bruno bedim mestrado ufmg turismo ibitipoca
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
INSTITUTO DE GEOCINCIAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA
Bruno Pereira Bedim
O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
Belo Horizonte
Fevereiro de 2008
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
BEDIM, B. P. DISSERTAO (MESTRADO GEOGRAFIA/ ORGANIZAO, GESTO E PRODUO DO ESPAO). BELO HORIZONTE: UFMG, 2008.
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Bruno Pereira Bedim
O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
Dissertao de Mestrado apresentada
ao Programa de Ps-Graduao em
Geografia da Universidade Federal
de Minas Gerais, como requisito
parcial obteno do ttulo de
Mestre.
rea de concentrao: Organizao, Gesto e Produo do Espao
Orientadora: Dr. Maria Aparecida dos Santos Tubaldini
Belo Horizonte
Instituto de Geocincias UFMG
Fevereiro de 2008
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
BEDIM, B. P. DISSERTAO (MESTRADO GEOGRAFIA/ ORGANIZAO, GESTO E PRODUO DO ESPAO). BELO HORIZONTE: UFMG, 2008.
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TTULO DA DISSERTACO APROVADA:
O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
BRUNO PEREIRA BEDIM (AUTOR)
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial obteno do ttulo de
Mestre.
rea de concentrao: Organizao, Gesto e Produo do Espao
Aprovada pela banca examinadora constituda pelos seguintes professores:
_______________________________________________________________________________________
Dr Maria Aparecida dos Santos Tubaldini (Orientadora)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
_______________________________________________________________________________________
Dr. Heber Eustquio de Paula
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
_______________________________________________________________________________________
Dr. Jacob Binsztok
Universidade Federal Fluminense (UFF)
_______________________________________________________________________________________
Dr. Bernardo Machado Gontijo
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Coordenador do Colegiado do Programa de Ps-Graduao: Dr. Srgio Manuel Merncio Martins
Belo Horizonte, 12 de fevereiro de 2008.
Instituto de Geocincias da UFMG Av. Antnio Carlos, 6.627 Campus Pampulha CEP 31270-901 Belo Horizonte (MG)
Colegiado de Ps-Graduao - Telefone (31) 3409-5404 - Fax 3409-5494 - Sala 3055 - Anexo do IGC
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
INSTITUTO DE GEOCINCIAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
BEDIM, B. P. DISSERTAO (MESTRADO GEOGRAFIA/ ORGANIZAO, GESTO E PRODUO DO ESPAO). BELO HORIZONTE: UFMG, 2008.
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B412p 2008
Bedim, Bruno Pereira.
O processo de interveno social do turismo na Serra de Ibitipoca (MG) [manuscrito]: simultneo e desigual, dilema campons no Paraso do Capital / Bruno Pereira Bedim. 2008.
xviii, 406 f. : il. mapas, fots, tabs color; enc.
Orientadora: Maria Aparecida dos Santos Tubaldini.
Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geocincias, 2008.
rea de concentrao: Organizao, Gesto e Produo do Espao.
Bibliografia: f. 377-397.
Inclui apndices.
1. Turismo Minas Gerais Teses. 2. Meio ambiente Minas Gerais Teses. 3. Serra do Ibitipoca (MG). Teses. 4. Parque Estadual do Ibitipoca (MG) Teses. 5. Camponeses Teses. 6. Cultura Teses. 7. Materialismo Dialtico Teses. I. Tubaldini, Maria Aparecida dos Santos. II. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geocincias, Departamento de Geografia. III.Ttulo.
CDU: 379.85(815.1)
DDEEDDIICCAATTRRIIAA
AArraaccyy,, ppeellaa ffaallttaa qquuee mmee ffaazz ee ppeellaa pprreesseennaa qquuee uumm ddiiaa mmee ffeezz..
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V699h 2006
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
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BEDIM, B. P. DISSERTAO (MESTRADO GEOGRAFIA/ ORGANIZAO, GESTO E PRODUO DO ESPAO). BELO HORIZONTE: UFMG, 2008.
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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS
Devo agradecer, primeiramente, a todos os entrevistados, em especial aos camponeses do entorno
do parque que to bem me acolheram em suas casas, compartilhando comigo o seu tempo, sua
comida, seus cafs e sua sabedoria.
minha famlia, por compreender os motivos de minha ausncia.
Aos amigos que me fizeram companhia durante a realizao de alguns trabalhos de campo:
Cidinha, Clia, Marcelo Terra, Gerson, Tom Carvalho e Flvio.
Maria Paula e rica, da Secretaria do Programa de Ps-Graduao.
queles que no agentam mais ouvir o Bruno falar nessa bendita Ibitipoca!
minha tia Clia por ter me acompanhado durante 12 dias no campo, perambulando comigo por
caminhos pouco conhecidos e por ter cozinhado to bem quando da nossa estada na Serra.
Ao professor Heber Eustquio de Paula, pelos esclarecimentos acerca do Materialismo Histrico.
Aos demais professores que lecionaram ou que interagiram comigo ao longo desse perodo de
pesquisa: Jos Antonio Souza de Deus, Klemens Laschefski, Andra Zhouri (Fafich), Anselmo
Alfredo (USP), Bernardo Gontijo, Karin e Marly Nogueira.
Aos colegas do IGC e do mestrado: Gisele, Roberta Raggi, Gerson, Maria das Graas Bibiano,
Leocdia, Virgnia, Frederico, Luciana, Lussandra, Rafael e Agostinho.
CAPES, pela concesso de bolsa e auxlio pesquisa.
ngela que, no mbito de nossas diferenas, travou comigo longos embates acerca do turismo.
Ao IEF, pela hospedagem no parque e por permitir o acesso aos arquivos, muito embora o projeto
de pesquisa licenciado evidenciasse que a histria oficial de criao do parque seria questionada.
Ao Paulo Roberto Rodrigues, por todo o apoio despendido quando da formatao dos mapas.
Ao amigo Miguel, por ter me auxiliado com sua arte nas apresentaes do power-point.
Aos primos Dores, Fabiano e Fernando, uma presena da famlia em Belo Horizonte.
A todos os ouvidos que aluguei nesse perodo e que sequer me lembro de quem (foram muitos...!).
E, finalmente, orientadora e amiga, Cidinha, por ter acreditado em mim desde o comeo, me
encorajando na ampliao do estudo e candidatura ao doutorado. Num momento em que muitos
duvidaram da exeqibilidade do projeto de pesquisa, ela reforou os crditos cientficos
depositados no escopo da proposta. No por acaso representa toda uma gerao de mulheres que se
dedicam s pesquisas da questo agrria no Brasil. Diferenas ideolgicas parte, ela soube
direcionar minhas energias ao trabalho construtivo.
Se a pesquisa tomou a dimenso que tem, foi porque pessoas respeitaram minha liberdade de
criao e pautaram suas crticas e recomendaes naquilo que deveria ser criticado e revisto.
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PPOORRQQUUSS DDOO CCAAPPIITTAALL
De lembrana um postal
Na bagagem um talvez
Fogo a lenha, que legal
Com cardpio em ingls
Quanto vale teu curral?
Dou-lhe duas, dou-lhe trs
Eu no vendo o milharal
Nem o vale dos ips
Tudo era to normal
At chegar a sua vez
Interveno social
Na fartura da escassez
Olha o reggae no seu quintal
O que foi que voc fez?
