btoc 01|2016 - guia dos preços de transferência
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A ainda recente reforma do IRPC introduziu no respetivo Código, as linhas orientadoras do regime dos preços de transferência, refletindo a crescente preocupação da Autoridade Tributária na análise das transações entre entidades com relações especiais, com o objetivo de tornar mais clara a determinação do resultado tributável. Só a organização de documentação… poderá salvaguardar possíveis ajustamentos à matéria coletável que possam vir a ser efetuados pela Autoridade Tributária. Entre as entidades sujeitas à elaboração de um dossiê de preços de transferência contam-se os designados “Grandes Contribuintes”…TRANSCRIPT
CABO VERDE
CABO VERDE | ANGOLA | BRASIL | ESPANHA | MADEIRA | MOÇAMBIQUE | PORTUGAL
Regras dos Preços de Transferência
Guia de introdução ao essencial e as
obrigações dos sujeitos passivos
ÍNDICE
Regras dos Preços de Transferência
ÍNDICE
INTRODUÇÃO | 03
IMPORTÂNCIA DOS PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA | 04
OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS | 06
OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS | 07
MÉTODOS DE FIXAÇÃO DOS PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA | 07
CONCLUSÃO | 10
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PROPOSTA
02
Regras dos Preços de Transferência
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INTRODUÇÃO
A ainda recente reforma do IRPC introduziu no respetivo Código, as linhas
orientadoras do regime dos preços de transferência, refletindo a crescente
preocupação da Autoridade Tributária na análise das transações entre
entidades com relações especiais, com o objetivo de tornar mais clara a
determinação do resultado tributável.
É pois importante que as empresas que estão sujeitas a estas regras,
enquanto sujeitos passivos, criem os mecanismos internos necessários
para reunir prova que permita demonstrar que os termos e relações
estabelecidas nas transações se regem pelo princípio da plena
concorrência. Só a organização de documentação que evidencie os
pressupostos assumidos poderá salvaguardar possíveis ajustamentos à
matéria coletável que possam vir a ser efetuados pela Autoridade Tributária.
Entre as entidades sujeitas à elaboração de um dossiê de preços de
transferência contam-se: os designados “Grandes Contribuintes”, os
sujeitos passivos que beneficiem de tributação privilegiada,
estabelecimentos estáveis de entidades não residentes (refira-se a titulo de
exemplo as Sucursais).
É de realçar que as entidades que tenham relações especiais, devem
elaborar documentação justificativa das transações realizadas entre si,
mesmo que não tenham a obrigatoriedade de elaborar o dossiê de preços.
Só a organização de
documentação…
poderá salvaguardar
possíveis
ajustamentos à
matéria coletável
que possam vir a
ser efetuados pela
Autoridade
Tributária. Entre as
entidades sujeitas à
elaboração de um
dossiê de preços de
transferência
contam-se os
designados
“Grandes
Contribuintes”….
03
PROPOSTA
IMPORTÂNCIA DOS PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA
A preocupação com matéria do preços de transferência está relacionada com a diminuição da carga fiscal, na medida
em que a mesma pode constituir um instrumento utilizado para transferir lucros tributáveis de um país para o outro
com taxas de impostos mais favoráveis.
A problemática dos preços de transferência suscita-se igualmente a nível interno, i.e., no mesmo país, relativamente a
operações realizadas entre entidades relacionadas, ambas residentes em território cabo-verdiano.
O Código do Imposto Sobre os Rendimentos das Pessoas Coletivas, (IPRC) no seu Art.º 65, regulamentado pela
Portaria Nº75/2015, estabelece que “nas operações comerciais, incluindo operações ou series de operações sobre
bens, direitos ou serviços, bem como nas operações financeiras, efetuadas entre um sujeito passivo e qualquer outra
entidade, sujeita ou não a IRPC, com a qual esteja em situação de relações especiais, devem ser contratados, aceites
e praticados termos e condições substancialmente idênticos aos que normalmente seriam praticados entre entidades
independentes em operações comparáveis”.
