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BREVES APONTAMENTOS SOBRE A FORMAÇÃO DA CULTURA JURÍDICA NO BRASIL NOTES ON THE FORMATION OF BRAZILIAN LEGAL CULTURE Gustavo Silveira Siqueira RESUMO Discutindo com diversos intérpretes do Brasil, o autor procura encontrar elementos comuns a esses para fomentar uma nova narrativa sobre a formação da cultura jurídica no Brasil. Assim, pretende demonstrar como elementos típicos da colonização e do Estado português foram transplantados para o Brasil colônia e influenciaram a formação da cultura jurídica brasileira e que ainda podem ser percebidos, com novas roupagens ou nas suas antigas formatações. Faz-se assim, uma investigação sobre a formação individualista, cordial, pratimonialista e patriarcalista da sociedade e conseqüentemente do Estado e do Direito no Brasil, assim como dos seus reflexos nos momentos históricos e na contemporaneidade. PALAVRAS-CHAVES: CULTURA JURÍDICA – HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL – INTERPRETES DO BRASIL. ABSTRACT This work is an interdisciplinary approach about the formation of the state and the law in Brazil. Wants to demonstrate how elements typical of the Portuguese colonization were transplanted to Brazil colony and influenced the formation of legal culture in Brazil, and that can still be perceived, with new clothes or in their old formats. It is thus an investigation on the formation individual, patrimonialism and patriarchal of society and therefore the rule of law and in Brazil, as well as their impact on contemporary and historical moments. KEYWORDS: LEGAL CULTURE – HISTORY OF LAW IN BRAZIL – INTERPRETERS OF BRAZIL 1.0 Introdução A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em conseqüência. [1] 5034

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BREVES APONTAMENTOS SOBRE A FORMAÇÃO DA CULTURA JURÍDICA NO BRASIL

NOTES ON THE FORMATION OF BRAZILIAN LEGAL CULTURE

Gustavo Silveira Siqueira

RESUMO

Discutindo com diversos intérpretes do Brasil, o autor procura encontrar elementos comuns a esses para fomentar uma nova narrativa sobre a formação da cultura jurídica no Brasil. Assim, pretende demonstrar como elementos típicos da colonização e do Estado português foram transplantados para o Brasil colônia e influenciaram a formação da cultura jurídica brasileira e que ainda podem ser percebidos, com novas roupagens ou nas suas antigas formatações. Faz-se assim, uma investigação sobre a formação individualista, cordial, pratimonialista e patriarcalista da sociedade e conseqüentemente do Estado e do Direito no Brasil, assim como dos seus reflexos nos momentos históricos e na contemporaneidade.

PALAVRAS-CHAVES: CULTURA JURÍDICA – HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL – INTERPRETES DO BRASIL.

ABSTRACT

This work is an interdisciplinary approach about the formation of the state and the law in Brazil. Wants to demonstrate how elements typical of the Portuguese colonization were transplanted to Brazil colony and influenced the formation of legal culture in Brazil, and that can still be perceived, with new clothes or in their old formats. It is thus an investigation on the formation individual, patrimonialism and patriarchal of society and therefore the rule of law and in Brazil, as well as their impact on contemporary and historical moments.

KEYWORDS: LEGAL CULTURE – HISTORY OF LAW IN BRAZIL – INTERPRETERS OF BRAZIL

1.0 Introdução

A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em conseqüência. [1]

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Sérgio Buarque de Holanda inicia Raízes do Brasil com a assertiva acima. A pretensão do livro é demonstrar como a implantação de uma cultura estranha às condições naturais, com a violência e a força da imposição, foi importante na formação do Brasil. Como a importação de modelos de instituições, de idéias, de Estados, foram marcantes para poder-se afirmar que “somos ainda hoje desterrados em nossa terra.”[2]

A história da formação do Brasil é a história de uma cópia de modelos. Uma cópia, em alguns momentos, forçada por aqueles que colonizavam o país seja economicamente, seja culturalmente e também, em outros momentos, uma cópia desejada, desejada por aqueles que aqui habitavam, por acreditarem na inferioridade do brasileiro e na inferioridade da cultura que aqui existia. [3] Tanto a cultura, quanto o direito – em grande parte da história do Brasil – não foram produtos de uma evolução da experiência da sociedade, como ocorreu em outros países, mas sim advindos de um processo colonizador que impunha aqui as suas normas e os seus costumes.[4] Esse contexto é ironizado por Eduardo Galeano: “Durante cinco séculos fomos adestrados para copiar ao invés de criar. Já que estamos condenados à copiandite, poderíamos, ao menos, escolher nossos modelos com um pouco mais de cuidado.”[5] Mas para entender essa cultura imposta é necessário perceber como ela se formou, é necessário perceber como ela veio do além-mar para o Brasil, e assim, poder-se-á iniciar um melhor entendimento do Brasil e de suas raízes.

1.1 Colonização e aspectos culturais

Portugal e Espanha, os países da Península Ibérica, são considerados uma zona de fronteira, de transição, sociedades que se desenvolviam “quase à margem das congêneres européias”[6]. A cultura da personalidade pode ser encarada como uma das características principais dessas sociedades, em que cada homem tem mais valor a partir do momento “que não necessite de ninguém, em que se baste”[7]. São valorizados os sucessos individuais, o mérito pessoal[8], a força da pessoa e aquilo que ele conseguiu. Aquele que pensa somente no individual e que valoriza apenas a força individual vai ter problemas para conviver em sociedade e se relacionar com o Estado. A sociedade e o Estado passam a ser vistos unicamente como meios para obtenção de fins, quando não são vistos como inimigos, dos quais deve-se sempre manter distância, ou aproveitar quando se tiver oportunidade. Não se dá valor ao coletivo, não se dá valor às conquistas sociais, apenas o indivíduo é valorizado.

Foi somente na civilização ocidental que a idéia de indivíduo foi construída como centro e foco do universo social, contendo dentro de si a sociedade. [9] Foi apenas no mundo ocidental, e nem o Brasil ou Portugal fogem à regra, que a noção de indivíduo pôde se desenvolver de forma que esse conceito tenha dentro dele toda a sociedade. Mas foi apenas em algumas sociedades que esse indivíduo foi tomado como ponto central da ideologia, ou seja, ele acabou sendo mais valorizado que a própria sociedade. A sua

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liberdade, os seus méritos individuais, acabam sobressaindo mais que os valores sociais. Assim, nessas sociedades, “o indivíduo não quer alterar o mundo social, que nem mesmo reconhece e identifica (...) só são solidários entre si por motivos afetivos e só se submetem pela obediência.”[10]

