caderno de estudo histórico

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Yan Walter Carvalho Cavalcante Caderno de Estudo Caderno de Estudo Caderno de Estudo Caderno de Estudo Histórico Histórico Histórico Histórico Teresina – PI Verão de 2009

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Yan Walter Carvalho Cavalcante

Caderno de Estudo Caderno de Estudo Caderno de Estudo Caderno de Estudo

HistóricoHistóricoHistóricoHistórico

Teresina – PI

Verão de 2009

Yan Walter Carvalho Cavalcante

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Yan Walter Carvalho Cavalcante

2ª Edição – Revisada e Ampliada

Caderno de Estudo Histórico

Caderno de Estudo Histórico 3

"A história é um simples pedaço de papel impresso;

o principal, ainda, é fazer história, e não escrevê-la"

(Otto Von Bismarck)

Yan Walter Carvalho Cavalcante

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Aos que admiram, prezam e valorizam

todos que nos antecederam.

Com apreço,

O autor.

Caderno de Estudo Histórico 5

Este trabalho é, em especial, para

Cândido Sales e Daniel Santos

que colaboraram com a realização deste,

incentivando-me.

Yan Walter Carvalho Cavalcante

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SUMÁRIO

Capítulo 1: Fundamentos da Sociedade Medieval.............................................................. Pág 7 • A Idade Média • A Igreja Medieval • Trovadorismo • Castelos Medievais • A Igreja Medieval • Cruzadas

Capítulo 2: A Ordem dos Templários............................................................................... Pág 14 • Aspectos Gerais • Os Monges Guerreiros • A Ordem Prospera • A Terra Santa perdeu-se • De Guerreiros a Banqueiros • Guardas das Sagradas Relíquias • O Julgamento dos Templários • Os Grãos Mestres da Ordem dos Templários • Jacques DeMolay, o último Grão-Mestre Templário • A Ordem dos Templários ainda existe...?

Capítulo 3: Simbologia Templária & DeMolay................................................................ Pág 28 • O Cavaleiro Medieval • Adoração ao demônio pelos Cavaleiros • Templo do Conhecimento Oriental • Fazedores de Reis • Guardiões do Santo Graal, o Cálice Sagrado • América do Norte, Ilha Oak e os Templários • Simbolismo da Iniciação DeMolay e o Triângulo Inicial

Capítulo 4: Ordem DeMolay............................................................................................. Pág 35 • A Origem da Ordem • Os Primeiros Anos da Ordem • A Maçonaria e a Ordem DeMolay • A Ordem DeMolay no Brasil

Capítulo 5: Biografias....................................................................................................... Pág 41 • Frank Sherman Land • Louis Gordon Lower • Frank Marshall

ANEXOS.......................................................................................................................... Pág 46 • Perdão do Papa aos Templários • Texto do livro “A linhagem do Santo Graal” • “A Cruzada do Descobrimento” Revista Super Interessante • “Guerreiros de Cristo” Revista Super Interessante • Acusações aos Templários • Prólogo do livro “O Último Templário” • O Pergaminho de Chinon • “A Ordem DeMolay no Brasil” por Alberto Mansur

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Capítulo 1: Fundamentos da Sociedade Medieval

A Idade Média

A Idade Média teve início na Europa com as invasões germânicas (bárbaras), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente. Essa época estende-se até o século XV, com a retomada comercial e o renascimento urbano. A Idade Média caracteriza-se pela economia rural, enfraquecimento comercial, supremacia da Igreja Católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada. Estrutura Política

Prevaleceu na Idade Média as relações de vassalagem e suserania. O suserano era quem dava um lote de terra ao vassalo, sendo que este último deveria prestar fidelidade e ajuda ao seu suserano. O vassalo oferecia ao senhor, ou suserano, fidelidade e trabalho, em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem se estendiam por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso. Todos os poderes jurídico, econômico e político concentravam-se nas mãos dos senhores feudais, donos de lotes de terras (feudos). Sociedade Medieval

A sociedade era estática (com pouca mobilidade social) e hierarquizada. A nobreza feudal (senhores feudais, cavaleiros, condes, duques, viscondes) era detentora de terras e arrecadava impostos dos camponeses. O clero (membros da Igreja Católica) tinha um grande poder, pois era responsável pela proteção espiritual da sociedade. Era isento de impostos e arrecadava o dízimo. A terceira camada da sociedade era formada pelos servos (camponeses) e pequenos artesãos. Os servos deviam pagar várias taxas e tributos aos senhores feudais, tais como: corvéia (trabalho de 3 a 4 dias nas terras do senhor feudal), talha (metade da produção), banalidades (taxas pagas pela utilização do moinho e forno do senhor feudal). Economia Medieval

A economia feudal baseava-se principalmente na agricultura. Existiam moedas na Idade Média, porém eram pouco utilizadas. As trocas de produtos e mercadorias eram comuns na economia feudal. O feudo era a base econômica deste período, pois quem tinha a terra possuía mais poder. O artesanato também era praticado na Idade Média. A produção era baixa, pois as técnicas de trabalho agrícola eram extremamente rudimentares. O arado puxado por bois era muito utilizado na agricultura.

Religião na Idade Média

Na Idade Média, a Igreja Católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade Média. A igreja também tinha grande poder econômico, pois possuía terras em grande quantidade e até mesmo servos trabalhando. Os monges viviam em mosteiros e eram responsáveis pela proteção espiritual da sociedade. Passavam grande parte do tempo rezando e copiando livros e a Bíblia.

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Educação, cultura e arte medieval A educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam. Esta era marcada

pela influência da Igreja, ensinando o latim, doutrinas religiosas e táticas de guerras. Grande parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros.

A arte medieval também era fortemente marcada pela religiosidade da época. As pinturas retratavam passagens da Bíblia e ensinamentos religiosos. As pinturas medievais e os vitrais das igrejas eram formas de ensinar à população um pouco mais sobre a religião. Podemos dizer que, no geral, a cultura medieval foi fortemente influenciada pela religião. Na arquitetura destacou-se a construção de castelos, igrejas e catedrais. As Cruzadas

No século XI, dentro do contexto histórico da expansão árabe, os muçulmanos conquistaram a cidade sagrada de Jerusalém. Diante dessa situação, o papa Urbano II convocou a Primeira Cruzada (1096), com o objetivo de expulsar os "infiéis" (árabes) da Terra Santa. Essas batalhas, entre católicos e muçulmanos, duraram cerca de dois séculos, deixando milhares de mortos e um grande rastro de destruição. Ao mesmo tempo em que eram guerras marcadas por diferenças religiosas, também possuíam um forte caráter econômico. Muitos cavaleiros cruzados, ao retornarem para a Europa, saqueavam cidades árabes e vendiam produtos nas estradas, nas chamadas feiras e rotas de comércio. De certa forma, as Cruzadas contribuíram para o renascimento urbano e comercial a partir do século XIII. Após as Cruzadas, o Mar Mediterrâneo foi aberto para os contatos comerciais. As Guerras Medievais

A guerra na Idade Média era uma das principais formas de obter poder. Os senhores feudais envolviam-se em guerras para aumentar suas terras e o poder. Os cavaleiros formavam a base dos exércitos medievais. Corajosos, leais e equipados com escudos, elmos e espadas, representavam o que havia de mais nobre no período medieval. Peste Negra ou Peste Bubônica

Em meados do século XIV, uma doença devastou a população européia. Historiadores calculam que aproximadamente um terço dos habitantes morreram desta doença. A Peste Negra era transmitida através da picada de pulgas de ratos doentes. Estes ratos chegavam à Europa nos porões dos navios vindos do Oriente. Como as cidades medievais não tinham condições higiênicas adequadas, os ratos se espalharam facilmente. Após o contato com a doença, a pessoa tinha poucos dias de vida. Febre, mal-estar e bulbos (bolhas) de sangue e pus espalhavam-se pelo corpo do doente, principalmente nas axilas e virilhas. Como os conhecimentos médicos eram pouco desenvolvidos, a morte era certa. Para complicar ainda mais a situação, muitos atribuíam a doença a fatores comportamentais, ambientais ou religiosos. Revoltas Camponesas: as Jacqueries

Após a Peste Negra, a população européia diminuiu muito. Muitos senhores feudais resolveram aumentar os impostos, taxas e obrigações de trabalho dos servos sobreviventes. Muitos tiveram que trabalhar dobrado para compensar o trabalho daqueles que tinham morrido na epidemia. Em muitas regiões da Inglaterra e da França estouraram revoltas camponesas contra o aumento da exploração dos senhores feudais. Combatidas com violência por partes dos nobres, muitas foram sufocadas e outras conseguiram conquistar seus objetivos, diminuindo a exploração e trazendo conquistas para os camponeses.

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Arte Medieval

Durante a Idade Média (século V ao XV), a arte européia foi marcada por uma forte influência da Igreja Católica. Esta atuava nos aspectos sociais, econômicos, políticos, religiosos e culturais da sociedade. Logo, a arte medieval teve uma forte marca temática: a religião. Pinturas, esculturas, livros, construções e outras manifestações artísticas eram influenciados e supervisionados pelo clero católico. Estilo Românico

Este estilo prevaleceu na Europa no período da Alta Idade Média (entre os séculos XI e XIII). Na arquitetura, principalmente de mosteiros e basílicas, prevaleceu o uso dos arcos de volta-perfeita e abóbadas (influências da arte romana). Os castelos seguiram um estilo voltado para o aspecto de defesa. As paredes eram grossas e existiam poucas e pequenas janelas. Tanto as igrejas como os castelos passavam uma idéia de construções “pesadas”, voltadas para a defesa. As igrejas deveriam ser fortes e resistentes para barrarem a entrada das “forças do mal”, enquanto os castelos deveriam proteger as pessoas dos ataques inimigos durante as guerras.

Com relação às esculturas e pinturas podemos destacar o caráter didático-religioso. Numa época em que poucos sabiam ler, a Igreja utilizou as esculturas, vitrais e pinturas, principalmente dentro das igrejas e catedrais, para ensinar os princípios da religião católica. Os temas mais abordados foram: vida de Jesus e dos santos, passagens da Bíblia e outros temas cristãos.

Estilo Gótico O estilo gótico predominou na Europa no período da Baixa Idade Média (final do

século XIII ao XV). As construções (igrejas, mosteiros, castelos e catedrais) seguiram, no geral, algumas características em comum. O formato horizontal foi substituído pelo vertical, opção que fazia com que a construção estivesse mais próxima do céu. Os detalhes e elementos decorativos também foram muitos usados. As paredes passaram a ser mais finas e de aspecto leve. As janelas apareciam em grande quantidade. As torres eram em formato de pirâmides. Os arcos de volta-quebrada e ogivas foram também recursos arquitetônicos utilizados.

Com relação às esculturas góticas, o realismo prevaleceu. Os escultores buscavam dar um aspecto real e humano às figuras retratadas (anjos, santos e personagens bíblicos).

No tocante à pintura, podemos destacar as iluminuras, os vitrais, painéis e afrescos. Embora a temática religiosa ainda prevalecesse, observa-se, no século XV, algumas características do Renascimento: busca do realismo, expressões emotivas e diversidade de cores.

Trovadorismo

Podemos dizer que o trovadorismo foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no século XII, em plena Idade Média, período em que Portugal estava no processo de formação nacional.

O marco inicial do Trovadorismo é a “Cantiga da Ribeirinha” (conhecida também como “Cantiga da Garvaia”), escrita por Paio Soares de Taveirós no ano de 1189. Esta fase da literatura portuguesa vai até o ano de 1418, quando começa o Quinhentismo.

Na lírica medieval, os trovadores eram os artistas de origem nobre, que compunham e cantavam, com o acompanhamento de instrumentos musicais, as cantigas (poesias cantadas). Estas cantigas eram manuscritas e reunidas em livros, conhecidos como Cancioneiros. Temos

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conhecimento de apenas três Cancioneiros. São eles: “Cancioneiro da Biblioteca”, “Cancioneiro da Ajuda” e “Cancioneiro da Vaticana”.

Os trovadores de maior destaque na lírica galego-portuguesa são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e Meendinho.

No trovadorismo galego-português, as cantigas são divididas em: Satíricas (Cantigas de Maldizer e Cantigas de Escárnio) e Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo).

Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.

Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.

Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).

Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.

Castelos Medievais

Durante a Idade Média (séculos V ao XV) a Europa foi palco da construção de milhares de castelos. Nesta época da história, as guerras eram muito comuns. Logo, os senhores feudais, reis e outros nobres preocupavam-se com a proteção de sua residência, bens e familiares.

Durante os primeiros séculos da Idade Média (até o século XI, aproximadamente), os castelos eram erguidos de madeira retirada das florestas da região. Seu interior era rústico e não possuía luxo e conforto.

A partir do século XI, a arquitetura de construção de castelos mudou completamente. Eles passaram a ser construído de blocos de pedra. Tornaram-se, portanto, muito mais resistentes. Estes castelos medievais eram erguidos em regiões altas, pois assim ficava mais fácil visualizar a chegada dos inimigos. Um castelo demorava, em média, de dois a sete anos para ser construído.

Em volta do castelo medieval, geralmente, era aberto um fosso preenchido com água. Esta estratégia era importante para dificultar a penetração dos inimigos durante uma batalha. Os castelos eram cercados por muralhas e possuíam torres, onde ficavam posicionados arqueiros e outros tipos de guerreiros. O calabouço era outra área importante, pois nele os reis e senhores feudais mantinham presos os bandidos, marginais ou inimigos capturados.

Como o castelo medieval era construído com a intenção principal de proteção durante uma guerra, outros elementos eram pensados e elaborados para estes momentos. Muitos possuíam passagens subterrâneas para que, num momento de invasão, seus moradores pudessem fugir.

O castelo era o refúgio dos habitantes do feudo, inclusive os camponeses (servos). No momento da invasão inimiga, todos corriam para buscar abrigo dentro das muralhas do castelo. A ponte levadiça, feita de madeira maciça e ferro, era o único acesso ao castelo e, após todos entrarem, era erguida para impedir a penetração inimiga.

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Por dentro, o castelo medieval era frio e rústico, ao contrário do luxo mostrado em muitos filmes sobre a Idade Média. Os cômodos eram enormes e em grande quantidade. O esgoto produzido no castelo era, geralmente, jogado no fosso.

Grande parte destes castelos medievais ainda existem na Europa, porém foram transformados em hotéis, museus ou pontos turísticos. Em cidades do interior da França, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e Inglaterra podemos encontrar vários exemplos destes interessantes tipos de construção antiga.

A Igreja Medieval

No ano de 391, a religião cristã foi transformada em religião oficial do Império Romano. A partir deste momento, a Igreja Católica começou a se organizar e ganhar força no continente europeu. Nem mesmo a invasão dos povos bárbaros (germânicos) no século V atrapalhou o crescimento do catolicismo.

Durante a Idade Média (século V ao XV) a Igreja Católica conquistou e manteve grande poder. Possuía muitos terrenos (poder econômico), influenciava nas decisões políticas dos reinos (poder político), interferia na elaboração das leis (poder jurídico) e estabelecia padrões de comportamento moral para a sociedade (poder social).

Como religião única e oficial, a Igreja Católica não permitia opiniões e posições contrárias aos seus dogmas (verdades incontestáveis). Aqueles que desrespeitavam ou questionavam as decisões da Igreja eram perseguidos e punidos. Na Idade Média, a Igreja Católica criou o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) no século XIII, para combater os hereges (contrários à religião católica). A Inquisição prendeu, torturou e mandou para a fogueira milhares de pessoas que não seguiam às ordens da Igreja.

Por outro lado, alguns integrantes da Igreja Católica foram extremamente importantes para a preservação da cultura. Os monges copistas dedicaram-se à copiar e guardar os conhecimentos das civilizações antigas, principalmente, dos sábios gregos. Graças aos monges, esta cultura se preservou, sendo retomada na época do Renascimento Cultural.

Enquanto parte do alto clero (bispos, arcebispos e cardeais) preocupava-se com as questões políticas e econômicas, muitos integrantes da Igreja Católica colocavam em prática os fundamentos do cristianismo. Os monges franciscanos, por exemplo, deixaram de lado a vida material para dedicarem-se aos pobres.

A cultura na Idade Média foi muito influenciada pela religião católica. As pinturas, esculturas e livros eram marcados pela temática religiosa. Os vitrais das igrejas traziam cenas bíblicas, pois era uma forma didática e visual de transmitir o evangelho para uma população quase toda formada por analfabetos. Neste contexto, o papa São Gregório (papa entre os anos de 590 e 604) criou o canto gregoriano. Era uma outra forma de transmitir as informações e conhecimentos religiosos através de um instrumento simples e interessante: a música. A Igreja Católica Hoje Atualmente, a Igreja Católica é muito diferente do que era na Idade Média. Hoje, ela não tem mais todo aquele poder e não pratica atos de violência. Pelo contrário, posiciona-se em favor da paz, liberdade religiosa e do respeito aos direitos dos cidadãos. O papa, autoridade máxima da Igreja, pronuncia-se contra as guerras, terrorismo e atos violentos. Defende também a união das pessoas, principalmente dos países mais ricos, na luta contra a pobreza e a miséria.

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As Cruzadas

Traçar a notável história dos Templários leva-nos a uma viagem pela Europa com a história no século XI no tempo das Cruzadas. Nesse tempo, o que conhecemos agora como países da Europa não tinham emergido ainda. O continente era uma amálgama de reinos menores, cada um com seu governo próprio. Muitas das disputas contínuas entre reinos eram iniciadas por "guerrinhas". Não era um bom lugar para viver. Especialmente se você fosse um camponês.

Mesmo assim o povo era unido por uma religião comum: A religião Cristã. Todos, dos nobres nos seus castelos aos camponeses nas suas rudimentares habitações, conformados à diária, semanal e anual adoração. O papa, sendo a cabeça da igreja, era representante de Deus na terra. Tinha suficiente poder para desafiar reis e imperadores. A palavra do Papa era lei. E esta podia alcançar a mais insignificante aldeia na Grã Bretanha rural, através de uma rede vasta de padres. Durante séculos uma sucessão de papas ousaram ter uma guerra de palavras com as casas reais de Europa numa tentativa de criar um império cristão unificado.

Em 1095 os ferozes turcos de Seljuk, guerreiros nômades recentemente convertidos ao Islão, tinham avançado a Leste e tinham estabelecido a sua própria capital a uma distância de 100 milhas de Byzantium (conhecida como Constantinopla, hoje Istambul), a capital do império romano oriental cristão. instalado o pânico, o Imperador Alexius de Byzantium emitiu uma mensagem ao papa Urbano II, pedindo-lhe ajuda.

Urbano compartilhava o sonho do predecessor de um reino cristão que se estenderia da costa atlântica até à ocidental Terra Santa, unificado sob a batuta papal. O apelo de Alexius para a ajuda serviu perfeitamente as suas finalidades. Urbano, entretanto, não estava satisfeito com a idéia de unicamente defender Byzantium. Não, este ambicioso papa queria libertar a própria Cidade Santa de Jerusalém, que fora ocupada pelos muçulmanos desde os meados do século VII. Aqui estava uma oportunidade de demonstrar o seu poder aos reinos da Europa. Uma oportunidade única de auto-promover o seu nome.

Numa extraordinária excursão de diplomacia, Urbano visitou inicialmente o sul e ao oeste da França, espalhando a notícia de um grande convênio a ser realizado em Clermont, uma cidade no centro-sul da França. Assistiram à reunião centenas de personalidades. No dia final, Urbano levantou-se para fazer um discurso. Traçando um retrato terrível da crueldade dos turcos, apelou para que todos os cristãos se esquecessem das suas discussões com o companheiro cristão, e que respondessem à apaixonada chamada para uma grande Cruzada para libertar Jerusalém.

O apelo foi rapidamente remetido através da Europa pela rede da igreja. Desta maneira, o papa contornou os monarcas dos países europeus e apelou diretamente aos nobres, e aos seus súditos. Àqueles que viam a guerra como um ato anti-cristão, Urbano explicou que as palavras da Bíblia tinham sido mal interpretadas. Embora o sexto mandamento indique claramente, não matarás, agora era somente um pecado matar cristãos. Matar muçulmanos era perfeitamente aceitável. Além disso, Urbano prometia que qualquer um que morresse na batalha estaria perdoado de todos os seus pecados nesta vida e na seguinte seria garantido um

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bilhete para o céu. Mas advertiu também que quem desertasse seria excomungado pela sua covardia.

De entre os cavaleiros de guerra da Europa, muitos dos quais não estavam particularmente bem financeiramente, a oportunidade de pilhar as cidades ricas do leste era irresistível. E com a benção de Deus! De todos os cantos, cavaleiros e camponeses — freqüentemente com as famílias inteiras a reboque — marchavam através da Europa com destino a Byzantium. A primeira Cruzada estava em marcha.

Os livros escolares pintavam um retrato romântico da primeira Cruzada: cavaleiros nas suas lindas armaduras lutavam contra os árabes infiéis em nome de Deus. Na realidade, nada podia estar mais longe da realidade.

O mundo árabe era relativamente calmo e civilizado naquela época. A um cavalheiro árabe esperava-se que fosse um poeta e um filósofo assim como um guerreiro. Tinham calculado corretamente a distância da terra à lua. E um árabe tinha sugerido mesmo que se fosse possível dividir o átomo, libertaria suficiente energia para destruir uma cidade do tamanho de Bagdad. Além disso, a própria Jerusalém era uma cidade multicultural. Os judeus, os muçulmanos e os cristãos viviam harmoniosamente. Era permitido aos cristãos em peregrinações a Jerusalém atravessar os lugares Santos.

Em contraste com o bando de Europeus bárbaros que atingiam o Oriente Médio, eram um monte de selvagens em fúria. Queimava-se, pilhava-se, violava-se e destruia-se à sua maneira através da Europa e dos Balcãs. Quem chegou primeiramente a Byzantium na resposta à chamada de Alexius para a ajuda foi um conjunto de 15 000 vagabundos, conduzido por um monge carismático chamado Pedro o hermita.

O imperador ficou horrorizado. Esperava talvez uma ou duas centenas de cavaleiros armados do papa. Certamente não iria deixar entrar Pedro e os seus desordeiros bárbaros na sua cidade. Foram seguidos por milhares de Francos e de povos germânicos, includindo cavaleiros e seus seguidores. Alexius enviou-os a todos desordeiramente através do Bósfarus na Turquia. Estava feliz por vê-los pelas costas.

Quando os Cruzados chegaram à Turquia do norte, o massacre começou. A cidade de Lycea foi capturada e loteada. Os relatórios diziam que bebés tinham sido retalhados. Os idosos eram sujeitos a todos os tipos de tortura. Infelizmente, a maioria dos habitantes de Lycea eram realmente Cristãos.

Os distúrbios continuaram para Sul até à Terra Santa. Após os confrontos com os Turcos os Cruzados regressavam ao campo de batalha com cabeças de muçulmanos enfiadas nas lanças. Numa ocasião fizeram prisioneiros de guerra transportar as cabeças dos seus próprios colegas. Cinquenta milhas ao sul de Antioch, quando capturaram a cidade Marrat, os cruzados deram-se inclusive ao canibalismo. Como Radulph de Caen, observou. "As nossas tropas cozinham pagãos adultos na panela. Enfiam as crianças no espeto e devoram-nas grelhadas". Estes não foram os agentes de Deus. Foram tão somente um bando de carniceiros sanguinários.

Eventualmente, em Junho de 1099, eles chegam a Jerusalém, a qual foi sitiada e capturada em Julho. Os primeiros a pôrem os pés nas muralhas da Cidade Santa foram dois irmãos flamengos. Por essa proeza tornaram-se heróis legendários. Eles eram tão famosos quanto Neil Armstrong o é hoje. Os Cruzados infringiram medonha carnificina nos indefesos habitantes, massacrando Judeus e Muçulmanos nos seus locais de culto. Foi afirmado que o sangue jorrava pelas pernas dos cavaleiros.

Mas os Cruzados foram julgados por terem sido estonteantes de sucesso. A Cidade Santa tinha sido recapturada aos infiéis.

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Capítulo 2: A Ordem dos Templários

Aspectos Gerais

Com o objetivo de proteger as rotas de peregrinação, os Cavaleiros Templários construíram, em menos de 200 anos, um império econômico sem igual na Idade Média. Os anos de glória e a queda violenta e injusta desta ordem de monges guerreiros deram vazão ao surgimento de várias lendas e histórias sobre esses cavaleiros, que foram a vanguarda da espiritualidade cristã da época.

A ordem dos monges guerreiros, que se tornou uma das mais poderosas e controversas organizações na história da Europa medieval, era conhecida com uma variedade de nomes: Pobres Soldados de Cristo e do Templo de Salomão, Milícia de Cristo ou, mais comumente, Cavaleiro Templários. Em 200 anos, a partir de seu objetivo de proteger as rotas de peregrinação, eles construíram um império econômico que pode ser considerado a primeira multinacional européia. Devendo obediência apenas ao papa, os Templários desenvolveram arrojadas técnicas de construção, trouxeram tecnologias dos muçulmanos e se tornaram mais ricos do que vários reinos, emprestando dinheiro para príncipes, bispos e reis. Famosos por sua bravura nas batalhas travadas nas Cruzadas, foram destruídos em menos de uma década por um rei que, não por acaso, era altamente endividado com a Ordem. Para o historiador Ricardo da Costa, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, os templários podem ser considerados os fundamentalistas da época. "Eles estavam na vanguarda da espiritualidade cristã. Ser um padre e ao mesmo tempo combater o infiel era considerado o máximo para a época".

Não havia nada mais heróico que o galopar do cavalo de um Templário, em meio ao som dos estandartes desfraldando, trombetas bradando e o fragor das armas, onde o campo de batalha transformava-se em um poço de honras e riquíssimos seqüestros, porém isso esfriou com a sanção da igreja, onde surgiu as poesias Cavalheirescas, regras de cortesia, conduta e moral, elaborando-se assim um rigoroso ritual, com significados simbólicos, nos quais, desde criança, o futuro cavaleiro já se submetia.

Os cavaleiros eram nobres, mas nem todo nobre era cavaleiro, pois era necessária uma cerimônia especial, para a qual o cavaleiro se preparava dos sete aos doze anos, onde aprendia a cavalgar e manejar a lança e a espada (era denominado pajem), depois era promovido à escudeiro e vivia ao lado do seu senhor, acompanhando-o nas batalhas e usufruindo de suas vitórias e derrotas.

O escudeiro poderia receber as esporas de cavaleiro, pelo seu comportamento em batalha ou por uma festa realizada na corte.

Na noite anterior da cerimônia, o “iniciado” passava a noite (esta noite era chamada de “VIGÍLIA D’ARMAS”) orando em pé ou de joelhos e ouvindo os sermões de cavaleiros lembrando-o das suas futuras obrigações, ao alvorecer, tomava um banho como libertação simbólica de seus pecados e vestia uma túnica branca (símbolo da pureza) e uma camisa vermelha (como sangue que os outros cavaleiros já derramaram) e um gibão ou calças negras (lembrando que a morte estava sempre por perto).

Só então era conduzido à igreja, onde o mais velho cavaleiro lhe entregava a espada e o sacerdote perguntava: “por que motivos queres tornar-se cavaleiro? Para ficar rico? Vai-te não és digno”. O jovem ajoelhado jurava sobre a espada, que se manteria fiel a Deus, seus princípios, sua dama ou seu padrinho, o padrinho lhe entregava seu paramento (esporas de ouro, cota de malha, lança, etc.), e lhe dava uma bofetada no rosto ou uma pancada com a base larga da espada nos ombros e dizia as “palavras da consagração”: Em nome de Deus, de São Miguel e de São Jorge, sagro-te cavaleiro.

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Porém poucos cavaleiros foram fiéis a ideologia não escrita da cavalaria: generosidade, fidelidade, defesa dos fracos contra o abuso dos poderosos. Não ferir o cavalo de um inimigo, não atacar muitos contra um, não se gabar das façanhas em batalha e servir a mulher amada, eram as bases do cavalheirismo. E muitas vezes o cavaleiro se apaixonava por uma mulher que jamais viu e só tinha ouvido falar, cortava o cabelo em sinal de dedicação, e acorria ao castelo da nobre dama, na esperança de vencer um torneio e receber um olhar ou um sorriso de sua musa.

Também existia a FRATERNIDADE D’ARMAS, onde dois cavaleiros faziam um pacto que só seria desfeito com a morte, onde eles ou trocavam suas armas ou executavam um ritual de fidelidade: a partir deste momento, vestiam se igual, combatiam juntos e corriam os mesmos riscos, ajudando-se mutuamente.

É nisso que se embasa o ritual da ordem DeMolay, onde os princípios da cavalaria estão mais fortes do que nunca, os antigos estandartes podem ser vistos em qualquer encontro que tenha mais de um capítulo, o respeito e a veneração à mulher é o mesmo, o respeito e a cortesia são, sem sombra de dúvida, o cartão de visita de um DeMolay.

Para muitos uma reunião DeMolay nada mais é do que uma versão do século XX das histórias da “Távola Redonda” do rei Arthur, a própria cerimônia de posse do Mestre Conselheiro Nacional é inspirada na coroação dos Reis da Bretanha.

No Grau Iniciático, o jovem, já em sua Iniciação, percorre a marcha dos cavaleiros cruzados, rumo a Terra Santa, buscando as mesmas virtudes básicas para sua coroação, na Terra Santa de Jerusalém (oriente do capítulo), no Grau Iniciático, é feita a aceitação do Neófito à “Fraternidade D`Armas”, passando a possuir os segredos que unem o DeMolay a todos outros irmãos no mundo inteiro. Os Monges Guerreiros

Quando as notícias de sucesso por parte dos cruzados chegavam à Europa havia uma grande exaltação. Dos locais mais remotos do continente, peregrinos punham-se em marcha rumo à Terra Santo esperando ver a cidade onde tantos episódios da vida de Jesus Cristo se tinham desenrolado. Mas estas peregrinações começavam a criar consideráveis problemas para os governadores de Outremer — o nome Francês para ‘terras do ultramar ou além-mar’.

Um reino Cristão tinha sido rapidamente estabelecido para delinear os territórios conquistados durante a primeira Cruzada. Mas não trouxe a paz para a região. Os Cristãos continuavam cercados por estados Islâmicos hostis. Os Turcos e os Muçulmanos que perderam muitas das suas terras para os Cristãos, não estavam dispostos a simplesmente desistir.

Em cinqüenta anos os Turcos Sarracenos tinham feito severas investidas no Novo Reino. Havia ataques contínuos e assaltos às habitações Cristãs. Os descontraídos Peregrinos viajando por terra desde a costa até Jerusalém eram particularmente alvos fáceis. Num único incidente em 1119, por exemplo, um grupo de peregrinos fora cercado por bandidos Sarracenos e foram mortos cerca de 300. E em 1120, guerras entre Sarracenos podiam ser observadas na parte exterior das muralhas de Jerusalém.

Mas nesse tempo, muitos dos cruzados originais tinham regressado com as suas riquezas saqueadas para a Europa. Agora que a missão do Papa para recapturar a Cidade Santa estava completada, o seu trabalho estava feito. Na Europa, as suas famílias esperavam-nos para os receber como heróis conquistadores. Isto fez com que muito poucos soldados hábeis ficassem para defender os novos residentes e seus visitantes peregrinos.

O palco estava traçado para a emergência de Monges Guerreiros. Duas novas Ordens militares tinham aparecido com a Igreja, centradas em Jerusalém.

Uma das quais os Hospitaleiros — Cavaleiros de S. João — cujo objetivo pacífico original se

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inclinou para os doentes e feridos em Outremer. As ambulâncias atuais de S. João descendem diretamente da Ordem dos Cavaleiros Hospitalares.

O objetivo consideravelmente mais perigoso de proteger os peregrinos dos ataques Sarracenos era levada a cabo por Hugues de Payen, um nobre Francês que chegou acuando da primeira cruzada. Em 1119, de Payen oferecia os seus humildes serviços ao primeiro rei de Jerusalém Baldwin I. Ele, juntamente com mais oito colegas cavaleiros, devotaram-se a policiar as rotas usadas pelos peregrinos.

Em face disto, o cenário tornava-se absurdo. Que chances teriam nove homens contra um ataque Sarraceno? Mas eventualmente os nove fizeram um trabalho extraordinário. De fato, Baldwin estava tão impressionado com os seus esforços que lhes ofereceu a mesquita de Al-Aqsa. E esta mesquita tinha sido construída num local que antes fora ocupado pelo próprio Templo Sagrado de Salomão. Conseqüentemente, foi esse o nome que Hugues de Payen deu à nova Ordem:

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão — Cavaleiros Templários.

Eram ‘pobres’ cavaleiros porque eles eram também monges. Tinham feito os votos usuais de pobreza, castidade e obediência para com os seus superiores. Eram freqüentemente ilustrados em pares cavalgando um único cavalo. Ou eram realmente pobres, ou simplesmente representava a sua nobre pobreza, o desconhecimento do significado é total.

A noção heróica de nove destemidos monges guerreiros valentemente defendendo os peregrinos em viagem contra as investidas Muçulmanas não deixou de apreender a imaginação das pessoas nesse tempo. Hoje, o conceito de homem de Deus manejando espadas sangrentas no campo de batalha é inconcebível. Mas nesse tempo, uma selvagem campanha dos cruzados para capturar a Terra Santa era perfeitamente aceitável.

A terrível carnificina infringida os Muçulmanos durante a própria cruzada, tinha ela própria sido abençoada pelo Papa em nome de Deus.

