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DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINRIA

TRABALHO DE CONCLUSO DO CURSO DE MEDICINA VETERINRIA

rea de Clnica Mdica e Cirrgica de Grandes Animais Acadmica: Camila Braz Ribeiral Orientadora: Prof. MSc. Adriana Moraes da Silva Supervisor: Md. Vet. Luclio Antnio Ribeiro

Planaltina DF Dezembro de 2006

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DEDICATRIA

Dedico este trabalho ao meu pai, Luiz Antonio Ribeiral, que atravs dos ensinamentos transmitidos pelos seus professores Mdicos Veterinrios Otvio Dupont e Paulo Dacorso Filho, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro pde realizar o primeiro diagnstico de Anemia Infecciosa Eqina no Distrito Federal em 1970.

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AGRADECIMENTOS

Deus, por estar sempre presente em minha vida, me fortalecendo para conquistar meus objetivos e orientando o meu caminho. Obrigado, meu Deus! A Prof. Adriana Moraes da Silva, por ter me acolhido como orientanda de uma maneira bastante carinhosa e amiga. Professora, tenha certeza que esta conquista tambm sua! Agradeo pela dedicao e ensinamentos transmitidos durante estes anos e em especial durante a realizao deste trabalho. Ao Mdico Veterinrio, Alberto Gomes da Silva, responsvel pelo Setor de A.I.E. do M.A.P.A, pela constante disponibilidade em ajudar, e por me fornecer todos os dados de A.I.E. para a realizao do Levantamento Epidemiolgico. Ao meu amado pai, que esteve comigo em diversos momentos da minha vida, me apoiando e me dando alicerce para o meu crescimento profissional e pessoal. A minha amada me, pelo amor imensurvel transmitido para mim desde pequenina. E pelo exemplo de batalha, fora e dedicao. As minhas irms, Tati e Tamara, pelo apoio, carinho e compreenso. A toda equipe do HVETO, Hospital Veterinrio de Grandes e Mdios Animais da Universidade de Braslia, Prof. Roberta, Prof. Jos Renato, Prof. Raphael, Cristiane, Ana Carolina, Fabola, Renato, Liana e Paulo Rocha, no s pela oportunidade de realizar o estgio Curricular Supervisionado, mas tambm pelos ensinamentos profissionais, ticos e pelo companheirismo. Aos profissionais da Secretaria de Agricultura, pela amizade e pelo auxlio prestado na execuo deste trabalho. Em especial: Luclio Ribeiro, Jaime Csar, Jota, Hildo, Otlio, Carmelito, Z Augusto, Scartezinni, Mnica, Jos Maria, Ribas, Jeremias e todos os outros aqui no supracitados. Aos funcionrios da Emater, empresa que trabalha com o que eu tanto amo que a Extenso Rural. Em especial, veterinria Flvia Lage pelos ensinamentos transmitidos durante o perodo de estgio no escritrio de Sobradinho. Aos excelentes profissionais e amigos: Sebastio Mrcio, Kleber,

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Gerlan, L, Maria, Eleutria, Hilda, Snia, Nvio, Mateus, Erothildes, Willian, Srgio Orsi, Luciano e Cnsio. A UPIS, instituio que proporcionou a realizao de um grande sonho. Ao corpo docente que sempre me desprenderam tratamento de amizade e respeito, buscando sempre um ensino de qualidade. Em especial a Prof. Roselene Ecco, Prof. Marlia, Prof. Andra Lzari, Prof. Alexander, Prof. Adriana, Prof. Luisa Helena, Prof. Hlio, Prof. Rafael, Prof. Jlio, Prof. Ricardo, Prof. Marcos, Prof. Helvcio, Prof. Fabiana, Prof. Cleber, Heitor, Tuca, Tonho e Augusto. A todos os funcionrios de todas as instituies por onde passei fazendo estgio, pois sua ajuda e experincia foram de fundamental importncia no s para o andamento de atividades dirias, mas tambm no aprendizado e aprimoramento profissional. Aos antigos e novos amigos que conquistei durante o curso: Nalhow, Elber, Paulo Ivo, Rachel, rica, Andrei, Marquinhos, Alexandre e em especial a minha amada amiga Deise Lcide. E a todas aquelas pessoas que direta ou indiretamente passaram pela minha vida, que acreditaram em mim, que contriburam de alguma forma para esta conquista, que no esto supracitadas, mas que sero sermpre lembradas e esto guardadas no corao.

MUITO OBRIGADA!

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SUMRIO LISTA DE TABELAS........................................................................................................... vii LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................... viii 1. INTRODUO................................................................................................................10 2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ..................................................................................12 3 ANEMIA INFECCIOSA EQINA ..................................................................................16 3.1 Introduo..................................................................................................................16 3.2 - Etiologia......................................................................................................................17 3.2 - Epidemiologia .............................................................................................................19 3.4 - Patogenia ...................................................................................................................21 3.5 Aspectos Clnicos ......................................................................................................25 3.6 Aspectos Macro e Microscpicos ..............................................................................26 3.7 - Diagnstico................................................................................................................27 3.8 Controle e Preveno ................................................................................................33 4 LEVANTAMENTO EPIDEMIOLGICO DA ANEMIA INFECCIOSA EQINA NO BRASIL DE 1995 A 2005 COM NFASE NO DISTRITO FEDERAL. ...........................40 5 - HABRONEMOSE ..........................................................................................................45 5.1- Etiologia.......................................................................................................................45 5.2 - Epidemiologia .............................................................................................................46 5.3 - Ciclo Evolutivo ............................................................................................................47 5.4 - Patogenia e Formas Clnicas......................................................................................49 5.5 - Diagnstico.................................................................................................................53 5.6 - Tratamento .................................................................................................................54 5.7 - Controle e Preveno.................................................................................................57 5.9 - Relato de caso e discusso........................................................................................58 6 - CONCLUSO...............................................................................................................72 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................................73 ANEXOS.............................................................................................................................80 Anexo 1 Modelo de requisio de Anemia Infeciosa Eqina. MAPA ...............................81 Anexo 2 Modelo de marcao de animais positivos e termo de sacriffio de Anemia Infeciosa Eqina. MAPA................................................................................................82

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Anexo 3 Certificado de propriedade controlada para Anemia Infeciosa Eqina. MAPA. ...........................................................................................................................83 Anexo 4 - Planilha de casos de Anemia Infecciosa Eqina por UF 1995 a 2005. Dados fornecidos pelo Dr. Alberto Gomes, MAPA. ..................................................................84 Anexo 5 - Planilha de Focos de Anemia Infecciosa Eqina por UF 1995 a 2005. Dados fornecidos pelo Dr. Alberto Gomes, MAPA. ..................................................................85

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LISTA DE TABELAS Tabela 1Nmero de animais acompanhados durante o Estgio

Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. .... 12 Tabela 2 - Atendimentos clnicos realizados durante Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006 ................................ 13 Tabela 3 Procedimentos cirrgicos realizados durante o Estgio

Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006 ..... 14 Tabela 4 - Procedimentos realizados e ou acompanhados durante o Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. .... 15 Tabela 5 - Exames complementares realizados e ou acompanhados durante o Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. 15

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 Esquemas do vrus da AIE.................................................................. 18 Figura 2 - Possveis reaes ao teste IDGA. a)R: soro positivo padro. A: soro positivo fraco B: soro positivo C: soro negativo. b) A: soro positivo padro B: soro negativo C: soro positivo............................................. 29 Figura 3 Casos de Anemia Infecciosa Eqina por UF, 1995 a 2005 ................. 43 Figura 4 Distribuio geogrfica de AIE no Brasil e seu grau de incidncia. .... 43 Figura 5 Distribuio dos casos de AIE por regies de 1995 a 2005. ............... 44 Figura 6 Casos de Anemia Infecciosa Eqina no DF de 1995 a 2005. ............. 44 Figura 7 - Ciclo evolutivo da habronemose. ........................................................ 48 Figura 8 Componentes para formulao da pasta de Habronemose. ............... 57 Figura 9 Frmula utilizada no tratamento do primeiro caso clnico relatado. .... 62 Figura 10 Tecido granulomatoso com cerca de 20cm de dimetro na regio palmo-lateral da articulao metacarpofalangeana do membro torcido direito (MTD) no dia em que o eqino foi internado no hospital veterinrio (27/07/06) . ........................................................... 63 Figura 11 a) Ferida com cerca de 7 cm de dimetro na regio palmar da articulao metacarpofalangeana do (MPE) (27/07/06). b) membro plvico esquerdo excessivo e pequena

Lacrimejamento

quantidade de secreo purulenta ocular............................................ 63 Figura 12 - Exames radiogrficos delimitando a regio de invaso do tecido granulomatosa localizada no membro torcico direito (MTD). ............ 64 Figura 13 Tecido granulomatoso do MTD aps tricotomia e antissepsia. .......... 64 Figura 14 a)Ferida do MPE aps tricotomia e antissepsia. b) Realizao da anestesia local. c) Resseco do tecido granulomatoso do MTD (01/08/06). d) Material utilizado para termocauterizao.................... 65

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Figura 15 a e b) Conteno do MPE. c) Ferida habronemtica com exsudato purulento que exalava odor ftido.(22/08/06) d) Antissepsia da ferida com resduos da pasta para habronemose. ........................................ 65 Figura 16 a)Ferida do MTD aps 45 dias do procedimento cirrgico.b e c) MTD e MPE cobertos com bandagens................................................ 66 Figura 17 Ferida do MPE no dia 01/08/06 e aps 45 dias de tratamento. ........ 66 Figura 19 - Ferida da face no dia 25/06/06. Ferida do MTE no dia 25/06/06. . 69

Figura 20 Feridas no canto medial dos olhos, com aproximadamente 2cm de dimetro, secreo serosa e pequenos ndulos ulcerados

coalescentes de colorao amarelada ................................................ 71

1. INTRODUO No presente Trabalho de Concluso de Curso (TCC), sero relatadas as atividades realizadas no estgio supervisionado obrigatrio do curso de Medicina Veterinria da UPIS Faculdades Integradas, na rea de Clnica e Cirurgia de animais de grande e mdio porte. O estgio foi realizado no Hospital Escola de Grandes e Mdios Animais da Universidade de Braslia, sob a superviso do Mdico Veterinrio Luclio Antnio Ribeiro, no perodo de 03/07/06 15/09/06, totalizando uma carga horria de 480 horas. O Hospital Escola de Grandes e Mdios Animais da UnB foi inaugurado oficialmente em abril de 2002, mas est em funcionamento desde abril de 2001. Situa-se em dois galpes da Secretaria de Agricultura Pecuria e Abastecimento do Governo do DF (Seapa), na Granja do Torto. dotado de dezesseis baias de internao, secretaria, duas farmcias, sala de armazenamento de raes e utenslios, sala de cirurgia, dois banheiros, aposento para plantonistas, sala de anestesia, sala de paramentao, sala escura para revelao do RX, trs salas de professores, sala para realizao das necropsias, curral de apreenso e cinco piquetes que so ambientes de uso tanto do hospital como da Seapa na qual firmam parcerias. A equipe de veterinrios, professores e residentes trabalha em

atendimentos clnicos e cirrgicos tanto a campo, como nas instalaes do hospital. O trabalho inclui internaes, realizao de necropsias alm da implantao de projetos de extenso, como o Projeto Carroceiro, que atende animais de carroceiros de todo o Distrito Federal, do Projeto de atendimento

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Mdico Veterinrio aos animais de produo da regio e Projetos de pesquisa sobre doenas neurolgicas de ruminantes para diagnstico diferencial da raiva. Realizar o estgio na rea de clnica e cirurgia de grandes animais foi devido ao grande interesse e afinidade que tenho por esta rea. Tambm influenciaram na minha escolha: a boa casustica do hospital, os excelentes profissionais que ali trabalham, a possibilidade de adquirir experincia e conhecimento para lidar com diversas dificuldades encontradas na atuao da Medicina Veterinria de animais de grande e mdio porte no DF e entorno, alm de acompanhar projetos de extenso rural e Medicina Veterinria preventiva, que atuam na busca de uma maior conscientizao da sociedade sobre manejo sanitrio dos animais, e resultando em um melhor controle de algumas doenas infecto-contagiosas como a Anemia Infecciosa Eqina, que ser um dos temas abordados neste trabalho.

