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Shirley Lira
Aline Viégas
Experiências não literais sobre
Ciências e Gêneros Textuais:
Caderno de orientações pedagógicas
Rio de Janeiro, 2020
Experiências não literais sobre
Ciências e Gêneros Textuais:
Caderno de orientações pedagógicas
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Shirley Lira
Aline Viégas
Experiências não literais sobre
Ciências e Gêneros Textuais:
Caderno de orientações pedagógicas
1ª Edição
Rio de Janeiro, 2020
L768 Lira, Shirley dos Santos
Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros Textuais:
Caderno de Orientações Pedagógicas / Shirley dos Santos Lira;
Aline Viégas Vianna. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Imperial
Editora, 2020.
97 p.
Bibliografia: p. 96-97.
ISBN:978-65-5930-072-3
1. Ciências – Estudo e ensino. 2. Anos iniciais do ensino
fundamental – Estudo e ensino. 3. Gêneros textuais. 4. Letramento
científico. I. Vianna, Aline Viégas. II. Título.
CDD: 507
COLÉGIO PEDRO II
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA, EXTENSÃO E CULTURA
BIBLIOTECA PROFESSORA SILVIA BECHER
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Simone Alves – CRB 7: 5692.
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RESUMO
Este produto é formado por parte da pesquisa desenvolvida no mestrado
profissional em Práticas de Educação Básica do Colégio Pedro II e também
por algumas aulas aplicadas e aplicáveis na mesma perspectiva do ensino
de Ciências, sobre a qual estendemos nosso olhar para a vertente Ciência,
Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA). Esse caderno de orientações
pedagógicas pretende abarcar, nas atividades elencadas, as possibilidades
da utilização dos gêneros textuais nas aulas de Ciências, com abordagem
CTSA. Tenciona-se aplicar textos literários e não literários como
estratégia/instrumento de dinamização, apreciação e registro das aulas de
Ciências Naturais, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
oportunizando condições de discutir, refletir, analisar, questionar e
contemplar a ciência da vida e dar luz à vida da ciência tanto nos
acontecimentos mais cotidianos como também nos fatos universais,
proporcionando ao educando uma experiência menos técnica e mais
humana para compreensão dos fenômenos, problemas e assuntos
estudados. Como proposta, procuramos desenvolver atividades cujos eixos
sejam considerados possibilidades para o ensino de ciências a partir dos
gêneros textuais, utilizando textos literários e não literários, levando em
consideração também o viés interdisciplinar das propostas e a
complexidade em que são envolvidas.
Palavras-chave: Ensino de Ciências; Anos Iniciais do Ensino Fundamental;
Gêneros textuais, Letramento científico; Interdisciplinaridade.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Perfil humano formado com remédios................................. p.38
Figura 2 – Tirinha do Armandinho.........................................................p.41
Figura 3 – Caixa “Poesia um santo remédio” ...................................... p.46
Figura 4 – Frasco “Poesia um santo remédio” ..................................... p.46
Figura 5 – Foto da Bula “Poesia um santo remédio” ................................ p. 47
Figura 6 – Desenho da Cadeia Alimentar ............................................ p. 59
Figura 7 – Texto do aluno (Resumo) ................................................... p. 60
Figura 8 – Cordel produzido por aluno ................................................ p. 61
Figura 9 – Print da página Hortiflix, da empresa Hortifruti ................ p. 62
Figura 10 – Print da página de exposição dos filmes .......................... p. 63
Figura 11 – Produção 1 de conto de aventura realizada por aluno....... p. 79
Figura 12 – Produção 2 de conto de aventura realizada por aluno....... p. 80
Figura 13 - Produção 3 de conto de aventura realizada por aluno ....... p. 81
Figura 14 - Apresentação da Proposta 2............................................... p. 92
Figura 15 - Apresentação da Proposta 3............................................... p. 92
Figura 16 - Apresentação da Proposta 4................................................p. 92
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Música “A alma e a Matéria” ........................................... p. 26
Quadro 2 – Música “A Ciência e a Religião” ...................................... p. 30
Quadro 3 – Texto I ............................................................................... p. 38
Quadro 4 – Texto 2 ...................................................................................... p. 39
Quadro 5 – Texto 3 ................................................................................... p. 41
Quadro 6 – Texto 4 ................................................................................... p. 42
Quadro 7 – Texto 5 .............................................................................. p. 44
Quadro 8 – Texto 6 .............................................................................. p. 46
Quadro 9 – Texto 7 .................................................................................... p. 47
Quadro 10 – Atividade Cadeia Alimentar ........................................... p. 52
Quadro 11 – Atividade de Interpretação .............................................. p. 54
Quadro 12 – Texto “Um problema chamado coiote” .......................... p. 56
Quadro 13 – Texto “De pergunta em pergunta” .................................. p. 57
Quadro 14 – Atividades Interpretativas/Comparativas ....................... p. 58
Quadro 15 – Reportagem sobre a Hortiflix ......................................... p. 66
Quadro 16 – Tabela de links e filmes/paródias ................................... p. 69
Quadro 17 – Apresentação da proposta ............................................... p. 86
Quadro 18 – Aula 1 sobre Alimentos .................................................. p. 87
Quadro 19 – Aula 2 sobre Alimentos .................................................. p. 88
Quadro 20 – Aula sobre Alimentação/Sistema Digestório .................. p. 90
Quadro 21 – Quadro resumo dos gêneros textuais ............................. p. 94
SUMÁRIO
1. Do porquê disso tudo .......................................................................................... 10
2. Apresentação ...................................................................................... 199
3. As atividades propostas ....................................................................... 20
Unidade I: Música "A alma e a matéria" e a Ciência em tudo..............................26
Unidade II: Música "Ciência e Religião": um passeio histórico-científico...........30
Unidade III: Da bula à crônica: drogas lícitas e ilícitas.........................................35
Unidade IV: Do conto ao cordel: cadeia alimentar...............................................48
Unidade V: Propaganda e contos de aventura: alimentação em foco....................62
Unidade VI: Projeto Sacola Científica: da injunção ao relato...............................82
4. Quadro resumo .......................................................................................... ............93
5. Algumas considerações .......................................................................................95
Referências bibliográficas .....................................................................................96
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O produto
É uma mistura de tudo que já fiz
Com algumas coisas que planejei
Recheado com observação de aprendiz
E sugestões a partir do que estudei
É um mix de vários planos de aula
Opção válida para muito professor
Sobre Ciência, vida, leituras e alma
Construído com calma e bastante amor
É da minha pesquisa o real espelho
Teorias e práticas aqui refletidas
É o formato de um livro-conselho
De que aulas podem mudar vidas!
Shirley Lira
10 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
1 Do porquê disso tudo
Iniciarei esse trabalho tentando me situar, para o leitor, nesse projeto
que há tempos me dediquei. Espero aqui explicar o porquê de esse produto
ser o que é, como é, subjetiva e tecnicamente, para justificar o processo de
imbricamento com quem o fez, tão comum na geração/gestação de um
produto de mestrado profissional ao qual me submeti no Colégio Pedro II.
Para facilitar, didaticamente falando, exponho meu trajeto com a
ciência em três partes:
A ciência da vida – Minha infância
Nasci em um lar demograficamente grande, fui a oitava pessoa a
habitar naquele lugar, que tinha mais quintal do que casa construída. A
área na qual brincávamos, de tão extensa, assemelhava-se a um sítio,
granja ou coisa do tipo. E nela a vida selvagem não parecia tão distante
para quem morava no centro da capital paraibana. Foi nesse ambiente que
tive experiências com a ciência “in natura”, in loco, convivendo com
animais diversos, desde excêntricos insetos até cobras que disputavam as
árvores nas quais me pendurava ao brincar de “cada macaco no seu galho”
com meus primos, amigos e irmãos. Foram essas pueris experiências e
vivências com a diversidade da natureza que incutiram em mim o apreço
pela ciência, e tais práticas nessa conjuntura fomentaram minha
imaginação, curiosidade e prontidão para descobrir, conhecer e
experimentar tudo ao meu redor.Cheguei à fase escolar com um cabedal de
práxis científicas autônomas sobre as quais – hoje eu sei – não podia falar
porque elas revelavam, também, a vulnerabilidade na qual vivia, para uma
criança de tão pouca idade cuja mãe trabalhava dois expedientes e a
deixava sob a tutela de uma prima nada cuidadosa. Eu era a criança solta
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no quintal, com os chinelos no cotovelo para facilitar a corrida. Eu era a
criança que via os furinhos no muro da vizinha e sabia que eles tinham sido
feitos por algum animal para colocar ali seus ovos. E por ter essa hipótese,
sempre me aventura a quebrar o orifício para ver o que tinha dentro. Nascia
ali a minha veia arqueológica. As reclamações da dona do muro não eram
maiores do que minha alegria ao ver os ovos de lagartixa, miúdos, num
ninho de cimento. Depois, saia pelo bairro, vendo qual casa estava em
reforma para pedir um pouco de cimento e consertar as minhas pedradas no
muro das casas 58 e 76. Nessas de achar ovinhos, também achei ovos de
cobra. Foi fantástico ver/saber a diferença. Manuseei tanto quanto pude os
tipos de ovos, vi textura da casca, quebrei alguns sem querer, vi eclodirem
também muitos outros – pata, pomba burguesa, galinhas, lagartixas e
cobras. Dessa última espécie ficou o medo de a mãe cobra vir me pegar à
noite para rever os ovos, assim me atormentavam os mais velhos, como
justificativa para eu parar com minhas investiduras. Quem disse isso, hoje
sei, não sabia de ciência, sabia de criação de lendas, causos. E com esses
dois fatos, um dia, criei uma história sobre o suposto retorno na cobra para
cobrar seus filhotes.
A vida da ciência – Minha escolarização
Foi no ambiente escola que me foi revelada a nomenclatura das
coisas que na mais tenra idade eu já conhecia: classificação dos grupos de
animais, tipos de reprodução, fenômenos da natureza, dentre outras
especificidades. O livro de ciências era muito apreciado por mim. Lia-o
como quem lê gibi ou qualquer livro de história. Havia sempre uma
sensação de perda ao perceber que nunca conseguíamos estudar o livro
12 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
todo, sempre aconteciam greves que atravancavam o estudo mais
sistemático dos assuntos abordados nos livros, em todas as matérias. Os
assuntos de Ciências passaram pelos meus anos iniciais sem grandes
destaques, a não ser o período de estudo, no quinto ano, dos sistemas do
corpo humano. Lembro-me dos desenhos nas cartolinas, com as quais
apresentei cada sistema. Nos anos finais do ensino fundamental, Ciência
passou mais em branco do que “cabeça de aluno que não estuda para a
prova”. Foi nessa fase que comecei a sentar no fundão da sala para me
livrar do professor de Ciências que interpelava os alunos sobre os
conceitos do capítulo que ele mandava estudar previamente. Tomei trauma
dessa dinâmica. Tive a falta de sorte de ser chamada primeiro em uma aula
e o professor – Aderaldo, lembro bem! - queria saber o que era aquele
“negocinho que parece o coador de café e que mostra a direção do vento”.
Foi assim que eu consegui responder, não me lembrava do termo científico
“biruta”, o que causou risos da turma. Eu estava no sexto ano quando esse
episódio aconteceu. Nos demais anos do ensino fundamental, não recordo
de nada que valesse a pena expor. No oitavo ano houve um
aprofundamento do que eu já havia estudado sobre o corpo humano. E no
nono ano, vimos o ano inteiro o assunto “misturas homogêneas e
heterogêneas”, sem sequer fazer alguma aula prática. O professor
desenhava no quadro e nós copiávamos. No ensino médio, nada de novo.
Eu era normalista e só estudávamos Ciências/Biologia no primeiro ano.
Nos demais anos, víamos apenas a Didática das Ciências. Ainda nessa
escola, tive conhecimento de alguns métodos de coleta e instrumentos de
investigação, como microscópios, pipetas e aulas em um laboratório. Isso
foi no primeiro ano. O professor se chamava Creginaldo (Sim, e ele não
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tinha apelido nem gostava de ser chamado de outra forma!). Era o terror da
escola. Reprovava muitos alunos. A minha vizinha, dona do muro
escavacado - que estudava na mesma escola que eu - já tinha me falado
dele. Ela estava cursando o primeiro ano pela terceira vez e sempre por
causa desse professor. Passei nele sem problema. Queria me livrar, era
chato e o que ele ensinava ficava tão chato quanto ele, embora eu gostasse
de retirar mucosa das bocas dos colegas, folhas das árvores, fios de cabelo,
até piolho, formiga ou qualquer outra coisa que viesse à mente e analisar
no laboratório. Pela descrição acima, percebe-se que não houve nenhuma
experiência marcante, nenhum professor que despertasse minha atenção
para as Ciências. Eu aqui e ela lá! A Ciência existia, mas era, pra mim,
coisa longínqua. No máximo, coisa de gente que estuda muito para passar
no vestibular para medicina, coisa do tipo, ou ainda era um jeito científico
de nos manter informados dos acontecimentos. Nada mais que isso.
Tomando ciência – Minha inserção
Os anos transcorreram sem alarde. Concluí o curso normal e segui
para a universidade. Deixei de ser normalista para ser universitária.
Cursava Letras na UFPB e nesse curso nem de perto víamos alguma coisa
de Ciências/Biologia. Eu estudava pela manhã e lecionava à tarde, turmas
do 1° ao 5º ano. Nesse segmento de ensino, prossegui reproduzindo
“aquelas” aulas que tive no meu processo de escolarização. Se muito fazia
era trazer novidades/curiosidades dos animais para meus alunos (coisa que
sempre gostei de saber também!), sempre introduzia alguma aula lúdica,
com jogos de memória ou quiz, mas não tinha nenhum encanto para o
ensino de Ciências. Ao finalizar o curso de Letras, em 2001, passei a
14 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
trabalhar em outros segmentos e foi aí que me distanciei mais da Ciência.