Alguns começaram a imaginar os Templários com uma reverência romântica e ofereciam-se como novo recrutas. A Ordem cresceu; lentamente no início, depois mais célere. Eram treinados como guerreiros, e tornavam-se grandes cavaleiros de guerra. As suas atividades também variavam. Do papel principal de proteger os peregrinos, gradualmente se tornaram vistos como defensores militares da Terra Santa.

O fundador da Ordem e seu primeiro Grande Mestre, Hughes de Payen, era evidentemente um homem de uma habilidade impressionante. Desde o seu humilde início, os Cavaleiros Templários sobre a sua orientação tornaram-se numa organização disciplinada de profissionais de elevada destreza, com uma eficiente estrutura de comando. Enquanto a Ordem era pequena, todos os cavaleiros obedeciam a um único Mestre. Posteriormente, outros passos foram dados na criação de uma hierarquia, com papéis mais específicos.

O Grande Mestre era responsável por toda a Ordem. Abaixo deste, diversos Mestres eram eleitos para cada uma das províncias onde os Templários permaneciam. Para cada Cavaleiro no terreno, havia ao lado deste dois ou três "sargentos". Estes eram homens que ainda não tinham um compromisso definitivamente firmado com os Templários. Poderiam ser guerreiros — 'sargentos-de-armas' — ou podiam servir de uma maneira mais pacífica em certas Casas ou Conventos dos Templários.

Mantendo o compromisso de pobreza, os cavaleiros usavam roupa simples, que contrastava com o ornamento dos cavaleiros nesse tempo. Usavam uma cobertura lisa de cor branca — posteriormente adornada com a famosa cruz vermelha — que significava a sua pureza e dedicação. Em campanha, os templários nos seus cavalos de guerra usavam armaduras de malha metálica. Os seus sargentos usavam armadura mais leve e podiam combater em terra se necessário fosse.

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Na sua primeira formação os Cavaleiros Templários não criavam grande excitação. Havia a tendência nesse tempo para novas Ordens aparecerem e desaparecerem, de acordo com as necessidades do momento. De regresso a casa, os Cavaleiros Templários recebiam o apoio do mais poderoso professor de moral da Europa desse tempo. Esse homem era Bernard de Clairvaux. E o apoio e evangelização de Bernard, levou a que se constituíssem como uma ordem com a benção do Papa em 1129. Tendo começado a serem vistos na Europa como novos heróis em conseqüência dessa medida.

E então a lenda dos Cavaleiros Templários começa... A Ordem Prospera

Em meados do século XII, o controle cristão na Terra Santa encontrava-se fragilizado, em 1147, o rei Alemão Conrad III e Luis VII da França, apelavam a uma segunda Cruzada para fortalecer o reino cristão no Oriente. O Papa Eugenius III deu a esta campanha a sua benção e Bernard de Clairvaux clamava apoios com os seus sermões.

Na altura da segunda Cruzada, os Templários da Europa estavam em situação de enviar várias centenas de Cavaleiros para Outremer. A experiência adquirida ao proteger peregrinos ser-lhe-ia de capital importância para proteger a massiva armada Européia na sua movimentação através da Terra Santa. Os Templários, ganharam a confiança dos líderes reais das cruzadas, com o apoio financeiro e militar. E combatem ferozmente durante a campanha.

Mas esta segunda Cruzada tornar-se-ia um desastre. Os Franceses e Alemães sofreram graves perdas nas suas batalhas com os Turcos. Em fins de Janeiro de 1148, os cruzados estavam severamente enfraquecidos e praticamente sem cavalos. Luis VII já tinha o que chegasse. Este regressou a casa, assumindo a grande responsabilidade pela campanha dos Templários.

Se bem que, para lá dos desastres que ocorreram durante a segunda Cruzada, os Europeus sobreviveram intatos, e era claro que os Templários estavam ali para ficar. Estes, eram ricos em propriedades, e ganharam grande parte de território pela conquista. Nos terrenos desertos do Oriente Médio estabeleceram uma cadeia de fortificações. Por volta de 1180 os Cavaleiros do Templo tinham uma rede de castelos para se defenderem contra invasões e agir como depósitos de mercadorias e pontos de passagem. Estes castelos eram construídos de maneira pessoal, e eram os mais fortes do mundo. Novos recrutas chegavam da Europa para orientar essas fortificações.

Eram também a armada mais disciplinada e organizada daquele tempo e não tinham dificuldade em recrutar novos homens de calibre superior para a Ordem. Por volta de 1180, havia cerca de 600 cavaleiros no Oriente, juntamente com 2000 ‘sargentos’ e talvez 5000 cavalos de guerra. E cada combate travado, por menor que fosse, aumentava-lhes a experiência.

Os Cavaleiros eram guerreiros dedicados, conduzidos pela mais severa disciplina monástica. Não tinham qualquer medo de morrer. E para simbolizar a sua dedicação para morrer como mártires em defesa da Terra Santa, a sua original vestimenta branca era adornada pela então famosa cruz vermelha.

Mas a maré da guerra estava mudando. Nos anos de 1170, o grande líder Sarraceno Saladino conseguiu unir os setores rivais do Islão numa só força. À volta do reino cristão de Jerusalém, Saladino governava as terras do Egipto para Sul e efetivamente conduzia também a Síria na parte Norte. Os anos de tolerância entre os cristãos e muçulmanos no Médio Oriente tinham chegado ao fim. Agora era a guerra aberta. E era uma guerra que Saladino estava progressivamente ganhando. A ajuda do Ocidente mostrava-se muito vagarosa na sua chegada. Os habitantes de Outremer estavam por conta própria.

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Os próprios muçulmanos desenvolveram a sua própria seita de monges guerreiros. Os Assassinos eram o equivalente muçulmano dos Templários ou os Hospitaleiros. Mas, os Assassinos eram ainda mais fanáticos. Assim como tomando lugar em todas as operações militares, eram especialistas treinados para atingirem pessoas singulares. A palavra ‘Assassin’ é a forma inglesa de Hashishyun, que quer dizer ‘comedores de hashish’. Era relatado que o seu primeiro líder, conhecido como ‘O Velho das Montanhas’ tinha por hábito usar drogas para escolher objetivos e descrevia visões do paraíso, antes de enviar os seus homens em missões sinistras.

Os Assassinos eram fanaticamente leais ao seu Mestre. O sobrinho de Ricardo Coração de Leão, Henrique de Champagne, visitou uma vez uma fortaleza Assassina na Síria na tentativa de negociar um tratado de paz com os muçulmanos. Para impressionar o visitante com a absoluta obediência dos seus homens, este ordenou a vários Assassinos um por um a atirarem-se para a morte das muralhas do castelo. Conta-se que Henrique ficou visivelmente perturbado com esta cena suicida que tinha presenciado.

Estas fortificações Assassinas estavam implantadas através das montanhas do atual Líbano e Síria e constituíam uma constante ameaça para as fronteiras Nordeste do reino cristão. Mas os Assassinos também não eram amigos de setores rivais islâmicos, os quais eram atacados pelo menos tantas vezes quantas os Cristãos.

Em 1173, o rei Amalric I de Jerusalém recebeu uma mensagem do próprio Velho das Montanhas, propondo-lhe a paz. Amalric entendeu que tal proposta não só deixava mais seguras as fronteiras, como também abria fissuras no próprio Islão cada vez mais espalhado. Aceitou fazer a paz com os Assassinos.

Os Templários tinham por esse tempo assumido papeis adicionais. A sua honestidade e integridade eram contudo inquestionáveis. E eram os melhores guerreiros no reino. Ambas qualidades ideais para transportarem dinheiro dentro do reino. Eram, de fato, o ‘carro blindado’ medieval. Eram também os coletores de impostos perfeitos. Ninguém se atrevia a enfrentar um Cavaleiro do Templo.

Amalric, no seu tratado com os Assassinos, apressadamente disse aos Templários para pararem de receber impostos no território dos Assassinos. Mas os Templários não gotavam que ninguém fizesse promessas em seu nome — mesmo sendo o rei. Abdullah, o agente Assassino, foi emboscado no caminho quando regressava das negociações com Amalric. Foi morto por um Templário com um só olho de nome Walter de Mesnil. Amalric estava furioso. O seu bem traçado plano de paz com os Assassinos tinha sido sabotado.

Este incidente serve para ilustrar o elemento de desconfiança que começou a partir daí a tingir a impecável reputação dos Templários. Eles podiam agir independentemente do rei. Isto, argumentavam alguns, era típico da arrogância dos Templários, juntando-lhes vagas acusações de subornos. Eram altamente suspeitos do que exatamente os Templários tinham debaixo da sua manta de secretismo.

Mas ultimamente Amalric e outros oponentes dos Templários tinham que engolir a sua ira e tolerar os Cavaleiros. Eram sem dúvida alguma a força de combate suprema em Outremer. Sem a sua experiência de combate — a sua bravura, plano táctico e disciplina de guerra — o reino nunca poderia sobreviver. Sem os Templários e as outras Ordens militares, a ocupação Cristã do Oriente Médio teria rapidamente sucumbido. A Terra Santa Perdeu-se

Como uma máquina da guerra, a Ordem tinha-se tornado tão temida pelo inimigo que Saladino, o qual raramente era misericordioso com os prisioneiros de guerra, fazia questão de executar todo o Templário ou Hospitaleiro que lhe viessem ter às mãos. Tinha vindo a respeitar as insígnias do estandarte de batalha dos Templários — uma cruz vermelha de oito-

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pontos num fundo branco. E teve boa razão para assim o fazer. Em 1177, por exemplo, numa força de 300 cavaleiros, conduzida pelo rei de Jerusalém, Baldwin IV, derrotou um exército maciço de 26.000 turcos, curdos, árabes, sudaneses e marmelukes.

Este período da rápida expansão para os cavaleiros chega ao fim com a batalha de Hattin em 1187. Tendo-se a batalha dado perto do mar de Galiléia em Israel moderno, esta foi uma das batalhas mais dramáticas de toda a história mundial. O exército de Saladino de 60 000 homens saiu vitorioso do encontro com 25.000 cristãos. Durante os dois dias da batalha, Saladino usou o terreno e o clima brilhantemente em seu favor. Atacou as forças cristãs em deserto aberto, no calor flamejante, em terreno sem água. Ajustou o ataque ao favor do vento de modo que a fumaça densa adicionada à sua miséria e servido como a tampa para suas tropas. As flechas choveram severamente para debaixo dos Europeus prostrados. 230 cavaleiros morreram na batalha, ou foram executados imediatamente após. Estas execuções eram uma medida do respeito de Saladino para com os cavaleiros. Indubitavelmente trariam ricas recompensas ou mesmo preços elevados nos mercados de escravos por onde passassem as suas vidas.

Ao fim de um ano, Acre e Jerusalém tinham caído. Saladino apagou todos os traços do Templários demolindo todos os seus edifícios. Logo o único posto cristão principal era o porto de Tyre. Embora a terceira Cruzada (1189-92), que trouxe Ricardo Coração de Leão à Terra Santa, conseguisse recapturar Acre, os cristãos nunca conseguiram reconquistar Jerusalém. O cervo saiu simplesmente do reino de Outremer. Acre transformou-se na nova capital, e os Templários moveram de lá os seus quartéis.

Mas quando Saladino morreu em 1193, as seitas islâmicas rivais recomeçaram as suas querelas. Os cristãos lutavam para reconquistar território, e suas fortunas desvaneceram-se. Haviam algumas vitórias, mas haviam também algumas derrotas terríveis. Muitos Templários cairam na batalha de la Forbie (perto de Ghaza, em Israel moderno) em 1244, que somente 33 cavaleiros foram deixados em todo Outremer. O fim estava perto.

Em meados de 1250, uma nova dinastia se tinha erguido no Egipto. Os Mamelukes, ex-escravos de combate dos Sarracenos, levantram-se sob o comando do Sultão Baybars, um homem cuja barbaridade e sangue-frio era equivalente aquele dos primeiros cruzados. Fortificação após fortificação, cidade após cidade, cairam para os egípcios. Os habitantes fujiram, e todo o Templário que sobrevivesse às batalhas era decapitado. Em 1270, os Templários deixaram de ser uma presença significativa na Terra Santa. E em 1291, após a queda dramática de Acre, os últimos Europeus deixaram o Oriente Médio.

Os restantes Templários escaparam com seus tesouros e relíquias religiosas para Chipre, onde colocaram o seu quartel General em Limassol. Aí, tentaram se reagrupar, antes de confrontar o inimigo uma vez mais em Outremer. A maré da opinião popular na Europa, entretanto, começou a inverter-se contra eles inexoravelmente. De Guerreiros a Banqueiros

No espaço de uma dúzia de anos desde a fundação da ordem, tinha sido dado aos Templários lotes expressivos da terra europeia. Rapidamente tiveram que estabelecer uma estrutura administrativa para lidar com todas essas benesses. Conforme, cada região de Europa foi dividida em províncias, cada uma com o seu próprio mestre, e cada província foi dividida em "baillies". O trabalho das casas Europeias dos Templários devia fornecer o dinheiro e os bens para a guerra no leste. Um terço da renda — em dinheiro — era pago por estas casas da Europa para suportar o esforço da guerra.

No fim do século XIII, havia várias centenas de casas dos Templários na Europa. A vasta maioria estavam situadas no que é agora a França moderna, mas haviam também fortes implantações em Portugal e na Espanha Ocidental, e uma certa emergência na Inglaterra e

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Itália. Tanto como 9.000 terras arrendadas de Templários desde a costa atlântica à Polônia Oriental, e da Escandinávia à Sicília.

Num curto espaço de tempo, os Templários encontravam-se num papel inesperado. Tornaram-se nos primeiros Banqueiros Internacionais do Mundo.

A moeda nesses dias era ouro ou prata e valia simplesmente o seu próprio peso, quer fossem dinars árabes ou solidi italianos. Vamos supor que você planejou uma viagem de Inglaterra a Itália. Você ficaria relutante em transportar dinheiro em moeda consigo. Isso seria demasiado arriscado. Mas com a sua rede de casas e dos castelos, os Templários poderiam dar-lhe uma nota (a nota de banco original) como prova que você tinha depositado uma determinada quantidade em dinheiro num dos seus centros na Inglaterra. E apresentando essa mesma nota numa casa de Templários em Itália, ser-lhe-ia devolvida essa mesma quantidade de dinheiro.

Inicialmente os Templários estavam menos "aptos" com as transações financeiras dentro da Europa do que da Europa com a Terra Santa. Coletavam impostos em Outremer e asseguravam que tais impostos alcançavam com segurança os seus destinos. No século XII, emprestaram dinheiro aos cruzados assim como aos reis. Agiam também como agentes para pagamentos de compensações e transferência mais segura dos fundos para a guerra na Terra Santa.

Pelo décimo terceiro século, os Templários possuíam uma frota no mediterrâneo. Originalmente, isso era para o transporte dos peregrinos de Marselha ou da Rochelle para a Terra Santa, mas transportavam também bens para venda ou revenda no Oriente Médio. E na viagem de retorno podiam trazer escravos ou outras especiarias orientais exóticas para a Europa.

O movimento do dinheiro e facilidades de crédito deve ter crescido juntamente com este transporte de peregrinos. Eram precisamente esses peregrinos que necessitavam o seu dinheiro protegido, e que tiravam partido de facilidades de crédito na própria Terra Santa. Ficavam muito mais felizes usando os Templários para estas operações do que algumas das casas de operação bancária rivais que surgiram rapidamente na competição. Os Templários podiam oferecer um melhor serviço em todo o local. Podiam protegê-lo assim como ao seu dinheiro. E seus votos da pobreza fizeram-nos totalmente dignos de confiança.

Reis e nobres de toda a Europa tiraram rapidamente vantagem da garantia dos Templários pela segurança e honestidade. O Rei Henrique II de Inglaterra depositou muitos dos seus artigos de valor nos Templários de Londres, fundados em 1185. Em 1204-5 o rei João deixou mesmo as jóias da coroa nos seus cofres, assim como o seu sucessor Henrique III em 1261 durante a revolta dos Barões. Forneceram empréstimos — para os quais eram tirados dividendos — às casas reais. Em Inglaterra, as próprias jóias da coroa foram usadas colateralmente para garantir um particularmente grande empréstimo ao rei Henrique.

Eram também os banqueiros do Papa na Terra Santa, e os impostos coletados em seu interesse. Na Espanha, a Ordem teve um monopólio virtual no dinheiro emprestando. Na França, os Templários eram os banqueiros da família real durante mais de um século, e na Inglaterra jogavam um papel similar durante os reinos de João e de Henrique III. Porque Inglaterra era uma fonte particularmente rentável dos Templários, não é nenhum exagero dizer-se que colocaram as "pedras nas fundações" de Londres para se transformar no principal mercado financeiro internacional que é hoje.

Em muitas partes da Europa foram concedidas isenções de taxas locais e nacionais, dos pedágios, das demandas arbitrárias pelo barão ou pelo rei local. É impossível calcular-se a riqueza dos Templários. Mas considere-se o fato que em meados do século XII a renda das suas propriedades inglesas somente, eram avaliadas em £5 200 — o que equivaleria hoje a cerca de £8-12 milhões. E lembre-se, isto apenas na Inglaterra. A vasta maioria das suas propriedades estavam situadas na França e outras partes do continente.

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A sua participação na política era uma extensão natural do seu envolvimento nos casos financeiros das casas nobres e reais da Europa. Tendo em conta que os Templários vinham tendencialmente dos extratos superiores da sociedade, tinham uma rede "já feita" dos amigos e dos parentes em lugares de evidência. Há muitos exemplos dos papéis de influência que jogaram em eventos da política. Quando o rei João morreu em 1216, o seu filho Henrique tinha nove anos. Assim, por diversos anos a Inglaterra foi governada por um comitê. Este comitê incluiu o mestre do Templo, e era encabeçado por um seu grande amigo pessoal. Em 1259, o parlamento inglês usou o Templo de Londres como seu lugar de reunião. E mais cedo, em 1164, o mestre dos Templários da Inglaterra, Richard de Hastings, tinha tentado usar a sua influência para reconciliar Henrique II com o seu "turbulento" padre, Becket de Thomas.

Histórias similares podem ser relatadas em outros locais da Europa. Em Aragão (parte da Espanha moderna), quando o rei James I ainda criança recebeu o trono em 1213, os nobres Aragoneses escolheram o Mestre Templário local para tomar conta da criança no Templo de Monzón. Este se tornou o seu conselheiro durante todo o seu reinado.

Assim como providenciando serviços financeiros e políticos na Europa, os membros da Ordem estavam também disponíveis para as cruzadas. Tendo a Guerra Santa no oriente sido perdida, jogavam um papel principal nas guerras internas contra os Mouros na Espanha.

Mas o papel dos Templários no Ocidente era bastante diferente daquele exercido no Oriente. No Ocidente eram agricultores, agentes de viagens e financeiros. No Oriente eram guerreiros temidos.

Guardas das Sagradas Relíquias

Além das propriedades, enormes reservas de dinheiro, os Templários eram também ricos em relíquias.

As relíquias eram os restos das pessoas ou coisas que tinham sido caracterizadas nas histórias do Novo Testamento. Uma relíquia popular era naquele tempo um pedaço de madeira da cruz verdadeira — a cruz em que Jesus foi crucificado. Outra, era a cabeça de S. João Batista, que foi decapitado após ter sido enfeitiçado pela sedutora dança de Salomé. Os povos na idade média tinham uma adoração desesperada por relíquias, que veneravam com admiração. Mas como seria de esperar, havia uma abundância de fraudes. Diversas cabeças de João Batista estavam em circulação. E havia bastante lascas da madeira da verdadeira cruz que davam para fazer uma enormidade de crucifixos!

Os Templários tinha em sua posse a coroa dos espinhos, tirada da cabeça de Cristo. Tiveram também o corpo da mártir Santa Eufêmia de Chalcedon (julgava-se ter poderes de cura divinos). Tiveram uma cruz feita de um banho usado supostamente por Jesus, uma cruz de bronze feita da bacia que Jesus usava para lavar os pés dos seus discípulos na última ceia, e uma coleção apreciável de outras relíquias. O escritor popular Ian Wilson, no seu livro best-seller The Turin Shroud, levantou a questão que eles compraram também o lençol em que Cristo foi envolvido no seu túmulo na Terra Santa.

Mas a relíquia mais estimada era o próprio Santo Graal — o cálice que Jesus usou na última ceia. Era comentado que tinha sido descoberto enterrado no velho templo de Salomão em Jerusalém. No princípio do século XIII o poeta alemão Wolfram von Eschenbach visitou Outremer especialmente para aprofundar o estudo da Ordem. É verdadade, admitiu ele. "Os Templários possuíam certamente o Santo Graal". Este foi mais tarde corroborado por Trevrizent, que declarou: "é sabido que muitos formidáveis guerreiros repousam em Munsalvaesche com o Santo Graal".

A verdade remanescerá provavelmente sempre em mistério uma vez que todos os casos de Templários foram conduzidos em segredo. Todo o membro da Ordem que revelasse os procedimentos das reuniões dos Templários era punido com a expulsão. Eram proibidos de

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fazer cópias das estátuas dos Templários e das regras da Ordem, para não caírem nas mãos erradas. Era esta não mais do que uma aplicação do princípio de que nas épocas de guerra,'Conversas descuidadas custam vidas?' Ou guardavam algum segredo mais sinistro? Muitos de seus contemporâneos acreditaram no último. O Julgamento dos Templários

Era sexta-feira, 13 de Outubro de 1307. Um dia fatal para os Templários, e lembrado supersticiosamente ainda nos nossos dias como a azarenta ‘sexta-feira 13’. Ao fim da tarde, agentes do rei Filipe IV atacaram. Num assalto fulminante, acusaram e prenderam Templários por toda a França. A data tinha sido escolhida pela coincidência da visita à França de vários líderes Templários, incluindo o próprio Grande Mestre Jacques de Molay. Mas quando os agentes entraram no Templo em Paris, sede dos Templários, descobriram que todos os documentos e, mais importante ainda para Filipe, o tesouro tinha sido removido. Os agentes também tentaram capturar a frota Templária, a maior da Europa, que estava atracada em La Rochelle. Mas uma vez mais se frustrou a intenção — a frota tinha já partido. Até hoje a vasta riqueza dos Templários nunca foi encontrada. Nem tão pouco foi descoberto para que porto a frota seguiu — ou onde atracou. Mas os Templários não tentaram esconder-se, e na manhã seguinte, vários milhares tinham sido feitos prisioneiros.

Juridicamente falando, essas prisões eram ilegais. Os Templários respondiam unicamente ao Papa. Mas o atual Papa, Clemente V, devolveu essa condição para Filipe. O rei Francês que transferiu o assento papal de Roma para Avignon na França, pediu que isso lhe fosse cedido. Filipe esteve também por trás da morte suspeita do precedente Papa, deixando assim o trono papal livre para Clemente.

Inevitavelmente, o Papa toma o partido de Filipe. E com apoio papal, ataques similares foram feitos aos Templários através da Europa. Iriam ser todos levados a julgamento. Aqueles que acatavam as acusações levadas contra eles eram abandonados com uma mísera pensão, deixados na miséria ou ainda como pedintes. Qualquer um que recusasse era encarcerado para toda a vida. Mais de 120 foram queimados na fogueira. Após as torturas, confissões e execuções, Clemente V aboliu oficialmente a Ordem dos Cavaleiros Templários a 22 de Março de 1312.

O Grande Mestre patriarca, Jacques de Molay, foi um dos que confessou. Mas a 14 de Março de 1314, enquanto ele era exibido no exterior da catedral de Notre-Dame em Paris para ouvir a sua sentença de prisão perpétua, De Moley discursou uma dramática declaração: "Penso verdadeiramente" — proferiu ele, "Que neste solene momento eu deva proferir

toda a verdade. Ante o céu e a terra, e com todos vocês aqui como minha testemunha, eu

admito que sou culpado da mais grotesca das iniqüidades. Mas essa iniqüidade foi eu ter

mentido ao ter admitido as grotescas acusações emitidas contra a Ordem. Declaro que a

Ordem está inocente. A sua pureza e santidade estão acima de qualquer suspeita. Eu admiti

de fato que a Ordem era culpada. Mas unicamente assim agi para evitar contra mim as

terríveis torturas — A vida foi-me oferecida, mas pelo preço da infâmia. Por este preço, a

vida não vale a pena ser vivida." Como publicamente retratou a sua confissão, Jacques de Molay, o último de 22

Grandes Mestres da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e Templo de Salomão, foi queimado vivo antes de um insulto popular em Paris. E enquanto expirava, amaldiçoou o rei Francês e o Papa. Disse que no prazo de um ano seriam chamados a prestar contas pela perseguição aos Templários. Apenas um mês depois, o Papa Clemente V faleceu, aparentemente de causas naturais. A 29 de Novembro do mesmo ano, Filipe IV morreu também num acidente a cavalo enquanto caçava. Teriam assim os Templários poderes ocultos? Teria realmente efeito a praga de de Molay?

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Mas porque terá tudo isso acontecido? Que fizeram os Templários? Nos julgamentos, eles eram acusados de heresia — de participar em práticas obscenas, cuspindo na imagem de Cristo e adorando ídolos (especialmente uma cabeça chamada Baphomet). Eram acusados de bruxaria. Foram ainda acusados de homossexualidade.

Para tentar compreender as razões pela qual os Templários caíram em desgraça, precisamos de retroceder no tempo. Já mencionamos acusações de arrogância e avareza espalhadas pela sua história. Foram fundados com uma nobre causa — defender a Terra Santa. Mas a Terra Santa já tinha sido tomada. Eles tinham falhado, para além de todas as despesas e perda de vidas — e o povo ressentia isso mesmo. Argumentavam que os Templários se encontravam demasiado ocupados tratando dos seus próprios negócios, ou combatendo Ordens rivais, para que pudessem manter uma defesa segura na Terra Santa. Talvez eles tenham até colaborado com o inimigo. Mas este ressentimento era dirigido não só ao Templários, mas também aos Hospitaleiros e aos Cavaleiros Teutónicos, os quais eram igualmente 'culpados' pela perda de Outremer.

Então que haveria de tão terrível acerca dos Templário, para estimular as hostilidades do rei Filipe IV? E isto para além do fato deste ter já fortes relações com a Ordem. Jacques de Molay era padrinho do seu filho. E quando Filipe se viu confrontado com uma sublevação popular em 1291 em Paris, o rei escolheu o Templo como refúgio. Eram também os banqueiros reais.

Em primeiro lugar, havia a resistência própria a mudanças. Através da sua história houve chamadas para a unificação com os Hospitaleiros. Os Templários objetaram sempre. Mas recentemente o influente escritor Ramon Hull renovou a chamada para a unificação. Este tinha em mente um rei guerreiro cavalgando à frente das ordens unificadas expulsando os Muçulmanos para fora de Espanha e da Terra Santa. Isto era música pra os ouvidos do Rei. Via-se a si próprio tal qual esse rei guerreiro. Sugeriu mesmo ao Papa que os reis Franceses deveriam ser os Mestres desta Ordem unificada, com acesso livre aos ganhos extras de todas as Ordens! Portanto não restam dúvidas pela constante resistência dos Templários à unificação.

Em 1305 Filipe candidatou-se inclusivamente, a juntar-se à Ordem. Mas os Templários breve perceberam que um homem com a sua enorme ambição nunca estaria satisfeito enquanto não tivesse disposto de tudo. Rejeitaram a sua candidaura, sem qualquer explicação.

Eles tinham recusado o rei! Como governante de um maior e mais poderoso reino que os seus predecessores, Filipe considerava-se a si próprio quase divino. Como se atreviam eles a recusá-lo!

Para uma satisfatória explicação contudo, deveremos ter em conta uma razão muito simples: ganância. Filipe encontrava-se quase falido. tinha herdado dívidas enormes do seu pai e das guerras contra a Inglaterra e Flandres. Um dos conselheiros mais próximos do rei, William de Nogaret, sugeriu a que a solução mais simples para solucionar a crise financeira de Filipe era confiscar o máximo que pudesse da fortuna dos Templários. O desonesto William tinha já sido excomungado em 1304 por ter feito parte na tentativa de rapto do Papa Bonifácio VIII. A esta altura, estava meramente cumprindo ordens do rei Filipe. O Rei vinha olhando para ele próprio como o chicote contra a heresia e o purificador do reino. Em 1306, tinha expulsado os Judeus da França, remetendo-lhes vagas acusações de sacrilégio e bruxaria. Se William pudesse fornecer provas que também os Templários eram heréticos e bruxos — e que a sua fé cristã estava em perigo de ser poluída — então poderia legitimamente avançar. Não eram os Templários, então, notoriamente secretos? Havia muitas considerações a cerca do seu ‘grande segredo’. O que era? Para eles que amealharam tantas riquezas ao longo de dois séculos, supostamente devia ser algo de muito poderoso — talvez mesmo oculto.

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William apoiava um rancoroso renegado Templário de nome Esquin de Florian de Béziers, que tinha sido expulso da Ordem. Esquim já se tinha aproximado do rei de Aragão, oferecendo-lhe a venda do ‘grande segredo’ dos Templários. Ao mesmo tempo tinha-os acusado de blasfemia e todo o tipo de práticas escandalosas. William tinha forjado tudo isso. Com a ajuda de Esquin, arranjava maneira de colocar espiões nas Casas Templárias. A plataforma estava montada para as grandes detenções. E, como William esperava, para o melhoramento das finanças do rei.

Mas o plano correu mal. Depois de terem terminado todos os seus julgamentos, o Papa entregou todas as propriedades e bens aos Templários que estes poderiam reaver não do rei Francês, mas sim dos Hospitaleiros!

Jacques DeMolay, o último Grão-Mestre Templário Jacques DeMolay (Vitrey, 1243/1244 ou 1249/1250 - Paris, 18 de Março de 1314)

nasceu no Condado da Borgonha e pertencia a uma família da pequena nobreza franca. Em 1265 foi recebido na Ordem do Templo, na pequena cidade de Beaune por Hubert de Pérraud que detinha o cargo na ordem de visitador da França.

Foi o 23º Grão-mestre dos cavaleiros templários e oficialmente o seu último, quando foi queimado vivo na Ile de la Cité, pequena ilha localizada no meio do Rio Sena, em Paris. Pouco ou nada se sabe da sua juventude, só começando a ter maior evidência depois do seu ingresso na ordem e no capítulo de emergência em Chipre, efetuado devido à morte de Guillaume de Beaujeu, caído heroicamente na defesa de Acre, para eleger um sucessor.

Jacques DeMolay assume o mestrado da ordem em 1295, não se sabendo no entanto a data exata da sua eleição. Será eleito em detrimento de outra figura de peso dentro da ordem, Hugues de Pérraud, sobrinho do visitador do templo em França, Hubert de Pérraud.

No inicio do seu mestrado é conhecido pela sua ação a favor de uma nova cruzada, desenvolvendo uma campanha diplomática na França, Catalunha, Inglaterra e na Itália junto ao papado. Esta campanha visou não só resolver problemas internos que a ordem tinha, como também problemas locais, sendo resolvidas diversas disputas entre a ordem e bispos e também no sentido de pressionar as coroas e a Igreja a uma nova cruzada.

Organiza a partir da ilha de Chipre ataques contra as costas egípcias e síria para enfraquecer os mamelucos, providencia apoio logístico e armado à Pequena Arménia, chega a intentar uma aliança com o Canato da Pérsia sem resultados visíveis. Outro assunto que será discutido durante o seu mestrado na ordem será o da fusão entre as duas maiores ordens militares, a do Templo e a do Hospital numa só. A Ordem do Templo com a perda de Acre começava a ser questionada quanto à razão da sua existência, as suas funções de proteger os peregrinos e de defender a Terra Santa tinham cessado quando retiraram para a ilha de Chipre.

Os Grãos Mestres da Ordem dos Templários

Hugh de Payens 1118-1136 Everard des Barres 1146-1149

Andre de MonthBard 1153-1156 Philip de Milly 1169-1171

Arnold de Toroga 1179-1184 Robert de Sable 1191-1193

Philip de Plessiez 1201-1208 Pedro de Montaigu 1219-1230 Richard de Bures 1245-1247

Reynald de Vichiers 1250-1256 William de Beaujeu 1273-1291

Robert de Craon 1136-1146 Bernard de Tremelai 1149-1153

Bertrand de Blanquefort 1156-1169 Odo de St Amand 1161-1179 Gerard de Ridfort 1185-1189

Gilbert Erail 1193-1200 Armand de Perigord (?)- 1244 William de Sonnac 1247-1250 Thomas Bernard 1256-1273 Tibald de Gaidin 1291-1293 Jacques DeMolay 1293-1314

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Jacques DeMolay em Maio de 1307 em Poitiers, junto do papa Clemente V conseguira apresentar uma defesa contra esta fusão e ela não se realizara.

Na sexta-feira de 13 de Outubro de 1307, os templários no reino da França são presos em massa por ordem de Filipe, o Belo. O grão-mestre Jacques de Molay é capturado em Paris. Imediatamente após a prisão, Guillaume de Nogaret proclama publicamente nos jardins do palácio real em Paris as acusações contra a ordem.

Esta manobra régia impedira o inquérito pontifício pedido pelo próprio grão-mestre, o qual interno à Igreja, discreto e desenvolvido com base no direito canônico, emendaria a ordem das suas faltas promovendo a sua reforma interna.

A prisão, as torturas, as confissões do grão-mestre, criam um conflito diplomático com a Santa Sé, sendo o papa o único com autoridade para efetuar esta ação. Depois de uma guerra diplomática face ao processo instaurado contra a ordem entre Filipe, o Belo e Clemente V, chegam a um impasse, pois estando o grão-mestre e o Preceptor da Normandia, Geoffroy de Charnay sob custódia dos agentes do rei, estão no entanto protegidos pela imunidade sancionada pelo papa e absolvidos não podendo ser considerados heréticos.