Explorao sem igual
Salrio no fim do ms
Tudo h nesse rural
At garom campons
Um hspede virtual
Pinga usque escocs
Pode acampar no matagal
Mas se caar, vai pro xadrez
Et ctera e tal
A mulher e seus crochs
Peles secas no varal
Sua grande pequenez
patrimnio cultural
Diferente de vocs
Sou roceiro capiau
Nesse mundo de clichs
Forasteiro capital
Empresrio e burgus
Deixei a terra natal
Pra viver na dmods
Vooroca cultural
Rastafri do fregus
Simultneo e desigual
O dilema campons
Paraso do Capital
Uma Serra e seus porqus. (BEDIM, B. P. Nov. 2007)
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SSUUMMRRIIOO
INTRODUO .................................................................................................................19
PPAARRTTEE II:: OO PPRROOCCEESSSSOO EE SSUUAASS IINNTTEERRFFAACCEESS TTEERRIICCAASS
1.1 Foras produtivas, espao e materialismo dialtico....................................................32
1.2 Simultneo e desigual: anatomia capitalista do processo.........................................37
1.3 Interfaces espao-temporais entre agricultura e turismo.............................................44
1.3.1 Imagens do Tempo.......................................................................................50
1.4 O turismo como metfora dos tempos modernos.....................................................58
1.4.1 Viagens no tempo.........................................................................................58
1.4.2 O tempo livre e a maquinaria das horas.....................................................65
1.4.3 O espao dos lazeres e o mundo da mercadoria........................................69
2.1 Conflitos no paraso do imaginrio ocidental..............................................................77
2.2 Viagens natureza da arte...........................................................................................85
2.3 Sinopse terica da experincia turstica em reas naturais protegidas........................86
2.4 Para alm da Unidade: o entorno rural de Unidades de Conservao......................88
2.5 Povos e Parques: a subverso histrica dos entornos..................................................91
2.4.1 O problema mora ao lado?...........................................................................91
2.6 Turismo, espao rural e mudana social.....................................................................98
2.6.1 (Re)Visitando os visitados..........................................................................103
2.7 Ethos da terra: o lugar histrico do campons no mundo moderno.......................107
2.7.1 O dilema conceitual das batatas...............................................................107
2.7.2 Modernos ou no, camponeses so............................................................115
CAP.1: METAMORFOSES NO TEMPO:
A HUMANA NATUREZA DA MATERIA EM MOVIMENTO
CAP.2 TURISMO E POPULAES RURAIS DO ENTORNO DE
UNIDADES DE CONSERVAO
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PPAARRTTEE IIII EENNTTEE EEMMPPRRIICCOO IIBBIITTIIPPOOCCAA::
OO EESSPPAAOO EETTNNOOGGRRFFIICCOO
3.1 Confrontaes da matria......................................................................................127
3.2 Os caminhos metodolgicos na Serra.......................................................................128
3.2.1 Amostragem, tratamento e coleta de dados...............................................134
4.1 Das razes histricas do povoamento agropecuria................................................141
4.2 Das relaes de produo baseadas em formas coercitivas ambguas......................155
4.2.1 Entre colonos, camaradas, fazendeiros e sitiantes......................................156
4.3 A cultura camponesa e suas representaes..............................................................162
4.3.1 A endogamia como estratgia patrimonial.................................................173
4.3.2 Jongo: o compasso da lavoura....................................................................175
4.3.3 A rvore dos sete cavaleiros.......................................................................183
4.3.4 A Encomendao das Almas......................................................................185
4.4 Entre mascates e expedicionrios, a construo histrica da hospitalidade..............187
4.5 A Serra Grande, seus mitos e ritos............................................................................191
4.5.1 Terra de Santo e Pastagem Comunal..........................................................191
4.5.2 Ibitipoca: altar natural.................................................................................194
4.5.3 Sobrenatural, do alto...................................................................................197
4.5.4 O tero de Santa Cruz.................................................................................198
CAP.3 METODOLOGIA
CAP.4 MEMRIAS DA SERRA GRANDE:
A VIDA RURAL EM IBITIPOCA ANTES DO TURISMO
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PPAARRTTEE IIIIII::
AA HHIISSTTRRIIAA DDOO EESSPPAAOO,, OO EESSPPAAOO DDAA HHIISSTTRRIIAA
5.1 A histria, ao contrrio do Parque, no criada por decreto....................................200
5.2 A razo alucinante do Ibitipoca: um projeto de sanatrio resulta
em Parque Estadual................................................................................................208
5.3 Anos 1950 e 60: o limiar de uma terra camponesa...................................................209
5.4 O conservadorismo poltico que subjaz criao do Parque....................................212
5.4.1 O parque como ativo econmico, nos iderios da poltica regional...........217
5.5 Terras para quem? Devolutas por qu?.....................................................................221
5.6 Preenchendo com turistas o lugar do campons........................................................231
5.6.1 Conflitos de uso, interesses conservados?..................................................233
5.6.2 A controversa primavera de Krieger..........................................................239
5.7 Uma terra de uso campons destinada aos turistas....................................................240
5.8 O silncio das pedras e o descompasso da lavoura...................................................248
PPAARRTTEE IIVV:: AA TTRRAANNSSIIOO
6.1 Representaes sobre a gnese do turismo na Serra.................................................252
6.1.1 Do enquadramento da memria, o turista pioneiro.................................258
6.2 A condio forasteira.................................................................................................261
6.2.1 O Movimento Fora-Forasteiro....................................................................270
6.2.2 O rtulo caipira: novas racionalidades, velhos estigmas............................281
6.3 A falta que o planejamento fez. A falta que o planejamento ainda faz.....................285
6.3.1 Um arraial em movimento..........................................................................288
6.3.2 O Plano Diretor que no viu o campons...................................................289
CAP.5 A EXPROPRIAO PELAS PEDRAS:
CRIAO E USO PBLICO DO PARQUE ESTADUAL DO IBITIPOCA
CAP.6 ALTERIDADES DISSONANTES:
A CHEGADA DO OUTSIDER AO RURAL-PARASO
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7.1 A reestruturao da esfera produtiva.........................................................................294
7.1.1 A transio do primrio ao tercirio e suas contradies...........................299
7.1.2 A dialtica das chuvas................................................................................308
7.2 Reminiscncias da terra.............................................................................................313
7.2.1 A famlia empreendedora e o turismo: o trabalho familiar
como estratgia de organizao da fora de trabalho................................314
7.3 Capital Alternativo; Alternativas do Capital.............................................................318
7.4 Trao e atrao pelos caminhos da roa..................................................................320
7.5 O DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL.......................................321
7.5.1 Da cerca ao cerco que cerceia.....................................................................322
7.5.2 O campons e as condies objetivas de sua existncia.............................323
7.5.3 Uma equao ecolgica, um processo econmico.....................................328
7.5.4 A grande ameaa no o pequeno agricultor.............................................337
7.5.5 Entorno do parque: a morada do campons................................................348
7.5.6 Preservar para produzir: o carter mimtico da renda territorial................349
7.5.7 No meio do caminho tem um milharal.
Tem um milharal no meio do caminho.......................................................354
7.6 Assimetrias do processo: a dialtica do destino.....................................................357
88 CCOONNSSIIDDEERRAAEESS FFIINNAAIISS......................................................................................364
99 RREEFFEERRNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRFFIICCAASS EE AARRQQUUIIVVSSTTIICCAASS
9.1 FONTES PRIMRIAS........................................................................................................................377
9.2 REFERNCIAS HISTRICAS SOBRE IBITIPOCA......................................................................380
9.3 ARTIGOS E/OU MATRIAS DE JORNAIS E REVISTAS.............................................................381
9.4 BIBLIOGRAFIA GERAL....................................................................................................................383
1100 AAPPNNDDIICCEESS
10.1Caracterizao fundiria e demogrfica das unidades camponesas amostradas.......398
10.2Relao consumidor/trabalhador por unidade camponesa de produo...................399
10.3Questionrios aplicados.............................................................................................400
1111 MMAAPPAASS..............................................................................................................................................407
CAP.7 DESTINOS DIALTICOS:
TURISMO, CULTURA E RESISTNCIA CAMPONESA NO ENTORNO DO
PARQUE ESTADUAL DO IBITIPOCA
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LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS
1 Populao do distrito de Conceio de Ibitipoca (1940-1960)....................................172
2 Fontes histricas indicativas da prtica de queimadas nas
pastagens da Serra de Ibitipoca (1822-2007).........................................................193
3 Documentos e/ou reportagens envolvendo interfaces do conflito entre uso turstico
do parque versus perspectivas preservacionistas de bilogos (1971-1992)...........238
4 Tempo de permanncia do turista em Ibitipoca (2005)................................................266
5 Freqncia de visitantes no PEIb (1995-2007)............................................................267
6 Estimativa da migrao rural-urbana no Brasil/ Projeo da populao virtual..........268
7 Local de origem dos visitantes do PEIb (2004/ 2005).................................................276
8 Dados Demogrficos Distrito de Conceio de Ibitipoca (1980-2005)....................285
9 Caracterizao do pessoal ocupado nos meios de hospedagem e
