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ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA
DA CARNE BOVINA DE
MATO GROSSO DO SUL:
PROPOSTA DE UMA POLÍTICA PÚBLICA
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Departamento de Economia e Administração – DEA
Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura – FAPEC Grupo de Estudos de Agronegócios – GEA/UFMS
Campo Grande, MS 2000
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul Secretaria de Estado de Fazenda
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS Departamento de Economia e Administração - DEA
Grupo de Estudos de Agronegócios – GEA/UFMS
ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA
DA CARNE BOVINA DE
MATO GROSSO DO SUL:
PROPOSTA DE UMA POLÍTICA PÚBLICA
Convênio UFMS/FAPEC – SEFAZ
com Recursos do Promosef
COORDENAÇÃO E PESQUISADORES
Coordenador Geral: Prof. Dr. Ido Luiz Michels – UFMS
Coordenador Executivo: Prof. Dr. Renato Luiz Sproesser – UFMS
Coordenador Executivo: Economista Cláudio George Mendonça – UFMS
Pesquisadora: Prof.a M.Sc. Patrícia Campeão – UFSCar
EQUIPE TÉCNICA
Adriana Orrico – UFMS
Luciano Scampini – UCDB
Lais Hernández – UFMS
Engenheiro Agrônomo Aroldo F. Corrêa Jr.
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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS Departamento de Economia e Administração - DEA
Grupo de Estudos de Agronegócios – GEA/UFMS
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS DA PESQUISA
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA
Esther Guimarães Cardoso
Fernando Paim Costa
Gelson Luiz Dias Feijó
DELEGACIA FEDERAL DE AGRICULTURA – DFA
José Antônio Roldão
João Crisostomo Cavallero
SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA – SEFAZ
Luciana Medeiros Duarte
Gladston Riekstins de Amorim
SECRETARIA DA PRODUÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – SEPRODES
Onildo B. Pinho
José Mário Pinesse
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP
Prof. Dr. Wanderley Messias da Costa
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC
Prof. Dr. Roberto Meurer
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – UFSCAR
Prof. Dr. Mário Otávio Batalha
Prof. Dr. Hildo Meirelles
BANCO DO BRASIL
Edson Izé
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul Secretaria de Estado de Fazenda
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS Departamento de Economia e Administração - DEA
Grupo de Estudos de Agronegócios – GEA/UFMS
APRESENTAÇÃO
O Estudo da Cadeia Produtiva da Carne Bovina de Mato Grosso do Sul,
realizado pelo Grupo de Estudos em Agronegócios da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul, surgiu a partir do interesse do Governo do Estado de Mato
Grosso do Sul, através da Secretaria de Estado de Fazenda – SEFAZ, em conhecer a
realidade do setor, de modo a gerar instrumentos mais efetivos para o desenvolvimento
dessa cadeia produtiva.
Nesse sentido, de meados de 1999 ao final do ano 2000 analisaram-se os
principais elos dessa cadeia — insumos, produtores, indústria frigorífica e distribuição
—, de modo a apontar características, problemas e tendências do setor. Observaram-se
ainda, a partir do estudo, as profundas e recentes transformações pelas quais passa a
cadeia produtiva da carne bovina no Brasil.
Entre as diversas conclusões que este estudo aponta, destacam-se:
• Regiões Sanitárias – As questões sanitárias (não somente a febre aftosa) passam a
ser elemento definidor das regionalizações pecuárias no Brasil.
• Mato Grosso do Sul e as exportações de carnes – O estado de Mato Grosso do Sul
conta, em seu território, com os principais frigoríficos exportadores do país, além de
ser o maior estado produtor de carne com Sistema de Inspeção Federal – SIF – para
o mercado interno, bem como o maior exportador de carne do país.
• Os insumos – O elo da cadeia produtiva constituído pelos fornecedores de insumos
é dominado em Mato Grosso do Sul por poucos fornecedores, que vendem um
grande rol de produtos agropecuários correspondentes a praticamente 30% do custo
de produção final de um boi.
• Os pecuaristas sul-mato-grossenses – São quase 50 mil os produtores de gado de
Mato Grosso do Sul, com um valor patrimonial em terras e rebanho estimado em
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cerca de R$ 18 bilhões (R$ 11,6 bilhões em terras e R$ 6,5 bilhões em animais).
Esses produtores tiveram no ano de 1999 um faturamento bruto de R$ 1,9 bilhões. A
atividade gera no estado aproximadamente 130 mil empregos diretos.
• A indústria frigorífica – A indústria frigorífica sul-mato-grossense é composta
atualmente por 31 frigoríficos, com capacidade anual de abate de 4,5 milhões de
cabeças, com um faturamento anual bruto de R$ 300 milhões. Existem hoje no
estado nove indústrias habilitadas para a exportação.
• A coordenação da cadeia produtiva (I) – A chamada descoordenação da cadeia
produtiva da carne bovina brasileira tem sua origem na história da cadeia e na falta,
até o início dos anos 90, de um agente que detivesse maior poder de mercado. Em
outras palavras, entre os quatro principais elos dessa cadeia – insumos, produção,
abate e distribuição – predominava uma certa igualdade de poder de mercado ou
mesmo ganhos setoriais sazonais, embora nenhum deles tenha conseguido ser
hegemônico no controle da cadeia produtiva até o início dos anos 90.
• A coordenação da cadeia produtiva (II) – A partir dos anos 90, a distribuição,
exercida em especial pelas grandes redes varejistas, passa gradativamente a dominar
o setor, determinando os preços para os demais elos da cadeia e apropriando-se,
desse modo, de renda dos demais elos.
• Tributação da carne e transferência de renda regional – Contrariamente à
conclusão de recente estudo divulgado pela Confederação Nacional de Agricultura –
CNA –, intitulado A eficiência econômica e competitiva da cadeia agroindustrial da
pecuária de corte no Brasil, a questão tributária não é um problema que reduz a
competitividade do setor no Brasil. A proposição de imposto zero para essa cadeia
produtiva fará, na verdade, aumentar mais ainda a transferência de renda para a
Região Sudeste e/ou para o mercado internacional, através das exportações.
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ÍNDICE
CAPÍTULO 1: CONTEXTUALIZAÇÃO E OBJETIVOS DA PESQUISA...................... 11. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 12. CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE BRASILEIRA............................................... 32.1. Conceito de cadeia produtiva..................................................................................................... 5 Principais aplicações do conceito de cadeia de produção....................................................... 7 As cadeias de produção como ferramentas de descrição técnico-econômica ......................... 72.2. Importância da cadeia produtiva da carne bovina ..................................................................... 92.3. Rebanho e abate de gado bovino no Brasil................................................................................ 133. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DA PECUÁRIA DE MATO GROSSO DO SUL ......................................... 163.1. Caracterização do problema....................................................................................................... 19 Justificativas ........................................................................................................................... 19 Objetivos................................................................................................................................. 20 Objetivos específicos .............................................................................................................. 21 Metodologia............................................................................................................................ 224. INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS .................................................................................................. 234.1. Instituições parceiras ................................................................................................................. 23 CAPÍTULO 2: BOVINOCULTURA DE CORTE: REGIÕES PRODUTIVAS E
SANITÁRIAS........................................................................................................................... 251. ASPECTOS GERAIS ...................................................................................................................... 251.1. Mercado interno ........................................................................................................................ 341.2. Mercado externo ........................................................................................................................ 351.3. Protecionismo ............................................................................................................................ 361.4. O mercado externo e a questão sanitária ................................................................................... 382. REGIONALIZAÇÕES PRODUTIVAS ................................................................................................ 382.1. Os sistemas de produção da atividade pecuária: cria, recria e engorda ..................................... 42 Cria ......................................................................................................................................... 43 Recria...................................................................................................................................... 43 Engorda................................................................................................................................... 433. AS REGIÕES SANITÁRIAS............................................................................................................. 443.1. Antecedentes históricos ............................................................................................................. 46 Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa .............................................................. 464. CIRCUITOS PECUÁRIOS ............................................................................................................... 484.1. Circuito Pecuário Sul................................................................................................................. 524.2. Circuito Pecuário Centro-Oeste ................................................................................................. 544.3. Circuito Pecuário Leste.............................................................................................................. 564.4. Circuito Pecuário Norte ............................................................................................................. 584.5. Circuito Pecuário Nordeste........................................................................................................ 605. CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO SEGUNDO O RISCO DE FEBRE AFTOSA;
ZONIFICAÇÃO ............................................................................................................................. 625.1. Resultados das regionalizações.................................................................................................. 656. ZONIFICAÇÃO EM VIGOR............................................................................................................. 686.1. Zona Infectada ........................................................................................................................... 726.2. Zona Tampão............................................................................................................................. 746.3 Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação ............................................................................. 766.4. Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.............................................................................. 806.5. Ampliação proposta para a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação ................................. 827. CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA DE BOVINOCULTURA NO CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE .. 84
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Distrito Federal ....................................................................................................................... 85 Goiás....................................................................................................................................... 87 Minas Gerais........................................................................................................................... 92 Mato Grosso ........................................................................................................................... 97 Mato Grosso do Sul ................................................................................................................ 102 Paraná ..................................................................................................................................... 110 São Paulo ................................................................................................................................ 116 Tocantins ................................................................................................................................ 1228. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE .................................... 1248.1. Ingresso de bovinos na Zona Livre ........................................................................................... 124 CAPÍTULO 3: A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DE MATO
GROSSO DO SUL................................................................................................................... 1271. MATO GROSSO DO SUL: ORIGEM E DESENVOLVIMENTO — UMA CONTEXTUALIZAÇÃO
HISTÓRICA .................................................................................................................................. 1272. UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO REGIONAL .................................................... 1292.1. Ocupação e desenvolvimento ...................................................................................................... 1292.2. Industrialização........................................................................................................................... 131 A primeira fase ........................................................................................................................ 132 A segunda fase........................................................................................................................ 134 O quadro atual ........................................................................................................................ 1363. BREVE HISTÓRICO SOBRE A PECUÁRIA NO MUNDO...................................................................... 1373.1. A pecuária no Brasil .................................................................................................................. 1384. EVOLUÇÃO DA BOVINOCULTURA SUL-MATO-GROSSENSE........................................................... 1404.1. A bovinocultura de corte e Mato Grosso do Sul........................................................................ 1415. A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DE MATO GROSSO DO SUL ........................................ 1465.1. Distribuição em São Paulo — Caracterização dos agentes........................................................ 146 Demanda por produtos agrários.............................................................................................. 1465.2. Tendências recentes do consumo de alimentos ......................................................................... 1475.3. Características da subcadeia A .................................................................................................. 152 As grandes redes e as marcas.................................................................................................. 153 Carne com osso....................................................................................................................... 153 Desconfiança: distribuidores e frigoríficos............................................................................. 154 Carne sem osso ....................................................................................................................... 154 Instabilidade contratual........................................................................................................... 155 Transporte............................................................................................................................... 155 Qualificação da mão-de-obra.................................................................................................. 156 Aumento da padronização da carne ........................................................................................ 1565.4. Características da subcadeia B................................................................................................... 157 Consumidores ......................................................................................................................... 158 Atacado................................................................................................................................... 158 Qualidade e preço ................................................................................................................... 158 Corretores e “truckeiros” ....................................................................................................... 159 Varejo ..................................................................................................................................... 1605.3. Características da subcadeia C................................................................................................... 160 Abate clandestino ................................................................................................................... 1615.4. Distribuição da carne bovina no Rio de Janeiro ........................................................................ 1625.5. Agentes coordenadores da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil .................................... 1635.6. Exportações ............................................................................................................................... 1666. ABATE E PROCESSAMENTO DE CARNES EM MATO GROSSO DO SUL ............................................ 1696.1. Os frigoríficos sul-mato-grossenses na cadeia produtiva de carne bovina ................................ 170 Pertencer a um grande grupo .................................................................................................. 176 Diversificação das atividades ................................................................................................. 177 Ano de instalação e idade dos equipamentos.......................................................................... 178 Sobre o arrendamento ............................................................................................................. 178
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Abate para terceiros ................................................................................................................ 179 Formação do preço ................................................................................................................. 180 Comportamento estratégico .................................................................................................... 180 Carteira de produtos................................................................................................................ 181 Nível de concorrência ............................................................................................................. 182 Vantagens e desvantagens em relação à concorrência............................................................ 183 Mão-de-obra ........................................................................................................................... 184 Carne com osso e sem osso .................................................................................................... 185 Tratamento de resíduos........................................................................................................... 185 Condições de transporte do animal vivo................................................................................. 185 Condições de transporte da carne .......................................................................................... 186 Atributos de qualidade da carne após abate............................................................................ 186 Atributos de qualidade da matéria-prima (animal vivo) ......................................................... 187 Aquisição de matéria-prima (boi) .......................................................................................... 187 Pagamento da matéria-prima (boi) ......................................................................................... 187 Capital de giro necessário para a atividade............................................................................. 188 A indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul ....................................................................... 1896.2. Alíquotas de ICMS .................................................................................................................... 1907 PRODUTORES DE BOVINOS EM MATO GROSSO DO SUL ............................................................... 1917.1. Oferta de produtos agrários ....................................................................................................... 192 Estacionalidade na pecuária de corte ...................................................................................... 192 A oferta de produtos agrários e a incerteza............................................................................. 1937.2. Produtores de bovinos de Mato Grosso do Sul.......................................................................... 194 Patrimônio .............................................................................................................................. 194 Faturamento ............................................................................................................................ 194 Produtores............................................................................................................................... 195 Empregos diretos e indiretos .................................................................................................. 195 Dimensão da atividade............................................................................................................ 1957.3 Regionalização da bovinocultura em Mato Grosso do Sul........................................................ 1967.4 Constatações da pesquisa junto aos produtores rurais ............................................................... 202 Gestão da propriedade ............................................................................................................ 202 Aspectos culturais................................................................................................................... 203 Nível tecnológico.................................................................................................................... 204 Qualidade da mão-de-obra...................................................................................................... 205 Relação com o frigorífico ....................................................................................................... 206 Crédito .................................................................................................................................... 207 Tendência do crédito .............................................................................................................. 209 Problemas mais relevantes...................................................................................................... 2107.5. Custo de produção ..................................................................................................................... 211 CAPÍTULO 4: CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS DE POLÍTICAS
PÚBLICAS ............................................................................................................................... 2181. CARACTERÍSTICAS DOS MERCADOS AGRÁRIOS ........................................................................... 2182. FORMAÇÃO DOS PREÇOS............................................................................................................. 2193. ASPECTOS LOGÍSTICOS E TECNOLÓGICOS PARA OS MERCADOS INTERNO E EXTERNO .................. 2264. BOVINOCULTURA DE CORTE E TECNOLOGIA ............................................................................... 2275. BOVINOCULTURA DE CORTE E A QUESTÃO AMBIENTAL .............................................................. 2296. AGROPOLOS................................................................................................................................ 2337. CLUSTERS................................................................................................................................... 2348. INDICADORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS ....................................................................................... 2399. QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA.............................................................................................. 23910. SUSTENTABILIDADE DA CADEIA ................................................................................................. 24011. GESTÃO DA INFORMAÇÃO........................................................................................................... 24112. VALORIZAÇÃO DA CARNE DE MATO GROSSO DO SUL................................................................. 24112.1. Melhoria de qualidade da carne e subprodutos.......................................................................... 242
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13. INTERLOCUÇÃO DE INSTITUIÇÕES DA CADEIA............................................................................. 243 Bibliografia............................................................................................................................... 248 Anexos....................................................................................................................................... 258
FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS
FIGURAS Figura 1.1. Cadeia produtiva da carne bovina .................................................................................. 4Figura 2.1. Classificação de países quanto ao status sanitário concernente à febre aftosa. 2000 ..... 28Figura 2.2. Classificação de países sul-americanos quanto ao status sanitário concernente à
febre aftosa. 2000 ........................................................................................................... 30Figura 2.3. Rebanhos bovinos por região. Brasil, 1999.................................................................... 33Figura 2.4. Regionalização por homogeneidade de produção .......................................................... 40Figura 2.5. Regionalização por fases de produção ........................................................................... 41Figura 2.6. Divisão do Brasil em circuitos pecuários, 1999 ............................................................. 50Figura 2.7. Circuito Pecuário Sul. 1999............................................................................................ 53Figura 2.8. Circuito Pecuário Centro-Oeste. 1999............................................................................ 55Figura 2.9. Circuito Pecuário Leste. 1999 ........................................................................................ 57Figura 2.10. Circuito Pecuário Norte. 1999........................................................................................ 59Figura 2.11. Circuito Pecuário Nordeste. 1999................................................................................... 61Figura 2.12. Esquema do fluxo de funcionamento do sistema de atenção e vigilância sanitária
animal. Brasil, 1999........................................................................................................ 66Figura 2.13. Zonificação do Brasil: áreas Infectadas, Tampão e Livres de Febre Aftosa. 2000 ........ 70Figura 2.14. Distribuição dos postos fixos de controle e fiscalização do trânsito de animais e seus
produtos e subprodutos. 2000......................................................................................... 71Figura 2.15. Zona Infectada. 2000...................................................................................................... 73Figura 2.16. Zona Tampão. 2000........................................................................................................ 75Figura 2.17. Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação. 2000 ........................................................ 78Figura 2.18. Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. 2000 ........................................................ 81Figura 2.19. Proposta de ampliação da Zona Livre. Evolução para 2001 .......................................... 83Figura 2.20. Distrito Federal............................................................................................................... 86Figura 2.21. Distribuição dos frigoríficos de Goiás............................................................................ 89Figura 2.22. Trânsito de bovinos. Goiás, 1997 ................................................................................... 91Figura 2.23. Distribuição dos frigoríficos de Minas Gerais. 1999...................................................... 94Figura 2.24. Trânsito de bovinos. Minas Gerais, 1997....................................................................... 96Figura 2.25. Distribuição dos frigoríficos de Mato Grosso. 1999 ...................................................... 99Figura 2.26. Trânsito de bovinos. Mato Grosso, 1997........................................................................ 101Figura 2.27. Distribuição dos frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999 .......................................... 105Figura 2.28. Trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1997 ............................................................ 109Figura 2.29. Distribuição dos frigoríficos no Paraná. 1999................................................................ 113Figura 2.30. Trânsito de bovinos. Paraná, 1997 ................................................................................. 115Figura 2.31. Distribuição dos frigoríficos em São Paulo.................................................................... 119Figura 2.32. Trânsito de bovinos. São Paulo, 1997 ............................................................................ 121Figura 2.33. Trânsito de bovinos. Tocantins, 1997............................................................................. 123Figura 3.1. Localização geográfica de Mato Grosso do Sul ............................................................. 128
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Figura 3.2. Recursos naturais de Mato Grosso do Sul ...................................................................... 145Figura 3.3. Subcadeias da distribuição da carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo............. 151Figura 3.4. Subcadeia A da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo .......... 152Figura 3.5. Subcadeia B da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo........... 157Figura 3.6. Subcadeia C da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo........... 160Figura 3.7. Bacias da pecuária de corte de Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e
capacidades de abate por dia. 1999 ................................................................................ 168Figura 3.8. Subcadeias da indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul ........................................... 172Figura 3.9. Características da subcadeia A da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e
distribuição em São Paulo .............................................................................................. 173Figura 3.10. Características da subcadeia B da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e
distribuição em São Paulo .............................................................................................. 174Figura 3.11. Características da subcadeia C da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e
distribuição em São Paulo .............................................................................................. 175Figura 3.12. Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços
médios da terra. 1999 ..................................................................................................... 197Figura 3.12. Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços
médios da terra. 1999 ..................................................................................................... 222Figura 4.2. Safra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense.
Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Janeiro de 1999........... 223Figura 4.3. Entressafra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-
grossense. Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Setembro de 1999 ........................................................................................................................... 224
Figura 4.4. Manejo do complexo solo-planta-animal, suas inter-relações e seus efeitos sobre a sustentabilidade do sistema de produção........................................................................ 231
Figura 4.5. Análise da competitividade da agroindústria brasileira. A definição de um cluster....... 235Figura 4.6. Análise da competitividade da agroindústria brasileira: Etapas de desenvolvimento
de um cluster .................................................................................................................. 237Figura 4.7. Análise da competitividade da agroindústria brasileira: a concepção do
desenvolvimento integrado do cluster ............................................................................ 238Figura 4.8. A cadeia produtiva da carne bovina e a atual estrutura burocrática institucional........... 245Figura 4.9. Conselho da cadeia produtiva da carne bovina .............................................................. 246 GRÁFICOS Gráfico 1.1. Locais de venda da carne bovina na cidade de São Paulo.............................................. 8Gráfico 1.2. Variação de abate, 1990-2000 ........................................................................................ 16Gráfico 1.3. Evolução do rebanho bovino, 1991-1999....................................................................... 17Gráfico 2.1. Rebanho bovino brasileiro, por região. 2000 ................................................................. 45Gráfico 2.2. Focos de febre aftosa. Brasil, 1990-1999 ....................................................................... 67Gráfico 2.3. Evolução da saída de bovinos de Mato Grosso do Sul com destino a São Paulo.
1996-98........................................................................................................................... 108Gráfico 3.1. Terras de pastagens. Preços médios de Mato Grosso do Sul. 1991-99 .......................... 199Gráfico 3.2. Terras de pastagens. Preços médios na Região Centro-Oeste. 1991-99......................... 199Gráfico 3.3. Variação dos preços em dólares das terras de pastagem no Brasil. 1998-99.................. 200Gráfico 3.4. Agregação de valor anual ............................................................................................... 214Gráfico 3.5. Lucro anual por fases de produção e grau tecnológico .................................................. 214Gráfico 3.6. Margem bruta anual por fase de produção e grau tecnológico....................................... 215Gráfico 3.7. Taxa interna de retorno por fase de produção e grau tecnológico anual ........................ 215
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QUADROS Quadro 2.1. Atributos considerados para classificação das unidades federativas em seis níveis de
risco. 1996 ...................................................................................................................... 64Quadro 2.2. Classificação das unidades da federação segundo o risco de febre aftosa. Novembro
de 2000 ........................................................................................................................... 65Quadro 3.1. Novos tempos na pecuária de corte brasileira ................................................................ 196 TABELAS Tabela 1.1. A bovinocultura de corte no Brasil................................................................................. 12Tabela 1.2. Rebanho e abate gado bovino no Brasil, 1999 ............................................................... 14Tabela 1.3. Evolução do rebanho bovino, 1991-1999....................................................................... 17Tabela 1.4. Produção de carne bovina em Mato Grosso do Sul........................................................ 19Tabela 2.1. Rebanho e abate mundial de gado bovino. 1999 ............................................................ 31Tabela 2.2. Efetivo animal das principais espécies suscetíveis à febre aftosa, por região. 1999 ...... 45Tabela 2.3. Área geográfica, total de propriedades com bovinos e população bovina existente
nos Circuitos Pecuários brasileiros. 1998....................................................................... 52Tabela 2.4. Notificações de suspeitas de doenças vesiculares, por regiões geográficas e por
circuitos pecuários. 1995-99........................................................................................... 68Tabela 2.5. Zona Tampão: áreas e efetivos bovinos e suínos em municípios limítrofes à Zona
Infectada e municípios de Mato Grosso do Sul .............................................................. 76Tabela 2.6. Informações sobre área, total de municípios e rebanhos bovino e suíno, Zona Livre
com Vacinação. 1999 ..................................................................................................... 77Tabela 2.7. Indústria frigorífica de carnes na Zona Livre com Vacinação. 1999 ............................. 79Tabela 2.8. Circuito Pecuário Centro-Oeste: informações gerais ..................................................... 84Tabela 2.9. Indicadores básicos da pecuária de corte em Goiás. 1999.............................................. 87Tabela 2.10. Frigoríficos em Goiás. 1999 ........................................................................................... 88Tabela 2.11. Trânsito de animais (entradas e saídas). Goiás, 1997..................................................... 90Tabela 2.12. Indicadores básicos da pecuária de corte de Minas Gerais. 1999................................... 92Tabela 2.13. Frigoríficos de Minas Gerais .......................................................................................... 93Tabela 2.14. Trânsito de animais (entradas e saídas). Minas Gerais, 1997......................................... 95Tabela 2.15. Indicadores básicos da pecuária de corte de Mato Grosso. 1999 ................................... 97Tabela 2.16. Frigoríficos de Mato Grosso. 1999................................................................................. 98Tabela 2.17. Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso, 1997 ......................................... 100Tabela 2.18. Indicadores básicos da pecuária de corte. Mato Grosso do Sul, 1999............................ 102Tabela 2.19. Frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999 .................................................................... 104Tabela 2.20. Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso do Sul, 1997 .............................. 106Tabela 2.21. Evolução do trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1996-99 ................................... 106Tabela 2.22. Trânsito de bovinos com origem em Mato Grosso do Sul e destino a São Paulo.
1996-98........................................................................................................................... 107Tabela 2.23. Indicadores básicos da pecuária de corte. Paraná, 1999................................................. 111Tabela 2.24. Frigoríficos do Paraná. 1997 .......................................................................................... 112Tabela 2.25. Trânsito de animais (entradas e saídas). Paraná, 1997 ................................................... 114Tabela 2.26. Indicadores básicos da pecuária de corte de São Paulo. 1999........................................ 116Tabela 2.27. Frigoríficos de São Paulo. 1999 ..................................................................................... 117Tabela 2.28. Trânsito de animais (entrada e saída). São Paulo, 1997 ................................................. 120Tabela 2.29. Trânsito de animais (entradas e saídas). Tocantins, 1997 .............................................. 122Tabela 2.30. Entrada de bovinos em DF, GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da
Zona Livre com Vacinação. 1997 .................................................................................. 125Tabela 2.31. Entrada de bovinos em GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da Zona 125
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Livre com Vacinação. 1998............................................................................................Tabela 3.1. Setor frigorífico de Mato Grosso do Sul. 1999 .............................................................. 170Tabela 3.2. Classificação dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul ................................................... 171Tabela 3.3. Comparações entre os estados produtores de carne bovina do Circuito Pecuário
Centro-Oeste................................................................................................................... 191Tabela 3.4. Terras de pastagem brasileiras. Preços médios anuais em dólares. 1991-99.................. 201Tabela 3.5. Custos de produção em propriedade sul-mato-grossense de nível tecnológico médio.
Fase de produção: cria .................................................................................................... 212
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1
CAPÍTULO 1
CONTEXTUALIZAÇÃO E OBJETIVOS DA PESQUISA
1. INTRODUÇÃO
A pecuária bovina de corte brasileira formou-se e desenvolveu-se ao longo da
história do país com base na ocupação territorial das diversas regiões, como forma de
abastecer os centros consumidores constituídos pelos centros urbanos em surgimento e
desenvolvimento.
No século XX, a região Sudeste passou a se constituir no principal centro
econômico do país, demandando, de diversas regiões, mercadorias diversas, dentre as
quais os derivados da carne.
No caso da carne, verificou-se inicialmente uma estruturação da indústria
frigorífica, concentrada especialmente no estado de São Paulo, o maior centro
consumidor do país. A região Centro-Oeste, dada a abundância e preço mais acessível
da terra, constituía-se na principal fornecedora de animais para abate em São Paulo.
As transformações atuais da bovinocultura de corte brasileira estão
preponderantemente afeitas às questões sanitárias, mas não se restringem elas. Na
verdade, com a abertura dos mercados, a reestruturação alcança inúmeros setores da
economia brasileira. No caso da bovinocultura, as alterações envolvem desde o acesso a
insumos importados, trazendo maior modernidade da porteira para dentro, quanto
questões macroeconômicas. De fato, a partir de 1994, com o Plano Real, a redução do
processo inflacionário tornou mais transparentes os ganhos efetivamente operacionais
da atividade pecuária.
No campo das transformações cabe destacar, ainda, a reestruturação espacial
que atingiu a atividade, com o deslocamento crescente das principais plantas do
Sudeste, e/ou partes delas, para as regiões produtoras, especialmente a Centro-Oeste,
configurando uma reestruturação espacial-produtiva.
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Consideram-se também, neste trabalho, as novas exigências de padronização
exigidas pelo mercado internacional de carnes, tanto in natura, quanto industrial. Leva-
se em conta, além disso, teorias e/ou abordagens que se constituem em contribuições
marcantes para a compreensão e desenvolvimento da bovinocultura de corte brasileira.
Nos anos 90 percebemos um intenso deslocamento da indústria frigorífica para
a região Centro-Oeste, fato que vem alterando sobremaneira a regionalização da
atividade pecuária brasileira.
O rebanho bovino brasileiro é estimado pelo IBGE em 165 milhões de cabeças.
Embora o maior rebanho comercial do mundo, este teve, historicamente, sua produção
preponderantemente voltada para o mercado interno, com inserções inexpressivas no
mercado externo. Constitui-se numa cadeia produtiva estruturada a partir das demandas
do mercado interno.
Hoje, no entanto, através do Programa Nacional de Erradicação da Febre
Aftosa do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAA), o Brasil busca
preparar seu rebanho para a obtenção da Certificação de Zona Livre de Aftosa, fato que
permitirá o acesso aos mercados internacionais de forma mais efetiva e definitiva,
trazendo maiores lucros e dividendos. A previsão é de que o Brasil venha ser
considerado em sua totalidade como país da Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação
até 2005, e sem vacinação até 2010. Com um rebanho 157 milhões de cabeças
ingressando no mercado internacional com Certificação de Zona Livre de Febre Aftosa,
o país passará a representar quase 40% do rebanho mundial (de 400 milhões de cabeças)
certificado como livre de febre aftosa, com grandes vantagens comparativas em relação
aos principais países produtores, entre os quais se destacam Estados Unidos, Austrália,
Nova Zelândia e Argentina.
Entretanto, pelo fto de nossa cadeia produtiva da pecuária de corte haver-se
estruturado para o mercado interno, sem muitas preocupações competitivas, apresenta-
se ela relativamente desintegrada e descoordenada, o que aumenta sobremaneira os
custos de produção e transação, acarretando elevados ônus ao consumidor final e, em
conseqüência, aos agentes envolvidos nessa cadeia.
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Mato Grosso do Sul, além de contar com o maior rebanho de gado de corte do
país, é o segundo maior produtor de carne bovina do Brasil e o primeiro fornecedor de
carne com Sistema de Inspeção Federal (SIF) para o estado de São Paulo. Em 1999, os
cinco maiores frigoríficos exportadores do país estavam presentes em seu território.
Frente a esse quadro e diante da necessidade de aumentar os índices de
produtividade e competitividade da cadeia produtiva da bovinocultura sul-mato-
grossense, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, através de sua Secretaria de
Fazenda, contratou junto ao Departamento de Economia e Administração (DEA) da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) um diagnóstico e análise que
permitam dar subsídios a uma política pública para a cadeia produtiva da pecuária de
corte estadual.
2. CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE BRASILEIRA
A análise, baseada na metodologia das cadeias de produção, permitirá ver o
comportamento das atividades envolvidas nas diversas etapas da cadeia produtiva,
demonstrando os vários entrelaçamentos entre produtores e consumidores. No caso da
carne bovina, temos, entre os agentes mais expressivos: a produção de insumos, os
produtores de bovinos, os abatedouros e frigoríficos e a rede atacadista e varejista.
A Figura 1.1 ilustra os principais elos da cadeia produtiva da carne bovina.
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Figura 1.1 – Cadeia produtiva da carne bovina.
Fonte: BATALHA e SILVA (1999b).
FATORES SOCIAIS
FATORES INSTITUCIONAIS
FATORES TECNOLÓGICOS
FATORES AMBIENTAIS
FLU
XO
FIN
AN
CEI
RO
FATORES LEGAIS
MECANISMOS DE
COORDENAÇÃO
FATORES DE INFRA-
ESTRUTURA
FATORES ECONÔMICOS
FLU
XO
FÍSI
CO
FLU
XO
DE
INFO
RM
AÇ
ÃO
PRODUÇÃODE INSUMOS
MERCADO
PROD. DE MATÉRIA-
PRIMA
MERCADO
AGRO- INDÚSTRIA
MERCADO
DISTRIBUIÇÃO
CONSUMIDORFINAL
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2.1. CONCEITO DE CADEIA PRODUTIVA
Várias abordagens têm sido utilizadas para a análise das atividades econômicas
e para a definição de políticas públicas e privadas pertinentes.
A maioria delas, contudo, concentra seus esforços em uma análise pontual dos
diversos fatores que condicionam as questões relativas a uma maior competitividade das
atividades econômicas, sem porém proporcionar uma visão mais ampla e completa.
Este projeto propõe-se a utilizar como ferramental de análise o conceito de
cadeia produtiva, tradicionalmente utilizado na análise de complexos alimentares, para
dar subsídios à elaboração de políticas (públicas ou privadas), no âmbito de uma visão
sistêmica e integrada para Mato Grosso do Sul.
A análise de cadeias de produção é uma das ferramentas privilegiadas da escola
francesa de economia industrial. BATALHA1 “Embora o conceito de filière não tenha
sido desenvolvido especificamente para estudar a problemática agroindustrial, foi entre
os economistas agrícolas e pesquisadores ligados aos setores rural e agroindustrial, que
ele encontrou seus principais defensores”. MORVAN2, procurando sintetizar e
sistematizar essas idéias, considerou três séries de elementos que estariam
implicitamente ligados a uma visão sobre cadeia de produção:
a) A cadeia de produção é uma grande sucessão de operações de transformação
dissociáveis, capazes de serem separadas e ligadas entre si por um encadeamento
técnico.
b) A cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e financeiras
que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, de
montante a jusante, entre fornecedores e clientes.
c) A cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que presidem a valoração
dos meios de produção e que asseguram a articulação das operações. De maneira
geral, uma cadeia de produção agro-industrial pode ser segmentada, de jusante a
1 BATALHA, Mário O. (Coord.) Gestão agroindustrial. São Paulo: Atlas, 1997. 2 MORVAN, Y. Fondements d'Economie Industrielle. Paris: Economica, 1988.
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montante, em três macrossegmentos. Em muitos casos práticos, os limites dessa
visão não são facilmente identificáveis. Além disso, essa divisão pode variar muito
segundo o tipo de produto e o objetivo da análise. Os três macrossegmentos
propostos são a comercialização, a industrialização e a produção de matérias-
primas:
• A comercialização é representada pelas empresas que estão em contato com o
cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos
produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, cantinas etc.). Podem ser
incluídas neste macrossegmento as empresas responsáveis somente pela logística de
distribuição.
• A industrialização é constituída pelas firmas responsáveis pela transformação das
matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor, o qual pode ser uma
unidade familiar ou outra agroindústria.
• A produção de matérias-primas reúne as firmas e produtores rurais que fornecem as
matérias-primas iniciais para que outras empresas avancem no processo de produção
do produto final (agricultura, pecuária, pesca, piscicultura etc.).
Um dos principais aspectos assumidos pelo modelo apresentado é o caráter
mesoanalítico e sistêmico dos estudos em termos de cadeia de produção, que leva em
conta a intermediação entre os diversos agentes que compõem a cadeia, bem como uma
análise que identifique sua dinâmica.
A mesoanálise encontrou nos economistas industriais seus principais
defensores e utilizadores. Ela foi proposta para preencher a lacuna existente entre os
dois grandes corpos da teoria econômica: a microeconomia, que estuda as unidades de
base da economia (a empresa, o consumidor etc.) — que utiliza as partes para explicar o
todo —, e a macroeconomia, que parte do todo (o Estado, os grandes agregados etc.)
para explicar o funcionamento das partes. Nesse sentido, um enfoque mesoanalítico
permite dar respostas às questões sobre o processo de adoção de políticas ambientais
por parte das empresas, bem como sobre o processo de regulamentação específica por
parte do poder público.
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PRINCIPAIS APLICAÇÕES DO CONCEITO DE CADEIA DE PRODUÇÃO
A literatura aponta quatro principais utilizações para o conceito de cadeia de
produção:
a) a formulação e análise de políticas públicas e privadas;
b) ferramenta de descrição técnico-econômica;
c) metodologia de análise do comportamento das empresas;
d) ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisões
tecnológicas.
Segundo PINAZZA e ALIMANDRO3, “A tomada do fio condutor está nos
elos da cadeia mais próximos dos consumidores finais, onde há maior facilidade e
sensibilidade para captar volatilidade de seus desejos e preferências. São os pontos que
sinalizam o início do caminho a ser percorrido.” (PINAZZA e ALIMANDRO, 1999a, p.
32).
AS CADEIAS DE PRODUÇÃO COMO FERRAMENTAS DE DESCRIÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA
A cadeia de produção como conjunto de operações técnicas constitui a
definição mais imediata e mais conhecida do conceito. Esse enfoque consiste em
descrever as operações de produção responsáveis pela transformação da matéria-prima
em produto acabado. Segundo essa lógica, uma cadeia de produção se apresenta como
uma sucessão linear de operações técnicas de produção e distribuição.
Cabe ressaltar que a leitura tecnológica da cadeia produtiva pode apontar
vários elementos de caráter operacional em relação direta com as questões referentes ao
meio ambiente. Tais elementos devem ser constantemente monitorados, tanto pelas
3 PINAZZA, Luiz A.; ALIMANDRO, Regis. Impacto das revoluções tecnológicas na agricultura. In: PINAZZA, Luiz A.; ALIMANDRO, Regis. (Orgs.) Reestruturação no agribusiness brasileiro: agronegócios no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Abag, Agroanalysis/Fundação Getúlio Vargas, 1999.
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empresas como pelo governo e sociedade, de forma a assegurar sua interação
harmoniosa com o meio ambiente.
Destacamos que a metodologia de análise baseada nas cadeias produtivas
pauta-se de forma crescente numa importância cada vez maior do papel dos
consumidores, que se tornam cada vez mais exigentes, fazendo-se expressar
especialmente a partir dos supermercados ou nas chamadas boutiques de carnes.
No Gráfico 1.1 evidencia-se que 53% do comércio de carnes do país já é
realizado em híper e supermercados, com tendência ao crescimento, sobretudo pela
aumento constante da importância pelas grandes redes de supermercados. Os açougues,
que no passado praticamente dominavam a comercialização de carnes para os
consumidores finais, tendem cada vez mais à especialização, não mais se restringindo à
simples desossa e comercialização de carnes, mas ampliando tais atividades de forma
mais seletiva e segmentada junto aos consumidores.
Gráfico 1.1 – Locais de venda da carne bovina na cidade de São Paulo.
Fonte: BUSO, 2000.
44%
41%
9% 2% 4% 1%
Supermercado Açougues Hipermercados Mercadinhos Mercado Outros
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2.2. IMPORTÂNCIA DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA
A cadeia produtiva da pecuária de corte bovina brasileira é uma das mais
complexas quanto à estruturação e aos agentes envolvidos, cumprindo ao longo da
história e do desenvolvimento brasileiros um papel fundamental, abastecendo sobretudo
os centros urbanos em formação nas diversas regiões do país.
As variáveis descritas a seguir, apesar do lapso de tempo decorrido desde seu
levantamento, dão indicativos claros da importância dessa cadeia para a economia
brasileira. A tendência é que tal cadeia tenha importância cada vez mais crescente em
nossa economia, a partir de uma maior agregação de valor interna. De acordo com
LAZZARINI e MACHADO FILHO4: “Toda esta cadeia produtiva, ou toda esta miríade
de cadeias, contribuiu, em 1992, com cerca de 30 bilhões de dólares ao PIB brasileiro.
Um razoável montante, envolvendo um sem-número de empresas e uma fatia
considerável da força de trabalho brasileira. Ao todo, são 900 mil pecuaristas de gado de
corte, ocupando 221 milhões de hectares e comportando um rebanho de 146 milhões de
cabeças; 742 indústrias de carnes e derivados; 99 indústrias de armazenagem; 55 mil
estabelecimentos no comércio varejista de carnes; 4 150 indústrias de calçados, só para
citar alguns agregados. Todas estas empresas empregaram, em 1993, cerca de 6,8
milhões de pessoas5”.
Analisando o desenvolvimento histórico da pecuária no Brasil, veremos que só
em poucas exceções ou momentos de crise internacional a carne brasileira alcançou de
forma significativa os mercados internacionais. De forma geral, a cadeia produtiva da
carne bovina esteve restrita ao mercado interno. Diversos determinantes podem explicar
tal processo, dentre os quais o modo de ocupação do território, a formação de grandes
regiões produtoras vinculadas ao mercado interno como fornecedoras — no início, de
charque para núcleos urbanos em formação e, posteriormente, de gado em pé para abate
nas regiões próximas aos centros urbanos.
4 LAZZARINI, Sérgio G.; MACHADO FILHO, Cláudio P. Sistema agroindustrial da carne bovina no Brasil: tendências para o próximo século. In: Revista Brasileira de Administração Contemporânea, 1 (10), 1995, ANPAD, p. 279.
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MAMIGONIAM6 ao abordar o processo de desenvolvimento da pecuária na
região Centro-Oeste demonstra a lógica voltada para o mercado interno: “A abertura das
fazendas de criação no sul de Mato Grosso no século XIX esteve ligada à expansão de
três áreas pecuárias distintas: norte de Mato Grosso, Minas Gerais e Rio Grande do Sul,
sendo a primeira responsável pelo povoamento do Pantanal, que passou a concentrar 2/3
do rebanho bovino mato-grossense, enquanto as correntes de Minas Gerais e do Rio
Grande do Sul desbravaram o planalto, os mineiros se localizando nos cerrados e os
gaúchos nos campos de Vacaria, no extremo sul” (MAMIGONIAM, 1986, p. 45).
Para o mercado externo, a venda da produção brasileira de carne bovina
sempre foi pouco significativa7. Historicamente, a produção do setor orienta-se
basicamente para o mercado interno. No entanto, dada sua extensão territorial e a
magnitude de seu rebanho, o Brasil, em 1999, foi o terceiro maior exportador de carne,
com 7,8% do comércio mundial, com 541 mil toneladas (carnes in natura e
industrializadas)8. Em 1993, o Brasil já exportava 450 mil toneladas, não tendo havido
portanto uma evolução muito significativa ao longo da última década. As importações
de carne ocorrem para atender a eventuais pressões de demanda, logo com
conseqüências sobre os preços e também por tipos de carnes não existentes no Brasil.
Ainda em termos internacionais, considerando-se o rebanho mundial de um
bilhão de cabeças e um abate estimado de 229 milhões de cabeças, o comércio mundial
de carne bovina deve chegar a somente 10% da produção global9. Com a intensificação
do comércio internacional e as perspectivas de ampliação dos mercados, em especial na
União Européia e Ásia, o Brasil espera ter vantagens comparativas significativas com a
bovinocultura, apesar das novas exigências do mercado. Como colocam DAVIES e
5 Segundo dados de 1993, obtidos de um estudo realizado por várias associações, sindicatos, institutos ligados ao agribusiness da carne e do couro, a partir de uma iniciativa do Conselho Nacional de Pecuária de Corte – CNPC. 6 MAMIGONIAM, Armen. Inserção de Mato Grosso ao mercado nacional e a gênese de Corumbá. GEOSUL, n. 1, p. 39-58, 1. sem. 1986. 7 Somente nos período da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais percebeu-se um maior fluxo comercial com o mercado externo. 8 ANUALPEC, FNP Consultoria & Comércio, São Paulo: Argos, 2000, p. 139. 9 Fontes: FNP, FAO e OIE.
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LESLIE10: “El mercado mundial de carnes tiende a dividirse entre los países
desarrollados que demandan cortes de carne diferenciados por calidad (tanto para la
carne de consumo directo como para fines industriales) y los países en desarrollo donde
el intercambio comercial se realiza mayormente por canales enteras. Los países
desarrollados son en su mayoría libres de fiebre aftosa y cuando se determinan los
efectos de la enfermedad sobre el comercio internacional resulta dificil separar el efecto
de los controles sanitarios de los efectos ocasionados por las políticas destinadas a
proteger la agricultura doméstica, e.g. tarifas, cuotas, intervenciones de compra,
subsidio a exportación y permisos de exportación” (DAVIES e LESLIE, 1996, p. 57).
A Tabela 1.1 apresenta dados gerais da pecuária de corte brasileira, em especial
a taxa de abate, desfrute, consumo, importações e exportações, permitindo observar a
insignificância das exportações em relação ao potencial considerável do mercado
externo.
Nos anos 90, o rebanho permaneceu praticamente estagnado, na faixa de 160
milhões de cabeças, com uma pequena evolução na taxa de abate de 18,2% para 20,1%,
muito aquém da média mundial, situada na faixa dos 30%.
Nosso consumo per capita situa-se hoje na faixa dos 40 kg, abaixo da
Argentina (65 kg) e dos Estados Unidos (43 kg), mas acima de países da União
Européia, como França (27 kg), Alemanha (15 kg) e Reino Unido (16 kg). No caso do
Brasil, a estabilidade econômica ou mesmo um pequeno aumento da renda das classes
mais baixas tornam-se perceptíveis no consumo de carnes.
Observou-se na última década uma certa estabilidade nos preços pagos por
arroba ao produtor, na faixa de US$ 20,00 a US$ 22,00.
10 DAVIES, G.; LESLIE, J. El impacto de la fiebre aftosa sobre el comercio y la economía mundial. In Conferencia internacional sobre perspectivas para la erradicacón de la fiebre aftosa en el siguiente milenio y su impacto en la seguridad alimentaria y el comercio: enfoque en las Américas. Brasília: OPS/OMS, FAO, OIE, 1996.
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Tabela 1.1 – A bovinocultura de corte no Brasil.
ANO 1991 1993 1995 1997 1999
REBANHO
Cabeças (milhões) 155,3 152,1 153,4 151,6 157,0
Produção de bezerros (milhões de cabeças) 31,0 29,9 33,0 32,2 34,8
PRODUÇÃO/ABATE
Cabeças (milhões) 28,2 29,7 31,6 31,2 31,6
Matrizes (%) 43,8% 48,1% 44,6% 44,8% 41,6%
Produção (milhares de toneladas em equivalentes-carcaça) 5 812 6 011 6 467 6 411 6 522
Taxa de abate (%) 18,2% 19,5% 20,6% 20,6% 20,1%
CONSUMO INTERNO
Milhares de toneladas em equivalentes-carcaça 5 585 5 608 6 301 6 236 6 023
Per capita (kg/hab./ano) 38,0 37,2 40,7 39,2 36,9
Porcentagem da produção 96,1% 93,3% 97,4% 97,3% 92,3%
EXPORTAÇÃO
Milhares de toneladas em equivalentes-carcaça 335 451,0 287,0 287,0 541,0
Valor (US$ milhares) 432 617 572 900 473 652 428 112 761 941
Porcentagem da produção 5,8% 7,5% 4,4% 4,5% 8,3%
IMPORTAÇÃO
Milhares de toneladas em equivalentes-carcaça 108 48 121 112 42
Valor (US$ milhares) 117 600 44 000 169 585 196 553 71 128
Porcentagem da produção 1,9% 0,8% 1,9% 1,7% 0,6%
ENGORDA INTENSIVA
Confinamento (milhares de cabeças) 785 810 1 240 1 590 1 555
Semiconfinamento (milhares de cabeças) 175 355 715 1 315 1 535
Pastagem de inverno (milhares de cabeças) 555 895 1 350 1 055 1 140
Total (milhares de cabeças) 1 515 2 060 3 305 3 960 4 460
PREÇO AO PRODUTOR
US$/arroba, São Paulo 20,1 20,9 26,2 24,4 18,6
POPULAÇÃO BRASIL
Milhões de habitantes 146,8 150,8 154,9 159,1 163,2
Fonte: FNP (2000) e IBGE.
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2.3. REBANHO E ABATE DE GADO BOVINO NO BRASIL
As alterações ocasionadas pela fertilidade do solo e preço da terra e mesmo as
condições das pastagens, juntamente com as readequações nas relações da cadeia
produtiva, fizeram com que o rebanho brasileiro ficasse relativamente estagnado em
tamanho, embora sua distribuição regional tenha se alterado.
A análise da distribuição regional do rebanho e abate denota uma maior
concentração do rebanho na região Centro-Oeste e, a partir de meados dos anos 90,
também uma maior concentração do abate nessa região.
Observa-se, assim, que as regiões Norte e Centro-Oeste do país concentram
47% do rebanho nacional, com praticamente 73 milhões de cabeças, constituindo as
regiões onde se encontram os maiores índices de crescimento desse rebanho. O rebanho
de São Paulo e do Rio Grande do Sul, históricos e tradicionais produtores da
bovinocultura de corte brasileira, estão relativamente estagnados ou mesmo em redução.
As altas de taxas de abate apresentadas por estados como São Paulo e Rio de
Janeiro devem-se ao fato de serem eles importadores de animais vivos de outras regiões
para engorda ou até mesmo para abate, o que faz seus índices de abate elevarem-se
muito acima da média nacional.
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Tabela 1.2 – Rebanho e abate gado bovino no Brasil, 1999.