Em 1314 o rei pressiona para uma decisão relativa à sorte dos prisioneiros. Já num estado terminal da sua doença, com violentas hemorragias internas que o impedem de sair do leito, Clemente V ordena que uma comissão de bispos trate da questão. As suas ordens seriam a salvação dos prisioneiros ficando estes num regime de prisão perpétua sob custódia apostólica e assegurando ao rei que a temida recuperação da ordem não será efetuada. Perante a comissão Jacques de Molay e Geoffroy de Charnay proclamam a inocência de toda a ordem face às acusações dirigidas a ela, a comissão pára o processo e decide consultar a vontade do papa neste assunto.

Ao ver que o processo estava ficando fora do seu controle e estando a absolvição da ordem ainda pendente, Filipe, o Belo decide um golpe de mão para que a questão templária fosse terminada, ordena o rapto de Jacques de Molay e de Geoffroy de Charnay, então sob a custódia da comissão de bispos, e ordena que sejam queimados na fogueira na Ile de la Cité pouco depois das vésperas em 18 de Março de 1314.

Com isso Jacques DeMolay passou a ser conhecido como um símbolo de lealdade e companheirismo. Ele preferiu morrer a entregar seus companheiros.

A Ordem dos Templários continua viva... ?

O destino da Ordem dos Templários será sempre uma questão de discussão. O que sobreviveu foi a lenda dos Templários. Na literatura e, mais recentemente, nas películas são retratados como os guerreiros heróicos dos cristãos que lutam de encontro às forças desconhecidas e do mal.

Outros trabalhos sérios da história perpetuaram também esta lenda dos Templários. Como vimos no anterior capítulo, Jacques de Molay amaldiçoou o rei Francês e o Papa antes de ser queimado na fogueira. Uma vez que a sua praga estava de encontro a figuras ditatoriais da autoridade, ressuscitou na altura da Revolução Francesa. Quando os súditos praguejavam em relação aos donos de propriedades aristocráticos, dispunham o rei Louis XVI à morte. Isto foi visto por muitos como o preenchimento final da praga dos Molays. Louis foi o último rei a governar a França desde então.

Algures na Europa, onde muitos Templários escaparam da supressão, a ordem ajustou as suas posições. Os Templários Portugueses mudaram simplesmente o seu nome — como um negócio moderno muda o nome a fim de evitar débitos precedentes. Tornaram-se nos

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Cavaleiros de Cristo, posteriormente famosos pelas suas explorações na África e nas Índias ocidentais. O famoso rei D. Henrique, o Navegador, era um grande mestre da Ordem, e exploradores como Vasco da Gama eram membros. O sogro de Cristóvão Colombo era um Grande Mestre, e Columbo navegou através do Atlântico com a familiar cruz dos Templários brasonada nas suas velas. A Ordem de Cristo sobreviveu até 1830.

Igualmente na Alemanha, Espanha e outras partes da Europa onde a purga aos Templários não foi tão bem sucedida, há abundantes indícios que estes se juntaram a outras Ordens — os Hospitaleiros ou os Cavaleiros Teutónicos na Alemanha, ou a Ordens militares locais na Espanha.

Mais misterioso foi o destino dos Templários ingleses, escoceses e irlandeses. Um levantamento pode ser feito — e foi feito certamente, por Michael Baigent e Richard Leigh, no The Temple and the Lodge, para quem um expressivo número deles fugiu para o norte, mais precisamente para a Escócia. O rei escocês, Robert the Bruce, era especialmente benevolente para com os Templários e nunca dissolveu os Templários Escoceses. Encontrava-se também desesperadamente necessitado de cavaleiros hábeis para as suas campanhas contra a Inglaterra.

Mas se a Escócia foi o destino final destes cavaleiros, juntamente com a sua frota e possivelmente o seu tesouro, o que aconteceu com eles? Sem dúvida, muitos deles com o passar dos anos pura e simplesmente esqueceram os seus passados de cavaleiros. Outros, entretanto, podem ter ajudado a fundar a Maçonaria. A organização semi-secreta, que permeia a sociedade em todos os níveis hoje, reconhece explicitamente uma linhagem direta dos Cavaleiros Templários. A Escócia era um dos lugares principais onde um tipo particular da Maçonaria — Templária nos seus mitos e rituais; mística em toda a sua orientação primeiramente despertou e floresceu.

A Maçonaria só foi fundada formalmente em meados do século XVII. Mas no final do século XVII o visconde de Dundee era ainda o Grande Mestre dos Templários na Escócia. Além disso, no final do século XVI, havia ainda 500 registros de propriedades pertencentes aos Templários. Parece assim que os Templários e os Hospitaleiros se fundiram na Escócia. E também sabemos ao certo que os Hospitaleiros sobreviveram, porque estão entre nós ainda hoje como os Cavaleiros de Malta e da Brigada da Ambulâncias de S. João. Além dos Maçônicos, existe uma outra organização misteriosa que deve ser mencionada: o Prieuré de Sion. Este cabal Francês é investigado no best-seller explosivo: The Holy Blood

and the Holy Grail.. O autor reivindica que esta organização, que existe indubitavelmente, tem uma história

longa, inclusive, antes do estabelecimento do Templários. Julga-se que foi este Prieuré de Sion que fundou originalmente os Templários, com o intuito de restaurar uma linhagem antiga dos reis franceses conhecidos como a dinastia de Merovingian. E a esta dinastia é dito ter uma linhagem fantástica. Os seus membros seriam descendentes diretos do próprio Jesus Cristo!

O livro, publicado em 1982, oferece novas evidências para tornar este cenário plausível. Esta evidência foi descoberta em documentos originais antigos descobertos na França, numa biblioteca onde as autoridades tentaram arduamente impedir que fossem encontrados. Isto altera toda a nossa compreensão e conhecimento da vida de Cristo como se encontra descrito no Novo Testamento.

Jesus, pode não ter morrido na cruz. Poderá ter sobrevivido, ter casado com Maria Madalena e esta lhe ter dado filhos. E das crianças de Jesus, os reis de Merovingian — e através delas um número de outras famílias reais europeias — serão descendentes.

Não menos impressionante era uma reivindicação de que os anteriores líderes da ordem de Sion incluíam os famosos cientistas britânicos Robert Boyle e Sir Isaac Newton, os escritores franceses Victor Hugo e Jean Cocteau, o artista italiano Leonardo da Vinci, e um número de outros distintos Europeus.

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Qualquer sobrevivência anterior dos Templários aos dias de hoje não seria tão direta quanto a sobrevivência do Hospitaleiros. Mas é ainda possível que haja hoje em dia pessoas que estejam na posse das tradições e dos segredos dos Templários. Não circulam com armadura de cavaleiro. Não registram qualquer diferença em relação aos cidadãos anônimos. Podem ser massons. Ou podem pertencer a alguma casta mais esotérica, encontrando-se talvez uma vez por mês para praticarem qualquer ritual mágico. Talvez estejam à espera de uma época em que a cristandade necessite uma vez mais ser defendida de uma ameaça exterior.

O que é feito do seu tesouro? Será que existe algures ou foi meramente usado? Existe de fato um verdadeiro tesouro — dinheiro ou valores — ou é meramente um tesouro metafórico? Um ‘grande segredo’ de qualquer espécie?

Talvez, caso fosse um tesouro verdadeiro, tenha sido enterrado ou perdido, esperando por uma descoberta acidental de um detector de metais. Ou ainda encontra-se depositado num cofre de um Banco Suiço qualquer anônimo, esperando ser posto em uso nos tempos vindouros.

Estas são questões que têm intrigado os historiadores, investigadores e afins há quase 900 anos. Estes são os equívocos para os quais são necessárias respostas. A verdade a cerca dos lendários Cavaleiros do Templo irá provavelmente continuar a ser um dos maiores mistérios de todos os tempos.

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Capítulo 3: Simbologia Templária & DeMolay O Cavaleiro Medieval

Para se tornar um Cavaleiro, o homem deveria inicialmente um Pagem, que era um servo geral dos Cavaleiros. Depois, pela sua dedicação se tornava um escudeiro, que era um servo particular de um Cavaleiro e o auxiliava em trabalhos mais específicos do Oficio, e então um dia era chamado a se tornar um Cavaleiro. Raimundo Lúllio ressalta que o Cavaleiro não somente lutava em termos materiais, mas também em termos espirituais. Assim, cada uma de suas armas simbolizava um princípio que o cavaleiro deveria dominar, a saber:

Espada: o cavaleiro devia vencer e destruir os inimigos para manter a justiça, e justiça é dar a cada um o seu direito, por isso a espada do cavaleiro significa que o cavaleiro com a espada mantêm a cavalaria e a justiça.

Lança: significa a verdade, porque verdade é coisa direita e não se torce ; e verdade vai diante da falsidade. E o ferro da lança significa a força que a verdade tem sobre a falsidade; se o pendão significa que a verdade se demonstra a todos, e não há poder de falsidade nem de engano; e verdade é a base da esperança, e assim das outras coisas que são significadas de verdade pela lança do cavaleiro.

Chapéu: significa a vergonha, é o meio que está entre as coisas baixas e as coisas altas.

Cota de Malha: significa castelo e muro contra vícios e faltas; porque assim como castelo e muro estão contidos em volta para que homem não possa entrar, assim cota de malha é encerrada por todas as partes e tampada para que dê significado à nobre coragem de cavaleiro para que não possa entrar nela traição nem orgulho nem deslealdade nem nenhum outro vício.

Calça de ferro: significa a certeza, mantendo seguros seus pés e suas pernas, assim como seus pensamentos.

Esporas: significam diligência e esperteza e ânsia com que possa manter honrada sua ordem; porque assim como com as esporas esporeia o cavaleiro seu cavalo para que se cuide e que corra o mais velozmente que possa, assim diligência faz cuidar as coisas que convêm ser, e esperteza faz o homem guardar de ser surpreendido, e ânsia faz procurar o arnês e a despesa que é mister à honra de cavalaria.

Gojeteira: significa a obediência; porque cavaleiro que não é obediente a seu senhor nem à ordem de cavalaria, desonra seu senhor e vai-se da ordem de cavalaria. Logo, assim como a gorjeira envolve o colo do cavaleiro para que esteja defendido de feridas e golpes, assim obediência faz estar o cavaleiro dentro dos mandamentos de seu senhorio maior e dentro da ordem de cavalaria, para que traição nem orgulho nem injúria nem outro vício não corrompa o sacramento que o cavaleiro tem feito a seu senhor e a cavalaria.

Maça: é dada ao cavaleiro para significar força de coragem; porque assim como a maça é contra todas as armas, e dá e fere de todas as partes, assim a força de coragem defende cavaleiro de todos os vícios e fortifica as virtudes e os bons costumes pelos quais o cavaleiro mantém a honra de cavalaria.

Escudo: é dado ao cavaleiro para significar ofício de cavaleiro, porque assim como o escudo mete o cavaleiro entre si e seu inimigo, assim o cavaleiro é o meio que está entre rei e seu povo. E assim como o golpe fere antes no escudo que em o corpo do cavaleiro, assim cavaleiro deve parar seu corpo diante de seu senhor se algum homem desejar pendurar ou ferir seu senhor.

Sela: significa segurança de coragem e carga de cavalaria; porque assim como pela sela cavaleiro está seguro sobre seu cavalo, assim segurança de coragem faz estar de cara o

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cavaleiro na batalha, pela qual segurança sucede ventura amiga de cavalaria. E por segurança são menosprezadas muitas covardes presunções e muitas vãs semelhanças, e são refreados muitos homens que não temem passar avante no lugar onde coragem nobre faz estar seguro o corpo do cavaleiro. E tanto é grande a carga de cavalaria que por ligeiras coisas não se devem mover os cavaleiros.

Cavalo: tem por significado a nobreza da coragem e para que seja mais alto montado a cavalo que outro homem, e que seja visto de longe, e que mais coisas tenha debaixo de si, e que antes seja em tudo o que se convém à honra de cavalaria que outro homem. Ao cavalo é dado freio e às mãos do cavaleiro são dados reinos, a significar que cavaleiro, pelo freio, refreie sua boca de parlar feias palavras e falsas, refreie suas mãos, que não dê tanto que haja de querer, nem seja tão ardente que de seu ardor expulse a sensatez. E pelos reinos, entenda que ele se deixe conduzir até qualquer parte a ordem de cavalaria o deseje empregar e enviar; e quando for mister, alargue suas mãos e faça despesa e dê segundo o que se convém à sua honra, e seja ardoroso e não hesite seus inimigos, e quando hesitar de ferir, deixe fraqueza de coragem. E se disso o cavaleiro faz o contrário, seu cavalo, que é besta e que não possui razão, segue melhor a regra e o ofício de cavalaria que o cavaleiro.

Testeira: significa que todo cavaleiro não deve fazer de armas sem razão; porque assim como a cabeça do cavaleiro vai primeiro, diante do cavaleiro, assim o cavaleiro deve levar diante a razão em tudo o que faz; porque obra que seja sem razão possui tanta vileza em si que não deve existir diante de cavaleiro. Logo, assim como a testeira guarda e defende a cabeça do cavaleiro, assim razão guarda e defende cavaleiro de blasfêmia e de vergonha.

Além desses aspectos, Lúllio ressalta que todo cavaleiro deve saber as sete virtudes que são raiz e princípio de todos os bons costumes e são vias e carreiras da celestial glória perdurável. Análoga as sete virtudes dos DeMolay, as sete virtudes do cavaleiro medieval eram três teologais e quatro cardeais. As teologais são fé, esperança, caridade. As cardeais são justiça, prudência, fortaleza, temperança. Segundo o autor, sem fé não pode ser bem acostumado porque, pela fé vê o homem espiritualmente a Deus e suas obras crendo nas coisas invisíveis. É pela fé que o homem se torna servidor da verdade. A Esperança é virtude que relembra de Deus na batalha, pela esperança que têm em Deus recebem socorro e ajuda de Deus, que vence a batalha por razão da maior esperança e confiança que os cavaleiros têm no poder de Deus do que em suas forças e em suas armas. Caridade é virtude que ajusta uma virtude com outra e separa um vício do outro; e caridade é amor do qual pode ter todo cavaleiro e todo homem tanto quanto dele haja mister para manter seu ofício. E como cavalaria tem princípio de justiça, qual cavaleiro que está acostumado a fazer coisas tortas e injúrias cuida estar na ordem de cavalaria? Desfazer cavaleiro é como romper a correia da espada por trás e lhe é levada a espada, para significar que não torna útil cavalaria . Logo, se cavalaria e justiça se convêm tão fortemente que cavalaria não pode ser sem justiça, aquele cavaleiro que faz injúria a si mesmo e é inimigo da justiça desfaz a si mesmo e renega e menospreza a ordem de cavalaria. Prudência é virtude pela qual o homem tem conhecimento do bem e do mal, e pela qual o homem tem sabedoria para ser amante do bem e a ser inimigo do mal; e prudência é ciência pela qual o homem tem conhecimento das coisas vindouras com as coisas presentes; e prudência é quando, por algumas cautelas e maestrias, sabe o homem se esquivar dos danos corporais e espirituais. Fortaleza é virtude que está em nobre coragem contra os sete pecados mortais, que são carreiras pelas quais vai-se aos infernais tormentos que não têm fim: glutonia, luxúria, avareza, preguiça, acídia, soberba, invídia, ira. Temperança é virtude que está no meio de dois vícios: um vício é pecado pelo excesso de grandeza, o outro é pecado por pouco excesso de quantidade. E por isso, entre muito e pouco convém estar a temperança, em tão conveniente quantidade que seja virtude; porque se não fosse virtude, entre muito e pouco não haveria meio termo, e isso não é verdade.

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Adoração ao demônio pelos Cavaleiros

A idéia de que os Cavaleiros Templários fossem

adoradores do demônio nasceu a partir das torturas impostas pela Inquisição. Para Filipe o Belo confiscar as possessões Templárias, eles deveriam ser culpados de heresia. Então, usando técnicas que mais tarde foram aperfeiçoadas durante os julgamentos que culminaram por volta de 1600, os Cavaleiros foram torturados até assinarem confissões. O fato de que tantos retiraram suas confissões tão logo as torturas cessaram não foi considerado sinal de inocência. O senso que prevalecia na época era de que as pessoas falavam a verdade sob tortura, o tesoureiro Templário foi citado por dizer, “Sob tortura, eu teria confessado ter matado Deus”.

Sob tal tortura, os Templários confessaram todo tipo de crimes. Nas suas iniciações eles, supostamente cuspiam na Cruz, negavam que Cristo era o filho de Deus e prometiam realizar todos os desejos sexuais de seus irmãos. Eles foram

acusados de trocar beijos nas nádegas ou no umbigo (beijo na boca era, na época, normal mesmo entre homens). Eles também confessaram idolatrias. Diversas, porém não muitas, mencionavam uma cabeça, feita de metal ou madeira, que algumas vezes era referida como Baphomet.

No fim, embora um grande número de Templários tenha sido queimado como hereges, as acusações contra a Ordem como um todo, fracassaram. No fim o Papa dissolveu a Ordem com a desculpa de que as acusações por si só preveniriam as pessoas de se juntarem a elas. Tinha, portanto sobrevivido sua utilidade. Para assegurar que sua atitude vingaria, o Papa disse que qualquer um que aderisse à Ordem no futuro seria excomungado e marcado como herege. À parte das confissões, de novo, a maioria dos Templários voltou atrás após a tortura, haviam poucas evidências que os Templários haviam se desviado do catolicismo da época. Uma teoria é que durante suas iniciações, eles recriavam a negação de Cristo como parte do Ritual. Foi isso que se tornou a base de algumas das acusações contra ele. Baphomet nunca foi encontrado. Templo do Conhecimento Oriental

Desde que os Templários originalmente se instalaram no Templo de Salomão, a história daquele local se ligou aos Templários. Também, no Oriente Médio em geral e na Terra Santa em particular, havia uma conduta através da qual fluía a riqueza de conhecimento do Oriente, certamente parte deste veio através das mãos dos Templários. A maioria das idéias sobre essa sabedoria do Oriente que os Templários possuíam eram suposições baseadas em fatos escassos. Porém, alguns pequenos retalhos do conhecimento realmente surgem.

Os Templários desenharam um grande número de suas igrejas de acordo com a planta circular do Templo de Salomão. É esta a “Sublime Arquitetura” que encontra seu caminho na mitologia dos Maçons, onde certos grupos reivindicam descendência dos Cavaleiros Templários. As igrejas circulares são usadas como suposições de serem um evidência externa da sabedoria importada do Oriente.

O infame Baphomet que os Templários supostamente adoravam tem outra explicação. Aparentemente, uma forma francesa medieval muito comum de se pronunciar Mohammad era

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“Baphomet”. Então, podemos supor que os Templários haveriam se tornado o que mais combatiam, seguidores do Islã. Acople a isso os acordos feitos durante a guerra entre os Templários e Saladino, ou os templários e os Assassinos e você de repente tem um canal de sabedoria do Oriente. Na época de sua perseguição final, alguns Templários em pequenos enclaves na Espanha e Egito buscaram refúgio e se converteram ao Islã.

Preserva-se uma certeza, o Templo de Salomão foi a união das três maiores forças humanas, os Templários, a Maçonaria e a Alquimia. Fazedores de Reis

Quando Filipe o belo e o Papa Clemente combinaram prender os Templários na França, eles também tentaram fazer os mesmos acordos em outros países. Eduardo II na Inglaterra prendeu alguns dos mais altos membros do Templo e até mesmo permitiu que alguns deles fossem torturados. Mas nenhum confessou nada. A Alemanha e a Espanha meramente converteram seus membros para outras ordens e por este meio desmoronaram o Papa. Na Escócia, porém, Robert de Bruce estava preparando uma guerra de independência contra Eduardo. Bruce já estava excomungado e ele precisava de soldados e de fundos. Bruce flagrantemente e deliberadamente ignorou o Papa e espalhou a noticia de que os Templários seriam bem vindos (Rito Escocês Antigo e Aceito).

Enquanto isso, na França, nem todos os Templários haviam sido presos. Da esquadra naval Templária nada mais se ouvia. Supostamente, o “Tesouro Templário”, a principal parte do numerário, não foi capturada por Filipe o Belo, podendo ter sido contrabandeada até a frota. Poderia a esquadra toda ter se refugiado na Escócia?

Bruce tinha lutado contra Eduardo I e Eduardo II por anos. As coisas estavam a seu lado, quando em 1314 Eduardo II concentrou um grande exército, reunindo ao menos o dobro do número de homens de Bruce, ainda mais composto por grande numero de cavaleiros montados, dos quais Bruce dispunha de apenas um punhado. Os dois exércitos se depararam em Bannockburn, a poucas milhas do castelo de Sterling. A força escocesa era, em sua maioria, composta por soldados paupérrimos armados com estacas, além de arqueiros. A batalha persistiu o dia todo, com a Inglaterra tendo problemas em quebrar as divisões de Bruce. Os ingleses ainda eram uma força combatente, ainda que muito frustrados, quando de repente novas tropas vieram substituir as que estavam em campo. Os ingleses então entraram em pânico e fugiram do campo. Isso é normalmente creditado à um grupo de seguidores do acampamento que utilizavam armas rústicas, faziam estandartes de folhas e cobriam-se de trapos. Parece um pouco inacreditável que o exército inglês seria derrotado por essa força bisonha. Ainda, desde que os ingleses tinham resistido aos ataques dos soldados pés-descalço de Bruce em batalha anterior, por que um ataque do mesmo causaria pânico? Porém, o que aconteceria se essa “força bisonha” fosse um pequeno contingente de Cavaleiros Templários, refugiando-se com Robert de Bruce? Um grupo dos mais altamente treinados e motivados cavaleiros em toda a Cristandade lutando em uma batalha que já estava indo mal providenciariam o pânico pelo qual o exército inglês passou.

Guardiões do Santo Graal, o Cálice Sagrado Wolfram von Eschenback escreveu seu poema Percival em 1220. Os cavaleiros que

guardavam o Cálice Sagrado, o castelo do Graal e a família do Graal eram Templários. Isso foi escrito quando as fortunas Templárias, econômicas e espirituais, estavam em seu auge. Com certeza, os Templários não existiam durante os tempos do Rei Arthur( período no qual a lenda do Graal aparece). Eschenback, estava tentando nos dizer que o Graal(onde quer que estivesse), ainda estava com nós, na época em que estava escrevendo e guardado pelos Templários.

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Aqui não há espaço para se aprofundar, mas nos livros de Michaale Baigent, Richard leigh e Henry Lincoln uma trama bizarra ocorre. Os Cavaleiros Templários estão em seu centro com o Santo Graal,(de sang raal, ou devemos dizer a Santa Descendência). Isso significa a descendência de Cristo, a qual os Templários deveriam proteger. E isso, aliado à ganância de Filipe IV, teria trazido-lhes a decadência. Tudo é revelado na pequena vila de Rennes-Le-Chateau na França, escondido em estranhas inscrições ao redor da cidade. Do que esse segredo é composto é o principal mistério. Basta dizer, esse é o melhor dos mitos Templários. América do Norte, Ilha Oak e os Templários

Um novo mito tem crescido sobre os Cavaleiros Templários baseado no livro de Andrew Sinclair, “A Espada e o Graal”. Basicamente, no tempo da perseguição, Sinclair propõe que os últimos dos Templários fugiram com o tesouro para a Escócia. Lá, tomaram parte na fundação da família St. Clair, que depois se tornou Sinclair. Os Sinclair construíram a Capela Rosslyn (possível ligação entre os templários e a Maçonaria). Isso torna, mesmo que temporariamente (ou eternamente?) o local aonde repousou o Santo Graal, o qual era parte do Tesouro Templário. Então aparecem dois venezianos, os irmãos Zeno.

Os Sinclair, que agora haveriam se tornado os Grão-Mestres da Ordem, queriam uma nova terra para estabelecer o perfeito governo Templário. Então com o dinheiro e com a Força militar dos Templários e as habilidades de navegação dos Zenos, eles rumaram para o Ocidente. A evidência é mais abrangida na Narrativa de Zeno e em um mapa atribuído à Voppel e Vavassatore o qual mostra a Nova Scotia (Nova Escócia, ainda existente no Canadá) com a figura de um cavaleiro coroado. Isso também é sustentado pela evidência de visitantes europeus na Nova Inglaterra (Canadá). Isso inclui a Torre de Newport, em Newport Rhode Island (EUA), o Knight Westford (uma escultura de um Cavaleiro europeu armado, incluindo uma espada cruciforme, um emblema Templário comum em túmulos), (para maiores informações leia o livro).

Mas, o que aconteceu com o tesouro? Vamos assumir que depois de escapar da França com o tesouro, comprar terras na Escócia, sustentar o convite de Robert de Bruce para o reinado, construir e sustentar os St. Calir e custear uma pouco vitoriosa expedição para Novo Mundo, ainda havia tesouro restando. Então, assim que a fracassada colônia morre, ao invés de voltar à Europa com o tesouro, os Templários americanos decidiram ficar. Construíram um inacreditável “Poço de Dinheiro” na Ilha de Oak na Nova Escócia. Marcaram o local usando simbolismo arcano envolvendo pedras deitadas no formato de uma cruz. Essa é a idéia para explicar tanto o local final da deposição do tesouro Templário quanto a origem do “Poço de Dinheiro” da Ilha Oak. Simbolismo da Iniciação DeMolay e o Triângulo Inicial

Ao iniciar-se a Cerimônia do Grau Iniciático, iremos notar que os Oficiais do Capítulo formam um triângulo com o ápice voltado para o Oriente. O triângulo simboliza os Ternários ou tríades Sagradas, conceito comum à maioria das Religiões(Exemplo: A Tríade Hindu Brahma-Shiva-Vishnu, ou a Tríade Taoísta Yang-Ying-Tao, bem como a Cristã Pai-Filho-Espirito Santo).No Ritual DeMolay, o Triângulo além de ser um símbolo honorifico à Maçonaria, representando a mesma e o respeito de deferência dos DeMolays por ela, com seu ápice voltado para o Oriente, representa o Ternário masculino, evolutivo. É o emblema do anseio do Espirito em se libertar da matéria, o anseio dos Jovens DeMolay pela “Luz que vem do Oriente”. O oriente é o Ponto Cardeal onde nasce o Sol, o Oriente simboliza a iluminação e a Fonte da Vida; Voltar-se para o Oriente ou caminhar em direção a ele significa voltar-se espiritualmente para o Ponto Focal da Luz divina; Daí nasce a palavra Orientação. Demonstra

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o triângulo Inicial que os jovens DeMolay estão buscando a Evolução e Aprimoramento, através dos Rituais da Ordem, sob a sábia orientação da Maçonaria Universal.

Um segundo Triângulo é formado no decorrer dos Cerimônias de Iniciação, pelo Mestre Conselheiro, 1° e 2° conselheiros, Capelão o Preceptores, com o ápice voltado para o Ocidente; o segundo Triângulo simboliza a “Luz” que vem do Oriente, a sabedoria Iniciática que parte rumo ao Ocidente, retirando os Profanos das Trevas e “Orientando-lhes” no caminho correto, na Senda Iniciática.

Durante a Iniciação, notemos que será formada uma figura oculta, com a junção do triângulo inicial de ápice voltado para o Oriente e o segundo triângulo com ápice para o ocidente, será formada uma Estrela de seis pontas conhecida como estrela de Belém, ou também, como Selo de Salomão. Na Mística Esotérica, a estrela de Belém tem um caráter simbólico ou alegórico importante, significando a intuição superior e a Fé que Orienta todo o verdadeiro místico em sua busca do “Espirito do Cristo Solar Mitológico”, a união do Espirito com a matéria na busca do aperfeiçoamento.

Formando o segundo triângulo, durante a Iniciação, o mesmo será desfeito para a formação do brasão da Ordem DeMolay. Rica em Simbologia, esta parte demonstra principalmente que a Ordem DeMolay nasceu da Maçonaria, quando é desfeito o triângulo para a formação do Brasão DeMolay e, ao mesmo tempo, simboliza que por detrás da Ordem DeMolay haverá a proteção velada da Maçonaria. Notemos que, ao chegarmos a esta etapa, o Brasão da Ordem DeMolay será formado direcionado para o Ocidente(com o Elmo do lado ocidental do Templo) entre as velas e o altar.

Os candidatos que estiverem se iniciando nos Mistérios da Ordem formarão o próprio Elmo do brasão, simbolizando que possuem todas elevadas qualidades morais representadas pelo elmo: Cortesia, nobreza de caráter, cavalheirismo, etc...; pois, por tal motivo, estarão ingressando na Ordem DeMolay, com a autorização do Capítulo. As espadas, símbolo do sacrifício do Iniciado em busca da Luz, a necessidade do extermínio dos sentimentos profanos para a jornada do aperfeiçoamento.

Após ter sido prestado o Juramento Sagrado, quando os candidatos “Enxergam a Luz”, deixando de serem Profanos e passando à condição de DeMolay, o Mestre Conselheiro irá ministrar-lhes, com o auxilio dos Diáconos, o Conhecimento sobre os Sinais e o Toque de reconhecimento da Ordem, dando-lhes o Passaporte Efetivo à nossa Fraternidade.

Estando de posse dos Sinais e o toque de Reconhecimento, os novos DeMolays serão conduzidos pelo 1° Diácono a uma Jornada Simbólica. A Jornada simboliza o trabalho de um dia e o Curso da Vida Humana. Nesta Jornada estará marchando, nos lembrando as antigas Marchas dos Cavaleiros Cruzados da Ordem do Templo, em defesa dos Caminhos á Cidade Sagrada de Jerusalém, simbolizando também a busca da “Palavra Perdida”, encontrada pelos Templários nas Ruínas do Templo de Salomão. O 1° Diácono estará de posse da “Coroa da Juventude”, um dos símbolos mais sagrados da Ordem DeMolay, devendo em sua “Jornada pelo Universo”(representado pelo Templo Maçônico) torná-la e completá-la com as jóias emblemáticas das Sete Virtudes Cardeais de um DeMolay: Amor Filial, Reverencia pelas coisas Sagradas, Cortesia, Companheirismo, Fidelidade, Pureza e Patriotismo. A Coroa é um símbolo de Realeza e Poder, que deve ser a mesma pertinente ao caráter de todo o Jovem que souber compreender e trazer consigo o exemplo das virtudes enunciadas pela Ordem como Cardeais, que só serão obtidas com o tempo e com as experiências da Vida. Observemos que a Marcha do 1° Diácono: os Preceptores, Guardiães Místicos das 7 jóias da “Coroa da Juventude”, estarão sempre atentos e cada Preceptor só se sentará quando o sucessor tiver se levantado para colocar sua jóia na Cora, simbolizando que sempre haverá, em planos superiores, um Guardião das Virtudes Cardeais de um DeMolay. Caberá a nós DeMolays, no curso de nossa Vida, encontrar este Guardião... após executada toda a jornada, a Coroa da

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Juventude retornará ao Oriente, ficando lá as Virtudes colhidas no Mundo, sob a proteção e guarda do Mestre Conselheiro.

Vale ressaltar que durante a Jornada Iniciática com a “Coroa da Juventude”, apresenta-se um dos únicos momentos no qual poderá ser cruzada a “Linha Imaginária existente entre o altar e o Mestre Conselheiro. O 1° diácono, tendo como Insígnia uma Ave, durante a Jornada com a Coroa, estará personificando uma Hierarquia Angelical ou Força Espiritual destinada a guiar os Novos Iniciados, possuindo portanto o Poder Oculto de abrir um Portal na Linha Imaginária, sem exercer qualquer alteração magnética na referida Linha que, justamente, é o Eixo Magnético formado pelos Pólos Magnéticos do Templo.

Rico em símbolos que se inter-relacionam, o Ritual de Iniciação não termina na Cerimônia de Iniciação em si, mas sim é constante e gradativo em toda nossa Vida, até a “Iniciação Definitiva”.

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Capítulo 4: Ordem DeMolay A Origem da Ordem

Um acidente aconteceu numa caçada em 1919, em Kansas City, Missouri, Estados Unidos da América, deixando sem pai uma família na qual Louis Lower era um menino entre 13 e 19 anos. Após o falecimento de seu pai, Louis Lower transferira a figura de seu pai ao amigo da família, o Maçom Frank Sherman Land, com o qual buscava constantemente conselhos e orientações, a quem pediu seu primeiro emprego.

Após constantes conversas com Lower, Frank Land reconheceu que o desejo do rapaz de atenção paternal não era limitado somente a ele, mas que se estendia a inúmeros outros jovens que tivessem pais ou não. Surgiu para Land, então, a idéia de formar uma Organização Juvenil que proporcionasse e devido treinamento e guia para uma melhor cidadania, uma organização de jovens que proporcionasse elevados valores patrióticos.

Tio Land disse a Lower o seu pensamento, solicitando sua ajuda para formar um clube de rapazes, pedindo que ele convidasse alguns amigos de Escola Secundária para uma reunião. Eles iriam organizar o clube. Foi em fevereiro de 1919 que Louis Lower e oito de seus amigos se reuniram num templo Maçônico com Frank Sherman com a finalidade de formar uma nova organização de jovens. Nunca nenhum deles poderia sonhar, menos ainda Frank, que no espaço de 40 anos o Movimento estaria ativo em 14 países e territórios tendo assim iniciado centenas de milhares de rapazes e algumas personalidades mundiais.

