ad ferreira

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  • i

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCINCIAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA AMBIENTAL

    EFEITOS POSITIVOS GERADOS PELOS PARQUES URBANOS:

    O Caso do Passeio Pblico da Cidade do Rio de Janeiro

    ADJALME DIAS FERREIRA

    Dissertao apresentada ao curso de Ps-Graduao em Cincia Ambiental PGCA da Universidade Federal Fluminense - UFF, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre.

  • ii

  • iii

    Aos meus pais e irmos, pela colaborao

    indispensvel.

    Biloga Hanriet, pelo carinho com que

    me estimulou em todas as etapas da

    realizao deste curso.

    Aos Mestres e amigos do PGCA, pelo

    companheirismo e pelos momentos

    felizes.

    Aos professores e alunos das FAMATH,

    pelo apoio e incentivo.

    Ao prof. David Azambuja UFRRJ

    Ao prof. Waldemir Joo Hora UFRRJ

  • iv

    [...] Nos bosques [...] um homem se

    despoja dos seus anos como a serpente de

    sua pele, e em qualquer fase de sua vida ele

    sempre uma criana. Nos bosques est a

    perptua juventude. No seio dessas

    plantaes de Deus, reina a decncia e a

    santidade, um perene festival est em

    preparao e o convidado no v como

    poderia cansar-se delas em mil anos.

    Ralph Waldo Emerson

    EMERSOM, R. W. (1985) Select essays. Harmondsworth: Pequin Books, p. 38

  • v

    A Deus, por me dar sade, sobriedade, pacincia e fora de vontade.

    Ao PGCA, pela oportunidade de formao em Mestre em Cincia Ambiental.

    Profa. Dra. Vera Lcia Ferreira Motta Rezende minha Orientadora.

    Ao Prof. Dr. Cludio Belmonte de Atahyde Bohrer - Co-orientador.

    Ao Prof. Dr. Aphonse G. Albert Charles Kelecom Membro da Banca.

    Ao Prof. Dr. Wantuelfer Gonalves membro externo da banca.

    Arquiteta Jeanne Almeida da Trindade-FPJ.

    Arquiteta Vera Dias-FPJ.

    Arquiteta Ins El-Jaick Andrade.

    Arquiteta Jane Santucci.

    Ao Dr. Carlos GonalvesTerra- EBA/UFRJ.

    Ao Pesquisador Miguel Gasto.

    Ao Professor Carlos Fernando de Moura DelphimIPHAN.

    Presidenta da FPJ Arquiteta Vera Dodsworth.

    A todos que de alguma forma colaboraram para o desenvolvimento desta pesquisa

    A todos os amigos do PGCA.

    E aos meus pais e irmos, pelo estmulo e incentivo.

  • vi

    RESUMO

    A presente pesquisa teve como principal objetivo analisar os efeitos positivos gerados pelos

    parques urbanos. Para a sua realizao foi definido como estudo de caso o Passeio Pblico da

    Cidade do Rio de Janeiro. Os outros objetivos foram a qualificao e a definio das funes

    do parque e a elucidao da sua contribuio para a melhoria da qualidade de vida. Alm do

    lazer, outras funes socioambientais relevantes so desempenhadas pelos parques urbanos

    destacando-se a psicolgica, a reconstruo da tranqilidade, a recomposio do

    temperamento, atenuante de rudos e condicionador do microclima, impondo a sua incluso

    no planejamento e nas polticas pblicas das cidades. A pesquisa foi estruturada a partir de

    minucioso levantamento histrico e ampla reviso bibliogrfica. Foram realizadas entrevistas

    tcnicas e foram aplicados questionrios aos usurios do parque. A presena do verde e da

    sombra produzida pelas copas das rvores o grande atrativo da populao. Um dos

    principais efeitos a amenizao climtica, com contribuies positivas para o microclima

    local.

    Palavras-chave: 1. Efeitos Positivos. 2. Parques Urbanos. 3. Passeio Pblico. 4. Cidade do Rio

    de Janeiro.

  • vii

    ABSTRACT

    The object of the present study is to analyse the positive effect generated by urban

    parks. The Passeio Public do Rio de Janeiro, for its accomplishment, was defined as a

    case study. Others objectives, were the qualification and definition of the functions of

    the park and the evaluation of its contribution to the improvement of the quality of life.

    Several socioambientais functions, beyond leisure, are played by urban parks, such as

    psychological, restitution of tranquility, relief from stress and extenuating noises, and

    conditioner of the microclimate, which imposes its inclusion in the city planning and

    public politicies of the cities. The research was structured from detailed historical

    survey and literature revision. Technical interviews had been carried out by application

    of questionnaires to the park users. The presence of green and shades produced by the

    trees canopy are the great attracting power for the population. One of the main positive

    effects is the improvement of the temperature, improving the local microclimate.

    Key-word: 1. Positive Effect. 2. Urban Parks. 3. Public stroll. 4. City of Rio de Janeiro

  • viii

    SUMRIO RESUMO...................................................................................................................................vi ABSTRACT..............................................................................................................................vii 1. INTRODUO......................................................................................................................11.1. ..............................................................................................................................Objetivos 61.2. .........................................................................................................................Metodologia 6 2. .......................................................................................ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 82.1. .........................................................Definies e Conceitos de Espaos Livres Urbanos 102.2. Classificao e Hierarquizao dos Espaos Livres..........................................................14 2.3. Paisagem e Paisagismo......................................................................................................16 2.4. Histria e Evoluo dos Parques Urbanos ........................................................................21 2.5. Parque Nacional da Tijuca.................................................................................................26 2.6. Planejamento Urbano e Ambiental...................................................................................28 2.7. Percepo em reas Verdes Urbanas ...............................................................................31 3. SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA .........................................................37 3.1. Qualidade de Vida .............................................................................................................43 3.2. Propostas para um ndice de Qualidade de Vida ..............................................................49 3.3. Bem-Estar Pblico.............................................................................................................51 4. ESTUDO DE CASO: O PASSEIO PBLICO DO RIO DE JANEIRO .............................54 4.1. Localizao da rea de Estudo..........................................................................................54 4.2. Descrio da rea de Estudo.............................................................................................55 4.3. Histrico do Parque...........................................................................................................59 4.4. A Reforma Glaziou............................................................................................................64 4.5. O Passeio Pblico do Sculo XXI.....................................................................................66 4.6. Cronologia dos Fatos Histricos Relacionados com o Passeio Pblico............................68 5. O PASSEIO PBLICO E A SUA FUNO AO LONGO DO TEMPO...........................70 6. DISCUSSO........................................................................................................................78 7. CONCLUSES E RECOMENDAES............................................................................84 9. ANEXOS..............................................................................................................................96 9.1. Entrevistas com os Usurios do Parque............................................................(Anexo I) 97 9.2. Mapa das reas de Planejamento (AP' s) da Cidade do Rio de Janeiro......... (Anexo II) 99

  • ix

    LISTA DE ILUSTRAES

    Fig. 1.1reas de aterro em lagoas manguezais, alagadios e orla no stio original da cidade 3

    Fig. 2.1 - Praa Paris no bairro da Glria, RJ 12

    Fig. 2.2 Parque do Flamengo, RJ 14

    Fig. 2.3 Jardins do prdio do MEC no centro do RJ 20

    Fig. 2.4 Stio Antnio da Bica no bairro de Guaratiba, RJ 20

    Fig. 3.1 Nveis crescentes de proteo que funcionam como filtros da radiao solar 45

    Fig. 3.2 - Grfico de distribuio de reas verdes por rea de planejamento no RJ 47

    Fig. 3.3 Grfico de distribuio de rea verde mdia por habitante em m no RJ 48

    Fig. 4.1 Planta de parte do centro do RJ 54

    Fig. 4.2 Sistema de reas verdes que envolvem; 1. Passeio Pblico; 2. Praa Paris; 3. Parque

    do Flamengo 55

    Fig. 4.3 - Perspectiva do sistema de reas verdes ao entorno do Passeio Pblico 56

    Fig. 4.4 - Imagem simulada da rea central da cidade do RJ em 1500 57

    Fig. 4.5 - Mapa da regio central da cidade do RJ em 1769 58

    Fig. 4.6 - Lagoa do Boqueiro e no fundo os arcos da Lapa 59

    Fig. 4.7 - O Passeio Pblico em perspectiva 62

    Fig. 4.8 - Pintura do projeto original do Passeio Pblico de Mestre Valentim 63

    Fig. 4.9 - Murada do terrao do Passeio junto ao mar 64

    Fig. 4.10 - Pintura do projeto da reforma Glaziou 65

    Fig. 4.11 - Planta do Passeio Pblico anterior restaurao 67

    Fig. 4.12 - Croquis do Passeio anterior restaurao 67

    Fig. 6.1 - Vista area do Passeio Pblico demonstrando o entorno construdo 80

  • x

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 3.1 Organograma dos principais benefcios das reas verdes urbanas 46

    TABELA 4.1 Cronologia dos fatos histricos 68

    TABELA 5.1 Freqncia (%) dos usurios do parque de acordo com o horrio do dia da

    semana (segunda-feira a sexta-feira) 71

    TABELA 5.2 Freqncia (%) dos usurios do parque de acordo com o dia da semana 71

    TABELA 5.3 Avaliao dos questionrios em (%) 72

    TABELA 5.4 - Perfil dos Usurios 72

  • xi

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AP rea de Planejamento

    APP rea de Preservao Permanente

    DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Scio Econmicos

    FAO Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura

    FPJ Fundao Parques e Jardins

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    ICOMOS Comit Internacional de Monumentos e Stios

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    IFLA Federao Internacional de Arquitetos e Paisagistas

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica e Aplicada

    IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional

    MEC Ministrio da Educao e Cultura

    OMS Organizao Mundial de Sade

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PCRJ Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

    PIB Produto Interno Bruto

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    RA Regio Administrativa

    SMAC Secretaria de Meio Ambiente

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao, a Cincia e a Cultura.

  • F383 Ferreira, Adjalme Dias. Efeitos positivos gerados pelos parques urbanos: o caso do Passeio Pblico da Cidade do Rio de Janeiro / Adjalme Dias Ferreira. Niteri : [s. n.], 2005. 99f. Dissertao (Mestrado em Cincia Ambiental) Universi- dade Federal Fluminense, 2005.

    1. Parques urbanos. 2. Passeio Pblico (Rio de Janeiro, RJ). I. Ttulo. CDD 363.68098153

  • 1

    1 INTRODUO

    A necessidade de se pensar na integrao das questes urbana e ambiental, questo

    antes tratada isoladamente, nos leva a procurar meios e estratgias que possam resolver esse

    problema inerente s sociedades urbanas contemporneas. Entre esses meios e estratgias,

    inclui-se o parque urbano.