Foi por essa característica ibérica que Sério Buarque de Holanda pôde afirmar que “Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida”[11], ou seja, sem o desenvolvimento de um espírito, ou uma idéia de coletividade, não é possível em uma sociedade desenvolver governos ou elementos democráticos. A participação nas instituições coletivas só é possível com a construção de idéias e ações coletivas. O gosto pelos títulos militares, mercês e honrarias prometidas em troca de serviços, como Portugal fazia àqueles que aqui se aventuravam[12], não são suficientes para construir um país de cidadãos. É necessária a consciência de que a sociedade só pode existir com o indivíduo e o indivíduo só pode existir com a sociedade. A tentativa de destruição de qualquer um desses elementos leva à imposição pela força, seja do indivíduo sobre a sociedade, seja da sociedade sobre o indivíduo. Ambos podem e devem coexistir. Essa falta de sensibilidade, como disserta Sérgio Buarque de Holanda, pode facilitar a imposição de forças exteriores aos desejos e à sociedade e facilitar a implantação de ditaduras e governos autoritários, que excluem a participação crítica e popular da sociedade: “Nelas predominou incessantemente, o tipo de organização política artificialmente mantida por uma força exterior, que, nos tempos modernos, encontrou uma das suas formas características nas ditaduras militares”.[13] Povos acostumados a não se organizarem de uma forma coletiva, que valorizam apenas os pequenos reis individuais, sofrem tendência à essas ditaduras. O cidadão não é acostumado a decidir discursivamente ou em consenso. Tem-se a facilidade de aceitar decisões impostas e pretensões de monarcas (porque). Criam-se assim duas figuras: a vontade de mandar, de decidir sozinho, sem participação alheia e há também a capacidade de cumprir fielmente essas decisões, pois acostuma-se com o outro decidindo por você. Essas figuras que em um primeiro momento podem parecer contraditórias, na verdade, revelam a mesma face de um individualismo exacerbado: prefere-se mandar sempre nos outros, independentemente da decisão deles. Da mesma forma, aquele que não participa, quando tem que cumprir uma ordem, a cumpre fielmente – quando não pode corrompê-la –, pois não tem a noção da participação que nega quando tem o poder de decidir.. Forma-se um círculo vicioso de pequenos reis e ditadores. Torna-se mais fácil mandar, torna-se mais fácil obedecer: “As ditaduras e o Santo Ofício parecem constituir formas tão típicas de seu caráter como a inclinação à anarquia e à desordem.”[14] O indivíduo é anárquico quando tem o poder e é submisso e não participante de uma ordem imposta, a obediência existe quando lhe é conveniente. E talvez veja cada vez mais necessário perceber como:

a renitências das feições culturais continuaria a emperrar a edificação da modernidade no país, ou seja, o problema ainda residiria nas origens culturais da nação, cuja permanência secular determina o “dilema brasileiro” enquanto incapacidade de conquistar a democracia e a liberdade.[15]

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“Os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente, com a cumplicidade ou indolência displicente das instituições e costumes”.[16] Instituições públicas que não são vistas como coletivas ou com participação coletiva, são instituições que se mantém pela força e quando não a tem são destruídas.Quando os elementos da sociedade são impostos, quando suas instituições são impostas, verifica-se a fragilidade delas quanto a sua legitimidade. Se a sociedade não vê como legítima suas instituições, essas são fadadas à destruição, ou à constante corrupção[17] por isso que Adrián Gurza Lavalle pôde dizer que vida pública tolhida pela pertinácia do privatismo é um fator que emperra a construção do espaço público moderno[18], um espaço público de legitimação de discussão para legitimidade. A legitimidade das instituições, ou melhor, o reconhecimento das instituições como legítimas por parte da sociedade, ou pelos afetados por essas instituições, é fundamental para o bom funcionamento delas e principalmente para a sua sustentabilidade e permanência na história. Sem a relação sociedade-instituição a segunda é fadada ao fracasso, pois ela só tem sentido de existir se tiver foco e importância para a primeira. Da mesma forma ocorrem as relações com as regras sociais.

A ausência de regras se impõe também quando existem regras. Quando as regras que existem não são respeitadas tem-se a ausência fática dessas regras. Isso pode ser explicado pelo extremo individualismo. O extremo individualismo leva a uma corrupção das regras coletivas, quando prejudica o indivíduo, e uma valorização dela quando o beneficia. Por isso, talvez seja possível explicar no Brasil a conjugação entre a burocracia e a corrupção.[19]

A repulsa pelo culto ao trabalho sempre foi combatida por uma “digna ociosidade” admirada pelos ibéricos, enquanto os povos protestantes exaltavam o trabalho, especialmente o manual. Sérgio Buarque de Holanda acredita que essa valorização reflete uma reduzida capacidade de organização social, pois “onde prevaleça uma forma qualquer de moral do trabalho, dificilmente faltará a ordem e a tranqüilidade entre os cidadãos, porque são necessárias, uma e outra à harmonia de interesses”[20], ou seja, onde existe a preocupação com o trabalho, existe a preocupação com o coletivo, visto que as relações de trabalho, necessariamente se interligam, criam a solidariedade, que é vista nos ibéricos apenas nas relações primárias, pessoais. Assim pode-se perceber que na sociedade não há apenas afeto, há também trabalho e principalmente construção de uma sociedade. Não se pode construir uma sociedade apenas com afeto, com cordialidade, é necessário o trabalho e a organização social para essa construção. Um Estado que pretende-se democrático e de direito, deve ser construído por seus cidadãos, só eles têm condições de perceber suas especificidades e suas necessidades. Qualquer tentativa da imposição de um Estado alheio à sociedade, ou alheio aos seus anseios está fadado a sofrer carência de legitimidade e de sustentação:

Enfim: culto da personalidade, valores individualistas, ausência de uma moral do trabalho, resistência à regra social, à lei, têm como conseqüência uma sociedade dificilmente governável, pelo menos de forma democrática. Tal autarquia dos indivíduos, tal anarquia, só uma força externa pode organizar e dirigir. À liberdade excessiva substitui-se com facilidade a obediência cega. [21]

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Em grande parte dos países europeus, a ascensão da burguesia ao poder ou a influência que a burguesia passa a exercer no poder vêm de movimentos revolucionários ou de revoltas. Em Portugal prevaleceu um modelo diferente. Existia em Portugal medievo um Estado patrimonial, não feudal, o rei que se eleva a todos os súditos, é proprietário das terras e dono do comércio. “O sistema patrimonial, ao contrário dos direitos, privilégios e obrigações fixamente determinados do feudalismo, prende os servidores numa rede patriarcal, na qual eles representam a extensão da casa do soberano”. Na Portugal medieval, o rei tinha todas as propriedades, não existiu a força do senhor feudal, tudo pertencia ao rei, assim, a descrição de um feudalismo pode parecer um tanto quanto questionada. O patrimonialismo é marcado por uma relação de poder real sobre os bens do reino, tudo pertence ao rei: as terras e o comércio. Não há divisão entre os bens reais e os bens públicos ou do Estado. Esse sistema é alimentado por um patriarcalismo, em que o Rei determina todos aqueles que poderão juntar-se a sua grande família e poderão usufruir dos seus bens ou de suas concessões territoriais ou comerciais. O patrimonialismo[22], dominação tradicional em que não se diferenciam o público e o privado, e aquele é usado em privilégio deste, é uma das características portuguesas que são transferidas para o Brasil.[23] Raymundo Faoro vai mais longe e disserta que:

Patrimonial e não feudal o mundo português, cujos ecos soam no mundo brasileiro atual, as relações entre o homem e o poder são de outra feição, bem como de outra índole a natureza da ordem econômica, ainda hoje persistente, obstinadamente persistente (...) Dominante o patrimonialismo, uma ordem burocrática, com o soberano sobreposto ao cidadão, na qualidade de chefe para funcionário, tomará relevo a expressão. Além disso, o capitalismo, dirigido pelo Estado, impedindo a autonomia da empresa, ganhará substância, anulando a esfera das liberdades públicas, fundadas sobre as liberdades econômicas, de livre contrato, livre concorrência, livre profissão, opostas, todas, aos monopólios e concessões reais[24]

Por isso a conclusão que em Portugal não houve o feudalismo[25], ou um feudalismo diferente da Europa continental[26], porque o rei sempre foi possuidor de tudo. Não existiu o desenvolvimento do senhor feudal, pois todas as terras eram do rei, nem de uma burguesia forte, pois o comércio também era concessão real. "O sistema patrimonial, ao contrário dos direitos, privilégios e obrigações fixamente determinados do feudalismo, prende os servidores numa rede patriarcal, na qual eles representam a extensão da casa do soberano”[27]. O Estado português é uma empresa do príncipe e o comércio definiu o destino do reino: expansão comercial, que fará do Estado uma gigante empresa de tráfico, mas impedirá o capitalismo industrial, face ao precário enriquecimento da burguesia, limitada ao poder real[28]. O forte controle do Estado patrimonialista e patriarcalista português absorverá a burguesia comercial e impedirá o desenvolvimento de uma industrialização seja no país seja na sua colônia, onde as manufaturas serão proibidas e a obrigatoriedade da compra dos bens portugueses ou importados por Portugal será a lei. O Estado impede a industrialização em Portugal e na colônia, e a burguesia, que poderia trazer essa mudança quando da sua ascensão ao poder político, está ligada ao poder real. Em Estados sem revolução burguesa e onde o rei é dono de tudo, a única forma de ter uma ascensão na sociedade, é unir-se ao rei.

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Tradição que unida ao individualismo já existente em Portugal, unido às idéias, que começavam a se desenvolver, como o individualismo mercantil, e até mesmo filosófico, descrito por Descartes[29], vão forçar, ou fomentar, ainda mais aquele primeiro individualismo exacerbado.[30] Individualismo exacerbado que não pensa na coletividade, pois o individualismo que não é exacerbado pensa na sociedade como uma forma, também, de beneficiar a sua própria vida.

A ascendente burguesia portuguesa mercantil não estabelece novos valores, ela compra esses valores da monarquia, ela associa-se às antigas classes dirigentes, assimila seus princípios e guia-se pela tradição[31], desse fato podem ser extraídas duas conclusões: Ela não instituiu valores modernos como diligência, pontualidade, pertinácia, parcimônia, exatidão, solidariedade social.[32] A fácil mobilidade social, principalmente em Portugal, permitiu que cidadãos ascendessem socialmente sem grandes obstáculos[33], fator que levou a burguesia, ascendente ao poder, a não necessitar pensar um “modo de viver e pensar absolutamente novo”, incorporando as tradições e culturas muito mais do que em outros países da Europa. Assim a ascensão burguesa é um tanto quanto pacífica, ou seja, é cordial com o regime e com o status quo do país. Talvez essa falta de uma revolução burguesa em Portugal, e também no Brasil, tenha restringido a possibilidade de uma ideologia liberal, como ocorreu em países como a Inglaterra, os Estados Unidos e a França.[34]

Mas o individualismo e a cordialidade também refletem na construção democrática de um Estado e de uma sociedade. Fator essencial é como essa sociedade vai lidar com os conflitos que vão surgir. Roberto DaMatta tenta demonstrar uma certa aversão ao enfrentamento do conflito na sociedade brasileira, mas que "como toda sociedade dependente, colonial e periférica, a nossa tem um alto nível de conflitos e crises", não que necessariamente isso leve ao reconhecimento e ao enfrentamento dessas dificuldades, pois "tudo indica que, no Brasil, concebemos os conflitos como presságios do fim do mundo, e como fraquezas - o que torna difícil admiti-los como parte de nossa história, sobretudo nas sua versões oficiais e necessariamente solidárias.” [35] O Brasil seria avesso ao enfrentamento do conflito, pois esquece-se que o conflito pode ser muito importante ao diálogo, à discussão e ao crescimento da sociedade. O enfrentamento do conflito, a sua aceitação e a busca pela sua resolução, são, sem dúvida, marcos para a democratização e a construção de um país:

Nesse quadro, o conflito não pode ser visto como um sintoma de crise no sistema, mas como uma revolta que deve e precisa ser reprimida. Como crise, o esforço seria modificar toda a teia de relações implicadas na estrutura, mas, como revolta, o conflito é pessoalmente circunscrito, e assim, revolvido. [36]

No Brasil, os conflitos – como as crises – são vistos como coisas negativas e devem ser eliminados. Eles não são vistos como uma possibilidade de diálogo ou como uma possibilidade de crescimento. Nega-se a possibilidade do crescimento pelo conflito, pelo debate. Ele é negado pela sociedade e resolvido pelas instâncias de poder. Quando o conflito é individual, o homem recorre às regras de cordialidade, evita-o. A cordialidade decorre da relação patriarcal e patrimonial de acesso aos bens e serviços

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públicos que advém do Brasil colonial. Nas relações sociais, em que deveriam prevalecer as relações burocráticas, profissionais, o homem cordial procura a afetividade, os ritmos do coração, para não se deixar dominar por regras sociais, impolidamente.[37] O cordialidade tenta burlar as regras gerais, sejam normas jurídicas ou outros tipos de normas, por meio da pessoalidade, da amizade, da feição pessoal.

