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caderno final destinado à disciplina de Trabalho de Graduação Integrado II, realizada no ano de 2012, no Instituto de Arquitetura e Urabnismo da USP de São Carlos

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Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo

São Carlos, novembro 2012

Este caderno é parte de um conjunto de materiais desenvolvido para o projeto final da disciplina Trabalho de Graduação Integrado II, oferecida pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo – USP, Campus São Carlos e tem por objetivo mostrar o processo de trabalho realizado no desenvolvimento do projeto de Intervenção no Hospital Psiquiátrico Santa Teresa de Ribeirão Preto.

INTERVENÇÃO NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SANTA TERESA: reinserção do doente mental na sociedade.

Ribeirão Preto-SP TAMIRIS CAPELLARO FERREIRA Trabalho destinado à disciplina Trabalho de Graduação Integrado II CAP: Francisco Sales, Joubert Lancha, Lucia Shimbo, Simone Vizioli.

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AGRADECIMENTOS Chegando ao final de mais uma importante etapa, agradeço às pessoas que foram mais importantes nesse caminho, mas não esquecendo tantas outras, que mesmo não sendo citadas, ao seu modo, contribuíram para que eu conseguisse chegar até aqui. À Deus, por me permitir concluir esta jornada. Ao meu avô, Ângelo Capellaro, que, onde quer que esteja, tenho certeza, esteve me iluminando a cada dia desde ano. À toda a minha família, mas em especial aos meus pais Carlos e Heloísa, que me apoiaram e incentivaram durante todo o curso, que acreditaram em mim mais do que eu mesma e que, para além disso, contribuíram com a minha formação como pessoa. À minha irmã, Marília, que me aguentou e me alegrou durante toda a graduação; à minha vó, Regina, por todas preces e velas acesas e à minha prima, Angélica, que sempre me ouviu e aconselhou. Às amigas, Amanda, Camila Mariana, Camila Teixeira, Inah, Maiara, Michele, Paula e Yara, com as quais sempre pude contar e que estiveram por perto nas fases mais difíceis e também nas mais alegres desta graduação. Sem elas, todas as noites viradas teriam sido infinitamente mais difíceis, e as comemorações muito menos alegres. Aos professores e funcionários do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, que contribuíram para a minha formação e em especial aos que contribuíram de forma mais direta para a realização desde trabalho final, Joubert Lancha, Ruy Lopes, Luciana Schenk e Renato Anelli, que me ajudaram, me deram direcionamento e inspiraram e me incentivaram a seguir em frente.

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“No hospício o que cura é o próprio hospício. Por sua estrutura e funcionamento, ele deve ser um operador de transformações dos indivíduos.” JEAN-ÉTIENNE DOMINIQUE ESQUIROL

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SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS 11 CONCEITUALIZAÇÃO TEÓRICA 15 Arquitetura e Patrimônio 17 Arquitetura Hospitalar 23 Reforma Psiquiátrica 27 Jardins e o Tratamento 35 DEFINIÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO 47 HOSPITAL SANTA TERESA 55 História do Hospital Santa Teresa 57 O Hospital Hoje 73 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO 87 Em 4 Partes 107 REFERÊNCIAS 149

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INTRODUÇÃO

As vivências em relação à arquitetura somadas ao aprendizado obtido na graduação são trazidas aqui para discutir, inicialmente, a forma como a arquitetura é vista, sentida e utilizada. Interessou-me, desde o início desde trabalho, pensar as diferentes sensações e percepções que o usuário tem ao percorrer um lugar e o que essas percepções significam para ele. Além disso, me questiono sobre a articulação da arquitetura com uma discussão de cidade, pensando-a como um organismo vivo, em constante crescimento e transformação, onde camadas se sobrepõem e diferentes dimensões temporais podem ser percebidas. Depois de um longo percurso de estudos, meu pensamento sobre arquitetura foi definido pelo conceito de “experiências”. Apesar de ser um espaço estático, um objeto arquitetônico deve trazer lembranças, pensamentos, reflexões, impressões e percepções diferentes a cada pessoa, afinal, os indivíduos possuem parâmetros únicos. A partir disso, busquei refletir sobre as relações entre edifício e cidade e isto com a paisagem; a questão da identidade (que se dá pela história, cultura, vivência/experiência e pela memória). Outros parâmetros que permearam meu universo projetual e que auxiliaram no desenvolvimento do trabalho foram: o diálogo do edifício com o entorno; pesquisa sobre espaços livres definidos pelas edificações que favorecem o uso e a apropriação pelo usuário, estudos de percursos na quadra; estudo das relações existentes entre os espaços livres e as edificações que os conformam e o que isso representa para o usuário.

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Isso tudo, colocado ainda no plano abstrato das ideias, tomou forma quando os questionamentos se colocaram em uma situação real. Desta forma, busquei uma área de projeto que envolvesse pré-existências, memória e representatividade para a cidade, acrescidos da arquitetura da paisagem. Cheguei à área de projeto que corresponde ao Hospital Psiquiátrico Santa Teresa de Ribeirão Preto. Um patrimônio histórico da cidade, sendo um lugar muito representativo e importante, mas que, ao mesmo tempo, está imerso em uma carga histórica de preconceito e rejeição. A principal proposta do projeto é a reinserção do doente mental na sociedade através da sociabilização e do convívio. Por isso, considerando as Cartas Patrimoniais e os preceitos da Reforma Psiquiátrica, propõe-se uma intervenção no Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto que traga algo novo para este espaço, emergindo-o do preconceito que o envolve e transformando-o em um parque para uso da população de Ribeirão Preto. As principais diretrizes da intervenção são viabilizar um maior conhecimento sobre a saúde mental e promover diversos espaços de convívio com os doentes; onde pacientes, suas famílias e a sociedade possam interagir e realizar atividades juntos. Isso é possível através da criação de um percurso que leve à conscientização e à sociabilização. Um percurso projetado, que possibilite uma nova percepção desse espaço para o conjunto da sociedade, que não o verá mais como um espaço segregado, de doentes. Reformulando a relação entre os edifícios existentes e entre estes e os espaço que os permeiam, promove-se percursos em diversas direções, análogos aos caminhos da mente e suas diversas possibilidades, entre os quais encontramos espaços de convívio, de contemplação e de reflexão.

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CARTA DE ATENAS (1931)

No trecho da Carta de Atenas que trata sobre o patrimônio histórico, defende-se a proteção dos monumentos, afirmando a tendência a não fazer reconstituições integrais e a realizar manutenção regular e permanente do patrimônio, o que garante a conservação dos edifícios. A Carta diz que no caso de restauração devido à deterioração ou destruição, deve-se manter a obra exatamente como ela era e a utilização dos monumentos deve assegurar a continuidade de sua vida, destinando-os a finalidades de caráter histórico ou artístico. Além disso, evidencia o direito da coletividade em relação à propriedade de monumentos de interesse histórico, artístico ou científico. No que concerne aos materiais, aprova-se o emprego de materiais modernos no restauro de obras antigas, mas estes devem ser dissimulados, a fim de não alterar o aspecto e o caráter do edifício. A Carta de Atenas diz também sobre a valorização dos monumentos, recomendando a conservação das edificações vizinhas a eles, o que representaria um respeito ao caráter e à fisionomia das cidades. Plantações e ornamentos vegetais não devem reduzir o caráter antigo do monumento e deve-se atentar para a supressão da presença abusiva de postes ou fios telegráficos, indústria ruidosa ou com altas chaminés nas proximidades dos monumentos. Em relação à deterioração dos monumentos, a Carta afirma a necessidade de cuidados com agentes atmosféricos; necessidade de uso de um método diferente de conservação para cada caso e a preocupação espacial com as esculturas.

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Sobre as técnicas de conservação, a Carta de Atenas afirma que as ruínas devem ser recolocadas em seus lugares originais, e se necessários materiais novos, estes deverão ser reconhecíveis. Além disso, é importante educar a população para que ela entenda o valor dos monumentos e os respeite. Como resumo, as principais resoluções da Carta de Atenas são: - devem ser criadas organizações internacionais de caráter operativo e consultivo na área do restauro; - propostas de projetos de restauro devem ser submetidas à crítica fundamentada, para prevenir erros que causem perda de características e valor histórico das estruturas; - os problemas de preservação dos sítios históricos devem ser resolvidos legislativamente ao nível nacional em todos os países; - sítios escavados que não sejam submetidos à programas imediatos de restauro devem ser recobertos para proteção; - as técnicas e materiais modernos podem ser usados no trabalho de restauro; - os sítios históricos devem merecer estritas medidas de custódia e proteção; - uma atenção particular deve incidir sobre as zonas de proteção dos sítios históricos.

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CARTA DE VENEZA (1964)

A Carta de Veneza trata da conservação e a restauração de monumentos e sítios. Pela Carta de Veneza, os monumentos são testemunhos das tradições seculares de um povo. Desta forma, a conservação e a restauração dos monumentos visam à salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico. A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Ela tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e se fundamenta no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. A Carta de Veneza diz que os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar-se harmoniosamente ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história.