    H algumas dcadas, as questes ligadas ao ambiente urbano ainda no se

    encontravam delineadas com preciso e no incluam a relao entre crescimento urbano,

    preservao ambiental e qualidade de vida. As reas verdes urbanas tinham suas funes mais

    voltadas para a esttica e o lazer. A partir da dcada de 1980, quando a questo ambiental foi

    institucionalizada no aparelho estatal brasileiro, surgiu, ento, a necessidade de tratar o espao

    urbano como um espao em constante evoluo, vinculado aos problemas ambientais e

    qualidade de vida dos habitantes.

    O tema dos parques urbanos ganhou, ento, relevncia no cenrio multidisciplinar das

    cincias ligada ao urbanismo e meio ambiente. O nosso interesse nessa rea de meio ambiente

    urbano surgiu da necessidade de pensar e encontrar ferramentas para levar adiante diversos

    projetos relacionados com a implantao e com a conservao de reas verdes entre os anos

    de 1986 e 2004, junto Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, tendo a Obra de Restaurao

    do Passeio Pblico, em 2004, como fonte principal para o desencadeamento da pesquisa.

    O Passeio Pblico constitui-se em um objeto especfico de pesquisa dentro deste

    trabalho. Representa um marco histrico da conservao e possui, alm das funes

    ambientais, as sociais, de lazer, culturais, psicolgicas, histricas, entre outras, que

    contribuem para a melhoria da qualidade de vida da populao. Dessa forma, ele foi

    selecionado como um caso referncia, pois proporciona fundamentos valiosos para se estudar

    os parques urbanos como importantes reas verdes da cidade.

    O objeto de estudo tem implicaes e enfoques multidisciplinares que se

    complementam. Pretende-se, aqui, abord-lo com a perspectiva socioambiental dos servios

    que os parques urbanos prestam populao. No entanto, o Passeio Pblico um stio

    tombado pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) como jardim

    histrico. Os jardins histricos no podem ser tratados apenas como reas verdes, embora,

    ainda hoje sejam tratados como tal, desconsiderando-se as suas atribuies originais.

    Segundo a Carta de Florena (1981), a denominao jardim histrico aplica-se tanto

    aos jardins modestos quanto aos parques ordenados ou paisagsticos (Carta de Florena,

  • 2

    Art.6, 1981, p. 292). A Carta de Florena um documento redigido pelo Conselho

    Internacional de Monumentos e Stios e pelo Comit Internacional de Jardins Histricos -

    Icomos/IFLA.

    Visando compreender a rea de estudo, que est localizada no centro histrico da

    Cidade do Rio de Janeiro, a pesquisa buscou elucidar como se deu a sua ocupao e o que

    levou criao do Passeio Pblico. Foi abordada a questo da ocupao urbana nas primeiras

    cidades da era industrial e os perodos em que as primeiras reas verdes aparecem no espao

    urbano.

    A ocupao do ambiente urbano sofreu um incremento com a primeira Revoluo

    Industrial, na Inglaterra, na Frana, na Alemanha e nos Estados Unidos. As grandes fbricas

    necessitavam da mo-de-obra, que estava nos campos e com a vinda das pessoas para as

    cidades, ocorreu uma mudana no estilo de vida. Para minimizar as tenses da vida citadina,

    os espaos livres surgiram do imaginrio burgus, que buscava amenizar os problemas sociais

    e ambientais urbanos, que se tornaram extremamente graves. Sentiu-se a necessidade de

    minimizar o cotidiano massacrante de muito trabalho e pouco lazer.

    A vida urbana na cidade, especialmente nas grandes cidades, vista como um espao

    de oportunidades e satisfao de necessidades bsicas, mas, tambm, como estressante,

    poluda e perigosa, com diversos conflitos e problemas graves que afetam a qualidade de vida

    de seus habitantes. Esses problemas foram os resultados do processo de consolidao das

    reas urbanas como espaos importantes para a expanso do capitalismo e reproduo da vida

    social. Os conflitos e problemas urbanos comportam dimenses ticas, sociais, filosficas,

    fsicas, culturais e econmicas (Souza, 2003, p. 20).

    Mesmo com todos os problemas das grandes cidades, os espaos construdos com fins

    de moradia e servios vm-se multiplicando todos os dias em uma engrenagem constante. As

    observaes dos rgos de pesquisa so de que dois teros da populao mundial esto

    vivendo nas cidades, o que as torna fascinantes em termos de reas de estudo e

    conhecimentos. No Brasil, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica), em 2002, mais de 80% da populao j vivia em reas urbanas.

    O Rio de Janeiro a segunda maior cidade brasileira. Com toda a complexidade de

    problemas inerentes a uma cidade deste porte, possui, atualmente, seis milhes de habitantes,

    que ocupam uma rea urbana equivalente a 37% do territrio municipal (IPP, 2002).

    Ao tratar o espao urbano como rea de estudo, tendo como temtica os parques

    urbanos, faz-se necessrio resgatar, por meio de pormenorizada pesquisa histrica, o que

    levou ao surgimento dos primeiros parques e, principalmente, como essa idia chegou ao

    Brasil, os seus reflexos e as suas influncias na formao das cidades at hoje.

  • 3

    O espao que a cidade do Rio de Janeiro ocupou foi conquistado arduamente da

    natureza, com o dissecamento de brejos e mangues que duraram at o sculo XIX, quando a

    cidade comeava a transformar radicalmente a sua forma urbana e a apresentar uma estrutura

    espacial estratificada em termos de classes sociais (Abreu, 1997). A Figura 1.1 ilustra as reas

    de futuros aterros em lagoas, manguezais, alagadios e orla no stio original da cidade, sculo

    XVI (SMAC, 1998).

    alagadios e orla no stio original da cidade, sc. XVI.

    Fonte: Barreiros, Eduardo Canabrava. IHGB-1965.

    riada desde Lisboa, tinha a capital do Reino como modelo

    admini

    populao carioca. Embora a incorporao de novas reas tenha se dado, em grande parte,

    1-Gamboa Grande

    2-Lagoa da Capueruu ou Sentinela

    3-Lagoa da Pavuna ou da Lampadosa

    4-Lagoa de Santo Antnio

    5-Lagoa Grande ou do Boqueiro

    6-Lagoa do Desterro

    7-Lagoa da Carioca

    8-Lagoa de Sacopenap ou

    Rodrigo de Freitas

    9-Mangue de So Diogo

    10-Manguezal de So Diogo

    11-Alagadio de Pedro Dias

    12-Alagadio de Botafogo

    Figura 1.1 reas de aterro em lagoas, manguezais,

    A histria da cidade revela que ela palco de diversas transformaes de mbito

    poltico e administrativo. Segundo Abreu (1997), a criao de cidades no Brasil Colonial foi

    sempre direito exclusivo da Coroa e, por essa razo, elas eram chamadas de Cidades Reais. O

    Rio de Janeiro teve foro de Cidade desde o incio, pois, sendo uma cidade real, que, na

    maioria das vezes, j vinha c

    strativo e forma fsica.

    Estudar os efeitos positivos dos parques urbanos, tendo o Passeio Pblico como estudo

    de caso, representa um resgate da histria da urbanizao das cidades brasileiras, buscando

    respostas para o equilbrio com o meio ambiente e uma melhor qualidade de vida para a

  • 4

    deixando um saldo ambiental negativo com a destruio de manguezais, desmatamentos,

    aterros de lagunas costeiras e a transformao da paisagem, o Passeio vai contribuir ao longo

    dos anos, com servios socioambientais positivos para a cidade.

    Os espaos vegetados com fins contemplativos nasceram da percepo de que estes

    eram importantes para a sade fisiolgica e psicolgica da populao. Assim, espaos com

    vegetao densa que mostrassem uma paisagem parecida com as florestas e a paisagem rural

    deram origem s primeiras Florestas Urbanas.

    Estudos recentes sobre a importncia ambiental urbana dos parques e a sua

    contribuio para a qualidade de vida esto sendo realizados para entender a melhor gesto

    destes espaos e proporcionar ao homem citadino condies mais favorveis ao seu bem-

    estar. As necessidades de conforto climtico, de satisfao esttica e de presena da paisagem

    natural no interior da massa construda, dando, inclusive, suporte fauna (aves, mamferos,

    insetos, etc.) so atendidas pela arborizao viria e pelos grupos arbreos, presentes nos

    parques.

    Ao analisar a importncia do parque para a sustentabilidade, a pesquisa buscou

    fundamentao no conceito da sustentabilidade ampliada.

    O conceito de sustentabilidade ampliada realiza o encontro poltico entre a

    agenda estritamente ambiental e a agenda social, ao enunciar a indissociabilidade

    entre esses fatores e a necessidade de que a degradao do meio ambiente seja

    enfrentada juntamente com o problema mundial da pobreza (Guimares, 1997 apud

    MMA, 2000).

    O documento Cidades Sustentveis deixa claro a importncia dos parques urbanos

    para atingir as metas da sustentabilidade, quando prope na estratgia n 1, a melhoria da

    qualidade ambiental das cidades. A estratgia traa as seguintes medidas: aes preventivas e

    normativas de controle dos impactos territoriais dos investimentos pblicos e privados de

    combate s deseconomias da urbanizao; elaborao de planos e projetos urbansticos

    integrados com as aes de transporte e trnsito; adoo de parmetros e de normas voltadas

    para a eficincia energtica, o conforto ambiental e a acessibilidade; e aplicao das reas

    verdes pblicas das cidades e da conservao do patrimnio ambiental urbano, tanto o

    construdo como o natural e paisagstico.

    Segundo Silva (1974 p. 127), em sua obra O Direito Ambiental

    Constitucional, a cidade industrial moderna, com seu cotejo de problemas, colocou

    a exigncia de reas verdes, parques e jardins, como elemento urbanstico, no

    destinados apenas ornamentao urbana, mas como uma necessidade higinica, de

    recreao e mesmo de defesa e recuperao do meio ambiente em face da degradao

  • 5

    de agentes poluidores, e elementos de equilbrio do meio ambiente urbano, de

    equilbrio psicolgico, de reconstruo da tranqilidade, de recomposio do

    temperamento desgastados na faina estressante diria. A arborizao das vias

    pblicas, alm de embelez-las, tambm um fator de atenuao de rudos, de fixao

    e reteno do p, da re-oxigenao do ar.