A inspiradora idéia de formação de um clube jovem de cunho educacional foi muitíssimo bem recebida por todos os nove rapazes. Surgiu então a questão de como chamar essa nova organização. Frank citou vários nomes famosos, porém nenhum agradava os rapazes de modo especial. Um dos jovens sugeriu que por estarem num Templo Maçônico, alguma figura histórica ligada à maçonaria deveria ser lembrada.

Aceita, por uma determinação do destino, a sugestão tomou corpo quando Land mencionou o nome de Jacques DeMolay. Este nome cativou imediatamente cada um dos jovens. Quando eles ouviram que DeMolay fora o último Grão Mestre dos Cavaleiros Templários e morrera como um Mártir da lealdade e tolerância, eles unanimemente concordaram que DeMolay seria a escolha, usando a pronúncia inglesa. Em 18 de Março de 1919, os noves jovens com 24 de seus amigos reuniram-se novamente no Templo Maçônico, organizando oficialmente a Ordem DeMolay, com o número ideal de 33 jovens. Foi somente 20 anos mais tarde que Frank Land descobriu que 18 de Março era aniversário de morte de Jacques DeMolay, em 1314.

Na segunda reunião, Louis Lower foi o primeiro a fazer a promessa DeMolay sobre a Bíblia que Land havia recebido em St. Louis quando tinha 12 anos, por ter freqüentado a Escola Dominical durante 10 anos consecutivos. Os primeiros oito DeMolays prestaram uma homenagem a Lower. Tio Land sempre dava sugestões valiosas quando precisavam nas reuniões, em especial em uma das primeiras reuniões, em que alguém sugeriu limitar o número de integrantes a 75. "Tio Land" explicou que seria egoísmo pois a organização deveria ser boa para todos, não para alguns. As palavras de Tio Land pareciam ter atuado como a luz verde, pois em menos de 1 ano, o Capítulo "Mãe do Mundo", em Kansas aumentou para o número de 3000 jovens iniciados.

O Ritual DeMolay foi escrito pelo Maçom e Jornalista Frank Marshall na primavera de 1919, e permanece inalterado até hoje, exceto por poucas palavras. A organização tornou-se também bem sucedida e conhecida por serviços de caridade, treinamento da cidadania e atividades sociais sadias. A Ordem DeMolay realmente assegurou-se uma história imortal de sucessos, através de seu trabalho para treinar líderes e garantir um mundo melhor para o futuro.

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Os primeiros anos da Ordem O grupo original de nove jovens contava com Louis Gordon Lower, Ivan M. Bentley,

Edmund Marshal, Gorman A. McBride, Jerome Jacbson, Willian W. Steinhilber, Elmer Dorsey, Clyde C. Stream e Ralph Sewell.

Gorman A. McBride foi eleito Presidente; Lester Pennington, Vice-Presidente; Louis G. Lower, Secretário; John Miller, Tesoureiro; e Clyde Stream, Guardião-das-Armas.

Na reunião de abril de 1919, os títulos dos Oficiais foram mudados de Presidente para Mestre Conselheiro, Vice-Presidente para 1º Diretor, Secretário para Escrivão e Guardião-das-Armas para Sentinela. Um 2º Diretor estava adicionado, e Averill Tatlock assumiu esta posição.

A questão da responsabilidade sobre a organização foi trazida antes ao Corpo do Rito Escocês de Kansas City. A Loja de Perfeição Adoniram decidiu se responsabilizar pela Ordem DeMolay e apontou o primeiro Conselho Consultivo. Os membros eram John H. Glazier, Frank S. Land, Percy A. Budd, Frank A. Marshall, Arthur A. Metzger, Fred O. Wood, Leon Thalman, W Raymond M. Havens, Frank I. Buckingham, Ellis R. Jones e Alex MacDonald. Todos trabalhavam ativamente no Corpo do Rito Escocês, e naturalmente todos eram Maçons do Grau 33.

Todos os membros da Ordem DeMolay freqüentavam a Escola Secundária em Kansas City, Missouri. Em uma das reuniões, uma proposta foi apresentada, vinda de um comitê, estudada e trazida por um grupo como um todo, que os membros no DeMolay se limitaria a 75 membros. Os membros discutiram e aprovaram a ação unanimemente. Até este ponto, Tio Land sentado no fundo da sala, veio para frente e pediu para ser ouvido. Ele mostrou como eles estavam sendo egoístas. Ele lembrou que alguns jovens da escola secundária estavam interessados em participar da organização como DeMolays, depois certamente outros com interesses similares nas escolas Secundárias da cidade. Ele disse que DeMolay não deve ser uma organização exclusiva. Se ela é boa para um jovem, ela deve ser boa para todos. “Para nos tornarmos grandes, nós devemos ser grandes”, ele disse.

Um membro fez a proposta de que a questão deveria ser reconsiderada. Um nova votação realizada. Os DeMolays unanimemente decidiram que nenhum limite de membros seria estabelecido. O que Dad Land falou foi um importante catalisador. Apenas um ano depois, o Capítulo Mãe tinha iniciado 2.000 membros.

Logo depois da primeira reunião, na primavera de 1919, Tio Land pediu a um íntimo amigo e líder Maçom para escrever o Ritual. O homem era Frank A. Marshal, escritor editorial do Jornal de Kansas City.

Tio Land providenciou a filosofia e princípios para serem embutidos no ritual, e Dad Marshal forneceu a imaginação e a habilidade de escrever. O resultado foi o Grau Iniciático e o Grau DeMolay. O Ritual é eterno, pregando os principais pontos de uma vida boa e de caráter e presenteando-os em um significativo caminho. Os Rituais foram primeiro usados em 1919, e hoje eles continuam basicamente o mesmo. Eles são usados em todo Capítulo DeMolay no mundo inteiro.

O primeiro uso de Oficiais Capitulares, como nós conhecemos hoje, foi em 16 de Setembro de 1919. Averill C. Tatlock foi o Mestre Conselheiro; Harry A. Carpenter foi o 1º Conselheiro, Louis G. Lower foi o 2º Conselheiro. Esses títulos, e a expansão do número de Oficiais, foi diretamente resultado do Ritual DeMolay escrito por Frank A. Marshal. O Ritual foi completado e usado como trabalho de grau pela primeira vez no Templo do Rito Escocês em Kansas City em 27 de Setembro de 1919. Na reunião regular de 2 de Dezembro de 1919, Louis G. Lower, o primeiro DeMolay, foi eleito Mestre Conselheiro. Ele foi instalado em 23 de Dezembro de 1919.

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Em Novembro de 1919, o nome da Organização foi oficialmente mudada de Conselho DeMolay para Ordem DeMolay. Com o crescimento do Capítulo Mãe, a fama daoDeMolay foi crescendo.

Um proeminente Maçom de Nebraska, Zoro D. Clark, veio a Kansas City, viu o trabalho e atividades da organização, e decidiu que ele queria estabelecer DeMolay em seu Estado. Em 8 de Maio de 1920, um time de Iniciação do Capítulo Mãe foi para Omaha e instituiu o Segundo Capítulo no mundo. Pouco depois, Maçons em outras comunidades em Nebraska, Missouri e Estados próximos estavam clamando por Capítulos. Em Março de 1922, havia se estabelecido Capítulos DeMolay em 39 dos 48 Estados Unidos, bem como no Distrito da Colômbia.

Interessado na expansão da Ordem, Tio Land, como Conselheiro do Capítulo Mãe, respondeu algumas solicitações para informação e autorização para a fundação de novos Capítulos.

Uma organização temporária foi formada para atender os inúmeros pedidos, e uma Constituição, Estatutos, rituais impressos e outra série de coisas foram preparadas.

Membros do Grande Conselho e um time de iniciação do Capítulo Mãe estavam viajando por todo os Estados Unidos instituindo Capítulos. A maioria dessas turmas de novos associados era muito grande. Em 12 de Fevereiro de 1923, Capítulo Templário em Pittsburgh, Pensilvania, iniciaram 1.099 novos membros - a maior turma na história DeMolay. Iniciações e Cerimônias eram feitas nas mais diversas localidades, incluindo o Metropolitan Opera House localizada na cidade de Nova York.

No outono de 1920, o Capítulo Mãe tinha desenvolvido algumas atividades para estes membros. Alguns dizem que o excepcional time de Baseball do Capítulo Mãe tem um destino para fazer com este crescimento. Uma Marcha Unida DeMolay e uma banda de 100 componentes manteve DeMolays ocupados e atraiu mais jovens para se associarem.

Perto do final de 1921, Tio Land percebeu que ele tinha que dedicar todo seu tempo a esta nova organização ou retirar-se. A decisão foi fácil. Como Grande Escrivão, ele tornou-se um trabalhador por tempo integral pela Ordem. Maçonaria e a Ordem DeMolay

Como os Capítulos DeMolay cresceram em número e potência, a organização como

um todo também cresceu em prestígio, e aumentou o interesse desenvolvido pela fraternidade Maçônica. O reconhecimento oficial e aprovação por um grupo Maçônico era o desejo do Tio Land. A primeira grande organização a dar seu selo de aprovação e apoio a DeMolay foi o Grande Capítulo Geral dos Maçons do Arco Real. Em Setembro de 1921, uma proposta apresentada pelo Grandioso Sacerdote Geral Frederick W. Craig foi passado o desejo dos Capítulos do Arco Real para adotarem o movimento DeMolay em suas Jurisdições. No início de 1922, o Capítulo Wiscosin dos Maçons do Arco Real apoiaram a Ordem, e alguns outros Grande Capítulos também o fizeram.

Também durante 1922, o Grão Mestre da Grande Loja do Mississippi emitiu a notícia de que todas as lojas estavam sendo incentivadas a patrocinarem Capítulos DeMolay. O

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Grande Capítulo dos Maçons do Arco Real e o Grande Comendador dos Cavaleiros Templários de Mississippi também o fizeram. Deste modo, o suporte oficial da Ordem DeMolay pela Maçonaria, a qual começou em 1921, culminou em Fevereiro de 1963 quando uma Declaração de Princípios foi assinada pelos líderes da Maçonaria.

Um estudo feito após a fundação e os primeiros tempos da Ordem DeMolay revelou uma dúvida em alguns Maçons: se a Ordem foi sempre de inspiração Maçônica. Aparentemente esta era a intenção e o fervente desejo do fundador Frank Shermann Land. Desde o início, com o apoio só do Soberano Inspetor Litúrgico do R.·.E.·.A.·.A.·. da Maçonaria em Missouri, EUA: Juiz Alexandre Cochran, os líderes Maçons davam assistência ao crescimento e desenvolvimento da nova organização que florescia. Alguns anos mais tarde já era freqüente se escutar na Maçonaria Americana que "DeMolay" foi a primeira nova idéia tida pela maçonaria em 200 anos. Durante os 74 anos de história da Ordem DeMolay, a instituição e seus líderes foram muito cuidadosos para não apresentarem a Ordem DeMolay como Organização Maçônica Juvenil, mais sim uma organização sob o patrocínio da Maçonaria, apesar do público em geral identificá-la como tal, e muitos dirigentes da Maçonaria referirem-se à Ordem como o futuro da Maçonaria.

Desde o início os membros da Ordem DeMolay eram recrutados entre os filhos de Maçons e seus amigos. Somente Maçons podem servir como presidentes de conselhos nos vários Capítulos e somente organizações Maçônicas podem patrocinar Capítulos da Ordem DeMolay. A Ordem DeMolay no Brasil

A Ordem DeMolay se estabeleceu no Brasil graças aos esforços de Tio Alberto Mansur, que tomou conhecimento da Ordem em 1970, em uma de suas viagens aos Estados Unidos, através da leitura do "The New Age - July 1969", comemorativo dos cinquentenário da Ordem DeMolay. Percebendo a suma importância desta Instituição, e a necessidade de preencher uma vital lacuna na Maçonaria brasileira, o sonho de trazer a Ordem DeMolay para o Brasil foi despertado.

Após diversos contatos infrutíferos com o Supremo Conselho Internacional da Ordem DeMolay, Alberto Mansur conheceu pessoalmente em 1974, o Soberano Grande Comendador Norte-Americano George A. Newbury, que participava da VII Reunião dos Soberanos Grandes Comendadores das Américas, realizada no Rio de Janeiro, a quem revelou seu desejo de fundar a Ordem DeMolay no Brasil.

Logo após Newbury regressar ao seu país ocorreram os primeiros contatos do Supremo Conselho Internacional da Ordem DeMolay com o Brasil. O sonho estava se tornando realidade!

Alberto Mansur em seu primeiro relatório oficial como Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, anunciava como meta prioritária de sua gestão a criação da Ordem DeMolay no Brasil, iniciando um grande trabalho de divulgação da Ordem em toda a extensão do Território Brasileiro.

Passaram-se cinco anos sem êxito; até que, pela manifestação do Destino, Alberto Mansur obteve a felicidade de conhecer em Boston, no ano de 1979, o então Grande Mestre Internacional C. C. "Buddy" Faulkner, Jr grande líder e entusiasta da Ordem DeMolay, que com grande visão, imediatamente confiou em Mansur, autorizando-lhe a fundar a Ordem DeMolay em nosso país, nomeando-lhe, em 06 de março de 1980, Membro do Supremo Conselho Internacional e Oficial Executivo da Ordem DeMolay para o Brasil.

Desta forma, foi decidido patrocinar o primeiro Capítulo da Ordem DeMolay no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, sob o patrocínio do Supremo Conselho do R.E.A.A., com o título de Capítulo Rio de Janeiro da Ordem DeMolay.

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A Ordem DeMolay no Piauí 28 de Novembro de 1998. Precisamente nesta data o Estado do Piauí recebia, em suas

terras, as luzes das 07 Virtudes Cardeais de um DeMolay! Instalou-se, com grande festa, no templo do Palácio Maçônico Tiradentes, em Teresina, o Capítulo Guardiões do Piauí nº 370 da Ordem DeMolay! Era o início, para os Piauienses, e o fim de um grande projeto, para Alberto Mansur: implantar a Ordem DeMolay em todos os Estados do Brasil. Com a instalação da Ordem no Piauí, o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil passou a ter unidades em todos os estados da Federação. É, portanto, para os Piauienses uma data histórica e, para os DeMolays do país, um marco, considerável ressalte-se, levando-se em conta o tamanho continental do nosso País.

A estória da instalação da Ordem no Piauí demonstra bem o jeito aguerrido de ser do Piauiense. Eis que passam a residir na cidade de Altos-PI, dois DeMolays, para nós, Ilustres! Jofram Lima Roseno e Cláudio Lopes de Sousa. Por um acaso, conheceram-se e resolveram convencer os maçons a patrocinar a Ordem DeMolay. Levaram o projeto à Loja Acácia Altoense. Os maçons, naturalmente, adoraram a idéia. Levaram-na ao Grão-Mestre do Grande Oriente do Estado do Piauí, José Leite Gondim Cavalcante, que acatou. Designou para a tarefa o seu Grão-Mestre Estadual Adjunto, Antônio Odeon Batista, e o seu Chefe de Gabinete, o Ilustre e eterno Oficial Executivo José Almeida de Sousa.

Definida a idéia, necessária a articulação com o Supremo Conselho. Alberto Mansur vibrou com a idéia! Ele, há muito, já desejava ver o Estado do Piauí com Capítulos DeMolays. Solicitou, então, ao Oficial Executivo do Estado do Maranhão, que providenciasse a instalação! Ocorre, então, um revés. O Estado do Maranhão desconfirma a instalação, pouco antes da data marcada! O Grão-Mestre do GOEPI, então, chama para si o compromisso de instalar a Ordem no Estado. Entra em contato com o Oficial Executivo do Estado do Tocantins e solicita-lhe a instalação, nem que para isso tivesse que custear todo o transporte dos Oficiais para Teresina. Mas não foi necessário! Quando Mansur soube da situação, determinou ao Oficial Executivo do Estado do Maranhão que providenciasse imediatamente a instalação! E assim aconteceu.

A Ordem chegou ao Piauí pelos braços de seu vizinho e parceiro Maranhão, assim como a Maçonaria, há 180 anos atrás. São fortes os laços que unem estes dois estados... outra não poderia ser a estória!

O crescimento da Ordem foi fabuloso. No seu segundo ano de existência no Piauí, cresceu para 03 Capítulos e 01 Convento de Cavaleiros. Foram instalados os Capítulos Francisco Rosa Filho Nº 411, em Altos e Luiz Ribeiro Gonçalves Neto Nº 408, em Teresina, bem como o Convento 28 de Novembro, em Teresina. Em 2000, Já eram 06 Capítulos. Foram instalados em 2000 os Capítulos João Noleto de Sousa Nº 423, em Floriano, Enéas Nunes Maia, em Canto do Buriti e Antônio Cardoso de Albuquerque Nº 466, em Picos. A Ordem começara a descer para o Sul. Em 2001, mais 03 Capítulos: Esperança Jovem Simoense Nº 474, em Simões, Monsenhor Sólon Aragão Nº 495, em São João do Piauí e Professor Carvalho Neves Nº 500, em Teresina. Alias... o número 500 foi um presente dado por Mansur aos Piauienses, quando atendeu ao pedido do então Oficial Executivo, José Almeida de Sousa, pela concessão do número para o Piauí. Em 2002, mais 02 Capítulos e 01 Corte de Chevalier: Capítulos José Barreto de Albuquerque Nº 512, em Parnaíba e Manoel Ferreira de Sousa Nº 562, em Jaicós, bem como a Corte de Chevalier Eustáquio Soares de Sousa Nº 42. Com o Capítulo José Barreto de Albuquerque, o Piauí passou a ter no Norte do Estado uma unidade DeMolay.

Até 2005, o Estado do Piauí era coordenado por uma Oficialaria Executiva, Capitaneada nos seus 07 anos de existência pelo Ilustre José Almeida de Sousa. Ressalte-se que ele permaneceu todo este tempo por desejo dos próprios DeMolays! Quando em 2004 foi promulgada a atual Constituição da Ordem DeMolay, o tio Almeidinha sentia que seu ciclo

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estaria findando e preparou caminho para a fundação e Instalação do Grande Capítulo do Estado do Piauí, fato que veio a se concretizar em 05 de novembro de 2005. Nesta data, por ocasião do Congresso Estadual, a Assembléia da Oficialaria Executiva da Ordem DeMolay para o Estado do Piauí decidiu pela extinção deste corpo administrativo, substituindo-o pelo Grande Capítulo Estadual da Ordem DeMolay para o Estado do Piauí, que veio a receber o número 13. Assumiu o primeiro triunvirato de dignitários ocupando os cargos de Grande Mestre Estadual, Grande Mestre Estadual Adjunto e 2º Grande Mestre Estadual Adjunto: Dirceu Iglesias Cabral Filho, Paulo Roberto de Araújo Barros e Waldemar Higino de Sousa Filho, respectivamente. Importante salientar que o Piauí adotou a mesma sistemática do Supremo Conselho no tocante à sucessão de seus dignitários.

Em 20 de maio de 2006, fundou-se no Piauí a Associação DeMolay Alumni Piauí, já prevista no Estatuto Social do Grande Capítulo Estadual como entidade integrante da Executiva do Grande Capítulo.

Em dezembro de 2006, por ocasião do Congresso Estadual, deixou o cargo de Grande Mestre o Ilustre Dirceu Iglesias Cabral Filho, ascendendo ao cargo o Ilustre Paulo Roberto de Araújo Barros.

Paulo Roberto procurou imprimir uma administração baseada em metas. Programou uma série de objetivos para serem cumpridos pelos Oficiais Executivos Regionais, com o fito de dar ânimo às unidades DeMolays. Procurou dar maior autonomia administrativa e financeira às regiões. Entretanto, teve que renunciar ao cargo de Grande Mestre em maio de 2007, visto que, na vida profana, exerce o cargo de Juiz de Direito, e o Conselho Nacional de Justiça, firmou entendimento de que seria incompatível à Magistratura o exercício da Presidência de entidades como a DeMolay.

Com a sua renúncia, ascendeu ao posto de Grande Mestre Estadual o Ir.: Waldemar Higino de Souza Filho, Adjunto de Paulo Roberto, que governou os destinos da Ordem no Piauí até VI Congresso Estadual, ocasião onde passou o posto para Ir.: João Batista Machado.

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Capítulo 5: Biografias Frank Sherman Land

Frank S. Land nasceu em 21 de junho de 1890, em Kansas City, Missouri, Estados Unidos da América. Bem cedo já demonstrava seu espírito de liderança. Sempre possuiu uma vida religiosa muito ativa. Desde criança, na Igreja, e junto com os ensinamentos de sua mãe, Frank Land conheceu a importância de uma filosofia de vida repleta de virtudes.

A Escola Dominical da Igreja Congregacional de Fountain Park, em St. Louis, proporcionou a este jovem os meios para sua primeira inclinação a conquistas e distinções. Recebeu de presente uma Bíblia por ter dez anos de freqüência ininterrupta à Escola Dominical.

Em Kansas City, ele completou seus estudos e tomou parte ativa em atividades da Igreja e Cívicas. Quando atingiu 19

anos, havia-se tornado um dirigente de restaurante de sucesso e, como artista amador, ele era o espírito vivo na organização para embelezar a cidade.

Frank S. Land era muito ativo na Maçonaria e com 25 anos de idade foi nomeado Diretor do Bureau de Serviços Sociais do Rito Escocês. Foi Presidente do Conselho DeMolay dos Cavaleiros Kadosch e, presidiu, em 1931, o Templo Ararat da "Ancient Arabic Order of the Nobles of the Mystic Shrine"

Ele foi agraciado com o Grau 33 da Maçonaria (Rito Escocês Antigo e Aceito), na idade quase sem precedentes de 35 anos. Seis anos depois foi eleito Grão - Mestre da Grande Loja do Missouri. Em 1954 assumiu o cargo de Potentado Imperial do Conselho Imperial do âShrineâ da América do Norte, e em 1954 foi premiado com a primeira Medalha Internacional de Ouro do Real Arco, pelo Grande Capítulo Geral dos Maçons do Real Arco (Rito York).

Frank Land foi diretor, consignatário e membro de inúmeras diretorias e conselhos. Recebeu diversas honrarias, porém sempre dedicou-se à Ordem DeMolay. Foi designado Cidadão Extraordinário em uma mensagem Oficial pelo então Presidente dos Estados Unidos da América, o General Dwight D. Eisenhower, em 1958.

Faleceu repentinamente em 08 de novembro de 1959, vítima de um edema pulmonar. Sua morte chocou o mundo inteiro!

Seus funerais foram acompanhados por mais de 1000 pessoas. Homens, Mulheres e, principalmente, Jovens, que tiveram suas vidas dignificadas pelo honroso trabalho de Frank S. Land, nos excelsos princípios que aprenderam no Altar de seus Capítulos. Louis Gordon Lower

Louis Gordon Lower nasceu em 2 de fevereiro de 1902. Com dezessete anos, Lower foi apresentado a Frank Land. Naquele tempo, Louis estava apenas procurando emprego para ajudar sua família financeiramente. Seu pai, Elmer E. Lower, recém iniciado na Maçonaria, havia morrido numa caçada, deixando o jovem sem essa importante figura em sua vida. Tio Frank Land, já na época um misericordioso, sério e promissor líder comunitário, começou a ouvir Louis, aprender com seus sonhos e ajudá-lo. Mas sua conduta despertou o interesse de Land. Ele então sugeriu que Lower poderia ajudá-lo a organizar um Clube de jovens garotos, uma organização para encorajar e direcionar adolescentes como ele.

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Depois de algumas semanas, a primeira reunião não-oficial da Ordem DeMolay aconteceu no Templo do Rito Escocês em Kansas City. Lower foi o primeiro DeMolay a prestar o juramento, o ato oficial foi emitido pelo Capítulo Mãe Kansas City, Missouri, na data de 05 de outubro de 1919, contendo a assinatura de Frank S. Land. Louis foi também o primeiro membro da Legião de Honra e o primeiro Chevalier. Ao contrário do que muitos Irmãos possam pensar, ele não foi o primeiro Mestre Conselheiro da Ordem, e sim o primeiro Secretário, dentro da primeira nomenclatura dada aos Oficiais que depois foi alterada quando Tio Frank Marshall escreveu o Rito. Em 1943, Louis, um bem respeitado oficial da cidade, ocupou o cargo de Diretor do Auditório Municipal de Kansas City. Em 18 de julho de 1943, Lower foi assassinado fora da Estação União de Kansas City. Ele tinha parado para questionar um segurança alcoolizado, que estava direcionando o tráfego para um cruzamento movimentado numa rua da cidade. Quando Lower chegou para inspecionar a insígnia do guarda, foi deliberadamente baleado no peito. Ele tinha quarenta e um anos de idade. Deixou sua esposa Dazie B. Lower, suas irmãs Fredonia Lower e Sra. J.E. Wasson, e seu irmão Elmer W. Lower, também DeMolay.

Louis Lower era um homem de ideais. Ele os mantinha consigo até que a hora das realizações chegasse. Alguns eram os sonhos de infância, quando ele era um membro ativo da Ordem DeMolay, da qual ele nunca se afastou.

Sua morte foi uma perda profunda para a Ordem, especialmente para Frank S. Land, que lhe tratava como um filho. “Ele era um símbolo para milhões de jovens, de ideais e ensinamentos de nossa Ordem. Ele vestiu o manto desta liderança com dignidade e graça. Ele nunca esqueceu da responsabilidade que lhe cabia. A ética da liderança ensinada a ele na Ordem DeMolay floresceram em incontáveis campos de empenho. Ele era um homem de ideais... ele amava a Deus, seu lar, e seu país. Era cavaleiro errante em sua vida, apesar de nunca ter admitido - mas era.”- disse Frank Sherman Land. Frank Marshall

Nascido a 13 de novembro de 1865, na cidade de

Leavemworth, estado de Kansas, Frank Arthur Marshall demonstrou, desde cedo seu interesse por escrever e estudar a simbologia de tudo que o cercava. Fez sua graduação em Jornalismo na Universidade de Kansas, na cidade de Lawrence. seu primeiro trabalho na profissão foi no Jornal Diário de "Leavenworth Times", como repórter.

Logo o trabalho dele chamou a atenção dos diretores do maior jornal do estado, o "Kansas City Journal", onde foi trabalhar. Lá exerceu as funções de repórter, revisor, redator, crítico de peças teatrais, música e arte, editor de notícias locais e por fim,

editorialista responsável pelo editorial do jornal. Na Maçonaria, Marshall era muito atuante. Foi fundador de várias Lojas Simbólicas,

Corpos Subordinados ao Rito Escocês e ao Rito de York, e foi membro das organizações Eastern Star e Shrine. Era um membro enérgico, leal e sincero da Fraternidade, a quem era um prazer se conhecer. Ele foi ativo e recebeu todas honras oficiais do Rito York e Escocês e Corpos de Rito.

Em 16 de março de 1931 ele consegue realizar uma reunião do Supremo Conselho da Ordem DeMolay, em Washington D. C. onde os graves momentos porque atravessa a Organização foram discutidos buscando alternativas e novas sugestões. No dia 17 eles seriam recebidos pelo Presidente Herbert Hoower, que pelo seu alto espírito humanitário era um amigo entusiasta de Land e da Ordem DeMolay. Agora em Washington ele demonstrava seu

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reconhecimento pela benéfica influencia que a Ordem DeMolay estava dando a juventude da nação americana. Herbert levantou-se de sua cadeira e cumprimentou, a cada um pessoalmente, tendo recebido de Land o colar de Membro Honorário da Legião de Honra.

Nesta ocasião Frank Marshall, o autor dos Rituais DeMolays, contrariando seus médicos, estava presente e ao aproximar-se do Presidente para cumprimentá-lo, levou as mãos ao peito e caiu ao chão. Levado ao hospital constatou-se que nada podia ser feito, e no dia 24 de março de 1931 passou para o Oriente Eterno, com apenas 65 anos de idade. A morte de Frank Marshall foi dolorosa para Land pois tinham trabalhado juntos durante os doze anos da Ordem DeMolay e tinham visto seus sonhos transformarem-se em realidade. Land dizia que: "sinto me perdido sem ele – como muitos outros deviam sentir o mesmo. Ele representava uma parte da minha vida, quase um pai para mim. Eu nunca o esquecerei, a Ordem DeMolay também jamais o esquecerá”

A história seguinte do Ritual DeMolay nas próprias palavras de Marshall: "Eu sou perguntado freqüentemente, 'Como você fez para escrever o Ritual DeMolay?' Os fatos simples podem ser ditos brevemente. Eu escrevi isto porque o Irmão Frank S. Land me pediu que fizesse, e porque Deus Todo-Poderoso, quem eu tenho agradecido em meu coração mil vezes, me deu o impulso para responder a esta oportunidade que o pedido envolveu.

"Mas, atrás dos fatos simples, há outros que poderiam ser de interesse para os milhares de DeMolays para quem meu nome signifique algo menos que nada, e a Ordem e seu ritual significa tudo.

"Eu soube do Irmão Land quando - quer dizer ele era um membro sério e dedicado da Loja Ivanhoe N.º. 446 A.F. da Cidade de Kansas, e proprietário de um negócio profano. Eu conheci sua amizade quando fiz trabalho ritualísta em Ivanhoé, sendo cimentada pela nossa associação. " Em seguida fui me familiarizando com o Irmão Land, ele deixou seu negócio privado para se tornar o secretário do Rito Escocês. Nossas relações pessoais ficaram íntimas por associação na linha Oficial do Conselho DeMolay, Cavaleiro Kadosh e em outros Corpos do Rito Escocês do Vale da Cidade de Kansas”. DeMolay, o herói dele:

"Deixe-me dizer antecipadamente que muitos anos antes que me tornasse um Maçom, Jacques DeMolay era um de meus heróis. Quarenta anos atrás ou mais, eu escrevi um pequeno 'texto' no qual dei a DeMolay um lugar de destaque como um exemplo de lealdade para consciência. Então, quando me tornei um membro do Conselho DeMolay, DeMolay especialmente atraiu a minha imaginação. Como um membro ativo, enquanto Land liderava, eu, me tornado cada vez mais próximo, levado à DeMolay, talvez, preparando inconscientemente para o trabalho que estava por vir.

"Logo no verão de 1919, o Irmão Land me convidou para escrever um Ritual para o pequeno clube de meninos que ele fazia parte, para ele o curso do trabalho com o qual freqüentemente o levava a entrar em contato com as famílias dos membros, necessitava nitidamente de uma influência enaltecida. Ele explicou de um modo geral, como também em alguns detalhes, tudo que ele tinha em mente, impressionando em mim o instinto dramático e a natureza dos meninos que almejava por um ritual. Como tinha previamente dito, agradeci a Deus mil vezes por Land ter me honrado com o convite, mas especialmente que ele pôs isto em meu coração, fazendo-me sentir a necessidade de tentar conhecer isto para o melhor da minha habilidade. De certo modo, eu estava a favor da seleção lógica de tal tarefa, do ponto de vista de Land, porque eu era um dos alguns homens de jornal nos Corpos dos Ritos Escoceses, entretanto, o único escritor. Porém, condizente com a aptidão da situação, eu fui convidado, aceitei e escrevi um Ritual que nenhum de nós sempre sonhou seria um dos pontos de reunião para umas centenas de exército de meninos americanos e rapazes em outras terras.

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"Eu não tive nenhum filho, entretanto minha casa tinha sido santificada com duas queridas meninas. Eu tinha sonhado o sonho bonito de 'bebês em meu joelho', e este sonho maravilhoso foi formosamente percebido como os anos passando. Eu tenho dois netos que peço poder viver para vê-los DeMolays.”

Traçando o Ritual "Eu tive muitos doces momentos em minha vida, mas uma das maiores alegrias que já

experimentei foi quando li meu primeiro desenho da Abertura e Encerramento e a Iniciação e Grau DeMolay, para Land. Land se sentou à escrivaninha da secretaria no auditório do Templo do Rito Escocês à 15.ª Rua da Avenida de Troost, na Cidade de Kansas, e eu me sentei à sua frente.

"Eu quase pude ver a grande visão que iria se tornar uma realidade, e que se ia formando na mente de Land quando desdobrei o Ritual para ele até onde tinha progredido. O gênio notável dele para executivo detalhe, a habilidade de desenvolver o trabalho depois e os esplêndidos meninos que exemplificaram o ritual, deu-me fôlego e respiração de vida, que fez meu testemunho do primeiro trabalho de Grau, outro dos marcos em minha vida.

"O Templo do Rito Escocês, na Cidade de Kansas, sempre será um santuário para mim. Foi aqui que fiz os votos do Rito; neste altar eu recebi um anel dos meninos do Capítulo Mãe, e do qual me tornei um apaixonado. Ao altar, eu vi pela primeira vez que, esplêndidos jovens companheiros fazendo os votos de DeMolay e o Ritual foi desdobrado até certo ponto que era uma profecia do futuro, crescimento com o qual nenhum de nós realmente sonhou no princípio.

"Talvez minha maior tarefa era no princípio evitar a Filosofia Maçônica, para nós nos dias primeiros era o medo de copiar o Ritual Maçônico era muito real e havia uma oposição muito definida a qualquer coisa nisso sugestionado alguma conexão com a Maçonaria ou que o DeMolay aparece-se como uma preparação para futuros Maçons"

A Coroa da Juventude "Eu confesso que durante semanas nada excelente veio a mim, até a pouca inspiração

da Coroa de Juventude forneceu as chaves para o Grau de Iniciação. A partir daquele momento, o Ritual se escreveu virtualmente. O Leste como da manhã da vida; o Sul como a estação de meio dia e o Oeste com suas lições solenes seria bastante óbvio.

"Eu escrevi o Grau DeMolay de propósito em uma chave muito diferente da didática do Grau Iniciático. Eu tentei fazer isto atrair o instinto dramático inerente em todos os meninos e fazer isto evitando qualquer monotonia quando comparei com o Grau Iniciático.