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LINA BO BARDI: TEMPO, HISTÓRIA E RESTAURO

O zeitgeist (espírito da época) considera que as formas do passado estão tornando-se obsoletas continuamente, sendo substituídas por outras, correspondentes às novas épocas históricas. Cada um dos períodos históricos possui uma singularidade que o caracteriza, que marca sua diferença com relação às etapas anteriores e posteriores. A arquitetura é a expressão singular da vida dos homens de seu tempo, a sua projeção do mundo. Ao sublinhar que as épocas passadas estão superadas, a arquiteta pretende evitar repetições enganosas e promover o direito que o presente tem à sua própria manifestação. Rogers diz a respeito da necessidade de integração entre o presente e o patrimônio herdado pela experiência. É o sentido de continuidade histórica. “O tempo linear é uma invenção do ocidente, o tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante, podem ser escolhidos pontos e inventadas soluções, sem começo, nem fim.” (LINA BO BARDI). Para Lina, a referência à origem não pode significar a eterna repetição de modelos anteriores e a morte dos acontecimentos posteriores. A relação entre os tempos históricos tem que ser mútua e construtiva. Transformar todas as partes envolvidas. Lina apresenta dois conceitos fundamentais para pensar sua obra, o conceito de Presente Histórico, para o qual cada consciência humana é capaz de explorar o passado e o presente e, a partir deles, formular a sua própria versão dos fatos, sendo os homens ativos na construção da história. E no conceito de Intervenção, para ela, a atualização de um edifício deve ser, ao mesmo tempo, crítica e criativa e as existências humanas, esforço e trabalho devem ser reconhecidos e considerados. 22

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ARQUITETURA PAVILHONAR

A arquitetura de Tipologia Pavilhonar apresenta barreiras físicas à contaminação, por isso, o espaço hospitalar, como área física, era importante para o processo de cura, respondendo espacialmente às exigências das práticas médicas de então (a tipologia que surge no final do século XVIII). Era um conceito de Hospital Terapêutico, pelo qual havia uma sinergia entre as práticas médico-hospitalares e o espaço arquitetônico. “A história nos ensinou que o partido pavilhonar é, desde o século XIX até hoje, utilizado em um grande número de edificações hospitalares; foi gerado a partir de uma crítica radical aos procedimentos médicos e de enfermagem então adotados, assim como as edificação onde estas atividades eram praticadas.” (FOUCAULT, 1979). A “anatomia” do hospital pavilhonar reflete a preocupação de seus projetistas não só em garantir uma maior proteção aos enfermos, internando-os em enfermarias isoladas em pavilhões, como também em proporcionar aos pacientes uma integração maior com a natureza, através dos pátios ajardinados situados entre os pavilhões ou das imensas janelas localizadas junto aos leitos em ambos os lados das enfermarias. As soluções arquitetônicas adotadas no modelo pavilhonar propiciavam melhores condições de iluminação e ventilação naturais, reconhecendo a ação profilática dos raios solares e do contato direto com o meio ambiente.

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SEGUNDO LELÉ

Segundo Lelé (João Filgueiras Lima): - O hospital, como edificação, poderia ter um papel relevante na recuperação de seus pacientes, ou, pelo contrário, retardá-la. - Lelé diz que nunca precisou ser “um especialista em hospital”, já que podia obter as informações de que precisava de médicos e enfermeiros. - O modelo pavilhonar, com seus jardins integrados aos pavilhões, com pátios ajardinados, é muito agradável. Com o surgimento do hospital tecnológico na forma de monobloco, troca-se a qualidade espacial do modelo pavilhonar por uma proposta arquitetônica, no mínimo, angustiante. - É fundamental que a arquitetura de uma edificação viabilize sua permanente atualização, principalmente quando se trata de uma edificação hospitalar. O partido em monobloco, por melhor que seja o projeto, dificulta bastante qualquer tipo de mudança ou de expansão. - Imaginamos que o edifício hospitalar e, consequentemente, a nossa participação na concepção e construção são importantes para o desenvolvimento das atividades de saúde, porque, na criação de espaços adequados e na organização racional, oferecemos o respaldo para o trabalho eficiente da equipe de saúde na busca da cura dos doentes.

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REFORMA PSIQUIÁTRICA

A saúde mental tem passado por importante processo de transformação em suas bases teóricas e práticas assistenciais, decorrentes do contexto internacional das políticas desenvolvidas pela Agência Nacional de Saúde. Ao longo das últimas décadas, diversos serviços têm políticas de atenção em saúde mental baseados no elemento central comum de alteração do eixo da atenção do hospital para a comunidade, objetivando a continuidade e a atenção integral. O relatório sobre a saúde no mundo, da Organização Mundial da Saúde, enfatiza que não deverá existir discriminação aos doentes mentais e que deverá ser concedido a todo o doente o direito de ter os cuidados necessários, na sua própria comunidade. Termina afirmando que todo doente deverá ter o direito de ser tratado de forma menos restritiva e intrusiva, num ambiente menos limitativo possível. (OMS, 2001). Hoje, o Ministério da Saúde brasileiro determina que as equipes de saúde mental repensem o modelo de atendimento e estimula a criação de serviços alternativos aos manicômios. A principal finalidade é permitir que pessoas com problemas psíquicos não sejam excluídas do convívio social. A Lei nº 10216 redireciona o modelo assistencial em saúde mental, enfatizando a convivência comunitária e a atenção extra-hospitalar para portadores de distúrbio mental. No entanto, o Brasil enfrenta um grande desafio na consolidação da reforma psiquiátrica, a qual se difunde nos discursos, porém as ações de implementação não acontecem na mesma proporção. Constata-se em Ribeirão Preto, um número insuficiente de serviços comunitários, além da fragilidade dos vínculos de integração do usuário com estes serviços. 29

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Os conceitos de desospitalização, desinstitucionalização e rede de atenção guiam o processo de mudança de foco dominante das ações psiquiátricas da área intra-hospitalar para extra-hospitalar, onde os serviços ambulatoriais e centros de atenção diária passam gradativamente a assumir e dividir o papel da assistência em saúde mental. Dessa forma, foi necessário criar serviços alternativos e a construção de uma nova rede de atendimento em saúde mental para, gradativamente, substituir o modelo hospitalocêntrico. Foram criados serviços ambulatoriais, com equipes multidisciplinais voltadas para a saúde, centros e núcleos de atenção psicossocial, hospitais-dia, unidades psiquiátricas dentro de hospitais gerais, centros de convivências, oficinas terapêuticas, lares abrigados, cooperativas e grupos de trabalho. No Brasil, os macro-hospitais psiquiátricos decrescem gradativamente e deixam de ser a base para a assistência psiquiátrica, cedendo lugar aos serviços de base comunitária, de variada complexidade, os quais devem ser utilizados de acordo com a complexidade dos quadros nosológicos atendidos. Nos últimos anos, conseguiu-se, gradativamente, a expansão, consolidação e qualificação da rede de atenção à saúde mental, sobretudo dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os quais foram objetos principais das ações e normatizações do Ministério da Saúde. Os novos serviços mostram a possibilidade de outros tipos de intervenção em relação à doença psíquica, combatendo a exclusão, a estigmatização e a cronificação do transtorno mental. O movimento de reorientação do modelo assistencial brasileiro no campo da saúde mental difundiu-se muito no discurso, mas as ações para a implementação dos novos serviços estão aquém do necessário.

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A discriminação ao portador de transtorno mental e as próprias limitações causadas pela doença provocaram a exclusão e construíram a cultura de dependência. A transformação dessa cultura pressupõe inversão do pensar de todos que ajudaram a condicioná-la. Além disso, observa-se que os familiares estão sobrecarregados, pois transferiu-se a responsabilidade institucional para eles, que passaram a ter papel de relevância perante as instituições de atendimento em saúde mental, porém não recebem o apoio esperado desses profissionais para assumirem o seu familiar “doente” no contexto familiar. O trabalho com a família deve ser realizado desde as primeiras internações no sentido de não se romper o vínculo entre doente e familiares. Esta conscientização é deveras importante, pois 450 milhões de pessoas sofrem de perturbações mentais, neurológicas ou de problemas relacionados com o abuso de álcool e drogas. Portanto, rara é a família poupada de um encontro com perturbações mentais (OMS, 2001). A clientela tem um conjunto de necessidades muito complexas que não se resumem ao controle da sintomatologia psíquica e somática, mas que envolvem a integração na sociedade e o desempenho de papéis sociais de forma adequada. Necessitam de suporte para enfrentar as exigências da vida cotidiana e melhorar sua qualidade de vida, apesar da doença. Além disso, é responsabilidade de todos os serviços de atenção psiquiátricas, em especial os comunitários, o esclarecimento sobre a doença e as suas consequências, o qual se faz necessário e urgente. O acompanhamento e o tratamento no meio social só serão possíveis com a mudança de cultura de todos (profissionais, sociedade e dos próprios doentes).

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Apesar de todo o avanço, observa-se, ainda, o paradigma da exclusão social representado pelo isolamento, pelos preconceitos e pela perda da cidadania com consequente segregação social. Outro problema observado no cotidiano é a falta de integração dos serviços extra-hospitalares com o hospital, resumindo-se em agendamento da consulta no período de 10 dias e fornecimento de medicações para diminuir os riscos de abandono do tratamento até o retorno no serviço comunitário de referência.

