cadernos do patrimônio imaterial festa do rosário dos homens pretos

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    Cadernos do Patrimnio Imaterial

    FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSRIO DOSHOMENS PRETOS DE CHAPADA DO NORTE

    1 Edio

    Belo Horizonte MGInstituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais IEPHA/MG

    2013

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte

    DivinoEspritoSanto,

    imagem

    doforrodoplpitodaIgrejadeNossaSenho

    radoRosriodeChapadadoNorte

    Acerv

    oIEPHA/MG

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    Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais IEPHA/MG

    Ao divulgar a Festa de Nossa Senhora do Rosrio da Irmandade deNossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte,o IEPHA, por meio da Diretoria de Proteo e Memria, concretiza prticasde salvaguarda de bens culturais de natureza imaterial, do rico patrimniomineiro, que demonstra em sua essncia, a grande diversidade cultural que nosso pas.

    Angela Maria FerreiraDiretora de Proteo e Memria

    Patrimnio tudo o que criamos, valorizamose queremos preservar: so monumentos eobras de arte, e tambm as festas, msicas edanas, os folguedos e as comidas, os saberes,fazeres e falares.Tudo enfim que produzimos com as mos, asidias e a fantasia.

    Ceclia Londres

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte

    Com entusiasmo e persistncia, as equipesdas Gerncias de Patrimnio Imaterial eIdentificao do IEPHA estiveram juntas Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio dosHomens Pretos de Chapada do Norte, emtodos os momentos de celebrao da festaem devoo santa.Foram necessrias muitas horas de pesquisa,entrevistas, gravaes, participaes nasmais variadas demonstraes de f: na Lavagem da Igreja, na

    Distribuio do Angu, na Buscada da Santa, no Reinado, nasMissas, na Distribuio dos Doces.A cada etapa do trabalho, o objetivo de registrar a Festa deNossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada doNorte como Patrimnio Imaterial do estado de Minas Gerais seevidenciava.Aprovado por unanimidade pelo Conselho Estadual do Patrimnio(CONEP), a Festa tornou-se o segundo bem imaterial registradopelo IEPHA, proporcionando aos envolvidos o sentimento de

    orgulho, to natural quando conseguimos cumprir nosso dever.O Registro da Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos HomensPretos de Chapada do Norte vem complementar a ao do IEPHAna regio, que possui outros bens protegidos pela Instituio.Cumprimento a todos e agradeo aos servidores do IEPHA/MGque se desdobraram na viabilizao deste trabalho, e, agradeoao empresrio Leonardo Pereira Furman por tornar possvel estapublicao.

    Fernando Viana CabralPresidente do IEPHA/MG

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    LavaodaIgreja

    AcervoIEPHA/MG

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte

    SUM

    RIO

    Patrimnio Cultural Imaterial ............................................................................................ 09Apresentao ....................................................................................................................... 11

    Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte ... 15

    A Festa ................................................................................................................................. 15

    Meio-dia ................................................................................................................... 15

    Novenas ................................................................................................................... 15

    Leiles ...................................................................................................................... 17

    Lavao da Igreja .................................................................................................... 17

    Quinta do Angu ....................................................................................................... 19

    Buscada da Santa .................................................................................................... 19

    Mastro a Cavalo ...................................................................................................... 19

    Reinado .................................................................................................................... 21

    Missa da Festa ......................................................................................................... 21

    Distribuio do Doce .............................................................................................. 23

    Coroao ................................................................................................................. 23

    Buscada do Cofre/Recolhimento de Anuais .......................................................... 23

    Feira de Mascates ................................................................................................... 25

    Divertimentos Noturnos ........................................................................................ 25

    Tamborzeiros .......................................................................................................... 27

    Congada .................................................................................................................. 27

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    Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais IEPHA/MG

    CortejodeReinado

    FotoLilia

    naPorto

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 09

    PATRIM

    NIOCULTURA

    LIMATE

    RIAL

    Ochamado Patrimnio Cultural Imaterial entendido como as prticas, representaes,expresses, conhecimentos e tcnicas em conjunto com os instrumentos, objetos,artefatos e lugares culturais que lhes so associados que as comunidades, os grupose, em alguns casos, os indivduos reconhecem como parte integrante de seu patrimniocultural. Este Patrimnio Cultural Imaterial, que se transmite de gerao em gerao, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funo de seu ambiente, desua interao com a natureza e de sua histria, gerando um sentimento de identidade econtinuidade e contribuindo assim para promover o respeito diversidade cultural e criatividade humana.1

    O Patrimnio Imaterial se manifesta em vrios aspectos e em particular: nas tradiese expresses orais, incluindo o idioma, nas expresses artsticas, nas prticas sociais,rituais e atos festivos, nos conhecimentos e prticas relacionados natureza e aouniverso, nas tcnicas artesanais tradicionais entre outros. O Patrimnio Imaterial, comoa prpria dinmica da cultura, no possui limites fsicos que o separe de sua vertentematerial e nem da sociedade ou grupo que o produz. O Patrimnio Cultural Imaterial estprofundamente relacionado com os praticantes desse patrimnio e, sem eles, no existerazo de ser. Tem caractersticas especficas que devem ser levadas em considerao nasdiversas aes de poltica pblica de valorizao desse patrimnio, assegurando aos seuspraticantes a possibilidade de continuidade.

