 - Componente Vermelho.
Fonte: Thinkparametric.com
3.2.7 – Listas e correspondência de dados .
O Grasshopper organiza suas informações em listas. Todas as saídas (outputs) produzidas
pelo grasshopper sejam elas pontos, curvas ou superfícies vão sair em forma de lista, como
mostrado na imagem abaixo:
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 54 - Exemplo de Lista no Grasshopper.
Fonte: Acervo próprio.
No lado superior direito do painel existe um código que se chama “data tree path” que será
explicado mais à frente. Ao lado esquerdo, encontram-se números, que são os índices de cada
elemento dentro da lista. Nesse caso os índices estão relacionados a onze pontos, onde as
coordenadas são indicadas ao lado do número.
Figura 55 - Elementos da lista.
Fonte: Acervo próprio.
O próximo conceito é a correspondência de dados. É a forma com que o Grasshopper une
duas listas a fim de realizar uma função. Por exemplo, se quisermos dividir duas curvas em pontos
e depois criar linhas entre os pontos destas duas curvas, o que o Grasshopper automaticamente
fará é desenhar do ponto 1 de uma curva ao ponto 1 da outra curva, unindo os dois dados em um.
Existem outras formas de trabalhar essa correspondencia como o short list, long list, e cross-
DATA TREE PATH ÍNDICES DOS ELEMENTOS COORDENADAS
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
70 | P á g i n a
refrence list. Essas relações não serão mostradas em detalhe neste trabalho, por ser de caráter
avançado.
Figura 56 - Exemplo da lógica de correspondência de dados no Grasshopper.
Fonte: Thinkparametric.com
3.2.8 – Data Tree strucutre.
O Grasshopper possui o que é chamado de Data Tree structure, onde os dados são
organizados em uma estrutura que remete a de uma árvore. O propósito desta estruturação é de
permitir a identificação de todos os elementos dentro das definições, assim como permite
organizá-los e manipulá-los de inúmeras maneiras.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 57 - Imagem esquemática explicando a lógica do Data Tree Structure.
Fonte: Thinkparametric.com
Como ilustrado na imagem acima, cada estrutura possui uma etiqueta de identificação, e
essas etiquetas são chamadas de “caminhos” (ou paths, em inglês). Tudo começa com um caminho
inicial, que tem a etiqueta 0. A medida que vamos construindo nossa definição com informações
que dependem desse ramo, você notará que ramos secundários surgirão, mas dessa vez terá dois
números inteiros ao invés de apenas um, e isso nos ajuda a identificar de onde esse ramo vem. A
partir daí essa estrutura continua crescendo nessa mesma lógica até atingirmos um grupo
especifico. Como já mostrado acima, nos painéis gerados pelo Grasshopper, a identificação do
“data tree path” aparece no canto superior direito, com números entre colchetes e separados por
ponto-virgula.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 58 - Lista com destaque para a indicação do data tree path.
Fonte: Thinkparametric.com
Podemos usar um exemplo simples para clarificar este conceito. Se caso pegarmos uma
linha inicial do Rhino e referenciarmos no Grasshopper, o programa irá criar um primeiro caminho,
representado por {0}, onde contém uma linha de índice (0). Como próximo passo, eu divido minha
curva em três segmentos, através de quatro pontos desenhados. Este segundo passo é
considerado como outro ramo pelo Grasshopper, representado por {0;0}, sendo o primeiro
número identificando o ramo inicial e o segundo, o mais recente. Dentro deste ramo estão quatro
índices numerados de 0 a 3 que identificam os pontos que dividem a curva.
Figura 59 - "Paths" no Grasshopper.
Fonte: thinkparametric.com (Curso de Grasshopper)
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Resumindo, existem dois tipos de números inteiros a se atentar: os relacionados ao
caminho dos dados e por fim, o índice do item.
3.2.9 – Novos softwares, novos aprendizados.
Após esta breve explanação sobre os softwares mais populares quanto à produção de
modelos paramétricos, considera-se que o Rhinoceros e o Grasshopper trazem consigo novidades
que permitem aos arquitetos e estudantes uma maior liberdade de criação, assim como um maior
êxito em tornar realidade ideias volumétricas e estruturais mais ousadas e complexas.
O Grasshopper, entretanto, traz consigo uma necessidade de mudança de pensamento e
instiga os arquitetos a adentrarem na área da programação para entender a lógica da
parametrização. Esse talvez é o maior aprendizado que um profissional ou estudante terá que
adquirir para explorar estes softwares em seu máximo potencial.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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4.0 – CANVAS: O PROJETO PARAMÉTRICO DE UM PAVILHÃO.