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2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS O estgio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia, consistiu no atendimento de animais tanto a campo quanto encaminhados a internao. Foram realizados exames clnicos, curativos, medicaes,

procedimentos cirrgicos, necropsias, eutansias, instrues de manejo e orientaes diversas, com o intuito de obter melhorias no rebanho e maior conscientizao sobre sanidade animal. Parte do estgio foi realizado no setor de Diagnstico de Anemia Infecciosa Eqina (AIE) do Seapa, tendo como atividade principal o levantamento de dados epidemiolgicos de AIE, do perodo de 1995 2005, alm do acompanhamento da rotina laboratorial.

Tabela 1- Nmero de animais acompanhados durante o Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. Atendimentos Clnica Mdica Clnica Cirrgica TOTAL N 56 38 94 % 59,57 40,42 100

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Tabela 2 - Atendimentos clnicos realizados durante Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. Bovinos N 1 % 7,69 Eqinos N 1 5 4 3 1 2 1 23,07 7,69 15,38 7,69 1 3 1 1 1 1 7,69 3 1 1 7,69 1 1 1 1 2 7,69 15,38 1 1 13 100 28 3,57 100 15 100 6,66 10,71 3,57 3,57 3,57 3,57 1 6,66 2 13,33 1 6,66 3,57 10,71 3,57 3,57 3,57 4 26,66 1 6,66 1 6,66 1 1 1 3,57 3,57 3,57 1 2 6,66 13,33 % 3,57 17,85 14,28 Ovinos N 1 % 6,66

Atendimentos clnicos Alteraes Nervosas Claudicao Clica Desnutrio Diarria Distocia Fetal Ferimento Oral Fstula Retal Fratura Habronemose Imobilizao de fratura Lacerao do jarrete Lacerao do MPE Linfadenite Caseosa Mastite Clnica Miase Obstruo Esofgica Pneumonia Pododermatite Tendinite Ttano Timpanismo Recorrente Tuberculose Urolitase Varicose Vaginal TOTAL

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Tabela 3 - Procedimentos cirrgicos realizados durante o Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. Bovinos N % Eqinos N 1 1 2 2 2 20 20 20 3 1 10 1 5,26 1 1 10 2 1 10,52 5,26 1 1 1 5,26 1 1 1 10 1 5,26 1 1 10 1 1 2 5,26 5,26 10,52 1 1 10 100 19 100 9 11,11 11,11 100 11,11 5,26 11,11 11,11 11,11 15,78 2 10,52 1 2 11,11 22,22 % 5,26 5,26 Ovinos N %

Procedimentos cirrgicos Abdominocentese Administrao de catter epidural Amputao de falange Bipsia Cesariana Clica Constituio de nus Fetotomia Intussuscepo Laparotomia exploratria Penectomia Reduo de prolapso vaginal Remoo de tecido de granulao Remoo e cauterizao do Sarcide Exciso do linfonodo submandibular Exciso de massa palpebral Exciso Carcinoma Epidermide Exciso Metacarpianos Acessrios Exciso do Funcolo Ruminotomia Sutura da fronte Remoo do tecido habronemtico Trepanao Uretrostomia TOTAL

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Tabela 4 - Procedimentos realizados e ou acompanhados durante o Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. Bovinos N % Eqinos N 42 31 1 2 3 22,22 33,33 17 5 1 4 44,44 7 4 9 100 108 % 38,88 28,7 0,92 15,74 4,62 0,92 6,48 3,703 100 7 7 26 26,92 26,92 100 10 2 38,46 7,69 Ovinos N %

Procedimentos realizados Coleta de sangue para AIE a campo Coleta de sangue para AIE no hospital Cura de umbigo Curativo de Feridas Eutansia Fetotomia Necropsia Vermifugao TOTAL

Tabela 5 - Exames complementares realizados e ou acompanhados durante o Estgio Supervisionado Obrigatrio no Hospital de Grandes Animais da Universidade de Braslia 03 de julho a 15 de setembro de 2006. Procedimentos Exame de Anemia Infecciosa Equina Exame de Brucelose AAT Exame de Tuberculose TCC Teste CMT- Mastite Subclnica Urinlise Exames Radiogrficos Exames de Claudicao Total 292 100 145 146 1 49,65 50 0,34 1 86 15 175 0,57 49,14 8,57 100 2 30 5 37 5,4 81,08 13,51 100 Bovinos N % Eqinos N % 73 41,71 Ovinos N %

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3 ANEMIA INFECCIOSA EQINA

3.1 Introduo O Brasil ocupa a terceira posio mundial em relao ao nmero de eqdeos aps o Mxico e a China (GANADERIA, 2002). Segundo o IBGE (2004), o rebanho eqdeo brasileiro de 5.787.250 animais, sendo que 1.126.815 encontra-se na regio Centro-Oeste e 6000 no territrio do Distrito Federal. O mercado para o eqdeo nacional e, principalmente, o da regio CentroOeste est em visvel crescimento, constituindo uma importante cadeia do agronegcio, com estreita relao com os setores ligados indstria medicamentosa, alimentcia, lazer, cultura, turismo entre outros. As atividades que envolvem o cavalo ganham importncia social e econmica, pois traduzida por uma movimentao econmica na ordem de R$ 7,3 bilhes por ano e a ocupao direta de cerca de 640 mil pessoas, cifra que poderia atingir a casa de 3,2 milhes se forem includos empregos considerados indiretos (CNA, 2004). Tambm conhecida como Febre dos Pntanos ou Swamp Fever, Malria Eqina, AIDS do cavalo, Mal do Cochilo ou Cochilo, a Anemia Infecciosa Eqina (AIE) considerada uma das principais doenas infecto-contagiosas da equideocultura brasileira, para a qual no h vacina eficaz e tratamento (AIELLO et al., 2001). Causada por um vrus do gnero Lentivrus da famlia Retroviridae, que acomete cavalos, asininos e muares. A transmisso ocorre principalmente por insetos hematfagos do gnero Tabanidae (ISSEL e COGGINS, 1979; CLABOUGH, 1990; COOK et al., 2001). Os estudos iniciais desta doena foram realizados na Frana, no sculo XIX, e, atualmente apresenta distribuio mundial. A AIE uma infeco persistente, resultando em episdios peridicos de febre, anemia, hemorragias,

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reduo no nmero de glbulos brancos e plaquetas com supresso transitria da resposta imunolgica. Sinais clnicos como perda de peso, depresso, desorientao, andar em crculos e febre tm sido observados no entanto muitos animais, portadores assintomticos, no apresentam qualquer sinal clnico associado AIE (SILVA et al., 2004). No Brasil, a AIE foi diagnosticada pela primeira vez em 1968, no extinto Estado de Guanabara por Dupont et al. (1968) em animais da raa Puro Sangue Ingls (PSI) alojados no Jquei Clube Brasileiro. A AIE , hoje, um entrave para o desenvolvimento da equideocultura, por ser uma doena transmissvel e incurvel, acarretando prejuzos aos proprietrios que necessitam do trabalho desses animais e aos criadores interessados na melhoria das raas, alm de impedir o acesso ao mercado nacional e internacional (ALMEIDA et al., 2006). O diagnstico laboratorial de fundamental importncia para deteco dos portadores da doena, que, de acordo com a legislao Instruo Normativa DAS, Nmero 16, de 18 de Fevereiro de 2004 (BRASIL, 2004) devem ser sacrificados, promovendo o saneamento dos rebanhos (ALMEIDA et al., 2006). Em 1980, cientistas reconheceram a estreita relao entre o vrus da AIE e o Vrus da Sndrome da Imunodeficincia Adquirida Humana (AIDS). Isto levou a novas pesquisas sobre a patogenia da AIE, e novas descobertas sobre o vrus e a doena (TRAUB-DARGATZ, 1993).

3.2 - Etiologia O agente etiolgico da AIE o Vrus da Anemia Infecciosa Eqina, oficialmente classificado na subfamlia Lentivirinae, da famlia Retroviridae, baseado em sua estrutura, organizao gentica, atividade de transcriptase reversa e reatividade sorolgica cruzada (FENNER et al., 1993; TRAUBDARGATZ, 1993). Relaciona-se intimamente com outros lentivrus, incluindo o vrus da Arterite Encefalite Caprina, o vrus Maedi/Visna dos ovinos e o vrus da Imunodeficincia Felina e Humana. O vrus da AIE um vrus do tipo RNA, envelopado, contendo um ncleo de forma cnica e densa. O envelope lipdico do vrus derivado da membrana

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plasmtica de clulas do hospedeiro durante a maturao da partcula. O vrus da Anemia Infecciosa Eqina (VAIE) apresenta duas glicoprotenas codificadas no envelope (gP 90 e gP 45) e de quatro protenas no glicosiladas maiores (p26, p15, p11 e p9) (Figura 1). A p26 a principal protena do ncleo e demonstra especificidade do grupo, enquanto as glicoprotenas associadas ao envelope demonstram atividade de hemaglutinao e so especficas do tipo (HIRSH e ZEE, 2003). As glicoprotenas gP 90 e gP 45 so, provavelmente, exigidas para a penetrao do vrus na clula hospedeira e atuam tambm como imunoestimulantes (TIMONEY et al., 1988).

Fonte: Valle

Figura 1 Esquemas das protenas do vrus da AIE. Por ser um retrovrus, possui em sua constituio a enzima transcriptase reversa com funo de catalisar a converso do genoma RNA viral para DNA. Esse DNA complementar (cDNA) pode ser inserido dentro do DNA cromossomal do hospedeiro, onde efetivamente ocultado dos mecanismos de defesa do hospedeiro, persistindo no eqino pelo resto de sua vida (TRAUB-DARGATZ, 1993). O genoma do VAIE bastante mutvel, as mutaes em segmentos destes genomas induzem a produo de novas variantes antignicas das glicoprotenas de superfcie, o que resulta em reaes febris recrudescentes, que so caractersticas da doena. As partculas virais possuem pleomorfismo, so esfricas e com dimetro de 90-140 nm (BERNE, 2001). O genoma RNA viral codifica trs grupos de produtos principais, designados: GAG (antgeno associado a grupo), codificando as principais

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protenas internas, POL (polimerase), designando a enzima transcriptase reversa, ribonuclease H e uma enzima de ligao ao DNA, para auxiliar na integrao ao genoma da clula do hospedeiro, e ENV para produzir as glicoprotenas gP 90 e gP 45 do envelope. Alm disso, h trs pequenos segmentos de RNA que provavelmente codificam pequenas protenas regulatrias virais. As ncleoprotenas estruturais no glicosiladas, so menos predispostas a variao antignica do que as glicoprotenas de superfcie. A mais abrangente protena do ncleo, a p26, induz uma forte resposta imune humoral na maioria dos cavalos infectados, e usada como base na maioria dos testes de diagnstico sorolgicos para o vrus (TRAUB-DARGATZ, 1993). Segundo Hirsh e Zee (2003), o VAIE inativado em poucos minutos por desinfetantes comuns que contm detergentes. O vrus tambm inativado por hidrxido de sdio, hipoclorito de sdio, pela maioria dos solventes orgnicos e por clorexidina. Quando aquecido a 56C por 30 minutos, o VAIE presente no soro eqino no infeccioso para outros eqinos. Contudo, a 25C, o VAIE permanece infeccioso por 96 horas em agulhas hipodrmicas. O VAIE estvel entre pH 6,0 e 9,0, mas parcialmente inativado se incubado em pH menor que 5,0. So inativados em 56C por 30 minutos, mas podem apresentar maior resistncia a irradiaes e a luz ultra-violeta devido a seu genoma diplide (FENNER et al., 1993; MURPHY et al., 1999).

