brinquedoteca lei
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SEMINRIO NACIONAL
BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
Anais do Seminrio realizado no Auditrio Interlegis - Senado Federal - pela Comisso de Legislao Participativa da Cmara dos Deputados no dia 10 de agosto de 2005.
Centro de Documentao e Informao
Coordenao de Publicaes
BRASLIA - 2006
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Ao Parlamentarn. 338
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)Coordenao de Biblioteca. Seo de Catalogao.
Seminrio Nacional Brinquedoteca: a Importncia do Brinquedo na Sade e na Educao (2005 : Braslia, DF).
Seminrio Nacional Brinquedoteca: a Importncia do Brinquedo na Sade e na Educao. Braslia: Cmara dos Deputados, Coordenao de Publicaes, 2006.
132 p. (Srie ao parlamentar ; n. 338)
Anais do Seminrio realizado no Auditrio Interlegis - Senado Federal pela Comisso de Legislao Participativa da Cmara dos Deputados no dia 10 de agosto de 2005.
ISBN 85-7365-474-01. Brinquedoteca, congresso, Brasil. 2. Educao da criana, congresso, Brasil.
3. Sade infantil, congresso, Brasil. 4. Polticas pblicas, Brasil. I. Ttulo. II. Srie.
CDU 371.695(81)(061.3)
ISBN 85-7365-474-0
Capa: Akimi WatanabeProjeto grfico e diagramao: Ricardo Cayres
Cmara dos DeputadosCentro de Documentao e Informao - CEDICoordenao de PublicaesAnexo II - Trreo - Praa dos Trs PoderesBraslia - DF CEP 70160-900Telefone: (61) 3216-5802 Fax: (61) [email protected]
DIRETORIA LEGISLATIVADiretor AFRSIO VIEIRA LIMA FILHO
CENTRO DE DOCUMENTAO E INFORMAO - CEDIDiretor JORGE HENRIQUE CARTAXO
Diretor de Publicaes PEDRO NOLETO
DEPARTAMENTO DE COMISSESDiretor SILVIO AVELINO DA SILVA
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Sumrio
Membros da Comisso de Legislao Participativa CLP ................5Quadro Tcnico CLP ....................................................................................6Apresentao ....................................................................................................7Abertura ........................................................................................................... 11Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade1 Mesa de Debate: ..................................................................................... 39A Brinquedoteca no Processo Educacional2 Mesa de Debate: ..................................................................................... 67A Brinquedoteca na Promoo da Sade3 Mesa de Debate: ..................................................................................... 85Experincias no Uso de BrinquedotecasExpositores ...................................................................................................118Participantes ................................................................................................119Siglrio ...........................................................................................................129Anexo ..............................................................................................................132
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5MEMBROS DA COMISSO DELEGISLAO PARTICIPATIVA - CLP
52 Legislatura - 3 Sesso Legislativa - 2005
PRESIDENTE: FTIMA BEZERRA (PT)
1 VICE-PRESIDENTE: LEONARDO MONTEIRO (PT)
2 VICE-PRESIDENTE: SELMA SCHONS (PT)
3 VICE-PRESIDENTE: LUIZA ERUNDINA (PSB)
TITULARES SUPLENTESPT
FTIMA BEZERRA - RN IVO JOS - MG - VAGA DO PPSLEONARDO MONTEIRO - MGSELMA SCHONS - PR
ANA GUERRA - MGVADINHO BAIO - MG
PMDBALBRICO FILHO* - MAALMERINDA DE CARVALHO - RJWILSON SANTIAGO - PB
OLAVO CALHEIROS - AL
BLOCO PFL, PRONAVILMAR ROCHA - GO LAURA CARNEIRO - RJ
PSDBANTENOR NASPOLINI - CE
PPENIVALDO RIBEIRO - PBJOO LEO - BA
PTBPASTOR REINALDO - RS
PLJAIME MARTINS - MG
PPS(DEPUTADO DO PT OCUPA A VAGA)
PSBLUIZA ERUNDINA - SP
PSOLJOO ALFREDO - CE
* Membro da Comisso aps a realizao do Seminrio
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6QUADRO TCNICO - CLP
Ruy dos Santos Siqueira
Mirna de Castela Carvalho Pessoa
Amilcar Amaral Couto
Gilmar de Morais Bezerra
Mauro Cunha Batista de Deus
Eliana Teixeira Gaia
Hrica Pimentel Brito de Souza
Gilvan Mendes da Silva
Carlos Domingos Bimbato
Ana Ktia Martins Bertholdo
Akimi Watanabe
Admar Pires dos Santos
Eliana Navarro Garcia
Inaldo Barbosa Marinho Jnior
Jos Humberto de Almeida
Severino Carrera da Silva
Carlos Des Essarts
George Marcos de Aquino Freitas
Jos Augusto Barbosa de Pinho
Mrcia Abreu da Silva
Maria Aparecida Pres de Abreu
Maria de Jesus Amorim Farias
Marilda Vale da Silva
Maurcio Alves Dias
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Apresentao
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A realizao do Seminrio Nacional sobre Brinquedoteca: A Im-
portncia do Brinquedo na Sade e na Educao, em 10 de agosto
de 2005, sob a coordenao da Comisso de Legislao Participativa
da Cmara dos Deputados, foi um momento oportuno e singular
para o Parlamento Brasileiro, tendo em vista esta temtica estar cada
vez mais presente nas aes multidisciplinares das polticas pblicas
e gestes governamentais relativas criana.
A discusso sobre o papel da brinquedoteca no processo de for-
mao integral das crianas j ultrapassou os limites da fundamenta-
o terica e vem apresentando resultados surpreendentes nos pro-
cessos pedaggico e teraputico.
O debate revelou, de forma objetiva, aquilo que muitos educado-
res e profissionais da sade vm debatendo: a brincadeira no um
mero passatempo. Ao contrrio, todo ato de brincar e de envolver-se
com o brinquedo traz para a criana elementos simblicos e pedag-
gicos, elementos que podem ser libertrios e curativos.
A brinquedoteca tornou-se mais que depsito ou cantinho de
brinquedos. Transformou-se num espao de estimulao e desenvol-
vimento humano; num local onde as atividades vo se incorporando
ao processo de desenvolvimento integral da criana e, por que no
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8 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
pensar, do adulto, que por imposio do disciplinamento cultural,
perdeu seu estado ldico e o sentido do brincar.
As palestras apresentadas pelos expositores nos induzem a con-
cluir que a implantao de brinquedotecas nos espaos pblicos
deveria ser uma das metas prioritrias de governantes municipais,
estaduais e federal.
Como educadora, estou convicta de que urge a necessidade de
recuperarmos o ato natural de brincar como contraponto ao proces-
so de industrializao e at mesmo de midiatizao do brinquedo,
que no decorrer do tempo vem tentando suplementar os potenciais
criativo, espontneo e ldico, to determinantes na infncia do ser
humano.
A despeito do nosso raciocnio, entendo que promover uma po-
ltica de implementao de brinquedoteca no Pas tornou-se impres-
cindvel, uma vez que a vida moderna (e urbana) nos aponta uma
tendncia, em escala crescente, de um processo de privatizao do
lazer pblico, restrito na maioria das vezes a uma pequena parcela da
sociedade brasileira.
Brincar no pode ser uma atividade humana considerada supr-
flua, mas um direito da criana. Brincar coisa sria, pois na brinca-
deira o ser humano se constri, se elabora e se forma.
Os valores pedaggico, psicolgico e teraputico adquiridos pe-
las crianas mediante a vivncia com o ldico incontestvel, prin-
cipalmente quando se sabe que o envolvimento com os brinquedos
criativos um bom investimento da sociedade em termos de poltica
educacional e de sade pblica.
As pesquisas so irrefutveis sobre os benefcios que os brin-
quedos trazem para o processo pedaggico e teraputico das nossas
crianas. O corpo profissional da rea de educao e sade que viven-
cia essa realidade tem a oportunidade de desconstruir seus valores
existenciais a partir de suas prprias experincias com as crianas.
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Apresentao 9
Em um pas como o Brasil, de profundas desigualdades sociais,
a instalao de brinquedotecas abre novas fronteiras e perspectivas
s crianas pobres, permitindo que tenham acesso a brinquedos e a
espaos para brincar.
No tenho a menor dvida de que brincar um conhecer a si
mesmo e aos outros. De que brincar dialogar e partilhar; curar a
alma e o corpo ferido; criar e tambm recriar.
Sendo um ato que subverte a lgica de uma sociedade cartesiana
e que mexe com a imaginao e criao humana, infelizmente, ainda
h setores dominantes das sociedades modernas que tentam restrin-
gir s nossas crianas o direito de brincar, dada a sua potencialidade
de ultrapassar as barreiras da vida programada, sobretudo monitora-
da pela ideologia do disciplinamento do corpo e do tempo.
Assim, quando se incorporam os brinquedos e as brincadeiras na
cotidianidade da vida de nossas crianas, pode-se afirmar que o ato
de brincar promove o processo de humanizao da vida e preserva a
identidade cultural da sociedade.
A realizao deste Seminrio propiciou ao Colegiado desta Co-
misso um bom momento para reflexo acerca da importncia de se
brincar e do papel da brinquedoteca como instrumento importante
na formao da personalidade humana.
Deputada Ftima BezerraPresidente da Comisso de Legislao Participativa
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11
O SR. APRESENTADOR - Tem incio neste momento a cerim-
nia de abertura do Seminrio Nacional Brinquedoteca: a Importncia
do Brinquedo na Sade e na Educao, uma realizao da Comisso
de Legislao Participativa da Cmara dos Deputados.
O evento reunir especialistas e entidades para debater a utiliza-
o da pedagogia e terapia do brinquedo no cotidiano do aprendiza-
do, bem como a humanizao dos mtodos de tratamento da sade.
Registramos a presena e colaborao do Sr. Fernando An-
tnio de Almeida, da Tiquinho Brinquedos Inteligentes, que dis-
ponibilizou, sem nus, os brinquedos para a exposio durante
o evento; e do Dr. Cludio Ricardo Chaves Morais, participante
da Associao dos Voluntrios do Hospital da Universidade de
Da esquerda para a direita: Dr. Druzio Viegas, Deputada Luiza Erundina (3a Vice-Presidente), Deputado Leonardo Monteiro (1o Vice-Presidente) e Profa. Nylse Helena da Silva Cunha
Foto
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AberturaPainel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade
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12 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
Braslia, que far um relato de sua experincia no SOS Alegria, no
encerramento deste evento.
