camila mireli da rosa* o transtorno de déficit de atenção...

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Título: Literatura sobre o Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade na fase adulta e em indivíduos do sexo feminino. Um relato de caso. Camila Mireli da Rosa* Orientadora Profª Veronicka Seegmueeller RESUMO: O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é considerado um dos transtornos mais comuns da infância podendo estender-se até a fase adulta. Neste artigo mostra-se a literatura sobre o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) na fase adulta e em indivíduos do sexo feminino, em livros publicados entre o período de 1997 a 2014 e uma observação de um caso de TDAH na população citada acima. A paciente com diagnóstico de TDAH tardio teve como consequências sua qualidade de vida baixa em muitos aspectos, tais como relacionamentos afetivos. Encontrou-se poucos livros publicados sobre o TDAH em indivíduos adultos, dez ao todo, e nenhuma literatura específica em português no sexo feminino. Foi obtido um relato verbal da paciente com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), análise das respostas obtidas da paciente em ques- tão no questionário "Adult ADHD Quality of Life Questionnaire" (AAQOL), versão tra- duzida para o português. Através desse relato, de uma paciente com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), observou-se que há a necessidade de maior literatura em língua portuguesa sobre o assunto em questão, seja para conhe- cimento de não profissionais da área da saúde ou para que profissionais, possam expandir seu conhecimento e da * r diagnósticos mais precisos. Dessa forma a pato- logia em estudada seria mais divulgada e de maior acesso a todos. O caso relatado levanta um alerta para a pouca literatura em livros, em língua portuguesa sobre TDAH na fase adulta e em indivíduos do sexo feminino. Palavras-chave: Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), sexo fe- minino, qualidade de vida, livros sobre TDAH, AAQoL. * Professora particular de alunos com dificuldades de aprendizagem. Graduada em Letras português / espanhol pela UFPR, pós graduada pela UTFPR em Ensino de Língua e Pós graduanda em Psicopedagogia pela UTP. E-mail [email protected]

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Título: Literatura sobre o Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade na

fase adulta e em indivíduos do sexo feminino. Um re lato de caso.

Camila Mireli da Rosa*

Orientadora Profª Veronicka Seegmueeller

RESUMO: O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é considerado

um dos transtornos mais comuns da infância podendo estender-se até a fase adulta.

Neste artigo mostra-se a literatura sobre o Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH) na fase adulta e em indivíduos do sexo feminino, em

livros publicados entre o período de 1997 a 2014 e uma observação de um caso de

TDAH na população citada acima. A paciente com diagnóstico de TDAH tardio teve

como consequências sua qualidade de vida baixa em muitos aspectos, tais como

relacionamentos afetivos. Encontrou-se poucos livros publicados sobre o TDAH em

indivíduos adultos, dez ao todo, e nenhuma literatura específica em português no

sexo feminino. Foi obtido um relato verbal da paciente com Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH), análise das respostas obtidas da paciente em ques-

tão no questionário "Adult ADHD Quality of Life Questionnaire" (AAQOL), versão tra-

duzida para o português. Através desse relato, de uma paciente com Transtorno de

Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), observou-se que há a necessidade de

maior literatura em língua portuguesa sobre o assunto em questão, seja para conhe-

cimento de não profissionais da área da saúde ou para que profissionais, possam

expandir seu conhecimento e da*r diagnósticos mais precisos. Dessa forma a pato-

logia em estudada seria mais divulgada e de maior acesso a todos. O caso relatado

levanta um alerta para a pouca literatura em livros, em língua portuguesa sobre

TDAH na fase adulta e em indivíduos do sexo feminino.

Palavras-chave: Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), sexo fe-

minino, qualidade de vida, livros sobre TDAH, AAQoL.