3.2 - Epidemiologia O vrus da AIE tem distribuio mundial especialmente em regies midas e montanhosas de clima tropical e subtropical, onde existe grande quantidade de vetores. Todas as raas e faixas etrias de eqdeos so susceptveis. Os cavalos crioulos da Argentina e os pantaneiros do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul so relatados como mais resistentes infeco, sendo acometidos apenas de forma moderada pela doena (SILVA et al., 2004). O vrus est presente em todas as secrees e excrees (incluindo colostro, leite, saliva, urina e smen) do animal infectado. A transmisso do vrus requer a transferncia de clulas sanguneas de um animal infectado para um

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animal no-infectado e pode ocorrer tambm de outras maneiras que no atravs de um vetor. A infeco transplacentria pode ocorrer e mais provvel de ocorrer se a gua estiver apresentando sinais clnicos da doena durante a gestao (TIMONEY et al., 1988; FENNER et al., 1993; MURPHY et al., 1999). Se no infectado no tero, o potro poder adquirir a infeco atravs da ingesto de colostro ou leite contendo leuccitos infectados com o vrus, embora o trato gastrointestinal no seja a porta principal de entrada do vrus. A transmisso iatrognica comum. O vrus da AIE pode permanecer infectivo em agulhas contaminadas por at 4 dias. Pode ser transmitido tambm por equipamento cirrgico, sondas e todos os instrumentos utilizados na lida com os animais e que possa carrear o sangue infectado, como por exemplo, transfuses sanguneas. A transmisso pela monta pode acontecer, apesar de ser rara. O principal meio de transmisso do vrus atravs de insetos hematfagos. Muitas espcies parecem estar envolvidas, incluindo os tabandeos (Tabanus spp e Hybomitra spp, Chrysops flavidus), mosca de estbulo (Stomoxys calcitrans), borrachudos (Simulinium vittatum), mosquitos (Psorophora columbiae, Aedes vexans e Anopheles spp.) e possivelmente Culicoides spp. A transmisso por estes artrpodes ocorre de forma mecnica e no biolgica (no ocorre replicao do vrus no artrpode). O grau de disseminao do vrus depende de vrios fatores: 1) O ttulo do vrus no sangue do hospedeiro. Uma vez o hospedeiro infectado, est infectado para toda a vida. Muitas vezes, aps a infeco inicial, haver episdios de febre em que se verifica o pico da viremia e a transmisso ocorre com maior probabilidade neste perodo. 2) Caractersticas de estrutura e comportamento do vetor. Quanto maior a quantidade de sangue transferida maior a probabilidade de ocorrer a infeco. Por esta razo os tabandeos so os vetores mais importantes, eles so os artrpodes com maior capacidade de ingesto de sangue. Outras variveis a considerar so a dor causada pelo vetor, o local da picada e a persistncia do vetor. Para que a transmisso ocorra, o vetor deve iniciar a ingesto em um animal infectado, interromper e continuar a se alimentar em um

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animal no-infectado. O vrus se mantm infectivo no vetor por at 4 horas (TRAUB-DARGATZ, 1993). Os mosquitos, que causam pouco desconforto e se alimentam de sangue de vasos mais superficiais, normalmente completam sua alimentao em um s hospedeiro, no tendo importncia na transmisso. J os tabandeos causam maior desconforto e so expulsos do animal antes de completarem a refeio. 3) Densidade populacional do vetor. Quanto maior a populao de vetores perto de um hospedeiro infectado, maior a probabilidade de transmisso. As populaes de vetores so sazonais, portanto, existe uma maior chance de infeco no vero e outono, quando as densidades dos vetores atingem seu pico. Em regies abaixo do nvel do mar, midas e pantanosas a prevalncia da doena maior (FENNER et al., 1993). 4) Caractersticas comportamentais do hospedeiro. Existem relatos de que potros tm menos probabilidade de adquirir a infeco, se comparado com adultos. Uma explicao para isso seria que os tabandeos so mais fortemente atrados por animais maiores e mais escuros. Um fato interessante que animais com a forma crnica da infeco esto freqentemente deprimidos e permitem que os tabandeos completem sua alimentao enquanto que animais com a infeco aguda so mais ativos e defensivos, expulsando o inseto. Logo, mais provvel que ocorra a transmisso (Valle). 5) Populao e densidade do hospedeiro. Uma vez que o tabandeo tenha sido expulso de um animal, ele vai tentar terminar a ingesto de sangue no mesmo animal ou em animal prximo. A distncia do vo das moscas do cavalo podem exceder a 6,5Km, mas as moscas tentaro completar sua refeio o mais rpido possvel, no animal que estiver mais prximo. Se a densidade populacional dos hospedeiros baixa, a transmisso mais difcil de ocorrer (TRAUB-DARGATZ, 1993).

3.4 - Patogenia Imediatamente aps a infeco, o vrus da AIE replica, primariamente em macrfagos maduros do tecido heptico, bao, ndulos linfticos, pulmes, rins e

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glndulas adrenais. Vrions descendentes so liberados na circulao e ttulos do vrus aparecem com o aumento paralelo da temperatura retal que ocorre aps o perodo de incubao de 7 a 21 dias (WEIBLEN, 2001). Cavalos infectados so incapazes de remover completamente o vrus do seu organismo e permanecem infectados por toda a vida, apesar da montagem de uma forte resposta imune humoral e celular ao vrus da AIE. Muitos sinais clnicos e leses tanto da doena crnica como na aguda so atribudos a esta resposta imune do hospedeiro para o vrus e no um resultado direto da multiplicao viral (TIMONEY et al., 1988; FENNER et al.,1993; TRAUBDARGATZ, 1993; MURPHY et al., 1999). A febre provavelmente resultado da liberao das citocinas inflamatrias (interleucina 1 e 6 e o fator alfa de necrose tumoral) de macrfagos infectados, podendo ser aumentadas pela estimulao com imunocomplexos. Estas mesmas citocinas inflamatrias podem ser a causa da depresso, decrscimo de apetite, sinais caractersticos encontrados nestes animais (BOTTON e WEIBLEN, 1995). Devido transcriptase reversa presente no vrus da AIE h uma maior propenso, a erros na cpia do genoma do vrus, podendo resultar em alta freqncia de mutaes genticas (FENNER et al., 1993). Essas mutaes genticas resultam em alteraes dos eptopos do vrus, possibilitando nova variante antignica escapar, temporariamente, da resposta imune neutralizante do hospedeiro (TRAUB-DARGATZ, 1993). Apesar de a variao antignica ser um importante fator para a persistncia viral, outros fatores tambm esto envolvidos. O fator mais importante que contribui para a persistncia viral, provavelmente seja a habilidade do vrus em inserir uma cpia de DNA viral no DNA cromossomal do hospedeiro, formando o pro-vrus, que pode no ser manifestado por longo perodo de tempo, com pouca ou nenhuma transcrio ou traduo de genes virais. Se a clula no est expressando antgeno viral, ela no ser reconhecida como infectada pelos mtodos de vigilncia imune do hospedeiro. O estmulo responsvel pela reativao do pro-vrus ainda no conhecido totalmente (TRAUB-DARGATZ, 1993), mas sabe-se que fatores imunosupressores como administrao de corticides, doenas que debilitem o sistema imunolgico ou estresse, induzem a

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recrudescncia da doena e o aparecimento de alguns sinais clnicos (KONO et al.,1976; TUMAS et al., 1994; CRAIGO et al., 2002). A ausncia de episdios clnicos em muitos cavalos, pode ocorrer porque o hospedeiro, gera resposta imune neutralizante contra eptopos comuns a toda variante potencial do vrus da AIE. A habilidade do vrus da AIE resistir rpido a variao antignica in vivo, importante para a persistncia viral, e constitui um desafio formulao de uma vacina eficiente. O animal inicialmente infectado apresenta episdios febris recorrentes at, em mdia, os 12 meses aps a infeco, logo depois, a ao dos anticorpos neutralizantes potencializada, tornando assim um portador assintomtico. Anticorpos no neutralizantes, isto , aqueles que combinam com o vrus circulante sem conferir neutralidade a este vrus, iro desencadear a formao de imunocomplexos que podem servir como um mecanismo portador do alvo do vrus para clulas do hospedeiro que so mais susceptveis replicao viral. Desta forma, tornam-se auxiliadores no desenvolvimento de muitos sinais clnicos da AIE, incluindo febre, depresso, trombocitopenia, anemia e glomerulonefrite. A fagocitose realizada pelo macrfago intensificada de forma no seletiva, o que induz a destruio de clulas com anticorpos no neutralizantes (TRAUBDARGATZ, 1993). A anemia que surge nessa enfermidade causada principalmente pela destruio das hemcias, por meio de um mecanismo imunologicamente mediado. Estudos mais sensveis pela eluio (separao de um slido de outro por lavagem), tem demonstrado que a imunoglobulina, est presente em pequenas quantidades na superfcie dos eritrcitos dos cavalos com AIE (TRAUBDARGATZ, 1993). possvel que a hemaglutinina viral (uma atividade atribuda superfcie das glicoprotenas), torna o vrus capaz de atingir os eritrcitos circulantes e atrair os anticorpos especficos. Os imunocomplexos circulantes tambm podem atingir o eritrcito via fator complemento. Depois o vrus ou anticorpo-antgeno viral adsorvem os eritrcitos, ativam o complemento por via clssica, e mediada por complemento, resultando em hemlise intravascular. A hemlise extravascular pode ocorrer com eritrcitos revestidos com complementos que so fagocitados pelas clulas como macrfagos e neutrfilos (BOTTON e WEIBLEN, 1995). Essa