Neste momento, anunciamos a composio da Mesa de Hon-
ra: o Exmo. Sr. Deputado Leonardo Monteiro, 1 Vice-Presidente da
Comisso de Legislao Participativa da Cmara dos Deputados,
representando neste ato a Exma. Sra. Deputada Ftima Bezerra, Pre-
sidente da Comisso; a Exma. Sra. Deputada Luiza Erundina, 3 Vice-
Presidente da Comisso de Legislao Participativa da Cmara dos
Deputados e idealizadora deste evento; a Profa. Nylse Helena da Silva
Cunha, Presidente da Associao Brasileira de Brinquedotecas; o Sr.
Druzio Viegas, Prof. Titular de Pediatria e Puericultura da Faculda-
de de Medicina da Fundao do ABC.
Convidamos todos para, de p, ouvirmos o Hino Nacional.
O SR. APRESENTADOR - Este seminrio tem como obje-
tivo discutir o tema sob seus vrios ngulos e a troca de ex-
perincias entre especialistas das diferentes reas de atuao
interessados no uso da brinquedoteca como instrumento de
desenvolvimento humano e de formao de conscincia ldica
como atitude existencial.
Para abrir oficialmente este evento, concedo a palavra ao Exmo.
Sr. Deputado Leonardo Monteiro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Leonardo Monteiro) - Sado a
Deputada Luiza Erundina, 3 Vice-Presidente da Comisso de Legis-
lao Participativa; o Deputado Antenor Naspolini, membro desta
Comisso; a Profa. Arlete Leo; e os nossos palestrantes, Sra. Nylse
Helena Cunha, representante da Associao Brasileira de Brinque-
dotecas, Dr. Druzio Viegas, Prof. Titular de Pediatria da Faculdade
de Medicina do ABC. Sado tambm todos os delegados e delegadas
presentes neste seminrio.
Para ns motivo de alegria e orgulho, na condio de Deputa-
do, um dos Vice-Presidentes desta Comisso, participar deste impor-
tante seminrio, que superou as expectativas da Comisso. Estamos
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 13
com dificuldade de espao em razo de tantas atividades realizadas
no Congresso nesses dias. Nosso auditrio ficou pequeno. Ainda
bem que tivemos a correspondncia to importante de vocs todos
que esto participando deste seminrio. Fiquem vontade, mesmo
os que esto sentados no cho ou de p. Que possamos aproveitar
bem o nosso seminrio.
Antes da minha breve reflexo sobre a temtica deste seminrio,
A Importncia do Brinquedo na Educao e na Sade, gostaria de
justificar a ausncia da nossa Presidenta, Deputada Ftima Bezerra,
afastada por determinao mdica at o dia 16 deste ms pela impe-
riosa necessidade de repouso.
A Deputada Ftima Bezerra, juntamente com a Deputada Luiza
Erundina, que foi uma das instituidoras desta Comisso, tem contri-
budo muito para a valorizao deste rgo.
Estava comentando, antes da abertura de nosso seminrio, que
esta uma das Comisses mais novas, mais recentes da Cmara dos
Deputados, mas ela tem um trabalho importante, que justamente o
de fazer a interlocuo do Poder Legislativo com a sociedade civil.
Parabenizo a Deputada Luiza Erundina pela brilhante e instiga-
dora iniciativa de promover este evento sobre a importncia da brin-
quedoteca na educao e na sade.
A Comisso de Legislao Participativa, compreendendo a rele-
vncia temtica do evento, envidou todos os esforos para possibili-
tar a realizao deste seminrio.
Aos participantes e palestrantes, externo nossa satisfao de t-
los nessa parceria, ciente de que a presena de todos a certeza de
que a Comisso, mais uma vez, acertou em escolher este tema, numa
clara demonstrao de querer estar em permanente sintonia com os
anseios e as demandas da sociedade civil.
Imbudos dessa compreenso institucional e poltica que abri-
mos os trabalhos deste seminrio, sabedores que a insero dos brin-
quedos e jogos na formao do intelecto e na alimentao da alma
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14 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
humana uma exigncia evidenciada no mundo em estado de reela-
borao, no mundo que inutilmente tentou justificar as suas comple-
xidades atravs dos dogmas cientficos e experimentalistas.
Estou convicto de que expressiva parcela da sociedade brasi-
leira vem buscando compreender a importncia da pedagogia dos
brinquedos na formao educacional e da ludoterapia na restaura-
o da sade humana. So exemplos de que os objetos simples da
vida, como um bom brinquedo educativo ou criativas peas teatrais,
podem propiciar uma grande revoluo nos valores humanos, to
necessrios para a preservao da espcie e do respeito humano. No
tenho a menor dvida de que o momento de desconstruo do nosso
prprio percurso histrico e existencial vem nos obrigando a rever
os postulados que outrora abandonamos em nome de uma moder-
nidade racional, tcnica e fria.
Os diletos participantes sabem muito bem que esse negcio de
brinquedo e teatralidade no espaamento educacional e mdico eram
impensveis no universo dogmtico da racionalidade tcnica que dan-
tes arvora-se o direito de determinar ou legitimar o que era vlido ou
no para a humanidade. Novos tempos nos vm revelando que essa ra-
cionalidade tcnica no logrou xito, tampouco teve elementos teri-
cos plausveis para compreender ou sistematizar a rica e determinada
dimenso que as representaes ldicas podem produzir no incons-
ciente e esprito humano. Brinquedo era apenas objeto de inveno e
criao das indstrias, em que geralmente os pais acreditavam ser ape-
nas objetos caricatos e inofensivos, esquecendo-se de que, atravs da
aparncia, esses entes encantados e sedutores ocupavam um mundo
estranho, idealizado e intencionalizado pelos seus criadores, um mun-
do pronto, determinado e definido em papis sociais e ideolgicos.
Brinquedo era objeto meramente de consumo em datas especiais.
A retomada dessa temtica tornou-se imperativa e urgente.
Estimular a difuso das atividades ludopedaggicas uma ques-
to de sobrevivncia do nosso ethos e da nossa condio humana.
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 15
Temos a conscincia de que as sucessivas reformas educacionais
neste Pas e de polticas pblicas at pouco tempo voltadas para
a depreciao das artes, da criatividade humana e do ldico no
processo educacional tornaram-se responsveis pela desumani-
zao da escola, da educao e das estruturas institucionais que
compem o tecido social brasileiro.
visvel que a educao moderna enveredou pelo caminho da
mecanizao do saber, colocando a tcnica, o pensamento nico e a
exigncia profissional acima do esprito humanista. A educao atual
e a formao da pessoa em sua totalidade humana acabou rendendo-
se s exigncias ilimitadas e desumanizadoras do mercado. Brincar,
alegrar, musicalizar e teatralizar deveriam fazer parte dos primeiros
mandamentos do estatuto do ser humano. O ser humano que no
brinca e tampouco se envolve com o ldico despido de humanida-
de espontnea e criativa, tornando-se figura programada por servi-
do voluntria e mecnica.
Nunca antes estivemos a exigir o retorno dos brinquedos e do l-
dico na esfera da objetividade e da subjetividade humanas. Sabemos
que brincar e jogar so atos indispensveis sade fsica, emocional
e intelectual. Atravs deles desenvolvemos a linguagem, o pensamen-
to, a socializao, a iniciativa e a auto-estima, sem falar do item mais
importante: a criatividade. por essas razes que a sociedade capi-
talista e de consumo programada para coordenar o ato de brincar
e de jogar, pois a atividade ldica campo frtil para a criatividade e
os atos de subverso da ordem estabelecida.
Senhoras e senhores, a realizao do Seminrio Nacional Brin-
quedoteca: a Importncia do Brinquedo na Sade e na Educao ser
importante marco para o Parlamento brasileiro pensar na insero,
num futuro breve, de atividades ludoteraputicas no processo de for-
mao educacional do povo brasileiro.
Encerro a minha exposio citando as palavras da Sra. Juscimara
Dias Rodrigues, professora de ensino fundamental de Belo Horizon-
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16 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
te: A recreao est para o homem assim como o alimento est para o
seu organismo. Os jogos tonificam a alma, do sade fsica, promovem
a auto-expresso e a alegria de viver.
Desejo a todos que aproveitem bem este seminrio sobre brinque-
doteca. Embora seja um tema novo, o grande nmero de participantes
nesta cerimnia de abertura demonstra sua grande importncia.
Neste momento, passo a coordenao dos trabalhos Deputada
Luiza Erundina, amiga e companheira, 3 Vice-Presidenta da Comis-
so de Legislao Participativa e autora do requerimento de realiza-
o deste seminrio.
Muito obrigado. Bom dia a todos.
A SRA. COORDENADORA (Deputada Luiza Erundina) - Bom
dia a todos.
Sado os integrantes da Mesa, cuja presena orgulha a todos e
gera grande expectativa sobre os resultados deste evento.
Sado o Dr. Drazio Viegas; a Profa. Nylse Helena da Silva Cunha;
e os demais palestrantes que j chegaram outros esto para chegar ,
agradecendo-lhes a presena.
E peo desculpas pelo incmodo de no dispormos de cadeiras
para todos os presentes. Por um lado, um sacrifcio; mas, por outro
lado, um sinal de que o tema interessa a todos. Embora estejam
fazendo esse sacrifcio, V.Sas. trazem sem dvida alguma a sua con-
tribuio e a sua experincia para que socializemos o que j se cons-
truiu em torno dessa temtica.
Queria agradecer tambm equipe da Comisso de Legislao
Participativa, que carregou o piano, ou seja, criou todas as condies
para que houvesse aqui hoje esse nvel de organizao. Agradecemos
e reconhecemos a contribuio da referida equipe que, junto com a
do meu gabinete, so protagonistas deste evento, que exigiu tempo
para preparao e organizao. Sem isso, certamente estaramos a
dever aos participantes do evento.
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 17
Quero tambm agradecer ao INTERLEGIS, especialmente sua
coordenadora, Dra. Dalva Dutra, que est sendo tolerante conosco,
porque h aqui regras rgidas para o uso dos espaos, mas ela est
sendo compreensiva e flexvel no necessrio cumprimento dessas
normas. Agradecemos, portanto, por seu intermdio, ao INTERLE-
GIS por nos ceder este espao com toda sua infra-estrutura, para que
pudssemos realizar este evento.
Antes de passar a palavra aos nossos convidados, quero dizer
que este evento marca dois grandes acontecimentos. Primeiro, a
Comisso de Legislao Participativa, o espao da cidadania po-
ltica na Cmara dos Deputados, o espao do povo, da sociedade
civil organizada, uma janela ou uma porta entre a sociedade civil
e o Poder Legislativo e ela s ter eficcia e efetividade em suas
finalidades se for apropriada por essa sociedade civil organizada ,
est fazendo aniversrio.