estabelecimentos comerciais amostrados em Ibitipoca (2007)..............................302
10 Ocupao profissional dos jovens que concluram o ensino mdio (2006)
na Escola Pblica de Conceio de Ibitipoca (MG)...............................................307
11 Nmero e Dimenso das Unidades Camponesas amostradas no entorno..................325
12 Usos da Terra por intervalo de classe fundiria entorno do PEIb (2007)...............334
13 Produo agrcola (milho e feijo crioulo, 2007).......................................................341
14 Equipamentos e tcnicas agropecurias/ Serra de Ibitipoca (2007)...........................342
15 Pecuria bovina, sunos e aves (2007)........................................................................344
16 Produo leiteira diria do efetivo pecurio (abril/maio/2007)..................................345
17 Elementos fundantes da contradio inerente reestruturao da esfera produtiva...363
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LLIISSTTAA DDEE GGRRFFIICCOOSS
1 Freqncia de Campistas e visitantes no PEIb (1988 1995).....................................263
2 Meses com Maior Pico de Visitao/ PEIb (1988 1995)..........................................264
3 Classificao percentual do uso total da terra no entorno do Parque...........................332
4 Classificao do uso da terra/ Classe fundiria 5 (36 a 40 ha).....................................333
5 8: Classificao do uso da terra por intervalos de classe fundiria
5 Categoria de uso da terra/ Pastagens artificiais................................................336
6 Categoria de uso da terra/ Lavoura...................................................................336
7 Categoria de uso da terra/ Mata e Capoeira......................................................336
8 Categoria de uso da terra/ Pastagens naturais...................................................336
LLIISSTTAA DDEE MMAAPPAASS
1 Localizao do Parque Estadual do Ibitipoca (MG) e o recorte espacial
do entorno estudado............................................................................................................407
2 Distribuio espacial das propriedades rurais amostradas no entorno
do Parque Estadual do Ibitipoca MG (2007)..................................................................408
3 Distribuio espacial dos meios de hospedagem e estabelecimentos
comerciais amostrados no entorno do Parque Estadual do Ibitipoca (2007).....................409
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LLIISSTTAA DDEE FFIIGGUURRAASS
Fig.1 Localizao do PEIb e municpios do entorno.........................................................26
Fig.2 Relgio equinocial...................................................................................................50
Fig.3 Viagens no tempo.....................................................................................................50
Fig.4 Roado de feijo-da-seca.........................................................................................50
Fig.5 O embarque para a Ilha de Ctera (1717).................................................................85
Fig.6 Festa num Parque (1720-21)....................................................................................85
Fig.7 A natureza da Serra e seus neomitos (2002)............................................................85
Fig.8 Mulheres de F.......................................................................................................186
Fig.9 Agricultores a batear ouro no Ribeiro do Salto (1912)........................................190
Fig.10 Runas da Capela do Pico do Pio.......................................................................194
Fig.11 O lugar do rito I/ Missa na Gruta dos Viajantes..................................................194
Fig.12 O lugar do rito II/ A Cruz, a visitante e os lquenes.............................................194
Fig.13 O Paredo de Santo Antonio................................................................................194
Fig.14 Morro do Cruzeiro, 1987: Ritual de soerguimento de uma nova cruz.................197
Fig.15 Morro do Cruzeiro, 2007: Prossegue a tradio..................................................197
Fig.16 O destino dos campos..........................................................................................207
Fig.17 A caminho da Serra (1927)..................................................................................220
Fig.18 Krieger em Ibitipoca: Expedies e atritos na memria......................................236
Fig.19 As flores da discrdia...........................................................................................239
Fig.20 Herbarium Kriegerianum.....................................................................................239
Fig.21 Conceio de Ibitipoca, 1987: o arraial como forma de organizao
espacial da vida camponesa.................................................................................288
Fig.22 Ibitipoca 2007: Qual Planejamento?....................................................................288
Fig.23 A Cachoeira dos Macacos e seus novos primatas............................................292
Fig.24 Hippies de mercado..............................................................................................318
Fig.25 Camping no pomar...............................................................................................318
Fig.26 Po-de-canela produzido em escala comercial....................................................318
Fig.27 Trao a quatro patas I.........................................................................................320
Fig.28 Trao a quatro patas II........................................................................................320
Fig.29 Trao a quatro patas III ......................................................................................320
Fig.30 Trao a quatro rodas...........................................................................................320
Fig.31 O vis econmico subjacente capoeira..............................................................328
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Fig.32 O verde que suprime a reproduo camponesa?..................................................328
Fig.33 Mquina a extrair areia para a construo civil...................................................337
Fig.34 Eucaliptais avanam sobre a Serra e j tangenciam a divisa do parque..............337
Fig.35 Mogol: cenrio para quem?.................................................................................337
Fig.36 Tpico moinho dgua/ entorno Sudeste..............................................................348
Fig.37 A morada.............................................................................................................348
Fig.38 A janela camponesa e o maior patrimnio da Serra............................................348
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LLIISSTTAA DDEE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS EE SSIIGGLLAASS
ALMG - Assemblia Legislativa de Minas Gerais
AMAI - Associao dos Moradores e Amigos de Conceio de Ibitipoca
APM - Arquivo Pblico Mineiro
APRAL - Associao dos Produtores Rurais de Andorinhas e So Jos dos Lopes
Art. - Artigo
C.I. - Conceio de Ibitipoca
BA - Bahia
Cf. - Conforme citao
CGG/MG - Comisso Geogrfica e Geolgica de Minas Gerais
DF - Distrito Federal
DNAE - Departamento Nacional de guas e Energia
DNER - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
Emater - Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (MG)
Embratur - Instituto Brasileiro de Turismo
ES - Esprito Santo
Fig. - Figura
FJP - Fundao Joo Pinheiro
Graf. - Grfico
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
IEF - Instituto Estadual de Florestas (MG)
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
JK - Juscelino Kubitschek
MG - Minas Gerais
OMT - Organizao Mundial de Turismo
PARNA - Parque Nacional
PE - Pernambuco
PEIb - Parque Estadual do Ibitipoca
Promata - Projeto de Proteo da Mata Atlntica (MG)
RJ - Rio de Janeiro
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservao
SP - So Paulo
UC - Unidade de Conservao da Natureza
UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
XIV
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
BEDIM, B. P. DISSERTAO (MESTRADO GEOGRAFIA/ ORGANIZAO, GESTO E PRODUO DO ESPAO). BELO HORIZONTE: UFMG, 2008.
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RREESSUUMMOO
Considerando a trajetria histrico-social de criao e uso pblico do Parque Estadual do Ibitipoca
(MG), a pesquisa discute a subseqente apropriao de seu entorno pelo turismo enfocando o
movimento processual de transformao das condies materiais de existncia humana na Serra de
Ibitipoca. Os aspectos discutidos esto ligados reestruturao da esfera produtiva, ao aumento da
complexidade da vida social com o advento do turismo e anlise das caractersticas atuais como
resultado de processos sincrnicos e diacrnicos de produo do espao analisado. Demonstra-se
como a perspectiva conservacionista do rgo gestor do parque (IEF/MG) contrasta com os
dilemas socioambientais do campesinato de seu entorno, produzindo discrepncias no prprio
processo histrico e social desenvolvido localmente.
No mbito da Economia Poltica, o tema central foca ainda a idia de simultaneidade e
desigualdade inerente s interaes entre foras produtivas e relaes de produo identificadas a
partir de dados empricos coletados no entorno do Parque. Tem-se o campesinato de Ibitipoca
enquanto grupo humano que se organiza para atingir a produo dos seus meios de vida, cuja
margem de lazer e cio contrasta com os usos e os sentidos do tempo caractersticos da lgica
produtiva incorporada pelo turismo. Num contexto em que a racionalidade do turismo passa a
conduzir o processo econmico na Serra de Ibitipoca, as outras formas de produo e de vida
tendem a ser desqualificadas. O mercado de trabalho ento se afirma como equalizador dos
conflitos sociais medida que o poder poltico redistribudo no processo. Sob as rubricas do
ecologicamente correto, tem-se o carter mimtico assumido pela renda da terra mediante a
inaugurao de novas modalidades de uso e ocupao do solo no entorno de Unidades de
Conservao. No obstante, a transio dos critrios de valorizao da terra suscita a humanizao
da natureza via a desumanizao do homem.
Coisificado pelos artifcios do capital que transformam a si prprio e o seu lugar em reles
mercadoria a ser fotografada e vendida aos turistas urbanos, o campons resiste e/ou se conforma
mediante o processo que lhe espreita. Empurrado para os bastidores da vida social, estabelece
novas estratgias de enfrentamento das circunstncias de vida no entorno do parque. O ethos da
terra (re) constri assim o espao de sua prpria diferena: o compartimento de um outro tempo
que se faz presente; a enunciao dos enigmas de um futuro incerto pois envolto pelos cercos e
desafios a um modo de vida confrontado pelos movimentos mais amplos de expanso do capital. O
turismo em Ibitipoca enuncia assim uma complexa transio entre o primrio e o tercirio que
mantm traos diacrnicos do modo de vida campons como algo funcional reproduo do
capital. A Ibitipoca atual teima em extrapolar os seus limites, articulando suas reminiscncias e
seus acrscimos, suas desigualdades e suas prprias contradies.
PPaallaavvrraass--cchhaavvee:: Turismo; Cultura Camponesa; Economia Poltica; Parque Estadual do
Ibitipoca; Materialismo Dialtico; Unidade de Conservao.
