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Page 1: Bruno Chamochumbi no JP

PERSONAPiracicaba, 4 de dezembro de 2011 | CADERNO DE DOMINGO | 3

Iuri Botã[email protected]

Pai de Antonio e Eduardo, quenasce emmaio, o proprietáriodaMBMEscritório de Ideias é

o entrevistado desta semana da sé-rie Persona, na qual fala da trajetó-ria pessoal, que se confunde com aprofissional, da Casa de Noel e da re-cente campanha em parceria com oJP,OlheaSuaVolta, EstamosLadoaLado, emprol doCentrodeReabilita-ção de Piracicaba.

Sempre soubeque seriapublicitário?

Sempre. Todo mundo da minhafamília sempre foimuito ligado comarte,comcultura.Meuavôfoiumdosfundadores da Empem (Escola deMúsica de PiracicabaMaestro ErnstMahle), do Clube de Campo de Pira-cicaba, frequentava oClubeCoronelBarbosa. Minha mãe é de uma famí-lia de oito irmãos, e entre eles têmpintor, produtor cultural, músico, eisso, claro, estimuloumuito aminhavontade de trabalhar com criativida-de.Gostavadedesenho, teatro,músi-ca, e apartir dos14comecei aquererfazer alguma coisa. E sempre traba-lhei com coisas que tivessem a vercom comunicação, com criativida-de: fui monitor de recreação infantil,palhaçoemfesta infantil, distribuí fo-lhetonarua, fuipromotordeeventose até animador deplateia, sabe aque-les tipo Liminha (risos)? Aos poucosfui começando ame interessar espe-cificamente por propaganda, pormarketing, e essa área da pala-vra, porque sempre fui muitofalante. Um dos marcos daminha trajetória, sem dúvi-daéaCasadeNoel,porqueaos 14 anos eu comecei ame vestir de Papai Noel.

Lá eu aprendi a trabalhar comuma campanha publicitária, enten-di o que é assessoria de imprensa,promoção, divulgação: uma estraté-giadecomunicaçãonosentidomaisamplo da palavra.

Como foi ver na faculdadeaquilo que você já conhecia naprática?

Algumas divergências existem, eeu mudei muito a minha visão. Porummomento eu achava que a expe-riência, a prática, fossemsempreme-lhores. Mas é muito difícil você jul-gar isso, teoriaepráticaandammuitojuntas.Àsvezesumatraiaoutra,masgeralmente uma ajuda a outra. En-trei com19anos,deiumaparadapordois anos para trabalhar, nesse tem-pomeu filho nasceu e nesse períodofui trabalhar na Socieda-de Italiana (Società Ita-lianadiMutuoSoccorso),que para aminha pro-

fissão foimuito importante, foi umavitrine.Eutinha,naépoca,ocargodeagentecultural.Usei essapossibilida-de da comunicação e da estratégia,que hoje é omeu trabalho, lá. Desen-volvi projeto, desfile, jantar, show demúsica, apresentaçãoteatral, orques-tra, e depois a programação dos 100anos. Foram muitas atividades quemederamumabagagemparaconhe-cer essas sequências todas de açõesestratégicas. Depois voltei para a fa-culdade, me sentindo muito à von-tade lá, e conhecimuita gente legal.

Já pensava em ter suaprópria empresa?

Eu nunca pensei nisso, mas sem-pre tiveumcomportamentomaisau-tônomo, uma certa dificuldade paraficar preso em apenas uma situação,uma empresa ou uma ideia. E aí apa-receu a possibilidade de abrir a em-presa comumgrupodepessoas, e fa-zerprojetosdiferenteseraumacoisaque eu semprequis.Na faculdade eutinha que estudar, trabalhar, tinhaum filho pequeno, então tinha quetrabalhar à noite e nos fins de sema-naparadar contadosprojetos que agente começou a assumir. A propos-ta dela (MBM) não é ser uma agên-cia de propaganda— ela faz tam-bém essepapel

— mas a ideia é ser um escritóriode projetos de marketing e co-municação, que vira Escritório deIdeias. Quando me formei eu já ti-nha uma empresa.Em alguns mo-mentos, hoje, eu olho e vejo que fuiousado. Não é todo mundo que naminha idade teve esse peito de falar‘vou tentar, se der errado deu’. E eutenho muito essa coisa de não dei-xar a peteca cair, querer que o ne-gócio vá até o fim.