"De vez em quando, o Irmão Land sugestionava mudanças verbais e colocacionais nas seções de fundação do ritual. Ele me chamou depois para um serviço comemorativo que é meu favorito pessoal. Ele pediu uma Cerimônia de Instalação para começar Novos Capítulos e então pediu uma Cerimônia de Maioridade para licitar adeus para DeMolays que completaram a idade de 21 anos. Ainda depois, ele pediu uma Cerimônia Funerária, aparte do Comemorativo e último de tudo para a Legião de Grau de Honra. Para todas estas demandas, eu respondi com tudo que eu tive em mim, e como isto é, o Ritual DeMolay minha contribuição mais reverente é ao bem-estar da Comunidade, Estado e Nação.

"Minha pequena casa modesta na Jefferson Street, 4506 e especialmente a sombra das árvores na jarda dianteira são lugares sagrados para mim porque em minha casa e debaixo dessas árvores, criou-se o Ritual DeMolay forjado na bigorna do meu coração e alma durante os meses do verão de 1919, quando achei tempo dos deveres diários da minha profissão.

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"Originalmente, eu chamava as unidades 'Conselhos', em vez de 'Capítulos', mas como eu era um sócio de um Conselho DeMolay, era muito lógico chamar de oficiais principais do 'Conselho': simbolizando as funções aconselhadoras de liderança.

"Talvez se nós tivéssemos sonhado com as proporções futuras da Ordem DeMolay, eu teria sido intimidado à tarefa que empreendi. Porém, eu fiz o que pude. Tentei plantar uma semente que esperava poder crescer em uma árvore em baixo da qual alguns cem ou alguns mil meninos achariam a sombra útil de uma inspiração para uma vida melhor. Que cresceu em uma grande floresta de sombra é a grande alegria de minha vida e do Irmão Land e todos os outros que se associaram ao movimento mais tarde.

"Eu também agradeci Deus Todo-Poderoso mil vezes que ele trouxe para a ajuda de DeMolay por seus dias de começo, o grande cérebro, o grande coração e alma e a influência maravilhosa do recente ilustre Irmão Alexander G. Cochran de St. Louis, Soberano Principal Inspetor Geral do Rito Escocês para o Missouri e Grande Mestre da Ordem DeMolay.

"Cada vez que a indiferença pairava alta, por qualquer razão, teria significado tristeza para DeMolay, ele foi espantado pela visão do Irmão Land e a sua amável fórmula de elogio para meus próprios esforços esteve entre as recordações mais preciosas de minha associação com a Ordem.

"Como acontece a mim neste acaso e vagueando o pensamento, a anteceder a resposta à pergunta, 'Como você fez para escrever o Ritual DeMolay?'"

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ANEXOS Perdão do Papa aos Templários

Arquivo do Vaticano mostra que papa perdoou Cavaleiros massacrados 30 de março de 2002 POR RICHARD OWEN, DE ROMA

Vieram à luz documentos do Vaticano mostrando que o massacre em massa dos Cavaleiros Templários na Idade Média com alegação de "heresia, idolatria e perversão sexual" - um episódio ainda envolvido em mistério - aconteceu apesar do Papa tê-los absolvido em um julgamento secreto. A revelação aumentará a pressão sobre o Papa atual, que já pediu ao perdão ao mundo Muçulmano pelas Cruzadas, para que também peça desculpas pela perseguição a uma das principais ordens dos Cruzados. Os Templários, cujo poder e fortuna legendários ainda causam fascinação, foram dispersos pelo Papa Clemente V durante o Concílio de Viena, na França, em 1312. O diário Católico L'Avvenire disse que se pensava que a linha de investigação do Papa havia sido perdida quando Napoleão saqueou o Vaticano durante sua invasão da Itália no século 18, e que a descoberta dessa linha é um evento excepcional.

O Grão Mestre dos Templários, Jacques de Molay, foi queimado em uma fogueira por ordem de Felipe IV de França (conhecido como Felipe o Belo), que cobiçava as terras e os tesouros da ordem Templária e iniciara uma campanha de prisões e tortura, ao crepúsculo, em 1307. Foram mortos pelo menos 2000 Cavaleiros em uma tentativa de eliminar a ordem como um todo. A ordem renasceu no século 18 como parte do movimento maçônico, do qual se diz haver herdado alguns dos rituais secretos dos Templários. Barbara Frale, pesquisadora da Escola de Paleontologia do Vaticano, afirmou que era consenso entre os historiadores que Clemente V, que era francês e havia sido Arcebispo de Bordeaux, tinha sido dócil e fraco, e que foi conivente com o plano de Felipe o Belo para fazer desaparecer os Templários e apoderar-se de sua fortuna. Porém, documentos encontrados nos arquivos do Vaticano, incluindo um pergaminho há muito tempo perdido, provou que o Papa, na verdade, manobrou com "habilidade e determinação" para assegurar que seus próprios emissários interrogassem de Molay e outros Templários nas masmorras do castelo de Chinon, no Loire, em 1308, o que equivaleu a um julgamento papal.

A senhora Frale, que estava escrevendo um livro baseado no pergaminho de Chinon, disse ao periódico (mensal) Hera, uma publicação sobre mistérios históricos, que o resultado foi a exoneração completa dos Cavaleiros. O Papa havia aceito a explicação dos Cavaleiros de que as acusações de que eram alvos, de sodomia e blasfêmia, erma devidas à compreensão errada dos rituais arcanos atrás de portas fechadas, e que tiveram suas origens na batalha mais amarga dos Cruzados contra os Muçulmanos ou Sarracenos. As acusações incluíam "negar Cristo e cuspir na Cruz por três vezes", assim como "beijar os traseiros de outros homens". Adriano Forgione, editor de Hera, disse que as acusações visavam simular o tipo de humilhação e tortura que os Sarracenos poderiam, quase que certamente, impingir aos Cruzados caso os capturassem. Eles eram treinados a injuriar suas próprias religiões "com a mente apenas, não com o coração".

Os Cavaleiros Templários - adequadamente chamados de Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão - tiveram a Ordem fundada no século 12, quando protegiam peregrinos a caminho da Terra Santa, e tinham a ajuda dos Hospitalários (ou Cavaleiros de São João). Os Templários eram assim chamados porque uma parte do Templo de Salomão lhes tinha sido dada para servir de quartel-general. Percebendo que de Molay e os Cavaleiros haviam pedido seu perdão, o Papa escreveu "Pela presente decretamos que eles estão absolvidos pela igreja e podem, novamente, receber os sacramentos". O senhor Forgione disse que o Papa havia falhado por não ter tornado a absolvição pública, porque o escândalo dos Templários provocou paixões extremas e ele temeu um cisma na igreja. Felipe IV fez matar

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de Molay e outros líderes antes que o veredicto do Papa pudesse ser publicado e, subseqüentemente, o veredicto tornou-se inútil.

Por: RICHARD OWEN, THE TIMES

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Texto do livro “A linhagem do Santo Graal” O REINO DOS ESCOCESES

A PERSEGUIÇÃO DOS TEMPLÁRIOS

A pseudocruzada terminou em 1244, mas se passariam mais 62 anos até que o papa Clemente V e o rei Filipe IV estivessem em posição de molestar os Cavaleiros Templários em sua busca pelo tesouro arcano. Em 1306, a Ordem de Jerusalém já era tão poderosa, que Filipe IV da França os via com certa preocupação; ele devia muito dinheiro aos Cavaleiros e estava praticamente falido. Além disso, ele temia o poder político e esotérico dos Templários, que certamente era muito maior do que o dele. Com o apoio do papa, o rei Filipe perseguiu os Templários na França e se empenhou em eliminar a Ordem em outros países. Os Cavaleiros estavam sendo presos na Inglaterra, mas ao norte da fronteira, na Escócia, as bulas papais não surtiam efeito, pois o rei Robert, o Bruce, e toda a nação escocesa foram excomungados por levantar armas contra o genro de Filipe, o rei Edward II da Inglaterra.

Até 1306, os Cavaleiros sempre tinham agido sem interferência papal, mas Filipe conseguiu mudar essa situação. Após um edito do Vaticano proibindo-o de cobrar impostos do clero, o rei francês providenciou a captura e o assassinato do papa Bonifácio VIII. Seu sucessor, Benedito XI, também morreu em circunstâncias muito misteriosas, sendo substituído em 1305 pelo candidato de Filipe, Bertrand de Goth, arcebispo de Bordeaux, que se tomou o papa Clemente V. Com um novo papa sob seu controle, Filipe apresentou sua lista de acusações contra os Cavaleiros Templários. A acusação mais fácil era a de heresia, pois todos sabiam que os Cavaleiros não aceitavam a visão da crucificação e não usavam a cruz latina ereta. Também era sabido que as questões diplomáticas e comerciais dos Templários os faziam se envolver com judeus, gnósticos e muçulmanos.

Em 13 de outubro de 1307, uma sexta-feira, os partidários de Filipe atacaram, e os Templários foram capturados por toda a França, sendo levados à prisão, interrogados, torturados e queimados. Testemunhas compradas eram chamadas para testemunhar contra a Ordem, e algumas declarações verdadeiramente absurdas foram feitas. Os Templários eram acusados de numerosas práticas consideradas profanas, incluindo necromancia, homossexualismo, aborto, blasfêmia e magia negra. Uma vez tendo dado seu depoimento, sob circunstâncias que envolviam suborno ou coerção, as testemunhas desapareciam sem deixar traços. Mas, apesar de tudo isso, o rei não alcançou seu objetivo primário, pois o tesouro continuou inacessível para ele. Seus vassalos tinham vasculhado toda a área de Champagne e Languedoc, mas o tempo todo a maior parte do tesouro estava escondida nos cofres do Tesouro de Paris.

Naquela época, o Grão-Mestre da Ordem era Jacques de Molay. Sabendo que o papa Clemente V era um peão do rei Filipe, Molay providenciou para que o tesouro de Parias fosse removido numa frota de 18 galeras de La Rochelle. A maioria desses navios singrou para a Escócia (alguns foram para Portugal), mas Filipe não sabia disso e negociou com vários monarcas para que os Templários também fossem perseguidos fora da França. Subseqüentemente, ele obrigou o papa Clemente a proibir a Ordem em 1312 e, dois anos depois, Jacques de Molay foi queimado na estaca.

Edward II, da Inglaterra, relutava em se voltar contra os Cavaleiros, mas sendo genro de Filipe, viu-se numa posição difícil. Assim, ao receber uma instrução clara do papa, ele concordou com a ordem da Inquisição. Muitos Templários foram presos na Inglaterra, suas terras e preceptorias confiscadas e depois passadas para os Hospitalários de São João.

Na Escócia, porém, a história foi bem diferente: a bula papal foi totalmente ignorada. Muito tempo antes, em 1128, Hugues de Payens conhecera o rei David I dos escoceses logo depois do Concílio de Troyes, e São Bernardo de Clairvaux integrava a Igreja Celta, com sua abastada Ordem Cisterciense. O rei David concedeu a Hugues e seus Cavaleiros as terras de

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Ballantradoch, próximas ao Estuário de Forth (hoje a vila do Templo), e eles estabeleceram sua sede principal em South Esk. A Ordem, então, foi promovida e encorajada por sucessivos reis, particularmente William, o Leão. Tratos consideráveis de terra eram passados para os Cavaleiros (especialmente nas cercanias de Lothian e Aberdeen) e os Templários também tomaram posse de propriedades em Ayr e no oeste da Escócia. Um grande contingente lutou em Bannockburn, em 1314, ganhando grande proeminência em Lorne e Argyll. Desde o período de Robert, o Bruce, cada sucessivo herdeiro Bruce e Stewart era um Cavaleiro Templário por nascimento e, em viturde disso, a linhagem real escocesa compreendia não só reis sacerdotes, mas também reis sacerdotes cavaleiros.

(A linhagem do Santo Graal – Laurence Gardner)

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“A Cruzada do Descobrimento” Como a Ordem de Cristo, organização criada por cavaleiros medievais, tramou a viagem de Cabral ao Brasil.

Domingo, 8 de março de 1500, Lisboa. Terminada a missa campal, o rei d. Manuel I sobe ao altar, montado no cais da Torre de Belém, toma a bandeira da Ordem de Cristo e a entrega a Pedro Álvares Cabral. O capitão vai içá-la na principal nave da frota que partirá daí a pouco para a Índia. Era uma esquadra respeitável, a maior já montada em Portugal, com treze navios e 1 500 homens. Além do tamanho, tinha outro detalhe incomum. O comandante não possuía a menor experiência como navegador. Cabral só estava no comando da esquadra porque era cavaleiro da Ordem de Cristo e, como tal, tinha duas missões: criar uma feitoria na Índia e, no caminho, tomar posse de uma terra já conhecida, o Brasil.

A presença de Cabral à frente do empreendimento era indispensável, porque só a Ordem de Cristo, uma companhia religiosa-militar autônoma do Estado e herdeira da misteriosa Ordem dos Templários, tinha autorização papal para ocupar - tal como nas cruzadas - os territórios tomados dos infiéis (no caso brasileiro, os índios). No dia 26 de abril de 1500, quatro dias depois de avistar a costa brasileira, o cavaleiro Pedro Álvares Cabral cumpriu a primeira parte da sua tarefa. Levantou onde hoje é Porto Seguro a bandeira da Ordem e mandou rezar a primeira missa no novo território. O futuro país estava sendo formalmente incorporado às propriedades da organização. O escrivão Pero Vaz de Caminha, que reparava em tudo, escreveu para o rei sobre a solenidade: "Ali estava com o capitão a bandeira da Ordem de Cristo, com a qual saíra de Belém, e que sempre esteve alta." Para o monarca português, a primazia da Ordem era conveniente. É que atrás das descobertas dos novos cruzados vinham as riquezas que faziam a grandeza e a glória do reino de Portugal. A seguir, você vai entender como essa organização transformou a pequena nação ibérica em um império espalhado pelos quatro cantos do planeta. Uma idéia delirante leva os portugueses ao mar

No começo do século XV, Portugal era um reino pobre. A riqueza estava na Itália, na Alemanha e em Flandres (hoje parte da Bélgica e da Holanda). Então como foi que os lusitanos encabeçaram a expansão européia? A rica Ordem de Cristo foi o seu trunfo decisivo. Fundada por franceses em Jerusalém em 1119, com o nome de Ordem dos Templários, acabou transferindo-se para Portugal em 1307, época em que o rei da França desencadeou contra ela uma das mais sanguinárias perseguições da História. Quando o infante d. Henrique, terceiro filho do rei d. João I, tornou-se grão-mestre da Ordem, em 1416, a organização encontrou o respaldo para colocar em prática um antigo e ousado projeto: circunavegar a África e chegar à Índia, ligando o Ocidente ao Oriente sem a intermediação dos muçulmanos, que então controlavam os caminhos por terra entre os dois cantos do mundo.

No momento em que d. Henrique, à frente da Ordem de Cristo, resolveu dar a volta no continente africano, a idéia parecia uma doidice. Havia pouca tecnologia para navegar em oceano aberto (o Meditarrâneo é um mar fechado) e nenhum conhecimento sobre como se orientar no Hemisfério Sul, porque só o céu do norte estava mapeado. Mais ainda: acreditava-se que, ao sul, os mares estavam cheios de monstros terríveis. De onde teria vindo então a informação de que era possível encontrar um novo caminho para o Oriente? Possivelmente dos templários, que durante as cruzadas, além de se especializarem no transporte marítimo de peregrinos para a Terra Santa, mantiveram intenso contato com viajantes de toda a Ásia. Aventura religiosa

A proposta visionária recebeu o aval do papa Martinho V, em 1418, na bula Sane Charissimus, que deu caráter de cruzada ao empreendimento. As terras tomadas dos infiéis

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passariam à Ordem de Cristo, que teria sobre elas tanto o poder temporal, de administração civil, quanto o espiritual, isto é, o controle religioso e a cobrança de impostos eclesiásticos. Entre o lançamento oficial da empreitada e a conquista do objetivo último decorreria um longo tempo, precisamente oitenta anos. Apenas em 1498, o cavaleiro Vasco da Gama conseguiria chegar à Índia. Morto em 1460, d. Henrique não assistiu ao triunfo da sua cruzada. Mas chegou a ver como, no rastro dela, Portugal ia se tornando a maior potência marítima da Terra. Um porto aberto na encruzilhada do mundo

D. Henrique sagrou-se cavaleiro em 1415, na batalha de Ceuta, no Marrocos, em que os portugueses expulsaram os muçulmanos da cidade. No ano seguinte, o príncipe virou comandante da Ordem. Como a sucessão do trono português caberia a seu irmão mais velho, d. Duarte, Henrique assumiu o cargo de governador do Algarve. Solteiro e casto, dividia o seu tempo entre o castelo de Tomar, sede da Ordem, e a vila de Lagos, no Algarve. Em Tomar, cuidava das finanças, da diplomacia e da carreira dos pilotos iniciados nos segredos do empreendimento cruzado. O castelo era um cofre de recursos e informações secretas. Lagos era a base naval e uma corte aberta. Vinham viajantes de todo o mundo, de "desvairadas nações de gentes tão afastadas de nosso uso", escreveu o cronista Gomes Eanes de Zurara, na Crônica da Tomada de Guiné. Os personagens desse livro revelam um pouco do cosmopolitanismo do porto de Lagos: havia gente das Ilhas Canárias, caravaneiros do Saara, mercadores do Timbuctu (hoje Mali), monges de Jerusalém, navegadores venezianos, alemães e dinamarqueses, cartógrafos italianos e astrônomos judeus.

Uma das regras de ouro da diplomacia era presentear. Assim, o príncipe juntou uma biblioteca preciosa. Entre mapas, plantas e tabelas havia um exemplar manuscrito das Viagens de Marco Polo. Não por acaso a primeira edição impressa dessa obra foi feita não em latim ou em italiano, mas em português, em 1534. A Ordem combatente dos padres-soldados

Conquistada pelos cristãos na Primeira Cruzada, em 1098, Jerusalém estava de novo cercada pelos árabes em 1116. Foi quando os nobres franceses Hugo de Poiens e Geoffroi de Saint-Omer juraram, na Igreja do Santo Sepulcro (o templo dos cristãos), viver em perpétua pobreza e defender os peregrinos que vinham à Terra Santa. Nascia a Ordem dos Cavaleiros Pobres de Cristo, renomeada, em 1119, como Ordem dos Cavaleiros do Templo - a Ordem dos Templários.

Na época, várias organizações católicas congregavam devotos sob regimento próprio. A dos Templários, entretanto, era diferente: seus membros eram monges-guerreiros. As normas da Ordem eram secretas e só conhecidas, na totalidade, pelo comandante-em-chefe (o grão-mestre) e pelo papa. Desde o início, os templários foram desobrigados de obedecer aos reis. Podiam, assim, ter interesses próprios. Ao entrar na companhia, o novato conhecia só uma parte das regras que a guiavam e, à medida em que era promovido, sempre em batalha, tinha acesso a mais conhecimentos, reservados aos graus hierárquicos superiores. Ritos de iniciação marcavam as promoções. Foi essa estrutura que permitiu, mais tarde, à Ordem de Cristo manter secreto os conhecimentos de navegação no Atlântico. Banqueiros pobres

Enquanto as cruzadas empolgaram a Europa, os templários receberam milhares de propriedades por doação ou herança e desenvolveram intensa atividade econômica. Nos seus feudos, introduziram métodos racionais de produção e foram os primeiros a criar linhagens de cavalos em estábulos limpos. Uma rede de postos bancários logo se espalhou por vários países. Peregrinos a caminho da Terra Santa depositavam seus bens no ponto de partida e

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ganhavam uma carta de crédito com o direito de retirar o equivalente em moeda local em qualquer estabelecimento templário. Daí para gerirem as finanças de reis como o da França foi um passo.

Mas a sua exuberância gerou inveja. Enquanto houve cruzadas, os templários exibiram orgulhosamente o manto branco com a cruz vermelha - a mesma que depois as naus portuguesas usariam. Com a queda da Cidade Santa, em 1244, e a expulsão das tropas cristãs da Palestina, em 1291, a mística se dissipou e a oposição monárquica tornou-se explícita. Nas décadas seguintes, a confraria seria extinta em toda a Europa. Com a exceção de Portugal. Calúnia e difamação contra os guerreiros

O rei da França, Felipe IV, o Belo, devia dinheiro à Ordem dos Templários. Os templários franceses eram os mais poderosos da Europa. Controlavam feudos e construções no interior e em Paris. Entre eles, o Templo, um conjunto de igrejas e oficinas que, reformado em 1319, virou o presídio da Bastilha, mais tarde destruído durante a Revolução Francesa.

As derrotas no Oriente Médio alimentaram uma onda de calúnias segundo as quais os cavaleiros teriam feito acordos com os muçulmanos, fugido de campos de batalha e traído os cristãos. Aproveitando o clima, em 13 de outubro de 1307, Felipe invadiu, de surpresa, as sedes templárias em toda a França. Só em Paris foram detidos 500 cavaleiros, muitos sendo degolados.

Dois processos foram abertos: um dirigido pelo rei contra os presos e o outro conduzido pelo papa Clemente V contra a Ordem. O papa era francês, morava em Avignon e era aliado do rei. Torturas brutais e confissões arrancadas pela Inquisição viraram peças difamatórias escandalosas. O sigilo da Ordem foi usado contra ela e as etapas dos rituais de iniciação foram convertidas em monstruosidades. Os santos guerreiros foram acusados de cuspir na cruz, adorar o diabo, cultuar Maomé, manter práticas homossexuais e queimar crianças. Todos os seus bens foram confiscados. Esperava-se uma fortuna, mas, como pouco foi efetivamente recolhido, criou-se a lenda de que tesouros teriam sido transferidos em segurança para outro país. Santuário de fugitivos

Para muitos, esse país teria sido Portugal. O rei d. Diniz (1261-1325) decidiu garantir a permanência da Ordem em terras portuguesas: sugeriu uma doação formal dos seus bens à Coroa, mas nomeou um administrador templário para cuidar deles. Nem o processo papal nem a execução do grão-mestre Jacques de Molay, em 1314, o intimidaram. Em 1317, reiterando que os templários não haviam cometido crime em Portugal, d. Diniz transferiu todo o patrimônio dos cruzados para uma nova organização recém-fundada: a Ordem de Cristo.

Assim, Portugal virou refúgio para perseguidos em toda a Europa. De vários países chegavam fugitivos, carregando o que podiam. O castelo de Tomar virou a caixa-forte dos segredos que a Inquisição não conseguiu arrancar. Dois anos depois, em 1319, um novo papa, João XXII, reconheceu a Ordem de Cristo. Começava para os cavaleiros uma nova era, com uma nova missão. De cavaleiros a funcionários do Estado

Nas primeiras décadas de existência da Ordem de Cristo, os ex-templários estabeleceram estaleiros em Lisboa, fizeram contratos de manutenção de navios e dedicaram-se à tecnologia náutica, aproveitando o conhecimento adquirido no transporte marítimo de peregrinos entre a Europa e o Oriente Médio durante as cruzadas. Ao mesmo tempo, preparavam planos para voltar à ação, contornando a África por mar e, aliando-se a cristãos orientais, expulsar os mouros do comércio de especiarias.

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Em 1416, quando assumiu o cargo de grão-mestre, d. Henrique lançou-se à diplomacia. Passaram-se cem anos desde que os templários haviam sido condenado nos processos de Paris e o Vaticano estava preocupado com a pressão muçulmana sobre a Europa, que crescera muito no século XIV. Com isso, em 1418, o Infante consegue do papa um aval ao projeto expansionista. Daí em diante, cada avanço para o sul e para o oeste será seguido da negociação de novos direitos. Em um século, os papas emitiram onze bulas privilegiando a Ordem com monopólios da navegação na África, posse de terras, isenção de impostos eclesiásticos e autonomia para organizar a ação da Igreja nos locais descobertos.

Até a metade do século XV, os cavaleiros saíram na frente, sem esperar pelo Estado português. Uma vez iniciada a colonização, eventualmente doavam à família real o domínio material dos territórios, mantendo o controle espiritual. À corte, interessada em promover o desenvolvimento da produção de riquezas e do comércio, cabia então consolidar a posse do que havia sido descoberto. Pilhando mouros

No Marrocos, os novos cruzados atacaram Tânger, em 1437, e Alcácer-Ceguer, em 1458. O ímpeto guerreiro preponderou sobre o mercantilismo real até 1461, quando o cavaleiro Pedro Sintra encontrou ouro na Guiné. Aí, a pressão comercial da monarquia começou a ficar maior. Mesmo assim, ainda houve expedições contra os mouros marroquinos em Asilah e Tânger, outra vez, em 1471. Mas à medida que foi sendo consolidado o comércio na rota das Índias, a partir da sua descoberta em 1498, a coroa foi absorvendo gradualmente os poderes da Ordem. Até que em 1550 o rei d. João III fez o papa Júlio III fundir as duas instituições. Com isso, o grão-mestre passa a ser sempre o rei de Portugal, e o seu filho tem o direito de sucedê-lo também no comando dos cruzados. Outros parceiros entram no jogo

A Ordem de Cristo controlou o conhecimento das rotas e o acesso às tecnologias de navegação enquanto pôde. Mas com o ouro descoberto na Guiné, em 1461, o monopólio da pilotagem passa a ser cada vez mais desafiado. A partir de então, multiplicaram-se os contratos com comerciantes e as cessões de domínio ao rei para exploração das regiões descobertas. Aos poucos, a sabedoria secreta guardada em Tomar foi sendo passada para mercadores de Lisboa, Flandres e Espanha. Portugal naquela época fervilhava de espiões, especialmente espanhóis e italianos, que procuravam os preciosos mapas ocultados pelos cruzados.

Enquanto o tesouro de dados marítimos esteve sob a sua guarda, a estrutura secreta da Ordem garantiu a exclusividade para os portugueses. Em Tomar e em Lagos, os navegadores progrediam na hierarquia apenas depois que a sua lealdade era comprovada, se possível em batalha. Só então eles podiam ler os relatórios reservados de pilotos que já haviam percorrido regiões desconhecidas e ver preciosidades como as tábuas de declinação magnética, que permitiam calcular a diferença entre o pólo norte verdadeiro e o pólo norte magnético que aparecia nas bússolas. E, à medida que as conquistas avançavam no Atlântico, eram feitos novos mapas de navegação astronômica, que forneciam orientação pelas estrelas do Hemisfério Sul, a que também unicamente os iniciados tinham acesso. Competição acirrada

Mas o sucesso atraía a competição. A Espanha, tradicional adversária, também fazia política no Vaticano para minar os monopólios da Ordem, em ação combinada com seu crescente poderio militar. Em 1480, depois de vencer Portugal numa guerra de dois anos na fronteira, os reis Fernando, de Leão, e Isabel, de Castela, começaram a se interessar pelas terras d'além- mar. Com a viagem vitoriosa de Colombo à América, em 1492, o papa

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Alexandre VI, um espanhol de Valencia, reconheceu em duas bulas, as Inter Caetera, o direito de posse dos espanhóis sobre o que o navegante genovês havia descoberto. E rejeitou as reclamações de d. João II de que as novas terras pertenceriam a Portugal. O rei não se conformou e ameaçou com outra guerra. A controvérsia induziu os dois países a negociarem, frente a frente, na Espanha, em 1494, um tratado para dividir o vasto novo mundo que todos pressentiam: o Tratado de Tordesilhas. Vitória da experiência em Tordesilhas

Na volta da viagem à América, em 1493, Cristóvão Colombo fez uma escala em Lisboa para visitar o rei de Portugal, d. João II. Um gesto corajoso. O soberano estava dividido entre dois conselhos: prender o genovês ou reclamar do papa direitos sobre as terras descobertas.

Para sorte de Colombo, decidiu pela segunda alternativa. Como a reivindicação não foi atendida, acabou sendo obrigado a enviar os melhores cartógrafos e navegadores da Ordem de Cristo, liderados pelo experiente Duarte Pacheco Pereira, a Tordesilhas, na Espanha, para tentar um tratado definitivo, mediado pelo Vaticano, com os espanhóis. Apesar de toda a contestação a seus atos, a Santa Sé ainda era o único poder transnacional na Europa do século XV. Só ela podia mediar e legitimar negociações entre países.

O cronista espanhol das negociações, frei Bartolomeu de las Casas, invejou a competência da missão portuguesa. No livro História de las Indias, escreveu: "Ao que julguei, tinham os portugueses mais perícia e mais experiência daquelas artes, ao menos das coisas do mar, que as nossas gentes". Sem a menor dúvida. Era a vantagem dada pela estrutura secreta da Ordem.

Não deu outra. Portugal saiu-se bem no acordo. Pelas bulas Inter Caetera, os espanhóis tinham direito às terras situadas mais de 100 léguas a oeste e sul da ilha dos Açores e Cabo Verde. Pelo acordo de Tordesilhas, a linha divisória imaginária, que ia do pólo norte ao pólo sul, foi esticada para 370 léguas, reservando tudo que estivesse a leste desse limite para os portugueses - o Brasil inclusive. Trabalhando em silêncio

Graças à Ordem e à sua política de sigilo, os portugueses sabiam da existência das terras na parte do globo onde hoje está o Brasil sete anos antes da viagem de Cabral. E, trinta anos antes da viagem de Colombo, todos os mapas lusitanos mostravam ilhas com o nome de "Antílias", a oeste de Cabo Verde. O mais famoso cartógrafo italiano da época, Paolo Toscanelli, escreveu a um amigo português, em 1474, falando da "Ilha de Antília, que vós conheceis". Nesse ano, também há notícia de que o navegador cruzado João Vaz da Corte Real explorou o Caribe e foi até a Terra Nova (o Canadá). Mas os documentos comprobatórios dessa viagem, como quase tudo da Ordem, nunca foram encontrados. O mistério da origem do nome Brasil

Diz a tradição que o nome Brasil vem de pau-brasil, madeira cor-de-brasa. Mas a tradição é insuficiente quando se sabe que, desde 1339, o nome Brasil aparece em mapas. No século XIV, os planisférios dos cartógrafos Mediceu, Solleri, Pinelli e Branco mostravam uma Ilha Brasil, sempre a oeste dos Açores. O historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda acreditava que a origem do nome é uma lenda céltica que fala de uma "terra de delícias", vista entre nuvens.

A primeiro carta geográfica onde aparecem referências seguras ao Brasil real é o mapa de Cantino. Nele se podem ver papagaios, florestas e o contorno do litoral desde o norte até o sudeste. O trabalho foi encomendado pelo espião italiano Alberto Cantino, em 1502, a um cartógrafo de Lisboa e enviado ao seu senhor, o duque de Ferrara. É um mistério como ele foi

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feito. Afinal, as únicas viagens oficiais de espanhóis e portugueses ao Brasil até 1502 foram as de Vicente Pinzón, ao estuário do Amazonas, e Pedro Álvares Cabral, até onde hoje é a Bahia. Como explicar, então, a presença, na carta, do desenho do litoral desde Cabo Frio até o Amazonas? Quem andou por aqui?

Fruto provável do suborno do cartógrafo, a se julgar pela conta salgada apresentada por Cantino ao duque, o mapa deixa claro que já havia conhecimento profundo das terras a oeste do Atlântico. Além de 4 000 quilômetros de litoral brasileiro aparecem no mapa a Flórida, a Terra Nova (hoje Canadá) e a Groenlândia. Historiadores portugueses modernos, como Jorge Couto e Luciano Pereira da Silva, acham que Duarte Pacheco Pereira, o navegador que negociou Tordesilhas e autor do importante livro Esmeraldo de Situ Orbius, sobre as navegações portuguesas, escrito em 1505, deixou indicações de que esteve no Brasil. Teria visitado a costa do Maranhão e a foz do Amazonas, em 1498, quatro anos depois de Tordesilhas. Mesmo assim há questões do mapa de Cantino não-respondidas. A única certeza é que entre a versão e o fato agiam em sigilo os cavaleiros da Ordem de Cristo - cuja documentação jamais foi encontrada. Do outro lado do Mar Tenebroso

Águas fervilhantes, ares envenenados, animais fantásticos e canibais monstruosos espreitavam a imaginação dos que desciam o Atlântico em direção ao sul.

Quando o navegador da Ordem de Cristo Gil Eanes passou o Cabo Bojador, um pouco ao sul das Ilhas Canárias, em 1434, mais do que realizar um avanço náutico, estava desmontando uma mitologia milenar. Acreditava-se que depois do cabo, localizado no que é hoje o Saara Ocidental, começava o Mar Tenebroso, onde a água fumegaria sob o sol, imensas serpentes comeriam os desgraçados que caíssem no oceano, o ar seria envenenado, os brancos virariam pretos, haveria cobras com rostos humanos, gigantes, dragões e canibais com a cabeça embutida no ventre.

O estrondo das ondas nos penhascos do litoral, que podia ser ouvido a quilômetros de distância, as correntes fortíssimas e as névoas de areia reforçavam o pânico dos pilotos. Quando finalmente reuniu coragem e viu que do outro lado não havia nada de especial, Eanes abriu o caminho para o sul. A vanguarda do ideal cruzado

Dois cavaleiros em um só cavalo era o símbolo do voto de pobreza dos templários. As regras da Ordem obrigavam-os a combater mesmo quando estivessem em minoria. Toda a sua carreira era um treinamento para lutar em condições desvantajosas.

Na Palestina, os padres-combatentes da Ordem dos Templários participaram de numerosas batalhas, como a de Daniete, em 1229, retratada na gravura de Gustave Doré.

