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EDUCAÇÃO DO CAMPO CURITIBA SEED/PR 2009 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DA DIVERSIDADE COORDENAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

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EDUCAO DO CAMPOCURITIBA SEED/PR 2009SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO DO PARANSUPERINTENDNCIA DA EDUCAO DEPARTAMENTO DA DIVERSIDADE COORDENAO DA EDUCAO DO CAMPOSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO DO PARANSuperintendncia da Educao Departamento da Diversidade Avenida gua Verde, 2140 Vila IsabelTelefone (XX41) 3340-1737 Endereo eletrnico: [email protected] CEP80240-900 CURITIBA-PARAN-BRASILDISTRIBUIO GRATUITA IMPRESSO NO BRASILSrie Cadernos Temticos da Educao do campo, v. 2Depsito legal na Fundao Biblioteca Nacional, conforme Lei n 10.994, de 14 de dezembro de 2004. permitida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte.Capa, Projeto Grco e Diagramao MEMVAVMEMReviso Ortogrca MEMVAVMEM Paran. Secretaria de Estado da Educao. Superintendncia da Educao. II Caderno Temticos da Educao do Campo. Coordenao da Educao do Campo. II Caderno Temticos da Educao do Campo / Secretaria de Estado da Educao. Superintendncia da Educao. Coordenao da Educao do Campo Curitiba: SEED Pr., 2009. - 193 p. (II Caderno Temticos da Educao do Campo).ISBN CATALOGAO NA FONTE CEDITEC-SEED-PRGovernador do Estado do Paran Roberto RequioSecretria de Estado da Educao Yvelise Freitas de Souza Arco-VerdeDiretor Geral da Secretaria de Estado da Educao Ricardo Fernandes BezerraSuperintendente da Educao Alayde Maria Pinto DigiovanniDepartamento da Diversidade Wagner Roberto do AmaralCoordenao da Educao do CampoMarciane Maria MendesEquipe Tcnico-Pedaggica da Educao do Campo Cassius Marcelus Cruz Daniela Carla de Oliveira Mirian Freitas de Paula Luciana Maria de Matos e Silva Willian SimesAssessor Pedaggico Ceclia Maria Ghedini UNIOESTE Francisco Beltro Silvana Cssia Hoiller Nonaka UFPR Litoral Solange Todero Von Onay ASSESSOARColaboraram para esta Edio Cssio Ayres da Silveira NRE de Ponta Grossa Edmilson Cezar Paglia UFPR Litoral Everson Grando NRE de Toledo Paulo Srgio Boschem NRE de Pitanga Rodrigo Pereira NRE de Laranjeiras do Sul Rogria Pereira de Melo - Assessoar Rosimari D. C. dos Santos NRE de Dois Vizinhos Sirlndia Schappo UFPR Litoral Wilson Winter NRE de Unio da VitriaEDUCAO DO CAMPOAPRESENTAO Ao nos aproximarmos das nossas escolas, observamos as mltiplas determinaes, sua cultura, as inuncias do ambiente e as diversas interferncias do processo educacional nelas prprias e no seu entorno, trazendo o seu signicado, as oportunidades criadas, os processos nelas vividos e as experincias ali realizadas.O desao maior sem dvida, o conhecimento em si, razo do nosso trabalho e funo essencialdaescola.Noentanto,constantementevaialm,demonstrando-nosdemandasnovas, exigindo um posicionamento em relao aos novos desaos que se opem para a educao e que devem ser trabalhados neste contexto, tanto para os prossionais da escola, como para educandos, seus pais e a comunidade, em toda a complexidade de cada um desses segmentos. Tais desaos trazem as inquietudes humanas, as relaes sociais, econmicas, polticas e culturais, levando-nos a avaliar os enfrentamentos que devemos fazer. Implica, imediatamente, a organizao de nossas tarefas e o projeto poltico-pedaggico que aponta a opo pela direo educacional dada pelo coletivo escolar, nossos planos, mtodos e saberes a serem enfrentados, para hoje, sobre o ontem e com a intensidade do nosso prximo passo.Areativaoconstantenosimpeleapedirmais:maisestudos,pesquisas,debates,novos conhecimentos, e aquilo que nos abastece e reconhecemos como valoroso, inserimos e disponibilizamos nessa escola que queremos fazer viva replanejamos e reorganizamos nossas prticas. Os princpios, sem dvida, diretrizes que nos guiam so os mesmos, os quais entendemos como perenes. A escola , na nossa concepo, por princpio, o local do conhecimento produzido, reelaborado, sociabilizado dialeticamente, sempre na busca de novas snteses, construdas na e com a realidade.A tarefa de rever a prtica educativa nos impulsiona para que voltemos aos livros, analisemos os trabalhos desenvolvidos por nossos professores, adicionemos, co-participemos, contribuamos, faamos a releitura das realidades envolvidas e caminharemos para o futuro. Este Caderno um pouco de tudo isso e parte de uma coleo que pretende dar apoio a diferentes propostas emanadas das escolas, em particular, das Escolas do Campo. uma produo queaosocializareproblematizarprticaspedaggicasvivenciadaspelosprofessores,apartirde GruposdeEstudosdaEducaodoCampo,objetivagerarnovasexperinciaseauxiliarnossa ao escolar que precisa ser cotidianamente analisada e reetida para as necessrias intervenes e superaes no contexto educacional.Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde SECRETRIA DE ESTADO DA EDUCAO6EDUCAO DO CAMPOAPRESENTAO DO CADERNO com grande satisfao que apresentamos a segunda publicao temtica sobre a Educao do Campo, uma iniciativa do Departamento da Diversidade por meio da Coordenao da Educao do Campo. Elaboradopormuitasmosdeprofessores,pedagogos,gestores,assessores,equipesda Coordenao da Educao do Campo dos NREs esse nosso Caderno Temtico nos vem instigar a leitura, a reexo e a problematizao das prticas pedaggicas desenvolvidas todos os dias nas escolas do e no campo. Objetiva, fundamentalmente, provocar nossa ateno e reexo poltico-pedaggica sobre a identidade da escola do campo, esteja ela situada no meio rural ou na cidade, e que atenda educandos e envolva educadores residentes e trabalhadores(as) do campo. Entendemos que construir uma escola do campo, pblica, democrtica e de qualidade signica tambm buscar a coerncia poltico-pedaggica entre o que se ensina e o que se aprende, com a realidade, as expectativas e necessidades dos diferentes sujeitos que l se encontram e dos que ainda no tiveram acesso educao escolar. Re-conhecer a escola do campo signica ainda debater, compreender e articular os desaos ligados realidade do campo no Paran, no Brasil e na Amrica Latina a luta pela reforma agrria, orespeitosdiferentesculturaseidentidadesdossujeitosdocampo,adefesadosdireitosdos(as) trabalhadores(as) rurais, a preservao do meio ambiente, dentre outros com o currculo, com o projeto poltico-pedaggico da escola, com os planos de aula, com os contedos, com as metodologias e, sobretudo, com as relaes cotidianas entre educadores, educandos e comunidades no ambiente escolar. Rearmamos,atravsdesseCadernoTemtico,ocompromissodoGovernodoEstadodo Paran e da Secretaria de Estado da Educao com cada uma das escolas do campo, potencializando-as como espaos de acolhida e permanncia de crianas, adolescentes, jovens, adultos e idosos em processos de alfabetizao e de escolarizao. A todos e todas, uma excelente leitura e aprofundamento dos estudos sobre essa temtica, no intuito de efetivar uma educao dialgica, inclusiva, coerente e que atenda s diversidades do Estado do Paran.Wagner Roberto do AmaralChefe do Departamento da DiversidadeAlayde Maria DigiovanniSuperintendente da Educao8SUMRIO9EDUCAO DO CAMPOAPRESENTAO INSTITUCIONAL............................................................................04Apresentao................................................................................................................................. 05Apresentao do Caderno.......................................................................................................... 07INTRODUO........................................................................................................................ 11Palavra de Quem Sistematizou................................................................................................... 15Compreenso do texto................................................................................................................ 17(RE)CONHECENDO AS EXPRIENCIAS DA EDUCAO DO CAMPO:GERANDO NOSSAS PRTICAS NA ESCOLA .............................................................23Cuidando da Terra e Mobilizando a Escola: Levando comida a mesa em conjunto com a Natureza ................................................................................................................................. 25Resgatando Cultura(s) e Identidade(s) mostrando a cara da comunidade.......................... 61Movimentando os sujeitos do campo: por novas relaes de trabalho e organizao social...85 Trilhandooscaminhosdasustentabilidadecomnovasprticasnaagriculturafamiliar/camponesa: responsabilidade do campo e da cidade..............................................................115EXPERINCIASQUEENVOLVEMAORGANIZAODOTRABALHO PEDAGGICO DA ESCOLA: DISCIPLINAS, METODOLOGIAS, PLANEJAMENTO, ESPAOS E TEMPOS .............................................................................................................155Educao de Nvel Mdio: Teorias e prticas integrando o currculo do curso.................157Educao do Campo e Desenvolvimento local - uma mudana para alm da escola.......171SUGESTES PARA LEITURA, FILMES, STIOS E REFERNCIAS...............177Filmes ....................................................................................................................179Livros......................................................................................................................185Stios .......................................................................................................................189Referncias .............................................................................................................. 