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1 BREVE HISTÓRIA DOS EPISCOPAIS REFORMADOS

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BREVE HISTÓRIA DOS

EPISCOPAIS REFORMADOS

PREFÁCIO

Como tudo o que sabemos da história chega a nós por meio de livros e testemunhos, esta presente livreto tem seguido um estudo a partir da pesquisa, com muito cuidado, os autores mais conceituados, considerando-os confiáveis. O autor desconhecido desta obra foi um presbítero da Igreja Episcopal Reformada dos USA, e a tradução fui feita quinze anos atrás por vários irmãos brasileiros. A todos eles estamos profundamente agradecidos.

Este livreto tem em vista, neste livro, mais do que a mera história. Tem sido o desejo conectá-la a Cristo, de modo que o leitor possa receber a verdade por meio da graça. O leitor deverá observar que o livro começa com o propósito revelado pelo Senhor referente à Sua Igreja. Isto, é claro, de uma forma muito geral, uma vez que o desejo é dar ao leitor a visão mais ampla da história eclesiástica quanto possível, de forma consistente com o plano geral e a brevidade da própria obra.

Somente, cabe ressaltar ao leitor que me pareceu a bem adicionar um breve capítulo para apresentar muito brevemente a história da Igreja Livre da Inglaterra e, como a mesma, chegou ao Brasil através da Igreja Anglicana Reformada do Brasil.

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A história da família Episcopal Reformada, dos seus inícios até hoje muita coisa mudou, mas aquela vontade de servir e amar ao Senhor parece que não tem abandonado a Igreja. O desejo ainda continua sendo apenas um grande sonho. Um sonho? Mas afinal, não é disso que precisamos?

Que as bênçãos do Senhor possam acompanhar o livreto que agora é lançado.

Bispo Josep M. Rossello Ferrer Comissário da Igreja Livre da Inglaterra para o Brasil Pindamonhangaba, 9 de maio de 2016.

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SOBRE O INÍCIO DA IGREJA CRISTÃ

Dez dias depois de o Senhor Jesus ter subido ao céu — aquele pequenino grupo de discípulos e crentes se reuniram, para orar novamente no quarto superior em Jerusalém e para aguardarem o Consolador Prometido. Durante dez dias, eles haviam se reunido — dez longos dias de completa comunhão e oração — e, no entanto, parece que nada ia acontecer. Com toda certeza, podemos garantir que por inúmeras vezes ao se ajoelharem em oração, vinham-lhes à memória aquelas cenas do Calvário. Eles haviam visto morrer em grande agonia Aquele em quem tinham colocado toda sua esperança. Viram-nO ser sepultado quando uma enorme pedra foi colocada na entrada do túmulo. Certamente garanto que ainda podiam ouvir os passos dos guardas romanos marchando naquela vigília incansável enquanto guardavam próxima da sepultura onde Jesus havia sido sepultado. Mas aquilo não era o fim. Na manhã do terceiro dia, a sepultara ficou VAZIA. As mulheres que foram verificar o túmulo foram informadas de que "Ele não estava mais lá; havia ressuscitado." Ele havia sido visto pelos discípulos, por Maria Madalena, e por muitos outros. Ele vencera a morte.

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Quarenta dias depois, eles presenciam Sua ascensão à direita do Pai em Glória, seu lugar de direito.

Agora eles teriam de esperar; esperar pelo Consolador quem Jesus havia prometido que haveria de vir. Não seria motivo para estarem desanimados? Claro que não, pois eles criam nEle de todo coração. Tudo que Ele tinha prometido, haveria de cumprir. De repente, surge um barulho vindo do céu, como se fora um vento impetuoso, e a casa onde estavam reunidos ficou tomada daquele fogo. Cheios de espanto e expectativa, os discípulos olhavam e ouviam. Línguas repartidas como se fossem de fogo apareceram no meio deles, pousando sobre suas cabeça. Era a chegado do Espírito Santo, tomando poderosamente todos os que se encontravam ali esperando. Naquele momento, cumpriu-se uma outra promessa, a do batismo com o Espírito, pois não tinha João Batista profetizado que "Ele te batizará com o Espírito Santo e com fogo?"

Os discípulos começaram a falar e descobriram que, independentemente da pessoa com quem eles falavam, sem se importar a nacionalidade ou língua da pessoa, suas palavras podiam muito bem ser entendidas. Reuniu-se então uma grande multidão para ouvir esses que podiam falar a língua de todos os presentes em Jerusalém naquela ocasião. Pedro então se coloca de pé e prega um grande sermão, anunciando Cristo crucificado e ressuscitado dentre os mor-tos para nossa justificação. Quase três mil

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pessoas foram salvas naquele dia e acrescentadas àquele pequeno grupo; nascia assim a Igreja Cristã!

Essa Igreja principiante não buscou edificar grandes templos ou catedrais; os crentes primitivos não se preocupavam com corais profissionais, roupas suntuosas ou janelas douradas. Reuniam-se nos lares, nos quintais, nas cavernas ou debaixo das árvores sempre onde um grupo de pessoas que amavam o Senhor Jesus pudesse se encontrar ou manter comunhão. Cantavam, oravam e ouviam a Palavra. A marca registrada deles era sua devoção a Jesus, o amor que nutriam um pelo outro, a pureza de vida que levavam, a ousadia que demonstravam diante da perseguição à fidelidade em falar para as pessoas sobre o Caminho, nome que o Cristianismo tinham no início. O Apóstolo Felipe levou as Boas Novas para África, enquanto o Missionário Paulo o trouxe até a Europa. Onde quer que o Evangelho fosse levado, seguia-se grande perseguição da parte dos judeus e dos gentios pagãos. Porém, a despeito de tudo isso, a Igreja crescia em número e em força, e era verdadeiramente a luz num mundo cheio de trevas e pecado.

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A CORRUPÇÃO DA IGREJA CRISTÃ

A Igreja sempre enfrentou desafios na sua história. As próprias cartas do apóstolo Paulo nos lembram deste fato. A Igreja é chamada a ser uma a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 1:9). Infelizmente, nem sempre tem sido assim. Existe um período da Igreja que é conhecido como a Idade Média onde a Igreja permitiu com o tempo muitas práticas, doutrinas e crenças contrárias aos ensinos de Cristo e a vida da igreja primitiva. Infelizmente, o formalismo e o tradicionalismo foram aos poucos sendo incorporados na vida da Igreja. Isto não aconteceu de um dia para outro. De fato, a história da Igreja nos mostra que sempre enfrentou o povo de Deus grandes desafios dentro e fora dela

No início do século quarto, Constantino, o Grande, tornou-se o líder máximo do Império Romano. O monarca teria visto num sonho ou visão, uma cruz em chamas no meio do céu com as palavras inscritas nela, "Conquiste com este símbolo." Em conseqüência desta experiência ele tornou-se Cristão. A partir desta decisão as perseguições contra a Igreja terminam.

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Nos séculos seguintes, a influencia do Estado sobre a seria cada dia mais presente. A pompa e o luxo passam mais e mais a fazer parte do Cristianismo.

No século décimo primeiro, a primeira divisão aconteceria na Igreja de Cristo. A Igreja Católica de Oriente se dividiu, se chamando a partir daquele tempo como a Igreja Ortodoxa, e, por outro lado, a Igreja Ocidental passaria a ser conhecida como a Igreja Católica Romana.

A partir daí, a Igreja Romana parece ter perdido de vista a pureza da verdade da Igreja Primitiva. Construções suntuosas, rituais, ostentação, a oferta da missa, que é em si um sacrilégio. Isto porque durante o sacrifício da missa, de acordo com a Igreja Católica, Cristo é sacrificado de novo todas as vezes que ela é realizada. Isto está em completo desacordo com o ensino bíblico que ensina que Cristo foi oferecido como propiciação pelos nossos pecados uma vez para sempre. Há também o ensino das penitências através do qual a pessoa paga para ter os seus pecados perdoados. Há o ensino sobre o purgatório, contrário às escrituras. Conforme nos ensina o Apóstolo Paulo, seu desejo ao morrer era estar "Ausente do corpo para estar presente com o Senhor." Tudo foi arquitetado para camuflar o ensino genuíno da Palavra de Deus. Em conseqüência disto, a Bíblia jamais foi entregue ao povo. O culto transformou-se num ritual de mistérios centralizado no sacrifício da missa. Não era mais necessário uma vida cristã autêntica, pois o perdão podia

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ser comprado com dinheiro. Isto ficou evidenciado na vida até mesmo dos Papas cujas biografias estão repletas de falcatruas e imoralidade.

Como resultado desta suposta regra cristã, o mundo passou por aquele período conhecido na história como Idade Média, mais pitorescamente conhecido de "A Idade das Trevas."

