bruno chamochumbi no jp

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PERSONA Piracicaba, 4 de dezembro de 2011 | CADERNO DE DOMINGO | 3 Iuri Botão [email protected] P ai de Antonio e Eduardo, que nasce em maio, o proprietário da MBM Escritório de Ideias é o entrevistado desta semana da sé- rie Persona, na qual fala da trajetó- ria pessoal, que se confunde com a profissional, da Casa de Noel e da re- cente campanha em parceria com o JP, Olhe a Sua Volta, Estamos Lado a Lado, em prol do Centro de Reabilita- ção de Piracicaba. Sempre soube que seria publicitário? Sempre. Todo mundo da minha família sempre foi muito ligado com arte, com cultura. Meu avô foi um dos fundadores da Empem (Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle), do Clube de Campo de Pira- cicaba, frequentava o Clube Coronel Barbosa. Minha mãe é de uma famí- lia de oito irmãos, e entre eles têm pintor, produtor cultural, músico, e isso, claro, estimulou muito a minha vontade de trabalhar com criativida- de. Gostava de desenho, teatro, músi- ca, e a partir dos 14 comecei a querer fazer alguma coisa. E sempre traba- lhei com coisas que tivessem a ver com comunicação, com criativida- de: fui monitor de recreação infantil, palhaço em festa infantil, distribuí fo- lheto na rua, fui promotor de eventos e até animador de plateia, sabe aque- les tipo Liminha (risos)? Aos poucos fui começando a me interessar espe- cificamente por propaganda, por marketing, e essa área da pala- vra, porque sempre fui muito falante. Um dos marcos da minha trajetória, sem dúvi- da é a Casa de Noel, porque aos 14 anos eu comecei a me vestir de Papai Noel. Lá eu aprendi a trabalhar com uma campanha publicitária, enten- di o que é assessoria de imprensa, promoção, divulgação: uma estraté- gia de comunicação no sentido mais amplo da palavra. Como foi ver na faculdade aquilo que você já conhecia na prática? Algumas divergências existem, e eu mudei muito a minha visão. Por um momento eu achava que a expe- riência, a prática, fossem sempre me- lhores. Mas é muito difícil você jul- gar isso, teoria e prática andam muito juntas. Às vezes uma trai a outra, mas geralmente uma ajuda a outra. En- trei com 19 anos, dei uma parada por dois anos para trabalhar, nesse tem- po meu filho nasceu e nesse período fui trabalhar na Socieda- de Italiana (Società Ita- liana di Mutuo Soccorso), que para a minha pro- fissão foi muito importante, foi uma vitrine. Eu tinha, na época, o cargo de agente cultural. Usei essa possibilida- de da comunicação e da estratégia, que hoje é o meu trabalho, lá. Desen- volvi projeto, desfile, jantar, show de música, apresentação teatral, orques- tra, e depois a programação dos 100 anos. Foram muitas atividades que me deram uma bagagem para conhe- cer essas sequências todas de ações estratégicas. Depois voltei para a fa- culdade, me sentindo muito à von- tade lá, e conheci muita gente legal. Já pensava em ter sua própria empresa? Eu nunca pensei nisso, mas sem- pre tive um comportamento mais au- tônomo, uma certa dificuldade para ficar preso em apenas uma situação, uma empresa ou uma ideia. E aí apa- receu a possibilidade de abrir a em- presa com um grupo de pessoas, e fa- zer projetos diferentes era uma coisa que eu sempre quis. Na faculdade eu tinha que estudar, trabalhar, tinha um filho pequeno, então tinha que trabalhar à noite e nos fins de sema- na para dar conta dos projetos que a gente começou a assumir. A propos- ta dela (MBM) não é ser uma agên- cia de propaganda — ela faz tam- bém esse papel — mas a ideia é ser um escritório de projetos de marketing e co- municação, que vira Escritório de Ideias. Quando me formei eu já ti- nha uma empresa.Em alguns mo- mentos, hoje, eu olho e vejo que fui ousado. Não é todo mundo que na minha idade teve esse peito de falar ‘vou tentar, se der errado deu’. E eu tenho muito essa coisa