    A esse respeito, Macedo & Sakata (2003) acrescentam que as cidades brasileiras

    necessitam cada vez mais de novos parques pblicos, em geral de dimenses menor devido

    escassez de terreno e ao alto custo do metro quadrado nos grandes centros. O parque pblico

    da atualidade um elemento tpico da grande cidade, estando em constante processo de

    recodificao.

    Considerando que os espaos livres possibilitam ao homem um encontro com a paz e o

    descanso desejado, os trabalhos relacionados com esses espaos abrangem as reas verdes que

    variam em suas funes e devem ser estruturados de acordo com a finalidade, atributos e com

    o tamanho. Geralmente so classificadas em jardins, praas e parques urbanos.

    Entretanto, estudar os parques urbanos implica, primeiramente, em considerar a sua

    definio, pois existem muitas variaes e imprecises nos estudos relacionados com as

    normas de padronizao, distribuio e do tamanho, necessitando de estudos mais acurados

    sobre o assunto. Assim, fatores como dimenso, formas de tratamento, usos e funes

    influenciaro na denominao do espao.

    Lima et al. (1994) definem parque urbano como uma rea verde, com funo

    ecolgica, esttica e de lazer, com uma extenso maior que as praas e jardins pblicos. No

    caso do Passeio Pblico, mesmo no possuindo uma rea extensa, a definio muito mais

    abrangente, por se tratar de um parque urbano ajardinado com um jardim histrico em todos

    os sentidos, segundo a Carta de Florena de 1981.

    Para Barcellos (1999), o Passeio Pblico um exemplo vivo de exceo. Considerado

    o nosso primeiro parque, suas dimenses so inferiores a muitas praas, embora tenha sido

    criado em uma rea que, na poca, era perifrica cidade. De fato, o surgimento de parques

    de pequenas dimenses torna-se mais comum nas primeiras dcadas do sculo XX, mas, ao

    contrrio do que muitos autores consideram, a ocorrncia de parques de pequenas dimenses

    no um fato recente.

    Nesse contexto urbano, o parque possui uma importncia histrica muito marcante na

    vida da populao carioca. Assim, visando compreender os efeitos positivos gerados pelo

    Passeio Pblico, foram analisados os fatores socioambientais positivos e a sua contribuio

    para a melhoria da qualidade de vida, que justifica a importncia dos parques urbanos no

    equilbrio e na sustentabilidade das cidades.

  • 6

    1.2 Objetivos

    O objetivo geral realizar uma pesquisa sobre os efeitos positivos gerados pelos

    Parques Urbanos.

    Os objetivos especficos esto definidos em:

    i) Analisar os efeitos positivos gerados pelos parques urbanos.

    ii) Qualificar e definir as funes do Passeio Pblico.

    iii) Elucidar a contribuio do Passeio Pblico para a melhoria da qualidade de

    vida, na Cidade do Rio de Janeiro.

    1.3 Metodologia

    A metodologia adotada no estudo buscou realizar, em primeiro lugar, uma pesquisa

    histrica bibliogrfica pormenorizada, seguida de entrevistas tcnicas e aplicao de

    questionrios aos usurios do parque. Foram entrevistados dois tcnicos da Fundao Parques

    e Jardins da Cidade do Rio de Janeiro responsveis pela restaurao do parque no ano de

    2004. Durante a restaurao, um procedimento, que foi muito explorado na pesquisa alm das

    entrevistas, foi o mtodo da observao, a qual foi possvel durante o ano de 2004, e logo

    aps a reabertura do parque ao pblico.

    As entrevistas e aplicao dos questionrios aos usurios do parque foram realizadas

    durante os meses de dezembro de 2004 e janeiro e fevereiro de 2005, somando um total de 48

    entrevistas, com questionrios contendo vinte perguntas do tipo fechadas. A distribuio das

    entrevistas considerou os sete dias da semana (de segunda a domingo) e trs perodos durante

    o dia (manh de 7-11; horrio do almoo de 11-15; tarde 15-18). As perguntas contidas nos

    questionrios abordam questes que, em primeiro lugar, procuram traar o perfil do usurio

    (idade, sexo, escolaridade, procedncia residencial ou de trabalho). A seguir, estruturou-se um

    conjunto de 19 perguntas com o objetivo de realizar a anlise qualitativa da relao do usurio

    com o parque, destacando a sua importncia para a melhoria da qualidade de vida e a

    sustentabilidade da cidade.

    As entrevistas com os tcnicos foram realizadas com duas arquitetas da FPJ-Fundao

    Parques e Jardins do Rio de Janeiro, selecionadas por possurem experincia na gesto dos

    parques da cidade. A arquiteta Jeanne Almeida da Trindade, professora de paisagismo da

    universidade Estcio de S-RJ foi entrevistada no dia 6 de janeiro de 2005, na Fundao

    Parques e Jardins contribuiu para elucidar e responder algumas questes consideradas

  • 7

    fundamentais para esta pesquisa. Possibilitando que este estudo abra um espao de discusses

    interdisciplinares sobre certos paradigmas conceituais em espaos livres pblicos,

    especificamente os Parques Urbanos.

    A entrevista com a arquiteta Vera Dias, chefe da Diviso de Monumentos e Chafarizes

    da Fundao Parques e Jardins da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e professora de

    Conservao e Restauro do curso de Arquitetura da Faculdade Silva e Souza foi realizada no

    dia 12 de janeiro de 2005, na sede do Parque Noronha Santos, RJ. A arquiteta Vera falou da

    importncia do Passeio Pblico como parque histrico e a proposta de restaurao inovadora,

    onde, pela primeira vez, se aplicaram os fundamentos da Carta de Florena de 1981.

    Foram feitos contatos institucionais para a realizao das entrevistas e das pesquisas,

    na sede da Fundao Parques e Jardins e no Parque Noronha Santos, em que a chefe da

    Diviso, arquiteta Vera Dias, alm de se prontificar a ajudar com as pesquisas, forneceu

    acesso aos materiais bibliogrfico e fotogrfico do seu acervo.

    A pesquisa est fundamentada nos conceitos de espaos livres pblicos, espaos

    verdes urbanos, reas verdes, parques urbanos, paisagem, sustentabilidade ampliada,

    qualidade de vida e na Agenda 21 brasileira - Documento Cidades Sustentveis. No segundo

    captulo foram discutidos alguns conceitos de espao livre, arborizao urbana, florestas

    urbanas, rea livre e rea aberta, espao aberto, rea verde e a sua subdiviso em praa, jardim

    e os parques urbanos, todos inseridos nas diversas terminologias dos espaos livres urbanos;

    definies, origens e tipos nos seus diferentes perodos na histria da urbanizao das cidades,

    que resultam de diferentes concepes.

    Os conceitos de paisagem, de paisagismo e da Ecologia da Paisagem so associados

    com o planejamento urbano e ambiental. A partir deste entendimento, so abordadas as

    questes relacionadas com a percepo em reas verdes urbanas e, finalizando, apresentam-se

    a histria e a evoluo dos parques urbanos, desde os jardins italianos do sculo XVI at os

    atuais parques temticos, litorneos e ecolgicos.

    O terceiro captulo faz a reviso dos conceitos da sustentabilidade e da qualidade de

    vida urbana, fundamentados na Agenda 21-Documento Cidades Sustentveis. No captulo do

    estudo de caso, so apresentados o Passeio Pblico como a rea de estudo, a sua criao e a

    cronologia dos fatos histricos. A pesquisa segue com a qualificao e a definio das funes

    do parque e o resultado das entrevistas. Na discusso encontra-se a anlise dos efeitos

    positivos gerados pelos parques urbanos, como a sua contribuio para a melhoria da

    qualidade de vida. Finalizando, so apresentadas as concluses e recomendaes. Ao final,

    encontram-se anexados as entrevistas tcnicas, o questionrio e um mapa da cidade do Rio de

    Janeiro, com a diviso da estrutura administrativa da prefeitura em APs e RAs.

  • 8

    2 ESPAOS LIVRES E PAISAGEM

    Este captulo tem como objetivo fazer uma reviso sobre a estruturao dos espaos

    livres urbanos, como se deu a apropriao e ocupao do territrio brasileiro e a evoluo das

    terminologias usadas para identificar os vazios urbanos. Ser apresentada tambm a

    importncia dos conceitos de paisagem e paisagismo na evoluo dos parques urbanos e os

    principais responsveis pelo paisagismo brasileiro ao longo dos anos.

    A esse respeito, relevante analisar o processo de estruturao dos espaos verdes na

    malha urbana. Com esse propsito, determinados estudos (Segawa, 1996; Andrade, 2004)

    mostram como ocorreu a apropriao do territrio brasileiro e a importncia desses espaos na

    formao da cidade.

    Aps a apropriao do territrio, iniciou-se o processo de ocupao. No processo de

    formao das cidades, os espaos de convivncia e comemoraes, conhecidos popularmente

    como praas, tornaram-se uma necessidade vital, uma vez que a vida pblica da cidade

    desenvolvia-se e hierarquizava-se por meio delas (Andrade, 2004).

    Segundo Segawa (op. cit.), na praa tudo legtimo, possvel. Esta denominao

    era atribuda para definir, tambm, os largos e os rossios, entre outros vazios urbanos. Os

    portugueses foram os responsveis pela introduo do uso destes espaos, tanto os campos ou

    rossios, como os largos.

    Os rossios eram vazios urbanos, muitas vezes terrenos pantanosos, que

    desempenhavam diversos papis na vida econmica e social da cidade. Estes espaos eram

    tambm utilizados para criao de animais, despejo de esgotos e cultivo de espcies frutferas.

    No Brasil Colnia, os aglomerados populacionais que atingissem a importante funo

    de sede do municpio recebiam, no mesmo ato, o seu patrimnio pblico, o rossio, que seria

    administrado pela Cmara Municipal (Bartalini, 1996).

    Os vazios urbanos, denominados de largos, foram os primeiros espaos de formao

    da cidade. Localizavam-se, inicialmente, nos espaos livres pblicos dos adros (terreno em

    frente ou em volta) de capelas ou igrejas, de conventos ou irmandades religiosas, os quais

    representavam os estabelecimentos de maior prestgio social. Esses espaos no projetados,

    denominados terreiros ou ptios, no eram arborizados, eram espaos secos semelhantes s

    plazas italianas, mas eram extremamente polivalentes, abrigando diferentes atividades

    (Andrade, op. cit.).

    As cidades eram dispostas de forma que os prdios pblicos e as residncias mais ricas

    ficassem de frente para o terreiro da igreja. Os largos tinham as mesmas caractersticas e os

    mesmos usos sociais das antigas praas europias: espao de mercado, festas e manifestaes.

