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8 //edição especial 85 anos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira \\ 2 MAIO 2013 \\ Conhecemos o exemplo de uma “mãe-bombeira” Mulheres extinguem preconceitos E m S. João da Madeira, foi há cerca de sete anos que as mulheres con- quistaram o seu espaço nos Bombeiros. Pode dizer-se que foi um parto difícil, mas que terminou bem e hoje as Bombeiras estão plenamen- te integradas. Ultrapassadas as barreiras e resistências iniciais, falta apenas um pequeno passo para a total igualdade de géneros: a possibilidade das mulheres cumprirem serviço nocturno. Actualmente, as bombeiras apenas prestam serviço até à meia-noite, por falta de adap- tação das instalações do Quartel Operacional das Travessas – projectado e construído numa época em que ainda não se pensava na integração das mu- lheres nas corporações – para as acolher no período nocturno. Uma lacuna reconhecida e identificada como prioritária pela direcção da Associação Humanitária. Mulher, mãe, esposa e bombeira Estivemos no Quartel e co- nhecemos Andreia Gregório. 32 anos, há sete inscrita nos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira, é um exemplo de uma mulher que singrou na corporação e continua a progredir enquanto voluntária, conciliando este chamamento com a sua profissão na área da psicologia. E continua firme na sua con- vicção, mesmo depois de ter sido mãe. Andreia Gregório é “mãe- -bombeira” – como ela própria diz – há apenas cinco meses, mas já está de volta ao acti- vo com nova determinação e projectos que gostaria de levar avante. Foi, “acima de tudo, a von- tade de ajudar os outros” que decidiu inscrever-se nos Bom- beiros, assim que soube que a corporação sanjoanense estava a abrir as portas às mulheres. Não era um sonho de pequena, mas uma “vontade que apare- ceu mais tarde”. Andreia con- juga a actividade de bombeira voluntária com a sua profissão de psicóloga e garante que é “fácil conciliar”. Andreia Gregório integrou o primeiro grupo de mulheres dos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira e confirma que “houve algumas resistências no princípio”, por, à época, a corporação ser “um mundo só de homens”. Foi preciso “mudar menta- lidades”, mas reconhece que “alguns dos receios tinham fundamento”. “No início havia sobre nós um peso muito grande porque fomos a primeira escola de mulheres. Não podíamos dei- xar ninguém ficar mal. Agora já estamos completamente integradas”. O “trabalho e formação” das mulheres são iguais ao de qualquer homem bombeiro. Um trabalho árduo, dado que “hoje o programa formativo” dos soldados da paz contradiz aquela imagem do “bombeiro garrafão”. Os bombeiros, além de todos os conhecimentos, têm também preparação física e exigências apertadas. Mas as mulheres ainda lutam pela igualdade plena. “Lutámos para poder ser bombeiros de 3.ª”, lembra Andreia, que é já bombeira de 2.ª. Mas acrescenta que “em algumas coisas somos iguais, outras ainda não”, lem- brando que o serviço nocturno para as mulheres termina à meia-noite, enquanto os ho- mens ficam no Quartel até de manhã. A excepção decorre durante o período em que vi- gora o dispositivo de combate a incêndios florestais. Andreia garante gostar de todo o tipo de serviço que os bombeiros prestam. “Até de estar na Central” , garante, dizendo que tem “respeito por todos os sectores”. Quando questionada sobre a reacção da população na al- tura em que começaram a ter contacto com as mulheres bom- beiras, lembra que “ao início achavam estranho, mesmo nos hospitais”. Mas “agora é mais visível” e as pessoas “já não têm medo de ser uma mulher a pegar numa cadeira de rodas, por exemplo”. Pelos menos, duas das mu- lheres bombeiras têm já carta de pesados, estando prestes a obterem a habilitação final para puderem conduzir todas as via- turas disponíveis no Quartel, mesmo as mais pesadas. A(s) família(s) bombeiros Andreia Gregório continuou a prestar serviço até cerca dos cinco meses de gravidez, altura em que teve de abrandar o ritmo e descansar. Mas ainda não tinha terminado a licença de maternidade e já estava de volta ao Quartel. Mesmo depois de abraçar a aventura da maternidade, Andreia continua firme na sua convicção e diz conseguir gerir a vida pessoal e profissional com os bombeiros. Só tem de conciliar os horários, uma vez que o seu marido também é bombeiro e também ele presta serviços regulares Actualmente, os Bombeiros Voluntários de S. João da Ma- deira contam com “cinco mães- -bombeiras”, que gostariam de criar no Quartel um espaço com condições e pessoas habilitadas, onde pudessem deixar as crian- ças durante o período em que estão de serviço. Este é hoje um sonho e seria uma mais-valia. Com pai e mãe e alguns ou- tros familiares bombeiros, o filho bebé de Andreia Gregório “ou vai amar ou odiar” esta vocação que lhe correrá já nas veias, mas o futuro “será à vontade dele”, afiança convicta a mãe. Se até agora Andreia Gre- gório apenas tinha amigos na corporação, hoje “a família começa a crescer” no Quartel. E quer Andreia Gregório continuar a ser bombeira vo- luntária? “Agora é para a vida”, garante. Se até há alguns anos atrás os bombeiros eram um mundo só de homens, actualmente esse é um cenário – e ideia – do passado. O tempo e as corpo- rações evoluíram abrindo-se ao mundo feminino e hoje nos quartéis, toda a actividade é também assumida por mulheres, que seguem a mesma motivação e sentido de serviços que os homens.