Rebanho* Abate Regiões/Estados
Cabeças % Cabeças % **Taxa de abate
Norte 20 739 346 13,21% 2 846 149 9,00% 13,72%
RO 4 866 865 3,10% 649 904 2,06% 13,35%
AC 1 604 925 1,02% 135 962 0,43% 8,47%
AM 872 873 0,56% 411 583 1,30% 47,15%
RR 1 091 745 0,70% 68 392 0,22% 6,26%
PA 6 556 807 4,18% 901 076 2,85% 13,74%
AP 93 980 0,06% 10 600 0,03% 11,28%
TO 5 652 151 3,60% 668 632 2,11% 11,83%
Nordeste 23 860 476 15,20% 5 658 925 17,90% 23,72%
MA 4 365 902 2,78% 579 505 1,83% 13,27%
PI 1 723 482 1,10% 244 780 0,77% 14,20%
CE 2 415 383 1,54% 650 334 2,06% 26,92%
RN 996 421 0,63% 158 280 0,50% 15,88%
PB 1 332 300 0,85% 221 505 0,70% 16,63%
PE 2 003 488 1,28% 765 376 2,42% 38,20%
AL 994 874 0,63% 176 720 0,56% 17,76%
SE 939 459 0,60% 160 700 0,51% 17,11%
BA 9 089 167 5,79% 2 701 725 8,54% 29,72%
Sudeste 34 527 380 21,99% 8 261 166 26,12% 23,93%
MG 18 778 078 11,96% 2 809 787 8,89% 14,96%
ES 1 582 662 1,01% 365 434 1,16% 23,09%
RJ 1 471 719 0,94% 533 875 1,69% 36,28%
SP 12 694 921 8,09% 4 552 070 14,40% 35,86%
Sul 24 756 256 15,77% 5 944 403 18,80% 24,01%
PR 9 602 782 6,12% 2 293 832 7,25% 23,89%
SC 3 672 421 2,34% 883 817 2,79% 24,07%
RS 11 481 053 7,31% 2 766 754 8,75% 24,10%
Centro-Oeste 53 109 110 33,83% 8 911 218 28,18% 16,78%
MS 20 339 925 12,96% 3 184 109 10,07% 15,65%
MT 15 639 998 9,96% 2 643 846 8,36% 16,90%
GO 16 999 199 10,83% 3 014 709 9,53% 17,73%
DF 129 988 0,08% 68 554 0,22% 52,74%
Total 156 992 568 100,00% 31 621 861 100,00% 20,14%
* Efetivo do rebanho existente em 31 de dezembro de 1999. Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento. ** O cálculo da taxa de abate considerou não somente os animais produzidos dentro dos estados como também aqueles que ingressam de outros estados com destino ao abate. Fonte: FNP (estimativa), apud Anualpec (2000).
A conclusão preliminar torna-se mais transparente quando se analisa a do abate
entre 1990-1999 e se verifica que os índices de crescimento mais expressivos são os dos
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estados da Região Centro-Oeste, com destaque para Mato Grosso do Sul (17%), Mato
Grosso (77%) e Goiás (30%%). Tais índices de crescimento, quando comparados com
os de outros estados — especialmente São Paulo (7%) —, colaboram com uma maior
capacidade de abate instalada do Brasil (20%) e reafirmam o desenvolvimento da região
Centro-Oeste, que atrai não somente as fases de produção, mas também a de abate.
Após o intenso deslocamento do abate para as Regiões Centro-Oeste e Norte,
coube a São Paulo, num primeiro momento, um papel maior na desossa e na
distribuição, embora essa tendência venha sendo alterada pelos desdobramentos da
Portaria 14511, de 1º de setembro de 1998, versando sobre distribuição de carnes bovina
e bubalina no comércio de distribuição e varejistas, fazendo com que as próprias regiões
que abatem já realizem a desossa, que hoje é efetuada pelos distribuidores. A
consolidação dessa tendência verificou-se a partir das restrições impostas pelas
exigências sanitárias, quando o principal estado fornecedor, Mato Grosso do Sul
(incluído na Zona Tampão), passou a ter de enviar sua carne desossada para São Paulo
(Zona Livre), o que obrigou os locais de abate a realizarem a desossa.
11 A Portaria 145 exige que os frigoríficos, ao abaterem, já realizem a desossa. Essa portaria, embora editada em 1998, está entrando em vigor gradativamente a partir das maiores regiões metropolitanas do país.
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Gráfico 1.2 – Variação de abate, 1990-2000.
Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC 2000.
O Gráfico 1.2 ilustra a tendência de deslocamento da indústria frigorífica para
as regiões produtoras (Centro-Oeste e Norte), evidenciada pelo crescimento nos estados
de Rondônia (195%), Mato Grosso (92%), Goiás (29%) e Mato Grosso do Sul (67%)
entre os anos de 1990 a 1999. No mesmo período, o estado de São Paulo, onde ainda se
encontra a maior capacidade instalada da indústria frigorífica, cresceu somente 7%. O
abate acima expresso inclui, além do realizado sob SIF, aquele sob outras formas de
inspeção e mesmo o clandestino estimado. Se considerarmos somente o abate com SIF,
os índices de crescimento são superiores aos citados.
3. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DA PECUÁRIA DE MATO GROSSO DO SUL
Mato Grosso do Sul é um estado cuja a história e a economia apresentam-se
diretamente relacionadas com a bovinocultura de corte. A pecuária bovina do estado
conta atualmente com um efetivo bovino de 20 milhões cabeças, estagnado ao longo dos
anos 90. Tal situação pode ser explicada por diversos fatores, que serão analisados no
195%
92%67%
29%7%
0%
50%
100%
150%
200%
250%
RO MT MS GO SP
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decorrer desta pesquisa, com destaque para os preços das terras, as práticas de produção
antiquadas, a degradação das pastagens e a falta de uma política pública global para a
cadeia produtiva sul-mato-grossense.
Tabela 1.3 – Evolução do rebanho bovino, 1991-1999.
Estados 1991 1993 1995 1997 1999 Acréscimo
ou decréscimo no período
RO 2 995 308 3 419 673 3 900 433 4 224 138 4 666 865 56%
MT 11 200 909 12 655 183 14 241 168 14 702 719 15 539 678 39%
SP 12 344 014 12 362 028 12 474 270 12 317 098 12 699 721 3%
PR 9 624 020 9 744 721 9 877 517 9 587 113 9 812 703 2%
MS 20 325 980 20 388 793 19 823 567 19 041 141 20 032 867 –1%
GO 16 915 179 16 860 703 16 550 319 15 833 825 16 556 150 –2%
MG 22 220 510 20 600 653 20 026 964 19 139 181 19 778 078 –11% Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC 2000.
Gráfico 1.3 – Evolução do rebanho bovino, 1991-1999.
Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC 2000.
39%
3% 2%
-2%-1% -11%
56%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
RO MT SP PR MS GO MG
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Na Tabela 1.3 e no Gráfico 1.3, observamos que o crescimento da
bovinocultura de corte brasileira é significativo nos estados de Mato Grosso (39%) e
Rondônia (56%), sobretudo devido aos preços das terras e pela fertilidade das terras
novas preparadas para a ocupação com a bovinocultura de corte. Em Goiás, Mato
Grosso do Sul e mesmo Minas Gerais (Triângulo Mineiro), há possibilidades de
crescimento da atividade através do aumento dos rebanhos, mas com novas técnicas de
produção de gerenciamento da propriedade, como vamos detectar nesta pesquisa.
A bovinocultura praticada em Mato Grosso do Sul é bem heterogênea. De um
lado, tem-se a prática da criação intensiva, com bom nível tecnológico e alta
produtividade, mas com ela coexiste a criação extensiva, bastante primitiva, que
historicamente desenvolveu-se no Pantanal, onde, devido às condições geográficas
(cheias do Rio Paraguai e de vegetação) não recebeu alterações tecnológicas
significativas ao longo dos anos.
Os frigoríficos consolidaram-se significativamente no estado nos últimos anos,
especialmente os de São Paulo e Paraná, sobretudo por buscarem proximidade com a
matéria-prima e diminuição dos custos de transporte (em termos do frete e do desgaste
dos animais). Os números relativos ao abate de bovinos sob inspeção federal em Mato
Grosso do Sul são ilustrativos de tal movimento: entre os anos de 1975 e 1996 houve
um aumento de aproximadamente 900%; em números absolutos, houve um salto de
270 000 abates para 3 022 54612.
Os 33 frigoríficos existentes em abril de 2000 no estado encontram-se bem
distribuídos, favorecendo a realização e interiorização de todas as fases da produção
bovina. Esse quadro apresenta uma capacidade de abate de bovinos na faixa de 15 000
cabeças por dia, e os frigoríficos têm capacidade de desossa instalada. Enfatiza-se que a
capacidade de realização de desossa passou a ser, a partir de dezembro de 1999,
condição necessária para o envio da carne de Mato Grosso do Sul para São Paulo, o
principal mercado do produto.
12 Fonte: SIPA/DFA/MS, 2000.
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Tal capacidade instalada permitiria a Mato Grosso do Sul abater 4,5 milhões de
cabeças por ano, logo muito acima das 3,2 milhões abatidas em 1999. A indústria
frigorífica sul-mato-grossense, portanto, atua com aproximadamente 30% de capacidade
ociosa, mesmo com os recordes de abates verificados no primeiro semestre de 2000,
quando o abate médio mensal ficou situado na faixa de 220 mil cabeças por mês, acima
do abate médio mensal do ano de 1999.
Tabela 1.4 – Produção de carne bovina em Mato Grosso do Sul.
1991 1993 1995 1997 1999
541 634 613 482 670 986 647 576 648 218
Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC (2000).
3.1. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Mato Grosso do Sul ainda não tem identificados, de forma multidisciplinar, os
agentes econômicos e as atividades desenvolvidas pela cadeia produtiva da carne
bovina. Tal deficiência dificulta o estabelecimento de políticas eficientes públicas e
privadas, adequadas ao desenvolvimento sustentável e competitivo do estado e da
região.
JUSTIFICATIVAS
Desde sua criação, Mato Grosso do Sul não foi contemplado com um
planejamento sócio-econômico de longo prazo. A cada governo alteraram-se as políticas
de desenvolvimento e a priorização de obras, sem a preocupação com os efeitos que isso
pudesse trazer aos recursos naturais e, conseqüentemente, ao futuro da sociedade e da
atividade econômica do estado.
São diversas as razões que levam a essa falta de planejamento. Dentre elas,
destacam-se o desconhecimento da importância do planejamento quando exercido de
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maneira abrangente, e a falta quase absoluta de estudos econômicos e sociais sobre a
realidade estadual.
A economia de Mato Grosso do Sul baseia-se preponderantemente na pecuária
bovina de corte, atividade que deve receber, portanto, especial ênfase no planejamento
estadual.
Assim sendo, torna-se evidente a importância do conhecimento consistente e
sistemático sobre a cadeia produtiva da carne bovina no estado. Dada a complexidade e
o caráter sistêmico de tais estudos, a cadeia deve ser analisada sob seus aspectos
tecnológicos, sociais, econômicos e administrativo-gerenciais, determinantes da
competitividade da produção. Devem ser consideradas, inclusive, as grandes obras de
engenharia com influência direta na região (hidrovias, gasoduto, ferrovias), que estão
alterando a dinâmica da economia regional.
OBJETIVOS
O objetivo do presente estudo é oferecer ao Governo do Estado de Mato
Grosso do Sul e ao país um conjunto de informações para a orientação de políticas
públicas para a cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do Sul.
A análise da cadeia produtiva de carne bovina permitirá a visão global dos
sistemas de produção vigentes em Mato Grosso do Sul e evidenciará pontos que
demandem melhor articulação entre os agentes econômicos privados, o poder público e
os consumidores.
Utilizando-se o conceito de cadeias produtivas, pretende-se produzir um estudo
de base que permita ao Governo Estadual amparar a formulação de uma política pública
de desenvolvimento econômico que contemple as exigências de um mercado
globalizado, de uma sociedade cada vez mais consciente da importância da preservação
dos recursos naturais e mais exigente com relação ao binômio qualidade-preço dos
produtos. Por outro lado, este é um dos principais papéis que a Universidade deve
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desempenhar em sua missão de capacitar recursos humanos, produzir e disseminar
conhecimento para o desenvolvimento do estado e do país.
Objetivos específicos
a) Quantificação do custo da produção do gado bovino (na pecuária intensiva e na
extensiva) com os seguintes detalhamentos: quantificação de insumos, fertilizantes,
adubos, defensivos, máquinas e investimentos, e utilização de mão-de-obra, sendo
esta com o detalhamento de remuneração paga ao mercado rural.
b) Quantificação do custo da indústria da carne e dos subprodutos, com os
detalhamentos de custo de mão-de-obra, com e sem desossa, e rendimento dos
produtos resultantes do abate.
c) Identificação dos valores de comercialização de toda a cadeia produtiva e dos
percentuais de agregação desses valores, durante o período de um ano, a fim de
identificar a sazonalidade do setor.
d) Identificação da taxa de desfrute do gado bovino.
e) Análise da viabilidade econômica e da competitividade do setor.
f) Influência da infra-estrutura da dinâmica do setor.
g) Análise dos aspectos tecnológicos, sociais, econômicos e administrativo-gerenciais
do setor.
h) Identificação de macrocenários para o setor.
i) Orientações quanto à política pública para o desenvolvimento econômico do setor, e
seus reflexos no desenvolvimento do estado.
j) Quantificação dos reflexos econômico-tributários decorrentes das possíveis medidas
a serem implementadas.
k) Assessoria técnica sobre outros dados a serem levantados sobre a pesquisa e o
estudo.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a análise da cadeia produtiva da carne bovina em
Mato Grosso do Sul contou com uma visão sistêmica e multidisciplinar que articulasse
as contribuições advindas das diversas áreas de conhecimento em relação direta com a
cadeia produtiva. Essa abordagem possibilita as diversas leituras pertinentes, dentre as
quais podemos citar: leitura do fluxo produtivo, efetuada especialmente por
engenheiros, agrônomos e administradores; leitura econômica, efetuada por
economistas, administradores etc.; leitura dos impactos ambientais, realizada por
biólogos, agrônomos, engenheiros, químicos e ambientalistas, entre outros.
A pesquisa de fontes primárias foi desenvolvida a partir das informações
diretas obtidas através de entrevistas dirigidas aos principais agentes envolvidos. Estas
foram feitas com questionário estruturado de respostas preponderantemente fechadas.
Como a estrutura da cadeia de produção, processamento e distribuição, foi
analisada segundo os aspectos tecnológicos e econômicos envolvidos, buscou-se obter
elementos relativos às áreas de suprimento, produção, distribuição e análise dos
impactos.
A pesquisa de dados secundários priorizou informações e dados já levantados e
tratados na literatura.
Os impactos foram avaliados mediante o diagnóstico da estrutura de produção,
que tem como objetivo a identificação de incentivos e entraves encontrados na produção
de matérias-primas e no estabelecimento de políticas públicas.
Em um segundo momento, a análise foi estendida para as áreas de
processamento e intermediação comercial, quando foram identificados e analisados os
sistemas operacionais que atuam na interface entre os elementos que compõem a cadeia
produtiva. Neste caso, a coleta de dados deu-se também através de enquetes.
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4. INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) é a executora do
projeto, através e sob responsabilidade do Departamento de Economia e Administração
(DEA). O DEA/UFMS vem buscando maior aproximação com outras universidades,
entidades representativas das indústrias, empresas e instituições de pesquisa, e também
com a sociedade em geral.
Em 1996 o Departamento de Economia e Administração e departamentos
associados concluíram, com êxito, a pesquisa intitulada Plano de Conservação da Bacia
do Alto Paraguai – PCBAP, para o Ministério da Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal, com recursos financiados pelo Banco Mundial.
O Departamento de Economia e Administração vem também consolidando-se
em pesquisas da realidade regional nas mais diversas áreas. Nesse sentido, cabe destacar
as pesquisas: O trânsito de animais e a febre aftosa em Mato Grosso do Sul: uma
análise dos impactos econômicos e O trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito
Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos impactos econômicos.
O Departamento de Economia e Administração, além dos cursos de graduação
em Economia e Administração, desenvolve anualmente cursos de especialização em
Administração Gerencial, Marketing e Gestão de Organizações Públicas.
Para março de 2001 está previsto o início do Curso de Mestrado em
Desenvolvimento Regional.
4.1. INSTITUIÇÕES PARCEIRAS
Esta pesquisa foi realizada através de parcerias com diversas instituições, que
contribuíram em diversos itens do trabalho, bem como em momento distintos. Entre elas
temos: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Delegacia Federal
de Agricultura (DFA), Secretaria de Estado de Fazenda (SEFAZ), Secretaria de Estado
da Produção (SEPRODES), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de
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Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Banco do
Brasil.
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CAPÍTULO 2
BOVINOCULTURA DE CORTE:
REGIÕES PRODUTIVAS E SANITÁRIAS
1. ASPECTOS GERAIS
O desenvolvimento histórico da bovinocultura mundial conformou-se a partir
de regiões, dada a importância do gado como forma de deslocamento e também pela
alimentação e vestuário que seu abate fornece. Tal desenvolvimento ocorreu nas mais
diversas partes do mundo, ocupando e formando regiões. Por séculos, os animais
deslocavam-se sem maior controle e restrições, o que permitiu que a bovinocultura,
tanto de carne quanto de leite, se estendesse por amplas áreas do globo.
De meados do século XIX, considerando a dimensão e importância desses
deslocamentos e o aumento do significado econômico da atividade, as questões
sanitárias passaram a ser razão de preocupação, tanto para a saúde humana, quanto para
o próprio desenvolvimento e manutenção dos rebanhos bovinos.
É importante enfatizar que a expansão da bovinocultura de corte no Brasil se
deu, historicamente, a partir dos centros urbanos, com a ocupação territorial de regiões
próximas. Nos dias atuais, esse movimento permanece, embora com alterações e
complexidades, mas sua lógica é ainda a mesma. A bovinocultura de corte ainda tem a
sua expansão pautada na ocupação de terras, mesmo por que seu caráter é
predominantemente extensivo13.
A esse respeito, ANDRADE enfatiza: “Esta expansão foi muito favorecida
pelas condições naturais e econômicas. Do ponto de vista natural, o clima semi-árido
dificultava a proliferação de verminose e de epizootias; além disso, havia uma pastagem
natural boa para o gado, no período das chuvas, e ‘ilhas’ úmidas nas margens dos rios e
13 Há, em termos internacionais, preferência por animais de corte criados de maneira extensiva, dadas as questões da segurança alimentar relativas as possíveis complicações relacionadas com animais confinados. Veja-se o exemplo da doença da vaca louca na Europa.
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nas serras para onde ele poderia ser levado no período seco. Do ponto de vista
econômico, contavam os pecuaristas com um mercado certo na área agrícola, que seria
abastecido de carne, de couro e de animais de trabalho...” (ANDRADE, 1995, p. 46) 14.
Em outras palavras, de acordo com ASTUDILLO15, as manifestações de febre
aftosa vão ocorrer a partir das formas de organização da produção: “Neste estudo se
propõe uma metodologia para caracterizar o comportamento regional do endemismo da
febre aftosa e das formas de organização da produção pecuária. Apresentam-se
indicadores que vêm sendo desenvolvidos e aperfeiçoados já há algum tempo através de
suas utilizações em estudos concretos. Mostra-se a aplicação de técnicas estatísticas
multivariadas, tanto para delimitar regiões homogêneas como para avaliar a importância
relativa de fatores considerados explicativos. Aplica-se a metodologia à situação da
febre aftosa no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil” (ASTUDILLO, 1984, p. 11).
Na visão de ASTUDILLO há um sistema aberto, composto de aspectos
ecológicos, sociais, econômicos, culturais e técnicos com inter-relações entre si, os
quais se denominam: sistema de organização econômica da produção (subsistema de
sustentação natural, subsistema de fatores produtivos gerados pelo homem e subsistema
de relações de trabalho); sistema de demografia animal (tipos de exploração animal);
sistema ecológico da doença (manifestações ambientais especificas).
Com o propósito de controlar e mesmo erradicar doenças animais,
transmissíveis ou não, conta-se hoje com o Office International des Epizooties (OIE)
[Escritório Internacional de Epizootias]. Esse órgão, vinculado à Organização Mundial
do Comércio (OMC) e a outras instituições internacionais, trata dos aspectos da
sanidade animal em âmbito mundial. O OIE congrega 151 países-membros por adesão
e promove uma reunião anual ordinária em que trata, entre outras questões, da
concessão de certificação a países, regiões e zonas livres de febre aftosa. Cabe-lhe
também informar os governos sobre a presença e evolução de enfermidades animais no
mundo e as formas de combatê-las, coordenar internacionalmente estudos sobre a
14 ANDRADE, Manuel Correia de. A questão do território no Brasil. São Paulo, Hucitec, 1995. 15 ASTUDILLO, V. Formas de organização da produção como determinantes de risco de febre aftosa. A Hora Veterinária, n. 17, jan./fev. 1984.
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vigilância e controle das enfermidades animais e harmonizar as leis dos países membros
quanto à troca internacional de animais e produtos de origem animal.
A Figura 2.1 identifica os países-membros e/ou zonas com certificação
internacional de Zona Livre de Febre Aftosa com e sem Vacinação. Consideram-se os
demais países como infectados.
O rebanho bovino mundial é de um bilhão de cabeças. Destas, 280 milhões
compõem o rebanho indiano, que, por razões culturais e religiosas, não é
comercializável. Em termos comerciais, conta-se assim com 720 milhões de cabeças,
das quais somente 400 milhões apresentam as condições sanitárias propícias ao
comércio internacional, correspondentes à certificação de Zona Livre de Febre Aftosa,
com ou sem Vacinação.
Na América do Sul, cujo rebanho é de 250 milhões de cabeças, Uruguai,
Argentina, Chile, Paraguai, Colômbia e Brasil dispõem de programas que estão
apresentando resultados concretos no controle e erradicação da febre aftosa (Figura 2.2).
No caso do Brasil, é fundamental a aplicação de controle simultâneo nos países
limítrofes, dadas as nossas extensas fronteiras, em sua maioria secas, que abrem a
possibilidade de trânsito de animais sem adequado controle.
28
Figura 2.1 – Classificação de países quanto ao status sanitário concernente à febre aftosa. 2000.
País-membro do OIE, Livre de Febre Aftosa com Vacinação.
País-membro do OIE, Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.
País-membro ou não da OIE, Infectado. País-membro do OIE, com Zonas Livres de Aftosa com e sem Vacinação
Fonte: OIE, 2000.
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Como mostra a Tabela 2.1, as taxas de abate na maioria dos continentes
superam em média 30% do rebanho, enquanto no Brasil essa taxa é de 20%. Isso
evidencia grandes oportunidades de negócios a advirem com a ampliação dos mercados.
Quanto aos preços médios internacionais de 1994-199716, verifica-se uma
variação significativa nas regiões com certificação de Zona Livre de Febre Aftosa, em
especial na União Européia (US$ 39,32), Estados Unidos (US$ 35,32), Argentina (US$
25,65, antes de passar a Zona Livre de Febre Aftosa) e Brasil (US$ 24,85). No Brasil,
conta-se com custos bastante inferiores aos de outros países, devido à abundância de
recursos naturais. A obtenção da certificação possibilitará alcançar preços maiores que
os atuais, e consideravelmente maiores que os hoje praticados no mercado interno, em
que a arroba é paga na faixa de US$ 20,00.
O Brasil é o único país-membro do OIE que obteve certificação de Zona Livre
separada em subzonas dentro do próprio território. Rio Grande do Sul e Santa Catarina
são os dois únicos estados certificados como livres de febre aftosa sem vacinação17,
enquanto São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal
obtiveram a certificação de livres de febre aftosa com vacinação.
16 Fonte: Anualpec, 1998. 17 O recente surgimento (setembro de 2000) de foco de febre aftosa no município de Jóia, RS — que se estendeu a alguns municípios vizinhos, obrigando à eliminação de mais de 20 000 animais infectados —, fez com que Rio Grande do Sul e Santa Catarina perdessem temporariamente essa condição, passando a constituir Zona em Saneamento (classificação não prevista pelas normas do OIE, mas aplicada pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento). Ao transcorrer um ano após a identificação do último foco da doença (normas do OIE), o Ministério pretende solicitar para ambos os estados a certificação de Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. Eventos como esse demonstram a alta velocidade das transformações no setor.
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Figura 2.2 – Classificação de países sul-americanos quanto ao status sanitário concernente à febre aftosa. 2000.
Fonte: OIE, 2000.
Brasil
Guiana Francesa Suriname
Guiana Venezuela
Bolívia
Paraguai
Argentina Uruguai
Ilhas Malvinas
País com regiões livres de febre aftosa com e sem vacinação
País livre de febre aftosa com vacinaçãoPaís livre de febre aftosa sem vacinação País infectado com febre aftosa
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Tabela 2.1 – Rebanho e abate mundial de gado bovino. 1999.
Continentes e países Rebanho
(milhões de cabeças)
% Abate
(milhões de cabeças)
% Taxa de abate
América do Norte 132 568 12,43% 49 350 23,18% 37,23%
Canadá 12 750 1,20% 3 825 1,80% 30,00%
México 23 223 2,18% 8 025 3,77% 34,56%
Estados Unidos 96 595 9,06% 37 500 17,61% 38,82%
Caribe 1 923 0,18% 320 0,15% 16,64%
América Central 7 855 0,74% 1 272 0,60% 16,19%
América do Sul 259 830 24,37% 53 190 24,98% 20,47%
Argentina 49 342 4,63% 13 100 6,15% 26,55%
Brasil1 157 887 14,81% 31 622 14,85% 20,03%
Colômbia 19 111 1,79% 3 698 1,74% 19,35%
Paraguai1 9 890 0,93% 1 320 0,62% 13,35%
Uruguai 10 700 1,00% 1 800 0,85% 16,82%
Venezuela 12 900 1,21% 1 650 0,78% 12,79%
União Européia 80 969 7,59% 27 571 12,95% 34,05%
Áustria 2 150 0,20% 706 0,33% 32,84%
Bélgica 3 150 0,30% 1 050 0,49% 33,33%
Dinamarca 1 960 0,18% 660 0,31% 33,67%
França 19 800 1,86% 5 640 2,65% 28,48%
Alemanha 14 574 1,37% 4 550 2,14% 31,22%
Grécia 666 0,06% 296 0,14% 44,44%
Irlanda 6 980 0,65% 1 939 0,91% 27,78%
Itália 7 280 0,68% 4 400 2,07% 60,44%
Holanda 4 100 0,38% 2 300 1,08% 56,10%
Portugal 1 199 0,11% 455 0,21% 37,95%
Espanha 6 150 0,58% 2 640 1,24% 42,93%
Reino Unido 11 350 1,06% 2 429 1,14% 21,40%
Europa Ocidental2 1 499 0,14% 767 0,36% 51,17%
Europa Oriental 11 626 1,09% 4 504 2,12% 38,74%
Polônia 6 400 0,60% 2 750 1,29% 42,97%
Romênia 3 060 0,29% 832 0,39% 27,19%
FSU 41 200 3,86% 18 555 8,72% 45,04%
Rússia 26 600 2,49% 11 200 5,26% 42,11%
Ucrânia 11 000 1,03% 5 595 2,63% 50,86%
Casaquistão 3 600 0,34% 1 760 0,83% 48,89%
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Oriente Médio 11 550 1,08% 4 254 2,00% 36,83%
Turquia 11 550 1,08% 4 150 1,95% 35,93%
África 19 940 1,87% 4 615 2,17% 23,14%
África do Sul 13 800 1,29% 2 600 1,22% 18,84%
Egito 6 140 0,58% 2 015 0,95% 32,82%
Ásia 462 205 43,35% 36 465 17,13% 7,89%
Índia 312 572 29,32% 12 750 5,99% 4,08%
China 133 000 12,47% 20 000 9,39% 15,04%
Japão 4 600 0,43% 1 315 0,62% 28,59%
Coréia do Sul 2 400 0,23% 1 130 0,53% 47,08%
Filipinas 5 492 0,52% 1 175 0,55% 21,39%
Tailândia 3 981 0,37% * * *
Oceania 35 010 3,28% 12 035 5,65% 34,38%
Austrália 25 900 2,43% 8 550 4,02% 33,01%
Nova Zelândia 9 110 0,85% 3 485 1,64% 38,25%
Total 1 066 175 100,00% 212 898 100,00% 19,97%**
* Dados não disponíveis. ** Taxa de abate média mundial. Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), apud Anualpec 2000. 1 Os números sobre o Brasil e o Paraguai são estimativas da FNP Consultoria e não obrigatoriamente iguais aos do USDA. 2 Suíça e Noruega.
A complexidade da atividade pecuária brasileira, dada sua grande diversidade e
dimensão, fez surgir estudos nas mais diversas áreas, objetivando o aumento da
produtividade nas propriedades e proporcionando a descoberta de novas tecnologias de
cruzamento industrial, manejo e pastagens, entre outras. Quanto à regionalização,
entretanto, há poucos estudos, até por tratar-se de um assunto mais recente,
especialmente quanto à sanidade animal, e sobretudo quanto aos circuitos pecuários,
graus de risco de febre aftosa, zonas livres e infectadas de febre aftosa. Nesse sentido
todas as formas de regionalização — geopolíticas, produtivas ou sanitárias — devem ser
analisadas de forma conjunta, por estarem intimamente relacionadas.
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Figura 2.3 – Rebanhos bovinos por região. Brasil, 1999.
Fonte: MAA, 2000.
20.739.346
23.860.476
24.756.256
34.527.380
53.109.110
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A Figura 2.3 mostra a distribuição do rebanho nacional em 1999, por região
geográfica. Como veremos adiante, os critérios adotados para estabelecer as formas de
regionalização se tornaram mais específicos: se no passado as regionalizações se faziam
pela mera ocupação de territórios, tendo como base o mercado interno e a formação e
desenvolvimento dos centros urbanos, a partir de meados dos anos 90 tal processo
passou a levar em conta outras variáveis, em especial a sanidade animal e os riscos de
contaminação dos rebanhos.
Nesse sentido, observamos que as regiões de ocupação recente com a pecuária
bovina trazem consigo novos elementos determinantes, em termos de novas formas de
gestão e organização da atividade. Nas áreas em que a ocupação pela bovinocultura de
corte ora se apresenta em curso, como Rondônia, Acre, Pará e mesmo Tocantins, ela
ainda se pauta nas vantagens comparativas dos recursos naturais, sobretudo as
pastagens, ainda que o processo também traga consigo novos elementos.
Os agentes dinâmicos desse processo são em geral fazendeiros de outros
estados, que dão à atividade um caráter mais empresarial, embora ainda existam formas
mais precárias de atuação.
Finalmente, deve-se enfatizar que a lógica dos processos de ocupação da
bovinocultura de corte brasileira esteve exclusivamente voltada para o mercado interno,
atendendo as demandas para transporte, roupas e alimentos associados à atividade.
Somente em momentos específicos e mais recentemente, a partir dos anos 90, foi que o
mercado internacional passou a se constituir num objetivo sólido, sistemático e
definitivo.
1.1. MERCADO INTERNO
Analisando o desenvolvimento histórico da pecuária no Brasil, veremos que só
em poucas exceções ou momentos de crise internacional a carne brasileira alcançou de
forma significativa os mercados internacionais. De forma geral, a cadeia produtiva da
carne bovina esteve restrita ao mercado interno. Diversos determinantes podem explicar
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tal processo, dentre os quais o modo de ocupação do território, a formação de grandes
regiões produtoras vinculadas ao mercado interno como fornecedoras — no início, de
charque para núcleos urbanos em formação e, posteriormente, de gado em pé para abate
nas regiões próximas aos centros urbanos.
A carne para o mercado interno teve papel significativo até os anos 90. De fato,
em 198618, observaram-se conflitos entre o governo e os pecuaristas em relação ao
abastecimento do mercado interno. Nesse ano, a questão não era relativa a mercados,
mas quanto ao preço pago aos animais pela indústria frigorífica, considerando o
tabelamento de preços imposto pelo Governo Federal.
Nos dias atuais, a produção do setor ainda é voltada para o mercado interno
(95% em 1999)19. No entanto, em virtude de sua extensão territorial e magnitude do
rebanho, o Brasil, em 1999, foi o quinto maior exportador de carne, atingindo uma fatia
de 6% do comércio mundial. Com as melhorias sanitárias, em especial quanto à febre
aftosa, a tendência é que nossa participação no mercado externo seja ampliada.
Sobre o mercado interno, é importante destacar que nosso potencial de
consumo é muito significativo, visto que o consumo per capita brasileiro é pouco
significativo, comparado ao de outros países. Além disso, a possibilidade de
crescimento da economia e o aumento de empregos podem fazer aumentar o consumo
por carne bovina no mercado interno. Nosso consumo per capita está na faixa de 40 kg,
mas é muito sensível ao aumento da renda. Por conseguinte, mantida a estabilidade
econômica ou alcançado o crescimento da economia, a tendência é de uma elevação
nesse consumo.
1.2. MERCADO EXTERNO
As tendências indicam uma abertura do comércio mundial, apesar das
dificuldades de ampliação de mercados para os produtos agrícolas. Em relação às 18 Durante o Plano Cruzado assistiu-se a um conflito na oferta de animais para o abate, dada a contrariedade dos pecuaristas em os oferecerem à indústria frigorífica.
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restrições externas, o Brasil caminha rumo à abertura comercial, tanto para produtos
industrializados quanto agrícolas. Os países, sem exceção, buscam adequar suas
estruturas para uma economia aberta, intensificando o comércio mundial.
A abertura dos mercados mundiais, acaba impondo, também, uma adequação à
produção interna para a crescente produção com maior valor agregado: “Do ponto de
vista do posicionamento estratégico e mercadológico, de empresas e países, é relevante
notar a expansão de quase cinco vezes no comércio de produtos processados de maior
valor agregado, em paralelo a um processo de declínio de participação dos bens in
natura nas transações globais. A análise da posição competitiva de um país no contexto
agroalimentar mundial tem que ser feita de modo segmentado, considerando-se cada
macroambiente representado pelas diversas categorias de alimentos, nos diversos países
e nas diversas condições sociais ou culturais. Todavia, o grande filão estará na categoria
dos processados, com renda sempre crescente e elevada participação no faturamento
global” (ZYLBERSZTAJN e JANK, 1996, p. 3) 20.
No caso específico da carne bovina, a partir da decretação da Zona Livre de
Febre Aftosa com Vacinação, dada pelo OIE em 1998 ao Circuito Pecuário Sul21,
nossas vendas internacionais aumentaram, batendo recorde em 1999. Apesar do
protecionismo da União Européia e Estados Unidos e das restrições sanitárias do Japão,
a tendência é que a carne bovina brasileira vá ocupando mais mercados, apesar de
incentivos e subsídios a produtores internacionais.
1.3. PROTECIONISMO
A luta contra o protecionismo está colocada em âmbitos de médio e longo
prazo. Apesar de todos os mecanismos de regulação existentes na Organização Mundial
19 Fonte: FNP e BACEN. 20 ZYLBERSZTAJN, Decio;JANK, Marcos S. Agribusiness e Mercosul: construindo um novo aparato institucional. Seminário Internacional PENSA 1996 – Gerenciamento de Conflitos nos Sistemas Agro-industriais. Canela (RS), 15-18 set. 1996. 21 Nesse ano, os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram decretados Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.
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do Comércio, as negociações entre os países são marcadas por dificuldades, sobretudo
na questão agrícola.
A complexidade que envolve a questão da proteção agrícola vai além das
relações entre os países e a proteção que dão a seus produtores. Os consumidores dos
países que usam mecanismos de proteção também já questionam tais políticas. “... Os
consumidores europeus estão cada vez mais contrários aos subsídios. Eles já sabem, e
sentem no próprio bolso, que a PAC inflaciona os preços dos alimentos que consomem.
Mas problemas como a doença da vaca louca, resistências contra a liberação de
produtos geneticamente alterados e críticas à industrialização da agricultura européia
contribuíram para a degeneração da imagem romântica da economia rural. O
consumidor europeu está cada vez mais contrário à agricultura intensiva patrocinada
pela PAC, que põe em risco sua saúde e o meio ambiente” (CHADDAD, LAZZARINI,
NEVES, 1999, p. 47).
Nos Estados Unidos já se verifica de forma crescente uma desregulamentação,
embora os interesses superem a simples busca do livre mercado. O fato é que a suposta
desregulamentação da agricultura norte-americana não é simplesmente uma aposta no
livre mercado, mas sim uma jogada estratégica para se ganharem mais mercados no
exterior. Além disso, a possível redução do protecionismo na Europa pode ser mais
concentrada em commodities do que em produtos de maior valor adicionado. O
resultado é, portanto, um grande risco para a indústria processadora nacional. Por fim,
barreiras não-tarifárias associadas a questões sanitárias e “ecológicas”, e até mesmo ao
conteúdo genético dos produtos, ainda são o pretexto mais fácil para encobrir o
protecionismo em seu sentido mais puro.
As empresas brasileiras, para se tornarem competitivas em busca dos novos
mercados emergentes, têm passado, a partir dos anos 90, por uma reestruturação
significativa. Embora a produtividade continue sendo fator crítico para manter
competitividade desde a década de 90, a tendência será o uso de estratégias com
conteúdo mais mercadológico, objetivando: estimular as empresas brasileiras do
complexo agroindustrial que estão relutantes em assumir riscos nos negócios de
exportação ou que desconheçam as oportunidades existentes no comércio mundial;
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desenvolver pesquisas de produtos novos que atendam a necessidades cada vez mais
específicas e sofisticadas dos consumidores; proporcionar sistemas de informações
mercadológicas e financeiras para reduzir os riscos que envolvam a entrada em novos
mercados.
1.4. O MERCADO EXTERNO E A QUESTÃO SANITÁRIA
Nesse sentido, a ampliação do mercado mundial para a carne bovina brasileira
passa — não somente, mas necessariamente — pelo processo de erradicação da febre
aftosa, inicialmente com vacinação e posteriormente sem vacinação, uma vez que os
mercados mais importantes do mundo, tais como Japão e Estados Unidos,
respectivamente importando 972 mil toneladas e 1,272 milhões de toneladas (em
equivalentes-carcaça), impedem a entrada de carne bovina procedente de países que não
sejam considerados livres de febre aftosa sem vacinação. Cabe observar que, apesar de
não ser prejudicial à saúde humana, a febre aftosa é de grande impacto negativo para a
produção pecuária, pois atinge diretamente a produção animal de proteínas e tem alta
transmissibilidade.
2. REGIONALIZAÇÕES PRODUTIVAS
Com relação à regionalização dos aspectos produtivos, destacam-se os estudos
de ARRUDA e SUGAI22, analisando distintos aspectos da atividade pecuária brasileira,
importantes para abordarmos as regionalizações mais recentes, em especial as sanitárias.
“O Brasil apresenta, portanto, diferentes sistemas regionais de exploração pecuária, seja
pelo tipo racial, intensidade de uso dos recursos, finalidade principal do rebanho ou
ainda pela dinâmica de crescimento da pecuária regional. Observa-se, porém, que esta
diversidade de sistemas pecuários está, em grande parte, ligada a características
regionais, sejam climáticas, econômicas, históricas ou devidas à qualidade e
disponibilidade de recursos naturais” (ARRUDA e SUGAI , 1994, p. 13).
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Em boa medida muitas dessas características ainda preponderam, embora
agregando outros aspectos, até então ausentes da realidade da bovinocultura de corte
brasileira. A Figura 2.4 retrata uma primeira regionalização, baseada em tais
parâmetros, pautada “... pelo critério informal que considera tipos semelhantes de clima,
solo, vegetação natural, relevo, posição geográfica, altitude, estrutura fundiária,
densidade bovina, finalidade principal do rebanho, padrão racial, fase de exploração
predominante, taxa de crescimento anual do rebanho e crescimento da área de
pastagens. O agrupamento das microrregiões na forma contígua obedece ao critério de
vicinalidade, visando à formação de conglomerados típicos, contíguos, denominados
regiões homogêneas de produção” (ARRUDA e SUGAI , 1994, p.19).
O rebanho bovino brasileiro, estando entre os maiores do mundo23, apresenta
também uma diversidade muito significativa quanto a tecnologias, produtividade,
manejo, qualidade da carne e controle sanitário. Essas diferenças manifestam-se
notadamente nas diversas áreas e tipos de produção dos estados do país, em função da
importância ou nível de desenvolvimento da atividade em cada um deles.
22 ARRUDA, Zenith J. de; SUGAI, Yosbibiko. Regionalização da pecuária bovina no Brasil. Brasília: EMBRAPA/CNPCG, 1994. 23 O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 148.218 milhões (20%) de um total de 769.148 milhões de cabeças de gado (Fonte: IBGE, GM – Setorial, ANUALPEC - 1998).
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Figura 2.4 – Regionalização por homogeneidade de produção.
Fonte: ARRUDA e SUGAI (1994)
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Figura 2.5 – Regionalização por fases de produção.
Fonte: ARRUDA e SUGAI (1994)
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A regionalização por fases de produção (Figura 2.5) sofreu, por razões
diversas, alterações ao longo dos últimos anos, especialmente em estados que no
passado desenvolviam somente uma etapa da atividade pecuária — como cria, recria ou
engorda — e passaram a englobar outras delas. Incluem-se aqui aqueles que atraíram
frigoríficos para o abate, como ocorreu, mais expressivamente, nas regiões Centro-
Oeste e Norte, como veremos. Faz-se aqui necessário esclarecer que todas as fases da
produção já podem ser realizadas em praticamente todo o território nacional. São
poucas as localidades que não praticam todas as fases. De fato, é menos custoso realizar
o transporte da carne do que o do o boi em pé. Devido ao menor frete, há maior ganho
para os frigoríficos e produtores, o que resulta num aumento de produtividade para a
totalidade da cadeia produtiva da pecuária de corte.
De acordo com ARRUDA e SUGAI, “são 44 regiões de produção no Brasil,
sendo 10 localizadas no Norte do país, 11 no Nordeste, 8 no Centro-Oeste, 10 no
Sudeste e 5 na região Sul. Destas regiões, 18 têm cria e recria como fases
predominantes da pecuária de corte, 11 têm cria-recria-engorda e 9 engorda; 2 de
pecuária leiteira e 3 de finalidade mista. Contudo, é de se esperar que duas ou mais
regiões com rebanhos da mesma finalidade se diferenciem entre si em uma ou mais das
seguintes situações: pelo sistema de produção, nível de tecnologia, qualidade e
produtividade dos recursos, e tipo racial do rebanho bovino” (ARRUDA e SUGAI ,
1994, p. 20).
2.1. OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DA ATIVIDADE PECUÁRIA: CRIA, RECRIA E
ENGORDA24
O processo de produção do boi gordo pronto para o abate passa por três fases
bem definidas e distintas: a cria, a recria e a engorda25, que podem ser realizadas juntas
ou em separado, tendo cada uma suas vantagens e desvantagens.
24 MENDONÇA. Cláudio G. A competitividade da pecuária de corte sul-matogrossense frente ao Mercosul. Campo Grande, 1998 (Monografia – Graduação em Ciências Econômicas – UFMS).
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CRIA
A cria tem como produto final o bezerro. Para chegar a ele, passa-se pela
gestação, nascimento e amamentação do animal, até que este possa ser desmamado, dos
7 meses a um ano de idade, atingindo nesse momento sua individualidade como unidade
negociável no mercado. A fase de cria necessita de elevado capital imobilizado em
touros, novilhas e matrizes (vacas), e também no fator terra, por requerer área extensa
para sua realização. Tem ela, portanto, um baixo giro de capital e, conseqüentemente,
menor rentabilidade.
RECRIA
Com o fim da fase de cria, inicia-se a de recria, que consiste em comprar o
bezerro de até um ano de idade e recriá-lo até atingir 24 a 28 meses, quando será
chamado de garrote ou boi magro. Essa fase necessita de pouco capital imobilizado,
mas requer grande dedicação no processo de compra e venda dos animais. O pecuarista
deve comprar os bezerros quando o preço estiver em baixa e vender os garrotes quando
estiver em alta.
ENGORDA
A engorda se estende desde o fim da recria até a terminação do boi, ou seja,
compreende o período que vai dos 24-28 meses até o momento em que o animal atinge
idade e peso ideais para o abate — geralmente acima dos 36 meses de idade, com peso
vivo de aproximadamente 500 kg e peso morto de 270 kg (18 arrobas) ou 54% do peso
vivo. O “invernista” (pecuarista que só se dedica à fase da engorda) compra o boi
magro, engorda-o e vende-o a frigoríficos.
25 MENDONÇA. Cláudio G. A competitividade da pecuária de corte sul-mato-grossense frente ao Mercosul. Campo Grande, 1998. Monografia (Graduação) – Curso de Graduação em Ciências Econômicas, DEA-UFMS).
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A verticalização da produção — processo em que um mesmo proprietário
efetua a cria, a recria e a engorda — pode reduzir significativamente sua lucratividade,
uma vez que é necessário suportar um grande número de animais na propriedade,
tornando-se menor o giro de capital. No entanto, essa verticalização pode primar pela
qualidade, por reduzir a idade de abate e por deixar o pecuarista menos sujeito às
variações de preço do mercado.
3. AS REGIÕES SANITÁRIAS
Vários são os critérios possíveis para a definição de regionalizações. Para os
propósitos que mais proximamente nos interessam, detalharemos as regionalizações que
emergiram a partir das questões sanitárias, especificamente da febre aftosa.
Atualmente o Brasil tem um efetivo animal suscetível de febre aftosa de 220
milhões de cabeças. Pela importância da bovinocultura de corte no Brasil, o combate a
essa zoonose passou a receber um tratamento distinto e específico no Programa
Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. De fato, dentre as espécies animais
envolvidas na pecuária (bovinas, suínas, ovinas, caprinas e bubalinas), somente as
bovinas apresentam um trânsito tão intenso de animais, produtos e subprodutos.
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Tabela 2.2 – Efetivo animal das principais espécies suscetíveis à febre aftosa, por região. 1999.
Região Bovinos Suínos Ovinos Caprinos Bubalinos Geral
Sul 24 756 256 12 033 184 10 538 181 428 975 209 597 47 966 193
Centro-Oeste 53 109 110 3 506 655 454 334 176 227 130 978 57 377 304
Sudeste 34 527 380 6 209 744 37 275 352 284 103 765 41 230 448
Nordeste 23 860 476 8 961 688 6 745 092 9 622 676 101 686 49 291 618
Norte 20 739 346 4 430 568 325 716 299 124 1 025 323 26 820 077
Total no país 156 992 558 35 141 839 18 100 598 10 879 286 1 571 349 222 685 640
Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 2000.
Gráfico 2.1 – Rebanho bovino brasileiro, por região. 2000.
Fonte: MAA, 2000.
Sul16%
Sudeste22%
Nordeste15%
Norte13%
Centro-Oeste34%
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3.1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Embora as primeiras manifestações conhecidas de febre aftosa na Europa
tenham ocorrido a partir de 1546, as primeiras ocorrências na América do Sul só foram
registradas em 1870, identificadas simultaneamente na província Argentina de Buenos
Aires, na região central do Chile, no Uruguai e, no caso do Brasil, na então província do
Rio Grande do Sul, de onde se disseminou para outras unidades do país.
O combate à febre aftosa no Brasil, através ações públicas e privadas
(produtores), só foi posto em prática no século seguinte, precisamente em 1919, quando
o Ministério da Agricultura, através de uma política normativa e fiscalizadora e do
Código de Política Sanitária, adotou medidas contra a doença.
PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA
Do início do século XX até 1992 ocorreram diversas tentativas de controle da
enfermidade, inclusive com o apoio de instituições internacionais, como o BID e o
BIRD. Nenhuma, sem exceção, chegou a obter êxito completo. Um dos problemas foi o
das grandes dimensões do país. Um erro foi a simples opção pelo controle, em vez da
erradicação definitiva.
Em 1992, o Ministério da Agricultura e Abastecimento e as Secretaria
Estaduais de Agricultura, com a assessoria do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa,
fizeram modificações estruturais nos encaminhamentos de combate à doença no Brasil.
A partir dessa data passou-se a priorizar a erradicação em vez do controle e, dada a
complexidade e extensão territorial brasileira, definiu-se, entre os diversos agentes
envolvidos, um cronograma e uma estratégia baseada no conceito de Circuitos
Pecuários, objetivando a erradicação definitiva da febre aftosa no Brasil até o ano de
200526: “As ações de mero controle foram substituídas por ações restritivas, visando a
erradicação da doença. As estratégias de regionalização das ações foram estabelecidas
26 Esse cronograma está dentro do Plano hemisférico de erradicação da febre aftosa nas Américas, previsto para 2009.
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tendo por base os circuitos pecuários, e como fator primordial a integração de agentes
envolvidos e interessados, a participação da comunidade (associações de produtores,
agroindústrias, universidades) em todas as fases do Programa (planejamento, execução,
financiamento e avaliação), em estreita parceria com o governo. Estas novas estratégias
e ações foram aprovadas pelo Conselho Consultivo do Projeto de Controle das Doenças
dos Animais, do qual participam governo e entidades nacionais privadas do setor da
produção e da indústria animal”(BRASIL, 1997, p. 3)27.
