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Page 1: CAMPANHA EDUCATIVA SOBRE PLANTAS TÓXICAS NO … · Pastagens e forrageiras: pragas, doenças, plantas invasoras e tóxicas, controles. Instituto Campineiro de Ensino Agrícola,

CAMPANHA EDUCATIVA SOBRE PLANTAS TÓXICAS NO MUNICÍPIO DE GARANHUNS

Bruno Pajeú e Silva1, Dimas Diniz da Silva2, Guilherme Aniceto Veras3, Edilma Pereira Gonçalves4, Márcia Bersane Araújo de Medeiros Torres5

________________1. Primeiro Autor é Aluno do Curso de Medicina Veterinária da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. E-mail: [email protected]. Segundo Autor é Aluno do Curso de Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. 3. Terceiro Autor é Aluno do curso Medicina Veterinária da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Bom Pastor s/n, Boa Vista, Garanhuns – PE, CEP 55296-901.4. Quarta Autora é Professora Adjunta do Curso de Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901.5. Quinta Autora é Professora Adjunta do Curso de Medicina Veterinária da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901.

Introdução

Na natureza, um grande número de espécies vegetais apresenta princípios ativos capazes de promover distúrbios em animais. No entanto, são classificadas como plantas tóxicas de interesse pecuário as espécies que promovem intoxicação nos animais, mas apenas sob condições naturais [1].

Define-se como planta tóxica de interesse pecuário aquela que, quando ingerida pelos animais domésticos, sob condições naturais, causa danos à saúde ou mesmo a morte [2]. Sendo a escassez de alimentos a principal razão que leva os animais a ingerir estas plantas nocivas [3].

As toxinas presentes nas plantas podem influenciar diretamente na produção animal [4], sendo capazes de promover grandes prejuízos ao agronegócio. Uma interessante forma de classificar estes prejuízos é em perdas diretas (morte, perda de peso ou redução do crescimento, distúrbios reprodutivos) e indiretas (custos médicos, construção de cercas, alterações do manejo) [5].

A toxidez das plantas não é constante e uniforme, sendo afetada por diversos fatores que diminuem ou favorecem a sua toxicidade. As sementes geralmente apresentam maior concentração de princípio tóxicoembora, a grande maioria das intoxicações ocorra por meio da ingestão das folhas. Geralmente na fase de brotação e rápido crescimento apresenta concentrações de princípio tóxico muito maior do que quando madura, coincidindo também com o período de maior palatabilidade e, maior sensibilidade à predação. A secagem da planta pode fazer com que esta tenha sua toxicidade reduzida, enquanto outras plantas não tem o seu princípio tóxico afetado [2,4,6].

No Brasil, o envenenamento por plantas causa grandes perdas econômicas de rebanhos bovinos, sendo o envenenamento tão importante quanto as perdas causadas por raiva e botulismo. As estimativas consideram que anualmente são perdidas, no mínimo,100.000 cabeças de animais bovinos por intoxicação por plantas. O número de bovinos mortos por plantas tóxicas no Brasil foi estimado, em 2001, entre 800.000

e 1.200.000, sendo maior a taxa de mortalidade nas regiões Cento - Oeste, Nordeste e Norte [7].

Como o número de plantas tóxicas é elevado, é agrupá-las, para facilitar preciso seu estudo. Isto pode ser feito de acordo com vários critérios, como por divisão regional, por ação patológica, por famílias botânicas ou por princípios tóxicos [8].

O Presente trabalho tem como objetivo descrever as atividades realizadas no projeto de extensão Campanha Educativa sobre Plantas Tóxicas no Município de Garanhuns.

Material e métodos

O presente trabalho tem por base o projeto Campanha Educativa sobre Plantas Tóxicas no Município de Garanhuns, realizado na Unidade Acadêmica de Garanhuns com objetivo de identificar e divulgar informações sobre as principais plantas tóxicas existentes na região causadoras de doenças e perdas econômicas.

A primeira etapa do projeto foi a organização de palestras baseadas na casuística da intoxicação por plantas em animais de produção no município de Garanhuns. Estes dados foram fornecidos pela Clínica de Bovinos de Garanhuns no período de 2003 a 2008.

A segunda etapa do projeto que está em fase de realização é a organização de exsicata dos principais exemplares de plantas tóxicas encontradas na nossa região.

Resultados

As principais plantas tóxicas responsáveis pelaocorrência de casos clínicos foram a Brachiaria sp. com 65,78% de incidência, seguida pela Thiloa glaucocarpa, com 13,57% dos casos registradosacometendo exclusivamente bovinos. Dos 65,78 dos casos de intoxicação por Brachiária sp., 70,83% acometeram exclusivamente a espécie ovina e 29,22%.

A Tabela 1 mostra as plantas que levaram os animais recebidos na Clínica de Bovinos de Garanhuns a desenvolver os quadros de intoxicação.

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Discussão

O quadro clínico de fotossensibilização causado pela ingestão de Brachiaria sp. é do tipo secundário e geralmente está associado ou à presença de um fungoPithomyces chartarum ou sapogeninas substância tóxica presentes na própria planta. O P. chartarum é um microorganismo saprófita que produz uma substância denominada esporidesmina, capaz de causar uma colangite obstrutiva e evitando dessa forma a excreção da filoeritrina, um pigmento fotodinâmico, que se acumula na pele e causa o quadro de fotossensibilização do tipo secundário, ocorrendo o mesmo mecanismo no caso das sapogeninas [9].

Thiloa galucocarpa é uma planta nefrotóxica que causa nefrose tubular e insuficiência renal. Provavelmente os princípios tóxicos desta planta sejam os taninos, vescalagina, castalagina, estaquiurina e casuarinina [10,11].

