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ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DE MATO GROSSO DO SUL: PROPOSTA DE UMA POLÍTICA PÚBLICA Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Departamento de Economia e Administração – DEA Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura – FAPEC Grupo de Estudos de Agronegócios – GEA/UFMS Campo Grande, MS 2000

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ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA

DA CARNE BOVINA DE

MATO GROSSO DO SUL:

PROPOSTA DE UMA POLÍTICA PÚBLICA

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Departamento de Economia e Administração – DEA

Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura – FAPEC Grupo de Estudos de Agronegócios – GEA/UFMS

Campo Grande, MS 2000

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ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA

DA CARNE BOVINA DE

MATO GROSSO DO SUL:

PROPOSTA DE UMA POLÍTICA PÚBLICA

Convênio UFMS/FAPEC – SEFAZ

com Recursos do Promosef

COORDENAÇÃO E PESQUISADORES

Coordenador Geral: Prof. Dr. Ido Luiz Michels – UFMS

Coordenador Executivo: Prof. Dr. Renato Luiz Sproesser – UFMS

Coordenador Executivo: Economista Cláudio George Mendonça – UFMS

Pesquisadora: Prof.a M.Sc. Patrícia Campeão – UFSCar

EQUIPE TÉCNICA

Adriana Orrico – UFMS

Luciano Scampini – UCDB

Lais Hernández – UFMS

Engenheiro Agrônomo Aroldo F. Corrêa Jr.

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INSTITUIÇÕES PARCEIRAS DA PESQUISA

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA

Esther Guimarães Cardoso

Fernando Paim Costa

Gelson Luiz Dias Feijó

DELEGACIA FEDERAL DE AGRICULTURA – DFA

José Antônio Roldão

João Crisostomo Cavallero

SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA – SEFAZ

Luciana Medeiros Duarte

Gladston Riekstins de Amorim

SECRETARIA DA PRODUÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – SEPRODES

Onildo B. Pinho

José Mário Pinesse

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP

Prof. Dr. Wanderley Messias da Costa

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC

Prof. Dr. Roberto Meurer

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – UFSCAR

Prof. Dr. Mário Otávio Batalha

Prof. Dr. Hildo Meirelles

BANCO DO BRASIL

Edson Izé

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APRESENTAÇÃO

O Estudo da Cadeia Produtiva da Carne Bovina de Mato Grosso do Sul,

realizado pelo Grupo de Estudos em Agronegócios da Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul, surgiu a partir do interesse do Governo do Estado de Mato

Grosso do Sul, através da Secretaria de Estado de Fazenda – SEFAZ, em conhecer a

realidade do setor, de modo a gerar instrumentos mais efetivos para o desenvolvimento

dessa cadeia produtiva.

Nesse sentido, de meados de 1999 ao final do ano 2000 analisaram-se os

principais elos dessa cadeia — insumos, produtores, indústria frigorífica e distribuição

—, de modo a apontar características, problemas e tendências do setor. Observaram-se

ainda, a partir do estudo, as profundas e recentes transformações pelas quais passa a

cadeia produtiva da carne bovina no Brasil.

Entre as diversas conclusões que este estudo aponta, destacam-se:

• Regiões Sanitárias – As questões sanitárias (não somente a febre aftosa) passam a

ser elemento definidor das regionalizações pecuárias no Brasil.

• Mato Grosso do Sul e as exportações de carnes – O estado de Mato Grosso do Sul

conta, em seu território, com os principais frigoríficos exportadores do país, além de

ser o maior estado produtor de carne com Sistema de Inspeção Federal – SIF – para

o mercado interno, bem como o maior exportador de carne do país.

• Os insumos – O elo da cadeia produtiva constituído pelos fornecedores de insumos

é dominado em Mato Grosso do Sul por poucos fornecedores, que vendem um

grande rol de produtos agropecuários correspondentes a praticamente 30% do custo

de produção final de um boi.

• Os pecuaristas sul-mato-grossenses – São quase 50 mil os produtores de gado de

Mato Grosso do Sul, com um valor patrimonial em terras e rebanho estimado em

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cerca de R$ 18 bilhões (R$ 11,6 bilhões em terras e R$ 6,5 bilhões em animais).

Esses produtores tiveram no ano de 1999 um faturamento bruto de R$ 1,9 bilhões. A

atividade gera no estado aproximadamente 130 mil empregos diretos.

• A indústria frigorífica – A indústria frigorífica sul-mato-grossense é composta

atualmente por 31 frigoríficos, com capacidade anual de abate de 4,5 milhões de

cabeças, com um faturamento anual bruto de R$ 300 milhões. Existem hoje no

estado nove indústrias habilitadas para a exportação.

• A coordenação da cadeia produtiva (I) – A chamada descoordenação da cadeia

produtiva da carne bovina brasileira tem sua origem na história da cadeia e na falta,

até o início dos anos 90, de um agente que detivesse maior poder de mercado. Em

outras palavras, entre os quatro principais elos dessa cadeia – insumos, produção,

abate e distribuição – predominava uma certa igualdade de poder de mercado ou

mesmo ganhos setoriais sazonais, embora nenhum deles tenha conseguido ser

hegemônico no controle da cadeia produtiva até o início dos anos 90.

• A coordenação da cadeia produtiva (II) – A partir dos anos 90, a distribuição,

exercida em especial pelas grandes redes varejistas, passa gradativamente a dominar

o setor, determinando os preços para os demais elos da cadeia e apropriando-se,

desse modo, de renda dos demais elos.

• Tributação da carne e transferência de renda regional – Contrariamente à

conclusão de recente estudo divulgado pela Confederação Nacional de Agricultura –

CNA –, intitulado A eficiência econômica e competitiva da cadeia agroindustrial da

pecuária de corte no Brasil, a questão tributária não é um problema que reduz a

competitividade do setor no Brasil. A proposição de imposto zero para essa cadeia

produtiva fará, na verdade, aumentar mais ainda a transferência de renda para a

Região Sudeste e/ou para o mercado internacional, através das exportações.

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1: CONTEXTUALIZAÇÃO E OBJETIVOS DA PESQUISA...................... 11. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 12. CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE BRASILEIRA............................................... 32.1. Conceito de cadeia produtiva..................................................................................................... 5 Principais aplicações do conceito de cadeia de produção....................................................... 7 As cadeias de produção como ferramentas de descrição técnico-econômica ......................... 72.2. Importância da cadeia produtiva da carne bovina ..................................................................... 92.3. Rebanho e abate de gado bovino no Brasil................................................................................ 133. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DA PECUÁRIA DE MATO GROSSO DO SUL ......................................... 163.1. Caracterização do problema....................................................................................................... 19 Justificativas ........................................................................................................................... 19 Objetivos................................................................................................................................. 20 Objetivos específicos .............................................................................................................. 21 Metodologia............................................................................................................................ 224. INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS .................................................................................................. 234.1. Instituições parceiras ................................................................................................................. 23 CAPÍTULO 2: BOVINOCULTURA DE CORTE: REGIÕES PRODUTIVAS E

SANITÁRIAS........................................................................................................................... 251. ASPECTOS GERAIS ...................................................................................................................... 251.1. Mercado interno ........................................................................................................................ 341.2. Mercado externo ........................................................................................................................ 351.3. Protecionismo ............................................................................................................................ 361.4. O mercado externo e a questão sanitária ................................................................................... 382. REGIONALIZAÇÕES PRODUTIVAS ................................................................................................ 382.1. Os sistemas de produção da atividade pecuária: cria, recria e engorda ..................................... 42 Cria ......................................................................................................................................... 43 Recria...................................................................................................................................... 43 Engorda................................................................................................................................... 433. AS REGIÕES SANITÁRIAS............................................................................................................. 443.1. Antecedentes históricos ............................................................................................................. 46 Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa .............................................................. 464. CIRCUITOS PECUÁRIOS ............................................................................................................... 484.1. Circuito Pecuário Sul................................................................................................................. 524.2. Circuito Pecuário Centro-Oeste ................................................................................................. 544.3. Circuito Pecuário Leste.............................................................................................................. 564.4. Circuito Pecuário Norte ............................................................................................................. 584.5. Circuito Pecuário Nordeste........................................................................................................ 605. CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO SEGUNDO O RISCO DE FEBRE AFTOSA;

ZONIFICAÇÃO ............................................................................................................................. 625.1. Resultados das regionalizações.................................................................................................. 656. ZONIFICAÇÃO EM VIGOR............................................................................................................. 686.1. Zona Infectada ........................................................................................................................... 726.2. Zona Tampão............................................................................................................................. 746.3 Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação ............................................................................. 766.4. Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.............................................................................. 806.5. Ampliação proposta para a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação ................................. 827. CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA DE BOVINOCULTURA NO CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE .. 84

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Distrito Federal ....................................................................................................................... 85 Goiás....................................................................................................................................... 87 Minas Gerais........................................................................................................................... 92 Mato Grosso ........................................................................................................................... 97 Mato Grosso do Sul ................................................................................................................ 102 Paraná ..................................................................................................................................... 110 São Paulo ................................................................................................................................ 116 Tocantins ................................................................................................................................ 1228. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE .................................... 1248.1. Ingresso de bovinos na Zona Livre ........................................................................................... 124 CAPÍTULO 3: A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DE MATO

GROSSO DO SUL................................................................................................................... 1271. MATO GROSSO DO SUL: ORIGEM E DESENVOLVIMENTO — UMA CONTEXTUALIZAÇÃO

HISTÓRICA .................................................................................................................................. 1272. UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO REGIONAL .................................................... 1292.1. Ocupação e desenvolvimento ...................................................................................................... 1292.2. Industrialização........................................................................................................................... 131 A primeira fase ........................................................................................................................ 132 A segunda fase........................................................................................................................ 134 O quadro atual ........................................................................................................................ 1363. BREVE HISTÓRICO SOBRE A PECUÁRIA NO MUNDO...................................................................... 1373.1. A pecuária no Brasil .................................................................................................................. 1384. EVOLUÇÃO DA BOVINOCULTURA SUL-MATO-GROSSENSE........................................................... 1404.1. A bovinocultura de corte e Mato Grosso do Sul........................................................................ 1415. A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DE MATO GROSSO DO SUL ........................................ 1465.1. Distribuição em São Paulo — Caracterização dos agentes........................................................ 146 Demanda por produtos agrários.............................................................................................. 1465.2. Tendências recentes do consumo de alimentos ......................................................................... 1475.3. Características da subcadeia A .................................................................................................. 152 As grandes redes e as marcas.................................................................................................. 153 Carne com osso....................................................................................................................... 153 Desconfiança: distribuidores e frigoríficos............................................................................. 154 Carne sem osso ....................................................................................................................... 154 Instabilidade contratual........................................................................................................... 155 Transporte............................................................................................................................... 155 Qualificação da mão-de-obra.................................................................................................. 156 Aumento da padronização da carne ........................................................................................ 1565.4. Características da subcadeia B................................................................................................... 157 Consumidores ......................................................................................................................... 158 Atacado................................................................................................................................... 158 Qualidade e preço ................................................................................................................... 158 Corretores e “truckeiros” ....................................................................................................... 159 Varejo ..................................................................................................................................... 1605.3. Características da subcadeia C................................................................................................... 160 Abate clandestino ................................................................................................................... 1615.4. Distribuição da carne bovina no Rio de Janeiro ........................................................................ 1625.5. Agentes coordenadores da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil .................................... 1635.6. Exportações ............................................................................................................................... 1666. ABATE E PROCESSAMENTO DE CARNES EM MATO GROSSO DO SUL ............................................ 1696.1. Os frigoríficos sul-mato-grossenses na cadeia produtiva de carne bovina ................................ 170 Pertencer a um grande grupo .................................................................................................. 176 Diversificação das atividades ................................................................................................. 177 Ano de instalação e idade dos equipamentos.......................................................................... 178 Sobre o arrendamento ............................................................................................................. 178

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Abate para terceiros ................................................................................................................ 179 Formação do preço ................................................................................................................. 180 Comportamento estratégico .................................................................................................... 180 Carteira de produtos................................................................................................................ 181 Nível de concorrência ............................................................................................................. 182 Vantagens e desvantagens em relação à concorrência............................................................ 183 Mão-de-obra ........................................................................................................................... 184 Carne com osso e sem osso .................................................................................................... 185 Tratamento de resíduos........................................................................................................... 185 Condições de transporte do animal vivo................................................................................. 185 Condições de transporte da carne .......................................................................................... 186 Atributos de qualidade da carne após abate............................................................................ 186 Atributos de qualidade da matéria-prima (animal vivo) ......................................................... 187 Aquisição de matéria-prima (boi) .......................................................................................... 187 Pagamento da matéria-prima (boi) ......................................................................................... 187 Capital de giro necessário para a atividade............................................................................. 188 A indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul ....................................................................... 1896.2. Alíquotas de ICMS .................................................................................................................... 1907 PRODUTORES DE BOVINOS EM MATO GROSSO DO SUL ............................................................... 1917.1. Oferta de produtos agrários ....................................................................................................... 192 Estacionalidade na pecuária de corte ...................................................................................... 192 A oferta de produtos agrários e a incerteza............................................................................. 1937.2. Produtores de bovinos de Mato Grosso do Sul.......................................................................... 194 Patrimônio .............................................................................................................................. 194 Faturamento ............................................................................................................................ 194 Produtores............................................................................................................................... 195 Empregos diretos e indiretos .................................................................................................. 195 Dimensão da atividade............................................................................................................ 1957.3 Regionalização da bovinocultura em Mato Grosso do Sul........................................................ 1967.4 Constatações da pesquisa junto aos produtores rurais ............................................................... 202 Gestão da propriedade ............................................................................................................ 202 Aspectos culturais................................................................................................................... 203 Nível tecnológico.................................................................................................................... 204 Qualidade da mão-de-obra...................................................................................................... 205 Relação com o frigorífico ....................................................................................................... 206 Crédito .................................................................................................................................... 207 Tendência do crédito .............................................................................................................. 209 Problemas mais relevantes...................................................................................................... 2107.5. Custo de produção ..................................................................................................................... 211 CAPÍTULO 4: CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS DE POLÍTICAS

PÚBLICAS ............................................................................................................................... 2181. CARACTERÍSTICAS DOS MERCADOS AGRÁRIOS ........................................................................... 2182. FORMAÇÃO DOS PREÇOS............................................................................................................. 2193. ASPECTOS LOGÍSTICOS E TECNOLÓGICOS PARA OS MERCADOS INTERNO E EXTERNO .................. 2264. BOVINOCULTURA DE CORTE E TECNOLOGIA ............................................................................... 2275. BOVINOCULTURA DE CORTE E A QUESTÃO AMBIENTAL .............................................................. 2296. AGROPOLOS................................................................................................................................ 2337. CLUSTERS................................................................................................................................... 2348. INDICADORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS ....................................................................................... 2399. QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA.............................................................................................. 23910. SUSTENTABILIDADE DA CADEIA ................................................................................................. 24011. GESTÃO DA INFORMAÇÃO........................................................................................................... 24112. VALORIZAÇÃO DA CARNE DE MATO GROSSO DO SUL................................................................. 24112.1. Melhoria de qualidade da carne e subprodutos.......................................................................... 242

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13. INTERLOCUÇÃO DE INSTITUIÇÕES DA CADEIA............................................................................. 243 Bibliografia............................................................................................................................... 248 Anexos....................................................................................................................................... 258

FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS

FIGURAS Figura 1.1. Cadeia produtiva da carne bovina .................................................................................. 4Figura 2.1. Classificação de países quanto ao status sanitário concernente à febre aftosa. 2000 ..... 28Figura 2.2. Classificação de países sul-americanos quanto ao status sanitário concernente à

febre aftosa. 2000 ........................................................................................................... 30Figura 2.3. Rebanhos bovinos por região. Brasil, 1999.................................................................... 33Figura 2.4. Regionalização por homogeneidade de produção .......................................................... 40Figura 2.5. Regionalização por fases de produção ........................................................................... 41Figura 2.6. Divisão do Brasil em circuitos pecuários, 1999 ............................................................. 50Figura 2.7. Circuito Pecuário Sul. 1999............................................................................................ 53Figura 2.8. Circuito Pecuário Centro-Oeste. 1999............................................................................ 55Figura 2.9. Circuito Pecuário Leste. 1999 ........................................................................................ 57Figura 2.10. Circuito Pecuário Norte. 1999........................................................................................ 59Figura 2.11. Circuito Pecuário Nordeste. 1999................................................................................... 61Figura 2.12. Esquema do fluxo de funcionamento do sistema de atenção e vigilância sanitária

animal. Brasil, 1999........................................................................................................ 66Figura 2.13. Zonificação do Brasil: áreas Infectadas, Tampão e Livres de Febre Aftosa. 2000 ........ 70Figura 2.14. Distribuição dos postos fixos de controle e fiscalização do trânsito de animais e seus

produtos e subprodutos. 2000......................................................................................... 71Figura 2.15. Zona Infectada. 2000...................................................................................................... 73Figura 2.16. Zona Tampão. 2000........................................................................................................ 75Figura 2.17. Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação. 2000 ........................................................ 78Figura 2.18. Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. 2000 ........................................................ 81Figura 2.19. Proposta de ampliação da Zona Livre. Evolução para 2001 .......................................... 83Figura 2.20. Distrito Federal............................................................................................................... 86Figura 2.21. Distribuição dos frigoríficos de Goiás............................................................................ 89Figura 2.22. Trânsito de bovinos. Goiás, 1997 ................................................................................... 91Figura 2.23. Distribuição dos frigoríficos de Minas Gerais. 1999...................................................... 94Figura 2.24. Trânsito de bovinos. Minas Gerais, 1997....................................................................... 96Figura 2.25. Distribuição dos frigoríficos de Mato Grosso. 1999 ...................................................... 99Figura 2.26. Trânsito de bovinos. Mato Grosso, 1997........................................................................ 101Figura 2.27. Distribuição dos frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999 .......................................... 105Figura 2.28. Trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1997 ............................................................ 109Figura 2.29. Distribuição dos frigoríficos no Paraná. 1999................................................................ 113Figura 2.30. Trânsito de bovinos. Paraná, 1997 ................................................................................. 115Figura 2.31. Distribuição dos frigoríficos em São Paulo.................................................................... 119Figura 2.32. Trânsito de bovinos. São Paulo, 1997 ............................................................................ 121Figura 2.33. Trânsito de bovinos. Tocantins, 1997............................................................................. 123Figura 3.1. Localização geográfica de Mato Grosso do Sul ............................................................. 128

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Figura 3.2. Recursos naturais de Mato Grosso do Sul ...................................................................... 145Figura 3.3. Subcadeias da distribuição da carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo............. 151Figura 3.4. Subcadeia A da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo .......... 152Figura 3.5. Subcadeia B da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo........... 157Figura 3.6. Subcadeia C da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo........... 160Figura 3.7. Bacias da pecuária de corte de Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e

capacidades de abate por dia. 1999 ................................................................................ 168Figura 3.8. Subcadeias da indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul ........................................... 172Figura 3.9. Características da subcadeia A da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e

distribuição em São Paulo .............................................................................................. 173Figura 3.10. Características da subcadeia B da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e

distribuição em São Paulo .............................................................................................. 174Figura 3.11. Características da subcadeia C da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e

distribuição em São Paulo .............................................................................................. 175Figura 3.12. Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços

médios da terra. 1999 ..................................................................................................... 197Figura 3.12. Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços

médios da terra. 1999 ..................................................................................................... 222Figura 4.2. Safra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense.

Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Janeiro de 1999........... 223Figura 4.3. Entressafra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-

grossense. Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Setembro de 1999 ........................................................................................................................... 224

Figura 4.4. Manejo do complexo solo-planta-animal, suas inter-relações e seus efeitos sobre a sustentabilidade do sistema de produção........................................................................ 231

Figura 4.5. Análise da competitividade da agroindústria brasileira. A definição de um cluster....... 235Figura 4.6. Análise da competitividade da agroindústria brasileira: Etapas de desenvolvimento

de um cluster .................................................................................................................. 237Figura 4.7. Análise da competitividade da agroindústria brasileira: a concepção do

desenvolvimento integrado do cluster ............................................................................ 238Figura 4.8. A cadeia produtiva da carne bovina e a atual estrutura burocrática institucional........... 245Figura 4.9. Conselho da cadeia produtiva da carne bovina .............................................................. 246 GRÁFICOS Gráfico 1.1. Locais de venda da carne bovina na cidade de São Paulo.............................................. 8Gráfico 1.2. Variação de abate, 1990-2000 ........................................................................................ 16Gráfico 1.3. Evolução do rebanho bovino, 1991-1999....................................................................... 17Gráfico 2.1. Rebanho bovino brasileiro, por região. 2000 ................................................................. 45Gráfico 2.2. Focos de febre aftosa. Brasil, 1990-1999 ....................................................................... 67Gráfico 2.3. Evolução da saída de bovinos de Mato Grosso do Sul com destino a São Paulo.

1996-98........................................................................................................................... 108Gráfico 3.1. Terras de pastagens. Preços médios de Mato Grosso do Sul. 1991-99 .......................... 199Gráfico 3.2. Terras de pastagens. Preços médios na Região Centro-Oeste. 1991-99......................... 199Gráfico 3.3. Variação dos preços em dólares das terras de pastagem no Brasil. 1998-99.................. 200Gráfico 3.4. Agregação de valor anual ............................................................................................... 214Gráfico 3.5. Lucro anual por fases de produção e grau tecnológico .................................................. 214Gráfico 3.6. Margem bruta anual por fase de produção e grau tecnológico....................................... 215Gráfico 3.7. Taxa interna de retorno por fase de produção e grau tecnológico anual ........................ 215

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QUADROS Quadro 2.1. Atributos considerados para classificação das unidades federativas em seis níveis de

risco. 1996 ...................................................................................................................... 64Quadro 2.2. Classificação das unidades da federação segundo o risco de febre aftosa. Novembro

de 2000 ........................................................................................................................... 65Quadro 3.1. Novos tempos na pecuária de corte brasileira ................................................................ 196 TABELAS Tabela 1.1. A bovinocultura de corte no Brasil................................................................................. 12Tabela 1.2. Rebanho e abate gado bovino no Brasil, 1999 ............................................................... 14Tabela 1.3. Evolução do rebanho bovino, 1991-1999....................................................................... 17Tabela 1.4. Produção de carne bovina em Mato Grosso do Sul........................................................ 19Tabela 2.1. Rebanho e abate mundial de gado bovino. 1999 ............................................................ 31Tabela 2.2. Efetivo animal das principais espécies suscetíveis à febre aftosa, por região. 1999 ...... 45Tabela 2.3. Área geográfica, total de propriedades com bovinos e população bovina existente

nos Circuitos Pecuários brasileiros. 1998....................................................................... 52Tabela 2.4. Notificações de suspeitas de doenças vesiculares, por regiões geográficas e por

circuitos pecuários. 1995-99........................................................................................... 68Tabela 2.5. Zona Tampão: áreas e efetivos bovinos e suínos em municípios limítrofes à Zona

Infectada e municípios de Mato Grosso do Sul .............................................................. 76Tabela 2.6. Informações sobre área, total de municípios e rebanhos bovino e suíno, Zona Livre

com Vacinação. 1999 ..................................................................................................... 77Tabela 2.7. Indústria frigorífica de carnes na Zona Livre com Vacinação. 1999 ............................. 79Tabela 2.8. Circuito Pecuário Centro-Oeste: informações gerais ..................................................... 84Tabela 2.9. Indicadores básicos da pecuária de corte em Goiás. 1999.............................................. 87Tabela 2.10. Frigoríficos em Goiás. 1999 ........................................................................................... 88Tabela 2.11. Trânsito de animais (entradas e saídas). Goiás, 1997..................................................... 90Tabela 2.12. Indicadores básicos da pecuária de corte de Minas Gerais. 1999................................... 92Tabela 2.13. Frigoríficos de Minas Gerais .......................................................................................... 93Tabela 2.14. Trânsito de animais (entradas e saídas). Minas Gerais, 1997......................................... 95Tabela 2.15. Indicadores básicos da pecuária de corte de Mato Grosso. 1999 ................................... 97Tabela 2.16. Frigoríficos de Mato Grosso. 1999................................................................................. 98Tabela 2.17. Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso, 1997 ......................................... 100Tabela 2.18. Indicadores básicos da pecuária de corte. Mato Grosso do Sul, 1999............................ 102Tabela 2.19. Frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999 .................................................................... 104Tabela 2.20. Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso do Sul, 1997 .............................. 106Tabela 2.21. Evolução do trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1996-99 ................................... 106Tabela 2.22. Trânsito de bovinos com origem em Mato Grosso do Sul e destino a São Paulo.

1996-98........................................................................................................................... 107Tabela 2.23. Indicadores básicos da pecuária de corte. Paraná, 1999................................................. 111Tabela 2.24. Frigoríficos do Paraná. 1997 .......................................................................................... 112Tabela 2.25. Trânsito de animais (entradas e saídas). Paraná, 1997 ................................................... 114Tabela 2.26. Indicadores básicos da pecuária de corte de São Paulo. 1999........................................ 116Tabela 2.27. Frigoríficos de São Paulo. 1999 ..................................................................................... 117Tabela 2.28. Trânsito de animais (entrada e saída). São Paulo, 1997 ................................................. 120Tabela 2.29. Trânsito de animais (entradas e saídas). Tocantins, 1997 .............................................. 122Tabela 2.30. Entrada de bovinos em DF, GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da

Zona Livre com Vacinação. 1997 .................................................................................. 125Tabela 2.31. Entrada de bovinos em GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da Zona 125

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Livre com Vacinação. 1998............................................................................................Tabela 3.1. Setor frigorífico de Mato Grosso do Sul. 1999 .............................................................. 170Tabela 3.2. Classificação dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul ................................................... 171Tabela 3.3. Comparações entre os estados produtores de carne bovina do Circuito Pecuário

Centro-Oeste................................................................................................................... 191Tabela 3.4. Terras de pastagem brasileiras. Preços médios anuais em dólares. 1991-99.................. 201Tabela 3.5. Custos de produção em propriedade sul-mato-grossense de nível tecnológico médio.

Fase de produção: cria .................................................................................................... 212

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1

CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO E OBJETIVOS DA PESQUISA

1. INTRODUÇÃO

A pecuária bovina de corte brasileira formou-se e desenvolveu-se ao longo da

história do país com base na ocupação territorial das diversas regiões, como forma de

abastecer os centros consumidores constituídos pelos centros urbanos em surgimento e

desenvolvimento.

No século XX, a região Sudeste passou a se constituir no principal centro

econômico do país, demandando, de diversas regiões, mercadorias diversas, dentre as

quais os derivados da carne.

No caso da carne, verificou-se inicialmente uma estruturação da indústria

frigorífica, concentrada especialmente no estado de São Paulo, o maior centro

consumidor do país. A região Centro-Oeste, dada a abundância e preço mais acessível

da terra, constituía-se na principal fornecedora de animais para abate em São Paulo.

As transformações atuais da bovinocultura de corte brasileira estão

preponderantemente afeitas às questões sanitárias, mas não se restringem elas. Na

verdade, com a abertura dos mercados, a reestruturação alcança inúmeros setores da

economia brasileira. No caso da bovinocultura, as alterações envolvem desde o acesso a

insumos importados, trazendo maior modernidade da porteira para dentro, quanto

questões macroeconômicas. De fato, a partir de 1994, com o Plano Real, a redução do

processo inflacionário tornou mais transparentes os ganhos efetivamente operacionais

da atividade pecuária.

No campo das transformações cabe destacar, ainda, a reestruturação espacial

que atingiu a atividade, com o deslocamento crescente das principais plantas do

Sudeste, e/ou partes delas, para as regiões produtoras, especialmente a Centro-Oeste,

configurando uma reestruturação espacial-produtiva.

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2

Consideram-se também, neste trabalho, as novas exigências de padronização

exigidas pelo mercado internacional de carnes, tanto in natura, quanto industrial. Leva-

se em conta, além disso, teorias e/ou abordagens que se constituem em contribuições

marcantes para a compreensão e desenvolvimento da bovinocultura de corte brasileira.

Nos anos 90 percebemos um intenso deslocamento da indústria frigorífica para

a região Centro-Oeste, fato que vem alterando sobremaneira a regionalização da

atividade pecuária brasileira.

O rebanho bovino brasileiro é estimado pelo IBGE em 165 milhões de cabeças.

Embora o maior rebanho comercial do mundo, este teve, historicamente, sua produção

preponderantemente voltada para o mercado interno, com inserções inexpressivas no

mercado externo. Constitui-se numa cadeia produtiva estruturada a partir das demandas

do mercado interno.

Hoje, no entanto, através do Programa Nacional de Erradicação da Febre

Aftosa do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAA), o Brasil busca

preparar seu rebanho para a obtenção da Certificação de Zona Livre de Aftosa, fato que

permitirá o acesso aos mercados internacionais de forma mais efetiva e definitiva,

trazendo maiores lucros e dividendos. A previsão é de que o Brasil venha ser

considerado em sua totalidade como país da Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação

até 2005, e sem vacinação até 2010. Com um rebanho 157 milhões de cabeças

ingressando no mercado internacional com Certificação de Zona Livre de Febre Aftosa,

o país passará a representar quase 40% do rebanho mundial (de 400 milhões de cabeças)

certificado como livre de febre aftosa, com grandes vantagens comparativas em relação

aos principais países produtores, entre os quais se destacam Estados Unidos, Austrália,

Nova Zelândia e Argentina.

Entretanto, pelo fto de nossa cadeia produtiva da pecuária de corte haver-se

estruturado para o mercado interno, sem muitas preocupações competitivas, apresenta-

se ela relativamente desintegrada e descoordenada, o que aumenta sobremaneira os

custos de produção e transação, acarretando elevados ônus ao consumidor final e, em

conseqüência, aos agentes envolvidos nessa cadeia.

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3

Mato Grosso do Sul, além de contar com o maior rebanho de gado de corte do

país, é o segundo maior produtor de carne bovina do Brasil e o primeiro fornecedor de

carne com Sistema de Inspeção Federal (SIF) para o estado de São Paulo. Em 1999, os

cinco maiores frigoríficos exportadores do país estavam presentes em seu território.

Frente a esse quadro e diante da necessidade de aumentar os índices de

produtividade e competitividade da cadeia produtiva da bovinocultura sul-mato-

grossense, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, através de sua Secretaria de

Fazenda, contratou junto ao Departamento de Economia e Administração (DEA) da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) um diagnóstico e análise que

permitam dar subsídios a uma política pública para a cadeia produtiva da pecuária de

corte estadual.

2. CADEIA PRODUTIVA DA BOVINOCULTURA DE CORTE BRASILEIRA

A análise, baseada na metodologia das cadeias de produção, permitirá ver o

comportamento das atividades envolvidas nas diversas etapas da cadeia produtiva,

demonstrando os vários entrelaçamentos entre produtores e consumidores. No caso da

carne bovina, temos, entre os agentes mais expressivos: a produção de insumos, os

produtores de bovinos, os abatedouros e frigoríficos e a rede atacadista e varejista.

A Figura 1.1 ilustra os principais elos da cadeia produtiva da carne bovina.

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Figura 1.1 – Cadeia produtiva da carne bovina.

Fonte: BATALHA e SILVA (1999b).

FATORES SOCIAIS

FATORES INSTITUCIONAIS

FATORES TECNOLÓGICOS

FATORES AMBIENTAIS

FLU

XO

FIN

AN

CEI

RO

FATORES LEGAIS

MECANISMOS DE

COORDENAÇÃO

FATORES DE INFRA-

ESTRUTURA

FATORES ECONÔMICOS

FLU

XO

FÍSI

CO

FLU

XO

DE

INFO

RM

ÃO

PRODUÇÃODE INSUMOS

MERCADO

PROD. DE MATÉRIA-

PRIMA

MERCADO

AGRO- INDÚSTRIA

MERCADO

DISTRIBUIÇÃO

CONSUMIDORFINAL

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5

2.1. CONCEITO DE CADEIA PRODUTIVA

Várias abordagens têm sido utilizadas para a análise das atividades econômicas

e para a definição de políticas públicas e privadas pertinentes.

A maioria delas, contudo, concentra seus esforços em uma análise pontual dos

diversos fatores que condicionam as questões relativas a uma maior competitividade das

atividades econômicas, sem porém proporcionar uma visão mais ampla e completa.

Este projeto propõe-se a utilizar como ferramental de análise o conceito de

cadeia produtiva, tradicionalmente utilizado na análise de complexos alimentares, para

dar subsídios à elaboração de políticas (públicas ou privadas), no âmbito de uma visão

sistêmica e integrada para Mato Grosso do Sul.

A análise de cadeias de produção é uma das ferramentas privilegiadas da escola

francesa de economia industrial. BATALHA1 “Embora o conceito de filière não tenha

sido desenvolvido especificamente para estudar a problemática agroindustrial, foi entre

os economistas agrícolas e pesquisadores ligados aos setores rural e agroindustrial, que

ele encontrou seus principais defensores”. MORVAN2, procurando sintetizar e

sistematizar essas idéias, considerou três séries de elementos que estariam

implicitamente ligados a uma visão sobre cadeia de produção:

a) A cadeia de produção é uma grande sucessão de operações de transformação

dissociáveis, capazes de serem separadas e ligadas entre si por um encadeamento

técnico.

b) A cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e financeiras

que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, de

montante a jusante, entre fornecedores e clientes.

c) A cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que presidem a valoração

dos meios de produção e que asseguram a articulação das operações. De maneira

geral, uma cadeia de produção agro-industrial pode ser segmentada, de jusante a

1 BATALHA, Mário O. (Coord.) Gestão agroindustrial. São Paulo: Atlas, 1997. 2 MORVAN, Y. Fondements d'Economie Industrielle. Paris: Economica, 1988.

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montante, em três macrossegmentos. Em muitos casos práticos, os limites dessa

visão não são facilmente identificáveis. Além disso, essa divisão pode variar muito

segundo o tipo de produto e o objetivo da análise. Os três macrossegmentos

propostos são a comercialização, a industrialização e a produção de matérias-

primas:

• A comercialização é representada pelas empresas que estão em contato com o

cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos

produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, cantinas etc.). Podem ser

incluídas neste macrossegmento as empresas responsáveis somente pela logística de

distribuição.

• A industrialização é constituída pelas firmas responsáveis pela transformação das

matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor, o qual pode ser uma

unidade familiar ou outra agroindústria.

• A produção de matérias-primas reúne as firmas e produtores rurais que fornecem as

matérias-primas iniciais para que outras empresas avancem no processo de produção

do produto final (agricultura, pecuária, pesca, piscicultura etc.).

Um dos principais aspectos assumidos pelo modelo apresentado é o caráter

mesoanalítico e sistêmico dos estudos em termos de cadeia de produção, que leva em

conta a intermediação entre os diversos agentes que compõem a cadeia, bem como uma

análise que identifique sua dinâmica.

A mesoanálise encontrou nos economistas industriais seus principais

defensores e utilizadores. Ela foi proposta para preencher a lacuna existente entre os

dois grandes corpos da teoria econômica: a microeconomia, que estuda as unidades de

base da economia (a empresa, o consumidor etc.) — que utiliza as partes para explicar o

todo —, e a macroeconomia, que parte do todo (o Estado, os grandes agregados etc.)

para explicar o funcionamento das partes. Nesse sentido, um enfoque mesoanalítico

permite dar respostas às questões sobre o processo de adoção de políticas ambientais

por parte das empresas, bem como sobre o processo de regulamentação específica por

parte do poder público.

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7

PRINCIPAIS APLICAÇÕES DO CONCEITO DE CADEIA DE PRODUÇÃO

A literatura aponta quatro principais utilizações para o conceito de cadeia de

produção:

a) a formulação e análise de políticas públicas e privadas;

b) ferramenta de descrição técnico-econômica;

c) metodologia de análise do comportamento das empresas;

d) ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisões

tecnológicas.

Segundo PINAZZA e ALIMANDRO3, “A tomada do fio condutor está nos

elos da cadeia mais próximos dos consumidores finais, onde há maior facilidade e

sensibilidade para captar volatilidade de seus desejos e preferências. São os pontos que

sinalizam o início do caminho a ser percorrido.” (PINAZZA e ALIMANDRO, 1999a, p.

32).

AS CADEIAS DE PRODUÇÃO COMO FERRAMENTAS DE DESCRIÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA

A cadeia de produção como conjunto de operações técnicas constitui a

definição mais imediata e mais conhecida do conceito. Esse enfoque consiste em

descrever as operações de produção responsáveis pela transformação da matéria-prima

em produto acabado. Segundo essa lógica, uma cadeia de produção se apresenta como

uma sucessão linear de operações técnicas de produção e distribuição.

Cabe ressaltar que a leitura tecnológica da cadeia produtiva pode apontar

vários elementos de caráter operacional em relação direta com as questões referentes ao

meio ambiente. Tais elementos devem ser constantemente monitorados, tanto pelas

3 PINAZZA, Luiz A.; ALIMANDRO, Regis. Impacto das revoluções tecnológicas na agricultura. In: PINAZZA, Luiz A.; ALIMANDRO, Regis. (Orgs.) Reestruturação no agribusiness brasileiro: agronegócios no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Abag, Agroanalysis/Fundação Getúlio Vargas, 1999.

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empresas como pelo governo e sociedade, de forma a assegurar sua interação

harmoniosa com o meio ambiente.

Destacamos que a metodologia de análise baseada nas cadeias produtivas

pauta-se de forma crescente numa importância cada vez maior do papel dos

consumidores, que se tornam cada vez mais exigentes, fazendo-se expressar

especialmente a partir dos supermercados ou nas chamadas boutiques de carnes.

No Gráfico 1.1 evidencia-se que 53% do comércio de carnes do país já é

realizado em híper e supermercados, com tendência ao crescimento, sobretudo pela

aumento constante da importância pelas grandes redes de supermercados. Os açougues,

que no passado praticamente dominavam a comercialização de carnes para os

consumidores finais, tendem cada vez mais à especialização, não mais se restringindo à

simples desossa e comercialização de carnes, mas ampliando tais atividades de forma

mais seletiva e segmentada junto aos consumidores.

Gráfico 1.1 – Locais de venda da carne bovina na cidade de São Paulo.

Fonte: BUSO, 2000.

44%

41%

9% 2% 4% 1%

Supermercado Açougues Hipermercados Mercadinhos Mercado Outros

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2.2. IMPORTÂNCIA DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA

A cadeia produtiva da pecuária de corte bovina brasileira é uma das mais

complexas quanto à estruturação e aos agentes envolvidos, cumprindo ao longo da

história e do desenvolvimento brasileiros um papel fundamental, abastecendo sobretudo

os centros urbanos em formação nas diversas regiões do país.

As variáveis descritas a seguir, apesar do lapso de tempo decorrido desde seu

levantamento, dão indicativos claros da importância dessa cadeia para a economia

brasileira. A tendência é que tal cadeia tenha importância cada vez mais crescente em

nossa economia, a partir de uma maior agregação de valor interna. De acordo com

LAZZARINI e MACHADO FILHO4: “Toda esta cadeia produtiva, ou toda esta miríade

de cadeias, contribuiu, em 1992, com cerca de 30 bilhões de dólares ao PIB brasileiro.

Um razoável montante, envolvendo um sem-número de empresas e uma fatia

considerável da força de trabalho brasileira. Ao todo, são 900 mil pecuaristas de gado de

corte, ocupando 221 milhões de hectares e comportando um rebanho de 146 milhões de

cabeças; 742 indústrias de carnes e derivados; 99 indústrias de armazenagem; 55 mil

estabelecimentos no comércio varejista de carnes; 4 150 indústrias de calçados, só para

citar alguns agregados. Todas estas empresas empregaram, em 1993, cerca de 6,8

milhões de pessoas5”.

Analisando o desenvolvimento histórico da pecuária no Brasil, veremos que só

em poucas exceções ou momentos de crise internacional a carne brasileira alcançou de

forma significativa os mercados internacionais. De forma geral, a cadeia produtiva da

carne bovina esteve restrita ao mercado interno. Diversos determinantes podem explicar

tal processo, dentre os quais o modo de ocupação do território, a formação de grandes

regiões produtoras vinculadas ao mercado interno como fornecedoras — no início, de

charque para núcleos urbanos em formação e, posteriormente, de gado em pé para abate

nas regiões próximas aos centros urbanos.

4 LAZZARINI, Sérgio G.; MACHADO FILHO, Cláudio P. Sistema agroindustrial da carne bovina no Brasil: tendências para o próximo século. In: Revista Brasileira de Administração Contemporânea, 1 (10), 1995, ANPAD, p. 279.

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MAMIGONIAM6 ao abordar o processo de desenvolvimento da pecuária na

região Centro-Oeste demonstra a lógica voltada para o mercado interno: “A abertura das

fazendas de criação no sul de Mato Grosso no século XIX esteve ligada à expansão de

três áreas pecuárias distintas: norte de Mato Grosso, Minas Gerais e Rio Grande do Sul,

sendo a primeira responsável pelo povoamento do Pantanal, que passou a concentrar 2/3

do rebanho bovino mato-grossense, enquanto as correntes de Minas Gerais e do Rio

Grande do Sul desbravaram o planalto, os mineiros se localizando nos cerrados e os

gaúchos nos campos de Vacaria, no extremo sul” (MAMIGONIAM, 1986, p. 45).

Para o mercado externo, a venda da produção brasileira de carne bovina

sempre foi pouco significativa7. Historicamente, a produção do setor orienta-se

basicamente para o mercado interno. No entanto, dada sua extensão territorial e a

magnitude de seu rebanho, o Brasil, em 1999, foi o terceiro maior exportador de carne,

com 7,8% do comércio mundial, com 541 mil toneladas (carnes in natura e

industrializadas)8. Em 1993, o Brasil já exportava 450 mil toneladas, não tendo havido

portanto uma evolução muito significativa ao longo da última década. As importações

de carne ocorrem para atender a eventuais pressões de demanda, logo com

conseqüências sobre os preços e também por tipos de carnes não existentes no Brasil.

Ainda em termos internacionais, considerando-se o rebanho mundial de um

bilhão de cabeças e um abate estimado de 229 milhões de cabeças, o comércio mundial

de carne bovina deve chegar a somente 10% da produção global9. Com a intensificação

do comércio internacional e as perspectivas de ampliação dos mercados, em especial na

União Européia e Ásia, o Brasil espera ter vantagens comparativas significativas com a

bovinocultura, apesar das novas exigências do mercado. Como colocam DAVIES e

5 Segundo dados de 1993, obtidos de um estudo realizado por várias associações, sindicatos, institutos ligados ao agribusiness da carne e do couro, a partir de uma iniciativa do Conselho Nacional de Pecuária de Corte – CNPC. 6 MAMIGONIAM, Armen. Inserção de Mato Grosso ao mercado nacional e a gênese de Corumbá. GEOSUL, n. 1, p. 39-58, 1. sem. 1986. 7 Somente nos período da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais percebeu-se um maior fluxo comercial com o mercado externo. 8 ANUALPEC, FNP Consultoria & Comércio, São Paulo: Argos, 2000, p. 139. 9 Fontes: FNP, FAO e OIE.

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LESLIE10: “El mercado mundial de carnes tiende a dividirse entre los países

desarrollados que demandan cortes de carne diferenciados por calidad (tanto para la

carne de consumo directo como para fines industriales) y los países en desarrollo donde

el intercambio comercial se realiza mayormente por canales enteras. Los países

desarrollados son en su mayoría libres de fiebre aftosa y cuando se determinan los

efectos de la enfermedad sobre el comercio internacional resulta dificil separar el efecto

de los controles sanitarios de los efectos ocasionados por las políticas destinadas a

proteger la agricultura doméstica, e.g. tarifas, cuotas, intervenciones de compra,

subsidio a exportación y permisos de exportación” (DAVIES e LESLIE, 1996, p. 57).

A Tabela 1.1 apresenta dados gerais da pecuária de corte brasileira, em especial

a taxa de abate, desfrute, consumo, importações e exportações, permitindo observar a

insignificância das exportações em relação ao potencial considerável do mercado

externo.

Nos anos 90, o rebanho permaneceu praticamente estagnado, na faixa de 160

milhões de cabeças, com uma pequena evolução na taxa de abate de 18,2% para 20,1%,

muito aquém da média mundial, situada na faixa dos 30%.

Nosso consumo per capita situa-se hoje na faixa dos 40 kg, abaixo da

Argentina (65 kg) e dos Estados Unidos (43 kg), mas acima de países da União

Européia, como França (27 kg), Alemanha (15 kg) e Reino Unido (16 kg). No caso do

Brasil, a estabilidade econômica ou mesmo um pequeno aumento da renda das classes

mais baixas tornam-se perceptíveis no consumo de carnes.

Observou-se na última década uma certa estabilidade nos preços pagos por

arroba ao produtor, na faixa de US$ 20,00 a US$ 22,00.

10 DAVIES, G.; LESLIE, J. El impacto de la fiebre aftosa sobre el comercio y la economía mundial. In Conferencia internacional sobre perspectivas para la erradicacón de la fiebre aftosa en el siguiente milenio y su impacto en la seguridad alimentaria y el comercio: enfoque en las Américas. Brasília: OPS/OMS, FAO, OIE, 1996.

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Tabela 1.1 – A bovinocultura de corte no Brasil.

ANO 1991 1993 1995 1997 1999

REBANHO

Cabeças (milhões) 155,3 152,1 153,4 151,6 157,0

Produção de bezerros (milhões de cabeças) 31,0 29,9 33,0 32,2 34,8

PRODUÇÃO/ABATE

Cabeças (milhões) 28,2 29,7 31,6 31,2 31,6

Matrizes (%) 43,8% 48,1% 44,6% 44,8% 41,6%

Produção (milhares de toneladas em equivalentes-carcaça) 5 812 6 011 6 467 6 411 6 522

Taxa de abate (%) 18,2% 19,5% 20,6% 20,6% 20,1%

CONSUMO INTERNO

Milhares de toneladas em equivalentes-carcaça 5 585 5 608 6 301 6 236 6 023

Per capita (kg/hab./ano) 38,0 37,2 40,7 39,2 36,9

Porcentagem da produção 96,1% 93,3% 97,4% 97,3% 92,3%

EXPORTAÇÃO

Milhares de toneladas em equivalentes-carcaça 335 451,0 287,0 287,0 541,0

Valor (US$ milhares) 432 617 572 900 473 652 428 112 761 941

Porcentagem da produção 5,8% 7,5% 4,4% 4,5% 8,3%

IMPORTAÇÃO

Milhares de toneladas em equivalentes-carcaça 108 48 121 112 42

Valor (US$ milhares) 117 600 44 000 169 585 196 553 71 128

Porcentagem da produção 1,9% 0,8% 1,9% 1,7% 0,6%

ENGORDA INTENSIVA

Confinamento (milhares de cabeças) 785 810 1 240 1 590 1 555

Semiconfinamento (milhares de cabeças) 175 355 715 1 315 1 535

Pastagem de inverno (milhares de cabeças) 555 895 1 350 1 055 1 140

Total (milhares de cabeças) 1 515 2 060 3 305 3 960 4 460

PREÇO AO PRODUTOR

US$/arroba, São Paulo 20,1 20,9 26,2 24,4 18,6

POPULAÇÃO BRASIL

Milhões de habitantes 146,8 150,8 154,9 159,1 163,2

Fonte: FNP (2000) e IBGE.

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2.3. REBANHO E ABATE DE GADO BOVINO NO BRASIL

As alterações ocasionadas pela fertilidade do solo e preço da terra e mesmo as

condições das pastagens, juntamente com as readequações nas relações da cadeia

produtiva, fizeram com que o rebanho brasileiro ficasse relativamente estagnado em

tamanho, embora sua distribuição regional tenha se alterado.

A análise da distribuição regional do rebanho e abate denota uma maior

concentração do rebanho na região Centro-Oeste e, a partir de meados dos anos 90,

também uma maior concentração do abate nessa região.

Observa-se, assim, que as regiões Norte e Centro-Oeste do país concentram

47% do rebanho nacional, com praticamente 73 milhões de cabeças, constituindo as

regiões onde se encontram os maiores índices de crescimento desse rebanho. O rebanho

de São Paulo e do Rio Grande do Sul, históricos e tradicionais produtores da

bovinocultura de corte brasileira, estão relativamente estagnados ou mesmo em redução.

As altas de taxas de abate apresentadas por estados como São Paulo e Rio de

Janeiro devem-se ao fato de serem eles importadores de animais vivos de outras regiões

para engorda ou até mesmo para abate, o que faz seus índices de abate elevarem-se

muito acima da média nacional.

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Tabela 1.2 – Rebanho e abate gado bovino no Brasil, 1999.