Após abordar o tema da parametrização, será desenvolvido a seguir um projeto de
um pavilhão de eventos para a cidade do Natal, Rio Grande do Norte, com foco no processo de
projeto e na realização da parametrização, a fim de explorar as possibilidades que essa permite em
um processo de projeto.
4.1 – Pavilhão: uma estrutura flexível.
Pavilhão é um termo derivado do francês pavillon, baseado no latim papilionem e
tem como significado “borboleta” ou “tenda”, que se estica como borboleta ao pousar. “Logo,
etimologicamente, está estritamente relacionado à sua característica transiente e inconstante de
leve estrutura que se transforma onde delicadamente se fixa. (TONETTI, 2013, pg 26)
Acredita-se que uma das origens do pavilhão vem da necessidade de abrigos
desmontáveis e transportáveis em investidas militares de conquista e expansão territorial desde a
história da antiguidade. O pavilhão, desde então, sempre foi relacionado à noção de programa
simplificado e mobilidade. (TONETTI,2013).
Observa-se também um interesse por parte de arquitetos nas Bienais, principalmente na
história da arquitetura moderna. Os pavilhões eram associados ao uso de galeria de arte, e como
vitrines em Feiras Mundiais. Nesses cenários, os pavilhões possuem o papel de “representar
identidades nacionais ao materializar e divulgar tanto aspectos culturais como de desenvolvimento
tecnológico” (TONETTI,2013, pg 27) apresentando-se na época como uma possibilidade
experimental e de persuasão dos preceitos modernistas.
A tipologia de pavilhão, portanto, abrange diferentes escalas e diferentes usos. Um
pavilhão pode conter inúmeros programas, ou pode até não conter nenhum, possuindo uma
abordagem mais próxima a uma obra de arte em grande escala. Pode também possuir uma
característica temporária ou fixa.
Pode-se citar como um exemplo de pavilhão de pequena escala a Serpentine Gallery
Pavillion do ano de 2013 projetado pelo arquiteto Sou Fujimoto (Figura 60).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 60 - Serpentine Gallery Pavillion.
Fonte: http://www.domusweb.it/
Este pavilhão possui uma forte característica de escultura e não possui um uso fixo,
podendo funcionar como uma galeria de arte e espaço para descanso. Este projeto também possui
característica efêmera, já que a Serpentine gallery é um anexo à uma galeria já existente, e é uma
iniciativa da própria de comissionar anualmente um arquiteto para projetar um anexo. Portanto,
neste caso, é uma forma não apenas de promover arquitetura, mas também o próprio arquiteto.
Figura 61 - Imagem interna do pavilhão.
Fonte: http://www.domusweb.it/
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
77 | P á g i n a
A concepção de Sou Fujimoto para este projeto foi bastante simples. Ele tomou como
partido estruturas esguias metálicas, formando uma malha tridimensional orgânica que remete a
uma espécie de nuvem na qual os visitantes podem não apenas transitar através dela, mas explorá-
la por completo (Figura 62).
Figura 62 - Estruturas metálicas esguias e efeito interno.
Fonte: http://www.domusweb.it/
Para exemplificar um pavilhão em maior escala é interessante observar as exposições
mundiais que ocorrem em diversas cidades do mundo, onde cada pavilhão funciona como uma
“vitrine” do país a qual representa. O pavilhão do Brasil na EXPO de Milão em 2015, projetado pelo
Studio Arthur Casas em parceria com o Atelier Marko Brajovic é um modelo que possui essa
característica (Figura 63).
Figura 63 - Pavilhào do Brasil na EXPO de Milão de 2015.
Fonte: Archdaily.com.br
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Segundo os criadores, o desafio foi proporcionar aos visitantes uma experiência sensorial
que transmitisse não apenas a cultura do Brasil, mas também se relaciona com o tema da feira
“alimentando o mundo com soluções” destacando assim a agricultura e pecuária do país.
O principal elemento utilizado foi uma espécie de rede tensionada que permeia todo o
edifício, e que segundo eles, representa a permeabilidade e fluidez da cultura brasileira. Abaixo
desta rede, tem-se uma praça e ao lado, encontra-se um volume rígido onde têm-se os espaços
expositivos, auditório, pop-up store, café, lounge para eventos, restaurante e administração 6
(Figura 64).