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
SIMULTNEO E DESIGUAL, DILEMA CAMPONS NO PARASO DO CAPITAL
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LLEE PPRROOCCEESSSSUUSS DDIINNTTEERRVVEENNTTIIOONN SSOOCCIIAALL DDUU TTOOUURRIISSMMEE DDAANNSS LLAA SSEERRRRAA DDEE IIBBIITTIIPPOOCCAA ::
SSIIMMUULLTTAANN EETT IINNGGAALL,, DDIILLEEMMMMEE CCAAMMPPAAGGNNAARRDD DDAANNSS LLEE PPAARRAADDIISS DDUU CCAAPPIITTAALL
RRSSUUMM
En considrant la trajectoire historique et sociale de cration et utilisation publique du Parque Estadual
do Ibitipoca (MG), la recherche discute la successif appropriation de son entour pour le tourisme en
prenant le mouvement processuel de transformation de conditions matrielles de existence humaine
dans la Serra de Ibitipoca. Les aspects discuts sont lis la restructuration de la sphre productive,
laugmentation de la complexit de la vie sociale avec lavnement du tourisme et lanalyse des
caractristiques actuelles comme rsultat des processus synchroniques et diachroniques de production
du lieu analyse. On dmontre comme la perspective conversationniste de lorgane gestionnaire du
parc (IEF/MG) contraste avec les dilemmes sociaux et de lambiance du campagnard de son entour, en
produisant des incohrences du processus historique et social dvelopp dans la localit.
Le sujet central phoque encore lide de simultanit et ingalit inhrente aux interactions entre les
forces productives et les relations de production identifis a partir des donnes empiriques collects
autour du Parc. On a le campagnard de Ibitipoca pendant groupe humain que se organise pour atteindre
la production des ses milieux de vie, dont marge de loisir et oisivet contraste avec les usages et les sens
du temps inhrents a la logique productive incorpore par le tourisme. Dans un contexte dans lequel la
rationalit du tourisme commence conduire le processus conomique dans la Serra de Ibitipoca, les
autres formes de production et de vie tendre tre disqualifis. Le march de travail alors saffirme
comme stabilisateur des conflits sociaux mesure que le pouvoir politique est redistribu dans le
processus. Sous la rubrique du cologiquement correct, on a le caractre mimtique assume par la
rente de la terre moyennant linauguration de nouvelles modalits dusage et occupation du sol dans
lentour des Units de Conservation. Toutefois, la transition des critres de valorisation de la terre
suscite lhumanisation de la nature par le moyen de la deshumanisation de lhomme.
Chosifi par les artifices du capital que se transforme et son lieu en maigre marchandise tre
photographi e vendue aux touristes urbains, le campagnard rsiste et/ou se conforme moyennant le
processus que est aux aguets. Impuls aux coulisses de la vie sociale, table nouvelles stratgies
daffrontement des circonstances de vie dans lentour du parc. Lethos de la terre (re) construit ainsi le
lieu de sa propre diffrence: le compartiment dun autre temps que se fait prsent; la nonciation des
nigmes dun futur incertain donc envelopp par les encerclements et dfis un moyen de vie
confronts par les mouvements plus amples de expansion du capital. Le tourisme Ibitipoca nonce
ainsi une transition complexe entre le primaire et le tertiaire que maintien traces diachroniques du
moyen de vie campagnard comme une chose fonctionnel reproduction do capital. LIbitipoca actuel
sentte en extrapoler ses limites, en articulant ses rminiscences et ses accroissements, ses ingalits et
ses propres contradictions.
MMoottss--ccllss:: Tourisme; Culture Campagnard; conomie Politique; Parque Estadual do Ibitipoca;
Matrialisme Dialectique; Unit de Conservation.
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
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AABBSSTTRRAACCTT
Considering the historical-social path of creation and public use of the Ibitipoca Park (MG -
Brazil), the research discusses the subsequent appropriation of surrounding by the tourism -
focusing the procedural movement of transformation of the material conditions of human existence
in the Ibitipoca Mountain. The discussed aspects are linked to the restructuring of the productive
sphere, to the increase of the complexity of the social life with the coming of the tourism and to the
analysis of the current characteristics as a result of synchronous processes and diachronic of
production of the space analyzed. It is demonstrated how the "conservationist" perspective of the
park managers (IEF/MG) contrasts with the socio-environmental dilemmas of the peasant of its
surrounding, producing discrepancies in the own historical and social process developed locally.
The central theme still focuses the simultaneity idea and inherent inequality to the interactions
between productive forces and identified production relationships starting from empirical data
collected in the park surrounding. The Ibitipocas peasant while a human group that organized
itself to reach the production of its life means, whose leisure margin contrasts with the uses and the
senses of the inherent time to the incorporate productive logic for the tourism. In a context that the
rationality of the tourism starts to drive the economical process in the Ibitipocas Mountain the
other production and way of life tend to be disqualified. The marketplace then is affirmed as social
conflicts equalizer while the political power is redistributed in the "process". Under the initials of
the "ecologically correct", the mimic aspect assumed by the earth income at meantime the opening
of new use modalities and occupation of the soil in surrounding of Conservation Units. In spite of,
the transition of the valorization criteria of the earth raises the humanization of the nature through
the man's inhuman.
Material value reduced for the artifices of the capital that transform itself and its place in common
merchandise to be photographed and sold to the urban tourists, the peasant resists and/or conforms
itself by the process that peeps them. Pushed for the back stages of the social life, it establishes new
strategies to faces the life circumstances in surrounding of the park. The ethos of the earth rebuilds
the space of its own difference: the compartment of another time that is made present; the
enunciation of the enigmas of a uncertain future because wrapped up for the fences and challenges
to a way of life confronted by the widest movements of the capital expansion. The tourism in
Ibitipoca enunciates a complex transition between the primary and the tertiary sector that maintains
diachronic lines in farmer's way of life as something functional to the capital reproduction. Current
Ibitipoca insist in extrapolating its limits, articulating its reminiscences and increments, its
inequalities and its own contradictions.
KKeeyywwoorrddss:: Tourism; Peasant Culture; Political Economy; Ibitipoca Park; Dialectic
Materialism; Conservation Unit.
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
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O turista chegou acabando, implantou outra criao, outro desenvolvimento popular no lugar. O povo
est usando muita droga, mudou tudo, no tem mais mutiro, no tem nada... nem gente pra trabalhar na roa mais no tem. O povo mudou pra cidade, civilizou, os mais velho esto acabando...
(Lavrador aposentado, 79).
A quer dizer que era um tipo de medo que o povo tinha mesmo, n? E era o turista... Tinha medo e vergonha de at informar as coisa pra eles. Porque nunca mexeu com aquele tipo de gente n, s
criado aqui no arraial, na roa, o povo fica meio acismado no fica? (Ajudante de servios gerais, 53).
Quando criou o parque, o povo chegou a achar bem ruim, n? Depois que criou que eles
anunciaram... A reao foi por conta do gado, pois ficou proibido pr o gado l e apanhar macela... logo o fiscal tomou a frente e disse que no podia apanhar, no podia deixar fogo, medo de fogo... A
Serra Grande fez falta, n, porque a gente cortava mouro, buscava carro de candeia, apanhava macela pra encher almofada e vendia at macela pra fora...
(Agricultora, 92).
Na lavoura no tem mo-de-obra, est sem custeio o stio. Depois que entrou esse turismo, tudo mudou.
Por exemplo, aqui tem muita terra pra vender: pedacinho, pedao... e os poderosos esto comprando
as terras. E o povo est s vendendo, s vendendo... porque no tem dinheiro. Est s bom pra vender, quando acha um que d valor. Mas como que eu vou mudar? Eu ainda no perdi a instruo da vida.
Se eu sair daqui eu morro, u... (Agricultor aposentado, 76).
Eu cheguei aqui eu nunca tinha visto um fogo a lenha pessoalmente, eu nunca tinha tocado num
cavalo... Tudo para mim era novidade, tudo era lindo, tudo era uma coisa completamente fora do que eu j tinha vivido. As pessoas eu achei de uma simplicidade... e tudo isso me comoveu muito. Voc
chegar na casa de no sei quem e senta, come uma broa, toma um caf... uma pessoa que nunca me viu na vida eu entrar na casa dela e ser recebida como uma rainha e sem ela saber quem eu era, de onde
eu vinha, se eu era do bem ou do mal...e l em So Paulo a gente anda to armado constantemente... E de repente eu me vi num lugar onde eu estava completamente desarmada, podendo ser o que eu de fato
era. Ento isso me encantou... (Turista paulistana,52, freqenta Ibitipoca h 33 anos).