A ideia é ir além de fazerpropaganda, então?

Esse foi um conceito que eu ten-tei trabalhar tambémdentro dami-nhaprópria vivência. AMBMaindatem uma trajetória muito grandepela frente, mas a primeira etapaeu vejo que ela conseguiu vencer, oscinco anos críticos, né (risos)?Hojesomos 13 pessoas. As três cores danossa empresa resumem um pou-co até daminhahistória: o laranja éa comunicação criadora, o azul é aresponsabilidade naquilo que faze-mos, e o magenta é o amor e a pai-xão pelo que fazemos. Muita gentetem medo de usar essas palavrasnos seus negócios, mas eu dedicoamor e paixão aos meus negócios.Acho que tem sido umamarca nos-sa, as pessoas reconhecerem essecarisma, essa vontade de fazer di-reito, de forma ética, com respeito,com amor, com humanização, queeu acho umconceito importante, ecom sustentabilidade.

Hoje não dámaispara falar do Bruno

Chamochumbi semfalar do Papai Noel.O que acha disso?

Tem duas coisasque marcam muitoquando as pessoas fa-

lamdemim.Omeu sobre-nome, que eu achomuitoengraçado porque no co-meço as pessoas achamdifícil, mas é muito fácil,é com CH e se escreve do

jeito que se fala (risos); e essacoisa do Papai Noel, que ao lon-

go dos anos eu também fui acei-tando porque foi umacoisamuitonatural, eugosto de fazer. Acredi-to que é a forma de eudevolver para a cida-de e para o mundo umpouco do que eu tenho

recebido na minha vida.É uma forma de exercitar o lado ar-tístico e a responsabilidade social ecultural de forma verdadeira. Achomuito importante as pessoas quedão cesta básica, kit de Natal, ali-mentos, roupas, produtos de higie-ne pessoal, não só no fim do ano,mas durante o ano todo. Fazemações sociais em torno dos bens,que as pessoas realmente preci-sam. A pessoa precisa de uma rou-pa, precisa de comida, e não temdinheiro para comprar. Entenden-do isso e ao longo dos anos eu fuipercebendoque eupodiaparticipardessa entrega que as pessoas fazempelo próximo. E vejo que a minhaentrega, não sóminha,mas de todauma equipe, é dar a essas pessoasalgo que talvez seja mais complica-do de elas receberempor umaques-

tão até de logísti-c a : c omoq u e e udou amorpara você?

Como dou ale-gria? Como dou paz? Isso é muitosubjetivo.

Comocomeçou?A Casa de Noel é um projeto.

Ela foi escrita antes de ser executa-da e por isso conseguiu sair do pa-pel. Com a ideia no papel eu come-cei aconsultarosamigosqueachavaque tinhampotencial eumgrupodetrês amigos topou fazer comigo, noprimeiro ano, a Casa do Papai Noel,em 2000. Foram o Juliano, a Cristia-ne e oMaurício, a família Meneghel.Foi na ruaGovernador, umacasinhatoda decorada, e a proposta era fa-zer uma casa de Papai Noel. Desde1997 eu já fazia sozinho, na rua. Fuiao edifício Canadá, que num ano es-tava todo enfeitado, fui a bingos, fiztrabalho em lojas... Sabe aquele quedá balinha na porta? E aí eu percebique não era isso. Não queria ser essePapai Noel que vai à rua, mas o Pa-pai Noel que tem o lugar dele e queaspessoasvãovisitar, vãoverumpre-sépio... Em2001, repetimososucesso,mas aí na Società, e a partir de 2001,nãomudamosmaisde lugar, porqueé um centro cultural, tem um palco,no Centro. Ao longo dos anos ele co-meçoua sairdaSocietà, foi fazerpro-gramadeTV, virou cartão telefônicoda Telefonica.

Quando ele se tornoucantor?