Seria isto o fim daquela Igreja bíblica e pura, fundada no dia de Pentecostes? Não, claro que não, pois aqui e ali, através dos séculos, sempre existiram aqueles que estudaram criteriosamente a Palavra de Deus e guardaram esses ensinamentos em seus corações. Finalmente no tempo certo de Deus, Ele chamou para Si soldados corajosos da cruz a fim de anunciarem a verdade das Escrituras Sagradas através do continente europeu. Chegamos assim a Reforma.

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DEUS LEVANTA HOMENS PARA RESTAURAR A VERDADE

A Igreja Romana seguiu crescendo assustadoramente com os Papas ganhando cada vez mais poder, sempre exigindo mais e maiores penitências do povo. Uma vez que a Bíblia era acessível somente na língua latina, e podendo ser lida apenas pelos sacerdotes, as Escrituras Sagradas tornaram-se um livro fechado para o cidadão comum.

Louvado seja Deus, pois em meio a tudo isso Ele levantou homens piedosos entre os sacerdotes que de fato estudavam a Bíblia, e começaram a questionar os métodos e ensinamentos da Igreja. Lá pelo século XIV, apareceram eruditos pelos países da Europa que começaram a murmurar e a rejeitar os erros da Igreja e a imoralidade de seus lideres, defendendo o retorno ao cristianismo genuíno. Entre estes reformadores primitivos há um sobre quem deveríamos voltar nossa atenção. Seu nome era John Wycliffe. Ele nasceu na Inglaterra no ano de 1324. Foi educado na Universidade de Oxford, sendo um aluno exemplar. Logo após sua formatura, teve uma grande oportunidade de mostrar um pouco das suas tendências protestantes. O rei da Inglaterra não gostava lá muito da

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influência do Papa sobre a Inglaterra. Wycliffe protestou com veemência contra o pagamento de tributo pelo governo inglês ao Papa. Por causa da sua lealdade à Coroa, o rei Eduardo III o recompensou, concedendo-lhe o titulo de doutor e uma cadeira na Universidade de Oxford. Posteriormente ele foi enviado a Holanda para encontrar-se com os enviados do Papa a fim deliberarem sobre suas diferenças. Este encontro acabou por acirrar seus ânimos em oposição pública e aberta contra o Papa, a quem ele chamou de "anti-Cristo." O Papa Gregório XI o condenou, mas a corte inglesa o protegeu.

Sob a influência de Wycliffe, formaram-se sociedades religiosas que começaram a formar pregadores do Evangelho por toda a Inglaterra. A oposição foi ferrenha, mesmo assim continuaram.

Agora Wycliffe estava pronto para iniciar seu trabalho mais importante: a tradução da Vulgata (a Bíblia em latim) para a língua inglesa. Essa Bíblia pode ser vista ainda hoje exibida no Museu Britânico, e na sua capa pode-se ver que ela pertenceu a Thomas, o filho mais novo de Eduardo III. A este reformador primitivo, que viveu quase duzentos anos antes da Reforma mas que é chamado por muitos de o primeiro Protestante, a comunidade inglesa tem uma profunda dívida, pois foi ele o responsável em colocar pela primeira vez a Bíblia na língua inglesa.

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Claro que nos anos que se seguiram Bíblias foram confiscadas, queimadas ou destruídas; entretanto, Deus nunca permitiu que Elas fossem totalmente banidas, e sua influência pôde ser sentida por toda a Europa.

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DEUS CHAMA UM LÍDER PARA INICIAR A REFORMA

Lá pelo final do século XV, coincidindo com a invenção da imprensa, surgiu um intenso interesse pelas letras. Muitos dos estudiosos passaram a se interessar pela leitura das Escrituras e sua tradução. Havia muita coisa escrita sobre as mazelas dentro da Igreja de Roma. Todos estes fatores contribuíram para pre-parar o caminho de uma reforma religiosa que estava preste a irromper.

Além desse despertar na literatura e arte, Colombo, com o auxílio da bússola, havia erguido o véu que escondia os horizontes do Ocidente, descobrindo pro povo europeu um outro hemisfério. Vasco da Gama contornou o Cabo da Boa Esperança, abrindo assim uma nova rota para o comércio das Companhias das Índias.

E assim chegamos a Reforma, e o herói dela foi Martinho Lutero. Filho de mineiro, nasceu em Eisleben em 10 de novembro de 1483. Sua família era pobre mas gozava de respeito da comunidade. Recebeu treinamento em assuntos religiosos. Enquanto ainda na faculdade, teve acesso a uma cópia das Escrituras que mexeu tremendamente com sua alma. Dois anos depois ele abandonou o estudo de advocacia e entrou pro convento. Estudava arduamente

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porém a condição da salvação de sua alma o inquietava profundamente. Através dos ensinamentos da Igreja, Lutero descobriu Jesus como o Doador da Lei, aquele que "no último dia vai pedir explicação de como resolvemos o problema da expiação pela culpa e acerca das boas obras que efetuamos enquanto aqui na terra." A despeito de toda sua tentativa de efetuar boas obras, ele não achava paz pro seu coração. Finalmente, movido pela sugestão de um de seus superiores, começou a ler avidamente a Palavra de Deus. Quando chegou em Romanos 1:16,17 - "Porque eu não me envergonho do Evangelho de Cristo – pois ele é o poder de Deus para salvação para todo aquele que crer; primeiro ao judeu e depois também para os gregos. Por esta razão ele é a justiça de Deus revelada de fé em fé, como está escrito, 'O justo viverá pela fé". A luz brilhou em seu coração e alma, "O justo viverá pela fé." Mas fé em quem? Fé no Senhor Jesus Cristo! Cristo não se apresentava como um austero Legislador, mas seu Salvador, que o amava e havia se entregado por ele. Justificação não estava presa às obras, mas era o produto da graça de Deus. Romanos e Gálatas passaram a ser seus livros prediletos e os lia assiduamente até que sua alma encontrou paz verdadeira.

Nesta ocasião ele não encontrava qualquer coisa errada com a Igreja. Entretanto um dia, em 1517, chegou nos arredores da cidade de Wittenburgo um monge de nome João Tetzel, vendendo indulgências para a Igreja de Roma. A venda de indulgências tornou-se numa prática

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corriqueira. Através delas, as pessoas pagavam aos sacerdotes uma certa quantia em dinheiro que seria usado para apagar a penalidade de seus pecados. Os sacerdotes descobriram nisso uma forma fácil para arrecadar fundos. Tetzel estava tentando ajuntar dinheiro para a reconstrução da Catedral de São Pedro. Ele dizia para pessoas que tão logo a moeda soava no fundo do cesto, as almas de seus entes queridos deixavam o purgatório, e iam direto pro céu. Quando Lutero ouviu isto, ficou enfurecido. Pregou um sermão contra essa prática em 31 de outubro de 1517, pregando na porta da igreja da cidade aquilo que ficou conhecido como suas 95 teses onde ele explicava a diferença entre o verdadeiro arrependimento e a simples penitência pelos pecados. Afirmava que o Papa podia perdoar apenas as penalidades impostas pela sua própria lei; mas Deus, e somente Ele, podia remover a culpa pelo pecado. Cópias destas teses passaram imediatamente a circular por toda a Alemanha, e os monges, sacerdotes e a burguesia logo começaram a escolher de que lado teriam de ficar. Ao ouvir isto, o Papa não acreditou muito e pensou se tratar apenas de uma briga entre os monges, mas à medida que a divisão ia se agigantando, agiu imediatamente e exigiu que Lutero se apresentasse e se retratasse daquelas teses. Mas Lutero se recusava a fazê-lo, a menos que se provasse, com base nas Escrituras, que ele estivesse errado. O Papa remeteu uma declaração de que nada havia de errado nas indulgências, e enviou uma

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Bula de Condenação e Excomungou Lutero e seus seguidores.

O imperador Carlos V não atendeu de imediato o pedido do Papa mas deu a Lutero uma outra oportunidade para se retratar. Lutero de novo se recusou. "A menos que me convençam, pelo testemunho das Escrituras, pois não confio nem no Papa nem em concílios, já que é sabido de todos que eles sempre erraram e se contradisseram muitas vezes, mantenho firme minha posição baseada na Palavra de Deus, e minha consciência está comprometida pelas Escrituras. Não posso, nem devo fazer nada, uma vez que não seria seguro nem correto agir contra minha consciência. Que Deus tenha misericórdia de mim, amém." Ao deixar a corte, o guarda do Imperador exclamou, "Fogueira para ele!" Lutero e seus amigos no entanto ergueram suas mãos no estilo antigo germânico de celebrar a vitória e disseram, "Pra mim, é o fim", bradaram em voz de júbilo.