19110ASSESSOAR Associao de Estudos, Orientao e Assistncia Rural.ASPTA Assessoria e Servios a Projetos em Agricultura Alternativa. APMF Associao de Pais, Mestres e Funcionrios.CEASA Centrais de Abastecimento. CFR Casa Familiar Rural. COPAVI- Cooperativa Agropecuria de Produo Vitria. CPT Comisso Pastoral da Terra. DCE Diretrizes Curriculares da Rede Pblica de Educao do Estado do Paran. EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural.IAP Instituto Ambiental do Paran. MAB Movimento dos Atingidos por Barragens. MPA Movimento dos Pequenos Agricultores. MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. NPK Nitrognio, Fsforo e Potssio.NREs Ncleos Regionais de Educao.ONG Organizao no-Governamental.PCFE Projeto Comunidade, Famlia e Educao.pH Potncial hidrogeninico.PPP Projeto Poltico Pedaggico.PRONAF Programa Nacional da Agricultura Familiar.PVC Policloreto de vinila.PVR Projeto Vida na Roa.SANEPAR Companhia de Saneamento do Paran.SEED Secretaria de Estado da Educao.TNT Tecido No -Tecido.UEL Universidade Estadual de Londrina. UNIOESTE -Universidade do Oeste do Paran. SIGLAS11EDUCAO DO CAMPOINTRODUOEscrever a introduo deste caderno nos remete s prticas pedaggicas de tantas escolas do campo e da cidade deste estado e aos professores, educandos, gestores e outros que ousaram socializ-las. Depois do contato com as experincias aqui narradas, analisadas, teorizadas, presente no cotidiano das escolas, to presas em seus sentidos, afastar-se delas para melhor compreend-las tornou-se um exerccio bastante complexo e difcil, mas ao mesmo tempo apaixonante, rico em signicados e em conhecimentos. Gostaramosdedeixarcadaexperincianasuantegra,preservandoatrajetria,ossujeitos envolvidos, contudo, trata-se de apenas introduzir o II Caderno Temtico: Educao do Campo (Re)conhecendo experincias da educao do campo: gerando novas prticas na escola. A construo deste Caderno foi marcada por diversas concepes, intenes e objetivos. Quando se buscou uma metodologia que desse conta do que se queria para esta produo, trs perspectivas foram importantes, considerando o momento vivido na Educao do Campo no estado do Paran. A primeira que este material pretende ser referncia para aquelas escolas e professores que nos olham e dizem: Muito bem, acreditamos nisso, mas como fazer na prtica, por onde comear? Como podemos fazer na nossa realidade? A segunda, mostrar de que forma, ou com quais metodologias possvel articular as prticas pedaggicas especcas aos contedos cientcos relacionados ao campo, ao desenvolvimento, buscando construir uma compreenso da relao que existe entre as condies de existncia dos povos que vivem nestes espaos, as experincias e o conhecimento cientco. E por m, uma terceira perspectiva que se desaa a estabelecer relaes entre as referncias em curso e as DiretrizesCurricularesdaRedePblicadeEducaodoEstadodoParanEducaodoCampo (DCEs)1,ouseja,concretiz-las,torn-lasao,quenestemomento,aindasignicarelacion-lass prticas pedaggicas vigentes indicando avanos que partam do que encaminham e propem. O principal objetivo, contudo, foi partir do que se produziu pelos professores da Rede Estadual de Ensino atravs dos Grupos de Estudo aos Sbados, realizados no ano de 2007. Partindo dos inventrios de trabalhos realizados nas Escolas e Colgios Estaduais e enviados Secretaria Estadual de Educao (SEED)/Coordenao da Educao do Campo, procurou-se aproximar as diversas experincias desde a diversidade do Estado do Paran, proporcionando assim uma oportunidade dos professores visualizarem o que vem sendo feito nas escolas.1A partir deste momento utilizaremos a sigla DCEs para se referir s Diretrizes Curriculares da Rede Pblica de Educao do Estado do Paran Educao do Campo.12Outroobjetivoqueelesejasubsdioparanovasprticaspedaggicasnointeriordaescola pblica, provocando professores, equipes pedaggicas, direes e comunidade a repensar o modelo de escola que temos no campo, rumo escola que queremos. Alm disso, mostrar as aproximaes feitas nas diversas experincias entre os contedos curriculares e a realidade do campo, como possibilidades, noparaseremaproveitadasnantegra,massim,refernciasdetrabalhospara(re)criarasprticas pedaggicas,partindoedandosignicadoaoscontedosdasdisciplinasdesdearealidadeondese insere a escola e vivem os sujeitos do processo educativo.Ao sistematizar estas experincias, vivenciamos um processo denso de trabalho que se estendeu por trs meses onde uma equipe, ao reunir este conjunto de prticas, observou como os professores asfundamentaramequecomponentesticosestavamalipresentesemrelaotrajetriaataqui construda na educao do campo, o que apresentam de novo e o que rompem em relao ao que deve ser mudado para construir uma escola que d conta das questes propostas.Num primeiro momento juntaram-se alguns Coordenadores da Educao do Campo dos Ncleos Regionais de Educao (NREs)2, a equipe da Coordenao da Educao do Campo/SEED, professores da Universidade Federal do Paran - Setor Litoral e da UNIOESTE - Francisco Beltro, bem como prossionais da Assesoar (Associao de Estudos, Orientao e Assistncia Rural). Tendo em mos os quase duzentos inventrios de experincias, iniciou-se o trabalho de leitura e anlise de cada um deles, que foram organizados a partir das temticas trabalhadas nas referncias, tomando a forma de grandes eixos em torno dos quais se organizavam os trabalhos. Esse material est organizado em quatro captulos desenvolvidos em torno de um eixo central (Re)conhecendo experincias da educao do campo: gerando novas prticas na escola, que procura articular os sub-temas presentes nas experincias da seguinte forma: Captulo 1 - Cuidando da terra e mobilizando a escola: levando comida mesa em conjunto com a natureza; Captulo 2 - Resgatando cultura(s) e identidade(s): mostrando a cara da comunidade; Captulo 3 - Movimentando os sujeitos do campo: novas relaes de trabalho e organizao social e Captulo 4 - Trilhando os caminhos da sustentabilidade com novas prticas na agricultura familiar/camponesa: responsabilidade do campo e da cidade. Convm assinalar, ainda, que cada captulo constitudo por sub-ttulos: 1. Fundamentao apresenta, inicialmente, um apanhado das experincias e temas que sero explorados nos captulos e, na seqncia, conceitos que os embasam teoricamente; 2. Relato organizado a partir do inventrio deexperinciascontmosrelatosdasexperinciassubdivididosdeacordocomcadacaptulo;3. Problematizao composto por questionamentos que surgiram a partir das leituras das experincias, alm disso, esse item pretende oportunizar o olhar para outras perspectivas. 2A partir deste momento utilizaremos a sigla NREs para se referir aos 31 Ncleos Regionais de Educao do Estado do Paran, aos quais esto jurisdicionados escolas e colgios mencionados neste Caderno.13EDUCAO DO CAMPOAo nal, destacaram-se trs processos que mostram referncias que buscam construir um novo ProjetodeEscoladoCampo,asaber:EducaodeNvelMdio:TeoriasePrticas Integrandoo Currculo do Curso (Colgio So Francisco do Bandeira Dois Vizinhos/Pr.); O Projeto Poltico Pedaggico:possvelviversemasdisciplinas?(UniversidadeFederaldoParan-SetorLitoral); EducaodoCampoeDesenvolvimentolocalumamudanaparaaalmdaescola(Sistema Municipal de Ensino Porto Barreiro/Pr.).Almdetudooquefoimencionado,oIICadernotambmpossuiumespaoemqueso apresentados sugestes de lmes e sites que podero contribuir com os trabalhos das escolas que se desaam a continuar essa construo de uma proposta de educao e escola do campo.Boa Leitura !1415EDUCAO DO CAMPOPALAVRAS DE QUEM SISTEMATIZOUO grande desao dos professores proporcionar condies efetivas para que os educandos ascendam a percepo do conhecimento. Aliado a essa inteno, o aprendizado da construo, do trabalho coletivo, da vida harmoniosa na sociedade so possibilidades que a escola tem que oferecer. Essa construo do II Caderno Temtico da Educao do Campo nos deu essa possibilidade de atravs de um passeio pelas escolas do nosso Paran, das diferentes formas do aprender e do ensinar que nossos professores e educandos demonstraram, sistematizar a ousadia e a determinao diriadetodososenvolvidos.Caminharpreciso.Vamosnessetrabalho,inovarecontinuarmostrandoquea educao do campo, como todo processo educativo, s ter validade se realmente for emancipadora. Lembrando Paulo Freire ensinar uma aventura criadora (Cassio Ajus da Silveira). Colocarumasementenaterrasempreumrisco...nosetemcertezadoquevirpelafrente:granizo,seca, vendaval ou tempo bom (isto as famlias camponesas entendem bem). Depois de ter vivido dez anos de educao do campo no Paran, este Caderno um pouco isto: uma colheita para quem acreditou, sem ter certeza do que viria pela frente! (Ceclia Maria Ghedini).A construo coletiva do II Caderno da Educao do Campo um marco histrico na educao formal, especialmente ao resgatar aspectos da agricultura familiar/camponesa, dando signicado s histrias de vida de todos os atores envolvidos (Edmilson Cezar Paglia).Quando iniciei na Coordenao da Educao do Campo, os trabalhos de organizao do II Caderno j haviam comeado. O que me deixou mais entusiasmada com a proposta, foram as experincias j realizadas nas escolas do campo estarem sendo colocadas em evidncia, pois como professora da rede estadual e como participante da trajetria da Educao do Campo no Paran, sou testemunha de armaes do tipo: isso tudo muito bonito, mas s teoria, na prtica no d certo ou ainda, de questionamentos ansiosos de como fazer esse diferente, como iniciar a nova proposta. Esse trabalho nos prova que a educao do campo possvel e que no difcil realiz-la nas nossas prticas pedaggicas e, principalmente, nos aponta para a necessidade de pensarmos a educao com a intencionalidade de construirmos novas relaes sociais (Luciana Maria de Matos e Silva). Participar da sistematizao deste Caderno, signicou empenhar-se para construir no coletivo novas formas de olhar o campo, a cidade, a cultura e os movimentos sociais, pois o caderno nasce das prticas dos prprios professores, re-signicando o campo e a educao a partir dos seus sujeitos(Rogria Pereira Alba).Participar do processo de elaborao do II Caderno Temtico da Educao do Campo foi muito importante, pois contribuiu para o meu crescimento pessoal e prossional. Foi possvel conhecer o trabalho dos professores atravs dos inventrios de experincias e perceber que estes fazem o diferencial na educao do campo (Rosimari Donassolo Correa dos Santos). Este processo de construo coletiva do caderno foi como construir uma casa no campo, cada um foi colocando um tijolinho e colorindo com diferentes cores e saberes. O resultado foi uma casa aconchegante, cheia de frutos, cheiros, sabores e festejos, reunindo amigos para contar causos e concretizar ideais comuns. Como j dizia Raul Seixas: um sonho que se sonha s, s um sonho que se sonha s, mas sonho que se sonha junto realidade (Sirlndia Schappo).16Essecadernorepresentaoesforodeumcoletivoquecomunga,permanentemente,aeducaodocampode forma a priorizar as relaes entre professor, educando e comunidade, valorizando e incluindo toda uma histria construda no campo. Cada um deixou nesse caderno um pedao de si e criou laos de amor, amizade, carinho e de luta com a educao do campo (Silvana Cassia Hoeller).Fazer parte do processo de sistematizao e construo coletiva deste Caderno, signicou comungar de uma profunda experincia, acima de tudo, partilhando idias, sonhos, ousadia, exigncias... especialmente porque, ao concebermos que a educao do campo advm de seus sujeitos, assumimos o desao de tornar o caderno, testemunho disso (Solange Todero Von Onay). Este caderno uma amostra de uma outra realidade possvel. Trata-se de uma grande socializao de conhecimentos, permeados por um regime de solidariedade. Conhecimentos e experincias que saem de suas escalas mais locais e se expandem s escalas ainda indenidas, fortalecendo, inuenciando, (re) encantando a educao. Nesse sentido, preciso dizer que durante a produo deste II Caderno da Educao do Campo, percebi que h uma multido de pessoas em movimento, mesmo que geogracamente separadas, se articulando, saindo das margens consideradas por muitos abandonadas, para ocupar o centro, mostrando que o conhecimento innito, e que h um campo de possibilidades. As possibilidades de um mundo culturalmente diverso e mais humano, economicamente solidrio, ambientalmente sustentvel, entre outras...(Willian Simes)Esse caderno pedaggico a sntese de alguns processos abertos pela Coordenao da Educao do Campo no trabalho com a Rede Estadual de Educao e sua Estrutura Administrativa. sntese de dois anos dos inventrios de experincias pedaggicas construdos nos Grupos de Estudos. Sntese do trabalho realizado com alguns Coordenadores daEducaodoCamponosNcleosRegionaisdeEducao.sntesedodesejodessaCoordenaoporuma Educao que contribua para a permanncia da vida no Campo e para um projeto de sociedade ambientalmente equilibrado e socialmente justo. (Cassius Marcelus Cruz)Nossa inteno que esta publicao coletiva possa contribuir com o debate sobre a Educao do Campo. Para isso, nos propusemos a ousar e arriscamos; com cienticidade, sentimentos, emoes, desejos, com as dvidas e os medos.Felizmente fomos capazes de arriscar...E aqui estamos ns.