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BRUNO AUGUSTO GIACOMINI
DISTRIBUIÇÃO DO PADRÃO DE PISADA DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES DURANTE A CORRIDA
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
UNICID
SÃO PAULO
2014
BRUNO AUGUSTO GIACOMINI
DISTRIBUIÇÃO DO PADRÃO DE PISADA DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES DURANTE A CORRIDA
Área de concentração: Avaliação em Fisioterapia
Data da Defesa: 15/12/2014
Resultado: ____________________________________
COMISSÃO JULGADORA:
Prof. Dr. Alexandre Dias Lopes ___________________________
Profa. Dra. Paula Hentschel Lobo da Costa ___________________________
Profa Dra. Sandra Maria Sbeghen Ferreira de Freitas __________________________
Universidade Cidade de São Paulo (UNICID)
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Fisioterapia da Universidade
Cidade de São Paulo, como requisito
exigido para obtenção do título de Mestre
sob orientação do Prof. Dr. Alexandre Dias
Lopes.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: Contextualização ..................................................................................5
1.1 Revisão de Literatura .................................................................................................6
1.2 Referências...............................................................................................................13
CAPÍTULO 2: Distribuição do padrão de pisada de crianças e adolescentes
durante a corrida..........................................................................................................17
2.1 Resumo.....................................................................................................................18
2.2 Introdução .................................................................................................................19
2.3 Métodos ....................................................................................................................21
2.3.1 Tipo de estudo .......................................................................................................21
2.3.2 Locais......................................................................................................................21
2.3.3 Participantes ...........................................................................................................21
2.3.4 Faixas etárias .........................................................................................................23
2.3.5 Coleta de dados ......................................................................................................23
2.3.6 Análise de imagens ................................................................................................25
2.3.7 Análise estatística ..................................................................................................26
2.3.8 Cálculo amostral.....................................................................................................27
2.4 Resultados .................................................................................................................28
2.5 Discussão...................................................................................................................33
2.6 Conclusão...................................................................................................36
2.7 Referências Bibliográficas............................................................................37
17
-CAPÍTULO 1-
CONTEXTUALIZAÇÃO
18
1.1 REVISÃO DE LITERATURA
No Brasil e no mundo temos a cada ano que passa uma maior concentração de
adeptos da corrida de rua, estudo encomendado no ano de 2009, feito pela USP/FIA,
mostrou que cerca de 4 milhões de brasileiros são adeptos da corrida regularmente
(Osse, 2009). O grande crescimento do esporte também pode ser observado em outros
lugares do mundo. O número de participantes na maratona de Nova York, uma das mais
tradicionais provas de corrida de rua da atualidade, teve 14.546 participantes no ano de
1983, subindo para 31.791 em 1999 e mais de 47.000 em 2011 (Tam, Astephen Wilson,
Noakes, & Tucker, 2014).
A prática da corrida está diretamente ligada à procura de melhor qualidade de
vida, bem-estar, condicionamento físico e melhores condições de saúde. As
justificativas para o aumento da prática da corrida podem ser atribuídas ao seu baixo
custo e fácil execução. Porém, o número de lesões em corredores é relativamente alto.
As taxas de lesões entre corredores costumam ser bastante elevadas, variam entre 18,2%
a 92,4% (Bovens et al., 1989; Jakobsen, Kroner, Schmidt, & Jensen, 1989; Maughan &
Miller, 1983; Taunton et al., 2003; van Gent et al., 2007).
Diversos são os fatores que podem estar associados ao desenvolvimento de uma
lesão em praticantes de corrida (Nielsen, Nohr, Rasmussen, & Sorensen, 2013). Nos
últimos anos, um dos assuntos mais estudados quando se tenta identificar possíveis
fatores de risco associados à prática da corrida é a forma como corredores aterrissam o
pé no solo. Alguns autores têm preconizado que existe uma associação entre
desenvolvimento de lesões em praticantes de corrida e o padrão de pisada adotado
(Lieberman et al., 2010). Geralmente esses estudos discutem qual seria a melhor forma
de aterrissar o pé no solo (retropé, mediopé ou antepé) (Giandolini, Horvais, Farges,
Samozino, & Morin, 2013; Lieberman et al., 2010; Shih, Lin, & Shiang, 2013).
19
O padrão de pisada é diferenciado pelo contato inicial do pé com o solo. O
padrão de retropé é caracterizado quando a primeira parte a tocar o solo é a região do
calcanhar (1/3 posterior do pé); mediopé é caracterizado quando o pé toca inteiro no
solo (pé completo); e padrão antepé é caracterizado quando a primeira região a tocar o
solo é a região dos metatarsos ou a bola do pé (1/3 frontal do pé) (Lieberman et al.,
2010).
