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FÁBULAS: trabalhando a leitura e a escrita por meio de historias

Autora: Regina Maria de Oliveira Santos 1

Orientadora Profª. Rosiney Aparecida Lopes do Vale 2

RESUMO

A presente pesquisa proposta de intervenção terá como público-alvo os alunos de 5ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Coronel Joaquim Pedro de Oliveira – EFM na cidade de Japira – PR. Nossa intenção foi a de contribuir para o desenvolvimento crítico dos alunos, por meio do gênero textual “Fábulas”, uma vez que tal gênero é bastante popular entre crianças e adolescentes, tornando-se, assim, um elemento que estabelece fácil interação entre a leitura e a realidade que os cercam. Pretendeu-se buscar por meio dos textos selecionados uma reflexão sobre as histórias lidas, incentivando a criticidade e vislumbrando diferentes possibilidades de interpretação por parte dos interlocutores, posto que o conhecimento de mundo de cada um determina as escolhas na hora da interpretação e contribui para a construção de sentidos. A metodologia aplicada foi a de pesquisa bibliográfica que nos deu suporte na segunda etapa, foram desenvolvidas atividades relacionadas com o reconhecimento do gênero, suas características, a simbologia dos animais, a questão da moral e dos provérbios que são marcas do gênero. Para tanto, utilizou-se fábulas de Esopo, La Fontaine e Fedro. Durante a intervenção do projeto a avaliação foi cotidiana levando em consideração a aprendizagem dos alunos e o nível de envolvimento com as atividades propostas. E ao final foi desenvolvido uma fábula coletiva sobre o aprendido no decorrer da implementação deste projeto.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Infantil; Leitura; Fábulas; Leitor crítico.

1 - Professora da Rede Estadual participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Paraná (PDE) – Col. Est. Cel. Joaquim Pedro de Oliveira – EFM – Japira – Paraná. 2 - Professora Orientadora Rosiney Aparecida Melo do Vale da UENP – Universidade Estadual do Norte Paraná – Jacarezinho-PR.

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como fundamentação principal, o princípio do incentivo à

leitura, do acesso de nossos alunos ao mundo da Literatura, e por se tratar de alunos

de 5ª série do Ensino Fundamental, propôs-se atividades voltadas para o gênero textual

“Fábulas”, pois esta fase permite ainda uma transição simbólica onde a criança dá

muito valor nos significados através da abstração, da imaginação, da criatividade, da

fantasia. Ouvir contar histórias, fábulas, lendas é fascinante para a que a percepção

cognitiva da criança se faça rica em detalhes, criações, comparações e o mais

importante, é o aprendizado através das comparações entre a fantasia e o mundo real.

Esta proposta de trabalho terá como intervenção os alunos de 5ª série do

Ensino Fundamental, e foi selecionado para esta sequência didática o gênero “Fábulas”

por apresentar uma organização estrutural com enunciação argumentativa em um

aspecto narrativo e esta encaminha para o processo de argumentação, é o que justifica

este trabalho que busca o desenvolvimento crítico através deste gênero popular entre

crianças e adolescentes, o qual estabelece fácil interação entre a leitura e a realidade

que os cercam, predominando a reflexão e absorvendo diferentes possibilidades e

finalmente fazendo uso da leitura de forma competente e crítica.

Optou-se por este tema, pois basta lembrar quando éramos criança para

entender que quando ouvíamos “histórias” de nossos avós, pais, tios, etc., abria espaço

para a alegria, o prazer, o tom da voz, as caretas, os trejeitos do contador, a imagem

que se faziam em nossas cabeças, enfim, era um mundo imaginário que se abria a

cada palavra, a cada frase e a cada movimento. Era um mundo encantando.

Quando estas narrativas são lidas ou contadas por um adulto para uma criança,

abre-se uma oportunidade para que estes mitos, tão importantes para a construção de

sua identidade social e cultural, possam ser apresentados a ela. E esta é uma de

nossas principais justificativas de retomar o tema, a forma e a fórmula e adaptá-las no

nosso contexto escolar. É um recriar, reviver e entender o mundo através das fábulas

junto com nossos alunos.