  • 9

    Uma caracterstica dos largos e dos rossios era a de no serem espaos verdes, mesmo

    existindo algumas rvores de pequeno porte e bebedouros. Os largos e rossios eram espaos

    ridos, com uma paisagem que destoava da natureza tropical. Os largos e rossios eram

    espaos de encontro, de passeio, de passagem e era a partir destes que a cidade se

    desenvolvia.

    No sculo XVII, surgiu um novo olhar dos pintores na paisagem. Uma nova percepo

    da natureza, a idia de paisagem pictoresca, bela. Pictricas quer dizer to bela como uma

    pintura (Segawa, 1996). No Mxico, no perodo inicial do sculo XVII, surge o primeiro

    espao ajardinado na Amrica. La Alameda de Mxico antecede os grandes jardins europeus,

    antes mesmo das promenades. Em Paris, o Baro Haussman foi alm das praas, quando

    enfileirou rvores nas avenidas e boulevards, iniciando o conceito de arborizao urbana, tal

    qual o conhecemos ainda hoje.

    Segundo Segawa (op. cit.), o boulevard uma grande via que contorna uma cidade e

    refere aos muros medievais, com o plantio de alias no contorno dos muros. Surgiram,

    tambm, os logradouros pblicos, denominados Alamedas, e as Promenades em francs.

    Em 1697, no final do sculo XVII, foi criado, em Paris-Cours de la Reine, um espao

    arborizado junto ao Rio Sena para o passeio da Aristocracia local para se exibir e desfilar.

    Representava a metfora do paraso divino, sagrado, onde se caminhava silenciosamente e

    bem vestido. H um encontro com regras de comportamento (Segawa, op. cit.). Estas regras

    eram respeitadas pelo vesturio europia que era utilizado e pela maneira de se comportar

    educadamente em espaos pblicos, sempre zelando pela elegncia e pelos bons costumes.

    No contexto brasileiro, segundo Macedo (1999), os espaos livres de edificao nas

    residncias brasileiras estruturavam-se em funo de uma forma quase nica de parcelamento

    do solo, perpendiculares s vias pblicas, alinhadas, de formato regular, laterais maiores, com

    quintais localizados nos fundos. Este padro colonial permaneceu at o final do sculo XIX.

    Os jardins brasileiros resumiam-se s grandes propriedades religiosas e aos quintais de

    residncias, como jardins utilitrios, onde se cultivavam ervas de cheiro, floreiras, plantas

    medicinais e rvores frutferas. A prtica da jardinagem restringia-se aos quintais, em seus

    jardins utilitrios (Andrade, 2004).

    Em 1637, quando ocorreu a ocupao holandesa nas cidades de Recife e Olinda,

    surgiu o primeiro exemplar de jardim no-utilitrio. A tomada foi chefiada por Maurcio de

    Nassau, que permaneceu por oito anos. Nassau adquiriu, em 1639, um amplo terreno, onde

    construiu o seu Palcio de Vrijburg (ou Friburgo) na Ilha de Antnio Vaz, que passou a ser

    chamada de Ilha Maurcia.

  • 10

    Nassau pretendia criar um verdadeiro parque, com rvores adultas que foram

    transplantadas. O parque, criado com rvores do interior brasileiro, mas algumas importadas

    da frica e da ndia, foi planejado por Nassau, pelo engenheiro Pieter Post e pelo naturalista

    Willem Piso, na forma de um pomar, cuja renovao era constante (Brasil, 2000).

    Aps a retomada das terras pelos portugueses, nada restou do parque (Andrade, 2004),

    que, por alguns anos, serviu de centro de referncia para estudos de histria natural por muitos

    naturalistas alemes e, tambm, como rea de lazer.

    No sculo XVIII, surgiu a educao do olhar para a paisagem. Os Passeios vo

    aparecendo em vrias cidades, como o caso do Passeio Pblico de Lisboa, e do Passeio

    Pblico do Rio de Janeiro, que considerado por Segawa (1996), inovador do ponto de vista

    da paisagem. Neste mesmo sculo foram criados uma srie de Passeios ou promenades.

    Dentro dessa perspectiva, os estudos sobre os espaos ajardinados no Brasil fazem

    parte das discusses dos problemas que foram surgindo com o crescimento das cidades e a

    diversificao dos termos referentes aos espaos livres urbanos. Tentou-se discutir a questo

    da terminologia em uma seo prpria dentro da pesquisa, por ter sido considerada

    fundamental para o entendimento da importncia dos parques urbanos, para as cidades.

    2.1 Definies e Conceitos de Espaos Livres

    Nesta seo feita uma reviso dos termos mais adequados a serem utilizados nesta

    pesquisa, em referncia aos espaos livres urbanos. So definidos e conceituados os termos

    praa, jardim e parques urbanos entre outros, de acordo com as funes que cada um

    desempenha no ambiente urbano e as suas caractersticas prprias.

    A rea dos municpios dividida, segundo a Constituio Federal de 1988, em reas

    urbanas, reas de expanso urbana e reas rurais. Nas reas urbanas, os espaos so divididos

    em espaos construdos, espaos livres e espaos de integrao urbana.

    Os espaos construdos so os espaos edificados com funes residenciais,

    comerciais, servios pblicos entre outros. J os espaos livres ou espaos no construdos

    so as praas, canteiros ou jardins urbanos, parques, quintais entre outros. Os espaos de

    integrao urbana so as reas de canteiros ou jardins remanescentes do traado do sistema

    virio, os canteiros centrais de avenidas, jardins junto a alas de acesso a pontes e viadutos,

    rotatrias, taludes e encostas ajardinadas (Macedo e Robba, 2002).

    O estudo dos espaos livres urbanos desenvolvido por vrios autores, que abordam a

    questo sob enfoques especficos de determinadas reas de estudo. Assim, procurou-se,

    inicialmente, centrar a nossa pesquisa em uma reviso de conceitos e definies dos termos,

  • 11

    para revisar e atualizar o conhecimento sobre o tema, na busca de um melhor entendimento da

    teoria cientfica, que fundamenta a nossa pesquisa e nos fornece embasamento para discusses

    e recomendaes.

    Os conceitos e as funes dos espaos livres urbanos evoluram no decorrer dos anos,

    assim como o conceito de natureza vem se alterando j h algum tempo. Estes espaos

    ajudam a construir a paisagem urbana da cidade como um produto, porque resulta de um

    processo social de ocupao e gesto de determinado territrio (Macedo, 1999).

    Os espaos livres de edificaes ou, simplesmente espaos livres, podem ter carter

    pblico ou privado e privado de uso coletivo, como os clubes recreativos. Nestes, incluem-se

    as reas de lazer e as reas verdes. Kliass & Magnoli (1967, p.33) definem Espao Livre

    como reas no edificadas de propriedade municipal, independente de sua destinao de

    uso. Quando esses espaos destinarem-se a reas verdes, passam a ser conceituados como

    espaos verdes.

    A classificao de espao verde estende-se somente ao territrio ocupado por

    vegetao que tenha valor social. Este valor atribudo ao seu utilitarismo na

    preservao do ecossistema, bem como ao seu valor esttico cultural e ao seu

    potencial de recreao (lazer ativo ou passivo). J as reas verdes, so quaisquer

    reas plantadas. Tambm dominada rea de lazer o espao livre de edificao

    destinado ao lazer ativo ou contemplativo (Andrade, 2004, p. 27).

    Existe uma contradio com relao aos termos utilizados sobre reas verdes urbanas

    entre os autores e profissionais que atuam nessa rea. Similaridades e diferenciaes entre

    termos como: espaos livres urbanos, reas livres, espaos abertos, reas verdes, sistemas de

    reas de lazer, jardim, praas, parques urbanos, unidades de conservao em rea urbana,

    arborizao urbana e tantos outros, geram conflitos tericos. Atualmente, observa-se uma

    mudana, que busca a reconciliao e a evoluo destes conceitos. Os problemas conceituais

    existem nos nveis de ensino, pesquisa, extenso, planejamento, gesto dos espaos livres

    urbanos e, conseqentemente, nas informaes veiculadas pela mdia.

    Lima et al. (1994, p.539) propem uma conceituao de termos correlatos a espaos

    livres urbanos e define o espao livre como o conceito mais abrangente, integrando os

    demais e contrapondo-se ao espao construdo em reas urbanas. Assim, a Floresta

    Amaznica no se inclui nessa categoria; j a Floresta da Tijuca localizada dentro da cidade

    do Rio de Janeiro, um espao livre. No caso de ocorrer um fragmento da Floresta

    Amaznica, que esteja cercado em parte ou no todo, por espaos construdos em reas

    urbanas, ser um espao livre.

  • 12

    Na rea verde, h o predomnio de vegetao arbrea, englobando as praas, os jardins

    pblicos e os parques urbanos. Os canteiros centrais de avenidas e os trevos e rotatrias de

    vias pblicas que exercem apenas funes estticas, devem, tambm, conceituar-se como

    reas verdes. Entretanto, as rvores que acompanham o leito das vias pblicas no devem ser

    consideradas como tal, pois as caladas so impermeabilizadas (Lima et al.,1994).

    rea verde definida, para fins de ndice, como uma rea onde, por motivo qualquer,

    haja vegetao e, para tal, existe um hipottico ndice (cuja autoria atribuda ONU) de

    12 m / habitante da ONU como padro ideal de reas de lazer/vegetao para qualquer cidade

    (Lima et al., op. cit.).

    A praa, como rea verde, tem a funo principal de lazer. Uma praa, inclusive, pode

    no ser uma rea verde quando no tem vegetao e encontra-se impermeabilizada (por

    exemplo, a Praa da S em So Paulo). No caso de ter vegetao, considerada, nas cidades,

    como jardim pblico.

    Macedo e Robba (2002) consideram duas premissas bsicas para conceituar as praas

    e as suas funes na vida urbana brasileira. A primeira quanto ao uso, e a segunda diz

    respeito acessibilidade do espao. Conceituam que praas so espaos livres pblicos

    urbanos destinados ao lazer e ao convvio da populao, acessveis aos cidados e livres de

    veculos. Na Figura 2.1, a Praa Paris, no bairro da Glria, no Rio de Janeiro, tida como um

    exemplo de praa dentro dessa conceituao.

    Figura 2.1 Praa Paris, na Glria, Cidade do Rio de Janeiro. Fonte: Projeto Quap - 2002

    A arborizao urbana diz respeito aos elementos vegetais de porte arbreo, dentro da

    cidade. Nesse enfoque, as rvores plantadas em caladas fazem parte da arborizao urbana,

    porm no integram o sistema das reas verdes (jardins, praas e parques).