O modo como aterrissamos o pé com o solo pode interferir na maneira como
corremos, fatores encontrados em estudos demonstram que a diferença do contato do pé
com o solo em corredores antepé/mediopé é que eles teriam um comprimento de
passada menor, consequentemente uma frequência de passada maior e com uma menor
fase de apoio (De Wit, De Clercq, & Aerts, 2000).
Estudando o assunto encontramos uma grande dificuldade em encontrar estudos
com crianças e adolescentes, acreditamos que seja importante entender como eles pisam
ao longo do seu desenvolvimento para entender no futuro porque há uma predominância
de adultos correndo com o retropé. Até aonde sabemos os mecanismos de como a
corrida desenvolve ao longo do crescimento não foram afundo investigados, é o que
afirma um dos estudos mais citados (Schepens, Willems, & Cavagna, 1998). Não há um
consenso sobre qual seria a forma correta de correr; é possível, porém, encontrar na
literatura antigas fontes de livros ou artigos mostrando figuras sugeridas como
sequências ideais de desenvolvimento e padrões dos movimentos dos pés, pernas,
tronco, braços e cabeça (Gallahue, 2005).
A referência mais próxima ao nosso estudo que encontramos, data-se no início
dos anos 80 e analisou a cinemática e cinética do padrão de corrida de 26 crianças
divididas em três grupos (2, 4 e 6 anos de idade). Assim como vemos hoje, esse estudo
20
já alertava pela importância de analisar a corrida de crianças, não apenas a velocidade
ou ligada a outras modalidades. Em sua conclusão ele mostra as diferenças existentes
entre os 3 grupos, mas principalmente no contato inicial do pé com o solo, mostrando
uma maior quantidade de corredores retropés nos grupos 4 e 6 anos, comparado ao
grupo com 2 anos de idade (Fortney, 1983).
Estudos com crianças no início do processo de desenvolvimento da execução da
corrida são escassos. Em 1982, Gallahue – uma das referências muitas vezes utilizadas
na área de desenvolvimento motor – propôs que o processo de desenvolvimento ocorre
em torno de 2 anos de idade, enquanto a maioria dos estudos analisa a corrida a partir
dos 6 anos de idade, ou então na adolescência (Enke, Laskowski, & Thomsen, 2009;
Fourchet et al., 2012; Wolf et al., 2008). Esse desencontro de informações dificulta a
compreensão de como ocorre o processo de desenvolvimento motor relacionado à
prática da corrida.
O desenvolvimento motor é uma fase rápida e complexa do crescimento e
desenvolvimento humano. Aos dois anos de vida é o primeiro momento em que se pode
observar uma fase aérea (momento de ausência de apoio de ambos os pés), estágio
inicial do desenvolvimento. Entrando no estágio elementar aos 4 e 5 anos, há um maior
controle e coordenação dos movimentos fundamentais, os elementos temporais e
espaciais do movimento estão em desenvolvimento, porém os padrões de movimento
nesse estágio ainda se apresentam com aspectos restritos ou ampliando, entretanto com
melhor coordenação do que no estágio anterior (Gallahue, 2005).
Entre 6 e 7 anos já pode-se notar uma corrida mais madura, com desempenhos
mecanicamente eficientes, coordenados e controlados. A criança com idade entre 8 a 10
anos de idade passa de uma condição geral de aprendizagem à procura de formas mais
21
específicas para desenvolver o movimento – essa fase é conhecida como fase geral ou
transitória. Aos 11 anos de idade, a criança passa a um período de aplicação e, aos 14
anos de idade, observa-se o desenvolvimento motor completo das crianças (Gallahue,
2005).
Embora seja um período curto pelos aspectos citados anteriormente, esse
processo de desenvolvimento motor é bem complexo e pouco estudado até o momento.
Para Gallahue, a maturação não depende da puberdade; refere-se às mudanças
qualitativas que capacitam o organismo a progredir a níveis mais altos de
funcionamento e que, vista sob uma perspectiva biológica, é fundamentalmente inata,
ou seja, é geneticamente determinada e resistente à influência do meio ambiente (Filho,
1998).
O desenvolvimento das diferentes formas de velocidade está diretamente ligado
à maturidade e entende-se que está cada vez mais precoce. Podemos compreender que
esse processo de aprendizagem é cada vez mais curto e necessário, para que não resulte
em cada vez mais adultos sem todas as etapas do desenvolvimento concluídas (LRRd,
2010). Gallahue propõe que esse processo de aprendizagem é o ideal para que todas as
crianças e adolescentes se desenvolvam, porém nem todos o alcançam. Com isso, é
possível observar adultos com características elementares ou iniciais da corrida, o que
pode significar que não houve o amadurecimento pleno do aprendizado da corrida
(Gallahue, 2005).