A oposição homem cordial/civilidade, ou melhor, a subordinação do segundo pólo pelo primeiro, define a sociabilidade e a cultura política como empecilhos para a construção e consolidação do espaço público e da democracia. A convivência social moderna, isto é, aquela que se quer democrática, apenas é possível porque é exercido largamente o hábito social - outrora ignóbil - de ignorar o outro como pessoa, ou com maior precisão, de desconsiderar suas particularidades de índole privada, de modo a instaurar relações sociais de igualdade - porque abstratas. Nesse sentido, a civilidade apresenta a ironia de permitir a autêntica convivência democrática precisamente por ser invenção: sociabilidade artificial, recurso legítimo da máscara e da convenção que, abstraindo a pessoa de sua posição social, viabiliza o respeito à autonomia de indivíduo e à isonomia das leis. Assim, o diagnóstico para Buarque de Holanda resulta iniludível: se a civilidade é pré-requisito social da democracia ou, em outros termos, condição de possibilidade pré-política da constituição do espaço público, então o dilema da sociedade brasileira era que ainda não tinha conseguido se desvencilhar da sociabilidade do homem cordial, apesar das transformações em curso havia três quartéis de século - permanecendo presa à tradição patriarcal enquanto rumava para a transformação de suas características demográficas, econômicas e políticas. Em conseqüência, enquanto não avançassem o suficiente os processos de mudança, enraizando seus efeitos "antifamiliares" no seio da sociedade, nela continuaria a operar o ethos público, de forma constante e sistemática, contra a possibilidade de se constituir a sociedade democrática e o próprio espaço público. [38]

Em carta à Cassiano Ricardo, Sérgio Buarque de Holanda, diz que o "homem cordial se acha fadado provavelmente a desaparecer, onde ainda não desapareceu de todo"[39]. A afirmativa do autor é condizente com o seu pensamento e com a revolução lenta e em andamento que o Brasil está desenrolando. Sérgio Buarque de Holanda acredita que o homem cordial, assim como a sociedade patriarcal[40], vão desaparecer porque ele acredita no Brasil, acredita na emancipação brasileira das raízes portuguesas e no que poderia ser chamado de progresso da sociedade brasileira. Ocorre que da visão privilegiada de décadas depois da elaboração dessa carta, motivada pela polêmica do capítulo quinto de Raízes do Brasil, ainda podem-se perceber fragmentos do homem cordial na sociedade brasileira e principalmente fórmulas que esse homem busca para solucionar os seus conflitos. O homem cordial ainda existe, as falhas na democracia ainda existem e é justamente para conhecê-las e solucioná-las que se propõe o debate. Apenas a discussão sobre os conflitos na sociedade, e não o seu soterramento, pode levar ao desenvolvimento democrático da sociedade brasileira. Ocorre também que o brasileiro não é apenas cordial. A sociedade demonstra-se muito mais complexa. Quando não é possível a cordialidade, o brasileiro busca argumentos de autoridade, como "sabe com quem está falando?". Fórmula que Roberto da DaMatta diz ser brasileira[41], e que pode ser vista em vários ramos da nossa sociedade, desde o

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humilde empregado, que suscita o nome do seu patrão para o diferenciar do seu igual, desde aquele que invoca seu próprio nome, como força da sua autoridade.[42]

Voltando à ascensão da burguesia: a continuidade de idéias impediu Portugal de criar uma crítica ao regime e uma nova forma de pensar. O pensamento individualista, que poderia ter sido questionado, com a ascensão burguesa (ou até mesmo mantido criticamente), permaneceu anexado à cultura portuguesa que foi transmitida às colônias. Primeiramente porque não existiu uma inovação ou uma nova posição de idéias, os elementos aristocráticos permanecem e “as formas de vida herdadas na Idade Média conservam, em parte, seu prestí[gio antigo”. Portugal entra na Idade Moderna, dispara-se para as navegações, com as mesmas ideologias da Idade Média. Talvez isso possa demonstrar a intenção de, em diversos momentos, tentar transformar a colônia Brasil em um feudo lusitano, seja pela política das capitanias hereditárias, seja pelo processo de colonização.

É possível perceber, em um segundo momento, que a política que coloca a burguesia mercantil no poder vai ocorrer sem grandes rupturas. É uma mudança que mantém a antiga ordem no poder. A burguesia ascende, mas aqueles que antes tinham influência, ali permanecem. São apenas mais um grupo de pessoas contagiado pelo esplendor da existência palaciana com seus títulos e honrarias.

1.2 O Colonizador e a violência: seus reflexos e críticas

“Essa exploração dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e enérgica: fez-se antes com desleixo e certo abandono.”[43] O processo de colonização foi um processo de exploração. Portugal não tentou fazer do Brasil uma nova terra, empenhou-se apenas em explorar, tirar daqui as riquezas e enviar tudo para a metrópole. Colonizada enquanto a Europa saía da Idade Média, trouxeram para o Brasil suas idéias medievais: “a devoradora sede de riqueza dos conquistadores e a superioridade tecnológica-militar da potência conquistadora em relação às populações conquistadas”[44] são características comuns às colônias ibéricas na América.

Mais do que isso, a colonização foi uma empreitada da coroa portuguesa. É o rei comerciante que se utiliza do aparelho estatal para retirar tudo o que pode da nova terra. É o Estado português que faz a custódia do comércio e protege os transportes marítimos, a empreitada nas colônias passa a ser vista como mais um possível negócio para o Estado patrimonial, que contrata, cede, aluga aos particulares o Brasil, quando esse braço português não consegue o alcançar. E é esse Estado que vai estender o seu braço para além-mar, transferindo sua herança política e administrativa[45], a empresa marítima ganha a dignidade de empresa militar e a sua jornada ganha aspectos de cinismo, disfarçando o comércio e a crueldade. [46] Inicialmente sem grande importância comercial como as Índias Orientais tinham, a extração vai se tornar a

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grande atividade da América. Extração que não vai se limitar ou se importar com aqueles que ali viviam, com suas culturas, com seus anseios, com suas vidas:

A colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais complexa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no econômico como no social, da formação e evolução históricas dos trópicos americanos.[47]

A partir disso uma das faces características da colonização ibérica: a violência. A violência é um correlato do processo colonizador, é a origem da dominação, “como projeto de impulsos religiosos, como instrumento de motivos econômicos”, a violência é assim um componente da fundação.[48] A dominação européia sob a América foi possível pela violência, pela força da suas armas e não por um processo cultural. A cultura foi imposta, a religião foi imposta, o direito foi imposto. E é justamente esse direito que legitimou os genocídios, os saques sistemáticos e a destruição das culturas [49] pela imposição. São elementos implantados na colonização pela força, elementos estranhos aos que aqui moravam e elementos ainda confusos, aos que aqui vivem. Violência que também tem reflexo na miscigenação do povo: foi por meio da força bruta que a miscigenação aconteceu. Os portugueses, que antes do descobrimento, já eram um povo mestiço, já não tinham um “orgulho de raça” comum aos povos do norte da Europa[50], entraram em contato íntimo e freqüente[51] tanto com os índios, como com os negros. Inicia-se a formação étnica do povo brasileiro: uma miscigenação entre o índio, o negro e o branco.

