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CONSTRUINDO PONTES ENTRE GERAÇÕES: DESENVOLVENDO A RESPONSABILIDADE SOCIAL ENTRE JOVENS E IDOSOS Building bridges between generations: developing social responsability between young and old Victória dos Santos Ferrazoni – [email protected] Graduanda em Psicologia – UNISALESIANO LINS Peterson Merlugo – [email protected] Graduando em Psicologia – UNISALESIANO LINS Rafaela Diogo Martins – [email protected] Graduanda em Psicologia – UNISALESIANO LINS Orientador (a): ProfªMs. Liara Rodrigues de Oliveira – UNISALESIANO LINS – [email protected] RESUMO Este artigo apresenta os resultados obtidos a partir da experiência de Estágio Básico em Psicologia realizado no Centro de Formação do Mirim de Lins- SP. Tendo como objetivo unir gerações, começando pela adolescência e a terceira idade, proporcionando um encontro desses adolescentes com idosos do Asilo São Vicente de Paulo de Lins – SP, com o intuito de promover a responsabilidade social, cidadania e cooperação. Será abordada a questão da adolescência na atualidade e como os jovens se posicionam perante a vida, a realidade atual da terceira idade e contemplando ambas as gerações, abordando as habilidades sociais e a responsabilidade social e suas contribuições para gerar valores positivos em jovens e idosos, promovendo a saúde e qualidade de vida através da construção de um novo olhar de ambas as partes. Obteve-se resultados positivos durante a realização do estágio e no encontro com idosos, foram desenvolvidas atividades como dinâmicas, apresentação de filmes, jogo cooperativo e no encontro final atividades com artes, teatro e música envolvendo os adolescentes e os idosos. Palavras-chave: adolescentes, idosos, habilidades sociais, responsabilidade social. ABSTRACT 1

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CONSTRUINDO PONTES ENTRE GERAÇÕES: DESENVOLVENDO A RESPONSABILIDADE SOCIAL ENTRE JOVENS E IDOSOS

Building bridges between generations: developing social responsability between young and old

Victória dos Santos Ferrazoni – [email protected] em Psicologia – UNISALESIANO LINS

Peterson Merlugo – [email protected] em Psicologia – UNISALESIANO LINS

Rafaela Diogo Martins – [email protected] em Psicologia – UNISALESIANO LINS

Orientador (a): ProfªMs. Liara Rodrigues de Oliveira – UNISALESIANO LINS – [email protected]

RESUMOEste artigo apresenta os resultados obtidos a partir da experiência de Estágio Básico em Psicologia realizado no Centro de Formação do Mirim de Lins- SP. Tendo como objetivo unir gerações, começando pela adolescência e a terceira idade, proporcionando um encontro desses adolescentes com idosos do Asilo São Vicente de Paulo de Lins – SP, com o intuito de promover a responsabilidade social, cidadania e cooperação. Será abordada a questão da adolescência na atualidade e como os jovens se posicionam perante a vida, a realidade atual da terceira idade e contemplando ambas as gerações, abordando as habilidades sociais e a responsabilidade social e suas contribuições para gerar valores positivos em jovens e idosos, promovendo a saúde e qualidade de vida através da construção de um novo olhar de ambas as partes. Obteve-se resultados positivos durante a realização do estágio e no encontro com idosos, foram desenvolvidas atividades como dinâmicas, apresentação de filmes, jogo cooperativo e no encontro final atividades com artes, teatro e música envolvendo os adolescentes e os idosos.

Palavras-chave: adolescentes, idosos, habilidades sociais, responsabilidade social.

ABSTRACT

This article will show the results and discussion obtained from the Basic Core Stage IV Mirim held at the Training Centre of Lins - SP. Aiming to unite generations , beginning with adolescence and old age, in order to promote social responsibility , citizenship and cooperation.It will address the issue of the current adolescence and as young people position themselves towards life , the current reality of old age and contemplating both generations will discuss social skills and social responsibility and their contributions to generate positive values in young and elderly , promoting health and quality of life by building a new look to both parties.

Keywords: teenagers, Elderly people , Social Skills , Social Responsibility.