  • 13

    rea Livre e rea Aberta so termos que devem ter a sua utilizao evitada, pela

    impreciso na sua aplicao. Espao Aberto uma traduo errnea do termo ingls open

    space, e deve ser evitado, preferindo-se o uso do termo Espao Livre.

    Sobre este mesmo aspecto, Terra (2000) comenta que os termos jardim, praa e parque

    para os autores que tratam do assunto, tm o mesmo significado de reas verdes e somente se

    diferenciam pelas funes e tamanho da rea. Nesse caso, no se devem incluir os jardins

    histricos.

    A Carta de Florena (1981), em seu artigo 1, define como Jardim histrico uma

    composio arquitetnica e vegetal que, do ponto de vista da histria ou da arte, apresenta um

    interesse pblico. Como tal, considerado monumento. No artigo 2, O jardim Histrico

    uma composio de arquitetura, cujo material , principalmente, vegetal, sendo, portanto,

    vivo, como tal, perecvel e renovvel.

    A carta trata o jardim histrico e define que seu aspecto resulta, assim, de um

    perptuo equilbrio entre o movimento cclico das estaes, do desenvolvimento e do

    definhamento da natureza e da vontade da arte e do artifcio que tende a perenizar o seu

    estado(Carta de Florena, 1981).

    Os autores Macedo e Robba (2002) alertam que as praas podem apresentar projetos

    de vrias tipologias, tamanho, forma e localizao. Acrescentam que certas reas

    denominadas por praas so, na verdade, canteiros ou jardins urbanos. Os jardins urbanos,

    referidos pelos autores, no podem ser comparados aos jardins histricos, que so, em sua

    maioria, stios tombados pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional

    (IPHAN), como, por exemplo, o jardim do Passeio Pblico e o Parque Laje, entre outros na

    cidade do Rio de Janeiro.

    Segundo Macedo e Sakata (2003, p. 14), os parques urbanos so todo espao de uso

    pblico destinado recreao de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar

    intenes de conservao e cuja estrutura morfolgica auto-suficiente, isto , no

    diretamente influenciada em sua configurao por nenhuma estrutura construda em seu

    entorno. Como exemplo de Parque urbano, temos, na Figura 2.2, o Parque do Flamengo, no

    Rio de Janeiro.

    Nesse caso, alm dos tipos de uso, funes e morfologia deve-se incluir a

    obrigatoriedade da presena de vegetao arbrea, pois a massa vegetal e os seus efeitos

    positivos no ambiente urbano que fazem o diferencial do parque para os outros tipos de

    reas verdes, como as praas e os jardins. No caso de ser um parque ajardinado, os elementos

    de porte arbreo precisam ser dominantes.

  • 14

    Figura 2.2. Parque do Flamengo, RJ. Fonte: Projeto Quap - 2002

    2.2 Classificao e Hierarquizao dos Espaos Livres

    Segundo Cavalheiro e Del Picchia (1992), estabelecida a classificao dos espaos

    livres quanto categoria e disponibilidade. Nesse caso, os valores contidos nas definies

    devem servir como indicaes quanto capacidade de suporte para visitao, ou seja, a

    quantidade de equipamentos que possam conter e a maximizao da sua manuteno.

    Para Escada (1992), os parques urbanos podem ser divididos como elementos de lazer,

    com base no raio de abrangncia, em:

    Parques de Vizinhana: so de uso localizado, pois so planejados para servir a uma unidade de vizinhana ou de habitao, substituindo as ruas e os quintais das casas das

    cidades menores; so espaos com tamanho reduzido, que devem abrigar alguns tipos

    de equipamentos ligados recreao, vegetao e distar entre 100 e 1.000 m das

    residncias ou do trabalho.

    Parques de Bairro: so de maiores dimenses, devendo conter uma gama maior de equipamentos de lazer; podem desempenhar funo paisagstica e ambiental, se

    dotados de vegetao, espaos livres de impermeabilizao e guas superficiais.

    Para Barcellos (1999), as reas de grandes dimenses no representam uma

    caracterstica obrigatria para que o espao livre seja considerado um parque urbano. A

    presena do elemento rvore nos espaos livres que vai fazer a diferena dos efeitos, como o

  • 15

    sombreamento, luminosidade, temperatura, textura da paisagem, estaes do ano, florao,

    frutificao, servir de alimento para fauna urbana, em especial a avifauna, entre outras

    funes que as rvores desempenham.

    Dentro dessa perspectiva, Paiva e Gonalves (2002) vo mais alm ao apreciarem o

    elemento rvore de forma coletiva, evoluindo para um conceito mais abrangente e ecolgico

    que o da floresta urbana, valorizando a rvore como um elemento que melhora o ambiente

    urbano. As florestas urbanas se referem aos conjuntos arbreos criados pelo homem,

    especialmente aquelas inseridas na trama dos ncleos urbanos ou aglomeraes humanas.

    Costa (1996) avana ainda mais e afirma que o conceito de arborizao urbana no

    limitado presena de rvores nos parques pblicos, pois esto presentes em diversas

    tipologias dos espaos livres, como praas, ruas, largos, becos, florestas urbanas, entre outros,

    inclusive nos espaos que no receberam interveno paisagstica.

    Segundo Costa (op. cit.), jardins e quintais so considerados reas particulares, que,

    nesse contexto, contribuem para ampliar ainda mais os conceitos. Acrescenta que a sociedade

    internacional de arborizao, por exemplo, emprega o termo urban forest floresta urbana

    como referncia a todo conjunto da vegetao arbrea presente nas cidades, independente da

    sua localizao.

    Anteriormente, como observam Paiva e Gonalves (2002), a respeito da mudana de

    conceito e da forma de pensar, a arborizao urbana era um conceito que se prendia mais ao

    indivduo rvore, muitas vezes como mera composio esttica no tecido urbano. Neste caso,

    o termo floresta urbana muito mais condizente, ao se referir cobertura vegetal que possa

    produzir efeitos positivos ao ambiente, melhorando a qualidade de vida na cidade. Ainda

    assim, a discusso demonstra que pela escassez de espaos livres, tornam-se cada vez mais

    necessrios novos estudos a respeito das aglomeraes vegetais, permitindo uma gesto

    adequada, que vise minimizar os efeitos fsicos e psicolgicos do ambiente urbano, com

    paisagens mais ecolgicas e mais humanas.

    Segundo Paiva e Gonalves (2002, p.20), As florestas urbanas podem ser

    consideradas reas verdes produtivas ou reas verdes de preservao ou

    conservao. As reas verdes produtivas seriam aquelas cuja finalidade a produo

    de bens de consumo oriundos das rvores, direta ou indiretamente. J as reas verdes

    de preservao e/ou conservao so aquelas com a finalidade de conservao do

    stio ou a manuteno da biodiversidade. Dessa forma, considera-se rea verde

    qualquer rea de propriedade pblica ou privada, no sendo obrigatria a presena

    da rvore como nico tipo de vegetao, com dimenses vertical e horizontal

  • 16

    significativa e que seja utilizada com objetivos sociais, ecolgicos, cientficos e

    culturais.

    As reas verdes apresentam-se com vrias formas e funes, que devem ser dispostas

    de acordo com a finalidade, tipos de uso a que se prope e com o tamanho. Todas as normas e

    padronizaes, tanto em tamanho como em termos conceituais so discutveis e necessitam de

    estudos mais aprofundados sobre o tema, visando uma padronizao da terminologia.

    2.3 Paisagem e Paisagismo

    Os termos paisagem e paisagismo so bastante abrangentes, sendo a paisagem formada

    por diversos fatores naturais e elementos produzidos pela natureza no tempo e no espao

    social. A paisagem marcada por um conjunto de elementos e tcnicas produzidos pelo

    homem e moldados para satisfazer s necessidades da sociedade. O paisagismo a

    representao da paisagem atravs de um processo de transformao. Assim, ser paisagista

    conseguir representar.

    Na formao das paisagens, o tempo uma varivel fundamental, pois, ao longo do

    tempo as aes culturais sobre a paisagem vo transformar e imprimir caractersticas na

    paisagem natural, moldando e adaptando para responder s condies religiosas, s ideologias

    e s preferncias dos grupos.

    Nesse contexto, a percepo um fator fundamental na formao das paisagens, pois

    estas se revelam diferentemente a cada observador, de acordo com os diferentes graus de

    percepo e interesse. A paisagem visvel deriva de uma dimenso maior do tempo e do

    espao visual e, dependendo da escala, nem sempre conseguimos visualizar sua totalidade

    com um simples golpe de vista.

    Para Macedo (1999, p.11), a paisagem pode ser considerada como a

    expresso morfolgica das diferentes formas de ocupao e, portanto, de

    transformao do ambiente em um determinado tempo.

    Segundo Bertrand (1972), a paisagem uma poro do espao caracterizada por um

    tipo de combinao dinmica de elementos geogrficos diferenciados, fsicos, biolgicos e

    antrpicos, que ao se enfrentarem dialeticamente uns com os outros, fazem da paisagem um

    conjunto geogrfico indissocivel que evolui em dinmica prpria de cada um dos elementos

    individuais.

    Metzger (2001) prope uma definio integradora da paisagem como sendo um

    mosaico heterogneo formado por unidades interativas, sendo esta heterogeneidade existente

    para, pelo menos, um fator, segundo um observador em uma determinada escala de

  • 17

    observao. Entende-se que ambas as abordagens, dependem do observador e do objeto de

    estudo.

    Para Macedo (1999), a paisagem um produto e tambm um sistema. Produto por

    resultar de um processo social de ocupao e gesto de determinado espao. Sistema, porque

    qualquer ao sobre ela impressa haver uma reao correspondente, a qual equivale a uma

    alterao morfolgica parcial ou total. Existe uma interligao entre as duas consideraes.

    Um outro fato importante que toda paisagem est ligada a uma tica de percepo

    humana, a um ponto de vista social e que sempre representa total ou parcialmente um

    ambiente. Pode-se afirmar que todo ambiente contm diferentes paisagens, mas que nem

    todas as paisagens representaro um ambiente por completo.

    Macedo faz outras observaes, sendo as paisagens consideradas, tambm, estruturas

    finitas, pois so lidas e interpretadas dentro de uma escala em que vai depender do observador

    que no pode, devido a limitaes fsicas, abranger o ambiente terrestre como um todo, dentro

    do seu campo visual ou de anlise. Sendo assim, para o ser humano, cada paisagem sempre

    suceder a uma outra e assim por diante.