Até que, em 2003, ao participar de uma capacitação, patrocinada por uma
das cinco escolas que lecionava, conheci Manuel de Barros, com o texto
Lacraia, do seu livro Primeira Infância: “Um trem de ferro com vinte
vagões quando descarrila, ele sozinho não se recompõe. A cabeça do trem,
ou seja, a máquina, sendo de ferro não age. Ela fica no lugar. Porque a
máquina é uma geringonça fabricada pelo homem. E não tem ser. Não tem
destinação de Deus. Ela não tem alma. É máquina. Mas isso não acontece
com a lacraia. Eu tive na infância uma experiência que comprova o que
falo. Em criança a lacraia sempre me pareceu um trem. A lacraia parece
que puxava vagões. E todos os vagões da lacraia se mexiam como os
vagões de trem. E ondulavam e faziam curvas como os vagões de trem. Um
dia a gente teve a má idéia de descarrilar a lacraia. E fizemos essa
malvadeza. Essa peraltagem. Cortamos todos os gomos da lacraia e os
deixamos no terreiro. Os gomos separados como os vagões da máquina. E
os gomos da lacraia começaram a se mexer. O que é a natureza! Eu não
estava preparado para assistir àquela coisa estranha. Os gomos da
lacraia começaram a se mexer e se encostar um no outro para se
emendarem. A gente, nós, os meninos, não estávamos preparados para
assistir a àquela coisa estranha. Pois a lacraia estava se recompondo. Um
gomo da lacraia procurava o seu parceiro parece que pelo cheiro. A gente
como que reconhecia a força de Deus. A cabeça da lacraia estava na
frente e esperava os outros vagões se emendarem. Depois, bem mais tarde,
escrevi este verso: “Com pedaços de mim eu monto um ser atônito. Agora
me indago se esse verso não veio da peraltagem do menino. “Agora quem
está atônito sou eu.” (BARROS, 2003, p.36) Na capacitação de Língua
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Portuguesa, compreendi a riqueza de uma abordagem mais ampla – à
época, engatinhávamos na desconhecida interdisciplinaridade – e a
importância da escolha de bons textos para extrapolar interpretações e
diluir as barreiras do conhecimento. Além do material que o pessoal da
editora famosa queria vender (por sinal, caríssimo!), eles ressuscitaram em
mim a ciência da vida, aquela criança que, tal qual o menino do texto,
brincava com lacraias, escorpiões, lagartixas, e tudo parecia ter uma beleza
que a natureza se encarregava de revelar; meu papel era apenas viver e
observar. Essa abordagem ficou incubada em minha mente e desde então
mudei meu olhar para os textos que escolhia ao selecionar para trabalhar
com meus alunos. Em 2009 vim para o Rio de Janeiro, tentar fazer um
mestrado, me capacitar mais. Nesse ínterim, prestei concurso para o
Colégio Pedro II. Eu não conhecia o colégio nem a fama histórica dele. Por
questões de número de vagas, preferi pleitear uma no departamento dos
Anos Iniciais e deixei de lado o departamento de Língua Portuguesa. De
acordo com o edital, o Curso Normal me habilitava a fazer isso.
Consolava-me o coração sentir que poderia voltar para o segmento de
ensino do qual eu não deveria ter saído. Eu amava trabalhar com essa faixa
etária de crianças dos anos iniciais. Mas na época da faculdade fui muito
criticada por lecionar pra as crianças e não para o ensino médio. Criou-se
uma cultura preconceituosa de que nesse segmento, para se ensinar aos
pequenos, não precisaria mais do que o curso normal. Eu achava isso um
absurdo. Só deixei de trabalhar com as crianças quando passei no concurso
do Estado, em 2001, ano em que me formei na UFPB. Desculpem a
diacronia, vamos voltar ao Colégio Pedro II. Lá obtive êxito e, no ano
seguinte, em 2010, fui convocada para assumir o cargo efetivo nessa
16 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
instituição. Qual não foi minha surpresa ao saber que, pela demora em me
apresentar (pois tinha voltado para João Pessoa para visitar minha família),
restava apenas um cartão (opção de trabalho): o do laboratório de Ciências.
A empolgação de me encontrar concursada em uma instituição federal me
fazia achar qualquer desafio pequeno diante dos absurdos
pedagógicos/acadêmicos que tivera vivido na minha cidade natal e nessa
cidade maravilhosa, sem falar nos abismos sócio-econômicos desse meu
novo habitat. É claro que topei ocupar aquele espaço de aprendizagem.
Fiquei no Laboratório de Ciências sem saber o que me esperava, tampouco
que nesse ambiente eu sofreria uma mutação, não genética, mas discursiva
e que daria início à metamorfose didático-pedagógica que hoje sou. Foi
assim que vim parar nessa seara científica. Nos dois anos seguintes,
lecionei no laboratório de Ciências, todas as turmas eram minhas. Fiz
projetos com as disciplinas de Literatura, Artes e Informática Educativa.
Era estranho estar desenvolvendo atividades planejadas com minha
coordenadora bióloga e eu, de Letras. Era estranho também a minha
intensa familiaridade com aquilo tudo, com as experiências, com as
pesquisas, o trato com os animais, ao ponto de escutar dos colegas e dos
pais de alunos que eu tinha nascido para aquilo, depois de me perguntarem
sobre minha formação – se veterinária ou bióloga? – e, surpresos,
descobrirem que eu era da área de Língua Portuguesa.Eu não tive escolha,
aliás a minha não-escolha foi meu destino, meu caminho percorrido para
minha alfabetização científica, letramento científico, por que não dizer?
Foram dois anos de muitos “aprendimentos”! Nos anos de 2012 e 2013, fui
nomeada coordenadora de Língua Portuguesa, mas meu coração ficou lá,
fazendo experiências no Laboratório de Ciências. Minha razão era textual e
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minha emoção, experimental. Em 2014 e 2015 voltei a dar aulas de Língua
Portuguesa e nessas aulas pude unir minhas paixões: gêneros textuais e
ciências. Por causa de uma regulamentação interna, a disciplina de
Ciências passou a ser dividida pelos professores que lecionavam
Matemática e Português. Cada professor ficava com uma turma de
Ciências e ainda a acompanhava nas aulas do Laboratório de Ciências, que
tinha outro professor específico. Tenho as mais profícuas lembranças e
registros dessas aulas. Aproveitava cada momento, fazia aprofundamento
dos conteúdos, revisão, provas, tudo encharcado de Ciência, ao ponto de os
alunos não se importarem mais em fazer a diferença se estávamos tendo
aula de Ciências ou do Português, tal era o emaranhado dos textos e
abordagens que fazíamos. Delas nasceu o desejo de fazer um mestrado
nessa área, desse jeito que você, leitor professor, vai conhecer. Em 2017 e
2018 retornei ao Laboratório de Ciências, Tinha todas as turmas da tarde.
Como professora bi docente neste espaço de aprendizagem, continuei
fazendo experiências não literais com Ciências e gêneros textuais, sobre as
quais falaremos logo em seguida. Em 2019 retornei às aulas de Português
para turmas de 4º ano, no turno da tarde. Atualmente estou como
coordenadora de Língua Portuguesa, novamente. Lugar que me permite
pensar sobre as práticas pedagógicas, metodologias de ensino e criar, é
claro, dentro desse amálgama que me tornei através das experiências
literais e não literais com a Ciência e os gêneros textuais.
Fiz todo esse percurso para assegurar a você que não tive uma
formação formal dentro da área de Ciências, que é possível ensinar e ser
ensinado ao se fazer Ciências numa proposta que esteja centrada no
desenvolvimento dos saberes, cujos objetos de estudo estejam engajados na
18 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
complexidade da vida, fora e dentro da escola. Fui gerada, cientificamente,
no seio do meu trabalho, instrumentalizada para as aulas que levavam um
toque da minha formação acadêmica de Licenciatura em Letras. A
perspectiva do Ensino de Ciência CTSA (proposta de ensino que que
estabelece relações entre a Ciência, a Tecnologia, a Sociedade e o
Ambiente) foi preponderante para que minhas incursões fossem aceitas,
assim como a boa vontade em aceitar um novo olhar, e, consequentemente,
uma nova prática, foi essencial para que eu crescesse, me expandisse e
tornasse mais tênue as barreiras das disciplinas em busca do aprendizado.
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2 Apresentação
Com este caderno de orientações pedagógicas, estamos propondo
sugestões para professores dos Anos Iniciais que queiram abordar, nas
aulas de Ciências, numa perspectiva da Ciência, Tecnologia, Sociedade e
Ambiente (CTSA)1, conceitos científicos a partir da utilização de gêneros
textuais diversos, como estratégia da aula. Desse modo, com a produção
destas atividades, não se pretende criar regras, bulas ou receitas prontas
para as aulas de Ciências, tampouco requerer do professor que ele se limite
ao que se propõe com esse produto, mas sim apontar caminhos e ideias que
possam contribuir para a viabilização de um Ensino/Aprendizado de
Ciências mais reflexivo, sensível, amplo e transformador a partir do estudo
de seus conceitos através dos gêneros textuais. Fundamentaremos as
propostas pedagógicas aqui elencadas pelo viés CTSA e faremos uso da
linguagem como premissa para compreensão e execução das propostas, de
acordo com o conceito de análise do discurso, construído a partir dos
escritos de Mikhail Bakhtin, para elucidar aspectos sobre os gêneros
textuais nas aulas de Ciências, campo de enunciação dos gêneros primários
e secundários, dentro da realidade escolar; aspecto conceitual discutido
1 A abordagem CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) é um
movimento científico cultural da área do ensino da Ciência cuja história se
desenvolveu concomitante aos avanços da Educação, Tecnologia e a Sociedade,
mundialmente falando, e no Brasil a corrente CTSA se expandiu no final da
segunda metade do século XX até os dias atuais, ganhando força e projeção nas
escolas por causa das possibilidades de aberturas para outros saberes nos campos
das Ciências e áreas afins.
20 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
detalhadamente na dissertação que acompanha esse produto As atividades
pedagógicas foram elaboradas em consonância com a concepção do Ensino
de Ciências na perspectiva CTSA e as possibilidades interdisciplinares que
os gêneros textuais escolhidos abarcariam nas aulas de Língua Portuguesa
e nas aulas de Ciências. Esta proposta foi elaborada e aplicada junto a
alunos do 4° e 5° anos dos Anos Iniciais, no Colégio Pedro II, situada em
Realengo, bairro do município do Rio de Janeiro – RJ. Levando em
consideração essas experiências não literais nas aulas de Ciências, ao
utilizar gêneros textuais como meio e método de ensino, é possível ver tais
atividades como estímulos pedagógicos necessários ao professor para por
em prática uma proposta pedagógica, com diversas áreas do conhecimento,
que seja composta não somente por métodos científicos, mas também de
sensibilização para ampliar a visão dos temas discutidos. O presente
trabalho foi desenvolvido tendo como base orientações para docentes,
especificamente dos Anos Iniciais, e foi construído paralelamente à
pesquisa de mestrado profissional (MPEEB - CPII) “Ciências e Gêneros
textuais nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: uma experiência não
literal” a partir de um processo contínuo de ação-reflexão-ação das práticas
pedagógicas vivenciadas, planejadas e realizadas ao longo da minha
formação continuada no Colégio Pedro II e no encaminhamento dessa
pesquisa.
3 As atividades propostas
O produto educacional apresentado é um caderno de orientações
pedagógicas que se constitui de atividades aplicadas e/ou planejadas nas
aulas de ciências do Colégio Pedro II, a partir da abordagem CTSA, cuja
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estratégia didático-pedagógica é introduzir textos literários e não literários
para alcançar com os alunos a apreensão/compreensão crítica dos conceitos
científicos estudados em cada proposta.
Com essa proposição de ilustrar o trabalho interdisciplinar entre a
área curricular das Ciências Naturais e a área da Linguagem, através do
uso de diversos gêneros textuais – literários e não literários –, recorreremos
a algumas atividades que, em geral, especificam a visão de Ciência da qual
partimos, na perspectiva CTSA, bem como a tendência de essas atividades
nos levarem a compreender o conteúdo/conhecimento e a prática social da
Ciência através de textos escolhidos.
A ordem das atividades não obedece a nenhum critério relacionado
ao segmento escolhido (Anos Iniciais do Ensino Fundamental), nem
pretendemos elencar por séries e/ou por conteúdo/tema, nesse primeiro
momento, como é de costume verificar em outros produtos, pois as
possibilidades criadas para o ensino de ciências pelo viés da utilização
pedagógica de uma diversidade de gêneros textuais, literários e não
literários, são por demais abrangentes e fogem à regra da clássica
categorização temática das disciplinas. Então as atividades aqui descritas
seguem um fluxo de criação integralista dos saberes que os assuntos e
textos trabalhados podem abranger.
Ainda sobre os assuntos/temas abordados e as possibilidades de
exploração/aproveitamento dos mesmos, organizaremos um quadro resumo
com o que conseguimos catalogar acerca dos gêneros textuais utilizados e
as correspondências e/ou alcances dos textos para o ensino de ciência nessa
perspectiva.
22 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Respectivamente, trataremos, inicialmente, de uma música
chamada “A alma e a matéria”, da Marisa Monte. Com esse texto, poema
musicado (texto híbrido), introduziremos nossa perspectiva de Ciências,
nossa “filosofia” das propostas de aulas através dos gêneros textuais.
Acompanhado a ela, vem uma dinâmica intitulada “O que é Ciência” (ou
dinâmica do saco).
Seguindo a linha de repensar esse campo científico da natureza da
Ciência, traremos a música “A Ciência e a Religião”, do cantor e
compositor pagodeiro Mumuzinho. Depois, percorreremos numa proposta
de aula/sequência didática sobre “Drogas”, e, posteriormente, faremos uma
incursão no mundo das plantas com uma proposta de atividade com contos,
cordel e Cadeia Alimentar, explorando, sem deixar de compreender o
assunto científico exposto nos cordéis produzidos, desde a oralidade à
métrica desse gênero literário. E por fim, uma aula sobre alimentação
usando propaganda, especificamente as da Hortifruti/Hortiflix, com as
quais também desenvolveremos um conto de aventura, gênero textual
estudado no 4º e 5º ano; além de uma sugestão de um projeto a ser
realizado o ano inteiro, chamado de “Sacola científica”, com o qual
poderemos praticar a escrita de relatos de experiência e/ou diário científico
com os alunos.
Na primeira e na segunda propostas, exploraremos e retiraremos
conceitos, perspectivas e reflexões pertinentes ao caráter da Ciência aqui
preconizada, conforme afirma Santos (2007, p.474), ao citar Chassot
(2000) e sua concepção de Ciência: “uma produção cultural marcada
principalmente por uma visão ocidental caracterizada pela nossa educação
eurocêntrica”.
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Na terceira proposta, far-se-á um estudo cujo trajeto adentrará em
dois grandes domínios para que efetivamente se concretize o letramento
científico: que visa trabalhar o conteúdo científico sempre vinculando-o à
sua função social. Nesta atividade, o entrave do imbricamento da
linguagem científica se fez perceber, tendo em vista o material utilizado:
bulas de remédios.
Na quarta atividade, faremos uma incursão científica sobre Cadeia
Alimentar com introdução literária pelo mundo do cordel e dos contos.
Dessa atividade há registro escrito dos alunos, nos quais poderemos ver
tanto os conceitos da ciência - elementos da cadeia alimentar: produtores,
consumidores primários, secundários, etc - quanto os da literatura – noções
de métrica, rima e temas) sendo assimilados e postos em prática pelos
discentes.
Na quinta proposta de atividade é possível acompanhar tanto a
linguagem literária (metáforas e analogias) incorporando um tema
científico (alimentação saudável), dentro de um gênero textual da
propaganda como também o discurso científico (das propriedades dos
alimentos) se transformar em elementos da narrativa para composição de
um conto de aventura, que é outro gênero textual bem familiar para os
alunos.
Por fim, mas sem chegar à exaustão dos temas e possíveis textos
literários e não-literários nas aulas de Ciências, formulamos uma proposta
de projeto, chamado “Sacola científica”, para viabilizar tanto a
experimentação de atividades práticas relacionadas aos conteúdos de
ciências quanto à escrita (registro) dessas experiências através de gêneros
24 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
textuais diversos, não tornando padrão o gênero “relatório” para descrever
o que se foi aprendido por cada aluno.
Vale ressaltar que a quarta Unidade (Cadeira Alimentar) e a quinta
Unidade (Alimentação) foram aplicadas com a finalidade de coletar dados
para a validação desse produto educacional, a partir de pesquisa realizada
paralelamente à construção desse produto; e que, portanto, foi possível
apresentar nesse volume algumas atividades realizadas pelos alunos, o que
ilustra as práticas sugeridas pela pesquisadora.