de não dei- xar a peteca cair, querer que o ne- gócio vá até o fim. A ideia é ir além de fazer propaganda, então? Esse foi um conceito que eu ten- tei trabalhar também dentro da mi- nha própria vivência. A MBM ainda tem uma trajetória muito grande pela frente, mas a primeira etapa eu vejo que ela conseguiu vencer, os cinco anos críticos, né (risos)? Hoje somos 13 pessoas. As três cores da nossa empresa resumem um pou- co até da minha história: o laranja é a comunicação criadora, o azul é a responsabilidade naquilo que faze- mos, e o magenta é o amor e a pai- xão pelo que fazemos. Muita gente tem medo de usar essas palavras nos seus negócios, mas eu dedico amor e paixão aos meus negócios. Acho que tem sido uma marca nos- sa, as pessoas reconhecerem esse carisma, essa vontade de fazer di- reito, de forma ética, com respeito, com amor, com humanização, que eu acho um conceito importante, e com sustentabilidade. Hoje não dá mais para falar do Bruno Chamochumbi sem falar do Papai Noel. O que acha disso? Tem duas coisas que marcam muito quando as pessoas fa- lam de mim. O meu sobre- nome, que eu acho muito engraçado porque no co- meço as pessoas acham difícil, mas é muito fácil, é com CH e se escreve do jeito que se fala (risos); e essa coisa do Papai Noel, que ao lon- go dos anos eu também fui acei- tando porque foi uma coisa muito natural, eu gosto de fazer. Acredi- to que é a forma de eu devolver para a cida- de e para o mundo um pouco do que eu tenho recebido na minha vida. É uma forma de exercitar o lado ar- tístico e a responsabilidade social e cultural de forma verdadeira. Acho muito importante as pessoas que dão cesta básica, kit de Natal, ali- mentos, roupas, produtos de higie- ne pessoal, não só no fim do ano, mas durante o ano todo. Fazem ações sociais em torno dos bens, que as pessoas realmente preci- sam. A pessoa precisa de uma rou- pa, precisa de comida, e não tem dinheiro para comprar. Entenden- do isso e ao longo dos anos eu fui percebendo que eu podia participar dessa entrega que as pessoas fazem pelo próximo. E vejo que a minha entrega, não só minha, mas de toda uma equipe, é dar a essas pessoas algo que talvez seja mais complica- do de elas receberem por uma ques- tão até de logísti- ca: como que eu dou amor para você? Como dou ale- gria? Como dou paz? Isso é muito subjetivo. Como começou? A Casa de Noel é um projeto. Ela foi escrita antes de ser executa- da e por isso conseguiu sair do pa- pel. Com a ideia no papel eu come- cei a consultar os amigos que achava que tinham potencial e um grupo de três amigos topou fazer comigo, no primeiro ano, a Casa do Papai Noel, em 2000. Foram o Juliano, a Cristia- ne e o Maurício, a família Meneghel. Foi na rua Governador, uma casinha toda decorada, e a proposta era fa- zer uma casa de Papai Noel. Desde 1997 eu já fazia sozinho, na rua. Fui ao edifício Canadá, que num ano es- tava todo enfeitado, fui a bingos, fiz trabalho em lojas... Sabe aquele que dá balinha na porta? E aí eu percebi que não era isso. Não queria ser esse Papai Noel que vai à rua, mas o Pa- pai Noel que tem o lugar dele e que as pessoas vão visitar, vão ver um pre- sépio... Em 2001, repetimos o sucesso, mas aí na Società, e a partir de 2001, não mudamos mais de lugar, porque é um centro cultural, tem um palco, no Centro. Ao longo dos anos ele co- meçou a sair da Società, foi fazer pro- grama de TV, virou cartão telefônico da Telefonica. Quando ele se tornou cantor? A gente procurou um nicho nes- se trabalho, e nele o Papai Noel oficial de Piracicaba virou cantor. Ele canta com banda ou acompanhado do mú- sico Hermes Petrini, e faz as mensa- gens de paz por meio da música, isso a partir de 2005, 2006. Com a parceria da prefeitura, ele passou a fazer sho- ws itinerantes de Natal, numa pro- gramação chamada Canta Noel. Ele canta Roberto Carlos, canta música de Natal, músicas