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INTRODUÇÃO

O projeto Construindo Pontes consiste em unir diferentes gerações a fim de

promover trocas de experiências. O projeto foi desenvolvido com adolescentes da

instituição Centro de Formação do Mirim de Lins – SP, e visou prepará-los para

vivenciar um contato aproximado com outra geração, no caso, idosos do Asilo São

Vicente de Paulo de Lins – SP.

Os objetivos desse projeto de intervenção realizado pelos estagiários foram

promover a interação entre as gerações, buscando desenvolver habilidades sociais

como a cidadania, a responsabilidade social, o respeito e o amor ao próximo e

valores humanos.

O projeto também teve como intenção servir de motivação para futuros

trabalhos ou projetos, além de ser inspiração para a vida de todos os envolvidos.

A metodologia foi baseada em 10 encontros com os jovens, onde foram

realizadas atividades, envolvendo dinâmicas, confecção de fantoches, vídeos sobre

idosos e ajuda ao próximo e rodas de conversas, como uma preparação para o

encontro com os idosos.

O projeto foi baseado em estudos teóricos sobre a adolescência, a terceira

idade, a responsabilidade social e o desenvolvimento de habilidades sociais.

1 ADOLESCÊNCIA

A adolescência é sempre vista como uma fase de grandes conflitos e

transformações, e também um período de notáveis alterações físicas e psicológicas

na vida de uma pessoa. Porém, não há uma definição específica em si que a

caracterize em um consenso no âmbito da psicologia para esse período de

desenvolvimento humano, é possível recorrer a diversos autores e suas definições,

tais como Piaget e Erikson, porém, deve-se levar em conta que essas várias

definições são consoantes à adolescência e suas oscilações.

Cada sociedade e cultura cobra dos indivíduos uma preparação para a vida

adulta e o desenrolar dessa fase varia de acordo com o contexto social em que está

inserido.

Podemos considerar, então, que a adolescência é uma fase típica do

desenvolvimento do jovem de nossa sociedade. Isso porque uma sociedade

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evoluída tecnicamente, isto é, industrializada, exige um período para que o jovem

adquira os conhecimentos necessários para dela participar. Essa concepção parece

correta, já que o adolescente precisa, para enfrentar determinadas profissões, de

uma preparação muito mais avançada que a das sociedades primitivas. Mas não se

pode dizer que todo adolescente de nossa sociedade passa pelo mesmo processo,

já que uma boa parte das tarefas de um adulto não exige um tempo muito longo de

preparação. (BOCK, A. M. M.; FURTADO, M.; 2003).

É necessário entender a adolescência também como um processo de

construção sobre condições histórico-culturais especificas. Devemos: “entender a

adolescência como constituída socialmente a partir de necessidades sociais e

econômicas dos grupos sociais e olhar e compreender suas características como

características que vão se constituindo no processo [...] Os modelos estarão sendo

transmitidos nas relações sociais, através dos meios de comunicação, na literatura e

através das lições dadas pela Psicologia” (ANDRIANI, BOCK & OZELLA; p; 171;

2001).

Entende-se que a adolescência é um período onde já se começa a traçar

planos para o futuro, sejam esses planos profissionais, pessoais ou sociais. É

necessário proporcionar a esses jovens momentos de reflexão, sobre quem desejam

ser, sobre a sociedade em que estão inseridos e sobre altruísmo, a fim de auxiliá-los

na busca autoconhecimento e construção do futuro.

Compreendendo a adolescência como um processo individual a cada um, não

se pode negar a grande influência da sociedade sobre os adolescentes. O que

muitas vezes é transmitido aos jovens é que o mundo é um lugar sem boas

perspectivas, que não há mais nada a ser feito, ou seja, um mundo de

desesperança. Porém, é importante ressaltar a esses jovens que o futuro será

construído por suas mãos e que eles serão os adultos e idosos do amanhã, além de

mostrar a eles que a realidade social existe, porém, é possível haver mudanças e

transformações a partir da participação desse jovem como ator social da própria

história.