Rebanho* Abate Regiões/Estados

Cabeças % Cabeças % **Taxa de abate

Norte 20 739 346 13,21% 2 846 149 9,00% 13,72%

RO 4 866 865 3,10% 649 904 2,06% 13,35%

AC 1 604 925 1,02% 135 962 0,43% 8,47%

AM 872 873 0,56% 411 583 1,30% 47,15%

RR 1 091 745 0,70% 68 392 0,22% 6,26%

PA 6 556 807 4,18% 901 076 2,85% 13,74%

AP 93 980 0,06% 10 600 0,03% 11,28%

TO 5 652 151 3,60% 668 632 2,11% 11,83%

Nordeste 23 860 476 15,20% 5 658 925 17,90% 23,72%

MA 4 365 902 2,78% 579 505 1,83% 13,27%

PI 1 723 482 1,10% 244 780 0,77% 14,20%

CE 2 415 383 1,54% 650 334 2,06% 26,92%

RN 996 421 0,63% 158 280 0,50% 15,88%

PB 1 332 300 0,85% 221 505 0,70% 16,63%

PE 2 003 488 1,28% 765 376 2,42% 38,20%

AL 994 874 0,63% 176 720 0,56% 17,76%

SE 939 459 0,60% 160 700 0,51% 17,11%

BA 9 089 167 5,79% 2 701 725 8,54% 29,72%

Sudeste 34 527 380 21,99% 8 261 166 26,12% 23,93%

MG 18 778 078 11,96% 2 809 787 8,89% 14,96%

ES 1 582 662 1,01% 365 434 1,16% 23,09%

RJ 1 471 719 0,94% 533 875 1,69% 36,28%

SP 12 694 921 8,09% 4 552 070 14,40% 35,86%

Sul 24 756 256 15,77% 5 944 403 18,80% 24,01%

PR 9 602 782 6,12% 2 293 832 7,25% 23,89%

SC 3 672 421 2,34% 883 817 2,79% 24,07%

RS 11 481 053 7,31% 2 766 754 8,75% 24,10%

Centro-Oeste 53 109 110 33,83% 8 911 218 28,18% 16,78%

MS 20 339 925 12,96% 3 184 109 10,07% 15,65%

MT 15 639 998 9,96% 2 643 846 8,36% 16,90%

GO 16 999 199 10,83% 3 014 709 9,53% 17,73%

DF 129 988 0,08% 68 554 0,22% 52,74%

Total 156 992 568 100,00% 31 621 861 100,00% 20,14%

* Efetivo do rebanho existente em 31 de dezembro de 1999. Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento. ** O cálculo da taxa de abate considerou não somente os animais produzidos dentro dos estados como também aqueles que ingressam de outros estados com destino ao abate. Fonte: FNP (estimativa), apud Anualpec (2000).

A conclusão preliminar torna-se mais transparente quando se analisa a do abate

entre 1990-1999 e se verifica que os índices de crescimento mais expressivos são os dos

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estados da Região Centro-Oeste, com destaque para Mato Grosso do Sul (17%), Mato

Grosso (77%) e Goiás (30%%). Tais índices de crescimento, quando comparados com

os de outros estados — especialmente São Paulo (7%) —, colaboram com uma maior

capacidade de abate instalada do Brasil (20%) e reafirmam o desenvolvimento da região

Centro-Oeste, que atrai não somente as fases de produção, mas também a de abate.

Após o intenso deslocamento do abate para as Regiões Centro-Oeste e Norte,

coube a São Paulo, num primeiro momento, um papel maior na desossa e na

distribuição, embora essa tendência venha sendo alterada pelos desdobramentos da

Portaria 14511, de 1º de setembro de 1998, versando sobre distribuição de carnes bovina

e bubalina no comércio de distribuição e varejistas, fazendo com que as próprias regiões

que abatem já realizem a desossa, que hoje é efetuada pelos distribuidores. A

consolidação dessa tendência verificou-se a partir das restrições impostas pelas

exigências sanitárias, quando o principal estado fornecedor, Mato Grosso do Sul

(incluído na Zona Tampão), passou a ter de enviar sua carne desossada para São Paulo

(Zona Livre), o que obrigou os locais de abate a realizarem a desossa.

11 A Portaria 145 exige que os frigoríficos, ao abaterem, já realizem a desossa. Essa portaria, embora editada em 1998, está entrando em vigor gradativamente a partir das maiores regiões metropolitanas do país.

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Gráfico 1.2 – Variação de abate, 1990-2000.

Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC 2000.

O Gráfico 1.2 ilustra a tendência de deslocamento da indústria frigorífica para

as regiões produtoras (Centro-Oeste e Norte), evidenciada pelo crescimento nos estados

de Rondônia (195%), Mato Grosso (92%), Goiás (29%) e Mato Grosso do Sul (67%)

entre os anos de 1990 a 1999. No mesmo período, o estado de São Paulo, onde ainda se

encontra a maior capacidade instalada da indústria frigorífica, cresceu somente 7%. O

abate acima expresso inclui, além do realizado sob SIF, aquele sob outras formas de

inspeção e mesmo o clandestino estimado. Se considerarmos somente o abate com SIF,

os índices de crescimento são superiores aos citados.

3. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DA PECUÁRIA DE MATO GROSSO DO SUL

Mato Grosso do Sul é um estado cuja a história e a economia apresentam-se

diretamente relacionadas com a bovinocultura de corte. A pecuária bovina do estado

conta atualmente com um efetivo bovino de 20 milhões cabeças, estagnado ao longo dos

anos 90. Tal situação pode ser explicada por diversos fatores, que serão analisados no

195%

92%67%

29%7%

0%

50%

100%

150%

200%

250%

RO MT MS GO SP

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decorrer desta pesquisa, com destaque para os preços das terras, as práticas de produção

antiquadas, a degradação das pastagens e a falta de uma política pública global para a

cadeia produtiva sul-mato-grossense.

Tabela 1.3 – Evolução do rebanho bovino, 1991-1999.

Estados 1991 1993 1995 1997 1999 Acréscimo

ou decréscimo no período

RO 2 995 308 3 419 673 3 900 433 4 224 138 4 666 865 56%

MT 11 200 909 12 655 183 14 241 168 14 702 719 15 539 678 39%

SP 12 344 014 12 362 028 12 474 270 12 317 098 12 699 721 3%

PR 9 624 020 9 744 721 9 877 517 9 587 113 9 812 703 2%

MS 20 325 980 20 388 793 19 823 567 19 041 141 20 032 867 –1%

GO 16 915 179 16 860 703 16 550 319 15 833 825 16 556 150 –2%

MG 22 220 510 20 600 653 20 026 964 19 139 181 19 778 078 –11% Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC 2000.

Gráfico 1.3 – Evolução do rebanho bovino, 1991-1999.

Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC 2000.

39%

3% 2%

-2%-1% -11%

56%

-20%

-10%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

RO MT SP PR MS GO MG

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Na Tabela 1.3 e no Gráfico 1.3, observamos que o crescimento da

bovinocultura de corte brasileira é significativo nos estados de Mato Grosso (39%) e

Rondônia (56%), sobretudo devido aos preços das terras e pela fertilidade das terras

novas preparadas para a ocupação com a bovinocultura de corte. Em Goiás, Mato

Grosso do Sul e mesmo Minas Gerais (Triângulo Mineiro), há possibilidades de

crescimento da atividade através do aumento dos rebanhos, mas com novas técnicas de

produção de gerenciamento da propriedade, como vamos detectar nesta pesquisa.

A bovinocultura praticada em Mato Grosso do Sul é bem heterogênea. De um

lado, tem-se a prática da criação intensiva, com bom nível tecnológico e alta

produtividade, mas com ela coexiste a criação extensiva, bastante primitiva, que

historicamente desenvolveu-se no Pantanal, onde, devido às condições geográficas

(cheias do Rio Paraguai e de vegetação) não recebeu alterações tecnológicas

significativas ao longo dos anos.

Os frigoríficos consolidaram-se significativamente no estado nos últimos anos,

especialmente os de São Paulo e Paraná, sobretudo por buscarem proximidade com a

matéria-prima e diminuição dos custos de transporte (em termos do frete e do desgaste

dos animais). Os números relativos ao abate de bovinos sob inspeção federal em Mato

Grosso do Sul são ilustrativos de tal movimento: entre os anos de 1975 e 1996 houve

um aumento de aproximadamente 900%; em números absolutos, houve um salto de

270 000 abates para 3 022 54612.

Os 33 frigoríficos existentes em abril de 2000 no estado encontram-se bem

distribuídos, favorecendo a realização e interiorização de todas as fases da produção

bovina. Esse quadro apresenta uma capacidade de abate de bovinos na faixa de 15 000

cabeças por dia, e os frigoríficos têm capacidade de desossa instalada. Enfatiza-se que a

capacidade de realização de desossa passou a ser, a partir de dezembro de 1999,

condição necessária para o envio da carne de Mato Grosso do Sul para São Paulo, o

principal mercado do produto.

12 Fonte: SIPA/DFA/MS, 2000.

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Tal capacidade instalada permitiria a Mato Grosso do Sul abater 4,5 milhões de

cabeças por ano, logo muito acima das 3,2 milhões abatidas em 1999. A indústria

frigorífica sul-mato-grossense, portanto, atua com aproximadamente 30% de capacidade

ociosa, mesmo com os recordes de abates verificados no primeiro semestre de 2000,

quando o abate médio mensal ficou situado na faixa de 220 mil cabeças por mês, acima

do abate médio mensal do ano de 1999.

Tabela 1.4 – Produção de carne bovina em Mato Grosso do Sul.

1991 1993 1995 1997 1999

541 634 613 482 670 986 647 576 648 218

Fonte: Elaborado a partir de dados do ANUALPEC (2000).

3.1. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

Mato Grosso do Sul ainda não tem identificados, de forma multidisciplinar, os

agentes econômicos e as atividades desenvolvidas pela cadeia produtiva da carne

bovina. Tal deficiência dificulta o estabelecimento de políticas eficientes públicas e

privadas, adequadas ao desenvolvimento sustentável e competitivo do estado e da

região.

JUSTIFICATIVAS

Desde sua criação, Mato Grosso do Sul não foi contemplado com um

planejamento sócio-econômico de longo prazo. A cada governo alteraram-se as políticas

de desenvolvimento e a priorização de obras, sem a preocupação com os efeitos que isso

pudesse trazer aos recursos naturais e, conseqüentemente, ao futuro da sociedade e da

atividade econômica do estado.

São diversas as razões que levam a essa falta de planejamento. Dentre elas,

destacam-se o desconhecimento da importância do planejamento quando exercido de

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maneira abrangente, e a falta quase absoluta de estudos econômicos e sociais sobre a

realidade estadual.

A economia de Mato Grosso do Sul baseia-se preponderantemente na pecuária

bovina de corte, atividade que deve receber, portanto, especial ênfase no planejamento

estadual.

Assim sendo, torna-se evidente a importância do conhecimento consistente e

sistemático sobre a cadeia produtiva da carne bovina no estado. Dada a complexidade e

o caráter sistêmico de tais estudos, a cadeia deve ser analisada sob seus aspectos

tecnológicos, sociais, econômicos e administrativo-gerenciais, determinantes da

competitividade da produção. Devem ser consideradas, inclusive, as grandes obras de

engenharia com influência direta na região (hidrovias, gasoduto, ferrovias), que estão

alterando a dinâmica da economia regional.

OBJETIVOS

O objetivo do presente estudo é oferecer ao Governo do Estado de Mato

Grosso do Sul e ao país um conjunto de informações para a orientação de políticas

públicas para a cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do Sul.

A análise da cadeia produtiva de carne bovina permitirá a visão global dos

sistemas de produção vigentes em Mato Grosso do Sul e evidenciará pontos que

demandem melhor articulação entre os agentes econômicos privados, o poder público e

os consumidores.

Utilizando-se o conceito de cadeias produtivas, pretende-se produzir um estudo

de base que permita ao Governo Estadual amparar a formulação de uma política pública

de desenvolvimento econômico que contemple as exigências de um mercado

globalizado, de uma sociedade cada vez mais consciente da importância da preservação

dos recursos naturais e mais exigente com relação ao binômio qualidade-preço dos

produtos. Por outro lado, este é um dos principais papéis que a Universidade deve

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desempenhar em sua missão de capacitar recursos humanos, produzir e disseminar

conhecimento para o desenvolvimento do estado e do país.

Objetivos específicos

a) Quantificação do custo da produção do gado bovino (na pecuária intensiva e na

extensiva) com os seguintes detalhamentos: quantificação de insumos, fertilizantes,

adubos, defensivos, máquinas e investimentos, e utilização de mão-de-obra, sendo

esta com o detalhamento de remuneração paga ao mercado rural.

b) Quantificação do custo da indústria da carne e dos subprodutos, com os

detalhamentos de custo de mão-de-obra, com e sem desossa, e rendimento dos

produtos resultantes do abate.

c) Identificação dos valores de comercialização de toda a cadeia produtiva e dos

percentuais de agregação desses valores, durante o período de um ano, a fim de

identificar a sazonalidade do setor.

d) Identificação da taxa de desfrute do gado bovino.

e) Análise da viabilidade econômica e da competitividade do setor.

f) Influência da infra-estrutura da dinâmica do setor.

g) Análise dos aspectos tecnológicos, sociais, econômicos e administrativo-gerenciais

do setor.

h) Identificação de macrocenários para o setor.

i) Orientações quanto à política pública para o desenvolvimento econômico do setor, e

seus reflexos no desenvolvimento do estado.

j) Quantificação dos reflexos econômico-tributários decorrentes das possíveis medidas

a serem implementadas.

k) Assessoria técnica sobre outros dados a serem levantados sobre a pesquisa e o

estudo.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a análise da cadeia produtiva da carne bovina em

Mato Grosso do Sul contou com uma visão sistêmica e multidisciplinar que articulasse

as contribuições advindas das diversas áreas de conhecimento em relação direta com a

cadeia produtiva. Essa abordagem possibilita as diversas leituras pertinentes, dentre as

quais podemos citar: leitura do fluxo produtivo, efetuada especialmente por

engenheiros, agrônomos e administradores; leitura econômica, efetuada por

economistas, administradores etc.; leitura dos impactos ambientais, realizada por

biólogos, agrônomos, engenheiros, químicos e ambientalistas, entre outros.

A pesquisa de fontes primárias foi desenvolvida a partir das informações

diretas obtidas através de entrevistas dirigidas aos principais agentes envolvidos. Estas

foram feitas com questionário estruturado de respostas preponderantemente fechadas.

Como a estrutura da cadeia de produção, processamento e distribuição, foi

analisada segundo os aspectos tecnológicos e econômicos envolvidos, buscou-se obter

elementos relativos às áreas de suprimento, produção, distribuição e análise dos

impactos.

A pesquisa de dados secundários priorizou informações e dados já levantados e

tratados na literatura.

Os impactos foram avaliados mediante o diagnóstico da estrutura de produção,

que tem como objetivo a identificação de incentivos e entraves encontrados na produção

de matérias-primas e no estabelecimento de políticas públicas.

Em um segundo momento, a análise foi estendida para as áreas de

processamento e intermediação comercial, quando foram identificados e analisados os

sistemas operacionais que atuam na interface entre os elementos que compõem a cadeia

produtiva. Neste caso, a coleta de dados deu-se também através de enquetes.

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4. INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS

A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) é a executora do

projeto, através e sob responsabilidade do Departamento de Economia e Administração

(DEA). O DEA/UFMS vem buscando maior aproximação com outras universidades,

entidades representativas das indústrias, empresas e instituições de pesquisa, e também

com a sociedade em geral.

Em 1996 o Departamento de Economia e Administração e departamentos

associados concluíram, com êxito, a pesquisa intitulada Plano de Conservação da Bacia

do Alto Paraguai – PCBAP, para o Ministério da Meio Ambiente, dos Recursos

Hídricos e da Amazônia Legal, com recursos financiados pelo Banco Mundial.

O Departamento de Economia e Administração vem também consolidando-se

em pesquisas da realidade regional nas mais diversas áreas. Nesse sentido, cabe destacar

as pesquisas: O trânsito de animais e a febre aftosa em Mato Grosso do Sul: uma

análise dos impactos econômicos e O trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito

Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos impactos econômicos.

O Departamento de Economia e Administração, além dos cursos de graduação

em Economia e Administração, desenvolve anualmente cursos de especialização em

Administração Gerencial, Marketing e Gestão de Organizações Públicas.

Para março de 2001 está previsto o início do Curso de Mestrado em

Desenvolvimento Regional.

4.1. INSTITUIÇÕES PARCEIRAS

Esta pesquisa foi realizada através de parcerias com diversas instituições, que

contribuíram em diversos itens do trabalho, bem como em momento distintos. Entre elas

temos: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Delegacia Federal

de Agricultura (DFA), Secretaria de Estado de Fazenda (SEFAZ), Secretaria de Estado

da Produção (SEPRODES), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de

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Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Banco do

Brasil.

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CAPÍTULO 2

BOVINOCULTURA DE CORTE:

REGIÕES PRODUTIVAS E SANITÁRIAS

1. ASPECTOS GERAIS

O desenvolvimento histórico da bovinocultura mundial conformou-se a partir

de regiões, dada a importância do gado como forma de deslocamento e também pela

alimentação e vestuário que seu abate fornece. Tal desenvolvimento ocorreu nas mais

diversas partes do mundo, ocupando e formando regiões. Por séculos, os animais

deslocavam-se sem maior controle e restrições, o que permitiu que a bovinocultura,

tanto de carne quanto de leite, se estendesse por amplas áreas do globo.

De meados do século XIX, considerando a dimensão e importância desses

deslocamentos e o aumento do significado econômico da atividade, as questões

sanitárias passaram a ser razão de preocupação, tanto para a saúde humana, quanto para

o próprio desenvolvimento e manutenção dos rebanhos bovinos.

É importante enfatizar que a expansão da bovinocultura de corte no Brasil se

deu, historicamente, a partir dos centros urbanos, com a ocupação territorial de regiões

próximas. Nos dias atuais, esse movimento permanece, embora com alterações e

complexidades, mas sua lógica é ainda a mesma. A bovinocultura de corte ainda tem a

sua expansão pautada na ocupação de terras, mesmo por que seu caráter é

predominantemente extensivo13.

A esse respeito, ANDRADE enfatiza: “Esta expansão foi muito favorecida

pelas condições naturais e econômicas. Do ponto de vista natural, o clima semi-árido

dificultava a proliferação de verminose e de epizootias; além disso, havia uma pastagem

natural boa para o gado, no período das chuvas, e ‘ilhas’ úmidas nas margens dos rios e

13 Há, em termos internacionais, preferência por animais de corte criados de maneira extensiva, dadas as questões da segurança alimentar relativas as possíveis complicações relacionadas com animais confinados. Veja-se o exemplo da doença da vaca louca na Europa.

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nas serras para onde ele poderia ser levado no período seco. Do ponto de vista

econômico, contavam os pecuaristas com um mercado certo na área agrícola, que seria

abastecido de carne, de couro e de animais de trabalho...” (ANDRADE, 1995, p. 46) 14.

Em outras palavras, de acordo com ASTUDILLO15, as manifestações de febre

aftosa vão ocorrer a partir das formas de organização da produção: “Neste estudo se

propõe uma metodologia para caracterizar o comportamento regional do endemismo da

febre aftosa e das formas de organização da produção pecuária. Apresentam-se

indicadores que vêm sendo desenvolvidos e aperfeiçoados já há algum tempo através de

suas utilizações em estudos concretos. Mostra-se a aplicação de técnicas estatísticas

multivariadas, tanto para delimitar regiões homogêneas como para avaliar a importância

relativa de fatores considerados explicativos. Aplica-se a metodologia à situação da

febre aftosa no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil” (ASTUDILLO, 1984, p. 11).

Na visão de ASTUDILLO há um sistema aberto, composto de aspectos

ecológicos, sociais, econômicos, culturais e técnicos com inter-relações entre si, os

quais se denominam: sistema de organização econômica da produção (subsistema de

sustentação natural, subsistema de fatores produtivos gerados pelo homem e subsistema

de relações de trabalho); sistema de demografia animal (tipos de exploração animal);

sistema ecológico da doença (manifestações ambientais especificas).

Com o propósito de controlar e mesmo erradicar doenças animais,

transmissíveis ou não, conta-se hoje com o Office International des Epizooties (OIE)

[Escritório Internacional de Epizootias]. Esse órgão, vinculado à Organização Mundial

do Comércio (OMC) e a outras instituições internacionais, trata dos aspectos da

sanidade animal em âmbito mundial. O OIE congrega 151 países-membros por adesão

e promove uma reunião anual ordinária em que trata, entre outras questões, da

concessão de certificação a países, regiões e zonas livres de febre aftosa. Cabe-lhe

também informar os governos sobre a presença e evolução de enfermidades animais no

mundo e as formas de combatê-las, coordenar internacionalmente estudos sobre a

14 ANDRADE, Manuel Correia de. A questão do território no Brasil. São Paulo, Hucitec, 1995. 15 ASTUDILLO, V. Formas de organização da produção como determinantes de risco de febre aftosa. A Hora Veterinária, n. 17, jan./fev. 1984.

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vigilância e controle das enfermidades animais e harmonizar as leis dos países membros

quanto à troca internacional de animais e produtos de origem animal.

A Figura 2.1 identifica os países-membros e/ou zonas com certificação

internacional de Zona Livre de Febre Aftosa com e sem Vacinação. Consideram-se os

demais países como infectados.

O rebanho bovino mundial é de um bilhão de cabeças. Destas, 280 milhões

compõem o rebanho indiano, que, por razões culturais e religiosas, não é

comercializável. Em termos comerciais, conta-se assim com 720 milhões de cabeças,

das quais somente 400 milhões apresentam as condições sanitárias propícias ao

comércio internacional, correspondentes à certificação de Zona Livre de Febre Aftosa,

com ou sem Vacinação.

Na América do Sul, cujo rebanho é de 250 milhões de cabeças, Uruguai,

Argentina, Chile, Paraguai, Colômbia e Brasil dispõem de programas que estão

apresentando resultados concretos no controle e erradicação da febre aftosa (Figura 2.2).

No caso do Brasil, é fundamental a aplicação de controle simultâneo nos países

limítrofes, dadas as nossas extensas fronteiras, em sua maioria secas, que abrem a

possibilidade de trânsito de animais sem adequado controle.

Page 40: Cadeia Carne Ms

28

Figura 2.1 – Classificação de países quanto ao status sanitário concernente à febre aftosa. 2000.

País-membro do OIE, Livre de Febre Aftosa com Vacinação.

País-membro do OIE, Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.

País-membro ou não da OIE, Infectado. País-membro do OIE, com Zonas Livres de Aftosa com e sem Vacinação

Fonte: OIE, 2000.

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29

Como mostra a Tabela 2.1, as taxas de abate na maioria dos continentes

superam em média 30% do rebanho, enquanto no Brasil essa taxa é de 20%. Isso

evidencia grandes oportunidades de negócios a advirem com a ampliação dos mercados.

Quanto aos preços médios internacionais de 1994-199716, verifica-se uma

variação significativa nas regiões com certificação de Zona Livre de Febre Aftosa, em

especial na União Européia (US$ 39,32), Estados Unidos (US$ 35,32), Argentina (US$

25,65, antes de passar a Zona Livre de Febre Aftosa) e Brasil (US$ 24,85). No Brasil,

conta-se com custos bastante inferiores aos de outros países, devido à abundância de

recursos naturais. A obtenção da certificação possibilitará alcançar preços maiores que

os atuais, e consideravelmente maiores que os hoje praticados no mercado interno, em

que a arroba é paga na faixa de US$ 20,00.

O Brasil é o único país-membro do OIE que obteve certificação de Zona Livre

separada em subzonas dentro do próprio território. Rio Grande do Sul e Santa Catarina

são os dois únicos estados certificados como livres de febre aftosa sem vacinação17,

enquanto São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal

obtiveram a certificação de livres de febre aftosa com vacinação.

16 Fonte: Anualpec, 1998. 17 O recente surgimento (setembro de 2000) de foco de febre aftosa no município de Jóia, RS — que se estendeu a alguns municípios vizinhos, obrigando à eliminação de mais de 20 000 animais infectados —, fez com que Rio Grande do Sul e Santa Catarina perdessem temporariamente essa condição, passando a constituir Zona em Saneamento (classificação não prevista pelas normas do OIE, mas aplicada pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento). Ao transcorrer um ano após a identificação do último foco da doença (normas do OIE), o Ministério pretende solicitar para ambos os estados a certificação de Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. Eventos como esse demonstram a alta velocidade das transformações no setor.

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Figura 2.2 – Classificação de países sul-americanos quanto ao status sanitário concernente à febre aftosa. 2000.

Fonte: OIE, 2000.

Brasil

Guiana Francesa Suriname

Guiana Venezuela

Bolívia

Paraguai

Argentina Uruguai

Ilhas Malvinas

País com regiões livres de febre aftosa com e sem vacinação

País livre de febre aftosa com vacinaçãoPaís livre de febre aftosa sem vacinação País infectado com febre aftosa

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Tabela 2.1 – Rebanho e abate mundial de gado bovino. 1999.

Continentes e países Rebanho

(milhões de cabeças)

% Abate

(milhões de cabeças)

% Taxa de abate

América do Norte 132 568 12,43% 49 350 23,18% 37,23%

Canadá 12 750 1,20% 3 825 1,80% 30,00%

México 23 223 2,18% 8 025 3,77% 34,56%

Estados Unidos 96 595 9,06% 37 500 17,61% 38,82%

Caribe 1 923 0,18% 320 0,15% 16,64%

América Central 7 855 0,74% 1 272 0,60% 16,19%

América do Sul 259 830 24,37% 53 190 24,98% 20,47%

Argentina 49 342 4,63% 13 100 6,15% 26,55%

Brasil1 157 887 14,81% 31 622 14,85% 20,03%

Colômbia 19 111 1,79% 3 698 1,74% 19,35%

Paraguai1 9 890 0,93% 1 320 0,62% 13,35%

Uruguai 10 700 1,00% 1 800 0,85% 16,82%

Venezuela 12 900 1,21% 1 650 0,78% 12,79%

União Européia 80 969 7,59% 27 571 12,95% 34,05%

Áustria 2 150 0,20% 706 0,33% 32,84%

Bélgica 3 150 0,30% 1 050 0,49% 33,33%

Dinamarca 1 960 0,18% 660 0,31% 33,67%

França 19 800 1,86% 5 640 2,65% 28,48%

Alemanha 14 574 1,37% 4 550 2,14% 31,22%

Grécia 666 0,06% 296 0,14% 44,44%

Irlanda 6 980 0,65% 1 939 0,91% 27,78%

Itália 7 280 0,68% 4 400 2,07% 60,44%

Holanda 4 100 0,38% 2 300 1,08% 56,10%

Portugal 1 199 0,11% 455 0,21% 37,95%

Espanha 6 150 0,58% 2 640 1,24% 42,93%

Reino Unido 11 350 1,06% 2 429 1,14% 21,40%

Europa Ocidental2 1 499 0,14% 767 0,36% 51,17%

Europa Oriental 11 626 1,09% 4 504 2,12% 38,74%

Polônia 6 400 0,60% 2 750 1,29% 42,97%

Romênia 3 060 0,29% 832 0,39% 27,19%

FSU 41 200 3,86% 18 555 8,72% 45,04%

Rússia 26 600 2,49% 11 200 5,26% 42,11%

Ucrânia 11 000 1,03% 5 595 2,63% 50,86%

Casaquistão 3 600 0,34% 1 760 0,83% 48,89%

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Oriente Médio 11 550 1,08% 4 254 2,00% 36,83%

Turquia 11 550 1,08% 4 150 1,95% 35,93%

África 19 940 1,87% 4 615 2,17% 23,14%

África do Sul 13 800 1,29% 2 600 1,22% 18,84%

Egito 6 140 0,58% 2 015 0,95% 32,82%

Ásia 462 205 43,35% 36 465 17,13% 7,89%

Índia 312 572 29,32% 12 750 5,99% 4,08%

China 133 000 12,47% 20 000 9,39% 15,04%

Japão 4 600 0,43% 1 315 0,62% 28,59%

Coréia do Sul 2 400 0,23% 1 130 0,53% 47,08%

Filipinas 5 492 0,52% 1 175 0,55% 21,39%

Tailândia 3 981 0,37% * * *

Oceania 35 010 3,28% 12 035 5,65% 34,38%

Austrália 25 900 2,43% 8 550 4,02% 33,01%

Nova Zelândia 9 110 0,85% 3 485 1,64% 38,25%

Total 1 066 175 100,00% 212 898 100,00% 19,97%**

* Dados não disponíveis. ** Taxa de abate média mundial. Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), apud Anualpec 2000. 1 Os números sobre o Brasil e o Paraguai são estimativas da FNP Consultoria e não obrigatoriamente iguais aos do USDA. 2 Suíça e Noruega.

A complexidade da atividade pecuária brasileira, dada sua grande diversidade e

dimensão, fez surgir estudos nas mais diversas áreas, objetivando o aumento da

produtividade nas propriedades e proporcionando a descoberta de novas tecnologias de

cruzamento industrial, manejo e pastagens, entre outras. Quanto à regionalização,

entretanto, há poucos estudos, até por tratar-se de um assunto mais recente,

especialmente quanto à sanidade animal, e sobretudo quanto aos circuitos pecuários,

graus de risco de febre aftosa, zonas livres e infectadas de febre aftosa. Nesse sentido

todas as formas de regionalização — geopolíticas, produtivas ou sanitárias — devem ser

analisadas de forma conjunta, por estarem intimamente relacionadas.

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Figura 2.3 – Rebanhos bovinos por região. Brasil, 1999.

Fonte: MAA, 2000.

20.739.346

23.860.476

24.756.256

34.527.380

53.109.110

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A Figura 2.3 mostra a distribuição do rebanho nacional em 1999, por região

geográfica. Como veremos adiante, os critérios adotados para estabelecer as formas de

regionalização se tornaram mais específicos: se no passado as regionalizações se faziam

pela mera ocupação de territórios, tendo como base o mercado interno e a formação e

desenvolvimento dos centros urbanos, a partir de meados dos anos 90 tal processo

passou a levar em conta outras variáveis, em especial a sanidade animal e os riscos de

contaminação dos rebanhos.

Nesse sentido, observamos que as regiões de ocupação recente com a pecuária

bovina trazem consigo novos elementos determinantes, em termos de novas formas de

gestão e organização da atividade. Nas áreas em que a ocupação pela bovinocultura de

corte ora se apresenta em curso, como Rondônia, Acre, Pará e mesmo Tocantins, ela

ainda se pauta nas vantagens comparativas dos recursos naturais, sobretudo as

pastagens, ainda que o processo também traga consigo novos elementos.

Os agentes dinâmicos desse processo são em geral fazendeiros de outros

estados, que dão à atividade um caráter mais empresarial, embora ainda existam formas

mais precárias de atuação.

Finalmente, deve-se enfatizar que a lógica dos processos de ocupação da

bovinocultura de corte brasileira esteve exclusivamente voltada para o mercado interno,

atendendo as demandas para transporte, roupas e alimentos associados à atividade.

Somente em momentos específicos e mais recentemente, a partir dos anos 90, foi que o

mercado internacional passou a se constituir num objetivo sólido, sistemático e

definitivo.

1.1. MERCADO INTERNO

Analisando o desenvolvimento histórico da pecuária no Brasil, veremos que só

em poucas exceções ou momentos de crise internacional a carne brasileira alcançou de

forma significativa os mercados internacionais. De forma geral, a cadeia produtiva da

carne bovina esteve restrita ao mercado interno. Diversos determinantes podem explicar

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tal processo, dentre os quais o modo de ocupação do território, a formação de grandes

regiões produtoras vinculadas ao mercado interno como fornecedoras — no início, de

charque para núcleos urbanos em formação e, posteriormente, de gado em pé para abate

nas regiões próximas aos centros urbanos.

A carne para o mercado interno teve papel significativo até os anos 90. De fato,

em 198618, observaram-se conflitos entre o governo e os pecuaristas em relação ao

abastecimento do mercado interno. Nesse ano, a questão não era relativa a mercados,

mas quanto ao preço pago aos animais pela indústria frigorífica, considerando o

tabelamento de preços imposto pelo Governo Federal.

Nos dias atuais, a produção do setor ainda é voltada para o mercado interno

(95% em 1999)19. No entanto, em virtude de sua extensão territorial e magnitude do

rebanho, o Brasil, em 1999, foi o quinto maior exportador de carne, atingindo uma fatia

de 6% do comércio mundial. Com as melhorias sanitárias, em especial quanto à febre

aftosa, a tendência é que nossa participação no mercado externo seja ampliada.

Sobre o mercado interno, é importante destacar que nosso potencial de

consumo é muito significativo, visto que o consumo per capita brasileiro é pouco

significativo, comparado ao de outros países. Além disso, a possibilidade de

crescimento da economia e o aumento de empregos podem fazer aumentar o consumo

por carne bovina no mercado interno. Nosso consumo per capita está na faixa de 40 kg,

mas é muito sensível ao aumento da renda. Por conseguinte, mantida a estabilidade

econômica ou alcançado o crescimento da economia, a tendência é de uma elevação

nesse consumo.

1.2. MERCADO EXTERNO

As tendências indicam uma abertura do comércio mundial, apesar das

dificuldades de ampliação de mercados para os produtos agrícolas. Em relação às 18 Durante o Plano Cruzado assistiu-se a um conflito na oferta de animais para o abate, dada a contrariedade dos pecuaristas em os oferecerem à indústria frigorífica.

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restrições externas, o Brasil caminha rumo à abertura comercial, tanto para produtos

industrializados quanto agrícolas. Os países, sem exceção, buscam adequar suas

estruturas para uma economia aberta, intensificando o comércio mundial.

A abertura dos mercados mundiais, acaba impondo, também, uma adequação à

produção interna para a crescente produção com maior valor agregado: “Do ponto de

vista do posicionamento estratégico e mercadológico, de empresas e países, é relevante

notar a expansão de quase cinco vezes no comércio de produtos processados de maior

valor agregado, em paralelo a um processo de declínio de participação dos bens in

natura nas transações globais. A análise da posição competitiva de um país no contexto

agroalimentar mundial tem que ser feita de modo segmentado, considerando-se cada

macroambiente representado pelas diversas categorias de alimentos, nos diversos países

e nas diversas condições sociais ou culturais. Todavia, o grande filão estará na categoria

dos processados, com renda sempre crescente e elevada participação no faturamento

global” (ZYLBERSZTAJN e JANK, 1996, p. 3) 20.

No caso específico da carne bovina, a partir da decretação da Zona Livre de

Febre Aftosa com Vacinação, dada pelo OIE em 1998 ao Circuito Pecuário Sul21,

nossas vendas internacionais aumentaram, batendo recorde em 1999. Apesar do

protecionismo da União Européia e Estados Unidos e das restrições sanitárias do Japão,

a tendência é que a carne bovina brasileira vá ocupando mais mercados, apesar de

incentivos e subsídios a produtores internacionais.

1.3. PROTECIONISMO

A luta contra o protecionismo está colocada em âmbitos de médio e longo

prazo. Apesar de todos os mecanismos de regulação existentes na Organização Mundial

19 Fonte: FNP e BACEN. 20 ZYLBERSZTAJN, Decio;JANK, Marcos S. Agribusiness e Mercosul: construindo um novo aparato institucional. Seminário Internacional PENSA 1996 – Gerenciamento de Conflitos nos Sistemas Agro-industriais. Canela (RS), 15-18 set. 1996. 21 Nesse ano, os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram decretados Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.

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do Comércio, as negociações entre os países são marcadas por dificuldades, sobretudo

na questão agrícola.

A complexidade que envolve a questão da proteção agrícola vai além das

relações entre os países e a proteção que dão a seus produtores. Os consumidores dos

países que usam mecanismos de proteção também já questionam tais políticas. “... Os

consumidores europeus estão cada vez mais contrários aos subsídios. Eles já sabem, e

sentem no próprio bolso, que a PAC inflaciona os preços dos alimentos que consomem.

Mas problemas como a doença da vaca louca, resistências contra a liberação de

produtos geneticamente alterados e críticas à industrialização da agricultura européia

contribuíram para a degeneração da imagem romântica da economia rural. O

consumidor europeu está cada vez mais contrário à agricultura intensiva patrocinada

pela PAC, que põe em risco sua saúde e o meio ambiente” (CHADDAD, LAZZARINI,

NEVES, 1999, p. 47).

Nos Estados Unidos já se verifica de forma crescente uma desregulamentação,

embora os interesses superem a simples busca do livre mercado. O fato é que a suposta

desregulamentação da agricultura norte-americana não é simplesmente uma aposta no

livre mercado, mas sim uma jogada estratégica para se ganharem mais mercados no

exterior. Além disso, a possível redução do protecionismo na Europa pode ser mais

concentrada em commodities do que em produtos de maior valor adicionado. O

resultado é, portanto, um grande risco para a indústria processadora nacional. Por fim,

barreiras não-tarifárias associadas a questões sanitárias e “ecológicas”, e até mesmo ao

conteúdo genético dos produtos, ainda são o pretexto mais fácil para encobrir o

protecionismo em seu sentido mais puro.

As empresas brasileiras, para se tornarem competitivas em busca dos novos

mercados emergentes, têm passado, a partir dos anos 90, por uma reestruturação

significativa. Embora a produtividade continue sendo fator crítico para manter

competitividade desde a década de 90, a tendência será o uso de estratégias com

conteúdo mais mercadológico, objetivando: estimular as empresas brasileiras do

complexo agroindustrial que estão relutantes em assumir riscos nos negócios de

exportação ou que desconheçam as oportunidades existentes no comércio mundial;

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desenvolver pesquisas de produtos novos que atendam a necessidades cada vez mais

específicas e sofisticadas dos consumidores; proporcionar sistemas de informações

mercadológicas e financeiras para reduzir os riscos que envolvam a entrada em novos

mercados.

1.4. O MERCADO EXTERNO E A QUESTÃO SANITÁRIA

Nesse sentido, a ampliação do mercado mundial para a carne bovina brasileira

passa — não somente, mas necessariamente — pelo processo de erradicação da febre

aftosa, inicialmente com vacinação e posteriormente sem vacinação, uma vez que os

mercados mais importantes do mundo, tais como Japão e Estados Unidos,

respectivamente importando 972 mil toneladas e 1,272 milhões de toneladas (em

equivalentes-carcaça), impedem a entrada de carne bovina procedente de países que não

sejam considerados livres de febre aftosa sem vacinação. Cabe observar que, apesar de

não ser prejudicial à saúde humana, a febre aftosa é de grande impacto negativo para a

produção pecuária, pois atinge diretamente a produção animal de proteínas e tem alta

transmissibilidade.

2. REGIONALIZAÇÕES PRODUTIVAS

Com relação à regionalização dos aspectos produtivos, destacam-se os estudos

de ARRUDA e SUGAI22, analisando distintos aspectos da atividade pecuária brasileira,

importantes para abordarmos as regionalizações mais recentes, em especial as sanitárias.

“O Brasil apresenta, portanto, diferentes sistemas regionais de exploração pecuária, seja

pelo tipo racial, intensidade de uso dos recursos, finalidade principal do rebanho ou

ainda pela dinâmica de crescimento da pecuária regional. Observa-se, porém, que esta

diversidade de sistemas pecuários está, em grande parte, ligada a características

regionais, sejam climáticas, econômicas, históricas ou devidas à qualidade e

disponibilidade de recursos naturais” (ARRUDA e SUGAI , 1994, p. 13).

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Em boa medida muitas dessas características ainda preponderam, embora

agregando outros aspectos, até então ausentes da realidade da bovinocultura de corte

brasileira. A Figura 2.4 retrata uma primeira regionalização, baseada em tais

parâmetros, pautada “... pelo critério informal que considera tipos semelhantes de clima,

solo, vegetação natural, relevo, posição geográfica, altitude, estrutura fundiária,

densidade bovina, finalidade principal do rebanho, padrão racial, fase de exploração

predominante, taxa de crescimento anual do rebanho e crescimento da área de

pastagens. O agrupamento das microrregiões na forma contígua obedece ao critério de

vicinalidade, visando à formação de conglomerados típicos, contíguos, denominados

regiões homogêneas de produção” (ARRUDA e SUGAI , 1994, p.19).

O rebanho bovino brasileiro, estando entre os maiores do mundo23, apresenta

também uma diversidade muito significativa quanto a tecnologias, produtividade,

manejo, qualidade da carne e controle sanitário. Essas diferenças manifestam-se

notadamente nas diversas áreas e tipos de produção dos estados do país, em função da

importância ou nível de desenvolvimento da atividade em cada um deles.

22 ARRUDA, Zenith J. de; SUGAI, Yosbibiko. Regionalização da pecuária bovina no Brasil. Brasília: EMBRAPA/CNPCG, 1994. 23 O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 148.218 milhões (20%) de um total de 769.148 milhões de cabeças de gado (Fonte: IBGE, GM – Setorial, ANUALPEC - 1998).

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Figura 2.4 – Regionalização por homogeneidade de produção.

Fonte: ARRUDA e SUGAI (1994)

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Figura 2.5 – Regionalização por fases de produção.

Fonte: ARRUDA e SUGAI (1994)

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A regionalização por fases de produção (Figura 2.5) sofreu, por razões

diversas, alterações ao longo dos últimos anos, especialmente em estados que no

passado desenvolviam somente uma etapa da atividade pecuária — como cria, recria ou

engorda — e passaram a englobar outras delas. Incluem-se aqui aqueles que atraíram

frigoríficos para o abate, como ocorreu, mais expressivamente, nas regiões Centro-

Oeste e Norte, como veremos. Faz-se aqui necessário esclarecer que todas as fases da

produção já podem ser realizadas em praticamente todo o território nacional. São

poucas as localidades que não praticam todas as fases. De fato, é menos custoso realizar

o transporte da carne do que o do o boi em pé. Devido ao menor frete, há maior ganho

para os frigoríficos e produtores, o que resulta num aumento de produtividade para a

totalidade da cadeia produtiva da pecuária de corte.

De acordo com ARRUDA e SUGAI, “são 44 regiões de produção no Brasil,

sendo 10 localizadas no Norte do país, 11 no Nordeste, 8 no Centro-Oeste, 10 no

Sudeste e 5 na região Sul. Destas regiões, 18 têm cria e recria como fases

predominantes da pecuária de corte, 11 têm cria-recria-engorda e 9 engorda; 2 de

pecuária leiteira e 3 de finalidade mista. Contudo, é de se esperar que duas ou mais

regiões com rebanhos da mesma finalidade se diferenciem entre si em uma ou mais das

seguintes situações: pelo sistema de produção, nível de tecnologia, qualidade e

produtividade dos recursos, e tipo racial do rebanho bovino” (ARRUDA e SUGAI ,

1994, p. 20).

2.1. OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DA ATIVIDADE PECUÁRIA: CRIA, RECRIA E

ENGORDA24

O processo de produção do boi gordo pronto para o abate passa por três fases

bem definidas e distintas: a cria, a recria e a engorda25, que podem ser realizadas juntas

ou em separado, tendo cada uma suas vantagens e desvantagens.

24 MENDONÇA. Cláudio G. A competitividade da pecuária de corte sul-matogrossense frente ao Mercosul. Campo Grande, 1998 (Monografia – Graduação em Ciências Econômicas – UFMS).

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CRIA

A cria tem como produto final o bezerro. Para chegar a ele, passa-se pela

gestação, nascimento e amamentação do animal, até que este possa ser desmamado, dos

7 meses a um ano de idade, atingindo nesse momento sua individualidade como unidade

negociável no mercado. A fase de cria necessita de elevado capital imobilizado em

touros, novilhas e matrizes (vacas), e também no fator terra, por requerer área extensa

para sua realização. Tem ela, portanto, um baixo giro de capital e, conseqüentemente,

menor rentabilidade.

RECRIA

Com o fim da fase de cria, inicia-se a de recria, que consiste em comprar o

bezerro de até um ano de idade e recriá-lo até atingir 24 a 28 meses, quando será

chamado de garrote ou boi magro. Essa fase necessita de pouco capital imobilizado,

mas requer grande dedicação no processo de compra e venda dos animais. O pecuarista

deve comprar os bezerros quando o preço estiver em baixa e vender os garrotes quando

estiver em alta.

ENGORDA

A engorda se estende desde o fim da recria até a terminação do boi, ou seja,

compreende o período que vai dos 24-28 meses até o momento em que o animal atinge

idade e peso ideais para o abate — geralmente acima dos 36 meses de idade, com peso

vivo de aproximadamente 500 kg e peso morto de 270 kg (18 arrobas) ou 54% do peso

vivo. O “invernista” (pecuarista que só se dedica à fase da engorda) compra o boi

magro, engorda-o e vende-o a frigoríficos.

25 MENDONÇA. Cláudio G. A competitividade da pecuária de corte sul-mato-grossense frente ao Mercosul. Campo Grande, 1998. Monografia (Graduação) – Curso de Graduação em Ciências Econômicas, DEA-UFMS).

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A verticalização da produção — processo em que um mesmo proprietário

efetua a cria, a recria e a engorda — pode reduzir significativamente sua lucratividade,

uma vez que é necessário suportar um grande número de animais na propriedade,

tornando-se menor o giro de capital. No entanto, essa verticalização pode primar pela

qualidade, por reduzir a idade de abate e por deixar o pecuarista menos sujeito às

variações de preço do mercado.

3. AS REGIÕES SANITÁRIAS

Vários são os critérios possíveis para a definição de regionalizações. Para os

propósitos que mais proximamente nos interessam, detalharemos as regionalizações que

emergiram a partir das questões sanitárias, especificamente da febre aftosa.

Atualmente o Brasil tem um efetivo animal suscetível de febre aftosa de 220

milhões de cabeças. Pela importância da bovinocultura de corte no Brasil, o combate a

essa zoonose passou a receber um tratamento distinto e específico no Programa

Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. De fato, dentre as espécies animais

envolvidas na pecuária (bovinas, suínas, ovinas, caprinas e bubalinas), somente as

bovinas apresentam um trânsito tão intenso de animais, produtos e subprodutos.

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Tabela 2.2 – Efetivo animal das principais espécies suscetíveis à febre aftosa, por região. 1999.

Região Bovinos Suínos Ovinos Caprinos Bubalinos Geral

Sul 24 756 256 12 033 184 10 538 181 428 975 209 597 47 966 193

Centro-Oeste 53 109 110 3 506 655 454 334 176 227 130 978 57 377 304

Sudeste 34 527 380 6 209 744 37 275 352 284 103 765 41 230 448

Nordeste 23 860 476 8 961 688 6 745 092 9 622 676 101 686 49 291 618

Norte 20 739 346 4 430 568 325 716 299 124 1 025 323 26 820 077

Total no país 156 992 558 35 141 839 18 100 598 10 879 286 1 571 349 222 685 640

Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 2000.

Gráfico 2.1 – Rebanho bovino brasileiro, por região. 2000.

Fonte: MAA, 2000.

Sul16%

Sudeste22%

Nordeste15%

Norte13%

Centro-Oeste34%

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3.1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Embora as primeiras manifestações conhecidas de febre aftosa na Europa

tenham ocorrido a partir de 1546, as primeiras ocorrências na América do Sul só foram

registradas em 1870, identificadas simultaneamente na província Argentina de Buenos

Aires, na região central do Chile, no Uruguai e, no caso do Brasil, na então província do

Rio Grande do Sul, de onde se disseminou para outras unidades do país.

O combate à febre aftosa no Brasil, através ações públicas e privadas

(produtores), só foi posto em prática no século seguinte, precisamente em 1919, quando

o Ministério da Agricultura, através de uma política normativa e fiscalizadora e do

Código de Política Sanitária, adotou medidas contra a doença.

PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA

Do início do século XX até 1992 ocorreram diversas tentativas de controle da

enfermidade, inclusive com o apoio de instituições internacionais, como o BID e o

BIRD. Nenhuma, sem exceção, chegou a obter êxito completo. Um dos problemas foi o

das grandes dimensões do país. Um erro foi a simples opção pelo controle, em vez da

erradicação definitiva.

Em 1992, o Ministério da Agricultura e Abastecimento e as Secretaria

Estaduais de Agricultura, com a assessoria do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa,

fizeram modificações estruturais nos encaminhamentos de combate à doença no Brasil.

A partir dessa data passou-se a priorizar a erradicação em vez do controle e, dada a

complexidade e extensão territorial brasileira, definiu-se, entre os diversos agentes

envolvidos, um cronograma e uma estratégia baseada no conceito de Circuitos

Pecuários, objetivando a erradicação definitiva da febre aftosa no Brasil até o ano de

200526: “As ações de mero controle foram substituídas por ações restritivas, visando a

erradicação da doença. As estratégias de regionalização das ações foram estabelecidas

26 Esse cronograma está dentro do Plano hemisférico de erradicação da febre aftosa nas Américas, previsto para 2009.

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tendo por base os circuitos pecuários, e como fator primordial a integração de agentes

envolvidos e interessados, a participação da comunidade (associações de produtores,

agroindústrias, universidades) em todas as fases do Programa (planejamento, execução,

financiamento e avaliação), em estreita parceria com o governo. Estas novas estratégias

e ações foram aprovadas pelo Conselho Consultivo do Projeto de Controle das Doenças

dos Animais, do qual participam governo e entidades nacionais privadas do setor da

produção e da indústria animal”(BRASIL, 1997, p. 3)27.