Figura 64 - Ftografias internas do pavilhão.
Fonte: Archdaily Brasil.
Há ainda uma infinidade de tipos de pavilhões com outros usos e escalas, entretanto esses
dois exemplos conseguem resumir a variedade e flexibilidade que esta tipologia apresenta, além
de sua leveza estrutural e legibilidade. Essas e outras características foram cruciais para a escolha
desta tipologia como experimento de um projeto paramétrico.
4.2 – O projeto
A ideia para o projeto do pavilhão vem do objetivo de proporcionar à cidade de
Natal, Rio grande do Norte, um equipamento cultural flexível que permita à cidade promover
cultura e receber eventos de diversas escalas. Não perdendo a simbologia que um pavilhão sugere,
a ideia é que esse se apresente como um símbolo cultural para a cidade.
6 Dados retirados de artigo publicado no portal ArchDaily Brasil.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
79 | P á g i n a
4.2.1 – O Local: Análise do entorno.
Com a premissa de que o pavilhão seja visível à maioria dos cidadãos e que esse
seja de fácil acesso, escolheu-se como local de inserção do pavilhão a Praça do Conjunto Mirassol,
localizada no bairro de Capim Macio7 e próximo à divisa dos bairros de lagoa Nova e Candelária.
Figura 65 - Localização do terreno escolhido.
Fonte: Autoria Própria.
Nas festividades de final de ano observa-se que várias estruturas temporárias comuns são
erguidas para abrigar feiras, comércios além de servir como plataforma para shows e espetáculos
artísticos de pequeno porte. Apesar disso, observa-se que seu estado encontra-se degradado, sem
7 Zona Adensável de Natal, com coeficiente de aproveitamento de 1,2, segundo o Plano diretor vigente da
cidade.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
80 | P á g i n a
nenhuma manutenção e por isso, pouco usada pela população a qual utiliza apenas o campo de
futebol de areia para praticar esportes.
Figura 66 - Imagens do local.
Fonte: Acervo próprio.
A praça possui uma área de 9.180 m2 e encontra-se rodeada por quatro avenidas: A Av.
Santos Dumont, a Av. Passeio das Rosas, a Av. Salgado Filho e a Av. das Tulipas. Paralela à avenida
Salgado Filho encontra-se a BR 101, rodovia que corta a cidade e que possui um fluxo considerável
de carros. Analisando somente o fluxo de carros, chega-se a este diagrama que resume a situação
do terreno em meio a estas ruas (Figura 67).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 67 - Diagrama de Fluxo de carros ao redor do terreno.
Fonte: Autoria Própria.
Ela também se encontra bem localizada, pelo fato desta estar perto de centros comerciais
importantes como o Natal Shopping, o Via Direta e o supermercado Carrefour, além de estar
próximo à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como é mostrado no diagrama
abaixo (Figura 68).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 68 - Diagrama de entorno.
Fonte: Autoria Própria.
Assim, sendo essa área apresentada como um potencial cultural, por estar ao lado da
rodovia mais importante da cidade e pelo estado da praça estar degradado, este local apresenta-
se como ideal para receber um pavilhão que não só abrigue os eventos já existentes, mas que
maximize o potencial cultural da área recebendo mais eventos de diferentes escalas durante o ano.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
83 | P á g i n a
4.2.2 – Canvas: conceito
Para capturar a essência do pavilhão e nortear o projeto como um todo, pensou-se no
conceito Canvas. O nome deriva da língua inglesa e traduzindo para o português significa lona, ou
tela de quadro de pintura.
Entretanto, o nome Canvas no inglês é comumente usado para definir não apenas o quadro
de lona, mas também qualquer área onde realiza-se algum trabalho. Por exemplo, no software
Adobe Photoshop, a área onde é realizada toda arte é chamado de Canvas, assim como no
Grasshopper.
Assim, a ideia é que o pavilhão por si só seja um Canvas, uma estrutura flexível capaz de
receber diferentes tipos de eventos culturais. Um edifício onde a vida é dada pela arte.
Figura 69 - Diagrama conceitual.
Fonte: Autoria Própria.
4.2.3 – A ideia: desenvolvimento
a) A linearidade e o campo: características estruturantes do projeto.