O adolescente internaliza o que está em sua realidade através do que

aprende e o que recebe do meio irá nortear sua personalidade, por isso a relevância

em proporcionar para esses jovens aprendizagem sobre temas que não estão

acostumados a discutir para justamente criar reflexões que possam vir a

proporcionar mudanças de atitudes e pensamentos.

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2 TERCEIRA IDADE

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é todo indivíduo com

60 anos ou mais, porém é preciso levar em conta que às vezes a idade não

acompanha o envelhecimento físico, ou seja, a idade cronológica não é um

marcador de vida e pode haver variações quanto à idade e a situação física e

psicológica dos indivíduos.

Envelhecer é um processo gradativo onde ocorrem mudanças fisiológicas e

psicológicas ao longo do tempo. Na nossa sociedade os idosos são vistos de uma

forma negativa, como alguém improdutivo, inútil, que não tem mais proveito. Porém,

os idosos também são relacionados à sabedoria e experiência, pois já viveram

muitos anos de vida.

É notável que a velhice é uma fase da vida estigmatizada, onde o idoso é

vítima de preconceitos e olhares que deixam de lado suas particularidades e

experiências de vida e somente levam em conta o corpo mais velho em que vivem.

O Estatuto do Idoso em vigência no Brasil deixa claro que é direito do idoso o

convício social, a cidadania, a cultura, o esporte, o lazer, a dignidade e o respeito.

Portanto, é direito de todos os cidadãos assegurarem aos idosos um convívio social

saudável e não a exclusão social.

Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

É fato que o crescimento da população idosa é algo que faz parte da nossa

realidade global atual, além disso, os jovens de hoje serão os idosos que irão fazer

parte desse percentual amanhã.

A compreensão desse aumento populacional é o ponto chave para

compreender que os idosos fazem parte da sociedade e eles não são uma

população a parte dos jovens. Essa visão menos inclusiva é típica dos jovens

contemporâneos, visto que as casas que cuidam de idosos, asilos, estão cada vez

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mais lotadas e o descaso com essa população é visível, um simples exemplo é a

preferência em ônibus e transportes públicos, pouquíssima vezes levada em conta.

De acordo com as estimativas das Nações Unidas, esse segmento em 2011

representava 1,6% da população mundial e as projeções indicam que passará para

4,3% em 2040. Nesse mesmo ano representará 20% da população idosa (60 anos

ou mais).

Os idosos na população mundial totalizavam aproximadamente 800 milhões

de pessoas, o que representava 11% da população. Em 2050, as projeções

apontam para um contingente de mais de 2 bilhões de idosos, o que constituirá 22%

da população.

No Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística), em uma pesquisa recentemente divulgada em dezembro de 2014, a

população brasileira vem envelhecendo rapidamente, tanto em função do declínio da

fecundidade quanto da mortalidade. Esta última variável tem influência direta no

aumento da longevidade dos brasileiros. Em 1980, de cada mil pessoas que

atingiam os 60 anos, 656 não chegariam aos 80 anos. Em 2013, de mil pessoas com

60 anos, 427 não completariam os 80 anos, representando 229 óbitos a menos. A

expectativa de vida aos 60 anos, que era de 16,4 anos em 1980, passou para 21,8

anos em 2013, acréscimo 33,0%. Ou seja, em 2013, um brasileiro com 60 anos de

idade viveria, em média, até os 81,8 anos, sendo 79,9 anos a média para os homens

e 83,5 anos para mulheres.

Em uma matéria publicada na Revista Exame em 2014 por Beatriz Souza, diz

que a tendência é que, até 2040, 30% da população brasileira seja composta por

idosos. O problema é que o Brasil não está devidamente preparado para este novo

perfil populacional. (Revista EXAME.COM, 2012).

Com a proposta de intervenção, os estagiários visam desencadear a

aproximação entre jovens e idosos, podendo gerar aprendizado através dessa nova

interação social, principalmente aos jovens. O envolvimento em situações sociais é

apontado como um importante fator para o desenvolvimento de habilidades sociais

(CABALLO, 2003).

A presença do outro é necessária para que o comportamento socialmente

hábil seja manifesto e aprimorado. Assim, ambientes nos quais há um maior número

de pessoas podem eliciar maior número de interações sociais. (HOHENDORFF,

2009).