Analisando o tipo de calçado, podemos dividir os tênis de corrida de forma
simples: calçados com elevação na região do calcanhar e calçados com a mesma altura
em todo o solado. Um estudo mostrou que, se nos readaptarmos a correr com calçado da
22
mesma altura de solado, o choque pode diminuir em 30% na região do calcanhar e em
12% de forma geral (Giandolini et al., 2013).
O melhor entendimento do desenvolvimento motor – assim como de que forma
o calçado pode influenciar a corrida de adultos – pode ser útil para melhor descrever a
aterrissagem do pé no solo em crianças e adolescentes. Atualmente, há uma grande
quantidade de crianças praticando atividade física no Mundo, sendo que a corrida faz
parte da maioria dos esportes praticados por elas e que o uso de um calçado
inapropriado pode causar uma série de desconfortos (Forrest, Dufek, & Mercer, 2012).
Comparando calçados infantis e calçados de adultos, encontramos um estudo
que analisou o tênis em duas versões, infantil e para adultos (Forrest et al., 2012). Esse
estudo concluiu que não houve diferença na força de impacto sofrida pelos
participantes. Porém, ao analisar os calçados, não conseguiram observar diferenças de
solado, salto, controle de estabilidade ou flexibilidade. A única diferença encontrada e
citada pelo estudo foi a borracha, cuja rigidez se apresentou maior no calçado para
adultos.
Em 2011, foi publicada uma revisão sistemática com metanálise sobre a
influência do calçado na marcha de crianças. Os autores concluíram que o uso do tênis
torna as passadas mais longas, causa diminuição dos movimentos dos pés e aumento da
fase de apoio com a diminuição da fase aérea e da utilização do padrão retropé durante
contato inicial do pé no solo (Wegener, Hunt, Vanwanseele, Burns, & Smith, 2011).
Em 2008, um estudo preocupado com deformidades que poderiam ocasionar aos
pés de crianças analisou sua caminhada em três condições: usando calçados
convencionais, calçados com maior flexibilidade e descalços. A conclusão foi a de que
23
calçados convencionais controlam movimentos fundamentais aos pés das crianças,
indicando o uso de calçados flexíveis (Wolf et al., 2008).
Com relação ao padrão de pisada de crianças e adolescentes, um estudo
publicado em 2013 verificou a influência do tênis durante a aterrissagem do pé no solo.
Os autores analisaram os participantes em duas condições (utilizando tênis e descalços)
e em três velocidades diferentes, sendo que esse estudo foi realizado em esteira. A
conclusão mostrou que, quanto menor a altura do tênis e maior a velocidade da corrida,
maior é a diminuição do padrão retropé e o aumento do padrão de mediopé e antepé
durante a aterrisagem do pé no solo (Mullen & Toby, 2013).
Diante de toda essa dificuldade de se encontrar informações sobre o
comportamento motor de crianças e adolescentes, decidimos realizar um estudo que
busca entender como ocorre a distribuição do padrão de contato do pé com o solo ao
longo do desenvolvimento motor da corrida, além de verificar se há uma diferença dos
resultados encontrados com adultos. Esse estudo pode beneficiar o entendimento sobre
o comportamento do desenvolvimento motor de crianças e adolescentes e os seus
aspectos biomecânicos, como aterrissagem do pé no solo, comprimento de passada,
velocidade e outros aspectos coletados nesse estudo.
Entender melhor o desenvolvimento do padrão de pisada pode ser útil para o
estudo de lesões na corrida, pois atualmente o padrão de pisada é considerado um fator
associado ao surgimento de lesões. Outra área que pode ser beneficiada com este estudo
é a Educação Física, já que o melhor entendimento do padrão de pisada pode trazer
recursos que auxiliem na elaboração de exercícios educativos visando ao melhor
desenvolvimento motor e, em adolescentes, de aspectos ligados ao treinamento. Este
24
estudo também pode trazer contribuições para a indústria de calçados infantis, pois
evidencia as diferenças do padrão de pisada entre adultos e crianças/adolescentes.