É notável a característica linear do terreno, com aproximadamente 245 metros de
comprimento. Percebe-se também a presença do campo de futebol de areia, com uma área de
2.187 m2 medindo aproximadamente 35mx 63m. Em época de chuva o campo alaga, servindo
como uma espécie de lagoa de captação. Assim, tomando como partido essas características,
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
84 | P á g i n a
aproveitou-se a linearidade do edifício para a forma do pavilhão e decidiu-se manter o campo
devido ao seu papel funcional.
Figura 70 - Diagrama de estudo do terreno.
Fonte: Autoria Própria.
b) O campo: novos usos.
Como já mencionado, o campo de futebol existente desempenha um papel fundamental no
uso da praça. A partir disso foi pensado em toma-lo como um dos partidos arquitetônicos, com a
intenção de maximizar seu potencial de forma que novos usos de caráter público possam ser
desenvolvidos, tendo esse uma conexão direta com o pavilhão.
A referência principal para essa ideia foi o Jay Pritzker Pavilion localizado na cidade de Chicago,
Estados Unidos. Projetada por Frank Ghery, ela consiste em um dos maiores pavilhões de música
ao céu aberto do mundo. Ela possui um gramado onde são realizadas inúmeras atividades, desde
aulas de dança ao ar livre, a concertos de grandes orquestras no verão.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 71 - Millenium Park, fotografias em diferentes situações.
Fonte: Acervo próprio.
c) O programa.
A decisão do programa a ser inserido baseou-se na ideia de multiplicidade de usos. Para
isso decidiu-se inserir um auditório, com capacidade para abrigar uma variedade de eventos; Salas
multiuso, que podem ser usadas para aulas, palestras, estúdio ou reuniões diversas; e um espaço
aberto, chamado de Espaço Canvas, que consistiria em uma grande área capaz de receber eventos
de médio porte com estruturas temporárias e que tenham apelo público, como exposições de arte
e feiras diversas. Além destes três programas principais, pensou-se em uma cafeteria como forma
de manter o movimento constante no pavilhão.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 72 - Croqui da ideia inicial do programa.
Fonte: Autoria Própria.
O pré-dimensionamento resume-se na tabela abaixo.
Tabela 2 - Pré-dimensionamento.
ESPAÇO QUANT. ÁREA TOTAL (m2)
Auditório 1 650
Espaço Canvas (Multiuso) 1 350
Café 1 100
Salas Multiuso 3 80
Foyer /lounge 3 200
Administração 2 40
Depósito 1 20
BWC 4 60
Lixo 1 20
. Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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d) O gradiente: do fechado ao aberto.
Para organizar o programa, pensou-se em um gradiente linear. Sendo o pavilhão composto
por um espaço de caráter mais aberto e público (Espaço Canvas) e um espaço mais fechado e
privado (café, salas multiuso e auditório) decidiu-se criar um gradiente de usos com a lógica
fechado-aberto-fechado, para que o espaço mais permeável ficasse em evidencia sendo esse o
mediador entre a praça e os outros usos do pavilhão.
Figura 73 - Diagrama de disposição dos programas, tendo como base um gradiente.
Fonte: Autoria Própria.
e) Primeiras ideias volumétricas.
Com a organização do programa pré-estabelecida, procurou-se traduzir a lógica de
gradiente na forma através da altura e largura, sendo as extremidades mais altas e largas (onde
estão os programas mais fechados) e o meio mais baixo e de menor largura (onde encontra-se
o espaço aberto).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 74 - Diagrama das primeiras operações volumétricas.
Fonte: Autoria Própria.
f) O palco e o campo: comunicação.
Como já observado na análise do terreno e pressuposto a ideia de potencializá-lo, pensou-
se no campo como uma extensão do pavilhão. Para isso, o palco do auditório foi posicionado
na extremidade do volume, criando duas plateias: a interna (no auditório) e a externa (no
campo). Sendo assim, o palco torna-se flexível para pequenas apresentações privadas ou shows
públicos ou cinema ao ar livre, por exemplo. Assim, ajustou-se o volume para que o ângulo de
visão para aqueles que estão no campo seja o mais abrangente possível.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 75 - Diagrama de funcionamento do palco, com as três possibilidades.
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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g) O envelope: sistema parametrizado.
A fim de que o edifício seja legível e ao mesmo tempo leve, pensou-se desde o início
em um elemento simples que pudesse ser replicado, que funcionasse como envoltória do
edifício e que desse interesse estético ao pavilhão como todo. Com essas premissas,
pensou-se em uma forma de fita, enaltecendo a linearidade já presente no edifício. A ideia
é que esse elemento seja torcido em diferentes intensidades ao longo do edifício.