É fundamental observar que o novo formato que a erradicação da febre aftosa

assume no Brasil envolve diretamente a participação de todos os agentes envolvidos:

Ministério da Agricultura e Abastecimento, Secretarias Estaduais de Agricultura e

iniciativa privada (indústria de vacinas, produtores, frigoríficos e distribuidores).

A partir da definição da estratégia de erradicação e dos agentes envolvidos e

suas responsabilidades, definiram-se as principais ações a pôr em prática: organização

da comunidade; imunização de bovinos e bubalinos; sistema de vigilância

epidemiológica28 e informação; capacitação de recursos humanos.

A definição de regiões tem fundamental importância para este estudo, na

medida que essa configuração institucional tem e terá papel no desenvolvimento da

bovinocultura de corte nacional, não se limitando às questões sanitárias, mas definindo a

atividade e interferindo de forma direta sobre ela, ao permitir, restringir ou impedir

totalmente os trânsito de animais, produtos e subprodutos, fato singular na história e

geografia da bovinocultura de corte brasileira, sempre caracterizada, ao longo de cinco

séculos, pelo livre trânsito entre regiões.

Apesar das restrições, entretanto, a regionalização e os controles de trânsito de

bovinos possibilitarão ao Brasil inserir-se definitivamente no mercado mundial da carne

bovina. De fato, conta-se com que até 2005 todo o rebanho bovino brasileiro já tenha

27 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. Brasília, abr. 1997. 28 Estudo das relações dos diversos fatores que determinam a freqüência e distribuição de um processo ou doença infecciosa numa comunidade.

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(salvo imprevistos) obtido certificação internacional de livre de febre aftosa com e sem

vacinação, alcançando o posto de maior rebanho comercial do mundo.

As questões sanitárias, portanto, estão dando uma nova conformação à

bovinocultura de corte brasileira e moldando diretamente seu futuro. Das exigências

sanitárias estão emergindo três relações espaciais que dizem respeito às restrições ao

trânsito de animais, produtos ou subprodutos. São elas:

a) os Circuitos Pecuários;

b) a classificação das unidades da federação segundo o risco da febre aftosa;

c) a zonificação quanto à presença de febre aftosa, dentro da qual se identificam:

• a Zona Infectada;

• a Zona Tampão;

• a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação;

• a Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação.

Os Circuitos Pecuários e a classificação das unidades da federação segundo o

risco para a febre aftosa são regionalizações que se prestam a uma melhor viabilização

do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa do Brasil. As Zonas Infectada,

Tampão e Livre com Vacinação constituem estágios intermediários para se chegar ao

objetivo final de ter a totalidade do território brasileiro classificada como Zona Livre de

Febre Aftosa sem Vacinação, situação que o Ministério da Agricultura e do

Abastecimento prevê para 2010.

4. CIRCUITOS PECUÁRIOS

A regionalização definida a partir de Circuitos Pecuários tomou como base a

situação da bovinocultura brasileira em termos das formas de produção, das relações

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econômicas entre as regiões e das condições sanitárias nos diversos estados: “A

regionalização da pecuária como determinante da febre aftosa através de seus

ecossistemas constitui-se na estratégia mais factível para a erradicação da doença no

país. Estão identificadas regiões produtoras, relativamente independentes, consideradas

circuitos pecuários” (BRASIL, 1996a, p.6)29. Como veremos a seguir, os circuitos

pecuários lograram êxito no controle da febre aftosa no Brasil e sua erradicação em

diferentes áreas da febre aftosa no Brasil.

Um circuito é uma região produtora de bovinos na qual existam relações

comerciais de bovinocultura e na qual a situação sanitária seja relativamente

homogênea. Os critérios adotados para a conformação dos Circuitos Pecuários foram:

similaridades técnicas de produção; trânsito de animais, produtos e subprodutos;

estruturação dos sistemas estaduais de combate à febre aftosa; e números de casos

registrados nos últimos anos: “A incorporação, em 1993, dos conceitos de

regionalização e zoneamento, aprovados internacionalmente no âmbito do Escritório

Internacional de Epizootias – OIE ... abriu novas perspectivas para o reconhecimento

internacional de áreas livres de doenças com regiões infectadas”. Para países com

grande extensão territorial e acentuadas diferenças regionais quanto ao status sanitário,

como é o caso do Brasil, “... abre-se uma importante possibilidade de participação no

circuito de comercialização de carne fresca, livre de febre aftosa, das regiões que hoje

usufruem de melhores condições sanitárias” (BRASIL, 1996a, p. 5).

29 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Regionalização das ações para a erradicação da febre aftosa. Brasília, set. 1996.

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Figura 2.6 – Divisão do Brasil em circuitos pecuários, 1999.

Fonte: MAA, 1997.

Circuito Pecuário Leste

Circuito Pecuário Norte

Circuito Pecuário Nordeste

Circuito Pecuário Centro-Oeste

Circuito Pecuário Sul

AC

MT

RJ

ES

MG

MS

SP

PR

SC

RS

SE TO

DF

GO

BA

CE RN

AL

PB

PE

RR AP

AM PA MA

PI

RO

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O Ministério da Agricultura e do Abastecimento esclarece que a definição dos

Circuitos Pecuários fundamentou-se em formas de produção e comercialização

relativamente homogêneas: “A regionalização está fundamentada na relação existente

entre o predomínio geográfico dos sistemas de produção e a interdependência desses

sistemas em relação ao processo de comercialização dos animais e de seus produtos e

subprodutos. Cada um desses conjuntos de sistemas produtivos e comerciais (cria, recria

e engorda), integrado em uma rede, configura um circuito pecuário mais ou menos

independente em relação aos demais circuitos. Dentro de cada circuito, os sistemas de

produção mencionados estão inter-relacionados em função de dependências de criação,

que se manifestam através dos fluxos de comercialização. Esses sistemas pecuários

apresentam uma forte correspondência com o grau de endemismo referente à ocorrência

de febre aftosa. Isso permite caracterizar os ecossistemas da doença como endêmicos

primários (áreas extrativas), endêmicos secundários (áreas de engorda), paraendêmicos

(áreas leiteiras e de pequenos produtores) e indenes ou livres, destacando-se a

prioridade do Programa para as áreas endêmicas (BRASIL, 1996a, p. 25-6).

A partir desta conceituação, o Ministério definiu, os Circuitos Pecuários Sul,

Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste, com o propósito de que estes se transformem,

nessa ordem de prioridade, em Zonas Livres de Febre Aftosa com e sem Vacinação

entre 1998 e 2010.

A existência simultânea de zonas livres de febre aftosa com e sem vacinação

dentro de um mesmo país é possível desde que se atendam certas exigências definidas

pelo OIE. Uma Zona Livre de Febre Aftosa onde se pratica a vacinação pode, segundo o

Código Zoossanitário Internacional, estar localizada em um país onde algumas áreas se

apresentem infectadas, desde que: essa Zona Livre esteja separada do resto do país por

uma Zona Tampão; seja demonstrada rapidez e regularidade na notificação de doenças

animais; seja solicitado junto ao OIE o estabelecimento de uma Zona Livre de Febre

Aftosa onde se pratique a vacinação, comprovando-se a ausência de focos de febre

aftosa durante os dois anos precedentes. Devem-se ainda descrever os limites da Zona

Livre e da Zona Tampão e apontar a eficácia da vigilância exercida e a existência de

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regulamentos de proteção e de luta contra a febre aftosa que demonstrem a ausência de

atividade viral30 na Zona Livre onde se pratica a vacinação.

A Tabela 2.3 apresenta informações gerais de todos os Circuitos Pecuários do

Brasil, evidenciando que o Circuito Pecuário Centro-Oeste é o maior, tanto em

propriedades com bovinos quanto em quantidade de animais, com 83 milhões de

cabeças.

Tabela 2.3 – Área geográfica, total de propriedades com bovinos e população bovina existente nos Circuitos Pecuários brasileiros. 1998.

Área (km2) Propriedades com bovinos População bovina

Circuitos pecuários Total % Total % Total %

Sul 475 487 5,6 595 287 26,8 16 955 196 10,8

Centro-Oeste 2 314 377 27,4 613 347 27,5 83 206 056 53,0

Leste 989 976 11,7 362 619 16,3 22 920 914 14,6

Norte 3 672 024 43,5 68 210 3,1 20 723 018 13,2

Nordeste 985 636 11,7 583 225 26,2 13 187 374 8,4

Total nacional 8 437 500 100,0 2 222 688 100,0 156 992 558 100,0

Fonte: MAA, 2000.

4.1. CIRCUITO PECUÁRIO SUL

Os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a parte sul do Paraná

compõem o Circuito Pecuário Sul (Figura 2.7). Seu rebanho bovino é de

aproximadamente 17 milhões de cabeças (10,8% da população bovina nacional), num

um total de 600 mil propriedades (26,8% das propriedades com bovinos do país). A

densidade animal uma das maiores do Brasil, com valor médio de 0,36 bovinos por

hectare de propriedade. A produção desse circuito é predominantemente voltada para os

mercados locais, sem grande trânsito de animais, produtos e subprodutos entre o estados

que o compõem.

30 A atividade viral é constatada por exame sorológico dos animais

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Figura 2.7 – Circuito Pecuário Sul. 1999.

Fonte: MAA.

RS

SC

PR

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4.2. CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE

O Circuito Pecuário Centro-Oeste (Figura 2.8) é o maior do país. Sua

população bovina, de 83 milhões de cabeças, perfaz 53% do total nacional. Este circuito

é composto pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal,

São Paulo, Paraná (região Noroeste do estado), Minas Gerais (Triângulo Mineiro, Alto

Paranaíba, Chapadão do Paracatu, Sul de Minas, Alto São Francisco e Centro-Oeste) e

Tocantins (Regiões de Gurupi, Paraíso e parte das regiões de Porto Nacional e

Miracema do Tocantins).

Esse circuito cobre 27,4% do território nacional, contendo 27,5% das

propriedades brasileiras com bovinos: “Constitui a mais importante área produtora de

bovinos de corte do país, ao mesmo tempo em que é o maior mercado da carne bovina,

já que possui o maior parque da indústria frigorífica do Brasil” (BRASIL, 2000d, p.

23)31. Esse circuito apresenta densidade de 0,36 bovinos por hectare, consideradas as

propriedades com bovinos.

O estado de São Paulo é o maior mercado consumidor de carnes do país,

importando para consumo interno e também atuando como intermediador (no

beneficiamento) para as exportações. A maior parte dos frigoríficos tem matrizes e/ou

filiais nesse estado.

31 BRASIL. Ministério de Agricultura e Abastecimento. Proposta de ampliação da zona livre de febre aftosa, com vacinação. Brasília, mar. 2000.

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Figura 2.8 – Circuito Pecuário Centro-Oeste. 1999.

Fonte: MAA.

MS

MT

SP

PR

GO

MG

TO

DF

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4.3. CIRCUITO PECUÁRIO LESTE

O Circuito Pecuário Leste (Figura 2.9) apresenta localização geográfica

privilegiada, pois faz limites com o Circuito Pecuário Centro-Oeste junto aos estados de

Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Integram o circuito os estados do Rio de Janeiro,

Espírito Santo, Bahia, Sergipe e a região Nordeste de Minas Gerais (acima do Rio São

Francisco). Sua extensão territorial é de 990 mil km2, correspondendo a 11,7% do

território nacional.

O Circuito Pecuário Leste totaliza 363 mil propriedades com bovinos (16,3%

das do Brasil). Sua população bovina é de 23 milhões de cabeças.

Rio de Janeiro constitui-se no segundo maior mercado consumidor de carnes

do país, recebendo-as de praticamente todos os estados produtores do Brasil, com

preponderância daqueles do Circuito Pecuário Centro-Oeste. A produção interna desse

estado é insignificante.

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Figura 2.9 – Circuito Pecuário Leste. 1999.

Fonte: MAA.

BA

MG

SE

ES

RJ

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4.4. CIRCUITO PECUÁRIO NORTE

O Circuito Pecuário Norte (Figura 2.10) é composto por Acre, Rondônia,

Amazonas, Roraima, Amapá, Pará e região Nordeste do Tocantins. Com área de 986

mil km2, cobre 43,5% do território brasileiro, abarcando a maior parte da Floresta

Amazônica. O número de propriedades com bovinos é inexpressivo: apenas 68 mil, ou

3,1% dessas propriedades do Brasil. Apesar disso, a população bovina é significativa,

com 21 milhões de cabeças, o que representa 13,2% do total do país. A densidade

bovina nas propriedades é de 0,06 cabeças/ha.

A erradicação completa da febre aftosa deste circuito e sua transformação em

Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação está prevista para ocorrer até 2003.

O trânsito de animais, produtos e subprodutos concentra-se basicamente no

âmbito do próprio circuito, com exceção de Rondônia, em que aproximadamente 50%

da produção é destinada aos Circuitos Pecuários Centro-Oeste e Leste. Observa-se

também uma relação significativa entre nordeste de Tocantins e norte do Pará com o

Circuito Pecuário Nordeste, sobretudo no fornecimento de animais.

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Figura 2.10 – Circuito Pecuário Norte. 1999.

Fonte: MAA.

RO

AM PA

AC

RR

TO

AP

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4.5. CIRCUITO PECUÁRIO NORDESTE

O Circuito Pecuário Nordeste (Figura 2.11) é composto pelos estados de

Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. Sua

área é de 985 mil km2, ou 11,7% do território nacional, abrigando 583 mil propriedades

com bovinos, o equivalente a 26,2% dessas propriedades brasileiras. O circuito tem a

menor população bovina entre os circuitos pecuários brasileiros, com 13,2 milhões de

cabeças, ou 8,4% do rebanho bovino nacional.

As formas de produção, abate e consumo da carne bovina no Circuito Pecuário

Nordeste são peculiares. As condições sanitárias são ainda bastante precárias, e as

carnes são em sua maioria comercializadas em feiras livres. O trânsito de animais entre

os estados desse circuito é insignificante.

Há previsão de erradicação da febre aftosa, com transformação em Zona Livre

com Vacinação até 2005 e sem vacinação até 2010.

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PI

MA CERN

PB

PE

AL

Figura 2.11 – Circuito Pecuário Nordeste. 1999.

Fonte: MAA.

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5. CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO SEGUNDO O RISCO DE FEBRE AFTOSA; ZONIFICAÇÃO

Em virtude da complexidade da febre aftosa em termos de transmissão e

propagação, e dos diversos sistemas produtivos da bovinocultura de corte existentes no

país, o Ministério da Agricultura e do Abastecimento, a partir de normas internacionais,

criou no Brasil a Zonificação para a febre aftosa e análise de risco no país, com o

objetivo de permitir tratamentos distintos, visando a erradicação da doença mas levando

em conta as peculiaridades das diferentes regiões.

O relatório da Proposta de ampliação da zona livre de febre aftosa, com

vacinação aponta como acertado o processo de regionalização como base para a

erradicação da doença: “De forma complementar à definição dos circuitos pecuários,

outro aspecto conceitual e metodológico empregado na luta contra a febre aftosa no país

é a regionalização da doença com base nos riscos de transmissão e recepção do agente

viral. Este tipo de regionalização passou a integrar o Programa Nacional de Erradicação

da Febre Aftosa a partir do ano de 1995. ... Essa regionalização, baseada no

comportamento epidemiológico da doença no campo como base para a elaboração de

estratégias diferenciadas por espaços geográficos distintos, evoluiu muito na América

do Sul nos últimos anos, contribuindo de forma significativa para os avanços alcançados

nos países do Cone Sul e no Brasil em particular” (BRASIL, 1997, p. 34)32.

Para a definição da regionalização são considerados diversos aspectos, entre os

quais o período de ausência de casos clínicos, cobertura vacinal, controle e fiscalização

do ingresso de animais e de seus produtos e subprodutos, situação sanitária das áreas

vizinhas e nível de participação comunitária, entre outras. Esses aspectos devem ser

considerados em âmbito interno e externo ao circuito.

É importante destacar que tal zonificação está pautada nas normas

internacionais do OIE e da OMC: “Actualmente, la globalización de las economías

determina la necesidad de sustituir el concepto de ‘riesgo cero’ en una operación

comercial, por una evaluación sin perjuicios, de los niveles de riesgo involucrados en la

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transacción. Esta nueva condición es el resultado de más de 10 años de negociaciones

en el ámbito de la Ronda Uruguay del GATT, y de la filosofia del organismo que la

sucedió, la Organización Mundial del Comercio (OMC), caracterizado en las Medidas

Sanitarias y Fitosanitarias (MSF)” (SARAIVA, 1997)33. A partir da Rodada do Uruguai

e a criação da OMC, as relações comerciais envolvendo produtos agrícolas deixam de se

apoiar no risco zero de febre aftosa. Em outras palavras, as relações comerciais entre

países e regiões podem ser estabelecidas a partir do conhecimento e reconhecimento

prévio pelas autoridades nacionais — em nosso caso, o Ministério da Agricultura e do

Abastecimento — dos graus de risco existentes na produção e comercialização de

animais, produtos e subprodutos oriundos de cada área. Para tanto, e tendo em vista

tanto o comércio no mercado externo quanto interno, torna-se necessário que no Brasil

as unidades da federação sejam classificadas por grau de risco de febre aftosa,

caracterização que implica na permissão, restrição ou impedimento ao trânsito de

animais, produtos e subprodutos. Tais graus são: BR-D: risco desprezível; BR-1: risco

mínimo; BR-2: risco baixo; BR-3: risco médio; BR-4: risco alto; BR-N: risco não

conhecido.

O Quadro 2.1 mostra os atributos considerados para essa classificação. Cada

um dos níveis de risco deve reunir uma série de características relativas à erradicação e

ao controle da febre aftosa.

A classificação por graus de risco tem decorrências substanciais, por configurar

uma regionalização que impõe impeditivos e limitações ao trânsito de animais produtos

e subprodutos. (Por exemplo, se um estado for classificado com o grau de risco médio

poderá enviar carne sem osso para uma Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação,

mas se sua classificação for a de alto risco, não poderão ser enviados nem animais em

pé nem carne com ou sem osso para uma Zona Livre de Febre Aftosa.)

32 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. Brasília, abr. 1997. 33 SARAIVA, Victor. Vigilancia epidemiológica y regionalización en el análisis de riesgo: caso fiebre aftosa. In: SEMINÁRIO SUB-REGIONAL SOBRE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SANITÁRIAS E FITOSANITÁRIAS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO, 22-24 set. 1997, Santa Fe de Bogotá, Colômbia.

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64

Quadro 2.1 – Atributos considerados para classificação das unidades federativas em seis níveis de risco. 1996.

Níveis de risco Atributos

considerados BR-D: risco

desprezível BR-1:

risco mínimo BR-2:

risco baixo BR-3:

risco médio BR-4:

risco alto BR-N:

risco não conhecido

Política sanitária do programa Prevenção Erradicação e

prevenção Erradicação Erradicação Controle Nenhum

Área territorial sob o programa Total Total Total Total Total ou

parcial Nenhuma

Situação da vizinhança

BR-D, BR-1

BR-1, BR-2

BR-2, BR-3

BR-3, BR-4 BR-N -

Sistema de atenção veterinária

Bom Bom Bom Bom Regular ou deficiente

Deficiente ou inexistente

Sistema de vigilância Bom Bom Bom Bom Regular ou

deficiente Deficiente ou inexistente

Participação social Boa Boa Boa Boa Regular ou

inexistente Inexistente

Ocorrência de casos clínicos

Ausente por mais de 5 anos

Ausente por mais de 4 anos

Ausente por mais de 3 anos

Ocasional ou ausente Alta ou média Não

conhecida

Cobertura vacinal Não > 90% > 90% ≥ 80 % < 80 % Muito baixa

Atividade viral Não Não Não Sim Sim Não conhecida

Restrição de ingresso Sim Sim Sim Sim Não Não

Fiscalização do ingresso Sim Sim Sim Regular Deficiente Não

Biossegurança Sim Sim Sim Sim Não Não

Fonte: MAA, 2000.

Entre os aspectos constitutivos desta regionalização, denominada pelo OIE de

zonificação, destacamos: “O desenvolvimento da regionalização da febre aftosa no

Brasil está sustentado pelo sistema de vigilância que fornece dados epidemiológicos

sobre bases geográficas (quadrantes do mapa), o que permitiu, inicialmente, a

identificação dos ecossistemas de endemismo da doença e a escolha de estratégias

seletivas para cada tipo de ecossistema, facilitando o processo de erradicação da

doença” (BRASIL, 2000d, p. 35).

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65

No Quadro 2.2 constam as unidades da federação e seus respectivos graus de

risco. Ressalte-se que tal classificação é atualizada periodicamente por auditorias de

técnicos do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, que em visitas ao estados

fazem verificações com relação às exigências estabelecidas, podendo alterar as

classificações tanto para melhor quanto para pior.

Quadro 2.2 – Classificação das unidades da federação segundo o risco de febre aftosa. Novembro de 2000.

Classificação Unidades da federação

BR-D (Risco desprezível) Santa Catarina*

BR-1 (Risco mínimo) Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e Paraná

BR-2 (Risco baixo) Mato Grosso do Sul, Tocantins, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Sergipe

BR-3 (Risco médio) Roraima, Rondônia, Acre, sul do Pará**

BR-4 (Risco alto) O restante do Pará

BR-NC (Risco não conhecido) Alagoas, Amapá, Amazonas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte

Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 2000. * Rio Grande do Sul encontrava-se nesta classificação. Sua situação está pendente em função do foco de febre aftosa verificado no município de Jóia em setembro de 2000. ** Municípios de Nova Progresso, Santana do Araguaia e Altamira, e parte de Jacareacanga e de São Félix (barreiras naturais).

5.1. RESULTADOS DAS REGIONALIZAÇÕES

A regionalização através dos Circuitos Pecuários demonstrou ser um

instrumento viável para se alcançar maior eficácia na erradicação da febre aftosa de

regiões afetadas e sua transformação em Zonas Livres, apesar da grande extensão

territorial do país e a complexidade das regiões produtivas.

Juntamente com as regionalizações, outros fatores estratégicos foram

fundamentais para o sucesso do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa:

participação da comunidade, descentralização administrativa, coordenação entre os

setores e instituições, conscientização e capacitação, entre outras.

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66

Além de se apoiar na obrigatoriedade da vacinação duas vezes por ano — que

cabe aos pecuaristas — a erradicação da febre aftosa no Brasil está estruturada num

sistema de prevenção e controle da doença que envolve diversos agentes, tanto na esfera

federal quanto nas estaduais.

Essa estrutura atua de diversas formas, com destaque para as seguintes

notificação, atendimento e investigação de episódios, vigilância de animais no campo,

vigilância em plantas frigoríficas e matadouros, vigilância em pontos de concentração

de animais e vigilância de animais em trânsito.

A Figura 2.12 ilustra a rede necessária para a erradicação e controle da febre

aftosa no Brasil, evidenciando sua complexidade.

Figura 2.12 – Esquema do fluxo de funcionamento do sistema de atenção e vigilância sanitária animal. Brasil, 1999.

Fonte: MAA, 2000.

UNIDADE LOCALDE ATENÇÃO

VETERINÁRIA

UNIDADE LOCALDE ATENÇÃO

VETERINÁRIA

UNIDADE REGIONALDO SERVIÇO OFICIALUNIDADE REGIONALDO SERVIÇO OFICIAL

GRUPO EXECUTOR DASPOLÍTICAS DE EMERGÊNCIA

SANITÁRIA

GRUPO EXECUTOR DASPOLÍTICAS DE EMERGÊNCIA

SANITÁRIA

UNIDADE NACIONAL

Ministério da Agricultura edo Abastecimento

Brasília - DF

UNIDADE NACIONAL

Ministério da Agricultura edo Abastecimento

Brasilia - DF

OFFICE INTERNACIONAL DES EPIZOOTIES

OIE

OFFICE INTERNATIONAL DES EPIZOOTIES

(OIE)

UNIDADE CENTRAL DOÓRGÃO ESTADUAL

UNIDADE CENTRAL DOÓRGÃO ESTADUAL

UNIDADE REGIONAL DOMINISTÉRIO DA

AGRICULTURA - DFA

UNIDADE REGIONAL DOMINISTÉRIO DA

AGRICULTURA - DFA

UNIDADE DE INFORMAÇÃO,APOIO E ACOMPANHAMENTO

UNIDADE DE INFORMAÇÃO,APOIO E ACOMPANHAMENTO

CONSELHO ESTADUALDE SAÚDE ANIMAL

CONSELHO ESTADUALDE SAÚDE ANIMAL

Produtoresrurais

Propriedadesrurais

Entidades representativas dos produtores rurais (Associações,

Sindicatos e Conselhos de Sanidade Animal)

Médicos veterinários dainiciativa privada

Médicos veterinários dainiciativa privada

Instituições de pesquisa,extensão e assistência técnica

Instituições de pesquisa, extensão e assistência técnica

Matadouro sob inspeção veterinária

Matadouro sob inspeção veterinária

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191346210271

666

2.089

1.4171.232

757989

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Ano

Oco

rrên

cias

A adoção dos circuitos pecuários e da zonificação acabou por se constituir num

instrumento efetivo de controle no trabalho de erradicar a febre aftosa no Brasil. O ano

de 1994 registrou o maior número de registros de casos dessa zoonose, o que revela uma

substancial melhora do sistema de vigilância sanitária. De fato, os mecanismos de

controle são fundamentais, pois a descoberta de casos de febre aftosa deve ser

imediatamente comunicada às autoridades oficiais locais, nacionais (MAA) e

internacionais (OIE).

O Gráfico 2.2 mostra a significativa redução dos casos registrados no Brasil a

partir da adoção dos Circuitos Pecuários e da Zonificação. “Os resultados positivos do

Programa materializam-se, especialmente, pela modificação da conduta endêmica da

doença, com uma progressiva redução de sua ocorrência” (BRASIL, 2000d, p. 40).

Gráfico 2.2 – Focos de febre aftosa. Brasil, 1990-1999.

Também no âmbito dos circuitos pecuários (Tabela 2.4) é perceptível tal

redução, que em termos absolutos, às vezes deve ser relativizada, uma vez que nos

estados onde o controle for mais eficiente o registro será maior, se não propriamente de

casos, ao menos de suspeitas. A ausência de controle rigoroso dos serviços de sanidade

animal pode subdimensionar a descrição da situação sanitária dos estados.

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Tabela 2.4 – Notificações de suspeitas de doenças vesiculares, por regiões geográficas e por circuitos pecuários. 1995-99.

Regiões 1990 1991 1992 1993 1994 Circuitos pecuários 1995 1996 1997 1998 1999

Sul 307 249 28 122 51 Sul 0 0 3 289 66

Centro-Oeste 52 153 316 210 230 Centro-Oeste 191 39 15 12 11

Sudeste 220 71 449 515 572 Leste 212 27 21 4 6

Norte 95 35 65 136 229 Norte 78 61 18 28 51

Nordeste 315 249 374 434 1 002 Nordeste 185 144 153 13 57

Total 989 757 1 232 1 417 2 089 Total 666 271 210 346 191

Fonte: MAA.

Confirma-se, assim, a eficácia da adoção dos Circuitos Pecuários e da

classificação estadual por graus de risco de febre aftosa como formas de controlar e por

fim erradicar a febre aftosa no Brasil.

6. ZONIFICAÇÃO EM VIGOR

A seguir vamos descrever e analisar a zonificação existente, que constitui um

estágio intermediário para que o país consiga até 2010, de forma gradativa mas

crescente, ser classificado em sua totalidade como Zona Livre de Febre Aftosa sem

Vacinação. Tal zonificação impõe uma série de restrições ao trânsito nacional de

animais, produtos e subprodutos.

Hoje existem no Brasil quatro tipos de zonas baseadas em exigências

sanitárias, com características, restrições, vantagens e desvantagens diferenciadas. São

elas: a Zona Infectada, a Zona Tampão, a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação e

a Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. Elas são identificadas na Figura 2.13.

A Figura 2.14 mostra a distribuição dos postos fixos de proteção entre zonas,

que operam como barreiras sanitárias, controlando o trânsito de animais e derivados

potencialmente transmissores da febre aftosa. Tais postos se situam:

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69

a) entre a Zona Livre de Febre Aftosa e a Zona Tampão;

b) entre a Zona Tampão e a Zona Infectada.

Certos segmentos dessas fronteiras contam, além disso, com barreiras naturais

tais como rios, chapadas e florestas. É o caso da Floresta Amazônica, que forma barreira

natural entre os estados de Mato Grosso e Amazonas.

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Figura 2.13 – Zonificação do Brasil: áreas Infectadas, Tampão e Livres de Febre Aftosa. 2000.

Fonte: MAA.

Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação

Zona Infectada

Zona Tampão

Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação

AM

AC RO

MT

MS

RS

SC

PR

SP

GODF

MG

RJ

ES

BATO

PA

AP

MA

PI

CE RN

PB

SE AL

PE

RR

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71

Figura 2.14: Distribuição dos postos fixos de controle e fiscalização do trânsito de animais e seus produtos e subprodutos. 2000.

Fonte: MAA.

Mato Grosso

São Paulo

Distrito Federal

Goiás

Minas Gerais

Paraná

Rondônia

Espírito Santo

Rio de Janeiro

Pará

Tocantins

Bolívia

Rio de Janeiro

Paraguai

Santa Catarina ZONA TAMPÃO

ZONA LIVRE

POSTOS FIXOS PARA PROTEÇÃO ENTRE ZONAS

Mato Grosso do Sul

Bahia

Bolívia

Paraguai

Paraguai

Argentina

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6.1. ZONA INFECTADA

Com base nos critérios do OIE, a Zona Infectada constitui-se num território

claramente delimitado dentro de um país em que se haja diagnosticado uma das

enfermidades inscritas no Código Zoossanitário Internacional. A extensão desse

território deve ser claramente definida pela autoridade veterinária do país, tendo em

conta o meio ambiente, os distintos fatores ecológicos e geográficos, os fatores

epizootiológicos e o sistema de exploração pecuária.

Esse território deverá estender-se por um raio de pelo menos 10 km dos focos

da enfermidade nas regiões de cria intensiva e de pelo menos 50 km nas regiões de cria

extensiva.

No interior da Zona Infectada deverá ser exercido um controle veterinário

oficial e efetivo sobre animais, produtos de origem animal e transporte.

A Zona Infectada indicada (Figura 2.15) é composta pelos estados do Rio de

Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará,

Piauí, Tocantins, Maranhão, Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Os

rebanhos desses estados totalizam 38 milhões de cabeças, ou 24% do rebanho bovino

nacional.

Da área infectada é proibido o trânsito de bovinos para a Zona Livre, qualquer

que seja a finalidade. Quanto aos bovinos procedentes de estados classificados como de

médio risco, mas com destino à Zona Tampão, são exigidos lacre na origem, rota

definida e desinfecção na barreira.

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Figura 2.15 – Zona Infectada. 2000.

Fonte: MAA.

AM

AC RO

RR

PA

TO BA

ES

RJ

MA

PI

CE RN

PB PE

AL SE

AP

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74

6.2. ZONA TAMPÃO

A Zona Tampão (Figura 2.16) se constitui, de acordo com a OIE, numa região

intermediária que serve de proteção entre a Zona Infectada e a Zona Livre.

Da Zona Tampão para a Zona Livre não é permitido o envio de animais para

abate. O de carne é permitido, desde que sem osso. Carne com osso somente pode ser

enviada para outra Zona Tampão ou para Zona Infectada.

No Brasil, a Zona Tampão está em vigor desde dezembro de 1999, tendo sido

oficializada pelo OIE em maio de 2000. Cobre uma área de um milhão de quilômetros

quadrados, abarcando 712 municípios, 245 mil propriedades e um rebanho bovino de 34

milhões de cabeças: “A zona tampão tem uma grande extensão em função de proteger

uma zona livre também de grandes dimensões. Circunda inteiramente a zona livre

proposta, sendo formada por segmentos geográficos pertencentes a cinco unidades da

federação e pela totalidade do estado de Mato Grosso do Sul. Tem fronteiras ao

sudoeste com a República do Paraguai (reconhecida pelo OIE como livre de febre

aftosa); ao oeste com a República da Bolívia (Departamento de Santa Cruz de la Sierra)

e com o estado de Rondônia; ao norte com os estados do Amazonas, Pará, Tocantins e

Bahia e ao leste com os estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Na região oriental

dos estados de São Paulo e Paraná, que fazem parte da zona livre proposta, encontra-se

o Oceano Atlântico” (BRASIL, 2000d, p. 45).

Mato Grosso do Sul adquiriu a condição de Zona Tampão depois que, em

janeiro de 1999, foram registrados dois focos de febre aftosa no município de Naviraí,

no sul do estado. Essa condição é temporária, prevista de estender-se, segundo critérios

do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, até dezembro de 2000, quando será

decretada Zona Livre, em termos nacionais. Em termos internacionais, a condição de

Zona Livre com Vacinação deverá ser homologada em maio de 2001 pelo OIE, em sua

reunião anual de Paris34.

34 O OIE só concede o certificado de Zona Livre para áreas que não tenham registrado focos de febre aftosa nos dois anos que precedem a data dessa certificação.

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Figura 2.16 – Zona Tampão. 2000.

Fonte: MAA.

Fonte: MAA.

MT

GO

MS

MG

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Tabela 2.5 – Zona Tampão: áreas e efetivos bovinos e suínos em municípios limítrofes à Zona Infectada e municípios de Mato Grosso do Sul.

Rebanho bovino Rebanho suíno Unidade da federação Área (km2) Número de

municípios Propriedades População Propriedades População

São Paulo 3 551 7 1 722 79 065 812 9 400

Paraná 8* - 65 3 455 2 206

Mato Grosso 255 498 23 12 285 3 174 429 3 685 110 047

Goiás 42 423 16 6 449 1 294 638 5 200 147 797

Minas Gerais 345 284 589 182 794 8 948 597 963 1 492 760

Mato Grosso do Sul 358 158 77 42 547 21 147 485 229 279 002

Total 1 004 992 712 245 862 34 647 669 10 891 2 039 212

* Grupo de ilhas localizado no rio Paraná, na divisa com Mato Grosso do Sul. Fonte: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 2000.

Duas formas de proteção preponderam entre a Zona Tampão e as demais

zonas: barreiras naturais e postos de controle e fiscalização.

As primeiras, acidentes geográficos tais como florestas e rios, são elementos

físicos que não permitem o contato e o trânsito de animais e derivados entre duas zonas.

No caso de Mato Grosso do Sul (Zona Tampão), tem-se a barreira física do rio Paraná, a

separá-lo de São Paulo e Paraná (Zona Livre).

Os postos de controle e fiscalização (Figura 2.14) operam 24 horas por dia: “A

zona livre proposta está protegida por uma barreira constituída por 101 postos fixos de

fiscalização, que funcionam de forma ininterrupta, e por 69 equipes móveis distribuídas

estrategicamente. Esse trabalho contínuo de fiscalização é executado por um grupo de

566 técnicos e auxiliares que se revezam permanentemente” ( BRASIL, 2000d, p. 14).

6.3. ZONA LIVRE DE FEBRE AFTOSA COM VACINAÇÃO

A Figura 2.17 identifica a Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação,

oficializada pelo OIE em maio de 2000. Esse tipo de território é definido pelo OIE

como uma área delimitada dentro de um país, na qual não se tenha registrado nenhum

caso de enfermidade inscrita no Código Zoossanitário Internacional durante o período

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indicado para tal enfermidade (no caso da febre aftosa, esse período é de dois anos) e

em cujo interior e limites se esteja exercendo um controle veterinário oficial e efetivo

dos animais, produtos de origem animal e transporte.

No Brasil, a Zona Livre com Vacinação é composta pela quase totalidade do

estado de São Paulo, por grande parte de Mato Grosso e Goiás, por parte de Minas

Gerais e pela totalidade do Paraná e do Distrito Federal, estendendo-se por uma área de

1,6 milhão de km2, que abarca 1 637 municípios. O total de propriedades é 622 mil,

englobando um rebanho bovino de 62 milhões de cabeças. ”Limita-se ao sul com o

estado de Santa Catarina (livre de febre aftosa sem vacinação), ao sudeste com o

Oceano Atlântico, ao leste com a região oriental do Estado de Minas Gerais (que

compõe parte da zona tampão), ao norte com uma faixa de municípios dos estados de

Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais (que constituem parte da zona tampão), ao oeste

com uma faixa de municípios do estado de Mato Grosso, com a totalidade do estado de

Mato Grosso do Sul (constituem parte da zona tampão) e com as Repúblicas do

Paraguai e da Argentina (países livres de febre aftosa, sem vacinação)” ( BRASIL,

2000d, p. 58).

Tabela 2.6 – Informações sobre área, total de municípios e rebanhos bovino e suíno, Zona Livre com Vacinação. 1999.

Rebanho bovino Rebanho suíno Unidade da federação Área (km2) Número de

municípios Propriedades População Propriedades População

São Paulo 245 258 638 145 990 12 379 237 40 565 1 289 019

Paraná 199 323 399 192 632 9 164 398 179 850 4 026 192

Mato Grosso 645 922 109 60 881 13 739 021 18 264 490 141

Goiás 312 699 226 96 607 16 873 233 62 330 1 771 645

Minas Gerais 241 415 264 123 405 9 882 210 473 817 480

Distrito Federal 5 160 1 3 127 102 188 1 982 103 604

Total 1 649 777 1 637 622 642 62 140 287 303 464 7 721 475

Fonte: MAA, 2000.

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78

Figura 2.17 – Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação. 2000.

Fonte: MAA.

MT

GO

MG

SP

PR

DF

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Em termos da indústria frigorífica, temos na Zona Livre com Vacinação um

total de 266 frigoríficos, praticamente 50% deles com Sistema de Inspeção Federal

(SIF) e o restante com Sistema de Inspeção Estadual (SIE): “A indústria frigorífica

localizada na zona livre proposta representa o maior parque industrial deste tipo no país.

Está constituído de 266 frigoríficos para bovinos, que estão submetidos à inspeção

veterinária oficial. Mais de 50% dos frigoríficos de bovinos estão situados nos estados

de São Paulo e do Paraná, próximos às grandes cidades e aos portos para a exportação.

Registra-se, também, a existência de um número significativo de bovinos nos estados de

Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, sendo alguns deles de grande capacidade de abate.

Essa capacidade individual de abate vai desde 50 até 8 600 cabeças/dia” (BRASIL,

2000d, p. 59).

Tabela 2.7 – Indústria frigorífica de carnes na Zona Livre com Vacinação. 1999.

Frigoríficos de bovinos Frigoríficos de suínos Unidade da federação Inspeção

federal Inspeção estadual Total Inspeção

federal Inspeção estadual Total

São Paulo 43 44 87 43 44 87

Paraná 20 53 73 15 43 58

Mato Grosso 20 5 25 3 1 4

Goiás 22 31 53 1 23 24

Minas Gerais 22 3 25 11 6 16

Distrito Federal 1 2 3 1 5 6

Total 128 138 266 74 122 195

Fonte: MAA, 2000.

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80

6.4. ZONA LIVRE DE FEBRE AFTOSA SEM VACINAÇÃO

Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina foram reconhecidos pelo

OIE em 1998 como Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação (Figura 2.18). Tal

certificação restringiu ou impediu o trânsito de animais e subprodutos de outras

unidades da federação para esses dois estados. Tais restrições são assim explicitadas

pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento 35: “Está proibido o ingresso de

animais vacinados contra a febre aftosa na zona livre de febre sem vacinação constituída

pelos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. ... Está proibida a manutenção de

vírus da febre aftosa, vivo, no território de ambos os estados, exceto naquelas

instituições que possuam nas suas instalações dispositivos de biossegurança

oficialmente aprovados. ... Todo vírus vivo para diagnóstico, investigação, produção de

vacinas e outras finalidades, deverá ser entregue ao DDA, para sua imediata destruição.

... Está proibida a aplicação, a manutenção e a venda de vacinas contra febre aftosa no

território dos dois estados. ... A entrada de animais susceptíveis à febre aftosa, produtos

e subprodutos de origem animal, produtos veterinários e todo material ou substância que

possa veicular o vírus da febre aftosa na zona livre sem vacinação somente será

autorizada quando procedentes de zonas ou país de idêntica situação sanitária”.

(BRASIL, 2000e, p. 2).

35 BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução normativa n. 13. Brasília, 19 mai. 2000.

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Figura 2.18 – Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação. 2000.

Fonte: MAA.

RS

SC

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6.5. AMPLIAÇÃO PROPOSTA PARA A ZONA LIVRE DE FEBRE AFTOSA COM VACINAÇÃO

O Brasil prepara-se para formalizar uma proposta de ampliação de sua Zona

Livre de Febre Aftosa com Vacinação, que deverá ser oficializada internamente no país

pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento até dezembro de 2000 e ser

apresentada ao OIE para oficialização internacional em maio de 2001.

Essa ampliação significará a inclusão de mais 39 milhões de cabeças, ou 25%

do rebanho nacional, à Zona Livre de Febre Aftosa. A ampliação fará com que o Brasil

tenha em seu território, em maio de 2001, praticamente 130 milhões de cabeças, ou seja,

82% do seu rebanho, com o status sanitário de Zona Livre de Febre Aftosa com e sem

Vacinação (Figura 2.19).

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Figura 2.19 – Proposta de ampliação da Zona Livre. Evolução para 2001.

Fonte: MAA.

Zona livre de febre aftosa, com vacinação, reconhecida

Ampliação proposta da zona livre com vacinação

Zona tampão proposta

Zona infectada

Matas, florestas, alagados Rios

RS

PR

SP

SC

RJ

ESMG

SE

PE

PB

RN

AL

AP

PAMA

PI

CE

BA MT

ROAC

AM

RR

DF GO

MS

TO

Zona livre sem vacinação

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7. CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA DE BOVINOCULTURA NO CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE

Até o momento descrevemos as características básicas das regionalizações

sanitárias atualmente existentes no Brasil, segundo o Programa Nacional de Erradicação

da Febre Aftosa: Circuitos Pecuários, regionalização por graus de risco de febre aftosa e

zonificação (Zonas Infectada, Tampão e Livre).

Apresentaremos agora informações gerais sobre a cadeia da bovinocultura dos

estados que compõem o Circuito Pecuário Centro-Oeste, frisando as relações existentes

entre eles e outros circuitos

A Tabela 2.8 revela, dentre outras grandezas, uma superfície de praticamente 3

milhões de km2, com um contingente populacional de 71 milhões de habitantes. Dada a

representatividade de seu rebanho bovino, de quase 100 milhões de cabeças, o

equivalente a dois terços do rebanho nacional, a que se soma o crescimento recente de

sua indústria frigorífica e mesmo de seu mercado consumidor, podemos considerar que

esse circuito é o que hoje pauta a dinâmica da pecuária de corte no Brasil.

Tabela 2.8 – Circuito Pecuário Centro-Oeste: informações gerais.

Unidades da

federação Superfície

(km2) População Rebanho(milhões)

Frigorí-ficos com

SIF

Capaci-dade de abates por dia

Total de abates em

1997 (milhões)

Total da produção com SIF

em 1997 1

Percentual da produ-ção com SIF1 por estado

DF 5 822 1 817 001 0,119 * * * * *

GO 341 289 4 501 538 17,4 21 7 900 1,7 259 369 23,13%

MT 906 807 2 227 983 13,7 19 9 700 1,9 226 175 20,17%

MS 358 159 1 922 258 20,1 33 11 600 3,4 513 595 45,80%

MG 588 383 16 660 691 18,2 30 9 880 3,1 14 482 1,29%

PR 199 709 8 985 981 7,9 23 7 270 1,9 107 756 9,10%

SP 248 809 34 055 715 11,2 64 32 160 4,8 - -

TO 278 421 1 048 514 5,1 6 2 720 0,61 8 318 0,51%

Total 2 927 399 71 219 681 93,719 196 81 230 17,41 1 129 695 100%

Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS. * O Distrito Federal não tem frigoríficos com SIF. 1 Total de produtos enviados a SP.

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A seguir, apresentaremos as principais características da atividade em cada

estado deste circuito e descreveremos a quantidade, localização e, em breve análise, a

capacidade de abate instalada e a ociosidade dos frigoríficos por estado. Finalmente

analisaremos o trânsito de animais, produtos e subprodutos entre o Circuito Pecuário

Centro-Oeste e outras unidades da federação.

DISTRITO FEDERAL

O Distrito Federal (Figura 2.20) é um grande importador e consumidor de

carne, por ter um população de quase 2 milhões de habitantes e possuir um rebanho

bovino de apenas 190 mil animais. Dada a pouca oferta de animais, o estado não conta

com grande capacidade de abate, sendo preponderantemente um importador de carne. O

abate em 1999 foi de somente 80 mil cabeças.

A inspeção desse abate é, em sua totalidade, não-federal. (Abatedouros e

frigoríficos com inspeções estadual e municipal, minoritários, não foram analisados

nesta pesquisa.)

O estado que mais abastece o mercado do Distrito Federal, trazendo carnes

com e sem osso, é Goiás, em virtude de sua proximidade geográfica.

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Figura 2.20 – Distrito Federal.

Fonte: MAA.

Circuito Pecuário C.-Oeste

MT

MS SP

PR

MG

GO

TO

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTESUL

Brasil - Circuitos Pecuários

DF

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GOIÁS

A Tabela 2.9 mostra indicadores básicos da pecuária de corte do estado de

Goiás, que servem de parâmetro para várias interpretações.

Tabela 2.9 – Indicadores básicos da pecuária de corte em Goiás. 1999.

Indicador Quantidade

Total do rebanho bovino 16 999 199

Evolução do rebanho bovino (1991-99) –4%

Total do abate bovino 3 014 709

Taxa geral de abate bovino 17,7%

Evolução do abate bovino (1991-99) 30%

Total do rebanho bovino confinado 185 000

Evolução do confinamento (1991-99) 131%

Preço das terras de pastagem R$ 658,00

Frigoríficos com SIF 21

Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.

Em princípio, a capacidade instalada de abate em Goiás (Tabela 2.8) é

insuficiente para dar conta de toda a produção de animais. Verifica-se, porém, no mapa

do trânsito de bovinos de Goiás (Figura 2.22), que em 1997 a saída de bovinos para

serem abatidos em outros estados atingiu somente 62 mil cabeças, constituindo menos

de 4% do total abatido com SIF (1,7 milhões) naquele ano. Se considerado o abate com

SIF estimado pela FNP Consultoria (3,3 milhões), essa porcentagem cai para pouco

mais de 2%. A grande diferença dos dados de abate estimados pela FNP pode ser

atribuída aos dados controversos coletados por outros sistemas de inspeção, não

significando que toda esta diferença seja relativa ao abate clandestino.

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Tabela 2.10 – Frigoríficos em Goiás. 1999.

Cidade Razão Social Capacidade de abate por dia %

Anápolis Frigorífico Santana Ltda. 150 1,90%

Aporé Frigorífico Vale do Aporé 300 3,80%

Buriti Alegre Frimigo – Frig. Ind. Minas Goiás Ltda. 100 1,27%

Cachoeira Alta Frigoalta – Frig. Cachoeira Alta Ltda. 400 5,06%

Goianésia Fricoby Ind. e Comércio de Carnes Ltda. 200 2,53%

Friboi Alimentos Ltda. 600 7,59% Goiânia

Frigorífico Planalto Ltda. 600 7,59%

Brasilian Beef Alimentos Ltda. 500 6,33% Goianira

Frigorífico Nova Goiânia Ltda. 300 3,80%

Goiás Frigorífico Margen Ltda. 400 5,06%

Hidrolândia Frigorífico Boa Esperança Ltda. 200 2,53%

Inhumas Fribras Frig. Ind. Inhumas Ltda. 350 4,43%

Jataí Uruanga Frigoríficos Ltda. 400 5,06%

Pirenópolis Friper Frigorífico Pereira Ltda. 350 4,43%

Porangatu Friporanga Porangatu Frigorífico Ltda. 250 3,16%

Quirinópolis Frigorífico Quirinópolis Ltda. 400 5,06%

Rio Verde Frigorífico Margen Ltda. 700 8,86%

Santa Fé de Goiás Frigorífico Modelo Ltda. 200 2,53%

São Luís de Montes Belos

Frigorífico Rio Vermelho 200 2,53%

São Miguel do Araguaia

Frigorífico São Miguel do Araguaia Ltda. 300 3,80%

Senador Canedo Coop. Ind. de Carnes e Deriv. de Goiás Ltda. 1 000 12,66%

Total do abate por dia: 7 900 100%

Total do abate por mês: 237 000

Total do abate por ano: 2 844 000

Fonte: DFA-GO/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.

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Figura 2.21 – Distribuição dos frigoríficos de Goiás.

Fonte DEA-UFMS, 1999.

Circuito Pecuário Centro-Oeste

MT

MS SP

PR

MG

GO

TO

Fonte: DEA/UFMS, 1999.