(Marciane M. Mendes)Compor a equipe de Sistematizao desse Caderno fazer parte do processo histrico que envolve a Educao Bsica no Estado do Paran e, sobretudo, contribuir para o fortalecimento da Educao do Campo. (Daniela Carla de Oliveira)17EDUCAO DO CAMPOCOMPREENSO DOS TEXTOSONDE leria o meu QUANDO?QUEM leria o meu COMO?COMO escrever o meu ONDE?QUANDO escrever o meu QUEM?OIICadernoTemtico:Educao doCampomostraanecessidade de partirde aspectos da realidade local, ao problematizar os contedos das disciplinas de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educao Bsica do Estado do Paran e das DCEs da Educao do Campo, desde as experincias cotidianasdoseducandos,considerandoquepossuemumaHistriadevida,decultura,derelao social e de interao com a natureza.A educao do campo tem sido historicamente marginalizada na construo de polticas pblicas. Tratada como poltica compensatria, suas demandas e sua especicidade raramente tem sido objeto de pesquisa no espao da academia e na formulao de currculos nos diferentes nveis e modalidades de ensino. A educao para os povos do campo trabalhada a partir de um currculo essencialmente urbano e, quase sempre, deslocado das necessidades e da realidade do campo. Mesmo as escolas localizadas nas cidades tm um currculo e trabalho pedaggico, na maioria das vezes, alienante, que difunde uma cultura burguesa e enciclopdica. urgente discutir a educao do campo e, em especial, a educao pblica no Brasil (PARAN, 2006: 25).Este Caderno Temtico dever contribuir para repensar a prtica pedaggica no somente nas escolas do campo, mas tambm nas escolas das cidades, pois a maioria delas recebe educandos oriundos do campo. Apresenta-seassim,tambm,apossibilidadederepensararelaocampoxcidade,oportunizandoaos educandos do campo e da cidade uma reexo que perceba este espao em relao e no como mundos parte, na perspectiva de superar o discurso dicotmico entre rural e urbano, campo e cidade.Ocampo,nessesentido,maisdoqueumpermetrono-urbano,umcampodepossibilidadesque dinamizam a ligao dos seres humanos com a prpria produo das condies de existncia social e com as realizaes da sociedade humana. Assim focalizada, a compreenso de campo no se identica com o tom de nostalgia de um passado rural de abundncia e felicidadeque perpassa parte da literatura, posioque subestimaa evidncia dos conitosque mobilizam as foras econmicas, sociais e polticas em torno da posse da terra no Pas (BRASIL, 2002: 4). A diversidade de experincias contidas no Caderno oferece aos professores uma oportunidade de conhecer as diversas realidades do Estado do Paran que trazem consigo a esperana de uma escola que pensa seus espaos e tempos escolares, mostrando que estas mudanas, mesmo que tmidas, so possveis. Experincias radicais de ser, carregadas de sabedoria e lida, precisam virar letra, palavra e pgina para compor histria. Para no se perderem em cacos de mim, de ns, de vida precisam ser registradas. Para se constiturem em cenrio humano e rumo, signicando o estar no mundo, necessitam de reexo (FALKEMBACH, 1995: 2).18Nomear e rearmar esses sujeitos que desenvolveram essas prticas, signica recuperar um dos principais fundamentos que denem a educao do campo, ou seja, o direito destas mulheres/homens, jovens, crianas serem reconhecidos como sujeitos que pensam, elaboram, constroem sua vida, sua pedagogia no contexto onde esto. Parece algo bvio, contudo, se olharmos do ponto de vista histrico, vamos constatar que as polticas, principalmente as educacionais, sempre foram pensadas para o meio rural o que diferente de uma poltica que passa a ser gerada no espao do campo, com os sujeitos que ali vivem e trabalham. Talvez seja este um dos principais diferenciais da educao do campo, a qual tem como ponto de partida seus sujeitos, com suas Organizaes e seus Movimentos Sociais. O campo lugar de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem o seu lugar, a sua identidade cultural. O campo no s lugar da produo agropecuria e agroindustrial, do latifndio e da grilagem de terras. O campo espao e territrio dos camponeses e dos quilombolas. no campo que esto as orestas, onde vivem as diversas naes indgenas. Por tudo isso, o campo lugar de vida e sobretudo de educao (FERNANDES, 2004: 137).Assim, reconhecer os sujeitos, suas prticas, seus fazeres, signica tambm compreender estes professores, educandos, como sujeitos de cultura, que possuem histria, que podem pensar o amanh diferentedoontememelhordoqueohoje.Signicaprojetarofuturosemperderadimensoda totalidadeemqueestoseconstituindo.Signicatambmcontribuirparaconstruiranecessria identidade e organizao destes grupos, (povos camponeses, indgenas, quilombolas, faxinalenses...) como sujeitos coletivos e histricos. Estes lugares, onde esto as escolas, os professores, os educandos e suas famlias, que se juntaram as prticas que vo dar forma a este caderno que queremos nominar tambm de Vitral, pois estas prticas, partezinhas do desenvolvido na escola, foram como cacos que viraram vitrais, utilizando aqui a expresso trabalhada por Elza Maria Fonseca Falkembach (1995), ou seja, depois de organizadas as vrias experincias pontuais, viraram pginas de um todo maior, que vo formando e constituindo aconscincia,aqualporsuavez,vaisematerializandoemoutrasprticas,novasacada(re)fazer permeado pela reexo terica. Foi a partir desta concepo que escolhemos este mtodo para escrever o II Caderno Temtico, postura esta que ecoou como desao quando nos propomos a desenvolver este trabalho tendo em mos os aportes e fundamentos ticos e polticos que sustentam a metodologia utilizada e que procuramos tornar presentes nesta ao. 19EDUCAO DO CAMPOSe tomarmos a tradio da Educao Popular1, de onde se origina a Sistematizao2, tomaremos tambm seu conceito bsico qual seja: parte-se do senso comum do sujeito, vai-se at este senso comum percebendo qual teoria que existe ali, compreendida esta teoria, propem-se outra possibilidade terico-metodolgica e, na reexo, coloca-se um tencionamento provocando um avano partindo do senso comum encontrado.Neste sentido, aoorganizar este Caderno com a Metodologia da Sistematizao, partiu-se do lugar de onde os professores foram capazes de materializar a educao do campo atravs das prticas e aes aqui destacadas e, a partir deste concreto real, continuar avanando, atravs de um dilogo que poder fortalecer o que estamos concebendo por educao do campo.Nesta concepo de Sistematizao, o concreto vivido faz avanar o concreto pensado, ou seja, so as prticas reais das escolas que nos permitem criar outras possibilidades de fazer educao escolar, ensino-aprendizagem, articulada ao desenvolvimento local e socializao do conhecimento universal. Pode-sedizerqueaSistematizaopermiteestemovimento,possibilitandoaosquedesenvolvema ao, neste caso, professores, educandos e comunidades, de reetir acerca de suas prticas escolares, potencializando sua ao. Entendemos a Sistematizao como um dos processos geradores de reexes onde os sujeitos se alimentam por aquilo que aprendem na prtica, com as perguntas que estas prticas instigam quando reetidas, com as leituras que as (re)fundamentam e a busca pelas inquietaes que emergem. ... a Sistematizao produz uma `reconceitualizao` mediante a qual as concepes tericas vigentes so re-denidas a partir da prtica, a partirdos novos conhecimentos que se elaboram ao se reetir sobre a ao.Esses novos conhecimentos sero logo difundidos e por sua vez, confrontados com outras experincias, num processo em aspiral, exvel e dinmico, onde o aprendido sempre base para novos conhecimentos.Assim,asistematizaoeasocializaodonovosaberproduzidomedianteela,ir conformando um corpo de conhecimento, produto da prtica, que estar em condies de confrontar-se com a elaborao terica atualmente existente (JARA, 1996: 43).1Para melhor conceituar, trazemos presente Carlos Nunes Hurtado que dene educao popular como: um processo de forma-o e capacitao que se d dentro de uma perspectiva poltica de classe e que toma parte ou se vincula ao organizada do povo, das massas, para alcanar o objetivo de construir uma sociedade nova, de acordo com seus interesses. Educao Popular um processo contnuo e sistemtico que implica momentos de reexo e estudo sobre a prtica do grupo ou da organizao, o confronto da prtica sistematizada com elementos de interpretao e informao que permitem levar tal prtica consciente a novos nveis de compreenso (1992: 44). Esta proposio, uma das mais legitimas proposies pedaggicas da Amrica Latina, se expressa como instrumento de emancipao poltica e humana e busca, atravs da anlise e reexo dos problemas de cada poca, o fortalecimento e a hegemonia das camadas populares.2Foram inmeras experincias e iniciativas que vieram formulando esta concepo metodolgica, a nvel latino-americano. Des-tacam-se o Programa de Apoyo a la Sistematizacin del Consejode Educacin de Adultos de Amrica Latina (CEAAL) e o Programa ALFORJA com sede em Costa Rica. No Brasil o Centro de Educao Popular (CEPIS), localizado em So Paulo, o Instituto de Formao (Cajamar) e o SPEP (Seminrio Permanente de Educao Popular) Programa do Departamento de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJU) integrado ao CEAAL. Dentre os intelectuais que possuem vasta produo a cerca da Sistematizao, destacamos Educadores Populares como Carlos Nues Hurtado, Elza Maria Fonseca Falkembach (Unijui) e o socilogoPeruano Oscar Jara Holliday (AlFORJA) e o educador colom-biano Marco Ral Mejia.20A Sistematizao organiza seu movimento entre o concreto vivido e o concreto pensado a partir de um eixo central, em torno do qual se organizam o relato e a anlise. No momento de anlise e organizao, os quatro eixos se tornaram pequenos para tantas diferenas e temas, o que nos levou a criarsub-temas dentro de cada eixo (que forma um captulo), juntando as vrias experincias desenvolvidas, de forma que se tornassem quase um nico texto, mantendo a referncia das escolas e professores que nela se envolveram. Noprecisodizerquegrandesmodicaesforamfeitasnostextosoriginaisdeformaa contemplar todos os trabalhos num nico caderno, deciso esta que no foi fcil, pois dentre as vrias argumentaes,buscou-sesuperaraformacomumdeescolher,classicar,sortear,veros melhores, por conta da concepo que o mtodo da Sistematizao traz.O grupo organizou-se em quatro equipes e passamos a trabalhar no formato de cada captulo, entendendoquedeveramostrazeralgunselementosdefundamentaopresentesnosgruposde estudo e acrescidos com a reexo do grupo de trabalho, seguidos dos relatos das experincias. Estes relatos foram problematizados no sentido de armar o que trouxeram e apontar os avanos possveis e necessrios tanto no contedo quanto no desenvolvimento das referncias, desenhando assim novas possibilidades na perspectiva da educao do campo. Foram quatro momentos de trabalho coletivo que se iniciaram no ms de julho e se ndaram em meados de agosto, mas h que se dizer que foram outros tantos momentos de trabalhos individuais dos integrantes do grupo, atravs de leituras e garimpagem para dar conta dos diversos aspectos que compem o Caderno. Certamente descobriremos