Em 4 de maio, ele foi levado a cavalo para Wartburgo onde seus amigos o acolheram num castelo, temendo que lhe acontecesse algum mal. Enquanto permanecia ali até 1522, Lutero produziu o que talvez tenha sido seu melhor trabalho, a tradução do Novo Testamento e finalmente de toda Bíblia para língua do cidadão comum do seu tempo. À medida que desenvolvia seu trabalho, continuava orando para que de alguma maneira os profetas e apóstolos pudessem falar o idioma alemão. Suas orações

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foram respondidas já que sua tradução estava tão cheia de vitalidade que o povo ficou ansioso para lê-la. Também escreveu uma série de sermões para instruir o povo e foram muitos os que receberam sua influência.

Escreveu também panfletos de grande valia, entre os quais podemos destacar a Defesa da Vida Conjugal – destinado ao clero. Em 1525, seguindo seu próprio conselho, casou-se com Catarina von Bora que havia sido freira. Ela foi de grande importância pro seu ministério proporcionando-lhe um lar sereno e feliz. Tiveram três filhos e duas filhas, a quem Lutero amava muito. Nunca deixava escapar uma noite tranquila no lar com sua família. Muitos dos hinos que seus filhos cantavam, que foram incluídos nos hinários foram escritos e cantados pelos seus próprios filhos. "Away in a Manger", por exemplo é um deles.

Durante os últimos dez anos de sua vida Lutero ficou com sua saúde muito debilitada. Apesar de toda essa limitação, continuou escrevendo e pregando – propagando os ideais da Reforma. Seu maior presente para a realização da Reforma foi sem dúvida nenhuma, a tradução da Bíblia para o idioma alemão que atingiu 377 edições antes de sua morte. Porém uma outra contribuição de extrema relevância sua foi o hinário – o primeiros livros de cânticos jamais utilizado em uma congregação. Também seus livros ou comentários explicando porções da Bíblia ainda são valiosos hoje. Quando chegou aos 63 anos de idade, ele foi visitar outra vez sua terra natal, Eislebem.

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Ali ficou seriamente doente e morreu numa manhã tranquila do dia 18 de Fevereiro. Sua última palavra foi um enfático "SIM" quando perguntado se permanecia ainda firme nas doutrinas que ensinava. Quatro dias depois foi sepultado na igreja do Castelo de Wittenberg, no ano de 1546, onde trabalhou ardorosamente pela causa de Cristo.

O mundo protestante de todas as épocas tem para com Lutero uma dívida tremenda de gratidão pelo zelo que esse gigante da Reforma teve em atacar os erros da Igreja Romana, e por ele ter lutado no sentido de levar as pessoas de volta ao antigo caminho da Igreja Primitiva ao enfatizar o fato de que a Bíblia é a única regra de fé e prática para o cristão, tendo em vista seu ensino corajoso e desafiador sobre a doutrina da justificação pela fé.

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A REFORMA É ACESA NA INGLATERRA

Aproximadamente seis anos depois do nascimento de Lutero, nascia na Inglaterra, na cidade de Aslockton, em 1489, um menino filho de Thomas e Anne Cranmer, batizado com o nome do pai que estaria destinado a seguir os passos de Lutero. Foi o segundo filho e foi educado de forma cruel e muito rígida. Seu pai morreu quando ele ainda era uma criança. Em 1501, aos 14 anos de idade, sua mãe o enviou para Cambridge. Ali foi ordenado sacerdote em 1523 e lecionou divindade na sua própria faculdade e também na universidade.

Em agosto de 1529, uma terrível doença conhecida como mal do suor varreu aquela parte do país. Cranmer tomou dois de seus alunos, seus parentes, até a casa dos pais deles em Essex tentando fugir da praga. O rei da Inglaterra, Henrique VIII, estava de visita naquela cidade. O rei possuía uma personalidade muito esquisita pois se num dia estava de bem com os católicos, já no outro, encorajava os Reformadores. Não tinha nenhuma convicção, mas se mostrava simpático com o grupo que o ajudava num determinado momento. E neste instante em particular, ele buscava um favor especial. Desejava se livrar de sua esposa, Catarina de Aragão, uma católica

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piedosa – que tinha sido a esposa de seu irmão Artur. Henrique casara-se com ela e tiveram uma filha, Maria. Porém agora ele havia se apaixonado por uma outra mulher cujo nome era Ana Oleyn. Queria se divorciar de Catarina mas abominava a idéia de ter que pedir ajuda pro Papa. Parecia uma boa idéia que Thomas Cranmer e os dois conselheiros do rei, que também eram sacerdotes, e se encontravam de visita naquela região onde Cranmer era um convidado, discutissem a possibilidade do divórcio. Cranmer disse que se as autoridades eclesiásticas e as universidades da Inglaterra decidissem que seria ilegal o homem casar-se com a viúva do seu irmão, tal casamento poderia ser anulado por um tribunal comum sem ter a necessidade de se apelar pro Papa. Claro que isso chegou aos ouvidos do rei que imediatamente se interessou em conhecer Thomas Cranmer. Não temos tempo para entrarmos nos detalhes aqui, mas é claro que em conseqüência disso, Cranmer recebeu uma incumbência honrosa, o rei recebeu o divórcio e casou-se com Ana. Algum tempo depois, Cranmer, agora arcebispo, foi convidado para ser padrinho da filha deles, Elizabete.

Nesse meio tempo, ele visitou a Alemanha e encontrou-se com Martinho Lutero e outros reformadores. Descobriu que eles esposavam idéias semelhantes às suas, ou seja, todos eles entendiam que a velha ordem de coisas deveria mudar. Não há dúvida de que estes encontros influenciaram o pensamento de Cranmer. Enquanto de visita por lá, casou-se com a sobrinha de um reformador

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alemão. Ainda na Alemanha foi chamado de volta a Inglaterra em março de 1532 para ser arcebispo.

Em 1538 ele conseguiu convencer o rei Henrique VII de que a Bíblia poderia ser traduzida para linguagem do povão, e que uma cópia dela deveria ser colocada em local estratégico em cada igreja de maneira que as pessoas pudessem lê-la. Também estava trabalhando numa Litania para ser usada na igreja que ainda hoje é usada na Igreja Episcopal, e o nosso tradicional Livro de Oração Comum.

Quando o rei Henrique III morreu, Thomas Cranmer esteve ao lado do seu leito no ano de 1547 e oficializou a coroação do jovem rei Eduardo VI. Durante o reinado de Eduardo, Cranmer pôde viver sem ser molestado por causa de suas idéias reformadoras. Traduziu o catecismo alemão, e em 1548 concluiu o primeiro Livro de Oração de Eduardo VI que foi o precursor do nosso Livro de Oração Comum que usamos ainda hoje.

O reinado do jovem Eduardo foi de curta duração. O arcebispo Cranmer esteve ao seu lado no leito de enfermidade e o viu morrer em 1553. ajudou a coroar a Senhora Jane Grey – que também era uma reformadora, e permaneceu seu único conselheiro nos nove dias que durou seu reinado. No nono dia – Maria, filha de Catarina, a divorciada, foi aclamada rainha. Era católica fanática e odiava Cranmer basicamente por causa de três coisas: (1)

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seu relacionamento com a mãe divorciada; (2) suas tendências reformistas e (3) sua lealdade a Senhora Jane.

Foi enviado para o Conselho e confinado a ficar no seu palácio até que a vontade da Rainha fosse conhecida. Se recusou a fugir para o continente europeu como sugeriam seus amigos. Em 14 de setembro de 1553 foi enviado para Torre onde se encontravam presos outros reformadores. Em novembro, a Senhora Jane, seu esposo e ele foram condenados por crime de traição. Cranmer foi condenado por um comitê papal, supostamente por causa de um artigo que ele teria escrito contra a missa. Foi excomungado e destituído de seu ofício como arcebispo numa cerimônia humilhante na Igreja de Cristo. O catolicismo passou novamente a ser a fé nacional e os líderes achavam que se pudessem obrigar Cranmer a se retratar ou assumir tudo que ele havia falado contra a Igreja, seria um golpe sinistro contra o Protestantismo. Por isto fizeram tanta pressão assim. Finalmente ele se curvou diante da influência poderosa da igreja e assumiu tudo que havia dito. Os oficiais da Igreja se deleitaram. Agora tudo que eles tinham que fazer era trazer aquele infeliz homem diante da multidão e obrigá-lo a repetir publicamente sua retratação, e a causa da Reforma estaria comprometida. Trouxeram-no. Mui debilmente ele caminhou até a entrada. Ergueu a cabeça com dignidade serena e disse num tom firme, "O que fiz recentemente me tem molestado profundamente mais do que qualquer outra coisa que disse ou fiz em toda a minha vida. Quando

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escrevi afirmando que me retratava de tudo que disse contra os erros da Igreja, eu o fiz com minha mão, o que é um ato que não condiz com a verdade do meu coração. Porque minha mão direita me fez pecar, ela devera ser queimada primeiro quando eu for atirado no fogo." Seu rosto foi tomado por uma paz tremenda. Os que ali se encontravam ficaram boquiabertos. Jamais se ouviu uma coisa assim.