Observa-se diferenças entre contar histórias e ler à mesma história, entretanto,

as duas formas são extremamente importantes na formação da criança. Uma vez que o

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texto escrito vai seguir regiamente as normas da língua mãe, a língua escrita, e que

naturalmente, são diferenciadas na forma da linguagem falada, da narração, da postura

da voz, da ênfase, do agudo e do grave, e assim por diante. Quando uma criança ouve

a leitura de uma história ela introjeta funções sintáticas da língua, além de aumentar

seu vocabulário e seu campo semântico.

Um dos problemas mais verossímeis que se encontram em nossas escolas, é

sobre a falta, a necessidade, a carência e até mesmo um “certo” esquecimento de se

inserir a literatura na formação intelectual e moral dos educandos; e este é um dos

diagnósticos que nos forneceram subsídios para tal proposta de estudo.

Sendo o gênero textual, as fábulas ser considerada e utilizada como uma das

atividades alternativas de metodologias que permitam esclarecer de forma salutar

“determinadas verdades” com o intuito de ensinar virtudes e princípios aos educandos,

pois desde a antiguidade, a moral está extremamente implícita nas fábulas, que muito

tem, contribuído para o desenvolvimento da criança, além de ser uma ação de

entretenimento com capacidade de promover a formação de valores dentro e fora da

escola, além do senso crítico em nossos futuros cidadãos.

Também faz parte do repertório de objetivos de se contar histórias, fábulas e

contos a condição de “lúdico”, da “recreação”. Mas, têm -se ciência que a importância

de contar histórias vai muito mais além. Através deste expediente, desta ferramenta de

nossa cultura, pode-se estimular o enriquecimento das experiências na fase da infância,

promovendo um desenvolvimento nas diversas formas de falar, ampliando seu

vocabulário da fluência da linguagem oral, no auxílio da formação da personalidade e

caráter do indivíduo transmitindo e oportunizando o desenvolvimento a confiança em si,

nos outros, no lado bom da vida e promovendo uma desenvoltura mental impar.

Portanto, o despertar o interesse do aluno para a busca do desenvolvimento no

aprendizado, conhecendo os valores didático-pedagógicos das fábulas e o uso desta na

formação de valores é um desafio a ser enfrentado pelos profissionais da educação,

principalmente, da área da Língua Portuguesa.

Assim sendo, a pretensão é apresentar informações e esclarecimentos sobre

“fábulas”, como surgiram, os principais influenciadores e autores e como despertar o

interesse da criança para o aprendizado.

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Neste sentido o presente trabalho retrata um estudo sobre as possibilidades e a

importância das fábulas como ferramenta pedagógica propondo uma formação de

valores e princípios morais e críticos em nossos educandos, enfatizando sempre que a

valorização é um processo de transmissão cultural, auxiliando na construção de novos

conhecimentos, na conduta e no comportamento, e ainda, na formação de valores de

atitudes positivas perante a realidade de vida de cada um e fazendo um fechamento no

contexto do processo de ensino-aprendizagem de uma forma significativa, marcante e

representativa para a formação do futuro cidadão.

2 A LEITURA COM FÁBULAS

A fábula, em sentido amplo, pode ser definida como uma narrativa curta com

ações protagonizadas por vegetais, objetos, animais e seres humanos, que,

apresentando uma moral implícita ou explícita, em como função divertir ou instruir.

Sua estrutura divide-se em duas partes: a narrativa, também chamada de

corpo, em que se revelam as ações realizadas pelos seres acima citados e, a moral,

denominada de alma, que explicita o ensinamento pretendido. A fábula apresenta um

discurso alegórico resultante da harmonia das duas partes de sua estrutura.

Dessa forma, a leitura de obras como “O cordeiro e o lobo”, de La Fontaine,

evidencia como o ingênuo e o inocente pode tornar-se presa fácil do prepotente; “A

raposa e as uvas”, também de La Fontaine, mostra o ridículo do presunçoso; “O lobo e

o grou” e “O lobo e o cão”, de Esopo, ensinam, respectivamente, que não se deve

esperar recompensa de homens maus e que a liberdade do ser humano tem valor.