A gente procurou um nicho nes-se trabalho, eneleoPapaiNoeloficial

dePiracicaba virou cantor. Ele cantacombandaouacompanhadodomú-sico Hermes Petrini, e faz as mensa-gensdepazpormeiodamúsica, issoapartirde2005,2006.Comaparceriada prefeitura, ele passou a fazer sho-ws itinerantes de Natal, numa pro-gramação chamada Canta Noel. Elecanta Roberto Carlos, canta músicade Natal, músicas que tocam o cora-çãodaspessoas, que falamdeamiza-de, amore renovação.E reúnea famí-lia em torno de ummovimento quemuitas vezes omundo está pedindopara a gente não viver. Essas situa-ções estão se perdendo não só comas ações comerciais, mas até com oespaço dado para notícias ruins, tra-gédias, que, claro, acontecem e vãoser noticiadas. Mas porque a gentenãopodebuscarnotíciasboas?Essahistória toda que se confunde coma minha história é um dos poucoselos que eu tenho comaminha vidainfantil. Eu acreditei em Papai Noelaté 12 anos, batalhomuito para queas crianças continuem acreditandoaté os 12, mas é cada vez mais difí-cil.Omundoquer sermuitonuecru,muitoverdadeiro.Nãoestoudizendoque a gente não deve viver a verda-de, pelo contrário, mas não precisaser aquela coisa nua e crua, agressi-va, que invade a nossa tela da televi-são. Eu acreditei até 12 anos em Pa-pai Noel, quando descobri que nãoia ganhar a bicicleta que eu queria.Isso poderia ter me deixado magoa-do com essa figura mas, muito pelocontrário. Naquele momento eu en-tendi que oPapaiNoel seria uma for-madeacalmaromeucoração, eprin-cipalmente o coração do próximo. Éuma coisa demagia.

Quemnão acredita emPapaiNoel tambémaproveita?

Quando as crianças estão assis-tindo ao show, elas sabem que é um

cara de cabelo preto, que está vesti-do, maquiado, mas elas estão viven-do um sonho: estão vendo ele des-cer do céu, passar no rio de barco. Agrande repercussãoéessa, enãoé sóminha, é de um grupo enorme de ar-tistas que acredita que o resultado fi-nal é amemória coletiva abastecida.Imagineumacriançaquetinha1anoquandoeucomecei amevestirdePa-paiNoel. Se ela tinha1ano, comoéocasoda Julia,queénossaduendenosshows,hojeela tem16. Imagineoqueessacriançanão temdememóriadeverumPapaiNoelbonito, falandodonascimento de Jesus, falando de serbom, de carinho, de paz, de bonda-de,de renovação,doespíritodeNatal,de família, cantando sobre a paz. Al-guma coisa fica. Nossa contribuiçãotambém tem essa delicadeza.

Qual amaior dificuldade?Nesses anos todos muitas vezes

tivequecolocardinheiropróprio. Eunãoganhodinheirocomesseprojeto,eéalgoqueeuenfatizomuitoporque,de repente, tem gente que acha queeu ganho. Eu tenho uma empresa eé ela queme remunera. Temos omí-nimoparapagarosartistas,paraqueos showspossamser todosgratuitos.E tem, inclusive, muito a ver com oinvestimento público: nos últimoscinco anos houve um investimen-to muito grande por parte da Setur

(Secretaria de Turismo) para o nos-so projeto continuar existindo. Nopassado foi essa a grande dificulda-de queme fez pensar: ‘será que eu te-nho fôlego para continuar? Será queeu não estou dispendendo mais doque deveria, tirando da minha famí-lia, tirando de mim para poder colo-car numa coisa que já não émais sóminha, mas da cidade?’. Investi mui-to dinheiro e muita energia, e aindainvisto,mas fico satisfeitoporqueéaminha forma de me doar e ao mes-mo tempode conseguir umobjetivomaior, que éde transformarPiracica-ba de verdade numa cidade de turis-mo e cultura natalina.

A repercussão já extrapolaPiracicaba?