Alegre e serenamente, ele caminhou até a estaca pra ser queimado vivo. Quando o fogo foi aceso, o que faria dele um mártir da Reforma, fiel ao que havia dito, ergueu sua mão direita, expondo-a corajosamente às chamas até ser consumida. Desta forma, publicamente ele demonstrou o verdadeiro arrependimento pela sua fraqueza e a chama de sua morte manteve aceso o ideal da Reforma

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DOIS GUERREIROS DA CRUZ - LATIMER E RIDLEY

Quando Cranmer apareceu no cenário o rei Henrique VIII não tinha nenhuma convicção religiosa. Na sua conturbada vida pública, ele teve seis esposas em épocas diferentes. Se a sua esposa fosse crente nas verdades bíblicas, então as coisas iam bem para os reformadores. No entanto se acontecesse de sua esposa ser católica piedosa, haveria por certo perseguição e prisão. Assim aconteceu com a sua última mulher Catarina Parr que foi uma protestante corajosa. Durante sua vida e também no reinado de Eduardo VI, filho de Henrique VIII, os reformadores puderam viver sem impedimento. Foi durante este tempo que Cranmer teve condição de revisar O Livro de Oração e levar avante muitos dos seus ideais da reforma.

Mas este tempo foi muito breve. Eduardo VI viveu muito pouco e na ocasião da sua morte, em 1553, Maria, a filha de Henrique VIII e sua primeira esposa católica, foi coroada rainha. Tão logo foi coroada, lançou na prisão todos os reformadores. Milhares deles conseguiram escapar para a França e Alemanha. Os que ela conseguiu pegar, tiveram morte atroz. Ela é conhecida na história como "Maria, a Sanguinária." Cranmer foi uma de suas vítimas. Duas dessas vítimas nos chamam atenção

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especial. Os bispos Latimer e Ridley. Ambos estudaram em Cambridge; ambos exerceram capelania a serviço de Henrique VIII, em épocas diferentes; ambos conheceram ao Senhor Jesus de forma pessoal, e consideravam a Bíblia como a única fonte de sabedoria; ambos tiveram vida cristã exemplar. O bispo Latimer pregou veementemente contra a estupidez de se usar o latim nas orações durante os cultos e também foi um oponente contumaz contra a política na Igreja de afastar a Bíblia do povo. Pregou poderosos sermões contra o purgatório, Virgem Imaculada, e adoração de imagens.

Quando a rainha Maria subiu ao trono, Latimer e Ridley estavam entre os primeiros que ela lançou na Torre de Londres. Aqui eles encontraram-se com Cranmer. Que comunhão maravilhosa os três tiveram no Salvador Jesus, ao compartilharem entre si textos das Escrituras, ao orarem pelos irmãos amados pra que Deus restaurasse a luz do Evangelho à nação inglesa! Que gozo devem ter sentido em permanecerem fieis à Fé dos santos e também ao oraram para que a Senhora Elizabete pudesse um dia ser a rainha!

Depois de algum tempo, os três foram separados. Latimer foi levado para ficar na casa dum tal senhor Irlandês que passou a ser seu carcereiro. Enquanto isso. Cranmer e Ridley permaneceram presos na Torre porém em locais diferentes. O confinamento durou dois anos. Finalmente chegou o dia 16 de outubro de 1555, destinado para

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execução de Ridley e Latimer. O Dr. Ridley fez a barba e se vestiu de lindo vestido preto de pele. Disse pra senhora irlandesa, esposa do homem que o mantinha preso, "Ainda que meu café da manhã seja magro, com certeza meu jantar será agradável; um verdadeiro banquete de noivo!" Caminhou em direção a estaca na parte norte da cidade, pro lugar da execução. Viu seu amigo Latimer em vestes longas. Se abraçaram com entusiasmo e se despediram fervorosamente. Ajoelharam-se ao pé da estaca e oraram com fervor em favor de seu país e pelo avanço do Evangelho. Conversaram em voz baixa por algum tempo. Um líder católico pregou então um breve sermão contra os mártires. Depois de concluir, Dr Ridley distribuiu alguns presentes aos amigos ali reunidos. Latimer não tinha nada para dar aos seus amigos senão o brilho do seu exemplo de fé. Tiraram-lhes as roupas externas e colocaram pesadas correntes de ferro ao redor da cintura. Um feixe de lenha foi colocado nos pés de Ridley. Ao ver as chamas de fogo, Latimer exclamou, "Tenha bom ânimo, Ridley e seja corajoso como um varão valoroso! Hoje, pela graça de Deus, acenderemos uma chama para propagação do Evangelho na Inglaterra; e eu creio que essa chama jamais será apagada." Ao ver as chamas subindo, Dr. Ridley orou, "Em tuas mãos, ó Senhor entrego meu espírito." Latimer gritou, "Oh, Pai Celestial, receba minha alma." E à medida que as chamas o envolviam, ele banhava suas mãos nelas e logo entrou no reino de glória. O Bispo Ridley teve morte mais lenta. O que estavam ali presenciando, choraram

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muito ao verem estes dois guerreiros da fé sofrendo com alegria por amor a Jesus.

Digno de nota é destacar que o bispo Gardner que foi basicamente o responsável pela terrível perseguição, retornou para seu lar naquela tarde se alegrando por ter removido de cena esses dois homens. Sentou-se com sua família e celebrou em grande estilo com um pomposo jantar. Mal tinha começado a comer, ficou seriamente doente. Ficou de cama duas semanas em terrível sofrimento e morreu de morte atroz. Maria, a Sanguinária, viveu apenas três anos e morreu de ataque de coração e hidropisia. Assim Deus respondeu as orações de Ridley e Latimer. A Senhora Elizabete foi coroada Rainha da Inglaterra. Ela foi criada na fé protestante. Durante seu reinado, qualquer aliança com o Papa foi definitivamente revogada. O Livro de Oração Comum foi revisado, e desde aquele dia até hoje, a Inglaterra tem sido um país protestante. A luz que foi acesa na estaca de fogo para queimar esses dois mártires naquele 16 de outubro certamente jamais foi apagada.

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A IGREJA PROTESTANTE CHEGA A AMÉRICA

Durante o século XVI sob o reinado da rainha Elizabete, o protestantismo foi firmemente consolidado na Grã Bretanha. A Igreja do Estado foi chamada então de a Igreja da Inglaterra.

Porém nem tudo foi mar de rosas. Agora que o povo podia ler a Palavra de Deus sem a interferência das autoridades, surgiram diferentes grupos de protestantes que tinham idéias diferenciadas sobre o governo da igreja e dos cultos que não eram exatamente aquelas defendidas pela Igreja da Inglaterra. Infelizmente devemos dizer que nem todos exerceram tolerância uns para com outros. Isso fez com que alguns grupos que estavam sendo perseguidos deixassem sua terra natal a fim de conquistarem liberdade religiosa e poderem praticar o culto a Deus de acordo com o que a Bíblia prescreve. Entre estes grupos estavam os Puritanos e os Peregrinos, que já em no início do século XVII emigraram para a América. Sabemos pela história que eles se estabilizaram em Massachusetts. Eram excelentes colonizadores cujo estilo de vida baseava-se exclusivamente na Bíblia. Foram eles que lançaram os fundamentos que auxiliaram aquela grande nação a se

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desenvolver sob a direção de Deus, e O louvamos por suas crenças cristãs e a coragem que tiveram de defendê-las.