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O PROCESSO DE INTERVENO SOCIAL DO TURISMO NA SERRA DE IBITIPOCA (MG):
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IINNTTRROODDUUOO
Ao longo dos ltimos 35 anos, mais de 200 pesquisas foram realizadas no Parque
Estadual de Ibitipoca: suas rochas, seu relevo, suas guas, seu clima e suas grutas vm
sendo incessantemente estudados. Da mesma forma, desde o sculo XIX, com o naturalista
francs Saint-Hilaire, um nmero considervel de pesquisadores ligados s cincias
biolgicas se propuseram a examinar a fauna e a flora deste que chegou a ser o 4 parque
mais visitado do Brasil1. Tais cientistas catalogaram, na Serra, centenas de espcies
animais e vegetais, estudaram o seu habitat, sua alimentao, seus sistemas reprodutivos,
etc. Porm, at o momento, nenhuma pesquisa em Ibitipoca teve o bicho-homem da
Serra como foco de anlise. Pouco se sabe sobre o campons que habita a Serra de
Ibitipoca: suas prticas culturais, o seu meio de vida, suas interaes ecossistmicas e suas
estratgias de reproduo social so, ainda hoje, desconhecidos (ignorados?) pelos
acadmicos e at mesmo pelos rgos pblicos.
Ocorre que a dinmica da funcionalizao econmica ao longo das trs ltimas
dcadas vem delineando a lgica da produo da no-existncia2 deste campesinato: com
o advento do turismo, convencionou-se que a reestruturao da esfera produtiva na Serra se
daria em bloco e que, inevitavelmente, as formas de ser e de viver deste grupo social
estariam fadadas a um fim.
E esses no so fatores naturais ou extra-humanos, mas questes que se impem
pelo e para o prprio homem que hoje habita o entorno do parque, desumanizando-o. O
enfrentamento das circunstncias de vida no entorno desta Unidade de Conservao
engendra assim estratgias de conformao e resistncia a emergir do tecido social. Na
1 Dados relativos ao ano de 2002, quando a visitao do parque registrou o pice de 51.521 pagantes. Aps a limitao do nmero de visitantes pela portaria n 36, de 03 de maro de 2003 (IEF/MG), este nmero decaiu
consideravelmente. Mesmo assim, o Ibitipoca ainda figurava, em 2007, entre os mais visitados do pas.
Apesar de ser um dos menores Parques de Minas em dimenso territorial, o mais visitado entre todos os
Parques Estaduais geridos pelo IEF, e ainda, o que atinge o maior preo dos ingressos cobrados na portaria.
Atualmente, a entrada individual chega a custar RS 15,00 por visitante nos fins de semana e feriados
prolongados o equivalente a US$ 8,42, quando da publicao desta pesquisa. No obstante, o preo do camping tambm o mais caro entre todos os parques do territrio mineiro a diria por pessoa custa R$ 20,00 (US$ 11,24). 2 A expresso ora utilizada advm das teorizaes de Souza Santos (2006), quando de sua crtica razo
metonmica.
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outra face do Janus3, insurge o turista enquanto ser humano reduzido quilo que ele pode
pagar. Sob as rubricas do ecologicamente correto, tem-se o visitante que, alienado de si,
amplifica a atribuio de sentidos ao Paraso do Capital.
Em certo sentido, a racionalidade hegemnica do trade turstico atualmente se
esfora para produzir a no-existncia daquilo que no compatvel sua funcionalidade
produtiva e ao seu tempo linear. Nas pginas seguintes, pelo menos, o campons de
Ibitipoca ter o seu espao, na qualidade de sujeito histrico do presente, com seus traos
de um passado que se faz presente, seus dilemas atuais e suas aspiraes para o futuro.
Nossos esforos convergem no sentido daquilo que Sousa Santos (2006) sinalizara
enquanto proposio acadmica: a pesquisa cientfica como instrumento para transformar
as ausncias em presenas. Com a palavra, o mestrando e os motivos que lhe suscitaram a
desenvolver seus estudos:
Nos ltimos 3 anos, a Serra de Ibitipoca, sua gente, seus (des) encantos e seus enigmas fizeram parte da minha vida. A trajetria de pesquisa teve incio quando
fiz um estgio curricular no parque e produzi uma monografia de graduao pela
UFOP. Curioso, ento procurei saber da histria desta Unidade de Conservao.
Foi quando percebi que as pesquisas, assim como as aes prioritrias que visam conservao ambiental, estavam circunscritas ao territrio do parque. Vasculhei
pilhas e pilhas de relatrios e publicaes, realizei entrevistas e observaes
sistemticas para ento concluir que muito se pesquisa sobre as caractersticas biofsicas de Ibitipoca, mas pouco ou nada se sabe sobre o bicho homem da Serra. O campo frtil para minha pesquisa no estava dentro do parque, mas no seu
entorno. Mesmo porque a populao do entorno, no passado, usava as terras que
hoje constituem o parque. Para o IEF, o problema do parque morava ao lado.
Para o campons, o parque era o grande problema. Ento eu no havia
procurado um ente emprico no lugar errado. O fator poltico da dissonncia que estava fora do lugar. A narrativa comeava ali no no parque, mas no que aquelas terras foram no passado: a Serra Grande. Um mesmo espao fsico, duas realidades distintas e distantes. A histria comeava
na transformao da Serra Grande em parque, na memria camponesa sobre o processo de criao do parque. At ento, submergiam no imaginrio local
representaes simblicas de um grupo social e seus cdigos distintos de
apropriao coletiva de uma poro de terras devolutas. Os arquivos oficiais do
Estado silenciaram por mais de 3 dcadas todo esse processo. Nesta epopia sem heris, ressurge uma tal Serra Grande que virou parque. Em Ibitipoca, o
homem rural simples retoma assim o seu lugar na histria.
(BEDIM, Bruno P. Dirio de Campo. Ibitipoca: 2005-2007).
Com a criao do parque e seu subseqente uso pblico via turismo, o campons
foi empurrado para os bastidores da vida social de Ibitipoca. Aos olhos do Estado e at
3 Janus, na mitologia greco-romana, o deus das transies sendo representado com duas cabeas voltadas para direes opostas, simbolizando as diferenas, o passado e o futuro, os trminos e os comeos. Tambm
associada a ele a mudana entre a vida primitiva e a civilizao, o campo e a cidade, etc.
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mesmo dos que se dizem planejadores tursticos, o campesinato de Ibitipoca uma
alternativa no-credvel do que existe, um fragmento da experincia social no socializado
pela racionalidade dominante que atualmente conduz o processo; um modo de ser e de
viver no entorno do parque que estrategicamente desqualificado e tornado invisvel.
No territrio circunscrito ao permetro do Parque Estadual do Ibitipoca, tem-se uma
efetiva contribuio do IEF no sentido de preservar, proteger, asilar exemplares da fauna e
da flora ameaados de extino. No entorno do parque, contudo, assiste-se ao exlio
involuntrio do bicho homem, o campons da Serra atingido por processos desumanos
que expropriam suas terras e/ou exploram sua fora de trabalho. Nos limites de um parque,
a voracidade ilimitada do capital se revela: a linha tnue do aceiro demarca tambm a
fronteira abstrata entre o que legal e o que justo. Pela humanizao da floresta, as vias
da contradio providenciam a desumanizao do homem.
Mutatis mutandis, o Parque Estadual do Ibitipoca um pedao de terra que subjaz
histria recente do Capitalismo sobre o planeta. a interveno da espcie humana sobre a
sua natureza externa a construir uma outra natureza, pretensamente conservada,
resguardada dos mecanismos destrutivos do capital. Basta lembrar que foi a explorao
econmica dos recursos naturais pelas sociedades modernas que suscitou mediante a
conjuntura capitalista que envolve a dominao racional do mundo natural o
avigoramento das demandas sociais pela criao de reas protegidas, as quais tm se
destacado enquanto estratgia de conservao dos patrimnios naturais, medida que os
principais ecossistemas do planeta encontravam-se ameaados.
Mas isso no evitou que as prprias Unidades de Conservao se configurassem
enquanto espaos-mercadoria e se inserissem na lgica de acumulao, tampouco que sua
composio enquanto categoria jurdica de organizao territorial desencadeasse processos
de expropriao e violncia simblica para com as populaes locais.
Um Parque aberto visitao pblica, em certo sentido, um espao organizado e
apropriado a partir de demandas externas a ele, articulando a si a lgica da simulao, um
espao diferenciadamente produzido para ser consumido sazonalmente pelo visitante. A
racionalidade do uso destes recursos naturais por populaes urbanas, subjugadas ao
modo de produo e s ideologias e aparatos polticos dominantes, engendram a
transformao das prticas sociais de apropriao da natureza. O Parque Estadual do
Ibitipoca, assim, incorpora o mimetismo inerente s sociedades capitalistas; ele um
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expoente contraditrio de um modo de produo que tem uma capacidade muito grande de
resistir e de se amoldar a diferentes situaes.