lacunas, mas queremos rearmar que uma possibilidade de tornar concreta a proposta de educao do campo no estado do Paran, desde as escolas pblicas, ou seja, visibilizar o que se faz hoje e os desaos que os professores, escolas e ncleos de educao assumiram de construir esta proposta a partir das Diretrizes. Trata-sedebuscarcoletivamente,comonosdizJara(1995),aconstruodereferenciaisque nos levem a perceber a realidade como uma totalidade, cujas partes no podem ser compreendidas, isoladamentenemcomoumtodooupodemosdizernumaconcepodialtica,quepossibilita compreender a escola como parte da sociedade e as prticas nelas desenvolvidas, como expresso da forma como vemos e concebemos, o mundo, a vida, as relaes, o conhecimento.No caso da educao do campo, estas prticas se do dentro de uma concepo de campo em movimento3, ressignicada, enquanto cultura, sujeitos e relaes o que vem demandando um novo olhar para a escola situada neste espao e suas prticas.3Esta forma de compreender as relaes do campo em movimento, neste momento histrico, refere-se trajetria dos Movimentos e Orga-nizaes do Campo na luta por direitos, da sntese histrica que foi o MST, das propostas de educao que ousou criar, propostas de educao formal,mas,em movimento que foiaprendidaneste percurso.Caldart(2004), em sua Tese deDoutorado,trazumareexoque ajudaa compreender estas relaes: ... nesse olhar, possvel enxergar que o princpio educativo por excelncia est no movimento mesmo, no transformar-se transformando a terra, as pessoas, a histria, a prpria pedagogia, sendo essa a raiz e o formato fundamental de sua identidade pedaggica (...) Terra mais do que terra; escola mais do que escola; talvez porque o movimento seja mesmo Movimento. (2004, p. 328-329)21EDUCAO DO CAMPOCompreender desta forma, aproxima-nos a outro conceito que entender a realidade como um processo histrico e produto da criao humana, assim a escola e suas prticas so, tambm, produo dossujeitosenvolvidos,professores,educandos,gestores,famliasecomunidadesquefazemparte desta escola, no apenas o resultado esttico da histria. Se pensarmos que a realidade feita pelos sujeitos, as inovaes, as iniciativas, as elaboraes e as re-criaes sempre sero importantes e o devir est sob nossa responsabilidade.Destaca-se tambm a realidade em movimento, a mudana que se produz dentro da prpria realidade quando vai confrontando com o outro presente em elementos diferentes de si, por isso, asprticasaquirelacionadas,seconfrontadascomoscontextosdeoutrasescolas,poderogerar idias, proposies, questionamentos, contradies, relacionando estes contextos, processo este que acreditamos, ser provocador de mudanas, gerador do novo.Partimosdacompreensodequeeducarossujeitosdocampoedacidade,quevivemem condies (des)humanizao proporcionar meios para que se transformem. Nisso, a escola parte, no h como termos uma escola humanizada, quando tudo sua volta desumanizador, como nos diz Arroyo (2005). Assim como no possvel melhorar as prticas pedaggicas se quem as conduz e media no estiver envolvido organicamente no processo. por isso que armamos que no h como verdadeiramente educar os sujeitos do campo sem transformar as circunstncias sociais desumanizantes, e sem prepar-los para ser sujeitos destas transformaes... (CALDART, 2002: 32).Acreditamos que so necessrias grandes mudanas na forma escolar para que se d conta da lgica econmica, social e cultural deste tempo. Nos trabalhos evidenciam-se os limites de conhecimento com relao ao campo por parte dos professores e das escolas, resultado tambm da ausncia destes temas nos currculos da Formao Inicial, desconhecendo, assim, as inmeras relaes que existem na questo da agricultura, por exemplo, que vo das formas de produzir no campo passando pela grande indstriafrmaco-qumica,ocontroledassementes,domercadodealimentoseosrepresentantes destas relaes nos locais onde est a escola. No trabalho desenvolvido pela Coordenao da Educao do Campo/SEED, NREs, escolas e professores da Rede Estadual, percebe-se este movimento de avano no sentido de dar signicado ao contedo do campo, de articular as vrias disciplinas, de promover momentos em que as famlias e as entidades vo escola, de assuntos/contedos que so inseridos nos planos a partir da materialidade do campo como a terra, o solo, o trabalho, a renda, os insumos qumicos, as culturas como o fumo, o milho, a abbora, temas como o lixo e os resduos, a sade das pessoas, as expresses culturais, os Movimentos Sociais e suas contradies. Estes temas e prticas trabalhados trazem a possibilidade de tematizar o campo ausente dos currculos at ento. ... a anlise da escola primria rural vem comprovar o princpio orientador e determinante do processo de denio curricular, onde o mundo rural, suas atividades produtivas, suas crenas, sua sociabilidade esuaculturasocaracterizadoscomoarcaicos,atrasadose,obviamente,excludosdocurrculo.(...) Aculturaruralnoconsideradacomoculturadominante,razopelaqualnoguranocurrculo. (...) A contemplao de uma cultura urbana no currculo da escola primria rural, em detrimento das manifestaes culturais presentes no meio rural, uma demonstrao de que a cultura dominante em nossa sociedade aquela ligada ao setor urbano-industrial (GRITTI, 2003: 133-134).22Nosignicaqueagoraocontedoserapenasnesteenfoque,massignicaqueocampo contedo a partir do contexto onde est a escola, permitindo que se fale desde ali, que dali se aprenda a ler o mundo, estabelecendo pontes, debates, aprofundamentos com o conhecimento cientco que deversersocializadocomprofundidadeparasealcanarfunosocialdaescola,doensino,no contexto do campo.As experincias mostraram que possvel a relao entre disciplinas que primeira vista parecem distantesentresicomo,porexemplo,aQumicaeaHistria;mostram,ainda,queaorganizao ocial das disciplinas se localiza em reas diferentes. Percebe-se, ento, que, como j se disse de outras formas, a vida tem um outro movimento, diferente da forma como se organizam as disciplinas e os contedos universais e este um dos papis da escola do campo na relao com a vida destes povos: partir do movimento real da vida, dando signicado para o estudo e a socializao do conhecimento cientco.Em muitas experincias o trabalho apresenta-se isolado, apenas uma nica disciplina aborda o tema da educao do campo evidenciando que, ainda, as escolas encontram diculdades para fazer um trabalho articulado, que tematize e construa relaes a partir das necessidades e potencialidades das comunidades do campo. Estes temas que poderiam ser base para o trabalho pedaggico das escolas, muitas vezes cam apenas num projeto, que se limita a alguns dias e logo aps esquecido e o trabalho continua com contedos desvinculados do trabalho e da vida do campo.A escola precisa ultrapassar os limites dos projetos de trabalho, tendo um Projeto de Educao da comunidade, do territrio, fazendo com que educao do campo seja a energia motriz do trabalho pedaggico, aproveitando os momentos de parada como as semanas pedaggicas, os grupos de estudo, os conselhos de classe e as reunies pedaggicas, para tratar dos desaos que esta proposta traz.OpercursovividonaorganizaodesteIICadernonosfazacreditarquetaisproposies anunciam maneiras de revelar como professores ousam no devir de fecundar suas prticas, encharc-las na prtica social e reexiva. Autoriza-se a compartilh-las, colocando-as em dilogo, publicizando-as, o que no deixa de ser, em seu tempo e lugar, uma forma de contribuir com a mudana necessria capazdecombinarestudocomtrabalho,comculturacomorganizaocoletiva,composturasde transformaromundo,prestandoatenostarefasdeformaoespeccadotempoedoespao escolar (CALDART, 2004: 157).Enm, este Caderno de alguma maneira, um testemunho, pois permitiu perceber que a educao docampoestpalpitandonosdiversosrecantosdoParaneque,umavezsemeada,poderfazer germinar novos horizontes nas escolas deste Estado. 23EDUCAO DO CAMPO(RE) CONHECENDO EXPERINCIASDA EDUCAO DO CAMPO:GERANDO NOVAS PRTICAS NA ESCOLA2425EDUCAO DO CAMPOCUIDANDO DA TERRAE MOBILIZANDO A ESCOLA:LEVANDO COMIDA MESAEM CONJUNTO COM A NATUREZANingum educa ningum, ningum se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Paulo Freire 1. FundamentaoEste captulo, Cuidando da terra e mobilizando a escola: levando comida mesa em conjunto comanatureza,foiconstrudocomexperincias,decertomodoaindapontuaisedesarticuladas, mas, que entendidas no seu conjunto, podem nos dar referncias de como construir uma relao com a vida e o cotidiano dos sujeitos do campo que esto em nossas escolas. As leituras e (re)escritas das experincias formaram cinco sub-temas: Sementes de uma escola sustentvel; Plantando na escola, Diversidade na alimentao; Plantas medicinais e alternativas de sade - sade preventiva; gua e preservao. Sementes de uma escola sustentvel, um sub-tema que tenta traduzir a preocupao vivenciada no s pelos professores, mas tambm pelos educandos e comunidade no que diz respeito s questes que envolvem o meio ambiente e, dentre elas, os impactos ambientais. Alm disso, registra as iniciativas deescolas/colgiosedeprofessoresvisandoconstruirconhecimentosealternativascomoprticas de compostagem e de preservao, entre outras. Entendemos que so como sementes que, uma vez plantadas na escola podem ser tambm semeadas na comunidade. AlgumasforamdesenvolvidasduranteasaulasdeGeograa,noCol.Est.JosdeAnchieta, jurisdicionado ao NRE de Pitanga, nesta ocasio, foram abordados problemas de impactos ambientais queaigemapopulaomundial.Emmeiosdiscussessurgiuaoportunidadedeaproveitaros resduos orgnicos produzidos tanto no meio rural, quanto no meio urbano (hortalias e leguminosas) objetivando diminuir a quantidade de lixo que se acumula nos aterros das cidades e nas comunidades rurais. No NRE de Ivaipor, municpio de Rosrio do Iva, a professora de Cincias na tentativa de 26tambm diminuir o volume de resduos orgnicos no s na comunidade, mas na escola, props aos educandosaconstruodeumacaixadecompostagemnoterrenodocolgio.Essasexperincias possibilitaram a sensibilizao dos educandos e familiares para prticas de conservao e utilizao do solo.O espao escolar no apenas um espao constitudo por salas de aula, h tambm um ptio, um refeitrio, um jardim e, geralmente, h lugares ociosos, normalmente, localizados nos fundos da escola/colgio. Esses espaos quando olhados com ateno podem fazer a diferena na relao ensino-aprendizagem e entre educandos-professores-comunidade-escola/colgio.Procurando no s ocupar o espao vazio, mas dar sentido/signicado ao contedo do bimestre eofereceralternativasparaumaalimentaosaudvel,osprofessoresdadisciplinadeMatemtica, Histria e Geograa do Col. Est. Frei Doroteu de Pdua, no municpio de Ponta Grossa, se reuniram para construir junto aos educandos uma horta. Cada uma das disciplinas contribuiu de forma diferente tanto para a construo da horta quanto para a construo do conhecimento. Alm dessa experincia, h outras que tambm intentam melhorar os hbitos alimentares dos educandos, tais como: a incluso de frutas na merenda escolar; a horta orgnica; a realizao de feiras livres; a produo de biofertilizantes; entre outras que fazem parte do Plantando na escola. Diversidade na alimentao, estas palavras so palavras chaves para uma boa alimentao, uma vez que diversicar o que comemos incluindo em nossas refeies frutas, legumes, carnes, entre outros, alm de suprir as