Foi a partir dessa aplicação das propostas e do desenvolvimento
desse caderno de orientações que ficou mais evidente a certeza de que esse
produto não é praticável apenas por ele mesmo, para pô-lo em prática e
garantir a eficiência das atividades é preciso que haja um olhar
diferenciado do professor para os discursos advindos da interação
discursiva que os gêneros textuais diversos trazem para as aulas.
De acordo com os conteúdos já pré-estabelecidos, e pelas práticas
que a professora pesquisadora tinha no Laboratório de Ciências e nas aulas
de Língua Portuguesa, nas quais também ensinava Ciências, as atividades
foram construídas, mas não com fácil adesão de todos os professores, pois
alguns levantavam questionamentos – pertinentes pela época do ano letivo
(final de período) - quanto ao tempo de execução das atividades, achando
que as abordagens não abarcariam a aula/conteúdo em sua totalidade, pela
dinâmica um pouco diferenciada da proposta, receosos de que precisariam
depois ministrar os conteúdos novamente, ou, ainda, não teriam tempo o
suficiente para dar conta dos demais assuntos, se trabalhassem com uma
abordagem que levaria mais aulas para desenvolver os conteúdos
propostos. Somado a tudo isso, apareceram algumas falas de insegurança
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diante de atividades que suscitavam mais discursividade e amplitude dos
temas abordados, tornando a presença atuante da professora pesquisadora
na aplicação das atividades um fator preponderante para a coleta dos dados
em algumas turmas.
Além desses percalços no planejamento e na execução das
atividades da pesquisa, houve dúvida de uma professora – depois de ver a
aplicabilidade da tarefa e a mesma sendo feita pelas crianças – sobre a
necessidade de formalizar, de maneira mais pontual e estruturada, a
proposta de produção textual realizada em uma das aulas desenvolvidas na
Unidade sobre Alimentação /Propaganda/Contos de Aventura. Com isso, a
professora regente da turma, após estruturarmos a proposta de produção
textual, utilizou a atividade como avaliação para o 3º período, o que
favoreceu ao planejamento dela em relação ao tempo curto que tinha para
dar notas às disciplinas de Língua Portuguesa e Ciências, oportunizando a
junção dos dois saberes em uma única produção textual. Foi com esse
aspecto de otimizar os conteúdos com propostas que envolvam Ciências e
Língua Portuguesa/Literatura que a professora se sentiu mais motivada
para dar continuidade às demais etapas das atividades.
Almejamos que as atividades apresentadas nesse produto
educacional possam contribuir para a prática de outros professores, se
propondo a trazer orientações das sugestões didáticas que aproximam
gêneros textuais diversos, textos literários e não-literários, da práxis nas
aulas de Ciências. Essas orientações possibilitam a aplicação de cada uma
das propostas científico-literária que fora pensada para atender às
necessidades do Ensino de Ciências numa perspectiva CTSA, cujo objetivo
principal é o letramento científico dos alunos.
26 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Vamos às propostas!
Unidade I: Música “A alma e a matéria”: a Ciência em tudo
Tema: Proposta de construção de um olhar científico para o mundo
Gênero textual utilizado: letra de música
Duração: 4 aulas (45 minutos cada)
Objetivos:
- Aguçar a percepção dos alunos para os detalhes do mundo ao nosso redor
(sensibilização);
- Refletir sobre a concepção de ciências nas aulas;
- Desenvolver a leitura crítica de gêneros textuais diversos nas aulas de ciências.
Quadro 1 – Música “A alma e a Matéria”
A música “A Alma e a Matéria”
(Compositores: Carlinhos Brow / Marisa Monte / Arnaldo Antunes)
Procuro nas coisas vagas Ciências!
Eu movo dezenas de músculos
Para sorrir...
Nos poros a contrair
Nas pétalas do jasmim
Com a brisa que vem roçar
Da outra margem do mar...
Procuro na paisagem
Cadência!
Os átomos coreografam
A grama do chão
Na pele braile pra ler
Na superfície de mim
Milímetros de prazer
Quilômetros de paixão...
Vem pr’esse mundo
Deus quer nascer
Há algo invisível encantado
Entre eu e você
E alma aproveita pra ser
A matéria e viver... (Marisa Monte)
Fonte: Site de letra Lyric TAMANHO 10 OU 11
Disponível em: <https://www.lyricfind.com> Acesso em: 10 de jan. de 2019)
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Em uma primeira etapa, instigamos a turma a responder a pergunta
“O que você espera das aulas de ciências?” e/ou “O que pensa em aprender
nas aulas de ciências?”. É importante fazer o registro das respostas para
que, no final dessa experiência, possamos refletir sobre o assunto.
Em uma segunda etapa, entregamos a letra da música em uma folha,
escrita em forma de poema, fizemos a audição dela e, logo em seguida, a
apreciação de cada verso, interpretando-os como parte do objeto de estudo
das aulas de ciências e reforçando a noção, para os alunos, de que ciência
está em tudo e tudo pode ser estudado pela/na ciência.
Prosseguindo, na terceira etapa, pedimos para que os alunos
marquem na letra da música, com cores diferentes ou formas diferentes, as
palavras que nos remetem ao mundo visível e ao mundo invisível, bem
como as partes da letra que nos fazem lembrar de alguma disciplina,
matéria, área do conhecimento/saber. Fizemos o registro coletivo no
quadro, de forma colaborativa para que todos participassem da construção
dessa coleta de informações.
E por fim, na quarta etapa, propomos uma produção textual, com
gênero a escolha do aluno, sobre “Se você pudesse, o que você exploraria
no mundo das ciências e partilharia para que todos pudessem ver/saber
como você?”. Essa atividade foi compartilhada oralmente, sem exigência
do recolhimento da mesma para fins de correção.
Após refletir com a turma sobre as questões levantadas por eles,
convidamos os alunos a estudarmos ciências a partir do ponto de vista
apresentado e percebido na música. Abrimos o espaço para mais reflexão
acerca do tema.
28 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Essa música é uma boa opção para estabelecer o início das aulas de
Ciências numa perspectiva de ensino diferente daquela clássica “decifra-
me ou te devoro”. Nela há um convite ao descobrimento a partir das
percepções de si e do mundo, da vida que nos circunda, daquilo que nos
compõe e constitui tudo em nossa volta, numa complexa estrutura onde o
micro é tão valorizado quanto o macro, o que os diferencia é a capacidade
de observação, pois eles esperam para ser admirados de acordo com sua
cotidianidade e magia, sendo o olhar cientificamente encantado (e não
somente treinado) a lente de aumento para que tais fatos pululem diante de
nós. É com esse olhar, vivo e cheio de ciência (consciência mesmo!) que a
música nos instiga a adentrar na seara do conhecimento empiricamente
vivenciado e multifacetado, revelado pelas minúsculas descrições que
fazem nossa mente expandir em direção ao que é concebível ou não a olho
nu, à vida.
A letra da música, embalada com uma melodia suave de múltiplos
tons, sons diversos sobrepostos, e fluida como a regência da vida em si,
sem a frenética ação/atuação humana, é um apelo metafórico àquilo que
transcende a nossa compreensão daquilo que (não) vemos, (não) sentimos
e (não) percebemos, mas acontecem mesmo sem nosso consentimento e/ou
(re) conhecimento. É a observância de cada verso, cada parte da letra, que
nos chama a atenção para a ciência da vida e dar um foco à vida da
Ciência, dando sentido ao mínimo, aumentando a percepção da
grandiosidade nas pequenas coisas/ações que são despercebidas no dia a
dia pela falta de consciência dos mundos dentro de cada ser e das inúmeras
possibilidades de vida ao redor de nós. Os conceitos que podemos trabalhar
extrapolam o currículo e adentram na esfera da percepção humana, de
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habilidades e perspectivas que podemos depreender a partir de um
estudo/aula/experimentação/convite para viajar com a Ciência, sem
descartar o captador humano – a alma – nem priorizar o que limita a
imaginação, o sensível – a matéria.
Após as reflexões, propomos uma dinâmica: a dinâmica do saco.
Colocamo-nos em círculo, todos sentados, utilizando um saco preto, no
meio da roda, com diversas coisas dentro dele (desde planta de plástico à
seringa – o que pudermos usar!) para que os alunos classifiquem, na
medida em que forem escolhidos, os objetos quanto a “fazer parte da
ciência ou não”. Aos poucos, todos os objetos foram sendo retirados do
saco e classificados pelos alunos, que discutiam as divergentes opiniões
entre eles, tendo em vista a concepção de que só fazia parte da ciência
aquilo que o repertório dos alunos entendia como científico, instrumento
utilizado nos laboratórios.
Discutimos cada objeto, tanto o lápis, a caneta quanto o tubo de
ensaio que estava entre os utensílios, para que os alunos percebessem que a
ciência é criação humana e, portanto, os valores, conceitos e critérios que
advém dela também são cabíveis de serem questionados porque são
construídos socialmente. Além dessa discussão, fizemos uma reflexão
sobre os objetos que os alunos não consideravam como parte da ciência, a
fim de que percebessem a construção, fabricação das coisas de acordo com
a evolução das necessidades humanas e, por isso, esses objetos também
podem ser estudados pela Ciência, quer seja pela composição da matéria
prima deles, ou porque fazem parte da cultura, da sociedade sobre as quais
a Ciência se debruça.
30 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Essa “dinâmica do saco” teve um tom de mistério porque o saco,
além de ser preto, era mantido com a boca fechada e só era aberta na hora
em que um aluno se dirigia até ele para colocar sua mão dentro e puxar
algum objeto que fosse sentido pelo tato. O suspense também se instaurou
porque a dinâmica foi realizada no laboratório de ciências, onde os alunos
imaginam estar povoado por bichos, insetos, objetos perigosos e porções
explosivas. Nessa experiência pudemos brincar com os sentidos e ampliar
nossa visão sobre o que é a ciência.
Unidade II: Música “Ciência e Religião”: um passeio histórico-
científico
Tema: A ciência, os outros saberes e as verdades
Gênero textual utilizado: letra de música
Duração: 4 aulas (45 minutos cada)
Objetivos:
- Aguçar a percepção dos alunos para a amplitude dos estudos da Ciência e suas
ramificações com outros saberes;
- Refletir sobre a concepção de ciências, a natureza da ciência e seus questionamentos;
- Desenvolver a leitura crítica de gêneros textuais diversos nas aulas de ciências.
Quadro 2 – Música “A Ciência e a Religião”
Música “A Ciência e a Religião” (Mumuzinho)
(Compositores: Claudemir Da Silva, Rosana Aparecida De Figueiredo, Mario Cleide
Correia Do Nascimento e Marcos Aurélio Gonçalves Nunes)
Primeira boa invenção? A roda
O homem evoluiu com fogo
Qual é a fonte da vida? A água
Qual é o formato da terra? Um globo
A luz da noite é a luz da lua
Quem conta as horas do dia? É o tempo
Quem é que faz o país? É o povo
E o mundo todo é um espaço em movimento
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A ciência e a religião têm uma visão diferente
O que vale é o coração da gente
A ciência e a religião defendem seus interesses
Uns explicam matemática
Outros rezam pelos deuses
Se a ciência é exata
A fé remove montanhas
Se a ciência é exata
A fé remove montanhas
Faça suas contas, compadre, me fala qual é
Qual é a fórmula do amor qual é?
Qual é a crença da nossa ciência qual é?
Qual é conta capaz de explicar o meu axé?
Qual é a formula do amor qual é?
Qual é a crença da nossa ciência qual é?
Qual é conta capaz de explicar o meu axé?
Eu quero ver o invisível
Eu quero ver o invisível
Eu quero ver o invisível
Eu quero ver o invisível
Eu quero ver, quero ver, quero ter, quero ver, quero ver, quero ver
Eu quero ver o invisível, eu quero ver...
Fonte: Site do Youtube
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=12&v=UtJmlkGV4hs>
Acesso em: 10 de jan. de 2019
A princípio, fizemos o momento de audição da música (inicialmente
apresentada como um texto lacunado para que os alunos as preenchessem à
medida que fossem ouvindo), de discussão, de reflexão sobre o que é
ciência e qual percurso o homem tem trilhado para fazê-la, além de abordar
a dicotômica questão ciência versus religião, que geralmente é muito bem
aceita pelos alunos do 4º e 5º ano do Colégio Pedro II, Campus Realengo I.
A discussão não se exauriu apenas no momento da aula de Ciências,
estendeu-se para outras aulas – relatadas pelas professoras de núcleo
comum - e estimulou-se para ser motivo de pesquisas cujos resultados
expandiram a interpretação da música, o que ela nos trouxe dos fatos, e as
margens dos conhecimentos expostos. Com isso, foram feitas pesquisas
32 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
sobre as descobertas humanas, a evolução dessas descobertas, as mais
recentes criações humanas, dentre outras questões referenciadas na letra da
música.
Essa prática de estudo, ou estratégia, de cada verso da música, pôs
em exercício o que Edgar Morin (2003) traz como uma questão das
aptidões gerais e aptidões específicas, sendo essas melhores desenvolvidas
a partir da propagação daquelas. Quando nós ampliamos cada verso do
texto/ da música e conseguimos montar um quadro histórico, uma espécie
de época da evolução do conhecimento, da evolução humana, fizemos uso,
como afirma Morin (2003, p.23), da serendipididade, “arte de transformar
detalhes, aparentemente insignificantes, em indícios que permitam
reconstruir toda uma história”. A história humana e o domínio das
ciências foram trabalhados reflexivamente em sala. Para tanto, pudemos
dividir a letras da canção em unidades temáticas de estudo, e registramos
no quadro, coletivamente, fazendo os alunos perceberem as relações dos
acontecimentos, a ordem deles bem como a estrutura do texto, que usa o
paralelismo, uma estrutura de perguntas e respostas ritmadas. Seguem
algumas sugestões que compuseram a divisão temática da música:
primeiras invenções humanas; Ciências versus Religião – discurso do
método experimental e o da crença; unidades de estudo da Ciência –
tempo, espaço e movimento.
Como atividade de registro desse momento de música e reflexão,
propomos um trabalho, em grupo, de releitura do texto A Ciência e a
Religião, uma espécie de atualização dos temas tratados, seguida da
conhecida paródia feita a partir do que escreveram. Após a criação dos
textos, os alunos apresentaram para a turma suas produções.
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Essa música, o tipo de texto, o gênero musical, tudo faz crer que a
ciência jamais poderia partir de tal contexto. Mas desde o primeiro verso se
percebe que a letra é repleta de problematizações e possibilidades cuja
literatura consegue dar o contorno para trazer à tona a Ciência em questão.
Foram suscitadas várias perguntas e reflexões a partir da audição da
música e do estudo de cada estrofe, da exploração de cada verso que a
compõe. Inicialmente apresentado como um texto lacunado, a música
ganhou corpo com a percepção dos alunos e conjecturas acerca dos
conhecimentos que deram origem aos seus versos.
Seguimos nossa aula esquecendo dos nossos gostos musicais,
atentando para a riqueza de informações trazida pelo texto, sem nos
importar por ser um pagode não muito conhecido, mas imbuídos não pela
musicalidade apenas, mas nas histórias para contar e experimentar.