que tocam o cora- ção das pessoas, que falam de amiza- de, amor e renovação. E reúne a famí- lia em torno de um movimento que muitas vezes o mundo está pedindo para a gente não viver. Essas situa- ções estão se perdendo não só com as ações comerciais, mas até com o espaço dado para notícias ruins, tra- gédias, que, claro, acontecem e vão ser noticiadas. Mas porque a gente não pode buscar notícias boas? Essa história toda que se confunde com a minha história é um dos poucos elos que eu tenho com a minha vida infantil. Eu acreditei em Papai Noel até 12 anos, batalho muito para que as crianças continuem acreditando até os 12, mas é cada vez mais difí- cil. O mundo quer ser muito nu e cru, muito verdadeiro. Não estou dizendo que a gente não deve viver a verda- de, pelo contrário, mas não precisa ser aquela coisa nua e crua, agressi- va, que invade a nossa tela da televi- são. Eu acreditei até 12 anos em Pa- pai Noel, quando descobri que não ia ganhar a bicicleta que eu queria. Isso poderia ter me deixado magoa- do com essa figura mas, muito pelo contrário. Naquele momento eu en- tendi que o Papai Noel seria uma for- ma de acalmar o meu coração, e prin- cipalmente o coração do próximo. É uma coisa de magia. Quem não acredita em Papai Noel também aproveita? Quando as crianças estão assis- tindo ao show, elas sabem que é um cara de cabelo preto, que está vesti- do, maquiado, mas elas estão viven- do um sonho: estão vendo ele des- cer do céu, passar no rio de barco. A grande repercussão é essa, e não é só minha, é de um grupo enorme de ar- tistas que acredita que o resultado fi- nal é a memória coletiva abastecida. Imagine uma criança que tinha 1 ano quando eu comecei a me vestir de Pa- pai Noel. Se ela tinha 1 ano, como é o caso da Julia, que é nossa duende nos shows, hoje ela tem 16. Imagine o que essa criança não tem de memória de ver um Papai Noel bonito, falando do nascimento de Jesus, falando de ser bom, de carinho, de paz, de bonda- de, de renovação, do espírito de Natal, de família, cantando sobre a paz. Al- guma coisa fica. Nossa contribuição também tem essa delicadeza. Qual a maior dificuldade? Nesses anos todos muitas vezes tive que colocar dinheiro próprio. Eu não ganho dinheiro com esse projeto, e é algo que eu enfatizo muito porque, de repente, tem gente que acha que eu ganho. Eu tenho uma empresa e é ela que me remunera. Temos o mí- nimo para pagar os artistas, para que os shows possam ser todos gratuitos. E tem, inclusive, muito a ver com o investimento público: nos últimos cinco anos houve um investimen- to muito grande por parte da Setur (Secretaria de Turismo) para o nos- so projeto continuar existindo. No passado foi essa a grande dificulda- de que me fez pensar: ‘será que eu te- nho fôlego para continuar? Será que eu não estou dispendendo mais do que deveria, tirando da minha famí- lia, tirando de mim para poder colo- car numa coisa que já não é mais só minha, mas da cidade?’. Investi mui- to dinheiro e muita energia, e ainda invisto, mas fico satisfeito porque é a minha forma de me doar e ao mes- mo tempo de conseguir um objetivo maior, que é de transformar Piracica- ba de verdade numa cidade de turis- mo e cultura natalina. A repercussão já extrapola Piracicaba? Nos últimos anos a gente tem conseguido espaço junto a cidades reconhecidamente natalinas, como Gramado (RS) e Penedo (RJ). E Pi- racicaba está lá, com o Papai Noel cantor, com a Setur e o turismo so- cial, com o Papai Noel no rio. A gen- te vem aos poucos conseguindo al- cançar esse objetivo de ser a cidade que tem uma programação diferen- ciada de Natal, que não é aquele Pa- pai Noel que fica oito horas sentado numa poltrona, recebendo crianças para pedirem presente. Não é o meu trabalho. Elas não vão pedir presen- te para o Papai Noel da Casa de Noel. Elas vão interagir com ele, vão trocar. O presente