necessidades de nosso corpo, garantem uma vida longa e saudvel. Entretanto, para que isso acontea preciso que estes alimentos sejam semeados, plantados e cultivados de preferncia pelas famlias que trabalham a terra. Pensando na questo do cultivo, por exemplo, da abbora, um grupo de professores do NRE de Umuarama responsveis pelas disciplinas de Geograa, Lngua Portuguesa, Lngua Inglesa, Artes, CinciaseMatemticauniramesforosemumtrabalhointerdisciplinar.Durantearealizaodesta experincia cada professor procurou desenvolver o tema de acordo com a sua rea de conhecimento, abordando temas como: os tipos de solos; os tipos de abboras existentes; as receitas que envolvem a abbora; as medidas utilizadas nas receitas; a festa do Haloween; a realizao de trabalhos manuais; o valor nutricional; entre outras tantas possibilidades. J, no municpio de Assis Chateaubriand, na Esc. Est. Papa Joo Paulo II, os professores olhando para a realidade da regio perceberam a presena da cultura de mandioca, alm disso, entenderam que era o momento de desenvolver uma experincia capaz de trabalhar a realidade local. Alm destes, desenvolveram-se tambm temas como apicultura, NRE de Umuarama e leite, NRE de Pitanga.Sade, tambm o tema enfocado neste sub-tema, Plantas Medicinais e Alternativas de Sade - Sade preventiva, que recupera um conhecimento historicamente acumulado (transferido de me para lha/de gerao a gerao) chamado de comum. Esta denominao se d, simplesmente, pelo fato de no ser comprovado cienticamente, ou seja, as plantas medicinais possuem certas caractersticas capazes de auxiliar no tratamento de algumas doenas, mas que segundo mdicos e especialistas devem ser utilizadas com cautela. Entretanto, esta viso vem gradativamente se modicando e estas plantas j comeam a ser manipuladas em laboratrios comprovando que o conhecimento popular deve ser considerado.27EDUCAO DO CAMPONa tentativa de recuperar um pouco desse conhecimento acerca das plantas medicinais, professores doNREdeToledo,municpiodeNovaSantaRosa,emumtrabalhointerdisciplinarqueenvolveu asdisciplinasdeLnguaPortuguesa,Cincias,MatemticaeGeograa,organizarammomentosde leitura e de pesquisas de campo, discusses a respeito das variedades de ervas, da seleo e da escolha dasplantas,desenvolvendoatividadesemsistemasdemedidas,formasgeomtricas,tiposdesolo, caractersticas climticas entre outras. Assim trabalharam em Lngua Portuguesa a produo de um livro de receitas de medicina caseira; em Cincias a produo de um catlogo de plantas; em Matemtica aconstruodaplantadeumahortae,emGeograaaconstruodeumdicionriodasplantas medicinais com informaes sobre seu uso, localidade de origem, condies ambientais necessrias para o desenvolvimento da planta. Alm dessa, h outras duas experincias sendo uma do NRE de Pitanga e a outra de Laranjeiras do Sul.Outro tema recorrente nas experincias que assim como nos relatos anteriores, tambm, trabalha a partir da realidade e das angstias dos educandos e da comunidade, neste caso, gua e preservao. Uma das experincias realizadas no municpio de Unio da Vitria, no Col. Est. Rio Vermelho partiudaobservaolocaldosriosprximosaocolgio,ondeosprofessoressereuniramemum trabalho que envolveu tanto os educandos do Ensino Fundamental como os participantes do Curso de Agroecologia desenvolvido pelo Senar. J no municpio de So Jorge dOeste, NRE de Dois Vizinhos, o primeiro passo para a realizao da experincia foi a construo de um plano de estudo sobre solos.Alm dessas duas experincias h outras que tratam de temas como: mata ciliar; produo de mudas de plantas nativas para revitalizao das matas; construo de uma proteo para fonte de gua; valorizao e preservao ambiental; falta dgua; gua e biodiversidade; impactos ambientais causados por prticas agrcolas equivocadas; abastecimento de gua; rede de esgoto; a falta de gua decorrente do desmatamento da mata ciliar dentro do permetro urbano; as diversas formas de poluio e contaminao da gua. Estas experincias vm acompanhadas por diferentes e criativas atividades que possibilitam aos educandos uma viso mais crtica e a mudana de hbitos.Pensar na formao integral dos sujeitos reetir sobre a relao sustentvel com a natureza, sem reduzir a educao a aspectos mercadolgicos ou produtivistas. Nesse sentido a educao compromete-se com as necessidades essenciais do ser humano e da sua relao de pertena com a natureza. Isso j era expresso por um dos grandes pensadores brasileiros na dcada de 70, Josu de Castro (2003) ao se referir civilizao da produo frentica e do lucro como civilizao poluidora por excelncia: Atualmente, o que se torna mais importante a qualidade da vida, a qualidade do meio ambiente, mas se pode aumentar a produo, contanto que seja com tcnicas no poluidoras. At aqui elas no foram utilizadas, por obsesso dos lucros e dos preos competitivos. Neste aspecto, multiplicam-se os produtos inteis,procurou-seestimularoconsumoparaalmdasnecessidadesreais,mas,emcompensao, descuidou-se das necessidades essenciais.1 1A fala de Josu encontra-se em CASTRO, Anna Maria de. Josu de Castro: semeador de idias. In.: FERNANDES, Bernardo Manano. GONALVES, Carlos Walter. Josu de Castro: vida e obra. So Paulo: Expresso Popular, 2003.28Com o processo desencadeado pela revoluo verde descuidou-se da produo voltada para as necessidades essenciais do ser humano, priorizando-se o modelo monocultor exportador, causando a perda ou reduo da diversidade alimentar e biolgica, gerando impactos sociais, econmicos, ambientais e culturais. Em detrimento da unidade de produo camponesa, neste modelo optou-se politicamente pela grandepropriedadeque,porsuavez,priorizavaalgunsprodutosmaislucrativos,sendotambma maior privilegiada no que diz respeito aos investimentos pblicos. O pacote tecnolgico difundido foi acompanhado do crdito agrcola de investimento e de custeio que serviu para consolidar a chamada revoluo verde. O discurso propagado a partir deste modelo foi um dos principais fatores geradores da desvalorizao do campo como um espao de potencialidades.Nesteprocessoasgrandespropriedades,foramtidascomoasmaiscapazesderesponderao progresso esperado, porm, apesar do crescimento em termos de produtividade, grande parte da populao mundial no teve e no tem acesso as estes alimentos produzidos. Esta situao conrma que no basta ampliar a produo, mas preciso criar as condies para que as pessoas tenham acesso aos alimentos e as condies para produzi-los. Estas condies envolvem o acesso a renda, incentivos a agricultura familiar/camponesa/camponesa produtora de alimentos, reforma agrria entre outras. nessecontexto,quandoemergemasconseqnciasdoprocessodemodernizao,quese deagra a organizao dos movimentos ambientais ligados s agriculturas alternativas, as quais fomentam aes que questionam o modelo da agricultura capitalista. Assim, parte signicativa da populao do campo obriga-se a migrar para os centros urbanos, onde muitos passam a viver a partir de precrias estratgias de sobrevivncia. Apenas a partir das ltimas dcadas do sculo XX, a sociedade brasileira pderetomarodebatesobreasconseqnciasdestemodeloeapossibilidadedeconstruode alternativas mais justas, do ponto de vista social, cultural e ambiental.Isso evidenciado por Sevilla Guzmn (1999)2, que discute o pensamento cientco convencional, atravsdoconceitodedesenvolvimento,deniucomooprogressoparaaszonasruraisasua homogeneizao sociocultural e, com isso, levou eroso do conhecimento local, que foi desenvolvido e apropriado mediante a interao entre os homens e a natureza, em cada ecossistema especco. Diante desta imposio e invaso cultural, as culturas locais reagiram de diferentes maneiras, ainda que, em geral, a estrutura de poder estabelecida neste processo e guiada pela lgica do lucro e do mercado tenha causado a submisso da agricultura camponesa. Essa dependncia industrial tem seu reexo na utilizao dos recursos naturais que foi substituindo as formas de manejo camponesas, vinculadas s culturas locais, funcionando como um mecanismo homogeneizador, instalando o modo de vida moderno, dissolvendo dessa forma as relaes estabelecidas s geraes pelas comunidades rurais. Mesmo com o desenvolvimento desse processo, dentro das comunidades h resistncias que funcionam como respostas endgenas a agresso sociocultural, com inmeras iniciativas que privilegiam a agrobiodiversidade. 2Texto traduzido e adaptado por Francisco Roberto Caporal, mediante autorizao do autor. Trata-se de parte do texto original intitulado tica Ambiental y Agroecologa: elementos para una estrategia de sustentabilidad contra el neoliberalismo y la globa-lizacin econmica. Sevilla Guzmn, E., ISEC - Universidad de Crdoba, Espaa, 1999: 30 (mimeo).29EDUCAO DO CAMPOUm aspecto importante para compreender a agrobiodiversidade revisitar ... as populaes tradicionais e locais, como os povos indgenas, remanescentes de quilombos, pescadores Artesanais,agricultoresfamiliares,caboclosribeirinhosesertanejos,entreoutros,queacumulamum importante saber tradicional sobre a produo de alimentos, formas de cultivo e criao mais adaptadas s condies ecolgicas, e que no utilizam adubao Qumica ou agrotxicos. Detm um conhecimento profundo sobre espcies e variedades vegetais e raas crioulas mais adaptadas produo de alimentos eaoambientelocal.Essesconhecimentosdevemserresgatadoseconservadosparaquesepossa garantir a segurana alimentar das comunidades locais e regionais, pois so os pequenos produtores os principais responsveis pela produo de alimentos para a populao. A utilizao de variedades e raas crioulas, associada ao uso sustentvel de espcies silvestres de animais e vegetais para diversos ns, como medicinal, alimentao, condimentos, leos, bras, entre outros, recebe o nome de agrobiodiversidade (MMA MEC IDEC, 2005: 49).Requer-se, portanto, a reexo intensa em busca de uma sustentabilidade, que envolva no apenas os aspectos relacionados produo agrcola, mas tambm o fortalecimento da agricultura camponesa, dos movimentos sociais e das suas relaes socioculturais. A agricultura camponesa ocupa um papel muito importante em uma estratgia de desenvolvimento que engloba a Segurana Alimentar e Nutricional, que seja economicamente sustentvel, com crescente eqidade e incluso. Ela estimula a produo diversicada e amplia a capacidade de consumo de alimentos e de outros bens pelas famlias.Nestadireo,nocampocientco,aagroecologiaapresenta-secomoumaoposioao agronegcio, repensando o conhecimento a partir da interpretao das complexas relaes existentes na vida do planeta. Prioriza-se um constante dilogo entre o Saber Cientco e o Saber Popular. Na construo destes saberes, a participao da comunidade o elemento central tanto em espaos rurais quanto urbanos, sendo os agricultores considerados atores na construo de seus prprios processos dedesenvolvimento.OconceitodedesenvolvimentopropostoporGuzmn(1999),conformej citado anteriormente, amparado nos princpios da Agroecologia, se baseia no descobrimento e na sistematizao,anliseepotencializaodoselementosderesistncialocaisfrenteaoprocessode modernizao,para,atravsdeles,desenhar,deformaparticipativa,estratgiasdedesenvolvimento denidasapartirdaprpriaidentidadelocal.AAgroecologiapropeodesenhodemtodosde desenvolvimento endgeno para o manejo ecolgico dos recursos naturais, utilizando elementos da identidade local. nesta perspectiva que se fundamenta a cincia agroecolgica, extrapolando, portanto o mbito da tcnica, do manejo e da gesto de propriedade.Baseando-senesteentendimento,ebuscandopermearautilizaodeprticaspedaggicas coerentes, inclusivas e ecientes na construo de um modelo humano e sustentvel de convivncia do homem com o ambiente e considerando uma concepo de sustentabilidade, condio essencial autonomia e perpetuao do patrimnio scio-histrico e cultural campons, a abordagem de temas como a destinao do lixo, o manejo e a produo de alimentos, a introduo e aperfeioamento de procedimentos de sade preventiva, o estudo e aprimoramento da criao de animais e utilizao de seus subprodutos, e os cuidados com a gua, nascentes, fontes, auentes, riachos, rios, etc., pretende, ao apresentar experincias realizadas em escolas pblicas, contribuir para a concretizao de prticas pedaggicascoerentescomasDiretrizesNacionaiseEstaduaisdaEducaodoCampoecoma construo da conscincia e atitude ecolgica da populao do campo. 