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CARTA: QUE BICHO É ESSE?Reflexões sobre texto epistolar em uma sala de 2º ano
Thainá da Rocha Vanci – [email protected]élida Cristina de Almeida Pinatti – [email protected]
Graduandas em Pedagogia – UNISALESIANO Lins Prof.ª Dra. Elaine Cristina Moreira da Silva
UNISALESIANO Lins – [email protected]
1. RESUMOO presente trabalho teve seu inicio desde 2013, por meio de inquietações
advindas da participação como aluno pesquisador no Projeto Bolsa Alfabetização – vinculado ao Programa Ler e Escrever pertencente à Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo.
Tendo em vista uma preocupação quanto ao processo de leitura e escrita frente aos meios de comunicação, que a cada dia se distancia tanto das práticas escolares quanto sociais, a inquietação contida nesta pesquisa busca compreender a funcionalidade da leitura e da escrita dentro deste processo e as práticas escolares para o desenvolvimento do mesmo.
Para tanto o objeto deste estudo são alunos de um 2º ano do Ensino Fundamental nos Anos Inicias de uma escola pública, com crianças de faixa etária entre 7 e 8 anos de idade.
Palavras Chave: Carta – Comunicação – Leitura e Escrita – Ensino Fundamental – Ler e Escrever.
2. INTRODUÇÃO
Por meio da participação como AP´s – Alunas pesquisadoras no Projeto Bolsa
Alfabetização no período de 2013 à 2015 notamos grande dificuldade dos
professores em ir além no que diz respeito ao trabalho em sala de aula decorrente a
uma defasagem no currículo – material didático do Ler e Escrever, voltados para o
trabalho com cartas no Ensino Fundamental nos Anos Iniciais, principalmente no 1º
e 2º ano.
O pressuposto para a realização desta pesquisa foi a inquietação de ouvir dos
próprios professores titulares das classes em que houve participação, durante todo
esse período que as crianças desta faixa etária eram incapazes de realizar tais
produções.
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Atualmente o processo comunicacional é concebido como importante fator para o
bom desempenho das pessoas, isto porque qualquer ação começa com
comunicação e essa relação não é diferente no contexto escolar.
A comunicação ocorre quando interagimos com outras pessoas utilizando a
linguagem; de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p.
06) “nas práticas sociais, o homem cria a linguagem verbal. Ela é um dos meios para
representar, organizar, transmitir o pensamento de forma específica”.
Com a disseminação dos meios de comunicação, as pessoas passam a progredir
na oralidade, leitura e escrita, ampliando a compreensão e visão do mundo a sua
volta. Segundo Silva (2005), para que possa ocorrer o processo de comunicação
temos que levar em conta os tipos de informações que serão utilizadas para o
melhor entendimento da situação e do contexto que está sendo apresentado.
A todo momento estamos em processo de troca de informação e interação, seja
pelos meios midiáticos, através de uma aula ou palestra, lendo um livro, recebendo
um jornal, um panfleto ou uma carta. Durante todo o dia nos deparamos com ações
que fazem parte da cultura contemporânea o que remete-nos a uma estrutura
comunicativa.
De acordo com Marcuschi (2002) “é impossível se comunicar verbalmente a não
ser por algum texto”, portanto, cartas foi o gênero adotado como base para o
desenvolvimento desta pesquisa por meio de sequências didáticas.
A presente pesquisa teve como objetivo geral, contribuir para o processo de
alfabetização e letramento das crianças do 2º ano do Ensino Fundamental.
Os objetivos específicos buscaram:
a. - Desenvolver estratégias e procedimentos de escrita do gênero carta nos
alunos do 2º ano do ensino Fundamental;
b. - Propor situações didáticas que garantam a abordagem do gênero carta;
c. - Fazer parte de situações sociais de escrita;
d. - Realizar escrita espontânea;
e. - Identificar as características do gênero estudado;
f. - Desenvolver o habito de produzir e revisar seus textos.
2. METODOLOGIA
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Adotamos a pesquisa de campo e bibliográfica com base em relato como
metodologia. A pesquisa foi realizada em uma sala de 2º ano do Ensino
Fundamental nos Anos Iniciais, por meio da utilização de sequências didáticas e
projetos que visam o processo de ampliação da escrita já que se trata de um
percurso para sua construção, visto que está sendo analisado tanto este processo
quanto o material proposto pelo currículo para essa faixa etária.
3. DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento da pesquisa consiste na elaboração de uma sequência
didática com base em projetos. Para a realização do mesmo, primeiramente foi
realizada uma pesquisa sobre a comunicação e o processo de leitura e escrita, e em
seguida análises do material didático – Guia de Planejamento e Orientações
Didáticas do Programa Ler e Escrever do 1º e 2º ano do Ensino fundamental nos
Anos Iniciais, abordando o trabalho com o gênero carta.
As sequências didáticas foram divididas em duas partes – Projeto de Bilhetes e
Projeto de Cartas respeitando e seguindo um contexto real de produção,
possibilitando um aprimoramento da escrita, tais quais aplicadas em uma sala de 2º
ano contendo vinte e quatro alunos, sendo todos alfabéticos. A aplicação das
atividades foram executadas pela professora titular da classe com a observação e
análise das alunas pesquisadoras.
De início foi realizada a apresentação de um bilhete, com o intuito de fazer com
que os alunos pudessem reconhecer a estrutura do gênero proposto. Neste
momento, a professora fez algumas intervenções ampliando o conhecimento desses
alunos, levantando questionamentos tais como: quem já escreveu um bilhete? Para
que serve um bilhete? O que não pode faltar em um bilhete? Conforme os alunos
respondiam, a professora ia mediando o processo de ampliação deste
questionamento construtivo.
Após os questionamentos, um cartaz contendo um bilhete foi exposto na lousa, e
a professora foi retomando com os alunos a estrutura desse gênero e identificando a
localização da saudação, destinatário, assunto, remetente e a data.
Na segunda etapa, foi proposto a produção coletiva de um bilhete, na qual a
professora atuou como escriba. Antes de iniciar a escrita, a professora questionou-
os sobre quais assuntos iriam escrever, e decidiram que seria sobre a reunião de
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pais. A professora atuou de modo com que cada aluno pudesse refletir sobre o
sistema de escrita e suas possíveis representações. Ao término da produção, ambos
aluno – professor fizeram uma revisão sobre o texto produzido, investigando as
representações ali feitas e o que poderia ser melhorado.
A terceira etapa realizada referiu-se a uma atividade de produção em duplas
produtivas. As duplas receberam um bilhete para que realizassem a leitura do
mesmo e em seguida, a professora fez a leitura para os alunos e, oralmente fizeram
a análise do assunto do bilhete. Logo depois cada dupla respondeu o respectivo
bilhete, participando de uma situação de escrita, desenvolvendo comportamentos de
escritor.
Na quarta etapa, a professora escolheu uma das produções elaboradas na
atividade anterior para a realização de uma revisão coletiva. Ao ser exposto essa
produção aos alunos, alguns disseram que o bilhete estava correto, outros disseram
que poderia ser melhorado.
Ao reescrever, os alunos foram questionados sobre o que poderia ser modificado
e acrescentado, sem deixar de lado a estrutura do bilhete. A professora sempre ia
retomando a leitura (resposta) desde o início para que os alunos fossem realizando
reflexões sobre a escrita ali representada e buscando palavras mais complexas para
o melhoramento da escrita, o que ampliava gradativamente o vocabulário dos
mesmos.
Para a quinta etapa, cada aluno recebeu uma atividade com um bilhete impresso.
Após a leitura, responderam algumas questões internalizando o que haviam
aprendido até o momento. Quem escreveu o bilhete? Em qual data o bilhete foi
escrito? Para quem foi o bilhete? Por qual motivo o bilhete foi escrito? Localize e
transcreva como foi a despedida, tais questões eram as que compunham a
atividade.
Na sexta etapa a atividade proposta foi um pouco mais lúdica, com o intuito de
possibilitar um contexto real de produção. Foi realizada a escrita individual de um
bilhete – convite – para a participação de um piquenique. A sala foi dividida em
grupos e cada um ficou responsável por convidar a direção, coordenação,
secretaria, alguns professores e demais funcionários da unidade escolar.