Essa música foi um experimento. E como tal, tivemos critérios para
vivê-la. É um estilo de música popular que poucas pessoas escolheriam
para trabalhar/abordar questões tão densas, cientificamente falando. Nela,
analisamos os fundamentos da Ciência, seus princípios, critérios,
interesses, intenções e consequências, além de termos discutido se há
realmente essa distinção entre Ciência e Religião, os saberes e experiências
envolvidos nessas práticas humanas. Exploramos desde as descobertas
mais remotas (como o fogo, a roda...etc.) relatadas na música, celebridades
científicas que tais descobertas nos remetem, até a Bíblia, num passeio
entre saberes que são capazes de construir um contextualizado
conhecimento. A passagem Bíblica utilizada foi um versículo do livro do
profeta Isaías, especificamente o capítulo 40, versículo 20, que diz que
“Ele é o que está assentado sobre o círculo/a redondeza, o globo da terra,
34 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
cujos moradores são para Ele como gafanhotos; é Ele o que estende os
céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar...
(Adaptação para fins pedagógicos). O versículo foi escrito no quadro para
visualização de todos. Nessa parte, os alunos foram levados a fazer
questionamentos sobre a origem das descobertas científicas, suas fontes e
métodos, tendo em vista que o trecho bíblico mencionado é de 700 anos
antes de Cristo, o que implicava colocar em xeque a veracidade de algumas
notícias sobre quem descobriu que a Terra era redonda, cuja margem desse
fato beirava a idade média.
Para continuidade e evolução dos conteúdos do 4º e 5º anos, fizemos
um passeio sobre os conteúdos a partir da letra da música. Abordamos os
assuntos “recursos naturais e recursos tecnológicos” (Primeira boa
invenção? A roda...); a suposta supremacia humana diante de toda
natureza, revisando o item curricular a “cadeia alimentar” (O homem
evoluiu com fogo...); e a questão da preservação do meio ambiente, em
especial a ação do homem para que isso aconteça, o cuidado com a água,
perpassando tanto pelas doenças quanto por desastres ambientais da cidade
de Mariana, Brumadinho e da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Dando prosseguimento à proposta científico-literária, após algum
tempo no processo educativo no decorrer do ano letivo, retornamos ao
refrão da música Ciência e Religião, “Qual é a fórmula do amor, qual é a
crença da nossa ciência, qual é...?”, quando adentramos no assunto
“Drogas lícitas e Drogas ilícitas”. A atividade descrita abaixo é sobre esse
tema.
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Unidade III: Da bula à crônica: drogas lícitas e ilícitas
Tema: Drogas lícitas e ilícitas
Gênero textual utilizado: poema, reportagem, crônica, charge e bula
Duração: De 8 a 10 aulas (45 minutos cada)
Objetivos:
- Aguçar a percepção dos alunos e ampliar a visão para o tema;
- Refletir sobre o conceito de drogas, a natureza delas, seus efeitos no indivíduo e na
sociedade;
- Desenvolver a leitura crítica de gêneros textuais diversos nas aulas de ciências.
Para tal temática, montamos um projeto que foi desenvolvido a
partir da exploração de textos científicos, literários (um poema de Carlos
Drummond de Andrade, chamado “Receituário sortido”) e não-literários
(Uma reportagem digital sobre um texto/crônica publicado por um médico
num blog pessoal - acessado em https://veja.abril.com.br/blog/virou-
viral/o-texto-deste-medico-teve-mais-de-300-000-
compartilhamentos/acessado em 10 de jan. de 2019), que abrangem tais
conteúdos, culminando numa oficina de confecção de “remédios” para os
males da sociedade, intitulada de “Poesia, um santo remédio”, inspirada
em um produto comercializado pelo site “Poeme-se”
(https://www.poemese.com/, acessado em set/2019). Os textos literários e
não literários estão no apêndice. Eis a aula:
O projeto intitulado “Drogas lícitas e ilícitas – a droga social e
científica em questão” inicialmente começou como todos os starts das
aulas de Ciência: uma aula de Ciências, introduzida, no momento, com
uma apresentação de slides, de cunho explicativo sobre a questão de as
drogas serem consideradas lícitas e ilícitas.
Conversamos com os alunos sobre os slides e as informações mais
detalhadas que alguns, porventura, não conseguiram captar, tais como
36 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
dados, imagens, falas. Ouvimos alguns alunos falarem sobre suas
experiências com as drogas no seio familiar. Seguida a essa aula, fizemos
um roteiro, levando em consideração as questões CTSA
estudadas/levantadas no grupo, imbuída da necessidade da expansão e
importância dessas questões para o assunto dado. Vamos ao roteiro:
1. Construção do conceito científico de “Droga” - inicialmente;
2. Confronto com a questão “Você sabe o que é droga?”, a partir do
conceito construído com bases na ciência.
3. Pesquisa sobre UM “remédio” tomado por eles, em algum
momento da vida – trazer a bula, caixa, composição,
contraindicação, efeitos colaterais, etc.
4. Análise das bulas e questionamento sobre os termos, dificuldade de
compreensão, substâncias e responsabilidade de quem prescreve o
“remédio”, de quem toma, de quem vende, de quem lucra com a
venda. Comparação entre remédios, alguns para o mesmo fim e
com composições diferentes. Outros remédios tomados para vários
sintomas distintos. Mapeamento dos remédios que são mais
utilizados pelos alunos;
5. Quais produtos que têm o consumo liberado, também têm
substâncias que, de acordo com a dosagem, são consideradas
drogas? (Exploração do que os alunos sabem sobre
alimentos/bebidas viciantes);
6. Apresentação dos textos, pesquisados pelos alunos, que falem sobre
drogas. Todos que trouxeram textos devem ter a oportunidade de
falar sobre suas pesquisas e os que não trouxeram, devem ser
estimulados a emitir suas opiniões.
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7. Escolha dos “melhores” textos apresentados com o objetivo de
promover um debate sobre os conceitos científicos e as questões
sociais que permeiam as drogas. (Nas páginas a seguir, apresento
sete textos escolhidos por mim, quando apliquei essa atividade, no
sentido de estimular o docente a refletir sobre os possíveis
desdobramentos pedagógicos, somente a título de ilustração.)
8. Discussão sobre as informações inseridas no texto e
questionamentos sobre essas informações; (Quem fala?, de quê
lugar fala?, é especialista no assunto?, podemos confiar em todos os
dados apresentados nos textos?, podemos checar esses dados?, por
que o discurso de um texto dá ênfase ao uso de drogas pelos jovens
e os menos favorecidos?, a utilização de drogas tem um alto custo
financeiro?);
9. Levantamento das questões e divisão da turma em grupos para a
realização de mais algumas pesquisas sobre o tema.
10. Apresentação dos dados pesquisados pelos grupos;
11. Reconstrução do conceito de “Droga” - a questão social e científica;
12. Entrevista com especialista com o objetivo de aprofundarem o
conhecimento sobre as drogas mais comuns, tanto lícitas quanto
ilícitas.
13. Oficina confecção de “remédios” para os males da humanidade,
com fórmulas literárias criadas pelos alunos, aos moldes do projeto
“Poesia, um santo remédio”, do site “Poeme-se”
(https://www.poemese.com/ acessado em janeiro/2019)
38 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Os gêneros textuais escolhidos e utilizados nessa unidade foram
pensados para diversificar a visão sobre o tema através da apreciação e
estudo dos textos. Foram considerados a multiplicidade dos gêneros para
dinamizar também a construção da percepção dos alunos, além da
experiência de leitura variada, nas aulas de Ciências. Eis os textos verbais e
não verbais utilizados nas atividades, nos quadros que seguem:
Quadro 3 – Texto I
Texto I: (Atividade “Drogas lícitas e ilícitas)
Figura 1 – Perfil humano formado por remédios
Fonte: Site da Revista Veja
Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/virou-viral/o-texto-deste-medico-teve-
mais-de-300-000-compartilhamentos/> Acesso em: 10 de nov.de 2018.
Drogas lícitas e ilícitas
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As drogas, substâncias naturais ou sintéticas que possuem a
capacidade de alterar o funcionamento do organismo, são divididas em
dois grandes grupos, segundo o critério de legalidade perante a Lei:
drogas lícitas e ilícitas.
As drogas lícitas são aquelas legalizadas, produzidas e
comercializadas livremente e que são aceitas pela sociedade. Os dois
principais exemplos de drogas lícitas na nossa sociedade são o cigarro e o
álcool. Outros exemplos de drogas lícitas: anorexígenos (moderadores de
apetite), benzodiazepínicos (remédios utilizados para reduzir a ansiedade),
etc.
Já a cocaína, a maconha, o crack, a heroína, etc., são drogas
ilícitas, ou seja, são drogas cuja comercialização é proibida pela
legislação. Além disso, as mesmas não são socialmente aceitas.
É importante ressaltar que não é pelo fato de serem lícitas, que essas
drogas são pouco ameaçadoras; a alerta é da Organização Mundial da
Saúde (OMS). Segundo o órgão, as drogas ilícitas respondem por 0,8%
dos problemas de saúde em todo o mundo, enquanto o cigarro e o álcool,
juntos, são responsáveis por 8,1% desses problemas.
Nesse sentido, muitos questionam a aceitação, por parte da sociedade, das
drogas lícitas, uma vez que as mesmas são prejudiciais para a saúde e
também causam dependência nos usuários. Assim, o critério de legalidade
ou não de uma droga é historicamente variável e não está relacionado,
necessariamente, com a gravidade de seus efeitos. Alguns até mesmo
afirmam que esse critério é fruto de um jogo de interesses políticos, e,
sobretudo, econômicos. Fonte: Site Mundo Educação
Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/drogas/drogas-licitas-ilicitas.htm>
Acesso em: 10 de nov. de 2018)
Quadro 4 – Texto 2
Texto II: (Atividade “Drogas lícitas e ilícitas)
Drogas lícitas e ilícitas
Por Ana Paula de Araújo
Drogas são substancias capazes de alterar o funcionamento do
organismo humano. Dependendo da natureza e composição das mesmas
40 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
elas podem agir em determinados locais ou no organismo como um todo.
Toda droga tem seus efeitos, porém eles não se manifestam da mesma
maneira em todos os organismos, especialmente porque cada droga tem
sua contraindicação.
Há dois grandes grupos de drogas, que não as agrupam segundo as
suas características, mas segundo as convenções e exigências sociais. São
eles o grupo das drogas lícitas e o grupo das drogas ilícitas.
As drogas são substâncias capazes de produzir alterações nas
sensações físicas, psíquicas e emocionais. Sendo assim, energéticos, café,
refrigerantes, chocolates, dentre muitos outros alimentos, contêm
substâncias que podem ser consideradas drogas pois alteram de alguma
maneira as sensações de quem as ingere. Estas, porém, se ingeridas em
quantidade moderada não representam nenhuma ameaça para o ser
humano. Se, no entanto, são demasiadamente utilizadas por alguém,
podem causar uma leve dependência e problemas de saúde futuros.
Elas são utilizadas para diversos fins desde a antiguidade. Podem
ser utilizadas para curar doenças ou obter prazer. Entre as drogas lícitas
estão os medicamentos em geral (os quais só são permitidos sob
prescrição médica, o álcool e o cigarro, além dos alimentos já citados. Já
entre as principais drogas ilícitas estão a maconha, a cocaína, o ecstasy, o
crack, a heroína, etc. Existem ainda outras substâncias que causam
dependência, mas que são vendidas livremente para outros fins como a
cola de sapateiro e o hypnol. Há diversas outras drogas que também são
utilizadas da mesma maneira e algumas delas ainda nem são conhecidas
pelo ministério da saúde e pelas autoridades judiciais.
Drogas lícitas são aquelas permitidas por lei, as quais são
compradas praticamente de maneira livre, e seu comércio é legal. Drogas
ilícitas são as cuja comercialização é proibida pela justiça, estas também
são conhecidas como “drogas pesadas” e causam forte dependência.
As drogas ainda se dividem quanto ao seu efeito no organismo
humano: drogas depressoras, são as que causam efeitos semelhantes aos
da depressão (álcool, cola de sapateiro, loló, lança-perfume,
tranquilizantes e remédios para dormir); drogas estimulantes, como o
nome diz, causam o aumento da adrenalina, uma sensação de alerta, o
aumento dos batimentos cardíacos e podem levar até ao ataque cardíaco.
Levam cerca de 15 segundos para chegarem ao cérebro (crack, ecstasy,
cocaína, maconha, LSD, etc.); há ainda o grupo dos opiáceos, onde
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encontra-se a heroína, a qual compromete a maioria das funções do corpo
humano. Não falamos aqui do tabaco, do álcool e dos esteróides (bomba),
os quais são responsáveis por diversas outras doenças atualmente devido à
grande incidência de uso destas drogas.
Com exceção das drogas que são utilizadas para fins medicinais, as
demais em nada contribuem para o crescimento e desenvolvimento das
pessoas como seres humanos. Além dos prejuízos no âmbito da saúde do
indivíduo, que são irreparáveis e muitas vezes incontroláveis, há um
prejuízo imensurável no que diz respeito à vida social, familiar, emocional
e psicológica da pessoa. Por esse motivo, é preciso uma campanha de
conscientização constantes, além de ser extremamente necessário o
atendimento de famílias carentes para que elas possam ter condições de
manterem-se e não caírem em doenças como a depressão que levam
naturalmente ao uso das drogas. A condição social do indivíduo é
influente e contribui para o uso ou não das drogas, pois na maioria das
vezes estas são consideradas uma fuga da realidade que essas pessoas
enfrentam, e por isso se torna tão frequente o seu uso.
Um outro fator importante é a formação individual que cada um
deve receber enquanto ser humano. Esse é um dos principais motivos de
jovens do mundo inteiro recorrerem às drogas, o fato de se sentirem
sozinhos ou perdidos, sem muitas experiências de vida e sem boas
referências para descobrirem que caminho querem seguir. Essa batalha
não é simples e não se resolve apenas com informações básicas como
estas a respeito do uso de drogas, mas já é um começo. Temos que encarar
que qualquer pessoa pode cair nessa “cilada” e que para evitarmos
maiores danos temos que ser exemplos de pessoas que não precisam fazer
uso desses artifícios para ser bem-sucedidos pessoal e profissionalmente. Fonte: Site Infoescola
Disponível em: https://www.infoescola.com/drogas/drogas-licitas-e-ilicitas/ Acesso em:
10 de nov. de 2018.
Quadro 5 – Texto 3
Texto III: (Atividade “Drogas lícitas e ilícitas)
Figura 2 – Tirinha do Armandinho
42 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Fonte: Site Blog Suburbano Digital
Disponível em: <https://suburbanodigital.blogspot.com/2018/06/tirinha-do-armandinho-
vou-apresentar-meu-trabalho-sobre-drogas.html > Acssado em: 08 de nov. de 2018)
Quadro 6 – Texto 4
Texto IV: (Atividade “Drogas lícitas e ilícitas)
Poema do Carlos Drummond de Andrade:
Calma.
É preciso ter calma no Brasil
calmina
calmarian
calmogen
calmovita.
Que negócio é esse de ansiedade?
Não quero ver ninguém ansioso.
O cordão dos ansiosos enfrentemos:
ansipan!
ansiotex!
ansiex ansiax ansiolax
ansiopax, amigos!
Serenidade, amor, serenidade.
Dissolve-se a seresta no sereno?
Fecha os olhos: serenium,
serenex…
Dói muito o teu dodói de alma?
