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Agradecimentos
Agradecemos o apoio da secretaria em todas as etapas do encontro, especialmente de Geni Ferreira Lima,
Luciana Nóbrega, Maria Helena de Souza, Marie Marcia Pedroso, Ruben Dario, Lucas Riello de Almeida,
Samara Konno Fiuza e Susan Thiery Satake.
Aos professores com os quais conversamos e que nos ajudaram a dar forma ao encontro: Alberto Ribeiro
Gonçalves de Barros, José Carlos Estêvão, Léon Kossovitch, Moacyr Ayres Novaes Filho, Marcos Nobre,
Maurício de Carvalho Ramos, Milton Meira do Nascimento, Ricardo Ribeiro Terra, Victor Knoll e Vladimir
Pinheiro Safatle.
Aos pós-doutorandos e professores pela coordenação das mesas.
Ao Departamento de Filosofia pelo apoio institucional.
Programação
16 a 20 de setembro
2
Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira
10h – 12h Credenciamento Mesas 3 Mesas 5 Mesas 7 Mesas 9
Almoço
14h – 16h Mesas 1 Mesas 4 Mesas 6 Mesas 8 Mesas 10
Intervalo
16h30 –
18h30 Mesas 2
“Presença da
tradição
crítica
brasileira,
formação do
pesquisador
em filosofia” Prof. Dr. Silvio
Rosa Filho
(Unifesp)
“Percurso
Acadêmico” Prof.ª Dr.ª
Marilena Chauí
(USP)
“Cânone
filosófico:
sobre a
possibilidade
de uma
Filosofia
Oriental” Prof. Dr.
Antônio
Florentino Neto
(Unicamp)
Encerramento
: “Filosofia,
Universidade
e Espaço
Público” Prof.
Dr. Vladimir
Pinheiro
Safatle (USP)
Jantar
19h30 -
21h30
Abertura:
Formação e
Profissionalização
na pós-graduação Prof. Dr. Ricardo
Terra (USP)
“Questões
estruturais da
pós: agências e
políticas de
fomento” Prof. Dr.
Ernani Pinheiro
Chaves
(UFPA)
“Percurso
Acadêmico” Prof. Dr. Léon
Kossovitch
(USP), Prof.
Dr. Ricardo
Nascimento
Fabbrini (USP)
”Pesquisa em
filosofia: o
significado do
projeto a
partir da
unidade da
trajetória de
pesquisa” Prof. Dr.
Maurício de
Carvalho
Ramos (USP)
Mesas de comunicações
Segunda-Feira 14h – 16h30
3
Feminismo (SALA 8)
Coordenação: Dra. Beatriz Barcellos Machado
- Djamila Taís Ribeiro dos Santos (Universidade Federal de São Paulo)
Simone de Beauvoir e Judith Butler: aproximações e distanciamentos e os critérios da ação
política
- Juliana Oliva (universidade São Judas Tadeu)
O vestir-se como tornar-se objeto para Simone de Beauvoir
- Emanuel Angelo da Rocha Fragoso (Universidade estadual do Ceará e Universidade de São
Paulo)
A interdição política das mulheres no TP de Benedictus de Spinoza
Platão I (SALA 113)
Coordenação: Dr. Simon Noriega-Olmos
- André Luiz Braga da Silva (Universidade de São Paulo)
O método multidirecional e o blefe do Estrangeiro de Eleia: Sofista 232ª
- Henrique Gonçalves de Paula (Universidade de São Paulo)
A crítica ao hedonismo no Górgias de Platão
- Natalia Costa Rugnitz (Universidade Estadual de Campinas)
La lejanía del Bien en República VI y el posible “pesimismo gnoseológico” de Platón
4
Kant I (SALA 115)
Coordenação: Dr. Valter José Maria Filho
- Ana Paula de Oliveira (Universidade Estadual Paulista)
Uma suposta contradição na noção de tempo apresentada por Kant na Estética Transcendental:
da possibilidade do caráter temporal dos objetos
- Paulo Borges de Santana Júnior (Universidade de São Paulo)
Kant e os obstáculos ao pensamento livre
- Mario Spezzapria (Universidade de São Paulo)
Dissolução da finalidade técnica e surgimento do tema da vida na Crítica do Juízo segundo
Gérard Lebrun
Segunda-Feira 16h30 – 18h
Espinosa (SALA 8)
Coordenação: Dr. Emanuel Rocha Fragoso
- Fran de Oliveira Alavina (Universidade de São Paulo)
Das paixões aos afetos: distintas concepções de amor no Breve Tratado de Espinosa
- Ravena Olinda Teixeira (Universidade Federal do Ceará)
5
O corpo na filosofia da imanência
Husserl (SALA 113)
Coordenação: Dra. Silvana Ramos
- Denise Damaris da Silva (Universidade Federal de Minas Gerais)
O caminho de Husserl rumo à intersubjetividade
- Tayrone Barbosa Justino Alves (Universidade Federal de São Carlos)
Subjetividade e Tempo na Fenomenologia de Husserl
- Afrânio Rami Coelho Sales (Universidade Federal do Ceará)
Investigações para a genealogia do conceito de Mundo da Vida
Wittgenstein (SALA 115)
Coordenação: Dr. Antonio Ianni Segatto
- Raquel Albieri Krempel (Universidade de São Paulo)
Wittgenstein e o problema do mundo exterior
- Roberto Carlos Pignatari (Universidade de São Paulo)
SILÊNCIO IMEDIATO – Mística e linguagem primitiva no pensamento de Wittgenstein
- Karina da Silva Oliveira (Universidade Estadual Paulista)
6
Linguagem, representação da realidade e existência: a capacidade de dar significado ao mundo
na filosofia da linguagem de Ludwig Wittgenstein
Segunda-Feira 19h30 – 21h30
Abertura: Formação e Profissionalização na pós-graduação - Prof. Dr. Ricardo
Terra (USP)
Terça-Feira 10h-12h30
Nietzsche (SALA 8)
Coordenação: Dr. Eduardo Nasser
- Ronaldo Zanella (Universidade Federal da Paraíba)
Homero e o jovem Nietzsche
- Eder Corbanezi (Universidade de São Paulo)
Nietzsche e a distinção entre as artes de interpretação boas e ruins
- Guilherme Lanari Bó Cadaval (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
A sedução da linguagem segundo Nietzsche
- Daniel Quaresma Figueira Soares (Universidade de São Paulo)
7
A crítica a Schopenhauer durante o período intermediário da obra nietzschiana
São Tomás de Aquino (SALA 113)
Coordenação: Dra. Cristiane Negreiros Abbud Ayoub
- Matheus Barreto Pazos de Oliveira (Universidade Estadual de Campinas)
A dupla caracterização do bem em Tomás de Aquino: propriedade transcendental e
transcendente?
- Evaniel Brás dos Santos (Universidade Estadual de Campinas)
Princípio de existência e princípio de movimento em Tomás de Aquino
- Matheus Henrique Gomes Monteiro (Universidade Estadual de Campinas)
Tomás de Aquino e possibilidade enquanto “poder ser feito”
- Pedro Konzen Capra (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Lei Natural, Virtude Moral e Hábito para Tomás de Aquino
Educação (SALA 115)
Coordenação: Dr. Celso F. Favaretto
- Tiago Brentam Perencini (Universidade Estadual Paulista)
Um olhar arqueológico sobre a escassez e a restrição do debate sobre o ensino de filosofia no
Brasil
- Vandré Kopcak (Universidade Federal do ABC)
8
Campo da educação científica no Brasil: genealogia e condições de produção
- Fernando Sepe (Universidade Federal de São Carlos)
Para além do estruturalismo em história da filosofia: Deleuze e Foucault
Política I (SALA 117)
Coordenação: Dr. Milton Meira do Nascimento
- Martha Gabrielly Coletto Costa (Universidade de São Paulo)
Claude Lefort e os primeiros movimentos da crítica à ideologia
- Alexandrina Paiva da Rocha (Universidade de São Paulo)
Reformulação Arendentiana dos Direitos Humanos – Paradoxos, Fraquezas e Perigos.
- Douglas Rogério Anfra (Universidade de São Paulo)
Guerra e filosofia política: desafios à interpretação
Infinitude (SALA 1031)
Coordenação: Dr. Valter Alnis Bezerra
- Willian Ricardo dos Santos (Universidade Federal de Minas Gerais)
Do Uno ao Múltiplo: A Ontologia do diálogo De la Causa de Giordano Bruno
- Pedro Henrique Ciucci da Silva (Universidade Federal de São Paulo)
A visão de Kepler na Revolução Copernicana
9
- Guilherme José Santini (Faculdade de São Bento de São Paulo)
A abolição da teleologia sobrenatural na Weltanschauung do Renascimento
Terça-Feira 14h-16h30
Filosofia Antiga (SALA 1041)
Coordenação: Dr. Bruno Conte
- Ricardo Antonio Fidelis de Lima (Universidade de São Paulo)
De Ira de Sêneca: Uma proposta de análise
- Thiago Harrison Felício (Universidade Estadual de Campinas)
Epicuro contra a predição
- Jean George Farias do Nascimento (Universidade Federal de Minas Gerais)
O guardião da República, a figura platônica em intertextualidade com a Ilíada
Iluminismo Francês (SALA 103)
Coordenação: Dr. Eduino José de Macedo Orione
- Camila Sant’Ana Vieira Ferraz Milek (Universidade Federal do Paraná)
A moral sensualista de Helvétius pelo princípio do interesse.
10
- Lourenço Fernandes Neto e Silva (Universidade de São Paulo)
O Signo no Ensaio sobre a Origem dos Conhecimentos Humanos de Condillac
- Homero Santos Souza Filho (Universidade de São Paulo)
Educação e desnaturação no Emílio de Rousseau
- Nelson Maria Brechó da Silva (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
A amizade e a precariedade humana em Montaigne: uma abordagem humanista
Psicanálise I (SALA 24)
Coordenação: Dra. Mariana Pimentel
- Luiz Fernando Botto Garcia (Universidade de São Paulo)
Hipóteses sobre o ser no seminário sobre o desejo
- Guilherme Marconi Germer (Universidade Estadual de Campinas)
Freud na Proximidade da “Escola de Schopenhauer”
- Suzan Cristina dos Anjos (Universidade Federal do Paraná)
A Metapsicologia Freudiana em Herbert Marcuse – Obsolescência e Provocação
Terça-Feira 16h30-18h30
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Presença da tradição crítica brasileira, formação do pesquisador em filosofia -
Prof. Dr. Silvio Rosa Filho (Unifesp)
Terça-Feira 19h30-21h30
Questões estruturais da pós: agências e políticas de fomento - Prof. Dr. Ernani
Pinheiro Chaves (UFPA)
Quarta-Feira 10h-12h30
Sartre (SALA 12)
Coordenação: Dr. Márcio Alves de Oliveira (Instituto Federal de São Paulo)
- Carlos Eduardo de Moura (Universidade Federal de São Carlos)
As Ciências humanas e o inumano: a base antropológica da produção do saber e o resgate da
subjetividade
- Luciana Lima Fernandes (Universidade Federal do Ceará)
Sartre, a liberdade e o engajamento
- Lucila Lang Patriani de Carvalho(Universidade de São Paulo)
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O estatuto da pintura em Sartre
- Simone Teixeira Bernardo (Universidade Estadual do Ceará)
Indivíduo versus multidão: a existência na perspectiva kierkegaardiana
Descartes (SALA 10)
Coordenação: Dra. Celi Hirata
- Arthur Feitosa de Bulhões (Universidade Estadual de Campinas)
As Regulae ad directionem ingenii e a naturalização do método cartesiano
- Sacha Kontic (Universidade de São Paulo)
A imagem como paradigma da ideia em Descartes e Leibniz
- Louis de Freitas Richard Blanchet (Universidade Federal do Paraná)
Movimento e continuidade na física cartesiana
Filosofia e Sociedade (SALA 104-A)
Coordenação: Dr. Ricardo Ribeiro Terra
- Flávio Azevedo Reis (Universidade de São Paulo)
Liberalismo e o bem: algumas questões sobre o debate liberal-comunitarista
- Elisângela Amaral Soares Osório (Universidade Federal do Piauí)
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O papel da História na construção da filosofia moral de Alasdair MacIntyre
- Felipe Augusto de Luca (Universidade de São Paulo)
De Mônadas a Sistemas: expressiidade e comunicação nos pensamentos de G. W. Leibniz e N.
Luhmann
- Anderson Aparecido Lima da Silva (Universidade de São Paulo)
Michel Foucault: considerações sobre democracia e parrhesia
Filosofia da Ciência (SALA 104-B)
Coordenação: Dr. Lorenzo Baravalle
- Rodrigo de Ulhôa Canto Reis (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
O Anti-Ceticismo de Peter Strawson: o caso da reduplicação em massa
- Paulo Pirozelli Almeida Silva (Universidade de São Paulo)
Paradigma e episteme: Aproximações entre Thomas Kuhn e Michel Foucault
- Tiago Mathyas Ferrador (Universidade de São Paulo)
O futuro do empirismo após van Fraassen: neoinstrumentalismo, empirismo contextual, e
empirismo social
- Daniel Soares da Silva (Universidade Federal de São Paulo)
Referência, necessidade e ciência na filosofia de Saul Kripke
Teoria Crítica (SALA 106-A)
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Coordenação: Dra. Tereza Callado
- Fabiano Barboza Viana (Universidade de São Paulo)
Walter Benjamin e o mito da linguagem adâmica.
- Fernando Araujo Del Lama (Universidade de São Paulo)
Declínio da experiência, memória e redenção: aspectos do modelo de Teoria Crítica de Walter
Benjamin
- Deivisson Oliveira Silva (Universidade Federal de Minas Gerais)
Notas sobre a mediação entre racionalidade subjetiva e objetiva no Eclipse da Razão de Max
Horkheimer
- Francivone Rodrigues da Silva (Universidade Federal do Pará)
Coerção e sociabilização
Quarta-Feira 14h-16h30
Merleau-Ponty I (SALA 12)
Coordenação: Dr. Alex de Campos Moura
- Eloisa Benvenutti de Andrade (Universidade de São Paulo)
O sensível na proposta fenomenológica de Merleau-Ponty
- José Marcelo Siviero (Universidade de São Paulo)
Espacialidade e Existência: a motricidade em sua significação fenomênica.
15
- Beatriz Viana de Araujo Zanfra (Universidade Federal de São Paulo)
Liberdade e temporalidade na fenomenologia de Merleau-Ponty
Kant II (SALA 104-B)
Coordenação: Dr. Valter José Maria Filho
- Rodrigo Luiz Silva e Souza Tumolo (Universidade de São Paulo)
Ética kantiana: recuperando as principais noções a partir da Fundamentação da Metafísica dos
Costumes
- Rodrigo Andia Araújo (Universidade de São Paulo)
Kant e a História da Filosofia
- Darley Alves Fernandes (Universidade Federal de Goiás)
A distinção kantiana entre ação humana e evento natural
Quarta-Feira 16h30-18h30
Percurso Acadêmico - Prof.ª Dr.ª Marilena Chauí (USP)
Quarta-Feira 19h30-21h30
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Percurso Acadêmico - Prof. Dr. Léon Kossovitch (USP), Prof. Dr. Ricardo
Nascimento Fabbrini (USP)
Quinta-Feira 10h-12h30
Filosofia e Literatura (SALA 10)
Coordenação: Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini
- Gilberto Bettini Bonadio (Universidade Federal de São Paulo)
Aproximações no diálogo entre Filosofia e Literatura
- Benito Eduardo Araujo Maeso (Universidade de São Paulo)
Forma e Estilo em Kafka: um diálogo conceitual entre Adorno e Deleuze
- André Paes Leme (Universidade de São Paulo)
A Crítica da Inteligência na obra de Marcel Proust
Foucault (SALA 12)
Coordenação: Dr. Maurício Cardoso Keinert
- Caio Augusto Teixeira Souto (Universidade Federal de São Carlos)
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Sobre o poder da norma em Michel Foucault: de O nascimento da clínica a Os anormais
- Cicero Feitosa Gomes (Universidade Federal Fluminense)
Controle e Disciplina na produção do Sujeito em Foucault
- Valdir de Volpato Fornel Junior (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
A questão do Governo Pastoral em Segurança, Território, População de M. Foucault
Filosofia Medieval (SALA 115)
Coordenação: Dra. Cristiane Negreiros Abbud Ayoub
- André Luís Tavares (Universidade Federal de São Paulo)
A reelaboração da noção boeciana de Pessoa na Summa Theologiae de Tomás de Aquino
(Primeira Parte, questão 29)
- Gustavo Barreto Vilhena de Paiva (Universidade de São Paulo)
A doutrina da causalidade concorrente em João Duns Escoto
- Arthur Klik de Lima (Universidade de São Paulo)
Conhecimento humano e Sabedoria divina: notas sobre a atividade profética em Averróis
Empirismo Britânico (SALA 106-A)
Coordenação: Dr. Caetano Ernesto Platino
- Luama Socio (Universidade de São Paulo)
18
O absurdo da matéria e a palavra extraviada: uma contribuição emprestada de Berkeley para a
construção de um olhar crítico sobre a filosofia da ciência
- Stephanie Hamdan Zahreddine (Universidade Federal de Minas Gerais)
Costume e hábito no livro I do Tratado de Hume: estudo filosófico-conceitual
Bergson (SALA 106-B)
Coordenação: Dra. Astrid Sayegh
- Rafael Henrique Teixeira (Universidade Federal de São Carlos)
Atividade criadora e especulação filosófica: aspectos do problema da vida em Henri Bergson
- Maria Fernanda Novo dos Santos (Universidade Estadual de Campinas)
A ciência dos problemas em Henri Bergson
- Marcos Daniel Camolezi (Universidade de São Paulo)
Causalidade na obra de Jules Lachelier
Quinta-Feira 14h-16h30
Psicanálise II (SALA 1041)
Coordenação: Dra. Mariana Pimentel
- Bruno Carvalho Rodrigues de Freitas (Universidade de São Paulo)
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“Dialética do Esclarecimento” e psicanálise: aproximações.
- Felício Ramalho Ribeiro (Universidade Federal de Minas Gerais)
As duas faces de Circe: a tortuosa dialética entre prazer e autoconservação em Adorno
- Rafael Gargano (Universidade de São Paulo)
Filosofia e Desejo em Lyotard
Filosofia Alemã (SALA 103)
Coordenação: Dra. Maria Lúcia Mello e Oliveira Cacciola
- Larissa Drigo Agostinho (Universidade de Paris IV-Sorbonne)
Da racionalidade do real
- Paula Bettani Mendes de Jesus (Universidade de São Paulo)
O despertar de Baruch de Espinosa na Alemanha
- Gabriel Almeida Assumpção (Universidade Federal de Minas Gerais)
Qual a origem da crença? A confrontação entre Kant e Feuerbach
- Felipe Thiago dos Santos (Universidade Estadual Paulista)
A influência da música de Frederic Chopin na obra filosófica de Friedrich Nietzsche
Arte do XVIII (SALA 24)
Coordenação: Pedro Gale
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- Luiz Henrique Alves de Souza Monzani (Universidade Federal de São Carlos)
Rousseau e Molière: a crítica ao teatro e a comédia
- Hayane da Costa Freitas (Universidade Federal do Ceará)
Estética e Política: O Lugar do Espaço Cênico na Filosofia de Jean-Jacques Rousseau
- Rodrigo Lopes (Universidade Estadual Paulista)
Mímesis: a tragédia na Poética de Aristóteles e na Ópera Francesa do Século XVIII
Quinta-Feira 16h30-18h30
Cânone filosófico: sobre a possibilidade de uma Filosofia Oriental - Prof. Dr.
Antônio Florentino Neto (Unicamp)
Quinta-Feira 19h30-21h30
Pesquisa em filosofia: o significado do projeto a partir da unidade da trajetória de
pesquisa - Prof. Dr. Maurício de Carvalho Ramos (USP)
Sexta-Feira 10h-12h30
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Estética (SALA 12)
Coordenação: Dr. Luiz Roberto Takayama
- Úrsula Passos (Universidade de São Paulo)
A singularidade da leitura greenberguiana de Kant nos Seminários de Bennington
- Mariana de Campos Bardelli (Universidade de São Paulo)
A dialética negativa das vanguardas
- Rosana de Oliveira (Universidade de São Paulo)
A Mitologia no Romantismo e no Idealismo alemão
- Artur Sartori Kon (Universidade de São Paulo)
O petróleo e o sublime
Platão II (SALA 10)
Coordenação: Frank Viana Carvalho
- Louise Walmsley Nery (Universidade de São Paulo)
Aspectos normativos na República de Platão
- Marcello Fontes (Universidade de São Paulo)
A retórica filosófica do Fedro
- Angelo Balbino Soares Pereira (Universidade de Coimbra)
A compreensão pitagórica da metempsicose
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Ética e Técnica (SALA 103)
Coordenação: Dra. Daniela Rozados
- João Batista Farias Junior (Universidade Federal do Piauí)
O princípio responsabilidade como proposta ética para enfrentamento da crise ambiental e do
niilismo ético contemporâneo
- Nathália Cristina Alves Pantaleão (Universidade Estadual Paulista)
De Turing à cognição situada e incorporada: O desenvolvimento de abordagens contemporâneas
da Inteligência Artificial
Política Moderna (SALA 104-B)
Coordenação: Dr. Paulo Jonas L. Piva
- Eduardo Leonel Corrêa Cardoso (Universidade de São Paulo)
Política em Jean-Jacques Rousseau: entre Utopia e Realismo
- Douglas Antônio Fedel Zorzo (Universidade Estadual do Oeste do Paraná)
Maquiavel e a recusa aos mercenários: uma opção política
Merleau-Ponty II (SALA 106-A)
Coordenação: Dr. Alex de Campos Moura
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- André Dia de Andrade (Universidade Federal do Paraná)
Sobre o Cogito em Merleau-Ponty
- Eduardo Orsolini Fernandes (Universidade de São Paulo)
Metafísica na investigação sobre Natureza em Merleau-Ponty
- Gustavo Luis de Moraes Cavalcante (Universidade Federal de São Carlos)
Fé perceptiva como primeiro passo para o conhecimento, segundo Merleau-Ponty
Sexta-Feira 14h – 16h30
Música (SALA 104-A)
Coordenação: Igor Baggio
- Henrique Rocha de Souza Lima (Universidade Federal de Ouro Preto)
Da Música, de Mil Platôs: a intercessão entre filosofia e música em Deleuze e Guattari
- João Gabriel Rizek (Universidade Estadual Paulista)
Construindo a Tradição: As vanguardas musicais no pós-guerra
Lógica (SALA 104-B)
Coordenação: Dr. João Vergílio Gallerani Cuter
- Anderson Luis Nakano (Universidade Federal de São Carlos)
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Lógica e Inferência no Tractatus
- Rafael dos Reis Ferreira (Universidade Estadual de Campinas)
A importância das propriedades internas para a configuração do espaço lógico no Tractatus de
Wittgenstein
Filosofia, Indivíduo e Sociedade (SALA 106-A)
Coordenação: Dr. Frank Viana Carvalho
- Caroline Ferreira Fernandes (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia)
Um novo modelo de raciocínio prático como uma possível resposta ao fenômeno do
multiculturalismo em Charles Taylor
- Diego dos Santos Reis (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Neoliberalismo, Individualismo e Crise
- Lúcio Vaz (Universidade Federal de Minas Gerais)
Problemas conceituais entre suicídio e auto-sacrifício
Sexta-Feira 10h-12h30
Encerramento: Filosofia, Universidade e Espaço Público - Prof. Dr. Vladimir
Pinheiro Safatle (USP)
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Resumos
Nome: Afrânio Rami Coelho Sales
Instituição: Universidade Federal do Ceará – UFC
Orientador: Prof. Dr. Ivanhoé Albuquerque Leal
Título: Investigações para a genealogia do conceito de Mundo da Vida
Resumo: As investigações que se seguem têm por objetivo desenvolver uma genealogia do
conceito de mundo da vida (lebenswelt) apresentado por Edmund Husserl (1859-1938). Para tanto
são investigados nos dois primeiros momentos dois elementos centrais ao projeto husserliano que
entendemos como constituintes da ideia husserliana de Mundo da Vida, a saber: intuição e Mundo.
Também relevante para a pesquisa é o conceito de horizonte em Husserl por partilhar sua origem
com os conceitos principais estudados. O terceiro momento é dedicado à explanação de como os
dois elementos iniciais são centrais à genealogia do Mundo da Vida sobretudo na forma em que
este conceito aparece pela primeira vez na obra de Husserl, em relação aos juízos predicativos,
apresentada em Experiência e Juízo [Erfahrung und Urteil] (1939) que embora seja de publicação
posterior à A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental (1936) é de
concepção prévia e registra a forma original em que Husserl pretendia apresentar tal conceito.
Nesta linha de pensamento as noções de intuição e Mundo são os germes que em seu
desenvolvimento último se fundem gerando o conceito de Mundo da Vida encontrado em
Experiência e Juízo, tal perspectiva parece mais acertada para tratar do surgimento do Mundo da
vida em Husserl pois demonstra a continuidade de raciocínio entre as obras iniciais de cunho
logicista e a última produção de Husserl – especialmente em se compreendendo Lógica Formal e
Lógica Transcendental [Formale und Tranzendentale Logik] (1929), como esta havia sido
inicialmente planejada por Husserl: uma introdução a Experiência e Juízo.
Palavras-chave: Intuição, Mundo, Mundo da Vida
Nome: Alexandrina Paiva da Rocha
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Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento
Título: Reformulação Arendentiana dos Direitos Humanos – Paradoxos, Fraquezas e Perigos.
Resumo: O século XX foi marcado pela democracia totalitária, tema em que devemos destacar
Hannah Arendt como uma das primeiras filósofas a oferecer uma reflexão sobre os horrores do
totalitarismo na sua obra As Origens do Totalitarismo. Judia refugiada da Alemanha Nazista e
considerada tanto por ela quanto pelos outros como uma pessoa sem Estado, situação que se
arrastou por quase 20 anos tornou-se uma cidadã americana apenas em 1951. Nossa autora aborda
a ruptura da tradição como resultado do fenômeno do totalitarismo entre a idade moderna e o
século XX, argumentando que o regime totalitário rompeu com o fio da tradição, permitindo que
todos pudessem discutir a política e a história, mesmo sem ser detentor do status de filósofo, ela
mesma não se considerava uma. Para ela: ‘maioria das grandes tradições da filosofia política
ocidental a partir de Platão em diante tinha dado uma impressão sistematicamente enganosa da
natureza e as potencialidades da política’.
A partir de sua reflexão sobre o regime totalitário e das respostas obtidas às crises culturais,
políticas e intelectuais de sua época, Arendt chega a questão dos direitos humanos. A análise
aredentiana faz uma descrição das transformações sofridas pelos homens que tornaram-se
cadáveres humanos na Alemanha Nazista, evidencia os paradoxos de tais direitos vinculados à
abstração das Declarações do século XVII, afirmando que Hobbes e Rousseau são os principais
teóricos dessa tradição com idéias que se contrapõem as de Montesquieu e que levou o discurso
dos direitos humanos ao fracasso. Por fim, Arendt não resta apenas nas críticas, mas propõe uma
revalorização dos direitos do cidadão por meio da capacidade de garantir os direitos humanos e
fundar uma articulação entre a universalidade e a diversidade, que tem sua fundamentação no
conceito de humanidade a partir de um diálogo com as idéias do filósofo também alemão,
Immanuel Kant.
Palavras-chave: Totalitarismo, Declarações do século XVII, Direitos Humanos
Nome: Ana Paula de Oliveira
Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Clélia Aparecida Martins
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Título: Uma suposta contradição na noção de tempo apresentada por Kant na Estética
Transcendental: da possibilidade do caráter temporal dos objetos
Resumo: A análise que se pretende desenvolver concerne à acepção de tempo como a priori e
como forma pura da intuição. Inicialmente, como problema a ser investigado nos deparamos na
“Estética”, no segundo argumento da “Exposição metafísica do conceito de tempo” (§ 4), com
afirmações de Kant que dão a entender um suposto caráter temporal dos objetos (A 30-31/B 46 e
B 48). Mas se assim fosse, isso implicaria uma representação fundante a priori dos objetos. E Kant
é claro em afirmar que o tempo (e não o caráter temporal dos objetos) como forma pura da intuição
é dado a priori, é a “condição a priori de todos os fenômenos em geral; – condição imediata dos
fenômenos internos (da nossa alma) e mediatamente dos fenômenos externos” (A 34/ B 50). No
entanto, ele também afirma que “todos os fenômenos em geral, isto é, todos os objetos dos sentidos,
estão no tempo e necessariamente sujeitos às relações do tempo” (B 51). Ora, não seria possível
inferir dessas afirmações que o tempo, para ser compreendido em sua aprioridade mesmo, ainda
carece do fenômeno? Supomos um aspecto aparentemente contraditório entre essas passagens, o
que, por sua vez, justifica a necessidade de estudos exegéticos que nos permita esclarecer aquelas
obscuridades. Essas passagens requerem maior investigação porque como aparentemente
contraditórias, podem comprometer todo o sistema crítico de Kant, haja vista o conceito de a priori
não ser remetido apenas ao tempo. Para Kant conceitos, juízos e intuições podem ser a priori. E,
apesar de ter definido a priori como o que é “independente da experiência e mesmo de todas as
impressões dos sentidos”, Kant não deixa muito claro o que é essa “independência”, o que de certa
forma mantém essa noção de a priori como problemática, visto ser um tanto obscura. Sendo essa
uma das noções mais problemáticas no texto kantiano, em relação ao tempo a dificuldade é
evidente: se a sensibilidade é a capacidade de receber representações pelo fato de ser o Gemüt
afetado por objetos, como o tempo como forma pura da sensibilidade pode vir antes, ser
independente do objeto, da experiência das impressões do sentido?
Palavras-chave: Kant, Idealismo transcendental, Tempo, Estética Transcendental
Nome: Anderson Aparecido Lima da Silva
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva
Título: Michel Foucault: considerações sobre democracia e parrhesia
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Resumo: Em seu último curso no Collège de France, em 1984, Foucault relembrava o itinerário
que o havia levado ao estudo da noção de parrhesia. Em 1982, no curso A hermenêutica do sujeito,
a noção recebe uma primeira análise no contexto da direção de consciência, da condução espiritual,
do conselho da alma, das formas através das quais o sujeito, dizendo a verdade – que acredita e
reconhece como sendo francamente a verdade –, se manifesta, isto é, como constitui a si mesmo e
é reconhecido pelos outros como sujeito que pronuncia um discurso de verdade e se conduz de
acordo com esse discurso. No entanto, declara Foucault, o desenvolvimento de suas pesquisas o
levou a reconhecer que a origem da noção se encontrava em outro lugar, qual seja, que “a noção
de parrhesia é, fundamentalmente, uma noção política”. Foucault procederá à análise dessa
parrhesia fundamentalmente política sobretudo no curso de 1983, intitulado O governo de si e dos
outros. E é neste contexto que o caso paradigmático de Péricles, apresentado por Tucídides, servirá
como uma das vias de explanação deste enredo político de utilização da parrhesia, isto é, da
parrhesia em sua prática política efetiva. Prática que, permeada desde o princípio por tensões, não
deixará de revelar a gradual desagregação entre os atos e as palavras, entre os discursos e as
condutas dos cidadãos, colocando em xeque a possível harmonia entre democracia e parrhesia.
Constatação que, amplamente difundida à época em textos filosóficos e políticos, será identificada
por Foucault como “crise da parrhesia democrática no pensamento grego do século IV”. Crise esta
que teria como uma de suas consequências o processo de inflexão, de desvio progressivo da
“parrhesia política” a uma “parrhesia ética”, própria à filosofia, e que encontraria em Sócrates seu
patrono modelar.
Palavras-chave: Foucault; democracia; parrhesia política
Nome: Anderson Luis Nakano
Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientador: Prof. Dr. Bento Prado de Almeida Ferraz Neto
Título: Lógica e Inferência no Tractatus
Resumo: Segundo o Tractatus Logico-Philosophicus de Wittgenstein, a inferência é consequência
de uma relação interna entre as premissas e a conclusão de um argumento, e não cabe às
“proposições da lógica” (tautologias) justificar a inferência. Se é certo que o Tractatus nos conduz,
como afirma Ramsey, a uma teoria da inferência extremamente simples, é enganoso dizer, como
o faz Russell, que o Tractatus nos leva a uma simplificação surpreendente da teoria da inferência.
29
Aos olhos de Wittgenstein, a teoria da inferência desenvolvida no Tractatus recebe um aspecto
totalmente novo e muito importante, que difere dos sistemas lógicos de Frege e Russell, nos quais
a inferência era justificada por leis básicas ou axiomas lógicos. Deste modo, não se trata apenas
de uma “simplificação” da teoria dos Grundgesetze ou dos Principia, mas de uma teoria distinta e
mais clara da inferência, pois mostra que entre as premissas e a conclusão de uma argumento
logicamente válido não há intermediários. Segundo o filósofo, “'leis de inferência', as quais – como
em Frege e Russell – cumpra justificar as inferências, não têm sentido e seriam supérfluas”. É de
se perguntar, então, qual é o papel das “proposições da lógica” no cenário do Tractatus, pois, se
elas não servem de intermediários para o processo de inferência, elas parecem perder sua raison
d'être. O objetivo do presente trabalho é mostrar que, a despeito delas não justificarem a inferência,
elas ainda assim são úteis para o processo dedutivo. Para isso, recorreremos à noção de cálculo e
de operação, fundamentais para se compreender a lógica e a matemática sob a ótica do filósofo
austríaco.
Palavras-chave: Inferência, Cálculo, Operação, Lógica
Nome: André Dias de Andrade
Instituição: Universidade Federal do Paraná - UFPR
Orientador: Prof. Dr. Luiz Damon Santos Moutinho
Título: Sobre o Cogito em Merleau-Ponty
Resumo: De "penso, logo existo" a "Existo, logo penso", a consequência é ampla. Desenvolvemos
aqui tal leitura do Cogito cartesiano na "Fenomenologia da Percepção", que atesta um cogito tácito,
em contraste com as perspectivas de "O visível e o invisível". Se o Cogito tácito é o silêncio da
consciência que autoriza, num segundo momento, a formulá-lo no pensamento e na letra da
filosofia, mais tarde será compreendido como privilégio e possibilidade linguísticos somente, sem
precedência ou positividade alguma. De existência silenciosa, portanto, a mera diferença entre
significações, faremos a passagem do problema da percepção àquele da linguagem e da
diacriticidade, desaguando no projeto merleau-pontiano de uma filosofia que não parte da reflexão
– percorremos o tema do Cogito, portanto, em torno de suas duas principais obras. Além de mapear
a posição de Merleau-Ponty a respeito do tema, examinamos o diálogo de Descartes com seu aluno
Burman (Entretien avec Burman), fonte que nos permite desenvolver uma defesa possível ao
Cogito puro, contra o postulado do pré-reflexivo em Merleau-Ponty e, do mesmo modo, em Sartre.
