c e armazenamento de co c ortuguesa - repositório … · de negócio aplicável aos países em...

38
CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CO 2 NA COMUNIDADE DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA OPORTUNIDADES E DESAFIOS Maio | 2015 Angola Brasil Cabo Verde Guiné Equatorial Guiné-Bissau Moçambique Portugal São Tomé e Príncipe Timor Leste

Upload: duongngoc

Post on 07-Feb-2019

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

 

   

CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CO2 NA COMUNIDADE DE PAÍSES DE 

LÍNGUA PORTUGUESA 

OPORTUNIDADES E DESAFIOS 

  

Maio | 2015

AA nn gg oo ll aa

BB rr aa ss ii ll

CC aa bb oo VV ee rr dd ee

GG uu ii nn éé EE qq uu aa tt oo rr ii aa ll

GG uu ii nn éé -- BB ii ss ss aa uu

MM oo çç aa mm bb ii qq uu ee

PP oo rr tt uu gg aa ll

SS ãã oo TT oo mm éé ee PP rr íí nn cc ii pp ee

TT ii mm oo rr LL ee ss tt ee

CCS nos Estados‐membros da CPLP | i  

 

 

 

 

Agradecimentos 

Esta publicação foi elaborada pelos parceiros do projeto CCS‐PT Perspetivas para a Captura 

e  Sequestro  de  CO2  em  Portugal  com  o  objetivo  de  estimular  o  debate  sobre  papel  da 

tecnologia  de  captura  e  armazenamento  de  CO2  (CCS  ‐  CO2 Capture  and  Storage)  nos 

Estados‐membros da CPLP. 

Mais informações sobre  o projeto CCS‐PT em http://ccsroadmap.pt.  

O  consórcio  agradece  ao Global CCS  Institute  a  contribuição  financeira e  técnica para  a 

concretização do projeto, e aos colegas dos Estados membros da CPLP que participaram na 

análise das oportunidades e desafios de tecnologia CCS em cada país. Contribuíram para a 

realização desta publicação: 

Portugal: Júlio Carneiro, Instituto de Ciências da Terra, Universidade de Évora. 

Angola: António Olímpio Gonçalves, Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências, 

              Universidade Agostinho Neto. 

Brasil: Rodrigo Iglesias, CEPAC/Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 

Cabo Verde: Carlos Moniz, Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica,  

    Moisés Borges, Direção Geral do Ambiente. 

Moçambique: Anísio Pinto Manuel, Direção Nacional de Energia Elétrica. 

São Tomé e Príncipe: Guilherme Mota, Agência Nacional do Petróleo. 

Timor Leste: Elisa Pereira, Ministério do Ambiente. 

 

Aviso legal 

Esta publicação foi possível através do financiamento do Global CCS Institute, com o intuito 

de ampliar a discussão sobre a Captura e Armazenamento de CO2 como uma opção‐chave 

na  mitigação  das  alterações  climáticas.  As  opiniões  contidas  nesta  publicação  não 

representam  necessariamente  as  do  Global  CCS  Institute  ou  as  dos  seus membros.  O 

Global CCS  Institute não  garante  a  fiabilidade,  exatidão ou  integridade das  informações 

contidas nesta publicação e, até ao limite máximo permitido pela lei, não aceita qualquer 

responsabilidade  decorrente  de  qualquer  forma  (inclusive  por  negligência)  de  uso  ou 

dependência baseada na informação contida nesta publicação. 

   

 

ISBN: 978‐989‐20‐5757‐6 

© Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora, Évora, 2015. 

Todos  os  direitos  reservados.  Os  utilizadores  podem  descarregar,  imprimir  ou  copiar 

partes desta publicação para uso não comercial. Nenhuma parte desta publicação pode ser 

reproduzida sem citar a sua fonte. Não é permitido o uso comercial desta publicação. 

Todas as fotos apresentadas são livres de direitos de autor. 

 

Projeto de I&D parcialmente financiado por:  

ii | CCS in the CPLP countries  

 

 

 

ÍNDICE   

Sumário Executivo iii 1 A CPLP, Comunidade de Países de Língua Portuguesa 1 2 Estado de atividades CCS nos países da CPLP 3

Brasil 3 Portugal 4

3 Perspetivas para atividades em CCS na CPLP 6 3.1 Contexto industrial, energético e oportunidades de armazenamento de CO2 6

Angola 7 Cabo Verde 9 Guiné-Bissau 11 Guiné Equatorial 13 Moçambique 15 São Tomé e Príncipe 18 Timor Leste 20

3.2 Sectores com potencial para atividades em CCS 22 3.3 Síntese das oportunidades de armazenamento de CO2 25 3.4 Motivações para implementação de actividades em CCS 25 3.5 Desafios para a implementação de atividades em CCS 26

4 Acções futuras – concretizar o potencial de cooperação 28 4.1 Acções recomendadas 28 4.2 Oportunidades de financiamento 29

5 Conclusões 31 Bibliografia 32

    

CCS nos Estados‐membros da CPLP | iii  

Sumário Executivo A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é 

composta  por  nove  Estados‐membros,  distribuídos  por 

quatro  continentes:  Europa  (Portugal), América  (Brasil), 

África  (Angola,  Cabo  Verde,  Guiné  Equatorial,  Guiné‐

Bissau e  São Tomé e Príncipe) e Oceania  (Timor  Leste). 

Os Estados‐membros  representam um  conjunto diverso 

de  perfis  industriais,  económicos  e  ambientais,  mas 

partilham fortes laços culturais e económicos.  

A Captura e Armazenamento de CO2 (aqui designada pela 

sigla  CCS,  do  inglês  CO2  Capture  and  Storage)  não  é 

encarada  nos  países  da  CPLP  como  uma  tecnologia 

prioritária  para  a  mitigação  das  alterações  climáticas, 

embora  o  Brasil  e  Portugal  estejam  envolvidos  em 

atividades  CCS  há  vários  anos.  Os  restantes  países  da 

CPLP, reconhecidos como de elevada vulnerabilidade aos 

impactos das  alterações  climáticas, não  iniciaram  ainda 

qualquer  discussão  sobre  a  relevância  da  CCS  nas 

respetivas  políticas  ambientais.  Esta  publicação  é  um 

primeiro esforço para colocar a tecnologia CCS na agenda 

dos países da CPLP. É apresentada uma caracterização do 

perfil  industrial,  energético  e  de  emissões  de  CO2 nos 

países  da  CPLP,  e  discutem‐se  as  oportunidades  de 

armazenamento de CO2 nesses países. A análise debruça‐

se essencialmente sobre os Estados‐membros que ainda 

não  estão  envolvidos  em qualquer  atividade de  CCS. O 

Brasil, responsável por 80% a 85% das emissões na CPLP, 

e  Portugal  são  caraterizados  apenas  em  função  das 

atividades CCS desenvolvidas ou em curso. 

As motivações para implementação de atividades de CCS 

naqueles  Estados‐membros  devem  ser  procuradas  em 

fatores  não  relacionados  com  o  perfil  das  emissões  de 

CO2. Porém, as motivações existem e, no essencial, estão 

ligadas  à  produção  de  combustíveis  fósseis  em Angola, 

Timor  Leste,  Guiné  Equatorial  e  Moçambique.  A 

utilização de CO2 em Recuperação Avançada de Petróleo 

(EOR  ‐  Enhanced  Oil  Recovery),  a  captura  de  CO2  no 

processamento de petróleo  (refinarias)  e  gás natural, e 

em instalações de GNL, são possibilidades que devem ser 

discutidas no âmbito das políticas nacionais de mitigação 

das alterações climáticas.  

O  crescimento  demográfico  e  o  ritmo  de  crescimento 

económico  nalguns  Estados‐membros  implicam  um 

aumento  da  produção  de  energia  e  da  capacidade 

industrial  instalada.  Estão  previstos  investimentos  em 

centrais  termoelétricas  com  combustíveis  fósseis  em 

Angola,  Guiné  Equatorial  e,  especialmente,  em 

Moçambique,  bem  como  a  construção  de  fábricas  de 

cimento  em  quase  todos  os  países  da  CPLP.  Estes 

sectores,  e  ainda  a  fundição  de  alumínio  em 

Moçambique,  e  a  Bio‐CCS,  face  ao  vasto  potencial  de 

bioenergia  em  vários  Estados‐membros,  constituem 

oportunidades para a implementação de projetos CCS. 

As  oportunidades  de  armazenamento  de  CO2  ligadas  à 

utilização  de  CO2  em  EOR  ou  em  campos  de 

hidrocarbonetos  esgotados  são  as  opções  óbvias  para 

Angola, Timor  Leste e Guiné Equatorial. Moçambique e 

Guiné‐Bissau  possuem  bacias  sedimentares  extensas  e 

têm  boas  oportunidades  de  armazenamento  em 

aquíferos  salinos  profundos.  Moçambique  poderá 

também apresentar algum potencial de armazenamento 

em camadas de carvão não exploráveis. 

Por outro lado, os custos da insularidade e a dispersão da 

população e da economia  implicam que a CCS não  seja 

uma tecnologia relevante para Cabo Verde e São Tomé e 

Príncipe.  No  entanto,  a  utilização  de  CO2  em  Sistemas 

Geotérmicos  Estimulados  (ou  EGS)  pode  revestir‐se  de 

interesse para Cabo Verde, bem como atividades de I&D 

sobre o armazenamento de CO2 em ambientes basálticos.  

O  transporte  e  armazenamento  transfronteiriço de CO2 

podem  vir  a  ser  fatores  importantes  para  São  Tomé  e 

Príncipe,  que  partilha  uma  bacia  sedimentar  offshore 

com  a  Nigéria;  para  Angola,  que  pode  necessitar  de 

transportar  CO2  através  de  território  da  República 

Democrática  do  Congo  para  o  enclave  de  Cabinda;  e 

certamente para Moçambique, que pode eventualmente 

desenvolver  um  modelo  negócio  baseado  no 

armazenamento de CO2 capturado na África do Sul.  

Os  desafios mais  prementes  para  a  implementação  de 

atividades  de  CCS  nos  países  da  CPLP  são:  o  reduzido 

conhecimento da  tecnologia, uma característica comum 

a todos os Estados‐membros; a ausência de um modelo 

de  negócio  aplicável  aos  países  em  desenvolvimento  e 

subdesenvolvidos;  e  a necessidade de  clarificar o papel 

da  tecnologia  no  contexto  económico,  energético  e  de 

redução de emissões de cada país.  

A cooperação no âmbito da CPLP pode permitir superar 

estes  desafios  e,  no  sentido  de  estimular  o  início  da 

cooperação no domínio da CCS,  são propostas  algumas 

accções a implementar a curto/médio prazo. 

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 1  

1 A CPLP, Comunidade de Países de Língua Portuguesa

 Comunidade  dos  Países  de  Língua 

Portuguesa (CPLP) é um fórum multilateral 

que pretende fomentar a cooperação entre 

os  nove  estados  soberanos  em  que  o 

Português  é  uma  língua  oficial. A  CPLP  foi  fundada  em 

1996  por  Angola,  Brasil,  Cabo  Verde,  Guiné‐Bissau, 

Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a que se 

juntaram, como membros de pleno direito, Timor Leste 

em 2002 e a Guiné Equatorial em 2014.  

A Comunidade tem como objetivos gerais [1]: 

o A cooperação política e diplomática entre os Estados‐membros,  visando  fortalecer  a  sua  presença  no cenário internacional; 

o Cooperação  em  todas  as  áreas,  incluindo  educação, saúde, ciência e tecnologia, etc.; 

o Implementar  e  apoiar  projetos  de  promoção  e 

difusão da língua Português. 

A CPLP no contexto global Os  nove  Estados‐membros  da  CPLP  abrangem  um 

território de 10.7 milhões km2, uma área superior à dos 

EUA,  China  e  Índia,  e  quase  o dobro  da  área  da União 

Europeia (UE). Situados na maioria no hemisfério sul (Fig. 

1), os países da CPLP abrangem  realidades  tão diversas 

como o Brasil, quinto maior país do mundo, e São Tomé 

e Príncipe, o  segundo menor  Estado de África. O Brasil 

corresponde  a  79.51%  da  área  terrestre  da  CPLP, 

enquanto  São  Tomé  e  Príncipe  corresponde  apenas  a 

0.01% [2]. 

A  população  total  dos  países  da  CPLP  em  2013 

ultrapassou os 262 milhões de pessoas, cerca de metade 

da população da UE e 80% da população dos EUA, mas 

regista  taxas  de  crescimento  demográfico  muito 

superiores, com um aumento populacional médio de 1.2% 

por ano. Espera‐se que até 2050 a população dos atuais 

Estados‐membros da CPLP ultrapasse os 360 milhões de 

pessoas.  Naturalmente,  o  Brasil  apresenta  a  maior 

população,  200  milhões  de  pessoas  (76%),  mas  a 

população residente cresce a um ritmo mais elevado na 

Guiné  Equatorial  (2.8%), Moçambique  (2.7%)  e  Angola 

(2.5%). 

Em 2013, o Produto  Interno Bruto  (PIB) do conjunto de 

países da CPLP foi de USD 2620 mil milhões. A média do 

Produto  Nacional  Bruto  (PNB)  per  capita  foi  de  USD 

6821, mas com uma distribuição muito assimétrica, pois 

Portugal, Guiné Equatorial e Brasil  inflacionam de forma 

decisiva  a média.  Os  restantes  seis membros  têm  um 

PNB médio  de  USD  4147,  com  os  valores mais  baixos 

registados  em  Moçambique  (USD  590)  e  Guiné‐Bissau 

(USD  520).  Ainda  assim,  Angola,  Cabo  Verde  e 

Fig. 1– Estados‐membros da CPLP.

‘Angola, Timor Leste, Guiné‐Bissau eMoçambique estão classificados entre os países mais vulneráveis do mundo às alterações climáticas.’ 

2 | CCS in the CPLP countries  

0

1

2

3

4

5

0

100

200

300

400

500

600

1990 1995 2000 2005 2010 2015

Emissõ

es CO

2per

capita(t/a)

Emissõ

es CO

2(M

t/a)

0

5

10

15

20

25

0

2500

5000

7500

10000

12500

15000

CPLP U.E. EUA China India

Emissõ

es CO

2per

capita(t/a)

Emissõ

es CO

2(M

t/a)

Fig. 2 – Emissões de CO2 na CPLP e comparação com outras regiões em 2012. Fonte: JRC [3]. 

Moçambique  estão  entre  os  10 países  africanos  com  o 

maior  crescimento  económico  entre  2000  e  2012, 

enquanto a Guiné‐Bissau se encontra no polo oposto, o 

sexto país africano com o pior desempenho [2]. A Guiné 

Equatorial tem a maior rendimento per capita de África, 

e taxas de crescimento do PIB de dois dígitos em grande 

parte  da  década  2000‐2010,  embora  nos  últimos  anos 

tenha  registado  um  crescimento  modesto  ou  mesmo 

negativo.  Apesar  do  crescimento  económico,  Timor 

Leste,  Guiné  Equatorial,  Moçambique,  São  Tomé  e 

Príncipe e Guiné‐Bissau  têm  taxas de pobreza elevadas, 

na ordem dos 50% ou superiores [2], e constituem Países 

Subdesenvolvidos.  Espera‐se  que  a  Guiné  Equatorial 

alcance  em  2016  a  classificação  de  País  em 

Desenvolvimento, um estatuto aplicado ao Brasil e Cabo 

Verde [3]. Portugal é considerado um País Desenvolvido.  

Este  ambiente  socioeconómico  reflete‐se  em  taxas 

reduzidas de emissões de CO2 provenientes do consumo 

de  combustíveis  fósseis e da produção de cimento  (Fig. 

2)  [2].  As  emissões  de  CO2  na  totalidade  da  CPLP 

aumentaram de modo  consistente de 278 Mt em 1990 

até às 538 Mt em 2012, um aumento médio 11 Mt por 

ano  [4].  Estes  valores  são,  ainda  assim,  uma  reduzida 

fração  das  emissões  globais,  pois  os  valores  per  capita 

são  reduzidos,  apenas  2.05  t/a  em  2012,  um  valor 

comparável  ao  da  India,  e  que  traduz  um  aumento 

gradual desde as 1.4 t/a registadas em 1990 (Fig. 2).  

A distribuição das emissões na CPLP é muito assimétrica, 

com o Brasil responsável por 80%‐85% das emissões (Fig. 

3), reflexo da proporção elevada de população brasileira 

na CPLP. A Guiné‐Bissau, Timor Leste, Cabo Verde e São 

Tomé e Príncipe, emitiram em conjunto menos de 1 Mt 

de CO2 em 2012. A distribuição de emissões de CO2 per 

capita é muito diferente, com a Guiné Equatorial (6.7 t/a) 

e  Portugal  (5  t/a)  a  apresentarem  os  valores  mais 

elevados,  enquanto o Brasil  (2.2  t/a)  e Angola  (1.6  t/a) 

são os outros estados‐membros com emissões per capita 

superiores à unidade. 

Todos os países da CPLP, exceto Portugal, estão situados 

em  regiões  tropicais.  Segundo  diversos  índices  de 

“vulnerabilidade  às mudanças  climáticas”  [5‐9], Angola, 

Timor Leste, Guiné‐Bissau e Moçambique estão entre os 

países  mais  vulneráveis  do  mundo  ao  impacto  das 

alterações climáticas. Um desses  índices, o ND‐GAIN [7], 

avalia  a  vulnerabilidade  às  alterações  climáticas  e  a 

capacidade  de  resposta  a  essas  alterações. O ND‐GAIN 

indica  que  Angola,  Guiné‐Bissau,  Timor  Leste, 

Moçambique  e  São  Tomé  e  Príncipe  são  muito 

vulneráveis às alterações climáticas e têm capacidade de 

resposta  reduzida.  Cabo  Verde  também  apresenta 

vulnerabilidade  alta,  mas  a  capacidade  de  resposta  é 

mais adequada. A Guiné Equatorial, Brasil e Portugal são 

menos vulneráveis às alterações climáticas. 

Fig.  3 – Distribuição  das 538 Mt  CO2  emitidas  pelos estados‐membros  da  CPLP em 2012. Fonte: JRC [3]. 

Angola3.95%

Brasil85.53%

Portugal9.13%

Moçambique0.76%

Guiné Equatorial0.49%

Guiné‐Bissau0.06%

Cabo Verde0.03%

S. Tomé e Príncipe0.02%

Timor Leste 0.04%

1.39%

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 3  

2 Estado de atividades CCS nos países da CPLP ortugal  é  o  único  país  da  CPLP  incluído  no 

Anexo  I  da  Convenção  Quadro  das  Nações 

Unidas  sobre  as  Alterações  Climáticas 

(CQNUAC)  e  as  suas  metas  de  redução  de 

emissões  foram  definidas  no  âmbito  do  acordo  de 

partilha de responsabilidades da UE‐15. Todos os outros 

membros da CPLP são partes Não‐Anexo I da CQNUAC e 

Não‐Anexo  B  do  Protocolo  de  Quioto;  isentos  dos 

compromissos de  redução das emissões de CO2. Assim, 

não  existiram motivações  políticas  ou  económicas  para 

implementar tecnologias de redução de emissões de CO2 

como a CCS. Apenas Portugal e Brasil desenvolveram de 

modo consistente atividades em CCS, impulsionados pela 

necessidade  de  avaliar  o  impacto  da  tecnologia  em 

sectores  específicos,  concretamente  nos  sectores 

energético  e  cimenteiro  de  Portugal  e  de  produção  de 

hidrocarbonetos no Brasil. As autoridades e stakeholders 

dos outros países da CPLP têm participado em workshops 

e  seminários  sobre  a  tecnologia  CCS, mas  sem  que  daí 

que tenham resultado atividades ou projetos em CCS.  

Este  capítulo  aborda  as  atividades  já  desenvolvidas  ou 

em  curso  no  Brasil  e  em  Portugal,  enquanto  as 

perspetivas  para  os  outros  países  da  CPLP,  o  foco 

principal desta publicação, são abordadas no capítulo 3. 