25
1.2 REFERÊNCIAS
Bovens, A. M., Janssen, G. M., Vermeer, H. G., Hoeberigs, J. H., Janssen, M. P., &
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29
-CAPÍTULO 2-
DISTRIBUIÇÃO DO PADRÃO DE PISADA DE CRIANÇAS
E ADOLESCENTES DURANTE A CORRIDA
30
2.1 RESUMO
A corrida de rua vem crescendo no Brasil e no mundo. Junto com o aumento no número
de participantes, ocorreu um aumento no número de lesões e, com isso, da pesquisa
sobre a incidência de lesões. Um dos temas mais pesquisados nos últimos anos na aérea
é como os praticantes de corrida aterrissam o pé no solo e se o calçado interfere nesse
movimento. A corrida faz parte das principais atividades físicas das crianças e
acreditamos que compreender como as mesmas aterrissam o pé no solo pode nos
fornecer informações para entendermos melhor o porquê de uma predominância de
adultos corredores com o padrão retropé. Este estudo buscou analisar, na aula de
Educação Física, como crianças e adolescentes aterrissam o pé no solo em duas
condições (calçados e descalços), considerando velocidade, comprimento de passada,
tipo de calçado e questionário. Tivemos um total de 415 participantes entre 3 e 14 anos
de idade de escolas públicas de Cubatão e uma escola particular de São Paulo. Todas as
faixas etárias apresentaram predominância do padrão de aterrissagem do pé com a
região do retropé. A análise multivariada mostrou que a condição de corrida (descalça
ou com tênis), velocidade da corrida, o tamanho do passo, escola avaliada e tipo de tênis
utilizado influenciaram o padrão de pisada adotado.
31
2.2 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, podemos identificar, assim como no mundo, um aumento da
procura pela corrida de rua no Brasil (Osse, 2009; Tam, Astephen Wilson, Noakes, &
Tucker, 2014). Essa busca está diretamente ligada à procura de melhor qualidade de
vida, bem-estar, condicionamento físico e melhores condições de saúde, além de aliar
baixo custo e fácil execução. No entanto, o número de lesões em corredores é
relativamente alto: as taxas variam entre 12% a 92% (Bovens et al., 1989; Jakobsen,
Kroner, Schmidt, & Jensen, 1989; Maughan & Miller, 1983; Taunton et al., 2003; van
Gent et al., 2007).
Diversos são os fatores que podem estar associados ao desenvolvimento de uma
lesão em praticantes de corrida. Entretanto, nos últimos anos, um dos assuntos mais
estudados é a forma que aterrissamos o pé no solo, geralmente classificada em retropé,
mediopé e antepé. Essas diferentes formas de aterrissar o pé no solo influenciam na
forma de correr e podem estar associadas ao surgimento de lesões. (Giandolini,
Horvais, Farges, Samozino, & Morin, 2013; Lieberman et al., 2010; Shih, Lin, &
Shiang, 2013).
Os estudos, contudo, limitam-se a adultos, sendo difícil encontrar referências
sobre o assunto em pesquisas conduzidas com crianças e adolescentes. Uma das
principais referências utilizadas atualmente, que aborda o assunto crescimento e
desenvolvimento humano, é uma fonte de mais de 30 anos. Essa referência divide o
desenvolvimento em seis fases (Gallahue, 2005).
O objetivo principal deste estudo é verificar qual o padrão de contato inicial do
pé com o solo em crianças e adolescentes durante a prática da corrida. Os objetivos
específicos deste estudo são de analisar se as diferenças no contato inicial do pé com o
32
solo estão associadas ao tipo de calçado utilizado, à velocidade de execução da corrida,
ao comprimento do passo e da perna, à altura, ao peso e ao nível de atividade física.
Compreender melhor a corrida de crianças e adolescentes através do
entendimento de como é a distribuição do padrão de pisada durante o desenvolvimento
da corrida em crianças é a principal motivação para a realização deste estudo. Nossa
hipótese é que existe diferença no padrão de pisada ao longo do crescimento e
desenvolvimento motor. O ser humano vai se adaptando a influências externas (tipo de
terreno onde a criança passa grande tempo do seu dia), aprendizado (aulas de Educação
Física), preferências (esportes que praticam), calçado (se passa grande parte do seu dia
calçado ou descalço) e aptidão física (se gosta ou não de atividade física) e desenvolve o
seu jeito de correr. Acreditamos que essas influências aumentem a quantidade de
corredores retropés, encontrando na fase adulta uma predominância de corredores com
esse perfil. Existem ainda outros fatores que podem influenciar o padrão de pisada,
como velocidade (quanto maior a velocidade, maior a quantidade de corredores
médio/antepés), comprimento da passada (quanto o comprimento da passada, maior a
quantidade de corredores retropés) e calçado utilizado (quanto maior a elevação na
região do calcanhar, maior a quantidade de corredores retropés).
33
2.3 MÉTODOS
2.3.1 Tipo de estudo
Estudo transversal descritivo da caracterização do padrão de contato inicial do
pé com o solo durante a corrida em duas populações de crianças e adolescentes.