30
Tal conversa se realiza seis anos após a publicação das "Meditações de filosofia primeira", sendo
que conta com inúmeros apontamentos sobre a obra. Dentre eles, ressaltamos o argumento da
indivisibilidade da substância pensante, o qual poderia vetar a segmentação entre pré-reflexivo e
reflexivo, uma vez que a passagem ao Cogito apenas instaura na intuição imediata um pensamento
idêntico ao precedente. A identidade absoluta entre “consciência” e “consciência de consciência”,
portanto, atestaria a permanência do eu penso, subjacente a todos os atos téticos que o situam como
sujeito do conhecimento. Assim, buscamos recuperar questões internas ao pensamento de
Descartes, a fim de melhor contextualizar a posição de Merleau-Ponty, o qual investiga o vínculo
existente entre pensamento e linguagem, Cogito e significação
Palavras-chave: Cogito, Fenomenologia, Linguagem, Subjetividade
Nome: André Luís Tavares
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Orientador: Prof. Dr. Juvenal Savian Filho
Título: A reelaboração da noção boeciana de Pessoa na Summa Theologiae de Tomás de Aquino
(Primeira Parte, questão 29)
Resumo: Em nossa pesquisa, trabalhamos o uso que Tomás de Aquino faz na ST I q. 29 da noção
de “Pessoa”, que retira de Boécio: Persona est rationalis naturae individua substantia - “Pessoa é
a substância individual de natureza racional” ).
A compreensão da noção de Pessoa (o termo vem dos cultos, manifestações teatrais e reflexões
gramaticais greco-romanas) possui uma longa e disputada história no pensamento cristão; a
“Pessoa” entra na filosofia ocidental a partir das querelas trinitárias e cristológicas do cristianismo
antigo; esta noção só pode ser compreendida na Summa Theologiae se tivermos em conta outros
dois elementos, presentes nas questões 27 e 28 da mesma Prima Pars: processões e relações. Estas
noções possibilitam “abrir” aquela de Boécio, numa hermenêutica que possibilitará a Tomás inserir
a definição boeciana em seu sistema de pensamento. Um conceito ôntico-estático é interpretado
de modo a se tornar ontológico-dinâmico. Tomás, em sua Summa Theologiae, irá afirmar que a
definição de Boécio se aplica também às pessoas divinas, desde que se entenda “racional” no
sentido de “intelectual”, e “individual” no sentido de “incomunicável” . São estes conceitos que
nosso autor irá utilizar para receber e reinterpretar a definição de Boécio; reinterpretará individua
substantia como esse per se subsistens in natura intelectuali ."
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Palavras-chave:Pessoa, Processão, Relação, Hermenêutica
Nome: André Luiz Braga da Silva
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Roberto Bolzani Filho
Título: O método multidirecional e o blefe do Estrangeiro de Eleia: Sofista 232a
Resumo: Uma das primeiras e mais notáveis dificuldades na interpretação do diálogo Sofista de
Platão é o fato de a pesquisa da dupla Teeteto e Estrangeiro de Eleia apresentar, através da
utilização do Método de Divisão, uma pluralidade de “definições” do mesmo objeto, o “sofista”.
Cada definição é tratada pela dupla inquiridora como um “caminho” para alcance dele. De início
a literatura secundária diverge quanto ao número de definições apresentadas: 6 (seis), segundo
alguns autores; 7 (sete), segundo outros.
Entretanto, maior do que esse problema é a divergência que pode ser notada no que tange à opinião
dos comentadores sobre a validade da pluralidade de definições. Uma parcela significativa de
comentadores de peso procurou demonstrar, por caminhos diferentes, que na verdade essa
pluralidade não pode ser legítima aos olhos de Platão. Outros, todavia, não veem isso como uma
impossibilidade, e aí estão formadas as duas principais posições acerca da questão:
i) a posição de que alguma das sete definições é descartada, substituída e/ou não corresponde a
uma definição dialética autêntica. São partidários deste time Pierre Pellegrin (1991), Francis
Wolff(1991), Monique Lassègue (1991) e Thomas Szlezák (2011);
ii) e posição segunda a qual todas as definições possuem verdade dialética e são caminhos
legítimos para se chegar ao objeto de pesquisa. Esta é a posição de Néstor Cordero (PLATON,
1993) e Marcelo Marques (2006).
É importante demarcar que os partidários da primeira posição sempre viram na passagem Sofista
232a o principal argumento para sustentação de sua tese, a saber: o de que o Estrangeiro estaria
desmerecendo as definições até então alcançadas no diálogo.
Apostando então num diálogo construtivo com estes autores, o presente artigo visa o
estabelecimento de uma posição sobre o problema, apoiada fundamentalmente no próprio texto
platônico. Aos nossos olhos, a atenção a outros trechos da obra apontam para a possibilidade de o
Estrangeiro, na aludida passagem, estar tentando levar Teeteto para um caminho que o próprio
eleata não entende ser o melhor – quase como se estivesse testando o menino. Contudo, nessa
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hipótese de leitura, se o Estrangeiro revela-se um jogador experiente, Teeteto mostra também sua
sagacidade e não aposta no “blefe” do mestre eleata. É interessante que uma tal hipótese abriria
então a possibilidade da aceitação da legitimidade de uma pluralidade de caminhos para o alcance
do mesmo objeto; na esteira dessa interpretação, o método do Estrangeiro poderia sim ser
considerado como imbuído de algo que modernamente chamaríamos de... perspectivismo.
Palavras-chave: Platão, Sofista, Divisão, Perspectivismo, Perspectiva
Nome: André Paes Leme
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Léon Kossovitch
Título: A Crítica da Inteligência na obra de Marcel Proust
Resumo: Proust cultivou em sua obra (e mesmo em sua vida) uma relação bastante ambígua para
com a filosofia. Enquanto uma enorme quantidade de leitores vislumbra em O Tempo
Redescoberto uma esclarecedora sistematização filosófica das ideias que teriam orientado a
criação do conjunto de romances que o precede, o tratamento dispensado por Proust à figura do
filósofo permanece sempre no campo da ironia e da comicidade. Embora não se possa inferir daí
que sua posição sobre a filosofia encontre mesmo no escárnio uma palavra final fica difícil
sustentar uma possível admiração proustiana pelas mais altas virtudes morais do pensamento
abstrato.
Tal como um genealogista nietzschiano, Proust privilegia, na análise do pensamento filosófico, a
identificação de questões que coloquem em jogo o valor dos valores produzidos por determinada
forma de pensamento. Ele se interessa por investigar, não exatamente o papel social, mas a maneira
como se dá, digamos, a representação social daqueles que se vinculam a esta ou aquela tese
filosófica. É nesse movimento que se percebe a cisão - por exemplo, no idealista Legrandin
[personagem de À la Recherche du Temps Perdu], que defende a “irrealidade” do mundo exterior,
mas não deixa de buscar nele uma posição favorável - entre a filosofia e a realidade. Legrandin
não se trata de um caso isolado e a aparente ridicularização da filosofia e dos filósofos (não apenas
os mundanos) deve ser compreendida no quadro de um movimento crítico mais amplo que
buscaremos melhor explicitar.
Em nossa apresentação, estaremos diante de uma clara dicotomia: se por um lado a crítica
proustiana muitas vezes, como vimos, concebeu O Tempo Redescoberto como a determinação
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filosófica do ciclo da Recherche, também não deixamos de notar como Proust foi um crítico
empedernido dos valores e dos procedimentos do pensamento filosófico. Caso aceitemos que a
suposição de que um entendimento filosófico da Recherche não se trate de um abuso sem o menor
fundamento nas possíveis intenções do autor e mesmo no corpus da obra, o que parece plausível,
como entender que Proust tenha zombado dos filósofos ao mesmo passo que se utilizava de seu
saber específico?
Pretendemos esclarecer tal antinomia lançando mão da impotante noção de Crítica da Inteligência.
Palavras-chave: Inteligência, Crítica, Filosofia, Linguagem
Nome: Angelo Balbino Soares Pereira
Instituição: Universidade de Coimbra
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Céu Fialho
Título: A compreensão pitagórica da metempsicose
Resumo: Na Apologia de Sócrates, Platão nos apresenta as duas únicas possibilidades sobre o que
ocorre depois do momento da morte: “Na realidade, com a morte tem de acontecer uma das duas
coisas: ou o que morre se converte em nada e, portanto, fica privado para sempre de qualquer
sentimento, ou, segundo se diz, a alma sofre uma mudança e passa deste para outro lugar.”
(Apologia de Sócrates, 40c.). Pitágoras de Samos, conhecido como matemático, filósofo e
cientista, foi o primeiro a afirmar que a alma humana é imortal. Pitágoras contribuiu singularmente
para o debate da descoberta e da construção do conceito e da concepção de imortalidade da alma.
O sâmio amplia consideravelmente a interpretação, entendendo a alma como qualquer expressão
e manifestação de vida ou ser animado de movimento próprio. Pitágoras foi o primeiro dos
filósofos a falar da imortalidade da alma individual, é também Pitágoras o criador da palavra
“filósofo”. Pitágoras apresenta o entendimento da alma como parte do princípio originário do
movimento (metempsicose). A metempsicose é a expressão usada para a teoria filosófica da
transmigração da alma, mas também, é a metempsicose é o conceito pitagórico para o movimento
da alma. A influência da doutrina pitagórica atingiu diretamente grandes pensadores da
antiguidade como Heráclito, Empédocles, Platão e Aristóteles. Em diversas obras, fragmentos e
citações o pitagorismo como doutrina da expressiva da alma e da metempsicose é claramente
exposto e defendido. Pitágoras ensinava a doutrina de que havia um prêmio no além-túmulo para
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aqueles que tivessem uma vida de retidão; o sâmio não deixou de ensinar a seus discípulos as
vantagens da vida virtuosa, que consistia em um ascetismo para atingir e merecer a glorificação
da alma. Nesta pesquisa nosso interesse é uma compreensão crítica-racional da metempsicose
como expressão filosófica e cientifica do pitagorismo. A escatologia platônica-pitagórica parece
ter seu melhor formato no Fédon que é o principal testemunho platônico da metempsicose
pitagórica. Podemos afirmar que o Fédon é o mais importante diálogo de Platão a respeito da alma.
Admitimos também que o Fédon é o diálogo mais pitagórico de Platão e consideramos isso porque:
1) A sugestão feita pela Tradição; 2) Fédon de Élis é um pitagórico e narrador do diálogo; 3) o
ouvinte Equécrates é, no mínimo, um simpatizante das doutrinas pitagóricas; 4) Fliunte, onde
ocorre o encontro de Fédon e Equécrates, é uma pequena cidade do nordeste do Peloponeso que
se tornou um dos centros do pitagorismo na Antiguidade; e 5) o debate ocorre com os pitagóricos
Símias e Cebes, discípulos de Filolau de Crotona. O assunto central do diálogo é a questão da alma
e do conhecimento. Nele, encontra-se de forma mais sistemática o discurso sobre a imortalidade
da alma, seus destinos e a possibilidade da metempsicose como questões filosóficas. É no Fédon
que Platão construirá o debate com os pitagóricos. O Fédon apresenta três hipóteses de derivação
pitagórica: 1) a alma existe; 2) a alma é imortal; e 3) a alma transmigra de um corpo a outro.
Palavras-chave: Pitágoras, Platão, Fédon, Alma, Metempsicose
Nome: Arthur Feitosa de Bulhões
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Fátima Évora
Título: As Regulae ad directionem ingenii e a naturalização do método cartesiano
Resumo: O objetivo da comunicação é sustentar que Descartes, nas e a partir das Regras I a XII,
possui um projeto epistemológico que visa a oferecer uma resposta ao problema das diretrizes para
o pensar corretamente, cuja principal característica é aproveitar esquemas explicativos importados
do trabalho científico para compensar as lacunas ontológicas de sua reflexão naquele contexto. A
tarefa de resumir e aprofundar as regras anteriores anunciada por Descartes no início da Regra XII
teria sido executada à guisa da inscrição das operações fundamentais expostas nas Regras I a XI
numa descrição do aparato cognitivo humano. O uso de analogias micromecânicas é tomado como
outro indício de que o esquema explicativo que Descartes possuía para abordar o problema do
conhecimento era extraído de suas investigações científicas e era com dados científicos que ele se
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empenhava para explicar a cognição, na falta de uma elaboração filosoficamente mais sofisticada,
que só viria a partir da correspondência com Mersenne em 1630. Assim, o projeto epistemológico
de Descartes traçado a partir da Regra XII se constitui numa resposta à questão de como é possível
dizer que as operações mentais descritas nas regras anteriores são naturais, não precisando ser
ensinadas pela dialética. Para este fim, lançar mão de uma fisiologia e uma filosofia natural
mecanicistas, como Descartes faz na Regra XII para mostrar como seu método já é dado como
possibilidade na própria constituição do homem, parecia suficiente para um autor prioritariamente
interessado em fazer ciência da natureza, como parecia ser o caso de Descartes naquele momento.
Com efeito, quase a totalidade dos produtos da ciência cartesiana foi desenvolvida durante um
período em que a única epistemologia de que Descartes dispunha era aquela contida nas Regulae,
mesmo que admitamos ter havido um abandono desse projeto epistemológico em benefício de
outro elaborado a partir do desafio lançado pelas questões céticas como acontece nas Meditationes.
Palavras-chave: Descartes, Epistemologia, Cognição, Diretrizes para o pensar, Dialética
Nome: Arthur Klik de Lima
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Moacyr Ayres Novaes Filho
Título: Conhecimento humano e Sabedoria divina: notas sobre a atividade profética em Averróis
Resumo: A profecia é um tema recorrente aos pensadores da falsafa. Sua importância pode ser
associada ao fato de que a atividade profética representa diretamente a manifestação terrena da
vontade divina, além de ser um dos principais dogmas do Islã, a revelação do Alcorão foi uma
atividade profética. Mas a teoria do conhecimento pensada por Averróis parece não se adequar ao
que tradicionalmente se compreende neste período como atividade profética. A recepção, pelo
homem, de um conhecimento oriundo diretamente de deus ou de alguma inteligência celestial
parece estar em conflito com a relação entre homem e intelectos celestiais pensada por Averróis.
Para ele, os homens e os intelectos separados conhecem por modos completamente distintos, onde
o conhecimento dos homens é da ordem dos seres particulares e o dos intelectos da ordem dos
universais. A possibilidade de comunicação entre tais esferas somente e possível por meio de um
processo de adequação mediado pelo intelecto material que tornaria o homem capaz de acessar
certo grau de universalização do conhecimento próprio dos intelectos celestiais. Este processo
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depende inteiramente da vontade humana, e, de forma alguma é recebido gratuitamente dos
intelectos separados da matéria.
Assim, parece improvável que o homem seja capaz de compreender algo que seja fruto de uma
""emanação"" direta dos intelectos separados. Ou ainda, que os intelectos separados sejam
capazes, por si, de traduzir seu próprio conhecimento aos particulares.
O problema que se levanta aqui leva em consideração o fato de que Averróis precisa reconhecer a
atividade profética como um fundamento da religião, mas também precisa adequá-la a sua
explicação filosófica do mundo. O que se intenta nesse trabalho é analisar a forma como ele
relaciona o problema filosófico do conhecimento humano em face ao problema religioso da
profecia e da providência divina.
Palavras-chave: Averrois, Profecia, Intelecto, Providência
Nome: Artur Sartori Kon
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini
Título: O petróleo e o sublime
Resumo: Tendo em vista a objeção de Jacques Rancière em relação às reflexões estéticas de
Frances Jean-François Lyotard, será preciso abandonar de uma vez por todas a categoria do
sublime ou é possível vislumbrar uma reconstrução? Se Rancière não pode aceitar a proibição da
representação na arte - especificamente uma estética do irrepresentável como respeito e dívida para
com um Outro trazida por Lyotard da oposição kantiana entre fenômeno e coisa-em-si - e ao
mesmo tempo recusa um regime representativo em que a obra está submetida a um conjunto fixo
de relações figurativas, será preciso lançar mão de uma estética verdadeiramente dialética para
manter a potência do sublime em um campo sem fronteiras ontológicas estanques, um plano
democrático de litígio e contradição. Mesmo que para compreender tal dialética haja necessidade
de nos valermos da Teoria Estética de Adorno e da leitura que Slavoj Žižek faz de Hegel em seu
recente Menos que nada, em última instância terá de ser certamente a própria arte a nos fornecer
um modelo para tal reflexão. Partiremos aqui do espetáculo teatral Petróleo, escrito por Alexandre
Dal Farra e dirigido por Clayton Mariano em São Paulo em 2011, e particularmente de reflexões
do dramaturgo sobre o processo de escrita da peça, em que a tentativa de um teatro político de
representar a situação do Brasil pós-Lula se quebra no embate com seu objeto, dando lugar a um
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trabalho formal que busca induzir o colapso e a destruição das representações teatrais e políticas
estabelecidas, abrindo espaço para a escavação do material explosivo que há por baixo.
Palavras-chave: Teatro contemporâneo, Teatro paulistano, Sublime, Jacques Rancière
Nome: Beatriz Viana de Araujo Zanfra
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Orientador: Prof. Dr. Alexandre de Oliveira Torres Carrasco
Título: Liberdade e temporalidade na fenomenologia de Merleau-Ponty
Resumo: Na obra A estrutura do comportamento, de 1942, Maurice Merleau-Ponty, por meio da
noção de estrutura, combate o naturalismo e o intelectualismo, mostrando que o corpo não é um
agregado de músculos e de nervos que opera de acordo com a causalidade mecânica e funcional e
que a consciência reflexiva não é a única forma da consciência e nem sua primeira manifestação,
mas sim dependente da consciência perceptiva e indiscernível do corpo como princípio
estruturante. Nesse sentido, no capítulo destinado à questão das relações da alma e do corpo,
Merleau-Ponty mostra que todos os problemas a esse respeito se reduzem ao problema da
percepção, entendida como “o ato que nos faz conhecer existências” e vê a necessidade da filosofia
transcendental ser redefinida a fim de integrar nela o fenômeno do real, sendo tal filosofia a
fenomenologia, com a investigação da percepção desempenhando um papel fundamental em tal
filosofia. Em Fenomenologia da Percepção, de 1945, Merleau-Ponty retoma o problema das
relações da alma e do corpo abordado no livro anterior, mostrando que a temporalidade resolve tal
problema, pois a ideia de subjetividade como temporalidade nos permite ver que o para-si, a
revelação de si a si, é o vazio no qual o tempo se faz, e o mundo “em si”, que é o horizonte de
nosso presente, fazem o problema redundar em saber como um ser que é porvir e passado tenha
também um presente, o que suprime o problema, já que o porvir, o passado e o presente estão
ligados no movimento de temporalização. Sendo assim, a solução de todos os problemas de
transcendência se encontra na espessura do presente pré-objetivo, onde encontramos, entre outras
coisas, o fundamento de nossa liberdade.
Palavras-chave: Liberdade, Temporalidade, Estrutura, Fenomenologia
Nome: Benito Eduardo Araujo Maeso
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
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Orientador: Prof. Dr. Ricardo Fabbrini
Título: Forma e Estilo em Kafka: um diálogo conceitual entre Adorno e Deleuze
Resumo: A obra de Franz Kafka foi objeto das análises aguçadas de Theodor Adorno e Gilles
Deleuze, nos já clássicos textos ""Anotações sobre Kafka"" e ""Kafka: por uma literatura menor"".
Porém, algumas características do texto do autor checo foram examinadas com maior rigor por
ambos os filósofos, em especial um elemento que, apesar da diferença da terminologia usada por
Adorno e Deleuze, parece estar em grande destaque para ambos. Se, para estes dois pensadores, a
dimensão política de uma obra literária estaria expressa em sua própria escrita, seja como
resistência ou como exemplo da literatura dita “menor”, como isso aproximaria as definições de
Forma da obra, por Adorno, e Estilo de uma obra, por Deleuze, não apenas nas análises sobre o
escritor checo ou sobre as obras de arte, mas em tudo aquilo que é chamado de trabalho do
pensamento? Isso poderia indicar um possível diálogo entre outros elementos constitutivos dos
edifícios conceituais adorniano e deleuziano?
Este trabalho, derivado de dissertação de mestrado defendida recentemente no PPGDF/FFLCH,
busca avançar sobre alguns aspectos nos quais possa ser possível promover um diálogo mais
aprofundado entre o pensamento de Adorno e Deleuze, tendo como ponto de partida tanto a
possível coincidência ou interseção entre os campos conceituais já citados (forma e estilo) como
também o Kafka revelado em cada um dos textos já mencionados. Da mesma forma, busca-se a
averiguação da existência de um caráter político na obra kafkiana, esta uma leitura pouco usual
dos textos do escritor checo exerctada por ambos os filósofos, com o devido cuidado com as
diferenças conceituais e de abordagem de cada autor.
Palavras-chave: Adorno, Deleuze, Kafka, Forma, Estilo
Nome: Bruno Carvalho Rodrigues de Freitas
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo Arantes
Título: "Dialética do Esclarecimento" e psicanálise: aproximações
Resumo: Nesta exposição, pretende-se articular alguns elementos da "Dialética do
Esclarecimento" (1947) de Adorno e Horkheimer à psicanálise. Não será feita uma análise do uso
ou da presença da psicanálise neste livro, nem uma análise da apropriação de conceitos
psicanalíticos (por ex.: paranoia, projeção etc.), apesar da sua relevância para a constituição
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argumentativa do livro. Serão, entretanto, desenvolvidas possibilidades de articulação entre a
psicanálise e algumas questões que o livro suscita, tendo como eixo principal de referência uma
reflexão acerca da concepção de história e da constituição do sujeito presente no âmbito da teoria
crítica e da psicanálise. Nesse sentido, um dos elementos centrais para a estruturação do primeiro
capítulo desse livro é a relação entre natureza e história e entre ontogênese e filogênese, pois todo
esclarecimento (das religiões e mitos à tecnologia produzida para a grande indústria, passando pelo
Iluminismo) é apresentado como um processo de dominação. Dominação que não é exclusiva da
relação do homem à natureza exterior, mas também a seu psiquismo, sua natureza interior. Se é
verdade que essa relação entre natureza e história pode remeter a Marx, é certo também que Freud,
em muitos textos, mas em especial em “O Mal-estar na Cultura” (1930), sustenta suas teses na
possibilidade de relação desses termos. No primeiro capítulo desse livro, Freud traça um forte
paralelo entre a construção das cidades ao logo da história e a constituição do eu como maneira de
expor um processo de manutenção em latência de forças recalcadas, que não é outra coisa senão
um processo de dominação. Será, portanto, o objetivo desta exposição apresentar como é possível
aproximar essas reflexões psicanalíticas sobre a história e sobre a constituição do sujeito presentes
no “Mal-estar na Cultura” às teses do livro de Adorno e Horkheimer.
Palavras-chave: Adorno, Dialética do Esclarecimento, Psicanálise
Nome: Caio Augusto Teixeira Souto
Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Thelma Lessa da Fonseca
Título: Sobre o poder da norma em Michel Foucault: de O nascimento da clínica a Os anormais
Resumo: Analisaremos a noção de norma, com seus correlatos normal e anormal, a partir de duas
obras de Foucault, circunscritas a domínios diferentes de sua produção: O nascimento da clínica
(1963), apresentada como uma arqueologia do olhar médico; e Os anormais (1975), uma
genealogia do anormal, que leva em conta entrecruzamento do saber médico, do saber jurídico, e
de certas práticas sociais. O primeiro livro buscava mostrar que o surgimento e a ordenação do
saber médico (modelo das ciências humanas, porque é ao mesmo tempo a ciência do indivíduo e
a ciência da intervenção sobre o indivíduo) dão-se segundo regras que se articulam entre o domínio
dos discursos teóricos, das práticas sociais e das escolhas políticas. Enfocava registros históricos
referentes à medicina não para encontrar uma linha evolutiva entre o passado recente o nosso
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presente, mas para marcar justamente uma ruptura na ordem dos acontecimentos que foi correlata
a uma mudança na ordem do saber, donde concluía que a medicina moderna só se tornou possível
a partir do surgimento de uma instituição como a clínica, que congrega uma prática terapêutica (de
intervenção, portanto, sobre os indivíduos) e a criação e ensino de um saber específico,
absolutamente novo, a medicina moderna. Uma noção foi essencial a essa modificação na ordem
do saber e no âmbito das práticas: a noção de norma, que passou a se definir como um princípio
de separação dos indivíduos. No curso proferido no Collège de France entre os anos de 1974-1975,
intitulado Os anormais, Foucault amplia aquelas análises acerca das condições históricas de
formação do saber médico inserindo em seu campo teórico a noção de dispositivo. Tal noção
abrange não só a relação entre um saber e as condições de observação de seu objeto (como no caso
da relação entre a medicina e a clínica), mas também as relações entre o saber e o que Foucault
passa a denominar mecanismos e tecnologias de poder. A noção de norma continua a ser
priorizada, mas agora sob um modo diferente: ela não mais funciona como princípio de
distribuição de objetos e sujeitos nos campos do normal e do anormal, mas passa a remeter à ideia
de mecanismos e estratégias de constituição dos objetos e sujeitos, ou de intervenção do poder
nessa constituição; não remete às noções de repressão ou exclusão, não significa impor limites a
determinadas condutas, mas remete, ao contrário, a estados ou situações a partir dos quais, e por
meio dos quais, uma tecnologia positiva de poder é possível, de tal forma que, normalizar,
significaria agenciar a produção de condutas esperadas; não um princípio de repressão, mas um
mecanismo produtivo de poder.
Palavras-chave: Foucault, Norma, Normal, Anormal, Medicina
Nome: Camila Sant'Ana Vieira Ferraz Milek
Instituição: Universidade Federal do Paraná - UFPR
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Brandão
Título: A moral sensualista de Helvétius pelo princípio do interesse
Resumo: Analisando a fundamentação da moral proposta por Helvétius no século XVIII,
procuramos a possibilidade de um elo consideravelmente forte entre uma descrição do homem
como dotado de sensibilidade à construção de um entendimento que possibilita a moral e a
organização política entre homens. Tal questionamento visa uma fundamentação da moral que,
diferente da moral religiosa do período, se propõe como universal e abrangente à todos os homens
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e por isso mesmo, seja a mais sólida fundamentação. Para que esta fundamentação seja atrelada à
verdade, Helvétius usa um método tão empírico quanto a física, que o leva ao sensualismo. O
sensualismo nos diz que o que causa o primeiro impulso no homem e é responsável por todo o
desenvolvimento de seu espírito é apenas a sensibilidade física. O espírito é entendido neste
trabalho em relação ao indivíduo, como o conjunto de ideias e paixões, que são obtidas através das
faculdades que, em última análise, são apenas desdobramentos da própria sensibilidade. Diante
disto, como esperar que a sensibilidade física norteie um desenvolvimento de juízos complexos e
fortaleça o espírito do homem a ponto de organizar sociedades compostas por homens justos e
felizes? Deve haver um elo claro e preciso entre os campos da formação das ideias e da moralidade.
Mostraremos como a moralidade está inteiramente ligada à tese sensualista principalmente pelo
princípio do interesse, entendido como busca pelo prazer e a fuga da dor. Este princípio faz com
que a moral entendida por Helvétius, como vemos no conceito de virtude, seja de grande
variabilidade já que deve atender ao interesse de cada indivíduo, e que também dependa da
educação e da legislação, para fazer com que os interesses pessoais sejam concordantes com o
interesse geral, a fim de tornar possível que os homens obtenham felicidade na convivência em
sociedade.
Palavras-chave: Helvétius, Sensualismo, Moral
Nome: Carlos Eduardo de Moura
Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientador: Prof. Dr. Luiz Roberto Monzani
Título: As Ciências humanas e o inumano: a base antropológica da produção do saber e o resgate
da subjetividade
Resumo: Pretende-se, com esta exposição, apresentar alguns apontamentos teóricos sartrianos
acerca das Ciências Humanas. Partir-se-á, portanto, do pressuposto de que a “Compreensão do
Homem” (“O que é o Homem?”) encontrará seu fundamento no seio das Ciências Humanas,
produzindo-se “verdades” a partir da relação do “homem-questionador” com o “homem-
questionado”, o que apontaria, por sua vez, para outro problema: as implicações (práticas e
teóricas) em torno de uma antropologia que desvelaria este homem-objeto. Corre-se o risco, no
entanto, de se ocultar uma realidade humana que é o ser pelo qual o tornar-se-objeto vem ao
homem. Trata-se aqui de considerar (e demonstrar) que o fundamento das Ciências Humanas tem
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como ponto de partida a relação (em permanente situação) do homem com o homem (relação com
o outro) e do homem com o mundo (ser-aí, circuito da ipseidade). Todavia, se considerar a
antropologia (estrutural e a-histórica) uma disciplina que visa definir (conceito, verdade, saber) a
essência do homem e a condição humana – limitando a priori o objeto de sua pesquisa –, não se
poderá apreender as Ciências Humanas como uma antropologia.
Deste modo, procurar-se-á resgatar a ideia de que o discurso do absoluto acaba por revelar que o
homem é para si mesmo no seio do relativo (o homem como transcendência do dado). O dado (um
absoluto) desvela duas dimensões que não deverão ser suprimidas: a percepção e a praxis. A
relação sujeito-objeto se estabelece sob o fundo de uma estrutura significativa da percepção, já que
o conhecimento científico, como afirma Sartre, não pode nem suprimir e nem superar a estrutura
potencializante da percepção: o mundo aparece no interior do circuito da ipseidade e o observador
não será ser excluído. As Ciências Humanas, consequentemente, não poderão eliminar a
subjetividade em nome de um cientificismo que quer se proclamar puro saber – o objeto a ser
analisado não será uma variável independente (autônoma) do fenômeno humano. O discurso
sartriano será resgatado aqui com a finalidade de se apresentar – na constituição do sujeito como
objeto no percurso metodológico das Ciências Humanas – a presença de uma base antropológica
enquanto produtora de Saber, mas na perspectiva do homem (organismo prático) produzindo Saber
como um momento de sua praxis. Não se trata de defender uma Ciência Humana que fundamente
o sujeito como ens causa sui (uma teologização do homem), mas sim revelar-lhe que a apreensão,
o conhecimento e a prática de si dão-se como relação a si mediada pelo “saber” (ou pelos
“saberes”) produzido historicamente pelas Ciências Humanas.
Palavras-chave: Ciências Humanas, Antropologia, Subjetividade, História
Nome: Caroline Ferreira Fernandes
Instituição: Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - Faje
Orientador: Prof. Dr. Elton Vitoriano Ribeiro
Título: Um novo modelo de raciocínio prático como uma possível resposta ao fenômeno do
multiculturalismo em Charles Taylor
Resumo: Nosso escopo fundamental nesse trabalho é mostrar que o modelo de razão prática
proposto por Charles Taylor é um possível caminho para o problema do multiculturalismo
contemporâneo. Problema esse que tem se mostrado urgente nos tempos atuais e sido respondido
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de variadas formas, sendo muitas delas ambivalentes. Nessa perspectiva, partimos da tese de que
um novo modelo de razão prática que suprassume a opção pelo desengajamento faz-se também
urgente. Para a defesa de nossa tese, dividiremos dialeticamente o nosso trabalho em três partes
fundamentais. A primeira parte mostrará as inadequações do modelo desprendido de razão prática
moderna que temos vivido na modernidade. Nesse ponto, explicitaremos ainda as consequências
do naturalismo para as nossas compreensões de raciocínio moral, refutando alguns paradigmas
atuais como o utilitarismo e os formalismos que são considerados distorções dos nossos raciocínios
morais para Taylor. Na segunda parte, mostraremos como Taylor, a partir de suas influências mais
explícitas, como Ernst Tugendhat e Alasdair MacIntyre, desenvolve um novo modelo de razão
prática em que a busca por critérios pré-determinados em disputas morais não só é errônea, mas
produz um ceticismo em face da razão. A tese de Taylor, portanto, é de que é possível a união
entre explicação e razão prática que perdemos com a revolução científica do século XVII, com a
visão de um universo neutro. Nesse ponto, portanto, mostraremos que a proposta de uma ética
constitutiva é capaz de trazer à tona um self engajado e avaliador forte. Assim sendo, ater-nos-
emos ao fato de que a filosofia moral de Taylor está inextrincavelmente ligada com a noção de
identidade do self, pois somos agentes naturalmente orientados em espaços morais e estamos a
todo tempo articulando e conduzindo as nossas vidas a partir das nossas avaliações fortes e das
nossas orientações aos hiperbens, ou seja, aos "bens de vida". Na terceira e última parte,
evidenciaremos a nossa tese de que essa noção de razão prática que culmina em uma política do
reconhecimento pode ser um caminho para lidarmos com o problema do multiculturalismo sem
cairmos em um relativismo moral. O ponto fulcral de nosso trabalho, portanto, será o de analisar
e discutir os conceitos de reconhecimento e fusão de horizontes tratados no artigo "A política do
reconhecimento" como uma possível resposta aos problemas interculturais e aos dilemas morais.
Palavras-chave: Charles Taylor, Identidade, Razão prática, Reconhecimento, Multiculturalismo
Nome: Cicero Feitosa Gomes
Instituição: Universidade Federal Fluminense - UFF
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Costa de Paula
Título: Controle e Disciplina na Produção do Sujeito em Foucault
Resumo: Este trabalho pretende discutir os mecanismos de controle utilizados pela sociedade nos
quais têm objetivo último produzir novas formas de subjetividade. Segundo Foucault, o controle
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se dá pela normalização e pela disciplina, isso significa pensar que as subjetividades existentes
podem ser mudadas, isto é, se uma determinada subjetividade for considerada má, ela deve ser
corrigida, é o que nosso filósofo chama de desvios. Estes desvios devem ser ordenados e para isso
usa-se a normalização, mecanismo no qual os indivíduos através de regras, padrões, são
submetidos a agir de determinada forma e com isso se alcança o melhor aproveitamento do corpo,
do tempo e das atividades. O controle que sugiro no tema, tem como ênfase explicitar o poder do
discurso. E este, legitimado por uma gama de saberes que lhes dão autoridade para dizer se
determinada subjetividade é boa ou não. Com isso justifica-se que saberes como a psicologia e a
educação e instituições de controle têm poder de diagnosticar sobre desvios e anomalias que devem
ser corrigidos. Para Foucault a disciplina não é apenas da ordem da repressão, isto é, não se produz
sujeitos apenas com punições e castigos. A disciplina é segundo nosso filósofo um mecanismo
sutil, onde os indivíduos são adestrados, instruídos com objetivo de melhor obter uma eficácia de
seu tempo e de suas atividades ao passo que lhes tornem dóceis e submissos. Assim, uma
subjetividade não é de sua ordem natural, mas é um processo histórico, produzido por relações de
pode-saber do qual não somos livres, somos submissos, assujeitados e atravessados por estas
relações.