Os aspectos discutidos esto ligados reestruturao da esfera produtiva, ao
aumento da complexidade da vida social com o advento do turismo e anlise das
caractersticas atuais como resultado de processos sincrnicos e diacrnicos de produo
do espao analisado. A partir do momento que tais fatores so conhecidos, torna-se
possvel formatar instrumentos de planejamento que contribuam para a conservao da
natureza e das tradies culturais dos lugares, a melhoria da qualidade de vida dessas
populaes e a conteno do xodo rural.
Em Ibitipoca, nos deparamos com fragmentos de uma realidade rural que se
transforma: seus homens, suas mulheres, suas lutas, suas tcnicas e prticas culturais, suas
formas de resistncia e reproduo social num ocidente cada vez mais marcado por
fenmenos globais, tecnificaes, mudanas. Veremos tambm a emergncia do turismo a
inaugurar novas formas de intercmbio material entre o homem e a terra, j que sua prtica
altera substancialmente a interao natureza-homem, inserindo mudanas qualitativas ao
nvel das relaes de trabalho, tendo em vista que a natureza preservada um importante
atrativo turstico. Diante disso, assiste-se emergncia de uma nova forma de incorporao
do trabalho humano ao espao: a dimenso esttica da paisagem como fora produtiva.
O ethos campons, por sua vez, (re)constri na Serra o espao de sua prpria
diferena; o compartimento de um outro tempo que se faz presente; a enunciao dos
enigmas de um futuro incerto pois envolto pelos cercos e desafios de um modo de vida
confrontado aos movimentos mais amplos de expanso do capital. A noo de
conservao cultural, assim, insurge como demanda social dessa pesquisa, j que no
apenas registraremos aspectos culturais desse grupo social e suas respectivas prxis de
manejo dos recursos ambientais disponveis, como discutiremos, ao final, possveis
alternativas de permanncia dessa populao no campo e de conservao de suas tradies.
Mas como interpretar as transformaes observadas em Ibitipoca? O que tomar
como quadro de referncia? Como descrever e analisar as mudanas que o fenmeno
turstico confere ao lugar, compreendendo suas condies e antecedentes?
Primeiramente, no podemos pensar o turismo e a agricultura em Ibitipoca
isoladamente; seria um exerccio de arbitrariedade ignorar os contextos mais amplos da
sociedade em que o campons se insere mesmo porque os processos globais hoje
batem sua porta. Prope-se, ento, a uma anlise bipolar dos processos que permeiam a
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relao TURISMO/AGRICULTURA os impactos daquele sobre esta e vice-versa. No
nos questionamos apenas sobre como o turismo suprimiu a vida rural em Ibitipoca, mas,
sobretudo, em que medida o modo de vida campons impe limites expanso do turismo
na Serra. O pretenso Paraso do Capital sinaliza assim os seus limites e dissonncias.
No mesmo sentido, para no se reduzir as anlises a localismos, o enfoque da
problemtica deve partir tanto da anlise da dinmica interna da unidade de produo
familiar camponesa e seus reflexos no mundo exterior (do campons para fora) quanto
da incidncia do fenmeno interventor (turismo) sobre os camponeses (de fora para
dentro). Neste sentido, temos questes aparentemente locais inseridas e produzidas no e
pelo processo social que lhes d sentido.
A partir dessas consideraes, a presente pesquisa discute a transformao nas
condies da existncia humana na Serra de Ibitipoca a partir da anlise de 3 aspectos de
sua organizao: i) a reestruturao da esfera produtiva; ii) a chegada de novos atores
sociais; iii) os dilemas camponeses do presente. Para tanto, so comparados dois
momentos da dinmica socioeconmica antes e aps a criao do parque e do
subseqente advento do turismo na Serra. A partir desse pressuposto que so analisadas
as mudanas que o turismo confere ao lugar, em termos comparativos.
Sendo assim, sero diagnosticadas trajetrias e estratgias familiares face s
situaes de mudana a interconexo de casos aparentemente isolados de expropriao e
reestruturao fundiria; a interdependncia dos grupos conflitantes; a continuidade e/ou
ruptura na transmisso, ao longo das geraes, do patrimnio sociocultural que sustentava
a dinmica eminentemente agrria de outrora.
Nas ltimas dcadas, inmeras pesquisas se propuseram a apreender e interpretar
os significados econmicos das mltiplas funes que o fenmeno turstico vem
apresentando na contemporaneidade. Contudo, pouca ateno tem sido despendida para se
analisar os processos sociais desencadeados pelo turismo nos lugares rurais, medida que
seus desdobramentos sociais se expandem por territrios at ento voltados a funes
eminentemente agrcolas.
Considerando a trajetria histrico-social de implantao e uso pblico do Parque
Estadual do Ibitipoca, a pesquisa discute os subseqentes processos socioeconmicos
derivados da apropriao de seu entorno rural pelo turismo enfocando o movimento
processual de transformao de espaos at ento caracterizados por atividades agrcolas
de subsistncia e peculiares formas de organizao social. Partimos de uma anlise
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sincrnica (antes do turismo e a partir de sua gnese) e, sob a perspectiva processual, a
contextualizamos em termos diacrnicos, j que os arranjos atuais resultam de
movimentos que ocorreram no passado e que, apesar de no os vermos mais, esto
atuando sobre o fragmento da realidade que tomamos em separado para estudar.
O contexto socioeconmico da Serra de Ibitipoca comea a se redesenhar antes
mesmo da criao oficial do Parque Estadual do Ibitipoca em 1973 que, alis, se deu por
iniciativa exterior populao local. A notvel beleza cnica de suas paisagens aliada
riqueza histrico-cultural de seu territrio lhe conferem um grande potencial turstico, que
desde ento atrai milhares de visitantes anualmente. Por conseguinte, foi engendrada uma
srie de tenses estruturais no interior de um movimento processual de transformao
econmica e social.
Mas... que tipo de transformaes so essas e como podem ser explicadas? Em que
sentido e para quais grupos humanos se inclinam as mudanas observveis dessas
estruturas?
Contudo, no se trata aqui de apenas discutir as mudanas adaptativas que um
fenmeno social o turismo causa s populaes locais, mas de percorrer o caminho
oposto, conforme a proposta metodolgica levantada por Martins (1993, p.64), conferindo
aos camponeses em questo a condio de sujeitos do processo histrico e social o que
dispensa eventuais vitimizaes.
A pesquisa, a priori, parte de uma pesquisa etnogrfica no ncleo nativo,
enfocando o perodo que precedeu a criao do parque, levantando aspectos do modo de
vida campons, manifestaes culturais (mitos e ritos) e formas de organizao social
(regras de parentesco, formas solidrias de trabalho, relaes vicinais, etc.). A partir da,
discutiremos a estrutura diacrnica da mudana social provocada pelo turismo em
Ibitipoca, tendo em vista que todas as pocas esto encadeadas umas s outras, ligando o
estado presente (o que vemos, hoje) a todos aqueles que o precederam.
No captulo 4, as Memrias da Serra Grande revelam o campons como
experincia precursora a congregar formas de vida social e de organizao do espao;
sociabilidades pretritas que ainda se fazem presentes na trama social do entorno do
Parque Estadual do Ibitipoca. So expostos alguns espectros da agricultura camponesa
praticada em Ibitipoca enquanto expresso da vida de um grupo humano que estabelece
meios de manipulao da natureza de forma a alcanar a satisfao das necessidades
elementares sua existncia.
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O paradigma filosfico-metodolgico a nortear o estudo o materialismo dialtico,
tendo em vista o contexto de transformao dos meios de produo e a reconfigurao da
estrutura ocupacional na Serra de Ibitipoca4. a partir desses pressupostos que
reconstrumos, no captulo 5, a atmosfera social que envolve os usos da Serra Grande por
um dado grupo campons e seus cdigos distintos de apropriao coletiva da terra
recolocando na histria o papel do Estado como agente a intervir pela violncia simblica do
processo de criao do parque e do seu subseqente uso pblico (leia-se, explorao
econmica via turismo).
A criao do Parque do Ibitipoca fez-se pela interveno na trajetria de um grupo
social que viu as bases materiais de sua existncia ameaadas por agentes externos ao seu
mundo: a violncia simblica do Estado a preencher com turistas o lugar do
campons. Que contexto esse em que rvores e bichos so exaltados enquanto cones de
fetichizao do espao como mercadoria reprodutvel5, ao passo que o campons varrido
de sua terra como se fosse um bicho?
Sendo assim, a pesquisa traz, no captulo 7, a anlise dos processos que envolvem
a expropriaco de terras camponesas a partir de sua incorporao enquanto espao-
mercadoria a ser consumido na lgica de reproduo do capital. Fetichizado, despedaado
e vendido, o Paraso do Capital expe as chagas de um sistema que se apropria das
desigualdades do desenvolvimento para se reproduzir, submetendo o uso dos recursos
naturais aos termos da troca o paraso como um privilgio para quem pode pagar por
ele. Mas e o custo social desse processo? Quem paga?