No que diz respeito a nossa história, a Igreja Reformada, devemos voltar nossa atenção para o estado de Virgínia que foi o primeiro a ser estabelecido aproximadamente na mesma ocasião. Foi para esta colônia que emigraram membros da Igreja da Inglaterra. Não chegaram ali por causa de qualquer perseguição, pois a Igreja da Inglaterra estava no controle. Mas quando eles aportaram ali, trouxeram consigo suas Bíblias e o Livro de Oração. Cada grupo construiu sua própria igreja, e os pastores vinham da Inglaterra para assumirem o púlpito. O início foi esplêndido porém com o passar do tempo, os colonizadores do estado de Virginia passaram a se interessar mais pelo seu testemunho na sociedade do que no crescimento da igreja. Parece que os pastores, chamados também de reitores, se engraçaram muito com a sociedade e a igreja ficou quase morta. Entretanto porque o movimento havia sido fundado pelo próprio Deus, claro que Ele não o deixaria morrer. Em 1763, Ele enviou um jovem cujo nome era Devereux Jarratt para reacender a chama da fé que estava definhando. Jarratt nasceu em Virgínia. Nunca teve lá muito treinamento cristão quando criança. Foi somente quando ele começou a ensinar na escola que se deu conta de que era pecador que carecia de um Salvador. A proprietária da casa onde morava tinha um livro de sermões (de Flavel) e ela lia para ele todas as noites. À medida que ouvia isso, foi aumentando seu

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interesse pelas coisas de Deus. Cresceu nele uma enorme vontade de conhecer mais sobre Deus e a salvação de seus pecados. Passou a ler tudo que podia e aos poucos brilhou nele a luz do Evangelho. Agora passou a buscar oportunidades de ensinar nas igrejas e esporadicamente pregava quando o pastor saia de viagem. Foi a partir daí que lhe ocorreu a idéia de se envolver no ministério da palavra.

Em 1762 quando tinha apenas 15 anos de idade, vendeu sua propriedade de 300 acres que seu pai havia deixado de herança. Com este dinheiro, pagou sua viagem até a Inglaterra para estudar pro ministério. Por causa de sua educação anterior, não demorou muito concluir seu curso. Enquanto estudava na Inglaterra teve contato com João Wesley e Whitefield. Em 30 de abril de 1763 retornou para Virgínia, agora ministro ordenado.

Ao chegar ali, encontrou uma igreja vivendo numa miséria espiritual terrível. Numa carta sua daquela época, ele expressou nestes termos a situação, "O que se vê em todos os níveis e escalões é uma falta de reverência, ignorância das coisas de Deus e um mundanismo tremendo que me levam a duvidar se de fato restou alguma espécie de piedade nas famílias das populosas paróquias." Começou logo a pregar contra o pecado, sobre a necessidade de um Salvador, da graça gratuita de Deus. Sua pregação foi recebida com espanto e por vezes fúria também. Percebeu que o cidadão comum vinha para igreja e quase sempre

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chorava. Então aconteceu algo mui tremendo em 1765. O poder de Deus caiu. As pessoas começaram a perguntar, "O que devemos fazer para nos salvar?" A igreja de Butterwood duplicou os membros e não havia mais espaço para acomodar as pessoas que vinham de todos os lados. Encorajado por este avivamento Jarratt percorria a noite as casas, reunindo o povo para oração, louvor, pregação e comunhão entre os irmãos. Muitos dentro do clero o taxaram de fanático, um entusiasta, ou até mesmo louco. Mas ele não deu a mínima, e continuou. As pessoas que visitavam sua igreja levavam consigo as boas novas para suas paróquias. Recebeu convite para pregar noutros lugares. Logo, todo o estado de Virgínia foi reavivado no Evangelho.

Entre os ensinamentos que ele enfatizava estava o de que o povo de Deus deveria participar da Mesa do Senhor. Quando iniciou seu ministério, talvez não mais que uma meia dúzia de pessoas participava da mesa do Senhor. Porém à medida que os olhos das pessoas foram sendo abertos para necessidade do Salvador, foram percebendo então o que Cristo havia feito por elas no Calvário e ficaram desejosas de trazerem aos seus corações o amor sacrifical dEle por elas.

Deus usou Jarratt para trazer Virgínia de volta para Ele. Muitos se opuseram aos seus ensinamentos até mesmo a ponto de magoá-lo. Mas ele vivia bem próximo do Senhor. Foi acometido de um câncer no rosto que afetou também

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suas vistas e reduziu sua capacidade de leitura e não pode mais escrever como anteriormente. Alguns dias antes de comemorar seu 68 aniversário, o Senhor o chamou para glória. Assim morreu o primeiro grande estandarte da Igreja Evangélica na América, a primeira luz no altar de Deus. Esta enfraqueceu, mas jamais se apagou. Uma geração posterior haveria de reacendê-la novamente.

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A MANEIRA REVOLUCIONÁRIA E A IGREJA

Chegamos então ao tempo da Guerra Revolucionária Americana. Conforme você deve conhecer dos livros de história, foi a guerra que travamos para nos libertar da Inglaterra. No fim da guerra, a Igreja da Inglaterra na América se viu diante de uma situação inusitada. Como poderiam eles, uma Igreja da América, continuar sendo a Igreja da Inglaterra? Uma outra interrogação os incomodava bastante, muitos dos seus pastores haviam sido enviados pela Coroa inglesa e foram afastados por causa da guerra. Agora temos aqui uma Igreja sem liderança, sem pastores. Como conseqüência lógica disto, não havia culto em nenhuma igreja.

Contudo algo espetacular acontecia. Nos lares havia um tal Livro de Oração Comum, e em muitos casos, cada membro da família possuía um. As mães reuniam a família, e dia após dia, liam o Saltério e oravam. Quando alguém morria, o pai lia o culto de funeral. Quando acontecia uma data especial, eles buscavam alguma coisa no Livro de Oração que fosse apropriado para aquela ocasião. Assim aconteceu que toda uma geração cresceu

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conhecendo o Senhor tão somente através do Livro de Oração, e que memorizavam enormes porções do Saltério através das constantes leituras.

Entretanto eles esperavam com ansiedade pelas reuniões públicas de adoração. O primeiro passo nessa direção parecia então ser o de ter Bispos. O estado de Connecticut recebeu Samuel Seabury consagrado bispo pelos bispos da Escócia em 1784. Três anos depois foi a vez de William White na Pensilvânia e Samuel Provost, em Nova Iorque, receberem consagração em Londres, o que aconteceu também com Madison para Virgínia em 1790. Estes quatros foram os primeiros Bispos da América. Agora a Igreja poderia ser reorganizada. O primeiro trabalho era então editar o Livro de Oração da América.

Foi somente depois de 1811 que a Igreja passou a se desenvolver naquilo que conhecemos hoje como Igreja Protestante Episcopal. Foram consagrados então dois bispos verdadeiramente evangélicos, os bispos Griswald e Pilmore. Novamente aconteceu outro re-avivamento. A partir daí surgiram dois grupos distintos dentro da Igreja, os evangélicos, ou conhecidos também como Igreja baixa, termo que eles mesmos usaram, e Igreja Alta. Curiosamente quando Patrick Henry e George Washington (o primeiro presidente americano) freqüentavam os cultos da Igreja Episcopal, esses cultos eram o que costumamos denominar hoje de "baixa igreja." Ali, não havia altares, nem cruzes, ou velas acesas. Quando você visita estas

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igrejas antigas hoje, vai perceber a simplicidade tanto nos cultos quanto nas construções.

Lá pelo ano de 1811 haviam dois grupos diferenciados dentro da Igreja Protestante Episcopal dos USA. Os Evangélicos dizendo que fazia qualquer sentido com o ensinamento das Escrituras se referirem à Mesa da Comunhão de altar; ou dizer que a Ceia do Senhor era um sacrifício; que o batismo poderia salvar uma criança da mesma forma que salva um adulto, ou que o ministro deveria ser chamado de sacerdote. Os partidários da Alta Igreja por sua vez usavam cruzes e velas acesas na Mesa da Comunhão, ensinando também que todas as vezes que a Comunhão era ministrada, Cristo era outra vez oferecido como sacrifício em nosso lugar, e que o batismo era instrumento de regeneração e que o ministro era um sacerdote que se interpunha entre Deus e os homens.

Em 1814, um grupo de Evangélicos em Baltimore deixou a Igreja e iniciou outro grupo chamado de Igreja Episcopal Evangélica. No entanto aquele não era o tempo de Deus, e o grupo não sobreviveu.

O grupo Evangélico foi organizado dentro da Igreja e publicou seu próprio jornalzinho chamado de Episcopal Recorder (Registro Episcopal).

A Igreja Alta continuava insistindo em não admitir que o pastor de uma outra denominação pudesse pregar no púlpito da Igreja Episcopal Protestante dos USA, e que

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nenhum ministro dela deveria pregar em um outro púlpito. Isto acabou causando uma grande divisão, uma vez que os Evangélicos criam que um crente pertencente a Igreja Episcopal Protestante poderia, e deveria manter comunhão com outros crentes que amavam o Senhor.