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MAPA DA DOENÇA MENTAL EM RIBEIRÃO PRETO

Ribeirão Preto tem, hoje, três Ambulatórios de Saúde mental: Ambulatório de Saúde Mental “Guido Hetem”, Ambulatório de Saúde Mental Central “Nelson Okano” e Núcleo de Saúde Mental do centro de saúde escola “Dr. Manoel dos Santos Gabarra”. A cidade tem duas outras estruturas de apoio ao doente mental, que são: CAPS AD – Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas e CAPS III de Ribeirão Preto. Os únicos locais destinados à internação dos doentes mentais em Ribeirão Preto são o Hospital Santa Teresa e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Os Ambulatórios de Saúde Mental realizam atendimento ambulatorial em psiquiatria e psicologia clínica para pessoas a partir de 18 anos. Os CAPS realizam atendimento multiprofissional em saúde mental para pessoas a partir de 18 anos em regime de semiinternação, residentes no distrito central, encaminhados do Ambulatório do Distrito Central, Hospital Santa Tereza e do Hospital das Clínicas. O CAPS III Dr. André Santiago é o único que possui atendimento 24h e realiza as seguintes atividades: atendimento 24 horas em regime intensivo com 5 leitos de permanência por 7 dias contínuos ou 10 descontínuos; atendimento em oficinas para inclusão social e reabilitação de pacientes com problemas mentais que necessitem de regime mais intensivo; atividade de Escola de Família para integração das famílias nos tratamentos e para abordagem das dificuldades enfrentadas com os transtornos mentais; atendimento externo e referenciado às Unidades Básicas e Distritais de Saúde para a avaliação de casos psiquiátricos enquadrados no sistema de urgência; suporte a Central de Regulação Médica para acompanhamento dos casos regulados nas Distritais ou com indicação para internação psiquiátrica; acompanhamento ambulatorial para os pacientes que passaram por regime intensivo que não tenham ainda retorno nas unidades de referência regionalizadas; atendimento à mulher vítima de violência doméstica, desde comunicados previamente os casos à coordenação (em implantação); rotinas.

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Localização dos apoios à doença mental em Ribeirão Preto e localização do Hospital Santa Teresa, sinalizado pela letra “A” o mapa.

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JARDINS E O TRATAMENTO

No século 20, a compreensão da teoria dos germes, os rápidos avanços na ciência médica, os avanços técnicos em arranha-céus da construção e do uso de elevadores e a crescente demanda por custo-benefício levou à substituição dos hospitais de pavilhão por hospitais tecnológicos, como Warner descreve: “Jardins desapareceram. Varandas, telhados e solários foram abandonados e o paisagismo se transformou em embelezamento de entrada, parques transformaram-se em estacionamento para funcionários e visitantes.” Após a Primeira Guerra Mundial, o trabalho do jardim entrou no contexto de hospitais de reabilitação e após a Segunda Guerra Mundial, programas de terapia de horticultura, com instalações para fins especiais começaram a ser fornecidos em hospitais para veteranos, idosos e doentes mentais. “Paisagismo" é muitas vezes visto como um extra de cosméticos - importante para definir a imagem à direita na entrada do hospital ou em retrocesso das ruas adjacentes, mas raramente visto como um complemento importante para a cura do paciente ou como um ajuste para redução de estresse para funcionários e visitantes. Parece que o jardim do hospital, no final do século 20, tornou-se uma comodidade invisível e ignorada e os possíveis benefícios restauradores se perderam no mundo de máquinas de alta tecnologia e do alto custo de drogas e no aumento de especialização médica. 37

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O valor de um jardim e do papel da psique na cura são difíceis de quantificar ou provar, mas COOPER-MARCUS e BARNES (1995) concluíram que os funcionários de saúde utilizam os jardins, quando existem nas instituições, como um meio eficaz de fuga restauradora de estresse no trabalho e das condições adversas no Hospital. Além de amenizar o estresse e melhorar o humor, jardins e natureza em hospitais podem aumentar significativamente a satisfação com o profissional de saúde e a qualidade global dos cuidados. Evidências de estudos de uma série de diferentes hospitais e diversas categorias de pacientes (adultos, crianças e idosos; ambulatorial ou ambulatórios, enfermarias de internamento de cuidados agudos) sugerem fortemente que a presença de natureza - jardins interiores e exteriores, plantas, vistas da janela da natureza - aumenta tanto a satisfação do paciente quanto da família. Os resultados de vários estudos têm convergido e indicado que a simples visualização de cenas da natureza e do jardim melhor significativamente o estresse dentro de apenas cinco minutos ou menos. Além disso, pesquisas destacam que observar a natureza por períodos mais longos, não só ajuda a acalmar os pacientes, mas também pode promover a melhoria nos resultados - como a redução da ingestão de medicamentos para dor e redução do tempo de internações hospitalares. Segundo GOFFMAN, uma série de mudanças pode ocorrer no cotidiano da pessoa que está internada numa instituição total, como não poder se alimentar com garfo e faca, não utilizar roupas próprias ou ter que pedir fogo para acender seu cigarro. Além disso, muitas vezes o interno não tem poder sobre seu corpo, estando sujeito a situações de agressividade física, contenção mecânica, medicações que desconhece, uma alimentação imposta e menor possibilidade de manter sua aparência conforme queira. (GOFFMAN, 2003).

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O hospital estabelece uma rotina para os internos com horários pré-estabelecidos, que devem ser cumpridos. Faz parte da rotina do hospital acordar, tomar banho, tomar a medicação da manhã, almoçar, ficar no pátio ou assistir TV, jantar e tomar a medicação da noite. A equipe de enfermagem é responsável pela higiene dos doentes (verifica se os enfermos tomaram banho, têm as unhas e os cabelos cortados). Os pacientes dispõem de uma pequena gaveta com chave para guardar seus objetos pessoais; as roupas e outros objetos podem ser guardados no posto de enfermagem. Mas a maioria deles usa as roupas do hospital, que são roupas coletivas que frequentemente necessitam de reparos, além de nem sempre serem do tamanho adequado. A família do interno pode trazer objetos como livros, fotos, pente ou comida que passam por revista e autorização antes de serem entregues ao paciente. Eles não têm acesso a isqueiros, fósforos ou objetos cortantes. Formam-se filas antes do horário das refeições e os pacientes se alimentam utilizando colher, em travessas de plástico. Apesar das melhorias e das tentativas de humanização do hospital, ainda é possível perceber traços de um modelo manicomial, marcado por uma acentuada estrutura normativa institucional. Os pacientes que entram em uma “casa de saúde”, na verdade, sentem alegria mesmo só no dia em que conseguem sair de lá. “Lembro-me bem do dia em que tive alta, depois de meses de internação: como a cidade pareceu mais atraente e o mundo bem mais bonito fora do hospital!” (Clemente Ivo Juliatto)

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Por serem lugar de sofrimento, os hospitais precisam tornar-se espaços mais bonitos e mais humanizados, tanto no tratamento dos pacientes, quanto no cuidado com o ambiente físico interno e externo. (JULIATTO, 2008) “ Um hospital deve ficar aberto, não envolto por muros altos. O jardim deve ser conectado diretamente ao hospital, porque uma vista da janela em floração irá revigorar o paciente, também um jardim próximo encoraja os pacientes a darem um passeio. [...] As plantações, portanto, devem acabar com os caminhos secos, oferecendo bancos e cadeiras. [...] Um jardim do hospital deve ter tudo para desfrutar da natureza e promover uma vida saudável. Deve ajudar a esquecer a fraqueza e as preocupações e incentivar uma perspectiva positiva. [...] Os espaços entre prédios poderiam ter belos gramados e canteiros de flores coloridas. [...] Riachos poderiam correr pelos campos floridos, cachoeiras poderiam chegar ao seu ouvido através dos arbustos. Muitas plantas com aromas de fortalecimento podem ser agrupadas. Muitos pássaros cantando serão atraídos pela sombra, paz e liberdade. E suas canções alegrarão muitos corações fracos” (ULRICH, 1984). Um estudo recentemente realizado buscou analisar o efeito de caminhadas junto à natureza sobre a cognição e o humor de pessoas com depressão. Os pesquisadores do Canadá e dos EUA descobriram evidências de que um passeio no parque pode fornecer benefícios mentais. O estudo foi conduzido por Marc Berman, um pós-doutor no Rotman Research Institute Baycrest, em Toronto, com os parceiros da Universidade de Michigan e da Universidade de Stanford. Publicado no Journal of Affective Disorders, o estudo mostrou que