Na pintura medieval, Felipe IV, o Belo (1268-1314), rei da França, recebe leis enviadas pelo papa francês Clemente V. Os dois conspiraram juntos para extinguir os templários.

Em 18 de março de 1314, depois de torturas infames e confissões forjadas pela Inquisição, o grão-mestre Jacques de Molay e vários líderes templários foram queimados em praça pública em Paris.

Os dois cavaleiros em um só cavalo também apareciam no sinete da Ordem, usado para identificar as mensagens oficiais da organização. A maior parte dos documentos, no entanto, jamais foi encontrada. Um símbolo milenar

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Os cruzados tomaram como emblema uma das cruzes mais antigas da cristandade. Cruz copta: No século II, uma dissidência cristã, chamada copta, adotou esta cruz. Cruz templária: Em 1119, a Ordem dos Templários criou um distintivo derivado da

cruz copta. Em busca do reino perdido

Com a idéia de reconquistar Jerusalém, os portugueses passaram décadas procurando o lendário reino do Preste João, que seria um núcleo cristão remanescente em terras orientais. Por fim, em 1492, encontraram, na Etiópia, uma monarquia cristã.

O rei d. João II, que governou de 1481 a 1495, estimulou a atividade mercantil e a colonização dos territórios africanos, contendo o ímpeto guerreiro dos cruzados da Ordem de Cristo

Em 1541, os cristãos etíopes pediram ajuda a Portugal contra os turcos. O rei português mandou uma expedição de 400 soldados, liderada por Cristóvão Gama. Gama morreu, mas os cristãos venceram. Os portugueses foram recompensados e muitos ficaram na Etiópia. Em 1544, o rei etíope, Galawdewos, escreveu a d. João III a carta ao lado, agradecendo a ajuda.

Super Interessante Fevereiro de 1998 Edição 125

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“Guerreiros de Cristo” Os templários eram religiosos fanáticos, cavaleiros temidos e banqueiros poderosos, mas nada disso os livrou da morte trágica. Conheça a saga da mais misteriosa ordem católica medieval.

Reinaldo Lopes

Parecia que, depois de meses de cerco debaixo do sol de rachar da Palestina, a vontade de Deus finalmente se revelava aos cruzados que em 1153 tentavam tomar a cidade de Ascalon. O fogo ateado pelos próprios muçulmanos que defendiam a cidade tinha se voltado contra eles e começava a rachar as pedras da muralha, abrindo uma enorme brecha. Sem pestanejar, 40 cavaleiros da Ordem dos Templários seguiram o aparente sinal divino e avançaram para tomar a cidade, enquanto outros membros da ordem barravam a passagem do restante do exército cristão - a glória, pensaram, seria só deles. Em poucos minutos, porém, os islâmicos se deram conta de que lutavam contra apenas um punhado de cavaleiros, cercando e massacrando a todos. Os corpos dos templários foram pendurados sobre a brecha consertada da muralha e Ascalon só passou para as mãos dos cruzados meses depois, por meio de um acordo.

Há quem diga que a estupidez dos cavaleiros foi aumentada por cronistas que não iam muito com a cara dos templários, mas ela exemplifica com perfeição as características da mais lendária das ordens de cavalaria. Os templários, monges-guerreiros ferozmente fiéis à Igreja e donos de uma coragem que podia chegar às raias do suicídio, foram também os primeiros banqueiros da Europa, credores de nobres e papas e senhores de terras. Foram perseguidos, exterminados e deixaram um rastro de lendas e mistério. Esta é a história deles. As origens

Os templários - o nome completo é Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão - são filhotes das Cruzadas, o movimento que levou dezenas de milhares de europeus para lutar na Palestina e recolocar sob domínio cristão a terra onde Jesus nasceu e morreu. Para os que embarcaram na empreitada, enfrentar a morte em batalha por Cristo significava uma passagem de primeira classe para o paraíso. Organização e planejamento nunca foram o forte desses guerreiros: desconheciam a Palestina e cometeram muitas burradas. Mesmo assim, em 1099, entraram vitoriosos em Jerusalém. Em teoria, a Terra Santa agora era segura para os muitos peregrinos que vinham da Europa. Na prática, o que os primeiros cruzados conseguiram foi um punhado de cidades que permaneceram cercadas por um mar de muçulmanos.

A segurança dos peregrinos e dos comerciantes era um problema crônico. O devoto escandinavo Saewulf, que viajou para Jerusalém em 1102, conta que "os sarracenos [muçulmanos] estão sempre armando ciladas para os cristãos (...), à espreita dos que podem atacar por estarem em grupo pequeno ou daqueles que por cansaço ficam para trás. Ah, o número de corpos humanos que jazem, despedaçados por bestas selvagens..."

O perigo fez alguns nobres dar uma forcinha à defesa da Cidade Santa mesmo depois de conquistada. Um desses sujeitos era um cavaleiro do norte da França chamado Hugo de Payns, até então um ilustre desconhecido. Não se sabe exatamente quando nem por que Hugo foi parar em Jerusalém. Alguns relatos dizem que era viúvo e decidira se dedicar a Deus depois da morte da esposa. Outros historiadores falam de um massacre especialmente sangrento de peregrinos, que aconteceu na Páscoa de 1119 e levou o rei de Jerusalém, Balduíno 2º, a estimular a formação de uma milícia que protegesse os fiéis - chefiada por Hugo.

Seja como for, o fato é que, naquele mesmo ano, ele e outros 8 companheiros (a lista dos nomes ainda existe, e todos parecem ter vindo da nobreza da França) fizeram um juramento sagrado. Os votos eram exatamente os mesmos de qualquer monge do século 12 ou

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de hoje: pobreza, obediência e castidade. Mas a missão deles era surpreendente: assegurar, de espada na mão, que os peregrinos tivessem acesso sem medo aos lugares sagrados.

O rei Balduíno 2º lhes deu como residência parte do que ele julgava ser o Templo de Salomão - na verdade, era a Cúpula da Rocha e a mesquita Al-Aqsa, construídas pelos muçulmanos no lugar onde o templo havia existido na época de Jesus. Eis a origem do nome "templários" - o lugar ficou tão identificado com a ordem que muitos se referiam à ela como "o Templo".

É aqui que a usina de lendas sobre os templários começa a funcionar a todo vapor. Pouco se ouve falar das atividades deles, coisa que, na verdade, atrapalha bastante quem tenta entender como a ordem evoluiu nesse momento crucial. "Os documentos sobre essa fase da história deles são escassos. De 1120 até 1140, tudo é especulativo", diz Ellis "Skip" Knox, da Universidade Estadual de Boise, EUA.

Tanto é assim que os mais empolgados falam de uma escavação secreta no terreno do velho templo: Hugo e companhia teriam descoberto algum segredo dos primórdios da cristandade bem debaixo do seu quartel. Só alguns nobres de alto escalão teriam sido informados do "achado" e o acobertaram, em conluio com a ordem. O duro é saber que diabos era o tal segredo, porque cada teórico da conspiração tem seu artefato favorito. Alguns falam das relíquias sagradas do templo judaico; outros, do santo graal; há os que apostam na própria cabeça embalsamada de Jesus Cristo, provando que ele não tinha ressuscitado nem era divino. Os mais modestos sugerem que as ruínas do templo deram à ordem conhecimentos secretos sobre a natureza mística da arquitetura, como forma de criar espaços sagrados e de se comunicar com Deus. Essa sabedoria, depois, teria sido passada à maçonaria, que originalmente era uma confraria de mestres construtores.

Para a maioria dos historiadores, porém, o motivo do silêncio sobre a ordem nesses primeiros anos é bem menos empolgante: ela ainda não tinha a menor importância (bom, o que você esperava de 9 cavaleiros querendo brigar com todos os salteadores da Palestina?). Porém, pouco a pouco, a combinação da ajuda de patronos poderosos e uma boa dose de coragem em batalha começou lentamente a aumentar o poder templário.

Em 1126, Hugo de Payns, então já conhecido pelo título de grão-mestre (chefe supremo) dos templários, viajou para o Ocidente para procurar recrutas e buscar apoio oficial da Igreja. E conseguiu atrair para o seu lado o monge francês Bernardo, abade de Clairvaux (canonizado como são Bernardo). O monge era provavelmente o intelectual mais influente da Europa, capaz de convencer papas e imperadores, e também um místico apaixonado. Em resumo: um trator. "O que Bernardo atacasse estava fadado ao fracasso; o que ele aprovasse florescia", diz Edward Burman, da Universidade de Leeds, Reino Unido, em seu livro Templários - Os Cavaleiros de Deus. Bernardo conseguiu a bênção oficial do papa para a ordem. Também elaborou para ela um conjunto de normas de conduta diária, indispensável para qualquer comunidade religiosa da época. Ainda havia gente dentro da Igreja que não era exatamente fã da idéia de monges matando em nome da fé. O futuro santo escreveu então uma carta em que justificava, com toda a elegância teológica, a guerra em defesa de Jesus. "O soldado de Cristo (...) é o instrumento de Deus para a punição dos malfeitores e para a defesa dos justos. Na verdade, quando ele mata malfeitores, não se trata de homicídio, mas de malicídio", afirmou Bernardo no Livro para os Soldados do Templo - Do Louvor do Novo Exército.

Completando o sucesso da missão de Hugo, nobres europeus de vários países fizeram doações de terras e rendas para os templários. A ordem virou uma instituição realmente internacional, e a única autoridade que realmente estava acima do grão-mestre era o papa. Apogeu e declínio

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"A partir de 1150, o progresso deles é claro", diz Knox. Para o historiador, a ordem tinha uma vantagem na bagunça que era a Terra Santa: ao contrário das grandes famílias de nobres, a morte individual de membros ou herdeiros era incapaz de destruí-la, e as batalhas vencidas não traziam reputação para um único membro, mas para toda a confraria. São vantagens, aliás, compartilhadas pelo outro grupo de monges-guerreiros da época, os hospitalários, com os quais os templários tinham de conviver na Palestina e no Ocidente. O grupo surgiu algumas décadas antes do Templo e seus propósitos iniciais eram, como o nome indica, dar assistência médica e espiritual aos peregrinos que chegavam a Jerusalém. Com o problema da insegurança, porém, ela passou a oferecer também outro serviço: escolta pelos caminhos da Palestina. De forma parecida com o Templo, foi ganhando controle de fortalezas e castelos. Não é à toa que as duas ordens tenham sido rivais e batido cabeça de vez em quando.

O dia-a-dia dos templários, a julgar pela regra da ordem, não era muito diferente do de qualquer outro monge. As normas eram duras. Havia dezenas de orações a serem pronunciadas diariamente, e datas semanais e anuais de abstinência de carne ou jejum total. Era proibido fazer a barba, caçar (leões eram permitidos), possuir mais de 3 cavalos (o grão-mestre podia ter 4) e, principalmente, ter qualquer contato com mulheres. A paranóia em relação ao sexo feminino é típica da Idade Média, mas a regra templária pega pesado. Eis o que diz: "A companhia de mulheres é uma coisa perigosa, pois por causa dela o velho Diabo tem desviado muitos do reto caminho do paraíso". E ainda especificava as mulheres que não se devia beijar: "Viúva, moça, mãe, irmã, tia ou outra qualquer".

Os dormitórios tinham de ficar sempre iluminados de dia ou de noite e era preciso dormir de calças e botas - supostamente para que os cavaleiros estivessem sempre prontos para sair na porrada. Mas esse detalhe também servia para impedir que eles, digamos, resolvessem contornar a falta de mulheres com aquele barbudo da cela ao lado. Em batalha, os templários eram sempre os primeiros a avançar e os últimos a recuar, e a ordem normalmente não pagava resgates caso um de seus homens fosse capturado. Na prática, isso significava quase sempre uma sentença de morte para o cavaleiro aprisionado. As punições para quem pisasse na bola eram severas: ser açoitado, posto a ferros ou obrigado a comer comida do chão, feito cachorro. Os detalhes da ordem não podiam ser comentados fora do mosteiro: ela gostava de manter segredo sobre seus planos, o que deu munição, mais tarde, para que seus inimigos afirmassem que ela praticava rituais sinistros ou imorais.

A prosperidade da ordem fez os templários se afastar da missão inicial: proteger os peregrinos. Ao lado dos hospitalários, os cavaleiros do Templo se tornaram a espinha dorsal do Exército do Reino de Jerusalém. No Ocidente, a ordem virou o protótipo dos bancos atuais, emprestando seus consideráveis bens a juros (leia quadro na página 51). A nova situação da ordem atraiu críticas. Muita gente começou a achar estranho que sujeitos auto-apelidados de "pobres cavaleiros de Cristo" fossem donos de cerca de 9 mil propriedades na Europa e na Palestina. Já os soberanos de Jerusalém, depois de perceber que precisavam negociar com os muçulmanos se quisessem permanecer na região, reclamavam da desobediência e da cabeça-dura dos templários. "Intolerantes? Com certeza, embora até os templários estivessem dispostos a lutar ao lado de muçulmanos se um perigo maior estivesse presente. Teimosos? Sim, e eram famosos por isso. Temerários? Bem, sim, mas muitos outros cavaleiros também o eram. As pessoas da época, inclusive os muçulmanos, chamavam isso de bravura", diz Knox.

O fato é que as supostas falhas de caráter dos templários não foram tão importantes enquanto o Reino de Jerusalém estava bem das pernas. A situação, porém, foi se alterando ao longo dos anos 1170, com a chegada ao poder do líder muçulmano Saladino. Ele conseguiu trazer para o seu controle tanto a Síria quanto o Egito, deixando as terras cruzadas, na prática, cercadas por um único império.

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O estopim para a guerra total veio quando uma força liderada pelo filho de Saladino pediu permissão para atravessar pacificamente a Galiléia e o senhor da região, Raimundo de Trípoli, a concedeu. Mas o grão-mestre de então, Gérard de Ridefort, ao saber do fato, resolveu emboscar os islâmicos. Tanto o chefe dos hospitalários quanto o vice de Ridefort, marechal Jacques de Mailly, tentaram fazer com que ele desistisse, porque o Exército muçulmano era grande. Ridefort acusou a dupla de covardia e ainda cutucou Mailly: "Vós amais em demasia vossa cabeça loura para querer perdê-la". E partiu para o ataque com só 90 cavaleiros.

Se havia algum covarde ali, certamente não era Jacques de Mailly, que morreu lutando no mesmo dia. Já Ridefort tomou uma sova e fugiu, enquanto o furioso Saladino reunia sua força total para atacar o reino. A batalha decisiva varreu do mapa as forças cristãs. Saladino poupou o rei e o grão-mestre dos templários, mas não os demais monges-cavaleiros. Ao amanhecer, 230 cavaleiros do Templo foram decapitados. Em 2 de outubro de 1187, Saladino entrou triunfalmente em Jerusalém.

Não era o fim - ainda. Os cristãos mantiveram algumas possessões no litoral da Palestina e foram reconquistando o território, chegando até a retomar Jerusalém por um tempo. Ao longo do século 13, porém, as forças se tornaram dependentes da vinda constante de cruzados da Europa e da desorganização dos muçulmanos. O reino foi se tornando cada vez mais nanico e mudou sua capital para a cidade de Acre, onde recaiu o ataque decisivo muçulmano, em 1291. A bravura da ordem se revelou como nunca: o próprio grão-mestre, Guilherme de Beaujeu, morreu em combate. Quando os cristãos evacuaram a Terra Santa, a última fortaleza a resistir, por cerca de 12 anos, era templária e ficava na ilha de Ruad. No fim, porém, a única saída foi abandoná-la. A queda

Um desastre como a perda da Terra Santa costuma ser a deixa para buscar um bode expiatório, e boa parte dos dedos da Europa se puseram a apontar para templários e hospitalários. A falta de obediência, a rivalidade entre elas e até uma suposta falta de coragem foram duramente criticadas, e muitos intelectuais e religiosos propunham que elas fossem fundidas, ou então dissolvidas para que se criasse uma nova ordem. Os templários, liderados por um novo grão-mestre, Jacques de Molay, resistiram a essas medidas. E, por algum tempo, o papado ficou do lado deles, ajudando mesmo a arrecadar novos fundos para combates no Oriente.

Na época, a França era o reino mais poderoso da Europa, e seu soberano, Filipe, o Belo, tinha seus próprios planos para o papado e os templários. Sua influência sobre a Igreja levou à eleição de um francês, Clemente 5o, como papa em 1305. Clemente nem chegou a ir para Roma, passando toda a sua carreira na França. Logo ficou claro que Filipe exercia pressão para garantir seus interesses.

Um dos projetos do rei era unir as ordens, de preferência transformando a si mesmo em grão-mestre, e assim liderar uma nova cruzada para retomar Jerusalém. O plano não foi em frente e Filipe decidiu tomar medidas drásticas: em 1307, ordenou secretamente a prisão de todos os 15 mil templários da França. As razões exatas para que resolvesse acabar com o Templo não são muito claras, mas tudo indica que ele desejava tomar posse das consideráveis propriedades dele e talvez visse as derrotas na Terra Santa como uma deixa propícia para atacar.

O próprio Jacques de Molay foi preso dias depois de ajudar a carregar o caixão da cunhada do rei. Para se ter uma idéia da ingenuidade do chefe templário, ele tinha pedido ao papa, no mesmo ano, que investigasse alguns boatos caluniosos contra os templários - pelo jeito, já era a campanha difamatória de Filipe em ação. A acusação oficial era previsível: heresia. Crimes "horríveis de contemplar, terríveis de ouvir, uma obra abominável, uma

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desgraça detestável, uma coisa quase inumana, na verdade desprezada por toda a humanidade", diz a ordem de prisão.

A linguagem deixa claro que tudo não passava de perseguição política. Era uma receita prática para se livrar de gente incômoda. Tanto é assim que as acusações - renegar Cristo e cuspir em imagens dele, praticar sodomia ritual e adorar um misterioso ídolo de 3 cabeças ou com forma de gato ou bode chamado Baphomet - aparecem, com poucas mudanças, em todos os outros processos contra heréticos da época. Quase nenhum historiador vê traços de verdade nessas histórias. Há quem suponha que o tal Baphomet fosse, na verdade, a relíquia de algum santo, ou que a negação de Cristo fosse parte de técnicas templárias para escapar com vida das prisões muçulmanas fingindo ter se convertido, mas a história da ordem não parece apoiar essas especulações.

O fato é que até o papa Clemente 5º criticou as prisões arbitrárias. Um processo papal foi instalado para averiguar as acusações - muitos templários confessaram sua culpa induzidos por tortura e depois voltaram atrás diante dos enviados de Clemente. A idéia foi corajosa, mas resultou na morte de 54 membros da ordem: segundo as regras da Inquisição, hereges confessos que voltassem atrás deveriam ser imediatamente executados. Jacques de Molay, que era analfabeto e pelo visto não muito inteligente, disse que não tinha estudo suficiente para servir de advogado da ordem. Ficou à espera de que o papa o salvasse.

A investigação papal em toda a Europa achou pouquíssimas provas de heresia. Mas a pressão de Filipe continuava, e Clemente 5o acabou concordando com a dissolução da ordem em 1311. O rei conseguiu alguns bens dos templários, mas de forma clandestina: a decisão do papa foi legá-los aos hospitalários, enquanto os ex-cavaleiros entravam para mosteiros de outras ordens ou se tornavam mercenários. Mesmo extintos, os templários ainda dariam origem a mais uma lenda: a de que a perseguição apenas fez os membros mais importantes sair de cena e continuar a promover seus interesses místicos em segredo. Para isso, teriam se ligado ao Priorado de Sião, uma ordem que permaneceria até hoje e que teria tido, entre seus líderes, o pintor Leonardo Da Vinci e o físico Isaac Newton. O grupo guardaria os principais segredos da origem do cristianismo, como o graal e a linhagem de supostos descendentes de Jesus e Maria Madalena. A história, divulgada em livros como O Código Da Vinci, é uma das principais responsáveis pelo renascimento do interesse nos templários. O problema é que documentos que provem a existência do Priorado de Sião são raríssimos, e os que o ligam aos templários, inexistentes. Para os pesquisadores sérios, nada disso faz sentido.

O fim dos templários, no entanto, não foi desprovido de mistério. Na cadeia, Jacques de Molay e seu companheiro Geoffroy de Charney tiveram um último gesto de coragem: renegaram sua confissão de heresia. E, numa pequena ilha do rio Sena, os dois pereceram na fogueira em 1314. Reza a lenda que Jacques de Molay convocou o rei e o papa a comparecer diante do tribunal de Deus antes que o ano terminasse. Pelo visto, praga de templário pega: Filipe, o Belo, e Clemente 5o morreram antes que 1314 findasse. Os homens do dinheiro

Nos primórdios dos bancos europeus - quando a expressão "fazer um depósito" significava literalmente depositar metais preciosos, cereais ou até escravos numa instalação segura para que eles fossem guardados -, os templários desempenhavam papel fundamental para a economia do Ocidente e da Terra Santa. É difícil saber exatamente como eles acabaram abraçando esse negócio, embora a própria natureza da ordem favorecesse esse caminho, de certa forma.

"Assim como aconteceu em outras épocas em cidades como Veneza e Gênova, estar dividido entre dois centros econômicos parece levar de forma bastante natural à necessidade de desenvolver mecanismos para transferir grandes quantidades de dinheiro entre um lugar e outro", diz Ellis "Skip" Knox, da Universidade de Boise, EUA.

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Os serviços oferecidos pela ordem eram variados e, segundo a reputação deles na época, confiáveis. Um nobre que fizesse uma doação em dinheiro ou terra para os templários podia estipular, por exemplo, que a quantia ou o imóvel devia ser utilizado para prover o sustento de sua esposa e filhos quando ele morresse. Quem depositasse bens numa casa templária do Ocidente e rumasse para a Terra Santa tinha o direito de retirar quantias equivalentes quando chegasse lá. E, por quase sempre dispor de somas substanciais de dinheiro vivo, a ordem estava em posição privilegiada para realizar empréstimos, criando uma clientela fiel entre a alta nobreza e o clero. Um detalhe interessante é que os empréstimos, claro, eram feitos a juros - prática condenada oficialmente pela Igreja da época. Padre templário

Os membros combatentes da ordem, apesar de sua formação de monge, eram quase sempre analfabetos e com pouco conhecimento de teologia ou das escrituras. Por isso, as missas, confissões e outras cerimônias religiosas eram presididas por padres que viviam nos estabelecimentos templários. Cavaleiro

Quase sempre de origem nobre, era o membro da ordem por excelência: tanto um guerreiro experiente, treinado para combater a cavalo com armadura pesada, quanto um monge ordenado, com votos de pobreza, obediência e castidade. Usava um manto branco com a cruz vermelha. Dificilmente correspondiam a mais de 10% dos membros. Soldado

Os templários também recrutavam soldados leigos, que não eram monges e, na Terra Santa, podiam ser até cristãos de origem síria. Usavam mantos e seus oficiais eram chamados de sargentos. Nenhum deles era obrigado a seguir os votos dos cavaleiros e alguns eram até casados. Havia também irmãos leigos que realizavam tarefas domésticas. Cavaleiro

Os membros da outra ordem militar-religiosa da Palestina levavam vida dupla, ao contrário dos templários: dedicavam-se tanto a alojar doentes e peregrinos no Hospital de São João de Jerusalém (daí o nome) quanto a combater os infiéis como cavaleiros. A ordem mudou sua sede para Rodes e depois para Malta, durando até o começo do século 19. A Arca, o Graal e tudo mais

"Todo louco mais cedo ou mais tarde acaba vindo com essa dos templários. Há também loucos sem templários, mas os de templários são mais traiçoeiros", diz um dos personagens do romance O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco. Tantas besteiras foram escritas sobre esses cavaleiros nos últimos 250 anos que quase se tem a impressão de que toda conspiração precisa de alguma forma envolver a ordem.

A maçonaria, por exemplo, teria se originado de mestres pedreiros que aprenderam com os templários as técnicas secretas que guiaram a construção do Templo de Salomão. (Parece que ninguém prestou atenção no fato de que o templo estava destruído fazia mais de 1 000 anos quando o primeiro templário pôs os pés na Terra Santa.)

Os supostos rituais heréticos em torno de Baphomet seriam, na verdade, a adoração da cabeça embalsamada de Jesus Cristo. A lista não tem fim, mas até onde os historiadores puderam pesquisar, não há um só fiapo de evidência confiável nessas teorias.

Mas por que justamente os templários foram despertar tantas lendas? "Um dos fatores que deve ter estimulado é a paixão dos escritores românticos do século 19 por coisas medievais, pois os mitos, na verdade, se originaram nessa época. Outro é a falta de fontes

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sobre os anos iniciais dos templários. Isso dá aos criadores de lendas muito espaço para trabalhar", afirma Knox. O fim da ordem também não ajudou: várias das acusações falsas feitas a eles por Filipe, o Belo, acabaram reforçando a idéia de que os cavaleiros seguiam algum tipo de culto místico pré-cristão. E a lenda permanece até hoje. Para o além-mar

A perseguição não atingiu da mesma maneira os templários de toda a Europa. Fora da França, a tortura foi menos usada para extrair confissões dos cavaleiros. Por isso, pode-se supor que foi com a honra intacta que alguns deles ingressaram na nova ordem criada por dom Dinis, rei de Portugal, em 1318: a Ordem de Cristo.

Na verdade, não há consenso entre os historiadores sobre a composição da nova confraria: para alguns, os templários portugueses (presentes no país desde os tempos de Hugo de Payns) teriam trocado de nome. De qualquer maneira, a Ordem de Cristo herdou todas as propriedades e fortalezas de sua antecessora, assim como os votos de pobreza, castidade e obediência (ao rei de Portugal, que claramente não era bobo).

Ao longo do século seguinte, os consideráveis recursos militares e econômicos da ordem, que passou a ser comandada pelo infante (príncipe) dom Henrique, foram direcionados para a expansão marítima portuguesa, que estava ganhando impulso. A Ordem de Cristo ganharia soberania sobre os territórios que conquistasse na África, bem como direito a 5% do valor das mercadorias vindas da região.

Novas mudanças liberaram os cavaleiros de seuvoto de castidade e pobreza, permitindo que navegadores como Pedro Álvares Cabral e Vasco da Gama se tornassem membros da Ordem de Cristo.

Os navios que aportaram no Brasil pela primeira vez traziam em suas velas o emblema da confraria, aparentemente uma versão modificada da antiga cruz templária. PARA SABER MAIS Os Templários, Piers Paul Read, Imago, 2000 Templários - Os Cavaleiros de Deus, Edward Burman, Nova Era, 1997 Os Cavaleiros de Cristo, Alain Demurger, Jorge Zahar, 2002 História Ilustrada das Cruzadas, W.B. Bartlett, Ediouro, 2003 Carta de São Bernardo ao Fundador dos Templários, faculty.smu.edu/bwheeler/chivalry/bernard.html

Revista Super Interessante Fevereiro de 2006

Edição 223

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Acusações aos Templários Com a prisão dos Cavaleiros templário por Philip IV, na sexta-feira os dias 13 de

outubro de 1307, iniciou uma série de acusações contra os irmãos da ordem dos Templários. Estas acusações foram divididas em nove conjuntos básicos, como segue:

1. Durante a cerimônia de acolhimento, novos irmãos foram obrigados a negar Cristo, Deus, a Virgem ou os santos sobre o comando de os que os recebem. 2. Os irmãos sacrilégio cometido diversos atos, quer na cruz ou por uma imagem de Cristo. 3. Os receptores praticavam obscenos beijos sobre novos operadores na boca, umbigo ou nádegas. Durante a Inquisição, esta acusação foi chamada de "A Oscolum Infame", ou "O Beijo da Vergonha". 4. Os padres da Ordem não consagrar o acolhimento, e que os irmãos não acreditar nos sacramentos. 5. Os irmãos praticavam um culto a um chefe (que se acreditava que quer que seja de um homem ou uma cabra). 6. Os irmãos e incentivou permitida a prática de sodomia. 7. O Grão-Mestre, ou de outros funcionários, colegas Templários isento de seus pecados. 8. Os templários organizaram a sua recepção capítulo reuniões e cerimônias em segredo e à noite. 9. Os Templários abusaram das funções de caridade e hospitalidade e utilizados meios ilegais para adquirir bens e aumentar a sua riqueza.

É sabido que, nos últimos anos, os templários se tornaram extremamente ricos e eram

muitas vezes cruéis na maneira em que ele obteve.

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Prólogo do livro “O Último Templário”

Naquela manhã havia uma multidão amontoada em frente da grande catedral de Notre Dame, sobre a multidão pairava uma tensa expectativa, uma espécie de pressentimento contido, como se as pessoas soubessem que o que iam ver não era apenas mais uma humilhação pública de um criminoso.

Tratava-se de um acontecimento que até podia ser considerado como sendo mais importante do que uma execução, e parecia que o povo de Paris sabia que a ocasião iria ser recordada durante séculos uma vez que as pessoas haviam aparecido aos milhares para assistirem. Agora, toda aquela gente aguardava com uma expectativa semelhante à de uma multidão instalada à beira da fossa dos ursos e à espera que lhes atiçassem os cães.

Nunca a multidão seria tão densa se se tratasse de homens vulgares, de gatunos ou de ladrões. Os parisienses, tal como a maior parte dos habitantes das cidades do Norte, gostavam de se amontoar para assistir aos castigos impostos aos criminosos enquanto gozavam a atmosfera de Carnaval, bem como o vivo e buliçoso comércio do mercado. Contudo, aquele era um dia diferente e parecia que a cidade inteira se encontrava ali para assistir ao fim de uma Ordem que todos haviam reverenciado durante séculos.

De vez em quando, o Sol brilhava por entre as nuvens e lançava breves clarões de calor sobre as pessoas reunidas na praça. No entanto, durante a maior parte do tempo, a multidão aguardava sob um céu cinzento de chuva e carregado de pesadas nuvens. Aqueles clarões intermitentes limitavam-se a aumentar ainda mais a sensação de depressão e de melancolia, como se as súbitas explosões de luz solar troçassem dos homens e das mulheres que se agitavam lentamente de um lado para o outro, pondo em destaque o ambiente lúgubre que os rodeava. Contudo, por outro lado, quando o Sol espreitava por trás da sua cobertura e dava brilho à área, também punha em relevo as cores das roupas e dos estandartes, afastando momentaneamente a frieza daquele dia de Março e dava a toda a área uma aura de alegria estival, como se os homens e as mulheres estivessem ali para uma feira e não para a destruição de milhares de vidas. Era como se o Sol pretendesse depreciar a gravidade dos motivos que tinham dado origem ao ajuntamento e tentasse aligeirar os espíritos de toda aquela gente com o seu calor da dor de vida.

Todavia, pouco depois, o Sol voltava novamente a ocultar-se por trás das nuvens, tal como um homem a espreitar em busca de um qualquer perigo antes de voltar a esconder-se no seu abrigo, como se também ele se encontrasse demasiado nervoso e receoso quanto às possíveis conseqüências daquele dia. Para o homem alto e trigueiro que permanecia encostado contra a parede da catedral, tanto aquelas nuvens escuras como os súbitos clarões de luz serviam apenas para aumentar ainda mais a sua sensação de irrealidade e de abatimento.

Era um homem seco de carnes e elegante, com um ar arrogante, mas que no entanto parecia curiosamente contido no meio das pessoas vulgares que se encontravam à sua volta, como se não estivesse habituado à companhia daqueles homens e mulheres. Tinha um corpo volumoso oculto sob o manto e poderia parecer-se com um daqueles cavaleiros itinerantes tão vulgares na altura mas que, tendo perdido o seu senhor, deixara de possuir rendimentos ou uma razão para a sua existência. Não envergava um traje de batalha nem o uniforme de um grande senhor, com uma orgulhosa insígnia bem à vista, mas sim uma túnica gasta e suja por baixo de um manto de lã cinzenta. Para além disso, parecia ter passado muitos dias e noites sobre a sela ou a dormir nos descampados. Porém, a sua mão nunca permanecia muito longe do punho da espada e estava sempre pronta para o agarrar, como se esperasse um ataque de um momento para o outro e se encontrasse constantemente alerta, embora os olhos raramente pousassem nas pessoas que o rodeavam. Era quase como se soubesse que nenhum dos homens que se encontravam por perto constituía uma ameaça e se sentisse suficientemente a salvo dos humanos. Conservava os olhos sempre fixos na plataforma improvisada erguida ao lado da

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parede da catedral, como se essa construção em madeira simbolizasse, por si só, todas as ameaças.

Tudo começara há muito, muito tempo, mas no entanto ainda se conseguia recordar do dia em que o inimaginável acontecera: fora na sexta-feira, 13 de Outubro do ano de 1307. Era uma data que sabia que nunca iria esquecer, uma data inventada pelo próprio diabo! Oh, tivera muita sorte, encontra-se fora do Templo com três companheiros, de visita ao navio que se encontrava na costa, pelo que escapara às prisões que tinham apanhado tantos dos membros da sua Ordem. Nem sequer ouvira falar nesses acontecimentos até já estar de regresso a Paris, na altura em que, nos arredores de uma pequena aldeola, fora avisado para não prosseguir viagem porque, se regressasse à capital, também seria preso e interrogado pela Inquisição.