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ligao superfcie celular resulta em um aumento da fragilidade osmtica, diminuio da meia vida dos eritrcitos e eritrofagocitose (JONES et al., 2000). Devido ativa eritrofagocitose, os macrfagos da medula ssea e bao de cavalos agudamente infectados contm grande quantidade de hemossiderina. O declnio do nmero de eritrcitos deve-se a hemlises intra e extravascular, bem como a uma depresso generalizada da eritropoiese na medula ssea (BOTTON e WEIBLEN, 1995). Cavalos cronicamente infectados muitas vezes tm queda na concentrao srica de ferro, saturao de transferrina, acmulo no ferro plasmtico, aumento na proporo mielide e eritride da medula ssea (BOTTON e WEIBLEN, 1995). Os glomrulos renais de eqdeos infectados pelo vrus da AIE geralmente so afetados, desenvolvendo uma glomerulonefrite mesangioproliferativa, ou seja, os glomrulos apresentam um espessamento das membranas basais e do mesngio, h aumento do nmero de clulas renais, e presena de neutrfilos. Imunoglobulina (IgG) e complemento 3 (C3) podem ser demonstrados no mesngio e sobre as membranas basais. A glomerulonefrite tambm pode ser resultante da deposio de complexos vrus-anticorpo (JONES et al., 2000). A formao dos edemas se d atravs de alteraes degenerativas e necrose extensa, dos tecidos linfticos e do endotlio vascular, seguida de alteraes inflamatrias (BLOOD e RADOSTITS, 2002). Muito sobre a patogenia da Anemia Infecciosa Eqina ainda no compreendido. Contudo, em geral se admite que a anemia, glomerulonefrite, hepatite e a linfadenopatia resultam da deposio de imunocomplexos. Um dos aspectos da doena que tambm pouco compreendido o fato de a complexidade da resposta imunolgica do hospedeiro permitir a sobrevivncia do vrus, ao mesmo tempo em que acarreta hipergamaglobulinemia (TRAUBDARGATZ, 1993). No caso de infeco transplacentria, a gua pode abortar ou o potro ir nascer como um carreador permanente. A infeco experimental de fetos eqinos, resultou em aborto, se o potro for infectado antes dos 203 dias de gestao. Abortos ocorrem entre 21 e 64 dias ps-infeco. Se fetos forem infectados tardiamente na gestao, potros nascem soropositivos, mas morrem dentro de 60 dias. Experimentalmente, menos de 10% dos potros nascidos de

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guas sem sinais clnicos de AIE durante a gestao, foram vrus e anticorpo positivos (TRAUB-DARGATZ, 1993). Segundo Traub-Dargatz (1993), a avaliao do smen de dois garanhes cronicamente infectados com o vrus da AIE, revelou diminuio da motilidade, diminuio da contagem espermtica e quadro morfolgico normal dos espermatozides. 3.5 Aspectos Clnicos As manifestaes clnicas do animal infectado pelo vrus da AIE podem ser divididas em: aguda, crnica, inaparente ou assintomtica. O curso clnico da AIE aps infeco natural ou experimental muitas vezes varivel dependendo da dose, virulncia da amostra bem como da susceptibilidade do animal (TIMONEY et al., 1988; FENNER et al., 1993; MURPHY et al., 1999). A exposio inicial a uma amostra virulenta, geralmente resulta na forma aguda da doena, caracterizada por febre de 40,5 a 41C, anorexia e acentuada viremia (MURPHY et al., 1999). O diagnstico nesta fase pode ser difcil j que os nveis de anticorpos at 45 dias ps-infeco podem no ser detectveis por Imunodifuso em Gel de Agar (IDGA). Uma caracterstica importante que ocorre concomitante com o perodo de febre a trombocitopenia. (CLABOUGH et al., 1991). Alguns animais morrem neste perodo mas a maioria evolui para o estgio crnico da doena (MONTELARO et al., 1984). A forma crnica da doena encontrada na maioria dos animais com diagnstico clnico de AIE. Estes animais apresentam manifestaes clnicas e anatomopatolgicas caractersticas da doena que incluem: ciclos recorrentes de febre, perda de peso, anorexia, edema, leucopenia, anemia, trombocitopenia resultando em hemorragias, glomerulonefrite, letargia e ataxia. Cada episdio clnico dura 3 a 5 dias com intervalos irregulares de semanas ou meses entre os ciclos. Sinais neurolgicos, tm sido associados com a AIE (SILVA et al., 2004). A freqncia e a severidade da doena declinam com o tempo e aps 6 a 8 episdios clnicos, que comumente ocorrem nos primeiros doze meses aps a infeco, depois a maioria dos animais torna-se portadores assintomticos (HIRSH e ZEE, 2003). Assim, a maioria dos animais infectados com o vrus da AIE encontra-se na forma inaparente da doena. Estes animais no apresentam

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nenhum sinal clnico, apesar de apresentar nveis detectveis de anticorpos. Isto indica provavelmente que so cavalos infectados com uma cepa de baixa virulncia ou com um baixo ttulo viral. Muitos destes animais so diagnosticados como portadores quando submetidos a testes sorolgicos, transitando livremente e conseqentemente transmitindo a doena e servindo como um reservatrio de infeco pelo resto de sua vida constituindo um risco para cavalos no infectados. Uma hiptese para a recorrncia cclica e persistncia viral que o sistema imune, age sobre a populao viral existente durante a infeco clnica (febre alta) na tentativa de elimin-la. Quando o organismo consegue controlar esta infeco algumas variantes, que tm alteraes confinadas ao envelope, so selecionadas. Com o passar do tempo os episdios febris recorrentes e a forma aguda da doena vo se tornando menos freqentes e o animal atinge o estado de portador assintomtico (BOTTON e WEIBLEN, 1995). 3.6 Aspectos Macro e Microscpicos A necropsia de um cavalo infectado com o vrus da AIE, que morreu em um estgio agudo da doena pode revelar aumento generalizado dos linfonodos, espleno e hepatomegalia, no fgado observa-se acentuao do padro lobular, petquias ou equimose em mucosas e na serosa de diversos rgos, edema subcutneo ventral, ictercia e mucosas hipocoradas em razo da anemia (WEIBLEN, 2001). Segundo Weiblen (2001), nos estgios crnicos, os achados

macroscpicos mais encontrados so: esplenomegalia e alguns linfonodos aumentados, s vezes, observa-se mucosas hipocoradas ou ictricas, emaciao dos tecidos e escore corporal ruim em razo do emagrecimento progressivo. Em portadores assintomticos muitas vezes, nenhuma alterao digna de nota relatada. Leses microscpicas da AIE incluem acmulo de linfcitos e macrfagos em reas periportais do fgado, em linfonodos, glndulas adrenais, bao, meninges e pulmes. Essas leses linfoproliferativas em diversos rgos podem ser o resultado do combate dos linfcitos T contra o vrus, em busca de impedir e controlar a infeco (BOTTON e WEIBLEN, 1995). Na histopatologia usualmente revela necrose extensa de tecidos linfticos, degenerao gordurosa heptica,

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necrose das clulas de Kupffer, hemossiderose no fgado, bao e linfonodos, vasculite com infiltrao de clulas mononucleares em vrios rgos (WEIBLEN, 2001), hemorragia e edema, atribudos a alteraes vasculares. Glomerulonefrite mediada por complexo imune e necrose heptica centrolobular so comuns em leses crnicas. Meningite, coroidite no granulomatosa crnica com focos de infiltrados de linfcitos, encefalite subependimais e hidrocefalia esto associadas ataxia (HIRSH e ZEE, 2003). 3.7 - Diagnstico Durante muitos anos a ausncia de animais de laboratrio susceptveis e de linhagens celulares que possibilitassem o crescimento e conseqente estudo do vrus da AIE, foram um grande entrave para o desenvolvimento de tcnicas de diagnstico. At o final da dcada de 60 e incio de dcada de 70, o diagnstico da AIE era feito com base na sintomatologia clnica, ainda que difcil, tanto no estgio agudo como no crnico da doena, na presena de sideroleuccitos provenientes da medula ssea em esfregaos sanguneos e na histologia por hemossiderose linfonodal, heptica e hiperplasia do retculo-endotlio (CORRA e CORRA, 1992) alm da inoculao de animais sadios com sangue de animais doentes. A identificao da doena transmitida, dependia apenas dos achados clnicos (como sinais de febre recorrente, edema ventral e perda de peso), clnico patolgicos (trombocitopenia, anemia, ictercia) e da necropsia (esplenomegalia e glomerulonefrite principalmente). Depois que Kobayashi e Kono (1967), conseguiram multiplicar o vrus da AIE em cultura de leuccitos e posteriormente adapt-lo a linhagens celulares contnuas, vrios testes sorolgicos foram desenvolvidos. Os primeiros testes sorolgicos desenvolvidos, fixao de complemento direto e indireto, imunofluorescncia, inibio da hemaglutinao, hemaglutinao indireta e soroneutralizao, passaram a ser utilizados apenas com o objetivo de pesquisa. A fixao de complemento (FC) mostrou-se sensvel e especfica, mas os anticorpos fixadores de complemento, eram detectveis apenas em um curto espao de tempo (cerca de dois meses aps a infeco); no teste de inibio da hemaglutinao e de soroneutralizao so envolvidos os antgenos de superfcie

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do vrus da AIE, que podem modificar rapidamente, reagindo com os anticorpos formados na infeco primria (DIAS et al., 2000). Em 1970, o teste de Imunodifuso em Gel de Agar (IDGA) foi descrito constituindo um marco no diagnstico da AIE, por ser de fcil execuo, relativamente sensvel e especfico (COGGINS e NORCROSS, 1970). Foi o primeiro teste disponvel comercialmente e o nico teste prescrito, oficialmente, para trnsito pela Organizao Mundial de Sanidade Animal, apesar de apresentar algumas limitaes, dentre elas, a incapacidade de detectar anticorpos para o vrus da AIE (VAIE) nos estgios iniciais da doena. Esta prova recebeu a denominao de Teste de Coggins. uma prova qualitativa, isto , identifica o animal portador e no portador, reconhecida mundialmente como mtodo laboratorial mais importante no diagnstico da AIE, pela sua alta especificidade, devido ao fato de que a maioria das reaes inespecficas, podero ser identificadas pela formao de linhas de no identidade, facilidade de execuo e alto grau de sensibilidade em torno de 95% (SELLON, 1993). Por isso, o mtodo escolhido para certificar animais como livres da doena para exportao, transporte, eventos e o nico teste prescrito oficialmente para trnsito pela Organizao Mundial de Sanidade Animal e no Brasil, pelo Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA). O antgeno escolhido na prova de imunodifuso a protena principal do core viral, a p26. Esta protena mostrou ser altamente conservada em diferentes variantes isoladas, uma vez que o vrus sofre alta variao antignica, resultando em mutantes com diferentes antgenos. Os vrios estudos j desenvolvidos sobre a imunidade humoral demonstraram que os primeiros anticorpos detectados so produzidos contra a gP 90, 7 a 10 dias aps a infeco mantendo-se como os principais durante toda a doena. Em segundo lugar aparecem os anticorpos anti-p26, que so observados de 10 a 14 dias aps a infeco (FERRAZ, 1998). Os anticorpos produzidos contra a gP 45 aparecem posteriormente, mas se mantm em nveis superiores a p26. Somente pequenos nveis de anticorpos so detectados contra as protenas p15, p11 e p9 (FERRAZ, 1998). O teste da Imunodifuso em Gel de Agar (IDGA) simples. Em uma placa ou lmina contendo agar solidificado so feitas 7 cavidades (1 central e 6

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circundando-a). Na cavidade central colocado o antgeno (p26) enquanto nas demais alternam-se soro controle positivo e soro teste. Durante a incubao (48hs), ocorre a difuso do antgeno da cavidade central e de anticorpos se presentes, das cavidades externas. Se no soro teste existe anticorpos contra o antgeno p26, forma-se uma linha de precipitao no encontro desses anticorpos com a p26, que ser contnua a linha formada entre o antgeno e o soro padro positivo (Figura 2).

a Fonte: a) Valle. b) Timoney et al. (1988).