É fundamental observar que o novo formato que a erradicação da febre aftosa
assume no Brasil envolve diretamente a participação de todos os agentes envolvidos:
Ministério da Agricultura e Abastecimento, Secretarias Estaduais de Agricultura e
iniciativa privada (indústria de vacinas, produtores, frigoríficos e distribuidores).
A partir da definição da estratégia de erradicação e dos agentes envolvidos e
suas responsabilidades, definiram-se as principais ações a pôr em prática: organização
da comunidade; imunização de bovinos e bubalinos; sistema de vigilância
epidemiológica28 e informação; capacitação de recursos humanos.
A definição de regiões tem fundamental importância para este estudo, na
medida que essa configuração institucional tem e terá papel no desenvolvimento da
bovinocultura de corte nacional, não se limitando às questões sanitárias, mas definindo a
atividade e interferindo de forma direta sobre ela, ao permitir, restringir ou impedir
totalmente os trânsito de animais, produtos e subprodutos, fato singular na história e
geografia da bovinocultura de corte brasileira, sempre caracterizada, ao longo de cinco
séculos, pelo livre trânsito entre regiões.
Apesar das restrições, entretanto, a regionalização e os controles de trânsito de
bovinos possibilitarão ao Brasil inserir-se definitivamente no mercado mundial da carne
bovina. De fato, conta-se com que até 2005 todo o rebanho bovino brasileiro já tenha
27 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. Brasília, abr. 1997. 28 Estudo das relações dos diversos fatores que determinam a freqüência e distribuição de um processo ou doença infecciosa numa comunidade.
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(salvo imprevistos) obtido certificação internacional de livre de febre aftosa com e sem
vacinação, alcançando o posto de maior rebanho comercial do mundo.
As questões sanitárias, portanto, estão dando uma nova conformação à
bovinocultura de corte brasileira e moldando diretamente seu futuro. Das exigências
sanitárias estão emergindo três relações espaciais que dizem respeito às restrições ao
trânsito de animais, produtos ou subprodutos. São elas:
a) os Circuitos Pecuários;
b) a classificação das unidades da federação segundo o risco da febre aftosa;
c) a zonificação quanto à presença de febre aftosa, dentro da qual se identificam:
• a Zona Infectada;
• a Zona Tampão;
• a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação;
• a Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.
Os Circuitos Pecuários e a classificação das unidades da federação segundo o
risco para a febre aftosa são regionalizações que se prestam a uma melhor viabilização
do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa do Brasil. As Zonas Infectada,
Tampão e Livre com Vacinação constituem estágios intermediários para se chegar ao
objetivo final de ter a totalidade do território brasileiro classificada como Zona Livre de
Febre Aftosa sem Vacinação, situação que o Ministério da Agricultura e do
Abastecimento prevê para 2010.
4. CIRCUITOS PECUÁRIOS
A regionalização definida a partir de Circuitos Pecuários tomou como base a
situação da bovinocultura brasileira em termos das formas de produção, das relações
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econômicas entre as regiões e das condições sanitárias nos diversos estados: “A
regionalização da pecuária como determinante da febre aftosa através de seus
ecossistemas constitui-se na estratégia mais factível para a erradicação da doença no
país. Estão identificadas regiões produtoras, relativamente independentes, consideradas
circuitos pecuários” (BRASIL, 1996a, p.6)29. Como veremos a seguir, os circuitos
pecuários lograram êxito no controle da febre aftosa no Brasil e sua erradicação em
diferentes áreas da febre aftosa no Brasil.
Um circuito é uma região produtora de bovinos na qual existam relações
comerciais de bovinocultura e na qual a situação sanitária seja relativamente
homogênea. Os critérios adotados para a conformação dos Circuitos Pecuários foram:
similaridades técnicas de produção; trânsito de animais, produtos e subprodutos;
estruturação dos sistemas estaduais de combate à febre aftosa; e números de casos
registrados nos últimos anos: “A incorporação, em 1993, dos conceitos de
regionalização e zoneamento, aprovados internacionalmente no âmbito do Escritório
Internacional de Epizootias – OIE ... abriu novas perspectivas para o reconhecimento
internacional de áreas livres de doenças com regiões infectadas”. Para países com
grande extensão territorial e acentuadas diferenças regionais quanto ao status sanitário,
como é o caso do Brasil, “... abre-se uma importante possibilidade de participação no
circuito de comercialização de carne fresca, livre de febre aftosa, das regiões que hoje
usufruem de melhores condições sanitárias” (BRASIL, 1996a, p. 5).
29 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Regionalização das ações para a erradicação da febre aftosa. Brasília, set. 1996.
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Figura 2.6 – Divisão do Brasil em circuitos pecuários, 1999.
Fonte: MAA, 1997.
Circuito Pecuário Leste
Circuito Pecuário Norte
Circuito Pecuário Nordeste
Circuito Pecuário Centro-Oeste
Circuito Pecuário Sul
AC
MT
RJ
ES
MG
MS
SP
PR
SC
RS
SE TO
DF
GO
BA
CE RN
AL
PB
PE
RR AP
AM PA MA
PI
RO
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O Ministério da Agricultura e do Abastecimento esclarece que a definição dos
Circuitos Pecuários fundamentou-se em formas de produção e comercialização
relativamente homogêneas: “A regionalização está fundamentada na relação existente
entre o predomínio geográfico dos sistemas de produção e a interdependência desses
sistemas em relação ao processo de comercialização dos animais e de seus produtos e
subprodutos. Cada um desses conjuntos de sistemas produtivos e comerciais (cria, recria
e engorda), integrado em uma rede, configura um circuito pecuário mais ou menos
independente em relação aos demais circuitos. Dentro de cada circuito, os sistemas de
produção mencionados estão inter-relacionados em função de dependências de criação,
que se manifestam através dos fluxos de comercialização. Esses sistemas pecuários
apresentam uma forte correspondência com o grau de endemismo referente à ocorrência
de febre aftosa. Isso permite caracterizar os ecossistemas da doença como endêmicos
primários (áreas extrativas), endêmicos secundários (áreas de engorda), paraendêmicos
(áreas leiteiras e de pequenos produtores) e indenes ou livres, destacando-se a
prioridade do Programa para as áreas endêmicas (BRASIL, 1996a, p. 25-6).
A partir desta conceituação, o Ministério definiu, os Circuitos Pecuários Sul,
Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste, com o propósito de que estes se transformem,
nessa ordem de prioridade, em Zonas Livres de Febre Aftosa com e sem Vacinação
entre 1998 e 2010.
A existência simultânea de zonas livres de febre aftosa com e sem vacinação
dentro de um mesmo país é possível desde que se atendam certas exigências definidas
pelo OIE. Uma Zona Livre de Febre Aftosa onde se pratica a vacinação pode, segundo o
Código Zoossanitário Internacional, estar localizada em um país onde algumas áreas se
apresentem infectadas, desde que: essa Zona Livre esteja separada do resto do país por
uma Zona Tampão; seja demonstrada rapidez e regularidade na notificação de doenças
animais; seja solicitado junto ao OIE o estabelecimento de uma Zona Livre de Febre
Aftosa onde se pratique a vacinação, comprovando-se a ausência de focos de febre
aftosa durante os dois anos precedentes. Devem-se ainda descrever os limites da Zona
Livre e da Zona Tampão e apontar a eficácia da vigilância exercida e a existência de
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regulamentos de proteção e de luta contra a febre aftosa que demonstrem a ausência de
atividade viral30 na Zona Livre onde se pratica a vacinação.
A Tabela 2.3 apresenta informações gerais de todos os Circuitos Pecuários do
Brasil, evidenciando que o Circuito Pecuário Centro-Oeste é o maior, tanto em
propriedades com bovinos quanto em quantidade de animais, com 83 milhões de
cabeças.
Tabela 2.3 – Área geográfica, total de propriedades com bovinos e população bovina existente nos Circuitos Pecuários brasileiros. 1998.
Área (km2) Propriedades com bovinos População bovina
Circuitos pecuários Total % Total % Total %
Sul 475 487 5,6 595 287 26,8 16 955 196 10,8
Centro-Oeste 2 314 377 27,4 613 347 27,5 83 206 056 53,0
Leste 989 976 11,7 362 619 16,3 22 920 914 14,6
Norte 3 672 024 43,5 68 210 3,1 20 723 018 13,2
Nordeste 985 636 11,7 583 225 26,2 13 187 374 8,4
Total nacional 8 437 500 100,0 2 222 688 100,0 156 992 558 100,0
Fonte: MAA, 2000.
4.1. CIRCUITO PECUÁRIO SUL
Os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a parte sul do Paraná
compõem o Circuito Pecuário Sul (Figura 2.7). Seu rebanho bovino é de
aproximadamente 17 milhões de cabeças (10,8% da população bovina nacional), num
um total de 600 mil propriedades (26,8% das propriedades com bovinos do país). A
densidade animal uma das maiores do Brasil, com valor médio de 0,36 bovinos por
hectare de propriedade. A produção desse circuito é predominantemente voltada para os
mercados locais, sem grande trânsito de animais, produtos e subprodutos entre o estados
que o compõem.
30 A atividade viral é constatada por exame sorológico dos animais
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Figura 2.7 – Circuito Pecuário Sul. 1999.
Fonte: MAA.
RS
SC
PR
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4.2. CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE
O Circuito Pecuário Centro-Oeste (Figura 2.8) é o maior do país. Sua
população bovina, de 83 milhões de cabeças, perfaz 53% do total nacional. Este circuito
é composto pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal,
São Paulo, Paraná (região Noroeste do estado), Minas Gerais (Triângulo Mineiro, Alto
Paranaíba, Chapadão do Paracatu, Sul de Minas, Alto São Francisco e Centro-Oeste) e
Tocantins (Regiões de Gurupi, Paraíso e parte das regiões de Porto Nacional e
Miracema do Tocantins).
Esse circuito cobre 27,4% do território nacional, contendo 27,5% das
propriedades brasileiras com bovinos: “Constitui a mais importante área produtora de
bovinos de corte do país, ao mesmo tempo em que é o maior mercado da carne bovina,
já que possui o maior parque da indústria frigorífica do Brasil” (BRASIL, 2000d, p.
23)31. Esse circuito apresenta densidade de 0,36 bovinos por hectare, consideradas as
propriedades com bovinos.
O estado de São Paulo é o maior mercado consumidor de carnes do país,
importando para consumo interno e também atuando como intermediador (no
beneficiamento) para as exportações. A maior parte dos frigoríficos tem matrizes e/ou
filiais nesse estado.
31 BRASIL. Ministério de Agricultura e Abastecimento. Proposta de ampliação da zona livre de febre aftosa, com vacinação. Brasília, mar. 2000.
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Figura 2.8 – Circuito Pecuário Centro-Oeste. 1999.
Fonte: MAA.
MS
MT
SP
PR
GO
MG
TO
DF
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4.3. CIRCUITO PECUÁRIO LESTE
O Circuito Pecuário Leste (Figura 2.9) apresenta localização geográfica
privilegiada, pois faz limites com o Circuito Pecuário Centro-Oeste junto aos estados de
Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Integram o circuito os estados do Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Bahia, Sergipe e a região Nordeste de Minas Gerais (acima do Rio São
Francisco). Sua extensão territorial é de 990 mil km2, correspondendo a 11,7% do
território nacional.
O Circuito Pecuário Leste totaliza 363 mil propriedades com bovinos (16,3%
das do Brasil). Sua população bovina é de 23 milhões de cabeças.
Rio de Janeiro constitui-se no segundo maior mercado consumidor de carnes
do país, recebendo-as de praticamente todos os estados produtores do Brasil, com
preponderância daqueles do Circuito Pecuário Centro-Oeste. A produção interna desse
estado é insignificante.
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Figura 2.9 – Circuito Pecuário Leste. 1999.
Fonte: MAA.
BA
MG
SE
ES
RJ
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4.4. CIRCUITO PECUÁRIO NORTE
O Circuito Pecuário Norte (Figura 2.10) é composto por Acre, Rondônia,
Amazonas, Roraima, Amapá, Pará e região Nordeste do Tocantins. Com área de 986
mil km2, cobre 43,5% do território brasileiro, abarcando a maior parte da Floresta
Amazônica. O número de propriedades com bovinos é inexpressivo: apenas 68 mil, ou
3,1% dessas propriedades do Brasil. Apesar disso, a população bovina é significativa,
com 21 milhões de cabeças, o que representa 13,2% do total do país. A densidade
bovina nas propriedades é de 0,06 cabeças/ha.
A erradicação completa da febre aftosa deste circuito e sua transformação em
Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação está prevista para ocorrer até 2003.
O trânsito de animais, produtos e subprodutos concentra-se basicamente no
âmbito do próprio circuito, com exceção de Rondônia, em que aproximadamente 50%
da produção é destinada aos Circuitos Pecuários Centro-Oeste e Leste. Observa-se
também uma relação significativa entre nordeste de Tocantins e norte do Pará com o
Circuito Pecuário Nordeste, sobretudo no fornecimento de animais.
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Figura 2.10 – Circuito Pecuário Norte. 1999.
Fonte: MAA.
RO
AM PA
AC
RR
TO
AP
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4.5. CIRCUITO PECUÁRIO NORDESTE
O Circuito Pecuário Nordeste (Figura 2.11) é composto pelos estados de
Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. Sua
área é de 985 mil km2, ou 11,7% do território nacional, abrigando 583 mil propriedades
com bovinos, o equivalente a 26,2% dessas propriedades brasileiras. O circuito tem a
menor população bovina entre os circuitos pecuários brasileiros, com 13,2 milhões de
cabeças, ou 8,4% do rebanho bovino nacional.
As formas de produção, abate e consumo da carne bovina no Circuito Pecuário
Nordeste são peculiares. As condições sanitárias são ainda bastante precárias, e as
carnes são em sua maioria comercializadas em feiras livres. O trânsito de animais entre
os estados desse circuito é insignificante.
Há previsão de erradicação da febre aftosa, com transformação em Zona Livre
com Vacinação até 2005 e sem vacinação até 2010.
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PI
MA CERN
PB
PE
AL
Figura 2.11 – Circuito Pecuário Nordeste. 1999.
Fonte: MAA.
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5. CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO SEGUNDO O RISCO DE FEBRE AFTOSA; ZONIFICAÇÃO
Em virtude da complexidade da febre aftosa em termos de transmissão e
propagação, e dos diversos sistemas produtivos da bovinocultura de corte existentes no
país, o Ministério da Agricultura e do Abastecimento, a partir de normas internacionais,
criou no Brasil a Zonificação para a febre aftosa e análise de risco no país, com o
objetivo de permitir tratamentos distintos, visando a erradicação da doença mas levando
em conta as peculiaridades das diferentes regiões.
O relatório da Proposta de ampliação da zona livre de febre aftosa, com
vacinação aponta como acertado o processo de regionalização como base para a
erradicação da doença: “De forma complementar à definição dos circuitos pecuários,
outro aspecto conceitual e metodológico empregado na luta contra a febre aftosa no país
é a regionalização da doença com base nos riscos de transmissão e recepção do agente
viral. Este tipo de regionalização passou a integrar o Programa Nacional de Erradicação
da Febre Aftosa a partir do ano de 1995. ... Essa regionalização, baseada no
comportamento epidemiológico da doença no campo como base para a elaboração de
estratégias diferenciadas por espaços geográficos distintos, evoluiu muito na América
do Sul nos últimos anos, contribuindo de forma significativa para os avanços alcançados
nos países do Cone Sul e no Brasil em particular” (BRASIL, 1997, p. 34)32.
Para a definição da regionalização são considerados diversos aspectos, entre os
quais o período de ausência de casos clínicos, cobertura vacinal, controle e fiscalização
do ingresso de animais e de seus produtos e subprodutos, situação sanitária das áreas
vizinhas e nível de participação comunitária, entre outras. Esses aspectos devem ser
considerados em âmbito interno e externo ao circuito.
É importante destacar que tal zonificação está pautada nas normas
internacionais do OIE e da OMC: “Actualmente, la globalización de las economías
determina la necesidad de sustituir el concepto de ‘riesgo cero’ en una operación
comercial, por una evaluación sin perjuicios, de los niveles de riesgo involucrados en la
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transacción. Esta nueva condición es el resultado de más de 10 años de negociaciones
en el ámbito de la Ronda Uruguay del GATT, y de la filosofia del organismo que la
sucedió, la Organización Mundial del Comercio (OMC), caracterizado en las Medidas
Sanitarias y Fitosanitarias (MSF)” (SARAIVA, 1997)33. A partir da Rodada do Uruguai
e a criação da OMC, as relações comerciais envolvendo produtos agrícolas deixam de se
apoiar no risco zero de febre aftosa. Em outras palavras, as relações comerciais entre
países e regiões podem ser estabelecidas a partir do conhecimento e reconhecimento
prévio pelas autoridades nacionais — em nosso caso, o Ministério da Agricultura e do
Abastecimento — dos graus de risco existentes na produção e comercialização de
animais, produtos e subprodutos oriundos de cada área. Para tanto, e tendo em vista
tanto o comércio no mercado externo quanto interno, torna-se necessário que no Brasil
as unidades da federação sejam classificadas por grau de risco de febre aftosa,
caracterização que implica na permissão, restrição ou impedimento ao trânsito de
animais, produtos e subprodutos. Tais graus são: BR-D: risco desprezível; BR-1: risco
mínimo; BR-2: risco baixo; BR-3: risco médio; BR-4: risco alto; BR-N: risco não
conhecido.
O Quadro 2.1 mostra os atributos considerados para essa classificação. Cada
um dos níveis de risco deve reunir uma série de características relativas à erradicação e
ao controle da febre aftosa.
A classificação por graus de risco tem decorrências substanciais, por configurar
uma regionalização que impõe impeditivos e limitações ao trânsito de animais produtos
e subprodutos. (Por exemplo, se um estado for classificado com o grau de risco médio
poderá enviar carne sem osso para uma Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação,
mas se sua classificação for a de alto risco, não poderão ser enviados nem animais em
pé nem carne com ou sem osso para uma Zona Livre de Febre Aftosa.)
32 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. Brasília, abr. 1997. 33 SARAIVA, Victor. Vigilancia epidemiológica y regionalización en el análisis de riesgo: caso fiebre aftosa. In: SEMINÁRIO SUB-REGIONAL SOBRE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SANITÁRIAS E FITOSANITÁRIAS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO, 22-24 set. 1997, Santa Fe de Bogotá, Colômbia.
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Quadro 2.1 – Atributos considerados para classificação das unidades federativas em seis níveis de risco. 1996.
Níveis de risco Atributos
considerados BR-D: risco
desprezível BR-1:
risco mínimo BR-2:
risco baixo BR-3:
risco médio BR-4:
risco alto BR-N:
risco não conhecido
Política sanitária do programa Prevenção Erradicação e
prevenção Erradicação Erradicação Controle Nenhum
Área territorial sob o programa Total Total Total Total Total ou
parcial Nenhuma
Situação da vizinhança
BR-D, BR-1
BR-1, BR-2
BR-2, BR-3
BR-3, BR-4 BR-N -
Sistema de atenção veterinária
Bom Bom Bom Bom Regular ou deficiente
Deficiente ou inexistente
Sistema de vigilância Bom Bom Bom Bom Regular ou
deficiente Deficiente ou inexistente
Participação social Boa Boa Boa Boa Regular ou
inexistente Inexistente
Ocorrência de casos clínicos
Ausente por mais de 5 anos
Ausente por mais de 4 anos
Ausente por mais de 3 anos
Ocasional ou ausente Alta ou média Não
conhecida
Cobertura vacinal Não > 90% > 90% ≥ 80 % < 80 % Muito baixa
Atividade viral Não Não Não Sim Sim Não conhecida
Restrição de ingresso Sim Sim Sim Sim Não Não
Fiscalização do ingresso Sim Sim Sim Regular Deficiente Não
Biossegurança Sim Sim Sim Sim Não Não
Fonte: MAA, 2000.
Entre os aspectos constitutivos desta regionalização, denominada pelo OIE de
zonificação, destacamos: “O desenvolvimento da regionalização da febre aftosa no
Brasil está sustentado pelo sistema de vigilância que fornece dados epidemiológicos
sobre bases geográficas (quadrantes do mapa), o que permitiu, inicialmente, a
identificação dos ecossistemas de endemismo da doença e a escolha de estratégias
seletivas para cada tipo de ecossistema, facilitando o processo de erradicação da
doença” (BRASIL, 2000d, p. 35).
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65
No Quadro 2.2 constam as unidades da federação e seus respectivos graus de
risco. Ressalte-se que tal classificação é atualizada periodicamente por auditorias de
técnicos do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, que em visitas ao estados
fazem verificações com relação às exigências estabelecidas, podendo alterar as
classificações tanto para melhor quanto para pior.
Quadro 2.2 – Classificação das unidades da federação segundo o risco de febre aftosa. Novembro de 2000.
Classificação Unidades da federação
BR-D (Risco desprezível) Santa Catarina*
BR-1 (Risco mínimo) Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e Paraná
BR-2 (Risco baixo) Mato Grosso do Sul, Tocantins, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Sergipe
BR-3 (Risco médio) Roraima, Rondônia, Acre, sul do Pará**
BR-4 (Risco alto) O restante do Pará
BR-NC (Risco não conhecido) Alagoas, Amapá, Amazonas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte
Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 2000. * Rio Grande do Sul encontrava-se nesta classificação. Sua situação está pendente em função do foco de febre aftosa verificado no município de Jóia em setembro de 2000. ** Municípios de Nova Progresso, Santana do Araguaia e Altamira, e parte de Jacareacanga e de São Félix (barreiras naturais).
5.1. RESULTADOS DAS REGIONALIZAÇÕES
A regionalização através dos Circuitos Pecuários demonstrou ser um
instrumento viável para se alcançar maior eficácia na erradicação da febre aftosa de
regiões afetadas e sua transformação em Zonas Livres, apesar da grande extensão
territorial do país e a complexidade das regiões produtivas.
Juntamente com as regionalizações, outros fatores estratégicos foram
fundamentais para o sucesso do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa:
participação da comunidade, descentralização administrativa, coordenação entre os
setores e instituições, conscientização e capacitação, entre outras.
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Além de se apoiar na obrigatoriedade da vacinação duas vezes por ano — que
cabe aos pecuaristas — a erradicação da febre aftosa no Brasil está estruturada num
sistema de prevenção e controle da doença que envolve diversos agentes, tanto na esfera
federal quanto nas estaduais.
Essa estrutura atua de diversas formas, com destaque para as seguintes
notificação, atendimento e investigação de episódios, vigilância de animais no campo,
vigilância em plantas frigoríficas e matadouros, vigilância em pontos de concentração
de animais e vigilância de animais em trânsito.
A Figura 2.12 ilustra a rede necessária para a erradicação e controle da febre
aftosa no Brasil, evidenciando sua complexidade.
Figura 2.12 – Esquema do fluxo de funcionamento do sistema de atenção e vigilância sanitária animal. Brasil, 1999.
Fonte: MAA, 2000.
UNIDADE LOCALDE ATENÇÃO
VETERINÁRIA
UNIDADE LOCALDE ATENÇÃO
VETERINÁRIA
UNIDADE REGIONALDO SERVIÇO OFICIALUNIDADE REGIONALDO SERVIÇO OFICIAL
GRUPO EXECUTOR DASPOLÍTICAS DE EMERGÊNCIA
SANITÁRIA
GRUPO EXECUTOR DASPOLÍTICAS DE EMERGÊNCIA
SANITÁRIA
UNIDADE NACIONAL
Ministério da Agricultura edo Abastecimento
Brasília - DF
UNIDADE NACIONAL
Ministério da Agricultura edo Abastecimento
Brasilia - DF
OFFICE INTERNACIONAL DES EPIZOOTIES
OIE
OFFICE INTERNATIONAL DES EPIZOOTIES
(OIE)
UNIDADE CENTRAL DOÓRGÃO ESTADUAL
UNIDADE CENTRAL DOÓRGÃO ESTADUAL
UNIDADE REGIONAL DOMINISTÉRIO DA
AGRICULTURA - DFA
UNIDADE REGIONAL DOMINISTÉRIO DA
AGRICULTURA - DFA
UNIDADE DE INFORMAÇÃO,APOIO E ACOMPANHAMENTO
UNIDADE DE INFORMAÇÃO,APOIO E ACOMPANHAMENTO
CONSELHO ESTADUALDE SAÚDE ANIMAL
CONSELHO ESTADUALDE SAÚDE ANIMAL
Produtoresrurais
Propriedadesrurais
Entidades representativas dos produtores rurais (Associações,
Sindicatos e Conselhos de Sanidade Animal)
Médicos veterinários dainiciativa privada
Médicos veterinários dainiciativa privada
Instituições de pesquisa,extensão e assistência técnica
Instituições de pesquisa, extensão e assistência técnica
Matadouro sob inspeção veterinária
Matadouro sob inspeção veterinária
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67
191346210271
666
2.089
1.4171.232
757989
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Ano
Oco
rrên
cias
A adoção dos circuitos pecuários e da zonificação acabou por se constituir num
instrumento efetivo de controle no trabalho de erradicar a febre aftosa no Brasil. O ano
de 1994 registrou o maior número de registros de casos dessa zoonose, o que revela uma
substancial melhora do sistema de vigilância sanitária. De fato, os mecanismos de
controle são fundamentais, pois a descoberta de casos de febre aftosa deve ser
imediatamente comunicada às autoridades oficiais locais, nacionais (MAA) e
internacionais (OIE).
O Gráfico 2.2 mostra a significativa redução dos casos registrados no Brasil a
partir da adoção dos Circuitos Pecuários e da Zonificação. “Os resultados positivos do
Programa materializam-se, especialmente, pela modificação da conduta endêmica da
doença, com uma progressiva redução de sua ocorrência” (BRASIL, 2000d, p. 40).
Gráfico 2.2 – Focos de febre aftosa. Brasil, 1990-1999.
Também no âmbito dos circuitos pecuários (Tabela 2.4) é perceptível tal
redução, que em termos absolutos, às vezes deve ser relativizada, uma vez que nos
estados onde o controle for mais eficiente o registro será maior, se não propriamente de
casos, ao menos de suspeitas. A ausência de controle rigoroso dos serviços de sanidade
animal pode subdimensionar a descrição da situação sanitária dos estados.
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Tabela 2.4 – Notificações de suspeitas de doenças vesiculares, por regiões geográficas e por circuitos pecuários. 1995-99.
Regiões 1990 1991 1992 1993 1994 Circuitos pecuários 1995 1996 1997 1998 1999
Sul 307 249 28 122 51 Sul 0 0 3 289 66
Centro-Oeste 52 153 316 210 230 Centro-Oeste 191 39 15 12 11
Sudeste 220 71 449 515 572 Leste 212 27 21 4 6
Norte 95 35 65 136 229 Norte 78 61 18 28 51
Nordeste 315 249 374 434 1 002 Nordeste 185 144 153 13 57
Total 989 757 1 232 1 417 2 089 Total 666 271 210 346 191
Fonte: MAA.
Confirma-se, assim, a eficácia da adoção dos Circuitos Pecuários e da
classificação estadual por graus de risco de febre aftosa como formas de controlar e por
fim erradicar a febre aftosa no Brasil.
6. ZONIFICAÇÃO EM VIGOR
A seguir vamos descrever e analisar a zonificação existente, que constitui um
estágio intermediário para que o país consiga até 2010, de forma gradativa mas
crescente, ser classificado em sua totalidade como Zona Livre de Febre Aftosa sem
Vacinação. Tal zonificação impõe uma série de restrições ao trânsito nacional de
animais, produtos e subprodutos.
Hoje existem no Brasil quatro tipos de zonas baseadas em exigências
sanitárias, com características, restrições, vantagens e desvantagens diferenciadas. São
elas: a Zona Infectada, a Zona Tampão, a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação e
a Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. Elas são identificadas na Figura 2.13.
A Figura 2.14 mostra a distribuição dos postos fixos de proteção entre zonas,
que operam como barreiras sanitárias, controlando o trânsito de animais e derivados
potencialmente transmissores da febre aftosa. Tais postos se situam:
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a) entre a Zona Livre de Febre Aftosa e a Zona Tampão;
b) entre a Zona Tampão e a Zona Infectada.
Certos segmentos dessas fronteiras contam, além disso, com barreiras naturais
tais como rios, chapadas e florestas. É o caso da Floresta Amazônica, que forma barreira
natural entre os estados de Mato Grosso e Amazonas.
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Figura 2.13 – Zonificação do Brasil: áreas Infectadas, Tampão e Livres de Febre Aftosa. 2000.
Fonte: MAA.
Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação
Zona Infectada
Zona Tampão
Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação
AM
AC RO
MT
MS
RS
SC
PR
SP
GODF
MG
RJ
ES
BATO
PA
AP
MA
PI
CE RN
PB
SE AL
PE
RR
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Figura 2.14: Distribuição dos postos fixos de controle e fiscalização do trânsito de animais e seus produtos e subprodutos. 2000.
Fonte: MAA.
Mato Grosso
São Paulo
Distrito Federal
Goiás
Minas Gerais
Paraná
Rondônia
Espírito Santo
Rio de Janeiro
Pará
Tocantins
Bolívia
Rio de Janeiro
Paraguai
Santa Catarina ZONA TAMPÃO
ZONA LIVRE
POSTOS FIXOS PARA PROTEÇÃO ENTRE ZONAS
Mato Grosso do Sul
Bahia
Bolívia
Paraguai
Paraguai
Argentina
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6.1. ZONA INFECTADA
Com base nos critérios do OIE, a Zona Infectada constitui-se num território
claramente delimitado dentro de um país em que se haja diagnosticado uma das
enfermidades inscritas no Código Zoossanitário Internacional. A extensão desse
território deve ser claramente definida pela autoridade veterinária do país, tendo em
conta o meio ambiente, os distintos fatores ecológicos e geográficos, os fatores
epizootiológicos e o sistema de exploração pecuária.
Esse território deverá estender-se por um raio de pelo menos 10 km dos focos
da enfermidade nas regiões de cria intensiva e de pelo menos 50 km nas regiões de cria
extensiva.
No interior da Zona Infectada deverá ser exercido um controle veterinário
oficial e efetivo sobre animais, produtos de origem animal e transporte.
A Zona Infectada indicada (Figura 2.15) é composta pelos estados do Rio de
Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará,
Piauí, Tocantins, Maranhão, Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Os
rebanhos desses estados totalizam 38 milhões de cabeças, ou 24% do rebanho bovino
nacional.
Da área infectada é proibido o trânsito de bovinos para a Zona Livre, qualquer
que seja a finalidade. Quanto aos bovinos procedentes de estados classificados como de
médio risco, mas com destino à Zona Tampão, são exigidos lacre na origem, rota
definida e desinfecção na barreira.
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Figura 2.15 – Zona Infectada. 2000.
Fonte: MAA.
AM
AC RO
RR
PA
TO BA
ES
RJ
MA
PI
CE RN
PB PE
AL SE
AP
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6.2. ZONA TAMPÃO
A Zona Tampão (Figura 2.16) se constitui, de acordo com a OIE, numa região
intermediária que serve de proteção entre a Zona Infectada e a Zona Livre.
Da Zona Tampão para a Zona Livre não é permitido o envio de animais para
abate. O de carne é permitido, desde que sem osso. Carne com osso somente pode ser
enviada para outra Zona Tampão ou para Zona Infectada.
No Brasil, a Zona Tampão está em vigor desde dezembro de 1999, tendo sido
oficializada pelo OIE em maio de 2000. Cobre uma área de um milhão de quilômetros
quadrados, abarcando 712 municípios, 245 mil propriedades e um rebanho bovino de 34
milhões de cabeças: “A zona tampão tem uma grande extensão em função de proteger
uma zona livre também de grandes dimensões. Circunda inteiramente a zona livre
proposta, sendo formada por segmentos geográficos pertencentes a cinco unidades da
federação e pela totalidade do estado de Mato Grosso do Sul. Tem fronteiras ao
sudoeste com a República do Paraguai (reconhecida pelo OIE como livre de febre
aftosa); ao oeste com a República da Bolívia (Departamento de Santa Cruz de la Sierra)
e com o estado de Rondônia; ao norte com os estados do Amazonas, Pará, Tocantins e
Bahia e ao leste com os estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Na região oriental
dos estados de São Paulo e Paraná, que fazem parte da zona livre proposta, encontra-se
o Oceano Atlântico” (BRASIL, 2000d, p. 45).
Mato Grosso do Sul adquiriu a condição de Zona Tampão depois que, em
janeiro de 1999, foram registrados dois focos de febre aftosa no município de Naviraí,
no sul do estado. Essa condição é temporária, prevista de estender-se, segundo critérios
do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, até dezembro de 2000, quando será
decretada Zona Livre, em termos nacionais. Em termos internacionais, a condição de
Zona Livre com Vacinação deverá ser homologada em maio de 2001 pelo OIE, em sua
reunião anual de Paris34.
34 O OIE só concede o certificado de Zona Livre para áreas que não tenham registrado focos de febre aftosa nos dois anos que precedem a data dessa certificação.
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Figura 2.16 – Zona Tampão. 2000.
Fonte: MAA.
Fonte: MAA.
MT
GO
MS
MG
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Tabela 2.5 – Zona Tampão: áreas e efetivos bovinos e suínos em municípios limítrofes à Zona Infectada e municípios de Mato Grosso do Sul.
Rebanho bovino Rebanho suíno Unidade da federação Área (km2) Número de
municípios Propriedades População Propriedades População
São Paulo 3 551 7 1 722 79 065 812 9 400
Paraná 8* - 65 3 455 2 206
Mato Grosso 255 498 23 12 285 3 174 429 3 685 110 047
Goiás 42 423 16 6 449 1 294 638 5 200 147 797
Minas Gerais 345 284 589 182 794 8 948 597 963 1 492 760
Mato Grosso do Sul 358 158 77 42 547 21 147 485 229 279 002
Total 1 004 992 712 245 862 34 647 669 10 891 2 039 212
* Grupo de ilhas localizado no rio Paraná, na divisa com Mato Grosso do Sul. Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 2000.
Duas formas de proteção preponderam entre a Zona Tampão e as demais
zonas: barreiras naturais e postos de controle e fiscalização.
As primeiras, acidentes geográficos tais como florestas e rios, são elementos
físicos que não permitem o contato e o trânsito de animais e derivados entre duas zonas.
No caso de Mato Grosso do Sul (Zona Tampão), tem-se a barreira física do rio Paraná, a
separá-lo de São Paulo e Paraná (Zona Livre).
Os postos de controle e fiscalização (Figura 2.14) operam 24 horas por dia: “A
zona livre proposta está protegida por uma barreira constituída por 101 postos fixos de
fiscalização, que funcionam de forma ininterrupta, e por 69 equipes móveis distribuídas
estrategicamente. Esse trabalho contínuo de fiscalização é executado por um grupo de
566 técnicos e auxiliares que se revezam permanentemente” ( BRASIL, 2000d, p. 14).
6.3. ZONA LIVRE DE FEBRE AFTOSA COM VACINAÇÃO
A Figura 2.17 identifica a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação,
oficializada pelo OIE em maio de 2000. Esse tipo de território é definido pelo OIE
como uma área delimitada dentro de um país, na qual não se tenha registrado nenhum
caso de enfermidade inscrita no Código Zoossanitário Internacional durante o período
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indicado para tal enfermidade (no caso da febre aftosa, esse período é de dois anos) e
em cujo interior e limites se esteja exercendo um controle veterinário oficial e efetivo
dos animais, produtos de origem animal e transporte.
No Brasil, a Zona Livre com Vacinação é composta pela quase totalidade do
estado de São Paulo, por grande parte de Mato Grosso e Goiás, por parte de Minas
Gerais e pela totalidade do Paraná e do Distrito Federal, estendendo-se por uma área de
1,6 milhão de km2, que abarca 1 637 municípios. O total de propriedades é 622 mil,
englobando um rebanho bovino de 62 milhões de cabeças. ”Limita-se ao sul com o
estado de Santa Catarina (livre de febre aftosa sem vacinação), ao sudeste com o
Oceano Atlântico, ao leste com a região oriental do Estado de Minas Gerais (que
compõe parte da zona tampão), ao norte com uma faixa de municípios dos estados de
Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais (que constituem parte da zona tampão), ao oeste
com uma faixa de municípios do estado de Mato Grosso, com a totalidade do estado de
Mato Grosso do Sul (constituem parte da zona tampão) e com as Repúblicas do
Paraguai e da Argentina (países livres de febre aftosa, sem vacinação)” ( BRASIL,
2000d, p. 58).
Tabela 2.6 – Informações sobre área, total de municípios e rebanhos bovino e suíno, Zona Livre com Vacinação. 1999.
Rebanho bovino Rebanho suíno Unidade da federação Área (km2) Número de
municípios Propriedades População Propriedades População
São Paulo 245 258 638 145 990 12 379 237 40 565 1 289 019
Paraná 199 323 399 192 632 9 164 398 179 850 4 026 192
Mato Grosso 645 922 109 60 881 13 739 021 18 264 490 141
Goiás 312 699 226 96 607 16 873 233 62 330 1 771 645
Minas Gerais 241 415 264 123 405 9 882 210 473 817 480
Distrito Federal 5 160 1 3 127 102 188 1 982 103 604
Total 1 649 777 1 637 622 642 62 140 287 303 464 7 721 475
Fonte: MAA, 2000.
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Figura 2.17 – Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação. 2000.
Fonte: MAA.
MT
GO
MG
SP
PR
DF
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79
Em termos da indústria frigorífica, temos na Zona Livre com Vacinação um
total de 266 frigoríficos, praticamente 50% deles com Sistema de Inspeção Federal
(SIF) e o restante com Sistema de Inspeção Estadual (SIE): “A indústria frigorífica
localizada na zona livre proposta representa o maior parque industrial deste tipo no país.
Está constituído de 266 frigoríficos para bovinos, que estão submetidos à inspeção
veterinária oficial. Mais de 50% dos frigoríficos de bovinos estão situados nos estados
de São Paulo e do Paraná, próximos às grandes cidades e aos portos para a exportação.
Registra-se, também, a existência de um número significativo de bovinos nos estados de
Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, sendo alguns deles de grande capacidade de abate.
Essa capacidade individual de abate vai desde 50 até 8 600 cabeças/dia” (BRASIL,
2000d, p. 59).
Tabela 2.7 – Indústria frigorífica de carnes na Zona Livre com Vacinação. 1999.
Frigoríficos de bovinos Frigoríficos de suínos Unidade da federação Inspeção
federal Inspeção estadual Total Inspeção
federal Inspeção estadual Total
São Paulo 43 44 87 43 44 87
Paraná 20 53 73 15 43 58
Mato Grosso 20 5 25 3 1 4
Goiás 22 31 53 1 23 24
Minas Gerais 22 3 25 11 6 16
Distrito Federal 1 2 3 1 5 6
Total 128 138 266 74 122 195
Fonte: MAA, 2000.
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6.4. ZONA LIVRE DE FEBRE AFTOSA SEM VACINAÇÃO
Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina foram reconhecidos pelo
OIE em 1998 como Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação (Figura 2.18). Tal
certificação restringiu ou impediu o trânsito de animais e subprodutos de outras
unidades da federação para esses dois estados. Tais restrições são assim explicitadas
pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento 35: “Está proibido o ingresso de
animais vacinados contra a febre aftosa na zona livre de febre sem vacinação constituída
pelos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. ... Está proibida a manutenção de
vírus da febre aftosa, vivo, no território de ambos os estados, exceto naquelas
instituições que possuam nas suas instalações dispositivos de biossegurança
oficialmente aprovados. ... Todo vírus vivo para diagnóstico, investigação, produção de
vacinas e outras finalidades, deverá ser entregue ao DDA, para sua imediata destruição.
... Está proibida a aplicação, a manutenção e a venda de vacinas contra febre aftosa no
território dos dois estados. ... A entrada de animais susceptíveis à febre aftosa, produtos
e subprodutos de origem animal, produtos veterinários e todo material ou substância que
possa veicular o vírus da febre aftosa na zona livre sem vacinação somente será
autorizada quando procedentes de zonas ou país de idêntica situação sanitária”.
(BRASIL, 2000e, p. 2).
35 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução normativa n. 13. Brasília, 19 mai. 2000.
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Figura 2.18 – Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. 2000.
Fonte: MAA.
RS
SC
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6.5. AMPLIAÇÃO PROPOSTA PARA A ZONA LIVRE DE FEBRE AFTOSA COM VACINAÇÃO
O Brasil prepara-se para formalizar uma proposta de ampliação de sua Zona
Livre de Febre Aftosa com Vacinação, que deverá ser oficializada internamente no país
pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento até dezembro de 2000 e ser
apresentada ao OIE para oficialização internacional em maio de 2001.
Essa ampliação significará a inclusão de mais 39 milhões de cabeças, ou 25%
do rebanho nacional, à Zona Livre de Febre Aftosa. A ampliação fará com que o Brasil
tenha em seu território, em maio de 2001, praticamente 130 milhões de cabeças, ou seja,
82% do seu rebanho, com o status sanitário de Zona Livre de Febre Aftosa com e sem
Vacinação (Figura 2.19).
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83
Figura 2.19 – Proposta de ampliação da Zona Livre. Evolução para 2001.
Fonte: MAA.
Zona livre de febre aftosa, com vacinação, reconhecida
Ampliação proposta da zona livre com vacinação
Zona tampão proposta
Zona infectada
Matas, florestas, alagados Rios
RS
PR
SP
SC
RJ
ESMG
SE
PE
PB
RN
AL
AP
PAMA
PI
CE
BA MT
ROAC
AM
RR
DF GO
MS
TO
Zona livre sem vacinação
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7. CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA DE BOVINOCULTURA NO CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE
Até o momento descrevemos as características básicas das regionalizações
sanitárias atualmente existentes no Brasil, segundo o Programa Nacional de Erradicação
da Febre Aftosa: Circuitos Pecuários, regionalização por graus de risco de febre aftosa e
zonificação (Zonas Infectada, Tampão e Livre).
Apresentaremos agora informações gerais sobre a cadeia da bovinocultura dos
estados que compõem o Circuito Pecuário Centro-Oeste, frisando as relações existentes
entre eles e outros circuitos
A Tabela 2.8 revela, dentre outras grandezas, uma superfície de praticamente 3
milhões de km2, com um contingente populacional de 71 milhões de habitantes. Dada a
representatividade de seu rebanho bovino, de quase 100 milhões de cabeças, o
equivalente a dois terços do rebanho nacional, a que se soma o crescimento recente de
sua indústria frigorífica e mesmo de seu mercado consumidor, podemos considerar que
esse circuito é o que hoje pauta a dinâmica da pecuária de corte no Brasil.
Tabela 2.8 – Circuito Pecuário Centro-Oeste: informações gerais.
Unidades da
federação Superfície
(km2) População Rebanho(milhões)
Frigorí-ficos com
SIF
Capaci-dade de abates por dia
Total de abates em
1997 (milhões)
Total da produção com SIF
em 1997 1
Percentual da produ-ção com SIF1 por estado
DF 5 822 1 817 001 0,119 * * * * *
GO 341 289 4 501 538 17,4 21 7 900 1,7 259 369 23,13%
MT 906 807 2 227 983 13,7 19 9 700 1,9 226 175 20,17%
MS 358 159 1 922 258 20,1 33 11 600 3,4 513 595 45,80%
MG 588 383 16 660 691 18,2 30 9 880 3,1 14 482 1,29%
PR 199 709 8 985 981 7,9 23 7 270 1,9 107 756 9,10%
SP 248 809 34 055 715 11,2 64 32 160 4,8 - -
TO 278 421 1 048 514 5,1 6 2 720 0,61 8 318 0,51%
Total 2 927 399 71 219 681 93,719 196 81 230 17,41 1 129 695 100%
Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS. * O Distrito Federal não tem frigoríficos com SIF. 1 Total de produtos enviados a SP.
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A seguir, apresentaremos as principais características da atividade em cada
estado deste circuito e descreveremos a quantidade, localização e, em breve análise, a
capacidade de abate instalada e a ociosidade dos frigoríficos por estado. Finalmente
analisaremos o trânsito de animais, produtos e subprodutos entre o Circuito Pecuário
Centro-Oeste e outras unidades da federação.
DISTRITO FEDERAL
O Distrito Federal (Figura 2.20) é um grande importador e consumidor de
carne, por ter um população de quase 2 milhões de habitantes e possuir um rebanho
bovino de apenas 190 mil animais. Dada a pouca oferta de animais, o estado não conta
com grande capacidade de abate, sendo preponderantemente um importador de carne. O
abate em 1999 foi de somente 80 mil cabeças.
A inspeção desse abate é, em sua totalidade, não-federal. (Abatedouros e
frigoríficos com inspeções estadual e municipal, minoritários, não foram analisados
nesta pesquisa.)
O estado que mais abastece o mercado do Distrito Federal, trazendo carnes
com e sem osso, é Goiás, em virtude de sua proximidade geográfica.
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Figura 2.20 – Distrito Federal.
Fonte: MAA.
Circuito Pecuário C.-Oeste
MT
MS SP
PR
MG
GO
TO
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTESUL
Brasil - Circuitos Pecuários
DF
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GOIÁS
A Tabela 2.9 mostra indicadores básicos da pecuária de corte do estado de
Goiás, que servem de parâmetro para várias interpretações.
Tabela 2.9 – Indicadores básicos da pecuária de corte em Goiás. 1999.
Indicador Quantidade
Total do rebanho bovino 16 999 199
Evolução do rebanho bovino (1991-99) –4%
Total do abate bovino 3 014 709
Taxa geral de abate bovino 17,7%
Evolução do abate bovino (1991-99) 30%
Total do rebanho bovino confinado 185 000
Evolução do confinamento (1991-99) 131%
Preço das terras de pastagem R$ 658,00
Frigoríficos com SIF 21
Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.
Em princípio, a capacidade instalada de abate em Goiás (Tabela 2.8) é
insuficiente para dar conta de toda a produção de animais. Verifica-se, porém, no mapa
do trânsito de bovinos de Goiás (Figura 2.22), que em 1997 a saída de bovinos para
serem abatidos em outros estados atingiu somente 62 mil cabeças, constituindo menos
de 4% do total abatido com SIF (1,7 milhões) naquele ano. Se considerado o abate com
SIF estimado pela FNP Consultoria (3,3 milhões), essa porcentagem cai para pouco
mais de 2%. A grande diferença dos dados de abate estimados pela FNP pode ser
atribuída aos dados controversos coletados por outros sistemas de inspeção, não
significando que toda esta diferença seja relativa ao abate clandestino.
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Tabela 2.10 – Frigoríficos em Goiás. 1999.
Cidade Razão Social Capacidade de abate por dia %
Anápolis Frigorífico Santana Ltda. 150 1,90%
Aporé Frigorífico Vale do Aporé 300 3,80%
Buriti Alegre Frimigo – Frig. Ind. Minas Goiás Ltda. 100 1,27%
Cachoeira Alta Frigoalta – Frig. Cachoeira Alta Ltda. 400 5,06%
Goianésia Fricoby Ind. e Comércio de Carnes Ltda. 200 2,53%
Friboi Alimentos Ltda. 600 7,59% Goiânia
Frigorífico Planalto Ltda. 600 7,59%
Brasilian Beef Alimentos Ltda. 500 6,33% Goianira
Frigorífico Nova Goiânia Ltda. 300 3,80%
Goiás Frigorífico Margen Ltda. 400 5,06%
Hidrolândia Frigorífico Boa Esperança Ltda. 200 2,53%
Inhumas Fribras Frig. Ind. Inhumas Ltda. 350 4,43%
Jataí Uruanga Frigoríficos Ltda. 400 5,06%
Pirenópolis Friper Frigorífico Pereira Ltda. 350 4,43%
Porangatu Friporanga Porangatu Frigorífico Ltda. 250 3,16%
Quirinópolis Frigorífico Quirinópolis Ltda. 400 5,06%
Rio Verde Frigorífico Margen Ltda. 700 8,86%
Santa Fé de Goiás Frigorífico Modelo Ltda. 200 2,53%
São Luís de Montes Belos
Frigorífico Rio Vermelho 200 2,53%
São Miguel do Araguaia
Frigorífico São Miguel do Araguaia Ltda. 300 3,80%
Senador Canedo Coop. Ind. de Carnes e Deriv. de Goiás Ltda. 1 000 12,66%
Total do abate por dia: 7 900 100%
Total do abate por mês: 237 000
Total do abate por ano: 2 844 000
Fonte: DFA-GO/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.