    Entre os instrumentos de proteo dos bens culturais imateriais esto o Inventrio, oRegistro e a Salvaguarda. Basicamente, o Inventrio o primeiro passo no sentido decolher informaes e conhecer o bem cultural. O Registro visa inscrio do patrimniocultural em um dos Livros de Registro (dos Saberes, das Celebraes, das Formas deExpresso, dos Lugares, ou outros), tendo sempre como referncia a continuidadehistrica do bem e sua relevncia para a memria, a identidade e a formao dasociedade. Alm disso, o Registro o reconhecimento, pelo Estado, de que determinadobem cultural tem carter identitrio e, portanto, constitui-se em Patrimnio Cultural. ASalvaguarda o conjunto de aes no sentido de valorizar, estimular, fomentar, divulgare promover o bem cultural, e deve ser construda, prioritariamente, com os detentoresresponsveis pela existncia do bem cultural.

    O Estado de Minas Gerais apresenta diversidade e riqueza referentes ao PatrimnioCultural Imaterial. Congadas, festas, cantos, culinria, folias, artesanatos, modos defazer, lugares e tantos outros bens, que constituem expresses culturais dos mineiros.Estas manifestaes precisam ser conhecidas, valorizadas e salvaguardadas. papel doEstado, por meio do Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais

    (IEPHA/MG) e de sua Diretoria de Proteo e Memria (DPM), reconhecer, valorizar,apoiar e promover esse patrimnio.

    Temos um longo caminho a percorrer, e um passo importante foi dado com o Registro daFesta de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte, apresentadaa seguir, como Patrimnio Cultural Imaterial de Minas Gerais.

    Gerncia de Patrimnio Imaterial IEPHA/MG

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    Imagem

    pequenadeNossaSen

    horadoRosrio

    AcervoIrmandade

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 11

    APRESENTA

    O

    As pessoas que visitam Chapada do Norte, no mdio Jequitinhonha, em dias comuns,no imaginam que, no segundo domingo do ms de outubro, o pacato municpio,constitudo por ruas singelas e calmas, transforma-se em uma grande apoteose. A cidade,distante 522 km da capital Belo Horizonte e localizada s margens do Rio Capivari, vive,nesse perodo, a materializao da f, um momento de devoo e de alegria. a Festa deNossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte, que rene milharesde pessoas vindas das mais distantes regies do estado e do pas para saudar a Virgemdo Rosrio. So pessoas comuns, devotos, mascates, moradores da cidade e da regio,turistas e tantos outros que so atrados pela movimentao local.

    A Festa o momento da f, da religiosidade, da comunho, do divertimento e da alegria, tambm o momento do reencontro dos que moram longe, em outras cidades e estados,e que voltam Chapada, justamente nesse perodo, para encontrar parentes e amigos.Toda essa mobilizao resulta na Festa de Nossa Senhora do Rosrio de Chapada do Norteque, da Quinta-feira do Angu at a Missa da Posse, na segunda-feira seguinte, movimentao Vale do Jequitinhonha. Contudo, os preparativos para a celebrao acontecem muitosmeses antes, e em praticamente todo ano se vive a Festa.

    Essa celebrao ocorre desde o sculo XVIII, como forma de devoo dos membrosda Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos, Libertos e Cativos, daFreguesia da Santa Cruz da Chapada do Arcebispado da Bahia, antigo nome da Irmandadedo Rosrio de Chapada do Norte. A Irmandade do Rosrio foi uma das muitas OrdensTerceiras da Igreja Catlica responsveis pela catequizao no interior da AmricaPortuguesa e, especialmente, nessa regio, que esteve ligada durante vrios anos aossertes do sul da Bahia.

    Com o passar dos anos, muita coisa mudou na forma e no modo como se celebra a Festade Nossa Senhora do Rosrio em Chapada do Norte. Novos agentes foram incorporadose outros gradativamente desapareceram do processo, dinmica comum da cultura.Atualmente, o municpio tambm participa na organizao da Festa. Os eventos ditosreligiosos, como missas, procisses e reinados, so promovidos pela Irmandade, j osshows e a Feira de Mascastes so eventos organizados pela Prefeitura Municipal.