b

Figura 2 - Possveis reaes ao teste IDGA. a)R: soro positivo padro. A: soro positivo fraco B: soro positivo C: soro negativo. b) A: soro positivo padro B: soro negativo C: soro positivo. Em algumas situaes, pode ser difcil determinar se o teste negativo ou positivo. No caso de no haver anticorpos suficientes para a formao de uma linha visvel, poder ocorrer um resultado falso negativo. Este teste no consegue detectar animais positivos durante os primeiros 5 a 7 dias dos episdios clnicos, e este animal vir a dar um resultado positivo somente 15 a 25 dias aps a inoculao do vrus (Valle). Em outros casos, potros nascidos de guas infectadas tambm tero resultado positivo, mesmo que no estejam infectados. Isto ocorre quando os potros mamam o colostro contendo anticorpos contra o vrus da AIE e estes anticorpos reagem como o antgeno no teste formando as linhas de precipitao. Se os potros forem testados mais tarde, aps 6 meses de idade e tiverem o resultado negativo, podero ser considerados livres da infeco (SILVA et al.,

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2004). Anticorpos colostrais, geralmente, so detectados at os 6 meses de idade (TRAUB-DARGATZ, 1993). Por se tratar de uma das doenas mais importantes sob o ponto de vista sanitrio e econmico, torna-se necessrio otimizar os recursos de manejo sanitrio e minimizar os erros de diagnstico, uma vez que, de acordo com a legislao vigente, os animais soropositivos devem ser eliminados, representando alto custo para a reposio e adestramento de novos cavalos para as tarefas a que esto destinados (JACOBO et al., 2006). Devido a essas razes, Jacobo et al. (2006) observaram no trabalho os resultados no especficos ao teste de Coggins (IDGA), posteriores aplicao de vacinas contra encefalomielite eqina americana, gripe eqina e raiva, bem como complexos minerais com e sem extratos vegetais em sua formulao. Comprovaram a presena de reaes no especficas no teste do IDGA ao administrar complexo mineral com extratos vegetais (uma ou duas doses em intervalos de 7 dias). Porm esta reao foi precoce e de curta durao, pois no superou 13 dias em uma nica aplicao e 20 dias em 2 aplicaes para os resultados dos exames tornarem negativos. Atravs do experimento de Jacobo et al. (2006) surge um alerta, para possveis resultados falso positivos, que devem ser considerados em caso de eqinos medicados com uma dose do produto com extratos vegetais, necessrio esperar 14 dias para realizar um controle sorolgico por meio da tcnica de IDGA, enquanto que, para os inoculados com duas doses, deve-se esperar 21 dias antes de um novo exame. Embora a prova do IDGA seja considerada bastante sensvel e especfica, alguns eqinos foram negativos ou deram resultados duvidosos, sendo subseqentemente, comprovados que estavam infectados com o vrus da AIE, pela inoculao de cavalos soronegativos com sangue de cavalos suspeitos de AIE (ISSEL et al., 1988). A partir dessa constatao, tiveram incio pesquisas para a idealizao de um teste capaz de identificar os animais infectados no detectados pelo IDGA. Outros testes sorolgicos foram desenvolvidos para o diagnstico da AIE. Testes baseados na tcnica de ELISA, detectando animais em estgios positivos mais precoces, em torno de 12 dias ps infeco (FERRAZ, 1998). O ELISA de

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competio (CELISA) que detecta tambm anticorpos contra o p26, o AS-ELISA, ELISA que utiliza um antgeno sinttico e detecta anticorpos contra a gP45. ELISA, utilizando gP 90 recombinante, que detecta anticorpos para o vrus da AIE mais precocemente em animais infectados o qual apresenta boa correlao com os resultados do teste de IDGA e foi recomendado como teste de triagem em levantamentos sorolgicos (MARTINS, 2004). Montelaro et al. (1984),

demonstraram que os anticorpos especficos para a glicoprotena gP 90 da superfcie viral so 100 a 1000 vezes mais abundantes do que os anticorpos especficos para p26, sendo tambm os primeiros a serem detectados no sangue. Porm, os testes de ELISA so testes com menos especificidade, se comparados com a imunodifuso, levando a ocorrncia de resultados falsopositivos, caso aumente a sensibilidade do teste. A presena de anticorpos contra determinantes antignicos de p26 de outros lentivrus presentes na natureza, mesmo em baixas quantidades, pode levar a um resultado positivo fraco no ELISA. Devido a este fato, todos os resultados que so positivos em ELISA (p26) para AIE devem ser confirmados pelo teste de Imunodifuso em Gel de Agar (IDGA). Os testes sorolgicos convencionais para a deteco de anticorpos contra o vrus da AIE so convenientes para triagem de grandes populaes, mas tem limitaes no que diz respeito deteco do vrus da AIE nos primeiros estgios da infeco. Os anticorpos esto ausentes ou presentes em nveis indetectveis por IDGA ou ELISA. A deteco direta do vrus da AIE recomendvel sobre vrios aspectos: identificao de animais infectados antes da soroconverso; deteco da infeco neonatal uma vez que anticorpos maternais podem persistir por perodos de at 6 meses alm de esclarecer situaes em que animais apresentam uma resposta imunolgica intermitente ou indeterminada em testes sorolgicos. Tcnicas como Southerm Blot e PCR j foram desenvolvidas e tm sido avaliadas para AIE com resultados favorveis. Seqncias do genoma do vrus da AIE, tem sido detectadas por PCR 3 a 4 dias aps a infeco experimental (LANGEMIER et al., 1996; FERRAZ et al., 1997).

Patologia Clnica Uma caracterstica da doena a queda acentuada dos eritrcitos, porm no vista no estgio inicial. A anemia varia com a gravidade da cepa viral e dos

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sintomas. Na forma aguda, o hematcrito baixo (14 a 20%). H leucopenia (abaixo de 2000/uL) com acentuada neutropenia e linfopenia (BLOOD e RADOSTITS, 2002). Alguns eqinos apresentam queda na contagem de plaquetas no sangue a cada episdio febril. A anemia normoctica e normocrmica. Eritrcitos imaturos

(reticulcitos e eritrcitos nucleados) raramente so liberados para a circulao, em resposta anemia grave por hemlise ou perda de sangue (hemorragia). Na forma subaguda, as alteraes so essencialmente semelhante, com uma anemia progressiva produzida por episdios de doena hemoltica. H reduo das protenas sricas totais e relao albumina-globulina diminuda. Importante realizao de testes para avaliao das curvas de temperatura, porque fora dos episdios febris o quadro hematolgico retorna gradualmente para perto do normal (BLOOD e RADOSTITS, 2002).

Diagnstico Diferencial Enfermidades como a Arterite Viral Eqina e a Babesiose constituem importante diagnstico diferencial de AIE (TIMONEY et al., 1988). A Arterite Viral Eqina uma enfermidade na qual o agente causador um RNA-vrus classificado no gnero Arterivrus, em uma famlia recm proposta: a Arteriviridae (AIELLO et al., 2001). Animais com arterite eqina (olho rosado) desenvolvem febre (at 42 C), rigidez ao deambular, edema dos membros e emaciao em torno dos olhos. Tambm so observados dificuldade respiratria, secreo nasal excessiva e lacrimejamento. H leucopenia envolvendo principalmente linfcitos. Aborto ocorre em 50 a 70% de guas gestantes infectadas. Alta percentagem de eqinos infectados com o vrus da arterite eqina, desenvolvem doena branda ou inaparente, embora potros possam desenvolver enfermidade relativamente grave. Eqinos podem desenvolver infeces persistentes, e no caso de garanhes o vrus pode ser eliminado no smen (HIRSH e ZEE, 2003). O vrus transmitido atravs da inalao de secrees aerossolizadas de um cavalo infectado, e no por vetores (SMITH, 1993). A profilaxia desta enfermidade baseia-se no uso de vacina com vrus atenuado. O diagnstico pode ser realizado por observao histopatolgica das

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leses caractersticas, Isolamento Viral, Inoculao em Cultivo Celular, PCR, ELISA, Soro-Neutralizao, Fixao do Complemento (TIMONEY et al., 1988). A babesiose no cavalo (piroplasmose) molstia febril de eqdeos, veiculada por carrapatos, e causada por hemoprotozorios como a Babesia caballi e Babesia equi. Os principais aspectos clnicos so: febre de 40C, anorexia, depresso, incoordenao, mucosas ictricas e com petquias, edema nas partes baixas e s vezes na cabea, imobilidade repentina, relutncia ao movimentar, pode chegar a ficar em decbito lateral, fezes com muco e clicas. O diagnstico deve ser realizado pelo esfregao de sangue perifrico com visualizao de protozorios no interior dos eritrcitos, por Fixao do Complemento e de anticorpos fluorescentes indiretos (SMITH, 1993). 3.8 Controle e Preveno A Anemia Infecciosa Eqina uma molstia sem tratamento especfico. Como tentativa de conter a disseminao do vrus dentre a populao de eqdeos, tm sido objetivadas medidas de controle e preveno. O ponto crtico para o desenvolvimento e avaliao de uma vacina para o vrus da AIE est na identificao e localizao dos determinantes especficos para os quais, os animais infectados respondem imunologicamente (PAYNE et al., 1989). Sendo assim para que uma vacina efetiva seja preparada, as variantes do vrus devem ser conhecidas. Entre os Lentivrus a infeco pelo vrus da AIE a nica em que apesar de uma replicao viral agressiva e uma rpida variao antignica, a grande maioria dos animais infectados progride de uma doena crnica para um estgio de portador inaparente ou assintomticos que pode ser imunologicamente mantido por toda a vida do animal. O primeiro estudo mais abrangente neste sentido foi desenvolvido por Hammond et al. (1997) indicando que o vrus da AIE induz uma alta e complexa resposta imune que constantemente envolvida durante o curso da infeco e que a mesma requer de 6 a 8 meses para maturao. O desenvolvimento de uma vacina eficaz contra infeces por lentivrus permanece sendo uma grande prioridade na medicina humana quanto na medicina veterinria (LEROUX e MONTELARO, 2004). Apesar dos esforos e realizao de diversos experimentos e estudos nacionais e internacionais, no h

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atualmente vacina eficaz contra a AIE. Naturalmente e experimentalmente os animais infectados pelo vrus da AIE controlam com xito a replicao viral e a doena dentro de poucos meses, tornando-se portadores assintomticos. Durante vrios anos buscou-se o desenvolvimento de alguma vacina que garantisse boa proteo, as tentativas foram tanto com vacinas inativadas, com vacinas que utilizavam protenas recombinantes ou vrus atenuado, mas no obtiveram resultados satisfatrios. Estas vacinas parecem proteger apenas contra amostras homlogas do vrus. Alm disto a comunidade cientfica internacional questiona a eficncia destas vacinas, j que ainda no est claro se elas protegem o animal contra a infeco ou se apenas previnem que o mesmo desenvolva a doena, atravs do controle dos nveis de replicao viral (REIS, 1997). Uma vacina inativada e outra de subunidade foram testadas por ISSEL e colaboradores em 1992 ambas responderam eficazmente quando os animais foram desafiados com amostras homlogas mas o mesmo no ocorreu quando foram usadas amostras heterlogas (FERRAZ, 1998). Segundo Liang et al. (2006), foi experimentada uma vacina com a cepa chinesa do vrus da Anemia Infecciosa Eqina, atenuada por passagens seriais em clulas leucocitrias de macaco, sendo o nico modelo natural para estudo de mecanismos imunolgicos e de atenuao contra a replicao de lentivrus. Contudo mutaes crticas entre a cepa chinesa e outras cepas vacinais foram identificadas. Experimentalmente foi realizada uma vacina atenuada, utilizando o gene S2 do vrus da AIE, que demonstrou capacidade antignica e tambm supresso da virulncia e potencial de replicao. Imunizao com a vacina atenuada mutante S2 (VUKdeltaS2) apresentou proteo contra o desafio utilizando cepas homlogas de alta e baixa virulncia (LI et al., 2003). Vacina atenuada, baseada pela construo de um pro-vrus mutante com o gen S2 (VUKdeltaS2), realizado desafio garantiu proteo contra infeco de vrus com alta virulncia. Mas sua comercializao ainda invivel, porque testes sorolgicos de referncia detectam estes animais vacinados como soropositivos. Neste caso deve ser montado um novo teste ELISA com capacidade para diferenciao de eqinos infectados dos vacinados, detectando a anticorpos