Ao final do captulo 7, o supra-sumo do movimento de expanso do capital no
entorno do parque exposto a partir da constatao emprica da emergncia de uma nova
modalidade de uso e ocupao do solo no entorno de Unidades de Conservao no
Brasil, na forma peculiar assumida pelos processos recentes verificados no entorno do
4 Para Marx, ao produzir seus prprios meios de existncia, os homens produzem tambm as bases de sua
vida material. Da a modificao e produo dos espaos pelos homens no curso do movimento dialtico da histria, transformando a sua natureza exterior e a si prprios pelo intermdio de seu trabalho. Neste
contexto, as sucessivas interaes entre os sujeitos sociais e a natureza material do espao fazem com que
vida e coisa se confundam o prprio homem enquanto matria-espao em movimento. A produo do espao, por sua vez, transcende ao mero conceito clssico de produo, incorporando, segundo Lefebvre
(2006), produo e reproduo de relaes sociais. O exagero material, por vezes apropriado pelo marxismo vulgar, requer aqui um novo tratamento, e nele se incluem as relaes sociais como expoentes da
dimenso do uso. 5 Conforme lembra Martins (1996, p.44), se quisermos produzir conhecimento sobre o espao, no
poderemos faz-lo sem incorporar a anlise dos mecanismos perversos e excludentes do capitalismo e suas
respectivas contradies, tendo-se a forma mercadoria como metfora desta racionalidade sem nenhum compromisso que no seja o da valorizao das coisas pela desumanizao do homem.
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Parque Estadual do Ibitipoca: um grande grupo empresarial a constituir uma nova
forma de apropriao da renda da terra, imobilizando grandes extenses territoriais
e conservando os seus atributos ecolgicos como forma de lhes atribuir um
sobrevalor j que a natureza preservada atualmente se apresenta enquanto fora
produtiva em potencial. A (re)distribuio do custo social da renda da terra incorpora, aqui,
uma dimenso socioambiental que pode permitir ao capitalista a sua posteriori utilizao
enquanto reserva de valor.
A complexidade de tais problemticas, de fato, aponta inmeros temas a serem
explorados. Prope-se, contudo, a repensar as intervenes do fenmeno turstico nos
destinos visitados, recolocando os eventuais papis que as populaes locais e seus
respectivos meios de vida tm sobre a expanso do turismo pelos territrios e vice-versa.
Nesta perspectiva, torna-se oportuno delinear estudos que investiguem os desdobramentos
sociais dessa atividade em comunidades rurais6 receptoras, privilegiando-se o estudo do
turismo enquanto fenmeno sociocultural, enfocando aspectos como a relao entre os
visitantes e os visitados (populaes locais), bem como as conseqncias daqueles sobre
6 A expresso comunidade rural ora utilizada tem por base as reflexes de John Comerford (2005, p.112),
segundo o qual o termo se refere a um grupo que se organiza a partir de relaes de proximidade e solidariedade, em que sobressaem a importncia de parentesco, vizinhana, cooperao no trabalho e co-participao nas atividades ldico-religiosas caractersticas diagnosticadas em Ibitipoca MG.
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estas e vice-versa , a partir da idia de que as populaes afetadas impem limites e
obstculos ao desenvolvimento do turismo, medida que o processo econmico encontra
pela frente barreiras sociais e ideolgicas que conformam a reproduo do capital e as
relaes de poder dele originadas7.
Os desdobramentos sociais do turismo nos lugares no suscitam apenas problemas
histricos, a pesquisa de suas origens ou antecedentes. Em Ibitipoca, o fenmeno turstico
no define apenas a transformao social refletida em determinada poca e num dado
espao, mas uma dimenso que pertence reconstruo de um tempo histrico, um fator
inaugurador que implica no a ruptura do tempo presente, mas em continuidades
descontnuas; mudanas. Tem-se enquanto premissa o carter originalmente processual do
turismo, concebendo-o enquanto fenmeno que no se explica pela sua prpria
manifestao. Para entend-lo, faz-se necessrio analisar a partir de seu contedo e temas
especficos, olhar alm de um ambiente disciplinar particular.
numa construtiva sinergia interdisciplinar que a Sociologia, a Histria, a
Geografia, a Economia Poltica, a Antropologia e as Cincias Ambientais se encontram e
se complementam nesta dissertao. no alargamento dos horizontes cientficos que
buscamos subveno terica e emprica para a orientao prtica desta pesquisa; a
interpretao de um ente emprico no-planejado como forma de subsidiar o seu
planejamento futuro.
Neste percurso, a tentativa de se esquivar das frmulas e modismos acadmicos em
voga; a proposio da cincia em poesia como contraponto e complemento s
convencionais ladainhas acadmicas contemporneas. Cnscio de suas prprias limitaes,
este trabalho pretende traar uma narrativa cientfica sobre o real que incorpore a poeira
das estradas de cho de Ibitipoca ao invs de simplesmente juntar poeira nas prateleiras da
biblioteca universitria. Em ltima instncia, uma contribuio que, apesar de limitada,
traz um punhado de saber campons para se somar s mirades de teses e dissertaes.
Tudo porque a pesquisa transcorre s pretensas fronteiras da cincia para se juntar ao
cotidiano do homem do campo e traduzir em narrativa os fragmentos de seu mundo
prtico, objetivo a percepo camponesa sobre os fenmenos pesquisados como
possibilidade de compreenso do real; o valor heurstico do ethos da terra acumulado ao
longo das geraes. Ns, acadmicos, temos muito a aprender com eles. No podemos
nunca esquecer que a cincia apenas uma forma de apreenso da realidade. H outras.
7 Martins (1993, p.66).
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A chegada do outsider em Ibitipoca e a concomitante implementao do turismo na
regio implicam na reestruturao da esfera produtiva, indicando a gradativa ascenso a
um estgio no-agrcola, de prestao de servios pessoais, ao passo que resistem,
simultaneamente, reminiscncias das formas de vida social geradas num perodo anterior
constituindo, tais movimentos, uma mesma unidade, um mesmo processo, envolto pela
interconexo de individualidades histricas de expropriao e de interdependncia dos
grupos conflitantes. Essas constataes, de certa forma, remetem perspectiva lefebvriana
de embaralhamento do tempo na modernidade, conferindo aos fenmenos estudados a
qualidade de simultneos.
A gnese do turismo em Ibitipoca representa, em certo sentido, um ponto de
ruptura e um fator inaugurador em relao a um passado eminentemente campons que
se atualiza no presente. Tudo porque, no atual contexto turstico de Ibitipoca, assiste-se
permanncia (resistncia?) de estruturas sociais geradas num perodo anterior, notadamente
marcadas pelo modo de vida campons e suas variantes culturais e socioeconmicas. Tal
perspectiva diacrnica nos permite dilatar a viso dos fenmenos estudados, contrastando
aquilo que podemos observar em termos empricos com o prprio processo histrico e
social desenvolvimento localmente. este o principal enfoque do captulo 6.
O processo de interveno social do turismo em Ibitipoca desigual e combinado
no apenas porque ele no se d pelo princpio da igualdade, mas, sobretudo, porque o
mesmo no contradiz a lgica de reproduo do capital. As foras produtivas verificadas
na Serra no somente intervm como recriam modos de organizao social. Turismo e
Agricultura, enquanto esferas produtivas diferenciadas, suscitam a coexistncia, a
(des)integrao ou a superposio de distintas formas de relaes de produo,
engendrando e acentuando desigualdades a partir dos diferenciados ritmos de
desenvolvimento.
Nesta perspectiva, a desigualdade do desenvolvimento em Ibitipoca se apresenta
como funcional reproduo do capitalismo, uma vez que resguarda espaos para onde o
capital futuramente ter condies de se expandir e se valorizar. Talvez isso explique o
acentuado interesse de grandes empresas de construo pela aquisio de terras no entorno
do parque: medida compensatria ou capital especulativo? Em ambas as alternativas, o que
se v o carter subversivo da renda da terra a imobilizar uma parcela considervel
de recursos ambientais via monopolizao territorial.
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Nossos estudos indicam que o turismo, enquanto processo de interveno social,
produz seus efeitos no entorno do Parque Estadual do Ibitipoca, suprimindo as formas de
reproduo da vida rural, porm, sem destru-las. Ao contrrio, trava com elas relaes
contraditrias, j que a possibilidade histrica da existncia de enclaves camponeses
neste espao permeada por contradies internas do processo de sua prpria
transformao. Por conseguinte, tem-se um movimento gradativo de mudana social que se
traduz em estratgias familiares que mistificam formas de explorao do trabalho (ou
ausncia de), sem, contudo, extinguir as unidades familiares de produo mas sim
diversificando suas estratgias de reproduo social enquanto camponeses.