* Professora particular de alunos com dificuldades de aprendizagem. Graduada em Letras português / espanhol pela UFPR, pós graduada pela UTFPR em Ensino de Língua e Pós graduanda em Psicopedagogia pela UTP. E-mail [email protected]

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ABSTRACT: Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is consider one of the

most common childhood disorder and may extend up to adulthood. This article

shows the literature about Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) in the

adulthood and in female people, in books published from 1997 up to 2014 and ob-

serve a case of ADHD in the population spoken. The ADHD late diagnosed patient

with negative effects on her life quality. It was found ten books published about

ADHD in adults, and no specific literature in Portuguese about females. It was ob-

tained a verbal report from the patient with Attention Deficit Disorder/Hyperactivity

Disorder (ADHD), analyzed the responses obtained from the patient in the question-

naire "Adult ADHD Quality of Life Questionnaire" (AAQoL), Portuguese translated

version. Through a description of a patient with Attention Deficit Disord-

er/Hyperactivity Disorder (ADHD), it was observed that there is a need for more lite-

rature in Portuguese on current subject, either for knowledge of non-health profes-

sionals or for professionals intended to expand their knowledge and give more accu-

rate diagnoses. In this way, the condition described would be widespread and the

access would be greater to everyone. The reported case raises an alert about few

literature in books, about ADHD on females in adulthood.

Keywords: Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), ADHD woman diagnos-

es, life quality, ADHD books, AAQoL.

RESUMEN: El Trastorno de Déficit de Atención/Hiperactividad (TDAH) es conside-

rado uno de los trastornos más comunes de la infancia siendo que puede seguir has-

ta la fase adulta. En ese artículo se revela la literatura sobre el Trastorno de Déficit

de Atención/Hiperactividad (TDAH) en la fase adulta y en personas del sexo femeni-

no, en libros publicados de 1997 hasta 2014 y observar un caso de TDAH en la di-

cha población. La paciente con el diagnostico de TDAH descubierto solamente en la

fase adulta y con consecuencias negativas en su calidad de vida. Se encontraron

solamente diez libros publicados en portugués sobre el TDAH en adultos y ningún

libro especifico sobre el TDAH en el sexo femenino. Fue obtenido un relato verbal de

la paciente con TDAH y analizadas sus respuestas obtenidas con el cuestionario “A-

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dult ADHD Quality of Life Questionnaire” (AAQoL), versión traducida al portugués. A

través de un relato de caso de una paciente con Trastorno de Déficit de Atenci-

ón/Hiperactividad (TDAH), se observa que hay la necesidad de una mayor cantidad

de libros en lengua portuguesa sobre el tema, sea para el conocimiento de no profe-

sionales del área de salud o para que profesionales puedan expandir su conocimien-

to y dar diagnósticos más exitosos. Con eso la patología en cuestión sería más di-

vulgada y de mayor acceso a todos. El caso relatado despierta un alarma para la

poca literatura en libros, en la lengua portuguesa sobre TDAH en la fase adulta y en

personas del sexo femenino.

Palabras clave: Trastorno de Déficit de Atención/Hiperactividad (TDAH), se-

xo femenino, calidad de vida, libros sobre TDAH, AAQoL.

1 INTRODUÇÃO

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é tido como um

dos transtornos comportamentais/cognitivos mais encontrados na infância (American

Psychiatric Association, 2000). Esse transtorno muitas vezes permanece na fase

adulta (Barkley,1998). Os indivíduos do sexo feminino expressam os sintomas de

forma diferente do sexo masculino (ABDA, 2011). Há muitos livros em português so-

bre o TDAH na infância, mas pouco sobre o assunto na fase adulta e nada especifi-

camente sobre o TDAH em indivíduos do sexo feminino, já que no sexo masculino

afirma-se que há uma preponderância de 80% dos indivíduos com TDAH, logo há

mais pesquisas que envolvam meninos/homens, por crer que há maior volume de

casos (ABDA,2011).

O TDAH na infância é mais fácil de ser diagnosticado, pois os sintomas são

bem evidentes: inquietação motora ou da fala, dificuldades de atenção, em mais de

dois ambientes e impulsos, porém a apresentação não é a mesma em adultos (Neto,

et, al, 2009).

O TDAH em adultos é de difícil diagnóstico, pois até pouco tempo pensava-se

ser um transtorno exclusivo da infância segundo a American Psychiatric Association

(2000), mas, ainda segundo a mesma associação já é amplamente aceita e estuda-

da. Estudos no Brasil mostram que a maioria dos casos aparecem com comorbida-

4

des Mattos (2009), já que o diagnóstico tardio leva à consequências na qualidade de

vida de adultos que apresentam TDAH (MATTOS, 2010).