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTESUL

Brasil - Circuitos Pecuários

GO

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90

Ingresso e egresso

Os dados da Tabela 2.11 mostram que a saída de animais de Goiás para abate

fora do estado é maior que a quantidade que entra no estado para essa finalidade. A

entrada de animais para outras finalidades é, entretanto, superior à saída, ainda

caracterizando o estado como uma região de engorda, embora os abates venham

aumentando. Na soma geral do trânsito, pode-se considerar Goiás como exportador de

bovinos, apesar da quantidade inexpressiva em relação ao tamanho do rebanho estadual.

Tabela 2.11 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Goiás, 199736

Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)

Exportação 122 604 61,792 Exportação 169 164 42,291

Importação 69 741 35,149 Importação 218 424 54,606

Saldo +62 863 31,683 Saldo –49 260 12,315

Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$ 504,00; valor médio de outras atividades: R$ 250,00.

A Figura 2.22 demonstra o fluxo de bovinos em 1997 entre Goiás e unidades

da federação limítrofes. Observa-se que o trânsito é mais intenso com os estados de

Minas Gerais e Mato Grosso, o que se faz sem restrições pelo fato de esses estados

também fazerem parte da Zona Livre com Vacinação.

36 Os dados são relativos ao ano de 1997. Dados mais recentes não estiveram disponíveis no fechamento deste trabalho devido a alterações na base de dados processada pelo MAA em julho de 1999.

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Figura 2.22 – Trânsito de bovinos. Goiás, 1997.

MT ➜ GO Abate 43.373 Outras 73.654

TOTAL 117.029

GO ➜ MT Abate 6.240

Outras 74.537 TOTAL 80.777

SALDO + 36.252

GO ➜ MS Abate 8.363

Outras 23.067 TOTAL 31.430

SALDO - 11.898

MS ➜ GO Abate 5.190

Outras 14.342 TOTAL 19.532

MG ➜ GO Abate 11.795

Outras 121.053 TOTAL 132.848

GO ➜ MG

Abate 107.916 Outras 53.380

TOTAL 161.296 SALDO - 28.448

TO ➜ GO Abate 9.383 Outras 9.375

TOTAL 18.758

GO ➜ TO Abate 85

Outras 18.180 TOTAL 18.265 SALDO + 493

Entrada GO

Saída GO

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE SUL

BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS

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MINAS GERAIS

Os indicadores básicos da pecuária de corte do estado de Minas Gerais estão

expostos na Tabela 2.12.

Tabela 2.12 – Indicadores básicos da pecuária de corte de Minas Gerais. 1999.

Indicador Quantidade

Total do rebanho bovino 18 778 078

Evolução do rebanho bovino (1991-99) –12%

Total do abate bovino 2 809 787

Taxa geral de abate bovino 15%

Evolução do abate bovino (1991-99) 13%

Evolução do confinamento (1991-99) 71%

Total do rebanho bovino semiconfinado 140 000

Preço das terras de pastagem R$ 649,00

Frigoríficos com SIF 30

Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.

O rebanho bovino total é de quase 19 milhões de cabeças, presentes sobretudo

na margem esquerda do rio São Francisco, onde se concentra de forma mais

significativa a bovinocultura leiteira. A bovinocultura de corte tem maior importância

na região do Triângulo Mineiro. O rebanho bovino de Minas Gerais diminuiu em 12%

na última década.

A Figura 2.23 indica a distribuição dos frigoríficos de Minas Gerais,

evidenciando uma concentração destes na região do Triângulo Mineiro, onde se

encontra também a maioria do rebanho de corte do estado.

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Tabela 2.13 – Frigoríficos de Minas Gerais

Cidade Razão social Capacidade de abate por

dia %

Frigorífico Mataboi 500 5,39% Araguari

Santa Lúcia Indústria e Comércio de Carnes Ltda. 200 2,16% Fricon Frigorífico Industrial de Contagem 250 2,69% Frigoneto Ltda. 150 1,62% Belo Horizonte Frigorífico Modelo Ltda. 300 3,23%

Bertim Frigobet – Frigorífico Industrial Bertim Ltda. 600 6,47% Campina Verde K Milão Produtos Frigoríficos Ltda. 250 2,69% Campo Belo Sudoeste Indústria Comércio Distribuição 250 2,69% Carlos Chagas Frigorífico JL Ltda. 200 2,16% Governador Valadares Casas Sendas Comércio e Indústria S/A. 400 4,31%

Igarapé Frigorífico Alvorada Ltda. 200 2,16% Itajubá Matadouro Frigorífico Itajubá 300 3,23%

Frigorífico Diamante do Pontal Ltda. 150 1,62% Ituiutaba

Frigorífico Bertin Ltda. 1 200 12,93% Nanuque Friga Frigorífico Rio Doce S/A. 500 5,39% Pará de Minas Unifrigo Indústria e Comércio Ltda. 200 2,16% Passos Frigom – Prefeitura Municipal de Passos 150 1,62%

Xingu Alimentos Ltda. 250 2,69% Patrocínio

Indústria de Carnes e Derivados S/A. 300 3,23% Frigorífico Tamoyo Ltda. 300 3,23%

Poços de Caldas Frigorífico Nossa Senhora da Saúde Ltda. 200 2,16%

Sabará Frigorífico R & M Ltda. 200 2,16% São Sebastião do Paraíso Vale do Paraíso 150 1,62%

Teófilo Otoni Bola S/A. Indústria Alimentícia 600 6,47% Ubá Cinducar Comércio e Ind. Ubaense de Carnes Ltda. 150 1,62% Uberaba Miusa Matadouro Industrial Uberaba Ltda. 200 2,16%

Frigorífico Triângulo Ltda. 150 1,62% UA – Comércio e Indústria S/A. 700 7,54% Uberlândia FL Frigorífico Luciana e Corretora de Cereais 200 2,16%

Unaí Frigorífico Brasil Central Ltda. 80 0,86% Total de abates por dia: 9 280 100% Total de abate por mês: 278 400 Total de abates por ano: 3 340 800 Fonte: Delegacia Federal de Agricultura – DFA-MG/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.

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Figura 2.23 – Distribuição dos frigoríficos de Minas Gerais. 1999.

Fonte DEA-UFMS, 1999.

Circuito Pecuário Centro-Oeste

MT

MS SP

PR

MG

GO

TO

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE

SUL

Brasil – Circuitos Pecuários

GO

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Ingresso e egresso

Em 1997, Minas Gerais foi um fornecedor de bovinos para outros estados,

tanto para abate como para outras finalidades, como se verifica na Tabela 2.14, embora

com tendência de crescimento do consumo interno.

Tabela 2.14 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Minas Gerais, 1997.

Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)

Exportação 175 408 88,406 Exportação 291 323 72,831

Importação 108 395 54,631 Importação 68 679 17,170

Saldo +67 013 33,775 Saldo +222 744 55,686

Fonte: Emissão de GTAs de cada estado e dados coletados em barreiras sanitárias. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.

Os maiores parceiros de Minas Gerais no comércio de bovinos são os estados

de São Paulo e Goiás (Figura 2.24), que também se localizam na Zona Livre de Febre

Aftosa, o que não representou um empecilho por ocasião do fechamento de divisas entre

as Zonas Livre e Tampão. A saída de bovinos de Minas Gerais para as Regiões Leste e

Nordeste (Espírito Santo e Bahia) é bem superior à entrada proveniente dessas regiões,

o que leva a concluir que Bahia e Espírito Santo são potenciais consumidores de carne,

e não produtores37.

37 Os dados de saída de bovinos de Minas Gerais são baseados na emissão de GTAs, e os referentes à entrada de bovinos em Minas Gerais provenientes do Espírito Santo e da Bahia foram coletados nas barreiras sanitárias mineiras. Acreditamos que os dados baseados na emissão de GTAs estão mais próximos da realidade.

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Figura 2.24 – Trânsito de bovinos. Minas Gerais, 1997.

Fonte: MAA.

Saída MG

Entrada MG

BA ➜ MG Abate 3

Outras 93 TOTAL 96

MG ➜ BA Abate 21.103 Outras 37.934

TOTAL 59.037

GO ➜ MG Abate 107.916 Outras 53.380

TOTAL 161.296

MG ➜ GO Abate 11.795

Outras 121.053 TOTAL 132.848

ES ➜ MG Abate 0

Outras 25 TOTAL 25

MG ➜ ES Abate 20.726 Outras 15.613

TOTAL 36.341

SP ➜ MG Abate 476

Outras 15.181 TOTAL 15.657

MG ➜ SP Abate 121.784Outras 116.723

TOTAL 238.507

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE SUL

Brasil - Circuitos Pecuários

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MATO GROSSO

Nota-se na Tabela 2.15 que a pecuária do estado de Mato Grosso cresceu muito

nos últimos anos 90, tanto quantitativa como qualitativamente. Entre 1990 e 1999, o

rebanho teve um crescimento de 42%, e o abate aumentou quase 77% no mesmo

período. Mais expressivo ainda foi o crescimento do rebanho confinado, que aumentou

em 370% de 1990 para 1995. Mato Grosso é o estado onde se registrou o maior

crescimento do rebanho no país na década de 90, explicado principalmente pela

existência de regiões de ocupação e pelos preços das terras. O preço médio de R$

455,00/ha faz de Mato Grosso um pólo de atração tanto para a pecuária quanto para

outras atividades agrícolas, tais como as culturas de soja e de algodão.

Além dos aspectos mencionados, a recente melhoria na infra-estrutura,

especialmente em transporte e energia elétrica, colabora para trazer uma nova dinâmica

ao agronegócio no estado, com grande importância para a bovinocultura de corte.

Tabela 2.15 – Indicadores básicos da pecuária de corte de Mato Grosso. 1999.

Indicador Quantidade

Total do rebanho bovino 15 539 678

Evolução do rebanho bovino (1991-99) 42%

Total do abate bovino 2 643 846

Taxa geral de abate bovino 17%

Evolução do abate bovino (1991-99) 77%

Total do rebanho bovino confinado 165 000

Evolução do confinamento (1991-99) 370%

Preço das terras de pastagem R$ 455,00

Frigoríficos com SIF 19

Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.

A figura 2.25 traz a distribuição dos frigoríficos de Mato Grosso, evidenciando

uma certa predominância de instalações no sul e sudeste do estado. A capacidade

instalada de abate é de 3,2 milhões de animais por ano.

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Tabela 2.16 – Frigoríficos de Mato Grosso. 1999.

Cidade Razão Social Capacidade de abates por dia %

Água Boa Frigorífico Água Boa Ltda. 600 6,59%

Canarana Frigorífico Fricam de Canarana 200 2,20%

Alta Floresta Alta Floresta Indústria Frigorífica Ltda. 500 5,49%

Araputanga Fribdara – Frigorífico Araputanga Ltda. 600 6,59%

Bertin Ltda. 500 5,49% Barra do Garças

Frigorífico Pontal do Araguaia Ltda. 800 8,79%

Cáceres Frigosol – Frigorífico Vale do Sol 400 4,40%

Colider Frigorífico Colider Ltda. 600 6,59%

Cuiabá Frigorífico Frigoverdi Ltda. 400 4,40%

Mirassol D´Oeste Frigosafra Indústria e Comércio de Alimentos Ltda. 400 4,40%

Pedra Preta Frigomarca – Martins Caldas e Cia. Ltda. 300 3,30%

Pontes e Lacerda Frigorífico Vale do Guaporé 600 6,59%

Agra Agroindústria de Alimentos S/A. 200 2,20% Rondonópolis

Frivale – Frigorífico Vale do Rio Vermelho Ltda. 600 6,59%

Sinop Frigorífico Alto Norte S/A. 400 4,40%

Tangará da Serra Frigorífico Tangará Ltda. 600 6,59%

Sadia Frigobrás – Indústria e Comércio 800 8,79%

Frigopam – Frigorífico Portal da Amazônia Ltda. 300 3,30% Várzea Grande

Frigorífico Várzeagrandense Ltda. 300 3,30%

Total de abates por dia: 9 100 100%

Total de abates por mês: 273 000

Total de abates por ano: 3 276 000

Fonte: DFA-MT/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999..

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99

Figura 2.25 – Distribuição dos frigoríficos de Mato Grosso. 1999.

Fonte: MAA.

Circuito Pecuário Centro-Oeste

MT

MS

SP

PR

MG

GO

TO

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTESUL

Brasil – Circuitos Pecuários

MT

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100

Ingresso e egresso

Os dados da Tabela 2.17 revelam que Mato Grosso é um importador de

bovinos tanto para abate como para outras finalidades, apesar do pequeno volume desse

trânsito.

Tabela 2.17 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso, 1997.

Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)

Exportação 47 826 24,104 Exportação 88 927 22,232

Importação 118 590 59,769 Importação 101 459 25,365

Saldo –70 764 35,665 Saldo –12 532 3,133

Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.

A figura 2.26, que explicita o trânsito de bovinos entre Mato Grosso e seus

estados limítrofes, mostra que em 1997 provieram de Rondônia 106 mil animais para

serem abatidos. A capacidade instalada de frigoríficos de Rondônia, tendo aumentado

muito nos últimos anos, é hoje plenamente capaz de absorver toda a produção interna de

bovinos para abate. A proibição da entrada de bovinos de Rondônia, a partir do início de

2000, foi contornada graças à capacidade de oferta interna de Mato Grosso.

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101

Figura 2.26 – Trânsito de bovinos. Mato Grosso, 1997.

Fonte: MAA.

RO ➜ MT Abate 106.369

Outras 0 TOTAL 106.369

MT ➜ RO

Abate 0 Outras 0

TOTAL 0 SALDO + 106.369

MT ➜ PA Abate 860

Outras 8.719 TOTAL 9.579

GO ➜ MT Abate 6.240

Outras 74.537 TOTAL 80.777

MT ➜ GO

Abate 43.373 Outras 73.654

TOTAL 117.029SALDO - 36.252

MS ➜ MT Abate 5.121

Outras 18.203 TOTAL 23.324

MT ➜ MS Abate 4.453

Outras 15.266 TOTAL 19.719 SALDO + 3.605

Entrada MT

Saída MT

Trânsito bovino

INTRAESTADUAL(4.680.382 bovinos)

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE SUL

BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS

PA ➜ MT Abate 0 Outras 7

TOTAL 7 SALDO + 9.572

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102

MATO GROSSO DO SUL

O rebanho bovino de Mato Grosso do Sul teve pouco crescimento nos últimos

anos, mas a evolução do abate e dos confinamentos no estado foi bastante expressiva.

Entre 1990 e 1996 o abate cresceu 180% e o confinamento teve um acréscimo de 163%

de 1990 a 1995. A capacidade instalada de abate com SIF no estado é suficiente para

dar conta de toda a sua produção de bovinos, embora ainda haja abatedouros sob outros

tipos de inspeção.

Tabela 2.18 – Indicadores básicos da pecuária de corte. Mato Grosso do Sul, 1999.

Indicador Quantidade

Total do rebanho bovino 20 032 867 *

Evolução do rebanho bovino (1991-99) 0%

Total do abate bovino 3 184 109

Taxa geral de abate bovino 16%

Evolução do abate bovino (1991-99) 17%

Total do rebanho bovino confinado 145 000

Evolução do confinamento (1991-99) 163%

Preço das terras de pastagem R$ 745

Frigoríficos com SIF 33

Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil, UFMS e IAGRO-MS. * 22,7 milhões segundo dados do IAGRO-MS, 2000.

Questões específicas da cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do

Sul serão abordadas adiante. Na Tabela 2.18, porém, já podemos identificar alguns

aspectos indicativos de que a cadeia produtiva no estado, apesar de ainda envolver o

maior rebanho de corte de país, vive um processo de esgotamento. No período 1990-99

o rebanho manteve-se praticamente estagnado, na faixa das 20 milhões de cabeças.

Comparada à de outros estados da federação, a taxa de abate 16% de Mato

Grosso do Sul é ainda relativamente baixa. O estado é, ainda que cada vez menos,

exportador de animais em pé para engorda e abate em outros estados.

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103

O número de plantas frigoríficas não passou por aumento nos últimos anos,

mesmo porque a capacidade instalada de abate é cerca de 30% superior ao efetivamente

abatido. Até agosto de 1999, quando ocorreu o fechamento de suas divisas com os

demais estados do Circuito Pecuário Centro-Oeste, interrompendo o trânsito de animais

em pé, que eram destinados especialmente a São Paulo, havia uma grande disputa por

matéria-prima (bois) de Mato Grosso do Sul. Após aquela data, os frigoríficos

instalados no estado passaram a dispor de uma maior oferta de animais, o que lhe

permitiu aumentar as escalas de abate.

A Figura 2.27 mostra que as instalações frigoríficas estão bem distribuídas em

Mato Grosso do Sul, com uma menor concentração no sul do estado, que se caracteriza

como uma região mais de engorda que de outras finalidades..

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104

Tabela 2.19 – Frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999.

Município Razão social Capacidade de abate por dia % Desossa

Credencia-mento para exportação

Amambaí Fribai Frig. Vale Amambaí 580 3,80% Sim

Anastácio Frig. Independência Ltda. – ANA 600 3,93% Sim Sim

Frigorífico Sul Ltda. 420 2,75% Sim Aparecida do Taboado

Frig. Aparecida do Taboado 400 2,62% Não

Bataguassu Swift Armour S/A. 640 4,20% Sim

Bataiporã Frigonostro Ind. Com. Carnes Ltda. 740 4,85% Sim

Caarapó Friara Com. Carnes Ltda. 530 3,48% Sim

Frig. Boi Centro-Oeste 250 1,64% Sim

Friboi Ltda. 670 4,39% Sim

Swift Armour 1 200 7,87% Sim Sim Campo Grande

Frig. Campo Grande Ltda. 650 4,26% Sim

Cassilândia Tatuibi Ind. de Alimentos Ltda. 380 2,49% Sim

Corumbá Frig. Urucum 100 0,66% Sim

Coxim Frig. Margem Ltda. 350 2,30% Não

Eldorado Frig. Catarinense Ltda. 320 2,10% Sim

Guia Lopes da Laguna Frig. Pedra Branca Ltda. 250 1,64% Sim

Frig. Iguatemi 350 2,30% Sim Iguatemi

Bom Charque Ind. e Com. Ltda. 350 2,30% Sim

Itaporã Frig. Pedra Bonita 450 2,95% Sim

Navi Carnes Ind. e Com. Ltda. 230 1,51% Sim Naviraí

Bertin Ltda. 780 5,12% Sim Sim

Nioaque Frig. Boi Brasil Ltda. 350 2,30% Não

Frig. Independência 1 118 7,33% Sim Sim Nova Andradina

Frig. Pontual 420 2,75% Sim

Paranaíba Margem Ltda. 560 3,67% Sim

Ponta Porá Frig. Ponta-Porã 300 1,97% Sim

Ribas do Rio Pardo Bertin Ltda. 530 3,48% Sim

Rio Verde Frig. Margem Ltda. 300 1,97% Sim

Rochedo Frig. Rochedo 500 3,28% Não

Terenos Frigolop Frig. 430 2,82% Não

Três Lagoas Frigotel 500 3,28% Sim Sim

Total: 15 248 100,00%

Total sem desossa: 2 030

Total com desossa: 13 218

Fonte: DFA-MS/MAA. Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.

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105

Figura 2.27 – Distribuição dos frigoríficos em Mato Grosso do Sul. 1999.

Fonte: MAA.

Circuito Pecuário Centro-

MT

MS S

PR

MG

GO

TO

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE SUL

Brasil - Circuitos Pecuários

MS

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106

Ingresso e egresso

A Tabela 2.20 evidencia que Mato Grosso do Sul é um exportador de bovinos.

No entanto, a Tabela 2.21 revela que o trânsito interno desse estado é intenso. Quanto

ao trânsito de interestadual de bovinos, verifica-se acentuada redução em 1999, com o

fechamento, a partir de agosto daquele ano, das divisas entre Mato Grosso do Sul e os

demais estados do Circuito Pecuário Centro-Oeste.

Tabela 2.20 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Mato Grosso do Sul, 1997.

Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)

Exportação 656 524 330,888 Exportação 311 691 77,923

Importação 12 863 6,483 Importação 72 722 18,181

Saldo +643 661 324,405 Saldo +238 969 59,742

Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.

Tabela 2.21 – Evolução do trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1996-99.

Ano Intraestadual Interestadual Total

1996 12 269 756 1 231 307 13 501 063

1997 12 389 549 1 008 769 13 398 318

1998 11 435 945 691 930 12 127 875

1999 12 345 560 410 000 12 755 560

Em São Paulo, a interrupção da oferta de bovinos para abate oriundos de Mato

Grosso do Sul acarreta maior ociosidade nos frigoríficos. Além disso, a proibição da

entrada de carne traz outra desvantagem: o desemprego. Por outro lado, essas limitações

ao trânsito acarretarão aumento no números de empregos nesses setores (abate e

desossa) em Mato Grosso do Sul.

Devido às restrições ao trânsito de animais em pé de Mato Grosso do Sul para

a Zona Livre (que em 1998 fora de quase 400 mil cabeças para abate destinadas apenas

a São Paulo) e pelo fato de esses animais passarem a ser abatidos e desossados dentro

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107

do estado, Mato Grosso do Sul teve um acréscimo de valor agregado de

aproximadamente R$ 500 milhões e uma geração de 5 000 empregos diretos, sobretudo

na instalação, ampliação e modernização de desossas.

Nesse sentido, o fechamento das divisas sul-mato-grossenses com outros

estados acabou por conformar e solidificar o processo de deslocamento da indústria

frigorífica, de São Paulo especialmente, para Mato Grosso do Sul.

Até agosto de 1999, o envio de bovinos para São Paulo é foi o mais

significativo, superando em mais de 10 vezes a quantidade comercializada com os

outros estados. Esse trânsito para São Paulo já vinha diminuindo sensivelmente nos

anos anteriores, dando continuidade a um processo de transformação: até o final da

década de 80, Mato Grosso do Sul era produtor e fornecedor de animais vivos para

outros estados, principalmente para São Paulo, mas no início dos anos 90 as indústrias

frigoríficas passaram a se instalar maciçamente em seu território, podendo hoje absorver

toda a demanda do setor. Tal deslocamento deve-se a fatores — como a proximidade

com a matéria-prima e custos dos transportes — que, tanto isolada quanto

agregadamente, conferem maior nível de competitividade à indústria frigorífica sul-

mato-grossense.

A quantidade de bovinos que deixaram Mato Grosso do Sul com destino a São

Paulo teve uma redução de praticamente 50% num período de apenas dois anos (1996-

98), como mostram a Tabela 2.22 e o Gráfico 2.3.

Tabela 2.22 – Trânsito de bovinos com origem em Mato Grosso do Sul e destino a São Paulo. 1996-98.

Ano Para abate Para cria/recria Para reprodução, feiras, leilões Total

1996 674 354 152 382 180 909 1 007 645

1997 627 123 125 885 127 032 880 040

1998 388 545 107 612 100 138 596 295

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108

Gráfico 2.3 – Evolução da saída de bovinos de Mato Grosso do Sul com destino a São Paulo. 1996-98.

627.123

388.545

674.354

107.612125.885152.382

100.138

127.032180.909

1996 1997 1998

Abate Cria e recria Reprodução, feiras e leilões

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109

Figura 2.28 – Trânsito de bovinos. Mato Grosso do Sul, 1997.

Fonte: MAA.

Trânsito bovino

INTRAESTADUAL(12.391.751 bovinos)

MS ➜ MT Abate 5.121

Outras 18.203 TOTAL 23.324

MT ➜ MS Abate 4.453

Outras 15.266 TOTAL 19.719

MS ➜ GO Abate 5.190

Outras 14.342 TOTAL 19.532 GO ➜ MS

Abate 8.363 Outras 23.067

TOTAL 31.430

MS ➜ SP Abate 627.123 Outras 252.917

TOTAL 880.040

MS ➜ PR Abate 19.090 Outras 26.229

TOTAL 45.319

PR ➜ MS Abate 47

Outras 44.389 TOTAL 44.436

Entrada MS

Saída MS

LESTE NORTE NORDESTE

CENTRO-OESTE SUL

BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS

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110

Quando, em julho de 1999, a pesquisa O trânsito de animais, produtos e

subprodutos e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos

impactos econômicos, da UFMS, concluiu pela possibilidade do fechamento das divisas

estaduais do Mato Grosso do Sul, dado que o estado poderia administrar e mesmo

auferir vantagens com essa restrição, observou-se uma reação muito pronunciada dos

produtores rurais sul-mato-grossenses, sobretudo os maiores. Afirmavam eles que

adviriam diferenças insuportáveis nos preços a serem pagos aos animais em pé dentro

no território estadual, o que levaria Mato Grosso do Sul a arcar com prejuízos

significativos. Juntamente com tais pecuaristas, consorciaram-se a tal discurso

representantes da indústria frigorífica, sobretudo a de São Paulo, alegando ser

imanejável a falta de animais em pé provenientes de Mato Grosso do Sul, com

conseqüente desabastecimento do mercado de carnes paulista. Tal reação foi mais

pronunciada por parte de representantes paulistas que compravam carne de Mato Grosso

do Sul para ser desossada em São Paulo, pois as novas restrições lhes vedavam essa

operação.

O que de fato acabou por se verificar foi um deslocamento de indústrias

frigoríficas, antes instaladas sobretudo em São Paulo, atraídas para Mato Grosso do Sul

pelas facilidades (proximidade com a matéria-prima e custo de transporte) e mesmo

diferenças de preço (o preço do boi em pé é menor que em São Paulo). Assim

instaladas, deverão permanecer em definitivo, uma vez que a desossa está praticamente

consolidada a se processar nas regiões de abate.

Constata-se, assim, que Mato Grosso do Sul atinge recordes de abate em 2000,

alcançando no primeiro semestre desse ano a média mensal de 215 000 cabeças por

mês, nível inédito no passado. Tais números evidenciam as tendências definitivas de

que produção, abate e desossa se realizem todas nas mesmas regiões.

PARANÁ

A Tabela 2.23 mostra um decréscimo no número de bovinos paranaenses entre

1988 e 1997. Essa alteração, de fato, se deve a uma tendência de deslocamento do

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111

rebanho bovino paranaense para a Região Norte do país. Os confinamentos tiveram um

crescimento pequeno quando comparado ao de alguns outros estados, embora 85% de

crescimento em cinco anos constitua uma boa variação. O abate aumentou só 34% de

1990 para 1996, o que confirma a tendência de expansão da pecuária para os estados das

Regiões Centro-Oeste e Norte e a de aproximação das indústrias frigoríficas à matéria-

prima (boi).

Tabela 2.23 – Indicadores básicos da pecuária de corte. Paraná, 1999.

Indicador Quantidade

Total do rebanho bovino 9 602 782

Evolução do rebanho bovino (1991-99) 0%

Total do abate bovino 2 643 846

Taxa geral de abate bovino 16,9%

Evolução do abate bovino (1991-99) 23%

Total do rebanho bovino confinado 90 000

Evolução do confinamento (1991-99) 28,5%

Preço das terras de pastagem R$ 1 538,00

Frigoríficos com SIF 23

Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.

A Figura 2.29 mostra a distribuição dos frigoríficos paranaenses. A Tabela 2.24

explicita a capacidade instalada de abate por frigorífico. No total, estes perfazem uma

capacidade de abater mais de 2,4 milhões de animais por ano, sem computar o abate

com inspeção estadual ou municipal, que é considerável no estado.

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112

Tabela 2.24 – Frigoríficos do Paraná. 1997.

Cidade Razão social Capacidade de abate por dia %

Arapongas Com. Prod. Alim. Daka Ltda. 350 5,20%

Campo do Tenente Comércio de Carnes Campo do Tenente Ltda. 150 2,23%

Campo Mourão Frifeme – Frios Ferri Medranno Ltda. 100 1,49%

Cianorte Eichenberg & Barbosa Ltda. 100 1,49%

Cruzeiro do Oeste Frigorífico Paraná Oeste Ltda. 400 5,94%

Foz do Iguaçu Abatedouro Municipal de Foz do Iguaçu 150 2,23%

Jacarezinho Frigorífico Rio Vermelho Ltda. 200 2,97%

Jataizinho Frigorífico Santinho Ltda. 150 2,23%

Joaquim Távora Frigorífico Estrela Ltda. 400 5,94%

Loanda Frigorífico Vale dos Três Rios Ltda. 350 5,20%

Londrina Frigorífico Caiubi Ltda. 180 2,67%

Frigorífico Nacional Ltda. 550 8,17%

Frigorífico Naviraí Ltda. 400 5,94% Maringá

Frigorífico Pantaneiro Ltda. 650 9,66%

Nova Esperança Frigorífico New Hope Ltda. 300 4,46%

Frigorífico Continental Ltda. 600 8,92% Paranavaí

Frigorífico Novo Paranavaí Ltda. 500 7,43%

Pato Branco Frigorífico Sudoeste Ltda. 150 2,23%

Ponta Grossa Associação do Com. e Ind. de Carnes de Ponta Grossa Ltda.

100 1,49%

São José dos Pinhais Frigorífico Argus Ltda. 250 3,71%

Tabejara M. Marques Neto & Cia Ltda. 300 4,46%

Toledo Frigorei 150 2,23%

Umuarama Frigorífico Umuarama Ltda. 250 3,71%

Total de abates por dia: 6 730 100%

Total de abates por mês: 201 900

Total de abates por ano: 2 422 800

Fonte: DFA-PR/MAA Elaboração: Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.

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113

Figura 2.29 – Distribuição dos frigoríficos no Paraná. 1999.

Fonte: MAA.

MT

MSSP

PR

MG

GO

TO

Circuito Pecuário Centro-Oeste

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE

SUL

Brasil - Circuitos Pecuários

PR

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114

Ingresso e egresso

Como se pode observar na Tabela 2.25, o estado do Paraná não tem grande

movimentação interestadual de bovinos.

Tabela 2.25 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Paraná, 1997.

Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)

Exportação 18 245 9,195 Exportação 73 673 18,418

Importação 19 225 9,689 Importação 35 364 8,841

Saldo –980 0,494 Saldo +38 309 9,577

Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.

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115

Figura 2.30 – Trânsito de bovinos. Paraná, 1997.

Fonte: MAA.

MATO GROSSO DO SUL SÃO PAULO

SANTA CATARINA

PR ➜ MS Abate 47

Outras 44.389 TOTAL 44.436

PR ➜ SP Abate 18.198 Outras 29.284

TOTAL 47.482SP ➜ PR Abate 135

Outras 9.135 TOTAL 9.270

Entrada PR

Saída PR

LESTE NORTE NORDESTE

CENTRO-OESTE

SUL

BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS

MS ➜ PR Abate 19.090 Outras 26.229

TOTAL 45.319

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116

SÃO PAULO

O rebanho bovino paulista (Tabela 2.26) diminuiu desde 1988, o que se deve à

ida dos criadores de bovinos para as Regiões Centro-Oeste e Norte.

Tabela 2.26 – Indicadores básicos da pecuária de corte de São Paulo. 1999.

Indicador Quantidade

Total do rebanho bovino 12 494 365

Evolução do rebanho bovino (1991-99) 0%

Total do abate bovino 4 936 301

Taxa geral de abate bovino 35%

Evolução do abate bovino (1991-99) 7%

Total do rebanho bovino confinado 435 000

Evolução do confinamento (1991-99) 107%

Preço das terras de pastagem R$ 1 884,00

Frigoríficos com SIF 64

Fonte: Dados do IBGE, Anualpec 98, do MAA, da Análise Setorial Gazeta Mercantil e UFMS.

O estado de São Paulo ainda possui a maior capacidade de abate instalada no

país (20% do abate nacional), mas não está mais em primeiro lugar no abate de animais

com SIF, posição que foi assumida por Mato Grosso do Sul. Os frigoríficos instalados

em São Paulo trabalham com grande capacidade ociosa, uma vez que o Centro-Oeste

deixou de ser grande fornecedor de animais para abate em outros estados, especialmente

este. A distribuição dos frigoríficos paulistas é apresentada na Figura 2.31.

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117

Tabela 2.27 – Frigoríficos de São Paulo. 1999.

Município Razão social Capacidade de abate diária %

Andradina Sadia Oeste S/A. Industria e Comercio 640 2,45%

Frigorífico Araçatuba S/A. – Araçafrigo 640 2,45%

Indústria e Comércio de Carnes Montenegro Araçatuba Ltda. 640 2,45% Araçatuba

Sadia Oeste S/A. Industria e Comércio 640 2,45%

Araras Frigorífico Santa Marta Ltda. 160 0,61%

Anglo Alimentos S/A. 640 2,45%

Búfalo Indústria e Comercio de Subprodutos Bovinos Ltda. 160 0,61% Barretos

Indústria e Comercio de Carnes Minerva Ltda. 640 2,45%

Bauru Frig. Vangelio Mondelli Ltda. Com. Ind. de Carnes 640 2,45%

Campinas Cooperativa Agropecuária Holambra 160 0,61%

Cotia Patmon Frigorífico Ltda. 320 1,23%

Cruzeiro Frigorífico Cleumar Ltda. 320 1,23%

Estrela D'Oeste Frigoestrela Frigorífico Estrela D'Oeste Ltda. 640 2,45%

Garça Frigus Frigorífico Unidos S/A. 640 2,45%

Guapiacu Frigorífico Caromar Ltda. 160 0,61%

Guararapes Frig Frigorífico Industrial Guararapes Ltda. 640 2,45%

Ibitinga Frigorífico Dm Ltda. 320 1,23%

Itapetininga Frigorífico Atenas do Sul Ltda. 160 0,61%

Itapira Refrigo Indústria Comércio Importação Exportação Ltda. 640 2,45%

Frigorífico Itaruma Ltda. 640 2,45% Jales

Frigorífico Jales Ltda. 320 1,23%

Jaú Frigorífico Vale Verde Ltda. 160 0,61%

Cargill Agrícola S/A. 640 2,45%

Frigorífico José Bonifácio Ltda. 320 1,23% José Bonifácio

Indústria Frigorífico Limtor Ltda. 640 2,45%

Lençóis Paulista Frigol Comercial Ltda. 640 2,45%

Limeira Geraldo Pacheco & Cia. Ltda. 640 2,45%

Lins Bertin Ltda. 640 2,45%

Maracaí Maracaí Frigo Ltda. 160 0,61%

Martinópolis Frigorífico Santa Marina Ltda. 320 1,23%

Nova Odessa Instituto de Zootecnia 160 0,61%

Osvaldo Cruz Frisane – Frigorífico Santa Neusa Ltda. 160 0,61%

Paulicéia Frigorífico Gongom Ltda. 160 0,61%

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Frigorífico Pereira Barreto Ltda. 160 0,61% Pereira Barreto

Ilha Solteira Comércio e Indústria Ltda. 320 1,23%

Frigorífico Angelelli Ltda. 320 1,23% Piracicaba

Frigorífico Raja Ltda. 640 2,45%

Pirajuí Frigorífico BMV Ltda. 160 0,61%

Pirapozinho Frigorífico Pirapó Ltda. 160 0,61%

Piraçununga UPS – União de Produtores de Suínos 320 1,23%

Presidente Bernardes Maracaí Distribuidora de Produtos Alimentícios Ltda. 160 0,61%

Presidente Epitácio Swift Armour S/A. Indústria e Comércio 640 2,45%

Prudenfrigo Prudente Frigorífico Ltda. 320 1,23%

Santa Marina Transportadora e Abatedoura Ltda. 160 0,61% Presidente Prudente

Swift Armour S/A. Indústria e Comércio 640 2,45%

Presidente Venceslau Frigorífico Kaiowa S/A. 640 2,45%

Promissão Frigorífico Gejota Ltda. 640 2,45%

Rancharia Frigorífico São Gabriel Ltda. 160 0,61%

São José do Rio Preto Frigorífico Boi Rio Ltda. 320 1,23%

São João Da Boa Vista Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista 160 0,61%

São Manoel Comércio de Carnes Vale do Boi 160 0,61%

São Miguel Comercio de Carnes Vale do Boi Ltda. 320 1,23%

Frigorífico Cabral Ltda. 640 2,45%

Frigorífico de Cotia Ltda. 640 2,45%

Frigorífico Guapeva S/A. 640 2,45%

Frigorífico Mo Zaquatro Ltda. 320 1,23%

São Paulo

Transmeat Transportes Ltda. 320 1,23%

Sertãozinho Agro Indústria e Comércio de Carnes e Derivados Olimpikus Ltda. 640 2,45%

Socorro Frigorífico Vale das Águas Ltda. 160 0,61%

Sud Menucci Frigorífico Sorboi Ltda. 160 0,61%

Taquaritinga Frigorífico Taquaritinga Ltda. 160 0,61%

Tupã Frigorífico Sastre Ltda. 320 1,23%

Vinhedo Frigorífico Planalto Ltda. 640 2,45%

Votuporanga Frigoalta Frigorífico Cachoeira Alta Ltda. 640 2,45%

Total de abates por dia: 26 080 100%

Total de abates por mês: 782 400

Total de abates por ano: 9 388 800

Fonte: DFA-SP/MAA Elaboração: Pesquisa Trânsito de animais e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise de impactos econômicos. DEA/UFMS/FAPEC, 1999.

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Figura 2.31 – Distribuição dos frigoríficos em São Paulo.

Fonte: MAA.

Circuito Pecuário Centro-Oeste

MT

MS

SP

PR

MG

GO

TO

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE

SUL

Brasil - Circuitos Pecuários

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Ingresso e egresso

O estado é grande importador não só de bovinos vivos, mas também de carne

com e sem osso (Tabela 2.28 e Figura 2.32). A indústria frigorífica paulista atualmente

se concentra mais na desossa de carnes oriundas da Região Norte e partes da Centro-

Oeste.

Tabela 2.28 – Trânsito de animais (entrada e saída). São Paulo, 1997.

Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)

Exportação 611 0,308 Exportação 24 316 6,079

Importação 767 175 386,656 Importação 399 254 99,814

Saldo –766 564 386,348 Saldo –374 938 93,735

Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.

Cabe destacar que com as restrições ao trânsito de animais e da carne com

osso, em especial os originários de Mato Grosso do Sul, e também em função do

crescente abate nas regiões Centro-Oeste e Norte do país, São Paulo poderá sofrer

reestruturações nos processos de industrialização e distribuição de carne bovina, pois

essas atividades estão sendo parcialmente realizadas nos estados de origem,

considerando os aspectos já abordados e sobretudo a Portaria 145, que exige que a

desossa seja realizada pelos próprios frigoríficos no momento do abate.

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Figura 2.32 – Trânsito de bovinos. São Paulo, 1997.

Fonte: MAA.

Entrada SP

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE

SUL

BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS

SP ➜ PR Abate 135

Outras 9.135 TOTAL 9.270

MS ➜ SP Abate 627.123 Outras 252.917

TOTAL 880 040

PR ➜ SP Abate 18.198 Outras 29.284

TOTAL 47.482

SP ➜ MG Abate 476

Outras 15.181 TOTAL 15.657

MG ➜ SP Abate 121.784 Outras 116.723

TOTAL 238 507

RJ ➜ SP Abate 70

Outras 330 TOTAL 400

GO ➜ SP Abate 136.093 Outras 164.679

TOTAL 300.772GOIÁS

Saída SP

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TOCANTINS

A presente referência a Tocantins é mais breve que a de outros estados, pois

visa apenas retratar sua não-dependência ao Circuito Pecuário Centro-Oeste.

Ingresso e egresso

A Tabela 2.29 evidencia o estado de Tocantins como um exportador de

bovinos, principalmente para abate. A Figura 2.33 revela o maior trânsito de bovinos

entre Tocantins e o Norte e Nordeste do que com o Circuito Pecuário Centro-Oeste.

Tabela 2.29 – Trânsito de animais (entradas e saídas). Tocantins, 1997.

Abate Quantidade Valor (R$ milhões) Outras Quantidade Valor (R$ milhões)

Exportação 172 594 86,987 Exportação 57 733 14,433

Importação 26 005 13,107 Importação 18 224 4,556

Saldo 146 589 73,881 Saldo 39 509 9,877

Fonte: Emissão de GTAs de cada estado. Obs.: Valor médio de abate: R$504,00; valor médio para outras finalidades: R$ 250,00.

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123

Figura 2.33 – Trânsito de bovinos. Tocantins, 1997.

Fonte: MAA.

Ceará

TO ➜ GO Abate 9.383 Outras 9.375

TOTAL 18.758

Entrada TO

Saída TO

Goiás

Maranhão

Piauí

Pará

TO ➜ PI Abate 50.870 Outras 8.004

TOTAL 58.874

TO ➜ PA Abate 10.950 Outras 25.688

TOTAL 36.638

TO ➜ MA Abate 35.851 Outras 8.963

TOTAL 44.814

TO ➜ CE Abate 65.540 Outras 5.800

TOTAL 71.340

PA ➜ TO Abate 25.920

Outras 44 TOTAL 25.964

LESTE

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE SUL

BRASIL - CIRCUITOS PECUÁRIOS GO ➜ TO Abate 85

Outras 18.180 TOTAL 18.265

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124

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CIRCUITO PECUÁRIO CENTRO-OESTE

8.1. INGRESSO DE BOVINOS NA ZONA LIVRE

Como identificado, as restrições aplicadas ao trânsito de animais a partir de

agosto de 1999 e de produtos e subprodutos a partir de dezembro do mesmo ano

revelaram-se administráveis tanto pelos estados temporariamente excluídos da Zona

Livre de Febre Aftosa quanto pelos que integram a Zona Livre de Febre Aftosa com

Vacinação. Observou-se também uma redução crescente do trânsito de animais em pé,

tanto para o abate quanto para a cria, a recria e a engorda, evidenciando, de forma

gradual mas progressiva, um encurtamento da cadeia produtiva (com a respectiva

redução de custos e agregação de valores) à medida que o abate se desloca para as

regiões produtoras.

As Tabelas 2.30 e 2.31 quantificam a entrada de bovinos em pé em 1997 e

1998 na então futura (mas hoje vigente) Zona Livre com Vacinação, revelando uma

considerável diminuição nesse trânsito no período, o que confirma a tendência expressa

por este trabalho: aumento do abate nas regiões produtoras, com destaque para o

Circuito Pecuário Centro-Oeste, e concentração da cria, recria e engorda — sobretudo

recria e engorda — pelos mesmos produtores, reduzindo crescentemente o trânsito de

animais entre regiões produtoras e de abate, especialmente São Paulo. A verticalização

da produção diminui o tempo de produção do animal pronto para o abate.

Além da redução da idade dos animais a serem abatidos, observa-se que a

capacidade de abate instalada nos estados que compõem o Circuito Pecuário do Centro-

Oeste se ampliou para todo o circuito, resultando em menor trânsito interestadual de

animais. Esse processo se acelerou no início da década de 90, quando os frigoríficos

passaram a se instalar mais próximo das áreas produtoras de bovinos, principalmente na

Região Centro-Oeste.

Como já observado, o comércio de bovinos entre os estados do Circuito

Pecuário Centro-Oeste é intenso e constitui a maior parcela do trânsito interestadual

brasileiro de animais. O estado que mais se destacava em termos de envio de animais

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125

para a Zona Livre de Febre Aftosa era Mato Grosso do Sul, que, embora fazendo parte

do referido circuito, teve seu pedido de ingresso na Zona Livre postergado para 2001.

Tabela 2.30 – Entrada de bovinos em DF, GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da Zona Livre com Vacinação. 1997.

Destino Abate % de abate Cria e recria % de cria Reprodução % de reprodução Total % do

total

DF 0 0,00% 70 100,00% 0 0,00% 70 0,01%

GO 5 190 24,52% 5 875 27,76% 10 099 47,72% 21 164 1,95%

MG 13 875 31,85% 9 507 21,82% 20 184 46,33% 43 566 4,02%

MT 5 121 21,85% 13 040 55,63% 5 280 22,52% 23 441 2,16%

PR 38 207 35,75% 36 015 33,70% 32 636 30,54% 106 858 9,86%

SP 629 594 70,84% 131 771 14,83% 127 362 14,33% 888 727 82,00%

Total 691 987 - 196 278 - 195 561 - 1 083 826 100%

Fonte: Banco de dados gerais da pesquisa Trânsito de animais, produtos e subprodutos e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos impactos econômicos, UFMS, 1999.

Tabela 2.31 – Entrada de bovinos em GO, MG, MT, MG, PR e SP, provenientes de fora da Zona Livre com Vacinação. 1998.

Destino Abate % do abate Cria e recria % de cria Reprodução % de reprodução Total

%

do total

GO 710 3,59% 5 089 25,75% 13 967 70,66% 19 766 2,86%

MG 2 316 14,28% 4 605 28,40% 9 293 57,31% 16 214 2,35%

MT 102 0,66% 1 081 6,95% 14 373 92,40% 15 556 2,25%

PR 18 329 42,51% 15 734 36,49% 9 053 21,00% 43 116 6,24%

SP 388 545 65,15% 107 612 18,04% 100 227 16,81% 596 384 86,30%

Total 410 002 - 134 121 - 146 913 - 691 036 100%

Fonte: Banco de dados gerais da pesquisa Trânsito de animais, produtos e subprodutos e a febre aftosa no Circuito Pecuário Centro-Oeste: uma análise dos impactos econômicos, UFMS, 1999.

Ao comparar dados de 1997 e 1998 sobre a entrada de bovinos na Zona Livre

se Vacinação, nota-se uma redução de quase 40% no total, sendo que para o abate a

queda foi percentualmente maior. Ainda assim, apesar de superior a um milhão de

cabeças em 1997, essa entrada já era pouco expressiva se comparada com a quantidade

de bovinos já presentes na área (mais de 72 milhões de animais).

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Este capítulo descreveu as diversas regionalizações da bovinocultura de corte

atualmente existentes no Brasil, tanto produtivas quanto sanitárias, sendo que as últimas

impõem limites e restrições ao trânsito de animais e subprodutos, aspecto absolutamente

singular no desenvolvimento histórico da bovinocultura de corte brasileira. Tal

regionalização inevitavelmente fará parte do desenvolvimento presente e futuro da

bovinocultura de corte no país.

No próximo capítulo analisam-se as relações empíricas concretas entre os

diversos agentes que compõem a cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do

Sul, bem como suas relações com outros mercados.

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CAPÍTULO 3

A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA

DE MATO GROSSO DO SUL

1. MATO GROSSO DO SUL: ORIGEM E DESENVOLVIMENTO — UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Mato Grosso do Sul conta atualmente pouco mais de 2 milhões de habitantes.

Seu território de 357 471 km2 apresenta uma posição estratégica, ao fazer divisas com

cinco grandes estados da federação (Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e

Paraná), com um país do Mercosul (Paraguai) e com um do Pacto Andino (Bolívia,

possível futura via de ligação com o Pacífico). Tal localização situa o estado numa

região de grandes mudanças recentes.

Com uma economia ainda relativamente incipiente, se comparada à nacional,

Mato Grosso do Sul participa do Produto Interno Bruto brasileiro em somente 1,07%. O

estado, por outro lado, é potencialmente promissor em termos de recursos naturais: por

ele passam os rios Paraguai e dois terços do Pantanal estão incluídos em seu território.

O Pantanal, maior planície inundável do continente americano, cobre cerca de

24,6% da superfície do estado, ou seja, 86 230 km2. É uma região com características

peculiares, em que uma intrincada rede flúvio-lacustre determina um complexo mosaico

ambiental, hoje ameaçado em suas estruturas e funções por diversas atividades

antrópicas. Os rios e outros corpos d’água, como baías e vazantes (canais de aporte e

drenagem de água), formam labirintos e lagoas de águas doce e salobra, alternando-se

com acidentes naturais como morrarias, serras, matas e cerrados. Soma-se a esse

ambiente uma fauna riquíssima, conferindo à região pantaneira características naturais

privilegiadas.

Apresentando regiões econômicas relativamente distintas, em termos de

produção e concentração populacional, o estado se desenvolve a partir de determinantes

endógenos e exógenos no processo de reformatação regional. Dentre estes, preocupante

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é o processo migratório dos pequenos municípios (em especial onde predomina a

pecuária) para os maiores centros urbanos, especialmente Campo Grande (660 mil

habitantes) e Dourados (170 mil), respectivamente no centro e sul do estado.

Figura 3.1 – Localização geográfica de Mato Grosso do Sul.

BRASIL

BBOOLLÍÍVVIIAA

PPAARRAAGGUUAAII

CENTRO-OESTE

oooeeesssttteee

nn n oo o r

r r tt t ee e

llleeesssttteee

ss s uu u l

l l

Goiás

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129

Mudanças recentes marcam o estado. Tende a esgotar-se o ciclo de

desenvolvimento baseado no plantio e processamento da soja, desde o final dos anos 80.

Observa-se também que a cadeia produtiva da carne bovina necessita de ações diversas

para que adquira a dinâmica necessária para o presente momento histórico. O

desenvolvimento baseado no binômio soja–boi encontra-se, assim, em processo de

reestruturação, alterando a configuração espacial do estado na divisão intra-regional do

trabalho.