Figura 76 - Ideia do módulo.
Fonte: Autoria Própria.
4.2.4 – A parametrização
A ideia de parametrizar o elemento linear tem por objetivo torna-lo adaptável a
possíveis mudanças futuras do projeto, assim como permitir diferentes testes de acordo
com as variáveis escolhidas. A seguir será documentada a lógica seguida para torna-lo
paramétrico.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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a) Definição das variáveis
Procurou-se tornar o módulo linear o mais flexível possível. Para isso
definiu-se como variáveis a rotação do módulo, sua espessura, o espaçamento
entre eles e a largura.
Figura 77 - Diagrama das variáveis definidas.
Fonte: Autoria Própria.
b) O algoritmo
Antes de partir para os softwares de modelagem, definiu-se um algoritmo
inicial que irá guiar a modelagem (Figura 78).
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
92 | P á g i n a
Figura 78 - Definição do Algoritmo.
Fonte: Autoria Própria.
c) A modelagem: Grasshopper
Foi desenvolvido um algoritmo isoladamente para depois esse ser aplicado
no projeto. Seguindo a lógica acima definida, será mostrado a seguir o passo a
passo de como foi desenvolvida a modelagem.
c.1 – Primeiro, colou-se dois componentes Curves, de forma que as duas
curvas (superior e inferior) fossem importadas do Rhinoceros8.
Figura 79 - Passo 1.
Fonte: Acervo Próprio.
8 As curvas foram desenhadas no rhinoceros para facilitar na manipulação e facilitar o algorítmo.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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c.2 – Depois, utilizou-se o componente Divide Curve, que divide uma curva
em uma certa quantidade de pontos. Como o objetivo é dividir duas curvas,
criou-se dois componentes. Assim, ligou-se a entrada9 curve às respectivas
saídas componente curve.
Figura 80 - Passo 2.
Fonte: Acervo Próprio.
As quantidades de pontos criados representam a quantidade de módulos.
Como esse é uma das variáveis, acrescentou-se um componente chamado ne
Number Slider 10 que possibilita modificar o número de pontos na curva. Como
eu quero que as duas curvas tenham a mesma quantidade de pontos, ligou-se
um único Number Slider à entrada chamada Count do componente Divide Curve.
Figura 81 - Passo 3.
Fonte: Acervo Próprio.
9 Em inglês a nomenclatura utilizada é Input para entradas, e Output para saídas. 10 Number Slider é uma variável numérica que agrega valor a um determinado componente.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
94 | P á g i n a
c.3 – Para o próximo passo é necessário considerar a lógica de Data Tree
Structure (árvore de dados, ou informações). No momento que a curva foi
dividida, todos os pontos estão agrupados em um só “galho”. Isso dificultaria
quando eventualmente chegar o momento de ligar as duas curvas. Para isso é
necessário que cada ponto criado esteja em um galho diferente. Assim usou-se
o componente Graft Tree, que permite que isso aconteça.
Figura 82 - Passo 4.
Fonte: Acervo Próprio.
c.4 – O próximo passo é criar linhas a partir dos pontos. Por isso adicionou-
se o componente Line SDL.
Figura 83 - Passo 5.
Fonte: Acervo Próprio..
Essas linhas serão a largura do módulo, portanto adicionou-se também um
componente Number Slider para que ela seja variável.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
95 | P á g i n a
Figura 84 - Passo 6.
Fonte: Acervo Próprio.
c.5 – Com as linhas já criadas, chega o momento de criar a rotação. Como
no início foi mencionado, a ideia é que cada linha gire em um ângulo
diferenciado. Para isso usou-se o componente Rotate ligando-o às linhas
criadas.
Figura 85 - Passo 7.
Fonte: Acervo Próprio.
Paralelamente, utilizou-se o componente Range a fim de proporcionar uma
variação de rotação, criando um domínio que vai de 0 a 360 graus rotação. O
resultado do Range é ligado ao componente rotação.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
96 | P á g i n a
Figura 86 - Passo 8.
Fonte: Acervo Próprio.
c.6 – Até o momento, todas as operações foram realizadas separadamente.
Agora a ideia é criar a superfície dos módulos, interligando as linhas da curva
inferior às da curva superior. Para isso utilizou-se o componente Loft.
Figura 87 - Passo 9.
Fonte: Acervo Próprio.