Em 1867, o Rev. Estevão Tyng, Jr., trocou de púlpito com um pregador Metodista na cidade de Nova Brunswick, no estado de Nova Jersey. Foi levado a julgamento e advertido publicamente. Como conseqüência disto, os Evangélicos se reuniram em Filadélfia. O Dr. Charles Edward Cheney de Chicago clamou por liberdade e trégua nesse tipo de questiúncula. Porém a maioria dos Evangélicos sentia que eles deveriam lutar contra esse tipo de mal a partir de dentro. Onze bispos (de um total de cinqüenta) se reuniram e assinaram um documento e o enviou à Câmara dos Bispos pedindo liberdade para aqueles irmãos.

Em 1869, o Dr. Cheney, que havia solicitado trégua, foi levado a julgamento por ele ter omitido a palavra "regeneração" quando ministrou o batismo de criança. No julgamento veio à tona que muitos ministros dentro do clero estavam fazendo exatamente a mesma coisa, no entanto coube a Cheney ser o único Bispo com a coragem de defender o rigor da lei. Em fevereiro de 1871, ele foi condenado e suspenderam seu ministério até que estivesse de fato arrependido do seu erro. Em junho, seu ministério lhe foi retirado pelo Bispo Whitehead de Chicago.

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Posteriormente os tribunais consideraram inválido este ato.

Três dias depois disto, Estevão Tynh foi convidado a pregar na Igreja de Cristo (aquela que pertencia ao Dr. Cheney). O que ele aceitou e imediatamente pediu ao pastor deposto para auxiliá-lo na Santa Ceia. A aceitação foi unânime. Com toda certeza havia chegado a hora de agir.

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GEORGE DAVID CUMMINS – O HOMEM DE DEUS PARA O MOMENTO CERTO

Agora vamos retornar no tempo alguns anos e examinarmos a vida de um homem no seio da Igreja Episcopal Protestante. Homem que Deus escolheu pra ser o Seu pioneiro, George David Cummins. Ele nasceu numa cidade pequena do estado de Delaware em 11 de dezembro de 1822. Pais descendentes de escoceses e ingleses, pertenciam a Igreja Episcopal Protestante. Quando seu pai morreu ele tinha apenas quatro anos de idade. Aos dez anos, foi para uma escola em Newark onde ensinava um ministro presbiteriano, e depois foi para Dickinson, uma faculdade metodista. Durante o tempo que passou ali, entregou seu coração pra Jesus numa campanha evangelística que acontecia naquela região. Passou a freqüentar a Igreja Episcopal Metodista e chegou por alguns anos a pregar o evangelho num pequeno trecho do estado de Maryland.

Aos 23 anos de idade, decidiu que deveria pregar na Igreja Episcopal Protestante dos USA, a igreja de sua infância. Começou então seu ministério nesta denominação na cidadezinha de Norfolk. Depois foi requisitado para

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Richmond e posteriormente para Washington, Baltimore e Chicago. Em cada uma destas cidades, pregou o evangelho de forma destemida e o Senhor abençoou muito seu ministério. Foi em Chicago que ele e o Dr. Cheney fizeram amizade sólida e começaram a trabalhar juntos.

O Dr. Cummins casou-se e tinha duas filhas e um filho. Sua esposa tinha saúde debilitada, por isso passava a maior parte do tempo de cama. Na primavera de 1866, ele levou sua família para Europa pois o médico aconselhou que aquilo seria bom tanto para ele quanto para sua esposa. Em Paris, recebeu a notícia de que havia sido escolhido como bispo assistente pro estado de Kentucky. Não apreciou muito a idéia de deixar a paróquia que amava tanto em Chicago, porém, como era seu hábito, orou ao Senhor pois sempre quis agir dentro do que Deus queria para sua vida. Após algumas semanas de oração em conjunto com sua família e amigos, sentiu que definitivamente Deus tinha uma obra pra ele em Kentucky. Em 15 de novembro de 1866, aos quarenta anos de idade, foi consagrado Bispo na cidade de Louisville, em Kentucky. Aquele era um estado de trabalho muito árduo, porém o bispo Cummins pregava a Palavra, Deus honrava seu ministério e igrejas foram sendo edificadas enquanto outras iam surgindo.

Até este momento, o Bispo Cummins que era da igreja baixa na REC, não tinha encontrado nada de errado no Livro de Oração ou outras coisas que incomodavam os

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partidários da baixa igreja. Apesar de o Livro de Oração falar em regeneração pelo batismo, da "presença real" de Cristo na Comunhão e da existência de altar na igreja, aquilo particularmente parecia não o incomodar uma vez que nem ele mesmo acreditava naquelas coisas, já que os bispos da igreja baixa tinham explicado de forma satisfatória o significado daqueles sacramentos. No entanto, porque muitos jovens ministros se achavam perturbados com estes termos, e alguns sentiam que deveriam abandonar a Igreja, caso o Livro de Oração não fosse revisto, Cummins instou com a Câmara dos Bispos que reconsiderassem utilizar o Livro de Oração editado em 1785, que foi o primeiro da Inglaterra, mas que nunca havia sido oficialmente utilizado pela PECUSA. A propósito este foi o Livro de Oração que ainda hoje usamos na Igreja Episcopal Reformada – com algumas poucas alterações.

A Câmara dos Bispos se recusou a fazer isto, o que acabou por desapontar muito Cummins, porém ele sentiu que deveria permanecer na Igreja. Ele a amava de coração e sentia que deveria fazer algo mais para Deus, não de fora, mas de dentro da própria Igreja. Porém algo aconteceu em duas de suas igrejas que importaram ensinamento equivocado da PECUSA. Um dia pela manhã ele foi fazer uma visita e confirmação. Pro seu espanto, aquilo que tinha sido uma simplesmente uma mesa de Comunhão, era agora um altar com cruz e velas douradas. Seu coração se desfalecia por dentro ao ver o pastor e as pessoas se

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ajoelhando no genuflexório diante do altar tantas vezes durante o culto. Depois quando foi conversar com o jovem ministro que se autodenominava sacerdote exatamente da maneira permitida pelo Livro de Oração, esse lhe disse que uma vez que ele era um sacerdote, como tal, um sacerdote deveria oferecer sacrifício e ter um altar, e que aquilo ali era então o resultado. Quando o Bispo Cummins descobriu que uma outra igreja entrou com outro pedido de julgamento na corte, ele percebeu o que estava acontecendo em decorrência de se estar utilizando o Livro de Oração.

Aconteceu então a farsa do falso julgamento de seu amigo, o Dr. Cheney em Chicago por esse não ter usado a palavra "regeneração" no batismo. Mais ou menos naquela mesma época, o Bispo Whitehead, pertencente a Igreja Alta exigiu que o Bispo Cummins saísse de Chicago, ainda que tivesse sido convidado a pregar na cidade de Nova Iorque, em outubro de 1873. A Aliança Evangélica estava tendo sua conferência. Num domingo iria acontecer uma grande cerimônia de Comunhão com os pregadores vindo da Alemanha, Inglaterra e da América. Na plataforma, estavam o Bispo Cummins, Dr. Arnot de Edingurgo, Professor Dainer de Berlin. Na semana anterior havia acontecido um culto semelhante no qual participou o Deão de Canterbury. No próximo dia, um clérigo inglês o criticou severamente por participar num Culto de Comunhão com aquelas pessoas que não eram da PECUSA. O bispo Cummins respondeu, em carta, dizendo

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que ele também se achava culpado do mesmo pecado, mas já que no Céu todos os cristãos vão estar reunidos a volta da mesa do Senhor, seria uma boa idéia os irmãos se reunirem aqui em torno da mesa dEle em amor e unidade, preparando-se pra aquele grande dia.

Cummins percebeu que com isso que havia angariado muitos inimigos. Alguns membros abastados de sua paróquia, que haviam prometido ajudá-lo financeiramente, saíram. Em conseqüência disso, ele ficou sem condições de arcar com as despesas e foi obrigado a deixar o prédio. Porém encontrou outros amigos verdadeiros que estavam prontos para irem com ele até onde fosse preciso. Entretanto, ao orar e ponderar sobre toda a questão e ao perceber quão distante a PECUSA havia se distanciado da Igreja genuína dos fundadores, se envolvendo em falsos ensinamentos do catolicismo romano, sentiu que não poderia mais continuar naquela Igreja e permanecer fiel a Cristo. Pois se fizesse isso, teria que estar continuamente em desobediência às ordens da Igreja, e isso seria um péssimo exemplo do que se espera de um bispo. Em 10 de novembro de 1873, escreveu sua carta de afastamento depois de vinte e oito anos de serviço fiel àquela Igreja.