Palavras-chave: Controle, Subjetividade, Saber-Poder
Nome: Daniel Quaresma Figueira Soares
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Brandão
Título: A crítica a Schopenhauer durante o período intermediário da obra nietzschiana
Resumo: Durante o chamado período intermediário de sua obra, Nietzsche empreende uma
reviravolta quanto à apreciação do pensamento de Arthur Schopenhauer. O jovem Nietzsche
explicitara sua filiação à filosofia schopenhaueriana em obras como O nascimento da tragédia e a
Terceira Consideração Extemporânea, saindo em defesa do pessimismo e elaborando uma
metafísica de artista tributária de concepções schopenhauerianas.
A partir do primeiro volume de Humano, demasiado humano, Nietzsche começará a se opor
resolutamente à metafísica de seu “educador”. Neste período, algumas noções fundamentais do
pensamento schopenhaueriano tornam-se alvos da crítica nietzschiana: por exemplo, as noções de
gênio, desinteresse, santo e compaixão, todas cruciais para a constituição da filosofia de
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Schopenhauer. Ao mesmo tempo, o valor da ciência – que, no período de juventude, sobretudo na
Segunda Consideração Extemporânea, era majoritariamente negativo – aparecerá agora como
positivo, contrariando mais uma vez a influência recebida de Schopenhauer. De modo geral, pode-
se mesmo cogitar que a filosofia nietzschiana do período positivista torne-se uma espécie de
mundo invertido em relação ao sistema schopenhaueriano, no qual alguns dos principais
operadores do pessimismo metafísico do filósofo de Danzig são desmistificados em sua “origem
vergonhosa” (na terminologia de Aurora).
Contudo, é impossível não notar uma ausência nesse rol. Se é correto afirmar que alguns dos
principais elementos schopenhauerianos tornam-se alvo de crítica durante este período da obra
nietzschiana, a principal noção da filosofia de Schopenhauer – estruturadora de todas as demais –
não é atacada pelo Nietzsche positivista: a Vontade. Nietzsche aparenta mesmo evitar o confronto
direto com a Vontade schopenhaueriana durante este período, referindo-se a ela apenas em
momentos isolados. Não seria irrelevante, portanto, compreender o porquê dessa estratégia
silenciosa. Para isso, será necessário atentar para uma estratégia paralela em curso durante o
período intermediário: também a noção de vida, que aparecia como central na obra do jovem
Nietzsche, desaparece quase por completo entre 1878 e 1882. A partir da compreensão do vínculo
essencial entre essas duas estratégias, procuraremos apontar brevemente como Nietzsche vai
progressivamente colhendo as armas necessárias para o grande confronto com a filosofia de seu
“educador”, algo que ocorrerá apenas no período final de sua obra, particularmente por meio da
concepção da vontade de potência.
Palavras-chave: Nietzsche, Schopenhauer, Metafísica
Nome: Daniel Soares da Silva
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Orientador: Prof. Dr. Plínio Smith
Título: Referência, necessidade e ciência na filosofia de Saul Kripke
Resumo: O objetivo principal da comunicação, resultado de uma pesquisa desenvolvida no âmbito
de mestrado, é analisar a relação existente entre o conjunto de idéias elaboradas por Saul Kripke a
respeito da referência de expressões da linguagem natural e a concepção essencialista sobre a
atividade científica que daí decorre. Em outras palavras, pretende-se examinar de que maneira a
perspectiva semântica desenvolvida, dedicada à explicação da função referencial dos nomes
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próprios e dos termos para espécies naturais, articula-se como fundamento para o surgimento de
uma perspectiva que permite compreender a ciência enquanto prática humana capaz de revelar as
propriedades essenciais dos objetos que investiga. Para tanto, a comunicação divide-se em três
grandes partes.
Na primeira parte, o foco recai principalmente sobre o quadro teórico em oposição ao qual Kripke
avança a sua proposta sobre a referência. Assim, procura-se expor o descritivismo (e as suas
principais versões), abordagem que até meados do século XX constituía o modelo explicativo
dominante dentro da tradição da filosofia analítica da linguagem e cujas raízes remontam à
recepção de certas contribuições associadas a Frege e Russell. Essa discussão é introduzida a partir
do contraponto com a concepção sobre os nomes tradicionalmente atribuída a Mill.
Em seguida, pretende-se avançar em torno da perspectiva kripkeana sobre a linguagem. São aí
apresentadas as principais noções desenvolvidas no seu esforço de crítica ao paradigma
descritivista, como a distinção entre os diferentes tipos de modalidades, a idéia de mundos
possíveis, a separação entre o uso de uma descrição enquanto instrumento para se fixar a referência
e o seu uso para dar o significado do nome e o conceito de designação rígida. Ocupam também
parte central desse capítulo os próprios argumentos usados com vistas à rejeição do descritivismo,
bem como a concepção histórico-causal proposta como alternativa explicativa.
Por fim, a última parte é dedicada ao chamado essencialismo científico. Antes de tal discussão,
entretanto, é feita uma caracterização sumária da posição essencialista em geral, bem como a
análise de uma conhecida objeção devida a Quine, a qual, se bem-sucedida, colocaria em questão
a possibilidade mesma de se separar inteligivelmente propriedades necessárias e propriedades
acidentais.
Palavras-chave: Kripke, Linguagem, Referência, Necessidade
Nome: Darley Alves Fernandes
Instituição: Universidade Federal de Goiás - UFG
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Márcia Zebina de Araújo da Silva
Título: A distinção kantiana entre ação humana e evento natural
Resumo: O objetivo desta comunicação é explorar e traçar a partir do argumento kantiano a
distinção entre ação humana e evento natural. Tal discussão surge no âmbito da “Dialética
transcendental” – Crítica da razão pura – depois do confronto cosmológico entre liberdade e
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determinismo nas antinomias da razão pura. A solução kantiana para o confronto consiste em
recorrer ao “idealismo transcendental” que já havia sido desenvolvido na “Estética transcendental”
e demonstrar que todos os objetos de uma experiência possível são fenômenos, isto é, meras
representações. Os objetos que são dados na experiência só são reais na percepção, obedecendo às
regras da unidade da experiência. Paralelamente, aquilo que existe independente de nossa intuição
é denominado coisa em si. A partir de tal distinção, fenômeno e coisa em si, a tarefa consiste em
determinar como são possíveis as duas espécies de causalidade, pela natureza e pela liberdade,
num único e mesmo objeto. Neste ponto a solução de Kant é apresentar a noção de um duplo
caráter, empírico e inteligível, subjacente a todo e qualquer fenômeno. Isto é, todo objeto
fenomênico possui um caráter empírico e está submetido à ordem temporal e as leis naturais e
possui, também, um caráter inteligível que é atemporal. A partir desta distinção Kant pretende
satisfazer a exigência da unidade da experiência desenvolvida na “Analítica transcendental”
abrindo, paralelamente, espaço conceitual para a liberdade da vontade. Demonstraremos as
distinções entre ação humana e evento natural a partir de três argumentos que consistem em: (i)
apresentar a noção geral de caráter empírico e inteligível que deve ser concebida a todos os objetos
estabelecendo as distinções entre eles; (ii) explorar e enfatizar tal distinção a partir da noção de
“espontaneidade da razão” e de apercepção como atividade reflexiva capaz de dar conteúdo a ideia
de inteligível; (iii) apresentar a noção de causalidade da razão como uma atividade que é capaz de
originar outras ações, isto é, produzir efeitos. Palavras-chave: Ação humana, Evento natural,
Empírico-inteligível, Causalidade da razão
Nome: Deivisson Oliveira Silva
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Soares Neves Silva
Título: Notas sobre a mediação entre racionalidade subjetiva e objetiva no Eclipse da Razão de
Max Horkheimer
Resumo: Escrita por Max Horkheimer com base em uma série de palestras proferidas em 1944
nos Estados Unidos, a obra Eclipse da Razão foi publicada em 1947. O livro foi redigido durante
o período de colaboração com Theodor W. Adorno na elaboração da Dialética do Esclarecimento,
também publicada em 1947, e o próprio Horkheimer afirma que o seu objetivo seria apresentar
aspectos de uma teoria filosófica desenvolvida em colaboração com Adorno. No entanto, embora
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seja perceptível um quadro teórico semelhante, pode-se notar diferenças importantes nas
resoluções propostas para as questões diagnosticadas nas respectivas obras.
Horkheimer pretende indagar a concepção de racionalidade prevalecente no que ele denomina
sociedades industriais com o intuito de verificar se tal concepção não carrega consigo falhas que a
tornam viciada, e, ainda, investigar o modo como essa racionalidade, que ele denomina subjetiva,
relaciona-se com outra, denominada objetiva, e que segundo o autor predominou até o Iluminismo.
A razão subjetiva é definida como uma racionalidade que tem como núcleo um mecanismo abstrato
de pensamento. Assim, ela relaciona-se com a capacidade de calcular probabilidades e articular
meios e fins e, nesse passo, não confere importância à questão de se os fins como tais são racionais,
pois o central é o procedimento. Desse modo, a racionalidade dita subjetiva é entendida como uma
faculdade intelectual de coordenação. Por sua vez, a razão objetiva é entendida não apenas como
uma força da mente individual, mas como uma entidade que atua no mundo objetivo, tanto entre
os seres humanos, quanto nas instituições sociais, na natureza e em suas manifestações. Para
Horkheimer, essa concepção objetiva de racionalidade predominou em grandes sistemas
filosóficos, como, por exemplo, nos de Platão, Aristóteles e, também, no Idealismo Alemão.
Importa salientar que, segundo o autor, a teoria objetiva da razão não excluía a subjetiva, antes, a
considerava como expressão parcial e limitada de uma racionalidade mais ampla, universal, da
qual derivavam os critérios de medida de todos os seres e coisas. Diversamente da razão subjetiva,
aqui a ênfase recaía mais sobre os fins do que nos meios e, assim, não se trata de coordenação de
procedimentos, mas de conceitos como a ideia do bem supremo e o problema do destino humano.
O esforço é a tentativa de conciliar a ordem objetiva racional com a existência humana. Segundo
Horkheimer, embora a relação entre esses conceitos de racionalidade nem sempre tenha sido de
oposição, no desdobrar de um longo processo histórico ocorreu um predomínio desmesurado da
concepção subjetiva sobre a objetiva, predomínio esse responsável pelo que o autor entende ser
um estreitamento da racionalidade. Horkheimer estabelece como proposta teórica uma mediação
dialética entre esses dois conceitos de racionalidade que seja, também, uma crítica recíproca dessas
concepções. Tal encaminhamento, que evoca a concepção objetiva em face do predomínio da
subjetiva-instrumental, difere da perspectiva pretendida na Dialética do Esclarecimento de crítica
imanente da racionalidade subjetiva. Nosso trabalho visa explicitar as resoluções propostas por
Horkheimer no Eclipse da Razão que se diferenciam da obra escrita em conjunto com Adorno.
Palavras-chave: Teoria Crítica, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Razão Instrumental
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Nome: Denise Damaris da Silva
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Soares Neves Silva
Título: O caminho de Husserl rumo à intersubjetividade
Resumo: O objetivo da exposição é clarificar o caminho realizado por Husserl, especificamente
na obra Meditações Cartesianas, desde a epoché fenomenológica e a análise do problema solipsista
até a fundamentação do mundo circundante através da intersubjetividade.
É importante ressaltar a diferenciação das orientações em que o sujeito se encontra ao olhar para
o mundo: uma, é a orientação natural, típica do homem comum e do cientista, que pressupõem a
existência do mundo, pano de fundo para o seu viver e seu fazer científico. Outra, é a orientação
filosófica, que Husserl assume; nessa orientação, ele, que não almeja de forma alguma negar esse
mundo no qual estamos, sentimos, andamos, fazemos ciência e reconhecemos uns aos outros, visa
fundamentar sólida e filosoficamente a constituição de qualquer tipo de conhecimento.
Para a construção de seu rigoroso edifício filosófico, Husserl vai em busca da evidência, uma
evidência originária e capaz de fundar sua fenomenologia. No momento do reconhecimento dessa
evidência, todos os preconceitos e pressupostos devem desaparecer, inclusive os pressupostos
científicos; dentre eles, os das ciências formais, como a Matemática. Nesse ponto, a filosofia de
Husserl que muito se assemelhava a de Descartes, toma rumo distinto daquele que tinha como
ideal de evidência o axioma geométrico, coisa que Husserl não admite ao recusar a ciência como
modelo. A busca radical pela evidência, leva à necessidade de uma ciência que se autofundamente,
justificando a si mesma e as demais – A Fenomenologia.
A suspensão de todas as ciências suspende, por conseguinte, o objeto dessas ciências que é o
próprio mundo e sua existência. Partindo do mundo natural, Husserl realiza, então, a epoché
fenomenológica, colocando fora de circuito, “entre parênteses”, a existência do mundo, para,
através de uma investigação rigorosa, encontrar seus fundamentos filosóficos. Esse passo cumpre
a exigência de rigor do filósofo ao mesmo tempo em que preserva o mundo da desconstrução
cética. Esse é o primeiro passo da epoché que se estende também aos outros homens e a Deus. O
segundo passo, em uma depuração ainda mais profunda, ocorre colocando-se entre parênteses a
existência do eu, como realidade concreta e mundana, levando ao ego cogito cogitatum que é a
consciência e o que nela se inclui como fenômeno. Ora, a epoché levaria dessa maneira, à
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imanência da minha consciência, o que se desdobraria na crítica solipsista, que Husserl recusa.
Para ele, se tudo que existe, existe para mim, devo alcançar o Outro e a transcendência através da
minha própria consciência. A subjetividade transcendental é, dessa maneira, o universo de sentido
possível; é a partir da intersubjetividade, constituída em mim, que constituo um mundo objetivo,
comum a todos.
Palavras-chave: Husserl, Fenomenologia, Outro, Intersubjetividade
Nome: Diego dos Santos Reis
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Orientador: Prof. Dr. Guilherme Castelo Branco
Título: Neoliberalismo, Individualismo e Crise
Resumo: Aprofundando algumas das abordagens desenvolvidas por Michel Foucault nos cursos
“Territoire, Sécurité, Population” (1977-1978) e “La Naissance de la Biopolitique” (1978-1979),
proferidos no Collège de France, este trabalho visa a investigação dos principais pressupostos da
doutrina (neo)liberal, bem como seus efeitos e suas estratégias de governamentalidade levadas a
cabo por políticas de securitização, desregulamentação da economia e dos mercados, e
flexibilização de direitos sociais e trabalhistas. Políticas estas que imputam aos sujeitos a total
responsabilidade por seus sucessos/fracassos, malgrado a desigualdade das condições de
“competição” e a redução dos direitos civis do Estado de direito, ocasionada pelas demandas do
capital financeiro. Nesse sentido, enquanto indivíduos “empreendedores de si” e responsáveis pelo
desenvolvimento de suas habilidades pessoais, acentua-se o individualismo e os insulamentos
provocados por uma perda de vínculos com a comunidade e, sobretudo, com os movimentos
sociais. Ora, as crises constantes deste modelo político-econômico, sustentado pelo sistema
capitalista como modelo de gestão privilegiado, mormente a partir da década de 70 do século
passado – mas cujo desenvolvimento teórico remonta já às décadas de 20-30 -, colocam em xeque
a operacionalidade de determinados esquemas para os quais a primazia dos mercados sobrepujaria
a ingerência estatal, restando ao Estado a mera função de mediador das relações sociais, a detenção
dos aparatos coercitivos de segurança, e de assegurador da dinâmica “natural” e autorreguladora
dos mercados e sistemas financeiros. Crises, ainda, que integradas à estrutura de funcionamento
do capitalismo, revelam a fragilidade dos sistemas de créditos e dos governos, e reverberam no
corpo social sob a forma de desemprego, diminuição da renda e agravamento das dívidas
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intermináveis – eficientes também como modelo de governamento, na medida em que forjam
subjetividades mutiladas e inseguras, dóceis e flexíveis, centradas na “expiação de sua
culpa/dívida”, como desenvolve o filósofo e sociólogo italiano Maurizio Lazzarato, a partir das
considerações de Nietzsche, Foucault e Deleuze. Deste modo, nossa proposta é analisar os
imbricamentos entre estes três conceitos que atravessam diversos campos das ciências humanas,
com objetivo de esboçar uma possível zona de interseção, na qual o trinômio neoliberalismo-
individualismo-crise nada mais é do que uma maneira de, em sublinhando os aspectos positivos
de uma suposta liberdade, submeter as populações ao modelo securitário em detrimento da
derrocada do Estado de direito.
Palavras-chave: Neoliberalismo, Segurança, Subjetividade, Michel Foucault, Filosofia Política
Contemporânea
Nome: Djamila Taís Ribeiro dos Santos
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Orientador: Prof. Dr. Edson Luis de Almeida Teles
Título: Simone de Beauvoir e Judith Butler: aproximações e distanciamentos e os critérios da ação
política
Resumo: Nosso projeto de pesquisa tem o propósito de promover uma análise comparativa entre
as filósofas Simone de Beauvoir e Judith Butler no que diz respeito às obras, O segundo sexo e
Problemas de Gênero. Analisaremos as linhas interpretativas de Beauvoir, demonstrando suas
aproximações ou distanciamentos da interpretação de Butler, assim como as ferramentas
conceituais em que as filósofas se apoiam para explicar e problematizar a categoria das mulheres.
Veremos também como os argumentos apresentados nestas duas obras possuem relevância para se
pensar esta categoria em termos de ação política.
Palavras-chave: Ação política, Categoria, Mulheres, Feminismo
Nome: Douglas Antônio Fedel Zorzo
Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
Orientador: Prof. Dr. José Luiz Ames
Título: Maquiavel e a recusa aos mercenários: uma opção política
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Resumo: Maquiavel dedica considerável parte de seu pensamento político-militar para criticar um
modelo de exército amplamente utilizado durante o Cinquecento: os mercenários. Com isso em
vista, nosso trabalho possui um duplo propósito: por um lado apresentar como as críticas ao
mercenarismo são erigidas no pensamento maquiaveliano, situando a discussão fomentada a partir
dessa polêmica, e por outro aduzir uma proposta política como fundamento da recusa desses
exércitos.
Para Maquiavel as armas e as leis são os fundamentos de todo Estado. No entanto, o aparato militar
se revela extremamente nocivo ao corpo político quando baseado em armas mercenárias. Em um
tom fortemente pejorativo afirma que essas tropas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas,
infiéis e covardes. Essa instabilidade reside no fato de combaterem motivados financeiramente, de
modo que aquilo que os instiga no campo de batalha é um pequeno soldo, mas algo insuficiente
para mantê-los fiéis e capazes de morrer pelo Estado.
Todavia, essa absoluta recusa de Maquiavel pelas tropas mercenárias foi alvo de uma série de
críticas e considerações. Alguns historiadores, por exemplo, denunciam Maquiavel por alterar
deliberadamente dados de algumas batalhas florentinas baseadas em tropas mercenárias para
acentuar sua aversão por essas tropas. Porém, se Maquiavel é um mau historiador é porque sua
pretensão é de caráter normativo e não descritivo. Outros comentadores o acusam de incorrer em
um erro mais grave: incluir em um mesmo e indistinto grupo mercenários e condottieri, rechaçando
qualquer força profissional. De acordo com essa linha argumentativa Maquiavel não teria se dado
conta do papel fundamental das tropas profissionais em alguns exércitos, como o da monarquia
francesa e da espanhola, que se serviam de mercenários suíços e alemães, mas não recorriam aos
condottieri. De certa forma, teria universalizado a situação política-militar florentina que padecia
e dependia exclusivamente do condottierismo para assegurar sua delicada posição política.
Contudo, o sentido geral das acusações aos exércitos mercenários ganha respaldo na medida em
que compreendemos a finalidade pela qual ele as dirige: a justificação de um exército próprio
fundado em soldados cidadãos. As atividades militares, como uma das pilastras sobre as quais todo
o edifício político é erigido, não podem ser confiadas a estrangeiros. Porém, formar uma milícia
cidadã não é justificável apenas por vantagens bélicas, mas é sobretudo um movimento político
para Maquiavel: é na formação de tal milícia que se revela a importância do povo na construção
de um Estado forte. Além disso é a própria disciplina militar um meio para cultivar algumas
virtudes cívicas nos cidadãos, sem as quais um Estado não se conserva. Assim a predileção pelos
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exércitos próprios e a aversão das tropas mercenárias é justificada pelas consequências políticas
causadas por essas armas. O que permeia essa crítica é a idéia de que o Estado só pode fundar sua
segurança em soldados cidadãos. Destarte, a escolha das arme proprie em detrimento das
mercenárias possui outra causa além da mera eficácia: fazem parte de um projeto político-militar
esboçado por Maquiavel que tinha por consequência a criação de um espírito patriótico a partir da
introdução dessas armas.
Palavras-chave: Maquiavel, Condottierismo, Armas mercenárias, Armas próprias
Nome: Douglas Rogério Anfra
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Paulo Arantes
Título: Guerra e filosofia política: desafios à interpretação
Resumo: A guerra constatada como evento concreto, acabou se mostrando inimiga da reflexão e
mesmo da teoria ao obrigar compreender seu movimento no mesmo momento em que se impõe ao
pensamento sem permitir a suspensão do juízo, ou ainda sem permitir uma indicação racional de
como seus pressupostos e consequências poderiam ser neutralizados. Frédéric Gros em Etats de
violence:Essai sur la fin de la guerre atribui esta dificuldade não apenas à natureza da guerra em
si mesma, mas a uma mudança da forma do conflito moderno que se tornou de definição ainda
mais complexa, seja nos termos de uma unilateralidade que ameaça com forças puras de destruição
populações civis desarmadas, seja com a questão da capacidade de mobilização geral do esforço
de guerra permanente através da seguridade dos fluxos ligados à economia que justificam as
“intervenções” (relacionadas a um tipo de organização da sociedade e da economia que suplantaria
as economias de guerra tradicionais).
Longe de arrefecer, este problema se estende da passagem do século XIX até os nossos dias
agravado ainda mais pela modificação dos materiais empregados, como a adoção de arsenal
termonuclear, apesar de sua adoção potencialmente facilitar ao menos uma negação pacifista dos
conflitos. Ainda assim, o juízo crítico sobre os conflitos e o emprego desproporcional da força
militar continua a ser notadas com as opiniões conflitantes de alguns dos teóricos mais
significativos de nosso tempo como Arendt, Castoriadis, Virilio, Kurz e Habermas, que oscilam
da constatação de uma irracionalidade da própria máquina de guerra presa em um fim em si mesma
ou no apoio ao emprego de força militar em conflito determinado oscilando pelo apoio a um lado
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contra outro, muitas vezes sem a meditação mais profunda sobre seu emprego, ou mesmo de uma
divisão entre combatentes e civis.
Apesar disso, acreditamos ser possível defender não apenas a necessidade, mas a possibilidade de
encontrarmos alguns dos traços de um possível fundamento que permitisse a reflexão sobre a
guerra em alguns autores perdidos na passagem da modernidade que auxiliassem um modo de
encontrar um foco de análise que permitisse compreender as dificuldades políticas em relação à
compreensão da guerra.
Para isso, apontaremos alguns traços da análise que Friedrich Engels, autor que debruçou parte
significativa de sua reflexão teórica sobre o tema para balizarmos através do emprego daquilo que
chamou de material humano (Menschenmaterials) e do material armamento (Waffenmaterials),
como aspectos do desenvolvimento da guerra que se tornaram um desafio para a compreensão do
impacto que a mobilização para a guerra ou mesmo a potencialidade destrutiva crescente dos
conflitos armados representou para o movimento operário europeu. Este desafio, longe de ter sido
completamente resolvido teórica e politicamente pelo autor ainda preserva traços interessantes
para a reflexão sobre os aspectos apresentados ainda hoje de modo contraditório em diversos
autores a respeito da guerra que, longe de se resolverem, continuam em aberto.
Palavras-chave: Marxismo, Guerra, Organização Militar, Dialética, Ideologia
Nome: Eder Corbanezi
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Scarlett Marton
Título: Nietzsche e a distinção entre as artes de interpretação boas e ruins
Resumo: No parágrafo 22 de Para além de bem e mal, Nietzsche critica a concepção de “legalidade
da natureza” dos físicos, afirmando que ela resulta de uma arte ruim de interpretação. Em
contraposição, o filósofo apresenta a sua própria concepção de mundo como vontade de potência,
indicando que ela provém de uma boa arte de interpretação. Ao conferir um estatuto interpretativo
à sua concepção de mundo, Nietzsche não a considera como apenas mais uma interpretação ao
lado das outras, mas, antes, reivindica a sua superioridade. Com efeito, se Nietzsche afirma que
não há senão interpretações, denominando interpretação até mesmo aquelas concepções que se
pretendiam explicações ou verdades absolutas, por outro lado o filósofo não concebe as
interpretações de modo homogêneo. De maneira geral, ele distingue entre as artes boas de
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interpretação e as artes ruins de interpretação. Desse modo, Nietzsche rejeita a ideia de que tudo é
permitido nos procedimentos interpretativos, assim como a ideia de que as interpretações são
equivalentes.
Por um lado, aquela distinção permite superar algumas dificuldades, que se mostram por fim
aparentes. Tendo em vista as passagens em que Nietzsche define a boa arte de leitura como uma
leitura que não falsifica o texto com interpretações ou as passagens em que caracteriza a filologia,
em sentido geral, como a capacidade de decifrar fatos sem falsificá-los com interpretações, poder-
se-ia pensar inicialmente que Nietzsche exige a supressão de todo procedimento interpretativo, o
que não estaria de acordo com a ideia, central em sua filosofia, de que necessariamente
interpretamos. Se, porém, não considerarmos a interpretação como um procedimento
indiferenciado, mas à luz da mencionada distinção entre artes de interpretação boas e ruins, então
podemos ler naquelas passagens a exigência de supressão não de toda interpretação, mas de artes
ruins de interpretação.
Por outro lado, não nos parece possível uma distinção absolutamente estrita entre artes de
interpretação boas e ruins, pois não nos parece possível suprimir totalmente elementos que
caracterizam artes ruins de interpretação, de modo que em alguma medida tais elementos também
deverão estar presentes nas artes boas de interpretação. Nietzsche critica, para oferecermos um
exemplo, a arbitrariedade – ou a desavergonhada arbitrariedade – de algumas artes ruins de
interpretação. Contudo, parece-nos legítimo perguntar se, sendo perspectivístico, um
procedimento interpretativo não implicará necessariamente alguma medida de arbitrariedade,
ainda que ele se oriente pelo ideal de suprimir toda e qualquer arbitrariedade.
O objetivo de nossa comunicação será, pois, examinar essa tensão presente na noção nietzschiana
de interpretação.
Palavras-chave: Nietzsche, Artes de interpretação, Artes de leitura
Nome: Eduardo Leonel Corrêa Cardoso
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro
Título: Política em Jean-Jacques Rousseau: entre Utopia e Realismo
Resumo: Diante da diversidade de registros deixados pelo pensador Jean-Jacques Rousseau, a
dissertação que se segue propõe a análise da sua filosofia política de acordo com duas chaves de
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leitura política: a utopia e o realismo. Com base em referências como as encontradas em Milton
Meira do Nascimento e Luiz Roberto Salinas Fortes, pretende-se encontrar a legitimidade da
política na tensão entre a utopia e o realismo. É em virtude dessa tensão que não se pode afirmar
que Rousseau é um pensador utópico ou realista, entretanto, há elementos tanto de uma como da
outra perspectiva teórica que permitem a utilização desse método para a investigação de seu
pensamento. Tais elementos são conceitos que servirão de hipóteses para se chegar àquilo que se
pressupõe, aqui, o fundamento do agir político em Rousseau: o homem. Sendo assim, a dissertação
foi dividida em duas partes: a primeira trata dos aspectos utópicos de Rousseau, enquanto a
segunda os realistas. Como consideração final consta o vínculo entre as duas leituras políticas em
Rousseau, isto é, a convergência da sua filosofia política que pode ser entendida, em extremo,
como utópico-realista. Não menos importante, como consequências dessa pesquisa poderão ser
alocados alguns conceitos e livros de Rousseau no seu escopo conceitual e no conjunto da sua obra
filosófica. Da teoria à prática, entre a escala e o programa político, Rousseau prevê que a ação
política só é legítima por haver um homem livre, que em conjunto com os seus, forma um corpo
político a fim de erigir uma vida pautada na liberdade.
Palavras-chave: Utopia, Realismo, Liberdade
Nome: Eduardo Orsolini Fernandes
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Marcus Sacrini Ayres Ferraz
Título: Metafísica na investigação sobre Natureza em Merleau-Ponty
Resumo: De 1956 até 1960, após os seus cursos sobre o conceito de Instituição, dedicados a
estabelecer um aparato conceitual destinado a combater a oscilação correlativa entre objetivismo
científico e subjetivismo idealizante através, sobretudo, do desenvolvimento de um conceito de
tempo como campo, i.e.: como aquilo que ultrapassa a constituição operada pela consciência, uma
vez que o instituído possui sentido para além dos atos téticos da consciência individual, Merleau-
Ponty dedicou-se a elaborar um conceito de Natureza o qual, segundo o filósofo, diferentemente
das concepções tradicionais, não a considerasse como um puro objeto em si mesmo exterior,
tributário de uma atividade igualmente exterior advinda seja da criação divina seja da constituição
por parte da consciência. Consequentemente, a Natureza deixa de ser considerada como objeto
passivo e inerte e passa a possuir uma atividade própria e imanente, sendo concebida como solo e
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sustentáculo da existência e atividade humanas, como um tipo de ser pré-objetivo o qual, por meio
de uma atividade de autoprodução de sentido, desdobra-se espaço-temporalmente. A partir de
então, a Natureza deixa de se constituir como sucessão desarticulada de flashes temporais
instantâneos, não necessitando de Deus ou da consciência humana para se ""manter"" e
""sustentar"" no ser.
Nota-se aí um certo deslocamento do papel central que a consciência humana desempenhou, de
modo geral, tradicionalmente, visto que a atividade humana de criação transforma-se em um
processo de metamorfose, ou de deformação coerente, do sentido pré-objetivo presente na
Natureza fixando-o em sentido objetivo – o que, por sua vez, faz com que este sentido objetivo
retorne circularmente para a Natureza como sentido adquirido.
Mas até onde se estende esta mudança do conceito de Natureza? Merleau-Ponty busca, reiteradas
vezes, reforçar de que não se trata aí de compor uma teoria dogmática em sentido pré-crítico,
procurando não fixar esta Natureza como uma potência de ser separada do homem, como uma
causalidade à segunda potência que, no final das contas, reporia os problemas advindos de uma
concepção objetivista da Natureza – problemas estes que deram ensejo em primeiro lugar à própria
tentativa de elaboração de um novo conceito de Natureza. Entretanto, não nos encontramos aqui
nos seguros limites estabelecidos por uma investigação simplesmente transcendental, já que o
próprio objeto de investigação, a Natureza, ultrapassa, ou antecede, por definição, as condições de
possibilidade da experiência a partir do ponto de vista da consciência, sendo concebido como
aquilo que envolve o homem – e envolve-o em duplo sentido: como ser pré-objetivo, que nos
antecede e fornece as bases para a nossa existência e criação, por um lado, e, por outro, como
aquilo para o qual retornam e se depositam os sentidos humanos criados culturalmente. Desta
forma, buscaremos expor, em linhas gerais, os sentido e limite filosóficos desta investigação sobre
o conceito de Natureza, buscando contrapô-la àquela transcendental.
Palavras-chave: Natureza, Metafísica, Fenomenologia, Consciência, Ontologia
Nome: Elisângela Amaral Soares Osório
Instituição: Universidade Federal do Piauí - UFPI
Orientador: Prof. Dr. Helder Buenos Aires de Carvalho
Tútulo: O papel da História na construção da filosofia moral de Alasdair MacIntyre
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Resumo: Neste trabalho nos propomos estudar o papel da história na construção da teoria moral
das virtudes de Alasdair MacIntyre, na tentativa de compreendermos porque para MacIntyre é
necessário retomar a história da filosofia para responder aos questionamentos da filosofia
contemporânea e principalmente para compreender como a discussão moral contemporânea se
tornou o que é hoje. Observamos que a temática que propormos não tem sido abordada pelos
interpretes deste filósofo, muitos levados pela crença de que esse tipo de abordagem nos afastaria
da discussão contemporânea, nossa concepção é a de que pensar este filósofo nessa perspectiva
pode contribuir para uma melhor compreensão da teoria moral desenvolvida em “Depois da
virtude” e "Justiça de quem? Qual racionalidade?".
Palavras-chave: Ética, História, Moralidade
Nome: Eloisa Benvenutti de Andrade
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Ribeiro de Moura
Tútulo: O sensível na proposta fenomenológica de Merleau-Ponty
Resumo: Nossa comunicação apresentará algumas questões fundamentais para a compreensão da
proposta fenomenológica de Merleau-Ponty (1908-1961). Apontaremos alguns aspectos
importantes para a forma como o autor realiza sua leitura crítica sobre a ontologia tradicional e
como fundamenta sua proposta de conciliação entre psicológico e fisiológico. Na obra O Visível
e o Invisível, cujo pré-projeto intitulava-se “A Origem da Verdade”, Merleau-Ponty se propõe a
tarefa de promover um exame radical de nossa presença no mundo. Sob a perspectiva das noções
de visível e invisível, Merleau-Ponty enuncia que pretende apurar certa reversibilidade daquele
que vê e daquilo que é visto. Em outras palavras, o filósofo quer abarcar um cenário original, e
isto quer dizer, abarcar a expressão donde quer que ela esteja. Nossa hipótese é a de que o sensível
é um ponto fundamental para o refinamento deste projeto. Nossa intenção no nosso trabalho é
evidenciar a extensão deste projeto, mostrando que ele não separa a tarefa da fenomenologia como
filosofia da tarefa da ontologia, mas como Merleau-Ponty escreveu em O Filósofo e sua Sombra
(1960), o propósito último da fenomenologia como filosofia da consciência é compreender sua
relação com a não-fenomenologia. Em seu último escrito, Merleau-Ponty enunciou sua tarefa de
maneira taxativa, a saber, descrever o visível como algo que se realiza por meio do homem, mas
que não é absolutamente antropológico. Para tanto, Merleau-Ponty fundamenta uma radicalização
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do sensível, promove uma refundação do que seja a natureza, e, finalmente funda a carne. Diante
disso, o objetivo da nossa pesquisa é apresentar uma investigação sobre a origem e consolidação
deste projeto, que conduz Merleau-Ponty até o momento da generalidade do sensível em si, através
da análise dos conceitos de natureza e sensível apresentados em sua obra.