Neste ms de agosto de 2005, celebramos os 4 anos da Comis-
so, que sofre resistncia por parte de alguns colegas Parlamentares,
que, por no terem compreenso de que a democracia envolve duas
dimenses a representao e a participao direta , se sentem
quase perdendo poder na medida em que esse espao ocupado e
apropriado pela sociedade civil. Isso porque, por intermdio des-
ta Comisso, a sociedade pode apresentar sugestes de projetos de
lei e at emendas ao Oramento, para obter recursos pblicos para
programas sociais por ela dirigidos. Este, portanto, um impor-
tante espao conquistado pela sociedade civil. E temos de celebrar
esses 4 anos de vida da Comisso.
O segundo fato que registro a aprovao e a sano da Lei n
11.104, de 20051, aprovada pela Cmara dos Deputados e pelo Sena-
do Federal e sancionada pelo Presidente da Repblica. Essa lei obriga
os hospitais pblicos e privados que tenham servios de internao
peditrica a instalarem brinquedotecas para as crianas neles inter-
nadas. Essa tambm uma conquista da sociedade, especialmente
1 Anexo.
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18 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
das nossas crianas, com vistas humanizao da ateno sade,
promoo da sade dessas crianas, sobretudo em momentos trau-
mticos, como aquele em que uma criana sai do seu ambiente
familiar para ficar internada numa unidade de sade. Certamente
esse espao ldico significa um elemento de humanizao para essas
crianas, que so a razo de ser da nossa existncia, por serem elas
aqueles que, em breve, sero os construtores desta Nao.
Sei que me estendi alm do limite, mas estou to feliz com a rea-
lizao deste evento, que no poderia deixar de marcar o meu nimo
quanto a este seminrio.
Agradeo Profa. Nylse Helena, uma grande idealista e militante
dessa rea, educadora que tem levado aos mais distantes recantos do
Pas a idia maravilhosa do brinquedo e do ldico como importante
dado da existncia de cada um de ns. Agradeo igualmente ao Dr.
Druzio Viegas, professor da Faculdade de Medicina do ABC, grande
mdico pediatra e educador. E todos que vem a ateno mdica e
a ateno pedaggica numa dimenso tambm humana e social so
tambm educadores.
Agradeo, ento, ao Dr. Druzio e registro minha certeza de que
teremos uma grande reunio com a contribuio desses convidados
que nos honram com sua presena.
Para concluir, quero dizer que a Lei n 11.104, de 2005, foi resul-
tado de iniciativa nossa, por inspirao da assistente social Ada Mu-
nimos, que inclusive ser uma das nossas palestrantes. Como disse,
foi a Dra. Ada, assistente social que trabalha num hospital pblico
de So Paulo, quem me inspirou a apresentar o projeto. Portanto,
dela tambm o mrito deste evento em que celebramos a entrada em
vigor da Lei n 11.104, de 2005.
Concedo a palavra Profa. Nylse Helena da Silva Cunha, que ter
20 minutos para sua interveno. Em seguida, ouviremos o Dr. Dru-
zio Viegas e passaremos fase de debates.
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 19
A SRA. NYLSE HELENA DA SILVA CUNHA - Bom dia a
todos. Desculpem-me o atraso, mas sair de So Paulo e chegar
em Braslia difcil. Houve atraso no vo, mas aqui chegamos e
estamos satisfeitos.
Em primeiro lugar, agradeo aos Srs. Deputados pela forma com
que esto recebendo a Associao Brasileira de Brinquedotecas, em
especial, a Deputada Luiza Erundina, por ser quem e por ter vis-
lumbrado a importncia do brincar na vida dos seres humanos.
Graas perspiccia da Deputada Luiza Erundina, os hospitais
hoje tm brinquedotecas e quem trabalha com as crianas mdicos,
enfermeiras e a prpria famlia tem pelo menos o conforto de ver a
criana mais feliz e recuperando-se mais rapidamente.
Peo a vocs que olhem por um momento alguns slides que
vou apresentar.2
Observem essas crianas e vejam o que est acontecendo.
Adoro esta foto e a tenho exibido muitas vezes. Olhando essa
criana, imediatamente pensamos: quem esta criana? um cien-
tista que est fazendo a sua pesquisa, uma criana que merece respei-
to pelo seu interesse e por tudo o que poder vir a ser.
Toda criana merece ter garantido o seu direito de brincar. Brin-
cando, elas esto prestando ateno, esto concentradas, desenvol-
vendo habilidades, raciocinando, trabalhando o prazer sem necessi-
dade de castigo ou de prmios. Esto desenvolvendo o hbito de se
ocupar de forma adequada.
O brincar fundamental, porque, como dizia Piaget, a recom-
pensa da ao deve estar na prpria ao, no prazer de execut-la.
Essa frase capaz de mudar o mundo. Se fizermos as coisas pelo
simples prazer de faz-las, estaremos fazendo com o corao, com o
sentimento de alegria por estar executando determinada atividade.
o que acontece com o brincar, e por isso to importante. O brincar
ensina criana essa relao.
2 Segue-se exibio de slides. Imagens no disponveis.
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20 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
Toda criana no s merece brincar, mas tambm precisa, tem
necessidade de faz-lo. Porm, nem todas as crianas brincam, por-
que precisam trabalhar, estudar, conseguir notas altas ou porque so
tratadas como adultos em miniatura, porque no podem atrapalhar
os adultos ou porque no tm com o que brincar, enfim, porque a
vida roubou-lhes a infncia.
Hoje, a criana tem dificuldades de conseguir um espao e um
tempo para brincar, no importa qual seja sua classe social. Quando
a criana est na pr-escola, a preocupao da me que j comece a
se preparar para o vestibular.
Por tudo isso, foi necessrio criar a brinquedoteca. A brinque-
doteca o espao mgico criado para dar oportunidade s crianas
de brincar de forma enriquecedora, de mergulharem em seus brin-
quedos sem adultos para atrapalhar. L existem muitos brinquedos,
muita magia e criatividade. E as brinquedistas so adultos, mas
adultos iluminados pela criana viva dentro de cada uma. E elas es-
to trabalhando em brinquedotecas prontas a favorecer e enriquecer
o brincar da criana.
Os objetivos da brinquedoteca so muitos. Primeiro, proporcio-
nar oportunidade para que as crianas possam brincar sem cobrana
de desempenho. Na brinquedoteca ningum cobra da criana que
ela tenha que fazer isso ou aquilo. No h expectativa para que ela
faa determinada coisa, mas simplesmente que ela possa brincar sem
sentir que est atrapalhando ou perdendo tempo, porque naquele es-
pao a obrigao dela s brincar.
Segundo, estimular o desenvolvimento da capacidade de concen-
trar a ateno e de construir uma vida interior rica.
Como vimos naquelas fotos que inicialmente apresentei, as
crianas esto concentradas. Se perguntarmos a qualquer professor
o maior problema das crianas, ele certamente apontar a falta de
ateno. Ainda h o agravante de que nossa sociedade cheia de est-
mulos e tudo ocorre de forma acelerada, at mesmo os desenhos ani-
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 21
mados. Nessa corrida, nessa acelerao, no h tempo para se prestar
ateno. Cria-se o hbito de passarmos de modo suprfluo por tudo.
Temos que olhar apressadamente tudo essa a norma do mundo
moderno. Assim, no se desenvolve uma vida interior.
Quando uma criana est brincando, quando ela mergulha pro-
fundamente em uma atividade, ela cria vida interior. s vezes a cha-
mamos, como a me o faz muitas vezes, e ela responde: Mas eu no
acabei ainda. No que ela esteja fazendo uma tarefa, alguma coisa
que tenha de acabar. Ela no acabou ainda foi de imaginar, de criar,
de viver aquele momento importante para ela. Aquele tempo est
dando a ela dimenso interior de profundidade, est desenvolven-
do sua criatividade. E se a criana tiver essa dimenso interior rica,
quando for adolescente no precisar de drogas nem de bebidas para
preencher seu tempo. Ela ter maneiras de manifestar sua emoo,
de liberar seus sentimentos, sem precisar de algo artificial para lhe
provocar esse estado de esprito.
A brinquedoteca tambm tem o objetivo de estimular a operati-
vidade da criana. L tem muita coisa para fazer. Ento, ela estimu-
lada a operar. Isso tambm favorece seu equilbrio emocional, por-
que ela vai fazer o que tem vontade, o que sente necessidade de fazer.
Com isso estar conseguindo se equilibrar. Muitas vezes as pessoas
perguntam: Mas ento a brinquedoteca como uma clnica? No,
ela no como uma clnica, mas um espao em que a relao com
a criana correta. E quando a relao com a criana correta, de
respeito, torna-se totalmente teraputica. Por isso a brinquedoteca
consegue resultados teraputicos.
A brinquedoteca d oportunidade para a manifestao de po-
tencialidades. Em poca de inteligncias mltiplas, ns sabemos que
a criana precisa de oportunidades para manifestar suas tendncias.
Ela precisa de estimulao bem variada para encontrar o que ela gos-
ta de fazer, para desenvolver o potencial que Deus lhe deu e que ela
precisa expressar, para desenvolver a inteligncia, a criatividade e a
-
22 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
sociabilidade. Desenvolver a inteligncia direito de todo ser huma-
no, mas ela tem muito a ver tambm com fatores ambientais.
Como afirmou Lus Alberto Machado, autor de livro sobre o di-
reito inteligncia ele exagera um pouco , a inteligncia uma
questo social. At certo ponto mesmo. Preocupo-me muito com
os brasileirinhos cuja infncia to pobre que no tm oportunida-
de de conversar, de imaginar, de brincar; ficam s vezes parados em
creches que no tm nada que os estimule, tm somente pessoas que
cuidam, que do banho, alimentao e evitam que se machuquem,
mas no cuidam da vida interior da criana, no pensam na sua inte-
ligncia. As crianas que no so estimuladas na hora em que devem
ser porque h um momento timo para essa estimulao mais
tarde no tero condies de concorrer de igual para igual com ou-
tras crianas que tiveram uma boa estimulao na idade adequada.
triste pensarmos que essas crianas estaro perdendo oportunidade
to importante. Mas mudar essa situao faz parte de um processo
histrico lento.
Atualmente j se est pensando em alimentar as crianas. Ali-
mentar o corpo da criana fundamental, mas alimentar a inteli-
gncia tambm muito importante. preciso alimentar a intelign-
cia e a criatividade das crianas porque no sabemos onde ser seu
futuro. No adianta dar a elas uma educao regional. No futuro,
elas vo para que lugar? Uma criana nascida no campo poder, na
idade adulta, arrumar emprego num grande centro e, ento, ter de
ser criativa suficientemente para se adaptar a qualquer situao. No
sabemos o quanto as coisas vo mudar. Portanto, temos de fazer com
que as crianas sejam muito criativas para poderem se virar seja l
em que sociedade for.