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8 //edição especial 85 anos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira \\ 2 MAIO 2013 \\ 9//edição especial 85 anos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira \\ 2 MAIO 2013 \\

Conhecemos o exemplo de uma “mãe-bombeira”

Mulheres extinguem preconceitos

Em S. João da Madeira, foi há cerca de sete

anos que as mulheres con-quistaram o seu espaço nos Bombeiros. Pode dizer-se que foi um parto difícil, mas que terminou bem e hoje as Bombeiras estão plenamen-te integradas.

Ultrapassadas as barreiras e resistências iniciais, falta apenas um pequeno passo para a total igualdade de géneros: a possibilidade das mulheres cumprirem serviço nocturno. Actualmente, as bombeiras apenas prestam serviço até à meia-noite, por falta de adap-tação das instalações do Quartel

Operacional das Travessas – projectado e construído numa época em que ainda não se pensava na integração das mu-lheres nas corporações – para as acolher no período nocturno. Uma lacuna reconhecida e identificada como prioritária pela direcção da Associação Humanitária.

Mulher, mãe, esposa e bombeira

Estivemos no Quartel e co-nhecemos Andreia Gregório. 32 anos, há sete inscrita nos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira, é um exemplo

de uma mulher que singrou na corporação e continua a progredir enquanto voluntária, conciliando este chamamento com a sua profi ssão na área da psicologia.

E continua fi rme na sua con-vicção, mesmo depois de ter sido mãe.

Andreia Gregório é “mãe--bombeira” – como ela própria diz – há apenas cinco meses, mas já está de volta ao acti-vo com nova determinação e projectos que gostaria de levar avante.

Foi, “acima de tudo, a von-tade de ajudar os outros” que decidiu inscrever-se nos Bom-beiros, assim que soube que a

corporação sanjoanense estava a abrir as portas às mulheres. Não era um sonho de pequena, mas uma “vontade que apare-ceu mais tarde”. Andreia con-juga a actividade de bombeira voluntária com a sua profi ssão de psicóloga e garante que é “fácil conciliar”.

Andreia Gregório integrou o primeiro grupo de mulheres dos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira e confi rma que “houve algumas resistências no princípio”, por, à época, a corporação ser “um mundo só de homens”.

Foi preciso “mudar menta-lidades”, mas reconhece que “alguns dos receios tinham

fundamento”.“No início havia sobre nós

um peso muito grande porque fomos a primeira escola de mulheres. Não podíamos dei-xar ninguém fi car mal. Agora já estamos completamente integradas”.

O “trabalho e formação” das mulheres são iguais ao de qualquer homem bombeiro. Um trabalho árduo, dado que “hoje o programa formativo” dos soldados da paz contradiz aquela imagem do “bombeiro garrafão”. Os bombeiros, além de todos os conhecimentos, têm também preparação física e exigências apertadas.