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contra protena S2 e anticorpos para o mutante S2 (VUKdeltaS2) (JIN et al., 2004). Liang et al. (2006), em estudos identificaram que o maior ponto de mutao est localizado no gen ENV, tendo um papel significativo na virulncia e patogenicidade do vrus da AIE, isto pode contribuir para elucidar os mecanismos de atenuao e proteo contra o vrus da AIE. Considerando que mais de 95% dos animais infectados so portadores assintomticos e que ainda no foi desenvolvida uma vacina eficaz contra a AIE, o diagnstico laboratorial assume papel decisivo no controle e preveno da doena (FERRAZ, 1998). No Brasil as medidas de controle e profilaxia AIE seguem a Instruo Normativa da Secretaria de Defesa Agropecuria do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento n 16, de 18 de Fevereiro de 2004. As normas devem ser tomadas de acordo com as condies

epidemiolgicas peculiares de cada Unidade de Federao, atravs das Comisses Estaduais de Preveno e Controle da AIE (CECAIE). Dentre as regras propostas pelo MAPA, para requisio do exame para diagnstico da AIE utiliza-se o modelo oficial (ANEXO 1) e para a identificao do animal necessria uma descrio escrita e grfica de todas as marcas, de forma completa e acurada. No levantamento sorolgico de controle de propriedade, deve-se utilizar o formulrio Requisio e resultado para exame de Anemia Infecciosa Eqina para fins de levantamento sorolgico, o qual no possui validade para trnsito. A validade do resultado negativo para o exame laboratorial de AIE ser de 180 dias para propriedade controlada e 60 dias para os demais casos, a contar da data da colheita da amostra. Na propriedade que for detectado foco de AIE, devero ser adotadas as seguintes medidas obrigadas pelo MAPA: Interdio da propriedade aps identificao do eqdeo portador, redigindo o termo de interdio, notificando o proprietrio da proibio de trnsito dos eqdeos da propriedade e da movimentao dos objetos passveis de veiculao do vrus da AIE; Dever ser realizada investigao epidemiolgica de todos os animais que reagiram ao teste de diagnstico de AIE, incluindo histrico de trnsito;

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Marcao permanente dos eqdeos portadores da AIE, atravs da aplicao de ferro candente, na paleta do lado esquerdo com um A, contido em um crculo de 8 (oito) centmetros de dimetro, seguido da sigla da UF, conforme modelo do MAPA (ANEXO 2); Sacrifcio ou isolamento dos eqdeos portadores; Realizao de exame laboratorial, para o diagnstico da AIE, de todos os eqdeos existentes na propriedade; Desinterdio da propriedade foco aps realizao de 2 (dois) exames com resultados negativos para AIE, consecutivos e com intervalo de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias, nos eqdeos existentes; Orientao aos proprietrios das propriedades que se encontrarem na rea perifocal, pelo servio veterinrio oficial, para que submetem seus animais a exames laboratoriais para diagnstico de AIE. O sacrifcio ou o isolamento de eqdeos portadores da AIE dever ser determinado segundo as normas estabelecidas pelo Departamento de Defesa Animal, aps anlise das medidas propostas pelo CECAIE. Quando a medida indicada for o sacrifcio do animal portador, esta s poder ser feita aps o reteste que realizado em laboratrio oficial, com amostra colhida pelo servio oficial, para fins de percia. facultado ao proprietrio do animal, requerer exame de contraprova. A contraprova dever ser solicitada ao Servio de Sanidade AnimalSSA, no prazo mximo de 8 dias contados a partir do recebimento da notificao do resultado, e ser efetuada no mesmo laboratrio que realizou o primeiro

exame. No h indenizao ao proprietrio do animal sacrificado (BRASIL, 2004). O isolamento somente ser permitido para animais portadores localizados em rea de alto risco, proposto pelo CECAIE da respectiva UF. Um exemplo o Pantanal Sul Mato Grossense que aproximadamente 50% dos animais de servio so portadores do vrus da AIE. Nesta regio o sacrifcio dos animais infectados tenderia a prejudicar significativamente ou mesmo inviabilizar a pecuria extensiva na regio. Ao invs do sacrifcio dos animais positivos nas propriedades, o Programa realizado pela CECAIE do estado de Mato Grosso do Sul intitulado CAIEPAN, preconiza a manuteno dos animais positivos nas propriedades, permitindo sua utilizao no manejo dirio da fazenda, estimulando o diagnstico, e a adoo de medidas profilticas e de controle da doena nas

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propriedades (SILVA et al., 2004). Algumas regras como separao dos positivos (distncia mnima de 200 metros) entre si e entre as reas de trnsito de animais estranhos fazenda so utilizadas. Embora animais de ambos os grupos (positivos e negativos) possam ser utilizados normalmente nos trabalhos da propriedade, animais positivos e negativos no podem ser usados em atividades conjuntas. Os utenslios devem ser individuais, cada grupo deve ter os seus arreios, esporas, freios, etc. e estes devem ser usados de forma independente. Marcao permanente dos positivos seguindo os mesmos critrios preconizados pelo MAPA e impedindo estes de transitar livremente. No Programa de Controle e Preveno do Mato Grosso do Sul possvel a obteno de potros negativos nascidos de guas positivas, visto que os potros raramente apresentam-se infectados ao nascimento. Mas como preveno, os potros devem ser testados aps o desmame (aos 6 meses) e separados de acordo com o grupo dos animais positivos ou negativos. Porm s podem realmente serem incorporados ao grupo negativo quando apresentarem resultados negativos por dois testes consecutivos. O programa CAIEPAN, visa o controle e at a erradicao da doena de uma forma especfica para a regio levando em considerao a atividade da pecuria extensiva e condies climticas e geogrficas do local. Dentre as instrues para controle e preveno da AIE pelo MAPA constitui-se propriedades controladas, quando no apresentarem reagentes positivos em duas provas sucessivas de IDGA AIE, com intervalo de 30 e 60 dias e todo o seu rebanho eqdeo deve ser submetido ao teste uma vez a cada 6 meses. Esse ttulo pode ser renovado anualmente e ser conferido certificado (ANEXO 3), mas essa deve encaminhar ao Servio de Sanidade Animal (SSA) da respectiva UF um relatrio mensal. O ttulo de propriedade controlada na realidade difcil, pois com a sada dos animais para as exposies, vaquejadas, folias, eventos diversos, estes animais estaro expostos infeco, podendo permanecer alguns dias na propriedade supostamente controlada e sendo fonte de infeco aos outros animais que permaneceram no haras. O trnsito interestadual no Brasil, somente ser permitido mediante a apresentao do Guia de Trnsito Animal (GTA) e do resultado negativo no exame laboratorial para diagnstico de AIE.

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No caso de eqdeos destinados ao abate ficam dispensados do teste para a AIE. Em locais onde haja concentraes de eqdeos, a participao de animais deve ser permitida mediante apresentao de teste negativo para a AIE, no IDGA. No caso de importaes de eqdeos indispensvel o teste negativo para a AIE. Os veterinrios e os proprietrios de eqdeos devem tomar algumas medidas com o intuito de prevenir ou diminuir a chance de exposio de seus eqdeos com outros animais infectados, tais como: AdmitIr ou permitir somente a entrada de animais que apresentem o teste negativo para o exame de AIE. Mesmo com este exame, realizar um novo teste logo aps a aquisio do mesmo aps 30 dias, pois o animal pode estar na fase inicial da doena, quando o teste ainda no o identifica como positivo. Antes de introduzir um animal na propriedade, mantenha-o em quarentena pelo prazo de 30 dias at a realizao de outro exame de AIE. Informar autoridades sanitrias sobre qualquer evento que rena um grande nmero de cavalos para exigir um teste negativo recente para a AIE de todos os cavalos participantes e para que haja uma fiscalizao eficiente. Desinfectar, se possvel esterilizar completamente todos os instrumentais cirrgicos, aparelhos dentrios e qualquer outro material que possa ter entrado em contato com o sangue de um cavalo. A desinfeco qumica de instrumentos e equipamentos de tatuagem (marcao) requer sua imerso por 10 minutos em um dos desinfetantes fenlicos menos corrosivos. Todos os materiais a serem desinfetados precisam ter primeiramente, qualquer matria orgnica removida (BLOOD e RADOSTITS, 2002). Agentes como clorexidine, detergentes, hipoclorito de sdio, compostos de etanol e iodo tambm so eficientes para a desinfeco. Realizar o controle do rebanho a cada 3 meses em haras, fazendas de criao e a cada 30 dias em sociedades hpicas, em razo do grande fluxo de animais que saem e entram neste ambiente. Utilizar somente agulhas e seringas descartveis. Desinfetar constantemente estbulos, boxes com caiao e pincelar as paredes com facho de fogo (WEIBLEN, 2001).

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Controlar a populao de vetores atravs da limpeza de dejetos, desinfeco das instalaes, armadilhas para vetores, ou controle com o uso de produtos qumicos ou naturais.

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4 LEVANTAMENTO EPIDEMIOLGICO DA ANEMIA INFECCIOSA NO BRASIL DE 1995 A 2005 COM NFASE NO DISTRITO FEDERAL. A taxa de morbidade varia extensamente de pas para pas. Nos Estados Unidos gira em torno de 1 a 5% (HIRSH e ZEE, 2003). Segundo Almeida (2006), estima-se taxa de prevalncia de 3,1% em animais de servio em Minas Gerais, e Bicout et al. (2006), observaram nveis diferentes de prevalncia variando de 0,5% a 25%, dependendo da regio. No municpio de Uruar, Par, a prevalncia estimada em 17,71% (HEINEMANN et al., 2002), e 0,8% no municpio de Terespolis (MARTINS et al., 2005), 50% dos animais de servio do Pantanal so portadores do vrus da AIE (SILVA et al., 2004). No Brasil, mesmo sabendo-se da importncia da AIE, no existem muitos estudos sobre a situao desta enfermidade. A AIE est presente em todo o territrio nacional, com diversos graus de incidncia dependendo da regio brasileira que se destacar. Esta molstia pode ser diagnosticada em qualquer rebanho, independente da forma de criao e da explorao econmica, ou seja, pode ser encontrada numa criao intensiva, extensiva ou semi-extensiva de animais, assim como pode estar presente em entidades fechadas como jockey clubes, haras, sociedades hpicas, fazendas de criao ou unidades militares. Infelizmente, no h dados precisos sobre prevalncia da AIE no Brasil. As aes disponveis se baseiam em exames realizados visando ao atendimento de normas sanitrias, especialmente aquelas aplicadas s hpicas e entidades que produzem, criam ou que mantm eqdeos, assim como as relacionadas ao trnsito internacional e interestadual de animais de reproduo, participao em exposies, feiras e eventos esportivos.