Brasil O Brasil é o maior emissor de CO2 na CPLP. Em 2010, o 

Brasil emitiu 419 Mt de CO2 provenientes da queima de 

combustíveis fósseis e da produção de cimento, cerca de 

85% do total das emissões na CPLP [10]. No entanto, as 

emissões  per  capita  do  Brasil  continuam  relativamente 

baixas, 2.2  t/a em 2010, em parte porque mais de 80% 

da eletricidade do Brasil é produzida por  fontes hídricas 

(Fig.  4).  Por  outro  lado,  as  emissões  dos  sectores 

industriais  são  importantes,  pois  o  Brasil  é  um  dos 

maiores  produtores  mundiais  de  cimento,  alumínio, 

produtos  químicos  e  petroquímicos,  e  é  o  12º  maior 

produtor de petróleo. Neste enquadramento, é provável 

que a  tecnologia CCS  seja mais  relevante no Brasil para 

os  sectores  industriais  do  que  para  o  sector 

electroprodutor. 

Estado das atividades CCS  

Em Dezembro de 2010 o Brasil aprovou  legislação para 

reduzir  as  emissões  do  país  em  36.1%  a  38.9%  das 

emissões projetadas até 2020, mas a CCS não foi incluída 

no portfolio de  tecnologias de redução de emissões. No 

entanto,  a petrolífera nacional  PETROBRAS  é, há  vários 

anos,  um  promotor  ativo  da  tecnologia  CCS  e  efetua 

injeção  de  CO2  para  EOR  desde  1987  no  campo  de 

Buracica e desde 2009 no projeto‐piloto Miranga [11]. 

A  PETROBRAS  opera  atualmente  um  projeto  CCS  de 

grande  escala,  no  campo  de  petróleo  Lula,  o  único 

projeto mundial de CO2‐EOR numa zona offshore. Desde 

Junho de 2013 o CO2 separado do gás natural produzido 

na Bacia de Santos, 5 a 7 km abaixo do nível do mar, é 

comprimido  e  reinjetado  no  reservatório  de  petróleo 

para  EOR.  A  PETROBRAS  pretende  injetar  0.7 Mt/a  de 

CO2  e  até  2020  espera  instalar  vinte  novos  sistemas 

flutuantes  de  produção  no  Pré‐Sal,  muitos  deles 

incluindo reinjeção de CO2 para EOR [12, 13]. 

A  PETROBRAS  é  a  principal  impulsionadora  da  I&D  em 

CCS  realizada no Brasil, com  investimentos previstos da 

ordem dos USD 150 milhões entre 2010‐2015, sobretudo 

no âmbito de dois programas tecnológicos de I&D[14]:  

o EMISSÕES  ‐ Programa Tecnológico para a Redução de  Emissões  Atmosféricas;  abrangente  e  de  longo prazo,  incluindo  os  impactos  das  alterações climáticas, vulnerabilidade e adaptação;  

o PROCO2  ‐ Programa Tecnológico de Gestão de CO2 no  Pré‐sal;  centrado  nas  questões  de  CO2  no desenvolvimento  do  cluster  Pré‐sal  na  Bacia  de Santos. 

Nestes  programas  e,  em  conjunto  com  a  Universidade 

Federal de Santa Catarina, a PETROBRAS  instalou o CO2 

MMV Field Lab, o primeiro de seu género na América do 

Sul, destinado a preencher as  lacunas de conhecimento 

sobre  as  tecnologias  de  gestão  do  CO2.  Outro  projeto 

importante  é  o  Laboratório  de  Captura  de  CO2  no 

Instituto  Nacional  de  Pesquisas  Espaciais  (INPE), 

centrado  no  desenvolvimento  de  novos materiais  para 

combustão de hidrocarbonetos através de um processo 

de chemical looping. 

Fig. 4 – Fração (%) de emissões de CO2 do sector energético no Brasil, UE, EUA e mundiais em 2005 [13].

Emissões do sector energético /emissões totais 

4 | CCS in the CPLP countries  

A PETROBRAS  também está ativa a nível de cooperação 

internacional,  pois  é membro  da  IEAGHG  e  do  CSLF,  e 

participa em vários projetos  internacionais. Como parte 

integrante  da  Iniciativa  Industrial  CCP  (CO2  capture 

Project),  a  PETROBRAS  implementou  um  projeto  piloto 

de captura de CO2 por oxi‐combustão numa unidade de 

um complexo de investigação no Paraná, Brasil. 

Diversas  universidades  e  centros  de  investigação 

brasileiros estão envolvidos em  I&D sobre CCS, também 

com apoio da PETROBRAS. Em 2007 um acordo entre a 

PETROBRAS  e  Pontifícia  Universidade  Católica  do  Rio 

Grande do Sul (PUCRS) permitiu implementar um centro 

de  investigação sobre armazenamento de CO2, o CEPAC 

(Centro  de  Excelência  em  Pesquisa  e  Inovação  em 

Petróleo,  Recursos  Minerais  e  Armazenamento  de 

Carbono),  uma  das  instituições‐chave  para  a  I&D  e 

capacitação sobre CCS no Brasil. O CEPAC foi responsável 

pelo projeto CARBMAP  – Mapa Brasileiro de  Sequestro 

de  Carbono  ‐  concluído  em  2011,  e  que  avaliou  a 

capacidade  de  armazenamento  no  país  e  em  cerca  de 

2000 Gt. Para além de conduzir diversos projetos de I&D, 

como  sejam  o  projeto‐piloto  de  CBM/ECBM  em  Porto 

Batista (desenvolvido em conjunto com a PETROBRAS e o 

COPELMI),  o  CEPAC  tem  organizado  seminários  para 

sensibilizar as comunidades locais e demais stakeholders 

para a tecnologia CCS [11]. 

CCS na indústria de extração de carvão 

Embora o Brasil não seja um grande produtor de carvão, 

há  empresas  de  mineração  brasileiras  de  grande 

envergadura  com  atividade  em  vários  países,  incluindo 

em Estados‐membros da CPLP. A indústria carbonífera do 

Brasil está envolvida em investigação em CCS para avaliar 

as suas opções de  redução de emissões, e a Associação 

Brasileira do Carvão Mineral (ABCM) planeia investir USD 

6.5  milhões  entre  2010‐16  em  projetos  nesta  área, 

incluindo a construção de um laboratório sobre captura e 

utilização de CO2. A ABCM  também  colabora  com o US 

NETL num programa de I&D sobre captura de CO2, e em 

capacitação de quadros técnicos [15]. 

Bio‐CCS 

O Brasil é um  líder mundial e percursor na produção de 

biocombustíveis. A possibilidade de aliar essa experiência 

com a CCS é admitida no país e a Bio‐CCS é um foco de 

investigação.  A  Universidade  de  São  Paulo,  através  do 

Centro  Nacional  de  Referência  em  Biomassa,  investiga 

ativamente o potencial de Bio‐CCS no Brasil, estimando 

que  possa  contribuir  para  reduzir  até  5%  as  emissões 

provenientes de produção de energia [11]. 

CCS nos sectores cimenteiros e siderúrgicos 

Apesar da importância do sector cimenteiro na economia 

brasileira,  com uma produção anual de  cerca de 70 Mt 

de cimento (quinto maior produtor do mundo), o sector 

parece  não  estar  envolvido  em  atividades  de  grande 

escala sobre CCS no país. Também no  importante sector 

siderúrgico  é  desconhecido  qualquer  envolvimento  em 

atividades em CCS. 

Autoavaliação sobre o estado da CCS no Brasil 

Em abril de 2014, numa mesa‐redonda sobre CCS no Rio 

de Janeiro, os participantes foram convidados a avaliar o 

estado  da  I&D  sobre  CCS  no  país.  Os  participantes 

consideraram  que  o  papel  da  CCS  na  mitigação  das 

alterações  climáticas  ainda  não  é  compreendido  por 

muitos sectores no Brasil. Embora a tecnologia seja bem 

conhecida  da  PETROBRAS,  e  de  alguns  sectores  de 

atividade e por muitos académicos, a  falta de apoio do 

governo  e  a  baixa  prioridade  dada  à  tecnologia  nas 

políticas  climáticas  nacionais  e  estaduais  foram 

destacadas  como  preocupações  significativas.  O 

envolvimento  governamental  e  o  estabelecimento  de 

políticas  e  regulamentação  que  facilitem  a 

implementação  da  CCS  foram  considerados  elementos‐

chave para o futuro da CCS no Brasil [16]. 

Um passo importante para o desenvolvimento da CCS no 

Brasil  foi  a  recente  publicação  do  Atlas  Brasileiro  de 

Captura  e  Armazenamento  Geológico  de  CO2  [17]. 

Espera‐se  que  a  publicação  do  Atlas  venha  contribuir 

para expandir o conhecimento sobre a tecnologia CCS no 

país,  despertando  o  interesse  dos  stakeholders  e 

aumentando a perceção pública. 

Portugal Esta  publicação  integra  o  projeto  CCS‐PT  um  estudo 

prospetivo  que  procura  clarificar  o  papel  da  tecnologia 

CCS no contexto Português e a sua eventual necessidade 

nos  sectores  industriais  e  energéticos  nas  próximas 

décadas. O projeto CCS‐PT  sintetiza  em  larga medida o 

trabalho  realizado  em  atividades  CCS  anteriores  em 

Portugal. 

‘A rede de sequestro de carbono e 

alterações climáticas foi promovida pela 

PETROBRAS para abordar desafios em 

CCS e alterações climáticas. De 2006 a 

2013 foram investidos USD 17 milhões.’

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 5  

Atividades de captura de CO2 

A nível académico  têm  sido efetuados diversos estudos 

sobre  captura  CO2,  mas  os  projetos  mais  relevantes 

envolveram os  sectores  industriais e electroprodutor. A 

EDP, principal empresa nacional de produção de energia, 

participou  em  vários  projetos  cofinanciados  pela União 

Europeia, incluindo [18]: 

o projeto  NanoGLOWA;  investigou  o  potencial  da 

utilização de membranas para capturar CO2 e  incluiu 

testes‐piloto na Central Termoelétrica de Sines; 

o projeto  DECARBIT;  procurava  viabilizar  até  2020  as 

centrais  termoelétricas  de  pré‐combustão  com 

emissões zero, com custo de captura inferior a 15 €/t, 

e que incluiu vários testes‐piloto; 

o projeto  FLEXYBURN  CFB;  visada  demonstrar  e 

desenvolver um conceito de central térmica baseada 

na tecnologia de Circulating Fluidized Bed combinada 

com  CCS.  Incluiu  uma  central  piloto  de  30MW  em 

Espanha.  

Outra  empresa  portuguesa  de  produção  de  energia,  a 

TEJO  ENERGIA,  avaliou  no  âmbito  do  projeto  KTEJO,  a 

viabilidade  técnico‐económica  de  adoção  de  CCS  na 

central a carvão do Pego, a segunda maior do país. 

Nos sectores industriais, são conhecidas atividades sobre 

captura de CO2 nos  sectores de produção de cimento e 

de  refinação  de  petróleo.  A  petrolífera  GALP  ENERGIA 

implementou  um  projeto‐piloto  para  a  captura  de  CO2 

por  algas,  com  reutilização  em  biocombustíveis.  No 

sector  cimenteiro,  as  duas  empresas  portuguesas, 

CIMPOR  e  SECIL,  desenvolveram  projetos‐piloto  de 

captura  de  CO2  através  de  microalgas  durante  a 

produção  de  clínquer.  A  indústria  cimenteira  nacional 

também está envolvida em estudos sobre CCS no seio da 

European Cement Research Academy. 

Atividades de transporte de CO2 

O  projeto  COMET,  cofinanciado  pela  UE,  constituiu  o 

principal  estudo  sobre  transporte  de  CO2  desenvolvido 

em  Portugal  e  teve  como  objetivo  definir  uma 

infraestrutura integrada de transporte e armazenamento 

entre Portugal, Espanha e Marrocos. O projeto envolveu 

a maioria dos principais emissores de CO2 em Portugal e 

incluiu  a  definição  de  uma  rede  de  gasodutos  de  CO2, 

com base na otimização de custos de toda a cadeia CCS, 

e uma avaliação da viabilidade do  transporte por navio. 

O  COMET produziu  a primeira  análise  custo‐eficácia da 

tecnologia  CCS  no  contexto  Português,  um  trabalho 

prosseguido e desenvolvido no âmbito do roteiro CCS‐PT.  

Atividades de armazenamento de CO2 

Os projetos KTEJO e COMET incluíram a análise, à escala 

regional, da capacidade de armazenamento em aquíferos 

salinos  profundos,  e  produziram  estimativas  da 

capacidade  de  armazenamento  efetiva máximas  de  7.6 

Gt, a grande maioria (mais de 90%) em zonas offshore. A 

capacidade de armazenamento na Bacia Carbonífera do 

Douro,  também  tem  foi  alvo  de  estudos  desenvolvidos 

pela Universidade Fernando Pessoa.  

Avaliação sobre estado da CCS em Portugal 

Portugal não possui ainda um corpo  técnico e científico 

especializado  nas múltiplas  componentes  da  cadeia  de 

CCS.  Num  primeiro  esforço  de  capacitação,  o  projeto 

COMET  incluiu  workshops  e  seminários  em  várias 

universidades  portuguesas.  A  participação  foi 

invariavelmente  acima  das  expectativas,  mas  a 

tecnologia  ainda  é  relativamente  pouco  conhecida  no 

meio académico. O conhecimento sobre a tecnologia CCS 

entre a sociedade em geral é muito reduzido, já que não 

foi ainda  implementado qualquer programa  sistemático 

de  divulgação  pública.  Por  outro  lado,  o  conhecimento 

sobre  CCS  entre  a  indústria  e  reguladores  é  bastante 

elevado,  pois  muitos  estiveram  já  envolvidos  em 

atividades sobre CCS. 

No  tocante  à  regulação,  o  armazenamento  de  CO2  é 

regulamentado pela Lei 60/2012,que transpõe a diretiva 

UE 2009/31/EC, e designa a Direção Geral da Energia e 

Geologia como autoridade de  licenciamento e regulação 

da  atividade,  e  envolve  a  Agência  Portuguesa  do 

Ambiente como a autoridade de controlo ambiental. 

A publicação do estudo CCS‐PT, de que esta publicação é 

parte  integrante,  irá  contribuir  para  um  melhor 

entendimento  do  papel  da  tecnologia  no  contexto 

português,  permitindo  às  autoridades,  reguladores,  e 

demais stakeholders, tomar decisões informadas sobre a 

implementação  da  tecnologia  em  Portugal.  Mais 

informações  sobre o projeto CCS‐PT podem  ser obtidas 

em  http:\\ccsroadmap.pt  e  na  página  de  internet  do 

GCCSI.   

‘O Roteiro CCS‐PT clarifica o papel da 

tecnologia no contexto Português e a 

sua necessidade nos sectores industriais 

e energéticos num cenário de economia 

de baixo carbono.’ 

6 | CCS in the CPLP countries  

3 Perspetivas para atividades em CCS na CPLP  ausência  de  atividades  de  CCS 

significativas nos outros membros da CPLP, 

para  além  de  Brasil  e  Portugal,  reflete  a 

carência  de  motivações  para  a 

implementação  da  tecnologia.  No  entanto,  a 

elegibilidade  de  projetos  CCS  no  Mecanismo  de 

Desenvolvimento Limpo (MDL) [19], a evolução do perfil 

das emissões de CO2 em alguns dos países da CPLP, e o 

interesse  reforçado  na  utilização  de  CO2  em  EOR, 

fornecem  o  incentivo  para  avaliar  a  possibilidade  de 

implementar projetos CCS nos restantes países da CPLP. 

3.1 Contexto industrial, energético e oportunidades de armazenamento de CO2

Esta secção caracteriza sucintamente, e para cada país da 

CPLP  ainda  não  envolvido  em  atividades  de  CCS,  os 

recursos em combustíveis fósseis endógenos, os sectores 

energéticos e industriais, o perfil das emissões de CO2 e o 

potencial de armazenamento de CO2. Portugal e Brasil, já 

envolvidos  em  vários  projetos  CCS,  não  são  incluídos 

nesta análise.   

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 7  

Angola

Combustíveis fósseis endógenos  Angola é membro da OPEP e o segundo maior produtor 

de  petróleo  da  África  subsaariana,  com  quase  9.1 mil 

milhões  de  barris  de  reservas  de  petróleo.  Em  2013, 

Angola  extraiu  94  Mtep  de  petróleo  (Fig.  5),  com 

proveitos de quase 80% do PIB nacional [20]. A produção 

de gás natural quase quadruplicou nos últimos 20 anos, 

de  2.5  Mtep  em  1990  para  9.5  Mtep  em  2012,  mas 

apesar  das  reservas  consideráveis,  Angola  é  ainda  um 

pequeno produtor, pois 91% do gás natural associado ao 

petróleo  é  reinjetado,  libertado  para  a  atmosfera  ou 

queimado  (gas  flaring).  A  primeira  central  de  GNL,  no 

Soyo, foi concluída e está operacional desde 2013 [20]. 

 Tabela 1 – Fontes primárias de energia 2012 

Biomassa / resíduos Hídrica  Petróleo Gás

Energia (ktep)  8384  343  4942  614

Fração (%)  58.7  2.4  34.6  4.3

Fonte: IEA [20].      

Consumo de energia primária A rede elétrica cobre apenas cerca de 40% da população 

[2]  e,  em  2012,  59%  do  consumo  de  energia  primária 

consistia  na  utilização  tradicional  de  biomassa  sólida  e 

resíduos  [21]  (Tabela 1). Em 2012 Angola  consumiu 4.9 

Mtep  de  derivados  de  petróleo  (Fig.  5),  i.e.  35%  da 

energia  primária,  e 

quase  o  dobro  do 

consumido  10  anos 

antes [20]. 

A  capacidade  elétrica 

instalada  é  de  1.8 GW, 

dos quais cerca de 70% 

de  origem  hídrica  [21]. 

A  restante  produção  é 

garantida  por 

combustíveis fósseis, em 24 pequenas e médias centrais 

[22]. Angola planeia aumentar a capacidade de geração 

para  9  GW  até  2025,  sobretudo  a  partir  de  fontes 

hídricas. Porém, é provável que o  recurso a gás natural 

ganhe  relevância,  pois  uma  central  de  500 MW  a  gás 

natural no Soyo e outra de 75 MW em Cabinda deverão 

iniciar  operações  em  2015.  O  governo  pretende,  até 

2025,  garantir  o  acesso  à  eletricidade  a  60%  da 

população,  com  a  origem  hídrica  a  constituir  15%  das 

fontes primárias, os hidrocarbonetos a constituir 55%, e 

reduzindo a contribuição da biomassa a 30% [23]. 

Indústrias de elevada intensidade de carbono 

O mercado de cimento em Angola desfrutou de anos de 

forte crescimento após o fim da guerra civil [25]. Angola 

tem  duas  fábricas  de  cimento  operacionais  há  vários 

anos  [26]:  a  fábrica  da  SECIL,  no  Lobito,  com  uma 

capacidade  de  produção  de  250  kt/a;  e  a  fábrica  de 

NOVA CIMANGOLA, em Luanda, com uma capacidade de 

1.2 Mt/a. Nos últimos anos foram inauguradas três novas 

fábricas: CIMENFORT em Benguela, e FCKS e CIF, ambas 

em Luanda. A capacidade  instalada é superior a 6 Mt/a, 

mas  as  perspetivas  para  o  sector  ainda  são  positivas  e 

duas novas fábricas deverão ficar operacionais em 2016. 

Angola tem uma pequena refinaria, construída em 1955, 

com  uma  capacidade  de  39  kbbl/d,  mas  uma  nova 

refinaria  no  Lobito  deverá  iniciar  operações  em  2017 

com capacidade para processar 200 kbbl/d [26]. 

Solos de boa qualidade e abundância de água garantem 

boas  condições  para  investimentos  em  bioenergia.  Em 

2014  foi  aprovada  uma  lei  que  promove  os 

biocombustíveis  e  a  Empresa  BIOCOM  está  a 

desenvolver,  em Malanje,  um  projeto  de  produção  de 

etanol e 160 000 MWh de eletricidade por ano [26]. 