Nos últimos anos a gente temconseguido espaço junto a cidadesreconhecidamente natalinas, comoGramado (RS) e Penedo (RJ). E Pi-racicaba está lá, com o Papai Noelcantor, com a Setur e o turismo so-cial, com o Papai Noel no rio. A gen-te vem aos poucos conseguindo al-cançar esse objetivo de ser a cidadeque tem uma programação diferen-ciada de Natal, que não é aquele Pa-pai Noel que fica oito horas sentadonuma poltrona, recebendo criançaspara pedirempresente. Não é omeutrabalho. Elas não vão pedir presen-te para oPapaiNoel daCasadeNoel.Elas vão interagir comele, vão trocar.O presente está no palco, tocando, ocoraçãozinhodelas jáestápalpitante.Esse é o diferencial. A gente vem ten-do muita procura nesse ano de jor-naisdo interior inteiro, atédeoutrosEstados, programas de TV, amanhã(quinta-feira, 1º/12) vouaAparecidadoNortegravarumprograma.Naou-tra semanavouduasvezesaSãoPau-lo. Isso vai motivando a gente a per-ceberquetemumaevolução,porqueo trabalho é o mesmo. O que a gen-

te faz ano a ano é mudar repertório,criar novos textos, novas parcerias,mas várias nuances sãomantidas.

Como surgiu a campanhadoCentro deReabilitação?

O CRP tem uma grande dificul-dade, que na verdade não é só deles,mas das instituições do terceiro se-tor: ser conhecido da maneira cor-reta. A gente queria primeiro que onome fosse conhecido e que a insti-tuição tivessemaisaberturadasocie-dade para fazer seu trabalho, já quemais de 50% dos recursos mensaisvêmde vendas, arrecadações, rifas eummontedecoisaqueeles têmquefazer. É uma das instituições maisimportantes do interior paulista, elaatende próximo de 600 famílias, de-ficientes físicos, múltiplos e intelec-tuais; recebeatendidosatédeoutrascidades; é uma das pioneiras nessaárea. Nossa motivação foi trabalharcom o colocar-se no lugar dessaspessoas.A intençãoéquequemestávendo esses anúncios no Jornal dePiracicaba, que alavancou a cam-panha e é seu realizador, se coloqueno lugar, abra o coração para, a par-tir de agora, conhecer melhor o tra-balho. A ideia foi pegar pessoas quenão são deficientes e que têm algu-ma participação na comunidade, vá-riaspessoasque juntas formamumaamostragemsocial.Colocamosessas

pessoas emcadeiras de rodas ou emmuletas, dizendo exatamente o se-guinte: qual a diferença entre nós eessesdeficientes?Nenhuma,porquenós estamos lado a lado, nossa cabe-çaquercoisasparecidas,agentequerser feliz, e a instituiçãopromove isso.Quandovocêabre apágina temsem-pre um atendido do CRP e a pessoaque estava usando a muleta ou a ca-deira, empé.Éumaformadechamara atenção para uma instituição mui-to importante queprecisa do engaja-mento da sociedade para sobreviver,a exemplo da Associação SíndromedeDown, que acabou demudar seunome para Casa Pipa, depois de umdiagnóstico que fizemos, e tambémo instituto Rumo, formando junto àSocietà umgrupo de parceiros e pro-jetos de terceiro setor.

Éperceptível amaneiracomo você une a sua empresa eseus projetos pessoais...

Não vejo outra forma. O Brunoque estiver nopalco cantandocomoPapaiNoeléomesmoqueestánumareunião com uma grande empresa,uma grande indústria, que é o mes-moque vai a umaempresade varejo,uma loja. Qualquer que seja a açãodaminha vida, eu sou um só. E acre-dito que os profissionais que conse-guemunir isso tudo, trazer a famíliatambém para participar desses pro-cessos — meu filho vem toda terça--feira de manhã ficar comigo e ficaaqui acompanhandoomeudia, e eunão mudo a minha rotina. Eu achoimportante isso.Gostomuitodeunirmeus clientes, fazer com que um co-nheçaooutro,gostodessapromoçãodorelacionamentohumano,vejoqueisso é o que sobrevive, o que cristali-zaoamorpeloqueagente faz.Amoré a palavra, não tem como separar.E essa dedicação acaba se refletindonaturalmente na equipe.

Boas ideias emuita vontadeAo conhecer a história do publicitáriopiracicabano Bruno FernandesChamochumbi imagina-se que eletem muito mais do que 29 anosde idade. Ainda mais quandose caracteriza do personagemque hoje é indissociável de suapersonalidade: o Papai Noel,fantasia que veste para alegrarcrianças e adultos há 15 anos.

‘Acredito que (interpretar Papai Noel) é a forma deeu devolver para a cidade e para o mundo umpouco do que eu tenho recebido na minha vida’

Pauléo/JP

O Papai Noel e publicitário Bruno Chamochumbi

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