43
[Digite aqui]
Em seda e sedativo te protejas.
Sedax, meu coração,
sedolin
sedotex
sedomepril.
Meu bem, relaxe por favor.
Relaxan
relaxatil.
Batem, batem à porta? Relax-pan.
Estás tenso, meu velho?
Tenso de alta tensão, intensa, túrbida?
Atenção: tensoben
tensocron
tensocrin
tensik
tensoplisin.
Anda, cai no sono,
amigo, olha o sonix.
Como soa o sonil
sonipan sonotal
sonoasil
sonobel sonopax!
E fique aí tranquilo tranquilinho
bem tranquil
tranquilid
tranquilase
tranquilan
tranquilin
tranquix tranquiex
tranquimax
tranquisan
e mesmo tranxilene!
Estás píssico, talvez
de tanto desencucarem tua cuca?
Estás perplexo?
Não ouves o pipilar: psicoplex?
psicodin
psiquim
44 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
psicobiome
psicolatil?
Não sentes adejar: psicopax?
Então morre, amizade. Morre presto,
morre já, morre urgente,
antes que em drágea cápsula ampola flaconete
proves letalex
mortalin
obituaran
homicidil
thanatex thanatil
thanatipum!
Fonte: Livro “Discurso de primavera e algumas sombras” (2014)
Quadro 7 – Texto 5
Texto V: (Atividade “Drogas lícitas e ilícitas)
- A reportagem sobre o texto do médico que viralizou -
#VIROUVIRAL Por Coluna Como surgem e se espalham os
assuntos mais comentados da internet
O texto deste médico teve mais de 300.000 compartilhamentos
Artigo de Carlos Bayma, de Recife, foi inspirado em
experiência pessoal da juventude
Por Luísa Costa - Atualizado em 28 mar 2018, 16h48 - Publicado
em 28 mar 2018, 13h32
O médico Carlos Bayma, pernambucano morador do Recife, levou
um susto quando procurou por seu nome no Google e encontrou milhares
de resultados. Todos citavam um texto que havia publicado cinco anos
atrás em um blog pessoal, no qual discorre sobre os riscos de encontrar
soluções medicamentosas para todos os problemas da vida. Replicado à
exaustão, já passa dos 300.000 compartilhamentos em apenas uma das
postagens do Facebook.
45
[Digite aqui]
Bayma relata que a publicação lhe rendeu algumas dores de cabeça, como
conta ao blog.
“Não entendi porque viralizou. É uma realidade do dia a dia que não é
muito difícil de perceber”, explica, em referência aos riscos de excessos
em medicamentos. O texto narra como o início de um tratamento baseado
em fármacos para a ansiedade e a depressão acaba por desencadear a
necessidade de tomar vários outros, em uma cadeia infernal de efeitos
colaterais que minam qualquer possibilidade de qualidade de vida.
Bayma diz que, embora leve em conta todos os seus conhecimentos
médicos, escreveu o artigo como um desabafo por um drama que viveu –
e que mudou os rumos de sua vida, inclusive a profissional. Formado
na Universidade Federal de Pernambuco em 1988, sua área de
especialidade foi, por muito tempo a Urologia.
Hoje está “na casa dos 60” anos, mas começou a sofrer com
depressão e ataques de pânico aos 29. “Os remédios me deixaram em uma
situação deplorável. Eu vivi isso. Eu não tomava regularmente nenhum
remédio. Alguns anos depois já tomava até dez, virei quase diabético”. Ao
perceber que seu quadro não tinha melhoras prolongadas, procurou
conhecimento em outros ramos da medicina. Mudou totalmente o padrão
de vida e o modo de atender, e hoje em dia concentra seus conhecimentos
e esforço com pacientes na medicina preventiva, que visa maior qualidade
de vida.
“Eu não tenho nada contra a medicina tradicional. Do ponto de vista de
salvar vidas, atender emergências, é excelente. Mas quando parte para o
aspecto crônico, de longo prazo, é uma lástima. É preciso tratar causas, e
não sintomas”, reforça o médico. Embora endosse tudo que disse, Carlos
afirma que não escreveu o texto com nenhuma pretensão de fazer um
manifesto, muito menos ferir alguém: “Tem gente que veste a carapuça,
tem gente que fica com raiva. Sofri assédio por causa do texto, alguns
colegas ficaram chateados. Mas é só minha opinião. Embora isso chateie
algumas pessoas e algumas corporações, é a opinião de quem trabalha há
trinta anos seriamente, que conhece a indústria”, conclui.
Fonte: Site da Revista Veja
Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/virou-viral/o-texto-deste-medico-teve-
mais-de-300-000-compartilhamentos/> Acesso em: 10 de nov.de 2018.
Quadro 8 – Texto 6
46 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Texto VI: (Atividades sobre Drogas lícitas e ilícitas)
Figura 3 – Caixa “Poesia um santo remédio”
Fonte: Site Poeme-se
Figura 4 – Frasco “Poesia um santo remédio”
Fonte: Site Poeme-se
O Santo Remédio é um projeto da artista cênica e escritora Larissa
Minghin, inspirado nas poesias em cápsulas. São poesias para curar dor
47
[Digite aqui]
de cotovelo, matar a saudade, sorrir, amigos, se apaixonar... O produto é
apresentado/comercializado com a intenção de fazer com que as palavras
sejam uma forma alternativa de “tratamento”, uma maneira de fazer
carinho e o bem a quem receber. Cada caixa de Poesia, um Santo
Remédio, contém: Posologia: Ao invés de cápsulas com composição
química, poesias para curar a alma; um receituário (tipo cartão, para
dedicar ao presenteado), uma bula e um frasco com 15 cápsulas de uso
visual com poesias, frases e haikais sobre o tema "Para Amar".
Importante: Poesia poder causar vício. Consulte um livro, leia de tudo e
Poeme-se sem moderação!
Fonte: Site Poeme-se
Disponível em: < https://www.poemese.com/> Acesso em 10 de nov.de 2018
Quadro 9 – Texto 7
Texto VII: (Atividades sobre Drogas lícitas e ilícitas)
Figura 5 – Foto da Bula “Poesia um santo remédio”
Fonte: A autora, 2019
48 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Unidade IV: Do conto ao cordel: cadeia alimentar
Tema: Cadeia alimentar
Gênero textual utilizado:letra de música, contos e poema(cordel),
Duração: 5 aulas (45 minutos cada)
Objetivos:
- Estimular a discussão do conteúdo de ciências a partir de textos literários;
- Refletir sobre o conceito de cadeia alimentar, a formação dela e seu equilíbrio
ecológico;
- Exercitar a produção textual através de gêneros textuais diferentes;
- Desenvolver a leitura crítica de gêneros textuais diversos nas aulas de ciências.
Essa aula foi umas das mais relevantes e que produziu nas turmas
um efeito bastante positivo em relação à recepção da abordagem adotada,
pois o assunto, “Cadeia Alimentar”, é de muito interesse das crianças e
cuja didática para introduzir tal conteúdo não ultrapassava à representação
dos conceitos biológicos em questão. Tentamos fazer diferente:
acrescentamos ao momento de aprendizagem a leitura de alguns textos,
entre eles o conto “Um problema chamado coiote” (MACHADO, 2009), a
audição do mesmo, na voz de Bia Bedran, e uma dinâmica/um jogo para
encenarmos tal história. A partir da divisão da turma, de acordo com os
elementos da cadeia alimentar descrita na história, os alunos produziram
textos em cordel, na perspectiva do elemento que cada um vivenciou na
brincadeira/no jogo.
Além da audição da história, da leitura e aproveitamento dos textos
(contos) e da dinâmica (o jogo: um pega-pega de acordo com os elementos
da cadeia que eles viram no texto trabalhado), os alunos, em grupo,
também realizaram as seguintes atividades: recontaram a história,
representaram a cadeia alimentar encenada/encontrada na história,
49
[Digite aqui]
construíram um cordel na perspectiva do elemento que cada um
representou na encenação (produziram versos sobre o tema) e
problematizaram a solução do problema apresentado na história do conto.
Foi preciso fazer adaptações nessa proposta da cadeia alimentar já
utilizada pelos colegas pedrossegundianos: levei para dentro da atividade
um texto escrito, com uma interpretação que abrangeu vários gêneros
textuais e possibilitou uma comparação entre tais gêneros, além de
estabelecer relações com outra história sobre o mesmo assunto, da mesma
autora (Ana Maria Machado); foi apresentado um áudio e um vídeo sobre a
mesma história/narrativa. Essa diversidade de textos foi proporcionou uma
melhor aceitação por parte dos professores.
De todas as atividades mencionadas acima, um registro exigiu mais
tempo do que os demais, relacionados ao tema. Vejamos abaixo:
a) Conte com suas palavras, resumidamente, a
história que você acabou de ouvir/ler.
b) Desenhe a cadeia alimentar da história que
você ouviu.
c)Observe os versos abaixo:
“Até hoje não se sabe
Se aprenderam a ter juízo
E a saber que bicho existe
Porque é muito preciso
E quando um deixar de existir
Você pode esperar
Que muitos outros vão sumir...”
Agora faça uns versinhos inspirados no
conceito de cadeia alimentar. Se quiser, você
pode escolher um dos personagens da história
para ser a voz do seu poema (o eu-lírico – quem
fala)
d)Pense um pouco sobre o problema que os
personagens da história tiveram. Que outro jeito
você sugeriria para resolver a situação?
Explique.
50 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Essa atividade não pode ser aplicada em um único momento, nem
pareceu que fosse o caso de pedir aos alunos que terminassem de fazê-la
em casa, tendo em vista as diferentes propostas que o registro
trazia/sugeria. Para retomar tal atividade, cada parte que a constitui, a
professora pesquisadora precisou, além de explicar e ilustrar, reiteradas
vezes, o que se pretendia (nos itens “a” e “b”), trazer um texto extra para
dialogar com o trecho do item “c”, na questão que sugere a criação de
versos por parte dos alunos. No caso, foi introduzido um cordel na
explicação do item “c”, para apreciação do gênero e estímulo na criação de
versos pelos estudantes.
Espera-se que essa prática proporcione tanto uma versatilidade do
conteúdo sobre Cadeias Alimentares, pautado como da área de Ciências,
que já é visto desde o terceiro ano no Colégio Pedro II, quanto promova
uma abordagem diferenciada do seu registro, na forma de produção textual,
com a construção de um cordel, tipo de texto – sempre deixado para
“depois” nas aulas de Língua Portuguesa, e dificilmente usado como
registro nas aulas de Ciências.
Pelo fato de o tema ser de grande interesse dos alunos e a boa
recepção dos mesmos ter sido essencial às práticas propostas, essas
atividades foram utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa de
mestrado profissional cujo caderno de orientações é fruto.
Sequencialmente, fizemos:
1. Audição da história “Um problema chamado coiote”, da
escritora Ana Maria Machado (Adaptado do livro Gente, Bicho,
Planta: O mundo me encanta)
51
[Digite aqui]
Links: Audição:https://www.youtube.com/watch?v=DekR_2syF2g
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=gocFju4GjT4
2. Leitura da história “Um problema chamado coiote”
(MACHADO, 2009) e, em outro momento, após exploração do
primeiro texto, leitura do conto “De pergunta em pergunta”,
também da Ana Maria Machado (MACHADO,2009). Esse
último pode ser utilizado como atividade para casa e a correção
ser feita coletivamente para comparação de todos sobre os dois
textos lidos.
3. Realização de uma dinâmica sobre a cadeia alimentar, em lugar
mais espaçoso: espécie de jogo/brincadeira no qual os alunos
participam de um pega-pega como elementos da cadeia
alimentar. Sugerimos ainda, se possível, confeccionar máscaras
e/ou adereços que representem os elementos da cadeia. A
compreensão da brincadeira e a boa execução dela está
intrínseca e naturalmente ligada ao entendimento que os alunos
terão das relações estabelecidas na cadeia alimentar, por isso é
importante, antes de entrar na brincadeira, explorar bem o
assunto e a composição de uma cadeia alimentar.
4. Realização de atividades de registro, sugeridas a seguir, pelos
alunos.
52 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Quadro 10 – Atividade Cadeia Alimentar
a) Conte com suas palavras,
resumidamente, a história que você
acabou de ouvir/ler
b) Desenhe a cadeia alimentar da história
que você ouviu.
c)Observe os versos abaixo:
“Até hoje não se sabe
Se aprenderam a ter juízo
E a saber que bicho existe
Porque é muito preciso
E quando um deixar de existir
Você pode esperar
Que muitos outros vão sumir...”
Agora faça uns versinhos inspirados no
conceito de cadeia alimentar. Se quiser,
você pode escolher um dos personagens
da história para ser a voz do seu poema (o
eu-lírico – quem fala)
d)Pense um pouco sobre o problema que
os personagens da história tiveram. Que
outro jeito você sugeriria para resolver a
situação? Explique.
Fonte: A autora, 2019
53
[Digite aqui]
5. Apreciação de um cordel, para exemplificação e estimulação do
registro escrito pelos alunos, no item c das atividades do quadro
10;
Poema “Cadeia alimentar”, de Allan Sales*
O capim nasce da terra
Tão viçoso e tão verdinho
Tem no solo minerais
Que alimentam ele todinho
Depois vira um alimento
Vêm os bichos no momento
Comem o capim no caminho
Um alegre veadinho
Vem ali para pastar
Aparece é um leão
Com uma fome de matar
O leão vem e detona
É assim que funciona
A cadeia alimentar
E depois de devorar
Abandona essa caraça
Depois surgem as hienas
Comer o resto da caça
E também os urubus
Comem até os tapurus
Até que sua fome passa
Excrementos que se faça
A carniça e tudo mais
Volta tudo para a terra
Pra virar os minerais
Assim tudo recomeça
Natureza não tem pressa
Animais e vegetais
É assim que a vida faz
Acabei de lhe mostrar
Natureza se equilibra
Se o homem não perturbar
Natureza tão lindona
É assim que funciona
A cadeia alimentar.
54 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
O autor Allan Sales é músico, compositor e poeta. Natural do Crato,
Ceará e radicado no Recife desde de 1969. Dedica-se à música popular e à
literatura de cordel e promove eventos poéticos musicais ecléticos na cidade do
Recife. Também de dedica ao ensino de violão popular, sendo compositor de
música instrumental em violão e viola sertaneja. Contato:
[email protected]. Esse poema/cordel é letra de música da peça Bicho
Homem, inspirado no poema de Manuel Bandeira. O cordel foi publicado no site
do autor no dia 12 de fevereiro de 2008.
6. Realização da releitura da história e atividades relacionadas, a
seguir.
Quadro 11 - Atividade de Interpretação
I. A história que você leu nos fala de cadeias alimentares e do seu desequilíbrio.
Pensando sobre isso, faça o que se pede.
a) Complete o esquema de uma das cadeias alimentares mostradas no texto,
escrevendo os nomes dos seres vivos que podem representar cada elo:
produtor consumidor primário consumidor secundário
b) Na cadeia alimentar acima falta um dos elos. Qual é ele?
_________________________________________________________________
c) De acordo com a história, o coiote era predador de várias espécies. Quais eram
elas?_____________________________________________________________
_________________________________________________________________
d) Quais foram as espécies que apareceram como consumidoras primárias na
história?