Emissões de CO2 As emissões de CO2 provenientes de combustíveis fósseis 

e do sector cimenteiro aumentaram de 4.4 Mt em 1990 

para  30.4  Mt  em  2010  (Fig.  6),  em  consequência  do 

Área: 1247000 km2 População (2013): 21.47 milhões PNB (2013): USD 121 700 milhões  

Fig. 5 – Produção e consumo de combustíveis fósseis em Angola. Fonte: EIA [19]. 

0

50

100

150

1990 1995 2000 2005 2010

Mtep

Gás natural‐consumoGás natural‐produçãoPetróleo‐consumoPetróleo‐produção

Fig. 6 – CO2 emitido por combustíveis fósseis, gas flaring e produção de cimento. Fonte: CDIAC [9].

0

0.5

1

1.5

2

0

10

20

30

40

1990 1995 2000 2005 2010

Emissões CO2per 

capita (t/a)

Emissões CO2(M

t/a)

Flaring CimentoPetróleo GásPer capita

8 | CCS in the CPLP countries  

aumento de produção de petróleo sobretudo a partir de 

2007  [10].  As  emissões  provenientes  de  gas  flaring 

representam  45%  das  emissões  totais.  A  produção  de 

cimento  e  consumo  de  gás  natural  ainda  representam 

percentagens  reduzidas das emissões, mas  têm  vindo a 

aumentar devido às novas centrais e fábricas que ficaram 

operacionais  nos  últimos  anos.  As  emissões  per  capita 

são ainda bastante reduzidas, apenas 1.6 t/a em 2010. 

Oportunidades para armazenamento de CO2 

As oportunidades para armazenamento geológico de CO2 

em  Angola  devem  ser  procuradas  nas  bacias 

sedimentares,  ou  seja,  em  aquíferos  salinos  profundos, 

campos de hidrocarbonetos esgotados e na utilização de 

CO2  em  EOR.  Outros  cenários  potenciais,  como  o 

armazenamento  em  camadas  de  carvão  e  em  rochas 

ultramáficas, não parecem ser viáveis em Angola. 

Angola possui  sete bacias  sedimentares  [27], agrupadas 

em  Bacias  do  Atlântico  e  Bacias  Interiores  (Fig.  7).  As 

bacias do Atlântico, compostas pelas bacias costeiras do 

Cretácico‐Cenozoico  (bacia  do  Baixo  Congo,  bacia  do 

Kwanza, bacia de Benguela e bacia do Namibe),  são os 

focos  de  produção  e  pesquisa  de  hidrocarbonetos. 

Atualmente,  a  produção  de  petróleo  vem  inteiramente 

da bacia do Baixo Congo, nas áreas de Cabinda e Soyo. A 

produção  é  quase  na  íntegra  a  partir  do  offshore,  e 

apenas no Soyo há alguma produção onshore (Fig. 7). 

Os  alvos  óbvios  para  armazenamento  de  CO2  são  os 

campos de petróleo explorados na Bacia do Baixo Congo, 

particularmente  na  área  do  Soyo,  pois  tem  uma 

localização favorável em relação a várias fontes de CO2. A 

área  de  Cabinda  poderá  ser menos  atrativa  devido  às 

maiores  distâncias  de  transporte.  O  transporte  e 

armazenamento  transfronteiriço  podem  ser  relevantes 

para as zonas de Cabinda e Soyo, devido à proximidade 

com  a  República  Democrática  do  Congo,  e 

especificamente para o transporte para Cabinda.  

Os  campos de petróleo mais próximos do esgotamento 

são oportunidades ideais para o armazenamento, pois as 

formações  geológicas  provaram  a  sua  adequação  e  a 

geologia  desses  campos  é  bem  conhecida.  A 

possibilidade de utilização de CO2 em EOR nos  sectores 

explorados  é  de  interesse  óbvio  e  deve  ser  abordada 

numa perspetiva económica. 

A bacia do Kwanza, em particular no seu sector onshore, 

parece ser muito promissora,  justificando uma avaliação 

para  armazenamento  de  CO2  em  aquíferos  salinos 

profundos, dada  a  existência de  evaporitos que podem 

constituir bons selantes e ser fonte de salinidade da água 

subterrânea. Esta bacia  tem um extenso sector onshore 

(o  maior  das  bacias  do  Atlântico)  e  está  muito  bem 

localizado para fontes emissoras na zona de Luanda. 

Por  outro  lado,  os  sectores  onshore  das  bacias  de 

Benguela e do Namibe são muito estreitos e é provável 

que sejam pouco adequados para o armazenamento de 

grandes  volumes  de  CO2.  Assim,  nessas  bacias,  e 

particularmente  na  bacia  de  Benguela,  onde  existem 

fontes  estacionárias  (fábricas  de  cimento),  os  esforços 

para  avaliar  a  capacidade  de  armazenamento 

provavelmente devem  centrar‐se nos  sectores offshore, 

com penalização nos custos de armazenamento  

As bacias interiores, compostas pelo graben de Kassanje, 

pela bacia do Okavango  e pela bacia Ovambo  (Etosha), 

são  praticamente  desconhecidas,  pois  o  trabalho  de 

campo nessas áreas só se  iniciou após o  final da guerra 

civil, mas são agora objeto de  interesse pela companhia 

nacional  de  petróleo,  a  SONANGOL.  Estas  bacias  estão 

muito distantes das principais áreas de desenvolvimento 

e  das  fontes  CO2,  e  parecem  revestir‐se  de  menor 

interesse para armazenamento de CO2. 

‘Campos de petróleo esgotados e a 

utilização CO2 em EOR são opções 

promissoras para o armazenamento de 

CO2 em Angola.’ 

Fig. 7 – Bacias sedimentares em Angola. Adaptado de Sonangol [26]. 

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 9  

Cabo Verde

Consumo de energia primária Cabo Verde é composto por um arquipélago de 10 ilhas, 

localizado a cerca de 570 km da costa ocidental de África. 

Apesar dos escassos  recursos naturais, Cabo Verde  tem 

usufruído de um  crescimento  económico  acelerado nas 

últimas  décadas  [20].  Desde  2007,  Cabo  Verde  é 

classificado como um País em Desenvolvimento [3], e em 

conjunto  com  Portugal  e  Brasil,  compõem  o  grupo  de 

países da CPLP não classificados como subdesenvolvidos. 

O  acentuado  crescimento  económico  refletiu‐se  num 

aumento no consumo de energia primária. 

 

Tabela 2 ‐ Fontes primárias de energia 2008  Biomassa  Eólica Petróleo 

Energia (ktep)  2.8  0.5 118 

Fração (%)  2.3  0.4 97.3 

Fonte: IEA [20]. 

 

Entre 1990 e 2012 o  consumo de produtos petrolíferos 

quase quadruplicou, e desde 2003 o consumo passou de 

37.6 ktep para 138 ktep [20] (Fig. 8). Uma vez que Cabo 

Verde não possui  recursos  fósseis endógenos, necessita 

de  importar  os  produtos  petrolíferos  que  consome. Os 

recursos  energéticos  endógenos  consistem 

essencialmente em biomassa, energia solar e sobretudo 

energia eólica. Apesar do 

forte  potencial,  a 

produção  a  partir  da 

fonte  eólica  é  ainda 

muito limitada (Tabela 2). 

Em  2013  a  rede  elétrica 

atingia  cerca  de  87%  da 

população [2] (com 100% 

de  cobertura  nas 

principais  ilhas),  e  a 

dessalinização  da  água  consumia  até  10%  da  produção 

de eletricidade. A capacidade  instalada em  2012 era de 156.5 MW,  com  78%  dessa  capacidade  proveniente  de 

centrais  térmicas  a  diesel,  e  o  restante  coberto  por 

fontes eólicas (17%) e solares (5%) [28]. 

O  governo pretende  garantir  uma  capacidade  instalada 

de  300  MW  até  2020  [29].  Este  incremento  será 

provavelmente conseguido através de fontes renováveis. 

Cabo  Verde  é  um  dos  15  países  em  África  com maior 

potencial eólico e o potencial em energia solar é também 

muito  elevado:  6  kWh/m²  por  dia.  Um  estudo  recente 

indicou ainda 3 MW de capacidade geotérmica na ilha do 

Fogo [30]. No total, a capacidade de energia renovável é 

estimada  em  cerca  de  2600  MW.  O  compromisso  do 

governo  de  Cabo  Verde  é  que,  em  2020,  as  fontes 

renováveis  constituam  50% da matriz  energética  e que 

pelo  menos  uma  ilha  seja  totalmente  abastecida  por 

fontes renováveis [29]. 

Emissões de CO2 A economia de Cabo Verde é baseada em serviços, com o 

comércio,  transportes  e  serviços  públicos  responsáveis 

por  70%  do  PIB  do  país.  Devido  à  natureza  de 

arquipélago,  com  produção  de  energia  específica  para 

cada  ilha,  as  centrais  diesel  não  constituem  grandes 

fontes emissoras. O sector industrial é pequeno, e não há 

grandes  fontes  industriais  de  CO2,  como  fábricas  de 

cimento ou refinarias. As emissões de CO2 estão  ligadas 

sobretudo  ao  consumo  de  petróleo  como  fonte  de 

energia  primária. A  evolução  das  emissões  de CO2  tem 

acompanhado o crescimento económico, mas embora as  

emissões  tenham quadruplicado no período 1990‐2010, 

continuam  bastante  reduzidas,  somente  0.35 Mt/a  em 

2010, e com valores per capita de 0.73 t/a (Fig. 9). 

 

Perspetivas para atividades em CCS  Face  ao  baixo  nível  de  emissões  de  CO2  e  à  quase 

ausência  de  grandes  fontes  estacionárias,  que  deverá 

perdurar  devido  ao  potencial  em  fontes  de  energia 

Área: 4033 km2 População (2013): 499 000 PNG: USD 1888 milhões  

Fig. 8 – Consumo de produtos petrolíferos em CaboVerde. Fonte: EIA [19]. 

0

50

100

150

1990 1995 2000 2005 2010

ktep

Fig. 9 – CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9]. 

0

0.2

0.4

0.6

0.8

0

0.1

0.2

0.3

0.4

1990 1995 2000 2005 2010

Emissões CO2per 

capita (t/a)

Emissões CO2(M

t/a)

PetróleoPer capita

10 | CCS in the CPLP countries  

renovável  e  aos  custos  de  insularidade,  a  CCS  não 

constitui  uma  tecnologia  de  mitigação  de  alterações 

climáticas relevante para Cabo Verde. 

Há, no entanto, atividades relacionadas com a tecnologia 

CCS que podem  ser  implementadas em Cabo Verde. As 

ilhas  de  Cabo  Verde  são  de  origem  vulcânica,  embora 

apenas a ilha do Fogo permaneça com vulcanismo ativo. 

Nesta  ilha  existem  emissões  naturais  em  fumarolas, 

principalmente de enxofre mas, possivelmente  também 

de CO2 natural [30]. Poderiam ser desenvolvidos projetos 

de  I&D  nessas  emissões  naturais  para  testar 

metodologias  de  deteção  de  fugas,  especialmente 

métodos  geofísicos  aerotransportados,  bem  como  os 

efeitos das fugas de CO2 para os ambientes circundantes. 

Para além disso, os basaltos afloram extensivamente em 

várias  ilhas do arquipélago, podendo fornecer condições 

adequadas  para  projetos  de  I&D  orientados  para  o 

armazenamento de CO2 por carbonatação mineral in situ 

naquele  tipo  de  rochas,  complementando  os  projetos 

que  estão  a  ser  conduzidos na  Islândia  e nos Columbia 

River Basalts nos EUA. 

Uma outra atividade em CCS relevante para Cabo Verde 

está  ligada  à  geotermia.  A  empresa  GESTO  ENERGY 

identificou, na ilha do Fogo, um potencial geotérmico de 

cerca  de  3 MW  a  profundidades  não  inferiores  a  100 

m[30]  (Fig.  10).  Existem,  no  entanto,  dúvidas  sobre  a 

existência  de  um  reservatório  geotérmico  adequado, 

uma vez que as amostras de água não foram conclusivas. 

A utilização de CO2 como fluido circulante em Enhanced 

Geothermal  Systems  (EGS)  tem  sido  estudada  a  nível 

académico  (ex.  [31]). Neste  processo,  o  CO2  é  injetado 

para recuperar calor a partir de rocha (pois o CO2 é mais 

eficiente para esse  fim do que a água), mas uma  fração 

do  CO2  injetado  ficará  sequestrado  na  rocha  por 

carbonatação  mineral  ou  simplesmente  por  migração 

para além da zona de influência do furo de produção. Se 

o  uso  de  CO2  em  EGS  se  demonstrar  técnica  e 

economicamente viável, pode constituir uma opção para 

a  produção  de  energia  geotérmica  na  ilha  do  Fogo.  A 

ausência de grandes fontes de CO2 no arquipélago pode, 

no  entanto,  constituir  um  obstáculo  para  a  viabilidade 

económica deste processo nas ilhas de Cabo Verde. 

Assim,  e  apesar  de  a  tecnologia  CCS  não  ser  uma 

tecnologia  de  mitigação  de  alterações  climáticas 

necessária em Cabo Verde, há atividades que podem ser 

relevantes  para  a  comunidade  de  I&D  nacional  e 

internacional  e  para  o  envolvimento  das  autoridades 

locais  competentes  em  eventos  sobre  CCS.  As  ilhas 

vulcânicas  de  Cabo  Verde  podem  constituir  um 

laboratório natural para a  cooperação  internacional em 

matéria  de  I&D  relacionada  com  a  monitorização  de 

emissões naturais de CO2, com o armazenamento de CO2 

em basaltos e, eventualmente, para a utilização de CO2, 

como o fluido de circulação em projetos EGS. 

 

 

 

 

‘A utilização de CO2 como fluido de 

circulação em aproveitamentos EGS 

parece ser a melhor opção para Cabo 

Verde, especialmente se enquadrada 

em projetos no MDL.’ 

Fig. 10– Potencial geotérmico na ilha do Fogo, Cabo Verde. Adaptado de Gesto Energy [29]. 

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 11  

Guiné-Bissau

Consumo de energia primária Guiné‐Bissau é um dos Estados‐membros fundadores da 

CPLP,  mas  a  instabilidade  política  iniciada  em  1998 

conduziu  a  dificuldades  nas  atividades  de  cooperação 

com a CPLP e arrastou o país para  lista dos países mais 

pobres  do mundo.   As  eleições  realizadas  em Maio  de 

2014  foram  elogiadas  pela  CPLP  e  as  expectativas  de 

cooperação  com  a  comunidade  aumentaram  com  a 

estabilidade política. 

A Guiné‐Bissau não tem recursos endógenos provados de 

petróleo,  gás  natural  ou  carvão,  e  todos  os  produtos 

petrolíferos são importados. As estatísticas sobre energia 

para a Guiné‐Bissau estão desatualizadas, mas de acordo 

com  o  balanço  energético  de  2007  o  consumo  de 

produtos petrolíferos  (Fig. 11)  foi dominado pelo sector 

dos transportes (40.614 ktep), pela produção de energia 

elétrica  (0.946  ktep)  e  pelo  sector  residencial  (0.240 

ktep) [32]. 

 

Tabela 3 ‐ Fontes primárias de energia 2008 

Biomassa  Petróleo 

Energia (ktep)  107.3  111.7 

Fração (%)  49.0  51.0 

Fonte: IEA [20]. 

 

Em  2008,  a  energia 

primária  total,  219  ktep, 

foi  dividida  quase 

equitativamente  por 

produtos  derivados  do 

petróleo (51%) e pelo uso 

tradicional  da  biomassa 

(49%)  (Tabela  3),  que 

representou mais de 95% 

da energia consumida pelas famílias na Guiné‐Bissau [33]. 

A  capacidade  instalada de produção de energia elétrica 

em 2008 era de 21 MW, mas a produção e distribuição 

de eletricidade quase colapsou desde 2000 e apenas 20% 

da  população  tem  acesso  à  eletricidade,  na  capital, 

Bissau,  e  noutros  sete  centros  urbanos  [34].  Todo  o 

sistema  de  eletricidade  está  a  operar  com  5.5 MW  de 

capacidade de  geração,  25% da  capacidade  anterior  ao 

conflito  interno  de  1998.  A  produção  de  energia  é 

completamente dependente de produtos petrolíferos, a 

partir de pequenas centrais diesel [32]. 

O  país  tem  amplos  recursos  de  energia  renovável: 

hidroelétrica, estimada em cerca de 184 MW a partir dos 

rios Corval e Geba;  solar,  com  radiação média de 4.5 a 

5.5  kWh/m2/dia;  e  bioenergia.  Apesar  deste  potencial, 

não são conhecidos  investimentos nesta área, embora o 

governo  tenha  anunciado  pretender  que,  em  2015,  a 

energia  fotovoltaica  represente  até  2%  do  consumo 

global de energia [32, 33]. 

A  Guiné‐Bissau  reúne  condições  para  projetos  de 

bioenergia e iniciou em 2010 um projeto financiado pela 

Fundação  FACT  e  pelo  Banco Mundial,  mas  ambas  as 

instituições  se  retiraram entretanto do projeto. Espera‐

se  que  a  estabilidade  política  permita  desenvolver 

estratégias  de  aproveitamento  deste  e  de  outros 

recursos energéticos. 

Emissões de CO2  A economia da Guiné‐Bissau é baseada na agricultura e 

na pesca. Para além das centrais diesel, não há grandes 

fontes emissoras estacionárias no país, como  refinarias, 

fábricas de cimento ou siderurgia [34]. No entanto, uma 

empresa privada anunciou a  intenção de  construir uma 

fábrica  de  cimento  com  capacidade  de  500  kt/a,  com 

início de construção previsto para 2015 [35]. Devido aos 

elevados  investimentos  necessários,  o  desenvolvimento 

da indústria petrolífera, produção de fosfatos e de outros 

recursos minerais não é uma perspetiva de curto prazo. 

Área: 36125 km2 População (2013):1.704 milhões PNB (2013): USD 858 milhões  

Fig. 12 ‐ CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9]. 

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0

0.1

0.2

0.3

0.4

1990 1995 2000 2005 2010

Emissões CO2per 

capita (t/a)

Emissões CO2(M

t/a)

PetróleoPer capita

Fig. 11 – Consumo de produtos petrolíferos na Guiné‐Bissau. Fonte: EIA [19]. 

12 | CCS in the CPLP countries  

Atualmente,  as  emissões  de  CO2  estão  relacionadas 

principalmente  com  o  consumo  de  derivados  de 

petróleo.  As  emissões  são  muito  reduzidas,  com  um 

máximo de apenas 0.238 Mt em 2010, e com diminuição 

acentuada desde o início da turbulência política em 1998 

(Fig. 12). As emissões per  capita, de 0.26  t/a em 1990, 

diminuíram para 0.15 t/a em 2004 [10]. 

Oportunidades para armazenamento de CO2 

É  provável  que  a  Guiné‐Bissau  tenha  condições 

geológicas  muito  favoráveis  para  armazenamento  de 

CO2. Embora a região oriental do país seja composta por 

um  soco  Palaeozóico‐Precâmbrico  sobreposto  por 

sedimentos com espessura até 30 m, sem condições para 

armazenamento de CO2, a  região ocidental corresponde 

à  sub‐bacia  da  Guiné‐Bissau,  parte  da  bacia  Meso‐

Cenozoica do Senegal (Fig. 14). O sector onshore da sub‐

bacia  apresenta  sequências  sedimentares  muito 

espessas,  que  datam  do  Oligocénico  ao  Presente, 

maioritariamente  com  litologias  arenosas  a  argilosas 

[36]. 

A  sequência  sedimentar  aumenta  de  espessura  para 

oeste, ou seja, para a zona offshore (Fig. 13). A sequência 

offshore  inclui  sedimentos do  Jurássico  ao Quaternário, 

mas os sedimentos do Cretácico predominam. Em geral, 

a  bacia  é  caracterizada  por  uma  sequência  sedimentar 

com  um  depocentro  com  2.5  a  3  km  de  espessura  no 

onshore,  e  cerca  de  12  km  de  espessura  e  múltiplos 

domos salinos no offshore [37]. 