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os participantes com depressão clínica tiveram uma melhora no desempenho da memória após uma caminhada na natureza, em comparação com uma caminhada em ambiente urbano. A pesquisa do Dr. Berman é parte de um campo da ciência cognitiva conhecida como Teoria da Atenção e Restauração (ART), que propõe que as pessoas concentram-se melhor depois de passar algum tempo em áreas verdes ou olhando para cenas da natureza. O motivo, de acordo com a ART, é que as pessoas interagem com as configurações pacíficas da natureza e não são bombardeados com distrações externas que implacavelmente comprometem a sua memória de trabalho e os sistemas de atenção. Em ambientes naturais, o cérebro pode relaxar e entrar em um estado contemplativo que ajuda a restaurar ou atualizar as capacidades cognitivas. Neste último estudo, o Dr. Berman e sua equipe de pesquisa investigaram se um passeio pela natureza proporcionaria benefícios cognitivos semelhantes e também melhorariam o humor das pessoas com depressão clínica, já que os indivíduos com depressão possuem altos níveis de ruminação e pensamento negativo. Os pesquisadores estavam céticos, no início do estudo, e desconfiavam que uma caminhada solitária no parque não teria qualquer benefício e poderia acabar piorando a memória e exacerbando o humor depressivo, mas que eles descobriram que os participantes apresentaram um aumento de 16% da atenção e memória de trabalho, após a caminhada da natureza em relação à caminhada urbana. Os benefícios de estar em um ambiente ajardinado não são apenas medidos nas pesquisas, mas sentidos claramente pelos pacientes, como podemos notar no fragmento abaixo, da primeira carta escrita pelo pintor Vincent Van Gogh a seu irmão Theo, em maio de 1889, quando se internou voluntariamente numa Casa de Saúde da cidade de Saint Remy, em Provença (França): 41

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“Meu querido Theo... se eu ficar aqui, o médico naturalmente poderá avaliar o que há de errado e ficará, espero, mais tranquilo em permitir que eu pinte... Me sinto forçado a pedir mais tinta, e principalmente telas. Quando eu lhe mandar os quatro quadros nos quais estou trabalhando agora, você verá que, desde que cheguei aqui, considerando que passo a maior parte do tempo no jardim, não é tão triste..." Após descrever seu quarto, a comida, as poucas atividades dirigidas aos pacientes e a gravidade de suas doenças, ele informava ao irmão que se sentia bem. Sofrendo de Transtorno Bipolar, Van Gogh buscava solução para seus altos e baixos. No período em que esteve ali, o ambiente que o cercava permitiu que ele produzisse 150 obras, a maioria retratando flores selvagens, oliveiras, ciprestes etc. Passados 120 anos, especialistas utilizam a Garden Therapy ou hortoterapia como instrumento de cura: o objetivo é maximizar as funções sociais, cognitivas, físicas e psicológicas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. A técnica combina cultura de plantas e jardinagem ativa e passiva (contemplação ou "jardim-reflexo") e é considerada eficaz como coadjuvante das terapias convencionais. Médica e consultora especializada em Healing Gardens (Jardins da cura) da Faculdade de Agronomia e Farmácia da Universidade de Estudos de Milão e autora do livro “Giardino che cura” ("O jardim que cura", Ed. Giunti, sem tradução para o português), Cristina Borghi, conta que a terapia nasceu antes que a psiquiatria se tornasse uma ciência. Entre os séculos XVIII e XIX, observou-se que pacientes psiquiátricos melhoravam quando se envolviam em atividades de jardinagem em sentido amplo (cortar lenha, preparar o fogo, carpir ou realizar atividades domésticas). O contrário, ou seja, se manter inativo, piorava a saúde física e mental dos doentes.

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A técnica combina jardinagem e contemplação para maximizar as funções sociais, cognitivas, físicas e psicológicas dos pacientes. “Muitas vezes o profissional tem dificuldade em aproximar-se porque o doente está inserido numa realidade de desafeto, delírios e alucinações", diz Cristina. Além disso, "a capacidade de interagir é fundamental para pessoas que sofrem com depressão, ansiedade, autismo e demência. A terapia também atenua sintomas como a pouca resistência ao estresse, falta de autoestima e vitimismo". A reação, constitui um elemento de ligação entre o paciente e o jardim, que se estabelece a partir da resposta emotiva que uma paisagem ou uma flor suscitam. "Esse mecanismo alcança o inconsciente porque somos psicologicamente dependentes das plantas, já que elas possuem uma estabilidade dinâmica que opera por meio da mudança". Ainda segundo Cristina, observando a natureza, aprendemos a conhecer e a enfrentar a vida. Amadurecemos e crescemos adquirindo uma compreensão das coisas indispensáveis para superar os desafios do cotidiano. "Um jardim representa o vínculo concreto e, admirá-lo, aumenta o sentido de controle da doença e estimula a vontade de viver e lutar, mesmo que a qualidade de vida esteja objetivamente ruim." A médica lembra que os cuidados com um jardim diminuem o estresse porque permitem uma pausa que coloca a mente em estado meditativo. "O encanto da beleza age diminuindo os sentimentos negativos, acalma, leva ao otimismo, à esperança e promove a confiança na cura: um jardim corresponde ao arquétipo do Paraíso: um lugar belo, bom e encantado onde vige a harmonia. O que precisamos é exatamente disso e nada mais."

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Ter acesso a um espaço verde no ambiente hospitalar pode viabilizar a recuperação do senso de controle do paciente, entendido "como a capacidade de decidir o que fazer em diversas situações, ter espaço para sociabilizar com os amigos e parentes, distraindo-se da aura hospitalar e da realidade que se está vivendo", explica Sara Pasqui. Sérgio Simon, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, conta que seus pacientes solicitam atendimento ao ar livre, entre plantas, árvores e pássaros: "O jardim tem um efeito calmante e tranquilizante sobre eles, fazendo com que sintam menos alguns dos efeitos colaterais da quimioterapia, principalmente a náusea". Simon diz que existem casos de pessoas que só conseguem receber a quimioterapia no jardim: "Nos dias de chuva, por exemplo, eles precisam ser atendidos dentro do ambulatório, mas apresentam muito mais enjôo.” Para o oncologista, a implantação de espaços verdes em hospitais humaniza um ambiente geralmente associado à frieza, esterilidade, e até mesmo hostilidade em relação aos pacientes: "Os psiquiatras já sabem disso há mais de 100 anos! Creio que o verde, o contato com a natureza, o sol e seus efeitos tranquilizantes e humanizadores podem trazer benefícios profundos para a psique, agindo até mesmo sobre determinados aspectos clínicos em pacientes internados. E isso pode fazer muita diferença no processo de recuperação." Comentando sobre a importância dos jardins nos hospitais, Cristina Borghi revela que estudos multidisciplinares, destacando o trabalho do arquiteto Roger Ulrich, da Universidade Texas A&M (EUA), confirmam os benefícios terapêuticos pós-operatórios para pacientes que puderam apreciar o verde da janela de seus quartos. De acordo com Ulrich, os jardins hospitalares não só oferecem vistas a natureza reparadora

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e agradável, mas também podem reduzir o estresse e melhorar os resultados clínicos. (ULRICH, 2002). Em um estudo, ele descobriu que os pacientes cirúrgicos que tinham uma vista da janela do exterior tiveram alta mais cedo, tomavam menos analgésicos do que os pacientes encontrados em quartos semelhantes que tinham em sua frente uma parede de tijolos. Especializada em Ciências Ambientais e Healing Gardens, a professora da Universidade de Estudos de Milão, Sara Pasqui, confirma que "o ambiente influencia os comportamentos das pessoas e as formas de relacionar, a qualidade do próprio serviço, a criatividade e a eficiência do pessoal". No caso dos hospitais, acrescenta, a situação pode ser bastante difícil porque o tipo de trabalho ali desenvolvido, por si só, é bastante difícil e, por isso, "todas as equipes estão sujeitas ao exaurimento, perda de controle e altas taxas de demissões". "Infelizmente, a situação é agravada pela falta de espaços verdes pensados para possibilitar breves momentos de pausa e distração, retomada do autocontrole e abstração do contato diário com a morte e o sofrimento alheios", explica. De acordo com Sara, para os pacientes, "o efeito terapêutico do verde é facilmente mensurável por indicadores que descrevem suas condições físicas (pressão sanguínea, presença de infecções, nível das funções motoras etc.), bem como pela superação de alguns problemas psicológicos devidos à carga de estresse a que estão submetidos".

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DEFINIÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

Desde o início do processo eu pretendia trabalhar com as relações entre as edificações e os espaços conformados por elas e com edifícios históricos. Fui procurar uma área que atendesse a esses quesitos e me deparei com um interessante desafio: o de trabalhar com uma área tombada desde 2004 e que se trata de um Hospital Psiquiátrico, situado na cidade de Ribeirão Preto. A intenção não era intervir especificamente em um Hospital Psiquiátrico, mas por ser um patrimônio (um lugar importante para a história da cidade), que está sendo degradado e precisa ser preservado e, acima de tudo, um lugar de importância funcional para a cidade, percebi que seria uma oportunidade instigante intervir neste local, principalmente para adequá-lo às novas necessidades da doença mental no Brasil (reinserção dos pacientes na sociedade), o que envolve um trabalho contra o preconceito e para a conscientização de toda a sociedade. Existe uma forte relação entre preservação, memória e saúde mental, sendo que é fundamental ao doente mental identificar-se com o espaço, reconhecer-se nele, sentir-se bem onde ele estiver, para que sua recuperação seja facilitada. Assim sendo, deve-se preservar o patrimônio para manter a memória e a identidade, mas ao mesmo tempo torná-lo um lugar agradável. Atender a isso e à reinserção do doente mental na sociedade são os principais objetivos da intervenção realizada.