A brinquedoteca oferece maior acesso a brinquedos, portanto,
proporciona tambm maior nmero de experincias. As crianas
tm aspectos to variados que se enriquecem o tempo todo. A brin-
-
Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 23
quedoteca proporciona oportunidade para que elas aprendam a jo-
gar, a participar, a esperar a sua vez, a competir e a cooperar.
A brinquedoteca valoriza os sentimentos afetivos e cultiva a
sensibilidade, sem a expectativa de se atingir determinado conhe-
cimento, o que acaba escravizando os seres humanos. Alis, o ser
humano muitas vezes vtima de expectativas to fortes que muda
a sua forma de ser para atingir determinado objetivo. E, muitas
vezes, quando a criana no consegue acompanhar a expectativa
da professora ou da famlia, ela se sente infeliz, seu autoconceito
rebaixado. Na brinquedoteca, ao contrrio, no h esse tipo de
cobrana. A sensibilidade cultivada, assim o amor aos objetos, aos
bichinhos de pelcia. H a preocupao de se cuidar com afeto da
criana e tambm dos objetos, porque assim se est aprendendo a
ser cuidadoso. E isso muito importante.
A brinquedoteca tambm contribui para enriquecer o relacio-
namento entre as crianas e as suas famlias. Incentiva a valorizao
do brinquedo como atividade promotora do desenvolvimento inte-
lectual e social.
Atualmente, em So Paulo, vemos o testemunho de professoras
da Praia Grande cujo projeto de brinquedoteca atende a crianas com
necessidades especiais e crianas excludas de modo geral. Essa brin-
quedoteca est se transformando em algo que vi no Canad h muitos
anos: centro de recursos e de apoio famlia. No Canad, as assistentes
sociais ajudam as famlias de imigrantes a se integrarem sociedade.
O papel da assistente social na brinquedoteca importante, uma
vez que elas vo interpretar o mundo para aquela famlia que no
tem viso mais ampla dos recursos que pode usar. Ento, a brinque-
doteca pode ser um lugar onde acontece essa integrao.
Alguns fatores contriburam para que as brinquedotecas se pro-
pagassem rapidamente. Vou citar alguns. Em primeiro lugar, a di-
vulgao de informaes sobre a importncia da estimulao para
o desenvolvimento do crebro. Hoje a gente sabe da importncia
-
24 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
da estimulao e estimular a criana oferecer oportunidade de
brincar. Em segundo lugar, as pesquisas sobre o desenvolvimento da
resilincia, essa capacidade de permanecer ntegro apesar das adver-
sidades do ambiente. Desenvolver resilincia, no entanto, requer um
bom autoconceito, e a brinquedoteca proporciona o desenvolvimen-
to de um bom autoconceito.
As teorias sobre as inteligncias mltiplas, a inteligncia emocio-
nal e a importncia do autoconceito positivo, tudo isso vem enrique-
cer e valorizar o trabalho que feito na brinquedoteca.
O conceito de brinquedoteca como espao voltado para a opor-
tunizao do brincar livre e espontneo, que proporcione s crianas
oportunidades de agir sem o peso da expectativa, ajudou a desen-
volver a brinquedoteca, e hoje podemos dizer que ela o smbolo
de uma nova postura existencial. Ela representa uma mudana de
paradigma. Essa mudana de paradigma est acontecendo. Estamos
em plena nova era. E coitados daqueles que no tm a viso de captar
essa mudana, a sua beleza e o que ela est nos oferecendo.
Logo, mudana significa uma nova forma de aprender a aprender.
As atividades ldicas tm sido utilizadas como meio, como estra-
tgia. Ouvia-se falar que professoras usavam recursos ldicos jogos,
brincadeiras como estratgia para alcanar um objetivo, mas im-
portante que se compreenda que um brinquedo, uma fantasia de pa-
lhao, uma brincadeira so apenas smbolos do ldico. A ludicidade
no pode ser confundida com eles. A postura ldica uma maneira
de sentir, de perceber e at de interpretar os fatos, o mundo e a vida de
maneira geral. Essa postura ldica que se desenvolve na brinquedo-
teca. E por qu? Porque, realmente, milnios de pregao de amor ao
prximo baseado no sacrifcio, na observncia de doutrinas e dogmas
ameaadores, assim como a crena em castigo para quem transgride as
normas, para quem peca, nada disso tem tornado os homens melhores.
O ser humano infeliz, aquele que se sacrifica, no espalha felicidade ao
seu redor, porque no tem nada de bom para partilhar.
-
Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 25
hora de pensarmos em uma nova postura existencial baseada
na felicidade e no amor. No no amor-sacrifcio, mas no amor que
emana das pessoas que tm seu lado ldico preservado, amor que
vem daquela pessoa capaz de se encantar.
Como diz Bachelard, fundamental manter a capacidade de se
encantar. Por isso, cuidado com o racionalismo, cuidado com os ob-
jetivos, cuidado com as pessoas extremamente racionais. Coitadas
delas: vo perder a capacidade de se encantar. Isto muito triste, por-
que ns precisamos dessa capacidade.
Felicidade e realizao pessoal so condies, ou melhor, estados
de esprito dependentes do autoconceito. A sensao de estar satisfei-
to consigo mesmo no depende tanto do volume das coisas realiza-
das, mas sim da qualidade do sentimento que envolve.
Eu fao muito isto: posso estar tensa por ter de fazer isso e aquilo,
escrever isso e aquilo, mas de repente resolvo fazer uma florzinha bo-
nita para enfeitar no sei o qu. Depois de feita, eu paro e digo: Puxa,
mas ficou to linda! Essa satisfao de ter feito algo to bonito traz
sade alma.
O que nos d felicidade o sentimento que nos envolve. Por isso,
no devemos trabalhar naquilo que no gostamos, seno seremos
maus trabalhadores.
A brinquedoteca faz a criana descobrir o que gosta de fazer. Na
sociedade atual, difcil a criana ter jeito. Quantos no vo fazer
vestibular e depois descobrem que no era nada daquilo que que-
riam? Olhem quanto tempo perdido. Ns temos de fazer com que
a criana descubra o que lhe d prazer, porque, realmente, essa a
forma de ser feliz.
A SRA. COORDENADORA (Deputada Luiza Erundina) - Pro-
fessora, desculpe-me por interromper. Acabou o tempo.
A SRA. NYLSE HELENA DA SILVA CUNHA - A brinque-
doteca um espao qualificado, um espao especial que precisa
de pessoas qualificadas. Uma sala cheia de lindos brinquedos no
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26 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
vira uma brinquedoteca, porque preciso a alma da brinquedis-
ta. por isso que vamos depois pedir Deputada para usar de
toda a sua energia e de todo o seu potencial na luta pela valoriza-
o da profisso de brinquedista. Esse o prximo passo, e ns
temos que chegar l.
Ao terminar, deixo uma reflexo nua e crua. Que cada um de ns
saia daqui pensando: ser que estamos dando s nossas crianas a
oportunidade de que precisam para se tornarem cidados capazes de
construir um mundo melhor? Vamos pensar nisso.
A SRA. COORDENADORA (Deputada Luiza Erundina) - di-
fcil controlar o tempo da professora, pelas coisas bonitas que ela
fala.
Agradeo Profa. Nylse por nos brindar com uma aula de filoso-
fia existencial. Eu me senti a prpria criana aprendendo e vivendo o
ldico, com as palavras dessa extraordinria mulher.
Antes de passar a palavra ao Dr. Druzio, quero tranqilizar as
pessoas que esto solicitando o material. Vai ser feita um publicao.
Logo aps a realizao do seminrio, a Comisso de Legislao Par-
ticipativa da Cmara dos Deputados vai encaminhar um pedido de
publicao. Vamos produzir um texto sobre os temas aqui abordados
e debatidos. Portanto, fiquem tranqilos, o material vai ser divulgado
o mais rapidamente possvel.
Passarei a palavra ao Dr. Druzio Viegas, que certamente muito tem
a nos ensinar. Vou me controlar para no ter de controlar o senhor.
Informo ainda que, durante a exposio do Druzio, aqueles que
quiserem encaminhar questes aos componentes da Mesa devero se
inscrever. A lista ser passada.
Tem a palavra o Dr. Druzio Viegas.
O SR. DRUZIO VIEGAS - Deputada Luiza Erundina, um
enorme prazer estar presente neste seminrio.
O meu tema brinquedoteca em hospital, brinquedoteca hospitalar.3
3 Segue-se exibio de slides. Imagens no disponveis.
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 27
A Lei n 11.104, de 2005, essencial para quem trabalha em hos-
pital. Portanto, agradeo o esforo, a delicadeza e a viso que V.Exa.
teve ao elaborar o projeto de lei sabemos que no foi fcil que deu
origem a essa lei. Muito obrigado.
A Sra. Nylse, companheira h muitos anos, est ao meu lado.
Trabalho com brinquedoteca h 15 ou 20 anos. Tudo isso devo
Nylse. Fui seu aluno, aprendi com ela ela muito mais nova do
que eu, claro. Aprendi muito com ela e com minhas amigas que
esto aqui na platia.
Sou professor de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC,
na Grande So Paulo. Sou o responsvel pelo Mdulo de Huma-
nizao em Medicina. A situao complicada, porque, com o
correr dos anos, com todos os avanos ocorridos na Medicina,
ela se desumanizou. Essa a grande verdade. Pouca gente ficou
interessada realmente em continuar praticando a Medicina como
uma forma de ajuda, de carinho, que se chama humanizao. Isso
fundamental.
O meu tema brinquedoteca para criana hospitalizada. Tra-
balho com alunos residentes e docentes. A faculdade grande, tem
muita gente. Acho mais interessante formar mdicos com cabea di-
ferente. Mudar um mdico depois de muito tempo formado no
fcil, porque j tem suas idias. Com aluno e residente, diferente.
O que fazemos no Mdulo de Humanizao? Fazemos psicodra-
ma com vrios casos crnicos, por exemplo. Um aluno a me da
criana, outro o pai, outro a criana, outro o mdico. Discute-se
o caso, e cada um d sua opinio.
Usamos filmes. Patch Adams, por exemplo, um filme de que
gostamos muito, porque muito instigador. O Doutor da Alegria tra-
balha muito conosco. Tenho muita amizade com o Wellington, quem
coordena o projeto Doutor da Alegria. Encontrei com ele no aero-
porto em So Paulo, quando ele ia para Curitiba. Queremos colocar
os doutores e docentes para trabalhar com alunos e residentes.