A  sequência  geral  no  Jurássico  é  composta 

predominantemente  por  calcários  com  camadas 

intercaladas  de  shales  e  evaporitos,  enquanto  o 

Cretácico  Inferior  é  marcado  por  calcários  espessos  e 

arenitos,  que  transitam  verticalmente  para  extensas 

camadas de shales no Cretácico superior [37]. É provável 

que existam complexos de reservatórios e selantes tanto 

no  Jurássico  como  no  Cretácico  e  nas  camadas  mais 

profundas  do Oligocénico.    A  estrutura  geral  da  bacia, 

com  uma  inclinação  suave  para  oeste,  aparentemente 

sem grandes complexidades estruturais, é favorável para 

a ocorrência de água subterrânea de salinidade elevada 

devido  ao  contacto  prolongado  com  os  potenciais 

reservatórios, e para a retenção hidrodinâmica de CO2. 

Face a este enquadramento geológico, é provável que a 

Guiné‐Bissau  tenha  muito  boas  condições  para 

armazenamento de CO2 em aquíferos salinos profundos, 

onshore  e  offshore,  e  apesar  das  reduzidas  perspetivas 

para  implementar  projetos  CCS  na  Guiné‐Bissau,  é 

seguramente  relevante  efetuar  a  avaliação  da 

capacidade de armazenamento existente no país. 

As  Autoridades  e  Instituições  da  Guiné‐Bissau  nunca 

estiveram envolvidas em qualquer atividade sobre CCS e 

seguramente o nível de conhecimento sobre a tecnologia 

é  muito  reduzido.  A  estabilidade  política  parece  ter 

regressado ao país, após as eleições de 2014, bem como 

uma  participação  reforçada  nas  atividades  da  CPLP. 

Porém,  a  degradação  das  condições  económicas  locais, 

segurança,  sistema  educativo  e  administração  pública 

durante a década passada só poderá ser ultrapassada ao 

longo  dos  anos.  As  atividades  para  aumentar  o 

conhecimento  sobre  a  CCS  em  Guiné‐Bissau  devem 

centrar‐se  no  envolvimento  de  representantes  de 

autoridades  públicas  (Ministério  do  Meio  Ambiente, 

Ministério da Economia, Autoridade Nacional Designada 

para  MDL)  em  ações  de  sensibilização,  seminários  ou 

cursos de curta duração nos outros Estados‐membros da 

CPLP. Em particular, a participação em ações sobre Bio‐

CCS  deve  ser  uma  prioridade,  pois  este  parece  ser  o 

sector  com  maior  potencial  para  projetos  de  CCS  na 

Guiné‐Bissau.   

‘A Bio‐CCS é provavelmente o sector com 

maior potencial para projetos CCS na 

Guiné Bissau.’

Fig. 13 – Secção geológica esquemática da Guiné‐Bissau. Adaptado de Alves et al. [50]. 

Fig. 14– Mapa geológico simplificado da Guiné‐Bissau. Adaptado de Alves et al. [50].

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 13  

Guiné Equatorial

Combustíveis fósseis endógenos  A Guiné Equatorial é o mais recente membro da CPLP na 

qual  ingressou em 2014. A Guiné Equatorial é o terceiro 

maior produtor de petróleo da África subsaariana, atrás 

da Nigéria  e Angola,  com  reservas  provadas  de  1.1 mil 

milhões de barris, e com uma produção de 14.9 Mtep em 

2012, inteiramente a partir de campos offshore (Fig. 16). 

As  reservas  de  gás  natural  também  são  significativas, 

atingindo 36.8 Gm3, e a produção aumentou de 1.2 Mtep 

em 2001 para 7.3 Mtep em 2012. A maior parte do gás 

natural é exportada como GNL a partir de uma central na 

ilha  de  Bioko,  que  produziu  4.9 Gm3  de GNL  em  2012 

[20].  A  central  de  GNL  possui  atualmente  uma  única 

linha,  mas  uma  segunda  linha  deverá  entrar  em 

funcionamento em 2016 [38].  

A  economia  da  Guiné  Equatorial  é  fortemente 

dependente da  indústria de petróleo e gás, responsável 

por quase 95% do PIB e 99% das receitas de exportação 

em 2011 [2].  

Consumo de energia primária O gás natural tornou‐se a principal fonte de energia após 

o  início da produção de hidrocarbonetos no ano 2000, e 

em 2008 foi responsável por 77% da energia primária. Os 

derivados  de  petróleo  e  a  utilização  tradicional  de 

biomassa,  que 

dominaram  as  fontes  de 

energia  nos  anos  1990, 

representavam  em  2008 

frações  menores,  20%  e 

3%,  respetivamente  [39]. 

Este  cenário  alterou‐se 

em  2013,  com  a  entrada 

em  funcionamento  da 

barragem Djibloho, no rio 

Wele,  com  capacidade 

120 MW e que triplicou a capacidade existente [20]. 

A taxa de eletrificação é agora uma das mais elevadas da 

África  Central,  abrangendo  66%  da  população  [40].  Há 

ainda cerca de 40 MW de capacidade de energia elétrica 

em centrais a gás (a central de Punta Europa e a central 

AMPCO com uma capacidade conjunta de 34 MW) e em 

centrais  a  diesel.  O  potencial  hidroelétrico  é  muito 

elevado, cerca de 2600 MW, e tem sido objeto de novos 

investimentos, incluindo o complexo hidroelétrico no rio 

Sendje,  com  uma  capacidade  de  200 MW,  que  deverá 

estar concluído em 2015. 

Indústrias de elevada intensidade de carbono 

Para além da  indústria petrolífera, a economia da Guiné 

Equatorial é baseada na agricultura, silvicultura e pesca, 

pelo que não existem grandes fontes  industriais de CO2, 

com  exceção  da  central  de  GNL  e  do  gas  flaring.  Não 

existe  uma  refinaria  de  petróleo  na  Guiné  Equatorial, 

mas o governo pretende implementar uma refinaria com 

capacidade  para  20  kbbl/d  em Mbini  [20].  A  empresa 

OPHIR ENERGY  também anunciou a  construção de uma 

nova central flutuante de GNL [41].  

Não existem fábricas de cimento ativas no país, mas em 

2013  foi  adjudicada  a  construção  de  uma  fábrica  com 

capacidade  para  3000  t/d,  com  início  de  operações 

previsto para 2016 [42]. 

A Guiné Equatorial tem uma capacidade de produção de 

biomassa  estimada  num  mínimo  de  400  toneladas/ha 

[43].  Contudo,  apesar  de  ter  um  grande  potencial  de 

produção de bioenergia [44], não são conhecidos planos 

de investimento nessa área. 

Emissões de CO2  As emissões de CO2 na Guiné Equatorial  registaram um 

aumento  considerável  com  o  início  da  produção  de 

hidrocarbonetos em 2000. Em 1999 as emissões de CO2 

foram  de  0.36  Mt,  mas  em  2000  as  emissões 

aumentaram  quase  10  vezes,  para  3.1  Mt,  sobretudo 

Área: 28051 km2 População (2013): 757 mil PNB (2013): USD 15 570 milhões  

Fig. 16– Produção e consumo de combustíveis fósseis na Guiné Equatorial. Fonte: EIA [19]. 

0

5

10

15

20

25

30

1990 1995 2000 2005 2010

Mtep

Gás natural‐consumoGás Natural‐produçãoPetróleo‐consumoPetróleo‐produção

Source:   EIA (2014)

Fig. 15 – CO2 emitido por combustíveis fósseis e gas flaring. Fonte: CDIAC [9].

0

5

10

0

2

4

6

8

1990 1995 2000 2005 2010

Emissões CO2per 

capita (t/a)

Emissões CO2(M

t/a)

Flaring

Petróleo

Gás

Per capita

14 | CCS in the CPLP countries  

devido  ao  gas  flaring,  a  queima  do  gás  associado  aos 

campos petrolíferos. As emissões atingiram um pico de 

5.2 Mt em 2004, mas desde então estabilizaram em 4.6 ‐ 

4.7 Mt/a (Fig. 15). Embora o gas flaring ainda continue a 

ser uma fração importante das emissões (cerca de 20%), 

o  consumo de  gás natural nas  centrais e a  central GNL 

são  atualmente  responsáveis  por  65%  do  total  das 

emissões de CO2 [10]. 

As  emissões  per  capita  mostram  uma  tendência  para 

estabilizar em torno de 6.7 t/a, os valores per capita mais 

elevados entre da CPLP e os segundos mais elevados do 

continente, só ultrapassados pela África do Sul. 

Oportunidades para armazenamento de CO2 

A geologia do território continental da Guiné Equatorial é 

composta quase  totalmente por  rochas metamórficas e 

cristalinas  do  pré‐câmbrico  [45],  que  afloram  na  zona 

central  e  leste  da  Guiné  Equatorial, mas  que  não  são 

adequadas  para  armazenamento  de  CO2.  Assim,  as 

perspetivas  de  armazenamento  de  CO2  no  território 

continental  são escassas,  restringindo‐se a uma estreita 

faixa de  rochas  sedimentares que ocorrem ao  longo da 

orla costeira (Fig. 17).  

As ilhas vulcânicas de Pagalu e Bioko constituem parte da 

Linha  Vulcânica  dos  Camarões  e  são  compostas  por 

rochas básicas e ultrabásicas. A  I&D a nível académico e 

dois  projetos‐piloto,  na  Islândia  e  nos  Columbia  River 

Basalt  (EUA),  indicam que  aquelas  litologias podem  ser 

favoráveis  para  armazenamento  de  CO2,  uma  vez  que 

promovem a carbonatação mineral do CO2.  

As  oportunidades  de  armazenamento  de  CO2 na  Guiné 

Equatorial devem  centrar‐se na  zona offshore,  tanto ao 

largo  do  território  continental,  na  bacia  do  Rio  Muni 

(campos petrolíferos de Okume e Ceiba), como ao  largo 

da ilha Bioko, (nos campos de hidrocarbonetos de Zafiro 

e Alba) [46]. Estes campos estão bem caracterizados e, à 

medida que vão ficando exauridos, podem oferecer boas 

oportunidades para armazenamento de CO2.. 

A possibilidade de utilização de CO2 em EOR também não 

deve  ser  descurada  e  seguramente  as  empresas  de 

hidrocarbonetos nacionais, GEPETROL e SONAGAS, estão 

plenamente conscientes dos avanços no uso de CO2 em 

EOR.  Acresce  que  várias  das  empresas  petrolíferas  (ex. 

PETROBRAS  e  CHEVRON)  que  exploram  concessões  na 

Guiné Equatorial têm experiência em projetos de injeção 

de  CO2,  não  só  para  fins  de  EOR, mas  também  como 

parte da cadeia de CCS. 

A  pesquisa  petrolífera  nas  zonas  offshore  pode  ter 

conduzido  à  identificação  de  aquíferos  salinos, 

nomeadamente  a  norte  da  ilha  de  Bioko,  em  que  a 

plataforma  geológica  está  bem  estudada  e  pode 

proporcionar  condições  adequadas  para  projetos  CCS. 

Bioko  é  a  ilha  onde  se  situam  as  principais  fontes 

existentes  e  se  preveem  vários  dos  investimentos 

industriais  mencionados.  No  território  continental, 

importa  considerar  a  possibilidade  de  armazenamento 

de CO2 ligado à refinaria de Mbini, se o projeto avançar. 

A plataforma continental entre os campos petrolíferos de 

Ceiba  e  o  continente  pode  apresentar  boas 

oportunidades de armazenamento. 

A  Bio‐CCS  pode  particularmente  adequada  na  Guiné 

Equatorial,  face  ao  elevado  potencial  em  biomassa,  à 

presumível  boa  capacidade  de  armazenamento  e  à 

existência de uma indústria petrolífera capaz de fornecer 

o  enquadramento  técnico  e  regulamentar  necessário 

para o armazenamento de CO2. A Bio‐CCS também pode 

ser  particularmente  adequada  no  âmbito  do  MDL. 

Embora não sejam conhecidos planos para a utilização à 

escala  industrial  de  biomassa  para  produção  de 

bioenergia  ou  biocombustíveis,  o  potencial  para  a  sua 

conjugação com CCS na Guiné Equatorial é elevado.  

‘Os investimentos previstos nos sectores 

energéticos e industriais, uma indústria 

petrolífera consolidada, o potencial em 

biomassa e as boas condições de 

armazenamento no offshore são fatores 

favoráveis à CCS na Guiné Equatorial’

Fig. 17 – Geologia simplificada da Guiné Equatorial.

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 15  

Moçambique

Combustíveis fósseis endógenos  Moçambique  é  um  dos  países  africanos  com  maiores 

reservas de gás natural e carvão. Em 2012 Moçambique 

produziu apenas 3.5 Mtep de gás natural a partir de dois 

campos  onshore  (Fig.  18), mas  nos  últimos  anos  foram 

descobertos  campos  de  gás  natural  no  offshore,  com 

reservas estimadas em 2800 Gm3, apenas superadas em 

África pela Nigéria e Argélia. A produção a partir desses 

campos deve iniciar‐se em 2018 e está já em construção 

uma instalação de GNL em Cabo Delgado [20].  

Tabela 4 ‐ Fontes primárias de energia 2012 

 Biomassa / Resíduos 

Hídrica  Petróleo  Gás  Carvão

Energia (ktep)  8288  1284 783  73  10

Fração (%)  79.4  12.3 7.5  0.7  0.1

Fonte: IEA [20]. 

Moçambique é o segundo maior produtor de carvão em 

África,  com  produção  de  4.9 Mt  em  2012,  e  estima‐se 

que  a  província  de  Tete  ainda  encerre  reservas 

consideráveis.  A  adoção  da  tecnologia  Coal‐to‐líquids 

(CTL)  está  a  ser  considerada  no  país,  existindo  planos 

para a construção de uma fábrica de USD 9.5 mil milhões 

para transformar os resíduos de carvão da bacia de Tete 

em combustíveis líquidos [47].  

Segundo  o  FMI  [48],  a 

produção de combustíveis 

fósseis  pode  aumentar  o 

crescimento  económico 

do país em 2% ao ano no 

período 2013‐2023. 

Consumo de energia primária Em  2012  apenas  20%  da  população  de  Moçambique 

tinha  acesso  à  eletricidade  [2],  e  cerca  de  79%  do 

consumo de energia primária consistia no uso tradicional 

de  biomassa  e  resíduos  [21].  No  mesmo  ano, 

Moçambique  consumiu  783  ktep  de  produtos 

petrolíferos,  correspondentes  a  7.5%  das  fontes  de 

energia primária. O gás natural e o  carvão  constituíram 

fontes residuais (menos de 1%) (Tabela 4). 

A geração de eletricidade em Moçambique atingiu 16.7 

TWh  em 2011, quase  inteiramente de origem hídrica  e 

apenas  uma  proporção  diminuta  de  gás  natural.  A 

primeira central a carvão em Moçambique, associada às 

minas  de  carvão,  deverá  entrar  em  funcionamento  em 

2015, e outras duas centrais a carvão serão construídas 

pela  indústria  carbonífera,  nomeadamente  pelas 

empresas  NCONDEZI  ENERGY  e  VALE,  elevando  a 

capacidade total para 9 GW. No entanto, face à extensão 

das  descobertas  de  gás  natural,  é  esperado  que  a  sua 

contribuição  para  a  produção  de  eletricidade  venha  a 

aumentar.  A  central  a  gás  natural  de  Ressano  Garcia, 

com potência de 175 MW, iniciou a operação em 2014 e 

as centrais termoelétricas a gás de Maputo (100 MW), de 

Kuvaninga  (40 MW)  e  de  Temane  (400 MW)  deverão 

entrar em funcionamento nos próximos anos [20]. 

A  previsão  para  o  consumo  de  eletricidade  por  fontes 

domésticas (excluindo os consumidores industriais), num 

cenário  de  crescimento  económico  de  6%  ao  ano, 

apontam para que em 2030 haja uma procura de 1350 

MW de potência e um consumo de, pelo menos, 83TWh. 

Indústrias de elevada intensidade de carbono 

O sector da construção em Moçambique apresenta uma 

das perspetivas de  crescimento mais elevadas na África 

subsaariana. A empresa CIMENTOS DE MOÇAMBIQUE é a 

principal  produtora  nas  fábricas  de  Matola,  Dondo  e 

Nacala.  A  capacidade  de  produção  de  cimento  em 

Moçambique  atingiu  2 Mt/a  em  2011, mas  o  governo 

almejava  duplicá‐la  em  2013  e  divulgou  planos  para 

construir  três novas  fábricas  com uma  capacidade  total 

de 750 kt/a na província de Maputo [25]. 

Área: 799380 km2 População (2014): 23.97 milhões PNB (2013): USD15563 milhões (INE,2014)

Fig. 18 – Produção e consumo de combustíveis fósseis em Moçambique. Fonte: EIA [19]. 

0

2

4

6

8

10

1990 1995 2000 2005 2010

Mtep

Petróleo‐consumoGás natural‐consumoGás natural‐produçãoCarvão‐produçãoCarvão‐consumo

0

0.1

0.2

0

1

2

3

4

1990 1995 2000 2005 2010

Emissões CO2per 

capita (t/a)

Emissões CO2(M

t/a)

Carvão CimentoPetróleo GásPer capita

Fig. 19 – CO2 emitido por combustíveis fósseis e produção de cimento. Fonte: CDIAC [9]. 

16 | CCS in the CPLP countries  

A primeira  refinaria de petróleo de Moçambique está a 

ser  construída  em  Nacala,  com  uma  capacidade  de 

300 000  bbl/d,  e  estará  operacional  em  2018  [20].  No 

sector de mineração, a fundição de alumínio (uma fonte 

significativa de CO2, com emissões diretas de 15 t CO2 por 

tonelada  de  alumínio  processado  e  exigindo  vastas 

quantidades de energia) da MOZAL, encontra‐se entre as 

maiores de África, com uma capacidade de produção de 

250 kt/a. 

O  Governo  aprovou  14  projetos  para  produção  de 

biocombustíveis, mas a maioria ainda não se concretizou. 

A PETROBRAS planeava começar a produção de 20 Ml/a 

de etanol em 2014  [49] e a GALP anunciou planos para 

uma refinaria de biocombustíveis em Sofala [50]. 

Emissões de CO2  As  emissões  de  CO2  provenientes  do  consumo  de 

combustíveis fósseis e da produção de cimento são ainda 

reduzidas, mas aumentaram de 1.0 Mt/a em 1990 para 

2.9 Mt/a em 2010 (Fig. 19), impulsionadas pelo aumento 

do  consumo  de  petróleo  e  da  produção  de  cimento. 

Desde  2005  as  emissões  de  CO2  ligadas  ao  uso  do  gás 

natural também têm vindo a aumentar. As emissões per 

capita são as mais baixas entre os países da CPLP, apenas 

0.11  t/a em 2010  [10], mas o  início da produção de gás 

natural e GNL, a persistência da extração de carvão, e os 

investimentos  anunciados  nos  sectores  energéticos  e 

industriais,  devem  conduzir  a  um  aumento  sustentado 

das emissões de CO2 per capita na próxima década. 

Oportunidades para armazenamento de CO2 

A Estratégia Nacional para a Adaptação e Mitigação das 

Alterações  Climáticas  2013‐2025  [51]  reconhece  a 

necessidade  das  tecnologias  de  carvão  limpo  para  a 

redução  das  emissões  em  centrais  a  carvão  e  a 

possibilidade de implementação da CCS no país. 

Uma vez que a produção de gás natural em grande escala 

deverá  iniciar‐se  em  2018,  o  uso  de  campos  de  gás 

exauridos  é  improvável na próxima década,  exceto nos 

campos onshore de Pande e Temane, ativos desde 2004, 

mas  de  pequena  dimensão.  O  interesse  pelo 

armazenamento  de  CO2  em  camadas  de  carvão  tem 

vindo a diminuir a nível mundial, mas a província de Tete 

tem  das maiores  reservas  de  carvão  do mundo  e  duas 

centrais  a  carvão  estão  previstas  para  a  região.  Assim, 

não  será  de  colocar  de  parte  a  possibilidade  de 

armazenar CO2 em  camadas de  carvão não exploráveis, 

pois o ajuste fonte – sumidouro seria ideal. 

No  entanto,  a  opção  mais  interessante  para  o 

armazenamento  de  CO2  em  Moçambique  são  os 

aquíferos  salinos  profundos  nas  extensas  bacias 

sedimentares que cobrem 38% do território onshore e a 

maior parte do sector offshore no Canal de Moçambique.  