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RIBEIRÃO PRETO

Faço a seguir um breve resumo sobre a formação do município para a melhor compreensão do projeto a través do entendimento da dinâmica urbana da cidade a partir do seu surgimento e ao longo do tempo, ressaltando que atualmente ela é um grande centro médico, atendendo a todos as cidades da região com seus hospitais de referência. Criada em 1856, rota de bandeirantes, a cidade de Ribeirão Preto situa-se no Nordeste do Estado de São Paulo, a, aproximadamente, 313 km da capital paulista. A área total é de 650,00 Km², sendo que 157,50 km² estão em perímetro urbano, 172,18 Km² são de área ainda urbanizável e os 320,32 Km² restantes constituem a zona rural. Abriga uma população de 604.682 habitantes (IBGE, 2010). A principal via de acesso ao município é através da Via Anhanguera (SP 330), uma rodovia de pista dupla, que o liga a capital, a Campinas e ao Triângulo Mineiro. A cidade ganhou impulso com a lavoura de café (chegou a ser chamada de Capital do Café) cultivada pelos imigrantes e fertilizada pela terra vermelha - "rossa" para os italianos e "roxa" no linguajar caboclo. Apesar de não ter sido completamente destruída pela crise de 1929, a importância do café na economia do Município – tanto relativa quanto absoluta – decaiu continuamente a partir de então. Com o declínio do café, os setores industrial, comercial e de serviços tiveram seu crescimento acelerado. Além disso, o desenvolvimento da cidade trouxe novas culturas, como a cana-de-açúcar, a soja, o milho, o algodão, a laranja e implantou uma forte agroindústria. Atualmente, a cidade é considerada “polo econômico” pelo Governo do Estado de São Paulo. 50

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Ribeirão Preto é um importante centro cultural e econômico da região, que conta com a proximidade dos principais polos econômicos e tecnológicos do Interior de São Paulo, Triângulo Mineiro e Sul de Minas, sendo destaque como o trigésimo maior PIB brasileiro. É ainda um centro médico e educacional para todo o interior de São Paulo, Minas Gerais e outros estados vizinhos, pois o número de hospitais em Ribeirão Preto saltou de um em 1911, para 11 em meados da década de 1950. (WALKER e BARBOSA, 2000)

Destacada no mapa ao lado, a localização da cidade de Ribeirão Preto no Estado de São Paulo.

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Mancha urbana com destaque para a área de intervenção, em vermelho, e para a Rodovia Anhanguera, principal acesso para o município, acima do mapa, em laranja.

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Entorno da área de intervenção, considerando rodovias de acesso, principais avenidas e pontos de referência da cidade. 53

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HISTÓRIA DO HOSPITAL SANTA TERESA

A criação do Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo, na década de 40 do século XX, segundo consta, deu-se devido à necessidade de desafogamento do Hospital Psiquiátrico de Juqueri, em São Paulo; ou seja, o hospital abriu com pacientes vindos de lá. Além disso, havia uma demanda à assistência psiquiátrica no município de Ribeirão Preto e na região. A questão política também foi importante. A criação de um Hospital de Alienados em Ribeirão Preto em 1944 foi uma resolução do inventor federal do Estado, Ademar de Barros. A criação do Hospital Santa Teresa foi decretada em 1937, mas só no dia 1 de março de 1944 o hospital começou a funcionar oficialmente, tendo sido tombado como patrimônio histórico da cidade em 2004. Hoje ele é administrado pelo Estado.

Imagem aérea do Hospital Santa Teresa alguns anos após a data de sua criação.

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Imagem do Hospital Santa Teresa na época de sua criação.

Imagem aérea do Hospital Santa Teresa alguns anos após a data de sua criação.

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Ribeirão Preto da década de 1940 vivia o problema dos que podiam e dos que não podiam pagar pelo tratamento científico da loucura. Os primeiros buscavam os sanatórios particulares: Hospital Emboaba (criado em abril de 1941) e o Sanatório Esquirol (criado em agosto de 1944), ambos fundados por médicos que faziam parte do quadro de psiquiatras do Hospital Santa Teresa. Para os indigentes, oficialmente até 1944 tinha-se apenas o Asilo para Dementes Dr. Bezerra de Menezes, que era particular, mas o seu estatuto tinha como finalidade principal o asilo e o “tratamento de doentes mentais reconhecidamente pobres”. Esse asilo foi fundado em 25 de dezembro de 1933; sua clientela era predominantemente vinda das cadeias públicas de Ribeirão Preto e região, inclusive do sul de Minas Gerais. O tratamento era um “misto” entre científico e espiritual, sendo que se tratava de um estabelecimento de doutrina espírita. Uma cidade “do porte de Ribeirão Preto”, berço do maior polo cafeicultor do Brasil, não podia mais continuar colocando os dementes amontoados nas cadeias locais ou deixá-los habitar as praças públicas. Era preciso um hospital. O Hospital de Psycopathas de Ribeirão Preto foi criado por decreto do interventor federal no Estado de São Paulo, Ademar de Barros, em 1937, no prédio do antigo Posto Zootécnico na Estação Santa Tereza. Foi reformado para este fim, mas antes mesmo de começar a funcionar, os materiais foram retirados e lá se instalou o novo quartel do 3º batalhão da Força Pública. O Hospital de Alienados de Ribeirão Preto teria de esperar mais 7 anos por seu funcionamento (1944), naquele mesmo lugar.

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O Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto foi instalado em uma das grandes propriedades do Município, na antiga Fazenda Santa-Theresa de propriedade de Francisca Maria do Val, eminente fazendeira, que rivalizava “pela sua importância agrícola com a Senhora Dona Iria Alves, a ‘rainha do café’”. A Estação Santa Teresa da Companhia Mogiana localizava-se há apenas meia hora da fazenda. (BRAZIL MAGAZINE, 1911). A Era do Café em Ribeirão Preto coincidiu com o período da República Velha. Iniciada na década de 1880 estendeu-se até a crise, em 1929. Centro da “maior área produtora de café do mundo”, Ribeirão Preto era frequentemente chamada de Capital do Café. Apesar de não ter sido completamente destruída pela crise de 1929, a importância do café na economia do Município – tanto relativa quanto absoluta – decaiu continuamente a partir de então. (...) Ao mesmo tempo, enquanto o café entrou em declínio após 1929, os setores industrial, comercial e de serviços, que começaram a se desenvolver durante a era do café, definitivamente, tiveram seu crescimento acelerado. O setor de serviços experimentou crescimento espetacular. (...) O número de hospitais em Ribeirão Preto saltou de um em 1911, para 11 em meados da década de 1950. A cidade havia se tornado um centro médico e educacional para todo o interior de São Paulo, Minas Gerais e outros Estados vizinhos (WALKER e BARBOSA, 2000). Na década de 40, a Fazenda Santa Teresa, que foi uma das maiores produtoras de café da região no início do século, mas que depois da decadência, na diáspora do café, perdeu sua importância, teria suas instalações destinadas ao Hospital. Antes disso, a fazenda teve uma história de efêmeras acomodações e constantes readaptações e mudanças de instalações financiadas pelo poder público federal.

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A efetivação do Santa Teresa, na década de 40, institucionaliza a assistência psiquiátrica pública e científica em Ribeirão Preto, uma vez que se trata do primeiro macrospício governamental dessa cidade. Dr. Joaquim Cardoso de Mello Neto assinou o decreto de novembro de 1937, instituindo reformas em um Patronato Agrícola de Ribeirão Preto para o funcionamento de um Hospital Regional de Insanos, que se torna dependência do Hospital de Juqueri em junho de 1938. Em dezembro de 1940 a criação do Hospital é anulada. Quatro anos depois, este terá por fim sua certidão de nascimento, em 29 de fevereiro de 1944, por um telegrama enviado à estação Santa Teresa da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, comunicando a transferência de vinte internos do sexo masculino do Hospício de Juqueri para o Hospital Regional de Insanos de Ribeirão Preto. Só um ano depois ele passaria a receber pacientes da região. Em 1949 é novamente reconhecido como dependência do Departamento de Assistência a Psicopatas através do decreto assinado pelo governador do Estado, Dr. Ademar de Barros. Segundo entrevista com antigos internos, pode-se constatar que, à época da criação do Hospital: (...) “aqueles primeiros pavilhões debaixo que ainda são os primeiros do tempo do Quartel, puseram mulheres (a partir de 1945) numa parte e homens na outra. Nessa época, o Hospital ainda abrigava parte do Quartel. Lá ficaram misturados soldados e insanos. Os tenentes e os sargentos ocupavam quatro residências e colocaram os soldados na antiga administração. O Hospital não podia ladrilhar porque tinha muito epiléptico, cai, bate a cabeça, morre. Tinha que ser gramado, mas não deu tempo de colocar grama. Não tinha uma árvore, não tinha nada, era limpo, de longe se via tudo. Não tinha cozinha, nem almoxarifado, nem administração e nem aquela casa na frente da administração que foi aonde os médicos dormiam antigamente.