A fábula, muitas vezes, é confundida com o apólogo e a parábola, conforme

aponta Moisés (1982, p. 34), na medida em que essas modalidades literárias também

se caracterizam por apresentar, implícita ou explicitamente, uma moral.

Para diferenciar os três modelos, o autor refere que “há quem as distinga pelas

personagens: o apólogo seria protagonizado por objetos inanimados (plantas, pedras,

rios, relógios, moedas, estátuas, etc.), ao passo que a fábula conteria de preferência

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animais irracionais, e a parábola, seres humanos”. Ele também aponta que na Bíblia se

encontram muitos exemplos de parábolas, como a do “Semeador” e a do “Filho

pródigo”, entre outras.

A origem da fábula perde-se ao longo da história do homem, mas parece ponto

de concordância, entre os estudiosos desse assunto, que ela já teria existência quase

mil anos antes de Esopo, no Egito e na Índia. Atribui-se a Esopo (século VI a.C.) sua

introdução na Grécia e a Fedro (século I a.C.) em Roma, através da tradução do

fabulário de Esopo. No século XVII, o francês Jean de La Fontaine premia o povo

francês com sua coleção de fábulas, muitas delas plasmadas nos modelos de Esopo e

de Fedro.

La Fontaine é certamente quem melhor trabalhou com as fábulas na

contemporaneidade. Partindo de espécies metafóricas ou simbólicas, que se

metamorfoseiam em humanos, o autor parte de situações reais para alguns animas que

têm em seu escopo alguma simbologia, como o leão para a força ou a majestade, ou a

raposa para a astúcia (COELHO, 2000).

No Brasil, Monteiro Lobato também dá atenção ao gênero. No seu livro Fábulas

(v.3, s.d.), ele reconta algumas narrativas dos fabulistas clássicos, aproximando-as da

realidade do leitor brasileiro. Exemplo de tal aproximação é a fábula “A menina do

balde”.

Lobato, ao apresentá-la, altera o nome da personagem principal e acrescenta

comentários das personagens de O Sítio do Picapau Amarelo a respeito da moral da

fábula. É interessante observar que a história aparece no antigo livro indiano Calila e

Dimna, como “O eremita, a jarra e o mel”, no fabulário de Esopo, como “A menina do

leite”, e no de La Fontaine, com o nome de “A moça e o pote de leite”.

O professor Câmara Cascudo, estudioso dos contos folclóricos do Brasil, inclui

na sua coletânea Contos tradicionais do Brasil (s.d.), sob o subtítulo “Contos de

animais”, várias fábulas pertencentes à Esopo, Fedro e La Fontaine recolhidas do

folclore brasileiro. Nelas, aparecem animais com o nome de cágado, teiú, timbu e

preguiça, o que evidencia o abrasileiramento das narrativas clássicas feito pelo povo.

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É interessante também destacar que a fábula pode ser apresentada em prosa

ou em versos. Sua forma original é versificada. Entretanto, nas traduções, foi se

alterando sua forma expressiva, o que explica a existência de versões da mesma fábula

em verso e em prosa.

Esse modelo de narrativa como objeto de leitura para criança é recomendado,

principalmente, pela natureza alegórica de seu discurso e pela possibilidade de

discussão sobre a moral, levando o leitor a questioná-la e relacioná-la com o mundo

atual.

A nova valorização do espaço-escola o qual Nelly Coelho (2000), chama de

espaço privilegiado de leitura, onde se podem explorar todas as significações no que

diz respeito às atividades com a literatura e a expressão verbal, diversificando-se em

estudos que podem sair da sala de aula para uma leitura didático-pedagógica.

A literatura infantil tem sido observada sim, como uma espécie de diálogo entre

o leitor e texto, obviamente, contudo, com fundamental importância para o estímulo

desse indivíduo, cujo desenvolvimento motor e mental, de sua formação identitária e

seus conflitos passam a ser tratados de maneira exterior e interior com maior

adequação.

Há vários tipos de leitura dentro de uma sala de aula: um conto, uma fábula, um

romance, uma figura, que podem ser absorvidos através das leituras auditiva, visual,

silenciosa ou oral.