está no palco, tocando, o coraçãozinho delas já está palpitante. Esse é o diferencial. A gente vem ten- do muita procura nesse ano de jor- nais do interior inteiro, até de outros Estados, programas de TV, amanhã (quinta-feira, 1º/12) vou a Aparecida do Norte gravar um programa. Na ou- tra semana vou duas vezes a São Pau- lo. Isso vai motivando a gente a per- ceber que tem uma evolução, porque o trabalho é o mesmo. O que a gen- te faz ano a ano é mudar repertório, criar novos textos, novas parcerias, mas várias nuances são mantidas. Como surgiu a campanha do Centro de Reabilitação? O CRP tem uma grande dificul- dade, que na verdade não é só deles, mas das instituições do terceiro se- tor: ser conhecido da maneira cor- reta. A gente queria primeiro que o nome fosse conhecido e que a insti- tuição tivesse mais abertura da socie- dade para fazer seu trabalho, já que mais de 50% dos recursos mensais vêm de vendas, arrecadações, rifas e um monte de coisa que eles têm que fazer. É uma das instituições mais importantes do interior paulista, ela atende próximo de 600 famílias, de- ficientes físicos, múltiplos e intelec- tuais; recebe atendidos até de outras cidades; é uma das pioneiras nessa área. Nossa motivação foi trabalhar com o colocar-se no lugar dessas pessoas. A intenção é que quem está vendo esses anúncios no Jornal de Piracicaba, que alavancou a cam- panha e é seu realizador, se coloque no lugar, abra o coração para, a par- tir de agora, conhecer melhor o tra- balho. A ideia foi pegar pessoas que não são deficientes e que têm algu- ma participação na comunidade, vá- rias pessoas que juntas formam uma amostragem social. Colocamos essas pessoas em cadeiras de rodas ou em muletas, dizendo exatamente o se- guinte: qual a diferença entre nós e esses deficientes? Nenhuma, porque nós estamos lado a lado, nossa cabe- ça quer coisas parecidas, a gente quer ser feliz, e a instituição promove isso. Quando você abre a página tem sem- pre um atendido do CRP e a pessoa que estava usando a muleta ou a ca- deira, em pé. É uma forma de chamar a atenção para uma instituição mui- to importante que precisa do engaja- mento da sociedade para sobreviver, a exemplo da Associação Síndrome de Down, que acabou de mudar seu nome para Casa Pipa, depois de um diagnóstico que fizemos, e também o instituto Rumo, formando junto à Società um grupo de parceiros e pro- jetos de terceiro setor. É perceptível a maneira como você une a sua empresa e seus projetos pessoais... Não vejo outra forma. O Bruno que estiver no palco cantando como Papai Noel é o mesmo que está numa reunião com uma grande empresa, uma grande indústria, que é o mes- mo que vai a uma empresa de varejo, uma loja. Qualquer que seja a ação da minha vida, eu sou um só. E acre- dito que os profissionais que conse- guem unir isso tudo, trazer a família também para participar desses pro- cessos — meu filho vem toda terça- -feira de manhã ficar comigo e fica aqui acompanhando o meu dia, e eu não mudo a minha rotina. Eu acho importante isso. Gosto muito de unir meus clientes, fazer com que um co- nheça o outro, gosto dessa promoção do relacionamento humano, vejo que isso é o que sobrevive, o que cristali- za o amor pelo que a gente faz. Amor é a palavra, não tem como separar. E essa dedicação acaba se refletindo naturalmente na equipe. Boas ideias e muita vontade Ao conhecer a história do publicitário piracicabano Bruno Fernandes Chamochumbi imagina-se que ele tem muito mais do que 29 anos de idade. Ainda mais quando se caracteriza do personagem que hoje é indissociável de sua personalidade: o Papai Noel, fantasia que veste para alegrar crianças e adultos há 15 anos. ‘Acredito que (interpretar Papai Noel) é a forma de eu devolver para a cidade e para o mundo um pouco do que eu tenho recebido na minha vida’ Pauléo/JP O Papai Noel e publicitário Bruno Chamochumbi