    A Festa de Nossa Senhora do Rosrio, como tantas outras que ocorrem pelo interior deMinas Gerais e do Brasil, tem sua ascendncia na cultura afro-brasileira e na histria deresistncia dessa populao. Os valores prprios do sincretismo religioso, da oralidade,da culinria, da musicalidade so os elos das populaes escravas negras, que foramfundamentais na histria e na formao das Minas Gerais.

    Apesar de distante e isolada, a cidade de Chapada do Norte e os festejos de NossaSenhora do Rosrio chamaram a ateno de diversos estudiosos. A importncia daarquitetura religiosa do municpio foi reconhecida pelo IEPHA/MG ainda na dcada de1980, quando realizou o tombamento da Igreja Matriz de Santa Cruz (1980), da Capela deNossa Senhora do Rosrio (1980) e da Capela de Bom Jesus da Lapa (1981). A Capela daSade recebeu tombamento estadual em dezembro de 2000. Nos ltimos anos, a Festado Rosrio tornou-se objeto de estudo do instituto, que instaurou o processo de registro,com o intuito de compreender, reconhecer e difundi-la como bem cultural mineiro.

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    FolhaderostodoLivrodoCom

    promissodaIrmandadedeNossaSenhora

    doRosriodosHomensPretos1822

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    Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio dosHomens Pretos, Libertados e Cativos, Ereta na Freguesia daSanta Cruz da Chapada do Arcebispado da Bahia, vai numerado,e por mim rubricado na Conformidade das Reais Ordens e temas folhas que contam do seu encerramento. Rio de Janeirovinte e trs de Julho de mil oitocentos e vinte e dois.

    Cunha*

    *Trata-se, possivelmente, de Joo Incio da Cunha, deputadona Mesa de Conscincia e Ordens no ano de 1822.

    IEPHA/MG Transcrio do Compromisso da Irmandade deNossa Senhora do Rosrio dos homens pretos, ereta emsua prpria Capela no Arraial, e Freguesia de Santa Cruz daChapada, Termo da Vila de Nossa Senhora do Bom Sucessode Minas Novas do Araua, Arcebispado da Bahia.

    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 13

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 15

    Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte

    De forma geral, as irmandades so associaes de leigos que se ajudam mutuamente,dedicadas ao culto de um santo de devoo. So regidas por Estatuto ou Compromisso,previamente aprovado pela Igreja Catlica ou, no caso do Brasil Colnia, pelo rei dePortugal2.

    Nas Minas, essas associaes surgiram na medida em que os povoados e vilas iam sendo

    formados. Elas estavam organizadas por critrios econmicos e raciais, reproduzindo asdivises da sociedade.

    Cada irmandade deveria realizar procisses e festejos no dia dedicado a seu santo delouvor e, quando houvesse condies econmicas, erigir um templo em sua devoo.

    A Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio, em Chapada do Norte, hoje uma associaocivil sem fins lucrativos, com personalidade jurdica e estatuto social prprio. Acredita-seque sua origem remonta ao sculo XVIII. O primeiro registro que se tem a respeito daIrmandade o Livro de Compromisso, datado de 1822, que d indcios da prvia existnciada Irmandade .

    A Irmandade tem por objetivo promover o louvor e a devoo a Nossa Senhora do Rosrio,manter e zelar, materialmente, pela Igreja de Nossa Senhora do Rosrio de Chapada doNorte, bem como pelos demais bens que tradicionalmente pertencem instituio3.

    O que que a Irmandade faz? A Irmandade, ela organiza, ela que promove a Festa doRosrio, mas a comunidade que doa [...] Ento assim, se voc perguntar: a Festa, elarealizada por quem? Voc pode ter certeza que ela realizada pela comunidade deChapada do Norte. Ento, uma festa de todos ns...

    Fabiane Cinara Vissotto

    A Festa

    Meio-diaA Festa tem incio numa sexta- feira, primeiro dia de novena. Os irmos renem-se emfrente Igreja4 do Rosrio, e, exatamente ao meio-dia, a Banda de Msica inicia suaapresentao, enquanto o sino badalado fervorosamente. Nesse momento, aconteceuma queima de fogos. Este evento denominado Meio-dia.

    Existe um segundo Meio-dia, no ltimo dia de novena. Segundo os fiis, esse meio-diamarca o fim dos preparativos e anuncia o pice da Festa de Nossa Senhora do Rosrio.

    Novenas

    O perodo festivo marcado pela celebrao da novena5, uma espcie preparao espiritualpara a Festa. A novena, em geral, coordenada por pessoas de destaque em Chapada doNorte e cada uma das celebraes assumida por diferentes grupos da comunidade aprimeira noite de novena de responsabilidade da Irmandade do Rosrio, nas demaisnoites o coordenador convida grupos catlicos dos distritos municipais, grupos da prpriaParquia ou ainda instituies civis (Escola Estadual Monsenhor Mendes, sindicato dosprodutores rurais). Todas essas celebraes ocorrem no interior da Igreja de NossaSenhora do Rosrio.