Por outro lado, verifica-se uma expansão na produção de frangos e suínos,

através do processo de produção integrada envolvendo abatedouros/agroindústrias e

produtores. Um dos determinantes básicos dessa expansão é a produção de ração à base

de farelo de milho e soja, alimento básico para esses animais: “De uma produção atual

de 200 mil frangos/dia, o estado de Mato Grosso do Sul deverá estar produzindo no

final deste ano pelo menos 350 mil frangos/dia, 85% por cento a mais do que hoje”38.

2. UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO REGIONAL

2.1. OCUPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

O processo de ocupação e colonização da região onde hoje se situa Mato

Grosso do Sul tem início no século XIX, com implicações decisivas para a fronteira

oeste. Corumbá, margeada pelo rio Paraguai, constituiu-se numa ponte histórica na

ligação comercial com a Bolívia, colocando-se até meados do século XX como

principal cidade da Região Centro-Oeste.

A construção da Ferrovia Noroeste do Brasil — que liga Bauru a Corumbá,

onde se faz conexão até Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia —, concluída em 1914, fez

surgir uma série de povoados — hoje cidades — ao longo de seu percurso, tornando-se

a via de transporte mais eficiente e rápida entre o Sudeste e o Centro-Oeste, substituindo

o tradicional transporte de cabotagem. Ainda hoje percebe-se a importância dessa

ferrovia: “Cerca de 15 mil pessoas estão isoladas em cidades do Pantanal sul-mato-

38 CORREIO DO ESTADO. Campo Grande, 6 fev. 1995. p. 14.

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130

grossense desde a desativação do trem de passageiros que ligava Campo Grande (MS) a

Corumbá (MS) ocorrida a dois meses. A cada mês, 10 mil pessoas tomavam o trem”39.

Conflitos e desdobramentos da Guerra do Paraguai (1864) também tiveram

efeito contundente na estruturação econômico-política do estado, fator de

deslocamentos de populações e alterações na fronteira política e na economia regional.

Também significativo foi o deslocamento populacional recebido do Sudeste

nos anos 40 e 5040, bem como todo o processo de ocupação dessa região pelos gaúchos

(“granjeiros”) no final da década de 70, modificando completamente a paisagem

produtiva regional: “Devemos considerar alguns aspectos com relação à invasão de

granjeiros no extremo sul de Mato Grosso: (1) as constantes quedas nos preços reais do

boi gordo desestimularam médios pecuaristas a continuarem no negócio do gado; (2) a

retração das exportações do mate para o mercado argentino, encerrando-se

definitivamente em 1968, levando os ervateiros de Ponta Porã principalmente a

procurarem investimentos em outros setores; (3) a presença de uma infra-estrutura

mínima existente, além de solo e clima favoráveis às culturas similares às do Sul e (4) a

presença de um contingente minimamente capitalizado, sem perspectivas no Sul,

disposto a se aventurar em outras regiões. No sul, nesse período ocorreu um processo de

concentração fundiária e de uma supermecanização ligado à expansão de soja e trigo”

(OLIVEIRA, 1993, p. 133)41.

A criação do estado de Mato Grosso do Sul, em 1º de janeiro de 1979,

separando-o politicamente de Mato Grosso, constituiu-se num elemento final que

colaboraria na redefinição espacial local e regional.

39 FOLHA DE S. PAULO. São Paulo, 20 mai. 1995. p. 3-4. 40 Sobre a colonização da Someco e Viação São Paulo–Mato Grosso, veja-se PEBAYLE e KOECHLIN, 1981. 41 OLIVEIRA, Tito C.M. de. Agroindústria e reprodução do espaço: o caso soja no Mato Grosso do Sul. São Paulo, 1993. Tese (Doutorado) – USP.

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131

2.2. INDUSTRIALIZAÇÃO

O processo de industrialização sul-mato-grossense iniciou-se nos primórdios

dos anos 80 com a implantação de pequenas indústrias substitutivas às importações

estaduais do mercado interno. Todavia, só em meados daquela década se desencadearia

o processo de instalação de médias e grandes unidades industriais na região.

O estado está entre os poucos em que, após os anos 80, a participação da

população economicamente ativa aumentou em relação à população total. A densidade

demográfica é de 5,75 habitantes/km², portanto baixa, considerando-se a extensão

territorial. Com a presença de extensas áreas subpovoadas, o estado é hoje uma região

receptora de mão-de-obra, apesar da recente diminuição desse processo de imigração.

Ao ser criado oficialmente, no final da década de 70, Mato Grosso do Sul

configurou-se como filho da política de incentivos à exportação, e também como fruto

da crise do petróleo, com a decorrente tentativa de substituição dessa matéria-prima

pelo álcool.

O movimento de reprodução espacial do capital nesta parte oeste do país e as

relações de produção conferiram-lhe um caráter dinâmico: no campo, a hegemonia

econômica era disputada entre grandes pecuaristas atrasados e grandes e modernos

empresários agrários; na cidade, o dinamismo cabia aos detentores do capital comercial.

“Na segunda metade da década de 1960, seguindo a experiência da SUDENE, o

MINTER criou superintendências regionais — para a Amazônia (SUDAM), para o

Centro-Oeste (SUDECO) e para o Sul (SUDESUL). Esta estratégia visava neutralizar as

oligarquias regionais através de novos pactos e organizar as bases para a modernização.

As elites regionais foram cooptadas, ao mesmo tempo que o sistema federal de

incentivos fiscais promovia a transferência de capitais para a periferia. Estes incentivos

consistiam na isenção de impostos federais e estaduais e em suspensões de tarifas para

importação de máquinas e equipamentos necessários à execução dos novos projetos. Os

empreendimentos, tanto nacionais como estrangeiros, gozavam também de incentivos

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financeiros especiais através do crédito subsidiado” (BECKER e EGLER, 1994, p.

148)42.

A PRIMEIRA FASE

O censo de 1970 apontou que 45,3% da população do estado vivia nas cidades,

contra 54,7% no campo; em 1980, os índices foram de 67,1% para s população urbana e

32,9% para a rural. Em 1991, esses números eram de 79% e 21%, respectivamente. No

período de 1980-91 a população de Mato Grosso do Sul cresceu à razão de 2,35% ao

ano, mais rapidamente, portanto, que a média do país, de 2,2%.

O intenso processo de urbanização que se observa a partir dos anos 70 criou

um mercado interno com intensa mobilidade de mercadorias: o comércio atacadista

registrado em 1970 pelo IBGE compunha-se de apenas 183 estabelecimentos; em 1980,

registravam-se 1 126, e em 1991 contava-se com 2 138 unidades.

A industrialização, durante toda a década de 70, não fez parte dos interesses

dos investidores. Em 1970 existiam 643 indústrias em Mato Grosso do Sul e em 1979

esse número aumentou insignificantemente para 832 estabelecimentos, isto é, menos de

30% em nove anos. O primeiro ano da existência do novo Estado — 1979 — registrou

nada além de meia dúzia de indústrias com peso significativo na arrecadação: dois

matadouros — abatendo menos de 300 mil cabeças por ano —, uma indústria de

cimento na cidade de Corumbá, duas destilarias — incentivadas pelo PROÁLCOOL,

nas cidades de Pedro Gomes e Rio Brilhante — e as ultrapassadas indústrias de extração

mineral da morraria de Urucum. No entanto, a queda nos investimentos no setor

público, a montagem da máquina administrativa no novo estado — animando os índices

de emprego regional — e o poder aquisitivo da população, juntamente com o aumento

dos índices de urbanização e com o crescimento populacional, incitavam comerciantes

locais e pequenos investidores desalojados de investimentos no Sul e Sudeste a

42 BECKER, Berta K.; EGLER, Cláudio A.G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

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133

investirem em Mato Grosso do Sul numa pequena “industrialização substituidora de

importações” provenientes do centro dinâmico (cf. OLIVEIRA, 1993).

Assim foi aberta a primeira fase da industrialização de Mato Grosso do Sul. A

escultura dada por essa fase é uma constelação de microempresas. A instalação dessas

indústrias retratava capacidades até então ociosas: de consumo, dados o nível de

urbanização e o crescimento populacional, e de capital em mãos de comerciantes locais

ou migrantes — todas elas ligadas à retração da demanda industrial no centro dinâmico

da economia brasileira. O exemplo evidencia que o aparecimento da capacidade

produtiva não se verifica nem de forma mecânica nem generalizada. Ao contrário,

respeita a contextualidade histórica.

Assim como a industrialização brasileira em seus primórdios, a industrialização

dessa ponta-do-oeste também não necessitou de máquinas modernas com tecnologia

avançada. Fornos de padarias, tornos mecânicos, britas, lixas mecânicas,

recondicionadoras de peças, serrarias, beneficiadoras de arroz, máquinas para corte e

costura de couro, máquinas gráficas etc. — a maioria absoluta desse equipamento foi

adquirida de segunda mão nos estados do Sudeste e Sul, provenientes, em geral, de

falências, de esgotamento do produto com que se trabalhava ou de sucateamentos. Se

observarmos o crescimento do número de estabelecimentos industriais de 1979 (832

unidades) para 1980 (1 436 unidades) e considerarmos as indústrias com cinco ou mais

empregados e/ou valor da produção superior a 640 vezes o salário mínimo da época

(critérios do IBGE), perceberemos que os maiores crescimentos foram os das fábricas

que não necessitavam de mão-de-obra especializada, de produtos não-metálicos, de

madeira e de gêneros alimentícios. Os números respaldam esse fato ainda mais quando

notamos os dados de 1981, coletados junto à FIEMS, sem os limites estabelecidos pelo

IBGE.

Nessa primeira fase, contrastam com a regra geral dois tipos de indústria de

porte médio que se instalaram em condições específicas: os frigoríficos e as destilarias.

A primeira fase da industrialização de Mato Grosso do Sul está ligada

exatamente a seu nascimento como estado: ela povoou o espaço com centenas de

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microusinas de pequeno capital investido, mais de 90% das quais com menos de 20

empregados — uma quantidade de unidades cujo tamanho individual reduzido as

impediu de comparecer nos números do IBGE. Contudo, o Cadastro Industrial da

Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS) registra um número bastante

significativo em 1981: mais de 3 800 empresas. Em 1984, esse número ultrapassava

5 600 e, em 1994, dez milhares.

A SEGUNDA FASE

A pequena indústria, mesmo que grosso modo, representa um estágio mais

elevado da produção social. Seu desenvolvimento dinâmico no estado foi paralelo ao

processo de ocupação das terras e à urbanização, transformando-se praticamente em

símbolo de elevação do padrão de vida, abrindo novos alentos à população

economicamente ativa e aumentando a renda regional per capita. Ela foi responsável

pela diversificação da economia regional — o surgimento de um novo ofício implica em

crescimento da divisão social do trabalho.

Ainda que sem conferir auto-suficiência à região, a pequena indústria

intensificou sua relação com outras regiões do país, abrindo caminhos para mudanças na

posição do estado na divisão regional do trabalho e fixando parâmetros realísticos na

elevação da composição orgânica do capital estadualmente, além de disciplinar a

população para a vida industrial.

Houve grande ramificação de microindústrias nos primeiros cinco anos após a

criação do estado. Ademais, a proximidade física com o centro dinâmico — locus dos

grandes oligopólios abastecedores do mercado nacional — intimidava qualquer

tentativa, pelo menos à primeira vista, de implantação de indústrias vinculadas ao

capital avançado.

A produção agropecuária estadual e o movimento constatado na circulação (e

produção) nacional e internacional de mercadorias intimidavam, enquanto isso, o capital

a participar da industrialização nessa faixa do Planalto Central.

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A safra de 1983-84 tornou disponíveis mais de 2 milhões de toneladas de soja,

mais de 300 mil de milho e quase 400 mil de arroz. Observando-se a evolução da

produção agrícola nos anos 80 e comparando-a com as de outros estados, constata-se

que somente Goiás acompanhou o ritmo de Mato Grosso do Sul. Em 1985 o estado já se

posicionava entre os principais produtores de sorgo, trigo, soja, milho, amendoim, lã

bruta, cimento, álcool, algodão herbáceo e arroz, além de ter uma produção pecuária de

15 milhões de cabeças de gado em plena evolução — todos com alto grau de

sofisticação de maquinários e insumos.

A parte bruta dessa produção destinava-se às indústrias paulistas ou ao

mercado externo in natura. Desse modo, os produtos primários eram tidos como fonte

de exploração para a implantação de estruturas agroindustriais que os beneficiassem. As

facilidades de deslocamento dessa produção para outros mercados frustravam, porém,

os intentos industrializantes. Em 1984 e 1985, entretanto, sopraram ventos de mudança

no complexo produtivo do espaço brasileiro.

Completava essas variáveis um manto retalhado de pequenas unidades

industriais e um complexo sistema comercial export que não conseguia reter a riqueza

gerada pelo setor primário dentro dos limites estaduais. O estado caracterizou-se, assim,

como produtor de matérias-primas e importador de produtos acabados. Havia, portanto,

uma mudança ainda por realizar: desencadear um processo de fixação de rendas. Qual o

propósito de fixar rendas, senão prover a ampliação dos investimentos em capital fixo e

em utilização da força de trabalho local, isto é, na alimentação orgânica do capital?

Nesse caminho, fixar rendas é sinônimo de industrializar.

No final de 1983, empresários locais, através da FIEMS, cobravam do governo

estadual uma posição quanto à necessidade de industrializar o estado, corroborando com

uma disseminada tradição brasileira — a de empresários solicitarem a sociedade do

Estado para o desenvolvimento, através de incentivos e órgãos de assistência.

Em março de 1984 surgiu a primeira lei de incentivos à industrialização em

Mato Grosso do Sul, a de nº 440. Essa lei, que incentivou 10 projetos industriais, foi um

degrau importante na industrialização do estado, pois indicou vontade política do

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governo para com o assunto. Ao criar através dela o Conselho de Desenvolvimento

Industrial (CDI), até hoje existente, o estado demonstrava aos investidores, no mínimo,

disposição em discutir e aceitar um processo de industrialização em que o aparelho

burocrático fosse copartícipe.

Em setembro de 1987 veio a Lei 701, que incentivou 125 projetos e a Lei

1 239, ora vigente, que abriu caminho para mais 71 iniciativas.

A implantação de unidades agroindustriais em Mato Grosso do Sul após 1985

foi notável. Esmagadoras de soja, moinhos de trigo, frigoríficos, fecularias, curtumes,

degerminações de milho, abatedouros, fábricas de rações, laticínios, graxarias,

fertilizantes e usinas de açúcar, entre outras, promoveram, já naquele ano, a criação de

mais de 3 mil empregos diretos. Atualmente, elas empregam 7 509 pessoas. Passaram

elas, por sua vez, a influenciar a industrialização de outros ramos de produção,

aumentando a articulação do setor secundário de forma gradativa e acentuada na

arrecadação de ICMS.

Mato Grosso do Sul é hoje um conjunto de formas de produção diferenciadas:

a agroindústria moderna convive com a pequena indústria artesanal e familiar; a

agricultura e a pecuária mecanizadas colocam-se lado a lado com agriculturas de

subsistência e pecuárias menos modernas (a pantaneira, sobretudo). Esse descompasso

contraria processos integracionistas que estão em marcha, tanto locais, quanto sub-

regionais e globais.

O QUADRO ATUAL

O esgotamento do segundo ciclo industrializante do estado, somado às grandes

transformações na economia mundial e nacional (especialmente a abertura dos

mercados, redução do estado e formação dos blocos econômicos), colocam Mato

Grosso do Sul numa situação delicada, com peculiaridades.

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Entre os problemas sócio-econômicos, figuram o desemprego crescente, os

contingentes de famílias de sem-terras (2 mil famílias a serem assentadas) e até o

trabalho escravo (em carvoarias e usinas de cana).

Mato Grosso do Sul inicia o século XXI com uma população de praticamente

2 100 000 habitantes, 83% dos quais urbanos. Dos 77 municípios, os 6 maiores (Campo

Grande, Dourados, Corumbá, Três Lagoas, Ponta Porã e Aquidauana) detêm

praticamente 55% da população (1,1 milhão de habitantes).

Economicamente, Mato Grosso do Sul compõe somente 1,07% do PIB

brasileiro (R$ 8,5 bilhões em 1997), dos quais 25,8% correspondem ao setor primário,

23,7% ao secundário e 50,5% ao terciário. A arrecadação de ICMS em 1999 teve a

seguinte distribuição: comércio: 55%; indústria: 3,3%; serviços: 17,5%; agricultura:

11,2%; pecuária: 10%; eventuais: 2,5%. Isso perfaz um total de R$ 874 milhões.

Em 1999 o estado exportou um total de US$ 42 milhões, com diversos

destinos, entre eles a União Européia (43%), a Ásia (14,8%) e o Mercosul (20%). O

farelo de soja comparece como o principal produto exportado, correspondendo a 21%

dos envios estaduais. Em segundo lugar vem a soja, com 19%, e em terceiro a carne

bovina, com 13,1%. Deve-se levar em conta, também, que as produções totais de soja e

de carne são freqüentemente subdimensionadas, já que parte da produção sul-mato-

grossense é exportada através de outros estados, sobretudo São Paulo.

3. BREVE HISTÓRICO SOBRE A PECUÁRIA NO MUNDO43

Pecuária é a técnica e indústria da criação de diversos tipos de gado. Por gado

entende-se qualquer animal criado intensivamente pelo homem para fornecimento de

tração ou transporte, carne, leite, lã, couro e outros produtos capazes de servir de

matéria-prima para a indústria. Além do boi, do cavalo, do jumento, do carneiro, do

cabrito e do porco, devem ser considerados outros animais, de criação mais restrita, mas

com a mesma utilidade, como o búfalo, criado em diversas regiões do mundo.

43 Baseado na Enciclopédia Koogan-Larousse. Rio de Janeiro: Larousse,1965.

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A pecuária surgiu na pré-história, com a domesticação dos animais. O início

desse processo diferiu para cada tipo de animal e nas diversas regiões do mundo, mas

em geral teve lugar no período neolítico. O boi e o carneiro já eram domesticados na

Europa desde o início desse período, mas foram introduzidos naquela região por povos

oriundos do Extremo Oriente.

Os primeiros criadores eram povos nômades, que acompanhavam seus

rebanhos em busca de novo pastos. Mesmo depois do desenvolvimento das técnicas

pecuárias que permitiram a fixação dos rebanhos, vestígios do nomadismo primitivo

persistiram em certas regiões montanhosas (nos Pirineus franceses e espanhóis, por

exemplo), com o nome de transumância: os rebanhos são deslocados para altitudes

maiores durante o verão e trazidos de volta no inverno.

Até o século XVIII, a criação de gado era atividade puramente empírica, regida

pela experiência dos criadores. O primeiro tratado conhecido sobre pecuária data de 540

a.C.: o tratado de medicina veterinária e higiene do gado, de Epicarnus, que não chegou

a nossos dias.

Somente em 1565 foi publicado o primeiro livro francês sobre o assunto,

L’agriculture dans la maison rustique, de autoria de Charles Estienne e Jean Liébault.

Com exceção da criação de cavalos, os demais ramos da pecuária eram subestimados na

Europa: Na Inglaterra, dizia-se: “Sem capim não há gado; sem gado não há estrume;

sem estrume não há colheita.”

3.1. A PECUÁRIA NO BRASIL

Em 1549 chegou a Salvador uma caravela – Galga – transportando os bovinos

que Tomé de Souza mandara buscar em Cabo Verde.

Os gados, encontrando boas condições ecológicas, multiplicaram-se

rapidamente. Anchieta dizia dos campos de Piratininga: “Este campo é muito fértil de

mantimentos, criação de vacas, porcos, aves, etc.”

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Do extremo sul brasileiro, do cabo de Santa Maria ao porto de São Pedro,

escrevia: “Toda esta terra é baixa e sem arvoredo, mas cheia de erva em todo o ano, e há

partes que têm algumas reboleiras de mato; a erva destes campos é muito boa para

criações de gado de toda sorte, onde se dará muito bem, por ser a terra muito temperada

no inverno, e no verão lavada de bons ares frescos para os gados beberem assim de

lagoas como de ribeiras.”

A partir do século XVII os gados continuaram a se multiplicar aceleradamente

e a invadir novas áreas, facilitando a penetração e o povoamento de áreas vastíssimas.

Em 1619 os jesuítas iniciaram a pecuária em terras gaúchas com a fundação das

fazendas de Sandó, São Pedro Mártir, São Vicente, São Luís, Tupaceretã e Santa Tecla.

Os gados se multiplicaram tanto no Rio Grande do Sul, que de 1622 a 1630 “os

habitantes de Piratininga apoderaram-se de 80 mil cabeças de gado, pertencentes aos

índios guaranis”.

Os bovinos chegaram à ilha de Marajó em 1610, ocupando sua metade oriental,

onde existem ótimos campos de criação. Na mesma época iniciou-se a pecuária na ilha

de Fernando de Noronha, cujas pastagens e numerosos rebanhos o príncipe Maurício de

Nassau louva em carta a Frederico Henrique de Orange. Em outro relatório, escrito em

1637, o príncipe trata da pecuária cearense, já relativamente importante. Nassau

incentivou a pecuária no Brasil holandês, pois compreendeu que sem os rebanhos da

zona semi-árida não haveria abastecimento regular de carne nas cidades e engenhos da

zona úmida, nem muares e eqüinos. Rio Grande do Norte tinha, naquela época, os

maiores rebanhos. Os holandeses fabricavam queijo e manteiga. Em 1632, o Brasil

holandês exportou 1 198 fardos de couro; em 1646, 918 fardos.

Cessada a guerra contra os holandeses, a pecuária tomou um impulso ainda

maior no Rio Grande do Norte. Os fazendeiros, ultrapassando a serra do Doutor, um

contraforte da Borborema, começaram a penetrar no Seridó e no Vale do Açu, fundando

novas fazendas, que se iniciavam com um touro e três vacas.

No início do século XVIII o rebanho de bovinos da Bahia era estimado em 500

mil cabeças; o de Pernambuco, em 800 mil; no Rio de Janeiro, 60 mil; em São Paulo e

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Paraná, 1,5 milhões. No Brasil, que vivia o ciclo do ouro, o rebanho bovino atingia

aproximadamente 4 milhões de cabeças.

4. EVOLUÇÃO DA BOVINOCULTURA SUL-MATO-GROSSENSE

Em Mato Grosso do Sul, desde sua formação até os dias atuais, a bovinocultura

de corte tem participado com um papel marcadamente significativo. A pecuária surgiu

em Mato Grosso na terceira década do século XVIII, na região de Cuiabá. O início da

criação de bovinos se deu durante a atividade de mineração, constituindo-se numa

atividade secundária. Com o declínio da mineração, ocorre a expansão da pecuária, em

grandes fazendas de criação extensiva: “Ela nasceu protegida pela distância de Cuiabá

das regiões agropecuárias mais importantes, mas por isto mesmo sua expansão ficou

limitada pelo mercado consumidor regional muito pequeno e estagnado, pois a distância

em relação ao Rio de Janeiro e a outros centros criava um bloqueio natural. Emergiu em

meados do século XIX como atividade voltada ao mercado nacional, alcançando o Rio

de Janeiro” (MAMIGONIAN, 1986)44.

A criação de bovinos era quase totalmente regida pelos agentes naturais: o

fazendeiro introduzia o gado na fazenda e não interferia em seu desenvolvimento,

obtendo assim uma baixa produtividade. O trabalho do fazendeiro era castrar os

novilhos destinados à engorda e marcar os nascidos na fazenda. Isso se estendeu por

mais de um século.

Em Mato Grosso, até a década de 60, só existiam as atividades de cria e recria

de bovinos, que eram feitas em pastagens nativas, quase sem nenhuma tecnologia.

Quando atingiam a idade para engorda, os bovinos eram exportados para outros estados

considerados regiões de engorda, principalmente São Paulo. A engorda não se dava em

Mato Grosso por falta de pastagens verdes durante o período de seca e pela falta de

frigoríficos, que preferiam se instalar mais perto dos grandes centros consumidores. O

consumo interno representava pequena porção do produto produzido.

44 MAMIGONIAN, Armen. Inserção de Mato Grosso ao mercado nacional e a gênese de Corumbá. GEOSUL, n. 1, 1. sem. 1986.

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4.1. A BOVINOCULTURA DE CORTE E MATO GROSSO DO SUL

Quando decretou a criação de Mato Grosso do Sul, o governo do presidente

Geisel considerava o desmembramento como o meio mais adequado para acelerar o

desenvolvimento econômico e social de dois estados simultaneamente: um ao sul, com

excelentes condições para se tornar grande produtor de grãos e de carne (antevendo a

crise de alimentação por que passaria o Brasil), e outro ao norte, com condições para o

rápido povoamento e ocupação de seus grandes vazios.

O gado bovino chegou Brasil no século XVI proveniente da Península Ibérica.

Desembarcou em Salvador e em São Vicente e começou a penetrar pelo interior do país

em todas as direções como elemento pioneiro no desbravamento dos sertões. Aos

poucos, grupos de produtores regionais, como o pantaneiro no Pantanal, o curraleiro no

Nordeste e o junqueiro em São Paulo e Minas Gerais, foram se formando pelo interior

do Brasil.

No início o gado era criado à solta e os bovinos eram mais valorizados como

animais de tração e pelo couro que forneciam. A carne tinha pouco valor. Com o

aumento da população e o crescimento das cidades desenvolveu-se a indústria do

charque que, embora desperdiçasse os subprodutos na matança, permitia o transporte e,

portanto, uma mais ampla comercialização da carne. Isso ajudou a conferir maior

importância a esse produto.

O aparecimento do arame, que facilitou a divisão das fazendas, foi útil

sobretudo o desenvolvimento da indústria frigorífica, ocorrido durante a Primeira

Guerra Mundial. Intensificou-se assim a exploração da pecuária no país, com melhoras

no rendimento da matança e aproveitamento dos subprodutos dos matadouros. As

indústrias estrangeiras processadoras de carne também se instalaram no Brasil durante a

Primeira Guerra, com o objetivo de exportar esse produto a seus países de origem, a fim

de suprir as necessidades alimentícias de seus combatentes.

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A abertura de fazendas de criação no sul de Mato Grosso, no século XIX,

deveu-se a correntes vindas do norte do estado e também de Minas Gerais e Rio Grande

do Sul. O Pantanal foi povoado pelo contingente oriundo do norte do Mato Grosso,

enquanto as correntes de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul desbravaram o planalto,

com os mineiros instalando-se nos cerrados e os gaúchos nos Campos de Vacaria, no

extremo sul do estado.

A pecuária se transformou na principal atividade econômica de Mato Grosso

do Sul, o que pode ser explicado por valores e tradições, e pelos baixos riscos climáticos

da região. A atividade foi um dos fatores que mais contribuiu para a colonização do

estado, juntamente com a exploração da erva-mate e a prática do garimpo. A tendência à

especialização na pecuária é evidenciada quando se observa que a expansão das áreas de

lavoura não leva necessariamente ao estabelecimento de novas zonas agrícolas estáveis,

constituindo apenas um processo passageiro de instalação da pecuária em novas áreas.

Nas duas últimas décadas, o setor pecuário bovino sul-mato-grossense passou

por uma grande evolução baseada na formação de pastagens artificiais, no

melhoramento genético do rebanho e na instalação de indústrias frigoríficas no território

estadual. A introdução dessas novas tecnologias no campo acarretou uma melhoria na

qualidade genética do gado e uma diminuição na idade de abate.

A instalação de invernadas em áreas de vegetação original da mata foi

incentivada com a chegada de empresas de outros estados. Fazendeiros paulistas

instalaram plantéis de gado nelore em invernadas de capim colonião e se beneficiaram

dos estímulos advindos de ações de valorização da região Centro-Oeste e da melhoria

das vias de comunicação com São Paulo.

Outra transformação ocorrida na exploração da pecuária foi a modernização da

criação tradicional de bovinos em áreas recobertas pela vegetação de cerrado45. A

introdução de tecnologia moderna no sistema de criação teve impacto econômico

45 A descoberta por parte da EMBRAPA da viabilidade produtiva da braquiária para o cerrado constitui uma verdadeira revolução para a bovinocultura de corte do Centro-Oeste — e de Mato Grosso do Sul em particular.

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altamente positivo, pois a região, além de sustentar a criação, passou a fazer a recria de

gado.

Nas microrregiões de Campo Grande, Dourados e Três Lagoas, a pecuária

desenvolveu-se de forma intensiva. Economicamente, essas três áreas dedicam-se à

criação de bovinos para corte, desenvolvendo a fase de engorda, além das de cria e

recria. Nesse regime, as pastagens podem ser naturais ou artificiais.

Já no Pantanal, a criação é desenvolvida de forma extensiva. É necessária uma

grande extensão de terra para que o boi, na seca, possa ter acesso à água e que, na cheia,

possa se refugiar. É uma região beneficiada por boas pastagens, formadas de gramíneas

e leguminosas, onde o solo é naturalmente irrigado e salgado. O trabalho do fazendeiro

é apenas deslocar o gado de um pasto para outro. Os bovinos destinam-se quase que

totalmente ao corte. Apesar da predominância extensiva, já estão sendo introduzidas em

algumas áreas, como os pantanais dos rios Negro, Apa e Paiaguás, técnicas de melhoria

para apurar o desenvolvimento do rebanho bovino.

A partir da década de 70, a serra de Maracaju, na região da Bodoquena,

recebeu um grande contingente de agricultores sulistas, especialmente paranaenses e

gaúchos, atraídos pelo solo favorável para a exploração agrícola. Esses agricultores

passaram a exercer a atividade da pecuária em terras de menor aptidão para a

agricultura, dando início ao cultivo da pecuária intensiva. A forma extensiva de criação

ocupou os campos cerrados dessa área, que passaram a receber gado do Pantanal para

engorda.

A microrregião de Dourados é uma área potencial para a exploração de

pecuária, por possuir alta fertilidade de solos nas áreas de mata — onde foram

implantadas as invernadas de colonião para engorda — e por apresentar baixo custo

para as pastagens nativas e cultivadas em seus Campos de Vacaria. A atividade de

engorda do boi nessa região se encontra em evolução devido à melhoria do acesso aos

mercados consumidores, especialmente os do Oeste Paulista.

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O rebanho de Mato Grosso do Sul apresentou um crescimento de 65,66% no

período de 1975 a 1980, o que corresponde a mais de quatro vezes o aumento nacional,

que foi de 15,82% no mesmo período.

As décadas de 60 e 70 trouxeram o melhoramento genético do rebanho, a

formação de pastagens artificiais e ainda a instalação de indústrias frigoríficas no

estado. O Frigorífico Bordon, por exemplo, instalou-se em 1969 na cidade de Campo

Grande, beneficiando o desenvolvimento tecnológico na pecuária.

A partir de 1973 ocorre o aumento do preço da arroba do boi, fazendo crescer a

necessidade de terras para a produção pecuária e levando, conseqüentemente, a

aumentos em seu preço.

A fase de expansão da atividade pecuária em Mato Grosso do Sul perdurou até

os primeiros anos da década de 90. Entretanto, com a queda da inflação, em 1994, a

atividade deixou de contar com o ganho ilusório da compensação inflacionária, o que

tornou evidente a necessidade de concretizarem ganhos na produtividade.

Também foi na década 90 que se verificou a instalação maciça de indústrias

frigoríficas no estado, fator que possibilitou um melhor ganho para os pecuaristas,

embora sem permitir a compensação de outras perdas.

A Figura 3.2 mostra a distribuição espacial estadual das áreas de pastagens

naturais e plantadas, além das de agricultura e de exploração mineral. As pastagens têm

preponderância, juntamente com a agricultura, sobretudo devido ao uso da braquiária

desenvolvida pela EMBRAPA para o cerrado.

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Figura 3.2 – Recursos naturais de Mato Grosso do Sul.

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146

5. A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA DE MATO GROSSO DO SUL

Ao analisarmos a cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense, nos

concentramos em seus três principais elos, quais sejam: distribuição, abate e

processamento, e produção. Em termos metodológicos, foram estruturadas equipes de

entrevista e de levantamento das informações em cada um desses três elos da cadeia, a

fim de captarmos seus principais elementos determinantes, de modo a evidenciar suas

dinâmicas e tendências.

Em função desses resultados, destacaremos a seguir a distribuição da carne

bovina de Mato Grosso do Sul, mais especificamente em São Paulo, por ser o principal

mercado consumidor desse produto sul-mato-grossense, tanto com osso (até dezembro

de 1999) quanto sem osso (a partir dessa data).

Quanto à distribuição, é importante ter em mente que esse é o setor que

mantém contato direto com consumidor, captando seus desejos e tendências. É na

distribuição também que se observa uma maior velocidade de transformações, hoje com

intenso processo de concentração do setor, onde redes como Carrefour e Pão de Açúcar,

estão ocupando espaços cada vez maiores no mercado.

5.1. DISTRIBUIÇÃO EM SÃO PAULO — CARACTERIZAÇÃO DOS AGENTES

Antes de analisarmos propriamente os agentes envolvidos na distribuição,

destacaremos alguns aspectos relativos ao consumidor, ou seja, características da

demanda por produtos agrários.

DEMANDA POR PRODUTOS AGRÁRIOS

O comportamento dos consumidores já é exaustivamente analisado na teoria

econômica, especialmente na teoria microeconômica, razão por que nos deteremos

especificamente nos elementos determinantes mais expressivos que definem a

quantidade demandada dos produtos agrários.

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147

Temos como determinantes da demanda individual de bens de consumo:

a) o preço do bem

b) a renda do consumidor

c) os preços de outros bens

d) os gostos e necessidades do consumidor

Esses elementos podem atuar separados ou em conjunto nas decisões dos

consumidores, a depender da situação. Preço, renda e preços de outros produtos,

juntamente com as necessidades do consumidor, são elementos que, objetiva e

subjetivamente, norteiam suas decisões de consumo.

5.2. TENDÊNCIAS RECENTES DO CONSUMO DE ALIMENTOS

O consumidor, através de suas exigências, vem conquistando uma maior

garantia quanto à qualidade e ao preço do alimento que consome, e isso se aplica à

cadeia produtiva da carne, com sua complexidade e conflitos: “O consumidor está na

etapa final de todos os sistemas agro-industriais. Seus desejos e tendências devem ser

observados atentamente por todos os agentes dos sistemas. Informações passadas por

estes devem fluir para trás nos sistemas, passando pelo varejo, indústria, produção,

insumos e pesquisa. Uma sinalização de que há uma tendência de consumo de alimentos

mais saudáveis, claramente perceptível a nível de varejo, deve passar a preocupar

produtores rurais nas suas atividades de planejamento” (MACHADO FILHO e NEVES,

1997)46.

Além das exigências por variedade e qualidade, novas demandas (como a de

alimentos específicos) advêm de especificidades da população, tais como:

envelhecimento populacional, nível de renda e despesas com alimentação,

consumidores informados, consumidores solitários etc.

46 MACHADO FILHO, Cláudio A.P.; NEVES, Marcos Fava. Consumo de alimentos nos países industrializados. Revista Preços Agrícolas, mar. 1997.

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148

SPERS47 aponta alguns indicativos tendenciais da demanda que devem ser

observados: diversidade da demanda; homogeneização da demanda global; demanda

por conveniência; consumo e meio ambiente; saúde, vitalidade e o indivíduo.

Por outro lado, o autor observa que, se o consumidor impõe novos desejos e

necessidades, a cadeia tem efeitos para trás, ou seja, que atingem diretamente os

processos industriais e de fornecimento de insumos, entre os quais: intensa competição

por participação no mercado (market share); menor ciclo de vida dos produtos;

produção, transporte e embalagem; regulação do mercado e defesa do consumidor;

novos modos de compra.

Essas novas exigências dos consumidores, forçam a uma reestruturação na

cadeia a partir das novas demandas, sendo esse público estimulado e capitaneado pelas

grandes redes de distribuição. Versando sobre as novas tendências globais sobre o

sistema alimentar das carnes, LAZZARINI e LAZZARINI48 identificam a situação atual

e as novas tendências, especificamente da cadeia produtiva da carne bovina: “Tais

resultados devem ser embasados na plena satisfação dos consumidores finais, sejam eles

internos ou externos, e devem ser concretizados através de uma eficaz sinergia entre os

atores (ou tomadores de decisão) do sistema. Desta forma, a busca de vantagem

competitiva da empresa, por si só, acaba sendo sobreposta pela necessidade de

coordenação de todo o sistema, desde a indústria de insumos até os consumidores

finais, visando potencializar a competitividade do sistema como um todo, em um

ambiente onde todos sejam favorecidos” (LAZZARINI e LAZZARINI, 1995, p. 278).

Fundamental, a qualidade da carne é verificada através de atributos como

maciez, coloração e gordura. “Atributos referentes à qualidade da carne, neste contexto,

deverão ser atenciosamente explorados pelos tomadores de decisão da cadeia produtiva.

Dentre estes atributos, citamos: características organolépticas (maciez, suculência,

sabor), aspectos nutricionais, saúde, segurança alimentar, marca, embalagem e

conveniência. Ou seja, um ‘mix’ de atributos tangíveis e intangíveis, que determinam o

47 SPERS, Eduardo Eugênio. Qualidade e segurança em alimentos. In ZYLBERSZTAJN, Décio; NEVES, Marcos Fava (Orgs.). Economia & gestão dos negócios alimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. 48 LAZZARINI, Sérgio G.; LAZZARINI, Sylvio. Sistema agroindustrial da carne bovina no Brasil: tendências para o próximo século. Revista Brasileira de Administração Contemporânea, v. 1, n. 10, 1995.

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valor percebido do produto pelo consumidor” (LAZZARINI e LAZZARINI, 1995, p.

283).

A questão da saúde e o consumo de carne vermelha tornam-se elementos

fundamentais no debate sobre a produção da carne bovina brasileira. “Todos estes

atributos, como se pode ver, permeiam toda a cadeia agroindustrial, e envolvem a eficaz

coordenação de todos os agentes. Por exemplo, um dos pontos críticos, e de severos

ataques à carne vermelha, refere-se ao seu teor de gordura. Os consumidores, exigindo

carnes adequadas aos padrões modernos de saúde, principalmente quanto ao problema

do colesterol, devem ser orientados no sentido de que esta (péssima) imagem da carne

vermelha tem origem dos países do primeiro mundo, onde a alimentação dos animais se

dá principalmente através de grãos. No caso do rebanho brasileiro, alimentado

fundamentalmente a pasto, há indícios de que a taxa de deposição de gordura na carcaça

tende a ser menor” (LAZZARINI e LAZZARINI, 1995, p. 283).

Os resultados que serão apresentados a seguir foram obtidos por meio de

entrevistas realizadas junto a agentes representativos do setor de distribuição de carne

bovina no estado de São Paulo, mais especialmente na capital. As entrevistas foram

realizadas visando caracterizar os principais agentes atuantes no setor, buscando

particularmente identificar seus papéis na distribuição de carnes bovinas fornecidas por

Mato Grosso do Sul.

O mercado distribuidor de São Paulo foi considerado como foco principal

nessa análise devido a sua alta participação no volume total de carnes bovinas

comercializadas pela indústria sul-mato-grossense. O estado de São Paulo,

predominantemente a capital e cidades a ela periféricas, é responsável pelo consumo de

70 a 80% das carnes bovinas produzidas em Mato Grosso do Sul. Tais índices sofreram

uma redução que chegou a 50%, após as restrições à carne com osso produzidas em

Mato Grosso do Sul e destinadas à Zona Livre de Febre Aftosa, impostas em dezembro

de 1999. A partir de então, a indústria frigorífica sul-mato-grossense foi gradativamente

se adaptando (praticando a desossa), até recuperar os índices anteriores.

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O enfoque mais apropriado para esta análise foi o qualitativo, sendo as

entrevistas realizadas com agentes específicos, com comprovada experiência e

representatividade no setor. Para escolher esses agentes, procedeu-se inicialmente à

identificação dos diferentes tipos de distribuidores que atuam na cadeia produtiva da

carne bovina, chegando-se por fim àqueles que atuam no mercado de São Paulo, de

acordo com as três subcadeias que serão descritas.

A Figura 3.3 sumariza as três subcadeias que identificamos na distribuição e no

abate, as quais denominamos subcadeias A, B e C.

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Figura 3.3 – Subcadeias da distribuição da carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.

Mato Grosso do Sul produz anualmente cerca de 500 mil toneladas de carne

(com e sem osso) e derivados. Esses produtos são predominantemente enviados a São

Paulo, embora se destinem também aos estados do Rio de Janeiro, Paraná e Minas

Gerais, em menores quantidades.

Nossa análise se concentrará basicamente no destino da carne enviada para São

Paulo, dada a magnitude dessa transferência.

Foram entrevistados agentes representantes do grande, pequeno e médio

varejos, do atacado e também alguns agentes que atuam na intermediação das

transações comerciais da carne bovina.

A seguir serão caracterizados, em linhas gerais, os setores de distribuição das

três subcadeias.

Produção Pecuária Frigorífico

Exportação

Grande e médio varejo

Con

sum

idor

final

DistribuidorProdução Pecuária Frigorífico

Produção Pecuária

Frigorífico

Comprador

“Truckeiro”

Indústria da carne

A

B

C

Médio e Pequeno Varejo

INSU

MO

S

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5.3. CARACTERÍSTICAS DA SUBCADEIA A

A subcadeia A — a que mais cresce — consome aproximadamente 50% da

enviada por Mato Grosso do Sul.

Figura 3.4 – Subcadeia A da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.

O setor de distribuição desta subcadeia é composto predominantemente por

varejistas de grande porte (hipermercados) e de médio porte (supermercados). Entre os

grandes varejistas encontram-se empresas tanto de origem nacional como ligadas a

grupos internacionais. Essas empresas geralmente possuem filiais nos principais centros

consumidores do país e por isso conseguem comercializar grandes volumes agregados

de mercadorias. O abastecimento é feito quase que exclusivamente pelos estados de

Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso.

A compra das mercadorias é na maioria dos casos realizada por departamentos

de compras ligados às matrizes das empresas. Dentre outros benefícios, a centralização

das compras confere às empresas um forte poder de negociação perante os fornecedores,

devido aos altos volumes comercializados. O poder comercial dessas empresas vem se

consolidando gradativamente ao longo dos anos através de aquisições de empresas

menores que atuam em mercados regionais. Esse processo de expansão tem sido visto

como uma ameaça de dominação do setor por poucas empresas, o que submeteria os

SUB CADEIA A

INSU

MO

S

Produção Pecuária Frigorífico

Exportação

Grande e médio varejo Consumidor

final

Indústria da carne

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153

fornecedores a uma situação de maior dependência comercial. De fato, a tendência no

setor é um aumento cada vez mais significativo da participação das grandes redes de

hipermercados e supermercados.

AS GRANDES REDES E AS MARCAS

Essas empresas, que são grandes redes, preocupam-se fortemente com a

reputação de suas marcas perante o consumidor final, e por isso zelam pela qualidade

dos produtos e serviços oferecidos. Os consumidores finais, principalmente aqueles dos

grandes centros, estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade e à segurança dos

alimentos adquiridos. Sendo assim, as empresas que desejam permanecer competitivas

nesse mercado devem estar continuamente buscando formas de cativar a confiança

dessa clientela. Oferecer carnes bovinas de qualidade assegurada passou a ser um

grande diferencial competitivo para essas grandes redes. Além disso, a carne bovina

representa um dos principais itens de fidelização dos consumidores em relação aos híper

e supermercados.

Para atender — e mesmo superar — as expectativas dos clientes quanto à

qualidade, costumam ser exigentes quanto à aquisição de produtos, principalmente bens

perecíveis, como é o caso da carne bovina in natura.

Freqüentemente essas empresas mantêm técnicos (geralmente veterinários) na

indústria frigorífica que fornece as carnes bovinas, para gerenciamento da qualidade ao

longo do processo produtivo. Os rígidos padrões de qualidade exigidos para a seleção

dos frigoríficos fornecedores favorecem, em muitos casos, a capacitação desses

estabelecimentos para a obtenção do credenciamento para exportação de carne bovina.

CARNE COM OSSO

Em relação aos tipos de carnes comercializadas, verificou-se uma preferência

pela compra de carnes com osso por parte das empresas que já possuem salas de desossa

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instaladas, sendo algumas credenciadas como entrepostos. Essas empresas afirmam que

as carnes que chegam com osso permitem resultados melhores em termos de qualidades

organolépticas do produto final, que se degradam devido ao controle inadequado de

temperatura por parte dos transportadores (infra-estrutura logística).

DESCONFIANÇA: DISTRIBUIDORES E FRIGORÍFICOS

Um especialista de uma das empresas salientou que a gordura presente nas

carcaças inteiras serve como isolante térmico durante o transporte, diminuindo assim os

riscos de contaminação. O processo de desossa agrega mais uma manipulação, que, nas

condições tropicais e sem infra-estrutura adequada, eleva a possibilidade de

contaminação — daí a conveniência de se efetuar a desossa o mais tarde possível.

CARNE SEM OSSO

Apesar disso, outras empresas demonstraram interesse maior pela aquisição de

carne desossada — o que viabiliza a compra de cortes específicos — em vez de

carcaças inteiras (dianteiros e traseiros). A compra de carnes já desossadas também

proporciona à empresa uma redução dos custos relativos à manutenção de salas de

desossa e de funcionários especializados nas lojas.

Os clientes do grande varejo estão cada vez mais procurando produtos que

agilizem suas tarefas domésticas, principalmente, quanto ao preparo das refeições.

Sendo assim, a oferta de carnes já desossadas e embaladas em quantidades variáveis vai

de encontro a essas necessidades, tornando-se um fator determinante na escolha do

cliente por determinado fornecedor.

O abastecimento das carnes bovinas nessas empresas é feito diretamente pelos

frigoríficos fornecedores, previamente selecionados segundo normas específicas da

empresa compradora. Normalmente, o frigorífico é responsável por entregar a carne

diretamente nos pontos de venda das empresas.

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INSTABILIDADE CONTRATUAL

Essas empresas mantêm contatos comerciais freqüentes com um número

restrito de fornecedores, geralmente de 4 a 6. Transacionam preferencialmente com

frigoríficos maiores, que possibilitam uma melhor seleção de bois para o abate e têm

capacidade de fornecimento e entrega adequados para atendimento a várias lojas. Esses

frigoríficos pertencem predominantemente à subcadeia A.

A periodicidade das transações varia de diária a semanal. Elas ocorrem

predominantemente via mercado, isto é, não existem contratos formais de

comercialização. Algumas exceções já podem ser percebidas na adoção de contratos

formais na compra de produtos diferenciados, como carnes de novilho precoce, cortes e

embalagens especiais, e carnes com processo produtivo rastreado. O pagamento é

normalmente a prazo, variando de 20 a 25 dias após a entrega. Nessas relações, em que

predomina uma maior solidez, já é perceptível maior estabilidade e constância.

O recebimento das carnes é praticamente diário, fator importante considerando-

se o grau de perecibilidade do produto. Uma das empresas apresentou um giro do

estoque de carnes entre 2 e 3 dias, mantendo um mínimo de armazenamento do produto

na câmara fria.

Dentre os cortes de carnes com maior giro de estoque destacam-se o contrafilé

e a alcatra, devido à predominância de consumidores das classes A e B.

TRANSPORTE

Quanto às condições de transporte dos frigoríficos até as lojas, verificou-se

insatisfação quanto à qualidade da refrigeração das cargas. Segundo algumas empresas

varejistas, nas condições atuais de transporte a temperatura da carne é apenas mantida

em níveis suficientemente baixos para evitar o aquecimento excessivo, mas sem se

atingir uma verdadeira refrigeração.

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QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA

Uma das empresas salientou problemas com a capacitação dos funcionários

que realizam a desossa e também com aqueles que fazem os cortes especiais. Devido às

deficiências dessa mão-de-obra, é oferecido treinamento interno especializado para

essas atividades. São mantidos, geralmente, dois funcionários por loja somente para a

desossa. Segundo estimativas de uma das empresas, existe uma quebra (perda) de até

30% do produto no processamento, dividida entre a desossa, os cortes específicos e as

carnes que se esverdeiam. Por exemplo, em uma peça de 50 kg, 17 kg são perdidos na

primeira quebra e 2,5 kg pela decomposição.

Essa mesma empresa comercializa cerca de 120 tipos de cortes de carne

bovina, na tentativa de propiciar alternativas diferenciadas para o consumidor final.

Também são oferecidas carnes homogeneizadas (carnes moídas), obtidas

principalmente de miolo de acém, peito e paleta, e que são classificadas em três tipos,

conforme a quantidade de gordura: tradicional (acima de 12% de gordura), light (até

12% de gordura) e extra-light (7% de gordura no máximo).

A grande maioria dos entrevistados expressou a necessidade de maior

qualificação da mão-de-obra para a desossa, que deixam muito a desejar em termos de

produtividade.