Para Bakhtin (1998), cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos

relativamente através de enunciados, sendo isso que chamamos de gêneros de

discurso, e ainda para este autor os gêneros são regulados e constituídos sócio-

historicamente pelo social, e cada gênero possui um destinatário ideal e está inverso

em uma realidade histórico-social específica. O uso de gêneros textuais no ensino da

Língua Portuguesa se dá através de reflexão e planejamento para que haja eficiência

comunicativa.

Dolz E Schnewily (2004) afirmam:

O trabalho com gêneros textuais oportuniza a construção de um projeto de ensino que é respaldado em três aspectos: os objetivos que o professor tem para o ensino, o conhecimento sobre o gênero textual e a capacidade que se observou dos alunos envolvidos.

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Sendo a fábula um gênero textual bastante acessível, bem como conhecido

desde a infância pelos alunos será um instrumento atrativo para um trabalho que vise à

significação da leitura.

Segundo Coelho (2000), é um gênero que, como tantos outros gêneros

narrativos, registram as experiências e o modo de vida dos povos.

Entende-se, primeiramente, por fábula como

“a narrativa (de natureza simbólica) de uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. A julgar pelo que a história registra, foi a primeira espécie de narrativa a aparecer” (Ibidem: 165). “No séc. XVII, La Fontaine reinventou a fábula (a partir do modelo latino e do oriental oferecido pelos textos do indiano Pilpay), introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental” (COELHO, 2000).

A questão seria como trabalhar com as crianças e pré-adolescentes com esse

tipo de literatura. Antes, obviamente, deve o professor tentar motivar seus alunos. O

educador é que orienta seus discentes, esclarecendo cada ponto para esses, fazendo

com que cada um deles consiga fazer alguma abstração sobre o tema.

Ensinar a ler tem sido desde sempre uma questão de compartilhar objetivos,

tarefas e significados construídos em torno desse comprometimento. Como toda porta,

a leitura tem a face de entrada e saída. Assim o professor necessita conviver com o

inverso de leitura existente, conhecê-las bem e delas extrair as iscas com as quais irá

pescar seu leitor crítico. À medida que o leitor ganha autonomia de leitura, sua prática

lhe proporciona maior rapidez e compreensão daquilo que lê. Os efeitos da leitura sobre

a formação pessoal, o pensamento e a experiência do estético podem ser percebidos

apenas a longo prazo.

Há vários tipos de leitura dentro de uma sala de aula: um conto, uma fábula, um

romance, uma figura, que podem ser absorvidos através das leituras auditiva, visual,

silenciosa ou oral.

Tem-se a possibilidade de se trabalhar com as fábulas basicamente pelo fato de

que a efabulação tem sido considerada como um recurso muito utilizado para a

fabricação de narrativas, geralmente calcadas em situações reais humanas, geralmente

com o intuito de ser pedagógico (COELHO, 2000).

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A questão seria como trabalhar com as crianças e pré-adolescentes com esse

tipo de literatura. Antes, obviamente, deve o professor tentar motivar seus alunos. O

educador é que orienta seus discentes, esclarecendo cada ponto para esses, fazendo

com que cada um deles consiga fazer alguma abstração sobre o tema.

Quando se pensa e se reflete em algo lido, cria-se uma espécie de diálogo entre

o leitor e o interlocutor. Seu maior trunfo está diretamente relacionado ao fato de se

trabalhar com a representação ou o imaginário dentro dos conceitos sobre esses

temas, numa análise do leitor, conforme pode mesmo alguns autores, como o

historiador Roger Chartier ter analisado, ou mesmo outros como Cornelius Castoriadis

sobre o conceito de Imaginário.

Por ‘Representação’, primeiramente, faz-se necessário tomar emprestadas as

palavras do próprio Roger Chartier, onde diz que poderia ser:

“como dando a ver uma coisa ausente, o que supõe uma distinção radical entre aquilo que representa e aquilo que é representado; por outro lado, a representação [seria] como exibição de uma presença, como apresentação pública de algo ou alguém. No primeiro sentido, a representação é instrumento de um conhecimento mediato que faz ver um objeto ausente através da sua substituição por uma “imagem” capaz de o reconstituir em memória e de o figurar tal como ele é. Algumas dessas imagens são de bens materiais e semelhantes.” (CHARTIER, 1991, p. 20).