Mas as mulheres ainda lutam pela igualdade plena. “Lutámos para poder ser bombeiros de 3.ª”, lembra Andreia, que é já bombeira de 2.ª. Mas acrescenta que “em algumas coisas somos iguais, outras ainda não”, lem-brando que o serviço nocturno para as mulheres termina à meia-noite, enquanto os ho-mens fi cam no Quartel até de manhã. A excepção decorre durante o período em que vi-gora o dispositivo de combate a incêndios fl orestais.

Andreia garante gostar de todo o tipo de serviço que os bombeiros prestam. “Até de estar na Central” , garante, dizendo que tem “respeito por todos os sectores”.

Quando questionada sobre a reacção da população na al-tura em que começaram a ter contacto com as mulheres bom-beiras, lembra que “ao início achavam estranho, mesmo nos hospitais”. Mas “agora é mais visível” e as pessoas “já não têm medo de ser uma mulher a pegar numa cadeira de rodas, por exemplo”.

Pelos menos, duas das mu-lheres bombeiras têm já carta de pesados, estando prestes a

obterem a habilitação fi nal para puderem conduzir todas as via-turas disponíveis no Quartel, mesmo as mais pesadas.

A(s) família(s) bombeiros

Andreia Gregório continuou a prestar serviço até cerca dos cinco meses de gravidez, altura em que teve de abrandar o ritmo e descansar. Mas ainda não tinha terminado a licença de maternidade e já estava de volta ao Quartel.

Mesmo depois de abraçar a aventura da maternidade, Andreia continua fi rme na sua convicção e diz conseguir gerir a vida pessoal e profissional com os bombeiros. Só tem de conciliar os horários, uma vez que o seu marido também é bombeiro e também ele presta serviços regulares

Actualmente, os Bombeiros Voluntários de S. João da Ma-deira contam com “cinco mães--bombeiras”, que gostariam de criar no Quartel um espaço com condições e pessoas habilitadas, onde pudessem deixar as crian-ças durante o período em que estão de serviço. Este é hoje um sonho e seria uma mais-valia.

Com pai e mãe e alguns ou-tros familiares bombeiros, o fi lho bebé de Andreia Gregório “ou vai amar ou odiar” esta vocação que lhe correrá já nas veias, mas o futuro “será à vontade dele”, afi ança convicta a mãe.

Se até agora Andreia Gre-gório apenas tinha amigos na corporação, hoje “a família começa a crescer” no Quartel.

E quer Andreia Gregório continuar a ser bombeira vo-luntária? “Agora é para a vida”, garante.

Se até há alguns anos atrás os bombeiros eram um mundo só de homens, actualmente esse é um cenário – e ideia – do passado. O tempo e as corpo-rações evoluíram abrindo-se ao mundo feminino e hoje nos quartéis, toda a actividade é também assumida por mulheres, que seguem a mesma motivação e sentido de serviços que os homens.

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8 //edição especial 85 anos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira \\ 2 MAIO 2013 \\ 9//edição especial 85 anos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira \\ 2 MAIO 2013 \\

Escola de Infantes recebe crianças a partir dos sete anos

De pequenino se forma um bombeiroSe é verdade que ‘é de pequenino que se torce o pepino’, também é, ainda mais verdade, que de pequenino se pode (começar) a formar um bombeiro. A pen-

sar nesta máxima, os Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira criaram há três anos a Escola de Infantes, onde crianças e jovens dos sete aos 14 anos aprendem (quase) a brincar o que é isto de ser bombeiro.

Quem visitar o Quartel Operacio-nal das Travessas num sábado

à tarde poderá ficar surpreendido por encontrar bombeiros em tamanho pequeno, devidamente fardados, que aprendem as noções básicas necessá-rias à actividade de uma corporação.

Criada há três anos, a Escola de In-fantes conta actualmente com perto de três dezenas de inscritos. São crianças com idades entre os sete e os 14 anos, que têm em comum a curiosidade e gosto pela actividade dos bombeiros.

Alguns têm já familiares na cor-poração e desde pequenos que estão

de alguma forma ligados ao Quartel. Mas outros descobriram a vocação por iniciativa própria e abraçaram o desafio. “Não é regra ter familiares nos Bombeiros”, explicou Andreia Gregó-rio, que integra o grupo que pensou e dinamizou o projecto da Escola de Infantes.