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Matéria publicada no Jornal de Piracicaba em dezembro de 2011 com o diretor do MBM Ideias, Bruno Chamochumbi.

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Page 1: Bruno Chamochumbi no JP

PERSONAPiracicaba, 4 de dezembro de 2011 | CADERNO DE DOMINGO | 3

Iuri Botã[email protected]

Pai de Antonio e Eduardo, quenasce emmaio, o proprietáriodaMBMEscritório de Ideias é

o entrevistado desta semana da sé-rie Persona, na qual fala da trajetó-ria pessoal, que se confunde com aprofissional, da Casa de Noel e da re-cente campanha em parceria com oJP,OlheaSuaVolta, EstamosLadoaLado, emprol doCentrodeReabilita-ção de Piracicaba.

Sempre soubeque seriapublicitário?

Sempre. Todo mundo da minhafamília sempre foimuito ligado comarte,comcultura.Meuavôfoiumdosfundadores da Empem (Escola deMúsica de PiracicabaMaestro ErnstMahle), do Clube de Campo de Pira-cicaba, frequentava oClubeCoronelBarbosa. Minha mãe é de uma famí-lia de oito irmãos, e entre eles têmpintor, produtor cultural, músico, eisso, claro, estimuloumuito aminhavontade de trabalhar com criativida-de.Gostavadedesenho, teatro,músi-ca, e apartir dos14comecei aquererfazer alguma coisa. E sempre traba-lhei com coisas que tivessem a vercom comunicação, com criativida-de: fui monitor de recreação infantil,palhaçoemfesta infantil, distribuí fo-lhetonarua, fuipromotordeeventose até animador deplateia, sabe aque-les tipo Liminha (risos)? Aos poucosfui começando ame interessar espe-cificamente por propaganda, pormarketing, e essa área da pala-vra, porque sempre fui muitofalante. Um dos marcos daminha trajetória, sem dúvi-daéaCasadeNoel,porqueaos 14 anos eu comecei ame vestir de Papai Noel.

Lá eu aprendi a trabalhar comuma campanha publicitária, enten-di o que é assessoria de imprensa,promoção, divulgação: uma estraté-giadecomunicaçãonosentidomaisamplo da palavra.

Como foi ver na faculdadeaquilo que você já conhecia naprática?

Algumas divergências existem, eeu mudei muito a minha visão. Porummomento eu achava que a expe-riência, a prática, fossemsempreme-lhores. Mas é muito difícil você jul-gar isso, teoriaepráticaandammuitojuntas.Àsvezesumatraiaoutra,masgeralmente uma ajuda a outra. En-trei com19anos,deiumaparadapordois anos para trabalhar, nesse tem-pomeu filho nasceu e nesse períodofui trabalhar na Socieda-de Italiana (Società Ita-lianadiMutuoSoccorso),que para aminha pro-

fissão foimuito importante, foi umavitrine.Eutinha,naépoca,ocargodeagentecultural.Usei essapossibilida-de da comunicação e da estratégia,que hoje é omeu trabalho, lá. Desen-volvi projeto, desfile, jantar, show demúsica, apresentaçãoteatral, orques-tra, e depois a programação dos 100anos. Foram muitas atividades quemederamumabagagemparaconhe-cer essas sequências todas de açõesestratégicas. Depois voltei para a fa-culdade, me sentindo muito à von-tade lá, e conhecimuita gente legal.

Já pensava em ter suaprópria empresa?

Eu nunca pensei nisso, mas sem-pre tiveumcomportamentomaisau-tônomo, uma certa dificuldade paraficar preso em apenas uma situação,uma empresa ou uma ideia. E aí apa-receu a possibilidade de abrir a em-presa comumgrupodepessoas, e fa-zerprojetosdiferenteseraumacoisaque eu semprequis.Na faculdade eutinha que estudar, trabalhar, tinhaum filho pequeno, então tinha quetrabalhar à noite e nos fins de sema-naparadar contadosprojetos que agente começou a assumir. A propos-ta dela (MBM) não é ser uma agên-cia de propaganda— ela faz tam-bém essepapel

— mas a ideia é ser um escritóriode projetos de marketing e co-municação, que vira Escritório deIdeias. Quando me formei eu já ti-nha uma empresa.Em alguns mo-mentos, hoje, eu olho e vejo que fuiousado. Não é todo mundo que naminha idade teve esse peito de falar‘vou tentar, se der errado deu’. E eutenho muito essa coisa de não dei-xar a peteca cair, querer que o ne-gócio vá até o fim.

A ideia é ir além de fazerpropaganda, então?