Palavras-chave: Merleau-Ponty, Ontologia, Sensível, Fenomenologia
Nome: Emanuel Angelo da Rocha Fragoso
Instituição: Universidade estadual do Ceará - UECE e USP-Pós-Doutorado em Filosofia
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marilena Chaui
Título: A interdição política das mulheres no TP de Benedictus de Spinoza
Resumo: O tema de nosso trabalho é a condição política da mulher conforme descrita por
Benedictus de Spinoza (1632-1677) em seu Tratado Político (TP). Neste texto, Spinoza exclui as
mulheres de toda e qualquer participação política, ao negar a elas o “direito de voto e de aceder a
cargos do estado” (TPXI§3), porque considera que elas não estão sob jurisdição de si próprias
(TPXI§3) e também por causa dos graves prejuízos à paz se acaso “homens e mulheres governarem
de igual modo.” (TPXI§4). Spinoza fundamenta a exclusão política das mulheres, a citada
condição de “estar sob jurisdição de outrem [alterius esse juris]” no parágrafo 9 do capítulo II do
TP como a condição de “estar sob o poder de outrem [sub alterius potestate est]”, que por sua vez
se opõe à condição de “estar sob jurisdição de si próprio [esse sui juris]” que é ter o poder de “[...]
repelir toda força, vingar como lhe parecer um dano que lhe é feito e, de um modo geral, na medida
em que pode viver segundo o seu próprio engenho [ingenio]” (TPII§9). Spinoza enfatiza no final
do parágrafo o caráter transitório e condicional do alterius juris: “[...] enquanto dura o medo ou a
esperança; na verdade, desaparecida esta ou aquele, o outro fica sob a jurisdição de si próprio [sui
juris]” (TPII§10). O mesmo ocorre no parágrafo 11 do TP no qual Spinoza acrescenta outra
distinção na modalidade alterius juris, conforme a jurisdição do outro abranja a capacidade de
julgar [judicandi facultas], “[...] na medida em que a mente pode ser enganada por outrem.”
(TPII§11). Esta situação também é transitória, pois o poder sobre o outro só se mantém enquanto
o logro tiver força sobre o ânimo alheio, mas, desfeito o logro, o subjugado torna-se sui juris.
Portanto, a interdição política da mulher no TP apresenta claramente um caráter transitório, ou
enquanto durar sua condição alterius esse juris.
Palavras- chave: Spinoza, Mulheres, Política, TP
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Nome: Evaniel Brás dos Santos
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientador: Prof. Dr. Márcio Augusto Damin Custódio
Título: Princípio de existência e princípio de movimento em Tomás de Aquino
Resumo: O propósito deste texto é explicitar a articulação entre as noções de divindade, tida como
princípio de existência, e natureza, enquanto princípio de movimento, em Tomás de Aquino. Essa
articulação se dá mediante a noção de criação, a qual é atribuída tanto para a causa, a divindade,
quanto para o efeito, o mundo. Dita para a causa, “criação” significa a operação divina que confere
existência aos entes. Porém, este texto enfatizará a criação como efeito da operação divina, isto é,
o surgimento do mundo. Isso será feito pela consideração da operação dos instrumentos, sobretudo
os naturais e, ademais, seu vínculo com a operação divina que conserva o ato criador. É justamente
nesse vínculo entre a conservação e a operação dos instrumentos que a cosmologia de Tomás pode
ser compreendida. No intuito de explicitar como isso se dá, o texto possui duas seções.
Primeiramente, explicito o sentido metafísico da constituição do mundo caracterizada pela
dependência ontológica com relação à operação divina de criação. Além disso, como a noção de
natureza entendida como operação pertence ao tratamento sobre o governo divino, recorrerei,
nessa seção, ao sentido dessa noção, para, assim, explicitar a articulação entre o princípio que
confere existência e o princípio de movimento. Posteriormente, na segunda seção, exponho os
sentidos da noção de relação. Isso porque a relação entre a divindade e o mundo designa-se como
relação racional. A relação entre o mundo e a divindade, por sua vez, bem como entre as coisas
que constituem o mundo, designa-se como relação real.
Palavras-chave: Princípio, Existência, Movimento, Criação, Natureza
Nome: Fabiano Barboza Viana
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini
Título: Walter Benjamin e o mito da linguagem adâmica.
Resumo: A seguinte comunicação pretende esboçar alguns contornos da leitura benjamiana, dos
anos 1910 até o final dos anos 1920, sobre a Cabala e a língua hebraica em sua mediação com o
mito de uma linguagem essencial tendo assim como horizonte normativo um conjunto de utopias
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messiânicas/restitucionistas alinhavadas posteriormente a crítica marxista. Tal leitura histórico-
cosmogônica permitirá o aclaramento do caráter fragmentário do mundo e do pensamento, da
dissolução do conhecimento, e da mecanização do trabalho conforme evidenciados na
modernidade. Seguiremos em nosso percurso a análise dos ensaios "Sobre a linguagem em geral
e sobre a linguagem do homem" (1916) e "A tarefa do tradutor" (1921). Será justamente nesses
escritos que irá se ressaltar uma vertente metafísica do pensamento benjaminiano, fundamentada
em uma reflexão radical sobre a linguagem. Segundo JeanneMarie Gagnebin, “muitas vezes
julgada supérflua ou tratada como um erro de juventude, essa dimensão metafísica (do pensamento
benjaminiano faz com que) se combinem fundamente (na reflexão desse filósofo) aspectos
religiosos, teológicos, estéticos e políticos" (Walter Benjamin – Escritos sobre mito e linguagem
1915-1921, São Paulo: Editora 34; Duas Cidades, 2011. p. 9). Se por um lado, nos textos de
juventude de Benjamin, o mito de uma linguagem essencial é aquele lugar responsável por lançar
as bases para a crítica histórica (adensada nos escritos posteriores do filósofo alemão), por outro,
será a própria pregnância da concepção de mito, contraparte insuperável de sua noção de história,
que será alvo de uma crítica com tintas materialista histórica em escritos como suas teses “Sobre
o conceito de história” de 1940.
Palavras-chave: Cabala, Linguagem, Fragmento
Nome: Felício Ramalho Ribeiro
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientador: Prof. Dr. Verlaine Freitas
Título: As duas faces de Circe: a tortuosa dialética entre prazer e autoconservação em Adorno
Resumo: O intuito de nosso trabalho é fazer uma análise do encontro de Ulisses com Circe na
Dialética do esclarecimento a partir de uma abordagem que enfatize os aspectos psicanalíticos
desse momento da obra.
A figura de Circe é expressão emblemática da dialética tortuosa entre felicidade e civilização, entre
natureza pulsional interna e renúncia autoconservativa, entre sujeito e objeto – no caso, o corpo –
, e outras polarizações do processo de esclarecimento. Ela representa a incerteza e a indeterminação
que marcam enfaticamente a desconfortável relação do sujeito com a alteridade, ao mesmo tempo,
atraente e repulsiva. O encontro entre Ulisses e Circe é uma evidência simbólica da relação
repressiva que o homem estabelece com todas as coisas dotadas de um alto grau de periculosidade
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desagregadora para o ego, entre elas, a figura feminina, reflexo da natureza, em sua força
descentradora e na fragilidade de sua submissão. A postura autoconservativa de Ulisses de controle
do seu desejo diante da tentação de Circe coloca ela sob o seu domínio e tem como prêmio um
prazer a sua medida, ou seja, mitigado, diferente do castigo concedido pela feiticeira para os
companheiros, que mergulharam por completo em seus ímpetos pulsionais sem se aterem aos
princípios mutiladores da autoconservação. A união amorosa entre Ulisses e Circe prefigura o
casamento, indica a origem dessa instituição social em sua capacidade de apaziguar os ânimos dos
envolvidos por meio do encobrimento do conflito e da instabilidade existentes entre eles para o
prosseguimento civilizacional. Assegurado de seu domínio sobre uma das faces da alteridade pelo
resfriamento dos seus afetos a partir da normatização do amor em um regime de relações ordenadas
de reprodução, o sujeito estabelece uma convivência “saudável” e inócua com a figura feminina
da mulher, subjugada a ele, como toda a natureza, interna e externa. Desse modo, o casamento,
simultaneamente base e produto da civilização, pode ser entendido dentro do processo de
esclarecimento como uma das formas sociais pela qual o ego conseguiu manter o seu princípio
narcísico de unidade autoconservativa para se salvaguardar do poder dissolutivo dos ímpetos
pulsionais de sua natureza interna em contato com o outro, com a realidade sensível. Desse quadro,
estruturado por outros textos além da Dialética, como Para introduzir o narcisismo e o Mal-estar
na civilização, ambos de Freud, teceremos a trama da tortuosa dialética entre prazer e
autoconservação existente no encontro de Ulisses com Circe.
Palavras-chave: Prazer, Autoconservação, Alteridade, Narcisismo
Nome: Felipe Augusto de Luca
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Profª. Dr. Tessa Moura Lacerda
Título: De Mônadas a Sistemas: expressividade e comunicação nos pensamentos de G. W. Leibniz
e N. Luhmann
Resumo: O conceito mônada no pensamento leibniziano guarda em si um aspecto fundamental
que é o de expressividade: este remete a pensar o indivíduo não só como dotado de uma lógica
interna fenomênica como também pertencente a uma lógica metafísica baseado nos princípios de
melhor e de causa final; interligados os princípios se refuta o dualismo cartesiano e se alcança, ao
nosso ver, um novo conceito que é o de individualidade sistêmica. Isto abre ao filósofo um universo
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relacional que leva a consequências importantes em âmbito metafísico, político, jurídico,
linguístico, etc., e que ficará patente em sua formulação do princípio “place d’autruy”. Deste
movimento reflexivo de “se colocar no lugar do outro” entende-se a reconstrução subjetiva das
possibilidades externas no interior do próprio indivíduo, o que condicionará de modo singular a
sua expressão. As duas elaborações de Leibniz darão os fundamentos para uma leitura organísmica
e uma leitura organicista da sociedade. Contudo, enquanto a segunda leitura passa a sobrevalorizar
a interdependência das partes enfatizando a cooperação de seus elementos, a primeira, mais
próxima de Leibniz, passa a sobrevalorizar a interdependência enfatizando uma ordem anterior,
que chamaremos de comunicativa. A esfera comunicativa, levando em conta o fechamento das
mônadas, abrange a pluralidade de perspectivas e expressões se mantendo harmônicamente
descentralizada e, ao mesmo tempo, vinculativa. É nesta linha interpretativa que se concebe uma
das raízes do pensamento sistêmico e da pós-ontologia social levada a cabo por Niklas Luhmann.
Para o sociólogo alemão, a leitura leibniziana que Bertalanffy faz é o ponto alto de ruptura com o
modelo interpretativo mecanicista de ciência mas não é radical o bastante para romper com as
imprecisões epistemológicas humanistas que impedem o avanço de uma ciência da sociedade. Para
tal, é necessário levar em consideração o caráter de unidade dinâmica, relacional e autopoiética
dos sistemas biológico, psíquico e social e, quanto a este último, o seu caráter fundamentalmente
comunicativo. Para este corte metodológico denominado anti-humanista nos parece que Luhmann
requisita certos conceitos do pensamento leibniziano, a saber, o “fechamento”, o “place d’autruy”
(incorporado pela cibernética) e a expressividade, para a elaboração de seu modelo funcional-
estruturalista de compreensão da complexidade que permeia a sociedade moderna.
Palavras-chave: Mônadas, Sistemas, Sociedade
Nome: Felipe Thiago dos Santos
Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP
Orientador: Prof. Dr. Márcio Benchimol Barros
Título: A Influência da música de Frederic Chopin na obra filosófica de Friedrich Nietzsche
Resumo: É possível observar nas últimas décadas certo alargamento temático em torno das
pesquisas sobre Nietzsche. Um dos temas que vem provocando interesse, tanto nas pesquisas
nacionais ou internacionais, é a música e sua influência sobre a filosofia do filósofo (e não apenas
sobre aspectos biográficos, como muito já se disse a seu respeito). Todavia, as críticas de Nietzsche
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ao compositor Richard Wagner foram as que mais tiveram espaço para discussão. Tendo em vista
este dado, a comunicação em questão tentará ampliar esse cenário para outro compositor que, no
decorrer da obra de Nietzsche, merece certa atenção. O nome de Frederic Chopin aparece algumas
vezes e sempre de maneira apologética nas obras de Nietzsche, algo que raramente acontece e que,
quando ocorre, pouco se compara aos termos conferidos a Chopin. Ao nos depararmos
apuradamente sobre essas passagens veremos que, mais do que um simples elogio ao compositor
polonês, essas considerações nietzscheanas sobre a música de Chopin revelam a defesa, por parte
de Nietzsche, de uma estrutura formal e estilística da qual o compositor se valia em suas obras.
Assim, respeitando o horizonte hermenêutico que essa pesquisa reclama, temos a intenção de
compreender, a partir da leitura das obras maduras (2ª e 3ª fase) de Nietzsche, tanto os aspectos
românticos típicos da temática chopiniana que infuenciaram o filósofo alemão a conceber seu
próprio pensamento filosófico musical, como também as características classicistas e barrocas que
levaram Nietzsche a formar uma concepção em torno da arte que flertasse com essas duas correntes
artísticas. Mostraremos que a música de Chopin soa aos ouvidos de Nietzsche como o modelo
mais próximo da perfeição transfigurada em arte, uma vez que ela não fere fisiologicamente nossa
experiência auditiva, além disso, essa arte nos trás, segundo Nietzsche, para uma experiência – do
ponto de vista psicológico - individual, subjetiva, solitária e, o mais importante, distanciada, além
disso, essa arte volta-se para trás, a saber, remete à modos auditivos que tiveram ressonâncias em
tempos anteriores – característica essa estilística. Tais apontamentos fariam de Chopin um modelo
de oposição à tendência do século XIX, e, sobretudo, Wagner.
Palavras-chave: Chopin, Nietzsche, Música, Filosofia
Nome: Fernando Araujo Del Lama
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Terra
Título: Declínio da experiência, memória e redenção: aspectos do modelo de Teoria Crítica de
Walter Benjamin
Resumo: Pretende-se, no presente trabalho, indicar algumas das linhas fundamentais do modelo
de Teoria Crítica de Walter Benjamin, tal como desenvolvido na fase dita materialista de seu
pensamento. O eixo central da exposição consistirá em analisar alguns trechos de dois textos já
bastante tardios de Benjamin, a saber, o ensaio “Sobre alguns temas em Baudelaire” (1939) e as
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polêmicas teses “Sobre o Conceito de História” (1940), a fim de fazer emergir deles alguns
elementos que possibilitem a articulação dos conceitos de diagnóstico e prognóstico a partir de sua
obra. Evidentemente, houve a necessidade de circunscrever alguns temas no interior destes
próprios textos: nesse sentido, será desenvolvido, então, um dos elementos de sustentação do
diagnóstico, a saber, o declínio ou a crise da experiência e sua configuração moderna enquanto
“vivência do choque” (Chockerlebnis), constatada por Benjamin no ensaio sobre Baudelaire a
partir do cotidiano em meio à multidão que habita as grandes metrópoles. Quanto ao prognóstico,
será tomada como objeto de análise a linha fundamental do último conjunto de prognósticos
formulado por Benjamin, esboçado nas teses, isto é, a interpretação da história “a contrapelo”, cuja
ênfase nas esperanças fracassadas dos vencidos permite vislumbrar a redenção (Erlösung) dos
oprimidos através da revolução das classes oprimidas. A noção de memória (Gedächtnis), por sua
vez, possui um papel decisivo nesta problemática, constitui na medida em que a dificuldade em
conservá-la devido aos choques acentua a crise da experiência coletiva (Erfahrung) em seu sentido
pleno, e é pelo seu resgate, através da rememoração (Eingedenken), ainda que por seus cacos e
resquícios, que o historiador materialista deve proceder. Assim, a questão maior que acompanhará
essa apresentação e, por conseguinte, a pesquisa, pode ser formulada do seguinte modo: como
pensar, em conformidade com Benjamin, a ideia de emancipação da humanidade, ou redenção, no
léxico benjaminiano, por intermédio da rememoração, justamente num estágio histórico no qual
nem ela, tampouco seu objeto – a memória – são mais a norma?
Palavras-chave: Declínio da experiência, Memória, Redenção, Diagnóstico, Prognóstico
Nome: Fernando Sepe
Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Thelma Lessa da Fonseca
Título: Para além do estruturalismo em história da filosofia: Deleuze e Foucault
Resumo: Sabemos como no Brasil há uma tradição “estruturalista” da prática historiográfica em
filosofia, tradição que tem em autores como Gueroult e Goldschmidt exemplos paradigmáticos.
Tal método estrutural é caracterizado por uma dupla intenção: (1) a busca por um método científico
de leitura; (2) dotar a história da filosofia de uma relevância filosófica. Nesse sentido, a leitura
estruturalista se define a partir de uma leitura rigorosa e absolutamente interna dos textos
filosóficos e o recurso à noção de “sistema” como critério fundamental de toda filosofia.
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Foucault e Deleuze, sem dúvida, foram autores formados dentro da tradição de leitura estruturalista
dos textos filosóficos, corrente dominante na universidade francesa na época de suas formações.
Porém, em ambos os casos, sem abrir mão da análise interna e sistemática, encontramos uma
tentativa de superação de tal paradigma. Em Foucault, por exemplo, há a tentativa de abrir o texto
filosófico ao externo, inserindo-o em seu contexto histórico e mostrando como todas as filosofias
- muito antes de se autofundarem – tem suas regras enraizadas no momento histórico de sua
formação, regras essas compartilhadas por outras formas de saber de sua época. Tal proposta pode
ser exemplificada pela leitura foucaultiana da primeira meditação de Descartes e na decorrente
polêmica com Jacques Derrida. Já Deleuze é conhecido por suas interpretações sistemáticas de
diversos autores (Hume, Bergson, Nietzsche, Spinoza), porém interpretações marcadas por
inversões e deslocamentos conceituais. Nesse caso, trata-se de fazer um uso pragmático da história
da filosofia, uso esse que visava a criação de novos conceitos.
Sendo assim, nosso trabalho tem um duplo movimento: (1) apresentar em linhas gerais o método
estruturalista em história da filosofia a partir da leitura de textos de seus mais importantes
expoentes (Gueroult, Goldschmidt); (2) pensar formas de superação de tal paradigma a partir de
análises pontuais do recurso à história da filosofia tal como encontramos em Foucault e Deleuze.
Palavras-chave: História da filosofia, Estruturalismo, Foucault, Deleuze
Nome: Flávio Azevedo Reis
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Terra
Título: Liberalismo e o bem: algumas questões sobre o debate liberal-comunitarista
Resumo: A comunicação pretende abordar dois temas que, segundo as definições gerais
do debate liberal-comunitarista ocorrido no final do século XX, determinam as diferenças entre os
autores que participaram deste debate. Em primeiro lugar, as definições gerais identificam o
projeto político e filosofófico do liberalismo contemporâneo com a justificação de princípios
políticos de justiça independentes de considerações relativas ao bem, enquanto os comunitaristas
buscariam estabelecer uma relação entre a política e a “boa vida”. A questão da relação entre
princípios políticos e concepções de bem se desdobra em diversos problemas. Ao supor que o
liberalismo está conectado com uma visão particular do bem, os autores comunitaristas sugerem
que a avaliação dos princípios políticos liberais deve ser considerada em conjunto com uma
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avaliação do valor das concepções de bem que os acompanham. Neste caso, a suposta relação entre
o liberalismo e concepções de bem implica em possíveis críticas à concepção individualista de
bem que, como argumentam alguns autores comunitaristas, estaria implícita na política liberal. O
segundo problema é o “ethos democrático”: o modo como os cidadãos concebem a si mesmos
enquanto membros de uma comunidade política. Segundo as definições gerais, ao desvincular a
política do bem, os liberais atribuiriam prioridade aos direitos individuais em relação ao bem
comum. Os comunitaristas, por outro lado, buscariam uma dentificação coletiva mais forte entre
os cidadãos. Ao conectar princípios políticos e concepções de boa vida (ao admitir que concepções
religiosas, filosóficas e morais participem da vida política), os comunitaristas pretendem apontar
para a formação de uma “comunidade ética” que, segundo eles, poderia estabelecer ligações sociais
mais profundas entre os membros da sociedade. Os autores liberais, por outro lado, argumetam em
defesa de uma distinção entre liberdade e bem e, assim, pretendem distinguir questões políticas de
discussões sobre concepções religiosas, filosofóficas e morais em relação ao bem. O objetivo desta
comunicação é explorar estes dois temas no debate liberal comunitarista: a relação entre
liberailsmo e bem e o chamado “ethos democrático.
Palavras-chave: Política, Ética, Liberalismo, Comunitarismo, Justiça
Nome: Fran de Oliveira Alavina
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Luís César Oliva
Título: Das paixões aos afetos: distintas concepções de amor no Breve Tratado de Espinosa
Resumo: Esta comunicação procura analisar o que representa a amizade e a precariedade humana
em Montaigne. Para tanto, num primeiro momento, a fim de fazer um estudo minucioso, esboçar-
se-á um comentário sobre o primeiro parágrafo da seção De l’amitié dos Essais com o objetivo de
expor uma condição humanista diferente dos humanistas da época, que priorizavam o ser humano
como centro do universo. Em Montaigne, notar-se-á outra face do humanismo, na qual o humano
reflete sobre o “eu”, ou seja, a razão não é o centro e sim perde sua centralidade, de maneira que
ensaiar pode tornar presente no papel a imagem do amigo La Boétie e a reconstrução do “eu”.
Desse modo, constatar-se-á a possibilidade de uma interpretação triádica do ensaísta: ler,
experimentar e refletir. Além disso, num segundo momento, ilustram-se a relevância dos estudos
montaignianos mediante os seguintes intérpretes. Primeiro, para Loque, ver-se-á que Montaigne
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vivencia uma série de paradoxos. Ele defende a tese de uma atitude múltipla no ensaísta. Ele não
possui uma linha fixa de pensamento. Ao pensar, adquire novas formas de pensar. Além disso,
Loque vê Montaigne como filósofo cético. No entanto, tal definição se afasta da proposta desta
comunicação em demonstrar uma postura humanista no ensaísta. Segundo, o intérprete Cardoso,
destacar-se-á que Montaigne, ao refletir sobre suas experiências, faz o uso de sua razão e coloca
até ela mesma no âmbito da reflexão. Cardoso aponta a imagem da “orquestra” para elucidar a
experiência como fonte primordial. Tanto a música como o ensaio possuem a função de dar um
direcionamento à ação de cantar e de escrever, em outras palavras, apresentar o âmago pela
composição da música e pela escrita como meios de inspiração e projeção do íntimo para o âmbito
da vida. O pensamento de Cardoso é relevante para esta comunicação, porque possibilita pensar
Montaigne como humanista e que vai, segundo o comentador, além do humanismo, no desejo da
razão em debruçar-se sobre ela mesma. Terceiro, Birchal aponta que a variedade de assuntos do
ensaísta permite constatar a sua instabilidade diante do tempo que passa e pode apagar as suas
experiências. Desse modo, Birchal realça o aspecto das “opiniões” e do “julgamento” para
Montaigne buscar a sua expressão nos ensaios. Com isso, ela analisa o ensaísta como um filósofo
da subjetividade. Percebe-se, portanto, nos intérpretes Cardoso e Birchal uma aproximação com o
objetivo da visão triádica proposta por esta comunicação, pois Montaigne descreve sobre ele
mesmo, a fim de fazer uma filosofia da ação e, principalmente da suspensão do juízo, mediante o
ensaio de cada uma de suas experiências. Trata-se de uma ação vinculada ao julgamento, porque,
ao refletir, o ser humano pode suspender o juízo, de modo que ocorre uma elevação do pensamento
e, consequentemente, o diálogo da razão com a própria razão. A experiência da amizade, rompida
pela experiência da morte, adquire nos ensaios uma nova forma de viver arraigada pelo exercício
da razão em colocar no papel suas opiniões.
Palavras-chave: Paixão, Amor, Afetos
Nome: Francivone Rodrigues da Silva
Instituição: Universidade Federal do Pará - UFPa
Orientador: Prof. Dr. Ernani Pinheiro Chaves
Título: Coerção e sociabilização
Resumo: O objetivo do artigo é discutir a formação da vida social a partir dos meios coercitivos
em Max Horkheimer no artigo Autoridade e família. Segundo Horkheimer foi Nietzsche quem
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denunciou a presença da coerção como fator inerente à formação do ser social. Partindo de uma
leitura da Genealogia da moral, Horkheimer mostra que esta característica é constante na vida
humana, no entanto, não podemos superestimá-la. O papel do filósofo aqui é de esclarecer,
escancarar esta verdade porém, jamais requerer que sua pratica seja validada e torne-se uma regra
geral para a sociedade.
Palavras-chave: Horkheimer, Nietzsche, Coerção, Sociedade.
Nome: Gabriel Almeida Assumpção
Instiuição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientador: Prof. Dr. Leonardo Alves Vieira
Título: Qual a origem da crença? A confrontação entre Kant e Feuerbach
Resumo: Na Crítica da Razão Pura, Kant empreendeu crítica aos esforços da filosofia em
demonstrar a existência de Deus pela via metafísica. Em sua reflexão, isso implicou um
deslocamento da questão teológica do campo da metafísica para a moral, tendo em mente que, para
Kant, é na esfera da moralidade que se realizam os fins mais importantes a que o ser racional finito
se propõe, sendo o fim último (Endzweck) o sumo Bem (objeto da vontade determinada pela lei
moral e ligação necessária entre virtude como causa e felicidade moralmente condicionada como
efeito). Deus é admitido pela razão pura não no uso teórico, mas no uso prático, para que seja
possível produzir o sumo Bem. Isso se dá na medida em que, para Kant, faz-se necessário conceber
um Autor da natureza capaz de transitar entre a natureza e a moralidade com perfeição –
permitindo, assim, a integração entre moralidade e felicidade. O Deus que fora relegado a um papel
regulador na Dialética da primeira Crítica reaparece tanto no Cânone da mesma quanto na Crítica
da Razão Prática, não como objeto de conhecimento teórico, de saber (Wissen) como objeto de
crença (Glaube), de fé racional pura. Deus surge, portanto, de uma demanda da moralidade, da
própria razão pura no uso prático, o qual possui primado sobre o uso teórico, como defende Kant
na segunda Crítica.
Em um dos críticos de Kant, o filósofo da chamada esquerda hegeliana, Ludwig Feuerbach – cuja
obra principal é A Essência do Cristianismo – a religião surge como fruto do temor do ser humano
diante da natureza e como tentativa de negação da finitude humana. Concebendo-se Deus como
objetivação de atributos humanos, como exteriorização das capacidades do ser humano, tais como
bondade, inteligência e mesmo infinitude (não como indivíduo, mas como espécie humana, como
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gênero ou Gattungswesen). Influenciado por F. Scheleiermacher, Feuerbach enfatiza o papel do
sentimento na crença, e a falta de envolvimento afetivo na filosofia de seu tempo será a base para
a crítica feuerbachiana da filosofia de seu tempo. Segundo Cabada-Castro, Se Kant investigará o
dever; o universal; a “religião dentro dos limites da simples razão”, Feuerbach dará grande estima
ao amor; ao indivíduo; e à “religião dentro dos limites da mera humanidade”.
Nosso propósito, recorrendo tanto a textos de Kant quanto de Feuerbach, bem como a
comentadores de ambos, é confrontar suas visões sobre a crença, com intuito de refletir sobre qual
a sede da mesma: a razão ou a afetividade, buscando-se evitar uma saída unilateral. O que
buscamos demonstrar é como, a nosso ver, tanto a razão quanto a afetividade estão em jogo na
crença. A questão é a compreensão acerca de qual nível de consciência se considera o ser humano.
Busca-se também, ao longo da exposição, refletir sobre como Kant, ainda que tenha buscado
fundar uma moral a priorística, acabou inserindo na mesma vários elementos históricos e
contingentes, como fica nítido pela a influência do cristianismo.
Palavras-chave: Crença, Deus, Feuerbach, Kant
Nome: Gilberto Bettini Bonadio
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Arlenice Almeida da Silva
Título: Aproximações no diálogo entre Filosofia e Literatura
Resumo: A compreensão de uma obra literária pela filosofia pressupõe uma análise do texto que
visa à sua interpretação. Se a obra pode ser encarada como um instrumento de busca por uma
verdade que se apresenta como ficção, então se supõe que ela possa ser compreendida pelo sujeito
que articula seu pensamento no trabalho de interpretação requerido pelo texto e, doravante, impõe-
se a necessidade de estabelecer um método que guie o intérprete no desvendamento do texto. Nesta
tarefa a hermenêutica pensada por Gadamer oferece uma senda comum em que filosofia e literatura
podem se aproximar, efetuando no plano interpretativo da obra um método entre o leitor e o texto
que, sob o foco da narrativa literária, busca nela a sua verdade enquanto ficção, autorizando o
diálogo com a filosofia. De acordo com Gadamer, a obra deve sempre ser pensada como algo
histórico, pois sua compreensão necessita que o horizonte presente do leitor seja confrontado com
o horizonte passado aberto pelo texto; dessa forma, levando em consideração a historicidade de
toda compreensão, evita-se uma interpretação pretensamente objetiva da obra, mas que acaba
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pautando-se em critérios estritamente subjetivos. O jogo de compreensão do texto literário se
firmará, então, para Gadamer, na reflexão sobre a pergunta feita pelo texto e para a qual ele já é
uma resposta, sendo que nesta tentativa de elucidação da obra, no método entre o leitor e o texto,
o próprio movimento do compreender humano se estrutura. Diante disso, Gadamer irá sugerir que
a distância entre a literatura e a filosofia é menor do que se imagina, pois, segundo ele, ambas
procuram por meio do diálogo da alma consigo mesma aquilo que na obra poderia ser considerado
universal. O autor observa que, semelhante à literatura, o que é dito pela filosofia também não
existe de fato e está em constante tensão com a linguagem cotidiana que é orientada para a ação
no mundo e não para o auxílio da reflexão nos meandros do pensamento. Desse modo, a filosofia
irá sempre dizer, assim como a literatura, sobre coisas que não são dadas em lugar algum, mas
que, conforme sugere Gadamer, existem enredadas no texto como elemento linguístico,
possibilitando a interpretação e a descoberta do que ali fala sempre mais uma vez, permanecendo
atemporal.
Palavras-chave: Literatura, Filosofia, Hermenêutica, Gadamer
Nome: Guilherme José Santini
Instituição: Faculdade de São Bento de São Paulo - FSB-SP
Orientador: Prof. Dr. Pedro Monticelli
Título: A abolição da teleologia sobrenatural na Weltanschauung do Renascimento
Resumo: O leitmotiv do Humanismo italiano, desde a metade do século XV, foi a
supervalorização da sabedoria profana dos antigos, ao que se seguiu a separação conceitual entre
o ideal de sabedoria e a perspectiva filosófica fundada na noção de um logos transcendente. Essa
mudança de perspectiva, de tendência imanentista, promoveu, desde as cortes das cidades-Estado
italianas, a dissolução do edifício conceitual medieval, hierarquizado teologicamente e assentado
numa cosmovisão de base metafísica realista. A paideia escolástica, subsidiada pela pedagogia das
sete artes liberais, vinha abaixo diante da nova pedagogia humanista subsidiada por sua vez pelos
studia humanitatis. O propósito primeiro da paideia humanista era um novo ideal de perfeição
humana, e, por conseguinte, uma nova ética.
Estava em jogo, desde Petrarca, isto é, desde o século XIV, uma reforma do conhecimento e uma
reforma do homem ocidental; uma reforma, dir-se-ia, de toda a sua arquitetura conceitual, mas que
a partir da metade do século XV, e especialmente das Descobertas, daria lugar a uma
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Weltanschauung, a uma nova cosmovisão cuja atitude fundamental fora a aceitação jubilosa deste
mundo, isto é, do homem como ser-no-mundo.
A paideia humanista supunha que pelo conhecimento dos padrões intrínsecos da natureza do
homem e da natureza do mundo, que os sábios da Antiguidade clássica teriam estudado
profundamente e que os medievais teriam menosprezado, conquistaria o homem a sua autonomia
natural. Donde o ideal ético humanista do uomo universale. Todos os socorros para o
aperfeiçoamento humano estariam contidos na sua própria natureza ‘’micro-cósmica’’. A ética
humanista abolia assim a noção, cara aos medievais, da destinação sobrenatural da pessoa. Atribui-
lhe, em seu lugar, como razão última e sentido de sua vida o domínio do mundo terreno. Donde a
articulação da ética imanentista com a pedagogia da sabedoria profana e a política da virtù.
Dito de outro modo, em suma, a pedagogia do Humanismo renascentista previa o aperfeiçoamento
do ser humano de modo totalmente natural, sem a necessidade do auxílio da graça divina; logo,
sem a necessidade de uma filosofia metafísica e de uma teleologia sobrenatural na base conceitual
de sua Weltanschauung. Desde a metade do século XV o homem ocidental citadino já vivia
segundo uma nova forma mentis marcada pela imanentização do logos divino na existência
profana.
Por isso, segundo Dilthey, o Renascimento deve ser celebrado porquanto é a partir de sua
Weltanschauung que cede o homem à aceitação da história como sua condição intrínseca, ao que
se segue a aceitação de sua experiência contingente como um valor em si.
O objetivo deste trabalho é apresentar, desde as contribuições de Dilthey e demais estudiosos do
Renascimento enquanto ''cosmovisão'', como Cassirer, Toffanin, Kristeller, Piñera Llera, entre
outros, quais são os elementos da Weltanschauung renascentista que conduziram à abolição da
teleologia sobrenatural, ensejando concomitantemente a apreciação filosófica da contingência e da
subjetividade.
Palavras-chave: Filosofia do Renascimento, Weltanschauung do Renascimento, Humanismo
italiano, Studia humanitatis, Teleologia
Nome: Guilherme Lanari Bó Cadaval
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Orientador: Prof. Dr. Rafael Haddock Lobo
Título: A sedução da linguagem segundo Nietzsche
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Resumo: Partindo de dois escritos de Nietzsche, a saber, o parágrafo 13 da primeira dissertação
de “Genealogia da Moral”, e o texto intitulado “Sobre verdade e mentira no sentido extramoral”,
procurarei investigar a ideia de “sedução da linguagem”. Segundo Nietzsche, a sedução da
linguagem está em operação na invenção do sujeito. O sujeito, para a linguagem, é aquele que
conduz a ação. Ou, em termos morais, é aquele que tem responsabilidade pela ação, que é livre
para agir ou deixar de agir. Nietzsche questiona tal ideia, afirmando que o sujeito é uma ficção que
se acrescenta à ação. Mas não apenas isto. Junto ainda a este acréscimo há um interesse vivo, que,
ao duplicar a ação, ajuntando-lhe a ficção do sujeito, faz perdurar a si mesmo. A linguagem, para
Nietzsche, carrega a marca desta operação oculta que nela tem lugar e que visa a sedução, sedução
de uma vida que quer perdurar. Já em “Sobre verdade e mentira...”, a questão da linguagem é
abordada sob outra ótica. Investigando as noções de verdade e mentira, Nietzsche supõe que a
linguagem tem uma origem metafórica esquecida, encoberta pelo jogo que se dá entre ambas as
noções. Assim, e de uma maneira semelhante ao que foi dito no parágrafo 13 de “Genealogia da
Moral”, entende-se aqui que algo se oculta na pretensão de verdade característica dos filósofos:
não apenas esta origem metafórica da linguagem, mas um interesse moral de que haja verdade.