O estupro, roubo de índias e negras são o nascedouro da família no Brasil colônia. As expedições portuguesas não traziam mulheres[52] e a necessidade de muitas vezes se fixar no Brasil, fazia da miscigenação com outras raças a única solução do português colonizador. As Cartas do Padre Manuel da Nóbrega datadas do século XVI descreviam a falta de mulheres brancas para os homens casarem e revela os costumes de miscigenação que aqui se formavam.[53] A miscigenação que deflagrou a formação étnica da sociedade brasileira não foi pacífica. Foi uma miscigenação forçada, que, junto com o sistema exploratório, refletiram a exclusão social de duas raças: os índios e os negros. Miscigenação forçada, mas que ocorreu diferentemente de outras colonizações como a da América do Norte. Ademais não se pode esquecer o caráter econômico da miscigenação: na antiguidade não se favorecia a reprodução de escravos, pois a criança custaria muito ao dono, até atingir uma idade para o trabalho. Na América, tem-se a inversão: com uma pequena e cara população de escravos, a reprodução, seja entre escravos, seja com a violência do seu dono, é economicamente mais viável. Essa miscigenação, que já era comum nos povos ibéricos que viveu a uniões de diferentes raças durante o regime muçulmano na Península Ibérica, foi levada e desenvolvida também nas Américas. A miscigenação forçada e necessária evitou o ódio, mas pôde confirmar a desigualdade e a superioridade racial a que o branco europeu se intitulava e se intitula até hoje.[54] Dela surgiu um novo povo, como uma “etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente

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mestiçada”[55], o brasileiro não é o índio, não é o negro, não é o português. É uma miscigenação majoritária dessas três raças, com características herdadas e características criadas, misturadas por uma violência e temperadas por certa opressão.

A violência vai andar junto com a opressão. Opressão que torna-se cada vez mais clara, primeiro com a ameaça de outros países em tentar alcançar as riquezas no Brasil, que se torna mais forte com a criação do Conselho Ultramarino, que proibiu os navios estrangeiros de comerciar com o Brasil em 1661 e que proíbem os navios saídos do Brasil de atracar em outros portos em 1684. Segundo, a opressão, que tornar-se-á mais forte com a descoberta das minas, como ponto forte da centralização política, que já existia antes da descoberta exatamente para manter a extração de recursos e de dividendos para Portugal.[56] O mundo novo é visto como a grande empreitada econômica do reino português: dele deveria se tirar tudo que possível, dever-se-ia tirar todas as cores, toda a vida, tudo que houvesse de valor. Era preciso colonizar e humanizar o que significava, explorar, retirar, pilhar, tirar tudo que fosse possível.

Mas toda conquista precisa de uma legitimidade. A legitimidade da conquista desse novo mundo precisava ser inconteste. E a legitimação dessa conquista veio justamente pelo direito e pela religião.[57] Foi o papa Alexandre VI, que em 1493 por meio de cinco Bulas Alexandrinas realiza a donatio, concessio et adsignatio do novo mundo, donde reafirma a finalidade de “cuidar da salvação das almas e que os povos bárbaros sejam vencidos ou reconduzidos a essa fé”.[58] A finalidade da colonização, falsamente alegada[59], é expandir a fé católica, transformando assim em guerra justa, a guerra de expansão desta fé. Portugal e Espanha recebem a missão de levar a religião católica àqueles índios que a América habitavam, como se cumprissem uma missão humanitária. Da mesma forma, pode-se dizer que a teoria do não-uso das terras pelos índios, ou do patrimônio abundando, também pode ser usado, os índios não usam a terra, logo, deveriam cede - lá para quem o fizesse. Teoria que poderia ser vista em Tomás de Aquino, mas quem a utiliza como filosofia é o reino de Portugal.

A colonização é um processo de exploração que vai levar às características existentes até hoje no Brasil. A colonização aqui aplicada visava explorar os recursos naturais, ou seja, visava carregar toda a riqueza saqueável.[60] Para tanto eram necessárias grandes vastidões de terra, pois se a terra era o que deveria ser explorado, quanto mais terra, mais riquezas. Nascem assim duas características: o latifúndio e a valorização da propriedade. Quem tinha terra, tinha as riquezas para explorar. Esse fenômeno se explica inicialmente com a exploração do pau-brasil e depois com as monoculturas que, no Brasil, vão se instalar.[61] Nessa lógica nasce a necessidade de escravidão: mão-de-obra barata e submissa aos donos de terras: “Sem braço escravo e terra farta, terra para gastar e arruinar, não para proteger ciosamanente, ela [colonização] seria irrealizável”, pois “o que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho”.[62] A preocupação dos portugueses não era a preocupação de proprietários, de colonos que queriam desenvolver a nova terra, eles queriam extrair do solo “excessivos benefícios sem grandes sacrifícios”, procuravam desfrutar e deixar a terra destruída.[63]

A primeira fase do processo de exploração foi marcada pela escravidão dos índios, que eram explorados desumanamente, expostos a doenças e forçados a aceitar uma religião que desconheciam e sequer entendiam. O massacre indígena levou à necessidade do

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reconhecimento da humanidade dos índios e o início de uma das “páginas mais infames da história européia: a do tráfico negreiro.” [64]

“A América seria presa do aventureiro que a colonizasse”[65]. O índio devia ser subjugado, para se integrar na rede mercantil, de que Portugal era o intermediário[66], deveria ser útil ao sistema de comércio da nação portuguesa. Deveria auxiliar na exploração e na defesa da terra e fomentar o comercio real. Sua recompensa era a catequização, essa, confiada a “homens probos e tementes a Deus, cultos, peritos e especialistas, com o fim de instruir os supracitados habitantes na fé católica e ensinar-lhe bons costumes, fazendo uso, nestas coisas, de todo cuidado devido”.[67] A Igreja Católica outorga a legitimidade da conquista aos países ibéricos e crê na evangelização daqueles pobres habitantes da América. A primeira grande tragédia da América[68] é a entrega dessa evangelização ao explorador. A evangelização foi um véu muito transparente usado para esconder a finalidade econômica da colonização de exploração. O evangelizador ou conquistador é um predador em uma terra virgem, onde ele mesmo estabelece o que é direito[69].

Por isso as visões diferentes que esse colonizador vai ter do índio: inicialmente visto como “boa gente bela”, logo passa a ser visto como “canibais, comedores de carne humana” que deveriam ser convertidos de infiéis servos do demônio à cristãos, tementes do pecado e da perdição, adoradores do verdadeiro Deus[70], a imagem do paraíso se escairá.[71] A dignidade da escravidão e o extermínio estavam legitimados.

Mas a escravidão indígena vai fracassar e vai ser esquecida: “Durante décadas não disseram nenhuma palavra de piedade pelos milhares de índios mortos, pelas aldeias incendiadas, pelas crianças, pelas mulheres, pelos homens escravizados, aos milhões. Tudo isso eles viram silentes.”[72]

A bula papal de Paulo III datada 1537 reconhece que eles eram seres humanos e que a liberdade era um direito natural deles[73]. A escravidão do negro é utilizada como pano de fundo para a salvação dos pobres índios, mortos por doenças e pela violência do colonizador. Mas é perceptível como a mão-de-obra negra adequa-se bem melhor ao sistema que na América se propõe. A coroa portuguesa, que “quase sempre fez vista grossa à escravidão indígena” mais barata que o tráfico de escravos, percebeu que os índios estavam devastados[74], e agora, também os negros, junto com os índios sobreviventes iriam experimentar as crueldades da civilização.[75] Civilização que também vai apagar sua história: em 1890, o Brasil vai queimar toda a papelada que testemunhava três séculos e meio de escravidão negra.[76]

1.3 Uma breve conclusão: a religião, a conquista e o individualismo

É marcante a influência da religião no processo de formação do Brasil. A religião oficial do Império Português, a Católica, em diversos momentos da história brasileira se confunde com o Estado e ambos exercem conjuntamente poder sobre a sociedade.