Assim, à medida que as linhas mudam de tamanho, número e rotação, as
superfícies se adaptam às novas configurações.
c.7 – A última variável a ser colocada no algoritmo é a espessura. Para isso
foi acrescentado o componente Extrude ligando-o a um Number Slider para
modificar o valor da espessura.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
97 | P á g i n a
Figura 88 - Passo 10.
Fonte: Acervo Próprio.
Assim, o algoritmo foi criado com base nos parâmetros estabelecidos no início,
podendo os módulos se adaptarem a qualquer forma que obtenha duas curvas, sendo variável a
quantidade, espessura, Largura e a rotação dos módulos.
Figura 89 - Definição Final no Grasshopper.
Fonte: Acervo Próprio.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
98 | P á g i n a
Abaixo encontra-se alguns testes feitos com duas curvas simples.
Figura 90. - Testes com os módulos, mudando os valores das varáveis.
Fonte: Acervo Próprio.
4.2.5 – Desenvolvimento final – Aplicando o algoritmo na fachada
Tendo o algoritmo do grasshopper definido, volta-se agora para a análise desse no
projeto. Alguns parâmetros foram estabelecidos para a escolha da configuração final dos
módulos como a insolação, a escala humana e o valor estético.
a) Insolação
Uma das funções dos módulos será de proteção aos raios solares. Para analisar a
eficiência do módulo e testar possibilidades, utilizou-se o plug-in do Grasshopper chamado
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
99 | P á g i n a
Ladybug, que permite gerar gráficos e análises ambientais a partir de um modelo
paramétrico. Assim, criou-se um outro algoritmo para chegar à análise de sombreamento.
Figura 91 - Algoritmo utilizado para gerar a análise de sombreamento no Ladybug.
Fonte: Acervo Próprio.
As imagens abaixo são resultados das análises feitas com dois tipos diferentes de
espaçamento entre os módulos às 17 horas, horário onde o sol incide com mais intensidade
no pavilhão. Percebe-se que apesar da segunda opção dar uma maior permeabilidade aos
pedestres, ela apresenta-se ineficaz quanto à proteção solar, sendo a primeira opção mais
eficiente neste quesito.
Figura 92 - Estudo de sombreamento dos módulos no edifício.
Fonte: Acervo Próprio.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
100 | P á g i n a
b) Escala humana
Como o espaço Canvas possui a característica de ser uma extensão da praça, os
módulos precisam ter um espaçamento maior em relação às extremidades para que dê a
ideia de permeabilidade e permita aos usuários se movimentar facilmente.
c) Valor estético
Como a ideia de gradiente foi traduzida no zoneamento, assim como no volume,
procurou-se também seguir a lógica fechado-aberto-fechado. Assim, depois de inúmeros
testes realizados considerando os critérios acima descritos, chegou-se à configuração final
dos módulos que compõem a fachada.
Figura 93 - Definição final da fachada.
Fonte: Autoria Própria.
Para que no centro ficasse ainda mais aberto, ao transferir os elementos
parametrizados para o Rhinoceros, retirou-se um módulo a cada intervalo, como mostrado
acima. No mais, o resto possui os mesmos valores de espaçamento (aproximadamente 1,40
m entre eixos), medindo 1m de largura, 0,03 m de espessura e a altura variando de acordo
com a cobertura.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
101 | P á g i n a
Figura 94 - Perspectiva com a disposição final dos módulos.
Fonte: Autoria Própria.
Figura 95 - Perspectiva com o palco e os módulos.
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
102 | P á g i n a
Figura 96 - Perspectiva dos módulos no espaço Canvas.
Fonte: Autoria Própria.
4.2.6 - O Espaço Canvas e o Palco: possibilidades de usos e funcionamento
a) Espaço Canvas
O Espaço canvas como proposto inicialmente, possui 35 metros de
comprimento e uma média de 10 metros de largura. Os diagramas abaixo sugerem
os alguns, dentre inúmeros usos que este espaço pode ter.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
103 | P á g i n a
Figura 97 - Diagrama de usos possíveis do espaço canvas.
Fonte: Autoria Própria.
Galeria de arte
Feira artesanal
Exposição científica
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
104 | P á g i n a
b) Palco Flexível
Uma das ideias mais exploradas no projeto foi a dinamicidade do Palco,
localizado na extremidade ao lado do campo. Para ilustrar as possíveis
configurações de Layout, foi desenvolvido um diagrama, mostrado logo abaixo.
