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CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CO2 NA COMUNIDADE DE PAÍSES DE
LÍNGUA PORTUGUESA
OPORTUNIDADES E DESAFIOS
Maio | 2015
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CCS nos Estados‐membros da CPLP | i
Agradecimentos
Esta publicação foi elaborada pelos parceiros do projeto CCS‐PT Perspetivas para a Captura
e Sequestro de CO2 em Portugal com o objetivo de estimular o debate sobre papel da
tecnologia de captura e armazenamento de CO2 (CCS ‐ CO2 Capture and Storage) nos
Estados‐membros da CPLP.
Mais informações sobre o projeto CCS‐PT em http://ccsroadmap.pt.
O consórcio agradece ao Global CCS Institute a contribuição financeira e técnica para a
concretização do projeto, e aos colegas dos Estados membros da CPLP que participaram na
análise das oportunidades e desafios de tecnologia CCS em cada país. Contribuíram para a
realização desta publicação:
Portugal: Júlio Carneiro, Instituto de Ciências da Terra, Universidade de Évora.
Angola: António Olímpio Gonçalves, Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências,
Universidade Agostinho Neto.
Brasil: Rodrigo Iglesias, CEPAC/Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Cabo Verde: Carlos Moniz, Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica,
Moisés Borges, Direção Geral do Ambiente.
Moçambique: Anísio Pinto Manuel, Direção Nacional de Energia Elétrica.
São Tomé e Príncipe: Guilherme Mota, Agência Nacional do Petróleo.
Timor Leste: Elisa Pereira, Ministério do Ambiente.
Aviso legal
Esta publicação foi possível através do financiamento do Global CCS Institute, com o intuito
de ampliar a discussão sobre a Captura e Armazenamento de CO2 como uma opção‐chave
na mitigação das alterações climáticas. As opiniões contidas nesta publicação não
representam necessariamente as do Global CCS Institute ou as dos seus membros. O
Global CCS Institute não garante a fiabilidade, exatidão ou integridade das informações
contidas nesta publicação e, até ao limite máximo permitido pela lei, não aceita qualquer
responsabilidade decorrente de qualquer forma (inclusive por negligência) de uso ou
dependência baseada na informação contida nesta publicação.
ISBN: 978‐989‐20‐5757‐6
© Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora, Évora, 2015.
Todos os direitos reservados. Os utilizadores podem descarregar, imprimir ou copiar
partes desta publicação para uso não comercial. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida sem citar a sua fonte. Não é permitido o uso comercial desta publicação.
Todas as fotos apresentadas são livres de direitos de autor.
Projeto de I&D parcialmente financiado por:
ii | CCS in the CPLP countries
ÍNDICE
Sumário Executivo iii 1 A CPLP, Comunidade de Países de Língua Portuguesa 1 2 Estado de atividades CCS nos países da CPLP 3
Brasil 3 Portugal 4
3 Perspetivas para atividades em CCS na CPLP 6 3.1 Contexto industrial, energético e oportunidades de armazenamento de CO2 6
Angola 7 Cabo Verde 9 Guiné-Bissau 11 Guiné Equatorial 13 Moçambique 15 São Tomé e Príncipe 18 Timor Leste 20
3.2 Sectores com potencial para atividades em CCS 22 3.3 Síntese das oportunidades de armazenamento de CO2 25 3.4 Motivações para implementação de actividades em CCS 25 3.5 Desafios para a implementação de atividades em CCS 26
4 Acções futuras – concretizar o potencial de cooperação 28 4.1 Acções recomendadas 28 4.2 Oportunidades de financiamento 29
5 Conclusões 31 Bibliografia 32
CCS nos Estados‐membros da CPLP | iii
Sumário Executivo A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é
composta por nove Estados‐membros, distribuídos por
quatro continentes: Europa (Portugal), América (Brasil),
África (Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné‐
Bissau e São Tomé e Príncipe) e Oceania (Timor Leste).
Os Estados‐membros representam um conjunto diverso
de perfis industriais, económicos e ambientais, mas
partilham fortes laços culturais e económicos.
A Captura e Armazenamento de CO2 (aqui designada pela
sigla CCS, do inglês CO2 Capture and Storage) não é
encarada nos países da CPLP como uma tecnologia
prioritária para a mitigação das alterações climáticas,
embora o Brasil e Portugal estejam envolvidos em
atividades CCS há vários anos. Os restantes países da
CPLP, reconhecidos como de elevada vulnerabilidade aos
impactos das alterações climáticas, não iniciaram ainda
qualquer discussão sobre a relevância da CCS nas
respetivas políticas ambientais. Esta publicação é um
primeiro esforço para colocar a tecnologia CCS na agenda
dos países da CPLP. É apresentada uma caracterização do
perfil industrial, energético e de emissões de CO2 nos
países da CPLP, e discutem‐se as oportunidades de
armazenamento de CO2 nesses países. A análise debruça‐
se essencialmente sobre os Estados‐membros que ainda
não estão envolvidos em qualquer atividade de CCS. O
Brasil, responsável por 80% a 85% das emissões na CPLP,
e Portugal são caraterizados apenas em função das
atividades CCS desenvolvidas ou em curso.
As motivações para implementação de atividades de CCS
naqueles Estados‐membros devem ser procuradas em
fatores não relacionados com o perfil das emissões de
CO2. Porém, as motivações existem e, no essencial, estão
ligadas à produção de combustíveis fósseis em Angola,
Timor Leste, Guiné Equatorial e Moçambique. A
utilização de CO2 em Recuperação Avançada de Petróleo
(EOR ‐ Enhanced Oil Recovery), a captura de CO2 no
processamento de petróleo (refinarias) e gás natural, e
em instalações de GNL, são possibilidades que devem ser
discutidas no âmbito das políticas nacionais de mitigação
das alterações climáticas.
O crescimento demográfico e o ritmo de crescimento
económico nalguns Estados‐membros implicam um
aumento da produção de energia e da capacidade
industrial instalada. Estão previstos investimentos em
centrais termoelétricas com combustíveis fósseis em
Angola, Guiné Equatorial e, especialmente, em
Moçambique, bem como a construção de fábricas de
cimento em quase todos os países da CPLP. Estes
sectores, e ainda a fundição de alumínio em
Moçambique, e a Bio‐CCS, face ao vasto potencial de
bioenergia em vários Estados‐membros, constituem
oportunidades para a implementação de projetos CCS.
As oportunidades de armazenamento de CO2 ligadas à
utilização de CO2 em EOR ou em campos de
hidrocarbonetos esgotados são as opções óbvias para
Angola, Timor Leste e Guiné Equatorial. Moçambique e
Guiné‐Bissau possuem bacias sedimentares extensas e
têm boas oportunidades de armazenamento em
aquíferos salinos profundos. Moçambique poderá
também apresentar algum potencial de armazenamento
em camadas de carvão não exploráveis.
Por outro lado, os custos da insularidade e a dispersão da
população e da economia implicam que a CCS não seja
uma tecnologia relevante para Cabo Verde e São Tomé e
Príncipe. No entanto, a utilização de CO2 em Sistemas
Geotérmicos Estimulados (ou EGS) pode revestir‐se de
interesse para Cabo Verde, bem como atividades de I&D
sobre o armazenamento de CO2 em ambientes basálticos.
O transporte e armazenamento transfronteiriço de CO2
podem vir a ser fatores importantes para São Tomé e
Príncipe, que partilha uma bacia sedimentar offshore
com a Nigéria; para Angola, que pode necessitar de
transportar CO2 através de território da República
Democrática do Congo para o enclave de Cabinda; e
certamente para Moçambique, que pode eventualmente
desenvolver um modelo negócio baseado no
armazenamento de CO2 capturado na África do Sul.
Os desafios mais prementes para a implementação de
atividades de CCS nos países da CPLP são: o reduzido
conhecimento da tecnologia, uma característica comum
a todos os Estados‐membros; a ausência de um modelo
de negócio aplicável aos países em desenvolvimento e
subdesenvolvidos; e a necessidade de clarificar o papel
da tecnologia no contexto económico, energético e de
redução de emissões de cada país.
A cooperação no âmbito da CPLP pode permitir superar
estes desafios e, no sentido de estimular o início da
cooperação no domínio da CCS, são propostas algumas
accções a implementar a curto/médio prazo.
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 1
1 A CPLP, Comunidade de Países de Língua Portuguesa
Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) é um fórum multilateral
que pretende fomentar a cooperação entre
os nove estados soberanos em que o
Português é uma língua oficial. A CPLP foi fundada em
1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné‐Bissau,
Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a que se
juntaram, como membros de pleno direito, Timor Leste
em 2002 e a Guiné Equatorial em 2014.
A Comunidade tem como objetivos gerais [1]:
o A cooperação política e diplomática entre os Estados‐membros, visando fortalecer a sua presença no cenário internacional;
o Cooperação em todas as áreas, incluindo educação, saúde, ciência e tecnologia, etc.;
o Implementar e apoiar projetos de promoção e
difusão da língua Português.
A CPLP no contexto global Os nove Estados‐membros da CPLP abrangem um
território de 10.7 milhões km2, uma área superior à dos
EUA, China e Índia, e quase o dobro da área da União
Europeia (UE). Situados na maioria no hemisfério sul (Fig.
1), os países da CPLP abrangem realidades tão diversas
como o Brasil, quinto maior país do mundo, e São Tomé
e Príncipe, o segundo menor Estado de África. O Brasil
corresponde a 79.51% da área terrestre da CPLP,
enquanto São Tomé e Príncipe corresponde apenas a
0.01% [2].
A população total dos países da CPLP em 2013
ultrapassou os 262 milhões de pessoas, cerca de metade
da população da UE e 80% da população dos EUA, mas
regista taxas de crescimento demográfico muito
superiores, com um aumento populacional médio de 1.2%
por ano. Espera‐se que até 2050 a população dos atuais
Estados‐membros da CPLP ultrapasse os 360 milhões de
pessoas. Naturalmente, o Brasil apresenta a maior
população, 200 milhões de pessoas (76%), mas a
população residente cresce a um ritmo mais elevado na
Guiné Equatorial (2.8%), Moçambique (2.7%) e Angola
(2.5%).
Em 2013, o Produto Interno Bruto (PIB) do conjunto de
países da CPLP foi de USD 2620 mil milhões. A média do
Produto Nacional Bruto (PNB) per capita foi de USD
6821, mas com uma distribuição muito assimétrica, pois
Portugal, Guiné Equatorial e Brasil inflacionam de forma
decisiva a média. Os restantes seis membros têm um
PNB médio de USD 4147, com os valores mais baixos
registados em Moçambique (USD 590) e Guiné‐Bissau
(USD 520). Ainda assim, Angola, Cabo Verde e
A
Fig. 1– Estados‐membros da CPLP.
‘Angola, Timor Leste, Guiné‐Bissau eMoçambique estão classificados entre os países mais vulneráveis do mundo às alterações climáticas.’
2 | CCS in the CPLP countries
0
1
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1990 1995 2000 2005 2010 2015
Emissõ
es CO
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capita(t/a)
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CPLP U.E. EUA China India
Emissõ
es CO
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capita(t/a)
Emissõ
es CO
2(M
t/a)
Fig. 2 – Emissões de CO2 na CPLP e comparação com outras regiões em 2012. Fonte: JRC [3].
Moçambique estão entre os 10 países africanos com o
maior crescimento económico entre 2000 e 2012,
enquanto a Guiné‐Bissau se encontra no polo oposto, o
sexto país africano com o pior desempenho [2]. A Guiné
Equatorial tem a maior rendimento per capita de África,
e taxas de crescimento do PIB de dois dígitos em grande
parte da década 2000‐2010, embora nos últimos anos
tenha registado um crescimento modesto ou mesmo
negativo. Apesar do crescimento económico, Timor
Leste, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e
Príncipe e Guiné‐Bissau têm taxas de pobreza elevadas,
na ordem dos 50% ou superiores [2], e constituem Países
Subdesenvolvidos. Espera‐se que a Guiné Equatorial
alcance em 2016 a classificação de País em
Desenvolvimento, um estatuto aplicado ao Brasil e Cabo
Verde [3]. Portugal é considerado um País Desenvolvido.
Este ambiente socioeconómico reflete‐se em taxas
reduzidas de emissões de CO2 provenientes do consumo
de combustíveis fósseis e da produção de cimento (Fig.
2) [2]. As emissões de CO2 na totalidade da CPLP
aumentaram de modo consistente de 278 Mt em 1990
até às 538 Mt em 2012, um aumento médio 11 Mt por
ano [4]. Estes valores são, ainda assim, uma reduzida
fração das emissões globais, pois os valores per capita
são reduzidos, apenas 2.05 t/a em 2012, um valor
comparável ao da India, e que traduz um aumento
gradual desde as 1.4 t/a registadas em 1990 (Fig. 2).
A distribuição das emissões na CPLP é muito assimétrica,
com o Brasil responsável por 80%‐85% das emissões (Fig.
3), reflexo da proporção elevada de população brasileira
na CPLP. A Guiné‐Bissau, Timor Leste, Cabo Verde e São
Tomé e Príncipe, emitiram em conjunto menos de 1 Mt
de CO2 em 2012. A distribuição de emissões de CO2 per
capita é muito diferente, com a Guiné Equatorial (6.7 t/a)
e Portugal (5 t/a) a apresentarem os valores mais
elevados, enquanto o Brasil (2.2 t/a) e Angola (1.6 t/a)
são os outros estados‐membros com emissões per capita
superiores à unidade.
Todos os países da CPLP, exceto Portugal, estão situados
em regiões tropicais. Segundo diversos índices de
“vulnerabilidade às mudanças climáticas” [5‐9], Angola,
Timor Leste, Guiné‐Bissau e Moçambique estão entre os
países mais vulneráveis do mundo ao impacto das
alterações climáticas. Um desses índices, o ND‐GAIN [7],
avalia a vulnerabilidade às alterações climáticas e a
capacidade de resposta a essas alterações. O ND‐GAIN
indica que Angola, Guiné‐Bissau, Timor Leste,
Moçambique e São Tomé e Príncipe são muito
vulneráveis às alterações climáticas e têm capacidade de
resposta reduzida. Cabo Verde também apresenta
vulnerabilidade alta, mas a capacidade de resposta é
mais adequada. A Guiné Equatorial, Brasil e Portugal são
menos vulneráveis às alterações climáticas.
Fig. 3 – Distribuição das 538 Mt CO2 emitidas pelos estados‐membros da CPLP em 2012. Fonte: JRC [3].
Angola3.95%
Brasil85.53%
Portugal9.13%
Moçambique0.76%
Guiné Equatorial0.49%
Guiné‐Bissau0.06%
Cabo Verde0.03%
S. Tomé e Príncipe0.02%
Timor Leste 0.04%
1.39%
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 3
2 Estado de atividades CCS nos países da CPLP ortugal é o único país da CPLP incluído no
Anexo I da Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre as Alterações Climáticas
(CQNUAC) e as suas metas de redução de
emissões foram definidas no âmbito do acordo de
partilha de responsabilidades da UE‐15. Todos os outros
membros da CPLP são partes Não‐Anexo I da CQNUAC e
Não‐Anexo B do Protocolo de Quioto; isentos dos
compromissos de redução das emissões de CO2. Assim,
não existiram motivações políticas ou económicas para
implementar tecnologias de redução de emissões de CO2
como a CCS. Apenas Portugal e Brasil desenvolveram de
modo consistente atividades em CCS, impulsionados pela
necessidade de avaliar o impacto da tecnologia em
sectores específicos, concretamente nos sectores
energético e cimenteiro de Portugal e de produção de
hidrocarbonetos no Brasil. As autoridades e stakeholders
dos outros países da CPLP têm participado em workshops
e seminários sobre a tecnologia CCS, mas sem que daí
que tenham resultado atividades ou projetos em CCS.
Este capítulo aborda as atividades já desenvolvidas ou
em curso no Brasil e em Portugal, enquanto as
perspetivas para os outros países da CPLP, o foco
principal desta publicação, são abordadas no capítulo 3.