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Considerou-se relevante estimular o jovem a estar diante da velhice, a fim de

promover a resignificação da sua percepção sobre o envelhecer, visto que essa

etapa da vida é rodeada de preconceitos e exclusão social, busca-se atribuir novos

valores a esses jovens e também aos idosos aprendizagem sobre respeito ao

próximo, cidadania e empatia. Esse novo olhar para as gerações mais velhas pode

contribuir até em auxilio nas relações familiares e também para uma construção de

um novo olhar para o mundo.

No caminho em direção à fase da velhice, em decorrência de inúmeros fatores

culturais contemporâneos, os contatos sociais tendem a rarear, isto é, assiste-se a

um progressivo esvaziamento de papéis, fato que determina no idoso um crescente

isolamento ou recolhimento ao espaço doméstico. Os idosos precisam ser

estimulados a interagir produtivamente com todas as faixas etárias. É o idoso quem

mais poderá ajudar na quebra dos preconceitos existentes, pois poderá dizer sobre

a adaptação necessária frente às mudanças físicas e sociais da adolescência e do

processo de envelhecimento. O idoso é visto pelos mais jovens como alguém sem

expectativas de vida, sem maiores oportunidades na sociedade e que acaba sendo

alienado ao que lhe é proporcionado, sendo muitas vezes ligado à visão de

incapacidade física e doença. (GVOZD & DELLAROZA, 2012).

3 HABILIDADES SOCIAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕESNão se pode negar que as pessoas passam a maior parte de suas vidas

envolvidas em interações sociais vividas na sociedade. De acordo com Caballo

(2003), o envolvimento em situações sociais é apontado como um importante fator

para o desenvolvimento de habilidades sociais.

As habilidades sociais, logo, aparecem como um conjunto de capacidades e

comportamentos que competem a cada um, podendo ou não ser desenvolvidos

durante sua vida ao longo de todas as interações sociais que se envolvem. As

habilidades sociais são várias, alguns possuem mais habilidade em determinada

área, diferente de outro. Podemos afirmar que as habilidades sociais se

desenvolvem naturalmente a partir dos muitos tipos de interações sociais, levando-

nos a compreender que em cada indivíduo se aflora de uma forma particular.

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Para Caballo (1991), comportamento socialmente habilidoso implicaria as

seguintes capacidades: iniciação e manutenção de conversações; falar em grupo;

expressar amor, afeto e agrado; defender os próprios direitos; solicitar favores;

recusar pedidos; fazer e aceitar cumprimentos; expressar as próprias opiniões,

mesmo os desacordos; expressar justificadamente quando se sentir molestado,

enfadado, desagradado; saber desculpar-se ou admitir falta de conhecimento; pedir

mudança no comportamento do outro e saber enfrentar as críticas recebidas. As

situações onde estas respostas podem ocorrer são muitas e variadas, como, por

exemplo, ambientes familiar, de trabalho, de consumo, de lazer, de transporte

público, de formalidade etc. (SILVA-BOLSONI, 2002).

Outros autores definem as habilidades sociais mais amplamente e permite

compreender o quão amplo elas podem se tornar, podendo ser moldadas através da

personalidade de cada indivíduo, levando em conta suas particularidades, seus

comportamentos, seu contexto de vida, histórico e cultural, além de contexto

situacional.

Estudos detalhados sobre as HS indicam que essas podem ser agrupadas em

classes e subclasses de maior ou menor abrangência. As classes/subclasses

propostas são as seguintes: habilidades de comunicação, compreendendo os

comportamentos de fazer e responder questionamentos, dar e receber feedback,

iniciar, manter e encerrar conversas, bem como elogiar alguém; habilidades de

civilidade, que incluem comportamentos de apresentar-se, cumprimentar, dizer por

favor e agradecer, além de habilidades satisfatórias para o enfrentamento ou defesa

de direitos ou de cidadania, tais como expressar opinião, discordar, falar com

autoridades, expressar desagrado, etc.; habilidades empáticas e de expressão de

sentimento positivo; além de duas classes mais abrangentes chamadas de

habilidades sociais profissionais e habilidades sociais educativas. (DEL PRETTE &

DEL PRETTE, 2006).