O diagnóstico do TDAH em indivíduos do sexo feminino é mais difícil, pois os

sintomas se dão de forma distinta em meninos e meninas (ABDA, 2014). As meni-

nas são menos hiperativas, no modo clássico da palavra, enquanto um menino "es-

calaria", por exemplo, a menina “falaria”, ou seja, o menino impulsivo bateria, partiria

para a agressão física, já a menina xingaria. O que acaba por aparecer mais uma

agressão física que uma agressão verbal, logo nos meninos reconhece-se mais fa-

cilmente (ABDA, 2014).

Os livros específicos da fase adulta em português são cerca de dez e no sexo

feminino não foram encontrados.

O que impulsiona a realização deste trabalho é por descobrir, através de con-

versas com terapeutas, pacientes e leituras, que existem muitas mulheres que vive-

ram suas vidas com dificuldades sérias, inexplicáveis e as vezes misteriosas (SOL-

DEN, 2013).

2 MÉTODO

O método usado para busca por livros foi feita pela internet, através de edito-

ras e sites de livrarias.

O relato da paciente com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade

(TDAH), foi coletado verbalmente. Através dele pode-se constatar alguns dados, que

reafirmam seu diagnostico e dá indícios que seu transtorno, como na maioria dos

casos de TDAH, seja de origem bio-psico-social.

Foi feita uma análise qualitativa das respostas obtidas no questionário - Adult

ADHD Quality of Life Questionnaire (AAQoL), versão traduzida para o português (a-

nexo) - para que o caso seja melhor compreendido e tenha mais base cientifica. Pa-

ra a interpretação foram usados os livros de referência e o quadro que está em ane-

xo após a tabela.

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3 LITERATURA SOBRE TDAH EM L ÍNGUA PORTUGUESA

Tabela 1 - Livros publicados sobre o TDAH na fase a dulta

Título Autor Editora Ano de p u-blicação

1 Tendência à distração. Eduardo M. Hallowell Rocio 1997

2 Terapia cognitiva: Comportamento no TDAH - Manual do Terapeuta.

Paulo Knapp Artmed 2002

3 Terapia cognitiva: Comportamento no TDAH - Manual do Paciente.

Paulo Knapp Artmed 2002

4 UUmm ddiiaa nnaa vviiddaa ddee aadduullttoo ccoomm TTDDAAHH.. Vera Joffe Lemos Editorial

2005

5 Dominando o TDAH Adulto - Manual do Paciente.

Steven A. Safren Artmed 2008

6 Dominando o TDAH Adulto - Guia do Tera-peuta.

Steven A. Safren Artmed 2008

7 TDAH - Transtorno de Déficit de Aten-ção/Hiperatividade ao longo da vida.

Mario Louzã Neto e colaboradores

Artmed 2009

8 Mentes Inquietas: TDAH - Desatenção, hi-peratividade e impulsividade.

Ana Beatriz Silva Glo-bo/Principium

2009

9 Vencendo o TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - Adulto.

Russell Barkley Artmed 2011

10 TDAH em Adultos: O que a Ciência diz. Russell Barkley Roca 2013

3.1 LITERATURA SOBRE TDAH NO SEXO FEMININO

LLiivvrrooss eessppeeccííffiiccooss ssoobbrree TTDDAAHH nnoo sseexxoo ffeemmiinniinnoo nnããoo ffoorraamm eennccoonnttrraaddooss eemm ppoorr--

ttuugguuêêss.. SSoobbrree oo aassssuunnttoo

Levanta-se um alerta para o diagnóstico de TDAH em meninas, observando-as em seus

ambientes: escola, casa, e outros para que assim o diagnóstico de TDAH seja feito na

infância e as mulheres não tenham prejuízo na sua qualidade de vida. Há pouca litera-

tura sobre TDAH em mulheres, principalmente em português. (ABDA, 2014)

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Claro que algum livro pode injustamente não ter sido citado, seja por não ha-

ver encontrado ou por não julgar específico para o estudo do TDAH em adultos. O

importante é que é notável que a maioria é tradução do inglês para o português e

mesmo assim o que há é pouco. Com relação a literatura específica sobre TDAH no

sexo feminino não foi encontrado nenhum livro em português. Isso não significa não

haver literatura na área, já que há muitos artigos, trabalhos e capítulos sobre o tema

(ABDA,2014). Em língua inglesa já há livros específicos sobre TDAH no sexo femi-

nino e um ou dois em língua espanhola.