Brasil O Brasil é o maior emissor de CO2 na CPLP. Em 2010, o
Brasil emitiu 419 Mt de CO2 provenientes da queima de
combustíveis fósseis e da produção de cimento, cerca de
85% do total das emissões na CPLP [10]. No entanto, as
emissões per capita do Brasil continuam relativamente
baixas, 2.2 t/a em 2010, em parte porque mais de 80%
da eletricidade do Brasil é produzida por fontes hídricas
(Fig. 4). Por outro lado, as emissões dos sectores
industriais são importantes, pois o Brasil é um dos
maiores produtores mundiais de cimento, alumínio,
produtos químicos e petroquímicos, e é o 12º maior
produtor de petróleo. Neste enquadramento, é provável
que a tecnologia CCS seja mais relevante no Brasil para
os sectores industriais do que para o sector
electroprodutor.
Estado das atividades CCS
Em Dezembro de 2010 o Brasil aprovou legislação para
reduzir as emissões do país em 36.1% a 38.9% das
emissões projetadas até 2020, mas a CCS não foi incluída
no portfolio de tecnologias de redução de emissões. No
entanto, a petrolífera nacional PETROBRAS é, há vários
anos, um promotor ativo da tecnologia CCS e efetua
injeção de CO2 para EOR desde 1987 no campo de
Buracica e desde 2009 no projeto‐piloto Miranga [11].
A PETROBRAS opera atualmente um projeto CCS de
grande escala, no campo de petróleo Lula, o único
projeto mundial de CO2‐EOR numa zona offshore. Desde
Junho de 2013 o CO2 separado do gás natural produzido
na Bacia de Santos, 5 a 7 km abaixo do nível do mar, é
comprimido e reinjetado no reservatório de petróleo
para EOR. A PETROBRAS pretende injetar 0.7 Mt/a de
CO2 e até 2020 espera instalar vinte novos sistemas
flutuantes de produção no Pré‐Sal, muitos deles
incluindo reinjeção de CO2 para EOR [12, 13].
A PETROBRAS é a principal impulsionadora da I&D em
CCS realizada no Brasil, com investimentos previstos da
ordem dos USD 150 milhões entre 2010‐2015, sobretudo
no âmbito de dois programas tecnológicos de I&D[14]:
o EMISSÕES ‐ Programa Tecnológico para a Redução de Emissões Atmosféricas; abrangente e de longo prazo, incluindo os impactos das alterações climáticas, vulnerabilidade e adaptação;
o PROCO2 ‐ Programa Tecnológico de Gestão de CO2 no Pré‐sal; centrado nas questões de CO2 no desenvolvimento do cluster Pré‐sal na Bacia de Santos.
Nestes programas e, em conjunto com a Universidade
Federal de Santa Catarina, a PETROBRAS instalou o CO2
MMV Field Lab, o primeiro de seu género na América do
Sul, destinado a preencher as lacunas de conhecimento
sobre as tecnologias de gestão do CO2. Outro projeto
importante é o Laboratório de Captura de CO2 no
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
centrado no desenvolvimento de novos materiais para
combustão de hidrocarbonetos através de um processo
de chemical looping.
P
Fig. 4 – Fração (%) de emissões de CO2 do sector energético no Brasil, UE, EUA e mundiais em 2005 [13].
Emissões do sector energético /emissões totais
4 | CCS in the CPLP countries
A PETROBRAS também está ativa a nível de cooperação
internacional, pois é membro da IEAGHG e do CSLF, e
participa em vários projetos internacionais. Como parte
integrante da Iniciativa Industrial CCP (CO2 capture
Project), a PETROBRAS implementou um projeto piloto
de captura de CO2 por oxi‐combustão numa unidade de
um complexo de investigação no Paraná, Brasil.
Diversas universidades e centros de investigação
brasileiros estão envolvidos em I&D sobre CCS, também
com apoio da PETROBRAS. Em 2007 um acordo entre a
PETROBRAS e Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS) permitiu implementar um centro
de investigação sobre armazenamento de CO2, o CEPAC
(Centro de Excelência em Pesquisa e Inovação em
Petróleo, Recursos Minerais e Armazenamento de
Carbono), uma das instituições‐chave para a I&D e
capacitação sobre CCS no Brasil. O CEPAC foi responsável
pelo projeto CARBMAP – Mapa Brasileiro de Sequestro
de Carbono ‐ concluído em 2011, e que avaliou a
capacidade de armazenamento no país e em cerca de
2000 Gt. Para além de conduzir diversos projetos de I&D,
como sejam o projeto‐piloto de CBM/ECBM em Porto
Batista (desenvolvido em conjunto com a PETROBRAS e o
COPELMI), o CEPAC tem organizado seminários para
sensibilizar as comunidades locais e demais stakeholders
para a tecnologia CCS [11].
CCS na indústria de extração de carvão
Embora o Brasil não seja um grande produtor de carvão,
há empresas de mineração brasileiras de grande
envergadura com atividade em vários países, incluindo
em Estados‐membros da CPLP. A indústria carbonífera do
Brasil está envolvida em investigação em CCS para avaliar
as suas opções de redução de emissões, e a Associação
Brasileira do Carvão Mineral (ABCM) planeia investir USD
6.5 milhões entre 2010‐16 em projetos nesta área,
incluindo a construção de um laboratório sobre captura e
utilização de CO2. A ABCM também colabora com o US
NETL num programa de I&D sobre captura de CO2, e em
capacitação de quadros técnicos [15].
Bio‐CCS
O Brasil é um líder mundial e percursor na produção de
biocombustíveis. A possibilidade de aliar essa experiência
com a CCS é admitida no país e a Bio‐CCS é um foco de
investigação. A Universidade de São Paulo, através do
Centro Nacional de Referência em Biomassa, investiga
ativamente o potencial de Bio‐CCS no Brasil, estimando
que possa contribuir para reduzir até 5% as emissões
provenientes de produção de energia [11].
CCS nos sectores cimenteiros e siderúrgicos
Apesar da importância do sector cimenteiro na economia
brasileira, com uma produção anual de cerca de 70 Mt
de cimento (quinto maior produtor do mundo), o sector
parece não estar envolvido em atividades de grande
escala sobre CCS no país. Também no importante sector
siderúrgico é desconhecido qualquer envolvimento em
atividades em CCS.
Autoavaliação sobre o estado da CCS no Brasil
Em abril de 2014, numa mesa‐redonda sobre CCS no Rio
de Janeiro, os participantes foram convidados a avaliar o
estado da I&D sobre CCS no país. Os participantes
consideraram que o papel da CCS na mitigação das
alterações climáticas ainda não é compreendido por
muitos sectores no Brasil. Embora a tecnologia seja bem
conhecida da PETROBRAS, e de alguns sectores de
atividade e por muitos académicos, a falta de apoio do
governo e a baixa prioridade dada à tecnologia nas
políticas climáticas nacionais e estaduais foram
destacadas como preocupações significativas. O
envolvimento governamental e o estabelecimento de
políticas e regulamentação que facilitem a
implementação da CCS foram considerados elementos‐
chave para o futuro da CCS no Brasil [16].
Um passo importante para o desenvolvimento da CCS no
Brasil foi a recente publicação do Atlas Brasileiro de
Captura e Armazenamento Geológico de CO2 [17].
Espera‐se que a publicação do Atlas venha contribuir
para expandir o conhecimento sobre a tecnologia CCS no
país, despertando o interesse dos stakeholders e
aumentando a perceção pública.
Portugal Esta publicação integra o projeto CCS‐PT um estudo
prospetivo que procura clarificar o papel da tecnologia
CCS no contexto Português e a sua eventual necessidade
nos sectores industriais e energéticos nas próximas
décadas. O projeto CCS‐PT sintetiza em larga medida o
trabalho realizado em atividades CCS anteriores em
Portugal.
‘A rede de sequestro de carbono e
alterações climáticas foi promovida pela
PETROBRAS para abordar desafios em
CCS e alterações climáticas. De 2006 a
2013 foram investidos USD 17 milhões.’
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 5
Atividades de captura de CO2
A nível académico têm sido efetuados diversos estudos
sobre captura CO2, mas os projetos mais relevantes
envolveram os sectores industriais e electroprodutor. A
EDP, principal empresa nacional de produção de energia,
participou em vários projetos cofinanciados pela União
Europeia, incluindo [18]:
o projeto NanoGLOWA; investigou o potencial da
utilização de membranas para capturar CO2 e incluiu
testes‐piloto na Central Termoelétrica de Sines;
o projeto DECARBIT; procurava viabilizar até 2020 as
centrais termoelétricas de pré‐combustão com
emissões zero, com custo de captura inferior a 15 €/t,
e que incluiu vários testes‐piloto;
o projeto FLEXYBURN CFB; visada demonstrar e
desenvolver um conceito de central térmica baseada
na tecnologia de Circulating Fluidized Bed combinada
com CCS. Incluiu uma central piloto de 30MW em
Espanha.
Outra empresa portuguesa de produção de energia, a
TEJO ENERGIA, avaliou no âmbito do projeto KTEJO, a
viabilidade técnico‐económica de adoção de CCS na
central a carvão do Pego, a segunda maior do país.
Nos sectores industriais, são conhecidas atividades sobre
captura de CO2 nos sectores de produção de cimento e
de refinação de petróleo. A petrolífera GALP ENERGIA
implementou um projeto‐piloto para a captura de CO2
por algas, com reutilização em biocombustíveis. No
sector cimenteiro, as duas empresas portuguesas,
CIMPOR e SECIL, desenvolveram projetos‐piloto de
captura de CO2 através de microalgas durante a
produção de clínquer. A indústria cimenteira nacional
também está envolvida em estudos sobre CCS no seio da
European Cement Research Academy.
Atividades de transporte de CO2
O projeto COMET, cofinanciado pela UE, constituiu o
principal estudo sobre transporte de CO2 desenvolvido
em Portugal e teve como objetivo definir uma
infraestrutura integrada de transporte e armazenamento
entre Portugal, Espanha e Marrocos. O projeto envolveu
a maioria dos principais emissores de CO2 em Portugal e
incluiu a definição de uma rede de gasodutos de CO2,
com base na otimização de custos de toda a cadeia CCS,
e uma avaliação da viabilidade do transporte por navio.
O COMET produziu a primeira análise custo‐eficácia da
tecnologia CCS no contexto Português, um trabalho
prosseguido e desenvolvido no âmbito do roteiro CCS‐PT.
Atividades de armazenamento de CO2
Os projetos KTEJO e COMET incluíram a análise, à escala
regional, da capacidade de armazenamento em aquíferos
salinos profundos, e produziram estimativas da
capacidade de armazenamento efetiva máximas de 7.6
Gt, a grande maioria (mais de 90%) em zonas offshore. A
capacidade de armazenamento na Bacia Carbonífera do
Douro, também tem foi alvo de estudos desenvolvidos
pela Universidade Fernando Pessoa.
Avaliação sobre estado da CCS em Portugal
Portugal não possui ainda um corpo técnico e científico
especializado nas múltiplas componentes da cadeia de
CCS. Num primeiro esforço de capacitação, o projeto
COMET incluiu workshops e seminários em várias
universidades portuguesas. A participação foi
invariavelmente acima das expectativas, mas a
tecnologia ainda é relativamente pouco conhecida no
meio académico. O conhecimento sobre a tecnologia CCS
entre a sociedade em geral é muito reduzido, já que não
foi ainda implementado qualquer programa sistemático
de divulgação pública. Por outro lado, o conhecimento
sobre CCS entre a indústria e reguladores é bastante
elevado, pois muitos estiveram já envolvidos em
atividades sobre CCS.
No tocante à regulação, o armazenamento de CO2 é
regulamentado pela Lei 60/2012,que transpõe a diretiva
UE 2009/31/EC, e designa a Direção Geral da Energia e
Geologia como autoridade de licenciamento e regulação
da atividade, e envolve a Agência Portuguesa do
Ambiente como a autoridade de controlo ambiental.
A publicação do estudo CCS‐PT, de que esta publicação é
parte integrante, irá contribuir para um melhor
entendimento do papel da tecnologia no contexto
português, permitindo às autoridades, reguladores, e
demais stakeholders, tomar decisões informadas sobre a
implementação da tecnologia em Portugal. Mais
informações sobre o projeto CCS‐PT podem ser obtidas
em http:\\ccsroadmap.pt e na página de internet do
GCCSI.
‘O Roteiro CCS‐PT clarifica o papel da
tecnologia no contexto Português e a
sua necessidade nos sectores industriais
e energéticos num cenário de economia
de baixo carbono.’
6 | CCS in the CPLP countries
3 Perspetivas para atividades em CCS na CPLP ausência de atividades de CCS
significativas nos outros membros da CPLP,
para além de Brasil e Portugal, reflete a
carência de motivações para a
implementação da tecnologia. No entanto, a
elegibilidade de projetos CCS no Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) [19], a evolução do perfil
das emissões de CO2 em alguns dos países da CPLP, e o
interesse reforçado na utilização de CO2 em EOR,
fornecem o incentivo para avaliar a possibilidade de
implementar projetos CCS nos restantes países da CPLP.
3.1 Contexto industrial, energético e oportunidades de armazenamento de CO2
Esta secção caracteriza sucintamente, e para cada país da
CPLP ainda não envolvido em atividades de CCS, os
recursos em combustíveis fósseis endógenos, os sectores
energéticos e industriais, o perfil das emissões de CO2 e o
potencial de armazenamento de CO2. Portugal e Brasil, já
envolvidos em vários projetos CCS, não são incluídos
nesta análise.
A
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 7
Angola
Combustíveis fósseis endógenos Angola é membro da OPEP e o segundo maior produtor
de petróleo da África subsaariana, com quase 9.1 mil
milhões de barris de reservas de petróleo. Em 2013,
Angola extraiu 94 Mtep de petróleo (Fig. 5), com
proveitos de quase 80% do PIB nacional [20]. A produção
de gás natural quase quadruplicou nos últimos 20 anos,
de 2.5 Mtep em 1990 para 9.5 Mtep em 2012, mas
apesar das reservas consideráveis, Angola é ainda um
pequeno produtor, pois 91% do gás natural associado ao
petróleo é reinjetado, libertado para a atmosfera ou
queimado (gas flaring). A primeira central de GNL, no
Soyo, foi concluída e está operacional desde 2013 [20].
Tabela 1 – Fontes primárias de energia 2012
Biomassa / resíduos Hídrica Petróleo Gás
Energia (ktep) 8384 343 4942 614
Fração (%) 58.7 2.4 34.6 4.3
Fonte: IEA [20].
Consumo de energia primária A rede elétrica cobre apenas cerca de 40% da população
[2] e, em 2012, 59% do consumo de energia primária
consistia na utilização tradicional de biomassa sólida e
resíduos [21] (Tabela 1). Em 2012 Angola consumiu 4.9
Mtep de derivados de petróleo (Fig. 5), i.e. 35% da
energia primária, e
quase o dobro do
consumido 10 anos
antes [20].
A capacidade elétrica
instalada é de 1.8 GW,
dos quais cerca de 70%
de origem hídrica [21].
A restante produção é
garantida por
combustíveis fósseis, em 24 pequenas e médias centrais
[22]. Angola planeia aumentar a capacidade de geração
para 9 GW até 2025, sobretudo a partir de fontes
hídricas. Porém, é provável que o recurso a gás natural
ganhe relevância, pois uma central de 500 MW a gás
natural no Soyo e outra de 75 MW em Cabinda deverão
iniciar operações em 2015. O governo pretende, até
2025, garantir o acesso à eletricidade a 60% da
população, com a origem hídrica a constituir 15% das
fontes primárias, os hidrocarbonetos a constituir 55%, e
reduzindo a contribuição da biomassa a 30% [23].