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Figura 2.21 – Distribuição dos frigoríficos de Goiás.
Fonte DEA-UFMS, 1999.
Circuito Pecuário Centro-Oeste
MT
MS SP
PR
MG
GO
TO
Fonte: DEA/UFMS, 1999.
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTESUL
Brasil - Circuitos Pecuários
GO
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Ingresso e egresso
Os dados da Tabela 2.11 mostram que a saída de animais de Goiás para abate
fora do estado é maior que a quantidade que entra no estado para essa finalidade. A
entrada de animais para outras finalidades é, entretanto, superior à saída, ainda
caracterizando o estado como uma região de engorda, embora os abates venham
aumentando. Na soma geral do trânsito, pode-se considerar Goiás como exportador de
bovinos, apesar da quantidade inexpressiva em relação ao tamanho do rebanho estadual.
Tabela 2.11 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Goiás, 199736
Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)
Exportação 122 604 61,792 Exportação 169 164 42,291
Importação 69 741 35,149 Importação 218 424 54,606
Saldo +62 863 31,683 Saldo –49 260 12,315
Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$ 504,00; valor médio de outras atividades: R$ 250,00.
A Figura 2.22 demonstra o fluxo de bovinos em 1997 entre Goiás e unidades
da federação limítrofes. Observa-se que o trânsito é mais intenso com os estados de
Minas Gerais e Mato Grosso, o que se faz sem restrições pelo fato de esses estados
também fazerem parte da Zona Livre com Vacinação.
36 Os dados são relativos ao ano de 1997. Dados mais recentes não estiveram disponíveis no fechamento deste trabalho devido a alterações na base de dados processada pelo MAA em julho de 1999.
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Figura 2.22 – Trânsito de bovinos. Goiás, 1997.
MT ➜ GO Abate 43.373 Outras 73.654
TOTAL 117.029
GO ➜ MT Abate 6.240
Outras 74.537 TOTAL 80.777
SALDO + 36.252
GO ➜ MS Abate 8.363
Outras 23.067 TOTAL 31.430
SALDO - 11.898
MS ➜ GO Abate 5.190
Outras 14.342 TOTAL 19.532
MG ➜ GO Abate 11.795
Outras 121.053 TOTAL 132.848
GO ➜ MG
Abate 107.916 Outras 53.380
TOTAL 161.296 SALDO - 28.448
TO ➜ GO Abate 9.383 Outras 9.375
TOTAL 18.758
GO ➜ TO Abate 85
Outras 18.180 TOTAL 18.265 SALDO + 493
Entrada GO
Saída GO
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE SUL
BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS
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MINAS GERAIS
Os indicadores básicos da pecuária de corte do estado de Minas Gerais estão
expostos na Tabela 2.12.
Tabela 2.12 – Indicadores básicos da pecuária de corte de Minas Gerais. 1999.
Indicador Quantidade
Total do rebanho bovino 18 778 078
Evolução do rebanho bovino (1991-99) –12%
Total do abate bovino 2 809 787
Taxa geral de abate bovino 15%
Evolução do abate bovino (1991-99) 13%
Evolução do confinamento (1991-99) 71%
Total do rebanho bovino semiconfinado 140 000
Preço das terras de pastagem R$ 649,00
Frigoríficos com SIF 30
Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.
O rebanho bovino total é de quase 19 milhões de cabeças, presentes sobretudo
na margem esquerda do rio São Francisco, onde se concentra de forma mais
significativa a bovinocultura leiteira. A bovinocultura de corte tem maior importância
na região do Triângulo Mineiro. O rebanho bovino de Minas Gerais diminuiu em 12%
na última década.
A Figura 2.23 indica a distribuição dos frigoríficos de Minas Gerais,
evidenciando uma concentração destes na região do Triângulo Mineiro, onde se
encontra também a maioria do rebanho de corte do estado.
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Tabela 2.13 – Frigoríficos de Minas Gerais
Cidade Razão social Capacidade de abate por
dia %
Frigorífico Mataboi 500 5,39% Araguari
Santa Lúcia Indústria e Comércio de Carnes Ltda. 200 2,16% Fricon Frigorífico Industrial de Contagem 250 2,69% Frigoneto Ltda. 150 1,62% Belo Horizonte Frigorífico Modelo Ltda. 300 3,23%
Bertim Frigobet – Frigorífico Industrial Bertim Ltda. 600 6,47% Campina Verde K Milão Produtos Frigoríficos Ltda. 250 2,69% Campo Belo Sudoeste Indústria Comércio Distribuição 250 2,69% Carlos Chagas Frigorífico JL Ltda. 200 2,16% Governador Valadares Casas Sendas Comércio e Indústria S/A. 400 4,31%
Igarapé Frigorífico Alvorada Ltda. 200 2,16% Itajubá Matadouro Frigorífico Itajubá 300 3,23%
Frigorífico Diamante do Pontal Ltda. 150 1,62% Ituiutaba
Frigorífico Bertin Ltda. 1 200 12,93% Nanuque Friga Frigorífico Rio Doce S/A. 500 5,39% Pará de Minas Unifrigo Indústria e Comércio Ltda. 200 2,16% Passos Frigom – Prefeitura Municipal de Passos 150 1,62%
Xingu Alimentos Ltda. 250 2,69% Patrocínio
Indústria de Carnes e Derivados S/A. 300 3,23% Frigorífico Tamoyo Ltda. 300 3,23%
Poços de Caldas Frigorífico Nossa Senhora da Saúde Ltda. 200 2,16%
Sabará Frigorífico R & M Ltda. 200 2,16% São Sebastião do Paraíso Vale do Paraíso 150 1,62%
Teófilo Otoni Bola S/A. Indústria Alimentícia 600 6,47% Ubá Cinducar Comércio e Ind. Ubaense de Carnes Ltda. 150 1,62% Uberaba Miusa Matadouro Industrial Uberaba Ltda. 200 2,16%
Frigorífico Triângulo Ltda. 150 1,62% UA – Comércio e Indústria S/A. 700 7,54% Uberlândia FL Frigorífico Luciana e Corretora de Cereais 200 2,16%
Unaí Frigorífico Brasil Central Ltda. 80 0,86% Total de abates por dia: 9 280 100% Total de abate por mês: 278 400 Total de abates por ano: 3 340 800 Fonte: Delegacia Federal de Agricultura – DFA-MG/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.
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Figura 2.23 – Distribuição dos frigoríficos de Minas Gerais. 1999.
Fonte DEA-UFMS, 1999.
Circuito Pecuário Centro-Oeste
MT
MS SP
PR
MG
GO
TO
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE
SUL
Brasil – Circuitos Pecuários
GO
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Ingresso e egresso
Em 1997, Minas Gerais foi um fornecedor de bovinos para outros estados,
tanto para abate como para outras finalidades, como se verifica na Tabela 2.14, embora
com tendência de crescimento do consumo interno.
Tabela 2.14 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Minas Gerais, 1997.
Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)
Exportação 175 408 88,406 Exportação 291 323 72,831
Importação 108 395 54,631 Importação 68 679 17,170
Saldo +67 013 33,775 Saldo +222 744 55,686
Fonte: Emissão de GTAs de cada estado e dados coletados em barreiras sanitárias. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.
Os maiores parceiros de Minas Gerais no comércio de bovinos são os estados
de São Paulo e Goiás (Figura 2.24), que também se localizam na Zona Livre de Febre
Aftosa, o que não representou um empecilho por ocasião do fechamento de divisas entre
as Zonas Livre e Tampão. A saída de bovinos de Minas Gerais para as Regiões Leste e
Nordeste (Espírito Santo e Bahia) é bem superior à entrada proveniente dessas regiões,
o que leva a concluir que Bahia e Espírito Santo são potenciais consumidores de carne,
e não produtores37.
37 Os dados de saída de bovinos de Minas Gerais são baseados na emissão de GTAs, e os referentes à entrada de bovinos em Minas Gerais provenientes do Espírito Santo e da Bahia foram coletados nas barreiras sanitárias mineiras. Acreditamos que os dados baseados na emissão de GTAs estão mais próximos da realidade.
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Figura 2.24 – Trânsito de bovinos. Minas Gerais, 1997.
Fonte: MAA.
Saída MG
Entrada MG
BA ➜ MG Abate 3
Outras 93 TOTAL 96
MG ➜ BA Abate 21.103 Outras 37.934
TOTAL 59.037
GO ➜ MG Abate 107.916 Outras 53.380
TOTAL 161.296
MG ➜ GO Abate 11.795
Outras 121.053 TOTAL 132.848
ES ➜ MG Abate 0
Outras 25 TOTAL 25
MG ➜ ES Abate 20.726 Outras 15.613
TOTAL 36.341
SP ➜ MG Abate 476
Outras 15.181 TOTAL 15.657
MG ➜ SP Abate 121.784Outras 116.723
TOTAL 238.507
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE SUL
Brasil - Circuitos Pecuários
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MATO GROSSO
Nota-se na Tabela 2.15 que a pecuária do estado de Mato Grosso cresceu muito
nos últimos anos 90, tanto quantitativa como qualitativamente. Entre 1990 e 1999, o
rebanho teve um crescimento de 42%, e o abate aumentou quase 77% no mesmo
período. Mais expressivo ainda foi o crescimento do rebanho confinado, que aumentou
em 370% de 1990 para 1995. Mato Grosso é o estado onde se registrou o maior
crescimento do rebanho no país na década de 90, explicado principalmente pela
existência de regiões de ocupação e pelos preços das terras. O preço médio de R$
455,00/ha faz de Mato Grosso um pólo de atração tanto para a pecuária quanto para
outras atividades agrícolas, tais como as culturas de soja e de algodão.
Além dos aspectos mencionados, a recente melhoria na infra-estrutura,
especialmente em transporte e energia elétrica, colabora para trazer uma nova dinâmica
ao agronegócio no estado, com grande importância para a bovinocultura de corte.
Tabela 2.15 – Indicadores básicos da pecuária de corte de Mato Grosso. 1999.
Indicador Quantidade
Total do rebanho bovino 15 539 678
Evolução do rebanho bovino (1991-99) 42%
Total do abate bovino 2 643 846
Taxa geral de abate bovino 17%
Evolução do abate bovino (1991-99) 77%
Total do rebanho bovino confinado 165 000
Evolução do confinamento (1991-99) 370%
Preço das terras de pastagem R$ 455,00
Frigoríficos com SIF 19
Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.
A figura 2.25 traz a distribuição dos frigoríficos de Mato Grosso, evidenciando
uma certa predominância de instalações no sul e sudeste do estado. A capacidade
instalada de abate é de 3,2 milhões de animais por ano.
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Tabela 2.16 – Frigoríficos de Mato Grosso. 1999.
Cidade Razão Social Capacidade de abates por dia %
Água Boa Frigorífico Água Boa Ltda. 600 6,59%
Canarana Frigorífico Fricam de Canarana 200 2,20%
Alta Floresta Alta Floresta Indústria Frigorífica Ltda. 500 5,49%
Araputanga Fribdara – Frigorífico Araputanga Ltda. 600 6,59%
Bertin Ltda. 500 5,49% Barra do Garças
Frigorífico Pontal do Araguaia Ltda. 800 8,79%
Cáceres Frigosol – Frigorífico Vale do Sol 400 4,40%
Colider Frigorífico Colider Ltda. 600 6,59%
Cuiabá Frigorífico Frigoverdi Ltda. 400 4,40%
Mirassol D´Oeste Frigosafra Indústria e Comércio de Alimentos Ltda. 400 4,40%
Pedra Preta Frigomarca – Martins Caldas e Cia. Ltda. 300 3,30%
Pontes e Lacerda Frigorífico Vale do Guaporé 600 6,59%
Agra Agroindústria de Alimentos S/A. 200 2,20% Rondonópolis
Frivale – Frigorífico Vale do Rio Vermelho Ltda. 600 6,59%
Sinop Frigorífico Alto Norte S/A. 400 4,40%
Tangará da Serra Frigorífico Tangará Ltda. 600 6,59%
Sadia Frigobrás – Indústria e Comércio 800 8,79%
Frigopam – Frigorífico Portal da Amazônia Ltda. 300 3,30% Várzea Grande
Frigorífico Várzeagrandense Ltda. 300 3,30%
Total de abates por dia: 9 100 100%
Total de abates por mês: 273 000
Total de abates por ano: 3 276 000
Fonte: DFA-MT/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999..
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Figura 2.25 – Distribuição dos frigoríficos de Mato Grosso. 1999.
Fonte: MAA.
Circuito Pecuário Centro-Oeste
MT
MS
SP
PR
MG
GO
TO
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTESUL
Brasil – Circuitos Pecuários
MT
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100
Ingresso e egresso
Os dados da Tabela 2.17 revelam que Mato Grosso é um importador de
bovinos tanto para abate como para outras finalidades, apesar do pequeno volume desse
trânsito.
Tabela 2.17 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso, 1997.
Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)
Exportação 47 826 24,104 Exportação 88 927 22,232
Importação 118 590 59,769 Importação 101 459 25,365
Saldo –70 764 35,665 Saldo –12 532 3,133
Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.
A figura 2.26, que explicita o trânsito de bovinos entre Mato Grosso e seus
estados limítrofes, mostra que em 1997 provieram de Rondônia 106 mil animais para
serem abatidos. A capacidade instalada de frigoríficos de Rondônia, tendo aumentado
muito nos últimos anos, é hoje plenamente capaz de absorver toda a produção interna de
bovinos para abate. A proibição da entrada de bovinos de Rondônia, a partir do início de
2000, foi contornada graças à capacidade de oferta interna de Mato Grosso.
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101
Figura 2.26 – Trânsito de bovinos. Mato Grosso, 1997.
Fonte: MAA.
RO ➜ MT Abate 106.369
Outras 0 TOTAL 106.369
MT ➜ RO
Abate 0 Outras 0
TOTAL 0 SALDO + 106.369
MT ➜ PA Abate 860
Outras 8.719 TOTAL 9.579
GO ➜ MT Abate 6.240
Outras 74.537 TOTAL 80.777
MT ➜ GO
Abate 43.373 Outras 73.654
TOTAL 117.029SALDO - 36.252
MS ➜ MT Abate 5.121
Outras 18.203 TOTAL 23.324
MT ➜ MS Abate 4.453
Outras 15.266 TOTAL 19.719 SALDO + 3.605
Entrada MT
Saída MT
Trânsito bovino
INTRAESTADUAL(4.680.382 bovinos)
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE SUL
BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS
PA ➜ MT Abate 0 Outras 7
TOTAL 7 SALDO + 9.572
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MATO GROSSO DO SUL
O rebanho bovino de Mato Grosso do Sul teve pouco crescimento nos últimos
anos, mas a evolução do abate e dos confinamentos no estado foi bastante expressiva.
Entre 1990 e 1996 o abate cresceu 180% e o confinamento teve um acréscimo de 163%
de 1990 a 1995. A capacidade instalada de abate com SIF no estado é suficiente para
dar conta de toda a sua produção de bovinos, embora ainda haja abatedouros sob outros
tipos de inspeção.
Tabela 2.18 – Indicadores básicos da pecuária de corte. Mato Grosso do Sul, 1999.
Indicador Quantidade
Total do rebanho bovino 20 032 867 *
Evolução do rebanho bovino (1991-99) 0%
Total do abate bovino 3 184 109
Taxa geral de abate bovino 16%
Evolução do abate bovino (1991-99) 17%
Total do rebanho bovino confinado 145 000
Evolução do confinamento (1991-99) 163%
Preço das terras de pastagem R$ 745
Frigoríficos com SIF 33
Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil, UFMS e IAGRO-MS. * 22,7 milhões segundo dados do IAGRO-MS, 2000.
Questões específicas da cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do
Sul serão abordadas adiante. Na Tabela 2.18, porém, já podemos identificar alguns
aspectos indicativos de que a cadeia produtiva no estado, apesar de ainda envolver o
maior rebanho de corte de país, vive um processo de esgotamento. No período 1990-99
o rebanho manteve-se praticamente estagnado, na faixa das 20 milhões de cabeças.
Comparada à de outros estados da federação, a taxa de abate 16% de Mato
Grosso do Sul é ainda relativamente baixa. O estado é, ainda que cada vez menos,
exportador de animais em pé para engorda e abate em outros estados.
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O número de plantas frigoríficas não passou por aumento nos últimos anos,
mesmo porque a capacidade instalada de abate é cerca de 30% superior ao efetivamente
abatido. Até agosto de 1999, quando ocorreu o fechamento de suas divisas com os
demais estados do Circuito Pecuário Centro-Oeste, interrompendo o trânsito de animais
em pé, que eram destinados especialmente a São Paulo, havia uma grande disputa por
matéria-prima (bois) de Mato Grosso do Sul. Após aquela data, os frigoríficos
instalados no estado passaram a dispor de uma maior oferta de animais, o que lhe
permitiu aumentar as escalas de abate.
A Figura 2.27 mostra que as instalações frigoríficas estão bem distribuídas em
Mato Grosso do Sul, com uma menor concentração no sul do estado, que se caracteriza
como uma região mais de engorda que de outras finalidades..
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Tabela 2.19 – Frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999.
Município Razão social Capacidade de abate por dia % Desossa
Credencia-mento para exportação
Amambaí Fribai Frig. Vale Amambaí 580 3,80% Sim
Anastácio Frig. Independência Ltda. – ANA 600 3,93% Sim Sim
Frigorífico Sul Ltda. 420 2,75% Sim Aparecida do Taboado
Frig. Aparecida do Taboado 400 2,62% Não
Bataguassu Swift Armour S/A. 640 4,20% Sim
Bataiporã Frigonostro Ind. Com. Carnes Ltda. 740 4,85% Sim
Caarapó Friara Com. Carnes Ltda. 530 3,48% Sim
Frig. Boi Centro-Oeste 250 1,64% Sim
Friboi Ltda. 670 4,39% Sim
Swift Armour 1 200 7,87% Sim Sim Campo Grande
Frig. Campo Grande Ltda. 650 4,26% Sim
Cassilândia Tatuibi Ind. de Alimentos Ltda. 380 2,49% Sim
Corumbá Frig. Urucum 100 0,66% Sim
Coxim Frig. Margem Ltda. 350 2,30% Não
Eldorado Frig. Catarinense Ltda. 320 2,10% Sim
Guia Lopes da Laguna Frig. Pedra Branca Ltda. 250 1,64% Sim
Frig. Iguatemi 350 2,30% Sim Iguatemi
Bom Charque Ind. e Com. Ltda. 350 2,30% Sim
Itaporã Frig. Pedra Bonita 450 2,95% Sim
Navi Carnes Ind. e Com. Ltda. 230 1,51% Sim Naviraí
Bertin Ltda. 780 5,12% Sim Sim
Nioaque Frig. Boi Brasil Ltda. 350 2,30% Não
Frig. Independência 1 118 7,33% Sim Sim Nova Andradina
Frig. Pontual 420 2,75% Sim
Paranaíba Margem Ltda. 560 3,67% Sim
Ponta Porá Frig. Ponta-Porã 300 1,97% Sim
Ribas do Rio Pardo Bertin Ltda. 530 3,48% Sim
Rio Verde Frig. Margem Ltda. 300 1,97% Sim
Rochedo Frig. Rochedo 500 3,28% Não
Terenos Frigolop Frig. 430 2,82% Não
Três Lagoas Frigotel 500 3,28% Sim Sim
Total: 15 248 100,00%
Total sem desossa: 2 030
Total com desossa: 13 218
Fonte: DFA-MS/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.
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Figura 2.27 – Distribuição dos frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999.
Fonte: MAA.
Circuito Pecuário Centro-
MT
MS S
PR
MG
GO
TO
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE SUL
Brasil - Circuitos Pecuários
MS
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Ingresso e egresso
A Tabela 2.20 evidencia que Mato Grosso do Sul é um exportador de bovinos.
No entanto, a Tabela 2.21 revela que o trânsito interno desse estado é intenso. Quanto
ao trânsito de interestadual de bovinos, verifica-se acentuada redução em 1999, com o
fechamento, a partir de agosto daquele ano, das divisas entre Mato Grosso do Sul e os
demais estados do Circuito Pecuário Centro-Oeste.
Tabela 2.20 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso do Sul, 1997.
Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)
Exportação 656 524 330,888 Exportação 311 691 77,923
Importação 12 863 6,483 Importação 72 722 18,181
Saldo +643 661 324,405 Saldo +238 969 59,742
Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.
Tabela 2.21 – Evolução do trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1996-99.
Ano Intraestadual Interestadual Total
1996 12 269 756 1 231 307 13 501 063
1997 12 389 549 1 008 769 13 398 318
1998 11 435 945 691 930 12 127 875
1999 12 345 560 410 000 12 755 560
Em São Paulo, a interrupção da oferta de bovinos para abate oriundos de Mato
Grosso do Sul acarreta maior ociosidade nos frigoríficos. Além disso, a proibição da
entrada de carne traz outra desvantagem: o desemprego. Por outro lado, essas limitações
ao trânsito acarretarão aumento no números de empregos nesses setores (abate e
desossa) em Mato Grosso do Sul.
Devido às restrições ao trânsito de animais em pé de Mato Grosso do Sul para
a Zona Livre (que em 1998 fora de quase 400 mil cabeças para abate destinadas apenas
a São Paulo) e pelo fato de esses animais passarem a ser abatidos e desossados dentro
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do estado, Mato Grosso do Sul teve um acréscimo de valor agregado de
aproximadamente R$ 500 milhões e uma geração de 5 000 empregos diretos, sobretudo
na instalação, ampliação e modernização de desossas.
Nesse sentido, o fechamento das divisas sul-mato-grossenses com outros
estados acabou por conformar e solidificar o processo de deslocamento da indústria
frigorífica, de São Paulo especialmente, para Mato Grosso do Sul.
Até agosto de 1999, o envio de bovinos para São Paulo é foi o mais
significativo, superando em mais de 10 vezes a quantidade comercializada com os
outros estados. Esse trânsito para São Paulo já vinha diminuindo sensivelmente nos
anos anteriores, dando continuidade a um processo de transformação: até o final da
década de 80, Mato Grosso do Sul era produtor e fornecedor de animais vivos para
outros estados, principalmente para São Paulo, mas no início dos anos 90 as indústrias
frigoríficas passaram a se instalar maciçamente em seu território, podendo hoje absorver
toda a demanda do setor. Tal deslocamento deve-se a fatores — como a proximidade
com a matéria-prima e custos dos transportes — que, tanto isolada quanto
agregadamente, conferem maior nível de competitividade à indústria frigorífica sul-
mato-grossense.
A quantidade de bovinos que deixaram Mato Grosso do Sul com destino a São
Paulo teve uma redução de praticamente 50% num período de apenas dois anos (1996-
98), como mostram a Tabela 2.22 e o Gráfico 2.3.
Tabela 2.22 – Trânsito de bovinos com origem em Mato Grosso do Sul e destino a São Paulo. 1996-98.
Ano Para abate Para cria/recria Para reprodução, feiras, leilões Total
1996 674 354 152 382 180 909 1 007 645
1997 627 123 125 885 127 032 880 040
1998 388 545 107 612 100 138 596 295
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Gráfico 2.3 – Evolução da saída de bovinos de Mato Grosso do Sul com destino a São Paulo. 1996-98.
627.123
388.545
674.354
107.612125.885152.382
100.138
127.032180.909
1996 1997 1998
Abate Cria e recria Reprodução, feiras e leilões
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Figura 2.28 – Trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1997.
Fonte: MAA.
Trânsito bovino
INTRAESTADUAL(12.391.751 bovinos)
MS ➜ MT Abate 5.121
Outras 18.203 TOTAL 23.324
MT ➜ MS Abate 4.453
Outras 15.266 TOTAL 19.719
MS ➜ GO Abate 5.190
Outras 14.342 TOTAL 19.532 GO ➜ MS
Abate 8.363 Outras 23.067
TOTAL 31.430
MS ➜ SP Abate 627.123 Outras 252.917
TOTAL 880.040
MS ➜ PR Abate 19.090 Outras 26.229
TOTAL 45.319
PR ➜ MS Abate 47
Outras 44.389 TOTAL 44.436
Entrada MS
Saída MS
LESTE NORTE NORDESTE
CENTRO-OESTE SUL
BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS
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Quando, em julho de 1999, a pesquisa O trânsito de animais, produtos e
subprodutos e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos
impactos econômicos, da UFMS, concluiu pela possibilidade do fechamento das divisas
estaduais do Mato Grosso do Sul, dado que o estado poderia administrar e mesmo
auferir vantagens com essa restrição, observou-se uma reação muito pronunciada dos
produtores rurais sul-mato-grossenses, sobretudo os maiores. Afirmavam eles que
adviriam diferenças insuportáveis nos preços a serem pagos aos animais em pé dentro
no território estadual, o que levaria Mato Grosso do Sul a arcar com prejuízos
significativos. Juntamente com tais pecuaristas, consorciaram-se a tal discurso
representantes da indústria frigorífica, sobretudo a de São Paulo, alegando ser
imanejável a falta de animais em pé provenientes de Mato Grosso do Sul, com
conseqüente desabastecimento do mercado de carnes paulista. Tal reação foi mais
pronunciada por parte de representantes paulistas que compravam carne de Mato Grosso
do Sul para ser desossada em São Paulo, pois as novas restrições lhes vedavam essa
operação.
O que de fato acabou por se verificar foi um deslocamento de indústrias
frigoríficas, antes instaladas sobretudo em São Paulo, atraídas para Mato Grosso do Sul
pelas facilidades (proximidade com a matéria-prima e custo de transporte) e mesmo
diferenças de preço (o preço do boi em pé é menor que em São Paulo). Assim
instaladas, deverão permanecer em definitivo, uma vez que a desossa está praticamente
consolidada a se processar nas regiões de abate.
Constata-se, assim, que Mato Grosso do Sul atinge recordes de abate em 2000,
alcançando no primeiro semestre desse ano a média mensal de 215 000 cabeças por
mês, nível inédito no passado. Tais números evidenciam as tendências definitivas de
que produção, abate e desossa se realizem todas nas mesmas regiões.
PARANÁ
A Tabela 2.23 mostra um decréscimo no número de bovinos paranaenses entre
1988 e 1997. Essa alteração, de fato, se deve a uma tendência de deslocamento do
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rebanho bovino paranaense para a Região Norte do país. Os confinamentos tiveram um
crescimento pequeno quando comparado ao de alguns outros estados, embora 85% de
crescimento em cinco anos constitua uma boa variação. O abate aumentou só 34% de
1990 para 1996, o que confirma a tendência de expansão da pecuária para os estados das
Regiões Centro-Oeste e Norte e a de aproximação das indústrias frigoríficas à matéria-
prima (boi).
Tabela 2.23 – Indicadores básicos da pecuária de corte. Paraná, 1999.
Indicador Quantidade
Total do rebanho bovino 9 602 782
Evolução do rebanho bovino (1991-99) 0%
Total do abate bovino 2 643 846
Taxa geral de abate bovino 16,9%
Evolução do abate bovino (1991-99) 23%
Total do rebanho bovino confinado 90 000
Evolução do confinamento (1991-99) 28,5%
Preço das terras de pastagem R$ 1 538,00
Frigoríficos com SIF 23
Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.
A Figura 2.29 mostra a distribuição dos frigoríficos paranaenses. A Tabela 2.24
explicita a capacidade instalada de abate por frigorífico. No total, estes perfazem uma
capacidade de abater mais de 2,4 milhões de animais por ano, sem computar o abate
com inspeção estadual ou municipal, que é considerável no estado.
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Tabela 2.24 – Frigoríficos do Paraná. 1997.
Cidade Razão social Capacidade de abate por dia %
Arapongas Com. Prod. Alim. Daka Ltda. 350 5,20%
Campo do Tenente Comércio de Carnes Campo do Tenente Ltda. 150 2,23%
Campo Mourão Frifeme – Frios Ferri Medranno Ltda. 100 1,49%
Cianorte Eichenberg & Barbosa Ltda. 100 1,49%
Cruzeiro do Oeste Frigorífico Paraná Oeste Ltda. 400 5,94%
Foz do Iguaçu Abatedouro Municipal de Foz do Iguaçu 150 2,23%
Jacarezinho Frigorífico Rio Vermelho Ltda. 200 2,97%
Jataizinho Frigorífico Santinho Ltda. 150 2,23%
Joaquim Távora Frigorífico Estrela Ltda. 400 5,94%
Loanda Frigorífico Vale dos Três Rios Ltda. 350 5,20%
Londrina Frigorífico Caiubi Ltda. 180 2,67%
Frigorífico Nacional Ltda. 550 8,17%
Frigorífico Naviraí Ltda. 400 5,94% Maringá
Frigorífico Pantaneiro Ltda. 650 9,66%
Nova Esperança Frigorífico New Hope Ltda. 300 4,46%
Frigorífico Continental Ltda. 600 8,92% Paranavaí
Frigorífico Novo Paranavaí Ltda. 500 7,43%
Pato Branco Frigorífico Sudoeste Ltda. 150 2,23%
Ponta Grossa Associação do Com. e Ind. de Carnes de Ponta Grossa Ltda.
100 1,49%
São José dos Pinhais Frigorífico Argus Ltda. 250 3,71%
Tabejara M. Marques Neto & Cia Ltda. 300 4,46%
Toledo Frigorei 150 2,23%
Umuarama Frigorífico Umuarama Ltda. 250 3,71%
Total de abates por dia: 6 730 100%
Total de abates por mês: 201 900
Total de abates por ano: 2 422 800
Fonte: DFA-PR/MAA Elaboração: Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.
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Figura 2.29 – Distribuição dos frigoríficos no Paraná. 1999.
Fonte: MAA.
MT
MSSP
PR
MG
GO
TO
Circuito Pecuário Centro-Oeste
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE
SUL
Brasil - Circuitos Pecuários
PR
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Ingresso e egresso
Como se pode observar na Tabela 2.25, o estado do Paraná não tem grande
movimentação interestadual de bovinos.
Tabela 2.25 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Paraná, 1997.
Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)
Exportação 18 245 9,195 Exportação 73 673 18,418
Importação 19 225 9,689 Importação 35 364 8,841
Saldo –980 0,494 Saldo +38 309 9,577
Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.
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Figura 2.30 – Trânsito de bovinos. Paraná, 1997.
Fonte: MAA.
MATO GROSSO DO SUL SÃO PAULO
SANTA CATARINA
PR ➜ MS Abate 47
Outras 44.389 TOTAL 44.436
PR ➜ SP Abate 18.198 Outras 29.284
TOTAL 47.482SP ➜ PR Abate 135
Outras 9.135 TOTAL 9.270
Entrada PR
Saída PR
LESTE NORTE NORDESTE
CENTRO-OESTE
SUL
BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS
MS ➜ PR Abate 19.090 Outras 26.229
TOTAL 45.319
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SÃO PAULO
O rebanho bovino paulista (Tabela 2.26) diminuiu desde 1988, o que se deve à
ida dos criadores de bovinos para as Regiões Centro-Oeste e Norte.
Tabela 2.26 – Indicadores básicos da pecuária de corte de São Paulo. 1999.
Indicador Quantidade
Total do rebanho bovino 12 494 365
Evolução do rebanho bovino (1991-99) 0%
Total do abate bovino 4 936 301
Taxa geral de abate bovino 35%
Evolução do abate bovino (1991-99) 7%
Total do rebanho bovino confinado 435 000
Evolução do confinamento (1991-99) 107%
Preço das terras de pastagem R$ 1 884,00
Frigoríficos com SIF 64
Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.
O estado de São Paulo ainda possui a maior capacidade de abate instalada no
país (20% do abate nacional), mas não está mais em primeiro lugar no abate de animais
com SIF, posição que foi assumida por Mato Grosso do Sul. Os frigoríficos instalados
em São Paulo trabalham com grande capacidade ociosa, uma vez que o Centro-Oeste
deixou de ser grande fornecedor de animais para abate em outros estados, especialmente
este. A distribuição dos frigoríficos paulistas é apresentada na Figura 2.31.
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Tabela 2.27 – Frigoríficos de São Paulo. 1999.
Município Razão social Capacidade de abate diária %
Andradina Sadia Oeste S/A. Industria e Comercio 640 2,45%
Frigorífico Araçatuba S/A. – Araçafrigo 640 2,45%
Indústria e Comércio de Carnes Montenegro Araçatuba Ltda. 640 2,45% Araçatuba
Sadia Oeste S/A. Industria e Comércio 640 2,45%
Araras Frigorífico Santa Marta Ltda. 160 0,61%
Anglo Alimentos S/A. 640 2,45%
Búfalo Indústria e Comercio de Subprodutos Bovinos Ltda. 160 0,61% Barretos
Indústria e Comercio de Carnes Minerva Ltda. 640 2,45%
Bauru Frig. Vangelio Mondelli Ltda. Com. Ind. de Carnes 640 2,45%
Campinas Cooperativa Agropecuária Holambra 160 0,61%
Cotia Patmon Frigorífico Ltda. 320 1,23%
Cruzeiro Frigorífico Cleumar Ltda. 320 1,23%
Estrela D'Oeste Frigoestrela Frigorífico Estrela D'Oeste Ltda. 640 2,45%
Garça Frigus Frigorífico Unidos S/A. 640 2,45%
Guapiacu Frigorífico Caromar Ltda. 160 0,61%
Guararapes Frig Frigorífico Industrial Guararapes Ltda. 640 2,45%
Ibitinga Frigorífico Dm Ltda. 320 1,23%
Itapetininga Frigorífico Atenas do Sul Ltda. 160 0,61%
Itapira Refrigo Indústria Comércio Importação Exportação Ltda. 640 2,45%
Frigorífico Itaruma Ltda. 640 2,45% Jales
Frigorífico Jales Ltda. 320 1,23%
Jaú Frigorífico Vale Verde Ltda. 160 0,61%
Cargill Agrícola S/A. 640 2,45%
Frigorífico José Bonifácio Ltda. 320 1,23% José Bonifácio
Indústria Frigorífico Limtor Ltda. 640 2,45%
Lençóis Paulista Frigol Comercial Ltda. 640 2,45%
Limeira Geraldo Pacheco & Cia. Ltda. 640 2,45%
Lins Bertin Ltda. 640 2,45%
Maracaí Maracaí Frigo Ltda. 160 0,61%
Martinópolis Frigorífico Santa Marina Ltda. 320 1,23%
Nova Odessa Instituto de Zootecnia 160 0,61%
Osvaldo Cruz Frisane – Frigorífico Santa Neusa Ltda. 160 0,61%
Paulicéia Frigorífico Gongom Ltda. 160 0,61%
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Frigorífico Pereira Barreto Ltda. 160 0,61% Pereira Barreto
Ilha Solteira Comércio e Indústria Ltda. 320 1,23%
Frigorífico Angelelli Ltda. 320 1,23% Piracicaba
Frigorífico Raja Ltda. 640 2,45%
Pirajuí Frigorífico BMV Ltda. 160 0,61%
Pirapozinho Frigorífico Pirapó Ltda. 160 0,61%
Piraçununga UPS – União de Produtores de Suínos 320 1,23%
Presidente Bernardes Maracaí Distribuidora de Produtos Alimentícios Ltda. 160 0,61%
Presidente Epitácio Swift Armour S/A. Indústria e Comércio 640 2,45%
Prudenfrigo Prudente Frigorífico Ltda. 320 1,23%
Santa Marina Transportadora e Abatedoura Ltda. 160 0,61% Presidente Prudente
Swift Armour S/A. Indústria e Comércio 640 2,45%
Presidente Venceslau Frigorífico Kaiowa S/A. 640 2,45%
Promissão Frigorífico Gejota Ltda. 640 2,45%
Rancharia Frigorífico São Gabriel Ltda. 160 0,61%
São José do Rio Preto Frigorífico Boi Rio Ltda. 320 1,23%
São João Da Boa Vista Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista 160 0,61%
São Manoel Comércio de Carnes Vale do Boi 160 0,61%
São Miguel Comercio de Carnes Vale do Boi Ltda. 320 1,23%
Frigorífico Cabral Ltda. 640 2,45%
Frigorífico de Cotia Ltda. 640 2,45%
Frigorífico Guapeva S/A. 640 2,45%
Frigorífico Mo Zaquatro Ltda. 320 1,23%
São Paulo
Transmeat Transportes Ltda. 320 1,23%
Sertãozinho Agro Indústria e Comércio de Carnes e Derivados Olimpikus Ltda. 640 2,45%
Socorro Frigorífico Vale das Águas Ltda. 160 0,61%
Sud Menucci Frigorífico Sorboi Ltda. 160 0,61%
Taquaritinga Frigorífico Taquaritinga Ltda. 160 0,61%
Tupã Frigorífico Sastre Ltda. 320 1,23%
Vinhedo Frigorífico Planalto Ltda. 640 2,45%
Votuporanga Frigoalta Frigorífico Cachoeira Alta Ltda. 640 2,45%
Total de abates por dia: 26 080 100%
Total de abates por mês: 782 400
Total de abates por ano: 9 388 800
Fonte: DFA-SP/MAA Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.
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Figura 2.31 – Distribuição dos frigoríficos em São Paulo.
Fonte: MAA.
Circuito Pecuário Centro-Oeste
MT
MS
SP
PR
MG
GO
TO
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE
SUL
Brasil - Circuitos Pecuários
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Ingresso e egresso
O estado é grande importador não só de bovinos vivos, mas também de carne
com e sem osso (Tabela 2.28 e Figura 2.32). A indústria frigorífica paulista atualmente
se concentra mais na desossa de carnes oriundas da Região Norte e partes da Centro-
Oeste.
Tabela 2.28 – Trânsito de animais (entrada e saída). São Paulo, 1997.
Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)
Exportação 611 0,308 Exportação 24 316 6,079
Importação 767 175 386,656 Importação 399 254 99,814
Saldo –766 564 386,348 Saldo –374 938 93,735
Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.
Cabe destacar que com as restrições ao trânsito de animais e da carne com
osso, em especial os originários de Mato Grosso do Sul, e também em função do
crescente abate nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, São Paulo poderá sofrer
reestruturações nos processos de industrialização e distribuição de carne bovina, pois
essas atividades estão sendo parcialmente realizadas nos estados de origem,
considerando os aspectos já abordados e sobretudo a Portaria 145, que exige que a
desossa seja realizada pelos próprios frigoríficos no momento do abate.
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Figura 2.32 – Trânsito de bovinos. São Paulo, 1997.
Fonte: MAA.
Entrada SP
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE
SUL
BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS
SP ➜ PR Abate 135
Outras 9.135 TOTAL 9.270
MS ➜ SP Abate 627.123 Outras 252.917
TOTAL 880 040
PR ➜ SP Abate 18.198 Outras 29.284
TOTAL 47.482
SP ➜ MG Abate 476
Outras 15.181 TOTAL 15.657
MG ➜ SP Abate 121.784 Outras 116.723
TOTAL 238 507
RJ ➜ SP Abate 70
Outras 330 TOTAL 400
GO ➜ SP Abate 136.093 Outras 164.679
TOTAL 300.772GOIÁS
Saída SP
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TOCANTINS
A presente referência a Tocantins é mais breve que a de outros estados, pois
visa apenas retratar sua não-dependência ao Circuito Pecuário Centro-Oeste.
Ingresso e egresso
A Tabela 2.29 evidencia o estado de Tocantins como um exportador de
bovinos, principalmente para abate. A Figura 2.33 revela o maior trânsito de bovinos
entre Tocantins e o Norte e Nordeste do que com o Circuito Pecuário Centro-Oeste.
Tabela 2.29 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Tocantins, 1997.
Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)
Exportação 172 594 86,987 Exportação 57 733 14,433
Importação 26 005 13,107 Importação 18 224 4,556
Saldo 146 589 73,881 Saldo 39 509 9,877
Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.
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Figura 2.33 – Trânsito de bovinos. Tocantins, 1997.
Fonte: MAA.
Ceará
TO ➜ GO Abate 9.383 Outras 9.375
TOTAL 18.758
Entrada TO
Saída TO
Goiás
Maranhão
Piauí
Pará
TO ➜ PI Abate 50.870 Outras 8.004
TOTAL 58.874
TO ➜ PA Abate 10.950 Outras 25.688
TOTAL 36.638
TO ➜ MA Abate 35.851 Outras 8.963
TOTAL 44.814
TO ➜ CE Abate 65.540 Outras 5.800
TOTAL 71.340
PA ➜ TO Abate 25.920
Outras 44 TOTAL 25.964
LESTE
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE SUL
BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS GO ➜ TO Abate 85
Outras 18.180 TOTAL 18.265
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE
8.1. INGRESSO DE BOVINOS NA ZONA LIVRE
Como identificado, as restrições aplicadas ao trânsito de animais a partir de
agosto de 1999 e de produtos e subprodutos a partir de dezembro do mesmo ano
revelaram-se administráveis tanto pelos estados temporariamente excluídos da Zona
Livre de Febre Aftosa quanto pelos que integram a Zona Livre de Febre Aftosa com
Vacinação. Observou-se também uma redução crescente do trânsito de animais em pé,
tanto para o abate quanto para a cria, a recria e a engorda, evidenciando, de forma
gradual mas progressiva, um encurtamento da cadeia produtiva (com a respectiva
redução de custos e agregação de valores) à medida que o abate se desloca para as
regiões produtoras.
As Tabelas 2.30 e 2.31 quantificam a entrada de bovinos em pé em 1997 e
1998 na então futura (mas hoje vigente) Zona Livre com Vacinação, revelando uma
considerável diminuição nesse trânsito no período, o que confirma a tendência expressa
por este trabalho: aumento do abate nas regiões produtoras, com destaque para o
Circuito Pecuário Centro-Oeste, e concentração da cria, recria e engorda — sobretudo
recria e engorda — pelos mesmos produtores, reduzindo crescentemente o trânsito de
animais entre regiões produtoras e de abate, especialmente São Paulo. A verticalização
da produção diminui o tempo de produção do animal pronto para o abate.
Além da redução da idade dos animais a serem abatidos, observa-se que a
capacidade de abate instalada nos estados que compõem o Circuito Pecuário do Centro-
Oeste se ampliou para todo o circuito, resultando em menor trânsito interestadual de
animais. Esse processo se acelerou no início da década de 90, quando os frigoríficos
passaram a se instalar mais próximo das áreas produtoras de bovinos, principalmente na
Região Centro-Oeste.
Como já observado, o comércio de bovinos entre os estados do Circuito
Pecuário Centro-Oeste é intenso e constitui a maior parcela do trânsito interestadual
brasileiro de animais. O estado que mais se destacava em termos de envio de animais
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para a Zona Livre de Febre Aftosa era Mato Grosso do Sul, que, embora fazendo parte
do referido circuito, teve seu pedido de ingresso na Zona Livre postergado para 2001.
Tabela 2.30 – Entrada de bovinos em DF, GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da Zona Livre com Vacinação. 1997.
Destino Abate % de abate Cria e recria % de cria Reprodução % de reprodução Total % do
total
DF 0 0,00% 70 100,00% 0 0,00% 70 0,01%
GO 5 190 24,52% 5 875 27,76% 10 099 47,72% 21 164 1,95%
MG 13 875 31,85% 9 507 21,82% 20 184 46,33% 43 566 4,02%
MT 5 121 21,85% 13 040 55,63% 5 280 22,52% 23 441 2,16%
PR 38 207 35,75% 36 015 33,70% 32 636 30,54% 106 858 9,86%
SP 629 594 70,84% 131 771 14,83% 127 362 14,33% 888 727 82,00%
Total 691 987 - 196 278 - 195 561 - 1 083 826 100%
Fonte: Banco de dados gerais da pesquisa Trânsito de animais, produtos e subprodutos e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos impactos econômicos, UFMS, 1999.
Tabela 2.31 – Entrada de bovinos em GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da Zona Livre com Vacinação. 1998.
Destino Abate % do abate Cria e recria % de cria Reprodução % de reprodução Total
%
do total
GO 710 3,59% 5 089 25,75% 13 967 70,66% 19 766 2,86%
MG 2 316 14,28% 4 605 28,40% 9 293 57,31% 16 214 2,35%
MT 102 0,66% 1 081 6,95% 14 373 92,40% 15 556 2,25%
PR 18 329 42,51% 15 734 36,49% 9 053 21,00% 43 116 6,24%
SP 388 545 65,15% 107 612 18,04% 100 227 16,81% 596 384 86,30%
Total 410 002 - 134 121 - 146 913 - 691 036 100%
Fonte: Banco de dados gerais da pesquisa Trânsito de animais, produtos e subprodutos e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos impactos econômicos, UFMS, 1999.
Ao comparar dados de 1997 e 1998 sobre a entrada de bovinos na Zona Livre
se Vacinação, nota-se uma redução de quase 40% no total, sendo que para o abate a
queda foi percentualmente maior. Ainda assim, apesar de superior a um milhão de
cabeças em 1997, essa entrada já era pouco expressiva se comparada com a quantidade
de bovinos já presentes na área (mais de 72 milhões de animais).
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Este capítulo descreveu as diversas regionalizações da bovinocultura de corte
atualmente existentes no Brasil, tanto produtivas quanto sanitárias, sendo que as últimas
impõem limites e restrições ao trânsito de animais e subprodutos, aspecto absolutamente
singular no desenvolvimento histórico da bovinocultura de corte brasileira. Tal
regionalização inevitavelmente fará parte do desenvolvimento presente e futuro da
bovinocultura de corte no país.
No próximo capítulo analisam-se as relações empíricas concretas entre os
diversos agentes que compõem a cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do
Sul, bem como suas relações com outros mercados.
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CAPÍTULO 3
A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA
DE MATO GROSSO DO SUL
1. MATO GROSSO DO SUL: ORIGEM E DESENVOLVIMENTO — UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Mato Grosso do Sul conta atualmente pouco mais de 2 milhões de habitantes.
Seu território de 357 471 km2 apresenta uma posição estratégica, ao fazer divisas com
cinco grandes estados da federação (Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e
Paraná), com um país do Mercosul (Paraguai) e com um do Pacto Andino (Bolívia,
possível futura via de ligação com o Pacífico). Tal localização situa o estado numa
região de grandes mudanças recentes.
Com uma economia ainda relativamente incipiente, se comparada à nacional,
Mato Grosso do Sul participa do Produto Interno Bruto brasileiro em somente 1,07%. O
estado, por outro lado, é potencialmente promissor em termos de recursos naturais: por
ele passam os rios Paraguai e dois terços do Pantanal estão incluídos em seu território.
O Pantanal, maior planície inundável do continente americano, cobre cerca de
24,6% da superfície do estado, ou seja, 86 230 km2. É uma região com características
peculiares, em que uma intrincada rede flúvio-lacustre determina um complexo mosaico
ambiental, hoje ameaçado em suas estruturas e funções por diversas atividades
antrópicas. Os rios e outros corpos d’água, como baías e vazantes (canais de aporte e
drenagem de água), formam labirintos e lagoas de águas doce e salobra, alternando-se
com acidentes naturais como morrarias, serras, matas e cerrados. Soma-se a esse
ambiente uma fauna riquíssima, conferindo à região pantaneira características naturais
privilegiadas.
Apresentando regiões econômicas relativamente distintas, em termos de
produção e concentração populacional, o estado se desenvolve a partir de determinantes
endógenos e exógenos no processo de reformatação regional. Dentre estes, preocupante
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é o processo migratório dos pequenos municípios (em especial onde predomina a
pecuária) para os maiores centros urbanos, especialmente Campo Grande (660 mil
habitantes) e Dourados (170 mil), respectivamente no centro e sul do estado.
Figura 3.1 – Localização geográfica de Mato Grosso do Sul.
BRASIL
BBOOLLÍÍVVIIAA
PPAARRAAGGUUAAII
CENTRO-OESTE
oooeeesssttteee
nn n oo o r
r r tt t ee e
llleeesssttteee
ss s uu u l
l l
Goiás
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Mudanças recentes marcam o estado. Tende a esgotar-se o ciclo de
desenvolvimento baseado no plantio e processamento da soja, desde o final dos anos 80.
Observa-se também que a cadeia produtiva da carne bovina necessita de ações diversas
para que adquira a dinâmica necessária para o presente momento histórico. O
desenvolvimento baseado no binômio soja–boi encontra-se, assim, em processo de
reestruturação, alterando a configuração espacial do estado na divisão intra-regional do
trabalho.
Por outro lado, verifica-se uma expansão na produção de frangos e suínos,
através do processo de produção integrada envolvendo abatedouros/agroindústrias e
produtores. Um dos determinantes básicos dessa expansão é a produção de ração à base
de farelo de milho e soja, alimento básico para esses animais: “De uma produção atual
de 200 mil frangos/dia, o estado de Mato Grosso do Sul deverá estar produzindo no
final deste ano pelo menos 350 mil frangos/dia, 85% por cento a mais do que hoje”38.
2. UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO REGIONAL
2.1. OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
O processo de ocupação e colonização da região onde hoje se situa Mato
Grosso do Sul tem início no século XIX, com implicações decisivas para a fronteira
oeste. Corumbá, margeada pelo rio Paraguai, constituiu-se numa ponte histórica na
ligação comercial com a Bolívia, colocando-se até meados do século XX como
principal cidade da Região Centro-Oeste.
A construção da Ferrovia Noroeste do Brasil — que liga Bauru a Corumbá,
onde se faz conexão até Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia —, concluída em 1914, fez
surgir uma série de povoados — hoje cidades — ao longo de seu percurso, tornando-se
a via de transporte mais eficiente e rápida entre o Sudeste e o Centro-Oeste, substituindo
o tradicional transporte de cabotagem. Ainda hoje percebe-se a importância dessa
ferrovia: “Cerca de 15 mil pessoas estão isoladas em cidades do Pantanal sul-mato-
38 CORREIO DO ESTADO. Campo Grande, 6 fev. 1995. p. 14.
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grossense desde a desativação do trem de passageiros que ligava Campo Grande (MS) a
Corumbá (MS) ocorrida a dois meses. A cada mês, 10 mil pessoas tomavam o trem”39.
Conflitos e desdobramentos da Guerra do Paraguai (1864) também tiveram
efeito contundente na estruturação econômico-política do estado, fator de
deslocamentos de populações e alterações na fronteira política e na economia regional.
Também significativo foi o deslocamento populacional recebido do Sudeste
nos anos 40 e 5040, bem como todo o processo de ocupação dessa região pelos gaúchos
(“granjeiros”) no final da década de 70, modificando completamente a paisagem
produtiva regional: “Devemos considerar alguns aspectos com relação à invasão de
granjeiros no extremo sul de Mato Grosso: (1) as constantes quedas nos preços reais do
boi gordo desestimularam médios pecuaristas a continuarem no negócio do gado; (2) a
retração das exportações do mate para o mercado argentino, encerrando-se
definitivamente em 1968, levando os ervateiros de Ponta Porã principalmente a
procurarem investimentos em outros setores; (3) a presença de uma infra-estrutura
mínima existente, além de solo e clima favoráveis às culturas similares às do Sul e (4) a
presença de um contingente minimamente capitalizado, sem perspectivas no Sul,
disposto a se aventurar em outras regiões. No sul, nesse período ocorreu um processo de
concentração fundiária e de uma supermecanização ligado à expansão de soja e trigo”
(OLIVEIRA, 1993, p. 133)41.
A criação do estado de Mato Grosso do Sul, em 1º de janeiro de 1979,
separando-o politicamente de Mato Grosso, constituiu-se num elemento final que
colaboraria na redefinição espacial local e regional.
39 FOLHA DE S. PAULO. São Paulo, 20 mai. 1995. p. 3-4. 40 Sobre a colonização da Someco e Viação São Paulo–Mato Grosso, veja-se PEBAYLE e KOECHLIN, 1981. 41 OLIVEIRA, Tito C.M. de. Agroindústria e reprodução do espaço: o caso soja no Mato Grosso do Sul. São Paulo, 1993. Tese (Doutorado) – USP.
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2.2. INDUSTRIALIZAÇÃO
O processo de industrialização sul-mato-grossense iniciou-se nos primórdios
dos anos 80 com a implantação de pequenas indústrias substitutivas às importações
estaduais do mercado interno. Todavia, só em meados daquela década se desencadearia
o processo de instalação de médias e grandes unidades industriais na região.
O estado está entre os poucos em que, após os anos 80, a participação da
população economicamente ativa aumentou em relação à população total. A densidade
demográfica é de 5,75 habitantes/km², portanto baixa, considerando-se a extensão
territorial. Com a presença de extensas áreas subpovoadas, o estado é hoje uma região
receptora de mão-de-obra, apesar da recente diminuição desse processo de imigração.
Ao ser criado oficialmente, no final da década de 70, Mato Grosso do Sul
configurou-se como filho da política de incentivos à exportação, e também como fruto
da crise do petróleo, com a decorrente tentativa de substituição dessa matéria-prima
pelo álcool.
O movimento de reprodução espacial do capital nesta parte oeste do país e as
relações de produção conferiram-lhe um caráter dinâmico: no campo, a hegemonia
econômica era disputada entre grandes pecuaristas atrasados e grandes e modernos
empresários agrários; na cidade, o dinamismo cabia aos detentores do capital comercial.
“Na segunda metade da década de 1960, seguindo a experiência da SUDENE, o
MINTER criou superintendências regionais — para a Amazônia (SUDAM), para o
Centro-Oeste (SUDECO) e para o Sul (SUDESUL). Esta estratégia visava neutralizar as
oligarquias regionais através de novos pactos e organizar as bases para a modernização.
As elites regionais foram cooptadas, ao mesmo tempo que o sistema federal de
incentivos fiscais promovia a transferência de capitais para a periferia. Estes incentivos
consistiam na isenção de impostos federais e estaduais e em suspensões de tarifas para
importação de máquinas e equipamentos necessários à execução dos novos projetos. Os
empreendimentos, tanto nacionais como estrangeiros, gozavam também de incentivos
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financeiros especiais através do crédito subsidiado” (BECKER e EGLER, 1994, p.
148)42.
A PRIMEIRA FASE
O censo de 1970 apontou que 45,3% da população do estado vivia nas cidades,
contra 54,7% no campo; em 1980, os índices foram de 67,1% para s população urbana e
32,9% para a rural. Em 1991, esses números eram de 79% e 21%, respectivamente. No
período de 1980-91 a população de Mato Grosso do Sul cresceu à razão de 2,35% ao
ano, mais rapidamente, portanto, que a média do país, de 2,2%.
O intenso processo de urbanização que se observa a partir dos anos 70 criou
um mercado interno com intensa mobilidade de mercadorias: o comércio atacadista
registrado em 1970 pelo IBGE compunha-se de apenas 183 estabelecimentos; em 1980,
registravam-se 1 126, e em 1991 contava-se com 2 138 unidades.
A industrialização, durante toda a década de 70, não fez parte dos interesses
dos investidores. Em 1970 existiam 643 indústrias em Mato Grosso do Sul e em 1979
esse número aumentou insignificantemente para 832 estabelecimentos, isto é, menos de
30% em nove anos. O primeiro ano da existência do novo Estado — 1979 — registrou
nada além de meia dúzia de indústrias com peso significativo na arrecadação: dois
matadouros — abatendo menos de 300 mil cabeças por ano —, uma indústria de
cimento na cidade de Corumbá, duas destilarias — incentivadas pelo PROÁLCOOL,
nas cidades de Pedro Gomes e Rio Brilhante — e as ultrapassadas indústrias de extração
mineral da morraria de Urucum. No entanto, a queda nos investimentos no setor
público, a montagem da máquina administrativa no novo estado — animando os índices
de emprego regional — e o poder aquisitivo da população, juntamente com o aumento
dos índices de urbanização e com o crescimento populacional, incitavam comerciantes
locais e pequenos investidores desalojados de investimentos no Sul e Sudeste a
42 BECKER, Berta K.; EGLER, Cláudio A.G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
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investirem em Mato Grosso do Sul numa pequena “industrialização substituidora de
importações” provenientes do centro dinâmico (cf. OLIVEIRA, 1993).
Assim foi aberta a primeira fase da industrialização de Mato Grosso do Sul. A
escultura dada por essa fase é uma constelação de microempresas. A instalação dessas
indústrias retratava capacidades até então ociosas: de consumo, dados o nível de
urbanização e o crescimento populacional, e de capital em mãos de comerciantes locais
ou migrantes — todas elas ligadas à retração da demanda industrial no centro dinâmico
da economia brasileira. O exemplo evidencia que o aparecimento da capacidade
produtiva não se verifica nem de forma mecânica nem generalizada. Ao contrário,
respeita a contextualidade histórica.
Assim como a industrialização brasileira em seus primórdios, a industrialização
dessa ponta-do-oeste também não necessitou de máquinas modernas com tecnologia
avançada. Fornos de padarias, tornos mecânicos, britas, lixas mecânicas,
recondicionadoras de peças, serrarias, beneficiadoras de arroz, máquinas para corte e
costura de couro, máquinas gráficas etc. — a maioria absoluta desse equipamento foi
adquirida de segunda mão nos estados do Sudeste e Sul, provenientes, em geral, de
falências, de esgotamento do produto com que se trabalhava ou de sucateamentos. Se
observarmos o crescimento do número de estabelecimentos industriais de 1979 (832
unidades) para 1980 (1 436 unidades) e considerarmos as indústrias com cinco ou mais
empregados e/ou valor da produção superior a 640 vezes o salário mínimo da época
(critérios do IBGE), perceberemos que os maiores crescimentos foram os das fábricas
que não necessitavam de mão-de-obra especializada, de produtos não-metálicos, de
madeira e de gêneros alimentícios. Os números respaldam esse fato ainda mais quando
notamos os dados de 1981, coletados junto à FIEMS, sem os limites estabelecidos pelo
IBGE.
Nessa primeira fase, contrastam com a regra geral dois tipos de indústria de
porte médio que se instalaram em condições específicas: os frigoríficos e as destilarias.
A primeira fase da industrialização de Mato Grosso do Sul está ligada
exatamente a seu nascimento como estado: ela povoou o espaço com centenas de
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microusinas de pequeno capital investido, mais de 90% das quais com menos de 20
empregados — uma quantidade de unidades cujo tamanho individual reduzido as
impediu de comparecer nos números do IBGE. Contudo, o Cadastro Industrial da
Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS) registra um número bastante
significativo em 1981: mais de 3 800 empresas. Em 1984, esse número ultrapassava
5 600 e, em 1994, dez milhares.
A SEGUNDA FASE
A pequena indústria, mesmo que grosso modo, representa um estágio mais
elevado da produção social. Seu desenvolvimento dinâmico no estado foi paralelo ao
processo de ocupação das terras e à urbanização, transformando-se praticamente em
símbolo de elevação do padrão de vida, abrindo novos alentos à população
economicamente ativa e aumentando a renda regional per capita. Ela foi responsável
pela diversificação da economia regional — o surgimento de um novo ofício implica em
crescimento da divisão social do trabalho.
Ainda que sem conferir auto-suficiência à região, a pequena indústria
intensificou sua relação com outras regiões do país, abrindo caminhos para mudanças na
posição do estado na divisão regional do trabalho e fixando parâmetros realísticos na
elevação da composição orgânica do capital estadualmente, além de disciplinar a
população para a vida industrial.
Houve grande ramificação de microindústrias nos primeiros cinco anos após a
criação do estado. Ademais, a proximidade física com o centro dinâmico — locus dos
grandes oligopólios abastecedores do mercado nacional — intimidava qualquer
tentativa, pelo menos à primeira vista, de implantação de indústrias vinculadas ao
capital avançado.
A produção agropecuária estadual e o movimento constatado na circulação (e
produção) nacional e internacional de mercadorias intimidavam, enquanto isso, o capital
a participar da industrialização nessa faixa do Planalto Central.
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A safra de 1983-84 tornou disponíveis mais de 2 milhões de toneladas de soja,
mais de 300 mil de milho e quase 400 mil de arroz. Observando-se a evolução da
produção agrícola nos anos 80 e comparando-a com as de outros estados, constata-se
que somente Goiás acompanhou o ritmo de Mato Grosso do Sul. Em 1985 o estado já se
posicionava entre os principais produtores de sorgo, trigo, soja, milho, amendoim, lã
bruta, cimento, álcool, algodão herbáceo e arroz, além de ter uma produção pecuária de
15 milhões de cabeças de gado em plena evolução — todos com alto grau de
sofisticação de maquinários e insumos.
A parte bruta dessa produção destinava-se às indústrias paulistas ou ao
mercado externo in natura. Desse modo, os produtos primários eram tidos como fonte
de exploração para a implantação de estruturas agroindustriais que os beneficiassem. As
facilidades de deslocamento dessa produção para outros mercados frustravam, porém,
os intentos industrializantes. Em 1984 e 1985, entretanto, sopraram ventos de mudança
no complexo produtivo do espaço brasileiro.
Completava essas variáveis um manto retalhado de pequenas unidades
industriais e um complexo sistema comercial export que não conseguia reter a riqueza
gerada pelo setor primário dentro dos limites estaduais. O estado caracterizou-se, assim,
como produtor de matérias-primas e importador de produtos acabados. Havia, portanto,
uma mudança ainda por realizar: desencadear um processo de fixação de rendas. Qual o
propósito de fixar rendas, senão prover a ampliação dos investimentos em capital fixo e
em utilização da força de trabalho local, isto é, na alimentação orgânica do capital?
Nesse caminho, fixar rendas é sinônimo de industrializar.
No final de 1983, empresários locais, através da FIEMS, cobravam do governo
estadual uma posição quanto à necessidade de industrializar o estado, corroborando com
uma disseminada tradição brasileira — a de empresários solicitarem a sociedade do
Estado para o desenvolvimento, através de incentivos e órgãos de assistência.
Em março de 1984 surgiu a primeira lei de incentivos à industrialização em
Mato Grosso do Sul, a de nº 440. Essa lei, que incentivou 10 projetos industriais, foi um
degrau importante na industrialização do estado, pois indicou vontade política do
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governo para com o assunto. Ao criar através dela o Conselho de Desenvolvimento
Industrial (CDI), até hoje existente, o estado demonstrava aos investidores, no mínimo,
disposição em discutir e aceitar um processo de industrialização em que o aparelho
burocrático fosse copartícipe.
Em setembro de 1987 veio a Lei 701, que incentivou 125 projetos e a Lei
1 239, ora vigente, que abriu caminho para mais 71 iniciativas.
A implantação de unidades agroindustriais em Mato Grosso do Sul após 1985
foi notável. Esmagadoras de soja, moinhos de trigo, frigoríficos, fecularias, curtumes,
degerminações de milho, abatedouros, fábricas de rações, laticínios, graxarias,
fertilizantes e usinas de açúcar, entre outras, promoveram, já naquele ano, a criação de
mais de 3 mil empregos diretos. Atualmente, elas empregam 7 509 pessoas. Passaram
elas, por sua vez, a influenciar a industrialização de outros ramos de produção,
aumentando a articulação do setor secundário de forma gradativa e acentuada na
arrecadação de ICMS.
Mato Grosso do Sul é hoje um conjunto de formas de produção diferenciadas:
a agroindústria moderna convive com a pequena indústria artesanal e familiar; a
agricultura e a pecuária mecanizadas colocam-se lado a lado com agriculturas de
subsistência e pecuárias menos modernas (a pantaneira, sobretudo). Esse descompasso
contraria processos integracionistas que estão em marcha, tanto locais, quanto sub-
regionais e globais.
O QUADRO ATUAL
O esgotamento do segundo ciclo industrializante do estado, somado às grandes
transformações na economia mundial e nacional (especialmente a abertura dos
mercados, redução do estado e formação dos blocos econômicos), colocam Mato
Grosso do Sul numa situação delicada, com peculiaridades.
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Entre os problemas sócio-econômicos, figuram o desemprego crescente, os
contingentes de famílias de sem-terras (2 mil famílias a serem assentadas) e até o
trabalho escravo (em carvoarias e usinas de cana).
Mato Grosso do Sul inicia o século XXI com uma população de praticamente
2 100 000 habitantes, 83% dos quais urbanos. Dos 77 municípios, os 6 maiores (Campo
Grande, Dourados, Corumbá, Três Lagoas, Ponta Porã e Aquidauana) detêm
praticamente 55% da população (1,1 milhão de habitantes).
Economicamente, Mato Grosso do Sul compõe somente 1,07% do PIB
brasileiro (R$ 8,5 bilhões em 1997), dos quais 25,8% correspondem ao setor primário,
23,7% ao secundário e 50,5% ao terciário. A arrecadação de ICMS em 1999 teve a
seguinte distribuição: comércio: 55%; indústria: 3,3%; serviços: 17,5%; agricultura:
11,2%; pecuária: 10%; eventuais: 2,5%. Isso perfaz um total de R$ 874 milhões.
Em 1999 o estado exportou um total de US$ 42 milhões, com diversos
destinos, entre eles a União Européia (43%), a Ásia (14,8%) e o Mercosul (20%). O
farelo de soja comparece como o principal produto exportado, correspondendo a 21%
dos envios estaduais. Em segundo lugar vem a soja, com 19%, e em terceiro a carne
bovina, com 13,1%. Deve-se levar em conta, também, que as produções totais de soja e
de carne são freqüentemente subdimensionadas, já que parte da produção sul-mato-
grossense é exportada através de outros estados, sobretudo São Paulo.
3. BREVE HISTÓRICO SOBRE A PECUÁRIA NO MUNDO43
Pecuária é a técnica e indústria da criação de diversos tipos de gado. Por gado
entende-se qualquer animal criado intensivamente pelo homem para fornecimento de
tração ou transporte, carne, leite, lã, couro e outros produtos capazes de servir de
matéria-prima para a indústria. Além do boi, do cavalo, do jumento, do carneiro, do
cabrito e do porco, devem ser considerados outros animais, de criação mais restrita, mas
com a mesma utilidade, como o búfalo, criado em diversas regiões do mundo.
43 Baseado na Enciclopédia Koogan-Larousse. Rio de Janeiro: Larousse,1965.
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A pecuária surgiu na pré-história, com a domesticação dos animais. O início
desse processo diferiu para cada tipo de animal e nas diversas regiões do mundo, mas
em geral teve lugar no período neolítico. O boi e o carneiro já eram domesticados na
Europa desde o início desse período, mas foram introduzidos naquela região por povos
oriundos do Extremo Oriente.
Os primeiros criadores eram povos nômades, que acompanhavam seus
rebanhos em busca de novo pastos. Mesmo depois do desenvolvimento das técnicas
pecuárias que permitiram a fixação dos rebanhos, vestígios do nomadismo primitivo
persistiram em certas regiões montanhosas (nos Pirineus franceses e espanhóis, por
exemplo), com o nome de transumância: os rebanhos são deslocados para altitudes
maiores durante o verão e trazidos de volta no inverno.
Até o século XVIII, a criação de gado era atividade puramente empírica, regida
pela experiência dos criadores. O primeiro tratado conhecido sobre pecuária data de 540
a.C.: o tratado de medicina veterinária e higiene do gado, de Epicarnus, que não chegou
a nossos dias.
Somente em 1565 foi publicado o primeiro livro francês sobre o assunto,
L’agriculture dans la maison rustique, de autoria de Charles Estienne e Jean Liébault.
Com exceção da criação de cavalos, os demais ramos da pecuária eram subestimados na
Europa: Na Inglaterra, dizia-se: “Sem capim não há gado; sem gado não há estrume;
sem estrume não há colheita.”
3.1. A PECUÁRIA NO BRASIL
Em 1549 chegou a Salvador uma caravela – Galga – transportando os bovinos
que Tomé de Souza mandara buscar em Cabo Verde.
Os gados, encontrando boas condições ecológicas, multiplicaram-se
rapidamente. Anchieta dizia dos campos de Piratininga: “Este campo é muito fértil de
mantimentos, criação de vacas, porcos, aves, etc.”
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Do extremo sul brasileiro, do cabo de Santa Maria ao porto de São Pedro,
escrevia: “Toda esta terra é baixa e sem arvoredo, mas cheia de erva em todo o ano, e há
partes que têm algumas reboleiras de mato; a erva destes campos é muito boa para
criações de gado de toda sorte, onde se dará muito bem, por ser a terra muito temperada
no inverno, e no verão lavada de bons ares frescos para os gados beberem assim de
lagoas como de ribeiras.”
A partir do século XVII os gados continuaram a se multiplicar aceleradamente
e a invadir novas áreas, facilitando a penetração e o povoamento de áreas vastíssimas.
Em 1619 os jesuítas iniciaram a pecuária em terras gaúchas com a fundação das
fazendas de Sandó, São Pedro Mártir, São Vicente, São Luís, Tupaceretã e Santa Tecla.
Os gados se multiplicaram tanto no Rio Grande do Sul, que de 1622 a 1630 “os
habitantes de Piratininga apoderaram-se de 80 mil cabeças de gado, pertencentes aos
índios guaranis”.
Os bovinos chegaram à ilha de Marajó em 1610, ocupando sua metade oriental,
onde existem ótimos campos de criação. Na mesma época iniciou-se a pecuária na ilha
de Fernando de Noronha, cujas pastagens e numerosos rebanhos o príncipe Maurício de
Nassau louva em carta a Frederico Henrique de Orange. Em outro relatório, escrito em
1637, o príncipe trata da pecuária cearense, já relativamente importante. Nassau
incentivou a pecuária no Brasil holandês, pois compreendeu que sem os rebanhos da
zona semi-árida não haveria abastecimento regular de carne nas cidades e engenhos da
zona úmida, nem muares e eqüinos. Rio Grande do Norte tinha, naquela época, os
maiores rebanhos. Os holandeses fabricavam queijo e manteiga. Em 1632, o Brasil
holandês exportou 1 198 fardos de couro; em 1646, 918 fardos.
Cessada a guerra contra os holandeses, a pecuária tomou um impulso ainda
maior no Rio Grande do Norte. Os fazendeiros, ultrapassando a serra do Doutor, um
contraforte da Borborema, começaram a penetrar no Seridó e no Vale do Açu, fundando
novas fazendas, que se iniciavam com um touro e três vacas.
No início do século XVIII o rebanho de bovinos da Bahia era estimado em 500
mil cabeças; o de Pernambuco, em 800 mil; no Rio de Janeiro, 60 mil; em São Paulo e
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Paraná, 1,5 milhões. No Brasil, que vivia o ciclo do ouro, o rebanho bovino atingia
aproximadamente 4 milhões de cabeças.
4. EVOLUÇÃO DA BOVINOCULTURA SUL-MATO-GROSSENSE
Em Mato Grosso do Sul, desde sua formação até os dias atuais, a bovinocultura
de corte tem participado com um papel marcadamente significativo. A pecuária surgiu
em Mato Grosso na terceira década do século XVIII, na região de Cuiabá. O início da
criação de bovinos se deu durante a atividade de mineração, constituindo-se numa
atividade secundária. Com o declínio da mineração, ocorre a expansão da pecuária, em
grandes fazendas de criação extensiva: “Ela nasceu protegida pela distância de Cuiabá
das regiões agropecuárias mais importantes, mas por isto mesmo sua expansão ficou
limitada pelo mercado consumidor regional muito pequeno e estagnado, pois a distância
em relação ao Rio de Janeiro e a outros centros criava um bloqueio natural. Emergiu em
meados do século XIX como atividade voltada ao mercado nacional, alcançando o Rio
de Janeiro” (MAMIGONIAN, 1986)44.
A criação de bovinos era quase totalmente regida pelos agentes naturais: o
fazendeiro introduzia o gado na fazenda e não interferia em seu desenvolvimento,
obtendo assim uma baixa produtividade. O trabalho do fazendeiro era castrar os
novilhos destinados à engorda e marcar os nascidos na fazenda. Isso se estendeu por
mais de um século.
Em Mato Grosso, até a década de 60, só existiam as atividades de cria e recria
de bovinos, que eram feitas em pastagens nativas, quase sem nenhuma tecnologia.
Quando atingiam a idade para engorda, os bovinos eram exportados para outros estados
considerados regiões de engorda, principalmente São Paulo. A engorda não se dava em
Mato Grosso por falta de pastagens verdes durante o período de seca e pela falta de
frigoríficos, que preferiam se instalar mais perto dos grandes centros consumidores. O
consumo interno representava pequena porção do produto produzido.
44 MAMIGONIAN, Armen. Inserção de Mato Grosso ao mercado nacional e a gênese de Corumbá. GEOSUL, n. 1, 1. sem. 1986.
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4.1. A BOVINOCULTURA DE CORTE E MATO GROSSO DO SUL
Quando decretou a criação de Mato Grosso do Sul, o governo do presidente
Geisel considerava o desmembramento como o meio mais adequado para acelerar o
desenvolvimento econômico e social de dois estados simultaneamente: um ao sul, com
excelentes condições para se tornar grande produtor de grãos e de carne (antevendo a
crise de alimentação por que passaria o Brasil), e outro ao norte, com condições para o
rápido povoamento e ocupação de seus grandes vazios.
O gado bovino chegou Brasil no século XVI proveniente da Península Ibérica.
Desembarcou em Salvador e em São Vicente e começou a penetrar pelo interior do país
em todas as direções como elemento pioneiro no desbravamento dos sertões. Aos
poucos, grupos de produtores regionais, como o pantaneiro no Pantanal, o curraleiro no
Nordeste e o junqueiro em São Paulo e Minas Gerais, foram se formando pelo interior
do Brasil.
No início o gado era criado à solta e os bovinos eram mais valorizados como
animais de tração e pelo couro que forneciam. A carne tinha pouco valor. Com o
aumento da população e o crescimento das cidades desenvolveu-se a indústria do
charque que, embora desperdiçasse os subprodutos na matança, permitia o transporte e,
portanto, uma mais ampla comercialização da carne. Isso ajudou a conferir maior
importância a esse produto.
O aparecimento do arame, que facilitou a divisão das fazendas, foi útil
sobretudo o desenvolvimento da indústria frigorífica, ocorrido durante a Primeira
Guerra Mundial. Intensificou-se assim a exploração da pecuária no país, com melhoras
no rendimento da matança e aproveitamento dos subprodutos dos matadouros. As
indústrias estrangeiras processadoras de carne também se instalaram no Brasil durante a
Primeira Guerra, com o objetivo de exportar esse produto a seus países de origem, a fim
de suprir as necessidades alimentícias de seus combatentes.
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A abertura de fazendas de criação no sul de Mato Grosso, no século XIX,
deveu-se a correntes vindas do norte do estado e também de Minas Gerais e Rio Grande
do Sul. O Pantanal foi povoado pelo contingente oriundo do norte do Mato Grosso,
enquanto as correntes de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul desbravaram o planalto,
com os mineiros instalando-se nos cerrados e os gaúchos nos Campos de Vacaria, no
extremo sul do estado.
A pecuária se transformou na principal atividade econômica de Mato Grosso
do Sul, o que pode ser explicado por valores e tradições, e pelos baixos riscos climáticos
da região. A atividade foi um dos fatores que mais contribuiu para a colonização do
estado, juntamente com a exploração da erva-mate e a prática do garimpo. A tendência à
especialização na pecuária é evidenciada quando se observa que a expansão das áreas de
lavoura não leva necessariamente ao estabelecimento de novas zonas agrícolas estáveis,
constituindo apenas um processo passageiro de instalação da pecuária em novas áreas.
Nas duas últimas décadas, o setor pecuário bovino sul-mato-grossense passou
por uma grande evolução baseada na formação de pastagens artificiais, no
melhoramento genético do rebanho e na instalação de indústrias frigoríficas no território
estadual. A introdução dessas novas tecnologias no campo acarretou uma melhoria na
qualidade genética do gado e uma diminuição na idade de abate.
A instalação de invernadas em áreas de vegetação original da mata foi
incentivada com a chegada de empresas de outros estados. Fazendeiros paulistas
instalaram plantéis de gado nelore em invernadas de capim colonião e se beneficiaram
dos estímulos advindos de ações de valorização da região Centro-Oeste e da melhoria
das vias de comunicação com São Paulo.
Outra transformação ocorrida na exploração da pecuária foi a modernização da
criação tradicional de bovinos em áreas recobertas pela vegetação de cerrado45. A
introdução de tecnologia moderna no sistema de criação teve impacto econômico
45 A descoberta por parte da EMBRAPA da viabilidade produtiva da braquiária para o cerrado constitui uma verdadeira revolução para a bovinocultura de corte do Centro-Oeste — e de Mato Grosso do Sul em particular.
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altamente positivo, pois a região, além de sustentar a criação, passou a fazer a recria de
gado.
Nas microrregiões de Campo Grande, Dourados e Três Lagoas, a pecuária
desenvolveu-se de forma intensiva. Economicamente, essas três áreas dedicam-se à
criação de bovinos para corte, desenvolvendo a fase de engorda, além das de cria e
recria. Nesse regime, as pastagens podem ser naturais ou artificiais.
Já no Pantanal, a criação é desenvolvida de forma extensiva. É necessária uma
grande extensão de terra para que o boi, na seca, possa ter acesso à água e que, na cheia,
possa se refugiar. É uma região beneficiada por boas pastagens, formadas de gramíneas
e leguminosas, onde o solo é naturalmente irrigado e salgado. O trabalho do fazendeiro
é apenas deslocar o gado de um pasto para outro. Os bovinos destinam-se quase que
totalmente ao corte. Apesar da predominância extensiva, já estão sendo introduzidas em
algumas áreas, como os pantanais dos rios Negro, Apa e Paiaguás, técnicas de melhoria
para apurar o desenvolvimento do rebanho bovino.
A partir da década de 70, a serra de Maracaju, na região da Bodoquena,
recebeu um grande contingente de agricultores sulistas, especialmente paranaenses e
gaúchos, atraídos pelo solo favorável para a exploração agrícola. Esses agricultores
passaram a exercer a atividade da pecuária em terras de menor aptidão para a
agricultura, dando início ao cultivo da pecuária intensiva. A forma extensiva de criação
ocupou os campos cerrados dessa área, que passaram a receber gado do Pantanal para
engorda.
A microrregião de Dourados é uma área potencial para a exploração de
pecuária, por possuir alta fertilidade de solos nas áreas de mata — onde foram
implantadas as invernadas de colonião para engorda — e por apresentar baixo custo
para as pastagens nativas e cultivadas em seus Campos de Vacaria. A atividade de
engorda do boi nessa região se encontra em evolução devido à melhoria do acesso aos
mercados consumidores, especialmente os do Oeste Paulista.
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O rebanho de Mato Grosso do Sul apresentou um crescimento de 65,66% no
período de 1975 a 1980, o que corresponde a mais de quatro vezes o aumento nacional,
que foi de 15,82% no mesmo período.
As décadas de 60 e 70 trouxeram o melhoramento genético do rebanho, a
formação de pastagens artificiais e ainda a instalação de indústrias frigoríficas no
estado. O Frigorífico Bordon, por exemplo, instalou-se em 1969 na cidade de Campo
Grande, beneficiando o desenvolvimento tecnológico na pecuária.
A partir de 1973 ocorre o aumento do preço da arroba do boi, fazendo crescer a
necessidade de terras para a produção pecuária e levando, conseqüentemente, a
aumentos em seu preço.
A fase de expansão da atividade pecuária em Mato Grosso do Sul perdurou até
os primeiros anos da década de 90. Entretanto, com a queda da inflação, em 1994, a
atividade deixou de contar com o ganho ilusório da compensação inflacionária, o que
tornou evidente a necessidade de concretizarem ganhos na produtividade.
Também foi na década 90 que se verificou a instalação maciça de indústrias
frigoríficas no estado, fator que possibilitou um melhor ganho para os pecuaristas,
embora sem permitir a compensação de outras perdas.
A Figura 3.2 mostra a distribuição espacial estadual das áreas de pastagens
naturais e plantadas, além das de agricultura e de exploração mineral. As pastagens têm
preponderância, juntamente com a agricultura, sobretudo devido ao uso da braquiária
desenvolvida pela EMBRAPA para o cerrado.
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Figura 3.2 – Recursos naturais de Mato Grosso do Sul.
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5. A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DE MATO GROSSO DO SUL
Ao analisarmos a cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense, nos
concentramos em seus três principais elos, quais sejam: distribuição, abate e
processamento, e produção. Em termos metodológicos, foram estruturadas equipes de
entrevista e de levantamento das informações em cada um desses três elos da cadeia, a
fim de captarmos seus principais elementos determinantes, de modo a evidenciar suas
dinâmicas e tendências.
Em função desses resultados, destacaremos a seguir a distribuição da carne
bovina de Mato Grosso do Sul, mais especificamente em São Paulo, por ser o principal
mercado consumidor desse produto sul-mato-grossense, tanto com osso (até dezembro
de 1999) quanto sem osso (a partir dessa data).
Quanto à distribuição, é importante ter em mente que esse é o setor que
mantém contato direto com consumidor, captando seus desejos e tendências. É na
distribuição também que se observa uma maior velocidade de transformações, hoje com
intenso processo de concentração do setor, onde redes como Carrefour e Pão de Açúcar,
estão ocupando espaços cada vez maiores no mercado.
5.1. DISTRIBUIÇÃO EM SÃO PAULO — CARACTERIZAÇÃO DOS AGENTES
Antes de analisarmos propriamente os agentes envolvidos na distribuição,
destacaremos alguns aspectos relativos ao consumidor, ou seja, características da
demanda por produtos agrários.
DEMANDA POR PRODUTOS AGRÁRIOS
O comportamento dos consumidores já é exaustivamente analisado na teoria
econômica, especialmente na teoria microeconômica, razão por que nos deteremos
especificamente nos elementos determinantes mais expressivos que definem a
quantidade demandada dos produtos agrários.
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Temos como determinantes da demanda individual de bens de consumo:
a) o preço do bem
b) a renda do consumidor
c) os preços de outros bens
d) os gostos e necessidades do consumidor
Esses elementos podem atuar separados ou em conjunto nas decisões dos
consumidores, a depender da situação. Preço, renda e preços de outros produtos,
juntamente com as necessidades do consumidor, são elementos que, objetiva e
subjetivamente, norteiam suas decisões de consumo.
5.2. TENDÊNCIAS RECENTES DO CONSUMO DE ALIMENTOS
O consumidor, através de suas exigências, vem conquistando uma maior
garantia quanto à qualidade e ao preço do alimento que consome, e isso se aplica à
cadeia produtiva da carne, com sua complexidade e conflitos: “O consumidor está na
etapa final de todos os sistemas agro-industriais. Seus desejos e tendências devem ser
observados atentamente por todos os agentes dos sistemas. Informações passadas por
estes devem fluir para trás nos sistemas, passando pelo varejo, indústria, produção,
insumos e pesquisa. Uma sinalização de que há uma tendência de consumo de alimentos
mais saudáveis, claramente perceptível a nível de varejo, deve passar a preocupar
produtores rurais nas suas atividades de planejamento” (MACHADO FILHO e NEVES,
1997)46.
Além das exigências por variedade e qualidade, novas demandas (como a de
alimentos específicos) advêm de especificidades da população, tais como:
envelhecimento populacional, nível de renda e despesas com alimentação,
consumidores informados, consumidores solitários etc.
46 MACHADO FILHO, Cláudio A.P.; NEVES, Marcos Fava. Consumo de alimentos nos países industrializados. Revista Preços Agrícolas, mar. 1997.
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SPERS47 aponta alguns indicativos tendenciais da demanda que devem ser
observados: diversidade da demanda; homogeneização da demanda global; demanda
por conveniência; consumo e meio ambiente; saúde, vitalidade e o indivíduo.
Por outro lado, o autor observa que, se o consumidor impõe novos desejos e
necessidades, a cadeia tem efeitos para trás, ou seja, que atingem diretamente os
processos industriais e de fornecimento de insumos, entre os quais: intensa competição
por participação no mercado (market share); menor ciclo de vida dos produtos;
produção, transporte e embalagem; regulação do mercado e defesa do consumidor;
novos modos de compra.
Essas novas exigências dos consumidores, forçam a uma reestruturação na
cadeia a partir das novas demandas, sendo esse público estimulado e capitaneado pelas
grandes redes de distribuição. Versando sobre as novas tendências globais sobre o
sistema alimentar das carnes, LAZZARINI e LAZZARINI48 identificam a situação atual
e as novas tendências, especificamente da cadeia produtiva da carne bovina: “Tais
resultados devem ser embasados na plena satisfação dos consumidores finais, sejam eles
internos ou externos, e devem ser concretizados através de uma eficaz sinergia entre os
atores (ou tomadores de decisão) do sistema. Desta forma, a busca de vantagem
competitiva da empresa, por si só, acaba sendo sobreposta pela necessidade de
coordenação de todo o sistema, desde a indústria de insumos até os consumidores
finais, visando potencializar a competitividade do sistema como um todo, em um
ambiente onde todos sejam favorecidos” (LAZZARINI e LAZZARINI, 1995, p. 278).
Fundamental, a qualidade da carne é verificada através de atributos como
maciez, coloração e gordura. “Atributos referentes à qualidade da carne, neste contexto,
deverão ser atenciosamente explorados pelos tomadores de decisão da cadeia produtiva.
Dentre estes atributos, citamos: características organolépticas (maciez, suculência,
sabor), aspectos nutricionais, saúde, segurança alimentar, marca, embalagem e
conveniência. Ou seja, um ‘mix’ de atributos tangíveis e intangíveis, que determinam o
47 SPERS, Eduardo Eugênio. Qualidade e segurança em alimentos. In ZYLBERSZTAJN, Décio; NEVES, Marcos Fava (Orgs.). Economia & gestão dos negócios alimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. 48 LAZZARINI, Sérgio G.; LAZZARINI, Sylvio. Sistema agroindustrial da carne bovina no Brasil: tendências para o próximo século. Revista Brasileira de Administração Contemporânea, v. 1, n. 10, 1995.
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valor percebido do produto pelo consumidor” (LAZZARINI e LAZZARINI, 1995, p.
283).
A questão da saúde e o consumo de carne vermelha tornam-se elementos
fundamentais no debate sobre a produção da carne bovina brasileira. “Todos estes
atributos, como se pode ver, permeiam toda a cadeia agroindustrial, e envolvem a eficaz
coordenação de todos os agentes. Por exemplo, um dos pontos críticos, e de severos
ataques à carne vermelha, refere-se ao seu teor de gordura. Os consumidores, exigindo
carnes adequadas aos padrões modernos de saúde, principalmente quanto ao problema
do colesterol, devem ser orientados no sentido de que esta (péssima) imagem da carne
vermelha tem origem dos países do primeiro mundo, onde a alimentação dos animais se
dá principalmente através de grãos. No caso do rebanho brasileiro, alimentado
fundamentalmente a pasto, há indícios de que a taxa de deposição de gordura na carcaça
tende a ser menor” (LAZZARINI e LAZZARINI, 1995, p. 283).
Os resultados que serão apresentados a seguir foram obtidos por meio de
entrevistas realizadas junto a agentes representativos do setor de distribuição de carne
bovina no estado de São Paulo, mais especialmente na capital. As entrevistas foram
realizadas visando caracterizar os principais agentes atuantes no setor, buscando
particularmente identificar seus papéis na distribuição de carnes bovinas fornecidas por
Mato Grosso do Sul.
O mercado distribuidor de São Paulo foi considerado como foco principal
nessa análise devido a sua alta participação no volume total de carnes bovinas
comercializadas pela indústria sul-mato-grossense. O estado de São Paulo,
predominantemente a capital e cidades a ela periféricas, é responsável pelo consumo de
70 a 80% das carnes bovinas produzidas em Mato Grosso do Sul. Tais índices sofreram
uma redução que chegou a 50%, após as restrições à carne com osso produzidas em
Mato Grosso do Sul e destinadas à Zona Livre de Febre Aftosa, impostas em dezembro
de 1999. A partir de então, a indústria frigorífica sul-mato-grossense foi gradativamente
se adaptando (praticando a desossa), até recuperar os índices anteriores.
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O enfoque mais apropriado para esta análise foi o qualitativo, sendo as
entrevistas realizadas com agentes específicos, com comprovada experiência e
representatividade no setor. Para escolher esses agentes, procedeu-se inicialmente à
identificação dos diferentes tipos de distribuidores que atuam na cadeia produtiva da
carne bovina, chegando-se por fim àqueles que atuam no mercado de São Paulo, de
acordo com as três subcadeias que serão descritas.
A Figura 3.3 sumariza as três subcadeias que identificamos na distribuição e no
abate, as quais denominamos subcadeias A, B e C.
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Figura 3.3 – Subcadeias da distribuição da carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.
Mato Grosso do Sul produz anualmente cerca de 500 mil toneladas de carne
(com e sem osso) e derivados. Esses produtos são predominantemente enviados a São
Paulo, embora se destinem também aos estados do Rio de Janeiro, Paraná e Minas
Gerais, em menores quantidades.
Nossa análise se concentrará basicamente no destino da carne enviada para São
Paulo, dada a magnitude dessa transferência.
Foram entrevistados agentes representantes do grande, pequeno e médio
varejos, do atacado e também alguns agentes que atuam na intermediação das
transações comerciais da carne bovina.
A seguir serão caracterizados, em linhas gerais, os setores de distribuição das
três subcadeias.
Produção Pecuária Frigorífico
Exportação
Grande e médio varejo
Con
sum
idor
final
DistribuidorProdução Pecuária Frigorífico
Produção Pecuária
Frigorífico
Comprador
“Truckeiro”
Indústria da carne
A
B
C
Médio e Pequeno Varejo
INSU
MO
S
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5.3. CARACTERÍSTICAS DA SUBCADEIA A
A subcadeia A — a que mais cresce — consome aproximadamente 50% da
enviada por Mato Grosso do Sul.
Figura 3.4 – Subcadeia A da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.
O setor de distribuição desta subcadeia é composto predominantemente por
varejistas de grande porte (hipermercados) e de médio porte (supermercados). Entre os
grandes varejistas encontram-se empresas tanto de origem nacional como ligadas a
grupos internacionais. Essas empresas geralmente possuem filiais nos principais centros
consumidores do país e por isso conseguem comercializar grandes volumes agregados
de mercadorias. O abastecimento é feito quase que exclusivamente pelos estados de
Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso.
A compra das mercadorias é na maioria dos casos realizada por departamentos
de compras ligados às matrizes das empresas. Dentre outros benefícios, a centralização
das compras confere às empresas um forte poder de negociação perante os fornecedores,
devido aos altos volumes comercializados. O poder comercial dessas empresas vem se
consolidando gradativamente ao longo dos anos através de aquisições de empresas
menores que atuam em mercados regionais. Esse processo de expansão tem sido visto
como uma ameaça de dominação do setor por poucas empresas, o que submeteria os
SUB CADEIA A
INSU
MO
S
Produção Pecuária Frigorífico
Exportação
Grande e médio varejo Consumidor
final
Indústria da carne
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fornecedores a uma situação de maior dependência comercial. De fato, a tendência no
setor é um aumento cada vez mais significativo da participação das grandes redes de
hipermercados e supermercados.
AS GRANDES REDES E AS MARCAS
Essas empresas, que são grandes redes, preocupam-se fortemente com a
reputação de suas marcas perante o consumidor final, e por isso zelam pela qualidade
dos produtos e serviços oferecidos. Os consumidores finais, principalmente aqueles dos
grandes centros, estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade e à segurança dos
alimentos adquiridos. Sendo assim, as empresas que desejam permanecer competitivas
nesse mercado devem estar continuamente buscando formas de cativar a confiança
dessa clientela. Oferecer carnes bovinas de qualidade assegurada passou a ser um
grande diferencial competitivo para essas grandes redes. Além disso, a carne bovina
representa um dos principais itens de fidelização dos consumidores em relação aos híper
e supermercados.
Para atender — e mesmo superar — as expectativas dos clientes quanto à
qualidade, costumam ser exigentes quanto à aquisição de produtos, principalmente bens
perecíveis, como é o caso da carne bovina in natura.
Freqüentemente essas empresas mantêm técnicos (geralmente veterinários) na
indústria frigorífica que fornece as carnes bovinas, para gerenciamento da qualidade ao
longo do processo produtivo. Os rígidos padrões de qualidade exigidos para a seleção
dos frigoríficos fornecedores favorecem, em muitos casos, a capacitação desses
estabelecimentos para a obtenção do credenciamento para exportação de carne bovina.
CARNE COM OSSO
Em relação aos tipos de carnes comercializadas, verificou-se uma preferência
pela compra de carnes com osso por parte das empresas que já possuem salas de desossa
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instaladas, sendo algumas credenciadas como entrepostos. Essas empresas afirmam que
as carnes que chegam com osso permitem resultados melhores em termos de qualidades
organolépticas do produto final, que se degradam devido ao controle inadequado de
temperatura por parte dos transportadores (infra-estrutura logística).
DESCONFIANÇA: DISTRIBUIDORES E FRIGORÍFICOS
Um especialista de uma das empresas salientou que a gordura presente nas
carcaças inteiras serve como isolante térmico durante o transporte, diminuindo assim os
riscos de contaminação. O processo de desossa agrega mais uma manipulação, que, nas
condições tropicais e sem infra-estrutura adequada, eleva a possibilidade de
contaminação — daí a conveniência de se efetuar a desossa o mais tarde possível.
CARNE SEM OSSO
Apesar disso, outras empresas demonstraram interesse maior pela aquisição de
carne desossada — o que viabiliza a compra de cortes específicos — em vez de
carcaças inteiras (dianteiros e traseiros). A compra de carnes já desossadas também
proporciona à empresa uma redução dos custos relativos à manutenção de salas de
desossa e de funcionários especializados nas lojas.
Os clientes do grande varejo estão cada vez mais procurando produtos que
agilizem suas tarefas domésticas, principalmente, quanto ao preparo das refeições.
Sendo assim, a oferta de carnes já desossadas e embaladas em quantidades variáveis vai
de encontro a essas necessidades, tornando-se um fator determinante na escolha do
cliente por determinado fornecedor.
O abastecimento das carnes bovinas nessas empresas é feito diretamente pelos
frigoríficos fornecedores, previamente selecionados segundo normas específicas da
empresa compradora. Normalmente, o frigorífico é responsável por entregar a carne
diretamente nos pontos de venda das empresas.
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INSTABILIDADE CONTRATUAL
Essas empresas mantêm contatos comerciais freqüentes com um número
restrito de fornecedores, geralmente de 4 a 6. Transacionam preferencialmente com
frigoríficos maiores, que possibilitam uma melhor seleção de bois para o abate e têm
capacidade de fornecimento e entrega adequados para atendimento a várias lojas. Esses
frigoríficos pertencem predominantemente à subcadeia A.
A periodicidade das transações varia de diária a semanal. Elas ocorrem
predominantemente via mercado, isto é, não existem contratos formais de
comercialização. Algumas exceções já podem ser percebidas na adoção de contratos
formais na compra de produtos diferenciados, como carnes de novilho precoce, cortes e
embalagens especiais, e carnes com processo produtivo rastreado. O pagamento é
normalmente a prazo, variando de 20 a 25 dias após a entrega. Nessas relações, em que
predomina uma maior solidez, já é perceptível maior estabilidade e constância.
O recebimento das carnes é praticamente diário, fator importante considerando-
se o grau de perecibilidade do produto. Uma das empresas apresentou um giro do
estoque de carnes entre 2 e 3 dias, mantendo um mínimo de armazenamento do produto
na câmara fria.
Dentre os cortes de carnes com maior giro de estoque destacam-se o contrafilé
e a alcatra, devido à predominância de consumidores das classes A e B.
TRANSPORTE
Quanto às condições de transporte dos frigoríficos até as lojas, verificou-se
insatisfação quanto à qualidade da refrigeração das cargas. Segundo algumas empresas
varejistas, nas condições atuais de transporte a temperatura da carne é apenas mantida
em níveis suficientemente baixos para evitar o aquecimento excessivo, mas sem se
atingir uma verdadeira refrigeração.
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QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA
Uma das empresas salientou problemas com a capacitação dos funcionários
que realizam a desossa e também com aqueles que fazem os cortes especiais. Devido às
deficiências dessa mão-de-obra, é oferecido treinamento interno especializado para
essas atividades. São mantidos, geralmente, dois funcionários por loja somente para a
desossa. Segundo estimativas de uma das empresas, existe uma quebra (perda) de até
30% do produto no processamento, dividida entre a desossa, os cortes específicos e as
carnes que se esverdeiam. Por exemplo, em uma peça de 50 kg, 17 kg são perdidos na
primeira quebra e 2,5 kg pela decomposição.
Essa mesma empresa comercializa cerca de 120 tipos de cortes de carne
bovina, na tentativa de propiciar alternativas diferenciadas para o consumidor final.
Também são oferecidas carnes homogeneizadas (carnes moídas), obtidas
principalmente de miolo de acém, peito e paleta, e que são classificadas em três tipos,
conforme a quantidade de gordura: tradicional (acima de 12% de gordura), light (até
12% de gordura) e extra-light (7% de gordura no máximo).
A grande maioria dos entrevistados expressou a necessidade de maior
qualificação da mão-de-obra para a desossa, que deixam muito a desejar em termos de
produtividade.
AUMENTO DA PADRONIZAÇÃO DA CARNE
Sobre as exigências de qualidade da carne adquirida, algumas características
principais foram citadas: carne de boi cujo peso seja de aproximadamente 17 arrobas e
máximo de 36 meses de idade, classificação de traseiros de 55 a 60 kg e de dianteiros
entre 45 e 55 kg, comprovação de sanidade do animal, e apresentação de padrão para
cortes especiais. A compra preferencial é por traseiros, sendo que o volume comprado
de dianteiros varia entre 40% e 70% do volume dos primeiros. Os miúdos são
comercializados com vistas a atender, principalmente, os consumidores de renda mais
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baixa, por custarem relativamente menos que carnes mais nobres. Apesar disso, os
miúdos são comercializados a preços extremamente lucrativos para a empresa, já que
para esse tipo de carne o produtor de bovinos não recebe benefício algum.