30Em relao ao destino do lixo nas escolas, uma perspectiva importante relevar a inuncia das instituies de ensino nas atitudes dos educandos. Compreende-se que uma grande parte da educao e da formao de hbitos ocorre a partir de procedimentos adotados na escola e das aes das pessoas com quem se convive. Se existe a adoo de procedimentos apropriados, estes sero reproduzidos na extenso social da mesma que se concretiza nos ambientes familiares e comunitrios. Portanto, se a reduo na produo do lixo devido a uma escolha mais criteriosa e seletiva dos produtos consumidos, e se a destinao adequada dos resduos forem posturas adotadas e praticadas na escola, os educandos atuaro como agentes disseminadores destes procedimentos. Cabe aqui citar a observao do Manual de Educao sobre Consumo Sustentvel. Nela, constata-se que as preocupaes com as aes relacionadas ao lixo so condizentes com as reexes apresentadas acima. Recentemente comeamos aperceber que , assim como nopodemos deixarolixo acumular dentro de nossas casas, preciso conter a gerao de resduos e dar um tratamento adequado ao lixo do nosso planeta. Paraisso serpreciso conter oconsumo desenfreado, que cada vez geramais lixo, e investir em tecnologias que permitam diminuir a gerao de resduos, alm da reutilizao e da reciclagem dos materiais em desuso.Outrotematratadonorelatodasexperinciaseintimamenteligadoaodestinodolixoa construodehortasescolares,ondepartedamatriaprimaparaaproduodeaduboorgnico advmdoaproveitamentodassobrasdecozinhaeoutrosresduosgeradospelaescola.Ashortas representam uma fonte de alimento saudvel e natural, alm de compreender uma srie abrangente deaespedaggicasqueseestendemdesdeapreparaodosolo,queenvolveconhecimentosde matrias como Biologia, Qumica, Matemtica, etc., at a colheita e distribuio dos alimentos, onde possvel inserir reexes histricas, sociolgicas e loscas, trabalhando contedos como estatstica, nutrio, gerao de renda nas propriedades e outras. Um exemplo cultivar na horta plantas medicinais, resgatando na comunidade local o uso, as espcies, os benefcios e a importncia delas para a cultura das populaes tradicionais. Outro exemplo o manejo agroecolgico, que permite o resgate de prticas que fazem parte do saber local, ampliando dessa forma a diversidade alimentar das famlias e consolidando hbitos saudveis de alimentao.A horta escolar, construda de forma coletiva e integrando uma diversidade de alimentos, manejadas de forma sustentvel, assim como a proteo de fontes e o cuidado com os animais, possibilitam ao educando desenvolver estratgias de manuteno da biodiversidade natural dos distintos ecossistemas terrestres e aquticos. Neste sentido, suas aes desenvolvem-se a partir de posturas e valores de cuidado, respeito vida e a identidade camponesa, bem como de conhecimentos que contribuam para que os mesmoscomsuasfamliaspudesseminclusiveaumentarasustentabilidadedasatividadesligadas unidade de produo camponesa.Trazer estes temas para a sala de aula nos aponta pelos menos duas questes para reetir no sentido da relao dos contedos das disciplinas e o campo como espao de vida, de certa forma, lugar onde a vida tem maiores chances de se reproduzir e conservar. 31EDUCAO DO CAMPOUma primeira que se voltarmos o olhar para o futuro da humanidade podemos dizer que ... se h 10 mil anos as sociedades humanas zeram uma opo pela agricultura de cultivos e criaes em sistemas domesticados que se tornaram simplicados, e se este modelo de agricultura chegou at nossos dias na forma de agricultura extremamente simplicada, e articialmente controlada, incluindo a manipulao da transgenia, de baixos rendimentos e elevados custos, talvez nossa nica perspectiva seja revolucionar novamente. J existem novos caminhos que esto sendo percorridos. A resoluo da crise passa a ser de signicado, de conceitos, de idias. a percepo que deve mudar... (ASSESSOAR, 2007: 59).Esta opo de construir novos caminhos, contudo, dever se dar no sentido prtico, do trabalho concreto e da vida dos camponeses e suas organizaes, aspectos muitas vezes que parecem simples ecotidianoscomoproduziralimentosetransform-losetambmemaspectosquefundamentam estas prticas, o que deve reportar ao estudo, teoria e suas relaes com a vida concreta das famlias camponesas.Neste sentido necessrio (...) reetir sobre segurana alimentar, sobre alimento e sobre sade, e sensibilizar as pessoas para que percebam mais rapidamente o quo necessrio e urgente o resgate do que h muito vem se perdendo: os valores culturais e alimentares historicamente construdos pelos povos; a autonomia dos mesmos em relao produo de alimentos com qualidade nutricional e para o autoconsumo; as sementes crioulas e a autonomia de produzi-las; as nascentes das guas e suas respectivas protees, bem como, o respeito quanto a utilizao dos recursos naturais (ASSESSOAR, 2007: 136).Estasquestessoamplas,pormaescoladocampopoderfazersuaparte,comoumadas dimensesqueestpresentenascomunidadesequeaindafazsentidoparaamaioriadasfamlias. Abordar temas como os que esto no relato a seguir um primeiro passo. Do ponto de vista terico-metodolgico, ainda temos muito que caminhar, como nos apontam tambm as DCEs:Pensar em formas alternativas de como encaminhar as prticas pedaggicas j existentes nas escolas do campotambmumaformaderevereprevernovaspossibilidadeseducacionais.Oquecorrehoje, pelos relatos feitos pelos professores, so projetos como: horta escolar, jardinagem, alimentao saudvel, remdios caseiros, plantio de mata ciliar, etc; porm, muitos deles so desenvolvidos de forma isolada edesarticuladaecammuitoligadosguradoprofessor.Essesprojetossoimportantes,todavia precisam inserir-se no contexto maior da escola e assumidos pela comunidade escolar. O dilogo e o encontro com o outro na escola, na comunidade so centrais na elaborao de uma prtica interdisciplinar (Paran, 2006: 40). com esta perspectiva que avanamos neste captulo buscando construir uma leitura articulada dasexperinciasquenosdoumarefernciadeporondepartirnestedilogoentreaescola,a comunidade e seus sujeitos, pela construo de novas relaes com a natureza que podem trazer o que o mundo todo espera hoje: mais vida e sade para o planeta e para a humanidade que nele vive. H que se construir, passo a passo esta nova relao e a educao do campo, atravs das propostas desenvolvidas nas inmeras escolas pblicas, se coloca nesta perspectiva.322. Relato organizado a partir do inventrio de experincias 2.1. Sementes de uma escola sustentvelDuranteasaulasdeGeograa,emumdosmunicpiosdoNREdePitanga3,quetratouda agricultura e impactos ambientais, foram levantados diversos problemas vivenciados no Brasil e no mundo em relao a esse tema, surgindo a possibilidade de aproveitar tanto os resduos orgnicos do meio rural quanto os dos mercados que comercializam hortalias e leguminosas na cidade. O objetivo de aproveitar os resduos o de diminuir a quantidade de lixo que se acumula nos aterros da cidade e comunidades rurais. Este acmulo de lixo passa a ser ambiente para criadouros de diversas doenas, assunto este estudado em uma experincia realizada na disciplina de Qumica, no NRE de Ibaiti4. Tambmofatodeestarocorrendoaltosndicesdecasosdedengue,motivoueducandose professores a desenvolverem um trabalho para compreender a relao do lixo com a proliferao dessa doena. O lixo de modo geral mal aproveitado, porm, pode ser utilizado na compostagem em forma de adubo orgnico. Numaexperinciasemelhante,realizadanaregiodoNREdeIvaipor5,educandosforam pesquisar como se pratica compostagem para comprovarem na prtica a sua utilidade e viabilidade. Aps leitura e estudo em grupo, foram distribudas as tarefas para construo das camadas de compostagem. Construiu-se uma caixa de compostagem no interior de um buraco no terreno do colgio, foram feitas camadas de resduos orgnicos vindos da cozinha da escola e de um supermercado vizinho, alm disso, os educandos trouxeram esterco de cavalo e grama para comporem as camadas do composto. Aps a montagem das camadas foi jogado um pouco de gua e em seguida cobriram, com uma lona de plstico, a pilha de resduos. Durante trinta dias os educandos acompanharam o processo de decomposio e mantiveram a umidade acrescentando gua, percebendo dessa forma a transformao dosresduosemadubo.FoisugeridooaproveitamentodocompostopelaprofessoradeBiologia, utilizando-o na semeadura e observando o desenvolvimento da planta em um solo com o composto e outro sem. AsexperinciasanterioresearealizadanoNREdeCornlioProcpio6,comcompostagem, possibilitaramasensibilizaodoseducandosefamiliaresparaprticasdeconservaoemelhor utilizao do solo, bem como seu aproveitamento na horta da escola. Nesta atividade, a parte terica foi trabalhada com textos, pesquisa e desenhos e a compostagem desenvolvida na prtica onde se fez o aproveitamento de todo o lixo orgnico produzido pela escola que antes era jogado fora. 3NRE - Pitanga Municpio - Santa Maria do Oeste. Col. Est. Jos de Anchieta. Professora: Zeila Terezinha Silva Walter.4NRE - Ibaiti Municpio Ibaiti. Col. Est. Napoleo da Silva Reis. Professores: Graceli Bitzer; Joo Cardoso Rodrigues; Lucia-na Cristina Sanroman; Marciana Marciel; Maria Elizabete Pessoa; Natalina Aparecida da Silva; Neriane Christina Arajo Prado Lima; Roseli Aparecida de Medeiros. 