Curiosamente, a Escola de Infantes tem hoje “quase mais meninas do que meninos”, reflexo também da abertura dos Bombeiros às mulheres e sua inte-gração também junto da comunidade sanjoanense.

Na base da criação da Escola de In-

fantes está uma filosofia de promoção cívica, formação e estimulação dos mais jovens para o desempenho de um papel mais activo no processo de aprendizagem e cidadania. Mas este projecto tem ainda como prioridade a sensibilização destas crianças para o voluntariado, incutindo-lhes o espírito de entreajuda, responsabilidade social e de trabalho em equipa.

O acompanhamento destes jovens é feito por uma equipa multidisciplinar, constituída por bombeiros com for-mação na área da segurança, educação social e psicologia.

A Escola de Infantes funciona aos sábados à tarde, no Quartel Opera-cional das Travessas. Nestas aulas, as crianças adquirem conhecimentos teórico-práticos sobre a actuação em situações de prevenção, socorro e emergência, assim como treinam a ordem unida, formatura, marcha, entre outros conhecimentos do universo dos bombeiros.

As actividades e conhecimentos são adaptados às idades, mas os infantes aprendem já como reagir em diversas situações, nomeadamente através de noções de socorrismo e suporte básico de vida. Conhecimentos que “lhes po-dem valer” na vida quotidiana.

Mas estes mini-bombeiros também já realizam exercícios de montagem de linhas de água, sabem identificar o material e as suas aplicações, entre outros aspectos.

Com um treino semanal de duas ho-ras, a Escola de Infantes não descura a

preparação física das crianças e jovens.A Escola de Infantes promove tam-

bém visitas de estudo a locais de acção de socorro, onde as crianças podem adquirir conhecimentos teórico-prá-ticos da missão de bombeiro, como é o exemplo da visita ao CDOS ou CODU, Museu do Bombeiro ou outras estrutu-ras ligadas à actividade, como quartéis de outras corporações.

“Queremos meter-lhes o bichinho para que continuem e sintam o gosto”, refere Andreia Gregório, sublinhando que algumas crianças e jovens já estão na Escola de Infantes desde a sua abertura. A cada ano, a Escola recebe uma média de quatro a cinco inscrições novas, havendo poucas desistências.

Promovendo a “autonomia”, este projecto procura “acima de tudo” pro-mover o “respeito pela farda”. Mas as aprendizagens adquiridas – e estímulo da auto-estima – nos bombeiros aju-dam também ao desempenho escolar destas crianças e jovens.

A Escola de Infantes procura ainda envolver os pais em todos os processos.

Já com alguns jovens integrados na Fanfarra, os infantes estão também envolvidos nas diversas acções inte-gradas no programa de aniversário da Associação Humanitária dos Bombei-ros Voluntários de S. João da Madeira.

Qualquer criança ou jovem se pode inscrever na Escola de Infantes. Basta comparecer no Quartel das Travessas aos sábados, das 14h30 às 16h30, para proceder à inscrição.

O sonho de ser bombeiro

Encontrámos os infantes em for-matura no Quartel. Quando lhes perguntámos porque se inscreveram têm a resposta pronta. “Para saber o que fazem os bombeiros”.

Todos garantem que querem ser bombeiros quando crescerem, com as certezas que se podem ter nestas idades.

Mas duma coisa ninguém tem dú-vidas: gostam de todos os exercícios.

E há ainda quem garanta que gosta “até das flexões”.

Infantes, cadetes, estagiários

Da Escola de Infantes, os jovens podem, a partir dos 14 anos, continuar o seu percurso na corporação, inte-grando o grupo dos cadetes, que agrega aspirantes a bombeiros até aos 17 anos.

Aqui o treino e preparação intensi-ficam-se até chegarem a estagiários, o último passo antes da sua oficialização como bombeiros e integração no corpo activo.

Hugo Soares, bombeiro profissional, explica que nestes níveis os aspirantes a bombeiros já realizam todo o tipo de exercício que os soldados da paz reali-zam, numa preparação já com vista à progressão desta vocação.