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    MissadaFesta

    AcervoIEPHA

    /MG

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 17

    A novena ela tem a orao inicial, ela tem orao preparatria, tem a jaculatria, tem aparte do coral. Depois tem a ladainha em latim, depois tem oferecimento a Nossa Senhora.E cada dia [...] o evangelho ele muda e faz uma reflexo e o ponto forte que a gentequer que essa reflexo mesmo seja uma coisa com bastante harmonia, para que fica todomundo tranquilo, para que reine a paz durante a festa.

    Maria Aparecida Evangelista

    Leiles

    So eventos de grande importncia, que ocorrem durante cinco noites, aps a celebraoda novena. O Leilo consiste na comercializao de prendas, artigos culinrios e pequenosobjetos doados por irmos e outras pessoas da comunidade, arrematados pelo melhorlance. A preparao de pratos e demais prendas exige um trabalho intenso de vriosajudantes e trabalhadores pagos.

    Contrata-se um leiloeiro para coordenar as atividades e animar o evento. O Leilo sempreacompanhado por msicas, executadas por membros da Banda Filarmnica Santa Cruz,violeiros, forrozeiros, entre outros.

    Os Leiles so fundamentais, pois atravs deles que os festeiros arrecadam fundos para

    custear parte dos gastos da organizao da Festa do Rosrio e ainda obtm algum lucro,que ser distribudo entre a Irmandade e a Parquia.

    Os ganhos que faz a festa a retirada do leilo. Porque nada disso comprado. Todas aspessoas doam, porco, galinha, tudo... at animais... de vez em quando vai aparecera um bezerro, que leiloado e isso pra ajudar a festa.

    Clvis Costa

    Lavao da Igreja

    Na manh de quinta-feira, durante a realizao da novena, um grupo formadomajoritariamente por mulheres vrias delas oriundas das reas rurais do municpio,devotas e pagadoras de promessas rene-se para limpar a Igreja do Rosrio.

    Primeiro o grupo dirige-se casa dos festeiros para buscar as coroas e os cetros, quesero limpos juntamente com os objetos litrgicos. Ao chegar igreja, algumas pessoasmunidas de baldes, garrafas e vasilhas de plstico, dirigem-se ao rio Capivari para buscargua que ser utilizada na limpeza. Durante todo o trajeto, osfiis entoam cantos religiosose fazem oraes.

    Enquanto algumas pessoas varrem e enceram o interior da igreja, outras se dedicam limpeza do adro servindo-se de vassouras improvisadas de galhos e ramos. So montadospequenos fogareiros, com lenha, para esquentar a gua em tachos, onde sero mergulhadosos objetos de culto. Estes objetos so polidos e permanecem temporariamente expostos,

    fora da Igreja, at secarem.Terminado o trabalho, no final da tarde, o grupo, acompanhado por grande nmero dedevotos e precedido pelo Tambor, dirige-se casa do Rei-Festeiro, para que se faa adevoluo da Coroa e do Cetro. Em seguida, todos se dirigem casa da Rainha-Festeira.Ao chegarem l, d-se incio distribuio do Angu.

    Vo no rio, faz a adorao l n... pega gua e traz pra assear aqui a igreja, as coroa...Eva Alves Machado Luiz (Eva Congadeira)

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    QuintadoAngu

    AcervoIEPHA/MG

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 19

    Quinta do Angu

    No momento em que os trabalhadores da Lavao da Igreja chegam casa da RainhaFesteira, um grande nmero de pessoas j os aguarda. A Rainha inicia, ento, a distribuiode uma refeio coletiva, que consiste em angu de fub de milho acompanhado pormolhos diversos de feijo, abbora, quiabo, fava, acrescidos de carne de boi, porco oufrango. So servidos tambm licores de figo, abacaxi e, s vezes de jenipapo.

    A preparao do angu exige uma grande quantidade de cozinheiros e ajudantes. Algunsdeles remunerados, mas a maior parte de devotos da Virgem do Rosrio e pagadoresde promessa, que trabalham no quintal da casa da festeira, desde o amanhecer da quinta-feira picando carnes e legumes, construindo pequenos foges, preparando o angu, etc.Depois de pronto, o angu exposto e servido na frente da casa.

    Simbolicamente, a refeio oferecida aos que trabalharam na Lavao da Igreja.Entretanto, o angu servido com fartura a toda e qualquer pessoa que se apresente.

    A importncia do angu porque a tradio que a Nossa Senhora do Rosrio j deixou prafazer o angu com bastante amor, bastante ateno. Ento isso uma coisa que a gentefaz com muito prazer, muita ateno e com muita delicadeza.