5.4. CARACTERÍSTICAS DA SUBCADEIA B
Essa subcadeia consome aproximadamente 30% da carne de Mato Grosso do
Sul que é dirigida ao estado de São Paulo.
O setor de distribuição dessa subcadeia é composto basicamente por três tipos
de agentes econômicos: os entrepostos de carne, os corretores de carne e o médio e
pequeno varejos.
Figura 3.5 – Subcadeia B da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.
Esse circuito de distribuição transaciona predominantemente com os
frigoríficos categorizados adiante como da subcadeia B, devido a suas características
tecnológicas, econômicas e mercadológicas diferenciadas em relação aos frigoríficos
das subcadeias A e C.
DistribuidorProdução Pecuária Frigorífico
“Truckeiro”Médio e pequeno varejo
Consumidorfinal
SUBCADEIA B
INSU
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S
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CONSUMIDORES
Os consumidores finais desta subcadeia pertencem, em grande maioria, às
classes B e C, cujo poder aquisitivo é mais baixo que os da subcadeia A. Os pontos de
venda no varejo direcionados a esse mercado consumidor são principalmente
constituídos por médios e pequenos supermercados, mercadinhos e açougues
localizados na cidade de São Paulo. Esses estabelecimentos varejistas têm atuação
normalmente restrita a apenas um bairro e suas redondezas.
ATACADO
Os pontos de venda mencionados abastecem-se principalmente através de
entrepostos de carne localizados na cidade de São Paulo. As carcaças bovinas (traseiros
e dianteiros) e os miúdos são os principais produtos adquiridos. Existe ainda uma forte
preferência por carnes com osso nesse mercado, devido à possibilidade de elevar os
ganhos com a agregação de valor obtida na desossa feita pelo próprio varejista.
Os entrepostos mencionados são empresas atacadistas de carne que atuam
como intermediárias na distribuição dos produtos da indústria frigorífica para o varejo.
Há entrepostos ligados a um frigorífico específico e outros independentes, que compram
de vários frigoríficos. Os primeiros estão sendo cada vez mais raros devido, segundo
alguns deles, à dificuldade em competir com os preços praticados pelos entrepostos
independentes. Os preços inferiores são conseqüência, em grande parte, dos baixos
custos de aquisição dos produtos fornecidos por frigoríficos menos preparados
tecnologicamente, que compram animais mais baratos, com características qualitativas
inferiores, como idade acima de 3 anos, peso superior 18 arrobas e abate por processos
desatualizados. A partir de entrevistas, verificou-se a atuação ilícita de alguns
entrepostos independentes, que adquirem carnes originadas de cargas roubadas por
terceiros. Carnes dessas procedências, além das questões legais pertinentes, trazem
deficiências sanitárias inerentes à falta de controle.
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QUALIDADE E PREÇO
Entre os entrepostos da subcadeia B, a preocupação com a qualidade dos
produtos oferecidos é ainda muito baixa. Os próprios compradores dessas empresas não
se importam significativamente com a qualidade dos produtos que adquirem —
comportamento também observado entre os consumidores finais. A principal
preocupação é com o preço da carne, tida como um produto altamente homogêneo e
sem variação qualitativa não-intrínseca.
Esses aspectos, por sua vez, podem facilitar o surgimento de agentes
intermediários na distribuição da carne bovina nessa subcadeia. Tais agentes
intermediários existem, havendo-se constatado a presença de dois tipos principais: os
corretores e os “truckeiros”.
CORRETORES E “TRUCKEIROS”
Os corretores exercem o papel de intermediadores das transações entre
frigoríficos e entrepostos de carnes. Sua principal função é captar informações diárias
sobre a oferta e a demanda de carnes bovinas no mercado, bem como sobre os preços
vigentes. O corretor funciona como um agente centralizador das transações entre
frigoríficos e entrepostos, agilizando a comercialização das carnes. As transações são
realizadas exclusivamente via mercado spot (à vista), sem qualquer formalização
contratual. A comercialização de carnes com osso é predominante nesse mercado (80%
do total). Embora ainda baixa (20%), a comercialização de carnes desossadas vem
aumentando gradativamente nos últimos anos, seguindo a tendência de redução dos
custos de transporte de carnes com osso.
Os “truckeiros” são agentes intermediários que atuam na distribuição da carne
bovina entre a indústria frigorífica e o varejo. (Essa denominação deriva-se do nome do
veículo normalmente utilizado por esses agentes para o transporte da carne, um
caminhão do tipo truck.)
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VAREJO
Os principais varejistas que atuam na subcadeia B são médios e pequenos
supermercados e açougues localizados nos bairros da cidade de São Paulo. Os
estabelecimentos menores, principalmente os açougues, vêm enfrentando uma situação
crítica com o aumento da comercialização de carnes bovinas pelos supermercados e
hipermercados. Agentes institucionais que atuam nesse segmento apontam uma
tendência de diminuição significativa no número de açougues nos próximos anos, caso
não haja uma reestruturação desses estabelecimentos em busca de qualidade. Embora
para essa subcadeia a tendência não seja tão rápida quanto para a subcadeia A, é
gradativo e definitivo o surgimento, em substituição aos açougues, das boutiques de
carne, mais preocupadas com a qualidade do produto comercializado.
5.3. CARACTERÍSTICAS DA SUBCADEIA C
A subcadeia C corresponde a 20% do total da carne de Mato Grosso do Sul
destinada a São Paulo.
Figura 3.6 – Subcadeia C da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.
O setor de distribuição dessa subcadeia é composto pelo pequeno e médio
varejo, predominando os pequenos supermercados e açougues locais, localizados
principalmente em bairros periféricos de São Paulo.
Produção Pecuária
Frigorífico
Comprador
Médio e pequeno varejo
SUBCADEIA C
INSU
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Consumidor final
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Esse circuito de distribuição comercializa carnes bovinas geralmente
originadas de frigoríficos que atuam na subcadeia C. Quase sempre esses
estabelecimentos produzem carne bovina de qualidade duvidosa, oferecida a preços
inferiores.
O abastecimento dessas carnes no mercado varejista é realizado através de um
intermediário informal, denominado “comprador”. Esse agente adquire os bois vivos em
pequenas propriedades sul-mato-grossenses e terceiriza o abate em abatedouros e
frigoríficos de pequeno porte e de baixa tecnologia, também localizados no estado. As
carnes são então transportadas por este mesmo agente até São Paulo e distribuídas
diretamente no pequeno varejo.
As condições de transporte da carne bovina na comercialização via
“truckeiros” e “compradores” são normalmente as mais precárias, sem controle algum
de refrigeração. A livre atuação desses agentes é possível devido, em grande parte, à
deficiência do sistema de fiscalização do transporte de mercadorias.
Os consumidores finais dos açougues que atuam nessa subcadeia pertencem
principalmente às classes C e D, que por seu pequeno poder aquisitivo compram apenas
pelo melhor preço, em detrimento da qualidade. As carnes consideradas de segunda e os
miúdos são os principais produtos consumidos nesse mercado. Sabe-se que a
lucratividade dos açougues deve-se predominantemente à venda dos miúdos.
ABATE CLANDESTINO
É na subcadeia C onde ocorre com maior freqüência o abate clandestino. Não
há precisão sobre os números relativos a essa prática Brasil, mas em meados dos anos
90, dizia-se que compreendia até 60% do total da carne consumida. Nos últimos anos, a
partir da Portaria 304, que passou a exigir a desossa nos frigoríficos de abate, observou-
se uma redução da clandestinidade, apesar da ausência de fiscalização rigorosa. O
Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa também levou a uma redução do
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abate clandestino, pelos controles que contém quanto ao trânsito de animais, produtos e
subprodutos, dadas as exigências sanitárias.
A tendência é que sobretudo na Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste se
observe uma redução significativa do abate clandestino, devido ao consórcio dos
controles fiscal e sanitário. A maior exigência dos consumidores, sobretudo os que se
servem das grandes redes de supermercados, também colabora com essa tendência de
diminuição.
5.4. DISTRIBUIÇÃO DA CARNE BOVINA NO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro, o segundo mercado consumidor de carnes do país, apresenta-se
como menos exigente, tanto por parte dos consumidores quanto das imposições
sanitárias estaduais49. Em termos contratuais, apresenta conflitos e incertezas na cadeia
muito superiores às de São Paulo, razão pela qual grande parte da indústria frigorífica
do país não tem preferência pela venda no mercado fluminense.
As incertezas nas vendas podem ser ilustradas por este exemplo: certa indústria
frigorífica de Mato Grosso do Sul, impedida de vender a São Paulo (Zona Livre de
Febre Aftosa) por não praticar a desossa, pôde fechar negócios com comprador do Rio
de Janeiro (Zona Tampão e ‘de alto risco’) Entre a saída da carga de Mato Grosso do
Sul e sua chegada ao destino, o contrato inicial sofreu nada menos que três alterações. O
comprador, após a saída da carga, meramente insinuou que poderia não mais desejar
adquirir a mercadoria, cujo pagamento, aliás, ocorreria por ocasião da entrega.
Por instabilidades como a exemplificada — ademais, também existentes em
outras áreas do país, embora em menor escala e freqüência — o mercado fluminense
não se constitui em mercado preferencial.
49 Até julho de 2000, o Rio de Janeiro ainda permanecia enquadrado na condição de alto risco de febre aftosa.
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5.5. AGENTES COORDENADORES DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA NO BRASIL
Considerando tais conflitos e incertezas, são recorrentes nos meios acadêmicos
e políticos brasileiros afirmações que versam sobre a necessidade de maior coordenação
e harmonia na cadeia produtiva da bovinocultura de corte brasileira. O Fórum Nacional
da Pecuária de Corte (FNPC) — vinculado à Confederação Nacional de Agricultura
(CNA) —, o Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (PENSA-
USP), ou ainda o Fundo de Desenvolvimento da Pecuária de Corte (FUNDEPEC-SP),
todos sem exceção reafirmam a necessidade dessa harmonia e coordenação na cadeia.
Apesar disso, o que observamos é que os conflitos perduram, ou até aumentam.
Em nossa compreensão, no entanto, tal coordenação já vem ocorrendo, ainda
que não da forma idealizada e desejada pelos interlocutores acima citados, mas sim a
partir de um maior poder que vem sendo exercido por parte das grandes redes de
supermercados, em especial Carrefour e Pão de Açúcar, através das chamadas
“parcerias”. Tal visão também é partilhada, mesmo que parcialmente, por BATALHA50.
Abaixo ilustramos como estão se dando essas parcerias.
A revista DBO Rural51 traz ampla reportagem, “No laço dos supermercados”,
em que descreve e analisa os programas de qualidade da carne coordenados pelas duas
maiores redes de supermercados do país — os grupos Carrefour e Pão de Açúcar (Cia.
Brasileira de Distribuição), respectivamente a primeira e segunda maiores redes
varejistas do país52 —, que passam a definir uma série de exigências tanto de matéria-
prima (boi) quanto das formas e procedimentos de abate (indústria frigorífica) (DBO
RURAL, 2000, p. 84).
Essas ações relativas à carne bovina buscam obter a confiança dos clientes.
“Pesquisas mostram a carne como um dos campeões de ‘fidelização’ dos clientes, ou
seja, transformar o consumidor em freqüentador assíduo e fiel — como diz o ditado —
de uma determinada loja” (DBO RURAL, 2000, p. 84).
50 BATALHA, Mário Otávio. 10º Encontro Nacional do Novilho Precoce, Campo Grande, Junho, 2000. 51 DBO RURAL. Ano 19, n. 235, mai. 2000, p. 84-98.
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As duas redes estão realizando esse programa, objetivando atender a todas as
lojas. O grupo Carrefour, por exemplo, pretende que em dois anos todas as suas lojas —
o que corresponde a um consumo mensal de 30 a 40 mil bovinos —tenham o selo
“Garantia de Origem Carrefour”. No caso do grupo Pão de Açúcar, a previsão de abate
já está na faixa de 30 mil cabeças por ano. O grupo conta com a parceria do
FUNDEPEC, criado em São Paulo com o propósito de articular a cadeia produtiva a
partir, pelo menos, dos parâmetros desejados por JANK e ZYLBERSZTAJN, isto é, a
partir de uma articulação dos agentes de toda a cadeia produtiva.
Em essência, os programas do Carrefour e do Pão de Açúcar seguem a mesma
lógica, porém com particularidades e estratégias distintas, a ponto de este último
planejar comercializar carne a partir de raças específicas53.
A própria DBO Rural, autodenominada “A Revista de Negócios do Criador”, é
enfática ao afirmar a participação dos supermercados: “Pelos programas do varejo, dão
sinais claros de avanço no comando da cadeia da carne, ao amarrar prêmios de preço ao
pecuarista e liqüidez ao frigorífico à obtenção de um produto que lhe interesse. Opinam
na produção, interferem no processamento industrial e — claro — detêm controle
absoluto.... Segurança alimentar, rastreabilidade e capacitação de mão-de-obra estão na
ponta da língua dos organizadores dos programas de carne de qualidade” (DBO
RURAL, 2000, p. 84).
O grupo Carrefour vem investindo de forma significativa, nos 21 países em que
atua, na garantia de origem. Para o produtor, o diferencial de preços pode ser de até 3%
para machos que atendam às especificações. A base dos preços a serem pagos pela rede
será calculada a partir do indicador estabelecido pela Escola Superior de Agricultura
Luís de Queirós (ESALQ-USP), para cotação feita para a Bolsa de Mercadorias e
Futuros. Essas cotações são regionais, com a perspectiva de garantir as diferenças
regionais.
52 De acordo com o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o grupo Carrefour está em primeiro lugar em faturamento bruto, de R$ 8 bilhões, com 183 lojas; o grupo Pão de Açúcar, em segundo, com faturamento bruto de R$ 7,7 bilhões, tendo 349 lojas. Dados relativos a 1999. 53 Cada tipo de raça apresenta distinções quanto à produção, adaptação climática, pastagens, gordura etc. As raças, portanto, acabam por se constituir em carnes com distintas tipologias.
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Observa-se, ainda, que antes da decisão de centralizar fornecedores, as
compras eram descentralizadas, o que aumentava significativamente os custos, mesmo
porque muitas lojas tinham suas unidades próprias de desossa, e a conseqüência era uma
absoluta falta de padronização de qualidade.
O objetivo do Carrefour, dada a amplitude nacional de seu programa — que vai
do Rio Grande do Sul ao Amazonas —, é também evitar os impactos de sazonalidade
em termos de baixa ou de elevação de preços.
A revista ilustra também o grau de exigência do programa do Carrefour, sobre
o qual a empresa aponta: “Rastreamento do nascimento ao abate, da semente à colheita,
significa como obter as informações que convençam o consumidor da boa procedência
do alimento.... É condição obrigatória a identificação individual dos brincos, com
código de barras ou com chips, e chips colocados diretamente nos animais. Cada brinco
traz o ano em que o animal nasceu, simbolizado por uma letra, as iniciais da fazenda ou
sigla do estado” (DBO RURAL, 2000, p. 86).
Finalmente, o Carrefour vai exigir do pecuarista não necessariamente novos
investimentos, mas uma forma sustentável de gestão da propriedade, englobando, entre
outras variáveis:
• pastagens (“A propriedade deve ter um mapa atualizado e disponível para auditorias,
indicando as divisões de pastos, cercas e áreas de reserva...”);
• água (“Laudos de análises devem ser mantidos à vista para auditorias...”);
• pessoal (“Proibição de trabalho infantil direto ou indireto... Pagamento dos direitos
trabalhistas...”) (DBO RURAL, 2000, p. 87).
Além do exposto, no Caderno de Encargos há o controle sobre as instalações,
currais, utensílios/ferramentas, balanças, jejum e peso, e estradas.
Na direção oposta ao que vulgarmente se difunde em relação às dificuldades da
pecuária extensiva — de que a tendência seria a de confinamentos —, o Carrefour
afirma: “O grupo partilha da opinião de que a engorda a pasto confere mais sabor à
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carne. O superprecoce (que passa um bom tempo em confinamento) não interessa.... Na
mira do Departamento de Compras, vale mais o precoce engordado a pasto, que precisa,
no máximo, de 40 dias de confinamento para terminação” (DBO RURAL, 2000, p. 86).
Além da orientação e controle sobre a ação do pecuarista, o controle sobre a
indústria frigorífica também é rígido: “No frigorífico, o manejo da carcaça deve impedir
que a carne endureça. O transporte até as lojas deve manter a temperatura na faixa de 2
ºC a 4 ºC. O Carrefour tem listados pelo menos oito frigoríficos com que pretende
trabalhar nas normas mais específicas do programa... Em cada um deles o plano prevê
plantão permanente de um técnico do grupo” (DBO RURAL, 2000, p. 87).
Uma última informação importante, e simultaneamente preocupante para os
produtores menores, é que essas parcerias estão sendo realizadas com os pecuaristas
que, nas atuais formas de produção, já se constituem nos mais produtivos e
competitivos. Em outras palavras, estas parcerias estão sendo firmadas com os
bovinocultores de corte que já apresentam um grau de eficiência produtiva acima da
média dos outros produtores. A maioria dos contratos de parceria é realizada com
pecuaristas que têm entre 5 e 10 mil cabeças e com formas de produção e de gestão
mais avançadas que a média nacional. Nesse sentido, essas parcerias não priorizam os
produtores menos competitivos, que em tese mais necessitariam delas. Ao contrário, a
prioridade é dada àqueles que já alcançam níveis de produtividade superiores à média.
Se essa tendência se confirmar, os produtores com níveis de produtividade menores
tenderão a ser mais pressionados nos preços, já que detêm menor poder de mercado que
os grandes.
5.6. EXPORTAÇÕES
Quanto às exportações de carne bovina, o Brasil enviou ao exterior 550 mil
toneladas in natura (equivalentes-carcaça) e 345 mil industrializadas em 1999.
Considerando o conjunto dessa exportação, que correspondeu a 63% do total das
exportações brasileiras de carne bovina, a elevação entre 1990 e 1999 foi de 117%, com
tendência de aumento.
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Mato Grosso do Sul do Sul tem em seu território matrizes ou filiais das cinco
maiores indústrias exportadoras de carne bovina do país. Por ordem de importância nas
exportações temos os frigoríficos Independência (com duas unidades, em Nova
Andradina e Anastácio), Bertin, Friboi e Minerva. A distribuição estadual dos
frigoríficos credenciados para exportação é mostrada na Figura 3.7.
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Figura 3.7 – Bacias da pecuária de corte de Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e capacidades de abate por dia. 1999.
Fonte: GEA-UFMS.
R B 2.645.294
CAP/DIA 1.200
R B 1.387.603
CAP/DIA 100
R B 2.075.397
CAP/DIA 650
R B 4.944.624
CAP/DIA 4.230
R B 3.402.761
CAP/DIA 2.260
R B 4.256.767
CAP/DIA 5.228
R B 2.079.909
CAP/DIA 1.580 20.739.346
23.860.476
24.756.256
34.527.380
53.109.110
BRASIL: Rebanhos Bovinos por Regiões – 1999
Credenciado para exportação
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169
6. ABATE E PROCESSAMENTO DE CARNES EM MATO GROSSO DO SUL
A indústria frigorífica brasileira é bastante complexa e tem passado por uma
reestruturação significativa, especialmente a partir dos anos 90, com a desconcentração
do abate em São Paulo e o conseqüente deslocamento do abate e/ou industrialização
para oeste, notadamente para Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Entretanto, ao
longo do tempo, a estrutura frigorífica brasileira tem apresentado as seguintes
características: “A preocupação básica tem sido, unicamente, o preenchimento das
escalas de abate dos frigoríficos, e as relações são tipicamente de conflito. Há um
grande problema de assimetria de informação, pois o pecuarista não sabe precisamente
quanto o seu animal vai ‘render’ no processo de abate e limpeza. O sistema de
comercialização é tão crítico que muitos indivíduos fazem questão de acompanhar o
abate dos seus animais e a pesagem das carcaças nos frigoríficos, dado o alto grau de
possibilidades de ações oportunistas por parte da indústria” (BENITEZ, 1995, p. 286).
A indústria frigorífica em Mato Grosso do Sul desenvolveu-se de forma intensa
nos últimos anos, em especial a partir de meados dos anos 80, quando sua instalação se
intensificou na região Centro-Oeste, notadamente pelo incentivo através do crédito,
política governamental para reduzir os problemas oriundos da entressafra, quando
ocorriam grande elevação no preço da carne. Buscando-se reduzir os impactos da menor
oferta de carne na entressafra, expandia-se a indústria frigorífica para todas as regiões
do país, sobretudo naquelas produtoras de animais.
Tal expansão, porém, fez com que o Brasil passasse a dispor de uma indústria
frigorífica com grande capacidade ociosa, que em média chega a 30%. Tal fato fez com
que o crédito para a indústria frigorífica brasileira, em especial no Centro-Oeste, fosse
reduzido, sendo em alguns estados extinto.
Em Mato Grosso do Sul, tal constatação é bastante evidente: o estado tem hoje
33 indústrias frigoríficas instaladas, responsáveis pelo abate de pouco mais de 3 milhões
de cabeças; a capacidade de abate instalada foi de 4,15 milhões de cabeças no início de
2000, mas o abate não ultrapassou 3,2 milhões. Uma decorrência disso é que o Banco
do Brasil, que opera com o Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Centro-Oeste
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(FCO), não mais libera financiamentos para a ampliação do parque produtivo,
reservando-os somente para se adquirirem ou modernizarem instalações já existentes.
Tabela 3.1 – Setor frigorífico de Mato Grosso do Sul. 1999.
Produção em 1999 1,1 milhões de toneladas anuais
3,15 milhões de animais anuais R$ 2,2 bilhões ao ano
Empregos diretos 10 500 R$ 38 milhões ao ano
Arrecadação potencial, incluindo as novas alíquotas
4% de ICMS (carnes com osso)
3% de ICMS (carnes sem osso) R$ 60 milhões ao ano
Como mostrado na Tabela 3.1, o setor frigorífico sul-mato-grossense realizou
em 1999 um abate de 3,15 milhões de cabeças, totalizando 1,1 milhão de toneladas de
carne e subprodutos. O valor movimentado pelo setor nesse mesmo ano alcançou R$ 2,2
bilhões. A alíquota do ICMS, que até meados de 1999 era de 2% para todos os tipos de
carne, foi elevada em maio de 2000 a 3% para carne com osso e 4% para a desossada,
objetivando aumentar a agregação de valor no estado, permitindo-lhe arrecadar até R$
60 milhões por ano com o setor.
6.1. OS FRIGORÍFICOS SUL-MATO-GROSSENSES NA CADEIA PRODUTIVA DE CARNE
BOVINA
Nesta seção, analisam-se os principais aspectos levantados através dos
questionários aplicados à indústria frigorífica sul-mato-grossense no período de
novembro de 1999 a abril de 2000 por pesquisadores da UFMS.
Obtém-se uma melhor visão do papel dos frigoríficos de carne bovina
instalados em Mato Grosso do Sul classificando-os em três grupos predominantes, que
se enquadram nas já referidas subcadeias A, B e C (Figura 3.8).
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Vejamos suas principais características quanto à estruturas internas e
gerenciamento das indústrias frigoríficas quanto às relações desta com os fornecedores
de matérias-primas (pecuaristas) e com os distribuidores (em especial os de São Paulo).
As subcadeias A, B e C de Mato Grosso correspondem respectivamente a 58%,
30% e 12% do total de sua produção (Tabela 3.2). A subcadeia A é que apresentou os
maiores níveis de crescimento recente, sobretudo a partir de dezembro de 1999, devido
à exigência de que a carne sul-mato-grossense destinada sobretudo a São Paulo esteja
desossada. A tendência, também devida a outros fatores, é de uma maior concentração
nessa subcadeia.
Tabela 3.2 – Classificação dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul
Subcadeia Unidades Porcentagem da produção
A 12 plantas (7 empresas) 58%
B 12 plantas (12 empresas) 37%
C 7 plantas (7 empresas) 12%
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Figura 3.8 – Subcadeias da indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul
Produção Pecuária Frigorífico
Exportação
Grande e médio varejo
Con
sum
idor
final
DistribuidorProdução Pecuária Frigorífico
Produção Pecuária
Frigorífico
Comprador
“Truckeiro”
Indústria da carne
A
B
C
Médio e Pequeno Varejo
INSU
MO
S
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Figura 3.9 – Características da subcadeia A da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e distribuição em São Paulo.
Distribuidores: • ligados a grandes e médios varejistas; • venda direta ao consumidor final; • preocupação com qualidade e segurança; • adquirem carne com osso e sem osso; • possuem técnicos próprios nos frigoríficos; • busca por diferenciação; • alto poder de negociação (altos volumes); • favorecem a capacitação do frigorífico para exportação; • público alvo: classes A e B.
Subcadeia A
Frigoríficos: • ligados a grupos maiores sediados
predominantemente em SP; • exportadores, em sua maioria; • tecnologia de processos e gestão satisfatórias; • equipamentos em boas condições; • parque de desossa instalado; • não abatem para terceiros; • possuem fornecedores selecionados.
Cadeia produtiva da carne bovina - GERAL
Cadeia produtiva da carne bovina - MS
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Figura 3.10 – Características da subcadeia B da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e distribuição em São Paulo.
Distribuidores: • entrepostos de carnes bovinas localizados em outros
estados, comercializando a carne via “truckeiros”, que entregam no pequeno varejo e açougues;
• pequenos varejistas e açougues locais; • adquirem principalmente carne com osso; • baixa preocupação com qualidade e segurança; • baixo poder de negociação (baixos volumes); • busca apenas por preços baixos. • público-alvo: classes B e C.
Subcadeia B
Frigoríficos: • origem local; • não exportadores, em sua maioria; • tecnologia de processo e gestão desatualizadas; • abatem também para terceiros; • baixa preocupação com qualidade do boi; • baixa capacidade de desossa; • equipamentos obsoletos.
Cadeia produtiva da carne bovina - GERAL
Cadeia produtiva da carne bovina - MS
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Figura 3.11 – Características da subcadeia C da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e distribuição em São Paulo.
Subcadeia C
Frigoríficos: • origem local; • não exportadores, em sua maioria; • tecnologia de processo e gestão desatualizadas; • abatem predominantemente para terceiros; • abatem predominantemente vacas; • comercializam apenas os miúdos; • baixa preocupação com qualidade da matéria-prima; • baixa capacidade de desossa; • equipamentos obsoletos.
Distribuidores: • terceiros, que abatem no frigorífico e
distribuem para médio e pequeno varejo local e em outros estados;
• adquirem principalmente carne com osso; • baixa preocupação com qualidade e
segurança; • buscam apenas por preços baixos; • público alvo: classes D e E.
Cadeia produtiva da carne bovina - GERAL
Cadeia produtiva da carne bovina - MS
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Praticamente 90% dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul foram entrevistados
por meio do questionário constante no Anexo, que abordou aspectos de suas relações
com os pecuaristas, sua estrutura, interna, distribuidores e órgãos estatais de
representação.
No decorrer da pesquisa também se manteve contato praticamente permanente
com o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso
do Sul (SICADEMS), que foi prestando informações complementares sobre questões
pertinentes à evolução e situação da indústria frigorífica no estado.
A seguir, analisam-se os principais aspectos constatados nessa pesquisa.
PERTENCER A UM GRANDE GRUPO
A maioria dos frigoríficos instalados em Mato Grosso do Sul
(aproximadamente 60%) pertence a grupos empresariais, sejam grupos locais
diversificados ou grupos frigoríficos presentes em alguns estados do país, como o Bertin
e o Friboi. O Independência, com sede em Nova Andradina, tem empresas no estado de
São Paulo, e está ampliando suas unidades produtivas em Mato Grosso do Sul.
O aumento da predominância de grupos com presença nacional em Mato
Grosso do Sul, sobretudo oriundos de São Paulo, deve se intensificar nos próximos
anos, uma vez que sua inserção na cadeia produtiva como um todo, notadamente na
relação frigorífico–distribuição, os aproxima das regiões produtoras.
O fato de pertencer a um grupo empresarial, normalmente usuário de gestão
profissional, é característica predominante das subcadeias A e B, enquanto as empresas
locais familiares estão presentes nas subcadeias B e C.
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DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES
Aproximadamente 40% das empresas frigoríficas de Mato Grosso do Sul
atuam em atividades diversificadas. Essa diversificação é notadamente concêntrica, ou
seja, as atividades são calcadas na mesma base tecnológica, normalmente pela atuação
em um elo anterior ou posterior da cadeia da carne, ou ainda no processamento de
produtos oriundos do abate. São estas as principais atividades de diversificação:
• produção bovina (como forma de suprir parcialmente o abastecimento de matéria-
prima, diminuindo assim a dependência dos produtores);
• processamento da carne e produção de embutidos (agregação de valor a carnes
menos nobres, como dianteiro e miúdos);
• produção de sabão (aproveitamento da graxaria oriunda do processo de abate);
• curtume (processamento do couro para utilização na indústria de calçados e para a
exportação);
• produção de calçados (aproveitamento do couro oriundo do abate).
É interessante notar que as empresas que praticam algum processo de
diversificação pertencem à subcadeia A e em menor escala à B. De modo geral, as
atividades expressas acima (que não o abate e frigorificação) têm representação bastante
modesta no faturamento consolidado do grupo, geralmente inferior a 5%.
Com a obrigatoriedade, a partir de dezembro de 1999, da desossa no próprio
estado do abate para a carne destinada à Zona Livre de Febre Aftosa, constatou-se um
incremento dessas atividades num primeiro momento, notadamente no processamento
de carne de dianteiro, ossos e miúdos. No entanto, a partir de dezembro de 2000,
quando Mato Grosso do Sul for incluído na Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação,
igualando-se aos demais estados do Circuito Pecuário Centro-Oeste e portanto podendo
enviar carne com osso para São Paulo, é pouco provável que tal movimento recobre o
nível anterior ao fechamento das divisas estaduais.
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ANO DE INSTALAÇÃO E IDADE DOS EQUIPAMENTOS
Quanto à idade das instalações, o parque industrial frigorífico de Mato Grosso
do Sul é relativamente recente: aproximadamente 60% das unidades foram instaladas ou
se adequaram de abatedouros a frigoríficos durante os anos 90. As demais unidades
datam predominantemente dos anos 80. Aproximadamente 60% das unidades têm
instalações consideradas modernas. As 40% restantes dispõem de equipamentos
medianamente atualizados. Constata-se nesse grupo uma presença mais significativa de
frigoríficos que abatem para terceiros, enquadrados na subcadeia C.
SOBRE O ARRENDAMENTO
Aproximadamente 40% dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul são arrendados,
ou seja, não são geridos pelo proprietário dos ativos de produção. Isso é feito quando os
proprietários, sobretudo por dificuldades financeiras para continuar a atividade,
arrendam os ativos patrimoniais, em especial para grupos frigoríficos mais sólidos, de
renome nacional. Em Mato Grosso do Sul, no passado recente, diversos arrendamentos
foram precedidos por crises nas relações entre os frigoríficos e pecuaristas e outros
credores: frigoríficos arrendados interrompiam as atividades, rompendo contratos e
negócios já pactuados54. Isto pode gerar, fundamentalmente, dois problemas.
O primeiro é que, em caso de falência do frigorífico que arrenda a unidade
produtora, dificilmente haverá garantias de pagamento a fornecedores (pecuaristas) e
funcionários, visto que o frigorífico não detém os ativos de produção. Assim, o
arrendatário afasta-se da produção, mas o proprietário — sem qualquer responsabilidade
legal — pode arrendar novamente a unidade. Essa prática era tão comum no estado que
se cogitava que os proprietários dos ativos estivessem por vezes comandando a empresa
54 No início de 2000, a Secretaria de Estado de Fazenda (SEFAZ) passou a exercer maior controle sobre a indústria frigorífica, sobretudo na concessão dos regimes especiais, para evitar ou reduzir problemas dessa natureza.
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arrendatária através de um “laranja”, intermediário que serviria apenas como fiel
depositário e responsável legal pela empresa.
Outra implicação do alto índice de arrendamento das unidades frigoríficas é o
desestímulo à modernização das instalações. A empresa que arrenda a unidade
dificilmente investirá em ativos fixos, devido a não-amortização destes durante a
vigência do contrato de arrendamento. Os proprietários dos ativos, por sua vez,
tampouco são estimulados a investir em ativos, com receio de minimizar seus lucros.
É clara a relação entre o fato de a unidade ser arrendada e não estar com seus
ativos de produção devidamente atualizados.
ABATE PARA TERCEIROS
Uma prática também observada é o “abate para terceiros”, nome que se aplica a
unidades frigoríficas que abatem animais para outras empresas (às vezes constituídas
por uma única pessoa) que possuem uma carteira de clientes em Mato Grosso do Sul ou
ainda em São Paulo. Os terceiros adquirem os animais de pecuaristas, conduzem-nos ao
abate e encarregam-se da comercialização, normalmente com açougues e pequenos
supermercados.
Como forma de pagamento pela atividade de abate, as unidades frigoríficas
recebem os miúdos e o couro, com os quais pagam seus custos totais. Os miúdos
oriundos do abate são comercializados pelos próprios frigoríficos, predominantemente
nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Aproximadamente 33% das unidades frigoríficas abatem para terceiros. Isso
equivale a 500 a 600 mil cabeças por ano, perfazendo em torno de 18% do abate
efetuado em Mato Grosso do Sul.
Algumas características dessas empresas que integram a subcadeia C: têm
origem local; em sua maioria não são exportadoras; a tecnologia de processo e a gestão
estão desatualizadas; abatem somente para terceiros; abatem predominantemente vacas;
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comercializam apenas os miúdos; têm baixa preocupação com a qualidade da matéria-
prima; a capacidade de desossa é baixa; os equipamentos são obsoletos.
Outro fato relevante é a descapitalização desses frigoríficos. Além de não
possuírem capital de giro para a aquisição da matéria-prima (bois), não gozam de
credibilidade junto aos pecuaristas para a compra a credito, o que praticamente as obriga
a efetuar o abate somente para terceiros.
FORMAÇÃO DO PREÇO
Quanto à formação de preços, os frigoríficos sul-mato-grossenses, assim como
os dos demais estados, são tomadores de preços: os mercados compradores determinam
os preços a serem praticados no elo anterior da cadeia (indústria frigorífica), o que é
característico dos mercados de commodities. Em outras palavras, quem define os preços
pagos pela indústria frigorífica aos pecuaristas é sobretudo a distribuição, e mais
fortemente as grandes redes varejistas.
Devido ao fato de os frigoríficos não terem flexibilidade sobre a formação dos
preços para o atacado ou para o varejo, o aumento da margem obtida com a atividade
vem predominantemente da compra de animais e do domínio da estrutura de custos das
unidades produtivas. Nesse sentido, os conflitos existentes entre a indústria frigorífica e
pecuaristas tendem a ser cada vez mais intensos, sobretudo porque a indústria frigorífica
é cada vez mais pressionada na ponta do varejo pelas redes varejistas, que, como
veremos, aumentam dia a dia seu poder de força.
COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO
A definição dos preços pelo último elo da cadeia evidencia um comportamento
estratégico de dominação pelos custos, cujas principais características são brevemente
discutidas a seguir.
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O enfoque da atividade se dá sobre o produto, e não sobre o mercado: há maior
preocupação em otimizar processos que visem diminuir custos de produção, obtendo-se
um padrão de qualidade “aceitável” pelo mercado. Pouco ou nenhum esforço é feito
para gerar produtos novos ou diferenciados. A publicidade e a promoção, como formas
de alcançar diferenciações subjetivas, tampouco são empreendidas no setor.
O enfoque de gestão se dá na otimização das atividades agregadoras de valor,
notadamente da linha de produção, das logísticas interna e externa e da mão-de-obra.
Para esse tipo de empresa, a competência requerida de seus gestores é a eficiência no
controle dos custos. Não se usam outros procedimentos de gestão que poderiam fazer
com que a empresa fosse mais competitiva, dada as características apresentadas acima.
A pesquisa e desenvolvimento, quando praticados pelos frigoríficos,
concentram-se no desenvolvimento de processos que visem a diminuir os custos de
produção mantendo a qualidade compatível.
Sempre com o intuito de reduzir esses custos, uma parcela significativa dos
frigoríficos é levada a promover a integração vertical, tanto a montante como a jusante,
exercendo atividades de pecuária, transporte de animais vivos e carcaças,
industrialização da carne, curtume, produção de sabão etc., nas quais a empresa se
apropria dos valores agregados em cada etapa produtiva.
Como a rentabilidade da atividade se dá predominantemente pela redução dos
custos, pode-se inferir que empresas frigoríficas com unidades produtivas de maior
escala tenham vantagens em relação a seus concorrentes menores, devido a um rateio
dos custos fixos de produção.
CARTEIRA DE PRODUTOS
Os principais produtos oriundos do abate de bovinos são:
• carne com osso resfriada;
• carne sem osso resfriada;
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• miúdos;
• farinha de osso;
• farinha de sangue;
• graxaria;
• couro;
• cascos e chifres.
Algumas unidades frigoríficas produzem ainda o charque – industrialização da
carne de dianteiro – como forma de agregar valor a uma carne menos nobre.
Apenas uma empresa frigorífica citou a produção de um produto diferenciado
— no caso, cortes especiais de carne com osso.
Dessa forma, confirmando a posição de commodity do produto, verifica-se
grande homogeneidade dos produtos oferecidos pelas empresas frigoríficas, havendo
pouco ou nenhum estímulo ao desenvolvimento de novas versões.
Uma das raras diferenciações é a carne de novilho precoce, produzida de forma
esporádica e sem fluxo constante pelas empresas frigoríficas.
NÍVEL DE CONCORRÊNCIA
Dadas as características de commodity do produto carne, em suas diversas
formas, a percepção de concorrência por parte das empresas frigoríficas é bastante
modesta. Apenas grandes grupos frigoríficos, como Friboi, Bertin e Independência,
salientam existir uma certa concorrência entre si no mercado interno, muito
provavelmente pelos grandes clientes.
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O fato de as empresas frigoríficas não perceberem uma concorrência direta
entre si poderia — ou deveria — facilitar acordos de cooperação para otimizar a
produção e diminuir custos. Algumas iniciativas desse tipo já vêm sendo tomadas
(desossa de uma empresa sendo efetuada na unidade de outra).
As empresas frigoríficas que abatem para terceiros e recebem os miúdos como
pagamento beneficiam-se de uma demanda maior que a oferta, e portanto conseguem
colocar facilmente esses produtos no mercado. Tampouco nesse segmento de mercado
há qualquer percepção de concorrência.
Um tipo de concorrência eventualmente citada pelas empresas frigoríficas é
pela obtenção de matéria-prima (boi), o que as obriga a percorrer grandes distâncias —
com os devidos custos associados — para conseguir animais. Ainda assim, a percepção
de concorrência entre elas é pequena.
VANTAGENS E DESVANTAGENS EM RELAÇÃO À CONCORRÊNCIA
Ao avaliarem suas vantagens e desvantagens em relação aos concorrentes, os
frigoríficos mencionam os seguintes aspectos:
A localização em relação à matéria-prima é a vantagem mais citada, por 35%
das empresas. Embora tendo como produto uma commodity, as empresas frigoríficas
tendem a citar a qualidade como vantagem competitiva. No entanto, por tratar-se de
uma commodity, os produtos são bastante homogêneos e o fator preço se sobrepõe ao
suposto diferencial de qualidade. No que se refere aos custos de produção como
vantagem competitiva, apenas 23% das empresas os citam. Dois fatores oriundos de
uma mesma situação podem justificar esses resultados: por um lado, a gestão pouco
profissional de parte das empresas frigoríficas do estado não evidencia o domínio de
suas estruturas de custos como a verdadeira fonte de vantagem competitiva, dadas as
características do mercado; de outro, os frigoríficos não têm uma estrutura de custos
suficientemente desenvolvida para um controle rigoroso de suas atividades produtivas.
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Outra vantagem competitiva é a confiança que os pecuaristas depositam em
certas empresas frigoríficas. De fato, 24% delas salientam que essa relação de confiança
facilita a aquisição de animais.
A notoriedade da marca é citada como vantagem por apenas duas das empresas
instaladas, pertencentes a grandes grupos com presença marcante também em outros
estados brasileiros.
MÃO-DE-OBRA
Com respeito à mão-de-obra, a quase totalidade das empresas frigoríficas a
descreve como desqualificada para as diversas etapas do processo produtivo. Assim, são
sugeridos cursos de qualificação para a esfola, abate, desossa e princípios de qualidade,
entre outros.
Outra menção é a falta de qualificação de pessoal na área de suporte e de
manutenção, notadamente para a caldeiraria, manutenção elétrica etc. A capacitação em
noções de segurança do trabalho também foi solicitada.
É interessante notar que, mesmo com as constantes situações de dificuldade
financeira enfrentadas, nenhuma das empresas tenha comentado sobre a deficiência de
pessoal na área de gestão. A princípio, cursos de gestão, notadamente a de custos de
produção e de qualidade, poderiam ser benéficos ao setor.
Entretanto a pesquisa constatou a clara necessidade de treinamento de
trabalhadores em esfola, abate, desossa, princípios de qualidade, caldeiraria,
manutenção elétrica e segurança do trabalho. Esse aprimoramento de mão-de-obra tem
em vista a redução de custos, cada vez mais premente devido à redução das margens de
lucratividade nas diversas etapas da cadeia produtiva.
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CARNE COM OSSO E SEM OSSO
Em termos da atividade de desossa, a perspectiva de seu aumento nos
frigoríficos é praticamente irreversível, considerando as exigências sanitárias e mesmo
as tendências de mercado. Esse indicativo é importante por dizer respeito ao volume de
emprego gerado. A proporção de trabalhadores por animal, para a carne não desossada,
é de 0,7 funcionário por animal, mas aumenta para 1,3 funcionário por animal quando
há necessidade de efetuar a desossa.
Assim, realizá-la no próprio frigorífico nas regiões produtoras acarreta
aumento significativo no volume de empregos. Essa necessidade de agregação de valor
nas regiões de produção, abate e processamento fará com que ocorra um aumento dos
níveis de emprego nessas regiões.
TRATAMENTO DE RESÍDUOS
Com relação a aspectos ambientais, a questão do tratamento de resíduos
apresenta grande relevância. A maioria dos subprodutos oriundos do abate é processada
na forma de farinhas de osso, de carne e de sangue, além de outros produtos como
couros e graxaria. Os resíduos resultantes do processo de limpeza e sanitarização são
enviados para lagoas de decantação. As condições de tratamento de resíduos dos
frigoríficos, segundo seus responsáveis, cumprem as normas estabelecidas pela
Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
CONDIÇÕES DE TRANSPORTE DO ANIMAL VIVO
As empresas frigoríficas foram também questionadas sobre as condições de
transporte de animais vivos no estado. Apesar de citarem deficiências nas condições das
estradas, na frota de caminhões sem manutenção, na baixa qualificação dos prestadores
de serviços e no não-cumprimento dos prazos de entrega — entre outras —, 74% das
empresas avaliam as condições de transporte de animais como satisfatórias ou boas,
10% como ótimas e 16% como ruins. Assim, o atual nível de transporte de animais
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186
vivos no estado não se apresenta como um fator de diminuição da qualidade, e
conseqüentemente da competitividade, da carne sul-mato-grossense.
No que se refere ao transporte da carne, 87 % dos frigoríficos o consideram
ótimo ou bom. Apenas 13% das empresas estão insatisfeitas com essas condições,
principalmente em função de eventuais atrasos nos prazos de entrega, devidos às más
condições de conservação das estradas.
CONDIÇÕES DE TRANSPORTE DA CARNE
No que se refere ao transporte da carne, 87 % dos frigoríficos o consideram
ótimo ou bom. Apenas 13% das empresas estão insatisfeitas com essas condições,
principalmente em função de eventuais atrasos nos prazos de entrega, devidos às más
condições de conservação das estradas.
ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA CARNE APÓS ABATE
Um aspecto central abordado na pesquisa é o da qualidade da carne bovina. É
notória a falta de padronização de conceitos entre as empresas frigoríficas sobre essa
característica. Para descrever os atributos qualitativos, são utilizados termos ou
conceitos como: ‘bem tirada’, ‘cobertura de gordura’, ‘raça’, ‘bem lavada’, ‘maciez’ e
‘coloração’. Aparentemente, segundo os representantes das empresas, uma carne de
qualidade seria aquela “bem tirada”, com cobertura ideal de gordura e sem hematomas.
Questionadas sobre os fatores que mais influenciam a qualidade da carne, as
empresas são unânimes em citar a qualidade da matéria-prima (animal vivo) e a
capacitação da mão-de-obra. No que se refere à qualidade da matéria-prima, todas as
empresas confirmaram a excelente qualidade do rebanho sul-mato-grossense.
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ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA MATÉRIA-PRIMA (ANIMAL VIVO)
Também sobre a qualidade dessa matéria-prima, não há padronização de
linguagem entre os representantes das empresas frigoríficas. No entanto, alguns
atributos são mais evidenciados na pesquisa: peso (entre 17 e 18 arrobas) e precocidade
do animal. São citados ainda, em menor grau, a sanidade do animal, a capa de gordura,
a ausência de machucaduras, a castração, e o acabamento e qualidade do couro.
No que se refere à qualidade da matéria-prima (boi) de Mato grosso do Sul, as
empresas são unânimes quanto às condições bastante satisfatórias dos animais, não
sendo identificado nenhum problema específico.
AQUISIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA (BOI)
Segundo dados levantados junto às empresas frigoríficas, predomina
largamente no setor a compra de animais à vista junto aos pecuaristas. No total,
aproximadamente 85% dos animais são assim adquiridos, com descontos que variam de
3% a 5%. Essa prática de aquisição se dá predominantemente pela baixa credibilidade
das empresas frigoríficas junto aos pecuaristas. O histórico de concordatas e falências
de frigoríficos e os calotes aos pecuaristas seriam os principais fatores que levariam a
essa baixa credibilidade e, por conseqüência, à prática da aquisição à vista. Como
resultado dessa prática, há necessidade de elevado capital de giro para a atividade
frigorífica, destinado basicamente à aquisição de animais.
PAGAMENTO DA MATÉRIA-PRIMA (BOI)
A pesquisa junto aos principais distribuidores indicou haver em São Paulo
maior preferência pela carne proveniente de animais com as seguintes características:
peso de 17 a 18 arrobas; idade máxima de 36 meses; peso do traseiro de 55 a 60 kg;
peso do dianteiro de 45 a 55 kg. As empresas frigoríficas pagam um “prêmio” para
animais com tais características. Animais com peso inferior a 15-16 arrobas ou superior
a 21 arrobas têm preço 10% inferior ao peso “normal”.
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CAPITAL DE GIRO NECESSÁRIO PARA A ATIVIDADE
Com respeito ao capital de giro, sua noção aparentemente não é muito clara
para os gerentes das empresas frigoríficas. Apenas em 30% delas foi respondida a
pergunta relativa a esse aspecto.
Considerando as respostas obtidas, pode-se inferir que o capital de giro pode
ser determinado com base no prazo de pagamento médio da carne vendida pelos
frigoríficos (25 dias) e na compra de 85% dos animais à vista.
Por exemplo, o capital de giro para o abate de 100 animais por dia é:
100 animais/dia × 0,85 × 17@/animal × 25 dias × R$ 38/@ = R$ 1 372 750,00
Outros (pessoal, frete, manutenção etc.): R$ 205 913,00
Total: R$ 1 578 663,00
De maneira geral, o capital de giro necessário é aproximadamente igual ao
custo dos animais abatidos durante o período compreendido entre o prazo de
recebimento das vendas e o prazo de pagamento aos fornecedores (pecuaristas).
• Exemplo 1:
Se no referido período (aproximadamente 25 dias) são abatidos 10 000 animais, o
capital de giro necessário é equivalente ao custo de 10 000 animais.
• Exemplo 2:
O cálculo do capital de giro para a atividade de abate e frigorificação em Mato
Grosso do Sul, pode ser assim feito:
Prazo médio de recebimento e pagamento à vista ao pecuarista: 25 dias.
Abate médio no estado nesse período: 250 000 animais.
Temos então:
250 000 animais/mês × 17 @/animal × R$ 38/@ = R$ 161 500 000,00.
Assim, aproximadamente R$ 160 milhões são necessários como capital de giro no
setor frigorífico de Mato Grosso do Sul.
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Constata-se, a partir dessas informações, o alto capital de giro necessário para a
atividade, o que tem levado diversas empresas frigoríficas de Mato Grosso do Sul a
situações financeiras bastante frágeis, que colaboram para as constantes concordatas e
falências verificadas no setor.