    Segundo Nucci (2001), complicado estudar e planejar o meio ambiente urbano

    utilizandose metodologias de outras reas da cincia, como, por exemplo, a anlise sistmica

    utilizada em ecologia. Porm, no se pode negar que o ambiente urbano tambm necessita ter

    sua interveno planejada, pois a falta de planejamento urbano leva a uma queda da qualidade

    de vida.

    Segundo Paiva e Gonalves (2002, p. 14), a ecologia mudou a maneira de o

    homem perceber o meio ambiente urbano. Assim, a paisagem dentro de um conceito

    mais moderno passa a ser avaliada como uma interao de fatores envolvendo os

    valores ecolgicos fundamentais para qualidade de vida.

    Os estudos dos espaos livres urbanos encontram-se inter-relacionados com o

    planejamento da paisagem urbana, rea de interesse da Ecologia da Paisagem. A ecologia da

    paisagem uma nova rea de conhecimento dentro da ecologia, marcada pela existncia de

    duas abordagens principais, segundo Metzger (2001): uma geogrfica, que privilegia o estudo

    da influncia do homem sobre a paisagem e a gesto do territrio; e outra ecolgica, que

    enfatiza a importncia do contexto espacial sobre os processos ecolgicos, e a importncia

    destas relaes em termos de conservao biolgica. A abordagem geogrfica foi influenciada

    pela geografia humana, fitossociologia, biogeografia e de disciplinas da geografia ou da

    arquitetura relacionadas com o planejamento regional. Para esta abordagem, a noo bsica de

    paisagem a espacialidade, a heterogeneidade do espao onde o homem habita, e define

    paisagem como a entidade visual e espacial total do espao vivido pelo homem.

  • 18

    Segundo Paiva e Gonalves (2002), a importncia do vegetal na paisagem urbana est

    no lazer, pois as diversas categorias de espaos verdes urbanos que fazem a aproximao do

    homem urbano com a natureza. Porm, seja qual for a funo da utilizao do vegetal no

    espao; proteo, esttica, entre outros, estar sempre relacionado com o clima e, em ltima

    anlise, com o conforto do homem. Em outras palavras, o estado de perfeita satisfao

    fsica, psquica ou moral, por fim o bem-estar e a qualidade de vida.

    A cobertura vegetal dos espaos verdes urbanos que compe a paisagem urbana pode

    servir como indicador de qualidade ambiental. Para Nucci (2001), a vegetao um atributo

    muito importante, porm negligenciado no desenvolvimento das cidades. Em planejamento da

    paisagem, quando se fala em planejar com a natureza, est se falando principalmente da

    vegetao. So a partir dela que muitos problemas sero amenizados ou resolvidos e,

    portanto, a cobertura vegetal deve ser cuidadosamente considerada na avaliao da qualidade

    ambiental em termos qualitativos e quantitativos, como, tambm, a sua distribuio espacial

    no ambiente urbano.

    A paisagem brasileira caracteriza-se pela grande heterogeneidade de situaes, devido

    extenso do pas, que abarca diversos ecossistemas e uma riqueza geomorfolgica

    expressiva. Localizado nas regies tropical e subtropical, o Brasil apresenta grande parte das

    suas paisagens dominadas por uma vegetao caracterstica destas regies. A vegetao,

    nativa e extica, largamente utilizada por paisagistas na construo dos espaos livres

    urbanos e rurais.

    Observa-se que, na maioria das situaes, os espaos livres urbanos no so

    configurados por vegetao e sim pela massa construda e pelo suporte fsico, nas mais

    diversas formas de modelagem.

    Segundo Macedo (1999, p.16), o conceito de arquitetura paisagstica

    corresponde a uma ao especfica de projetos, que passa por um processo de criao

    a partir de um dado programa, visando atender solicitao de resoluo de uma

    demanda social requerida por um interlocutor especfico, seja ele o Estado, um

    incorporador imobilirio ou uma famlia.

    O planejamento paisagstico urbano, por suas peculiaridades, exige uma equipe

    multidisciplinar de especialistas em diversas reas, pois o projeto do espao livre em se

    tratando de cidades, nunca est dissociado do contexto urbano no qual est inserido.

    A histria do paisagismo brasileiro teve a sua origem no sculo XVIII com a obra

    marco do Passeio Pblico e foi consolidada durante o sculo XIX com o processo de

    urbanizao nacional, em especial no Segundo Imprio.

  • 19

    Como figuras emblemticas do paisagismo no Brasil do II Imprio, destacam-se os

    paisagistas estrangeiros John Tyndale e Auguste Marie Franois Glaziou. Tyndale

    transformou em um jardim a mata virgem do Parque Lage, em 1840. O jardim permanece at

    o presente momento, quase que inalterado. O projeto inicial inclua uma parte de floresta

    nativa, com um grande nmero de rvores importantes junto ao elemento de soluo

    paisagista: pavilho, lago, gruta e pontes e as alias de palmeiras imperiais.

    Glaziou foi convidado pelo Imperador D. Pedro II para ocupar o cargo de Diretor

    Geral de Matas e Jardins, transferindo-se para o Brasil em 1858. Deixou a sua marca

    registrada na histria do paisagismo brasileiro, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.

    Alm de cuidar dos jardins imperiais, imps a sua prpria marca nos espaos em que

    interferiu, de maneira diferente dos padres usados, at ento. Com relao s suas

    caractersticas compositivas, o jardim vai seguir, sobretudo, a soluo paisagista. Glaziou,

    alm de paisagista era coletor de plantas, descobrindo espcies novas, algumas recebendo o

    seu nome (Macedo, 1999).

    Segundo Macedo e Sakata (2003), a evoluo das linhas de projetos paisagsticos dos

    parques urbanos brasileiros passou por grandes transformaes ao longo dos quase duzentos

    anos de existncia e, neste perodo, so identificadas trs grandes linhas projetuais: a Ecltica,

    a Moderna e a Contempornea.

    A primeira linha que orientou o pensamento e a ao projetual paisagstica brasileira

    foi a Ecltica, inspirada diretamente nos manuais europeus e nas obras francesas do sculo

    XIX. Teve como epicentro a cidade do Rio de Janeiro, a capital do Imprio, que foi a primeira

    grande cidade brasileira moderna a adaptar-se aos moldes urbansticos em voga na Europa.

    No Rio de Janeiro, foram construdos e criados jardins e parques, pblicos e privados,

    boulevards, passeios e largos.

    O Ecletismo divide-se em duas correntes bastante diferenciadas: a Clssica, que tm

    como referncia os jardins franceses do sculo XVI e XVII; e a Romntica, onde o espao

    concebido de modo a recriar a imagem do parque e do jardim anglo-francs.

    A influncia francesa na linha projetual Romntica tambm percebida (Macedo,

    1999). Nesta linha, o traado do jardim ou parque ( inglesa) tpico do paisagismo parisiense

    da segunda metade do sculo XIX foi a regra, privilegiando a criao de cenrios buclicos.

    A linha moderna constitui-se no rompimento da influncia europia na concepo do

    espao livre, que passa por fortes influncias tanto nacionalistas quanto americanas. O

    trabalho de Burle Marx o smbolo desta ruptura e obras, como os jardins do Ministrio da

    Educao, 1937 e da praa em frente ao Aeroporto Santos Dumont, so paradigmas desta

    nova postura. Nas figuras 2.3 e 2.4 mostramos algumas obras de Burle Marx.

  • 20

    Figura 2.3 Jardins do Prdio do MEC-Centro-RJ Figura 2.4 Stio Antnio da Bica em Guaratiba-RJ Fonte: Projeto Quap 2002 Fonte: Projeto Quap 2002

    No contexto nacional, o sculo XX representa o perodo de construo da identidade

    da Arquitetura paisagstica brasileira. Este perodo estendeu-se aps a Segunda Guerra

    Mundial e nos seus cinqenta e cinco anos seguintes. A arquitetura paisagstica brasileira

    sofreu forte influncia, principalmente europia, durante o sculo XIX e nas quatro primeiras

    dcadas do sculo XX.

    Foi a partir da obra de Roberto Burle Marx, o mais renomado arquiteto paisagista

    nacional, que houve uma maior expresso da arquitetura paisagstica brasileira. Burle Marx

    comeou a projetar jardins em 1934 e, apesar de buscar pontos no passado, organizava uma

    nova paisagem, com um traado dentro das caractersticas formais do sculo XX.

    Foi a partir da dcada 1930, at a sua morte no incio da dcada de 1990, que o

    paisagista oficial do governo e das elites brasileiras criou projetos para palcios no Rio de

    Janeiro e Braslia. Grandes parques pblicos, jardins e parques particulares e teve, a partir dos

    anos 1950, a sua obra extensivamente divulgada com as obras arquitetnicas e urbanas dos

    arquitetos Oscar Niemeyer e Lcio Costa. A linha contempornea representa a ruptura e a

    releitura do moderno, a releitura do ecletismo, consciente ou no, a introduo dos princpios

    ecolgicos aps os anos 1970.

    A histria do paisagismo da cidade est impressa nos seus jardins, praas e parques

    pblicos. Estes espaos livres caracterizam-se por serem locais de grande expresso na

    paisagem carioca; expressam cenrios reais da vida social urbana, que refletem, em suas

    morfologias, os conceitos culturais determinantes no momento da sua criao.

  • 21

    2.4 Histria e Evoluo dos Parques Urbanos

    Esta seo apresenta o surgimento dos primeiros espaos verdes nas cidades. Iniciando

    pela mudana do pensamento com relao natureza, seguindo a histria evolutiva dos

    jardins italianos e a transformao destes em jardins franceses, passando mais tarde a

    autnticos jardins romnticos ingleses. Um outro caso abordado a criao dos primeiros

    parques urbanos na Inglaterra e o processo evolutivo que trouxe esta idia para o Brasil,

    inicialmente para o Rio de Janeiro.

    A partir do sculo XVI, os jardins e os parques pblicos so os resultados da

    transformao do imaginrio da natureza de hostil para um plano de esprito-culto religioso.

    Em especial, os parques passam a ser fragmentos da natureza no meio urbano. Essa uma

    viso romntica, que se estabeleceu a partir de uma mudana da mentalidade ocidental sobre a

    importncia da conservao, que v nos grandes espaos naturais o alvio dos problemas da

    cidade.

    Na segunda metade do sculo XV e do sculo XVI, no perodo do Renascimento, as

    transformaes culturais, sociais e econmicas, unidas valorizao da razo e da natureza,

    com a adoo de mtodos experimentais e de observao. Os humanistas comearam a

    investigar a fitogeografia e os hbitos de crescimento das plantas. Estas mudanas acarretaram

    uma transformao na configurao de novos espaos nas principais cidades da Europa. Para

    Segawa (1996), os jardins e os parques pblicos vo surgir destas mudanas que,

    efetivamente, foram materializados enquanto espaos pblicos urbanos.

    nesse momento que surge o primeiro grande modelo de jardim, o Jardim Italiano ou

    jardim renascentista com as rvores organizadas em um arranjo simtrico, mantendo um

    alinhamento, que proporcionava ao espao uma organizao racional.