2.3.2 Locais
O estudo foi realizado na Escola Pueri Domus, localizada na cidade de São
Paulo, que possui cinco unidades e um total aproximado de 2.000 alunos estudantes do
maternal I ao 9º ano do Ensino Fundamental; e nas Escolas Municipais da cidade de
Cubatão – União Municipal Estudantes Secundaristas (UMES) –, localizadas no centro
da cidade, sendo uma de Educação Infantil, uma de Ensino Fundamental I e outra de
Ensino Fundamental II, contabilizando a mesma quantidade de alunos que o Pueri
Domus. A autorização das escolas – assinada pela direção da Escola Experimental Pueri
Domus e da Prefeitura de Cubatão – permitia que a coleta de dados do estudo fosse feita
dentro das próprias instituições, utilizando os respectivos complexos esportivos. A pista
de 12 metros onde os alunos realizaram a corrida foi montada em um espaço nas
instalações das próprias escolas participantes. Durante toda a coleta dos dados, o
professor de Educação Física da escola esteve presente.
2.3.3 Participantes
Após a distribuição de aproximadamente 4.000 convites aos alunos do maternal
I ao 9º ano da Escola Experimental Pueri Domus e da União Municipal dos Estudantes
Secundaristas de Cubatão, 415 crianças participaram do estudo. A descrição dos
participantes está na Tabela 1. Todos os responsáveis legais pelos participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual declararam ter sido
34
informados e devidamente esclarecidos sobre os objetivos do estudo, as técnicas e
procedimentos realizados, e concordaram com a participação voluntária das crianças
pelas quais são responsáveis.
Tabela 1. Características dos participantes incluídos no estudo
Idade (anos) 9 (3.22)
Peso (kg) 32.97 (13.11)
Altura (cm) 1.33 (0.21)
Gênero Homens
Mulheres
52% (216)
48% (199)
Grupo Pueri Domus
Cubatão
54.2% (225)
45.8% (190)
Fases Fase 1 (3 anos)
Fase 2 (4 e 5 anos)
Fase 3 (6 e 7 anos)
Fase 4 (8 a 10 anos)
Fase 5 (11 a 13 anos)
Fase 6 (14 anos)
1.9% (8)
17.8% (74)
20.7% (86)
25.5% (106)
26.5% (110)
7.5% (31)
Os dados contínuos com distribuição normal são mostrados com um valor médio e desvio padrão.
Os dados categóricos são apresentados em porcentagem e número de participantes.
35
2.3.4 Faixas etárias
Para melhor análise dos dados, as crianças e adolescentes foram divididos em
seis fases que equivalem a duas partes da pirâmide de aprendizado motor: a do
movimento fundamental e amplo e a do começo da fase do movimento relacionado ao
esporte. Dentro da fase do movimento fundamental e amplo, temos o estágio inicial dos
2 aos 3 anos de idade (Fase 1), seguido do estágio elementar – entre 4 e 5 anos – (Fase
2) e, por fim, o estágio maduro, por volta dos 6 a 7 anos de idade (Fase 3). Após essa
primeira fase, temos um período transitório denominado de estágio geral, dos 8 até os
10 anos de idade (Fase 4). Por último, temos o específico ou de aplicação, dos 11 aos 13
anos de idade, (Fase 5) e o especializado ou permanente, a partir dos 14 anos (Fase 6).
2.3.5 Coleta de dados
Os participantes do estudo receberam previamente um questionário, que levaram
aos seus responsáveis legais e entregaram aos pesquisadores antes de participar do
estudo. No questionário, havia espaço para preencher com o peso e a altura e perguntas
de múltipla escolha relacionadas à prática esportiva da criança. Antes ou depois de
passar pelo trajeto, foi mensurado o comprimento da perna dos participantes para
posterior análise de cadência de corrida e dados adicionais (caso, por exemplo, os pais
não tivessem preenchido no questionário a altura e o peso de seu filho, estas foram
mensuradas pelo avaliador). O trajeto por onde os corredores passaram era uma espécie
de corredor criado nos locais de coleta, utilizando o próprio espaço da escola, onde os
alunos estão acostumados à prática esportiva. A câmera estava posicionada do lado
direito da pista. A coleta das imagens de cada participante foi adquirida em uma única
sessão; foram registradas seis corridas de todos os participantes de forma não
sequencial, sendo três delas utilizando calçado e três delas descalços – aleatorizadas
36
previamente. Não houve padronização da velocidade dos participantes durante a
avaliação, apenas uma orientação para que executassem a corrida da forma que
entendiam como a mais confortável. Para posterior análise, foi captada a velocidade dos
voluntários através de cronômetros ao longo dos 12 metros.
Para realização da avaliação do padrão de contato inicial do pé com o solo, foi
utilizada uma câmera de alta velocidade para capturar imagens dos participantes durante
a corrida. A câmera foi posicionada com um tripé a 15 cm do chão e a uma distância de
aproximadamente 150 cm da lateral do trajeto por onde passaram os corredores. A
captação das imagens dos membros inferiores apenas preservou a identidade dos
participantes (figura 1). A câmera possui frequência de aquisição de imagem de 300 Hz
e velocidade de disparo de 300.s-1
. Devido à grande variabilidade na corrida (por se
tratar de uma população em pleno desenvolvimento motor), decidimos que cada
participante realizaria três corridas em cada uma das condições (calçado e descalço),
tendo então seis corridas de cada participante.