_________________________________________________________________
55
[Digite aqui]
e) Baseando-se nas suas respostas anteriores, faça o esquema de uma teia
alimentar que ilustre a história lida. Não esqueça de acrescentar o elo que falta.
II. Explique:
a) Qual foi o desequilíbrio ambiental narrado na história?
_________________________________________________________________
b) Por que aconteceu esse desequilíbrio mostrado na história?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
III. Veja a descrição do coiote:
Na história, o alimento preferido do coiote era ovelha. Faça uma descrição da
ovelha, contando que grupo ela faz parte, quais são suas características e qual sua
alimentação.
Fonte: Site do Professor Tadeu. Disponível em<http://www.
http://professorwaltertadeu.mat.br/testesEF2015.html> Acesso em: 10 fev. 2019
Para finalizar esse tema, vamos expor os dois textos mencionados
da Ana Maria Machado. Logo após, também estará exposto alguns
56 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
momentos de escrita dos alunos para apreciação e exemplificação das
propostas. Vamos aos textos:
Quadro 12 – Texto “Um problema chamado coiote”
Um problema chamado coiote
A gente sempre vê filme de bangue-bangue passado lá no oeste americano. Pois
esta história aconteceu por lá, de verdade, bem naquele tempo mesmo, só que não tem
diligência nem índio. Mas tem tiro. E tem um monte de bicho.
Pra começar, tem vários rebanhos de ovelhas. É que esta história é justamente
do tempo em que os criadores de ovelhas começaram a instalar seus rebanhos no
faroeste.
A terra era rica, os pastos eram bons, as ovelhas se desenvolviam. Tudo ia bem.
Mas os criadores ainda queriam mais. Achavam que não podiam ter problema nenhum. E
tinham. Um problema chamado coiote.
E por ali havia muito coiote, que é uma espécie de lobo. E coiote além de gostar
muito de uivar para a lua, é bicho que come carne. E volta e meia tinha coiote caçando
ovelha.
Os criadores, furiosos, fizeram uma reunião:
— Precisamos acabar com isso!
— Um prêmio para quem matar o coiote!
E assim fizeram. Quem trouxesse uma pele de coiote ganhava um prêmio. Saiu
todo mundo dando tiro. Bang! Bang! De olho no prêmio, mataram tanto coiote, que, no
fim, não tinha mais nenhum por ali.
Os donos das ovelhas fizeram uma festa, com música e quadrilha. Aquilo era
uma maravilha! E lá fora, no campo, começou outra festa, sem banda nem dança. Uma
festa de comilança.
Sem coiote para acabar com eles, vieram para o banquete todos os bichos da
vizinhança. Coelho, marmota, rato. Comeram folha, flor, raiz, tudo o que havia naquele mato.
E ai aconteceu o que ninguém tinha imaginado. Quanto mais os bichos comiam,
mais cresciam, mais tinham filhote que também comiam. E acabaram virando uma praga pior
do que os coiotes. Tanto comiam que acabaram com o capim. O pasto ficou pelado, ruim.
Sem pasto, como é que a ovelha come? Os rebanhos começaram a diminuir e se
acabar, de fome.
Os criadores ficaram desesperados. Mas não adiantava desesperar. O remédio
era esperar. Até que o tempo corresse e novos coiotes aparecessem. Mas levaria anos até
que isso acontecesse. Eles tiveram que desistir e aguentar o prejuízo.
Mas até hoje não se sabe se aprenderam a ter juízo e a saber que bicho que existe porque
é muito preciso. E quando um deixa de existir, você esperar que muitos outros vão sumir.
Fonte: Livro Gente, Bicho, Planta: O mundo me encanta
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Quadro 13 – Texto “De pergunta em pergunta”
De pergunta em pergunta
Essa história aconteceu de verdade, lá pelo século passado, num país chamado
Inglaterra, com um cientista de nome complicado. O nome dele era Thomas Huxley, mas
a gente pode entender mais se só chamar o homem de professor Tomás.
Ele era um naturalista – estudava a natureza e toda a sua beleza. E um dia foi
chamado para resolver um mistério que era mesmo um caso sério. Num lugar lá no
campo estava acontecendo uma coisa meio esquisita. É que a região nunca ficava pobre
nem rica. Quando tudo ia melhorando, o povo ia prosperando, qualquer coisa acontecia.
E a riqueza sumia.
Quando ia empobrecendo, o gado ia emagrecendo, o povo ai adoecendo, tudo
ruim acontecendo, de repente melhorava. E a pobreza acabava. Mas nunca ficava bem.
Nem ficava mal também. Para poder dar um jeito, era preciso entender direito. Para não
acontecer mais. Então chamaram o professor Tomás. Ele nem sabia por onde começar.
Saiu por ali e resolveu conversar. Desandou a perguntar. “Como é que é a sua família?”,
“Há quanto tempo vocês moram aqui?”, “Onde é que nasceu a sua avó?”, “De onde
vieram os seus amigos?”, “Aqui é sempre gostoso ou no inverno é diferente?”, “Qual é o
seu trabalho?” , “Que dia tem feira?”, “Sempre foi assim?”
Não queria esquecer nada. Ficava numa perguntação danada. E reparava em
tudo, o tal professor Tomás.
- De que é que as crianças brincam?
- Vocês gostam de bichos?
- O que é que eles comem?
- E de planta, vocês gostam?
- Aqui tem muita festa? Batizado? Aniversário? Casamento?
Tanto perguntou que parou. Todo mundo ficou achando que ele cansou. E aí ele
mudou. Foi pesquisar documento. Na biblioteca, na Igreja, no registro civil. Até nas
gavetas de quem deixou, mesmo reclamando: “Uma coisa dessas, onde já se viu?”
Para decifrar o mistério, ficava até passeando pelo meio do cemitério. Até que
descobriu. Reparou que, quando o lugar era rico, tinha muita gente casando e muita gente
nascendo. Quando as coisas pioravam, as pessoas se mudavam. Tinha menos batizados,
tinha menos casamentos. Tudo isso ele aprendeu com as perguntas e os documentos.
O resto foi com o pensamento. Quando o pasto ficava feio, a região ficava
pobre. Produzia pouco leite porque o gado não estava bem alimentado. Pouco dinheiro e
pouco trabalho. Aí os fazendeiros mandavam embora os empregados. E os homens iam
procurar trabalho na cidade. Acabavam casando por lá e não voltavam pro seu lugar. E
nesse lugar, o que acontecia? Os rapazes iam embora e as moças ficavam sem ter com
quem namorar. Naquele tempo era muito atrasado: moça tinha só que casar, não podia
estudar e nem sair para trabalhar, e de sua vida cuidar. Sem ter a quem querer bem,
queriam tratar de alguém. E arranjavam um gato para fazer companhia. A aldeia ficava
com uma gataria...Mas gato é bicho caçador. E de noite os gatos saíam para caçar.
Caçavam ratos do campo. Quando tinha muito gato, sobrava muito pouco rato. Só que
esse tipo de rato só ficava bem feliz comendo uma certa planta com deliciosa raiz. Com
58 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
menos rato, tinha mais dessa planta no mato. Essa planta, por sua vez, tinha uma folha
bem tenra, um verdadeiro tesouro
para certo tipo de besouro. Besouro de brilho lustroso, que logo saía guloso pra
comer de sobremesa
uma flor que era uma beleza. Flor de trevo açucarada. Voando de flor em flor, o
pólen ele ia levando. Esse pólen, que levava, em outra flor se misturava. Dessa mistura,
uma semente se formava. Uma nova planta nascia. O campo todo de trevos se cobria. Era
o melhor pasto que havia.
Depois disso, o que é que vinha? Será que você adivinha? O gado ficava lindo!!!
De outros lugares, muitos homens vinham vindo. Tinham muito que trabalhar. E
começavam a namorar. Aí, casavam, as famílias criavam, e nos gatos nem pensavam.
Começava tudo ao contrário. Menos gatos, mais ratos. Mais ratos, menos raízes. Menos
raízes, menos folhas. Menos folhas menos besouros. Menos besouros, menos trevos.
Com as coisas indo assim, o pasto ficava ruim. O gado emagrecia. E tudo de novo
acontecia.
Mas o cientista era bem esperto. E logo deu um conselho que fez tudo dar bem
certo: “Vida de planta, gente, animal tem que ser entrelaçada para não acabar mal. Para
tudo corrigir é bom que cada família tenha um gato por aqui.
Assim fez o pessoal. E tinha razão o Professor Tomás: a região não ficou pobre NUNCA
MAIS
Fonte: Livro Gente, Bicho, Planta: O mundo me encanta
Quadro 14 – Atividades Interpretativas/Comparativas
Levantando hipóteses sobre as histórias
1.O que o título das histórias lhe sugere? Qual o conflito tratado em cada uma delas?
2. Depois faça as seguintes atividades:
a) Imagine que você é um morador da cidade que Thomas Huxley foi resolver o
problema. Responda às perguntas do cientista.
b) Em relação à primeira história, desenhe o problema da cidade e a solução
encontrada pelo cientista.
c) Explique, com suas palavras, por que o coiote representava um problema para
a cidade.
d) Transforme as duas histórias em notícia de jornal.
e) Escolha uma das histórias e transforme em um texto poético.
f) Explique, com suas palavras o que as duas histórias têm em comum.
3. Pesquise sobre o biólogo inglês Thomas Henry Huxley.
4. Descubra o nome de um neto do cientista e o que ele fez de importante que o deixou
famoso.
5. Crie um diálogo entre o avô e o neto.
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6. Conheça outros ingleses famosos nascidos no século XIX. Monte um álbum de
fotografias ou um cartaz.
7. Descubra o que os cientistas brasileiros estão pesquisando atualmente. Monte um
jornal falado para noticiar as pesquisas que você descobriu.
8. Investigue sobre médicos sanitaristas brasileiros, no século XIX e início do XX.
Socialize criativamente as informações.
9. Investigue sobre cadeia alimentar. Crie outra cadeia alimentar diferente das
apresentadas nas histórias. Monte um jogo ou confeccione uma maquete.
10. Investigue sobre os animais das histórias. Socialize criativamente as informações.,
agrupando-os de acordo com suas características/classificações
Fonte: Adaptação do Site da Global Editora
Disponível em: < https://globaleditora.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Gente-Bicho-
Planta-O-Mundo-me-Encanta-035.pdf >Acesso em: 10 de fev. de 2019.
Figura 6 – Desenho da Cadeia Alimentar
Fonte: A autora, 2019
60 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Figura 7 – Texto do aluno (Resumo)
Fonte: A autora, 2019.
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Figura 8 – Cordel produzido por aluno
Fonte: A Autora, 2019
62 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Unidade V: Propagandas e contos de aventura: alimentação em foco
Tema: Alimentação
Gênero textual utilizado: propaganda (cartazes/postagens), vídeos e contos
Duração: 6 aulas (45 minutos cada)
Objetivos:
- Estimular a discussão do conteúdo de ciências a partir de textos literários e não
literários;
- Refletir sobre a alimentação, as origens e propriedades dos alimentos;
-Exercitar a produção textual através de gêneros textuais diferentes;
-Utilizar os conhecimentos científicos na produção textual proposta;
- Desenvolver a leitura crítica de gêneros textuais diversos nas aulas de ciências.
Nas atividades propostas com esse tema “Alimentação”, buscamos
trabalhar - além do viés da alimentação saudável, alimentos de origem
vegetal e animal, naturais e industrializados, pirâmide - as propriedades
dos alimentos (seus benefícios) através das propagandas, e o conto de
aventura.
Para tanto, houve a necessidade, inicialmente, de expormos o
projeto da empresa Hortifruti, que tem sido veiculado, desde o ano de
2016, um site-paródia da empresa Netflix, denominado Hortiflix, no qual
foram divulgados cartazes e vídeos dos filmes, séries, de gêneros diversos,
com um diferencial: as estrelas são os alimentos da natureza.
Figura 9 - Print da página Hortiflix, da empresa Hortifruti
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
63
[Digite aqui]
Abaixo podemos ver uma outra página do site na qual estão parte
dos filmes parodiados pela empresa Hortiffruti, no projeto Hortiflix:
Figura 10 – Print da página de exposição dos filmes
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Explicamos, explorando o site-paródia, a intenção da empresa
Hortifruti e foi mostrado também a repercussão dessa campanha
“Hortiflix”, observando a originalidade, criatividade e alcance das
propagandas, agradando todo tipo de público com os cartazes que
parodiam filmes. Fomos navegar na internet para conhecer melhor o site.
Nesse momento utilizamos um projetor multimídia, que também nele
pudemos acessar o site. Mas na falta desse recurso, aconselhamos projetar
as imagens e discutir as questões com os alunos.
No site da Hortiflix encontramos a seguinte descrição da proposta:
64 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
“A Hortiflix é uma plataforma ondemand, gratuita e supermoderna que
concentra todos os sucessos das famosas campanhas da Hortifruti e
Natural da Terra. Divirta-se sem moderação com novos títulos e as
últimas temperadas das séries mais comentadas”.
Foi preciso explicar o termo “ondemand”, visto na descrição do site
Hortiflix. Tecnologicamente contemporâneo, o site deixa claro, além dessa
facilidade de acesso, a sua interatividade, convidando, inclusive, seu
público para contribuir com outras paródias de filmes, tendo um espaço no
site para que o internauta possa efetivar sua participação. O significado do
termo “ondemand” foi definido como “sob demanda”, ou seja, você pode
acessar o conteúdo disponível a qualquer momento, sem depender da
programação de um canal de TV ou, no caso de músicas, uma emissora de
rádio.
No site-paródia da Hortiflix há um ícone “envie sua ideia”. Nele, ao
clicar, o público de depara com uma caixa de diálogo contendo as
seguintes informações:
Tem uma ideia de nome de filme? Mande pra gente.
Seu nome*:
Seu e-mail*:
Nome original do filme*:
Sua sugestão*:
Seu comentário:
Observamos e mostramos aos alunos que há também um espaço para
concordância ou discordância de que o internauta precisa ticar ou não, de
acordo com sua intenção, dizendo: “Concordo que a sugestão enviada
65
[Digite aqui]
através deste formulário pode ser utilizada livremente pela Hortifruti e
Natural Terra e autorizo o uso da minha sugestão”. Nessa parte da aula,
refletimos um pouco sobre os direitos autorais, direitos de imagens, ética
na meio virtual/midiático.
Esse espaço foi um motivo de estímulo para que, após a efetivação
da proposta feita pelos alunos, com a participação da disciplina Informática
Educativa, os trabalhos serem postados como sugestões no site da
Hortiflix. Assim propomos.
Antes de analisarmos cada propaganda dos filmes cujos
protagonistas são, em sua maioria, alimentos de origem vegetal, fizemos
uma leitura de uma reportagem sobre o tema e depois fizemos um esquema
no quadro com o intuito de identificarmos no gênero textual (propaganda)
as informações contidas nele. Vejamos a seguir as perguntas que nortearam
a análise: Qual é o produto? Qual é o filme relacionado ao produto? Qual é
a empresa? Quem é o público-alvo? Qual é o slogan? Qual a relação entre
o slogan do produto e as propriedades do alimento?
Propaganda/Alimentação/Contos de Aventura/Resumo
Fizemos esse encaminhamento:
Nós vamos ler uma reportagem sobre as propagandas criativas do
Hortifruti. Depois, nós vamos apreciar os inteligentes anúncios feitos pela
Rede de sacolões que ganhou o público com suas paródias. Nelas, foram
dispensados famosos da mídia e investiram, como estrelas das suas
propagandas, nos elementos da natureza, que são seus produtos de venda.