-
28 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
Trabalhamos tambm com msica, com histrias h o livro
Viva e Deixe Viver , com artes plsticas e pintura, mas, de modo
especial, com brinquedoteca. Esse o meu assunto de hoje.
H diversos tipos de brinquedoteca, como a Profa. Nylse j citou.
Pode ser brinquedoteca em escola, em hospital, em creche ou em
qualquer ponto da cidade.
Brinquedoteca em hospital diferente. A criana est doente, est
internada. Acontece fato curioso. Reparei em todos esses anos que
quem realmente toma conta da brinquedoteca e a planeja no hospi-
tal no o mdico. Quem ? A brinquedista, a psicloga, a assistente
social, a pedagoga, a voluntria. So vrias pessoas que trabalham. O
mdico recebe a brinquedoteca como algo importante, mas parece
que no est to ligada a ele.
O mdico que tem uma brinquedoteca no hospital em que traba-
lha fica muito interessado, porque reconhece o valor da brinquedo-
teca. Os que no tm brinquedoteca onde trabalham imaginam: ser
um lugar no hospital onde tem brinquedos? muito mais do que
isso, como a Dra. Nylse explicou h pouco. Acontece que eles no se
interessam tanto por isso.
Ento, o que o mdico deve saber sobre brinquedoteca hospita-
lar? Esse o nosso assunto de hoje.
Vou mostrar aos senhores a Brinquedoteca Seninha, de So Pau-
lo, no Instituto de Oncologia Peditrica da Universidade Federal de
So Paulo o Grupo de Apoio ao Adolescente e Criana com Cn-
cer, GRAACC.
A Sra. Patrcia Pecoraro coordenadora, tambm aqui presente, e
me cedeu esse importante material.
Sou mdico pediatra, graas a Deus. Se morresse e nascesse de novo,
iria ser mdico pediatra. Sinto-me muito bem e gosto do que eu fao.
Que humanizao em pediatria? usar o conhecimento, atu-
almente muito complicado, porque a evoluo cientfica foi muito
grande entre o sculo passado e este sculo. A tecnologia foi muito
-
Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 29
desenvolvida e exige de ns constante atualizao. Devemos utilizar
esse conhecimento com sensibilidade. Mdico que no tem sensibi-
lidade no mdico. Vamos deixar bem claro: o cara pode ser exce-
lente, ser um sujeito maravilhoso, pode conhecer milhares de coisas,
mas se no sensvel, desculpem-me, no mdico. Pode exercer
qualquer outra profisso, mas no a de mdico.
O mdico tem de ter sensibilidade. O que sensibilidade? a
maneira de saber aproximar-se do outro de modo que esse outro re-
ceba essa aproximao como um bem, algo lindo, bonito. colocar-
se na posio do outro, quando o outro, por exemplo, um doente,
entend-lo. No caso de criana, gostar da criana, amar a criana ou
o adolescente, ou seja, a criana de zero a 20 anos. Ento, gostar, sa-
ber chegar, saber conversar com a criana, saber o tom de voz para
poder falar com a criana sem intimid-la, no ser onipotente, no
ser uma pessoa indiferente, ser uma pessoa carinhosa no momento
certo e estar disponvel. Isso importante. muito comum ouvir: a
criana tima, a me que chata. Mas tem muito mdico chato
tambm. O problema que a me no chata; existe me chata. A
me, geralmente, ansiosa. Se aprender a mexer com a ansiedade,
pode-se entender muito bem as mes, os pais, os avs, os tios e assim
por diante. Isso que fundamental.
Ento, preciso ter muito cuidado e procurar solues. Quando a
pessoa doente precisa do mdico e este no encontra soluo, hor-
rvel, ela fica acuada. A pessoa quer uma soluo qualquer que seja.
E a soluo em Medicina vou comentar sobre isso no final dessa
palestra no sempre curar as pessoas, absolutamente; se possvel,
curar, mas melhorar a qualidade de vida das pessoas fundamental.
Do ponto de vista de pediatras, vou falar primeiro sobre dois as-
pectos, o conhecimento e a sensibilidade, para que os senhores en-
tendam bem do que estou falando. Vou falar depois sobre a brinque-
doteca e o hospital, e o papel do mdico dentro da brinquedoteca.
-
30 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
O pediatra atualmente pode ter conhecimento bom ou no. Isso
interessante. Fala-se to mal dos mdicos hoje em dia, as escolas
so ruins, formam-se tantos mdicos por ano etc. Como o pedia-
tra? Esse trabalho relativo ao perfil do pediatra no Brasil. Foi feito
em 2000, sob o ttulo Mdicos no Brasil, pelo Instituto Oswaldo Cruz,
juntamente com o Conselho Federal de Medicina, o Ministrio da
Sade, com a colaborao do Cadastro Nestl, que tem todos os pe-
diatras registrados. Procuramos, ento, saber como so os pediatras
atualmente no Brasil.
Local de moradia: a maioria mora na capital (60,40%); sexo: a
maioria dos pediatras so mulheres (59,80). O meu departamento,
por exemplo, muito grande. Na Fundao ABC, ns somos 26 do-
centes. Desses, cinco so homens, o restante so mulheres. E so mu-
lheres com capacidade de trabalho excepcional, lugares excepcionais,
doutorados, viajam o ano todo, publicam. Mesmo assim, interes-
sante que neste trabalho foi identificado que um tero das mdicas
peditricas se queixam de discriminao pelo fato de serem mulhe-
res, o que uma pena. No h motivo nenhum para isso.
Faixa etria: menor do que 50 anos, a grande maioria (89,91%).
Quanto formao. A instituio pblica forma a maioria dos
pediatras (64,91%). A instituio privada forma mais ou menos a
metade (33,45%). Qualificao dos pediatras: 75% fizeram residn-
cia mdica; com especializao em pediatria: 42%; especialistas em
pediatria: 70%; participao em congressos nos ltimos 2 anos: qua-
se 90%; assinatura em revista cientfica nacional: 81%; internacional:
quase 30%; e acesso Internet: 76,43% pediatra a usa muito. Ento,
geralmente o pediatra tem conhecimento, de modo geral. Pode ser,
claro, que haja pediatra mal preparado, sem muito conhecimento,
mas de modo geral so bem preparados.
Ser que o pediatra, mesmo com conhecimento suficiente, sabe
usar bem a sensibilidade? Sobre isso vou falar aos senhores.
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 31
Meu assunto de hoje Criana Internada Brinquedoteca Hos-
pitalar. Vou analisar de modo bem rpido, porque meu tempo cur-
to, como ficam as crianas e os adolescentes internados.
Razes de internao: quando a criana prematura, de baixo
peso ou patolgica ao nascer, pode ficar semanas ou meses inter-
nada. s vezes, quando o diagnstico mais complicado, porque a
doena aguda, ou crnica, ou de repetio, a internao exigida
tambm. Em situaes de cirurgia, h casos graves que vo para a
UTI. E quais so os ndices de repeties com essa criana internada?
O que acontece com ela? A Profa. Nylse j comentou com os senho-
res, mas vou frisar alguns pontos.
Certamente essa criana vai ficar muito ansiosa, pois ela est
num ambiente diferente. Alguns hospitais so bonitos, outros so
feios e frios; as pessoas, geralmente muito tcnicas, falam coisas
esquisitas; a famlia muitas vezes no est presente, embora, hoje
em dia, seja obrigada a ficar junto com a criana. Tudo isso faz com
que a criana fique ansiosa, gera angstia, que vem acompanhada
do medo. Medo do qu? Da dor que possa ser causada pela doen-
a. Dor causada por injeo, por cateter, por alguma cirurgia, por
procedimentos invasivos, e assim por diante. E h muita fantasia,
dependendo da idade da criana.
A criana de 2 a 3 anos tem muito medo, quando ficam inter-
nadas, de estar sendo abandonada pelos pais, mesmo quando esses
esto presentes; de 4 a 5 anos, ela pensa que foi internada para ser
castigada; de 10 a 12 anos, ela apresenta sinais de dificuldade e de
ansiedade em pensar na morte isso aparece muito.
A separao da famlia, dos amigos, dos animais de estimao,
dos brinquedos, da escola levam a criana a muitas dificuldades de
adaptao no ambiente diferente. s vezes, a criana fica deprimida,
o que muito grave, porque se torna triste, no dorme direito, fica
aptica, recusa tratamento, no conversa isso complicado.
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32 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
Por outro lado, h outras que ficam agressivas, o que tambm com-
plicado. No entanto, bom que seja agressiva, bom que ela xingue, re-
clame, que no queira, porque, no final, isso mais ou menos saudvel.
Quando a criana fica internada muito tempo, muitas vezes,
acometida por uma doena chamada nanismo psicossocial, ela pra
de crescer. Ou seja, por influncia de hormnio do hipotlamo, no
crebro, a criana pra de crescer e de se desenvolver tambm. O es-
tresse que ela sofre a leva ao amadurecimento emocional. lgico, a
criana que est doente, internada, numa situao grave, com muito
sofrimento, tende a amadurecer. A nossa inteno com a brinquedo-
teca hospitalar que amadurea, se possvel, sem seqelas ou com
menos seqelas possveis.
Como podemos humanizar o atendimento criana ou ao ado-
lescente no hospital? Existe, hoje em dia, direitos da criana e do ado-
lescente hospitalizado. So excelentes, e ns procuramos cumpri-los
o mais possvel, permitindo a entrada dos pais, por exemplo, na uni-
dade natal, no berrio de alto risco, na UTI. A me acompanhante.
A criana, ao ser internada, tem a me ao lado dela. Este um direito
que ela tem. E excelente, pois a me ajuda muito na alimentao, no
banho, na hora do choro da criana etc. Basta que a me seja orien-
tada, ela no atrapalha. A criana deve ter bastante contato com os
pais, visitas mais livres e freqentes. Uma boa relao mdico-pacien-
te-famlia excepcional, importantssimo. E no s a ligao m-
dico-paciente, mdico-criana ou adolescente, a ligao famlia
tambm. A criana dessa forma no est sozinha, est ligada ao pai e
me. Ento, preciso dar muita ateno famlia da criana. Isso
fundamental. Deve-se evitar discusses clnicas perto do leito, porque
a criana entende. Mesmo que seja uma coisa complicada, diferente, a
criana acaba entendendo. Lugar de se discutir os casos separado.
Deve-se utilizar tambm atividades ldicas. A entra o brin-
car, a brinquedoteca, o espao para que a criana possa brincar
no hospital. Existem inmeros tipos de brinquedotecas em hos-
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Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 33
pitais. Houve em So Paulo, 2 anos seguidos, jornadas sobre brin-
quedoteca hospitalar.