Seguiu-se uma avalanche dentro da Igreja. Muitos o criticaram sem piedade. Outros porém se simpatizaram com sua causa e o encorajaram a seguir seu caminho, incentivando-o a iniciar uma nova Igreja Episcopal, completamente reformada no que diz a doutrina e

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adoração, e que utilizasse aquele Livro de oração Comum que havia sido desconsiderado em 1785. Assim fez. Enviou uma carta convidando pastores e leigos e todos que estivessem interessados, para que viessem se encontrar na Associação Cristã de Moços (Y.M.C.A) da cidade de Nova Iorque, no dia 2 de dezembro de 1873. Eles se encontraram, um total de oito clérigos e aproximadamente vinte leigos, e formaram assim a Igreja Episcopal Reformada (REC), tendo o Bispo Cummins na presidência porém sem nenhuma congregação. O Dr. Cheney foi designado Bispo para a região Nordeste. Logo, as igrejas foram sendo formadas em Nova Iorque, Filadélfia, Baltimore, no Canadá e na Carolina do Sul. Em 1875, dois anos depois de acontecer o Terceiro Concílio Geral, já havia 52 clérigos e 50 congregações. Assim o Senhor abençoou a obra e ela cresceu.

O trabalho entre os libertinos da Carolina do Sul teve início em 1873 com o Rev. Pedro F. Stevens no comando.

Em junho de 1875, o Bispo Cummins ficou seriamente doente. Seu genro esteve do seu lado prestando-lhe socorro dia e noite em Luterville, no estado de Maryland. Entretanto não se viu nenhuma melhora. Nem mesmo especialistas de Baltimore puderam fazer qualquer coisa. Depois de seis dias de sofrimento, Cummins perguntou se havia alguma esperança de sua recuperação. O médico respondeu que eles haviam feito o que sabiam, ao que o Bispo respondeu, "Então me deixem morrer", pedindo que

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não lhe dessem mais medicamentos. Virando-se para sua esposa, disse, "Querida, tivemos uma vida tão feliz, e lamento tê-la de deixar. Gostaria muito de ter podido continuar trabalhando pela Igreja, mas Deus sabe de todas coisas." Impetrou sua última benção aos filhos e seus dois netos. Depois, pediu que todas as janelas fossem abertas. Um de seus filhos perguntou se ele tinha alguma mensagem especial para Igreja. "Diga-lhe que avance e faça uma obra grandiosa."

Sua esposa perguntou, "Você sabe quem eu sou?" "Claro que sim." Ela tornou a perguntar, "E você conhece Jesus?" Seu rosto brilhou de alegria, "Oh, claro. É claro que O conheço."

Repetiu distintamente a primeira frase do hino, "Jesus, o Amor da Minha Alma." Todas as estrofes foram sussurradas por causa da fraca voz menos aquela frase que fala da história do amor de Jesus pelo homem. A voz foi perdendo aos pouco a força e por fim, sussurrou, "Senhor Jesus, recebe meu espírito." Fez-se um grande silêncio. As pessoas presentes ali pensaram que ele havia morrido por seus olhos estarem fechados. De repente perceberam seus olhos abrirem e viram um brilho divino tomar seu semblante. Sua face parecia estar sendo glorificada e recebia um gozo tremendo quando exclamou, "Jesus, Precioso Salvador." É claro que ele estava vendo seu Salvador ali com ele.

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Esta foi a história do nosso primeiro Bispo que sacrificou tudo, até mesmo sua vida pra que nossa Igreja pudesse vir à existência. Que ao permanecermos fiéis aos princípios de nossos fundadores, busquemos estar unidos numa só mente e num só coração. Assim, a Igreja Episcopal Reformada será para muitos um refúgio de paz, enquanto para os nós, os seguidores de Cristo, continue sendo uma luz que alcance bem longe, constituindo-se numa herança de bênção que legaremos aos nossos descendentes.

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TESTEMUNHO DE HOJE

Já se passaram mais de cem e trinta anos desde aquele dia de dezembro de 1873 quando a Igreja Episcopal Reformada foi fundada. Vamos fazer aqui uma pausa e refletirmos sobre aquilo que o Senhor já fez em nosso meio.

Existem hoje na igreja três divisões, o sínodo de Nova Iorque e Filadélfia, o sínodo de Chicago e a Jurisdição do Sul, cada uma delas com seu próprio bispo. O sínodo de Nova Iorque e Filadélfia possuem 28 igrejas na região destas duas cidades, o que inclui também Nova Jersey, e descendo um pouco mais até Baltimore, Maryland, sob a supervisão do bispo Howard D. Higgins, que é o pastor atual. A área de Chicago possui quatro igrejas e é supervisionadas pelo bispo William Culbertson que também acumula o cargo de presidente do Instituto Bíblico Moody de Chicago. A Jurisdição do Sul possui trinta e quatro paróquias espalhadas pela Carolina do Sul. O bispo William H.S. Jerdan é o Diretor de Campo do grande empreendimento missionário. Temos igrejas na Inglaterra, Canadá, Índia e recentemente no Brasil.

No relatório estatístico de 1960 descobrimos que nos Estados Unidos chegamos a um total de membros em torno de oitenta mil, seis mil na Escola Dominical e

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sessenta e seis igrejas. Parece, olhando assim a primeira vista, que não tem havido muito crescimento; ou até mesmo podemos concluir que não temos visto coisas grandes acontecerem. Porém a obra de Deus nunca deveria ser medida meramente em termos numéricos. Durante todo este tempo Deus tem mantido esta porção do Seu rebanho unida na verdade das doutrinas das Escrituras. A mensagem do Evangelho é anunciada todos os domingos de cada púlpito. Homens de Deus, fiéis, têm assumido posições de liderança no episcopado, supervisionando o trabalho das paróquias, confirmando novos membros e encorajando os pastores. Devemos mencionar também os nomes desses homens fiéis. Primeiro, naturalmente, é o nome de George David Cummins, nosso estimado fundador, vindo logo em seguida seu fiel amigo, Charles Edward Cheney. William R. Nicholson conseguiu encontrar tempo para escrever livros e artigos que são usados pelos alunos seminarista hoje. Depois, tivemos os bispos James Latane, Samuel Fallows e Thomas W. Campbell. Alguns de nós ainda se lembram de Robert L. Rudolph cuja mera presença já era em si uma bênção; Robert Westly Peach que foi uma autoridade no arranjo dos hinos da Igreja, e Frank V.C. Cloak que sempre nos fez lembrar a famosa frase, "devemos tirar o chapéu para o passado, e o paletó para o futuro." Atualmente temos o Bispo Jose E. Kearney que se aposentou em 1958 depois de trinta e seis anos de dedicados serviços como Superintendente da Jurisdição do Sul e que serviu o

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Senhor em muitas áreas da Carolina do Sul; Bispo William Culbertson que já mencionamos anteriormente como líder daquele honrosa casa de treinamento, o Instituto Bíblico Moody; e o bispo Howard D. Higgins, que por muitos anos atuou como pastor da Primeira Igreja, em Nova Iorque, e agora Bispo do Sínodo de Nova Iorque e Filadélfia e nosso amado líder da denominação. Deus manteve o registro do serviço fiel de todos estes homens e algum dia será recompensado publicamente.

A Igreja Episcopal Reformada fundou dois lindos seminários. Um em Filadélfia que tem treinado muitos homens não apenas para o serviço pastoral de nossa denominação mas também para outras igrejas. Ele possui uma reputação pelo país afora de ser um dos poucos seminários que permanece fiel à Palavra de Deus e proporciona rico aprendizado e treinamento em grego e hebraico. O outro seminário é o de Summerville, que fica na Carolina do Sul, e executa uma tarefa importantíssima no treinamento de líderes para nossas igrejas no Sul.

Já enviamos missionários para os trabalhos na Índia, África e Alemanha. Atualmente temos quatorze missionários servindo nossa denominação nestes campos. Há muitos outros jovens missionários servindo o Senhor em outros locais que tem sido enviado por nossos vários projetos missionários.

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As mulheres da denominação por sua parte servem com fidelidade em muitos ramos de atividades. Devemos prestar tributo especial às senhoras Kearney e Higgins que não somente trabalharam incansavelmente ao lado de seus esposos, os bispos, mas também fizeram um excelente trabalho com a senhora Stanley de Cranton a fim de organizarem e unirem todos os grupos de senhoras por intermédio das Comissões no Trabalho Feminino. Um programa mensal está sendo publicado sob a supervisão destas mulheres. Muitas de nossas mulheres estão dando suas contribuições valiosas através do Auxílio ao Comitê de Missões Estrangeiras, Missões Nacionais e para o Seminário. O Dia das Mulheres, juntamente com alguns projetos missionários e a Conferência de Liderança de dois dias realizada durante o verão já constituem partes essenciais do programa feminino.