AUMENTO DA PADRONIZAÇÃO DA CARNE

Sobre as exigências de qualidade da carne adquirida, algumas características

principais foram citadas: carne de boi cujo peso seja de aproximadamente 17 arrobas e

máximo de 36 meses de idade, classificação de traseiros de 55 a 60 kg e de dianteiros

entre 45 e 55 kg, comprovação de sanidade do animal, e apresentação de padrão para

cortes especiais. A compra preferencial é por traseiros, sendo que o volume comprado

de dianteiros varia entre 40% e 70% do volume dos primeiros. Os miúdos são

comercializados com vistas a atender, principalmente, os consumidores de renda mais

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baixa, por custarem relativamente menos que carnes mais nobres. Apesar disso, os

miúdos são comercializados a preços extremamente lucrativos para a empresa, já que

para esse tipo de carne o produtor de bovinos não recebe benefício algum.

5.4. CARACTERÍSTICAS DA SUBCADEIA B

Essa subcadeia consome aproximadamente 30% da carne de Mato Grosso do

Sul que é dirigida ao estado de São Paulo.

O setor de distribuição dessa subcadeia é composto basicamente por três tipos

de agentes econômicos: os entrepostos de carne, os corretores de carne e o médio e

pequeno varejos.

Figura 3.5 – Subcadeia B da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.

Esse circuito de distribuição transaciona predominantemente com os

frigoríficos categorizados adiante como da subcadeia B, devido a suas características

tecnológicas, econômicas e mercadológicas diferenciadas em relação aos frigoríficos

das subcadeias A e C.

DistribuidorProdução Pecuária Frigorífico

“Truckeiro”Médio e pequeno varejo

Consumidorfinal

SUBCADEIA B

INSU

MO

S

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CONSUMIDORES

Os consumidores finais desta subcadeia pertencem, em grande maioria, às

classes B e C, cujo poder aquisitivo é mais baixo que os da subcadeia A. Os pontos de

venda no varejo direcionados a esse mercado consumidor são principalmente

constituídos por médios e pequenos supermercados, mercadinhos e açougues

localizados na cidade de São Paulo. Esses estabelecimentos varejistas têm atuação

normalmente restrita a apenas um bairro e suas redondezas.

ATACADO

Os pontos de venda mencionados abastecem-se principalmente através de

entrepostos de carne localizados na cidade de São Paulo. As carcaças bovinas (traseiros

e dianteiros) e os miúdos são os principais produtos adquiridos. Existe ainda uma forte

preferência por carnes com osso nesse mercado, devido à possibilidade de elevar os

ganhos com a agregação de valor obtida na desossa feita pelo próprio varejista.

Os entrepostos mencionados são empresas atacadistas de carne que atuam

como intermediárias na distribuição dos produtos da indústria frigorífica para o varejo.

Há entrepostos ligados a um frigorífico específico e outros independentes, que compram

de vários frigoríficos. Os primeiros estão sendo cada vez mais raros devido, segundo

alguns deles, à dificuldade em competir com os preços praticados pelos entrepostos

independentes. Os preços inferiores são conseqüência, em grande parte, dos baixos

custos de aquisição dos produtos fornecidos por frigoríficos menos preparados

tecnologicamente, que compram animais mais baratos, com características qualitativas

inferiores, como idade acima de 3 anos, peso superior 18 arrobas e abate por processos

desatualizados. A partir de entrevistas, verificou-se a atuação ilícita de alguns

entrepostos independentes, que adquirem carnes originadas de cargas roubadas por

terceiros. Carnes dessas procedências, além das questões legais pertinentes, trazem

deficiências sanitárias inerentes à falta de controle.

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QUALIDADE E PREÇO

Entre os entrepostos da subcadeia B, a preocupação com a qualidade dos

produtos oferecidos é ainda muito baixa. Os próprios compradores dessas empresas não

se importam significativamente com a qualidade dos produtos que adquirem —

comportamento também observado entre os consumidores finais. A principal

preocupação é com o preço da carne, tida como um produto altamente homogêneo e

sem variação qualitativa não-intrínseca.

Esses aspectos, por sua vez, podem facilitar o surgimento de agentes

intermediários na distribuição da carne bovina nessa subcadeia. Tais agentes

intermediários existem, havendo-se constatado a presença de dois tipos principais: os

corretores e os “truckeiros”.

CORRETORES E “TRUCKEIROS”

Os corretores exercem o papel de intermediadores das transações entre

frigoríficos e entrepostos de carnes. Sua principal função é captar informações diárias

sobre a oferta e a demanda de carnes bovinas no mercado, bem como sobre os preços

vigentes. O corretor funciona como um agente centralizador das transações entre

frigoríficos e entrepostos, agilizando a comercialização das carnes. As transações são

realizadas exclusivamente via mercado spot (à vista), sem qualquer formalização

contratual. A comercialização de carnes com osso é predominante nesse mercado (80%

do total). Embora ainda baixa (20%), a comercialização de carnes desossadas vem

aumentando gradativamente nos últimos anos, seguindo a tendência de redução dos

custos de transporte de carnes com osso.

Os “truckeiros” são agentes intermediários que atuam na distribuição da carne

bovina entre a indústria frigorífica e o varejo. (Essa denominação deriva-se do nome do

veículo normalmente utilizado por esses agentes para o transporte da carne, um

caminhão do tipo truck.)

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160

VAREJO

Os principais varejistas que atuam na subcadeia B são médios e pequenos

supermercados e açougues localizados nos bairros da cidade de São Paulo. Os

estabelecimentos menores, principalmente os açougues, vêm enfrentando uma situação

crítica com o aumento da comercialização de carnes bovinas pelos supermercados e

hipermercados. Agentes institucionais que atuam nesse segmento apontam uma

tendência de diminuição significativa no número de açougues nos próximos anos, caso

não haja uma reestruturação desses estabelecimentos em busca de qualidade. Embora

para essa subcadeia a tendência não seja tão rápida quanto para a subcadeia A, é

gradativo e definitivo o surgimento, em substituição aos açougues, das boutiques de

carne, mais preocupadas com a qualidade do produto comercializado.

5.3. CARACTERÍSTICAS DA SUBCADEIA C

A subcadeia C corresponde a 20% do total da carne de Mato Grosso do Sul

destinada a São Paulo.

Figura 3.6 – Subcadeia C da distribuição de carne bovina sul-mato-grossense em São Paulo.

O setor de distribuição dessa subcadeia é composto pelo pequeno e médio

varejo, predominando os pequenos supermercados e açougues locais, localizados

principalmente em bairros periféricos de São Paulo.

Produção Pecuária

Frigorífico

Comprador

Médio e pequeno varejo

SUBCADEIA C

INSU

MO

S

Consumidor final

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161

Esse circuito de distribuição comercializa carnes bovinas geralmente

originadas de frigoríficos que atuam na subcadeia C. Quase sempre esses

estabelecimentos produzem carne bovina de qualidade duvidosa, oferecida a preços

inferiores.

O abastecimento dessas carnes no mercado varejista é realizado através de um

intermediário informal, denominado “comprador”. Esse agente adquire os bois vivos em

pequenas propriedades sul-mato-grossenses e terceiriza o abate em abatedouros e

frigoríficos de pequeno porte e de baixa tecnologia, também localizados no estado. As

carnes são então transportadas por este mesmo agente até São Paulo e distribuídas

diretamente no pequeno varejo.

As condições de transporte da carne bovina na comercialização via

“truckeiros” e “compradores” são normalmente as mais precárias, sem controle algum

de refrigeração. A livre atuação desses agentes é possível devido, em grande parte, à

deficiência do sistema de fiscalização do transporte de mercadorias.

Os consumidores finais dos açougues que atuam nessa subcadeia pertencem

principalmente às classes C e D, que por seu pequeno poder aquisitivo compram apenas

pelo melhor preço, em detrimento da qualidade. As carnes consideradas de segunda e os

miúdos são os principais produtos consumidos nesse mercado. Sabe-se que a

lucratividade dos açougues deve-se predominantemente à venda dos miúdos.

ABATE CLANDESTINO

É na subcadeia C onde ocorre com maior freqüência o abate clandestino. Não

há precisão sobre os números relativos a essa prática Brasil, mas em meados dos anos

90, dizia-se que compreendia até 60% do total da carne consumida. Nos últimos anos, a

partir da Portaria 304, que passou a exigir a desossa nos frigoríficos de abate, observou-

se uma redução da clandestinidade, apesar da ausência de fiscalização rigorosa. O

Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa também levou a uma redução do

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abate clandestino, pelos controles que contém quanto ao trânsito de animais, produtos e

subprodutos, dadas as exigências sanitárias.

A tendência é que sobretudo na Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste se

observe uma redução significativa do abate clandestino, devido ao consórcio dos

controles fiscal e sanitário. A maior exigência dos consumidores, sobretudo os que se

servem das grandes redes de supermercados, também colabora com essa tendência de

diminuição.

5.4. DISTRIBUIÇÃO DA CARNE BOVINA NO RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro, o segundo mercado consumidor de carnes do país, apresenta-se

como menos exigente, tanto por parte dos consumidores quanto das imposições

sanitárias estaduais49. Em termos contratuais, apresenta conflitos e incertezas na cadeia

muito superiores às de São Paulo, razão pela qual grande parte da indústria frigorífica

do país não tem preferência pela venda no mercado fluminense.

As incertezas nas vendas podem ser ilustradas por este exemplo: certa indústria

frigorífica de Mato Grosso do Sul, impedida de vender a São Paulo (Zona Livre de

Febre Aftosa) por não praticar a desossa, pôde fechar negócios com comprador do Rio

de Janeiro (Zona Tampão e ‘de alto risco’) Entre a saída da carga de Mato Grosso do

Sul e sua chegada ao destino, o contrato inicial sofreu nada menos que três alterações. O

comprador, após a saída da carga, meramente insinuou que poderia não mais desejar

adquirir a mercadoria, cujo pagamento, aliás, ocorreria por ocasião da entrega.

Por instabilidades como a exemplificada — ademais, também existentes em

outras áreas do país, embora em menor escala e freqüência — o mercado fluminense

não se constitui em mercado preferencial.

49 Até julho de 2000, o Rio de Janeiro ainda permanecia enquadrado na condição de alto risco de febre aftosa.

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163

5.5. AGENTES COORDENADORES DA CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA NO BRASIL

Considerando tais conflitos e incertezas, são recorrentes nos meios acadêmicos

e políticos brasileiros afirmações que versam sobre a necessidade de maior coordenação

e harmonia na cadeia produtiva da bovinocultura de corte brasileira. O Fórum Nacional

da Pecuária de Corte (FNPC) — vinculado à Confederação Nacional de Agricultura

(CNA) —, o Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (PENSA-

USP), ou ainda o Fundo de Desenvolvimento da Pecuária de Corte (FUNDEPEC-SP),

todos sem exceção reafirmam a necessidade dessa harmonia e coordenação na cadeia.

Apesar disso, o que observamos é que os conflitos perduram, ou até aumentam.

Em nossa compreensão, no entanto, tal coordenação já vem ocorrendo, ainda

que não da forma idealizada e desejada pelos interlocutores acima citados, mas sim a

partir de um maior poder que vem sendo exercido por parte das grandes redes de

supermercados, em especial Carrefour e Pão de Açúcar, através das chamadas

“parcerias”. Tal visão também é partilhada, mesmo que parcialmente, por BATALHA50.

Abaixo ilustramos como estão se dando essas parcerias.

A revista DBO Rural51 traz ampla reportagem, “No laço dos supermercados”,

em que descreve e analisa os programas de qualidade da carne coordenados pelas duas

maiores redes de supermercados do país — os grupos Carrefour e Pão de Açúcar (Cia.

Brasileira de Distribuição), respectivamente a primeira e segunda maiores redes

varejistas do país52 —, que passam a definir uma série de exigências tanto de matéria-

prima (boi) quanto das formas e procedimentos de abate (indústria frigorífica) (DBO

RURAL, 2000, p. 84).

Essas ações relativas à carne bovina buscam obter a confiança dos clientes.

“Pesquisas mostram a carne como um dos campeões de ‘fidelização’ dos clientes, ou

seja, transformar o consumidor em freqüentador assíduo e fiel — como diz o ditado —

de uma determinada loja” (DBO RURAL, 2000, p. 84).

50 BATALHA, Mário Otávio. 10º Encontro Nacional do Novilho Precoce, Campo Grande, Junho, 2000. 51 DBO RURAL. Ano 19, n. 235, mai. 2000, p. 84-98.

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As duas redes estão realizando esse programa, objetivando atender a todas as

lojas. O grupo Carrefour, por exemplo, pretende que em dois anos todas as suas lojas —

o que corresponde a um consumo mensal de 30 a 40 mil bovinos —tenham o selo

“Garantia de Origem Carrefour”. No caso do grupo Pão de Açúcar, a previsão de abate

já está na faixa de 30 mil cabeças por ano. O grupo conta com a parceria do

FUNDEPEC, criado em São Paulo com o propósito de articular a cadeia produtiva a

partir, pelo menos, dos parâmetros desejados por JANK e ZYLBERSZTAJN, isto é, a

partir de uma articulação dos agentes de toda a cadeia produtiva.

Em essência, os programas do Carrefour e do Pão de Açúcar seguem a mesma

lógica, porém com particularidades e estratégias distintas, a ponto de este último

planejar comercializar carne a partir de raças específicas53.

A própria DBO Rural, autodenominada “A Revista de Negócios do Criador”, é

enfática ao afirmar a participação dos supermercados: “Pelos programas do varejo, dão

sinais claros de avanço no comando da cadeia da carne, ao amarrar prêmios de preço ao

pecuarista e liqüidez ao frigorífico à obtenção de um produto que lhe interesse. Opinam

na produção, interferem no processamento industrial e — claro — detêm controle

absoluto.... Segurança alimentar, rastreabilidade e capacitação de mão-de-obra estão na

ponta da língua dos organizadores dos programas de carne de qualidade” (DBO

RURAL, 2000, p. 84).

O grupo Carrefour vem investindo de forma significativa, nos 21 países em que

atua, na garantia de origem. Para o produtor, o diferencial de preços pode ser de até 3%

para machos que atendam às especificações. A base dos preços a serem pagos pela rede

será calculada a partir do indicador estabelecido pela Escola Superior de Agricultura

Luís de Queirós (ESALQ-USP), para cotação feita para a Bolsa de Mercadorias e

Futuros. Essas cotações são regionais, com a perspectiva de garantir as diferenças

regionais.

52 De acordo com o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o grupo Carrefour está em primeiro lugar em faturamento bruto, de R$ 8 bilhões, com 183 lojas; o grupo Pão de Açúcar, em segundo, com faturamento bruto de R$ 7,7 bilhões, tendo 349 lojas. Dados relativos a 1999. 53 Cada tipo de raça apresenta distinções quanto à produção, adaptação climática, pastagens, gordura etc. As raças, portanto, acabam por se constituir em carnes com distintas tipologias.

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Observa-se, ainda, que antes da decisão de centralizar fornecedores, as

compras eram descentralizadas, o que aumentava significativamente os custos, mesmo

porque muitas lojas tinham suas unidades próprias de desossa, e a conseqüência era uma

absoluta falta de padronização de qualidade.

O objetivo do Carrefour, dada a amplitude nacional de seu programa — que vai

do Rio Grande do Sul ao Amazonas —, é também evitar os impactos de sazonalidade

em termos de baixa ou de elevação de preços.

A revista ilustra também o grau de exigência do programa do Carrefour, sobre

o qual a empresa aponta: “Rastreamento do nascimento ao abate, da semente à colheita,

significa como obter as informações que convençam o consumidor da boa procedência

do alimento.... É condição obrigatória a identificação individual dos brincos, com

código de barras ou com chips, e chips colocados diretamente nos animais. Cada brinco

traz o ano em que o animal nasceu, simbolizado por uma letra, as iniciais da fazenda ou

sigla do estado” (DBO RURAL, 2000, p. 86).

Finalmente, o Carrefour vai exigir do pecuarista não necessariamente novos

investimentos, mas uma forma sustentável de gestão da propriedade, englobando, entre

outras variáveis:

• pastagens (“A propriedade deve ter um mapa atualizado e disponível para auditorias,

indicando as divisões de pastos, cercas e áreas de reserva...”);

• água (“Laudos de análises devem ser mantidos à vista para auditorias...”);

• pessoal (“Proibição de trabalho infantil direto ou indireto... Pagamento dos direitos

trabalhistas...”) (DBO RURAL, 2000, p. 87).

Além do exposto, no Caderno de Encargos há o controle sobre as instalações,

currais, utensílios/ferramentas, balanças, jejum e peso, e estradas.

Na direção oposta ao que vulgarmente se difunde em relação às dificuldades da

pecuária extensiva — de que a tendência seria a de confinamentos —, o Carrefour

afirma: “O grupo partilha da opinião de que a engorda a pasto confere mais sabor à

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carne. O superprecoce (que passa um bom tempo em confinamento) não interessa.... Na

mira do Departamento de Compras, vale mais o precoce engordado a pasto, que precisa,

no máximo, de 40 dias de confinamento para terminação” (DBO RURAL, 2000, p. 86).

Além da orientação e controle sobre a ação do pecuarista, o controle sobre a

indústria frigorífica também é rígido: “No frigorífico, o manejo da carcaça deve impedir

que a carne endureça. O transporte até as lojas deve manter a temperatura na faixa de 2

ºC a 4 ºC. O Carrefour tem listados pelo menos oito frigoríficos com que pretende

trabalhar nas normas mais específicas do programa... Em cada um deles o plano prevê

plantão permanente de um técnico do grupo” (DBO RURAL, 2000, p. 87).

Uma última informação importante, e simultaneamente preocupante para os

produtores menores, é que essas parcerias estão sendo realizadas com os pecuaristas

que, nas atuais formas de produção, já se constituem nos mais produtivos e

competitivos. Em outras palavras, estas parcerias estão sendo firmadas com os

bovinocultores de corte que já apresentam um grau de eficiência produtiva acima da

média dos outros produtores. A maioria dos contratos de parceria é realizada com

pecuaristas que têm entre 5 e 10 mil cabeças e com formas de produção e de gestão

mais avançadas que a média nacional. Nesse sentido, essas parcerias não priorizam os

produtores menos competitivos, que em tese mais necessitariam delas. Ao contrário, a

prioridade é dada àqueles que já alcançam níveis de produtividade superiores à média.

Se essa tendência se confirmar, os produtores com níveis de produtividade menores

tenderão a ser mais pressionados nos preços, já que detêm menor poder de mercado que

os grandes.

5.6. EXPORTAÇÕES

Quanto às exportações de carne bovina, o Brasil enviou ao exterior 550 mil

toneladas in natura (equivalentes-carcaça) e 345 mil industrializadas em 1999.

Considerando o conjunto dessa exportação, que correspondeu a 63% do total das

exportações brasileiras de carne bovina, a elevação entre 1990 e 1999 foi de 117%, com

tendência de aumento.

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Mato Grosso do Sul do Sul tem em seu território matrizes ou filiais das cinco

maiores indústrias exportadoras de carne bovina do país. Por ordem de importância nas

exportações temos os frigoríficos Independência (com duas unidades, em Nova

Andradina e Anastácio), Bertin, Friboi e Minerva. A distribuição estadual dos

frigoríficos credenciados para exportação é mostrada na Figura 3.7.

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Figura 3.7 – Bacias da pecuária de corte de Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e capacidades de abate por dia. 1999.

Fonte: GEA-UFMS.

R B 2.645.294

CAP/DIA 1.200

R B 1.387.603

CAP/DIA 100

R B 2.075.397

CAP/DIA 650

R B 4.944.624

CAP/DIA 4.230

R B 3.402.761

CAP/DIA 2.260

R B 4.256.767

CAP/DIA 5.228

R B 2.079.909

CAP/DIA 1.580 20.739.346

23.860.476

24.756.256

34.527.380

53.109.110

BRASIL: Rebanhos Bovinos por Regiões – 1999

Credenciado para exportação

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169

6. ABATE E PROCESSAMENTO DE CARNES EM MATO GROSSO DO SUL

A indústria frigorífica brasileira é bastante complexa e tem passado por uma

reestruturação significativa, especialmente a partir dos anos 90, com a desconcentração

do abate em São Paulo e o conseqüente deslocamento do abate e/ou industrialização

para oeste, notadamente para Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Entretanto, ao

longo do tempo, a estrutura frigorífica brasileira tem apresentado as seguintes

características: “A preocupação básica tem sido, unicamente, o preenchimento das

escalas de abate dos frigoríficos, e as relações são tipicamente de conflito. Há um

grande problema de assimetria de informação, pois o pecuarista não sabe precisamente

quanto o seu animal vai ‘render’ no processo de abate e limpeza. O sistema de

comercialização é tão crítico que muitos indivíduos fazem questão de acompanhar o

abate dos seus animais e a pesagem das carcaças nos frigoríficos, dado o alto grau de

possibilidades de ações oportunistas por parte da indústria” (BENITEZ, 1995, p. 286).

A indústria frigorífica em Mato Grosso do Sul desenvolveu-se de forma intensa

nos últimos anos, em especial a partir de meados dos anos 80, quando sua instalação se

intensificou na região Centro-Oeste, notadamente pelo incentivo através do crédito,

política governamental para reduzir os problemas oriundos da entressafra, quando

ocorriam grande elevação no preço da carne. Buscando-se reduzir os impactos da menor

oferta de carne na entressafra, expandia-se a indústria frigorífica para todas as regiões

do país, sobretudo naquelas produtoras de animais.

Tal expansão, porém, fez com que o Brasil passasse a dispor de uma indústria

frigorífica com grande capacidade ociosa, que em média chega a 30%. Tal fato fez com

que o crédito para a indústria frigorífica brasileira, em especial no Centro-Oeste, fosse

reduzido, sendo em alguns estados extinto.

Em Mato Grosso do Sul, tal constatação é bastante evidente: o estado tem hoje

33 indústrias frigoríficas instaladas, responsáveis pelo abate de pouco mais de 3 milhões

de cabeças; a capacidade de abate instalada foi de 4,15 milhões de cabeças no início de

2000, mas o abate não ultrapassou 3,2 milhões. Uma decorrência disso é que o Banco

do Brasil, que opera com o Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Centro-Oeste

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(FCO), não mais libera financiamentos para a ampliação do parque produtivo,

reservando-os somente para se adquirirem ou modernizarem instalações já existentes.

Tabela 3.1 – Setor frigorífico de Mato Grosso do Sul. 1999.

Produção em 1999 1,1 milhões de toneladas anuais

3,15 milhões de animais anuais R$ 2,2 bilhões ao ano

Empregos diretos 10 500 R$ 38 milhões ao ano

Arrecadação potencial, incluindo as novas alíquotas

4% de ICMS (carnes com osso)

3% de ICMS (carnes sem osso) R$ 60 milhões ao ano

Como mostrado na Tabela 3.1, o setor frigorífico sul-mato-grossense realizou

em 1999 um abate de 3,15 milhões de cabeças, totalizando 1,1 milhão de toneladas de

carne e subprodutos. O valor movimentado pelo setor nesse mesmo ano alcançou R$ 2,2

bilhões. A alíquota do ICMS, que até meados de 1999 era de 2% para todos os tipos de

carne, foi elevada em maio de 2000 a 3% para carne com osso e 4% para a desossada,

objetivando aumentar a agregação de valor no estado, permitindo-lhe arrecadar até R$

60 milhões por ano com o setor.

6.1. OS FRIGORÍFICOS SUL-MATO-GROSSENSES NA CADEIA PRODUTIVA DE CARNE

BOVINA

Nesta seção, analisam-se os principais aspectos levantados através dos

questionários aplicados à indústria frigorífica sul-mato-grossense no período de

novembro de 1999 a abril de 2000 por pesquisadores da UFMS.

Obtém-se uma melhor visão do papel dos frigoríficos de carne bovina

instalados em Mato Grosso do Sul classificando-os em três grupos predominantes, que

se enquadram nas já referidas subcadeias A, B e C (Figura 3.8).

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Vejamos suas principais características quanto à estruturas internas e

gerenciamento das indústrias frigoríficas quanto às relações desta com os fornecedores

de matérias-primas (pecuaristas) e com os distribuidores (em especial os de São Paulo).

As subcadeias A, B e C de Mato Grosso correspondem respectivamente a 58%,

30% e 12% do total de sua produção (Tabela 3.2). A subcadeia A é que apresentou os

maiores níveis de crescimento recente, sobretudo a partir de dezembro de 1999, devido

à exigência de que a carne sul-mato-grossense destinada sobretudo a São Paulo esteja

desossada. A tendência, também devida a outros fatores, é de uma maior concentração

nessa subcadeia.

Tabela 3.2 – Classificação dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul

Subcadeia Unidades Porcentagem da produção

A 12 plantas (7 empresas) 58%

B 12 plantas (12 empresas) 37%

C 7 plantas (7 empresas) 12%

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Figura 3.8 – Subcadeias da indústria frigorífica de Mato Grosso do Sul

Produção Pecuária Frigorífico

Exportação

Grande e médio varejo

Con

sum

idor

final

DistribuidorProdução Pecuária Frigorífico

Produção Pecuária

Frigorífico

Comprador

“Truckeiro”

Indústria da carne

A

B

C

Médio e Pequeno Varejo

INSU

MO

S

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Figura 3.9 – Características da subcadeia A da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e distribuição em São Paulo.

Distribuidores: • ligados a grandes e médios varejistas; • venda direta ao consumidor final; • preocupação com qualidade e segurança; • adquirem carne com osso e sem osso; • possuem técnicos próprios nos frigoríficos; • busca por diferenciação; • alto poder de negociação (altos volumes); • favorecem a capacitação do frigorífico para exportação; • público alvo: classes A e B.

Subcadeia A

Frigoríficos: • ligados a grupos maiores sediados

predominantemente em SP; • exportadores, em sua maioria; • tecnologia de processos e gestão satisfatórias; • equipamentos em boas condições; • parque de desossa instalado; • não abatem para terceiros; • possuem fornecedores selecionados.

Cadeia produtiva da carne bovina - GERAL

Cadeia produtiva da carne bovina - MS

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Figura 3.10 – Características da subcadeia B da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e distribuição em São Paulo.

Distribuidores: • entrepostos de carnes bovinas localizados em outros

estados, comercializando a carne via “truckeiros”, que entregam no pequeno varejo e açougues;

• pequenos varejistas e açougues locais; • adquirem principalmente carne com osso; • baixa preocupação com qualidade e segurança; • baixo poder de negociação (baixos volumes); • busca apenas por preços baixos. • público-alvo: classes B e C.

Subcadeia B

Frigoríficos: • origem local; • não exportadores, em sua maioria; • tecnologia de processo e gestão desatualizadas; • abatem também para terceiros; • baixa preocupação com qualidade do boi; • baixa capacidade de desossa; • equipamentos obsoletos.

Cadeia produtiva da carne bovina - GERAL

Cadeia produtiva da carne bovina - MS

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Figura 3.11 – Características da subcadeia C da carne bovina. Produção em Mato Grosso do Sul e distribuição em São Paulo.

Subcadeia C

Frigoríficos: • origem local; • não exportadores, em sua maioria; • tecnologia de processo e gestão desatualizadas; • abatem predominantemente para terceiros; • abatem predominantemente vacas; • comercializam apenas os miúdos; • baixa preocupação com qualidade da matéria-prima; • baixa capacidade de desossa; • equipamentos obsoletos.

Distribuidores: • terceiros, que abatem no frigorífico e

distribuem para médio e pequeno varejo local e em outros estados;

• adquirem principalmente carne com osso; • baixa preocupação com qualidade e

segurança; • buscam apenas por preços baixos; • público alvo: classes D e E.

Cadeia produtiva da carne bovina - GERAL

Cadeia produtiva da carne bovina - MS

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Praticamente 90% dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul foram entrevistados

por meio do questionário constante no Anexo, que abordou aspectos de suas relações

com os pecuaristas, sua estrutura, interna, distribuidores e órgãos estatais de

representação.

No decorrer da pesquisa também se manteve contato praticamente permanente

com o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso

do Sul (SICADEMS), que foi prestando informações complementares sobre questões

pertinentes à evolução e situação da indústria frigorífica no estado.

A seguir, analisam-se os principais aspectos constatados nessa pesquisa.

PERTENCER A UM GRANDE GRUPO

A maioria dos frigoríficos instalados em Mato Grosso do Sul

(aproximadamente 60%) pertence a grupos empresariais, sejam grupos locais

diversificados ou grupos frigoríficos presentes em alguns estados do país, como o Bertin

e o Friboi. O Independência, com sede em Nova Andradina, tem empresas no estado de

São Paulo, e está ampliando suas unidades produtivas em Mato Grosso do Sul.

O aumento da predominância de grupos com presença nacional em Mato

Grosso do Sul, sobretudo oriundos de São Paulo, deve se intensificar nos próximos

anos, uma vez que sua inserção na cadeia produtiva como um todo, notadamente na

relação frigorífico–distribuição, os aproxima das regiões produtoras.

O fato de pertencer a um grupo empresarial, normalmente usuário de gestão

profissional, é característica predominante das subcadeias A e B, enquanto as empresas

locais familiares estão presentes nas subcadeias B e C.

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DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES

Aproximadamente 40% das empresas frigoríficas de Mato Grosso do Sul

atuam em atividades diversificadas. Essa diversificação é notadamente concêntrica, ou

seja, as atividades são calcadas na mesma base tecnológica, normalmente pela atuação

em um elo anterior ou posterior da cadeia da carne, ou ainda no processamento de

produtos oriundos do abate. São estas as principais atividades de diversificação:

• produção bovina (como forma de suprir parcialmente o abastecimento de matéria-

prima, diminuindo assim a dependência dos produtores);

• processamento da carne e produção de embutidos (agregação de valor a carnes

menos nobres, como dianteiro e miúdos);

• produção de sabão (aproveitamento da graxaria oriunda do processo de abate);

• curtume (processamento do couro para utilização na indústria de calçados e para a

exportação);

• produção de calçados (aproveitamento do couro oriundo do abate).

É interessante notar que as empresas que praticam algum processo de

diversificação pertencem à subcadeia A e em menor escala à B. De modo geral, as

atividades expressas acima (que não o abate e frigorificação) têm representação bastante

modesta no faturamento consolidado do grupo, geralmente inferior a 5%.

Com a obrigatoriedade, a partir de dezembro de 1999, da desossa no próprio

estado do abate para a carne destinada à Zona Livre de Febre Aftosa, constatou-se um

incremento dessas atividades num primeiro momento, notadamente no processamento

de carne de dianteiro, ossos e miúdos. No entanto, a partir de dezembro de 2000,

quando Mato Grosso do Sul for incluído na Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação,

igualando-se aos demais estados do Circuito Pecuário Centro-Oeste e portanto podendo

enviar carne com osso para São Paulo, é pouco provável que tal movimento recobre o

nível anterior ao fechamento das divisas estaduais.

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ANO DE INSTALAÇÃO E IDADE DOS EQUIPAMENTOS

Quanto à idade das instalações, o parque industrial frigorífico de Mato Grosso

do Sul é relativamente recente: aproximadamente 60% das unidades foram instaladas ou

se adequaram de abatedouros a frigoríficos durante os anos 90. As demais unidades

datam predominantemente dos anos 80. Aproximadamente 60% das unidades têm

instalações consideradas modernas. As 40% restantes dispõem de equipamentos

medianamente atualizados. Constata-se nesse grupo uma presença mais significativa de

frigoríficos que abatem para terceiros, enquadrados na subcadeia C.

SOBRE O ARRENDAMENTO

Aproximadamente 40% dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul são arrendados,

ou seja, não são geridos pelo proprietário dos ativos de produção. Isso é feito quando os

proprietários, sobretudo por dificuldades financeiras para continuar a atividade,

arrendam os ativos patrimoniais, em especial para grupos frigoríficos mais sólidos, de

renome nacional. Em Mato Grosso do Sul, no passado recente, diversos arrendamentos

foram precedidos por crises nas relações entre os frigoríficos e pecuaristas e outros

credores: frigoríficos arrendados interrompiam as atividades, rompendo contratos e

negócios já pactuados54. Isto pode gerar, fundamentalmente, dois problemas.

O primeiro é que, em caso de falência do frigorífico que arrenda a unidade

produtora, dificilmente haverá garantias de pagamento a fornecedores (pecuaristas) e

funcionários, visto que o frigorífico não detém os ativos de produção. Assim, o

arrendatário afasta-se da produção, mas o proprietário — sem qualquer responsabilidade

legal — pode arrendar novamente a unidade. Essa prática era tão comum no estado que

se cogitava que os proprietários dos ativos estivessem por vezes comandando a empresa

54 No início de 2000, a Secretaria de Estado de Fazenda (SEFAZ) passou a exercer maior controle sobre a indústria frigorífica, sobretudo na concessão dos regimes especiais, para evitar ou reduzir problemas dessa natureza.

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179

arrendatária através de um “laranja”, intermediário que serviria apenas como fiel

depositário e responsável legal pela empresa.

Outra implicação do alto índice de arrendamento das unidades frigoríficas é o

desestímulo à modernização das instalações. A empresa que arrenda a unidade

dificilmente investirá em ativos fixos, devido a não-amortização destes durante a

vigência do contrato de arrendamento. Os proprietários dos ativos, por sua vez,

tampouco são estimulados a investir em ativos, com receio de minimizar seus lucros.

É clara a relação entre o fato de a unidade ser arrendada e não estar com seus

ativos de produção devidamente atualizados.

ABATE PARA TERCEIROS

Uma prática também observada é o “abate para terceiros”, nome que se aplica a

unidades frigoríficas que abatem animais para outras empresas (às vezes constituídas

por uma única pessoa) que possuem uma carteira de clientes em Mato Grosso do Sul ou

ainda em São Paulo. Os terceiros adquirem os animais de pecuaristas, conduzem-nos ao

abate e encarregam-se da comercialização, normalmente com açougues e pequenos

supermercados.

Como forma de pagamento pela atividade de abate, as unidades frigoríficas

recebem os miúdos e o couro, com os quais pagam seus custos totais. Os miúdos

oriundos do abate são comercializados pelos próprios frigoríficos, predominantemente

nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Aproximadamente 33% das unidades frigoríficas abatem para terceiros. Isso

equivale a 500 a 600 mil cabeças por ano, perfazendo em torno de 18% do abate

efetuado em Mato Grosso do Sul.

Algumas características dessas empresas que integram a subcadeia C: têm

origem local; em sua maioria não são exportadoras; a tecnologia de processo e a gestão

estão desatualizadas; abatem somente para terceiros; abatem predominantemente vacas;

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comercializam apenas os miúdos; têm baixa preocupação com a qualidade da matéria-

prima; a capacidade de desossa é baixa; os equipamentos são obsoletos.

Outro fato relevante é a descapitalização desses frigoríficos. Além de não

possuírem capital de giro para a aquisição da matéria-prima (bois), não gozam de

credibilidade junto aos pecuaristas para a compra a credito, o que praticamente as obriga

a efetuar o abate somente para terceiros.

FORMAÇÃO DO PREÇO

Quanto à formação de preços, os frigoríficos sul-mato-grossenses, assim como

os dos demais estados, são tomadores de preços: os mercados compradores determinam

os preços a serem praticados no elo anterior da cadeia (indústria frigorífica), o que é

característico dos mercados de commodities. Em outras palavras, quem define os preços

pagos pela indústria frigorífica aos pecuaristas é sobretudo a distribuição, e mais

fortemente as grandes redes varejistas.

Devido ao fato de os frigoríficos não terem flexibilidade sobre a formação dos

preços para o atacado ou para o varejo, o aumento da margem obtida com a atividade

vem predominantemente da compra de animais e do domínio da estrutura de custos das

unidades produtivas. Nesse sentido, os conflitos existentes entre a indústria frigorífica e

pecuaristas tendem a ser cada vez mais intensos, sobretudo porque a indústria frigorífica

é cada vez mais pressionada na ponta do varejo pelas redes varejistas, que, como

veremos, aumentam dia a dia seu poder de força.

COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO

A definição dos preços pelo último elo da cadeia evidencia um comportamento

estratégico de dominação pelos custos, cujas principais características são brevemente

discutidas a seguir.

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O enfoque da atividade se dá sobre o produto, e não sobre o mercado: há maior

preocupação em otimizar processos que visem diminuir custos de produção, obtendo-se

um padrão de qualidade “aceitável” pelo mercado. Pouco ou nenhum esforço é feito

para gerar produtos novos ou diferenciados. A publicidade e a promoção, como formas

de alcançar diferenciações subjetivas, tampouco são empreendidas no setor.

O enfoque de gestão se dá na otimização das atividades agregadoras de valor,

notadamente da linha de produção, das logísticas interna e externa e da mão-de-obra.

Para esse tipo de empresa, a competência requerida de seus gestores é a eficiência no

controle dos custos. Não se usam outros procedimentos de gestão que poderiam fazer

com que a empresa fosse mais competitiva, dada as características apresentadas acima.

A pesquisa e desenvolvimento, quando praticados pelos frigoríficos,

concentram-se no desenvolvimento de processos que visem a diminuir os custos de

produção mantendo a qualidade compatível.

Sempre com o intuito de reduzir esses custos, uma parcela significativa dos

frigoríficos é levada a promover a integração vertical, tanto a montante como a jusante,

exercendo atividades de pecuária, transporte de animais vivos e carcaças,

industrialização da carne, curtume, produção de sabão etc., nas quais a empresa se

apropria dos valores agregados em cada etapa produtiva.

Como a rentabilidade da atividade se dá predominantemente pela redução dos

custos, pode-se inferir que empresas frigoríficas com unidades produtivas de maior

escala tenham vantagens em relação a seus concorrentes menores, devido a um rateio

dos custos fixos de produção.

CARTEIRA DE PRODUTOS

Os principais produtos oriundos do abate de bovinos são:

• carne com osso resfriada;

• carne sem osso resfriada;

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• miúdos;

• farinha de osso;

• farinha de sangue;

• graxaria;

• couro;

• cascos e chifres.

Algumas unidades frigoríficas produzem ainda o charque – industrialização da

carne de dianteiro – como forma de agregar valor a uma carne menos nobre.

Apenas uma empresa frigorífica citou a produção de um produto diferenciado

— no caso, cortes especiais de carne com osso.

Dessa forma, confirmando a posição de commodity do produto, verifica-se

grande homogeneidade dos produtos oferecidos pelas empresas frigoríficas, havendo

pouco ou nenhum estímulo ao desenvolvimento de novas versões.

Uma das raras diferenciações é a carne de novilho precoce, produzida de forma

esporádica e sem fluxo constante pelas empresas frigoríficas.

NÍVEL DE CONCORRÊNCIA

Dadas as características de commodity do produto carne, em suas diversas

formas, a percepção de concorrência por parte das empresas frigoríficas é bastante

modesta. Apenas grandes grupos frigoríficos, como Friboi, Bertin e Independência,

salientam existir uma certa concorrência entre si no mercado interno, muito

provavelmente pelos grandes clientes.

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O fato de as empresas frigoríficas não perceberem uma concorrência direta

entre si poderia — ou deveria — facilitar acordos de cooperação para otimizar a

produção e diminuir custos. Algumas iniciativas desse tipo já vêm sendo tomadas

(desossa de uma empresa sendo efetuada na unidade de outra).

As empresas frigoríficas que abatem para terceiros e recebem os miúdos como

pagamento beneficiam-se de uma demanda maior que a oferta, e portanto conseguem

colocar facilmente esses produtos no mercado. Tampouco nesse segmento de mercado

há qualquer percepção de concorrência.

Um tipo de concorrência eventualmente citada pelas empresas frigoríficas é

pela obtenção de matéria-prima (boi), o que as obriga a percorrer grandes distâncias —

com os devidos custos associados — para conseguir animais. Ainda assim, a percepção

de concorrência entre elas é pequena.

VANTAGENS E DESVANTAGENS EM RELAÇÃO À CONCORRÊNCIA

Ao avaliarem suas vantagens e desvantagens em relação aos concorrentes, os

frigoríficos mencionam os seguintes aspectos:

A localização em relação à matéria-prima é a vantagem mais citada, por 35%

das empresas. Embora tendo como produto uma commodity, as empresas frigoríficas

tendem a citar a qualidade como vantagem competitiva. No entanto, por tratar-se de

uma commodity, os produtos são bastante homogêneos e o fator preço se sobrepõe ao

suposto diferencial de qualidade. No que se refere aos custos de produção como

vantagem competitiva, apenas 23% das empresas os citam. Dois fatores oriundos de

uma mesma situação podem justificar esses resultados: por um lado, a gestão pouco

profissional de parte das empresas frigoríficas do estado não evidencia o domínio de

suas estruturas de custos como a verdadeira fonte de vantagem competitiva, dadas as

características do mercado; de outro, os frigoríficos não têm uma estrutura de custos

suficientemente desenvolvida para um controle rigoroso de suas atividades produtivas.

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Outra vantagem competitiva é a confiança que os pecuaristas depositam em

certas empresas frigoríficas. De fato, 24% delas salientam que essa relação de confiança

facilita a aquisição de animais.

A notoriedade da marca é citada como vantagem por apenas duas das empresas

instaladas, pertencentes a grandes grupos com presença marcante também em outros

estados brasileiros.

MÃO-DE-OBRA

Com respeito à mão-de-obra, a quase totalidade das empresas frigoríficas a

descreve como desqualificada para as diversas etapas do processo produtivo. Assim, são

sugeridos cursos de qualificação para a esfola, abate, desossa e princípios de qualidade,

entre outros.

Outra menção é a falta de qualificação de pessoal na área de suporte e de

manutenção, notadamente para a caldeiraria, manutenção elétrica etc. A capacitação em

noções de segurança do trabalho também foi solicitada.

É interessante notar que, mesmo com as constantes situações de dificuldade

financeira enfrentadas, nenhuma das empresas tenha comentado sobre a deficiência de

pessoal na área de gestão. A princípio, cursos de gestão, notadamente a de custos de

produção e de qualidade, poderiam ser benéficos ao setor.

Entretanto a pesquisa constatou a clara necessidade de treinamento de

trabalhadores em esfola, abate, desossa, princípios de qualidade, caldeiraria,

manutenção elétrica e segurança do trabalho. Esse aprimoramento de mão-de-obra tem

em vista a redução de custos, cada vez mais premente devido à redução das margens de

lucratividade nas diversas etapas da cadeia produtiva.

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CARNE COM OSSO E SEM OSSO

Em termos da atividade de desossa, a perspectiva de seu aumento nos

frigoríficos é praticamente irreversível, considerando as exigências sanitárias e mesmo

as tendências de mercado. Esse indicativo é importante por dizer respeito ao volume de

emprego gerado. A proporção de trabalhadores por animal, para a carne não desossada,

é de 0,7 funcionário por animal, mas aumenta para 1,3 funcionário por animal quando

há necessidade de efetuar a desossa.

Assim, realizá-la no próprio frigorífico nas regiões produtoras acarreta

aumento significativo no volume de empregos. Essa necessidade de agregação de valor

nas regiões de produção, abate e processamento fará com que ocorra um aumento dos

níveis de emprego nessas regiões.

TRATAMENTO DE RESÍDUOS

Com relação a aspectos ambientais, a questão do tratamento de resíduos

apresenta grande relevância. A maioria dos subprodutos oriundos do abate é processada

na forma de farinhas de osso, de carne e de sangue, além de outros produtos como

couros e graxaria. Os resíduos resultantes do processo de limpeza e sanitarização são

enviados para lagoas de decantação. As condições de tratamento de resíduos dos

frigoríficos, segundo seus responsáveis, cumprem as normas estabelecidas pela

Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

CONDIÇÕES DE TRANSPORTE DO ANIMAL VIVO

As empresas frigoríficas foram também questionadas sobre as condições de

transporte de animais vivos no estado. Apesar de citarem deficiências nas condições das

estradas, na frota de caminhões sem manutenção, na baixa qualificação dos prestadores

de serviços e no não-cumprimento dos prazos de entrega — entre outras —, 74% das

empresas avaliam as condições de transporte de animais como satisfatórias ou boas,

10% como ótimas e 16% como ruins. Assim, o atual nível de transporte de animais

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vivos no estado não se apresenta como um fator de diminuição da qualidade, e

conseqüentemente da competitividade, da carne sul-mato-grossense.

No que se refere ao transporte da carne, 87 % dos frigoríficos o consideram

ótimo ou bom. Apenas 13% das empresas estão insatisfeitas com essas condições,

principalmente em função de eventuais atrasos nos prazos de entrega, devidos às más

condições de conservação das estradas.

CONDIÇÕES DE TRANSPORTE DA CARNE

No que se refere ao transporte da carne, 87 % dos frigoríficos o consideram

ótimo ou bom. Apenas 13% das empresas estão insatisfeitas com essas condições,

principalmente em função de eventuais atrasos nos prazos de entrega, devidos às más

condições de conservação das estradas.

ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA CARNE APÓS ABATE

Um aspecto central abordado na pesquisa é o da qualidade da carne bovina. É

notória a falta de padronização de conceitos entre as empresas frigoríficas sobre essa

característica. Para descrever os atributos qualitativos, são utilizados termos ou

conceitos como: ‘bem tirada’, ‘cobertura de gordura’, ‘raça’, ‘bem lavada’, ‘maciez’ e

‘coloração’. Aparentemente, segundo os representantes das empresas, uma carne de

qualidade seria aquela “bem tirada”, com cobertura ideal de gordura e sem hematomas.

Questionadas sobre os fatores que mais influenciam a qualidade da carne, as

empresas são unânimes em citar a qualidade da matéria-prima (animal vivo) e a

capacitação da mão-de-obra. No que se refere à qualidade da matéria-prima, todas as

empresas confirmaram a excelente qualidade do rebanho sul-mato-grossense.

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ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA MATÉRIA-PRIMA (ANIMAL VIVO)

Também sobre a qualidade dessa matéria-prima, não há padronização de

linguagem entre os representantes das empresas frigoríficas. No entanto, alguns

atributos são mais evidenciados na pesquisa: peso (entre 17 e 18 arrobas) e precocidade

do animal. São citados ainda, em menor grau, a sanidade do animal, a capa de gordura,

a ausência de machucaduras, a castração, e o acabamento e qualidade do couro.

No que se refere à qualidade da matéria-prima (boi) de Mato grosso do Sul, as

empresas são unânimes quanto às condições bastante satisfatórias dos animais, não

sendo identificado nenhum problema específico.

AQUISIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA (BOI)

Segundo dados levantados junto às empresas frigoríficas, predomina

largamente no setor a compra de animais à vista junto aos pecuaristas. No total,

aproximadamente 85% dos animais são assim adquiridos, com descontos que variam de

3% a 5%. Essa prática de aquisição se dá predominantemente pela baixa credibilidade

das empresas frigoríficas junto aos pecuaristas. O histórico de concordatas e falências

de frigoríficos e os calotes aos pecuaristas seriam os principais fatores que levariam a

essa baixa credibilidade e, por conseqüência, à prática da aquisição à vista. Como

resultado dessa prática, há necessidade de elevado capital de giro para a atividade

frigorífica, destinado basicamente à aquisição de animais.

PAGAMENTO DA MATÉRIA-PRIMA (BOI)

A pesquisa junto aos principais distribuidores indicou haver em São Paulo

maior preferência pela carne proveniente de animais com as seguintes características:

peso de 17 a 18 arrobas; idade máxima de 36 meses; peso do traseiro de 55 a 60 kg;

peso do dianteiro de 45 a 55 kg. As empresas frigoríficas pagam um “prêmio” para

animais com tais características. Animais com peso inferior a 15-16 arrobas ou superior

a 21 arrobas têm preço 10% inferior ao peso “normal”.

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CAPITAL DE GIRO NECESSÁRIO PARA A ATIVIDADE

Com respeito ao capital de giro, sua noção aparentemente não é muito clara

para os gerentes das empresas frigoríficas. Apenas em 30% delas foi respondida a

pergunta relativa a esse aspecto.

Considerando as respostas obtidas, pode-se inferir que o capital de giro pode

ser determinado com base no prazo de pagamento médio da carne vendida pelos

frigoríficos (25 dias) e na compra de 85% dos animais à vista.

Por exemplo, o capital de giro para o abate de 100 animais por dia é:

100 animais/dia × 0,85 × 17@/animal × 25 dias × R$ 38/@ = R$ 1 372 750,00

Outros (pessoal, frete, manutenção etc.): R$ 205 913,00

Total: R$ 1 578 663,00

De maneira geral, o capital de giro necessário é aproximadamente igual ao

custo dos animais abatidos durante o período compreendido entre o prazo de

recebimento das vendas e o prazo de pagamento aos fornecedores (pecuaristas).

• Exemplo 1:

Se no referido período (aproximadamente 25 dias) são abatidos 10 000 animais, o

capital de giro necessário é equivalente ao custo de 10 000 animais.

• Exemplo 2:

O cálculo do capital de giro para a atividade de abate e frigorificação em Mato

Grosso do Sul, pode ser assim feito:

Prazo médio de recebimento e pagamento à vista ao pecuarista: 25 dias.

Abate médio no estado nesse período: 250 000 animais.

Temos então:

250 000 animais/mês × 17 @/animal × R$ 38/@ = R$ 161 500 000,00.

Assim, aproximadamente R$ 160 milhões são necessários como capital de giro no

setor frigorífico de Mato Grosso do Sul.