Existem  seis bacias  sedimentares  em Moçambique  (Fig. 

20). As Bacias  Interiores  (bacia do Lago Niassa, bacia de 

Maniamba, graben do Médio Zambeze e graben do Baixo 

Zambeze) são relativamente pequenas e fazem parte do 

Supergrupo  do  Karoo  [52].  A  localização  remota 

provavelmente descarta a utilização das bacias do  Lago 

Niassa e Maniamba para o armazenamento de CO2. 

Os  grabens  do  baixo  e médio  Zambeze  estão  ligados  à 

ocorrência  de  carvão  na  província  de  Tete. A  estrutura 

geológica  é  bastante  complexa  [53],  mas,  devido  à 

proximidade com as centrais a carvão em construção ou 

planeadas, é importante avaliar o potencial destas bacias 

para o armazenamento de CO2. 

Fig. 20– Bacias sedimentares em Moçambique. Adaptado de ENH [56].

‘Moçambique é o país africano da CPLP 

com melhores condições para 

envolvimento em projetos CCS.’ 

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 17  

As  bacias  costeiras  (bacia  de Moçambique  e  bacia  do 

Rovuma)  são  muito  mais  extensas,  e  com  condições 

geológicas  relativamente  bem  estudadas,  uma  vez  que 

têm  sido  objeto  de  pesquisa  de  hidrocarbonetos,  com 

grandes  descobertas  de  gás  no  offshore  da  bacia  do 

Rovuma. Existem avaliações preliminares da capacidade 

de  armazenamento  ar  foram  realizadas  para  ambas  as 

bacias.  Um  relatório  efetuado  pela  DNV  estima  a 

capacidade de armazenamento da bacia de Moçambique 

num valor mínimo de 2400 Mt de CO2. M. Alberto num 

trabalho  de  licenciatura  [54]  estimou  a  capacidade  de 

armazenamento na bacia do Rovuma entre 235 Mt a 470 

Mt,  com  um  bom  ajuste  entre  fontes  e  locais  de 

armazenamento,  pois  a  capacidade  de  armazenamento 

foi identificada nas mesmas áreas em que está prevista a 

construção  de  instalações  de  processamento  de  gás 

natural  e  GNL,  nos  municípios  de  Palma  e  Pemba. 

Embora  estas  sejam  estimativas  preliminares,  são  uma 

indicação  de  que  Moçambique  pode  ter  excelentes 

condições  geológicas  para  o  armazenamento  de  CO2 

onshore,  mais  do  que  suficiente  para  as  necessidades 

que possa ter no futuro. 

Tendo  em  conta  os  investimentos  anunciados  nos 

sectores  energéticos  e  industriais,  bem  como  a 

importância dos recursos de carvão e de gás natural para 

a economia nacional, Moçambique tem boas motivações 

para  o  envolvimento  em  atividades  CCS.  Um  incentivo 

adicional  é  a  oportunidade  de  negócio  resultante  de 

armazenar  o  CO2  proveniente  de  fontes  em  países 

vizinhos, como a África do Sul  (o maior emissor de CO2 

em África), se os projetos transfronteiriços de CCS forem 

admissíveis nos termos da regulamentação internacional. 

18 | CCS in the CPLP countries  

São Tomé e Príncipe

Combustíveis fósseis endógenos  São Tomé e Príncipe (STP) consiste em dois arquipélagos 

em torno das duas ilhas principais: a ilha de São Tomé e a 

ilha  do  Príncipe,  distando  cerca  de  140  km  entre  si  e 

localizadas no Golfo da Guiné, na África Ocidental. STP é 

o país de menor extensão territorial da CPLP e o segundo 

menor estado africano, depois das Seychelles. 

Atualmente STP não produz combustíveis fósseis, mas de 

acordo  com  o  Banco  Africano  de  Desenvolvimento 

(BAfD),  pode  tornar‐se  um  país  produtor  de  petróleo, 

com  expectativas  para  início  de  produção  em  2016, 

numa  designada  Joint  Development  Zone  (JDZ)  com  a 

Nigéria,  no  Golfo  da  Guiné.  As  estimativas  iniciais 

indicam reservas da ordem de 500 milhões de barris de 

petróleo,  permitindo  a  STP  uma  produção  de  28 000 

bbl/d durante vinte anos [55]. 

 

Se a exploração de petróleo se tornar uma realidade nos 

próximos  anos,  espera‐se  que  até  2020  o  crescimento 

económico  de  STP  seja  impulsionado  pelo  sector 

petrolífero. 

Consumo de energia primária A população de STP é de apenas 193 mil habitantes e o 

consumo de energia primária é reduzido, assente no uso 

da biomassa, para cozinhar 

e para  aquecimento  [2],  e 

no  petróleo  como  fontes 

primária  de  energia.  As 

importações  de  petróleo 

em 2013 atingiram 47 ktep 

[20] (Fig. 22). 

A  capacidade  instalada  de 

geração  de  eletricidade  é  de  28.5  MW,  com  centrais 

termoelétricas  a  diesel  responsáveis  por  26 MW  e  os 

restantes 2.5 MW de origem hidroelétrica. Cerca de 10 

MW  adicionais  são  gerados  em  centrais  a  diesel  em 

redes isoladas e para consumo localizado. A cobertura da 

rede  não  é  universal,  mas  atinge  cerca  de  60%  da 

população.  

Existe  um  potencial  hidroelétrico  considerável  em  STP. 

Além  dos  2.5  MW  já  instalados,  foi  identificado  um 

potencial  adicional  de  31.4  MW  em  14  locais.  O 

acréscimo  de  procura  energética  poderá  requerer  o 

aumento da capacidade  instalada em 40 MW até 2019, 

exigindo  a  exploração  da  totalidade  do  recurso 

hidroelétrico [56]. Os recursos em energia solar também 

apresentam boas oportunidades, uma  vez que  a média 

de  insolação  diária  em  São  Tomé  e  Príncipe  é  de  5.2 

kWh/m2, sem grande variação sazonal. 

A  economia  de  STP  baseia‐se  essencialmente  na 

agricultura. Não existem grandes fontes estacionárias de 

CO2 de sectores  industriais, como  refinarias,  fábricas de 

cimento ou siderurgia. 

Emissões de CO2  As  emissões  de  CO2  estão  principalmente  relacionadas 

com  o  consumo  de  derivados  de  petróleo,  dada  a 

ausência  de  outras  grandes  fontes  estacionárias  para 

além das  centrais diesel. As emissões de CO2  totais  são 

diminutas  ‐  apenas 90  kt  em 2012  (Fig. 21)  – mas  têm 

aumentado  de  forma  consistente  desde  o  ano  2000. 

Ainda assim, os valores per capita  são muito  reduzidos, 

inferiores  a  0.6  t/a  [10].  As  expectativas  são  que  as 

emissões de CO2 continuem a acompanhar o crescimento 

económico, mas  face  à  dimensão  da  população  e  aos 

custos  de  insularidade  para  o  desenvolvimento  de 

atividades  industriais,  é  provável  que  as  emissões  per 

capita se mantenham muito reduzidas. Se a produção de 

petróleo se tornar uma realidade no futuro, a  libertação 

ou  queima  do  gás  (gas  venting  and  flaring)  poderá 

aumentar significativamente as emissões de CO2. 

 Área: 1001 km2 População (2013):193 mil PNB (2013): USD 311 milhões  

Fig. 22 – Consumo de produtos petrolíferos em São Tomé e Príncipe. Fonte: EIA [19]. 

0

10

20

30

40

50

60

1990 1995 2000 2005 2010

ktep

Fig. 21 – CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9]. 

0

0.2

0.4

0.6

0.8

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

1990 1995 2000 2005 2010

Emissões CO2per 

capita (t/a)

Emissões CO2 (M

t/a)

Petróleo

Per capita

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 19  

Perspetivas para atividades de CCS  As  ilhas  de  STP  são  compostas  por  vulcões  que  se 

erguem do fundo do Oceano Atlântico, a mais de 3000 m 

abaixo do nível do mar. Os vulcões formaram‐se ao longo 

da  linha  vulcânica  dos  Camarões.  A  maior  parte  das 

rochas que compõem a ilha de São Tomé são basaltos. A 

ilha  do  Príncipe  também  é  de  origem  vulcânica,  com 

litologias  basálticas,  fonolíticas  e  tefriticas.  Segundo 

alguma  I&D  académica,  estas  litologias  podem  ser 

adequadas  para  o  armazenamento  de  CO2,  pois  a  sua 

mineralogia  é  particularmente  favorável  para 

carbonatação  mineral,  com  reação  do  CO2/rocha  a 

resultar  na  precipitação  de  minerais  carbonatados, 

sequestrando o CO2 de  forma definitiva em  fase  sólida. 

Este  conceito  tem  sido  testado  em  projetos‐piloto  na 

Islândia e nos Columbia River Basalts, nos EUA. 

A  zona  offshore  de  STP,  para  além  dos  centros 

vulcânicos,  é  marcada  pela  ocorrência  de  formações 

sedimentares,  inclusive  na  JDZ,  onde  a  produção  de 

petróleo se pode desenvolver [57].   

Atualmente,  a  economia  e  as  emissões  de  CO2  de  STP 

não  justificam o  investimento em projetos CCS. Dado o 

baixo  nível  de  emissões  de  CO2  e  a  quase  ausência  de 

grandes  fontes  pontuais,  que  é  provável  que  se 

mantenha face aos custos de  insularidade e à dimensão 

da população, a motivação para atividades CCS em STP 

só pode existir em  conexão  com o desenvolvimento da 

produção  de  petróleo  no  Golfo  da  Guiné, 

especificamente para utilização em EOR.   No entanto, a 

ausência de  fontes em STP obrigaria à aquisição do gás 

noutros países.  

STP partilha uma  fronteira marítima  com  a Nigéria, um 

dos maiores emissores de CO2 na África. É concebível que 

questões sobre armazenamento transfronteiriço possam 

ser relevantes para STP se a Nigéria optar por armazenar 

CO2 na Bacia do Delta do Níger, que se estende através 

da fonteira entre os dois países, ao longo da JDZ (Fig. 23), 

uma possibilidade que está a ser analisada pelo Nigerian 

Petroleum Technology Development Fund. 

A Agência Nacional do Petróleo, ANP‐STP, e a Autoridade 

Nacional  Designada  do MDL  devem  ser  envolvidos  em 

atividades  de  partilha  de  conhecimentos  sobre  CCS 

desenvolvidas no seio da CPLP, de modo a garantirem a 

capacidade para a discussão sobre o uso de CO2 em EOR 

e sobre questões de armazenamento transfronteiriço. 

   

‘A relevância da tecnologia CCS para 

São Tomé e Principe pode surgir com o 

início da produção petrolífera ou com 

questões sobre armazenamento 

transfronteiriço com a Nigéria.’ 

Fig. 23– Geologia simplificada de São Tomé e Príncipe, incluindo a Zona Económica Exclusiva (ZEE) e a Joint Development Zone (JDZ) com a Nigéria. Adaptado de ANP [61]. 

20 | CCS in the CPLP countries  

Timor Leste

Combustíveis fósseis endógenos  Timor  Leste  tornou‐se  um  estado  soberano  em  2002  e 

aderiu à CPLP no mesmo ano. Embora à época constasse 

entre os países mais pobres do mundo, Timor Leste tem 

registado desde então um crescimento económico anual 

médio de cerca de 9% [2]. Este crescimento não pode ser 

dissociado da produção de petróleo na zona offshore, no 

Timor Gap. Em 2012, Timor‐Leste produziu 4.1 Mtep de 

petróleo (Fig. 25), mas as reservas provadas ascendem a 

554 milhões de barris. A produção de gás natural ainda 

não  se  iniciou, mas  as  reservas  são  vastas,  201 Gm3,  e 

decorrem  negociações  para  a  definição  dos  locais  de 

processamento [20]. 

A economia de Timor Leste é uma das mais dependentes 

de  recursos  naturais  em  todo  o mundo,  com  cerca  de 

90% do orçamento nacional proveniente diretamente de 

receitas petrolíferas. 

 Consumo de energia primária Timor  Leste  é  fortemente dependente das  importações 

para  geração  de  energia,  com  mais  de  75%  das 

importações  de  petróleo  a  serem  utilizadas  para  a 

produção  de  eletricidade  através  de  geradores  a  diesel 

[58]. Ainda assim, o uso  tradicional de biomassa é uma 

parte significativa das fontes de energia primária no país, 

responsável  por  cerca 

de  90%  das 

necessidades  de 

energia para cozinhar e 

para aquecimento [20]. 

O  sistema  de  geração 

de  eletricidade  é 

pequeno  e 

fragmentado, baseado em pequenas e médias centrais a 

diesel. A capacidade  instalada em Dili, a capital, é de 19 

MW,  e no  resto do país  é de  cerca de 16 MW. Alguns 

grandes consumidores são responsáveis pela geração de 

10  MW  adicionais  como  a  sua  única  fonte  ou  como 

backup.  A  rede  elétrica  está  concentrada  nas  áreas 

urbanas,  atingindo  apenas  cerca  de  37%  da  população 

[58].  O  governo  pretende  expandir  a  infraestrutura  de 

produção  de  energia  com  a  instalação  de  210  MW 

adicionais. O  país  tem  abundantes  recursos  de  energia 

renovável, com potencial de 75 MW a 95 MW a partir de 

fontes hídricas e com boas perspetivas para fontes eólica 

e solar. O governo definiu como objetivo que, em 2020, 

50% da energia tenha origem em fontes renováveis [59]. 

Indústrias de elevada intensidade de carbono 

Para  além  das  centrais  diesel  já mencionadas,  não  há, 

atualmente,  grandes  fontes  emissoras  estacionárias  no 

país, como refinarias,  fábricas de cimento ou siderurgia. 

No  entanto,  o  governo  tem  promovido  investimentos 

internos  e  estrangeiros  em  sectores  industriais 

essenciais. A empresa petrolífera nacional, TIMOR GAP, 

anunciou  planos  para  construir  uma  refinaria  e  uma 

petroquímica  em  Nova  Betano  para  fornecer  diesel, 

gasolina, jet‐fuel e GPL.  

O Governo de Timor Leste está empenhado em que o gás 

natural  do  campo Great  Sunrise  seja  processado  numa 

instalação de GNL a ser construída em Beaço na costa sul 

do país [59]. No entanto, ainda não existe acordo com a 

joint  venture  que  possui  os  direitos  de  exploração  do 

campo de gás.  

As  empresas  australianas  BGC  e  SWAN  anunciaram  a 

construção  de  uma  fábrica  de  cimento  com  uma 

capacidade  de  produção  de  1.5  Mt/a,  em  Baucau,  a 

segunda  maior  cidade  do  país.  A  construção  deverá 

iniciar‐se em 2015 [60]. 

Emissões de CO2  As emissões de CO2 estão associadas com o consumo de 

produtos petrolíferos, nomeadamente para produção de 

energia,  dada  a  ausência  de  outras  fontes  pontuais 

Área: 14954 km2 População (2013):1.178 milhões PNB (2013): USD311 milhões  

Fig. 25 – Produção e consumo de combustíveis fósseis em Timor Leste. Fonte: EIA [19]. 

0

2

4

6

1990 1995 2000 2005 2010

Mtep

Petróleo‐produção

Petróleo‐consumo

Fig. 24 – CO2 emitido por combustíveis fósseis. Fonte: CDIAC [9]. 

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.14

0.15

0.16

0.17

0.18

0.19

0.2

2002 2004 2006 2008 2010

Emissões CO2per 

capita (t/a)

Emissões CO2 (M

t/a)

OilPer_capita

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 21  

importantes.  As  emissões  de  CO2  são muito  reduzidas, 

apenas  183  kt  em  2010  [10],  mas  aumentaram 

consistentemente desde 2002, quando o país se  tornou 

um  estado  soberano.  Porém,  as  emissões  per  capita 

continuam em valores muito baixos ‐ 0.15 t/a (Fig. 24). É 

de  esperar  que  os  investimentos  planeados  (refinaria, 

petroquímica, cimenteira e GNL) resultem num aumento 

significativo das emissões do país.  

Oportunidades de armazenamento de CO2 

De acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento 

de  Timor‐Leste  [59],  o  aumento  da  capacidade  de 

produção  de  eletricidade  será  conseguido  sobretudo 

através  de  fontes  renováveis,  e  não  é  provável  que  o 

sector  electroprodutor  aumente  significativamente  as 

suas  emissões.  Por  conseguinte,  a  motivação  para 

atividades CCS em Timor Leste está associada à produção 

de petróleo e gás natural e aos investimentos industriais 

planeados (refinaria, petroquímica, GNL). 

Timor  Leste  situa‐se  num  enquadramento  tectónico 

muito  complexo,  no  extremo  leste  e  ao  sul  do  Arco 

Vulcânico  de  Banda,  a  expressão  à  superfície  da 

subducção  litosférica  da  crusta  continental  australiana 

sob placa da Eurásia. Nos últimos 5 milhões de anos essa 

subducção  estagnou  na  região  de  Timor,  fazendo  com 

que a ilha de Timor se elevasse [61].  

Este ambiente tectónico complexo reflete‐se na geologia 

caótica  da  ilha,  subdividida  num  grande  número  de 

unidades  estruturais.  As  rochas  do  bedrock  (Complexo 

Lolotoi)  e  as  rochas  metamórficas  do  Complexo  Aileu 

resultantes  da  colisão  continental  (Fig.  27),  não  são 

adequadas  para  o  armazenamento  de  CO2.  Rochas 

sedimentares  mesozoicas  depositaram‐se  em  bacias 

suprajacentes  àquelas  formações  e  calcários  recifais do 

Cenozoico a Recente continuam a formar‐se (Fig. 26). No 

entanto,  a  natureza  fragmentada  e  caótica  das 

formações sedimentares deixa poucas perspetivas para o 

armazenamento  de  CO2,  como  se  infere  pelas  muitas 

ocorrências  de  petróleo  e  gás  encontradas  à  superfície 

ao  longo da costa sul da  ilha [62]. As mesmas restrições 

tectónicas aplicam‐se no sector offshore. 

O  armazenamento  de  CO2  está  a  ser  considerado  em 

países  com ambientes  tectónicos  complexos  (ex.  Japão, 

Indonésia),  e  o  projeto‐piloto  de  Nagaoka,  no  Japão, 

demonstrou que a ocorrência de sismos com magnitude 

M=6 com epicentro nas proximidades do local de injeção, 

não  conduziu  à  degradação  das  condições  de 

armazenamento. Ainda assim, uma abordagem prudente 

aconselha  a  que  o  armazenamento  de  CO2  em  Timor 

Leste seja apenas considerado nos campos de petróleo e 

gás  natural,  não  só  porque  está  demonstrada  a 

capacidade  de  contenção  dos  reservatórios,  mas 

também porque as pressões finais seriam muito menores 

do que as induzidas em aquíferos salinos profundos.  

A possibilidade de utilizar CO2 para EOR reveste‐se de um 

interesse evidente e deve ser abordada numa perspetiva 

económica  no  futuro,  pois  a  produção  de  petróleo  é 

recente e os campos em exploração podem não ter ainda 

atingido um grau de maturidade adequado. 

Embora se espere que num futuro próximo venham a ser 

construídas  grandes  fontes  pontuais  de  CO2  em  Timor 

Leste, uma abordagem realista deve privilegiar a  ligação 

de atividades CCS com a indústria petrolífera, através do 

uso  de  CO2  em  EOR,  ou  pela  injeção  de  CO2  em 

reservatórios  de  petróleo  e  gás  exauridos  nos  sectores 

offshore.    

‘O enquadramento tectónico de Timor 

Leste aconselha ao armazenamento de 

CO2 apenas em campos de 

hidrocarbonetos ou em EOR.’ 

Fig. 27– Mapa geológico simplificado de Timor Leste. Adaptado de Thomson et al.[34]. 

Fig. 26– Esquema do enquadramento tectónico de Timor Leste. Adaptado de Thomson et al.[34]. 