Ainda nas palavras do renomado historiador, “a relação de representação é [...]

perturbada pela fraqueza da imaginação” (CHARTIER, 1991, p. 185), e que tudo

relacionado à verdade, nossa mente registra e “considera os signos visíveis como

índices seguros de uma realidade que não o é.”

O filósofo grego Cornelius Castoriadis compreende, por sua vez, que o

‘Imaginário’ é a instância onde se projetam, criam e também se forjam realidades:

“O imaginário de que falo não é imagem de. É criação incessante e essencialmente indeterminada (social-histórica e psíquica) de figuras/formas/imagens, a partir das quais somente é possível falar-se de alguma coisa. Aquilo que denominamos realidade e racionalidade são seus produtos” (CASTORIADIS, 1982, p. 13).

Castoriadis (1982, p. 14) coloca o poder do simbólico nas coisas que nos

rodeiam em sociedade, e argumenta que “as [...] relações entre o simbólico e o

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imaginário aparecem imediatamente se refletirmos sobre o [...] fato [de] o imaginário [...]

utilizar o simbólico [...] para existir, para passar do virtual a qualquer coisa mais”.

Efeitos imediatos, quando existem, refletem-se melhor no modo como os alunos

transferem aprendizagem para outras linguagens como ilustração, a reformulação do

texto, a transposição para formas dramatizadas, a criação de espaços expressivos

(jornal, divulgação oral, publicidade, mural), e até na constância de leitura de outros

textos sobre o mesmo assunto ou do mesmo autor.

A prática do compartilhamento das fábulas (pais lendo ou contando para os

filhos, professores para os alunos, etc. com posteriores conversas sobre a estória) deve

ser estimulada porque nessa atividade fica mais fácil para as crianças falarem sobre

suas angústias, partilhar suas dúvidas e ansiedades sem se expor pessoalmente. Isso

é possível, pois, ao comentar uma estória, estarão falando dos seus sentimentos, mas

não diretamente de si próprias, já que estará utilizando o recurso das personagens e de

uma situação fictícia como apoio. Deve-se, preferentemente, escolher estórias que

apresentem um final feliz. Vale lembrar que, em meio a esse tipo de atividade, não cabe

qualquer espécie de julgamento moral ou censura. O que importa aqui não é ensinar às

crianças como se comportar (o que, por sinal, a própria estória já faz, de uma maneira

muito mais rica e ilustrativa, ao mostrar as consequências dos atos de cada um), mas

oferecer às crianças a oportunidade de expressarem suas dificuldades emocionais de

uma maneira protegida.

Para Coelho (2000, p. 42), sobre as fábulas, o mundo animal está organizado à

semelhança e imagem da sociedade humana, o que faz com que a “leitura [...] [deva]

dar prazer e, ao mesmo tempo, dar alguma lição de vida”.

A autora ainda observa que:

[...] sobre os contos populares não é possível saber onde eles teriam nascido e quem teria feito essas narrativas, nem “quem teria inventado essas estórias que os avós dos nossos avós já conheciam [...]”, e que o conto não possui um lugar fixo para seu desenvolvimento e não se pode definir quem é o autor, pois esse deriva do povo ou o folclore. Os mitos nascem mesmo no espaço sobrenatural dos deuses e, destarte, os mitos explicariam a origem da vida e do universo. (COELHO, 2000, p. 41).

Segundo Menegassi (1995, p. 86), há quatro tipos de etapas para leitura:

decodificação, compreensão, interpretação e retenção. Para a psicolinguística, existem

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quatro etapas de leitura, as quais são as citadas acima. Em estudo realizado sobre a

compreensão de leitura, há uma constatação que apresenta três habilidades essenciais

do processo: reconhecimento, estruturação e interpretação.

A primeira situação diz respeito ao ato de o interlocutor decodificar todos os

signos linguísticos. Numa segunda etapa, a compreensão, é todo o conhecimento de

mundo que o leitor tem, e se junta com a expansão da leitura. Na terceira etapa, a

interpretação, o leitor se deparará com o desenvolvimento da compreensão que, ao

compreender, faz uso de seus conhecimentos anteriores, interligando-s aos conteúdos

que o texto apresenta.