37
Figura 1. Mapa de como foi feita a montagem da pista pela qual os alunos passavam
correndo.
2.3.6 Análise das imagens
As imagens do contato inicial do pé de todos os participantes do estudo com o
solo foram capturadas e posteriormente analisadas usando um programa de análise de
vídeo (Kinovea). As seis corridas de cada participante foram avaliadas por dois
examinadores. O padrão de contato inicial do pé com o solo foi definido de acordo com
qual área do pé toca inicialmente no solo e classificado da seguinte forma: padrão de
retropé, quando o corredor toca o solo primeiramente com terço posterior do pé, como
no toque do calcanhar; padrão de mediopé, quando o contato é feito com o terço médio
do pé; e padrão de antepé, quando a parte da frente do pé toca inicialmente o solo
(figura 2). Também foram avaliados cadência de passos (passos/minuto), comprimento
da passada (centímetros), altura (centímetros), comprimento da perna (centímetros),
38
velocidade (m/s) e o tipo de calçado (com elevação na região do calcanhar, sem
elevação na região do calcanhar e outros).
Figura 2. Análise de imagem feita por dois avaliadores independentes
2.3.7 Análise estatística
Para a descrição do padrão de aterrissagem da população durante a corrida e das
características dos participantes envolvidos no estudo, foi realizada uma análise
estatística descritiva, com distribuição de frequência simples e percentual. Já para
determinar possíveis associações entre o padrão de aterrissagem (variável dependente) e
característica pessoais (variáveis independentes) foi realizado, inicialmente, uma
regressão logística. Todas as análises das imagens e a classificação do tipo de
aterrissagem foram feitas por dois investigadores independentes. As concordâncias
intraobservador e interobservador serão determinadas através do índice do Coeficiente
de Kappa.
39
2.3.8 Cálculo amostral
Para a estimação da população a ser estudada, foi realizado um cálculo amostral
estimando uma proporção da população de 60% com retropé, com precisão absoluta de
10% e nível de significância de 5%, sendo sugeridos 92 participantes em cada uma das
seis faixas etárias (Lwanga, 1991).
40
2.4 RESULTADOS
Os resultados deste estudo demonstram a quantidade de participantes
distribuídos dentro dos seis grupos e nas duas condições (calçados e descalços), com
média de altura, peso, IMC (Índice de Massa Corpórea), comprimento de perna,
comprimento de passada e velocidade (tabela 2).
41
Tabela 2. Características dos participantes do estudo.
Altura Peso IMC Comprimento da perna
Perna Direita/Perna Esquerda
Comprimento da passada
Calçado/Descalço
Velocidade
Calçado/Descalço
Grupo 1 0,99 (0,05) 15,69 (2,68) 15,30 0,40 (0,01) 0,40 (0,01) 0,83 (0,08) 0,69 (0,01) 11,41 (0,67) 10,00 (0,63)
Grupo 2 1,08 (0,06) 19,88 (3,57) 12,86 0,53 (0,07) 0,53 (0,07) 0,87 (0,10) 0,82 (0,09) 13,32 (0,69) 12,43 (0,48)
Grupo 3 1,18 (0,09) 23,84 (4,60) 16,52 0,60 (0,06) 0,60 (0,06) 0,94 (0.13) 0,88 (0,10) 11,38 (0,66) 10,96 (0,67)
Grupo 4 1,35 (0,10) 33,43 (7,82) 18,11 0,69 (0,05) 0,69 (0,05) 1,02 (0,14) 0,99 (0,13) 10,09 (0,06) 9,51 (0,56)
Grupo 5 1,55 (0,09) 45,17 (9,09) 18,73 0,84 (0,06) 0,84 (0,06) 1,08 (0,18) 1,05 (0,17) 11,71 (0,06) 11,34 (0,40)
Grupo 6 1,60 (0,10) 52,33 (8,61) 20,31 0,88 (0,06) 0,88 (0,05) 1,11 (0,17) 1,01 (0,14) 11,56 (0,68) 11,06 (0,64)
Os dados contínuos com distribuição normal são mostrados com um valor médio e desvio padrão, e os dados contínuos com distribuição anormal são mostrados com valor médio e
intervalo interquartil. Altura, peso, perna direita, perna esquerda, comprimento da passada e velocidade apresentaram distribuição normal.
Para o cálculo do IMC foi utilizada uma calculadora específica. Com essa calculadora, foi possível identificar se o IMC está de acordo com a idade, e algumas faixas etárias estão fora
do normal.
Velocidade apresentada em km/h.