Eis a reportagem:
66 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Quadro 15 – Reportagem sobre a Hortiflix
Hortifruti cria 'paródia natureba' dos filmes do Netflix
'Batatas do Caribe' e 'Kiwi Bill' são destaques do 'Hortiflix'.Rede de
sacolões divulgou campanha em suas páginas nas redes sociais.
Boa parte dos assinantes do Netflix está familiarizada com sucessos de
bilheteria como "2 Filhos de Francisco" e "O Incrível Hulk". Mas certamente
ainda desconhece títulos como "2 milhos de Francisco" e "A Incrível Rúcula"
(http://g1.globo.com/economia/midia-e-
marketing/noticia/2016/02/hortifruti-cria-parodia-natureba-dos-filmes-do-
netflix.html, acessado em outubro/2010), disponíveis apenas no "Hortiflix".
A rede de varejo de hortaliças, legumes e frutas Hortifruti criou uma
paródia bem-humorada dos filmes disponíveis no popular serviço de
streaming por vídeo e divulgou a campanha nas redes sociais. O layout da
plataforma ganhou versões "naturebas" dos cartazes de grandes produções do
cinema. Entre os títulos, estão disponíveis "Limão Impossível 3", "A Outra
Alface", "Pimentão Valente", "Berinjela Indiscreta" e "O Aipo da
Compadecida" ((http://g1.globo.com/economia/midia-e-
marketing/noticia/2016/02/hortifruti-cria-parodia-natureba-dos-filmes-do-
netflix.html, acessado em outubro/2010).
Os "sucessos da natureza" podem receber notas, de zero a cinco
estrelas. Os títulos da campanha têm até sinopse. Em "Kiwi Bill", por
exemplo, o recado está dado: "Ele fez uma promessa. Quem não vier para a
Hortifruti vai pagar caro" ((http://g1.globo.com/economia/midia-e-
marketing/noticia/2016/02/hortifruti-cria-parodia-natureba-dos-filmes-do-
netflix.html, acessado em outubro/2010). A rede de varejo tem 33 lojas no
Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
Fonte: Site da Hortiflix da Empresa Hortifruti
Disponível em: http://g1.globo.com/economia/midia-e-
marketing/noticia/2016/02/hortifruti-cria-parodia-natureba-dos-filmes-do-netflix.html,
acessado em out. de 2010
67
[Digite aqui]
Sobre “propaganda” é importante observar alguns detalhes nelas,
tais como: a) Qual é o produto?
b) Quem é o público-alvo?
c) Qual é o slogan do produto?
d) O que o produto parece trazer de diferente?
e) O que o slogan tem a ver com as propriedades do alimento?
Ao todo, selecionamos vinte e cinco propagandas para serem
observadas e analisadas pelos alunos. Vale a pena frisar que a escolha
dessas propagandas se deu de acordo com o interesse do público da aula,
com o objetivo de que fosse construído um maior nível de referência e
inferência entre os filmes originais e os filmes parodiados. Essa relação é
criada pela associação feita pelos alunos sobre os filmes em questão. E sem
ela, a compreensão da propaganda sofreria uma fissura, tendo em vista já a
dificuldade de interpretação da linguagem conotativa e científica contidas
nas peças publicitárias. Então, resolvemos partir de algo que os alunos
tenham conhecimento, ou seja, propagandas de filmes que eles já
assistiram e/ou foram amplamente divulgados pela mídia.
Respondidas tais questões, ao observarmos as vinte e cinco
propagandas selecionadas (de acordo com o interesse do público da aula,
para que haja a referência pretendida) e coletadas no site-paródia Hortiflix,
foi possível fazer uma relação entre a escolha do slogan e a propriedade do
alimento em cartaz do filme.
Destacar a linguagem conotativa presente nas propagandas dos
filmes, levando aos alunos à necessidade de uma interpretação não
somente científica, mas metafórica dos cartazes e seus elementos, o que
68 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
torna ainda mais interessante a construção de sentido da abordagem desse
gênero e a proposta contemporânea que ele nos oferece.
Após isso, lançamos a proposta de os alunos escolherem um
alimento de origem vegetal também, pesquisar sobre eles e, com tais
informações, criarem um personagem com superpoderes para estrelarem
em um conto de aventura que eles escreveriam, inspirados nas propagandas
de filmes da Hortiflix vistas em sala.
Os alunos pesquisaram sobre seu alimento de origem vegetal (Essa
pesquisa pode ser feita em casa e/ou em sala, com o uso permitido do
celular, combinado entre professor e responsáveis), criam um personagem
com superpoderes de acordo com os benefícios encontrados sobre o tal
alimento e escrevem um conto de aventura com ele, levando em
consideração também a criação de um antagonista entre outras
características do gênero conto de aventura, estudado previamente.
Basicamente, os alunos devem seguir a estrutura do conto de
aventura clássico, com a introdução (apresenta os personagens e o
contexto para dar início ao conflito), o conflito (apresentado como
problema a ser resolvido, desafio a ser superado, mistério a ser
desvendado, entre outras coisas que o personagem pode enfrentar no
decorrer da aventura); e o desfecho (apresenta a solução do problema ou
conflito, concluindo a narrativa).
Seguem alguns links que conseguimos coletar das peças
publicitárias estudadas em aula. Organizamos em uma tabela, com as
referências dos filmes que são parodiados e o endereço de acesso onde
podem ser encontrados.
69
[Digite aqui]
Quadro 16 – Tabela de links e filmes/paródias
Links Filmes-
paródias
Filmes de
referência
https://www.youtube.com/watch?v=4ciR6Is0WsU Campanha
Hortiflix
Trailler de
cinema
https://www.youtube.com/watch?v=t5lM_MoXZ-M Liga da Saúde
Hortifruti:
Liga da Justiça
https://www.youtube.com/watch?v=iDX4MsKJmB4
Kung Fu
Manga
Kung Fu Panda
https://www.youtube.com/watch?v=7SbhCNPRUGw
O rei melão O Rei Leão
https://www.youtube.com/watch?v=0866Aw8VdC0
Mulher
Marervilha
Mulher
Maravilha
https://www.youtube.com/watch?v=0srOToVNaoI O Mágico de
Noz
O Mágico de
Oz
https://www.youtube.com/watch?v=PTBV1jLTDRk
Milhons Minions
https://www.youtube.com/watch?v=Z8zJhRI7Oew
A incrível
rúcula
O incrível Hulk
https://www.youtube.com/watch?v=9YHFwvoDQV8
Rocky Baroa Rocky Balboa
https://www.youtube.com/watch?v=pujh_SAqA4g
A era do Jiló A Era do Gelo
https://www.youtube.com/watch?v=PA-
wUpAGV0A
A espera de
uma alface
A espera de um
milagre
https://www.youtube.com/watch?v=e_cosgVnw7Y Velozes e
Furiovos 7
Velozes e
Furiosos 7
https://www.youtube.com/watch?v=ihvMccr5ZXU Maçãtrix Matrix
https://www.youtube.com/watch?v=x6cS-BRVgOc Tartaruvas
Ninja
Tartarugas
Ninja
https://www.youtube.com/watch?v=r9swV0Cn8Do Limão Impossível Missão Impossível
70 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
https://www.youtube.com/watch?v=lZ3TL8kyBBE E o coentro
levou
E o vento
levou
https://www.youtube.com/watch?v=HIJQT8AnK-4 Kiwi Bill Kill Bill
https://www.youtube.com/watch?v=oqu0tFW2Si8 O advogado do
Quiabo
O advogado do
Diabo
https://www.youtube.com/watch?v=hCenpBbO6uo Berinjela
Indiscreta
Janela
Indiscreta
https://www.youtube.com/watch?v=qkUC0L5FJw4 Onze inhames
e um segredo
Onze homens e
um segredo
https://www.youtube.com/watch?v=v_27S-mJYGg Aspargos
Inglórios
Bastardos
Inglórios
https://www.youtube.com/watch?v=U0V_TtpFa30 Pimentão
Valente
Coração
Valente
Fonte: A autora, 2019
Todas as propagandas foram exploradas oralmente em sala de aula,
de acordo com a proposta de observação dos elementos do gênero textual.
A princípio, especificamente nas três primeiras análises, pedimos para que
os alunos registrassem suas respostas e partilhassem com os demais.
Seguem as 25 propagandas selecionadas para essa aula:
.
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
71
[Digite aqui]
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
72 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
73
[Digite aqui]
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
74 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
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[Digite aqui]
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
76 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
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Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
78 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
Fonte: http://hortiflix.com.br/, acessados em outubro/2019
79
[Digite aqui]
Abaixo, para exemplificar e ilustrar a proposta, expomos alguns
registros de produção de contos de aventura, pelos alunos, em sala de aula:
Figura 11: Produção 1 de conto de aventura realizada por aluno.
Fonte: A autora, 2019.
80 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Figura 12: Produção 2 de conto de aventura realizada por aluno
Fonte: A autora, 2019.
81
[Digite aqui]
Figura 13: Produção 3 de conto de aventura realizada por aluno
Fonte: A autora, 2019
82 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Unidade VI: Projeto “Sacola Científica”: da injunção ao relato
Tema: Projeto Sacola Científica
Gênero textual utilizado: textos injuntivos, relatos de experiência e relatório.
Duração: O ano inteiro (de 5 a 10 minutos de cada aula)
Objetivos:
- Estimular a participação dos alunos nas aulas de Ciências;
- Experimentar os conteúdos a bordados de forma prática;
-Exercitar a produção textual através de gêneros textuais diferentes;
- Desenvolver a leitura crítica de gêneros textuais diversos nas aulas de ciências.
Trabalhar com certos tipos de texto, como os injuntivos e
prescritivos, com crianças na fase escolar dos Anos Iniciais é desafiante
para o professor. Primeiro porque é preciso instruir, caracterizar,
exemplificar tais textos, evitando cair na explanação comum da
categorização, sem intenção de uso; depois, porque é necessário dar
significado aos usos desses gêneros textuais, cuja inserção na escola já os
tornam limitados, diante do específico campo de circulação dos mesmos
pelas crianças.
Então, para abordar textos injuntivos é importante criar uma rotina
de uso/criação deles para que a prática seja o viés da sua produção. Mostrar
aos alunos que o texto injuntivo (ou instrucional) apresenta as seguintes
características: instrui o leitor acerca de um procedimento; induz o leitor a
proceder de uma determinada forma; permite a liberdade de atuação ao
leitor; utiliza linguagem objetiva e simples; utiliza predominantemente
verbos no infinitivo, imperativo ou presente do indicativo com
indeterminação do sujeito. Exemplos: receita culinária, bula de remédio,
manual de instrução, livro de autoajuda, guia rodoviário, etc...
83
[Digite aqui]
Já os textos prescritivos, têm como características: também instrui o
leitor acerca de um procedimento; exige que o leitor proceda de uma
determinada forma; não permite a liberdade de atuação ao leitor; apresenta
caráter coercitivo; utiliza linguagem objetiva e simples; utiliza
predominantemente verbos no infinitivo, imperativo ou presente do
indicativo com indeterminação do sujeito. São exemplos deles: cláusulas
contratuais, leis, códigos, constituição, edital de concursos públicos, regras
de trânsito, etc...
Para isso, foi pensado um projeto chamado “Sacola Científica”, no
qual a injunção/prescrição textual está presente desde a sua apresentação
até o seu registro, mesclando-se com o relato (pessoal, narrativo e também
descritivo) cuja subjetividade incrementa essa dinâmica do fazer científico:
a experiência de cada criança sendo expressada, de forma oral e escrita,
transcrita em um caderno.
O projeto aconteceu da seguinte maneira: parte na sala de aula,
parte em casa. Os alunos tiveram a responsabilidade e o compromisso de
levar a sacola científica durante o fim de semana para que, nesse ínterim,
eles pudessem explorar a sacola, cumprindo a tarefa prevista para aquele
dia de aula que vai ter a ver com a experiência vivenciada pelo aluno em
casa. Cabe ressaltar que a sacola científica, nessa situação de ensino,
continha e necessitava de materiais específicos para sua efetiva execução:
• Uma sacola ou saco, no qual se possam colocar
utensílios/instrumentos com os quais os alunos terão contato
direto e farão experiências previamente estabelecidas;
• Um caderno ou bloco de notas, que servirá de diário científico,
o qual será preenchido toda semana por cada aluno que for
84 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
sorteado para ser o cientista do dia e levar a “sacola científica”
para casa - sem critério rígido nem gênero textual consensual do
universo da Ciência, ou seja, o aluno terá liberdade de registrar,
em verso, prosa ou desenho, dentro de uma gama de discursos
possíveis, suas impressões, procedimentos e aprendizagens.
• Um jaleco ou colete, com o qual o aluno vai se vestir toda vez
que estiver executando alguma tarefa do projeto, especialmente
as experiências, compondo os acessórios de proteção da
criança;
• Óculos de proteção, cujo uso será obrigatório para poder mexer
com algumas substâncias;
• Luvas, com as quais os alunos manusearam os
materiais/utensílios/instrumentos na hora de fazer as
experiências.
Apetrechos diversos como tubos, tubetes, lupa, pinça, potes,
termômetro, dentro outras coisas que possam ser usadas como
instrumentos científicos no momento das experiências.
No dia da aula de Ciências, o aluno faz a apresentação da sua
experiência, em horário combinado com o professor, de acordo com a
necessidade do tema da aula e sequência dos conceitos apresentados. Após
a demonstração do aluno, ele entregará ao professor a sacola com os
materiais que a compõem e o diário científico devidamente registrado. No
mesmo dia é feito um outro sorteio para que outro aluno participe do
projeto. É importante colecionar os relatos dos alunos e também fotos das
aulas nas quais os alunos apresentaram suas experiências. Tudo isso pode
ficar arquivado no diário científico, que está aberto para ser escrito com
85
[Digite aqui]
qualquer gênero textual (do injuntivo ao relato pessoal), da forma como os
alunos queiram se expressar.
Na ordem em que aparecem, os textos representam etapas do
projeto. Uma espécie de modelo para dar encaminhamento à proposta. O
primeiro material é a apresentação do projeto. Com esse material, o
professor fará uma explanação da atividade, dará ao aluno, como se fosse
um termo de apresentação e compromisso, podendo o aluno querer ou não
participar, visto que o projeto é extracurricular e de cunho
ilustrativo/voluntário. Sendo afirmativa a participação do aluno, ele assina
e levará o documento para casa com o objetivo de os responsáveis também
consentirem o envolvimento do estudante nessas atividades. Sendo
permitido pelos responsáveis, o estudante está apto para ser incluído no
sorteio semanal do projeto. Os demais materiais são modelos seqüenciais
da proposta. À época, foi no período em que estamos estudando sobre
alimentação, sistema digestório, então o material tem essa formatação, mas
pode ser adaptado para outros assuntos, assim queiramos.