A retenção, que seria a quarta etapa do processo de leitura, é a responsável pelo

armazenamento das informações mais importantes na memória do interlocutor. No

momento em que o professor apresentar algo para ser objeto de leitura, seria uma boa

tática dizer para o aluno que dentro da escola ele só está ensaiando para poder

conseguir êxito no mundo fora dela.

Caligari (1997, p. 148) afirma que “a leitura é a extensão da escola na vida das

pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da

leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma”.

O autor expõe um exemplo do que acontece em fatos atuais, trazendo o fato de

que o aluno, muitas vezes, não consegue fazer interpretação do texto. Mas se o

professor praticar este processo, este problema poderá ser minimizado e até

solucionado. Faz-se relevante, também, que muitos educadores não apreciam o hábito

da leitura, o que faz de sua disciplina enfadonha, não acrescentando nada ao aluno.

Com isso, o discente toma antipatia por este processo que deveria ser maravilhoso.

Outro problema deve ser ressaltado. É preciso respeitar o modo de cada aluno

ler. Muitos professores acham que a sala toda deve ler de uma só forma, ignorando as

diferenças de cada um.

Caligari (1997) fala ainda que a leitura deve ser a linha do horizonte para a

imaginação do aluno. Cada uma lê a seu modo.

Seria isso o que deve acontecer; a escola deve respeitar a leitura de cada um,

dentro de suas experiências e expectativas, conforme suas reações.

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Embora a leitura seja parte de uma convenção, é sempre uma obra aberta a

novas e diferentes interpretações. Após o ato da leitura, o educador deve abordar o

quanto isso teve de influência na mentalidade de seus alunos, respeitando cada

intervenção na história, o que ajuda na auto-compreensão do texto e acrescentando

mais ideias aos outros. É de extrema importância fazer um aluno pensar, questionar e

debater.

3 METODOLOGIA

Ressaltamos que essa sequência didática é apenas uma metodologia para

apresentar algumas atividades didáticas utilizando as fábulas como um recurso de

leituras em nossa área, e cada professor pode fazer adaptações necessárias, conforme

sua prática e os materiais disponíveis. Acredita-se que todo professor de língua

portuguesa e de literatura busca aprimorar o interesse de seu aluno na leitura.

Nesta troca, neste partilhar de experiência, é notável não existir uma fórmula

pronta para que isso ocorra, porém sabemos que uma leitura proveitosa pressupõe um

conhecimento de mundo, de conhecer outras leituras que vai muito além de conhecer

os códigos linguísticos, por isso explore essa sequência didática e tenha muito sucesso.

Nosso objetivo foi o de identificar em que pontos a fábula pode ter alguma

relevância e elo entre esse tipo de literatura e a vida do leitor, buscando uma relação

essencial entre as invariantes que estruturam essa narrativa e as exigências básicas

que a vida faz a cada indivíduo, para que haja uma melhor e plena realização social,

tentando verificar se é de tipo ideal, familiar, objetiva e complementar.

A proposta pedagógica foi dirigida afim de promover ações que propiciasse ao

aluno:

- Tomar conhecimento sobre os diferentes gêneros textuais;

- Desenvolver a criticidade do aluno;

- Reconhecer no texto, durante a leitura, as possíveis intenções do autor;

- Observar e aprender as características formais (estrutura) do gênero fábula;

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- Contribuir para a ampliação do vocabulário do aluno;

- Recordar alguns conceitos gramaticais, elementos que contribuem para a construção

dos sentidos no texto.

As atividades e sequência pedagógica foram distribuídas em seis passos pela

seguinte ordem:

PRIMEIRA UNIDADE - Conhecendo o gênero fábula - Origem da fábula - Identificando

uma fábula.

Os lobos e os cordeiros Quem era Esopo Chapeuzinho AmareloAs Borboletas O Leão e o Rato Questionários

SEGUNDA UNIDADE - Leitura, interpretação e compreensão textual - Identificar fábula

- Interpretar a moral das fábulas.