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Após a entrega dos bilhetes, todos se organizaram para a concretização do
evento. Alguns dias se passaram e o dia da concretização do evento chegou. Alguns
convidados compareceram, outros não.
Na semana seguinte, após o piquenique foi dado início à outra sequência
didática, destinada ao trabalho com cartas. Cada aluno recebeu um modelo de carta.
Através da oralidade, a professora trabalhou os conceitos que os alunos continham
sobre cartas, como por exemplo, se já rceberam cartas, quais tipos de cartas
existem, se utilizam esse meio de comunicação, com quem, e o pôr que.
A professora aproveitou o gancho desse meio de comunicação e debateu com os
alunos alguns assuntos relacionados à semelhança entre a carta e as tecnologias
atuais (e-mail, sms), explicando a diferença de como esse processo de comunicação
ocorria antigamente e como ele acontece agora.
Os alunos interagiram prazerosamente com a conversa, possibilitando ao
professor resultados valiosos quanto aos conhecimentos prévios sobre o assunto
por parte deles.
Em seguida foi realizada pela professora a leitura de uma carta apontando e
exemplificando oralmente aos alunos que observassem a estrutura dessa forma de
comunicação (cabeçalho, saudação, mensagem, despedida e assinatura).
A atividade seguinte abrangeu a utilização e a estratégia de antecipação e
verificação, considerando aquilo que os alunos já sabem sobre a estrutura da carta e
sobre os conhecimentos já internalizados sobre o assunto até o momento, voltados
para a localização do destinatário, data, motivo/assunto da carta e despedida, ou
seja as principais características.
Na terceira etapa do projeto os alunos receberam uma carta toda embaralhada
que Cinderela escreveu desorganizadamente para a fada madrinha. Após a leitura, e
organização do texto em fatias, a atividade proposta era que os alunos pudessem
organizar esta carta e realizar a reescrita visando estruturá-la de forma correta.
Posteriormente, os alunos foram até a sala de vídeo e assistiram ao filme da
Cinderela para realizar uma atividade de localização das estruturas de uma carta
recebida por ela uma semana após o seu casamento. A professora solicitou aos
alunoss que escrevessem uma carta coletiva como resposta, como se Cinderela
estivesse escrevendo-a.
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Pensando num contexto real de produção a última atividade aplicada foi a
produção individual de uma carta. Nesta estapa, os alunos escolheram um
destinatário (destinário qualquer que não pode estar presente no piquenique – etapa
6 – Projeto de Bilhetes) e escreveram um carta, relatando como foi a realização do
piquenique, o que mais gostou, como foi a experiência. Durante todo o processo de
escrita da carta ocorreu a revisão e correção individualmente, para que desse modo
o aluno por si só pudesse realizar reflexões sobre a sua escrita buscando meios
para melhorá-la e até mesmo acrescentar mais informações.
Concluída esta etapa da atividade em um momento de conversa informal, a
professora questionou aos alunos: quem entrega as cartas hoje em dia? E estes
responderam: o Carteiro! Deste modo a professora fez intervenções no diálogo
criado e contou aos alunos como funcionava antigamente o serviço dos correios e
como funciona atualmente. E para tornar tudo isso divertido e significativo contou à
eles que iriam ao correio para enviarem as cartas que haviam sido produzidas.
Depois de todas as cartas escritas e corrigidas, no ultimo dia da aplicação da
sequência didática, cada aluno recebeu um envelope e preencheu-o com os seus
dados (remetente) e do destinatário escolhido (aluna pesquisadora, diretora e vice-
diretora), ou seja, os que não puderam estar presentes no piquenique.
Ao chegar no correio, todos foram recepcionados pela gerente, que recebeu e
adentrou-os para que pudessem retirar a senha, aguardar a sua vez de ser chamado
(seguido senha visível no televisor) e então enviarem a carta. Após todos selarem as
cartas, a gerente acolheu a todos no interior do estabelecimento e forneceu uma
palestra bem simples para informá-los sobre o funcionamento deste processo até a
carta chegar nas casas por meio do carteiro!
A palestra disponibilizada pela equipe do correio foi de grande valia, os alunos
interagiram muito bem com todos, e questionaram suas dúvidas além de expor ali o
ponto de vista sobre o conteúdo estudado em sala de aula.