Uma alternativa para empresas frigoríficas descapitalizadas é o chamado
“abate para terceiros”. Em tal caso, esse terceiro disponibiliza o capital de giro
necessário para a aquisição dos animais.
Se a cadeia da carne bovina no Mato Grosso do Sul pudesse contar com maior
confiabilidade entre seus diversos agentes econômicos, essencialmente na compra a
prazo junto aos pecuaristas, as necessidades de capital de giro global para a atividade se
reduziriam consideravelmente.
A INDÚSTRIA FRIGORÍFICA DE MATO GROSSO DO SUL
Essa indústria presente no estado demonstrou, quando do fechamento das
divisas estaduais entre Zona Tampão e Zona Livre, uma grande e rápida capacidade de
adaptação de suas estruturas para a nova realidade. Há uma grande flexibilidade e
mesmo parceria em meio ao setor. Um exemplo é que, embora algumas indústrias não
tenham desossa instalada, aquelas que a têm chegam a unir-se para prestar serviços às
que não a possuem. Esse exemplo mostra que o setor pode, quando necessário,
apresentar versatilidade para efetuar adequações rápidas e dinâmicas.
6.2. ALÍQUOTAS DE ICMS
Outro aspecto importante no Brasil, e não só em termos da reforma tributária,
envolve o debate sobre as alíquotas de ICMS para produtos alimentares. Produtores
rurais e indústria frigorífica alegam que os impostos oneram por demais a produção,
elevando os preços da carne para o consumidor.
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Entretanto nossa pesquisa constatou que alegações contra o imposto em cascata
são procedentes, embora não sustentem a alegação do setor sobre a impossibilidade de
recolher ICMS, dada a oneração para o consumidor final. Tais alegações, apesar de seu
visível apelo social, não correspondem necessariamente à realidade: nossa pesquisa
constatou que uma redução ou mesmo supressão do ICMS não reduziria os preços da
carne para o consumidor final. Na verdade, as eventuais reduções de impostos em geral
não são apropriadas pelo consumidor, mas sim pela indústria ou mesmo pela
distribuição.
A Tabela 3.3 compara as alíquotas de diferentes estados e outros indicadores
que caraterizam a cadeia produtiva da carne bovina, especialmente no Circuito Pecuário
Centro-Oeste. É esse circuito que traz a maior oferta de animais e sobretudo carne com
osso e desossada para os principais mercados consumidores. Observamos ainda outros
indicadores que são importantes em termos de competitividade e definição dos preços
da arroba para o produtor e do produto final para o consumidor: distância dos estados
em relação a São Paulo; custo do frete dos estados produtores para São Paulo; preço da
terra nos estados produtores; produção de carne dos estados; número de frigoríficos por
estado. Tais indicadores permitem uma análise das vantagens e desvantagens entre os
estados quanto à produção de carne bovina e à definição dos preços a serem pagos aos
produtores pela indústria frigorífica, além das variações em relação ao consumidor final.
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Tabela 3.3 –Comparações entre os estados produtores de carne bovina do Circuito Pecuário Centro-Oeste.
Alíquotas de imposto Outros comparativos
Estados Animal vivo
Carne com osso
Carne sem osso
Preço da arroba(R$)1
Distância a São Paulo
(km)3
Custo do trans-porte
para SP (R$/ton.)
Preço da terra (R$)2
Produção de carne
(ton.)
Frigorí-ficos no estado
MS 12% 5%5 3%5 37 994 78 524 657 605 31
MT 12% 2% 2% 37 1603 120 328 549 663 20
SP 0% 0% 0% 42 0 - 1 484 990 666 63
GO 12% 3% 3% 37,5 900 78 547 608 832 19
RO 12% 5% (7%) 5% 32 3082 165 221 102 010 5
MG 12% 2% 2% 39 576 - 504 603 303 20
PR 12%4 12%4 12%4 40 390 - 1 267 490 499 20 1 Fonte: Boletim pecuário semanal da FNP Consultoria, 13/01/00. 2 Fonte: Anualpec 2000. 3 Distância entre as capitais estaduais. 4 Para a exportação às regiões Sudeste e Sul. Para as demais regiões, a alíquota é de 7%. 5 Incluído 1% a mais nas duas situações, relativo ao Fundersul.
Especificamente para Mato Grosso do Sul, com relação à política tributária,
observamos que a aplicação de alíquotas maiores que as de outros estados não faz
necessariamente com que a carne ou mesmo os animais em pé percam mercado para
outros estados produtores.
O que se conclui é que tanto o Brasil — e sobretudo São Paulo — quanto o
mundo, considerados como importadores, oferecem mercado para a carne produzida em
Mato Grosso do Sul. O fato de a carne sul-mato-grossense praticamente perfazer 30% a
40% da consumida no estado de São Paulo revela concretamente a condição de
vantagem da pecuária bovina de corte de Mato Grosso do Sul no mercado brasileiro.
7. PRODUTORES DE BOVINOS EM MATO GROSSO DO SUL
Para prosseguirmos nossa análise, abordando agora questões pertinentes aos
produtores de bovinos de Mato Grosso do Sul, faremos algumas considerações de
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caráter teórico sobre as características da oferta de produtos agrários, quesito em que se
observa uma série de alterações estruturais nas relações entre os agentes, especialmente
entre pecuaristas, indústria frigorífica e distribuidores, devido à complexidade dos
mercados agrários.
7.1. OFERTA DE PRODUTOS AGRÁRIOS
Basicamente, os fatores que determinam a oferta de produtos agrários são o
preço do produto, o custo de produção e os preços dos demais produtos.
Outros elementos específicos da oferta dos produtos agrários, diretamente
relacionados com os fatores fixos da produção com a estacionalidade dos produtos
agrícolas, são também relevantes. Tem-se o preço da terra como um grande fator de
produção de caráter fixo, impondo limitações a sua ocupação e uso. Quanto à
estacionalidade, tem-se o aspecto climático, fazendo com que a oferta dos produtos
agrários, em nosso caso, o boi em pé, passe por readequações de oferta, para menos ou
para mais, dependendo das pastagens.
ESTACIONALIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE
Outro grande tema de debate em torno da produtividade, da oferta bovina e da
oscilação de preços é o da estacionalidade (verão e inverno). De fato, é entre a safra e
entressafra que se observam as maiores oscilações de preços na bovinocultura de corte
no Brasil. “Assim, grosso modo, pode-se dividir o ano em dois períodos. O primeiro
corresponde à época do ano mais favorável ao crescimento das plantas forrageiras, ou
seja, aos meses de maior precipitação pluviométrica, geralmente denominado de período
das águas ou de verão úmido e que se estende de setembro-outubro a abril-maio. Ao
contrário, o segundo, designado período da seca ou de inverno seco, corresponde à
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época menos favorável, vale dizer, aos meses de baixa precipitação pluviométrica e
temperatura” (VIEIRA e FARINA, 1987, p. 65)55.
Além do exposto, VIEIRA e FARINA enfatizam e criticam uma postura ainda
muito presente na bovinocultura de corte brasileira, que faz com que muitos produtores,
apesar de seus animais terem atingido o peso necessários ao abate (17 a 18 arrobas),
façam a opção de não comercializá-los em época apropriada. Os motivos equivocados
desses pecuaristas variam desde a não-necessidade de recursos até a espera por uma alta
nos preços, e mesmo a preferência em preservar os ativos reais (bois) que poderiam ser
substituídos por ativos financeiros: “Conforme o período do ano em que os animais
nasceram e a idade em que serão abatidos é muito provável que eles tenham de suportar
três estações de seca, o que significa um grande atraso na sua evolução. Baseando-se em
resultados experimentais, Tundisi ... estima que animais de corte da raça Nelore chegam
a perder, muitas vezes, cerca de 30% de seu peso no período de inverno seco, nas
condições do estado de São Paulo, isto porque, enfatiza o autor, na estação da seca, ‘os
bovinos entram em debilidade orgânica e a falsa idéia da recuperação total na próxima
estação chuvosa, dada a real abundância de pastagens, leva o criador a não tomar outra
iniciativa se não aquela de evitar a morte do animal’ e conclui que ‘...essa pausa do
crescimento anual, que perdura por quase 6 meses, não é senão a causa principal do
abate tardio dos nossos bovinos, chegando ao frigorífico, não raras vezes, com 5 anos de
idade. Quanto às fêmeas, há o retardamento da primeira cria e baixa consideravelmente
a fertilidade dos rebanhos’” (VIEIRA e FARINA, 1987, p. 68).
A OFERTA DE PRODUTOS AGRÁRIOS E A INCERTEZA
Podemos identificar quatro tipos de incertezas para o empresário agrário: a
técnica, a econômica, a tecnológica e a relativa. Essas formas de incerteza são aplicáveis
empiricamente à bovinocultura de corte brasileira A incerteza técnica decorre do caráter
aleatório dos rendimentos, dada a variações climáticas, enfermidades e pragas. A
incerteza econômica associa-se a oscilações de preços, na medida que o empresário, 55 VIEIRA, C. Afonso; FARINA, E.M.M.Q. Pecuária bovina brasileira: as causas da crise. São Paulo:
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quando da tomada de decisão de investimento, não sabe exatamente que preço poderá
obter por seu bem. Essa incerteza é afeita também aos preços dos bens substitutos e
complementares. A incerteza tecnológica é derivada das inovações tecnológicas, que
podem determinar certas formas de produção ou corrigir estruturas produtivas obsoletas.
Finalmente, as incertezas relativas estão afeitas ao meio institucional — as políticas
públicas, por exemplo — em que se encontram os empresários rurais e/ou produtores.
Este último fator tem direta relação com a hipótese principal deste trabalho: a de
exigências institucionais (sanitárias) serem reguladoras, especialmente a partir dos anos
90, do desenvolvimento da bovinocultura de corte brasileira.
7.2. PRODUTORES DE BOVINOS DE MATO GROSSO DO SUL
As informações a seguir foram levantadas aplicando-se 270 questionários, que
cobriram os mais variados tipos de produtores e de estruturas de propriedade.
PATRIMÔNIO
O valor patrimonial investido no setor pecuário é superior a R$ 17 bilhões,
sendo que o capital imobilizado em terra (R$ 11,5 bilhões) constitui praticamente o
dobro do investido em animais (pouco mais de R$ 6,5 bilhões).
FATURAMENTO
Em 1999 o faturamento bruto relativo somente à pecuária foi de
aproximadamente R$ 1,9 bilhões. O setor frigorífico agregou mais de R$ 300 milhões, o
que perfez um faturamento, até esse elo da cadeia, de R$ 2,2 bilhões.
FEA-USP, 1987. (Estudos Econômicos).
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PRODUTORES
O número de produtores rurais cadastrados no IAGRO-MS é 48 880, dos quais
cerca de 32 mil participaram efetivamente da campanha de vacinação contra febre
aftosa realizada em novembro de 1999.
É importante esclarecer que, dos produtores ali cadastrados, somente 329 são
empresas rurais registradas na Junta Comercial do Estado, e aproximadamente 1 500
produtores estão inscritos no Programa do Novilho Precoce. Esse programa visa trazer
incentivos fiscais ao produtor, restituindo parte do ICMS aos que realizam o abate de
animais com idade inferior a 30 meses.
EMPREGOS DIRETOS E INDIRETOS
Outro indicador de grande importância é a quantidade de mão-de-obra
empregada na pecuária, que alcança 130 mil empregos diretos.
DIMENSÃO DA ATIVIDADE
Com relação às dimensões da atividade pecuária, é preciso ter em mente que,
com a redução nas margens de lucro por unidade, o ganho de escala tornou-se
imprescindível em todas as atividades econômicas. Outrora, um pecuarista que
possuísse mil vacas era considerado um “rico fazendeiro”; hoje, o mínimo
recomendável para se obterem lucros com a atividade pecuária são três mil animais
numa mesma propriedade.
Até a década de 80, as margens de lucro obtidas com a pecuária eram muito
compensadoras, o que a tornava uma atividade pouco competitiva para os parâmetros
atuais. Esses altos rendimentos permitiam que os produtores obtivessem bons resultados
mesmo com práticas ineficientes. Até aquela década, era possível obter mais de US$ 10
por arroba. A produção da arroba custava US$ 4 e a venda alcançava US$ 11 a US$ 15.
Atualmente, uma arroba está custando entre US$ 12 e US$ 18, e seu preço de venda
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atinge em média US$ 22 no estado de São Paulo, o que demonstra que a margem de
lucro unitário diminuiu muito56.
Esta afirmação é coerente com o Quadro 3.1, que compara a atividade pecuária
desenvolvida nas duas últimas décadas do século XX.
Quadro 3.1 – Novos tempos na pecuária de corte brasileira. Especificações Década de 80 Década de 90
Filosofia Patrimônio Produtividade
Mercado mundial Sub-ofertado Saturado
Carnes alternativas Pouco expressivas Grande competição
Foco tecnológico Genética Nutrição
Margem de lucro Grande Mínima
Terras Valorizam-se Desvalorizam
Escala 1 000 cabeças 10 000 cabeças
Administração À distância Local
7.3. REGIONALIZAÇÃO DA BOVINOCULTURA EM MATO GROSSO DO SUL
A regionalização da pecuária sul-mato-grossense é indicada na Figura 3.12,
que compara os preços da terra nas diferentes regiões e quantifica os bovinos existentes
em cada uma. Essa regionalização propicia a definição de um custo de produção por
região, bem como revela fase de produção (cria, recria ou engorda) que melhor se
adapta a cada uma. Um exemplo é que a cria deve ser mais explorada na região do
Pantanal, pois o custo da terra é ali menor.
56 Palestra do Sr. Adilson de Paula Almeida Aguiar. 4º Encontro Nacional do Novilho Precoce, 2000.
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Figura 3.12 – Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços médios da terra. 1999.
Fonte: GEA-UFMS.
R B 2.645.294
P M T 447,20
R B 1.387.603
P M T 105
R B 2.075.397
P M T351,75
R B 4.944.624
P M T475,99
R B 3.402.761
P M T 457,88
R B 4.256.767
P M T755,54R B
2.079.909
P M T669,20
20.739.34623.860.476
24.756.256
34.527.380
53.109.110
BRASIL: Rebanhos Bovinos por Regiões – 1999
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Os Gráficos 3.1 e 3.3 e o Gráfico 3.6 apresentam os preços de terras de
pastagens, que constituem o principal item de investimento do pecuarista. Tal aspecto
adquiriu importância mais significativa ainda a partir de 1995, quando, com a
estabilidade econômica, tais preços vieram caindo na grande maioria das regiões do
Brasil. Antes da estabilidade econômica, a terra se constituía numa importante forma de
reserva de valor, como forma de ativo real da economia. Com a queda de preços, seu
valor passa a ter cada vez mais relação com as atividades econômicas nela
desenvolvidas.
A dimensão da desvalorização das terras é significativa: 40% em média entre
1991 e 1999. Nos três estados da Região Centro-Oeste a desvalorização nesse período
foi de 37%; em Mato Grosso do Sul, de 41%.
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Gráfico 3.1 – Terras de pastagens. Preços médios de Mato Grosso do Sul. 1991-99.
Fonte: Anualpec, 2000.
Gráfico 3.2 – Terras de pastagens. Preços médios na Região Centro-Oeste. 1991-99.
Fonte: Anualpec, 2000.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Ano
US$
0
200
400
600
800
1000
1200
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999Ano
US$
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200
Gráfico 3.3 – Variação dos preços em dólares das terras de pastagem no Brasil. 1998-99.
Fonte: Anualpec, 2000.
11,13%
-56,68%
-36,92%
-49,73%
-37,15%
-70,00%
-60,00%
-50,00% -40,00%
-30,00%
-20,00%
-10,00% 0,00%
10,00%
20,00% Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
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201
Tabela 3.4 – Terras de pastagem brasileiras. Preços médios anuais em dólares. 1991-99.
Regiões e estados 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Variação no
período
Norte 129,58 118,17 184,08 264,42 351,33 205,92 253,6 237,08 144 11,13%
RO 188 164,5 227,5 538 457,5 303,5 240 227 166 –11,70%
AC 112 90 92,5 226,5 127 296 238 238 186,5 66,52%
AM 171,5 141 171,5 222 366,5 0 385,5 471 282 64,43%
RR 0 58,5 102 86,5 503,5 96,5 212 114 0 94,87%
PA 137 131,5 226,5 180,5 262 252 244,5 183,5 110 –19,71%
TO 169 123,5 284,5 333 391,5 287,5 201,5 189 119,5 –29,29%
Nordeste 370,11 166,89 273,94 351 548,78 310,28 269,7 271,5 160,3 –56,68%
MA 113 57 106 175 302 209,5 185 227,5 144,5 27,88%
PI 87,5 40 73,5 136 156 145 72,5 163,5 0 86,86%
CE 143,5 83 114 167 243,5 108,5 94 98,5 74 –48,43%
RN 177,5 92 98 224,5 398 287 222 196 159 –10,42%
PB 303,5 159,5 206 340,5 432 216,5 212,5 189 125,5 –58,65%
PE 505,5 294 367 624 763 581,5 410 381 254 –49,75%
AL 773,5 0 408 256 717 0 0 194,5 107 –86,17%
SE 871,5 523 662 638,5 1 333 811,5 845 657,5 362 –58,46%
BA 355,5 253,5 431 597,5 597,5 433 386 336 217 –38,96%
Sudeste 1 000,3 634 875 1 850,5 2 001 1 150,6 1 009 889,13 631 –36,92%
MG 784 385 570 1 232,5 1 067 629 572,5 510,5 361,5 –53,89%
ES 818,5 545 875,5 1 899 2 191 978 732 637 463,5 –43,37%
RJ 1 123,5 567,5 720 1 391,5 1 772,5 1 105,5 1 029 886 652 –41,97%
SP 1 275 1 038,5 1 334,5 2 879 2 973,5 1 890 1 705 1 523 1 047 –17,88%
Sul 1 091 772,83 999 1 679,8 1 522,2 1 109,7 1 022 948 548,5 –49,73%
PR 1 466,5 1 051 1 366,5 2 802,5 2 071,5 1 564,5 1 417 1 312,5 885 –39,65%
SC 987,5 538,5 763 1 284,5 1 520 1 082 956 858 313,5 –68,25%
RS 819 729 867,5 952,5 975 682,5 693 673,5 447 –45,42%
Centro-Oeste 527,17 445,33 730,5 1 120,7 921,83 599,67 549,2 477,5 331,3 –37,15%
MS 642 648,5 994 1 407,5 1 033,5 721 697,5 550 374,5 –41,67%
MT 270,5 214,5 336,5 516 584,5 440,5 396,5 353 253 –6,47%
GO 669 473 861 1 438,5 1 147,5 637,5 553,5 529,5 366,5 –45,22%
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7.4. CONSTATAÇÕES DA PESQUISA JUNTO AOS PRODUTORES RURAIS
Nossa pesquisa junto aos produtores também permitiu detectar alguns pontos
de particular estrangulamento na atividade pecuária.
GESTÃO DA PROPRIEDADE
A gestão da propriedade foi um dos aspectos mais apontados como deficitários
da atividade. Os métodos de gestão não são profissionais e a gestão de custo é
ineficiente ou quase inexistente, tornando ineficaz a análise de retorno do investimento.
As informações sobre novas tecnologias, mercado e crédito, entre outras, são
mal gerenciadas, e os produtores deixam de aproveitá-las.
Cerca de 55% dos produtores entrevistados atuam em mais de uma atividade,
mas mais de 75% têm a pecuária como principal atividade. O mesmo percentual realiza
a gestão de forma direta, não utilizando técnicos especializados. Isso se justifica, talvez,
pela escala de produção, pois, dependendo do tamanho da propriedade, o pecuarista
exerce a função de gerente para reduzir custos e aumentar seus ganhos. Os produtores
têm visão pouco profissional da atividade gerencial. Não se percebem como
“fabricantes” de um produto que deve ser comercializado quando pronto para poder dar
espaço a outro novo — aspecto relacionado com a otimização da produção.
Tal aspecto da produção é importantíssimo para aumentar o retorno da
atividade. Dos produtores entrevistados, apenas 30% levam em conta o limite de peso
para definirem o momento da comercialização. Outros 60% consideram a necessidade
financeira ou a oportunidade de preço como o determinante da comercialização. Estes
permanecem com o boi no pasto, sem considerarem o custo de produção nem o custo de
oportunidade do capital investido (juros).
Os produtores rurais são ainda muito imediatistas em suas relações comerciais.
Não pensam em alianças mercadológicas como algo importante para manter os ganhos
da cadeia produtiva a que pertencem.
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203
ASPECTOS CULTURAIS
Os fatores culturais representam outro ponto de limitação encontrado na
atividade pecuária desenvolvida no estado.
A metade dos entrevistados herdou suas terras, e o conflito de gerações é um
fator de alta relevância — e muito presente — no meio rural. Os filhos geralmente
partem para os grandes centros para estudar57, mas quando voltam para trabalhar na
propriedade dos pais não conseguem aplicar as teorias com que tiveram contato.
Grande parte dos pecuaristas são conservadores: a par da possível consideração
de que as novas atividades possam ser corretas, permanece a insistência em manter as
fazendas operando da maneira tradicional.
A percepção de mudanças é muito lenta, mas como estas foram grandes nos
últimos anos, o produtor rural está sendo obrigado a quebrar sua resistência e abandonar
seu individualismo para procurar assistências técnicas especializadas, a fim de aumentar
seu rendimento.
Como a maioria dos produtores não possuem uma planilha de custo
aprimorada, não conseguem definir qual realmente é seu lucro líquido, nem quais são os
ganhos da atividade que deveriam ser reinvestidos na produção para sua continuidade e
até mesmo crescimento futuro.
O baixo grau de depreciação é fator relevante. Os meios de produção da
pecuária sofrem perdas imperceptíveis em intervalos pequenos, mas perdas grandes no
aspecto real. Por exemplo, uma pastagem pode produzir por mais de 20 anos sem sofrer
reformas: embora a produção de fato diminua nesse período, ela é pouco perceptível no
intervalo de um único ano.
57 Geralmente os filhos de pecuaristas se formam em áreas afins ao meio rural, como veterinária, agronomia ou zootecnia.
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204
NÍVEL TECNOLÓGICO
O nível tecnológico é o grande ponto de estrangulamento geralmente apontado
para a atividade pecuária desenvolvida em Mato Grosso do Sul. No entanto, a atividade
é muito diversificada. Nos dias atuais são encontradas desde a produção mais arcaica até
a que aplica tecnologias avançadas.
O predomínio é de pastagens plantadas, que perfazem em torno de 65%. A
região do Pantanal concentra grande parte da pastagem nativa do estado. O nível de
degradação das pastagens é alto, atingindo mais de 50% nas que são plantadas. O
motivo é a falta de investimentos em sua recuperação. Muitos produtores rurais não os
fizeram, ou desviaram os recursos para outras finalidades. Esse fato evidencia a
ineficiente estruturação do custo e a inexistência de um planejamento a longo prazo para
a atividade, o que a torna pouco sustentável.
A taxa média de natalidade é baixa, de cerca de 60%. Isso ocorre devido à
variação do grau de tecnologia. Por um lado, existe uma produção com altíssimo grau
tecnológico, atingindo taxas de natalidade bem elevadas. É comum, porém, a existência
de propriedades com baixa tecnologia, ficando a produtividade bem aquém do mínimo
necessário para se obter rentabilidade.
Outro dado compilado na pesquisa junto ao produtores refere-se ao índice de
produtividade e ao nível de conservação do solo. Dentre os entrevistados, 70%
consideram que têm um bom nível de produtividade e 50% consideram que o solo de
sua propriedade possui boa conservação.
Uma das causas dos baixos índices de produtividade pode ser a pouca
utilização de assistência técnica permanente, o que torna a atividade pouco profissional,
gerida somente por dados empíricos.
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205
QUALIDADE DA MÃO-DE-OBRA
A qualidade da mão-de-obra, assim como a própria atividade pecuária como
um todo, vem sofrendo grandes transformações nos últimos anos, que afetam não
somente o gerenciamento da propriedade, mas também o de seus trabalhadores.
A utilização de novas tecnologias traz a necessidade de uma mão-de-obra que
as atenda. Os antigos peões de fazenda, com pouco ou nenhum grau de estudo, não
estão preparados para utilizar equipamentos modernos, que em alguns casos vêm com
manuais de instruções em outro idioma.
Os assentamentos de trabalhadores rurais, ao fazerem diminuir a oferta de mão-
de-obra, tornam-na mais cara. Constituem uma forma de valorização do trabalhador
rural, que passa a poder recusar uma oferta de emprego — com salário escorchante — e
tentar, em vez disso, dispor de uma gleba de terra para trabalhar por conta própria.
A persistência do trabalho informal ainda existe, ocasionada principalmente
pelos elevados índices de desemprego, especialmente nas cidades. Todavia, mesmo sem
o desemprego nos centros urbanos, o trabalho informal persistiria: ele é a única saída
para o trabalhador rural, desqualificado para concorrer no mercado de trabalho com
candidatos mais bem preparados.
A qualidade da mão-de-obra empregada na atividade pecuária é baixa. Carece-
se de cursos técnicos e/ou profissionalizantes que possibilitem ao trabalhador rural
desempenhar de maneira mais adequada suas funções e garantir seu sustento58.
Sobre a percepção dos produtores sobre a qualidade do animal a ser abatido, o
peso foi o item apontado como mais relevante. Poucos produtores, porém, indicaram um
peso ideal para abate, pois, para eles este não é o determinante crucial para a
comercialização. A formação de carcaça do animal, a raça e a precocidade também
foram citados como fatores de qualidade para o abate do animal.
58 A pesquisa evidenciou alguns cursos que deveriam ser oferecidos aos trabalhadores rurais, como os relacionados à inseminação artificial, ao manejo de pastagens, à operação e manutenção de equipamentos e à administração de medicamentos.
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RELAÇÃO COM O FRIGORÍFICO
Quanto à relação existente entre os frigoríficos e os pecuaristas, ela é muito
conflituosa, configurando-se como um grande entrave para o desenvolvimento da cadeia
produtiva.
A grande maioria dos produtores rurais aponta os frigoríficos como grandes
vilões, alegando a contínua quebra de contratos por estes. Os produtores não estão
totalmente desprovidos de razão, mas essa não é a chave da questão, visto que tal
desconfiança ocasiona perdas sensíveis para todos os agentes da cadeia e, em última
instância, para os próprios produtores.
Um entrave é a quantidade de dias que os pecuaristas perdem para acompanhar
(“fiscalizar”) o abate. Nesse período, poderiam estar se dedicando à produção, sem falar
no custo financeiro que esse acompanhamento ao abate requer.
Outra perda que os produtores sofrem é a financeira. Devido ao alto grau de
desconfiança, os frigoríficos são obrigados a efetuar os pagamentos à vista, o que
proporciona um desconto real de até 5% para a indústria frigorífica em épocas de maior
instabilidade. Por outro lado, quando algum frigorífico fecha e deixa de cumprir seus
compromissos, o prejuízo se estende a vários pecuaristas.
A pesquisa constatou que uma distinção entre os ciclos apresenta-se como uma
das causas desse conflito: para os produtores, o ciclo de produção é lento e o giro do
capital é baixo, o que não acontece no setor frigorífico. O dinamismo que a
industrialização exige é alto, pois todos os dias ela movimenta grande parte de seu
capital.
Para confirmar tal premissa basta comparar o volume de capital investido em
cada uma dessas atividades e seu faturamento. Revela-se que o faturamento anual do
setor frigorífico é quase sete vezes maior que o capital investido, enquanto o
faturamento anual dos produtores rurais limita-se a pouco mais de 10% do capital
investido nessa fase da produção.
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Outra constatação foi a falta de fidelidade dos produtores para com os
frigoríficos. Isso ocasiona uma disputa entre os frigoríficos pela matéria-prima boi, o
que pode ser prejudicial ao próprio pecuarista. Este, a princípio, se beneficia com a
maior valorização de seu produto, mas sua infidelidade pode gerar prejuízos para os
frigoríficos, desencadeando-lhes a falência.
CRÉDITO
O crédito é mais um aspecto diretamente relacionado com a atividade. A
bovinocultura de corte em Mato Grosso do Sul experimentou seu primeiro e maior
impacto de desenvolvimento em meados da década de 70, que se estendeu até o início
dos anos 80, com o Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Polocentro). Esse
programa foi criado com recursos de várias origens, administrado pelo Governo Federal
e aplicados por bancos, particulares e estatais, a juros fixos subsidiados. O Polocentro
foi o impulso necessário à grande abertura para a exploração econômica do Centro-
Oeste. No entanto, esse programa pode ser visto como um dos principais fatores que
ocasionaram a concentração de terras nas mãos dos grandes produtores rurais. De fato, o
programa financiava praticamente tudo, possibilitando o crescimento de produção das
propriedades em curto espaço de tempo. Foi nessa época que teve início o esvaziamento
do meio rural, com a migração para os centros urbanos.
É importante salientar o papel desenvolvido pela pecuária na abertura de novas
fronteiras, principalmente com a utilização de braquiárias nas terras de baixa fertilidade.
Grandes áreas que seriam fracionadas pela baixa produtividade tomaram caminho
inverso, com a aquisição de áreas menores.
Durante a década de 80 os financiamentos para a pecuária de corte não tiveram
grande expressão, sendo utilizadas as linhas de crédito normais para investimentos e
custeios pecuários. Os encargos financeiros variavam ano a ano.
Nos anos 90 surgiu o Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FCO),
que em seu início teve baixa adesão dos pecuaristas. A baixa produtividade, ocasionada
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208
por duas décadas sem grandes investimentos ou aprimoramento tecnológico, afastou os
produtores rurais.
No final da década, houve um maior interesse pela linha de crédito, porém os
encargos financeiros distanciavam-se da forma que a atividade era conduzida. A cada
ano, os índices de correção (TR, TJLP, IGP-DI) eram alterados, deixando os produtores
incertos do custo final do empréstimo.
Ainda assim, nos últimos anos cresceu o interesse para novos financiamentos.
A maioria deles está voltada ao incremento da atividade (reforma de pastagens com
correção e conservação de solo, aquisição de bovinos melhoradores do rebanho, uso de
inseminação artificial etc.) e à produção do novilho precoce.
No início de 2000, o FCO alterou sensivelmente a forma de cobrar encargos
financeiros. As taxas passaram a ser fixas, variando conforme o porte do tomador do
empréstimo (5 a 16% ao ano).
A procura por crédito deverá passar por significativo aumento, pois as
propriedades estão exauridas e com baixa produtividade. O maior índice de procura
deverá se concentrar na aquisição de bovinos e sêmen, no melhoramento de pastagens e
no manejo de animais. Todos os financiamentos da área rural são concedidos com
vinculação de assistência técnica no imóvel (acompanhamentos, nas propriedades, das
formas de produção e orientação sobre processos produtivos mais modernos).
Além do FCO, conta-se com o BNDES e o Finame na linha de investimentos
rurais, cobrindo praticamente todos os itens necessários ao incremento da atividade.
Para os pequenos produtores rurais, as disponibilidades de crédito são o Programa
Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa de Geração de Emprego e
Renda (Proger), que no entanto são pouco utilizados pelos pecuaristas devido às
exigências de ganhos de escala.
Na linha de custeio, tem-se o custeio pecuário tradicional, com recursos
controlados e de escassa disponibilidade. A Cédula de Produto Rural (CPR), utilizada
pelos produtores desde 1999, está hoje disponível em várias modalidades: CPRs com
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209
entrega do produto, com recompra, financeira ou de exportação. dentre essas
modalidades, a mais utilizada é a CPR com recompra, que nada mais é que um
adiantamento parcial da futura venda, com aval do banco. Por exemplo: um produtor
possui cerca de 200 bois na fase de engorda com abate previsto para maio-junho de
2000. Surgindo uma oferta de novilhos e havendo disponibilidade de pastagens em seu
imóvel, o produtor procura o banco, financia uma CPR com recompra para de maio-
junho e efetua o investimento. Na venda dos bovinos gordos, à época prevista, liquida-
se a operação.
TENDÊNCIA DO CRÉDITO
A tendência é que o Governo Federal se afaste cada vez mais do crédito rural
para médios e grande produtores, deixando o mercado atuar no setor. Os programas para
essa categoria serão cada vez mais raros e altamente direcionados (para determinada
região ou atividade, e por período limitado).
Os pecuaristas terão seus empréstimos lastreados através de captação de longo
prazo, essencialmente por bancos privados. Esses investimentos, dependendo da fonte
de origem, deverão ter prazos e custos diferenciados e, com certeza, atrelados ao dólar.
Através de parcerias entre produtores e indústria, os bancos terão garantias
adicionais de compra, facilitando a oferta de crédito. Poderá ocorrer repasse diretamente
da empresa aos produtores parceiros, com prazos variados.
Um dos pontos mais importantes constatados na pesquisa em relação ao crédito
é que 80% não recorrem a financiamentos bancários de espécie alguma, alegando falta
de compatibilidade entre os juros cobrados e o retorno real da atividade e, ainda, a
grande burocracia para se obter uma linha de crédito.
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PROBLEMAS MAIS RELEVANTES
Com a estabilização da moeda (queda da inflação), o boi perdeu a função de
reserva de valor. Antes do Plano Real, esse produto era vendido no momento da
necessidade do dinheiro, por ser corrigido conforme a inflação. Essa tradição tornou-se
inviável nos dias atuais, pois, cada dia de permanência no pasto é computado no custo
de produção. O boi no pasto não traz vantagem financeira; pelo contrário, traz prejuízo
ao pecuarista.
Outro problema levantado é a perda de rentabilidade unitária: o produtor é
obrigado a ter ganhos de escala para poder continuar com os ganhos de outrora. Esse
fator conduz à concentração no setor.
A baixa conservação dos solos, junto com o alto custo de sua recuperação,
envelhece e degrada as pastagens, com grandes conseqüências sobre a produtividade. O
produtor rural precisa dispor de um considerável volume de capital para a recuperação
de pastagens, variando hoje entre R$ 150 e R$ 500 por hectare, conforme o tipo de solo,
o grau de degradação e a meta a ser atingida.
Além de sua resistência ao novo — demorando e muitas vezes recusando-se a
aceitar novas tecnologias —, o produtor também acredita na segurança de seu
investimento. O motivo é, talvez, o fato de não conhecer a situação real em que se
encontra. Como já mencionado, o produtor rural não possui uma planilha de custos bem
definida.
Com as especificações de metas de produtividade mínima que deve alcançar, o
produtor rural se depara com uma barreira muito forte, que é a questão ambiental. Se,
por um lado, são exigidos o cumprimento de metas de produtividade, de outro surgem
as pressões dos ambientalistas, que limitam as alternativas de aumento de produção.
Vários problemas encontrados no elo da cadeia correspondente ao produtor
rural foram citados, porém a falta de gerenciamento profissional pode ser apontada
como o mais relevante deles. Um simples planejamento e gerenciamento de custo
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possibilitaria a definição das técnicas que são benéficas e evidenciaria os pontos de
estrangulamento da produção pecuária.
7.5. CUSTOS DE PRODUÇÃO
Neste item serão apontados o custo e o valor agregado em cada fase de
produção da cadeia produtiva da carne bovina.
A produção pecuária é dividida em partes distintas: a cria, a recria e a engorda.
A prática separada das fases de produção pecuária não é comum — com exceção da
cria, que é realizada por 34% dos produtores de bovinos de corte, envolvendo 19% do
rebanho estadual. Em sua maioria, os produtores realizam duas fases: a cria e a recria
conjuntas, ou então a recria e a engorda.
Os índices utilizados para a determinação do custo de produção se
relacionaram com o nível tecnológico adotado, que também foi definido em três escalas:
alto, médio e baixo.
Para enquadrar cada tipo de produção em um nível tecnológico utilizaram-se os
parâmetros admitidos pelos órgãos de pesquisa da atividade pecuária (EMBRAPA,
EMPAER, IBGE etc.), bem como os dados coletados nas entrevistas.
A Tabela 3.5 especifica a estrutura dos custos de produção numa propriedade
sul-mato-grossense em condições médias, permitindo observar a importância do custo
de oportunidade da terra, aspecto em geral desconsiderado pelos pecuaristas de Mato
Grosso do Sul.
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Tabela 3.5 – Custos de produção em propriedade sul-mato-grossense de nível tecnológico médio. Fase de produção: cria.
Custos fixos Valor %
Custos de oportunidade 71 478,21 44,6%
Depreciação de máquinas e benfeitorias 16 027,13 10,0%
Depreciação de pastagens 29 996,80 18,7%
Contabilidade 1 768,00 1,1%
Mão-de-obra 16 972,80 10,6%
Subtotal 136 242,94 85,1%
Custos variáveis Valor %
Insumos:
Fertilizantes - 0,0%
Diesel e manutenção 2 535,00 1,6%
Veterinários 19 454,89 12,1%
Aquisição de animais - 0,0%
Mão-de-obra (administração) - 0,0%
Assistência técnica - 0,0%
Funrural - 0,0%
Fundersul 1 932,00 1,2%
Subtotal 23 921,89 14,9%
Total 160 164,83 100,0%
Atividade: cria com média tecnologia. Área total da propriedade: 2 000 ha. Capital investido total: R$ 1 912 000,00. Rebanho em unidades animais: 1 121. Custo total por unidade animal: R$142,26. Custo por unidade animal sem incluir o custo de oportunidade: R$ 78,50 O Fundersul equivale a 3,8% do valor de uma camionete, necessária para o acesso à propriedade.
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Os Gráficos 3.4 a 3.6 comparam os resultados obtidos em cada tipo de manejo
adotado, indicando também, como referência extra, informações sobre o processo de
produção praticado no Pantanal.
O primeiro desses gráficos traz a agregação de valor em cada fase,
considerando cada um dos três níveis tecnológicos adotados. A realização da engorda
com média tecnologia é a atividade que mais agrega valor.
Somando-se o valor agregado nas três fases nota-se que o pecuarista agrega em
média R$ 300 a cada animal.
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214
Gráfico 3.4 – Agregação de valor anual.
Gráfico 3.5 – Lucro anual por fases de produção e grau tecnológico.
R$-
R$20,00
R$40,00
R$60,00
R$80,00
R$100,00
R$120,00
R$140,00
R$160,00
R$180,00
CRIA RECRIA ENGORDA
Fases de produção
Valo
r agr
egad
o BAIXA
MÉDIA
ALTA
PANTANAL
Tecnologiade produção
R$(120,00)
R$(100,00)
R$(80,00)
R$(60,00)
R$(40,00)
R$(20,00)
R$-
R$20,00
R$40,00
CRIA RECRIA ENGORDA
Fases de produção
Lucr
o
BAIXA
MÉDIA
ALTA
PANTANAL
Tecnologia de produção
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215
Gráfico 3.6 – Margem bruta anual por fase de produção e grau tecnológico.
Gráfico 3.7 – Taxa interna de retorno por fase de produção e grau tecnológico anual
R$-
R$20,00
R$40,00
R$60,00
R$80,00
R$100,00
R$120,00
R$140,00
R$160,00
CRIA RECRIA ENGORDA
Fases de produção
Mar
gem
bru
ta BAIXA
MÉDIA
ALTA
PANTANAL
Margem Bruta: é a receita total menos os desembolsos. Desembolsos = Custos variáveis + Custos fixos Custos Fixos = mão-de-obra + contabilidade + formação de pastagens Obs.: Na margem bruta não está incluso o custo de oportunidade do capital investido.
Tecnologia de produção
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
14,00%
CRIA RECRIA ENGORDA
Fases de produção
Taxa
inte
rna
de re
torn
o
BAIXA
MÉDIA
ALTA
PANTANAL
Tecnologiade produção
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O Gráfico 3.5 retrata o lucro líquido por fase de produção e grau tecnológico.
São poucos os produtores que chegam ao cálculo exato de seu lucro líquido, isso porque
foi admitido um custo de oportunidade do capital investido de 6% ao ano, que seria o
formalmente oferecido pela caderneta de poupança e correção monetária. O gráfico
demonstra que o produtor rural que realiza a fase da cria dos animais é o que não
consegue obter um rendimento positivo na atividade, tendo prejuízos de qualquer
maneira, independente do grau de tecnologia utilizado.
Ainda sobre esse mesmo gráfico, pode-se dizer que os pecuaristas que praticam
a recria estão tendo baixos rendimentos, mas podem obter lucro se adotarem tecnologia
mais avançada.
O Gráfico 3.6 retrata a realização da engorda, em que o produtor que aplica em
tecnologia tem bom retorno, conseguindo obter um lucro líquido de R$ 20 por boi ao
ano.
Uma das explicações de o produtor do bezerro ser o que menos ganha na
pecuária é o fato de não contar com nenhuma forma de pressão sobre seus fornecedores
de insumos, como ocorre com o produtor que realiza a engorda. Quando o frigorífico
baixa o preço pago por arroba, repassa parte disso a seus maiores fornecedores de
insumos, ou seja, aos pecuaristas que realizam a recria, pagando menos pelos bois
magros. Por sua vez, os recriadores diminuem o preço pago pelo bezerro. No entanto há
um limite abaixo do qual não se torna mais viável a produção, criando-se assim os
ciclos de alta e baixa da pecuária. Na comparação do lucro líquido com a margem bruta
pode-se chegar a diferenças consideráveis. Um exemplo disso ocorre quando se
compara uma mesma fase de produção com o mesmo grau tecnológico, utilizando dois
indicadores. Considerando-se o ganho obtido na engorda com média tecnologia,
indicado no Gráfico 3.6 (R$ 145), e o lucro líquido da mesma atividade (R$ –5),
constata-se que a variação chega a cerca de R$ 150,00 por boi ao ano.
No Gráfico 3.7 tem-se a taxa interna de retorno obtida em cada fase de
produção, nos três níveis tecnológicos. Mais uma vez se confirma que a cria é a fase
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menos rentável da pecuária, sendo inviável sua realização nas terras mais caras, que
geralmente possuem uma pastagem de melhor qualidade — daí a tendência mundial de
realizá-la em pastagens mais baratas.
Um fator que deve ser observado é que, na engorda dos animais, quanto mais
alto o grau de tecnologia aplicada, menor vai ser o tempo de engorda do animal, ao
passo que na fase de cria, por mais que se empreguem tecnologias de ponta, ainda não é
possível reduzir os nove meses de gestação do bezerro.
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CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS DE
POLÍTICAS PÚBLICAS
Ao chegarmos ao final deste estudo, explicitamos algumas considerações finais
relativas à cadeia produtiva da carne bovina que não podem ser relegadas a segundo
plano na proposição e execução de políticas públicas pertinentes ao setor.
Descrevem-se a seguir algumas características dos mercados agrários e a
formação de preços nestes.
1. CARACTERÍSTICAS DOS MERCADOS AGRÁRIOS
De acordo com ALBERT e MUÑOZ59, as principais características dos
mercados agrário são: produção atomizada e dispersa, que faz aumentar o grau de
competitividade entre os produtores; produção estacional (baseada nas estações do ano
ou climáticas), ocasionando variações nos preços; produção condicionada por fatores
naturais, que provoca variabilidade interanual de preços e influi na especialização
regional, aumentando a importância dos transportes na produção; produção de bens de
consumo final, de grande importância do mercado distribuidor; produção de caráter
perecível, em grande número dos casos; produção que admite multiplicidade de formas
de consumo. (ALBERT e MUÑOZ, 1993, p. 14-5).
Essa multiplicidade de aspectos produz uma grande variabilidade de destinos
comerciais, desde o consumo direto até o fortemente intermediado, envolvendo
numerosas indústrias de transformação que surgem para satisfazer uma demanda final
cada vez mais sofisticada e exigente.
59 ALBERT, P.C.; MUÑOZ, A.C.G. Economía de los mercados agrarios. Madrid: Ediciones Mundi-Prensa, 1993.
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A partir dessas características é que se constituem os elementos centrais da
formação dos preços, como veremos a seguir.
2. FORMAÇÃO DOS PREÇOS
Um aspecto importante num mercado de concorrência perfeita é o grande
números de compradores e vendedores. A transparência do mercado quanto à
quantidade ofertada e demandada é outro fator que define a estrutura de mercado
concorrencial. Entretanto, como veremos no caso da cadeia produtiva da carne bovina
no Brasil, não vivemos um mercado de concorrência perfeita.
De fato, nos três principais agentes da cadeia da bovinocultura de corte
brasileira — distribuição, abate e produção —, a estrutura é oligopólica e não
concorrencial. Analisemos seus principais elos, que são a distribuição, o abate, a
produção e o fornecimento de insumos:
Quanto ao processo de distribuição no Brasil, observa-se de forma crescente
que as grandes redes de supermercados vêm assumindo maior importância no comércio
da carne bovina, constituindo-se num oligopólio diferenciado, com franjas de empresas
marginais atuando na distribuição, tais como açougues e boutiques de carne, mas em
franco processo de redução de importância. Os preços são definidos pelas grandes redes
distribuidoras (SYRILO e SPROESSER, 1995).60
Quanto ao abate, os frigoríficos, que os realizam, detêm menor poder de força
que os supermercados, que são os grandes compradores da indústria frigorífica, com
evidentes ganhos de escala. Considerando o aumento da importância dos supermercados
na distribuição (também realizada por outras formas), os frigoríficos ficam com poder
de ainda menor. Observa-se também que para a indústria frigorífica a carne representa o
todo do negócio, enquanto para os supermercados ela constitui uma pequena margem
dos negócios. Os supermercados são importantes para os frigoríficos, mas estes não têm
tanta importância para os supermercados, já que as vendas de carne não chegam a
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representar 10% do total comercializado por estes últimos. Os preços, portanto, são
praticamente definidos pelos distribuidores.
Quanto à produção, constata-se que os frigoríficos estabelecem com os
produtores uma relação de oligopólio homogêneo: poucas empresas, às vezes
desconcentradas espacialmente, negociando com muitos produtores, ou com
concorrência perfeita, tanto local quanto nacionalmente. Esse fato permite à indústria
frigorífica praticamente deter o poder de determinação dos preços. Essa indústria
permanece atrelada, porém, à definição de preços estabelecida pela distribuição.
Ainda com relação à produção — considerada em suas fases de cria, recria e
engorda —, o que se observa é que os produtores do último ciclo antes do abate, ou seja,
a engorda, em geral detêm o poder de determinar preços aos que realizam a recria ou a
engorda, especialmente porque os da recria lidam com limitações naturais para manter
os rebanhos nos pastos, tais como falta de pastagens, invernos e cheias no Pantanal, o
que os obriga a vender aos preços definidos pelos compradores (frigoríficos).
O fornecimento de insumos, por sua vez, constitui-se numa estrutura de
mercado denominada oligopólio concentrado, ou quase monopólio, dependendo dos
insumos. A venda de insumos é dominada por grandes empresas, em geral
transnacionais, que competem entre si em alguns produtos mas, em outros, detêm poder
completo de mercado. Um exemplo é o da vacina contra a febre aftosa, que entre 1998 e
1999 teve uma variação de praticamente 100%, passando de R$ 0,32 por dose a R$
0,65. As empresas alegaram como justificativa para tal aumento a desvalorização do
real em relação ao dólar, ocorrida no início de 1999, embora tal desvalorização tenha
sido da ordem de apenas 50%.
Essa análise das principais relações estabelecidas nos quatro principais elos da
cadeia produtiva da bovinocultura de corte brasileira nos permite afirmar que os
produtores rurais (pecuaristas), por seu grande número, são pressionados, de um lado,
pelo mercado de insumos, concentrado em oligopólios ou mesmo monopólios, e de
outro pela indústria de abate (frigoríficos), constituída por oligopólios concentrados, que 60 SYRILO, S.; SPROESSER, R. Administração agroindustrial. In: BATALHA, M.O. Gestão
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determinam, por exercerem a distribuição, o preço a ser pago pela arroba de animal
vivo. O pecuarista se limita a ser predominantemente um tomador de preços, tanto de
seus insumos quanto do produto final, a arroba do boi (vivo ou morto). Além do
exposto, os limites naturais — fertilidade do solo, estacionalidade — acabam impondo
uma fragilidade ainda maior às relações negociais do pecuarista.
A Figura 4.1 ilustra a estrutura de mercado e as relações econômicas entre os
elos da cadeia produtiva. As Figuras 4.2 e 4.3 especificam tais estruturas e relações
econômicas para a safra e a entressafra.
agroindustrial. v. 1. São Paulo: Atlas, 1999.
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Figura 4.1 – Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços médios da terra. 1999.
Grandes Redes de Distribuição (Carrefour/Pão-de-Açúcar)
Indústria Frigorífica
Pecuaristas de CRIA
Pecuarista de ENGORDA
Consumidores
Pecuarista de RECRIA
Fornecedores de Insumos
Concorrência Perfeita
Concorrência Perfeita
Concorrência Perfeita
Oligopólio
Oligopólio
Oligopólio
Formador de Preço
Tomador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Con
corr
ênci
a T
rans
acio
nal
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Figura 4.2 – Safra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense. Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Janeiro de 1999.