Questionários Correspondência entre

ilustração e moral de

história

TERCEIRA UNIDADE - Leitura com compreensão textual - Reconhecendo as

informações explícitas e implícitas - Identificando texto em prosa e poesia - Reconhecer

as características das fábulas - Realizando inferências através da fábula.

A cigarra e a

formiga (Esopo)

A cigarra e a formiga

(La Fontaine)

A cigarra e a formiga

(adaptada por Ruth

Rocha)

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Sem Barra (José

Paulo Paes)

A cigarra e a formiga

(Monteiro Lobato)

Questionários

QUARTA UNIDADE – Leitura e interpretação textual – Identificar o narrador - Trabalhar

os tipos de discurso - Trabalhar com dicionário.

Construção

linguística da

Fábula

A raposa e as uvas O veado e a vinha

O Corvo e a

Raposa

A lebre e a tartaruga Recriação de fábulas

QUINTA UNIDADE - Conhecer as versões de fábulas - Fazer comparações - Fazer

análise dos gêneros.

Resolução de

problemas

A raposa e as uvas O veado e a vinha

O Corvo e a

Raposa

A lebre e a tartaruga A cigarra e a raposa

O lobo e a cabra Questionários

SEXTA UNIDADE - Leitura e compreensão de fábulas - Identificar as ideias do texto -

Trabalhar a arte e a poesia.

Preparando para

escrever uma

fábula

Elaborando fábula Criação de arte e

poesia

SÉTIMA UNIDADE – Preparação final para que os alunos redijam fábulas e narrativas

estudadas.

A cobra e o

vagalume

Redação de fábula

em forma de versos

Aspectos positivos e

negativos da fábula

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Redação Criação de diálogos Criação de um livreto

coletivo

Além destas atividades foram também vinculados e implementados os

seguintes processo no desprendimento para a prática deste projeto:

- Apresentação do Projeto para a Direção, Equipe Pedagógica, Corpo Docente e

Funcionários do Colégio.

- Interpretação das fábulas com observação a relação de valores morais presentes

nesses gêneros de fábulas.

- Indagação sistemática e regular sobre o sentido das fábulas.

- Promoção de comentários e incentivo aos alunos sobre ilustrações.

- Proposição de debates regulares e sistemáticos sobre as relações de poder presente

na fábula.

- Promoção de atividades para que os alunos percebessem o uso de letras maiúsculas.

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A proposta inicial deste projeto era propor atividades em torno do tema “fábulas”

para que pudéssemos incluir no repertório de conhecimento de nossos alunos a

relevância, a informação, a transmissão dos valores e princípios morais, tipo ideal

familiar, objetiva e complementar.

Também tinha como proposta um aprofundamento no estudo de como tornar

nossos alunos leitores, desenvolvendo as habilidades necessárias como compreensão,

análise, síntese, avaliação e aplicação tendo como foco o desenvolvimento integral do

educando.

Percebeu-se no decorrer das atividades de que os alunos saindo do ensino

fundamental dos anos iniciais têm sérias dificuldades de adaptação, e isto, é

perfeitamente compreensível, pois a forma e estrutura de ensino se dá de maneira

diferenciada, são indisciplinados e lhes falta a compreensão de alguns conteúdos,

justamente pela transição que se dá de um segmento a outro.

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Entretanto, ao mesmo tempo, observou-se no decorrer da implementação das

atividades a saliência na curiosidade e na receptividade dos alunos. O aluno é sedento

de novas ideias, do novo, do diferente, do estímulo contínuo, é motivado basta que lhes

forneçamos injeções de estímulo, e a narração de história se tornou uma enorme

ferramenta de auxilio na proposta de interação entre professor X aluno, interação entre

aluno X aluno.

Foram percebidos progressos significativos no processo de busca de livros por

parte de nossos alunos. As ações como leitura silenciosa, leitura oral individual, leitura

oral coletiva, leitura como tarefa, leitura intensiva e leitura extensiva e leitura

suplementar, momento da leitura realmente é uma forma de auxiliarmos nossos alunos,

de estimulá-los direta e indiretamente, pois na prática e no hábito de ler quase todos os

dias e ouvir histórias, faz com que o educando tenha um grau maior de curiosidade

para ver o final da história, e, ele se sente realizado ao fazer a própria história, inventar

o seu próprio texto. Este também foi um dos pontos significativos na implementação

das atividades deste projeto.