Na primeira jornada foram mostrados casos de aes das brin-
quedotecas junto Medicina. Foi lanado um guia de orientao
para implantar e manter uma brinquedoteca. Temos alguns resu-
mos. Se vocs quiserem alguns exemplares dos resumos, temos al-
guns para vocs.
A brinquedoteca tem de ter uma coordenadora, algum que lide
com os usurios, algum que cuide da higienizao, e assim por dian-
te. No Brasil, conheci muitas brinquedotecas, em vrios locais, mas
nem sempre elas funcionam assim. Vai depender muito do local em
que esto instaladas, da maneira pela qual as pessoas interpretam as
crianas e suas possibilidades.
Vou mostrar aos senhores uma brinquedoteca modelo, que a do
Grupo de Apoio ao Adolescente e Criana com Cncer GRAACC.
claro que nem todas so e nem tm de ser iguais a ela, mas tm
de ser o melhor possvel, dependendo dos recursos disponveis e da
cabea de quem vai faz-la.
Vou falar aqui em palhaos, pois eu lido muito l com o Dr. Alegria,
mas reparei tambm, em cada lugar que vou, outros palhaos, pessoas
que brincam com a criana e que tm a mentalidade linda. Existem
teatros que so maravilhosos para que as crianas possam realizar-se
com a fantasia. As histrias so tambm excepcionais. Quem que no
gosta de ouvir uma histria gostosa, contada com muito carinho? Mui-
tas vezes, quem conta a me, uma enfermeira, uma psicloga,
uma brinquedista. Existem pessoas que sabem contar histrias.
Eu tenho vrios amigos, um deles o Jonas Ribeiro. Vocs co-
nhecem o Jonas, um grande contador de histrias. O Jonas fabu-
loso, incrvel. Outro dia aconteceu algo curioso. Ele publicou um
livro chamado Gestante da Fantasia. Uma histria da primeira ges-
tao de uma criana que de vez em quando saa de dentro da me,
brincava com o pai e a me, e depois voltava para dentro da me
-
34 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
e a gravidez continuava. O negcio era a fantasia. O Jonas fez um
negcio muito curioso. Quando acabou o livro eu no sabia que
ele estava escrevendo , ele foi ao consultrio e disse: Dr. Druzio,
me faz uma coisa, meu livro est pronto, s falta o ltimo captulo,
escreva o ltimo captulo para mim. Eu disse: Mas como eu vou
escrever? Voc que o autor da histria. E ele respondeu: Voc tra-
balha com nascimento, ento escreva o ltimo captulo do livro. O
Jonas uma cara assim.
H outros tambm, como o Valdir, e muitas outras pessoas que
fazem coisas lindas. Msica. H pessoas que trabalham muito bem
com msica. Artes plsticas. Em So Paulo, h um grupo chamado
Projeto Carmim, que trabalha com pinturas e faz exposies com
pinturas de crianas para as crianas internadas.
importante que haja uma equipe multidisciplinar. fundamen-
tal. So pessoas que tm interesse, que vo aos hospitais, que gostam.
Quem so? a brinquedista, a voluntria, a psicloga, a pedagoga, a
psicomotricista, enfim, uma poro de gente. Geralmente, o mdico
no est presente. Isso muito estranho. Hoje vou fazer uma crtica a
esse mdico que no participa muito da brinquedoteca.
Quais so as vantagens da brinquedoteca hospitalar? a vanta-
gem mdica: brincar importante para auxiliar no diagnstico, nos
procedimentos e tratamentos das crianas e adolescentes no ambu-
latrio ou no hospital. Por qu? Tudo isso facilita. A criana apren-
de a aplicar uma injeo, por exemplo, em um boneco. A criana se
reveste de mdica, de enfermeira; ela faz de conta que mdica ou
enfermeira. Na hora de examinar essa criana, h mais facilidade, a
adeso muito melhor.
A alegria, a satisfao de brincar preserva o desenvolvimento
mental h pouco algum falou sobre Piaget , preservando os
aspectos emocionais, cognitivos e sociais, criando autoconfiana
na criana; passa um ambiente mais tranqilizador para a famlia
e para os amigos; facilita o trabalho do mdico e h um maior
-
Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 35
preparo nos procedimentos, nas intervenes nessa criana.
Quando a criana fica muito tempo internada, ela tem aulas com
uma pedagoga para no ficar atrasada na escola. Isso funda-
mental. Quando o adolescente fica muito tempo internado, ele se
profissionaliza no hospital.
Oficina de mes. O que isso? para as mes que ficam com
suas crianas no hospital, para dar a elas a possibilidade de fazer al-
guma coisa enquanto a criana est internada: croch, bordar, pintar,
artes plsticas, cartes de Natal, um monte de coisas.
Casa de apoio. um local onde pode ficar hospedada a famlia
da criana ou a criana enquanto aguarda algum exame ou a alta.
Isso muito comum. Se a criana vai fazer quimioterapia, por exem-
plo, ela no precisa ficar internada, pode ficar no ambulatrio. Nesse
caso, pode ficar na casa de apoio, faz o exame, o tratamento, e depois
volta. Outra vantagem: a criana que brinca no local, faz novas ami-
zades, surgem parcerias. A enfermeira, ou outra pessoa, na ausncia
da me, acaba a substituindo, pois existe ateno e carinho. A relao
mdico/paciente/famlia/equipe forma vnculos que ficam por mui-
tos e muitos anos.
Vou citar um fato curioso. Quando eu me refiro a vnculo com
uma pessoa, lembro-me de um fato muito gozado. As pessoas me
desculpam se eu cometo algum erro. A famlia me perdoa. s vezes,
dizem: O caso complicado mesmo, Doutor. complicado nada, eu
que errei, compreendeu? Mas a pessoa me desculpa, me perdoa.
interessante a situao.
A preparao para a alta hospitalar e para o retorno vida normal
so comprovadas vantagens da brinquedoteca. Temos muitos depoi-
mentos de quem trabalha em brinquedotecas, das crianas e das mes,
teses de ps-graduao. Hoje em dia h muita coisa que mostra que
a brinquedoteca realmente funciona, vale a pena, como a doutora
comentou h pouco.
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36 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
Quero mostrar para vocs um material muito bonito do Instituto
de Oncologia Peditrica da Universidade Federal de So Paulo, da
Escola Ps-Medicina, do Grupo de Apoio s Crianas e Adolescentes
com Cncer. Esse hospital trata de crianas e adolescentes com cn-
cer. O hospital lindo, tem 11 andares. Grande parte do terceiro an-
dar est destinado brinquedoteca. Ali tem casa de apoio, as crianas
tm atendimento l dentro e fora de l. As crianas fazem programas,
vo ao cinema, muitas coisas importantssimas.
Aqui, por exemplo, vemos as crianas brincando. Veja a alegria
que elas tm! Vejam aquela criancinha que mostramos no comeo.
Formamos cantos na brinquedoteca. Conforme a idade da crian-
a, h um canto para ela. Por exemplo, h o canto dos bebs, o das
crianas de at 2, 3 anos, o canto do faz-de-conta, onde tem casinha
e muitos brinquedos.
Esse o Dr. Psiu, o contador de histrias.
H livros e video games. Essa criancinha que est aqui no teatro
uma princesa. Esse menino, olha a carinha dele, a carequinha! Ele
est fazendo quimioterapia e ficou careca. Ento, o que acontece? A
carinha desse menino mostra sua alegria. Ele est com cncer. Vejam
a famlia toda. Esse menininho aqui, veja o jeitinho dele.
Essa fotografia aqui no nossa, do Hospital Federal de Santa
Catarina, mas um modelo muito bonito. Aqui uma vista geral de
brinquedoteca. Como bonita, grande e bem colocada.
Essa criancinha aqui no canto do faz-de-conta tem uma cozinha,
est brincando numa casinha, tem a vida dela. Aqui com o brinque-
dista, as crianas esto brincando com o carrinho. E assim por diante.
assim que funciona.
Tudo isso apresentado para a criana diferente, claro, a crian-
a que est mal, ruim, est com cncer. Essa letargia aqui devida ao
cncer. Olha a carinha dela. O que acontece? Vale a pena? claro que
ela est investindo nisso da.
-
Abertura - Painel: O Papel do Brinquedo na Educao e na Sade 37
Mas acontece um fato muito curioso. Geralmente os mdicos no
conhecem muito isso. Eles no se interessam muito por brinquedote-
ca somente por no conhecer. muito curioso. s vezes a direo do
hospital, s vezes o prprio mdico, o pediatra, que quem cuida de
criana e adolescente, no conhece. Por isso no se interessam.
Eu disse que os mdicos se baseiam na Medicina de evidncias.
O mdico aceita bem o tratamento quando tem certeza que o mesmo
valeu a pena.
Eu imaginei uma pergunta. Ser que existe comprovao cien-
tfica de que a brinquedoteca contribui para maior sobrevida de
crianas e adolescentes com cncer? Ser que a criana com cncer
vive mais tempo porque est brincando na brinquedoteca? At hoje
ningum provou. Pesquisas so importantes para provar esse fato.
difcil avaliarmos a dor, que muito grande, e a doena, para darmos
solues diferentes, e assim por diante.
Pediatras acham que brinquedoteca no lhes diz respeito direta-
mente, ento, no se interessam muito. Fao meus alunos residentes
entenderem o que brinquedoteca. Os que no tm essas aulas, esses
cursos, no se interessam tanto. Os que tm brinquedoteca em seus
hospitais se interessam muito.
A brinquedoteca especialidade que o mdico deve ter diante de
tanta comprovao. Por exemplo, na Escola Paulista de Medicina e na
Universidade Federal de So Paulo, em 1991, a adeso ao tratamento
foi de 29%. Dez anos depois, em 2002, com a brinquedoteca, passou
a 100%. Isso mostra que a adeso proporcionou melhor qualidade de
vida. O mdico entender isso importante.
As recomendaes da Organizao Mundial de Sade so, resumi-
damente: preveno de doenas, cura de doenas quando possvel.
Quem mdico sabe que colocar isso na cabea d tranqilidade
incalculvel. Se voc no cura, comea a ficar meio traumatizado.
No, voc tentou, voc no conseguiu, infelizmente, mas voc tentou,
voc conseguiu o qu? Voc deu especial ateno ao doente e no
-
38 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
doena, voc concedeu, principalmente criana doente, melhor
qualidade de vida.
O pediatra necessita conhecer melhor a brinquedoteca para pro-
porcionar melhor qualidade de vida ao seu paciente. Nesse momento
ele vai se interessar e gostar. Talvez ainda no tenhamos divulgado
muito a brinquedoteca hospitalar. O pediatra geralmente sensvel e
ao entender isso aqui ele se interessa e colabora muito.