Indústrias de elevada intensidade de carbono
O mercado de cimento em Angola desfrutou de anos de
forte crescimento após o fim da guerra civil [25]. Angola
tem duas fábricas de cimento operacionais há vários
anos [26]: a fábrica da SECIL, no Lobito, com uma
capacidade de produção de 250 kt/a; e a fábrica de
NOVA CIMANGOLA, em Luanda, com uma capacidade de
1.2 Mt/a. Nos últimos anos foram inauguradas três novas
fábricas: CIMENFORT em Benguela, e FCKS e CIF, ambas
em Luanda. A capacidade instalada é superior a 6 Mt/a,
mas as perspetivas para o sector ainda são positivas e
duas novas fábricas deverão ficar operacionais em 2016.
Angola tem uma pequena refinaria, construída em 1955,
com uma capacidade de 39 kbbl/d, mas uma nova
refinaria no Lobito deverá iniciar operações em 2017
com capacidade para processar 200 kbbl/d [26].
Solos de boa qualidade e abundância de água garantem
boas condições para investimentos em bioenergia. Em
2014 foi aprovada uma lei que promove os
biocombustíveis e a Empresa BIOCOM está a
desenvolver, em Malanje, um projeto de produção de
etanol e 160 000 MWh de eletricidade por ano [26].
Emissões de CO2 As emissões de CO2 provenientes de combustíveis fósseis
e do sector cimenteiro aumentaram de 4.4 Mt em 1990
para 30.4 Mt em 2010 (Fig. 6), em consequência do
Área: 1247000 km2 População (2013): 21.47 milhões PNB (2013): USD 121 700 milhões
Fig. 5 – Produção e consumo de combustíveis fósseis em Angola. Fonte: EIA [19].
0
50
100
150
1990 1995 2000 2005 2010
Mtep
Gás natural‐consumoGás natural‐produçãoPetróleo‐consumoPetróleo‐produção
Fig. 6 – CO2 emitido por combustíveis fósseis, gas flaring e produção de cimento. Fonte: CDIAC [9].
0
0.5
1
1.5
2
0
10
20
30
40
1990 1995 2000 2005 2010
Emissões CO2per
capita (t/a)
Emissões CO2(M
t/a)
Flaring CimentoPetróleo GásPer capita
8 | CCS in the CPLP countries
aumento de produção de petróleo sobretudo a partir de
2007 [10]. As emissões provenientes de gas flaring
representam 45% das emissões totais. A produção de
cimento e consumo de gás natural ainda representam
percentagens reduzidas das emissões, mas têm vindo a
aumentar devido às novas centrais e fábricas que ficaram
operacionais nos últimos anos. As emissões per capita
são ainda bastante reduzidas, apenas 1.6 t/a em 2010.
Oportunidades para armazenamento de CO2
As oportunidades para armazenamento geológico de CO2
em Angola devem ser procuradas nas bacias
sedimentares, ou seja, em aquíferos salinos profundos,
campos de hidrocarbonetos esgotados e na utilização de
CO2 em EOR. Outros cenários potenciais, como o
armazenamento em camadas de carvão e em rochas
ultramáficas, não parecem ser viáveis em Angola.
Angola possui sete bacias sedimentares [27], agrupadas
em Bacias do Atlântico e Bacias Interiores (Fig. 7). As
bacias do Atlântico, compostas pelas bacias costeiras do
Cretácico‐Cenozoico (bacia do Baixo Congo, bacia do
Kwanza, bacia de Benguela e bacia do Namibe), são os
focos de produção e pesquisa de hidrocarbonetos.
Atualmente, a produção de petróleo vem inteiramente
da bacia do Baixo Congo, nas áreas de Cabinda e Soyo. A
produção é quase na íntegra a partir do offshore, e
apenas no Soyo há alguma produção onshore (Fig. 7).
Os alvos óbvios para armazenamento de CO2 são os
campos de petróleo explorados na Bacia do Baixo Congo,
particularmente na área do Soyo, pois tem uma
localização favorável em relação a várias fontes de CO2. A
área de Cabinda poderá ser menos atrativa devido às
maiores distâncias de transporte. O transporte e
armazenamento transfronteiriço podem ser relevantes
para as zonas de Cabinda e Soyo, devido à proximidade
com a República Democrática do Congo, e
especificamente para o transporte para Cabinda.
Os campos de petróleo mais próximos do esgotamento
são oportunidades ideais para o armazenamento, pois as
formações geológicas provaram a sua adequação e a
geologia desses campos é bem conhecida. A
possibilidade de utilização de CO2 em EOR nos sectores
explorados é de interesse óbvio e deve ser abordada
numa perspetiva económica.
A bacia do Kwanza, em particular no seu sector onshore,
parece ser muito promissora, justificando uma avaliação
para armazenamento de CO2 em aquíferos salinos
profundos, dada a existência de evaporitos que podem
constituir bons selantes e ser fonte de salinidade da água
subterrânea. Esta bacia tem um extenso sector onshore
(o maior das bacias do Atlântico) e está muito bem
localizado para fontes emissoras na zona de Luanda.
Por outro lado, os sectores onshore das bacias de
Benguela e do Namibe são muito estreitos e é provável
que sejam pouco adequados para o armazenamento de
grandes volumes de CO2. Assim, nessas bacias, e
particularmente na bacia de Benguela, onde existem
fontes estacionárias (fábricas de cimento), os esforços
para avaliar a capacidade de armazenamento
provavelmente devem centrar‐se nos sectores offshore,
com penalização nos custos de armazenamento
As bacias interiores, compostas pelo graben de Kassanje,
pela bacia do Okavango e pela bacia Ovambo (Etosha),
são praticamente desconhecidas, pois o trabalho de
campo nessas áreas só se iniciou após o final da guerra
civil, mas são agora objeto de interesse pela companhia
nacional de petróleo, a SONANGOL. Estas bacias estão
muito distantes das principais áreas de desenvolvimento
e das fontes CO2, e parecem revestir‐se de menor
interesse para armazenamento de CO2.
‘Campos de petróleo esgotados e a
utilização CO2 em EOR são opções
promissoras para o armazenamento de
CO2 em Angola.’
Fig. 7 – Bacias sedimentares em Angola. Adaptado de Sonangol [26].
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 9
Cabo Verde
Consumo de energia primária Cabo Verde é composto por um arquipélago de 10 ilhas,
localizado a cerca de 570 km da costa ocidental de África.
Apesar dos escassos recursos naturais, Cabo Verde tem
usufruído de um crescimento económico acelerado nas
últimas décadas [20]. Desde 2007, Cabo Verde é
classificado como um País em Desenvolvimento [3], e em
conjunto com Portugal e Brasil, compõem o grupo de
países da CPLP não classificados como subdesenvolvidos.
O acentuado crescimento económico refletiu‐se num
aumento no consumo de energia primária.
Tabela 2 ‐ Fontes primárias de energia 2008 Biomassa Eólica Petróleo
Energia (ktep) 2.8 0.5 118
Fração (%) 2.3 0.4 97.3
Fonte: IEA [20].
Entre 1990 e 2012 o consumo de produtos petrolíferos
quase quadruplicou, e desde 2003 o consumo passou de
37.6 ktep para 138 ktep [20] (Fig. 8). Uma vez que Cabo
Verde não possui recursos fósseis endógenos, necessita
de importar os produtos petrolíferos que consome. Os
recursos energéticos endógenos consistem
essencialmente em biomassa, energia solar e sobretudo
energia eólica. Apesar do
forte potencial, a
produção a partir da
fonte eólica é ainda
muito limitada (Tabela 2).
Em 2013 a rede elétrica
atingia cerca de 87% da
população [2] (com 100%
de cobertura nas
principais ilhas), e a
dessalinização da água consumia até 10% da produção
de eletricidade. A capacidade instalada em 2012 era de 156.5 MW, com 78% dessa capacidade proveniente de
centrais térmicas a diesel, e o restante coberto por
fontes eólicas (17%) e solares (5%) [28].
O governo pretende garantir uma capacidade instalada
de 300 MW até 2020 [29]. Este incremento será
provavelmente conseguido através de fontes renováveis.
Cabo Verde é um dos 15 países em África com maior
potencial eólico e o potencial em energia solar é também
muito elevado: 6 kWh/m² por dia. Um estudo recente
indicou ainda 3 MW de capacidade geotérmica na ilha do
Fogo [30]. No total, a capacidade de energia renovável é
estimada em cerca de 2600 MW. O compromisso do
governo de Cabo Verde é que, em 2020, as fontes
renováveis constituam 50% da matriz energética e que
pelo menos uma ilha seja totalmente abastecida por
fontes renováveis [29].
Emissões de CO2 A economia de Cabo Verde é baseada em serviços, com o
comércio, transportes e serviços públicos responsáveis
por 70% do PIB do país. Devido à natureza de
arquipélago, com produção de energia específica para
cada ilha, as centrais diesel não constituem grandes
fontes emissoras. O sector industrial é pequeno, e não há
grandes fontes industriais de CO2, como fábricas de
cimento ou refinarias. As emissões de CO2 estão ligadas
sobretudo ao consumo de petróleo como fonte de
energia primária. A evolução das emissões de CO2 tem
acompanhado o crescimento económico, mas embora as
emissões tenham quadruplicado no período 1990‐2010,
continuam bastante reduzidas, somente 0.35 Mt/a em
2010, e com valores per capita de 0.73 t/a (Fig. 9).
Perspetivas para atividades em CCS Face ao baixo nível de emissões de CO2 e à quase
ausência de grandes fontes estacionárias, que deverá
perdurar devido ao potencial em fontes de energia
Área: 4033 km2 População (2013): 499 000 PNG: USD 1888 milhões
Fig. 8 – Consumo de produtos petrolíferos em CaboVerde. Fonte: EIA [19].
0
50
100
150
1990 1995 2000 2005 2010
ktep
Fig. 9 – CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9].
0
0.2
0.4
0.6
0.8
0
0.1
0.2
0.3
0.4
1990 1995 2000 2005 2010
Emissões CO2per
capita (t/a)
Emissões CO2(M
t/a)
PetróleoPer capita
10 | CCS in the CPLP countries
renovável e aos custos de insularidade, a CCS não
constitui uma tecnologia de mitigação de alterações
climáticas relevante para Cabo Verde.
Há, no entanto, atividades relacionadas com a tecnologia
CCS que podem ser implementadas em Cabo Verde. As
ilhas de Cabo Verde são de origem vulcânica, embora
apenas a ilha do Fogo permaneça com vulcanismo ativo.
Nesta ilha existem emissões naturais em fumarolas,
principalmente de enxofre mas, possivelmente também
de CO2 natural [30]. Poderiam ser desenvolvidos projetos
de I&D nessas emissões naturais para testar
metodologias de deteção de fugas, especialmente
métodos geofísicos aerotransportados, bem como os
efeitos das fugas de CO2 para os ambientes circundantes.
Para além disso, os basaltos afloram extensivamente em
várias ilhas do arquipélago, podendo fornecer condições
adequadas para projetos de I&D orientados para o
armazenamento de CO2 por carbonatação mineral in situ
naquele tipo de rochas, complementando os projetos
que estão a ser conduzidos na Islândia e nos Columbia
River Basalts nos EUA.
Uma outra atividade em CCS relevante para Cabo Verde
está ligada à geotermia. A empresa GESTO ENERGY
identificou, na ilha do Fogo, um potencial geotérmico de
cerca de 3 MW a profundidades não inferiores a 100
m[30] (Fig. 10). Existem, no entanto, dúvidas sobre a
existência de um reservatório geotérmico adequado,
uma vez que as amostras de água não foram conclusivas.
A utilização de CO2 como fluido circulante em Enhanced
Geothermal Systems (EGS) tem sido estudada a nível
académico (ex. [31]). Neste processo, o CO2 é injetado
para recuperar calor a partir de rocha (pois o CO2 é mais
eficiente para esse fim do que a água), mas uma fração
do CO2 injetado ficará sequestrado na rocha por
carbonatação mineral ou simplesmente por migração
para além da zona de influência do furo de produção. Se
o uso de CO2 em EGS se demonstrar técnica e
economicamente viável, pode constituir uma opção para
a produção de energia geotérmica na ilha do Fogo. A
ausência de grandes fontes de CO2 no arquipélago pode,
no entanto, constituir um obstáculo para a viabilidade
económica deste processo nas ilhas de Cabo Verde.
Assim, e apesar de a tecnologia CCS não ser uma
tecnologia de mitigação de alterações climáticas
necessária em Cabo Verde, há atividades que podem ser
relevantes para a comunidade de I&D nacional e
internacional e para o envolvimento das autoridades
locais competentes em eventos sobre CCS. As ilhas
vulcânicas de Cabo Verde podem constituir um
laboratório natural para a cooperação internacional em
matéria de I&D relacionada com a monitorização de
emissões naturais de CO2, com o armazenamento de CO2
em basaltos e, eventualmente, para a utilização de CO2,
como o fluido de circulação em projetos EGS.
‘A utilização de CO2 como fluido de
circulação em aproveitamentos EGS
parece ser a melhor opção para Cabo
Verde, especialmente se enquadrada
em projetos no MDL.’
Fig. 10– Potencial geotérmico na ilha do Fogo, Cabo Verde. Adaptado de Gesto Energy [29].
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 11
Guiné-Bissau
Consumo de energia primária Guiné‐Bissau é um dos Estados‐membros fundadores da
CPLP, mas a instabilidade política iniciada em 1998
conduziu a dificuldades nas atividades de cooperação
com a CPLP e arrastou o país para lista dos países mais
pobres do mundo. As eleições realizadas em Maio de
2014 foram elogiadas pela CPLP e as expectativas de
cooperação com a comunidade aumentaram com a
estabilidade política.
A Guiné‐Bissau não tem recursos endógenos provados de
petróleo, gás natural ou carvão, e todos os produtos
petrolíferos são importados. As estatísticas sobre energia
para a Guiné‐Bissau estão desatualizadas, mas de acordo
com o balanço energético de 2007 o consumo de
produtos petrolíferos (Fig. 11) foi dominado pelo sector
dos transportes (40.614 ktep), pela produção de energia
elétrica (0.946 ktep) e pelo sector residencial (0.240
ktep) [32].
Tabela 3 ‐ Fontes primárias de energia 2008
Biomassa Petróleo
Energia (ktep) 107.3 111.7
Fração (%) 49.0 51.0
Fonte: IEA [20].
Em 2008, a energia
primária total, 219 ktep,
foi dividida quase
equitativamente por
produtos derivados do
petróleo (51%) e pelo uso
tradicional da biomassa
(49%) (Tabela 3), que
representou mais de 95%
da energia consumida pelas famílias na Guiné‐Bissau [33].
A capacidade instalada de produção de energia elétrica
em 2008 era de 21 MW, mas a produção e distribuição
de eletricidade quase colapsou desde 2000 e apenas 20%
da população tem acesso à eletricidade, na capital,
Bissau, e noutros sete centros urbanos [34]. Todo o
sistema de eletricidade está a operar com 5.5 MW de
capacidade de geração, 25% da capacidade anterior ao
conflito interno de 1998. A produção de energia é
completamente dependente de produtos petrolíferos, a
partir de pequenas centrais diesel [32].
O país tem amplos recursos de energia renovável:
hidroelétrica, estimada em cerca de 184 MW a partir dos
rios Corval e Geba; solar, com radiação média de 4.5 a
5.5 kWh/m2/dia; e bioenergia. Apesar deste potencial,
não são conhecidos investimentos nesta área, embora o
governo tenha anunciado pretender que, em 2015, a
energia fotovoltaica represente até 2% do consumo
global de energia [32, 33].
A Guiné‐Bissau reúne condições para projetos de
bioenergia e iniciou em 2010 um projeto financiado pela
Fundação FACT e pelo Banco Mundial, mas ambas as
instituições se retiraram entretanto do projeto. Espera‐
se que a estabilidade política permita desenvolver
estratégias de aproveitamento deste e de outros
recursos energéticos.