Fora uma mulher quem o avisara a respeito dos crimes que estavam a ser cometidos contra a sua Ordem. O grupo, que o incluíra a ele, aos amigos e aos respectivos escudeiros, detivera-se numa das bermas da estrada para comer quando a mulher os avistara. Era pequena, tinha um rosto cor de cinza e parecera-lhe uma pessoa bem-nascida por causa das roupagens ricas - embora sujas e manchadas pela viagem - e encontrava-se incluída no grupo de seis outras que rodeavam o carro de bois que passara por eles. Tinham passado junto ao tranqüilo grupo de cavaleiros e a mulher exibira um aspecto desesperançado e de profunda infelicidade enquanto seguia ao lado do carro com a cabeça baixa, a tropeçar de dor e de tristeza. Todavia, levantara a cabeça, tivera um relance do grupo através das lágrimas e sobressaltara-se ao ver os cavaleiros barbudos sentados à beira da estrada, com os elmos tirados. Inicialmente parecera invadida por uma espécie de esperança louca e ficara de boca aberta, com os olhos a saltitarem rapidamente de um para outro daqueles homens que comiam tranqüilamente, para logo de seguida correr para eles com o otimismo a dar lugar ao desgosto, chorando ruidosamente e ignorando os gritos das companheiras.

Começara a chamá-los ainda antes de se aproximar mais do que alguns passos, e fizera-o com uma voz quebrada e uma fala balbuciante que provocara o espanto dos cavaleiros e os levara a interromper a refeição e a perguntarem a si mesmos se seria uma louca. Tinham dado ouvidos às suas tiradas chorosas... e as palavras da mulher haviam-nos atingido com a forma de um golpe de maça. O filho também era Templário, dissera-lhes, e que pretendia ajudá-los e protegê-los. Precisavam de evitar a capital e fugir para um lugar seguro, para a Alemanha ou Inglaterra, para qualquer lado excepto Paris. Não estariam a salvo em Paris, e talvez até em nenhum lugar de França. Os cavaleiros tinham-se mantido sentados, surpreendidos, e a mulher falara com o frágil corpo abalado pelos soluços, por causa de um filho que sabia que estava a ser torturado e que provavelmente não voltaria a ver, exceto talvez na fogueira.

Inicialmente, os cavaleiros nem sequer haviam acreditado. Todos os irmãos do Templo... presos? Porquê? A mulher não fora capaz de o explicar. Não fazia a mínima idéia. Sabia apenas que os membros da Ordem haviam sido presos e que os cavaleiros estavam a ser interrogados pela Inquisição. Pasmados, os cavaleiros tinham-na visto a arrastar-se para junto das viajantes que rodeavam o carro, ainda a gritar-lhes avisos e a implorar-lhes que se salvassem enquanto os pacientes bois puxavam a carroça e as pessoas a seguiam tão tranqüila e lentamente como num cortejo. Profundamente perturbados, os homens tinham tido em conta aqueles conselhos ameaçadores e seguido lentamente o seu caminho, mas já não para Paris. Haviam-se dirigido para oeste, para o ducado de Guyenne. Fora ali, no acampamento montado com outro pequeno grupo de Templários encontrados na estrada, que tinham começado a ouvir relatos dos acontecimentos.

Ainda parecia inconcebível que o Papa Clemente pudesse acreditar nas histórias propagadas contra eles, mas o Papa estava aparentemente a apoiar a campanha de Filipe, o monarca francês, e nada fizera para salvar a Ordem que existia apenas para o servir, a ele e à cristandade. Essas histórias haviam irrompido como uma onda de maré, esmagando todos os

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argumentos e não dando qualquer possibilidade de defesa, isto porque negar as acusações servia apenas para lançar todo o peso da Inquisição sobre quem o fizesse, o que só podia significar uma coisa, a destruição.

Ao princípio tudo aquilo parecera ridículo. Os cavaleiros eram acusados de serem heréticos... mas como poderiam eles ser heréticos depois de terem perdido tantas vidas na defesa dos estados cristãos? Toda a sua razão de existência era a defesa dos estados dos Cruzados no ultramar, na Palestina, uma causa por que tinham lutado e morrido ao longo de séculos, com muitos deles a preferir a morte à vida quando a escolha lhes era proposta. Escolhiam a morte mesmo quando eram apanhados pelos Sarracenos e estes lhes davam a possibilidade de continuarem vivos em troca da renúncia a Cristo. Como era possível haver alguém capaz de acreditar que fossem heréticos?

Correra o rumor de que até as pessoas vulgares tinham tido dificuldades para acreditar numa coisa daquelas. Ao longo de dois séculos - desde que São Bernardo lhe dera o seu apoio durante a cruzada - as pessoas haviam sido ensinadas de que a Ordem era inultrapassável na sua santidade. Como era possível que tivessem caído tão baixo? Quando enviara ordens para a captura e prisão dos cavaleiros, o monarca vira-se forçado a explicar por que razão empreendia uma tal acção. Era óbvio que pressentia que, se não o fizesse, as ordens poderiam acabar por não ser cumpridas. No Fim de contas, as acusações eram tão chocantes que se tornavam quase inacreditáveis. O monarca entregara uma declaração escrita a cada um dos oficiais encarregues da captura, declaração em que acusara os cavaleiros e a sua Ordem de crimes desumanos e diabólicos, ordenando que fossem presos, bem como os respectivos servos, para serem interrogados pela Inquisição. Para além disso, todos os seus bens deveriam ser apreendidos. Nas últimas horas daquela sexta-feira já todos os cavaleiros haviam sido acorrentados e já os monges Dominicanos da Inquisição tinham iniciado os interrogatórios.

Poderiam ser culpados de tais crimes? De certeza que tal não era possível! Como podia a mais santa de todas as Ordens tornar-se tão amoral, tão maléfica? As pessoas não conseguiam acreditar. Todavia, a descrença transformara-se em horror quando as confissões começaram a transpirar para o exterior. Depois das torturas inimagináveis que a Inquisição lhes infligira, depois de centenas deles terem sofrido as agonias de semanas inteiras de dores ininterruptas e de muitos terem morrido, as confissões tinham começado a ressoar nas orelhas da populaça como fezes a escorrerem de uma fossa para irem poluir um poço de águas limpas. A seguir, tal como é costume com esse tipo de sujidade, os boatos tinham contaminado todos aqueles em que haviam tocado... e a culpa fora confirmada.

Contudo, depois de verem os camaradas a perderem pés e mãos na angústia contínua das câmaras de tortura, quem duvidaria que acabariam por confessar fosse o que fosse para porem fim à dor e ao horror?

A tortura durava dias e semanas intermináveis e as dores eram incessantes nas celas de tortura criadas nos seus próprios edifícios porque não existiam prisões suficientes para albergarem um tão grande número de prisioneiros.

Confessaram tudo o que os Dominicanos lhes puseram na frente. Admitiram terem renunciado a Cristo. Admitiram a adoração do diabo.

Admitiram que tinham cuspido na cruz, a homossexUalidade e tudo o mais que pudesse pôr Fim aos tormentos. Todavia, isso não lhes chegara... e os monges Dominicanos haviam passado para toda uma série de novas perguntas. Tinham tantas acusações para confirmar que as torturas prosseguiram durante semanas. Foram muitos os indivíduos que confessaram crimes inacreditáveis, mas isso continuou a não ser suficiente. Só permitia que o monarca punisse indivíduos... e ele queria a morte da própria Ordem. Por isso, as torturas continuaram.

Gradualmente, devagar, sob os contínuos e pacientes interrogatórios dos monges Dominicanos, as admissões modificaram-se e as declarações começaram a implicar a própria

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Ordem. Os Cavaleiros passavam por rituais satânicos de iniciação, tinham-lhes dito para adorarem ídolos e haviam sido forçados a renunciarem a Cristo. Agora, finalmente, Filipe possuía as suas provas. Toda a Ordem era culpada e tinha de ser dissolvida.

Na praça, os olhos do homem eram ardentes e aguçados agora que os recordava os amigos, os homens que treinara e ao lado de quem combatera, homens fortes e corajosos cujo único crime - e ele sabia-o - fora terem permanecido leais à causa. Tinham sido tantos os mortos, tantos os destruídos por uma dor muito pior do que tudo o que os seus inimigos sarracenos jamais lhes tinham infligido...

Todos se tinham alistado na Ordem prestando os três votos, de pobreza, castidade e obediência, tal como em qualquer outra ordem de monges. Sim, porque eles eram monges. Eram os monges-guerreiros, dedicados à protecção dos peregrinos na Terra Santa. Contudo, desde a perda de Acre e da queda do reino do Ultramar na Palestina - havia mais de 20 anos - as pessoas tinham-se esquecido disso. Tinham esquecido a dedicação desinteressada e os sacrifícios, as enormes perdas e os perigos que os cavaleiros haviam sofrido nas suas lutas contra as hordas Sarracenas. Já só se recordavam das histórias sobre a culpabilidade da maior de todas as Ordens, histórias postas a circular por um monarca avarento que desejava apoderar-se das suas riquezas. Era por isso que aquela multidão se encontrava ali, para testemunhar a humilhação final, a última indignidade. Estava ali para ver o último Grande Mestre da Ordem a admitir as culpas e a confessar os crimes, tanto dele como da sua Ordem.

Uma lágrima, que era como a primeira gota a assinalar a aproximação de uma tempestade, correu lentamente pela face do homem, que a limpou com um gesto rápido e zangado. Não era o momento oportuno para lágrimas. Não estava ali para lamentar a perda da Ordem. Isso podia ficar para mais tarde. Estava ali para assistir tanto por ele como pelos amigos, para testemunhar a confissão do Grão-Mestre e descobrir se todos haviam sido traídos.

Ao terem conhecimento de que aquele espectáculo público iria ter lugar, ele e os amigos haviam discutido o assunto prolongadamente durante um encontro realizado três dias antes. Os sete, homens de diferentes países, os poucos que restavam, os poucos que não tinham ido para mosteiros ou entrado para uma das outras ordens, tinham-se sentido confusos e desesperados por causa daquele inferno na Terra. Teriam realmente existido tais crimes, tais obscenidades? Se o Grão-Mestre confessasse, então isso significava que tudo o que haviam defendido estava errado? A Ordem poderia ser corrupta sem que o soubessem. Parecia-lhes impossível. Contudo, seria igualmente incrível se nada daquilo fosse verdade, pois implicaria uma conivência entre o monarca e o Papa para a destruição da Ordem. Seria possível que a Ordem pudesse ser tão atraiçoada precisamente pelos seus dois principais patronos? A sua única esperança estava na possibilidade de uma retractação, numa admissão de erro, e também na hipótese da Ordem vir a ser considerada inocente e reconduzida à sua posição de honrosos serviços ao Papa.

Os sete haviam discutido as opções e tinham concordado com o alemão de Metz, que propusera o envio de um deles a testemunhar o acontecimento para depois os informar. Não podiam confiar nos relatos de outros. Precisavam de ter alguém presente, uma pessoa que pudesse ouvir as declarações para lhes contar o que fora dito, para que pudessem decidir por si mesmos se as acusações eram ou não verdadeiras. O homem que se encontrava encostado à parede da catedral fora o que tirara a palhinha mais curta.

Todavia, ainda continuava mistificado, incapaz de compreender o que se passava, e não tinha a certeza de conseguir dedicar ao assunto toda a concentração necessária. Sentia-se perturbado, porque era inacreditável, era impossível que a Ordem em que servira fosse tão horrivelmente perversa. Como era possível que o dedicado grupo de cavaleiros que conhecera, e de que ainda se recordava, pudesse ser tão deformado, tão envilecido? Tinham entrado na Ordem para poderem prestar um melhor serviço a Deus, mais como soldados do

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que como monges. Quando um Templário decidia abandonar a Ordem, só o fazia para passar para uma outra ainda mais estrita, para os Beneditinos, para os Franciscanos, ou para qualquer outro grupo de monges a viver na mesma pobreza forçada, escondidos do mundo. Como era possível que a Ordem houvesse sido tão grandemente atraiçoada?

Limpou outra lágrima e caminhou por entre a multidão, apático, com o rosto fechado a revelar o medo e as preocupações. Espreitou para as bancas do mercado durante alguns minutos sem na realidade prestar atenção às mercadorias, até descobrir que o seu pequeno passeio sem destino o levara de volta à plataforma, onde se virou para a enfrentar de uma maneira mais frontal, como que a desafiá-la a permitir a destruição da Ordem.

Erguia-se na sua frente como um patíbulo, uma grande construção de madeira com troncos novos que brilhavam um pouco quando o Sol os iluminava. De um dos lados existia uma série de degraus que conduziam ao estrado, lá em cima. Enquanto o olhava, o conjunto como que estremeceu. Conseguia sentir o mal quase como uma força, mas não era o mal da sua Ordem, mas sim o daquele feio palco onde ele e os seus amigos iriam ser denunciados. Agora, sem saber muito bem como, tinha a sensação de que era inútil alimentar esperanças. Não haveria reconciliação, nenhum reatamento das glórias passadas. Essa sensação invadiu-o, e era como se anteriormente ainda não estivesse verdadeiramente consciente das profundezas em que a Ordem caíra, como se nos últimos e difíceis anos tivesse mantido um pequeno clarão de esperança de que a Ordem pudesse ser salva. Mas agora, ali, naquele lugar, era como se essa minúscula chama tivesse morrido e sentisse o desespero como se fosse a dor de uma ferida de espada no seu ventre.

A plataforma atraía a sua atenção horrorizada. Erguia-se na sua frente como um símbolo do falhanço absoluto do Templo, obstinada e impassível, como se troçasse da natureza transcendente da honra da Ordem quando comparada com o seu próprio poder para a destruir. Aquilo não era um lugar de confissão, era um de execução, era o local onde a sua Ordem ia morrer. Tudo aquilo que ele e os milhares de outros cavaleiros tinham defendido ia finalmente morrer ali, naquele dia. Quando a compreensão desse facto o invadiu foi como se o atingisse fisicamente, fazendo-o estremecer como se tivesse aparado um golpe. Não havia protecção, não havia defesa contra a implacável maré de acusações que os iria destruir a todos. Era inevitável e o resultado ia ser a destruição absoluta do Templo. Porém, mesmo enquanto o compreendia, mesmo enquanto se apercebia da chegada do fim, um fim que era uma certeza, também sentia a esperança a debater-se novamente dentro do seu peito, tentando libertar-se dos grilhões do desespero que o envolviam com tanta rigidez.

Estava tão emerso na sua própria infelicidade que ao princípio nem sequer deu pela alteração nos ruídos da multidão. Ouviram-se gritos entre a populaça quando os condenados apareceram, gritos que foram imediatamente seguidos por troças, mas tudo isso esmoreceu e morreu como se as pessoas ali em volta reconhecessem as terríveis implicações da ocasião. A calma foi crescendo até ao momento em que a praça ficou quase silenciosa, com a multidão de pé e à espera dos homens que avançavam para desempenharem os papéis principais naquele triste drama. Ainda não se encontravam completamente à vista das testemunhas, ainda não tinham chegado à plataforma mas o homem percebia que se aproximavam por causa do modo como as pessoas junto à plataforma se começaram a agitar, empurrando-se e acotovelando-se para conseguirem ver melhor. Entretanto havia mais gente a chegar à praça, pessoas que tentavam abrir caminho até à frente, atraídas pelo súbito silêncio e pelo aumento da agitação. Descobriu-se a ter de controlar a fúria, a ter de acalmar a ira despertada pelo facto daqueles homens e mulheres comuns o estarem a empurrar, a ele, um cavaleiro, mas pouco depois já a visão que surgiu na sua frente o fez esquecer-se das pessoas que o rodeavam.

Conseguia distinguir, com alguma dificuldade e por cima das cabeças da multidão, as quatro figuras que eram conduzidas e empurradas para o alto da plataforma. A seguir - no meio de um súbito e quase tangível aumento da tensão da multidão - ficou a olhar e sentiu

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uma vaga de otimismo a aliviar-lhe o espírito. Todos eles envergavam os seus mantos! Era a primeira vez, nos longos anos decorridos desde aquele dia 13 de Outubro de 1307, que via homens vestidos com os uniformes de Templários. Poderia aquilo querer dizer que iriam ser reintegrados? Inclinou-se para a frente num impulso de esperança renovada, com a boca aberta enquanto se esforçava por lhe ver os rostos e com o desesperado desejo de uma recuperação da Ordem a contrair-lhe as feições. Um desejo que era quase como uma dor requintada.

Contudo, logo a seguir, até esse sonho lhe foi arrancado, deixando-o num abatimento que o fez sentir-se vazio e quebrado. A breve animação do seu espírito desapareceu imediatamente logo que espreitou por cima das cabeças das pessoas à sua frente e teve de controlar o grito que se debateu para se lhe libertar da garganta. Era óbvio que aqueles homens estavam vestidos com os trajes de Templários apenas para serem mais facilmente identificados porque, quando os empurraram para a frente e os obrigaram a parar, com os olhos sem brilho a fitarem a multidão, viu-lhes as pesadas algemas e correntes que os prendiam. Não iria haver uma reinstalação.

Sentiu-se a encolher-se, a esconder-se por trás das pessoas como se quisesse enfiar-se pelo chão enquanto a mão limpava os olhos para impedir que as quentes lágrimas se soltassem, juntamente com a angústia e a desolação. Simultaneamente, baixou a cabeça como se estivesse a rezar, escondendo-a da vista dos homens na plataforma porque não queria captar os seus olhares de modo a poder ser associado com eles e vir a sofrer o mesmo tipo de destruição. Não queria ver-lhes o desespero nos olhos, o medo e o autodesprezo. Iria recordá-los - queria recordá-los - como sendo os homens fortes que respeitara como guerreiros e não tal como eram agora.

Não passavam de destroços. Estavam ali, tremendo de medo e de apreensão enquanto vigiavam as multidões que se apertavam para testemunhar a sua queda. As glórias do passado haviam desaparecido. Jacques de Molay, o Grão-Mestre, mantinha-se um pouco à frente dos outros, parecendo de algum modo pequeno e insignificante no grande manto branco que pendia, informe, dos seus ombros, fazendo com que parecesse envergar uma mortalha. Tinha mais de 70 anos e a idade notava-se enquanto ali permanecia, com o rosto cor de cinza, dobrado e a oscilar sob o peso das cadeias, observando as pessoas na praça em silêncio e parecendo simultaneamente nervoso e frágil.

O homem no meio da multidão observou-o, horrorizado com as diferenças no seu aspecto. Sete anos antes, quando vira Molay pela última vez, deparara com um homem forte e vibrante, seguro do seu poder e autoridade como líder de um dos mais fortes exércitos da Cristandade, responsável perante ninguém excepto o Papa. Passara meses a redigir um novo relatório para o Papa e estava convicto de que a Terra Santa poderia ser recuperada com uma nova cruzada. O relatório indicara como seria possível reconquistá-la e mantê-la permanentemente em segurança. Confiara na sua habilidade para persuadir o pontífice a começar a planear a cruzada, e fora por isso mesmo que começara a aprontar os seus soldados, organizando-os e treinando-os, reforçando as estritas Regras da Ordem de modo a que todos obedecessem às linhas de conduta originais. Agora, estava completamente desfeito. Parecia um velho cansado, encolhido e ressequido pela dor de ver a sua Ordem arruinada, pela sua incapacidade para a defender e por sentir o falhanço de tudo o que procurara alcançar. Em 1307 fora o dirigente supremo da mais antiga e maior ordem militar, podendo comandar milhares de cavaleiros e de soldados a pé sem necessidade de prestar contas a nenhum senhor ou rei, mas apenas ao Papa. Agora, desprovido do seu posto e da autoridade, parecia apenas velho e cansado, como se já tivesse visto demasiado e se encontrasse pronto para a morte. Desistia... e já nada lhe restava que lhe desse uma razão para viver.

No meio da multidão, o observador silencioso puxou o capuz mais para cima da testa, pestanejando e contraindo o rosto para deter as lágrimas que ameaçavam sulcar a sujidade que

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lhe cobria as faces. Agora, já tinha a certeza de que tudo terminara. Se podiam fazer uma coisa daquelas a Jacques de Molay, então a Ordem chegara ao fim. Retirou-se para o isolamento relativo do interior do seu manto quando a depressão o invadiu, de modo a bloquear todos os sons das proclamações... e para poder esconder-se da humilhação final da sua Ordem e da sua vida.

Distraído, sem prestar atenção aos rituais que tinham lugar na plataforma, virou-se lentamente e começou a abrir caminho por entre a multidão. Vira o suficiente. Não aguentava mais. Só queria ir-se embora dali e abandonar aquela cena de horror, como se pudesse deixar o desespero e a tristeza para trás das costas, naquela maldita praça.

Tinha dificuldades para se mover. A multidão era demasiado espessa, com pessoas ainda a debaterem-se para se chegarem mais para a frente a fim de poderem ver os homens sobre a plataforma. Era como se estivesse a fazer força contra uma maré e precisou de uma era para conseguir avançar apenas alguns metros. Esforçava-se desesperadamente, procurava rodear as pessoas para se escapar dali, empurrava homens e mulheres que não o deixavam passar, até ao momento em que se descobriu na frente de um homem volumoso e trigueiro que não quis afastar-se e permaneceu enraizado no local, olhando-o com fúria. Então, quando tentava dar a volta ao homem, ouviu a voz de Molay. Chocado, reconheceu subitamente que não se tratava de uma voz fraca e trémula tal como esperara, mas sim poderosa e forte como se o Grão-Mestre tivesse descoberto uma oculta reserva de forças.

Surpreendido, parou, deu meia volta e virou-se novamente para a plataforma a fim de o escutar.

- ... perante Deus no Céu, perante Jesus, o seu Filho, e todos os que se encontram aqui, na Terra, confesso que sou culpado. Sou culpado do maior dos logros, um logro que pôs em causa a honra e a confiança dos meus cavaleiros e da minha Ordem. Confessei crimes que sei que nunca aconteceram... e tudo por minha causa. Confessei para me salvar, por medo à tortura. A minha fraqueza foi o meu crime, e conduziu à traição da minha gente. Declaro que os crimes atribuídos à minha Ordem são falsos. Confesso a honestidade, a pureza e a sagrada santidade dos homens do Templo. Nego completamente todos os crimes atribuídos à Ordem. Morrerei por isto. Morrerei para confirmar a inocência dos homens já mortos, dos homens assassinados pelos inquisidores... Contudo, agora, pelo menos, poderei morrer com honra, com...

Jacques de Molay parecia ter crescido. Mantinha-se, sólido e forte, na frente da plataforma, mesmo junto ao parapeito, com a cabeça bem erguida enquanto injuriava com orgulho os seus acusadores e declarava a inocência tanto dele como da Ordem numa voz firme que se propagava por cima da multidão imóvel, mergulhada num silêncio chocado. Porém, muito em breve, o homem que se encontrava no meio da multidão começou a ganhar consciência dos murmúrios zangados que soavam à sua volta mas que lhe chegavam como que vindos de uma grande distância. Aquilo não era o que a populaça esperara. Tinham-lhes dito que os Templários iriam ali para confessarem, para admitirem os crimes pelos quais haviam sido condenados. Se aquele homem os negava a todos, então por que haviam sido tão brutalmente punidos? Um soldado puxou Molay para trás, para a traseira da plataforma, e houve um outro Templário que avançou. Foi no meio da visível confusão dos soldados e monges à sua volta que fez a sua própria denúncia, rejeitando as acusações contra a Ordem com tons orgulhosos e ressonantes.

Na multidão, o homem ouvia o rugido zangado das pessoas que se encontravam à sua volta e tinha os olhos a brilharem de orgulho perante as retracções dos seus líderes. Mesmo depois de anos de sofrimento, a sua honra e a da Ordem haviam sido confirmadas. Os boatos malignos eram falsidades e agora já o sabia. Então, quem poderia ter posto de pé aquelas acusações? Devagar, os seus sentimentos deram lugar à ira, uma ira pura e crua enquanto

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pensava nos homens que poderiam ter causado aquilo, que haviam provocado tanta dor e angústia... e endireitou os ombros sob o manto, sob o efeito de uma nova resolução.

A multidão estava furiosa. Tinham-lhes dito que os Templários eram diabólicos, homens malignos que haviam cometido grandes crimes contra a Cristandade... e no entanto estavam ali dois dos mais importantes Templários a negarem as suas culpas. Eram as declarações de homens que iriam morrer por aquilo que afirmavam... e por isso mesmo era preciso acreditar no que diziam. Todavia, se o que afirmavam era verdade, então os crimes cometidos contra eles tinham sido de uma escala inimaginável. As pessoas, na sua ira, empurravam-se e apegavam-se umas às outras, tentando chegar-se mais para a frente, gritando e praguejando para os soldados e monges, que retiraram apressadamente os homens de cima da plataforma e os levaram dali, deixando o homem sozinho no meio da multidão, como uma rocha largada na praia depois da descida da maré.

Ficou quieto, com os olhos a arderem das lágrimas não derramadas, sentindo a tristeza e a dor, mas também o orgulho e a raiva. Agora não tinha dúvidas. Dissessem o que dissessem a respeito da Ordem, sabia que as acusações eram falsas. Se eram falsas, tinha de haver um responsável. A sua vida tinha uma nova finalidade: descobrir os homens que haviam causado aquela injustiça e conseguir a vingança. A Ordem estava inocente. Não podia duvidar da convicção que soara naquelas duas vozes. Lentamente, virou-se e caminhou de volta à estalagem onde deixara o cavalo.

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O Pergaminho de Chinon

A ABSOLVIÇÃO DO PAPA CLEMENTE V AOS LÍDERES MEMBROS DA ORDEM DO TEMPLO

Introdução O documento original é formado por um longo pergaminho de 70 por 58 cm, contendo

os selos de três procuradores papais indicados pelo papa Clemente V para formar uma comissão de investigação papal, são eles Bérenger Frédo, Padre Cardeal titular da Santíssima Nereus e Achilleus e sobrinho do papa, Étienne de Suisy, Padre Cardeal da Santa Cyriac em Therminis, Landolfo Brancacci, Diácono Cardeal de São Ângelo.

O local é Chinon, na França, na Diocese de Tours, entre os dias 17 e 20 de Agosto de 1308.

Anexo ao documento há uma cópia autenticada com o número de referência Archivum Arcis Armarium D 218. O original possui marcas de decomposição bacteriana, mas pode ser lido, seu número de referência é o Archivum Arcis Armarium D 217. Estes dados foram obtidos a partir do Arquivo Secreto do Vaticano, intitulado “A tour of the Archives amid frescoes and documents, The Vatican School of Palaeography, Diplomatics and Archives Administration”, disponível em [http://asv.vatican.va/en/visit/doc/inform.htm], acesso em 10.nov.2006.

Esta investigação conduzida pelos padres nomeados pelo papa Clemente V no castelo de Chinon, diocese de Tours foi convertida para o português, tradução de livre interpretação do autor e convertida a partir do inglês cujo acesso foi em “2006 inrebus.com”, disponível em [http://www.inrebus.com/chinon.html], acesso em 29.out.2006.

A Tradução Chinon, 17-20 de Agosto de 1308.

Em nome de Nosso Senhor, amém. Nós, Berengar, pela misericórdia de Deus, cardeal

presbítero de SS. Nereus e Achileus, e Stephanus, cardeal presbítero de St. Ciriacus em Therminis, e Landolf, cardeal diácono de St. Angel declaramos, diretamente por meio desta carta oficial, para todos que irão ler isso, desde que nosso Santo Padre e Senhor Clemente, pela divina providência o supremo pontífice da Santa Igreja Universal de Roma, que após receber os apelos verbais e também clamorosos relatórios do ilustríssimo rei da França e prelados, duques, condes, barões e outros relacionados ao dito reino, por ambos, nobres e comuns, entre os quais alguns irmãos, presbíteros, cavaleiros, preceptores e serventes da ordem do Templo, teve iniciado um questionamento em assuntos referentes aos irmãos, [questões de fé Católica] e a Regra da dita Ordem, por razão de que esta sofreu pública infâmia, o mesmo senhor Papa desejando e intencionado conhecer a pura, a completa e descompromissada verdade dos líderes da mencionada Ordem, citados: irmão Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários, irmão Raymbaud de Caron,

Tradução livre de Reinaldo Toso Júnior, 12.nov.2006, São Paulo – Brasil, tradução sem fins lucrativos, sem propósitos comerciais e dirigida aos irmãos e irmãs da Ordem do Templo como material didático. A divulgação é permitida desde que citadas as fontes.

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preceptor da comanderia dos Cavaleiros do Templo em Outremer, irmão Hugo de Pérraud, preceptor da França, irmão Geoffroy de Gonneville, preceptor da Aquitânia e Poitou, e Geoffroy de Charny, preceptor da Normandia ordenou e nomeou a nós especificamente por sua expressão verbal de maneira que deveríamos com diligência examinar a verdade por meio de questionamento ao grão-mestre e aos anteriormente mencionados preceptores – um por um e individualmente, convocando tabeliães públicos e confiáveis testemunhas.

Após agir de acordo com o mandado e nomeação do dito Senhor Supremo Pontífice, nós questionamos o grão-mestre anteriormente mencionado e os preceptores e investigamo-los referente aos assuntos descritos anteriormente. Suas palavras e confissões foram escritas exatamente pela maneira que estão incluídas aqui pelos tabeliães cujos nomes estão listados abaixo e na presença das testemunhas listadas também abaixo. Nós também ordenamos estas coisas escritas nesta forma oficial e validamos com a proteção de nossos selos.

No ano de Nosso Senhor de 1308, sexto interrogatório, no décimo sétimo dia de Agosto, no terceiro ano de pontificado do Papa Clemente V, irmão Raymbaud de Caron, preceptor da comanderia dos Cavaleiros Templários em Outremer, foi trazido à nossa presença, os padres anteriormente mencionados, no castelo de Chinon na diocese de Tours. Com sua mão sobre o Sagrado Testamento do Senhor ele pronunciou um juramento para falar a pura e completa verdade sobre si mesmo bem como sobre indivíduos e irmãos da Ordem, e sobre a Ordem em si mesma, referente às questões da fé Católica e a Regra da mencionada Ordem, e também sobre cinco indivíduos em particular e irmãos da Ordem. Diligentemente o interrogamos sobre o tempo e as circunstâncias de sua iniciação na ordem e ele disse que isso foi há quarenta e três anos ou próximo disso desde que ele foi ordenado e admitido na Ordem do Templo por Roncelin de Fos, naquele tempo preceptor de Provence, na cidade de Richarenchess, na diocese de Carpentras ou Saint-Paul-Trois-Châteaux, no chapel da comanderia Templária local. Durante a cerimônia o patrono não disse nada ao noviço que não fosse apropriado, mas após a admissão um irmão servente veio até ele, cujo nome ele não se lembra, e que para ele já está morto há muito tempo. Relatou que prenderam no lado de seu manto uma cruz pequena, e quando todos os irmãos se retiraram e permaneceu sozinho com este irmão-empregado, ele contou que este irmão-empregado mostrou a cruz a ele, e que não recorda se havia efígie no crucifixo ou não, mas acredita, entretanto, que era um crucifixo pintado ou talhado. E este irmão-empregado disse a ele: "você deve renegar este”. E o interrogado, não acreditando cometer um pecado, disse: "eu renego". Esse irmão-empregado disse também á ele que deveria preservar a pureza e a castidade, mas se não poderia fazer assim, era melhor fazer secretamente do que publicamente. O interrogado disse também que sua negação não veio do coração, mas da boca. Então disse que no dia seguinte revelou isto ao bispo de Carpentras, seu parente de sangue, que estava naquele lugar mencionado e naquela época, e o bispo contou que ele tinha agido errado e cometido um pecado. Então ele confessou sobre seus atos com este mesmo bispo e que foram atribuídas penitências e que, de acordo com ele, as cumpriu.

Quando questionado sobre o pecado de sodomia, ele disse que nunca esteve à par disso, participado ou feito, e que nunca tinha ouvido sobre cavaleiros Templários envolvidos neste pecado, exceto daqueles três cavaleiros que tinham sido punidos com prisão perpétua no Castelo de Pilgrim. Quando perguntado sobre os outros irmãos da mencionada Ordem se haviam sido recebidos na ordem da mesma maneira que ele, este respondeu que não sabia por que ele nunca havia iniciado [alguém] e que nunca havia visto alguém ser aceito na Ordem além de dois ou três irmãos. A respeito deles não soube se negaram Cristo ou não. Quando lhe foi perguntado sobre os nomes destes irmãos disse que um chamava-se Peter, mas que não recordou seu nome de família. Quando lhe foi perguntado com qual idade foi feito irmão na ordem mencionada respondeu que tinha dezessete anos de idade ou perto disso. Quando lhe foi perguntado sobre cuspir na cruz e sobre a adoração da cabeça, ele disse que não sabia de

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nada, adicionando que nunca tinha ouvido falar dessa cabeça até que ouviu o senhor papa Clemente falar disso no ano passado.

Quando lhe foi perguntado sobre a prática de beijar, respondeu que o irmão acima mencionado, Roncelin, o beijou na boca quando o recebeu como um irmão; disse que não sabia de nada sobre outros beijos. Quando lhe foi perguntado se quis manter o que tinha dito durante a confissão, e se o tinha feito de acordo com a verdade, e se tinha adicionado qualquer coisa falsa ou tinha omitido qualquer coisa que fosse verdade, ele respondeu que quis manter o que tinha dito previamente em sua confissão, que era verdade e que nem adicionou qualquer coisa que fosse falsa, e nem omitido qualquer coisa que fosse verdade. Quando lhe foi perguntado se confessou devido a um pedido, recompensa, gratidão, favor, medo, ódio ou persuasão por alguma outra pessoa, ou o uso de força, impedimento, ou medo da tortura, ele respondeu que não.