03| CABO VERDE | ANGOLA | BRASIL | ESPANHA | MADEIRA | MOÇAMBIQUE | PORTUGAL
Regras dos Preços de Transferência
04
Os preços de transferência não são nada mais do que os
preços pelos quais as empresas e entidades
relacionadas transacionam os seus serviços e produtos,
assumindo a forma de taxas de juros, preço de vendas
de produtos e serviços e fees de gestão e aplica-se a
todos os sujeitos passivos que pratiquem operações
comercias ou financeiras com outras entidades sujeitas
ou não a IRPC.
Em suma, o conceito chave e essencial para a aplicação
do artigo supracitado é a existência de relações
especiais entre as entidades e as entidades
contratantes, entendendo-se que existem relações
especiais entre duas entidades nas situações em que
uma entidade tem o poder de exercer, direta ou
indiretamente, influência significativa nas decisões de
gestão da outra, verificando-se nomeadamente entre:
Uma entidade não residente e um seu estabelecimento
estável situado em território nacional;
Uma entidade residente ou não residente com
estabelecimento estável situado em território nacional e
uma entidade que beneficie de um regime de tributação
privilegiada; considera-se regime de tributação
privilegiada todo o regime, nacional ou estrangeiro, que
implique a não tributação dos rendimentos ou a
aplicação de taxa nominal de imposto sobre os
rendimentos inferiores a 10%, isenção, desagravamento
ou exclusão equivalente, com exceção dos regimes de
tributação simplificada;
Uma entidade e os seus titulares do respetivo
capital, ou os cônjuges, ascendentes ou
descendentes destes, que detenham uma
participação não inferior a 20% do capital ou dos
direitos de voto;
E entidades cujo relacionamento jurídico
possibilita, pelos seus termos e condições, que
uma condicione as decisões de gestão da outra,
em função de fatos ou circunstâncias alheios à
própria relação profissional ou comercial.
Para a fixação dos preços praticados entre as
entidades relacionadas, o sujeito passivo deve
adotar o método ou métodos que permita uma
maior comparabilidade entre a operação
realizada por uma entidade independente e a
operação que pretende efetuar.
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Regras dos Preços de Transferência
Para determinar o grau de comparabilidade é necessário
dispor de informação fiável para poder comparar as
operações e transações em confronto. Dai advém a
importância de definir cada um dos elementos de
comparabilidade para que possa confrontar a prática de
preços de transferência no âmbito de relações especiais com
a prática de preços de uma empresa independente,
nomeadamente:
• Características dos bens, direitos ou serviços;
• Análise de funções desempenhadas pelos
intervenientes nas operações;
• As condições e os termos contratuais;
• As circunstâncias e estratégias económicas;
• E outras caraterísticas relevantes.
OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS
Os sujeitos passivos estão obrigados a indicar, na sua
declaração anual de informação contabilística e fiscal, a
ser apresentada em julho de cada ano, a existência ou
inexistência, no período de tributação a que aquela respeita,
de operações com entidades com as quais estão em
situações de relações especiais. No caso de declarar a sua
existência deverão:
• Identificar as entidades em causa;
• Identificar e declarar o montante das operações
realizadas com cada uma;
• E declarar se organizou, ao tempo em que as
operações tiveram lugar e se mantem a
documentação relativa aos preços de transferências
praticado.
Chama-se a atenção de que se a regra geral enunciada
no Art.º 65 não for observada, relativamente a
operações com entidades não residentes, o sujeito
passivo deve efetuar na sua declaração anual de
rendimentos (a ser apresentada em maio de cada ano)
as necessárias correções positivas na determinação do
lucro tributável pelo montante correspondente aos
efeitos fiscais imputáveis a essa inobservância.
