bricolagem como método de pesquisa

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bricolagemmetodologia científica

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Page 1: Bricolagem Como Método de Pesquisa

Bricolagem como método de pesquisa Por Joe L. Kincheloe

O termo bricolagem é aqui lido a partir de Denzin e Lincoln (2000) que, por sua vez, o utilizam no espírito de Claude Lévi-Strauss (2002) a partir de sua

discussão sobre O pensamento selvagem.

A palavra francesa bricoleur, uma espécie de trabalhador manual, um faz tudo

que lança mão de todas as ferramentas disponíveis para realizar uma tarefa. Pode-se conotar esperteza e malandragem como Hermes e sua figura ambígua

na mediação entre os homens e os deuses.

Ilustração do Symbolicarvm qvaestionvm de vniuerso genere, 1574, de Achille Bocchi, com a imagem de Hermes como o intérprete do conhecimento

universal. Imagens Educadores: Hermes.

Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mylinks/viewcat.php?cid=8&letter=H

min=20&orderby=titleA&show=10>;. Acesso em: 11.out.2012

"Chamado de trapaceiro por sua ambiguidade, ao mesmo tempo era

mensageiro dos deus e também fiel mensageiro do mundo das trevas", Hermes é "retratado por Homero e Hesíodo, com suas habilidades e benfeitor dos mortais, portador da boa sorte e também das fraudes".

Mitologia Grega: Hermes, o mensageiro dos deuses. Disponível em: <http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2010/07/filhos-de-zeus-hermes.html>;.

Acesso em: 11.out.2012

Aqui a imagem de Hermes sugere-nos a associação que Aristóteles teria feito sobre a hermenêutica, ciência da interpretação, tradução e exegese, a partir

dos atributos de Hermes. Escorregadia como a interpretação é também a pesquisa, uma atividade interpretativa, e "como indicaram os estudos culturais, toda investigação científica é precária até certo ponto" (Kincheloe, 2007, p.

15). Na perspectiva dos estudos culturais, a ciência não é limpa, simples e tão procedimental como querem os cientistas.

Page 2: Bricolagem Como Método de Pesquisa

Característica interdisciplinar Bricolagem (primeira década do século XXI)

"processo de emprego dessas estratégias metodológicas à medida que são necessárias no desenrolar do contexto da situação de pesquisa". (Idem) Como Hermes, bricoleur-mediador e bricoleur-pesquisador Reconhecendo a característica interdisciplinar da bricolagem, o autor propõe

um avanço rumo a um novo terreno conceitual, um processo eclético e multidisciplinar da pesquisa, destacando "o relacionamento entre as formas de ver de um pesquisador e o lugar social de sua história pessoal". Isso implica no abandono de conceito ingênuo de realismo e, ao invés disso, busca sua posição de pesquisador na teia da realidade e nos lugares sociais que

estabelece com outros pesquisadores, discutindo formas como a sua posição e a dos outros pesquisadores moldam a produção e a interpretação do conhecimento.

Epistemologia da complexidade

Aqui os bricoleurs avançam ao domínio da complexidade, por isso está fundamentada na epistemologia da complexidade.

A epistemologia da complexidade é um ramo da filosofia da ciência inaugurado no início dos anos 1970 por Edgar Morin, Isabelle Stengers EIlya Prigogine. Edgar

Morin, Introdução ao Pensamento Complexo. Exemplo desta complexidade é a relação entre a pesquisa e a teoria social.

Como toda teoria é um artefato cultural é inseparável da dinâmica histórica que a moldou. Assim o bricoleur busca essa complexidade, revelando os artefatos invisíveis de poder e cultura, documentando a sua influência em sua própria

prática acadêmica na relação com a prática acadêmica em geral. "Os bricoleurs atuam a partir do conceito de que a teoria não é uma explicação do mundo - ela é mais uma explicação de nossa relação com o mundo" (Idem,

p. 16). Bricolagem ativa

No esforço de se relacionar com a complexidade, e talvez não dominá-la com propõe o autor, apropria-se dos métodos de pesquisa, construindo-os ativamente a partir de ferramentas que têm à mão, evitando receber

passivamente as metodologias "corretas". Assim, ousa inventá-las, juntar uma com as outras e recriar metodologias.