Emissões de CO2 A economia da Guiné‐Bissau é baseada na agricultura e
na pesca. Para além das centrais diesel, não há grandes
fontes emissoras estacionárias no país, como refinarias,
fábricas de cimento ou siderurgia [34]. No entanto, uma
empresa privada anunciou a intenção de construir uma
fábrica de cimento com capacidade de 500 kt/a, com
início de construção previsto para 2015 [35]. Devido aos
elevados investimentos necessários, o desenvolvimento
da indústria petrolífera, produção de fosfatos e de outros
recursos minerais não é uma perspetiva de curto prazo.
Área: 36125 km2 População (2013):1.704 milhões PNB (2013): USD 858 milhões
Fig. 12 ‐ CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9].
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0
0.1
0.2
0.3
0.4
1990 1995 2000 2005 2010
Emissões CO2per
capita (t/a)
Emissões CO2(M
t/a)
PetróleoPer capita
Fig. 11 – Consumo de produtos petrolíferos na Guiné‐Bissau. Fonte: EIA [19].
12 | CCS in the CPLP countries
Atualmente, as emissões de CO2 estão relacionadas
principalmente com o consumo de derivados de
petróleo. As emissões são muito reduzidas, com um
máximo de apenas 0.238 Mt em 2010, e com diminuição
acentuada desde o início da turbulência política em 1998
(Fig. 12). As emissões per capita, de 0.26 t/a em 1990,
diminuíram para 0.15 t/a em 2004 [10].
Oportunidades para armazenamento de CO2
É provável que a Guiné‐Bissau tenha condições
geológicas muito favoráveis para armazenamento de
CO2. Embora a região oriental do país seja composta por
um soco Palaeozóico‐Precâmbrico sobreposto por
sedimentos com espessura até 30 m, sem condições para
armazenamento de CO2, a região ocidental corresponde
à sub‐bacia da Guiné‐Bissau, parte da bacia Meso‐
Cenozoica do Senegal (Fig. 14). O sector onshore da sub‐
bacia apresenta sequências sedimentares muito
espessas, que datam do Oligocénico ao Presente,
maioritariamente com litologias arenosas a argilosas
[36].
A sequência sedimentar aumenta de espessura para
oeste, ou seja, para a zona offshore (Fig. 13). A sequência
offshore inclui sedimentos do Jurássico ao Quaternário,
mas os sedimentos do Cretácico predominam. Em geral,
a bacia é caracterizada por uma sequência sedimentar
com um depocentro com 2.5 a 3 km de espessura no
onshore, e cerca de 12 km de espessura e múltiplos
domos salinos no offshore [37].
A sequência geral no Jurássico é composta
predominantemente por calcários com camadas
intercaladas de shales e evaporitos, enquanto o
Cretácico Inferior é marcado por calcários espessos e
arenitos, que transitam verticalmente para extensas
camadas de shales no Cretácico superior [37]. É provável
que existam complexos de reservatórios e selantes tanto
no Jurássico como no Cretácico e nas camadas mais
profundas do Oligocénico. A estrutura geral da bacia,
com uma inclinação suave para oeste, aparentemente
sem grandes complexidades estruturais, é favorável para
a ocorrência de água subterrânea de salinidade elevada
devido ao contacto prolongado com os potenciais
reservatórios, e para a retenção hidrodinâmica de CO2.
Face a este enquadramento geológico, é provável que a
Guiné‐Bissau tenha muito boas condições para
armazenamento de CO2 em aquíferos salinos profundos,
onshore e offshore, e apesar das reduzidas perspetivas
para implementar projetos CCS na Guiné‐Bissau, é
seguramente relevante efetuar a avaliação da
capacidade de armazenamento existente no país.
As Autoridades e Instituições da Guiné‐Bissau nunca
estiveram envolvidas em qualquer atividade sobre CCS e
seguramente o nível de conhecimento sobre a tecnologia
é muito reduzido. A estabilidade política parece ter
regressado ao país, após as eleições de 2014, bem como
uma participação reforçada nas atividades da CPLP.
Porém, a degradação das condições económicas locais,
segurança, sistema educativo e administração pública
durante a década passada só poderá ser ultrapassada ao
longo dos anos. As atividades para aumentar o
conhecimento sobre a CCS em Guiné‐Bissau devem
centrar‐se no envolvimento de representantes de
autoridades públicas (Ministério do Meio Ambiente,
Ministério da Economia, Autoridade Nacional Designada
para MDL) em ações de sensibilização, seminários ou
cursos de curta duração nos outros Estados‐membros da
CPLP. Em particular, a participação em ações sobre Bio‐
CCS deve ser uma prioridade, pois este parece ser o
sector com maior potencial para projetos de CCS na
Guiné‐Bissau.
‘A Bio‐CCS é provavelmente o sector com
maior potencial para projetos CCS na
Guiné Bissau.’
Fig. 13 – Secção geológica esquemática da Guiné‐Bissau. Adaptado de Alves et al. [50].
Fig. 14– Mapa geológico simplificado da Guiné‐Bissau. Adaptado de Alves et al. [50].
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 13
Guiné Equatorial
Combustíveis fósseis endógenos A Guiné Equatorial é o mais recente membro da CPLP na
qual ingressou em 2014. A Guiné Equatorial é o terceiro
maior produtor de petróleo da África subsaariana, atrás
da Nigéria e Angola, com reservas provadas de 1.1 mil
milhões de barris, e com uma produção de 14.9 Mtep em
2012, inteiramente a partir de campos offshore (Fig. 16).
As reservas de gás natural também são significativas,
atingindo 36.8 Gm3, e a produção aumentou de 1.2 Mtep
em 2001 para 7.3 Mtep em 2012. A maior parte do gás
natural é exportada como GNL a partir de uma central na
ilha de Bioko, que produziu 4.9 Gm3 de GNL em 2012
[20]. A central de GNL possui atualmente uma única
linha, mas uma segunda linha deverá entrar em
funcionamento em 2016 [38].
A economia da Guiné Equatorial é fortemente
dependente da indústria de petróleo e gás, responsável
por quase 95% do PIB e 99% das receitas de exportação
em 2011 [2].
Consumo de energia primária O gás natural tornou‐se a principal fonte de energia após
o início da produção de hidrocarbonetos no ano 2000, e
em 2008 foi responsável por 77% da energia primária. Os
derivados de petróleo e a utilização tradicional de
biomassa, que
dominaram as fontes de
energia nos anos 1990,
representavam em 2008
frações menores, 20% e
3%, respetivamente [39].
Este cenário alterou‐se
em 2013, com a entrada
em funcionamento da
barragem Djibloho, no rio
Wele, com capacidade
120 MW e que triplicou a capacidade existente [20].
A taxa de eletrificação é agora uma das mais elevadas da
África Central, abrangendo 66% da população [40]. Há
ainda cerca de 40 MW de capacidade de energia elétrica
em centrais a gás (a central de Punta Europa e a central
AMPCO com uma capacidade conjunta de 34 MW) e em
centrais a diesel. O potencial hidroelétrico é muito
elevado, cerca de 2600 MW, e tem sido objeto de novos
investimentos, incluindo o complexo hidroelétrico no rio
Sendje, com uma capacidade de 200 MW, que deverá
estar concluído em 2015.
Indústrias de elevada intensidade de carbono
Para além da indústria petrolífera, a economia da Guiné
Equatorial é baseada na agricultura, silvicultura e pesca,
pelo que não existem grandes fontes industriais de CO2,
com exceção da central de GNL e do gas flaring. Não
existe uma refinaria de petróleo na Guiné Equatorial,
mas o governo pretende implementar uma refinaria com
capacidade para 20 kbbl/d em Mbini [20]. A empresa
OPHIR ENERGY também anunciou a construção de uma
nova central flutuante de GNL [41].
Não existem fábricas de cimento ativas no país, mas em
2013 foi adjudicada a construção de uma fábrica com
capacidade para 3000 t/d, com início de operações
previsto para 2016 [42].
A Guiné Equatorial tem uma capacidade de produção de
biomassa estimada num mínimo de 400 toneladas/ha
[43]. Contudo, apesar de ter um grande potencial de
produção de bioenergia [44], não são conhecidos planos
de investimento nessa área.
Emissões de CO2 As emissões de CO2 na Guiné Equatorial registaram um
aumento considerável com o início da produção de
hidrocarbonetos em 2000. Em 1999 as emissões de CO2
foram de 0.36 Mt, mas em 2000 as emissões
aumentaram quase 10 vezes, para 3.1 Mt, sobretudo
Área: 28051 km2 População (2013): 757 mil PNB (2013): USD 15 570 milhões
Fig. 16– Produção e consumo de combustíveis fósseis na Guiné Equatorial. Fonte: EIA [19].
0
5
10
15
20
25
30
1990 1995 2000 2005 2010
Mtep
Gás natural‐consumoGás Natural‐produçãoPetróleo‐consumoPetróleo‐produção
Source: EIA (2014)
Fig. 15 – CO2 emitido por combustíveis fósseis e gas flaring. Fonte: CDIAC [9].
0
5
10
0
2
4
6
8
1990 1995 2000 2005 2010
Emissões CO2per
capita (t/a)
Emissões CO2(M
t/a)
Flaring
Petróleo
Gás
Per capita
14 | CCS in the CPLP countries
devido ao gas flaring, a queima do gás associado aos
campos petrolíferos. As emissões atingiram um pico de
5.2 Mt em 2004, mas desde então estabilizaram em 4.6 ‐
4.7 Mt/a (Fig. 15). Embora o gas flaring ainda continue a
ser uma fração importante das emissões (cerca de 20%),
o consumo de gás natural nas centrais e a central GNL
são atualmente responsáveis por 65% do total das
emissões de CO2 [10].
As emissões per capita mostram uma tendência para
estabilizar em torno de 6.7 t/a, os valores per capita mais
elevados entre da CPLP e os segundos mais elevados do
continente, só ultrapassados pela África do Sul.
Oportunidades para armazenamento de CO2
A geologia do território continental da Guiné Equatorial é
composta quase totalmente por rochas metamórficas e
cristalinas do pré‐câmbrico [45], que afloram na zona
central e leste da Guiné Equatorial, mas que não são
adequadas para armazenamento de CO2. Assim, as
perspetivas de armazenamento de CO2 no território
continental são escassas, restringindo‐se a uma estreita
faixa de rochas sedimentares que ocorrem ao longo da
orla costeira (Fig. 17).
As ilhas vulcânicas de Pagalu e Bioko constituem parte da
Linha Vulcânica dos Camarões e são compostas por
rochas básicas e ultrabásicas. A I&D a nível académico e
dois projetos‐piloto, na Islândia e nos Columbia River
Basalt (EUA), indicam que aquelas litologias podem ser
favoráveis para armazenamento de CO2, uma vez que
promovem a carbonatação mineral do CO2.
As oportunidades de armazenamento de CO2 na Guiné
Equatorial devem centrar‐se na zona offshore, tanto ao
largo do território continental, na bacia do Rio Muni
(campos petrolíferos de Okume e Ceiba), como ao largo
da ilha Bioko, (nos campos de hidrocarbonetos de Zafiro
e Alba) [46]. Estes campos estão bem caracterizados e, à
medida que vão ficando exauridos, podem oferecer boas
oportunidades para armazenamento de CO2..
A possibilidade de utilização de CO2 em EOR também não
deve ser descurada e seguramente as empresas de
hidrocarbonetos nacionais, GEPETROL e SONAGAS, estão
plenamente conscientes dos avanços no uso de CO2 em
EOR. Acresce que várias das empresas petrolíferas (ex.
PETROBRAS e CHEVRON) que exploram concessões na
Guiné Equatorial têm experiência em projetos de injeção
de CO2, não só para fins de EOR, mas também como
parte da cadeia de CCS.
A pesquisa petrolífera nas zonas offshore pode ter
conduzido à identificação de aquíferos salinos,
nomeadamente a norte da ilha de Bioko, em que a
plataforma geológica está bem estudada e pode
proporcionar condições adequadas para projetos CCS.
Bioko é a ilha onde se situam as principais fontes
existentes e se preveem vários dos investimentos
industriais mencionados. No território continental,
importa considerar a possibilidade de armazenamento
de CO2 ligado à refinaria de Mbini, se o projeto avançar.
A plataforma continental entre os campos petrolíferos de
Ceiba e o continente pode apresentar boas
oportunidades de armazenamento.
A Bio‐CCS pode particularmente adequada na Guiné
Equatorial, face ao elevado potencial em biomassa, à
presumível boa capacidade de armazenamento e à
existência de uma indústria petrolífera capaz de fornecer
o enquadramento técnico e regulamentar necessário
para o armazenamento de CO2. A Bio‐CCS também pode
ser particularmente adequada no âmbito do MDL.
Embora não sejam conhecidos planos para a utilização à
escala industrial de biomassa para produção de
bioenergia ou biocombustíveis, o potencial para a sua
conjugação com CCS na Guiné Equatorial é elevado.
‘Os investimentos previstos nos sectores
energéticos e industriais, uma indústria
petrolífera consolidada, o potencial em
biomassa e as boas condições de
armazenamento no offshore são fatores
favoráveis à CCS na Guiné Equatorial’
Fig. 17 – Geologia simplificada da Guiné Equatorial.
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 15
Moçambique
Combustíveis fósseis endógenos Moçambique é um dos países africanos com maiores
reservas de gás natural e carvão. Em 2012 Moçambique
produziu apenas 3.5 Mtep de gás natural a partir de dois
campos onshore (Fig. 18), mas nos últimos anos foram
descobertos campos de gás natural no offshore, com
reservas estimadas em 2800 Gm3, apenas superadas em
África pela Nigéria e Argélia. A produção a partir desses
campos deve iniciar‐se em 2018 e está já em construção
uma instalação de GNL em Cabo Delgado [20].
Tabela 4 ‐ Fontes primárias de energia 2012
Biomassa / Resíduos
Hídrica Petróleo Gás Carvão
Energia (ktep) 8288 1284 783 73 10
Fração (%) 79.4 12.3 7.5 0.7 0.1
Fonte: IEA [20].
Moçambique é o segundo maior produtor de carvão em
África, com produção de 4.9 Mt em 2012, e estima‐se
que a província de Tete ainda encerre reservas
consideráveis. A adoção da tecnologia Coal‐to‐líquids
(CTL) está a ser considerada no país, existindo planos
para a construção de uma fábrica de USD 9.5 mil milhões
para transformar os resíduos de carvão da bacia de Tete
em combustíveis líquidos [47].
Segundo o FMI [48], a
produção de combustíveis
fósseis pode aumentar o
crescimento económico
do país em 2% ao ano no
período 2013‐2023.
Consumo de energia primária Em 2012 apenas 20% da população de Moçambique
tinha acesso à eletricidade [2], e cerca de 79% do
consumo de energia primária consistia no uso tradicional
de biomassa e resíduos [21]. No mesmo ano,
Moçambique consumiu 783 ktep de produtos
petrolíferos, correspondentes a 7.5% das fontes de
energia primária. O gás natural e o carvão constituíram
fontes residuais (menos de 1%) (Tabela 4).
A geração de eletricidade em Moçambique atingiu 16.7
TWh em 2011, quase inteiramente de origem hídrica e
apenas uma proporção diminuta de gás natural. A
primeira central a carvão em Moçambique, associada às
minas de carvão, deverá entrar em funcionamento em
2015, e outras duas centrais a carvão serão construídas
pela indústria carbonífera, nomeadamente pelas
empresas NCONDEZI ENERGY e VALE, elevando a
capacidade total para 9 GW. No entanto, face à extensão
das descobertas de gás natural, é esperado que a sua
contribuição para a produção de eletricidade venha a
aumentar. A central a gás natural de Ressano Garcia,
com potência de 175 MW, iniciou a operação em 2014 e
as centrais termoelétricas a gás de Maputo (100 MW), de
Kuvaninga (40 MW) e de Temane (400 MW) deverão
entrar em funcionamento nos próximos anos [20].
A previsão para o consumo de eletricidade por fontes
domésticas (excluindo os consumidores industriais), num
cenário de crescimento económico de 6% ao ano,
apontam para que em 2030 haja uma procura de 1350
MW de potência e um consumo de, pelo menos, 83TWh.