So essas as evidncias empricas que nos levam a conceber o turismo enquanto
processo de interveno social no-planejado e no-intencional, cuja manifestao subjaz
uma (des)ordem oculta a produzir conformaes especficas derivadas da ao social no
tempo estruturas intangveis ajustadas determinada poca e refletidas no espao que as
rebate. Depositam-se a o nosso esforo em captar e entender a complexidade do fenmeno
turstico e seus processos complementares, cuja dinmica ainda carece de investigao.
O interesse em focar o estudo nesse tema tambm surgiu com a necessidade de se
conhecer melhor a relao entre a criao de Unidades de Conservao e o processo de
transformao, pelo turismo, dos espaos rurais adjacentes a essas reas. Tendo em vista
que a bibliografia de pesquisas que contemplem abordagens socioantropolgicas
envolvendo turismo e populaes rurais apresenta-se incipiente no Brasil uma vez que o
objeto dos estudos tursticos est quase sempre centrado no turista e nos interesses da
indstria que vive das viagens8 prope-se um olhar dos indivduos visitados sobre os
processos em questo. Se h pouca reflexo terica acumulada sobre o assunto, traz-se um
estudo de caso que se abre realidade socioeconmica, levantando questes e
problematizando-as a partir da natureza trans-escalar dos fenmenos observados no
microcosmo social da Serra de Ibitipoca.
Ao intervir direta ou indiretamente nas dinmicas socioambientais de seu entorno,
as Unidades de Conservao representam muito mais do que simples categorias jurdicas
de organizao espacial sendo necessrio olhar para alm de suas fronteiras.
Compreender esses processos socioculturais desencadeados em espaos limtrofes s reas
naturais protegidas equivale a reconhec-las como fenmeno de cultura, fenmeno com
esprito social, cujo vis ambiental e econmico so to representativos quanto os demais
8 Krippendorf (2003, p.68).
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e cuja vertente funcional tende a transformar as suas adjacncias em territrios de lazer
socialmente construdos.
A partir do momento em que tais mecanismos de interveno so conhecidos,
podemos ampliar o entendimento sobre os fenmenos socioambientais e sobre as
sociedades que os produzem, aumentando o nosso poder de atuar sobre a realidade
ambiental atravs de aes que visem aos to anunciados princpios de sustentabilidade,
analisando-os, compreendendo-os e transformando-os no sentido da sua humanizao. O
conhecimento de tais processos pode ser extremamente til aos propsitos de se produzir
conhecimento em cincias humanas e sociais.
Paraso? Para quem? na efervescncia emprica de Ibitipoca onde a populao
local e o parque constituem-se estrangeiros entre si; em que o turista o estranho
elemento a intervir sobre espaos e culturas neste contexto que buscamos subsdio
emprico para o entendimento da transformao do cotidiano social incerto e, muitas vezes
perverso, ao qual esto submetidas as populaes locais impactadas pelo Turismo. E esse
no um contexto non sense, sem lgica. o mundo da lgica da contradio. Olhemos
para essas diferenas.
Nossa expectativa que este estudo se apresente enquanto modelo explicativo em
pequena escala como um paradigma emprico, pronto para ser testado, ampliado e, se
necessrio, revisto atravs de investigaes correlatas em maior escala. Dessa forma, os
resultados obtidos podero ser aplicados como gabarito a ser comparado a
configuraes9 mais complexas de outros estudos envolvendo a temtica em questo.
Nas pginas a seguir, nossos esforos de investigao tentaro captar e entender, de
forma mais aprofundada, como o campons vivencia essas estruturas, conformando-se e/ou
resistindo a elas; expressando suas vises de mundo; suas aspiraes e estratgias; sua
capacidade de adaptao face s novas formas de (re)produo ou sua marginalizao
nesse processo; o estabelecimento de novas redes de solidariedade e a construo de
alternativas de organizao da vida social.
Assim, a mudana enquanto processo se torna a preocupao terica e emprica
dominante na pesquisa. essa a contribuio limitada que apresentamos. Que este estudo
subsidie outros; e que esses outros discutam formas de se planejar o processo (ele
planejvel?), ou, ao menos, atenu-lo. isso o que nos move a olhar para a Serra de
Ibitipoca e ver ali a possibilidade de elevao fsica e espiritual do homem.
9 Neste sentido, ver Elias e Scotson (2000).
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PPAARRTTEE II::
OO PPRROOCCEESSSSOO EE SSUUAASS IINNTTEERRFFAACCEESS TTEERRIICCAASS
...as teorias dos tericos s revelam seu sentido (desde que o tenham) se encararam como tentativas ordenar o desordenado,
simplificar o complexo, destemporalizar o temporrio sendo o ordenado, o simples, o extra-temporal a teoria, e sendo o desordenado, o complexo, o ligado histria a experincia em
que eles, como os habitantes de seu tempo e lugar, esto imersos. Bauman, 1998, p.106.
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CCAAPP..11 MMEETTAAMMOORRFFOOSSEESS NNOO TTEEMMPPOO::
AA HHUUMMAANNAA NNAATTUURREEZZAA DDAA MMAATTRRIIAA EEMM MMOOVVIIMMEENNTTOO
A mudana pode operar-se em ns num ritmo lento, mas nem por isso menos contnua no tempo e no espao: todos envelhecemos cada vez mais, todos fazemos parte de uma sociedade em evoluo, e todos somos habitantes desta Terra que no pra de se mover.
Norbert Elias, 1897-1990.
11..11 FFOORRAASS PPRROODDUUTTIIVVAASS,, EESSPPAAOO EE MMAATTEERRIIAALLIISSMMOO DDIIAALLTTIICCOO
No curso da histria, a condio de heterotrofia da espcie humana a levou a
produzir os seus prprios meios de existncia, sua vida material propriamente dita. Tal
concepo histrica se fundamenta na modificao das bases materiais da natureza pela
ao do homem, levando-o a se distinguir das outras espcies animais. Esse entendimento
baseia-se nos escritos de Marx e Engels (1984, p.44) e comumente denominado de
materialista ou naturalista. A partir dessa acepo, tm-se duas metamorfoses que
definem a prpria histria: i) A transformao da natureza exterior pelo homem; ii) A
transformao do prprio homem pelo fato de ele criar suas prprias condies de
existncia transformando a natureza10
.
Os desdobramentos dessas relaes criadoras entre homem e natureza e a
subseqente transformao da prpria espcie humana no curso do tempo se d a partir de
um processo dialtico, (re)criador, j que o homem cria o seu meio para si ao recriar a si
mesmo. Essa dialtica da espcie natural traduz-se no reconhecimento, pelo homem, de
sua prpria essncia ao realizar as suas metas e materializ-las no espao que o cerca e
incorpora, produzindo-o e sendo produzido por ele. Por conseguinte, o fundamento da
histria o prprio homem, toda relao humana e toda atividade humana a prosseguir
com seus objetivos sobre a Terra.
10 ...a identidade entre o homem e a natureza aparece de modo a indicar que a relao limitada dos homens entre si condiciona a relao limitada dos homens com a natureza, exatamente porque a natureza ainda est
pouco modificada pela histria (MARX; ENGELS, 1984, p.44).
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Em suas prticas cotidianas, os diferentes indivduos e grupos humanos se
territorializam atravs de diversificadas formas de apropriao do espao social, de forma
simblica e/ou material. Segundo Halbwachs (1990, p.133), quando um grupo est
inserido numa parte do espao, ele a transforma sua imagem, ao mesmo tempo em que se
sujeita e se adapta s coisas materiais que a ele resistem. Assim, as sucessivas interaes
entre os sujeitos sociais e a natureza material do espao11
fazem com que vida e coisa se
confundam o prprio homem enquanto matria-espao em movimento. Nesse processo,
as experincias do indivduo influenciam a sua relao com o seu entorno material, tendo
em vista que as imagens habituais do mundo exterior so inseparveis do nosso eu. O
ambiente congrega, simultaneamente, a nossa marca e a marca dos outros que em algum
momento da histria compartilharam de determinado quadro espacial. Tais constataes
remetem hiptese de que a prxis humana, enquanto fenmeno individual e social,
contm linguagens especficas expressas na configurao espacial dos objetos que nos
cercam j que os diferentes cdigos culturais definem e so definidos pelas disposies
materiais do ambiente que nos envolve e do qual ns tambm somos parte.
Segundo Plekhanov (1977, p.77), na concepo moderna do materialismo dialtico
o estado