Quando a Administração Fiscal procede a correções
necessárias à determinação do lucro tributável por
virtudes de relações especiais com outro sujeito passivo
de IRPC ou IRPS, na determinação do lucro tributável
deste ultimo devem ser efetuados os ajustamentos
adequados que sejam reflexos das correções feitas
determinação do lucro tributável do primeiro. A
Administração Fiscal também pode, igualmente,
proceder ao ajustamento correlativo, quando resultar de
convenções internacionais celebrados por Cabo Verde.
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OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS
O sujeito passivo deve dispor dos seguintes documentos e
informação respeitante à política adotada na determinação
dos preços de transferência e mante-los de forma
organizada:
• A seleção do método ou métodos mais apropriados de
determinação dos preços de transferência que
proporcionem uma maior aproximação aos termos e
condições praticados por entidades independentes e que
assegurem o mais elevado grau de comparabilidade das
operações efetuadas com outras realizadas por entidades
independentes em situação normal de mercado;
• Paridade de mercado nos termos e condições acordados,
aceites e praticados nas operações efetuadas com
entidades relacionadas.
Também ficam obrigados à elaboração de um dossiê de
preços de transferência, os sujeitos passivos de IRPC
que:
• Sejam classificadas como “Grandes Contribuinte” nos
termos do regulamento próprio;
• Beneficiem de um regime de tributação privilegiada;
• Sejam estabelecimentos estáveis de entidades não
residentes;
• E outras entidades que a Administração Fiscal designar
para o efeito.
MÉTODOS DE FIXAÇÃO DOS
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA
Método do Preço Comparável de Mercado
Consiste em comparar o preço de bens ou de serviços
transferidos numa operação vinculada (realizada entre
entidades relacionadas) com o preço faturado em relação
a bens ou serviços transferidos no âmbito de uma
operação entre empresas independentes, em
circunstâncias comparáveis.
Aplicabilidade
• É um método particularmente adequado para as
transações de natureza idêntica, cujos produtos e
serviços tenham um elevado grau de equiparabilidade e
pode ser utilizado por uma entidade que realiza uma
operação que tenha por objeto um serviço ou produto
similar, em termos e condições, a uma entidade
independente ou que tenha por base o serviço ou
produto similar realizado entre duas entidades
independentes.
Método de Custo Majorado
Aplica-se tendo como base os custos suportados por um
fornecedor de bens e serviços no quadro de uma
operação vinculada, aos quais acrescem a margem de
lucro sobre o preço de custo aplicada por uma empresa
independente ou por uma empresa do grupo, de modo a
obter o lucro bruto da transação.
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Regras dos Preços de Transferência
(...) Método de Custo Majorado
A margem realizada pelo fornecedor pode ser assim
comparada com a margem realizada por entidades
independentes sobre os respetivos preços de custo, devendo,
para o efeito, as entidades desempenhar funções similares,
utilizar o mesmo tipo de ativos, assumir riscos idênticos e
adotar um sistema de custeio semelhante.
Aplicabilidade
• É indicado para avaliar transações desenvolvidas por
empresas que produzem bens ou serviços que são depois
vendidos a entidades com as quais têm relações especiais e
é especialmente utilizado nos casos de vendas de produtos
semiacabados entre empresas relacionadas.
Método de Preço Minorado
O preço de revenda minorado tem como base um produto
adquirido a uma entidade relacionada que é objeto de revenda
a uma entidade independente. Ao preço de revenda é
subtraída uma margem de lucro bruto de acordo com aquela
que é praticada por entidades independentes em operações
comparáveis. Obtém-se assim o preço de plena concorrência
deduzindo do preço de revenda minorada uma margem de
lucro bruto de mercado. Esta margem praticada por empresas
independentes serve aqui de base à determinação do preço
comparável da entidade relacionada.
A margem é aqui objeto de comparação entre
entidades independentes e entidades relacionadas.
Aplicabilidade
• É particularmente indicado para avaliar o preço
praticado por empresas que adquirem bens ou
serviços a entidades relacionadas e que revendam
esses mesmos bens ou serviços a entidades
independentes. É um método especialmente
indicado para os distribuidores que revendem
produtos sem qualquer valor acrescentado.