    Maria da Conceio Carvalho

    Buscada da Santa

    No ltimo dia de novena, na manh de sbado, os fiis encenam, de acordo com a tradio,a apario da Virgem do Rosrio uma adaptao local da narrativa recorrente em todoo estado.

    Em Chapada do Norte, conta-se que a imagem de Nossa Senhora do Rosrio teria sidoencontrada no crrego que leva hoje seu nome. De acordo com a histria, os brancosteriam levado a Santa para o altar, ao som da banda de msica, mas ela voltou para olocal onde tinha sido encontrada. Quando os negros buscaram a santa, ao som de seus

    tambores, e puseram-na novamente no altar, ela deixou-se ficar.

    Em Chapada existem duas imagens da Virgem, nos festejos a imagem menor de NossaSenhora do Rosrio guardada previamente em uma pequena lapa de alvenaria, smargens do crrego. Em seguida, os irmos do Rosrio, acompanhados pelo Tambor, pelaCongada da Misericrdia e por grande nmero de fiis, dirigem-se em cortejo ao local a fimde resgatar a Santa e lev-la de volta Igreja do Rosrio.

    Ao longo da caminhada, irmos e devotos revezam-se na conduo da imagem, enquantoa multido reza, canta e dana ao som dos batuques.

    A Nossa Senhora do Rosrio, ela apareceu num lugar indeterminado. E a ento, o seguinte,

    eles buscaram ela... os brancos foi busca ela com banda de msica, todo entusiasmado [...]Eles trouxeram, ps dentro da Igreja... ela voltou pro lugar que ela estava. Ento assim, daforam o pessoal, os negro com viola, com a caixa, com o tambor, entendeu? Ento assim,com litro na cabea e buscou ela e ento ela acabou ficando aqui.

    Jos Sebastio Vaz (Z do Ponto)Mastro a cavalo

    Realizado na noite de sbado, aps a ltima celebrao da novena, o Mastro a cavalo considerado por muitos como o apogeu da Festa de Nossa Senhora do Rosrio.

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    MastroaCavalo

    FotoLiliana

    Porto

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 21

    O evento consiste no levantamento do Mastro com a bandeira de Nossa Senhora doRosrio, que ocorre aps a encenao da verso local do auto de Cristos-e-Mouros.

    Antes de dar incio encenao, dois grupos distintos de cavaleiros renem-se em frente Igreja do Rosrio: cristos de azul, mouros de vermelho. Todos se encontram montadosem cavalos, tambm adornados com as cores de seus donos, com exceo do Rei Cristo,que participa de todo o auto a p.

    O motivo da disputa entre os grupos a bandeira da Virgem do Rosrio, que teria sido roubadapelos mouros. Assiste-se ao dilogo entre embaixadores e reis, seguido por manobrasequestres e entrechocar de espadas. Ao final, acompanhados pelo toque de tambores, osmouros convertidos graas ao poder e glria da Virgem do Rosrio juntam-se aos cristosem uma coluna de homens que ergue o Mastro com a bandeira da Santa.

    Encerra-se a representao com um espetculo pirotcnico, enquanto os participantes,em seus cavalos, realizam uma corrida em torno da Igreja.

    ... instrumento comum que faz parte da Festa da... raa negra. Porque ns temos aqui oMastro, n? Um mouro e um trist [cristo], n? Que tem a batalha de luta pra... pra... verse converte um ao outro pra... pra unidade. Eles, [...] o mouro e o trist [cristo], que eles

    no era negro, porque eles no era, eles era branco, o rei trist [cristo] e o rei mouro,eles eram branco.Olmpio Rodrigues Soares (Seu Olmpio)

    Reinado

    Em Chapada do Norte, denomina-se Reinado s caminhadas e cortejos que conduzem osReis Festeiros, por diversas ruas da cidade, aos eventos da Festa.

    Os Reis, trajados representativamente, so buscados em suas residncias por um nmeroelevado de pessoas, que formam seu squito: o Caixa , Corta-Vento , Ponto e Bandeira ,alm dos Tamborzeiros.

    Durante a caminhada, os Reis ocupam posio de destaque, precedidos por crianastambm vestidas de forma representativa. O cortejo do reinado conta, ainda, coma participao da Banda de Msica e da Congada da Misericrdia, alm dos devotos eirmos do Rosrio, que vo atrs dos Reis completando sua corte.

    So dois os Reinados da Festa do Rosrio: o Reinado de domingo, que leva os dois Reis-Festeiros para a Missa. No Reinado da segunda-feira, os Reis velhos, que promoverama festa naquele ano, e os eleitos Reis novos, que coordenaro a festa do ano seguinte,so levados at a Igreja para a abertura do cofre e o recolhimento de anuais.