Mais tarde, este irmão Raymbaud dobrou-se de joelhos e com suas mãos unidas pediu nosso perdão e misericórdia a respeito das ações acima mencionadas. E enquanto implorava desta maneira, o irmão Raymbaud renunciou em nossa presença a heresia relatada anteriormente, bem como a qualquer outra heresia. Pela segunda vez ele fez o juramento com sua mão em cima do Livro Sagrado de Nosso Senhor de que obedeceria aos ensinamentos da igreja, que manterá, defenderá e observará a fé católica que a Igreja Romana mantém, defende e proclama, da mesma forma que ensina e requer dos outros que sigam isso, e que viverá e morrerá como um cristão fiel. Após este juramento, pela autoridade do senhor papa concedeu-nos especificamente para essa finalidade, nós estendemos a este suplicante e humilde irmão Raymbaud, em uma forma aceita pela igreja, a misericórdia da absolvição do veredicto de excomunhão que tinha incorrido pelas ações acima mencionadas, restaurando-o à unidade com a Igreja e restabelecendo-o para a comunhão da fé e aos sacramentos da Igreja.

Também, no mesmo dia, o irmão cavaleiro Geoffroy de Charny, preceptor da comanderia da Ordem do Templo na Normandia, apareceu pessoalmente da maneira e forma previamente descrita, à nossa presença, e na presença dos tabeliães, bem como das testemunhas, modestamente jurou com suas mãos sobre o Testamento do Senhor e foi questionado sobre a maneira de sua admissão na mencionada Ordem. Ele testemunhou que isso foi há quarenta anos ou perto disso, desde que foi aceito na Ordem dos Cavaleiros Templários pelo irmão Amaury de la Roche, o preceptor da França em Étamps na diocese de Sens, no chapel local da comanderia do Templo. Presentes à cerimônia estavam os irmãos Jean le Franceys, preceptor de Pédenac, e nove ou dez irmãos, ou algo assim, da Ordem mencionada, os quais ele acredita estarem mortos agora. E então, uma vez que tinha sido aceito na ordem e o manto da ordem colocado em seus ombros, o irmão que executou a cerimônia colocou-se ao lado dele, dentro do mesmo chapel, e mostrando-lhe um crucifixo com uma efígie de Cristo, disse-lhe que não deveria acreditar no crucificado, mas deveria de fato renunciá-lo. Então o irmão recentemente aceito na demanda do dito receptor renegou verbalmente, mas não em seu coração. Também, disse que na altura de sua iniciação, o noviço beijou o receptor na boca e em seu peito através da roupa como um sinal de reverência.

Quando perguntado se os irmãos da Ordem do Templo haviam sido aceitos da mesma que ele em suas iniciações, ele disse que não sabia. Disse também que ele mesmo recebeu um irmão na ordem mencionada com o mesmo cerimonial com o qual ele mesmo foi iniciado. Mais tarde ele aceitou muitos outros sem a renúncia descrita anteriormente e de maneira correta. Disse ele também que confessou sobre a renuncia da cruz que tinha feito durante a cerimônia de iniciação e sobre ser forçado a fazer assim pelo irmão que executava a cerimônia, ao patriarca de Jerusalém daquela época, e foi absolvido por ele.

Quando questionado diligentemente sobre cuspir na cruz, da prática de beijar, da prática de sodomia e na adoração da cabeça, ele respondeu que não sabia nada sobre isso. Posteriormente questionado, disse que acreditava que outros irmãos tinham sido aceitados na

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ordem da mesma maneira que ele foi. Ele disse, entretanto que não sabia com certeza desde quando estas coisas recentes aconteceram de modo que outros irmãos que estavam no edifício se viram ou se ouviram o que aconteceu com eles. Perguntado sobre a idade na qual foi aceito na ordem dita, respondeu que foi com dezesseis ou dezessete ou próximo disso. Quando lhe foi perguntado se havia contado estas coisas devido a um pedido, recompensa, gratidão, favor, medo, ódio ou persuasão por alguma outra pessoa, ou o uso de força, ou medo da tortura ou impedimento, respondeu que não. Quando lhe foi perguntado se quis manter o que tinha dito durante a confissão, se foi feito de acordo com a verdade, e se tinha adicionado qualquer coisa falsa ou tinha omitido qualquer coisa verdadeira, respondeu que quis manter o que tinha dito previamente em sua confissão e durante esta que tinha dito somente o que era verdadeiro, que o que disse era de acordo com a verdade e que nem adicionou qualquer coisa que era falsa e nem omitiu qualquer coisa que era verdadeira.

Após isto, nós concluímos em estender a misericórdia da absolvição por estes atos ao irmão Geoffroy, quem na forma e maneira descrita acima renunciou em nossa presença a heresia descrita e qualquer outra heresia, e jurou em pessoa sobre o Santo Evangelho do Senhor, e humildemente pediu pela misericórdia da absolvição, restaurando-o para a comunhão e a fé nos sacramentos da Igreja.

No mesmo dia, em nossa presença e na presença dos tabeliões e das testemunhas listadas abaixo, o irmão Geoffroy de Gonneville, pessoalmente apareceu e foi diligentemente questionado sobre o tempo e as circunstancias de sua admissão e sobre os assuntos descritos acima. Ele respondeu que tinha vinte e oito anos ou perto disso desde que foi recebido como um irmão na Ordem dos Cavaleiros Templários pelo irmão cavaleiro Robert de Torville, preceptor da comanderia da Ordem Templária da Inglaterra, na cidade de Londres, no chapel local da comanderia. E este receptor, após colocar o manto dos cavaleiros Templários em cima de seus ombros recebendo-o como membro, mostrou-lhe a cruz desenhada em algum livro e disse que renunciasse a imagem desenhada nessa cruz. O recém admitido não quis fazer assim, o receptor disse-lhe repetidas vezes que deveria fazer assim. E como este se recusou completamente em o fazer, o receptor, vendo sua resistência, disse-lhe: "contanto que eu permito que você não o faça, você jurar-me-á que se perguntado por alguns dos irmãos você dirá que fez esta renúncia?" E o recém admitido respondeu "sim", e prometeu que se fosse questionado por algum irmão da ordem dita diria que tinha executado a renúncia. E, como disse, não fez nenhuma renúncia de outra maneira. Disse também que o receptor mencionado lhe disse que deveria cuspir na cruz descrita. Quando o recém admitido não desejou fazer assim, o receptor colocou sua própria mão sobre o desenho da cruz e disse-lhe: "ao menos cuspa em minha mão!" E o admitido temendo que o receptor removesse sua mão e algum deste cuspo pegasse na cruz, não quis cuspir na mão com a cruz estando próxima. Quando questionado diligentemente a respeito do pecado de sodomia, da adoração da cabeça, sobre a prática de beijos e outras coisas que haviam atribuído aos irmãos da ordem dita uma reputação má, disse que não sabia de nada. Quando perguntado se outros irmãos da ordem foram aceitos na ordem da mesma maneira que ele, disse que acreditava que o mesmo tivesse sido feito aos outros como lhe foi feito na altura da descrição de sua iniciação.

Quando lhe foi perguntado se o que ele havia dito era para atender a um pedido, recompensa, gratidão, favor, medo, ódio ou persuasão por alguém, ou uso da força, impedimento ou medo de tortura, ele respondeu que não. Após isto, nós concluímos em entender a misericórdia da absolvição por estes atos ao irmão Geoffroy de Goneville, quem na forma e maneira descrita acima renunciou em nossa presença as heresias descritas acima e qualquer outra heresia, e jurou em pessoa sobre o Evangelho Sagrado do Senhor, e humildemente pediu pela misericórdia da absolvição, restaurando-o à unidade com a Igreja e restabelecendo-o para com a comunhão da fé e os sacramentos da Igreja.

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Então no décimo nono dia do mês, em nossa presença e na presença dos tabeliões e das mesmas testemunhas, Hugo de Pérraud, preceptor Templário das comandarias na França apareceu pessoalmente e tomou juramento sobre o Evangelho Sagrado do Senhor, colocando suas mãos sobre o mesmo da mesma maneira descrita acima. Este irmão Hugo tendo jurado como indicado, e sendo diligentemente questionado sobre a maneira da sua iniciação disse que foi recebido em Londres na comanderia local do Templo, na respectiva igreja. Isso foi a quarenta e seis anos atrás, após passada a festa de Santa Magdalena. Ele foi nomeado irmão da Ordem pelo irmão Hubet de Perraud, seu próprio pai, como Visitante da comanderia Templária na França e Poitou, quem colocou sobre seus ombros a túnica da respectiva Ordem. Isto tendo sido efetuado, algum irmão da referida Ordem, chamado John, quem mais tarde tornou-se preceptor de La Muce, levou-o até um determinado lugar do chapel e mostrado-lhe a cruz com a efígie de Cristo e ordenado a ele que renunciasse Aquele cuja imagem estava representada lá. Ele recusou-se, o quando pode, de acordo com ele. Neste meio tempo, entretanto, pressionado por medo e ameaças do irmão John, ele renunciou Aquele que estava representado na cruz apenas uma vez. E também o irmão John muitas vezes ordenou que ele cuspisse sobre aquela cruz, e ele recusou-se a fazer. Quando perguntado se ele tinha beijado o receptor, ele disse que o fez, apenas na boca. Quando perguntado sobre o pecado de sodomia, ele respondeu que aquilo nunca havia sido imposto a ele ou feito isso. Quando lhe foi perguntado se ele havia aceitado outros na Ordem, ele respondeu que o fez muitas vezes, e que aceitou mais pessoas do que qualquer outro irmão vivo da Ordem.

Quando questionado sobre a cerimônia por meio da qual ele os aceitou, ele disse que após eles terem sido admitidos na Ordem e recebido o manto, ele ordenou-lhes que renunciassem ao crucifixo e o beijasse no fundo da parte traseira, no umbigo e então na boca. Disse também que impôs a eles para absterem-se da parceria com mulheres, e, se fossem incapazes de conter seu desejo, juntarem-se com os irmãos da ordem. Disse também sob o juramento que a renúncia acima mencionada, executada durante a iniciação, assim como outras coisas descritas que ele exigiu daqueles recebidos por ele, foi feito na palavra somente, e não no espírito. Quando perguntado porque se sentiu culpado e não executou no espírito aquelas, ele respondeu que tais eram os estatutos ou recomendações das tradições da ordem e que esperou sempre que este erro fosse removido da ordem mencionada. Quando perguntado se alguns dos membros recebidos recentemente por ele se recusaram em executar estas coisas desonestas como cuspir e outras descritas e listadas acima, ele respondeu que somente poucos, e geralmente todos fizeram como requisitado. Disse também que embora ele mesmo instruísse irmãos da ordem que iniciou para se juntarem com outros irmãos, não obstante nunca tenha feito aquilo, não ouviu que qualquer um cometesse este pecado, à exceção dos dois ou três irmãos em Outremer que encarcerados no Castelo de Pilgrim. Quando questionado se soube se todos os irmãos da ordem dita fossem iniciados da mesma maneira que ele iniciou outros, disse que não sabe com certeza sobre os outros, apenas sobre si mesmo e aqueles que iniciou, porque os irmãos são iniciados em tal segredo que nada pode ser sabido à exceção diretamente daqueles que estão presentes. Quando perguntado se acreditou que todos foram iniciados nesta maneira, disse que acreditou que o mesmo ritual é usado ao iniciar outro como foi usado em seu caso e enquanto ele mesmo administrou quando recebeu outro. Quando inquirido sobre a cabeça de um ídolo que fosse adorada, reportado pelos Templários, disse que lhe foi mostrado em Montpellier pelo irmão Peter Alemandin, preceptor desse lugar, e que esta cabeça remanesceu na posse do irmão Peter. Quando perguntada sua idade quando foi aceito na ordem mencionada, respondeu que ouviu sua mãe dizer que tinha dezoito. Ele disse também que previamente confessou sobre estas coisas na presença do irmão Guillaume de Paris, inquisidor de ações heréticas, ou do seu deputado. Esta confissão foi registrada pelas mãos e assinada por Amise d'Orleans e outros tabeliões públicos. Ele deseja manter essa confissão, tal como está, bem como mantém a presente confissão que está em concordância

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com a anterior. E se há qualquer coisa adicional nesta confissão em frente ao Inquisidor ou seu deputado, como dito acima, ele ratifica, aprova e confirma isso.

Quando lhe foi perguntado se confessou estas coisas devido a um pedido, recompensa, gratidão, favor, medo, ódio, ou persuasão por alguma outra pessoa, ou o uso de força, ou medo da tortura ou impedimento, respondeu que não. Quando lhe foi perguntado se após sua prisão foi submetido qualquer questionamento ou tortura, respondeu que não. Após esta, nós concluímos em estender a misericórdia da absolvição por estes atos ao irmão Hugo, que no formulário e na maneira conforme descrito acima renunciou em nossa presença a heresia descrita e todas outras, e jurou em pessoa sobre o Evangelho Sagrado do Senhor, e pediu humildemente a misericórdia da absolvição, restaurando-o à unidade com a Igreja e restabelecendo-o à comunhão, a fé e aos sacramentos da igreja.

Então no vigésimo dia do mês, em nossa presença, e na presença dos tabeliões e das mesmas testemunhas, o irmão-cavaleiro Jacques de Molay, grão-mestre da ordem dos cavaleiros do Templo apareceu pessoalmente e jurando na forma e na maneira descritos acima, e sendo questionado diligentemente, disse que foi a quarenta e dois anos ou perto disso quando foi recebido como um irmão da ordem dita pelo irmão-cavaleiro Hubert de Pérraud, naquele tempo Visitador da França e de Poitou, em Beune, diocese de Autun, no chapel do comanderia local do Templo desse lugar. A respeito da maneira de sua iniciação na ordem, disse que quando recebeu o manto o receptor lhe mostrou a cruz e disse que renunciasse o Deus cuja imagem estava descrita nessa cruz, e que deveria cuspir na cruz. O qual, não cuspiu na cruz, mas próximo dela, de acordo com suas palavras. Disse também ter feito esta renúncia em palavras, não no espírito. Ele foi questionado diligentemente a respeito do pecado de sodomia, da cabeça adorada e da prática dos beijos ilícitos, disse que não sabia sobre aquilo. Quando lhe foi perguntado se confessou estas coisas devido a um pedido, recompensa, gratidão, favor, medo, ódio ou persuasão por alguma outra pessoa, ou o uso da força, ou medo da tortura ou impedimento, respondeu que não.

Quando lhe foi perguntado se, após sua prisão, foi submetido a qualquer questionamento ou tortura, respondeu que não. Após isto, nós concluímos em estender a misericórdia de absolvição por estes atos ao irmão Jaques de Molay, o grão-mestre da ordem mencionada, na forma e na maneira descritas acima, o mesmo renunciou em nossa presença a heresia descrita e qualquer outra, e jurou em pessoa sobre o Evangelho Sagrado do Senhor, e pediu humildemente a misericórdia da absolvição, restaurando-o à unidade com a igreja e restabelecendo-o à comunhão da e aos sacramentos da igreja.

No mesmo vigésimo dia do mês, em nossa presença, e na presença dos tabeliões e das mesmas testemunhas, irmão Geoffroy de Gonneville livremente e dispostamente ratificou, aprovou e confirmou sua confissão assinada que lhe foi lida em sua língua nativa, e deu garantias que pretende atender e manter ambas a confissão e a confissão que ele fez em uma diferente ocasião em frente do Inquisidor esta confissão e a confissão que fez em uma ocasião diferente na frente do Inquisidor ou inquisidores referente às transgressões heréticas acima mencionadas, tanto quanto isto está em concordância com a confissão feita em nossa presença, os tabeliões e testemunhas acima descritas; e se há alguma coisa extra contida na confissão feita em frente ao Inquisidor ou inquisidores, como dito anteriormente, ele ratifica, aprova e confirma isso.

No mesmo vigésimo dia do mês, em nossa presença, e na presença dos tabeliões e as mesmas testemunhas, irmão-preceptor Hugo de Perraud em uma maneira similar livremente e dispostamente ratificou, aprovou e confirmou sua confissão assinada que lhe foi lida em sua língua nativa.

Nós requisitamos Robert de Condet, clérigo da diocese de Soissons, um tabelião pelo poder apostólico, que estava conosco com os tabeliões e as testemunhas listados abaixo, registrar e fazer público como evidência estas confissões, assim como cada coisa descrita

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acima do que ocorreu na frente de nós, os tabeliões e as testemunhas, e também tudo feito por nós, exatamente como se mostra acima, e para o validar aplicar nossos selos.

Isto foi feito no ano, interrogatório, mês, dia, pontificado e lugar indicado acima, em nossa presença e na presença de Umberto Vercellani, de Nicolo Nicolai de Benvenuto e de Robert de Condet, acima mencionado, também dos mestres Amise d'Orleans, o Ratif, tabeliões públicos pelo poder apostólico, bem como os distintos pios irmãos Raymond, abade do monastério beneditino de St. Theofred, diocese de Annecy, Berard mestre de Boiano, arque-diácono de Troia, Raoul de Boset, confessor e cânon de Paris, e de Pierre de Soire, observador de Saint-Gaugery-Gaugery em Cambresis, que foram escolhidos especificamente como testemunhas.

Eu, Robert de Condet, clérigo da diocese de Soissons, tabelião pelo poder apostólico, observei com outros tabeliões e testemunhas cada e todas as coisas descritas acima que ocorreram na presença dos anteriormente padres reverendos senhores cardeais presbíteros, eu mesmo e outros tabeliães e testemunhas, bem como o que foi feito por seus senhores. Sob as ordens de seus senhores os cardeais presbíteros, eu fiz este registro, coloquei-o em uma forma oficial, e selei isso com meu selo, sendo o que foi pedido.

E também eu, Umberto Vercellani, clérigo de Béziers, tabelião pelo poder apostólico, observei com outros tabeliães e testemunhas cada e todas as coisas descritas acima que ocorreram na presença dos senhores anteriormente mencionados cardeais presbíteros exatamente como está demonstrado acima em completo detalhe. Sob as ordens destes cardeais presbíteros, por garantia adicional, eu assinei ao final deste registro e selei-o com meu selo.

E também eu, Nicolo Nicolai de Benevento, tabelião pelo poder apostólico, observei com os outros acima mencionados tabeliães e testemunhas cada e todas as coisas descritas acima e que ocorreram na presença dos anteriormente mencionados senhores cardeais presbíteros, bem como o que foi feito pelos seus senhores exatamente como está descrito acima em total detalhe. Sob as ordens destes cardeais presbíteros, por segurança adicional, eu assinei abaixo deste registro e o selei com meu selo.

E também eu, Arnulphe D´orléans, chamado o Ratif, tabelião pelo poder da Santa Igreja de Roma, observei com os outros acima mencionados tabeliães e testemunhas, confissões, depoimentos e outros, e cada e todas as coisas descritas acima que ocorreram na presença dos acima mencionados padres reverendos senhores cardeais presbíteros, bem como o que foi feitos por seus senhores exatamente como está descrito acima em total detalhe. Sob as ordens destes cardeais presbíteros, como testemunha da verdade, eu assinei abaixo deste registro e selei com meu selo, sendo o que foi pedido. Imagem do Pergaminho

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A Ordem DeMolay no Brasil por Alberto Mansur COMO SEMPRE DIZIA O FUNDADOR DA ORDEM DeMOLAY, FRANK SHERMAN LAND, "É O PRINCÍPIO QUE IMPORTA..."

Iniciado na Maçonaria em 1950, somente em 1970 tive a oportunidade de conhecer, através da leitura do "The New Age - Junho 1969", comemorativo do cinqüentenário da Ordem DeMolay, o importante trabalho em favor da juventude, feito pela Maçonaria, patrocinando a Ordem DeMolay.

Esse conhecimento despertou em mim o sonho de trazer para o Brasil essa Organização, que viria a preencher uma lacuna, com a qual não me conformava, existente na tradicional maçonaria brasileira, que se traduzia na absoluta ausência de jovens dentro de nossa fraternidade.

Tentei alguns contatos com o Supremo Conselho Internacional sem resultados, até que em meados de 1974 tive a honra de conhecer pessoalmente, no Rio de Janeiro, o Ilustre e saudoso Irmão GEORGE A. NEWBURY, 33o, Soberano Grande Comendador Supremo Conselho R.E.E.A dos Estados Unidos, que participava da VII Reunião dos Soberanos Grandes Comendadores das Américas, e a quem confiei meu desejo sobre a fundação da Ordem DeMolay no Brasil. Imediatamente após o seu regresso aos Estados Unidos da América, recebi carta do Supremo Conselho Internacional e as primeiras medidas para tornar realidade meu sonho começaram a se delinear, tanto que ao fazer meu primeiro relatório em Março de 1975, como Soberano Grande Comendador A.A.S.R. no Brasil, anunciava como meta prioritária de minha Gestão a criação da Ordem DeMolay no Brasil. Comecei um grande trabalho de divulgação da Ordem DeMolay, totalmente desconhecida da maioria dos Maçons, em todo o território nacional, com cartas, palestras, notícias nos jornais, Boletins, etc... despertando a atenção e o interesse, conseguindo bons colaboradores para a Obra. Cinco anos se passaram sem que uma atitude mais positiva por parte do Supremo Conselho Internacional fosse tomada, até o dia que tive a felicidade de encontrar em Boston, no ano de 1979, o então Grão Mestre Internacional, C.C. "BUDDY" FAULKNER, 33o, Grande líder e entusiasta da Ordem DeMolay, com grande visão, e que imediatamente confiou em mim, autorizando-me a fundar a Ordem DeMolay no Brasil, e me nomeando OFICIAL EXECUTIVO. Comecei a tradução para o Português dos rituais, no qual incluímos a participação nas atividades da Ordem DeMolay dos Aprendizes e Companheiros, visto que no Brasil eles são considerados como Maçons desde o dia da Iniciação, e assim ganhando um número expressivo de novos colaboradores, assim como traduzi folhetos cerimoniais, etc..., e tornando realidade meu sonho, com a força que tem todos os sonhos, instalamos o PRIMEIRO CAPÍTULO DA ORDEM DeMOLAY NO BRASIL, NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, NO DIA 16 DE AGOSTO DE 1980, COM 59 JOVENS INICIADOS e tendo como Patrocinador o Supremo Conselho do Grau 33o, do R.E.A.A. da Maçonaria para a República Federativa do Brasil do Brasil, tendo a felicidade de ver meu próprio filho, Jorge Alberto Mansur, como Mestre Conselheiro, concretizando minha aspiração de trazer os jovens para nosso convívio, realização impraticável de outra forma.

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Em 12 de Abril de 1985 quando recebemos a visita do Grande Mestre Internacional

DON W. WRIGHT, trazendo a CARTA CONSTITUTIVA para a Instalação do Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil, existiam 26 CAPÍTULOS com mais de 3.300 INICIADOS. Atualmente ao completar 22 anos de atividades temos 629 CAPÍTULOS funcionando com cerca de 60.000 JOVENS INICIADOS. Levando m conta uma média de 10 CONSULTORES por Capítulo, temos hoje 6.290 CONSULTORES! Já podemos afirmar que muitos DeMolays, ao completarem 21 anos de idade, já ingressaram na Maçonaria, trazendo a renovação necessária. Apesar do sucesso obtido continuamos empenhados em levar avante nosso programa que tem como objetivo principal, a longo prazo, instalar um Capítulo em cada cidade onde exista uma Loja Simbólica, entidade que consideramos ser o patrocinador ideal para os Capítulos. Sabendo que temos mais de 3.000 Lojas Simbólicas no Brasil, ainda existe um grande caminho a percorrer. Temos alguns Capítulos em cidades que fazem fronteiras com Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, tendo sido iniciados vários jovens desses Países, havendo possibilidade em futuro próximo da instalação da Ordem DeMolay nessas Jurisdições, inclusive já existindo em funcionamento Capítulos DeMolay na Bolívia e Paraguai, ligados ao nosso Supremo Conselho.

Creio que o crescimento que tivemos se baseia no fato de que a Ordem DeMolay vem realmente ocupar um espaço desejado e sonhado por toda a sociedade, e que não tem similar em outras Organizações. É esse aspecto fundamental que temos procurado ressaltar, e acredito residir aí a fórmula do sucesso. Para esse fim temos buscado o imprescindível apoio dos Grãos Mestres Brasileiros de todas as Potências Maçônicas como preceitua nossa Constituição. Alguns dos quais exercem hoje simultaneamente o cargo de Oficial Executivo. Outros são Past Grão Mestres e Veneráveis Mestres, nos oferecendo todo o seu prestígio e liderança, além do perfeito conhecimento de suas jurisdições, podendo por isso, nomear os irmãos mais interessados pelo trabalho. Acreditamos também que a melhor divulgação da Ordem DeMolay é a que é feita pelos próprios jovens. Para essa finalidade instituímos um trabalho de apresentação feito diretamente nas Lojas Simbólicas, em seu dia normal de sessão. Anunciado com antecedência, a Loja se transforma em Sessão Branca, dá entrada aos convidados, especialmente às esposas dos Maçons que geralmente fazem parte do Departamento Feminino das Lojas. A participação das esposas dos Maçons tem sido fundamental. Não apenas como responsáveis pelos bolos e salgadinhos nas festividades, mas como ativas participantes do movimento. Insistimos para que usem a palavra nas Lojas, que apresentem idéias, e que discutam e opinem nas várias atividades dos Capítulos. Minha esposa Célia é um exemplo dessa atividade, usando da palavra sobre a importância da Ordem DeMolay, o trabalho a ser feito, lembrando sempre aos Maçons a grande responsabilidade que lhes cabe, perante os jovens, como dignos exemplos a serem seguidos. Por sua ativa participação e dedicação desde o início da Ordem DeMolay, recebeu o título de MADRINHA DA ORDEM DeMOLAY NO BRASIL. Procuramos dar o maior destaque possível ao fato de que a Ordem DeMolay tem o patrocínio da Maçonaria, demonstrando sua preocupação com a juventude, Pedra angular das futuras gerações. A Ordem DeMolay apresenta dois aspectos fundamentais e de grande importância na sociedade contemporânea: A luta pela manutenção das Escolas Públicas - base essencial para qualquer desenvolvimento posterior, e a promessa da construção de um novo mundo com o melhor preparo de nossa juventude, que um dia assumirá o comando de todas as atividades. Ao colocarmos o nome prestigiado da Maçonaria intimamente ligado e intrinsecamente unido ao Movimento DeMolay estamos pondo em prática o célebre A.I.D.A.

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dos compêndios de Marketing, despertando atenção, interesse, desejo e ação, fatores básicos para o sucesso de qualquer programa.

Conseguindo a atenção e o interesse será fácil obtermos o desejo e a ação, pois não existe nenhuma família, nenhuma Comunidade e nenhuma Autoridade que não esteja profundamente interessada e esperançosa em ver objetivos tão importantes para a sociedade, se tornarem realidade em beneficio da juventude Brasileira. Desde os primeiros momentos procurei associar de forma bem destacada o envolvimento da Maçonaria com a Ordem DeMolay, nesse objetivo de transformar o futuro, buscando o aperfeiçoamento da juventude, mantendo acesa a chama do bem que existe em germe na natureza humana e especialmente no coração de todos os jovens, e porque verifiquei que esse ideal despertava o entusiasmo na sociedade e que inúmeros auxiliares surgiam para ajudar na tarefa. O Patrocínio Maçônico à Ordem DeMolay foi e continua sendo a palavra chave do sucesso. Em todos os pronunciamentos, nos impressos, nas publicações, nas mensagens, e até nas camisas confeccionadas para os Capítulos DeMolay, vemos em destaque a informação PATROCÍNIO DA MAÇONARIA. Em certa ocasião, patrocinado por grandes Empresas, colocamos cartazes em locais estratégicos do Rio de Janeiro, promovendo a Ordem DeMolay. De forma bem visível estava o esquadro e o compasso, emblema universal da Maçonaria, aliado à coroa da juventude da Ordem DeMolay, e a célebre frase repetida: PATROCÍNIO DA MAÇONARIA, e o telefone de nosso Supremo Conselho. Através desta promoção obtivemos resultados positivos com mais de 120 pedidos de iniciação, além de consultas sobre a Maçonaria, e o reconhecimento oficial de nosso trabalho em favor da juventude com uma mensagem de elogio do Ministro da Justiça de nosso País. É importante considerar que ao ressaltarmos esse patrocínio da Maçonaria, deixamos bem claro também que a Ordem DeMolay não é restrita a filhos de Maçons ou parentes de Maçons, e sim que essa tem suas portas abertas a todos os interessados. Este aspecto é fantástico e tem trazido resultados positivos para a Ordem DeMolay e a própria Maçonaria. Considerando que 40% de nossos jovens DeMolays não são filhos ou parentes de Maçons, com isso tornamos a Maçonaria conhecida por mais 24.000 famílias Brasileiras dando como resultado lógico o despertar do interesse entre muitos pais, parentes, e amigos, que não conheciam quase nada sobre a Maçonaria e que hoje são iniciados e atuantes membros de nossa FRATERNIDADE MAÇÔNICA. Nosso Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil, soberano, autônomo e independente, é a única autoridade da Ordem DeMolay em nosso País. Nosso Supremo Conselho e o terceiro Supremo Conselho Independente do Mundo. Entretanto em números de capítulos (629) e de Jovens Iniciados (60.000) estamos em segundo lugar. Portanto é dever de todos os DeMolays, e de todos os Maçons que colaboram nessa grande obra, terem orgulho dessa nossa posição no âmbito Internacional e lutarem sempre para seu continuado progresso e prestígio.

Atualmente a Ordem DeMolay já conta com o reconhecimento por lei, como Entidade de Utilidade Pública, e

por Lei Municipal e Estadual no Rio de Janeiro, já tem o DIA 18 DE MARÇO oficialmente como o "DIA DA

JUVENTUDE DeMOLAY DO BRASIL".

Creio que o conselho mais importante que poderia sugerir está baseado em minha

própria experiência. Durante 14 anos exerci o cargo de Soberano Grande Comendador do R.E.A.A. no Brasil e nessa qualidade visitei centenas de cidades em nosso imenso território. Em todas elas fui recebido com as honras devidas no ambiente Maçônico, porém essas visitas

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não causavam nenhum impacto maior e nem se transformavam em notícia especial para a cidade.

Senti a enorme diferença quando voltei a visitar as mesmas cidades como Grande Mestre da Ordem DeMolay, portador da mensagem de otimismo e de esperança contida na essência de nossa Organização, em benefício da juventude brasileira. Comparecia ali um integrante da Maçonaria, como arauto de boas novas para o aprimoramento de nossos jovens; estava ali um maçom preocupado com os problemas que afligem a juventude, e que ali chegava com o propósito de colaborar com aquela comunidade local, com as famílias, com as autoridades, no sentido de Instalar um novo Capítulo da Ordem DeMolay, e preparar os jovens para seu grande destino de serem nossos sucessores e líderes do futuro. Essa atitude da Maçonaria era bem recebida, compreendida, provocando uma motivação sem precedentes, trazendo para os aeroportos não somente os Irmãos Maçons, mas toda a sociedade, seus dirigentes, autoridades Civis e Militares, jovens e seus familiares, e toda a Imprensa, Rádio e Televisão, que noticiavam o acontecimento em toda a jurisdição, promovendo e prestigiando a Ordem DeMolay e a Maçonaria. A Maçonaria deve continuar praticando a caridade, investindo, milhões para auxiliar doentes e necessitados, mantendo hospitais, lares, escolas e centros de pesquisas. Essa participação é realmente importante, porém é considerada como atitude obrigatória e natural para uma entidade como a Maçonaria, assim como é para os clubes de serviços, para as diversas Igrejas, etc... Não devemos porém julgar que esta participação da Maçonaria irá comover, exaltar, interessar, e influir para que novos candidatos batam a porta de nossos Templos solicitando iniciação Maçônica. Desfraldemos, portanto em primeiro lugar a bandeira da Ordem DeMolay pelo trabalho em favor da juventude, das Escolas Públicas, do CONGRAÇAMENTO DA FAMÍLIA, ressaltando sua contribuição na preparação de melhores patriotas e veremos que Legiões de Homens e Mulheres nos acompanharão na luta por esse ideal. Neste ano comemoramos os 115 anos de nascimento de FRANK SHERMAN LAND, esse inspirado Benfeitor da Humanidade, FUNDADOR DA ORDEM DeMOLAY, que continua, ainda, decorridos 86 anos, inspirando jovens em várias partes do Mundo. O sonho de Frank S. Land continua vivo, e se constitui ao nosso ver o Grande Baluarte em que deve se apoiar a Maçonaria, com visitas a seus planos para o século que se aproxima, esforçando-se para preparar homens melhores para um mundo melhor! Complementando esse importante e necessário trabalho em favor de nossos filhos, trouxemos para o Brasil, a Organização para Maçônica, denominada "FILHAS DE JÓ", para nossas filhas, preenchendo dessa forma a lacuna existente no Brasil. Os Bethéis (Lugar Sagrado) das "Filhas de Jó", foram criados em 1920, somente um ano após a criação da Ordem DeMolay, e estão em funcionamento há 10 anos no Brasil, em todos os Estados, com mais de 5.000 moças iniciadas. Juntos, portanto, nessa cadeia de união, continuaremos o trabalho de Congraçamento das famílias, acreditando e investindo em nossa juventude, que representa a esperança de uma liderança consciente e bem preparada para a luta por dias melhores para nossa Pátria e a humanidade. Que o Pai Celestial nos ajude a cumprir essa missão.

Retirado de http://www.demolay.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14&Itemid=30

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• Manual de Instrução: Grau Iniciático (2007) Capítulo "Santos" Nº 286

• Programa de Estudos DeMolay Comissão Nacional de Ritualística 1998 / 1999

• Manual de Instruções: Grau Iniciático (2006) Grande Conselho Estadual da Ordem DeMolay para o Estado de São Paulo Supremo Conselho da Ordem DeMolay para a República Federativa do Brasil

• Internet

• Outras fontes citadas no próprio texto