Indústrias de elevada intensidade de carbono
O sector da construção em Moçambique apresenta uma
das perspetivas de crescimento mais elevadas na África
subsaariana. A empresa CIMENTOS DE MOÇAMBIQUE é a
principal produtora nas fábricas de Matola, Dondo e
Nacala. A capacidade de produção de cimento em
Moçambique atingiu 2 Mt/a em 2011, mas o governo
almejava duplicá‐la em 2013 e divulgou planos para
construir três novas fábricas com uma capacidade total
de 750 kt/a na província de Maputo [25].
Área: 799380 km2 População (2014): 23.97 milhões PNB (2013): USD15563 milhões (INE,2014)
Fig. 18 – Produção e consumo de combustíveis fósseis em Moçambique. Fonte: EIA [19].
0
2
4
6
8
10
1990 1995 2000 2005 2010
Mtep
Petróleo‐consumoGás natural‐consumoGás natural‐produçãoCarvão‐produçãoCarvão‐consumo
0
0.1
0.2
0
1
2
3
4
1990 1995 2000 2005 2010
Emissões CO2per
capita (t/a)
Emissões CO2(M
t/a)
Carvão CimentoPetróleo GásPer capita
Fig. 19 – CO2 emitido por combustíveis fósseis e produção de cimento. Fonte: CDIAC [9].
16 | CCS in the CPLP countries
A primeira refinaria de petróleo de Moçambique está a
ser construída em Nacala, com uma capacidade de
300 000 bbl/d, e estará operacional em 2018 [20]. No
sector de mineração, a fundição de alumínio (uma fonte
significativa de CO2, com emissões diretas de 15 t CO2 por
tonelada de alumínio processado e exigindo vastas
quantidades de energia) da MOZAL, encontra‐se entre as
maiores de África, com uma capacidade de produção de
250 kt/a.
O Governo aprovou 14 projetos para produção de
biocombustíveis, mas a maioria ainda não se concretizou.
A PETROBRAS planeava começar a produção de 20 Ml/a
de etanol em 2014 [49] e a GALP anunciou planos para
uma refinaria de biocombustíveis em Sofala [50].
Emissões de CO2 As emissões de CO2 provenientes do consumo de
combustíveis fósseis e da produção de cimento são ainda
reduzidas, mas aumentaram de 1.0 Mt/a em 1990 para
2.9 Mt/a em 2010 (Fig. 19), impulsionadas pelo aumento
do consumo de petróleo e da produção de cimento.
Desde 2005 as emissões de CO2 ligadas ao uso do gás
natural também têm vindo a aumentar. As emissões per
capita são as mais baixas entre os países da CPLP, apenas
0.11 t/a em 2010 [10], mas o início da produção de gás
natural e GNL, a persistência da extração de carvão, e os
investimentos anunciados nos sectores energéticos e
industriais, devem conduzir a um aumento sustentado
das emissões de CO2 per capita na próxima década.
Oportunidades para armazenamento de CO2
A Estratégia Nacional para a Adaptação e Mitigação das
Alterações Climáticas 2013‐2025 [51] reconhece a
necessidade das tecnologias de carvão limpo para a
redução das emissões em centrais a carvão e a
possibilidade de implementação da CCS no país.
Uma vez que a produção de gás natural em grande escala
deverá iniciar‐se em 2018, o uso de campos de gás
exauridos é improvável na próxima década, exceto nos
campos onshore de Pande e Temane, ativos desde 2004,
mas de pequena dimensão. O interesse pelo
armazenamento de CO2 em camadas de carvão tem
vindo a diminuir a nível mundial, mas a província de Tete
tem das maiores reservas de carvão do mundo e duas
centrais a carvão estão previstas para a região. Assim,
não será de colocar de parte a possibilidade de
armazenar CO2 em camadas de carvão não exploráveis,
pois o ajuste fonte – sumidouro seria ideal.
No entanto, a opção mais interessante para o
armazenamento de CO2 em Moçambique são os
aquíferos salinos profundos nas extensas bacias
sedimentares que cobrem 38% do território onshore e a
maior parte do sector offshore no Canal de Moçambique.
Existem seis bacias sedimentares em Moçambique (Fig.
20). As Bacias Interiores (bacia do Lago Niassa, bacia de
Maniamba, graben do Médio Zambeze e graben do Baixo
Zambeze) são relativamente pequenas e fazem parte do
Supergrupo do Karoo [52]. A localização remota
provavelmente descarta a utilização das bacias do Lago
Niassa e Maniamba para o armazenamento de CO2.
Os grabens do baixo e médio Zambeze estão ligados à
ocorrência de carvão na província de Tete. A estrutura
geológica é bastante complexa [53], mas, devido à
proximidade com as centrais a carvão em construção ou
planeadas, é importante avaliar o potencial destas bacias
para o armazenamento de CO2.
Fig. 20– Bacias sedimentares em Moçambique. Adaptado de ENH [56].
‘Moçambique é o país africano da CPLP
com melhores condições para
envolvimento em projetos CCS.’
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 17
As bacias costeiras (bacia de Moçambique e bacia do
Rovuma) são muito mais extensas, e com condições
geológicas relativamente bem estudadas, uma vez que
têm sido objeto de pesquisa de hidrocarbonetos, com
grandes descobertas de gás no offshore da bacia do
Rovuma. Existem avaliações preliminares da capacidade
de armazenamento ar foram realizadas para ambas as
bacias. Um relatório efetuado pela DNV estima a
capacidade de armazenamento da bacia de Moçambique
num valor mínimo de 2400 Mt de CO2. M. Alberto num
trabalho de licenciatura [54] estimou a capacidade de
armazenamento na bacia do Rovuma entre 235 Mt a 470
Mt, com um bom ajuste entre fontes e locais de
armazenamento, pois a capacidade de armazenamento
foi identificada nas mesmas áreas em que está prevista a
construção de instalações de processamento de gás
natural e GNL, nos municípios de Palma e Pemba.
Embora estas sejam estimativas preliminares, são uma
indicação de que Moçambique pode ter excelentes
condições geológicas para o armazenamento de CO2
onshore, mais do que suficiente para as necessidades
que possa ter no futuro.
Tendo em conta os investimentos anunciados nos
sectores energéticos e industriais, bem como a
importância dos recursos de carvão e de gás natural para
a economia nacional, Moçambique tem boas motivações
para o envolvimento em atividades CCS. Um incentivo
adicional é a oportunidade de negócio resultante de
armazenar o CO2 proveniente de fontes em países
vizinhos, como a África do Sul (o maior emissor de CO2
em África), se os projetos transfronteiriços de CCS forem
admissíveis nos termos da regulamentação internacional.
18 | CCS in the CPLP countries
São Tomé e Príncipe
Combustíveis fósseis endógenos São Tomé e Príncipe (STP) consiste em dois arquipélagos
em torno das duas ilhas principais: a ilha de São Tomé e a
ilha do Príncipe, distando cerca de 140 km entre si e
localizadas no Golfo da Guiné, na África Ocidental. STP é
o país de menor extensão territorial da CPLP e o segundo
menor estado africano, depois das Seychelles.
Atualmente STP não produz combustíveis fósseis, mas de
acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento
(BAfD), pode tornar‐se um país produtor de petróleo,
com expectativas para início de produção em 2016,
numa designada Joint Development Zone (JDZ) com a
Nigéria, no Golfo da Guiné. As estimativas iniciais
indicam reservas da ordem de 500 milhões de barris de
petróleo, permitindo a STP uma produção de 28 000
bbl/d durante vinte anos [55].
Se a exploração de petróleo se tornar uma realidade nos
próximos anos, espera‐se que até 2020 o crescimento
económico de STP seja impulsionado pelo sector
petrolífero.
Consumo de energia primária A população de STP é de apenas 193 mil habitantes e o
consumo de energia primária é reduzido, assente no uso
da biomassa, para cozinhar
e para aquecimento [2], e
no petróleo como fontes
primária de energia. As
importações de petróleo
em 2013 atingiram 47 ktep
[20] (Fig. 22).
A capacidade instalada de
geração de eletricidade é de 28.5 MW, com centrais
termoelétricas a diesel responsáveis por 26 MW e os
restantes 2.5 MW de origem hidroelétrica. Cerca de 10
MW adicionais são gerados em centrais a diesel em
redes isoladas e para consumo localizado. A cobertura da
rede não é universal, mas atinge cerca de 60% da
população.
Existe um potencial hidroelétrico considerável em STP.
Além dos 2.5 MW já instalados, foi identificado um
potencial adicional de 31.4 MW em 14 locais. O
acréscimo de procura energética poderá requerer o
aumento da capacidade instalada em 40 MW até 2019,
exigindo a exploração da totalidade do recurso
hidroelétrico [56]. Os recursos em energia solar também
apresentam boas oportunidades, uma vez que a média
de insolação diária em São Tomé e Príncipe é de 5.2
kWh/m2, sem grande variação sazonal.
A economia de STP baseia‐se essencialmente na
agricultura. Não existem grandes fontes estacionárias de
CO2 de sectores industriais, como refinarias, fábricas de
cimento ou siderurgia.
Emissões de CO2 As emissões de CO2 estão principalmente relacionadas
com o consumo de derivados de petróleo, dada a
ausência de outras grandes fontes estacionárias para
além das centrais diesel. As emissões de CO2 totais são
diminutas ‐ apenas 90 kt em 2012 (Fig. 21) – mas têm
aumentado de forma consistente desde o ano 2000.
Ainda assim, os valores per capita são muito reduzidos,
inferiores a 0.6 t/a [10]. As expectativas são que as
emissões de CO2 continuem a acompanhar o crescimento
económico, mas face à dimensão da população e aos
custos de insularidade para o desenvolvimento de
atividades industriais, é provável que as emissões per
capita se mantenham muito reduzidas. Se a produção de
petróleo se tornar uma realidade no futuro, a libertação
ou queima do gás (gas venting and flaring) poderá
aumentar significativamente as emissões de CO2.
Área: 1001 km2 População (2013):193 mil PNB (2013): USD 311 milhões
Fig. 22 – Consumo de produtos petrolíferos em São Tomé e Príncipe. Fonte: EIA [19].
0
10
20
30
40
50
60
1990 1995 2000 2005 2010
ktep
Fig. 21 – CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9].
0
0.2
0.4
0.6
0.8
0
0.02
0.04
0.06
0.08
0.1
0.12
1990 1995 2000 2005 2010
Emissões CO2per
capita (t/a)
Emissões CO2 (M
t/a)
Petróleo
Per capita
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 19
Perspetivas para atividades de CCS As ilhas de STP são compostas por vulcões que se
erguem do fundo do Oceano Atlântico, a mais de 3000 m
abaixo do nível do mar. Os vulcões formaram‐se ao longo
da linha vulcânica dos Camarões. A maior parte das
rochas que compõem a ilha de São Tomé são basaltos. A
ilha do Príncipe também é de origem vulcânica, com
litologias basálticas, fonolíticas e tefriticas. Segundo
alguma I&D académica, estas litologias podem ser
adequadas para o armazenamento de CO2, pois a sua
mineralogia é particularmente favorável para
carbonatação mineral, com reação do CO2/rocha a
resultar na precipitação de minerais carbonatados,
sequestrando o CO2 de forma definitiva em fase sólida.
Este conceito tem sido testado em projetos‐piloto na
Islândia e nos Columbia River Basalts, nos EUA.
A zona offshore de STP, para além dos centros
vulcânicos, é marcada pela ocorrência de formações
sedimentares, inclusive na JDZ, onde a produção de
petróleo se pode desenvolver [57].
Atualmente, a economia e as emissões de CO2 de STP
não justificam o investimento em projetos CCS. Dado o
baixo nível de emissões de CO2 e a quase ausência de
grandes fontes pontuais, que é provável que se
mantenha face aos custos de insularidade e à dimensão
da população, a motivação para atividades CCS em STP
só pode existir em conexão com o desenvolvimento da
produção de petróleo no Golfo da Guiné,
especificamente para utilização em EOR. No entanto, a
ausência de fontes em STP obrigaria à aquisição do gás
noutros países.
STP partilha uma fronteira marítima com a Nigéria, um
dos maiores emissores de CO2 na África. É concebível que
questões sobre armazenamento transfronteiriço possam
ser relevantes para STP se a Nigéria optar por armazenar
CO2 na Bacia do Delta do Níger, que se estende através
da fonteira entre os dois países, ao longo da JDZ (Fig. 23),
uma possibilidade que está a ser analisada pelo Nigerian
Petroleum Technology Development Fund.
A Agência Nacional do Petróleo, ANP‐STP, e a Autoridade
Nacional Designada do MDL devem ser envolvidos em
atividades de partilha de conhecimentos sobre CCS
desenvolvidas no seio da CPLP, de modo a garantirem a
capacidade para a discussão sobre o uso de CO2 em EOR
e sobre questões de armazenamento transfronteiriço.
‘A relevância da tecnologia CCS para
São Tomé e Principe pode surgir com o
início da produção petrolífera ou com
questões sobre armazenamento
transfronteiriço com a Nigéria.’
Fig. 23– Geologia simplificada de São Tomé e Príncipe, incluindo a Zona Económica Exclusiva (ZEE) e a Joint Development Zone (JDZ) com a Nigéria. Adaptado de ANP [61].
20 | CCS in the CPLP countries
Timor Leste
Combustíveis fósseis endógenos Timor Leste tornou‐se um estado soberano em 2002 e
aderiu à CPLP no mesmo ano. Embora à época constasse
entre os países mais pobres do mundo, Timor Leste tem
registado desde então um crescimento económico anual
médio de cerca de 9% [2]. Este crescimento não pode ser
dissociado da produção de petróleo na zona offshore, no
Timor Gap. Em 2012, Timor‐Leste produziu 4.1 Mtep de
petróleo (Fig. 25), mas as reservas provadas ascendem a
554 milhões de barris. A produção de gás natural ainda
não se iniciou, mas as reservas são vastas, 201 Gm3, e
decorrem negociações para a definição dos locais de
processamento [20].
A economia de Timor Leste é uma das mais dependentes
de recursos naturais em todo o mundo, com cerca de
90% do orçamento nacional proveniente diretamente de
receitas petrolíferas.
Consumo de energia primária Timor Leste é fortemente dependente das importações
para geração de energia, com mais de 75% das
importações de petróleo a serem utilizadas para a
produção de eletricidade através de geradores a diesel
[58]. Ainda assim, o uso tradicional de biomassa é uma
parte significativa das fontes de energia primária no país,
responsável por cerca
de 90% das
necessidades de
energia para cozinhar e
para aquecimento [20].
O sistema de geração
de eletricidade é
pequeno e
fragmentado, baseado em pequenas e médias centrais a
diesel. A capacidade instalada em Dili, a capital, é de 19
MW, e no resto do país é de cerca de 16 MW. Alguns
grandes consumidores são responsáveis pela geração de
10 MW adicionais como a sua única fonte ou como
backup. A rede elétrica está concentrada nas áreas
urbanas, atingindo apenas cerca de 37% da população
[58]. O governo pretende expandir a infraestrutura de
produção de energia com a instalação de 210 MW
adicionais. O país tem abundantes recursos de energia
renovável, com potencial de 75 MW a 95 MW a partir de
fontes hídricas e com boas perspetivas para fontes eólica
e solar. O governo definiu como objetivo que, em 2020,
50% da energia tenha origem em fontes renováveis [59].
Indústrias de elevada intensidade de carbono
Para além das centrais diesel já mencionadas, não há,
atualmente, grandes fontes emissoras estacionárias no
país, como refinarias, fábricas de cimento ou siderurgia.
No entanto, o governo tem promovido investimentos
internos e estrangeiros em sectores industriais
essenciais. A empresa petrolífera nacional, TIMOR GAP,
anunciou planos para construir uma refinaria e uma
petroquímica em Nova Betano para fornecer diesel,
gasolina, jet‐fuel e GPL.