22 | CCS in the CPLP countries  

3.2 Sectores com potencial para atividades em CCS

Esta secção procura identificar os sectores energéticos e 

industriais  com  melhores  perspetivas  para  integração 

com  projetos.  Para  além  do  sector  de  produção  de 

energia e do uso de CO2 em EOR, analisam‐se ainda os 

cinco sectores industriais encarados como oportunidades 

percursoras  pela  IEAGHG/UNIDO  [63]:  cimento;  ferro  e 

aço; refinação e petroquímica; Bio‐CCS; fontes de elevada 

concentração (processamento de gás natural, GNL, CTL). 

As  possibilidades  identificadas  em  sectores  menos 

comuns  são  agrupadas  em  “outras  possibilidades”.  A 

Tabela  5  sintetiza  as perspetivas para projetos CCS por 

sector nos países da CPLP caracterizados na secção 3.1. 

Sector de produção de energia Uma característica comum à maioria dos países da CPLP 

é  o  elevado  crescimento  populacional,  com  uma  taxa 

média  de  2.1%  ao  ano  nos  países  caracterizados  na 

secção 3.1. Face a esta demografia, ao forte crescimento 

económico  e  à  reduzida  cobertura  da  rede  elétrica,  a 

expectativa é que nas próximas décadas se assista a uma 

forte  aumento  das  necessidades  de  energia.  Esta 

expetativa  reflete‐se  nas  estratégias  nacionais  de 

energia,  com  aqueles  Estados‐membros  a  planear 

expandir  consideravelmente  a  produção  e  as  redes  de 

distribuição de energia. No entanto,  tendo em conta os 

recursos  renováveis  disponíveis na maioria dos Estados-membros, nomeadamente as fontes  hídricas  e  solares  (e 

eólica, para Cabo Verde e Moçambique), a expansão da 

capacidade  electroprodutora  não  se  centrará  em 

instalações termoelétricas com combustíveis fósseis.  

A  exceção  parece  ser  Moçambique,  que  planeia 

aproveitar  os  recursos  fósseis  endógenos  e  construir 

centrais a carvão e a gás natural. As centrais a carvão são 

promovidas  pelas  empresas  de  extração  de  carvão, 

incluindo a brasileira VALE, e podem existir sinergias na 

CPLP para  implementar projetos CCS nessas  centrais. A 

implementação  de  projetos  CCS  em  conexão  com  as 

novas  centrais  de  gás  natural  planeadas  para  Angola  e 

Guiné Equatorial também deve ser equacionada. 

Indústrias de elevada intensidade de carbono 

A  industrialização  é  ainda  incipiente  nos  países 

analisados, com os sectores cimenteiros, de  refinação e 

siderúrgicos  pouco  desenvolvidos  ou  inexistentes.  No 

entanto,  vários  países  da  CPLP  anunciaram  planos  de 

investimento nessas áreas.  

  Sector cimenteiro O  sector da construção está em  franco crescimento em 

vários  Estados‐membros,  e  o  sector  cimenteiro 

acompanha  esse  crescimento,  com  novas  fábricas 

previstas  em  quase  todos  os  países,  com  exceção  de 

Tabela 5 – Perspetivas para atividades em CCS por sector nos países da CPLP em análise. 

Angola Cabo Verde

Guiné-Bissau Guiné Equatorial

Moçambique São Tomé e Príncipe

Timor Leste

Produção de energia

Investimentos em hídrica. Duas novas centrais a gás.

Sem grandes fontes.

Sem grandes fontes. Grande potencial hídrico.

Investimentos em hídrica. Uma central a gás.

Duas novas centrais a carvão e várias centrais a gás.

Sem grandes fontes.

Sem grandes fontes. Elevado potencial de renováveis

Cimento Várias fábricas de cimento ativas/planeadas

- - Uma fábrica de cimento planeada.

Várias fábricas de cimento ativas ou planeadas

- Uma fábrica de cimento planeada.

Refinação petróleo

Uma refinaria ativa e 2ª planeada.

- - Investimento numa refinaria incerto.

1ª refinaria operacional em 2018

- Uma refinaria e petroquímica planeada.

Bio-CCS

Bom potencial em biomassa. Um projeto de biocombustíveis

Sem potencial.

Bom potencial em biomassa. Sem projetos conhecidos.

Bom potencial em biomassa. Sem projetos conhecidos.

Bom potencial em biomassa. Vários projeto aprovados.

Bom potencial em biomassa. Sem projetos.

Bom potencial em biomassa. Sem projetos conhecidos.

EOR Produção petróleo madura.

- - Produção petróleo madura.

- Pode ser produtor de petróleo

Recente produtor de petróleo

Fontes de elevada concentração

Produtor de gás. Uma instalação GNL.

- -

Produtor de gás. Uma instalação GNL e 2ª planeada.

Instalação GNL em construção. Um projeto CTL

- Uma instalação GNL planeada

Outras possibilidades

- CO2 em EGS

- - Uma fundição de alumínio

- -

 Sem potencial. Sem fontes ativas ou planeadas.

Potencial marginal, podem existir fontes planeadas.

Potencial médio, mas não existem fontes ou apenas uma.

Bom potencial. Várias fontes ativas ou planeadas.

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 23  

Cabo  Verde  e  São  Tomé  e  Príncipe.  A  indústria 

cimenteira  está  em  expansão  sobretudo  em 

Moçambique  e Angola. A  INTERCEMENT,  uma  empresa 

de  cimento  sedeada  no  Brasil  e  com  fábricas  em 

Portugal, tem  investimentos previstos noutros países da 

CPLP, tal como a SECIL, uma cimenteira portuguesa. Seria 

desejável  estabelecer  um  cluster  de  cimenteiras  ativas 

nos países da CPLP para discutir a viabilidade da CCS. 

  Refinação e petroquímica Apesar  de  alguns  países  da  CPLP  serem  produtores  de 

petróleo e deste constituir uma das  fontes principais de 

energia primária, apenas Angola tem uma refinaria ativa. 

No  entanto,  Angola,  Guiné  Equatorial,  Moçambique  e 

Timor  Leste,  anunciaram  a  construção,  adjudicação  ou 

projeto  de  novas  refinarias.  Face  à  dimensão  da 

economia destes países,  estas  refinarias provavelmente 

serão  as  únicas  a  construir  em  qualquer  um  daqueles 

países.  Timor  Leste planeia  ainda  a  construção de uma 

instalação petroquímica. Existe, porém, alguma incerteza 

nestes planos, por exemplo, na Guiné Equatorial e Timor 

Leste.  Ainda  assim,  pelo  menos  em  Angola  e 

Moçambique  seria  interessante  discutir  a  possibilidade 

de implementação de CCS nas novas refinarias. 

  Siderurgia  O sector de ferro e aço é irrelevante em qualquer um dos 

países  avaliados  nesta  secção,  e  não  são  conhecidos 

planos para investimentos neste sector.  

Bio‐CCS O potencial  da  biomassa  é muito  elevado  em  todos  os 

membros da CPLP analisados na secção 3.1, com exceção 

de  Cabo  Verde,  marcado  por  um  clima  subsaheliano. 

Vários  Estados‐membros  (nomeadamente  Angola, 

Moçambique,  Guiné  Equatorial)  identificaram  a 

bioenergia  como  uma  área  de  investimento,  com 

projetos  normalmente  liderados  por  consórcios 

envolvendo empresas locais/governamentais e empresas 

portuguesas  (ex.  GALP)  e  brasileiras  (ex.  PETROBRAS). 

Podem existir  sinergias  importantes no âmbito da CPLP 

nesta  área,  justificando‐se  esforços  para  identificar 

potenciais projetos de bio‐CCS. 

Utilização de CO2 em EOR Angola e Guiné Equatorial têm indústrias de produção de 

petróleo consolidadas, com campos explorados há vários 

anos e, nalguns casos, aproximando‐se da maturidade ou 

do esgotamento. A produção de petróleo em Timor Leste 

é  mais  recente.  Em  geral,  a  produção  de  petróleo  é 

efetuada por  empresas  petrolíferas  internacionais,  com 

supervisão  ou  em  consórcio  com  as  empresas 

petrolíferas  locais.  A  utilização  de  CO2  em  EOR  é  uma 

possibilidade  sobretudo para Angola e Guiné Equatorial 

que  possuem  fontes  de  elevada  concentração  de  CO2 

(centrais GNL) próximas dos campos petrolíferos. Podem 

existir  sinergias  na  CPLP,  face  à  experiência  da 

PETROBRAS e da PARTEX O&G em EOR. 

Fontes de elevada concentração de CO2   Processamento de Gás Natural / GNL O  processamento  de  gás  natural  é  uma  indústria 

presente em Angola e na Guiné Equatorial, e ambos os 

países possuem uma instalação de GNL. A construção de 

instalações  de  processamento  de  gás  e  de  GNL  está 

também  projetada  para  Timor  Leste  e  Moçambique. 

Estas  indústrias  são  oportunidades  percursoras  para 

projetos  CCS  e  a  interação  com  os  investimentos 

projetados deve ser  incentivada na procura de sinergias 

para  a  captura  de  CO2  naquelas  fontes.  As  vastas 

reservas  de  gás  natural  em  Moçambique  e  a  sua 

localização, perto de locais com potencial capacidade de 

armazenamento de CO2, são particularmente adequadas 

para  a  implementação  de  projetos  de  CCS.  A 

proximidade  das  instalações  de  GNL  de  Angola  e  da 

Guiné  Equatorial  aos  campos  de  petróleo  e  gás,  e  em 

especial,  a  nova  instalação  de  GNL  flutuante  prevista 

para  Guiné  Equatorial,  podem  também  revestir‐se  de 

interesse para integração com o armazenamento de CO2. 

  Coal to Liquids (CTL) A extração de carvão na província de Tete, Moçambique, 

originou  uma  elevada  volume  de  resíduos.  A  empresa 

sul‐africana  CLEAN  CARBON  INDUSTRIES  anunciou  um 

estudo de pré‐viabilidade e um acordo com o Ministério 

da Energia de Moçambique para uma  instalação CTL de 

USD 9.5 mil milhões que visa transformar os resíduos de 

carvão  na  bacia  de  Tete  em  combustíveis  líquidos.  O 

estudo de pré‐viabilidade contempla a captura do CO2 e 

o  seu  transporte  por  gasoduto  para  zona  costeira  e 

armazenamento  em  formações  geológicas.  Embora  a 

implementação  do  projeto  CTL  não  pareça  estar 

dependente  da  componente  CCS,  o  facto  de  ter  sido 

discutida  com  as  autoridades  locais  deverá  ter 

aumentado a visibilidade da tecnologia CCS no país. 

Outras possibilidades   Fundição de alumínio A  fundição  de  alumínio  constitui  uma  fonte  de  CO2 

relativamente  importante  em Moçambique.  A  fundição 

de  alumínio produz diretamente  cerca de  15  toneladas 

de CO2 por  tonelada de alumínio processada, bem  com 

emissões  indiretas  originadas  pela  quantidade  elevada 

de energia elétrica  requerida  (15 MWh por  tonelada de 

24 | CCS in the CPLP countries  

alumínio). A possibilidade de implementação de projetos 

de CCS em Moçambique em conexão com a fundição de 

alumínio  justifica  uma  análise  detalhada.  A  fundição  a 

MOZAL,  com  uma  produção  de  250  000  toneladas  de 

alumínio  por  ano,  provavelmente  usufrui  de  um  bom 

ajuste  fonte‐sumidouro,  dado  estar  localizada  em 

Maputo, na bacia sedimentar de Moçambique 

  Utilização  de  CO2  em  Sistemas  Geotérmicos Estimulados A  utilização  de  CO2  como  um  fluido  circulante  em 

Sistemas Geotérmicos  Estimulados  (EGS)  está  ainda  em 

fase  de  I&D,  mas  se  se  mostrar  viável,  poderia  ser 

considerada  para  Cabo  Verde.  O  processo  visa  utilizar 

CO2  para  recuperar  calor  do  reservatório,  mas  uma 

fração do CO2 injetado permanece sequestrado na rocha. 

As  rochas  vulcânicas,  nomeadamente  os  basaltos, 

constituem  a  litologia  dominante  em  Cabo  Verde  e  o 

sequestro do CO2 por carbonatação mineral poderia ser 

um benefício indireto da utilização de CO2 em EGS.  

 

Tendo em conta todas as oportunidades identificadas, os 

casos  mais  interessantes  para  a  implementação  de 

projetos CCS nos países da CPLP estão ligados à indústria 

de  hidrocarbonetos,  seja  na  utilização de CO2  em  EOR, 

que  pode  ser  particularmente  relevante  para  Angola, 

Equatorial  Guiné  e  Timor  Leste,  ou  em  instalações  de 

processamento  de  gás  natural  e  de  GNL,  nos mesmos 

países,  mas  também,  e  particularmente,  em 

Moçambique. Projetos nesses sectores beneficiariam da 

existência  de  indústrias  petrolíferas  consolidadas,  do 

enquadramento  legal  e  regulamentar  existente  para  o 

setor  dos  hidrocarbonetos  e  do  valor  económico 

associado ao CO2 utilizado em EOR. 

Nas  indústrias  de  produção  industrial,  os  projetos  CCS 

têm maior viabilidade no sector cimenteiro, uma vez que 

o crescimento económico se tem traduzido no aumento 

da procura de cimento. Dada a dimensão da população e 

importância  do  sector, Angola  e Moçambique  parecem 

ser os casos mais interessantes para a implementação de 

CCS no sector cimenteiro. 

O potencial para projetos de bio‐CCS também é elevado, 

embora  a  indústria  de  bioenergia  ainda  não  esteja 

amadurecida em nenhum dos países da CPLP analisados. 

No entanto, dada a possibilidade da bio‐CCS resultar em 

emissões negativas,  se  admitida nos  inventários oficiais 

de  emissões  de  gases  com  efeito  de  estufa,  estas 

oportunidades  devem  ser  exploradas  especialmente  na 

Guiné Equatorial, Angola, Guiné‐Bissau e Moçambique. 

Moçambique apresenta ainda outros casos interessantes 

para o desenvolvimento de projetos de CCS em  ligação 

com indústria de extração de carvão e com a fundição de 

alumínio. 

No polo oposto estão os países‐arquipélago, Cabo Verde 

e  S.  Tomé  e  Príncipe,  em  que  a  tecnologia  CCS  parece 

não  ter  um  papel  relevante  a  desempenhar  devido  à 

dimensão e dispersão da economia. Exceções podem ser 

a utilização de CO2 em EGS em Cabo Verde e a utilização 

de CO2 para EOR  se a produção de petróleo  finalmente 

se desenvolver em São Tomé e Príncipe. 

Tabela 6 – Perspetivas para oportunidades de armazenamento geológico de CO2 nos países da CPLP em análise.

Angola Cabo Verde

Guiné-Bissau

Guiné Equatorial

Moçambique São Tomé e Príncipe

Timor Leste

Campos de petróleo e gás esgotados

Produção de petróleo madura

- - Produção de petróleo e gás madura

Descobertas de gás. Produção ainda por iniciar.

Pode ser produtor de petróleo.

Produção de petróleo recente

Bacias sedimentares - onshore

Boas perspetivas na Bacia do Kwanza

- Extensa bacia sedimentar

Pequena bacia onshore. Pouco explorada.

Boas perspetivas nas bacias do Rovuma e Moçambique.

- Contexto tectónico desfavorável.

Bacias sedimentares - offshore

Várias bacias sedimentares, bem estudadas

Sem informação

Extensa bacia sedimentar. Pouco estudada.

Extensa bacia sedimentar. Bem estudada.

Boas perspetivas nas bacias do Rovuma e de Moçambique.

Bacias produtoras de petróleo.

Contexto tectónico desfavorável.

Bacias carboníferas Sem significado

Sem significado

Sem significado

Sem significado

Grandes bacias carboníferas

Sem significado

Sem significado

Rochas máficas e ultramáficas

Sem grandes províncias de rochas máficas

Ilhas compostas por rochas vulcânicas.

Sem grandes províncias de rochas máficas

Sem grandes províncias de rochas máficas

Rochas ultramáficas em zonas próximas de futuras centrais a carvão.

Ilhas compostas por rochas vulcânicas.

Com pouca importância

 

Sem potencial. Potencial marginal ou produção de imatura de hidrocarbonetos,

Bom ou muito bom potencial mas custos elevados. Muito bom potencial

 

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 25  

3.3 Síntese das oportunidades de armazenamento de CO2

A  secção  3.1  abordou  as  oportunidades  de 

armazenamento  CO2  nos  países  da  CPLP  em  análise  e 

esta  secção  sintetiza  essas oportunidades  (Tabela  6). O 

armazenamento  como  parte  do  processo  de  EOR  não 

está incluído, por ter sido abordado na secção anterior. 

Os  campos  de  petróleo  e  gás  de  maior  maturidade 

existentes ou a desenvolver‐se em Angola, Timor Leste e 

Guiné  Equatorial,  constituem  as  melhores  opções  de 

armazenamento de CO2. A existência desses campos de 

hidrocarbonetos é também uma indicação de que podem 

ocorrer aquíferos salinos profundos nos mesmos países. 

As  melhores  possibilidades  de  armazenamento  em 

aquíferos  salinos  devem  ocorrer  em Moçambique  e  na 

Guiné‐Bissau. Em Moçambique, estima‐se que as bacias 

sedimentares  de  Rovuma  e  Moçambique  apresentem 

capacidade  de  armazenamento  superior  a  2 Gt  CO2  no 

sector onshore, com ajustes fonte‐sumidouro aceitáveis. 

Estas bacias são bem relativamente conhecidas devido à 

pesquisa petrolífera. Já o conhecimento sobre a geologia 

da  Guiné‐Bissau  é muito  escasso, mas  a  existência  de 

uma bacia  sedimentar  espessa,  cobrindo  a maior parte 

do  território  onshore  e  offshore,  fornece  indicadores 

favoráveis  para  a  ocorrência  de  aquíferos  salinos 

profundos.  Em  Angola,  a  bacia  do  Kwanza  também  é 

muito  interessante,  até  porque  está  a  ser  objeto  de 

pesquisa  petrolífera  e  não  se  encontra muito  distante 

dos  principais  centros  de  desenvolvimento.  Esta  bacia 

tem uma  área  onshore  considerável,  estende‐se para o 

offshore, e pode apresentar condições adequadas para o 

armazenamento de CO2 em ambos os sectores. 

A  Guiné  Equatorial  tem  fracas  perspetivas  de 

armazenamento  onshore,  pois  as  bacias  existentes  são 

muito  estreitas.  Timor  Leste  tem  bacias  sedimentares 

onshore  e  offshore,  mas  o  ambiente  tectónico  é 

desfavorável e uma abordagem cautelosa deve favorecer 

o armazenamento em campos de petróleo e gás natural. 

Cabo  Verde  e  São  Tomé  e  Príncipe  são  arquipélagos 

vulcânicos  em  que  as  perspetivas  de  armazenamento 

onshore  só  podem  ser  encontradas  nos  basaltos  que 

compõem a maior parte do território dessas ilhas.  

Moçambique  é  o  único  país  com  grandes  bacias 

carboníferas  em  que  é  possível  considerar  o 

armazenamento de CO2 em camadas de carvão. 

Em  súmula, Angola e a Guiné Equatorial apresentam as 

melhores  condições  para  armazenamento  de  CO2  em 

campos de petróleo e gás esgotados, mas as perspetivas 

para armazenamento em aquíferos salinos profundos em 

Moçambique,  Angola  e  Guiné‐Bissau  são  igualmente 

promissoras. 

3.4 Motivações para implementação de actividades em CCS

Os  Estados‐membros da CPLP  analisados não possuem, 

até  ao  momento,  metas  vinculativas  de  redução  de 

emissões  de  CO2.  São  países  não  industrializados,  com 

um número  reduzido de  fontes  estacionárias de CO2,  e 

com emissões per capita muito inferiores à média global, 

com exceção da Guiné Equatorial. Nestas circunstâncias, 

as  motivações  para  a  implementação  de  tecnologias 

dispendiosas, como a CCS, devem ser procuradas noutros 

fatores que não a necessidade de redução de emissões. 

A Tabela 7 lista algumas motivações possíveis para países 

da CPLP se envolverem em atividades sobre CCS. 