Esse foi um conceito que eu ten-tei trabalhar tambémdentro dami-nhaprópria vivência. AMBMaindatem uma trajetória muito grandepela frente, mas a primeira etapaeu vejo que ela conseguiu vencer, oscinco anos críticos, né (risos)?Hojesomos 13 pessoas. As três cores danossa empresa resumem um pou-co até daminhahistória: o laranja éa comunicação criadora, o azul é aresponsabilidade naquilo que faze-mos, e o magenta é o amor e a pai-xão pelo que fazemos. Muita gentetem medo de usar essas palavrasnos seus negócios, mas eu dedicoamor e paixão aos meus negócios.Acho que tem sido umamarca nos-sa, as pessoas reconhecerem essecarisma, essa vontade de fazer di-reito, de forma ética, com respeito,com amor, com humanização, queeu acho umconceito importante, ecom sustentabilidade.

Hoje não dámaispara falar do Bruno

Chamochumbi semfalar do Papai Noel.O que acha disso?

Tem duas coisasque marcam muitoquando as pessoas fa-

lamdemim.Omeu sobre-nome, que eu achomuitoengraçado porque no co-meço as pessoas achamdifícil, mas é muito fácil,é com CH e se escreve do

jeito que se fala (risos); e essacoisa do Papai Noel, que ao lon-

go dos anos eu também fui acei-tando porque foi umacoisamuitonatural, eugosto de fazer. Acredi-to que é a forma de eudevolver para a cida-de e para o mundo umpouco do que eu tenho

recebido na minha vida.É uma forma de exercitar o lado ar-tístico e a responsabilidade social ecultural de forma verdadeira. Achomuito importante as pessoas quedão cesta básica, kit de Natal, ali-mentos, roupas, produtos de higie-ne pessoal, não só no fim do ano,mas durante o ano todo. Fazemações sociais em torno dos bens,que as pessoas realmente preci-sam. A pessoa precisa de uma rou-pa, precisa de comida, e não temdinheiro para comprar. Entenden-do isso e ao longo dos anos eu fuipercebendoque eupodiaparticipardessa entrega que as pessoas fazempelo próximo. E vejo que a minhaentrega, não sóminha,mas de todauma equipe, é dar a essas pessoasalgo que talvez seja mais complica-do de elas receberempor umaques-

tão até de logísti-c a : c omoq u e e udou amorpara você?

Como dou ale-gria? Como dou paz? Isso é muitosubjetivo.

Comocomeçou?A Casa de Noel é um projeto.

Ela foi escrita antes de ser executa-da e por isso conseguiu sair do pa-pel. Com a ideia no papel eu come-cei aconsultarosamigosqueachavaque tinhampotencial eumgrupodetrês amigos topou fazer comigo, noprimeiro ano, a Casa do Papai Noel,em 2000. Foram o Juliano, a Cristia-ne e oMaurício, a família Meneghel.Foi na ruaGovernador, umacasinhatoda decorada, e a proposta era fa-zer uma casa de Papai Noel. Desde1997 eu já fazia sozinho, na rua. Fuiao edifício Canadá, que num ano es-tava todo enfeitado, fui a bingos, fiztrabalho em lojas... Sabe aquele quedá balinha na porta? E aí eu percebique não era isso. Não queria ser essePapai Noel que vai à rua, mas o Pa-pai Noel que tem o lugar dele e queaspessoasvãovisitar, vãoverumpre-sépio... Em2001, repetimososucesso,mas aí na Società, e a partir de 2001,nãomudamosmaisde lugar, porqueé um centro cultural, tem um palco,no Centro. Ao longo dos anos ele co-meçoua sairdaSocietà, foi fazerpro-gramadeTV, virou cartão telefônicoda Telefonica.

Quando ele se tornoucantor?