Grandes redes de distribuição (Carrefour/Pão de Açúcar)
Indústria
Pecuaristas de CRIA
Pecuarista de ENGORDA
Consumidor
Pecuarista de RECRIA
Fornecedores de insumos
Concorrência Perfeita
Concorrência Perfeita
R$ 612,00 por boi
R$ 322,00 por
R$ 750,00 por
R$ 990,00 por
Formador de Preço
Tomador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Con
corr
ênci
a T
rans
acio
nal
32,5%
29,3 %
13,9 %
24 ,2%
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Figura 4.3 – Entressafra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense. Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Setembro de 1999.
Grandes redes de distribuição (Carrefour/Pão de Açúcar)
Indústria
Pecuaristas de CRIA
Pecuarista de ENGORDA
Consumidor
Pecuarista de RECRIA
Fornecedores de insumos
Concorrência Perfeita
Concorrência Perfeita
R$ 702,00 por boi
R$ 360,00 por
R$ 877,00 por
R$ 1 123,00 por
Formador de Preço
Tomador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Formador de Preço
Formador de Preço
Tomador de Preço
Con
corr
ênci
a T
rans
acio
nal
32%
30,4%
15,6%
22%
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A Figura 4.2 descreve a agregação de valor ao longo da cadeia de produção na
safra de animais, período em que se altera parcialmente as relações entre os elos,
sobretudo entre os pecuaristas (ofertantes de animais) e a indústria frigorífica
(compradora). O aumento da oferta de animais tende a fazer com que ocorra uma
pressão sobre seus preços, tanto por parte da indústria frigorífica quanto pela
distribuição.
Disso decorrem alterações na agregação de valor e na apropriação das parcelas
pelos diferentes elos:
Os fornecedores de insumos agregam a cada animal um valor de R$ 320,00,
que irá corresponder a 32,5% do preço final do produto no prato do consumidor. Nas
fases de cria, recria e engorda (que em conjunto cobrem em média um período de três
anos, o pecuarista agrega a cada animal outros R$ 290,00, o que vai corresponder a
29,3% do preço final.
No âmbito da indústria frigorífica, ocorre nova agregação de valor, de R$
138,00, fazendo com que essa indústria participe com 13,9% do preço final da carne
adquirida pelo consumidor. Por fim, tem-se a distribuição atacadista e varejista, que
agrega um valor de R$240,00, que corresponderá a 24,2% do preço final de um boi, que
chegará ao consumidor por R$ 990,00.
Na entressafra (Figura 4.3) — e novamente considerando um animal com idade
média de três anos (entre cria, recria e engorda) —, terá ocorrido agregação de R$
360,00 em insumos, o que corresponderá a 32% do preço final de um boi em termos de
carne no prato do consumidor. Ao fim desses três anos, ao vender o animal em pé para a
indústria frigorífica a um preço de R$ 702,00, o pecuarista agrega outros R$ 342,00,
correspondentes a 30,4% do preço final ao consumidor.
A indústria frigorífica, ao comprar esse animal para abate por R$ 702,00,
revende sua carne a miúdos às grandes redes de distribuição atacadistas e varejistas por
R$ 877,00, ou 15,6% do preço com que o produto chega ao consumidor.
As redes de distribuição atacadistas e varejistas compram esse produto
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(dianteiro, traseiro e miúdos) por R$ 877,00, agregando um valor de R$ 246,00,
correspondente a 22% do preço final, que irá totalizar R$ 1 123,00.
Em outras palavras, um boi que começa custando (cria, recria e engorda) R$
360,00 em Mato Grosso do Sul, chega ao prato do consumidor em São Paulo ao preço
de R$ 1 123,00. Constata-se assim o poder da distribuição sobre os demais elos da
cadeia, ao ponto de se apropriar de 22% do preço final da carne, apesar de permanecer
no máximo uma semana com a posse desse produto, enquanto o pecuarista em geral
permanece com o boi por um mínimo de três anos. Evidencia-se assim o grande — e
crescente — poder de mercado das grandes redes varejistas na cadeia da carne bovina
brasileira.
Assim, após essa demonstração das relações entre os diversos elos da cadeia,
observa-se que a renda dos pecuaristas na safra (29,3%) é menor que na entressafra
(30,4%, consideradas as condições médias de produção). Embora os percentuais
mencionados possam apresentar oscilações, evidenciam a tendência de menor poder de
barganha do produtor rural durante a safra, quando aumenta a oferta de animais. Por
outro lado, há na entressafra uma pequena redução das apropriações pela indústria
frigorífica e pela distribuição atacadista e varejista.
Tais diferenças eram no passado muito superiores, com preços ainda menores
na safra e maiores na entressafra. Entretanto, com o desenvolvimento dos
confinamentos (na entressafra), com as parcerias das grandes redes (e mesmos dos
atacadistas) nos anos 90, e também com a incorporação de outras regiões produtoras
(como o Norte do país, especialmente Rondônia e Pará, cuja safra coincide com a
entressafra do Centro-Oeste), tende-se a reduzir cada vez mais o poder de mercado dos
produtores rurais de carne bovina.
3. ASPECTOS LOGÍSTICOS E TECNOLÓGICOS PARA OS MERCADOS INTERNO E EXTERNO
A resolução da problemática logística atende tanto ao mercado interno quanto
ao externo.
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A reestruturação e ampliação dos sistemas de transportes intermodais —
hidroviário, ferroviário e rodoviário — em diversas regiões do país, como veremos,
objetiva fazer com que os produtos de regiões mais distantes cheguem com preços mais
competitivos aos mercados consumidores.
Na questão dos transportes para a bovinocultura de corte, alguns estados
adotaram fundos estaduais para a recuperação e ampliação de estradas em que o fluxo
de transporte de matérias-primas, ou mesmo de produtos acabados, é muito intenso61.
No Brasil, a reestruturação logística está mais visível nos dois maiores
programas do Governo Federal — Brasil em Ação e Avança Brasil —, que envolvem
uma série de obras que objetivam articular, em especial mas não somente, o Norte e o
Centro-Oeste com o Sul e o Sudeste, de maneira definitiva.
4. BOVINOCULTURA DE CORTE E TECNOLOGIA
A busca da inserção competitiva da carne bovina brasileira passa pelo uso
crescente de novas tecnologias, nas diversas etapas da cadeia. É comum o discurso que
aponta que os problemas tecnológicos e competitivos estão “da porteira para fora”,
através dos outros elos da cadeia. Para esses analistas62, da porteira para dentro há
competitividade e bom grau de uso de tecnologias. O problema estaria nos outros elos.
O que a presente pesquisa constatou é que se observa um uso mais intenso de
tecnologias “da porteira para dentro”, embora ainda aquém do necessário para uma
produção sustentável e competitiva. Por outro lado, nos demais elos da cadeia,
observam-se problemas diversos. Os graus de tecnologias e competitividade também
variam de um elo para outro.
61 Mato Grosso do Sul criou o Fundo de Desenvolvimento das Estradas de Mato Grosso do Sul (FUNDERSUL), financiado pelos pecuaristas com base no número de animais que transitam, e pela indústria frigorífica a partir do número de animais que são abatidos. O valor pago por animal é de R$ 3,00 por cada um dos dois agentes. 62 FERREIRA, Ricardo Cotta. Mercado nacional e internacional da carne bovina. In: V Encontro Nacional do Novilho Precoce. Campo Grande, 4-6 jul. 2000.
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As transformações observadas na bovinocultura de corte não foram tão
significativas como as observadas em outras cadeias, como a do frango e dos suínos.
ROCHA63, ao analisar a questão, afirma: “No caso da carne bovina, a revolução
tecnológica não se deu de forma comparável ao que ocorreu no setor avícola. A
intensificação da concorrência internacional exige aumento da produtividade e da
qualidade do setor agropecuário. Portanto, torna-se indispensável o aprofundamento das
atividades de P&D, objetivando o combate a doenças e o desenvolvimento genético de
novas espécies com atributos especiais e/ou com maior rendimento industrial. Entre os
problemas desse segmento, destacam-se a questão do controle da febre aftosa e o uso de
anabolizantes” (ROCHA, 1999, p. 51).
O Estudo da competitividade da indústria brasileira, realizado para o
Ministério da Ciência e Tecnologia, compôs um amplo diagnóstico sobre diversos
setores de nossa economia. A análise da cadeia da carne bovina foi coordenada por
WILKINSON64, que sintetizou os indicadores de competitividade: “Muito embora a
pecuária extensiva tenha sido historicamente um fator fundamental de competitividade
internacional do setor de carnes brasileiro, as exigências industriais (capacidade ociosa e
custos de estocagem decorrentes as sazonalidade da produção tradicional) e do mercado
internacional (qualidade e controle sanitário) crescentemente apontam para a
necessidade de combinar vantagens de terra e clima com aumentos na produtividade,
qualidade e saúde do rebanho” (WILKINSON, 1993, p. 58).
Na nova economia em que vivemos, as fontes da produtividade — e, em
decorrência, da competitividade e do crescimento — passaram a depender fortemente da
aplicação da ciência e da tecnologia, assim como da qualidade da informação, da gestão
e da coordenação nos processos de produção, distribuição, circulação e consumo. Nesse
ambiente em mutação, os preços relativos, os custos, enfim, as vantagens comparativas,
constituem informação de extrema importância, mas insuficiente para traçar estratégias
63 ROCHA, Ivan. Inovação como instrumento de racionalização do agronegócio: o acesso às fontes de conhecimento. In: ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). Agropolos:uma proposta metodológica. Brasília: SEBRAE, 1999. 64 WILKINSON, J. Competitividade na indústria de abate e preparação de carnes. In: COUTINHO, et al. (Orgs.). Estudo da competitividade da indústria brasileira. Campinas: Nota Técnica Setorial do Complexo Agroindustrial, 1993.
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de inserção ativa na competição internacional. Algumas tendências, além do crescente
papel da informação, já podem ser percebidas: a organização da produção vem sofrendo
profundas e rápidas transformações, a concorrência ganhou dimensão global, tudo isso
em meio a uma evolução tecnológica sem precedentes. Uma vez identificadas as formas
específicas com que tais tendências aparecem para as diversas cadeias do agribusiness
brasileiro, será possível conceber um conjunto de ações que viabilizem o
aproveitamento de oportunidades de crescimento e mantenham uma competitividade
sustentável.
5. BOVINOCULTURA DE CORTE E A QUESTÃO AMBIENTAL
A base constituída na ocupação e expansão em novas terras e pastagens mais
acessíveis fez com que não houvesse por parte da maioria dos produtores preocupações
com o uso sustentável das pastagens, o que levou a sua intensa degradação.
VIEIRA65 destaca a importância da conservação de recursos naturais para o
futuro da atividade: “Dia a dia torna-se mais sólido o sentimento, no seio da sociedade
civil, de que é fundamental a adoção de diretrizes, critérios e/ou procedimentos que
assegurem a sustentabilidade econômica do desenvolvimento, traduzida na adequação
dos níveis de produtividade com a conservação dos recursos naturais, a preservação
ambiental e a biodiversidade. Isso significa que, de forma crescente, deverão ser
enfatizados os aspectos de impacto ambiental na definição dos critérios e procedimentos
de análise da factabilidade técnica e econômico-social e no controle da execução dos
projetos que venham a integrar os projetos de desenvolvimento, bem como a aferição
dos resultados derivados desses projetos” (VIEIRA, 1999, p. 30).
Já existem algumas formas consagradas, que permitem o uso de novas
tecnologias mais sustentáveis em termos ambientais, como: caracterização dos
agrossistemas; controle biológico de pragas e doenças; o maior uso de diversidade
genética; fertilização biológica do solo; conservação dos recursos genéticos;
65 VIEIRA, Pedro Merçon. Tendências recentes na agricultura brasileira e no “aparato” institucional de apoio ao desenvolvimento. In: Agropolos: uma proposta metodológica. Brasília: ABIPTI, 1999.
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disseminação do uso de fontes limpas de energia; restrição e o controle no uso de
fitotóxicos; adoção do princípio de emissão zero e resíduo zero. Para EUCLIDES
FILHO66, “... a atividade pecuária tem sido responsabilizada por problema que
possivelmente sejam resultantes da inabilidade e/ou inadequação das tecnologias,
práticas e, principalmente, de manejo inadequado do complexo solo-planta-animal, que,
considerado como um sistema, deve muitas vezes ser visto como uma combinação de
três subsistemas que se interagem causando e recebendo impactos. É importante
salientar, ainda, que as inter-relações entre estes subsistemas são influenciadas pelo
ambiente” (EUCLIDES FILHO, 1997, p. 8).
66 EUCLIDES FILHO, Kepler. A pecuária de corte no Brasil: novos horizontes, novos desafios. Campo Grande: EMBRAPA/MAA, 1997.
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Figura 4.4 – Manejo do complexo solo-planta-animal, suas inter-relações e seus efeitos sobre a sustentabilidade do sistema de produção.
IMPLANTAÇÃO E ESTABELECIMENTO DA PASTAGEM
Manejo e práticas culturais
inadequados
Manejo animal
inadequado
Uso de biótipo animal
inadequado ou sem o devido ajuste
Queda de fertilidade do solo
Perda de vigor e produtividade das pastagens e exposição do solo
Redução da capacidade de rebrota das plantas
Descompasso entre forragem produzida e forragem consumida
Compactação e alterações nas características físicas do solo Decrescimento da produção de forragem
Redução na infiltração
Erosões laminar, sulco, voçoroca
Queda na produção animal
Degradação do solo
INVIABILIDADE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO
Fonte: Euclides Filho (1996b).
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232
Atualmente, à pressão exercida pela globalização dos problemas ambientais e à
respectiva resultante na política ambiental brasileira, somou-se a discriminação no
comércio internacional sob o pretexto de barreiras não-tarifárias. A questão ambiental
assume papel crucial também na medida em que os países importadores, no intuito de
protegerem seus mercados, criam mecanismos de proteção que muitas vezes se
fundamentam em alegações de caráter ambiental.
Há ampla capacidade de ampliação das atividades da pecuária, dada nossa
extensão territorial, embora as práticas conservacionistas tenham de passar a fazer parte
de nossas preocupações. “Já a pecuária de corte que se mostra ‘mais viável’ no país
(seria errado dizer ‘mais moderna’) aparentemente ainda é aquela baseada na
exploração de pastagens sobre terras mais baratas. Em outras palavras, as atuais
possibilidades de lotação em termos de animais por área e o aproveitamento de
economias de escala fazem com que os melhores resultados econômicos da pecuária de
corte estejam associados a médias e grandes propriedades onde o valor da terra ainda é
baixo, como prova a crescente migração do boi para a região centro-norte. Ou ainda, no
Brasil a pecuária mais eficiente é aquela relacionada às propriedades maiores que usam
intensamente as suas pastagens, trabalhando dentro da estratégia de combinar baixas
margens por animal abatido com elevado giro de vendas, o que acaba auferindo um
‘retorno sobre patrimônio’ (RSP) relativamente satisfatório” (MEDEIROS, 1999, p.
148).
Considerando os diversos elementos e problemas inerentes à cadeia produtiva
da carne bovina do Brasil e de Mato Grosso do Sul, torna-se necessário, a partir de
estudos, pesquisas e mesmo propostas concretas de projetos, buscar formas para que se
alcance uma maior integração dos diversos agentes envolvidos na cadeia produtiva,
visando uma maior sinergia entre eles — não apenas restringindo-se à cadeia produtiva
da carne bovina, mas almejando extender-se para além dela.
Os pressupostos subjacentes a tais propostas são a necessidade de uma maior
coordenação dos agentes da cadeia produtiva, tal como defendido por PENSA, GEPAI,
FNPC, FUNDEPEC e outras instituições. Os agropolos e os clusters objetivam, com as
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particularidades de cada uma das formas, em última instância, uma articulação maior da
cadeia, de modo a torná-la mais dinâmica e competitiva.
6. AGROPOLOS
Nos últimos anos vem se consolidando um conceito novo, o de agropolos, que
constitui-se numa perspectiva do desenvolvimento do agronegócio a partir das cadeias
produtivas, mas assentado em bases regionais específicas. É importante frisar que esse é
um conceito em formação, que por isso não pode ser tomado de forma absoluta,
devendo-se considerar configurações intermediárias, conforme as especificidades de
cada projeto.
De acordo com ABIPTI (1999, p. 157)67, os pressupostos básicos de um
programa agropolos são: melhoria da qualidade de vida das população local; um projeto
com horizonte de longo prazo, exigindo continuidade e sustentabilidade das ações;
ações baseadas na realidade sócio-econômica de sua área de abrangência, com destaque
para três elementos básicos: (1) o potencial de recursos naturais; (2) a lógica do
mercado; (3) a cultura e aspirações da população local; a absoluta necessidade de
interação tecnologia–agroindustrialização.
Os agropolos, portanto, constituem-se numa nova perspectiva de análise e
estruturação de programas que objetivam conciliar a agroindustrialização com o
desenvolvimento regional: “Em essência, o Programa Agropolos tem por missão o
aumento do poder de competitividade do agronegócio no mercado e o desenvolvimento
sustentado de sua área de abrangência por meio da satisfação das necessidades básicas
das comunidades locais, do incremento da produtividade, da geração de empregos, da
conservação de recursos naturais e da preservação do meio ambiente” (ABIPTI, 1999,
p. 157).
Especificamente no caso da cadeia produtiva da carne bovina, as possibilidades
de constituição de um agropolo envolvem algumas complexidades, dada a abrangência
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territorial dessa cadeia, desde o fornecimento de insumos até a distribuição e o consumo
da carne, in natura ou industrial. Com a configuração regional hoje existente, em que a
produção e o abate são feitos em certas regiões e a distribuição e o consumo em outras,
a viabilidade de se constituir um agropolo em torno dessa cadeia seria mais remota,
ainda que não impossível.
7. CLUSTERS
MEDEIROS68 afirma que existem outras formas de organizar o complexo
produtivo, e que uma dessas maneiras são os clusters: “No âmbito regional, além do
enfoque de agropolos, também encontramos outras abordagens como os clusters e
outras formas de organização da produção econômica, em que os negócios
agroindustriais estão referenciados num determinado espaço geográfico, onde os
aspectos sociais, econômicos, ambientais e políticos também condicionam a
competitividade do agronegócio” (MEDEIROS, 1999, p. 118).
Para HADDAD69, os clusters constituem-se em cadeias produtivas que atuam
de forma complementar e sinérgica: “Os clusters consistem de indústrias e instituições
que têm ligações particularmente fortes entre si, tanto horizontal quanto verticalmente,
e, usualmente, incluem: empresas de produção especializada; empresas fornecedoras;
empresas prestadoras de serviços; instituições de pesquisas; instituições públicas e
privadas de suporte fundamental. A análise de clusters focaliza os insumos críticos, num
sentido geral, que as empresas geradoras de renda e de riqueza necessitam para serem
dinamicamente competitivas. A essência do desenvolvimento de clusters é a criação de
capacidades produtivas especializadas dentro de regiões para a promoção de seu
desenvolvimento econômico, ambiental e social” (HADDAD, 1998, p. 74).
67 ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). Agropolos:uma proposta metodológica. Brasília: SEBRAE, 1999. 68 MEDEIROS, Josemar X. Inserção de políticas públicas no processo de desenvolvimento regional e do agronegócio. In: ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). . Agropolos: uma proposta metodológica. Brasília: Sebrae, 1999. 69 HADDAD, Paulo R. A competitividade do agronegócio: estudo de cluster. In: CALDAS, R. de Araújo (Ed.). Agronegócio brasileiro: ciência, tecnologia e competitividade. Brasília: CNPq, 1998.
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Figura 4.5 – Análise da competitividade da agroindústria brasileira. A definição de um cluster.
Fonte: HADDAD (1998).
O roteiro metodológico para análise de clusters70 envolve:
• delimitação da área geográfica relevante;
• indicadores de performance setorial (produção, produtividade, qualidade);
• aglomerados ou complexos produtivos;
• serviços de suporte empresarial ao cluster;
• suporte fundamental (transporte, telecomunicações e outros);
70 Na pesquisa de HADDAD foram estudados: a) o cluster suinícola do Oeste Catarinense; b) o cluster da região cacaueira do Sul da Bahia; c) o cluster da fruticultura no pólo Petrolina-Juazeiro; d) o agronegócio de grãos do município de Rio Verde, GO.
• Contabilidade de custos (ABC);
• Testes de qualidade; • Pesquisa e
desenvolvimento; • Manutenção técnica; • Entrepostos etc.
Serviços de suporte
empresarial
Economias de aglomeração e externalidades
Atividades-chave orientadas para as
exportações
Atividades-chave orientadas para os
suprimentos
Atividades-chave de suporte fundamental
Aglomerados ou
complexos produtivos
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• indicadores de desenvolvimento social da região onde opera o cluster;
• indicadores ambientais;
• desenvolvimento de cultura organizacional;
• necessidade de insumos de conhecimentos, pesquisa e de ciência e tecnologia no
cluster;
• mecanismo de inserção da EMBRAPA e do CNPq.
PINAZZA e ALIMANDRO71 afirmam: “Nos clusters, a eficiência estática de
cada empresa está exposta diretamente ao influxo contínuo da inovação tecnológica,
circunstância que leva cada companhia a beneficiar-se da presença dos concorrentes
locais, da mesma forma que sua dinâmica contamina a agenda das instituições públicas
e das agências governamentais” (PINAZZA e ALIMANDRO, 1999b, p. 182).
Esses autores afirmam ainda que “o conceito de cluster representa uma nova
maneira de se conceber a economia local, regional ou nacional. É ao mesmo tempo tão
antigo como o engenho colonial de cana-de-açúcar, produtor de aguardente e rapadura,
anterior, portanto, à primeira revolução industrial, razão por que é uma reivindicação
legítima do agronegócio reclamar a sua paternidade. É interessante notar que as
múltiplas atividades do engenho, praticamente auto-suficiente, estavam ligadas não
apenas pela cooperação nas operações mas também pela solidariedade efetiva entre os
processos de seus elos. Assim, a inovação tecnológica num dos elos, o do
processamento da matéria-prima, por exemplo, repercutia automaticamente nos demais,
levando ao redesenho da infra-estrutura de transportes, armazenagem, energia,
suprimentos etc.” (PINAZZA e ALIMANDRO, 1999b, p. 182).
71 PINAZZA, Luiz Antônio; ALIMANDRO, Regis. Emissores de tecnologia. In: PINAZZA, Luiz Antonio; ALIMANDRO, Regis. Reestruturação no agribusiness brasileiro: agronegócios no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Abag/Agroanalysis/FGV, 1999.
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Figura 4.6 – Análise da competitividade da agroindústria brasileira: Etapas de desenvolvimento de um cluster.
Fonte: ICK KAISER (1997).
As análises revelaram que a cadeia de carne bovina no Brasil é extremamente
heterogênea quanto às características de seus componentes. Nessa realidade podem ser
encontrados agentes econômicos extremamente competitivos, mesmo quando
comparados com padrões internacionais, e outros que ainda não superam padrões
mínimos de qualidade e competitividade. Os problemas que resultam dessa dualidade
estão longe de serem desprezíveis para a competitividade do setor.
Também para ROCHA72, “no setor de carnes, a maioria das empresas fornece
quase que exclusivamente para o mercado interno. O reduzido poder de compra dos
consumidores tem levado à aceitação de produtos de baixa qualidade, em alguns até
impróprios para o consumo” (ROCHA, 1999, p. 33).
“Finalmente, deve-se mencionar que a adequada coordenação das políticas e a
formulação de um Planejamento de longo prazo para nortear a atuação empresarial no
campo do agribusiness são fundamentais para o desenvolvimento nacional. No
agribusiness repousam as chances superiores para a maior integração do Brasil no
contexto das nações. Além de ser o maior gerador de empregos e renda, o agribusiness
já é o setor mais aberto, exposto à competição internacional, e mais preparado para
72 ROCHA, Ivan. Inovação como instrumento de racionalização do agronegócio: o acesso às fontes de conhecimento. In: ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). Agropolos:uma proposta metodológica. Brasília: SEBRAE, 1999.
Desempenho econômico
regional
1. Identifique atividade produtivas
do cluster
2. Desenvolva os supridores relevantes
3. Identifique as necessidades de
suporte fundamental
4. Construa formas de cooperação
público–privado
Aglomerados ou complexos Economias de aglomeração ou externalidades
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alavancar a interiorização e o desenvolvimento harmônico do país” (ROCHA, 1999, p.
14).
Figura 4.7 – Análise da competitividade da agroindústria brasileira: a concepção do desenvolvimento integrado do cluster.
Fonte: ICK KAISER (1997).
Performance econômica:
• Aglomeração • Crescimento • Exportações • Valor adicionado • Especializado • Reinvestimento
Impactos ambientais:
• Emissão de resíduos tóxicos • Potencial de poluição ambiental • Efetividade de controle ambiental • Certificados ISO 14000
Cluster
• Atividades-chave orientadas para as exportações
• Atividades-chave orientadas para o suprimento
• Atividades-chave de suporte
Impactos sociais:
• Oportunidade de emprego para grupos sociais de baixa renda
• O papel da força de trabalho rural • Oferta de serviços comunitários
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8. INDICADORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Ao término deste relatório fica evidenciada a complexidade da cadeia
produtiva da carne bovina de Mato Grosso do Sul. Entretanto, tal complexidade tem se
constituído numa adversidade para todos os agentes do processo: fornecedores de
matérias-primas (insumos), pecuaristas, indústrias frigoríficas e consumidores.
Hoje, infelizmente, a cadeia da bovinocultura passa por uma diversidade de
entraves — desde os que dizem respeito a relações internas entre os agentes, até outros
que se estabelecem entre agentes internos e agentes externos, como por exemplo o setor
público. Embora evidente, é necessário reafirmar: um elo inoperante ou que apresente
problemas acarretará conseqüências à totalidade da cadeia.
Em virtude disso, é necessário que se aponte uma pauta de soluções para a
modificação desse quadro, hoje adverso. As modificações passam, preponderantemente,
pela qualificação da mão-de-obra, sustentabilidade da cadeia, gestão da informação,
valorização da carne sul-mato-grossense, melhoria de qualidade da carne e subprodutos
e pela instituição de interlocução da cadeia.
9. QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA
A falta de mão-de-obra adequada é um grande problema enfrentado pela
cadeia. A falta de formação de funcionários e a falta de visão do empregador são fatores
que influenciam — e de forma muito negativa — a produção. Noutros casos, as técnicas
modernas, disponíveis em crescente número, não são adequadamente utilizadas —
quando chegam a ser postas em prática. As principais ações para solucionar a falta de
mão-de-obra são:
• desenvolvimento de empresas rurais;
• capacitação técnica do meio rural (empregadores: gestão-gerenciamento;
empregados: manejo, inseminação);
• desenvolvimento de gestores do setor frigorífico;
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• capacitação técnica da mão-de-obra frigorífica;
• capacitação de técnicos governamentais para acompanhamento e intervenção na
cadeia produtiva da carne.
10. SUSTENTABILIDADE DA CADEIA
Outro problema enfrentado pela cadeia tem relação com sua sustentabilidade.
Muitas vezes o pecuarista raciocina de maneira imediatista, não prevendo prejuízos no
futuro: o lucro de hoje — muito provavelmente — não estará garantido amanhã.
A conservação do solo é uma prática distante dos produtores rurais, bem como
outras ações ambientais que possibilitem a manutenção da atividade pecuária. Na
agenda de debates, devem ser colocados a criação e a reestruturação dos seguinte
programas:
• Programa de conservação do solo;
• Programa de formação e recuperação de pastagens;
• Reestruturação do serviço de inspeção sanitária no estado;
• Programa de tratamento de resíduos industriais;
• Programa do “vitelo pantaneiro”;
• Programa do “boi orgânico”;
• Programa de ampliação de agregação de valor no estado.
11. GESTÃO DA INFORMAÇÃO
A informação cumpre nos dias atuais uma função global. Através da sua
reunião e difusão é possível planejar ações, evitar erros e, o mais importante, agir com
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maior certeza de sucesso. Na atual cadeia produtiva da carne, esse processo benéfico
inexiste. O que há é exatamente o contrário: o monopólio da informação. Faltam ações
governamentais por um lado, e visão empreendedora por outro.
O governo falha em não conhecer informações estratégicas para a criação de
programas eficazes, e os diversos elos da cadeia — pecuaristas e frigoríficos,
essencialmente — tratam-se como adversários. Os elos da cadeia esquecem que são
partes de um contexto, de uma cadeia. O insucesso de um, provavelmente, acarretará
situação idêntica aos demais.
O roteiro de políticas para a reversão desse quadro passa por:
• Recadastramento dos produtores;
• Recadastramento dos frigoríficos;
• Recadastramento da indústria de subprodutos;
• Desenvolvimento de sistemas de informação mercadológica;
• Melhoria da eficiência dos sistemas de acompanhamento da atividade e fiscal do
estado;
• Divulgação/publicação dos dados dos agentes da cadeia.
12. VALORIZAÇÃO DA CARNE DE MATO GROSSO DO SUL
Mato Grosso do Sul por vezes se esquece de sua condição de detentor do maior
rebanho bovino de corte do país. É uma potencialidade não explorada.
Se as barreiras sanitárias hoje impedem a exportação de carne, isso revela que a
criação não recebeu a atenção necessária no passado, culminando com episódios como o
de Naviraí, em janeiro de 1999.
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O que importa, porém, é que as perspectivas indicam a solução desse
problema. Com sua inclusão na Zona Livre de Febre Aftosa, Mato Grosso do Sul poderá
se inserir com mais de 20 milhões de animais no mercado mundial.
Nesse sentido, algumas ações se colocam como imprescindíveis para o
crescimento e a valorização da carne bovina sul-mato-grossense. O espaço existe e
Mato Grosso do Sul tem o potencial para dele usufruir. O que ainda permanece em falta
é uma reestruturação, a ser levada a cabo através de campanhas (marketing), e a criação
e manutenção de programas que se mostram acertados, como:
• Programa do “vitelo pantaneiro”;
• Programa da “carne orgânica”;
• Programa do novilho precoce;
• Difusão dos produtos em eventos nacionais e internacionais;
• Desenvolvimento de um selo de qualidade estadual;
• Campanha mercadológica da carne sul-mato-grossense;
• Prospecção de novos mercados para a carne sul-mato-grossense.
12.1. MELHORIA DE QUALIDADE DA CARNE E SUBPRODUTOS
A carne bovina, produtos e subprodutos, como resultado final da cadeia
produtiva, necessitam de alguns detalhes que garantam sua qualidade. Será essa
qualidade que possibilitará inserções e garantia de satisfação nos mercados, tanto o
interno como, e principalmente, os externos.
A criação dos animais praticada de forma inadequada e as formas clandestinas
de abate, transporte e comercialização precisam ser coibidas. Além dessas proibições,
entretanto, existem outras medidas necessárias a aplicar, incluindo aquelas referentes à
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infra-estrutura, para todo os elos e agentes da cadeia — criação, industrialização,
distribuição:
• Desenvolvimento de rastreabilidade ao longo da cadeia;
• Normatização e difusão de padrões de qualidade de animal vivo e da carne;
• Cursos de capacitação;
• Aperfeiçoamento do sistema logístico de transporte de animais e produtos acabados;
• Programa de melhoria da qualidade do couro (remuneração do pecuarista);
13. INTERLOCUÇÃO DE INSTITUIÇÕES DA CADEIA
O último conjunto da pauta de sugestões é a interlocução entre as diversas
instituições que compõem ou se relacionam com a cadeia da bovinocultura de corte. É
preciso haver uma uniformização de ações, trabalhos e formas de gestão entre a
iniciativa privada e os órgãos públicos.
Atualmente, a estrutura administrativa do estado é falha, o que gera inúmeros
prejuízos. Para a solução de um problema — muitas vezes pequeno — são necessárias
inúmeras “visitas” a vários órgãos diferentes do poder público. Um exemplo é que para
se conseguir uma licença/autorização, o produtor ou o industrial precisam percorrer três
secretarias estaduais distintas. E isso é errado. Através do uso da informática (Internet),
um produtor poderia emitir sua Guia de Trânsito de Animais (GTA) sem ter de
ausentar-se de sua propriedade. Hoje ele tem de ir à fazenda (que pode distar mais de
100 km da cidade), separar os animais que estão prontos para o abate, voltar à cidade, ir
ao Iagro, pegar o atestado de vacina (e pagar uma taxa), ir à agência fazendária de seu
município, pegar a guia do Fundersul, pagá-la (R$ 3,30 por animal), pegar a GTA (uma
para cada caminhão de boi: 17 bois) e recolher a taxa por nota-GTA (R$ 3,50). Após
isso, deve levar a nota-GTA à fazenda antes de os caminhões saírem da propriedade.
Ele, portanto, precisa ir duas vezes à propriedade e a dois órgãos na cidade.
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Na Figura 4.8 podemos observar a estrutura clássica do aparelho estatal de
Mato Grosso do Sul, a partir das secretarias. Segundo essa estrutura, os interessados nos
serviços dessas secretarias precisam percorrer diversas estruturas, que na maioria das
vezes não conversam entre si, aumentando os custos produtivos da atividade.
Em termos governamentais tal estrutura conduz à perda da noção de totalidade
da cadeia, por as decisões se dispersarem entre os órgãos. A Secretaria de Estado de
Fazenda (SEFAZ) arrecada e concede isenções; a Secretaria de Produção e
Desenvolvimento Sustentável (SEPRODES) busca atrair empresas e gera políticas
públicas de desenvolvimento; a Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia
(SEPLANCT) planeja ações de médio e longo prazos; as demais secretarias, cada uma
em sua função, definem as suas particularidades, sem a idéia do todo. Tem-se portanto
um grande esforço disperso em estruturas burocráticas, que poderia ser otimizado se as
estruturas fossem readequadas.
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Figura 4.8: A cadeia produtiva da carne bovina e a atual estrutura burocrática institucional.
Iagro
Delegacia Federal de Agricultura
Sebrae
Agentes
Financeiros/Banco
FIEMS
Instituições de Ensino e
Pesquisa
Indústria frigorífica
Pecuaristas
Fornecedores de insumos
Distribuição de carnes
Governo do Estado
Secretaria de
Meio Ambiente
Secretaria de
Fazenda
Secretaria de Produção e
Desenvolvimento
Outros
Outras
Secretarias
Órgãos governamentais Agentes da cadeia produtiva da carne Órgãos paralelos à cadeia
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Figura 4.9: Conselho da cadeia produtiva da carne bovina.
Iagro
Delegacia Federal de Agricultura
Sebrae
Agentes financeiros/Bancos
FIEMS
Instituições de Ensino e
Pesquisa
Instituto Estadual da Carne/
Câmara Setorial da Carne/
Conselho da Cadeia Produtiva
da Carne Bovina.
Gerência de Desenvolvimento Sustentável
Indústria Frigorífica
Pecuaristas
Fornecedores de Insumos
Distribuição de Carnes
Governo do Estado
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A Figura 4.9, por sua vez, propõe uma descrição para a Câmara Setorial da
Carne Bovina de Mato Grosso do Sul, com todos os seus participantes mais
importantes. Nessa Câmara Setorial seriam definidas ações que cada um deles deve
desempenhar para tornar a cadeia mais competitiva e dinâmica.
No âmbito exclusivo do governo estadual, a partir não mais das estruturas
burocráticas clássicas de secretarias de estado não-sinérgicas, têm-se o Conselho de
Gestão Participativa, que definirá as ações a serem tomadas — no caso da cadeia
produtiva da carne bovina, a serem executadas pela Gerência de Desenvolvimento
Sustentável.
Finalizando este relatório, consideramos haver apresentado à sociedade sul-
mato-grossense, através deste estudo, uma análise das transformações recentes que se
verificam na cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do Sul, juntamente com
propostas de políticas públicas que entendemos constituirem-se num referencial
fundamental para que se alcance na prática uma maior competitividade dessa decisiva
cadeia de produção.
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Anexos
QUESTIONÁRIO PARA OS PECUARISTAS
ASPECTOS DO PECUARISTA
1) Em qual município está localizada a sua propriedade? ................................................./.......... 2) Qual a dimensão da propriedade ? ( ) até 1.000 ha ( ) de 1.001 até 2.000 ha ( ) de 2.001 até 5.000 ha ( ) acima de 5.000 ha 3) Qual o preço médio do ha. na região em que está situada a sua propriedade? R$................................... 4) Qual a forma de aquisição da propriedade? ( ) compra ( ) herança ( ) outra. Especificar: ........................................................................................................................... 5) Além da propriedade na qual exerce a atividade principal, possui outra(s) também destinadas à pecuária? ( ) sim ( ) não 5.1) Em caso positivo, qual(is) sua(s) localização(ões)? ................................................./.................................................................. ................................................./.................................................................. 6) Qual a prática de criação adotada? ( ) intensiva ( ) extensiva 7) A pastagem predominante é: ( ) nativa ( ) artificial (plantada) 8) No caso de pastagem artificial, qual o tipo de capim plantado? ( ) colonião ( ) jaraguá ( ) brachiarião ( ) brachiária ( ) estrela ( ) outro. Especificar ................................................
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9) Qual dos tipos de manejo faz uso? ( ) suplementação mineral no inverno ( ) voisin ( ) pastejo rotacionado ( ) adubação de pastagem ( ) inseminação artificial ( ) cruzamento industrial ( ) semiconfinamento ( ) confinamento 10) Pratica o mesmo tipo de manejo desde que iniciou a atividade pecuária? ( ) sim ( ) não 10.1) Em caso negativo, quais as posteriormente adotadas? ........................................................................................................................... ........................................................................................................................... 11) A qual das fases da pecuária está direcionada a propriedade? I-cria II-recria III-engorda ( ) I ( ) II ( ) III ( ) I e II ( ) I e III ( ) II e III ( ) I, II e III (todas) 12) Qual a taxa de abate dos animais obtida? (Em percentual do total.) ........................................................................................................................... 13) Qual a idade média dos animais destinados ao abate? (Em percentual do total.) ........................................................................................................................... 14) Qual a taxa de natalidade obtida? ........................................................................................................................... 15) Qual a taxa de mortalidade (morrem antes da desmama) de bezerros? ........................................................................................................................... 16) Complementa a alimentação do rebanho com sal mineral? ( ) sim ( ) não 16.1) Em caso positivo, em qual(is) fase(s) da pecuária e qual(is) o(s) tipo(s)? ( )cria ( ) recria ( ) engorda ( ) todas ...................................................................................................................................................................................................................................................... 17) Ministra, nos animais, todos os tipos de vacinas indicadas para a região da propriedade? ( ) sim ( ) não 17.1) Em caso positivo quais são elas? ...........................................................................................................................
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17.2) Em caso negativo, por qual(is) motivo(s) deixa de vacinar os animais? ( ) em função de seu custo elevado ( ) em função da desnecessidade – ausência de risco ( ) outros. Especificar: ............................................................................................. 18) Aplica vermífugos no rebanho? ( ) sim ( ) não 19) Para a viabilização da atividade pecuária exercida recorre a algum tipo de financiamento? ( ) sim ( ) não 19.1) Em caso positivo, a qual tipo? ( ) particular ( ) bancário ( ) outros. Especificar: ........................................................................................................................... 20) Recorre a médico veterinário para a assistência ao rebanho? ( )sim ( )não 20.1) Em caso positivo, com qual freqüência? ( ) sempre – possui contrato ( ) ocasionalmente 21) Qual a forma de gestão da propriedade? ( ) direta ( ) indireta – feita por administrador 22) Em qual cidade reside o proprietário da fazenda? ........................................................../................ 23) O proprietário exerce outra atividade além da pecuária? ( ) sim ( ) não 24) A pecuária é a principal atividade econômica do proprietário? ( ) sim ( ) não 25) Qual a raça bovina predominante em sua propriedade? ( ) nelore ( ) limousin ( ) gir ( ) charolês ( ) brahma ( ) simental ( ) outros. Especificar .................................................................... 24) Caso optasse por implementar mudanças nas atividades desenvolvidas – destinação da propriedade, p. ex., recorreria a consultoria para tal fim? ( )sim ( )não 25) Qual o fator que determina o momento para comercializar o gado? ( ) o limite de peso atingido ( ) necessidade financeira ( ) oportunidade adequada {preço} ( ) outros. Especificar : ........................................................................................ 26) Qual o peso médio dos animais vendidos para o abate (em @ )?
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........................................................................................................................... 27) Qual o número de empregados que exercem a atividade desenvolvida na propriedade? ........................................................................................................................... 28) A propriedade está situada em região que possui risco atual de invasões? ( ) sim ( ) não 29) Mantém atualizados os dados da propriedade em relação aos órgãos estatais (rebanho, vacinação, p. ex. )? ( )sim ( ) não 30) Em caso negativo, especificar o porquê ...................................................................................................................................................................................................................................................... 31) Como classificaria o índice de produtividade atingido na atividade exercida? ( ) excelente ( ) bom ( ) regular ( ) baixo 32) Qual o nível de conservação do solo da propriedade? ( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) precário
RELAÇÃO DO PECUARISTA COM O FORNECEDOR DE INSUMOS
33) É assistido por algum profissional das áreas de veterinária ou agronomia para executar a compra de insumos? ( ) sim ( ) não 34) Pesquisa, regularmente, os preços para realizar a compra de insumos? ( ) sim ( ) não 35) Adquire os insumos de quantos fornecedores? ........................................................................................................................... 36) Na(s) empresa(s) na(s) qual(is) adquire os insumos há responsáveis técnicos que auxiliam na orientação/utilização dos produtos? ( ) sim ( ) não 37) Observa itens de qualidade e conformidade na aquisição dos insumos? ( )sim ( )não 38) De que forma adquire os insumos? (medicamentos, sal mineral, concentrados e
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outros ) ( ) à vista ( ) a prazo ( ) associado à venda dos animais ( ) outra. Especificar: ........................................................................................................................... 39) Caso ocorra aumento no preço dos insumos, qual seu comportamento imediato? ( ) mantém a mesma quantidade adquirida ( ) adquire quantidade menor ( ) deixa de adquirir, até sua eventual estabilização ( ) outros. Especificar..................................................................................... 40) Qual seria sua sugestão para a melhora na relação com o fornecedor de insumos? .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
RELAÇÃO DO PECUARISTA COM O FRIGORÍFICO
41) O gado é sempre vendido para a mesma empresa? ( ) sim ( ) não 41.1) Em caso positivo, qual o fator determinante para tal? ( ) a empresa é idônea/estável ( ) a empresa pratica melhores preços ( ) a empresa oferece parceria ( ) outros. Especificar: ........................................................................................................................... 42) O comprador (frigorífico ) oferece alguma contraprestação pela qualidade do couro dos animais ? ( )sim ( ) não 43) O comprador (frigorífico ) pratica preços diferenciados pela compra de novilhos precoce? ( ) sim ( ) não 44) Qual o forma de venda do gado? ( ) peso vivo ( ) peso morto ( ) outra. Especificar......................................................................................................... 45) Em caso de venda pelo peso vivo, qual percentual pago pela empresa? ......................% 46) Qual o local de pesagem do gado remetido para venda? ( ) balança do caminhão ( ) balança do frigorífico ( ) outros. Especificar: ...........................................................................................................................
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47) Como classificaria suas relações com os frigorífico(s)? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................
RELAÇÃO DO PECUARISTA COM OS ÓRGÃOS DE ASSISTÊNCIA E DE
ESTADO
48) Existe no município no qual está sediada a propriedade algum órgão que preste assistência à atividade exercida? ( ) sim ( ) não 49) Em caso positivo, especificá-lo(s) e apontar o nível de satisfação do produtor : ...................................................................................................................................................................................................................................................... 50) Em caso negativo, considera importante a criação de um órgão de fomento/assistência? ( ) sim ( ) não 51) Como classificaria suas relações com os órgãos de estado (fisco, vigilância sanitária e outros ) ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 52) Qual seria sua sugestão para a melhora na relação com os órgãos estatais? ......................................................................................................................................................................................................................................................
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QUESTIONÁRIO PARA OS FRIGORÍFICOS ASPECTOS INTERNOS DO FRIGORÍFICO
1) Qual o ano de instalação do frigorífico? .......................... 2) A administração do frigorífico é: ( ) própria ( ) arrendada 3) A empresa é : ( ) individual ( ) sociedade por cotas ( ) sociedade anônima 4) O frigorífico foi criado mediante algum programa de apoio oficial à produção? ( )sim ( )não. 4.1) Em caso positivo, qual(is)? ........................................................................................................................... 5) Qual o número de funcionários, por setor? - abate/beneficiamento......................... - gerência............................................. 6) Qual o salário médio, por setor? - abate/beneficiamento......................... - gerência............................................. 7) Quais os serviços que são terceirizados? ( ) transporte do criador para o frigorífico ( ) transporte de produto(s) beneficiados ( ) alimentação dos funcionários ( ) limpeza das instalações ( ) outros. Especificar:.................................................................................... 8) Qual a média diária de animais abatidos? ........................ 9) Existe capacidade ociosa de abate nas instalações atuais? ( ) sim ( ) não 9.1) Em caso positivo, qual o percentual? .......................% 10) Qual a capacidade de estocagem de carcaças em câmara frigorífica, (em unidades)?
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...................................................................................... 11) Qual o percentual médio de animais abatidos atualmente? ................% machos ....................% fêmeas 12) Houve alteração no percentual referido em relação a períodos anteriores? ( )sim ( )não 12.1) Em caso positivo, qual o percentual médio de animais abatidos então? ...............% machos ....................% fêmeas 13) Quais os tipos de produtos produzidos? ( ) carne com osso resfriada ( ) carne com osso congelada ( ) carne desossada ( ) subprodutos. Especificar.......................................................................... ...................................................................................................................................................................................................................................................... 14) Quais os produtos decorrentes do beneficiamento que são processados no próprio frigorífico? ( ) farinha de osso ( ) farinha de sangue ( ) sebo para indústria ( ) outros. Especificar ..................................................................................... .......................................................................................................................... 15) O maquinário utilizado nas discriminadas etapas da produção podem ser considerados : I – modernos II – intermediários III- desatualizados 15.1) abate ( ) 15.2) refrigeração- armazenamento ( ) 15.3) embalagem ( ) 15.4) processamento dos resíduos ( ) 16) Qual o valor médio do frete pago para o transporte de animais do produtor para o frigorífico (por km )? R$................ 17) Qual o valor médio do frete pago para o transporte de animais do frigorífico para o distribuidor/cliente (base São Paulo/SP )? R$................
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RELAÇÕES DO FRIGORÍFICO COM O PECUARISTA
18) Qual a forma mais adotada para a aquisição da matéria prima? ( ) consulta aos produtores ( ) oferecimento pelos produtores ( ) outra. Especificar : .................................................................................... 19) Qual a forma mais utilizada no pagamento aos fornecedores pela matéria prima : ( )à vista ( )a prazo? 19.1) No pagamento a prazo, em quantos dias, em média, é ele efetuado e qual a taxa de desconto? ........../.............% 20) O frigorífico pratica preços diferenciados por novilho precoce? ( ) sim ( )não 21) Existe limite de distância para a aquisição de animais? ( ) sim ( )não 21.1) Em caso positivo, qual a distância máxima para a compra (em km )? ................................ 22) Os animais recebidos são pagos pelo peso aferido: ( ) na balança do produtor ( ) na balança do caminhão ( ) na balança do frigorífico 23) O frete no transporte de animais desde a fazenda até o frigorífico é pago : ( ) pelo produtor ( ) pelo frigorífico ( ) por ambos 24) Como classificaria suas relações com os produtores? .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
RELAÇÕES DO FRIGORÍFICO COM O DISTRIBUIDOR
25) O frigorífico mantém padrão de corte diferenciado em face de cada tipo de cliente? ( ) sim ( ) não 25) Para qual(is) mercado(s) remete, preponderantemente, seus produtos? .............................................................................................................................................
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.............................................................................................................................................
...................................................................................... 26) Tem contrato de exclusividade com algum distribuidor? ( ) sim ( )não 27) Os distribuidores praticam preços diferenciados quando adquirem novilhos precoces? ( ) sim ( ) não 28) Os curtumes praticam preços diferenciados em virtude da qualidade do couro? ( ) sim ( )não
RELAÇÕES DO FRIGORÍFICO COM ASSOCIAÇÕES E ÓRGÃOS DE
ESTADO
29) O frigorífico é integrante de alguma associação de classe, em nível estadual ou federal? ( ) sim ( )não 29.1) Em caso positivo, discriminar : .............................................................. .......................................................................................................................... 30) Como classificaria suas relações com os órgãos de estado (fisco, vigilância sanitária e outros ) : ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................