Assim, buscando, lendo e observando os livros apresenta-se o caso.

4 APRESENTAÇÃO DO CASO

P.B.L, 30 anos, sexo feminino, professora na rede pública de ensino, da cida-

de de Curitiba, é uma adulta com diagnóstico feito por psicóloga (que segue a linha

Teórica Cognitivo Comportamental) por psiquiatra, neurologista e psicopedagoga.

Seus sintomas remanescentes são: falta de memória, desatenção, fala em

demasia e interruptora, impulsividade, ansiedade e labilidade de humor.

Teve diagnóstico hipotético de TDAH levantado por ela mesma, aos 25 anos,

quando leu o livro “No Mundo da Lua” de Paulo Mattos. Levou sua dúvida ao psiqui-

atra e à psicóloga que fazem seu tratamento. Naquele momento era tratada somente

como tendo Transtorno Bipolar.

Para entender melhor o caso será feito um relato breve da infância e ado-

lescência de P.B.L, , assim como traços de sua família.

P.B.L é filha mais nova de um casal de classe média. Ele com um humor de-

pressivo e a mãe muito parecida com a paciente e com um histórico severo de de-

pressão, apesar de aparentar bom humor.

P.B.L. mora com seus pais e tem um irmão mais velho de 36 anos, que não

mora com eles, mas mantém vinculo e reside na mesma cidade. Ele também faz a-

companhamento terapêutico, pois tem dificuldades com relacionamentos afetivos.

Sua mãe também é uma hiperativa e “workaholic”, percebeu desde cedo que

P.B.L. era 'diferente', mais agitada desde bebê e preocupada com tudo que estava a

sua volta.

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Na escola tirava boas notas apesar de falar o tempo todo em sala de aula.

Relatou que estudava muito em casa, pois assim chamaria mais à atenção dos pais.

A mãe buscando tratamento para si, sempre levou P.B.L. à psicólogas, ten-

tando encontrar o que tinham. Relatou que quando tinha 11 anos de idade, ficou

muito assustada com uma briga que ocorrera entre a mãe e o irmão, pois a mae ju-

rou se matar na frente de todos da família.

As psicólogas nada encontravam, sempre diziam que ambas eram muito an-

siosas. Segundo artigo diz

Podem parecer ansiosas em relação a escola, esquecidas e desorganizadas com o dever de casa e atrasar a entrega de trabalhos. Costumam ter um ritmo lento e a sensação de sobrecarga. Algumas são ansiosas ou depressivas e vistas erradamente como menos inteligentes do que realmente são. (ABDA, 2014)

Foi uma aluna nota dez até a sétima série, quando cansou de tentar provar

sempre que “podia" e passou a não se importar muito com as notas, estudando pou-

co em casa e consequentemente seu rendimento escolar caiu. Sobre isso Katia Bea-

triz (ABDA,2014) diz: "Quanto mais inteligente, mais tarde os problemas acadêmicos

tendem a aparecer."

Ela contou que nesse momento apenas sobrevivia, pois em casa vivia uma

bagunça afetiva. Na adolescência P.B.L. diz que demostrava afetos dependentes

com seus primeiros namorados.

Prestou vestibular e foi aprovada em uma universidade pública, mesmo

sem ninguém acreditar que ela conseguiria devido a sua falta de controle emocio-

nal. O mesmo aconteceu ao tirar carteira de motorista, aos 18 anos.

Na vida adulta o sofrimento tomou conta dela por meio de relacionamentos

doentios, isso se deu até os 24 anos. Foi então que entrou em uma crise existencial

muito forte e foi levada pela mãe no auge do sofrimento a uma médica da família,

que pediu que a mãe buscasse uma psicóloga e um psiquiatra, pois ela estava em

meio a uma crise muito forte. Sobre isso P.B.L. disse: “Havia um sentimento de mor-

te.” (sic).

