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6 Junho , 2014 | Revista Energia Business Andréia Vital A safra 2014/15 de cana-de- -açúcar vem sendo apontada por especialistas como uma das mais complicadas dos últimos anos. As previsões de quebra de pro- dução, maior endividamento, dificul- dade de acesso ao crédito, pressão de custos e tratos culturais menores resultarão em uma baixa produtivi- dade agroindustrial, menor renova- ção de canavial pela seca e mecani- zação e novas unidades industriais fechadas. “Isso leva à redução da oferta de cana e a uma nova perda de competitividade”, observou Luiz Carlos Corrêa Carvalho, sócio-diretor da Canaplan. De acordo com dados da consultoria, deverão ser processa- dos 540 milhões de toneladas na sa- fra 2014/15 no Centro-Sul do País, 9,5% a menos do que no ciclo passa- do, que foi de 596,94 milhões de to- neladas. A depender do clima, mais seco ou úmido, a moagem pode va- riar de 525 milhões de toneladas a 555 milhões de toneladas no perí- odo. Embora a área cultivada seja a Crise Sucroenergética Gargalos como alto endividamento, custos de produção e logística seguram crescimento do setor, que pede socorro para sair da crise DIVULGAÇÃO Agroindústria canavieira na UTI

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6 Junho , 2014 | Revista Energia Business

Andréia Vital

A safra 2014/15 de cana-de--açúcar vem sendo apontada por especialistas como uma

das mais complicadas dos últimos anos. As previsões de quebra de pro-dução, maior endividamento, dificul-dade de acesso ao crédito, pressão de custos e tratos culturais menores resultarão em uma baixa produtivi-dade agroindustrial, menor renova-ção de canavial pela seca e mecani-zação e novas unidades industriais fechadas. “Isso leva à redução da

oferta de cana e a uma nova perda de competitividade”, observou Luiz Carlos Corrêa Carvalho, sócio-diretor da Canaplan. De acordo com dados da consultoria, deverão ser processa-dos 540 milhões de toneladas na sa-fra 2014/15 no Centro-Sul do País, 9,5% a menos do que no ciclo passa-do, que foi de 596,94 milhões de to-neladas. A depender do clima, mais seco ou úmido, a moagem pode va-riar de 525 milhões de toneladas a 555 milhões de toneladas no perí-odo. Embora a área cultivada seja a

Crise Sucroenergética

Gargalos como alto endividamento, custos de produção e logística seguram crescimento do setor, que pede socorro para sair da crise

DIV

ULG

AÇÃO

Agroindústria canavieira na UTI

7Junho , 2014 | Revista Energia Business

O diretor comercial do Itaú BBA, Alexandre Figlioli-no, pintou um quadro pre-

ocupante para o setor sucroener-gético ao apresentar panorama do segmento e perspectivas para a pro-dução de açúcar e etanol no Brasil: “1/3 do setor está indo para o ‘bre-jo’. Isto representa 200 milhões de toneladas, quase duas Tailândias, segunda maior exportadora de açú-car do mundo”, disse o diretor.

Conforme avaliações apre-sentadas por Figliolino a dívida do setor foi de R$ 42,42 bilhões na últi-ma safra, 8% a mais do que a regis-trada na temporada anterior, de R$ 39,26 bilhões. Já a dívida por tone-lada de cana moída caiu para R$ 99 ante R$ 104 da safra 2012/13, por conta do aumento da produção. De acordo com o dire-tor, dos 65 grupos sucroenergéti-cos presentes na carteira do Itaú

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, sócio-diretor da Canaplan, admite

que o cenário deste ano é ruim e impactará no próximo ciclo.

“Mesmo com o clima normal, o buraco será mais fundo em 2015”

Alexandre Figliolino, diretor comercial do Itaú BBA: “1/3 do setor está indo para o ‘brejo’. Isto representa 200 milhões de toneladas, quase duas Tailândias, segunda maior exportadora de açúcar do mundo”

mesma, a Canaplan estima cresci-mento de 3,8% na colhida, atingin-do 7,75 milhões de hectares. A pro-dutividade deverá ter como base 70 toneladas por hectare, com va ria-ções entre 68 e 72 ton. Já a produ-ção de açúcar deverá alcançar 31,8 milhões de toneladas e a de etanol 23,7 bilhões de litros. Carvalho admite que o ce-nário deste ano é ruim e impactará no próximo ciclo. “Mesmo com o cli-ma normal, o buraco será mais fun-do em 2015. Teremos canavial mais

velho, dívidas maiores e problemas de gestão”, disse o consultor, lem-brando que há previsão de que 10 usinas devem fechar as portas ain-da este ano, contabilizando 58 usi-nas fechadas desde 2007 até os dias atuais. Neste período, 90 usinas fo-ram abertas, sendo a maior parte de-las em 2008 e 2009.

Com a corda no pescoço

DIV

ULG

AÇÃO

ALEX

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RE C

ARO

LOBBA, com capacidade de 429 mi-lhões de toneladas (correspondente a 72% da moagem do Centro-Sul), apenas 12 grupos, com moagem to-tal de 121,9 milhões de toneladas, apresentam bom desempenho ope-racional, baixa alavancagem ou for-te controle acionário. Outros 35 grupos estão em situação mediana, alguns em pro-cesso de deterioração que, devido ao alto nível de alavancagem, de-pendem de uma melhora substan-cial nos preços, aliada à recuperação da sua eficiência operacional, para recuperar sua capacidade de inves-timento. O último grupo, compos-to por 18 empresas, com moagem de 103,8 milhões de toneladas, es-tão em ponto de não retorno, com

8 Junho , 2014 | Revista Energia Business

e as transações haverão de acontecer de forma que empresas que tenham melhores condições financeiras e de gestão podem anunciar fusões e aquisições de usinas”. (AV) EB

Há possibilidade de um horizonte mais claro para o setor, com uma

estimativa de crescimento de 3 a 5%, que pode possibilitar a manutenção do share do Brasil

no trade mundial de açúcar

BIO

SEEV

Crise Sucroenergética

operação ruim e alta alavancagem. “Em 2012, o prejuízo resul-tante da não paridade com os preços internacionais, causado pela impor-tação de gasolina, foi da ordem de R$ 1,6 bilhão. Em 2013 esse prejuí-zo foi de R$ 1,1 bilhão e para 2014 a perda estimada é de R$ 2,9 bilhões”, disse ele, lembrando que o País per-de empregos, investimentos e em-presas, como também perde o Meio Ambiente com a emissão de carbono pela não produção de energia limpa renovável e consumo de energia ori-ginária de fontes sujas. “A conta de combustíveis líquidos e energia uma hora chegará ao consumidor e a falta de investimentos gerará efeitos mui-to danosos no futuro”, alertou. Embora o cenário não seja

favorável, o diretor vislumbra um horizonte mais claro para o setor. “Voltará a ter um ciclo normal, não de boom como tivemos na década passada, com crescimento de 10% ao ano, mas um crescimento de 3 a 5%, que possibilite manter o share do Brasil no trade mundial de açú-car”, disse ele. “Este crescimento é necessário para o etanol hidratado ocupar o espaço da gasolina, que hoje é importada, e trazer novos in-vestimentos para que a biomassa te-nha uma participação na matriz da energia elétrica do País”, explicou. Segundo ele, à medida que há um desequilíbrio muito grande como o atual, “entre quem tem con-dições e quem está afundando, o processo de consolidação se acelera