O Governo de Timor Leste está empenhado em que o gás
natural do campo Great Sunrise seja processado numa
instalação de GNL a ser construída em Beaço na costa sul
do país [59]. No entanto, ainda não existe acordo com a
joint venture que possui os direitos de exploração do
campo de gás.
As empresas australianas BGC e SWAN anunciaram a
construção de uma fábrica de cimento com uma
capacidade de produção de 1.5 Mt/a, em Baucau, a
segunda maior cidade do país. A construção deverá
iniciar‐se em 2015 [60].
Emissões de CO2 As emissões de CO2 estão associadas com o consumo de
produtos petrolíferos, nomeadamente para produção de
energia, dada a ausência de outras fontes pontuais
Área: 14954 km2 População (2013):1.178 milhões PNB (2013): USD311 milhões
Fig. 25 – Produção e consumo de combustíveis fósseis em Timor Leste. Fonte: EIA [19].
0
2
4
6
1990 1995 2000 2005 2010
Mtep
Petróleo‐produção
Petróleo‐consumo
Fig. 24 – CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9].
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.14
0.15
0.16
0.17
0.18
0.19
0.2
2002 2004 2006 2008 2010
Emissões CO2per
capita (t/a)
Emissões CO2 (M
t/a)
OilPer_capita
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 21
importantes. As emissões de CO2 são muito reduzidas,
apenas 183 kt em 2010 [10], mas aumentaram
consistentemente desde 2002, quando o país se tornou
um estado soberano. Porém, as emissões per capita
continuam em valores muito baixos ‐ 0.15 t/a (Fig. 24). É
de esperar que os investimentos planeados (refinaria,
petroquímica, cimenteira e GNL) resultem num aumento
significativo das emissões do país.
Oportunidades de armazenamento de CO2
De acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento
de Timor‐Leste [59], o aumento da capacidade de
produção de eletricidade será conseguido sobretudo
através de fontes renováveis, e não é provável que o
sector electroprodutor aumente significativamente as
suas emissões. Por conseguinte, a motivação para
atividades CCS em Timor Leste está associada à produção
de petróleo e gás natural e aos investimentos industriais
planeados (refinaria, petroquímica, GNL).
Timor Leste situa‐se num enquadramento tectónico
muito complexo, no extremo leste e ao sul do Arco
Vulcânico de Banda, a expressão à superfície da
subducção litosférica da crusta continental australiana
sob placa da Eurásia. Nos últimos 5 milhões de anos essa
subducção estagnou na região de Timor, fazendo com
que a ilha de Timor se elevasse [61].
Este ambiente tectónico complexo reflete‐se na geologia
caótica da ilha, subdividida num grande número de
unidades estruturais. As rochas do bedrock (Complexo
Lolotoi) e as rochas metamórficas do Complexo Aileu
resultantes da colisão continental (Fig. 27), não são
adequadas para o armazenamento de CO2. Rochas
sedimentares mesozoicas depositaram‐se em bacias
suprajacentes àquelas formações e calcários recifais do
Cenozoico a Recente continuam a formar‐se (Fig. 26). No
entanto, a natureza fragmentada e caótica das
formações sedimentares deixa poucas perspetivas para o
armazenamento de CO2, como se infere pelas muitas
ocorrências de petróleo e gás encontradas à superfície
ao longo da costa sul da ilha [62]. As mesmas restrições
tectónicas aplicam‐se no sector offshore.
O armazenamento de CO2 está a ser considerado em
países com ambientes tectónicos complexos (ex. Japão,
Indonésia), e o projeto‐piloto de Nagaoka, no Japão,
demonstrou que a ocorrência de sismos com magnitude
M=6 com epicentro nas proximidades do local de injeção,
não conduziu à degradação das condições de
armazenamento. Ainda assim, uma abordagem prudente
aconselha a que o armazenamento de CO2 em Timor
Leste seja apenas considerado nos campos de petróleo e
gás natural, não só porque está demonstrada a
capacidade de contenção dos reservatórios, mas
também porque as pressões finais seriam muito menores
do que as induzidas em aquíferos salinos profundos.
A possibilidade de utilizar CO2 para EOR reveste‐se de um
interesse evidente e deve ser abordada numa perspetiva
económica no futuro, pois a produção de petróleo é
recente e os campos em exploração podem não ter ainda
atingido um grau de maturidade adequado.
Embora se espere que num futuro próximo venham a ser
construídas grandes fontes pontuais de CO2 em Timor
Leste, uma abordagem realista deve privilegiar a ligação
de atividades CCS com a indústria petrolífera, através do
uso de CO2 em EOR, ou pela injeção de CO2 em
reservatórios de petróleo e gás exauridos nos sectores
offshore.
‘O enquadramento tectónico de Timor
Leste aconselha ao armazenamento de
CO2 apenas em campos de
hidrocarbonetos ou em EOR.’
Fig. 27– Mapa geológico simplificado de Timor Leste. Adaptado de Thomson et al.[34].
Fig. 26– Esquema do enquadramento tectónico de Timor Leste. Adaptado de Thomson et al.[34].
22 | CCS in the CPLP countries
3.2 Sectores com potencial para atividades em CCS
Esta secção procura identificar os sectores energéticos e
industriais com melhores perspetivas para integração
com projetos. Para além do sector de produção de
energia e do uso de CO2 em EOR, analisam‐se ainda os
cinco sectores industriais encarados como oportunidades
percursoras pela IEAGHG/UNIDO [63]: cimento; ferro e
aço; refinação e petroquímica; Bio‐CCS; fontes de elevada
concentração (processamento de gás natural, GNL, CTL).
As possibilidades identificadas em sectores menos
comuns são agrupadas em “outras possibilidades”. A
Tabela 5 sintetiza as perspetivas para projetos CCS por
sector nos países da CPLP caracterizados na secção 3.1.
Sector de produção de energia Uma característica comum à maioria dos países da CPLP
é o elevado crescimento populacional, com uma taxa
média de 2.1% ao ano nos países caracterizados na
secção 3.1. Face a esta demografia, ao forte crescimento
económico e à reduzida cobertura da rede elétrica, a
expectativa é que nas próximas décadas se assista a uma
forte aumento das necessidades de energia. Esta
expetativa reflete‐se nas estratégias nacionais de
energia, com aqueles Estados‐membros a planear
expandir consideravelmente a produção e as redes de
distribuição de energia. No entanto, tendo em conta os
recursos renováveis disponíveis na maioria dos Estados-membros, nomeadamente as fontes hídricas e solares (e
eólica, para Cabo Verde e Moçambique), a expansão da
capacidade electroprodutora não se centrará em
instalações termoelétricas com combustíveis fósseis.
A exceção parece ser Moçambique, que planeia
aproveitar os recursos fósseis endógenos e construir
centrais a carvão e a gás natural. As centrais a carvão são
promovidas pelas empresas de extração de carvão,
incluindo a brasileira VALE, e podem existir sinergias na
CPLP para implementar projetos CCS nessas centrais. A
implementação de projetos CCS em conexão com as
novas centrais de gás natural planeadas para Angola e
Guiné Equatorial também deve ser equacionada.
Indústrias de elevada intensidade de carbono
A industrialização é ainda incipiente nos países
analisados, com os sectores cimenteiros, de refinação e
siderúrgicos pouco desenvolvidos ou inexistentes. No
entanto, vários países da CPLP anunciaram planos de
investimento nessas áreas.
Sector cimenteiro O sector da construção está em franco crescimento em
vários Estados‐membros, e o sector cimenteiro
acompanha esse crescimento, com novas fábricas
previstas em quase todos os países, com exceção de
Tabela 5 – Perspetivas para atividades em CCS por sector nos países da CPLP em análise.
Angola Cabo Verde
Guiné-Bissau Guiné Equatorial
Moçambique São Tomé e Príncipe
Timor Leste
Produção de energia
Investimentos em hídrica. Duas novas centrais a gás.
Sem grandes fontes.
Sem grandes fontes. Grande potencial hídrico.
Investimentos em hídrica. Uma central a gás.
Duas novas centrais a carvão e várias centrais a gás.
Sem grandes fontes.
Sem grandes fontes. Elevado potencial de renováveis
Cimento Várias fábricas de cimento ativas/planeadas
- - Uma fábrica de cimento planeada.
Várias fábricas de cimento ativas ou planeadas
- Uma fábrica de cimento planeada.
Refinação petróleo
Uma refinaria ativa e 2ª planeada.
- - Investimento numa refinaria incerto.
1ª refinaria operacional em 2018
- Uma refinaria e petroquímica planeada.
Bio-CCS
Bom potencial em biomassa. Um projeto de biocombustíveis
Sem potencial.
Bom potencial em biomassa. Sem projetos conhecidos.
Bom potencial em biomassa. Sem projetos conhecidos.
Bom potencial em biomassa. Vários projeto aprovados.
Bom potencial em biomassa. Sem projetos.
Bom potencial em biomassa. Sem projetos conhecidos.
EOR Produção petróleo madura.
- - Produção petróleo madura.
- Pode ser produtor de petróleo
Recente produtor de petróleo
Fontes de elevada concentração
Produtor de gás. Uma instalação GNL.
- -
Produtor de gás. Uma instalação GNL e 2ª planeada.
Instalação GNL em construção. Um projeto CTL
- Uma instalação GNL planeada
Outras possibilidades
- CO2 em EGS
- - Uma fundição de alumínio
- -
Sem potencial. Sem fontes ativas ou planeadas.
Potencial marginal, podem existir fontes planeadas.
Potencial médio, mas não existem fontes ou apenas uma.
Bom potencial. Várias fontes ativas ou planeadas.
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 23
Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. A indústria
cimenteira está em expansão sobretudo em
Moçambique e Angola. A INTERCEMENT, uma empresa
de cimento sedeada no Brasil e com fábricas em
Portugal, tem investimentos previstos noutros países da
CPLP, tal como a SECIL, uma cimenteira portuguesa. Seria
desejável estabelecer um cluster de cimenteiras ativas
nos países da CPLP para discutir a viabilidade da CCS.
Refinação e petroquímica Apesar de alguns países da CPLP serem produtores de
petróleo e deste constituir uma das fontes principais de
energia primária, apenas Angola tem uma refinaria ativa.
No entanto, Angola, Guiné Equatorial, Moçambique e
Timor Leste, anunciaram a construção, adjudicação ou
projeto de novas refinarias. Face à dimensão da
economia destes países, estas refinarias provavelmente
serão as únicas a construir em qualquer um daqueles
países. Timor Leste planeia ainda a construção de uma
instalação petroquímica. Existe, porém, alguma incerteza
nestes planos, por exemplo, na Guiné Equatorial e Timor
Leste. Ainda assim, pelo menos em Angola e
Moçambique seria interessante discutir a possibilidade
de implementação de CCS nas novas refinarias.
Siderurgia O sector de ferro e aço é irrelevante em qualquer um dos
países avaliados nesta secção, e não são conhecidos
planos para investimentos neste sector.
Bio‐CCS O potencial da biomassa é muito elevado em todos os
membros da CPLP analisados na secção 3.1, com exceção
de Cabo Verde, marcado por um clima subsaheliano.
Vários Estados‐membros (nomeadamente Angola,
Moçambique, Guiné Equatorial) identificaram a
bioenergia como uma área de investimento, com
projetos normalmente liderados por consórcios
envolvendo empresas locais/governamentais e empresas
portuguesas (ex. GALP) e brasileiras (ex. PETROBRAS).
Podem existir sinergias importantes no âmbito da CPLP
nesta área, justificando‐se esforços para identificar
potenciais projetos de bio‐CCS.
Utilização de CO2 em EOR Angola e Guiné Equatorial têm indústrias de produção de
petróleo consolidadas, com campos explorados há vários
anos e, nalguns casos, aproximando‐se da maturidade ou
do esgotamento. A produção de petróleo em Timor Leste
é mais recente. Em geral, a produção de petróleo é
efetuada por empresas petrolíferas internacionais, com
supervisão ou em consórcio com as empresas
petrolíferas locais. A utilização de CO2 em EOR é uma
possibilidade sobretudo para Angola e Guiné Equatorial
que possuem fontes de elevada concentração de CO2
(centrais GNL) próximas dos campos petrolíferos. Podem
existir sinergias na CPLP, face à experiência da
PETROBRAS e da PARTEX O&G em EOR.
Fontes de elevada concentração de CO2 Processamento de Gás Natural / GNL O processamento de gás natural é uma indústria
presente em Angola e na Guiné Equatorial, e ambos os
países possuem uma instalação de GNL. A construção de
instalações de processamento de gás e de GNL está
também projetada para Timor Leste e Moçambique.
Estas indústrias são oportunidades percursoras para
projetos CCS e a interação com os investimentos
projetados deve ser incentivada na procura de sinergias
para a captura de CO2 naquelas fontes. As vastas
reservas de gás natural em Moçambique e a sua
localização, perto de locais com potencial capacidade de
armazenamento de CO2, são particularmente adequadas
para a implementação de projetos de CCS. A
proximidade das instalações de GNL de Angola e da
Guiné Equatorial aos campos de petróleo e gás, e em
especial, a nova instalação de GNL flutuante prevista
para Guiné Equatorial, podem também revestir‐se de
interesse para integração com o armazenamento de CO2.
Coal to Liquids (CTL) A extração de carvão na província de Tete, Moçambique,
originou uma elevada volume de resíduos. A empresa
sul‐africana CLEAN CARBON INDUSTRIES anunciou um
estudo de pré‐viabilidade e um acordo com o Ministério
da Energia de Moçambique para uma instalação CTL de
USD 9.5 mil milhões que visa transformar os resíduos de
carvão na bacia de Tete em combustíveis líquidos. O
estudo de pré‐viabilidade contempla a captura do CO2 e
o seu transporte por gasoduto para zona costeira e
armazenamento em formações geológicas. Embora a
implementação do projeto CTL não pareça estar
dependente da componente CCS, o facto de ter sido
discutida com as autoridades locais deverá ter
aumentado a visibilidade da tecnologia CCS no país.
Outras possibilidades Fundição de alumínio A fundição de alumínio constitui uma fonte de CO2
relativamente importante em Moçambique. A fundição
de alumínio produz diretamente cerca de 15 toneladas
de CO2 por tonelada de alumínio processada, bem com
emissões indiretas originadas pela quantidade elevada
de energia elétrica requerida (15 MWh por tonelada de
24 | CCS in the CPLP countries
alumínio). A possibilidade de implementação de projetos
de CCS em Moçambique em conexão com a fundição de
alumínio justifica uma análise detalhada. A fundição a
MOZAL, com uma produção de 250 000 toneladas de
alumínio por ano, provavelmente usufrui de um bom
ajuste fonte‐sumidouro, dado estar localizada em
Maputo, na bacia sedimentar de Moçambique
Utilização de CO2 em Sistemas Geotérmicos Estimulados A utilização de CO2 como um fluido circulante em
Sistemas Geotérmicos Estimulados (EGS) está ainda em
fase de I&D, mas se se mostrar viável, poderia ser
considerada para Cabo Verde. O processo visa utilizar
CO2 para recuperar calor do reservatório, mas uma
fração do CO2 injetado permanece sequestrado na rocha.
As rochas vulcânicas, nomeadamente os basaltos,
constituem a litologia dominante em Cabo Verde e o
sequestro do CO2 por carbonatação mineral poderia ser
um benefício indireto da utilização de CO2 em EGS.
Tendo em conta todas as oportunidades identificadas, os
casos mais interessantes para a implementação de
projetos CCS nos países da CPLP estão ligados à indústria
de hidrocarbonetos, seja na utilização de CO2 em EOR,
que pode ser particularmente relevante para Angola,
Equatorial Guiné e Timor Leste, ou em instalações de
processamento de gás natural e de GNL, nos mesmos
países, mas também, e particularmente, em
Moçambique. Projetos nesses sectores beneficiariam da
existência de indústrias petrolíferas consolidadas, do
enquadramento legal e regulamentar existente para o
setor dos hidrocarbonetos e do valor económico
associado ao CO2 utilizado em EOR.