Sobre o TDAH em adultos diz a Psicóloga e membro da ABDA

8

Estudos recentes sugerem que se inclua a desregulação emocional como sendo um sintoma fundamental no TDAH adulto. A emoção conglomera processos de avaliação, sensação física, comportamento motor, intencionalidade e expressão interpessoal; desempenha a função básica de auxiliar uma pessoa na avaliação de alternativas, ao oferecer motivação e revelar necessidades e perigos. Portanto, regular as emoções representa uma habilidade fundamental para a interação social. (GHIGIARELLI, 2014)

Um pouco melhor P.B.L. diz ter ido à luta, aos 24 anos, iniciando um novo

namoro, buscou ajuda até encontrar uma psicóloga que ela achou ideal. Ela conti-

nuava sofrendo, mas agora tinha ajuda de confiança e não iria desistir. Seu novo

namorado era paciente e compreensivo. Estava finalmente em um relacionamento

saudável que perdura até hoje.

Após ir à diversos psiquiatras pareceu encontrar um que a compreendia e

continuou tomando a mesma medicação, só que com doses mais altas. Sua psicólo-

ga não estava satisfeita, pois o médico havia dado a dose máxima do remédio e ela

ainda não se sentia bem.

Levou dois anos para que P.B.L. se sentisse estável, mas não satisfeita com

seu tratamento. Foi então, como já citado anteriormente, que ao ler um livro sobre

TDAH “No Mundo da Lua”de Paulo Mattos, identificou-se de imediato com os itens

para ser uma pessoa com TDAH do tipo combinado, com Déficit de Aten-

ção/Hiperatividade, o que era tratado pelo antigo médico como ansiedade.

O novo médico percebeu que a medicação, Cloridrato de Venlafaxina, na mi-

ligramagem utilizada, não eram compatíveis com os sintomas apresentados. Fez

seu próprio diagnostico de TDAH e o médico também deu o de Bipolaridade.

Relatou ter feito uma busca minuciosa nos livros que pode e falou com os

profissionais que a tratavam. Após muita discussão chegaram ao consenso de que a

bipolaridade era apenas a ponta do icebergue, era uma comorbidade do TDAH. O

que é comum em adultos com diagnóstico tardio (ABDA, 2014).

O tratamento do TDAH deve ser multimodal e inclui orientação, tratamento psicoterápico e uso de psicofármacos. O tratamento da Desregulação Emocional no TDAH deve colaborar para que a pessoa desenvolva hábitos e capacidade de tolerar suas emoções, a fim de lidar melhor com os desafios do cotidiano. (GHIGIARELLI, 2014)

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5 ANÁLISE DA TABELA ADULT ADHD QUALITY OF LIFE QUESTIONNAIRE (A-

AQOL)

Com a tabela Adult ADHD Quality of Life Questionnaire (AAQoL) respondida

por P.B.L. foi feita uma análise qualitativa das respostas, que se referem ao impacto

que o TDAH tem na sua qualidade de vida nas últimas duas semanas.

Dando início à análise, para P.B.L foi um pouco difícil manter a casa limpa ou

arrumada, muito difícil administrar suas finanças, compras e atenção e extremamen-

te difícil lembrar de coisas importantes (chaves, documentos, etc.). Esses dados re-

velam que sua atenção está prejudicada e que ela perde tempo com rotinas simples

e importantes, podendo gerar estresse.

Nas últimas semanas P.B.L. muito frequentemente sentiu-se sobrecarregada,

ansiosa, deprimida, incapaz de atender as expectativas dos outros, que irritou as

pessoas, que precisa de muito esforço para fazer e terminar as coisas, que as pes-

soas ficam frustradas com ela. Algumas vezes sentiu que teve reações exageradas

em situações difíceis ou estressantes e que consegue passar bons momentos com a

família e com os outros. Raramente sente-se capaz de administrar bem sua vida e

nunca se sente tão produtiva quanto gostaria. Esses sentimentos são importantes

para a qualidade de vida e ela não está conseguindo percebe-los de forma positiva,

pois não acredita que possa haver melhoras em relação aos seus sentimentos.

P.B.L. diz ter perturbado-se extremamente com conflitos nos seus relaciona-

mentos e muito com a falta de tempo, perturbando-se com a falta de tempo para es-

tar com as outras pessoas. O que desgasta e dificulta a manutenção de relações a-

fetivas.

Ela se sentiu extremamente incomodada pelo fato de estar exausta e com as

oscilações de suas emoções o que mostra a labilidade de humor.