A gente procurou um nicho nes-se trabalho, eneleoPapaiNoeloficial

dePiracicaba virou cantor. Ele cantacombandaouacompanhadodomú-sico Hermes Petrini, e faz as mensa-gensdepazpormeiodamúsica, issoapartirde2005,2006.Comaparceriada prefeitura, ele passou a fazer sho-ws itinerantes de Natal, numa pro-gramação chamada Canta Noel. Elecanta Roberto Carlos, canta músicade Natal, músicas que tocam o cora-çãodaspessoas, que falamdeamiza-de, amore renovação.E reúnea famí-lia em torno de ummovimento quemuitas vezes omundo está pedindopara a gente não viver. Essas situa-ções estão se perdendo não só comas ações comerciais, mas até com oespaço dado para notícias ruins, tra-gédias, que, claro, acontecem e vãoser noticiadas. Mas porque a gentenãopodebuscarnotíciasboas?Essahistória toda que se confunde coma minha história é um dos poucoselos que eu tenho comaminha vidainfantil. Eu acreditei em Papai Noelaté 12 anos, batalhomuito para queas crianças continuem acreditandoaté os 12, mas é cada vez mais difí-cil.Omundoquer sermuitonuecru,muitoverdadeiro.Nãoestoudizendoque a gente não deve viver a verda-de, pelo contrário, mas não precisaser aquela coisa nua e crua, agressi-va, que invade a nossa tela da televi-são. Eu acreditei até 12 anos em Pa-pai Noel, quando descobri que nãoia ganhar a bicicleta que eu queria.Isso poderia ter me deixado magoa-do com essa figura mas, muito pelocontrário. Naquele momento eu en-tendi que oPapaiNoel seria uma for-madeacalmaromeucoração, eprin-cipalmente o coração do próximo. Éuma coisa demagia.

Quemnão acredita emPapaiNoel tambémaproveita?

Quando as crianças estão assis-tindo ao show, elas sabem que é um

cara de cabelo preto, que está vesti-do, maquiado, mas elas estão viven-do um sonho: estão vendo ele des-cer do céu, passar no rio de barco. Agrande repercussãoéessa, enãoé sóminha, é de um grupo enorme de ar-tistas que acredita que o resultado fi-nal é amemória coletiva abastecida.Imagineumacriançaquetinha1anoquandoeucomecei amevestirdePa-paiNoel. Se ela tinha1ano, comoéocasoda Julia,queénossaduendenosshows,hojeela tem16. Imagineoqueessacriançanão temdememóriadeverumPapaiNoelbonito, falandodonascimento de Jesus, falando de serbom, de carinho, de paz, de bonda-de,de renovação,doespíritodeNatal,de família, cantando sobre a paz. Al-guma coisa fica. Nossa contribuiçãotambém tem essa delicadeza.

Qual amaior dificuldade?Nesses anos todos muitas vezes

tivequecolocardinheiropróprio. Eunãoganhodinheirocomesseprojeto,eéalgoqueeuenfatizomuitoporque,de repente, tem gente que acha queeu ganho. Eu tenho uma empresa eé ela queme remunera. Temos omí-nimoparapagarosartistas,paraqueos showspossamser todosgratuitos.E tem, inclusive, muito a ver com oinvestimento público: nos últimoscinco anos houve um investimen-to muito grande por parte da Setur

(Secretaria de Turismo) para o nos-so projeto continuar existindo. Nopassado foi essa a grande dificulda-de queme fez pensar: ‘será que eu te-nho fôlego para continuar? Será queeu não estou dispendendo mais doque deveria, tirando da minha famí-lia, tirando de mim para poder colo-car numa coisa que já não émais sóminha, mas da cidade?’. Investi mui-to dinheiro e muita energia, e aindainvisto,mas fico satisfeitoporqueéaminha forma de me doar e ao mes-mo tempode conseguir umobjetivomaior, que éde transformarPiracica-ba de verdade numa cidade de turis-mo e cultura natalina.

A repercussão já extrapolaPiracicaba?

Nos últimos anos a gente temconseguido espaço junto a cidadesreconhecidamente natalinas, comoGramado (RS) e Penedo (RJ). E Pi-racicaba está lá, com o Papai Noelcantor, com a Setur e o turismo so-cial, com o Papai Noel no rio. A gen-te vem aos poucos conseguindo al-cançar esse objetivo de ser a cidadeque tem uma programação diferen-ciada de Natal, que não é aquele Pa-pai Noel que fica oito horas sentadonuma poltrona, recebendo criançaspara pedirempresente. Não é omeutrabalho. Elas não vão pedir presen-te para oPapaiNoel daCasadeNoel.Elas vão interagir comele, vão trocar.O presente está no palco, tocando, ocoraçãozinhodelas jáestápalpitante.Esse é o diferencial. A gente vem ten-do muita procura nesse ano de jor-naisdo interior inteiro, atédeoutrosEstados, programas de TV, amanhã(quinta-feira, 1º/12) vouaAparecidadoNortegravarumprograma.Naou-tra semanavouduasvezesaSãoPau-lo. Isso vai motivando a gente a per-ceberquetemumaevolução,porqueo trabalho é o mesmo. O que a gen-

te faz ano a ano é mudar repertório,criar novos textos, novas parcerias,mas várias nuances sãomantidas.