Tenho muito entusiasmo com a brinquedoteca hospitalar. Eu
freqento brinquedotecas h muitos anos. Brinquedotecas simples
e outras modelos, como mostrei agora, so diferentes, mas o esp-
rito igual. Eu acho que vale a pena. Sou um pediatra feliz. Se eu
morresse e nascesse de novo eu seria pediatra novamente e mexeria
com brinquedoteca.
A SRA. COORDENADORA (Deputada Luiza Erundina) - Obri-
gada, Dr. Druzio, por essa maravilhosa exposio.
Estou em dificuldade, peo que me ajudem. Prometi algo que
no vou poder cumprir, que o debate. Quero que me ajudem a deci-
dir, porque j estamos atrasados para a outra reunio. um dia curto
para tantos compromissos. Posteriormente negociarei com a Profa.
Nylse, o Dr. Druzio e a equipe da Comisso de Legislao Participa-
tiva no sentido de encontrarmos uma forma de no protelar o incio
da outra reunio. Concordam?
Todos devem estar cansados, sobretudo quem est sentado no
cho. Vamos fazer um intervalo de 10 minutos. Em seguida, instala-
remos a segunda mesa.
Muito obrigada.
-
39
1 Mesa de Debate: A Brinquedoteca no Processo Educacional
O SR. APRESENTADOR (Agnaldo Rayol) - Convidamos para
compor a Mesa a Dra. Edda Bomtempo, pesquisadora de brinquedos
do Instituto de Psicologia da USP; a Sra. Sandra Kraft do Nascimento,
psicopedagoga e membro da Diretoria da Associao Brasileira de
Brinquedotecas; a Sra. Tnia Ramos Fortuna, professora de psicologia
da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
Passamos a palavra Dra. Edda Bomtempo, que dispor de 20
minutos para sua exposio.
A SRA. EDDA BOMTEMPO - Bom dia a todos. Agradeo C-
mara dos Deputados, na pessoa da Deputada Luiza Erundina, que a
alma deste evento. um prazer participar desta reunio que destaca a
importncia do brinquedo na sade e na educao e, por conseguin-
te, da brinquedoteca, que , por assim dizer, o espao da criana.
Antes de entrar na palestra sobre a importncia de brincar
para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil, digo-lhes que
trabalho h muitos anos na rea do brincar. Sou pesquisadora h
mais de 30 anos e vou apresentar-lhes a evoluo que houve nesse
setor de brincar.
Sempre digo que brincar assunto muito antigo e relativamente
novo. muito antigo porque filsofos antigos assim j afirmavam.
Schiller, por exemplo, dizia que o homem s totalmente homem
quando brinca. Rousseau dizia que a criana deve ser tratada como
criana. E Frbel, que o trabalho da criana brincar.
Da as pesquisas foram evoluindo. E, nas dcadas de 20 e 30, j
havia algumas pesquisas. Porm, a recuperao da pesquisa aconte-
ceu mesmo depois do hiato entre as dcadas de 40 e 50 com os
trabalhos de Piaget, na dcada de 50. Recuperao mesmo ocorreu
-
40 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
na dcada de 70, quando aparecem mais pesquisas. Estourou para
valer nas dcadas de 80 e de 90 e agora no incio deste sculo.
O assunto palpitante e interessa a todos, graas a Deus. Fico
muito feliz, porque todos sabem que brincar muito importante
para a criana, no s para a criana, mas para o ser humano de
maneira geral.
Temos tambm o Estatuto da Criana e do Adolescente, que
completa 15 anos e que d para o brincar o mesmo status que d
para a sade e para a educao.4
Agora, vou comear a falar sobre a importncia do brincar na
sade e na educao.
Brincadeiras e jogos so considerados fatos universais, pois sua
linguagem pode ser compreendida por todas as crianas do mundo.
Assim, se quisermos conhecer bem as crianas, devemos conhecer
seus brinquedos e brincadeiras. E isso verdade.
Muitas crianas, s vezes, se encontram na Disney crianas de
todos os pases. Se voc deixar duas crianas juntas, mesmo que elas
no falem a mesma lngua, daqui a pouco elas estaro brincando,
porque elas se entendem, brincando elas se entendem.
Nesse sentido, brincar representa um fator de grande importn-
cia para a socializao da criana, pois brincando que o ser humano
torna-se apto a viver num mundo social e culturalmente simblico.
E brincar exige concentrao durante grande parte de tempo, desen-
volve iniciativa, imaginao e interesse. o mais completo dos pro-
cessos educativos, pois influencia o intelecto, a parte emocional e o
corpo da criana.
Quando disse que o brincar exige concentrao, vocs tambm
repararam quando a Profa. Nylse passou aqueles slides das crianas.
Vocs puderam observar como as crianas estavam concentradas.
Ento, quando a criana est interessada em alguma coisa, ela se con-
centra. Como ela disse: os professores reclamam que as crianas no
prestam ateno. Por qu? Porque aquilo que lhes foi passado no
4 Segue-se exibio de slides. Imagens no disponveis.
-
1 Mesa de Debate: A Brinquedoteca no Processo Educacional 41
foi feito de maneira interessante. Elas tm de aprender Geografia,
Histria, Matemtica, tudo isso, mas podem aprender brincando, e a
estaro muito mais atentas, concentradas. Quer dizer, iro aprender
muito mais brincando.
Nos jogos e brincadeiras emergem valores que dizem respeito
curiosidade, coragem, auto-aceitao, ao otimismo, alegria,
cooperao e maturidade.
Curiosidade. A criana tem curiosidade quando recebe um brin-
quedo ou algum sugere uma brincadeira. Ela tem curiosidade. Muitas
vezes a criana quer e consegue ter determinado brinquedo, nem que
no ganhe o brinquedo, mas tem acesso a ele na brinquedoteca, e ela
vai ficar muito curiosa at saber como brincar com aquele brinquedo.
E brincando, ela vai ter coragem. Por exemplo, o brincar no hos-
pital, onde as crianas tm de enfrentar procedimentos invasivos. Se
voc prepara a criana para enfrentar aqueles procedimentos por
meio do brincar, das brincadeiras, utilizando muitas miniaturas
podem ser usadas at sucatas do material utilizado pelo mdico ,
como seringas e estetoscpios, ela ter mais coragem para enfrentar
aquelas dificuldades que o estar em um hospital acarreta.
Auto-aceitao. Quando ela brinca, ela vai ver o que pode e o
que no pode. Ento, ela vai se aceitar como . Assim, h o brinque-
do com o qual ela pode brincar mais e o que pode menos, porque
ou lhe interessa mais, ou porque mais adequado ao seu nvel de
desenvolvimento. Ela vai se auto-aceitar quando estiver brincando.
Muitas vezes crianas que esto brincando no deixam outra tomar
parte porque ela no conhece a brincadeira. aquele caso do caf
com leite. A criana fica olhando, no participa, mas aprende e de-
pois vai participar.
Vygotsky diz que muito importante a influncia do mais velho
sobre o mais novo. Muitas vezes a criana no consegue brincar, mas
o mais velho d um empurrozinho, d umas orientaes, e a o mais
novo aprende a brincar isso acontece na brinquedoteca.
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42 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
Otimismo. Quando a criana brinca, fica muito alegre, muito
otimista, alm de haver cooperao e competio. Vale dizer que a
competio tambm muito importante, porque no mundo em que
vivemos a competio est a mesmo. No s competir, mas tam-
bm cooperar. Cooperao e competio andam juntas. Exemplo:
num jogo em que vrias pessoas dele participam, daquele brinquedo,
daquele esporte, um grupo que, unido, vai lutar pelo mesmo obje-
tivo. Ento, da mesma forma em que h competio existe tambm
cooperao entre os parceiros.
Maturidade. Vygotsky diz tambm que a criana, quando brin-
ca, mostra capacidade alm daquilo que voc espera, principalmente
nas brincadeiras de faz-de-conta. Ela diz coisas que voc no espera
que ela diga no cotidiano.
H uma autora que diz que sem os rendimentos do saber que o
jogo prov a criana seria incapaz de aprender alguma coisa na escola
e ficaria irremediavelmente alienada do seu ambiente natural e social.
O jogo encarna tudo isso. Ele possibilita, como mencionou a Profa.
Nylse, o desenvolvimento da sociabilidade, a parte cognitiva, a parte
emocional e tambm a parte corporal.
Ento, brincando, a criana se inicia na representao de pa-
pis do mundo adulto que vir desempenhar mais tarde e desen-
volve capacidades fsicas, verbais e intelectuais, alm da aptido
de se comunicar.
O jogo, como se v, um fator de comunicao mais amplo do
que a linguagem verbal e propicia o dilogo entre pessoas de origens
lingsticas e culturas diferentes. Como disse aqui, o brincar tem lin-
guagem universal.
Melaine Klein, a grande fundadora da terapia pelos brinquedos,
dizia que a linguagem da brincadeira , por excelncia, da criana.
Quando fizemos essa observao, notamos que ela vai dizer muito
mais coisas brincando do que se fosse simplesmente falar.
-
1 Mesa de Debate: A Brinquedoteca no Processo Educacional 43
Por intermdio da atividade brincar que a criana interioriza
os valores ticos da sociedade a qual pertence. medida que brinca
ela vai aprendendo vrios valores, como, por exemplo, num jogo de
regras, onde aprende a esperar a sua vez, aprende a cooperar com
o parceiro, aprende estratgias e tambm que, na brinquedoteca, o
brinquedo no s dela, mas de todos que ali esto. Assim, ela apren-
de a cuidar daquele brinquedo para que possa ser usado por todas as
crianas que freqentam a brinquedoteca.
Brinquedos, ento, apresentam um contedo e transmitem uma
mensagem que pode ser percebida pelas crianas de forma diferente
e de acordo com o seu universo de valores, os costumes e as situaes
que permeiam o seu cotidiano.
Podemos dizer, ento, que o brinquedo um produto cultu-
ral e, dependendo do seu nvel de desenvolvimento, a criana ir
reagir diferentemente frente quele brinquedo. Se ela tiver maior
interesse, certamente brincar mais. Se o brinquedo for muito di-
fcil para ela, tal como um jogo com regras complicadas, no con-
seguir brincar e, conseqentemente, ficar desinteressada. Se o
brinquedo for muito fcil, ela tambm no ter interesse. Por isso
dizemos que o brinquedo deve ter um nvel timo, ou seja, aquele
em que a criana brinque com mais facilidade, que ela realmente
goste e se interesse.
Tudo isso tem a ver com o seu universo de valores, os costumes
e as situaes que permeiam o seu cotidiano. De acordo com o am-
biente onde a criana vive, ela reagir de maneira diferente quele
mesmo brinquedo.