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Não tinha nenhuma galeria; doente se manejava de um lugar para o outro na chuva, no sol, na terra. O asfalto veio bem depois dentro do Hospital. Aquilo tudo foi feito o Hospital já tinha uns 3 ou 4 anos.” (CONTEL, 1980). Como recursos terapêuticos, o Hospital empregava principalmente a laborterapia ou a praxiterapia. Os pacientes varriam, plantavam, cozinhavam, etc. Por um lado essa “cura pelo trabalho” funcionava como lenitivo para o sofrimento do paciente, por outro, as funções são sempre de “manutenção” e redução de gastos públicos para com os pacientes. É importante destacar que, na época, o objetivo era a criação de um hospital colônia agrícola, e, portanto, a terapia predominante para a época e para o tipo de estabelecimento almejado teria que ser mesmo a laborterapia. O Hospital era uma fazenda, tinha vaca leiteira, gado, criação de porco e de galinha. Tinha plantação de fruta, horta. Os doentes cuidavam e comiam. Em 1944 inaugura-se o Hospital Psiquiátrico de Ribeirão Preto a 6 Km da cidade, passando a ser conhecido como Santa Tereza, nome tirado da Estação de Estrada de Ferro São Paulo – Minas, que ficava ao seu lado. Seu funcionamento inicial esteve intrinsecamente ligado ao Hospital de Juqueri, pois o Prof. Franco da Rocha, já em 1899, levanta a necessidade de colônias esparsas pelo interior, as quais seriam necessárias quando “nosso Hospício de Juqueri tiver, num futuro não longínquo, doentes em tal número que impossibilite a administração, digamos, 1000 doentes, uma porção destes poderá ser removida para pequenas colônias agrícolas próximas às cidades” (CONTEL, 1980).

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Em 1971, MINZONI assim descreveu o Hospital Sana Teresa: “Fica a 6 Km da cidade, com 1100000m² de área, sendo 12000m² construídos e 4000m² em construção. É um hospital governamental, com 26 anos de existência, dividido em duas grandes secções, masculina e feminina. Possui área externa ajardinada, porém os pátios são de terra. É um Hospital escuro, pintado em cor ocre e está sempre limpo. Possui dois refeitórios para a secção masculina e um para a feminina. Os refeitórios são pintados, com o chão de ladrilho gasto. Possui grandes mesas, que ocupam a extensão toda do refeitório, com bancos ao longo delas. Não há secção de praxiterapia para os pacientes, mas alguns são encaminhados para ajudar na lavanderia, rouparia, costura, cozinha e trabalhos nos jardins e pomares. Sua capacidade é para 900 doentes e possui atualmente 1230, sendo 530 mulheres e 700 homens.” É de praxe na história da psiquiatria a localização dos hospícios, como dos leprosários, dos cemitérios e, posteriormente, das cadeias, fora do perímetro urbano, no limite das cidades. O Hospital Santa Teresa não fugiu a essa regra, que era justificada, no caso dos hospícios, pela necessidade de isolamento dos doentes, mas que, por outro lado, sabemos que contribuía para a limpeza da cidade, que deveria ser “embelezada”, proscrevendo-se os “elementos” indesejados/ improdutivos. Só na década de 1960 é que se deu a construção do prolongamento da Avenida Independência (aprovado em 1950) que daria acesso da Cidade Universitária (antes Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – valor significativo e de grande importância relativa à hospitais) ao Santa Teresa e, a partir de então, começou a circular transporte coletivo para aquelas imediações. Até então, o Hospital encontrava-se fora da cidade e só era possível acessá-lo por estradas de terra. 65

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Pela dificuldade de chegar ao hospital, alguns de seus funcionários moravam lá mesmo, inclusive o próprio diretor, que morava em uma casa dentro do Hospital. Sobre esse aspecto é interessante notar que, assim, eram excluídos do convívio social amplo os doentes mentais e os que lhes assistiam. “Não tinha ônibus, não tinha asfalto, não tinha nada; tinha só a Mogiana, era o trenzinho, mas não parava aí, parava na estação. Então o povo vinha de bicicleta, de charrete, a pé, ou morava lá. (...) Muitos rapazes e moças moraram no Hospital. As moças moravam onde é a Creche, que era um sobrado e elas moravam em cima. Ali era um sobrado antigo, que foi muito modificado; foi ambulatório, escola de crianças de fora (...).” (CONTEL, 1980).

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Hospital Santa Teresa, localizado a, aproximadamente, 6 Km de distância do centro da cidade.

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MINZONI (1971) constatou dificuldades de locomoção interna ao Hospital, devido à estrutura de construção antiga, tipo pavilhonar, com grandes distâncias entre as diversas seções. Assim, por exemplo, se um paciente precisava ser levado de maca à ala feminina para a seção de cirurgias, eram necessárias, pelo menos, quatro pessoas para o transporte, que carregariam a maca por um trajeto em aclives, com escadas e rampas. Além disso, faltavam outras estruturas fundamentais; os atendentes, por exemplo, usavam os banheiros dos pacientes, pois não haviam banheiros separados para eles. Todos os atendentes residiam longe do Hospital. Os meios de transporte usados eram bicicleta, charrete, ou carro alugado. Alguns se locomoviam a pé e gastavam aproximadamente 50 minutos nesse trajeto. Para os pacientes, a visita era permitida uma vez por semana e os familiares eram recebidos no pátio ou numa sala separada. Telegramas e telefonemas não eram permitidos. O hospital, por ser público, atendia exclusivamente indigentes, tendo-se assim grande propensão à exclusão e ao abandono social, além do acúmulo de anos no ambiente hospitalar, o que culmina na cronificação desses pacientes e na superlotação do hospital, já que a quantidade de pacientes que entra é muito maior do que a que sai.

Pátios de terra do Hospital Santa Teresa, em 1965.

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Imagens do Hospital Santa Teresa na década de 1970.

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A desinstitucionalização do Hospital Santa Teresa, embora seja um processo existente e constitua, sem dúvida, um avanço na história do manicômio, articulado à reestruturação da assistência psiquiátrica no mundo, observamos que é um processo incipiente ainda, apesar de já possuir mais de 10 anos (1983-2001) de experiência renovadora. CONTEL observou o caráter “lento” dos hospitais com características custodiais em concretizar mudanças: “A instalação de programas que impliquem em maior contato com a comunidade é retardada ao máximo, pois implicam em uma organização e funcionamento hospitalar mais diferenciado e que se afastam do tradicional. ”Por que um percentual, em 2001, tão limitado de pacientes em vias de desistitucionalização? (18,38% do total de 272 pacientes internados no Hospital na época). Ou por que os pacientes-moradores fazem ainda as mesmas coisas: ou vagueiam pelo Hospital, ou praticam “a boa laborterapia”, ou mantêm-se nos horários permitidos nas enfermariam/pavilhões? E por que o tempo continua ainda aquele tempo antigo, o “tempo-morto” dos manicômios, cujos horários pré-estabelecidos das refeições, quase sempre absurdos e a fixidez das atividades ainda preenche os ares, os odores, os cantos (o antro?) do Hospital?” Segundo CONTEL (1980), o interior dos hospitais psiquiátricos divide-se em dois, sendo um pequeno, de pacientes agudos com rápida rotatividade e por isso de fácil renovação. E um grande de pacientes crônicos, de longa permanência que constitui a clientela predominante e estática, que chega a constituir uma ameaça de paralisação do funcionamento da instituição. Outra “parte” que constitui os grandes hospitais psiquiátricos tradicionais são pátios e quartos-fortes que, em Ribeirão Preto, recebem o nome de rotundas, que veio com os primeiros pacientes e técnicos trazidos de Juqueri.

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Para resolver o problema de superlotação, por volta da década de 1970, foi feita uma ampliação, sendo construído um novo pavilhão, de 160 leitos, perpetuando os problemas do hospital e agravando-os ainda mais (falta de médicos, profissionais da saúde e funcionários). O crescimento do número de leitos era quase uma norma para encobrir a impotência face ao asilamento e suas consequências (CONTEL, 1980). Frente a esse problema e com o início da desistitucionalização, houve a redução, a partir de 1983, do espaço asilar do Santa Teresa, intensificado com a implantação do Núcleo de Convívio, na Vila Terapêutica, das Pensões Protegidas e das Resistências Assistidas; o que se fortaleceu pelas ações de: - implantação das Ações Integradas de Saúde (AIH’s) e do Sistema Único de Saúde (SUS) em Ribeirão Preto na década de 80; -repercussão do Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental, década de 80; - Encontros e Conferências Municipais e Estaduais de Saúde Mental, década de 80 e de 90; -Semanas Internas do Santa Teresa, décadas de 80 e 90; -Jornadas Regionais de Saúde Mental, década de 90; -Projeto Delgado no nível federal e Projeto Gouveira, no nível estadual, na década de 90; -Criação do Núcleo de Luta Antimanicomial de Ribeirão Preto, 1993.

Imagem do Hospital Santa Teresa na década de 1980.