Rejeita visões deterministas da realidade social que pressupõem os efeitos de processos sociais, políticos, econômicos e educacionais. Por isso, "na bricolagem ativa, unimos nossa visão do contexto de pesquisa à nossa

experiência anterior com métodos de pesquisa. Usando esses conhecimentos, fazemos bricolagem, no sentido de Lévi-Strauss, com nossos métodos de pesquisa, em contextos de campo e interpretativos. Essa ação da bricolagem é

um processo cognitivo de alto nível que envolve construção e reconstrução, diagnóstico contextual, negociação e readaptação" (Idem, p. 17)

Relação pesquisador e sujeitos da pesquisa

Page 3: Bricolagem Como Método de Pesquisa

A relação do pesquisador com seus objetos, que prefiro sujeitos, de pesquisa é

imprevisível, volátil e complexa. Daí que é difícil planejar antecipadamente as estratégias de pesquisa, de modo que os bricoleurs inserem-se na pesquisa como negociadores metodológicos. Isso me lembra a perspectiva da pesquisa-

ação, na qual não é possível prever detalhadamente as metodologias, mas optar por elas durante o processo.

Tipos de bricoleurs Aqueles comprometidos com o ecletismo na pesquisa, permitindo que as circunstâncias apontem as metodologias.

Aqueles dedicados à genealogia e à arqueologia das disciplinas. Para o autor, um mesmo pesquisador pode lidar com ambos interesses, pois ao apreciar a

complexidade dos processos de pesquisa, nota que a escolha dos métodos envolve muito mais que procedimentos.

Método de pesquisa como tecnologia da negociação Forma de defender o que afirmamos saber e processo por meio do qual o sabemos. Implica em recusa a aceitação passiva de métodos de pesquisa

impostos de fora, conhecimentos descontextualizados e reducionistas. "Quem disse que pesquisa tem que ser feita assim?"

Despreza a ideia de que métodos monológicos e ordenados nos conduzem ao "lugar certo" na pesquisa acadêmica. Devemos usar os métodos que melhor possibilitam responder a nossas

perguntas sobre um fenômeno, por isso, o pesquisador deve conhecer os métodos, antes que os tenha à mão: como podem ser aplicadas em relação a outros métodos. Por ser uma tarefa complexa, é para toda a vida.

É uma jornada entre o científico e o moral, a relação entre o quantitativo e qualitativo, a natureza das ideias sociais, culturais, psicológicas e educacionais.

Acesso a comunidades de investigadores - dentro e além da academia - que criticam, apoiam e informam uns aos outros. Podendo ser grupos raciais, de

classe, de gênero, sexuais, étnicos e religiosos. Norman Denzin e Yvonna Lincoln escrevem sobre a 'razão prática' da

bricolagem, operando em cenários concretos - como nos grupos acima - para conectar teoria, técnica e conhecimentos oriundos da experiência. Domínio teórico ligado ao mundo vivido, e novas formas de cognição e pesquisa

enatuadas (enação, enatuar, 'enaction': atuação e representação, agir no mundo. Enativismo: teoria cognitiva que se concentra na noção de que a expressão mais elevada da inteligência humana envolve a ação imediata de

improvisação das pessoas no mundo, ou agir no mundo. Enact pode ser traduzido como agir no mundo em relação às condições com que nos deparamos. (Idem, p. 19)

Bricolagem subversiva Aceita que a experiência humana é marcada por incertezas e que nem sempre

a ordem é estabelecida com facilidade. Por isso, não há sentido final, "trans-histórico" e não-ideológico que os bricoleurs lutem para alcançar. À medida que criam, em lugar de encontrar o

sentido na realidade enatuada, exploram sentidos distintos, trabalham para solapar a proclamação do universal de um fenômeno, descortinando formas de

conhecimento reducionista, bem como processos de pesquisa empobrecedores.