Figura 98 - Diagrama de funcionamento do palco.
Fonte: Autoria Própria
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
105 | P á g i n a
4.2.7 - Materiais e Estruturas
a) Estrutura
O pavilhão foi pensado em uma malha de 5mx5m a fim de facilitar a
concepção Estrutural metálica.
Os módulos serão feitos de chapas metálicas torcidas à frio e parafusadas a
uma estrutura de suporte independente que por sua vez, será encaixada à
estrutura principal do pavilhão.
Figura 99 - Diagrama estrutural.
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
106 | P á g i n a
b) Fachada: revestimentos
Em partes do pavilhão onde exige-se uma certa transparência, será
adicionada uma fachada têxtil bioclimática a qual absorve o os raios solares em
33% e reflete 38%, além de permitir a passagem do vento11. Esse material
apresenta-se como uma solução eficiente para substituir o vidro na fachada
oeste e evitar um efeito estufa.
Figuras 100 e 101 - Diagrama de desempenho térmico e ftotgrafia de sua aplicação, respectivamente.
Fonte: www.facade-textile.com
Para revestir as fachadas cegas do exterior (na parte do auditório por
exemplo) escolheu-se como revestimento painéis de fibrocimento com textura
linear de cor branca (Figuras 102 e 103).
11 Informação retirada do fornecedor Facade Textile, no site www.facade-textile.com
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
107 | P á g i n a
Figura 102 e Figura 103 - revestimento de fibrocimento.
Fonte: Equitone.com
c) Cobertura e forro
A cobertura será de telha painel termo isolante metálica.
Figura 104 - Exemplo de telha termo isolante.
Fonte: Alcelormetal.com
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
108 | P á g i n a
O forro será de placas cimenticias de cor branca afixadas à estrutura
metálica da cobertura.
Figura 105 - Exemplo de placas cimentícias
Fonte: www.apoioforros.com.br
d) Piso
O piso em sua maioria será de concreto polido, exceto no Espaço Canvas
que terá o mesmo revestimento da praça, com blocos de concreto.
4.2.8 – Apresentação do projeto.
A seguir serão apresentados desenhos esquemáticos do produto final. Contudo,
todas as plantas-baixas, cortes, fachadas, detalhes técnicos e imagens renderizadas em
melhor qualidade encontram-se em um volume separado deste.
a) Implantação
O pavilhão está implantado no centro da praça, recuado aproximadamente
7,50 metros da Av. Salgado Filho e 7,90 m da Av. Passeio das Rosas,
considerando a parte mais afilada da praça. Adjacente à Av. Passeio das rosas
foram destinadas 30 vagas de estacionamento. Ao longo da Av. Salgado Filho
propõe-se arborização, replantando as árvores existentes e também
acrescentando outras.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
109 | P á g i n a
Figura 106 - Implantação Final
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
110 | P á g i n a
b) Plantas baixas
Figura 107 - Planta baixa - Térreo
Fonte: Autoria Própria.
Figura 108 - Planta baixa - Primeiro andar
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
111 | P á g i n a
c) Cortes
Figura 109 - Corte Longitudinal
Fonte: Autoria Própria.
Figura 110 - Corte Transversal
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
112 | P á g i n a
d) Detalhe
Figura 111 - Detalhe Construtivo
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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e) Perspectivas
Figura 112 - Render Externo, Cinema aberto.
Fonte: Autoria Própria.
Figura 113 - Render Externo, Festival de música.
Fonte: Autoria Própria
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Figura 114 - Render interno, Cafeteria.
Fonte: Autoria Própria.
Figura 115 - Render Interno, Mezanino, vista para exposição de arte.
Fonte: Autoria Própria.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
115 | P á g i n a
Figura 116 - Render interno, Espaço Canvas com feira de frutas.
Fonte: Autoria Própria
Figura 117 - Render Interno, Auditório.
Fonte: Autoria Própria
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
116 | P á g i n a
5.0 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se afirmar com os estudos teóricos e com a experiência prática deste trabalho
que a essência do Design Paramétrico não se encontra exclusivamente na dependência de um
software ou na habilidade de entendê-lo, mas principalmente na capacidade de visualizar um
projeto como um sistema de dados onde encontram-se inúmeras variáveis, sendo o papel do
arquiteto de organiza-las, criando relações mútuas entre elas de tal forma que se permita chegar
a uma solução final dentro de um universo de possibilidades.