Nas indústrias de produção industrial, os projetos CCS
têm maior viabilidade no sector cimenteiro, uma vez que
o crescimento económico se tem traduzido no aumento
da procura de cimento. Dada a dimensão da população e
importância do sector, Angola e Moçambique parecem
ser os casos mais interessantes para a implementação de
CCS no sector cimenteiro.
O potencial para projetos de bio‐CCS também é elevado,
embora a indústria de bioenergia ainda não esteja
amadurecida em nenhum dos países da CPLP analisados.
No entanto, dada a possibilidade da bio‐CCS resultar em
emissões negativas, se admitida nos inventários oficiais
de emissões de gases com efeito de estufa, estas
oportunidades devem ser exploradas especialmente na
Guiné Equatorial, Angola, Guiné‐Bissau e Moçambique.
Moçambique apresenta ainda outros casos interessantes
para o desenvolvimento de projetos de CCS em ligação
com indústria de extração de carvão e com a fundição de
alumínio.
No polo oposto estão os países‐arquipélago, Cabo Verde
e S. Tomé e Príncipe, em que a tecnologia CCS parece
não ter um papel relevante a desempenhar devido à
dimensão e dispersão da economia. Exceções podem ser
a utilização de CO2 em EGS em Cabo Verde e a utilização
de CO2 para EOR se a produção de petróleo finalmente
se desenvolver em São Tomé e Príncipe.
Tabela 6 – Perspetivas para oportunidades de armazenamento geológico de CO2 nos países da CPLP em análise.
Angola Cabo Verde
Guiné-Bissau
Guiné Equatorial
Moçambique São Tomé e Príncipe
Timor Leste
Campos de petróleo e gás esgotados
Produção de petróleo madura
- - Produção de petróleo e gás madura
Descobertas de gás. Produção ainda por iniciar.
Pode ser produtor de petróleo.
Produção de petróleo recente
Bacias sedimentares - onshore
Boas perspetivas na Bacia do Kwanza
- Extensa bacia sedimentar
Pequena bacia onshore. Pouco explorada.
Boas perspetivas nas bacias do Rovuma e Moçambique.
- Contexto tectónico desfavorável.
Bacias sedimentares - offshore
Várias bacias sedimentares, bem estudadas
Sem informação
Extensa bacia sedimentar. Pouco estudada.
Extensa bacia sedimentar. Bem estudada.
Boas perspetivas nas bacias do Rovuma e de Moçambique.
Bacias produtoras de petróleo.
Contexto tectónico desfavorável.
Bacias carboníferas Sem significado
Sem significado
Sem significado
Sem significado
Grandes bacias carboníferas
Sem significado
Sem significado
Rochas máficas e ultramáficas
Sem grandes províncias de rochas máficas
Ilhas compostas por rochas vulcânicas.
Sem grandes províncias de rochas máficas
Sem grandes províncias de rochas máficas
Rochas ultramáficas em zonas próximas de futuras centrais a carvão.
Ilhas compostas por rochas vulcânicas.
Com pouca importância
Sem potencial. Potencial marginal ou produção de imatura de hidrocarbonetos,
Bom ou muito bom potencial mas custos elevados. Muito bom potencial
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 25
3.3 Síntese das oportunidades de armazenamento de CO2
A secção 3.1 abordou as oportunidades de
armazenamento CO2 nos países da CPLP em análise e
esta secção sintetiza essas oportunidades (Tabela 6). O
armazenamento como parte do processo de EOR não
está incluído, por ter sido abordado na secção anterior.
Os campos de petróleo e gás de maior maturidade
existentes ou a desenvolver‐se em Angola, Timor Leste e
Guiné Equatorial, constituem as melhores opções de
armazenamento de CO2. A existência desses campos de
hidrocarbonetos é também uma indicação de que podem
ocorrer aquíferos salinos profundos nos mesmos países.
As melhores possibilidades de armazenamento em
aquíferos salinos devem ocorrer em Moçambique e na
Guiné‐Bissau. Em Moçambique, estima‐se que as bacias
sedimentares de Rovuma e Moçambique apresentem
capacidade de armazenamento superior a 2 Gt CO2 no
sector onshore, com ajustes fonte‐sumidouro aceitáveis.
Estas bacias são bem relativamente conhecidas devido à
pesquisa petrolífera. Já o conhecimento sobre a geologia
da Guiné‐Bissau é muito escasso, mas a existência de
uma bacia sedimentar espessa, cobrindo a maior parte
do território onshore e offshore, fornece indicadores
favoráveis para a ocorrência de aquíferos salinos
profundos. Em Angola, a bacia do Kwanza também é
muito interessante, até porque está a ser objeto de
pesquisa petrolífera e não se encontra muito distante
dos principais centros de desenvolvimento. Esta bacia
tem uma área onshore considerável, estende‐se para o
offshore, e pode apresentar condições adequadas para o
armazenamento de CO2 em ambos os sectores.
A Guiné Equatorial tem fracas perspetivas de
armazenamento onshore, pois as bacias existentes são
muito estreitas. Timor Leste tem bacias sedimentares
onshore e offshore, mas o ambiente tectónico é
desfavorável e uma abordagem cautelosa deve favorecer
o armazenamento em campos de petróleo e gás natural.
Cabo Verde e São Tomé e Príncipe são arquipélagos
vulcânicos em que as perspetivas de armazenamento
onshore só podem ser encontradas nos basaltos que
compõem a maior parte do território dessas ilhas.
Moçambique é o único país com grandes bacias
carboníferas em que é possível considerar o
armazenamento de CO2 em camadas de carvão.
Em súmula, Angola e a Guiné Equatorial apresentam as
melhores condições para armazenamento de CO2 em
campos de petróleo e gás esgotados, mas as perspetivas
para armazenamento em aquíferos salinos profundos em
Moçambique, Angola e Guiné‐Bissau são igualmente
promissoras.
3.4 Motivações para implementação de actividades em CCS
Os Estados‐membros da CPLP analisados não possuem,
até ao momento, metas vinculativas de redução de
emissões de CO2. São países não industrializados, com
um número reduzido de fontes estacionárias de CO2, e
com emissões per capita muito inferiores à média global,
com exceção da Guiné Equatorial. Nestas circunstâncias,
as motivações para a implementação de tecnologias
dispendiosas, como a CCS, devem ser procuradas noutros
fatores que não a necessidade de redução de emissões.
A Tabela 7 lista algumas motivações possíveis para países
da CPLP se envolverem em atividades sobre CCS.
Uma motivação óbvia é contribuir para a mitigação das
alterações climáticas. Salienta‐se que Angola, Timor
Leste, Guiné‐Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe
são países classificados como de Elevada Vulnerabilidade
aos impactos das alterações climáticas. Por outro lado, a
Guiné Equatorial tem emissões de CO2 per capita
consideráveis, apenas inferiores no continente Africano
às da África do Sul, e a CCS pode ser encarada como uma
oportunidade para reduzir essas emissões per capita.
Uma motivação mais importante pode ser a dependência
da economia de Angola, Timor Leste e Guiné Equatorial
(e brevemente de Moçambique) da produção de
combustíveis fósseis. A implementação da CCS garantiria
um contexto económico mais estável no caso de adoção
de metas internacionais para a redução das emissões
provenientes de combustíveis fósseis. Além disso, a CCS
permitiria àqueles países dissociarem as emissões de CO2
e o crescimento económico.
Nos países com uma indústria petrolífera consolidada
(Angola, Timor Leste e Guiné Equatorial) podem advir
proveitos económicos importantes da utilização de CO2
em EOR, por incrementar o volume de petróleo
recuperado e conferir um valor económico ao CO2. A
maturidade da indústria petrolífera aumenta a perceção
das oportunidades de negócios existentes nas
componentes de transporte e armazenamento de CO2, e
fornecem a base regulatória necessária.
26 | CCS in the CPLP countries
A inclusão de projetos CCS no portfólio de atividades
admitidas no MDL pode constituir uma motivação,
através da comercialização de Reduções Certificadas de
Emissões (RCE) resultantes de projetos CCS. Porém,
atualmente o valor das RCE é incipiente e o número de
projetos no MDL (e consequente oferta de RCE) é muito
grande.
No caso de Moçambique, uma motivação económica
pode decorrer do armazenamento de CO2 capturado em
países vizinhos, concretamente na África do Sul (emissor
de mais de 500 Mt em 2010). É provável que
Moçambique tenha um potencial de armazenamento
muito acima das suas necessidades e pode beneficiar
economicamente do armazenamento do CO2 da África
do Sul. As regras atuais do MDL não permitem projetos
com componente transfronteiriça (i.e. CO2 capturado
num país e transportado e armazenado noutro país), mas
se esses critérios forem revistos – e há a expectativa de
que isso suceda na 45ª sessão do Subsidiary Body for
Scientific and Technological Advice (SBSTA) do CQNUAC,
em 2016 ‐ poderá ser criada uma oportunidade
económica para Moçambique.
O armazenamento transfronteiriço também pode ser
relevante para São Tomé e Príncipe e Angola. São Tomé e
Príncipe partilha uma bacia sedimentar offshore com a
Nigéria, a bacia do Delta do Níger, e questões de
armazenamento transfronteiriço podem colocar‐se se a
Nigéria optar por armazenar CO2 naquela bacia. De modo
similar, se Angola optar por armazenar CO2 nos campos
de petróleo do enclave de Cabinda, poderá necessitar de
transportar CO2 através de território da República
Democrática do Congo.
3.5 Desafios para a implementação de atividades em CCS
Os desafios para implementar atividades em CCS nos
países da CPLP, ou para desenvolver projetos de larga
escala nos países (Portugal e Brasil) já envolvidos em I&D
sobre CCS, são consideráveis e refletem muitos dos
Tabela 7– Motivações para a implementação de atividades em CCS nos países da CPLP em análise.
Motivações
Angola
o Economia altamente dependente da produção de petróleo. A tecnologia CCS permite dissociar o crescimento económico e as emissões de CO2.
o EOR pode constituir incentivo económico. o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Indústria petrolífera bem consolidada fornece a base para enquadramento regulatório. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.
Cabo Verde o Potencial geotérmico poderia ser desenvolvido com recurso ao uso de CO2 como fluido circulante.
Guiné-Bissau o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.
Guiné Equatorial
o Nível elevado de emissões per capita. o Economia altamente dependente da produção de petróleo. A tecnologia CCS permite dissociar o
crescimento económico e as emissões de CO2. o EOR pode constituir incentivo económico. o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Indústria petrolífera bem consolidada fornece a base para enquadramento regulatório.
Moçambique
o A produção de gás natural será uma fonte importante de rendimento para o país durante próxima década. A exploração de carvão e a fundição de alumínio são também atividades importantes para a economia de Moçambique. A CCS permite dissociar o crescimento económico e as emissões de CO2.
o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o A regulação da exploração de hidrocarbonetos e o plano de desenvolvimento do gás natural fornecem
uma base para o enquadramento regulatório. o Modelo de negócio baseado no armazenamento de CO2 da África do Sul, se o transporte e
armazenamento transfronteiriço forem internacionalmente admissíveis e regulados. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.
São Tomé e Príncipe
o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Questões de armazenamento transfronteiriço com a Nigéria. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.
Timor Leste
o Economia altamente dependente da produção de petróleo. A tecnologia CCS permite dissociar o crescimento económico e as emissões de CO2.
o EOR pode constituir incentivo económico. o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Indústria petrolífera bem consolidada fornece a base para enquadramento regulatório. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 27
desafios que a tecnologia CCS enfrenta globalmente. A
Tabela 8 enumera os desafios comuns aos países da
CPLP.
O reduzido conhecimento sobre a CCS nos países da CPLP
é um fator crítico e constitui o principal desafio técnico e
de conhecimento. A reduzida informação sobre os
detalhes da tecnologia impede os decisores de perceber
o papel da CCS em cada país, e a comunidade científica
de iniciar projetos de I&D (como a avaliação da
capacidade de armazenamento) ou a organização de
cursos de formação. Esta questão foi parcialmente
resolvida no Brasil pela ação da PETROBRAS e do CEPAC.
Os programas de transferência de conhecimentos de
projetos CCS a grande escala têm sido direcionados
quase exclusivamente para a China, Índia e África do Sul,
e não existem perspetivas de envolver os países menos
desenvolvidos nesses programas.
O modelo de negócio para a CCS não é claro, sobretudo
para países com o perfil ambiental e económico da
maioria dos Estados‐membros da CPLP, com exceção da
utilização de CO2 em EOR. O modelo de negócio óbvio
para CCS países menos desenvolvidos, os créditos RCE do
MDL, está estagnado e permanecerá assim até que o
valor do CO2 atinja valores mais atrativos.
As fontes de financiamento para projetos de CCS, mesmo
para projetos de I&D, necessitam de ser clarificados,
especialmente para os países africanos.
Quanto aos desafios políticos e de regulação, a questão
mais premente é a ausência de estudos detalhados que
esclareçam o papel que a CCS pode desempenhar em
cada país a médio prazo (para além de 2030). Esta
questão foi clarificada em Portugal pelo projeto CCS‐PT,
mas não foi ainda abordada nos outros países da CPLP.
Tabela 8 – Desafios à implementação de atividades CCS nos países da CPLP em análise.
Desafios técnicos e de
conhecimento
Reduzido conhecimento sobre os detalhes da tecnologia entre os decisores e académicos, incluindo nos países em que já decorrem atividades CCS. A existência de um Centro de Excelência em CCS (CEPAC) permitiu enfrentar este desafio no Brasil. Incerteza sobre a capacidade de armazenamento em cada país e em vários casos (nos países exploração petrolífera significativa) escassez de informação sobre a geologia profunda. Ausência de capacidade técnica na cadeia de valor da CCS, uma característica provavelmente comum a todos os países da CPLP, mas facilmente ultrapassável nos países com uma indústria petrolífera consolidada (Angola, Brasil, Guiné Equatorial, Timor Leste) para as componentes de transporte e armazenamento da cadeia CCS. Ausência de transferência de conhecimentos sobre CCS de países desenvolvidos para os menos desenvolvidos. Necessidade de implementar projetos-piloto nos países que já avaliaram a sua capacidade de armazenamento (Brasil e Portugal), e que precisam de clarificar aspetos como a injetividade, sismicidade induzida, etc.
Desafios económicos
Não é claro qual o modelo de negócio para o CCS em países de baixo rendimento e as empresas ainda têm que assimilar o potencial em oportunidades de negócio associado à tecnologia CCS. Ausência de análises do valor económico da utilização do CO2 em EOR nos países da CPLP produtores de petróleo. Abordagem “Esperar para ver”, com os países da CPLP a aguardar pela implementação da CCS à escala internacional, apesar da especificidade local das opções de transporte e armazenamento. Futuro indefinido para o MDL e instabilidade do preço dos RCE e do CO2. Ausência de informação sobre fontes de financiamento para atividades CCS, em particular em África.
Desafios de regulação e
políticos
Ausência de estudos sobre o impacto da CCS nos planos estratégicos nacionais, pois na maior parte dos casos não existem metas de redução das emissões de CO2. Todos os países da CPLP apresentaram ou estão a desenvolver estratégias de ação climáticas, mas a CCS apenas é mencionada nos planos de Portugal e de Moçambique. Conhecimento reduzido sobre os detalhes da tecnologia entre os decisores e potenciais reguladores. Ausência de uma avaliação sobre a inclusão da CCS na legislação nacional, um assunto resolvido em Portugal através da transposição da Diretiva Europeia sobre Armazenamento de CO2. Indefinição da política internacional para mitigação das alterações climáticas. Regulação do transporte e armazenamento transfronteiriço de CO2, o que pode constituir um obstáculo para modelos de negócio em Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe.
28 | CCS in the CPLP countries
4 Acções futuras – concretizar o potencial de cooperação
cooperação entre os Estados‐membros da CPLP
decorre em múltiplas áreas da economia,
tecnologia, saúde, ciência, e a vários níveis,
desde acordos bilaterais até ao
enquadramento mais amplo providenciado pelo
secretariado da CPLP. A cooperação está enraizada das
ligações culturais duradouras entre os Estados‐membros
e no elo unificador da língua comum.