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Corroborando com estas questões, houve a criação da Lei de Reforma Psiquiátrica de Ribeirão Preto em 07/06/1994 (Lei 6.820). No âmbito legislativo, o projeto terapêutico das Pensões Protegidas e residências Assistidas do Santa Teresa, recebeu o incentivo da Lei 8.555 de 01/09/99 que autoriza a Companhia Habitacional de Ribeirão Preto (COHAB-RP) a destinar ao Projeto Casa Própria do Hospital, independentemente de ordem de inscrição, dez casas na medida que forem sendo retomadas do Conjunto Habitacional Branca Salles em Ribeirão Preto. O processo de redução do espaço asilar e concomitante ampliação do espaço terapêutico/comunitário do Santa Teresa, delineia a sua atualidade junto às políticas de desinstucionalização que se multiplicam no nível internacional desde os anos 50 e mais recentemente – anos 70 – no nível nacional. Daí podemos situar o processo de transformação do Hospital Santa Teresa como um processo híbrido, em que no discurso predomina o referencial da desinstitucionalização basagliana e, na prática, oscila entre o modelo tradicional de colônias agrícolas psiquiátricas, o modelo de comunidade terapêutica de Maxwell Jones e um menor percentual de tentativa de desinstitucionalização de cunho basagliano. Foram abolidos os quartos-fortes, eletrochoques e similares de aplicação coercitiva. Houve a criação dos espaços de moradias menores e mais personalizadas com o advento das assembleias semanais dos moradores (pacientes) e a implementação de passeios ao centro comercial da cidade com fins sociais – Núcleo de Convívio e Vila Terapêutica. E principalmente, foram criados os espaços de habitação para os ex-pacientes, agora moradores pensionistas, na própria comunidade - as Pensões Protegidas e as Residências Assistidas.

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ESTUDOS DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

Quando o Hospital foi implantado, ele estava distante aproximadamente 6 Km do centro, como dito anteriormente. Hoje ele se encontrada próximo a uma das rodovias que liga Ribeirão Preto com as outras cidades do Estado, sendo uma área de expansão. Os bairros residenciais que ao longo do tempo foram criados nessa região se aproximam cada vez mais do Hospital e já existem nove linhas de ônibus que chegam à esse local; além disso, outras instituições públicas importantes para a infraestrutura urbana veem sendo criadas nessa região, como o Hospital Especializado do Estado, localizado na Av. Independência, logo atrás do Hospital Santa Teresa. Apesar disso, ainda existe uma área verde bastante representativa ao redor do Hospital, configurando uma barreira natural, sem que haja a necessidade de muros cercando-o. Contando a área verde ao seu redor, o Hospital Santa Teresa apresenta uma área de aproximadamente 1 milhão de m², dos quais 16 mil m² são edificados. Levando isso em conta, apenas uma parte desse total foi delimitada como a minha área de intervenção, que corresponde a um total de aproximadamente 400 mil m².

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Quando o Hospital foi criado ele era completamente afastado da cidade (proposta de “embelezamento da cidade”, por isso os doentes deveriam ficar afastados de sua área urbana). Hoje a cidade cresceu e os bairros se aproximam desse lugar.

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Vista aérea do Hospital SantaTeresa hoje.

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Implantação Atual: - Área total = 1044100,3 m² - Perímetro = 4139,04 m

Intervenção: - Área total = 407847,6 m² - Perímetro = 2563,6 m

587,0 m

694,8 m Planta de localização do Hospital, com a delimitação de sua área total.

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O HOSPITAL HOJE

O Hospital apresenta uma grande estrutura (não por acaso é referência para toda a região no que diz respeito ao tratamento de doença mental), no entanto, ele não é um espaço muito convidativo a visitações, o que colabora com o abandono dos pacientes pelas famílias. Como pode ser visto nas imagens a seguir, as ruas se encontram em condições precárias de conservação, e algumas delas não foram asfaltadas. Os espaços destinados a estacionamentos são bastante restritos e os funcionários são obrigados a parar nas ruas, já estreitas. Apesar de toda a área verde disponível, existem apenas duas pequenas praças, que são usadas como área de convívio pelos funcionários e pelos familiares quando estes vão visitar seus parentes internados. Há apenas uma área, ainda menor do que as anteriores, usada como espaço de convívio entre os pacientes. Em entrevista, a diretora de Recursos Humanos do Hospital Santa Teresa, Srª Maria Elena, disse-me que áreas verdes qualificadas fazem muita falta e que urge a construção de novos espaços de convívio, pois, principalmente aos sábados, quando o número de visitas é maior, assim como o tempo de permanência dos parentes dos pacientes no Hospital, as praças existentes não são suficientes, não havendo espaço para todas as pessoas. Além disso, outro problema apontado foi a pavimentação das áreas entre os pavilhões. Segundo uma funcionária antiga, 20 anos atrás, essas áreas possuíam apenas grama e algumas árvores, mas os pacientes gostavam de ficar lá sentados, observando a paisagem. Hoje, com tudo pavimentado, apesar de existência de bancos e de umas árvores, os pacientes não conseguem mais ficar nesse espaço, devido ao calor e ao sol intensos.

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Implantação atual. 80

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Viário original e fluxos 81

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Implantação atual do Hospital Santa Teresa.

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INTRODUÇÃO

Considerando as Cartas Patrimoniais e os preceitos da Reforma Psiquiátrica, propõe-se uma intervenção no Hospital Santa Teresa de Ribeirão Preto que mantenha a memória e a identidade deste lugar ao mesmo tempo em que traz algo novo; sendo que, como na Carta de Veneza, o novo vai se apresentar com características arquitetônicas e tecnológicas que não deixarão dúvidas quanto à sua contemporaneidade. Identificáveis como novas, as intervenções, que transformam este espaço em um grande parque para uso da população de Ribeirão Preto, valorizam e autenticam o que é original e o que deve ser preservado enquanto criam novos percursos, espaços de convívio e interação, muito necessários, mas até hoje inexistentes no local. O projeto de um parque no Hospital Santa Teresa impunha considerações muito particulares, sendo ele um Hospital Psiquiátrico, patrimônio histórico da cidade e carregando o forte estigma de um lugar de exclusão e segregação. Por isso, o partido arquitetônico empregado consistiu em uma chave mais contemporânea, trazendo algo novo para esse espaço, que estivesse ligado à construção de uma percepção, de um olhar único, qualificando o lugar e transformando-o em algo que fosse mais do que um referencial como Hospital Psiquiátrico. O novo se configura não apenas nas propostas de novos equipamentos e arquiteturas, mas também por procurar agregar às edificações existentes uma espacialidade que provocasse uma singular experiência, completamente diferente das encontradas normalmente em hospitais ou em parques, porque, na verdade, minha intervenção propõe uma união desses dois elementos constituintes da cidade, mas que normalmente carregam cargas simbólicas opostas, sendo o primeiro sempre visto como um lugar de doença,

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de medo e do qual todos querem se afastar; e o segundo visto como um lugar agradável, onde as pessoas desejam estar, onde elas podem conviver e participar da coletividade da vida urbana. Os parques nascem como resposta à cidade insalubre e densa no século XIX, mas com o passar dos tempos adquirem novas características, como qualidades infraestruturais e ambientais, entre as quais pode-se citar a drenagem do solo, a salvaguarda dos corpos de água, a contribuição para um clima mais ameno. Além disso, parques trazem grandes colaborações no caráter de uso coletivo do espaço livre público, um lugar de encontro e lazer dos cidadãos. Essas qualidades em tempos contemporâneos passam a ser relacionadas à percepção da paisagem como algo que se constrói culturalmente, ativando novas perspectivas projetuais. Assim, o parque proposto, inserido no ambiente hospitalar, busca unir uma paisagem memorável à contribuição com o processo de cura. Aos doentes, serão dados ambientes de convívio, de interação e de trabalho, sendo que eles irão ajudar a cuidar dos espaços verdejados, do pomar e da preservação do Hospital, o que contribui com o tratamento. Aos usuários que não são doentes (parentes, funcionários, população...), a intervenção possibilita conhecer melhor a doença mental, para que o estigma contra ela seja deixado de lado; permite também uma interação com os doentes mentais e com o espaço do Hospital Psiquiátrico. Além disso, ela visa promover uma mudança na percepção sobre a saúde mental, o que se viabiliza pela criação de espaços onde pacientes e sociedade podem conviver e realizar atividades juntos. Desta forma, eu pretendo trazer a sociedade ao Hospital Psiquiátrico, e, informando-a, despi-la de seu preconceito contra a doença; acabar com o estigma sobre a “loucura” e, assim, promover uma nova visão da sociedade em relação ao Hospital Psiquiátrico e aos doentes mentais.