Existem ainda uma série de barreiras que impedem o pensamento paramétrico de
se disseminar aos profissionais e estudantes de Arquitetura e Urbanismo. Tendo por base a
experiência deste trabalho, a mais visível seria o aprendizado dos softwares que permitem a
parametrização, como o Grasshopper e o Rhinoceros, softwares ainda pouco difundidos nas
universidades brasileiras de Arquitetura. A menos visível, porém essencial, é o exercício do
pensamento algorítmico. Pensar em variáveis, desenvolver um sistema de passos, gerenciar dados,
dentre outras atividades não são explicitamente estudadas e desenvolvidas nos processos de
projetos mais comuns.
Na fase do desenvolvimento teórico deste trabalho, observou-se uma certa
dificuldade em encontrar bibliografias de autores brasileiros a respeito do Design paramétrico,
sendo a grande maioria delas em inglês. Contudo, acredita-se que o cenário é de um
despertamento maior por parte de pesquisadores, professores e alunos brasileiros sobre
parametrização e fabricação digital.
Ainda no desenvolvimento teórico, percebeu-se a amplitude que este tema possui, com
inúmeros de tópicos que podem ser abordados, como o urbanismo paramétrico, o conforto
ambiental atrelado a parametrização, os sistemas BIM ou as análises estruturais a partir de
softwares paramétricos.
A fase do projeto do pavilhão foi essencial para o entendimento completo do que
realmente a abordagem paramétrica significa e quais são as complexidades que ela traz consigo.
Encontrou-se dificuldade em desenvolver uma nova lógica projetual além do que foi desenvolvido
durante os anos de graduação.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
117 | P á g i n a
Durante o processo de projeto, ocorreram várias modificações volumétricas e estruturais
que interferia diretamente na fachada parametrizada. Neste momento, observou-se uma das
potencialidades da parametrização, que é a fácil manipulação do modelo apenas com a mudança
de valores das variáveis no algoritmo criado. As dificuldades encontradas foram principalmente
relacionadas ao software mais precisamente na fase de desenvolvimento do algoritmo.
Em suma, considera-se toda essa experiência como uma grande descoberta de um universo
ainda pouco explorado. Ainda há muito mais a investigar, assim como ainda há muitos campos
inexplorados ainda a serem abordados pelo Design Paramétrico. Acredita-se, portanto, que o
Design paramétrico, interferindo na forma de pensar do arquiteto, consequentemente
proporciona uma nova produção arquitetônica ou um caminho alternativo para a solução de um
problema.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
118 | P á g i n a
6.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CELANI, G. Beyond analysis and representation in CAD: a new computational approach to design
education.2002.202 F. Tese ((Doctor Degree of Philosophy in Architecture: Design and
Computation) – Department of Architecture, Massachusetts Institute of Technology, United States,
2002.
DAVIS, D. A History of Parametric. 6 de agosto de 2013. Disponível em: <
http://www.danieldavis.com/a-history-of-parametric/>. Acesso em: 5 Out 2015.
FLORIO, W. Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de
arquitetura. Gestão & Tecnologia de Projetos, São Carlos, 6, feb. 2012. Disponível em
<http://www.iau.usp.br/gestaodeprojetos/index.php/gestaodeprojetos/article/ view/ 2011>.
Acesso em: 20 de Out 2015
GIEDROWICZ, M. Parametric Design for Ecological Purposes – Case Studies and Algorithm Examples.
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HERNANDEZ, C.R.B. Design Procedures: A Computational Framework for Parametric Design and
Complex Shapes in Architecture. 2006.196 f. Thesis (Doctor Degree of Philosophy in Architecture:
Design and Computation) – Department of Architecture, Massachusetts Institute of Technology,
United States, 2006.
HUDSON, R. Strategies for parametric design in architecture. An application of practice led research.
Thesis Department of Architecture and Civil Engineering, University of Bath, 2010.274 p.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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JABI, W. Parametric Design for architecture. London, United Kingdom: Laurence King
publishing,2013.
KARLE, D.; KELLY. Parametric Thinking. ACADIA Regional 2011: Parametricism: (SPC) (p. 109 -148).
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CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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7.0 – APÊNDICES
Algoritmo final no Grasshopper da modelagem dos módulos lineares.
CANVAS: ABORDAGEM PARAMÉTRICA NO PROJETO DE UM PAVILHÃO
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Algoritmo final no Grasshopper do estudo de sombreamento.