Fizemos uma pesquisa com a boneca Barbie, quando comemo-
rou-se os 40 anos de sua criao, para ver se o modo de pensar das
crianas de mdio e baixo nvel socioeconmico era igual. Assim,
pedimos para as crianas que fizessem de conta que a Barbie era uma
pessoa e perguntamos para elas o que imaginavam que a Barbie fazia,
qual era a sua profisso, se ela saa, se tinha namorados, se fazia com-
-
44 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
pras. Para nossa surpresa, as crianas de mdio nvel socioeconmi-
co responderam que a Barbie era empresria, cantora, professora de
ingls e que ela usava o computador e ia para a academia. J as crian-
as de nvel socioeconmico baixo responderam que a Barbie era
empregada domstica, frentista do posto de gasolina, que passava o
pano no cho, fazia comida se bem que hoje em dia ser cozinheira
importante. Aquele era o cotidiano delas. O modelo que elas tinham
era o mesmo das pessoas que conviviam e desempenhavam tais fun-
es, no que tivessem menos percepo da boneca.
O que mais impressiona as crianas no a riqueza da Barbie,
que tem carro, jias e roupas feitas por costureiros, mas a beleza.
Quando perguntamos: Por que voc quer ser igual Barbie? Elas
responderam: Porque ela muito bonita.
Agora, entre as crianas de baixo nvel socioeconmico, no havia
claro conceito de adulto e criana. Elas atribuam Barbie as mais va-
riadas idades. Enquanto as meninas de mdio nvel socioeconmico
davam de 18 a 26 anos para a boneca, as meninas de baixo nvel socio-
econmico davam 9 anos e diziam que ela era adulta; quando davam
20 anos, diziam que ela era criana. Por qu? Porque elas comeam a
trabalhar muito cedo, j tomam conta dos irmos menores.
A minha inferncia a de que essas crianas realmente no tm a
percepo entre adulto e criana, pois deixam de s-lo muito cedo.
O brinquedo pode ser considerado como pedao de cultura co-
locado nas mos da criana e tambm o seu parceiro na brincadeira.
A partir da, passa a ser portador de novos valores por meio da pene-
trao no mundo social.
Nessa pesquisa pudemos ainda constatar que os valores se divi-
dem: os que so importantes para determinada camada social no
so para outros; depende do ambiente, do valor no mundo em que
vivem. Mas brincando tambm vo desenvolver os valores presentes
na sociedade e no seu cotidiano.
-
1 Mesa de Debate: A Brinquedoteca no Processo Educacional 45
Um dos tipos de brincadeira que aparece muito, principalmente
na faixa da pr-escola, na educao infantil, o jogo de faz-de-conta
ou o jogo imaginativo. Nesse tipo de brincadeira a criana progri-
de da necessidade de experimentar alguma coisa para a habilidade
de pensar sobre ela. Quando a criana muito pequena, est muito
presa ao concreto, mas, na medida em que comea a internalizar as
coisas presentes num objeto ou numa situao, falar sobre elas sem
precisar da presena do objeto ou do modelo. Em geral, elas tm mo-
delos, os quais podem ser muitos bons ou no.
Segundo Winnicott, quando a criana se desenvolve precisa es-
pelhar-se em um modelo positivo. Se no for bom, ela desenvolver o
falso self. Quer dizer, ela olhar o mundo de maneira deturpada. No
ser um adulto que pensar em desenvolver um mundo melhor.
Para incrementar a ocorrncia da interao social na infncia se-
ria interessante prover a criana de variedades ldicas, oferecendo
oportunidade de desenvolver, por meio dos brinquedos, habilidades
bsicas de cooperao, eficiente comunicao, competio honesta
competio sempre vai existir, o nosso dia-a-dia mostra isso, mas
quando competimos, devemos faz-lo de forma honesta e reduo
de hostilidade e agresso.
J orientei muitas pesquisas e teses, inclusive uma em que intro-
duzimos os jogos cantados na pr-escola, pois havia muitas crianas
agressivas. E a brincadeira cantada no foi feita da noite para o dia,
houve uma longa pesquisa, durante vrios meses. Com isso, houve
diminuio da agressividade. Algumas crianas de 6 anos simples-
mente no brincavam, s se socavam e brigavam. Mas com a intro-
duo dos jogos cantados, reduziu-se significativamente a violncia.
O brincar e o currculo. Tudo indica que os professores tm di-
ficuldade para justificar a insero das atividades ldicas no ensino
porque, em primeiro lugar, a administrao da escola sempre cobra
dele o ensino acadmico, se foram ensinadas as disciplinas de ma-
temtica, histria e portugus. A criana, brincando, aprende todas
-
46 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
elas, mas nem a administrao da escola nem os professores esto
preparados para tal.
Por outro lado, os pais dizem que os filhos esto na escola para
estudar, e no para brincar. S que o brincar essencial no s para
a educao, como tambm para a sade e para o desenvolvimento.
A criana que no brinca, com toda a certeza, doente. Se algum
disser: Professora, o meu filho est de tal jeito. Pergunte logo: Ele
brinca? Se ele no brinca, provavelmente deve ter alguma coisa, o
buraco deve estar l embaixo, no em cima.
Os professores no recebem formao que os capacitem a enten-
der o tipo de aprendizagem que provm do uso bem empregado das
brincadeiras e da oportunidade de brincar; ou seja, a formao deles
no eficiente para isso. Por isso a dificuldade de inserir o brincar no
currculo. Na verdade, precisariam entrar no universo de brincadei-
ras das crianas. Costumo dizer que, quando lidamos com criana,
no podemos ter olhar de adulto. Devemos ter o olhar da criana,
devemos olh-la como criana, do contrrio, no iremos entend-la.
Introduzir a brincadeira no ensino requer a compreenso das di-
ferentes formas de brincar, relevantes para cada criana, j que cada
uma tem o seu ritmo, elas no so iguais. Ento, uma brincadeira que
leva algumas crianas a ficarem horas e horas brincando, para outras,
no interessante. Com as novidades do video game, computador e
play station, a crianada fica brincando horas e horas. preciso at
tir-las dos brinquedos, porque para tudo tem de haver limite, tem
de haver equilbrio. No que o video game no seja bom, ele um
brinquedo como outro qualquer, s que a criana no pode ficar o
dia inteiro jogando.
Profundo conhecimento dos materiais ldicos, para saber lidar
com eles, e estmulo interao entre crianas. Quer dizer, o profes-
sor, como tambm o brinquedista, que em geral professor, tm de
conhecer todos os materiais com os quais tem de lidar. O brinque-
dista, na brinquedoteca, tem de conhecer os brinquedos, a parte de
-
1 Mesa de Debate: A Brinquedoteca no Processo Educacional 47
teatro, histrias infantis para cont-las s crianas, os cantos; ele tem
de prever tudo o que pode acontecer, tudo o que pode ser feito.
O que influencia a brincadeira? Os espaos, em primeiro lugar. A
cada dia os espaos para crianas esto ficando menores. Os aparta-
mentos so muito pequenos, a prpria famlia diminuiu bastante, as
crianas tm poucos amigos e poucas oportunidades. Quando eu era
criana podia-se brincar nas ruas, agora j no se pode mais pode
ser que no interior ainda possa , a no ser que haja ruas de lazer, que
so fechadas nos fins de semana para as crianas poderem brincar,
parques e a brinquedoteca, que o espao da criana.
A brinquedoteca o espao privilegiado para a pesquisa. L se
pode observar a criana, como ela brinca, porque ela no brinca,
tudo isso que pode dar um feedback para a pessoa que trabalha na
brinquedoteca. Os jogos em grupo preparam a criana para integra-
rem uma sociedade adulta, porque com esses jogos ela vai aprender a
relacionar-se com o outro, vai se preparar para novos papis.
Interao das crianas com os pais. Eu sempre digo que pais
tm de brincar com os filhos, porque nessas horas as relaes de
poder desaparecem. Ento, no est ali o pai, aquele que man-
da, a me, aquela que manda, mas os que esto no mesmo nvel
que o filho. Nessa hora as crianas vo poder dizer para os pais
coisas que elas no diriam no dia-a-dia. Na hora em que esto
brincando com os pais, elas ficam mais relaxadas e conseguem
dizer muita coisa.
Facilitao direta ou indireta do brincar por parte do professor.
O professor tem de facilitar o brincar. A maneira participativa a
melhor. Se as crianas comeam a brigar, hora de intervir. Se elas
tm uma dvida e perguntarem, hora de intervir. Ele pode abdicar
de ser organizador, mas no pode abdicar de ser animador.
Treinamento ou experincia com certos tipos de brinquedo. So-
bre isso j falei.
Preparao, planejamento cuidadoso e orientao.
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48 BRINQUEDOTECA: A IMPORTNCIA DO BRINQUEDO NA SADE E NA EDUCAO
O professor tem de planejar primeiro o que vai fazer. A mesma
coisa vale para o brinquedista. Numa creche ou numa escola de edu-
cao infantil, deve haver uma relao com o professor e o brinque-
dista. Se o professor quiser levar algum brinquedo para a sala de aula,
quando quer dar uma matria nova, ele no pode usar o brinquedo
como mais uma tarefa. Ele vai deixar que a criana descubra, e, quan-
do isso acontece, ele aproveita para ensinar, para dar mais informa-
es sobre o que pretende.
Avaliao e observao constantes. A avaliao e a auto-avaliao
tm de ser feita por ele. Nunca se pode deixar de avaliar, principal-
mente a si mesmo. Ser que eu estou sendo um bom professor? Ser
que eu estou fazendo tudo o que poderia para os meus alunos? Essa
avaliao tem de ser constante, assim como a observao.
Quando eu entrei na faculdade, lembro que o meu professor
dizia sempre: primeiro, vamos comear observando. Ento, obser-
var uma coisa importantssima. Observar os alunos, observar as
crianas, observar as pessoas adultas. Agora h brinquedoteca para
adulto tambm.
competncia profissional preciso acrescentar alegria, entu-
siasmo, aptido para relaes humanas, complementadas pela for-
mao continuada. O professor nunca pode deixar de estudar. Todos
ns, professores, nem que estejamos dando aula em cursos de ps-
graduao e l temos de estudar mais, porque os alunos so mais
exigentes , temos sempre de nos reciclar, fazer cursos e melhorar.
A aprendizagem pode e deve ocorrer em contexto ldico. Talvez os
bons professores sejam os que levam para a sala de aula o respeito
pelas crianas.
A criana uma cidad e tem de ser respeitada, tem de ser com-
preendida, tem de ser amada. Desta forma, poderemos reconhecer e
apreciar melhor o brincar das crianas, to necessri