    Para Terra (2004), no Renascimento e no Maneirismo que os jardins botnicos

    comeam a ser planejados com a mesma preocupao esttica utilizada nos jardins de prazer,

    ou seja, jardins que proporcionam momentos de plena satisfao. Nesse modelo de jardim,

    encontramos uma configurao inicialmente simples envolvendo as rvores.

    Segundo Andrade (2004), os jardins de prazer eram considerados nas cidades

    europias, objeto de deleite, geralmente afastados dos centros e inseridos nas propriedades

    privadas. As composies paisagsticas eram, tambm, valorizadas por suas funes

    ambientais.

    Segundo Terra (2004) e Andrade (2004), no final do sculo XVII surge o modelo do

    jardim francs ou jardim clssico, estes representam uma revoluo na arte da paisagem

  • 22

    construda. Os jardins franceses caracterizam-se por mostrar a natureza dominada pelo

    homem, prevalecendo a geometria e a uniformidade simtrica.

    O modelo do jardim barroco francs, que se conservou por dois sculos, substitudo

    por um novo modelo, de linhas curvas, modelado de relevo em colinas macias, rios e lagos,

    extensos gramados e grupos de rvores, imaginando-se o que se percebia na natureza. neste

    momento, no final do sculo XVII, que o jardim romntico ingls comea a ser consolidado e

    vai mudar toda a linguagem geomtrica e arquitetnica do jardim clssico francs.

    Segundo Terra (2004, p. 41), o jardim ingls com seus elementos sinuosos,

    seu romantismo, sua nova estrutura, seus componentes engraados e loucos cria, com

    rvores plantadas pelo homem, um ambiente com o aspecto de natural. A natureza

    deve parecer intocada e no um trabalho realizado pelo homem. Esse modelo de

    jardim vai ser usado na Frana e chega depois ao Brasil. um novo pensar sobre a

    natureza.

    Na Europa, os jardins do sculo XVIII seguiram a nova idia de ser um autntico

    parque natural. Surgiu uma viso de jardim, em que este deve ser uma fonte de sensaes e

    surpresas, influenciadas pelo passado clssico. Estes novos jardins foram estruturados a partir

    de princpios bsicos para sua configurao como espaos submetidos arte da natureza

    (Andrade, 2004).

    No final do sculo XVIII e incio do sculo XIX, apareceram os primeiros espaos

    ajardinados projetados para o uso pblico, os jardins e tambm os primeiros parques urbanos.

    Os jardins e parques reais eram abertos ao pblico somente em ocasies especiais. Na Frana,

    no perodo ps-revoluo, os espaos ajardinados reais foram abertos ao pblico sem restrio

    (Santucci, 2003).

    As transformaes provocadas pela Revoluo Industrial no sculo XVIII, a

    mecanizao da lavoura e xodo rural, aplicao de novos materiais e tcnicas construtivas,

    aquisio de novos espaos e uma urgente reforma para dar infra-estrutura s cidades, entre

    outras, marcaram a criao dos primeiros parques urbanos na Inglaterra, antes restritos s

    residncias privadas.

    Com o crescimento das cidades e a destruio das florestas, o interesse por jardins e

    parques apareceu como um contraponto sociedade industrial e passou a fazer parte do

    cotidiano urbano. Associados a este pensamento estavam as primeiras idias de lazer e

    conceitos higienistas do sculo XIX na Europa. A corrente dos mdicos higienistas defendia a

    criao de espaos ajardinados nas cidades, a fim de promover um modo de vida mais

    saudvel, comparando os parques aos pulmes, necessrios para revigorar a atmosfera

    (Santucci, 2003).

  • 23

    nos anos de 1850 e 1860 que os parques ganham corpo na Europa, inicialmente nos

    planos urbansticos da Frana em Paris, idealizado pelo Baro Georges-Eugne Haussmann.

    A fonte de inspirao do parque urbano foi o modelo paisagstico dos jardins ingleses do

    sculo XVIII, que tiveram origem nas idias romnticas de volta natureza do sculo XVII,

    criando novas sensibilidades, em que a cincia possua algum domnio sobre a natureza, e a

    natureza, que era ameaadora, passa a ser fascinante, devido aos estudos desenvolvidos pela

    sociedade intelectual europia, sobre a fauna e a flora (Silva, 2003).

    Do ponto de vista conceitual da poca, o parque tem como base um ideal paisagstico,

    entendido como um espao livre de grande dimenso, em que predominam elementos naturais

    e onde o ambiente construdo visto apenas como uma projeo de pano de fundo.

    No final do sculo XVIII, na Inglaterra, o parque surge como fato urbano relevante e

    tem seu pleno desenvolvimento no sculo seguinte, com nfase maior na reformulao

    Haussmann, em Paris, e dos parques americanos, como o Park Moviment liderado por

    Frederick Law Olmsted, em Chicago e Boston.

    O primeiro parque urbano dos Estados Unidos, com estilo de parque romntico, foi o

    Central Park de Nova York, criado por Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux, em 1858,

    com 300 hectares. O estilo de paisagem pastoral serviu de modelo para outros grandes

    parques urbanos. Seus extensos gramados, lagos e grandes massas de vegetao, hoje

    cercados de arranha-cus, seriam os prottipos do parque urbano.

    As principais obras do arquiteto-paisagsta Frederic Law Olmsted, alm do Central

    Park, foram o Prospect Park, do Brooklyn, tambm em Nova York; o Fairmount Park, na

    Filadlfia; o South Park, em Chicago; os jardins do Capitlio, em Washington e o sistema de

    parques de Boston.

    No sculo XIX, surgiram os grandes jardins contemplativos, os parques de paisagem,

    parkways, os parques de vizinhana americanos e os parques franceses formais e

    monumentais. O parque urbano no final do sculo XIX era a representao de certos ideais

    democrticos, tambm considerados uma fonte de benefcios para a sade da populao ao

    desempenhar o papel de pulmes dentro da malha urbana. Nesse perodo, havia a preocupao

    na implantao de parques, com as demandas de equipamentos para recreao e lazer, a

    necessidade de expanso urbana, o novo ritmo de trabalho, alm da necessidade de criao de

    espaos representando osis de ar puro, de contemplao, estimulando a imaginao (Scalise,

    2002).

    O parque La Villete, construdo nos limites de Paris foi formado como espao de

    convergncia social, direcionado para atividades culturais, apresentando reduzida

    concentrao de elementos vegetais. Assemelha-se aos equipamentos dos parques do sculo

  • 24

    XX, apenas pela presena de alguns brinquedos de forma inusitada, mas as quadras

    poliesportivas esto ausentes. Este parque permanece nico por sua qualificao de parque

    voltado s atividades semelhantes, pensadas a partir das novas idias de inserir o parque como

    elemento de revitalizao urbana, com intervenes que buscam recuperar uma rea

    degradada pela dinmica dos processos urbanos (Barcellos, 1999).

    Os novos modos de se entender as cidades surgem com um carter diferenciado, por

    vrias cidades do mundo, como uma nova modalidade de parque, o waterfront ou parque

    litorneo, que tornou-se comum em diversas cidades que se desenvolveram na zona costeira e,

    por isso, tm a faixa litornea como potencial para desenvolver espaos livres pblicos.

    Estes espaos sofreram intervenes de remodelao urbana e revitalizao

    paisagstica, visando a melhoria na qualidade destes. Entre as melhorias esto o calado, a

    ciclovia, as reas com instalao de aparelhos de ginstica e as reas funcionais com

    instalao de bares e espao para feiras (Santucci, 2003).

    O Parque del Litoral de Barcelona um dos mais expressivos exemplos dessa

    modalidade de parque. Construdo para atender aos Jogos Olmpicos de 1992, promoveu a

    revitalizao da rea degradada pelas indstrias atravs da implantao de espaos livres com

    tratamento paisagstico e atendeu a uma nova proposta de ligao da cidade com o mar.

    Esta modalidade de parque litorneo no , tambm, como o La Villete, um local para

    prticas esportivas ou para interao introspectiva com os elementos naturais, mas para o

    footing (equilbrio) e a apreciao da paisagem. Nestes parques, o papel das rvores e do

    ajardinamento da rea restrito, funciona apenas como elemento de composio que permeia

    os espaos livres.

    Os parques do sculo XIX apresentavam um modelo idealizado em bairros burgueses

    e com finalidades de exibio social, como se pode observar. Estes espaos tinham como base

    o ideal do parque paisagstico, porm a verdade que, desde o surgimento dos parques nas

    cidades, estes tm assumido diferentes configuraes e significados, como veremos a seguir,

    especialmente no caso do Brasil.

    No contexto nacional, o sculo XIX o momento da estruturao do Brasil como

    nao. Havia a necessidade de organizar-se, principalmente a partir de 1808 com a chegada da

    famlia real portuguesa. As cidades comeam a estruturar-se e modernizar-se para

    desempenhar novas funes administrativas. Terra (2004) considera que no Brasil a

    implantao de reas verdes surge no final do sculo XVIII no Rio de Janeiro e, durante o

    sculo XIX, em diversas cidades, aliada ao discurso higienista e preocupao com a

    paisagem e a arborizao, que passa a fazer parte da organizao de algumas cidades

    brasileiras.

  • 25

    Segundo Macedo & Sakata (2003), na cidade do Rio de Janeiro so criados os trs

    primeiros parques pblicos, com as caractersticas morfolgicas e funcionais que conhecemos

    hoje. So eles: o Passeio Pblico e o Campo de Santana, estes situados junto ao ncleo

    histrico e centro tradicional da cidade, e o Jardim Botnico, junto ento distante Lagoa

    Rodrigo de Freitas. Em meados do sculo XX, so implantados os primeiros grandes parques

    projetados para o lazer pblico. Neste perodo, foram criados o Parque do Ibirapuera, em So

    Paulo, e o Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro, exemplares de grande significado nas duas

    maiores cidades brasileiras.

    Segundo Barcellos (1999), nas dcadas de 1960, 1970 e 1980, a sociedade brasileira

    passou por profundas transformaes, que parecem ter colocado os parques urbanos no foco

    das polticas pblicas. Houve uma acelerao na velocidade das transformaes econmicas,

    sociais e culturais, imprimindo novos significados aos parques e exigindo que os profissionais

    que trabalham com reas verdes revejam os pressupostos utilizados na definio e

    conceituao de parque.