Uma motivação óbvia é  contribuir para a mitigação das 

alterações  climáticas.  Salienta‐se  que  Angola,  Timor 

Leste, Guiné‐Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe 

são países classificados como de Elevada Vulnerabilidade 

aos impactos das alterações climáticas. Por outro lado, a 

Guiné  Equatorial  tem  emissões  de  CO2  per  capita 

consideráveis,  apenas  inferiores no  continente Africano 

às da África do Sul, e a CCS pode ser encarada como uma 

oportunidade para reduzir essas emissões per capita. 

Uma motivação mais importante pode ser a dependência 

da economia de Angola, Timor Leste e Guiné Equatorial 

(e  brevemente  de  Moçambique)  da  produção  de 

combustíveis fósseis. A implementação da CCS garantiria 

um contexto económico mais estável no caso de adoção 

de  metas  internacionais  para  a  redução  das  emissões 

provenientes de combustíveis  fósseis. Além disso, a CCS 

permitiria àqueles países dissociarem as emissões de CO2 

e o crescimento económico. 

Nos  países  com  uma  indústria  petrolífera  consolidada 

(Angola,  Timor  Leste  e  Guiné  Equatorial)  podem  advir 

proveitos  económicos  importantes da utilização de CO2 

em  EOR,  por  incrementar  o  volume  de  petróleo 

recuperado  e  conferir  um  valor  económico  ao  CO2.  A 

maturidade da  indústria petrolífera aumenta a perceção 

das  oportunidades  de  negócios  existentes  nas 

componentes de transporte e armazenamento de CO2, e 

fornecem a base regulatória necessária. 

26 | CCS in the CPLP countries  

A  inclusão  de  projetos  CCS  no  portfólio  de  atividades 

admitidas  no  MDL  pode  constituir  uma  motivação, 

através da  comercialização de Reduções Certificadas de 

Emissões  (RCE)  resultantes  de  projetos  CCS.  Porém, 

atualmente o valor das RCE é  incipiente e o número de 

projetos no MDL (e consequente oferta de RCE) é muito 

grande.  

No  caso  de  Moçambique,  uma  motivação  económica 

pode decorrer do armazenamento de CO2 capturado em 

países vizinhos, concretamente na África do Sul (emissor 

de  mais  de  500  Mt  em  2010).  É  provável  que 

Moçambique  tenha  um  potencial  de  armazenamento 

muito  acima  das  suas  necessidades  e  pode  beneficiar 

economicamente  do  armazenamento  do  CO2  da  África 

do Sul. As  regras atuais do MDL não permitem projetos 

com  componente  transfronteiriça  (i.e.  CO2  capturado 

num país e transportado e armazenado noutro país), mas 

se esses critérios forem revistos – e há a expectativa de 

que  isso  suceda  na  45ª  sessão  do  Subsidiary  Body  for 

Scientific and Technological Advice  (SBSTA) do CQNUAC, 

em  2016  ‐  poderá  ser  criada  uma  oportunidade 

económica para Moçambique. 

O  armazenamento  transfronteiriço  também  pode  ser 

relevante para São Tomé e Príncipe e Angola. São Tomé e 

Príncipe  partilha  uma  bacia  sedimentar  offshore  com  a 

Nigéria,  a  bacia  do  Delta  do  Níger,  e  questões  de 

armazenamento  transfronteiriço podem  colocar‐se  se  a 

Nigéria optar por armazenar CO2 naquela bacia. De modo 

similar, se Angola optar por armazenar CO2 nos campos 

de petróleo do enclave de Cabinda, poderá necessitar de 

transportar  CO2  através  de  território  da  República 

Democrática do Congo.   

3.5 Desafios para a implementação de atividades em CCS

Os  desafios  para  implementar  atividades  em  CCS  nos 

países  da  CPLP,  ou  para  desenvolver  projetos  de  larga 

escala nos países (Portugal e Brasil) já envolvidos em I&D 

sobre  CCS,  são  consideráveis  e  refletem  muitos  dos 

Tabela 7– Motivações para a implementação de atividades em CCS nos países da CPLP em análise. 

  Motivações  

Angola

o Economia altamente dependente da produção de petróleo. A tecnologia CCS permite dissociar o crescimento económico e as emissões de CO2.

o EOR pode constituir incentivo económico. o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Indústria petrolífera bem consolidada fornece a base para enquadramento regulatório. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.

Cabo Verde o Potencial geotérmico poderia ser desenvolvido com recurso ao uso de CO2 como fluido circulante.

Guiné-Bissau o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.

Guiné Equatorial

o Nível elevado de emissões per capita. o Economia altamente dependente da produção de petróleo. A tecnologia CCS permite dissociar o

crescimento económico e as emissões de CO2. o EOR pode constituir incentivo económico. o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Indústria petrolífera bem consolidada fornece a base para enquadramento regulatório.

Moçambique

o A produção de gás natural será uma fonte importante de rendimento para o país durante próxima década. A exploração de carvão e a fundição de alumínio são também atividades importantes para a economia de Moçambique. A CCS permite dissociar o crescimento económico e as emissões de CO2.

o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o A regulação da exploração de hidrocarbonetos e o plano de desenvolvimento do gás natural fornecem

uma base para o enquadramento regulatório. o Modelo de negócio baseado no armazenamento de CO2 da África do Sul, se o transporte e

armazenamento transfronteiriço forem internacionalmente admissíveis e regulados. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.

São Tomé e Príncipe

o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Questões de armazenamento transfronteiriço com a Nigéria. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.

Timor Leste

o Economia altamente dependente da produção de petróleo. A tecnologia CCS permite dissociar o crescimento económico e as emissões de CO2.

o EOR pode constituir incentivo económico. o Créditos de MDL como Parte do Protocolo de Quioto. o Indústria petrolífera bem consolidada fornece a base para enquadramento regulatório. o Elevada vulnerabilidade ao impacto das alterações climáticas.

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 27  

desafios  que  a  tecnologia  CCS  enfrenta  globalmente. A 

Tabela  8  enumera  os  desafios  comuns  aos  países  da 

CPLP. 

O reduzido conhecimento sobre a CCS nos países da CPLP 

é um fator crítico e constitui o principal desafio técnico e 

de  conhecimento.  A  reduzida  informação  sobre  os 

detalhes da tecnologia  impede os decisores de perceber 

o papel da CCS em cada país, e a comunidade científica 

de  iniciar  projetos  de  I&D  (como  a  avaliação  da 

capacidade  de  armazenamento)  ou  a  organização  de 

cursos  de  formação.  Esta  questão  foi  parcialmente 

resolvida no Brasil pela ação da PETROBRAS e do CEPAC. 

Os  programas  de  transferência  de  conhecimentos  de 

projetos  CCS  a  grande  escala  têm  sido  direcionados 

quase exclusivamente para a China, Índia e África do Sul, 

e não existem perspetivas de envolver os países menos 

desenvolvidos nesses programas. 

O modelo de negócio para a CCS não é claro, sobretudo 

para  países  com  o  perfil  ambiental  e  económico  da 

maioria dos Estados‐membros da CPLP, com exceção da 

utilização  de CO2  em  EOR. O modelo de negócio  óbvio 

para CCS países menos desenvolvidos, os créditos RCE do 

MDL,  está  estagnado  e  permanecerá  assim  até  que  o 

valor do CO2 atinja valores mais atrativos.  

As fontes de financiamento para projetos de CCS, mesmo 

para  projetos  de  I&D,  necessitam  de  ser  clarificados, 

especialmente para os países africanos. 

Quanto aos desafios políticos e de regulação, a questão 

mais premente é a ausência de estudos detalhados que 

esclareçam  o  papel  que  a  CCS  pode  desempenhar  em 

cada  país  a  médio  prazo  (para  além  de  2030).  Esta 

questão  foi clarificada em Portugal pelo projeto CCS‐PT, 

mas não foi ainda abordada nos outros países da CPLP. 

 

 

Tabela 8 – Desafios à implementação de atividades CCS nos países da CPLP em análise.  

Desafios técnicos e de

conhecimento

Reduzido conhecimento sobre os detalhes da tecnologia entre os decisores e académicos, incluindo nos países em que já decorrem atividades CCS. A existência de um Centro de Excelência em CCS (CEPAC) permitiu enfrentar este desafio no Brasil. Incerteza sobre a capacidade de armazenamento em cada país e em vários casos (nos países exploração petrolífera significativa) escassez de informação sobre a geologia profunda. Ausência de capacidade técnica na cadeia de valor da CCS, uma característica provavelmente comum a todos os países da CPLP, mas facilmente ultrapassável nos países com uma indústria petrolífera consolidada (Angola, Brasil, Guiné Equatorial, Timor Leste) para as componentes de transporte e armazenamento da cadeia CCS. Ausência de transferência de conhecimentos sobre CCS de países desenvolvidos para os menos desenvolvidos. Necessidade de implementar projetos-piloto nos países que já avaliaram a sua capacidade de armazenamento (Brasil e Portugal), e que precisam de clarificar aspetos como a injetividade, sismicidade induzida, etc.

Desafios económicos

Não é claro qual o modelo de negócio para o CCS em países de baixo rendimento e as empresas ainda têm que assimilar o potencial em oportunidades de negócio associado à tecnologia CCS. Ausência de análises do valor económico da utilização do CO2 em EOR nos países da CPLP produtores de petróleo. Abordagem “Esperar para ver”, com os países da CPLP a aguardar pela implementação da CCS à escala internacional, apesar da especificidade local das opções de transporte e armazenamento. Futuro indefinido para o MDL e instabilidade do preço dos RCE e do CO2. Ausência de informação sobre fontes de financiamento para atividades CCS, em particular em África.

Desafios de regulação e

políticos

Ausência de estudos sobre o impacto da CCS nos planos estratégicos nacionais, pois na maior parte dos casos não existem metas de redução das emissões de CO2. Todos os países da CPLP apresentaram ou estão a desenvolver estratégias de ação climáticas, mas a CCS apenas é mencionada nos planos de Portugal e de Moçambique. Conhecimento reduzido sobre os detalhes da tecnologia entre os decisores e potenciais reguladores. Ausência de uma avaliação sobre a inclusão da CCS na legislação nacional, um assunto resolvido em Portugal através da transposição da Diretiva Europeia sobre Armazenamento de CO2. Indefinição da política internacional para mitigação das alterações climáticas. Regulação do transporte e armazenamento transfronteiriço de CO2, o que pode constituir um obstáculo para modelos de negócio em Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe.

28 | CCS in the CPLP countries  

4 Acções futuras – concretizar o potencial de cooperação

cooperação entre os Estados‐membros da CPLP 

decorre  em  múltiplas  áreas  da  economia, 

tecnologia,  saúde,  ciência,  e  a  vários  níveis, 

desde  acordos  bilaterais  até  ao 

enquadramento  mais  amplo  providenciado  pelo 

secretariado da CPLP. A  cooperação  está enraizada das 

ligações culturais duradouras entre os Estados‐membros 

e no elo unificador da língua comum. 

4.1 Acções recomendadas

A tecnologia CCS não é considerada uma prioridade para 

os  governos  dos  países  da  CPLP.  No  entanto,  as 

motivações  e  desafios  enfrentados  pelos  membros  da 

CPLP  têm  muitas  características  comuns,  e  justificam 

uma cooperação sistemática em atividades relacionadas 

com  a  CCS,  para  a  qual  se  apresentam  algumas 

recomendações. 

Sensibilização e partilha de conhecimento O  conhecimento  e  a  informação  sobre  a  CCS  como 

tecnologia  de  mitigação  de  alterações  climáticas  são 

reduzidos nos países da CPLP, e a tecnologia tem que ser 

divulgada entre as autoridades e  instituições dos países 

nos quais a CCS é potencialmente mais interessante. Esta 

sensibilização deve  ser direcionada principalmente para 

os decisores, potenciais reguladores, ONGs ambientais, e 

gestores  industriais e académicos, de modo a promover 

a  discussão  sobre  o  papel  que  a  tecnologia  pode 

desempenhar em cada país. A organização de atividades 

de sensibilização deve envolver todos os países da CPLP, 

mas  focar‐se  inicialmente  nos  países  já  envolvidos  em 

atividades em CCS  ‐ Brasil e Portugal  ‐ e naqueles  com 

maior  potencial  para  iniciar  atividades  em  CCS: 

Moçambique, Angola e Guiné Equatorial.  

A  organização  de  um  seminário  anual,  dirigido  a 

decisores  e  gestores  é  uma  forma  adequada  para 

promover  a  sensibilização  e  partilha  de  conhecimentos 

entre  os  países  da  CPLP.  A  organização  do  seminário 

deve  alternar  entre  os  diferentes  países  da  CPLP,  com 

aumento  do  conteúdo  técnico  entre  seminários  e 

culminando  na  realização  de  eventos  de  capacitação  e 

cursos técnicos breves com o foco principal na aquisição 

de competências técnicas necessárias na tecnologia CCS. 

Outras  atividades  de  partilha  de  conhecimento  válidas 

seriam a: 

o Expansão do conteúdo sobre as oportunidades de CCS 

em cada um dos países da CPLP, apresentado na secção 

3.1 desta publicação, e produção de folhetos com esse 

conteúdo; 

o Tradução para Português de alguns dos muitos folhetos 

técnicos sobre CCS produzidos por diversas instituições 

(ex. GCCSI, CO2GEONET, CSLF, IEAGHG, etc.); 

o Promoção  de  teses  de mestrado  e  de  doutoramento 

sobre  temas  da  tecnologia  CCS  por  estudantes  das 

principais universidades de países da CPLP.  

Avaliação da capacidade de armazenamento 

A  avaliação  da  capacidade  de  armazenamento  é  um 

passo  essencial  para  lançar  projetos  CCS.  Portugal  e 

Brasil já efetuaram a inventariação da sua capacidade de 

armazenamento  à  escala  regional  e  esse  trabalho  deve 

prosseguir para estudos mais detalhados. 

Preconiza‐se o lançamento de um estudo de avaliação da 

capacidade  de  armazenamento  de  CO2  em  formações 

geológicas  e  do  ajuste  com  as  fontes  emissoras  ou 

centros de desenvolvimento de cada país. O projeto deve 

visar  principalmente  os  aquíferos  salinos  profundos  e 

campos de petróleo e gás esgotados em Angola, Guiné‐

Bissau, Guiné Equatorial, Timor Leste e Moçambique. Em 

Moçambique  deve  ainda  avaliar  a  capacidade  de 

armazenamento em camadas de carvão não exploráveis.  

O  projeto  deve  envolver  os  Serviços  Geológicos  e/ou 

Reguladores  do  sector  petrolífero  em  cada  país,  bem 

como geólogos das principais universidades para garantir 

a capacitação técnica. Brasil e Portugal participariam no 

projeto para  garantir  a  transferência de  conhecimentos 

dos  estudos  similares  realizados  nos  seus  territórios.  A 

implementação  desta  atividade  poderia  iniciar‐se  no 

primeiro  seminário de  sensibilização, através da  criação 

de uma equipa de trabalho que identifique a informação 

geológica existente, os recursos técnicos de cada país, as 

potenciais  fontes de  financiamento, e que elabore uma 

proposta  de  avaliação  de  capacidade  de 

armazenamento. 

 

A

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 29  

Clarificar o papel da CCS em cada país O projeto CCS‐PT em Portugal permitiu avaliar o papel da 

tecnologia CCS no contexto económico, energético e de 

redução de emissões de Portugal. Estudos  similares em 

cada país  da CPLP,  baseados  na modelação  do  sistema 

energético,  podem  clarificar  o  papel  da  CCS  e  sua 

interação com outras opções de mitigação de alterações 

climáticas. O Brasil dispõe de informação suficiente para 

desenvolver  um  estudo  desta  natureza, mas  os  outros 

países da CPLP teriam ainda de identificar as capacidades 

de armazenamento e as fontes emissoras. Estes estudos 

poderiam  culminar  na  identificação  de  oportunidades 

para  projetos  de  CCS  nos  países  da  CPLP.  A  prioridade 

para os estudos obedeceria ao potencial para atividades 

CCS: Brasil, Moçambique, Angola e Guiné Equatorial. 

 

Utilização de CO2 em EOR  A  utilização  de  CO2  em  EOR  é  bem  conhecida  entre  a 

indústria e  reguladores do  sector petrolífero dos países 

produtores de petróleo da CPLP, nomeadamente Angola, 

Brasil, Guiné Equatorial e Timor Leste. A organização de 

um  workshop  específico  sobre  a  utilização  de  CO2  em 

EOR deve envolver as empresas e  reguladores de gás e 

petróleo naqueles países. Um dos objetivos do workshop 

seria  a  constituição  de  uma  equipa  liderada  pela 

indústria para avaliar a possibilidade de utilizar CO2 em 

EOR nos países da CPLP. 

A  PETROBRAS  e  a  PARTEX  O&G  têm  uma  vasta 

experiência em EOR, bem como várias das empresas que 

operam  nos  países  produtores  de  petróleo  e  gás,  pelo 

que  as  capacidades  e  recursos  técnicos  estariam 

garantidos desde o início. 

CDM e projetos transfronteiriços Duas questões relacionadas com a regulação e a política 

internacional  sobre  CCS  deveriam  ser  discutidas  e 

eventualmente  concertadas  entre  as  autoridades  e  os 

potenciais reguladores nos países da CPLP:  i) a evolução 

da CCS no MDL, pois os créditos de carbono provenientes 

de  projetos  CCS  no  âmbito  do  MDL  representam  um 

possível modelo de negócio para a maioria dos países da 

CPLP; e ii) as regras sobre projetos CCS transfronteiriços, 

nomeadamente a possibilidade de um país armazenar as 

emissões de CO2 de um país vizinho, um possível modelo 

de  negócio  para Moçambique, mas  também  relevante 

para São Tomé e Príncipe. Por outro  lado, o  transporte 

transfronteiriço pode ser importante para Angola.  

 

 

4.2 Oportunidades de financiamento

Nenhum país da CPLP tem um programa específico para 

financiar  atividades  relacionadas  com  CCS, mas  alguns 

mecanismos de cooperação e acordos de financiamento 

bilaterais  incluam  a mitigação  das  alterações  climáticas 

entre  as  atividades  financiadas.  Existem  também 

possibilidades  de  financiamento  em  programas 

internacionais  e  instituições  com  recursos 

especificamente direcionados para atividades de CCS. 

Fundo Especial da CPLP O  Fundo  Especial  da  CPLP  é  a  principal  fonte  de 

financiamento de  atividades de  cooperação na CPLP. O 

financiamento  é  concedido  para  Projetos  ou  Ações 

Pontuais como seminários e conferências. A cooperação 

tem‐se  centrado  nas  áreas  prioritárias  da  educação, 

saúde, cidadania e  formação de recursos humanos, mas 

o  ambiente  e  alterações  climáticas  também  têm  sido 

áreas  financiadas.  O  financiamento  do  Fundo  Especial 

requer  o  apoio  de  todos  os  pontos  focais  da  CPLP  e 

atividades  devem  envolver  pelo  menos  três  Estados‐

Membros.  Atualmente,  o  Secretariado  da  CPLP  pode 

participar  como  parceiro  em  projetos  internacionais, 

permitindo um melhor enquadramento institucional. 

Fundo Português de Carbono e programa FAST START O Fundo Português de Carbono  (FPC)  foi  implementado 

para  facilitar  o  cumprimento  das  metas  nacionais  de 

emissões de CO2 definidas no Protocolo de Quioto. O FPC 

prosseguiu após 2012 e centrou‐se no financiamento de 

projetos e atividades em Portugal. No entanto, o  fundo 

disponibilizou  cerca  de  36  M€  entre  2010‐2012  para 

projetos  de  redução  de  emissões  nos  países  da  CPLP, 

através  do  programa  FAST  START.  Não  é  clara  a 

continuidade do programa FAST START para os próximos 

anos.  Porém,  nos  objetivos  do  FPC  permanece  a 

cooperação com a CPLP, e em 2015 o FPC disponibilizou 

500 000€  ao  Secretariado  da  CPLP  para  atividades  no 

domínio das alterações climáticas. 