    Todo mundo gosta muito da coroa, tem um respeito pela coroa. [...] Eu sa com a coroa,

    eu chegava nas casas, as pessoas pegavam, queriam entrar com a coroa na casa toda. Elesfalam que pra abenoar a casa.Marciene Loureno Torres

    Missa da Festa

    A Missa do domingo aps o encerramento da novena a mais importante da Festa do Rosrioe, tambm, de realizao obrigatria. , por tais motivos, denominada Missa da Festa.

    Seguindo os moldes da liturgia cannica da Igreja Catlica, a missa pode ser conduzidapelo proco local, ou mesmo por um padre ou bispo especialmente convidado. Na igreja,os Festeiros, Rei e Rainha, ocupam lugar de honra durante toda a celebrao dois tronospostos lateral do celebrante, prximos ao Altar-Mor.

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    DistribuiodoDoce

    AcervoIEPHA/MG

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    Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte 23

    Distribuio do Doce

    No domingo tarde, em frente casa do Festeiro, promovida a distribuio dos doces.As crianas formam a maior parte do pblico, mas os doces so servidos, fartamente, atodos os presentes.

    comum as pessoas irem distribuio, munidas de vasilhas e outros recipientes, paratransportar uma quantidade maior de doces para suas residncias. So servidos doces

    variados, especialmente de mamo, fava, batata-doce, laranja e cidra.Os doces so preparados por trabalhadores voluntrios - devotos e pagadores depromessa - e tambm por cozinheiros remunerados, que iniciam o preparo com vriassemanas de antecedncia.

    Oh, os doce ... s que os doce tem que ser assim pessoas que sabe d ponto, tem vriaspessoas que no sabe d ponto nos doce no! [...] Porque prepara um ms antes. Quandochega dia da festa muitos j azedou, n, [...]ento por isso tem que dar ponto nos docebem dado... doce depende do ponto bem feito. Voc fazer um doce que no tem pontode chegada bem direitinho no adianta nada, at pra colocar na boca, v o sabor do doce,no t aquele ponto de chegada.

    Tereza Vaz Fernandes (Tereza de Dito)

    Coroao

    Ao final da tarde de domingo, aps percorrerem em procisso diversas ruas, os devotosretornam ao Largo do Rosrio para a coroao de Nossa Senhora.

    Em frente Igreja, encontra-se montado um palco, sobre o qual est a imagem da Virgemdo Rosrio a imagem maior, que ocupa o Retbulo-Mor e s retirada dali para esseevento. Vrias meninas, de diferentes idades, vestidas de anjo, cantam hinos e coroamNossa Senhora, segundo a tradio catlica.

    A coroao o ltimo evento religioso do Domingo da Festa.

    Buscada do Cofre/Recolhimento de Anuais

    Na segunda-feira pela manh, os festeiros atuais, chamados Reis Velhos, e os festeiroseleitos, os Reis Novos, so buscados em suas residncias e levados em cortejo de Reinadopara a Igreja do Rosrio, onde so aguardados pelos membros da Mesa Diretora daIrmandade de Nossa Senhora do Rosrio.

    Antes de iniciar a contabilidade da arrecadao da festa e Anuais da Irmandade, um grupode irmos, escoltados pelo Caixa6, Corta-Vento7, Ponto8e Bandeira9, dirige-se casa doTesoureiro para buscar o Cofre da Irmandade e lev-lo Igreja, onde so aguardadospelos reis e a Mesa Diretora.

    Ao retornarem, o Cofre aberto na presena de todos os reis e dos irmos, e realizadaa prestao de contas do ltimo exerccio financeiro. Findada essa etapa, d-se incioao recebimento dos anuais pagamento de quantia anual efetuado por cada irmo doRosrio. O Caixa permanece porta da Igreja do Rosrio e anuncia, batendo na caixa, comnmero de toques equivalentes s somas recebidas em dinheiro.

    Essa atividade prolonga-se por todo o dia, e, somente ao fim da tarde, na presena dosirmos e de grande nmero de pessoas, anunciada a arrecadao total.

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    FeiradeMascates

    AcervoIEP

    HA/MG

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    A Igreja do Rosrio , ento, reorganizada para a celebrao da missa e Cerimnia dePosse dos Novos Festeiros.

    O importante da caixa que um tambor, n, faz parte do tambor, porque agente falacaixa mais tudo faz parte do tambor [...] A caixa feita... essa aqui eu acredito que feitade coqueiro macaba, e faz caixa pequena tambm de pau, ou pau ocado, outra horatamburi... eles fura ele e faz a caixa [...] Eu me sinto muito feliz. Tem hora que eu chegoem casa, morro de cansado, mas me sinto feliz.

    Francisco Rodrigues de Souza

    Feira de Mascates

    Os primeiros mascates chegam cidade aproximadamente quinze dias antes do perodofestivo e instalam suas barracas livremente. Nos dias que antecedem Festa, a prefeiturarealiza a demarcao dos locais licenciados para a feira.