Para ela foi muito problemático começar e terminar trabalhos e tarefas, que não a-

cha interessantes. Foi extremamente problemático para P.B.L. administrar muitos

projetos ao mesmo tempo, terminar as coisas no tempo certo e saber onde estão

coisas importantes, o que pode irritar, já que o indivíduo sente-se “bobo” e incompe-

tente e muitas vezes com grande sentimento de fracasso.

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P.B.L. também revelou por meio do questionário que só algumas vezes sen-

tiu-se bem consigo mesma e o mesmo para com seu relacionamento íntimo, que

tende a não ir muito bem do ponto de vista emocional. Raramente sentiu que as

pessoas gostam de estar com ela, o que pode ser uma distorção da realidade devido

ao humor instável e até levar a problemas no relacionamento por sua percepção não

adequada. Além de tudo revela uma auto-estima baixa, já que pode não estar per-

cebendo o amor que outros demandam por ela.

A análise do questionario permite reforçar seu relato verbal. Dentro do grupo

de TDAH e suas combinações é perceptível que: ela tem TDAH do tipo combinado,

bem como sintomas depressivos, ansiosos e com problemas afetivos.

6 CONCLUSÕES

O relato de P.B.L serve de exemplo para que se possa olhar com maior aten-

ção para a literatura, especialmente os livros, sobre TDAH no sexo feminino e na fa-

se adulta, pois esse tipo de literatura ficaria mais acessível a população em geral,

para que possam buscar ajuda profissional o quanto antes e até mesmo enriquecer

o conhecimento cientifico de todos os profissionais da área. Para os psicopedago-

gos, este tipo de literatura é fundamental, pois os auxiliam não só na avaliação cor-

reta dos pacientes, como também na forma adequada de intervenção dos mesmos.

Tem-se que levar em consideração a qualidade de vida que um indivíduo com

TDAH tem, o que se pode ver com esse caso, não só no relato, mas também na a-

nálise do questionário AAQoL preenchido por P.B.L. Pode-se perceber através de

suas respostas uma insatisfação grande com aspectos importantes da vida, como

frustrações diárias, ao crer que não é capaz de organizar-se, que as pessoas ao seu

redor não gostam dela, que não sabe administrar mais de um projeto ao mesmo

tempo, irritando-se. Sentindo decepção continua, fracasso, baixa estima e proble-

mas afetivos.

Tanto o questionário de qualidade de vida, quanto o relato confirmam seu

Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, bem como o tipo em que está inse-

rida. P.B.L. está dentro do grupo de TDAH do tipo combinado, possui sintomas de-

pressivos, ansiosos e com problemas afetivos.

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7 REFERÊNCIAS

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EE--bbooookk..

12

77..11 LLIIVVRROOSS CCIITTAADDOOSS

Título Autor Editora Ano de p u-blicação

1 TDAH em Adultos: O que a Ciência diz. Russell Barkley Roca 2013

2 Vencendo o TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - Adulto.

Russell Barkley Artmed 2011

3 Tendência à distração. Eduardo M. Hallowell Rocio 1997

4 UUmm ddiiaa nnaa vviiddaa ddee aadduullttoo ccoomm TTDDAAHH.. Vera Joffe Lemos Editorial

2005

5 Terapia cognitiva: Comportamento no TDAH - Manual do Paciente.

Paulo Knapp Artmed 2002

6 Terapia cognitiva: Comportamento no TDAH - Manual do Terapeuta.

Paulo Knapp Artmed 2002

7 Dominando o TDAH Adulto - Manual do Paciente.

Steven A. Safren Artmed 2008

8 Dominando o TDAH Adulto - Guia do Tera-peuta.

Steven A. Safren Artmed 2008

9 TDAH - Transtorno de Déficit de Aten-ção/Hiperatividade ao longo da vida.

Mario Louzã Neto e colaboradores

Artmed 2009

10 Mentes Inquietas: TDAH - Desatenção, hi-peratividade e impulsividade.

Ana Beatriz Silva Glo-bo/Principium

2009

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AANNEEXXOOSS

AANNEEXXOO 11:: TTaabbeellaa ""AAdduulltt AADDHHDD QQuuaalliittyy ooff LLiiffee QQuueessttiioonnnnaaiirree"" ((AAAAQQooLL))

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AANNEEXXOO 22