Parece, dessa forma, que a linguagem é palco de uma batalha ou um jogo. Por um lado, ela serve
ao propósito de um interesse que quer se fazer perdurar na ficção do sujeito e na pretensão de
verdade. Por outro lado, e como acontece na própria escrita de “Sobre verdade e mentira...”, a
linguagem esconde igualmente algo como um impulso metafórico que tem a potência de ferir,
talvez fatalmente, ideias como as de sujeito e verdade. A minha proposta é investigar este duplo
jogo que se dá na linguagem, e de que maneira ela opera a sua sedução.
Palavras-chave: Nietzsche, Linguagem, Sedução, Metáfora
Nome: Guilherme Marconi Germer
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientador: Prof. Dr. Oswaldo Giacoia Jr.
Título: Freud na Proximidade da “Escola de Schopenhauer”
Resumo: Esta apresentação condensa os principais resultados de nossos estudos de doutorado em
andamento, cuja proposta é analisar e interpretar as concordâncias, influências e distâncias
fundamentais entre Schopenhauer e Freud. Seus pontos de partida são as principais referências
deste àquele, nas quais podem-se delimitar duas posturas fundamentais: uma de homenagem e
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reconhecimento do filósofo como precursor de alguns dos conceitos mais importantes da
psicanálise, e outra de crítica, distanciamento e negação de sua influência sobre a última. Mais
especificamente, Freud reconhece que Schopenhauer antecipa seus conceitos do inconsciente,
repressão, “importância psíquica da sexualidade”, instintos de vida e morte e pessimismo
antropológico. Entre as concordâncias não reconhecidas por ele, encontram-se suas concepções da
negatividade da felicidade e positividade do sofrimento, críticas à religião, defesas e
fundamentações da psicologia científica, entre outras. Por outro lado, suas diferenças principais
repousam no fato da psicanálise ser (1) uma “ciência do inconsciente” e (2) “um método de
tratamento das neuroses” , e a doutrina schopenhaueriana (1) uma filosofia metafísica (2) favorável
à autopurificação passiva pela negação da Vontade. A despeito destas distâncias, se argumentará
que a relação de ambos é mais harmônica do que discordante, pois (1) Freud sugere a psicanálise
a uma vida de “controle dos instintos”, que embora não renuncie a, suaviza bastante a “meta da
satisfação”, e (2) ambos defendem que o melhor para as ciências e a filosofia é se reforçarem,
complementarem e verificarem mutuamente, e não se criticarem apenas com base no “narcisismo
das pequenas diferenças” – como escreve Freud. Assim, inspirado em uma metáfora de Thomas
Mann, se concluirá que a psicanálise possui uma “dependência independente” da filosofia – e em
especial, da schopenhaueriana – e que sua postura diante de ambos não é ambígua, mas
ambivalente. Após se apresentar a história e sistematização da “escola de Schopenhauer” de
Domenico Fazio, se concluirá que Freud está em parte dentro e em parte fora dela; em outras
palavras, em sua proximidade. Assim, se Fazio defende que o núcleo desta tradição é formado por
filósofos, que ele subclassifica em metafísicos, hereges e “pais da igreja”, se proporá que sua
proximidade é formada por outros dois importantes círculos, a saber, os cientistas, onde Freud se
incluiria, e os artistas. Este acréscimo historiográfico não só respeitaria os dois lados da relação de
Freud com Schopenhauer, como precisaria a importância e extensão da escola do último para além
da filosofia e interior da psicanálise.
Palavras-chave: Filosofia da psicanálise, Pessimismo, Inconsciente, Sexualidade, Morte
Nome: Gustavo Barreto Vilhena de Paiva
Insituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. José Carlos Estêvão
Título: A doutrina da causalidade concorrente em João Duns Escoto
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Resumo: É possível elencar João Duns Escoto (c. 1265-1308) dentre os mestres de teologia mais
influentes em fins do século XIII e início do XIV. Tendo atuado na Universidade de Oxford e na
Universidade de Paris, ele discutiu os principais temas filosóficos de sua época, dentre os quais a
noção de causalidade, que reterá nossa atenção aqui. Um dos principais elementos na doutrina da
causalidade de Duns Escoto é a sua exposição acerca da concorrência de diversas causas para um
único efeito, sendo essa concorrência melhor estudada na 3a distinção do primeiro livro da versão
de seus comentários às “Sentenças” conhecida como “Ordinatio”. Nesse texto, Duns Escoto
considera atentamente as várias maneiras pelas quais duas causas podem concorrer para um mesmo
efeito. Há o caso [1] em que duas causas concorrem igualmente (‘ex aequo’) para um efeito, tal
como dois homens que empurram um corpo. Porém, há também o caso [2] em que duas causas
concorrem não igualmente (‘non ex aequo’), mas essencialmente ordenadas entre si, de tal modo
que uma causa seja superior à outra. Pois bem, esse segundo caso pode ocorrer de duas maneiras:
ou bem [2.1] a causa inferior só age movida pela superior – isso ocorre, por exemplo, quando um
graveto é movido pela mão de alguém, uma vez que o graveto só se move porque a mão o moveu;
ou bem [2.2] tanto a causa superior como a inferior possuem a virtude de se mover por si mesmas,
porém a inferior possui uma virtude menos perfeita e a superior uma virtude mais perfeita – na
geração de uma árvore, por exemplo, o Sol é um agente mais perfeito e a semente um agente menos
perfeito, uma vez que o Sol é indeterminado em ato para a geração de qualquer coisa, enquanto
que a semente determina a ação do Sol para a geração desta espécie de árvore. Ou seja, quanto
mais indeterminado em ato for um agente, mais perfeito e superior ele será com relação aos outros
com os quais ele pode concorrer para produzir um efeito. Por fim, Duns Escoto afirma também
que essa causa superior é, em geral, equívoca, o que nos remete à sua distinção entre agentes
unívocos e equívocos. Os primeiros são aqueles agentes que induzem no passivo a mesma forma
pela qual agem; os segundos são os que agem por uma forma, porém induzem no seu passivo uma
outra forma distinta. Esse segundo caso, como vimos, é precisamente o que ocorre com a causa
superior na causalidade concorrente, pois ela é ativa indeterminadamente para a produção de vários
efeitos cujas formas não estão nela, sendo a causa inferior o fator que a determina para um efeito
preciso. Dessa maneira, o Sol age para a geração da árvore quando determinado pela ação da
semente, porém não há no Sol a forma da árvore – ou seja, o Sol é uma causa superior
(indeterminada) e equívoca. Enfim, com esses elementos espero apresentar um quadro daquilo que
Duns Escoto considera que seja a causalidade concorrente.
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Palavras-chave: Causa, Efeito, Metafísica, Causalidade Concorrente, João Duns Escoto
Nome: Gustavo Luis de Moraes Cavalcante
Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientadores: Prof.ª Dr.ª Débora Cristina Morato Pinto e Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva
Título: A fé perceptiva como primeiro passo do conhecimento, segundo Merleau-Ponty
Resumo: Merleau-Ponty propõe pensar novas teorias que pudessem unir a filosofia com as novas
descobertas da psicologia, além de encontrar novas respostas a antigos problemas postos pela
filosofia, como, por exemplo, a dualidade cartesiana. Através de um estudo do livro
“Fenomenologia da Percepção (1945/2006)” de autoria de Merleau-Ponty, buscaremos entender
os argumentos usados contra a psicologia clássica e contra alguns filósofos modernos como, por
exemplo, Descartes, filósofo o qual Merleau-Ponty deu grande atenção e as críticas a este autor o
fez pensar e encontrar o seu cogito tácito.
Como em Descartes há o cogito como o fundamento primeiro do conhecimento, ou no limite, de
sua filosofia. Em Merleau-Ponty também o há(esse fundamento), em nosso trabalho tentamos
mostrar que sempre há algo anterior ao que conhecemos reflexamente, sempre há o irrefletido, ou
seja, sempre é necessário haver algo como o cogito tácito para haver um cogito reflexivo.
Extrapolando este argumento podemos pensar que sempre há algo anterior, sempre há um
fundamento para o nosso conhecimento, ou melhor, para a nossa vida. Há em Merleau-Ponty uma
certeza e todos estão cientes dela, entendemos que esta certeza, em nosso filósofo, é a fé perceptiva.
E esta fé é primeira a tudo em nosso conhecimento.
Trataremos nesta apresentação a fé perceptiva, explicando o que é ela, tentado mostra-lá como
sendo uma crença inabalável de que percebemos o mundo, de que nele vivemos concreta e não
ilusoriamente. Este é o primeiro plano de conhecimento. A fé perceptiva, a vivencia silenciosa,
que é a aceitação realista e ingênua do mundo, só é quebrada pela filosofia.
Palavras-chave: Fenomenologia, Percepção, Cogito, Conhecimento, Fé Perceptiva
Nome: Hayane da Costa Freitas
Instituição: Universidade Federal do Ceará - UFC
Orientador: Prof. Dr. Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd
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Título: Estética e Política: O Lugar do Espaço Cênico na Filosofia de Jean-Jacques Rousseau
Resumo: Apresentamos aqui a crítica à cultura feita por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
através da crítica da arte como representação. Parte-se da discussão presente na Carta a D'Alembert
sobre os Espetáculos (1758), dando ênfase à questão de como a organização dos espaços em que
se dão os espetáculos teatrais – que serve de condição material e conceitual aos espetáculos de
palco, a ópera e o teatro –, é também ela própria determinada pela forma como as sociedades que
se reconhecem nestes determinados espetáculos se organizam politicamente ao longo da história.
Embora no imaginário popular contemporâneo o espetáculo teatral esteja sempre enclausurado
naquilo que chamamos de palco à italiana, Rousseau fala a partir de um horizonte que dialoga
também com a forma primitiva do teatro, sobretudo em sua matiz grega clássica, a partir de onde
este pode tecer a oposição entre o espaço cênico antigo e o moderno e assim avaliar aquilo que é
alvo da crítica de Rousseau à modernidade e seus espetáculos: o advento universal da
Representação. O que se demonstra por fim é que somente refazendo do caminho do relevo da
importância do espaço cênico na obra de Rousseau é possível reconstruir propriamente a reflexão
rousseauniana e que só assim pode-se retirar desta os reais benefícios trazidos pela reflexão acerca
da arte e em particular acerca do teatro, a saber: a consciência de que a organização do espaço
material em que se dá o espetáculo não é de ordem necessária para a arte teatral como um todo,
mas sim historicamente determinada.
Palavras-chave: Teatro, Espetáculo, Espaço cênico
Nome: Henrique Gonçalves de Paula
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Roberto Bolzani Filho
Título: A crítica ao hedonismo no Górgias de Platão
Resumo: O diálogo Górgias apresenta a mais contundente crítica de Platão à retórica. O
personagem Sócrates realiza a empreitada em três atos contra Górgias, Polo e Cálicles, vinculando
aos pressupostos básicos do trabalho dos sofistas posições éticas e políticas que também deseja
atacar. As ofensivas socráticas dirigem-se a não cientificidade do trabalho dos sofistas, seus
objetivos pedagógicos e a utilidade prática do que ensinam. É neste último ponto que a acusação
de imoralidade recai sobre a sofística. Sócrates mostra que a especialidade da retórica é conservar
maculada e impune a alma injusta a qual deveria impor-se um castigo. Os argumentos de Sócrates
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são formulados especialmente para que se mostre que o melhor que pode acontecer ao indivíduo
injusto é a punição, que livra sua alma do mal realizado, e o pior – precisamente o que ambiciona
o retor no tribunal - que sua falta não seja descoberta e condenada. Assim, a retórica não é somente
inútil para quem deseja o bem, mas é mesmo um obstáculo. Subjaz a toda esta discussão o embate
entre dois modos de vida distintos: o proposto pela filosofia e o defendido pelos interlocutores de
Sócrates. É precisamente no debate contra Cálicles que o tipo de existência preconizada pelos
adversários socráticos é abertamente apresentado e cuidadosamente esmiuçado. Descobre-se,
então, que o modo de vida que a retórica dedica-se a defender é a vida do hedonista sibarita.
Sócrates desenvolve, com efeito, diversos argumentos contra o hedonismo de Cálicles. Nosso
trabalho concentra-se justamente nesta questão do ataque socrático ao hedonismo, não somente
para avaliar a validade dos argumentos socráticos e constatar sua natureza, mas também para
apreciar o seu verdadeiro alcance, e decidir-se sobre grave problema interpretativo que atinge as
dimensões profundas de toda a ética platônica construída através de suas diversas obras: é Platão
um anti-hedonista resoluto ou há espaço para uma apreciação positiva do prazer em seu
pensamento? Apresentaremos em nossa comunicação as contribuições que o Górgias traz ao
desenvolvimento da reflexão platônica sobre o prazer e o modo como determina o status do prazer
em nossa vida moral segundo Platão.
Palavras- chave: Platão, Górgias, Prazer, Hedonismo, Retórica
Nome: Henrique Rocha de Souza Lima
Instituição: Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cíntia Vieira da Silva
Título: Da Música, de Mil Platôs: a intercessão entre filosofia e música em Deleuze e Guattari
Resumo: Tendo como pano de fundo uma elaboração conceitual peculiar a respeito das noções de
tempo e obra de arte, a produção filosófica de Gilles Deleuze e Félix Guattari desenvolve uma
relação muito específica entre filosofia e música. É notável o modo segundo o qual estes autores
se apropriam do pensamento expresso nos escritos de compositores como Edgard Varèse, Pierre
Boulez, Olivier Messiaen e John Cage, bem como do pensamento expresso nas próprias obras
musicais destes compositores e nas de tantos outros, pertencentes a outras tradições musicais,
como a música ocidental desenvolvida entre os séculos XVI a XIX, a música de massa do século
XX, a música improvisada e a música propriamente ritual, indo do Jazz às músicas pertencentes a
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tradições não ocidentais. Levando em consideração os múltiplos pontos de contato entre esta
produção filosófica e a música, pode-se perceber uma relação consideravelmente diversa das que
foram produzidas por outros autores da tradição do pensamento ocidental, de Platão a Lévi-Strauss.
Um dos traços distintivos desta produção reside na elaboração de dois conceitos em especial: o de
individuação e o de ritornelo. Como síntese de meu trabalho de dissertação de mestrado, intitulado
Da música, de Mil Platôs: a intercessão entre filosofia e música em Deleuze e Guattari, esta
comunicação se propõe a expor os traços distintivos que fazem com que esta produção filosófica
coloque em ato um modo singular de relação entre filosofia e arte. Sendo ao mesmo tempo nutrida
de pensamento produzido em música e produzindo conceitos para se pensar o acontecimento
musical em sua complexidade, a filosofia de Deleuze e Guattari nos leva a pensar nos modos pelos
quais uma filosofia produz seus próprios conceitos, seu próprio conteúdo e sua própria expressão,
por meio de interfaces que ela estabelece com a estética e com o pensamento em arte, ao mesmo
tempo em que ela projeta no horizonte do pensamento novas imagens de pensamento, tempo e
obra.
Palavras- chave: Deleuze, Música, Ritornelo, Individuação, Sintetizador
Nome: Homero Santos Souza Filho
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria das Graças de Souza
Título: Educação e desnaturação no Emílio de Rousseau
Resumo: A compreensão do processo de desnaturação do homem, que o tornou um ser
degenerado, foi certamente uma preocupação recorrente no pensamento de Rousseau, como
podemos observar no Discurso sobre a desigualdade, quando ele apresenta a história do homem
como o progresso de sua corrupção. É no Emílio ou Da Educação, no entanto, que o filósofo expõe
as causas que desnaturam o indivíduo nas distintas idades de sua vida. Com as suas faculdades mal
formadas, o indivíduo adquire, desde cedo no meio social, por força da educação e pelo convívio
com homens, todas as paixões e vícios da vida em sociedade, tornando-se, assim, joguete das
opiniões alheias. Naturalmente inclinado a considerar apenas a si mesmo, o indivíduo é forçado
pelo meio social, no entanto, a considerar também os outros homens. Contudo, pela falta de uma
educação civil que o desnaturasse em benefício de todo o corpo político, tornando-o assim um
cidadão, ele é sucumbido pelo conflito suscitado entre suas inclinações e seus deveres, em outras
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palavras: pelas exigências de sua natureza, de um lado, e pelas da sociedade, de outro. Rousseau
propõe, então, no Emílio, uma possível resolução desse conflito pela educação que, por sua vez,
forme o homem tão natural quanto sociável. É assim que a educação se torna decisiva no
pensamento de Rousseau, pois ela consistirá no recurso que lhe permitirá pensar num processo de
socialização do Emílio, personagem do tratado, sem que a natureza deste se corrompa. A educação
do Emílio o impedirá, portanto, de se desnaturar, ou antes, regulará seu grau de desnaturação
conveniente para que ele viva em sociedade. “Existem, afirma o autor, tantas contradições entre
os direitos da natureza e nossas leis sociais que, para conciliá-los, é preciso deformar e tergiversar
sem cessar, é preciso usar de muita arte para impedir o homem social de ser totalmente artificial”.
Tal arte envolverá, sobretudo, uma educação para um novo filosofar, ou, segundo o vocabulário
de Rousseau, para o verdadeiro filosofar. Pois, será preciso que o Emílio “pense como filósofo”,
o que significa ter seu espírito e seu juízo bem constituídos, necessários para viver em sociedade,
e então compreender a si e os homens em suas relações, de modo que o impeça de se corromper
pelas paixões e opiniões. Somente assim, no atual estado de coisas, que este “aluno imaginário”
se realizará como homem natural, guiando-se pelo seu próprio juízo na observância dos erros dos
homens. “O mesmo homem que deve permanecer estúpido nas florestas, escreve Rousseau, deve
tornar-se razoável e sensato nas cidades se permanecer como mero espectador”. Assim,
pretendemos aqui analisar o quanto a educação, concebida por Rousseau, desnatura ou não o
Emílio, e, consequentemente, se este suposto “filósofo” permanecerá, ainda, homem natural.
Palavras-chave: Educação, Desnaturação, Natureza, Filosofia
Nome: Jean George Farias do Nascimento
Instiuição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília de Miranda de Nogueira Coelho
Título: Platão, o filósofo da intertextualidade
Resumo: Segundo Platão, a cidade crescerá justa se a educação promovida for a educação
filosófica. No contexto do século V a.C. tal proposta é uma sugestão reformista ao modelo vigente,
pois sabemos que primordialmente a educação da Grécia clássica é a educação poética. Platão, ao
contestar o modelo poético, ataca e expulsa os poetas da cidade, seu principal alvo é Homero pois,
crê o discípulo de Sócrates, seus personagens inspiram aspectos negativos para a alma dos cidadãos
e causam a degeneração da cidade. Aquiles é, no livro III da República, o principal alvo de Platão.
81
O personagem principal da Ilíada é, na perspectiva crítica do filósofo, um exemplo de corrupção
para alma, suas atitudes nas epopeias homéricas de modo algum promovem caráteres concernentes
ao bom cidadão. Aquiles é o exemplo que Platão explora ao extremo para demonstrar que a poesia
não é capaz de influenciar positivamente. No entanto, meu artigo propõe analisar a figura do
guardião forjada por Platão na República à luz do personagem homérico Heitor. Proponho uma
leitura comparativa das passagens nas quais Platão descreve as características necessárias para o
guardião da cidade e personalidade do herói Heitor, apresentadas na Ilíada. Pretendo, portanto,
analisar em minha comunicação as implicações relativas à similaridade entre Heitor e o modelo
de guardião ideal. Uma destas implicações explicita um aspecto importante da filosofia platônica.
Platão inquestionavelmente apropria-se de sua tradição para compor seus diálogos. O filósofo
apropriou-se dos atores sociais de seu tempo (Sócrates, Trasímaco, Górgias, Protágoras, entre
outros) e não menos das tragédias e da poesia, para assim compor o cenário que julgou adequado
para expor os fundamentos de sua filosofia. Um outro aspecto, e mais interno a proposta filosófica
de Platão, é de que a mimese poética, contrariando o que ele próprio defendia, não necessariamente
inspira apenas aspectos negativos, tendo em vista as similaridades entre o guardião e Heitor.
Palavras-chave: Platão, Poesia, Educação filosófica
Nome: João Batista Farias Junior
Instituição: Universidade Federal do Piauí - UFPI
Orientador: Prof. Dr. Helder Buenos Aires de Carvalho
Título: O princípio responsabilidade como proposta ética para enfrentamento da crise ambiental
e do niilismo ético contemporâneo
Resumo: Este projeto de pesquisa propõe uma discussão em torno do problema da crise ético-
ambiental hodierna tendo como horizonte a crítica à modernidade tecnológica feita por Hans Jonas.
Nesse sentido, a análise da questão dar-se-á a partir crítica feita por Jonas ao grande
desenvolvimento técnico moderno e às limitações das teorias éticas no trato com tecnologia, bem
como tal crise ampara-se no problema do niilismo. Em termos mais específicos, o problema que
se coloca é o de saber-se como a teoria ética jonasiana se propõe a combater a crise ecológica e os
perigos advindos do grande desenvolvimento técnico que se vê cada vez mais próximos de suas
realizações. Os perigos do uso desenfreado da técnica e o alto desenvolvimento desta são
problemas esquecidos pelas teorias éticas tradicionais, assim, Jonas propõe que tomemos esta
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como algo a ser urgentemente pensado, já que vemos agora a técnica ser amparada pelo niilismo
moderno e vice-versa. Com tal objetivo em mente traçamos o seguinte caminho: primeiro fazemos
uma rápida explanação sobre o conceito de niilismo dentro da tradição filosófica, mostrando como
este historicamente se constituiu como um problema filosófico crucial para a tradição ocidental;
segundo, dada a importância do niilismo para a filosofia, e, mais especificamente, para a ética,
passamos então para o estudo que Jonas desenvolve a respeito da relação do niilismo
antigo/gnóstico com o niilismo moderno/existencial; e, por último, analisamos de que modo a obra
de Hans Jonas se apresenta como uma proposta de superação do niilismo ontológico/ético, a partir
da crítica que o filósofo institui ao dualismo que perpassa os antigos, os modernos e culmina na
desvalorização da natureza em nosso tempo. Trabalharemos com a ideia de que o princípio ético
formulado por Hans Jonas servirá tanto como princípio deontológico para a orientação das ações
na sociedade tecnológica atual, bem como bussola que orientará o caminho para superação do
niilismo contemporâneo e do perigo de sua realização na técnica, possibilitando um amparo ético
a partir do conceito de responsabilidade e de um conceito mais amplo do fenômeno da vida.
Palavras-chave: Hans Jonas, Ética da Responsabilidade, Técnica, Niilismo
Nome: João Gabriel Rizek
Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lia Tomás
Título: Construindo a Tradição: As vanguardas musicais no pós-guerra
Resumo: Dentro do âmbito da estética as pesquisas relativas à filosofia da música vem ganhando
cada vez mais espaço no panorama mundial. De igual maneira, se insere nesse movimento de
constante ampliação as pesquisas relativas à recepção das obras. O acento neste tipo de estudo
recai sobre as questões da resposta, da audiência e do que o musicólogo Carl Dalhaus, seguindo
Walter Benjamin, chamou de “pós vida” das obras musicais. Trata-se portanto de uma investigação
que busca os motivos responsáveis pela inscrição ou obliteração de uma determinada obra do
repertório aceito.
Este trabalho investiga, por sua vez, as razões que levaram o serialismo integral a estabelecer-se
como espécie de linguagem oficial nos anos seguintes à Segunda Guerra. Inventado na década de
1920 por Arnold Schoenberg e potencializado por seu discípulo Anton Webern, o serialismo -
83
então chamado de método dodecafônico - teve de esperar o armistício para ganhar ampla
divulgação.
Logo após o término da guerra, iniciou-se a reconstrução da Europa, movimento amplo,
circunscrito não só às suas cidades em ruínas, mas também a todo um conjunto de atividades que
outrora designou o sentido maior do que se entendia por “velho continente”. Reconstruir, nesse
contexto, significava injetar vida nova na economia, na política e na cultura. É nesse contexto que
o serialismo ganha nova vida.
Raros os compositores que não trabalharam com o método no pós-guerra, indicando uma tendência
que extrapolou o continente europeu e os anos em questão. O painel chama ainda mais atenção se
não perdermos de vista o fato de que a concorrência de linguagens naqueles anos era expressiva.
Nas palavras do musicólogo Reginald Smith Brindle: “Se a música tivesse que começar de novo
em qualquer momento prévio da história da música, dificilmente existiriam tantas alternativas, ou
tantos fatores irreconciliáveis e contrastantes quanto no final dos anos 1940”.
Para buscar as razões que levaram os compositores a enveredar por esta alternativa, dentre tantas
outras, seguimos os passos do então jovem compositor e maestro Pierre Boulez. Sua influência
nos fornece um ponto de vista privilegiado para nossa investigação. Logo cedo fez-se arauto do
movimento, chamando para si a responsabilidade de estabelecer os critérios de sobrevivência de
seus pares e antepassados. Para tanto, Boulez tentou criar uma novo cânone. Figurariam nele seus
pares mais austeros e aqueles compositores cuja linhagem a ele estava diretamente ligada. Esta
operação, nada arbitrária, tinha como objetivo legitimar sua prática e expandir sua área de atuação.
Seguir estes debates a procura das razões que ajudaram a legitimar o serialismo é um dos métodos
deste trabalho, para que assim possamos entender melhor como nossas tradições se formam e como
se dá sua recepção."
Palavras-chave: Estética, Filosofia da Música, Vanguardas, Pierre Boulez, Tradição
Nome: José Marcelo Siviero
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marilena de Souza Chaui
Título: Espacialidade e Existência: a motricidade em sua significação fenomênica
Resumo: Analisando as discussões conduzidas por Merleau-Ponty sobre a espacialidade e a
motricidade do corpo próprio na Fenomenologia da Percepção, o objetivo desta comunicação é
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circunscrever as principais consequências filosóficas da articulação da espacialidade com a
existência. Desvelando um viés expressivo e uma temporalidade, o exame da motricidade num
sujeito doente permite identificar uma ausência que o normal não possui, ou seja, uma experiência
fragmentada que caracteriza a doença e os distúrbios motores. É daí que deriva a ideia dum arco
intencional, que nada mais é do que um meio de articulação significativa entre os variados setores
da experiência.
Palavras-chave: Merleau-Ponty, Espacialidade, Motricidade, Fenomenologia, Corpo Próprio,
Percepção
Nome: Juliana Oliva
Instituição: Universidade São Judas Tadeu - USJT
Orientador: Prof. Dr. Hélio Salles Gentil
Título: O vestir-se como tornar-se objeto para Simone de Beauvoir
Resumo: Simone de Beauvoir, filósofa francesa contemporânea, descreve em sua obra "O
Segundo Sexo", publicada em 1949, a complicada tensão em que as mulheres, desde os tempos
mais primitivos até a década de 1940, sempre se encontraram enquanto “existentes”: uma oscilação
entre a afirmação de sua liberdade original e o papel de objeto que, por meio de coerções, lhe é
dada em sua situação. Tais coerções, amplamente descritas e analisadas pela autora, estão nos
fardos e nas restrições atribuídos ao sexo feminino, mas também estão mascaradas pelos
privilégios dados às mulheres e pelas características identificadas como pertencentes a uma
suposta essência feminina, características que são frequentemente exaltadas nas situações onde às
mulheres cabe desempenhar um papel correspondente a um ideal de Mulher. As roupas constituem
uma parte bastante importante da construção desse ideal, e a esta questão é dada uma considerável
importância por Beauvoir em O Segundo Sexo, seja analisando as roupas infantis, onde as roupas
femininas não permitem que as meninas tenham tanta mobilidade quanto os meninos, ou opondo-
se às roupas de festa, que transformariam as mulheres em troféus exibidos pelos homens de suas
famílias. Se algumas peças de roupas podem ser associadas a um aspecto negativo, como a prisão
do corpo num espartilho, por outro lado, a variedade de tecidos, cores e os adornos embelezam a
mulher. Nos dois casos o vestuário opõe-se como coerção, ora como fardo ou restrição, ora como
privilégio ou característica feminina, conforme mencionado. No caso de uma peça de roupa como
o espartilho, por exemplo, fica claro como a roupa pode ser usada como instrumento para manter
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a mulher em seu lugar de imobilidade, porém, de modo geral, sem um exame da situação da mulher
como Beauvoir propõe, não há a mesma clareza em relação ao que nos apresentam como
privilégios, como o a beleza feminina que tanto se exalta. Assim, discutiremos os olhares que se
voltam para a mulher, que não são para reconhecê-la enquanto ser humano, mas sim enquanto
coisa.
Palavras-chave: Simone de Beauvoir, Mulher, Vestuário
Nome: Karina da Silva Oliveira
Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP
Orientador: Prof. Dr. Lúcio Lourenço Prado
Título: Linguagem, representação da realidade e existência: a capacidade de dar significado ao
mundo na filosofia da linguagem de Ludwig Wittgenstein
Resumo: Esta comunicação pretende discorrer acerca da relação entre representação da realidade
e existência mediada pela linguagem, tendo em vista, as dificuldades envolvidas em compreender
a relação entre denominações e significação à luz das Investigações filosóficas (1953) de Ludwig
Wittgenstein. Trataremos da investigação acerca da linguagem e sua capacidade de dar significado
ao mundo, através da relação entre aquele que conhece e dá sentido ao mundo, e aquilo que recebe
significado justamente a partir desta atividade. Demonstrar-se-á a problemática, ao tratar que o
significado de uma palavra não requer apenas analisar um objeto de qualquer espécie, mas antes
seu uso com decorrente significação em conformidade com as regras gramaticais. Com efeito, para
reconhecer que algo é um objeto material eu preciso que a linguagem lhe permita essa designação,
porém ele tem de existir antes da linguagem “se ele não existisse, não se poderia também nem ao
menos nomeá-lo e, portanto, não se poderia afirmar absolutamente nada sobre ele” (IF § 50). Para
esclarecer os conceitos que servirão de base para a pesquisa proposta, tais como significação, uso
e mesmo denominação, consideramos que as elucidações ostensivas não fornecem uma conexão
entre linguagem e realidade, então, o gesto ostensivo, constitui apenas uma amostra que fornece
padrões para o uso correto, sendo, sob esse aspecto, parte de determinada gramática. Wittgenstein
parece querer dizer isso no mesmo § 50: “Aquilo que, aparentemente, tem que haver, pertence à
linguagem. Existe um paradigma em nosso jogo; algo com que se compara. E constatar isso pode
significar fazer uma constatação importante; mas é, todavia, uma constatação que diz respeito ao
nosso jogo de linguagem – ao nosso modo de exposição” Nosso trabalho vai expor, em linhas
86
gerais, o caráter de premissas básicas para uma compreensão e análise de certo essencialismo
permeado pela linguagem, onde tais elucidações utilizam o significado que o símbolo possui
associado ao uso que se faz desta determinação em certas proposições, e precisamente neste ponto
a elucidação ostensiva apresenta seu déficit, indicamos que o mesmo som, ou a mesma imagem
representativa do objeto pode estar apontando para um sentido diverso daquele que a elucidação
no processo de aprendizagem figurava. Neste sentido, pretende-se situar a problemática em que se
insere o significado de um signo, bem como a relação destes signos entre sua representação da
realidade mediada pela linguagem, pois não está relacionado apenas ao objeto que este signo
nomeia, mas também ao uso que se faz deste nome em determinadas situações, o uso empregado
para os objetos em determinadas proposições e que vai conferir significado a palavra na linguagem.
Palavras-chave: Linguagem, Realidade, Representação, Elucidação ostensiva, Investigações
Filosóficas
Nome: Larissa Drigo Agostinho
Instituição: Universidade de Paris IV-Sorbonne
Orientador: Prof. Dr. Bertrand Marchal
Título: Da racionalidade do real
Resumo: Através de uma comparação entre a função e o lugar das modalidades na Crítica da razão
pura e na Ciência da lógica hegeliana procuraremos demonstrar de que maneira Hegel constrói a
racionalidade do real a partir das noções de acaso, possibilidade e necessidade.
As modalidades Kantianas, a tese dos postulados, presente no fim da analítica são responsáveis
pela constituição das condições de possibilidade do mundo físico. Este é o papel das antinomias:
pensar o sistema do mundo físico, newtoniano, a partir das sínteses a priori do Eu penso que
trabalha sobre as formas a priori da sensibilidade segundo as regras das categorias. Trata-se de
compreender como o julgamento coloca, compreende toda existência possível, efetiva ou
necessária, ou seja, as modalidades Kantianas examinam a relação entre o conteúdo mundano e a
faculdade de conhecer.
A grande crítica de Hegel contra a filosofia kantiana é que, neste caso específico, por exemplo,
Kant não procura compreender a gênese empírica do real, apenas os julgamentos que podemos
tecer com relação a este. O que transforma as modalidades em abstrações subjetivas. Para Hegel
a lógica não é apenas o espaço onde se configura e se define o pensar correto ou as condições de
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possibilidades da razão. Hegel procura unificar existência e essência na própria Wirklichkeit, ou
seja, examinar como a essência e a existência se unificam e adquirem realidade. Na verdade o
objetivo da lógica hegeliana neste primeiro momento, na lógica objetiva, é dissolver a distância
instaurada pelo pensamento kantiano entre o mundo físico e os possíveis julgamentos que podemos
estabelecer a partir deste, construindo uma gênese empírica do real através da dialética entre o
possível, o contingente e a necessidade.
Procuraremos demonstrar que enquanto em Kant a contingência aparece como uma “falha” da
razão que desaparece diante da causalidade encontrada de um fenômeno determinado, para Hegel
a contingência é um elemento fundamental na constituição e determinação do real. Esta distinção
tem como conseqüência principal a necessidade de um conceito renovado de razão, que como o
real será determinado pelo caráter indeterminado e instável da contingência.
Palavras-chave: Contingência, Real, Dialética, Lógica
Nome: Louis de Freitas Richard Blanchet
Instituição: Universidade Federal do Paraná - UFPR
Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Valentim
Título: Movimento e continuidade na física cartesiana
Resumo: Um problema da física cartesiana é a continuidade do movimento. Guéroult defendia
que Descartes subscrevia a uma tese da descontinuidade do tempo. De acordo com Guéroult essa
deveria ser uma das teses fundamentais da filosofia cartesiana, a ponto de ter consequências nas
sua epistemologia e na sua física. Segundo o comentário de Guéroult, “Leibniz: Dynamique et
Metaphysique”, Descartes foi incapaz de formular uma física dinâmica pois a maneira como ele
fundamentou sua epistemologia o obrigou a fragmentar a certeza em intuições instantâneas
separadas. Assim, segundo Guéroult, a epistemologia cartesiana o obrigou a se limitar a uma física
estática. Ricahrd T. W. Arthur escreveu alguns artigos refutando a existência da descontinuidade
do tempo na filosofia cartesiana. Em um deles, “Beeckman, Descartes and the force of motion”,
Arthur quer mostrar que a física estática de Descartes tem origem na teoria física de Beeckman, a
qual estava fundamentada na observação de fenômenos e não na epistemologia cartesiana. Ainda
que sua física seja semelhante à de Beeckman, Descartes recusa a noção de que o movimento seja
fragmentado em átomos, o que nos leva a crer que ele não subscrevia a descontinuidade do tempo.