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Constata-se, a partir dessas informações, o alto capital de giro necessário para a

atividade, o que tem levado diversas empresas frigoríficas de Mato Grosso do Sul a

situações financeiras bastante frágeis, que colaboram para as constantes concordatas e

falências verificadas no setor.

Uma alternativa para empresas frigoríficas descapitalizadas é o chamado

“abate para terceiros”. Em tal caso, esse terceiro disponibiliza o capital de giro

necessário para a aquisição dos animais.

Se a cadeia da carne bovina no Mato Grosso do Sul pudesse contar com maior

confiabilidade entre seus diversos agentes econômicos, essencialmente na compra a

prazo junto aos pecuaristas, as necessidades de capital de giro global para a atividade se

reduziriam consideravelmente.

A INDÚSTRIA FRIGORÍFICA DE MATO GROSSO DO SUL

Essa indústria presente no estado demonstrou, quando do fechamento das

divisas estaduais entre Zona Tampão e Zona Livre, uma grande e rápida capacidade de

adaptação de suas estruturas para a nova realidade. Há uma grande flexibilidade e

mesmo parceria em meio ao setor. Um exemplo é que, embora algumas indústrias não

tenham desossa instalada, aquelas que a têm chegam a unir-se para prestar serviços às

que não a possuem. Esse exemplo mostra que o setor pode, quando necessário,

apresentar versatilidade para efetuar adequações rápidas e dinâmicas.

6.2. ALÍQUOTAS DE ICMS

Outro aspecto importante no Brasil, e não só em termos da reforma tributária,

envolve o debate sobre as alíquotas de ICMS para produtos alimentares. Produtores

rurais e indústria frigorífica alegam que os impostos oneram por demais a produção,

elevando os preços da carne para o consumidor.

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Entretanto nossa pesquisa constatou que alegações contra o imposto em cascata

são procedentes, embora não sustentem a alegação do setor sobre a impossibilidade de

recolher ICMS, dada a oneração para o consumidor final. Tais alegações, apesar de seu

visível apelo social, não correspondem necessariamente à realidade: nossa pesquisa

constatou que uma redução ou mesmo supressão do ICMS não reduziria os preços da

carne para o consumidor final. Na verdade, as eventuais reduções de impostos em geral

não são apropriadas pelo consumidor, mas sim pela indústria ou mesmo pela

distribuição.

A Tabela 3.3 compara as alíquotas de diferentes estados e outros indicadores

que caraterizam a cadeia produtiva da carne bovina, especialmente no Circuito Pecuário

Centro-Oeste. É esse circuito que traz a maior oferta de animais e sobretudo carne com

osso e desossada para os principais mercados consumidores. Observamos ainda outros

indicadores que são importantes em termos de competitividade e definição dos preços

da arroba para o produtor e do produto final para o consumidor: distância dos estados

em relação a São Paulo; custo do frete dos estados produtores para São Paulo; preço da

terra nos estados produtores; produção de carne dos estados; número de frigoríficos por

estado. Tais indicadores permitem uma análise das vantagens e desvantagens entre os

estados quanto à produção de carne bovina e à definição dos preços a serem pagos aos

produtores pela indústria frigorífica, além das variações em relação ao consumidor final.

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Tabela 3.3 –Comparações entre os estados produtores de carne bovina do Circuito Pecuário Centro-Oeste.

Alíquotas de imposto Outros comparativos

Estados Animal vivo

Carne com osso

Carne sem osso

Preço da arroba(R$)1

Distância a São Paulo

(km)3

Custo do trans-porte

para SP (R$/ton.)

Preço da terra (R$)2

Produção de carne

(ton.)

Frigorí-ficos no estado

MS 12% 5%5 3%5 37 994 78 524 657 605 31

MT 12% 2% 2% 37 1603 120 328 549 663 20

SP 0% 0% 0% 42 0 - 1 484 990 666 63

GO 12% 3% 3% 37,5 900 78 547 608 832 19

RO 12% 5% (7%) 5% 32 3082 165 221 102 010 5

MG 12% 2% 2% 39 576 - 504 603 303 20

PR 12%4 12%4 12%4 40 390 - 1 267 490 499 20 1 Fonte: Boletim pecuário semanal da FNP Consultoria, 13/01/00. 2 Fonte: Anualpec 2000. 3 Distância entre as capitais estaduais. 4 Para a exportação às regiões Sudeste e Sul. Para as demais regiões, a alíquota é de 7%. 5 Incluído 1% a mais nas duas situações, relativo ao Fundersul.

Especificamente para Mato Grosso do Sul, com relação à política tributária,

observamos que a aplicação de alíquotas maiores que as de outros estados não faz

necessariamente com que a carne ou mesmo os animais em pé percam mercado para

outros estados produtores.

O que se conclui é que tanto o Brasil — e sobretudo São Paulo — quanto o

mundo, considerados como importadores, oferecem mercado para a carne produzida em

Mato Grosso do Sul. O fato de a carne sul-mato-grossense praticamente perfazer 30% a

40% da consumida no estado de São Paulo revela concretamente a condição de

vantagem da pecuária bovina de corte de Mato Grosso do Sul no mercado brasileiro.

7. PRODUTORES DE BOVINOS EM MATO GROSSO DO SUL

Para prosseguirmos nossa análise, abordando agora questões pertinentes aos

produtores de bovinos de Mato Grosso do Sul, faremos algumas considerações de

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caráter teórico sobre as características da oferta de produtos agrários, quesito em que se

observa uma série de alterações estruturais nas relações entre os agentes, especialmente

entre pecuaristas, indústria frigorífica e distribuidores, devido à complexidade dos

mercados agrários.

7.1. OFERTA DE PRODUTOS AGRÁRIOS

Basicamente, os fatores que determinam a oferta de produtos agrários são o

preço do produto, o custo de produção e os preços dos demais produtos.

Outros elementos específicos da oferta dos produtos agrários, diretamente

relacionados com os fatores fixos da produção com a estacionalidade dos produtos

agrícolas, são também relevantes. Tem-se o preço da terra como um grande fator de

produção de caráter fixo, impondo limitações a sua ocupação e uso. Quanto à

estacionalidade, tem-se o aspecto climático, fazendo com que a oferta dos produtos

agrários, em nosso caso, o boi em pé, passe por readequações de oferta, para menos ou

para mais, dependendo das pastagens.

ESTACIONALIDADE NA PECUÁRIA DE CORTE

Outro grande tema de debate em torno da produtividade, da oferta bovina e da

oscilação de preços é o da estacionalidade (verão e inverno). De fato, é entre a safra e

entressafra que se observam as maiores oscilações de preços na bovinocultura de corte

no Brasil. “Assim, grosso modo, pode-se dividir o ano em dois períodos. O primeiro

corresponde à época do ano mais favorável ao crescimento das plantas forrageiras, ou

seja, aos meses de maior precipitação pluviométrica, geralmente denominado de período

das águas ou de verão úmido e que se estende de setembro-outubro a abril-maio. Ao

contrário, o segundo, designado período da seca ou de inverno seco, corresponde à

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época menos favorável, vale dizer, aos meses de baixa precipitação pluviométrica e

temperatura” (VIEIRA e FARINA, 1987, p. 65)55.

Além do exposto, VIEIRA e FARINA enfatizam e criticam uma postura ainda

muito presente na bovinocultura de corte brasileira, que faz com que muitos produtores,

apesar de seus animais terem atingido o peso necessários ao abate (17 a 18 arrobas),

façam a opção de não comercializá-los em época apropriada. Os motivos equivocados

desses pecuaristas variam desde a não-necessidade de recursos até a espera por uma alta

nos preços, e mesmo a preferência em preservar os ativos reais (bois) que poderiam ser

substituídos por ativos financeiros: “Conforme o período do ano em que os animais

nasceram e a idade em que serão abatidos é muito provável que eles tenham de suportar

três estações de seca, o que significa um grande atraso na sua evolução. Baseando-se em

resultados experimentais, Tundisi ... estima que animais de corte da raça Nelore chegam

a perder, muitas vezes, cerca de 30% de seu peso no período de inverno seco, nas

condições do estado de São Paulo, isto porque, enfatiza o autor, na estação da seca, ‘os

bovinos entram em debilidade orgânica e a falsa idéia da recuperação total na próxima

estação chuvosa, dada a real abundância de pastagens, leva o criador a não tomar outra

iniciativa se não aquela de evitar a morte do animal’ e conclui que ‘...essa pausa do

crescimento anual, que perdura por quase 6 meses, não é senão a causa principal do

abate tardio dos nossos bovinos, chegando ao frigorífico, não raras vezes, com 5 anos de

idade. Quanto às fêmeas, há o retardamento da primeira cria e baixa consideravelmente

a fertilidade dos rebanhos’” (VIEIRA e FARINA, 1987, p. 68).

A OFERTA DE PRODUTOS AGRÁRIOS E A INCERTEZA

Podemos identificar quatro tipos de incertezas para o empresário agrário: a

técnica, a econômica, a tecnológica e a relativa. Essas formas de incerteza são aplicáveis

empiricamente à bovinocultura de corte brasileira A incerteza técnica decorre do caráter

aleatório dos rendimentos, dada a variações climáticas, enfermidades e pragas. A

incerteza econômica associa-se a oscilações de preços, na medida que o empresário, 55 VIEIRA, C. Afonso; FARINA, E.M.M.Q. Pecuária bovina brasileira: as causas da crise. São Paulo:

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quando da tomada de decisão de investimento, não sabe exatamente que preço poderá

obter por seu bem. Essa incerteza é afeita também aos preços dos bens substitutos e

complementares. A incerteza tecnológica é derivada das inovações tecnológicas, que

podem determinar certas formas de produção ou corrigir estruturas produtivas obsoletas.

Finalmente, as incertezas relativas estão afeitas ao meio institucional — as políticas

públicas, por exemplo — em que se encontram os empresários rurais e/ou produtores.

Este último fator tem direta relação com a hipótese principal deste trabalho: a de

exigências institucionais (sanitárias) serem reguladoras, especialmente a partir dos anos

90, do desenvolvimento da bovinocultura de corte brasileira.

7.2. PRODUTORES DE BOVINOS DE MATO GROSSO DO SUL

As informações a seguir foram levantadas aplicando-se 270 questionários, que

cobriram os mais variados tipos de produtores e de estruturas de propriedade.

PATRIMÔNIO

O valor patrimonial investido no setor pecuário é superior a R$ 17 bilhões,

sendo que o capital imobilizado em terra (R$ 11,5 bilhões) constitui praticamente o

dobro do investido em animais (pouco mais de R$ 6,5 bilhões).

FATURAMENTO

Em 1999 o faturamento bruto relativo somente à pecuária foi de

aproximadamente R$ 1,9 bilhões. O setor frigorífico agregou mais de R$ 300 milhões, o

que perfez um faturamento, até esse elo da cadeia, de R$ 2,2 bilhões.

FEA-USP, 1987. (Estudos Econômicos).

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PRODUTORES

O número de produtores rurais cadastrados no IAGRO-MS é 48 880, dos quais

cerca de 32 mil participaram efetivamente da campanha de vacinação contra febre

aftosa realizada em novembro de 1999.

É importante esclarecer que, dos produtores ali cadastrados, somente 329 são

empresas rurais registradas na Junta Comercial do Estado, e aproximadamente 1 500

produtores estão inscritos no Programa do Novilho Precoce. Esse programa visa trazer

incentivos fiscais ao produtor, restituindo parte do ICMS aos que realizam o abate de

animais com idade inferior a 30 meses.

EMPREGOS DIRETOS E INDIRETOS

Outro indicador de grande importância é a quantidade de mão-de-obra

empregada na pecuária, que alcança 130 mil empregos diretos.

DIMENSÃO DA ATIVIDADE

Com relação às dimensões da atividade pecuária, é preciso ter em mente que,

com a redução nas margens de lucro por unidade, o ganho de escala tornou-se

imprescindível em todas as atividades econômicas. Outrora, um pecuarista que

possuísse mil vacas era considerado um “rico fazendeiro”; hoje, o mínimo

recomendável para se obterem lucros com a atividade pecuária são três mil animais

numa mesma propriedade.

Até a década de 80, as margens de lucro obtidas com a pecuária eram muito

compensadoras, o que a tornava uma atividade pouco competitiva para os parâmetros

atuais. Esses altos rendimentos permitiam que os produtores obtivessem bons resultados

mesmo com práticas ineficientes. Até aquela década, era possível obter mais de US$ 10

por arroba. A produção da arroba custava US$ 4 e a venda alcançava US$ 11 a US$ 15.

Atualmente, uma arroba está custando entre US$ 12 e US$ 18, e seu preço de venda

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196

atinge em média US$ 22 no estado de São Paulo, o que demonstra que a margem de

lucro unitário diminuiu muito56.

Esta afirmação é coerente com o Quadro 3.1, que compara a atividade pecuária

desenvolvida nas duas últimas décadas do século XX.

Quadro 3.1 – Novos tempos na pecuária de corte brasileira. Especificações Década de 80 Década de 90

Filosofia Patrimônio Produtividade

Mercado mundial Sub-ofertado Saturado

Carnes alternativas Pouco expressivas Grande competição

Foco tecnológico Genética Nutrição

Margem de lucro Grande Mínima

Terras Valorizam-se Desvalorizam

Escala 1 000 cabeças 10 000 cabeças

Administração À distância Local

7.3. REGIONALIZAÇÃO DA BOVINOCULTURA EM MATO GROSSO DO SUL

A regionalização da pecuária sul-mato-grossense é indicada na Figura 3.12,

que compara os preços da terra nas diferentes regiões e quantifica os bovinos existentes

em cada uma. Essa regionalização propicia a definição de um custo de produção por

região, bem como revela fase de produção (cria, recria ou engorda) que melhor se

adapta a cada uma. Um exemplo é que a cria deve ser mais explorada na região do

Pantanal, pois o custo da terra é ali menor.

56 Palestra do Sr. Adilson de Paula Almeida Aguiar. 4º Encontro Nacional do Novilho Precoce, 2000.

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197

Figura 3.12 – Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços médios da terra. 1999.

Fonte: GEA-UFMS.

R B 2.645.294

P M T 447,20

R B 1.387.603

P M T 105

R B 2.075.397

P M T351,75

R B 4.944.624

P M T475,99

R B 3.402.761

P M T 457,88

R B 4.256.767

P M T755,54R B

2.079.909

P M T669,20

20.739.34623.860.476

24.756.256

34.527.380

53.109.110

BRASIL: Rebanhos Bovinos por Regiões – 1999

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198

Os Gráficos 3.1 e 3.3 e o Gráfico 3.6 apresentam os preços de terras de

pastagens, que constituem o principal item de investimento do pecuarista. Tal aspecto

adquiriu importância mais significativa ainda a partir de 1995, quando, com a

estabilidade econômica, tais preços vieram caindo na grande maioria das regiões do

Brasil. Antes da estabilidade econômica, a terra se constituía numa importante forma de

reserva de valor, como forma de ativo real da economia. Com a queda de preços, seu

valor passa a ter cada vez mais relação com as atividades econômicas nela

desenvolvidas.

A dimensão da desvalorização das terras é significativa: 40% em média entre

1991 e 1999. Nos três estados da Região Centro-Oeste a desvalorização nesse período

foi de 37%; em Mato Grosso do Sul, de 41%.

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199

Gráfico 3.1 – Terras de pastagens. Preços médios de Mato Grosso do Sul. 1991-99.

Fonte: Anualpec, 2000.

Gráfico 3.2 – Terras de pastagens. Preços médios na Região Centro-Oeste. 1991-99.

Fonte: Anualpec, 2000.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Ano

US$

0

200

400

600

800

1000

1200

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999Ano

US$

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200

Gráfico 3.3 – Variação dos preços em dólares das terras de pastagem no Brasil. 1998-99.

Fonte: Anualpec, 2000.

11,13%

-56,68%

-36,92%

-49,73%

-37,15%

-70,00%

-60,00%

-50,00% -40,00%

-30,00%

-20,00%

-10,00% 0,00%

10,00%

20,00% Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

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201

Tabela 3.4 – Terras de pastagem brasileiras. Preços médios anuais em dólares. 1991-99.

Regiões e estados 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Variação no

período

Norte 129,58 118,17 184,08 264,42 351,33 205,92 253,6 237,08 144 11,13%

RO 188 164,5 227,5 538 457,5 303,5 240 227 166 –11,70%

AC 112 90 92,5 226,5 127 296 238 238 186,5 66,52%

AM 171,5 141 171,5 222 366,5 0 385,5 471 282 64,43%

RR 0 58,5 102 86,5 503,5 96,5 212 114 0 94,87%

PA 137 131,5 226,5 180,5 262 252 244,5 183,5 110 –19,71%

TO 169 123,5 284,5 333 391,5 287,5 201,5 189 119,5 –29,29%

Nordeste 370,11 166,89 273,94 351 548,78 310,28 269,7 271,5 160,3 –56,68%

MA 113 57 106 175 302 209,5 185 227,5 144,5 27,88%

PI 87,5 40 73,5 136 156 145 72,5 163,5 0 86,86%

CE 143,5 83 114 167 243,5 108,5 94 98,5 74 –48,43%

RN 177,5 92 98 224,5 398 287 222 196 159 –10,42%

PB 303,5 159,5 206 340,5 432 216,5 212,5 189 125,5 –58,65%

PE 505,5 294 367 624 763 581,5 410 381 254 –49,75%

AL 773,5 0 408 256 717 0 0 194,5 107 –86,17%

SE 871,5 523 662 638,5 1 333 811,5 845 657,5 362 –58,46%

BA 355,5 253,5 431 597,5 597,5 433 386 336 217 –38,96%

Sudeste 1 000,3 634 875 1 850,5 2 001 1 150,6 1 009 889,13 631 –36,92%

MG 784 385 570 1 232,5 1 067 629 572,5 510,5 361,5 –53,89%

ES 818,5 545 875,5 1 899 2 191 978 732 637 463,5 –43,37%

RJ 1 123,5 567,5 720 1 391,5 1 772,5 1 105,5 1 029 886 652 –41,97%

SP 1 275 1 038,5 1 334,5 2 879 2 973,5 1 890 1 705 1 523 1 047 –17,88%

Sul 1 091 772,83 999 1 679,8 1 522,2 1 109,7 1 022 948 548,5 –49,73%

PR 1 466,5 1 051 1 366,5 2 802,5 2 071,5 1 564,5 1 417 1 312,5 885 –39,65%

SC 987,5 538,5 763 1 284,5 1 520 1 082 956 858 313,5 –68,25%

RS 819 729 867,5 952,5 975 682,5 693 673,5 447 –45,42%

Centro-Oeste 527,17 445,33 730,5 1 120,7 921,83 599,67 549,2 477,5 331,3 –37,15%

MS 642 648,5 994 1 407,5 1 033,5 721 697,5 550 374,5 –41,67%

MT 270,5 214,5 336,5 516 584,5 440,5 396,5 353 253 –6,47%

GO 669 473 861 1 438,5 1 147,5 637,5 553,5 529,5 366,5 –45,22%

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202

7.4. CONSTATAÇÕES DA PESQUISA JUNTO AOS PRODUTORES RURAIS

Nossa pesquisa junto aos produtores também permitiu detectar alguns pontos

de particular estrangulamento na atividade pecuária.

GESTÃO DA PROPRIEDADE

A gestão da propriedade foi um dos aspectos mais apontados como deficitários

da atividade. Os métodos de gestão não são profissionais e a gestão de custo é

ineficiente ou quase inexistente, tornando ineficaz a análise de retorno do investimento.

As informações sobre novas tecnologias, mercado e crédito, entre outras, são

mal gerenciadas, e os produtores deixam de aproveitá-las.

Cerca de 55% dos produtores entrevistados atuam em mais de uma atividade,

mas mais de 75% têm a pecuária como principal atividade. O mesmo percentual realiza

a gestão de forma direta, não utilizando técnicos especializados. Isso se justifica, talvez,

pela escala de produção, pois, dependendo do tamanho da propriedade, o pecuarista

exerce a função de gerente para reduzir custos e aumentar seus ganhos. Os produtores

têm visão pouco profissional da atividade gerencial. Não se percebem como

“fabricantes” de um produto que deve ser comercializado quando pronto para poder dar

espaço a outro novo — aspecto relacionado com a otimização da produção.

Tal aspecto da produção é importantíssimo para aumentar o retorno da

atividade. Dos produtores entrevistados, apenas 30% levam em conta o limite de peso

para definirem o momento da comercialização. Outros 60% consideram a necessidade

financeira ou a oportunidade de preço como o determinante da comercialização. Estes

permanecem com o boi no pasto, sem considerarem o custo de produção nem o custo de

oportunidade do capital investido (juros).

Os produtores rurais são ainda muito imediatistas em suas relações comerciais.

Não pensam em alianças mercadológicas como algo importante para manter os ganhos

da cadeia produtiva a que pertencem.

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203

ASPECTOS CULTURAIS

Os fatores culturais representam outro ponto de limitação encontrado na

atividade pecuária desenvolvida no estado.

A metade dos entrevistados herdou suas terras, e o conflito de gerações é um

fator de alta relevância — e muito presente — no meio rural. Os filhos geralmente

partem para os grandes centros para estudar57, mas quando voltam para trabalhar na

propriedade dos pais não conseguem aplicar as teorias com que tiveram contato.

Grande parte dos pecuaristas são conservadores: a par da possível consideração

de que as novas atividades possam ser corretas, permanece a insistência em manter as

fazendas operando da maneira tradicional.

A percepção de mudanças é muito lenta, mas como estas foram grandes nos

últimos anos, o produtor rural está sendo obrigado a quebrar sua resistência e abandonar

seu individualismo para procurar assistências técnicas especializadas, a fim de aumentar

seu rendimento.

Como a maioria dos produtores não possuem uma planilha de custo

aprimorada, não conseguem definir qual realmente é seu lucro líquido, nem quais são os

ganhos da atividade que deveriam ser reinvestidos na produção para sua continuidade e

até mesmo crescimento futuro.

O baixo grau de depreciação é fator relevante. Os meios de produção da

pecuária sofrem perdas imperceptíveis em intervalos pequenos, mas perdas grandes no

aspecto real. Por exemplo, uma pastagem pode produzir por mais de 20 anos sem sofrer

reformas: embora a produção de fato diminua nesse período, ela é pouco perceptível no

intervalo de um único ano.

57 Geralmente os filhos de pecuaristas se formam em áreas afins ao meio rural, como veterinária, agronomia ou zootecnia.

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204

NÍVEL TECNOLÓGICO

O nível tecnológico é o grande ponto de estrangulamento geralmente apontado

para a atividade pecuária desenvolvida em Mato Grosso do Sul. No entanto, a atividade

é muito diversificada. Nos dias atuais são encontradas desde a produção mais arcaica até

a que aplica tecnologias avançadas.

O predomínio é de pastagens plantadas, que perfazem em torno de 65%. A

região do Pantanal concentra grande parte da pastagem nativa do estado. O nível de

degradação das pastagens é alto, atingindo mais de 50% nas que são plantadas. O

motivo é a falta de investimentos em sua recuperação. Muitos produtores rurais não os

fizeram, ou desviaram os recursos para outras finalidades. Esse fato evidencia a

ineficiente estruturação do custo e a inexistência de um planejamento a longo prazo para

a atividade, o que a torna pouco sustentável.

A taxa média de natalidade é baixa, de cerca de 60%. Isso ocorre devido à

variação do grau de tecnologia. Por um lado, existe uma produção com altíssimo grau

tecnológico, atingindo taxas de natalidade bem elevadas. É comum, porém, a existência

de propriedades com baixa tecnologia, ficando a produtividade bem aquém do mínimo

necessário para se obter rentabilidade.

Outro dado compilado na pesquisa junto ao produtores refere-se ao índice de

produtividade e ao nível de conservação do solo. Dentre os entrevistados, 70%

consideram que têm um bom nível de produtividade e 50% consideram que o solo de

sua propriedade possui boa conservação.

Uma das causas dos baixos índices de produtividade pode ser a pouca

utilização de assistência técnica permanente, o que torna a atividade pouco profissional,

gerida somente por dados empíricos.

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205

QUALIDADE DA MÃO-DE-OBRA

A qualidade da mão-de-obra, assim como a própria atividade pecuária como

um todo, vem sofrendo grandes transformações nos últimos anos, que afetam não

somente o gerenciamento da propriedade, mas também o de seus trabalhadores.

A utilização de novas tecnologias traz a necessidade de uma mão-de-obra que

as atenda. Os antigos peões de fazenda, com pouco ou nenhum grau de estudo, não

estão preparados para utilizar equipamentos modernos, que em alguns casos vêm com

manuais de instruções em outro idioma.

Os assentamentos de trabalhadores rurais, ao fazerem diminuir a oferta de mão-

de-obra, tornam-na mais cara. Constituem uma forma de valorização do trabalhador

rural, que passa a poder recusar uma oferta de emprego — com salário escorchante — e

tentar, em vez disso, dispor de uma gleba de terra para trabalhar por conta própria.

A persistência do trabalho informal ainda existe, ocasionada principalmente

pelos elevados índices de desemprego, especialmente nas cidades. Todavia, mesmo sem

o desemprego nos centros urbanos, o trabalho informal persistiria: ele é a única saída

para o trabalhador rural, desqualificado para concorrer no mercado de trabalho com

candidatos mais bem preparados.

A qualidade da mão-de-obra empregada na atividade pecuária é baixa. Carece-

se de cursos técnicos e/ou profissionalizantes que possibilitem ao trabalhador rural

desempenhar de maneira mais adequada suas funções e garantir seu sustento58.

Sobre a percepção dos produtores sobre a qualidade do animal a ser abatido, o

peso foi o item apontado como mais relevante. Poucos produtores, porém, indicaram um

peso ideal para abate, pois, para eles este não é o determinante crucial para a

comercialização. A formação de carcaça do animal, a raça e a precocidade também

foram citados como fatores de qualidade para o abate do animal.

58 A pesquisa evidenciou alguns cursos que deveriam ser oferecidos aos trabalhadores rurais, como os relacionados à inseminação artificial, ao manejo de pastagens, à operação e manutenção de equipamentos e à administração de medicamentos.

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206

RELAÇÃO COM O FRIGORÍFICO

Quanto à relação existente entre os frigoríficos e os pecuaristas, ela é muito

conflituosa, configurando-se como um grande entrave para o desenvolvimento da cadeia

produtiva.

A grande maioria dos produtores rurais aponta os frigoríficos como grandes

vilões, alegando a contínua quebra de contratos por estes. Os produtores não estão

totalmente desprovidos de razão, mas essa não é a chave da questão, visto que tal

desconfiança ocasiona perdas sensíveis para todos os agentes da cadeia e, em última

instância, para os próprios produtores.

Um entrave é a quantidade de dias que os pecuaristas perdem para acompanhar

(“fiscalizar”) o abate. Nesse período, poderiam estar se dedicando à produção, sem falar

no custo financeiro que esse acompanhamento ao abate requer.

Outra perda que os produtores sofrem é a financeira. Devido ao alto grau de

desconfiança, os frigoríficos são obrigados a efetuar os pagamentos à vista, o que

proporciona um desconto real de até 5% para a indústria frigorífica em épocas de maior

instabilidade. Por outro lado, quando algum frigorífico fecha e deixa de cumprir seus

compromissos, o prejuízo se estende a vários pecuaristas.

A pesquisa constatou que uma distinção entre os ciclos apresenta-se como uma

das causas desse conflito: para os produtores, o ciclo de produção é lento e o giro do

capital é baixo, o que não acontece no setor frigorífico. O dinamismo que a

industrialização exige é alto, pois todos os dias ela movimenta grande parte de seu

capital.

Para confirmar tal premissa basta comparar o volume de capital investido em

cada uma dessas atividades e seu faturamento. Revela-se que o faturamento anual do

setor frigorífico é quase sete vezes maior que o capital investido, enquanto o

faturamento anual dos produtores rurais limita-se a pouco mais de 10% do capital

investido nessa fase da produção.

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207

Outra constatação foi a falta de fidelidade dos produtores para com os

frigoríficos. Isso ocasiona uma disputa entre os frigoríficos pela matéria-prima boi, o

que pode ser prejudicial ao próprio pecuarista. Este, a princípio, se beneficia com a

maior valorização de seu produto, mas sua infidelidade pode gerar prejuízos para os

frigoríficos, desencadeando-lhes a falência.

CRÉDITO

O crédito é mais um aspecto diretamente relacionado com a atividade. A

bovinocultura de corte em Mato Grosso do Sul experimentou seu primeiro e maior

impacto de desenvolvimento em meados da década de 70, que se estendeu até o início

dos anos 80, com o Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Polocentro). Esse

programa foi criado com recursos de várias origens, administrado pelo Governo Federal

e aplicados por bancos, particulares e estatais, a juros fixos subsidiados. O Polocentro

foi o impulso necessário à grande abertura para a exploração econômica do Centro-

Oeste. No entanto, esse programa pode ser visto como um dos principais fatores que

ocasionaram a concentração de terras nas mãos dos grandes produtores rurais. De fato, o

programa financiava praticamente tudo, possibilitando o crescimento de produção das

propriedades em curto espaço de tempo. Foi nessa época que teve início o esvaziamento

do meio rural, com a migração para os centros urbanos.

É importante salientar o papel desenvolvido pela pecuária na abertura de novas

fronteiras, principalmente com a utilização de braquiárias nas terras de baixa fertilidade.

Grandes áreas que seriam fracionadas pela baixa produtividade tomaram caminho

inverso, com a aquisição de áreas menores.

Durante a década de 80 os financiamentos para a pecuária de corte não tiveram

grande expressão, sendo utilizadas as linhas de crédito normais para investimentos e

custeios pecuários. Os encargos financeiros variavam ano a ano.

Nos anos 90 surgiu o Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FCO),

que em seu início teve baixa adesão dos pecuaristas. A baixa produtividade, ocasionada

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208

por duas décadas sem grandes investimentos ou aprimoramento tecnológico, afastou os

produtores rurais.

No final da década, houve um maior interesse pela linha de crédito, porém os

encargos financeiros distanciavam-se da forma que a atividade era conduzida. A cada

ano, os índices de correção (TR, TJLP, IGP-DI) eram alterados, deixando os produtores

incertos do custo final do empréstimo.

Ainda assim, nos últimos anos cresceu o interesse para novos financiamentos.

A maioria deles está voltada ao incremento da atividade (reforma de pastagens com

correção e conservação de solo, aquisição de bovinos melhoradores do rebanho, uso de

inseminação artificial etc.) e à produção do novilho precoce.

No início de 2000, o FCO alterou sensivelmente a forma de cobrar encargos

financeiros. As taxas passaram a ser fixas, variando conforme o porte do tomador do

empréstimo (5 a 16% ao ano).

A procura por crédito deverá passar por significativo aumento, pois as

propriedades estão exauridas e com baixa produtividade. O maior índice de procura

deverá se concentrar na aquisição de bovinos e sêmen, no melhoramento de pastagens e

no manejo de animais. Todos os financiamentos da área rural são concedidos com

vinculação de assistência técnica no imóvel (acompanhamentos, nas propriedades, das

formas de produção e orientação sobre processos produtivos mais modernos).

Além do FCO, conta-se com o BNDES e o Finame na linha de investimentos

rurais, cobrindo praticamente todos os itens necessários ao incremento da atividade.

Para os pequenos produtores rurais, as disponibilidades de crédito são o Programa

Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa de Geração de Emprego e

Renda (Proger), que no entanto são pouco utilizados pelos pecuaristas devido às

exigências de ganhos de escala.

Na linha de custeio, tem-se o custeio pecuário tradicional, com recursos

controlados e de escassa disponibilidade. A Cédula de Produto Rural (CPR), utilizada

pelos produtores desde 1999, está hoje disponível em várias modalidades: CPRs com

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209

entrega do produto, com recompra, financeira ou de exportação. dentre essas

modalidades, a mais utilizada é a CPR com recompra, que nada mais é que um

adiantamento parcial da futura venda, com aval do banco. Por exemplo: um produtor

possui cerca de 200 bois na fase de engorda com abate previsto para maio-junho de

2000. Surgindo uma oferta de novilhos e havendo disponibilidade de pastagens em seu

imóvel, o produtor procura o banco, financia uma CPR com recompra para de maio-

junho e efetua o investimento. Na venda dos bovinos gordos, à época prevista, liquida-

se a operação.

TENDÊNCIA DO CRÉDITO

A tendência é que o Governo Federal se afaste cada vez mais do crédito rural

para médios e grande produtores, deixando o mercado atuar no setor. Os programas para

essa categoria serão cada vez mais raros e altamente direcionados (para determinada

região ou atividade, e por período limitado).

Os pecuaristas terão seus empréstimos lastreados através de captação de longo

prazo, essencialmente por bancos privados. Esses investimentos, dependendo da fonte

de origem, deverão ter prazos e custos diferenciados e, com certeza, atrelados ao dólar.

Através de parcerias entre produtores e indústria, os bancos terão garantias

adicionais de compra, facilitando a oferta de crédito. Poderá ocorrer repasse diretamente

da empresa aos produtores parceiros, com prazos variados.

Um dos pontos mais importantes constatados na pesquisa em relação ao crédito

é que 80% não recorrem a financiamentos bancários de espécie alguma, alegando falta

de compatibilidade entre os juros cobrados e o retorno real da atividade e, ainda, a

grande burocracia para se obter uma linha de crédito.

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210

PROBLEMAS MAIS RELEVANTES

Com a estabilização da moeda (queda da inflação), o boi perdeu a função de

reserva de valor. Antes do Plano Real, esse produto era vendido no momento da

necessidade do dinheiro, por ser corrigido conforme a inflação. Essa tradição tornou-se

inviável nos dias atuais, pois, cada dia de permanência no pasto é computado no custo

de produção. O boi no pasto não traz vantagem financeira; pelo contrário, traz prejuízo

ao pecuarista.

Outro problema levantado é a perda de rentabilidade unitária: o produtor é

obrigado a ter ganhos de escala para poder continuar com os ganhos de outrora. Esse

fator conduz à concentração no setor.

A baixa conservação dos solos, junto com o alto custo de sua recuperação,

envelhece e degrada as pastagens, com grandes conseqüências sobre a produtividade. O

produtor rural precisa dispor de um considerável volume de capital para a recuperação

de pastagens, variando hoje entre R$ 150 e R$ 500 por hectare, conforme o tipo de solo,

o grau de degradação e a meta a ser atingida.

Além de sua resistência ao novo — demorando e muitas vezes recusando-se a

aceitar novas tecnologias —, o produtor também acredita na segurança de seu

investimento. O motivo é, talvez, o fato de não conhecer a situação real em que se

encontra. Como já mencionado, o produtor rural não possui uma planilha de custos bem

definida.

Com as especificações de metas de produtividade mínima que deve alcançar, o

produtor rural se depara com uma barreira muito forte, que é a questão ambiental. Se,

por um lado, são exigidos o cumprimento de metas de produtividade, de outro surgem

as pressões dos ambientalistas, que limitam as alternativas de aumento de produção.

Vários problemas encontrados no elo da cadeia correspondente ao produtor

rural foram citados, porém a falta de gerenciamento profissional pode ser apontada

como o mais relevante deles. Um simples planejamento e gerenciamento de custo

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211

possibilitaria a definição das técnicas que são benéficas e evidenciaria os pontos de

estrangulamento da produção pecuária.

7.5. CUSTOS DE PRODUÇÃO

Neste item serão apontados o custo e o valor agregado em cada fase de

produção da cadeia produtiva da carne bovina.

A produção pecuária é dividida em partes distintas: a cria, a recria e a engorda.

A prática separada das fases de produção pecuária não é comum — com exceção da

cria, que é realizada por 34% dos produtores de bovinos de corte, envolvendo 19% do

rebanho estadual. Em sua maioria, os produtores realizam duas fases: a cria e a recria

conjuntas, ou então a recria e a engorda.

Os índices utilizados para a determinação do custo de produção se

relacionaram com o nível tecnológico adotado, que também foi definido em três escalas:

alto, médio e baixo.

Para enquadrar cada tipo de produção em um nível tecnológico utilizaram-se os

parâmetros admitidos pelos órgãos de pesquisa da atividade pecuária (EMBRAPA,

EMPAER, IBGE etc.), bem como os dados coletados nas entrevistas.

A Tabela 3.5 especifica a estrutura dos custos de produção numa propriedade

sul-mato-grossense em condições médias, permitindo observar a importância do custo

de oportunidade da terra, aspecto em geral desconsiderado pelos pecuaristas de Mato

Grosso do Sul.

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212

Tabela 3.5 – Custos de produção em propriedade sul-mato-grossense de nível tecnológico médio. Fase de produção: cria.

Custos fixos Valor %

Custos de oportunidade 71 478,21 44,6%

Depreciação de máquinas e benfeitorias 16 027,13 10,0%

Depreciação de pastagens 29 996,80 18,7%

Contabilidade 1 768,00 1,1%

Mão-de-obra 16 972,80 10,6%

Subtotal 136 242,94 85,1%

Custos variáveis Valor %

Insumos:

Fertilizantes - 0,0%

Diesel e manutenção 2 535,00 1,6%

Veterinários 19 454,89 12,1%

Aquisição de animais - 0,0%

Mão-de-obra (administração) - 0,0%

Assistência técnica - 0,0%

Funrural - 0,0%

Fundersul 1 932,00 1,2%

Subtotal 23 921,89 14,9%

Total 160 164,83 100,0%

Atividade: cria com média tecnologia. Área total da propriedade: 2 000 ha. Capital investido total: R$ 1 912 000,00. Rebanho em unidades animais: 1 121. Custo total por unidade animal: R$142,26. Custo por unidade animal sem incluir o custo de oportunidade: R$ 78,50 O Fundersul equivale a 3,8% do valor de uma camionete, necessária para o acesso à propriedade.

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213

Os Gráficos 3.4 a 3.6 comparam os resultados obtidos em cada tipo de manejo

adotado, indicando também, como referência extra, informações sobre o processo de

produção praticado no Pantanal.

O primeiro desses gráficos traz a agregação de valor em cada fase,

considerando cada um dos três níveis tecnológicos adotados. A realização da engorda

com média tecnologia é a atividade que mais agrega valor.

Somando-se o valor agregado nas três fases nota-se que o pecuarista agrega em

média R$ 300 a cada animal.

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214

Gráfico 3.4 – Agregação de valor anual.

Gráfico 3.5 – Lucro anual por fases de produção e grau tecnológico.

R$-

R$20,00

R$40,00

R$60,00

R$80,00

R$100,00

R$120,00

R$140,00

R$160,00

R$180,00

CRIA RECRIA ENGORDA

Fases de produção

Valo

r agr

egad

o BAIXA

MÉDIA

ALTA

PANTANAL

Tecnologiade produção

R$(120,00)

R$(100,00)

R$(80,00)

R$(60,00)

R$(40,00)

R$(20,00)

R$-

R$20,00

R$40,00

CRIA RECRIA ENGORDA

Fases de produção

Lucr

o

BAIXA

MÉDIA

ALTA

PANTANAL

Tecnologia de produção

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215

Gráfico 3.6 – Margem bruta anual por fase de produção e grau tecnológico.

Gráfico 3.7 – Taxa interna de retorno por fase de produção e grau tecnológico anual

R$-

R$20,00

R$40,00

R$60,00

R$80,00

R$100,00

R$120,00

R$140,00

R$160,00

CRIA RECRIA ENGORDA

Fases de produção

Mar

gem

bru

ta BAIXA

MÉDIA

ALTA

PANTANAL

Margem Bruta: é a receita total menos os desembolsos. Desembolsos = Custos variáveis + Custos fixos Custos Fixos = mão-de-obra + contabilidade + formação de pastagens Obs.: Na margem bruta não está incluso o custo de oportunidade do capital investido.

Tecnologia de produção

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

CRIA RECRIA ENGORDA

Fases de produção

Taxa

inte

rna

de re

torn

o

BAIXA

MÉDIA

ALTA

PANTANAL

Tecnologiade produção

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216

O Gráfico 3.5 retrata o lucro líquido por fase de produção e grau tecnológico.

São poucos os produtores que chegam ao cálculo exato de seu lucro líquido, isso porque

foi admitido um custo de oportunidade do capital investido de 6% ao ano, que seria o

formalmente oferecido pela caderneta de poupança e correção monetária. O gráfico

demonstra que o produtor rural que realiza a fase da cria dos animais é o que não

consegue obter um rendimento positivo na atividade, tendo prejuízos de qualquer

maneira, independente do grau de tecnologia utilizado.

Ainda sobre esse mesmo gráfico, pode-se dizer que os pecuaristas que praticam

a recria estão tendo baixos rendimentos, mas podem obter lucro se adotarem tecnologia

mais avançada.

O Gráfico 3.6 retrata a realização da engorda, em que o produtor que aplica em

tecnologia tem bom retorno, conseguindo obter um lucro líquido de R$ 20 por boi ao

ano.

Uma das explicações de o produtor do bezerro ser o que menos ganha na

pecuária é o fato de não contar com nenhuma forma de pressão sobre seus fornecedores

de insumos, como ocorre com o produtor que realiza a engorda. Quando o frigorífico

baixa o preço pago por arroba, repassa parte disso a seus maiores fornecedores de

insumos, ou seja, aos pecuaristas que realizam a recria, pagando menos pelos bois

magros. Por sua vez, os recriadores diminuem o preço pago pelo bezerro. No entanto há

um limite abaixo do qual não se torna mais viável a produção, criando-se assim os

ciclos de alta e baixa da pecuária. Na comparação do lucro líquido com a margem bruta

pode-se chegar a diferenças consideráveis. Um exemplo disso ocorre quando se

compara uma mesma fase de produção com o mesmo grau tecnológico, utilizando dois

indicadores. Considerando-se o ganho obtido na engorda com média tecnologia,

indicado no Gráfico 3.6 (R$ 145), e o lucro líquido da mesma atividade (R$ –5),

constata-se que a variação chega a cerca de R$ 150,00 por boi ao ano.

No Gráfico 3.7 tem-se a taxa interna de retorno obtida em cada fase de

produção, nos três níveis tecnológicos. Mais uma vez se confirma que a cria é a fase

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menos rentável da pecuária, sendo inviável sua realização nas terras mais caras, que

geralmente possuem uma pastagem de melhor qualidade — daí a tendência mundial de

realizá-la em pastagens mais baratas.

Um fator que deve ser observado é que, na engorda dos animais, quanto mais

alto o grau de tecnologia aplicada, menor vai ser o tempo de engorda do animal, ao

passo que na fase de cria, por mais que se empreguem tecnologias de ponta, ainda não é

possível reduzir os nove meses de gestação do bezerro.

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218

CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS DE

POLÍTICAS PÚBLICAS

Ao chegarmos ao final deste estudo, explicitamos algumas considerações finais

relativas à cadeia produtiva da carne bovina que não podem ser relegadas a segundo

plano na proposição e execução de políticas públicas pertinentes ao setor.

Descrevem-se a seguir algumas características dos mercados agrários e a

formação de preços nestes.

1. CARACTERÍSTICAS DOS MERCADOS AGRÁRIOS

De acordo com ALBERT e MUÑOZ59, as principais características dos

mercados agrário são: produção atomizada e dispersa, que faz aumentar o grau de

competitividade entre os produtores; produção estacional (baseada nas estações do ano

ou climáticas), ocasionando variações nos preços; produção condicionada por fatores

naturais, que provoca variabilidade interanual de preços e influi na especialização

regional, aumentando a importância dos transportes na produção; produção de bens de

consumo final, de grande importância do mercado distribuidor; produção de caráter

perecível, em grande número dos casos; produção que admite multiplicidade de formas

de consumo. (ALBERT e MUÑOZ, 1993, p. 14-5).

Essa multiplicidade de aspectos produz uma grande variabilidade de destinos

comerciais, desde o consumo direto até o fortemente intermediado, envolvendo

numerosas indústrias de transformação que surgem para satisfazer uma demanda final

cada vez mais sofisticada e exigente.

59 ALBERT, P.C.; MUÑOZ, A.C.G. Economía de los mercados agrarios. Madrid: Ediciones Mundi-Prensa, 1993.

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219

A partir dessas características é que se constituem os elementos centrais da

formação dos preços, como veremos a seguir.

2. FORMAÇÃO DOS PREÇOS

Um aspecto importante num mercado de concorrência perfeita é o grande

números de compradores e vendedores. A transparência do mercado quanto à

quantidade ofertada e demandada é outro fator que define a estrutura de mercado

concorrencial. Entretanto, como veremos no caso da cadeia produtiva da carne bovina

no Brasil, não vivemos um mercado de concorrência perfeita.

De fato, nos três principais agentes da cadeia da bovinocultura de corte

brasileira — distribuição, abate e produção —, a estrutura é oligopólica e não

concorrencial. Analisemos seus principais elos, que são a distribuição, o abate, a

produção e o fornecimento de insumos:

Quanto ao processo de distribuição no Brasil, observa-se de forma crescente

que as grandes redes de supermercados vêm assumindo maior importância no comércio

da carne bovina, constituindo-se num oligopólio diferenciado, com franjas de empresas

marginais atuando na distribuição, tais como açougues e boutiques de carne, mas em

franco processo de redução de importância. Os preços são definidos pelas grandes redes

distribuidoras (SYRILO e SPROESSER, 1995).60

Quanto ao abate, os frigoríficos, que os realizam, detêm menor poder de força

que os supermercados, que são os grandes compradores da indústria frigorífica, com

evidentes ganhos de escala. Considerando o aumento da importância dos supermercados

na distribuição (também realizada por outras formas), os frigoríficos ficam com poder

de ainda menor. Observa-se também que para a indústria frigorífica a carne representa o

todo do negócio, enquanto para os supermercados ela constitui uma pequena margem

dos negócios. Os supermercados são importantes para os frigoríficos, mas estes não têm

tanta importância para os supermercados, já que as vendas de carne não chegam a

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220

representar 10% do total comercializado por estes últimos. Os preços, portanto, são

praticamente definidos pelos distribuidores.

Quanto à produção, constata-se que os frigoríficos estabelecem com os

produtores uma relação de oligopólio homogêneo: poucas empresas, às vezes

desconcentradas espacialmente, negociando com muitos produtores, ou com

concorrência perfeita, tanto local quanto nacionalmente. Esse fato permite à indústria

frigorífica praticamente deter o poder de determinação dos preços. Essa indústria

permanece atrelada, porém, à definição de preços estabelecida pela distribuição.

Ainda com relação à produção — considerada em suas fases de cria, recria e

engorda —, o que se observa é que os produtores do último ciclo antes do abate, ou seja,

a engorda, em geral detêm o poder de determinar preços aos que realizam a recria ou a

engorda, especialmente porque os da recria lidam com limitações naturais para manter

os rebanhos nos pastos, tais como falta de pastagens, invernos e cheias no Pantanal, o

que os obriga a vender aos preços definidos pelos compradores (frigoríficos).

O fornecimento de insumos, por sua vez, constitui-se numa estrutura de

mercado denominada oligopólio concentrado, ou quase monopólio, dependendo dos

insumos. A venda de insumos é dominada por grandes empresas, em geral

transnacionais, que competem entre si em alguns produtos mas, em outros, detêm poder

completo de mercado. Um exemplo é o da vacina contra a febre aftosa, que entre 1998 e

1999 teve uma variação de praticamente 100%, passando de R$ 0,32 por dose a R$

0,65. As empresas alegaram como justificativa para tal aumento a desvalorização do

real em relação ao dólar, ocorrida no início de 1999, embora tal desvalorização tenha

sido da ordem de apenas 50%.

Essa análise das principais relações estabelecidas nos quatro principais elos da

cadeia produtiva da bovinocultura de corte brasileira nos permite afirmar que os

produtores rurais (pecuaristas), por seu grande número, são pressionados, de um lado,

pelo mercado de insumos, concentrado em oligopólios ou mesmo monopólios, e de

outro pela indústria de abate (frigoríficos), constituída por oligopólios concentrados, que 60 SYRILO, S.; SPROESSER, R. Administração agroindustrial. In: BATALHA, M.O. Gestão

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221

determinam, por exercerem a distribuição, o preço a ser pago pela arroba de animal

vivo. O pecuarista se limita a ser predominantemente um tomador de preços, tanto de

seus insumos quanto do produto final, a arroba do boi (vivo ou morto). Além do

exposto, os limites naturais — fertilidade do solo, estacionalidade — acabam impondo

uma fragilidade ainda maior às relações negociais do pecuarista.

A Figura 4.1 ilustra a estrutura de mercado e as relações econômicas entre os

elos da cadeia produtiva. As Figuras 4.2 e 4.3 especificam tais estruturas e relações

econômicas para a safra e a entressafra.

agroindustrial. v. 1. São Paulo: Atlas, 1999.

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222

Figura 4.1 – Regionalização da pecuária em Mato Grosso do Sul. Rebanhos bovinos e preços médios da terra. 1999.

Grandes Redes de Distribuição (Carrefour/Pão-de-Açúcar)

Indústria Frigorífica

Pecuaristas de CRIA

Pecuarista de ENGORDA

Consumidores

Pecuarista de RECRIA

Fornecedores de Insumos

Concorrência Perfeita

Concorrência Perfeita

Concorrência Perfeita

Oligopólio

Oligopólio

Oligopólio

Formador de Preço

Tomador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Con

corr

ênci

a T

rans

acio

nal

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223

Figura 4.2 – Safra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense. Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Janeiro de 1999.