Como surgiu a campanhadoCentro deReabilitação?

O CRP tem uma grande dificul-dade, que na verdade não é só deles,mas das instituições do terceiro se-tor: ser conhecido da maneira cor-reta. A gente queria primeiro que onome fosse conhecido e que a insti-tuição tivessemaisaberturadasocie-dade para fazer seu trabalho, já quemais de 50% dos recursos mensaisvêmde vendas, arrecadações, rifas eummontedecoisaqueeles têmquefazer. É uma das instituições maisimportantes do interior paulista, elaatende próximo de 600 famílias, de-ficientes físicos, múltiplos e intelec-tuais; recebeatendidosatédeoutrascidades; é uma das pioneiras nessaárea. Nossa motivação foi trabalharcom o colocar-se no lugar dessaspessoas.A intençãoéquequemestávendo esses anúncios no Jornal dePiracicaba, que alavancou a cam-panha e é seu realizador, se coloqueno lugar, abra o coração para, a par-tir de agora, conhecer melhor o tra-balho. A ideia foi pegar pessoas quenão são deficientes e que têm algu-ma participação na comunidade, vá-riaspessoasque juntas formamumaamostragemsocial.Colocamosessas

pessoas emcadeiras de rodas ou emmuletas, dizendo exatamente o se-guinte: qual a diferença entre nós eessesdeficientes?Nenhuma,porquenós estamos lado a lado, nossa cabe-çaquercoisasparecidas,agentequerser feliz, e a instituiçãopromove isso.Quandovocêabre apágina temsem-pre um atendido do CRP e a pessoaque estava usando a muleta ou a ca-deira, empé.Éumaformadechamara atenção para uma instituição mui-to importante queprecisa do engaja-mento da sociedade para sobreviver,a exemplo da Associação SíndromedeDown, que acabou demudar seunome para Casa Pipa, depois de umdiagnóstico que fizemos, e tambémo instituto Rumo, formando junto àSocietà umgrupo de parceiros e pro-jetos de terceiro setor.

Éperceptível amaneiracomo você une a sua empresa eseus projetos pessoais...

Não vejo outra forma. O Brunoque estiver nopalco cantandocomoPapaiNoeléomesmoqueestánumareunião com uma grande empresa,uma grande indústria, que é o mes-moque vai a umaempresade varejo,uma loja. Qualquer que seja a açãodaminha vida, eu sou um só. E acre-dito que os profissionais que conse-guemunir isso tudo, trazer a famíliatambém para participar desses pro-cessos — meu filho vem toda terça--feira de manhã ficar comigo e ficaaqui acompanhandoomeudia, e eunão mudo a minha rotina. Eu achoimportante isso.Gostomuitodeunirmeus clientes, fazer com que um co-nheçaooutro,gostodessapromoçãodorelacionamentohumano,vejoqueisso é o que sobrevive, o que cristali-zaoamorpeloqueagente faz.Amoré a palavra, não tem como separar.E essa dedicação acaba se refletindonaturalmente na equipe.

Boas ideias emuita vontadeAo conhecer a história do publicitáriopiracicabano Bruno FernandesChamochumbi imagina-se que eletem muito mais do que 29 anosde idade. Ainda mais quandose caracteriza do personagemque hoje é indissociável de suapersonalidade: o Papai Noel,fantasia que veste para alegrarcrianças e adultos há 15 anos.

‘Acredito que (interpretar Papai Noel) é a forma deeu devolver para a cidade e para o mundo umpouco do que eu tenho recebido na minha vida’

Pauléo/JP

O Papai Noel e publicitário Bruno Chamochumbi