Apesar de essas terem sido as únicas plantas de casuística clínica comprovada não quer dizer,necessariamente, que seja uma amostragem fiel de todas as plantas ditas tóxicas da região. Existe uma variedade de plantas muito maior que não foram relatados casos clínicos, mas que são tão nocivasquanto as já citadas, sendo algumas, inclusive, mais perigosas.

Muitas das mortes “sem explicação” ocorridas na região são atribuídas, pelos produtores, à picadas de cobra sem o laudo do médico veterinário. Pelo fato de muitos acreditarem neste “mito” aliado ao hábito de não buscar o auxílio de um profissional capacitado, estima-se que o número de mortes de animais por intoxicação causada por plantas seja muito maior do que os dados apresentados neste trabalho, fazendo-se necessário uma maior divulgação do assunto no intuito de orientar tanto o produtor quanto o profissional médico veterinário.

Agradecimentos

À Clínica de Bovinos de Garanhuns – UFRPE-UAGpor ter concedido dados da casuística clínica para embasamento e organização das palestras.

Referências[1] TOKARNIA C.H., DÖBEREINER J. & PEIXOTO P.V. 2000.

Plantas Tóxicas do Brasil. Helianthus, Rio de Janeiro. 310p.[2] STEYN, D.G 1934. apud Panter K.E. & James L.F. 1990,

898p.[3] ANDRADE S.O. & MATTOS J.R. 1968. Contribuição do

estudo de plantas tóxicas no estado de São Paulo. Instituto Biológico, São Paulo. 101p.

[4] CHEEKE, P.R. Natural toxicants in feeds, forages and poisonous plants. 2º Ed. Danville: interstate publishers, 1998. 479p.

[5] JAMES, L.F., NIELSEN D.B. & PANTER K.E. 1992. Impacto of poisonous plants on the livestock industry. J, Range Manag.45:3-8.

[6] PUPO N.I.H. 1984. Pastagens e forrageiras: pragas, doenças, plantas invasoras e tóxicas, controles. Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, Campinas, p.275.

[7] RIET-COREA F. & MEDEIROS R.M.T. 2001. Intoxicação por plantas em ruminantes no Brasil e no Uruguai: importância

econômica, controle e riscos para a saúde pública. Pesq. Vet, Bras. 21:38-42.

[8] TOKARNIA C.H., DÖBEREINER J. & PEIXOTO P.V. 2000. Plantas Tóxicas do Brasil. Helianthus, Rio de Janeiro. 8/p.

[9] TOKARNIA C.H., DÖBEREINER J. & PEIXOTO P.V. 2000. Plantas Tóxicas do Brasil. Helianthus, Rio de Janeiro. 172p.

[10] ITAKURA Y., HABERMEHL G. & MEBS D. 1987. Tannins occourring in the toxic Brazilian plant Thiloa glaucocarpa. Toxicon 25(12):1291-1300.

[11] TOKARNIA C.H., PEIXOTO P.V. & DÖBEREINER J. 1998. Intoxicação experimental pelas folhas e extratos de Thiloa glaucocarpa (Combretaceae) em coelhos. Pesq. Vet. Bras. 8(3/4):61-74.

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Tabela 1. Plantas causadoras de intoxicação em animais de produção no período de 2003 a 2008 relatadas pela Clínica de Bovinos

de Garanhuns.

Plantas Nome Popular Efeito tóxico Espécies acometidas Sinais clínicos

Brachiaria spp. Braquiária, Brahiaria Fotossensibilizante Bovinos e ovinosCistite, eritema, formação de crostas, necrose, prurido, anorexia, diminuição dos movimentos ruminais, hipertemia

Cestrum laevigatum

Corana, Coerana, Dama-da-noite

Hepatotóxica BovinosApatia, anorexia, parada ruminal, andar cambaleante, constipação, tremores musculares, alterações neurológicas.

Dieffenbachia spp Comigo-ninguém-pode Edematogênica CaprinosEdema de língua, lábios e face, dificuldade de apreensão dos alimentos, necrose do epitélio da mucosa bucal, sialorréia

Gossypium spp.Algodoeiro

Necrose muscularBovinos Dispnéia, dismetria, sons cardíacos anormais

à auscultação.

Leucaena leucocephala

LeucenaSistema tegumentar

BovinosAlopecia, anorexia, redução nos ganhos de peso, baixa fertilidade, aborto, desprendimento de cascos, ulcerações no esôfago, tireóide aumentada.

Manihot esculentaMandioca

NeurotóxicaBovinos

Aparecem pouco depois da ingestão, respiração acelerada, taquicardia, mucosas hipercoradas, sialorréia, tremores musculares, andar cambaleante, dispnéia, convulsões.

Prosopis julifloraAlgaroba, Algarobeiro

Neurotóxica Bovinos

Inclinação lateral da cabeça, movimentos involuntários de abrir e fechar a boca, relaxamento da mandíbula, atrofia do músculo masseter, salivação contínua, protusão parcial da língua.

Solanum paniculatum

JurubebaNeurotóxica

Bovinos

Crises periódicas do tipo epileptiforme, nistagmo, rigidez dos músculos do pescoço e membros anteriores, extensão da cabeça, perda do equilíbrio, contrações tônico clônicas, hipermetria, torção lateral ou extensão do pescoço.

Sorghum sp.Sorgo

NeurotóxicaBovinos

Aparecem pouco depois da ingestão, respiração acelerada, taquicardia, mucosas hipercoradas, sialorréia, tremores musculares, andar cambaleante, dispnéia, convulsões.

Thiloa glaucocarpa

Sipaúba, VaquetaNefrotóxica

BovinosEdemas subcutâneos, anorexia, atonia ruminal, fezes ressequidas, focinho ressecado, andar lerdo, polidipsia.