Tais habilidades são aprendidas, e o nível de desempenho varia em função

do estágio desenvolvimental e de variáveis situacionais e culturais (DEL PRETTE;

DEL PRETTE, 1999).

É importante citar as habilidades sociais na intervenção proposta por esse

artigo, pois, a adolescência é uma fase onde as respostas perante as situações são

moldadas e reforçadas, é um período onde o jovem está construindo sua história e

quem quer ser futuramente, um período permeado por tomadas de decisões e

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posicionamentos perante a cobrança do futuro, logo, é nessa fase em que o jovem

irá internalizar os valores positivos e negativos que recebe e irá ajudá-los nessa

construção de si mesmo.

Na questão da terceira idade, as habilidades sociais aparecem como meio de

retomar sentimentos e comportamentos sociais que passam despercebidos nessa

fase, como a capacidade de empatia, de comunicação, de compreensão do próximo

e de se expressar, pequenos comportamentos importantes a fim de reforçar aos

idosos que ainda possuem um lugar nessa sociedade.

4 RESPONSABILIDADE SOCIALQuando se fala de responsabilidade social, entra-se em contato com um

termo muito utilizado no mundo dos negócios e empresas, sendo um ramo utilizado

para disseminar vínculos entre empresas e sociedade objetivando disseminar um

desenvolvimento saudável de ambos. No ramo empresarial, a responsabilidade

social acaba se resumindo na maioria das vezes em uma obrigação para com a

sociedade.

Porém, a responsabilidade social é mais que uma mera obrigação, ela deveria

ser considerada um estilo de vida entre as pessoas que globalizam o mundo e não

somente algo colocado em prática ao redor dos muros de empresas a fim de

possuírem boa imagem. Contudo, a verdade é que se não colocada como um dever,

a responsabilidade social não é praticada a boa vontade, pois, ela se esbarra em

questões que tocam no individualismo e valores sociais individuais. Ou seja, cada

pessoa olha o mundo de uma forma, algumas com o olhar mais coletivo, buscam o

bem estar de todos, outros com o olhar mais individualista, visando apenas o próprio

bem estar, logo, a responsabilidade perante o social se esbarra também com a

empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro e de compreender a situação

em que se encontra.

Ao se considerar o termo responsabilidade, especificamente na Psicologia

Social, observa-se que os estudos a respeito centram-se em dois enfoques

diferenciados, a saber: responsabilidade social e responsabilidade pessoal. A

primeira significa “atuar sem buscar benefícios para si ou para as pessoas do seu

grupo de pertença, independente das consequências que isso possa ter” (GOUVEIA

& ALVES, 1993, p. 50).

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Segundo Waterman (1981), é um compromisso primeiro consigo, com

independência das normas sociais. De acordo com esta perspectiva, que

reconhecidamente se pauta em uma visão eminentemente individualista, na

responsabilidade pessoal, ainda que exista influência daquilo que é considerado

socialmente aceito, o ator age segundo o que ele determina como meta ou se

compromete a fazer. Portanto, esperar-se-ia que as pessoas que apresentassem

responsabilidade pessoal se orientassem por valores que pusessem ênfase na

liberdade do indivíduo. (GOUVEIA & ALVES, 1993, p. 50).

Conclui-se que a pessoa responsável socialmente primeiramente é

responsável pessoalmente e compreende sua liberdade perante a sociedade, essa

compreensão o coloca como atuante por si mesmo e não somente por algo que é

previsto socialmente como obrigação, logo, ele escolhe ser responsável na

sociedade em que vive.

Correlacionando a responsabilidade social com os objetivos desse artigo,

pontua-se que a responsabilidade social poderia ser compreendida também como

cooperação social e porque não ser considerada uma habilidade social? Pois,

envolve interações com o próximo e a nossa disposição em compreender o social e

a próximo, a partir justamente das interações, quanto mais interajo com esse social,

mais o compreendo e mais busco a cooperação a fim de proporcionar um ambiente

de bem estar no meio em que vivo.