    As mudanas comportamentais iniciadas nos ltimos trinta anos revitalizaram os tipos

    de uso dos parques ao definirem novos significados ao lazer e recreao ao ar livre. Somado

    a esta, novos papis tm sido atribudos aos parques pelos diversos agentes envolvidos nos

    processos urbanos. Para Barcellos (op. cit.), os novos papis desempenhados pelos parques

    apresentam duas vertentes de aes, que geram mudanas no tratamento da questo do parque

    pblico nas cidades brasileiras.

    A primeira vertente utiliza o parque como estratgia de conservao dos recursos

    naturais, em especial a partir da dcada de 1980, quando a questo ambiental

    institucionalizada no aparelho estatal brasileiro. Essa linha de ao a mais evidente e

    consolidada, inclusive por j ter proporcionado o surgimento de um nmero considerado de

    parques denominados ecolgicos nas cidades. Estes objetivam, prioritariamente, a

    conservao dos recursos naturais, em geral de remanescentes de vegetao em reas que

    esto sob presso dos impactos gerados por diversos fatores decorrentes da urbanizao. A

    estas funes so associadas as do uso para o lazer da populao. O parque ecolgico, embora

    seja uma rea de domnio pblico, destina-se ao uso, com atividades de lazer limitadas,

    funcionando, tambm, como unidade de conservao e preservao de reas naturais.

    A segunda vertente de aes menos evidente, at porque, somente nos ltimos anos

    vem-se manifestando de modo mais consistente nas cidades brasileiras, e dizem respeito ao

    uso dos parques como elementos de dinamizao da economia urbana, especialmente das

    atividades ligadas ao lazer e ao turismo. Nesse sentido, o que h de novo o sentido de

    eficincia que se procura imprimir aos parques pblicos e evoluo das suas funes. Essas

  • 26

    funes requalificam o parque e novas denominaes e novos objetivos so atribudos a eles,

    como por exemplo, parque ecolgico e parque temtico (Macedo & Sakata, 2003).

    So diversas as questes que propiciaram o surgimento dos parques urbanos nas

    cidades brasileiras. No entanto, observa-se que a temtica da evoluo das funes ambientais

    est mais focada para os motivos que levaram a criao e requalificao de novas

    modalidades de parque, com novas denominaes e tipos de uso.

    relevante, contudo, avaliar que os antigos parques, em especial o Passeio Pblico,

    tiveram a sua criao influenciada pela maneira de se pensar a cidade na poca, motivada

    pelas novas idias que surgiam na Europa, voltadas para o usufruto dos espaos ao ar livre

    associado ao discurso higienista, que defendia a importncia destes espaos para uma vida

    mais saudvel, comparando os parques aos pulmes, necessrios para revigorar a atmosfera.

    No Brasil, as polticas pblicas nunca dispensaram a merecida ateno questo dos

    parques urbanos, na medida em que predomina a tendncia de reduzi-lo a uma imagem, que,

    em muitos casos, encontra-se superada. Esta condio dificulta a gesto destes espaos,

    devido falta de compreenso das novas funes que os parques tm assumido nas cidades.

    2.5 Parque Nacional da Tijuca

    O Parque Nacional da Tijuca o nico do Brasil localizado em rea urbana, na Cidade

    do Rio de Janeiro, sendo considerado um dos maiores parques urbanos do mundo. Em 1991, o

    Parque foi declarado Reserva da Biosfera pela Organizao das Naes Unidas para a

    Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO), em reconhecimento da importncia do seu

    acervo natural para o ecossistema mundial. O parque possui massa florestada que, interligada

    s reas adjacentes, desempenha o papel de redutor da poluio e amenizador do clima da

    cidade, alm de contribuir para a conteno e estabilizao das encostas e proteo dos

    mananciais do Macio da Tijuca.

    A criao do parque se deu pelo Decreto Federal n 50.923, de 06/07/61, com a

    denominao de Parque Nacional do Rio de Janeiro. O Decreto Federal n 60.183, de

    08/02/67 altera o nome para Parque Nacional da Tijuca e estabelece as dimenses e demais

    caractersticas (IPP, 2004).

    A rea do parque possui trs importantes conjuntos paisagsticos distintos da cidade:

    Andara-Tijuca-Trs Rios, conhecido como Floresta da Tijuca; Corcovado-Sumar-Gvea

    Pequena; Pedra Bonita-Pedra da Gvea.

    Recentemente, o Parque Nacional da Tijuca teve a sua rea ampliada pelo Decreto

    03/2004, passando de 3,2 mil hectares para 3,95 mil hectares. Passou a incorporar o Parque

  • 27

    Lage e a rea chamada de conjunto Pretos Forros/Covanca. Alm disso, foram corrigidos os

    limites da unidade em diversos pontos, chegando a um aumento real de 753 hectares (IPP,

    2004).

    A Floresta da Tijuca considerada a maior rea de Floresta Tropical em meio urbano

    do mundo. O Parque administrado pelo IBAMA em parceria com a Prefeitura da Cidade do

    Rio de Janeiro. O histrico do parque nos revela parte da histria da prpria cidade, que

    contribui para o nosso estudo, tendo em vista que o Passeio Pblico est intimamente inserido

    neste contexto.

    A floresta hoje existente no a original, fruto de um longo processo de

    reflorestamento, realizado durante a segunda metade do sculo XIX, com o objetivo de

    recuperar os principais mananciais de gua que abasteciam a cidade. Estes mananciais

    comeavam a apresentar reflexos da forma de ocupao predatria que prevaleceu durante os

    sculos XVII e XVIII, quando a Floresta Atlntica foi praticamente devastada, para dar lugar

    a diferentes plantaes, principalmente a cultura do caf.

    A iniciativa de maior repercusso foi, sem dvida, o reflorestamento da regio

    devastada. A empreitada foi iniciada em 1861, sob a conduo do Major da Guarda Nacional,

    Manuel Gomes Archer e do Administrador Thomas Nogueira da Gama. Durante os 13 anos

    de atuao do Major Archer, foram plantadas cerca de 80 mil mudas de diversas espcies de

    rvores exticas e nativas. Thomas da Gama em seus 25 anos de administrao conseguiu

    plantar mais de 20 mil mudas, alm de ampliar e melhorar a rede de trilhas e caminhos de

    acesso ao Silvestre, s Paineiras e ao Corcovado, contribuindo para aumentar o nmero de

    visitantes na regio durante aquele perodo (IPP, 2004.).

    Em 1874 o Coronel Gaston de Robert D Eseragnolle assumiu a tarefa de cuidar da

    Floresta da Tijuca, tendo como colaborador o botnico e paisagista francs Auguste Franois

    Marie Glaziou. O trabalho da dupla durou at o ano de 1888 e voltou-se, principalmente para

    o embelezamento da rea, que recebeu jardins de estilo francs, o que, na verdade, era o

    jardim romntico ingls que estava vindo para o Brasil via Frana, com pontes, lagos e

    mirantes. Ainda assim, foram plantadas mais de 35 mil mudas de rvore no mesmo perodo

    (IPP, op. cit.).

    O Parque Nacional da Tijuca, alm de desempenhar todas as funes ecolgicas que

    uma floresta possui, oferece inmeras possibilidades para o lazer e para o turismo ecolgico e

    cultural. Abriga um dos principais pontos tursticos do Rio de Janeiro: a esttua do Cristo

    Redentor, considerada smbolo da cidade e do pas. Podemos citar diversos tipos de usos para

    o parque, entre os quais se destacam; os passeios e caminhadas, os inmeros locais para

    piqueniques, recreao infantil, descanso e contemplao e passeios de bicicleta entre outros.

  • 28

    Segundo o IBAMA, a unidade de conservao uma das mais importantes reas de

    lazer e prticas de esportes, disponvel para a populao, a grande beneficiada, alm de ser

    atrao turstica nacional e internacional. De acordo com informaes do IBAMA, mais de

    um milho e meio de pessoas, entre turistas brasileiros e estrangeiros, visitam o parque a cada

    ano.

    De todos os benefcios sociais e econmicos que o parque gera para a cidade, destaca-

    se a funo de proteger uma amostra de Mata Atlntica dentro de uma regio metropolitana,

    preservando as nascentes que abastecem a populao urbana em seu entorno, como as dos rios

    Carioca e Maracan, alm de resguardar uma flora e fauna bastante rica e abundante e outros,

    ameaados ou em perigos de extino. Como podemos perceber, o Parque Nacional da Tijuca

    possui destaque e relevncia como parque urbano da Cidade do Rio de Janeiro.

    O parque no est livre dos problemas existentes na cidade e sofre com a poluio e

    expanso urbana descontrolada. No entorno da unidade de conservao vivem 46

    comunidades, com as quais so desenvolvidos programas sociais e de educao ambiental

    pelo IBAMA e Prefeitura do Rio de Janeiro. Esse trabalho visa diminuir a presso antrpica

    sobre o parque (IPP,2004).

    2.6 Planejamento Urbano e Ambiental

    A presente seo visa discutir a importncia da paisagem urbana para o planejamento

    das cidades. A qualidade da paisagem vai influenciar a qualidade de vida das pessoas. Essa

    uma questo que deve envolver diversas reas de estudo, pois contribui positiva ou

    negativamente para os setores como transporte, habitao, trabalho, segurana e todos os

    aspectos que envolvem a gesto urbana.

    A vinculao dos estudos da paisagem com o planejamento da paisagem urbana

    merece uma ateno especial quando analisamos os espaos livres pblicos, por serem estes

    partes do mosaico heterogneo das cidades. As dificuldades encontradas na definio dos

    termos relacionados com espaos nas cidades aparecem no planejamento urbano, quando se

    deve pensar a cidade como uma totalidade que faz parte de uma totalidade ainda maior, assim

    como a rua um todo que faz parte da cidade. A viso global da cidade importante para que,

    ao planejar as suas partes, essas possam funcionar isoladamente, sempre guardando e

    respeitando as relaes entre si.

    A viso multidisciplinar do espao deve ser a base do planejamento nos aspectos

    sociais, econmicos e ambientais, fazendo-se necessrio a diviso desse espao,

    considerando, porm, as suas variveis e inter-relaes. Para Nucci (2001), o que acontece na

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    prtica que, na hora de se fechar o planejamento final, nem todos os aspectos so

    considerados na tomada das decises, prevalecendo, sempre, a questo econmica em

    detrimento das socioambientais e existenciais.

    Muitas vezes, o planejamento tambm, fundamenta-se somente em medidas de ordem

    tecnolgica, no levando em considerao o ordenamento