Embora os dois comentadores concordem que os problemas da física cartesiana irão dar o mote
88
para a formulação da física dinâmica a partir das soluções de Leibniz e Newton, eles discordam
com a origem da ciência cartesiana: para Guéroult é somente a epistemologia cartesiana; enquanto
que para Arthur é a discussão com Beeckman, de maneira à por em cheque a originalidade do
pensamento cartesiano.
Palavras-chave: Descontinuidade, Tempo, Movimento, Instante
Nome: Louise Walmsley Nery
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Roberto Bolzani Filho
Título: Aspectos normativos na República de Platão
Resumo: Ao longo da história da humanidade, podemos constatar sem nenhum esforço que as
estruturas sociais sempre se constituíram em torno de determinadas normas, capazes de dar
unidade a cada um desses grupos. Essas normas, por sua vez, estão pautadas em determinados
valores, que variam segundo inúmeros aspectos. O papel fundamental das normas foi notado pelas
diversas formas de expressão que reunimos hoje da civilização grega. Com efeito, em textos
teatrais, históricos ou filosóficos da Hélade Clássica, encontramos desde normas tácitas de
convivência básica em um determinado grupo social até especulações sobre o desempenho de leis
escritas em uma cidade. O termo grego nómos, comumente traduzido por lei ou norma, designa
efetivamente tanto aquilo que é costumeiro ou habitual em um grupo social quanto as leis que
funcionam como regras de comportamento e que não devem ser infringidas. Sendo uma das obras
mais comentadas da Antiguidade, a República é uma das principais obras de Platão, justamente
por trazer nela o cerne de todas as suas proposições filosóficas. Aqui os temas são dialogados sob
uma perspectiva bastante específica, uma vez que o que está em jogo é a definição do que é a
justiça nela mesma, para que enfim possa se mostrar que a vida justa é a melhor e mais feliz e o
contrário se dá com a vida injusta. Para tal, Sócrates e seus interlocutores se envolvem em uma
longa discussão a fim de saber qual é a melhor e mais bela cidade. A elaboração da kallípolis é
então realizada no discurso e a criação da mesma não se dá sem um rompimento com as normas,
tradicionalmente estabelecidas e aceitas pela opinião vigente. O objetivo de nosso trabalho é o de
analisar o papel das normas em dois sentidos que acreditamos estar presente nessa obra: o dos
costumes perpetuados por tradição e o estabelecimento de uma nova ordem nas proposições
elaboradas pelo personagem Sócrates.
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Palavras-chave: Nómos, República, Platão
Nome: Lourenço Fernandes Neto e Silva
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Pedro Paulo Garrido Pimenta
Título: O Signo no Ensaio sobre a Origem dos Conhecimentos Humanos de Condillac
Resumo: Esta apresentação pretende esclarecer o papel crucial do signo no Ensaio sobre a Origem
dos Conhecimentos Humanos de Étienne Bonnot de Condillac. No programa dito sensualista ali
exposto, faz-se necessário, a partir de certas posições marcadamente radicais, que se derivem todas
as faculdades humanas da pura sensação. No progressivo desfile das capacidades humanas, o papel
da linguagem tem o estatuto de ponto de virada: responsável pela própria liberdade humana, o uso
dos signos arbitrários deverá se tornar juiz sobre todas as questões relativas ao entendimento.
Entretanto, a análise dos signos, de suas diferentes naturezas, de seus diferentes usos e de suas
potencialidades não deverá compor um sistema filosófico limitado ao entendimento humano, mas,
ao contrário, que se estenda a todas as atividades da alma. O Ensaio de Condillac, pretensa correção
do de Locke, deverá fazer com que aquela “modesta história da alma”, como a chamou Voltaire,
se transforme numa história do uso de signos em geral, tanto no que diz respeito ao indivíduo
quanto à sociedade, o que produzirá outras questões importantes, como a sobre a origem da
linguagem. As escolhas do abade e a forma como estas questões se articulam com a ciência do
século XVIII poderão mostrar a dimensão desta espécie de virada linguística avant la lettre, ao
esclarecer como se chega a conceber a identificação entre pensamento e fala, como é
compreendido o discurso, e em que medida questões externas ao Ensaio poderão forçar esta
primeira posição em relação aos signos a um ponto insustentável que deverá ser revisto em suas
obras posteriores.
Palavras-chave: Empirismo, Iluminismo, Linguagem, Epistemologia
Nome: Luama Socio
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Luiz Henrique Lopes dos Santos
Título: O absurdo da matéria e a palavra extraviada: uma contribuição emprestada de Berkeley
para a construção de um olhar crítico sobre a filosofia da ciência
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Resumo: Em Berkeley a matéria existe a partir da mente. No primeiro diálogo de “Filonous e
Hilas” o pensamento é passível de classificação porque reveste uma forma: há o pensamento do
vulgo, senso comum, e há o pensamento do filósofo. Filonous vai mostrar que o pensamento
(palavras) do vulgo parece útil, mas para o filósofo revela-se supérfluo, ao passo que o pensamento
(palavras) do filósofo parece supérfluo mas revela-se uma prática (a filosofia). Paradoxalmente
Filonous mostra o “nada da matéria” através da palavra, duvidando da mesma palavra. Assim
Berkeley incita a reaver a palavra como prática, em tempos em que ela é marginal como critério
de noção da prática. A visão materialista, científica, impõe a palavra como expressão de uma outra
prática: extra-linguística. Ou seja, a preponderância da matéria sobre a mente nas concepções das
ciências domina a esfera das experiências. Concomitante, a idéia, a abstração percebida
diretamente pela mente, continua a existir sem ser percebida como mera abstração, mas sim como
consequência da observação da matéria. A forma do pensamento do filósofo já tem uma qualidade
reconhecível sob o ponto de vista do vulgo: é possível conter “conceitos fantásticos” “mistério”,
“enigma”. O enigma proposto por Hilas a Filonous é que este explique a afirmação de que “a
matéria não tem existência”. O artifício de Filonous é ter a pretensão do senso comum, mas praticar
a filosofia. E mostra a Hilas que classificar o sujeito que nega a existência da matéria, de “cético”,
é inexato, pois o cético é alguém que duvida de tudo, ao passo que quem nega alguma coisa está
na verdade tendo a intenção de afirmar algo: a negação. A aparente idealidade de Filonous se
revela na lógica comum através de um exemplo da mais simples apreensão da matéria pelos
sentidos significando um acesso a algo “não-material”: o significado de uma palavra escrita, por
exemplo, distanciando-se do sentido da visão presentificado no ato de ler a palavra. E Filonous
acaba por tentar persuadir Hilas de que as qualidades do que é perceptível existe no ser que percebe
e não nas coisas percebidas.
Palavras-chave: Berkeley, Matéria, Mente, Palavra, Ciência
Nome: Luciana Lima Fernandes
Instituição: Universidade Federal do Ceará - UFC
Orientador: Prof. Dr. Emanuel Ricardo Germano Nunes
Título: Sartre, a liberdade e o engajamento
Resumo: Desde o final do século passado há uma discussão em torno da emergência de um
chamado “silêncio dos intelectuais”. A data que marcaria o início desse silêncio seria 1980, ano
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da morte do filósofo, escritor, teatrólogo e jornalista Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), tido por
muitos como o último intelectual engajado. Sartre defendia a obrigatoriedade do engajamento e
sobretudo a do escritor, uma vez que a literatura tem, a seu ver, a função de conduzir o leitor a
determinado pensamento e conduta. Por ter grande força e influência dentro da sociedade, o
escritor e o intelectual (que, aliás, podem ser a mesma coisa) devem se engajar, devem pensar e
interferir diretamente nas questões de seu tempo. Sartre foi, se não o maior, pelo menos um dos
maiores expoentes da literatura engajada na França, participando ativamente da vida política no
pós-guerra e de vários momentos importantes do século XX: a Guerra Fria, as descolonizações de
países africanos, o comunismo em Cuba e o movimento de maio de 68. Seu engajamento era feito
principalmente a partir de sua escrita, seja ela literária ou filosófica. É sobre esse engajamento e
sua relação com a literatura que tratará o presente trabalho, buscando analisar o posicionamento
do autor sobretudo a partir da obra Que é a literatura? e em algumas de seus outros livros e peças
teatrais produzidos entre as décadas de 1940 e 1950. Dentre estes, destaca-se As mãos sujas (1948),
peça que trata da relação entre dois intelectuais e suas posições quanto ao engajamento e à
violência, cujo fim – a opção pelo uso desta – representa o próprio posicionamento de Sartre frente
a polaridade da Guerra Fria: às vezes é preciso de valer da violência (socialismo) para se evitar
algo mais cruel (capitalismo). A reflexão e a posição tomados por Sartre serão assim objeto de
reflexão, tendo como plano de fundo tais problemáticas, além de analisá-las dentro de uma
estrutura de sociabilidade constituída com seus pares, com os quais forjaram inclusive a cultura
política francesa de toda uma geração.
Palavras-chave: Sartre, Liberdade, Engajamento
Nome: Lucila Lang Patriani de Carvalho
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva
Título: O estatuto da pintura em Sartre
Resumo: Neste trabalho pretendemos apresentar um esboço sobre a questão da pintura em Sartre.
Conforme é sabido entre seus leitores o filósofo não possui uma obra estruturada relativa a uma
teoria Estética, propriamente dita, mas podemos, a partir de um recorte exposto em algumas obras
que tocam o tema da estética e da pintura, traçar algumas considerações a respeito do tema que
reflitam o pensamento de Sartre.
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Em nossa exposição passaremos por dois pontos distintos: o primeiro faz referência às artes,
consideradas como gênero, no pensamento sartreano e consideraremos, especialmente, a situação
e o estatuto da pintura em relação às outras artes e, particularmente, em relação à literatura. Em
um segundo momento, pretendemos esboçar as considerações do filósofo a respeito da pintura e
de noções que a envolvem como, por exemplo, o conceito de belo, o imaginário, entre outros.
Embora as artes e o tema da pintura se encontrem pulverizados na obra sartreana, faremos um
recorte e exporemos o tema conforme um percurso estabelecido a partir de algumas obras
especificamente, tais como O que é a literatura?, de 1947,por um lado e, de outro, a Conferência
realizada por Sartre no Brasil, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, no ano de 1960 e
posteriormente transcrita e publicada. Em meio a isto, estruturando a nossa exposição, nos
apoiaremos pontualmente em algumas obras do filósofo, a exemplo de O Imaginário e O
sequestrado de Veneza, que, entre outros, auxiliarão a clarear a exposição de Sartre sobre a pintura
e a melhor delimitar o posicionamento do autor sobre o tema.
Palavras-Chave: Sartre, Filosofia Francesa Contemporânea, Pintura, Estética
Nome: Lúcio Vaz
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Telma Birchal
Título: Problemas conceituais entre suicídio e auto-sacrifício
Resumo: A comunicação pretende analisar criticamente as diferentes propostas de distinção entre
suicídio e auto-sacrifício bem como oferecer uma definição dos dois conceitos, a saber: por ‘auto-
sacrifício’, intenciono significar a escolha da morte ou, pelo menos, a sua aceitação por parte de
um agente sendo tal escolha eventualmente necessária à consecução de um fim em favor de outras
pessoas, ao passo que o suicídio consiste na escolha consciente de um ato ou da omissão de agir,
escolha que é, do ponto de vista do agente, causa suficiente, mesmo que não imediata, de sua
morte, ou seja, da abreviação de sua vida, sendo tal escolha motivada pelo desejo de se livrar de
um mal ou de buscar um bem maior para si mesmo. Em seguida, analiso e rejeito três outras
tentativas historicamente oferecidas de distinção: em primeiro lugar, a notadamente presente na
tradição cristã (Van Vyve, Gabriel Marcel) de traçar uma separação entre os dois conceitos de
maneira valorativa; segundo lugar, de diferenciar suicídio e autosacrifício pelo fato de que apenas
no primeiro a morte ser visada como fim (como propõe Fairbairn); terceiro, outros recortes
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conceituais, como os de Durkheim (entre o chamado suicídio altruísta e as outras formas de
suicídio). Por fim, procuro discutir problemas relativos à aplicação de um ou outro conceito da
minha distinção em casos limítrofes: suicídio por vingança, honra e autopunição, morte de
homens-bomba. Esses problemas levam a debater e a problematizar a ideia de Nietzsche de que
todo ato de heroísmo é, no fundo, egoístico.
Palavras-Chave: Suicídio, Auto-sacrifício, Coragem
Nome: Luiz Fernando Botto Garcia
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Vladimir Pinheiro Safatle
Título: Hipóteses sobre o ser no seminário sobre o desejo
Resumo: Trata-se de pensar o modo como o psicanalista Jacques Lacan desenvolveu a sua noção
a respeito do ser como ideia fundamental para a articulação de conceitos chave junto à
metapsicologia apresentada no Seminário VI, O desejo e sua interpretação (1958-1959). Após a
apresentação do contexto geral do seminário, que tratou da maneira como o psicanalista pensou o
objeto do fantasma como a condição que o sujeito encontra para sobreviver enquanto desejante
frente ao risco de “aphanisis”, do esmagamento do seu desejo frente à determinação total do
significante, procuramos desenvolver os principais parágrafos em que o conceito de ser aparece.
Momento primeiro, este, necessário ao nosso texto, pois essa experiência do ser apenas pôde se
colocar junto à experiência psicanalítica enquanto uma resposta real do atravessamento do
fantasma imaginário.
No segundo momento, encontramos o ser como um corte entre o real e o simbólico, um ser que é
furo do real na linguagem, mas que não é sem a linguagem, pois precisa desta para apontar para
um além do simbólico, algo de não simbolizável no sujeito que se abre como um furo em meio à
trama significante da linguagem, e que aparece sob o nome de ser. Após acompanhar a definição
negativa de Lacan de que esse ser não é senão um vazio, um corte que se estrutura no lugar de algo
perdido, mesmo que positivado nessa ausência, e que se apresenta como causa do desejo, buscamos
justificar a hipótese de que o ser seria o predecessor da versão real do objeto dentro do seminário
em questão.
Palavras-Chave: Psicanálise lacaniana, Ser, Objeto, Desejo, Real
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Nome: Luiz Henrique Alves de Souza Monzani
Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientador: Prof. Dr. Luís Fernandes dos Santos Nascimento
Título: Rousseau e Molière: a crítica ao teatro e a comédia
Resumo: Rousseau foi um dos poucos pensadores do Iluminismo a criticar severamente o teatro
e, principalmente, a comédia. A comédia, como exemplifica a defesa que Marmontel dela fez na
Encyclopédie, ridiculariza o vício para demonstrar ao homem como não ser motivo de risada. A
comédia, ao contrário da sátira que zomba de uma pessoa específica, coloca “um avaro” que é o
retrato de toda a humanidade, pois todos são, em maior ou menor grau, sovinas. Concluía, então,
que à comédia eram destinados o desprezível e o ridículo, mas que o vício não era o seu objeto
primordial. Como afirmou Molière, ninguém aceita ser ridículo, e assim todos aprenderiam a evitar
tal vício. Rousseau, entretanto, afirma que desse exagero caricatural não decorre que o homem
aprenda a odiar o vício, mas sim que ele aprende a evitá-lo. O erro de Molière e Marmontel, dentre
outros defensores da comédia, ocorre então porque não percebem que “o ridículo é a arma favorita
do vício”. (ROUSSEAU,OC V, 25). Existe um código de comportamento imposto ao outro: aquele
que não agir de acordo será exposto ao ridículo. O comportamento vicioso se vale do ridículo para
expor o outro à zombaria; assim, não importa tanto o vício, que pode variar, mas sim o não ser
ridículo. A proposta do presente trabalho, portanto, visará analisar como se articula a crítica de
Rousseau à comédia e como é articulada, ao mesmo tempo, a crítica ao que é considerado o maior
de todos os comediantes, isto é, Molière e tentaremos articular como o pensamento ético e estético
de Rousseau se articulam nessas críticas.
Palavras-Chave: Rousseau, Molière, Teatro, Comédia, Século XVIII
Nome: Marcello Fontes
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Roberto Bolzani Filho
Título: A retórica filosófica do Fedro
Resumo: O tema da retórica habita o corpus platônico. Seja de forma direta ou indireta, são muitos
os diálogos em que Platão trata do tema, embora não exatamente da mesma maneira, a despeito de
a expressão rhetorikê só surgir no Górgias e no Fedro . Podemos dizer que também nos diálogos
Protágoras e Sofista a retórica é de certa forma também discutida, à medida que seria ou não
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instrumento para o ensino da virtude, no primeiro e ao questionar a verdadeira natureza do sofista,
no segundo.
De maneira geral, tem-se a impressão de que a retórica só serviria como instrumento para um
grupo contemporâneo de Platão, os sofistas. E a assim chamada sofística representaria uma suposta
alternativa à cultura tradicional ateniense, em particular, embora não considerada desta forma por
Platão. Sua atuação persuasória e pragmática teria então na retórica a ferramenta a ser por
excelência utilizada. O Górgias em particular, mas também O Protágoras apresenta esta visão
quase que identificadora do Sofista como usuário da retórica, e de um procedimento ou de uma
ação que dependeria deste uso, a persuasão.
No entanto, o Fedro parece nos apresentar a retórica de forma muito menos restritiva e mesmo a
inclui entre as possibilidades de instrumento também da própria Filosofia.
A psicagogia apresentada por Sócrates como real sentido da retórica a serviço da verdade deverá
ser capaz de saber que espécies de discursos convencem a determinados tipos de almas, além de
conhecer verdadeiramente o assunto a ser tratado. Temos então o real “uso” que a Filosofia poderá
enfim fazer da retórica, utilizando-o para educar a bem da verdade e do bem: discernir quais almas
combinam com quais discursos, conduzir as almas ao bem e à verdade por meio de discursos
adequadamente produzidos."
Palavras-Chave: História da Filosofia Antiga, Platão, Fedro, Retórica
Nome: Marcos Daniel Camolezi
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva
Título: Causalidade na obra de Jules Lachelier
Resumo: Almejamos expor o papel da causalidade na obra de Jules Lachelier (1832-1918), em
especial em sua tese de doutorado intitulada Do fundamento da indução (1871). Nascido na França,
o filósofo licenciara-se na École normale supérieure de Paris, onde permaneceu na condição de
professor. O período de docência nessa escola fora fundamental, direta ou indiretamente, na
formação de grande parte dos filósofos mais reconhecidos no final do século XIX e início do século
XX, a exemplo de Émile Boutroux, Henri Bergson e Léon Brunschvicg. Lachelier reconhecia-se
herdeiro do criticismo, mas, com o intuito mais geral de compreensão do pensamento em sua
plenitude, o filósofo dá alento à corrente do realismo espiritualista e, nessa mesma medida,
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subverte o kantismo. Toda a preocupação de Lachelier concentra-se no estatuto da sensibilidade
tal como aparece na primeira crítica de Kant: se a intuição aproveitável pelo entendimento fosse
unicamente pura, toda a realidade da experiência humana estaria fadada ao desprezo em prol do
entendimento enquanto entidade ideal. A atitude filosófica de Lachelier não procura, então,
privilegiar o pensamento enquanto idealidade, mas enquanto realidade: no ato do pensamento o
empírico faz-se presente e, portanto, ele é no próprio pensamento. Essa atitude, que diz respeito a
uma ontologia do pensamento, é acompanhada de uma alternativa epistemológica muito peculiar,
fundamentada no campo aberto pela terceira crítica kantiana. Afinal, segundo qual conceito o
empírico que se realiza no pensamento poderia tornar-se inteligível e ser compreendido? Lachelier
acredita que, ao lado da causalidade eficiente, adequada à compreensão das séries de fenômenos,
é preciso resguardar o valor epistemológico da causalidade final ou, simplesmente, finalidade. Se
toda relação entre fenômenos ocorre por meio da relação de causa e efeito, ainda seria preciso
reconhecer que, na natureza, os fenômenos obedecem a relações de meio e fim. O pensamento
consistiria na entidade em que se cruzam duas ordens do ser, de modo que, com a finalidade
associada à causalidade eficiente, o real empírico tornar-se-ia inteligível em toda a complexidade
das formas naturais. Desse modo, procuraremos mostrar como Lachelier busca alargar a dimensão
ontológica do pensamento até fazê-la coincidir com a da própria natureza e como, em razão da
integração entre causalidade eficiente e da causalidade final, pretende efetuar a passagem do
idealismo a um realismo do pensamento.
Palavras-Chave: Causalidade, Finalidade, Idealismo, Realismo, Espiritualismo
Nome: Maria Fernanda Novo dos Santos
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientador: Prof. Dr. Luiz Orlandi
Título: A ciência dos problemas em Henri Bergson
Resumo: Henri Bergson sempre se inclinou a produzir uma filosofia próxima das inquietações
sobre conceitos tradicionalmente pouco explorados pela filosofia como o movimento e a
multiplicidade. E na medida em que os percebe atualizando uma estreita relação com a vida
estende-os por toda sua obra, construindo pouco a pouco conexões que se sustentam por suas
próprias remissões, mas que também são animadas por conexões para além da filosofia. Em
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momentos notáveis de sua obra, Bergson nos permite vê-lo tecer as linhas dos conceitos fluídos
que não apenas sugerem o movimento, mas também são capazes de se arranjar a cada novo lance
em que as variações da filosofia e suas conexões os impõe. Por isso, o filósofo parece oferecer
conceitos que possam responder a cada nova proposição de problemas que devem abrir-se as
transfigurações operadas por quem os percebe, ou ainda acompanhar os deslocamentos daquilo
que os problemas procuram resolver. Podemos dizer, de outro modo, que, para Bergson, a
formulação de problemas está ligada a um dinamismo pelo qual se conecta os próprios conceitos.
A hipótese que iremos perseguir neste estudo será balizada pela atração científica de Bergson que
atravessará o Ensaio, de onde partiremos para chegar aos limites da combinação entre filosofia e
os temas da ciência que Bergson pôde experimentar, tal como a multiplicidade e o movimento.
Combinação esta que inaugura um campo de experimentação do qual o filósofo nunca abandonará.
Deste modo, exploraremos uma leitura que pode considerar os objetos científicos e suas temáticas
como componentes da problemática pela qual inserem certos conceitos bergsonianos. Em suma,
pretendemos apresentar quais as possíveis maneiras de reconhecer que a relação de Bergson com
as ciências pode ser considerada um tipo de aliança em que vê-se modelar certas formas as quais
sua filosofia estariam à disposição das relações entre o pensamento filosófico e o domínio
científico.
Palavras-Chave: Problema, Multiplicidade, Duração
Nome: Mariana de Campos Bardelli
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Celso Fernando Favaretto
Título: A dialética negativa das vanguardas
Resumo: Pretendemos traçar um paralelo entre o conceito de perlaboração, engendrado por
Lyotard, e o procedimento da dialética negativa, conforme a concepção de Adorno. O filósofo
francês compara o trabalho realizado pelas vanguardas com uma anamnese tal como proposta pela
psicanálise. Ele associa o trabalho realizado pelos artistas vanguardistas, ao repensar os próprios
trabalhos modernos, com o processo pelo qual se submete um paciente na tentativa de “elaborar
sua perturbação presente associando livremente elementos aparentemente inconscientes com
situações passadas”. Mas a ressalva de Lyotard é a de que não se trata de buscar os “fatos ocultos”
que deram origem à perturbação, pois o esforço para relembrar o “pecado original” faz com que
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este não cesse de repetir. Diferente, portanto, de uma simples rememoração, o método freudiano
da “perlaboração” (durcharbeiten) consiste em livres associações de quaisquer elementos que
venham à mente do paciente.
Nesse sentido, para Lyotard, os artistas vanguardistas, ao se lançarem às experimentações,
passaram a realizar uma “perlaboração” sobre o próprio sentido da arte, sobre as obras anteriores,
sobre a própria modernidade. É nesse sentido, portanto, que Lyotard conserva a tradição dialética,
ao interpretar a tarefa das vanguardas. Pois se de um lado ele coloca a ênfase na disposição do
artista de vanguarda para experimentar, de outro resgata no conceito freudiano a “imposição do
material”. O artista não é livre para experimentar o que quiser subjetivamente, mas para fazer
surgir a “presença” que ficou oculta e da qual ele não tem conhecimento. Daí o exemplo alegórico
repetidamente utilizado por Lyotard ser Édipo. E, não à toa, o trabalho das vanguardas ser
denominado pelo filósofo como “dialética negativa”. A lição de Adorno aqui se afirma: “o extremo
é proposto pela tecnologia artística, não apenas desejado por uma disposição anímica rebelde”.
Palavras-Chave: Vanguardas, Perlaboração, Dialética negativa
Nome: Mario Spezzapria
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Márcio Suzuki
Título: Dissolução da finalidade técnica e surgimento do tema da vida na Crítica do Juízo segundo
Gérard Lebrun
Resumo: No discurso e na linguagem da Crítica do Juízo, sobretudo na Primeira introdução e nos
§§ 64-65, na busca de uma compreensão adequada de um fenômeno tão particular como a vida, e
no contexto mais geral de revisitação do esquema teleológico, permanecem uma exigência anti-
mecanicista e uma instância metafísica, implícita no paradigma mecanicista. Segundo Lebrun,
acontece em Kant uma espécie de aproximação progressiva da consciência da especificidade da
biologia, em cujo discurso ainda predominam sinais de indecisão lexical, índice da inquietação
decorrente de uma "dificuldade em conceitualizar a criação orgânica". Apesar de ainda não ser
“capaz” de anunciar explicitamente o nascimento da biologia, o filósofo de Königsberg mesmo
assim estaria se aproximando de maneira decisiva da determinação do conceito de ser vivo, graças
ao qual esta ciência teria historicamente atuado. O organismo aparece sempre como um fenômeno
sui generis, cuja essência pode ser aprendida por meio de uma revisitação do conceito de
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teleologia. Lebrun ressalta por muitas páginas como no esforço de revisão do conceito de
finalidade da natureza coexistem e permaneçem duas atitudes na Crítica do juízo: em primeiro
lugar, firma-se cada vez mais uma distância, que deriva da progressiva aquisição da consciência
da distinção entre as assim ditas máquinas orgânicas e organismos; e, contemporaneamente,
mantém-se no conceito kantiano de organismo a ideia "técnica" numa "analogia distanciada” entre
finalidade consciente (intencionalidade da máquina expressada pela estruturação projetiva pela
qual foi fabricada) e organismo (espontaneidade, auto-organização). Tratar-se-ia para Lebrun de
enfrentar o problema de como Kant chega a conceber a vida como criação (espontaneidade,
finalidade interna, auto-finalidade), mas não-fabricação (na qual a finalidade-projeção-
intencionalidade permanece sempre exterior). Lebrun vê Kant elaborar um estiramento entre
orgânico e artificial, entre fim (Zweck) e intenção (Absicht, atividade consciente). O obstáculo a
ser afastado é a atividade consciente, a intencionalidade, o fim como objetivo externo. A biologia
poderá nascer com a progressiva imposição da ideia de autodeterminação e de não-origem, ou seja,
através do abandono da luz metafísica, que até então tinha envolvido e abrangido o discurso sobre
a vida. A ideia de fim natural é o instrumento conceitual de que Kant teria feito uso para aproximar-
se de um novo conceito extra-metafísico de finalidade. Assim como a espontaneidade não era um
"acréscimo empírico" ao conceito de organismo, a finalidade natural "não é um tema", mas - e
justamente por isto - a condição que torna possível que a "vida" surja como tema.
Palavras-Chave: Teleologia, Vida orgânica, Finalidade técnica, Intenção, Fim natural
Nome: Martha Gabrielly Coletto Costa
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marilena de Souza Chaui
Título: Claude Lefort e os primeiros movimentos da crítica à ideologia
Resumo: O objetivo que orienta nossa exposição é a tentativa de circunscrever a crítica à ideologia
elaborada por Claude Lefort no quadro de suas primeiras análises sobre o fenômeno burocrático
na URSS, tomando como referência a sua obra Éléments d’une critique de la bureaucratie. Trata-
se de compreender, nesse primeiro momento da trajetória lefortiana, como suas reflexões se
exercem no interior do pensamento e das temáticas marxistas referentes à história, e, em especial,
ao proletariado compreendido como classe universal cuja tarefa consiste na abolição universal das
formas de dominação. À época, Lefort encontra-se enraizado num contexto político e filosófico,
100
no qual predominam as ideias trostskistas sobre a necessidade da revolução soviética em seus
moldes atuais, o sacrifício das gerações presentes em nome da construção do socialismo, a
mediação necessária do partido, a justificativa psicológica do autoritarismo de Stalin. Movendo-
se no solo de um pensamento hegemônico, Lefort busca tomar distância crítica dele, desarraigando
o pensamento de Marx da mitologia marxista forjada para legitimar uma nova forma de
exploração, da qual a burocracia nos dá inúmeros testemunhos. Num primeiro momento,
buscaremos caracterizar as bases que condicionam a sustentação da ideologia burocrática, tais
como a ideia de uma separação entre o Estado e a sociedade civil e a de organização.
Posteriormente, mostraremos como Lefort, ao focalizar a natureza singular da classe operária,
resgatando a letra de Marx, procede a uma reformulação da definição e, principalmente, do sentido
histórico dessa classe. O ponto central da crítica à ideologia, nesse contexto, consistirá na negação
de toda divisão e hierarquização da classe operária, na negação da necessidade de uma direção
cindida da base, em suma, da separação entre dirigentes e executores. Tais são, portanto, as linhas
principais da primeira reflexão de Lefort sobre a ideologia que esta exposição se propõe a retraçar.
Palavras-chave: Ideologia, Partido, Burocracia, Classe operária
Nome: Matheus Barreto Pazos de Oliveira
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientador: Prof. Dr. Márcio Augusto Damin Custódio
Título: A dupla caracterização do bem em Tomás de Aquino: propriedade transcendental e
transcendente?
Resumo: Esse texto tem por escopo analisar a noção de bem na metafísica de Tomás de Aquino.
Para tanto, investiga-se como Tomás apresenta essa noção a partir de uma dupla caracterização,
qual seja: o bem entendido como uma das noções gerais do ente, isto é, uma propriedade
transcendental, e o bem entendido como um dos atributos divinos próprios, isto é, uma propriedade
transcendente. Nesse sentido, analisar-se-á, por um lado, as características gerais dos
transcendentais e o modo segundo o qual Tomás determina que o bem, sendo convertível ao ente,
pode ser entendido como um transcendental. Por outro lado, analisar-se-á como Tomás determina
que esta noção pode ser dita transcendente, entendendo, nesse ponto, que o bem é uma das
perfeições divinas. Contudo, tal caracterização do bem, aparentemente, gera uma contradição:
como essa noção pode ser dita um transcendental e, simultaneamente, ser transcendente? Para
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investigar essa aparente contradição na caracterização do bem, faz-se necessário explicitar como
Tomás salvaguarda esse duplo aspecto utilizando-se do modelo de predicação por participação.
Assim, o presente texto visa explicitar a justificativa encontrada por Tomás para estabelecer a
relação entre uma propriedade transcendental e uma propriedade transcendente na utilização de
um modelo específico de predicação por participação que, nesse contexto, é mobilizado como
fundamento metafísico à dupla caracterização da noção de bem. Nessa medida, para Tomás, as
criaturas são ditas boas porque participam da bondade divina. Ao mobilizar, portanto, as noções
de predicação e participação, mostrar-se-á como a doutrina dos transcendentais constitui-se como
um modelo peculiar de análise de um problema filosófico que recebeu, da parte de Tomás, um
tratamento distinto da tradição que o precedera e que não se restringe à mera recepção das fontes
que ele tinha acesso.
Palavras chave: Tomás de Aquino, Metafísica, Bem, Predicação, Participação
Nome: Matheus Henrique Gomes Monteiro
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Fátima R. R. Évora
Título: Tomás de Aquino e possibilidade enquanto "poder ser feito"
Resumo: A presente comunicação tem como objetivo apresentar a discussão tomasiana sobre
possibilidade e potência divina e, assim, discutir o uso do princípio de não-contradição (PNC) feito
por Tomás de Aquino para definir o que pode ser feito por Deus. Segundo o filósofo, Deus pode
fazer tudo o que é possível e possível é tudo o que não é contraditório. Com base nos textos de
Suma de teologia, Suma contra os gentios e De potentia dei, pretende-se mostrar que, para o
filósofo, PNC enquanto princípio lógico serve de critério para o intelecto humano reconhecer o
que é possível enquanto suscetível de realidade ou, dito de outro modo, enquanto é compatível
com o ser. Assim PNC permite ao homem que ele tenha um critério para saber o que é ou não
suscetível de realidade e, assim, saber o que Deus pode ou não fazer. No bojo desta discussão,
pretende-se também discutir com base naqueles mesmos textos tomasianos se PNC é, além de
princípio lógico, um princípio ontológico.
Palavras chave: Princípio de não-contradição, Onipotência divina, Possível, Realidade
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Nome: Natalia Costa Rugnitz
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientador: Prof. Dr. Lucas Angioni
Título: La lejanía del Bien en República VI y el posible “pesimismo gnoseológico” de Platón
Resumo: La presente comunicación pretende discutir la relación entre el bien en sí (auto to
agathon) y el conocimiento (episteme), tal como Platón la presenta en el Libro VI de República
(504e-511e). Consideraremos, en primer lugar, la “extraordinaria exageración” (daimonia
hyperbole, 509c) socrática, con base en la cual el bien en sí es en muchos casos entendido como
“trascendente” a las ideas. Analizaremos esta transcendencia, procurando respaldar, sin embargo,
la interpretación según la cual no existe, en sentido estricto, una alteridad ontológica radical del
bien a respecto del resto de los elementos del mundo inteligible, sino que éste comparte la
naturaleza eidética, desde que es definido como máximo objeto de ciencia (megiston mathema,
505a). Así, al mantenerse en el ápice del topos noético, veremos abrirse la posibilidad del
conocimiento del bien en términos análogos a los del conocimiento de las Ideas en general.
Llamaremos la atención en seguida, no obstante, sobre las múltiples vías por las cuales Platón
sugiere que el encuentro intelectual con este ente ideal supremo, si bien posible, es altamente
improbable (504a, 504d, 505b, etc.). Consideraremos finalmente, con base en esto, que aunque no
sea adecuado concebir un “pesimismo epistemológico” en el Platón de República (dado que el
bien en sí se presenta como cognoscible), tal vez sí sea posible vislumbrar un cierto “pesimismo
gnoseológico”, en la medida en que el filósofo asume explícitamente la extrema dificultad que
existe para que el alma humana avance dialécticamente hasta el objeto supremo - sin cuya visión,
sin embargo, todas las demás cosas se tornan superfluas (505a-b).