Figura 1 – Produção de uma carta
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Fonte: Arquivo das pesquisadoras.
4. RESULTADOS
Esta pesquisa possibilitou o alcance de resultados significativos, revelando por
parte dos alunos uma autonomia quanto a compreensão e a utilização com domínio
da escrita. Para que os alunos compreendam de forma significativa o que torna um
escritor competente é importante que o professor considere o gênero textual, os
potenciais leitores e os objetivos que se pretende alcançar com o material escrito
porque são elementos imprescindíveis para que o aluno se torne capaz de planejar o
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que se pretende escrever, textualizar (escrever) e revisar o texto escrito, ou seja,
ensinar-lhes os comportamentos leitores e escritores.
Os comportamentos do leitor e do escritor são conteúdos e não meramente
simples tarefas, ambos são aspectos que se espera que os alunos aprendam, pois,
encontram-se presentes em sala de aula, e é importante que os alunos se apropriem
dos mesmos para que possam carregá-los para futuras utilizações como praticantes
da leitura e da escrita (LERNER, 2002).
Como revelado ao longo do trabalho todos os alunos no período de aplicação
das atividades já se encontravam em hipótese alfabética quanto ao sistema de
escrita, o que possibilitou um grande crescimento, pois, possuíam autonomia para
realizar as produções, leituras necessárias e encontrar informações.
Desta forma pode- se destacar aqui a importância do processo comunicacional
mesmo que este sofra influência da tecnologia pois, “a comunicação vai deixando
suas marcas em cada novo momento histórico [...] processo que se renova e
modifica, mas que nunca perde sua essência”. (SILVA, 2014, p.112); não importa
quais sejam os meios tecnológicos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desta pesquisa pode-se perceber que a aprendizagem dentro do
contexto de produção e atuação ocorre com maior facilidade e que as crianças são
sim, capazes de realizar essas produções, porquanto são seres inacabados e a todo
momento estão em processo de formação e em constante construção de
conhecimentos.
Independente da faixa etária, os estudos comprovaram que desde o 1º ano é
possível sim trabalhar cartas, tudo depende de como e com qual frequência tal
atividade está sendo desenvolvida com os alunos em sala de aula, pois, todas essas
ações só são possíveis quando se tem clareza da função comunicativa do texto que
está sendo produzido e as suas principais características.
Na escola a criança deve se apropriar e produzir diferentes textos: seja um
bilhete, história, conto, poema, carta, receita, instruções para confeccionar um
brinquedo, ficha técnica, dentre outros gêneros.
Escrever não é uma tarefa fácil. É tentar comunicar-se produzindo sentido, é uma
atividade complexa que exige uma série de conhecimentos linguísticos. Para que a
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criança encontre mecanismos necessários para se produzir um texto, ela precisa
possuir um amplo repertório de leituras, isto é, conhecer diferentes gêneros textuais
e, para isso ocorrer o professor deve proporcionar aos alunos esses momentos de
contato com todos os materiais independente do suporte do mesmo.
Foi uma experiência muito significativa. Todo professor deveria ter este preparo e
empenho em realizar as atividades, e buscar meios diferenciados que possam ir
além do currículo – material didático – para que os alunos possam vivenciar
situações novas e com um contexto real, fora de um simples faz de conta.
As experiências vivenciadas trouxeram bagagens valiosas para um grande
enriquecimento profissional futuro, embasando toda a teoria e possibilitando novas
práticas com um olhar diferenciado para esses pequenos.
6. FONTES CONSULTADAS
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação do Ensino Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília:MEC/SE, 2001.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2002.
SÃO PAULO (Estado). Ler e Escrever: guia de planejamento e orientações
didáticas. Professor alfabetizador – 1º ano / Secretaria da Educação, Fundação para
o Desenvolvimento da Educação. 4 ed. São Paulo: FDE, 2014.
SILVA, E.C.M. Formação de Médicos no Brasil – cenários e possibilidades
pedagógicas do Museu Histórico Professor Carlos da Silva Lacaz da Universidade
de São Paulo – USP. Tese de Doutorado. UNINOVE. Sp.2014.
LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
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