A compreensão do próximo e do contexto social do próximo foi um dos

objetivos da intervenção proposta entre adolescentes e idosos, unindo duas

gerações para que possa promover valores como respeito, empatia, cidadania,

ajuda ao próximo, amizade, cooperação, aprendizagem e comunicação,

conhecimento, bem estar.

5 METODOLOGIA E RESULTADOS

Durante o estágio de núcleo básico foram realizados 10 encontros com os

adolescentes, com média de duração de 2 horas em cada encontro, totalizando 24

horas de vivência em campo. Houve participação em média 13 alunos, sendo 5

meninas e 8 meninos.

Nos primeiros encontros o objetivo principal era conhecer a instituição e os

alunos da instituição, o Centro de Formação do Mirim de Lins - SP, após isso traçar

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diante das observações, estratégias, como dinâmicas e atividades, para serem

desenvolvidas durante os encontros.

As primeiras dinâmicas aplicadas, durante os três primeiros encontros,

tiveram como objetivo a interação entre o grupo de alunos e entre os estagiários, a

fim de criação de vínculo entre os envolvidos.

As posteriores dinâmicas e atividades realizadas, com início no quarto

encontro, tinham como foco o envolvimento dos alunos com o projeto “Construindo

pontes” o qual foi apresentado pelos estagiários desde o primeiro encontro.

Foram reproduzidos vídeos a fim de gerar reflexões nesse grupo de jovens,

foi apresentado o documentário “Quem se importa?”, o vídeo “Fazer o bem sem

olhar a quem” e uma reportagem que foi exibida no Programa Fantástico

(11/09/2015), a reportagem mostrava um asilo que funcionava também como creche

e como esse contato entre diferentes gerações poderia contribuir para ambos os

envolvidos.

Outra atividade desenvolvida foi à confecção de fantoches pelos alunos com o

objetivo de realizar um teatro para ser apresentado aos idosos. Durante os

encontros também foi aplicado um jogo cooperativo (Jogo: Persona), visto que os

adolescentes mostraram-se desanimados, o jogo visou maior aproximação dos

estagiários com os adolescentes e que o vínculo construído durante os encontros

anteriores não fosse desfeito.

Outra estratégia criada diante dessa observação de desânimo dos

adolescentes foi à reprodução de um teatro de fantoches, desenvolvido por um

estagiário voluntário, a fim de ser um modelo para os adolescentes, motivando-os

novamente para aquela atividade. O estagiário voluntário apresentou um teatro de

fantoches sobre o tema paciência, encenando uma conversa entre um idoso e um

jovem.

Foram realizados ensaios com os fantoches com as histórias “Pinóquio” e

uma história criada por um dos adolescentes “A bruxa da montanha”, e também

ensaios com violão e música, que se mostrou um grande interesse dos

adolescentes, junto aos estagiários os alunos escolheram músicas sertanejas para

cantar no dia da visita dos idosos.

O último dia de estágio foi realizado um encontro entre as duas gerações,

adolescente e idoso. Um grupo de idosos do Asilo São Vicente de Paula de Lins –

SP fizeram uma visita ao Centro de Formação do Mirim de Lins - SP para um café

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da manhã e para participar de algumas atividades desenvolvidas pelos alunos com o

auxílio dos estagiários.

O encontro aconteceu no período da manhã e estavam presentes 13 alunos

da turma e 2 adolescentes voluntários que também fazem parte do Centro de

Formação Mirim de Lins - SP, o encontro também contou com dois voluntários,

sendo um auxiliando com as músicas tocadas no dia, e outro um estagiário

voluntário.

Os adolescentes ajudaram na arrumação do café da manhã e após a

chegada dos idosos, foram recepcioná-los. Os adolescentes foram incentivados

pelos estagiários a sentarem ao lado dos idosos e conversar com eles enquanto o

café estava sendo servido. A maioria aderiu aos incentivos, no entanto dois deles

não, optando por sentar isoladamente.

Após o café foram realizadas atividades de desenho, em uma mesa foram

dispostos desenhos, folhas, lápis de cor e giz de cera, idosos e alunos

permaneceram pintando e desenhando por um grande período. Concomitante a esta

atividade foi desenvolvida a atividade com músicas, sendo tocada e cantada pelos

próprios adolescentes. A penúltima atividade realizada foi um teatro por parte do

estagiário voluntário, que abordou o tema idoso e adolescente, além de falar de

respeito ao próximo e empatia.