5NRE - Ivaipor Municpio - Rosrio do Iva. Col. Est. Jos Siqueira Rosas. Professora: Aparecida Rosangela Parra Vieira.6NRE - Cornlio Procpio Municpio Bandeirantes. Col. Est. Cyraco Russo. Professora: Rosangela Aparecida Palomares.33EDUCAO DO CAMPOPara a atividade, os educandos foram divididos em pequenos grupos para coletar, separar material e executar os trabalhos. Depois de coletados, os materiais foram empilhados, organizados em camadas, a terra foi preparada e foi feita a compostagem. Realizaram-se observaes, anlises e registros fotogrcos para entender o processo e chegar a possveis concluses, utilizando livros, revistas, jornais, internet e outros meios necessrios. Os coordenadores, juntamente com os educandos, zeram aulas expositivas na horta e a campo, comaparticipaodosprofessores,quedesdesuasdisciplinasrealizaramdiversasatividades:em Matemtica trabalharam com grcos, comparaes e custos, com adubos orgnicos e qumicos, medio de canteiros, etc; na rea de Biologia e Cincias trabalharam com composies Qumicas e evoluo dos vegetais, em Geograa, as anlises das vantagens e o cuidado com o meio ambiente, j em Lngua Portuguesa e Artes, atividades que vericaram o conhecimento adquirido.No NRE de Londrina7, outra experincia tratou da poluio, com o objetivo de observar os seus efeitos no ar, na gua e no solo em alguns locais da escola e da regio. Os materiais utilizados foram lmina de vidro para microscpio, microscpio ptico, lupa, leo de cozinha, vaselina e etiquetas. Foi espalhado um pouco de leo de cozinha sobre algumas lminas de vidro e, com a participao dos educandos, distriburam-se essas lminas em alguns locais da escola e da comunidade prxima, a cu aberto. Essas lminas caram a mais de um metro do cho. Os educandos etiquetaram as lminas e anotaram os locais em que foi deixada cada uma delas, para que no se esquecessem de nenhuma lmina na hora da coleta. Recolheram as lminas no dia seguinte e as observaram ao microscpio ou usando uma lupa. Determinaram uma rea na superfcie da lmina e contaram o nmero de partculas nessa rea e compararam os resultados das lminas colocadas em reas diferentes. O Professor questionou os educandos sobre as causas dessas diferenas. Quais as caractersticas dos ambientes onde foram deixadas as lminas? Em quais lminas encontramos mais sujeira? Por que isso acontece? Em seguida, pediu aos educandos que descrevessem os locais onde foram colocadas as lminas, demonstrando a quantidade de rvores, de construes e quantidades aproximadas de automveis que passam pelo local. Nas lminas que estiveram expostas mais longe das rvores e mais prximas passagem de automveis houve grande concentrao de partculas de sujeira e resduos. Naquelas que foram expostas em campo aberto, houve tambm um nmero grande de resduos. No lugar com muitas rvores onde o ar era mais puro as quantidades de resduos foram menores. Foi realizada tambm uma pesquisa sobre a situao dos rios, lagos e do solo. O que essa poluio pode causar s plantas e aos animais? Para responder a essa questo, foi proposto o seguinte experimento em relao poluio do solo: Plantaram-se sementes de feijo em copinhos descartveis com um pouco de terra. Os copinhos foram enumerados de um a trs. Durante uma semana, os copinhos receberam o seguinte tratamento: Um foi regado com uma soluo de vinagre e gua; o segundo foi regado com detergente e gua; e o terceiro somente com gua. Foram feitas as seguintes anotaes: Quais sementes germinaram?Quaissementessedesenvolveram?Asconclusesforamanotadasdiariamenteeos educandos puderam perceber a ao do vinagre e do detergente sobre as plantas. 7 NRE - Londrina Municpio Londrina. Col. Est. Willie Davids. Professor: Alexandre Orsi.34Em relao poluio da gua foram coletados trs ramos de planta aqutica chamada eldea e colocadas em copos diferentes, um com gua, um com detergente e gua e outro com vinagre e gua. Durante uma semana foram observados quais produtos se mostraram poluentes e os educandos foram desaados a responder o por qu? Para fundamentar foram feitas pesquisas e, aps um ms de trabalho realizou-se um frum de debates sobre a poluio e anotando-se as concluses. Sensibilizou-seacomunidadeescolareforamtraadasaesdetrabalhocomtextosque estimularam a reexo sobre a situao do meio ambiente no mundo e como isso pode afetar nossas vidas, levando assim os educandos a analisarem a realidade local, como os rios da cidade, o desmatamento excessivo, o lixo nas ruas e a falta de conscientizao das pessoas. Os educandos em equipes caram responsveis pela confeco de cartazes, lixeiras para coleta seletiva, placas para o jardim, etc. Todos os dias uma equipe cuidou da manuteno da limpeza do ptio e das salas de aula, orientando tambm os demais educandos. A proposta de preservar e de cuidar melhor do ambiente surtiu tal efeito que os educandos levaram a idia para casa onde passaram a separar o lixo, explicando s suas famlias a importncia dessa atividade para o meio ambiente. Para nalizar, os educandos, professores e a comunidade comearam a plantar ores na escola tornando-a um espao agradvel aos momentos de aprendizagem. 2.2. Plantando na escolaO NRE de Pitanga8, tambm, foi cenrio da experincia de construo de horta na escola e que envolveu a participao das famlias, possibilitando aos professores uma viso geral dos hbitos e saberes de seus educandos em relao ao tema e a valorizao da educao do campo. A implantao da horta mobilizoueducandos,funcionrios,famlias,umagrnomoetcnicosemagriculturadaPrefeitura Municipal, contando com diferentes momentos pedaggicos. Inicialmente foi feita a discusso sobre a implantao da horta na escola com os professores, funcionrios e com os educandos, sendo denidas as plantas que seriam cultivadas, rea de plantio e forma de obteno das sementes. Essa seleo de espcies levou em conta o clima da regio, a estao de plantio e o tamanho da rea selecionada. As informaesnecessriasparaessasdecisesforamresultantesdeumapesquisarealizadatantopor professores como por educandos. Numa segunda etapa foi solicitado que os educandos realizassem uma pesquisa, considerando os fatores que promovem a qualidade e manuteno do solo, como temperatura, ciclo do nitrognio, ciclo do fsforo e enxofre. Esses temas foram reforados em sala atravs de esquemas retirados de diferentes livros didticos e aulas expositivas, e da classicao das plantas na horta. Aps escolherem o espao e as sementes, partiu-se para a implantao da horta. Nessa etapa, foram preparados os canteiros com terra e material orgnico doados pela comunidade e organizado um rodzio para a irrigao da horta com a participao de todos os envolvidos. 8NRE - Pitanga Municpio - Santa Maria do Oeste. Col. Est. Padre Jos de Anchieta. Professores: Edna Maria Wolki De Lima; Edson Luiz Wolski;Julieta Maria Cartelli Simon; Kelly Cristina Ferreira Cordeiro; Marcos Roque Wesseling; Maria De Lurdes Geffer Wesseling; Mariza Pereira Ianse; Silvana Boiko Martins Ribeiro; Zeila Terezinha Silva Walter. 35EDUCAO DO CAMPOOutra experincia relacionada ao assunto foi realizada, na regio do NRE de Ivaipor9, na feira livre dos produtores rosarienses, onde h barracas que vendem produtos orgnicos e convencionais. Distribudosemequipes,oseducandossedirigiramaosproprietrioserealizaramumapesquisaa respeito do cultivo dos alimentos. Aps colherem informaes dos produtores eles se organizaram na sala para anlise dos dados e apresentaram para os colegas as diferenas do cultivo dos produtos orgnicos e convencionais. Os educandos assistiram aoslmes cujos temas incluem a valorizao do campons, meio ambiente, trabalho com reciclagem e classes sociais, foram pesquisados tambm materiais com charges e textos informativos sobre como plantar os produtos, preveno de possveis doenas e garantia de uma boa produo. Com estas informaes, foram realizadas atividades em sala e extra-classe, como produo de Histrias em quadrinhos, pardias, poesias, cartazes, acrsticos, charges e receitas. Essas atividades foram avaliadas durante a construo at a exposio para os colegas da sala de aula, valorizando o desempenho e a criatividade dos grupos.Continuando o trabalho, o grupo fez turismo pedaggico acompanhado de professores das reas de Lngua Portuguesa e Inglesa, Educao Fsica e Geograa para visitar os rios e plantas do local e a seguir realizaram atividades em sala de aula como, debates, relatrios e dissertao. Foi realizada tambmadistribuiodemudasdervoresnativasparaquefossemplantadasnamargemdeum crrego em uma propriedade do municpio. A proposta de plantar na escola, tambm, recebeu ateno dos professores do NRE de Pitanga10, que durante as aulas de Matemtica, foi desenvolvida com os educandos da 7 srie com o objetivo de trabalhar na prtica, medidas de rea, porcentagem clculo de volume, estatstica, escala e problemas. Foi construda uma horta, determinando no terreno da escola a rea e o permetro relacionando as unidades de medidas como largura, comprimento, altura, a rea de cada canteiro e da construo da estufa. Este momento foi oportuno para a introduo da simbologia Matemtica necessria para efetuar essas representaes e as quatro operaes bsicas da Matemtica foram realizadas com a utilizao do raciocnio e do conhecimento matemtico que os educandos possuem,dessa forma, novos conceitos matemticos vo sendo incorporados aos conceitos anteriores, onde se vai construindo o conhecimento, baseado em situaes retiradas da realidade.Neste contexto, os educandos sistematizam conhecimentos apartirdarealnecessidadedeseefetuardeterminadosclculosmatemticoscompreendendosua utilidade. Deacordocomaprticanahortaforamdesenvolvidasatividadesnasaladeaulatendopor base alguns questionamentos: Determine o permetro da horta. Qual a rea total da horta? Qual a rea total de cada canteiro com estufa? Quantas mudas so plantadas em cada canteiro sabendo que a distncia entre uma muda e outra de 25 cm, sendo que no incio e nas bordas devemos deixar 12,5 9NRE - Ivaipor Municpio - Rosrio do Iva. Professores: Claudio Roberto de Souza Freire; Marilza de Lima; Luciane Soares Silva Costa; Rosngela de Souza Matos; Neide Aparecida de Godoi; Nilza Maria da Penha Ribeiro; Luiza Flausino da Costa; Clia Ribas Muschau Libanio.10NRE - Pitanga Municpio Pitanga. Esc. Est. Stio Boa Ventura. Professor Luiz Kuzniarski.36cm de espao? Quantas mudas de alface podem ser plantadas por metro quadrado? Se vingassem 80% das alfaces de cada canteiro, qual seria o valor recebido se fosse vendido cada p a cinqenta centavos a unidade? Qual seria o valor total dos dois canteiros? Se conseguisse produzir oito safras anuais com um aproveitamento de 80% da produo, qual seria o total recebido por essa produo? A horta escolar como educao de indivduos se refere ao aprendizado das tcnicas bsicas de produo, dos cuidados especiais com a qualidade dos produtos, das formas e modos de preparo e consumo e dos aspectos nutricionais relativos alimentao de hortalias diversas.Outra experincia11 que tambm trabalhou estas questes, utilizou-se dos seguintes procedimentos: a escolha e preparao de uma rea para a implantao da horta orgnica comunitria e a realizao de cursos de capacitao para os educandos e comunidade da escola. Este trabalho se desenvolveu durante um ano e foi sendo ampliado progressivamente de acordo com as necessidades da comunidade e os resultados obtidos. Buscou-seenvolverasdisciplinasdeformaqueemMatemtica,asatividadesdesenvolvidas foram: delimitao da rea, onde ser implantada a horta; construo das leiras de plantio e formao de mudas; fechamento da rea com telas; montagem do sistema de irrigao; preparao do solo. Na delimitaodarea,foicalculadoopermetrodareaparasaberaquantidadenecessriadecerca, paraprotegerahortaearealizaodevriosclculos,parachegaraonmeroidealdeplantaspor canteiros, calculou-se a adubao necessria e houve acompanhamento do processo por meio de tabelas e grcos. Foram feitos clculos de porcentagem e custo da horta com foco no sistema de medidas (massa, comprimento, capacidade e tempo). Na disciplina de Histria resgataram-se os saberes dos educandos, pais, mes, avs e at vizinhos, atravs de um questionrio. Destacaram-se as principais dvidas para o plantio e organizao da horta orgnica, e quais destes conhecimentos poderiam buscar nos saberes das famlias e da comunidade. Partindo das respostas, os educandos iniciaram o processo do cultivo da horta orgnica. No questionrio elaboradoalgumasquestescomoautilizaodeagrotxicosqumicos,plantioconvencional, valorizao