Page 4: Bricolagem Como Método de Pesquisa

Negam o paradigma da fragmentação e da ordem para o conhecimento em

nome de facilidade, da assepcia do processo de investigação. A bricolagem subverte o caráter conclusivo do ato empírico

Toda pesquisa é marcada em todos os níveis pelos seres humanos. Entende que o processo de pesquisa é subjetivo; no lugar de reprimir a subjetividade, busca seu papel na investigação.

Bricoleur ocupa-se com a construção do eu, sua influência na percepção e na influência da investigação.

Contexto, discurso e poder na bricolagem

O discurso e o contexto são dimensões centrais do ato interpretativo. O bricoleur não se dispõe a declarar uma verdade ao final de investigações empíricas, pois sabe que os mesmos dados e fatos, visto sob outras

perspectivas, contextos, discursos e relações de poder geram interpretações distintas. Discursos dominantes moldam o processo de pesquisa, os bricoleurs observam

como esse processo opera por meio da cultura e da linguagem (e da imagem!). Pesquisa filosófica

Designa uso de várias ferramentas filosóficas para ajudar a esclarecer o processo de investigação e proporcionar uma visão dos pressupostos em que se baseia do ponto de vista conceitual. Por ela, os bricoleurs se tornam auto-

reflexivos sobre seu papel e dos outros pesquisadores no processo de criação do conhecimento e da realidade, pois conhecer e conceituar são construções humanas. Acerca da complexidade da bricolagem Considerarem sua subjetividade de pesquisadores, sua invenção, descoberta,

borrando a fronteira entre mundo social e representação narrativa. Inclui aqui história de vida, contexto concreto, de raça, classe, gênero e sexualidade sobre os pesquisadores e o conhecimento que produzem.

Assim ressalta-se as características éticas, epistemológicas, ontológicas e políticas da pesquisa e do conhecimento produzido ao conduzir o papel da ciência como cultural.

Exploram a natureza e os efeitos da construção social do conhecimento, da percepção e da subjetividade humana. Questionam a visão de que o conhecimento e o sentido exista no mundo separadamente da experiência do

indivíduo. Construtivismo, historicidade e hermenêutica crítica

Na construção social do conhecimento e da subjetividade humana, os bricoleurs adquirem sua própria historicidade, da construção histórica, social, cultural, ideológica e discursiva da ciência e da pesquisa. Passam a apreciar a

maldefinida linha entre o histórico e o historiográfico. Fazer perguntas sobre a produção de conhecimento que ficaram sem ser feitas e avançar na compreensão de processos antes invisíveis que moldam como

descrevemos e agimos no mundo. Daí sua relação com o construtivismo - processo de construção do conhecimento - e da historicidade na relação com a interpretação, aqui hermenêutica crítica, a qual se ocupa da dimensão crítica do

poder e seus efeitos no mundo do conhecer.

Detetives das ideias subjugadas

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Pesquisas que surgem do diálogo com inúmeros modos de produção de sentido

e de conhecimento, nascidos em diversos locais sociais. A partir do conceito da diferença questiona de que forma o poder dominante opera para excluir e autorizar produção de conhecimento? Elemento imaginativo ficcional da pesquisa

Ficcional não como irreal, mas no sentido de produzir algo que ainda não existe, ou seja, com os olhos no futuro. Não se trata de uma panacéia, mas novos pontos de vista, modelos mais

holísticos para compreender novas formas de pensar, ver, ser e pesquisar. Conectar o ato de pesquisa à emoção e ao coração da experiência humana e

vivida. http://escritademyself.blogspot.com.br/2012/10/bricolagem-como-metodo-de-pesquisa_11.html