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O levantamento, foi baseado nos dados fornecidos pelo Mdico Veterinrio Alberto Gomes da Silva Jnior responsvel pelo Departamento de AIE do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) nos anos de 1995 a 2005 em todas as regies e unidades federativas brasileiras. Utilizou-se a palavra foco como toda propriedade onde houver um ou mais eqdeos portadores da AIE e a palavra caso, caracterizando o animal soropositivo s provas laboratoriais de diagnstico aceitas pelo MAPA. Desde 1995 a 2005 foram relatados 54.045 casos de Anemia Infecciosa Eqina (Anexo 4) (Figura 3) e 20.556 focos em todas as Unidades Federativas (Anexo 5) do Brasil. O estado brasileiro que obteve maior nmero de casos durante estes 10 anos foi o Mato Grosso com 9760 casos positivos, o equivalente a 18,05% em todo o Brasil durante este perodo. Estados como Par, Mato Grosso do Sul, e Maranho respectivamente seguem atrs com 13,01% , 10,51% e 9,57% dos casos totais relatados neste tempo. No Rio Grande do Sul a AIE no considerada um problema, pois apenas 32 casos foram notificados durante estes 10 anos. No entanto, veterinrios, proprietrios e autoridades de defesa sanitria devem se precaver contra a doena, para esta no se tornar uma ameaa na rea, deixando de ser uma enfermidade de ocorrncia espordica para a forma endmica. A distribuio da AIE no Brasil e seu grau de incidncia, varia de acordo com caractersticas peculiares de cada Unidade de Federao (UF). Fatores climticos, geogrficos, modo e efetividade do controle e preveno na localidade, atividade e densidade dos vetores transmissores, populao e densidade do hospedeiro devem ser levadas em considerao ao enfatizar o grau de incidncia da UF. Conforme o mapa de distribuio geogrfica de AIE no Brasil (Figura 4) classifica-se as Unidades Federativas em altssima, alta, mdia-alta, mdia e baixa incidncia. Neste mapa no se desconsidera o subdimensionamento dos casos. Estados como Maranho, Par, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul encontram-se nas reas de altssima incidncia, j a Bahia o nico estado classificado com alta incidncia, entre a faixa de mdia-alta encontram-se Gois, Tocantins, Acre, Minas Gerais, Rondnia, Piau e o Cear. A maior concentrao das Unies Federativas encontra-se situada na mdia incidncia como: So

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Paulo, Rio de Janeiro, Esprito Santo, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Amap, Roraima, Amazonas e o Distrito Federal. A regio Sul est toda inclusa em reas consideradas de baixa incidncia para a AIE. Com relao mdia dos casos da enfermidade distribudos

geograficamente no Brasil entre 1995 a 2005, observa-se que a regio Norte foi a mais atingida com 33,54%. Isso devido aos fatores climticos e sistemas de manejo favorveis disseminao do vrus nessa regio e em suas proximidades. Em seguida est a regio Centro-Oeste com 32,86%, Nordeste com 25,97%, Sudeste com 6,76% e Sul com apenas 0,88% dos casos registrados de AIE nestes 10 anos( Figura 5). Segundo o IBGE (2004), o Distrito Federal apresenta um rebanho eqdeo de 6.000 animais. Durante 1995 a 2005 foram averiguados 647 casos o que corresponde a 1,19% do total de notificados no Brasil. Em 2005 houveram 81 casos e 68 focos de AIE autctones. A UF apresenta-se com mdia incidncia e na regio Centro-Oeste obteve os menores ndices (Figura 6). No DF existem seis entidades controladas: Sociedade Hpica de Braslia, Country Club, Centro Hpico do Parque, Centro Hpico Lago Sul, Rancho Alterosa e Haras Jacurutu localizados na cidade satlite de Brazlndia. Os resultados obtidos permitem direcionar e priorizar o plano de controle da enfermidade no Brasil, ajustando-o epidemiologia da doena e realidade scio-econmica de cada regio. O proposto de trabalhar com a

conscientizao dos proprietrios dos eqdeos sobre a importncia dos programas de controle e preveno da AIE, alm de facilitar o acesso ao exame de diagnstico oficial, na tentativa de se realizar um efetivo saneamento das propriedades e adquirir dados e levantamentos mais consistentes com a realidade brasileira.

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Brasil - Casos de AIE por UF, de 1995 a 2005.10000 9000 8000 7000 6000 Casos 5000 4000 3000 2000 1000 0AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

UF

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Fonte:. Alberto Gomes. MAPA.

Figura 3 Casos de Anemia Infecciosa Eqina por UF, 1995 a 2005.

Fonte: Alberto Gomes da Silva Jnior, MAPA

Figura 4 Distribuio geogrfica de AIE no Brasil e seu grau de incidncia.

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Casos AIE por regies 1995 - 2005

4000 3500 Nmero de casos 3000 2500 2000 1500 1000 500 019 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05DF GO MS MT MG ES SP RJ AC PA AM AP RO RR TO PR RS SC SE RN BA CE AL PB PE PI MA

Fonte: MAPA

Figura 5 Distribuio dos casos de AIE por regies de 1995 a 2005.

Casos de AIE no DF 1995 - 2005200 150 100 50 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Nmero de casos de AIE DF

Figura 6 Casos de Anemia Infecciosa Eqina no DF de 1995 a 2005.

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5 - HABRONEMOSE

A habronemose uma helmintose que acomete eqdeos (eqinos, asininos e muares), provocada por nematides heteroxenos que parasitam o estmago dos hospedeiros definitivos e tem como hospedeiros intermedirios muscdeos cosmopolitas das espcies Musca domestica, Stomoxys calcitrans e outros menos freqentes, cujos ovos e larvas so eliminados nas fezes de eqdeos (TIMOTHY, 2000). O principal motivo da alta prevalncia da habronemose no Brasil a falha no manejo sanitrio dos rebanhos, e muitas vezes a falta de informao sobre tratamento, controle e ciclo evolutivo da doena. A enfermidade pode adquirir diversos nomes de acordo com cada regio brasileira como: Ferida de Vero, Cncer do Pntano, Bursatti, Feridas Estivais, Ferida dos Machos e Esponja (AIELLO et al, 2001).

5.1- Etiologia So trs as espcies que parasitam o estmago dos eqdeos: Habronema muscae, Habronema microstoma (sinonmia: H. majus) e Draschia megastoma (sinonmias: Habronema megastoma, Spiroptera megastoma) (FORTES, 1997). Os adultos das duas primeiras espcies so maiores, 1 a 2,5 cm de comprimento, os de D.megastoma raramente excedem 1,25 cm de comprimento (BLOOD e RADOSTITS, 2002). As espcies Habronema muscae e Habronema microstoma so membros do mesmo gnero, Habronema, no qual habros significa delicado e nema: fio (FORTES, 1997). So vermes brancos e delgados. Os ovos so alongados,

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larvados e tm parede bastante fina. No macho, a cauda tem uma toro espiral chamada de acleo caudal (FORTES, 1997). Devido as leses caractersticas improvvel que a Draschia seja confundida com outros nematides no estmago (URQUHART et al., 1998). As espcies H. muscae, H. microstoma e D. megastoma so pertencentes a subfamlia Habronematinae. A principal diferena entre estas espcies est na maneira como se localizam no stio de desenvolvimento e na patogenicidade. H. muscae e H. microstoma desenvolvem-se prximo ou dentro da mucosa, sem a formao de ndulos (BERNE, 2001). Raramente podem ser encontrados no ceco e clon (FORTES, 1997). Normalmente causam pouca reao tecidual. A exceo a D. megastoma, que produz ndulos gstricos de dimenses variveis na regio glandular principalmente, junto margo plicatus, portanto considerada bem mais patognica. As fmeas das trs espcies so vivparas, e as larvas so eliminadas junto com as fezes (SMITH, 1993). Alm de afetar o estmago, a infeco por larvas das trs espcies de nematides em ferimentos na pele, produz ampla formao de tecido de granulao, causando ento habronemose cutnea e a invaso destas na conjuntiva pode levar ao desenvolvimento de conjuntivite granular e em infestaes severas pode acometer os pulmes (MAIOR e ALVES, 2001).

5.2 - Epidemiologia Habronema e Draschia distribuem-se amplamente pelo mundo e sua prevalncia est relacionada com a abundncia de hospedeiros intermedirios. So importantes principalmente em climas mais quentes, onde so encontrados com facilidade, especialmente em reas mais midas onde o ambiente propcio para a evoluo de seus hospedeiros intermedirios. Eqinos de todas as idades so susceptveis, porm a doena mais comum nos adultos (BLOOD e RADOSTITS, 2002). No Brasil, a prevalncia das espcies de Habronema foi estudada por Lanfredi (1993) na baixada fluminense, Rio de Janeiro, o qual observou que a H. muscae foi a nica espcie encontrada, parasitando 40% dos animais examinados. Na regio metropolitana do mesmo estado, Leite et al. (1997)

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verificaram que 90% dos animais estudados apresentaram-se infectados por H. muscae e 65% com H. microstoma. Em ambos os estudos a D. megastoma no foi encontrada. No Mato Grosso do Sul, Paiva (1988), registrou 95,45% de prevalncia para H. muscae e 4,55% para D. megastoma, correspondendo apenas a um dos animais estudados. Em So Paulo, Silva e Fernandes (2005), em um estudo feito com 21 eqinos sadios, relataram a ocorrncia de 28,6% de Habronema sp. na forma gstrica, principalmente junto ao margo plicatus. No Chile de acordo com Alcaino et al., (1980) a D. megastoma atinge prevalncia de 22,9% e nos Estados Unidos entre 37 e 62% dependendo da localidade (LYONS et al.,1983; LYONS et al., 1990). 5.3 - Ciclo Evolutivo Os ciclos evolutivos das trs espcies so indiretos, portanto utilizam alguns dpteros como hospedeiros intermedirios. As espcies H. muscae e D. megastoma evoluem na mosca domstica (Musca domestica), podendo tambm utilizar outras espcies de muscdeos, enquanto o H. microstoma se desenvolve na mosca dos estbulos (Stomoxys calcitrans) (SMITH, 1993; JONES et al., 2000; BLOOD e RADOSTITS, 2002). Espcies de muscdeos como a Haematobia irritans exgua, Sarcophaga melanura, Muscina estabulans tambm podem ser utilizadas como hospedeiros intermedirios (BLOOD e RADOSTITS, 2002). No estmago dos eqdeos, as fmeas dos nematdeos adultos fazem a ovipostura de ovos larvados, que so eliminados para o meio ambiente junto com as fezes do hospedeiro definitivo, ou h ecloso das larvas no intestino e so ento eliminadas (Figura 7). Estes ovos tm uma parede delgada (FORTES, 1997). No meio ambiente, ocorre a ovoposio dos hospedeiros intermedirios pelas fezes. As larvas de primeiro estgio (L1), que so eliminadas pelo animal infectado por vermes adultos, so ingeridas por larvas de moscas que tambm se desenvolvem nas fezes. O desenvolvimento das L1 at a larva infectante L3 sincronizado com o desenvolvimento das moscas, atravs dos estgios de larva, pupa e adulto, de forma que as moscas que emergem do puprio j se encontram com a forma infectante dos nematides (URGUHART et al., 1998; JONES et al., 2000; BERNE, 2001; BLOOD e RADOSTITS, 2002). Aps cerca de 2 semanas da

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ovoposio temos as L3 da Habronema e Draschia nas moscas adultas. Segundo Rebhun et al. (1981) e Fortes (1997) as larvas se desenvolvem no tecido adiposo dos estgios larvares das moscas; na cavidade geral destas, as larvas de segundo estgio (L2) mudam para o estgio infectante (L3), que migram para a cabea da mosca indo se localizar na probscida do inseto adulto (MAIOR e ALVES, 2001). As moscas com infeces macias sofrem uma relativa mortalidade (FORTES, 1997). No h encistamento, mas medida que os parasitas evoluem, provocam a distenso da parede da clula que os alberga. A parede torna-se espessa formando uma bainha em torno das larvas, semelhana de um envelope cstico (FORTES, 1997).