Fundo para Capacitação CCS do Banco Mundial  

Em Dezembro de 2009, o Banco Mundial constituiu um 

Trust  Fund  para  atividades  em  CCS,  apoiado  pelos 

governos  da  Noruega,  Reino  Unido  e  pelo  Global  CCS 

Institute.  O  fundo  visa  apoiar  o  financiamento  de 

atividades de partilha de conhecimentos e a capacitação 

em  CCS  nos  países  parceiros  do  Banco  Mundial.  Este 

fundo  já  apoiou  projetos  no  Botswana,  África  do  Sul, 

China, Kosovo, Indonésia, Egipto, Jordânia, México e nos 

30 | CCS in the CPLP countries  

países  do  Magrebe,  incluindo  workshops  técnicos  e  a 

avaliação  da  capacidade  de  armazenamento.  O  fundo 

gere cerca de USD 52 milhões, permanece ativo, e entre 

as atividades previstas está o financiamento de projetos‐

piloto na África do Sul e México. 

Programa de Desenvolvimento do Global CCS 

Institute 

Nos objetivos de promoção da tecnologia do Global CCS 

Institute  consta  o  financiamento  de  atividades  de 

capacitação  e  de  pequenos  projetos  em  países  em 

desenvolvimento. A maior  parte  dos  recursos  têm  sido 

dedicados  à  cooperação  com  os  grandes  emissores  de 

CO2,  como  a  China,  Índia  e  África  do  Sul, mas  o  Brasil 

também beneficiou desses  recursos para desenvolver o 

Atlas  Brasileiro  de  Armazenamento  de  CO2  e  para  a 

organização  de  cursos  técnicos.  O  Global  CCS  Institute 

financiou também o workshop sobre cooperação em CCS 

entre os países da CPLP, que decorreu em Setembro de 

2013, em Lisboa, e o projeto CCS‐PT em Portugal. 

Banco Africano de Desenvolvimento 

O  Banco  Africano  de Desenvolvimento  (BAfD)  não  tem 

qualquer  programa  de  financiamento  específico  para 

atividades  em  CCS,  nem  uma  política  oficial  sobre  a 

tecnologia. No  entanto,  no  seu  Plano  de  Acão  para  as 

Alterações  Climáticas  2011‐2015  inclui  o  apoio  a 

investimentos  em  "Desenvolvimento  com  Baixo 

Carbono". Embora a CCS não seja mencionada no plano, 

a possibilidade de  apoio  a  atividades CCS não deve  ser 

descartada,  em  especial  se  associada  a  projetos  de 

bioenergia, uma tecnologia em que o BAfD vê um grande 

potencial  em  África.  Dos  nove  Estados‐membros  da 

CPLP, seis são países africanos, pelo que é  fundamental 

iniciar um diálogo sobre CCS com o BAfD. 

Fundo CCS do Banco Asiático de Desenvolvimento Timor Leste é o único país da CPLP com acesso ao Banco 

Asiático  de  Desenvolvimento  (BAD)  e,  especificamente 

ao  fundo  CCS  gerido  por  esta  instituição.  O  fundo  é 

financiado,  na  maior  parte,  pelos  governos  do  Reino 

Unido e da Austrália e equivale a aproximadamente USD 

74  milhões,  direcionados  sobretudo  para  projetos  na 

Índia,  China,  Indonésia  e  Vietname.  Porém,  não  é  de 

descartar  que  atividades  CCS,  entre membros  da  CPLP, 

que  incluam Timor Leste com um dos parceiros possam 

ser elegíveis para financiamento pelo BAD. 

Carbon Sequestration Leadership Forum 

O  Carbon  Sequestration  Leadership  Forum  (CSLF) 

mantém  um  fundo  de  formação  técnica  de  quadros  à 

disposição  dos  países  emergentes  membros  do  CSLF, 

como é o caso do Brasil. Atividades de capacitação entre 

os  países  da  CPLP  em  que  o  Brasil  seja  um  parceiro 

podem  ser  elegíveis  para  financiamento  pelo  CSLF.  Foi 

esse o  caso do workshop  sobre CCS  entre os países da 

CPLP, que teve lugar em Setembro de 2013, em Lisboa, e 

os cursos técnicos sobre CCS organizados pelo CEPAC em 

2012‐2014 em Porto Alegre (Brasil).  

Fundo Verde do Clima 

O Fundo Verde do Clima, criado em 2010 pelo CQNUAC, 

incluiu explicitamente a tecnologia CCS entre a tipologia 

de  projetos  financiáveis. O  nível  de  atividades  em  CCS 

que  podem  ser  despoletadas  em  países  da  CPLP  ainda 

está  num  estágio  inicial.  Porém,  se  os  estudos 

preliminares  (capacidade  de  armazenamento,  papel  da 

CCS  em  cada  país…)  permitirem  a  identificação  de 

oportunidades de projetos‐piloto ou à escala comercial, 

o  Fundo Verde  do  Clima  pode  constituir  uma  fonte  de 

financiamento relevante.   

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 31  

5 Conclusões As estratégias ambientais e de mitigação das alterações 

climáticas dos Estados‐membros da CPLP não  incluem a 

tecnologia  CCS  com  uma  das  prioridades.  Não 

surpreende por  isso, que o Brasil, responsável por cerca 

de 85% das emissões de CO2 na CPLP, e Portugal sejam 

os únicos países da CPLP com atividades em CCS.  

Uma  análise  das  atuais  emissões  de  CO2  nos  outros 

países da CPLP não permite encontrar muitas motivações 

para  a  implementação  de  uma  tecnologia  dispendiosa 

como  é  a  CCS.  Além  disso,  arquipélagos  como  Cabo 

Verde e São Tomé e Príncipe, com populações dispersas 

e  custos  de  insularidade,  descartam  a  CCS  como  uma 

tecnologia relevante para esses Estados‐membros.  

Contudo,  a  produção  de  combustíveis  fósseis  tem  um 

papel  crucial  nas  economias  de  Angola,  Brasil,  Timor 

Leste,  Guiné  Equatorial  e Moçambique.  A  CCS  garante 

um  contexto  económico  estável  caso  sejam  adotadas 

metas  internacionais rigorosas e vinculativas de redução 

das emissões associadas aos combustíveis fósseis.  

Acresce  que  quase  todos  os  países  da  CPLP  têm 

investimentos  em  curso,  ou  planeados,  no  sector 

industrial. É o caso da  indústria  cimenteira; dos  setores 

de  processamento  de  hidrocarbonetos  (com 

investimentos  previstos  em  refinarias,  fábricas  de 

processamento  de  gás  e  de  GNL);  e  do  setor 

electroprodutor, particularmente em Moçambique, com 

várias centrais a carvão ou gás natural planeadas. A CCS 

permite  a  dissociação  entre  as  emissões  de  CO2  e  o 

crescimento económico dos países da CPLP. 

Existem oportunidades de negócios na utilização do CO2 

em EOR, para os países da CPLP produtores de petróleo, 

ou  para  Moçambique,  no  armazenamento  de  CO2 

capturado  na África  do  Sul.  Finalmente,  o  potencial  de 

bioenergia é elevado em vários países da CPLP e projetos 

bio‐CCS podem constituir oportunidades promissoras. 

Os desafios  a  superar para  incluir  a  tecnologia CCS nas 

agendas dos países da CPLP  são  consideráveis. Os mais 

significativos  são  o  reduzido  conhecimento  sobre  a 

tecnologia, e a ausência de um modelo de negócio claro 

para  a  CCS  em  países  em  desenvolvimento  e 

subdesenvolvidos  (excetuando  a  utilização  de  CO2  em 

EOR),  pois  a  inclusão  da  CCS  no MDL  não  constituiu  o 

incentivo previsto. 

Brasil e Portugal  já desenvolvem atividades significativas 

em  CCS  e  os  esforços  para  incluir  esta  tecnologia  na 

agenda  de  outros  países  da  CPLP  devem  concentrar‐se 

em  Angola,  Guiné  Equatorial,  Moçambique  e  Timor 

Leste. As ações recomendadas incluem: 

o Sensibilização  dos  decisores  políticos,  reguladores  e demais partes  interessadas, através da  realização de em workshops e seminários sobre a tecnologia; 

o Avaliação da capacidade de armazenamento CO2 nos países da CPLP, com transferência de conhecimentos dos trabalhos já realizados no Brasil e Portugal; 

o Clarificação do papel da CCS no contexto económico, energético  e  de  redução  de  emissões  de  cada  país, garantindo  a  transferência  de  conhecimentos  do projeto  CCS‐PT  em  Portugal.  Esta  clarificação  seria particularmente útil para o Brasil, mas  também para Moçambique e Angola; 

o Discussão das oportunidades resultantes da utilização de CO2 em EOR nos países com indústrias petrolíferas consolidadas,  como  Angola  e  Guiné  Equatorial,  e garantindo  a  transferência  de  conhecimentos  de empresas portuguesas e brasileiras; 

o Desenvolvimento  de  abordagens  comuns  para questões de regulação, como o papel da CCS no MDL e  o  transporte  e  armazenamento  transfronteiriço, uma  questão  importante  para  Moçambique,  e possivelmente para Angola e São Tomé e Príncipe. 

Quanto mais cedo a tecnologia CCS for incluída no leque 

de atividades de cooperação entre os estados‐membros 

da  CPLP,  melhores  serão  as  possibilidades  de 

identificação  das  oportunidades  decorrentes  da 

implementação  da  CCS  como  uma  tecnologia  de 

mitigação das alterações climáticas.

32 | CCS in the CPLP countries  

Bibliografia  

1. CPLP, Estatutos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. 2007: Lisboa. p. 12.

2. World Bank. World Bank Databank. 2014 December 2014; Available from: http://databank.worldbank.org/data/home.aspx.

3. United Nations DESA, List of Least Developed Countries, in United Nations, U.N. ECOSOC, Editor. 2014. p. 1.

4. Joint Research Centre, Emission database for global atmospheric research (EDGAR). CO2 time series 1990-2013 per region/country. 2014, JRC/PBL Netherlands Environmental Assessment Agency: Netherlands.

5. DARA. CVM - Climate Vulnerability Monitor. 2014 December 2014]; Available from: http://daraint.org/climate-vulnerability-monitor/climate-vulnerability-monitor-2012/.

6. Maplecroft. CCVI - Climate Change Vulnerability Index 2013 December 2014]; Available from: http://maplecroft.com/portfolio/new-analysis/2013/10/30/31-global-economic-output-forecast-face-high-or-extreme-climate-change-risks-2025-maplecroft-risk-atlas/.

7. ND-GAIN. ND-GAIN Notre Dame Global Adaptation Index. 2014 December 2014]; Available from: http://index.gain.org/.

8. Center for Global Development. Mapping the Impacts of Climate Change. 2011 December 2014]; Available from: http://www.cgdev.org/page/mapping-impacts-climate-change.

9. Alliance Development Works, World Risk Report 2013. 2013, Alliance Development Works: Berlin, Germany. p. 73.

10. CDIAC. Carbon Dioxide Information Analysis Center - Fossil-Fuel CO2 Emissions Global, Regional, and National Annual Time Series. 2014 December 2014]; Available from: http://cdiac.ornl.gov/trends/emis/overview_2010.html.

11. Iglesias, R. O estado da P&D sobre CCS no Brasil. in CCS no Mecanismo e Desenvolvimento Limpo - oportunidades na CPLP. 2013. Lisbon.

12. GCSSI, Global status CCS 2014. 2014: Melbourne, Australia. p. 192.

13. ZERO. ZERO – the Zero Emissions Resource Organisation. 2014 December 2014]; Available from: ZERO – the Zero Emissions Resource Organisation.

14. Seabra, P.N. and W.M. Grava. Brazil - CCS technologies and projects for emerging economies. in CSLF Technical Group Meeting. 2014. Seoul, Korea.

15. Ketzer, J.M., et al., Water-rock-CO2 interactions in saline aquifers aimed for carbon dioxide storage: Experimental and numerical modeling studies of the Rio Bonito Formation (Permian), southern Brazil. Applied Geochemistry, 2009. 24(5): p. 760-767.

16. Romeiro, V., CCS provides low-emissions extraction for Brazil's pre-salt layer oilfields, in GCCSI Insights. 2014: Melbourne, Australia.

17. Ketzer, J.M., et al., Brazilian atlas of CO2 capture and geological storage, ed. EDIPUCRS. 2014, Porto Alegre, Brazil. 66.

18. Mano, A. Current CO2 capture projects at EDP. in CCS in portugal and Norway: status and future prospects. 2012. Lisbon.

19. UNFCCC, Modalities and procedures for carbon dioxide capture and storage in geological formations as clean development mechanism project activities. 2011: Durban. p. 20.

20. Energy Information Administration. International Energy Statistics. 2014 December 2014]; Available from: http://www.eia.gov/countries/.

21. International Energy Agency. International Energy Agency Statistics. 2014 December 2014]; Available from: http://www.iea.org/statistics/statisticssearch/.

22. Silva, L.M. O mercado de electricidade em Angola - situação actual e evolução. in Terceira conferência anual da RELOP. 2010. Rio de Janeiro, Brasil.

23. Brito, E. Programa de Transformação do Sector Eléctrico. in Quinta Conferência da RELOP. 2013. Luanda. Angola.

24. Barros, M. A Regulação no Sector dos Petróleos,. in Quinta Conferência da RELOP. 2013. Luanda. Angola.

25. CEMNET. The global database. . 2014 December 2014]; Available from: http://www.cemnet.com.

26. African Development Bank, Angola - Private Sector Country Profile. 2012. p. 103.

27. Sonangol. Website SONANGOL, Exploração e Produçao. 2014 December 2014]; Available from: http://www.sonangol.co.ao/.

28. Évora, R. A Qualidade da Regulação e Serviços no Sector Energético Cabo-verdiano. in VI Conferência da RELOP. 2013. Luanda, Angola.

29. MECC, Politica Energética de Cabo Verde. 2008, Ministério da Economia, Crescimento e Competitividade: Praia, Cabo Verde. p. 24.

30. Gesto Energy, Plano energético renovável, Cabo Verde. 2011: Algés, Portugal. p. 142.

31. Pruess, K., On production behavior of enhanced geothermal systems with CO2 as working fluid. Energy Conversion and Management, 2008. 49(6): p. 1446-1454.

32. REEGLE. Energy Profile Guinea-Bissau. 2014 December 2014]; Available from: http://www.reegle.info/countries/guinea-bissau-energy-profile/GW.

33. International Renewable Energy Agency, Renewable Energy Country Profile: Guinea-Bissau. 2011, IRENA. p. 2.

34. AfDB, et al., African Economic Outlook 2011 – Guinea Bissau. 2011. p. 17.

35. Gazeta de Notícias, Fábrica de cimento de bissau produzirá 500 mil toneladas de cimento/ano., in Gazeta de Notícias. 2014: Bissau.

36. Alves, P.H., Geologia da Guiné-Bissau., in X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa. 2010: Porto, Portugal. p. 3-10.

37. Alves, P.H., B.M. Catelimbo, and V. Figueiredo, Carta Geológica da Guiné-Bissau., in Colóquio Internacional Ciência nos Trópicos : olhares sobre o passado, perspectivas de futuro. 2012: Lisboa. Portugal.

38. AfDB, OCDE, and UNDP, African Economic Outlook 2014 – Equatorial guinea. 2011. p. 12.

39. International Renewable Energy Agency, Renewable Energy Country Profile: Equatorial Guinea. 2010, IRENA. p. 2.

40. Agency;, I.E., Africa Energy Outlook, in World Energy Outlook. 2014, IEA: Paris, France. p. 242.

41. Offshore Energy Today. Ophir Energy to make Block R FID in 2015. FLNG deal blooming. 2014 March 20, 2014 December 2014]; Available from: http://www.offshoreenergytoday.com/ophir-energy-to-make-block-r-fid-in-2015-flng-deal-looming/.

42. FLSmidth. FLSmidth receives order for cement plant in Equatorial Guinea. 2013 December 2014]; Available from: http://www.flsmidth.com/News+and+Press/Company+Announcements?feeditem=1701610.

43. REEGLE. Energy Profile Equatorial Guinea. 2014 December 2014]; Available from:

CCS nos Estados‐membros da CPLP | 33  

http://www.reegle.info/countries/equatorial-guinea-energy-profile/GQ.

44. International Renewable Energy Agency, Estimating the Renewable Energy Potential in Africa - A GIS-based approach. 2014, IRENA. p. 73.

45. Brownfield, M.E. and R.R. Charpentier, Geology and Total Petroleum Systems of the West-Central Coastal Province (7203), West Africa. 2006, U.S. Geological Survey: Reston, Virginia, USA.

46. Bruso, J.M., S.L. Getz, and R.L. Wallace, Gulf of Guinea geology. 2004. Week of Feb 16: p. 8.

47. Clean Carbon Industries, Preliminary information memorandum; a 65 000 bbl/d coal to liquids project in tete mozambique producing spak (synthetic pariffinic aromatic kerosene) for export and diesel for local markets. 2013. p. 24.

48. International Monetary Fund, Republic of Mozambique, IMF Country Report No. 13/200. 2013: Washington, D.C., USA. p. 128.

49. Macauhub. Petrobras vai iniciar produção de etanol em Moçambique em 2014. 2012 December 2014]; Available from: http://www.macauhub.com.mo/pt/2012/11/21/petrobras-vai-iniciar-producao-de-etanol-em-mocambique-em-2014/.

50. Diário de Notícias. Biocombustíveis. Galp quer refinaria em Moçambique. 2009 December 2014]; Available from: http://www.dn.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1303048.

51. Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental, Estrategia Nacional de Adaptacao e Mitigacao das Mudancas Climaticas versao final. 2013: Maputo.Moçambique. p. 71.

52. Empresa Nacional de Hidrocarbonetos S.A. Website ENH - pesquisa de hidrocarbonetos. 2014 December 2014]; Available from: http://www.enh.co.mz/Pesquisa-de-Hidrocarbonetos.

53. Vasconcelos, L. Coal in Mozambique. in 3rd Symposyum on Gondwana coals. 2099. Porto Alegre, Brazil.

54. Carneiro, J. and M. Alberto, Preliminary assessment of CO2 storage potential in the Rovuma sedimentary basin, Mozambique., in GHGT-12. 2014: Austin, Texas, USA. p. 12.

55. African Development Bank, São Tomé and Principe -Maximizing oil wealth for equitable growth and sustainable socio-economic evelopment. 2012, African Development Bank. p. 28.

56. UNEP, Final country profile São Tomé and Príncipe. 2013, Unep Risø Centre: Roskilde, Denmark. p. 13.

57. ANP-STP, 1st Licensing Round - Presentation. 2010: Houston, Texas, USA.

58. REEGLE. Energy Profile Timor Leste. 2014 December 2014]; Available from: http://www.reegle.info/policy-and-regulatory-overviews/tl.

59. Governo da República de Timor Leste, Plano Estrategico de Desenvolvimento 2011-2030. 2011: Dili, Timor Leste. p. 279.

60. Macauhub. Australian companies plan to build cement factory in Timor Leste. Macauhub 2014 December 2014]; Available from: http://www.macauhub.com.mo/en/2014/03/11/australian-companies-plan-to-build-cement-factory-in-timor-leste/.

61. Thompson, S.J., Geology and soils in Timor-Leste. 2011, Seeds of Life: Dili,East Timor. p. 39.

62. Baillie, P., G. Duval, and C. Milne, Geological Development of the Western End of the Timor Trough., in Seapex Conference April 2013. 2013: Singapore.

63. IEA and UNIDO, Technology Roadmap. Carbon Capture and Storage in Industrial Applications. 2011. p. 52.

34 | CCS in the CPLP countries  

 

CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CO2 NA COMUNIDADE DE PAÍSES DE 

LÍNGUA PORTUGUESA 

OPORTUNIDADES E DESAFIOS 

  

Maio | 2015

AA nn gg oo ll aa

BB rr aa ss ii ll

CC aa bb oo VV ee rr dd ee

GG uu ii nn éé EE qq uu aa tt oo rr ii aa ll

GG uu ii nn éé -- BB ii ss ss aa uu

MM oo çç aa mm bb ii qq uu ee

PP oo rr tt uu gg aa ll

SS ãã oo TT oo mm éé ee PP rr íí nn cc ii pp ee

TT ii mm oo rr LL ee ss tt ee