Foi adquirida recentemente (na década de 60) pela nossa Igreja uma linda propriedade no condado de Busck, no estado da Pensilvânia, com o nome de Four Brroks (Quatro Rios) que desempenha três tipos de atividades: servir de sitio de conferência missionária e encontros de jovens, servir de hospedagem para missionários de férias, e para estabelecer uma comunidade para nossos irmãos da terceira idade. Já tivemos vários eventos da Conferência dos Jovens, que acontecem anualmente. Devemos ser gratos ao Conselho Diretor e ao Rev. Robert McIntyre e sua esposa pelos seus incansáveis esforços e constantes planejamentos no sentido de conseguirem o projeto

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avançar. Através de sua liderança, homens, mulheres e jovens das igrejas têm contribuído generosamente com seu tempo, habilidades, dinheiro e know-how a fim de que os planos sejam realizados.

Parafraseando as palavras de Hebreus 11:32, onde o escritor listou os fiéis testemunhos dos tempos passados e conclui dizendo, "E o que mais poderia dizer? Pois o tempo não seria suficiente para dizer" de todos os pastores, suas esposas, leigos e leigas que, movidos por sua fé e amor pelo seu Senhor e Salvador, serviram em muitos lugares e de inúmeras maneiras para que nossa amada Igreja pudesse manter-se firme na Palavra da Vida, e mostrar o caminho da vida eterna. Nem é preciso mencionar que seus nomes estão inscritos no Livro da Vida do Cordeiro e que Ele guarda fielmente seus nomes ali, e que com certeza um dia irá revelá-los e compensá-los a Seu próprio tempo.

Devemos mencionar, embora de passagem, o Episcopal Recorder (Boletim Episcopal) uma revista de publicação mensal que trata dos interesses da REC. Ela é editada fielmente desde a fundação da Igreja, pois tem sido o instrumento através do qual a igreja baixa no seio da Igreja pode se auto-expressar e já se tornou uma parte de nossa herança. Ela traz notícias de várias igrejas, tópicos oportunos e de cunho devocional; traz informação sobre os missionários, o programa para as Mulheres da Igreja, além de muitos outros artigos interessantes. Na sua capa, pode-

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se divisar nosso slogan, "Nos Essenciais, Unidade;nos Não Essenciais, Liberdade; e em tudo, o Amor."

Devemos ter orgulho de nossa herança e do que já conquistamos, porém não podemos aposentar nossas ferramentas. Há ainda muito que fazer e "a noite vai chegar quando ninguém mais pode trabalhar." Enquanto houver almas ao nosso redor que precisam ser salvas, vagando como ovelhas que não têm pastor, temos uma missão a concretizar. Devemos nos lançar ao trabalho, não apenas aqueles que se encontram dentro dos limites de nossa vizinhança, mas devemos constantemente procurar estender nossos horizontes a fim de levar o Evangelho aos outros que nunca ouviram a mensagem de salvação. Nas palavras de nosso amador fundador, "Vão em frente, e façam um grande trabalho.”

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A FREE CHURCH OF ENGLAND

A Igreja Livre da Inglaterra (FCE), à qual pertence a Igreja Anglicana Reformada do Brasil (IARB), começou em 1844 como uma reação ao Movimento Ritualista, ou Movimento de Oxford, surgido naquele tempo dentro da Igreja da Inglaterra. Tal movimento quis e esforçou-se para eliminar qualquer vestígio da herança e da doutrina protestante e reformada da Tradição Anglicana. Isso chegou a causar perseguição contra vários ministros evangélicos, que eram intimados a mudar o culto em suas paróquias.

A reação dos ministros comprometidos com o Anglicanismo clássico se fez ouvir. Uma de suas vozes mais poderosas foi a do Bispo J. C. Ryle, um dos fundadores da hoje chamada Church Society, entidade dedicada a defender e fomentar o anglicanismo clássico. Outras vozes também se ergueriam, como quando em 1844 se formou a Free Church of England, que somente em 1863 seria registrada como uma entidade legal perante o Governo Inglês. Nos documentos de sua fundação se lê: “comprometidos com as Doutrinas da Igreja da Inglaterra, como apresentadas nos 39 Artigos de Religião, e aos princípios e práticas associadas com os princípios da

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Igreja Estabelecida na Inglaterra” (Fonte: Vaughan A History of the Free Church of England otherwise called the Reformed Episcopal Church).

Deste modo, a Igreja foi organizada por clérigos e leigos evangélicos da Igreja da Inglaterra, os quais desejavam preservar a prática histórica e a fé reformada da Igreja. No entanto, ainda que a primeira Capela a usar o nome da Free Church of England date de 1844, essa Igreja tem suas origens a muito mais tempo, desde as capelas evangélicas estabelecidas através da pregação de George Whitefield, calvinista e um dos pais do Metodismo, e do Avivamento Evangélico. Algumas dessas Igrejas terminaram se organizando sob o nome de “Conexão da Condessa Huntingdon” – entidade que fomentava várias igrejas livres pelo Reino. Igualmente, as primeiras comunidades da Free Church Of England foram associadas à Conexão, uma vez que as mesmas eram também uma conexão de capelas evangélicas independentes, e que tinham uma clara identidade anglicana. Por este motivo, ainda hoje a Igreja Livre da Inglaterra considera a “Conexão da Condessa Huntingdon” como uma Igreja mãe.

As duas igrejas tomaram caminhos distintos quando a Conexão da Condessa Huntingdon decidiu adotar definitivamente o sistema de governo congregacional. Em 1876, o Rev Benjamin Price foi consagrado Bispo pelo Revmo. Edward Cridge, bispo da Igreja Episcopal Reformada no Canadá.

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As duas Igrejas tomaram caminhos distintos quando a “Conexão da Condessa Huntingdon” decidiu adotar, definitivamente, o sistema congregacional de governo. Em 1876, o Rev. Benjamin Price foi consagrado Bispo pelo Revmo. Edward Cridge, bispo da Igreja Episcopal Reformada no Canadá, conferindo à nova denominação a validade episcopal e a Sucessão Histórica.

Em 1927, a Igreja Livre da Inglaterra se uniria à missão inglesa da Igreja Episcopal Reformada dos USA. A IER organizada em 1873 nos USA pelo Revmo. Dr. George David Cummins, formalmente bispo auxiliar de Kentucky na Igreja Episcopal Protestante dos USA (PECUSA). Bispo Cummins desejava compartilhar a Palavra e Sacramento com outras igrejas não-episcopais, um fato que era proibido cada vez mais pela hierarquia da Igreja da Inglaterra e de PECUSA.

Em 1927, a Igreja Livre da Inglaterra se uniria à missão inglesa da Igreja Episcopal Reformada dos Estados Unidos. Esta Igreja, por sua vez, fora organizada em 1873 nos Estados Unidos pelo Revmo. Dr. George David Cummins, na época bispo auxiliar de Kentucky, na Igreja Episcopal Protestante dos Estados Unidos (PECUSA). Na época, Bispo Cummins desejava compartilhar a Palavra e o Sacramento com outras igrejas, não-episcopais, algo que era cada vez mais proibido pela hierarquia da Inglaterra, seguida pela liderança da PECUSA.

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A partir de 1927, a nova Igreja inglesa passou a adotar, oficialmente, o extenso nome de “Igreja Livre da Inglaterra, também chamada a Igreja Episcopal Reformada no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte”, e desde então tem mantido a prática, a tradição e a fé reformada da Igreja da Inglaterra. Seu trabalho e validade foram oficialmente reconhecidos pela Igreja da Inglaterra em anos recentes. Em dezembro de 2012, o Arcebispo de Cantuária e York reconheceu as Ordens da Igreja Livre da Inglaterra, em conformidade com a Medida ‘Supervisão e Outro Clero (Ministério e Ordenação)’ de 1967.

Tal reconhecimento aconteceu após um processo de diálogo de três anos entre os bispos da Igreja Livre da Inglaterra, o Concílio pela Unidade dos Cristãos e a Comissão de Fé e Ordem, que recomendaram unanimemente que as Ordens da Igreja Livre da Inglaterra fossem reconhecidas. Tal recomendação foi, na sequência, aprovada pelo Conselho Permanente da Casa dos Bispos da Igreja da Inglaterra.

Em 2014, a Igreja Livre da Inglaterra recebeu as primeiras congregações locais da Igreja Anglicana Reformada do Brasil. Bispo Josep Rosselló foi nomeado pelo Bispo Primaz como o Comissário para o Brasil.

Na atualidade, a Igreja Livre da Inglaterra tem igrejas na Inglaterra, França, Rússia, Austrália, Brasil e Venezuela.

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