Os idosos interagiram em todas as atividades, desenhando e pintando,

comendo, cantando, rindo e conversando. A última atividade desenvolvida foi o

embelezamento das idosas, que tiveram suas unhas pintadas pelas alunas

voluntárias.

Os adolescentes optaram por não apresentar o teatro de fantoche ensaiado

anteriormente, o que foi compreendido pelos estagiários.

O mais interessante no encontro foi observar a dedicação dos adolescentes

ao desenvolver as atividades, mesmo que com receio no início, após o

entrosamento deles com os idosos, os mesmos demonstraram muita alegria e

dedicação com o que estavam fazendo.

Um ponto importante é que ao final do encontro, com o clima de despedida

que se instalou e a notícia que os estagiários estariam finalizando o estágio, alguns

adolescentes choraram e abraçaram os estagiários, se mostrando tristes, outros

agradeceram e outros ainda mesmo que timidamente, disseram que foi um dia muito

produtivo.

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Por parte dos idosos também a sensação foi muito positiva, já que eles

agradeceram inúmeras vezes pelas atitudes, pelo dia divertido e por fazê-los

sentirem tão especiais naquele dia. Os estagiários contaram ao final com o feedback

da assistente social que acompanhava o grupo de idosos, agradecendo pela atitude

e pontuando o quão é importante para os idosos esse momento diferente em contato

com novas pessoas.

CONCLUSÃO

O projeto Construindo Pontes buscou proporcionar aos jovens e idosos a

possibilidade de internalização de sentimentos e valores positivos, respeito, ajuda ao

próximo, amizade, aprendizagem, cidadania, responsabilidade social, empatia,

cooperação, comunicação, além um momento de bem-estar.

Aos jovens os objetivos eram de proporcionar interação com uma geração

diferente, visando à construção de um novo olhar sobre o próximo, no caso, um

novo olhar aos idosos e a velhice. Compreende-se a importância de mostrar aos

jovens valores positivos que os auxiliaram na construção do que serão futuramente

e na construção da sua visão de mundo.

Aos idosos, o projeto buscou proporcionar um momento diferente de sua

rotina no Asilo São Vicente de Paulo de Lins – SP, com um momento interação com

pessoas de uma diferente faixa etária, com o objetivo de resgatar valores

esquecidos e desmistificar a visão atual da velhice, de que idosos não possuem

mais seu lugar na sociedade, mostrando justamente o contrário, que os idosos

possuem o seu lugar e merecem ser tratados com respeito e cidadania.

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REFERÊNCIAS

ANDRIANI, Ana; BOCK, Ana. et al. Org. OZELLA, Sergio. Adolescências construídas. São Paulo: Cortez, 2003.BRASIL, LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília, 1o de outubro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.BOCK, Ana. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 14ª ED. São Paulo: Saraiva, 2008. GVOZD, Raquel; DELLAROZA, Mara S. G. Velhice e a relação com idosos: o olhar de adolescentes do ensino fundamental. Rev. bras. geriatr. gerontol. vol.15 no.2 Rio de Janeiro, 2012.GOUVEIA, V.; VASCONCELOS, T., et al. A dimensão social da responsabilidade social. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, n. 2, p. 123-131, 2003.HOHENDORFF, Jean V. Habilidades sociais e adolescência: um estudo entre classes econômicas. Tese Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT). Disponível em: https://psicologia.faccat.br/. Acesso em: 20/08/2015. LOBOISIERE, Paula. Mundo terá mais de 1 bilhão de idosos em dez anos, diz ONU. EXAME.COM, Publicado em 01/10/2012 às 09h18. Disponível em: http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/mundo-tera-mais-de-1-bilhao-de-idosos-em-dez-anos-diz-onu. Acesso em: 20/03/2015. SILVA - BOLSONI, Alessandra T. Habilidades sociais: breve análise da teoria e da prática à luz da análise do comportamento. Interação em Psicologia, 2002, 6 (2), p. 233-242.

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