42
Na tabela 3 podemos analisar a distribuição do padrão de pisada dividida pelos
grupos e nas duas condições, calçado e descalço. Nove corridas com uso de calçado e
doze corridas descalças foram anuladas por ter sido impossível determinar o tipo de
pisada. Foram analisadas, no total, 1.236 corridas com o uso do calçado e 1.233
descalças.
Tabela 3. Análise do padrão de pisada
Calçado Descalço
Retropé Mediopé Antepé Retropé Mediopé Antepé
Grupo 1 83% (20) 0% (0) 17% (4) 46% (11) 42% (10) 12% (3)
Grupo 2 80% (174) 16% (35) 4% (9) 46% (102) 40% (88) 14% (30)
Grupo 3 70% (181) 18% (46) 12% (31) 40% (100) 35% (87) 25% (64)
Grupo 4 63% (200) 22% (70) 15% (47) 29% (90) 36% (113) 35% (112)
Grupo 5 74% (242) 12% (39) 14% (47) 51% (169) 25% (84) 24% (77)
Grupo 6 73% (66) 10% (9) 17% (16) 46% (43) 20% (19) 34% (31)
Os dados são apresentados em porcentagem e número de corridas.
Na tabela 4 estão inseridos os dados dos calçados utilizados pelos participantes
do estudo, divididos em tênis com elevação (calçados que continham amortecimento e
elevação no calcanhar em sua estrutura), tênis sem elevação (calçados que, ao contrário
dos calçados com elevação, não continham amortecimento nem diferença na elevação
do calcanhar) e outros para os demais calçados.
43
A tabela 5 apresenta os dados referentes à prática de atividade física além da
aula regular de Educação Física escolar. A porcentagem geral de prática e o tipo de
prática (escola de esporte ou treinamento de alguma modalidade específica) foram
apresentados. Na tabela 6 são apresentados os resultados da análise multivariada.
Tabela 4. Calçados utilizados pelos participantes do estudo.
Tênis com Elevação Tênis sem
Elevação
Outros
Grupo 1 75% (6) 25% (2) 0% (0)
Grupo 2 78% (54) 20% (15) 2% (1)
Grupo 3 56% (48) 44% (38) 0% (0)
Grupo 4 57% (60) 41% (44) 2% (2)
Grupo 5 34% (37) 60% (66) 3% (7)
Grupo 6 13% (4) 81% (25) 6% (2)
Os dados categóricos são mostrados com porcentagem e número de participantes.
44
Tabela 5. Prática de atividade física
Pratica atividade física?
Sim Não
Escola de Esportes ou treinamento?
Sim Não
Grupo 1 50% (4) 50% (4) 100% (8) 0% (0)
Grupo 2 30% (22) 70% (52) 100% (22) 0% (0)
Grupo 3 58% (50) 42% (36) 100% (50) 0% (0)
Grupo 4 64% (68) 36% (38) 96% (65) 4% (3)
Grupo 5 60% (66) 40% (44) 94% (62) 6% (4)
Grupo 6 55% (17) 45% (14) 82% (14) 18% (3)
Os dados categóricos são mostrados em porcentagem e número de participantes
Tabela 6. Análise multivariada tendo como variável dependente o padrão
de pisada retropé
Variável Odds Ratio Intervalo de Confiança 95%
Gênero 1,88 (1,34 – 2,62)
Condição descalço 3,15 (2,58 – 3,84)
Velocidade 1,61 (1,33 – 1,96)
Passo 1,03 (1,02 – 1,04)
Grupo 1,91 (1,33 – 2,72)
Tênis 1,44 (1,03 – 2,02)
45
As chances das participantes do estudo do sexo feminino aterrissarem o pé no
solo com o padrão retropé é 88% maior do que os participantes do sexo masculino.
Correr na condição descalça aumenta a chance em três vezes de se aterrissar o pé com a
região do retropé. O aumento da velocidade em uma unidade de m/s significa uma
chance 61% maior de aterrissar o pé com o padrão retropé. O aumento de 1 cm no
comprimento do passo, aumenta em 3% a chance de ser retropé. Na comparação entre
grupos, as crianças de Cubatão têm 91% de chances a mais do que as crianças do Pueri
Domus de correr retropé. Utilizar o tênis sem elevação na corrida diminui em 44% as
chances de correr retropé.
2.5 DISCUSSÃO
Os resultados encontrados nesse estudo demonstram como crianças e
adolescentes aterrissam o pé com o solo. Por se tratar de um estudo pioneiro com a
participação de 415 voluntários, no qual buscamos assegurar a análise de todos os
desfechos primários e secundários, no local que estão acostumados a praticar a atividade
física e por fim analisados por dois avaliadores independentes, nos proporciona
segurança para discutir os principais resultados desse estudo. Os principais resultados
encontrados nesse estudo foram, que todas as faixas etárias apresentaram predominância
do padrão de aterrissagem do pé com a região do retropé. A análise multivariada
mostrou que a condição de corrida (descalça ou com tênis), velocidade da corrida, o
tamanho do passo, escola avaliada e tipo de tênis utilizado influenciaram o padrão de
pisada adotado.