Quando os métodos acima não possam ser
aplicados, ou podendo sê-lo, não permitir obter a
medida mais fiável dos termos e condições que as
entidades independentes normalmente acordariam,
aceitariam ou praticariam, deverão ser utilizados os
métodos abaixo:
Método de Fracionamento do Lucro
É utilizado para repartir o lucro global derivado de
operações complexas ou de séries de operações
vinculadas realizadas de forma integrada entre as
entidades intervenientes.
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Regras dos Preços de Transferência
Estando determinado o lucro global nas operações
vinculadas, procede-se ao seu fracionamento entre as
entidades relacionadas, tendo como critério o valor da
contribuição de cada uma para a realização das operações
vinculadas, as funções exercidas, os ativos utilizados e os
riscos assumidos por cada uma e tomando como
referencia, dados externos fiáveis que indiquem como é
que as entidades independentes exercendo funções
comparáveis, utilizando o mesmo tipo de atividade e
assumindo riscos idênticos teriam avaliados as suas
contribuições.
Também é admitida, como alternativa, uma outra
modalidade de aplicação do método, qual consiste no
fracionamento do lucro das operações em duas fases:
I. A cada uma das entidades intervenientes é atribuída
uma fração do lucro global que reflita a renumeração
apropriada suscetível de ser obtida com o tipo de
operações que realiza, determinando-se a partir de
dados comparáveis sobre as renumerações
normalmente obtidas por entidades independentes
quando realizam operações similares e tendo em
consideração de funções exercidas, os ativos utilizados
e os riscos assumidos, podendo ser utilizado, para este
efeito, qualquer dos restantes métodos;
II. E na segunda fase, procede-se ao fracionamento
do lucro ou do prejuízo residual entre cada um das
entidades, em função do valor relativo da sua em
tendo em conta as funções relevantes exercidas,
os ativos utilizados e os riscos assumidos e
recorrendo, para o efeito, à informação externa
disponível que forneça indicações sobre o modo
como partes independentes repartiriam o lucro ou
o prejuízo e circunstancias similares, sendo o
lucro assim atribuído para determinar o preço.
Aplicabilidade
• Pode ser utilizado sempre que as operações
vinculadas revelem um elevado grau de integração,
tornando difícil avaliar as operações de forma
individualizada, ou sempre que a existência de ativos
incorpóreos de elevado valor e especificidade torne
impossível estabelecer um grau de comparabilidade
com as operações não vinculadas (realizadas entre
entidades independentes) e não permita a aplicação
dos restantes métodos.
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Regras dos Preços de Transferência
Método de Margem Liquida
Consiste em determinar a margem de lucro líquida obtida por um
sujeito passivo numa operação vinculada e de a comparar com a
margem de lucro líquida de uma operação não vinculada
comparável efetuada pelo sujeito passivo, por uma entidade do
grupo ou por uma entidade independente.
Este método tem a vantagem de não estar sujeito diretamente à
variabilidade dos preços praticados, tal como sucede aliás no
método do preço comparável, de não depender das funções
exercidas e das responsabilidades assumidas, de não estar
condicionado à participação das empresas do grupo nas suas
atividades empresariais e de não necessitar de conhecer a
repartição dos custos entre as empresas, baseando-se na
rentabilidade das transações, ou seja na comparação dos
resultados operacionais da entidade relacionada com os lucros
das entidades independentes.
Conclusão
Cabe ao sujeito passivo o ónus de provar que as transações praticadas respeitam o princípio de plena
concorrência, pelo que não é demais reforçar o valor que terá a elaboração duma análise ponderada destas
matérias, por parte das empresas com este tipo de transações, pois isso poderá significar a existência ou não
de ajustamentos à matéria coletável por parte da Autoridade Tributária.
Esta informação é de carácter informativo geral, pelo que a sua leitura não dispensa a consulta de serviços profissionais.
A BTOC Consulting não se responsabiliza por qualquer dano ou prejuízo emergente de decisão tomada com base nesta informação.
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