Palavras chave: Platón, República, Conocimiento, Metáfora solar, Pesimismo
Nome: Nathália Cristina Alves Pantaleão
Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mariana Claudia Broens
Título: De Turing à cognição situada e incorporada: O desenvolvimento de abordagens
contemporâneas da Inteligência Artificial
Resumo: O objetivo do presente trabalho consiste em analisar filosoficamente o desenvolvimento
dos pressupostos basilares da denominada Inteligência Artificial (IA) definida enquanto uma
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ciência que pretende simular computacionalmente processos mentais. Em um primeiro momento,
traremos à baila as teses de Alan Turing presente no artigo Computing machinery and intelligence.
Tais teses consistem em considerar a inteligência a partir da manipulação simbólica ditada por
regras rígidas e pré-estabelecidas para a execução satisfatória de uma função. Nesse contexto, o
conjunto de regras simbólicas, que garantem as funções do modelo, é a representação interna de
um dado comportamento que é considerado inteligente no plano real. Por outro lado, surge na
década de 80, o movimento chamado de Nova Robótica liderado por Rodney Brooks. Esse
movimento se distancia dos pressupostos que orientam a modelagem computacional na IA
tradicional, ao possuir como objetivo a construção de modelos robóticos autônomos. Nesse
sentido, o objetivo de Brooks (1990) é construir modelos computacionais autônomos, capazes de
agir no mundo sem a mediação constante de representações expressas por meio de regras
simbólicas. Assim, a simulação de comportamentos inteligentes é originária de comportamentos
que emergem diretamente da interação com o mundo externo. Desse modo, a representação que
ocupa um lugar central na IA tradicional simbólica, para Brooks é um fenômeno tardio e
minimizado. Em síntese, procuraremos mostrar que o paradigma funcional adotado pela IA
tradicional simbólica, na medida em que desconsidera componentes contextuais e relacionais dos
modelos cognitivos, não oferece princípios para uma modelagem robótica capaz de ser
ambientalmente situada. Por fim, propomos investigar se a proposta de Brooks possuiu uma maior
eficácia prática e efetiva na modelagem de processos cognitivos.
Palavras chave: Modelos computacionais, Inteligência Artificial, Representação, Manipulação de
símbolos, Cognição situada e incorporada
Nome: Nelson Maria Brechó da Silva
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Constança Peres Pissarra
Título: A amizade e a precariedade humana em Montaigne: uma abordagem humanista
Resumo: Esta comunicação procura analisar o que representa a amizade e a precariedade humana
em Montaigne. Para tanto, num primeiro momento, a fim de fazer um estudo minucioso, esboçar-
se-á um comentário sobre o primeiro parágrafo da seção De l’amitié dos Essais com o objetivo de
expor uma condição humanista diferente dos humanistas da época, que priorizavam o ser humano
como centro do universo. Em Montaigne, notar-se-á outra face do humanismo, na qual o humano
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reflete sobre o “eu”, ou seja, a razão não é o centro e sim perde sua centralidade, de maneira que
ensaiar pode tornar presente no papel a imagem do amigo La Boétie e a reconstrução do “eu”.
Desse modo, constatar-se-á a possibilidade de uma interpretação triádica do ensaísta: ler,
experimentar e refletir. Além disso, num segundo momento, ilustram-se a relevância dos estudos
montaignianos mediante os seguintes intérpretes. Primeiro, para Loque, ver-se-á que Montaigne
vivencia uma série de paradoxos. Ele defende a tese de uma atitude múltipla no ensaísta. Ele não
possui uma linha fixa de pensamento. Ao pensar, adquire novas formas de pensar. Além disso,
Loque vê Montaigne como filósofo cético. No entanto, tal definição se afasta da proposta desta
comunicação em demonstrar uma postura humanista no ensaísta. Segundo, o intérprete Cardoso,
destacar-se-á que Montaigne, ao refletir sobre suas experiências, faz o uso de sua razão e coloca
até ela mesma no âmbito da reflexão. Cardoso aponta a imagem da “orquestra” para elucidar a
experiência como fonte primordial. Tanto a música como o ensaio possuem a função de dar um
direcionamento à ação de cantar e de escrever, em outras palavras, apresentar o âmago pela
composição da música e pela escrita como meios de inspiração e projeção do íntimo para o âmbito
da vida. O pensamento de Cardoso é relevante para esta comunicação, porque possibilita pensar
Montaigne como humanista e que vai, segundo o comentador, além do humanismo, no desejo da
razão em debruçar-se sobre ela mesma. Terceiro, Birchal aponta que a variedade de assuntos do
ensaísta permite constatar a sua instabilidade diante do tempo que passa e pode apagar as suas
experiências. Desse modo, Birchal realça o aspecto das “opiniões” e do “julgamento” para
Montaigne buscar a sua expressão nos ensaios. Com isso, ela analisa o ensaísta como um filósofo
da subjetividade. Percebe-se, portanto, nos intérpretes Cardoso e Birchal uma aproximação com o
objetivo da visão triádica proposta por esta comunicação, pois Montaigne descreve sobre ele
mesmo, a fim de fazer uma filosofia da ação e, principalmente da suspensão do juízo, mediante o
ensaio de cada uma de suas experiências. Trata-se de uma ação vinculada ao julgamento, porque,
ao refletir, o ser humano pode suspender o juízo, de modo que ocorre uma elevação do pensamento
e, consequentemente, o diálogo da razão com a própria razão. A experiência da amizade, rompida
pela experiência da morte, adquire nos ensaios uma nova forma de viver arraigada pelo exercício
da razão em colocar no papel suas opiniões.
Palavras chave: Julgamento, Experiência, Eu, Ensaio, Amizade.
Nome: Paula Bettani Mendes de Jesus
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Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tessa Moura Lacerda
Título: O despertar de Baruch de Espinosa na Alemanha
Resumo: O idealismo alemão é caracterizado por ter como ponto de referência a filosofia kantiana,
de forma que grande parte dos pensadores desse período partem de sua filosofia, seja no intuito de
dar continuidade a mesma, como se propuseram fazer Reinhold e Fichte, seja a fim de mostrar as
inconsistências contidas nela, como podemos ver nos antikantianos Schulze e Jacobi, que aqui será
nosso objeto de pesquisa. O que nos interessa nesse período, no entanto é uma outra discussão,
não menos importante que essa e que também alcançará grandes proporções no pensamento
alemão desse período. Quando Jacobi vai para Wolfenbüttel, ele conhece Lessing que pouco tempo
antes de morrer se declara espinosista. Essa declaração fará com que Jacobi e a partir dele, uma
série de pensadores alemães se debrucem sobre o espinosismo, pensamento que a tempos andava
adormecido. Jacobi, no entanto receberá essa declaração de Lessing com bastante impacto, pois se
de um lado temos ele como um pensador polêmico e um teísta cristão convicto, do outro temos
Baruch de Espinosa também polêmico e expressão máxima do racionalismo, como Jacobi mesmo
reconhece e critica duramente. O estranhamento que essa declaração provoca em Jacobi faz com
que em 1783 ele comece uma correspondência com Moses Mendelssohn, que seria quem
introduziu Lessing no espinosismo; publicando posteriormente, no ano de 1785 essas
correspondências sobre o título, Sobre a teoria de Espinosa em Cartas dirigidas a Moses
Mendelssohn, onde ele expõe alguns aspectos da filosofia espinosana fazendo várias críticas a ela,
no intuito de mostrar que a mesma conduz necessariamente ao fatalismo e ao ateísmo, dentre tantas
outras acusações. Vemos que Jacobi tece tão duras críticas a filosofia espinosana porque por meio
de seu racionalismo Espinosa acaba negando tudo aquilo que Jacobi afirma. Se prestarmos um
pouco de atenção o que poderemos notar, entretanto é que essas críticas de Jacobi são claramente
direcionadas a Espinosa, mas não são feitas somente a ele, indiretamente ele pretende criticar todo
pensamento que se propõe explicar as coisas unicamente pelo viés da razão, ou que deposita
demasiada confiança na mesma, sendo esta então uma crítica à própria Aufklärung alemã para a
qual o primado da razão é tão importante. O pensamento espinosano talvez tenha sido para Jacobi
apenas o modelo de expressão máxima desse tipo de filosofia que ele pretende criticar, uma
filosofia que eleva a razão ao seu máximo potencial e que por isso acaba incorrendo em erro porque
existem coisas que, segundo ele não podem ser explicadas racionalmente, tal como Deus e
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liberdade por exemplo. Tendo em vista o que foi dito, nosso objetivo principal será expor as críticas
e acusações que Jacobi faz à filosofia de Espinosa procurando deixar claro os pontos de
divergência da filosofia de ambos nessa discussão que ficou conhecida como querela do panteísmo
ou querela do espinosismo.
Palavras-chaves: Espinosa, Jacobi, Fatalismo, Panteísmo, Crítica
Nome: Paulo Borges de Santana Júnior
Instituição:Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Márcio Suzuki
Título: Kant e os obstáculos ao pensamento livre
Resumo: Esta exposição parte do texto “O que significa orientar-se no pensamento” para delinear
dois obstáculos diferentes ao livre pensamento: o dogmatismo da razão especulativa e os ímpetos
do Gênio. É digno de nota que cada um deles exige de Kant argumentos de naturezas diversas.
Primeiramente, à razão especulativa Kant impõe a necessidade de um lugar para a fé racional. A
famosa distinção entre conhecer e pensar não só indica a prioridade do pensar para a tarefa crítica,
mas tal distinção é também uma consequência da anterioridade dos princípios oriundos do sujeito
em relação aos princípios que se baseiam em objetos dados, independentemente da consideração
a respeito da natureza de tais objetos. A crítica busca a valorização do sentimento de necessidade
(fundamentado na razão) em detrimento do próprio conhecimento da razão. Enquanto a razão
especulativa pretende se apoiar na necessidade objetiva – necessidade que tem o objeto como
autoridade –, a crítica pretende abrir espaço justamente para a necessidade subjetiva, ou seja, para
a fé. A fé caracteriza claramente um limite ao conhecimento da razão, limite contra o qual se volta
o uso especulativo representando essa fé num campo exterior à razão em geral, ou seja, o uso
especulativo considera tudo o que não é conhecimento como não sendo racional. Em contrapartida,
a crítica qualifica essa fé de racional, uma fé imanente às próprias faculdades da razão, as quais
podem e devem fazer mais que meramente determinar objetos. É no nível da fé, isto é, das
necessidades fundamentalmente subjetivas, que a crítica se coloca e estabelece as legislações das
faculdades da razão. Tal nível é o que garante representar a obediência às legislações como
autonomia, uma vez que tem como autoridade nada mais que a própria razão. Por outro lado, ao
fazer a separação entre pensamento e conhecimento e orientar o pensamento por um sentimento
produzido pela razão, Kant mostra-se preocupado em fazer com que esse pensar livre não deixe
107
espaço para o pensar sem leis e sem regras, ou seja, um pensar fantasioso encontrado, por exemplo,
na literatura romântica. Nesse ponto o interlocutor de Kant muda, ele se dirige aos gênios e tenta
mostrar-lhes, por meio até de impetuosas exclamações, as consequências sociais e políticas de um
pensamento que não obedece às suas próprias leis. A necessidade de trazer o gênio para a discussão
a respeito da orientação do pensamento revela que esse problema não deve ser tratado apenas no
interior da filosofia transcendental, mas que é uma questão que diz respeito ao homem e ao seu
mundo social.
Palavras chaves: Pensamento, Fé racional, Razão especulativa, Gênio
Nome: Paulo Pirozelli Almeida Silva
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Caetano Ernesto Plastino
Título: Paradigma e episteme: Aproximações entre Thomas Kuhn e Michel Foucault
Resumo: A noção de paradigma, desenvolvida por Thomas Kuhn em A estrutura das revoluções
científicas, e a noção de episteme elaborada por Michel Foucault em As palavras e as coisas, são
com frequência apontadas como possuindo fortes semelhanças. Ocorre que tanto Kuhn como
Foucault não se pronunciaram sobre essa proximidade entre suas investigações: se Kuhn dizia que
“não havia lido muito de Foucault”, e que tinha dúvidas de que a noção de episteme “fosse tão
abrangente quanto parecia ser” na formulação do filósofo francês; Foucault, por seu lado,
afirmava, em sua resposta à resenha de George Steiner a As palavras e as coisas, que não
mencionara Kuhn em seu livro por ter, em vez disso, tratado de um pensador que o antecipara:
Georges Canguilhem. Ainda que não possamos contar com as opiniões dos próprios filósofos, o
primeiro objetivo deste trabalho será o de apresentar as ideias de paradigma e episteme, como
apresentadas em A estrutura das revoluções científicas e As palavras e as coisas respectivamente,
analisando, em seguida, em que grau se aproximam ou se distanciam. Alguns pontos de
aproximação são mais fáceis de serem reconhecidos, como as ideias de descontinuidade e de
limites de possibilidade do conhecimento, porém, como procuraremos mostrar, são traços que
escondem discordâncias mais profundas. Procuraremos, a partir daí, elaborar as críticas que Kuhn
poderia eventualmente dirigir a Foucault. Daremos destaque ao que consideramos a mais
significativa dessas objeções: a preocupação kuhniana com uma análise sociológica do
empreendimento científico, que o faz questionar, por um lado, o próprio método arqueológico de
108
Foucault, e por outro, a ausência de uma base para a prática científica garantida pelo paradigma, e
que uma episteme jamais poderia fornecer. Nosso objetivo, com isso, é dar prosseguimento ao
trabalho atualmente desenvolvido, e que visa compreender os traços constitutivos de uma
sociologia da ciência de matriz kuhniana.
Palavras-chave: Thomas Kuhn, Epistemologia, Michel Foucalt, Sociologia da ciência
Nome: Pedro Henrique Ciucci da Silva
Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Orientador: Prof. Dr. Claudemir Tossato
Título: A visão de Kepler na Revolução Copernicana
Resumo: Kepler foi um dos maiores astrônomos do sec. XVII, não só trouxe uma nova perspectiva
de estrutura investigativa geométrica do universo como também colocou Copérnico em seu devido
lugar. A obra De Revolutinibus, não teve uma grande aceitação, tanto por parte dos astrônomos
quanto por parte dos leigos, foi uma batalha difícil para sua aceitação. Kepler em sou obra Epitome
( resumo) da astronomia copernicana, coloca o de revolutinibus em uma nova perspectiva,
esclarece algumas questões que não estavam claras e também deixa Copérnico em seu devido lugar
na história como um dos maiores astrônomos.
Palavras-chaves: Astronomia, Heliocentrismo, Geocentrismo, Copérnico.
Nome: Pedro Konzen Capra
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Orientador: Prof. Dr. Alfredo Storck
Título: Lei Natural, Virtude Moral e Hábito para Tomás de Aquino
Resumo: A questão 94 do Tratado da Lei tem sido alvo de uma intensa disputa entre defensores e
críticos da filosofia prática de Tomás de Aquino. Uma das discórdias em maior evidência diz
respeito à interpretação do primeiro princípio da razão prática tal como exposto no artigo 2 da
questão 94. De um lado, ele é tomado como um princípio para toda ação humana. De outro, ele é
tomado como uma diretiva racional apenas para a ação virtuosa. Esta segunda posição sustentada
por filósofos como Jacques Maritain e Ralph McInerny defende que as leis da natureza, uma vez
que são diretivas da razão, prescrevem como os homens devem agir na medida em que estão
inclinados pela natureza humana. De modo que para toda ação virtuosa há uma inclinação natural.
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O objetivo do presente trabalho é explorar algumas dificuldades desta tese na interpretação comum
de Jacques Maritain e Ralph McInerny quanto ao tratamento da lei natural por Tomás de Aquino.
Assim coloca-se a questão, para toda ação virtuosa há uma inclinação natural? Será sustentado
neste trabalho que nem toda ação virtuosa está para uma inclinação natural baseando-se no
comentário de Aquino aos quatro primeiros capítulos do Livro dois da Ética a Nicômaco de
Aristóteles, especialmente o comentário do capítulo quatro. O interesse reside na tese de que a
causa da virtude moral nos homens é a repetição da ação virtuosa e no comentário de Tomás de
Aquino ao tratamento da objeção apresentada em 1105ª 18-22 por Aristóteles: se o homem que
realiza uma ação virtuosa é virtuoso, tal como ocorre para os homens nas artes. Expor-se-á que o
filósofo medieval extrai algumas conclusões que não se encontram propriamente no capítulo
quatro da Ética a Nicômaco, tal como a sua explicação de como se dá a primeira ação virtuosa, e
a importância que ele atribui ao conhecimento prévio dos primeiros princípios da razão prática
para esta ação em especial. Conclui-se com esta passagem que a aquisição da virtude não se dá em
face de uma inclinação prévia, mas que os homens adquirem uma inclinação diferente tal como
adquirem a virtude, de modo que sua origem não é de uma inclinação natural presente no homem,
mas de uma inclinação adquirida através do costume.
Palavras-chave: Lei natural, Virtude moral, Hábito
Nome: Rafael dos Reis Ferreira
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientador: Prof. Dr. Arley Ramos Moreno
Título: A importância das propriedades internas para a configuração do espaço lógico no Tractatus
de Wittgeinstein
Resumo: O objetivo desta comunicação é mostrar a importância das propriedades internas para a
configuração do espaço lógico no Tractatus. Mostraremos que as propriedades internas nos
permitem pensar os objetos, pois estão indiscernivelmente presentes nas seguintes noções que
separamos aqui para efeito analítico: (i) relação entre forma e conteúdo; (ii) união dos objetos sob
uma mesma propriedade ou separação dos objetos em propriedades diferentes; (iii) princípio da
negação; (iv) estados de coisas.
Palavras chave: Propriedades internas e propriedades externas, Forma e conteúdo, Princípio de
negação, Estados de coisas, Espaço lógico.
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Nome: Rafael Gargano
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marilena Chaui
Título: Filosofia e Desejo em Lyotard
Resumo:O objetivo deste trabalho é expor a relação que Jean-François Lyotard estabelece entre
filosofia e desejo em uma série de quatro conferências intituladas “Por que Filosofar?”
(apresentadas em 1964 na Sorbonne e publicadas em 2012). Uma relação no mínimo inusitada.
Aliás, como poderíamos pensar esta relação? Nossa hipótese é que Lyotard estabelece essa relação
através de uma analogia da falta. Sabe-se, a partir das conferências, que Lyotard busca delimitar
uma noção de desejo que ultrapassa a polarização entre sujeito desejante e objeto desejado, a fim
de pensar o desejo como um movimento que comporta uma falta em seu interior. Lyotard chega
mesmo a dizer que o desejo deve ser entendido em termos de um movimento que comporta uma
estrutura de presença/ausência: o desejo significa precisamente uma presença de uma ausência. O
modo peculiar como Lyotard estabelece a relação entre filosofia e desejo está em estabelecer uma
analogia entre esse movimento e o pensar filosófico. Suas análises levam-no a considerar que a
filosofia obedece plenamente ao movimento do desejo. Nesses termos, ao obedecer plenamente ao
movimento do desejo, Lyotard pensa a filosofia como um movimento que comporta uma falta em
seu interior, que sempre perde a si própria e seu objeto. É através dessa estrutura de
presença/ausência que ele busca justificar o deslocamento da questão: “o que é a filosofia?” -- o
que pressupõe seu objeto --, em direção a “por que filosofar?”, o que coloca a possibilidade da
perda mesma do objeto questionado. Por fim, ao abordar essa questão, forneceremos elementos
importantes para que o leitor compreenda os conceitos críticos organizadores do pensamento do
filósofo.
Palavras chave: Lyotard, Política, Psicanálise
Nome: Rafael Henrique Teixeira
Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Débora Cristina Morato Pinto
Título: Atividade criadora e especulação filosófica: aspectos do problema da vida em Henri
Bergson
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Resumo: Meu objetivo é mostrar como se articulam em “A evolução criadora” o “problema” da
significação da vida (anunciado no terceiro capítulo) e o “problema” que é identificado como
interior à evolução da vida. O primeiro visa responder qual a verdadeira natureza da vida, quais os
limites do conhecimento científico diante de uma realidade irredutível aos quadros do
mecanicismo, etc. O segundo se apresenta ao observador a partir das soluções que a vida encontrou
ao problema que constitui, por assim dizer, sua própria marcha: a inserção de indeterminação na
matéria, da qual história dos organismos vivos nos oferece o testemunho. Na verdade esses
“problemas” não são exteriores um ao outro. Sabemos que o esforço implicado na intuição visa
captar o movimento das coisas e dos seres. E Bergson não hesita em afirmar em “A evolução
criadora” a necessidade, para fazer a intuição percorrer as dimensões espirituais da realidade, das
quais a vida não é exterior, de um vai-e-vem contínuo entre natureza e espírito. Assim procedendo
para com a vida, esta será tratada como ação que se faz (trabalho de organização) através de uma
ação que se desfaz (que constitui o universo material por uma distensão do movimento vital). Um
problema que é “da vida” (a inserção de indeterminação nos organismos vivos por complicações
sensório-motoras, pela criação de instinto e inteligencia, etc.) torna-se um problema “filosófico”,
e propriamente bergsoniano, no momento em que o vital é tomado como um movimento do qual
a materialidade que lhe figura como obstáculo não é outra coisa senão sua inversão, e à qual cabe
à vida contornar. O problema da atividade criadora da vida é de uma natureza tal que não é
indiferente à resolução da realidade em movimento, mudança e criação (tendência que
encontramos, por exemplo, já na metafísica da matéria de “Matéria e memória”): é nesses termos
que a vida se coloca como questão ao bergsonismo. Veremos assim que a concepção da vida que
a história dos organismos vivos autoriza Bergson a estabelecer é como que um passo adiante, no
sentido de sua generalização, no reconhecimento do movente como o que há de essencial no
universo.
Palavras-chave: Problema, Vida, Movimento
Nome: Raquel Albieri Krempel
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. João Vergílio Gallerani Cuter
Título: Wittgenstein e o problema do mundo exterior
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Resumo: "Nas notas que compõem Sobre a Certeza, Wittgenstein dirige diversas críticas contra o
ceticismo sobre o mundo exterior. Nem todas elas, contudo, parecem ter o mesmo valor. Esse é
um ponto em geral desconsiderado pelos comentadores de Wittgenstein. A atenção dos
comentadores quase sempre se volta para os pontos fortes da argumentação de Wittgenstein, sem
deixar claro que muitos dos apontamentos que pretendem atacar o ceticismo passam muito longe
do alvo desejado.
Nesta comunicação, pretendo mostrar que podemos encontrar em Sobre a Certeza críticas fracas e
fortes contra o ceticismo. Por se tratar de apontamentos de caráter aforismático que o próprio
Wittgenstein não julgava acabados para a publicação, interpretá-los é uma tarefa especialmente
difícil, e inevitavelmente sujeita a oposições. A estratégia interpretativa que proponho aqui, de
sugerir alguma sistematização das observações críticas de Wittgenstein, parece-me vantajosa
porque representa uma tentativa de tornar mais claro o que está por trás das notas de Sobre a
Certeza, as quais são muitas vezes obscuras. Embora essas críticas não apareçam sistematizadas
no texto de Wittgenstein, e muitas vezes se confundam, parece-me claro que se pode encontrar ali
tanto ataques que só funcionam contra um ceticismo fraco, como outros que apresentam desafios
mesmo contra um ceticismo forte.
O primeiro tipo de crítica que apresentarei é o que penso ser o mais fraco, sendo semelhante às
críticas desenvolvidas por Hume, que denunciam a impossibilidade prática da dúvida cética. Essa
é uma crítica fraca porque ataca pontos que não precisam ser defendidos pelo ceticismo. O segundo
tipo de crítica ataca o problema cético de maneira mais forte, porque questiona alguns de seus
pressupostos. Um dos pressupostos questionados por Wittgenstein é o de que cenários céticos
como o do sonho ou o do gênio maligno são de fato possíveis. Após apresentar esses dois tipos de
críticas, procurarei por fim mostrar que mesmo os ataques fortes não são suficientes para acabar
com o problema cético."
Palavras-chave: Wittgenstein, Ceticismo, Mundo exterior
Nome: Ravena Olinda Teixeira
Instituição: Universidade Federal do Ceará - UFC
Orientador: Prof. Dr. Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd
Título: O corpo na filosofia da imanência
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Resumo: Em nossos dias, no que chamamos de filosofia contemporânea, o corpo é um dos
principais temas a ser abordado pelas diversas correntes filosóficas, entretanto, o mesmo já foi
considerado a prisão da alma e durante muitos séculos foi tido com inferior a ela. Além disso, para
grande parte dos filósofos, clássicos e modernos, foi considerado o maior obstáculo ao verdadeiro
conhecimento. O que pretendemos demonstrar, com o presente texto, é que Spinoza é, ainda na
modernidade, um dos filósofos que reconhece e devolve ao corpo o valor e a potência que ele
possui. Os escritos de Spinoza, especificamente, as partes dois e três da Ethica nos revelam que
sua filosofia pode ser considerada como a filosofia do corpo. O presente trabalho tem por objetivo
analisar o conceito de corpo apresentado por Spinoza na Ethica, bem como o que sua concepção
de corpo inaugura em uma tradição que até então era dualista, demonstraremos, em contra partida,
no que consiste a tese da unidade entre mente e corpo. Na segunda parte dessa obra, Spinoza define
o corpo como um modo que exprime de maneira definida e determinada a essência da substância
enquanto considerada como coisa extensa. Em seguida afirma que todos os corpos estão em
movimento e repouso e que são estas proporções de movimento e repouso que dão aos corpos,
mais simples, sua singularidade. São esses corpos mais simples que compõem outros corpos e
conseqüentemente compõem um indivíduo. Esse indivíduo é um corpo composto que tem sua
potência de agir aumentada ou refreada de acordo com as afecções corpóreas. Dessa forma, a
importância que o corpo assume na Ethica de Spinoza é inegável." Palavras-chaves: Corpo,
Imanência, Spinoza
Nome: Ricardo Antonio Fidelis de Lima
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Mario Miranda Filho
Título: De Ira de Sêneca: Uma proposta de análise
Resumo: A literatura antiga está cheia de relatos e de personagens irascíveis (Fillion-Lahille,
1984:07). Isso denota que o nosso tema é um objeto de estudos deveras amplo, dando abertura a
diversos trabalhos de pesquisa. Por isso, o recorte que daremos é na obra De Ira do filósofo estoico
Lúcio Aneu Sêneca, por se tratar de uma obra não muito trabalhada, onde há uma posição clara do
filósofo em relação a essa paixão que "é a mais danosa de todas" (De Ira, I. 2,1). O interesse
primordial será em relação ao conteúdo dos três livros que compõe a obra, tentando verificar ao
máximo o quanto Sêneca exorta a Novato, seu irmão mais novo, sobre os males provocados pela
114
ira, tanto para si quanto aos outros, quando se permite sua ação, como também a nações inteiras
devastadas pela fúria impiedosa dessa paixão. Também, mostraremos o que a tradiçao estoica
tratou do tema.
Palavras-chave: Ira, Paixões, Estoicismo, Sêneca
Nome: Roberto Carlos Pignatari
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Lorenzo Mammì
Título: Silêncio Imediato - Mística e linguagem primitiva no pensamento de Wittgenstein
Resumo: Unanimidade entre os estudiosos, a classificação Wittgenstein I – correspondente ao
Tractatus Logico-Philosophicus, cuja filosofia encontra-se calcada no assim chamado atomismo
lógico – e Wittgenstein II – remissiva às Investigações Filosóficas, com o abandono definitivo de
quaisquer resquícios metafísicos – compreende, entre outros, o entendimento de que teria havido,
por parte do filósofo, o abandono da perspectiva de base de sua primeira obra, cabendo à segunda
a apresentação de sua filosofia acabada e revisada. Dado que o Tractatus ostenta, em sua feitura
final, manifesta tendência mística, a conclusão soa como dedução: o segundo período significou
rejeição aos elementos místicos do início. Porém, se por um lado tal visualização da constituição
do pensamento wittgensteiniano mantém-se praticamente inatacável, por outro sua simplificação
contribui para uma visão por vezes empobrecedora das relações entre os diversos períodos de sua
produção, sobretudo com relação à presença da mística em sua filosofia.
Na tentativa que segue, procuramos trazer, a título introdutório, apontamentos ilustrativos de que
a preocupação filosófica de Wittgenstein mantém-se, lato sensu, a mesma nos dois períodos de sua
produção literária, perpassando-os de maneira uniforme e objetivando sobretudo, para além da 1)
dissolução dos grandes problemas filosóficos (Investigações); bem como do 2) silenciar as
pretensões metafísicas apresentadas pela história do pensamento ocidental (Tractatus), evidenciar
a relação de decorrência entre ambos os aspectos centrais das duas obras, mostrando que o silêncio
não se dá unicamente após o abate dos pretensos voos metafísicos, e/ou após o esvaziamento das
pseudoquestões da filosofia, mas em realidade encontra-se situado no princípio da apresentação
do mundo, através da qual 1.1) as formas de vida são ditas (Tractatus) quando a elas 2.2) nos
jogamos através do imediato da linguagem primitiva (Investigações), no espectro da qual a mística
do silêncio perfaz a atitude primordial. Para tanto, intentamos apresentar um sumário temático da
115
composição filosófica de Wittgenstein, através do qual tentaremos elucidar (I) a relação entre
linguagem primitiva e terapêutica onto-praxiológica, em que (II) o jogo de linguagem perfaz a
imediaticidade da relação que mantemos com o mundo em sua totalidade, perante o qual (III) o
elemento místico silente condiciona toda e qualquer regra do jogo linguistico.
No intuito de nosso esboço no presente estudo, procuramos não tratar as diferentes fases do
pensamento wittgensteiniano como distintas de modo estanque, mas sim atentarmo-nos à sua
filosofia como um todo seqüencial e coerente na sua relação entre o dizer e o silenciar, impulso
axial de sua obra, para o que levamos em conta, além das duas obras cardeais, igualmente o período
intermediário, cujas Observações Filosóficas constitui o trabalho mais representativo deste período
que irá culminar nas Investigações, quase sempre tomadas – a começar pelo próprio autor – por
corretivas ao Tractatus.
Palavras-chave: Silêncio; Linguagem; Imediaticidade; Mística
Nome: Rodrigo Andia Araújo
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Maurício Cardoso Keinert
Título: Kant e a História da Filosofia
Resumo: A proposta da pesquisa em geral é compreender a ideia de história da filosofia em Kant,
isto é, de sistematizá-la ou de torná-la mais clara à luz da filosofia kantiana. Trata-se, contudo, de
um tema polêmico e ao mesmo tempo instigante, pois além do filósofo nos propor na Crítica da
razão pura a possibilidade de uma história integrada ao sistema, mesmo que ela seja aos olhos de
Kant inteiramente conflituosa, nos Progressos da metafísica, o filósofo também nos apontará a
possibilidade de uma “história filosofante da filosofia”, um ideal racional que procederia
cronologicamente segundo princípios ou esquemas transcendentais a priori em desenvolvimento.
Na tentativa então de melhor compreender esta relação, isto é, entre “sistema da razão” e “sistema
da história”, a nossa investigação partirá do pressuposto de que somente uma teleologia
arquitetônica a partir de uma linguagem essencialmente crítica é capaz de nos fornecer os
elementos mais necessários para fundamentar este ideal filosofante de uma concepção kantiana da
história da filosofia.
Palavras chave: Arquitetônica, Linguagem, História, Esquema, Imagem
Nome: Rodrigo de Ulhôa Canto Reis
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Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Orientador: Prof. Dr. Jônadas Techio
Título: O Anti-Ceticismo de Peter Strawson: o caso da reduplicação em massa
Resumo: O presente trabalho trata da atitude anti-cética de Peter Strawson no primeiro capítulo
de Individuals (1959). Alguns autores assumem que tal atitude consiste, basicamente, no uso de
“argumentos transcendentais” (Barry Stroud, 1968) como uma refutação direta da dúvida cética,
que estabeleceria a possibilidade do conhecimento daquilo que é posto em dúvida. Outros (John
Callanan, 2011) defendem que Strawson teria oferecido uma refutação indireta – que mostraria
algo de incoerente na formulação da dúvida cética, nos moldes do que é proposto posteriormente
em Ceticismo e Naturalismo (1985). Pretendo contribuir com esse debate sugerindo que podemos
compreender a posição de Strawson em seus próprios termos de criticismo, isto é, deixando de
lado a questão de se o argumento é dito “transcendental” ou de se ele é uma refutação “direta ou
indireta”. Para sustentar minha leitura irei, primeiramente, caracterizar a relação entre o que
Strawson chama de “metafísica descritiva” e “metafísica revisionista”: particularmente a ideia de
que a segunda está “a serviço” da primeira -- isso será importante na medida em que Strawson
propõe ver o cético (tanto em Individuals quanto em Ceticismo e Naturalismo), em última
instância, como um metafísico revisionista. Em seguida, apresentarei, resumidamente, como
Stroud lê o argumento de Strawson e a crítica que Callanan dirige a essa leitura. Para contestar
essas interpretações, começarei esclarecendo o caso suscitado pelo cético, chamado por Strawson
de “cenário da reduplicação em massa”: trata-se, em suma, da possibilidade de que as coisas ou
entidades que pretendem ser referidas e identificadas por uma descrição também estejam,
hipoteticamente, em outro setor do universo não visado pela descrição. Irei, depois, reconstruir o
argumento anti-cético do autor procurando mostrar qual o papel desse cenário cético e em que
ponto ele é rejeitado. Dessa maneira, o intuito é enfatizar o que é crucial na atitude anti-cética de
Strawson.
Palavras chave: Peter Strawson, Ceticismo, Metafísica Descritiva, Argumentos Transcendentais
Nome: Rodrigo Lopes
Instituição: Instituto de Artes da Unesp - UNESP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lia Vera Tomás
Título: Mímesis: a tragédia na Poética de Aristóteles e na Ópera Francesa do Século XVIII
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Resumo: No capítulo IV de sua Poética Aristóteles nos fala da natureza da imitação, quais os
meios pelos quais ela se dá, e os tipos de poesia utilizados pelos poetas: imitação de ações nobres
e elevadas ou imitação de ações vulgares e desprezíveis - aqui temos a tragédia e a comédia. No
capítulo VI ele define a tragédia e a desenvolve nos capítulos VII ao XIX. O texto de Aristóteles
serviu posteriormente como base para produções poéticas, literárias e artísticas, envolvendo a
música, que até o século XVIII seria, - foco da discussão deste trabalho -, a base para a composição
da ópera francesa, que junto com o teatro e a dança daquele período nos daria o sentido de “tragédia
lírica”: ou seja, a tentativa de reproduzir música aos moldes do que teria sido a tragédia grega. A
mímesis se dará pela imitação das paixões humanas representadas nos caracteres das personagens
de ópera, que partindo do teatro, comporão a expressão musical, e esta compreendida como
sinônimo de “afeto”. No século XVIII as teorias da música apresentam relações com outras artes
e com a filosofia, além de acontecimentos políticos, e muitos teóricos desse período, como
Batteux, Diderot, D’Alembert e Rousseau, se ocuparam com problemas musicais. Pretende-se
observar algumas diferenças do sentido de mímesis na antiguidade e no século XVIII,
compreender as discussões sobre o que deveria ser “imitado” neste último século, e entender
porque a expressão artística musical substituiu a imitação da natureza – mímesis - por uma teoria
expressiva da arte relacionada com o artista, ou seja, a manifestação do “eu interior” do artista cujo
sentido chegou ao período romântico no século XIX, prevalecendo ainda no mundo
contemporâneo.