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GRADAÇÃO DE CONVÍVIO Além dos parâmetros acima descritos, foi identificada uma “gradação de convívio” já presente na estrutura do Hospital, sobre a qual se lançou uma segunda gradação. A gradação existente é definida em núcleos, dentro dos quais há espaços mais segregados e espaços mais abertos, sendo feita do primeiro para o segundo. As áreas mais restritas correspondem aos setores de “Internação e Agudos”. A outra forma de gradação de convívio, inserida neste contexto, se dá do “interior para as bordas”, sendo as áreas mais externas do projeto as de maior interação e as mais centrais, correspondentes às áreas de internação e de tratamento, de menor interação, mais voltadas ao convívio entre os próprios pacientes e destes com seus familiares. Estas áreas apresentam estares internos aos pavilhões, sendo mais reservadas. O diálogo do parque com o equipamento público no qual ele está inserido é objeto de uma riqueza muito grande, pois envolve a criação de um projeto que deve dialogar com estruturas já existentes, sem atrapalhar o funcionamento do Hospital. A intervenção tenta agregar espacialidades a este lugar, favorecendo a Reforma Psiquiátrica, mas ao mesmo tempo, garantindo a preservação do Hospital e de suas atividades. As chaves de projeto descritas acima buscam essa interação entre o novo e o existente. No entanto, para que a implantação do parque dentro do Hospital Santa Teresa fosse realizada como pensado no projeto, algumas edificações da instituição que estavam ociosas foram usadas como infraestrutura para o parque. É o que acontece com os espaços da oficina, o apoio próximos a eles, com o museu e com a administração do museu. A requalificação das edificações existentes para novos equipamentos, reforça a gradação de convívio já existente e a ideia de transformar o Hospital em um ambiente de interação com a sociedade. 91

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A imagem ao lado apresenta a mudança do uso de algumas edificações que estavam ociosas. Elas foram representadas por números para facilitar a identificação, desta forma: - A edificação 43 passou a abrigar o Museu; - As edificações de número 44 funcionaram como Administração do Museu; - As edificações 40 e 41 são os novos espaços de Oficina; - A edificação 42 é um edifício de apoio, com sanitários.

As edificações não tiveram sua requalificação projetada, mas deixo sua mudança de uso indicada como diretriz. O museu deve apresentar um espaço completamente livre, permitindo que seja usado para vários tipos de exposições. As oficinas devem ser divididas em sala, para que em cada uma se realize uma atividade diferente. Lembrando que, por se tratarem de edificações tombadas, apenas a área interna pode sofrer alterações (nada da fachada pode ser mudado).

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Gradação de convívio e núcleos já existentes no Hospital que foram identificados durante os levantamentos.

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Setorização do Hospital em 4 áreas: duas de convívio mais intenso, representadas pela cor laranja e duas mais restritas, representadas pela cor cinza. Como dito anteriormente, o convívio se dá do interior para as bordas, como mostra o esquema no canto inferior esquerdo.

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PERCURSO Para conseguir o objetivo proposto, foi feito um percurso que leva à conscientização e à integração. Na entrada, que é, analogamente, o momento do preconceito, o usuário tem o primeiro contato com o Hospital e ao longo do percurso ele vai se despindo de seus antigos estigmas para chegar a um espaço de nova consciência, nova visão. São criadas diferentes espacialidades que possibilitam a convivência entre doentes e não doentes. O convívio vai se dando aos poucos; pulverizado pelo percurso, havendo, assim, um questionamento sobre a loucura. Como é um Hospital, naturalmente, alguns espaços serão restritos, no entanto, são momentos apenas, e devem ser vistos como tal, assim como é passageiro o momento de crise da doença. Como diretriz de criação desse percurso, inicialmente foi realizada uma reestruturação do viário, que se tornou ponto de partida para todo o projeto. O novo viário se configura como uma estrutura racional, tendo sido criado a partir de linhas paralelas às edificações existentes, dialogando com elas. Tensionando a racionalidade do novo viário, trazendo uma visão mais contemporânea ao projeto e, consequentemente, contrapondo-se às edificações existentes, foram traçadas diagonais a partir dos pontos de encontro entre as linhas que formaram o viário. Essas constituíram uma malha, que articula o espaço através de outras formas, em especial, possibilita uma nova relação entre as edificações existentes. Assim, foram criados os percursos internos às novas quadras e os espaços de estar e convívio. Podemos fazer, com o viário e os novos percursos, uma analogia aos caminhos da psique, que nem sempre são lógicos e às vezes se distanciam da realidade, criando verdadeiros labirintos através de tramas de pensamentos que se cruzam.

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Reestruturação do viário a partir de linhas paralelas às edificações existentes.

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Novo viário. 98

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Malha estruturadora dos percursos e estares. 99

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ESTRATO ARBÓREO

A arborização foi pensada de forma mais ortogonal, fazendo referência ao pré-existente e ao novo viário. As diferenças de adensamento vegetal correspondem à gradação de convívio, sendo que nas áreas mais segregadas há um adensamento maior, de maneira que a vegetação funcione como barreira natural, restringindo um pouco o acesso a esses ambientes. Já nas áreas de maior convivência social, o plantio se dá com um distanciamento maior entre as árvores para que estas áreas sejam mais abertas e convidativas à apropriação.

Esquema representando, em verde, as manchas de maior adensamento vegetal.

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Estrato arbóreo.

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PRIMEIRA PARTE

Para melhor visualização do projeto, ele será apresentado a seguir em 4 partes. A primeira parte do percurso corresponde a uma das partes de maior convivência do parque. Nela, logo após a entrada, há um estacionamento com vaga para 100 carros, (necessário não só para os visitantes, mas também para os funcionários do Hospital, que são em torno de 200 por período do dia), um pomar entre a creche e a edificação dos recursos humanos e um espaço de estar com patamares e espelhos d’água. Os patamares garantem uma espacialidade diferente para o lugar, um novo ponto de vista um pouco mais alto do que o nível do chão. Enquanto que os espelhos d’água, além de garantirem uma temperatura mais amena no clima quente de Ribeirão Preto, permitem que os usuários do parque em alguns momentos toquem a água ou coloquem os pés nela. Os espelhos d’água, na maioria das vezes, acontecem margeando os planos de piso, em outras os rasgam; algumas vezes estão no nível do chão e em outras se elevam, ao nível das mãos. Caminhando mais um pouco, o usuário encontra um espaço com um grande espelho ´d’água, sobre o qual é possível andar; duas quadras poliesportivas e caminhos com diferentes materialidades que levam a um dos apoios do parque, com sanitários, vestiários e um café.

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SEGUNDA PARTE

A segunda parte do percurso corresponde a um local mais restrito, principalmente em seu interior (sendo que a gradação de convívio se dá do interior para as bordas, como dito anteriormente). O ambiente interno dessa parte, próximo às áreas de internação e tratamento, configuram espacialidades mais restritas, que devem ser utilizadas preferencialmente por pacientes e suas famílias, sendo delimitadas por uma vegetação mais adensada que serve de barreira natural, enquanto que as áreas mais externas são para uso coletivo: em um dos lados há uma área de estar com diferentes materialidades e aspersores elevados do chão, onde é possível se molhar; no outro lado há aspersores na altura do chão, colocados entre pedras que servem como bancos ao mesmo tempo em que dão uma aparência mais naturalizada à paisagem. Deste lado também se encontra alguns platôs, alguns com mesas outros sem, mas em ambos é possível fazer um piquenique ou sentar para contemplar a natureza ao redor.

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Detalhe da escada em forma de arquibancada. Esse mesmo tipo de desenho se repete em outros pontos do projeto.

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Detalhe da escada em forma de arquibancada. Esse mesmo tipo de desenho se repete em outros pontos do projeto.

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TERCEIRA PARTE

A lógica da segunda parte do projeto se repete aqui no que diz respeito à gradação de convívio, que se dá do interior para as bordas, com a diferença de que nesse espaço uma das laterais continua sendo restrita e delimitada pelo estrato arbóreo. Já a outra, mais aberta, é onde se encontra o espaço das oficinas. Tanto na terceira parte do projeto quanto na segunda, são utilizadas lajes de concreto que garantem um estar coberto, onde podem ser realizadas atividades coletivas.

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QUARTA PARTE

Esta parte é a mais distante em relação à entrada, representando um ponto de síntese do projeto. Através dos caminhos e estares, as pessoas chegarão a esse lugar, que representa o espaço da “Nova Consciência”. É um ponto de maior compreensão da doença mental, que deverá significar o fim do preconceito. Neste espaço, o usuário deve olhar para todo o percurso realizado e refletir, por isso aqui as áreas de estar são bastante amplas e existe um deck de madeira do qual é possível olhar para a cidade lá fora. Além disso, essa parte abriga a antiga casa do diretor, que será adequada ao funcionamento de um Museu, que conte a história do Hospital e da doença mental, podendo receber, eventualmente, exposições temporárias de trabalhos realizados pelos pacientes.

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COBERTURAS

Com uma diretriz contemporânea, são instaladas lajes de concreto pré-moldado sobre pilares em alguns lugares do Hospital. Essa cobertura articula os edifícios existentes aos novos planos de piso, criando abrigo e estar abertos. Elas são leves e delgadas, dando maior unidade e fluidez ao conjunto. Sobre algumas dessas coberturas se encontram os apoios do parque (sanitários, vestiários e café), separados da laje para permitir a circulação de ar. Elas são construídas com laje de concreto protendido, devido à sua capacidade de vencer grandes vãos com pequenas dimensões.

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Apoios colocados sobre as coberturas.

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Detalhamento da estrutura da cobertura. 145

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