Após análise multivariada foi possível identificar que as chances de uma criança
ou adolescente correr com o contato inicial do pé retropé é três vezes maior na condição
46
descalço do que calçado. Temos duas hipóteses para esse resultado, a primeira seria que
por muitos não estarem com o padrão da corrida maduro, e sim em desenvolvimento, a
corrida ainda apresenta aspectos da marcha, na qual iniciamos a pisada com o calcanhar.
A segunda hipótese está associada aos aspectos da estrutura óssea, articular e muscular,
que por ainda não estarem completamente desenvolvidas, não apresentam força
(muscular) que permitam segurança para a criança adotar o padrão médio ou antepé,
quando correm descalças.
O estudo mais próximo ao nosso com crianças e adolescentes, analisou apenas
adolescentes entre 13 e 18 anos, sendo 6 meninas e 6 meninos em esteira, ao analisar a
corrida nas 3 condições (descalço, tênis com elevação e tênis sem elevação), percebeu
que nas corridas com calçado sem elevação e descalço, diminuía consideravelmente a
quantidade de corridas retropés (Mullen & Toby, 2013). Analisando os calçados, os
corredores que participaram do estudo com um calçado sem elevação na região do
calcanhar, obtiveram um resultado 44% menor de corrida retropé, comparado ao grupo
que utilizou o calçado com elevação no calcanhar, nos mostrando que um
amortecimento maior na região modifica a forma de correr (Mullen & Toby, 2013).
Quando realizamos a análise entre grupos, percebemos que os participantes do
Grupo Cubatão, apresentaram uma possibilidade 91% maior de correr retropé do que
um participante do Grupo Pueri Domus. Juntando os dois grupos e dividindo apenas
por gêneros, há uma possibilidade 88% maior das participantes do sexo feminino de
aterrissar o pé com a região do calcanhar durante a corrida, podemos entender que na
fase de desenvolvimento motor, meninas aterrissam 88% mais com a região do retropé
suas corridas, do que meninos. Nenhum dos estudos incluídos no nosso estudo com
47
crianças e adolescentes, realizou um análise entre gêneros ou grupos. Porém são
resultados que no mostram uma grande diferença, nos possibilitando um pensamento
que o meio pode interferir no padrão de pisada, assim como o gênero.
Encontramos dentro do nosso estudo uma diferença entre as corridas calçadas e
descalças analisando a velocidade e comprimento da passada. Para as duas variáveis a
corrida descalça mostrou resultados menores, porém o aumento da velocidade em uma
unidade de m/s significa uma chance 61% maior de aterrissar o pé com o padrão retropé
e estudos com adultos encontram que quando se aumenta a velocidade da corrida,
aumente também a possibilidade de aterrissar o pé com a região do antepé,
diferentemente do resultado encontrado nesse estudo com crianças e adolescentes. Um
estudo com adolescentes também encontrou em seus resultados, que quando
aumentamos a velocidade, encontramos uma maior quantidade de corredores retropés,
diferentemente desse estudo (Mullen & Toby, 2013). Todavia o aumento de um cm no
comprimento do passo aumentar em 3% a chance de ser retropé, repete o resultado
encontrado nos estudos com adultos.
Com esse estudo pretendemos contribuir com implicações práticas para a área de
crescimento e desenvolvimento motor, para estudos na área da corrida, para a indústria
de calçado e para profissionais da Educação Física (na elaboração de treinamentos,
exercícios educativos e intervenções biomecânicas), assim como Fisioterapeutas
(intervenção, prevenção e tratamento de lesões).
Dentro das limitações e sugestões para estudos futuros, entendemos que nesse
estudo não conseguimos ter o mesmo número de participantes para cada faixa etária.
Para cálculo de velocidade foi utilizado um cronômetro ao longo dos 12 metros. Para
48
estudos futuros acreditamos que um maior equilíbrio entre o número de participantes
por faixa etária, seja mais adequado, assim como para a velocidade um uso de
fotocélulas para o captar a velocidade apenas no local aonde está posicionada a câmera,
traga uma maior precisão da influência da velocidade no contato inicial do pé com o
solo.
2.6 CONCLUSÃO
Todas as faixas etárias apresentaram predominância do padrão de aterrissagem
do pé com a região do retropé. A análise multivariada mostrou que a condição de
corrida (descalça ou com tênis), velocidade da corrida, o tamanho do passo, escola
avaliada e tipo de tênis utilizado influenciaram o padrão de pisada adotado.
2.7 REFERÊNCIAS
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