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Como dito anteriormente, foi a Igreja Católica Apostólica Romana, que legitimou a conquista do novo mundo por Portugal e Espanha. Os ibéricos vieram para a América com a ilusória versão de expandir a fé católica, quando na verdade os fins eram estritamente econômicos. Diversas características do catolicismo, fortemente empregadas em Portugal foram trazidas ao Brasil. O exacerbado individualismo é visto na forma de se relacionar com a terra, fazendo dela sempre uma fonte de riqueza que deve ser explorada até não se poder mais. A preocupação com o indivíduo e não com a sociedade podem demonstrar as carências e a dificuldade que o brasileiro tem, até hoje, de relacionar-se com o Estado. O cristianismo em diversos momentos prega a vida posterior, o abandono das relações com o Estado e a preocupação apenas com a sua vida, com a sua salvação e não com a salvação da coletividade. Ainda hoje o Estado brasileiro é visto, com um inimigo, como um ente que quer adentrar na vida do individuo arbitrariamente e por isso o individuo se preocupa sempre em burlar as leis do Estado. São dificultosas as ações comunicativas e coordenadas entres os dois. O Estado brasileiro herdou a burocracia portuguesa da mesma forma que herdou a valorização das relações pessoais. A família deve existir e é importante para a sociedade, mas ela não pode avançar o campo do Estado e prevalecer para infringir regras comuns a todos. Por isso é necessário iniciar a discussão de como se verificou a relação entre o homem, o Estado e a família e como as relações pessoais e cordiais se formaram no Brasil.

Um modelo de cópia se instaurou. Cópias forçadas, cópias outorgadas, tal qual a miscigenação, tal qual alguns modelos. Até o nome do país segundo a Constituição de 1891 era Estados Unidos do Brasil. A superação, que vem depois do conhecimento e da consciência desse modelo, é possível. Da mesma forma que é possível a superação do individualismo herdado da cultura portuguesa e que tanto dificulta o desenvolvimento na democracia no Brasil. O Brasil tem um povo com características culturais, sociais, singulares no mundo. Sua miscigenação violenta e contínua o tornou assim: marginalizou as raças que foram escravizadas, mas se misturou com elas. O povo brasileiro é a mistura de índios, negros e brancos, mas herdou ainda um preconceito contra dois terços daqueles que construíram, com sangue e vida este país. “Mais que uma simples etnia, porém, o Brasil é uma etnia nacional, um povo-nação, assentado num território próprio e enquadrado dentro de um mesmo Estado para nele viver seu destino”[77] que surge “da concentração de uma força de trabalho escrava, recrutada para servir propósitos mercantis alheios a ela, através de processos tão violentos de ordenação e repressão”[78]. O Brasil é a miscigenação, e o Direito e o Estado devem entender isso. Da mesma forma que devem perceber e entender como a miscigenação foi possível, pois só assim o Brasil também poderá ser um povo com uma movimentação política consciente, livre de um individualismo exagerado que pode prejudicar o desenvolvimento da nação. Só superando o individualismo exacerbado, que coloca o indivíduo acima de tudo e de todos é possível a construção de uma sociedade mais igualitária, democrática e justa. O indivíduo deve existir, mas apenas junto do todo. A superação do individualismo que deve vir junto com a superação de outros problemas, problemas que serão discutidos e serão descritos nos capítulos seguintes, mas que têm extrema ligação com a formação do Brasil.

Dentre eles, a percepção de uma diferente colonização do Brasil, diferente da espanhola, que foi mais organizada e mais preocupada com uma construção de uma nova morada, descrita pela sua arquitetura e principalmente pela criação de diversas universidades, prática ocorrida no Brasil apenas no século XX. Colonização também diferente da

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inglesa na América do Norte, que consistia na fundação de uma nova comunidade e era baseada em uma noção de auto-governo e autonomia em relação ao poder central. [79]

O cristianismo, forçado àqueles que aqui se encontravam, grande aliado da conquista portuguesa e que mesmo após a Independência ainda se mantinha religião oficial pelo disposto no artigo 5º na Constituição de 1824. Assim é interessante perceber que o próprio artigo permitia o culto de outras religiões, desde que fosse “doméstico ou particular” ou “em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.” [80] A religião católica mantém a sua força por toda a história brasileira. Foi ela que legitimou, em muito, o processo de colonização, foi ela que se manteve e se expandiu no Brasil colônia e manteve seu status de religião oficial no Império. Catolicismo que segundo alguns não têm o impulso da solidariedade social[81] e o espírito de cooperação, típicos da cultura saxônia e da tradição protestante[82] e poderia ser um grande aliado do individualismo no Brasil que estava se formando, desde o início da sua colonização, assim como a preocupação com a vida posterior, com a salvação individual, à não preocupação com o Estado:

Submissão à autoridade civil – Todo homem se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus. De modo que aquele que se revolta contra a autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus. E os que se opõem atrairão sobre si a condenação. (...) É também por isso que pagais impostos, pois os que governam são servidores de Deus, que se desincumbem com zelo do seu ofício. Daí a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido; a taxa a quem é devida; a reverencia a quem é devida; a honra a quem é devida.[83]

São Paulo, um dos grandes difundidores do cristianismo[84], na carta aos Romanos, prega a não participação política do cidadão, prega a não preocupação com o Estado, com a autoridade. Toda preocupação deve se voltar para a sua vida pessoal, para o cumprimento dos mandamentos, para que alcance o reino dos céus. O cristianismo, em especial, não teria uma preocupação com o coletivo, com o desenvolvimento de toda sociedade, mas apenas com o do indivíduo. Por isso o catolicismo teria ajudado a difundir ou a sacramentar no Brasil uma cultura individualista, comungando com as doutrinas que existiam em Portugal e que levariam a outras marcas, decorrentes do individualismo, como o patrimonialismo, o patriarcalismo e a dificuldade de uma democracia nestas terras, haja vista a dificuldade de um pensamento coletivo, inerente a democracia, em uma sociedade habituada a pensar individualmente[85].

Da mesma forma a sociedade que se forma, baseada na extração de riquezas naturais, ou melhor, na exploração das riquezas naturais, o pau-brasil, depois o solo, depois os minérios, vai levar a formação de uma sociedade rural que se nutre dessa exploração. Exploração que se utiliza de mão-de-obra escrava, funda o latifúndio, sacramenta a religião oficial[86] e governa na ausência do Estado e na sua presença. O patriarcalismo e o patrimonialismo ganham força no Brasil.