dos alimentos orgnicos, agricultura de exportao, foram pesquisados pelos grupos, junto comunidade.Destes dados e da pesquisa realizada, elaboraram-se textos que contaram a Histria do Brasil na Questo Agrria, desde a lei de terras at o Brasil atual. Os educandos compreenderam como o pas foi sendo dominado por grupos de latifundirios que tambm dominaram a poltica do Brasil, atravs da pesquisa em documentos como livros e revistas.A Geograa utilizou-se da produo de mapas da rea da escola e da horta, e assim deram incio aoestudodapaisagem.Pesquisaserelatossobretodasasatividadesdesenvolvidaseexperincias vivenciadas, motivarama produode textos.Em seguida foi feito o planejamento geral da horta, 11NRE - Ponta Grossa Municpio - Ponta Grossa. Col. Est. Frei Doroteu de Pdua. Professores: Andra Ostrufk; Carlos Gil-berto Masur; Fabiana dos Reis; Luciane dos Reis; Olavo Nelson Ferreira Ribas; Renato Jorge Leutrio; Simone Guzo Rodrigues Zaika.37EDUCAO DO CAMPOdenindo a localizao de cada canteiro, pesquisando caractersticas do solo, do clima e tambm dos alimentos cultivados na regio e no Brasil, organizando-se um seminrio.Autilizaodaconstruodeumahortaescolarcomoinstrumentodetransmissode conhecimento de Matemtica, Geograa e Histria, estimulou o ensino-aprendizagem, evidenciando que os educandos tm experincias que podem ser aproveitadas, pois foi prazeroso ver como alguns delesmaisensinavamdoqueaprendiam.Otrabalhodahortatrouxetambmapossibilidadedo educando se auto avaliar e deixar transparecer suas emoes tornando-se um sujeito mais autnomo, ouseja,independentenassuasatitudes,comliberdadedeescolhasobresuafuturaprosso,mais comprometido com seus estudos e participante ativo da sua vida social.Outro exemplo12 que integra a realidade do estudante do campo ao espao escolar a produo de biofertilizantes.Em primeiro lugar, os educandos aprenderam a produzi-los com a ajuda de um agrnomo, trabalhando a idia de proporo entre os ingredientes usados na receita. Com a preparao dacalda,demarcaramumareade100m2,pulverizando-amunidosdeequipamentosdeproteo. Foram realizadas trs aplicaes, anotando o total de litros em cada uma, a m de fazer uma mdia. Em seguida calculou-se para compreender a quantidade de calda necessria para ser diluda em gua porcadabomba.Comestaatividade,trabalharam-sequestescotidianasenecessriasaopequeno agricultor, embasados na Agroecologia.Na regio do NRE de Pato Branco13, horticultura foi o tema gerador para diversas disciplinas trabalharem o contedo de forma relacionada, de acordo com as seguintes etapas: 1 momento: Colocao em comum educandos e tcnicos discutiram e registraram num texto preliminar as idias e opinies sobre horticultura.2 momento: Abordagem terica - cada professor discutiu dentro da disciplina o contedo relacionado ao tema. Lngua Portuguesa verbos, construo do texto e vocbulos sobre os diversos tipos de horta; lngua Inglesa nomenclaturadashortaliasatravsdecartazesilustrativos;Histriatiposdesoloeagriculturaepases que praticam; Geograa localizao dos CEASAS no PR; Matemtica Clculos e medidas na prtica para construo dos canteiros, espaamento entre mudas, proporo de adubo e tempo de germinao e colheita. Cincias vitaminas de cada espcie e importncia do consumo para a sade. 3 momento: Aula prtica e sala de aula - professores, educandos e tcnicos foram horta para o preparo inicial dos canteiros, capina e medio dos mesmos. 4 Momento: Cada disciplina trabalhou em sala, com as mdias impressas, jornais, revistas e cadernos didticos para enriquecimento do conhecimento curricular. 5 momento: Retorno Horta e visitas - com a coordenao dos tcnicos e auxlio dos professores, os educandos construram os canteiros previamente planejados. 12NRE - Ivaipor Municpio Ivaipor. Col. Est. Barbosa Ferraz. Professores: Flvio Aparecido Correa, Joo Paulo Faria; Luzia Farias; Regina Kuerten; Eisele Rosalinda Lurdes; Valmir Vagula.13NRE - Pato Branco Esc. Est. Castro Alves Casa Familiar Rural. Professoras: Bernardete Terezinha Denardi Costa e Rosmri Baptistella Andreatta.386 momento: Visita a trs tipos de horta: horta orgnica, horta com adubao Qumica e horta hidropnica. 7 momento: Produo do relatrio e a interdisciplinaridade em sala de aula, de forma individual relativo s visitas e sobre o trabalho desenvolvido at ento. 8 momento: Os professores utilizaram recursos de mdia, televiso e vdeos para ilustrar o contedo, aprimorando e embasando, profundamente, todas as etapas aqui trabalhadas. 9momento:Retornoscasas-oseducandosemsuasresidnciaspreencheroaFichadeAlternncia, (ferramentadaPedagogiadaAlternncia),sociabilizandocomasfamliasosconhecimentosadquiridose construindo uma horta domstica. 10 momento: Plantio das mudas - os educandos so divididos em grupos, onde cada grupo responsabiliza-se porumcanteiroparaposteriorescuidadostaiscomo:acompanhamentodocrescimentodosvegetais,regas, capina e ataque s pragas e formigas.Outroassuntomuitopresentenarealidadedaescoladocampoautilizaoexcessiva deagrotxicosearelaocomomeioambiente.Essaexperincia14,naescola,iniciacomuma problematizao, por meio de uma pergunta: Onde vamos parar com tantas pragas, que aumentam sua resistncia aos venenos cada vez mais fortes, aplicados nas lavouras que servem para nutrir as pessoas e torn-las vigorosas e cheias de sade? Esta atividade enfatizou a necessidade da reduo de produtos qumicos que causam danos ambientais aos microrganismos do solo e s pessoas. Destaca-se a importncia e a necessidade de desenvolver e utilizar novas tcnicas de controle de pragas atravs do Controle Biolgico. Este pode ser feito modicando ou alterando as condies ambientais que dicultam o aparecimento da praga ou doena, ou utilizando inimigos naturais do agente patgeno ou da praga alvo que se desenvolve nas lavouras. A turma foi dividida em trs grupos que formaram trs leiras denominadas de: Plantas, Controladores Biolgicos e Pragas. A identicao de cada leira de educandos foi feita com uma faixa de TNT amarrada na testa com as seguintes cores: Verde para as plantas; Amarela para os controladores biolgicos e Vermelha para as pragas. Os trs grupos so formados por las eqidistantes de 2 m uma das outras, sendo que a la dos controladores biolgicos ca no centro. Com um assovio ou apito o professor deu incio ao jogo onde os educandos da la, representando as pragas devem capturar plantas e devem ser impedidos pelos educandos da la central, representada pelos Controladores Biolgicos. Este jogo deve ter durao de trinta segundos e ser repetido 5 vezes. As Pragas que capturassem plantas, cavam segurando-as at o nal dos trinta segundossinalizadospeloprofessor.Damesmaforma,oscontroladoresbiolgicosseguravame impediam que as pragas passassem por eles, para atacarem as plantas. As plantas que fossem capturadas pelas pragas deviam, ao nal de trinta segundos, fazer parte da la das pragas. Nova rodada do jogo foi iniciada at se completarem as 5 previstas. Ao trmino da atividade foi feita contagem e somatria geral. Os resultados foram reetidos daseguinteforma:a)Seonmerodeplantasfossemaiorqueodepragas,issoquerdizerque 14NRE - Toledo - Municpio - Marechal Cndido Rondon. Col. Est. Eron Domingues. Professores: Angela Nowotny; Cirlei Ma-tos; Edviges M. de Oliveira; Ilse Diesel Chaves; Joel Weolovis; Maria de Lourdes R. De Andrade; Marlei Neis; Neusa Kreuz Pereira.39EDUCAO DO CAMPOoscontroladoresbiolgicosforamcombatenteseecientesealavouraganhouemqualidadee produtividade; b) Se o nmero de pragas fosse maior que o nmero de plantas, isso quer dizer que os controladores biolgicos no foram ecientes em sua ao e a qualidade e produtividade das plantas foiafetadasignicativamente.Comisso,oseducandospassaramaentendermelhoropapeldos controladores biolgicos e sua importncia ambiental na melhoria da qualidade de vida do homem. A aula teve continuidade com a elaborao de uma cadeia alimentar e reetiu-se sobre as vantagens e desvantagens do uso de controladores no combate s pragas das lavouras. Tanto a Matemtica, como a Sociologia e a Qumica utilizam-se da contagem de cada grupo, realizando assim a interdisciplinaridade. Tambm foram trabalhados a porcentagem utilizando os dados das las e das capturas feitas, as regras e atitudes de bom relacionamento e o risco da utilizao do agrotxico que agride o solo, a gua e o equilbrio biolgico como um todo.O solo foi um elemento do ambiente trabalhado e estudado por outra escola15 de uma forma que se envolvem as prticas de conservao do mesmo, adaptadas realidade do educando. Os dados foram levantados por meio de um questionrio aplicado na comunidade, que revelou os seguintes problemas: relacionados ao solo (eroso, perda de fertilidade, compactao, contaminao etc. ); desmatamento eexistnciademataciliareoutrasreservasdeorestas;sistemadecultivoadotado:orgnicoou convencional;quantidadedeagrotxicosefertilizantesqumicosaplicados;classe toxicolgicados produtos aplicados; destinao das embalagens vazias; uso de equipamentos de proteo individual; irrigao na lavoura e perdas de gua; situao tecnolgica da propriedade e preocupao ambiental do produtor. Aps a entrevista foi elaborado um diagnstico ambiental das propriedades rurais com posterior apresentao feita pelos educandos, onde surgiram temas como sustentabilidade do cultivo do solo; manuteno, em longo prazo do recurso natural do solo e da produtividade agrcola; minimizao de impactos adversos ao meio ambiente; reduo da dependncia de insumos (fertilizantes e agroqumicos); produodealimentoqueatendaasnecessidadeshumanas;satisfaodasdemandassociaise necessidades econmicas das famlias e comunidades rurais.2. 3. Diversidade na alimentaoNas experincias relatadas16 relacionadas ao assunto tratava-se do cultivo de alimentos como um contedo trabalhado de forma interdisciplinar. Isso deu origem ao tema Diversidade na alimentao, que tentou sistematizar essas experincias de maneira que elas traduzissem espaos de aprendizagem integradores das vrias disciplinas e contedos.A cultura da abbora foi trabalhada de forma transdisciplinar, onde cada professor desenvolveu 15 NRE - Cornlio Procpio Municpio Jataizinho. Professores: AnaLeiaAntunesRaimundo Amaro; Edilene Alves Morais; Eliana do Esprito SantodeOliveira; Lucinei Y. Hirata Fukumoto; Mrcia Marques; Neusa Antunes;PatrciaFabianaLemos; Vandira Loiola Nogueira.16NRE - Umuarama Municpio Ipor. Cafezal do Sul - Professores: ngela Cristina Santos Rocha; Gnesis Zolin Vicente; Maria Cristina Afonso Branco Bertola.40o tema, enfatizando a sua rea. A Geograa trabalhou na 8 srie os tipos de solo propcios para o cultivo de cada espcie. Em seguida os educandos zeram uma pesquisa no laboratrio de informtica da escola sobre a origem e os tipos de abbora existentes em todo mundo. Este trabalho foi coordenado pela professora de Lngua Portuguesa. A pesquisa resultou ainda em uma grande variedade de receitas, utilizando esse produto que originou um caderno de receitas. Foi comentada tambm a presena da, abbora em outras culturas, como no livro da Cinderela, no qual a abbora vira uma carruagem, e na festa de Haloween, onde a abbora presena marcante no cenrio festivo. Esse tema da cultura inglesa foi trabalhado tambm pela disciplina de Lngua Inglesa, que auxiliou de maneira fundamental no desenvolvimento do trabalho. A disciplina de Artes cou encarregada da decorao do trabalho na Mostra Cultu