4.1 Acções recomendadas
A tecnologia CCS não é considerada uma prioridade para
os governos dos países da CPLP. No entanto, as
motivações e desafios enfrentados pelos membros da
CPLP têm muitas características comuns, e justificam
uma cooperação sistemática em atividades relacionadas
com a CCS, para a qual se apresentam algumas
recomendações.
Sensibilização e partilha de conhecimento O conhecimento e a informação sobre a CCS como
tecnologia de mitigação de alterações climáticas são
reduzidos nos países da CPLP, e a tecnologia tem que ser
divulgada entre as autoridades e instituições dos países
nos quais a CCS é potencialmente mais interessante. Esta
sensibilização deve ser direcionada principalmente para
os decisores, potenciais reguladores, ONGs ambientais, e
gestores industriais e académicos, de modo a promover
a discussão sobre o papel que a tecnologia pode
desempenhar em cada país. A organização de atividades
de sensibilização deve envolver todos os países da CPLP,
mas focar‐se inicialmente nos países já envolvidos em
atividades em CCS ‐ Brasil e Portugal ‐ e naqueles com
maior potencial para iniciar atividades em CCS:
Moçambique, Angola e Guiné Equatorial.
A organização de um seminário anual, dirigido a
decisores e gestores é uma forma adequada para
promover a sensibilização e partilha de conhecimentos
entre os países da CPLP. A organização do seminário
deve alternar entre os diferentes países da CPLP, com
aumento do conteúdo técnico entre seminários e
culminando na realização de eventos de capacitação e
cursos técnicos breves com o foco principal na aquisição
de competências técnicas necessárias na tecnologia CCS.
Outras atividades de partilha de conhecimento válidas
seriam a:
o Expansão do conteúdo sobre as oportunidades de CCS
em cada um dos países da CPLP, apresentado na secção
3.1 desta publicação, e produção de folhetos com esse
conteúdo;
o Tradução para Português de alguns dos muitos folhetos
técnicos sobre CCS produzidos por diversas instituições
(ex. GCCSI, CO2GEONET, CSLF, IEAGHG, etc.);
o Promoção de teses de mestrado e de doutoramento
sobre temas da tecnologia CCS por estudantes das
principais universidades de países da CPLP.
Avaliação da capacidade de armazenamento
A avaliação da capacidade de armazenamento é um
passo essencial para lançar projetos CCS. Portugal e
Brasil já efetuaram a inventariação da sua capacidade de
armazenamento à escala regional e esse trabalho deve
prosseguir para estudos mais detalhados.
Preconiza‐se o lançamento de um estudo de avaliação da
capacidade de armazenamento de CO2 em formações
geológicas e do ajuste com as fontes emissoras ou
centros de desenvolvimento de cada país. O projeto deve
visar principalmente os aquíferos salinos profundos e
campos de petróleo e gás esgotados em Angola, Guiné‐
Bissau, Guiné Equatorial, Timor Leste e Moçambique. Em
Moçambique deve ainda avaliar a capacidade de
armazenamento em camadas de carvão não exploráveis.
O projeto deve envolver os Serviços Geológicos e/ou
Reguladores do sector petrolífero em cada país, bem
como geólogos das principais universidades para garantir
a capacitação técnica. Brasil e Portugal participariam no
projeto para garantir a transferência de conhecimentos
dos estudos similares realizados nos seus territórios. A
implementação desta atividade poderia iniciar‐se no
primeiro seminário de sensibilização, através da criação
de uma equipa de trabalho que identifique a informação
geológica existente, os recursos técnicos de cada país, as
potenciais fontes de financiamento, e que elabore uma
proposta de avaliação de capacidade de
armazenamento.
A
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 29
Clarificar o papel da CCS em cada país O projeto CCS‐PT em Portugal permitiu avaliar o papel da
tecnologia CCS no contexto económico, energético e de
redução de emissões de Portugal. Estudos similares em
cada país da CPLP, baseados na modelação do sistema
energético, podem clarificar o papel da CCS e sua
interação com outras opções de mitigação de alterações
climáticas. O Brasil dispõe de informação suficiente para
desenvolver um estudo desta natureza, mas os outros
países da CPLP teriam ainda de identificar as capacidades
de armazenamento e as fontes emissoras. Estes estudos
poderiam culminar na identificação de oportunidades
para projetos de CCS nos países da CPLP. A prioridade
para os estudos obedeceria ao potencial para atividades
CCS: Brasil, Moçambique, Angola e Guiné Equatorial.
Utilização de CO2 em EOR A utilização de CO2 em EOR é bem conhecida entre a
indústria e reguladores do sector petrolífero dos países
produtores de petróleo da CPLP, nomeadamente Angola,
Brasil, Guiné Equatorial e Timor Leste. A organização de
um workshop específico sobre a utilização de CO2 em
EOR deve envolver as empresas e reguladores de gás e
petróleo naqueles países. Um dos objetivos do workshop
seria a constituição de uma equipa liderada pela
indústria para avaliar a possibilidade de utilizar CO2 em
EOR nos países da CPLP.
A PETROBRAS e a PARTEX O&G têm uma vasta
experiência em EOR, bem como várias das empresas que
operam nos países produtores de petróleo e gás, pelo
que as capacidades e recursos técnicos estariam
garantidos desde o início.
CDM e projetos transfronteiriços Duas questões relacionadas com a regulação e a política
internacional sobre CCS deveriam ser discutidas e
eventualmente concertadas entre as autoridades e os
potenciais reguladores nos países da CPLP: i) a evolução
da CCS no MDL, pois os créditos de carbono provenientes
de projetos CCS no âmbito do MDL representam um
possível modelo de negócio para a maioria dos países da
CPLP; e ii) as regras sobre projetos CCS transfronteiriços,
nomeadamente a possibilidade de um país armazenar as
emissões de CO2 de um país vizinho, um possível modelo
de negócio para Moçambique, mas também relevante
para São Tomé e Príncipe. Por outro lado, o transporte
transfronteiriço pode ser importante para Angola.
4.2 Oportunidades de financiamento
Nenhum país da CPLP tem um programa específico para
financiar atividades relacionadas com CCS, mas alguns
mecanismos de cooperação e acordos de financiamento
bilaterais incluam a mitigação das alterações climáticas
entre as atividades financiadas. Existem também
possibilidades de financiamento em programas
internacionais e instituições com recursos
especificamente direcionados para atividades de CCS.
Fundo Especial da CPLP O Fundo Especial da CPLP é a principal fonte de
financiamento de atividades de cooperação na CPLP. O
financiamento é concedido para Projetos ou Ações
Pontuais como seminários e conferências. A cooperação
tem‐se centrado nas áreas prioritárias da educação,
saúde, cidadania e formação de recursos humanos, mas
o ambiente e alterações climáticas também têm sido
áreas financiadas. O financiamento do Fundo Especial
requer o apoio de todos os pontos focais da CPLP e
atividades devem envolver pelo menos três Estados‐
Membros. Atualmente, o Secretariado da CPLP pode
participar como parceiro em projetos internacionais,
permitindo um melhor enquadramento institucional.
Fundo Português de Carbono e programa FAST START O Fundo Português de Carbono (FPC) foi implementado
para facilitar o cumprimento das metas nacionais de
emissões de CO2 definidas no Protocolo de Quioto. O FPC
prosseguiu após 2012 e centrou‐se no financiamento de
projetos e atividades em Portugal. No entanto, o fundo
disponibilizou cerca de 36 M€ entre 2010‐2012 para
projetos de redução de emissões nos países da CPLP,
através do programa FAST START. Não é clara a
continuidade do programa FAST START para os próximos
anos. Porém, nos objetivos do FPC permanece a
cooperação com a CPLP, e em 2015 o FPC disponibilizou
500 000€ ao Secretariado da CPLP para atividades no
domínio das alterações climáticas.
Fundo para Capacitação CCS do Banco Mundial
Em Dezembro de 2009, o Banco Mundial constituiu um
Trust Fund para atividades em CCS, apoiado pelos
governos da Noruega, Reino Unido e pelo Global CCS
Institute. O fundo visa apoiar o financiamento de
atividades de partilha de conhecimentos e a capacitação
em CCS nos países parceiros do Banco Mundial. Este
fundo já apoiou projetos no Botswana, África do Sul,
China, Kosovo, Indonésia, Egipto, Jordânia, México e nos
30 | CCS in the CPLP countries
países do Magrebe, incluindo workshops técnicos e a
avaliação da capacidade de armazenamento. O fundo
gere cerca de USD 52 milhões, permanece ativo, e entre
as atividades previstas está o financiamento de projetos‐
piloto na África do Sul e México.
Programa de Desenvolvimento do Global CCS
Institute
Nos objetivos de promoção da tecnologia do Global CCS
Institute consta o financiamento de atividades de
capacitação e de pequenos projetos em países em
desenvolvimento. A maior parte dos recursos têm sido
dedicados à cooperação com os grandes emissores de
CO2, como a China, Índia e África do Sul, mas o Brasil
também beneficiou desses recursos para desenvolver o
Atlas Brasileiro de Armazenamento de CO2 e para a
organização de cursos técnicos. O Global CCS Institute
financiou também o workshop sobre cooperação em CCS
entre os países da CPLP, que decorreu em Setembro de
2013, em Lisboa, e o projeto CCS‐PT em Portugal.
Banco Africano de Desenvolvimento
O Banco Africano de Desenvolvimento (BAfD) não tem
qualquer programa de financiamento específico para
atividades em CCS, nem uma política oficial sobre a
tecnologia. No entanto, no seu Plano de Acão para as
Alterações Climáticas 2011‐2015 inclui o apoio a
investimentos em "Desenvolvimento com Baixo
Carbono". Embora a CCS não seja mencionada no plano,
a possibilidade de apoio a atividades CCS não deve ser
descartada, em especial se associada a projetos de
bioenergia, uma tecnologia em que o BAfD vê um grande
potencial em África. Dos nove Estados‐membros da
CPLP, seis são países africanos, pelo que é fundamental
iniciar um diálogo sobre CCS com o BAfD.
Fundo CCS do Banco Asiático de Desenvolvimento Timor Leste é o único país da CPLP com acesso ao Banco
Asiático de Desenvolvimento (BAD) e, especificamente
ao fundo CCS gerido por esta instituição. O fundo é
financiado, na maior parte, pelos governos do Reino
Unido e da Austrália e equivale a aproximadamente USD
74 milhões, direcionados sobretudo para projetos na
Índia, China, Indonésia e Vietname. Porém, não é de
descartar que atividades CCS, entre membros da CPLP,
que incluam Timor Leste com um dos parceiros possam
ser elegíveis para financiamento pelo BAD.
Carbon Sequestration Leadership Forum
O Carbon Sequestration Leadership Forum (CSLF)
mantém um fundo de formação técnica de quadros à
disposição dos países emergentes membros do CSLF,
como é o caso do Brasil. Atividades de capacitação entre
os países da CPLP em que o Brasil seja um parceiro
podem ser elegíveis para financiamento pelo CSLF. Foi
esse o caso do workshop sobre CCS entre os países da
CPLP, que teve lugar em Setembro de 2013, em Lisboa, e
os cursos técnicos sobre CCS organizados pelo CEPAC em
2012‐2014 em Porto Alegre (Brasil).
Fundo Verde do Clima
O Fundo Verde do Clima, criado em 2010 pelo CQNUAC,
incluiu explicitamente a tecnologia CCS entre a tipologia
de projetos financiáveis. O nível de atividades em CCS
que podem ser despoletadas em países da CPLP ainda
está num estágio inicial. Porém, se os estudos
preliminares (capacidade de armazenamento, papel da
CCS em cada país…) permitirem a identificação de
oportunidades de projetos‐piloto ou à escala comercial,
o Fundo Verde do Clima pode constituir uma fonte de
financiamento relevante.
CCS nos Estados‐membros da CPLP | 31
5 Conclusões As estratégias ambientais e de mitigação das alterações
climáticas dos Estados‐membros da CPLP não incluem a
tecnologia CCS com uma das prioridades. Não
surpreende por isso, que o Brasil, responsável por cerca
de 85% das emissões de CO2 na CPLP, e Portugal sejam
os únicos países da CPLP com atividades em CCS.
Uma análise das atuais emissões de CO2 nos outros
países da CPLP não permite encontrar muitas motivações
para a implementação de uma tecnologia dispendiosa
como é a CCS. Além disso, arquipélagos como Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe, com populações dispersas
e custos de insularidade, descartam a CCS como uma
tecnologia relevante para esses Estados‐membros.
Contudo, a produção de combustíveis fósseis tem um
papel crucial nas economias de Angola, Brasil, Timor
Leste, Guiné Equatorial e Moçambique. A CCS garante
um contexto económico estável caso sejam adotadas
metas internacionais rigorosas e vinculativas de redução
das emissões associadas aos combustíveis fósseis.
Acresce que quase todos os países da CPLP têm
investimentos em curso, ou planeados, no sector
industrial. É o caso da indústria cimenteira; dos setores
de processamento de hidrocarbonetos (com
investimentos previstos em refinarias, fábricas de
processamento de gás e de GNL); e do setor
electroprodutor, particularmente em Moçambique, com
várias centrais a carvão ou gás natural planeadas. A CCS
permite a dissociação entre as emissões de CO2 e o
crescimento económico dos países da CPLP.
Existem oportunidades de negócios na utilização do CO2
em EOR, para os países da CPLP produtores de petróleo,
ou para Moçambique, no armazenamento de CO2
capturado na África do Sul. Finalmente, o potencial de
bioenergia é elevado em vários países da CPLP e projetos
bio‐CCS podem constituir oportunidades promissoras.
Os desafios a superar para incluir a tecnologia CCS nas
agendas dos países da CPLP são consideráveis. Os mais
significativos são o reduzido conhecimento sobre a
tecnologia, e a ausência de um modelo de negócio claro
para a CCS em países em desenvolvimento e
subdesenvolvidos (excetuando a utilização de CO2 em
EOR), pois a inclusão da CCS no MDL não constituiu o
incentivo previsto.
Brasil e Portugal já desenvolvem atividades significativas
em CCS e os esforços para incluir esta tecnologia na
agenda de outros países da CPLP devem concentrar‐se
em Angola, Guiné Equatorial, Moçambique e Timor
Leste. As ações recomendadas incluem:
o Sensibilização dos decisores políticos, reguladores e demais partes interessadas, através da realização de em workshops e seminários sobre a tecnologia;
o Avaliação da capacidade de armazenamento CO2 nos países da CPLP, com transferência de conhecimentos dos trabalhos já realizados no Brasil e Portugal;
o Clarificação do papel da CCS no contexto económico, energético e de redução de emissões de cada país, garantindo a transferência de conhecimentos do projeto CCS‐PT em Portugal. Esta clarificação seria particularmente útil para o Brasil, mas também para Moçambique e Angola;
o Discussão das oportunidades resultantes da utilização de CO2 em EOR nos países com indústrias petrolíferas consolidadas, como Angola e Guiné Equatorial, e garantindo a transferência de conhecimentos de empresas portuguesas e brasileiras;
o Desenvolvimento de abordagens comuns para questões de regulação, como o papel da CCS no MDL e o transporte e armazenamento transfronteiriço, uma questão importante para Moçambique, e possivelmente para Angola e São Tomé e Príncipe.
Quanto mais cedo a tecnologia CCS for incluída no leque
de atividades de cooperação entre os estados‐membros
da CPLP, melhores serão as possibilidades de
identificação das oportunidades decorrentes da
implementação da CCS como uma tecnologia de
mitigação das alterações climáticas.
32 | CCS in the CPLP countries
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34 | CCS in the CPLP countries
CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CO2 NA COMUNIDADE DE PAÍSES DE
LÍNGUA PORTUGUESA
OPORTUNIDADES E DESAFIOS
Maio | 2015
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