Palavras chave: Mímesis, Ópera francesa, Século XVIII.
Nome: Rodrigo Luiz Silva e Souza Tumolo
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Maurício Cardoso Keinert
Título: Ética kantiana: recuperando as principais noções a partir da Fundamentação da Metafísica
dos Costumes
Resumo: Trata-se aqui de um estudo focado principalmente na natureza e no mecanismo da ação
moral na ética kantiana, especialmente embasado na Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Pretendemos enfatizar o caráter procedimental da moral kantiana e sua estreita relação com o
conceito de autonomia (trabalhado noutros textos, como Resposta à pergunta: o que é o
Esclarecimento?) para recuperar daí a noção de autonomia da vontade como a faculdade do sujeito
118
dar leis a si mesmo — acentuando o caráter legislativo explicitado nas diversas formulações do
imperativo categórico, notadamente na formulação do reino dos fins. É de suma importância
recuperar a noção mais geral de lei e o método de legitimação da lei moral (a universalização da
máxima via imperativo categórico). O estudo da filosofia moral kantiana apresentado aqui é a
primeira parte de um projeto maior cujo escopo é relacionar a ética kantiana às reflexões políticas
e do direito, de modo que os pontos ora levantados pretendem responder de alguma maneira a
problemas específicos decorrentes desse relacionamento: as perguntas originais que movem o
projeto maior são se a república, expressa no segundo artigo do escrito À paz perpétua, pode ser
entendida como uma atualização política daquele reino dos fins anteriormente trabalhado na
filosofia moral e se o procedimento de legitimação da lei moral pode servir de inspiração para a
concepção e/ou instrumento de crítica da lei jurídica. Por ora, intentamos um estudo centrado na
filosofia moral e estabelecer algumas relações bastante pontuais com a lei jurídica — como, por
exemplo, distinguir a natureza original da obrigação ética e jurídica a partir de uma reflexão entre
as diferenças dos imperativos categórico e hipotéticos.
Palavras chave: Máxima, Lei, Autonomia, Legitimidade, Imperativo
Nome: Ronaldo Zanella
Instituição: Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Orientador: Prof. Dr. Robson Costa Cordeiro
Título: Homero e o jovem Nietzsche
Resumo: Ao tratar da abordagem realizada pelo jovem Nietzsche sobre a cultura homérica emerge
uma aparente ambivalência entre filologia e filosofia. Desde a conferência que inaugura sua
docência na Universidade de Basiléia, a filologia passa pelo crivo da filosofia. Por outro lado,
podemos ver a filologia no regimento de várias análises que Nietzsche oferece da cultura helênica
e insere na sua filosofia. Por conseguinte, esta comunicação almeja analisar a cultura homérica e
sua influência na filosofia do jovem Nietzsche, sem com isso, descartar o suporte filológico tão
evidente nesta primeira fase de seu pensamento. Na primeira parte intitulada Arete é analisada a
importância da questão homérica para salvaguardar a noção do indivíduo enquanto gênio criador
e seu valor no quadro histórico-cultural. A Arete, no sentido de valores que crescem numa cultura
e resplandece em determinados indivíduos que formam uma aristocracia, irá influir na concepção
nietzschiana de aristocracia espiritual, na qual o caráter rivaliza com as condições normalizadoras
119
da vida. Na segunda parte, Agon, é o sentido de disputa como valor construtivo da cultura que
parte do confronto físico na narrativa homérica, se desenvolve na competição poética e dramaturga
e se estabelece na dialética filosófica. A perspectiva imagética da ira de Aquiles é um exemplo
paradigmático para o caráter decadente do homem moderno, e uma contribuição estética para a
superação de seu estado amórfico. Por isso o agonismo está na base da construção do pessimismo
nietzschiano . Na terceira e última parte, Mito, é analisado o sentido original do termo μῦθος nos
épicos que somada à perspectiva nietzschiana sobre Homero reacende a vivacidade mítica. Essa
abordagem tem como escopo traçar um itinerário para o ressurgimento de Dioniso, via Nietzsche,
um deus que de coadjuvante nos épicos torna-se protagonista na tragédia, e na modernidade,
assume uma dimensão filosófico-trágica como símbolo da irrestrita afirmação da vida.
Palavras-chave: Homero, Nietzsche, Arete, Agon, Mito.
Nome: Rosana de Oliveira
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio Werle
Título: A Mitologia no Romantismo e no Idealismo alemão
Resumo: A presente comunicação consiste em uma tentativa de aproximação a partir do tema da
mitologia entre a Doutrina da arte, de August Schlegel, e o Mais antigo programa de sistema do
idealismo alemão, cuja autoria se atribuiu ora a Hegel, ora a Schelling, ora a Hölderlin.
Em consonância com a concepção do chamado Primeiro Romantismo, a mitologia aparece para
Schlegel como um dos pontos centrais de sua Doutrina da arte, sendo abordada em dois
momentos, quais sejam, a mitologia grega e a mitologia cristã. Para além destes dois momentos, o
papel da mitologia é expandido na Doutrina em função de sua relação com a fantasia e com a
poesia, com a força produtiva fundamental a todas as artes.
Também entre os teóricos do idealismo alemão o conceito de mitologia esteve em debate,
sobretudo entre Hegel, Schelling e Hölderlin, como é possível observar no Mais antigo programa
de sistema do idealismo alemão, que apresenta a ideia e necessidade de uma mitologia da razão.
Desta forma, as diversas ideias ligadas a este conceito como mitologia da razão, nova mitologia,
mitologia moderna, grega e cristã serão abordadas neste trabalho. Embora a ênfase resida na
Doutrina da Arte e no Mais Antigo programa de sistema do idealismo alemão, a remissão a outras
obras e teóricos da época se fará necessária, a fim de estabelecer um quadro comparativo, bem
120
como será de interesse indicar brevemente os desdobramentos do papel da mitologia, que na
filosofia de Hegel e Schelling, por exemplo, adquire novas configurações após o Mais antigo
programa de sistema.
Palavras-chave: Mitologia, Romantismo, Idealismo
Nome: Sacha Zilber Kontic
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tessa de Moura Lacerda
Título: A imgem como paradigma da ideia em Descartes e Leibniz
Resumo: A relação entre a ideia e a imagem é um dos pontos que mais geraram querelas no interior
do cartesianismo e da filosofia do século XVII em geral. Descartes, ao definir, na terceira
meditação, a ideia como um pensamento que é “como as imagens das coisas”, transforma a visão
em um paradigma fundamental para o conhecimento em sua totalidade, pois só conhecemos
propriamente as ideias que temos das coisas. Elas não podem ser entretanto as mesmas imagens
que recebemos dos sentidos, pois estas nada mais fazem do que nos apresentar sinais de um
conteúdo exterior, mas que nada se assemelham às ideias que formamos deles. A ideia cartesiana
é uma imagem sem ser efígie, ou seja, ela é imagem na medida em que mantém uma semelhança
com a coisa representada. Descartes entende a ideia na unicamente na classe da imitação, e tudo
que escapa dela cai no campo da obscuridade. Leibniz, por sua vez, não vai diferenciar a imagem
sensível da imagem inteligível no que concerne ao seu valor propriamente epistemológico. Essas
duas noções de imagem não diferem entre si em natureza, mas apenas em grau. Isso se deve
principalmente, como veremos, a uma reconsideração da relação entre a ideia e seu objeto, na qual
a noção de perspectiva, que é para Descartes uma prova da inadequação da imagem sensível que
se forma em nossos olhos, se torna um aspecto fundamental para compreender como se dá a
representação na substância, tanto em sua face sensível quanto em sua face inteligível.
Palavras-chave: Filosofia do séc. XVII, Leibniz, Descartes, Ideia, Imagem
Nome: Simone Teixeira Bernardo
Instituição: Universidade Estadual do Ceará - UECE
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ilana Viana do Amaral
Título: Indivíduo versus multidão: a existência na perspectiva kierkegaardiana
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Resumo: O texto propõe elucidar a concepção de existência apresentada pelo filósofo Sören A.
Kierkegaard baseando-se na diferença entre indivíduo e multidão. A concepção kierkegaardiana
de existência está diretamente ligada ao estado de consciência do individuo, a existência é medida
de acordo com o grau de reflexão que o indivíduo sustenta acerca de si e do mundo. Em outras
palavras a existência comporta a atividade de escolher-se a si mesmo na condição de indivíduo
singular. O existant, ou seja, o indivíduo na condição de agente subjetivo, não pode, segundo
Kierkegaard, ser englobado em uma racionalização inerentemente limitadora. O indivíduo
consciente situa-se no lado oposto aquele caminho da massa, da multidão. A multidão a que
Kierkegaard se refere é fundada na experiência social moderna, na qual o homem abre mão da sua
individualidade pelo coletivo, coletivo este composto por pessoas que se tornam anônimas, crentes
na existência de uma massa que age em conjunto e em benefício recíproco, a multidão é o ser todo
poderoso, mas absolutamente privado de arrependimento, que se chama: ninguém; (Ponto de vista
explicativo de minha obra como escritor. 1986. p 101), ou seja, uma grande ilusão. Dentro de uma
coletividade o indivíduo, enquanto singular, é anulado, ou melhor, alienado. A filosofia
kierkegaardiana propõe uma alternativa à massificação: a afirmação da subjetividade, a reflexão
acerca do dado, que Kierkegaard chama de suspensão teleológica. Essa suspensão é um grande
passo em direção à constituição da subjetividade, posto que enquanto esta não se apresenta o
homem apenas repõe sem refletir as exigências do geral.
Palavras-chave: Indivíduo, Existência, Kierkegaard
Nome: Stephanie Hamdan Zahreddine
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lívia Mara Guimarães
Título: Costume e hábito no livro I do Tratado de Hume: estudo filosófico-conceitual
Resumo: Desenvolvemos um estudo filosófico-conceitual do costume ou hábito no Livro I do
Tratado da Natureza Humana de David Hume, que analisa a originalidade da apropriação humiana
destes termos, quando comparada às abordagens de seus predecessores filosóficos e às definições
do dicionário.
É notável a preponderância dos termos costume e hábito no livro I – que trata da epistemologia –
quando comparado aos outros livros do Tratado. No primeiro livro, o termo ""custom"", e suas
variações com o mesmo sentido (""customary"" e ""accostumed""), aparecem cem vezes, e
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""habit"" e sua variação (""habitual""), trinta e sete vezes. Já no livro III, que versa sobre a moral
e é onde se supõe ser o principal campo de atuação de costumes – de acordo com a definição do
dicionário da época de Hume e das teorias de seus predecessores filosóficos –, Hume se refere ao
primeiro termo vinte vezes, e ao segundo, duas vezes.
É também notável a preponderância da utilização do termo costume, que aparece, somente no livro
I, mais que o dobro de vezes do que hábito. Se Hume realmente quisesse manter o termo com seu
sentido usual, seria mais natural que utilizasse o termo hábito com mais frequência no livro I, já
que este não está relacionado a práticas culturais e coletivas como costume, e tendo em vista que
este livro trata de mecanismos epistêmicos, que não são adquiridos, segundo ele, pela cultura ou
sociedade.
Mesmo reconhecendo o cuidado de Hume ao manter os significados usuais das palavras e ao deixar
claro, sempre que possível, o que quer dizer, para evitar confusões de linguagem que,
frequentemente, são causas de disputas filosóficas, as evidências textuais nos levam aos seguintes
questionamentos: quais são os motivos do filósofo para utilizar o termo costume em um sentido
distanciado do significado do dicionário e de seus predecessores filosóficos? E, ainda, qual o
motivo da vasta preponderância do termo costume sobre hábito?
Em vista destes questionamentos, argumentamos que Hume se apropria de maneira original do
conceito, originalidade esta que reside, não somente na ampliação do campo de atuação do costume
à epistemologia, mas também em três aspectos que somente estão presentes no conceito porque
ele atua na epistemologia, a saber: a existência de funções variadas do costume; seu estatuto de
princípio da natureza e princípio da natureza humana e a inevitabilidade de alguns mecanismos
produzidos por este princípio. Argumentamos, ainda, que a preponderância do termo costume
sobre hábito se relaciona a uma compreensão usual, à época de Hume, do primeiro termo, a saber,
à compreensão de que costumes podem se tornar lex non scripta - no caso da teoria de Hume, o
costume seria como uma lex non scripta da natureza humana.
Para isso, iniciamos com breve incursão na definição do dicionário e nas abordagens sobre o
costume e/ou hábito de dois predecessores filosóficos de Hume – John Locke e Joseph Butler.
Feito isso, partimos para a análise do conceito em Hume, que, diferentemente de seus
predecessores, estabelece o costume como um princípio de sua teoria do conhecimento.
Palavras-chave: Filosofia moderna, David Hume, Epistemologia, Costume
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Nome: Suzan Cristina dos Anjos
Instituição: Universidade Federal do Paraná - UFPR
Orientador: Prof. Dr. Luiz Repa
Título: A Metapsicologia Freudiana em Herbert Marcuse – Obsolescência e Provocação
Resumo: Em 1963, Marcuse pronunciaria em Nova York, na reunião anual da American Political
Science Association, a conferência que mais tarde seria publicada no Brasil sob o título
“Obsolescência da Psicanálise”. Nela, o filósofo irá afirmar que alguns princípios fundamentais
da teoria freudiana, ao contrário do que pensava o pai da psicanálise, teriam validade histórica.
Pretendemos, num primeiro momento, analisar a hipótese marcuseana de obsolescência da
psicanálise, ou seja, o motivo pelo qual Marcuse afirma a caducidade da teoria freudiana, para, em
seguida, compreendermos o estatuto do freudismo ao longo de sua obra. Para Marcuse, a sociedade
industrial avançada teria liquidado definitivamente com a figura balizadora do “Pai todo poderoso”
edipiano. A figura do pai enquanto protagonista de uma família responsável pelas primeiras
experiências de socialização e consolidação de valores necessários para a manutenção da ordem
capitalista, hierarquia e autoridade, por exemplo, perde totalmente o seu valor. No interior de uma
sociedade parricida, em seu sentido mais literal, a noção de “indivíduo” enquanto encarnação da
estrutura do aparelho psíquico freudiano (ID, EGO, SUPEREGO), teria sido superada. Aquele
antigo indivíduo se transformaria em massa. Nosso objetivo, aqui, é esboçar estas transformações
históricas que fazem com que Marcuse afirme a obsolescência da psicanálise, para que possamos
compreender o que motiva Marcuse a se manter fiel às suas “hipóteses mais provocadoras”. De
acordo com o teórico crítico, a psicanálise freudiana, ou melhor, a sua metapsicologia - ainda que
datada - possui uma “tendência oculta” a partir da qual é possível analisar a subjetividade que
sustenta e mantem o status quo, quer dizer, a metapsicologia freudiana funcionaria enquanto
instrumento que lança luz sobre os mecanismos de controle e repressão das pulsões conflitantes
com a manutenção da ordem. E que, em um só tempo, aponta para a superação desta mesma
realidade, isto é, a metapsicologia freudiana também serviria enquanto orientação para a
transformação da realidade.
Palavra chave: Teoria Crítica, Marcuse, Psicanálise freudiana, Obsolescência da psicanálise,
Emancipação
Nome: Tayrone Barbosa Justino Alves
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Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Orientador: Prof. Dr. Bento Prado de Almeida Ferraz Neto
Título: Subjetividade e Tempo na Fenomenologia de Husserl
Resumo: Edmund Husserl nasceu em 8 de abril de 1859 em Prosnitz (atual Morávia, Áustria). É
conhecido como o fundador da fenomenologia, linha de pensamento famosa no inicio do sec. XIX,
inaugurada com as Investigações Lógicas. Nesta importante obra Husserl tem dois objetivos, o
primeiro, denunciar os preconceitos psicologistas acerca da fundamentação da lógica; e o segundo,
fundamentar uma teoria do conhecimento que não caia nestes mesmos preconceitos. Mas a partir
de 1907 a fenomenologia toma rumos diferentes, com um curso sobre crítica do conhecimento,
que posteriormente é publicado com o nome de A Idéia da Fenomenologia. Este texto apresenta
certas mudanças com relação às Investigações, entre elas a introdução da redução fenomenológica.
Tais mudanças culminarão nas teses expostas nas Idéias para uma Fenomenologia Pura e para uma
Filosofia Fenomenológica. O objetivo da apresentação é investigar quais problemas levam Husserl
a reconsiderar algumas teses de sua teoria fenomenológica até 1900, além das consequências que
tais problemas trazem para a teoria fenomenológica em seu desenrolar posterior.
Trataremos de tais assuntos da seguinte maneira: num primeiro momento exporemos rapidamente
a teoria presente nas Investigações Lógicas. Nesta exposição pretende-se abordar as estruturas
presentes no ato de conhecimento. Por fim, num segundo momento visamos esclarecer os motivos
pelos quais Husserl é levado a reformular a concepção de subjetividade presente nas Investigações.
Esta reformulação se dá, e isto é o que tentaremos apontar devido a dois motivos: o primeiro é o
dilema que as estruturas presentes na fenomenologia de 1900 acarretam quanto à crítica do
conhecimento; o segundo se dá devido às novas considerações sobre o tempo.
Vale resaltar que este ultimo aspecto, a apreensão do tempo, é essencial para compreendermos as
mudanças feitas na teoria fenomenológica. Para tal empreitada utilizaremos além das
Investigações e A Idéia da Fenomenologia, as Lições para uma Consciência Interna do Tempo de
1905.
Palavras-chave: Fenomenologia, Subjetividade, Conhecimento, Tempo
Nome: Thiago Harrison Felício
Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Orientador: Prof. Dr. João Quartim de Moraes
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Título: Epicuro contra a predição
Resumo: Diógenes Laércio, em passo 135, atribui a Epicuro a ideia de que não há qualquer modo
de predizer o futuro. A predição de um futuro particularmente humano, no qual há a deliberação
pessoal em torno das ações, não pode ser legítima, porquanto o futuro não pode ser concebido
inteiramente como necessário, o que o torna impossível de ser anunciado previamente por um
terceiro - como o faria, por exemplo, um oráculo. Diante da impossibilidade da predição, todavia,
um problema se posta: como é possível situar a noção de necessidade em proposições que dizem
respeito ao futuro? Há dificuldade em mapear essa discussão, pelo fato de os passos 71, 72, de
Carta a Heródoto, nos quais o tempo é tido enquanto um acidente, ou enquanto um concomitante,
apresentarem, de um lado, uma terminologia técnica (sumbebekota, sumptomata), que não aparece
em nenhum momento em Carta a Meneceu e, de outro, pelo fato de existir uma lacuna no que toca
à exposição de como essa mesma terminologia daria conta da questão do futuro. Ademais, em
Carta a Meneceu, passo 127, Epicuro faz uma exposição sobre o futuro que, pela concisão, denota
que o tema já havia sido tratado em alguma outra correspondência, de maneira que, não obstante
a exposição ser clara, não conseguimos saber, com precisão, como está sendo entendida a
contingência do futuro. Pensamos, todavia, que essa dúvida ganha luz com a ajuda de testemunhos
tardios, de Cícero e Plutarco; nesse caso, Epicuro, no passo 127, estaria negando uma proposta
radical de necessidade sobre o tempo futuro, encetada a partir do Princípio de Bivalência
aristotélico. Com a phrónesis e a philosophía, Epicuro consegue negar a predição, sem condenar
toda discussão sobre o futuro à falta de um valor de verdade e, ainda, sem desconsiderar a
necessidade de alguns acontecimentos futuros.
Palavras-chave: Epicuro, Predição, Philosophía, Phrónesis
Nome: Tiago Brentam Perencini
Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Pelloso Gelamo
Título: Um olhar arqueológico sobre a escassez e a restrição do debate sobre o ensino de filosofia
no Brasil
Resumo: A presente pesquisa propõe uma história filosófica sobre o ensino de filosofia no Brasil.
Analisaremos o seguinte problema: Como ocorreu o debate sobre o ensino de filosofia nos
periódicos especializados em filosofia e em educação no Brasil? Tal pergunta ganha pertinência
126
com a desconfiança de que as produções sobre esse campo de pensamento no país foram escassas.
Temos a hipótese de que a discussão sobre ensino de filosofia no Brasil foi perspectivada sob
quatro diferentes enfoques: (1) do entendimento da importância do ensino da filosofia para a
sociedade, para a cultura e para a formação crítica do homem; (2) da reflexão sobre os temas e
conteúdos a serem ensinados e sobre o currículo; (3) da busca do entendimento metodológico do
ensino da filosofia; (4) e na procura pela abertura de uma nova frente para o ensino da filosofia: a
filosofia para (com) crianças. Com efeito, o nosso objetivo na pesquisa é verificar se essa hipótese
se confirma tendo como objeto de análise o mapeamento de vinte e cinco periódicos publicados
no Brasil entre os anos 1930 – início da criação das principais Faculdades de Filosofia no Brasil,
vide a criação da Faculdade de Filosofia da USP em 1934 - até 2008 – ano da aprovação da Lei
11.648/08 que institui a obrigatoriedade da disciplina Filosofia na educação média brasileira. O
referencial teórico para essa análise incorrerá no pensamento arqueológico de Michel Foucault.
Acreditamos que a tentativa de percorrer uma história filosófica do ensino de filosofia na produção
especializada dos periódicos possibilitará questionar de que modo os diferentes arquivos formaram
uma verdade discursiva – que eventualmente exclui outra possibilidade de verdade - sobre a
transmissão da filosofia no Brasil.
Palavras-chave: Ensino de Filosofia no Brasil, Arqueologia, Michel Foucault, Filosofia da
História Periódicos Brasileiros.
Nome: Tiago Mathyas Ferrador
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Caetano Ernesto Plastino
Título: O futuro do empirismo após van Fraassen: neoinstrumentalismo, empirismo contextual, e
empirismo social
Resumo: De início, nossa proposta de comunicação assenta-se no campo da Filosofia da Ciência,
partindo das formulações teóricas do renomado filósofo da ciência Bas van Fraassen, a fim de
expor pontualmente as teorias empiristas e antirrealistas atuais mais relevantes: o
neoinstrumentalismo de Kyle Stanford, o empirismo contextual de Helen Longino, e o empirismo
social de Miriam Solomon. Posto isso, van Fraassen notabilizou-se pela retomada bem-sucedida
do empirismo, na filosofia da ciência, desde o declínio do programa do empirismo lógico.
Destaque este angariado com sua teoria empirista da ciência: o empirismo construtivo, cujo
127
adversário era o realismo científico, de maneira que tal debate tornou-se o centro da agenda da
filosofia da ciência, nas últimas décadas do século XX.
Particularmente no empirismo construtivo, em que a crença envolvida na aceitação de uma teoria
é apenas sua adequação empírica, i.e., que uma teoria descreva corretamente os fenômenos
observáveis. Assim, van Fraassen alega que tal decisão por programas de pesquisa diversos
depende mais de elementos pragmáticos, pois a adequação empírica e a verdade não dariam conta
dos limites da observabilidade e dos compromissos programáticos da comunidade científica. Ou
seja, van Fraassen argumenta – esta é uma tese central do empirismo construtivo - que há razões
para crer (virtudes epistêmicas) e razões para aceitar (virtudes pragmáticas), porque a aceitação de
uma teoria envolve o comprometimento de que esta possa enfrentar os fenômenos através de seus
recursos próprios. Exposto isso, o neoinstrumentalismo de Kyle Stanford procura reforçar o
argumento da metaindução pessimista – classicamente proposto por Laudan -, por uma razão
bastante evidente: tal argumento junto com a tese da subdeterminação ainda são os bastiões da
defesa de qualquer teoria antirrealista da ciência. A saber, diante de teorias empiricamente
equivalentes, embora rivais, não podemos apelar para as suas ontologias, que seriam distintas, mas
sim devemos recorrer aos aspectos pragmáticos das teorias, donde, o argumento da
subdeterminação. Quanto às filósofas Helen Longino e a Miriam Solomon, ambas estão inseridas
no quadro das teorias da ciência pós-positivistas. Teorias estas que criticam a ideia de que a
objetividade científica é regida tão somente por valores epistêmicos: busca da verdade, da
adequação empírica, da simplicidade etc. Então, para as autoras, a escolha de teorias depende mais
de valores não epistêmicos, por exemplo, os interesses sociais, as inclinações e predileções
pessoais, as ideologias políticas etc. Dessa forma, o ponto chave aqui, para Longino e Solomon, é
a distinção entre valores epistêmicos e não epistêmicos. Célebre distinção firmada por Laudan, e
Lacey, a fim de mostrar que não seria possível aceitar uma teoria científica com base em uma regra
totalmente impessoal, em um cânone universal, ou em um algoritmo, já que sempre há certa
interferência de valores não epistêmicos na escolha das teorias. Enfim, tencionamos estabelecer
em nossa comunicação um diálogo fecundo e pontual entre van Fraassen, Kyle Stanford, Longino,
e Solomon acerca de suas teorias empiristas e antirrealistas.
Palavras-chave: Empirismo construtivo, Empirismo social e contextual, Neoinstrumentalismo
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Nome: Úrsula Passos
Instituição: Universidade de São Paulo - USP
Orientador: Prof. Dr. Celso Favaretto
Título: A singularidade da leitura greenberguiana de Kant nos Seminários de Bennington
Resumo: Em 1971, ao longo das nove noites dos seminários de Bennington, reunidos quase trinta
anos depois, o crítico de arte dos Estados Unidos Clement Greenberg apresentou o que seria sua
incursão mais importante no campo da teoria estética.Em 1939, Greenberg publicava na revista
norte- americana “Partisan Review” seu célebre artigo “Vanguarda e Kitsch”, que o ajudou a
lançar-se na carreira de crítico de arte.Os Seminários de Bennington e os artigos que deles se
originaram, publicados entre 1973 e 1979, foram recolhidos em 1999 no livro "Estética
Doméstica". Nestes textos, é possível ver surgir o que poderíamos chamar de uma teoria
greenberguiana do juízo estético e do gosto. Além disso, delineia-se ali a possibilidade do
aprimoramento do gosto através da frequentação constante e dedicada das artes.Segundo o filósofo
francês Yves Michaud, em seu livro “L’art à l’état gazeux”, o esforço teórico de Greenberg dá-se
no sentido de uma "estética talhada para o modernidade". O crítico se calará ou maldizerá sobre a
arte feita a partir dos anos 60 e nos anos 70.Ainda que um esboço de estética, realizado por um
crítico de arte autodidata, ele faz ali uma leitura singular de Kant, transformando alguns conceitos
presentes na "Crítica da Faculdade de Julgar" para que sirvam melhor a seus objetivos. Entre eles,
a questão da universalidade do juízo estético e o tema do sublime.Buscamos reconstituir nesse
trabalho os principais argumentos de Greenberg, afim de caracterizar sua leitura de Kant,
evidenciando as transformações e torções operadas por ele no pensamento kantiano.
Palavras-chave: Greenberg, juízo estético, Estética Doméstica, Seminários de Bennington
Nome: Valdir de Volpato Fornel Junior
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP
Orientador: Prof. Dr. Márcio Alves da Fonseca
Título: A questão do Governo Pastoral em Segurança, Território, População de M. Foucault
Resumo: Ao longo da década de 1970, Michel Foucault realiza em suas investigações filosóficas
aquilo que se nomeia por “analítica do poder”, o que constitui uma série de análises sobre o poder,
poder esse que não deve ser compreendido como natureza, essência, mas como relação,
mecanismos, ou seja, como é o poder e não o que é o poder. As principais noções desenvolvidas
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pelo pensador nesse período de produção é a questão da disciplina e a questão da arte de governar.
É no bojo desse pensamento que se encontra o tema do liberalismo, cuja perspectiva se afasta da
análise clássica ao realizar uma ampliação do campo teórico, cuja perspectiva centralizar-se-á no
governo da vida, ou na conduta dos homens.
O objetivo do presente texto é realizar uma breve análise acerca do tema desenvolvido por Michel
Foucault a respeito do Governo Pastoral, no curso ministrado no Collège de France em 1978,
intitulado “Sécurité, Territoire, Population”. Tal análise aponta para uma compreensão geral do
pensamento que é desenvolvido pelo autor ao longo de sua pesquisa
Não é a intenção do filósofo francês realizar uma análise que sistematize seu pensamento. Antes,
realiza uma tarefa de investigação, que se lança em hipóteses, possibilidades e esboços para
encontrar um novo caminho. Seu método, afirma o autor, é a Lógica da Estratégia.
Na aula de 08 de fevereiro de 1978, após Foucault levantar a suspeita de que o governo dos homens
não é algo que se encontra na literatura ou na concepção greco-romana, o pensador sugere que sua
busca se lance em outra direção daquela que é comum aos estudos no Ocidente. Sua suspeita leva-
o a buscar outras referências para aquilo que se compreende por governo dos homens, que em seu
modelo arcaico, recebe o nome de Governo Pastoral. Tais referências devem, segundo o autor,
serem investigadas a partir do Oriente pré e pós cristão.
Para Michel Foucault, a temática a respeito do governo dos homens se encontra na literatura do
Oriente Mediterrâneo, entre os povos egípcios, assírios, mesopotâmios e principalmente entre os
hebreus. Nessa literatura específica notoriamente encontra-se a figura do rei, do chefe e de Deus
como pastor em relação aos homens, seu rebanho. A associação entre Deus e o rei é algo comum
nessas civilizações, visto que ambos ocupam-se do mesmo papel, cuidar, zelar, pastorear o mesmo
rebanho. O pastorado é um tipo de relação fundamental entre Deus e os homens, onde o rei é aquele
que recebe tal missão das mãos de Deus
O presente estudo aponta algo de singular no curso da história: “as nossas sociedades” – as que
surgiram no final da Antiguidade no lado ocidental – foram as mais agressivas e conquistadoras,
foram capazes de violências estupefacientes. Elas inventaram grande número de formas de
políticas diferentes. Modificaram suas estruturas jurídicas, inventaram diferentes políticas,
desenvolveram uma estranha tecnologia do poder, ao tratar a maioria dos homens como rebanho
com um punhado de pastores. Palavras-chave: Governo da vida, Governo dos homens,
Governo pastoral
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Nome: Vandré Kopcak
Instituição: Universidade Federal do ABC - UFABC
Orientador: Prof.ª Dr.ª Margarethe Born Steinberger-Elias
Título: Campo da educação científica no Brasil: genealogia e condições de produção
Resumo: A presente pesquisa intenta a reflexão sobre o campo da “educação científica’ no Brasil,
partindo de uma análise fundamentada epistemologicamente na genealogia desta expressão e
explorando marcas discursivas que denotem a evolução de sua trajetória como conceito e campo
de saber. A pesquisa da genealogia e das condições de produção deste campo será realizada com
base em uma visão mais geral e histórica até a exploração de sua materialização linguística através
do vocabulário utilizado em publicações sobre educação científica constantes no banco de teses e
periódicos da CAPES. Com apoio de métodos da Cienciometria e da Análise de Discurso de linha
francesa, serão identificadas marcas discursivas que possam ser associadas às transformações e
rupturas históricas que tenham ocorrido no campo da educação científica brasileira. A delimitação
de conjuntos de recortes discursivos será inspirada nos conceitos de genealogia e arqueologia dos
saberes de Michel Foucault, iniciado a partir de considerações extemporâneas de Nietzsche como
viés crítico ao conceito tradicional de ciência. O tratamento dos conjuntos de recortes discursivos
tomará como referência o conceito de campo apresentado por Pierre Bourdieu, aqui abordado em
sua representação lexicográfica. Os resultados esperados são, em primeiro lugar, contribuir para
uma visão genealógica do conceito de educação científica no Brasil, evitando o tratamento
apriorístico que geralmente lhe é dado. Em segundo lugar, contribuir para a criação de uma
metodologia mista para a abordagem genealógica de um campo de saber, equilibrando o trabalho
qualitativo concebido no viés da Análise do Discurso de linha francesa (em sua proposta
construtivista) e o enfoque quantitativo da Cienciometria (em sua abordagem empírica
convencional). A investigação sobre o campo educacional científico brasileiro também poderá
revelar aspectos de sua dinâmica e permeabilidade a interferências.
Palavras-chave: Educação científica, Análise do discurso, Cienciometria, Lexicografia, Brasil
Nome: Willian Ricardo dos Santos
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Orientador: Prof. Dr. Newton Bignotto de Souza
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Título: Do Uno ao Múltiplo: A Ontologia do diálogo De la Causa de Giordano Bruno
Resumo: Giordano Bruno (1548-1600), ao falar de sua obra, afirma que é do diálogo De la Causa
Principio et Uno que “derivam a tessitura, a disposição e a ordem das ciências especulativas” .
Como o texto em questão serve de base para deduções subsequentes dos Dialoghi Italiani é então
importante que se evite possíveis confusões que cercam o conceito de substância (Uno) que a obra
apresenta.
No De la causa a tese defendida é a da unidade e imutabilidade de uma substância mais elementar
que todas as entidades particulares, e é a partir da substância que tudo vem a ser. Mas como adequar
tal concepção com o fato de que aquilo que é percebido na natureza não é uma unidade imutável,
mas sim uma multiplicidade de particulares em eterno devir?
Bruno procura justificar a indiferença ontológica entre a unidade da substância e a multiplicidade
do universo apoiando-se nos conceitos complicatio e explicatio da filosofia de Nicolau de Cusa.
Do desdobramento ou explicação do Uno – que tem em si todos os opostos de forma complicada
– origina-se a diversidade e multiplicidade. Neste processo não há em nenhum momento a criação
de algo que seja inteiramente novo, senão o desenvolvimento do que já estava presente no Uno de
forma complicada. Em oposição direta à creatio ex nihilo está a teoria bruniana da explicação,
segundo a qual o universo não é senão o Uno de modo desdobrado.
O objetivo deste trabalho é apresentar um possível problema, a saber, que o desdobramento
(explicatio), caso seja compreendido como uma evolução física, isto é, ontológica, pode então
tornar incoerente a tese da imutabilidade do Uno por envolver algum tipo de alteração. Apresenta-
se então uma interpretação alternativa, que visa evitar esta inconsistência. A hipótese é a de que a
função do conceito explicatio em De la Causa é lógica e não ontológica; caso tal hipótese proceda,
haveria dependência lógica da multiplicidade em relação ao Uno, mas não a evolução de uma coisa
à outra.
Palavras-chave: Metafísica, Monismo, Renascimento