    Durante a Festa, alm de ocupar os espaos delimitados, os mascates organizam-se deacordo com o produto ou servio que comercializam. O nmero de mascates aumentaconsideravelmente a partir da quinta-feira da Festa (Quinta do Angu), quando as ruasda cidade ficam tomadas por barracas dos mais variados produtos peas de vesturio

    ou roupas de cama, mesa e banho, sapatos, bijuterias, utenslios de cozinha, panelas,tachos, colheres de pau, objetos decorativos e artesanato. Recentemente observa-se osurgimento de setores dedicados ao comrcio de eletrnicos, pequenos receptores derdio, cmeras fotogrficas, acessrios para telefones celulares e mdias, CDs, DVDs, pendrives, entre outros. H, ainda, prestadores de servio, pessoas que consertam panelasde presso e amolam facas e tesouras, etc.

    Eu no sou contra os Mascate, eu sou contra esse tipo de coisa... chega o Mascate, a pegaaquele som e comea tocando aqui na rua... vai, n... vendendo as coisas dele e fazendoaquele barulho. Mas tinha que ter uma pessoa pra poder explicar pra ele... pra poder: gente, agora hora duma..., hora dum movimento cultural aqui da nossa Festa, achoque vocs deveriam parar um pouco pra... pra poder todo mundo assisti.

    Jos Sebastio Vaz (Z do Ponto)

    Divertimentos Noturnos

    A partir da quinta-feira da Festa, ocorre uma programao de shows e variados espetculosnoturnos promovidos pela Prefeitura Municipal, que se iniciam findados os eventosreligiosos.

    So contratados msicos de expresso nacional, que se apresentam em palco montadona Praa da Igreja Matriz de Santa Cruz. montado neste local grande nmero debarraquinhas de comidas e bebidas, por onde circulam muitas pessoas.

    Existem ainda, em outros pontos da cidade, locais de divertimento, como o forr noMercado da Cidade, um parque de diverso, entre outros.

    Eu acho assim, o show uma parte tipo pra animar mais as pessoas assim, porque tem afesta, tem a parte religiosa que voc quer seguir, voc quer acompanhar, mas tem umaparte tambm de diverso, sabe? Eu acho que acaba tudo, pra no acabar tudo, voc irembora... acabou no! Vamo pro show, vamo pra praa, sabe? Tambm ajuda muito aevoluir mais a festa.

    Marciene Loureno Torres

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    Tamborzeiros

    FotoLilianaPo

    rto

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    Tamborzeiros

    Os tamborzeiros apresentam-se na Festa do Rosrio e participam de praticamente todosos eventos em que h algum tipo de cortejo ou acompanhamento, ocupando neles umlugar de destaque, adiante dos demais componentes. Eles so os responsveis por definiralguns dos trajetos e determinar o ritmo dos cortejos.

    O tambor composto de um nmero restrito de homens, em geral de cinco a dez, que

    batem os tambores instrumentos rsticos, de trs tamanhos diferentes, formadospor pedaos de troncos ocados, cobertos em uma das aberturas por couro esticado deanimal.

    O grupo possui divises e hierarquia. O Capito do Tambor responsvel por liderar osdemais Tamborzeiros, escolhendo o repertrio e dirigindo o grupo. A participao noTambor condicionada aceitao do pretendente pelos atuais participantes.

    Alm dos Tamborzeiros, acompanham o grupo alguns homens e mulheres que daname cantam as msicas que so jogadas no tambor alguns deles equilibram garrafasde cachaa na cabea enquanto danam. Crianas participam, manejando instrumentosmenores. Entretanto, nem todos os participantes da roda do tambor so tamborzeiros.

    Os Tamborzeiros chamam de brincar o tambor aquilo que fazem na Festa, conduziros cortejos tocando, cantando e consumindo bebidas alcolicas, em geral, cachaa elicores.

    Ento eu que comando a turma do tambor, n... coisa de herana que passa de gerao,um pro outro. [...] De antigo, muito antigo que vem, n... um pouco religioso tambm queacompanha a festa, parece que, sei l, as pessoa do tambor, parece que consagrado, n.

    Joo Pereira Jnior

    Congada

    Em meados da dcada de 1980, pesquisadores de Campinas chegaram Chapada do Norteem busca de manifestaes artsticas de cultura popular. Orientados pelo proco local,visitaram a comunidade rural de Crrego da Misericrdia, cujos moradores mantinhamtradio de cantigas e danas.

    Esses moradores, que danavam e cantavam em situaes cotidianas, no atribuam s suasdanas o nome Congada. Assim denominados pelos pesquisadores, os congadeiros iniciaramapresentaes pblicas, sendo a mais importante a participao na Festa do Rosrio.Registrado em cartrio de Minas Novas como Associao Beneficente Congado deCrrego da Misericrdia, o grupo contava, inicialmente, com cerca de 50 pessoas amaioria da mesma famlia e moradores de Misericrdia. A Congada era liderada por EvaAlves Machado Luis, a Eva Congadeira, que faleceu em 2010. Atualmente, h a participao

    de novos integrantes, moradores da sede de Chapada.