Grandes redes de distribuição (Carrefour/Pão de Açúcar)

Indústria

Pecuaristas de CRIA

Pecuarista de ENGORDA

Consumidor

Pecuarista de RECRIA

Fornecedores de insumos

Concorrência Perfeita

Concorrência Perfeita

R$ 612,00 por boi

R$ 322,00 por

R$ 750,00 por

R$ 990,00 por

Formador de Preço

Tomador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Con

corr

ênci

a T

rans

acio

nal

32,5%

29,3 %

13,9 %

24 ,2%

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Figura 4.3 – Entressafra. Agregação de valor na cadeia produtiva de carne bovina sul-mato-grossense. Números referentes a níveis médios de tecnologia e produção. Setembro de 1999.

Grandes redes de distribuição (Carrefour/Pão de Açúcar)

Indústria

Pecuaristas de CRIA

Pecuarista de ENGORDA

Consumidor

Pecuarista de RECRIA

Fornecedores de insumos

Concorrência Perfeita

Concorrência Perfeita

R$ 702,00 por boi

R$ 360,00 por

R$ 877,00 por

R$ 1 123,00 por

Formador de Preço

Tomador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Formador de Preço

Formador de Preço

Tomador de Preço

Con

corr

ênci

a T

rans

acio

nal

32%

30,4%

15,6%

22%

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225

A Figura 4.2 descreve a agregação de valor ao longo da cadeia de produção na

safra de animais, período em que se altera parcialmente as relações entre os elos,

sobretudo entre os pecuaristas (ofertantes de animais) e a indústria frigorífica

(compradora). O aumento da oferta de animais tende a fazer com que ocorra uma

pressão sobre seus preços, tanto por parte da indústria frigorífica quanto pela

distribuição.

Disso decorrem alterações na agregação de valor e na apropriação das parcelas

pelos diferentes elos:

Os fornecedores de insumos agregam a cada animal um valor de R$ 320,00,

que irá corresponder a 32,5% do preço final do produto no prato do consumidor. Nas

fases de cria, recria e engorda (que em conjunto cobrem em média um período de três

anos, o pecuarista agrega a cada animal outros R$ 290,00, o que vai corresponder a

29,3% do preço final.

No âmbito da indústria frigorífica, ocorre nova agregação de valor, de R$

138,00, fazendo com que essa indústria participe com 13,9% do preço final da carne

adquirida pelo consumidor. Por fim, tem-se a distribuição atacadista e varejista, que

agrega um valor de R$240,00, que corresponderá a 24,2% do preço final de um boi, que

chegará ao consumidor por R$ 990,00.

Na entressafra (Figura 4.3) — e novamente considerando um animal com idade

média de três anos (entre cria, recria e engorda) —, terá ocorrido agregação de R$

360,00 em insumos, o que corresponderá a 32% do preço final de um boi em termos de

carne no prato do consumidor. Ao fim desses três anos, ao vender o animal em pé para a

indústria frigorífica a um preço de R$ 702,00, o pecuarista agrega outros R$ 342,00,

correspondentes a 30,4% do preço final ao consumidor.

A indústria frigorífica, ao comprar esse animal para abate por R$ 702,00,

revende sua carne a miúdos às grandes redes de distribuição atacadistas e varejistas por

R$ 877,00, ou 15,6% do preço com que o produto chega ao consumidor.

As redes de distribuição atacadistas e varejistas compram esse produto

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226

(dianteiro, traseiro e miúdos) por R$ 877,00, agregando um valor de R$ 246,00,

correspondente a 22% do preço final, que irá totalizar R$ 1 123,00.

Em outras palavras, um boi que começa custando (cria, recria e engorda) R$

360,00 em Mato Grosso do Sul, chega ao prato do consumidor em São Paulo ao preço

de R$ 1 123,00. Constata-se assim o poder da distribuição sobre os demais elos da

cadeia, ao ponto de se apropriar de 22% do preço final da carne, apesar de permanecer

no máximo uma semana com a posse desse produto, enquanto o pecuarista em geral

permanece com o boi por um mínimo de três anos. Evidencia-se assim o grande — e

crescente — poder de mercado das grandes redes varejistas na cadeia da carne bovina

brasileira.

Assim, após essa demonstração das relações entre os diversos elos da cadeia,

observa-se que a renda dos pecuaristas na safra (29,3%) é menor que na entressafra

(30,4%, consideradas as condições médias de produção). Embora os percentuais

mencionados possam apresentar oscilações, evidenciam a tendência de menor poder de

barganha do produtor rural durante a safra, quando aumenta a oferta de animais. Por

outro lado, há na entressafra uma pequena redução das apropriações pela indústria

frigorífica e pela distribuição atacadista e varejista.

Tais diferenças eram no passado muito superiores, com preços ainda menores

na safra e maiores na entressafra. Entretanto, com o desenvolvimento dos

confinamentos (na entressafra), com as parcerias das grandes redes (e mesmos dos

atacadistas) nos anos 90, e também com a incorporação de outras regiões produtoras

(como o Norte do país, especialmente Rondônia e Pará, cuja safra coincide com a

entressafra do Centro-Oeste), tende-se a reduzir cada vez mais o poder de mercado dos

produtores rurais de carne bovina.

3. ASPECTOS LOGÍSTICOS E TECNOLÓGICOS PARA OS MERCADOS INTERNO E EXTERNO

A resolução da problemática logística atende tanto ao mercado interno quanto

ao externo.

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227

A reestruturação e ampliação dos sistemas de transportes intermodais —

hidroviário, ferroviário e rodoviário — em diversas regiões do país, como veremos,

objetiva fazer com que os produtos de regiões mais distantes cheguem com preços mais

competitivos aos mercados consumidores.

Na questão dos transportes para a bovinocultura de corte, alguns estados

adotaram fundos estaduais para a recuperação e ampliação de estradas em que o fluxo

de transporte de matérias-primas, ou mesmo de produtos acabados, é muito intenso61.

No Brasil, a reestruturação logística está mais visível nos dois maiores

programas do Governo Federal — Brasil em Ação e Avança Brasil —, que envolvem

uma série de obras que objetivam articular, em especial mas não somente, o Norte e o

Centro-Oeste com o Sul e o Sudeste, de maneira definitiva.

4. BOVINOCULTURA DE CORTE E TECNOLOGIA

A busca da inserção competitiva da carne bovina brasileira passa pelo uso

crescente de novas tecnologias, nas diversas etapas da cadeia. É comum o discurso que

aponta que os problemas tecnológicos e competitivos estão “da porteira para fora”,

através dos outros elos da cadeia. Para esses analistas62, da porteira para dentro há

competitividade e bom grau de uso de tecnologias. O problema estaria nos outros elos.

O que a presente pesquisa constatou é que se observa um uso mais intenso de

tecnologias “da porteira para dentro”, embora ainda aquém do necessário para uma

produção sustentável e competitiva. Por outro lado, nos demais elos da cadeia,

observam-se problemas diversos. Os graus de tecnologias e competitividade também

variam de um elo para outro.

61 Mato Grosso do Sul criou o Fundo de Desenvolvimento das Estradas de Mato Grosso do Sul (FUNDERSUL), financiado pelos pecuaristas com base no número de animais que transitam, e pela indústria frigorífica a partir do número de animais que são abatidos. O valor pago por animal é de R$ 3,00 por cada um dos dois agentes. 62 FERREIRA, Ricardo Cotta. Mercado nacional e internacional da carne bovina. In: V Encontro Nacional do Novilho Precoce. Campo Grande, 4-6 jul. 2000.

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228

As transformações observadas na bovinocultura de corte não foram tão

significativas como as observadas em outras cadeias, como a do frango e dos suínos.

ROCHA63, ao analisar a questão, afirma: “No caso da carne bovina, a revolução

tecnológica não se deu de forma comparável ao que ocorreu no setor avícola. A

intensificação da concorrência internacional exige aumento da produtividade e da

qualidade do setor agropecuário. Portanto, torna-se indispensável o aprofundamento das

atividades de P&D, objetivando o combate a doenças e o desenvolvimento genético de

novas espécies com atributos especiais e/ou com maior rendimento industrial. Entre os

problemas desse segmento, destacam-se a questão do controle da febre aftosa e o uso de

anabolizantes” (ROCHA, 1999, p. 51).

O Estudo da competitividade da indústria brasileira, realizado para o

Ministério da Ciência e Tecnologia, compôs um amplo diagnóstico sobre diversos

setores de nossa economia. A análise da cadeia da carne bovina foi coordenada por

WILKINSON64, que sintetizou os indicadores de competitividade: “Muito embora a

pecuária extensiva tenha sido historicamente um fator fundamental de competitividade

internacional do setor de carnes brasileiro, as exigências industriais (capacidade ociosa e

custos de estocagem decorrentes as sazonalidade da produção tradicional) e do mercado

internacional (qualidade e controle sanitário) crescentemente apontam para a

necessidade de combinar vantagens de terra e clima com aumentos na produtividade,

qualidade e saúde do rebanho” (WILKINSON, 1993, p. 58).

Na nova economia em que vivemos, as fontes da produtividade — e, em

decorrência, da competitividade e do crescimento — passaram a depender fortemente da

aplicação da ciência e da tecnologia, assim como da qualidade da informação, da gestão

e da coordenação nos processos de produção, distribuição, circulação e consumo. Nesse

ambiente em mutação, os preços relativos, os custos, enfim, as vantagens comparativas,

constituem informação de extrema importância, mas insuficiente para traçar estratégias

63 ROCHA, Ivan. Inovação como instrumento de racionalização do agronegócio: o acesso às fontes de conhecimento. In: ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). Agropolos:uma proposta metodológica. Brasília: SEBRAE, 1999. 64 WILKINSON, J. Competitividade na indústria de abate e preparação de carnes. In: COUTINHO, et al. (Orgs.). Estudo da competitividade da indústria brasileira. Campinas: Nota Técnica Setorial do Complexo Agroindustrial, 1993.

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de inserção ativa na competição internacional. Algumas tendências, além do crescente

papel da informação, já podem ser percebidas: a organização da produção vem sofrendo

profundas e rápidas transformações, a concorrência ganhou dimensão global, tudo isso

em meio a uma evolução tecnológica sem precedentes. Uma vez identificadas as formas

específicas com que tais tendências aparecem para as diversas cadeias do agribusiness

brasileiro, será possível conceber um conjunto de ações que viabilizem o

aproveitamento de oportunidades de crescimento e mantenham uma competitividade

sustentável.

5. BOVINOCULTURA DE CORTE E A QUESTÃO AMBIENTAL

A base constituída na ocupação e expansão em novas terras e pastagens mais

acessíveis fez com que não houvesse por parte da maioria dos produtores preocupações

com o uso sustentável das pastagens, o que levou a sua intensa degradação.

VIEIRA65 destaca a importância da conservação de recursos naturais para o

futuro da atividade: “Dia a dia torna-se mais sólido o sentimento, no seio da sociedade

civil, de que é fundamental a adoção de diretrizes, critérios e/ou procedimentos que

assegurem a sustentabilidade econômica do desenvolvimento, traduzida na adequação

dos níveis de produtividade com a conservação dos recursos naturais, a preservação

ambiental e a biodiversidade. Isso significa que, de forma crescente, deverão ser

enfatizados os aspectos de impacto ambiental na definição dos critérios e procedimentos

de análise da factabilidade técnica e econômico-social e no controle da execução dos

projetos que venham a integrar os projetos de desenvolvimento, bem como a aferição

dos resultados derivados desses projetos” (VIEIRA, 1999, p. 30).

Já existem algumas formas consagradas, que permitem o uso de novas

tecnologias mais sustentáveis em termos ambientais, como: caracterização dos

agrossistemas; controle biológico de pragas e doenças; o maior uso de diversidade

genética; fertilização biológica do solo; conservação dos recursos genéticos;

65 VIEIRA, Pedro Merçon. Tendências recentes na agricultura brasileira e no “aparato” institucional de apoio ao desenvolvimento. In: Agropolos: uma proposta metodológica. Brasília: ABIPTI, 1999.

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disseminação do uso de fontes limpas de energia; restrição e o controle no uso de

fitotóxicos; adoção do princípio de emissão zero e resíduo zero. Para EUCLIDES

FILHO66, “... a atividade pecuária tem sido responsabilizada por problema que

possivelmente sejam resultantes da inabilidade e/ou inadequação das tecnologias,

práticas e, principalmente, de manejo inadequado do complexo solo-planta-animal, que,

considerado como um sistema, deve muitas vezes ser visto como uma combinação de

três subsistemas que se interagem causando e recebendo impactos. É importante

salientar, ainda, que as inter-relações entre estes subsistemas são influenciadas pelo

ambiente” (EUCLIDES FILHO, 1997, p. 8).

66 EUCLIDES FILHO, Kepler. A pecuária de corte no Brasil: novos horizontes, novos desafios. Campo Grande: EMBRAPA/MAA, 1997.

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Figura 4.4 – Manejo do complexo solo-planta-animal, suas inter-relações e seus efeitos sobre a sustentabilidade do sistema de produção.

IMPLANTAÇÃO E ESTABELECIMENTO DA PASTAGEM

Manejo e práticas culturais

inadequados

Manejo animal

inadequado

Uso de biótipo animal

inadequado ou sem o devido ajuste

Queda de fertilidade do solo

Perda de vigor e produtividade das pastagens e exposição do solo

Redução da capacidade de rebrota das plantas

Descompasso entre forragem produzida e forragem consumida

Compactação e alterações nas características físicas do solo Decrescimento da produção de forragem

Redução na infiltração

Erosões laminar, sulco, voçoroca

Queda na produção animal

Degradação do solo

INVIABILIDADE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Fonte: Euclides Filho (1996b).

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Atualmente, à pressão exercida pela globalização dos problemas ambientais e à

respectiva resultante na política ambiental brasileira, somou-se a discriminação no

comércio internacional sob o pretexto de barreiras não-tarifárias. A questão ambiental

assume papel crucial também na medida em que os países importadores, no intuito de

protegerem seus mercados, criam mecanismos de proteção que muitas vezes se

fundamentam em alegações de caráter ambiental.

Há ampla capacidade de ampliação das atividades da pecuária, dada nossa

extensão territorial, embora as práticas conservacionistas tenham de passar a fazer parte

de nossas preocupações. “Já a pecuária de corte que se mostra ‘mais viável’ no país

(seria errado dizer ‘mais moderna’) aparentemente ainda é aquela baseada na

exploração de pastagens sobre terras mais baratas. Em outras palavras, as atuais

possibilidades de lotação em termos de animais por área e o aproveitamento de

economias de escala fazem com que os melhores resultados econômicos da pecuária de

corte estejam associados a médias e grandes propriedades onde o valor da terra ainda é

baixo, como prova a crescente migração do boi para a região centro-norte. Ou ainda, no

Brasil a pecuária mais eficiente é aquela relacionada às propriedades maiores que usam

intensamente as suas pastagens, trabalhando dentro da estratégia de combinar baixas

margens por animal abatido com elevado giro de vendas, o que acaba auferindo um

‘retorno sobre patrimônio’ (RSP) relativamente satisfatório” (MEDEIROS, 1999, p.

148).

Considerando os diversos elementos e problemas inerentes à cadeia produtiva

da carne bovina do Brasil e de Mato Grosso do Sul, torna-se necessário, a partir de

estudos, pesquisas e mesmo propostas concretas de projetos, buscar formas para que se

alcance uma maior integração dos diversos agentes envolvidos na cadeia produtiva,

visando uma maior sinergia entre eles — não apenas restringindo-se à cadeia produtiva

da carne bovina, mas almejando extender-se para além dela.

Os pressupostos subjacentes a tais propostas são a necessidade de uma maior

coordenação dos agentes da cadeia produtiva, tal como defendido por PENSA, GEPAI,

FNPC, FUNDEPEC e outras instituições. Os agropolos e os clusters objetivam, com as

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particularidades de cada uma das formas, em última instância, uma articulação maior da

cadeia, de modo a torná-la mais dinâmica e competitiva.

6. AGROPOLOS

Nos últimos anos vem se consolidando um conceito novo, o de agropolos, que

constitui-se numa perspectiva do desenvolvimento do agronegócio a partir das cadeias

produtivas, mas assentado em bases regionais específicas. É importante frisar que esse é

um conceito em formação, que por isso não pode ser tomado de forma absoluta,

devendo-se considerar configurações intermediárias, conforme as especificidades de

cada projeto.

De acordo com ABIPTI (1999, p. 157)67, os pressupostos básicos de um

programa agropolos são: melhoria da qualidade de vida das população local; um projeto

com horizonte de longo prazo, exigindo continuidade e sustentabilidade das ações;

ações baseadas na realidade sócio-econômica de sua área de abrangência, com destaque

para três elementos básicos: (1) o potencial de recursos naturais; (2) a lógica do

mercado; (3) a cultura e aspirações da população local; a absoluta necessidade de

interação tecnologia–agroindustrialização.

Os agropolos, portanto, constituem-se numa nova perspectiva de análise e

estruturação de programas que objetivam conciliar a agroindustrialização com o

desenvolvimento regional: “Em essência, o Programa Agropolos tem por missão o

aumento do poder de competitividade do agronegócio no mercado e o desenvolvimento

sustentado de sua área de abrangência por meio da satisfação das necessidades básicas

das comunidades locais, do incremento da produtividade, da geração de empregos, da

conservação de recursos naturais e da preservação do meio ambiente” (ABIPTI, 1999,

p. 157).

Especificamente no caso da cadeia produtiva da carne bovina, as possibilidades

de constituição de um agropolo envolvem algumas complexidades, dada a abrangência

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territorial dessa cadeia, desde o fornecimento de insumos até a distribuição e o consumo

da carne, in natura ou industrial. Com a configuração regional hoje existente, em que a

produção e o abate são feitos em certas regiões e a distribuição e o consumo em outras,

a viabilidade de se constituir um agropolo em torno dessa cadeia seria mais remota,

ainda que não impossível.

7. CLUSTERS

MEDEIROS68 afirma que existem outras formas de organizar o complexo

produtivo, e que uma dessas maneiras são os clusters: “No âmbito regional, além do

enfoque de agropolos, também encontramos outras abordagens como os clusters e

outras formas de organização da produção econômica, em que os negócios

agroindustriais estão referenciados num determinado espaço geográfico, onde os

aspectos sociais, econômicos, ambientais e políticos também condicionam a

competitividade do agronegócio” (MEDEIROS, 1999, p. 118).

Para HADDAD69, os clusters constituem-se em cadeias produtivas que atuam

de forma complementar e sinérgica: “Os clusters consistem de indústrias e instituições

que têm ligações particularmente fortes entre si, tanto horizontal quanto verticalmente,

e, usualmente, incluem: empresas de produção especializada; empresas fornecedoras;

empresas prestadoras de serviços; instituições de pesquisas; instituições públicas e

privadas de suporte fundamental. A análise de clusters focaliza os insumos críticos, num

sentido geral, que as empresas geradoras de renda e de riqueza necessitam para serem

dinamicamente competitivas. A essência do desenvolvimento de clusters é a criação de

capacidades produtivas especializadas dentro de regiões para a promoção de seu

desenvolvimento econômico, ambiental e social” (HADDAD, 1998, p. 74).

67 ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). Agropolos:uma proposta metodológica. Brasília: SEBRAE, 1999. 68 MEDEIROS, Josemar X. Inserção de políticas públicas no processo de desenvolvimento regional e do agronegócio. In: ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). . Agropolos: uma proposta metodológica. Brasília: Sebrae, 1999. 69 HADDAD, Paulo R. A competitividade do agronegócio: estudo de cluster. In: CALDAS, R. de Araújo (Ed.). Agronegócio brasileiro: ciência, tecnologia e competitividade. Brasília: CNPq, 1998.

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Figura 4.5 – Análise da competitividade da agroindústria brasileira. A definição de um cluster.

Fonte: HADDAD (1998).

O roteiro metodológico para análise de clusters70 envolve:

• delimitação da área geográfica relevante;

• indicadores de performance setorial (produção, produtividade, qualidade);

• aglomerados ou complexos produtivos;

• serviços de suporte empresarial ao cluster;

• suporte fundamental (transporte, telecomunicações e outros);

70 Na pesquisa de HADDAD foram estudados: a) o cluster suinícola do Oeste Catarinense; b) o cluster da região cacaueira do Sul da Bahia; c) o cluster da fruticultura no pólo Petrolina-Juazeiro; d) o agronegócio de grãos do município de Rio Verde, GO.

• Contabilidade de custos (ABC);

• Testes de qualidade; • Pesquisa e

desenvolvimento; • Manutenção técnica; • Entrepostos etc.

Serviços de suporte

empresarial

Economias de aglomeração e externalidades

Atividades-chave orientadas para as

exportações

Atividades-chave orientadas para os

suprimentos

Atividades-chave de suporte fundamental

Aglomerados ou

complexos produtivos

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• indicadores de desenvolvimento social da região onde opera o cluster;

• indicadores ambientais;

• desenvolvimento de cultura organizacional;

• necessidade de insumos de conhecimentos, pesquisa e de ciência e tecnologia no

cluster;

• mecanismo de inserção da EMBRAPA e do CNPq.

PINAZZA e ALIMANDRO71 afirmam: “Nos clusters, a eficiência estática de

cada empresa está exposta diretamente ao influxo contínuo da inovação tecnológica,

circunstância que leva cada companhia a beneficiar-se da presença dos concorrentes

locais, da mesma forma que sua dinâmica contamina a agenda das instituições públicas

e das agências governamentais” (PINAZZA e ALIMANDRO, 1999b, p. 182).

Esses autores afirmam ainda que “o conceito de cluster representa uma nova

maneira de se conceber a economia local, regional ou nacional. É ao mesmo tempo tão

antigo como o engenho colonial de cana-de-açúcar, produtor de aguardente e rapadura,

anterior, portanto, à primeira revolução industrial, razão por que é uma reivindicação

legítima do agronegócio reclamar a sua paternidade. É interessante notar que as

múltiplas atividades do engenho, praticamente auto-suficiente, estavam ligadas não

apenas pela cooperação nas operações mas também pela solidariedade efetiva entre os

processos de seus elos. Assim, a inovação tecnológica num dos elos, o do

processamento da matéria-prima, por exemplo, repercutia automaticamente nos demais,

levando ao redesenho da infra-estrutura de transportes, armazenagem, energia,

suprimentos etc.” (PINAZZA e ALIMANDRO, 1999b, p. 182).

71 PINAZZA, Luiz Antônio; ALIMANDRO, Regis. Emissores de tecnologia. In: PINAZZA, Luiz Antonio; ALIMANDRO, Regis. Reestruturação no agribusiness brasileiro: agronegócios no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Abag/Agroanalysis/FGV, 1999.

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Figura 4.6 – Análise da competitividade da agroindústria brasileira: Etapas de desenvolvimento de um cluster.

Fonte: ICK KAISER (1997).

As análises revelaram que a cadeia de carne bovina no Brasil é extremamente

heterogênea quanto às características de seus componentes. Nessa realidade podem ser

encontrados agentes econômicos extremamente competitivos, mesmo quando

comparados com padrões internacionais, e outros que ainda não superam padrões

mínimos de qualidade e competitividade. Os problemas que resultam dessa dualidade

estão longe de serem desprezíveis para a competitividade do setor.

Também para ROCHA72, “no setor de carnes, a maioria das empresas fornece

quase que exclusivamente para o mercado interno. O reduzido poder de compra dos

consumidores tem levado à aceitação de produtos de baixa qualidade, em alguns até

impróprios para o consumo” (ROCHA, 1999, p. 33).

“Finalmente, deve-se mencionar que a adequada coordenação das políticas e a

formulação de um Planejamento de longo prazo para nortear a atuação empresarial no

campo do agribusiness são fundamentais para o desenvolvimento nacional. No

agribusiness repousam as chances superiores para a maior integração do Brasil no

contexto das nações. Além de ser o maior gerador de empregos e renda, o agribusiness

já é o setor mais aberto, exposto à competição internacional, e mais preparado para

72 ROCHA, Ivan. Inovação como instrumento de racionalização do agronegócio: o acesso às fontes de conhecimento. In: ABIPTI (Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica). Agropolos:uma proposta metodológica. Brasília: SEBRAE, 1999.

Desempenho econômico

regional

1. Identifique atividade produtivas

do cluster

2. Desenvolva os supridores relevantes

3. Identifique as necessidades de

suporte fundamental

4. Construa formas de cooperação

público–privado

Aglomerados ou complexos Economias de aglomeração ou externalidades

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alavancar a interiorização e o desenvolvimento harmônico do país” (ROCHA, 1999, p.

14).

Figura 4.7 – Análise da competitividade da agroindústria brasileira: a concepção do desenvolvimento integrado do cluster.

Fonte: ICK KAISER (1997).

Performance econômica:

• Aglomeração • Crescimento • Exportações • Valor adicionado • Especializado • Reinvestimento

Impactos ambientais:

• Emissão de resíduos tóxicos • Potencial de poluição ambiental • Efetividade de controle ambiental • Certificados ISO 14000

Cluster

• Atividades-chave orientadas para as exportações

• Atividades-chave orientadas para o suprimento

• Atividades-chave de suporte

Impactos sociais:

• Oportunidade de emprego para grupos sociais de baixa renda

• O papel da força de trabalho rural • Oferta de serviços comunitários

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8. INDICADORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Ao término deste relatório fica evidenciada a complexidade da cadeia

produtiva da carne bovina de Mato Grosso do Sul. Entretanto, tal complexidade tem se

constituído numa adversidade para todos os agentes do processo: fornecedores de

matérias-primas (insumos), pecuaristas, indústrias frigoríficas e consumidores.

Hoje, infelizmente, a cadeia da bovinocultura passa por uma diversidade de

entraves — desde os que dizem respeito a relações internas entre os agentes, até outros

que se estabelecem entre agentes internos e agentes externos, como por exemplo o setor

público. Embora evidente, é necessário reafirmar: um elo inoperante ou que apresente

problemas acarretará conseqüências à totalidade da cadeia.

Em virtude disso, é necessário que se aponte uma pauta de soluções para a

modificação desse quadro, hoje adverso. As modificações passam, preponderantemente,

pela qualificação da mão-de-obra, sustentabilidade da cadeia, gestão da informação,

valorização da carne sul-mato-grossense, melhoria de qualidade da carne e subprodutos

e pela instituição de interlocução da cadeia.

9. QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA

A falta de mão-de-obra adequada é um grande problema enfrentado pela

cadeia. A falta de formação de funcionários e a falta de visão do empregador são fatores

que influenciam — e de forma muito negativa — a produção. Noutros casos, as técnicas

modernas, disponíveis em crescente número, não são adequadamente utilizadas —

quando chegam a ser postas em prática. As principais ações para solucionar a falta de

mão-de-obra são:

• desenvolvimento de empresas rurais;

• capacitação técnica do meio rural (empregadores: gestão-gerenciamento;

empregados: manejo, inseminação);

• desenvolvimento de gestores do setor frigorífico;

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• capacitação técnica da mão-de-obra frigorífica;

• capacitação de técnicos governamentais para acompanhamento e intervenção na

cadeia produtiva da carne.

10. SUSTENTABILIDADE DA CADEIA

Outro problema enfrentado pela cadeia tem relação com sua sustentabilidade.

Muitas vezes o pecuarista raciocina de maneira imediatista, não prevendo prejuízos no

futuro: o lucro de hoje — muito provavelmente — não estará garantido amanhã.

A conservação do solo é uma prática distante dos produtores rurais, bem como

outras ações ambientais que possibilitem a manutenção da atividade pecuária. Na

agenda de debates, devem ser colocados a criação e a reestruturação dos seguinte

programas:

• Programa de conservação do solo;

• Programa de formação e recuperação de pastagens;

• Reestruturação do serviço de inspeção sanitária no estado;

• Programa de tratamento de resíduos industriais;

• Programa do “vitelo pantaneiro”;

• Programa do “boi orgânico”;

• Programa de ampliação de agregação de valor no estado.

11. GESTÃO DA INFORMAÇÃO

A informação cumpre nos dias atuais uma função global. Através da sua

reunião e difusão é possível planejar ações, evitar erros e, o mais importante, agir com

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maior certeza de sucesso. Na atual cadeia produtiva da carne, esse processo benéfico

inexiste. O que há é exatamente o contrário: o monopólio da informação. Faltam ações

governamentais por um lado, e visão empreendedora por outro.

O governo falha em não conhecer informações estratégicas para a criação de

programas eficazes, e os diversos elos da cadeia — pecuaristas e frigoríficos,

essencialmente — tratam-se como adversários. Os elos da cadeia esquecem que são

partes de um contexto, de uma cadeia. O insucesso de um, provavelmente, acarretará

situação idêntica aos demais.

O roteiro de políticas para a reversão desse quadro passa por:

• Recadastramento dos produtores;

• Recadastramento dos frigoríficos;

• Recadastramento da indústria de subprodutos;

• Desenvolvimento de sistemas de informação mercadológica;

• Melhoria da eficiência dos sistemas de acompanhamento da atividade e fiscal do

estado;

• Divulgação/publicação dos dados dos agentes da cadeia.

12. VALORIZAÇÃO DA CARNE DE MATO GROSSO DO SUL

Mato Grosso do Sul por vezes se esquece de sua condição de detentor do maior

rebanho bovino de corte do país. É uma potencialidade não explorada.

Se as barreiras sanitárias hoje impedem a exportação de carne, isso revela que a

criação não recebeu a atenção necessária no passado, culminando com episódios como o

de Naviraí, em janeiro de 1999.

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O que importa, porém, é que as perspectivas indicam a solução desse

problema. Com sua inclusão na Zona Livre de Febre Aftosa, Mato Grosso do Sul poderá

se inserir com mais de 20 milhões de animais no mercado mundial.

Nesse sentido, algumas ações se colocam como imprescindíveis para o

crescimento e a valorização da carne bovina sul-mato-grossense. O espaço existe e

Mato Grosso do Sul tem o potencial para dele usufruir. O que ainda permanece em falta

é uma reestruturação, a ser levada a cabo através de campanhas (marketing), e a criação

e manutenção de programas que se mostram acertados, como:

• Programa do “vitelo pantaneiro”;

• Programa da “carne orgânica”;

• Programa do novilho precoce;

• Difusão dos produtos em eventos nacionais e internacionais;

• Desenvolvimento de um selo de qualidade estadual;

• Campanha mercadológica da carne sul-mato-grossense;

• Prospecção de novos mercados para a carne sul-mato-grossense.

12.1. MELHORIA DE QUALIDADE DA CARNE E SUBPRODUTOS

A carne bovina, produtos e subprodutos, como resultado final da cadeia

produtiva, necessitam de alguns detalhes que garantam sua qualidade. Será essa

qualidade que possibilitará inserções e garantia de satisfação nos mercados, tanto o

interno como, e principalmente, os externos.

A criação dos animais praticada de forma inadequada e as formas clandestinas

de abate, transporte e comercialização precisam ser coibidas. Além dessas proibições,

entretanto, existem outras medidas necessárias a aplicar, incluindo aquelas referentes à

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infra-estrutura, para todo os elos e agentes da cadeia — criação, industrialização,

distribuição:

• Desenvolvimento de rastreabilidade ao longo da cadeia;

• Normatização e difusão de padrões de qualidade de animal vivo e da carne;

• Cursos de capacitação;

• Aperfeiçoamento do sistema logístico de transporte de animais e produtos acabados;

• Programa de melhoria da qualidade do couro (remuneração do pecuarista);

13. INTERLOCUÇÃO DE INSTITUIÇÕES DA CADEIA

O último conjunto da pauta de sugestões é a interlocução entre as diversas

instituições que compõem ou se relacionam com a cadeia da bovinocultura de corte. É

preciso haver uma uniformização de ações, trabalhos e formas de gestão entre a

iniciativa privada e os órgãos públicos.

Atualmente, a estrutura administrativa do estado é falha, o que gera inúmeros

prejuízos. Para a solução de um problema — muitas vezes pequeno — são necessárias

inúmeras “visitas” a vários órgãos diferentes do poder público. Um exemplo é que para

se conseguir uma licença/autorização, o produtor ou o industrial precisam percorrer três

secretarias estaduais distintas. E isso é errado. Através do uso da informática (Internet),

um produtor poderia emitir sua Guia de Trânsito de Animais (GTA) sem ter de

ausentar-se de sua propriedade. Hoje ele tem de ir à fazenda (que pode distar mais de

100 km da cidade), separar os animais que estão prontos para o abate, voltar à cidade, ir

ao Iagro, pegar o atestado de vacina (e pagar uma taxa), ir à agência fazendária de seu

município, pegar a guia do Fundersul, pagá-la (R$ 3,30 por animal), pegar a GTA (uma

para cada caminhão de boi: 17 bois) e recolher a taxa por nota-GTA (R$ 3,50). Após

isso, deve levar a nota-GTA à fazenda antes de os caminhões saírem da propriedade.

Ele, portanto, precisa ir duas vezes à propriedade e a dois órgãos na cidade.

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Na Figura 4.8 podemos observar a estrutura clássica do aparelho estatal de

Mato Grosso do Sul, a partir das secretarias. Segundo essa estrutura, os interessados nos

serviços dessas secretarias precisam percorrer diversas estruturas, que na maioria das

vezes não conversam entre si, aumentando os custos produtivos da atividade.

Em termos governamentais tal estrutura conduz à perda da noção de totalidade

da cadeia, por as decisões se dispersarem entre os órgãos. A Secretaria de Estado de

Fazenda (SEFAZ) arrecada e concede isenções; a Secretaria de Produção e

Desenvolvimento Sustentável (SEPRODES) busca atrair empresas e gera políticas

públicas de desenvolvimento; a Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia

(SEPLANCT) planeja ações de médio e longo prazos; as demais secretarias, cada uma

em sua função, definem as suas particularidades, sem a idéia do todo. Tem-se portanto

um grande esforço disperso em estruturas burocráticas, que poderia ser otimizado se as

estruturas fossem readequadas.

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Figura 4.8: A cadeia produtiva da carne bovina e a atual estrutura burocrática institucional.

Iagro

Delegacia Federal de Agricultura

Sebrae

Agentes

Financeiros/Banco

FIEMS

Instituições de Ensino e

Pesquisa

Indústria frigorífica

Pecuaristas

Fornecedores de insumos

Distribuição de carnes

Governo do Estado

Secretaria de

Meio Ambiente

Secretaria de

Fazenda

Secretaria de Produção e

Desenvolvimento

Outros

Outras

Secretarias

Órgãos governamentais Agentes da cadeia produtiva da carne Órgãos paralelos à cadeia

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Figura 4.9: Conselho da cadeia produtiva da carne bovina.

Iagro

Delegacia Federal de Agricultura

Sebrae

Agentes financeiros/Bancos

FIEMS

Instituições de Ensino e

Pesquisa

Instituto Estadual da Carne/

Câmara Setorial da Carne/

Conselho da Cadeia Produtiva

da Carne Bovina.

Gerência de Desenvolvimento Sustentável

Indústria Frigorífica

Pecuaristas

Fornecedores de Insumos

Distribuição de Carnes

Governo do Estado

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A Figura 4.9, por sua vez, propõe uma descrição para a Câmara Setorial da

Carne Bovina de Mato Grosso do Sul, com todos os seus participantes mais

importantes. Nessa Câmara Setorial seriam definidas ações que cada um deles deve

desempenhar para tornar a cadeia mais competitiva e dinâmica.

No âmbito exclusivo do governo estadual, a partir não mais das estruturas

burocráticas clássicas de secretarias de estado não-sinérgicas, têm-se o Conselho de

Gestão Participativa, que definirá as ações a serem tomadas — no caso da cadeia

produtiva da carne bovina, a serem executadas pela Gerência de Desenvolvimento

Sustentável.

Finalizando este relatório, consideramos haver apresentado à sociedade sul-

mato-grossense, através deste estudo, uma análise das transformações recentes que se

verificam na cadeia produtiva da carne bovina de Mato Grosso do Sul, juntamente com

propostas de políticas públicas que entendemos constituirem-se num referencial

fundamental para que se alcance na prática uma maior competitividade dessa decisiva

cadeia de produção.

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Anexos

QUESTIONÁRIO PARA OS PECUARISTAS

ASPECTOS DO PECUARISTA

1) Em qual município está localizada a sua propriedade? ................................................./.......... 2) Qual a dimensão da propriedade ? ( ) até 1.000 ha ( ) de 1.001 até 2.000 ha ( ) de 2.001 até 5.000 ha ( ) acima de 5.000 ha 3) Qual o preço médio do ha. na região em que está situada a sua propriedade? R$................................... 4) Qual a forma de aquisição da propriedade? ( ) compra ( ) herança ( ) outra. Especificar: ........................................................................................................................... 5) Além da propriedade na qual exerce a atividade principal, possui outra(s) também destinadas à pecuária? ( ) sim ( ) não 5.1) Em caso positivo, qual(is) sua(s) localização(ões)? ................................................./.................................................................. ................................................./.................................................................. 6) Qual a prática de criação adotada? ( ) intensiva ( ) extensiva 7) A pastagem predominante é: ( ) nativa ( ) artificial (plantada) 8) No caso de pastagem artificial, qual o tipo de capim plantado? ( ) colonião ( ) jaraguá ( ) brachiarião ( ) brachiária ( ) estrela ( ) outro. Especificar ................................................

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9) Qual dos tipos de manejo faz uso? ( ) suplementação mineral no inverno ( ) voisin ( ) pastejo rotacionado ( ) adubação de pastagem ( ) inseminação artificial ( ) cruzamento industrial ( ) semiconfinamento ( ) confinamento 10) Pratica o mesmo tipo de manejo desde que iniciou a atividade pecuária? ( ) sim ( ) não 10.1) Em caso negativo, quais as posteriormente adotadas? ........................................................................................................................... ........................................................................................................................... 11) A qual das fases da pecuária está direcionada a propriedade? I-cria II-recria III-engorda ( ) I ( ) II ( ) III ( ) I e II ( ) I e III ( ) II e III ( ) I, II e III (todas) 12) Qual a taxa de abate dos animais obtida? (Em percentual do total.) ........................................................................................................................... 13) Qual a idade média dos animais destinados ao abate? (Em percentual do total.) ........................................................................................................................... 14) Qual a taxa de natalidade obtida? ........................................................................................................................... 15) Qual a taxa de mortalidade (morrem antes da desmama) de bezerros? ........................................................................................................................... 16) Complementa a alimentação do rebanho com sal mineral? ( ) sim ( ) não 16.1) Em caso positivo, em qual(is) fase(s) da pecuária e qual(is) o(s) tipo(s)? ( )cria ( ) recria ( ) engorda ( ) todas ...................................................................................................................................................................................................................................................... 17) Ministra, nos animais, todos os tipos de vacinas indicadas para a região da propriedade? ( ) sim ( ) não 17.1) Em caso positivo quais são elas? ...........................................................................................................................

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17.2) Em caso negativo, por qual(is) motivo(s) deixa de vacinar os animais? ( ) em função de seu custo elevado ( ) em função da desnecessidade – ausência de risco ( ) outros. Especificar: ............................................................................................. 18) Aplica vermífugos no rebanho? ( ) sim ( ) não 19) Para a viabilização da atividade pecuária exercida recorre a algum tipo de financiamento? ( ) sim ( ) não 19.1) Em caso positivo, a qual tipo? ( ) particular ( ) bancário ( ) outros. Especificar: ........................................................................................................................... 20) Recorre a médico veterinário para a assistência ao rebanho? ( )sim ( )não 20.1) Em caso positivo, com qual freqüência? ( ) sempre – possui contrato ( ) ocasionalmente 21) Qual a forma de gestão da propriedade? ( ) direta ( ) indireta – feita por administrador 22) Em qual cidade reside o proprietário da fazenda? ........................................................../................ 23) O proprietário exerce outra atividade além da pecuária? ( ) sim ( ) não 24) A pecuária é a principal atividade econômica do proprietário? ( ) sim ( ) não 25) Qual a raça bovina predominante em sua propriedade? ( ) nelore ( ) limousin ( ) gir ( ) charolês ( ) brahma ( ) simental ( ) outros. Especificar .................................................................... 24) Caso optasse por implementar mudanças nas atividades desenvolvidas – destinação da propriedade, p. ex., recorreria a consultoria para tal fim? ( )sim ( )não 25) Qual o fator que determina o momento para comercializar o gado? ( ) o limite de peso atingido ( ) necessidade financeira ( ) oportunidade adequada {preço} ( ) outros. Especificar : ........................................................................................ 26) Qual o peso médio dos animais vendidos para o abate (em @ )?

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........................................................................................................................... 27) Qual o número de empregados que exercem a atividade desenvolvida na propriedade? ........................................................................................................................... 28) A propriedade está situada em região que possui risco atual de invasões? ( ) sim ( ) não 29) Mantém atualizados os dados da propriedade em relação aos órgãos estatais (rebanho, vacinação, p. ex. )? ( )sim ( ) não 30) Em caso negativo, especificar o porquê ...................................................................................................................................................................................................................................................... 31) Como classificaria o índice de produtividade atingido na atividade exercida? ( ) excelente ( ) bom ( ) regular ( ) baixo 32) Qual o nível de conservação do solo da propriedade? ( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) precário

RELAÇÃO DO PECUARISTA COM O FORNECEDOR DE INSUMOS

33) É assistido por algum profissional das áreas de veterinária ou agronomia para executar a compra de insumos? ( ) sim ( ) não 34) Pesquisa, regularmente, os preços para realizar a compra de insumos? ( ) sim ( ) não 35) Adquire os insumos de quantos fornecedores? ........................................................................................................................... 36) Na(s) empresa(s) na(s) qual(is) adquire os insumos há responsáveis técnicos que auxiliam na orientação/utilização dos produtos? ( ) sim ( ) não 37) Observa itens de qualidade e conformidade na aquisição dos insumos? ( )sim ( )não 38) De que forma adquire os insumos? (medicamentos, sal mineral, concentrados e

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outros ) ( ) à vista ( ) a prazo ( ) associado à venda dos animais ( ) outra. Especificar: ........................................................................................................................... 39) Caso ocorra aumento no preço dos insumos, qual seu comportamento imediato? ( ) mantém a mesma quantidade adquirida ( ) adquire quantidade menor ( ) deixa de adquirir, até sua eventual estabilização ( ) outros. Especificar..................................................................................... 40) Qual seria sua sugestão para a melhora na relação com o fornecedor de insumos? .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

RELAÇÃO DO PECUARISTA COM O FRIGORÍFICO

41) O gado é sempre vendido para a mesma empresa? ( ) sim ( ) não 41.1) Em caso positivo, qual o fator determinante para tal? ( ) a empresa é idônea/estável ( ) a empresa pratica melhores preços ( ) a empresa oferece parceria ( ) outros. Especificar: ........................................................................................................................... 42) O comprador (frigorífico ) oferece alguma contraprestação pela qualidade do couro dos animais ? ( )sim ( ) não 43) O comprador (frigorífico ) pratica preços diferenciados pela compra de novilhos precoce? ( ) sim ( ) não 44) Qual o forma de venda do gado? ( ) peso vivo ( ) peso morto ( ) outra. Especificar......................................................................................................... 45) Em caso de venda pelo peso vivo, qual percentual pago pela empresa? ......................% 46) Qual o local de pesagem do gado remetido para venda? ( ) balança do caminhão ( ) balança do frigorífico ( ) outros. Especificar: ...........................................................................................................................

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47) Como classificaria suas relações com os frigorífico(s)? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................

RELAÇÃO DO PECUARISTA COM OS ÓRGÃOS DE ASSISTÊNCIA E DE

ESTADO

48) Existe no município no qual está sediada a propriedade algum órgão que preste assistência à atividade exercida? ( ) sim ( ) não 49) Em caso positivo, especificá-lo(s) e apontar o nível de satisfação do produtor : ...................................................................................................................................................................................................................................................... 50) Em caso negativo, considera importante a criação de um órgão de fomento/assistência? ( ) sim ( ) não 51) Como classificaria suas relações com os órgãos de estado (fisco, vigilância sanitária e outros ) ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 52) Qual seria sua sugestão para a melhora na relação com os órgãos estatais? ......................................................................................................................................................................................................................................................

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QUESTIONÁRIO PARA OS FRIGORÍFICOS ASPECTOS INTERNOS DO FRIGORÍFICO

1) Qual o ano de instalação do frigorífico? .......................... 2) A administração do frigorífico é: ( ) própria ( ) arrendada 3) A empresa é : ( ) individual ( ) sociedade por cotas ( ) sociedade anônima 4) O frigorífico foi criado mediante algum programa de apoio oficial à produção? ( )sim ( )não. 4.1) Em caso positivo, qual(is)? ........................................................................................................................... 5) Qual o número de funcionários, por setor? - abate/beneficiamento......................... - gerência............................................. 6) Qual o salário médio, por setor? - abate/beneficiamento......................... - gerência............................................. 7) Quais os serviços que são terceirizados? ( ) transporte do criador para o frigorífico ( ) transporte de produto(s) beneficiados ( ) alimentação dos funcionários ( ) limpeza das instalações ( ) outros. Especificar:.................................................................................... 8) Qual a média diária de animais abatidos? ........................ 9) Existe capacidade ociosa de abate nas instalações atuais? ( ) sim ( ) não 9.1) Em caso positivo, qual o percentual? .......................% 10) Qual a capacidade de estocagem de carcaças em câmara frigorífica, (em unidades)?

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...................................................................................... 11) Qual o percentual médio de animais abatidos atualmente? ................% machos ....................% fêmeas 12) Houve alteração no percentual referido em relação a períodos anteriores? ( )sim ( )não 12.1) Em caso positivo, qual o percentual médio de animais abatidos então? ...............% machos ....................% fêmeas 13) Quais os tipos de produtos produzidos? ( ) carne com osso resfriada ( ) carne com osso congelada ( ) carne desossada ( ) subprodutos. Especificar.......................................................................... ...................................................................................................................................................................................................................................................... 14) Quais os produtos decorrentes do beneficiamento que são processados no próprio frigorífico? ( ) farinha de osso ( ) farinha de sangue ( ) sebo para indústria ( ) outros. Especificar ..................................................................................... .......................................................................................................................... 15) O maquinário utilizado nas discriminadas etapas da produção podem ser considerados : I – modernos II – intermediários III- desatualizados 15.1) abate ( ) 15.2) refrigeração- armazenamento ( ) 15.3) embalagem ( ) 15.4) processamento dos resíduos ( ) 16) Qual o valor médio do frete pago para o transporte de animais do produtor para o frigorífico (por km )? R$................ 17) Qual o valor médio do frete pago para o transporte de animais do frigorífico para o distribuidor/cliente (base São Paulo/SP )? R$................

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RELAÇÕES DO FRIGORÍFICO COM O PECUARISTA

18) Qual a forma mais adotada para a aquisição da matéria prima? ( ) consulta aos produtores ( ) oferecimento pelos produtores ( ) outra. Especificar : .................................................................................... 19) Qual a forma mais utilizada no pagamento aos fornecedores pela matéria prima : ( )à vista ( )a prazo? 19.1) No pagamento a prazo, em quantos dias, em média, é ele efetuado e qual a taxa de desconto? ........../.............% 20) O frigorífico pratica preços diferenciados por novilho precoce? ( ) sim ( )não 21) Existe limite de distância para a aquisição de animais? ( ) sim ( )não 21.1) Em caso positivo, qual a distância máxima para a compra (em km )? ................................ 22) Os animais recebidos são pagos pelo peso aferido: ( ) na balança do produtor ( ) na balança do caminhão ( ) na balança do frigorífico 23) O frete no transporte de animais desde a fazenda até o frigorífico é pago : ( ) pelo produtor ( ) pelo frigorífico ( ) por ambos 24) Como classificaria suas relações com os produtores? .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

RELAÇÕES DO FRIGORÍFICO COM O DISTRIBUIDOR

25) O frigorífico mantém padrão de corte diferenciado em face de cada tipo de cliente? ( ) sim ( ) não 25) Para qual(is) mercado(s) remete, preponderantemente, seus produtos? .............................................................................................................................................

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.............................................................................................................................................

...................................................................................... 26) Tem contrato de exclusividade com algum distribuidor? ( ) sim ( )não 27) Os distribuidores praticam preços diferenciados quando adquirem novilhos precoces? ( ) sim ( ) não 28) Os curtumes praticam preços diferenciados em virtude da qualidade do couro? ( ) sim ( )não

RELAÇÕES DO FRIGORÍFICO COM ASSOCIAÇÕES E ÓRGÃOS DE

ESTADO

29) O frigorífico é integrante de alguma associação de classe, em nível estadual ou federal? ( ) sim ( )não 29.1) Em caso positivo, discriminar : .............................................................. .......................................................................................................................... 30) Como classificaria suas relações com os órgãos de estado (fisco, vigilância sanitária e outros ) : ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................