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[1] HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 31.

[2] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 31.

[3] Tal inferioridade pode ser vista pela descrição do Brasil de muitos. Vide a obra de Francisco Adolfo de Varnhagen e de Gilberto Freyre que tecem elogios à colonização portuguesa e aceitam uma inferioridade do brasileiro em si. Vide : REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 8ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006.

[4] WOLKMER, Antonio Carlos. História do Direito no Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro: 2007, p. 56.

[5] GALEANO, Eduardo. De pernas para o ar: a escola do mundo ao avesso. 9ª ed. Tradução de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2007, p.250.

[6] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 31.

[7] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 32.

[8] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 37.

[9] Nesse sentido, é necessário entender a correlação que Roberto DaMatta faz entre o indivíduo e a pessoa. Para o antropólogo, a sociedade brasileira vive em uma dialética entre essas duas configurações. O indivíduo é aquele descoberto das relações pessoais e igual a todos pela lei impessoal. Já a pessoa é a aproximação das relações ao afeto, ao coração, à cordialidade, às relações pessoais. A casa é o lugar da pessoa e a rua o lugar do indivíduo. A primeira caracterizada pelo jeitinho, pela malandragem e o segundo pelo cumprimento das leis, da universalidade e da burocracia. Por isso a constante negação da pessoa a transformar-se em indivíduo, em seguir as leis que o tornam iguais a todos, quando o seu desejo é tornar-se pessoa, diferente, conhecido. O individualismo citado por Sérgio Buarque de Holanda, que pode ser chamando também de individualismo exacerbado é a valorização da pessoa em Roberto DaMatta. É a pessoa de Roberto DaMatta que invade o Estado, é a pessoa que tenta trazer as relações pessoais para a lei, desvirtuando-a. O indivíduo de Roberto DaMatta é o cumpridor da lei, é o cidadão consciente das normas igualitárias e universais. Entretanto, há de se ressaltar que a diferença entre os dois conceitos é muito mais complexa. A divisão não é clara, estanque, fixa. As pessoas variam entre os dois conceitos, existe uma dialética entre eles. Vide: DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

[10] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 8ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006, p. 124.

[11] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 32.

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[12] FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Globo, 2001, p. 186.

[13] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 38.

[14] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 39.

[15] LAVALLE, Adrián Gurza. Vida pública e identidade nacional: leituras brasileiras. São Paulo: Globo, 2004, p. 143. Dilema brasileiro, que seria, nas palavras de Roberto DaMatta, citado por LAVALLE: “ O nosso dilema é a passagem de um estilo de fazer política tradicional, ibérico e clássico [...] para uma forma transparente”, p. 143.

[16] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 33.

[17] Além do desvio do que é público, como o mau trato do dinheiro público, entre outras definições, a corrupção, que tem sua origem grega, aponta para dois movimentos: “algo se quebra em um vínculo; algo se degrada no momento dessa ruptura.” STARLING, Heloisa Maria Murgel. Ditadura militar in AVRITZER, Leonardo; BIGNOTTO, Newton; GUIMARÂES, Juarez; STARLING, Heloísa Maria Murgel (Orgs.) Corrupção: ensaios e críticas. Belo Horizonte: UFMG, 2008, p. 259.

[18] LAVALLE, Adrián Gurza. Ibidem, p. 28.

[19] Explicação que será mais detalhada nos capítulos seguintes.

[20] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 39.

[21] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC... Ibidem, p. 124.

[22] Patrimonialismo pode ser conceituado, como “uma forma de dominação tradicional na qual o governante não distingue entre seu interesse privado e os interesses do Estado, o qual, supostamente, representa o interesse do conjunto da sociedade, utilizando-o para satisfação pessoal, sem muitas regras objetivas e impessoais para administrar a coisa pública”. GERTIZ, René E. Raymundo Faoro in GUNTER, Axt. SCHÜLLHER, Fernando (Org.). Intérpretes do Brasil: cultura e identidade. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2004, p. 284-285. Interessante também é a definição de José Murilo de Carvalho: “significava que o Estado distribui seu patrimônio – terras, empregos, títulos de nobreza e honoríficos – a particulares em troca de cooperação e lealdade. Em um sistema patrimonial não há cidadãos. Há súditos envolvidos num sistema de trocas com o Estado, regido pelo favorecimento pessoal do governante, de um lado, e pela lealdade pessoal do súdito, de outro. O clientelismo e o nepotismo, ainda fortes até hoje, são um resíduo do patrimonialismo.” CARVALHO, José Murilo. Fundamentos da política e da sociedade brasileira in AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (Orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. 2ª edição. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung; São Paulo: Unesp, 2007, p. 25.

[23] WOLKMER, Antonio Carlos. Ibidem, p. 43-44.

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[24] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 35.

[25] Segundo Aloízio Andrade Gonzaga de Araújo o feudalismo caracteriza-se pelos “pactos personalíssimos de lealdade, proteção e serviço entre suseranos e vassalos, que, hierarquizados de cima para baixo, a partir do Imperador e do Rei, desce por seus vassalos imediatos, que por sua vez são senhores de sub-vassalos...” in ARAÚJO, Aloízio Andrade Gonzaga de. O Direito e o Estado como estruturas e sistemas. 2001.328f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001, p. 279. A singularidade de Portugal seria uma relação diferente entre Reis e senhores. O rei forte controlaria todas as atividades dentre elas a agricultora e principalmente o comércio, rompendo com a dualidade de Senhor e Vassalo.

[26] “A posição de Portugal era singular na Europa: não conhecera o feudalismo de outros países e não conheceria, até o século XVIII, as idéias e instituições liberais” vide MAMAN, Jeannette Antonios. Fenomenologia existencial do direito: crítica do pensamento jurídico brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2003, p. 28. Vide também: “Assim, o Estado português nascia como que naturalmente, visto que para expulsar os muçulmanos era necessário conquistar-lhes as terras, mas não no modelo feudal, a terra conquistada não trazia delegação de poder hereditário, a propriedade da terra não significava soberania, as instituições municipais eram fortes e hierquicamente dispostas sob o rei, não sob um nobre local, o soberano era o supremo juiz, as leis eram para todos” in CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e Brasil. 6ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 270.

[27] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 38.

[28] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 39-40.

[29] MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 11ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 164.

[30] Dificuldades de pensar o coletivo que o direito brasileiro, por exemplo, enfrenta até hoje, como se verá nos capítulos seguintes.

[31] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 36.

[32] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC... Ibidem, p. 124.

[33] SALLUM JÚNIOR, Brasílio. Ibidem, p. 239.

[34] WOLKMER, Antonio Carlos. Ibidem, p. 94.

[35] DAMATTA, Roberto. Ibidem, p. 183.

[36] DAMATTA, Roberto. Ibidem, p. 185.