Fica patente que a escola deve promover cada dia mais ações de incentivo.

Nossas crianças não são intolerantes e nem preguiçosas, ao contrário, o que está

faltando é incentivo, estímulo, mas não só nas “palavras do professor”, no “faça o que

eu digo”, é necessário estar mostrando, levando o material, indicando, propondo, e até

mesmo “cobrando”, lendo junto, pesquisando junto, enfim, mostrando o “caminho das

pedras” como se fala no vocabulário popular.

As fábulas, por trabalhar o lúdico, lidar com a imaginação auxiliou e muito no

despertar do interesse pela leitura, pois foi dada oportunidade para que os alunos

pudessem externar suas fantasias e este externar é uma chave para a criatividade,

para a abstração, onde a criança coloca exatamente os seus melhores sentimentos no

resultado da prática do criar um mundo imaginário em conformidade com a realidade.

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O objetivo inicial foi alcançado, sente-se uma nova visão nos alunos sobre a

necessidade de “ler”, o hábito é adquirido e isto foi mostrado pelos participantes do

projeto. É claro que há naturalmente, os alunos que não se familiarizam com atividades

de leitura, mas se ao menos é um participante ativo, nossa contribuição como professor

já será dividida em parcelas proporcionais, e isto já é um resultado positivo para nós,

profissionais da educação.

5 CONCLUSÃO

Conclui-se o presente trabalho foi uma experiência única para a nossa

concepção como profissional da educação, no sentido de oportunizar a nossos alunos

uma forma diferenciada na nossa estratégia de métodos de ensino.

A pesquisa bibliográfica nos oportunizou rever e comprovar o significado da

Literatura Infantil no contexto e elaboração de nossas ferramentas como objeto que

pode proporcionar e promover nova visão em nossos educandos.

A leitura não deve ser uma imposição, mas sim um elemento de prazer. Um

método que vai servir e é substancial para a sobrevivência de nossas crianças no seu

mundo adulto dentro do contexto e implicações que envolve viver em sociedade.

O papel do professor é estimular e intervir na motivação e isto não é só na

retórica, mas deve ser implementado em doses homeopáticas, isto é, a cada dia “gotas”

de estímulos para que indiretamente se processe uma assimilação e posteriormente o

condicionamento positivo do hábito da leitura e da busca contínua de novos

conhecimentos.

Conclui-se também que não cabe somente ao professor o estímulo ao mundo

da leitura, há que se conscientizar a família, pois ela desempenha um papel primordial

no desenvolvimento do gosto pela leitura nas crianças, pois quando este ambiente

valoriza o livro, fazendo uso deste e não apenas mantendo-o guardado, a criança é

incentivada a folhear naturalmente este objeto cultural.

Porém, considerando as dificuldades socioeconômicas do país e dos pais,

onde inúmeras famílias brasileiras não dispõem de recurso para proporcionar às

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crianças o acesso aos livros infantis, é evidente a responsabilidade que a escola

desempenha, já que é no âmbito escolar que muitas têm o contato com o mundo da

leitura.

Então deve se registrar que cabe aos interessados na formação de leitores

infantis, que são a família e os educadores proporcionarem aos mesmos um aspecto

diferente em relação à leitura, fazendo assim que nossos educandos/filhos percebam

que a leitura é muito mais do que um instrumento formador de sonhos, prazeres,

conhecimentos e ideologias, mas que apresenta o desenvolver de uma mentalidade

mais crítica e consciente.

Por fim, observou-se que as narrativas, as fábulas, as histórias contadas vêm

falar à criança trazendo a fantasia, o encantamento, a imaginação, o prazer e o resgate

das experiências passadas, contadas, recontadas, trocadas e compartilhadas,

provando que a história humana também se faz e se fez nesse movimento.

Devemos hoje, nós educadores, criar formas de manter e multiplicar estas

narrativas maravilhosas para conservar este imaginário popular enriquecendo e

ampliando as fábulas e histórias para que possam continuar encantando crianças e

adultos.

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REFERÊNCIAS

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