Fonte: au.merial.com/horse_owners/disease/en_life.html

Figura 7: Ciclo evolutivo da habronemose. No ciclo de vida normal dos habronematdeos, os animais se infectam ao ingerir as moscas contendo as larvas do Habronema spp. ou D. megastoma junto com gua e alimentos ou atravs das larvas que so depositadas pelas moscas, enquanto as moscas se alimentam sobre os lbios (PAIVA 1988; JONES et al., 2000; TIMOTHY, 2000; BERNE, 2001; BLOOD e RADOSTITS, 2002). Entretanto, as moscas podem buscar ferimentos, ou mesmo mucosas para se alimentarem das secrees que dali emanam e neste caso, tais larvas estimuladas pela temperatura, umidade, dentre outros fatores, deixam a mosca e invadem o ferimento (TIMOTHY, 2000).

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Aps a deglutio das larvas ou das moscas com as larvas em seu interior, estas atingem a maturidade sexual no estmago, dando continuidade ao ciclo evolutivo. As larvas somente atingem o estgio adulto no estmago, quando a infeco for por via oral (BERNE, 2001; BLOOD e RADOSTITS, 2002). As formas errticas ou aberrantes desta infeco ocorrem quando as L3 so depositadas na pele, nos olhos, ou ainda quando migram para os rgos como pulmo e bao (REBHUN et al., 1981; MAYHEW et al.,1982). Nestas localizaes errticas, as larvas so incapazes de maturar at a fase adulta, e acredita-se que as leses proliferativas resultantes representem um tipo de reao de hipersensibilidade aos antgenos liberados pelas larvas mortas ou moribundas (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998; TIMOTHY, 2000). 5.4 - Patogenia e Formas Clnicas As formas clnicas da habronemose sero manifestadas de acordo com a localizao dos nematides adultos e das larvas de terceiro estgio (L3), podendo ser: habronemose gstrica, habronemose cutnea, habronemose conjuntival e habronemose pulmonar (REBHUN et al.,1981; FORTES, 1997; BLOOD e RADOSTITS, 2002). Segundo Blood e Radostits (2002), pode-se encontrar, ainda que raro, ndulos habronemticos no bao com leses supurativas.

Habronemose Gstrica As larvas de Draschia megastoma podem formar granulomas submucosos eosinoflicos na parede do estmago, principalmente no margo plicatus na regio glandular. Estes granulomas podem coalescer e formar leses nodulares fibrosas slidas com at 5 a 7 cm de dimetro (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998). A maioria destas leses, so ndulos singulares com aproximadamente 5 cm de dimetro, que contm parasitas adultos que ficam cobertos por material caseoso e necrtico, estes ndulos apresentam um orifcio central por onde os ovos e as larvas passam para a luz do estmago (BLOOD e RADOSTITS, 2002; Thomassian, 2005). Geralmente pode haver presena de bactrias como Streptococcus sp, Corynebacterium sp, Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli como agentes de infeco secundria (MACRUZ et al.,1981). Contudo, na maioria dos casos, as leses causam uma gastrite hipertrfica crnica discreta

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(BLOOD e RADOSTITS, 2002). Nestes casos microscopicamente, a mucosa apresenta hiperplasia e pode ocorrer uma metaplasia de clulas mucosas (substituio das clulas parietais e principais). Pode ocorrer dilatao cstica de algumas das glndulas gstricas, e essas glndulas dilatadas penetram a muscular da mucosa, resultando na leso denominada gastrite cstica profunda. A lmina prpria edematosa, freqentemente contm infiltrados de neutrfilos, eosinfilos, linfcitos e plasmcitos (CARLTON e MC GAVIN, 1998). Segundo Blood e Radostits (2002) de modo geral, a habronemose gstrica no demonstra sinais clnicos, mas algumas vezes, os animais acometidos podem apresentar pelagem seca, sem brilho e apetite varivel. Eventualmente, pode ocorrer perfurao da parede gstrica seguido por peritonite (MACRUZ et al, 1981; BLOOD e RADOSTITS, 2002). Neste caso h depresso, febre de 39,5 a 40,5 C. A extenso deste granuloma (ndulo) pode levar ao desenvolvimento de uma leso supurativa no bao (abscessos esplnicos) e/ou constrio no intestino no caso de peritonite por perfurao (BLOOD e RADOSTITS, 2002). Se o bao for envolvido, h anemia e um acentuado aumento na contagem total de leuccitos. Os ndulos de Draschia sp, podem levar a uma obstruo mecnica ou ruptura estomacal, desencadeando clicas leves at severas de acordo com a gravidade da estenose intestinal. Habronema microstoma e Habronema muscae no produzem estas massas granulomatosas, mas podem, em infeces macias, penetrar nas glndulas do estmago produzindo inflamao, irritao da mucosa gstrica e uma gastrite catarral (JONES et al., 2000).

Habronemose Pulmonar As larvas errticas ou aberrantes podem atingir os pulmes, caracterizando habronemose pulmonar. Segundo Timothy (2000), as larvas depositadas no nariz migram para os pulmes. Formao de granulomas parasitrios prximos aos bronquolos, induzindo uma peribronquite nodular (BERNE, 2001). Em raras ocasies, durante a migrao das larvas pode-se detectar leves sinais de bronquite. A parede dos ndulos fibrosa e sua espessura aumenta com o tempo em razo da calcificao (FORTES, 1997). Os ndulos podem ficar cobertos por material caseoso. Em potros, pequenos abscessos associados ao Rhodoccocus

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equi podem ser formados, agravando a situao (AIELLO, 2001). Geralmente a infeco pulmonar assintomtica. principalmente aps encapsulamento e calcificao, porque no h estimulao pela migrao larval em produzir muco bronquial (FORTES,1997).

Habronemose Cutnea A habronemose cutnea causa granulomas ulcerativos crnicos, que so variadamente conhecidos como chagas de vero, ferida de vero, bursaitee, bursatti, chagas palustres, drasquiose, kunkers, esponja, espndia e dermatite granular (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998). Esta manifestao ocorre devido presena das larvas de Habronema spp. e D. megastoma, que so depositadas pelas moscas transmissoras, em feridas ou escoriaes na pele dos eqdeos (MAIOR e ALVES, 2001), produzindo tanto uma reao inflamatria local como uma reao alrgica localizada (TIMOTHY, 2000). Acredita-se que a hipersensibilidade de alguns cavalos s larvas causa o surgimento da afeco clnica (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998). Embora os cavalos possam estar congregados, indivduos isolados podem ser afetados. Segundo Knottenbelt e Pascoe (1998) freqentemente o mesmo cavalo reinfectado nos veres subseqentes, indicando haver pouca ou nenhuma resistncia imunolgica humoral e celular. Comumente as leses ocorrem em regies do corpo onde ferimentos e escoriaes so mais provveis de ocorrer e onde o animal no possa espantar as moscas vetoras. As partes do corpo mais afetadas so: canto medial dos olhos (possivelmente relacionado macerao decorrente do corrimento ocular), comissura labial, cernelha, processo uretral, prepcio, pnis, regies distais dos membros, poro ventral do abdmen (MAIOR e ALVES, 2001). Inicialmente, as leses apresentam-se como pequenas ppulas com os centros erodidos e recobertos por crostas (BLOOD e RADOSTITS, 2002). Estas ppulas crescem e ulceram rapidamente e leses individuais podem aumentar at 30 cm de dimetro (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998; BLOOD e RADOSTITS, 2002). Durante as fases iniciais, h intensa coceira da ferida infectada, muitas vezes, ocorrendo a auto-mutilao (MAIOR e ALVES, 2001). Estas leses consistem de massas ulcerativas, nodulares e tumorais com mltiplos focos

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necrosados amarelos contendo larvas mortas e mineralizadas (SMITH, 1993). H projeo acima do nvel da pele circundante nestas leses (URQUHART et al., 1998). A constante migrao larval que estimula a formao do tecido de granulao exuberante e frivel. Normalmente h infeco bacteriana e/ou mictica secundria agravando a leso (BLOOD e RADOSTITS, 2002). As leses no processo uretral se no tratadas provocam grande aumento de volume desta regio, podendo levar ao sangramento durante o coito, causando reduo da libido e fertilidade (KNOTTENBELT e PASCOE, 1998). Segundo Waddel (1969), as larvas permanecem nas leses por um perodo mnimo de 4 semanas, enquanto Pereira et al. (1949), relataram que as larvas levam cerca de 7 dias para serem totalmente destrudas. Devido a constante deposio de novas larvas sobre a leso e infeces secundrias, h o retardamento da cicatrizao e o favorecimento da manuteno da leso (BLOOD e RADOSTITS, 2002). A habronemose cutnea um distrbio sazonal correspondente ocorrncia da mosca que atua como vetor (SMITH, 1993). Embora as leses comumente no cicatrizem espontaneamente, podem regredir quando o clima est mais frio, recidivando no vero seguinte (BLOOD e RADOSTITS, 2002).

Habronemose Conjuntival A habronemose conjuntival ou ocular tem ocorrncia bastante comum (BLOOD e RADOSTITS, 2002). Ocorre quando larvas de H. muscae, H. microstoma ou D. megastoma so depositadas em tecido ocular. As moscas que servem como hospedeiros intermedirios para Habronema so atradas pela alimentao em reas midas do corpo, inclusive a conjuntiva. Os corrimentos oculares e as feridas perioculares proporcionam maior atrao. Durante a alimentao destes insetos, as larvas de Habronema so depositadas sobre a superfcie dos tecidos oculares, ntegros ou lesionados, migram para os tecidos e produzem reao inflamatria granulomatosa local (SMITH, 1993). H a formao de conjuntivite granulosa tambm conhecida como blefaroconjuntivite

habronemtica ou conjuntivite parasitria (REBHUN et al., 1981). A conjuntivite manifesta-se por massas necrticas amareladas e pequenas, de cerca de 1 mm de dimetro, sob a conjuntiva (BLOOD e RADOSTITS, 2002).

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A alterao no funcionamento palpebral e irritao crnea, que surge pelo contato com a superfcie irregular e spera da leso, favorecem a ocorrncia da neovascularizao corneana, edema e ulcerao na crnea (SMITH, 1993). A dor pode ser significativa, e um sintoma comum a epfora grave, decorrente do aumento do fluxo lacrimal (lacrimejamento excessivo) e de obstrues do ducto nasolacrimal. Que pode resultar em epfora permanente no caso de leso severa no ducto nasolacrimal (KNOTHENBELT e PASCOE, 1998). No h resposta aos tratamentos comuns para conjuntivite bacteriana (BLOOD e RADOSTITS, 2002). 5.5 - Diagnstico A infeco gstrica no facilmente diagnosticada, pois os ovos e as larvas de Habronema no so facilmente demonstrveis nas fezes por tcnicas coproparasitolgicas convencionais (REBHUN et al., 1981). No h deteco por tcnicas de flutuao porque alm das pequenas dimenses dos