[37] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC... Ibidem, p. 135.

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[38] LAVALLE, Adrián Gurza. Ibidem, p. 116-117.

[39] LAVALLE, Adrián Gurza. Ibidem, p. 120.

[40] LAVALLE, Adrián Gurza. Ibidem, p. 126.

[41] DAMATTA, Roberto. Ibidem, p. 184.

[42] Adrián Gurza Lavalle demonstra que é esse tipo de pensamento é comum a vários países latinos e também aos Estados Unidos da América do Norte, talvez pensamentos típicos de sociedades que foram exploradas, por grandes fazendeiros, representantes do patriarcalismo, entretanto o autor não enfrenta a singularidade desse dilema brasileiro, como assevera Roberto DaMatta. LAVALLE, Adrián Gurza. Ibidem, p. 145. Lavalle comentando DaMatta: "O autor parece atribuir demasiada importância ao uso social de uma expressão que, aliás também conta com versões de sentido equivalente em outras línguas: no castelhano há o rotundo ‘¿usted no sabe con quien está hablando?’ ou ainda ‘¿usted no sabe con quien se está metiendo?’; e mesmo no inglês ‘igualitário’ dos Estados Unidos é comum ouvir ‘I know people who knows people’. Tomando como ponto de partida o ‘você sabe com quem está falando?’, enquanto mostra emblemática para refletir na especificidade do autoritarismo na sociedade brasileira, O´Donell desenvolveu análise por contraste com o autoritarismo da sociedade argentina, simbolizando pelo ‘e eu com isso’ – ‘ami que me importa’.

[43] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 43.

[44] LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus. Tradução de Marcela Varejão. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 230.

[45] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 104.

[46] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 96-97.

[47] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 136.

[48] SALDANHA, Nelson Nogueira. Filosofia, povos e ruínas: páginas para uma filosofia da história. Rio de Janeiro: Calibán, 2002, p. 106. Nesse mesmo sentido: “Pela maneira como se formou a população nacional, não se pode falar em cooperação de três raças, ou de três culturas. Primeiro, porque houve um processo inicial violento de submissão, pela escravização, de nativos e africanos, levado a cabo pelos conquistadores.” CARVALHO, José Murilo. Fundamentos... Ibidem, p. 20.

[49] MAMAN, Jeannette Antonios. Ibidem, p. 29, citando Aloysio Ferraz Pereira.

[50] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 52.

[51] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 64.

[52] Diferentemente do modelo inglês em que o colonizador levou a sua mulher, sua família para a colônia, vide FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 145.

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[53] NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil e mais escritos. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1955, p. 30, 79 e 114.

[54] Autores como Gilberto Freyre tem uma tese diferente sobre a miscigenação: “Não havia brancas, e a vida sexual e afetiva não podia ser nutrida somente por estupros contínuos. A necessidade de família transcende a necessidade de satisfação sexual. Para os colonos, aliás, a satisfação sexual era fácil. O problema era a solidão, a carência de relações paternais/filiais, a necessidade da companheira no sexo, na vida cotidiana e na dor. Na ausência de brancas, os colonizadores se ‘enamorararam’ de negras e índias. (...) Embora militarmente vencedor, escravista e sádico – Freyre não omite esses dados, mas acrescenta outros e contraditório que tornam a realidade vivida mais complexa –, o branco tratou o escravo com bondade, suavidade e ternura. (...) Se a vitória militar é afrodisíaca – logo se estupram as mulheres –, se ela perdura em uma relação senhor/escravo, esse desejo exacerbado da conquista violenta poderá evoluir, sem eliminação da violência original, para exacerbação da afeição pelo vencido? Freyre acredita nisso.” REIS, José Carlos. Ibidem, p. 66-67.

[55] RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.19.

[56] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 176.

[57] LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 231.

[58] LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 233.

[59] A verdadeira foi a busca do ouro, de riquezas a grande intenção das navegações ibéricas. Essa confirmação pode ser vista nos Diários de viagem de Cristóvão Colombo (15 de outubro de 1492): “...todos esses homens que trago de San Salvador indicam que há verdadeiro esbanjamento de ouro, ostentando-o em feitio de argolas nos braços e pernas e nas orelhas, nariz e pescoço... e é ouro... Não posso errar e, com ajuda de Nosso Senhor, hei de encontra-lo onde nasce” citado por MAMAN, Jeannette Antonios. Ibidem, p. 26.

[60] RIBEIRO, Darcy. Ibidem, p. 39.

[61] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 48.

[62] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 49.

[63] HOLANDA, Sérgio Buarque. Ibidem, p. 52.

[64] LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 241.

[65] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 126.

[66] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 126.

[67] Bula Papal de 1493 citada por LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 237.

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[68] Nas palavras de LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 214.

[69] LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 238.

[70] RIBEIRO, Darcy. Ibidem, p. 58.

[71] FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 122.

[72] RIBEIRO, Darcy. Ibidem, p. 62.

[73] Citada por LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 240.

[74] No México, por exemplo, a população passou de 25 milhões de índios em 1519 para pouco mais de mil em 1605. LOSANO, Mario G. Ibidem, p. 241.

[75] VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Citado por FAORO, Raymundo. Ibidem, p. 131.

[76] GALEANO, Eduardo. Ibidem, p. 217.

[77] RIBEIRO, Darcy. Ibidem, p. 22.

[78] RIBEIRO, Darcy. Ibidem, p. 23.

[79] PINTO, Cristiano Otávio Paixão Araújo. A reação norte-americana aos atentados de 11 de setembro de 2001 e seu impacto no constitucionalismo contemporâneo: um estudo a partir da teoria da diferenciação do direito. 2004. 424f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004, p. 104-105.

[80] BRASIL. Constituições Brasileiras: 1824. Brasília: Senado Federal, Ministério da Ciência e Tecnologia, Centros de Estudos Estratégicos, 2001.

[81] Que vai existir apenas por motivos afetivos, vide REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC... Ibidem, p. 124.

[82] FRANCO, Afonso Arinos de Melo; PILA, Raul. Presidencialismo ou parlamentarismo? Brasília: Senado Federal, 1999, p. 04.

[83] BÍBLIA DE JERUSALÉM. 4ª impressão. São Paulo: Edições Paulinas, 1989, p. 2141.

[84] Criticado por alguns como deturpador das palavras de Cristo. Vide os defensores da teoria da libertação.

[85] Não que a democracia não seja possível, mas que para sua implementação será necessário o conhecimento dessa formação e desenvolvimento cultural e o enfrentamento dele, como caminho para alcançar um governo coletivo e preocupado com todos.

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[86] “Trabalhando juntos, Estado e Igreja impuseram o catolicismo à população nativa e posteriormente aos escravos africanos. O resultado foi a formação de uma sociedade uniformemente católica, embora com boa dose de influência de religiões africanas e indígenas.” CARVALHO, José Murilo. Fundamentos da política... Ibidem, p. 23.

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