    As mulheres so maioria, ficando a cargo delas as cantigas e danas. Aos homens competeo timbre grave dessas cantigas, alm de ditar o ritmo com instrumentos musicais.

    A Congada de Chapada do Norte, que bastante reconhecida no cenrio cultural, participade inmeros festivais, festas e eventos ligados cultura; j foi tema de matrias em jornaise de variados estudos.

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    CongadadaMisericrdia

    Ace

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    A gente danava era essas mesma dana, s que era a gente no tinha colocado esse nomenela de congada, porque, n, no tinha congada. E a foi colocado o nome nela de congadadepois que ele [...] pegaram a chamar gente, n, gente de fora... A que ficou falando as congada, as congada. Mas a gente j fazia essa dana desde os vio [...] Os viomorrendo, aqueles mais novo ficando, n? A a gente foi aprendendo essa dana.

    Maria dos Anjos da Rocha (Preta)

    Finalizados os festejos daquele ano, os novos festeiros, recm-empossados, retomam o

    ciclo de preparao para a festa do ano seguinte. E a populao inicia os trabalhos, quefindaro em uma nova Festa do Rosrio.

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    Reinado

    AcervoIrmandade

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    Chapada do Norte foi emancipada em 1962. O municpioest localizado na mesorregio administrativa do Vale doJequitinhonha, e possui uma rea de 830,969 km. A populaototal 15.189 habitantes, dos quais 37,49% reside em rea urbanae 62,51% em rea rural10.

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    QuintadoAngu

    AcervoIEPHA/MG

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    NOTAS1UNESCO. Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial, Paris, 2003.2De acordo com BOTELHO, Angela Vianna; ROMEIRO, Adriana. Dicionrio histrico das MinasGerais: perodo colonial. Belo Horizonte: Autntica, 2003. p. 180-1813Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rozrio dos Homens Pretos, Ercta em suaprpria Capela no Arrayal E Freguezia de Santa Crus da Crus digo da Chapada, Termo da Villa de

    N. S. do Bom Successo de Minas Novas do Arassuahi, e Arcebispado da Bahia, 1822, Manuscrito.4O templo dedicado Virgem do Rosrio em Chapada do Norte , de fato, uma capela. Porm osirmos do Rosrio e demais fiis referem-se ao edifcio como Igreja do Rosrio. O texto respeitao termo por eles utilizado.5Para os chapadenses, novena cada uma das nove noites de orao e no o conjunto delas.Por isso, comum utilizarem o plural as novenas, quando se referem preparao espiritualcomum s festas religiosas.6O caixa aquele que toca o instrumento Caixa, um tambor, durante a Festa do Rosrio.7Corta-vento um agente, em vestes militares, que faz movimentos com uma espada, cortandoo ar. Segundo a tradio local, ele afasta o mal, protegendo os Reis.8Ponto aquele que carrega uma vara e vai frente do cortejo, e com ela realiza movimentos

    com o intuito de eliminar o mal.9O Bandeira aquele que carrega o mastro com a bandeira da Irmandade do Rosrio, duranteos cortejos.10IBGE. Censo Demogrfico 2010.

    Tambores

    AcervoIEPHA/MG

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    Meninopagandoprom

    essa

    AcervoIEPHA/MG

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICASBOTELHO, Angela Vianna; ROMEIRO, Adriana. Dicionrio histrico das Minas Gerais: perodocolonial. Belo Horizonte: Autntica, 2003.

    COMPROMISSO DA IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROZRIO DOS HOMENS PRETOS,ERCTA EM SUA PROPRIA CAPELA NO ARRAYAL E FREGUEZIA DE SANTA CRUS DA CRUS DIGO

    DA CHAPADA, TERMO DA VILLA DE N. S. DO BOM SUCCESSO DE MINAS NOVAS DO ARASSUAHI,E ARCEBISPADO DA BAHIA. 1822, Manuscrito.

    INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO DE MINAS GERAIS. Processode registro da Festa de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos de Chapada do Norte. BeloHorizonte, 2006 .

    INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO DE MINAS GERAIS. Guia debens tombados IEPHA/MG. Belo Horizonte, 2011/2012.

    UNESCO. Conveno para a salvaguarda do patrimnio cultural imaterial, Paris, 2003. Disponvel

    em:. Acesso em: (18 abr. 2012)INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo 2010. Cidades@. Disponvel em:http://www.ibge.gov.br/cidadesat/index.php. Acesso em: 17 jul. 2013.

    VassourasdaLavaodaIgreja

    FotoLilianaPorto

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