Seguem as sugestões de formatação para a proposta do projeto
“Sacola Cientifica”:
Projeto “Sacola Científica”
1ª Proposta: Chamada para os alunos participarem do projeto, se
comprometerem com ele e esclarecimento sobre o projeto:
86 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Quadro 17 – Apresentação da proposta
Projeto
O projeto “ConsCiência- Sacola Científica” é uma estratégia de
desenvolvimento, coletivamente, de habilidades estudantis, humanas,
científicas – tais como responsabilidade, espírito investigativo,
consciência da coletividade, noção de participação e conceitos éticos nas
atitudes de uns para com os outros –que serão trabalhadas “nos” e
requeridas “dos” alunos que se voluntariarem nessa empreitada.
A participação consiste em duas etapas:
• Levar o kit “Sacola Científica” para casa, durante o final de
semana (Leva na sexta e retorna na segunda-feira) e fazer uma
experiência, já planejada previamente, que nos traga algum
proveito para o assunto estudado e/ou algum saber esclarecido
(curiosidades). O aluno deve utilizar o diário científico para fazer
um relatório da atividade e/ou um registro (verbal – em prosa ou
verso - ou não verbal – esquema, infográfico, desenho, tirinha, etc)
do que foi feito, descoberto e/ou aprendido. Dentro da sacola vai
um roteiro do que deve ser feito e de como se fará.
• Fazer a experiência na aula de Ciência (no início ou no final, a
depender da coordenação da professora), às segundas-feiras, para
ilustrar a aula em andamento.
Observação:
1. A sacola científica pode conter mais materiais do que o necessário
para fazer a experiência no fim de semana. Isso acontece porque
um dos objetivos é despertar no aluno o desejo de pesquisar,
experimentar e descobrir, tendo, nessa sacola, alguns instrumentos
para isso. Assim como pode também faltar algum ingrediente para
a feitura da experiência, coisas simples como detergente, sal,
açúcar e etc, nada que inviabilize a atividade.
2. A participação do aluno nesse projeto garante que ele seja o
cientista do dia na aula de Ciências, auxiliando a professora nos
87
[Digite aqui]
procedimentos e andamentos da aula.
Caso o aluno queira participar, deve conversar com seu responsável e
este assinar o termo de esclarecimento do projeto, bem como estar ciente
das obrigações e também ser considerado responsável pelas possíveis
perdas de materiais e/ou algum dano no kit, ressarcindo o que for
necessário para que o projeto continue. Sendo assim, permitida a
participação do aluno, ele deve entregar esse termo explicativo à
professora de Ciências, devidamente assinado.
Assinatura do aluno: __________________________________________
Assinatura do responsável: _____________________________________
Fonte: A autora, 2019
2ª Proposta: Aula sobre Alimentação – Pirâmide Alimentar:
alimentos lipidinosos
Quadro 18 – Aula 1 sobre Alimentos
Projeto “Sacola Científica” – ….° Ano / 20…
Parabéns! Você está fazendo parte do Projeto Sacola Científica!
Você está levando a Sacola científica para casa hoje (__/__) e deve
retornar com ela na próxima segunda-feira, dia ___ de ________, com
alguma experiência feita sobre o assunto “Alimentos energéticos,
reguladores e construtores”.
Fique à vontade para pesquisar em livros, revistas e sites.
Para garantir o sucesso da sua participação na próxima aula de
Ciências, estamos dando a sugestão abaixo para você realizar como
experiência. Lembre-se de economizar todos os materiais e elementos, da
natureza ou não, para que possamos usar novamente, com
responsabilidade.
Não esqueça também de se proteger com luvas, óculos e jaleco.
Esses equipamentos de segurança são necessários em qualquer
experiência científica, por mais simples que seja.
E mais uma coisa: registre tudo que você fez, observou e aprendeu
88 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
no diário do cientista. Seja detalhista. E capriche na letra!
Objetivo Geral: Identificar a presença de lipídios (gorduras) nos
alimentos.
Materiais: leite, óleo, uva, alface, tomate, chocolate, miolo de pão,
papel filtro, pincel, pipeta de Pasteur, cápsula de porcelana, almofariz,
pistilo, água e calor do sol, estufa ou micro-ondas. (Pode fazer apenas com
três ou quatro alimentos. Os alimentos que tiverem disponíveis em casa)
Procedimentos:
- Macerar* alguns alimentos acima citados com um pouco de água;
(Se não sabe o que é “macerar”, pesquise no dicionário. Um cientista está
sempre pesquisando e o dicionário é uma fonte de pesquisa e
aprendizado!)
- Escrever o nome desses alimentos em uma tira de papel filtro,
sendo dois tipos de alimento por tira: um em cada extremidade (Ex. Água
e óleo; margarina e alface; miolo de pão e leite;
chocolate e uva);
- Pingar, ao lado do nome do alimento, algumas gotas do mesmo;
- Levar os papeis ao sol ou ao micro-ondas (deixar secar) e
aguardar por 5 minutos;
- Retirar e observe os papeis e identificar quais alimentos contém
lipídios e suas quantidades, observando-oscontra a luz.
Observação: Se precisar, use as materiais que estão na sacola, ok?
Bom proveito!
Fonte: A autora, 2019
3ª Proposta: Aula sobre Alimentação: alimentos com amido
Quadro 19 – Aula 2 sobre Alimentos
Projeto “Sacola Científica” – .....º Ano / 20...
Parabéns! Você está fazendo parte do Projeto Sacola Científica!
Você está levando a Sacola científica para casa hoje (__/__) e deve
retornar com ela na próxima segunda-feira, dia ___ de ________, com
alguma experiência feita sobre o assunto “Alimentos energéticos,
reguladores e construtores”.
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[Digite aqui]
Fique à vontade para pesquisar em livros, revistas e sites.
Para garantir o sucesso da sua participação na próxima aula de
Ciências, estamos dando a sugestão abaixo para você realizar como
experiência. Lembre-se de economizar todos os materiais e elementos, da
natureza ou não, para que possamos usar novamente, com
responsabilidade.
Não esqueça também de se proteger com luvas, óculos e jaleco.
Esses equipamentos de segurança são necessários em qualquer
experiência científica, por mais simples que seja. E mais uma coisa:
registre tudo que você fez, observou e aprendeu no diário do cientista.
Seja detalhista. E capriche na letra!
Objetivo Geral: Identificar a presença de amido (carboidratos) nos
alimentos.
O amido é um carboidrato do tipo polissacarídeo (é formado por
vários tipos de açúcares) e é a principal substância de reserva energética
(de glicose) de plantas e algas. Dessa forma, não o encontramos em
alimentos de origem animal. Para testar essa afirmação, poderá ser feita
uma aula prática de identificação do amido em alimentos.
Materiais: alface, miolo de pão, biscoito, batata inglesa (crua)
farinha, arroz cru, arroz cozido, pão, frutas, leite, macarrão, pires ou potes
para colocar os alimentos, pipeta ou conta-gotas, iodeto de potássio e água
oxigenada (volume 10). Observação: Você pode fazer apenas com três ou
quatro alimentos. Os alimentos que tiverem disponíveis em casa, mas
lembre-se de que precisa ter alimentos de origem vegetal e animal!)
Procedimentos:
- Colocar cada alimento em um lugar, de forma que não se
misturem (pode usar os tubos de ensaio;
- Pingar 1 gota de iodeto de potássio e uma gota de água oxigenada
em cada alimento (Pingue no mesmo lugar, presta atenção porque os
líquidos são incolores!)
- Observe por alguns minutos a reação de cada alimento e anote
suas conclusões.
Bom proveito!
Fonte: A autora, 2019
90 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
4ª Proposta: Alimentação/Sistema digestório
Quadro 20 – Aula sobre Alimentação/Sistema Digestório
Projeto “ConsCiência -Sacola Científica” - .....º Ano /20....
Parabéns! Você está fazendo parte do Projeto Sacola Científica!
Você está levando a Sacola científica para casa hoje (__/__) e deve
retornar com ela na próxima segunda-feira, dia ___ de ________, com
alguma experiência feita sobre o assunto “Sistema Digestório”.
Fique à vontade para pesquisar em livros, revistas e sites.
Para garantir o sucesso da sua participação na próxima aula de
Ciências, estamos dando a sugestão abaixo para você realizar como
experiência. Lembre-se de economizar todos os materiais e elementos, da
natureza ou não, para que possamos usar novamente, com
responsabilidade.
Não esqueça também de se proteger com luvas, óculos e jaleco.
Esses equipamentos de segurança são necessários em qualquer
experiência científica, por mais simples que seja. E mais uma coisa:
registre tudo que você fez, observou e aprendeu no diário do cientista.
Seja detalhista. E capriche na letra!
Objetivo Geral: Identificar a importância da saliva no processo de
digestão dos alimentos.
O amido, ao reagir com o iodo, apresenta uma coloração roxa, mas
a mistura com saliva não fica roxa por causa da atuação da enzima
ptialina. Ela transforma o amido em maltose (moléculas de glicose que
ajudam a diluir os alimentos), que não reage com o iodo.
O amido é um carboidrato do tipo polissacarídeo (é formado por
vários tipos de açúcares) e é a principal substância de reserva energética
(de glicose) de plantas e algas. Dessa forma, não o encontramos em
alimentos de origem animal.
Materiais: tubos de ensaio (numere-os para identificar melhor as
misturas), conta-gotas, água, copinhos de café, amido, tinta de iodo, e
saliva.
Procedimentos:
Coloque água em um dos copos, acrescente amido, mexa e despeje
91
[Digite aqui]
dois dedos da mistura em cada tubo de ensaio. No outro copo, recolha um
pouco de saliva (sei que pode parecer nojento, mas a Ciência às vezes nos
exige coragem! Rs), passe-a para um dos tubos e agite. Espere 30 minutos
e pingue uma gota de tinta de iodo em cada tubo.
Tente explicar o que aconteceu. Você pode pesquisar os efeitos da
saliva na digestão!
Bom proveito!
Fonte: A autora, 2019
Perceber o engajamento dos alunos nessa proposta, o gosto pela
participação nas aulas, nas quais o protagonismo de quem levava a sacola
científica pra casa tinha espaço garantido, foi a mola propulsora para a
continuidade desse tipo de atividade. Todo início ou final de aula os
“cientistas do dia”, ou seja, os alunos sorteados para serem os portadores
da sacola científica, apresentavam suas experiências, pesquisas e registros.
Cada um da sua maneira, na forma como achava melhor. Houve registro de
desenho no quadro, esquema explicativo, demonstração de experiências,
explicação das mesmas e muitas contribuições no caderno, inclusive com
fotos. A dinâmica da sacola científica proporcionou uma compreensão
prática daquilo que pretendíamos ensinar, tanto em Ciências quanto em
Língua Portuguesa: método científico, assuntos específicos do currículo de
Ciências, como sistema digestório, pirâmide alimentar, alimentação, tipos
de alimentos, entre outros, além dos textos injuntivos, parte mais restrita do
currículo de Língua Portuguesa.
Abaixo estão registrados alguns momentos das apresentações dos
alunos no projeto “Sacola Científica”. Vejamos!
Registros dos momentos das apresentações do projeto:
92 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Figura 14 – Apresentação da Proposta 2
Fonte: A autora, 2019
Figura 15 – Apresentação da Proposta 3
Fonte: A autora, 2019
Figura 16 – Apresentação da Proposta 4
Fonte: A autora, 2019
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4. Quadro resumo
Esse quadro-resumo tem o intuito de compilar os gêneros textuais
trabalhados/sugeridos nesse caderno de orientações pedagógicas, bem
como tentar relacioná-los a alguns conteúdos da área de Ciências, em
especial do PPPI do Colégio Pedro II, além de outras sugestões de gêneros
textuais com os quais as atividades dialogam.
É importante destacar o porquê de começarmos o quadro com os
gêneros textuais e não com conteúdos: consideramos que os gêneros
textuais se ampliam durante o desenvolvimento dos conteúdos trabalhados
na área das Ciências Naturais, ou seja, há gêneros que atendem há vários
conteúdos e, portanto, não são estanques àqueles ou esses assuntos
abordados nas aulas. Os gêneros textuais aumentam o repertório de leitura
dos alunos e ampliam seu universo discursivo em quaisquer áreas do
conhecimento.
Na primeira coluna, foram colocados todos os gêneros descritos e
trabalhados em sala de aula no desenvolvimento das atividades desse
produto e da pesquisa que o acompanha. Damos relevância à quarta e à
quinta linhas, atividades as quais foram objetos de análise na pesquisa para
a validação desse produto pedagógico, bem como tiveram maior relevância
a construção do produto.
94 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
Quadro 21 – Quadro resumo dos gêneros textuais
Gêneros
textuais
utilizados
Conteúdos
envolvidos
Sugestões de Gêneros textuais
Música A alma
e a matéria
Introdução à
Ciência; O
homem e o
ambiente;
Os sentidos;
A narrativa “As aventuras na Laboroteca”, de Anna
Flora e Hamilton Varela; Poema O homem;as
viagens, de Carlos Drummond De Andrade
Música Ciência
e Religião
Ciências; A
natureza da
ciência;
Evolução
científica;
Texto A idade do céu (De Jorge Abner Drexler
Prada/ Paulo Correa De Araujo); Conto De
pergunta em Pergunta, de Ana Maria Machado.
Charge,
Reportagem,
poema, bula
Drogas lícitas e
ilícitas;
Causas e efeitos
das drogas
Verbete; entrevista/palestra; vídeo;
Contos,
poemas,
esquemas.
Cadeia
Alimentar;
Problemas com
o (d)esequilíbrio
ambiental;
Ações do
homem na
natureza.
Cordel; vídeos Aventuras com os Kratts
(https://www.youtube.com/channel/UCQY7Mp8pT6_JMGpbnXb_MKA)
Música Xote Ecológico, de Luiz Gonzaga.
Propaganda,
conto de
aventura,
resumo.
Alimentação
saudável;
composição dos
alimentos;
Sinopse; Descrição de personagem; vídeo
Nutriamigos-Super heróis da nutrição.
(https://www.youtube.com/watch?v=wv4kThJxKxQ)
Textos
injuntivos ou
instrucionais,
relatos (diário)
Alimentação;
Pirâmides;
Sistema
digestório.
Relato de experiências (orais e escritos); poemas;
esquemas; vídeo.
Fonte: A autora, 2019
95
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5. Algumas considerações
Damos como encerradas as orientações pedagógicas desse caderno,
sabendo que as propostas elencadas fizeram e fazem parte de uma prática
docente em constante construção/formação. Esperamos que nossas
atividades aqui apresentadas possam ser úteis e contribuam com as aulas
futuras, proporcionando retornos positivos com as turmas nas quais serão
aplicadas. Vale ressaltar que nenhuma proposta das orientações
pedagógicas descritas se exaure nesse formato, muito menos na maneira da
abordagem; portanto, as atividades podem ser adaptadas, transformadas,
revisadas, reformuladas de acordo com o público ao qual elas serão
apresentadas, o contexto no qual elas estarão inseridas e, também, em
consonância com os Anos em que pretendemos aplicá-las.
Temos como premissa o entendimento de que esse trabalho, um
caderno de orientações padagógicas, e outras práticas encontradas nos
produtos educacionais como esse, são partes do fazer laboral docente,
sendo este, pesquisador ou não, compromissado com suas ações e reflexões
acerca do seu ofício, entrando em um diálogo espiral com os sujeitos da
aprendizagem, com os quais partilha seus saberes para auxiliar também
outros colegas de profissão na lida diária do ambiente educativo.
96 Experiências não literais sobre Ciências e Gêneros textuais
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sombras. 1. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
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